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Em 2002, Cidade de Deus foi adaptado para o cinema, dirigido por Fernando
Meirelles, com grande sucesso de público e de crítica. O filme obteve quatro
indicações para o Oscar – direção, fotografia, montagem e roteiro adaptado –,
tendo sido também indicado para o Globo de Ouro na categoria de melhor filme
estrangeiro.
PUBLICAÇÕES
Obra Individual
Cidade de Deus
Livro
Neste seu romance de estreia, Paulo Lins faz um painel das transformações
sociais pelas quais passou o conjunto habitacional Cidade de Deus: da pequena
criminalidade dos anos 60 à situação de violência generalizada e de domínio do
tráfico de drogas dos anos 90. Para redefinir a situação do lugar onde cresceu,
Lins usa o termo "neofavela", em oposição à favela antiga, aquela das rodas de
samba e da malandragem romântica. O livro se baseia em fatos reais. Grande
parte do material utilizado para escrevê-lo foi coletado durante os oito anos (entre
1986 e 1993) em que o autor trabalhou como assessor de pesquisas
antropológicas sobre a criminalidade e as classes populares do Rio de Janeiro.
Cidade de Deus foi saudado como uma das maiores obras da literatura brasileira
contemporânea. Um dos principais críticos do país, Roberto Schwarz observou
a capacidade do autor de transpor para a literatura uma situação social
deteriorada, aliando em sua narrativa a agilidade da ação cinematográfica e o
lirismo da poesia. Segundo Schwarz, "o interesse explosivo do assunto, o
tamanho da empresa, a sua dificuldade, o ponto de vista interno e diferente, tudo
contribuiu para a aventura artística fora do comum".
Filme
Com estilo inovador, o romance Cidade de Deus (1997) de Paulo Lins trouxe
evidente proximidade com a linguagem cinematográfica. Consequentemente foi
adaptado ao cinema, em filme homônimo com direção de Fernando Meirelles
(2002). Isso, justamente porque a arte cinematográfica é uma espécie de
segunda natureza da literatura, pois traz embutido o processo narrativo literário.
Embora numa lógica contrária, aquilo que na literatura é efeito (a imagem), no
cinema é também elemento da narrativa. O romance, forma literária sempre
propensa ao diálogo com outras linguagens, encontra no cinema um parentesco
originário. Entre as páginas e as telas há laços estreitos. Nas páginas do
romance, são as palavras que acionam os sentidos e se transformam na mente
do leitor em imagens. A tela do cinema abriga imagens em movimento que serão
decodificadas pelo espectador por meio de palavras. Portanto a comparação dos
procedimentos narrativos de Cidade de Deus, nos modos literário e fílmico, pode
ajudar a explicitar aspectos desse diálogo, assim como a relevância do cinema
e da literatura, como capazes de pensar e estabelecer relações com o social e
histórico, ler e traduzir o fenômeno social da pobreza na urbe. Por conseguinte,
de pensar e representar ao mesmo tempo, um sistema de relações concretas
entre suas temáticas e estruturas narrativas da configuração social do próprio
Brasil. Busca-se deste modo abordar a relevância estética, social e histórica da
arte.
Itamar Vieira
num contexto dominado pela sociedade patriarcal. Sendo um romance que parte
de uma realidade concreta, em que situações de opressão quer social quer do
homem em relação à mulher, a narrativa encontra um plano alegórico, sem entrar
num estilo barroco, que ganha contornos universais. Destaca-se a qualidade
literária de uma escrita em que se reconhece plenamente o escritor. Todos estes
motivos justificam a atribuição por unanimidade deste prémio.
Torto Arado
Uma obra polifônica, marcada pelas narrativas das irmãs Bibiana e Belonísia, e
de uma entidade encantada, vozes femininas que expressam memórias
coletivas e atribuladas de desigualdades raciais, sociais e de gênero, e também
evocam as resistências ancestrais dos povos quilombolas, suas lutas e ligações
com a terra. “Quando retirei a faca da mala de roupas, embrulhada em um
pedaço de tecido antigo encardido com nódoas escuras e um nó no meio, tinha
pouco mais de sete anos. Minha irmã, Belonísia, que estava comigo, era mais
nova um ano”.
A narrativa se inicia com uma tragédia compartilhada pelas irmãs, a qual deixa
marcas profundas em suas vidas pelas décadas seguintes, criando uma
cumplicidade de gestos e silêncios. Bibiana e Belonísia vocalizam as histórias
dos demais personagens da trama como Zeca Chapéu Grande, Salustiana,
Donana, Maria Cabocla, Severo e os proprietários da fazenda, e apresentam
esse mundo de contradições e injustiças pelos seus olhares infantis, passando
pelos da juventude abreviada pela maternidade e casamentos, e chegando às
visões da vida adulta. “Todas nós, mulheres do campo, éramos maltratadas pelo
sol e pela seca. Pelo trabalho árduo, pelas necessidades que passávamos, pelas
crianças que paríamos muito cedo(..)”.
Torto Arado, mais que o título desta obra, representa um instrumento agrícola
arcaico e obsoleto, que simboliza as permanências do passado colonial e as
marcas indeléveis e deletérias da escravidão, fundantes da formação da
sociedade e do Estado Brasileiro, de suas mazelas e desigualdades. “Era um
arado torto, deformado, que penetrava a terra de tal forma a deixá-la infértil,
destruída, dilacerada”.