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Triste Fim de Policarpo Quaresma:

análise, contexto histórico e mais

Daniela Diana
 
Professora licenciada em Letras

O Triste fim de Policarpo Quaresma é uma obra do escritor pré-modernista Lima


Barreto (1881-1922). Trata-se de um dos maiores clássicos da literatura
brasileira do período.

Dividida em três partes, ela foi publicada em 1911 nos folhetins do Jornal do
Commercio. A obra integral foi publicada em livro em 1915.

Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) teve a maioria de suas obras publicadas
após a sua morte
Personagens da obra Triste fim de Policarpo
Quaresma
 Policarpo Quaresma: funcionário público e protagonista da obra. É um exímio
patriota, erudito e apaixonado por livros.
 Ricardo Coração dos Outros: professor de violão de Quaresma.
 Olga: afilhada de Policarpo.
 Vicente Coleoni: pai de Olga.
 Amando Borges: marido de Olga.
 Adelaide: irmã de Quaresma que morava com ele.
 Anastácio: caseiro de Quaresma.
 Mané Candeeiro: empregado do sítio de Quaresma.
 Felizardo: empregado do sítio de Quaresma.
 Sinhá Chica: esposa de Felizardo.
 Tenente Antonino Dutra: escrivão e funcionário da prefeitura de Curuzu.
 Doutor Campos: presidente da Câmara de Curuzu.
 General Albernaz: vizinho de Quaresma.
 Dona Maricota: esposa do general Albernaz.
 Lulu: aluno do Colégio Militar e filho do general.
 Ismênia: filha mais velha do general Albernaz e de Dona Maricota. Também é
noiva de Cavalcanti.
 Cavalcanti: estudante de odontologia e noivo de Ismênia.
 Quinota: filha do general Albernaz e de Dona Maricota. É esposa de Genelício.
 Genelício: escriturário do Ministério da Fazenda e noivo de Quinota.
 Zizi: filha do general Albernaz e de Dona Maricota
 Lalá: noiva do tenente Fontes, filha do general Albernaz e de Dona Maricota.
 Tenente Fontes: artilheiro e noivo de Lalá.
 Vivi: filha do general Albernaz e de Dona Maricota.
 Contra-almirante Caldas: amigo do general Albernaz.
 Doutor Florêncio: engenheiro e amigo do general Albernaz.
 Senhor Bastos: contador e amigo do general Albernaz.
 Capitão de bombeiros Segismundo: amigo do general Albernaz.
 Marechal Floriano: governante do país. Foi presidente do Brasil de 1891 a
1894.

Veja também: Pré-Modernismo
Resumo da obra Triste fim de Policarpo Quaresma
O romance fala de Policarpo Quaresma, um funcionário público que pretende
valorizar a cultura do país.

A história inicia em fins do século XIX, e tem como espaço a cidade do Rio de
Janeiro, onde Quaresma é o subsecretário do ministro de guerra.

Uma de suas ações é propor ao ministro o reconhecimento da língua tupi como


língua nacional. Policarpo tem uma postura nacionalista forte e, segundo ele, os
índios são os verdadeiros brasileiros.

Após esse evento, Quaresma é tido como louco e permanece um tempo


internado. Durante esse período, Olga, o compadre de Quaresma e o professor
de violão, Ricardo Coração dos Outros, que acreditam em suas ideias, são os
únicos a visitá-lo.

Após sair do hospital psiquiátrico, ele resolve se afastar da sociedade e passa a


viver em um sítio. O local, situado na cidade interiorana de Curuzu, ficou
conhecido como “Sítio do Sossego”.

Ainda que sua proposta inicial estivesse associada ao cultivo e à dedicação à


agricultura, com o tempo Quaresma começa a se aproximar de algumas
pessoas.

A partir daí, ele se envolve com diversos políticos locais. Durante a Revolta da
Armada, vai ao Rio de Janeiro com o intuito de apoiar o governo do Marechal
Floriano, que estava sendo enfrentado pela marinha do país. No entanto, acaba
sendo preso.

Desiludido com a falta de patriotismo do povo, Quaresma encontra na figura do


presidente um totalitário e cruel ditador.

Acusado de traição pelo Marechal Floriano, além de preso é condenado ao


fuzilamento.

Confira a obra na íntegra, fazendo o download do PDF aqui: Triste fim de


Policarpo Quaresma.

Análise da obra Triste fim de Policarpo Quaresma


Inserida nos primeiros anos da república no país, a obra faz uma análise da
sociedade brasileira da época. A maior crítica recai sobre o universo da política.

Em um tom profético, Barreto aborda questões como as injustiças sociais, o


clientelismo, a burocracia e os interesses pessoais e políticos, dentre outros.

Por meio do nacionalismo exacerbado e da postura ingênua e idealista do


protagonista, o escritor traz à tona questões de denúncia social.

Em algumas passagens, é possível identificar o tom irônico e cômico utilizado


como recurso estilístico. Floriano Peixoto é um personagem real da história do
país, sendo uma figura que oferece maior veracidade aos fatos apresentados.

Além disso, algumas guerras, que de fato aconteceram, também são


mencionadas. Podem ser citadas como exemplo: a Revolta da Armada,
a Guerra do Paraguai e a Revolução Federalista.

Veja também: O que é Nacionalismo?


Contexto histórico da obra Triste fim de Policarpo
Quaresma
O contexto histórico de uma obra indica, através de circunstâncias ou fatos, a
época em que a história acontece.

Essa indicação pode ocorrer por meio de um cenário político, social, cultural
e/ou econômico.

O Triste fim de Policarpo Quaresma conta uma história que teve lugar durante o
governo de Marechal Floriano Peixoto (conhecido como Marechal de Ferro por
conta de seu rigor), que ocorreu entre 1891 e 1894.

O autor faz referências, por exemplo, à Revolta da Armada, rebelião organizada


pela Marinha brasileira para fazer oposição aos dois primeiros governos
republicanos do Brasil, que cada vez mais apresentavam características da
ditadura: primeiramente o governo de Marechal Deodoro da Fonseca e, em
seguida, o governo do Marechal Floriano Peixoto.

Além de o contexto histórico de Triste fim de Policarpo Quaresma ter como base


o governo ditatorial de Floriano Peixoto, o autor também fez críticas sociais a
algumas questões da sociedade dessa época, como, por exemplo, a troca de
favores políticos, as injustiças sociais e a burocracia.

Estilo literário da obra Triste fim de Policarpo


Quaresma
O Triste fim de Policarpo Quaresma é um romance pré-modernista.

Dentre as características pré-modernistas presentes na obra, destacam-se as


seguintes:

 Nacionalismo e regionalismo.
 Denúncia social.
 Temas históricos e cotidianos.
 Linguagem coloquial.

É importante referir que, para muitos estudiosos, o Pré-modernismo não é


considerado uma escola literária por possuir várias produções artísticas e
literárias diferentes.

Veja também: Características do Pré-Modernismo


Trechos da obra Triste fim de Policarpo Quaresma
Para compreender melhor a linguagem de Lima Barreto, confira abaixo alguns
trechos das três partes do enredo da obra.

Primeira parte - A lição de violão

“Como de hábito, Policarpo Quaresma, mais conhecido por Major Quaresma,


bateu em casa às quatro e quinze da tarde. Havia mais de vinte anos que isso
acontecia. Saindo do Arsenal de Guerra, onde era subsecretário, bongava pelas
confeitarias algumas frutas, comprava um queijo, às vezes, e sempre o pão da
padaria francesa.

Não gastava nesses passos nem mesmo uma hora, de forma que, às três e
quarenta, por aí assim, tomava o bonde, sem erro de um minuto, ia pisar a soleira
da porta de sua casa, numa rua afastada de São Januário, bem exatamente às
quatro e quinze, como se fosse a aparição de um astro, um eclipse, enfim um
fenômeno matematicamente determinado, previsto e predito.

A vizinhança já lhe conhecia os hábitos e tanto que, na casa do Capitão Cláudio,


onde era costume jantar-se aí pelas quatro e meia, logo que o viam passar, a
dona gritava à criada: “Alice, olha que são horas; o Major Quaresma já passou.”

E era assim todos os dias, há quase trinta anos. Vivendo em casa própria e tendo
outros rendimentos além do seu ordenado, o Major Quaresma podia levar um
trem de vida superior aos seus recursos burocráticos, gozando, por parte da
vizinhança, da consideração e respeito de homem abastado.”

Segunda parte - No “Sossego”

“Não era feio o lugar, mas não era belo. Tinha, entretanto, o aspecto tranqüilo e
satisfeito de quem se julga bem com a sua sorte.

A casa erguia-se sobre um socalco, uma espécie de degrau, formando a subida


para a maior altura de uma pequena colina que lhe corria nos fundos. Em frente,
por entre os bambus da cerca, olhava uma planície a morrer nas montanhas que
se viam ao longe; um regato de águas paradas e sujas cortava-a paralelamente à
testada da casa; mais adiante, o trem passava vincando a planície com a fita
clara de sua linha capinada; um carreiro, com casas, de um e de outro lado, saía
da esquerda e ia ter à estação, atravessando o regato e serpeando pelo plaino. A
habitação de Quaresma tinha assim um amplo horizonte, olhando para o levante,
a “noruega”, e era também risonha e graciosa nos seus caiados. Edificada com a
desoladora indigência arquitetônica das nossas casas de campo, possuía, porém,
vastas salas, amplos quartos, todos com janelas, e uma varanda com uma
colunata heterodoxa. Além desta principal, o sítio do “Sossego”, como se
chamava, tinha outras construções: a velha casa da farinha, que ainda tinha o
forno intacto e a roda desmontada, e uma estrebaria coberta de sapê.”

Terceira parte - Patriotas

“Havia mais de uma hora que ele estava ali, num grande salão do palácio, vendo
o marechal, mas sem lhe poder falar. Quase não se encontravam dificuldades
para se chegar à sua presença, mas falar-lhe, a cousa não era tão fácil.

O palácio tinha um ar de intimidade, de quase relaxamento, representativo e


eloqüente. Não era raro ver-se pelos divãs, em outras salas, ajudantes-de-ordens,
ordenanças, contínuos, cochilando, meio deitados e desabotoados. Tudo nele era
desleixo e moleza. Os cantos dos tetos tinham teias de aranha; dos tapetes,
quando pisados com mais força, subia uma poeira de rua mal varrida. Quaresma
não pudera vir logo, como anunciara no telegrama. Fora preciso pôr em ordem os
seus negócios, arranjar quem fizesse companhia à irmã. Fizera Dona Adelaide mil
objeções à sua partida; mostrara-lhe os riscos da luta, da guerra, incompatíveis
com a sua idade e superiores à sua força; ele, porém, não se deixara abater, fizera
pé firme, pois sentia, indispensável, necessário que toda a sua vontade, que toda a
sua inteligência, que tudo o que ele tinha de vida e atividade fosse posto à
disposição do governo, para então!... oh!”

Veja também: Lima Barreto


Filme baseado na obra Triste fim de Policarpo
Quaresma
O clássico da literatura ganhou uma versão cinematográfica em 1998. Intitulado
“Policarpo Quaresma, Herói do Brasil”, o longa-metragem é uma comédia
baseada na obra de Barreto. O roteiro foi adaptado por Alcione Araújo e teve
como diretor Paulo Thiago.

Assista abaixo um trecho do filme que retrata o momento em que Policarpo


Quaresma foi internado em um hospício, tido como louco por propôr que o
tupi-guarani fosse reconhecido como língua oficial do Brasil.

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