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G raças ao diário do médico Heroard, podemos imaginar como era a vida de uma cri-
ança no início do século XVII, como eram suas brincadeiras, e a que eta_pas de seu
desenvolvimento fisico e mental cada uma delas correspondia. Embora essa criança fosse
um Delfim de França, o futuro Luís XIII, seu caso permanece típico, pois na corte de
Henrique IV as crianças reais, legítimas ou bastardas, recebiam o mesmo tratamento que
todas as outras crianças nobres, não existindo ainda un1a diferença absoluta entre os palácios
reais e os castelos fidalgos. A não ser pelo fato de nunca ter ido ao colégio, frequentado
já por uma parte da no~reza, o jovem Luís XIII foi educado como seus companheiros.
Recebeu aulas de maneJo de armas e de equitação do mes mo M . d e Pl uv1ne · 1, que, e m sua
academia, formava a juventude nobre nas artes da gue
. _ .
A il -
rra. s ustraçoes o manua
d 1 de
eqmtaçao de M . de PluVlnel, as belas gravuras de e d p . , XIII
· d al N · e os, mostram o Jovem Lms
exerc1tan o-se a cav o. a segunda metade do sécul XVII . . •
, . . O lSSO ' ~ . 15' O
culto monarqmco separava mais cedo - n lid ' Ja nao acontecia ma ·
a rea ade, desde a . . . .
queno príncipe dos outros mortais, mesmo os de b primeira 1nfânc1a - o pe-
, erço nobre
Lms XIII nasceu a 27 de setembro de 1601 Seu , d" ·
· me 1co H d . .
tro minucioso de todos os seus feitos e gestos.1 Com u eroar deixou-nos um reg1s-
. " . li
tra que o menmo toca v10 no e canta ao mesmo tem ,,
m ano e cinc 0 meses, Heroard reg1s- .
.
os b nnque d os h ab.1tua1s
· d os pequeninos, · como O cavalo pod · Antes , e1e se contentava com
Com um :mo e meio, porém,já lhe colocam um violino e P:u, 0 cata-vento ou O pião.
. b b nas maos· 0 . .
um instrumento no re, era a re eca que acompanhava as da · violino ainda não era
aldeias. De toda forma, ~ercebe-se a _imp_ortância do canto t~:s:::s _bodas e nas festas das
Ainda com a mesma idade, o menmo Joga malha: "Num •0 usica nessa época
,, I . l J go de rn Ih
ili
o lance e feriu M. de Longuev e. sso eqmva eria a vermo h .
. s ºJe u .
ª a, o Delfi1m. errou
Çando a J.ogar críquete ou golfe com um ano e meio de idade C rn 1nglesinh
· om u o come-
m ano e d
ez n1eses,
1Heroard,Jouma/ 511 , J'r,ifan<r et la jr1111rssr de Louis Xlll, editado por E. Soulié e E. Banhélérn
Y. 2 vois 1
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Digitalizado com
PEQUENA t: NTH. IBUIÇ,\o À 111ST ') .
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PEQUENA CONTR.mu1 . .
ÇAQ A HIST )RIA Dos J< G ) . 1) s DRI , ' Ct\DflllA '\
No. início
e do século XVII, essa polivalência não se esten d'1a mais. as
, .
quenmas. onhecemos bem suas brincadeiras, pois a parti d . crianças muito
tt' . . fi . , r o seculo XV pc-
pu I surgiram na 1conogra ta, os artistas multiplicaram as rep resentaçoes_ de • quando
. os
criancinhas
d
brinquedos-miniaturas leva-nos a hipóteses semelh
O roblema da boneca e os b d b . antes
P . d e os colecionadores de onecas e e rmquedos-mi . ·
Os historiadores dos bnnque os . b . . Illatu_
. . d. fi uldade em distinguir a boneca, rmquedo de criança, de t ,L
ras sempre tiveram muita t ic - . . . Ou.as
. t tas que as escavaçoes nos restituem em quantidades senu-indu
as outras 1magens e esta ue . . . s-
t" ham uma significação relig10sa: objetos de culto doméstico
triais e que quase sempre m . _ ou
, . . d s devotos de uma peregnnaçao etc. Quantas vezes nos apresentam
funerano, ex-votos o . .. . , ;:, ,
b • d reduções de ob1etos famtliares depositados nos tumulos. Nao preten-
como nnque os as :.i
do concluir que as crianças pequenas de outrora não brincavam com bonecas ou com ré-
plicas dos objetos dos adultos. Mas elas não eram as únicas a se servir dessas réplicas.Aquilo
que na idade moderna se tornaria seu monopólio ainda era partilhado na Antiguidade, ao
menos com os mortos. Essa ambiguidade da boneca e da réplica persistiria durante a Idade
Média, por mais tempo ainda no campo: a boneca era também o perigoso instrumento do
feiticeiro e do bruxo. Esse gosto em representar de forma reduzida as coisas e as pessoas da
vida quotidiana, hoje reservado às criancinhas, resultou numa arte e num artesanato popu-
lares destinados tanto à satisfação dos adultos como à distração das crianças. Os famosos
presépios napolitanos são uma das manifestações dessa arte da ilusão. Os museus , sobretu-
do alemães e suíços, possuem conjuntos complicados de casas, interiores e mobiliários que
reproduzem em escala reduzida todos os detalhes dos objetos fanuliares. Seriam realmente
casas de bonecas essas pequenas obras-primas de engenho e complicação? É verdade que
essa arte popular dos adultos também era apreciada pelas crianças: eram muito procurados
na F~n~a os "brinquedos alemães" ou as "quinquilharias italianas" . Enquanto os objetos
em rruruatura
. , . se tornavam o monopólio das. crianças, uma mesma pa1avra designava
· na França
essa
. mdustna,
• . quer seus, produtos se destmassem às crianç as ou aos a d u l tos: btm · be[otene.
· O
bibelo anogo era tambem um brinquedo. A evolução d 1·
. . . a mguagem afastou-o de seu sen-
ado infantil e popular, enquanto a evolução do senf , . . . , •
d . imento, ao contrario restrmg1a as cn-
anças o uso os pequenos obJetos, das réplicas. N O , 1 X . ' ..
b. d a1- d · · . secu O IX, o bibelo tornou-se um
o ~eto e s ao, e v1tnna, mas continuou a ser a d - d
. . . re uçao e um ob · t f: _:, · .
demnha, um movelzmho ou uma louça mi , 1 . ~e o anw1ar. uma ca-
nuscu a, que Jamais s d . , . d .
ras de crianças. Nesse gosto pelo bibelô deve e estmaram as brmca e1-
mos reconhecer u b . .. .
da arte popular dos presépios italianos ou das c a1 _ ma so rev1venc1a burguesa
asas emas A . d
durante muito tempo permaneceu fiel a esses b . d. · socie ade do Ancien Régime
. nnque inhos h .
bobagens de crianças, sem dúvida porque caíram defini . 'que OJe qualificaríamos de
Ainda em 1747, Barbier escreve: "Inventaram tivamente no donúnio da infancia.
, - se em Paris b
fantoches ... Esses bonequinhos representam Arlequim S uns rinquedos chamados
ou entao- pa d e1ros
. (os o fi cios
. ), pastores e pastoras (o , caramouch e (a comédia italiana)
. . . . gosto pelos d. f:
bobagens d1vert1ram e dommaram Pans inteira, de tal fc is arces rústicos). Essas
orma que -
casa sem encontrar alguns, pendurados nas lareiras São d d nao se pode ir a nenhuma
. ' · ª os de
lheres e men!llas, e a loucura chegou a tal ponto que, no i , . presente a todas as mu-
• n1c10 dest
encheram ddes para vende- los como presentes ... A duquesa d e ano, todas as loias se
. d B h "O e Chartr J
bras por um boneco pmta o por ouc er. excelente bibliófil es pagou 1.500 li-
, · , • 0 Jacob
'acima ' reconhece que, em sua epoca, nlllguem . tena . sonhado co1n ta · ., que cita O trec 110
pessoas de sociedade, muito ocupadas (o que dma ele hoje!), não se~~ infantilidades: "As
iverten1 .
m:us como
naquele
. . bom tempo. de ócio (::>)
· qu e viu
· fl orescer a moda dos bilboques
· • e dos fantoches;
hoje deixamos os brinquedos para as crianças."
. O_ teatro de . . marionetes parece ter s1·d o outra maru·fcestaçao
- da mesma arte popular da
1lusao em
. , mm1atura ' que produz1·u as qumqu
· ilh anas
· al emas , · napo 11tanos.
- e os presep1os · El e
teve, alias, a mesma evolução: o Guignol lionês do início do século XJX era uma perso-
nagem do teatro popular, porém adulto. Hoje, Guignol tornou-se o nome do teatro de
marionetes reservado às crianças.
Sem dúvida, essa ambiguidade persistente das brincadeiras infantis explica também por
que, do século XVI até o início do XIX, a boneca serviu às mulheres elegantes como
manequim de moda. Em 1571, a duquesa de Lorraine, querendo dar um presente a uma
amiga que havia dado à luz, encomenda "bonecas não muito grandes, e em número de até
quatro ou seis, e das mais bem vestidas que possais encontrar, para enviá-las à filha da Duquesa
de Baviere, que acabou de nascer". O presente se destinava à mãe, mas em nome da crian-
ça! A maioria das bonecas de coleções não são brinquedos de crianças, objetos geralmente
grosseiros e maltratados, e sim bonecas de moda. As bonecas de moda desapareceriam e
seriam substituídas pela gravura de moda, graças especialmente à litografia. 4
Existe, portanto, em torno dos brinquedos da primeira infância e de suas origens, uma
certa margem de ambiguidade. Essa ambiguidade começava a se dissipar na época em que
me coloquei no início deste capítulo, ou seja, em torno dos anos 1600: a especialização
infantil dos brinquedos já estava então consumada, com algumas diferenças de detalhe com
relação ao nosso uso atual: assim, como observamos a propósito de Luís XIII, a boneca não
se destinava apenas às meninas. Os meninos também brincavam com elas. Dentro dos li-
mites da primeira infância, a discriminação moderna entre meninas e meninos era menos
nítida: ambos os sexos usavam o mesmo traje, o mesmo vestido. É possível que exista uma
relação entre a especialização infantil dos brinquedos e a importância da primeira infancia
no sentimento revelado pela iconografia e pelo traje a partir do fim da Idade Média. A
infància tornava-se o repositório dos costumes abandonados pelos adultos.
Por volta de 1600, a especialização das brincadeiras atingia apenas a primeira infancia;
depois dos três ou quatro anos, ela se atenuava e desaparecia. A partir dessa idade, a criança
jogava os mesmos jogos e participava das mesmas brincadeiras dos adultos, quer entre crianças, quer
misturada aos adultos. Sabemos disso graças principalmente ao testemunho de uma abun-
dante iconografia, pois, da Idade Média até o século XVIII, tornou-se comum representar
cenas de jogos: um índice do lugar ocupado pelo divertimento na vida social do Ancíen
Régime.Já vimos que Luís XIII, desde seus primeiros anos, ao mesmo tempo que brincava
com bonecas, jogava pela e malha, jogos que hoje nos parecem ser muito mais jogos de
adolescentes e de adultos. Numa gravura de Arnoult5 do século XVII, vemos crianças jo-
gando beliche. São crianças bem-nascidas, a julgar pelas mangas falsas da menina. Não se
sentia nenhuma repugnância em deixar as crianças jogar, assim que se tornavam capazes,
jogos de cartas e de azar, e a dinheiro. Uma das gravuras de Stella dedicada aos jogos dos
tadamente em tavernas m al . to cõ
......
'õ,
. d 12 talvez e que não parecem ser os menos amn1ados. Uma tela de S ã
Jovens, e anos , . .
1 ta um grupo de mendigos em torno de duas crianças, observand0-~s
Bourd on represen . . . . _ ••
jogar dados. o
tema das crianças jogando a dmheiro Jogos de azar _amda_ nao chocava J
opinião pública, pois é encontrado também em cenas que mostram nao mais vdhos. solda-
dos ou mendigos, mas personagens sérias como as de Le Nain. 8
Inversamente, os adultos participavam de jogos e brincadeiras que hoje reservamos às
crianças. Um marfim do século XIV9 representa uma brincadeira de adultos: um rap:12
sentado no chão tenta pegar os homens e as mulheres que o empurram. O livro de hons
de Adelaide de Savoie, do fim do século XV, 10 contém um calendário que é ilustrado
principalmente com cenas de jogos, e de jogos que não eram de cavalaria. (No início, os
calendários representavam cenas de oficios, exceto no mês de maio, reservado a uma
corte de amor. Os jogos foram introduzidos e passaram a ocupar um lugar cada vez maior.
Em ge~al era~jogos de cavalaria, como a caça, mas havia também jogos populares.) Um:t
dessas ilustraçoes mostra a seguinte b nnca · • uma pessoa f:az o papel da vela no 111e10
· deira. ·
de um círculo de casais em que cad d
. • ª ama fiica atras ' d
e seu cavalheiro e o segura pda
amura.Em uma outra passagem domes 1 d' ·
d b Olas d mo ca en ano, a população da aldeia faz uma guerra
e e neve - homens e mulheres d
· d , 1 XVI al ,granes e pequenos. Numa tapeçaria 11 do iní-
c10 o secu o , guns camponeses e fidal , .
de pastores brincam de , . d gos, eS t es ultimas mais ou menos vestidos
, uma espec1e e cabra-ce . -
dros holandeses da segunda metade d , 1 ga. nao aparecem crianças. Vários qua-
o secu o XVII re ,
do dessa espécie de cabra-cega. Em d 1 12 presentam tambem pessoas brincan-
. um e es aparecem al • -
misturadas com os adultos de todas •d d gumas crianças, mas elas estao
as i a es: uma mulh
avental, estende a mão aberta nas costas L , XII er, com a cabeça escondida no
d B. . ms I e sua m ~ b .
e. rmcava-se de cabra-cega na casa de G d ae nncavam de esconde-escon-
U ran e Mad . li
ma gravura de Lepeautret 4 mostra que emo1se e, no Hôtel de Rambouillet. 13
brincadeira. os camponeses adultos tamb, d
em gostavam essa
Logo, podemos compreender o come t' .
. . . nano que
pirou ao historiador contem A o estudo da ·
_ . poraneo Van Marle- ts "Q iconografia dos jogos ins-
nao se pode dizer realmente que fossem ·. uanto aos divertim d d l
É 1 - . menos mf: · entos os a u tos,
e aro que nao, pois se eram os mesmos! antis do que as cliver - d . "
. soes as cnanças.
160 • d
mes e ferias coletivas na Europa. (N. T.)
· · HISTÓRIA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS
...
Q)
PEQUENA CONTRIBUIÇAO A e
52 e
ro
C)
(/)
E
· d Reis " 17 Uma rrúniatura do livro de h ro
ü
mer à criad:igem como em uma noite e . . e. A d d fi oras de E
· · pisódio da 1esta. cena ata o 1m do • oC)
Adebide de Savoie 1:; representa o primeiro e secu\ 0
· al d por longo tempo. Homens e mulhe o
-o
XV, mas esses ritos permaneceram m tera os . res, ?a- ro
- · 1 d a mesa Um dos convivas segura O b l .!::!
rentes e amigos estao reurudos em vo ta e um · , . . o o d~ ro
.t::
Reis verticalmente. Uma criança de cinco a sete anos eS t a esco nd ida debaixo da mesa. o Ol
artista colocou-lhe na mão uma faixa de pergaminho com uma inscrição que começa por ª
um Ph ... Desse modo, foi fixado o momento em que, segundoª tradição, era uma criança
quem distribuía o bolo de Reis. Isso se passava segundo um cerimonial determinado: a
criança escondia-se sob a mesa, um dos convivas cortava um pedaço do bolo e chamava
a criança: "Phaebe, Domine ..." (donde as letras Ph da miniatura) e a criança respondia
dizendo o nome do conviva que devia ser servido, e assim por diante. Um dos pedaços
era reservado para os pobres, ou seja, para Deus, e aquele que o comesse deveria dar uma
esmola. Quando a festa de Reis se laicizou, essa esmola se tornou na obrigação do Rei de
pagar uma prenda ou de dar um outro bolo não mais aos pobres, mas aos outros convivas.
Mas isso não importa aqui. Observemos apenas o papel que a tradição confiava a uma cri-
ança pequena no ritual da festa de Reis. O procedimento adotado no sorteio das lote-
rias oficiais do século XVII sem dúvida se inspirou nesse costume: o frontispício de um
livro 19 intitulado Critique sur la loterie mostra uma criança tirando a sorte, tradição que se
conservou até nossos dias. Sorteia-se a loteria como se sorteava o bolo de Reis. Esse papel
desempenhado pela criança implicava sua presença no meio dos adultos durante as longas
horas da noite de Reis.
O segundo episódio da festa, aliás seu ponto culminante , era O bri·n d e ergm'd o por to d os
os convivas_ àquele que. havia encontrado uma fava em seu pedaç , o d e b o lo e que assim • se
tornava rei, sendo devidamente coroado: "O rei bebe" As pint fl
. · uras amengas e holandesas
retrataram particularmente esse tema. Conhecemos a famos t 1 d L
, ª e a o ouvre de Jordaens,
mas o mesmo assunto e encontrado em numerosos outros pi t . .
20 d . n ores setentnona1s Por exem-
1 d d
p o, no qua ro e Metsu, e um realismo menos burle . ·
sco e mais verdad · El d'
bem a ideia dessa reunião em torno do Rei d eiro. e nos a
' e pessoas de todas as id d
todas as condições, os criados misturando-se aos senh A a es e certamente de
ores. s pessoas e~ d
uma mesa. O Rei, um velho, bebe. Uma criança O , d . es ao em torno e
, sau a tirando h , , .
fora ela quem, ha poucos momentos, sorteara os ped d O c apeu: sem duvida
. . d . aços e bolo segund d' ~ O
tra cnança am a mmto pequena para desempenhar ' o a tra içao. u-
esse papel est' da
cadeiras altas fechadas, que continuavam a ser muit d ª senta em uma dessas
. )· , . b, o usa as. Ela aind -
sozm 1a, nus e preciso que tam em participe da fest U a nao sabe ficar de pé
,
bufao. No seculo XVII, adoravam-se as fantasias e
ª· m dos co ·
.
,
nvivas esta fantasiado de
·- . d ~b e::. ' as mais grote
ocasiao; mas o traJe e u1ao aparece em outras re scas eram comuns nessa
, . . . presentaç ~
parece obvio que fazia parte do cerimonial: 0 bufa oes dessa cena tão famil '
o era O bob d . 1ar, e
0 o Re1.
Constatamos, pois, ao longo de toda a festa, a participação ativa das crianças nas cerimô-
nias tradicionais. Essa participação também é comprovada na noite de Natal. Heroard nos
diz que Luís XIII, aos três anos, "viu a acha de Natal ser acesa, e dançou e cantou pela
chegada do Natal". Talvez tenha sido ele o encarregado de lançar o sal e o vinho sobre a
acha, segundo O ritual que nos é descrito no final do século XVI pelo suíço-alemão Tho-
mas Platter, quando fazia seus estudos de medicina em Montpellier. A cena se passa em
Uzes. 24 Uma grande acha é colocada sobre os cães da lareira. Quando o fogo pega, as pes-
soas se aproximam. A criança mais moça segura com a mão direita um copo de vinho,
m.igalhas de pão e uma pitada de sal, e, com a esquerda, uma vela acesa.As pessoas tira~ os
chapéus e a criança começa a invocar o sinal da cruz. Em nome do Pai ... , e jo~a uma pit~da
de sal numa extrem.idade da lareira. Em nome do Filho ... , na outra extrermdade, e assim
por diante. Os carvões, que segundo se acreditava, possuíam propriedades benéfi~as, er~m
conservados. A criança desempenhava aqui mais uma vez um dos papéis essenciais previs-
e . clcit. bispo pelos companheiros, e presidia à cerimônia que terrrúnava por uma procis-
~ o. um:i ll't.J e um banquete. A tradição, ainda viva no século XVI, rezava que na ma-
nh.:i de~. e di:i o. jovens surpreendessem seus amigos na cama para surrá-los, ou, como se
d.in . " p n lhe. dar os inocentes" .
A tcr~:i- frin <"orda aparentemente era a festa dos meninos de escola e da juventude. Fitz
. te hcn de~ rc,·_e_uml terça-feira g.,~rda ~o século XII em Londres, a propósito da juven-
e de . eu he 1. Thomas Becket,- entao aluno da escola da catedral de São Paulo: "To-
~ . ri.. nç-a dl escob traz.iam . seus galos de briga para seu mes t re." As b ngas · d e gal o,
u hoJ C' popub
. ..re nos locais em que subsistem • como em Flan d res ou na Am'enca · Latl- ·
t"S□ n chs aos adultos, ,durante a Idade Média estavam li ga d as a, JUVentu . d e e ate,
n es b. Um texto do seculo XV, de Dieppe qu ·
_ ., , e enumera os pagamentos devidos
c:1ro. o conh.rnu: O mestre que mantém a l d . ,
1 . esco a e D1eppe devera pagar um
um m ·erem lugar na escola ou na cidad d .
l) _ e, e to os os outros merunos da
l uc 1c pe t' r:lO cr.m porc.1dos por esse preço " 28 E L
nh omeç v:i com briga d gal · m ondres , segu n do F.1tz Step hen,
. s e o que duravam tod h- "A' d
ver d 1J :u.le s iam para os d . a a man a. tar e,
. arre ores, para Jogar o fam . O
e lS Jutondades vinha a1 . . oso Jogo de bola... s
' m a cav o assistir a . .
r("f J cn l . m o clt-1." O jo,~o de bob . , . os Jogos dos Jovens e volta-
n • reuma varias co .d
n o J du p.1róqui l , or.i dois grupos de idade·"O ~mm ades numa ação cole-
tumJ r('.1111-.Jr no Ju Jc . t.al emn: 0 co : Jogo de bola é um jogo que
mpan 1\e1ros da 1 a1·d
u, e !llc (c- cm u t lut>~m.· tJmbt·m. í.: d aro) E . · . oc. 1 ade de Cairac, em
· Me Jogo se d1v ·fi
11unc1r1 uc h m c n rl do fi cam de um lado . _ ersi ica e se divide de tal
' e os nao casad
º s• d e outro; eles levam a
1.. 1 .( 1fo • ,y . 1"1 .11, ..• , . 1•r 1
:· I~iJ.
~'Chufrs d~ R obtlbni dl' u ~.1Ur<'J)-ll1T, R« I· "'' l'imrn ,; ,, publiqr,(' d I .
.i1ts <' d1(vcsr JI' R
"1. li. p.. -~-4 . Oll('n O VQ II( 1789• 1872 , 3 VOS
) .,
PEQUENA CONTRIBUIÇÃO À 1-1
·
•
~ISTOltlA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS 55
...
(1)
e
e
<U
(.)
C/)
dita bob de um lugar para outro e disputam E
. · -na uns aos outros a fim de ganhar o prêmio ü
<U
e quem Joga melhor recebe o prêmio do dit d ' "29 A ' d , · '
. . . . . o 1a. in a no seculo XVI, em Av1gnon, E
o c;lrll ,l\ ai c1-:1 01 gamzado e an1111ado pelo abad d · · d' - 'd · o(.)
, . • • e a JUns 1çao, pres1 ente da confraria dos o
notanos l' dos procuradores: cn u e eram em gera l, ao menos no su 1
3" esses líderes daJ·uv· t d 'O
_ <U
eh í-r.mp. " c hdcs de prazer" ' segundo ,a e'"·pre ' d e um eru d.1to mo d erno e usavam os .t:!
,, ssao <U
."!:=
túulos dt· principc
. de amor' rei da' 1·urisdição · , ",,b a d e ou cap1tao
· - d a Juventu
· d' e, ab ad e d os Ol
ci
( )lllp.·r nhc1ros. .
ou das crianç:1s•
da cid :t d•e. Em Av1gnon,· J1
no d 1a
' d e carnaval, os estudantes
ti11h.1m. o .<l1re1to
.
de surr:1r
. ·
os1·ud"t1s
·
, ·
... • e as prostitutas, a menos que estes pagassem um resga-
te. A h1. tona <.b tmivcr idadc de Avignon nos diz que a 20 de janeiro de 1660 o vice-
lq.,":ldo fixou esse resgate em um escudo por prostituta.
A. grande. festas da juventude eram as de maio e novembro. Sabemos por Heroard que
cm cri :mç., Luís XIII ia ao balcão da Rainha para ver erguer o mastro de maio.A festa de
m. io vem logo após a festa de Reis no fervor dos artistas, que gostavam de evocá-la como
um.1 cb. mais populares. Ela inspirou inúmeras pinturas, gravuras e tapeçarias.A.Varagnac 32
nY onhc.:ccu o tema na Primavera de Botticelli, da Galeria dos Oficias. Em outras obras, as
cerimônias tradicionais são representadas com uma precisão mais realista. Uma tapeçaria
dt" 1642-'-' nos permüe imaginar o aspecto de uma aldeia ou de um burgo num 12 de maio
do . i:culo XVII.A cena se passa em uma rua. Um casal já maduro e um velho saíram de uma
das :ts• . e esperam na soleira da porta. Preparam-se para receber um grupo de moças que
vem em sua direção. A moça da frente traz uma cesta cheia de frutas e de doces. Esse grupo
de j vens v:ú assim de porta em porta e todos lhes dão alguma comida em troca de seus
b ns ,·oros: a cofrta em domicilio é um dos elementos essenciais dessas festas da juventude.
0 primeiro plano, alguns meninos pequenos ainda vestidos com túnicas, como as meni-
n:is. u . am coroas de flores e folhas que suas mães lhes prepararam. Em outras pinturas, a
proci.s:io dos jovens coletores se organiza em torno de um menino que carrega a árvore de
m . io: é: 0 caso de uma pintura holandesa de 1700. 34 O bando de crianças percorre a aldeia
tris da :ír,·ore de maio, e as crianças menores usam coroas de flores. Os adultos estão nas
ol t"ir.t da porcas, pronros para receber o cortejo das crianças. A árvore de maio 3~gumas
\ eu (: repn:sem~da simbolicamente por uma vara coroada de fol~as e de flores . _Mas a
• ·o re d <-' nu10 , no s 1·0 c.....
· nao .. r=sa
., aqu1·· Ressaltemos apenas a coleta feita pelo grupo de Jovens
Jumo O adultos, e O cosrume de coroar as crianças c~m flor~s, que deve ser associado à
ideJJ d<.' rcll J inu:nco da vegetação, simbolizado tambem pela arvore, que era levada pelas
ru l' Jt·poi p 1ama da. .Y, E~ssas co ro"s
•• d··... flores talvez
· se tenham tornado uma brincadeira
mum das n 11ç:i : t fe to d a fcorma, e:
'. certo que se tornaram o atributo de sua idade nas
56 PEQUENA CONTRIUU - e
e
co
ü
C/)
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, d . , Nos retratos da época, individuais ou familiares, as crianças co
rl·pn:scntaçocs o :1rt1st,1s. . . usarn ü
· d A ou de folhas como as duas menmas de Nicolas Maes do E
o
ou rr:tnpm coro:t e ores , - niu- ü
~rn de Toulou. l': ~1 :t primeira coloca uma coroa de folh:s com uma d~s maos, e, com a o
-a
co
· . • t" a.1o,-cs numa cesta que sua irmã lhe estende. Nao podemos deixar de relacionar .!:::!
li ti ,l. 1( g., li . . . fa . ' co
· : · d · coin essa convenção que associava a m ancia a vegetação. :!::
OI
:l'- CCrtlllúlll:l C 11\:llO
)mro ~nipo de festas da infancia e da juventude se situava no iruc10 de novembro. "Nos
. . , .
o
di ,,, 4 e ~-(de novembro), escreve O estudante Platter, no fim do século XVl, 38 realizou-se
,1 m.t!-or.,J:l dos querubins. Eu também me mascarei e fui à casa do Dr. Sapota, onde havia
um b.,ik." Tr.it:lv:l- e de um:i mascarada de jovens, e não apenas de crianças. Essa festa desa-
J',1r •ccu completamente de nossos costumes, banida pela proximidade do dia de Finados.A
opini~o comum nfo :1dmitiu mais a proximidade de uma festa alegre da infãncia fantasiada
m um di:i tio solene. No entanto, essa festa sobreviveu na América anglo-saxônia, com o
n me de J-·follm, ,cr11. Um pouco mais tarde, a festa de São Martim era a ocasião de demons-
t r.l (Õc. rcstrit.1. Jo jovens, e, mais precisamente, talvez, aos escolares: "Amanhã é o dia de
s: e M. nim, lemo em um diálogo escolar do início do século XVI, que descrevia a vida
d:1~ cs ob em Leipzig.·w Nós, os escolares, fazemos uma coleta farta nesse dia ... é costume
o ~ (. lnno.) pobres irem de porta em porta pedir dinheiro." Reencontramos aqui as coletas
em domi ílio que observamos por ocasião da festa de maio: prática específica das festas da
j uventude. n ~esto de acolhida e boas-vindas, ora mendicância real. Estes parecem ser os
últim ~ vcsógi os de um3 estrutura muito antiga, em que a sociedade era dividida em classes
de id:idc; dt".. J e. crururJ restou apenas o cos~me de reservar à juventude um papel essencial
cm :u~m:L gnndes celebrações coletivas. E de notar, além disso, que O cerimonial dessas
ld n - e. di. rin~a m,al as crianças ~os jovens; essa sobrevivência de um tempo em que
dc· c-ram nfundidos
_ . . mo correspondia
, mais inteiramente à realidad e d os costumes, como
. cn:-r o hJb1to. cnado no, seculo
. XVII de enfeitar apenas as cnanci
· ·nh as pequenas, os
m ciu n q ue ainda u av1m turucas, com as flores e as fiolhas que nos cal en d,anos · d a Id ad e
d rn:.i, 11 os :.idokscences que haviam chegado a' 1·dad e d o amor.
u qua qut' fo e o papel. arribuído à infancia e à J·uventud e, pnmor · d.al
1
r.
na 1esta de
m . 10ru l m Íc-St.J de Re1S, de obedecia sempre a l . .
. . . um protoco o tradicional e corres-
rt--;r.t) de um Jogo colenvo que mobilizava e d .
0 0 o grupo social e todas as classes
uc.
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F, 11) .1 n, r 1n
~b c-l: 1~~11. Ln
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PEQUENA C ONTRIBUIÇAO À HISTÓlllA DO S JO GOS E DAS BRINCADEIRAS 57 e:
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:1 rdeiç-.io.. co1110 n:t tela hol:tndcs:1 de Lamcn pintad a por vo Ita d e 164 (~;,; 4o as pessoas estao
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. co
(.)
. c11t.1d.1s a 111csa. m:ts o. serviço foi interrompido·. o memno · encarrega d o d o serviço, · que E
o
rr.1z um I r.lto e uma J:tlTJ de vinho • está· p:irado·
, , u111 d · d '
os convivas, e pe e encosta o na d ()
o
l.lrcir.i. COIII lllll co_po 11 ª mão, c:int;i sem dúvida uma canção sobre a bebida, enquanto um 'O
co
outro pc~1 ~cu abude para acompanhá-lo. .!::!
co
:!:::
H~j ~ CIII dia não temos mais ideia do lugar que a música e a dança ocupavam na vida O)
(JllOt1di .ma. O :tutor de um:1 llltmd11ctio11 te> Pmctical J\t/11sic, editada em 1597, 41 conta como
o
-~ ~ ór ·umt.,n ci:ts fizeram dele um músico. Ele jantava com um grupo de pessoas:"Quando
.1 ei.i r-aminou e. segundo o costume, foram trazidas as partituras para a mesa, a dona da
c.1,:1 me de. ignou uma parte, e pediu-me muito seriamente para cantar. Eu tive de me
de~ 11lp:i r muito e confessar que não sabia; todos pareceram então surpresos, e alguns che-
g., r:1111 l cochi ch:tr no ouvido dos outros, perguntando-se onde eu havia sido educado."
Embor:t a pr.íti ca familiar e popular de um instrumento ou do canto talvez fosse mais co-
1m1111 n, lngbrcrra clisabetana do que no resto da Europa, ela também era difundida na
Fr:111 .,. na lr:íli:1. na Espanha e na Alemanha, de acordo com um velho hábito medieval
que. :ipl·"ar d.1s transformações do gosto e dos aperfeiçoamentos técnicos, subsistiu até os
si· ul o. XVIII e XIX, um pouco mais ou um pouco menos conforme a região. Hoje esse
h:íbi to ó c:--.-iste na Alemanha, na Europa central e na Rússia. Naquela época, porém, ele
er::i o mum nos meios nobres e burgueses, em que os grupos gostavam de se fazer retratar
reJ..l iz.m do um concerto de câmara. Era comum também nos meios mais populares, entre
s :tmponeses ou até mesmo mendigos, cujos instrumentos eram a gaita de foles, o reale-
J e a rebc.-c 1. que ainda não havia sido elevada à dignidade do violino atual. As crianças
prJtica,-am :i mú ica muito cedo. Desde pequenino, Luís XIII cantava canções populares
u . Járic:is. que não se pareciam em nada com as cantigas de roda infantis de nossos últi-
m s do i s~culos; de tJmbém sabia o nome das cordas do alaúde, um instrumento nobre.
As criança com:ivam parte em rodos esses concertos de câmara que a antiga iconografia
mul ti plicou .Toc:ivam também entre elas, e uma forma habitual de pintá-las era representá-
om um in trumenro na mão - são exemplos os dois meninos de Franz Hals, ~2 um dos
quJi companha no :ibúde o irmão ou o amigo que canta, e são exemplos as numerosas
cri nç s r cando fbut;1 de Fr:rnz Hals e de Le Nain.H Em um quadro de Brouwer, veem-se
ru m o leques do povo mais ou menos esfarrapados ouvindo com avidez o realejo de
um c:uo aído de um p:írio dos milagres: rema de mendicância muito comum no século
' \ li ." Uma rd holandesa de VinckdbaonsH merece ser especialmente examinada em
r J , • o (k u 111 Jl·t.ilhe 5; 6,.11 iti carivo que ilustra o novo sentimento da inf:lncia: como em outras
lllturJ ~ •mdh.uHe , um 100 for dl' realejo toca par.1 uma pbrcia de crianças, e a cena é
• l..m,rn 11! ,0 t,- 11, ·-)," O lut .-rlúJw MmtcJ I", n·pn1,lu z1,lo cm ll r mdt , 11• -1 7::! .
' 1houu, .\l o dn . n tJJ., ,. 11 1 I· \ Jh <lll , '/1ir l:t1~/11/ 1 ( ;,,1111111.11 S.-li.\• /J 1, 1 1660, l ')07. p. ::? 16.
• I ,..,, l l•h . " \ 1r11111m 11111 111·0 .. . K.n,rl. (j rn,; n, \\11.1. 1'· l<,7.
" 1-rm, 11 h. lkr hm 1 .- J ll t l h 1n111 :" I.J .-l1J rr t1 c " , do Luu\"rr.
" li 1 •111, ...-. .. -, , •Jm ,fr rr•.1.-Jo, ,·rndu J r .-runps". HJrlcm, rcproJuzidu cm \V. ,·on Dodr. p. 29. Atdic: de Georges
J IJ u u r. I"' 11.i J..a U rJ IH'l" rt e' J r l'JII . 19.'iH. 11• 75 .
'\· c-
111.-l.dl,Jun ( 15, <,- 1(.::!<J), 11:prud uml,, <" Ili U.·rmlt, 11• 9-12 .
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T RIBUIÇÀO À HISTÓRIA DOS JOGOS E DAS BRINCADE
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PEQUENA CON IRJ\s e
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•nstantâneo, no momento em que os meninos acor E
o
re resentada como um 1 . ~ rern ao so (.)
_Tenta~emos ~er ª?ºra qual era a atitude moral tradicional com relação a esses jogos,
brmcadciras e divertunentos, que ocupavam um lugar tão importante nas sociedades anti-
gJs. Essa atitude nos aparece sob dois aspectos contraditórios. De um lado, os jogos eram
todos admitidos sem reservas nem discriminação pela maioria. Por outro lado, e ao mesmo
tempo, uma minoria poderosa e culta de moralistas rigorosos os condenava quase todos
de forma igualmente absoluta, e denunciava sua imoralidade, sem admitir praticamente
nenhuma exceção.A indiferença moral da maioria e a intolerância de uma elite educadora
coe.,âstiram durante muito tempo.Ao longo dos séculos XVII e XVIII, porém, estabeleceu-se
um compromisso que anunciava a atitude moderna com relação aosjogos,fundamentalmen-
te diferente da atitude antiga. Esse compromisso nos interessa aqui porque é também um
testemunho de um novo sentimento da infãncia: uma preocupação, antes desconhecida, de
preservar sua moralidade e também de educá-la, proibindo-lhe os jogos então classificados
como maus, e recomendando-lhes os jogos então reconhecidos como bons.
A estima em que eram tidos ainda no século XVII os jogos de azar nos permite avaliar a
e:.\."tensão da antiga atitude de indiferença moral. Hoje consideramos os jogos de azar como
suspeitos e perigosos, e o dinheiro ganho no jogo como a menos moral e a menos confessável
das rendas. Continuamos a jogar esses jogos de azar, mas com a consciência pesada.Ainda não
era assim no século XVII:a consciência pesada moderna resultou do processo de moralização
em profundidade que fez da sociedade do século XIX uma sociedade de "conservadores".
LA Forr,me des gens de q11alité et des gentilshommes partiwliers5° é um livro de conselhos aos
jovens fidalgos que desejam fazer carreira. Seu autor, o Marechal de Cailliere, não tinha
nada de aventureiro . Era autor também de uma bibliografia edificante das obras do Pa-
dre Auge de Joyeuse, 0 santo monge da Liga. Era um homem religioso, até mesmo devo-
to, e sem nenhuma originalidade ou talento. Suas opiniões refletem portanto a opinião co-
mum das pessoas de bem em 1661, data da edição de seu livro. Uma de suas preocupações
constantes é prevenir os jovens contra a devassidão: se a devassidão é a inimiga da virtude,
t.1n1bém o é da fortuna, pois não se pode possuir uma sem a outra:"O jovem devasso vê as
oca iões de agradar a seu senhor escaparem pelas janelas do bordel e da taverna." O leitor
do século XX, que percorre com um olhar um tanto cansado esses lugares-comuns, por
is~o mesmo ficará surpreso quando esse moralista minucioso desenvolver suas ideias sobre
ª utilidade social dos jogos de azar. Um dos capítulos se intitula: "Se um partiwlier (abrevia-
tr: "Não crá impossível provar que (o jogo) pode ser mais util do que preJud1c1al se for
o
.Komp:rnh:.tdo das circunstâncias que lhe são necessárias." "Digo que o jogo é tão perigoso
par.l um l,ommc de qualité (ou seja, um fidalgo rico) quanto útil a um partículier (ou seja, um
fübl go empobrecido) . O primeiro arrisca muito porque é muito rico e o outro não arrisca
n:.td:.t porque não o é, e no entanto um particulier pode esperar tanto da fortuna do jogo
qu anto um grande senhor." Um tem tudo a perder, e o outro tudo a ganhar: estranha dis-
tinçfo mor:.tl!
Mas o jogo, segundo Cailliere, apresenta outras vantagens além do lucro financeiro:
" Sempre considerei que o amor ao jogo era um beneficio da Natureza cuja utilidade reco-
nhe i." '·Parto do princípio de que o amamos naturalmente." "Os jogos esportivos (que
hoje críamos mais tentados a recomendar) são belos de se ver, mas mal apropriados para se
pnlur dinheiro.' E especifica: "Estou falando das cartas e dos dados." "Ouvi um experi-
c.nrc: jogador que havia ganho no jogo uma fortuna considerável dizer que, para transfor-
m:ir o jo~o em arte, não tinha utilizado outro segredo além de dominar sua paixão e de se
propor es e exc:rcício como uma profissão, com o fito de ganhar dinheiro." Que o jogador
n • o . e inquiete, pois a má sorte não o pegará desprevenido: um jogador sempre conseguirá
c:mpré cimos mais facilmente "do que o faria um bom comerciante". "Além disso, esse
xcrcicio _dá _aos pt1rriC11licrs acesso aos melhores círculos, e um homem hábil pode extrair
dde. not.a\'e1s vantagens quando sabe manejá-los .. · Conheço alguns que t em " como ren da
pen um baralho e rrês ,dados, . e que subsistem no mundo com maior · 1uxo e magru·fi1cenc1a " ·
do que enhores de provmcia com.suas grandes propriedades (mas sem dinh erro · li qm·d o )."
.. E o excelente Marechal conclm. com esta opinião , que surpreen de nossa moral d e hoJe, · •
A on dho l um homc:m que saiba e que ame O J.ogo a · l . .
. arriscar ne e seu dinheiro; como
de tem pouco a perder arnsca pouco e pode ganhar · ,, p .,
. . _ . . mmto. ara o biografo do Padre
Aw ~e. o J O•J'O e nao apenas um divert1mento mas um fi ~
d l . . ' ª pro 1ssao, um meio e fazer fortuna
e c m mc:r n: çoc - um meio perfeitamente honesto.
ll1t·n- n.io é o único a defender esta opinia·o O Ch a1·
· ev ier de M' ' ·d
r.tdo cm U l época como o típico homem de socied d b ere, que era cons1 e-
1dt"ll em . u l ·11i f<• J11 (tJ1t11t1acc du 111011 de s, .. 0 . . a .e em-educad ' o, exprune · a mes ma
· 1na tambem que O • d b .e. .
1u mi j "ldo r e comporta co 1110 um ho 1 . 6. Jogo pro uz ons e1e1tos
e, mcm 1a ti e de bo d , , d 1
u,: um h o 11H·m po dt" tt"r :ict" o a toda pare. d . a vonta e: e atraves e e
. e on e se Joga e os . . .
l·nt c .1 rum se ni o pude cm jog:ir." ic:i l."Xt:mpl ' pnncipes mmtas vezes se
. . os augustos: Luís XIII ( . d .
a. p nhou 11111 J turquc J 11u111.1 nfa) , R1chdicu "que . 1 que, am a cnan-
. - ) - . ' se re axava jogand 0 ,, M . L ,
,1 1 e .. .1 1 :unh. - 111.11:. (qut" 11.10 fazia mais nada alc:m d. . • , azanno, ms
· d' · ·1 e: Jogar e rezar" • "Q u al quer que
s~i:i
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O mc:nto qut· t· 1o a tl."r, <."na thci conquistar luna b 03 rep _
utaçao sem ingressar na
. .
1 so lédach: do / l11o t·11 Réi:imc o jogo sob todas
a mto eranc1a das elites reformadoras
fc •
1 ,r d. . · ' . · as suas armas - o esporte o jogo de
- o. Jº'' e z r - ocupava um lugar unportantíssii , .
•J d · · · d 1 · no, que se perdeu em nossas soc1e-
u . c:s tl'C lll , m q ué a111 a lOJc: e11contr:unos 11 ... · d
, . · ,,s soc1e ades pri · · • ss
p l t.XJ O qul' .1g1t~va todas as idades e d . , nutivas ou arcaicas.
to as as cond1çoes I .
• ~ greJa opos uma re-
A
~L. Cogn ct. ,,., .\ ,;., Ari.~'l1-1,u , uirrl nJJt(VÍJ Jr ·. lf'J, 195 1, p. 28 .
!>i>J.-J.Jusscr.111d. •'il n'1.
HEss.1 J.1nç.1 d wiu,·J- e K.1rril-J,111 :: o1. lnfo rnu çfo forn cnd.l por M- Gil R .
. . . c1d1cr.
>ºR . C tillois, Qu.rrrr rssau J,. .<<)m•1,:i:,e <<>11tn111" r.1111f', 1951 .
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PEQUENA CONTRIUUIÇÀO · , e
A HISTORIA DOS JOGOS E DAS BRINCADElltAS 63 ro
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rigor e pela ordem, que se esforçavam p d E
. . . · ara omar uma massa ainda selvagem e para civi- o
lizar costumes :unda pnnutivos. ü
o
A Igreja
, medieval
. também conden ava o Jogo · so b to d as as suas formas, sem exceção nem
"O
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n.·sen , ..1s. e ,particularmente
. . nas comunidades • de cl,engos· b o Is1stas
· que d eram origem · aos ro
-~Ol
cokg1os e as u111vers1dades do A11cie11 Réai 111 c Os est t t d ·d d d-
ó • a u os essas comum a es nos ao uma o
i.dcia dessa intransigência. Ao lê-los , O tu·stori'ador 1·ng1es • d as umverst
· 'd ad es me d'1eva1s, · J.
5
RashdaJI. ~ ficou impressionado com a proscrição geral de todas as atividades de lazer, com
a recusa em admitir que pudessem existir divertimentos inocentes, em escolas cujos alu-
nos, entretanto, tinham basicamente entre 1Oe 15 anos. Reprova-se a imoralidade dos jogos
de azar, a indecência dos jogos de salão, da comédia ou da dança, e a brutalidade dos jogos
esportivos. que, de fato, muitas vezes degeneravam em rixas. Os estatutos dos colégios foram
rt•digidos para limitar tanto os pretextos de divertimento quanto os riscos de delito. Afortíori,
:i proibição era categórica e rigorosa para os religiosos, a quem um edito do Concilio de
Sens de 1485 proibia o jogo da pela, sobretudo em manga de camisa e em público: é ver-
dade que no século XV, um homem sem gibão ou sem túnica e com as calças desabotoadas
ficava com quase tudo de fora! Tem-se a impressão de que a Igreja, ainda incapaz de con-
rrolar os leigos, adeptos de jogos tumultuados, decidiu preservar seus clérigos proibindo-
lhes todo e qualquer tipo de jogo: formidável contraste de estilos de vida ... se a proibição
á,·esse sido realmente respeitada. Eis, por exemplo, como o regulamento interno do colé-
gio de Narbonne60 encarava os jogos de seus bolsistas, em sua redação de 1379: "Ninguém
nesta casa deverá jogar pela ou hóquei, ou outros jogos perigosos (insultuorns), sob pena de
uma multa de seis dinares; ninguém deverá jogar dados ou quaisquer outros jogos a di-
nheiro, nem deverá entregar-se a divertimentos na mesa (comessationes: comezainas) sob
pena de uma multa de 1O vinténs." O jogo e a comilança são colocados no mesmo plano.
'ão haúa então jamais um momento de diversão? "Os alunos poderão apenas participar
algumas vezes e a raros intervalos (quantas precauções! Certamente logo esquecidas, po-
rém. pois essas mesmas palavras eram a porta entreaberta a todos os excessos) de jogos
honestos ou recreativos (mas é dificil saber quais.já que até a pela era proibida; talvez jogos
de alão?) , apostando uma pequena jarra de vinho ou então uma fruta, e contanto que o
jogo se faça sem barulho e de maneira não habitual (sine mora)." . , . .
o colé!rio de Seez em 1477,61 encontramos:"Ordenamos que nmguem pratique o Jogo
O
d..-- dJd os. nem .'
outros Jogos d esonestos ou proibidos ' e nem mesmo os jogos admitidos, . como .
.,.. p•~ J.. . b d I
... ... so rt'tu o nos ugarc - s coiiiuils
• (ou seia
-.,• ' o claustro, . a sala comum que servia
• . de refe1-
. .
• · )
t ono . e e a1gut>m , os prancar · cm ou tros Jurr.1res
o•· •
que se1a
-.,
com , pouca
.
frequenc1a
.
(110n 111rms
ro 111 ; 1111 c) ." Na bula do Cardeal de Amboisc: que fundava o coleg'.o d~ Monta1gu em 1501,
1iav1a• •· fi <, 1 O que quer dizer ISSO? O texto começa
um capítulo intitulado De cxcmr10 corpora · ..
,, . •"O exercício fisico parece ser de pouca ut1li-
com uma apreciação geral um tanto am bigu.i. ·
d , - · t'ficos "Na realidade O que o redator entende por exerc1c10 fi icoc. nJ'o
tu os teoncos e c1en 1 1 . , . _ _ ·
- tanto os Jogo
sao · s, e si·m todos os trabalhos manuais, por opos1çao, aos trabalhos_tntdenu:i.i
. ..
E ele dá primazia às tarefas domésticas, nas q_uais reconh~~e tambem um~ fu~~ao de_rd.1x.1-
ção: as tarefas de cozinha, de limpeza, o serviço da mesa. Em todos os ~xe~c1~10 .1 1_111.1 u
seja, nas tarefas domésticas), nunca se deverá esquecer que se dev~ ser tao rap1do e \'l~oro·
quanto possível." Os jogos só vêm depois das tarefas, e mesmo assim sob reser\:, s! "(, u.1nd
0 padre (o chefe da comunidade) estimar que os espíritos fatigados pelo tr.tbalho e pt.·lo t'. tu-
do devam ser relaxados por meio de recreações, ele as tolerará (it1d11lecbit)." Alguns jogos .fo
permitidos nos lugares-comuns - os jogos honestos, nem fatigantes. nem perig so . . Em
Montaigu havia dois grupos de estudantes: os bolsistas, que, como em ou eras fund:1ções. c-nm
chamados depauperes, e os internos, que pagavam uma pensão. Esses dois grupos viviam se--
parados. O regulamento estipulava que os bolsistas devcri:1111jogar por menos tempo e com
menos frequência do que seus colegas internos, sem dúvida porque tinham a obrigaç:10 c-k ser
melhores alunos, e, portanto, deviam ser menos distraídos. A reforma da Universid:1de de
Paris em 1452, 63 ditada por um espírito de disciplina já moderno, m ~mtém o rigor tra<li ·in-
nal:"Os mestres (dos colégios) não permitirão que seus alunos, na fe ras d:ts profissõe ou ~111
outras, participem de danças imorais e desonestas ou usem trajes indecentes e: leigos (traje~
curtos). Deverão permitir, porém, que joguem de maneira honesta e agrad5vel, para o alivio
do trabalho e o justo repouso." "Não permitirão, nessas festas, que os :1lunos bebam na cicb-
de nem batam de porta em porta." O reformador visa aí JS audações de porta em porta,
acompanhadas de coletas, que a tradição permitia à juventude por ocasiilo das festas sazonais.
Em um de seus diálogos escolares,Vivês resume a situação cm Paris no século XVJ, 64 nos
. _ "Entre os estudantes, nenhum outro J. ogo al,-..m
seguintes termos: " d"., Pe Ia po d e ser Joga · do
com a perrmssao. dos mestres,. mas algumas
. vezes os alunos J·oga m, em segre d o, cartas e
xadrez, as cnanças pequenas Jogam garignons e os mais indiºsc·p1· d · d 1 "D
. 1 ma os Jogam atos. e
fato, os estudantes, assim como os outros meninos não tiºnl
, 1am o menor pro ema em
bl
frequentar as tavernas e os bordéis, em jogar dados e danç O · d - . -
. . , . . ar. rigor as pro1b1çoes nunca
fot abalado por sua meficac1a: tenacidade espantosa a no Ih d
_ , . ssos o os e homens modernos,
mais preocupados com a eficac1a do que com princípios!
Os oficiais de justiça e de polícia,juristas adeptos d d
. _ . . . a or em e da boa administração da
d1sc1plina e da autondade, ap01avam a ação dos mestre '
, 1 d s-esco1a e dos eclesiásticos Durante
secu os, os ecretos que fechavam aos estudantes O a , ·
cesso as salas de · d
ininterruptamente. Esses decretos ainda são citados no , 1 X Jogo se suce eram
secu o VIII· 1 , d
ereto do tenente-general da policia de Moulins de 27 d · um exemp o e o e-
, e março de 1752 . , . d
tinada à afixação pública foi conservada no Museu d A , CUJa copia es-
e rtes e Tradi - p J "É
Proibido aos donos das quadras de pela e das salas de biºlh ar ab nr . .
O Jo
çoes opu ares:
criados durante as horas de aula, e aos donos das pistas d b 1. go aos estudantes e aos
e o 1che ou outros Jogos - a b nr
- o
'•lp d. . .
"· · e Dainvrllc, E111rr Nous, 1958, 2.
llrndc·n,ia 1iw sriirn/11111 vitae scolasricac, 1602.
'·'1.-J.Ju,,c rand, "!'· rit.
l ll l' Q)
PEQUENA O TRIDUIÇ . O e:
66 e:
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tas conceberam uma nova técnica de hiaien cor o
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' · Crou o
l'éducatio11 des enfants de 1722, e c:1to por, . ü
o
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tica de Lausanne, podemos ler: " E nece ano que o e r ro
.!::!
Considero que os jogos que incluem . ro
.....
quanto cresce ... "õi
todos os outros." LA Gymmastique médica/e et cl1inirgic Ir d Ti: . õ
físicos como os melhores exercícios: "Exercitam-se ao rne_m
corpo ... sem contar que a ação dos pulmõe é con r.intementl· t'.: rimu!J i.l r
dos e os gritos dos jogadores." No fim do século XVII 1. .· j !- - ·: ·r ·i · 1
ram outra justificativa, desta vez patriótica: de: pn:p.1r.w.1m r,1r.1 c · r .1r.1 .1 _'\ -•rr .
Compreenderam-se então os beneficio que: e iu .1 .'i ti. i · .1 p li.1 rr.ll ·r .1 111-mu -.i nu-
:i
litar. Nessa época, que assistiu ao nasciment do 11.1 i ruli 111 lll) krn ·. tr ·i11.1111 ·nr,
do soldado tornou-se uma técnica qu:t e: icncitir.L · t.11 ln:c:u- e um 1.1r ·1ir · · · ·nrr-
os jogos educativos dos jesuítas, :t gin.í ti .1 de lll t' h ·m, trt·i11Jtll l'llt h) ·,,l,L1d, .1,
necessidades do patriotismo. Durante: o n ul.t l • lc)i publi ·., IJ J ;yr,111.b·ti 1111• I · l.11·11 -
nesse, ou Traité é/émentaire des jcux d'cxn · ,· ,,,, id r • St 11 /( r,11 l ort lt' fr 11r milit( 1 hr:ii,111,· ·r
mora/e. Seus autores, Duvivier e Jauffn.·t, . tinn. v.11 11 ·brJm c.- m · Ili ~ ·r ·1 ·, 1111ltur
"havia constituído desde sempre a b:i e <l:t brin.i,ti ' J, e.- c.-rJ p.utt ·ui m1c1H J 1• Jll.l,I > J
época (o ano XI) e ao país" em que: viviJm . ··v uJ.1' p >r Erin ·í p1, j I f ,.1 l°011111111
pela natureza e o espírito de nossa constitui .i >, 11 HJ'I ·run ·.h j · ü · >l !Jd ,, Jllt ·,
de nascerem." "Tudo o que é militJr trJmpir.1 Jlgo lc gr .wd 1 11 llm.· qw: •lt·v 1
homem acima dele mesmo."
Assim, sob as influências sucessivas• dos peJ:.wt">o,,os
t">
• 11 ·o tO li lllll 1-
lit 1111 •, 111· ' tJ ' • l l(H lllt:t
nismo. •e dos. , primeiros
. nacionalistas
. ' pas :imo do J.Ul'O (") ', vl oi t'll[ ' t ' li pc:ICO í. 1.l trJul .1 •
·J
antiga
.
a g111ast1ca e ao trema me mo militar • d·1s
•
p rH.: •H!Jr·. . 1
1J, popu .,rc, .10 e u e: l
1 b 1 ~•11 · ' -
tica.
Essa evolução foi comandada pela pn:ocupaç:io co . l .
_ . . m a mora , a . udc e o bem ·011111111.
Uma evoluçao paralela especializou segundo a id:td ~ . -
. • e ou a cond1ç:10 JO••o <Jll ori •111J -
namente eram comuns a toda a sociedade. r,
deixado a mfancia nao abandonavam imeir.unc:ntc: cs.~c:s jogos. Um:i e: ·t.unp.1 ele.- Ep11ul dn
século XIX representa ainda esses mesmos jogo , 1113. e intitul.i ''jogo · dt' utror.1", 0 qu e
indica que a moda começava a abandon~-lo e: que ele: se: torn:n :11n provinci.1110,. q11.1ndo
não infantis ou populares: a cabra-cq,,;i, o jogo do .1 ,obio. :i fac. 1 11 .1 b.1 ·i.1 com .i~11.1, ü
esconde-esconde, o passarinho vo:i. o ci,-Jlc:im gt·mil, 0 ho 111 c: 111 iuc: n.io ri. 0 p :tt· dl)
amor, o rabugento, a berlinda , o beijo cmb:iixn do cJ,tipl. o ber~·o do . mor. Alguns dt· -
ses jogos se tornariam brincadeins de: cri:lllp. c:114u.111to outros con ·ervJri.1111 o ·.ir.ira
ambíguo e pouco inocente que outrora tizc:n com qut· fu, t'm condt'IIJ lm pdo, 1nnr:1li,-
tas, mesmo os mais tolerances como Ens 1110. 1
A Maison des jeux de Sorel nos permite c: ·rudJr t' · .1 t'voh1r.10 t'lll um 111on1t·ntu inct'-
ressante, ou seja, a primeira meracit' do s~culu X V li . n ·ord li ti11g11t' J~ brill(:.1dt·ir.1, dt·
salão dos 'Jogos de exercícios" e dos 'Jogo · de: :tZJr". doi últimos ·.ill "rnn11111!i .1 wdl)
tipo de pessoa, não sendo menos praticados pelo ni.1dth do qut' pt'lo, ,t'nhorc: .. . ; ,jo do
faceis para as pessoas ignorantes e grosst'iras comu pJr:1 .1, pt' ·~0.1, cuh.1 · e: sutis" . O, jug ,
de salão, ao contrário, são "jogos de espírito e de convcTJ\':io". Em princípio, "de:, ú po-
dem agradar a pessoas de boa c.:ondiç5o, educ:1d.1 · 11.1 civilidade: e 11.1 g:il.111tai:1, c 1p.1n· de
compor discursos e réplicas, cheias de julg.1111e11ro e s.1ba, e n:io podc:111 c:r jo~.1do pnr
outros". Esta ao menos é a opinião de Serei, o que ele gostaria que o jogo de al.io lt> l'lll.
Na realidade, porém, nessa época, os jogos de salão tamb~m c:ra111 c.:o1111111 .i ni.111\·J e
ao povo, às "pessoas ignorantes e grosseiras". Sorel ~ obrigado a admiti-lo ... PJn cornl'çar,
examinaremos os jogos infantis ... Há os jogos de exercício"- o hóquei, o pião, a l° cada ,
a bola, o jogo de peteca com raquetes e "as brincadeiras de: pegar, seja com o olhos aber-
tos ou vendados". Mas "há outros que dependem um pouco mais do espírito", e ele dá
como exemplo os desafios de Christine de Pisan, que continuavam a divertir peque11os
e grandes. Sorel adivinha a origem antiga desses jogos: "Esses jogos infantis em que h,
algumas palavras rimadas em geral se baseiam em uma linguagem muito antiga e muiro
simples, emprestada de alguma história ou romance dos tempos antigos, o que mostra como
7 ºCh n·5rine
· de P1san,
·
,... Oe1111res poétiq11es, editadas por M. Roy, 1886, pp. 34, 18 8, 196. -?OS · . •
C" !Jlllll
Eu IC' vendo a malva- rosa / Bela chamar-te não ouso. / Como pode o Amor me ernpurr.r em tuJ Jirt'fJO 1
~ PC"rcebes e nad;i dius?" (N. T.)
72 ~ra~nio. L.e Mariaxe chrétim.
C. Sorcl, Maison des jeux, 1642, 2 vols.
PEQU E A ONTRIB 1 - . O 1-11. T . IU \ J ;o , n IH 1. , 1ir ir, ~
68 ã:i
e
e
ro
(.)
(./)
tn u E
outrora as pessoas e djvercjam com uma rc re en ro
(.)
pre tiveram" ... "Há certos tipos de jogo em que pmr 11.1 rr.10.1lh.1 n1111C, , f, ·
l'.
que mesmo os muito jovens podem jog:1-I . l'lllb í.l .1, pc: · ),1 111.ti · , . ·lh.1, · , ~rt , r r -
bém os pratiquem ocasionalmente."' E l' JrHÍg e. udo de · i ·.1,. p H ·111. 11.i r .1 n 1
admitido por todos. Na Mniso11 dcs jr11x, f o r l' Xl'lltpl >. l\r1'itlº · >li i 1·r.1 l'' · •,; dl\· ·rt1111 .:11C,,
de crianças e de plebeus indignos dl' um h . llll'lll dl" t l' l1I . p rr.1-vn 1· .S r ·l nj.i k· · ·p
contudo proscrevê-los complct:iml'me: "Ml' 111 0 n que r 1rt· ·cm a b i.· h plld,·111 ·r
soerguidos recebendo uma ourn :iplir.1r.1 fitc rt·rHl' l.1 pru11 t·1r.1. fllJI ,,· r ·I.H II' 1r.1 , ·
vir de modelo." E ele tenta enr;·o de, .u o nivd 111rde ·ru.il f J t.:l I · .11.i l pr.1r1-·.i.l, ,,
dentro de casa. Mas n:i vc:rdade, ap · :i de ri\·.io 1c ·or ·I f j ~ d.1 m111ur1· - t· 111 qu · ,
líder levanta um, dois ou rrês dedo e - pJ rti ·1pJ11te, d ewm r ·p ur m t·, 111 0 gt· to 1111 · ·
diatamente - , é difícil para o leiror moderno e 111pre la b )li J'lf't"Cto .1 111,11ml' ••
II
mais elevada e mais espirinial do que o j g de ru11J,;, Jll e S ,rd Jluud ) rlJ V:1 ,em Jfl ·Lii; ' ,i
às crianças: o leitor atual tem :i mesma opini.io dt· rh!e, n1ju r om fc j r.ij.í ·. 111oda111
Mas ele fica ainda mais surpreendido com o t:tt de um ru11u11 ·i tJ t" hi,rori.1dor n 111,
Sorel ter consagrado uma obr:i mo11umemal .i de~rri\·.io e .i rc-v 1 ·.io !t·, l''I f1wrriut t' III .
Este é mais um testemunho do lugar que o · jogo,; oc up:i,~Jlll 11 •1, prt"t>e up.irul· d.1 Jll lt •.1
sociedade.
Portanto, no século XVII, havia um:i disti11ç:io entre.' os jogos cfO\ :adule \ do tidJIW , t·
e os jogos das crianças e dos vilões.A distinç:io erJ :rnrig:i e remontava · Jd.icl t" lc'.· Ju . MJs
na Idade Média,. a partir
. do século
_ XII, da se aplicav"·• "pen"s
.. .. ••., c cr t o · J· go , f o u 11uu -
ic·
rasos e mmto particulares: os Jogos de cavalaria Antes di so ,,
.
J - f /j ·
• .. nre t l CO II IJIUl f,lO te JJIJ -
tiva da ideia de nobreza, os jogos <!r-Jm comuns a rodo · d
. .
d
, m epen entemente u.J con 1po
_,_ c1 · -
social.Alguns Jogos conservaram esse caráter durante muito r . F ·
- . · cmpo: r:mci co le 1-1ennque
li nao menosprezavam a luta, e Henrique II J·ogava bola · · - . . . . •d
, l - . . . · · 1 so nao ena ma1 admm o 110
secu o segumte. Richelieu praticava o salto em sua g?:11 • · . .
, . ena , como Tnstao na corte do Rei
Marcos, e Lms XIV Jogava pela. Mas esses jogos rradicion · -
dos no século XVIII p l d a1 d. _ ais senam por sua vez ab:111cfo11J-
e as pessoas e ta con içao.
A partir do século XII, certos jogos já eram reservad . .
os aos cavalc1ros 7J • •c1 :i
mente, aos adultos. Assim, enquanto a luta era uma b . d . ' e, ma1 pn: . -
. nnca eira com · .
argo li n h a eram Jogos de cavalaria. O acesso aos to . . . um, o con1e10 e J
rneios era pro1b1do I b . .
anças, mesmo nobres não tinham o direito d . . ao p e eus, e: :i ai-
' e part1c1par: pda primeira vez, t:iJ e7, u111
73 S d V ··
· e nes e Marpugo, ú Bréviaire Grimani, 1904- 191 O, 12 vols.
ai
e
PEQUENA CONTRIDUIÇÁO À HISTÓRJ A DOS JOGOS E D. URL:-.: e
co
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(/)
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. proibia às crianças e ao. mesmo
costume . . p1e b eu part1c1par
tem po ao . . de JO
. coku, . . u
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.
As crianças logo começaram I os: o calendano
. a 1rrutar os torneio s prot·b·d . . do- bn:n,1r10
. . . de o
ü
.
Grirnant mostra-nos torneios grotescos de cnanças.
· . entre
. as qu:us
. algum peru :u :im rn
o
"'O
co
N
nhecer .o futuro_ Carlos
. . V: as cnanças cavalgam b arns · em vez d e cavalo - .
co
. ·-
SurgJU entao a ideia de que os nobres deviam · evitar rmsturar-se
· com o plebc..·u, e UL· tn - :t=
o-~
ir-se entre eles: uma opmiao que não co nsegum · impor-se
· totalmente. ao men . .ltt". qu .1
,
nobreza desaparecesse enquanto função soci e
·a1 e1osse subsan11da
. , peb burguesi;l, n . c...· cul
XVIII. No seculo XVI e no início do sé cu lo XVII • numerosos d ocumentos - I· on gr.\ftr ·-
ais
comprovam a mistura das classes soei · d urante as 1estas
e sazonais.
· Em um dos d1.ll
·· • ~ - ll'.
• sl'.
Le Courtisan de Balthazar Castiglione um clássico do 'c I XVI u o que 101
c · tra uzi
d · 1· o p.1r.1
todas as l~ngu:15, esse assunto é discutido e n:io se cheg:t. um :1cordo: 1 "Em no.so p.1í. d.\
Lombardia, diz o senhor Pallacivino, n:io temo es a opini.io (de que o cortes.io só (kw
jogar com outros fidalgos), e há muitos fid:1lgos que n. s festa d.rnçam o di;-i inteiro ·nb o
sol com os camponeses e participam com de de jo~os como o ;urcrnc:s o d.l bJrrJ, dl'. lu-
cas, corridas e competições de saltos, e pen o que n:'iu h.í mal 11i so." A(g'Uns ouvintes pro-
testam; admitem que a rigor o fidalgo po J jogar com c:rntp tll"5 t' • m.u cont.rnto pie: wn(.I
sem esforço aparente: ele deve ''estar pnticaml'.ntt' cc:rto de: vc:nca''. "É .ll~o muico frio 1..·
indigno ver um fidalgo vencido por um camponês. 1..· princip.1lmc:nrc: 11.1 lut:i." O cspirico
esportivo inexistia nessa época, a não ser nos jogo lc cav:ibri:i 1..' ob outrJ forn1.1. in ·pir.uLi
na honra feudal.
No fim do século XVI.a prática dos corneias foi :tbJnJonJtb. Outrosjo~o m subscirnír:1111
nas assembleias de jovens nobres, na corte e na, :1u!Js dt' pn.·p.1rJ\".lO militJr Li A ·.1dc:111i.1'i,
onde, durante a primeira metade do século XVII, m füL1li;o · . pr1..·ndi.un o nunejo das .1r-
mas e a equitação. Surgiu a quint:1n:1, por c:xc:mpln: 111ont.1do .l c:1 ;ilo, o indivíduo vi'i:iv.1
um alvo de madeira, que substituía o alvo vivo do .111ti~o,; torlll·ios, :.t c..:.1bt'ça d1..· um turc..:o.
Surgiu também a argolinha: o indivíduo disp:1rJva J c:1v:1lo e dt' i:1 arreb:1r:ir um:1 :iri;olinh.1
com a lança em plena carreira. No livro de Pluvind. diretor de: um:1 de: sJ · Ac:1de111i.1 .
uma gravura de Crispin de Pos75 representa Luís XIII cri:rnça parricip:.tndo de uma quint.111.1.
O autor diz que a quintana era um meio-termo entre "a fúria das lanças cruzadas 11a lip
com o adversário (o torneio) e a delicadeza da argolinha". Nos anos 1550, em Montpellic:r,
o estudante de medicina Félix Platter7" conta que "no dia 7 de junho. a nobrc:z.1 realizou
um torneio de argolinha; os cavalos estavam ricamente aj:iezados, coberto com t: pete e
ornados com penachos de todas as cores". Em seu diário d• in5nci, de Luís XIII, Hero,rd
frequentemente menciona torneios de argolinha no Louvre e em S,int-Gcrmain. "A
argolinha é praticada todos os dias", obsenra o especialista Plu vi nel. A quinuna e a argolinha,
contoJ·og d , b cederanl aos torneios e aosJogos de cavalaria da Idade
Média Mos reserva os a no reza, sul depois disso' Elas não desapareceram inteiramente,
como . as do que
· aconteceu
M corn
h · e as dia não as encontramos
· . perto das quadras de
mais
se po ena pensar. as oJe em
7' ll.
71 PI · glione,
C:uti,
1· LR Cour11sa11.
· b' · (• • fi"o · ..'7 ·
d E umpc:s Ee 35•• m-
uvinc , com nravuras de Cri.spin de Pos, Ca inct cs 5 ' •
7•·r1-l,x
. 1·1 •l110n11u..,Plater a Mo11tpel/ier, p. 132.
,._
(l)
*Círculo de madeira leve que as crianças fazem rolar com o auxílio de un1 b • (N
astao. T)
77 Gobel, op. rir., li, 196. . ·
7"Lc:ckrc. op. rir .
se diz, com o quais elas são mimadas. Portanto, ela nos mimou tambe' f: 1 d E
. . . m e a ou-nos e C'C
(.)
uma ilha verde onde vivia uma princesa mais bela que O dia Eram as f: d
,, " . a as que sopravam E
sobre ela o tempo todo, etc. Esse conto durou bem uma hora." o
CJ
o
Sabemos també:11ª' que C~lb,er_t, "em suas horas vagas, tinha pessoas com afunção (o grifo "O
C'C
é nosso) de entrete-lo com histonas muito semelhantes aos contos de fadas". .!::!
C'C
.'!:=
Contudo, na segunda metade do século, começou-se a achar esses contos muito sim- Cl
i5
ples. Ao mesmo tempo, surgiu por eles um novo tipo de interesse, que tendia a transfor-
mar em um gênero literário da moda as recitações orais tradicionais e ingênuas. Esse inte-
resse manifestou-se de duas maneiras: nas publicações reservadas às crianças, ao menos em
princípio, com os contos de Perrault, que ainda revelavam uma certa vergonha em admitir
o gosto pelos velhos contos, e nas publicações mais sérias, destinadas aos adultos, e das quais
se excluíam as crianças e o povo. A evolução do conto de fadas lembra a dos jogos de sa-
lão descrita acima. Eis como Mm• de Murat se dirigia às fadas modernas:"As fadas antigas,
vossas precursoras, parecem criaturas frívolas comparadas a vós. Suas ocupações eram baixas
e pueris, e só divertiam as criadas e as amas. Todo o seu serviço consistia em varrer a casa,
cuidar do fogão, lavar a roupa, embalar e adormecer as crianças, ordenhar as vacas, bater a
manteiga e mil outras ninharias dessa ordem ... Eis por que tudo o que nos resta hoje de
seus feitos e gestos são apenas contos de fadas.""Elas não passavam de mendigas.""Mas vós,
senhoras (as fadas modernas), vós seguistes por outro caminho. Só vos ocupais com coisas
importantes. Dentre elas, as menos importantes são dar espírito àqueles que não o têm,
beleza aos feios, eloquência aos ignorantes e riqueza aos pobres."
Outros autores, porém, continuavam sensíveis ao sabor dos velhos contos ouvidos ou-
trora, e procuravam perservá-lo. M 11• Lhéritier apresenta seus contos da seguinte maneira:
"Talvez vos espanteis ... com O fato de que esses con~os, e_mbora inv~rossímeis, nos te-
nham sido transmitidos através dos séculos sem que runguem tenha tido o trabalho de
escrevê-los."
~ ..
••· . . . , . . . é do fo o: / Não faço mau lqu1 do
Cem vc:zrs minha ama ou minha amiga / Contaram-me esta historia a noite-, ao p g
t~Ealcrcsccntar alguns ornamentos." (N. T.) d h . nças / Mães e avós, / Serão lembrados."
- fa
cs 11·ao sao • de acreditar,
.
(N. T.) ace15 / nus enquanto nes te niun o ouver ena ,
PEQUENA coNTRII3UIÇÀO À HISTÓRl BR 1. · : 1)f.lJ . \
72 a:;
e
e
<O
(.)
Cf)
E
<O
Idade Média: "Ela (a tradição) assegura-me que o tn)\'ad o re u nt d le h1, Úr1 • ü
E
. encaram Finette muito ames
da Prevença mv ,,
qu e Abd rd o u
.
Th1h u,I o(.)
de Champagne produzissem seus ro~ances. Assim. o co~t t. ~n. u ~~ e um.: l'nr litt'rh1
o
-o
<O
-~
próximo do conto filosófico ou arca1zant~, ~0~10 o de l .t Lhe:1t1c~: . c,·c1 .1fomir qu. ....<O
'õ,
melhores contos que temos são os que mats mutam o esulo e :1 _1mpli ·1 b 1· lc- n, o
Enquanto O conto se tornava, no fim do século XVII. um g~ner n 1tr.1
tos, os velhos contos da tradição oral, m:ii ou menos c. qUt:c idos, cvc11tu.1ltlll·1Hc s · cn nu-
vam objeto de uma curiosidade de caráter arqut·ológi ·o u ctn o l ' gi · que j.i .1111111 ·i .1v.1 n
gosto moderno pelo folclore ou a gíri:1. A l uquc ·a de ho i-;cul t· ·c rcvt· .1 t l"'~ du D ·t[ 111d
que Choiseul "manda que lhe leiam conto lc fa b . di.1 inteiro. To lo'i nú, l)'i t·s t.11111 ) ·
lendo agora. Consideramo-los cão vero símei qu anto a hisc '> ri:i moderrll ". hs t'()lli v:tl ·-
ria a vermos hoje um de nossos escadist1s,. pós uma derroci p líti a. ll·ndo o P.1to I or1.1ld
ou Tintin em seu recolhimento, como se essas hiscorinh:t'i n.io fo ·t·m m.iis boh.1, lo qllt' ,1
realidade! A Duquesa de Choiseul não resi tiu :\ tenc:iç;io e e Cíl' c·u fois conto'i, c111 lJll t'
reencontramos o tom do conto filosófico, a jul~ar pdo início do L- Pri11ci' t'lld11111t : "Mi -
nha amiga Margot, tu que em meu quarto ch:1111:ivas o sono ou re.1bri.1s minh:1'i p.ílpd 1r.1
com lindos contos de fadas, conta-me alguma história sublime e )Ili a qual cu pm~a :1kgr.1r
os presentes. Não, diz Margot, não é preciso nada de sublime. Tudo o que os hmm·ns
precisam é de contos de fadas."
Segundo outro episódio da época, uma dama, em um dia de tédio, sentiu a 111c·s111.1 cu-
riosidade dos Choiseuls. Chamou sua criada e pediu-lhe a história de Pierre de Proven ce
e da bela Maguelonne, que hoje teríamos esquecido inteiramente se não fosse o ad111ir.ívd
Lieder de Brahms. "A criada espantada pediu que a senhora repetisse três vezc e rece beu
com desprezo a ordem estranha; no entanto, teve de obedecer; desceu aré a cozinha e voltou
vermelha com a brochura."
De fat~, no século XVIII, havia alguns editores especializados, principalmente em Troyes,
que publicavam edições im pressas d e contos para o publico , . rural que sabia . ler e que era
alcançado
" através
. ,, de mas ca t es. M as essas e di çoes
- (conhecidas como Bíhliotheq11e Blc11e ou
contos azuis por serem imp l 1 , .
d fi , ' ressas em pape azu ) nada tinham a ver com a moda liter:in:1
0 1m do seculo XVII Elas • - ,
evolu ~ d · transcreviam, tao fielmente quanto o permitia a incvitavd
çao o gosto, as velhas histórias d d. ~ a1
Bleue contém 1 d d h' , . ª tra içao or · Uma edição de 1784 da Biblivthh111e
' ao a o a istona de Pierre d p . , .
de Robert le Diabl . _ e rovence e da bela Naguelonnc, as h1srorta
e e os quatro umaos A
Force e M m• d'A unay.l ymon, os contos de Perrault , e os· de M 11' de l:t
rrando com uma vareta o texto escrito em um quadro gra.n d e que um a_JU • d ante se(!Ura e m o
"O
co
os braços est icados, para que os ouvintes possam ler enquanto ouvem. Em algum; cid.1dt-s .!:::!
co
:!::
da província, a pequena burguesia algumas vezes ainda conservava es.se passatemp~. Um mem Ol
6
rialista conta-nos que em Troyes, no fim do século XVIII, os homens se rcuni.1111 dur.mre l
inverno nos cabarés e durante o verão "nos jardins, onde, após tirar a peruc;i. coloc.n-:1111 st·11.
gorros". 83 Esses grupos eram chamados de cotteries."Cada cotteric tinha pelo menos um com:1dor k
histórias, no qual todos os outros modelavam seu talento." O memorialista lembr.i-st· de um
desses contadores de histórias, um velho açougueiro. "Dois di:ts que p:tsst·i com ek (qu:md eu
era criança) correram entre histórias e contos cujo enc:rnto, cujo efeito e cuj:1 ingenuid.1-
de mal poderiam ser - não digo e>.-pressos - 111:15 sentidos pd:i r:iç:i :1nial" (. genç:io :m1.1I).
Assim, os velhos contos que todos ouvi:1111 n:i époc:i eh: Colbert e de M"'" de· c:rvigné
foram pouco a pouco abandonados, primeiro pelo nobres. e J eguir peb burguesia . .'is
crianças e ao povo do campo. Este último abandonou-o t:1rnbt·m por ua vez quand
jornal substituiu a Bíbliotheque Bleue; as crianças torn:1r:1111- e cndo seu pt'.1blico, por pouco
tempo, aliás, pois a literatura infantil está passando hojt' pda 111cs111.1 rc·nov:i~-:io qut· os jo-
gos, as brincadeiras e os costumes.
A pela era um dos jogos mais difundidos enrre os jogos tk ·porcivos. Er.1 o que os 111or:1-
listas do fim da Idade Média toleravam com menos repug11:tnci:1: dur.11Ht' v:íri s sc:c.:ulos,
foi o jogo mais popular, comum a todas as condiçõt·s ociais, :tos reis e aos plt:bc.:us. M:i ·
essa unanimidade cessou no fim do século XVII. Consr:ir:1-se ent.'io um dc:clínio da popu -
laridade da pela entre a nobreza. Em Paris, c.:m J 657, c.:onr:1v:1m-st• 114 quadras de pel.t: e111
1700, apesar do aumento da população, seu número havia c:iído p:-ir:~ 10; 110 século XIX
havia apenas 2, uma na Rue Mazarine e outra no terraço, d:1s Tul_l~e_nas, onde se 111:111tcve
até 1900.ª4 Segundo Jusserand, 0 historiador dos jogos, Lu1~ XIV JJJogava peb sem c1_1ru-
sl·as mo. E m b ora os a d u1tos b em-ena · dos abandonassem esse Jogo, os camponeses e :-is cn:111-
Ças (mesmo b em-ena · d as ) permanece ran1 - lhe fiéis sob diversas formas de jogos
. de raquetes.
N0 p· ais' B asco, a pe la su b s1stm
· · ate, seu renascimento sob a forma aperfeiçoada da pelota
basca,jogada com cestas grandes ou pequenas. . ,
U ma gravura de Menan· BS d fi d ' ulo XVII mostra-nos um Jogo de bola que reu-
o 1m o sec , .
b 1 , do enchida Mas, nessa epoca, o Jogo de
ne pequenos e grandes: no quadro, a o a e ª sen
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b J ·, . . · eta e boas maneiras. Thomas Elyot e
0 a Ja era suspeito para os especialistas em et1qu . . filh
Sh J · e J da Inglaterra o pro1 6 JU a seu 1 o.
akespeare o desaconselhavam aos nobres. aim h1 , · d b l
S . I oneses: "A e o e, uma espec1e e o a
egundo du Cange, ele só era praticado pe os camp
""M"" de Sévigné ur
. rrrs, 13 de junho de 1685.