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Ler é deixar o coração no varal"

Faz muito que escrevi um livro chamado Coração não toma sol. Eu
experienciava, naquele tempo e cotidianamente, tal título. Carregava um
coração trancado e suspeitava da compreensão do outro. Medroso da
solidão, eu dizia sempre o que supunha que o outro gostaria de ouvir.
E meu coração ficava sem vir à luz. Com isso, praticava dois enganos:
com meu coração engasgado e sofrendo com frequentes despedidas.
Hoje me vejo diferente: deixo meu coração vir à tona, sem medo da
transparência. Meu texto surge do "não saber", das inquietações, das
incertezas. Graças às leituras descobri a diferença como capaz de nos
tornar singulares. Escrever o que não tomava sol era revelar o que não
havia sido escrito ainda, e acordar o obscuro que dormia em mim
passou a ser o meu oficio. Afastar o medo de permitir o diálogo entre
a dúvida e o crepúsculo foi o meu fardo. Revelar-me mais me aproxi-
910U de mim e melhor compLe.e_ndique ao outro eu deveria oferecer

um outro, e não tentar presenteá-lo com ele mesmo.


Aceitei o convite para falar neste encontro com o propósito de deixar
a ingenuidade que me constrói nadar em superfície. Por tudo posso lhes
dizer que desconheço o meu tamanho. Sempre me afogo em incoerências,
desfaleço com as despedidas e ganho mais vida à medida que o tempo
me subtrai.Vivo um momento em que,já ocupando o lugar que foi do
meu avô, me debruço na janela e sinto uma profunda saudade do mundo.
tempo vai me distanciando das coisas e me sinto já antigo em mim.

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sado. Creio, porém, que 'St:lillO, , "d,1 di I, 1111 til 111111 1111
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anda demasiadamente complexo, IIIÚ plOpllll1 I I 1I1 111111, II I,~o '1111,1 I' dos IIl1sl 'II()~
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desânimo de agir. E do que mais pl'l' iS,11I1I1(di 1Idi.! nl I'" 1\ dlll,j(() ;\ vida. I 'I" '. I"'sj 111:1 S' diante i d 111 1"(1i. lo l '1I11H! 1"
confrontarmos com coragem, diant 11I1111dlll111'1111 I I I1
til 11111 1011 S '1I1!,r '. L 'r " d '5 brir-s' 11:1' P. riên ia d utro. E, 111111111
não estão mais encarnadas. Elas serv 'n I 111.1
is 11,11,1,1,11 I I 11I,lis,I 'r " .xpcrim ntar os dcsl imites da liberdade e q LI ilibra
vaidades. Elas se fizeram instrumentos para t iSPlI1.11\I I'lIdl I, I I mundo, t mando como alicerce as sutil Zas das divergên i s. ()
o outro para a disputa de lugares. A palavra' ,I'III.t, pl' . que pagamos por sermos alfabetizélldos.
Para tanto me perguntei 11li 11111
por que meu int r 'SS' '111/111111 Ter em mãos o livro literário é defro.ntar-se com o des quilihrio.
É, pois, com esta indagação que pretendo ini iar nosso! (\111' I I, ti" " bom que assim seja. Capaz de inaugult"ar reflexões, a literatura 111,
poderia estar ocorrendo na sala da casa, na mesa d \ lIlll 1),11,11111
I I I 11111, .stimula a buscar outros prumos, a per:-seguir outras ilusões, ::I Jl S
de amigos. Uma conversa movida pela espontaneidad " I '1,1I, (':.1, 1111 dobrarmos sobre nossos limites, e desco brirmos a fragilidad ' 111
a pretensão de alterar o nosso entorno. Uma conver a qu '111,11 11111.1 sendo a nossa condição possível. É certificar-se de que são rnuit s os
para o dentro. significantes. Ter em mãos um livro é iUscrever-se nas oraçõ s qUI'

Fundamental, ao promover a leitura, é convocar o sujeito a tomar da 1//1/ configuram o texto literário. Ler é p~ silêncip, é reconh
palavra. Ter a palavra, possuir voz, é antes de tudo munir-se pam Jn ....cr-.I/' se como um ser pro ício à solidão. Ler ~ confirmar-se como um s .
v= ~ndecifrável. Ler é cuidar-se, rompendo com as grades do iSOla/'l/('I/f(l,{ solitário, mas, mesmo assim, condenado -;::'r~urar encontros, co S 's, N

E evadir-se com o outro sem, contudo, perder-se nas várias faces da palavra. laços. Ler é u~ exaustivo trabalho mental.
E mais, ler é encantar-se com as diferenças. Ler é deixar o coração no varal. 1:; Não se tem em mãos o livro literário para estabelecer o equilibric .
desnudar-se diante do texto. r Pelo imponderável e pelo que há de imprevisível no literário é que
Ter em mãos um livro é suportar, por meio de leve objeto, extenso novos caminhos nos são revelados, novos encantamentos nos são pr '-
fragmento do universo. É próprio do humano, mesmo percebendo o senteados, outras curiosidades nos interrogam, tantos conheciment s
peso do seu fardo, buscar entender o lugar em que ele está inserido, nos são informados, várias portas se abrern Ler é mover-se pela curi -
sem ter pedido para vir ao mundo. Desejamos conhecer o que está dito sidade, irmanar-se com o autor, guiado po~ destemida emoçã . í~
e adivinhar o que ainda está por dizer, ansiamos saber e desconfiamos c9nstrui~:junt~ com o autor uma terce~bra que j~mais será es ri • ,
do que sabemos, escutamos e falamos e nos arrependemos, confiamos mas gravada no silêncio. E o silêncio é o espaço das operações.
ou nos desacreditamos. Cremos na dúvida como caminho absoluto. A escrita literária não ignora os leitores. Ela sabe que é pelas exp '-
Para tanto, o livro nos alivia diante de tamanhas incertezas. riências vividas, pelas dúvidas silenciosas, pelas fantasias escondidas qu .
Ter em mãos um livro é libertar-se para dizer ou desdizer sobre o os leitores conversam com o texto. 9 lite!"ário redimensiona o gu
vivido e o sonhado. A vida nos concede o direito de idealizar e propor supomos saber e nos faz corres12onder :melhor com nossas relaçõ s,
outras soluções. Ler é abrir-se ara o afeto, o desencontro, a tristeza, o Ler é o trabalho de exercitar-se para bem suportar o peso dos sonh s
medo, o luto. Ler é encoraiar-se diante ~~~;-tingências d~ existência. -e afirmar-se c~~o j;capaz de sonhar o sonho do outro. Nasc m s
Ter em mãos_um livro é apossar-se da fantasia, é- espantar-se dia~te do nosso pr~p~io p~rto e morreremos da- nossa ~ ria morte. ais
dos preconceitos, é deixar vir f tona a-c;~pai;cão pela nossa incom- condenações é que nos aproximam em igualdade. Toda tentativa d'
pletude. É pr~arar-se par~ jamais se surpreender- c;ill a intimidade encontro reafirma nossa solidão.

90 Conversas com o Professor Leitura e educaç O


A iniciação à leitura transcende o ato simples de apresentar ao experiência do outro e inteirar-se dela. Tal movimento atenua asfronteiras (' .
sujeito as letras que já estão escritas. É mais para promover o leitor à a palavra que fertiliza o encontro.
decifração das artimanhas de uma sociedade que pretende também Por tantas vezes, as crianças nos pedem para ler histórias. Jamais
consumi-lo. É mais do que a incorporação de um saber frio, astuta- podemos avaliar o tamanho da felicidade de cada uma, diante da n ss:\
mente construído. leitura. Não há método capaz de avaliar,conceituar, notificar a felicida I '.
Nascemos com definitiva vocação para a felicidade. Sempre, em Não se avalia a felicidade, mas podemos percebê-Ia. Muitos sorri '111,
liberdade, nos aproximamos de tudo o que mais nos prometa alcançá-Ia. outros choram diante dela. Daí ser possível dizer que o choro é dúl io.
Felicidade e tristeza não conversam, não se amam.A presença da tristeza Gostar é um ato livre e individual. Cada um gosta por motivos secr t s,
dói o corpo inteiro. A felicidade promete curar o corpo em sua inteireza. Na leitura em voz alta, a palavra escrita ganha sonoridade e nri
A tristeza interrompe e cerceia o encontro com a felicidade. Mas quece com música a história. Não é raro a criança dormir enquanto
não se vive uma sem experimentar a outra. Daí a literatura saber misturá- lemos, como não é raro as crianças se emocionarem com rimas ;)Ii
las e nos conduz a refletir onde uma e onde a outra. terações, mesmo desconhecendo o sentido das palavras. Na infân ia :1
Se nascer é ser presenteado com a vida, faz-se difícil amá-Ia quando intuição é o caminho para explicar o ainda não entendido. Conh 'I

somos recebidos com o desconforto da fome, com pais incapacitados intuitivamente é dispensar perguntas.
de nos adotarem com moradia, carinho, cuidado, lazer, saúde. Por ser Acontece ainda que os meninos podem escolher o mesmo livro
assim, viver ou morrer são atos com a mesma relevância e a violên- durante vários dias. Ignoramos se estão envolvidos com a história, SI'
cia, uma prática que se torna natural. Para amar a vida é necessário encantados com a música das palavras ou se solicitam de nós, adul os,
compreendê-Ia. mais atenção, um tempo só para elas.
Para realizar tal vocação para ser feliz, nascemos com direito à Muitas são a~funç§es que podem se! atribuídas ao ato de ler 1,is
liberdade. Ela nos garante as escolhas para estar em direção à alegria tória. Desde seduzi-los pela leitura e ara a leitura, dialo ar com suas
que nos diferencia. São múltiplos os caminhos. Toda crian a faz do livro, fantasias, deslumbrâ-los com o som e Jjtm~ªas alavras,..3proximá-los
desde sem re, um ob' eto de felicidade. Ela c!.esconfi~a,9-esde sem~e, da importância da imaginação, até a relação de afeto que se estab ,1 ' ' ,
ue o livro tem o que dizer, e toda infância quer também decifrar o entre as pessoas.
mundo, entender seus fenômenos. E a curiosidade ue nos irmana. Em ~ -- Ler para as crianças é invadir de alegria sua infância, enquanto
libe;:dade, ainda desconhecend; as letras, a criança ~n~aia adivinhar o anunciamos ainda que a solidão tem a leitura como recurso para IIH's
texto, desvelar as ilustrações, inteirar-se dos "porquês". fazer companhia e ampará-Ias diante dos mistérios que as cercam. ; lIlll
A criança manipula o livro de cabeça para baixo, do meio para o bom texto literário - que nos move e desequilibra - deixa l'mbr:1I1~'"
fim, de cabeça para cima. A liberdade lhe permite isso. Só em liberdade que permanecem pela vida inteira.
Somos uma sociedade em que o livro não é um obj t
inventamos ~reinventamos
leitor, leitura afora. º o mundo. A liJ2eJ:.dadeé ue conduz o
livro literário não ~eiI:Q.Q§ecomo umportador
de mensagens. O liv~_ didático "ensina",_enquanto o livro literário
Quando buscado pela escola, é sempre para "ensinar", c nã parn p 'I
mitir o conhecimento das nuances do humano diant d 1l111lldo.!\
possibilita discutir o destino. A criança é que elege a sua leitura e atri- cs Ia confere mais valor ao indivíduo qu rcp .tc o cnsinnclo do qll •
bui ao objeto livro o que ele tem a lhe dizer, O livro é um objct ';) :1 rinnça qu inv nta sua fi li idad '. "ad;, dia mais a 'scol:\ SI'dis\.1111.1
criança, o sujeito. Nesta relação, é o sujeito que fala. dn :WlOI10111i:1 do aluno '111'II)S ('0111:1'111SlI:)(;\1 .)('id:ld' d,' 1\,11.. 111
Reconheço, porém, um momento em que se dá o definitivo ti outnimcut«: 1\ 'S( 01.111,10s,' d,'\! (0111:1 It- q\I\' .\ (I i.1I1~,11,'111S 'us 1"11,11111'1111'

a certeza de que o 1IIIIIIdo pessoal f. iIlSI!{t i(·III(·. Ilá (]//I' II/Is I/r I1 I'i 1I11'~I/I(I 1111 ('\1 "111"11"1111
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riança bus a, lançand mã da liberdade de es lha, qu . a infân ia 1111,1 1111.11I 11 I
VI \ I (,lIl1h '111 (011111 I 't((1I • "Ip.m. d, d . \ 11.1.11 li '1"
lhe confere, ela apreende mais definitivamente. A memória
da criança é tambémjovem e muitos fatos ela retoma no futuro.Ao
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o que < S .j .dadc ' 11 'r' ;I( p"{ 'SSOI ( o "d.ltplll
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entrar para a escola de hoje, a criança abandona suas possibilidades de . I' I I" '1)1 uran 1'\):111', \1.1 ve
qu ' sab ,". 'ntlJ.laSJ1l (.a ri nça p • o ", 1"1
escolhas para ser conduzida pelo que supomos que é necessário apren- em conviver com "aquel qu sabe". Daí p d 'r n luir qu ':1 ClI.III~,1
der. Trocamos sua liberdade pela nossa lógica de adulto, nossas lições apreende, como todos nós, para ser amada p r aqu lc LI' S:I '. a 1111li
para um amanhã que não temos garantia de viver e assegurar ao aluno. é o maior ato de sabedoria e motivo maior da aprendiza em. M 'SIII"
incrédulos, reconhecemos que nascemos para amar e ser arnad S.
Somos uma sociedade televisiva. Em todos os espaços - residên- Se o professor é leitor - possui o hábito da leitura -, r para S 'li
cias, consultórios, aeroportos, rodoviárias, secretarias, bancos, hospitais, alunos, se encanta diante das histórias, das poesias, dos contos fantásti )s,
escolas - sempre existe um aparelho de TV diante de nós. Estar em também os alunos vão desejar ser leitores. Se o professor comenta suas
~ilênc.iotornou-se impossível.Talvez tenham descoberto que o silêncio leituras, mobiliza os alunos para estar com os livros, e esse praz r s '
e pengoso, por nos permitir travar o diálogo mais profundo: quando cristaliza já na infância. E, uma vez despertado, ele não nos aband 11,\
nosso eu real conversa com o nosso eu ideal. É povoando o silêncio
jamais. Nada custa ao professor ler um poema no início .daaula~~z 'o 10
que reconstruímos o que nos foi dado. que descobriu, gostou e quer ler para eles. Se as cnanças Ja sab '111
Os bons programas que existem nas televisões vêm entremeados da
escrever, nada impede ao professor de fazer um ditado do poema, ou
publicidade,.nos mostrando tudo que ainda não temos e falta adquirir: quem sabe imprimir e distribuir entre os meninos. Nenhuma p ~.-
carro, geladeira, celular, cartão de crédito, tênis, viagens.A televisão é um goga proibiu tal atitude. Quando leitor, o professor pode recorri ndt r
objeto que sempre nos informa sobre o que não temos. Ela confirma a leitura de uma determinada obra. Ele vai saber motivar os alun s,
as nossas faltas e inaugura outras, indefinidamente. relatando sua emoção diante da leitura, vai expressar sua interpreta ~ ,
E também as crianças, em casa, encontram todos da família diante aprofundando os alunos, para intensificar a leitura. Ler ta~bém . :
da televisão. Por que ler se em minha casa ninguém lê? Por que ler aprende. Nem sempre deixar o aluno diante de um mont~ de livros v \
se a televisão não me demanda esforços? Ler passa a ser para elas um formá-Io como leitor. Corre-se o risco de a escolha recair sobre fat s
"~ever" escolar, e ~ão um ato para a vida. Quando determinamos que de seu cotidiano, ler o que já se conhece.A boa leitura é aquela que n s
ha uma TV Educativa e uma TV Comercial, afirmamos a distância entre descontextualiza. De ois, ler é um/trabalho que exige entendimento,
escola e vida. Podemos desenvolver uma veia crítica, social, ideológica,
descoberta, confronto.
diante de qualquer canal. Em geral nos informamos sobre livros quando, entre amig s
Não desejo criar uma dicotomia entre a literatura e a televisão. também leitores, comentam-se as leituras. Há sempre alguém que n s
Ambas têm seu valor no mundo das comunicações. Mas, diante do fala sobre o texto, deixando transbordar seu encantamento. Procuram s
texto literário, dialogamos com o que somos em realidade. Trazemos um livro quando um crítico de nossa confiança e com afinidade J
para o pensamento e a ação coisas que jamais mencionamos, jamais recomenda, pelos jornais e revistas.Também o professor deve recom '11
pronunCIamos. Nossas fantasias - são elas o mais profundo de nós - dar a leitura, falar sobre o conteúdo, deixando sua emoção vir à t 11:1.
vêm à ~ona e lidamos com nossos desejos acordados pela escrita do É compreendendo as funções da literatura, para exercer com qU:I-
outro. E comum, diante de um texto, confidenciarmos a nós mesmos: lidade a vida, que os professores formarão leitores. Praticar a pedag gi:l
era isso que eu gostaria de dizer. O texto literário nos encoraja a nos em profundidade é um ato de trazer o outro para viver em 111< i
questionarmos e nos tornarmos senhores do nosso próprio destino. É
Leitura e educaçao

94 Conversas com o Professor


luz. Pedagogia não é outorgar ao aluno "direitos", mas permitir que entendimentos, outras revelações. As bibliotecas nos aguardam com
'I ' tome posse dos seus direitos adquiridos pelo ato de nascer. Para novas propostas de mundo, alternativas de relações, ricas condiçõe;
tanto é preciso que o mestre seja um leitor. Que, após ler, diga para de convivência, diferentes histórias, outros olhares sobre o mundo. E
si mesmo: "Quero que meus alunos também conheçam esse livro". p~los_livrosque nçs r~conhecemos como~outro", singular e,30 meYl!0
uando encontramos a beleza, somos levados a distribuí-Ia também J:emp~, parte de uma comu~dade que só se enriquece pela soma das
gratuitamente. A beleza foi feita para conviver com o coletivo. Por ser diferenças.
assim, as bibliotecas públicas e escolares só serão frequentadas quando '-- Cabe também aos bibliotecários trabalhar para fazer circular a obra
a educação compreender que, pela leitura, educamos a sensibilidade, literária. Seu ofício técnico é indispensável, mas, em verdade, o livro
r ,finamos os conceitos, aumentamos nossos conhecimentos e assumi- clama por leitores. Também aos profissionais da biblioteca é necessário
1ll0Snossa finitude, enquanto homens e mulheres. O sujeito educado tornar o livro um objeto de desejo. :Qai,.i)nerente ao bibliotecário
não é apenas aquele que carrega muito conhecimento para abrilhantar ser leitor, conhecer o acervo e djvl!lgá-I.9,.criar situª-ções.par-ª_que. a
melhor a personalidade. Educado é o sujeito que se espanta diante do bibliote~a s~a de seu ~paço específico e venh~ morar nos corredores,
ri to de viver, com os fenômenos da natureza, que se interroga diante
nas salas de aula, em todos os ll!gar_~disponíveis.
ti ' sua própria humanidade.
~ Toda escolha determina uma perda. Se escolho as montanhas,
No mundo de hoje, em que a ética está ignorada, a violência instalada, não tenho o mar. Daí toda escolha determinar um compromisso. Ao
rorrupção aplaudida, os direitos humanos ultrajados, a segurança ameaçada,
li
escolher-me como professor,deixo de ser médico. S~rprofessor é poss.!::.~
(o itnpossluel acreditar que somente a matemática e o português vão resgatar a
uma profecia, é acreQ.itarna maleabilidad~o mundo, é possuir como
d((!lIidadeperdida. É ingenuidade ou acomodação desconhecer as dimensões edu- ª.
cre~ça ';; o ;;:;undo ode e deve ser reinventado. Daí escola ser um
«uivas da literatura. A escola não pode ser sinônimo de contenção da liberdade. es ;-ço de inform~ção e t~psformação.,É fundamental tomar posse do
( :rlhe à escola tomar o mundo como espaço de reflexâo, de crítica, de criação. conhecimento' á roduzido ~ transfo!:,má-Io ela inventividade comum
J.','i/o rir fantasia, a literatura convida os leitores a voar.
a todos os sujeitos. Mora em...E.ó~_~_m certo il!cômodo, um anseio de
Não se nega o avanço da tecnologia em nossos dias. Os aconte- -'que as coisas pudessem ser de outra maneira. Cabe à escola deixar o
( 11I1l'1ll0Sdo mundo estão presentes em nossa casa, continuamente. - alu~vel-;-r seu sonho e analisá-lo, à luz do coletivo.
) outro lado do mundo nos visita instantaneamente. A comunicação Na literatura tudo pode ganhar forma por meio da palavra. E
t-\,lllhaproporções inimagináveis. O mundo perde em tamanho diante a fantasia, material essencial da literatura, ganha corpo. É que todo
d,IS possibilidades inventivas dos humanos. Somos surpreendidos a cada
real que nos envolve passou antes pela fantasia de alguém. F,antasiar é
Illst:lnte com novas descobertas. Mas nunca os nossos valores humanos movimentar o mundo, é acrescentar, é desenvolver o universo. A lite-
/()ralll tão desrespeitados, vulgarizados. Ganhamos em tecnologias e ratura tem como função impulsionar o l~tor a realizar seu imaginário.
pcrd '111 os em convivência, fraternidade, compaixão. E o amor pelo outro _ Por des,~~:mhecerereconceitos, guiado pela beleza, _ole~tor literário se
vai s mdo trocado pelo medo - de o outro nos agredir, nos ultrapassar, faz também um investidor. A escola deixará de ser apenas um espaço
Il()Svencer. O outro passa a ser o objeto de competição.
consumidor quando fizer da fantasia uma meta de trabalho.
I )aí a biblioteca ser o coração da escola. Nela estão guardados o
Vivido 'o sonhado. Ali todo conhecimento do homem está abrignd .
I) 'st/ ' () qu humano realizou ao que ainda sonha r .alizar, .onc 'i-
(os, I t'rgllntns, IlIVid:ls,111d , ans .ios, fantasias, tl1d 'stn 5 disposiçiio
do /'i(lI','I\,do 'st.í .m nl 'rt ,:lgllard:lIldo 110V(lS r 'SPOS(.IS, di/i'l 'lI( 's

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