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LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS

COMPONENTE CURRICULAR: Poesia em objetos:


LÍNGUA PORTUGUESA

HABILIDADES DA ESPECÍFICA
Compreender o funcionamento das diferentes
linguagens e práticas culturais (ar�sticas, corporais e
verbais) e mobilizar esses conhecimentos na recepção
e produção de discursos, nos diferentes campos de
atuação social e nas diversas mídias, para ampliar as
formas de participação social, o entendimento e as
possibilidades de explicação e interpretação crítica da
realidade e para continuar aprendendo. Fonte: Disponível em: Os 10 melhores poemas de Manoel de
Barros h�ps://www.revistabula.com/2680-os-10-melhores-po-
(EM13LGG104) Utilizar as diferentes linguagens, emas-de-manoel-de-barros/
levando em conta seus funcionamentos, para a Acesso em 10 de junho de 2022.
compreensão e produção de textos e discursos em
diversos campos de atuação social. Poesia em publicidade:

OBJETO DE CONHECIMENTO
Elemento da linguagem visual na Arte (a gravura,
o quando, a escultura enquanto texto). Figuras de
linguagem Recursos linguísticos. Recursos imagéticos.
Recursos sonoros. Estética e estilista na literatura e
nos elementos da linguagem teatral. Gêneros digitais.
Gêneros cinematográficos. Arte digital. Significados/
sentidos no discurso das mídias sobre os gêneros
digitais,

POETA

A primeira acepção que o Dicionário Houaiss traz


para a palavra poeta é “escritor que compõe poesia”. Fonte: Nescafé Disponível em: h�ps://descomplica.com.br/ar-
Poderia também ter afirmado que poeta é aquele que tigo/5-marcas-e-logotipos-que-voce-conhece-e-vao-te-ajudar-a-
escreve poemas, que faz versos. -entender-poesia-concreta/4ql/
Poesia a poesia não é apenas um estilo literário. Acessado em 10 de junho de 2022.
Ela também está presente em paisagens, objetos,
fotografias e músicas, pois significa “produção Poesia em paisagem
ar�stica”. Ou seja, poesia é tudo o que utiliza recursos
especiais para expressar significados. Esses recursos
podem ser sentimentos, ritmos, rimas, aliteração e
metáforas, cores, sons. Ademais, a palavra poesia é
derivada do grego poiesis, que significa “atividade
de produção ar�stica” ou “criar” e “fazer”. Portanto,
a voltamos a ressaltar que a poesia não está só no
poema, mas se manifesta de diversas formas. Só para
ilustrar, podemos citar paisagens e objetos. Dessa
forma, estende-se para além da escrita.

Fonte: Poema Paisagem Por Trycia Mello Disponível em: h�ps://


aempreendedora.com.br/paisagem/
Acesso em: 10 de junho de 2022.

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LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
Poema mantiveram o verso livre, a oralidade e linguagem ci-
nematográfica da fase anterior, mas resgataram formas
Já os poemas podem ser identificados com maior tradicionais, desprezadas pelos primeiros modernistas.
facilidade, porque seguem um formato muito carac- O fazer poético é apresentado como a luta para
terísticos. Afinal, poemas são feitos com palavras em dar forma à poesia que está dentro do eu lírico (“ele
formato de verso, normalmente apresentados em ri- está cá dentro / inquieto vivo. / Ele está cá dentro / e
mas. Ou seja, o poema é um tipo de texto que constitui não quer sair”). Esse esforço para dar forma ao que
o gênero “poesia”. Dessa forma, a poesia é um tipo está vivo dentro do poeta exige um trabalho racional
textual que faz parte do gênero textual lírico e, dessa que não se mostra eficiente. O trabalho intelectual
forma, apresenta características como métrica, rimas, do poeta não é suficiente para garantir a tradução
versos, estrofes, entre outros aspectos. Aliás, não só do sentimento poético que o invade, já que o verso
ao texto pertence a poesia, porque ela também é usa- simplesmente não “sai”.
da para produzir música e peças teatrais. Nesse sentido, poderíamos dizer que o poeta não
Poema é o produto da poesia, é, acima de tudo, tem controle sobre o fazer poético.
a parte material, concreta dessa arte. Em suma, o Nesse poema, temos uma linguagem mais sim-
poema é uma obra de poesia que utiliza a escrita e ples, com frases mais compreensíveis, versos brancos
as palavras como matéria-prima.
e livres, o que nos leva a identificar uma estrutura
Regrinhas básicas, portanto, devem ser seguidas
linguística muito próxima da que utilizamos hoje e nos
na construção de um poema. A métrica, o ritmo, a
permite associar o momento de produção do texto
rima (ou não), e os versos devem estar na estrutura
com uma estética que valoriza a expressão acima de
do poema, porque, caso contrário, não se caracteriza
como gênero textual lírico. Ademais, várias figuras de qualquer rigor formal.
linguagem são empregadas na criação de um poema
para compor os sentidos. Figuras de linguagem nos mesmos

Leia o poema a seguir: Vamos relembrar algumas figuras de linguagens.


Refletir sobre esses recursos são importantes porque,
Poesia [Alguma poesia] geralmente, são utilizados na escrita de muitos poe-
Carlos Drummond de Andrade tas. Metáforas, metonímias, eufemismo, hipérbole,
an�tese, onomatopeia e muitas outras estão presen-
Gastei uma hora pensando um verso tes nas obras dos artistas.
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia desse momento
inunda minha vida inteira.

Poesia, Carlos Drummond de Andrade


Fonte: Disponível em: h�ps://wp.ufpel.edu.br/aulusmm/
files/2017/09/POESIA.pdf
Acesso em 10 de junho de 2022.

Exemplificando:
O �tulo desse texto e o verso “Mas a poesia des-
te momento” possibilitam fazer um questionamento:
qual a diferença entre poesia e poema?
Quando se denomina a forma do texto (versos
agrupados em estrofes), não há grande diferença.
Tanto se pode dizer “Li os poemas de Drummond”
como “Li as poesias de Drummond”. Nos dicionários,
poema diz respeito à obra escrita em versos e poesia,
à arte de escrever versos. Os dois conceitos remetem
ao aspecto formal da produção.
Esse poema assumiu a temática dos dramas indi- Fonte: Figuras de linguagem, Por Daniele Fernanda Feliz Moreira.
viduais e sociais, apresentando a angústia de estar no Disponível em: h�ps://www.infoescola.com/portugues/figuras-
mundo e a sensação de estranhamento provocada por -de-linguagem/
Acesso em 10 de junho de 2022.
esta descoberta. Na estrutura, os poetas do período

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LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
Metalinguagem é a propriedade que tem a língua de
voltar-se para si mesma, é a forma de expressão dos
dicionários e das gramáticas. Uma música cujo tema
SAIBA MAIS seja o próprio fazer musical terá empregado esse re-
curso. Assim, podemos dizer que o poema lido apre-
Poesia – Carlos Drummond de Andrade. senta metalinguagem.
Disponível em: h�p://www.jornaldeposia.jor.br/ Fonte: Disponível em:: h�p://www1.folha.uol.com.br/
drumm1.html#poesia folha/educacao/ult305u1745.shtml
Acesso em 11 de junho de 2022.
Acesso em: 11 jun. 2022.
Motivo – Cecília Meireles. Disponível em: h�p://
www.jornaldepoesia.jor.br/ceciliameireles01.html#- Leia o Texto a seguir:
motivo2
Acesso em em: 11 jun. 2022. Metáfora (Gilberto Gil)
Os poemas – Mário Quintana.Disponível em: h�p:// Uma lata existe para conter algo
www.jornaldepoesia.jor.br/quinta.html#ospoemas Mas quando o poeta diz: “Lata”
Acesso em: 11 jun. 2022. Pode estar querendo dizer o incon�vel
O último poema – Manuel Bandeira.Disponível em:
h�p://www.jornaldepoesia.jor.br/manuelbandeira04. Uma meta existe para ser um alvo
html#ultimo Mas quando o poeta diz: “Meta”
Acesso em: 11 jun. 2022. Pode estar querendo dizer o inatingível
Traduzir-se – Ferreira Gullar.Disponível em: h�p://
www.jornaldepoesia.jor.br/ferreiragullar.html#tra- Por isso, não se meta a exigir do poeta
duzir Acesso em: 11 jun. 2022. Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudo nada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível

ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM Deixe a meta do poeta, não discuta


Deixe a sua meta fora da disputa
Leia o Texto a Seguir: Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora
Os poemas
Os poemas são pássaros que chegam 1. A letra da música Metáfora, do compositor baiano
não se sabe de onde e pousam Gilberto Gil, apresenta um jogo de linguagem com o
no livro que lês. vocábulo ‘lata’ que faz predominar a linguagem cono-
Quando fechas o livro, eles alçam voo tativa. Trata-se de um recurso próprio da linguagem
como de um alçapão. Eles não têm pouso poética, desconstruir ideias já cristalizadas em detri-
nem porto mento de outros efeitos de sentido. Comente sobre
alimentam-se um instante em cada par de mãos o efeito de sentido que o artista imprime de modo
e partem. predominante na construção da letra.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes Resposta: Em toda a letra da canção “Metáfora”, re-
que o alimento deles já estava em ti... conhecemos a utilização da linguagem poética de
(Fonte: QUINTANA, Mário. Esconderijos do tempo. forma subjetiva, reconhecemos também a utilização
Porto Alegre: L&PM,1980.) de metalinguagem, sobre ser poema e poesia e, atre-
lado a isso, a figura de linguagem.
1. Após a leitura do texto, pergunte aos/as estudan-
tes qual o tema tratado no poema. Ao chegarem à 2. Nos versos da letra há uma passagem que afirma:
resposta (o poema trata sobre poemas), aproveite Na lata do poeta tudo nada cabe / Pois ao poeta cabe
para explicar a eles sobre a metalinguagem para re- fazer / Com que na lata venha caber / O incabível.
lembrar esse conceito (conceito de metalinguagem Considerando que o �tulo da letra da música refere-
a seguir). -se a um tipo de figura de linguagem, o que seria ‘o
incabível’ nesse contexto?
Quando um texto é utilizado para explicar o próprio
texto dizemos que predomina a função metalinguís- Resposta: Gilberto Gil faz comparação entre o fazer
tica. e saber poético com um recipiente que seria a lata.

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O incabível seria algo que não pode ser palpável ou 1.. Com base no texto “A Pesca”, preencha o quadro
medido, mas que certamente não podemos colocá-lo a seguir.
em um recipiente, que seria o saber poético.
TÍTULO AUTOR ASSUNTO NÚMERO NÚME-
Leia o texto a seguir. DE ES- RO DE
TROFES RIMAS
A Pesca Affonso A pescaria 10 Sete
Romano de
Sant`Anna

2. Qual o tema retratado no poema?

Resposta: De uma pescaria, desde sua preparação


até pescar o peixe.

3. Podemos afirmar que o poema retrata uma se-


quência de acontecimentos ou uma cena estática?
Justifique.

Resposta: Sim, retrata uma sequência de aconteci-


A PESCA mentos. O começo do dia, a preparação; depois – à
Affonso Romano de Sant`Anna espera do peixe; e em seguida – o movimento da
agulha dentro d’água.
O anil 4. Cada estrofe ou conjunto de estrofes representa
o anzol um momento da pescaria. Identifique-o.
o azul
o silêncio Resposta: 1° a 2° estrofe: Ele está se preparando para
o tempo jogar a isca (começando a pescar);
o peixe 3° e 4° estrofe: Ele joga a linha na água;
a agulha vertical mergulha 5° estrofe: Ele está esperando o peixe vir para pegar
a água a isca;
a linha 6° e 7° estrofe: Ele consegue pegar o peixe;
a espuma 8° e 9° estrofe: Ele tira o peixe do anzol e o peixe, se
o tempo estabanando;
o peixe 10° estrofe: O peixe, enfim, pula pra areia.
o silêncio
a garganta 5. Âncora é uma peça de ferro ligada a uma corrente
a ancora que permite fixar uma embarcação.
o peixe a) No poema, ela representa metaforicamente que
a boca objeto? Em que tipo de semelhança se apoia essa
o arranco metáfora?
o rasgão Resposta: A metáfora se apoio na semelhança da
aberta a água sustentação, aquilo que sustenta, mantém presa.
aberta a chaga b) Que ampliação de sentido a metáfora confere a
aberto o anzol esse objeto no poema?
aquelíneo Resposta: Esse sentido é ampliado, na medida em
ágil-claro que é tomado como presa, como elemento que sus-
estabanado tenta o peixe.
o peixe
a arcia SLAM - CONCEITO
o sol.
Observe as imagens a seguir! Você está olhando uma
A PESCA, Affonso Romano de Sant`AnnaDisponível em: h�ps://
sites.google.com/site/factosdavidareal/literatura/affonso-roma-
prática cultural recente, o Slam. Você já ouviu falar
no-de-santanna/a-pesca dele?
Acesso em 11 de junho de 2022.

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LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
• correr- nome dado ao ato de declamar poemas para
o público;
• Pow- grito da plateia para celebrar a nota máxima,
10;
• Credo- grito da plateia para as notas de 9,5 (nota
mínima) a 9,9.

Fonte: Disponível em: h�ps://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-


SLAM VOZ DE LEVANTE, Tatiana Lohmmann, Roberta Estrela D’ -humanas/slam-e-voz-de-identidade-e-resistencia-dos-poetas-
Avila. -contemporaneos/
Fonte: Disponível em: h�ps://www.adorocinema.com/filmes/ Acesso em 12 de junho de 2022.
filme-258674/
Acesso em 11 de junho de 2022. Vamos continuar aprendendo mais um pouco so-
bre o gênero slam!
SINOPSE
Livre A poesia falada e apresentada para grandes pla-
Documentário sobre uma atividade cada vez mais co- teias não é um fato novo, porém, a grande diferença
mum no país nos últimos anos: as Poetry Slams. Essas é que hoje a poesia falada se apresenta para o povo
batalhas de poesia performáticas atraem ouvintes de e não para uma elite — estamos falando da poesia
diferentes realidades sociais e vivências. A produção slam. Essa palavra surgiu em Chicago, em 1984, e hoje
ainda viaja para os Estados Unidos, local onde o Slam a poetry slam, como é chamada, é uma competição
nasceu e depois se expandiu rapidamente para o mun- de poesia falada que traz questões da atualidade para
do todo. debate. Slam é uma expressão inglesa cujo significado
se assemelha ao som de uma “batida” de porta ou
O Que é o Slam? janela, “algo próximo do nosso ‘pá!’ em língua portu-
guesa”, explica Cynthia Agra de Brito Neves, em artigo
Na arte da cultura urbana, o gênero slam é destaque recém-publicado na revista Linha D’Água. Nas apre-
entre as juventudes de diferentes países. Há, inclusive, sentações de slam o poeta é performático e só conta
campeonatos mundiais disputados por jovens para com o recurso de sua voz e de seu corpo.
escolher o melhor poema. Sim! O slam é uma forma A poetry slam, também chamada “batalha das le-
de fazer e falar poesia! tras”, tornou-se, além de um acontecimento poético,
Slam é uma batalha de poesia em que o participante, um movimento social, cultural e ar�stico no mundo
chamado de slammer, declama seus poemas, reple- todo, um novo fenômeno de poesia oral em que po-
tos de versos e rimas e expressa sua autoria e seu etas da periferia abordam criticamente temas como
ponto de vista, principalmente relacionados a temas racismo, violência, drogas, entre outros, despertando
sociais, revelando os valores identitários e sociais de a plateia para a reflexão, tomada de consciência e
sua origem, comunidade local e regional e de seu país. atitude política em relação a esses temas. Os cam-
A palavra slam é um verbo da língua inglesa que sig- peonatos de poesias passam por etapas ao longo do
nifica “fechar com força e barulho; bater forte”. Há ano, de fevereiro a novembro, são compostos de três
alguns termos que são próprios da linguagem do slam, rodadas e o vencedor, escolhido por cinco jurados da
como: plateia, é premiado com livros e participa do Campe-
• slammaster- mestre de cerimônia que conduz a onato Brasileiro de Slam (Slam Br). O poeta vencedor
competição; dessa etapa competirá na Copa do Mundo de Slam,
• slammer- poeta competidor; realizada todo ano em dezembro, na França.

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LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
Os campeonatos de slam no Brasil foram introdu-
zidos por Roberta Estrela D’Alva, a slammer (poetisa)
brasileira mais conhecida pela mídia e que conquistou o
terceiro lugar na Copa do Mundo de Poesia Slam 2011, ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM
em Paris. Outra presença expressiva no assunto é Emer-
son Alcalde, fundador do Slam da Guilhermina, entre- 1) As rimas são recursos estilísticos que indicam a
vistado pela autora em maio deste ano na Faculdade sonoridade e o ritmo da poesia. Transcreva dois ver-
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. sos de “Eu sou a Revolta da Chibata” em que esse
Segundo ele, “promover a poesia oral, falar poesias, ler, recurso se faz presente, destacando as palavras que
escrever, promover batalhas de performances poéticas, o compõem.
é transformar os slams em linguagem” e, pensando nis-
so, levou o slam às escolas, pois “poesia é educação”. Resposta: “Eu sei, pra muitos não importa/ Quero
Cynthia Agra de Brito salienta que os slammers saber se a polícia chega com óbitos na sua porta/ O
querem ser “considerados escritores como quaisquer nosso sangue pulsa, veia aorta”.
outros autores nacionais”, pois essa literatura “margi- 2) Leia o verso: “E nem tenta me tirar da festa, meto
nal e periférica” rompe com a linguagem culta e inco- um tiro de letra na tua testa”. O primeiro termo em
moda quem apenas valoriza parâmetros tradicionais destaque foi empregado no sentido figurado, a partir
literários. O slam é um grito, atitude de “reexistência”, da figura de linguagem chamada metáfora. Por meio
termo criado com a fusão das palavras existência e re-
da metáfora, “festa” significa os espaços sociais que,
sistência, de acordo com a professora Ana L. S. Souza.
no passado, eram ocupados apenas por pessoas bran-
O artigo ressalta também a importância de se levar
cas. Nesse sentido, explique o significado por trás da
os slams para as escolas, na medida em que forma
segunda expressão em destaque.
alunos leitores e escritores conscientes, dispostos a
reivindicarem mudanças educacionais e sociais.
É fundamental o papel da escola na disseminação Resposta: “Tiro de letra” significa rebater oralmen-
dos “slams”, pois por meio deles os alunos expres- te a situação de exclusão social, utilizando a poesia
sam “seus modos de existir” e suas reivindicações como arma.
por “uma cultura jovem, popular, negra e pobre, de
moradores da periferia, bem diferentes do gosto ca- 3) Encontre e transcreva um ou mais versos em que
nônico, branco e de classe média”. Ao recriarem a haja a figura de linguagem denominada anáfora, que
cultura oficialmente escolar letrada, esses alunos se explora a repetição de palavras. Em seguida, explique
tornam “agentes de letramentos de reexistência”, e o efeito de sentido que ela expressa.
os slams, dessa maneira, são seus porta-vozes, pelos
quais demonstram sua revolta, sua identidade e re- Resposta: “Histórias Cruzadas e balas perdidas/ Balas
sistência. A autora finaliza afirmando que “é preciso cruzadas e vidas perdidas/ Histórias perdidas, balas
resistir para existir. Poesia é reexistência”, enfatizando certeiras”. O efeito de sentido das palavras repetidas
o desafio com que se deparam as escolas diante dessa é o de constante ocorrência do cruzamento entre
nova poesia contemporânea. vidas e balas de fogo.
Fonte: Disponível em: h�ps://jornal.usp.br/ciencias/
ciencias-humanas/slam-e-voz-de-identidade-e-resistencia-
dos-poetas-contemporaneos/
4) No quadro que segue, numere os versos de acordo
Acesso em 12 de junho de 2022. com os tópicos correspondentes:

(1) Crítica à invisibilização das pessoas negras (2) “Então eu venho aqui acabar com essa
festa entojada/ Eu tenho poesia e granada
[...]/ E na hora do brinde, eu subo no palco
Desmascaro as verdades”
(2) Crítica ao comportamento passivo das mulheres (4) “Eu tô cagando pro padrão que é no
brancas Romeu”
(3) Denúncia da violência contra pessoas negras (5) “Eu sou a Revolta da Chibata[...]/ Meus
passos vêm de longe”
(4) Linguagem violenta e incisiva (3) “E não vejo a hora que acabe essa farra
fardada/ De melanina alvejada, algemada/
Escorre o nosso sangue”
(5) Valorização dos antepassados (1) “Lembra de mim? Aquela que na escola
fez questão de não ver? / Fica esperta, eu tô
sambando na tua cara”

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LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
SLAM uma cantora? As pessoas têm sonhos pequenos e es-
São novos ciclos e tudo faz parte da mudança peram isso das outras. Sei da minha potência e não
Anna Suav é justo tirarem isso de mim, isso é fruto de racismo”,
diz Anna.
Da coragem necessária que me falta nessa dança Há três anos, a artista foi contemplada pelo Edital
Na contagem do tempo há saudades da sincronia Natura Musical, que em parceria com a amiga Bruna
Perdi o compasso, o passo, a rima BG, vai lançar um álbum visual do projeto em 2022.
Naturalizando a podação O ano vai contar com grandes movimentações na car-
Fui cortando parte por parte, me vi chão reira da artista, como um show confirmado no Se Ras-
Daqueles ora seco, ora com cheiro de terra molhada gum, lançamentos de dois feats, além de uma possível
Na chuva, vento paira, acalenta o coração turnê e temporada em outros espaços do Brasil. Nas
Sem alcançar totalidade na altura, mas a raiz é imen- palavras da MC: Ela vai estar pra gastação!“
sidão
O dom de tocar “Poesia é (e) resistência
É sobre ser rio e ao mesmo tempo ponte para atra-
vessar Fonte: (Disponível em: h�ps://revistabalaclava.com/anna-suav-
-e-os-processos-que-entrelacam-a-dualidade-e-maturidade-em-
Sobre ser processo, meio, caminho
-eva-grao/
Atenta ao percurso que uma hora há de findar
, acesso em jun 10, 2022.)
E recomeçar
Trago em mim todos os sentimentos do mundo
Leia os textos a seguir para conhecer um pouco mais
Todos os amores que em mim cabem e carrego bem
sobre esse gênero.
no fundo
Não sabendo ser rasa, não sabendo ser metade
Texto 1:
Mas concordando com a voz rouca
O que é Slam? Poesia, educação e protesto
“Você não sabe se entregar”
Por Igor Gomes Xavier Luz
É verdade
É verdade que já fiz pouco, é verdade que já fiz demais
Slam!
É verdade que me atropelei, é verdade que não tive
paz
A palavra é uma onomatopeia utilizada no inglês
É verdade que já quis ter tudo porque nada me satisfaz
pra representar algo como um bater de palmas, e é
É verdade que fazemos planos
o nome dado as batalhas de poesia que se espalham
É verdade que podemos voltar atrás
Brasil (e mundo) adentro. Adentro e abaixo, já que é
É verdade que estamos aqui sem saber os reais mo-
nas periferias do hemisfério sul do mundo que essa
tivos existenciais
ferramenta-comunidade-ação mais tem ganhado es-
É verdade que eu posso ser tudo que eu quiser até a
paço.
hora que eu não quiser ser mais.
(Duarte, Mel (org.). Querem nos calar: poemas para serem lidos
Slam (ou Poetry Slams) são batalhas de poesia
em voz alta; ilustrações de Lela Brandão. São Paulo: Planeta do falada que surgiram nos anos 1980 nos Estados Uni-
Brasil, 2019.) dos. Muitos chamam de “esporte da poesia falada”
e, como aparece no documentário recém-lançado
“Poesia é (e) resistência Slam: Voz de Levante, o responsável por organizar o
primeiro Slam, Marc Kelly Smith, alega que resolveu
Em 2019, Anna e mais 14 mulheres slammers de utilizar da lógica da competição como forma de cha-
todo o Brasil fizeram parte da antologia “Querem nos mar atenção para o texto e performance dos poetas.
calar: Poemas para serem lidos em voz alta”, orga- O que ocorre em um Slam é semelhante ao que
nizado pela escritora e slammer Mel Duarte e com acontece nos saraus, porém com algumas regras sim-
prefácio de Conceição Evaristo. A poesia, aliás, é parte ples:
fundamental em seus shows, onde sempre existe um • Poesias autorais (decoradas ou lidas na hora)
momento reservado para os versos, algo que também de até três minutos;
está presente no EP, com “Elementar”. • Proibição da utilização de figurino, cenário ou
Para Suav, poder andar por dentro das artes, diri- instrumento musical;
gindo clipes, compondo, sendo poeta slammer, MC e • São escolhidos, aleatoriamente, cinco jurados
contribuindo para a literatura com outras mulheres é na plateia que serão os responsáveis por dar
algo fundamental, de modo que todos os seus traba- notas de zero a dez. Leva a competição aquele
lhos conversam entre si. “Eu sou uma mulher negra, que tiver a maior nota.
da Amazônia, que se movimenta e é subestimada.
Onde que iriam olhar pra mim que um dia eu seria

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LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
O slam tem algumas regras: autoria própria, du-
ração máxima de até três minutos, não pode utilizar
objetos cênicos e tampouco ter acompanhamento
musical. No entanto, as performances corporal e de
voz do poeta/poetisa são fundamentais.
A poesia está em todos os cantos: nas ruas, nos
edi�cios, no céu, na natureza, no transporte público,
na política, nas pessoas, nas nossas relações, nos li-
vros, em tudo ao nosso redor. (...)

SLAM
Fonte: (Disponível em: h�ps://estudoeleitura.com.br/slam/, aces-
so em jun10, 2022.)

Texto 3:
Mapa de Saraus e Slams do Brasil. Realização: Peneira.
Entenda o Slam
No Brasil, o Slam chegou em 2008, por intermé- Nessa mistura de jogo, poesia, crítica social e in-
dio da artista Roberta Estrela D’Alva, através do ZAP! tervenção urbana, os poetas se reúnem em espaços
Slam (Zona Autônoma da Palavra) na cidade de São públicos para declamar seus trabalhos. Cada poeta,
Paulo. Não demorou para que viesse então o Slam da ou slammer, tem 3 minutos para se apresentar e, no
Guilhermina, que ocorre na periferia de São Paulo, máximo, 10 segundos extras de tolerância. Não é per-
lado leste do mapa, e tantos outros que foram sur- mitido o uso de objetos cênicos ou música. Só voz,
gindo, como: Slam Capão, Slam da Norte, Slam Paz microfone e performance.
em Guerra, Slam Resistência, Slam Caruaru, dentre Os jurados, escolhidos aleatoriamente na plateia,
muitos outros. dão notas de 0 a 10. A cada rodada se classificam os
Hoje, no estado de São Paulo, estima-se que há poetas com maior nota até um deles sagrar-se cam-
cerca de 50 Slams. O movimento se espalhou pelo peão. Dos slams regionais saem competidores para
Brasil e, na estimativa geral realizada em 2018, ha- os campeonatos estaduais. Os vencedores disputam o
via cerca de 150 comunidades de Slam no país todo, Slam BR, que normalmente acontece no final do ano.
sendo que em praticamente todos os Estados há pelo O finalista representa o Brasil na Copa do Mundo de
menos um. Slam, disputada em Paris, na França.
A partir disso se estrutura um circuito de com-
petição: cada Slam, ao encerrar seu ciclo no fim do Entenda o Slam.
ano, promove uma final que vale uma vaga para o Fonte:(Disponível em: h�ps://portal.aprendiz.uol.com.
Campeonato Estadual (SLAM SP, SLAM MG, SLAM RJ, br/2019/08/12/slam-um-manifesto-poetico-liderado-pelas-ju-
ventudes-das-periferias/, acesso em jun 10, 2022)
SLAM BA, etc.) e este leva seu(s) representante(s) para
o Campeonato Brasileiro de Poesia Falada – SLAM BR.
É do Slam BR que sai a pessoa para competir no Cam- Texto 4:
peonato Mundial que acontece na França. A poeta O que é slam?
que o Brasil enviou em 2019 foi a mineira Pieta Poeta.
O slam é uma competição de poesia falada criada
Mapa de Saraus e Slams do Brasil. Realização: Peneira. nos Estados Unidos por Marc Smith, mais especifica-
Fonte: (Disponível em: h�ps://profseducacao.com.br/artigos/o- mente em Chicago nos anos 1980 e trazido ao Brasil
-que-e-slam-poesia-educacao-e-protesto/, acesso em jun 10,
em 2008 por Roberta Estrela D’Alva.
2022)
Originário do inglês, o termo slam quer dizer ba-
tida. Algo semelhante a uma pancada. No entanto,
Texto 2:
resumir essa palavra a apenas um significado é uma
SLAM
tarefa di�cil porque qualquer descrição que se faça
Uma batalha de poesia onde as armas são talento e
nunca dará conta da amplitude que essa vertente da
criatividade.
cultura urbana alcançou nem do impacto que ela tem
na vida de inúmeras pessoas.
O gênero literário Poetry Slam foi criado em Chi-
As batalhas de poesia falada seguem algumas
cago, EUA, na década de 80. Trazido ao país em 2008
regras: poesias autorais de até três minutos sem a
pela poetisa Roberta Estrela D’Alva, rapidamente ga-
utilização de objetos cênicos e sem acompanhamento
nhou adeptos entre os jovens de todo o Brasil, que
musical. Corpo e voz são elementos fundamentais! As
viram no estilo uma oportunidade para expressar seu
notas são dadas por um júri popular que é escolhido
cotidiano e sentimentos.

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LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
no momento da competição. Esta normalmente ocor- Vamoas conversar sobre o texto da Cristal:
re em três fases: geral, semifinal e a final, que revela - Qual tema foi desenvolvido por Cristal? Você acha
o poeta vencedor daquela edição. que a performance de Cristal foi pouco ou muito
Num slam são recitadas poesias de temas livres, aplaudida quando apresentada em um slam? Por
mas verifica-se, ao longo do tempo, que grupos histo- quê? Você teria aplaudido a jovem? Por quê?
ricamente excluídos vêm se utilizando dessa expres- - A poesia dos slams conecta-se com pautas diver-
são ar�stica como forma de reivindicar seus lugares sas da juventude. O feminismo é um tema muito
de direito, de dar visibilidade às suas lutas e se colocar frequente nos versos das meninas. Quais temas
como protagonistas de suas próprias histórias. predominam na poesia dos garotos?

O Que é Slam?
Fonte: (Disponível em: h�ps://educacaopublica.cecierj.edu.br/ar-
tigos/19/30/slam-literatura-e-resistencia, acesso em jun 10, 2022)
SAIBA MAIS
Quando é só pra mulher branca, não vem dizer que
é feminismo Vamos assistir a algumas batalhas de slams?
Cristal Rocha Disponível em: h�ps://www.youtube.com/watch?-
v=nl7g0D285e0. Acessado em 14 de junho de 2022.
Aprendendo com An-ge-lá
tombando que nem Con-ká Disponível em: h�ps://www.youtube.com/watch?-
dama de primeira classe nível Michelle O-ba-má. v=9w_7RKirq2E. Acessado em 14 de junho de 2022.
Causa e resistência já são nossos lares
querem me tirar do topo Disponível em: h�ps://www.youtube.com/watch?-
mas não cedo o meu lugar v=ccrr9uCIIFQ. Acessado em 11 de junho de 2022.
aprendi com Rosa Parks.
Resiliência já é meu dom Disponível em:h�ps://www.youtube.com/watch?-
eu luto com as minhas garras v=UwzHUioFAdA. Acessado em 14 de junho de 2022.
poderosa que nem Marrom
e sem sair do tom Disponível em: ..h�ps://www.youtube.com/watch?-
mesmo que nos tire o chão v=3EehckxB2qU. Acessado em 12 de junho de 2022
e que se dane o seu padrão
porque eu serei aceitação.
Eu não entendo essas mina hipócrita
que quer falar de empatia
esta tua busca por igualdade não me apetece ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM
porque elas não têm sororidade
quando o caso escurece Agora é o momento de produzirmos o nosso próprio
empatia até que ponto slam, para uma batalha dentro do colégio. Utilizem
quando eu conto que elas são feministas a temática “Jovem que busca um mundo melhor”.
nem eu acredito
quando é só pra mulher branca
não vem dizer que é feminismo.
Atura ou surta MOMENTO ENEM
a mídia que quando não te ignora
te deturpa, te estupra QUESTÃO 01 (ENEM 2020)
“nega maluca” te rotulará Eu tenho empresas e sou digno do visto para ir a Nova
banaliza nossa luta York. O dinheiro que chove em Nova York é para pes-
mas não vão mais me gongá soas com poder de compra. Pessoas que tenham um
e preta é só sambá visto do consulado americano. O dinheiro que chove
só se for na tua cara em Nova York também é para os nova-iorquinos. São
se antes virávamos o rosto milhares de dólares. […] Estou indo para Nova York,
hoje é a gente que te encara. onde está chovendo dinheiro. Sou um grande admi-
nistrador. Sim, está chovendo dinheiro em Nova York.
(ROCHA, Cristal. Quando é só pra mulher branca, não vem dizer Deu no rádio. Vejo que há pedestres invadindo a via
que é feminismo... Manos e minas, 25 abr. 2018. onde trafega o meu carro vermelho, importado da
Fonte:Disponível em: <h�ps://www.facebook.com/wat-
ch/?v=318452798886991>. Acesso em: 14 jun. 2022.) Alemanha. Vejo que há carros nacionais trafegando
pela via onde trafega o meu carro vermelho, impor-

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LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
tado da Alemanha. Ao chegar em Nova York, tomarei mados de terras-raras, fazem parte da vida de quase
providências. todos os humanos do planeta. Chamados por muitos
SANT’ANNA, A. O importado vermelho de Noé. In: de “ouro do século 21”, “elementos do futuro” ou “vi-
MORICONI, I. (Org.). Os cem melhores contos. Rio de
taminas da indústria”, eles estão nos materiais usados
Janeiro: Objetiva, 2001.
na fabricação de lâmpadas, telas de computadores,
tablets e celulares, motores de carros elétricos, bate-
As repetições e as frases curtas constituem procedi-
rias e até turbinas eólicas. Apesar de tantas aplicações,
mentos linguísticos importantes para a compreensão
o Brasil, dono da segunda maior reserva do mundo
da temática do texto, pois
desses metais, parou de extraí-los e usá-los em 2002.
(A) expressam a futilidade do discurso de poder e de
Agora, volta a pensar em retomar sua exploração.
distinção do narrador. SILVEIRA. E. Disponível em: www.revistaplaneta.com.br
(B) disfarçam a falta de densidade das angústias exis- Acesso em: 6 dez 2017 (adaptado)
tenciais narradas.
(C) ironizam a valorização da cultura norte-americana As aspas sinalizam expressões metafóricas emprega-
pelos brasileiros das intencionalmente pelo autor do texto para
(D) criticam os estereótipos sociais das visões de mun- (A) imprimir um tom irônico à reportagem.
do elitistas. (B) incorporar citações de especialistas à reportagem.
(E) explicitam a ganância financeira do capitalismo (C) atribuir maior valor aos metais, objeto da repor-
contemporâneo tagem.
(D) esclarecer termos cien�ficos empregados na re-
QUESTÃO 02 (ENEM/2016) portagem.
O adolescente (E) marcar a apropriação de termos de outra ciência
A vida é tão bela que chega a dar medo. pela reportagem.
Não o medo que paralisa e gela,
estátua súbita, QUESTÃO 04 (ENEM 2019)
mas A Esbraseia o Ocidente na agonia O sol... Aves em ban-
esse medo fascinante e fremente de curiosidade dos destacados, Por céus de ouro e púrpura raiados,
[que faz Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia... Delineiam-se
o jovem felino seguir para frente farejando o vento além da serrania Os vértices de chamas aureolados,
ao sair, a primeira vez, da gruta. E em tudo, em torno, esbatem derramados Uns tons
Medo que ofusca: luz! suaves de melancolia. Um mundo de vapores no ar
Cumplicentemente, flutua... Como um informe nódoa avulta e cresce A
as folhas contam-se um segredo sombra à proporção que a luz recua. A natureza apá-
velho como o mundo: tica esmaece... Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Adolescente, olha! A vida é nova… Surge trêmula, trêmula...
Anoitece. CORRÊA, R. Disponível em: www.brasiliana.usp.
A vida é nova e anda nua
br. Acesso em: 13 ago. 2017.
– vestida apenas com o teu desejo!
QUINTANA, M. Nariz de vidro. São Paulo: Moderna, 1998.
Composição de formato fixo, o soneto tornou-se um
modelo particularmente ajustado à poesia parnasia-
Ao abordar uma etapa do desenvolvimento humano,
na. No poema de Raimundo Corrêa, remete(m) a essa
o poema mobiliza diferentes estratégias de composi-
estética
ção. O principal recurso expressivo empregado para
(A) as metáforas inspiradas na visão da natureza.
a construção de uma imagem da adolescência é a
(B) a ausência de emotividade pelo eu lírico.
(A) hipérbole do medo.
(C) a retórica ornamental desvinculada da realidade.
(B) metáfora da estátua.
(D) o uso da descrição como meio de expressividade.
(C) personificação da vida.
(E) o vínculo a temas comuns à Antiguidade Clássica.
(D) an�tese entre juventude e velhice.
(E) comparação entre desejo e nudez.
QUESTÃO 05 (ENEM 2015)
Aquarela
QUESTÃO 03 (ENEM 2021) O corpo no cavalete é um pássaro que agoniza exausto
O ouro do século 21 do próprio grito. As vísceras vasculhadas principiam
Cério, gadolínio, lutécio, promécio e érbio; sumário, a contagem regressiva. No assoalho o sangue se de-
térbio e disprósio; hólmio, túlio e itérbio. Essa lista de compõe em matizes que a brisa beija e balança: o
nomes esquisitos e pouco conhecidos pode parecer a verde - de nossas matas o amarelo - de nosso ouro o
escalação de um time de futebol, que ainda teria no azul - de nosso céu o branco o negro o negro
banco de reservas lantânio, neodímio, praseodímio, CACASO. In: HOLLANDA, H. B (Org.). 26 poetas hoje. Rio de
európio, escândio e ítrio. Mas esses 17 metais cha- Janeiro: Aeroplano, 2007.

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LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
Situado na vigência do Regime Militar que governou o No poema, o eu lírico faz um inventário de estados
Brasil, na década de 1970, o poema de Cacaso edifica passados espelhados no presente. Nesse processo,
uma forma de resistência e protesto a esse período, aflora o
metaforizando (A) Cuidado em apagar da memória os restos do amor.
(A) as artes plásticas, deturpadas pela repressão e (B) Amadurecimento revestido de ironia e desapego.
censura. (C) Mosaico de alegrias formado seletivamente.
(B) a natureza brasileira, agonizante como um pássaro (D) Desejo reprimido convertido em delírio.
enjaulado. (E) Arrependimento dos erros cometidos.
(C) o nacionalismo romântico, silenciado pela perple-
xidade com a Ditadura. QUESTÃO 08 (Enem 2018)
(D) o emblema nacional, transfigurado pelas marcas O que será que ela quer
do medo e da violência. Essa mulher de vermelho
Alguma coisa ela quer
(E) as riquezas da terra, espoliadas durante o apare-
Pra ter posto esse vestido
lhamento do poder armado.
Não pode ser apenas
Uma escolha casual
QUESTÃO 06 (ENEM 201 Podia ser um amarelo
Cidade grande Verde ou talvez azul
Que beleza, Montes Claros. Mas ela escolheu vermelho
Como cresceu Montes Claros. Ela sabe o que ela quer
Quanta indústria em Montes Claros. E ela escolheu vestido
Montes Claros cresceu tanto, E ela é uma mulher
ficou urbe tão notória, Então com base nesses fatos
prima-rica do Rio de Janeiro, Eu já posso afirmar
que já tem cinco favelas Que conheço o seu desejo
por enquanto, e mais promete. Caro watson, elementar:
(Carlos Drummond de Andrade) O que ela quer sou euzinho
Sou euzinho o que ela quer
Entre os recursos expressivos empregados no texto, Só pode ser euzinho
destaca-se a O que mais podia ser
(A) metalinguagem, que consiste em fazer a lingua- FREITAS, A. Um útero é do tamanho de um punho. São
gem referir-se à própria linguagem. Paulo: Cosac Naify
(B) intertextualidade, na qual o texto retoma e ree-
labora outros textos. No processo de elaboração do poema, a autora confe-
re ao eu lírico uma identidade que aqui representa a
(C) ironia, que consiste em se dizer o contrário do que
(A) Hipocrisia do discurso alicerçado sobre o senso
se pensa, com intenção crítica.
comum.
(D) denotação, caracterizada pelo uso das palavras
(B) Mudança de paradigmas de imagem atribuídos à
em seu sentido próprio e objetivo. mulher.
(E) prosopopeia, que consiste em personificar coisas (C) Tentativa de estabelecer preceitos da psicologia
inanimadas, atribuindo-lhes vida. feminina.
(D) Importância da correlação entre ações e efeitos
QUESTÃO 07 (Enem 2019) causados.
Essa lua enlutada, esse desassossego (E) Valorização da sensibilidade como característica
A convulsão de dentro, ilharga de gênero.
Dentro da solidão, corpo morrendo
Tudo isso te devo. E eram tão vastas QUESTÃO 09 (ENEM 2016)
As coisas planejadas, navios, Antiode
Muralhas de marfim, palavras largas Poesia, não será esse
Consentimento sempre. E seria dezembro. O sentido em que
Um cavalo de jade sob as águas Ainda te escrevo:
Dupla transparência, fio suspenso Flor! (Te escrevo:
Todas essas coisas na ponta dos teus dedos Flor! Não uma
E tudo se desfez no pórtico do tempo Flor, nem aquela
Em lívido silêncio. Umas manhãs de vidro Flor-virtude - em
Vento, a alma esvaziada, um sol que não vejo Disfarçados urinóis).
Também isso te devo. Flor é a palavra
HILST, H. Júbilo, memória, noviciado da paixão. São Paulo: Flor; verso inscrito
Cia. das Letras, 2018. No verso, como as

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LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
Manhãs no tempo. TEXTO DRAMÁTICO
Flor é o salto ESCREVENDO PARA TEATRO
Da ave para o voo:
O salto fora do sono HABILIDADE ESPECÍFICA
Quando seu tecido (EM13LP13) Analisar, a partir de referências contex-
Se rompe; é uma explosão tuais, estéticas e culturais, efeitos de sentido decor-
Posta a funcionar, rentes de escolhas de elementos sonoros (volume,
Como uma máquina, timbre, intensidade, pausas, ritmo, efeitos sonoros,
Uma jarra de flores. sincronização etc.) e de suas relações com o verbal,
MELO NETO, J. C. Psicologia da composição. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1997 (fragmento).
levando-os em conta na produção de áudios, para
ampliar as possibilidades de construção de sentidos
A poesia é marcada pela recriação do objeto por meio e de apreciação.
da linguagem, sem necessariamente explicá-lo. Nesse
fragmento de João Cabral de Melo Neto, poeta da OBJETIVO DE APRENDIZAGEM
geração de 1945, o sujeito lírico propõe a recriação (GO-EMLP13A) Comparar informações sobre concep-
poética de ções ar�sticas e processos de construção do texto li-
(A) Uma palavra, a partir de imagens com as quais terário (metrificação, rimas, ritmo, figuras de lingua-
ela pode ser comparada, a fim de assumir novos gem), analisando o modo como a literatura e as artes
significados. se constituem, dialogam e se retroalimentam para
(B) Um urinol, em referência às artes visuais ligadas ampliar o repertório sociocultural e as possibilidades
às vanguardas do início do século XX. de construção de sentido.
(C) Uma ave, que compõe, com seus movimentos,
uma imagem historicamente ligada à palavra po- OBJETO DE CONHECIMENTO
ética. Língua Portuguesa: Elemento da linguagem visual na
(D) Uma máquina, levando em consideração a rele- Arte (a gravura, o quadro, a escultura enquanto texto).
vância do discurso técnico-cien�fico pós-Revolu- Figuras de linguagem. Recursos linguísticos. Recursos
ção Industrial. imagéticos. Recursos sonoros. Estética e estilística na
(E) Um tecido, visto que sua composição depende de literatura e nos elementos da linguagem teatral. Gê-
elementos intrínsecos ao eu lírico. neros digitais. Gêneros cinematográficos. Arte digital.
Significados/sentidos no discurso das mídias sobre os
QUESTÃO 10 (Enem 2018) gêneros digitais.
Eu sobrevivi do nada, do nada
Eu não existia Assim como o texto narrativo, o texto dramático
Não tinha uma existência
apresenta fatos, personagens, tempo e espaço, mas
Não tinha uma matéria
é escrito para ser representado. A ação, portanto, é
Comecei existir com quinhentos milhões
interpretada, conduzida pelas personagens, e não
E quinhentos mil anos
contada por um narrador.
Logo de uma vez, já velha
Eu não nasci criança, nasci já velha Há várias características que identificam um texto
Depois é que eu virei criança dramático. A principal delas é o emprego da língua
E agora continuei velha oral do ato da representação, que pode ocorrer em
Me transformei novamente numa velha forma de diálogo (entre dois ou mais atores) ou de
Voltei ao que eu era, uma velha monólogo (texto dramatizado por um só ator ou atriz).
PATROCÍNIO, S. In: MOSÉ, V. (Org.). Reino dos bichos e dos Nas duas formas, estabelece-se o conflito, ou seja,
animais é meu nome. Rio de Janeiro: Azougue, 2009. uma tensão provocada pela oposição de elementos
da história.
Nesse poema de Stela do Patrocínio, a singularidade
da expressão lírica manifesta-se na PRODUÇÃO DE TEXTO DRAMÁTICO
(A) representação da infância, redimensionada no
resgate da memória. O diretor e os atores dispõem de cenário, ilumina-
(B) associação de imagens desconexas, articuladas ção, trilha sonora, figurino, maquiagem, técnicas de
por uma fala delirante. representação, entre outros elementos, que ajudam
(C) expressão autobiográfica, fundada no relato de a criar a ilusão e o clima necessários. A narração de
experiências de alteridade.
um texto dramático sem o apoio desses cênicos é
(D) incorporação de elementos fantásticos, explicita-
chamada de leitura ou ensaio.
da por versos incoerentes.
As rubricas são indicadores que orientam o leitor
(E) transgressão à razão, ecoada na desconstrução
e os atores sobre as características ou modo de pro-
de referências temporais.

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LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
ceder das personagens. São compostas de palavras périplo como subversivo, pois chama a atenção da
ou frases grafadas em letras com destaque (em geral, população para uma religiosidade não mediada por
em itálico) e entre parênteses. Existem as rubricas de ela. Para os jornais, a história pode render boas man-
interpretação e as de movimento. Observe, no trecho chetes e grande vendagem. Para a polícia, a inocência
da peça A moratória, alguns exemplos: de Zé é uma oportunidade de demonstrar sua força. E,
para o povo, a luta de um passa a ser a luta de todos.
“Helena: (Desviando a conversa) A igreja estava
repleta.” Aspectos estruturais
Rubrica de interpretação
Trata-se de um texto escrito para teatro, ou seja,
“Helena: Marcelo! (Bate na porta) Marcelo! (...).” para ser levado ao palco, ser encenado. A peça é divi-
Rubrica de movimento dida em três atos, sendo que os dois primeiros ainda
são subdivididos em dois quadros cada um. Após a
Antes das rubricas e das falas, há a indicação do apresentação dos personagens, o primeiro ato mostra
nome da personagem que elaborará uma fala ou uma a chegada do protagonista Zé do Burro e sua mulher
ação. Uma peça teatral em geral é dividida em partes, Rosa, vindos do interior, a uma igreja de Salvador e
chamadas de atos, que podem ser subdivididos em termina com a negativa do padre em permitir o cum-
cenas quando a peça é muito longa. primento da promessa feita. O segundo ato traz o
A produção de um texto dramático pode ser feita aparecimento de diversos novos personagens, todos
individualmente ou em parceria, por duas ou mais envolvidos na questão do cumprimento ou não da
pessoas. Em escolas de teatro, é comum os atores promessa e vai até uma nova negativa do padre, o
realizarem oficinas de roteiro para teatro, em que que ocasiona, desta vez, explosão colérica em Zé do
um ou mais membros do grupo são encarregados de Burro. O terceiro ato é onde as ações recrudescem,
escrever o texto. as incompreensões vão ao limite e se verifica o dra-
Na construção de um texto para teatro, que pode mático desfecho.
ser comédia, drama ou tragicomédia, é empregada
uma linguagem de acordo com o tempo, o estilo e as Personagens
convicções ar�sticas, estéticas e políticas de quem Zé-do-Burro; Rosa; Marli; Bonitão; Padre; Sacris-
escreve. Também é definido que história ou fatos se- tão; Guarda; Beata; Galego; Minha Tia; Repórter; Fo-
rão narrados., como serão construídas as personagens tógrafo; Dedé Cospe-Rima; Secreta; Delegado; Mestre
(suas características �sicas, psicológicas, etc.), como Coca; Monsenhor; Manoelzinho Sua-Mãe e a Roda
serão estabelecidos os diálogos e as relações entre de Capoeira.
as personagens.”
Ação: - Salvador
TEXTO DRAMÁTICO
Fonte: (Disponível em: h�ps://mosqueteirasliterarias.comunida-
Época: - Atual
des.net/texto-dramatico, acessado em jun 14, 2022).
Primeiro ato
Agora vamos ao texto: Primeiro quadro
A ação da peça tem início nas primeiras horas
O Pagador de Promessas da manhã [4 e meia], numa praça, em frente a uma
[Dias Gomes] igreja, em Salvador. O personagem denominado Zé
do Burro carrega uma cruz e se aloja na frente da
Um homem percorre sete léguas do interior da igreja. A seu lado Rosa, sua mulher, apresentada como
Bahia até Salvador, carregando uma cruz nos ombros. tendo ‘sangue quente’ e insatisfação sexual. Zé es-
Todo esse esforço tem apenas um objetivo: agradecer pera a igreja abrir para cumprir sua promessa, feita
a Santa Bárbara pela recuperação do animal que lhe a Santa Bárbara. Aparecem no lugar, algum tempo
dá sustento na lavoura. Ao chegar à cidade grande, depois, Marli e Bonitão: ela prostituta; ele, gigolô. Há
acompanhado de sua mulher, Zé-do-Burro, como pas- uma clara relação de exploração e dependência entre
sa a ser conhecido, se sente perdido, mas a obstinação eles. Encontrando Zé, Bonitão dirige-se a ele e percebe
de cumprir sua promessa o faz enfrentar qualquer ser alguém ingênuo. Rosa, por sua vez, conversando
obstáculo. com o gigolô, queixa-se de Zé, contando que ele, na
Um estrangeiro em seu próprio país, Zé-do-Burro sua promessa, dividiu suas terras com lavradores po-
vem de um mundo distante da disputa de poder na bres. Percebendo a ingenuidade, Bonitão propõe-se
qual repentinamente se vê envolvido. Para os podero- a providenciar um local para Rosa descansar. Zé não
sos de Salvador, a jornada do pagador de promessas é só aceita, como incentiva. Saem os dois, Bonitão e
um perigo ou uma oportunidade. A igreja encara seu Rosa, de cena.

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LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
Segundo quadro barba de dois ou três dias e traja-se decentemente,
Aos poucos, começa o movimento ao redor da embora sua roupa seja mal talhada e esteja amarrota-
praça. Aparecem a Beata, o sacristão e o Padre Ola- da e suja de poeira. Rosa parece pouco ter de comum
vo, titular da igreja. Zé explica a promessa: Nicolau com ele. É uma bela mulher, embora seus traços se-
foi ferido com a queda de uma árvore; estando para jam um tanto grosseiros, tal como suas maneiras. Ao
morrer, Zé fez a promessa. O burro - Nicolau é um contrário do marido, tem “sangue quente”. É agressiva
burro! - salva-se. Ingenuamente, Zé revela ter usado em seu “sexy”, revelando, logo à primeira vista, uma
as rezas de Preto Zeferino e feito a promessa num insatisfação sexual e uma ânsia recalcada de romper
terreiro de candomblé, a Iansã, equivalente afro de com o ambiente em que se sente sufocar. Veste-se
Santa Bárbara. O padre fica escandalizado. Estabe- como uma provinciana que vem à cidade, mas tam-
lece-se o conflito. O sincretismo Iansã-Santa Bárba- bém como uma mulher que não deseja ocultar os
ra, natural para Zé do burro, é um grandioso pecado encantos que possui.
para o padre. A situação agrava-se com a revelação Zé-do-Burro vai até o centro da praça e aí pousa
da divisão de terras. Impasse. O padre manda fechar a sua cruz, equilibrando-a na base e num dos braços,
a igreja e proíbe o cumprimento da promessa. Zé do como um cavalete. Está exausto. Enxuga o suor da
burro fica atônico. testa.

Primeiro Ato Segundo ato


Primeiro Quadro Primeiro quadro
Ao subir o pano, a cena está quase às escuras. Duas horas mais tarde, já a movimentação no lu-
Apenas um jato de luz, da direita, lança alguma clari- gar é intensa. O Galego, dono do bar, abriu seu estabe-
dade sobre o cenário. lecimento. Surgem Minha Tia, vendedora de acarajés,
Mesmo assim, após habituar a vista, o espectador carurus e outras comidas �picas, Dedé Cospe-Rima,
identificará facilmente uma pequena praça, onde de- poeta popular, ao estilo repentista e o Guarda. Zé do
sembocam duas ruas. burro quer cumprir a promessa. O Guarda tenta inter-
Uma à direita, seguindo a linha da ribalta, outra vir. Rosa reaparece com ‘ar culpado’. Chega o Repórter.
à esquerda, ao fundo, de frente para a plateia, subin- Seguindo a linha do oportunismo sensacionalista, o re-
do, encadeirada e sinuosa, no perfil de velhos sobra- pórter quer tirar vantagens da história de Zé do Burro.
dos coloniais. Na esquina da rua da direita, vemos a Quer torná-lo um mártir, para virar no�cia. Enquanto
fachada de uma igreja relativamente modesta, com isso descobre-se que Rosa transou com Bonitão. Marli
uma escadaria de quatro ou cinco degraus. Numa das faz um pequeno escândalo, denunciando a história
esquinas da ladeira, do lado oposto, há uma vendola, Rosa com Bonitão.
onde também se vende café, refresco, cachaça etc.; a
outra esquina da ladeira é ocupada por um sobrado Segundo quadro
cuja fachada forma ligeira barriga pelo acúmulo de Três da tarde, Dedé oferece poemas para Zé, a
andares não previsto inicialmente. O calçamento da fim de derrotar o Padre. Aparecem, em momentos
ladeira é irregular e na fachada dos sobrados veem- subsequentes, o capoeirista Mestre Coca e o policial,
-se alguns azulejos estragados pelo tempo. Enfim, é o Secreta, chamado por Bonitão, ficando ambos, por
uma paisagem tipicamente baiana, da Bahia velha e enquanto, nas cercanias. Zé começa a perder a pa-
colonial, que ainda hoje resiste à avalancha urbanís- ciência e arma uma gritaria. O padre reage. Chega o
tica moderna. Monsenhor, autoridade da igreja, propondo a Zé uma
Devem ser, aproximadamente, quatro e meia da solução: ele, Monsenhor, na qualidade de represen-
manhã. tante da Igreja, pode liberar Zé da promessa, dando-a
Tanto a igreja como a vendola estão com suas por cumprida. Zé não aceita, dizendo que promessa foi
portas cerradas. feita à Santa e só ela poderia liberá-lo. Segue o impas-
Vem de longe o som dos atabaques dum candom- se. Zé explode novamente e avança com a cruz sobre
blé distante, no toque de Iansan. Decorrem alguns se- a Igreja. O padre fecha a porta. Zé, já desesperado,
gundos até que Zé-do-Burro surja, pela rua da direita, bate com a cruz na porta. O drama é total.
carregando nas costas uma enorme e pesada cruz de
madeira. A passos lentos, cansado, entra na praça, Segundo Ato
seguido de Rosa, sua mulher. Ele é um homem ainda Primeiro Quadro
moço, de 30 anos presumíveis, magro, de estatura Aproximadamente, duas horas depois. Abriu-se
média. Seu olhar é morto, contemplativo. Suas feições a vendola e o Galego aparece trepado num caixote,
transmitem bondade, tolerância e há em seu rosto amarrando um cordão com bandeirolas vermelhas e
um “quê” de infantilidade. Seus gestos são lentos, brancas que vai da porta da venda ao sobrado do lado
preguiçosos, bem como sua maneira de falar. Tem oposto. Zé e sua cruz continuam no meio da praça.

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LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
Ouve-se um pregão: “Beiju... olha o beiju!” Logo após, Galego
surge no alto da ladeira uma preta em trajes �picos, É, com esta história de hacer versos, usted sempre
com um tabuleiro na cabeça. Ela desce a ladeira e ao me leva na conversa.
passar pelo Galego saúda. (entra na venda e dá a volta por trás do balcão)
É boa mesmo essa do cego Jeremias?
Minha Tia (Serve o parati).
Iansan lhe dê um bom-dia.
Terceiro ato
Galego Entardecer. Muita gente na praça e nos arredo-
(Espanhol) res da Igreja. Há uma roda de capoeira. O Galego,
Gracias, Minha Tia. oportunista, oferece comida grátis a Zé, pois a história
Minha Tia vai até à igreja e aí, junto dos degraus, está trazendo movimento ao seu bar. O Secreta, no
pára. bar, avisa que a polícia prenderá Zé, ameaçando os
A critério da direção e em momentos em que não capoeiristas, caso eles interfiram. Marli volta. Ofen-
prejudiquem a ação, transeuntes cruzarão a praça, de Rosa, ofende Zé. O protagonista parece mudar de
durante todo o ato. atitude. Resolve ir embora ‘à noite’. Rosa quer ir em-
bora já. Conta que Bonitão avisou a polícia. Retorna
Minha Tia o repórter, que tenta montar um verdadeiro circo em
(Para o Galego) torno do Zé, com o objetivo de vender o jornal. Chega
Quer vir aqui dar uma mãozinha pra sua tia, meu Bonitão e convida Rosa para ir com ele. Zé pede a ela
branco? para ficar. Rosa hesita, a princípio, mas, em seguida,
Galego apressa-se a ir ajudá-la. Retira primeiro vai com Bonitão. Mestre Coca avisa Zé sobre a che-
o cavalete que está sobre o tabuleiro, abre-o, depois gada da polícia. Zé está perplexo: ‘Santa Bárbara me
ajuda-a a tirar o tabuleiro da cabeça e colocá-lo em abandonou’. Da igreja saem o Sacristão, o Guarda, o
cima do cavalete. Padre e o Delegado. Tensão da cena acentua-se. Zé
ainda tenta, ingênua e inutilmente, explicar alguma
Minha Tia coisa. Ao ser cercado, puxa uma faca. As autoridades
Santa Bárbara lhe pague. reagem. Os capoeiristas também. Briga e confusão. De
(Nota Zé-do-Burro) repente, um tiro espalha gente para todos os lados.
Oxente! Que é aquilo? Zé é mortalmente ferido. Mestre Coca olha para os
companheiros, que entendem a mensagem. Os ca-
Galego poeiristas tomam o corpo do Zé colocam-no sobre a
Não sei. Já estava acá quando abri a venda. Parece cruz e, ignorando o padre e polícia, entram na igreja
maluco. carregando a cruz.
(Volta a pregar as bandeirolas, enquanto Minha Zé
Tia põe-se a arrumar o fogareiro, procura acendê-lo). Me deixe, Rosa! Não venha pra cá!
Desce a ladeira, passo mole, preguiçoso, Dedé Zé-do-Burro, de faca em punho, recua em direção
Cospe-Rima. à igreja.
Mulato, cabeleira pixaim, sob o surrado chapéu Sobe um ou dois degraus, de costas. O Padre vem
de coco - um adorno necessário à sua profissão de por tráse dá uma pancada em seu braço, fazendo com
poeta-comerciante. que a faca vá cair no meio da praça. Zé-do-Burro corre
Traz, embaixo do braço, uma enorme pilha de fo- e abaixa-se para apanhá-la. Os policiais aproveitam e
lhetos: abecês, romances populares em versos. E dois caem sobre ele, para subjugá-lo. E os capoeiros caem
cartazes, um no peito, outro nas costas. Num se sobre os policiais para defendê-lo. Zé-do-Burro desa-
lê: “ABC da Mulata Esmeralda - uma obra-prima” e pareceu na onda humana.
no outro “Saiu agora, tá fresco ainda! O que o cego Ouve-se um tiro. A multidão se dispersa como
Jeremias viu na Lua”. num estouro de boiada, Fica apenas Zé-do-Burro no
meio da praça, com as mãos sobre o ventre Ele dá
Dedé ainda um passo em direção à igreja e cai morto
(declama) Rosa
Bom dia, Galego amigo! (Num grito)
dia assim eu nunca vi; Zé!
para saudar Iansan, (corre para ele)
Padre
não repare eu lhe pedi:
(Num começo de reconhecimento de culpa)
me empreste por obséquio
Virgem San�ssima!
dois dedos de parati.

51
LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
Delegado Depois da leitura inicial do texto podemos nos
(Para o Secreta) aprofundar mais e distinguir uma leitura dramatizada
Vamos buscar reforço da leitura branca:
(Sai, seguido do Secreta e do Guarda). Leitura dramatizada é aquela em que há um se-
O Padre desce os degraus da igreja, em direção guimento a tudo que as rubricas solicitam, colocando
do corpo de Zé-do-Burro. o texto em ação. A leitura branca é assim chamada
Rosa por não seguir as orientações rubricadas.
(Com rancor)
Não chegue perto! Segundo o dicionário Priberiam da Língua Portu-
Padre guesa:
Queria encomendar a alma dele... “rubrica | n. f.
Rosa 3ª pess. sing. pres. ind. de rubricar
2ª pess. sing. imp. de rubricar
Encomendar a quem? Ao Demônio?
ru·bri·ca |brí|
O Padre baixa a cabeça e volta ao alto da esca-
(latim rubrica, -ae, ocre vermelho, tinta vermelha,
da. Bonitão surge na ladeira. Mestre Coca consulta
lei)
os companheiros com o olhar. Todos compreendem
substantivo feminino
a sua intenção e respondem afirmativamente com a 1. Argila avermelhada. = ALMAGRE
cabeça. Mestre Coca inclina-se diante de Zé-do-Burro, 2. Letra ou linha inicial de um capítulo escrita em
segura-o pelos braços, os outros capoeiras se aproxi- vermelho, em códices antigos.
mam também e ajudam acarregar o corpo. Colocam- 3. [Religião] Nota em letra vermelha nos breviá-
no sobre a cruz, de costas, com os braços estendidos, rios, missais, etc.
como um crucificado. Carregam-no assim, como numa 4. Título dos capítulos de livros de direito.
padiola e avançam para a igreja. 5. Nota ou apontamento.
Bonitão segura Rosa por um braço, tentando levá- 6. Assinatura curta ou abreviada.
la dali. 7. Cifra que muitas pessoas fazem no fim dos seus
Mas Rosa o repele com um safanão e segue os nomes.
capoeiras. 8. Parte ou seção regular de um programa ou de
Bonitão dá de ombros e sobe a ladeira. Intimida- uma publicação, geralmente temática.
dos, o Padre e o Sacristão recuam, a Beata foge e os 9. [Cinema, Teatro, Televisão] Indicação dos mo-
capoeiras entram na igreja com a cruz, sobre ela o vimentos e gestos dos atores, consignado nos res-
corpo de Zé-do-Burro. O Galego, Dedé e Rosa fecham pectivos papéis.
o cortejo. Só Minha Tia permanece em cena. Quando 10. [Música] Indicação de como deve ser execu-
uma trovoada tremenda desaba sobre a praça. tada uma peça musical.”

Minha Tia Dicionário Priberiam da Língua Portuguesa (“ru-


(Encolhe-se toda, amedrontada, toca com as pon- brica”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
tas dos dedos o chão e a testa) [em linha], 2008-2021, h�ps://dicionario.priberam.
Êparrei minha mãe! org/rubrica Acessado em 14-06-2022]).

Vamos conhecer um pouco mais sobre o autor


desta obra:
Membro da Academia Brasileira de Letras, Dias ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM
Gomes começou a escrever para teatro aos 15 anos.
Até a sua morte, criticou a atual situação da dramatur- Agora que já fizemos uma leitura inicial do texto (bran-
gia brasileira, que acreditava não ter a menor ligação ca) e de seu autor, podemos realizar uma leitura dra-
com a realidade do país. O dramaturgo lamentava matizada. Importante que observemos a estrutura do
que a ditadura tivesse acabado com o crescimento texto que nos auxilia a entender o texto. Organizem
da dramaturgia nacional iniciado nos anos 50. Nas para que cada estudante seja um personagem, bus-
décadas de 60 e 70, teve praticamente todas as peças quem definir aspectos que contribuam para a melhor
censuradas pelo regime militar. compreensão do texto, como por exemplo, cenário e
Biografia, Dias Gomes. figurinos. Antes da encenação é importante que uma
leitura mais aprofundada seja realizada, embasando
Fonte: (Disponível em: h�ps://www.algosobre.com.br/ a ação das personagens.
resumos-literarios/o-pagador-de-promessas.html , Acesso
em jun 7, 2022).

52
LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
Chegou o momento em que podemos produzir! • como seria hoje, século XXI, a postura da imprensa
diante de tal fato?
Leia o fragmento e converse com seus colegas sobre • pode-se afirmar que a diversidade cultural é fator
as situações apresentadas a seguir: de divisão social?
“A peça de Dias Gomes tem nítidos propósitos de evi-
denciar certas questões socioculturais da vida brasi- Depois desse momento de debate, cada grupo de es-
leira, em detrimento do aprofundamento psicológico tudantes deverá produzir uma mídia (vídeo, podcast,
de seus personagens. Assim, ganha força no drama a meme, fotografia, ilustração, charge etc) que possa
visão crítica quanto: ter como legenda: “Ter religião nem sempre é fácil!”
a) à intolerância da Igreja católica, personificada no
autoritarismo do Padre Olavo, e na insensibilidade
do Monsenhor convocado a resolver o problema;
b) à incapacidade das autoridades que representam
SAIBA MAIS
o Estado - no episódio, a polícia - de lidar com
questões multiculturais, transformando um caso
Podemos conhecer um pouco mais a obra em questão.
de diferença cultural em um caso policial;
Aproveite para aprofundar seus conhecimentos em:
c) à voracidade inescrupulosa da imprensa, sim-
O Pagador de Promessas, Dias Gomes: h�ps://www.
bolizada no Repórter, um perfeito mau-caráter,
notapositiva.com/old/pt/trbestbs/portugues/10_pa-
completamente desinteressado no drama do pro-
gador_de_promessas_d.htm
tagonista, mas muito interessado na repercussão
que a história pode ter;
h�ps://www.culturagenial.com/livro-o-pagador-de-
d) ao grande fosso que separa, ainda, o Brasil urbano
-promessas/
do Brasil rural: Zé do Burro não consegue compre-
ender por que lhe tentam impedir de cumprir sua
h�ps://www.academia.edu/29003460/O_Pagador_
promessa; os padres, a polícia, a imprensa não de_Promessas
conseguem compreender quem é Zé do Burro,
sua origem ingênua, com outros códigos cultu-
rais, outras posturas. Além disso, a peça mostra
as variadas facetas populares: o gigolô esperto, a
vendedora de quitutes, o poeta improvisador, os ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM
capoeiristas. O final simbólico aponta em duas di-
reções. Em primeiro lugar a morte do Zé do Burro Leia o fragmento da obra O Pagador de Promessas
mostra-se com fim inevitável para o choque cultu- de Dias Gomes e responda:
ral violento que se opera na peça: ninguém, entre MINHA TIA Caruru de Santa Bárbara. Antigamente a
as autoridades da cidade grande, é capaz de assi- gente fazia isso e era de graça. Hoje, com a vida do
milar o sincretismo religioso tão característico de jeito que está, a gente tem mesmo é que cobrar.
grandes camadas sociais no Brasil, especialmente GALEGO (Atravessa a praça com um prato de sandu-
no interior nordestino. Em segundo lugar, a entra- íches na mão e vai a Zé-do-Burro) Pero vo no cobro
da dos capoeiristas na igreja, carregando a cruz nada. (Oferece) Oferta da casa.
com o corpo, sinaliza para rechaçar a inutilidade ZÉ
daquela morte: os populares compreenderam o Pra mim?
gesto de Zé do Burro.” GALEGO
Si, para usted. Cachorro-quente. Después trarê um
Resumo literário O Pagador de Promessa, Dias Go- cafezito.
mes. ZÉ
Fonte: (Disponível em: h�ps://www.algosobre.com. Não, obrigado.
br/resumos-literarios/o-pagador-de-promessas.html GALEGO
, Acesso em jun 7, 2022). Pode aceitar sin constrangimento. E podemos até ha-
cer um negócio. Se usted promete no arredar pé de
• a intolerância da igreja ainda hoje é vista como cá, yo me comprometo a fornecer comida e bebida
algo que pode atrapalhar a fé das pessoas? gratuitamente para los dos.
• se essa situação do Zé do Burro fosse na sua ci- ZÉ
dade, você acredita que as autoridades saberiam Não, não tenho fome.
lidar como todo o burburinho que isso poderia GALEGO
gerar na sociedade? (Muito preocupado) Pero, asi usted no poderá resistir!

53
LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
ZÉ d) Bonitão e Marli são o exemplo de um relacio-
Não importa. namento moderno, em que homem e mulher
GALEGO usufruem dos mesmos direitos.
(Oferece a Rosa) A senhora não quer?… e) O Monsenhor e Padre Olavo representam a ri-
ROSA gidez de princípios teóricos da doutrina católica
Não estou com vontade. diante de situações práticas inusitadas.
GALEGO
(Encolhe os ombros, conformado) Bien… (Volta à 3. Em O pagador de promessas, Dias Gomes
venda) a) propõe um ataque à Igreja católica, o que evi-
SECRETA dencia o caráter subversivo da obra.
(Para o Galego) Uma meladinha. b) instiga a polícia, causadora de tragédias popu-
lares no Brasil.
Galego
c) investe contra a ignorância do povo, fato que
serve a cachaça com mel. (Notando a apreensão de
conduz Zé à morte.
Rosa) Que há?
d) ilustra a voluptuosidade das mulheres do inte-
ROSA
rior ao demonstrar os interesses de Rosa em
Ele não é nosso amigo. Bonitão.
ZÉ e) demonstra, de modo hiperbólico, a relação
E que tem isso? brasileira com a fé
ROSA
Ouvi dizer que é da polícia. 4. A linguagem de O pagador de promessas, Dias Go-
ZÉ mes, é …, à medida em que …, numa abordagem
Não sou nenhum criminoso, não fiz mal a ninguém. legitimamente …
a) coloquial – apresenta variedades linguísticas –
GOMES, Alfredo Dias. O pagador de promessas. Rio de Janeiro: oral
Ediouro, s.d. p. 83-85.
b) estilizada – linguagem inventiva – formal
c) padrão – respeita a norma culta – formal
1. O fragmento, no contexto da obra, permite con- d) despojada – respeita as diferenças regionais –
siderar correta a alternativa: estilizada
a) Zé-do-Burro, envolvido totalmente com o obje- e) beletrista – investe em tratamento ar�stico –
tivo de cumprir a promessa, mantém-se alheio moderna
ao comportamento transgressor de Rosa.
b) Rosa resiste ao assédio de Bonitão motivada 5. O pagador de promessas, Dias Gomes, pode ser
pelo desejo de persuadir Zé-do-Burro da ur- entendido como
gência de voltar para a roça. a) uma tragédia rural brasileira à medida que as
c) Minha Tia, ao cobrar pelo caruru de Santa Bár- questões agrárias ficam em segundo plano.
bara, evidencia a sua descrença nos valores re- b) uma tragédia popular brasileira, salientada pe-
ligiosos do candomblé. las más-intenções das autoridades policiais.
d) Rosa revela consciência do risco que representa c) uma trama de caráter burlesco, cujo final, ab-
a persistência de Zé de contrapor-se à autori- surdo, ilustra a ignorância popular.
dade constituída. d) um retrato da fratura social brasileira, num
e) Galego, num gesto desinteressado, mostra o conflito que demonstra a incompreensão de
quanto está solidário com Zé-do-Burro. diferentes partes.
e) um rito de passagem de Zé para a verdadeira
religião, simbolizado por sua imagem na cruz.
2. (CEFET-PR) Leia atentamente as afirmações abaixo
sobre O Pagador de Promessas e assinale a ver-
6. A ironia é fator importante na peça O pagador de
dadeira: promessas, de Dias Gomes. Considere as seguin-
a) Zé-do-Burro e sua esposa, Rosa, mantêm um tes afirmações sobre o uso desse recurso no texto:
relacionamento amoroso conflituoso devido a I. A ironia pode ser vista no fato de Zé carregar
ele ser um revolucionário do campo e ela, uma uma cruz, trabalho braçal duro, por um burro.
beata devota. II. Elemento de ironia curioso é o fato de a fé se
b) O Secreta, o Delegado e o Guarda demonstram Zé do Burro “vencer” até mesmo a divindade, so-
a nova face da polícia, após a ditadura de Var- bretudo quando ele mesmo diz que Santa Bárbara
gas, preocupada com os direitos humanos. o abandonou.
c) Minha Tia e Mestre Coca são representantes do III. Irônico também é o diálogo entre Zé e Bonitão,
povo, católicos ardorosos, que se revoltam com uma vez que Zé entrega com confiança a mulher
as heresias cometidas por Marli e Zé-do-Burro. ao gigolô.

54
LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
Quais estão corretas? d) Apenas III.
a) Apenas I. e) I, II e III.
b) Apenas II.
c) Apenas II e III 10. (UEL) Sobre o motivo da jornada da personagem
d) Apenas III. Zé-do-Burro até Salvador, no livro O Pagador de
e) I, II e III. Promessas, de Dias Gomes, assinale a alternativa
correta.
7. Na peça O pagador de promessas, Dias Gomes a) Pagamento de promessa pela conquista de suas
I. expõe um drama em que um homem de vida terras.
rural, depois de ter repartido as terras, carrega b) Pagamento de promessa pela recuperação de
uma cruz até Salvador. Rosa.
II. aborda a burocracia da Igreja, que só admite c) Pagamento de promessa pelo restabelecimento
da entrada da cruz depois que Zé renegar sua fé do burro.
em Insã. d) Pretexto para fazer campanha a favor da refor-
III. demonstra a rivalidade religiosa dos populares ma agrária.
que, devotos do candomblé, desejam invadir a e) Pretexto para protestar contra a ditadura.
igreja.
Quais estão corretas? 11. (UEL) Com base em O Pagador de Promessas, as-
a) Apenas I. sinale a alternativa que apresenta, corretamente,
b) Apenas II. o parecer crítico que analisa a obra.
c) Apenas II e III a) “A mola propulsora da peça – o autor deixou
d) Apenas III. bem claro – é a espinafração.”
e) I, II e III. b) “Nunca um escritor nacional se preocupou tan-
to em investigar sem lentes embelezadoras a
8. (UTFPR) Na obra O Pagador de Promessas, circu- realidade, mostrando-a ao público na crueza
lam pela praça, onde se passa a história, diversos de matéria bruta.”
personagens que retratam diferentes questões. c) “Sério exercício de introspecção, o texto se
Estabelecendo uma correlação entre personagens passa em uma viagem de volta ao interior, ao
e temas, teremos: encontro do pai distante.”
I) Zé-do-Burro e a fé; Padre Olavo e a intransigência d) “O espectador que desejar a diversão desabrida
II) Bonitão e o amor; Rosa e a traição da farsa encontrará na peça um motivo inesgo-
III) Galego e a ambição; Mestre Coca e o senti- tável de comicidade.”
mento de coletividade e) “Essa intolerância erige-se, na peça, em sím-
IV) Repórter e a vaidade; Marli e a pureza bolo da tirania de qualquer sistema organizado
Estão corretas somente as assertivas: contra o indivíduo desprotegido e só.”
a) I e II.
b) I e III. 12. Quanto a obra O pagador de promessas, Dias Go-
c) III e IV. mes, considere as seguintes afirmações:
d) II e III. I. A Igreja é vista como burocrática e incapaz de
e) II e IV. compreender o modo de vida dos fiéis. II. A im-
prensa é ilustrada como instituição oportunista,
9. Quanto ao personagem Zé do Burro, de O paga- embora se revele o desejo claro de fidelidade do-
dor de promessas, de Dias Gomes, considere as cumental.
seguintes afirmações: III. A violência final que se instaura demonstra a
I.O motivo de sua promessa é a vida e a saúde de incapacidade das autoridades de entender o fe-
um burro, Nicolau, ferido numa tempestade. nômeno que ali ocorria.
II. O sincretismo religioso de Zé fica evidente pelo Quais estão corretas?
fato de ele ter feito promessa a Santa Bárbara a) Apenas I.
diante de uma imagem de Insã. b) Apenas II.
III. A fé de Zé é elevada ao primeiro plano, tanto c) Apenas I e III
que o caso de sua mulher com Bonitão seria re- d) Apenas III.
solvido depois que pagasse sua promessa. e) I, II e III.
Quais estão corretas?
a) Apenas I. GOMES, Alfredo Dias. O pagador de promessas. Rio de Janei-
ro: Ediouro, s.d. p. 83-85. (Disponível em: h�ps://faciletrando.
b) Apenas II.
wordpress.com/2018/12/15/o-pagador-de-promessas/, acesso
c) Apenas I e III em jun 7, 2022)

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LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
ROMANCEIRO DA INCOFIDÊNCIA Notas:
[Cecília Meireles] 1. Marcamos no trecho acima o emprego das ri-
mas [correspondência sonora entre as palavras finais]
Romanceiro da Inconfidência, publicado em 1953, nos versos, nas quais percebemos a identidade de som
é um longo poema narrativo, que procura na História existente entre a última vogal tônica e as vogais que
da pátria sua matéria inspiradora. Nessa obra, Cecília lhe seguem [verso assonantados ou toantes].
Meireles procura evocar os tempos de ouro e da In- 2. Esse trecho do “CENÁRIO” mostra o emprego de
confidência Mineira [1789]. De todas as publicações estrofação fixa, em tercetos [estrofes de três versos]
da autora, o Romanceiro da Inconfidência é a única e emprego de rimas cruzadas, já que são intercaladas
que mostra o rompimento do círculo do próprio “eu”, por um verso com outra terminação, formando um
criando uma poesia menos pessoal, mais identifica- esquema rimático: aba - bcb - cdc - ded - efe.
da com o mundo exterior que propriamente com o 3. Cabe lembrar ainda o emprego de versos gra-
universo íntimo e secreto da artista. Mesmo assim, ves, já que a acentuação tônica [sílaba mais forte]
em alguns momentos percebe-se claramente certas recai sobre palavras paroxítonas.
projeções subjetivas, que rompem com a mera retra-
tação de cena ou de fatos verídicos. Sem dúvida, Cecília Meireles consegue em sua
Antes de analisarmos a obra, devemos chamar obra uma belíssima combinação de dados históricos
a atenção para a forma do romanceiro, que é uma e elementos inventivos, que dão ao texto ritmo e va-
composição es�quica [sucessão de versos não sujeitos riações bem interessantes. No caso dos versos em-
à estrofação regular], de extensão indeterminada, sur- pregados, encontramos redondilhos, decassílabos e
gida por volta do século XIV, em versos assonantados até mesmo versos tetrassílabos.
[mesmo que toantes, nos quais há correspondência Romanceiro da Inconfidência é uma reconstitui-
sonora da última vogal tônica e das que lhe seguem], ção da atmosfera da tragédia histórica vivida pelos
geralmente de sete silabas [redondilho maior], de inconfidentes e a reconstrução dos dramas individuais
cinco silabas [redondilho menor], ou de dez silabas dos membros da Inconfidência, “numa obra represen-
[romance heroico em verso heroico]. No Romanceiro ta uma originalíssima fusão de elementos líricos e de
da Inconfidência, temos 85 romances, além das “falas” elementos épicos - e, através de cuja diversidade for-
do narrador e dos Cenários. Chamamos romance cada mal, da sábia e discreta conjugação de vários metros,
uma das partes do romanceiro. É bom lembrar que se parece prestar um desvelado preito de homenagem
essa forma poética medieval deu origem ao roman- à própria poesia do século XVIII”.
ce de prosa, por causa de seu caráter normalmente Cecília Meireles procura obedecer certas regras e
narrativo. formas exigidas pelo romanceiro. Mantém o emprego
de métrica regular em cada “romance”.
Vejamos a seguir essa espécie épica que foi tão Mantém, ainda, uma divisão estrutural quase rígi-
pouco praticada em Língua Portuguesa: da em cinco partes, que acompanham não apenas a
divisão histórica dos fatos, mas também uma espécie
CENÁRIO de marcação que pode ser considerada de natureza
PASSEI por essas plácidas colinas [A] teatral. Ao reinventar o passado, retomando a his-
e vi das nuvens, silencioso, o gado [B] tória dos inconfidentes, CM termina por recompor
pascer nas solidões esmeraldinas. [A] um dos mais belos e dolorosos momentos de nossa
História. A busca dessa alma coletiva, marcada pelo
Largos rios de corpo sossegado [B] sofrimento e pela dor, acaba aproximando o Roman-
dormiam sobre a tarde, imensamente, [C] ceiro da Inconfidência da tragédia, daí o emprego de
- e eram sonhos sem fim, de cada lado. [B] um crescendo emocional, quase sempre pressentido
por indivíduos alheios aos fatos, ou que destes não
Entre nuvens, colinas e torrente, [C] participam diretamente, e que culminará no clímax
uma angústia de amor estremecia [D] inevitável: a morte de Tiradentes. A tensão emocional
a deserta amplidão na minha frente. [C] após o clímax fica por conta do sofrimento individual
dos outros inconfidentes [a morte de Cláudio Manuel
Que vento, que cavalo, que bravia [D] da Costa e o degredo de vários deles, por exemplo]. Há
saudade me arrastava a esse deserto [E] momentos de grande emoção durante todo o poema,
me obrigava a adorar o que sofria? [D] que acabam por fazer com que o narrador introme-
ta-se no texto, movido exclusivamente pela paixão.
Passei por entre as grotas negras, perto [E] Até mesmo o emprego do monólogo, do diálogo e
dos arroios fanados, do cascalho [F] da variação espaço-temporal conduzem à sensação
cujo ouro já foi todo descoberto. [E] de uma perspectiva dramática.

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LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
Romanceiro da Inconfidência pode ser dividido - a água implacável em crime exaustos,
em cinco partes, entrecortadas por caracterizações de do tempo imenso, quais os que sobem,
cenário e intervenções do narrador para suas “falas”. rodando soltos, purificados?
com sua rude
PRIMEIRA PARTE miséria exposta...
Focaliza o ambiente e os antecedentes que con-
duzem à Inconfidência [do Romance I ao XIX]. II - ESTILO DE ÉPOCA

SEGUNDA PARTE Cecília Meireles está inserida na segunda fase do


Focaliza a trama e a frustração da Inconfidência Modernismo brasileira, ou seja, na segunda geração
Mineira. Revela “a marcha da conspiração, seu ma- moderna, que compreende o período entre 1930 e
logro e o prenuncio das desgraças” que se abaterão 1945. A segunda fase de nossa poesia moderna é mar-
sobre os inconfidentes [do Romance XX ao XLVII]. cada por grande variedade temática e formal. Cecília
pode ser colocada, pelo menos inicialmente, na poesia
TERCEIRA PARTE espiritualista de influência católica. Tal tendência, que
Focaliza a morte de Cláudio Manuel da Costa e se agrupou em torno da revista Festa [1927], do RJ,
de Tiradentes. Nessa parte, evoca-se o sacri�cio de mostra clara influência do lirismo católico francês e
Tiradentes [do Romance XLVIII ao LXIV]. do Simbolismo, apesar de dar feição moderna a es-
sas tendências religiosas. Daí podermos considerar
QUARTA PARTE CM como uma poeta neossimbolista. Sem dúvida, as
Focaliza o infortúnio de Tomás Antônio Gonzaga e marcas dessa influência fazem-se sentir na tendência
de Alvarenga Peixoto. Uma passagem evocativa reto- introspectiva, intimista e na musicalidade que marca
ma o cenário em que viveu o poeta Tomás A. Gonzaga a maior parte das obras da autora.
[do Romance LXV ao LXXIX]. Uma das marcas mais importantes dessa geração
da poesia de 30 foi a oscilação entre o fechamento e
QUINTA PARTE a abertura do “eu” à sociedade e à natureza. Nasceu
Focaliza a presença de D. Maria I, vinte anos de- daí uma poesia marcada pela tendência universalizan-
pois de ter lavrado a sentença que decretou a morte te, �sica e tendendo para o hermetismo. A herança
de Tiradentes e o degredo dos demais inconfidentes. simbolista e pós-simbolista faz-se sentir através dessa
Dona Maria, já louca, contempla a terra em que ocor- tendência universalizante e espiritualista. Mas, sem
reu o drama da Inconfidência [do Romance LXXXII ao dúvida, CM ultrapassa as marcas coletivas de sua ge-
LXXXV]. ração para deixar seu nome gravado como uma das
maiores de seu tempo.
O longo poema encerra-se com a “FALA AOS IN-
CONFIDENTES MORTOS”, em versos tetrassílabos: III - ESTILO INDIVIDUAL

“Treva da noite, Parada noite, A poesia de Cecília Meireles é impregnada de um


lanosa capa suspensa em bruma lirismo profundo e essencial, dando mostras de se,
nos ombros curvos não, não se avistam ainda, antipitoresca a antiprosaica. De certo modo,
dos altos montes os fundos leitos... seus versos parecem contrariar as tendências colo-
aglomerados... Mas, no horizonte quiais, irônicas, cotidianas e prosaicas dos modernis-
Agora, tudo do que é memória tas de 22. sua poesia está voltada ao mundo �sico,
jaz em silencio: da eternidade, subjetivo e existencial, que à realidade circundante
amor, inveja, referve o embate do mundo.
ódio, inocência, de antigas horas, Seu mundo é, portanto, interior, cuja sondagem
no imenso tempo de antigos fatos, só foi possível através de uma linguagem essencial, e
se estão lavando... de homens antigos. hermética, carregada ainda de resíduos de estéticas
Grosso cascalho anteriores ao próprio Modernismo. Mas esse vínculo
da humana vida... E aqui ficamos com o passado em nada minimiza a qualidade de sua
Negros orgulhos, todos contritos, poética. Outro ponto alto é a musicalidade, doce he-
ingênua audácia, a ouvir na névoa rança simbolista que não foi esquecida em nenhuma
e fingimentos o desconforme, de suas obras.
e covardias submerso curso Sua modernidade, portanto, está na tradução do
[e covardias!] dessa torrente novo-antigo, já que o mundo interior não sofre tanto
vão dando voltas do purgatório... com a ação do tempo, empregando para tanto for-
no imenso tempo, Quais os que tombam, mas consagradas, metros regulares, ritmos e acentos

57
LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
quase clássicos, mas deixando sempre um gosto de da Coroa Portuguesa que estava sempre a exigir mais
simplicidade, um jeito de coisa doce ou meio amarga. dinheiro para seus gastos e deleites. Também, não
De certo modo, Romanceiro da Inconfidência é podemos nos esquecer dos inconfidentes e dos heróis
uma obra de exceção, um longo poema épico [nar- anônimos.
rativo] de sintaxe lusitana. Essa obra parece, pelo A loucura está presente de forma teatral na figura
menos à primeira vista, romper com a tendência de da própria rainha D. Maria I, que se via condenada
interiorização que marcou toda sua produção literária. ao inferno; ou em Bárbara Heliodora que, marcada
É uma obra menos pessoal, mais ligada ao desejo de pela dor do degredo do marido, Alvarenga Peixoto, e
exaltar nossos heróis da Inconfidência e demonstrar pela morte de sua filha Ifigênia, acaba endoidecida e
sua admiração pelos mártires de um movimento que termina por morrer.
buscava a liberdade. Não é mais a tradução apenas do A corrupção segue sua trilha entre governadores,
“eu”, mas a releitura da realidade histórica da pátria magistrados, fiscais, e outros tantos funcionários da
através da poesia. Mas, se o leitor acredita que a au- Coroa.
tora perdeu o intimismo residual de toda sua poesia O amor não fica apenas nos versos dos poetas
anterior, vai descobrir que ela encontrou na fonte de árcades Tomás A. Gonzaga ou Cláudio M. da Costa
inspiração histórica uma projeção subjetiva, evitando ao recordarem em suas liras as pastoras Marília, Nise
a mera retratação de cenas verídicas. CM leu, com os ou Anarda, mas também na paixão do ouvidor Tomás
A. Gonzaga por Maria Joaquina, e o sofrimento desta
olhos do coração e da mente, os episódios dramáti-
pela partida do noivo.
cos que precederam e sucederam ao fato histórico de
O próprio Arcadismo servirá de tema em vários
1789. Nessa evocação dos tempos do ciclo de ouro e
momentos da presente obra, trazendo de volta as figu-
da Inconfidência, CM encontrou a fonte de uma nova
ras das pastoras, das ovelhinhas, dos prados amenos,
força poética e criou uma obra magnífica, seja em seu dos regatos mansos e da vida bucólica que se oporá,
esplendor formal, usando e abusando das variações dentro do poema, ao clima de insurreição e violência
métricas [preferência pelos metros breves] e estru- que passará a dominar a ação narrativa.
turais, seja em sua magnitude pictural, em cuja plas- De maneira geral, o grande tema deste livro é a
ticidade está presente o pincel do artista da palavra. lição histórica que a inconfidência empresta aos nos-
sos jovens, de separar os que ficarão gravados para
IV - PROBLEMÁTICA E PRINCIPAIS TEMAS sempre nas páginas da História [e da Literatura] como
heróis e símbolos da liberdade e os que deixarão suas
O tema central de Romanceiro da Inconfidência pegadas como covardes, ambiciosos e mesquinhos.
é, como o próprio �tulo indica, a Inconfidência ou
Conjuração Mineira, episódio histórico ocorrido em FALA INICIAL
1789, que culminou com a morte de Joaquim José Não posso mover meus passos,
da Silva Xavier [o Tiradentes] e com o degredo de por esse atroz labirinto
outros tantos revoltosos. Dentro dessa centraliza- de esquecimento e cegueira
ção temática, teríamos a morte de Tiradentes como em que amores e ódios vão:
o núcleo. Entretanto, outros temas giram em torno – pois sinto bater os sinos,
dele. o aproveitamento histórico do episódio serviu percebo o roçar das rezas,
para autora trazer à tona outros assuntos, tais como vejo o arrepio da morte,
a traição, a covardia, a ambição desmedida [gerada à voz da condenação;
principalmente pela febre do ouro], a inveja, o medo, – a visto a negra masmorra
a coragem, a ousadia, a loucura, a corrupção, e, por e a sombra do carcereiro
que não, o amor. que transita sobre angústias,
A traição e a covardia ficam por conta daqueles com chaves no coração;
que, movidos por interesse econômico [Joaquim Sil- – descubro as altas madeiras
vério dos Reis] ou por medo das ações do governador do excessivo cadafalso
de Minas, delataram os inconfidentes. Muitos desses e, por muros e janelas,
delatores sequer viram ou ouviram alguma coisa que o pasmo da multidão.
Batem patas de cavalos.
pudesse servir de prova contra os acusados.
Suam soldados imóveis.
A ambição está presente nas atitudes do próprio
Na frente dos oratórios,
Joaquim Silvério dos Reis ou do Conde de Valadares,
que vale mais a oração?
que se vendem por dinheiro, esquecendo por com-
Vale a voz do Brigadeiro
pleto qualquer amizade.
sobre o povo e sobre a tropa,
A ousadia fica por conta do herói do poema, Tira- louvando a augusta Rainha,
dentes, que ousava sair pelos campos ou pelos quar- – já louca e fora do trono –
téis pregando a liberdade e falando contra a ambição na sua proclamação.

58
LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
Ó meio-dia confuso, os meninos e os ciganos,
ó vinte-e-um de abril sinistro, seus filhos desamparados...
que intrigas de ouro e de sonho as mulatas e os escravos,
houve em tua formação? Longe, longe, longe, longe,
os cirurgiões e algebristas,
Comentários: Nessa primeira parte, o narrador no mais profundo passado...
torna-se presente para retomar de forma evocativa leprosos e encarangados,
o preparativo para o enforcamento de Tiradentes a - pois agora é quase um morto,
21 de abril de 1789, e a reconstituição do clima e do e aqueles que foram doentes
cenário de Ouro Preto. Observem que o caráter épico que caminha sem cansaço,
e nacionalista do poema não é apagado pela presença e que ele havia curado que por
do lirismo. Aliás, como veremos em todo o livro, o seu pé sobe à forca,
épico e o lírico convivem harmoniosamente. - agora estão vendo ao longe,
diante daquele aparato...
ROMANCE XIV OU de longe escutando o passo
DA CHICA DA SILVA dos Alferes que vai à forca,
Que andor se atavia Pois agora é quase um morto,
naquela varanda? levando ao peito o braço,
É a Chica da Silva: partindo em quatro pedaços,
é a Chica-que-manda! levando no pensamento e
- para que Deus o aviste
Cara cor da noite, - caras, palavras e fatos;
olhos cor de estrela. levantado em postes altos.
Vem gente de longe as promessas, as mentiras,
Para conhecê-la. línguas vis, amigos falsos
[Caminha a Bandeira coronéis,
Comentários: Esse “romance”, constituído por contrabandistas, de Misericórdia.
quadras em versos redondilhos menores, recria a figu- ermitões e potentados,
ra da escrava Chica da Silva, que viveu em Diamantina Caminho, piedosa, estalagens, vozes,
e foi senhora de seu dono, João Fernandes. Chica da sombras, mais alta que a tropa.
Silva ficou conhecida na História como a negra que adeuses, rios, cavalos...
teve não só todas as riquezas de seu tempo, mas Da forca se avista
também todo o poder. João Fernandes, para agradá- --------------------
-la, chegou mesmo ao absurdo de mandar construir a Santa Bandeira
um navio e colocou-o no seco apenas para que Chica Tudo leva nos seus olhos,
pudesse entender como andam os barcos na água. da Misericórdia.]
nos seus olhos espantados,
ROMANCE LX OU o Alferes que vai passando
DO CAMINHO DA FORCA para o imenso cadafalso,
onde morrerá sozinho
Os militares, o clero, por todos os condenados.
--------------------
os meirinhos, os fidalgos Comentários: Esse “romance” reconstitui a ca-
[Águas, montanhas, florestas, minhada de Tiradentes para a forca e representa o
que o conheciam das ruas, clímax do Romanceiro. O narrador mostra todo seu
negros nas minhas, repudio ao comportamento das pessoas que fugiram
exaustos... no momento de ajudar o herói a escapar da morte.
das igrejas e do teatro, Desapareceram os amigos, os poderosos, qualquer
- bem podíeis ser, pessoa que podia de alguma forma empenhar-se para
caminhos, das lojas dos mercadores minimizar sua pena. O narrador procura mostrar que
de diamante ladrilhados... ] Tiradentes pagou com a vida em nome de todos os
e até da sala do Paço; outros inconfidentes, pois todos os demais, homens ri-
Tudo leva na memória: cos, poderosos ou membros da igreja, foram exilados.
e as donas mais as donzelas
ROMANCE LX OU DO CAMINHO DA FORCA
em campos longos e vagos
Fonte: (Disponível em: h�ps://www.algosobre.com.br/resu-
que nunca o tinham mirado, mos-literarios/romanceiro-da-incofidencia.html, acesso em jun
tristes mulheres que ocultam 7, 2022)

59
LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
Vamos aprofundar nossa análise com base nas se- Meireles, pois para ela a poesia lírica deveria
guintes questões: ser instrumento para mudanças sociais.
A dois séculos de distância, o espetáculo ainda é as- D. Não se pode considerar o Romanceiro um
sombroso (...) Que de tão longe uma Rainha enlou- poema narrativo, pois, ao contrário do que
queça e venha a morrer no cenário final do drama; acontece no trecho da conferência, o poema
que os sonhos dos Inconfidentes se cumpram depois embaralha a ordem de apresentação dos acon-
de tantas sentenças; e que o Brasil se torne indepen- tecimentos históricos.
dente dali a 31 anos, e a República seja proclamada E. Enquanto a conferência propõe que os tiranos
exatamente ao cumprir-se um século sobre aquelas sejam execrados, o Romanceiro da Inconfidên-
prisões − tudo parece impregnado de um mistério cla- cia, por ser um texto lírico, revela sentimentos
ro, desejoso de revelar-se e de se fazer compreender. sem julgar ou estabelecer responsabilidades.
(Cecília Meireles. “Como escrevi o Romanceiro da In-
Romanceiro da Inconfidência
confidência”, anexo a Romanceiro da Inconfidência. Fonte: (Disponível em: h�ps://projetoagathaedu.com.br/questo-
São Paulo: Global, 2012. p. 255) es-vestibular/literatura/obras/romanceiro-da-inconfidencia.php,
Acessado em jun 7, 2022).

ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM
SAIBA MAIS
1. (PUCCamp) Tendo como centro os sonhos dos In-
confidentes, Cecília Meireles criou a obra-prima Podemos conhecer um pouco mais a obra em ques-
que é o Romanceiro da Inconfidência, poema tão. Aproveite para aprofundar seus conhecimentos
A. Inteiramente composto em decassílabos, vol- em:Inconfidência Mineira- poesia, Cecília Meireles.
tado para a exposição didática da ideologia dos Disponível em:
seguidores de Tiradentes. h�ps://jornal.usp.br/cultura/a-inconfidencia-minei-
ra-atraves-da-poesia-de-cecilia-meireles/
B. Em prosa, que se tornou exemplo máximo des-
http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/ad-
se gênero literário, logo adotado por vários ou-
min/arquivosUpload/5628/material/CEC%C3%83%-
tros modernistas.
C2%ADLia%20Meireles%20-%20Romanceiro%20
C. Épico, decalcado de Os Lusíadas, em que a
da%20Inconfid%C3%83%C2%AAncia%20%5BRev%-
autora demonstra grande familiaridade com a
5D%5B1%5D.pdf
retórica clássica.
h�ps://www.youtube.com/watch?v=C4OSa2ub-6k
D. Em que se alternam o tom épico e o lírico, o
modo reflexivo e o narrativo, tudo se susten-
tando numa grande variedade de ritmos.
E. Em que, mesmo buscando afastar-se dos fatos
históricos, se entrevê aqui e ali alguma referên- ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM
cia inequívoca à Conjuração mineira.
01. (URCA) Sobre a obra Romanceiro da Inconfidência,
2. (UFPR) O fragmento transcrito faz parte da con- de Cecília Meireles, é correto afirmar:
ferência “Como escrevi o Romanceiro da Inconfi- a) Inconfidência é um poema lírico-narrativo de
dência”, proferida por Cecília Meireles em 1955. viés histórico que evoca em versos os persona-
Com base na leitura do Romanceiro e nos conhe- gens e o contexto da Inconfidência Mineira;
cimentos sobre a literatura do período, assinale b) É o ápice da poética de Cecília Meireles enquan-
a alternativa correta. to poetisa neossimbolista;
A. O Romanceiro da Inconfidência exemplifica a c) É um extenso poema em que o eu poético refle-
principal tendência da literatura produzida em te sobre uma temática sem que haja elementos
meados do século XX no Brasil: longos poemas narrativos;
épicos inspirados na História do país. d) Tiradentes, o alferes que a história transformou
B. Para apresentar a variedade humana envolvi- em herói, é apresentado na obra como indiví-
da nos episódios, o poema aproveita elemen- duo ambíguo e de moral discu�vel, numa clara
tos do gênero dramático, de que são exemplo contraposição literária à imagem apresentada
as falas de personagens espalhadas ao longo pelos historiadores mais conservadores;
do texto. e) Representa grande inovação na construção dos
C. O engajamento político explicitado no texto versos, marcando-se sua obra por experimenta-
da conferência é constante na obra de Cecília lismo radical da linguagem e referência a fontes
vivas da língua popular.

60
LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
02. (Universidade de Fortaleza) Cecília Meireles re- 04. (PUCCamp) A dois séculos de distância, o espe-
cebeu uma homenagem do Google na sexta-feira táculo ainda é assombroso (...) Que de tão longe
(7/11/2014). A imagem comemora o 113º ani- uma Rainha enlouqueça e venha a morrer no ce-
versário da escritora carioca. Cecília foi poetisa, nário final do drama; que os sonhos dos Inconfi-
pintora, professora jornalista brasileira, além de dentes se cumpram depois de tantas sentenças;
ter sido considerada uma das vozes líricas mais e que o Brasil se torne independente dali a 31
importantes da língua portuguesa. anos, e a República seja proclamada exatamente
Em relação às obras de Cecília Meireles, considere ao cumprir-se um século sobre aquelas prisões
as afirmações abaixo: − tudo parece impregnado de um mistério claro,
I - Giroflê Giroflá - livro de contos quase crônicas, desejoso de revelar-se e de se fazer compreender.
breves comentários e memórias da autora, sobre (Cecília Meireles. “Como escrevi o Romanceiro da
personagens de sua infância. Inconfidência”, anexo a Romanceiro da Inconfidência. São
II - Romanceiro da Inconfidência – obra que tem Paulo: Global, 2012. p. 255)
como tema principal a Guerra de Canudos.
III - Ou Isto ou Aquilo – livro que traz poemas É correto afirmar que a independência do Brasil
infantis. realizou os sonhos dos Inconfidentes, como afirma
IV - Espectro - primeiro livro de poesias de Cecília Cecilia Meireles, no que diz respeito
Meireles que traz um conjunto de sonetos simbo- A. À participação massiva do povo na luta política
listas. pela soberania do país, uma vez que a adesão
É verdadeiro apenas o que se afirma em: popular não aconteceu a tempo, durante a In-
A. I e III. confidência, dado que o movimento foi desba-
B. II e IV. ratado em seu início.
C. III e IV. B. Ao combate à escravidão, perspectiva presente
D. I, II e IV. no movimento mineiro e que, logo após a in-
E. I, III e IV. dependência, foi uma bandeira assumida como
prioridade pela princesa Isabel.
03. (PUC-PR) Aponte o que for correto sobre o Ro- C. Ao rompimento dos vínculos coloniais com Por-
manceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles. tugal, pondo fim ao ônus da pesada tributação
A. A menção, no �tulo da obra, a “romanceiro” imposta, que cerceava o desenvolvimento eco-
tem a ver com a intriga principal do enredo, o nômico nacional, bem como ao poder da coroa
relacionamento amoroso entre os personagens portuguesa em decidir os rumos do país.
Marília e Dirceu no contexto da luta dos incon- D. À instituição de um Estado soberano, indepen-
fidentes em Ouro Preto, no século XVIII. dente, unificando toda a Nação sob a égide do
B. Chama a atenção a regularidade métrica dos governo da província de Minas Gerais, legitima-
versos do texto ao longo dos dez cantos em do pelos símbolos pátrios consagrados, como
que o Romanceiro é dividido. No livro, todas a bandeira e o hino nacional.
as estrofes (sempre com oito versos) têm ver- E. Ao fim da situação de atraso no país, pois, com
sos decassílabos, o que identifica a obra com
a abertura dos portos após a Independência,
a estética neoclássica à qual a autora retorna
o comércio e as exportações sofreram grande
em plena modernidade.
impulso, atraindo, principalmente, investimen-
C. Não há, nos temas do Romanceiro, nenhum en-
tos ingleses.
volvimento com causas políticas e sociais. Esse
é o ponto de distinção desse livro em relação
a outros de Cecília Meireles, notória militante 05. (PUC-PR) Considere as afirmativas abaixo sobre os
comunista, adepta de uma arte engajada. aspectos formais do Romanceiro da Inconfidência,
D. “Ai que o traiçoeiro invejoso/ Junta as ambições de Cecília Meireles:
à astúcia/ Vede a pena como enrola/ Arabescos I. Apegada ao estilo simbolista, do qual nunca se
de volúpia, / Entre as palavras sinistras/ Desta afastou, a autora escreve no livro apenas sonetos
carta de denúncia (...)”. Essa sequência narra o de temática amorosa ambientada no contexto da
ato de traição de Joaquim José da Silva Xavier, proclamação da República no Brasil.
o delator do movimento inconfidente às auto- II. Encarnando até as últimas consequências o es-
ridades portuguesas. pírito da neovanguarda dos anos 1950, a autora
E. A obra se fixa na descrição poética (baseada em escreve no livro uma série de poemas concretos
referencial histórico, mas elaborada ficcional- sobre a história do Brasil, colocando como centro
mente) do contexto da Inconfidência Mineira. da luta pela liberdade assumida pelo movimento
Há, no que tange ao debate da causa da liber- abolicionista.
dade, uma sutil remissão a problemas políticos III. Embora se abra a uma variedade de metros
da época da escrita do texto (1953). poéticos, predominam no texto as redondilhas

61
LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
maiores (de sete sílabas) e as redondilhas meno- Que estranha potência, a vossa!
res (de cinco sílabas). Isso demonstra o apego da Éreis um sopro na aragem...
autora à tradição e, ao mesmo tempo, a busca por — sois um homem que se enforca!
exprimir vivacidade e musicalidade que, segundo Fonte: MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo:
Global, 2012.
os teóricos, são alcançados de modo mais pleno
nesse tipo de métrica.
IV. Composto de “romances”, tomados como nar- 06. (UEMA) Com base na leitura dos versos, em que
rativas de tom lírico, o romanceiro é uma referên- se veem relações entre memória, história e litera-
cia à tradição poética medieval, para a qual o ter- tura, pode-se fazer o seguinte comentário sobre
mo romance tinha um sentido diferente do atual. a linguagem do fazer poético:
Primordialmente, havia romances que não eram A. A caracterização da natureza pelo eu lírico su-
escritos em prosa. Essa ligação com o passado gere ideais de uma vida em harmonia, distante
hibrido – narrativo e lírico – da forma romance é de conflitos, o que demonstra uma influência
trabalhada esteticamente nos textos do livro, que da poesia árcade.
contam uma ação, mas com elementos poéticos. B. A concisão, a forma de elocução nos versos e o
É correto o que se afirma SOMENTE em: estado contemplativo do eu poético demons-
A. III. tram a intenção de destacar sutilezas políticas,
B. III e IV. à época da rebelião mineira.
C. II, III e IV. C. A emoção do eu poético parte da observação
D. II e III. do real, por meio de lembranças de outras épo-
E. I, II e III. cas, para construir um texto fluido, com ima-
gens criadas por componentes expressivos da
Texto Para as próximas duas questões. linguagem.
D. A preocupação em estruturar versos com rimas
Na obra Romanceiro da Inconfidência, Cecília Mei- preciosas e o cuidado em selecionar vocábulos
reles reescreve de forma poética a história oficial de raros revelam o propósito de aprimorar a lin-
eventos da Inconfidência Mineira, rebelião ocorrida guagem, para resgatar a beleza de fatos histó-
em Vila Rica, no fim do século XVIII, cenário dos “ro- ricos.
mances” que compõem a referida obra. E. A construção poética exemplifica marcantes ca-
racterísticas da segunda geração do Romantis-
Romance LIII ou Das palavras aéreas mo: adjetivação exagerada e sentimentalismo
Ai, palavras, ai, palavras, profundo, ao evocar fatos da rebelião mineira.
Que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras, 07. (UEMA) Releia os seguintes versos:
Sois de vento, ides no vento, Ai, palavras, ai, palavras,
No vento que não retorna. Que estranha potência, a vossa!
[...] [...]
Sois de vento, ides no vento, Sois de vento, ides no vento,
E quedais, com sorte nova! E quedais, com sorte nova!
[...] [...]
Ai, palavras, ai, palavras, Mirai-vos: que sois, agora?
Íeis pela estrada afora, [...]
Erguendo asas muito incertas,
Entre verdade e galhofa, A estranha potência das palavras é explicada, de
Desejos do tempo inquieto, certa forma, por meio de sugestivas imagens. Um
Promessas que o mundo sopra... dos sentidos sugeridos nesses versos é a
Ai, palavras, ai, palavras, A. Constância nas ações.
Mirai-vos: que sois, agora? B. Transitoriedade na vida.
[...] C. Permanência do tempo.
Perdão podíeis ter sido! D. Imutabilidade das ideias.
— sois madeira que se corta, E. Previsibilidade dos acontecimentos.
— sois vinte degraus de escada,
— sois um pedaço de corda... 08. (PUC-SP) Para responder à questão, considere o
— sois povo pelas janelas, texto abaixo.
Cortejo, bandeiras, tropa... A dois séculos de distância, o espetáculo ainda
Ai, palavras, ai, palavras, é assombroso (...) Que de tão longe uma Rainha
enlouqueça e venha a morrer no cenário final do

62
LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
drama; que os sonhos dos Inconfidentes se cum- sobre ela, carregado pelos capoeiras, “como um
pram depois de tantas sentenças; e que o Brasil crucifixado”.
se torne independente dali a 31 anos, e a Repú- PRADO, D. A. O teatro brasileiro moderno. São Paulo:
Perspectiva, 2008 (fragmento)
blica seja proclamada exatamente ao cumprir-se
um século sobre aquelas prisões − tudo parece
A avaliação crítica de Décio de Almeida Prado des-
impregnado de um mistério claro, desejoso de
taca as qualidades de O pagador de promessas.
revelar-se e de se fazer compreender.
(Cecília Meireles. “Como escrevi o Romanceiro da Com base nas ideias defendidas por ele, uma boa
Inconfidência”, anexo a Romanceiro da Inconfidência. São obra teatral deve
Paulo: Global, 2012. p. 255) a) valorizar a cultura local como base da estrutura
estética.
Tendo como centro os sonhos dos Inconfidentes, b) ressaltar o lugar do oprimido por uma forma
Cecília Meireles criou a obra-prima que é o Ro- religiosa.
manceiro da inconfidência, poema c) dialogar a tradição local com elementos univer-
A. Inteiramente composto em decassílabos, vol- sais.
tado para a exposição didática da ideologia dos d) romper com a estrutura clássica da encenação.
seguidores de Tiradentes. e) reproduzir abordagens trágicas e pessimistas.
B. Em prosa, que se tornou exemplo máximo des-
se gênero literário, logo adotado por vários ou- 2. (ENEM / 2012 )
tros modernistas. Ai, palavras, ai, palavras
C. Épico, decalcado de Os Lusíadas, em que a
autora demonstra grande familiaridade com a Que estranha potência a vossa!
retórica clássica. Todo o sentido da vida
Principia a vossa porta:
D. Em que se alternam o tom épico e o lírico, o
O mel do amor cristaliza
modo reflexivo e o narrativo, tudo se susten-
Seu perfume em vossa rosa;
tando numa grande variedade de ritmos.
Sois o sonho e sois a audácia,
E. Em que, mesmo buscando afastar-se dos fatos
Calúnia, fúria, derrota...
históricos, se entrevê aqui e ali alguma referên- A liberdade das almas,
cia inequívoca à Conjuração mineira. Ai! Com letras se elabora…
E dos venenos humanos
MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo:
Global, 2012. (Disponível em: h�ps://projetoagathaedu.com. Sois a mais fi na retorta:
br/questoes-vestibular/literatura/obras/romanceiro-da-inconfi- Frágil, frágil, como o vidro
dencia.php, acesso em jun 7, 2022) E mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
ATIVIDADE Pelo vosso impulso rodam…
MEIRELES, C. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
1985 (fragmento).
1. (ENEM)/PPL (Pessoa Privada de Liberdade)
/2012/2ª Aplicação
O fragmento destacado foi transcrito do Roman-
ceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles. Cen-
Todo bom escritor tem o seu instante de graça, tralizada no episódio histórico da Inconfidência
possui a sua obra-prima, aquela que congrega Mineira, a obra, no entanto, elabora uma reflexão
numa estrutura perfeita os seus dons mais pesso- mais ampla sobre a seguinte relação entre o ho-
ais. Para Dias Gomes essa hora de inspiração veio- mem e a linguagem:
-lhe no dia que escreveu O pagador de promessas. a) A força e a resistência humanas superam os danos
Em torno de Zé-do-Burro — herói ideal, por unir provocados pelo poder corrosivo das palavras.
o máximo de caráter ao mínimo de inteligência, b) As relações humanas, em suas múltiplas esfe-
naquela zona fronteiriça entre o idiota e o santo ras, têm seu equilíbrio vinculado ao significado
— o enredo espalha a malícia e a maldade de das palavras.
uma capital como Salvador, mitificada pela música c) O significado dos nomes não expressa de forma
popular e pela literatura, na qual o explorador de justa e completa a grandeza da luta do homem
mulheres se chama inevitavelmente Bonitão, o pela vida.
poeta popular, Dedé Cospe-Rima, e o mestre de d) Renovando o significado das palavras, o tempo
capoeira, Manuelzinho Sua Mãe. O colorido do permite às gerações perpetuar seus valores e
quadro contrasta fortemente com a simplicidade suas crenças.
da ação, que caminha numa linha reta da chegada e) Como produto da criatividade humana, a lin-
de Zé-do-Burro à sua entrada trágica e triunfal na guagem tem seu alcance limitado pelas inten-
igreja — não sob a cruz, conforme prometera, mas ções e gestos.

63
LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
LYGIA FAGUNDES TELES bonitinho como nas experiências de química. Não há
gente completamente boa nem gente completamente
Lygia Fagundes Teles é uma escritora da última má, está tudo misturado e a separação é impossível. O
fase modernista, que se tornou mestra em criar ima- mal está no próprio gênero humano, ninguém presta.
gens, proporcionando, a nós, leitores, possibilidades Às vezes melhora. Mas passa.” (Ciranda de Pedra, p.
de se aprofundar no texto, chegando a sua parte 148)
mais subjetiva. Em Ciranda de Pedra (1954), a autora O diminutivo (bonitinho) aparece para nos trans-
nos apresenta um romance onde narra a história de mitir a ideia de que há organização nas experiências,
Virgínia, uma jovem que passa pelos mais diversos assim como pouca beleza, mesmo nas que não dão
problemas na vida. certo. E as conjunções, seja a alternativa “nem”, com
sua ideia de apresentar conceitos antitéticos (boa/
Observe: má), ou a adversativa “mas” que apresenta o outro
“— Escute, Luciana, você acha mesmo que se a lado, as duas teses (ninguém presta, tudo passa).
gente é ruim nesta vida numa outra vida a gente nasce A escolha correta da palavra, da pontuação remete
bicho? Tenho medo de nascer cobra. ao efeito que o autor do texto imaginou. Precisamos,
— Você já é cobra — disse Luciana com brandura. cada vez mais, reconhecer o efeito que essas escolhas
— E você é mulata — retorquiu Virgínia no mes-
nos proporcionam, dentro da produção textual.
mo tom.
— E gosta dele, por isso faz de tudo para parecer
branca.” (Ciranda de Pedra, p. 17)

Podemos organizar nossa análise para muitos pon- ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM


tos, mas iniciemos pelo estilo da autora:
Lygia é uma escritora intimista, que apresenta 1. (SAEMS). Leia o texto abaixo.
fluxo de consciência, ou seja, conseguimos analisar Vinícius de Moraes
o personagem mais profundamente. Ao propor no “Dizem, na minha família, que eu cantei antes de
diálogo uma estrutura que prima pelo uso de figuras
falar. E havia uma cançãozinha que eu repetia e
de linguagem (metáfora) a autora nos oferece uma
que tinha um leve tema de sons. Fui criado no
oportunidade ímpar para reconhecer a escolha de de-
mundo da música, minha mãe e minha avó toca-
terminadas palavras: usa bicho para chegar a palavra
vam piano, eu me lembro de como me machu-
cobra que traz o emprego literal (denotativo – ani-
cavam aquelas valsas antigas. Meu pai também
mal), mas também apresenta a conotação, deixando
tocava violão, cresci ouvindo música. Depois a
a nossa interpretação livre para entender mais sobre
a forma como Luciana avalia Virgínia. Ao continuar o poesia fez o resto.”
Vinícius de Moraes.
texto empregando a gradação (mulata e branca), a Fonte: Disponível em: <h�p://www.aomestre.com.br/liv/
autora nos mostra a outra avaliação, de Virgínia em autores/vinicius_moraes.htm>. Acessado em 10 de junho
relação a Luciana. de 2022.
A escolha das palavras pode ou não gerar o senti-
do que buscamos em nossos discursos. O cuidado de Nesse texto, a expressão “... cresci ouvindo músi-
escolha das palavras é uma característica �pica dos ca. Depois a poesia fez o resto.” sugere que Viní-
autores modernos. cius
Agora observe esse novo fragmento: A) destacou-se no cenário musical e poético.
“Meu pai era preto e minha mãe era branca. Fiz B) abandonou a música e se dedicou à poesia.
de tudo para tirar meu pai de mim, tudo. E não adian- C) foi criado com a avó, que declamava belas po-
tou, ele está nos meus cabelos, na minha pele, no esias.
meu sangue… Essas coisas a gente tem que aceitar.” D) foi uma criança famosa, pois cantou antes de
(Ciranda de Pedra, p. 88) falar.
A escolha pela utilização da reticências ao final E) pensou em trabalhar com poesias, mas preferiu
do período de enumeração nos ajuda a reconhecer se dedicar à música.
que há ainda mais “locais” na personagem que re-
presentam seu pai. 2. (SAEPE). Leia o texto abaixo.
Sobre o fragmento a seguir, observe a utilização A namorada
do diminutivo e das conjunções adversativas.
Havia um muro alto entre nossas casas.
“não fique assim com essa mentalidade de don-
Di�cil de mandar recado para ela.
zela folhetinesca, não separe com tanta precisão os
Não havia e-mail.
heróis dos vilões, cada qual de um lado, tudo muito
O pai era uma onça.

64
LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
A gente amarrava o bilhete numa pedra presa por D) revisar os conceitos.
um cordão E) ser mais otimista.
E pinchava a pedra no quintal da casa dela.
Se a namorada respondesse pela mesma pedra 4. (SAEMS). Leia o texto abaixo.
Era uma glória! Eu te amo não diz tudo!
Mas por vezes o bilhete enganchava nos galhos O cara diz que te ama, então tá! Ele te ama. Sua
da goiabeira mulher diz que te ama, então assunto encerrado.
E então era agonia. Você sabe que é amado porque lhe disseram isso,
No tempo do onça era assim. as três palavrinhas mágicas.
BARROS, Manoel de. Tratado geral das grandezas do
ínfimo. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 17. Mas ouvir que é amado é uma coisa, sentir-se
amado é outra, uma diferença de quilômetros. A
Nos versos “Era uma glória!” (v. 9) e “E então era demonstração de amor requer mais do que beijos
agonia.” (v. 12), o emprego das palavras destaca- [...] e palavras, precisa de lealdade, sinceridade,
das sugere fidelidade...
A) aproximação de ações. Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem inte-
B) comparação. resse real na sua vida, que zela pela sua felicidade,
C) concordância de ideias. que se preocupa quando as coisas não estão dan-
D) exagero. do certo, que coloca-se a postos para ouvir suas
E) oposição de sentimentos. dúvidas e que dá uma sacudida em você quando
for preciso.
3. (AREAL). Leia o texto abaixo. Sentir-se amado é ver que ela se lembra de coisas
Prioridades que você contou há dois anos atrás; é vê-la tentar
Muito do que gastamos (e nos desgastamos) nes- reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica
se consumismo feroz podia ser negociado com triste quando você está triste e como sorri com
a gente mesmo: uma hora de alegria em troca delicadeza quando diz que você está fazendo uma
daquele sapato. Uma tarde de amor em troca da tempestade em copo d’água. Sentem-se amados
prestação do carro do ano; um fim de semana em
aqueles que perdoam um ao outro e que não
família em lugar daquele trabalho extra [...].
transformam a mágoa em munição na hora da
Não sei se sou otimista demais, ou fora da realida-
discussão....
de. Mas, à medida que fui gostando mais do meu
Sente-se amado aquele que se sente aceito, que
jeans, camiseta e mocassins, me agitando menos,
querendo ter menos, fui ficando mais tranquila e se sente inteiro.
mais divertida. Sapato e roupa simbolizam bem Sente-se amado aquele que tem sua solidão res-
mais do que isso que são: representam uma es- peitada, aquele que sabe que tudo pode ser dito
colha de vida, uma postura interior. e compreendido. Sente-se amado quem se sente
Nunca fui modelo de nada, graças a Deus. Mas seguro para ser exatamente como é, sem inventar
amadurecer me obrigou a fazer muita faxina nos um personagem para a relação, pois personagem
armários da alma e na bolsa também. Resistir a nenhum se sustenta muito tempo.
certas tentações é burrice; mas fugir de outras Sente-se amado quem não ofega, mas suspira;
pode ser crescimento, e muito mais alegria. quem não levanta a voz, mas fala; quem não con-
Cada um que examine o baú de suas prioridades, corda, mas escuta.
e faça a arrumação que quiser ou puder. Agora, sente-se e escute: Eu te amo não diz tudo!
Que seja para aliviar a vida, o coração e o pensa- “Me ame quando eu menos merecer, pois é quan-
mento – não para inventar de acumular ali mais do eu mais preciso”.
alguns compromissos estéreis e mortais. MEDEIROS, Martha. Disponível em: <h�p:/www.
LUFT, Lya. Disponível em: <h�p://cris57.blogspot. aldeianago.com.br/artigos/6-comportamento/6046-
com/2008/04/prioridades-uma-crônica-de-lya-lu�.html>. sentir-se-amado-por-martha-medeiros>. Acessado em 09
Acessado em 10 de junho de 2022.. de junho de 2022.

Nesse texto, no trecho “Mas amadurecer me obri- Nesse texto, a expressão “tempestade em copo
gou a fazer muita faxina nos armários da alma...”, d’água” (4° parágrafo) sugere
(3° parágrafo), a expressão destacada ressalta a A) alerta.
necessidade de B) deboche.
A) consumir menos. C) exagero.
B) limpar os móveis. D) ilusão.
C) procurar amadurecer.
E) tamanho.

65
LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
5. (SAEPE). Leia o texto abaixo. Oô...
Maneira de amar Vou depressa
O jardineiro conversava com as flores, e elas se Vou correndo
habituaram ao diálogo. Passava manhãs contan- Vou na toda
do coisas a uma cravina ou escutando o que lhe Que só levo
confiava um gerânio. O girassol não ia muito com Pouca gente
sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou Pouca gente
porque os girassóis são orgulhosos de natureza. Pouca gente...
Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de
Janeiro: Nova Aguilar, 1986.
pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz
para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situ-
ação bastante embaraçosa, que as outras flores A expressão “café com pão”, repetida por três ve-
não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro zes no início do poema, sugere
deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe A) o barulho do trem.
a terra, na ocasião devida. B) a voz do maquinista.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Maneira de amar. In: C) a conversa dos passageiros.
Histórias para o Rei. Rio de Janeiro: Record, 1999, p. 52. D) a voz da menina bonita.
E) o linguajar do povo do sertão.
Nesse texto, o fragmento que expressa a possível
causa da antipatia do girassol pelo jardineiro é: 7. (SPAECE). Leia o texto abaixo.
A) “Passava manhãs contando coisas...”. É preciso casar João,
B) “... porque não fosse homem bonito,...”. é preciso suportar, Antônio,
C) “... o jardineiro tentava captar-lhe as graças,...”. é preciso odiar Melquíades
D) “... para não ver o rosto que lhe sorria.”. é preciso substituir nós todos.
E) “... que as outras flores não comentavam.”.
É preciso salvar o país,
6. (2ª P.D – Seduc-GO). Leia o texto abaixo e res- é preciso crer em Deus,
ponda. é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
Trem de ferro é preciso esquecer fulana.
Café com pão É preciso viver com os homens
Café com pão é preciso não assassiná-los,
Café com pão é preciso ter mãos pálidas
Virge maria que foi isso maquinista? e anunciar O FIM DO MUNDO.
Agora sim Carlos Drummond de Andrade. www.angelfire.com/celeb/
olobo/necessidaded.html
Café com pão
Acessado em 10 de junho de 2022.
Agora sim
Voa, fumaça
Nesse texto, a repetição sugere
Corre, cerca
A) atenção.
Ai seu foguista
B) destruição.
Bota fogo
C) necessidade.
Na fornalha
D) preocupação.
Que eu preciso
E) rotina.
Muita força
Muita força
8. Leia o texto a seguir e responda.
Muita força
Você não entende nada
Oô...
Quando eu chego em casa nada me consola
Menina bonita
Você está sempre aflita
Do vestido verde
Com lágrimas nos olhos de cortar cebola
Me dá tua boca
Você é tão bonita
Pra matá minha sede
Oô...
Você traz coca-cola
Vou mimbora
Eu tomo
Vou mimbora
Você bota a mesa
Não gosto daqui
Eu como eu como eu como eu como eu como
Nasci no sertão
Você
Sou de Ouricuri

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LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
Não tá entendendo quase nada do que eu digo tudo. Pedro aderiu à turma e foi aderindo, com o
Eu quero é ir-me embora passar dos meses, aos encantos de Paloma.
Eu quero dar o fora GATTAI, Zélia. A casa do Rio Vermelho. Rio de Janeiro:
Record. p. 202. Fragmento.
E quero que você venha comigo

Eu me sento Nos trechos abaixo, a expressão destacada que


exprime ideia de tempo é:
Eu fumo
A) “... mudamos para a Bahia por causa das crian-
Eu como
ças,...”.
Eu não agüento
B) “Paloma me disse um dia que estava namoran-
Você está tão curtida
do o Pedro.”.
Eu quero é tocar fogo nesse apartamento
C) “... seu irmão mais velho, morto num assalto
Você não acredita
em Santa Tereza,...”.
Traz meu café com suíta D) “Os ares da Bahia, realmente, faziam bem ao
Eu tomo rapaz.”.
Bota a sobremesa E) “... e foi aderindo, com o passar dos meses, aos
Eu como eu como eu como eu como eu como encantos de Paloma.”.
Você
Tem que saber que eu quero é correr mundo GATTAI, Zélia. A casa do Rio Vermelho. Rio de Janeiro: Record. p.
Correr perigo 202. Fragmento.
Eu quero é ir-me embora Fonte: (Disponível em: h�ps://profwarles.blogspot.com/2016/03/
3-serie-por-descritor-portugues.html, acesso em 14 jun, 2022).
Eu quero dar o fora
E quero que você venha comigo.
(VELOSO, Caetano. Literatura Comentada: Você Não
JOÃO CABRAL DE MELO NETO
Entende Nada. 2 Ed. Nova Cultura. 1998)
Já ouviu falar sobre João Cabral de Melo Neto?
A repetição da expressão “eu quero”, em diversos
versos, tem por objetivo “João Cabral de Melo Neto - Por Dilva Frazão
(A) fazer associações de sentido. João Cabral de Melo Neto (1920-1999) foi um
(B) refutar argumentos anteriores. poeta e diplomata brasileiro autor da obra Morte e
(C) detalhar sonhos e pretensões. Vida Severina, poema dramático que o consagrou. Tor-
(D) apresentar explicações novas. nou-se imortal da Academia Brasileira de Letras. (...)
(E) reforçar a expressão dos desejos. Cronologicamente, João Cabral situa-se entre os
poetas da Geração de 45, mas trilhou caminhos pró-
prios. Seus primeiros livros apresentam uma poesia
9. (SAEPI). Leia o texto abaixo.
hermética, ou seja, de di�cil compreensão. (...)
Noivado e casamento
Nós mudamos para a Bahia por causa das crianças,
Obras:
quisemos preservá-las das ameaças de uma cida-
Pedra do Sono, 1942
de grande. Agora as crianças já não eram crianças,
O Engenheiro, 1945
criavam asas, buscavam seu rumo próprio.
Psicologia da Composição, 1947
Não me admirei quando Paloma me disse um dia O Cão Sem Plumas, 1950
que estava namorando o Pedro. Eu já percebera O Rio, 1954
um certo clima entre os dois. Filho do poeta Odylo Morte e Vida Severina, 1956
Costa, filho, amigo da juventude de Jorge, Pedro Quaderna, 1960
viera estudar na Bahia. Ainda bastante traumati- Terceira Feira, 1961
zado com o que sucedera a Odylinho, seu irmão Poemas Escolhidos, 1963
mais velho, morto num assalto em Santa Tere- A Educação Pela Pedra, 1966
za, ao voltar do cinema com a namorada, Pedro Museu de Tudo, 1975
tornara-se um rapaz triste, parecia ter perdido o A Escola das Facas, 1980
gosto pela vida. Ele precisa mudar de ares e de Poesia Crítica, 1982
ambiente, disse Odylo a Jorge que o aconselhou Auto do Frade, 1984
em seguida a mandar o filho estudar na Bahia, Agrestes, 1985
onde seria nosso hóspede. O Crime na Calle Relator, 1987
Os ares da Bahia, realmente, faziam bem ao rapaz. Sevilha Andando, 1989
Os ares, a convivência com João, Paloma e a tur-
ma deles, jovens animados, sempre em dia com As obras literárias de João Cabral de Melo Neto
os programas festivos da cidade, participando de são marcadas pelo uso da metalinguagem (muitos dos

67
LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
seus trabalhos falam sobre a própria criação literária). Um auto é um subgênero da literatura dramática,
Seus poemas também contêm imagens surrealistas e que surgiu na Espanha medieval. Em língua portugue-
influência da cultura popular. sa o seu maior expoente foi Gil Vicente. Em Morte e
Em termos de formato, João Cabral primou pela ri- Vida Severina observamos os mesmos recursos usa-
gidez formal com rimas fixas, ritmo e versos rimados.” dos nos autos medievais.
A obra está dividida em 18 partes. Antes de cada
Já ouviu falar sobre João Cabral de Melo Neto? (Disponível em parte existe uma pequena apresentação do que acon-
h�ps://www.ebiografia.com/joao_cabral_de_melo_neto/, Aces- tecerá - o mesmo podemos encontrar nos autos me-
sado em jun 13, 2022).
dievais. O poema começa com a apresentação de
Severino.
Vamos conhecer um pouco mais de um famoso Severino se apresenta como um em muitos
poema desse escritor: (“iguais em tudo na vida”). A sua individualidade é
anulada e o seu nome se torna um adjetivo já no �tulo
Morte e Vida Severina – João Cabral de Melo da obra. À moda dos autos medievais, o personagem
Neto se torna uma alegoria, uma representação de algo que
— O meu nome é Severino, é muto maior que ele.
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
(...)

Somos muitos Severinos


iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande Ilustração de Morte e Vida Severina ressalta a seca e a aridez do
que a custo é que se equilibra. (...) sertão.

(fragmento de Morte e Vida Severina, de João Cabral Os versos do poema são curtos e muito sonoros.
de Melo Neto,
Fonte: disponível em: h�ps://www.culturagenial.com/vida-e-
A maioria conta com sete sílabas poéticas, também
morte-severina-de-joao-cabral-de-melo-neto/, acesso em jun 13, conhecido como redondilha menor, outra caracterís-
2022.) tica dos autos.
A constante repetição de versos é uma ferramen-
Análise de Morte e Vida Severina ta muito usada por João Cabral. Além de servir como
reforço semântico para o tema, promove a homofonia
Apresentação e forma e a repetição de sons, que dão uma maior musicali-
“Morte e Vida Severina é um poema trágico que dade aos versos.
nos apresenta um auto de natal pernambucano.
O herói Severino é um retirante que foge da seca — A quem estais carregando,
e da fome, porém, só encontra a morte em sua fuga. irmãos das almas,
Até que ele presencia o nascimento de um filho de embrulhado nessa rede?
retirantes, severinos iguais a ele. O nascimento é apre- dizei que eu saiba.
sentado em forma de presépio, com a chegada das — A um defunto de nada,
pessoas para presentear o recém-nascido. irmão das almas,

A sonoridade do poema é um elemento muito


importante nesta obra. A sua leitura se torna quase
cantada, uma ferramenta comum quando a escrita
não era difundida.
A sonoridade servia como um modo de facilitar a
memorização da poesia. Esse formato também lembra
as poesias de cordel. Sabe-se que João Cabral de Melo
Neto costumava ler em voz alta para os funcionários
da fazenda alguns cordéis.

Morte e Vida Severina sublinha a solidão do protagonista. Espaço e temática


O espaço e o tema estão intimamente ligados nes-
se poema. A obra aborda a viagem de um retirante

68
LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
do interior do Pernambuco até o Recife, onde ele se e às vezes até festiva;
depara constantemente com a morte. só a morte tem encontrado
O fio condutor do trajeto é o rio Capiberibe, que quem pensava encontrar vida, (...)
deve ser o percurso certo do interior ao litoral:
Contexto da escrita de Morte e Vida Severina: a
Pensei que seguindo o rio Geração de 45
eu jamais me perderia:
ele é o caminho mais certo, João Cabral de Melo Neto fez parte da Geração de
de todos o melhor guia. 45, a terceira fase modernista. Nessa geração, princi-
palmente na poesia, é di�cil encaixar os autores den-
Ao longo da jornada, Severino encontra diversas tro de correntes literárias. Em um amplo espectro, é
vezes a morte. Morte por fome, por emboscada ou possível dizer que a poesia deixou de ser tão intimista
por velhice antes do trinta. O sertão é o espaço e a passando para um maior formalismo.
morte é o tema, os dois andam juntos ao longo do A poesia de João Cabral é exemplar nesse aspecto.
rio. Até o próprio rio também morre. Engenheiro de formação, o poeta encaixava palavras
como um construtor assenta tijolos. A sintaxe seca e
Mas como segui-lo agora os versos curtos são emblemáticos dos poemas de
que interrompeu a descida? João Cabral.
Vejo que o Capibaribe, Se na poesia os temas são variados, na prosa pa-
como os rios lá de cima, recem coexistir duas vertentes: uma intimista voltada
é tão pobre que nem sempre para o fluxo de consciência, tendo Clarice Lispector
pode cumprir sua sina. como maior representante; e outra que aprofunda
as questões da prosa regionalista dos anos 30, tendo
O percurso do rio pode ser comparado ao percur- Guimarães Rosa como seu maior expoente.
so da vida no sertão, que de tão frágil muitas vezes O fim da ditadura de Getúlio Vargas promoveu
se interrompe. uma abertura social. A Geração de 45 foi também
Severino se depara com a morte muitas vezes. Da engajada nos temas sociais e com grande envolvi-
primeira vez o defunto é carregado numa rede por mento na política.
outros homens. O falecido morreu de morte matada
em uma emboscada provocada por alguém que queria Vida e Morte Severina, João Cabral de Melo Neto.
ficar com as suas terras. Fonte: (Disponível em: h�ps://www.culturagenial.com/vida-e-
-morte-severina-de-joao-cabral-de-melo-neto/, acessado em
jun 13, 2022.).

POEMA: MORTE E VIDA SEVERINA - JOÃO CA-


BRAL DE MELO NETO

— O meu nome é Severino,


como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Morte e Vida Severina retrata as agruras do sertanejo.
Severino de Maria
como há muitos Severinos
Depois, Severino se depara com um defunto sen-
com mães chamadas Maria,
do velado em uma modesta residência. Seguindo via-
fiquei sendo o da Maria
gem, ao tentar conseguir trabalho em uma pequena
do finado Zacarias.
vila, a morte aparece novamente, mas como única
[...]
fonte de renda para quem quer viver lá.
Mais perto do litoral, Severino se espanta com a
Somos muitos Severinos
terra mais macia, cheia de cana e acha que lá é um
iguais em tudo na vida:
bom lugar para trabalhar. Porém, assiste ao funeral
na mesma cabeça grande
de um lavrador.
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
— Desde que estou retirando
sobre as mesmas pernas finas
só a morte vejo ativa,
e iguais também porque o sangue,
só a morte deparei
que usamos tem pouca tinta.

69
LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
E se somos Severinos Minha amiga se esqueceu
iguais em tudo na vida, de dizer todas as linhas
morremos de morte igual, não pensem que a vida dele
mesma morte severina: há de ser sempre daninha.
que é a morte de que se morre Enxergo daqui a planura
de velhice antes dos trinta, que é a vida do homem de o�cio,
de emboscada antes dos vinte bem mais sadia que os mangues,
de fome um pouco por dia tenha embora precipícios.
(de fraqueza e de doença Não o vejo dentro dos mangues,
é que a morte severina vejo-o dentro de uma fábrica:
ataca em qualquer idade, se está negro não é lama,
e até gente não nascida). é graxa de sua máquina,
[...] coisa mais limpa que a lama
do pescador de maré
Falam as duas ciganas que haviam aparecido com que vemos aqui vestido
os vizinhos: de lama da cara ao pé.
-- Atenção peço, senhores, E mais: para que não pensem
para esta breve leitura: que em sua vida tudo é triste,
somos ciganas do Egito, vejo coisa que o trabalho
lemos a sorte futura. talvez até lhe conquiste:
Vou dizer todas as coisas que é mudar-se destes mangues
que desde já posso ver daqui do Capibaribe
na vida desse menino para um mocambo melhor
acabado de nascer: nos mangues do Beberibe.
aprenderá a engatinhar
por aí, com aratus, O Carpina fala com o retirante que esteve de fora,
aprenderá a caminhar sem tomar parte em nada.
na lama, como goiamuns, (...) -- Severino retirante,
e a correr o ensinarão deixe agora que lhe diga:
o an�bios caranguejos, eu não sei bem a resposta
pelo que será an�bio da pergunta que fazia,
como a gente daqui mesmo. se não vale mais saltar
Cedo aprenderá a caçar: fora da ponte e da vida;
primeiro, com as galinhas, nem conheço essa resposta,
que é catando pelo chão se quer mesmo que lhe diga;
tudo o que cheira a comida é di�cil defender,
depois, aprenderá com só com palavras, a vida,
outras espécies de bichos: ainda mais quando ela é
com os porcos nos monturos, esta que vê, Severina;
com os cachorros no lixo. mas se responder não pude
Vejo-o, uns anos mais tarde, à pergunta que fazia,
na ilha do Maruim, ela, a vida, a respondeu
vestido negro de lama, com sua presença viva.
voltar de pescar siris E não há melhor resposta
e vejo-o, ainda maior, que o espetáculo da vida:
pelo imenso lamarão vê-la desfiar seu fio,
fazendo dos dedos iscas que também se chama vida,
para pescar camarão. ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
-- Atenção peço, senhores, vê-la brotar como há pouco
também para minha leitura: em nova vida explodida;
também venho dos Egitos, mesmo quando é assim pequena
vou completar a figura. a explosão, como a ocorrida;
Outras coisas que estou vendo mesmo quando é uma explosão
é necessário que eu diga: como a de há pouco, franzina;
não ficará a pescar mesmo quando é a explosão
de jereré toda a vida. de uma vida Severina.

70
LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
05. Na conversa entre Severino e mestre carpina, o
retirante pergunta ao mestre “se não vale mais
saltar / fora da ponte e da vida”. De acordo com
ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM o texto:
a) Quem acaba respondendo a Severino?
Entendendo o poema: A vida.
b) Qual é a resposta dada?
01. De acordo com o texto dê o significado das pala- A vida, mesmo quando severina, vale a pena.
vras abaixo:
· Aratu: pequeno caranguejo de cabeça triangular. 06. Nos últimos versos, mestre capina diz:
· Goiamum: tipo de crustáceo que vive em lugares “Mesmo quando é uma explosão
lamacentos, em tocas que ele mesmo cava. como a de há pouco, franzina;
· Monturo: grande quantidade de lixo. mesmo quando é a explosão
· Jereré: aparelho feito de madeira e rede usado de uma vida severina.”
na pesca de siris, camarões e peixes pequenos. O texto, no conjunto, faz uma forte crítica social.
· Mucambo: barraco. Contudo, pela ótica que ele apresenta, há espe-
· Carpina: carpinteiro. rança?
Sim, pois cada vida que brota, mesmo tendo um
02. Severino é um substantivo próprio, é o nome do destino “severino”, renova as esperanças de uma
retirante, protagonista da história. No entanto, a vida melhor.
palavra severino é empregada como adjetivo nas
expressões “morte severina” e “vida severina”. 07. A explosão de mais “uma vida severina” parece
Interprete: qual é o sentido da palavra severina dar continuidade a essa corrente de severinos.
nessas situações? Eles não estão somente no sertão seco do Nordes-
Em “morte severina”, tem o sentido de uma mor- te; estão em todo o país, severinamente lutando
te anunciada pelas péssimas condições de vida; e contra a “morte em vida”.
em “vida severina”, de uma vida sofrida, de luta a) Afinal, quem são os severinos deste país?
pela sobrevivência. Resposta pessoal do aluno. Sugestão: São os
trabalhadores em geral, que, no campo ou na
03. De origem medieval, os autos são textos teatrais cidade, lutam pela vida, apesar da miséria, da
que representam um nascimento, quase sempre ineficácia dos governantes, da corrupção, etc.
o de Cristo, encenado por ocasião das festas do b) Como se justifica o �tulo da obra: Morte e vida
Natal. severina?
No fragmento lido de Morte e vida severina: Morte e vida se equivalem, pois a vida é uma
a) A presença de duas personagens confere am- luta constante contra a morte, uma luta para
bientação mística à cena. Quais são essas per- manter-se a vida, mesmo que “severina”, isto
sonagens? é, sofrida.
As duas ciganas.
b) Elas correspondem a que personagens da cena Fonte: Disponíveis em h�ps://armazemdetexto.blogspot.
com/2019/05/poema-morte-e-vida-severina-joao-cabral.html,
do nascimento de Cristo?
acessado em jun 13, 2022.).
Correspondem aos três reis magos.
c) O que há em comum entre o bebê nascido e
Cristo?
A origem humilde, o conteúdo de esperança
que representa, o destino incerto. SAIBA MAIS

04. Ambas as ciganas fazem previsões quanto ao fu- Para aprofundarmos um pouco mais:
turo bebê. Disponível em: h�ps://www.youtube.com/watch?v=-
a) Em que se diferenciam as previsões? GUXxGb-3lGU
A primeira cigana prevê que o bebê será um Acessado em 14 de junho de 2022.
homem ligado ao rio; a segunda, que será um Disponível em: h�ps://www.youtube.com/watch?-
operário. v=hV3MNh1yEY8
b) Em que se assemelham? h�ps://www.youtube.com/watch?v=jYjJ9DkZ5BA
Em ambas as profissões, ele será um homem Acessado em 14 de junho de 2022.
socialmente marginalizado, mais um severino.

71
LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
JOÃO CABRAL DE MELO NETO Por isso vós, ó Rei, que por divino
Conselho estais no régio sólio posto,
João Cabral de Melo Neto é um escritor moder- Olhai que sois (e vede as outras gentes)
nista que nos apresenta, em muitas obras, como por Senhor só de vassalos excelentes.
exemplo em Vida e Morte Severina uma crítica à rea- Olhai que ledos vão, por várias vias,
lidade social. Mas já há alguns movimentos literários Quais rompentes leões e bravos touros,
que observamos esta tendência. Observe os versos Dando os corpos a fomes e vigias,
do romântico Castro Alves. A ferro, a fogo, a setas e pelouros,
A quentes regiões, a plagas frias,
Navio Negreiro – Castro Alves A golpes de idólatras e de Mouros,
VI A perigos incógnitos do mundo,
Existe um povo que a bandeira empresta A naufrágios, a peixes, ao profundo.
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!... Os Lusíadas, de Camões.
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!... Fonte: (Disponível em: h�p://www.dominiopublico.gov.
br/download/texto/ua000178.pdf, Acessado em jun 13,
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
2022).
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
Auriverde pendão de minha terra,
REFERÊNCIAS
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Que servires a um povo de mortalha!...
vel em: h�ps://www.algosobre.com.br/resumos-lite-
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E não sei por que influxo de Destino do Paraná, Curitiba.
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