Você está na página 1de 4

O Diário

in Abel Mota, Preparar os testes. Português 8, Areal Editores


Diário Definição O diário aproxima-se da autobiografia e do registo de memórias. É o relato de
acontecimentos da vida do autor, feito no momento em que estes ocorrem. Revela as reações
e os pensamentos do diarista quando este vive os factos que narra (quando viaja, realiza uma
determinada tarefa, conhece alguém, etc.), uma vez que a sua memória ainda está “fresca”.
No entanto, a proximidade temporal entre os factos e a narração que deles é feita impede que
se distinga o essencial do acessório. O seu estatuto é o da confidência e, por isso, a sua
finalidade, contrariamente à autobiografia e às memórias, não é ser publicado.

Características • É redigido na 1.ª pessoa. • Relata os acontecimentos e as experiências do seu


autor. • Apresenta as reflexões, pensamentos e sentimentos do seu autor sobre as
experiências vividas no passado recente. • As entradas apresentam a data e, muitas vezes, o
local da enunciação. • Entre cada entrada, há um espaço em branco. • As entradas sucedem-
se de acordo com a ordem cronológica (do calendário ou do relógio). • O seu destinatário é o
próprio autor. Verifica, no quadro seguinte, as semelhanças e as diferenças entre os diversos
géneros da literatura biográfica. Critérios Géneros Narrador introspetivo Tema: a vida de uma
pessoa Identidade entre o autor, o narrador e a personagem principal Afirmação da realidade
e da verdade dos factos narrados Biografia X X Autobiografia X X X Memórias X X Diário X X X X

Lê atentamente o texto seguinte: Fevereiro, 9 Ainda não disse que tenho um Poeta na turma. É
o Romão. Faz o possível por «parecer» Poeta, pela maneira como se senta, pelo tom de voz, e
até pelo reclamo falado que de si faz: assina o «Poeta»; acha naturalíssimo que eu lhe chame
«ó Poeta» e diz aos outros que se não devem admirar de que haja Poetas que escrevem prosa:
«Eu também sou Poeta e faço muitas redações.» Tendo-lhe dito que é preciso ser Poeta
principalmente por dentro; ele deve sabê-lo e é muito capaz de sê-lo: o que escreve traz o selo
tão nítido que o rapazinho talvez não se tenha enganado a seu respeito. Imaginação, boa
escolha de palavras e uma gramática pavorosamente à Gomes Leal; pontuação não é com ele:
a sua prosa (assinada assim: «o Poeta prosador») é parente do verso de Aragon. Pois o Romão
quis ler «Uma Corrida em Salvaterra», e eu invejei a leitura de que foi capaz. Ouvi-o com gosto,
se não com entusiasmo. E mais ainda quando, não aproveitando do trecho senão o facto de
apresentar um português valente, dos que dantes havia, improvisa um discurso tão
corretamente conduzido, tão bonito e tão rico de frases felizes, que parecia preparado. Mas
não era: o Poeta estava a falar. E o Poeta tinha o coração nas mãos (já sei porque é que ele põe
as mãos num gesto que eu a princípio não percebia). Dizia ele que «a alma portuguesa foi
sempre grande». Invencível sempre, foi antigamente, no entanto, «mais firme, mais
impetuosa». Hoje deixaríamos morrer afogado, junto de nós, quem quer que não fosse de
nossa família (pai, mãe, irmão…) porque a morte nos aterroriza; porque (como a ordem das
palavras é já de Poeta nesta frase!) «hoje o medo de morrer é grande». Sebastião da Gama,
Diário, Presença, Lisboa, 2011 (com supressões)

Pode dizer-se que este excerto se insere no género diarístico na medida em que apresenta as
características seguintes: • É um texto narrativo. • É autobiográfico (o seu autor narra na 1.ª
pessoa acontecimentos e experiências da sua própria vida). • O narrador utiliza um registo
intimista. • Os acontecimentos são relatados de acordo com a ordem cronológica. • As frases
são escritas como se fossem notas pessoais.

Você também pode gostar