Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
www.literaturafuvest.com.br
GRACILIANO RAMOS
Graciliano Ramos nasceu em Quebrangulo, nas Alagoas, em fins de outubro
de 1892. Lá, passou sua infância e parte da adolescência, repartindo-se, com
a família, entre as cidades de Buíque, Viçosa e Palmeira dos Índios. Primeiro
ANGÚSTIA
dos quinze filhos, Graciliano foi sempre visto pela família como um sujeito
difícil, taciturno e introspectivo. Fez os estudos secundários em Maceió, sem,
no entanto, cursar nenhuma faculdade. O pai vivia do comércio e o filho mais
velho foi aventurar-se: esteve, por breve período, no Rio de Janeiro, onde,
por volta de 1914, trabalhou como revisor e redator nos jornais Correio da
Manhã e A Tarde. Torna ao Nordeste e passa a ser jornalista, fazendo política
Graciliano Ramos também. Foi prefeito de Palmeira dos Índios entre os anos de 1928 e 1930. É
dessa época o seu primeiro romance (Caetés, 1933). De 1930 a 1936 vive em
Maceió, dirigindo a Imprensa e a Instrução do Estado de Alagoas. De março
de 1936 a janeiro de 1937, vive a época mais difícil de sua vida. Acusado de
subversivo e comunista, passa dez meses de prisão em prisão sem saber do
que o acusam, sem sequer ser ouvido em depoimentos ou processos.
HENRIQUE LANDIM / FUVEST 2021
1
10/11/2020
Contando 35 anos no momento que decide iniciar a narrativa, Luís da Silva vivencia,
Luís da Silva, atento e obediente à lógica da elaboração textual, como é de se
na infância, o momento de transição definidor para os rumos do país; a mudança de
esperar de um escritor, nos fornece, bem no início de seu relato, algo parecido regime político e todas suas implicações: o advento da República, com a deposição do
com uma teoria da narrativa ou o esboço de uma poética pessoal que dirige o Imperador, os reflexos da abolição (atrasada) da escravidão, o crescimento da
texto: urbanização, o aumento de mão de obra livre. Dessa maneira, o autor foca a
estrutura social do ambiente da Maceió dos anos de 1930 e define na figura de Luís
Lembro-me de um fato, de outro fato anterior ou posterior ao primeiro, mas os da Silva o narrador participante que o ambiente demanda. O intelectual, herdeiro
dois vêm juntos. E os tipos que evoco não têm relevo. Tudo empastado, confuso. de proprietários de terras falidos, se vê relegado à vida social na cidade, diminuída
Em seguida os dois acontecimentos se distanciam e entre eles nascem outros em status, trabalhando como funcionário público.
acontecimentos que vão crescendo até me darem sofrível noção de realidade. As
feições das pessoas ganham nitidez. De toda aquela vida havia no meu espírito
vagos indícios. Saíram do entorpecimento recordações que a imaginação
completou (RAMOS, Graciliano. Angústia. 71ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2019).
O arranjo técnico da narrativa de Luís da Silva, texto elaborado para suscitar a MARINA “OPERÁRIA”:
aparência de desorganização e desordem, mantém relação direta com o efeito
provocado pela apreensão da forma do romance. Por essa perspectiva, o que fora Ao engravidar é abandonada por Julião. Diante do fato, Luís constata que, “Marina não
avaliado como defeito torna-se componente estético indispensável à compreensão poderá ser dele, mas o outro também não a quer mais, já fez o uso necessário, comum à
global da estruturação do texto. classe dominante, que se utiliza dos trabalhadores e depois os abandona, como ele
próprio viu na fazenda do avô, quando a seca e a má administração do pai acabaram com
tudo” (MAGALHÃES, 2006). A revolta de Luís da Silva com o rompimento do noivado e a
Em Angústia, há muita expectativa que não se realiza. Luís da Silva não se torna o
ideia fixa de matar Julião Tavares não significam que o ato esteja relacionado com Marina.
descendente, com privilégios, de antigos senhores de terra. O relacionamento e o
O que se percebe é que a morte de Julião simboliza a destruição do que ele representava.
plano de casamento, a garantia da vida social estável entre Marina e o narrador não se
Luís identificava na figura de Julião Tavares uma contradição: o que ele desejaria ser e o
concretiza. O assassinato de Julião Tavares não dá cabo da angústia sentida por Luís da
que ele desprezava. Por isso, ele nutria a não aceitação de sua condição social, seu ódio à
Silva. O assassinato não concretiza nem mesmo o final da história, que se vê burguesia, sua indignação e o desejo de pertencimento à outra classe social. MAGALHÃES, B.;
direcionada para o começo da narrativa num círculo temporal asfixiante; o cárcere MOREIRA, L. (Orgs.). Estética e crítica literária – Reflexões acerca do pensamento estético em Lukács e Marx. São Paulo: Instituto Lukács, 2017, p.
pessoal do narrador. 74).
2
10/11/2020
Adiante, Luís da Silva se torna funcionário público. Há uma importante relato acerca Luís consegue um emprego para Marina numa loja da fazendas, porém ela não vai
da figura do avô morto (comparação entre duas gerações – p. 32-33). assumir o ofício (“Obrigação de aturar pilhérias e até descomposturas dos fregueses” –
Apresentação cômica de Vitória, empregada surda de 50 anos de idade (p. 37). p. 79).
O narrador deve valores ao Moisés e ao Dr. Gouveia. Delírio sexual de Luís da Silva com Marina (p.75).
Em Janeiro do ano passado, Luís viu a nova vizinha, Marina. Troca de olhares no Marina e Luís se beijaram próximos à cerca (p. 79). Ambos se assustam muito ao ponto
quintal (p.40). Nessa parte, o narrador faz alusão à neta da dona Aurora, dona da de Luís tentar reparar a situação por meio do casamento.
pensão onde morou, e à Berta (alemã restituída). Tudo isso, para rebaixar a Marina. Luís fez um empréstimo junto ao banco e passou-o à Marina. Os diálogos sobre o
Encontro abrupto com Julião Tavares (literato e bacharel) no Instituto Histórico, casamento se deram por meio de muita objetividade.
depois disso, ele passou a frequentar a casa de Luís da Silva (p. 54). Luís fez mais dois empréstimos e ficou bastante incomodado com as compras
Julião Tavares passa a frequentar a casa de Luís da Silva, condição que instaura certo realizadas pela Marina.
constrangimento em todos (p. 61). Certo dia, Julião Tavares estava próximo à janela de Marina, uma das maiores
Luís conhece os pais de Marina, D. Adélia e Ramalho. A mãe pediu um emprego a decepções da vida do narrador (p. 96-97).
Luís para a filha. Nesta parte também, a mãe da jovem expressa as duras condições Luís tomou cachaça e brigou com Marina. Em seguida, ele teve um encontro com uma
de vida dos pobres (p. 65). garota de programa (p.104).
3
10/11/2020
O protagonista escuta as desculpas de Marina sobre o caso Julião na janela. O narrador Embriagado, Luís xinga seu Ivo (p. 203).
compra tecidos do tio de Moises. O negocio é realiza por meio de prestações. Às vezes, Luís encontrava com Julião (sugestão de perseguição) e segurava com força a
Marina anda fria com Luís que não vê a moça com o relógio e anel dados de presente. corda no bolso (p.206-207).
Luís sai do trabalho mais cedo e encontra Julião ao pé da janela de Marina. Encontro com Marina à porta da casa de Albertina, a parteira, a fim de realizar um
Luís, pouco-a-pouco, em um mês, se distanciou de Marina. “A princípio houve brigas, aborto. O narrador entrou em um bar com o intuito de esperar a saída de Marina. Por
reconciliações desajeitadas, conversas azedas com a D. Adélia” (p. 119). fim, ela saiu. Luís vai atrás dela ofendendo-a (p. 233). Ela, ofendida, pedi para Luís parar.
Enquanto isso, Julião torna-se visita assídua da casa de Marina levando presentes às Julião estava com uma namorada nova (p. 241).
mulheres da casa. Luís encontra, à noite, com Julião e mata-o, prende o corpo numa árvore com a corda (p.
Ramalho passou a ser um amigo de Luís (vivem falando das safadezas de Marina). 254-255). Ler final da página 255, 260 e 261. Luís esquece o seu chapéu no lugar do
Luís retira o dinheiro do buraco, valor de Vitória, a fim de ir ao teatro. A devolução do assassinato.
dinheiro criou insegurança à empregada (“O céu de Vitória, miudinho, onde grilos e Ao retornar à sua casa, Luís se encontra com um “maloqueiro” pedindo-lhe um cigarro
formigas moravam, tinha sido violado” – p. 169). (há uma diferença social entre o sujeito da rua e o narrador do livro) p. 269.
Julião deixa de ir a casa de Marina. Dias depois, Marina estava grávida (p. 170). Um pouco Em casa, luís elimina os vestígios do assassinato e procurou beber cachaça. No outro dia,
adiante, o narrador diz estar sentando no banheiro fumaça (p. 175). não trabalhou.
Seu Ivo deu uma corda ao narrador (p. 191). Luís lembra-se do assassinato de Fabrício (p. A última parte do romance é um grande parágrafo em que o narrador expressa uma
194), cangaceiro morto. Temos nessa parte, momentos de profunda violência no sertão espécie de autopunição pelo assassinato de Julião Tavares.
(p.195). Há também o suicídio de seu Evaristo (p. 202).
OS PERSONAGENS:
1. Trajano Pereira Aquino Cavalcante e Silva
2. Camilo Pereira da Silva
3. Luís da Silva
4. Marina
5. Ramalho
6. D. Adélia
7. Julião Tavares
8. Vitória
9. Ivo
10. D. Mercedes
11. Lobisomem
12. Albertina
13. Rosália www.literaturafuvest.com.br