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Vida e Obras de Graciliano Ramos

Segundo ele:
“Os modernistas brasileiros, confundindo o ambiente literário do país com a Academia,
traçaram linhas divisórias rígidas (mas arbitrárias) entre o bom e o mau. E, querendo
destruir tudo o que ficara para trás, condenaram, por ignorância ou safadeza, muita coisa
que merecia ser salva.”

Biografia
Graciliano Ramos (1892-1953) foi um escritor brasileiro. O
romance "Vidas Secas" foi sua obra de maior destaque. É
considerado o melhor ficcionista do Modernismo e o
prosador mais importante da Segunda Fase do Modernismo.

Suas obras embora tratem de problemas sociais do Nordeste


brasileiro apresentam uma visão crítica das relações
humanas, que as tornam de interesse universal.

Seus livros foram traduzidos para vários países, e Vidas


Secas, São Bernardo e Memórias do Cárcere foram levados
para o cinema. Recebeu o Prêmio da Fundação William Faulkner, dos Estados Unidos, pela
obra "Vidas Secas".

Infância e Juventude

Graciliano Ramos nasceu na cidade de Quebrâgulo, Alagoas, no dia 27 de outubro de 1892.


Filho de Sebastião Ramos de Oliveira e Maria Amélia Ferro Ramos era o primogênito de
quinze filhos de uma família de classe média do Sertão nordestino.

Passou parte de sua infância na cidade de Buíque, em Pernambuco, e parte em Viçosa,


Alagoas, onde estudou no internato da cidade.

Em 1904 publicou no jornal da escola seu primeiro conto, O Pequeno Pedinte. Em 1905
mudou-se para Maceió, onde fez seus estudos secundários no Colégio Interno Quinze de
Março, quando desenvolveu maior interesse pela língua e pela literatura.
Em 1910 foi com a família morar em Palmeira dos Índios, Alagoas, onde seu pai abriu um
pequeno comércio. Em 1914 foi para o Rio de Janeiro, quando trabalhou como revisor dos
jornais: Correio da Manhã, A Tarde e O Século.

Voltou para a cidade de Palmeira dos Índios, onde duas irmãs haviam falecido de peste
bubônica, em 1915. Trabalhou com o pai no comércio. No ano seguinte casou-se com Maria
Augusta Barros, com quem teve quatro filhos.

Cargos Públicos

Em 1928, Graciliano Ramos foi eleito prefeito da cidade de Palmeira dos Índios. Nesse
mesmo ano, já viúvo, casou-se com Heloísa de Medeiros com quem teve quatro filhos.

Em 1930 deixou a prefeitura e mudou-se para Maceió, quando assumiu a direção da Imprensa
Oficial e da Instrução Pública do Estado.

Obras de Graciliano Ramos

Obras éditas
1933 – Caetés (romance)

1934 – São Bernardo (romance)

1936 – Angústia (romance)

1938 – Vidas secas (romance)

1939 – A terra dos meninos pelados (infantil)

1942 – Brandão entre o mar e o amor(romance em parceria com Rachel de Queiroz, José Lins

do Rego e Jorge Amado)

1944 – Histórias de Alexandre (infantil)

1945 – Infância (memórias)

1945 – Dois dedos (contos)

1946 – Histórias incompletas (contos)

1947 – Insônia (contos)

Obras póstumas

1953 – Memórias do cárcere (memórias)


1954 – Viagem (crônicas)

1962 – Linhas tortas (crônicas)

1962 – Alexandre e outros heróis (infantil)

1962 – Viventes das Alagoas (crônicas, ensaios e textos ficcionais)

1980 – Cartas (correspondência)

1992 – Cartas de amor a Heloísa(correspondência)

2012 – Garranchos (crônicas, artigos, discursos e textos inéditos)

2014 – Cangaços (crônicas e outros textos inéditos)

2014 – Conversas (entrevistas)

Características literárias de Graciliano Ramos

Graciliano Ramos figura entre um dos principais expoentes do chamado Segundo

Modernismo, ou Modernismo de 30. Marcado pela consciência pessimista do

subdesenvolvimento, os autores desse movimento tinham como horizonte a

compreensão de que os problemas sociais brasileiros eram estruturais. Portanto,

desenvolveram uma literatura que retomava as formas tradicionais do romance

realista, cujo projeto ideológico propunha uma denúncia dos contrastes sociais do

Brasil.

As obras de Graciliano Ramos, de forma geral, são marcadas por um pessimismo

profundo em relação ao homem. Ele cria situações em que as personagens se veem

sempre em constantes inquietações quanto às questões da existência humana. Cada

personagem corresponde a um tipo social que de fato existe, e sua elaboração

provém da junção entre a pesquisa da interioridade psicológica humana aliada aos

tipos sociais brasileiros.

Fabiano, protagonista de Vidas secas, é o desvalido por completo; Paulo Honório,

de São Bernardo, o capitalista, o self-made manda periferia; Luis da Silva, em


Angústia, é o neto da aristocracia decadente que se torna funcionário público,

extremamente revoltado porque perdeu o mandonismo, seu lugar social.

Para o autor, o homem é fruto de suas relações sociais. A sociedade perfaz o

sujeito, e a sociedade burguesa, fundamentalmente formada pela ideia de

competição e busca incessante pelo dinheiro, acaba gerando um mal social.

Não obstante, não há maniqueísmo nas obras de Graciliano Ramos.

Diferentemente de Jorge Amado, também escritor da Geração de 30, Graciliano

constrói suas personagens de modo que esse mal social não se encontra em um

indivíduo, já que todos estão marcados, podres, aprisionados.

Repleta de análises psicológicas e escritas em uma linguagem rigorosa, bastante

concisa e sem floreios, a literatura de Graciliano é realista e engajada, retratando a

vida tal como ela é, com base em uma postura crítica da sociedade. Privilegia os

problemas do trabalhador rural, a seca nordestina, a miséria e os dilemas

enfrentados pelo ser humano em sua relação ao meio hostil, cujas condições sociais

não oferecem solução.

A respeito de seu procedimento criativo e de seu trabalho com a linguagem,

Graciliano comenta:

Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu

ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da

lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer.

Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais

uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra

limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só

gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na

corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma
coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como falso; a palavra foi feita

para dizer.

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