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A vida de Graciliano Ramos

Já foi dito que Graciliano Ramos penetra no pensamento de cada


estrato da sociedade Nordestina buscando mostrar a realidade do sertanejo.
Isso seria possível somente a um sertanejo. É tomando partida da vida do
autor que poderemos penetrar melhor no sentido ultimo das suas perguntas
radicais. Perguntas estas que vão ganhando forma e se desenvolvendo em
consideração ao contexto em que vivemos.
Graciliano Ramos nasceu em 1892, no dia 27 de outubro em uma
cidadezinha do estado de Alagoas, Quebrangulo. Transcorreu sua infância
entre as muitas transferências de sua família, mas sempre nas coordenadas
geográficas nordestinas que aparecem como o contexto vital, como o
cenário iniludível da sua literatura.
Filho primogênito de dezesseis irmãos, viveu sob o regime da seca e
das bofetadas que recebia dos pais, Sebastião Ramos de Oliveira e Maria
Amélia Ferro Ramos. Isto fez com que bem cedo nascesse nele a idéia de
que todas as ações humanas são governadas pela violência, que, como dirá,
são coisas incomodas, mas necessárias. Na sua autobiografia, “infância”,
ele se refere aos pais, respectivamente o pai e depois a mãe como: "Um
homem sério, de testa grande (...), dentes fortes, queixo rígido, dizer pesado; uma
senhora furiosa, agressiva, severa (...), olhos malvados que em momentos de cólera
eram inflamados com o brilho da loucura.” 1

Nos anos 1914 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde vive por um
ano e vai trabalhar como jornalista. O ano seguinte ele chega a Palmeira
dos Índios e se casa com Maria Barros. Ela acaba morrendo cinco anos
depois. Graciliano vai escrever neste período para alguns jornais. Mas a
morte de sua mulher vai imprimir um significado negativo à sua vida.
“Graciliano, era um homem tímido, introspectivo, discreto. O
esplendor do autor é revelado somente pela literatura de alguns dos livros;

Cf. BOSSI, Literatura casual, cit., p. 440.


1
A sua prosa era, verdadeiramente, um reflexo do seu temperamento” 2.
Cada personagem seu é constituído por uma profunda analise psicológica,
as histórias se concentram na existência interna dos personagens, os fatos
narrados não são exteriores, mas narram o homem interior, o homem que se
Poe perguntas.
Os seus livros são fruto de suas experiências pessoais. Nascem de uma
mente inteligente e de uma realidade oprimente. Em 1928 ele se elegeu
prefeito de Palmeira dos Índios, cidade que funge de cenário para seu
primeiro romance: “Caetés”, livro este que já carrega consigo o pessimismo
que caracteriza a sua obra. Em 1931 renuncia ao cargo de prefeito e funda
uma escola. Bem neste contexto ele escreve “São Bernardo”. Em 1933 foi
chamado para se o diretor da Instituição Publica de Alagoas, e acaba se
mudando para o Maceió.
A sua carreira se interrompe em 1936, quando vai preso pela acusação
de ser comunista. Neste período de prisão escreve o romance
autobiográfico "Memórias do Cárcere", ali ele narra às violências sofridas
no cárcere, nisto deixa um serio testemunho sobre a realidade brasileira de
então, denuncia o autoritarismo do Estado Novo. Neste mesmo ano
publicou "Angustia".
Terminado o encarceramento, em 1937, volta para o Rio de Janeiro,
ali vai passar alguns dias escrevendo para alguns jornais. No ano seguinte é
que vai publicar Vidas Secas, escritos num quarto de pensão. Em 1945 se
inscreve no Partido Comunista Brasileiro, sem, porém assumir a
mentalidade atéia que é característica do comunismo, não usa a Igreja
como causa dos problemas; Deus faz parte da vida dos nordestinos, e passa
incólume às criticas do autor. Áleas é parte integrante das buscas de seus
personagens.

2
W. BENJAMIM, O narrador, São Paulo, Brasiliense, 1985, p. 212.
Sua morte foi no dia 20 de março de 1953 sem nunca ter se ocupado
em fazer um panorama do Rio de Janeiro onde habitava nos últimos anos
de sua vida. Conta-se que um dia caminhava com o filho pela cidade e
chegando ao famoso bairro das Laranjeiras, onde viviam, o menino parou e
gritou: "Como é lindo aqui!". Graciliano assustou-se e pediu se ele
acreditava realmente que fosse assim tão bonita a cidade, pois, para
Graciliano, Alagoas era o único lugar que amava.
Tendo em conta esta síntese de sua vida, podemos ter uma primeira
referencia de como o autor se relacionava com o mundo moderno. Como já
dissemos, ao ler seus escritos, pode-se perceber a tensão interiorizada pelos
personagens. Suas perguntas sobre o mundo externo exprimem a
hermenêutica de mundo que o autor tem. Por vezes apaixonado por ele,
como faz pensa o Filho mais velho em Vidas Secas: “Tutti i luoghi che
conosceva erano buoni: lo stabbio delle capre, il recinto del bestiame…
mondo in cui esistevano essere reali, la famiglia del bovaro e gli animali
della fazenda…una popolazione di pietre e alberi…Questi mondi vivevano
in pace, a volte sparivano le frontiere, gli abitanti dei due lati si
intendevano perfettamente e si aiutavano. Esistevano senza dubbio
ovunque forze malefiche, ma quelle forze erano sempre vinte. E quando
Fabiano domava un cavallo selvaggio, evidentemente un nume protettore lo
teneva fermo in sella, gli indicava i percorsi meno pericolosi, gli faceva
evitare le spine e i rami.”3 E em muitas outras vezes sem esperança de
encontrar algo de bom e belo como diz Fabiano, na mesma obra: “Tirò
fuori dalla tasca la traccia di tabacco, si preparò una sigaretta triturando il
tabacco con il coltello. Se almeno potesse ricordarsi di qualche fatto
gradevole, la vita non sarebbe del tutto cattiva.”4
Sociedade e Ego se mostram, ambas, como um mundo árido, hostil, de
permanente desconfiança do homem. Mas emerge, também, um sujeito
3
RAMOS, Vite Secche, cit., p.. 55.
4
Ib., p. 91.
árido e hostil. É possível pensar que a relação Eu - Mundo começa num
espírito de incerteza. Como se pode entender nas perguntas de Fabiano, o
pai de família no livro de Vidas Secas, não havia razão para que a vida
fosse assim desordenada, assim desafortunada. Mas a narração dá a
resposta de maneira irônica: “todos eram bestas”. Toda a obra se
desenvolve sobre a falta de respostas aos questionamentos de Fabiano
diante da família: Qual a razão daquela vida?
Escreveu ao todo 11 livros:
 Romances: Caetés (1933), São Bernardo (1934), Angústia
(1936), Vidas Secas (1938);
 Histórias: Insônia (1947), Alexandre e Outros Heróis (1962);
 Memórias: Infância (1945), Memórias do Cárcere (1953);
 Crônicas: Linhas Tortas (1962), Viventes das Alagoas (1962);
 Viagens: Viagem (1954).

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