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4 . , .

Pequena Contribuição à Hi~tona


dos Jogos e das Brincadeiras

G raças ao diário do médico Heroard, podemos imaginar como era a vida de uma cri-
ança no início do século XVII, como eram suas brincadeiras, e a que eta_pas de seu
desenvolvimento fisico e mental cada uma delas correspondia. Embora essa criança fosse
um Delfim de França, o futuro Luís XIII, seu caso permanece típico, pois na corte de
Henrique IV as crianças reais, legítimas ou bastardas, recebiam o mesmo tratamento que
todas as outras crianças nobres, não existindo ainda un1a diferença absoluta entre os palácios
reais e os castelos fidalgos. A não ser pelo fato de nunca ter ido ao colégio, frequentado
já por uma parte da no~reza, o jovem Luís XIII foi educado como seus companheiros.
Recebeu aulas de maneJo de armas e de equitação do mes mo M . d e Pl uv1ne · 1, que, e m sua
academia, formava a juventude nobre nas artes da gue
. _ .
A il -
rra. s ustraçoes o manua
d 1 de
eqmtaçao de M . de PluVlnel, as belas gravuras de e d p . , XIII
· d al N · e os, mostram o Jovem Lms
exerc1tan o-se a cav o. a segunda metade do sécul XVII . . •
, . . O lSSO ' ~ . 15' O
culto monarqmco separava mais cedo - n lid ' Ja nao acontecia ma ·
a rea ade, desde a . . . .
queno príncipe dos outros mortais, mesmo os de b primeira 1nfânc1a - o pe-
, erço nobre
Lms XIII nasceu a 27 de setembro de 1601 Seu , d" ·
· me 1co H d . .
tro minucioso de todos os seus feitos e gestos.1 Com u eroar deixou-nos um reg1s-
. " . li
tra que o menmo toca v10 no e canta ao mesmo tem ,,
m ano e cinc 0 meses, Heroard reg1s- .
.
os b nnque d os h ab.1tua1s
· d os pequeninos, · como O cavalo pod · Antes , e1e se contentava com
Com um :mo e meio, porém,já lhe colocam um violino e P:u, 0 cata-vento ou O pião.
. b b nas maos· 0 . .
um instrumento no re, era a re eca que acompanhava as da · violino ainda não era
aldeias. De toda forma, ~ercebe-se a _imp_ortância do canto t~:s:::s _bodas e nas festas das
Ainda com a mesma idade, o menmo Joga malha: "Num •0 usica nessa época
,, I . l J go de rn Ih
ili
o lance e feriu M. de Longuev e. sso eqmva eria a vermo h .
. s ºJe u .
ª a, o Delfi1m. errou
Çando a J.ogar críquete ou golfe com um ano e meio de idade C rn 1nglesinh
· om u o come-
m ano e d
ez n1eses,
1Heroard,Jouma/ 511 , J'r,ifan<r et la jr1111rssr de Louis Xlll, editado por E. Soulié e E. Banhélérn
Y. 2 vois 1
. .• 8(>8 .

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PEQUENA t: NTH. IBUIÇ,\o À 111ST ') .
.. (.. Rlt\ nos JUC(..)S n DAS lll~IN Ct\l)f,,111.AS -U

,;e nios inform.1dos de que o 1 dflm " . •


. conttnua a tocar Sl"ll 1>• • b 1
(1.llº". ck t\ l}t11.•s": c.1d.1 com,,·ml ·. • l .
• H.1 tm 1:1 seu t;unbo. .
· · tquc.:no t1n1 or. co m tolos os
• t' 1 .. .. F . . · 1 e.: sua ma n:1ia propn:1.
•. •
omc~·:i m a \hc
t•ns1n.1r ., ., .\1. ,\Zt 1\\-no p1,1nuncnr :1s ·'I b· ..
A J • • • st ª ,\s Sl'pat.Hbmcntc, antes de dizn ·1s ,,alwns"
t•sse uwsmo mes uc a~ sto de 1601 " ·i · ·. . ·· • · · ··
J, . . ' " .. ·A · · · 0 ir J.mtar, a Ramha manda busd-lo e colod-lo
n., po nt . \ 1t i;u., ll\t i;,1 . s gr:wuras t' as · ~ . <l •. .
. · ptnttn.1s os sc.:culos XVI l' XVll nw1tas vacs
n'J'n'St'nt.1m uma criança n. mesa. enc · d , b, ..
J • :u-ap1t:1 a e t:m presa mm,a cadc1nnha alta: deve ter
,idü de uma m:ss;1s cadt.•1r:1s alt·1s que O 1) ·lt' · · , •.
· • • •• e.: 1111 ass1stm a rde1~·ão de sua mãe, como tintas
m1rr.1s cn :mp · em (jnt;\s outras fiunili-1s O n 1,, 111·110 t d · · "1
. . ··· -. cm apenas 01s :mos, e eis qul.!, eva-
d .10 g;1bmete lo Rei. . dança ao ·som do vio\ 1·110 tod os os tipos · i d anças " . M ais· mna vez
te
~ d
oh.;t•n-:m1os
· . • a prt', oc1dade
. da mús1·c • ·•... ,,-- d ••... 0••. . 11 ç...., na ed ucaçao ·
os mcnmos d l.!Ssa epoc:1:
• ·
isso
,,:,.,
·nhc-1
-- ··r- • .1 tn.·quenc1a
• . • entre •as· f"... 1111·11·....,s d e pro11ss1ona1s,e-. • • d
aqm·1 o que hoJC · ch:unanamos · de
cri.mças-prodigio, como o pequeno Mozart; esses ca os se tornariam mais raros e ao mes-
mo tempo pareceriam mais prodigiosos à medida que a familiaridade com a música, mcs-
111 em su:1s formas dementares ou bastardas, se atenuou ou desapareceu. O Delfim come-
ça :1 falar: "Contar papai" em lugar de "Vou cont:1r a papai";" Eq11ivez" em vez de écri11cz.
Tvluitas \·ezes também, ele é surrado: "Como se comportasse mal (recusava-se a comer) ,
k\·ou uma surra; depois de acalmado, pediu sua comida e comeu." "Foi para seu quarto
grinndo e levou uma surra." Embora se misture aos adultos, se divirta, dance e cante com
des, o Ddfim ainda brinca com brinquedos de criança. Tem dois anos e sete meses quan-
do Sully lhe dá de presente uma "pequena carruagem cheia de bonecas" . "Uma linda bo-
neca de thc11-rl1e11 (?) ", diz ele em seu jargão.
Ele gosta da companhia dos soldados: "Os soldados sempre se alegram em vê-lo." "Ele
conduz pequenas ações militares com seus soldados. M . de Marsan colocou-lhe a gola alta,
a primeira que jamais usara, e ele ficou encantado." "Ele brinca de ações militares com
seus pequenos senhores." Sabemos também que ele frequenta o jo~o da pela, assim com~
0 de malha _ no entanto, ele ainda dorme num berço. Em 19 de Julho de 1604, aos dois

anos e nove meses, e e


" 1 VI·u sua can1 a sendo feita com uma enorme alegria, . ·-
e foi colocado
.
1 · 1 · ·
no eito pe a pnmeira vez . " Ele J·a' conhcece os rudimentos , de sua rehgiao:
. na nussa, no,,
lh
momento da elevação mostram- e a ostla e e e h ' · l diz que e "le bon D1e11, o bom Deus .
' - [ b D' 11 que hoie está sempre presente na
Examinemos de passagem esta expressao, e on ie , J . • .

li ngua d os pa d res e d os d evo o ,


t S mas q ue nunca é encontrada na literatura religiosa ante-
~
. início do século XVII, essa expressao
rior ao século XIX. Como podemos ver aqut, no . T-
. ou à língua que os pais e as amas ut1 1
certamente recente pertencia à língua das cnanças, . , d s adultos no século
. A ão contanunou a 1mgua . o .
uvam ao falar com as crianças. express , . "boll Diet1" das criancinhas.
XJ X, e, com a efeminação da relig1ao,. ·- 0 D de Jaco tornou-se o
eus 'das insolentes que divertem
. . por outra tem sai , •
O Delfim agora já sabe falar d1re1to, e vez untou-lhe: - Meu filho,
a de marme1o, perg . ,,
os adultos: "O Rei, mostrando-lhe uma v:u, , 0 Rei não pôde deixar de rir.
do· - Para vos.
para quem é isso? - Ele respon d eu zanga · • · . da festa e das comemora-
,. o Delfim part1C1p.1
Na noite de Natal de 1604, aos tres anoS, cesa e dançou e cantou pda
, . . cha de Nata 1 ser a • , . . . . ,,
çoes tradicionais." Antes da ceia, ele vtu ª 3 • 1 mas "quinqu1lhanas itahanas •
h · 1ma bo 1a e ª gu 1•
e egada do Natal." Ganha alguns presentes. t d . dos tanto à Rainha quanto a e e.
,. . b in uedos esnna .
entre as quais uma pomba mecamca, r q

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- O À HISTÓRIA DOS JOG
coNTRtBUtÇA
PEQUEN/\
44
fi m dentro de e - numa ép d ~
uando todos ica a ,. A . . ,l .
. de inverno, 9 uma tesoura . num a e 1 uan nti-
D ante as noites d rtar pape1com
ur " le brincava eco . da Heroard regi tra e m unu F n d~
ao ar livre - e . ortante em sua v1 . b l:
rum lugar imp "· 1 QUarda na lem ran :i to o ·\11' qu
nuam a ocupa das as danças , e e º . -
. - ·"O Delfim dança to é que J.á não h:w1a .i t.uê-\ .
dm1raçao. . t mar parte, se D 1-
a. uais não demorana a o , (quando tinh, doi ' n ). e t1m p r-
v1u e nos q , da do um ano arras C .d .. ··E\
b do-se de um bale nça ;, - Ele representara o up1 nu. t.'
"Lem ran C · ·nho estava nu. .. E\ \
ntou:- Por que é que o arne1n ' dan a opular de Auvcr...,Jlt'). e: ' ·u l
gu \harda a sarabanda, e a velha bourree ( ç ~ d Robin: "Robin\ , i .l Tou
dança a ga , d B i1 . canta a cançao e l i
tare de tocar a mandara e o eau,. • M - . eu quero Robin." E e: _'l ~u i~
can nnho - amal:, R .L .
eomPrar veludo - Para fazer. um gor"Quem quer ouvir. a canrào - A filha d e1 ur
, . .
cantar a canção com a qual o runavam: .l .. Canção cu rio a p:tr.\ nuur
fim 3 cngr:wtc ou. .
- Bourbon a amou tanto - que no d. dia e já s:1b1:1 • o ll\t.'llO o
· f: .t :mos dentro t.: pouco 1
criancinhas pequenas\ Ele ia azer qua ro . . . b .. ,. Elc coc:i ·om :l pont.\ t o.
1 ,d
nome das cordas d o a au e, qu
e era um mstrumento no rt.:.
e: ·1· .d d. pr ·cocc com o., Ju .u: n.,o
I .1 -
. d , b i.-xa" Mas sua 1am1 tart :t t: t:
dedos nos lábios d1zen o: esta e ª ª · · . ,1 d:in•·a n:,s bou.l 1

. dia de ouvir . os violinos


. . · popu \ares, eomo os que :mimaram • · ' d . . que
mais
odunpe d ·nhe1·ros do Rei- ou um tocador de gaita de fole. um dos pc: fl'tro
e um os COZl . ..
"consertavam sua lareira". "Ele passava um bom tempo a .ºuVl-1~. _. . •s ·s "de ,o ·t.1
Nessa época O Delfim começa a aprender a ler. Aos tres anos e cinco tllt.:. t: . • ~l .,
' l ·
de um livro com as figuras da Bíblia: sua ama hc nomeia as c..'tns e.' e e • s l I a· conhc..'cc tm .·' ·
Ensinam-lhe a seguir as quadras de Pibrac, regras dl.! ctiqul.!t:l e de mora 1H a t.: qm: ·
.ld . '\S Crt ·\11-
ças tinha de aprender de cor. A partir dos quatro :mos, começa a aprender a cscrc:vcr: ·e_u
mestre é um clérigo da capela do castelo chamado Dumont."Ele m:mdou trazt:r sua e cn-
vaninha para a sala de jantar, para escrever sob a orientação dc: Dumont, e:: disse: - E toU
escrevendo meu exemplo e estou indo para a escola" (o c:xemplo era o modelo m:muscrito
que ele devia copiar) ."Ele escreveu seu exemplo seguindo a impressão feita sobre o papel,
e a seguiu muito bem, com grande prazer." Começa a aprender palavras latinas. Aos seis
anos, um escrevente profissional substitui o clérigo da capela: "Ele escreveu seu exemplo.
Beaugrand, o escrevente do Rei, mostrou-lhe como escrever."
Ele ~inda brinc~ co~ ~onecas: "Brinca com alguns brinquedinhos e com um peque-
no gabinete ,alemao
. (rrumaturas de madeira, fabricadas pelos artes-aos d e N urem b ergue ) .
M. de Lomerne deu-lhe um . pequeno
, fidalgo
, muito bem vestido , com uma go 1a pertiu-
mada ... Ele o penteou e disse: Vou casa-lo com a boneca de Mad ame (sua 1rma · -) , . " El e
ainda gosta de recortar papel. Contam-lhe histórias também· "Ele m d
. , . ' · an ou que sua arna
lhe contasse as h1stonas da comadre Raposa e do Mau Rico e Lázaro " "D · d
· e1ta o na cama
contavam-lhe as histórias de Melusina. Eu lhe disse que eram fãbulas e não h . . , . . '
_ _ • 1stonas reais."
(A observaçao revela uma nova preocupaçao com a educação, já moderna ) A .
nao- eram as urucas
' · · h. , · b,
a ouvir essas 1stonas: e1as tam em eram contadas nas
· s .crianças
_
· reun1oes 110 _
turnas dos adultos.
Ao mesmo tempo em que brincava com bonecas, esse menino de quatro a cinc
o anos
praticava o arco.jogava cartas, xadrez (aos seis anos) e participava de jogos de adultos. coillo
o jogo de raquetes e inúmeros jogos de salão.Aos três anos, o menino já participav.1 de lllll

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PEQUENA CONTR.mu1 . .
ÇAQ A HIST )RIA Dos J< G ) . 1) s DRI , ' Ct\DflllA '\

jogo de rimas, que era comum , .


as crianças e aos J. oven C . d
Rei , mais velhos do que ele b . d .. s. om o paJcn. o :i p cm do
. rmcava e a companh·1 d , ..
mestre (o líder da brincad · ) ª vos agra a. . Algum. w zc c . 0
eira ' e quando não sabia O d . d.
pava dessas brincadeiras co d que e,,a 1zer, pergunt. va: p., m 1-
, mo a e acender uma I U d
tivesse 15 anos. Quand 1 , , . ve ª com os o 10 wn .1do . o rn e e
dados . "Ele b .
0
e e nao esta brincando com os pajens. e tá brinc. ndo co m _ 1-
. nncava com os soldad d d. . .
,, A . . os e iversas bnncade1ras. com de b.1cer p.ilnu l' k
escon d er. os seis anos, Joga O · d . . . . .
. . . . Jogo os ofic1os e brinca de mmu ca. JO~ dt· ,tl:io que.•
consistiam em ad1vmhar as p fi , hi , . ..
b . . ro issoes e as stonas que eram reprcst·nt:1 d.u p r mtmK.1.
Essas nncade1ras também b · d .
. eram rmca eiras de adolescentes e de :1dultos.
Cada vez mais o Delfim ·
. .. . ' se mistura com os adultos e assiste J seus espcüculo . Ek 1c.·m
cmco anos. F01 levado ao p, ti , d nil .
b _ ª 0 atras o ca (em Fontamebleau) para assistir .1 um., lm.,
en~re os retoes que trabalhavam nas obras do Rei.'' "Foi lev:ido até o Rl·i no s.1l.io i
baile para ver os cães lutando com
. . os ursos e o touro.
" "F · · · b 1
01 ao par10 co crto oo JO~n l J
• 1
Pela para assistir a uma corri.da d e texugos. • •• E . acima
· d t· tu d o. e 1e p:tmnpa
· · •
dos b.1 ks. \n,
quatro anos e meio "ele vest' u , r · d ·
, , . 1 uma mascar:i. 101 aos aposento o Rei para d.mpr um
bale, e recusou-se a tirar a máscara, não querendo cr reconhecido". Muir., wzc.·s de.• . e.•
fantasia de "camareira da Picardia", de pastora ou ck mcnin:1 (aimb us:1,.1 a túni c., llo
meninos). "Após a ceia, assistiu à dança :10 som das ca nções de um certo L1forc.•,r", 1m1
soldado-coreógrafo, também autor de farsas. Aos cin co anos. ''as.si·tiu sem cntmi.1Sino .1
encenação de uma farsa em que Lafore st fazi a o papd do nnrido cô mico, o U:1r.1o dc-
Montglat, o da mulher infiel e Indret, o do n:tmorado que a eduzia" ; :10~ scis .mos, "d.111 -
çou um balé, muito bem vestido de homem, com um gib:io e c:tlps .11<'.- os jodho por
cima de sua túnica". "Assistiu ao balé dos ft:iti cl·iros e diabos, d.1npdo pdos sold:tdo tk
M. de Marsan e criado pelo piemontês Jea11-Oaptisre (um omro sokbdo-corL·Ógr:ifo) ." Ek
não dança apenas os balés ou as danças da corre que :tprende com um professor, a ~i111 co mo
aprende a leitura e a escrita. Participa também do que hoje chamaríamos de dança~ popu -
lares. Aos cinco anos, participa de uma, que me lembra uma dança tirolesa que vi certa vez
uns meninos com calças de couro dançarem num café de Innsbru ck: o pajen do Rei
"dançaram uma branle, dando pontapés nos traseiros uns dos outros; de também dançou e
fez como os outros". Noutra ocasião, ele estava fantasiado de menina par:t uma represen-
tação: "Terminada a farsa, tirou o vestido e dançou, chutando o traseiro de seu vizinhos.
Ele apreciava essa dança."
Finalmente une-se aos adultos nas festas tradicionais do Natal, de Reis, de São João: é
'
ele quem acende a fogueira de São João, no pátio do castelo de Saint-Germain . Na noite
de Reis, "ele foi rei pela primeira vez. Todos gritavam: - o rei bebe! -A parte de Deus
era posta de lado: aquele que a comesse teria de pagar uma prenda". "Foi levado aos apo-
sentos da Rainha, de onde viu o mastro de maio ser erguido."
As coisas mudam quando ele se aproxima de seu sétimo aniversário: abandona o traje da
infancia e sua educação é entregue então aos cuidados dos homens; ele deixa "Mamanga ",
Mme de Montglas, e passa à responsabilidade de M. de Soubise. Tenta-se então fa zc:- lo
abandonar os brinquedos da primeira infãncia, essencialmente as brincadeiras de bo m· .J~:
"Não deveis mais brincar com esses brinquedinhos (os brinquedos ah:mãe ). nem br111c ,1r

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E .
CONT RIOUiÇÃO À HISTÓRIA DOS J G
PEQUENA
46

. . menino grande, não sois mais crian a." Ele com ç a


de carreteiro: agora sois um " . .
tirar e a caçar. Joga jogos de azar: Ele paroc1 ou d uma ri6 t>
r
al
a montar a cav o, a a
" T d · dica que a idade de sete anos marcava uma eta a de: ·eru im -
uma turqueza. u o m . . . . . .
'dad -'-ente fixada pela literatura moralista e pedagogica do t'culo X\ li p na
era a 1 e gerclll11 . -
la ou começar a rrabalhar. 2 Mas não devemos exagerar ua mtp rcin .1 p .
ança entrar na esco _ . . ·
embora não brinque mais ou não deva mais bnncar com bonecas. o Delfim contmu:t .1 1 r l
mesma vida de antes.Ainda é surrado, e seus divertimentos quase não se a.ltt'r-Jrn. Ele v.1i r.i J..i
vez mais ao ceatro,chegando em pouco tempo a ir quase todos os dias: um:1 pron d.1 imp rr.in-
cia da comédia,da farsa e do balé nos frequentes especiculos de interior ou :10 .tr livre de n s
ancestrais."Ele foi à grande galeria para ver o Rei num torneio de: argolinlu ·:· •· ,o· t.1 dt· omir
os maus contos de La Clavette e de outros." "Jogou car:1 ou coroa cm t'll ~1bint·tc: om pt'l)lll.'·
nos fidalgos,como o Rei,com três dados." "Brincou de e. e II ler" com um tt·nc:mr d.1 LI\, -
foi :1 grau k gakri.1.
laria ligeira."Foi assistir a um jogo de pela, e de li i cir .1 um tornt'io lt'
argolinhas." "Fantasiou-se e dançou o Pantalon ." Ele :1gor:1 cc111 m :t is le nove: anos:"Ap ·>S .1
ceia,foi aos aposentos da Rainha, brincou de cabn-ccg:t e fez com qu<.' J Rainh.t, a. prinn:s:t-'
e as damas brincassem também." Com um pouco mais de 13 ano,, ain Li brin 'J dt· c:scondt.•r.
Um pouco mais de bonecas e de brinquedos :1lc:màc :111tt·· do · ·t:cc anos um pouco
mais de caça, cavalos , armas e talvez eearro apos · 1:lt1e: a mud:rnp e t:i
• essa 1c - z' ·III en 1vc.:
· 1-
mente . _nessa longa sequência de div er t'1mencos que a cn·anp toml cmprt·sc. dJ dos :alulcos
ou d1V1de com eles .Aos ... dois anos • Luís Xlll começa :t JOg:tr
· 111:ilha e: pcb; .tos qu:ttro, :1tirJ
com
l ro liarco · -- eram Jogos de exercício" que tod os pr:itic:tv:im:
. . M "' de évi1•11l' por cxclll-
O
p o, Le c1tana
. seu genro por sua habilidade na ma. li l:t O rom .. 1. •. f S 1
escreveria um tratado sobre osJ· d •
1 . · ,Hl Cl!IC:t e.: 11sconac or on:
ogos e sa ao dcsnmd 0 .. 1l • ,
XIII participava de um jogo de ri . .· aos ,ll li tos. M:ts :tos crc:s :tnos, Lu1s
, mas, e aos seis Jogw·1 o . d
numica, brincadeiras estas que ocupavam 1 ' . • • Jogo os oficies e brincava lk
Aos cmco . . um ugar importam " ' 'f . .
anos, ele Joga cartas. Aos oit • . e n:t iv. 111so11 dcs Jc11x de Sarei.
fi o, gan1ll um prenuo nu .e .
as ortunas costumavam trocar de mãos. ma n1a,Jogo de az:tr cm que
O mesmo se dá com os espetáculos musicais d , .
a galh d b d ou ramattcos · •
ar. a, a _sara an a, a velha bourrée, e desempenha , .. aos tres anos, Luís XIII dança
anos,
fil d assiste as farsas e, aos sete , às coméd.ias. C anta toca papeis
. nos balés da co r t e.. A os ClllCO
r .
a os espectadores que assistem a uma 1u t a, a um' tor v10 • dmo e alaúde · Esta' na pnmcJra . .
ursos ou de touros, ou a um acrobata na corda ba b Ene10 e argolinhas a um ... b . d
d d 1 · m a nfi . ' .. ..,. nga e
p a es co euvas que eram as festas religiosas e saz . . im,
ona1s· o Natal fi paracipa das grand c:s fcest1v1-
. .
arece,
h . portanto,b . que no. início do século XVII - . . .
nao exisaa uma ' a esta- de ma . s-
10, ao Joao ... -
OJe entre as nncade1ras . e os jogos reservados , .
as crianças e as b • separaçao tão ri gorosa como
ad u1tos. O s mesmos Jogos eram comuns a amb os. nncadeiras e os Jogos . dos

No. início
e do século XVII, essa polivalência não se esten d'1a mais. as
, .
quenmas. onhecemos bem suas brincadeiras, pois a parti d . crianças muito
tt' . . fi . , r o seculo XV pc-
pu I surgiram na 1conogra ta, os artistas multiplicaram as rep resentaçoes_ de • quando
. os
criancinhas

2Cf. i,,J,a, Ili parte, cap. 2.

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PEQUENA CONTRIDUIÇÃO À HISTÓRIA DO JC O EI S IJIU , •. D li

brincando. Reconhecemos nessas p · tu 1 ·


_ . m ras o cava o de pau. o caca-n·nt . p.1 pn: o
P or um cordão... e ' as vezes , embo ra mais
· b '
raramente. onecas. E um rant ou qu Jnt e, 1-
dente que esses
. brinquedos eram d · · h o . No ent.inc . p 1t'llll n
reserva os aos pequenmm
perguntar se tinha sempre sido assim e se esses brinquedo não ha,iam rt"rt enci o .111tc ,1 1
mundo dos adultos. Alguns deles nasceram do espírito de emulaç • o d:1 ·ri . n .u . 1uc .1
leva a imitar as atitudes dos adultos, reduzindo-as à sua e cala: foi o c d c.1nl dl· J .1u.
em uma época em que o cavalo era o principal meio de tr.msporre e de tn .i . 1 .1 llll' nu
forma, as pás que giravam na ponta de uma vareta só podjam ser a imit:i 5 rt:iu pd.b cri -
anças de uma técnica que, contrariamente à do cavalo, não era antiQ:1: l rt'.· ni c.1 1 , 11w1-
nhos de vento, introduzida na Idade Média. O mesmo reflexo :111i;11:1 no;· , crurn;.1, ,k·
hoje quando elas imitam um caminhão ou um carro. Ma , enquant os moinlu - de ,. ·nt,)
há muito desapareceram de nossos campos, os c:1ta-vc:11tos conünuarn .1 ser n :ndid( , 11 .1
lojas de brinquedos, nos quiosques dosjardin público · ou n. feira ·.As cri.mr.ts · n,1itu · 1tt
as sociedades humanas mais conscrv:1doras.
Outras brincadeiras parecem ter tido o urra origl.'m, que: n.i o dl.' ·c.:j lc imit.tr l, .1 luh1.. , .
Assim, muitas vezes a criança é rcpre cnrada brinc.mdo com um p,Í s.,ro: Luís , ' 111 1 ONtÍ .t
uma pega da qual gostava muito . O próprio leitor t:1lvez ·e lt.-rnbre de.· · u.1s tt·nuriv.1, de
domesticar um pássaro ferido na infanci:1. Nc. as Cl.'lll · de jogo. , p.h .1ro cm ga:11 t' 'lt .Í
amarrado a uma correntinha que a criança scgur:i. Às vr:ze ·. de é: u111.1 imit.1\·.10 dt· m.uk1r.1.
Em todo o caso, a julgar pela iconografo, o p:1s :tro ,ltlllrrado 1.m·cr: rc:r ,ido u111 dO'i l rin -
quedos mais comuns. O historiador da rdigi:io greE:,,::i, Nils-011 ; 1 infort11:1-11os qut' 11.\ (;n'.· ·1.1
antiga, como, aliás, na Grécia moderna, era co mmr: nos priml'iros di.1S dt' 111:1rço O'l 1ttt·11i110~
fazerem uma andorinha de madeira enfeita l:t com tlurt·s, que gir:tv;i t'III corno de u111 ei xo.
Eles a levavam de casa em casa, e recebiam prcsenrcs: pi ·.1ro ou sua reprodu\·.io 11.io c.·r.1111
um brinquedo individual, e sim um dememo de uma t~sca coletiva e sazon.11. d., qu.11 .1ju -
ventude participava desempenhando o papel que sua cbssc de idade lhe atribuía . (Rec11cm1tr. -
remos mais adiante esse tipo de festa.) Aquilo que mais carde se tornaria um bri11qucdo
individual, sem relação com a comunidade ou com o calendário, de!itituído de qu alquer
conteúdo social, parece ter sido ligado no princípio a cerimônia cradicio11. i que mi tur. -
vam as crianças e os jovens - aliás mal distinguidos - com o adultos. O mesmo Nilsson
mostra como o balanço, tão frequente na iconografia dos jogos e brincadeiras ainda no
século XVIII, figurava entre os ritos de uma das festas previstas pelo calendário: a Aiora, a
festa da juventude. Os meninos pulavam sobre odres cheios de vinho, e as meninas eram
empurradas em balanços. Esta última cena pode ser vista em vasos pintados, e Nils 011 a
interpreta como um rito da fecundidade. Existia uma relação estreita entre a ccrimôni:1
religiosa comunitária e a brincadeira que compunha seu rito essencial. Com o tempo, a
brincadeira se libertou de seu simbolismo religioso e perdeu seu caráter comunit:írio, tor-
nando-se ao mesmo tempo profana e individual. Nesse processo, da foi cada va lll,ti rt' -
servada às crianças, cujo repertório de brincadeiras surge então como o rcpo ·itóri( d ·
manifestações coletivas abandonadas pela sociedade dos adultos e dcssacr.aliz:1d.1

' Nil" on. La Rc//1[/011 pop11/nirc dnm Li Grerr at1tiqrll'.

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· O À HISTÓRIA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS
PEQUENA coNTRI13UIÇA
48

d
brinquedos-miniaturas leva-nos a hipóteses semelh
O roblema da boneca e os b d b . antes
P . d e os colecionadores de onecas e e rmquedos-mi . ·
Os historiadores dos bnnque os . b . . Illatu_
. . d. fi uldade em distinguir a boneca, rmquedo de criança, de t ,L
ras sempre tiveram muita t ic - . . . Ou.as
. t tas que as escavaçoes nos restituem em quantidades senu-indu
as outras 1magens e esta ue . . . s-
t" ham uma significação relig10sa: objetos de culto doméstico
triais e que quase sempre m . _ ou
, . . d s devotos de uma peregnnaçao etc. Quantas vezes nos apresentam
funerano, ex-votos o . .. . , ;:, ,
b • d reduções de ob1etos famtliares depositados nos tumulos. Nao preten-
como nnque os as :.i
do concluir que as crianças pequenas de outrora não brincavam com bonecas ou com ré-
plicas dos objetos dos adultos. Mas elas não eram as únicas a se servir dessas réplicas.Aquilo
que na idade moderna se tornaria seu monopólio ainda era partilhado na Antiguidade, ao
menos com os mortos. Essa ambiguidade da boneca e da réplica persistiria durante a Idade
Média, por mais tempo ainda no campo: a boneca era também o perigoso instrumento do
feiticeiro e do bruxo. Esse gosto em representar de forma reduzida as coisas e as pessoas da
vida quotidiana, hoje reservado às criancinhas, resultou numa arte e num artesanato popu-
lares destinados tanto à satisfação dos adultos como à distração das crianças. Os famosos
presépios napolitanos são uma das manifestações dessa arte da ilusão. Os museus , sobretu-
do alemães e suíços, possuem conjuntos complicados de casas, interiores e mobiliários que
reproduzem em escala reduzida todos os detalhes dos objetos fanuliares. Seriam realmente
casas de bonecas essas pequenas obras-primas de engenho e complicação? É verdade que
essa arte popular dos adultos também era apreciada pelas crianças: eram muito procurados
na F~n~a os "brinquedos alemães" ou as "quinquilharias italianas" . Enquanto os objetos
em rruruatura
. , . se tornavam o monopólio das. crianças, uma mesma pa1avra designava
· na França
essa
. mdustna,
• . quer seus, produtos se destmassem às crianç as ou aos a d u l tos: btm · be[otene.
· O
bibelo anogo era tambem um brinquedo. A evolução d 1·
. . . a mguagem afastou-o de seu sen-
ado infantil e popular, enquanto a evolução do senf , . . . , •
d . imento, ao contrario restrmg1a as cn-
anças o uso os pequenos obJetos, das réplicas. N O , 1 X . ' ..
b. d a1- d · · . secu O IX, o bibelo tornou-se um
o ~eto e s ao, e v1tnna, mas continuou a ser a d - d
. . . re uçao e um ob · t f: _:, · .
demnha, um movelzmho ou uma louça mi , 1 . ~e o anw1ar. uma ca-
nuscu a, que Jamais s d . , . d .
ras de crianças. Nesse gosto pelo bibelô deve e estmaram as brmca e1-
mos reconhecer u b . .. .
da arte popular dos presépios italianos ou das c a1 _ ma so rev1venc1a burguesa
asas emas A . d
durante muito tempo permaneceu fiel a esses b . d. · socie ade do Ancien Régime
. nnque inhos h .
bobagens de crianças, sem dúvida porque caíram defini . 'que OJe qualificaríamos de
Ainda em 1747, Barbier escreve: "Inventaram tivamente no donúnio da infancia.
, - se em Paris b
fantoches ... Esses bonequinhos representam Arlequim S uns rinquedos chamados
ou entao- pa d e1ros
. (os o fi cios
. ), pastores e pastoras (o , caramouch e (a comédia italiana)
. . . . gosto pelos d. f:
bobagens d1vert1ram e dommaram Pans inteira, de tal fc is arces rústicos). Essas
orma que -
casa sem encontrar alguns, pendurados nas lareiras São d d nao se pode ir a nenhuma
. ' · ª os de
lheres e men!llas, e a loucura chegou a tal ponto que, no i , . presente a todas as mu-
• n1c10 dest
encheram ddes para vende- los como presentes ... A duquesa d e ano, todas as loias se
. d B h "O e Chartr J
bras por um boneco pmta o por ouc er. excelente bibliófil es pagou 1.500 li-
, · , • 0 Jacob
'acima ' reconhece que, em sua epoca, nlllguem . tena . sonhado co1n ta · ., que cita O trec 110
pessoas de sociedade, muito ocupadas (o que dma ele hoje!), não se~~ infantilidades: "As
iverten1 .
m:us como

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PEQUENA CONTRJBUIÇÀO À HISTÓRIA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS 49

naquele
. . bom tempo. de ócio (::>)
· qu e viu
· fl orescer a moda dos bilboques
· • e dos fantoches;
hoje deixamos os brinquedos para as crianças."
. O_ teatro de . . marionetes parece ter s1·d o outra maru·fcestaçao
- da mesma arte popular da
1lusao em
. , mm1atura ' que produz1·u as qumqu
· ilh anas
· al emas , · napo 11tanos.
- e os presep1os · El e
teve, alias, a mesma evolução: o Guignol lionês do início do século XJX era uma perso-
nagem do teatro popular, porém adulto. Hoje, Guignol tornou-se o nome do teatro de
marionetes reservado às crianças.
Sem dúvida, essa ambiguidade persistente das brincadeiras infantis explica também por
que, do século XVI até o início do XIX, a boneca serviu às mulheres elegantes como
manequim de moda. Em 1571, a duquesa de Lorraine, querendo dar um presente a uma
amiga que havia dado à luz, encomenda "bonecas não muito grandes, e em número de até
quatro ou seis, e das mais bem vestidas que possais encontrar, para enviá-las à filha da Duquesa
de Baviere, que acabou de nascer". O presente se destinava à mãe, mas em nome da crian-
ça! A maioria das bonecas de coleções não são brinquedos de crianças, objetos geralmente
grosseiros e maltratados, e sim bonecas de moda. As bonecas de moda desapareceriam e
seriam substituídas pela gravura de moda, graças especialmente à litografia. 4
Existe, portanto, em torno dos brinquedos da primeira infância e de suas origens, uma
certa margem de ambiguidade. Essa ambiguidade começava a se dissipar na época em que
me coloquei no início deste capítulo, ou seja, em torno dos anos 1600: a especialização
infantil dos brinquedos já estava então consumada, com algumas diferenças de detalhe com
relação ao nosso uso atual: assim, como observamos a propósito de Luís XIII, a boneca não
se destinava apenas às meninas. Os meninos também brincavam com elas. Dentro dos li-
mites da primeira infância, a discriminação moderna entre meninas e meninos era menos
nítida: ambos os sexos usavam o mesmo traje, o mesmo vestido. É possível que exista uma
relação entre a especialização infantil dos brinquedos e a importância da primeira infancia
no sentimento revelado pela iconografia e pelo traje a partir do fim da Idade Média. A
infància tornava-se o repositório dos costumes abandonados pelos adultos.

Por volta de 1600, a especialização das brincadeiras atingia apenas a primeira infancia;
depois dos três ou quatro anos, ela se atenuava e desaparecia. A partir dessa idade, a criança
jogava os mesmos jogos e participava das mesmas brincadeiras dos adultos, quer entre crianças, quer
misturada aos adultos. Sabemos disso graças principalmente ao testemunho de uma abun-
dante iconografia, pois, da Idade Média até o século XVIII, tornou-se comum representar
cenas de jogos: um índice do lugar ocupado pelo divertimento na vida social do Ancíen
Régime.Já vimos que Luís XIII, desde seus primeiros anos, ao mesmo tempo que brincava
com bonecas, jogava pela e malha, jogos que hoje nos parecem ser muito mais jogos de
adolescentes e de adultos. Numa gravura de Arnoult5 do século XVII, vemos crianças jo-
gando beliche. São crianças bem-nascidas, a julgar pelas mangas falsas da menina. Não se
sentia nenhuma repugnância em deixar as crianças jogar, assim que se tornavam capazes,
jogos de cartas e de azar, e a dinheiro. Uma das gravuras de Stella dedicada aos jogos dos

:E. Fournier, Histoire des jouets et je11x d'e11fants, 1889.


Arnoulc, gravura, Cabinet des Estampes, Oa 52 pet. foi. P' 164.

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,_
Q)
· O À HISTÓRIA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS e
PEQUENA CONTRJBUIÇA e
(1J
50 (.)
(/)
E
(1J
ü
. · infelicidade de um deles, que havia perdido tudo. Os p· E
o(.)
utti6 descreve com simpatia a . . into,
P d , 1 XVII muitas vezes retrataram grupos de soldados Jogando e . . o
res caravagescos o secu o .
-afamadas: ao lado de velhos soldados, veem-se memnos íllUJ.
Xct- ".!::!
(1J

tadamente em tavernas m al . to cõ
......
'õ,
. d 12 talvez e que não parecem ser os menos amn1ados. Uma tela de S ã
Jovens, e anos , . .
1 ta um grupo de mendigos em torno de duas crianças, observand0-~s
Bourd on represen . . . . _ ••
jogar dados. o
tema das crianças jogando a dmheiro Jogos de azar _amda_ nao chocava J
opinião pública, pois é encontrado também em cenas que mostram nao mais vdhos. solda-
dos ou mendigos, mas personagens sérias como as de Le Nain. 8
Inversamente, os adultos participavam de jogos e brincadeiras que hoje reservamos às
crianças. Um marfim do século XIV9 representa uma brincadeira de adultos: um rap:12
sentado no chão tenta pegar os homens e as mulheres que o empurram. O livro de hons
de Adelaide de Savoie, do fim do século XV, 10 contém um calendário que é ilustrado
principalmente com cenas de jogos, e de jogos que não eram de cavalaria. (No início, os
calendários representavam cenas de oficios, exceto no mês de maio, reservado a uma
corte de amor. Os jogos foram introduzidos e passaram a ocupar um lugar cada vez maior.
Em ge~al era~jogos de cavalaria, como a caça, mas havia também jogos populares.) Um:t
dessas ilustraçoes mostra a seguinte b nnca · • uma pessoa f:az o papel da vela no 111e10
· deira. ·
de um círculo de casais em que cad d
. • ª ama fiica atras ' d
e seu cavalheiro e o segura pda
amura.Em uma outra passagem domes 1 d' ·
d b Olas d mo ca en ano, a população da aldeia faz uma guerra
e e neve - homens e mulheres d
· d , 1 XVI al ,granes e pequenos. Numa tapeçaria 11 do iní-
c10 o secu o , guns camponeses e fidal , .
de pastores brincam de , . d gos, eS t es ultimas mais ou menos vestidos
, uma espec1e e cabra-ce . -
dros holandeses da segunda metade d , 1 ga. nao aparecem crianças. Vários qua-
o secu o XVII re ,
do dessa espécie de cabra-cega. Em d 1 12 presentam tambem pessoas brincan-
. um e es aparecem al • -
misturadas com os adultos de todas •d d gumas crianças, mas elas estao
as i a es: uma mulh
avental, estende a mão aberta nas costas L , XII er, com a cabeça escondida no
d B. . ms I e sua m ~ b .
e. rmcava-se de cabra-cega na casa de G d ae nncavam de esconde-escon-
U ran e Mad . li
ma gravura de Lepeautret 4 mostra que emo1se e, no Hôtel de Rambouillet. 13
brincadeira. os camponeses adultos tamb, d
em gostavam essa
Logo, podemos compreender o come t' .
. . . nano que
pirou ao historiador contem A o estudo da ·
_ . poraneo Van Marle- ts "Q iconografia dos jogos ins-
nao se pode dizer realmente que fossem ·. uanto aos divertim d d l
É 1 - . menos mf: · entos os a u tos,
e aro que nao, pois se eram os mesmos! antis do que as cliver - d . "
. soes as cnanças.

''ClmdinC' Uouzonnct,Ji·1111x de l'rnfance, 1657 .


Mu~u de Gcncbr.i .
"P. Ficrc:ns, Lt· J\'ain, 1933, pr.incha XX .
YLou vrc:.
rnchanrilly.
11 Victoria and Albert Museum, Londres.

11 Bc:rndt, n• 509 (Cornclis de M au) , n• 544 (Molinar) .

13 Fournier, ,,p. cit.

14 Lcpeautrc, gr.ivura, Cabinet dcs Estampes, Ed. 73 in-f•, p. 104 .

15 Van M arie, op. cit., vol. 1, p. 71 .


PEQUENA CONTRIBUIÇ - · . ....
AO A HISTORIA DOS JOGOS E DAS DRJNCADEIRAS 51 (lJ
e
e
co
ü
(/)
As crianças também participavam .
d:ts fcestas sazonais . . , no 1ugar que lhes cabia entre os outros grupos de idade, E
co
que reuniam re l . • (.)
. • . d . gu armente toda a colet1v1dade. Para nós é dificil imagi- E
. a .1mportanc1a os Jogos e das fcestas na sociedade
nar • o
antiga: hoje, tanto para o homem da ü
cidade como. para ob do. campo • exiS· te apenas uma margem mmto . estreita entre uma ativi- o
-o
d ad e pro ti1ss10na1 1a onosa e hipe t ti d co
.!:::!
. ,. r ro ta a, e uma vocação familiar imperiosa e exclusiva. co
:t::
Toda. a literatura poht1ca e social , re fl exo da opm1ao · ·- contemporanea, • trata das condições Ol
de vida e de trabalho Um sindical· , · · o
. · ismo que protege os salanos reais e seguros que reduzem
o risco
. da doença e do
. . desemp rego.. eis· as prmc1pa1s
· · · conqmstas · populares, ao menos as
mais. aparentes na opiruão públi ca, na 1·1teratura e no debate político. , · Mesmo as aposenta-
donas
. tornam-se cada vez menos possi·bili"dad es d e repouso: sao - antes pnv · il egJOs
' · que per-
mitem .. uma renda
_ mais gord a. O d. · d
1vert1mento, torna o quase vergon oso, nao h - e' mais
·
adnuttdo, a nao ser em raros intervalos, quase clandestinos: só se impõe como dado dos
co stumes uma vez por ano, durante o imenso êxodo do mês de agosto 16 que leva às praias
e às montanhas, à beira d'água, ao ar livre e ao sol uma massa cada vez mais numerosa, mais
popular e ao mesmo tempo mais motorizada.
Na sociedade antiga, o trabalho não ocupava tanto tempo do dia, nem tinha tanta im-
portância na opinião comum: não tinha o valor existencial que lhe atribuímos há pouco
mais de um século. Mal podemos dizer que tivesse o mesmo sentido. Por outro lado, os
jogos e os divertimentos estendiam-se muito além dos momentos furtivos que lhes dedica-
mos: formavam um dos principais meios de que dispunha uma sociedade para estreitar seus
laços coletivos, para se sentir unida. Isso se aplicava a quase todos os jogos, mas esse papel
social aparecia melhor nas grandes festas sazonais e tradicionais. Elas se realizavam em datas
fixas do calendário, e seus programas seguiam em geral regras tradicionais. Essas festas só
foram estudadas por especialistas em folclore ou em tradições populares, que as situam em
um meio quase exclusivamente rural. Mas, ao contrário, elas envolviam toda a sociedade,
de cuja vitalidade eram a manifestação periódica. Ora, as crianças - as crianças e os jovens
- participavam delas em pé de igualdade com todos os outros membros da sociedade, e
quase sempre desempenhavam um papel que lhes era reservado pela tradição. Não preten-
do escrever aqui, é claro, uma história dessas festas - um assunto vasto e certamente de
grande interesse para a história social - mas alguns exemplos bastarão para mostrar o lugar
que nelas ocupavam as crianças.A documentação, aliás, é rica, mesmo se recorrermos pouco
às descrições predominantemente rurais da literatura folclórica: uma abundante iconografia,
inúmeras pinturas burguesas e urbanas são suficientes para comprovar a importância dessas
festas na memória e na sensibilidade coletivas. Os artistas tiveram o cuidado de pintá-las e
de conservar sua lembrança por mais tempo do que o breve momento de sua duração.
Uma das cenas favoritas dos artistas e de sua clientela era a festa de Reis, provavelmente
a maior festa do ano. Na Espanha, ela conservou esse primado que perdeu na França para
o Natal. Quando M"'e de Sévigné, que estava então em seu castelo de Les Rochers, soube
do nascimento de um neto, quis partilhar sua alegria com a criadagem, e, para mostrarª
Mme de Grignan que havia feito tudo como devia, escreveu-lhe: "Dei de beber e de co-

160 • d
mes e ferias coletivas na Europa. (N. T.)
· · HISTÓRIA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS
...
Q)

PEQUENA CONTRIBUIÇAO A e
52 e
ro
C)
(/)
E
· d Reis " 17 Uma rrúniatura do livro de h ro
ü
mer à criad:igem como em uma noite e . . e. A d d fi oras de E
· · pisódio da 1esta. cena ata o 1m do • oC)
Adebide de Savoie 1:; representa o primeiro e secu\ 0
· al d por longo tempo. Homens e mulhe o
-o
XV, mas esses ritos permaneceram m tera os . res, ?a- ro
- · 1 d a mesa Um dos convivas segura O b l .!::!
rentes e amigos estao reurudos em vo ta e um · , . . o o d~ ro
.t::
Reis verticalmente. Uma criança de cinco a sete anos eS t a esco nd ida debaixo da mesa. o Ol

artista colocou-lhe na mão uma faixa de pergaminho com uma inscrição que começa por ª
um Ph ... Desse modo, foi fixado o momento em que, segundoª tradição, era uma criança
quem distribuía o bolo de Reis. Isso se passava segundo um cerimonial determinado: a
criança escondia-se sob a mesa, um dos convivas cortava um pedaço do bolo e chamava
a criança: "Phaebe, Domine ..." (donde as letras Ph da miniatura) e a criança respondia
dizendo o nome do conviva que devia ser servido, e assim por diante. Um dos pedaços
era reservado para os pobres, ou seja, para Deus, e aquele que o comesse deveria dar uma
esmola. Quando a festa de Reis se laicizou, essa esmola se tornou na obrigação do Rei de
pagar uma prenda ou de dar um outro bolo não mais aos pobres, mas aos outros convivas.
Mas isso não importa aqui. Observemos apenas o papel que a tradição confiava a uma cri-
ança pequena no ritual da festa de Reis. O procedimento adotado no sorteio das lote-
rias oficiais do século XVII sem dúvida se inspirou nesse costume: o frontispício de um
livro 19 intitulado Critique sur la loterie mostra uma criança tirando a sorte, tradição que se
conservou até nossos dias. Sorteia-se a loteria como se sorteava o bolo de Reis. Esse papel
desempenhado pela criança implicava sua presença no meio dos adultos durante as longas
horas da noite de Reis.
O segundo episódio da festa, aliás seu ponto culminante , era O bri·n d e ergm'd o por to d os
os convivas_ àquele que. havia encontrado uma fava em seu pedaç , o d e b o lo e que assim • se
tornava rei, sendo devidamente coroado: "O rei bebe" As pint fl
. · uras amengas e holandesas
retrataram particularmente esse tema. Conhecemos a famos t 1 d L
, ª e a o ouvre de Jordaens,
mas o mesmo assunto e encontrado em numerosos outros pi t . .
20 d . n ores setentnona1s Por exem-
1 d d
p o, no qua ro e Metsu, e um realismo menos burle . ·
sco e mais verdad · El d'
bem a ideia dessa reunião em torno do Rei d eiro. e nos a
' e pessoas de todas as id d
todas as condições, os criados misturando-se aos senh A a es e certamente de
ores. s pessoas e~ d
uma mesa. O Rei, um velho, bebe. Uma criança O , d . es ao em torno e
, sau a tirando h , , .
fora ela quem, ha poucos momentos, sorteara os ped d O c apeu: sem duvida
. . d . aços e bolo segund d' ~ O
tra cnança am a mmto pequena para desempenhar ' o a tra içao. u-
esse papel est' da
cadeiras altas fechadas, que continuavam a ser muit d ª senta em uma dessas
. )· , . b, o usa as. Ela aind -
sozm 1a, nus e preciso que tam em participe da fest U a nao sabe ficar de pé
,
bufao. No seculo XVII, adoravam-se as fantasias e
ª· m dos co ·
.
,
nvivas esta fantasiado de
·- . d ~b e::. ' as mais grote
ocasiao; mas o traJe e u1ao aparece em outras re scas eram comuns nessa
, . . . presentaç ~
parece obvio que fazia parte do cerimonial: 0 bufa oes dessa cena tão famil '
o era O bob d . 1ar, e
0 o Re1.

17 M"" de Sé- vi gn<'.·. Lrttrrs, 1671 .


•~cr. nota n• 1O dl SIC capítulo.
0

' qReprodu zi do por H. D'Allemahme, Rhréations r t /)(1SJf· tm1ps, 1906


211 Mecsu, "A Fõta de R eis", reprodu zida em Dcrndt, n• 515 . 'p. 1o7
....Q)
PEQUENA CONTRIDUIÇÀO À HISTÓRIA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS 53 e
e
(1J
ü
C/)
E
Podia acontecer também que uma d · ü
(1J

. . as crianças encontrasse a fava.Assim, Heroard registrava


a 5 de J~neiro d.~ 1~0 7_(a fe sta era celebrada na noite da Epifania) que o futuro Luís XIII, então E
o
ü
com seis anos,
. fo1 rei pela primeira vez" • Um a tela d e steen d e l 668'-1 ce 1e b ra a coroaçao- o
-o
do filho mais moço do pintor· O menmo, · d ,
usan o uma coroa de papel, esta sentado em um
(1J
.!:::!
banco como se fosse um trono, e uma ve lh a lh e d'a ternamente de beber um copo de vmho. · 1~
f "õ,
A
_ festa não parava. aí · Começava e n t-ao o terceiro· episo
· , d.10, que d evia
· d urar ate, d e ma- o
nha. Alguns convivas usavam fantasias; alguns traziam também sobre o chapéu um cart.1z
que especificava seu papel na comédia. O "bobo" encabeçava uma pequena expedição
composta de alguns mascarados, um músico (em geral violinista), e, mais uma vez, uma
criança. O costume impunha a essa criança uma função bem definida: ela devia levar a vela
dos reis. Na Holanda, parece que a vela era preta. Na França, tinha várias cores: M"" de
Sévigné dizia a respeito de uma mulher que ela estava "vestida com tantas cores como a
vela dos reis". Sob a chefia do bufão, o grupo dos "cantores da estrela" - assim eram
chamados na França - se espalhava pela vizinhança, pedindo combustível e comida, ou
desafiando as pessoas para um jogo de dados. Uma gravura de Mazot de 1641 22 mostra o
cortejo dos cantores da estrela: dois homens, uma mulher tocando guitarra e uma criança
levando a vela dos reis.
Graças a um leque pintado a guache do início do século XVIII, 23 podemos acompanhar
esse cortejo bufão até o momento de sua acolhida em uma casa vizinha. A sala da casa é
cortada verticalmente, à maneira dos cenários de mistérios ou das pinturas do século XV.
a fim de deixar ver ao mesmo tempo o interior da sala e a rua atrás da porta. Na sala, as
pessoas bebem à saúde do Rei e coroam a Rainha. Na rua, um grupo mascarado bate à
porta, que lhes será aberta.

Constatamos, pois, ao longo de toda a festa, a participação ativa das crianças nas cerimô-
nias tradicionais. Essa participação também é comprovada na noite de Natal. Heroard nos
diz que Luís XIII, aos três anos, "viu a acha de Natal ser acesa, e dançou e cantou pela
chegada do Natal". Talvez tenha sido ele o encarregado de lançar o sal e o vinho sobre a
acha, segundo O ritual que nos é descrito no final do século XVI pelo suíço-alemão Tho-
mas Platter, quando fazia seus estudos de medicina em Montpellier. A cena se passa em
Uzes. 24 Uma grande acha é colocada sobre os cães da lareira. Quando o fogo pega, as pes-
soas se aproximam. A criança mais moça segura com a mão direita um copo de vinho,
m.igalhas de pão e uma pitada de sal, e, com a esquerda, uma vela acesa.As pessoas tira~ os
chapéus e a criança começa a invocar o sinal da cruz. Em nome do Pai ... , e jo~a uma pit~da
de sal numa extrem.idade da lareira. Em nome do Filho ... , na outra extrermdade, e assim
por diante. Os carvões, que segundo se acreditava, possuíam propriedades benéfi~as, er~m
conservados. A criança desempenhava aqui mais uma vez um dos papéis essenciais previs-

Kassel, reproduzido em F. Schm.idt- Degencr e Van Gelder.Ja11 Steen, I 928, P· 8 2 .


21 Steen,

n Gravura de F. Ma.zoe. "La Nuir".


2JExposiçào de leques pintados, GaJerie Charpentier, Paris, 1954, n• 70 (proven.iente da Coleção Duchesne) .
24
1110111as Pln11cr à Mo11tpcllier, 1595- 1599, p. 346.
Ç ÃO À HISTÓRIA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS ãie:
PEQUENA CONTRIBUI e:
54 co
(.)
(f)
E
co
. ~ , . d:1 coletividade reunida. Esse papel, aliás, também existia u
tos peb rrad1çao, no mt::tO • . ~ , . ein E
. • nas que tinham entao o mesmo carater social: as refe· ~ o(.)
oca iõe,; mcno. cxccpc1ona1 ' t • . . içoes o
·: ·. 0 , •zava qu e as graças fossem ditas por uma das cnanças mais novas -o
co
de t.1míl1.,. co rume n: • · . . ,e N
. i fc e feito pela totalidade das crianças presentes: elas serviam a beb· cõ
qu <.: scrnço l a mes:i os . . 1- ·"O)
=
ch . m c.1nm os pratos, cort:ivam 3 carne ... Teremos oporturudad~- de25exammar mais de o
pcrt iodes e costumes, quando estudarmos a estr~t~ra familiar. ~bse~emos aqui
O . cnti
:1 , n:1 omo era comum. do século XIV ao XVII, o habito de confiar as cnanças uma
~ 111 çjo e. 1e i:\l no cerimonial que acompanhava as reuniões familiares e sociais, tanto or-

di1üri.l. ·amo cxtraordinJri:ts.


utr.1 fr. tas. cmbor:1 despertassem o interesse de toda a coletividade, reservavam à
_1u vcntu dc o monopólio dos papéis ativos, enquanto os outros grupos de idade assistiam
~ m cs1 l' t:idore . Essas festas já tinham a aparência de festas da infancia ou da juventu-
d : j:i vi mo. qu<-' a fronteira entre esses dois estados, hoje tão distintos, era incerta e mal
per d id:t.
:1 1 :1de Mt'.·dia / ' no dia dos Santos-Inocentes, as crianças ocupavam a igreja; uma delas

e . clcit. bispo pelos companheiros, e presidia à cerimônia que terrrúnava por uma procis-
~ o. um:i ll't.J e um banquete. A tradição, ainda viva no século XVI, rezava que na ma-
nh.:i de~. e di:i o. jovens surpreendessem seus amigos na cama para surrá-los, ou, como se
d.in . " p n lhe. dar os inocentes" .
A tcr~:i- frin <"orda aparentemente era a festa dos meninos de escola e da juventude. Fitz
. te hcn de~ rc,·_e_uml terça-feira g.,~rda ~o século XII em Londres, a propósito da juven-
e de . eu he 1. Thomas Becket,- entao aluno da escola da catedral de São Paulo: "To-
~ . ri.. nç-a dl escob traz.iam . seus galos de briga para seu mes t re." As b ngas · d e gal o,
u hoJ C' popub
. ..re nos locais em que subsistem • como em Flan d res ou na Am'enca · Latl- ·
t"S□ n chs aos adultos, ,durante a Idade Média estavam li ga d as a, JUVentu . d e e ate,
n es b. Um texto do seculo XV, de Dieppe qu ·
_ ., , e enumera os pagamentos devidos
c:1ro. o conh.rnu: O mestre que mantém a l d . ,
1 . esco a e D1eppe devera pagar um
um m ·erem lugar na escola ou na cidad d .
l) _ e, e to os os outros merunos da
l uc 1c pe t' r:lO cr.m porc.1dos por esse preço " 28 E L
nh omeç v:i com briga d gal · m ondres , segu n do F.1tz Step hen,
. s e o que duravam tod h- "A' d
ver d 1J :u.le s iam para os d . a a man a. tar e,
. arre ores, para Jogar o fam . O
e lS Jutondades vinha a1 . . oso Jogo de bola... s
' m a cav o assistir a . .
r("f J cn l . m o clt-1." O jo,~o de bob . , . os Jogos dos Jovens e volta-
n • reuma varias co .d
n o J du p.1róqui l , or.i dois grupos de idade·"O ~mm ades numa ação cole-
tumJ r('.1111-.Jr no Ju Jc . t.al emn: 0 co : Jogo de bola é um jogo que
mpan 1\e1ros da 1 a1·d
u, e !llc (c- cm u t lut>~m.· tJmbt·m. í.: d aro) E . · . oc. 1 ade de Cairac, em
· Me Jogo se d1v ·fi
11unc1r1 uc h m c n rl do fi cam de um lado . _ ersi ica e se divide de tal
' e os nao casad
º s• d e outro; eles levam a
1.. 1 .( 1fo • ,y . 1"1 .11, ..• , . 1•r 1
:· I~iJ.
~'Chufrs d~ R obtlbni dl' u ~.1Ur<'J)-ll1T, R« I· "'' l'imrn ,; ,, publiqr,(' d I .
.i1ts <' d1(vcsr JI' R
"1. li. p.. -~-4 . Oll('n O VQ II( 1789• 1872 , 3 VOS
) .,
PEQUENA CONTRIBUIÇÃO À 1-1
·

~ISTOltlA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS 55
...
(1)
e
e
<U
(.)
C/)
dita bob de um lugar para outro e disputam E
. · -na uns aos outros a fim de ganhar o prêmio ü
<U
e quem Joga melhor recebe o prêmio do dit d ' "29 A ' d , · '
. . . . . o 1a. in a no seculo XVI, em Av1gnon, E
o c;lrll ,l\ ai c1-:1 01 gamzado e an1111ado pelo abad d · · d' - 'd · o(.)
, . • • e a JUns 1çao, pres1 ente da confraria dos o
notanos l' dos procuradores: cn u e eram em gera l, ao menos no su 1
3" esses líderes daJ·uv· t d 'O
_ <U
eh í-r.mp. " c hdcs de prazer" ' segundo ,a e'"·pre ' d e um eru d.1to mo d erno e usavam os .t:!
,, ssao <U
."!:=
túulos dt· principc
. de amor' rei da' 1·urisdição · , ",,b a d e ou cap1tao
· - d a Juventu
· d' e, ab ad e d os Ol
ci
( )lllp.·r nhc1ros. .
ou das crianç:1s•
da cid :t d•e. Em Av1gnon,· J1
no d 1a
' d e carnaval, os estudantes
ti11h.1m. o .<l1re1to
.
de surr:1r
. ·
os1·ud"t1s
·
, ·
... • e as prostitutas, a menos que estes pagassem um resga-
te. A h1. tona <.b tmivcr idadc de Avignon nos diz que a 20 de janeiro de 1660 o vice-
lq.,":ldo fixou esse resgate em um escudo por prostituta.
A. grande. festas da juventude eram as de maio e novembro. Sabemos por Heroard que
cm cri :mç., Luís XIII ia ao balcão da Rainha para ver erguer o mastro de maio.A festa de
m. io vem logo após a festa de Reis no fervor dos artistas, que gostavam de evocá-la como
um.1 cb. mais populares. Ela inspirou inúmeras pinturas, gravuras e tapeçarias.A.Varagnac 32
nY onhc.:ccu o tema na Primavera de Botticelli, da Galeria dos Oficias. Em outras obras, as
cerimônias tradicionais são representadas com uma precisão mais realista. Uma tapeçaria
dt" 1642-'-' nos permüe imaginar o aspecto de uma aldeia ou de um burgo num 12 de maio
do . i:culo XVII.A cena se passa em uma rua. Um casal já maduro e um velho saíram de uma
das :ts• . e esperam na soleira da porta. Preparam-se para receber um grupo de moças que
vem em sua direção. A moça da frente traz uma cesta cheia de frutas e de doces. Esse grupo
de j vens v:ú assim de porta em porta e todos lhes dão alguma comida em troca de seus
b ns ,·oros: a cofrta em domicilio é um dos elementos essenciais dessas festas da juventude.
0 primeiro plano, alguns meninos pequenos ainda vestidos com túnicas, como as meni-

n:is. u . am coroas de flores e folhas que suas mães lhes prepararam. Em outras pinturas, a
proci.s:io dos jovens coletores se organiza em torno de um menino que carrega a árvore de
m . io: é: 0 caso de uma pintura holandesa de 1700. 34 O bando de crianças percorre a aldeia
tris da :ír,·ore de maio, e as crianças menores usam coroas de flores. Os adultos estão nas
ol t"ir.t da porcas, pronros para receber o cortejo das crianças. A árvore de maio 3~gumas
\ eu (: repn:sem~da simbolicamente por uma vara coroada de fol~as e de flores . _Mas a
• ·o re d <-' nu10 , no s 1·0 c.....
· nao .. r=sa
., aqu1·· Ressaltemos apenas a coleta feita pelo grupo de Jovens
Jumo O adultos, e O cosrume de coroar as crianças c~m flor~s, que deve ser associado à
ideJJ d<.' rcll J inu:nco da vegetação, simbolizado tambem pela arvore, que era levada pelas
ru l' Jt·poi p 1ama da. .Y, E~ssas co ro"s
•• d··... flores talvez
· se tenham tornado uma brincadeira
mum das n 11ç:i : t fe to d a fcorma, e:
'. certo que se tornaram o atributo de sua idade nas

' · J /' 111 ir1111r F n 11i.,·, l 'J<l 1.


· J ·J J I\M"1mJ. l .n Si ,us <t)nu J '-' m,, '1111 '
I .
I 1· / 1~'6''
1 f du t1J. ..i11.-11 1.-·111 , 11 ,,., ,ur. o ,.
' 1'.a.ul IU I J • - l o .·1IC' r,• ,J 1'1Jo 1n ", 111 .-1111111.mr
, J • "'""'"' ' !-H-5 'I
' 1 .a. , .a.l. ··1>n11 1 dC' 1.a. ri c r lu u, uk" , 1 '1111 Y 1 11 .I .-f 11l"'"1• PI'· ·
•:,_ \ '.u.a. 1:,u,, 111/, 1.1111•11, 1,.1J111 ""' /lo, l')-Ui. , , 1 li , .fü'.)
''·· n• ••u U< · ·· , 11u 1c11p . li . e·•" li' 111• :,11/t"·, /' 1 /rr. fJ_J,,"1 • , I · .
·' 'U ro ~rn l urd i ( l(, • u. J ,fl_) , rq 1u Ju11Jo clll IJC'rndr. 11 IJ ·
. ,4
l'T.a.1' cpru J c li 11m.a.1, 11 . (;oi l>cl. •'/ n t .. " 0 '- 11 · 1: - · . f • Mfrun C abine'! dt'S faomp,•s, Ec 11 i11-f•. p. 58.
~ \'cr l.1Jt1b.:-111 f. !Jnc!!C', 'JhlllC'I J o 1:.,1J111ro, l:d . H- , Ili · 'C' •
IÇ ÃO À HISTÓRIA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS ....
Q)

56 PEQUENA CONTRIUU - e
e
co
ü
C/)
E
, d . , Nos retratos da época, individuais ou familiares, as crianças co
rl·pn:scntaçocs o :1rt1st,1s. . . usarn ü
· d A ou de folhas como as duas menmas de Nicolas Maes do E
o
ou rr:tnpm coro:t e ores , - niu- ü
~rn de Toulou. l': ~1 :t primeira coloca uma coroa de folh:s com uma d~s maos, e, com a o
-a
co
· . • t" a.1o,-cs numa cesta que sua irmã lhe estende. Nao podemos deixar de relacionar .!:::!
li ti ,l. 1( g., li . . . fa . ' co
· : · d · coin essa convenção que associava a m ancia a vegetação. :!::
OI
:l'- CCrtlllúlll:l C 11\:llO
)mro ~nipo de festas da infancia e da juventude se situava no iruc10 de novembro. "Nos
. . , .
o
di ,,, 4 e ~-(de novembro), escreve O estudante Platter, no fim do século XVl, 38 realizou-se
,1 m.t!-or.,J:l dos querubins. Eu também me mascarei e fui à casa do Dr. Sapota, onde havia
um b.,ik." Tr.it:lv:l- e de um:i mascarada de jovens, e não apenas de crianças. Essa festa desa-
J',1r •ccu completamente de nossos costumes, banida pela proximidade do dia de Finados.A
opini~o comum nfo :1dmitiu mais a proximidade de uma festa alegre da infãncia fantasiada
m um di:i tio solene. No entanto, essa festa sobreviveu na América anglo-saxônia, com o
n me de J-·follm, ,cr11. Um pouco mais tarde, a festa de São Martim era a ocasião de demons-
t r.l (Õc. rcstrit.1. Jo jovens, e, mais precisamente, talvez, aos escolares: "Amanhã é o dia de

s: e M. nim, lemo em um diálogo escolar do início do século XVI, que descrevia a vida
d:1~ cs ob em Leipzig.·w Nós, os escolares, fazemos uma coleta farta nesse dia ... é costume
o ~ (. lnno.) pobres irem de porta em porta pedir dinheiro." Reencontramos aqui as coletas
em domi ílio que observamos por ocasião da festa de maio: prática específica das festas da
j uventude. n ~esto de acolhida e boas-vindas, ora mendicância real. Estes parecem ser os
últim ~ vcsógi os de um3 estrutura muito antiga, em que a sociedade era dividida em classes
de id:idc; dt".. J e. crururJ restou apenas o cos~me de reservar à juventude um papel essencial
cm :u~m:L gnndes celebrações coletivas. E de notar, além disso, que O cerimonial dessas
ld n - e. di. rin~a m,al as crianças ~os jovens; essa sobrevivência de um tempo em que
dc· c-ram nfundidos
_ . . mo correspondia
, mais inteiramente à realidad e d os costumes, como
. cn:-r o hJb1to. cnado no, seculo
. XVII de enfeitar apenas as cnanci
· ·nh as pequenas, os
m ciu n q ue ainda u av1m turucas, com as flores e as fiolhas que nos cal en d,anos · d a Id ad e
d rn:.i, 11 os :.idokscences que haviam chegado a' 1·dad e d o amor.
u qua qut' fo e o papel. arribuído à infancia e à J·uventud e, pnmor · d.al
1
r.
na 1esta de
m . 10ru l m Íc-St.J de Re1S, de obedecia sempre a l . .
. . . um protoco o tradicional e corres-
rt--;r.t) de um Jogo colenvo que mobilizava e d .
0 0 o grupo social e todas as classes
uc.

nn-un cj ncu provocavam também a me -.


. sma part1c1pação d difc s
c.~ c- 1' Jc numJ ·dcbrJ(jo conturn. Assim d - 1 ' os erentes grupo
,, . ' o secu o XV ao XVIII A1 ,
·-cul 1 , ct:ru de.- ~t:nero 'lint d , e, na emanha, ate o
as, gr3v:tdas ou tecid
, J
.umlur l"Jll c..i uc.- .1 rilnp e O 1,ai-. Í4o . • as representavam a reu-
uma p ~
rm.,v.1111
- J111 o r . QuJ\t' empre a cena se · ' cquena orquestra de câmara,
. passava por oca ., d fc . -
.,J 111 <'.' l1JviJ ido 1ir.1da. Em outro . , . . ' siao e uma re e1çao.
, o llltcr1u<lio · _,
music.u realizava-se durante

•·,\t u
F, 11) .1 n, r 1n
~b c-l: 1~~11. Ln
....
Q)
PEQUENA C ONTRIBUIÇAO À HISTÓlllA DO S JO GOS E DAS BRINCADEIRAS 57 e:
e:
co
()
(/)

:1 rdeiç-.io.. co1110 n:t tela hol:tndcs:1 de Lamcn pintad a por vo Ita d e 164 (~;,; 4o as pessoas estao
-
E
. co
(.)
. c11t.1d.1s a 111csa. m:ts o. serviço foi interrompido·. o memno · encarrega d o d o serviço, · que E
o
rr.1z um I r.lto e uma J:tlTJ de vinho • está· p:irado·
, , u111 d · d '
os convivas, e pe e encosta o na d ()
o
l.lrcir.i. COIII lllll co_po 11 ª mão, c:int;i sem dúvida uma canção sobre a bebida, enquanto um 'O
co
outro pc~1 ~cu abude para acompanhá-lo. .!::!
co
:!:::
H~j ~ CIII dia não temos mais ideia do lugar que a música e a dança ocupavam na vida O)

(JllOt1di .ma. O :tutor de um:1 llltmd11ctio11 te> Pmctical J\t/11sic, editada em 1597, 41 conta como
o
-~ ~ ór ·umt.,n ci:ts fizeram dele um músico. Ele jantava com um grupo de pessoas:"Quando
.1 ei.i r-aminou e. segundo o costume, foram trazidas as partituras para a mesa, a dona da
c.1,:1 me de. ignou uma parte, e pediu-me muito seriamente para cantar. Eu tive de me
de~ 11lp:i r muito e confessar que não sabia; todos pareceram então surpresos, e alguns che-
g., r:1111 l cochi ch:tr no ouvido dos outros, perguntando-se onde eu havia sido educado."
Embor:t a pr.íti ca familiar e popular de um instrumento ou do canto talvez fosse mais co-
1m1111 n, lngbrcrra clisabetana do que no resto da Europa, ela também era difundida na

Fr:111 .,. na lr:íli:1. na Espanha e na Alemanha, de acordo com um velho hábito medieval
que. :ipl·"ar d.1s transformações do gosto e dos aperfeiçoamentos técnicos, subsistiu até os
si· ul o. XVIII e XIX, um pouco mais ou um pouco menos conforme a região. Hoje esse
h:íbi to ó c:--.-iste na Alemanha, na Europa central e na Rússia. Naquela época, porém, ele
er::i o mum nos meios nobres e burgueses, em que os grupos gostavam de se fazer retratar
reJ..l iz.m do um concerto de câmara. Era comum também nos meios mais populares, entre
s :tmponeses ou até mesmo mendigos, cujos instrumentos eram a gaita de foles, o reale-
J e a rebc.-c 1. que ainda não havia sido elevada à dignidade do violino atual. As crianças
prJtica,-am :i mú ica muito cedo. Desde pequenino, Luís XIII cantava canções populares
u . Járic:is. que não se pareciam em nada com as cantigas de roda infantis de nossos últi-
m s do i s~culos; de tJmbém sabia o nome das cordas do alaúde, um instrumento nobre.
As criança com:ivam parte em rodos esses concertos de câmara que a antiga iconografia
mul ti plicou .Toc:ivam também entre elas, e uma forma habitual de pintá-las era representá-
om um in trumenro na mão - são exemplos os dois meninos de Franz Hals, ~2 um dos
quJi companha no :ibúde o irmão ou o amigo que canta, e são exemplos as numerosas
cri nç s r cando fbut;1 de Fr:rnz Hals e de Le Nain.H Em um quadro de Brouwer, veem-se
ru m o leques do povo mais ou menos esfarrapados ouvindo com avidez o realejo de
um c:uo aído de um p:írio dos milagres: rema de mendicância muito comum no século
' \ li ." Uma rd holandesa de VinckdbaonsH merece ser especialmente examinada em
r J , • o (k u 111 Jl·t.ilhe 5; 6,.11 iti carivo que ilustra o novo sentimento da inf:lncia: como em outras

lllturJ ~ •mdh.uHe , um 100 for dl' realejo toca par.1 uma pbrcia de crianças, e a cena é

• l..m,rn 11! ,0 t,- 11, ·-)," O lut .-rlúJw MmtcJ I", n·pn1,lu z1,lo cm ll r mdt , 11• -1 7::! .
' 1houu, .\l o dn . n tJJ., ,. 11 1 I· \ Jh <lll , '/1ir l:t1~/11/ 1 ( ;,,1111111.11 S.-li.\• /J 1, 1 1660, l ')07. p. ::? 16.
• I ,..,, l l•h . " \ 1r11111m 11111 111·0 .. . K.n,rl. (j rn,; n, \\11.1. 1'· l<,7.
" 1-rm, 11 h. lkr hm 1 .- J ll t l h 1n111 :" I.J .-l1J rr t1 c " , do Luu\"rr.
" li 1 •111, ...-. .. -, , •Jm ,fr rr•.1.-Jo, ,·rndu J r .-runps". HJrlcm, rcproJuzidu cm \V. ,·on Dodr. p. 29. Atdic: de Georges
J IJ u u r. I"' 11.i J..a U rJ IH'l" rt e' J r l'JII . 19.'iH. 11• 75 .
'\· c-
111.-l.dl,Jun ( 15, <,- 1(.::!<J), 11:prud uml,, <" Ili U.·rmlt, 11• 9-12 .
....
T RIBUIÇÀO À HISTÓRIA DOS JOGOS E DAS BRINCADE
Q)
e
PEQUENA CON IRJ\s e
58 ro
(.)
(f)
E
ro
ü
•nstantâneo, no momento em que os meninos acor E
o
re resentada como um 1 . ~ rern ao so (.)

P d eninos é mmto pequeno e nao consegue acompanh lll do o


'O
instrumento. Um os m , d ar os ou ro
.t::!
. _ no colo e corre atras do ban o para que seu filho não p tro1. ro
Seu pa1 entao o segura . erca nada -~Cl
e . "nÇ" alegre estende os braços para o realejo. eh ã
1esta: a cn" •• , . .
.dade é observada na pratica da dança. Vimos que Luís XIII
A mesma pre Cocl , aos tr~
anos dançaVª( a gal
harda
,
a sarabanda e a velha bourrée.
. ,
Comparemos uma
. .. .
tela de Le Na1nl. li
e uma gravura de Guérard: 47 elas têm cerca de me10 seculo de d1stanc1a, mas os costumes
não mudaram muito nesse intervalo, e além disso a arte da gravura tende a ser conservado-
ra. Em Lc Nain, vemos uma roda de meninas e meninos: um deles ainda usa a túnica com
ctola. Duas meninas fazem uma ponte com as mãos dadas no alto, e a roda passa por baixo.
A gnvura de Guérard também representa uma roda, mas são os adultos que a conduzem;
um:i das moças está saltando, como uma menina que pula corda. Quase não há diferença
entre a dança das crianças e a dos adultos. Mais tarde, porém, a dança dos adultos se trans-
formaria e, com a valsa, se limitaria definitivamente ao par individual. Abandonadas pela
cidade e pela corte, pela burguesia e pela nobreza, as antigas danças coletivas ainda subs~-
tiriam no campo, onde os folcloristas modernos as descobririam e nas rodas infantis do século
'
X~-ambas_ as formas, aliás estão atualmente em via de desaparecimento .
. ~ im~osSl\ el separar ª dança dos jogos dramáticos. A dança era então mais coletiva e se
distmgma menos do balé do que nossas danças mo d ernas de pares. Observamos no d'' ·
1ano
de He~ard o gosto dos_ c~ntemporâneos de Luís XIII pela dança, o balé e a comédia, gê-
neros ameia bastante proxunos· fazia 1 ·1 (
li gaçao- d · -se um pape num balé como se dançava num bat e ª
entre as uas palavras _ em fr ,. b
. d d b ances, ai e ballet - é signifi1cativa. a mesma palavra
a eguir se es o rou, ficando o baile res . . .
Havia balés nas comédias , ervado aos amadores, e o balé, aos profiss10nats).
, ate mesmo no teatrO 1 de
Luís Xlll, os aurores e os atores esco ar dos colégios jesuítas. Na corte
eram recrutado •
bém entre os criados e os soldad . . s Internamente, entre os fidalgos, mas rarn-
- os, as crianças ta
t.aço~. nto atuavam como assistiam às represen-
Sc:ri.a uma prática da cone:> N'
. ao, era uma , .
no que: nas aldeias nunca se havia de· pratica comum. Um texto de SoreJ4B prova-
. . , . IXado de e .
a nagos m1stcnos ou is Paixões . ncenar peças mai·s comparáveis
. . atuais da Eu ou menos
o comc:d1 ntL~ . profi.1s 1onais abo rrec1:11n) . teria fir.opa central · "Penso que ele (Anste, . a quem
cu r d s os me111111,s de ""'ª aldeit, ( . 1cado muito . fc . . . orno
. as lllen1nas nà 0 :> sat1s eito, se avesse visto e
um palco ma1 alto do que O teto d · -) representa , . . rn
as casas no r a traged1a do Mau Rico e
v lt du duas para e mostrar antes d.' qual todas as per ·co
e corneç
• · .. .. F' · •
n: 1o •10. ... 1qUl.'1 muno feliz de ver . ar a represe sonagens
_ davam sete ou OI
111a1s um ntaçao e fi de uo1
digo e: dl' Nabucodonosor, e dcpoi a vez a encena , ' orno as iguras ,
s os an, 0 Çao da H · - · d Filh Pro-
R.:1damontc: ao infrrnos, por comed·1 . res de Méd Istona o o
. antcs de ~l or e An 'li •da de
Pois ele: n:io Jpreoa e se e pctáculos pop li 1ares envergadura,, E •
O ge que, e a desci
p ·
· 1:11 quas orta-voz de Sorel ironiza,
e toda a
Parte, os textos e a cncc-
"-Lc- N~in. reproduzido c-m P. F1c-rt'ru, u l\'ain , 1933. P~nclu Xc1
• N. Guér.ud. gravura. übinec des E5cmp~. Ee J in-f•. II .
•~chule-s Son:I. .\laisot1 da jrt•x. 2 \"Oll., 1642. ,·oi. 1. PD. ""º --
êii
PEQUENA CONTRIDUIÇÃ · , e
, O A HISTORIA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS 59 e
ro
ü
C/)
E
ro
nação eram. regul:idos. pela tradição oral · No Pa'1s Basco, essa tra d.1çao
- fc01· foxada antes do u
E
desaparecmiento
. . dos Jogos
.. dramáticos. No fim do se'c ulo XVIII e 1mc10 · , · d o XIX , fcoram o
ü
escritos e publicados dramas

pastorais bascos" cu1io t · h
'J s emas provm am ao mesmo tempo
o
"O
ro
dos romances de cavalaria e dos pastorais do Renascimento.49 .!:::!
ro
Assim como a música e a dança , as representaço-es dra· ma't.1cas reuruam
· to d a a co let1v1
· ·d a- .t:
Cl
de e misturavam as idades tanto dos atores como dos espectadores. o

_Tenta~emos ~er ª?ºra qual era a atitude moral tradicional com relação a esses jogos,
brmcadciras e divertunentos, que ocupavam um lugar tão importante nas sociedades anti-
gJs. Essa atitude nos aparece sob dois aspectos contraditórios. De um lado, os jogos eram
todos admitidos sem reservas nem discriminação pela maioria. Por outro lado, e ao mesmo
tempo, uma minoria poderosa e culta de moralistas rigorosos os condenava quase todos
de forma igualmente absoluta, e denunciava sua imoralidade, sem admitir praticamente
nenhuma exceção.A indiferença moral da maioria e a intolerância de uma elite educadora
coe.,âstiram durante muito tempo.Ao longo dos séculos XVII e XVIII, porém, estabeleceu-se
um compromisso que anunciava a atitude moderna com relação aosjogos,fundamentalmen-
te diferente da atitude antiga. Esse compromisso nos interessa aqui porque é também um
testemunho de um novo sentimento da infãncia: uma preocupação, antes desconhecida, de
preservar sua moralidade e também de educá-la, proibindo-lhe os jogos então classificados
como maus, e recomendando-lhes os jogos então reconhecidos como bons.
A estima em que eram tidos ainda no século XVII os jogos de azar nos permite avaliar a
e:.\."tensão da antiga atitude de indiferença moral. Hoje consideramos os jogos de azar como
suspeitos e perigosos, e o dinheiro ganho no jogo como a menos moral e a menos confessável
das rendas. Continuamos a jogar esses jogos de azar, mas com a consciência pesada.Ainda não
era assim no século XVII:a consciência pesada moderna resultou do processo de moralização
em profundidade que fez da sociedade do século XIX uma sociedade de "conservadores".
LA Forr,me des gens de q11alité et des gentilshommes partiwliers5° é um livro de conselhos aos
jovens fidalgos que desejam fazer carreira. Seu autor, o Marechal de Cailliere, não tinha
nada de aventureiro . Era autor também de uma bibliografia edificante das obras do Pa-
dre Auge de Joyeuse, 0 santo monge da Liga. Era um homem religioso, até mesmo devo-
to, e sem nenhuma originalidade ou talento. Suas opiniões refletem portanto a opinião co-
mum das pessoas de bem em 1661, data da edição de seu livro. Uma de suas preocupações
constantes é prevenir os jovens contra a devassidão: se a devassidão é a inimiga da virtude,
t.1n1bém o é da fortuna, pois não se pode possuir uma sem a outra:"O jovem devasso vê as
oca iões de agradar a seu senhor escaparem pelas janelas do bordel e da taverna." O leitor
do século XX, que percorre com um olhar um tanto cansado esses lugares-comuns, por
is~o mesmo ficará surpreso quando esse moralista minucioso desenvolver suas ideias sobre
ª utilidade social dos jogos de azar. Um dos capítulos se intitula: "Se um partiwlier (abrevia-

'9Larc-h~ de Languis. Jutor d<.' P,1510,,1/t-s /,Jsq11rs, tirta 1769.


5ºMarechal de Cailliere, LA Forw11e drs ,r:cn.1 dr q1111/ité rt des ,'(e11tilsh,1111111cs p,mini/iers, 166 l .
U(ÇA- o À HISTÓRIA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS ...
60 PEQUENA CONTRID (1)
e:
e:
ro
(.)
U)

. . l' por oposição a gens de qualité, ou seja, um pequeno fidal E


ro
ção de ~c11t1ll10111111c part1m ter, . ?" _ go ü
. b ecido) deve J·ogar Jogos de azar e como . Nao se trata de um E
o
m ~ns ou m enos empo r . . . a (.)
_ J .d.d . M echal reconhece que os moralistas profiss1ona1s e o clero cond o
que tao occt 1 3. o ar , . e- 'O
ro
n:un fonn:.thnente o jogo. Isso poderia embaraçar nosso a~tor, e, de fat~, o _ob~1ga a se explicar N
ro
longamente. Ele permanece fiel à antiga opinião dos leigo~, e, t~nta JUSt1fica-!a ~~ralmen- .4.::::
Ol

tr: "Não crá impossível provar que (o jogo) pode ser mais util do que preJud1c1al se for
o
.Komp:rnh:.tdo das circunstâncias que lhe são necessárias." "Digo que o jogo é tão perigoso
par.l um l,ommc de qualité (ou seja, um fidalgo rico) quanto útil a um partículier (ou seja, um
fübl go empobrecido) . O primeiro arrisca muito porque é muito rico e o outro não arrisca
n:.td:.t porque não o é, e no entanto um particulier pode esperar tanto da fortuna do jogo
qu anto um grande senhor." Um tem tudo a perder, e o outro tudo a ganhar: estranha dis-
tinçfo mor:.tl!
Mas o jogo, segundo Cailliere, apresenta outras vantagens além do lucro financeiro:
" Sempre considerei que o amor ao jogo era um beneficio da Natureza cuja utilidade reco-
nhe i." '·Parto do princípio de que o amamos naturalmente." "Os jogos esportivos (que
hoje críamos mais tentados a recomendar) são belos de se ver, mas mal apropriados para se
pnlur dinheiro.' E especifica: "Estou falando das cartas e dos dados." "Ouvi um experi-
c.nrc: jogador que havia ganho no jogo uma fortuna considerável dizer que, para transfor-
m:ir o jo~o em arte, não tinha utilizado outro segredo além de dominar sua paixão e de se
propor es e exc:rcício como uma profissão, com o fito de ganhar dinheiro." Que o jogador
n • o . e inquiete, pois a má sorte não o pegará desprevenido: um jogador sempre conseguirá
c:mpré cimos mais facilmente "do que o faria um bom comerciante". "Além disso, esse
xcrcicio _dá _aos pt1rriC11licrs acesso aos melhores círculos, e um homem hábil pode extrair
dde. not.a\'e1s vantagens quando sabe manejá-los .. · Conheço alguns que t em " como ren da
pen um baralho e rrês ,dados, . e que subsistem no mundo com maior · 1uxo e magru·fi1cenc1a " ·
do que enhores de provmcia com.suas grandes propriedades (mas sem dinh erro · li qm·d o )."
.. E o excelente Marechal conclm. com esta opinião , que surpreen de nossa moral d e hoJe, · •
A on dho l um homc:m que saiba e que ame O J.ogo a · l . .
. arriscar ne e seu dinheiro; como
de tem pouco a perder arnsca pouco e pode ganhar · ,, p .,
. . _ . . mmto. ara o biografo do Padre
Aw ~e. o J O•J'O e nao apenas um divert1mento mas um fi ~
d l . . ' ª pro 1ssao, um meio e fazer fortuna
e c m mc:r n: çoc - um meio perfeitamente honesto.
ll1t·n- n.io é o único a defender esta opinia·o O Ch a1·
· ev ier de M' ' ·d
r.tdo cm U l época como o típico homem de socied d b ere, que era cons1 e-
1dt"ll em . u l ·11i f<• J11 (tJ1t11t1acc du 111011 de s, .. 0 . . a .e em-educad ' o, exprune · a mes ma
· 1na tambem que O • d b .e. .
1u mi j "ldo r e comporta co 1110 um ho 1 . 6. Jogo pro uz ons e1e1tos
e, mcm 1a ti e de bo d , , d 1
u,: um h o 11H·m po dt" tt"r :ict" o a toda pare. d . a vonta e: e atraves e e
. e on e se Joga e os . . .
l·nt c .1 rum se ni o pude cm jog:ir." ic:i l."Xt:mpl ' pnncipes mmtas vezes se
. . os augustos: Luís XIII ( . d .
a. p nhou 11111 J turquc J 11u111.1 nfa) , R1chdicu "que . 1 que, am a cnan-
. - ) - . ' se re axava jogand 0 ,, M . L ,
,1 1 e .. .1 1 :unh. - 111.11:. (qut" 11.10 fazia mais nada alc:m d. . • , azanno, ms
· d' · ·1 e: Jogar e rezar" • "Q u al quer que
s~i:i
J
O mc:nto qut· t· 1o a tl."r, <."na thci conquistar luna b 03 rep _
utaçao sem ingressar na

~' Me-ri. ()l·urrrs. c-d . C lurlcs Do udhon, J, h .. 1930.


....
Q)
PEQUENA CONTRIUUIÇÀO À HISTÓRIA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS 61 e
e
11:1
(.)
C/)
E
alta sociedade, e o jogo é uma forma fãcil de abrir suas po t E' · u
11:1
. . · r as. mesmo um meio garan-
ado de ·e estar frequentemente em boa companJ E
• 11·a sem d.1zer na d a, so b retu d o quan d o se o
(.)
J·oga
. _ co1110
.. , u111
_. ho111cm
. galante" • ou seia
~ ,
evitando" a esqms1t1ce
· · · " , " o capnc · h o " e a supers- o
-e
t1 çao. E preciso JOw.ir
o··
como um home m b em-e d uca d o e sa b er perder como ganhar, sem 11:1
.t:!
que nem uma nem outra (dessas situações) se de· a con h ecer no rosto nem no mo d o d e 11:1
:!:=
Ol
:tgir.'' Mas cuidado para não arruinar os próprios amigos: por mais que ponderemos, "sem- o
pre resta algo cm nosso coração contra aqueles que nos arruinaram".
Se os jogos de azar não provocavam nenhuma reprovação moral, não havia razão para
proibi-los às crianças: daí as inúmeras cenas de crianças jogando cartas, dados, gamão etc.,
que a arte conservou até nossos dias. Os cliálogos escolares que serviam aos estudantes ao
mcs1110 tempo como manuais de civilidade e vocabulários latinos em certos casos admitem
o. jogos de azar, se não com entusiasmo, ao m enos como uma prática muito clifundida. O
. ' 52
cspan 1101V1vcs contenta-se em fornecer certas regras para evitar os excessos: diz quando
se deve jogar, com quem (evitar os brigões), que jogos, a que cacife ("o cacife não deve ser
nulo. pois isso seria tolice e não valeria o jogo, mas também não deve ser tão alto a ponto
de perturbar o espírito diante do jogo"), "de que maneira" (ou seja, como um bom joga-
dor) e durante quanto tempo.
Mesmo nos colégios, centros da moralização mais eficaz, os jogos a clinheiro persistiram
por muito tempo, apesar da repugnância que por eles sentiam os educadores. No início do
século XVIII, o regulamento do colégio dos Oratorianos de Troyes precisa: "Não se po-
derá jogar a clinheiro, a menos que seja muito pouco e com permissão especial." O profes-
sor m1ÍYersitário moderno que citou esse texto em 1880 acrescenta, um tanto chocado cliante
de hábitos cão distantes dos princípios educacionais de sua época: "Era praticamente auto-
ri zar o jogo a dinheiro." Ao menos, era se conformar com ele. 53
Em torno de 1830, ainda se jogava abertamente e se apostava alto nas public schools ingle-
sas. O autor de Tom Brown '.s School Days descreve a febre de apostas e de jogos que o Derby
pro,·ocava então entre os alunos de Rugby.A reforma do Dr.Arnold eliminaria mais tarde
da ~ cola inglesa essas práticas com vários séculos de existência, que outrora eram admiti-
da com indiferença e que foram então consideradas imorais e viciosas. 54
Do século XVII até nossos dias, a atitude moral com relação aos jogos de azar evoluiu
de maneira bastante complexa: à medida que se difundia o sentimento de que o jogo de
2.:lr era uma paixão perigosa, um vício grave, a prática tendeu a modificar alguns desses
jo o , reduzindo O papel do azar - que no entanto ainda subsiste - em beneficio do
dlculo e do esforço inrdectual do jog:tdor: dessa forma, certos jogos de cartas ou de xa-
drn torn aram-se cada vez menos sujeitos à condenação que atingia o princípio do jogo de
z.1 r. Outro divertimento sofreu uma evolução diferente: a dança . Vimos que a dança,
comum · crianças e aos adultos, ocupava um lugar importante na vida quoticliana. Nosso
senso moral de hoje deveria ficar menos chocado com isso do que com a prática generaJi-

~V i,·i:s. Di,1fog11cs. tnd. fr.111r eSJ . 1571 .


s,G. Carré, " les éli:,·~ de l'ancien colli:ge de Troyes", ;,, Mr11111irrs dr la S()riétt ,m1dé111iq11e de l'Aubr, 1881.
Thonus Hughes, Tc,111 Brorni 's S</1(,;1/ D,1ys, 1857.
U[ ÇA • o À HISTÓRIA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS aie:
62 PEQUENA CONTIUB · e:
ro
u
(/)
E
ro
. ,. S-ibemos que os próprios religiosos dançavam ocasionalmente se ü
z.1da dos Jogos e1e ,tzar. ._ . ' lll o
E
. ., , blic:i se escandalizasse ao menos antes do movimento de reforma das u
qu e a op1111ao pu · · · ' . b d' d b · o
-o
. i J . •. . lo XVII Sabemos como era a vida na a a ia e Mau msson quando ro
conmnH a es no sccll · ._ · , .!:::!
Madre An~élique Arn:md aí chegou no início do século XVII ~ara reforma-la. Não era ro
:t::'.
Cl
um:1 ida cspcci:ilmente edificante, mas também não _era necessariamente e~candalosa: era o
obrctudo muito mundana. " Nos dias de verão, diz-nos M. Cognet, citando Madre
Angéliquc de Saint-Jean, biógrafa de sua irmã, 55 quando o tempo era bo~ito, depois das
vl'.·:-pcras, a priora conduzia a comunidade para um passeio longe da abadia, nas margens
da lagoas que ficav:un no caminho de Paris; muitas vezes, os monges de Saint-Martin de
Pontoi. e. que habitavam perto, vinham dançar com as religiosas; e isso era feito com a
mesma liberd1dc que ocorreria no mundo leigo, onde nada de mau se poderia dizer sobre
t.11 fa to." Essa danças de rodas de monges e monjas indignaram Madre Angélique, e temos
de convir que n:io correspondiam ao espírito da vida monástica; mas, na época, elas não
produziam na opinião pública o efeito chocante que hoje produziriam pares de religiosos
e rdigio. as dançando enlaçados, como o exigem as danças modernas. É certo que os reli-
f;io. os de outrora não tinham a consciência tão pesada. Havia costumes tradicionais que
previ:im danças de clérigos em certas ocasiões. Em Auxere, 56 por exemplo, todo novo
c · nt"go, para ft"stejar o feliz acontecimento, doava aos paroquianos uma bola que era então
utilizada t"m um grande jogo coletivo. Esse jogo era sempre jogado em dois campos, que
opunham soltêiros contra casados ou paróquia contra paróquia. A festa de Auxere come-
ÇJ\'a com o canto Victimac la11des Paschali, e terminava com uma roda em que dançavam
todo os cônegos. Os historiadores informam-nos que esse costume, que remontaria ao
. é. ulo ?'-IV, _ainda era atestado no século XVIII. É provável que os partidários da reforma
m~cnana v~ssem essa dança ~e roda tão desaprovadoramente como Madre Angélique de
:u nt-Jcan vira a dança das freiras de Maubuisson e dos padres de p on t 01se: · ca d a novo tem-
po possui uma nova concepção do profano • As danças .1.;c.anu·li ares nao - tm· h am no secu
, }o
\, li o carátcr sc:mal que . acusariam
. muito mais tarde , nos secu ' 1os XIX e XX . E xisaam · ·
te: m~mo danças profiss1ona1s: em Biscaye havia danças d
. s7 e amas, em que estas carregavam
êUS b e: b e no co 1o.

O c. c:rcício amplo da dança não tem o mesmo valo , • .


.1 . . . r que a pratica dos Jogos de azar para
1 u tra r 111dJfc:n:11ça da soc1cdadê antiga com relação ' al 'd . .
d , . . ª mor 1 ade dos d1vertimentos. Por
outro 1 o, porc:111. e1e pcrnute avaliar melhor o rigor d · 1 A • •

. .
1 so lédach: do / l11o t·11 Réi:imc o jogo sob todas
a mto eranc1a das elites reformadoras
fc •
1 ,r d. . · ' . · as suas armas - o esporte o jogo de
- o. Jº'' e z r - ocupava um lugar unportantíssii , .
•J d · · · d 1 · no, que se perdeu em nossas soc1e-
u . c:s tl'C lll , m q ué a111 a lOJc: e11contr:unos 11 ... · d
, . · ,,s soc1e ades pri · · • ss
p l t.XJ O qul' .1g1t~va todas as idades e d . , nutivas ou arcaicas.
to as as cond1çoes I .
• ~ greJa opos uma re-
A

pro\"l Jb ~ luta. Ao lado da lgrcja ,colocarani-sc també 1


111 ª guns leigos apaixonados pelo

~L. Cogn ct. ,,., .\ ,;., Ari.~'l1-1,u , uirrl nJJt(VÍJ Jr ·. lf'J, 195 1, p. 28 .
!>i>J.-J.Jusscr.111d. •'il n'1.
HEss.1 J.1nç.1 d wiu,·J- e K.1rril-J,111 :: o1. lnfo rnu çfo forn cnd.l por M- Gil R .
. . . c1d1cr.
>ºR . C tillois, Qu.rrrr rssau J,. .<<)m•1,:i:,e <<>11tn111" r.1111f', 1951 .
....
(1)
e
PEQUENA CONTRIUUIÇÀO · , e
A HISTORIA DOS JOGOS E DAS BRINCADElltAS 63 ro
ü
(./)
E
ro
u
rigor e pela ordem, que se esforçavam p d E
. . . · ara omar uma massa ainda selvagem e para civi- o
lizar costumes :unda pnnutivos. ü
o
A Igreja
, medieval
. também conden ava o Jogo · so b to d as as suas formas, sem exceção nem
"O
ro
.!::!
n.·sen , ..1s. e ,particularmente
. . nas comunidades • de cl,engos· b o Is1stas
· que d eram origem · aos ro
-~Ol
cokg1os e as u111vers1dades do A11cie11 Réai 111 c Os est t t d ·d d d-
ó • a u os essas comum a es nos ao uma o
i.dcia dessa intransigência. Ao lê-los , O tu·stori'ador 1·ng1es • d as umverst
· 'd ad es me d'1eva1s, · J.
5
RashdaJI. ~ ficou impressionado com a proscrição geral de todas as atividades de lazer, com
a recusa em admitir que pudessem existir divertimentos inocentes, em escolas cujos alu-
nos, entretanto, tinham basicamente entre 1Oe 15 anos. Reprova-se a imoralidade dos jogos
de azar, a indecência dos jogos de salão, da comédia ou da dança, e a brutalidade dos jogos
esportivos. que, de fato, muitas vezes degeneravam em rixas. Os estatutos dos colégios foram
rt•digidos para limitar tanto os pretextos de divertimento quanto os riscos de delito. Afortíori,
:i proibição era categórica e rigorosa para os religiosos, a quem um edito do Concilio de
Sens de 1485 proibia o jogo da pela, sobretudo em manga de camisa e em público: é ver-
dade que no século XV, um homem sem gibão ou sem túnica e com as calças desabotoadas
ficava com quase tudo de fora! Tem-se a impressão de que a Igreja, ainda incapaz de con-
rrolar os leigos, adeptos de jogos tumultuados, decidiu preservar seus clérigos proibindo-
lhes todo e qualquer tipo de jogo: formidável contraste de estilos de vida ... se a proibição
á,·esse sido realmente respeitada. Eis, por exemplo, como o regulamento interno do colé-
gio de Narbonne60 encarava os jogos de seus bolsistas, em sua redação de 1379: "Ninguém
nesta casa deverá jogar pela ou hóquei, ou outros jogos perigosos (insultuorns), sob pena de
uma multa de seis dinares; ninguém deverá jogar dados ou quaisquer outros jogos a di-
nheiro, nem deverá entregar-se a divertimentos na mesa (comessationes: comezainas) sob
pena de uma multa de 1O vinténs." O jogo e a comilança são colocados no mesmo plano.
'ão haúa então jamais um momento de diversão? "Os alunos poderão apenas participar
algumas vezes e a raros intervalos (quantas precauções! Certamente logo esquecidas, po-
rém. pois essas mesmas palavras eram a porta entreaberta a todos os excessos) de jogos
honestos ou recreativos (mas é dificil saber quais.já que até a pela era proibida; talvez jogos
de alão?) , apostando uma pequena jarra de vinho ou então uma fruta, e contanto que o
jogo se faça sem barulho e de maneira não habitual (sine mora)." . , . .
o colé!rio de Seez em 1477,61 encontramos:"Ordenamos que nmguem pratique o Jogo
O
d..-- dJd os. nem .'
outros Jogos d esonestos ou proibidos ' e nem mesmo os jogos admitidos, . como .
.,.. p•~ J.. . b d I
... ... so rt'tu o nos ugarc - s coiiiuils
• (ou seia
-.,• ' o claustro, . a sala comum que servia
• . de refe1-
. .
• · )
t ono . e e a1gut>m , os prancar · cm ou tros Jurr.1res
o•· •
que se1a
-.,
com , pouca
.
frequenc1a
.
(110n 111rms
ro 111 ; 1111 c) ." Na bula do Cardeal de Amboisc: que fundava o coleg'.o d~ Monta1gu em 1501,
1iav1a• •· fi <, 1 O que quer dizer ISSO? O texto começa
um capítulo intitulado De cxcmr10 corpora · ..
,, . •"O exercício fisico parece ser de pouca ut1li-
com uma apreciação geral um tanto am bigu.i. ·

s• . . . Ili A •rs 1895, 3 ,·ol.s .. n-c,·d. 193(,.


H. R:1! hJ.111, 77,.. U11i1wsiti1·.< ,j E11n•r•· "' 1hr ,\fit ' r S •
"°FC:· libi~n. vol. V. p. 662.
" lbid., p. 689 .
"! lbid .. p. 721.
PEQUENA CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA DOS JOGOS E DA BRl t D IRA.
64

• studos espirituais e aos exercícios religiosos: ao contrári p


dade quan d o se rrustura aos e • -
voca um gran d e d esenvo v11 ·mento da saúde quando é conduzido alternadamente
_ , _
com
.
O\

d , - · t'ficos "Na realidade O que o redator entende por exerc1c10 fi icoc. nJ'o
tu os teoncos e c1en 1 1 . , . _ _ ·
- tanto os Jogo
sao · s, e si·m todos os trabalhos manuais, por opos1çao, aos trabalhos_tntdenu:i.i
. ..
E ele dá primazia às tarefas domésticas, nas q_uais reconh~~e tambem um~ fu~~ao de_rd.1x.1-
ção: as tarefas de cozinha, de limpeza, o serviço da mesa. Em todos os ~xe~c1~10 .1 1_111.1 u
seja, nas tarefas domésticas), nunca se deverá esquecer que se dev~ ser tao rap1do e \'l~oro·
quanto possível." Os jogos só vêm depois das tarefas, e mesmo assim sob reser\:, s! "(, u.1nd
0 padre (o chefe da comunidade) estimar que os espíritos fatigados pelo tr.tbalho e pt.·lo t'. tu-

do devam ser relaxados por meio de recreações, ele as tolerará (it1d11lecbit)." Alguns jogos .fo
permitidos nos lugares-comuns - os jogos honestos, nem fatigantes. nem perig so . . Em
Montaigu havia dois grupos de estudantes: os bolsistas, que, como em ou eras fund:1ções. c-nm
chamados depauperes, e os internos, que pagavam uma pensão. Esses dois grupos viviam se--
parados. O regulamento estipulava que os bolsistas devcri:1111jogar por menos tempo e com
menos frequência do que seus colegas internos, sem dúvida porque tinham a obrigaç:10 c-k ser
melhores alunos, e, portanto, deviam ser menos distraídos. A reforma da Universid:1de de
Paris em 1452, 63 ditada por um espírito de disciplina já moderno, m ~mtém o rigor tra<li ·in-
nal:"Os mestres (dos colégios) não permitirão que seus alunos, na fe ras d:ts profissõe ou ~111
outras, participem de danças imorais e desonestas ou usem trajes indecentes e: leigos (traje~
curtos). Deverão permitir, porém, que joguem de maneira honesta e agrad5vel, para o alivio
do trabalho e o justo repouso." "Não permitirão, nessas festas, que os :1lunos bebam na cicb-
de nem batam de porta em porta." O reformador visa aí JS audações de porta em porta,
acompanhadas de coletas, que a tradição permitia à juventude por ocasiilo das festas sazonais.
Em um de seus diálogos escolares,Vivês resume a situação cm Paris no século XVJ, 64 nos
. _ "Entre os estudantes, nenhum outro J. ogo al,-..m
seguintes termos: " d"., Pe Ia po d e ser Joga · do
com a perrmssao. dos mestres,. mas algumas
. vezes os alunos J·oga m, em segre d o, cartas e
xadrez, as cnanças pequenas Jogam garignons e os mais indiºsc·p1· d · d 1 "D
. 1 ma os Jogam atos. e
fato, os estudantes, assim como os outros meninos não tiºnl
, 1am o menor pro ema em
bl
frequentar as tavernas e os bordéis, em jogar dados e danç O · d - . -
. . , . . ar. rigor as pro1b1çoes nunca
fot abalado por sua meficac1a: tenacidade espantosa a no Ih d
_ , . ssos o os e homens modernos,
mais preocupados com a eficac1a do que com princípios!
Os oficiais de justiça e de polícia,juristas adeptos d d
. _ . . . a or em e da boa administração da
d1sc1plina e da autondade, ap01avam a ação dos mestre '
, 1 d s-esco1a e dos eclesiásticos Durante
secu os, os ecretos que fechavam aos estudantes O a , ·
cesso as salas de · d
ininterruptamente. Esses decretos ainda são citados no , 1 X Jogo se suce eram
secu o VIII· 1 , d
ereto do tenente-general da policia de Moulins de 27 d · um exemp o e o e-
, e março de 1752 . , . d
tinada à afixação pública foi conservada no Museu d A , CUJa copia es-
e rtes e Tradi - p J "É
Proibido aos donos das quadras de pela e das salas de biºlh ar ab nr . .
O Jo
çoes opu ares:
criados durante as horas de aula, e aos donos das pistas d b 1. go aos estudantes e aos
e o 1che ou outros Jogos - a b nr
- o

r.JPublicado em Théry, Histoire de l'éducation cn Francc, 1858, 2 vols .• vol. II.


'"'Vives, Dialogues, cf. nota 52 deste capítulo.
....
Q)
PEQUENA CONTRIBUIÇÃO . , e:
A HISTORIA DOS JOGOS E DAS URIN :Al> Elll.A'i 6S e:
('O
()
(/)
E
J
·0 go aos mesmos, em .
qualquer tempo" ·
o 1e1tor
· ·,
Jª tera, obsen-ado essa assnmbça
. . •
d u
ctJ

npregados domesttcos aos estudantes· 1 · · h • E


e l
· e es munas vezes tm am a me_m:i 1d.1de. e: er.1111 o()
1·gualmente
. temidos
, por sua turbule·nc·ta e sua 1ae I
ta d e autocontrole. O boltche.
· · u111
hoJIC' o
-o
ctJ
divert1mento pacifico, provocava tais brigas que nos séculos XVI e XVII os nu~isrrad . dt.· .!:::!
policia em certas ocasiões O proibiram inteiramente, tentando estender a cmb ~ Oett"d.ldl."
ctJ
.t::
Ol
as restrições que os eclesiásticos queriam impor aos clérigos e aos estud.rnce . . \ _ im. e,$t.'S o
defensores da ordem moral praticamente classificavam os jogo entre .1 :1tivid.1 ie~
semicriminosas, como a embriaguez e a prostituição, que quando muito podiam 1.•r cok-
radas, mas que convinha proibir ao menor sinal de excesso.
Essa atitude de reprovação absoluta modificou-se contudo ao lon~o do século XVII, l'
principalmente sob a influência dos jesuítas. Os humanistas do Rena;cimento. c:m . uJ r1.·.1-
ção antiescolástica.já haviam percebido as possibilidades educativas dos jogos. Ma. for.1111
os colégios jesuítas que impuseram pouco a pouco às pessoas de bem e :1111ante d:a onkm
uma opinião menos radical com relação aos jogos. Os padre· compreenderam desde: o iní-
cio que não era nem possível nem desejável suprimi-los, ou mesmo fazê-los ckpc:n ler dt.·
permissões precárias e vergonhosas. Ao contrário, propu eram-se a assimilá-los e .1 incm-
duzi-los oficialmente em seus programas e regulamentos, com :i condiç;io dt· qut· pudc:s-
sem escolhê-los, regulamentá-los e controlá-los. A im di ciplinados, os diwrti111c11to. n: -
conhecidos como bons foram admitidos e recomencbdos, e considcr:idos a p:irtir de t•nt.io
como meios de educação tão estimáveis quanto os esrudos. N:io apcrus se p:1rou de dt·-
nunciar a imoralidade da dança, como se p:1ssou :1 ensinar :1 d:1nçar nos colégios, poi~ .1
dança, ao harmonizar os movimentos do corpo, evit:1va :1 falta de gr.tp e tbva :10 r.1p:1z
elegância e postura. Da mesma forma, :1 comédia, que os mor.1list:1s do século XVII con-
denavam, foi introduzida nos colégios. Os jesuítas começar:un com di~ílogos cm latim ·o-
bre temas sacros, e mais tarde passaram a peças francesas sobre temas profanos. Até me mo
os balés foram tolerados, apesar da oposição das autoridades da companhi:1: "O gosto peb
dança", escreveu O Padre de Dainville, 65 "tão vivo nos contemporâneos do Rei Sol, que
em 1669 fundou a Academia de Dança, prevaleceu sobre os editos dos p:1dres gerai~. Após
1650 quase não houve tragédias que não fossem entrecortadas pelas entradas de um balé".
Um álbum de gravuras de Crispin de Pos, datado de 1602, representa cenas da vida
escolar em um "colégio batavo". Reconhecemos as salas de aula, a bibljoteca, mas também
a aula de dança, e O jogo da pela e de bola. 66 Um sentimento novo, portanto, apareceu:
a educação adotou os jogos que até então havia proscrito ou tole_rado como um m~I menor.
Os jesuítas editaram em latim tratados de ginástica que forneciam as regras dos Jogos re-
comendados. Admitiu-se cada vez mais a necessidade dos exercícios fisicos. Fénelon es-
creve: "Os Gogos) de que elas (as crianças) gostam mais são ~queles em ,:ue o ~o~po está
em movimento; elas ficam contentes quando podem movimentar-se. Os med1cos do
século XVIIf,67 inspirados nos velhos "jogos de exercícios", na ginástica latina dos jesuí-

'•lp d. . .
"· · e Dainvrllc, E111rr Nous, 1958, 2.
llrndc·n,ia 1iw sriirn/11111 vitae scolasricac, 1602.
'·'1.-J.Ju,,c rand, "!'· rit.
l ll l' Q)
PEQUENA O TRIDUIÇ . O e:
66 e:
ro
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tas conceberam uma nova técnica de hiaien cor o
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' · Crou o
l'éducatio11 des enfants de 1722, e c:1to por, . ü
o
-a
tica de Lausanne, podemos ler: " E nece ano que o e r ro
.!::!
Considero que os jogos que incluem . ro
.....
quanto cresce ... "õi
todos os outros." LA Gymmastique médica/e et cl1inirgic Ir d Ti: . õ
físicos como os melhores exercícios: "Exercitam-se ao rne_m
corpo ... sem contar que a ação dos pulmõe é con r.intementl· t'.: rimu!J i.l r
dos e os gritos dos jogadores." No fim do século XVII 1. .· j !- - ·: ·r ·i · 1
ram outra justificativa, desta vez patriótica: de: pn:p.1r.w.1m r,1r.1 c · r .1r.1 .1 _'\ -•rr .
Compreenderam-se então os beneficio que: e iu .1 .'i ti. i · .1 p li.1 rr.ll ·r .1 111-mu -.i nu-
:i

litar. Nessa época, que assistiu ao nasciment do 11.1 i ruli 111 lll) krn ·. tr ·i11.1111 ·nr,
do soldado tornou-se uma técnica qu:t e: icncitir.L · t.11 ln:c:u- e um 1.1r ·1ir · · · ·nrr-
os jogos educativos dos jesuítas, :t gin.í ti .1 de lll t' h ·m, trt·i11Jtll l'llt h) ·,,l,L1d, .1,
necessidades do patriotismo. Durante: o n ul.t l • lc)i publi ·., IJ J ;yr,111.b·ti 1111• I · l.11·11 -
nesse, ou Traité é/émentaire des jcux d'cxn · ,· ,,,, id r • St 11 /( r,11 l ort lt' fr 11r milit( 1 hr:ii,111,· ·r
mora/e. Seus autores, Duvivier e Jauffn.·t, . tinn. v.11 11 ·brJm c.- m · Ili ~ ·r ·1 ·, 1111ltur
"havia constituído desde sempre a b:i e <l:t brin.i,ti ' J, e.- c.-rJ p.utt ·ui m1c1H J 1• Jll.l,I > J
época (o ano XI) e ao país" em que: viviJm . ··v uJ.1' p >r Erin ·í p1, j I f ,.1 l°011111111
pela natureza e o espírito de nossa constitui .i >, 11 HJ'I ·run ·.h j · ü · >l !Jd ,, Jllt ·,
de nascerem." "Tudo o que é militJr trJmpir.1 Jlgo lc gr .wd 1 11 llm.· qw: •lt·v 1
homem acima dele mesmo."
Assim, sob as influências sucessivas• dos peJ:.wt">o,,os
t">
• 11 ·o tO li lllll 1-
lit 1111 •, 111· ' tJ ' • l l(H lllt:t
nismo. •e dos. , primeiros
. nacionalistas
. ' pas :imo do J.Ul'O (") ', vl oi t'll[ ' t ' li pc:ICO í. 1.l trJul .1 •
·J
antiga
.
a g111ast1ca e ao trema me mo militar • d·1s

p rH.: •H!Jr·. . 1
1J, popu .,rc, .10 e u e: l
1 b 1 ~•11 · ' -
tica.
Essa evolução foi comandada pela pn:ocupaç:io co . l .
_ . . m a mora , a . udc e o bem ·011111111.
Uma evoluçao paralela especializou segundo a id:td ~ . -
. • e ou a cond1ç:10 JO••o <Jll ori •111J -
namente eram comuns a toda a sociedade. r,

Daniel Mornet, em sua História da Literatura C/, •


salão: "Quando os jovens da burguesia de mi I ass,c~, e crew a rc peito do j o •o de
. - . , n ia geraçao (Morrn:t • J 87u) -
vam Jogos de salao nas 111atmees dansames de suas f: ,1. n cc u em O JOg:J
. . anu ias, eles . 111 ~ 1 - b.
Jogos, mais numerosos e mais complexos do , e gcr, nao . 1am que e e
que em sua epoca h . . , ,.
o regalo da alta sociedade." Na realidade ha' . . • aviam sido, ha 2.:>0 ano ,
, muito ma 15 de ?-O .
Duquesa de Bourgogne, 69 assistimos,já no século XV --'.. . anos! No livro de hora cb
dama aparece sentada com uma cesta no colo O d '~ um Jogo de papeizinhos": um.1
, . . ' n e os Jovens d . . .
fim da Idade Media, os Jogos de desafio estavam epositam papc1zanho . No
. . em grande moda •• U
fidalgo ou um fidalgo d1Z1a a uma dama O nome d · ma dama dizia a ulll
. . e uma flor ou d .
a pessoa mterpelada devia responder prontamente e sem . _ e um objeto qual4ucr, e
ou um epigrama· · d o."E ssa d escnçao
nma · - das regras d . hes1taçao p or um cumprimenco
o Jogo nos é dad .
ª pelo editor 111ockr•

''"D. Mornct, Histoire de la littérallm c/assiqut, 1940, p. 120.


,ncr. noLJ t O de te capítulo.
PEQUENA CONTRIBUIÇÃO Á HISTÓRJ
A DOS JOGO E D. DJ.U , ·e I EJR. 67 L..
QJ
e
e
co
C)
no dos poemas de Christine de Pisan que com • 70 . (/)
· pos ep1gram E
Por exemplo: co
o
Je vous vem la passerose E
o
C)
[Je/le, dire ne vom ose. o
Comment Amo11r vers vous me tire 'O
co
Si /'apera:vez tant sons dire. • -~
co
.t:::
Ol

Esse tipo de brincadeira sem dúvida · · •


o
_ se ongmou nos cosrumc:s da corte:. Em . t'~111lb pJ,-
sou para .a cançao
. popular
, e para as brin ca d eiras
· m1ant1s,
· e. · como o Jogo · ·
de: nm.1 .s que:, l . )m
vimos
. , d1vertta
. Lu1s
. _ XIII aos três anos d ·d d 11. '1 !
e I a e:. ,v as os ac u tos e: os Jovens qul· J·.l• h.1, 1.1111
J ·

deixado a mfancia nao abandonavam imeir.unc:ntc: cs.~c:s jogos. Um:i e: ·t.unp.1 ele.- Ep11ul dn
século XIX representa ainda esses mesmos jogo , 1113. e intitul.i ''jogo · dt' utror.1", 0 qu e
indica que a moda começava a abandon~-lo e: que ele: se: torn:n :11n provinci.1110,. q11.1ndo
não infantis ou populares: a cabra-cq,,;i, o jogo do .1 ,obio. :i fac. 1 11 .1 b.1 ·i.1 com .i~11.1, ü
esconde-esconde, o passarinho vo:i. o ci,-Jlc:im gt·mil, 0 ho 111 c: 111 iuc: n.io ri. 0 p :tt· dl)
amor, o rabugento, a berlinda , o beijo cmb:iixn do cJ,tipl. o ber~·o do . mor. Alguns dt· -
ses jogos se tornariam brincadeins de: cri:lllp. c:114u.111to outros con ·ervJri.1111 o ·.ir.ira
ambíguo e pouco inocente que outrora tizc:n com qut· fu, t'm condt'IIJ lm pdo, 1nnr:1li,-
tas, mesmo os mais tolerances como Ens 1110. 1
A Maison des jeux de Sorel nos permite c: ·rudJr t' · .1 t'voh1r.10 t'lll um 111on1t·ntu inct'-
ressante, ou seja, a primeira meracit' do s~culu X V li . n ·ord li ti11g11t' J~ brill(:.1dt·ir.1, dt·
salão dos 'Jogos de exercícios" e dos 'Jogo · de: :tZJr". doi últimos ·.ill "rnn11111!i .1 wdl)
tipo de pessoa, não sendo menos praticados pelo ni.1dth do qut' pt'lo, ,t'nhorc: .. . ; ,jo do
faceis para as pessoas ignorantes e grosst'iras comu pJr:1 .1, pt' ·~0.1, cuh.1 · e: sutis" . O, jug ,
de salão, ao contrário, são "jogos de espírito e de convcTJ\':io". Em princípio, "de:, ú po-
dem agradar a pessoas de boa c.:ondiç5o, educ:1d.1 · 11.1 civilidade: e 11.1 g:il.111tai:1, c 1p.1n· de
compor discursos e réplicas, cheias de julg.1111e11ro e s.1ba, e n:io podc:111 c:r jo~.1do pnr
outros". Esta ao menos é a opinião de Serei, o que ele gostaria que o jogo de al.io lt> l'lll.
Na realidade, porém, nessa época, os jogos de salão tamb~m c:ra111 c.:o1111111 .i ni.111\·J e
ao povo, às "pessoas ignorantes e grosseiras". Sorel ~ obrigado a admiti-lo ... PJn cornl'çar,
examinaremos os jogos infantis ... Há os jogos de exercício"- o hóquei, o pião, a l° cada ,
a bola, o jogo de peteca com raquetes e "as brincadeiras de: pegar, seja com o olhos aber-
tos ou vendados". Mas "há outros que dependem um pouco mais do espírito", e ele dá
como exemplo os desafios de Christine de Pisan, que continuavam a divertir peque11os
e grandes. Sorel adivinha a origem antiga desses jogos: "Esses jogos infantis em que h,
algumas palavras rimadas em geral se baseiam em uma linguagem muito antiga e muiro
simples, emprestada de alguma história ou romance dos tempos antigos, o que mostra como

7 ºCh n·5rine
· de P1san,
·
,... Oe1111res poétiq11es, editadas por M. Roy, 1886, pp. 34, 18 8, 196. -?OS · . •
C" !Jlllll
Eu IC' vendo a malva- rosa / Bela chamar-te não ouso. / Como pode o Amor me ernpurr.r em tuJ Jirt'fJO 1
~ PC"rcebes e nad;i dius?" (N. T.)
72 ~ra~nio. L.e Mariaxe chrétim.
C. Sorcl, Maison des jeux, 1642, 2 vols.
PEQU E A ONTRIB 1 - . O 1-11. T . IU \ J ;o , n IH 1. , 1ir ir, ~
68 ã:i
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tn u E
outrora as pessoas e djvercjam com uma rc re en ro
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cavalheiros ou d.amas de alta dignjd.ad e." E


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Sorel observa finalmente que es e jo 'º in ann o
"O
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para no' . mui·t _'·mp rc nr ·: _ (U
populares, e essa observação e. . _ N
(U
eles também servem para as pe soas rústicas CUJO e pmr nJ · 11 :t:'.
Cl
crianças nesses assuntos." Contudo, no inicio do é ul X\ 11. ~ o
"algumas vezes pessoas de conruçào elevJda poruam praticJr e ·. J :-
sem que a opirúão pública visse aí algo de err.1do: e e j ~ . ··1m r ,··.
todas as idades e condições, "tornam-se recomendávei dc\·i f ,1 11 cmr . 1-

pre tiveram" ... "Há certos tipos de jogo em que pmr 11.1 rr.10.1lh.1 n1111C, , f, ·
l'.

que mesmo os muito jovens podem jog:1-I . l'lllb í.l .1, pc: · ),1 111.ti · , . ·lh.1, · , ~rt , r r -
bém os pratiquem ocasionalmente."' E l' JrHÍg e. udo de · i ·.1,. p H ·111. 11.i r .1 n 1
admitido por todos. Na Mniso11 dcs jr11x, f o r l' Xl'lltpl >. l\r1'itlº · >li i 1·r.1 l'' · •,; dl\· ·rt1111 .:11C,,
de crianças e de plebeus indignos dl' um h . llll'lll dl" t l' l1I . p rr.1-vn 1· .S r ·l nj.i k· · ·p
contudo proscrevê-los complct:iml'me: "Ml' 111 0 n que r 1rt· ·cm a b i.· h plld,·111 ·r
soerguidos recebendo uma ourn :iplir.1r.1 fitc rt·rHl' l.1 pru11 t·1r.1. fllJI ,,· r ·I.H II' 1r.1 , ·
vir de modelo." E ele tenta enr;·o de, .u o nivd 111rde ·ru.il f J t.:l I · .11.i l pr.1r1-·.i.l, ,,
dentro de casa. Mas n:i vc:rdade, ap · :i de ri\·.io 1c ·or ·I f j ~ d.1 m111ur1· - t· 111 qu · ,
líder levanta um, dois ou rrês dedo e - pJ rti ·1pJ11te, d ewm r ·p ur m t·, 111 0 gt· to 1111 · ·
diatamente - , é difícil para o leiror moderno e 111pre la b )li J'lf't"Cto .1 111,11ml' ••
II
mais elevada e mais espirinial do que o j g de ru11J,;, Jll e S ,rd Jluud ) rlJ V:1 ,em Jfl ·Lii; ' ,i
às crianças: o leitor atual tem :i mesma opini.io dt· rh!e, n1ju r om fc j r.ij.í ·. 111oda111
Mas ele fica ainda mais surpreendido com o t:tt de um ru11u11 ·i tJ t" hi,rori.1dor n 111,
Sorel ter consagrado uma obr:i mo11umemal .i de~rri\·.io e .i rc-v 1 ·.io !t·, l''I f1wrriut t' III .
Este é mais um testemunho do lugar que o · jogo,; oc up:i,~Jlll 11 •1, prt"t>e up.irul· d.1 Jll lt •.1
sociedade.
Portanto, no século XVII, havia um:i disti11ç:io entre.' os jogos cfO\ :adule \ do tidJIW , t·
e os jogos das crianças e dos vilões.A distinç:io erJ :rnrig:i e remontava · Jd.icl t" lc'.· Ju . MJs
na Idade Média,. a partir
. do século
_ XII, da se aplicav"·• "pen"s
.. .. ••., c cr t o · J· go , f o u 11uu -
ic·
rasos e mmto particulares: os Jogos de cavalaria Antes di so ,,
.
J - f /j ·
• .. nre t l CO II IJIUl f,lO te JJIJ -
tiva da ideia de nobreza, os jogos <!r-Jm comuns a rodo · d
. .
d
, m epen entemente u.J con 1po
_,_ c1 · -
social.Alguns Jogos conservaram esse caráter durante muito r . F ·
- . · cmpo: r:mci co le 1-1ennque
li nao menosprezavam a luta, e Henrique II J·ogava bola · · - . . . . •d
, l - . . . · · 1 so nao ena ma1 admm o 110
secu o segumte. Richelieu praticava o salto em sua g?:11 • · . .
, . ena , como Tnstao na corte do Rei
Marcos, e Lms XIV Jogava pela. Mas esses jogos rradicion · -
dos no século XVIII p l d a1 d. _ ais senam por sua vez ab:111cfo11J-
e as pessoas e ta con içao.
A partir do século XII, certos jogos já eram reservad . .
os aos cavalc1ros 7J • •c1 :i
mente, aos adultos. Assim, enquanto a luta era uma b . d . ' e, ma1 pn: . -
. nnca eira com · .
argo li n h a eram Jogos de cavalaria. O acesso aos to . . . um, o con1e10 e J
rneios era pro1b1do I b . .
anças, mesmo nobres não tinham o direito d . . ao p e eus, e: :i ai-
' e part1c1par: pda primeira vez, t:iJ e7, u111
73 S d V ··
· e nes e Marpugo, ú Bréviaire Grimani, 1904- 191 O, 12 vols.
ai
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PEQUENA CONTRIDUIÇÁO À HISTÓRJ A DOS JOGOS E D. URL:-.: e
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co
. proibia às crianças e ao. mesmo
costume . . p1e b eu part1c1par
tem po ao . . de JO
. coku, . . u
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.
As crianças logo começaram I os: o calendano
. a 1rrutar os torneio s prot·b·d . . do- bn:n,1r10
. . . de o
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.
Grirnant mostra-nos torneios grotescos de cnanças.
· . entre
. as qu:us
. algum peru :u :im rn
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nhecer .o futuro_ Carlos
. . V: as cnanças cavalgam b arns · em vez d e cavalo - .
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. ·-
SurgJU entao a ideia de que os nobres deviam · evitar rmsturar-se
· com o plebc..·u, e UL· tn - :t=
o-~
ir-se entre eles: uma opmiao que não co nsegum · impor-se
· totalmente. ao men . .ltt". qu .1
,
nobreza desaparecesse enquanto função soci e
·a1 e1osse subsan11da
. , peb burguesi;l, n . c...· cul
XVIII. No seculo XVI e no início do sé cu lo XVII • numerosos d ocumentos - I· on gr.\ftr ·-
ais
comprovam a mistura das classes soei · d urante as 1estas
e sazonais.
· Em um dos d1.ll
·· • ~ - ll'.
• sl'.
Le Courtisan de Balthazar Castiglione um clássico do 'c I XVI u o que 101
c · tra uzi
d · 1· o p.1r.1
todas as l~ngu:15, esse assunto é discutido e n:io se cheg:t. um :1cordo: 1 "Em no.so p.1í. d.\
Lombardia, diz o senhor Pallacivino, n:io temo es a opini.io (de que o cortes.io só (kw
jogar com outros fidalgos), e há muitos fid:1lgos que n. s festa d.rnçam o di;-i inteiro ·nb o
sol com os camponeses e participam com de de jo~os como o ;urcrnc:s o d.l bJrrJ, dl'. lu-
cas, corridas e competições de saltos, e pen o que n:'iu h.í mal 11i so." A(g'Uns ouvintes pro-
testam; admitem que a rigor o fidalgo po J jogar com c:rntp tll"5 t' • m.u cont.rnto pie: wn(.I
sem esforço aparente: ele deve ''estar pnticaml'.ntt' cc:rto de: vc:nca''. "É .ll~o muico frio 1..·
indigno ver um fidalgo vencido por um camponês. 1..· princip.1lmc:nrc: 11.1 lut:i." O cspirico
esportivo inexistia nessa época, a não ser nos jogo lc cav:ibri:i 1..' ob outrJ forn1.1. in ·pir.uLi

na honra feudal.
No fim do século XVI.a prática dos corneias foi :tbJnJonJtb. Outrosjo~o m subscirnír:1111
nas assembleias de jovens nobres, na corte e na, :1u!Js dt' pn.·p.1rJ\".lO militJr Li A ·.1dc:111i.1'i,
onde, durante a primeira metade do século XVII, m füL1li;o · . pr1..·ndi.un o nunejo das .1r-
mas e a equitação. Surgiu a quint:1n:1, por c:xc:mpln: 111ont.1do .l c:1 ;ilo, o indivíduo vi'i:iv.1
um alvo de madeira, que substituía o alvo vivo do .111ti~o,; torlll·ios, :.t c..:.1bt'ça d1..· um turc..:o.
Surgiu também a argolinha: o indivíduo disp:1rJva J c:1v:1lo e dt' i:1 arreb:1r:ir um:1 :iri;olinh.1
com a lança em plena carreira. No livro de Pluvind. diretor de: um:1 de: sJ · Ac:1de111i.1 .
uma gravura de Crispin de Pos75 representa Luís XIII cri:rnça parricip:.tndo de uma quint.111.1.
O autor diz que a quintana era um meio-termo entre "a fúria das lanças cruzadas 11a lip
com o adversário (o torneio) e a delicadeza da argolinha". Nos anos 1550, em Montpellic:r,
o estudante de medicina Félix Platter7" conta que "no dia 7 de junho. a nobrc:z.1 realizou
um torneio de argolinha; os cavalos estavam ricamente aj:iezados, coberto com t: pete e
ornados com penachos de todas as cores". Em seu diário d• in5nci, de Luís XIII, Hero,rd
frequentemente menciona torneios de argolinha no Louvre e em S,int-Gcrmain. "A
argolinha é praticada todos os dias", obsenra o especialista Plu vi nel. A quinuna e a argolinha,
contoJ·og d , b cederanl aos torneios e aosJogos de cavalaria da Idade
Média Mos reserva os a no reza, sul depois disso' Elas não desapareceram inteiramente,
como . as do que
· aconteceu
M corn
h · e as dia não as encontramos
· . perto das quadras de
mais
se po ena pensar. as oJe em

7' ll.
71 PI · glione,
C:uti,
1· LR Cour11sa11.
· b' · (• • fi"o · ..'7 ·
d E umpc:s Ee 35•• m-
uvinc , com nravuras de Cri.spin de Pos, Ca inct cs 5 ' •
7•·r1-l,x
. 1·1 •l110n11u..,Plater a Mo11tpel/ier, p. 132.
,._
(l)

NTRIB UIÇÀO À HISTÓRIA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS e


e
70 PEQUENACO ro
(.)
(/)
E
ro
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• . d s de golfe dos bairros ricos, e sim nas feiras, onde se continua a arr E
tems ou os campo ancar o(.)
d de as crianças montadas nos cavalos de pau dos carrosséis ain-L
cabeças e turcos e on ' . . • u.i ten, -o
o
linh Isso é tudo que nos resta dos torne10s de cava.Iana da Idade M'd· ro
tam pegar argo as. e ia: ~
brincadeiras de crianças e divertimentos do povo. ....ro
·c5i
Não faltam exemplos dessa evolução que gradualmente transferiu os jogos antigos para 0 õ
repositório dos jogos infantis e populares. Tomemos o arco,* por _e xemplo: no fun da Idade
Média, 0 arco não era monopólio das crianças, ou apenas das crianças pequenas. Em uma
tapeçaria do século XVI7 7 podemos ver adolescentes brincando com arcos: um deles esti
pronto para começar a rolar o seu com uma varinha. Numa talha de Jean Leclerc do fim do
século XVI, aparecem crianças já grandes que, não contentes em rolar seus arcos, nunten,
do o movimento com uma varinha, saltam através deles, como se pulassem cord:1 .7- O arco
permite acrobacias, figuras às vezes dificeis. Era bastante familiar entre os jovens, e bastante
antigo também para ser utilizado em danças tradicionais como a que nos descreve em 1596
em Avignon o estudante suíço Félix Platter: numa terça-feira gorda, reuniram-se b:1ndos
de jovens mascarados, "fantasiados de peregrinos, camponeses, marinheiros, italianos, espanhóis,
alsacianos" ou de mulheres, e escoltados por músicos. "À noite, eles executaram na rua :1 dan p
dos arcos, na qual tomaram parte muitos rapazes e moças da nobreza, vestidos de branco e co-
benos de joias. Cada um dançava segurando no alto um arco branco e dourado. Eles entnr:1111
no albergue, onde fui olhá-los de perto. Era admirável vê-los passar e repassar sob esses círculos,
dando uma volta, desfazendo a volta e entrecruzando-se em cadência, ao som dos instrumen-
tos." Danças desse gênero pertencem ainda hoje ao repertório das aldeias do País Basco.
A partir do fim do século XVII, nas cidades, o arco parece ter sido deixado às crianças:
uma gravura de Merian79 nos mostra uma criancinha rolando seu arco como O fariam as
crianças durante
. todo o século XIX . e parte do século XX . B rmque
· d o d' e to d os, acessono
' ·
da acrobacia. .e da dança, o arco sena. confinado a crianças cada vez menores, ate, seu aban-
dono defimnvo: talvez a verdade. sep
_ que' para manter a at ençao- d as cnanças,
· o b nnque
· do
deva despertar alguma aproxunaçao com o universo dos adultos.

No início deste capítulo, vimos que se contavam históri L , XI ·


, as a u1s II, os contos de Melusma,
que eram contos de fàdas. Mas, nessa epoca, essas históri d • ,
. . as se esnnavam tambem aos adultos.
Como ob serva M. E. Storer, histonador da "moda do d
so " m, d S, · , • s contos e fadas" no fim do século
XVII, M e erv1gne nnha a cabeça cheia de histór · d e d ,,
· d e M . de c o u1 anges a respeito de uma ias eC1 ª as . Embora achasse graça
· d eiras
nas b nnca
d eu, " por me d o que um sapo p u1 asse em seu rosto para pcerta· uverdon,. ela não lhe respon-
dia aí a uma fãbula do trovador Gauthier d c · uru-1a por suam grati·d-ao " •El a aI u-
e omcy, que conhecia atrav , da d . -
Mm• de Sérvigné escreve em 6 de agosto de 1677· "Mm, d es tra içao.
· e Coula · ·1
mente nos pôr a par dos contos com os quais se distraem as d nges .. · qms genti -
amas de Versalhes: ou, como

*Círculo de madeira leve que as crianças fazem rolar com o auxílio de un1 b • (N
astao. T)
77 Gobel, op. rir., li, 196. . ·
7"Lc:ckrc. op. rir .

7'Meri;m, b,ravura, Cabinct des Est:impes, Ec 11 in-f •, p. 58.


""M . E. Storc:r, LA Mode descontes de fies (1685- 1700), 1928.
PEQUENA CONTRIDUIÇÀO A HISTÓRIA DOSJOG ....
(1)
OS E DAS BRINCADEIRAS 71 e
e
C'C
CJ
(/)

se diz, com o quais elas são mimadas. Portanto, ela nos mimou tambe' f: 1 d E
. . . m e a ou-nos e C'C
(.)
uma ilha verde onde vivia uma princesa mais bela que O dia Eram as f: d
,, " . a as que sopravam E
sobre ela o tempo todo, etc. Esse conto durou bem uma hora." o
CJ
o
Sabemos també:11ª' que C~lb,er_t, "em suas horas vagas, tinha pessoas com afunção (o grifo "O
C'C
é nosso) de entrete-lo com histonas muito semelhantes aos contos de fadas". .!::!
C'C
.'!:=
Contudo, na segunda metade do século, começou-se a achar esses contos muito sim- Cl
i5
ples. Ao mesmo tempo, surgiu por eles um novo tipo de interesse, que tendia a transfor-
mar em um gênero literário da moda as recitações orais tradicionais e ingênuas. Esse inte-
resse manifestou-se de duas maneiras: nas publicações reservadas às crianças, ao menos em
princípio, com os contos de Perrault, que ainda revelavam uma certa vergonha em admitir
o gosto pelos velhos contos, e nas publicações mais sérias, destinadas aos adultos, e das quais
se excluíam as crianças e o povo. A evolução do conto de fadas lembra a dos jogos de sa-
lão descrita acima. Eis como Mm• de Murat se dirigia às fadas modernas:"As fadas antigas,
vossas precursoras, parecem criaturas frívolas comparadas a vós. Suas ocupações eram baixas
e pueris, e só divertiam as criadas e as amas. Todo o seu serviço consistia em varrer a casa,
cuidar do fogão, lavar a roupa, embalar e adormecer as crianças, ordenhar as vacas, bater a
manteiga e mil outras ninharias dessa ordem ... Eis por que tudo o que nos resta hoje de
seus feitos e gestos são apenas contos de fadas.""Elas não passavam de mendigas.""Mas vós,
senhoras (as fadas modernas), vós seguistes por outro caminho. Só vos ocupais com coisas
importantes. Dentre elas, as menos importantes são dar espírito àqueles que não o têm,
beleza aos feios, eloquência aos ignorantes e riqueza aos pobres."
Outros autores, porém, continuavam sensíveis ao sabor dos velhos contos ouvidos ou-
trora, e procuravam perservá-lo. M 11• Lhéritier apresenta seus contos da seguinte maneira:

Cent fois ma nourrice ou ma mie


M'ont fait ce beau récit, /e soir pres des tisons:
Je n'y fais qu'ajouter 11n peu de broderie. *

"Talvez vos espanteis ... com O fato de que esses con~os, e_mbora inv~rossímeis, nos te-
nham sido transmitidos através dos séculos sem que runguem tenha tido o trabalho de
escrevê-los."

/Is ne sont pas aisés à croire.


Mais tant que dans /e monde on verra des enfants.
Des meres et des meres grands
On e,, gardera la mémoire. **

e0 meçou-se a fixar essatradição que durante tanto tempo


fora mantida oralmente:
certos contos "que me contaram quando eu era cnança . ... nos últimos anos .foram postos,
· m devia remontar a
no papel por penas engenhosas". M 11 ~ Lhéritier pensava que sua onge

~ ..
••· . . . , . . . é do fo o: / Não faço mau lqu1 do
Cem vc:zrs minha ama ou minha amiga / Contaram-me esta historia a noite-, ao p g
t~Ealcrcsccntar alguns ornamentos." (N. T.) d h . nças / Mães e avós, / Serão lembrados."
- fa
cs 11·ao sao • de acreditar,
.
(N. T.) ace15 / nus enquanto nes te niun o ouver ena ,
PEQUENA coNTRII3UIÇÀO À HISTÓRl BR 1. · : 1)f.lJ . \
72 a:;
e
e
<O
(.)
Cf)
E
<O
Idade Média: "Ela (a tradição) assegura-me que o tn)\'ad o re u nt d le h1, Úr1 • ü
E
. encaram Finette muito ames
da Prevença mv ,,
qu e Abd rd o u
.
Th1h u,I o(.)

de Champagne produzissem seus ro~ances. Assim. o co~t t. ~n. u ~~ e um.: l'nr litt'rh1
o
-o
<O
-~
próximo do conto filosófico ou arca1zant~, ~0~10 o de l .t Lhe:1t1c~: . c,·c1 .1fomir qu. ....<O
'õ,
melhores contos que temos são os que mats mutam o esulo e :1 _1mpli ·1 b 1· lc- n, o
Enquanto O conto se tornava, no fim do século XVII. um g~ner n 1tr.1

s r" i .1h.1111 ,u-


escrita e séria (filosófica ou arcaizante, tanto faz) , a recitação or:11 dos nt
da por aqueles a quem se dirigia a moda dos contos e cri tos. C lbcrc L' ~ tn·- 1 ." ·r 1_, 11 :
ouviam os contos que lhes contavam, e ninguém na época pen .1\':l cm mhlinlur ·s. · IJ h)
como uma singularidade - era uma distração b:m:1I, como hoje scri.1 .1 lcirur.1 dt· 11111 m-
mance policial. Em 1771, porém,já não era mais . _im, c n:1 b . so ~ic Lldc, L'IHrt' .1dul- ,

tos, os velhos contos da tradição oral, m:ii ou menos c. qUt:c idos, cvc11tu.1ltlll·1Hc s · cn nu-
vam objeto de uma curiosidade de caráter arqut·ológi ·o u ctn o l ' gi · que j.i .1111111 ·i .1v.1 n
gosto moderno pelo folclore ou a gíri:1. A l uquc ·a de ho i-;cul t· ·c rcvt· .1 t l"'~ du D ·t[ 111d
que Choiseul "manda que lhe leiam conto lc fa b . di.1 inteiro. To lo'i nú, l)'i t·s t.11111 ) ·
lendo agora. Consideramo-los cão vero símei qu anto a hisc '> ri:i moderrll ". hs t'()lli v:tl ·-
ria a vermos hoje um de nossos escadist1s,. pós uma derroci p líti a. ll·ndo o P.1to I or1.1ld
ou Tintin em seu recolhimento, como se essas hiscorinh:t'i n.io fo ·t·m m.iis boh.1, lo qllt' ,1

realidade! A Duquesa de Choiseul não resi tiu :\ tenc:iç;io e e Cíl' c·u fois conto'i, c111 lJll t'
reencontramos o tom do conto filosófico, a jul~ar pdo início do L- Pri11ci' t'lld11111t : "Mi -
nha amiga Margot, tu que em meu quarto ch:1111:ivas o sono ou re.1bri.1s minh:1'i p.ílpd 1r.1
com lindos contos de fadas, conta-me alguma história sublime e )Ili a qual cu pm~a :1kgr.1r
os presentes. Não, diz Margot, não é preciso nada de sublime. Tudo o que os hmm·ns
precisam é de contos de fadas."
Segundo outro episódio da época, uma dama, em um dia de tédio, sentiu a 111c·s111.1 cu-
riosidade dos Choiseuls. Chamou sua criada e pediu-lhe a história de Pierre de Proven ce
e da bela Maguelonne, que hoje teríamos esquecido inteiramente se não fosse o ad111ir.ívd
Lieder de Brahms. "A criada espantada pediu que a senhora repetisse três vezc e rece beu
com desprezo a ordem estranha; no entanto, teve de obedecer; desceu aré a cozinha e voltou
vermelha com a brochura."
De fat~, no século XVIII, havia alguns editores especializados, principalmente em Troyes,
que publicavam edições im pressas d e contos para o publico , . rural que sabia . ler e que era
alcançado
" através
. ,, de mas ca t es. M as essas e di çoes
- (conhecidas como Bíhliotheq11e Blc11e ou
contos azuis por serem imp l 1 , .
d fi , ' ressas em pape azu ) nada tinham a ver com a moda liter:in:1
0 1m do seculo XVII Elas • - ,
evolu ~ d · transcreviam, tao fielmente quanto o permitia a incvitavd
çao o gosto, as velhas histórias d d. ~ a1
Bleue contém 1 d d h' , . ª tra içao or · Uma edição de 1784 da Biblivthh111e
' ao a o a istona de Pierre d p . , .
de Robert le Diabl . _ e rovence e da bela Naguelonnc, as h1srorta
e e os quatro umaos A
Force e M m• d'A unay.l ymon, os contos de Perrault , e os· de M 11' de l:t

Ao lado dos livros da B'b/' h


das longas • 1 iot eque Bleue, havia ainda os conta<l
noites de inverno e tambe'm d ores de hi!.tóri a oc.1,io11.1i,
' os conta ores profi · .
. ss1ona1s, h~:nft·in>, cftl~ ' Ih,
PEQUENA CONTRIBUíÇÀO À HISTÓR.IA DOS JOGOS E DAS BRJ 'CAD EIRA 7J ....
Q)
e
e
co
(.)
(/)
declamadores, cantores e jograis. Na pintura e na gravu...-. d , ul XVII E
. . , . , •.. os sec os e \ 111 t' n co
litografia pitoresca do imc10_do seculo XIX ' O tema do co n tad or d e h.1ston.1s -
, · e d o e h ar1.100 (.)
82 E
e, muito popular. O charlatao aparece trepado em um estrad
· o. contan d o ua h'~ tona
, · t· m s- o
(.)

rrando com uma vareta o texto escrito em um quadro gra.n d e que um a_JU • d ante se(!Ura e m o
"O
co
os braços est icados, para que os ouvintes possam ler enquanto ouvem. Em algum; cid.1dt-s .!:::!
co
:!::
da província, a pequena burguesia algumas vezes ainda conservava es.se passatemp~. Um mem Ol
6
rialista conta-nos que em Troyes, no fim do século XVIII, os homens se rcuni.1111 dur.mre l
inverno nos cabarés e durante o verão "nos jardins, onde, após tirar a peruc;i. coloc.n-:1111 st·11.
gorros". 83 Esses grupos eram chamados de cotteries."Cada cotteric tinha pelo menos um com:1dor k
histórias, no qual todos os outros modelavam seu talento." O memorialista lembr.i-st· de um
desses contadores de histórias, um velho açougueiro. "Dois di:ts que p:tsst·i com ek (qu:md eu
era criança) correram entre histórias e contos cujo enc:rnto, cujo efeito e cuj:1 ingenuid.1-
de mal poderiam ser - não digo e>.-pressos - 111:15 sentidos pd:i r:iç:i :1nial" (. genç:io :m1.1I).

Assim, os velhos contos que todos ouvi:1111 n:i époc:i eh: Colbert e de M"'" de· c:rvigné
foram pouco a pouco abandonados, primeiro pelo nobres. e J eguir peb burguesia . .'is
crianças e ao povo do campo. Este último abandonou-o t:1rnbt·m por ua vez quand
jornal substituiu a Bíbliotheque Bleue; as crianças torn:1r:1111- e cndo seu pt'.1blico, por pouco
tempo, aliás, pois a literatura infantil está passando hojt' pda 111cs111.1 rc·nov:i~-:io qut· os jo-
gos, as brincadeiras e os costumes.
A pela era um dos jogos mais difundidos enrre os jogos tk ·porcivos. Er.1 o que os 111or:1-
listas do fim da Idade Média toleravam com menos repug11:tnci:1: dur.11Ht' v:íri s sc:c.:ulos,
foi o jogo mais popular, comum a todas as condiçõt·s ociais, :tos reis e aos plt:bc.:us. M:i ·
essa unanimidade cessou no fim do século XVII. Consr:ir:1-se ent.'io um dc:clínio da popu -
laridade da pela entre a nobreza. Em Paris, c.:m J 657, c.:onr:1v:1m-st• 114 quadras de pel.t: e111
1700, apesar do aumento da população, seu número havia c:iído p:-ir:~ 10; 110 século XIX
havia apenas 2, uma na Rue Mazarine e outra no terraço, d:1s Tul_l~e_nas, onde se 111:111tcve
até 1900.ª4 Segundo Jusserand, 0 historiador dos jogos, Lu1~ XIV JJJogava peb sem c1_1ru-
sl·as mo. E m b ora os a d u1tos b em-ena · dos abandonassem esse Jogo, os camponeses e :-is cn:111-
Ças (mesmo b em-ena · d as ) permanece ran1 - lhe fiéis sob diversas formas de jogos
. de raquetes.
N0 p· ais' B asco, a pe la su b s1stm
· · ate, seu renascimento sob a forma aperfeiçoada da pelota
basca,jogada com cestas grandes ou pequenas. . ,
U ma gravura de Menan· BS d fi d ' ulo XVII mostra-nos um Jogo de bola que reu-
o 1m o sec , .
b 1 , do enchida Mas, nessa epoca, o Jogo de
ne pequenos e grandes: no quadro, a o a e ª sen
st · .
b J ·, . . · eta e boas maneiras. Thomas Elyot e
0 a Ja era suspeito para os especialistas em et1qu . . filh
Sh J · e J da Inglaterra o pro1 6 JU a seu 1 o.
akespeare o desaconselhavam aos nobres. aim h1 , · d b l
S . I oneses: "A e o e, uma espec1e e o a
egundo du Cange, ele só era praticado pe os camp

;:--_ . Gei·ger Maanasco prandu XXV; G. Dou, Mu -


·G di XXJV-• Magnasco, em • <> •
ru. uar , em Fiocco ' Venetian Paintina ~• prancha L
, 3 que, K. d. K., prancha LXXXI .

"' Vir de M. Croslev, 1787.


J ·J.Ju~serand, op. ât.
M·cri·an. gravura. C abinet des Estampes, Ec 1o m-
· P·
urçÃO À HISTÓRIA DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS
PEQUENA coNTRfB
74

m O pé com violência, e que ainda é usada em um .


d J.ogador c h uta co . , , Jogo do
que ca ª ,ncias,, Esse jogo sobreviveu ate o seculo XIX na B s
neses de nossas provi . " retanha
campo " h da aldeia", lemos em um texto do ano VIII, lançava no rn . •
or exemplo: O sen or 'fc ~ e10 da
P 6 1 h · de farelo que os homens dos di erentes cantoes tentavam
multidão uma o a c eia ' arre-
.
batar... v i em 1ru
'nha infância (o autor nascera em 1749),
.
um homem
.
quebrar a perna
ao
·
espi radouro para pegar a bola. Esses Jogos estimulavam a força fisica e
saltar so b re um r a
coragem, mas, rep ito-o , eram perigosos". Sabemos que o uso da bola se conservou entre
as crianças e os camponeses.
Muitos outros "jogos de exercício" passariam assim para o domínio das crianças e do
povo. Foi O que aconteceu com a malha, por exemplo, sobre a qual Mme de Sévigné escre-
veu em uma carta de 1685 a seu genro: 86 "Assisti a dois jogos de malha (em Les Rochers).
Ah! meu caro conde, penso sempre em vós, e na graça que tínheis ao atingir a bola. Gos-
taria que tivésseis em Grignan uma aleia igualmente bonita."Todos esses jogos de boliche
e críquete, abandonados pela nobreza e pela burguesia, no século XIX passaram aos adul-
tos dos can1pos e às crianças.
Essa sobrevivência popular e infantil de jogos outrora comuns a toda a coletividade pre-
servou também uma das formas de divertimento mais gerais da antiga sociedade: o disfar-
ce, a fantasia. Os romances do século XVI ao XVIII estão cheios de histórias de disfarces:
rapazes vestidos de mulher, princesas vestidas de pastoras etc. Essa literatura traduz um gosto
que sempre se expressava nas festas sazonais ou ocasionais: festas de Reis, terça-feira gorda,
festas de novembro. Durante muito tempo usaram-se normalmente máscaras para sair,
sobretudo as mulheres.As pessoas bem-nascidas gostavam de ser retratadas usando sua fan-
tasia favorita. A partir do século XVIII, as festas à fantasia se tornaram mais raras e mais
~scretas na boa sociedade. O carnaval tornou-se então popular e atravessou o oceano,
~mp~ndo-se aos escravos negros da América, enquanto os disfarces e fantasias foram reservados
as cnanças · Atualmente, so' as crianças
· •
se mascaram no carnaval e se fantasiam para brincar.

Em cada caso a mesm


_. ª evo1uçao
~
se repete monotonamente. E nos conduz a uma con-
clusao importante.
Partimos de um estado social em •
todas · ..Ld . que os mesmos Jogos e brincadeiras eram comuns a
as lua es e a todas as classes O fenô
jogos pelos adult da la _- . i:neno que se deve sublinhar é o abandono desses
os s e sses soc1a1s superiores e s· u1 ,. .
0 povo e as crianças dess
1 d . ', ' un taneamente, sua sobrevivenc1a entre
. as e asses ommantes E v d d -
abandonaram, como na França lh . · er ª e que na Inglaterra os fidalgos nao
• , os ve os Jogos ma t fc
mo d,ernas e irreconhec'iveis· que esses Jogos
. fi
' ds rans ormaram-nos , e foi sob formas
do ~eculo XIX . oram ª otados pela burguesia e pelo "esporte''
E notivd q •
. ue a antiga comunidade dos ·o
as cn:inças e os d l J gos se tenha r .
v d. d . , a u tos e entre o povo e a burgu . omp1do ao mesmo tempo entre
er cs e Jª uma rela - . es1a. Essa coi 'd " .
çao entre o sentimento da · e-, . nci enc1a nos permite entre-
1n1anc1a e
0 sentimento de classe.

""M"" de Sévigné ur
. rrrs, 13 de junho de 1685.

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