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EDITORA LUCERNA

Dino Prcti

ESTUDOS DE LINGUA ORAL E ESCRITA

580-FFLCH -USP

1111111111111111
258699

ED I TOR A LLIC E R N A

l~io ucJa11cirn 200 4

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Todns os dirt't llls t't'Sl'r\',1dus t' prnl l'gidos.
Prn_i hid;1 ,1 dupl it·,1,·,io_(l ll rl'prod11,·Jo dc~tc li vro ou parles do 111 cs rno , ~oh tiu.i, , qu er
111nns, Sl' lll ,111t\lr11,1,·,H1 l'Xprl'ss,1 dlls ed it ores.

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Edi 1nra Luccrn,1

n i11,1;1w11,1rli o
\ 'idori,1 Rabcllo

Capa
Lu is S.1gu,1 r & i\ 1.ircl'I us Gaio

CIP-Brasil. Catalogação na fonte


Si ndicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

P94 I e Preti, Dino


Estudos de língua oral e escrita/ Dino Preti. - Rio de Janeiro : Lucerna, 2004
216p.: 23cm. - (Série Dispersos)

Inclui bibliografia

ISBN 85-86930-33-4

1. Língua portuguesa - Português falado. 2. Língua portuguesa - Português escr ito. 3. Co muni -
cação oral. 4. Comunicação escri ta.
J. Título. II. Série.

crm 469.1
04 -0266. C[)U 1' 11. 134.3

EDITORA LucERNA 10 é marca regis trada da


Editora YI I l.u ccrn :1 Lid a.
1{1 1,1 ( :ol ina , (10 / si. 2 1O- Jd . Cu:111a hara
CU >21<J J 1-380 - l{io de Jane iro - !{/
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C1ixa Postal 32054 C[P 2 1931 970 Rio de /,1 11ci ro - RI
13
--
Oralidade e narração literária

A discussão das relações entre língua falada e lite t . · · • l


, . . . _ , ra ma, tn1c1a mente, pas-
saria pela propna d1s~1~çao entre lmgua falada e língua escrita.
Os estudos de Analise da
. Conversação têm procurado demonstrar que "nao -
Se Pode estabelecer uma dicotomia rígida entre fala e escri' ta", pois,
· embora se
possa estabelecer um elenco de distinções, o que ocorre, na verdade "situa-se
num conti~uum e não seria razoável tomar tais distinções como estanques"
(Marcusch1, 1993: 71).
Um consenso a que se chegou nesses estudos é que a língua falada não é
"desorganizada" como se costumava afirmar e tem uma gramática própria que
os falantes aprendem no uso diário e cujas categorias de análise diferem da
gramática da língua escrita. Assim, na organização textual e interacional da
fala, temos marcadores conversacionais, repetições e paráfrases, parentéticas,
sobreposições, anacolutos, hesitações, correções, freqüência de construções
impessoais de fundo atenuador, etc. Na sintaxe, a predominância de períodos
curtos, justaposição, frases incompletas (frases mínimas, suficientes para a com-
preensão do falante e que se interrompem quando isso acontece) , baixa ocor-
rência de subordinação, anacolutos (op.cit.:70). As estruturas sintáticas, segundo
um conhecido estudo, não ultrapassariam sete palavras e dois segundos de
duração (Chafe, 1985:111). No vocabulário, o uso, cada vez mais generalizado
do vocabulário gírio, mas também dos vocábulos obscenos e injuriosos, como
elementos constantes da linguagem afetiva do falante.
A ri gor, o que existe no continuum fala/escrita é uma tipifi~aç,1,~ textual,
que iria desde a conversa distensa do dia a dia, até a exposição ctcntdtGI tt'nsa
ou O pronunciamento oficial de uma autoridade, no caso da língua fal,i(L_,; e
de·s·de a ·mformal,dade
· · de uma carta fam 1·1·1a1. ". te' ,-1 cl"l)<H'IÇ\O
" ' ' de um tcxtn l1k
rário ou de um artigo científico, no caso da língu,1 cscrit;i. ._
Mas,_se observarmos qu;dqucr (Iesses
.. , . tipo:-.(_
· . 1,L 1L' ,Xllll' tll LJll_L' SL' 11nt .1m d1k
.
ren . · . .11.·. 1 j 1111 )oss1w l ,ll1rm,1r lJllL' existe
ças e semelhanças entre lab1 e cscnLi, Sl · ·· .
u 1 11 r01.111'I 11or L' XL' lll~)I O, que a ltn
ma perfeita corres pondência cnt rc eles, te t, '' · .
guagem de uma carta familiar
.. . , . , .. 1 . ,11 ,-csc nt,1ç.10 L'X,1l,1 tb lmguagcm
pudesse su · rc ·
falada do dia a dia.
126 ÜIN O P RET I

Para não nos alongarmos 110 problema das diferenças e se melh anças entre
fala e escrita j.1 cstud;das por outros pesqui sado res, entre ~s qu ais, aqu i no
Brasil, Luís Antônio Marcuschi (o p.cit. ), bastaria lembrar ª di fe rença estabele-
cida pela sit11nçiio rle co1111111icaçüo entre fal ante/ouvinte de um lado e escritor/
leitor de outro, com a presen ça/ausência dos recursos da produção lin güísti ca
face a fa ce, para demonstrarmos que a escrita não pode ser, em momento al-
gum, a representação absoluta e fi el da fal a.
'" É ilusório, pois, o diálogo com o leitor, por meio de uma carta, de um art i-
go, de um texto literário. O que há é apenas a pressuposição de que um leitor
;steja recebendo nossas palavras com a intenção que lhes atribuímos, dent ro
das pressupostas expectativas desse mesmo leitor. A rigor, ninguém escreve
para passar a idéia de que se trata de uma fala transcrita.
No entanto, é possível fazer chegar ao leitor a ilusão de uma realidade oral,
desde que tal atitude decorra de mn hábil processo de elaboração, privilégio do
texto literário. O escritor emprega, na escrita, "marcas de oralidade,,, que per-
n1item ao leitor reconhecer no texto uma realidade lingüística que se habituou
a ouvir ou que, pelo menos, já ouviu alguma vez e que incorporou a seus esque-
mas de conhecimento (Tannen & Wallat,1993), frutos de sua experiência como
falante. Esses esquemas são os responsáveis pelas suas estruturas de expectativa
(idem) , isto é, o que o ouvinte (ou leitor) espera que o falante (ou escritor) fale
(ou escreva) e em que tipo de linguagem o faça. São elas que permitem nosso
estranhamento quando deparamos em um texto vocábulos ou estruturas em
desacordo com o esperado. Assim, ninguém esperaria encontrar numa man-
chete jornalística um vocábulo obsceno ou uma injúria que, no entanto, esta-
riam dentro de suas expectativas num discurso oral exacerbado.
Normalmente, é comum encontrarmos juízos sobre certos textos literá-
rios, apontando sua ligação com a linguagem falada. Afirma-se, por exemplo,
que os modernistas procuraram aproveitar a linguagem oral, quando escre-
viam seus textos ou que, da mesma forma , autores contemporâneos têm utili-
zado a fala expontânea, a gíria e até os palavrões em suas obras de fi cção.
Essas afirmações sempre permaneceram em limites vagos. Se pensarmos
nos diálogos literários, a reprodução da fala , em muitos esc rito res, certamente,
aprox ima -se do uso lingüístico de sua época, não só na literatura atual, 111;1s
também em o utros tempos (C f. Preti , 1984a, 1997a, 1997b).
Ma s, em se tratando de narradores (e m particular, de prim cir,1 pçsso:1). :1
r~tra tégia 11 cc ional se mpre cnco nt rou sérios problemas p,lra clahor,lr ,1 lingu:1
fa lada e, na maiori a das vezes, é o vocahuLírio a úni ca marca d,1 0 r; 1lid.Hk 11 :1
vo z narra tiva (Cf. Pn:ti , l<)81lh ).
Esrnnos nI lrN cuA 0
ll i\l I l SC' i< I IA
127
. .., Jc111onstrarmos as. experiências, l't
P,11, .: .· .
I c1.i11as dc 111 - .
, \idade, na voz narrativa, seria nccc , , .·. . ~orpo rc1 ~"º da , m,1rcc1 <,
1-M•' ssa11c1umav,1riaç;- .
( l .•
0 que seria impossível nos limites d t l ªº
cs e tra )alho Fsc >Ih .
muit o gr,ind c: de l ' '

1t,,tos,
. trecho de um conto de João Antôni .

. ,. e cmos, pcm, apc:
11 as o o, co ntista cont cmp , ,
. t11 0S comentar nele o trabalho de elabora _ d . oranco, e procu
raie çao a oralidade, na ri cçao:

"Comecei por baixo, baixo, como todo sofred , .


or co meça Scrvmd o p ·
11alandro, ganhar. Como todo infeliz começ a.
I
. ara um, ma1<i
já cedinho batucava.
_ Vai um brilho, moço?
Repicar na caixa, mandar os olhos nos pés que passavam Ch f . Ed
d b 'lh d • amar regues. epois
me man ar no n o os sapatos. Fazer um barulhão co ·
. . mo pano, atiçar os 6raços
finos, esperto a11.
Os ded~s imundos nã~ tinh~m sosse_go. Às vezes, cobiçava os pisantes dos fregue-
ses; entao, apurava mais o bnlho. O tipo se levantava da cadeira, se arrumava todo;
se empinava, me escorregava a gorja magra. Tudo pixulé, só caraminguás, uma nota
de dois ou cinco cruzeiros. Mas eu levantava os olhos e agradecia.
Agüentava frio nas pernas, andava de tênis furado, olhava muito doce que não co-
mia, e os safanões que levei no meio das ventas, quando me atrevia a vontades, me
ensinaram que o meu negócio era ver e desejar. Parasse aí.
Agüentei muito xingo, fui escorraçado, batido e dormi de pelo no chão. Levei o
nome de vagabundo desde cedo. Lá na rua do Triunfo, na Pensão do Triunfo, seu
Hilário e Dona Catarina.
Aquilo, àquele tempo, já era o casarão descorado dos dias de hoje, já pensão de
mulheres. Mas abrigava também, à noite, magros, encardidos, esmoleiros, engra.xa-
tes, sebosos, aleijados, viradores, cambistas, camelôs, gente de crime miúdo, mas
corrida da polícia, safados da barra pesada, que mal e mal amanhecia, se u Hilár io
mandava andar. Cada um para a sua viração.
A gente caía para a rua. Catava que catava um jeito de se arrum~r. Vender p~nte,
vender jornal, lavar carro, ajudar camelô, passar retrato ~e santo, gile_te, calç~1de1rn ...
Qualquer bagulho é esperança de grana, quando o sofredo: tem fome . \ o~t~de,
jeito? A fome ensina. A gente nas ruas parecia cachorro enfiando a fu ça atias de
comida .
.. .. ....:... ........... . ....·; .......... ..._. ................ :.·. . ~-.. ..:.·.· . .i~;.-~~;~~--.r.·i::·:; ;~;·;~·,;· -,~-i'~.'ii;; 'i:i; ~:;~;i
Bem. Engraxando las nas beiradas da Estc1çao Julio · . , . .
. ' . . .. -ões l' rnoll'qlll'S ulllHI Lll l ,li,
dos ca ras. Entre velhos fracassados em outr,is Vll,l'r · . 1
. _ . h •·IV'\ 1-í d·i B,1rra h1t1l 1,1, (1a 1-11 1 · ' n
mel hores, ge nt e que tinha pai e mae e que c cg, ' ' ' . . • · . Ni, , frc,
l)>Om Retiro. . . . ', . vira,·ao 11111110 (1ll'l' lllll 11,1. ' l l .
... Porque isso de e11gr,1 xM e um,t 1 . , . 1 t' · 11
. 1 ' .. ,x·1e dll pa110, 1'lltq11L .1111. .1 ,1 ,1 111 t11 ,
cura não. A gen te vai 1(1, ao tramhiqu c ( ª gi, ' ' . . . . . . , vi d \ n1.111s,1s, dn
1
a · ·1O llll' O S ()l;\fl(l:-0 l(ll\ 1 S 11 ' 1. ' .
pert ando. E é:. mai s sé rio do q11c aqui ( · ,. • 11' 1111 t\l\1t l' l.1 11wb:.1,b
, . . . , S iHll:-O ,IS 1\Hl 1l S )li r,'
que os baca nas e os mocoro11gos coill su,1. .
. .
.. · iln , ir 1 ,1,·ud ir l,1 suas
f- . .. . . .. ·1 d,tl1 11111a L,1 :-.q1111 , 1, , .
arroupa com quem eu m e v11,1v,1 , t11 ,1v, 1 . 1 . L'sc1 11·1\\ llll dL' dnr1111r
. ., . . . s e d csL L' l\l.1 ( o s, . ' ,
casas; e, engraxando, os ve lhos, stl Jº· . . ( ·orno bichos.
a< niarrotados nas ruas, c 1querac1os. e<. . k 10111101 1111 L 1L 10 . •
DiN O P1ii: 11
12S
_ to e éramos ex plorados por um só. O jorn aleiro I)
d'1v·1n1 ov1mc11 1. d d. h . . ono
A Jul i(l Prestes ' '. d . _ ... de engraxa r, do uga r e o in e1ro, ele só ag
-- ios ·ornais e as ca1xc1s . . arrava
d,1 banL.t l . J - . ,t lá co m seus Jorn ais.
E11 gnxa r nao, e e , d' I'
.1 grana. .' • ' . . • Estaçã o da Luz. Tambem ren 1a a. Fazia ali muit f
, l , odia me v11 a1 na h o re.
Eu ) CJJ1 P , . , , d Outras cidades. Franco da Roe a, Perus, Jun diaí. .. D .
;- d~suburb10 e ate e , . d l . esc,-
guo L .t . os ou trabalhadores do comerc10, as OJas, gente do e .

dos dos trens, ma11111 eir h scn-
,_ ' _ d d ferro todo esse povo de gravata que gan a mal. Mas que
tóno da est1 a a e , . , rne
_ 0 mocó a gordura, 0 maldito, o tutu , o pororo, o mango, 0 vent
largava o carvao, , . . . o,
a gaita a grana, a gaito 1 ma, o capim, o concreto, o abre-ca .
a aranuncha. A se da , , . . _ .. rn1-
nho, o cobre, a nota, a manteiga, o agnão, o ~mhao. O positivo,º.algum, o dinheiro.
Aquele um de que eu precisava para me aguentar nas p~rnas SUJas, almoçando ba-
nana, pastéis, sanduíches. E com que p_agava para dor~ir a um cant~ com os vaga-
bundos lá nos escuros da Pensão do Tnunfo. Onde mmta vez eu curti dor-de-dente
sozinho, quieto no meu canto, abafando o som da boca, para não perturbar os
outros."
·········································································································································
(João Antônio. Paulinho Perna Torta. ln: Leão de chácara. Rio de Janeiro, Civiliza-
ção Brasileira, 1975, p.61 -64.

A repetição

Vários estudos recentes têm mostrado, em profundidade, a importância da


repetição na língua falada, no processo de produção e compreensão dos inter-
locutores. (Cf. Marcuschi, 1992). Repetindo, o falante alivia a densidade das
informações, dando tempo ao ouvinte de compreendê-lo melhor e, por outro
lado, reunindo condições de organizar ou reorganizar o seu próprio discurso.
Além disso, a repetição constitui um recurso enfático que compreende não
só os vocábulos, mas também as estruturas sintáticas, quando não o uso de
paráfrases, que acentua e especifica certos aspectos repetidos.
A repetição também contribui para o envolvimento entre os interlocutores
~uma conversação, que se desenvolve nmn processo de colaboração entre.os
interlocutores (um discurso a doi s). A ratificação das idéias e até mesmoª dis-
corciá ncia são índi ces de que os fa lantes estão envolvidos no desenrolar do tema
co nver~ac io nal (Cf. Ta nn en, 1986 ).
_fatuda nuo -sc diálogos espo ntâneos, já se chego u à concl usJo de queª rc~
petição ')O<.k: se r u111 d · f , • pelo rit• mo que os 111
· t e-rlocuwre~
. . t · os ato res res ponsave1s . .
imprimem à ~ua 1 . t · - . :- . , . . ,j 111 ana ·1
fala ., . ~,l_r icipc1ç,w conversac1onal, caractenstica que apiox
do texto l1terano esc rito (idem) :

- "e problemas como o S'I . ,


1 v10 Santos, como vocês entendem?
ESTUDOS DE LI N GUA ÜRAI r E sc R11 A
1 29

_ problema do ·Sílvio Sa. .ntos' é um .probl .


0 ele como ah ás é dtfíci\ d e, se
l,re . nt cncií\cm,, MUito c1·r, 1
I iu.. de se s 1:N 0

orque ...tem que se ter ali a m ed'1d a d oh 'r sobre tud< )... e. ele· cs r·
' , tcnuar .,
ele já é un1
P . industrial
d em grande escala -omem
a n d...'da medida d o ...
...do :ind
pcuustJCa
. 1mcntc
de negóoos ...• e o profissional< d e 1~v e d' ic 1 a <lo com erc1antc. .d 0n ah q ue
0
do empresán o d e TV. .. todas as p essoas
, ... que t empresário
b de TV... sohrc .. . ªesse o rnem
1
ras e tu o ... to as essas pessoas t estemunh ra a ham com S'I O · · aspecto
' I V .I O Sa ntos ·
d d
empresários
.. b aldo mundo
. ... que ele paga na ho º'
amra que ele é .um··.. um d os.. . ·melhartore<;is
, qu quer ponto
um .. so ,, de vista ··· paga muito em ... ee, mu1tobom
. é
- ele e uma boa pessoa (NURC/SP D 2 233)

. texto nos. mostra que a re pe t"içao,


. Esse _ a retomad , .
tnbu1 para um ntmo de fala que , sem ser intenci
. ªcontinuadas
l idéias con -
espontânea que poderíamos até , se qu1sessemos
. , d" tona
·b ,. marca uma melodia
de certos paradigmas: ' is n mr em estrofes, a partir

tem que se ter a medida do homem


a medida do industrial
ª medida do comerciante
a do homem de negócios
e do profissional de TV
e do empresário de TV

todas as pessoas que trabalham com o Sílvio Santos


os artista e tudo
todas essas pessoas
'
testemunham que ele é um dos melhores empresários do mundo
que ele paga na hora
paga muito bem
e é muito bom
é um:: sob qualquer ponto de vista
é uma boa pessoa

Na língua escrita , a repetição pode ser um índice de estilo descui,bdo e as


regras estilísticas recom e ndam que se use a sinonímia, que reflete um tt'xtu
mais elaborado. Todavia, a repetição pode ser um recu rso intencional ,k ,·sti\,,.
de~de _que conco rra para dar uma ritmo à prosa que lembraria, assim, ritnws
propnos da líng ua falada . Estudos têm sido realizados, no scntid<> ,k prnva r

uma poética da fala (Cf. Tanncn, 1986).


No texto literá rio que nos serve de . tpoio, c ii Cl)t1\r ;1tiws :
ÜIN O P1~1 li
130

.. e_,111 ,c(o. po•· t,nin, , , como todo sofredor co111eçn.( ... ) Como todo inr.
. , /Joix-o el:
11 12 corneç .,
ª·
. ,r,,e-sc que O autor utiliza não apenas a repetição de vocábulo
() l1sl . , . s, rna~
t,unbtim a de estruturas smtat1cas:

como todo sofredor começa


[
infeliz começa

A estratégia repetitiva apresenta feição diferente ao longo do texto. A repe-


ticão de estruturas sintáticas, por exemplo, pode acontecer, também, com vo-
cábulos diferentes, mas conservando um mesmo ritmo. Na fala espontânea, é
comum a enumeração de atividades pela repetição do infinitivo, forma nomi-
nal do verbo muito freqüente em qualquer registro. Como acontece, também 1

no teÀ1:o que examinamos:

"Vender pente, vender jornal, lavar carro, ajudar camelô, passar retrato de santo,
gilete, calçadeira..."

É interessante notar que o escritor, como se estivesse "conversando" livre-


mente com o leitor não se importa de repetir o verbo vender que, a rigor, pode-
ria ter sido omitido, como o faz no final da enumeração, em que santo, gilete,
calçadeira passam a figurar na mesma função de objeto de passar. Na sua prosa)
como na língua oral, não existe uma coerência lógica, o que poderia constituir
um falha na organização sintática do pensamento, na visão de um prosador
mais ligado à organização tradicional da escrita.
Se observarmos o texto, dentro de uma perspectiva discursiva, o fenômeno
da repetição mostraria que a própria seqüência temporal da narrativa, vem
marcada pelo presença de vocábulos repetidos:

"Agüentava fri o nas pernas ..".


"Agüentei muito xi ngo ..."

J_>or o~ tn_>lado, certos vocá bulos cuja significaç.1o expressa de mam'Ír,1rnuit P


prec,~a ª rdéia ele 4uc O autor necessita, tamhém süo repetidos, cm classes gra-
matica
. i~ J ift re11 t"•s· <>u ,1'·1<>. v.
1
·. .. o tex to gira
c;.unos. · cm to rno <.i a v1·<.i a<.1,L t1111 n1e-
n_rno de rua , ~cm profls~a o, preocupado cxcl usi va rn cntc com a sua sobreviv~n~
c,a no d ia a dia da rua o u da pens,io bordel. Co mo tantos ou tros, seu amanh,1
é _uma incógn it a. Portanto, sua vida poderia ser resumida num vocúbulo gírio:
v1raçao. Q uc1· 1quer ativ i a< te, ou melhor, "qua lquer bagulho é esperança de gri-
· ·d ·
ESTUDOS DE LfNCUA ÜRA I r f SC lnt A 131

,, portanto, viração constitui o tema ce ntral de lodo~o.e., lc1 10 ~ mcncionadoc., na


Jlél : . tiva. Vemos, assim, o vocá bulo e su;1s va ri ant es aparece rem rcpc:t ido) em
nat ta d t t .
itoS 1110111entos · 0 ex o, como, ce rtamente, ocorre ri a nurn a 11 arratÍvé1 ora l:
f11l l

" sebosos, aleij ados, viradores ..."


,.. . - ))

·'Cada um para a sua viraçao.


"Entre velhos fracassados em outras viraçiks..."
"Porque isso de engraxar é uma viração muito direitinh a."
''Aquela mole~ada fa ~roupa com quem eu me vira va ...''
"Eu bem podia me virar na Estação da Luz."

A repetição de sinônimos é um índice inequívoco de elaboração do texto


literário. Pretendendo manter seu texto num registro coloquial (sem dúvi da,
elaborado ) o escritor optou por uma seqüência de repetições em fo rma de
gradação, utilizando vocábulos gírios, quase sempre oriundos da linguagem
marginal, o que o mantém na linha da oralidade. Num dos momentos mais
expressivos do texto, o narrador passa a enumerar vários sinônimos do vocá-
bulo dinheiro, dividindo-os em três segmentos:

"Mas que me largava o carvão a seda o positivo


omocó a gaita o algum
a gordura a grana o dinheiro"
o maldito a gaitolina
o tutuo capim
o pororó o concreto
o mango o abre-caminho
o vento o cobre
a granuncha a nota
a manteiga
o agrião
o pinhão

Os marcadores conversacionais
. / · , do leitor é· 0 uso tk rn:1rcadn-
Uma das téc nicas narrativas de envo v1111c11 10 · , _
res . . . · . , .·. .. I· /, mr noi, :, n1t ,10, ,li11 n1t,10.
conversac1ona1s, simul and o um a 111sto11•1 OI ,l · < ' r · 1
veja, certo, bem, eu nclw ctc."( Marcusc hi , 1086: 68 ) _
, .. li
Ern bora de uso limit ado, no trec 110 qu e lSl O 1 L 1110 · 1' , s (e n l'it l,ca rm os nd c),
enc 0 ntramos um marcador co nve rsauo _. n,t. 1 (/J( .111 ) l llll' nos recoloca no tempo
· · ' ' num momento cm que o ve mos
da narrrat 1·va . O narrador começ·t, 11')~ p •·1ss·1do
DtNO PRETI
132
traem digressões sobre sua vida miseráv 1
ngraxate, en . . . ee
trabalhando como e . e t , ni·o E depois, retoma a cena m1cial:
· de m1or u · '
ª
h
de seus compan eiras
. d s da Estação Júlio Prestes."
"Bem. Engraxando lá nas beira a
·onais na voz narrativa de primeira pesso (
Os marcadores conversao ' - , . a o
t'tuem um recurso que nao e novidade dos e
narrador-personagem ), cons 1 . on.
, ( , M hado de Assis os emprega), mas que fo1 usado intens
temporaneos ate ac , . . a-
·t como João Antomo, Rubem Fonseca, para cnar a ilusã
mente por escn ores . o
do relato falado, às vezes, de fundo confess10nal.

As estruturas sintáticas

É complexo problema da estruturação sintática da língua falada, confor-


O
me reconhece Moraes (1997) . No entanto, buscam alguns estudiosos simplifi-
car as dificuldades, apontando certas características como mais comuns na con-
versação. Assim, a presença de frases mínimas, interrompidas no momento em
que o falante percebe que seu ouvinte já compreendeu o sentido que desejava
comunicar; a ausência de estruturas subordinadas mais complexas; a ocorrên-
cia de frases justapostas e de períodos simples, as estruturas double bind, isso
para nos limitarmos à organização interna do período.
Se observarmos um pequeno texto falado, talvez possa mos associar algu-
mas de suas características às observadas na narrativa literária:

"-dona I. a se_nhora costuma ir ao cine: :ma te::atro ... o que que a senhora o que que
a senhora mais gosta que tipo de filme.. .
~ eu ... quase não vou ao cinema teatro ... às vezes eu vou ... mais a teatro do que a
cmema
_ , ... filme
. eu gosto mais de come'd'1a ... nao - gosto muito de fil me muito
. tnste
.
nao e conugo.
não... eu tenh 0 1·d0 a teatro .. . tem um grupinho que nós... e::
, um
grupo assim:: da minh.i idad · ·1
MAS ,e . , e que vai sempre ao teatro são é uma assistente sona
e1a e 1orn11davel sabe?
(NURC/SP, oro 234)

<Este te>..10 nos revela um seom -


suntos do dia a d' e . t:> ento de conversação espontânea sobre as
ia, sem 10rmal1dade e l te
responde apenas a . ' sem processos argumentativos. A 1a an
uma pergunta se va·1 · . fil e
prefere. É a fala na sua d _ ª cmema ou a teatro e que tipo de rn
espreocupaça t ·d - · rn
reflexão. Trata-se deu c~ 1
ma tdtante culta
° razi a pelos assuntos que nao exige
, 'd •fica-
se com o de um f; l ' mas seu mvel de linguagem 1 entI
a a ante comum, escolarizada.
ESTUDOS DE LiN
GUA
0 RAL E ESCRITA 133

É claro que não podemos partir deste p f .


, . d . equeno ragmento para extrairmos
as as caractenstICas a smtaxe falada O . . .
tod , que ex1gma um corpus mais amplo
variantes controladas. Mas o que se pod b '
co 01 , e o servar, pensando-se no fato
de a língua falada espontanea
.
não oferecer p 'b'l 'd d d .
oss1 11 a e e planeJamento e
aboração como a escnta e nem um processo d e . ( _
el , , . e re1e1tura a nao ser pela repe-
tição), e .que ha,
. na smtaxe oral
. uma
_ tendência
. • 11.6ICaçao
pa ra a s1mp - das estru-
turas,
, evitando-se uma orgamzaçao _mais complexa , como, por exemp1o, a dos
enados compostos por coordenaçao e subordi'naç~ p • .1 . .
P , . ao. nv1 eg1am-se a Justa-
posição, os_ penados si~ples, as subordinadas curtas, os segmentos aparente-
mente desligados
. .entre s1, mas unidos pelos contexto. Numa d'1v1sao,
· - venamos
,
0 texto acima assim:

eu quase não vou ao cinema teatro


às vezes eu vou mais a teatro do que a cinema
filmes eu gosto mais de comédias
não gosto muito de filme muito triste não é comigo
eu tenho ido a teatro
tem um grupinho que nós ...
é:: um grupo assim:: da minha idade que vai sempre ao teatro
são é uma assistente social
MAS ela é formidável

A divisão nos mostra comportamentos comuns em fala espontânea: frases


curtas, períodos simples, justapostos, um "mas" intruduzindo uma adversativa,
só identificável pelo contexto, uma estrutura double bind ("não gosto muito de
filme muito triste não é comigo"), em que um elemento central pode ligar-se à
direita ou à esquerda da frase; frases mínimas interrompidas, abandonadas e
retomadas posteriormente pela repetição C'tem um grupinho que nós .. .// é::
um grupinho assim:: da minha idade que vai sempre ao teatro") ,
A natural elaboração da língua escrita, e ainda mais, da literária, para dar a
idéia de uma narração oral, pode revelar algumas dessas características, como
podemos ver no texto de apoio:

"Bem. Engraxando lá nas beiradas da Estação Júlio Prestes."


"Lá na rua do Triunfo, seu Hilário e Dona Catarina."
"eorno bichos."

No primeiro caso, a oração subordinada reduzida de gerúndio ve m desli-


gada, sem oração principal. Ela retoma, com brev idade, um contexto qu~ po-
deria ser: "Bem, voltemos ao momento em que estávamos engraxando la nas
beiradas da Estação Júlio Prestes."
ÜiN O Pl{LTI

134
.- . nominal isolad.-i é um recurso que o narrador
1H
lo uma 11asr . u,a
No ~cgu , . desenvolver. Aparentemente desligada el
. . d ir o tema que vai . - . , . , a, na
para 111110 uz d discurso (a situaçao de m1sena em que v· .
ªª
_ . ao contexto o
verdade, ::,e 11o . eguir as condições do bordel em que dorrnj
1v1a 0
d ·) ara descrevei, a s ' . a.
narra 0 1 , P_ . f1· e comparativa, breve, vem destacada do período ant
No terceiro, uma as . . e-
. ção acentua O seu significado e resume todo O períod
. ., poi·que a sua sepat a
no1 o
anterior. , b l ·
A 1.ustapos1çao
. - das frases tambem lem ra o processo ora na sua sirnpli·c·i-
dade:

"AQiientei frio nas pernas, andava de tênis furado, olhava muito doce que não comia..."
"V:nder pente, vender jornal, lavar carro, ajudar camelô ...

Outra marca da oralidade é a insistência de um dêitico de reforço ("lá"),


que aparece como um elemento expressivo na linguagem falada:

"Lá na rua do Triunfo ..."


"Engraxando lá nas beiradas ..."
"... gente que tinha pai e mãe e que chegava lá da Barra Funda..."
"A gente vai lá, ao trambique da graxa e do pano ..."
"Engraxar, não; ele lá com seus jornais."
"... para dormir a um canto com os vagabundos lá nos escuros da Pensão do Triunfo."

Insistimos: não estamos pretendendo afirmar que o modelo que estamos


analisando represente um texto construído com sintaxe da língua falada, mes-
mo porque há trechos em que se nota uma elaboração sintática bem mais com-
plexa, o que é natural, tratando-se de um texto literário. Apenas estamos mos-
trando algumas marcas da oralidade, na sintaxe, que contribuem para essa ilusão
de um depoimento oral espontâneo criada pelo escritor.

O léxico

Um exa me rápido do texto de apoio nos mostra uma característic.i rnuitL'


comum cm autor\..,•s <]LJ C tcn
, t am criar
· a rca 11uade
. .J de um narr,H.:l or popu'!·11"· ul11
1

vocabul~rio comprometido com a fal a si mples. Os adjetivos dizem tudo: nui-


landro: imundo
.
; rctiz l I . ,r, i 1·· ·t1 N I·
. ' 1111 , vagu 111 11, o, c11rnrtlulo, sc/Joso, 11/cijado, s<1j<U o, ,n,. •·
do, otano, su;o, desdentado etc. ·
Ao lado deles, um uso intensivo da gíria. Conforme sabemos, a gíria surge
como um vocab I' · ·d 'fi e !·1ntt'
u ano t ent1 icador, não raro criptológico e que serve ao ta'
Es1unos 1ir LIN(' IIA
' O111\1 1
r srn 1l i\
13S

.,.tfjrmar seu si~110 de ~rnpo Isto é


para te, . l 1 : . '1 i . • ' li m e1e 111 e n l () d e ;, li t () -;ti i rn, ;,\ "() qu e
õe .1 ~,m )O og1a soCta uo gruno . . '
coinP ' · ,.. _ , ~ t ' como O VCSlUé.Írio , a ;1p;1ré11cia lísic.i, e,
rtamento cspec1hco etc. Usando .1 " . . " , .·
con1po . . ' su,, gt, 1a, a de se us com panh eiros <,
. 'duo se mtegra no grupo, comunic-, .-. li . '
ín dtVl , . ' -se me 1or com os mter locutorcs qu e
é111 conhecem seu cod1go vocabL1I·11.
tai11b . '· • , co mo aco ntece, por exemplo, na \
prisões_ou entre gru.p~~ de r~sco, como os do tóxico, do crim e organizado, dos
travestis e homossexuais,
.
dos malandros etc Ou etit·i·c grLtp< .
·

>s soc,a1mcn e e11s-
t .
. como os ligados à música popuh.r J b , •·
nntos, < , aos c u es noturnos, as danceteri as,
às escolas etc.
A divu_lgação irremediável dos códigos restritos, conhecidos como gíria de
grupo, obng~ ~eu~ compo_n~ntes, com o passar do tempo, a renová- los, do que
decorre a dmamICa da gina, sua efemeridade. Há um momento em que os
vocábulos gírias de grupo divulgam-se na linguagem comum, não mais identi-
ficadora, não mais signo de grupo e se tornam gíria comum. Diferentes falan -
tes, de várias classes, de idade variada a usam, como um tipo de moda lingüís-
tica que se torna coletiva.
O texto que estamos examinando é a história de um gigolô da antiga zona
do meretrício paulista. No trecho aqui focalizado, o narrador fala de sua ori-
gem como garoto de rua, engraxate. É natural, pois, que o autor, para melhor
caracterizar seu narrador, utilize com freqüência a gíria dos marginais (gíria de
grupo, portanto) que aparece, por exemplo como um original recurso literário
na enumeração dos sinônimos de dinheiro, antes citada.
Mas a voz narrativa não se limita apenas à gíria de grupo. Ao longo do
texto, a gíria comum participa também do discurso do narrador: mandar os
olhos, me mandar no brilho dos sapatos, pisantes, gorja, pixulé, caraminguás, vi-
ração, viradores, virar-se, barra pesada, bagulho, trambique, bacanas, tirar
casquinha, etc.
Percebe-se que a gíria constitui marca característica e original da voz nar-
rativa e sua ausência descaracterizaria a autenticidade da narração.

As redes semânticas populares

Mesmo utilizando vocábulos típicos da língua oral, até meSmo desgaSlados


pc1o seu uso constante na lin. guagem espon , t -' •1 nonular o autor co nsq!,lll'
c1ne< t t ' '
· . _ . , ·, ·f·
' .
uma surpreenden te valonzaçao de se u sigrn IC.ll ' o . , .
:-\o li11ando-os numa rL·tk s~:-
.. _
, • 1 , , .,
niant1ca qu e progride co m o co rrer e o texto, p,ll ,l e' ' hr ·1 1dc1;1 dL' qt1L' () n; 11 1.idn1,
. . .. ,
. I, . . d·, llll'Slll;l t()rm:1 qt1l' lt L-
pe1as co ndiçocs de vida co rno 111cn1110 t t I ll.'l , '
l'S
· .· , .. ., .
.. _ , .. . . , . . Sl'í.llll'r s1.T (() Jl :,.i1.k 1,1dn um sll
quentadorcs da Pcnsao do I ri unto, 11 .1° pm 1L 1 1•1 ·
ÜiNO PRETI
136

b' h Acompanhemos a construção dessa idéia, com as


humano· era um IC º· " _ h ,, Pala.
· 1 . 1 marcado pelo sema nao umano :
vras desse campo eXIca '

e - s que levei no meio das ventas ..."


"... e os sa1anoe . _ ,,
"... fui escorraçado, batido e dormi de pelo no chao. , . "
"A gente nas ruas parecia cachorro, enfiando a fuça atras de comida.
"... escapavam de dormir amarrotados nas ruas, caquerados e de lombo 110 chão.,,
"Como bichos."

Considerações finais

o texto que nos serviu de apoio mostrou-nos que até as marcas mais co-
muns da linguagem oral espontânea, como a gíria, podem compor um discur-
so literário original. Trabalhamos com um documento literário contemporâ-
neo, mas os exemplos dessas relações entre fala e escrita podem ser encontrados
em todos os tempos (Cf. Preti, 1984a).
Na voz narrativa de primeira pessoa, o artifício resulta fund amentalmente
de uma empatia entre linguagem do narrador, linguagem da personagem que
ele representa na história e contexto social. A metamorfose se completa, quan-
do o leitor se sente envolvido por essa ilusão de estar acompanhando uma nar-
rativa falada que, na verdade, conforme vimos, só conserva algumas marcas da
oralidade.
Mas o arranjo reflete um árduo e coerente processo de elaboração da lin-
guagem pelo escritor, que resultou, no texto estudado, num depoimento hu-
mano e comovente.

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Texto de apoio

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( l.ª versão: Revista da ANPOLL São Paulo,


Humanitas FFLCH-USP, v. 4, 1998, p. 81 -96)

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