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PROSA

Graciliano Ramos
Biografia: Graciliano Ramos de Oliveira nasceu em 27 de outubro de 1892, na
cidade de Quebrângulo, Alagoas. Filho primogênito de Sebastião Ramos de
Oliveira e Maria Amélia Ferro Ramos, viveu a primeira infância na Fazenda
Pintadinho, em Buíque (PE) e, a partir de 1889, em Viçosa (AL), onde
ingressou no internato.
As atividades literárias de Graciliano Ramos têm início em 1904, quando
publica seu primeiro conto no jornal do internato, intitulado “O pequeno
pedinte”. Em 1906, Graciliano começa a publicar sonetos na revista carioca O
Malho, utilizando o pseudônimo Feliciano de Oliveira. Em 1910, passa a ser
colaborador do Jornal de Alagoas, também assinando com pseudônimos, e
muda-se para Palmeira dos Índios (AL).
Graciliano Ramos embarca, em 1914, para o Rio de Janeiro, então
capital federal, para dar continuidade à carreira de jornalista, mas a morte de
três dos seus irmãos, no ano seguinte, leva-o de volta a Palmeira dos Índios,
onde passa a trabalhar no comércio e casa-se com Maria Augusta Barros, com
quem teve quatro filhos até enviuvar, em 1920.
Em 1927, é eleito prefeito de Palmeira dos Índios, e no ano seguinte
conclui seu primeiro romance, mesmo ano em que se casa novamente. Em
1930 renuncia à prefeitura para assumir a diretoria da Imprensa Oficial de
Alagoas, em Maceió, quando estabelece contato com outros escritores, como
Rachel de Queiroz, Jorge Amado e José Lins do Rego. Em 1933, assume o
cargo de diretor da Instrução Pública de Alagoas. Por consequência das
operações do Governo Constitucional de Getúlio Vargas, Graciliano Ramos é
preso em 1936, sob a acusação de ser comunista. Permanece encarcerado e
refém das mais diversas humilhações e injúrias por quase um ano até ser
inocentado por falta de provas, período que serviu de inspiração para o
romance autobiográfico Memórias do cárcere, de publicação póstuma.
Depois de liberto, fixa residência no Rio de Janeiro, onde assume novo
cargo público, em 1939, desta vez como Inspetor Federal Secundário. Filia-se
ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1945 e dedica-se à literatura até sua
morte, em 1953, vítima de um câncer de pulmão. Tendo escrito mais de vinte
livros entre obras éditas e póstumas, além de duas traduções de romances
estrangeiros, Graciliano Ramos é considerado um dos mais importantes
romancistas brasileiros.

Suas principais obras:


- Caetés é um romance lançado em 1993, a história tem como João Valério,
narrador e personagem desta história, é introvertido e adora fantasiar. Ele
sente-se seduzido pelos ambientes da burguesia. Um dia ele se envolve com
Maria Luisa, esposa de seu amigo e protetor, Adrião, que é também
dono da firma comercial em que trabalha. O caso de João Valério é denunciado
a Adrião através de uma carta anônima. O marido decepcionado comete
suicídio. João Valério se sente culpado e ao mesmo tempo não resiste ao
poder, uma vez que se torna sócio da firma as custas do amigo morto.
Maria Luisa é uma mulher ambiciosa e possessiva, e apenas pensa em pegar
tudo o que o marido deixou, não se importando com João. Ela pensa em
enganar João para conseguir o que quer, e ele mesmo sendo de origem
humilde percebe suas intenções. Ele abandona a mulher mas não consegue
abandonar o cargo e o poder. Esta é uma obra que antecede o que seria Vidas
Secas.
O nome Caetés é uma analogia com a história do nativo selvagem
Caeté, que devorou o Bispo Sardinha, no século XVII. João tem um lado
selvagem como um nativo canibal ao devorar seu amigo Adrião, para conseguir
poder. Esta é uma obra em que o personagem faz uma análise de seus
próprios instintos, pelos quais é dominado. O livro mistura o fim do movimento
naturalista com a literatura realista. A cidade onde acontece a história foi
administrada por Graciliano Ramos, que atuou como prefeito em Palmeira dos
Índios.
- Memórias de cácere foi um livro e filme que retrata a história de Ramos é
preso injustamente e passa a conviver com ladrões e assassinos perigosos.
Ele escreve sobre as terríveis condições e maus-tratos que os detentos
recebem na cadeia e, com a ajuda da esposa e de amigos, consegue publicar
seus escritos.

- Vidas secas é considerada a obra-prima do autor. Lançado em 1938, o livro


narra a história de uma família de retirantes fugindo da seca que assola o
Nordeste.Os personagens são pessoas extremamente simples que saem do
local de origem em busca de oportunidades. No meio da jornada, encontram
uma pequena casa abandonada em uma fazenda e lá se instalam. Entretanto,
a casa tinha dono e a família precisa trabalhar para permanecer nela. O patrão
explora essas pessoas, valendo-se da falta de instrução e desespero dos que
lutam pela sobrevivência.
- Infância, um livro autobiográfico de Graciliano é Infância, no qual ele conta
sobre seus primeiros anos de vida, até a chegada da adolescência. Nascido
em Quebrângulo, cidade de Alagoas, em 1892, o escritor narra uma infância
difícil, em um cenário cheio de repressões e medo, como era típico para as
crianças no final do século XIX no Nordeste. Assim, partindo de sua
experiência pessoal e lembranças, o autor consegue traçar um retrato
comportamental da sociedade no que se refere ao tratamento com as crianças
em um determinado período histórico. O livro apresenta uma crítica ao sistema
pedagógico ao qual o escritor foi submetido, entretanto, segundo a
pesquisadora Cristiana Tiradentes Boaventura, é também uma retomada à
infância a fim de se reconciliar com sua história.

José Lins do Rego


Biografia: José Lins do Rego (1901-1957) foi um escritor brasileiro. Seu
romance, "Menino de Engenho", lhe deu o prêmio Graça Aranha. Sua obra-
prima, "Riacho Doce", foi transformada em minissérie para a televisão.
José Lins do Rego integrou o "Movimento Regionalista do Nordeste". É patrono
da Academia Paraibana de Letras e foi eleito para a cadeira n.º 25 da
Academia Brasileira de Letras.
José Lins do Rego Cavalcanti nasceu no engenho Corredor, no
município de Pilar, Paraíba, no dia 3 de junho de 1901. Filho de João do Rego
Cavalcanti e de Amélia Lins Cavalcanti, tradicional família da oligarquia do
Nordeste açucareiro.
Fez seus primeiros estudos no internato de Itabaiana e no Colégio
Diocesano Pio X de João Pessoa. Depois de testemunhar a decadência dos
engenhos de açúcar, que deu lugar às usinas, José Lins mudou-se para o
Recife, onde estudou no Colégio Carneiro Leão. Em 1919 ingressou na
Faculdade de Direito.

Suas principais obras:


- Menino de engenho o livro se inicia com Carlos ainda criança, com apenas
quatro anos, e relata a vida de Carlos ao lado dos pais. Os três primeiros
capítulos falam da passagem da vida de criança para a vida de adolescente,
retratando o drama vivido pelo menino cujo pai matou a mãe na sua frente e
acabou indo para um hospício. Esta tragédia muda radicalmente a vida de
Carlos.
Nos capítulos seguintes será narrada a vida de Carlos no Engenho. Seu
Tio Juca o leva da cidade para o campo e a partir de então o menino viverá no
Engenho o avô materno. O menino vai crescendo e os episódios de sua
infância e adolescência vão sendo retratados na história, mesmo que de forma
rápida. O ambiente rural é muito bem retratado, ressaltando-se os moleques
com quem ele brincava, os passeios de trem, os banhos de rio, as idas à
escola, os conflitos com sua tia megera, etc.
Os personagens desta história são a Tia Maria que, acaba substituindo a
mãe de Carlos em sua memória; o Tio Juca que leva Carlos da cidade para o
engenho e lhe apresenta o avô; a Tia Sinhazinha, uma velha que dirigia o
engenho em plenos sessenta anos de idade, e que foi casada com um dos
mais ricos homens daquela região, mas acabou se separando ainda no início
do casamento. Tia Sinhazinha se destaca na história como a tirana que
atormenta a vida de Carlos, bem como dos escravos, dos outros moleques e
dos demais subordinados que tinham que se submeter à sua tirania. Além
destes, aparecem com menor destaque o avô José Paulino, a prima Lili e o
moleque Ricardo.
- Banguê lançado em 1934, Banguê é a continuação direta dos eventos
ocorridos em Doidinho. O livro é o terceiro do que se convencionou denominar,
dentro da obra do escritor paraibano, o “ciclo da cana-de-açúcar”, série iniciada
pelo romance Menino de engenho, de 1932. A edição da Global Editora está
prevista para lançamento em maio de 2021.Na obra, Carlos aparece já adulto,
formado em direito e volta para o engenho ''''Santa Rosa''''. Ao longo da
história, José Lins do Rego aborda todas as dificuldades do personagem em
administrar o engenho, além de ter que lidar com um avô já debilitado, e o
surgimento de uma paixão inesperada. Contudo, o antigo "Carlinhos" ainda
precisa gerenciar o declínio dos engenhos e a pressão pela compra das terras.
Do ponto de vista econômico e social, "Banguê" retrata o desse ciclo da
tradição rural nordestina, conhecido popularmente como “ciclo da cana-de-
açúcar”. A edição de Banguê publicada pela Global traz texto de apresentação
da obra de Carlos Newton Junior, Doutor em literatura brasileira pela
Universidade Federal de Pernambuco. A análise destaca a posição de
destaque que o livro adquiria na história da literatura brasileira.  
- Usina é um livro sobre o que era e o que se tornou. Sobre memória. Memória
de como era os tempos em que os senhores de engenho nordestinos, os
coronéis, mandavam em tudo e em todos e eram a elite, de como o povo vivia
na tranquilidade dos bangues, na vida mansa do campo, do moer cana. Uma
vida pacata e tranquila, familiar, na qual a mudança era rara. Uma vida em que
se passava uma era inteira sem que nada de novo acontece-se.
Mas a modernidade chegou aos campos de cana, e mudou a única coisa
que precisava para poder entrar em curso: a cabeça dos senhores de engenho.
Em busca de maiores lucros, de maior prestígio e poder, cresceram os olhos e
começaram a implantar as Usinas, fábricas modernas de produção de açúcar e
álcool, substitutas dos antigos engenhos. Todos com sonhos de grandeza
entraram nessa empreitada. Assim também o fez dr. Juca. E foi dr. Juca que
modernizou o Engenho Santa Rosa e o levou em seu sonho de grandeza. Mas
foi ele também o responsável, pelo menos assim pensavam seus parentes,
pela falência da empresa.
E Usina mostra exatamente a mudança de um mundo rural e familiar
para um mundo empresarial, distanciado, sem alma. A mudança nas almas dos
senhores, que se tornam cada vez mais insensíveis, a pobreza da população, a
degeneração da vida. Tudo movido pela ganância e sede de lucro, o luxo, as
prostitutas. Um panorama do Brasil da década de 1930, época de
transformações. O livro trata justamente destas transformações.
- Água-mãe é o único livro de José Lins do Rêgo que não é ambientado no
Nordeste, e sim às margens da lagoa de Araruama, no interior do Rio de
Janeiro. É a história de três famílias, de origens e classes sociais diferentes: a
família de cabo Candinho, pescador de camarão, a de d. Mocinha, viúva
proprietária da Salina Maravilha, e os Mafra, ricaços do Rio que compram a
Casa Azul, uma antiga propriedade abandonada que é origem de muitas
lendas e superstições locais. A vinda dessa família rica, com seu modo de vida
e costumes diferentes e avançados, não é vista por bons olhos pela sociedade
tradicional e conservadora do local, dando origem a diversos conflitos. O livro
tem muitos personagens que se destacam, mas o ponto de contato das três
famílias são suas mães, que sofrem e se consolam mutuamente, irmanadas
pelo imenso amor que devotam aos filhos.

Érico Veríssimo
Biografia: Érico Veríssimo nasceu na cidade de Cruz Alta (Rio Grande do Sul),
em 17 de dezembro de 1905. Nasceu em uma tradicional família gaúcha. Seu
pai era farmacêutico e sua mãe dona de casa. No início da adolescência,
começou seu encanto pela literatura e passou a ler vários livros. Com a crise
financeira na família, iniciada com a separação dos pais, começou a trabalhar
com 17 anos. Foi bancário e trabalhou também em farmácia. Em 1928,
publicou Ladrão de Gado, sua primeira obra. Em 1930, mudou-se para Porto
Alegre e foi trabalhar como secretário de redação da Revista do Globo.
  Em 1931, casou-se com Mafalda Halfen Volpe. Com ela, ele teve dois
filhos: Clarissa Verissimo e Luís Fernando Verissimo (também escritor). Em
1932, tornou-se diretor da Revista do Globo. No ano de 1933, finalizou a
tradução de Point Conterpoint (Contraponto), de Aldous Huxley. Nos primeiros
anos da década de 1940, foi morar, com a família, nos Estados Unidos. No
país, assumiu um cargo cultural na OEA (Organização dos Estados
Americanos).
  Entre 1953 e 1956, morou novamente nos EUA, trabalhando no
Departamento de Assuntos Culturais da OEA. Em 1954, ganhou o
prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras. Nas
décadas de 1960 e 1970, já com problemas no coração, Érico Veríssimo
publicou várias obras importantes. Nesse período, passou a dedicar-se quase
que exclusivamente à literatura. Faleceu na cidade de Porto Alegre, aos 69
anos, em 28 de novembro de 1975. A causa de sua morte foi infarto do
miocárdio.

Suas principais obras:


- O retrato, a primeira parte da obra, “O continente”, termina o relato no ano de
1895, durante um cerco da Revolução Federalista de 1895, na disputa entre os
maragatos e os chimangos na cidade de Santa Fé, que também é uma luta
pessoal entre as famílias rivais  Terra-Cambará e Amaral.
As 4 partes de “O Retrato” (Rosa-dos-Ventos, Chantecler, A Sombra do
Anjo e Uma Vela para o Negrinho) continuam com a histórias dos Terra-
Cambará e o Sobrado de Santa Fé, mas trazem um novo Rodrigo Cambará,
bisneto do capitão, e a história se passa na virada do século XIX para o século
XX.
Rodrigo é formado em Medicina e volta para a pequena Santa Fé, que
lentamente vai se modernizando, trazendo muitos ideais na sua cabeça.
Embora seja mais acostumado com a vida na cidade, lentamente o instinto de
Rodrigo vai se sobrepondo à “civilização” que adquiriu em Porto Alegre. Aos
poucos, ele vai revelando sua semelhança com o bisavô, o gosto pela
novidade, o espírito aventureiro e as mulheres, o homem gaúcho “tipo”
caracterizado nas obras literárias.
- Olhai os lírios do campo, é um romance urbano e narra a história de
Eugênio, um rapaz de origem humilde que sente vergonha de sua família por
ser pobre, mas mesmo com muito esforço dá ao rapaz a oportunidade de
estudar em ótimos colégios, levando o jovem a formar-se em Medicina.
No dia de sua formatura, conhece Olívia, uma jovem simples, de
extrema sensibilidade, bom-senso, equilíbrio e de um excelente coração que se
aproxima de Eugênio e torna-se para ele um porto seguro em seus conflitos e
juntos vão trabalhar no Hospital do Coração.
Olívia tenta mostrar a Eugênio que a felicidade não depende do dinheiro
ou do sucesso, mas da paz que advém da boa consciência, de fazer as coisas
certas e de servir o próximo. Os jovens se envolvem amorosamente, mas
Eugênio nunca a assume verdadeiramente. Olívia vai trabalhar numa cidade do
interior, e depois da partida da moça, Eugênio noiva com Eunice, uma jovem
rica filha de um empresário, apenas por interesse e casa-se com ela.

- O Continente abre a mais famosa saga da literatura brasileira, 'O tempo e o


vento'. A trilogia - formada por 'O Continente', 'O retrato' e 'O arquipélago' -
percorre um século e meio da história do Rio Grande do Sul e do Brasil,
acompanhando a formação da família Terra Cambará. Num constante ir e vir
entre o passado - as Missões, a fundação do povoado de Santa fé - e o tempo
de Sobrado sitiado pelas forças federalistas, em 1895, desfilam personagens
fascinantes, eternamente vivos na imaginação dos leitores de Érico Verissimo.
- Clarissa, Acredita-se que a cidade para qual Clarissa se muda é Porto Alegre
devido a algumas descrições, no livro o autor não especifica a localidade. Na
pequena pensão ela conhece a infiel Ondina e seu marido Barata; Tonico um
menino com deficiência física e sua mãe Dona Tatá; Levinsky, um judeu
comunista e; o músico Amaro que é apaixonado por Clarissa.
Amaro é um personagem que chama atenção, ele é um bancário que
sonha em ser pianista e está sempre compondo. Ele possui uma paixão
secreta e platônica por Clarissa. A personagem principal se torna amiga de
Tonico, um menino deficiente que tem apenas a mãe, uma pessoa simples que
precisa trabalhar de costureira para sustentar o filho. Clarissa chega a ter
contato com o Dr. Maia que mora na casa rica ao lado da pensão. Quando o
menino Tonico morre, ela passa a fantasiar um romance com ele.
Não há grandes reviravoltas ou emblemas dramáticos nesta obra. A
menina relata com naturalidade e certa inocência o que acontece a sua volta, a
única grande revelação da obra é quando ela descobre que dona Ondina é
casada com um caixeiro viajante, Barata, e possui um caso com Nestor, um
solteirão de boa vida. A maneira como Veríssimo narra a história prende o
leitor, assim como a riqueza de detalhes, é possível ter uma ideia de como
eram as coisas no Brasil durante esse período.

Jorge Amado
Biografia: Jorge Leal Amado de Faria nasceu no dia 10 de agosto de 1912, no
distrito de Ferradas, município de Itabuna, no sul do Estado da Bahia. Viveu
sua infância em Ilhéus (BA) e depois mudou-se para Salvador, onde estudou
no Internato Colégio Antônio Vieira, de padres jesuítas, e no Ginásio Ipiranga.
Desde jovem se envolve com a vida literária e começa a escrever para o jornal:
“Diário da Bahia”. Fundou a “Academia dos Rebeldes”, grupo de jovens
artistas, sobretudo literatos, empenhados em renovar a literatura baiana.
Já no Rio de Janeiro, publica seu primeiro romance, com 19 anos,
intitulado “O País do Carnaval” (1931). Dois anos depois casa-se com Matilde
Garcia Rosa com quem teve uma filha. Em 1935, torna-se Bacharel em Direito
pela Faculdade Nacional de Direito do Rio de Janeiro. Foi preso duas vezes
por apresentar ideais socialistas e comunistas sendo assim, exilado do país,
donde permaneceu durante algum tempo nos países: Argentina, Uruguai,
França e República Tcheca. Ao voltar para o Brasil, separa-se de Matilde, sua
primeira mulher, e em 1945, torna-se Deputado Federal do Partido Comunista
Brasileiro (PCB).
Na política, Jorge Amado lutou pela liberdade religiosa, sendo o autor da
lei, ainda hoje em vigor, que assegura o direito à liberdade de culto religioso;
ademais, foi autor da emenda que garantia os direitos autorais.
Casa-se pela segunda vez com a escritora Zelia Gattai, e com ela tem dois
filhos. Em 1955, afasta-se da militância política e dedica-se totalmente à
literatura, sendo ocupante da cadeira 23, na Academia Brasileira de Letras, a
partir de 1961. Falece na capital baiana, Salvador, no dia 6 de agosto de 2001,
com 89 anos.

Suas principais obras:


- Gabriela, cravo e canela, no ano de 1925, uma das maiores secas da
história do Nordeste leva para Ilhéus Gabriela, uma bela retirante que
conquista a todos, principalmente Nacib, dono do bar mais popular da cidade,
que a emprega para trabalhar em sua casa. Os dois desenvolvem um caso
intenso e acabam se casando, mas tudo parece desmoronar quando Gabriela
lhe é infiel com o maior conquistador da cidade. Paralelamente, um coronel é
julgado por ter matado sua mulher com o amante.

- Capitães da areia, Pedro Bala, Professor, Gato, Sem Pernas e Boa Vida são
adolescentes abandonados por suas famílias, que crescem nas ruas de
Salvador e vivem em comunidade no Trapiche. Eles praticam uma série de
assaltos e são constantemente perseguidos pela polícia. Um dia, Professor
conhece Dora e seu irmão Zé Fuinha e os leva até o Trapiche, o que
desencadeia a excitação dos demais garotos, que não estão acostumados à
presença de uma mulher no local. Aos poucos, nasce o afeto entre o líder do
grupo e a jovem.
- Dona Flor e seus dois maridos, no melhor estilo de crônica de
costumes, Dona Flor e seus dois maridos descreve a vida noturna de
Salvador, seus cassinos e cabarés, a culinária baiana, os ritos do candomblé e
o convívio entre políticos, doutores, poetas, prostitutas e malandros.

- Terras sem fim, A história se passa no começo do século XX, no sul da


Bahia, por ocasião do desbravamento das matas para plantio de cacau nas
regiões próximas ao povoado de Tabocas, então município de Itabuna. A
região estava sob o domínio político do fazendeiro-coronel Sinhô Badaró que,
visando apropriar-se das terras devolutas do Sequeiro Grande, manda o
jagunço Damião assassinar o pequeno fazendeiro Firmo, proprietário de um
sítio que ficava de permeio. O atentado fracassa, e é deflagrada a luta pela
posse daquelas terras, igualmente disputadas por outro rico latifundiário
vizinho, o oposicionista coronel Horácio da Silveira, que também promove
demanda judicial através do advogado Virgílio Cabral, enquanto se sucedem os
atos de violência de parte a parte, com tropelias, plantações destruídas,
incêndios e mortes.

Rachel de Queiroz
Biografia: Nasceu em Fortaleza, Ceará, em 17 de novembro de 1910 e ali
viveu até os cinco anos de idade. Mudou-se com a família para
o Rio de Janeiro em virtude da terrível seca que assolou o Ceará em 1915. Em
1917, mudou-se para Belém do Pará e, em 1919, retornou para o Ceará, onde
fixou residência.
Iniciou sua carreira jornalística escrevendo para o jornal O Ceará quando
tinha apenas 17 anos. Aos 19 anos, começou a escrever, em segredo, o
romance que a tornaria conhecida como escritora: O Quinze. Com a publicação
do livro, em 1930, a autora tornou-se nacionalmente conhecida e ganhou
o prêmio da Fundação Graça Aranha.
Em 1937, foi presa pelo governo de Getúlio Vargas acusada de
ser comunista. A autora permaneceu presa por dois anos. Décadas depois,
Rachel de Queiroz, em 1964, apoiou a ditadura militar brasileira, integrando o
Conselho Federal de Cultura e o Diretório Nacional da Arena, partido político
de sustentação do regime.
Além do prêmio da Fundação Graça Aranha, a escritora também ganhou
diversos outros prêmios, como o Prêmio Jabuti de Literatura Infantil, em 1970,
e o Prêmio Camões, a maior honraria dada a escritores de língua portuguesa,
em 1993. Rachel de Queiroz faleceu em 2003, no Rio de Janeiro, aos 92 anos
de idade.

Suas principais obras:


- As três Marias, em seu quarto romance, As três Marias, a escritora cearense
Rachel de Queiroz foi ainda mais fundo em um tema que já estava presente em
todas as suas obras anteriores: o papel da mulher na sociedade. A história tem
início nos pátios e salas de aula de um colégio interno dirigido por freiras: Maria
Augusta, Maria da Glória e Maria José são amigas inseparáveis que ganham
de seus colegas e professores o apelido de "As Três Marias". À noite, deitadas
na grama e olhando para o céu, as meninas se reconhecem na constelação
com a qual dividem o nome. A estrela de cima é Maria da Glória,
resplandecente e próxima. Maria José se identifica com a da outra ponta,
pequenina e trêmula. A do meio, serena e de luz azulada, é Maria Augusta - ou
simplesmente Guta, como sempre preferiu ser chamada.
Com o passar do tempo, Maria da Glória se transforma em uma
dedicada mãe de família e Maria José se entrega por completo à religião. Guta,
por outro lado, não se sente capaz de seguir os passos de nenhuma de suas
velhas companheiras. Apesar de sua formação conservadora e rígida, ela
sempre desejou ir muito além dos portões e muros daquele internato. Seus
instintos a instigavam a procurar e explorar novos mundos. Assim, Guta
termina a colégio e corre em busca de sua independência. Seu ideal é viver
sozinha, seguir seu próprio caminho, livrar-se da família, romper todas as
raízes, ser completamente livre. A realidade, no entanto, se mostra muito
diferente daquilo que estava descrito nos romances açucarados e livros de
poesia que passavam de mão em mão entre as adolescentes sonhadoras.
Guta descobre o amor, mas através dele é também apresentada à desilusão e
à morte.
- O quinze, em 1915, o Ceará é assolado por uma forte seca. A jovem
professora Conceição passa as férias na fazenda de sua avó e se envolve com
seu primo Vicente. Os caminhos da mulher se cruzam com os do vaqueiro
Chico Bento e sua família. Para fugir da fome e do desemprego, Chico
abandona sua cidade e parte para Fortaleza em busca de uma vida melhor.

- Dôra, Doralina, Rachel de Queiroz não foi feminista, mas criou personagens
femininas que reagiram à dominação masculina. Em Dôra, Doralina (1975), no
entanto, a protagonista se entrega a uma paixão, idealiza o homem amado e
passa a viver as vontades dele. Inicialmente, Dôra transgride normas sociais,
quando nega o luto para o marido falecido e quando rompe as relações afetivas
com Senhora, a sua mãe. Posteriormente, a personagem ingressa em um
teatro mambembe e viaja pelo interior do Brasil, ao lado de artistas
considerados de “vida livre”. Mas, contraditoriamente, deseja ser conquistada e
possuída por Asmodeu, um homem forte, agressivo e viril, para reingressar no
mítico “lar”.
-Memorial de Maria Moura Romance maduro de Rachel de Queiroz, Memorial
de Maria Moura traz em si todas as características literárias que consagraram a
escritora, a primeira mulher a entrar na Academia Brasileira de Letras. Narrado
no Brasil rural do século XIX, o livro conta a saga de Maria Moura, personagem
forte e sertaneja.
Ainda nova, Maria Moura passa por experiências dolorosas. Perde o pai
e depois a mãe. O padrasto a alicia e a violenta. E mais: sua terra, herdada, se
encontra sob ameaça de primos inescrupulosos. O agreste, a seca e a solidão
poderiam ser os únicos companheiros dessa jornada. Maria, porém, é um
retrato da vontade e do desejo da mulher nordestina, que entende o lugar de
submissão em que a sociedade e a família querem colocá-la, mas não aceita
se contentar com ele. À sua volta reúnem-se personagens apaixonados e leais,
que clamam por participar de sua luta por justiça.
O sertão, a liberdade, a violência, a disputa por terras, a religiosidade, a
vontade e a emancipação feminina, a amizade e o amor são grandes temas de
Rachel de Queiroz, todos tratados nessa obra-prima, escrita quando a autora já
contava com 82 anos. Não por menos, Memorial de Maria Moura ganhou o
Prêmio Jabuti de Ficção do ano de 1993 e, no seguinte, foi adaptada para uma
minissérie homônima na Rede Globo, com Glória Pires no papel da
protagonista.
Rachel de Queiroz foi uma mulher extraordinária. Escritora, jornalista,
militante contra a ditadura Vargas e porta-voz do Nordeste brasileiro, nunca
consentiu ser enclausurada em categorias. Dizia-se não feminista, permitia-se
a contradição. Nas palavras de Heloisa Buarque de Hollanda, Rachel é nossa
grande literatura feminista.
Poesia

Murilo Mendes
Biografia: Murilo Mendes (1901-1975) foi um poeta brasileiro. Fez parte do
Segundo Tempo Modernista. Recebeu o Prêmio Graça Aranha com seu
primeiro livro "Poemas". Participou do Movimento Antropofágico, que buscava
uma vinculação com as origens do Brasil.
Murilo Monteiro Mendes nasceu em Juiz de Fora, em Minas Gerais, no
dia 13 de maio de 1901. Iniciou seus estudos na sua terra natal. Entre 1912 e
1915, estudou poesia e literatura. Em 1917 foi para Niterói e ingressou no
Colégio Interno Santa Rosa, porém, fugiu do colégio e se recusou em voltar.
Nesse mesmo ano, foi para Rio de Janeiro com seu irmão mais velho, o
engenheiro José Joaquim, que o colocou como arquivista na Diretoria do
Patrimônio Nacional.
Em 1920, passou a colaborar com o jornal “A Tarde”, de Juiz de Fora,
produzindo artigos para a coluna Chronica Mundana, com a assinatura MMM e
depois com o pseudônimo “De Medinacelli”. Em 1924, passou a escrever
poemas para as duas revistas modernistas: “Terra Roxa e Outras Terra” e
“Antropofagia”.
Em 1930, lançou seu primeiro livro "Poemas", revelando nessa primeira
fase de sua poesia a influência do Movimento Modernista, quando aborda os
principais temas e procedimentos do Modernismo brasileiro dos anos 20, como
o nacionalismo, o folclore, a linguagem coloquial, o humor e a paródia. Escreve
ainda: “Bumba-Meu-Preta” (1930) e “História do Brasil” (1932).

Algumas de suas poesias:


- Canção do exílio
 
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!

Características da poesia: A Canção do Exílio carrega fortes traços do


romantismo, principalmente em relação à subjetividade expressa por um eu-
lírico que sente saudades de seu país e quer retornar para ele. O poeta trata,
neste sentido, de demonstrar aversão aos valores portugueses e ressaltar os
valores naturais do Brasil.
Outras características: Individualismo com a expressão de sentimentos
particulares; Ufanismo com a idealização do Brasil na descrição de sua
natureza.
- O homem, a luta e a eternidade

Adivinho nos planos da consciência


dois arcanjos lutando com esferas e pensamentos
mundo de planetas em fogo
vertigem
desequilíbrio de forças,
matéria em convulsão ardendo pra se definir.
Ó alma que não conhece todas as suas possibilidades,
o mundo ainda é pequeno pra te encher.
Abala as colunas da realidade,
desperta os ritmos que estão dormindo.
À guerra! Olha os arcanjos se esfacelando!
Um dia a morte devolverá meu corpo,
minha cabeça devolverá meus pensamentos ruins
meus olhos verão a luz da perfeição
e não haverá mais tempo.

Características da poesia: A poesia retrata a religiosidade voltada para a


crítica das injustiças sociais.
- Cantiga de malazarte

Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo,


ando debaixo da pele e sacudo os sonhos.
Não desprezo nada que tenha visto,
todas as coisas se gravam pra sempre na minha cachola.
Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos,
destelho as casas penduradas na terra,
tiro os cheiros dos corpos das meninas sonhando.
Desloco as consciências,
a rua estala com os meus passos,
e ando nos quatro cantos da vida.
Consolo o herói vagabundo, glorifico o soldado vencido,
não posso amar ninguém porque sou o amor,
tenho me surpreendido a cumprimentar os gatos
e a pedir desculpas ao mendigo.
Sou o espírito que assiste à Criação
e que bole em todas as almas que encontra.
Múltiplo, desarticulado, longe como o diabo.
nada me fixa nos caminhos do mundo.

Características da poesia: A Cantiga de Malazarte foi inspirada em Pedro


Malazarte, um herói do folclore português conhecido por suas trapalhadas e
bom coração. No Brasil, o personagem ganhou as características de astuto e
aventureiro. Destacamos aqui os versos vivos, a forma livre de expressão.

Jorge de Lima
Biografia: Jorge de Lima nasceu em 23 de abril de 1893, em União dos
Palmares, Alagoas. Em 1902, mudou-se para Maceió. Com 17 anos de idade,
escreveu o poema O acendedor de lampiões. Mais tarde, em Salvador,
ingressou na faculdade de medicina, curso concluído no Rio de Janeiro, em
1914. No ano seguinte, passou a trabalhar como médico em Maceió e
como professor e diretor da Escola Normal e do Liceu Alagoano.
Em 1919, foi eleito deputado estadual por Alagoas. Anos depois, em
1930, tornou-se professor de literatura brasileira da Universidade do Brasil e da
Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro. Em 1935, foi
eleito vereador dessa cidade. Nesse mesmo ano, passou a professar a fé
católica, a qual se tornou grande influência em sua poesia. Além disso, Jorge
de Lima também se dedicava à pintura. Em 1939, pintou a sua primeira
tela: Quadro com mulher ou Mulher sonhando.
No ano seguinte, recebeu o Grande Prêmio de Poesia, da Academia
Brasileira de Letras. Porém, ao tentar ingressar nessa instituição, não teve
sucesso. Anos depois, em 1952, tornou-se presidente da Sociedade Carioca de
Escritores, um ano antes de sua morte, ocorrida em 15 de novembro de 1953,
no Rio de Janeiro.

Algumas de suas poesias:


- Invenção de Orfeu

Caída a noite
o mar se esvai,
aquele monte
desaba e cai
silentemente.
Bronzes diluídos
já não são vozes,
seres na estrada
nem são fantasmas,
aves nos ramos
inexistentes;
tranças noturnas
mais que impalpáveis,
gatos nem gatos,
nem os pés no ar,
nem os silêncios.
O sono está.
E um homem dorme.

Características da poesia: Considerado um dos grandes poemas da língua


portuguesa, "Invenção de Orfeu" percorre um incomparável universo de
imagens e sons. Nesta obra, Jorge de Lima criou, com o máximo de riqueza
lírica e humana, o registro épico da nossa brasilidade. Para isso, explorou
todas as vertentes formais da criação poética, tanto as que ele já havia
realizado em seus livros anteriores quanto as da própria tradição literária
nacional e ocidental. Jorge de Lima mescla o popular e o erudito, o clássico e o
surrealista, a mitologia e o catolicismo, sem nunca perder de vista a dimensão
humana, sobretudo em relação ao problema histórico da desigualdade e da
injustiça social.
- Anjo Daltônico

Tempo da infância, cinza de borralho,


tempo esfumado sobre vila e rio
e tumba e cal e coisas que eu não valho,
cobre isso tudo em que me denuncio.
Há também essa face que sumiu
e o espelho triste e o rei desse baralho.
Ponho as cartas na mesa. Jogo frio.
Veste esse rei um manto de espantalho.
Era daltônico o anjo que o coseu,
e se era anjo, senhores, não se sabe,
que muita coisa a um anjo se assemelha.
Esses trapos azuis, olhai, sou eu.
Se vós não os vedes, culpa não me cabe
de andar vestido em túnica vermelha.

Características da poesia: Podemos dizer que todos seus procedimentos


construtivos têm por objetivo dar ao leitor uma sensação da forma, e não um
reconhecimento direto da mensagem. O ritmo dado ao soneto, enquanto
organizado com fim poético, busca diferenciar-se do ritmo prosaico, embora
seus versos, grupos sintáticos primordiais, respeitem a sintaxe prosaica. O
trabalho de Jorge de Lima com imagens, perfeito compondo vocábulos e
formando orações. Os signos presentes se relacionam e, nesse processo,
adquirem significado. Enfim, visa-se a chamar a atenção para o objeto estético,
para ele por si mesmo, fora de todo automatismo perceptivo.  
- Essa negra fulô

Ora, se deu que chegou


(isso já faz muito tempo)
no bangüê dum meu avô
uma negra bonitinha,
chamada negra Fulô.

Essa negra Fulô!


Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
— Vai forrar a minha cama
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!

Essa negra Fulô!

Essa negrinha Fulô!


ficou logo pra mucama
pra vigiar a Sinhá,
pra engomar pro Sinhô!

Essa negra Fulô!


Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
vem me ajudar, ó Fulô,
vem abanar o meu corpo
que eu estou suada, Fulô!
vem coçar minha coceira,
vem me catar cafuné,
vem balançar minha rede,
vem me contar uma história,
que eu estou com sono, Fulô!

Essa negra Fulô!

"Era um dia uma princesa


que vivia num castelo
que possuía um vestido
com os peixinhos do mar.
Entrou na perna dum pato
saiu na perna dum pinto
o Rei-Sinhô me mandou
que vos contasse mais cinco".

Essa negra Fulô!


Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
Vai botar para dormir
esses meninos, Fulô!
"minha mãe me penteou
minha madrasta me enterrou
pelos figos da figueira
que o Sabiá beliscou".

Essa negra Fulô!


Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá
Chamando a negra Fulô!)
Cadê meu frasco de cheiro
Que teu Sinhô me mandou?
— Ah! Foi você que roubou!
Ah! Foi você que roubou!

Essa negra Fulô!


Essa negra Fulô!

O Sinhô foi ver a negra


levar couro do feitor.
A negra tirou a roupa,
O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra Fulô).

Essa negra Fulô!


Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê meu lenço de rendas,
Cadê meu cinto, meu broche,
Cadê o meu terço de ouro
que teu Sinhô me mandou?
Ah! foi você que roubou!
Ah! foi você que roubou!

Essa negra Fulô!


Essa negra Fulô!

O Sinhô foi açoitar


sozinho a negra Fulô.
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção,
de dentro dêle pulou
nuinha a negra Fulô.

Essa negra Fulô!


Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê, cadê teu Sinhô
que Nosso Senhor me mandou?
Ah! Foi você que roubou,
foi você, negra fulô?

Essa negra Fulô!

Características da poesia: Destaca-se, sobretudo, o fato de esse autor primar


por uma perspectiva de Versatilidade. Essa é palavra que melhor define a
escrita de Jorge de Lima. Sua produção engloba uma gama de vertentes
temáticas, que vão desde posturas tradicionais preconizadas pelas influências
parnasianas até os aspectos regionais e existenciais da espécie humana,
englobando, também, o cunho religioso/ cristão.

Carlos Drummond de Andrade


Carlos Drummond de Andrade nasceu na cidade de Itabira, Minas
Gerais, no dia 31 de outubro de 1902. Figura icônica, considerada um dos
maiores nomes da literatura brasileira, o mineiro morou no Rio de Janeiro por
vários anos, mas nunca deixou seu amor pela terra natal longe de seus versos.
Poeta, cronista, jornalista e funcionário público, no ano de 1920, que Carlos
Drummond de Andrade teve sua primeira experiência como escritor de
verdade, publicando seus primeiros trabalhos no jornal “Diário de Minas”,
ocupando o cargo de redator-chefe alguns anos mais tarde.
Além desse local, Drummond também trabalhou no “Estado de Minas”,
no “Minas Gerais” e no “Diário da Tarde”. Em 1925, o poeta se formou em
Farmácia, nunca exerceu essa profissão, pois dizia querer “preservar a saúde
dos outros”. Com alguns amigos – Emílio Moura e Gregoriano Canedo –,
ele fundou “A Revista”, uma publicação que exaltava o Modernismo, porém
durou somente três números. Mesmo assim, esse projeto foi considerado um
importante veículo de afirmação do Modernismo no estado de Minas Gerais.
Em 1928, o poema provocou escândalo e controvérsias, pelo aspecto
modernista, foi publicado na Revista de Antropofagia, de São Paulo: “No Meio
do Caminho”.
Em 1930, Drummond lançou seu primeiro livro, chamado de “Alguma
Poesia”. Durante os anos, colaborou com vários jornais cariocas. Após 35 anos
de serviço público, aposentou-se, em 1962, e faleceu no dia 17 de agosto de
1987, por conta de insuficiência respiratória. Além de poemas, o autor escreveu
livros em prosa e até alguns com temática infantil. 

Algumas de suas poesias:


- Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo


que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história

Características da poesia: Quadrilha, como outras composições do autor,


incorpora algumas características do movimento: o verso livre, as formas
populares, as temáticas do cotidiano e linguagem coloquial, humor.
- No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra


tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento


na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Características da poesia: Muitas das críticas eram se deviam ao fato do


poeta utilizar a redundância e repetição: a expressão "tinha uma pedra" é
usada em 7 dos 10 versos do poema. O poeta modernista faz uso de uma
linguagem simples, cotidiana, clara, através de uma estrutura sem rima,
musicalidade ou métrica. O objetivo de Drummond é produzir uma poesia mais
pura, mais voltada para a essência.
- Poema das sete faces

Quando nasci, um anjo torto


desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

Características da poesia: Composto por sete estrofes, o poema apresenta


"sete faces" do eu-lírico. Cada estrofe exprime uma faceta do sujeito, ilustrando
o que ele está sentindo naquele momento. Assim, o poema surge como um
desabafo que demonstra a multiplicidade e até contradição de suas emoções e
estados de espírito.

Cecília Meireles
Biografia: Cecília Meireles foi uma das grandes escritoras da literatura
brasileira no século XX. Seus poemas encantam os leitores de todas as idades.
É considerada uma das principais escritoras da Segunda Fase do Modernismo
brasileiro. Nasceu no dia 7 de novembro de 1901, na cidade do Rio de Janeiro
e seu nome completo era Cecília Benevides de Carvalho Meireles.
Sua infância foi marcada pela dor e solidão. Foi criada pela avó Dona
Jacinta. Por volta dos nove anos de idade, Cecília começou a escrever suas
primeiras poesias. Formou-se professora (cursou a Escola Normal) e com
apenas 18 anos de idade, no ano de 1919, publicou seu primeiro livro
“Espectro” (vários poemas de caráter simbolista). Embora fosse o auge do
Modernismo, a jovem poetisa foi fortemente influenciada pelo movimento
literário simbolista. Sua formação como professora e interesse pela educação
levou-a a fundar a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro no ano de 1934.
Escreveu várias obras na área de literatura infantil marcados pela musicalidade
(uma das principais características de sua poesia). 
No ano de 1939, Cecília publicou o livro Viagem. A beleza das poesias
trouxe-lhe um grande reconhecimento dos leitores e também dos acadêmicos
da área de literatura. Com este livro, ganhou o Prêmio de Poesia da Academia
Brasileira de Letras. Cecília faleceu em sua cidade natal, aos 63 anos, no dia 9
de novembro de 1964.  

Algumas de suas poesias:


- Despedida

Por mim, e por vós, e por mais aquilo


que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranquilo:
quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.


E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? - Tudo. Que desejas? - Nada.


Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.


Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.


(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)

Quero solidão.

Características da poesia: A construção do poema é feita com base no


diálogo, com perguntas e respostas e um suposto interlocutor do outro lado
com quem se estabelece uma comunicação. Uma pergunta que paira é a quem
que o eu-lírico se dirige exatamente. Despedida é uma criação marcada pela
individualidade, repare no uso exaustivo dos verbos em primeira pessoa
("quero", "deixo", "viajo", "ando, "levo"). Essa sensação de individualismo é
reforçada pelo uso do pronome possessivo "meu", que se repete ao longo do
poema
- Ou isto ou aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol,


ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,


ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,


quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa


estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,


ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…


e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,


se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda


qual é melhor: se é isto ou aquilo.

Características da poesia: Ou isto ou aquilo é um exemplar da poesia voltada


para o público infantil. Nos versos do poema encontramos a questão da dúvida,
da incerteza, o eu-lírico se identifica com a condição indecisa da criança. O
poema ensina o imperativo da escolha: escolher é sempre perder, ter um algo
significa necessariamente não poder ter outra coisa. Cecília brinca com as
palavras de uma maneira lúdica e natural.
- Motivo

Eu canto porque o instante existe


e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,


não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.


Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Características da poesia: O poema é existencialista e trata da


transitoriedade da vida, muitas vezes com certo grau de melancolia, apesar da
extrema delicadeza. Os versos são construídos a partir de antíteses, ideias
opostas (alegre e triste; noites e dias; desmorono e edifico; permaneço e
desfaço; fico e passo).
Uma outra característica marcante é a musicalidade da escrita - a lírica
contém rimas, mas não com o rigor da métrica como no parnasianismo (existe
e triste; fugidias e dias; edifico e fico; tudo e mudo).
É de se sublinhar também que praticamente todos os verbos do poema
estão no tempo presente do indicativo, o que demonstra que Cecília pretendia
evocar o aqui e o agora.

Vinicius de Moraes
Biografia: Vinicius de Moraes (1913-1980) foi um poeta e um dos maiores
compositores da música popular brasileira, além de ter sido um dos fundadores
da Bossa Nova, um movimento musical surgido nos anos 50. Foi também
dramaturgo e diplomata.
Entre os seus maiores sucessos está "Garota de Ipanema" que teve a
letra escrita por Vinicius e a canção composta por Tom Jobim, em 1962
Marcus Vinicius Melo Morais, conhecido como Vinicius de Moraes, nasceu no
Rio de Janeiro, no dia 19 de outubro de 1913. Filho do funcionário público e
poeta Clodoaldo Pereira da Silva e da pianista Lídia Cruz desde cedo já
mostrava interesse por poesia.
Ingressou no colégio jesuíta Santo Inácio onde fez os estudos
secundários. Entrou para o coral da igreja onde desenvolveu suas habilidades
com a música. Em 1928 começou a fazer as primeiras composições musicais.

Algumas de suas poesias:


- A rosa de Hiroshima

Pensem nas crianças


Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida.
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

Características da poesia: A rosa de Hiroshima é um exemplo de poema


engajado, profundamente preocupado com o futuro do mundo e da sociedade.
A rosa de Hiroshima foi posteriormente musicada por Gerson Conrad e chegou
a ser tocado pela banda Secos e Molhados no disco de estreia.
- Soneto do amor total

Amo-te tanto, meu amor… não cante


O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade
Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Características da poesia: A criação é composta a partir de uma estrutura


clássica, o soneto, uma das mais tradicionais modalidades de forma fixa. A
estrutura é composta por dois quartetos e os dois tercetos totalizando 14
versos decassilábicos regulares. Para o eu-lírico, a relação amorosa se baseia
por vezes na sensualidade e por vezes na amizade. Os versos discorrem sobre
a entrega e as contradições inerentes à paixão.
- Soneto da fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento


Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento


E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure


Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):


Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Características da poesia: O poema de amor mais consagrado do poete


talvez seja o Soneto de fidelidade. Os versos foram organizados a partir de
uma forma clássica - o soneto - que se organiza em quatro estrofes (as duas
primeiras com quatro versos e as duas últimas com três versos). O tema
abordado, o amor, é um assunto que não perde a validade, nesse caso
específico, Vinicius de Moraes compôs em homenagem a sua primeira mulher.

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