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TRISTE FIM DE

POLICARPO QUARESMA
LIMA BARRETO
Afonso Henriques de Lima Barreto
 Nasceu em 13 de maio de 1881, na cidade do Rio de Janeiro. Ficou órfão de mãe aos seis
anos de idade, quando passou a ser criado somente pelo pai, um tipógrafo. No entanto,
devido à influência do padrinho rico, conseguiu estudar no Liceu Popular Niteroiense e no
Colégio Pedro II.
 Em 1897, começou a estudar engenharia, mas não concluiu o curso. Depois, em 1903,
ingressou no serviço público. Mais tarde, em 1909, publicou seu primeiro romance —
Recordações do escrivão Isaías Caminha —, que fala sobre preconceito racial. Porém, o
escritor se tornou alcoólatra, foi internado em hospício por mais de uma vez e faleceu em
1º de novembro de 1922, no Rio de Janeiro.
 Esse romance está inserido no Pré-Modernismo, período literário iniciado em 1902 e
finalizado em 1922. Os livros dessa época apresentam nacionalismo crítico, ausência de
idealização e crítica sociopolítica. De caráter realista, eles trazem uma visão antirromântica
da realidade, como comprova a trajetória do major Quaresma.
Personagens
 Policarpo Quaresma: Major Quaresma é o personagem principal da obra. Todo o livro
mostra como o nacionalismo ingênuo de Policarpo Quaresma vai ser testado na realidade
social que ele encontra.
 Adelaide: irmã do personagem principal.
 Olga: afilhada de Policarpo Quaresma.
 Armando Borges: marido de Olga, um homem típico ambicioso e corrupto. Por isso, não é
bem apreciado pela sua esposa.
 Felizardo: homem negro que trabalha como empregado no sítio comprado por Policarpo
Quaresma.
 Anastácio: empregado/agregado de Policarpo.
 General Albernaz: vizinho do personagem principal, participará da preparação de uma festa
“bem brasileira” com Policarpo Quaresma.
 Ismênia: filha do general Albernaz e noiva de Cavalcanti, morre de depressão, após o
término do relacionamento.
 Lalá, Quinota e Zizi: irmãs de Ismênia.
Personagens
 Ricardo Coração dos Outros: professor de violão de Policarpo Quaresma e se torna seu
amigo. Ele é apreciado por Quaresma por tocar músicas populares.
 Doutor Campos: presidente da Câmara e tenta corromper o personagem principal, que
nega o apelo. Assim, tornam-se inimigos.
 Vicente Coleoni: pai de Olga, é um imigrante italiano que é grato a Policarpo Quaresma
por ter-lhe emprestado dinheiro em momento de dificuldade.
 Genelício: empregado do Tesouro, é um bajulador e é cheio de artimanhas para agradar
aos chefes e subir de cargo.
 Marechal Floriano: presidente do Brasil de 1891 a 1894, sendo um dos personagens da
história.
Resumo
 O major Quaresma trabalha como subsecretário no Arsenal de Guerra. Extremamente
patriota, ele defende a grandeza de sua terra em relação a terras estrangeiras. Seu
patriotismo lhe rende o apelido de Ubirajara. O protagonista “estudou a pátria, nas suas
riquezas naturais, na sua história, na sua geografia, na sua literatura e na sua política”.
 Ricardo Coração dos Outros tenta ensinar Quaresma a tocar violão, já que o major
“estivera muito tempo a meditar qual seria a expressão poético-musical característica da
alma nacional” e “adquiriu certeza de que era a modinha acompanhada pelo violão”.
 O personagem, então, passa a estudar os costumes tupinambás. Assim, ao receber o
compadre e a filha em casa, “desandou a chorar, a berrar, a arrancar os cabelos, como se
tivesse perdido a mulher ou um filho”. As visitas ficam estupefatas, até que Quaresma lhes
explica que apertar a mão não é “nosso”.
 Policarpo, “usando do direito que lhe confere a Constituição, vem pedir que o Congresso
Nacional decrete o tupi-guarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro”.
Ademais, fica tão dedicado ao estudo do tupi que acaba escrevendo um ofício nessa
língua, o qual, ao chegar ao ministério, causa muita confusão.
Resumo
 O diretor do arsenal chama Quaresma a seu gabinete e, colérico, suspende o major. Mais
tarde, considerado louco, Policarpo é internado em um hospício, onde fica durante seis
meses. Aposentado, compra um sítio, que ele chama de Sossego. Ali, ele se entrega a uma
nova paixão nacionalista, o sonho agrícola, “não por ambição de fazer fortuna, mas por
haver nisso mais uma demonstração das excelências do Brasil”.
 O major, então, se vê em uma guerra inútil contra as saúvas. Para complicar, ele passa a
sofrer perseguição política. Por fim, decide abandonar o Sossego e voltar à capital para
apoiar o presidente Floriano Peixoto (1839–1895), durante a Revolta da Armada. Assim, o
protagonista se voluntaria para lutar ao lado do marechal, mas Coração dos Outros é
forçado a servir.
 Em uma conversa com Floriano Peixoto, o presidente chama Quaresma de visionário.
Entretanto, com o decorrer do conflito armado, o major percebe a incoerência de tudo
aquilo. Seu triste fim então se aproxima, quando ele é preso, na Ilha das cobras, por
protestar contra o tratamento dado aos prisioneiros.
 Antes de seu fim, porém, Quaresma se entrega à desilusão, percebendo que todo o seu
patriotismo o levou à infelicidade, já que “sua vida era uma decepção, uma série, melhor,
um encadeamento de decepções” e a “pátria que quisera ter era um mito; era um fantasma
criado por ele no silêncio do seu gabinete”.
Resumo
 Ricardo Coração dos Outros se empenha para conseguir evitar o triste fim de Policarpo Quaresma.
Olga também busca ajudar, ao tentar ser recebida pelo marechal Floriano Peixoto, mas só consegue
falar com um “secretário ou ajudante de ordens”, que chama Quaresma de traidor.
 ANÁLISE DA OBRA
 Publicado com o formato de folhetim, em 1911, no Jornal do Comércio, a obra se tornou livro em
1915, levando todos a conhecerem o fanático Policarpo Quaresma, um homem apaixonado pelo seu
país.
 Tempo da obra Triste fim de Policarpo Quaresma
 A narrativa se passa nos primeiros anos após a Proclamação da República, isto é, durante o governo
do marechal Floriano Peixoto, entre 1891 e 1894.
 Espaço da obra Triste fim de Policarpo Quaresma
 A ação ocorre no Rio de Janeiro. Quaresma mora em uma casa no bairro de São Cristóvão. Mais
tarde, ele fica internado no hospício da Praia das Saudades. Em seguida, vai morar no sítio do
Sossego, “a duas horas do Rio”, em Curuzu.
 Narrador da obra Triste fim de Policarpo Quaresma
 A narrativa conta com um narrador onisciente, capaz de conhecer os mais profundos sentimentos e
pensamentos dos personagens. Além disso, ele é opinativo, pois analisa os fatos e faz julgamentos a
respeito deles.
Análise
 Características da obra Triste fim de Policarpo Quaresma
 O romance, publicado em 1915, é dividido em três partes. Cada uma delas possui cinco capítulos. Além de
narrar a história do protagonista, ele também relata fatos da vida daqueles que o cercam (como
sua afilhada Olga), mostra características do subúrbio e discute questões políticas da época.
 Contexto histórico de Triste fim de Policarpo Quaresma
 Em 1889, a monarquia chegou ao fim para dar lugar ao regime republicano. A partir daí, iniciou-
se um processo de reforma dos centros urbanos das grandes cidades, com o objetivo de substituir
a arquitetura portuguesa por um espaço moderno. No Rio de Janeiro, tais reformas ficaram
conhecidas como “bota-abaixo”, tendo início em 1902.
 Em função disso, houve a extinção dos cortiços, de onde os pobres moradores se deslocaram para
espaços que, mais tarde, foram chamados de favelas. Muitos de seus habitantes eram escravos
libertos no ano de 1888 e seus descendentes. Mas a pobreza não estava restrita ao Sudeste. No
Nordeste do país, a seca contribuía para o aumento da miséria.
 Em contrapartida, o café fazia a riqueza dos fazendeiros de São Paulo, que detinham também
poder político durante o período histórico conhecido como República Velha, que durou de 1889 a
1930. Desse modo, o Brasil apresentava evidentes problemas sociais e inevitáveis conflitos
políticos.
Exercício
 Durante os primeiros anos de governo republicano, ocorreu, no Rio de Janeiro, a Revolta da Armada,
entre 1891 e 1894. Esse movimento foi promovido por integrantes da Marinha que pretendiam depor
o presidente Floriano Peixoto. Porém, eles não obtiveram apoio popular e nem do Exército, de forma
que o movimento foi duramente contido."
 Exercício
 1º) UnirG 2020 - Leia o fragmento do romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto
(1988, p. 29).
 Quase todas as tradições e canções eram estrangeiras; o próprio “Tangolomango” o era também.
Tornava-se, portanto, preciso arranjar alguma coisa própria, original, uma criação da nossa terra e dos
nossos ares. Essa ideia levou-o a estudar os costumes tupinambás; e, como uma ideia traz outra, logo
ampliou o seu propósito e eis a razão por que estava organizando um código de relações, de
cumprimentos, de cerimônias domésticas e festas, calcado nos preceitos tupis. Nesse fragmento,
compreende-se que a preocupação central do protagonista, a qual se estende por toda a narrativa, é a
de
 a) conhecer os costumes de povos estrangeiros.
 b) resgatar culturas brasileiras originais.
 c) valorizar comportamentos da vida urbana.
 d) mapear ritmos musicais de outras épocas.
Exercício
 2º) UnirG 2020 - O escritor Lima Barreto faleceu em 1922, com saúde psicofísica cronicamente debilitada. Nesse
mesmo ano ocorreu a Semana de Arte Moderna no Brasil, cujo propósito foi o resgate cultural de temas nacionais.
 Neste contexto, no romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, o autor
 a) sustenta sua narrativa com elementos autobiográficos relacionados à sua frágil saúde.
 b) planeja disseminar aspectos da formação nacional desconhecidos do grande público.
 c) demonstra conhecer os mecanismos de exclusão social e política da população negra.
 d) expressa sua visão crítica contra os métodos psiquiátricos rotineiros no começo do Século XX.
 3º) UnirG 2019/2 - Leia o fragmento do romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto (1998, p. 8):
 E era assim todos os dias, há quase trinta anos. Vivendo em casa própria e tendo outros rendimentos além do seu
ordenado, o Major Quaresma podia levar um trem de vida superior aos seus recursos burocráticos, gozando, por
parte da vizinhança, da consideração e respeito de homem abastado.
 No fragmento, perspectivado pelas ações expressas na narrativa completa, quanto à construção desse personagem,
constata-se que
 a) o protagonista representa a média comportamental de sua classe.
 b) o narrador aponta a condição pacificada da classe média brasileira.
 c) o protagonista questiona valores do ordenamento social de sua época.
 d) o narrador demonstra a consensual heterogeneidade cultural da época.
Exercício
 4º) UESB 2015 - E assim era. Quase todas as tardes havia bombardeio, do mar para as fortalezas,
e das fortalezas para o mar; e tanto os navios como os fortes saíam incólumes de tão terríveis
provas. Lá vinha uma ocasião, porém, que acertavam, então os jornais noticiavam: “Ontem, o
forte Acadêmico fez um maravilhoso disparo. Com o canhão tal, meteu uma bala no
´Guanabara`.” No dia seguinte, o mesmo jornal retificava, a pedido da bateria do cais Pharoux
que era a que tinha feito o disparo certeiro.. passavam-se dias e a coisa já estava esquecida,
quando aparecia uma carta de Niterói, reclamando as honras do tiro para a fortaleza de Santa
Cruz.
 BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Atica, 1995. p. 143.
 A obra Triste Fim é representativa do pré-modernismo no Brasil porque
 a) defende um nacionalismo crítico, voltado para as carências sociopolíticas e culturais do país.
 b) enaltece o processo de urbanização do Rio de Janeiro, a capital da república.
 c) põe no centro da narrativa o homem regional, ressaltando os valores característicos do homem
sertanejo.
 d) apresenta uma linguagem ornamental coexistente, em alguns momentos, com traços que
apontam para uma possível renovação formal.
 e) resgata o Brasil literário herdado do Romantismo.
Exrecício
 5º) UEG 2013/2 - Na repartição, os pequenos empregados, amanuenses e escreventes,
tendo notícia desse seu estudo do idioma tupiniquim, deram não se sabe por que em
chamá-lo – Ubirajara.
 BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Penguim, 2011. p. 86.
 Em função de seu extremo patriotismo, o major Quaresma decidiu aprender o tupi-guarani,
para ele a língua dos únicos brasileiros puros, os índios. O apelido de Ubirajara, dado pelos
colegas de trabalho, refere-se ao
 a) caso de um índio tupiniquim que aprendeu português com os jesuítas e foi mandado para
a corte, onde chegou a se tornar um mestre-escola.
 b) nome de um guerreiro indígena que lutou contra as tentativas de escravização de sua
tribo por parte dos portugueses, no século XVI.
 c) processo de aculturação dos nativos, no qual era comum os brancos adotarem nomes
indígenas, para melhor dominá-los.
 d) título de um romance de José de Alencar, no qual o protagonista é um índio não
corrompido frente aos valores europeus.
Exercício
 6º) UFRGS 2004 - Considere as seguintes afirmações sobre O Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima
Barreto.
 I. Na primeira parte, o autor apresenta um funcionário público exemplar, um patriota e um nacionalista obcecado.
 II. Na segunda parte, Policarpo está no campo, dedicando-se à lavoura nas terras férteis do país, mas as saúvas
põem fim ao seu projeto.
 III. Na terceira parte, em que prevalece a sátira política, Policarpo rebela-se contra a República e o militarismo,
acabando preso e condenado à morte.
 Quais estão corretas?
 A) Apenas I. B) Apenas II. C) Apenas I e III. D) Apenas II e III. E) I, II e III.
 7º) CESMAC 2017/2 - O Major Policarpo Quaresma, do romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima
Barreto (1881-1922) é um dos personagens quixotescos da literatura brasileira. Assim, dentre os traços que o
definem como quixotesco, quais você apontaria como corretos?
 1) A obsessão nacionalista.
 2) O entusiasmo do homem ingênuo.
 3) Sua defesa da língua Tupi como idioma oficial do Brasil.
 4) O fanatismo xenófobo.
 5) A confiança e a boa fé em Floriano Peixoto.
 Estão corretas:
 A) 1, 2 e 3 apenas B) 2, 3 e 4 apenas C) 3, 4 e 5 apenas D) 1, 3 e 5 apenas E) 1, 2, 3, 4 e 5
Exercício
 8º) UFSM 1999 - Sobre a temática de TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA, de Lima Barreto, é correto afirmar que
 a) aborda o nacionalismo de um modo satírico.
 b) focaliza o surgimento das festas carnavalescas.
 c) propõe o ensino da escrita para os índios.
 d) destaca ritos religiosos da quaresma.
 e) critica Dom Pedro e a Independência
 9º) ENEM PPL 2009 - Quaresma despiu–se, lavou–se, enfiou a roupa de casa, veio para a biblioteca, sentou–se a uma cadeira
de balanço, descansando. Estava num aposento vasto, e todo ele era forrado de estantes de ferro. Havia perto de dez, com
quatro prateleiras, fora as pequenas com os livros de maior tomo. Quem examinasse vagarosamente aquela grande coleção de
livros havia de espantar–se ao perceber o espírito que presidia a sua reunião. Na ficção, havia unicamente autores nacionais ou
tidos como tais: o Bento Teixeira, da Prosopopéia; o Gregório de Matos, o Basílio da Gama, o Santa Rita Durão, o José de
Alencar (todo), o Macedo, o Gonçalves Dias (todo), além de muitos outros.
 No texto, o uso do artigo definido anteposto aos nomes próprios dos escritores brasileiros
 a) demonstra a familiaridade e o conhecimento que o personagem tem dos autores nacionais e de suas obras.
 b) consiste em um regionalismo que tem a função de caracterizar a fala pitoresca do personagem principal.
 c) é uma marca da linguagem culta cuja função é enfatizar o gosto do personagem pela literatura brasileira.
 d) constitui um recurso estilístico do narrador para mostrar que o personagem vem de uma classe social inferior.
 e) indica o tom depreciativo com o qual o narrador se refere aos autores nacionais, reforçado pela expressão “tidos como tais”.

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