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57.

ENSAIO E CRÔNICA

Ensaio
. _ e crônica _ gêneros fite ranos.
, . D e-
fi nzçao e caracteres. Conceito de " .
" . cronica.
A cronica e o jornal Histórico e e l -
" . · vo uçao
da c:onzca - Romantismo. Francisco
Ota;zano. Manuel Antônio de Almeida.
Jose de Alencar. Machado de Assis
França Júnior. Pompéia. Bilac. Coelh~
Neto. João do Rio. João Luso. José do Pa-
trocínio Filho. Hw!iberto de Campos.
Orestes Barbosa. Alvaro Moreira e a
Fon-Fon. Berilo Neves. Osóri; Borba.
Genolino Amado. Benjamim Costallat.
Henrique Pongetti. Peregrino Júnior. Ma-
nuel Bandeira. Antônio de Alcântara Ma-
chado. Carlos Drummond de Andrade.
Rachel de Queiroz. Rubem Braga. Classi-
fica ção da crônica. Problemas da crônica:
linguagem e estilo, crônica e reportagem,
literatura e filosofza. Autonomia do gêne-
ro . Importância na literatura brasileira.
Outros gêneros afins: oratória, cartas,
memórias, diários, máximas, biografza.
Gilberto Amado. Lúcio Cardoso.

1. De acordo com a concepção do fenô-


meno literário adotada como princípio diretor desta obra, 1 os gêneros lite-
rários dividem-se em dois grupos: aqueles em que os autores usam um mé-
todo direto de se dirigir ao leitor, e aqueles em que os autores o fazem
indiretamente, usando artifícios intermediários. Ao primeiro grupo, em
que há uma explanação direta dos pontos de vista do autor, dirigindo-se
em seu próprio nome ao leitor ou ouvinte, pertencem: o ensaio , a crônica,
o discurso, a carta, o apólogo, a máxima, o diálogo , as memórias. São os
gêneros que se podem chamar "ensaísticos". Ao segundo grupo , con-
forme o artifício intermediário: o gênero narrativo, epopéia, romance, no-
vela, conto; o gênero lírico e o gênero dramático. 2
Esses são os gêneros de natureza estritamente literária, aos quais a
poética contemporânea reduz a compreensão e o estudo da literatura. O
presente capítulo estuda alguns gêneros pertencentes ao primeiro grupo ,
tal como se apresentaram na literatura brasileira.

117
2 ,n ,11 ,, , , '",·s t \Hh) du cns:iiu l! d,, c 1011 ic:, , h{
. , tn s l'll .'ll lis s:- is 1~u1 • 1 q uc , p, j mcir '•n
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1.1,ll l . 1 , ! o11go1 t: c1 p1cc1~ • no
Í1 na IC éij'
ao no uç,o do \ term
• 1
O\ 11tcrá--
11D,.

1. No que ('lH H: c1 nc a e,nu


io, a palavra é nova
g,l. l·\)i ll que .,t-inno
u Bacun ao t·az er a de d. , . , porém. a coi\a é , .
De fa tll o gêncrn possui. 1catona de seu livro de
. ·1
ancestrais 1 U5tres, co m o S '
ensc:1.iant1-:i
fra,to. 1.)~ hebreus <lo
~ clesia~te),
do5 Provérbios e ou tra
oc ra te s, Plãtão ·ros e
. _
tu ra bib\ica. Cicero
, Seneca, Plutarco, Pl s peça s ct/Jiter~-
namente é a Montaig ne ínio, Marco Aurélio etc. M
, com os E.ssais (159 oder-
gênero. novamente co 6), que se deve a iniciaç
m o sentid o que a ão do
"t en ta tiv a" . "i naca etimologia da palavr
ba mento ", "e xp er iê a indica:
metódica. 5em acabam nc ia "; dissertação cu
ento sobre assuntos rta e não
quial, familiar. Foi es variados em tom íntim
te o ca rá te r qu e Mon o, colo-
na, comunicou ao gê ne taigne, iniciando a vo
ro , de que sua ob ra é ga moder-
Os ingleses ad ot aram-lh o modelo imortal.
e a liç ão , e, adaptand
peculiares do ca ráte r o a forma às qualidade
britânico , elev ar am-n s
na língua inglesa que a às mais nobres expr
se en co nt ra m os mais es sões. É
res, numa la rga famíli perfeitos exemplares
a de artista s: Cowle y, e culto-
dison, Steele , Hazlitt Thomas Browne, Burto
, Leigh H un t, Charle n, Ad-
Co\eridge , Macaulay , s Lamb, De Quincey
Pater, Ru skin , Cheste , Ca rly le.
Francis Baco n. Entre rton, além do primeiro
os es panhói s ta mbé m deles,
Ga nive t, Azorín . o gênero floresceu: U
namuno.
A essência do en saio
re side em sua relação
co m a eloc uç ão ora\ , com a palavra falada
como se depreende do e
ensaís tas. O estilo do estudo estilístico dos
en saio é muito próxim gr an de s
samento que é captad o da maneira oral ou
o no próprio ato e m do pen-
ocor re em Montaigne , omento de pensar, tal
Pa scal ou Thomas Brow como
pass o com o pensamen ne. É o estilo que mar
to e o tradu z, como nu cha a
te rvalo , diretamente , m orador, sem nenhum
do pensamento à palav in-
artificio intermediário ra, se m precisar de qu
para expres sar a realid alquer
ta . O en saio é um brev ade qu e está na alm a do
e discurso, compacto , artis-
to , experiência e obse um co mpêndio de pens
rvação. É uma compo amen-
cm verso). breve, que sição em prosa (há ex
tenta (ensaia) ou expe empl os
da de à cu sta de uma rim e~ta . inte:preta r a
exposição das reaçõe s reali-
um ou vários assuntos pessoais d_o artista em
de su a experiência ou recordaç fac e d~
narraça- o , <lescn. ça_ o, ex . - oes . Pode recorrer a
po s,ç ao , argumcn t '·,ç ;\{) ' e us ar co m o ap
a carta, o sermão, o ' ·. .re se nt •·1ç~;10·
. o · ·
m on ólogo, o d,·a-1og o. a " <.•: 1·oniC. ·'\ .. 1o .
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bn1s1lem> admntc anah· d
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terna estrutural de co . . <l o) . pt _.,_ a . Su a ,.fo rm a e m-
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ntorm1da e com O ' T\ lll. o log1co e as ne ce ss id
'\I .
'
da expres..sa;- o. Cu,
rto ,
. .. . ·is iv o. in di vi du • ·
al.
. . . . . , ad es
exprime uma reação fra di re to , m<.: · , 111tc1 p1 ~t. it1 , o. o en sa io
.
nca e humana dt.: ui ' n·, cr so na ltd ad c an te O im-
P ·
118
• li 1 d e ( H • 1H,' 1 1 1 1·l11 r:; 1 n u , 1h•xt v1• 1 11v11 • l)t t
"' ,1.1 n 11 1 11 , ' i n11 <.: il ma,o, lib ...
p, 1\ , tihi 111 1 ,11\s\1111,1, 11u 11wtudu , 1111 t'X !)t, ~11 . llJ I cr-
1• 11P ls 1
,. (l!Jtl11dclJtc·
,!ih' ,11 de 1111 11r111.1\.1u , ,1 , · 11 1-1, 1111 , .t'if..1111 l! J1l t,;11d11 lq ldlUl.t
, i,,t1,11 ' \ • ,1.1 ~u1, ,n,meira t, c.t-
\ dtll'I\' I''" 1ss 11 d., ll::-.1. 1111111u1•1 11 l1i1 , 1111 1 tdi ,
Ih 1,111. , 11 ( ,1r 1iro, cd1tu1, ti tó
,
i I · ,,,111,11 s). llS q11 111 :-; 11..·111!-\l'llltll111il1wl1v1, lflll)•'LL I r ( !
111,'{l l 1 1 , , ' '"'n( l,I 1111ornrnt1 vo
1 l l\l,ltth' ,ll, ,1ss111111, e .t 111.1111 11,1 , 11 l'ltS:11 11 putl<.: ~ , 1 1 • t •
- 1; l e 11m'-i chfc1 ente~
l11dl' , 11., ,, ll111pu de ~ 11 -,t1 111 s 111 1.;g11l.11 i.:1-i i111i.: O"- 111nl 1 •
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11111,d, ,Hl ,und.1 l}l'sMl,11 s u11 f,11utl1,11. ti xp, i111 t.:111 im,,1 1 •• ,.,
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~ 111• • 1• • t, •• • ~ º ,.,, pcs,oa\ ou pa1-
, ngr..•ns, r:,,,\,ll'\l'1nll) de M'II~ t.:l' na11o s l ~1 111il1 :111..:s, 5i.; 11 s pcrknces, jardins,
, i.igl' 11 s. kmb1 :m,.;as. as 1~:u~age 11 s. q 11e arnu u, ~11 as cxpc, iene ia~ pa\Sada ,
ir..·~t,rd,\l..',>l's lk lHHm·ns, latos e co1sl1s, sua :-; leit 11 ras, teorias do Uíll\Cn,o e
d,, JX'ns:u~\\.'ntu, tudl) L' nada º" ensaístas st·ntam-sc e observam O espetá-
culo da ,~da L' do m,mdo, l_,s Vl'/L''-1 '-ll' divertem com ele. ou dele motejam.
ou llll)rahza1~1 a seu respeito. Tudo o que é humano lhes interessa. Esse
tipt) lk l'nsa10 pmk ser de í1111m'ssao (de si mc-.;1110, de outras pessoa~. da
lll'~tm natura!, das realizaçoes humanas): f>l'.\\oal (quando exprime a pró-
pna personalidade do autor): de paso11agl'11, (quando se refere a outra:)
pt!ssoas, <:omo "O velho Senado" de Machado de As~is); de.,crítii·o (de
cena~ naturais e artísticas); de apn'cit,rao (das rcaliz.a~ões humanas).
E assim caracterizado o sentido do genern c,nuío, forma literária es-
pecífica, tal como foi modernamente fixado po1 Montaignc e desenvol\ ido
na litcrat ura inglesa: te ntativa, ensaio, d isscrtaçao hrevc, concisa. livre,
em linguagem fami liar.
Mais mode rn amente, o uso da palavra k'm--;c estendido. perdendo
aquele sentido tradicional, de "tentativa". Tem ,e dc,envolvido em ,cn-
tido inteirament e oposto ao original. F "u1 g1u out10 grnpo de en,.uo-...
chamados de j u/~a11u'11to, que oferecem conclu,oc, ,ob1c lh ,1,,unto:-.
após discussão, anúlisc, ava liaçao. Tem "iC com ele, uma intc1 prl'tação.
dentro de uma estrutura formal de explanaçao, dt\Cll\\,tO e conclu,.11.) e
usando linguagem austera. 1~ o grupo que os inglc"iC"- eh.unam 1;,,mal s~h.1
formais, regulares, me tódicos, co ncludente"' E ne,"'c g1 upo ,e incluem l ) '
chamados e nsaio s c rít icos, til osolicos, cicnt1fico"-, poltt1clh, h1,tú1 iCl),.
No Brasil, a prút ica ve m restnngindo o U\O d,t paL1, ta t 11,aro a\.'\ ,c-
gundo tipo , ju stamente o o po~to at~ tipo_ ongmal. fa1l'ndo a ,1m5ntm,1 lk
estudo : c rítico , hi stórico , poht1co, lt lo"olt<..:o. etc. Na lmgu,q!l'lll h1,1,1k1ra
corre nt e, esses cst udo s rccc hc m o no ml' de "cns:un,". F 1.., que 1..'L'-)If'I:
també m na França , onde a rubrica ''e nsaios" c ngloh:~. l'lll pr1 i1..hltú), lttt'
rário s como /,{•.\' Nmn •,•/1,,.,. l .ittáain·s por l'XL' tnpl n. li\ l\"- dt· ht,tl)tU. po
lític a , filo sofia , et c. No Brasil. um r stl!llo l: nt11.·n . publt\.'ath) cm 11\IO. e
de signado como e nsaio , t: ensaísta o St'U nutor. ~an a"isim. pt)~ c \.cmplo. o
livro de Augusto Mcycr sobre Madmdn tk Ass is l' 1..) de..· M :mL) de Andra-
de , Aspectos da lit,•mtw·a hra silt'im . Sao livros de cnt ica, mas se reforem

119
com 0 de ensaio. É que, no Brasil, crítica é geralmente en
uela . . tendid
areqgu que se exerce nos Jornais, ha
a e m ada cn,ttc
.
a militante a so.me
lar, no registro ou co
m en ta, no
. dos li d
vr os o momento.
, _nte
' penoct
tca,
Em resumo:

a) A palavra ensaio
designa no Brasil o
histórico, político, et estudo - crítico, filosóf
c. Pe rd eu (como na ico
· ·o do es d
mindo o feiti Fr an ça ) o sentido or
tu o, ac aba do, co ne1 d iginal a '
quisa. u en te , depoi·s de an
álise ' e ssu-
pes-
b) Deteriorand~-se o
~~ntid? ~riginal ~e en
vamente er a denomm saio, o gênero que pr
ado ensaio (tentat imiti-
liar, sem método ne iv a, leve e livre, informal
m conclusão), gêne , fami-
tomou-se no Brasil a ro tradicional entre
crônica. os ingleses
'
4. O significado tradi
cional da palavra "c
mologia grega (khron rô ni ca " decorre de su
os - tempo): é o rela a eti-
dem cronológica. to dos acontecimento
s em or-
O Dicionário de Mor
ais assim defme o te
forme a ordem dos rmo: "H is tó ri a escrita
tempos, referindo a con-
Fr ei Domingos Vieira el es as coisas, que se
assim a defmiu: "C rô na rr am."
tempos, por oposição ni ca - Anais pela or
à história em que os de m dos
causas e nas suas co fatos são estudados
nseqüências. - Atu nas suas
que se contam os pr almente, nos jornais,
incipais acontecimen parte em
numa te rr a; crônica tos e se reproduzem
política, a parte do jo os boatos
políticas." rnal em que se refere
m as novas
Em ou tro s idiomas,
o sentido é o mesmo.
Assim, o Grand Laro
usse Illustré: "L es ch
historiques do nt l'a ut roniques sont des réci
eu r es t au moins pour ts
que é a forma histór partie contemporain".
ica da Idade Média, A ce ntua
línguas vulgares, feita primeiro em latim e
sobretudo nos moste depo is nas
dos. É uma "h is to ir iros por escribas espe
e dans laquelle les fa cializa-
dans l' ordre de le ur su its sont ·simplement en
cc es si on ". re gistrés
Sainz de Robles, em
seu Diccionario ·de la
Literatura, descreve:
Se llama también cronist
a
comenta o interpreta su al escritor que en diarios Y revistas
ce
su cultura y sus propias sos o cosas, utili~a~do unicamente
fuentes de conoc1m1ento
dacc1.0n
, de su rt'
s a 1cu1os, e·n los que , generalmente , se por la re-
la agudeza, la experienc . delatam
ia, el estilo del cromsta.

Portanto, em portugu " como se vê no verb


o termo adquiriu dois es, ete de Domingos Vieir
sentidos. a,

120
• ") n p1i111i1ivu . d11 lt l; 1t111i1..:: 1 11 c:i 1,t1~ 1 der ·l te ,
l) 11' 11lll 1 • • • • t; cl J 1H\to11co
•1111 dl' .111,ii s. hn u ll.;1110 q11 t; :i s.;~1 1111111 H l11\lOnog1a11 ld d,
h1 I'• 1l l • < d 11 d a C
,\•tl 1
,, •
11 is ~ it1tl'IIIP, l'I\\ tnd :1~ :ti\ p:1111..· s dr, l•11 11, 1y 1 ,, ,r,,tc•
, 1 l' 1,l.: • • • •' 1 ,p1 0 cm 1at1m
~h·, 1 · , 11 ,,s di,l·,,.1s ltnguas ,1 1ilg:11t·s, 111 c lu s1vc 1 1 po,1 u1111 e;~ e .d
dr1x 11 .11 • • • n , m que eu
e ,h, , ,, 1111,1s . 1·0 1 CsM' o sc. 11 tido q 1u.;. pr i;valcc1,;, 1 ··té 110 e
'",i 11 11,l' l •1 1 u >J" no va
f\t,t, , ,l,1,'t •1, l'llll'l>Cus mod r1 nus, n1c11us o JXllt ugu•·s
1 '"' · •l m ,nglc
1
·~
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" ' 1i,il. it.di.irnl, ,1 palavra sn tem rstc scnti<lo: crcj 11 ica é um g~ncro h' '
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,,, ,\~ ,,. l• • m,sim co mo Cl"lllllCH, ,.. • C101114ue1w" C ''c1onista" •6 ce ,'1
.
,> cmpn:-
1
'-'' ·\11\, u:l.iti:~uncntc a naqt!ele ~entido: eram O indivíduo que
l:tOlllCas,
~..,(·i't'' j,1cr(H11Ca. ~). mesmo ocorre cm trances: chronique e chroniqueur. f.
..,j.,nific:ufo t rmhc10nal. .
0.g . d
Todavia. a partir e certa epoca, a palavra foi ganhando roupagem
..,cinfintica dikrente. HCrônica" e "cronista" passaram a ser usados co~ 0
sentido atualmente generalizado em literatura: é um gênero específico, es-
tritaml!nte ligado ao jornalismo. Ao que parece, a transformação operou-se
no século XIX, não havendo certeza se em Portugal ou no Brasil. Publica-
vam então os jornais uma seção, via de regra semanal (daí .Machado de
Assis ter adotado o pseudônimo de "Dr. Semana" para as crônicas de A
Semarw), de comentário de assuntos marcantes (ou que marcaram o e:spí-
rito do artista) da semana. O uso da palavra para indicar relato e comentá-
rio dos fatos em pequena seção de jornais acabou por estender-se à defin1-
ção da própria seção e do tipo de literatura que nela se produzia. Assim.
"crônica" passou a significar .outra coisa: um gênero literario de prosa. ao
qual menos importa o assunto, em geral efêmero, do que as qualidade') de
estilo, a variedade, a finura e argúcia na apreciação, a graça na analise de
fatos miúdos e sem importância, ou na crítica de pessoas. "Crônicas" são
pequenas produções em prosa, com essas características, aparecidas em
jornais ou revistas. A princípio, no século XIX, chamavam-se as crônicas
'"folhetins", estampados em geral em rodapés dos jornais (jeuil/erons -
folhetins).
Em crônica de 30 de outubro de 1859, Machado de Assis. definmdo o
"folhetim" e o "folhetinista", deu as características da crônica, tal
como hoje é entendida. Mostra Machado que o folhetinista é originario da
França, tendo-se espalhado graças ao grande veículo que é o jornal. De la.
·o folhetim acomodou-se "às conveniências das atmosferas locais". E as-
sim o define:
... o folhetim nasceu do jornal, o folhetinista por consequ~n-
cia do jornalista. Esta última afinidade é que desenha as sa-
liências fisionômicas na moderna criação.
O folhetinista é a fusão admiravcl do util t' do futtl. l)
parto curioso e singular do sério, consociado com o fn_, oll)
Estes dois elementos, arredados como polos. hc.:-ll~tl)g~ne1.)s
como úgua e fogo, casam-se perfeitamente na orgnn 11 açan 1.fo
novo animal.
121
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l'.' l • ' los 0 ~ c:111les ~11culcnto\, sobre
Sll 1)1 e 1(1( ,todas e:.1, ~e,.
11 . 1' I '-,l'
1. · , ,10tlo O 111 undo lhe pertence ; ale mesmo a p0J'1·
\:IS\ 1gllf()',,IS ,
11
t iL',1.

Pcns:1 e1e qt Je
, 0 fo
" , .
lhetim - diga-\e hoje a crónica - n~o est' v .
•. ª a a1ndd
e, ths
i1dap1ado. apOc ll e · ' _ ,suas
• pagma5
.
coru~cantes de .
linsmo
,.
e de ima gens . .
., .' • .,s exceçoe) tmha tomado
sOl'fllldllS~I 01 (, , . . ,,
a cor nac1ona]. Escre\er 10e. r: Jh

ICdl hr·•, t1.ileiro


• C' 1•••
lllll ., é na verdade d1ficil , acentua.

Ent retanto, como todas as dific ul dades se aplanam. ele podia


bem tomar mai~ cor local, mais fe ição americana. Faria as~im
me no\ mal à independência do espírito nacional. tão preso a
e\ta\ limitações, a esses arremedos, a esse suicídio de origi-
nalidade e iniciativa.

De qualquer modo , venceu e generalizou-se afina) o termo "crônica ...


ficando HfoJhetim" para designar mais a seção, na qual se publica\am não
só crônicas senão também ficção e todas as fo rmas literárias.
Mas o que designamos atualmente por crônica é o que, na literatura
ingle sa, se chama " ensaio ", o do primeiro tipo, o original ou · •familiar"·.
informal. Se compararmos as características dos dois tipos, veremos que
as da " crônica " brasileira são as mesmas que os ingleses atribuem ao pu-
wna/ ou Jámiliar essa y . Isso resultou certamente do uso que se generali-
i.ou no Brasil de tornar sinônimos " en saio " e "estudo" abandonando-~e
º~sentido primitivo, para o qual foi sendo re servado o ;ermo ··crônica ...
b s~,a ª concepção que o termo "crônica " adquiriu finalmente em ponu-
gues, ª segunda da definição acima citada de Frei Domingos Vieira.
Para a e ,., · ,., d )
,<.\ .w . ,., ronica
. v 1ngles _ n· d·
- genero
,· · que, na literatura brasileira correspon e)nd
,ll
.1 A.
uc ndradc ao refi · ,
ªª
mais Justo .do que as palavras de Carlos Drumml. ' \ t'í
nunM. caixa d d ao crornsta como alguém que " tem ar de ,e mc
. de > ,enr-se
gudr ª os, ou antes de perdidos''.
5
· Assim dclimit· d , p1tulo
se rcst · , .,-
.
ª os os termos "crônica" e '"ensaio ... esse l a
nngu ,t ao estudo f· ~ A • ·1do t·I1 -
• •

.\·a10 no sent,·,1 d " e. ct cronica. Os chamados "ensa1 stas . rom, d.,,_


•i u o e e stL 10 " ,. . . , je re.1
uos ú crític·, ( . · I<. ,azem o objeto de capítulos especiai s '- , •
·.
ensaios· cr't1 icos)
1·olog1·a p' l't· ou a outr·1s ·11,·v,·c" ·1cjes ·· histonª• ,
soc
f ' . ' o I ICa) . . t ' e .lc. '
(filosofia, . filoso-
os, historiadores 8'c.>:.~~sl' cm verdade, eles não são ensaístas, e sim 1
· , • "'10 ogos
122 ' pensadores políticos.
/ . r insistir na relação da crônica e do jornalis .
st
E rn 1. ; 0
de gênero literário. Como se viu, a acepçã:~ Para ~e isolar a
0
sua condd1çernamente, designando também, e com mais fr
. rno d' - .
~?_
ca~ulo evo-
equenc1a
1u1tJ, , . r geiro ou a 1vagaçao pessoa1 feita com bom . ~ .0 co-
mentartº ~tamente à idéia da imprensa periódica po· gostlo hterano, li-
a estre ; . ; . . . , is ne a revela s
gad . Tão caractenst1ca e a mtim1dade do gênero co ; -e o
cronista. muitos críticos se recusam a ver na crônica amd seu _veiculo na-
ral que , , espe1to da voga
tu desfruta, algo durave 1 e permanente, considerando-a u
de que ~ d Ath d '' " . ma arte me-
para Tristao e ay e uma cromca num livro é como .
0 or. 1 d . um passan-
afogado''. De qua quer mo o, aceite-se ou não a permanência d ,.
oho t , . a cro-
1
. é certo que e a somen e sera considerada gênero literário d
nica, 'd d 1. , . l'b quan o
esentar quab a e 1terana, 1 ertando-se de sua condição circunst .
apr . d' 'd l'd d d
elo estilo e pela m 1v1 ua 1 a e o autor. anc1a1

p A crônica, ligada à idéia da grande imprensa, como ficou dito só ve


a aparecer no Brasil com a feição que lhe é reconhecida hoje, nos' mead~
do século XIX, quando os jornais evoluem para um tipo sui generis de
empresa industrial. As crônicas de Machado de Assis já indicam a pre-
sença de cronistas categorizados que imitam o exemplo da imprensa ingle-
sa. Mas a crônica vem a incorporar-se aos hábitos da nossa imprensa,
quando se deu o desenvolvimento da imprensa com a sua modernização,
ao serem adotadas as ilustrações a pena e os clichês fotográficos, quando
se aumenta o número de páginas das edições. Dispondo de maior espaço o
jornal se enriquece de atrativos e, com o noticiário, o grave artigo de
fundo e as seções ordinárias, transforma a crônica em matéria cotidiana,
como recreio do espírito, amável e brilhante cintilação da inteligência.
Multiplicam-se por sua vez as revistas ilustradas e essas publicações se-
manais tendem a valorizar dois gêneros que só então adquirem expressão
definitiva no território da imprensa brasileira: a caricatura e a crônica.
O jornal brotou e cresceu no Brasil sob a atmosfera do Romantismo, o
que contribuiu para que o acento lírico tivesse predominado sobre a crô-
nica desde as suas primeiras manifestações.
.. percorrer
· , d o o b servara, qu e , no seu bo 1
Quem os jornais desse peno . J0 ,
" · da pa1xao
atenuando as exuberanc1as · - po l't'
1 ica, 1·ns1·nuava-se
. algo que .tmha
· · · ·
prmc1palmente um obJet1vo: entreter. E ra a cron " ica destmada a cond1men-
d ,. .
_ d rt fatos da semana ou o mes,
tarde maneira suave a informaçao e ce os • sobre-
l d Quase sempre visava
tomando-se assimilável a todos os pa ª ares_:,... . ambiente de finura
tudo o mundo feminino, criando, em conseq~e~ci;,.~;sobre O progresso e
e civilidade, na imprensa, que ex~r~eu senSive e et
o refinamento da vida social bra sileira. . l'terários fossem
, , 1 ue os cromstas I •
E perfeitamente compreensive ~ lgumas de suas poesias
·
igualmente ·
poetas com a ctrcuns t"an eia de,. . que ª
• Crônica em verso - para
' de cronica. d
narrativas não deixam de ter certo ar
. que
f: . Joaquim Norberto, quan
azia
°,
mencionar apenas um caso - era 0
123
''A confissão", descreveu o Rio de Janeiro do tem
no poema po do Velho
ntrudo · · ·
e · . '-"oram também os pnme1ros romancistas, notanct
Cromstas 1 1
• d. o-se que
ba no ou de costumes era por assim izer um desenvoJ . o
romance ur , d J fi - . v1rnent
crônica. o mais nota vel e es, a icçao picaresca das M , . o
natural da Manue J A t" · d AI . ern.onas
de um sarg . ento de milícias, de n, orno e me1da, surgiu e
rn ter-
+- rtilizado pela crônica e deste contem a 1gumas características in
reno 1e ,. . G C t , . con-
f un di,vei·s , como assinalou Eugemo ornes. _ l arac ensticas
l . negativas re-
pres e ntadas pelo afogadiJho da elaboraçao, pe a vu gandade de certas no-
.b ,
tações e pelo excesso ?e cor local, m~s que contn wram decisivamente
para o êxito dessa mov1ment_a~a narr_at1 va; " . .
Esse fenômeno de hibndismo, isto e, a cronica ou folhetim desdo-
brada em romance, mas deixando transparecer vivamente as suas caracte-
rísticas, seja no estilo nervoso do escritor, seja no entrecho de um ou ou-
tro capítulo, tornou-se mais ou menos comum naquela altura do século.
Para isso concorreu naturalmente a circunstância de que ambos os gêneros
iam convergir nos jornais sob o mesmo título geral de folhetim. Folhetim
era a crônica, mas também a novela ou romance, quando publicado em
jornal. O fator espiritual de comunhão entre os dois gêneros era a poesia,
que dominava a literatura romântica, sendo por isso explicável a influência
que o folhetim exerceu particularmente sobre o mundo social. O poeta, o
romancista, o homem de jornal, todos cederam às suas seduções com
maior ou menor assiduidade.
A crônica brasileira propriamente dita começou com Francisco Ota-
viano de Almeida Rosa (] 825-1889) em folhetim no Jomal do Commercio
do Rio de Janeiro (2 de dezembro 1852). Também no Correio Mercantil do
Rio de Janeiro assinou ele o folhetim semanal até 1854. É o advento dos
românticos.
Na época, foi José de Alencar (q. v.) que imprimiu à crônica a mais
alta categoria intelectual. Foi ele quem substituiu Francisco Otaviano no
folhetim do Correio Mercantil ( 1854). Suas crônicas apareceram alterna-
damente com algumas de Manuel Antônio de Almeida, sob o título geral
d~ ''Páginas menores", título que trai certo complexo de inferioridade,
am?,ª sub~i~tente em nossos dias com relação ao gênero. Por que "meno-
res . ~s pagmas que ambos escreveram naquela seção? Por serem circuns-
tanc~ais? Por estarem destinadas a produzir efeito transitório? Por serem
escritas apressadamente? Ambos os escritores, como tantos outros que já
fizeram a mesma · expe nenc1a
·"' · nesse terreno ·
nutnam a natural descon-
fianç"a ~e que suas crônicas não subsistiriam ~uito tempo. E contudo foi
a cromca que b · · . . ' '
,., , a nu cammho ao romancista, afeiçoando os leitores con-
temporaneos a~ suas fantasias de um lirismo transbordante. .
Alencar nao mudava d .
obra de fi - e pena para escrever o folhetim da semana e a
icçao que passaria a publicar na mesma folha com as sugestões
que me Ihor consultas , ,., • .
sem as preferencias da sociedade.' Sua preocupação
124
·t·ulW a de um cronista e. c.m com;;c 4 iiênci·, 'l . . _ .
er1 por ' . ~ . ' ' < SUd pena de escntor
' . .0110 u i:omo a vat da de um magico , sob cuio t< • •
funu • . • • . •• .,, .. , . ~ >que o que havia de
-\) e u:puls1v o n,\ VHl\ tc,,I ct ,\ suh,tam cntc clirr · n. d
son1tl l . . . 11 •1 o para ceder 1u-
.nt ,\. i·cJlll'Sl'tltaçrn:s . lk pu1 a hckza, H.lcaltdadc e cncar,t·,uncn . t o.
g, 1;0 i l'SS~ o duna que Alcnca1 c11ou habitualmente cm s , _, . ,
· 1· ·
. -t-,•-·\ndo se disto, a ias, no to 1hct un de abertura onde - i·cuas c1 o nicas '
1us 11 ": _ • •• • • .•• • , ve 1a que \ua
· , .\ tmh~\ sido um,\ fada. Apos nat t,u , em forma alegóric -.. .
pt t ,
1 .,. .. • .• • . _ ,. . . .... , a 1s ona h. t ' ,
Jessc antt!~cdl:nk nMt a_v1 1h~so , e que p,\ssou a comenta r os acontec imen -
tl)S da semana. O fo_lhettm amda estava muito longe do tempo em que seria
subdividido em vanas outra~ seçoes , segu?do cada assunto , de modo que
nele se acumulava uma porçao de c01sas diferent es , às vezes mesmo intei-
ramente dispares. Em suma, a sua coluna jornalís tica de comentários se-
manais tinha o aspecto de um bazar asiático, onde a imaginação poética
dava imprevistas transfig urações às coisas mais vulgares ou prosaicas, por
ser isso precisam ente o que se exigia de um cronista naqueles ociosos
tempos. "Não escreve rei hoje minha revista, mas um romance ", advertiu
certa ocasião, para desconv ersar, passand o a outra coisa, logo em seguida.
Com esse e outros truques , que parecem hoje inocentes , um cronista do
século passado envered ava à vontade pelo mundo da fantasia com enorme
deleite para os seus leitores. As sugestões vinham de cronistas estrangei-
ros, mas principalmente de Almeida Garrett, cuja obra por ele mesmo ha-
vida como inclassificável - Viagens na minha terra - influiu de um novo
espírito o folhetim, no Brasil.
Alencar não era sempre absoluta mente melífluo. Em certas ocasiões,
o folhetinista colocav a mesmo um ramo de urtiga entre as suas flores mais
mimosas. E, justame nte por ter o Correio Mercantil cancelado um trecho
de folhetim que fazia arder a pele a um protegido do jornal, o escritor re-
agiu, desligando-se daquele órgão por meio de uma carta em que acen-
tuou: "Sempre entendi que a revista semanal de uma folha é independente
e não tem solidariedade com o pensam ento geral da redação, principal-
mente quando o escritor costuma tomar a responsabilidade de seus a1ti-
gos, assinan do-os." Esse incidente deixa percebe r às claras que, se, em
suas crônicas, Alencar dava a impress ão de só querer mostrar o lado ama-
vel da vida, na verdade , possuía um espírito público resoluto demais para
que não fizesse sentir de vez em quando a sua inconformidade com os
grimpões da sociedad e ou da política. A moralidade desse episódio é que a
crônica pode tornar-s e um poderos o agente de coITeção dos costumes.
ainda quando tenha ares de um passatempo frívolo. ..
As crônicas de Alencar tinham o título de ·' Ao correr da pena · co-
mentando com vivacidade e juventu de, como diz Artur Mota , ··.os fatos da
semana, desde um simples incidente policial até os acontecimentos da
guerra do Oriente ''. 6 - •
Machado de Assis deixou numerosa e interessant~ ?ª_gagem de .crom-
. dO do
ca, na qual se refletem acontecimentos mun e ep1sod1os da sociedade
125
, do a partir de 1859, quando se iniciou n
fluminense em largo penoônicas ou folhetins apareceram em ; gênero
em O Espelho. Essas __cr O Futuro, A Semana Ilu.1trada, ll11.11ra O _!Prfho,
, . d Riode l aneuo, . . bd·c . Çaon,.(
pseudonimos
. . oo eruze u..o, Gª"-era de Noticias, so
Diano d b
11erente~
t . . · 1-
si/eira, . . revela a mesma
o folhet1msta _ finura e o se, vaçao. . ,1 ironia Pied osa e
cética que marcam a sua visao do mundo. ta 1 como expre,\an, 0 ~ seu s ro.
nces e contos. . . - d.
ma A cronica, . ex1g1 • •a naturalmente part1c1paçao . 1reta e movimentada
, . na
v1.da mun dana, de que era um eco ou• o •e">pelho íld 1mp1 l en,.i. Qudndo Prin-
ctpIO
. . u a exerce ,
,. -la Machado de A,,1, frequenta, ,l tOl o,º" c11culo,. onde
Ih
ia CO er d(! V/Jll
· a matéri'l-pnma
' de ,ua, crnn1c.1,· a, 1cun1oc, da ,ociethe
de o teat ro, O Parla mento Seu, folhct111, n;ll) d1k11am do gcnero t.tl como
' era prat·cad·o
este I genlmente
e. • scn.io pl'l,t
• • q11:tl1d.tlk do L'~tllo e larnhem

or um certo torneio de pen ,~1me rfü) e 1dt· i:t:,; q 11c t' :d IL'_rna v:1 de ,e th con-
frades. Tam bém culti1ava ,1 11()1:t lt11c.1. mas de n1am·1ra 111,1_" d1,crela e
comedida que Jo,e de Aknc:1r. ~li1ch.1clo c-..1~1\;1 em se1_1s v1nle ano, de
idade , quando ,e deu a t'ss~1 .1rlt'. da q11:tl Jt'\t'lnu t·n11/Jt·c11ncnlo medrlado
na crônica de 1859. acima 1.·itntl.1. ~ 1ndC' ,e- pndt· 111 L'ol lle r :tlg11111:1" 1\· lle :..oe:-,
muito ex pressnas dl) que e,~1 l1 genc,l, 11t·":1 L'f)nt·,1.
Alias, naquela c1CH1i1.,1 clê umk,,i, que. "c~crcvcr l'oll1clim L' lic,11
brasileiro e na \ e, d ade difícil ... 1-t ti .1 mud~1 d:1 r, :1nce si:, :1 q 11e 11:10 n~:-ii,1 i;1
o público de entao e a qut· ,e l1nh,1m dr -,uhllll't1..:r O!-i escrilure,.
Quem deu ú mai~ imp1e,,ll1r1.t1llt t'X:t·mplo disto :ité cnl[10 foi José ele
Alencar que. cen . . uradt, n.1 imp1en~a por ahui..,,,r de fnrnet.:,i,1:-i crn \L'll"I f'o -
lhetins. rebateu de m,1nc1r,1 irónica a idéia da nacionali;ra\·:10 tia língu:i.
numa atitude inte1ramenre úpú-..ta ~ que viria assumir algum tempo depoi,.
O c riador de Br.ís Cuba,. que também enxergara ,1 cninic;, e111 ;dguns
dos seus romances. consagrou-~e ao género d urantc longos ,1 no,. cont ri-
buindo con sidera , e lme nte pam a sua evolução na literal ura bra,ileira. Su:1
obm folhetine sca re fle te discretamen te a, variações por que o géne)() 1cio
passando. de sde o Romant ismo até o Realismo, com hil'urc:,\·úei.., relo Pw·-
nasianismo e Simboli, mo. Há um pouco de tu do isso cm ,uas crúnic;,,.
7
Conforme Eugênio Gomes. as crô ni ca~ de Machado rodem \l'r cl,1-..-
sificadas em quatro grupos. ca rac te rin1dos .. pela to mtl ida de p, icológ ic"
quanto pelo estilo .. : 1 grupo - 1861 - 1867: li grupo - 1876-1878: 111 g, upo
- 1883-1889: IV grupo - 1892-1900. As do último grupo s;w a, de A
Semana. sem assinatura . e compree ndem as mais notávci,. No lot;d es-
creveu seiscentas e quatorze crónica \ .
Para a composição de ssa arte admiráve l, ainda é Eugénio Gomes
q_uem aponta os vários recursos de que se va lia o escritor: "a alus:io hi,tó-
nc~ e literária: o epíteto impre vi slo: a anedota : a ci taçâo e ru d iIa: algo que
traia a ~unos1dade e inteligência do fé xico: as formas para d o xa i, e o Iro-
cactiJho '. Esse_s os ingredientes com que destilava a s ua e ssê nc ia es piri-
tuosa, a que nao faltavam "as imitações de estilos os mais díspa re s: o e,.
126
estilo axiomático, o estilo antité tico, 0 estiJo épico O es-

mauco,
1 0 ·1 ,. '
foren se, o est1 o maço nico e tanto s outro s" diz
t
ilo dr~ 1 0 estilo '
isto ar,
tilº ep e"ni·o Gomes. · · · 1 ·
Eug
aioda otll isso, Machado atmgm a mais a ta perfeição no gênero,
uma arte
~ d e sutil, em que se reflete o homem que .
era.
~ .cas. Joaquim
t ·1
, 1o XIX ou ros escn ores assmaram crom
. da 00 secu
re quinta . . o Bocamva .,
Atn dea Macedo (182 O-1882) ; Q_umtm (1836-1912); França
1
~a~ue(lS38-1890), com os "Fol hetm s"; Araripe Júnior.
Junior , 1 " f .
Para O final do secu o, o ge?~r o so ren~ tra~sformações, além de ser 0
de ataques por parte da. tcnt1ca natur ahsta, mfensa .à estética expressa
alvo ~ . ,
tra-
folhetins, em que se m1s uravam a 1antas1a e a realidade. E o que
nos a censura, re1en " . G
~ 'd por E. ugemo ornes, de Tito Lívio de Castro aos
duz a
folhetins de Machado de Assis.
Melo
Ainda no século passado, ao lado da crônica de costumes com
artís-
Morais Filho (1844-1919) e França Júnior, assumiu o gênero um teor
linha,
tico, em que o Parnasianismo predominava sensivelmente. Nessa
lísticas,
tomou posição Raul Pompéia, que, entre as suas atividades jorna
chamou
incluía a de agilíssimo cronista. Crônica, "crônica de saudades",
correr de
ele à sua obra máxima de ficção: O Ateneu, escrito dia a dia, no
as suas
três meses, para a Gazeta de Notícias, e de crónicas se aproximam
é tão sa-
"Canções sem metro". Acusaram-no de influência francesa, mas
época.
bido que desse vírus nenhum escritor estava livre no Brasil de sua
ós e Ra-
A infiltração dava-se até por via indireta, através de Eça de Queir
Eça,
malho Ortigão, que colab oravam regularmente em jornais brasileiros.
crónica
especialmente, contagiou de seus sestros e tiques estilísticos a
, so-
brasile ira. Haja vista a obra folhetinesca de Coelho Neto ( 1864-1934)
Além
bretudo a crônica narrativa que recebeu o título de A capital federal.
desta , deixou ele vasta obra de cronista.
O certo é que, nessa altura, a crônica mostrava uma fisionomia
Bilac
diversa, contando-se entre os seus renovadores o poeta Olavo
substi-
(1865-1918), com a circunstância bastante expressiva de que foi o
ias. A
tuto de Machado de Assis na sua coluna semanal da Gazeta de Notíc
em de-
novidade que Bilac introduziu foi concentrar os seus comentários
a algu-
terminado fato, acontecimento ou idéia, o que concorreu para dar
mas de suas crônicas a feição de ensaios.
, a
Nessa direção militava igualmente Constâncio Alves ( 1862-1933)
ão
quem Carlos de Laet mimoseou com um epíteto revelador de sua vocaç
de cronista: "Macio dizedor de verdades ásperas." pelo
. Sob o influxo do parnasianismo , a crônica pecava quase s~mpre
opos-
ngor da forma, enquanto os simbolistas praticavam o inconvemente
ça-
to, condicionando os fatos a divagações de caráter subjetivo que come
vam por dar um certo entorpecimento à linguagem. ,
Nessa época, a crônica passou pelo ri sco de tornar-se flor de e~t~fa
nca.
para cujo cultivo era necessário uma iniciação mai s ou menos esote
127
_ , oh
. ou nao da esc , .simboli sta, predom inava geralme nte
~ O im
Pe-
Sob o ba,eJO
rativo estético.

J(),\0 no RIO.
, . .- ~ surgiu Paulo Barreto , popular izado pelo pseudónimo de
1-<01 ent,H.l que 1·fi · · · ·
_ n . ,uem cabe inegave lmente o qua 1 1cat1vo de m1c1ado r da
Jo:10 do '-'10 , "l e, . . .
. . .. modern- i no Brasil. Figura extrema mente represen tativa da
cronica soct,l 1 ', . ,, ,. ,. .
steta
/,(' // e' l'f]OC/lll', () e •
que afrontav a o nd1cu]o com as extrava gancias de
. . _ . ,,
um hedonista, tinha particul ar fascmaç ao pelo paradox o, com_o _d1sc1pulo
con fesso que era de Oscar Wilde. O seu melhor paradox . .o consisti u em ser
homem de ação com todas as aparênc ias de um s1mp 1es imposto r. A voca-
ção de Paulo Barreto era º. jornalis m?, e o jornalis ~o _pela reporta? e~.
Nasceu repórter , como podia ter nascido poeta ou c1ent1sta. Suas pnme1-
ras realizações, no gênero, com a reportag em sobre as religiõe s no Rio já
refletiam o dinamismo de um novo espírito jornalís tico, desenvo lvido com
as aquisições do progresso material , entre as quais produzi ram enorme fu-
ror o automóvel e a cinemat ografia. A obra desse trepidan te cronista re-
presenta a mais ousada tentativ a para elevar a crónica à categor ia de um
gênero não apenas influente, mas também domina nte. Tinha ele a impres-
são de que a crónica podia ser ""o espelho capaz de guardar imagens para
o historiador futuro". Opinião, seja dito, até certo ponto paradox al, por-
que João do Rio narrava ou coment ava os fatos a seu modo, quase ine-
briado pela fantasia. Produzi r história social, através da crónica , foi con-
tudo a sua diuturna preocup ação, e não há dúvida de que, a esse aspecto ,
despertam seus livros um interess e nada desdenh ável, por serem um espe-

* Paulo Barreto (Rio de Janeiro, 1881-1921). Sob o pseudônim o de João do Rio, que o
popularizo u, exerceu intensa atividade na imprensa do Rio de Janeiro, publicand o reporta-
gens e artigos. Foi o iniciador da crônica mundana. Trabalhou em vários jornais, e em 1920
fundou A Pátria. Escreveu romance, teatro, e pe11enceu à Academia Brasileira de Letras.

Bíhlíogra.fia

CRÔNICAS: As religiões no Rio, 1906; A alma encantado ra das ruas. 1908; Vida
1·ert~i:i110-
sa. 1911; Cinematóg rafo. 1912; Os dias passam. 1912; Crônicas e frases de Godofredo de
Alencar. 1916; Pa/1 Mali. 1917; No tempo de Venceslau . INQUÉRITOS: O mome1110 literário .
~905. C~NT~~: ~~'~Iro dt~ noite. 1910; A mulher e os es~e/lws. s.d.; Rosário de i/11sá~ s. s.~-1

EATRO. Chu -< h1c, 1906, A bela Mme. VarRas. 1907; E"ª· 1915 . CONFERÊN CIAS:
Ps1colo1-:w
urbana. 1914; Sésamo. 1917; Adiante. 1919. Escreveu ainda livros de viagens. romances .

Consultar

Alves, Constânci o. Elogio. Di.\'Clll".\'OS acadhnico .\·. V. Broca, Brito. A ,·ida li1erária 110
Brasil. RJ, 1960; Leão. Múcio. A 11 tores ,, /i,•ros. RJ. 7 mar. 1943, n. 85; Manta, Neves. A
arre e a lll'11rose <Í<' Jotio tio Rio. RJ, 1947.

128
roscante da sociedade contemp orânea com as mud .
tho eº •d,,• ' anças sucessiva s
de hábitos, costumes e i eias que -~e operavam, em sua época.
fustigado pela pres~a de que Ja se queixavam os moradores do Rio de
Janeiro em 1908, o cr?msta procurava,, adaptar sua percepção ao ritmo do
ogresso, de que o cmema e o automovel eram duas ousadas ex _
pr . tºfi d d
Nesse afã, JUS I ican o-_se e q~e a h ~m~n~dad . . ,, pressoes.
e Ja estava cansada de pen-
sar, ach~va que o cromsta social ~ev1a imitar_ o operador cinematográfico
que , proJetand
,, o o filme
_ J do_ fundo
d R. de _sua cabme, não se lhe dá que a fit1a
seja agradavel,.. o~ nao. o~o o 10 na? teve propriamente essa frígida ati-
tude e suas crom~as, quaisqu~r que_ seJam os artifícios e futilarias, além de
conciliar esplendidamente o Jornalismo e a literatura, adaptaram-se com
extraordinária maleabilidade ao ritmo acelerado da vida contemporânea.
Isso import~va uma revolução, mas não obstante, em outros domínios,
gênero contmuo_u a ser explora~o pela maneira habitual ainda por longo0
tempo. O be_letnsmo! de que Joao do Rio não pudera escapar, jamais dei-
xaria a ~rôm~a ~' a Julgar por si:a permanência ainda em nossos tempos,
parece mexttrpavel. As suas cronicas comentam de preferência tipos e
ambientes da alta roda, que se exibe pelo inverno no Teatro Municipal e
vai à serra em Petrópolis, pelo verão. Esnobe ele mesmo, procurando pelo
escândalo das atitudes encontra r o lugar que pretendia na sociedade, Paulo
Barreto legou-nos a caricatur a do mundo social à cuja sombra quis aco-
lher-se e o retrato verídico do próprio autor, talento frívolo e ambicioso.
Outros escritore s tiveram atuação destacada no cenário da crônica.
João Luso (1875-1950), pseudônimo usado por Armando Erse, assinou
por dilatado espaço de tempo o folhetim do Jornal do Commercio, do Rio
de Janeiro. Desprovido de estilo original, suas crônicas não têm porém in-
sipidez e espelham , ao longo de muitos anos, a fase das pessoas e dos
acontecimentos de que se ocupou. Ares da cidade (Rio de Janeiro, 1935) é
um de seus livros onde se enfeixam crônicas de jornal. José do Patrocínio,
filho (1885-1929); talento carregado de ressentimentos, exprimiu-se em
termo de uma· fantasia desatada , de uma emoção carnal e triste ou de uma
violência quase feérica. O homem que passa e Mundo, diabo & carne,
cuja leitura ainda provoca prazer, revelam todavia o homem falhado que
foi, possuído de clara tendênci a mitomaníaca. Humberto de Campos
(1886-1934) desfrutou de largo favor público_ e a~cançou -~ a~ge da pop~l~-
ridade no período da enfermidade que termmar!a por ~itima-lo. As cro~1-
cas que escreveu (sem contar as páginas fescemnas assmadas Conselhe1~0
XX) preferiram os temas sentimentais e dolorosos encontrados em Os pa-
rias,' Sombras que sofrem, Destinos e outros livro_s. ?~eStes ~arbosa
(1895-1966) firma e desgasta , rapidamente, um nome lite~ano ba~eJado por
anos de curta mas intensa notoriedade. Seu estilo telegrafico, feito de pe-
, , .
nodos curtos ehpttcos nervosos, aparece nas crônicas de Patod preto,.
Ban-ban-ban ~ Na prisdo como algo sedutor na fase d~ co_mb~te . odmovi-
mento modernista, capaz inclusive . de, como sucedeu mspirar 1m11a ores.
,
129
Apos a rev o luç a- 0 de Joã o do Rio.
foi pre ciso que vie sse a Sem ana de
M
Arte Mo der na, em l9?- 2 ' par a que ' ma ugu ran do o o d erm·smo , pud ess e a
,. . , 1· . - .
croruca a dqm· nr · +-eição cor res pon den te as
i1 so 1c1taçoes e ao ntm o do mo-
., " d .
mento. N ess e m eio term o , por em ,., o gen ero pro uzm um
- .
a flor aça o mte-
., · . .
ressant1ss1ma, esp ecia , lme nte atra ves. de. alg um as rev ista s ilus trad as, como
Alv aro Mo . fi
a Fon-Fon, Ond e reir a pnn c1p iou a des iar a enc ant ado ra melo-
dia de sua s crô nic as. ,
Álv aro Mo reir a (18 88- 196 4r tem n , .
O circ o (1929) e em O Bra sil
tinu.a (1933) doi s livr os car act erís tico s
con de seu me lho r per íod o como
cro nist a, qua ndo ext erio riza va as imp -
ress ~e~ _rece bºd i ~s d o mu ~.d o cot i·d·1a-
no. Sua arte , che ia de imp rev isto e
sen sibi lida de, nao raro hnc a, _nuncr
des mer ece a qua lida de lite rári a. A infl
uên cia que exe rce u com o cro mst a se
fará sen tir esp ecia lme nte nos jov ens da
ger açã o mo der nis ta da prim eira e
da seg und a fase s, cul min and o em Rub
em Bra ga. .
Com o suc ede u com out ras esc ola s lite
rári as, do Rom ant ism o ao Par-
nas ian ism o, qua se tod os os ade pto s do
Mo der nis mo exe rcia m a crô nic a,
em bor a só alg uns tive sse m rev elad o mai
or inte res se pel o gên ero .
Se qui serm os, por ém , esc olh er aqu ele
que , em seu tem po, tev e papel
sem elh ant e a Joã o do Rio, com o ren
ova dor do gén ero , ser á nec ess aria -
men te par a Ant óni o de Alc ânt ara Ma cha
do (1901-1935) que hav ere mo s de
nos vol tar. O esc rito r pau list a, tão ced
o arre bat ado à vid a, intr odu ziu um
esti lo ant iaca dém ico na cró nic a que pós
em alar me os seto res do alex an-
drin ism o nac ion al. Sua s cró nic as ent re
1926 e 1935 - os fren étic os solo s
de cav aqu inh o e sax ofo ne - seg und o
o pito resc o e exp res siv o títu lo que
lhes deu (Ca vaq uin ho e sax ofo ne, 194
1), des feri ram enf im terr íve l golpe
contra cer to tipo de lite ratu ra mo dor ren
ta e afe tad a que teim ava em so-
bre vi ver . Ain da não se tinh a apa gad o o
rast ro lírico dei xad o por Hu mb erto
de Campo s, que con seg uiu aba lar o país
, atra ind o um a ate nçã o gen eral i-
zad a e com ovida par a as suas atri bul açõ
es, prin cip alm ent e por efe ito do
condi~ ent o sen tim ent al de sua s der rad
e!ra s cró nic as. É clar o que ess e gê-
~ero nao de s~parec ~u nem des~pa rec era;
pod e-se mes mo acr esc ent ar que
e o que adq mre mai or popula nda de em
qua lqu er épo ca. Ma s com o que r
que sej a , os solo s bárbaro s de Alc ánt ara
Ma c had o der am urr: insó lito to-
que de alar me e novo gên ero de crónica
surgiu , com a forç a, des emb a-
_raç o e a mobilidade de um cor po adole 0
sce nte . Isso não sign ifica diz er que
a crô nic a tive sse pas sado a ado tar inst
ant ane ame nte det erm in,a da fórm u la
º.° ~adrão ; a sua re~?vaçã_o era um problem a do esp írito . E ó esp írito bra -
sileiro nes sa altu ra Ja palp itav a por algo
nov o que justifi cav a O des enc ade-
ame nto de uma revolu~ão nas letras. E
a cró nic a reflete ess a rev olu ção .
Alc ânt ara Ma cha do deixou a mar ca de
uma voc açã o lite rári a muito hu -
man a em livros com o Brá s , B exig a e
Bar ra Fun da (1927) e L ara nja da

* Ver nota biobibliográfica e estu do crítico no cap.


45.

130
lf'R). nos quai~ criou "uma literatura meio <l'· . , ,, , •
. o ll - 1 1
(ir'" J, un1gr;\çao ~m ,Sao 1>a ulo A ~cmcl han, .. 1 e .Ic1t cta t1p1c·a d·a t·ase
,t".\tllll •. , , • "' x1scnte,em·I ,
d,1 ~ , ,,ênen)S d1k11.:ntc~ l:Omo sao O conto e a e.• . . ª guns ca-
cnlll r , l omca ass,n· I· <l·
-.l'~·tU!,!lll ~ \ lbttW hnJa/ Sampa10, confírnn '-C n·
1 •

~
. ' ª ª a pelo
'1
d ()JC!SCnç· J't 1 , ·
l'l" . k •\lcúnta1a Machado . Seus conto\ _ , s . · d. crana de
\ntl''tlll' l . . d . sim O) c.p11s bat I1 .
s H' anll'S de tudo cro111ca~ impressionistas . , .ar o
1\l{lH '. • • . ' VI Va/,C\ nas q ,
• -~ ~1 irun~ntos da tahula,·ao ' uai~ ~e
.. ) [\ l' l\l l ,.., e- ' Y •
\ \'l~l . d t'.
\ · ()utn.1s rromstas a 1ase contemporânea são: Beril N
. • o eve\ (l90IJ que
1.'l,n t l
ni l..'l,m •pub ltco entusiasta na sua _
primeira fase de eron1)· t a da qual é
,\il \l •
l'
,,tl.._l ll\ rn A, costela .
de .Adao,
.
quando assumia P
. ropoJ' hl agueur
.·\ntç
l il •
dl1s velhos motivos femmmos. O cronista leve , cti·vert·d .
. 1 o e ma 11-
~ll'S'-' mudou-se depo~s para assuntos sérios. Osório Borba (1900- l 9 0) em
6
\lt'iltilho<~S e med~1/~11nhas e A c?':1-édia literária revela, com seus don's de
o\:lst:>n açao e mahcia, a c_ombativ1dade característica de todos os seus es-
,ritos. Quando essas qualidades se combinam em maior grau _ disso cons-
tituem exemplo muitas páginas de A comédia literária (1937) e de Sombras
fl() wnel (1946), escritas as últimas no período do Estado Novo -, a viru-

lência de linguagem produz efeito de panfleto. Genolino Amado (1902) tem


nos simples os personagens que recolhe a sua pena para freqüentemente
contracenar com os poderosos e os cabotinos, as bas-bleus e os burgue-
sões. Cronista inimitável da vida carioca, seus quadros surpreendem a tre-
pidação, a ternura, a frustração e o sofrimento nos mil aspectos da cidade
tumultuosa. Aqui com um otimismo saudável, adiante com indulgente do-
çura ou fina malícia, faz o cronista, dia a dia, em páginas como as do Ino-
centes do Leb/on (1 945) ou O pássaro ferido (1946), a fotomontagem que
resume uma sociedade e uma época. Benjamin Costallat (1897-1961), cro-
nista no Jornal do Brasil e m largo número de anos, diariamente pinçou nos
f<lits-di\'ers o objeto de seu comentário leve, agradável, feito em linguagem
desataviada e correta. Atingindo o perfeito domínio de sua técnica, chegou
a produzir crónicas entre as mais festejadas em nosso meio. Sempre reser-
vou Costallat para a mulher e as desditas do amor a melhor ternura de sua
pena. Henrique Pongetti (1898), colaborando diariamente em,~ Glo_bo.
manejou com elegância o comentário ao fato do dia. Sua prosa ag1l, ferma,
pontilhada de trouvailles não faz maiores concessões ao chamado gosto
popular. Leva O endereço certo de um público intelectualizado._ . .
Não se pode esquecer os nomes d~ Gilberto Amado, Ag~_ip~no Gr~e-
co, Vivaldo Coaracy , como figuras não ligadas ou mesmo anter imes ao m-
flu xo mo d ermsta. · . , d .. ão ou esco-
Embora seja temerário estabelecer-se um vinculo e gei açc . ,-
, , . d t0 1. a atmosfera de I enovaçao
la, entre cronistas, não ha duvida e que ~ . ob novos e mui-
, l . to desse gene10 s -
pos- 1930 que favoreceu o desenvo vime,n . A d . d Peregrino Junior,
tiplos aspectos, com Ribeiro Couto , Mano de O 1 ªR eb.elo Carlos Drum-
. . d ·
Gu1lhenhe de Almeida, Manuel Ban eira , Marques e · ' -
' Bra a Odilo Costa Filho,
mond de Andrade, Aníbal Machado , Rubem g ·
131
. M· . 11 ,:-ics J r. J,uís Mar1ins, Pedro Danta~, (.1uilhcrmc p• •
R·11mumlo ,1g,1 ' . , . . ; d u . 1gue,.
' S .. • Millict Joel S1lvc1ra, Joc.;c Lrns o "'ego, Bnt<J Broca. .fh,, L.
rcdo, .c1g10 . ' , . , , ., ,. .·, • d· . r·r . ... , . ' '-1,,\,,JJCJ
de Q uc1roz, 1-.·r, 1'",, 1ch' , Hs1c

J: .Lcssa, Luc1a . , Bene ett1, vec11Ia Mt1rtJt,
. >, JJJe-
1c na ,s1.1 vc•1·1.•,1, I)in·,h
' •Stlvc1ra de ()uc1ro~, Adehon MagaJhac<; , rJU<t• ,,, a vo
Corçao. .
Entre as gcrac;oc!-> mais recente~ Jogo ocorrem O\ nome', de Fer
nando Sabino, Ledo Ivo, Paulo Mcnde~ Campo), Jo)é Condé , Almeidâ
Fischer, Saldanha Coelho, António Olinto, Jo<.,é Carlos Oliveira, António
Maria, Sérgio Porto, Carlos Eduardo Novaes, Oto Lara Resende, Affonso
Romano de Sant 'Anna.
Está visto que o número de cronista~ designados representa simples
amostra de uma brilhantíssima constelação de valores literários através do
jornalismo nacional. Aliás, se existe problema embaraçoso é de querer-se
estar em dia com todos os cronistas, notadamente com os que assinam
crônicas diárias, dada a superabundância de publicações periódicas no
país. Só um vespertino do Rio de Janeiro chegou a manter cerca de vinte
espécies de crônica em cada edição! Acresce que o gênero é por sua natu-
reza eminentemente individual. Sobretudo nestes últimos tempos, em que
também prolifera a crônica falada, transmitida pelo rádio e pela televisão,
o problema tomou-se ainda mais complexo, embora os cronistas em geral,
refinados ou não, estejam adstritos a um mesmo objetivo, que é o de fixar
o momento que passa com as suas desencontradas emoções, recolhendo
dessas emoções o que possa interessar, empolgar, comover a determinado
grupo da comunidade .

RUBEM BRAGA*

De todas as figuras de cronistas contemporâneos aquela que mais


atrai a admiração é Rubem Braga, o escritor que entra para a história lite-
rária exclusivamente como cronista. Sua técnica é dar pouco apreço aos
fatos do mundo real e muita vez os escolhe como simples pretexto para a

. * Rube m Braga (~a~h?eiro do_ Itape miri ?1 , ES, 19 13), fez os estudos primários em sua
cidade natal e o curso Jund1co no Ri o de Janeiro e Belo Horizonte ( J932). Cedo dedicou-se ao
jornalismo , como croni sta e re pórter. Trabalhou como jornalista em vários estados. Funda-
dor de Diretrizes (revi sta). Viajou largamente pelo país e estra nge iro, como repórter. inclu-
sive tendo feito a cobe rtura da guerra como corres pondente junto à FE B.

Bibliografia

CRÔNICAS: O conde e o passarinho. Jos~ Olympio , 1936; O morro do isolamento. Brasi-


liense , 1944; Um pé de milho . Jo~é Olym~10 , 1948: .°. h01~1e1:'. ro uco. José Olympio, 1949 ;
Cinqüenta crônica s es('(}l/1ídas. Josc Olymp10, 1~5 1: 7rt's !'m111111 ·os. Serviço de Doc umenta-
ção do MEC, 1954; A borboleta amarela . Jose Olymp10, 1955; A cidllde e
O roça. José

132
al. É segur amen te o mais subjetivo dos crom.stas b ·1 .
,, o pes So ras1 ei-
dí"agaça . lírico. Muita s de suas crôni cas são poema
ros- E O o;:1!riginalidade de uma imaginação poética :i;::;i :sa. ! Apre-
' _Rubem
seota.0d0 eu lirismo, escre ve sem ornat os e alcan ça às
13raga·1~n\;a numa língua despo jada, melodiosa ' direta . vezes a simplici-
dade e ass ,

C oroo classificar os croni stas brasil eiros? Levando-s e em consi.dera


6· · d . -
_ seus diferentes tipos , po emos estab elece r as segum· tes ca1ego nas•
. . ,
Çao
os .
) a crônic a narrativa, CUJO eixo e uma estóri a ou epi·so'd·10, o que a·
a
~,ma do conto , sobre tudo entre os conte mpor âneos quando O cont o se
apro ~ d d" . .
dissolveu pe:d~n ? as tra idc10na1~ carac teríst icas do começo, meio e
fim.
0
exemplo tip1co e Ferna n o Sabm o.
b) a crônica metaf isica, const ituída de reflexões de cunho
mais ou
ho-
menos filosófico ou medi taçõe s sobre os acontecimentos ou sobre os
de
mens. É o caso de Mach ado de Assis e Carlos Drummond de Andra '
·- ou dis-
que encontram semp re ocasi ao e prete xto nos fatos para dissertar
cretear filosoficamente.
e) a crónica poem a-em -pros a, de conteúdo lírico, mero extrav
asa-
epi-
mento da alma do artist a ante o espetáculo da vida, das paisagens ou
ra
sódios para ele carre gados de significado. É o caso de Álvaro Morei '
Rubem Braga, Manuel Band eira, Ledo Ivo, Eneida, Rachel de Queiroz.
d) a crónica-comentário dos acontecimentos, que tem, no dizer de
Eugênio Gomes, ··o aspec to de um bazar asiático", acumulando muita
-
coisa diferente ou díspar. Muitas crônicas de Machado e Alencar perten
cem a esse tipo.
e) a crónica-informação, mais próxima do sentido etimológico
, é a
que divulga fatos, tecen do sobre eles comentários ligeiros. Aproxima-se
do tipo anterior, porém é menos pessoal.
Evidentemente ' essa tentat iva de classificação não implica o .reconhe-
re:
cimento de uma separ ação estan que entre os vários tipos, os quais, na
. Ha
alidade, se encon tram freqüentemente fundindo tra~o~ de uns e outros
mesmo, entre os croni stas, os ecléticos, que se dehciam a b?rbo let~ar ei:n
nd
torno de diversos assun tos ou temas ou motivos, não se de!xª. º Jamai
s
nature za
prender a nenhum deles permanentemente. É mesI?o da propna
d
da crônica a flexibilidade, a mobilidade, a irregulari ªde.
. , . 1958· Ai de ti Copacabana. Ed. do
Olympto d,' . ' Pari; Pierre Seghers, Edi-
Olymp10, 1957; Cem crônic as escolhi das. Jose 11deurs. a Sabiá 1969; Pero Va z
de Paris et ª'
Autor, ·1960; Chroni ques de Copac abana, 1967· Caderno e guerr . ' . 69
teu r, 1963; A traição das elegan tes. Sab',
ta, '_ d d Rubem Braga. Sabiá, 19 ;
de Caminha. Carta a el Rey Dom Manue l.. Versao ~o 1 e;,;;~ Deuzentas crónicas escolhidas .
Abel de Almeida, UFES,
Os trovões de antiga mente. Lisboa , Livros do Bras_ ' C -'i· . f t
Record, 1980; Crônicas do Espírito Santo. F ~ndaçao ec1 tan 0
. 1 do cotidiano (Literatura m an o-
BroRª· São Paulo, Glo-
~984; Recado de primav era. Record , 1984; Coisas stm'/o:sde Rubem "ª
s_ con 1980 REl'ORTAGEM: Com a FEB
JUVenil ). Ed Nacion al 1984 CONTO S: Os• &melhore
Ed Ptrata, ·
· , · 11
bai, 1985. PoESIA: Livro de versos. Rec e, ·
Itália. Ed. 1.élio Valver de, 1945. 133
7. Em relação à crônica, há alguns problemas que merecem esclare-
cimento. ,. • - ·
a) Crónica e reportagem. A cromca que nao seJa meramente noticio-
., reportagem disfarçada ou antes uma reportagem s ubjetiva e ~
sa, e uma ., . . as
esmo lírica, na qual o fato e visto .,por um pn sma tran sfigurado r.
vezes m ., 1
Em conseqüência, 0 fato que e para o ~eport~r em gera ~~ fim , para 0
cronista é um pretexto. Pretexto para d1vagaçoes , comentanos , reflexõe s
do pequeno filósofo que nele exista.
b) Crônica e linguagem. A crônica deve empregar de preferência a
linguagem da atualidade, não evitando de maneira sistemática os idioma-
tismos, epítetos circunstanciais e certos jogos de palavras que se formam
eventualmente para desaparecer algum tempo depois. Sem e ssa prática, a
crônica deixaria de refletir o espírito da época, uma vez que a língua cor-
rente constitui a mais viva expressão da sociedade humana , no tempo. A
linguagem e, mais expressivamente a gíria social, é um tempero importan -
tíssimo na confecção de uma crónica. Lembre-se que nisto con siste em
grande parte o êxito incontestável das reportagens sociais ou mundanas de
certos cronistas em nossos dias.
A crónica brasileira, como salientou Álvaro Moreira, tem dado uma
contribuição notável à diferenciação da língua entre Portugal e Brasil ,
pois, ligada à vida cotidiana, ela tem que apelar freqüentemente para a lín-
gua falada, coloquial, adquirindo inclusive certa expressão dramática no
contato da realidade da vida diária.
. c) ~rónica e estpo. A capacidad"e de simpatia humana eis a condição
pnmord1al Pª:ª alguem exercer a cronica de modo plausível. E, por isso
mesmo , o estilo do cro~ist~ deve tender para as formas simples e, sobretu-
do , para o tom comurncat1vo,
·b·1· de conversa ' de bate-pa P O . p or esse mo do
.,
h avera sempre. poss1 . 1 idade de um diálogo mais ou menos permanente en -
tre_ o cromsta _ e o leitor; .em caso contrário , O s seus comentanos ., · e refle -
xoes correrao sempre o nsco de perder- se no ar.
d) Crônica e literatura. A crônica será ta t . . ., .
mais fugir às exigências do espírito de report n ° 1
~a s_ hterana quanto
sua realização formal quando consegue fu d ' agem, atmgmdo o melhor de
t
literatura e o jornalismo _ com um teor an t ~r os supo S os contrários - a
lidade do escritor refletida em seu estilo e ~ onomo _P~J_a força da persona-
~ . m suas ideia s.
e) Cromca e filosofia. O cronista que tiver fi
pública dará mais substância e unidade às suma d?s?fia particular ou
., uas cronicas
quanto poss1vel
.
deve _abster-se. de
., . para, mas
assumir tom do gmat1co - , e tanto
tar os 1e1tores que nao deseJarem partilhar de seu . ., . nao a1 ugen-
"b'l f: 1 · d J • • • s prmcip1osC · O crornsta·
ha 1 az o e1tor eg utlf msens1velmente as suas id .,. 5t
exemplo clássico de que as ve·rdades mais contundee~:s. he erton é um
das numa crônica de maneira interessante e mesmo empe~ podem se r dnuí-
paradoxo e da fantasia. Seu racionalismo místico tomav~ tante, poder do ª
s vezes as dire -

134
. , ·\k'\t1Jrias. porem a Yerdade de Chesterton e • ..
. •s nun~ · • ra mvanaYel e
\,x, irr~dutt\ d.
1n(; snW \titi.1nomin da ~rónka . A crónica impõe-se ainda q ct·
f) ~ . , . • ue 1scretamen-
• l esnirito de mdepen dencrn. E. encarad a pelo cunho do m • d'1,·1d
ie (1
t' · 1 que sempre a 1stmgm
t d' . . ua-
f stlW .
u. o pressup osto e de que O croni· ~t •
- ,
h d
P~ e maneira hvre e desemb araçada. Nao e raro O caso de nuS a •aJa sem-
. ·- • mJoma 1. o
,ronts. -t·l~ revelar_ . uma. ,. ,.opmiao. em desacordo . com a linha 0110 doxa do
mes,mo orgao. . HaJa. ,1sta .o dexempl o de Jose de Alencar. o cronista dev
d~ . , e
procunn~detende: a s~a m epen encia moral,_alem do mais pelo efeito
psicologico que essa atitude_pro~uz sobre os lertores. Por isso mesmo. al-
uns leitores. ou por que nao dizer. os leitores em geral procuram numa
g " .
folha a cromca como se p~cura_um conto, um poema ou um capítulo de
romance·. No bazar de voc1feraçoes que e o jornal moderno. com escân-
O
dalo diário de suas manchetes. a crônica de sabor literário é música de
câmara para a qual sempre haverá uma escuta dedicada. Naturalmente, a
música irá variando de acordo com as transformações do gosto de cada
época.
g) A crônica e o livro. Pode -se sustentar que a crônica não pe1ience à
literatura, e sim, ao jornalismo'? Não sera antes um gênero anfíbio que
tanto pode viver na coluna de um jornal corno na pagina de um livro? Há
quem sustente o ponto de vista de que a crônica deve permanecer na fo-
lha, para que foi escrita. E, por esse raciocmio, acredita -se que só o livro é
que pode assegurar a permanência de um determinado gênero . É certo que
o livro alarga consideravelmente o campo de divulgação, mas é enganoso
supor que o livro é que dá qualificação definitiva a qualquer escrito. E a
crônica que não haja pago excessivo tributo à frivolidade ou não seja urna
simples reportagem, estará sempre a salvo, corno obra de pensamento ou
de arte, embora não saia nunca das folhas de um periódico .

8. Assim, a partir do Romantismo, a crônica (a princípio folhetim)


foi crescendo de importância, assumindo personalidade de gênero literário ,
com características próprias e cor nacional cada vez maior. Foi esta últi-
ma, aliás , a sua mais típica feição. É dos gêneros que mais se abrasileira-
ram, no estilo, na língua, nos assuntos, na técnica, ganhando proporções
inéditas na literatura brasileira. Pelo desenvolvimento, categoria artística e
popularidade é hoje uma forma literária de requintado valor estético, um
gênero específico e autônomo, a ponto de ter levado Tristão d: Atha~de ,ª
criar o termo "cronis mo" para a sua designação geral como genero htera-
rio. É grande a importância do gênero na literat~ra brasileira, de tal modo
que se apresenta esse fato singular de um escntor como Ru~em Braga,
como foi dito acima, entrar para a história somente como cromS tª·

9. Em suma, para caracterizar a crônica, é mi~te~ ressaltar ~e u~ lado


a sua natureza literária, e do outro a natureza ensaisttca. Pelo pnmeiro tra-

135
ço, ela se distingo~ ~o jor~ali~mo, o qu_e
é i~p orta nte , por qua nt~ a crônica
, ge"nero lite ran o mais hga do ao Jorn al,
e um mas , enq uan to o Jornalisrn
(artigos, editoriais, tópicos) tem ,no fª~º. b. . .
~ seu o ~e~1~~' seJa par a informaor
divulgando-o, seja par a com enta -lo dm
gm do a opm iao, par a a crônica
fato só vale, nas vez es em que ela o util 0
iza, com o meio ou pretexto, de
que O artista retira o máximo par tido , com
as virt uos idad es ?e seu estilo,
de seu espírito (de fines se), de sua gra ça,
de sua s facu ldad es mventivas. A
crônica é na essê ncia um a form a ,de arte
ima gin ativ a, arte da palavra, a
que se liga forte dos e de lirismo. E um
gên ero alta men te pes soa l, uma re-
ação individual, íntima, ante o esp etác
ulo da vida, cois as, sere s. O cro-
nista é um solitário com âns ia de com uni
car- se. Par a isso , utiliza-se litera-
riamente des se meio vivo, insi nua nte, ágil
que é a crô nica .
Pela sua natu reza ensaística, a crô nica
aproxima-se do ensaio de tipo
inglês, familiar, informal, coloquial.
De qua lque r mod o, com o salientou Edu
ard o Por tela , o fundamental
na crô nica é a sup eraç ão de sua bas e jorn
alís tica e urb ana em busca da
tran sce ndê ncia , seja con stru ind o '"uma
vida além da not ícia ", seja enri-
quecendo a notícia " com elemento s de
tipo psicológico, met afis ico" ou
com o hum our , seja fazendo '"o subjetiv
ismo do arti sta" sob rep or-s e "à
preocupação objetiva do cro nist a''.
A integração da crónica se dá qua ndo ela
atinge a tran sce ndê ncia lite-
rária.
Ent ão ela se torn a um gênero literário autô
nom o, tal com o oco rre na
literatura brasileira, em que ela substitui
o essa y dos ingleses.

OUT ROS GÊN EROS AFIN S

_ Par tici ran d~ da natu~eza do ensaio , isto


é , de aco rdo com a concep-
ç~~ e class1ficaçao qu~ one ntam ~sta
obra, há diversos out ros gên ero s lite-
ran os que foram cultivados na literatura
bra silei ra. São gên ero s ensaísti-
cos na medida em que o contato entre o
auto r e o leito r ou ouvinte se faz
diretamente, se,m_artifício_~ i_ntermedi~ri_os.
grafia, as mem ona s, os dtanos, as max1ma São eles a ora tória, a epistolo-
s, a biografia.
10. A oratória é um gênero de grande
cultivo no Brasil, desde os
tem pos coloniais, quando, na ausência da
imprensa, era o meio mais aces-
sível de atingir o povo.
A oratória, parte da retórica, compreende
as composições pronuncia-
das de viva voz, a~ravés do discurs?, o,u exp
o~ição oral d~ uma proposição
ou racio~ínio destmad_o ~ pe:s~a~1r. ~ u~
vida social do povo, as mst1tmçoes pub genero e~tr~1ta_me?te ligado à
licas. Os prmc1pa1s tipos de dis-
cur so são: a oratória sagrada ou parenéti
ca (pregação, homilia, sermão
panegírico, oração fúnebre); a oratória
forense ou judiciária perante ~
0
136
tór ia pol ític a (pa rla me nta r, trib uní cia , comicial ' deliberati-
.. a ora ,. . , . ,.
·bunats, .
ctm sta nci a; a ora ton a aca dem ica ; a ora tór ia didática
tfl tór ia de ctr . ficas, etc.).
ora
). a con 1· , . as, fiil oso, fi1cas, cie ntí
"ª de fer ênc ias ( 1te ran
00 No Brasil, a o~atória se ~estac_ou em tod os os
ramos.
te pen odo c~l om al, foi sob ~et udo no cam po da ora tór ia sac ra
Duran O -
act ere s do est ilo bar roc o ent ao dom ina nte . Citem-se os seguin
s car . l . ad o e, 1e1 e. .
com o o est u
d
o par t1c u anz to em out ros capítulos des ta
nomes, cuj · de Sá, José Bonifácio,
tes v·1er. ra, E use' b'10 d e Mato s, A nto,. mo
obrn:ª Antôn io a du-
ra des env olv eu- se com grande vog
Mont'Alveme, etc . A ora tór ia sac
air em seguida.
rante O século XIX, ent ran do a dec
a ora tór ia par lam ent ar, de que são
Durante o Im pér io, sob res sai u-s e nas
depositários os Anais do Congress
o. De sta car am -se grandes ora dor es
Sen ado e da Câ ma ra: To rre s Ho mem , Jos é Bonifácio~ o Moço ,
tribunas do a-
de Sou sa, Sil vei ra Ma rtin s, Na buc o de Araújo, Rio Branco, Zac
Gomes dra-
de Gó is e Va sco nce los , Be rna rdo Per eir a de Vasconcelos, os An
rias Fé-
rtiniano de Alencar, Teófilo Otoni,
das, Lafaiete Rodrigues Per eir a, Ma Bar-
nteiro, Cotegipe. Mais tarde, Rui
lix da Cunha, Par anh os, Maciel Mo As-
soa , Cé sar Zama , Pedro Moacir,
bosa, Joaquim Na buc o, Ep itác io Pes bém
Moniz Sodré e muitos outros. Tam
sis Brasil, Ba rbo sa Lima, Sea bra ,
tores.
a orat.ória forense tev e gra nde s cul
tória acadêmica, sobretudo a da
Outro gênero de alto valor é a ora Ou-
istrada nos Discursos acadêmicos.
Academia Brasileir~ de Le tra s, reg
largo repositório expressivo.
tras academias tam bém oferecem
epistológrafo, epistolografia, gê-
11. A carta ou epístola (epistolar, e ín-
ade da áre a estritamente privada
nero epistolar) tra nsi ta com facilid tes
abilidades entre duas pessoas distan
tima - tro ca de informações e am
- para o plano público.
pri me iras são com o um a con ver sa íntima entre amigos, no modelo
As
das de Cícero.
ito valorizado e as correspondên-
No Brasil, o gênero não tem sido mu de
pri vad as só rar am ent e são dad as à publicidade . Citam-se as cartas
cias -
s pelo tom íntimo de um escritor sem
Machado de Assis, i~p ort ant íss ima -
alto valor literário e expressão de pen
pre cioso em esconder-se. Outra de ca de
com Godofredo Rangel em A bar
samento é a de Monteiro Lobato notá-
Gleyre. Como exp res são de vida
espiritual e doutrinação religiosa é
9~-
38) de Jackson de Figueiredo (18
vel também a Correspondência. (19 o cn-
e como expressão de pensament
l928). Do ponto de vista literário fo-
é a de Mário de Andrade, de que já
tico e estético, a mais importante Alc eu
dad as a lum e as diri gid as a Ma nuel Bandeira, a August? Meyer ,
ram
á por certo um dos ma10res documen-
Amoroso Lima e outros. E constituir . , .
totalmente publicada. .
tários literários do Brasil quando for çada a personage ns 1magm anos,
Outro tipo de car ta é aquela endere pse u-
geral, encobrindo-se autor sob
O
~ra tand o de ass unt os de inte res se
137
·lllato No Br:,~il , . o cxcrnplo
, j l . sl' li O ,.11 }() ll 1 . • mais il w~tt c
1
l lHll·111
ns lHI 111:111ll
/ . ,,,,,, do "iL'.L lt 1t
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a11torn- d1scut ida , rna ) ge rt1 ].
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l' l) d:ts < <li ' 1· ·1 Antúnio (jo111Hgé1.
1 h 'l ()lll, ;,., • .
mt·rllt' ai t 1 ,11H, , h • I· ..
k e: a t d\ c,u a, ·t· s que encerram uma comunicaça.
, o rrn in-
Outra v:u 111 iu't •1 , sse: ge I a 1 - e 1...,
l . ·,·nttfico ' histónco ou pol1tKo f: xc rn plc,
fi.,1 m.1~·.H) de t: e , J>, . V·
h ( 1rr a de e I o tl 1
de Cammha a EJ Rei D. Manuel relatando • , .
11p1lt' L' l) .l • ' ) .• . 1 A género pertencem ainda a~ carta <; Je su1t1 ça\
1 , br 1mento do b1 ,1s1 • o J8'•
t' l L'\Lll , 11·) sec u1os <l a co loni·zaça- 0 · As CarlaJ da ln!{laterra < :16J de
d," p11mc ' ~constituem
Rui Barbosa • . • •
um dos mais e 1eva dos marcos do género.

12. As menwrws · e d.wnos - t"em despertado a preferéncia do s es-


, · nao
9
critores brasileiros. _

O grande representante no passado foi ~ 'f:1_inha formaçao ( 1900) de


Joaquim Nabuco, em que se aliam a alta sens1b1hd~de do autor e seu acen -
tuado gosto das coisas brasileiras num grande preito ao passado. .
As memórias (1932-35) de Humberto de Campos ( 1886- I934 ), Juntas
ao seu Diário secreto ( 1954), constituem o testemunho de um espírito
atormentado, em que a doença e os ressentimentos não impedem uma
grande carga lírica, sobretudo nas primeiras , de brotar com grande inten-
sidade.
Álvaro Moreira é o memorialista de As amargas, não ... ( 1954) que
seduzem pelo tom lírico e amável com que encara as coisas e a vida.
Augusto Frederico Schmidt (1906-1965) escreve, em O galo branco
( 1948-1956) , páginas de memórias de grande carga emociona) e lírica, em
que também aparece o poeta-pensador sensível aos desencontros e desen-
cantos da vida. Graciliano Ramos ( 1892- 1953) redigiu Infétnc ia ( 1945) e
Memúrias do cárcere ( 1953), em que aparecem o homem complexo e o es-
critor admirável num extraordinário documento sobre a sua época e sua
experiência política. Também testemunho da rica experiência política e do
escritor de estilo refinado são as memórias de Afonso Arinos de Melo
Franco (1905): A alma do tempo (1961), Escalada (1965) e P/a a/to
11
(1968), Alto-mar mar alto (1976), em que perpassam homens e aconteci-
mentos da história contemporânea brasileira de maneira muito viva .
lado de recordações de fatos pessoais, numa conciliação muito feli?. ;,~ 11 C
los Drummond de Andrade ( 1902) inc ursiono u pelo gênero em L " 1
amendoeira (l 957 ). E uge010
,. . Gornes (1897), em O mundo da mini r· ur-1"._
eia '.' 6 ) pmtou, ~~m msmo e a graça de seu estilo, quadros da vida ·,e r-
9 9 ' 1· · W lll1a11
tancJa de sua mcnm1ce.

Uma grande, construçf10 _mcmorialística foi edificada por Gilberto


Amado.• O cnsaista, romancista e poeta fundiram-se. realizando-se à

* Gilberto Amado (Est:incia, SE, 1887 - Rio de Janeiro. 196l)) _ Juri,;ta. tfiplomara, po-
eta, romancista, mcmorialis~a. ensaísta pol_íti:º· Fc, o_s cstu~os prirnarios cm casa. c os supe-
riores em Recife, onde se diplomou cm D1rc1to, depois de ta,cr o curso de fannücia cm Sal-

138
sto afresco de suas memórias, as quais retratam cinqüenta
arav1·1ha'dno brasileira
va · atraves .
, do o lh ar agudo, percuc1ente ·
e ·mtehgente de
111
anos da vi ª onalidade. A espinha dorsal de suas memórias é O mito da
alta pers ,. · h · ''M · ·
of1l~ . e de sua permanenc1a no. _ornem. _as o menmo contmuou den-
iofancia . e é à sua presença m1htante e buliçosa no espírito do homem
tro de rnirn tribuo haver encontrado, no fato de viver, a plenitude que a
fe!to que ~ontra no brinquedo." Esta a razão da sedução que essa figura
iança en . . ,. .
cr nas gerações mais Jovens, como o prova o ex1to de suas memó-
exerceu
. Através do menmo, · em presença mi·1·1tante e bu1·1çosa, seu espírito se
oas.t ve sempre em contato com a vida. Daí a generosidade ampla e gri-
rnan e , . D ,
que encontramos em suas memonas.d a1 esse, calor de humanidade
t ·
tan edelas ressuma. Da1, o 1·msmo ·
fabu1oso e suas pagmas.
que , . ,. Daí o estuante
enso de ·humor. E a cnança no espmto do homem e o feitio de espírito de
~ilberto Amado é justamente, na sua inquietude, agilidade, dinamismo,
urna imagem viva de fidelidade aos valores da infância, mesmo em pleno
fastígio de suas qualidades maduras e adultas, como o provam essas me-
mórias. Depois de muito vagar pelo mundo volta sem que se notem as ci-
catrizes do caminho, o mais leve pessimismo. O que flui dos lábios é um
puro sopro de generosidade humana. O que ressalta, sobretudo, é a liber-
dade do espírito, o intelectual infenso a ortodoxias e não enfeudado a gru-
pos e compromissos. É o intelectual livre, da linhagem de Luciano, Mon-
taigne, Swift, a família dos inortodoxos. Além de tudo, a significação de
suas memórias ainda é mais alta se se considerar o seu estilo. É o grande
escritor, senhor de uma língua dúctil, vivaz, rica, sugestiva, seivosa, em
que se casam à maravilha a tradição e a originalidade, a índole tradicional
e o mais audacioso coloquialismo e brasileirismq, um escritor dotado ex-
traordinariamente do senso da língua e do sabor da palavra, tendo alcan-
çado o equilíbrio ideal entre o velho e o novo, o universal e o local. Nesse
escritor, encontra-se um exemplo daquele ideal de Mathew. Arnold da

vador. Professor de Direito no Rio de Janeiro, onde fez jornalismo. Deputado Federal por
Sergipe de 1915 a 1930. Entrou para a diplomacia, tendo representado o Brasil em diversas
conferências internacionais, além de ter sido embaixador em vários países. Foi membro da
Comissão Internacional da ONU (desde 1948). Membro da Academia Brasileira de Letras.
Bibliografia

ENSAIO: Grão de areia. 1919; Aparências e realidades. 1922; Densidade e tenuidade.


!928; Eleição e representação . 1932; A dança sobre o abismo. 1932; O espírito do nosso tem-
po, 1933; Dias e horas de vibração. 1933; Tobias Barreto. 1934. ROMANCE: Inocentes e cul-
pa~os. 1941; Os interesses da companhia. 19!42. MEMÓRIAS: História da minha infância, 1954;
Minha formação no Recife. 1955; Mocidade no Rio e primeira viagem à Europa, 1956; Pre-
sença na política, 1958; Depois da política. 1960.
Consultar
Homero Sena, Gilberto Amado e o Brasil 1968.

139
. l ., l"lH lhl H't1 ..·ulo 11a111r:il dos me1
itos do pc11samc11to poé tico . N • .
p 1, ~.. • _ •
fundçni a m: 1101 •
1.k11,1d,1d1. hurn,111, • • • • •
1 t:, <.~ m,us mtc• nso
• • • • • e 1d xe
did;1<.k d.i inte1pll'ta,·al.l moral e !1 ~1ag c,1'01 lrnco , a prof un.
1ca natural da poesia. O lirismo , urn
im1.·n,1.l rn) 111 1co . at I avcs~a as pag
ma~ dc<:>sas recordaçoes, cspccialrnente
'"'<.HlW lll) prn11ciro v{,t ume . no con
tato com a Nat ure za, comurncando-lh
'
st.·m du, ida sua uru dac k. aqu~la . unidad
t"ic..~n1..·1a. púr cm pela poesia, cuJa mte
e d: vida, que não se capta
rpretaçao da vida não se dirige a uma
pe~:
st> fa("u(dadc. mas ao homem todo.
No gênero do diário, impõe-se o registr
o do Diário (1960) de Roberto
Ah 101 Corrê a ( 1901-1983), repositório
interessante sobretudo por suas im-
pressões de leitura, e o Diário (1961)
de Lúcio Cardoso (1913-1968), do-
cum ent ano impressionante de uma alm
a con turb ada em luta com os pro-
blemas do ser, do destino, do homem.

13. No campo das má xim as , não é fort


e a lite ratu ra brasileira. Men-
cionem-se obrigatoriamente as Má xim
as , reflexões e pen sam ent os (1837;
edição crítica 1958) do Marquês de Ma
ricá (Mariano Jos é da Fonseca, RJ ,
1773-1848). Delas deve-se aproximar
Ref lex ões sobre a vaidade dos ho-
men s (1768) de Matias Aires Ramos
da Silva D'E ça. Modernamente o gê-
ner o foi cultivado por Aníbal Machado
(1894-1964), em Cadernos de João
(1957).
O esp írit o brasileiro, pouco propenso
à meditação filosófica, não é um
cam po fértil a ess e tipo de atividade
intelectual. No terr eno moral, o pen-
sam ent o se exe rce com tod a desenvoltu
ra atra vés do romance e do conto,
com o é o cas o de Ma cha do de Assis
e outros.
14. Biografia. Gênero mais históric
o do que literário, a biografia,
sub sidi ária da crítica e história literári
a, pode ser útil ao trabalho da inter-
pre taç ão.
Tem sido cul tiva da no Brasil desde
muito tempo. Ins pira da na idéia
do panegírico e da hagiologia, ou no
princípio nativista da formação dos
qua dro s nobiliárquicos e genealógico
s, vicejou no século XVIII no seio
das academias. O Nov o orbe seráfico
(1858) de Frei Antônio· de San ta Ma-
ria Jab oat ão (1695-1779) é o exemplo
mais ilustre das obr as oriu nda s des sa
pre ocu paç ão na épo ca da Colônia. Ain
da nes sa épo ca, foi publicado: Bi-
blioteca lusitana (1741-1759), de Diogo
Bar bos a Ma cha do, por tug ues a mas
de inte res se brasileiro.
Já em pleno século XIX, em meio ao
movimento de em anc ipa ção inte-
lec tua l, que produziu o indianismo,
com eça m a apa rec er ens aíst as que se
pre ocu pam com a apr ecia ção de obr
as e !1utore_s brasileiros e se lançam à
ten tati va de des enh ar o qua dro da evo
luçao da literatura no Brasil, em bor a
ain da sem tran sce nde r o espírito d? pan
eg~rico. São, con tud o, os primeiros
de alg um a significação._ J. M. Peretra
d~ ~tiva (1817-1894) publ_ic~u Varões
ilus tres do Brasil (Pa ns, 1858), refu
nd1çao do Plutarco Bras,!e,ro (1847),

140
, encerra a idéia de mostrar que o Brasil J.á J)O\su, 0 \. seus " va-
cuJ•o utu1o ,,

- s ilustres . , . 1· , . d ,
roe A própria hist~na iterana a e_poca era um misto de antologia e notí-
. . gráfica. Assim, a obra do Conego Fernandes Pinheiro (1825 _1876 )
. l (R.io de Janeiro, 1862), e a de So-'
·ta b10
I,; urso e/em~ntar e ·
d 1iteratur~ nacwna
e dos Reis (1800-1971), Literatura portuguesa e brasileira (São Luís do
Maranhão, 1973), 1·,vr?s.d e cun h o d"d'
rero · · ·
t att~o, amda considerando as literatu-
ras p0rtuguesa e bras1le1~a ~o~o ~ma so, obedecem_ a essa orientação.
Na linha da fonte b1ob1bhografica, as obras cuJa referência se impõe
com o Dicionário bibliográ'ico brasi-
sa- 0 .. Sacramento Blake
I ,.(1827-1903),
• 'J'
leiro (1883-1902); nocenc10, com o Dicionário bibliográfico português
(1858-192_3); J. M. Macedo, A_no bio~rá!ko brasileiro, ~876. Mais moderno
é: Fernão Neves, A Academia Brasileira de Letras. Rio de Janeiro, ABL,
1940.
No gênero da biografia propriamente literária, ou de escritores, em
que se aliam a descrição da vida e a crítica da obra, presumindo-se que o
conhecimento de uma conduza à compreensão da outra, ressalta Araripe
!Júnior, com José de Alencar (1882) e Gregório de Matos (1894). Mais re-
centêmente, o gênero floresceu e se multiplicaram os seus cultores. As-
sim: Homero Pires (1 887-1962), com Junqueira Freire (1929); José Maria
Belo (1885-1959), Artur Mota (1879-1936), Carlos Pontes (1885-1957), Elói
Pontes (1 888-1967),_ Sílvio Rabelo (1899), Múcio Leão (1898-1970), Os-
valdo Orico (1 900-198 1), Carlos Sussekind de Mendonça (1899-1970),
Hermes Lima (1 902), Lúcia Miguel Pereira (1903-1959), Luís Viana Filho
(1 908), L uís Delgado (1 906), Ivan Lins (1904), Viana Moog (1906), Edgar
1
Cavalheiro (1 911 -1958), F rancisco de Assis Barbosa (1914). º
NOTAS

-1 Ver as Preliminares desta obra.


2 Ver Afrânio Coutinho . N o tas de teoria literária. 2.ª ed. Rio de Janeiro, Civ. Brasileira,
1978.
~ Apud Cassel. Encyclopa e dia of Lite rature. Londres, Cassei & Co., 1953, 2 vo!s ..
Ainda sobre o ensaio ver: Dawson. The Great English Essays, 1932; Famngton. The
EHa v, 1924· Lima Sílvio'. Ensaio sobre a essência do ensaio, 1946; O'Leary. The Essay,
· th Essay 1946· Stewart. The Essay,
· '
1928;· Simonson '
and Coulson. Thoug h t an d rorm
v
,n e , ,
1952; Williams , O. The Essa y, 1925 . . os
172 , 2 80 •
Antologias do ensaio inglês encontram-se na coleção World's Classics, n.
406;. e ,na .Everyman's, . n. 0 653 . . , h. t · grafia portuguesa •
·b · - 0 dos cromstas a 1s ono
4 É nqu1ssima e do maior valor a •contn. mça a Crónica Geral de
,
d e,de o seculo XIII. Basta mencionar. ª ro n
c , ica Gera I e span-ade, Pina
d E
Garcia Resen-
Rui
/344. as crônicas de Fernão Lope~: Go~es Eanes e
de, João de Barros, Damião de Gots, Diogo do Couto,
:::~do
d Z
de Brito.' etc.
1947 1 1
5 Machado de Assis. Crônicas. Rio de J_aneiro , Jackso~d ' ::1~~e: Ao Correr da Pena
6 As crônicas de Alencar foram, postenor~~nte, reu:~aª~::elhoramentos, por Francisco
1
(São Paulo, 1874) e, depois, em nova e~i~ao co~pBrito Broca, in Obra completa. Rio de
de Assis Barbosa. Sobre Alencar folhetmista ver.
Janeiro, Aguilar, 1960. Vol. IV, p. 631.

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