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A ESTÉTICA DO

SÉCULO XX: O PRÉ- Centro Educacional Pré-


Universitário

MODERNISMO NO Literatura Brasileira


Professor Rodrigo Ségges

BRASIL
O MOVIMENTO LITERÁRIO:
POR QUE “PRÉ”?
No século XX, no Brasil, por uma determinação político-cultural,
convencionou-se determinar Modernismo o período de publicação
artística a partir da Semana de Arte Moderna, que ocorre em 1922.

Como consequência, a produção anterior à Semana é considerada,


didaticamente, como “Pré-Modernista”. Os autores comuns a esse
período são Lima Barreto, Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Graça
Aranha e Augusto dos Anjos.
O QUE VEM, PORTANTO, A
SER O PRÉ-MODERNISMO?
Infelizmente, o Pré-Modernismo não se caracteriza como um movimento
literário, mas como o período dos primeiros vinte anos do século XX. Como se
sabe, o Modernismo representa uma grande renovação em nossa cultura: a
“redescoberta” do verdadeiro Brasil.

Isso alavanca a Literatura como principal ferramenta para o estudo dos


princípios fundamentais de uma cultura brasileira. Cópia, originalidade e
“literatura menor”.

Todavia, o Pré-Modernismo já antecipara essa tendência que foi plenamente


desenvolvida mais tarde – década de 30 – pelo Modernismo.
...CONTINUANDO
É a partir do Pré-Modernismo que o leitor é levado a refletir criticamente
sobre nossa realidade sociocultural. Por isso, a partir dos problemas que
afetavam nossa sociedade, rejeitou-se a ideia de que a literatura era
apenas uma forma de entretenimento das elites.

O momento histórico é demarcado por profundas transformações


políticas: com a imposição do modelo republicano, o Brasil –
principalmente a capital –, experiência a modernização. Aliado a isso,
ocorre no Brasil a instauração da Política café-com-leite, há a Revolta da
Vacina e grandes movimentos de operários. Além disso, o mundo vivencia
a Primeira Guerra.
QUAIS AS CONTRIBUIÇÕES
LITERÁRIAS PRÉ-
Além da questãoMODERNISTAS?
temática, o Pré-Modernismo antecipa uma mobilização
do uso da linguagem bastante polêmico: o uso de uma escrita simples e
fora dos padrões cultos.
Além disso, no caso da poesia de Augusto dos Anjos, por exemplo, a
poesia perde um caráter tipicamente burocrata como era comum aos
parnasianos. Há mistura de diversos procedimentos de referência de
estilo, como o Naturalismo, Romantismo e Simbolismo.
É preciso, portanto, enaltecer a importância de Lima Barreto, que
inverte a posição crítica. Pela primeira vez, o narrador não parte do
ponto de vista dos integrantes da elite criticada, mas sim do das minorias
que são oprimidas pela elite criticada.
AUTORES E SUAS
PRINCIPAIS OBRAS
Euclides da Cunha – os problemas brasileiros
Carioca, com formação na Escola Militar, Euclides da Cunha foi
colaborador de O Estado de São Paulo. Por isso, em 1897, foi mandado a
Canudos.
Baseado em pesquisas e reportagens, ele publica, em 1902, Os Sertões,
que gera tamanho impacto devido à originalidade e exuberância, pois
estabelece corajosa crítica às ações do Exército. Embora não seja obra de
ficção, esse texto é considerado literário, porque Euclides submeteu o
assunto e a linguagem a um patamar artístico.
OS SERTÕES
Embora não seja ficção, a obra euclidiana pode ser considerada
literária pelo tratamento dado à temática e à linguagem. A exemplo
disso, os lados opositivos do massacre em Canudos é representado como
um embate heroico entre a população baiana e os soldados.
A população de Canudos é apresentada como vítima de uma série
de fatores econômicos, sociais, geográficos, raciais e históricos. Há,
portanto, a estrutura do relato sob a égide do DETERMINISMO. Isso se
comprova na maneira como é organizado o livro: a Terra – estudo
geográfico da região –, o Homem – determinados comportamentos
explicáveis pela região geográfica – e a Luta – o conflito a partir da luta
entre a civilização e os sertanejos.
CONTRASTE
ENTRE UM
TRECHO DE
OS SERTÕES E
UMA NOTÍCIA
DA ÉPOCA
Augusto dos Anjos – um poeta original
O paraibano Augusto dos Anjos é considerado o mais importante
depois do surgimento dos simbolistas. Devido a um vocabulário
considerado antipoético – uso de palavras comuns às Ciências Biológicas
–, esse poeta alia um tecnicismo linguístico ao fazer poético cuja
preocupação é “a morte”, o “o nada” e “a decomposição da matéria”.
Ao se analisar a produção poética de Augusto dos Anjos, pode-se
perceber um tratamento FORMAL/ESTÉTICO parnasiano, de
inspiração naturalista quanto ao vocabulário. Ademais, o aspecto
TEMÁTICO é metafísico, existencialista, de cunho simbolista.
VERSOS ÍNTIMOS
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!


O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!


O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,


Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
PSICOLOGIA Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância
DE UM A influência má dos signos do zodíaco.
VENCIDO
Profundissimamente hipocondríaco,
A lírica construída por Augusto dos Anjos
confirma claramente o lugar temático da Este ambiente me causa repugnância...
metafísica. Aos moldes machadianos, o eu Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
lírico se apresenta como uma voz no pós- Que se escapa da boca de um cardíaco.
morte, realizando, com isso, a exposição dos
sentimentos mórbidos pertinentes à
decomposição orgânica realizada pelo verme. Já o verme – este operário das ruínas –
O determinismo está aliado a um misticismo Que o sangue podre das carnificinas
comum ao conhecimento dos zodíacos. Além Come, e à vida em geral declara guerra,
da temática comum a um vocabulário
antipoético, a métrica regular do soneto,
assim com o uso das rimas, garante ao poema Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
uma contenção formal própria à estética E há-de deixar-me apenas os cabelos,
parnasiana.
Na frialdade inorgânica da terra!
Graça Aranha –vanguarda e realidade cultural
Com a publicação de Canaã, em 1902, o escritor obtém importância nas
Letras brasileiras. Como viveu na Europa durante a efervescência artística
das vanguardas, ele alia-as à realidade cultural do Brasil. Por meio da visão
antagônica de seus dois personagens, o narrador de Canaã apresenta-nos
problemas raciais, sociais e morais.
A história em si é apenas pano de fundo para as discussões ideológicas entre
Milkau e Lentz, somando-se a isto retratos da imigração alemã e da corrupta
administração brasileira da época (notavelmente no capítulo VI).

O livro, quanto ao conteúdo, tem uma significativa abrangência, pois trata de


etnia, relacionamento humano, culturas, colonização e progresso. Desenvolve
alguns aspectos sociológicos e fisiológicos. Publicado em 1902, é, ao lado de Os
sertões, um dos marcos do início do Pré-Modernismo.
MONTEIRO LOBATO –HOMEM DE
IDEIAS E DE AÇÕES

Nascido em Taubaté, Lobato participou efetivamente da vida cultural brasileira.


Por isso, possui vasta produção literária, como contos, crônicas, artigos, por
exemplo.

Sua produção estética está atrelada a autores clássicos da língua portuguesa. Em


virtude disso, a linguagem literária de Lobato é repleta de purismo. É talvez por
isso a rejeição aos princípios modernistas, pois temia imitação de ideias
estrangeiras.

Mesmo assim, há nos escritos de Monteiro Lobato imensa crítica à realidade


brasileira, numa expressão de nacionalismo lúcido.
FRAGMENTO
DO CONTO
NEGRINHA, DE
MONTEIRO
LOBATO
LIMA BARRETO – A OUTRA VISÃO DA
REALIDADE

Filho de pais mestiços, o carioca Lima Barreto leva pela vida o


fardo do preconceito de cor. Isso ficará, também, bem determinado em
sua produção literária.

Na literatura brasileira, ele ganha destaque pelo extremo realismo


com que representou a sociedade carioca do começo do século.
Marginalizado e afastado das “elites literárias”, Lima Barreto expressa
esse movimento numa produção em linguagem simples e comunicativa,
fora dos rebuscamentos. Apesar de estrear com Recordações do escrivão
Isaías Caminha, sua obra de destaque é Triste fim de Policarpo Quaresma.
TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA
Sob o pano de fundo dos primeiros anos conturbados da Primeira
República, no qual se apresentam revoltas, perseguições e movimentos
militares, tem-se conhecimento da história do protagonista Policarpo
Quaresma, um nacionalista fanático. Vivendo fechado no gabinete,
cercado por livros e ideais nacionalistas, Quaresma resolve dar cabo dos
problemas brasileiros a partir do resgate de uma cultura genuinamente
brasileira.
Numa embriaguez patriótica, o personagem – um membro militar,
atuante na administração, procura realizar mitos nacionalistas: a
exuberância agrícola, o uso do tupi como língua oficial e o voluntarismo
nas tropas de Floriano Peixoto como símbolo da idealização do poder
cordial do brasileiro. Todos esses mitos são frustrados pela realidade.
Contra uma linguagem ornamental comum à época, a obra de Lima
Barreto se utiliza de uma linguagem mais coloquial e comunicativa.
TRECHO DE TRISTE FIM DE
POLICARPO QUARESMA
Encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-
o à loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram
ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E,
quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções.
Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como
feras? Pois não a via matar prisioneiros inúmeros? Outra decepção. A
sua vida era uma decepção, uma série; ou melhor, um encadeamento de
decepções. A pátria que quisera ter era um mito; era um fantasma criado
por ele no silêncio do seu gabinete.

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