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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE CAXIAS


DEPARTAMENTO DE LETRAS
DISCIPLINA DE LITERATURA BRASILEIRA
Profº: Francisca Fabiana
Acadêmico: Francisco Luan da Silva Araújo

RESENHA CRÍTICA

MENINO DE ENGENHO de José Lins do Rêgo

José Lins do Rego nascera no Engenho Corredor, Pilar, Paraíba. Foi


escritor e criara vários romances e crônicas. Estudou o curso de Direito e
posteriormente trabalhara como promotor de justiça na cidade de Manhuaçu,
Minas Gerais. Seus escritos possuem características memorialistas e seus
romances acusavam as decadências existentes no engenho, a essência de sua
escrita fundamenta-se nas fortes lembranças de seu passado. Nesse
entendimento afirma Bosi o seguinte:

Descendente de senhores de engenho, o romancista soube


fundir uma linguagem de forte e poética oralidade as
recordações da infância e da adolescência com o registro
intenso da vida nordestina colhida por dentro, através dos
processos mentais de homens e mulheres que representam
a gama social da região. (BOSI, p. 298. 1994).

O eixo temático de suas obras é o sistema econômico de origem


patriarcal, o exercício do trabalho semiescravo, a vida nordestina, o cangaço e
o misticismo.
Menino de Engenho (1932) foi sua obra mais conhecida e de maior
sucesso no meio crítico literário chegando a ganhar o prêmio da fundação
Graça Aranha. Tornou-se conhecida por apresentar o ciclo da cana de açúcar
no nordeste brasileiro.
A obra representa, em sua grande parte, características e vivencias de
seu próprio autor, de José Lins do Rego, o engenho e o nordeste são alguns
desses fatores. Não deve-se considerar a obra sem sua inter-relação com o
escritor, pois ambos estão intimamente conectados.
É nessa concepção de inter-relação entre vida e obra que Alfredo Bosi
afirma:
A região canavieira da Paraíba e de Pernambuco em
período de transição do engenho para a usina encontrou no
“ciclo da cana de açúcar” José Lins do Rego a sua mais alta
expressão literária. (BOSI, p. 297, 1994).

Contudo, observa-se o quanto a realidade sociocultural tornou-se


presente em seus escritos, tal fato dá-se ao ocasionamento de Rego ter feito
parte da geração de 30 do modernismo brasileiro. Suas obras possuem sempre
um caráter regionalista ou neorregionalista, social e político.
A narrativa da obra pode ser classificada em várias fases em todo o seu
desenvolvimento. A trama possui como protagonista o menino Carlos. Sua vida
muda drasticamente “da água pro vinho”, quando seu pai, num surto psicótico,
assassina inescrupulosamente sua mãe com uma arma de fogo (revolver).
O quarto de dormir de meu pai estava cheio de pessoas que
eu não conhecia. Corri para lá, e vi minha mãe estendida no
chão e meu pai caído em cima dela como um louco. A gente
toda que estava ali olhava para o quadro como se estivesse
em um espetáculo. Vi então que minha mãe estava toda
banhada em sangue, e corri para beijá-la, [...] (REGO, p. 1,
2012).
O marco principal, ou o acontecimento mais marcante da vida do
personagem Carlos foi à perda de sua mãe e, posteriormente, sua ausência em
circunstancias que ela seria de essencial importância na vida da criança.
A perda de um ente querido é sempre dolorosa, no entanto a perda é
mais cruel ainda quando os filhos não conseguiram criar suas próprias asas
para alçarem voos sozinhos pelo mundo. No caso de Carlos e sua mãe a perda
foi intensamente pior, pois sentimentalmente ele não se desligara dela por
completo, ainda era muito novo. Observa-se essa tristeza e melancolia do
personagem:
A morte de minha mãe me encheu a vida inteira de uma
melancolia desesperada. Por que teria sido com ela tão
injusto o destino, injusto com uma criatura em que tudo era
tão puro? Esta força arbitrária do destino ia fazer de mim um
menino meio cético, meio atormentado de visões ruins.
(REGO, p. 3, 2012).
Nessa primeira impressão da obra observa-se a característica da
orfandade. Órfão de mãe e, indiretamente de pai, já que ele tivera
enlouquecido e não possuíra condições mínimas de cuidar do próprio filho.
Carlos foi levado para o engenho de seu avô materno, nesse local
Carlos supera grande parte de suas dores e melancolias. Em sua chegada
admirara-se com o sistema canavieiro, com as plantações de cana de açúcar,
com o procedimento, os métodos, as máquinas. Toda aquela novidade ajudara
o pequeno Carlos a amadurecer mais rápido e, de certa forma, superar a dor
do luto.
No entanto, com o passar do tempo o Engenho mostrou-se um lugar
como uma “espada de dois gumes”, ou seja, ele pode ser bom em
determinadas circunstâncias, mas, noutras instancias pode ser terrivelmente
horrendo.
Esses dois lados da moeda presente no engenho dá-se as pessoas que
habitam e compõe seu espaço, como o caso da tia Maria, que tornou-se como
sua segunda mãe, sua protetora, e a Sinhazinha, cunhada de seu avô,
governanta da casa-grande que era extremamente cruel com o pequeno
Carlos. O lado ruim da moeda também se assemelha com a crítica do autor,
Lins do Rego, para com o regime escravocrata, ou seja, a própria tradição
escravagista.
O personagem Carlos passara no Engenho por outras duas grandes
situações de perda, a primeira foi com sua primeira paixão, sua prima Maria
Clara, onde se apaixonou e deu seu primeiro beijo. Com a partida de sua prima
o pequeno Carlos voltara a sentir-se triste, despertando violentamente a
rebeldia, passando muito tempo fora de casa brincando pelos confins do
engenho.
Sua segunda perda ocorreu quando sua tia Mariazinha, aquela em que o
considerava como seu próprio filho e ele como sua segunda mãe, tivera que ir
embora, pois havia se casado. Contudo, ele ficara aos cuidados da governanta
Sinhazinha, cunhada de seu avô ao qual a odiava com todas as suas forças,
pois ela o fazia sofrer. No entanto, no decorrer da narrativa observa-se que a
cruel governanta sentira pena do pequeno Carlos, pois a pobre criança não
tinha um pai presente, e tão pouco uma mão para que pudesse cuidá-lo
corretamente.
A ausência dos pais despertara em Carlos sua forte rebeldia, e para as
pessoas da casa-grande não houvera melhor solução do que enviá-lo ao
orfanato. A obra termina com sua partida do engenho em direção a cidade
grande.
Todo o foco do autor sobre a obra Menino De Engenho baseia-se em
dois eixos temático principais: o mecanismo de funcionamento do engenho e a
tradição escravagista que permanecia mesmo que indiretamente após a
abolição da escravidão no Brasil.

Referências Bibliográficas

BOSI, Alfredo. A historia concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Editora


Cultrix, 1994.
REGO, José Lins. Menino de Engenho; apresentação Ivan Cavalcanti
Proença. - 100.ed. - Rio de Janeiro : José Olympio, 2012.
FUKCS, Rebeca. Livro Menino de Engenho de José Lins do Rego. Cultura
Genial. Disponivel em: https://www.culturagenial.com/livro-menino-de-engenho-
de-jose-lins-do-rego/ Acesso em: 19 de Mar, 2021.

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