Análise da obra Apresenta o drama de um velho aposentado (Policarpo), nacionalista xenófobo, em sua luta ingênua pela “salvação” do Brasil. Narração em terceira pessoa – narrador onisciente. Linguagem clara, simples, repleta de uma crítica voraz e objetiva, antecipando a literatura do modernismo. Pode-se dizer que Policarpo é um ufanista, “enamorado” por sua pátria. Metódico devido a sua rigidez na conduta em geral e no pensamento, trata-se de um homem ingênuo, que simplifica a realidade da complexidade brasileira, o que o torna patético. A rigidez de Policarpo pode ser exemplificada com a questão dos horários, alimentação (só comida brasileira), pelo trato com seu jardim (só plantas brasileiras) e demais atitudes, como aprender a tocar violão não por amor à arte, mas para aprender as modinhas, que eram consideradas canções puramente brasileiras. As reformas... A obra pode ser contada através das “reformas” para o Brasil propostas por Policarpo: Reforma pela cultura: relata a vida de Quaresma como funcionário público. Homem de hábitos conservadores, era um solteirão e vivia com sua irmã Adelaide num bairro do Rio de Janeiro. Além de dedicado ao serviço público, era um patriota exaltado e tinha uma biblioteca só com obras brasileiras. Por pensar que o brasileiro deveria se expressar como os primitivos tupinambás e não como os europeus, defende que os brasileiros deviam ter como língua oficial o tupi- guarani e chega ao extremo de redigir documentos nessa língua, o que acaba por metê-lo num sanatório. Policarpo vivia rodeado por funcionários públicos sem consistência moral ou profissional, que constituem verdadeira alegoria contra o funcionalismo público:
General Albernaz (pai de Ismênia).
O contra-almirante Caldas (a quem foi dado comandar um navio inexistente). O major Bustamante (cuja principal preocupação era conhecer a legislação que regeria sua aposentadoria). É importante salientar que, dentre os amigos de Quaresma, apenas um se salva por sua sinceridade e talento – Ricardo Coração dos Outros, violeiro simpático que lhe dava lições de violão. Por ser humilde, Ricardo era desprezado pelos demais que formavam a “aristocracia do subúrbio”. Reforma pela agricultura: Ao sair do hospício, Quaresma muda-se para o sítio Sossego, importa revistas e maquinários agrícolas e incumbe-se da missão de mostrar que a terra brasileira é a melhor. Em pouco tempo é vencido pela má qualidade do solo, pelas saúvas e pela mesquinharia da política local. Iniciar-se-á a reforma pela política, pois depois de perder tudo o que investira, Policarpo resolve voltar ao Rio de Janeiro para “salvar a pátria” do perigo representado pela Revolta da Armada (marinha “aristocrática” X Floriano - do exército Peixoto). A marinha quer a restauração da monarquia com Dom Pedro II (marinheiros de poder e renome como Custódio de Melo e Saldanha da Gama se revoltam contra a República). Reforma pela política: Quaresma alista-se no exército a favor de Floriano Peixoto e comanda um batalhão de quarenta soldados. Porém, depois de uma entrevista com o presidente da república, sai decepcionado com a figura displicente e preguiçosa do líder. Abafada a revolta, Quaresma é enviado para a Ilha das Enxadas, com a função de carcereiro, onde estavam presos ex membros da marinha. Numa determinada noite, diversos prisioneiros são fuzilados por ordem de Floriano. Policarpo então redige uma carta de censura ao presidente, exigindo que se respeitassem os direitos humanos. Por conta disso, é preso e enviado para a Ilha das Cobras onde tem o mesmo triste fim. Quanto às personagens... Podemos dividi-los em dois grupos:
VIDA URBANA (profissionais liberais como Dr Armando
Borges e o dentista Cavalcanti, funcionários públicos como Genelício e militares como Albernaz). VIDA RURAL (figuras simples como Felizardo e Amâncio, figuras com poder político como Dr. Campos, Tenente Antonino Dutra e até mesmo a própria natureza, visto que ela se opões a Quaresma, dificultando sua vida no campo). Além da crítica óbvia... O feminismo na obra... Ismênia, filha de Albernaz, representa a mulher que “deve morrer”, pois está relacionada com algo ultrapassado, só existe em função do casamento; é uma personagem plana, mecânica, que apenas responde às perguntas sobre seu casamento com Cavalcanti. Assim, Lima Barreto realiza uma crítica ao matrimônio, mostrando uma mulher que não será ninguém sem o casamento. O Brasil estava se industrializando e não há mais espaço para essa figura. Já Olga representa a mulher do século XX, é a sobrinha de Quaresma, mulher decidida e independente.