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Tinha um violão a tiracolo; sua espada, apresilhada aos arreios, rebrilhava ao sol
daquela tarde de outubro de 1828 e o lenço encarnado que trazia ao pescoço
esvoaçava no ar como uma bandeira. Apeou na frente da venda do Nicolau,
amarrou o alazão no tronco dum cinamomo, entrou arrastando as esporas,
batendo na coxa direita com o rebenque, e foi logo gritando, assim com ar de
velho conhecido:
O antagonista de Rodrigo Cambará é Bento Amaral, com o qual trava uma luta
atrás do muro do cemitério, após um desentendimento em uma festa de
casamento. Nesse confronto, o filho do coronel, desonrando a batalha, utiliza
uma arma de fogo contra o capitão.
Antes de dar o tiro à traição, Amaral quase recebe a marca do capitão Rodrigo:
um “R” na testa. Surpreendido pelo disparo, no entanto, o capitão só tem a
possibilidade de talhar um “P”. Falta-lhe tempo para completar a letra “R”. A
cena final desse capítulo é a invasão do casarão da família Amaral. Nesse
episódio, morre o capitão Rodrigo Cambará, deixando órfão o filho Bolívar:
“O tiroteio começou. A princípio ralo, depois mais cerrado. O padre olhava para
seu velho relógio: uma da madrugada. Apagou a vela e ficou escutando. Havia
momentos de trégua, depois de novo recomeçavam os tiros.
O vigário sentiu como que um soco em pleno peito e uma súbita vertigem. Ficou
olhando para aquele homem que nunca vira e que agora ali estava, à luz da
madrugada, a fitá-lo como se esperasse dele, sacerdote, um milagre que fizesse
ressuscitar Rodrigo.
Livro 2: O Retrato
Rodrigo Terra Cambará decide voltar a sua terra-natal, Santa Fé, após ter ido
estudar medicina em Porto Alegre. Nesse segundo romance da trilogia
acompanha-se a decadência social de Santa Fé na passagem para o século 20
causada por interesses e jogos políticos.
Livro 3: O Arquipélago
O terceiro e último romance da trilogia “O tempo e o vento” narra a volta de
Rodrigo Cambará à Santa Fé depois de passar muitos anos no Rio de Janeiro ao
lado do então presidente Getúlio Vargas, seu amigo e aliado. Assim, o poder da
família Terra Cambará, que era somente local, adquire em “O Arquipélago” um
âmbito nacional. Após o fim do Estado Novo, Rodrigo está derrotado
politicamente e doente. Rodrigo se vê na luta de não morrer na cama, uma vez
que “Cambará macho não morre na cama”.
Sobre Érico Veríssimo
Érico Lopes Veríssimo nasceu em 17 de dezembro de 1905 na cidade de Cruz
Alta, Rio Grande do Sul. Aos 13 anos, Érico já lia autores nacionais e
internacionais. Em 1920 foi estudar em Porto Alegre e dois anos depois seus
pais se separaram. Assim, Érico foi morar com seus irmãos e mãe na casa da
avó materna.
Para ajudar nas finanças da família, ele começou a trabalhar como balconista
no armazém de seu tio, até que conseguiu uma vaga no Banco Nacional do
Comércio. Algum tempo depois, mudou-se com sua mãe e irmãos para Porto
Alegre. Lá, Érico adoeceu e perdeu seu emprego no Banco. Por conta dessas
dificuldades, a família resolve voltar para Cruz Alta, onde Érico torna-se sócio de
uma farmácia. Ao lado dessas obrigações, ele dava aulas de inglês e literatura.
Em 1931, casa-se com Mafalda Halfen Volpe, com quem teria dois filhos.
Durante essa época trabalha em outros jornais e realiza algumas traduções de
obras estrangeiras. No ano seguinte, é promovido a diretor e passa a atuar
também no Departamento Editorial da Livraria do Globo. Em 1933 publica seu
primeiro romance, “Clarissa”. Nessa época, Érico publica também alguns livros
infantis. Em 1938, publica “Olhai os lírios do campo”, um de seus maiores
sucessos literários.
Em 1941, passa três meses nos Estados Unidos. Dessa sua estadia em terras
norte-americanas, Érico tirou inspiração para escrever “Gato preto em campo de
neve”. Motivado por discordâncias políticas frente a ditadura do governo Vargas,
muda-se para os Estados Unidos em 1942, onde leciona Literatura Brasileira na
Universidade da Califórnia. Ao voltar para o Brasil, publicou A volta do gato preto
(1946). Em 1947, Érico Veríssimo começa a escrever a sua obra-prima, a trilogia
“O tempo e o vento”. Dois anos depois, publica o primeiro volume dessa obra.