Você está na página 1de 2

Bibliografia

Vidas Secas é um influente e importante romance do escritor brasileiro Graciliano


Ramos, escrito entre 1937 e 1938, publicado originalmente em '38 pela antológica
Livraria José Olympio Editora, hoje editado pela Editora Record, e considerado por
muitos como a maior obra do autor. Quarto e último romance de Graciliano, narrado
em terceira pessoa, Vidas Secas aborda uma família de retirantes do sertão
nordestino condicionada a uma vida subumana, diante de problemas como a seca, a
miséria, a fome, a desigualdade social, as lutas de classes e, consecutivamente, o
caleidoscópio de sentimentos, pensamentos, desejos e emoções, misturados à aspereza
e ao clima do semiárido, que a condição lhes obriga a viver e a procurar meios de
sobrevivência, expressando, assim, um espelhamento artístico ainda muito forte com
a denúncia política e a situação histórico-social.

Durante o processo editorial do livro, Graciliano mostrou-se inteiramente cuidadoso


com sua criação. Por conta da consciência social que existe no conteúdo do livro,
moldada através de uma estrutura dramática realista, o enredo tem sido analisado
pelos críticos por meio da relação do humano com os meios naturais e
socioeconômicos. No entanto, em Vidas Secas Graciliano contornou alguns estilos
literários de sua época ligados ao regionalismo, o que lhe proporcionou pontos
positivos ou até inovadores. Unindo denúncia e elaboração artística, Graciliano,
por exemplo, sendo comunista[nota 1] e político engajado, foi cauteloso nas
tradicionais ingerências do narrador opiniático e evitou o protesto vulgar ou o
panfletarismo (que poderia usar, como outros autores da época, para criticar os
aspectos sociais do Brasil), o que o fez ser reconhecido por um "estilo seco,
reduzido ao mínimo de palavras", mas provavelmente mais impactante do que se fosse
de outra forma, acrescido de algumas inovações técnicas e de abordagem, como a
quebra com a cronologia tradicional entre os capítulos. Tal escritura influenciou
gerações de escritores até hoje, conforme podemos cotejar na obra de Euclides Neto,
Rubem Braga, Milton Hatoum, Itamar Vieira Junior e muitos outros.

Vidas Secas é um romance afortunado, sucesso de crítica e de público. Best-seller,


figura entre os livros mais importantes e influentes da literatura brasileira,
tendo ganhado, em 1962, o prêmio da Fundação William Falkner (EUA) como livro
representativo da Literatura Brasileira Contemporânea. Também conquistou um enorme
número de leitores, tendo vendido mais de um milhão e meio de exemplares, enquanto
é leitura obrigatória em escolas, concursos e em vestibulares das melhores
universidades do Brasil.[4][5] Após sua publicação no Brasil em 1938, o livro
circulou em território estrangeiro durante um bom tempo, sendo primeiramente
lançado na Polônia e depois na Argentina, seguida por República Tcheca, Rússia,
Itália, Portugal, França, Espanha, Estados Unidos e em muitos outros países ao
longo dos tempos desde então. No Brasil, já passou da centésima edição. O cineasta
Nelson Pereira dos Santos realizou uma premiada versão homônima de Vidas Secas em
1963, reforçando aspectos pertinentes da obra e do país.

Vidas Secas retrata a vida de pessoas que vivem no sertão brasileiro e o sacrifício
delas para sobreviver. Tendo como tema a luta pela sobrevivência diante do flagelo
da estiagem, Graciliano Ramos traz em seus personagens muito da existência
nordestina. Os principais personagens são: Fabiano, Sinhá Vitória, Menino mais
Velho, Menino mais Novo, a cachorra Baleia e o papagaio, que serve de alimento
providencial que a família come para aliviar a fome. O soldado amarelo, o fiscal da
prefeitura e o dono da fazenda antagonizam com Fabiano e representam a opressão do
poder oligárquico institucional. Seu Tomás da Bolandeira é mencionado e lembrado
como rico exemplo oposto aos retirantes, mas não aparece.
O romance aborda fundamentalmente a problemática da seca e da opressão social no
Nordeste do Brasil. A dura andança justifica a inutilidade da comunicação entre os
membros da família, o fato dos meninos não terem nome próprio, as dificuldades de
fala de Fabiano e a inquietação constante.[2] Ao contrário dos romances anteriores,
é uma narrativa em terceira pessoa, com o discurso indireto livre predominante para
a finalidade de penetrar no mundo introspectivo dos personagens, já que esses não
têm o domínio da linguagem necessária para estabelecer a comunicação.

Você também pode gostar