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EsPCEx

2024

AULA 07
Tendências Contemporâneas: Gerações de 1930 e 1945 e Pós-Modernismo

Professora Luana Signorelli

65
Profa. Luana Signorelli

Sumário
INTRODUÇÃO 4

1.0 MODERNISMO DE 1930: SEGUNDA GERAÇÃO MODERNISTA BRASILEIRA 5


1.1 Autores e obras da geração de 1930 8

2.0 MODERNISMO DE 1945: TERCEIRA GERAÇÃO MODERNISTA BRASILEIRA 43


2.1 Autores e obras da geração de 1945 46

3.0 LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA 72


3.1 Autores e obras da Literatura Brasileira Contemporânea 73

4.0 MODERNISMO E TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS EM PORTUGAL 115

5.0 LITERATURAS AFRICANAS EM LÍNGUA PORTUGUESA 122

6.0 MOVIMENTOS ARTÍSTICOS NO GERAL 140


6.1 Bauhaus 140
6.2 Abstracionismo 141
6.3 Pop-Art 141

7.0 CRÍTICA LITERÁRIA 143

8.0 QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS 145


8.1. Lista de fixação 168
8.2. Gabarito 190

9.0 QUESTÕES COM COMENTÁRIOS 190


9.1. Lista de fixação comentada 230

10.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 266

11.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 270

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Exército Brasileiro

Professora Luana Signorelli

/luana.signorelli Professora Luana @profa.luana.signorelli


Signorelli

Luana Signorelli @luanasignorelli1

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

INTRODUÇÃO
Hoje nós vamos FINALIZAR o nosso Curso Extensivo de Literatura para EsPCEx 2024. Lembrem-se
sempre do nosso lema:

“O segredo do sucesso é a constância no objetivo”.

Segundo o nosso cronograma de aulas, hoje estudaremos o seguinte:

AULA TÓPICOS ABORDADOS


Tendências Contemporâneas: Gerações de 1930 e 1945 e Pós-Modernismo
Segunda geração modernista no Brasil – Modernismo de 1930:
contextualização e características gerais. Prosa – Graciliano Ramos; Rachel
de Queiroz; José Lins do Rego; José Américo de Almeida; Jorge Amado; Erico
Verissimo; Dyonélio Machado. Poesia – neossimbolismo: Cecília Meireles;
Murilo Mendes e Vinicius de Moraes; neoparnasianismo: Carlos Drummond de
Andrade e João Cabral de Melo Neto. Terceira geração modernista no Brasil
– Modernismo de 1945: contextualização e características gerais. Prosa.
Regionalismo – Guimarães Rosa e Ruth Guimarães. Intimismo – Clarice
Lispector e Lygia Fagundes Telles. Memorialismo – Maria Carolina de Jesus.
AULA 07 Poesia. Concretismo – Ferreira Gullar e Irmãos Campos. Teatro – Ariano
Suassuna; Nelson Rodrigues; Gianfrancesco Guarnieri; Augusto Boal.
Literatura brasileira contemporânea – contextualização histórica. Tendências
– cultura de massa; formas breves; intertextualidade; meios digitais;
memorialismo; lugar de fala; resistência cultural (poesia marginal e canção de
protesto). Autores – Luis Fernando Verissimo; Marina Colasanti; Mario
Quintana; Sérgio Sant’Anna; Adélia Prado; Cora Coralina; Conceição
Evaristo; Angélica Freitas; Milton Hatoum; Itamar Vieira Junior, entre outros.
Tendências contemporâneas em Portugal: Presencismo, Neorrealismo e
Literatura Contemporânea. Literaturas Africanas em Língua Portuguesa.
Literatura Angolana – Pepetela, Luandino e José Eduardo Agualusa, Literatura
Moçambicana – Mia Couto; Paulina Chiziane e Noémia de Sousa. Artes: Pop
Art e abstracionismo.

Hoje abordaremos quadros sinópticos de obras mais importantes. O quadro sinóptico é um


material de apoio que irá poder ajudá-los pouco antes da prova, por se tratar de conteúdos grandes com
muita informação. Tanto é que se quiserem ler a obra inteira, cuidado com os spoilers. Hoje em particular,
vamos fazer a interpretação de texto e a análise sintática ao longo da própria aula.

Então, vamos lá, não percamos tempo!

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Profa. Luana Signorelli

1.0 Modernismo de 1930: segunda geração modernista brasileira


Resumo da literatura modernista no Brasil:

Primeira Segunda Terceira


Geração Geração Geração
1922 1930 1945

As tendências de pensamento que vão guiar o século XX nascem principalmente na segunda


metade do século XIX. Nessa época, a Europa se encontrava num momento de industrialização bastante
consolidado.
É um período marcado por alguns eventos:
 Com a Segunda Revolução Industrial, é preciso expandir mercados. Assim, as potências
europeias investem numa segunda colonização, diferente da anterior. A nova colonização na África busca
novos mercados e mão de obra barata para suprir uma produção muito acelerada.
 Eclodem conflitos de viés nacionalista, como a unificação da Alemanha e da Itália.
 Alguns pensamentos filosóficos se instauram, trazendo novas noções de classe e nação.
Nas artes, as mudanças do dia a dia se refletiram logo nos objetos de representação: o homem
começa a buscar representar o mundo em que vive e como ele o vê. Se antes os artistas se dedicavam à
representação de mitos clássicos ou imagens religiosas da antiguidade, a partir do fim do século XIX, os
artistas começam a olhar para as classes trabalhadoras urbanas e rurais e para a burguesia.
É também no século XIX que surge uma inovação tecnológica que influencia a arte sobremaneira:
a fotografia. Pela primeira vez era de fato possível captar a imagem do real. O fotógrafo, no início, não
era considerado um artista, mas sim um técnico. A fotografia é um processo mecânico, mediado por um
equipamento que se materializa a partir do processo químico da revelação. A fotografia era capaz de
colaborar com a ciência e, por isso, é muito valorizada no final do século XIX: a virada do século XIX para
o século XX é um momento de valorização do pensamento científico.
A segunda geração do modernismo brasileiro aprimora diversos aspectos da primeira e amplia os
temas sobre os quais se debruça, consolidando o Modernismo no
Brasil. Inquietações filosóficas e religiosas também passam a aparecer
com maior frequência.
Em 1929, ocorre um evento que abala todo o mundo: a crise da
bolsa de Nova Iorque deflagra um período de crise econômica e social.
Além disso, começam a emergir governos autoritários em diversos
lugares do mundo, o que acabaria levando a uma Segunda Guerra
Mundial. No Brasil, a Revolução de 30 promove um golpe de estado e
dá início ao Estado Novo, liderado por Getúlio Vargas. Era o fim da
predominância das oligarquias do café no poder, mas o início de um
período de governo autoritário.
Os autores produzindo nessa época precisam também lidar com
Getúlio Vargas uma dura realidade: a Segunda Guerra mundial. Os efeitos da segunda

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guerra são ainda mais devastadores para o mundo do que os da primeira. A experiência do nazismo trouxe
às pessoas perspectivas novas: ainda que sempre tenha havido injustiça e guerras, pela primeira vez a
barbárie era parte de um projeto de governo. As mortes em massa nos campos de concentração e as
perseguições étnicas modificam fortemente a percepção do homem sobre si próprio.
A segunda geração modernista no Brasil produz suas obras entre 1930 e 1945 e, influenciada por
todas essas questões, tem como uma de suas bases mais fortes a crítica social.

O Modernismo de 1930 é mais crítico e social do que a primeira geração. Na prosa, predominou o
romance de 30, regionalista e de denúncia (Graciliano Ramos). Na poesia, prevaleceu uma poesia
existencialista e metafísica (Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto), mas também
social. Por isso é que essa geração também é chamada de Neorrealista.

O HOMEM NÃO SE ENTENDE MAIS COMO SER DIVINO


• As descobertas científicas mudam o modo como nos vemos e o lugar que
ocupamos no universo. Essa característica se liga ao prosaísmo e ao abandono do
idealismo.

AS PROMESSAS DA REVOLUÇÃO FRANCESA NÃO SE CONCRETIZAM


• As ideias de “liberdade, igualdade e fraternidade” se esfacelam: os homens não
são livres para fazer tudo o que querem, não há igualdade na sociedade e as
guerras continuam ocorrendo. Aliás, acentuam-se. A humanidade se encaminha
para duas grandes guerras. Por causa disso, sentimentos como medo e frustração
são comuns.

NOVAS FORMAS DE TRABALHO MODIFICAM O COTIDIANO


• As novas formas de trabalho, a partir da industrialização da produção, criam
classes sociais – muitas vezes com interesses conflitantes – e novos ambientes,
acelerando o ritmo de vida.

AUMENTO DE MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS PELO MUNDO


• Uma grande explosão demográfica gera rápido e caótico crescimento dos centros
urbanos. As pessoas começam a se mover pelo mundo, tanto buscando a expansão
e enriquecimento das nações – como no caso do Neocolonialismo – quanto uma
melhoria das condições de vida.

A COMUNICAÇÃO E TRANSPORTE SE INTENSIFICAM


• Novas tecnologias de sistemas de comunicação em massa aproximam
indivíduos e sociedades distantes. Tanto a comunicação interpessoal quanto a
difusão de cultura são atingidas.

RELAÇÃO ENTRE ESTADOS NACIONAIS E MOVIMENTOS NACIONAIS


• Ao mesmo tempo que os Estados nacionais estão cada vez mais poderosos, se
esforçando para manter seu poder, movimentos sociais começam a desafiar os
controles, buscando melhorias nas suas condições de vida e trabalho.

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A SEGUNDA GERAÇÃO MODERNISTA: CARACTERÍSTICAS GERAIS

POESIA
• Presença de traços de pessimismo e individualismo.
• Aparecimento de poesia espiritualista, com temáticas filosóficas e religiosas.
• Crítica social, analisando a realidade com profundidade.
• A vontade de ruptura formal é menos profunda, pois acompanham uma estética
dada na primeira fase do modernismo.

PROSA
• Temas ligados à realidade nacional, especialmente preocupada com as mudanças
sociais e políticas do período.
• Romance documental, ligado aos fatos.
• Prosa regionalista: livros sobre regiões afastadas dos centros urbanos.
• Postura grave diante do mundo: como reagir diante das dores do mundo?

INFLUÊNCIA DA PSICANÁLISE
• Romances que analisam o psicológico das personagens ou que produzem narrativas
fragmentadas.
• Investigação do inconsciente e das razões que movem as pessoas.

LINGUAGEM COLOQUIAL
• Aproximação com a linguagem popular, principalmente por conta da aproximação
com as temáticas cotidianas.
• Regionalismos e variações linguísticas, buscando a expressão real da cultura
brasileira.

LIBERDADE FORMAL
• Mantém-se os versos livre e brancos, ou seja, sem métrica e sem rima, sem
preocupação com formas fixas, produzindo poemas sem número de versos
regular.
• Há também liberdade temática, ou seja, a noção de qualquer tema pode ser
tratado pela literatura.

O romance de 30
Todo esse contexto histórico-social conturbado criou um tipo de arte específica do momento: o
romance da década de 1930, preparado pelos movimentos do Pré-Modernismo e da Geração de 22. Sua
característica principal foi retomar alguns pontos do realismo, como a denúncia social. Bueno (2015)
divide-o em três fases: 1) antes da polarização (1930-32); 2) no auge do romance social (1933-36, quando
surge o romance proletário, por exemplo); 3) o tempo da nova dúvida (1937-39).
Alguns exemplos de escritores desse tipo de romance são Cornélio Penna, Cyro dos Anjos, Dyonélio
Machado e Graciliano Ramos. O romance Angústia de Graciliano Ramos é um exemplo, embora não seja
regionalista.

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1.1 Autores e obras da geração de 1930


PROSA

Graciliano Ramos

Graciliano Ramos (1892-1953): escritor focado tanto em


compreender as relações humanas quanto em retratar
ambientes e sua influência nos homens. Produz críticas sociais
acerca das condições do nordeste brasileiro. Produz fortes
análises psicológicas. Autor de Vidas secas e São Bernardo.

Graciliano Ramos de Oliveira nasceu no dia 27 de outubro de 1892 na cidade de Quebrangulo, em


Alagoas. Lá, ele permanece poucos anos. Em testemunho sobre sua infância e personagens que nela
apareceram, como em outros de seus romances que a resgatam, como Infância e o próprio Angústia,
Graciliano afirma: “Meu pai, Sebastião Ramos, negociante miúdo, casado com a filha de um criador de
gado, comprou uma fazenda em Buíque, Pernambuco, e levou para lá os filhos, a mulher e os cacarecos.
Da fazenda, conservo a lembrança de Amaro Vaqueiro e de José Baía. Na vila conheci André Laerte, cabo
José da Luz, Rosenda Lavadeira, padre José Ignácio, Filipe Benício, Teotoninho Sabiá”.
Em 1899, muda-se para Viçosa (Alagoas). Logo depois, para Maceió, onde frequenta o Colégio
Quinze de Março. Seus primeiros escritos apareceram no periódico Echo Viçosense e no jornal carioca O
Malho.
Ao completar 18 anos, vai residir em Palmeira dos Índios, onde cuida da casa comercial de seu pai,
mas nunca quis ser comerciante. Quando chega ao Rio de Janeiro, em 1914, consegue um emprego na
imprensa, na qual começou a trabalhar como revisor no Correio da Manhã.
Em 1915, casa-se com Maria Augusta de Barros, com quem teve 4 filhos. Ela morre em 1920 por
complicações no parto.
Em 1925, começa o seu primeiro romance: Caetés. Já em 1928, casa-se novamente, desta vez com
Heloísa Leite de Medeiros, sua companheira até o fim da vida, com quem tem mais 4 filhos. Nesse mesmo
ano, ganha a eleição para prefeito de Palmeira dos Índios, mas renuncia ao cargo. Depois, é nomeado
diretor da Imprensa Oficial de Alagoas, mas também pede demissão.
Em 1933, é nomeado diretor da Instrução Pública de Alagoas e contratado como redator do Jornal
de Alagoas. É preso em 1936, sem culpa formada, sob acusação de que era comunista. É interessante
notar o período de prisão de Graciliano Ramos, que coincide com a publicação de Angústia. Ele foi preso
em 1936, deportado em navio para o Rio de Janeiro – experiência da qual nasce o livro Memórias do
cárcere – e solto em 1937. Passa por várias prisões, até seguir em porão de navio ao Rio de Janeiro.
Um dos principais centros de pesquisa em relação a Graciliano Ramos hoje no Brasil funciona no
Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo.

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TRECHO DE “MEMÓRIAS DO CÁRCERE”


Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, casos passados há dez anos — e, antes de
começar, digo os motivos por que silenciei e por que me decido. Não conservo notas: algumas que
tomei foram inutilizadas e, assim, com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada dia mais difícil,
quase impossível, redigir esta narrativa. Além disso, julgando a matéria superior às minhas forças,
esperei que outros mais aptos se ocupassem dela. Não vai aqui falsa modéstia, como adiante se verá.
Também me afligiu a ideia de jogar no papel criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que têm
no registro civil. Repugnava-me deformá-las, dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de
romance; mas teria eu o direito de utilizá-las em história presumivelmente verdadeira? Que diriam
elas se se vissem impressas, realizando atos esquecidos, repetindo palavras contestáveis e
obliteradas?
RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. Rio de Janeiro: Record, 2000, v.1, p. 33.

Ao sair, inicia a publicação de alguns contos no jornal argentino La Prensa, inclusive, entre eles,
“Baleia”, que mais tarde irá integrar Vidas secas. Ao completar 50 anos, recebe o prêmio Felipe de
Oliveira.
Em 1945, filia-se ao Partido Comunista a convite direto de Luís Carlos Prestes. Em 1952, viaja com
a esposa Heloísa à União Soviética. A sua saúde se agrava. É operado sem sucesso e morre em 20 de março
de 1952. Confiram abaixo suas obras mais importantes.

1933 1934 1936 1938 1945 1947

Infográfico: Showeet.

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São Bernardo (1934)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
O romance se estrutura com o seu protagonista em primeira pessoa,
ESTRUTURA Paulo Honório, contando sua história já em idade avançada. Logo, a
obra se estrutura em retrospectiva. É composta por 36 capítulos.
Salustiano Padilha, Luís Padilha, Madalena, Dona Glória, Seu Ribeiro,
PERSONAGENS Joaquim Sapateiro, Azevedo Gondim, Casimiro Lopes, Mendonça, Dr.
Magalhães.
Tempo histórico da primeira metade do século XX, especialmente, a
TEMPO década de 30 e tempo psicológico do período de vida do próprio
protagonista.
ESPAÇO Cidade de Viçosa, interior do Alagoas.
Paulo Honório é um menino órfão que vende cocada para sobreviver.
Foi criado por uma negra e trabalha em fazenda até os dezoito anos.
Após esfaquear João Fernandes, homem que se envolve com a primeira
ENREDO mulher com quem teve relação, é preso. Lá, aprende a ler com Joaquim
Sapateiro. Ao sair de lá, sofre injustiças, desigualdade e fome, e
continua tendo que sobreviver, mas agora mediante atos antiéticos:
ameaças, violência e assassinatos. Vai endurecendo-se.
Paulo Honório aproxima-se de Luís Padilha, um dono da fazenda São
Bernardo. Luís Padilha era viciado em jogos e mulheres. Fazendo com
que Luís Padilha continuasse em um rumo depravado e decadente, Paulo
CONFLITO Honório consegue sua falência financeira, conquistando também a
fazenda São Bernardo por um preço muito baixo. Paulo Honório também
manda matar Mendonça, fazendeiro da fazenda vizinha, expandindo
ainda mais seus domínios. De oprimido, agora passa a opressor.
Paulo Honório é responsável pela modernização de São Bernardo.
Compra maquinário e implementa sua produção. Paulo Honório
CLÍMAX consolida sua posição de poder ao construir uma sólida rede de pessoas
confiáveis a seu redor: o jornalista Gondim, o padre Silvestre e o
advogado Nogueira.
Tudo muda quando Paulo Honório sente que precisa de um herdeiro
para continuar seu império. Conhece e se casa com Madalena, a quem
nunca consegue tolerar de todo, por ser uma mulher muito livre bem
resolvida. Era professora, ensinava pobres a ler (como um dia também
aprendeu o ex-pobre Paulo Honório, que agora não concebia que o
mesmo que ocorreu com ele ocorresse também com outros). Madalena
DESFECHO
era considerada uma comunista, portanto, uma ameaça. Nada abranda
o seu ódio, nem mesmo o nascimento de seu filho. Ciúmes e perseguição
provocam a tragédia do suicídio de Madalena. Paulo Honório nunca se
recupera de todo psicologicamente e passa o resto da obra perturbado,
resgatando suas lembranças, ora justificando-se, ora desculpando-se,
ora confessando-se, ora condenando-se.

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TRECHO DE “SÃO BERNARDO”


A verdade é que não me preocupo muito com o outro mundo. Admito Deus, pagador celeste
dos meus trabalhadores, mal remunerados cá na terra, e admito o diabo, futuro carrasco do ladrão
que me furtou uma vaca de raça. Tenho, portanto, um pouco de religião, embora julgue que, em
parte, ela é dispensável a um homem. Mas mulher sem religião é horrível. Comunista, materialista.
Bonito casamento! Amizade com o Padilha, aquele imbecil. “Palestras amenas e variadas”. Que
haveria nas palestras? Reformas sociais, ou coisa pior. Sei lá! Mulher sem religião é capaz de tudo.
RAMOS, Graciliano. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1981, p. 131.

Comentários
Ironicamente, é esta a visão da religião do personagem: Paulo Honório põe nas contas de Deus
todo o mal que ele próprio poderia ter feito e não fez e nas do diabo todo o mal que ele poderia não
ter feito, mas fez. A religião serve exclusivamente aos seus interesses e, querendo manter seus
privilégios, deseja privar a mulher de ter os mesmos benefícios que si próprio.

Angústia (1936)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
Sem capítulos. Romance em um único “bloco”. No máximo, repartição por
ESTRUTURA
partes por três asteriscos (***), a depender da edição.
Luís da Silva (protagonista em primeira pessoa); Marina (sua ex-
PERSONAGENS namorada); Julião Tavares (seu monstro e seu pior medo); Dr. Gouveia;
Moisés; Pimentel; D. Adélia, Seu Ramalho e outros vizinhos.
 Tempo psicológico. A narrativa é estruturada em planos: tempo
presente e passado que se alternam, tornam-se embaçados. Dentro do
próprio passado há divisões: passado recente, médio e remoto. O futuro
é desesperançoso.
 Tempo histórico: coincide com a vida de Graciliano Ramos: fim do
século XIX, com os seus fatos significativos – fim da abolição da
escravatura, por exemplo. Tanto é que Mestre Domingos, ex-escravo do
avô do protagonista, é um alforriado, “que havia sido escravo dele e
agora possuía venda sortida” (RAMOS, 2010, p. 13).
TEMPO E ainda: “– Escrevi muito atacando a república velha, doutor; sacrifiquei-
me, endividei-me, estive preso por causa da ideologia, doutor” (RAMOS,
2010, p. 32).
Além disso, há o crescente capitalismo no Brasil e o surgimento de uma
nova classe social: a do funcionário público, na qual inclusive se
enquadra o protagonista. Trata-se da classe média.
No plano mais geral, coincide também com o crescimento do
antissemitismo* na Europa pré-Segunda Guerra Mundial: “Agora Moisés
está contando as perseguições aos judeus, na Europa” (RAMOS, 2010,
p. 31). *antissemitismo = movimento de aversão aos judeus.
Presente: cidade de Maceió, o protagonista mora na rua do Macenas;
passado remoto: sertão de Alagoas (fazenda “O Ipanema/Cavalo-
ESPAÇO
Morto” do avô Trajano). São mencionados (dos lugares presentes):
globos opalinos do Aterro, praça Montepio.

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Luís da Silva começa a perder o controle de sua vida e de sua sanidade


quando sua ex-namorada Marina o abandona. Ele vive mordido pelos
CONFLITO ciúmes e pelas constantes suspeitas de que ela o havia trocado por Julião
Tavares, muito mais rico e poderoso que ele. A obsessão toma conta dele
e de sua vida.
Luís da Silva sente-se traído por Marina. Ele quer se casar com ela, até
tem boas intenções, mas ela perde o interesse por ele, trocando-o por
um cara novo no pedaço, Julião Tavares. Luís da Silva descobre que ela
CLÍMAX
engravidara dele e morre de raiva, deseja matar Julião. Luís da Silva
torna-se tão paranoico e obcecado que passa a seguir os dois. Um dia
descobre Marina indo a uma parteira, D. Albertina.
Luís da Silva mata Julião Tavares enforcado numa corda. Monta uma
DESFECHO cena do crime, pendurando-o a um galho de árvore. Passa o resto do
romance delirando numa cama. Nada se sabe sobre Marina.

TRECHO DE “ANGÚSTIA”
Lembro-me perfeitamente da cena muda que houve naquela tarde. Sentada, a cabeça caída
para o encosto da cadeira, as pernas cruzadas, os dedos cruzados num joelho, não me via, era como
se estivesse só. A cara parada mostrava cansaço, enjoo. De longe em longe batia com o calcanhar no
chão. A saia esticada exibia a coxa, mas a minha atenção se concentrava nos braços e nos dedos.
Não trazia o relógio nem o anel que eu lhe tinha oferecido na véspera. Isto me desapontava,
arrancava-me pragas e insultos, que eu engolia com medo de praticar uma violência – "Ordinária!
Arrasa-se a gente para ser agradável a uma peste assim, e o resultado é este: coice. Ordinária.
Safada." Desejei falar novamente em Julião Tavares, mas temi não convencer-me de que me havia
enganado. O rosto imóvel, como se eu não estivesse ali. As mãos cruzadas sobre o joelho. Ia
escurecendo. Àquela hora seu Ramalho, coberto de azeite, abriria os dias no calor da usina elétrica,
limando bronzes. D. Adélia, na cozinha, enchia-se de fumaça, envenenava-se. Marina permanecia
imóvel. Que é que eu estava fazendo, naquele constrangimento, olhando o pacote aberto, estripado,
em cima de uma cadeira? As entrevistas no quintal eram coisas muito antigas. O relógio e o anel
tinham sido oferecidos na véspera, mas eram antigos também. E parecia-me que tinham sido dados
a outra pessoa. Em que estaria pensando Marina? Agora eu não lhe via o rosto: as feições diluíam-
se na escuridão. Sentia-me atordoado, com um nó na garganta. Se falasse, diria injúrias. Uma
ingratidão assim! Não esperava aquilo. Fatos e indivíduos desencontrados, velhos e novos,
fervilhavam-me na cabeça, misturavam-se. No copiar da fazenda José Baía explicava-me as virtudes
da oração da cabra preta. Seu Evaristo balançava, pendurado num galho de carrapateira. Berta me
havia segurado um braço e arrastado até a escada. E eu, agarrando-me ao corrimão: – "Madame, a
senhora não está vendo que não posso encostar-me a uma criatura da sua marca?" Tavares & Cia.,
negociantes de secos e molhados na Rua do Comércio, vestidos de brim de linho, viviam escondidos
por detrás dos fardos e eram uns ratos. – "Escrevi muito atacando a primeira república, doutor. As

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minhas opiniões são conhecidas." Pobre da mulher da Rua da Lama. Rondando as mesas, com fome,
às onze horas da noite.
– Bem. Parece que me vou embora, Marina. Boa noite.
– Já vai? perguntou Marina sem se mexer.
– Já.
Saí resmungando:
– Escolher marido por dinheiro. Que miséria! Não há pior espécie de prostituição.
RAMOS, Graciliano. Angústia. 65. ed. Rio de Janeiro: Record, 2010 (p. 104-105).

Comentários
Em Angústia, observa-se a presença do narrador em primeira pessoa, logo,
não confiável. Evidencia-se um narrador não confiável, posto que é inundado de
subjetividade, e além disso ele está envolvido emocionalmente no caso.
Luís da Silva tinha uma mente perturbada e assolada por pensamentos e
sensações, como se fosse uma montanha-russa. Luis da Silva apresentou uma
proposta de casamento à sua namorada, Marina. Deu a ela um anel e uma joia
(uma pulseira). Ela o deixou “no vácuo”, foi vaga. Ao não respondê-lo, infere-se
que ela nega a proposta. O protagonista sai da casa dela, onde se reunia a família
e ele se sentia constrangido, resmungando e achando que ela era oportunista, interesseira, e não havia
aceitado sua proposta, porque “era pouco”. Marina já se envolvia com Julião Tavares, dono de um
negócio, bem mais rico que ele.
A repetição das perguntas indica mecanismo de revelação de incertezas internas de um indivíduo
confuso e inseguro. Há vários indícios de que o narrador está em dúvida e o tempo inteiro recua.
Classificando Angústia como um romance modernista, é correto afirmar que é usado o monólogo
interior: uma técnica, propriamente literária, de apreensão e apresentação do fluxo de consciência. É
uma forma estilística em que se observa o caminho de pensamento dentro da cabeça da personagem.
Outra escritora modernista a utilizá-la foi Clarice Lispector.

Luís da Silva e sua namorada Marina no começo de sua relação. Encontram-se no jardim de sua casa, entre uma
mangueira e monturo (lixo), símbolo representativo de sua vida atribulada.

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Vidas Secas (1936)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
O capítulo é dividido em 13 capítulos: 1) Mudança; 2) Fabiano; 3)
Cadeia 4) Sinhá Vitória; 5) O menino mais novo; 6) O menino mais velho;
7) Inferno; 8) Festa; 9) Baleia; 10) Contas; 11) O soldado amarelo; 12)
O mundo coberto de penas; 13) Fuga. A estrutura da obra é cíclica, pois
a família de retirantes começa e termina o livro em condição de
movimento. Assim, lembram a figura da mitologia grega Sísifo,
ESTRUTURA condenado a repetir eternamente a mesma ação (rolar uma pedra
montanha acima). A crítica literária brasileira Lúcia Miguel Pereira
defende que Vidas secas é um romance desmontável, podendo
começar a ser lido de qualquer um dos capítulos. Muitos dos capítulos
mesmo foram primeiramente lançados em jornais, como é o caso do
exemplar capítulo de Baleia. Eis uma influência contemporânea do
movimento vanguardista do cubismo.
Fabiano, Sinhá Vitória, Baleia, menino mais novo, menino mais velho,
PERSONAGENS
Tomás da Bolandeira, soldado amarelo.
TEMPO Não discriminado e narrativa não linear.
TEMPO Sertão.
Fabiano e sua família representam o tipo do retirante, vendo-se
obrigados a se deslocar da região por causa de fatores climáticos. Por
isso, passam por situações de extrema vulnerabilidade social,
ENREDO especialmente, a fome. O casal Fabiano e Vitória têm dois filhos que
não têm nome. Estão condenados ao anonimato, pois não sabem se vão
vingar. Viajam com dois animais que os acompanham como se fossem da
família: Baleia e um papagaio.
Diante de dificuldades, problemas acontecem. A cachorra Baleia,
companheira até de trabalho de Fabiano, vem a falecer. Fabiano vai
preso e sofre situações de injustiças, sentindo-se oprimido pelo Soldado
CONFLITO Amarelo. Fabiano, enquanto sertanejo, sente dificuldade em expressar-
se e se sente mais próximo dos animais. Sinhá Vitória sonha com
ambições que não pode ter. O menino mais velho pergunta-se o que é
inferno. Cada personagem cumpre um designado papel.
O romance é uma obra aberta e nada se conclui de fato. A família passa
por várias situações que estão fadadas a se repetir ciclicamente. Ao
DESFECHO longo dessas situações, degradam-se ou dignificam-se. Não só as vidas
são secas, as palavras são secas e a obra é concisa. É assim como
costuma ser conhecido o estilo de Graciliano Ramos.

"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício.
Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho,
torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma,
duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o
pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano
uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou
no varal, para secar.

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Profa. Luana Signorelli

Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar,
brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
Graciliano Ramos, em entrevista concedida em 1948 (na contracapa de Angústia, mesma edição)

TRECHO DE “VIDAS SECAS”


“A tremura subia, deixava a barriga e chegava ao peito de Baleia. Do peito para trás era tudo
insensibilidade e esquecimento. Mas o resto do corpo se arrepiava, espinhos de mandacaru
penetravam na carne meio comida pela doença.
Baleia encostava a cabecinha fatigada na pedra. A pedra estava fria, certamente Sinhá Vitória
tinha deixado o fogo apagar-se muito cedo.
Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um
Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num parto enorme, num
chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.”
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 150. ed. Rio de Janeiro: Record, 2019.

Comentários

Trechos finais da vida de Baleia, cujo sonho ao fim representa a


dignidade e crença em uma humanidade melhor; um mundo com
abundância e onde não se passasse fome. Cadela que é tratada como
membro da família. Pensa, sonha e age como se fosse gente. Ela passa
pelo processo de humanização – ou antropomorfização. Isso faz com
que ela demonstre um comportamento humano em muitas
passagens, sobretudo no momento de sua morte.
Por isso, ela representa a crença do totemismo: uma relação sagrada entre o homem e um totem,
isto é, um símbolo sagrado, que pode ser um animal, um objeto, ou – neste caso – um animal. O totem
é considerado como um ancestral ou protetor (dicionário Aulete digital).

SE LIGA NESSE COMENTÁRIO!

Vidas Secas começa por uma fuga e acaba com


outra. Decorre entre duas situações idênticas, de tal
modo que o fim, encontrando o princípio, fecha a ação
em um círculo. Entre a seca e as águas, a vida do
sertanejo se organiza, do berço à sepultura, a modo de
retorno perpétuo. Como os animais atrelados ao
moinho, Fabiano voltará sempre sobre os passos,
sufocado pelo meio.

É preciso, todavia, lembrar que essa ligação com o problema geográfico e social só adquire
significado pleno, isto é, só atua sobre o leitor, graças à elevada qualidade artística do livro.
Graciliano soube transpor o ritmo mesológico para a própria estrutura da narrativa, mobilizando
recursos que afazem parecer movida pela mesma fatalidade sem saída. Euclides da Cunha
tomou o sertanejo e deu ao seu drama (que foi o primeiro a exprimir convenientemente) faíscas

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de epopeia. Graciliano esbateu-o no ramerrão das misérias diáriase o fez irremediavelmente


doloroso. Apegou-se a um determinismo semelhante ao d’Os sertões, tornando-o inflexível pela
representação literária do eterno retorno. E assim como José Lins do Rego produziu as obras-
primas das terras de massapé, com a planturosidade das regiões fartas, ele se tornou o escritor
por excelência da terra estorricada. Romance da zona pastoril, encourado como ele na secura da
fatalidade geográfica. Da consciência mortiça do bom Fabiano podem emergir os transes
periódicos em que se estorce o homem esmagado pela paisagem e pelos outros homens.
Antonio Candido. Ficção e confissão. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006 (com adaptações).

Rachel de Queiroz
Rachel de Queiroz (1910-2003): escritora, jornalista,
dramaturga e tradutora. Foi a primeira mulher a ocupar uma cadeira
na Academia Brasileira de Letras. Quinta ocupante da Cadeira 5,
eleita em 4 de agosto de 1977, na sucessão de Candido Motta Filho e
recebida pelo Acadêmico Adonias Filho em 4 de novembro de 1977.
Suas principais obras são:
 O quinze (1930);
 Caminho de pedras (1937);
 As três marias (1939);
 Lampião – peça de teatro (1953);
 Dôra, Doralina (1975);
 Memorial de Maria Moura (1992).

TRECHO DE “O QUINZE”
O sol poente, chamejante, rubro, desaparecia rapidamente como um afogado, no horizonte
próximo.
Sombras cambaleantes se alongavam na tira ruiva da estrada, que se vinha estirando sobre o
alto pedregoso e ia sumir no casario dormente dum arruado. Sombras vencidas pela miséria e pelo
desespero que arrastavam passos inconscientes, na derradeira embriaguez da fome.
Uma forma esguia de mulher se ajoelhou no chão vermelho.
Um vulto seco se acocorou ao lado, e mergulhou a cabeça vazia entre os joelhos agudos,
amparando-a com as mãos.
Só um menino, em pé, isolado, olhava pensativamente o grupo agachado de fraqueza
e cansaço.
Sua voz dolente os chamou, num apelo de esperança.
QUEIROZ, Rachel de. O quinze. Rio de Janeiro: José Olympio, 2012.

Comentários
Atenção para não confundir os números. “O quinze” é regionalista e pode ser enquadrado na
denúncia social que caracterizava o romance de 30. O trecho acima é uma típica representação da
descrição desoladora de um lugar desolador com pessoas desoladas e sem força de expressão, sem
nome e com pouca capacidade de criar vínculos. Mal se comunicam; sobrevivem.
Nesse romance, retrata a situação de retirantes numa grande seca nesse ano específico. A família
agora é representada por Chico Benta, a esposa Cordulina e suas três filhas. Migram de Quixadá para

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Fortaleza, onde encontram Conceição, que é uma professora e uma importante figura feminina, pois
é intelectual e voluntária. Como Madalena em São Bernardo, o Modernismo também é responsável
por representar a mulher em papéis mais emancipados, o que é agora é ainda mais significativo,
levando-se em consideração que Rachel de Queiroz é uma escritora mulher.

José Lins do Rego


José Lins do Rego (1901-1957): formado em Direito, atuou na imprensa e
foi eleito para a ABL. Muito de suas obras são recordações de adolescente na
fazendo do avô, época pela qual Nordeste estava passando por modernização.
Seus principais romances são os seguintes:
 Menino de engenho (1932).
 Usina (1936)
 Fogo morto (1943).
Usina, por exemplo, é um romance do modernista José Lins do Rego, que
vai narrar como o moleque Ricardo irá participar das lutas operárias em Recife.
Na verdade, retoma a história de outro romance anterior, desenvolvendo-a: O
moleque Ricardo (1935).

Fogo morto (1943)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
3 partes: 1) o mestre José Amaro; 2) o engenho de Seu Lula e 3) O capitão
ESTRUTURA
Vitorino.
TEMPO Primeiras décadas do século XX.
ESPAÇO Sertão do Nordeste.
 Parte I: José Amaro é um seleiro renomado que vive nas terras de Seu Lula.
José Amaro vivia na beira da estrada, com a filha solteirona Marta, tinha
aspecto de lobisomem e contato com todo mundo. A filha enlouquece e vai
para o hospício; o pai é expulso das terras e depois acaba se suicidando.
 Parte II: Seu Lula é abreviação para Luís César de Holanda Chacon.
Rememora a construção do Engenho de Santa Fé, cujo fundador foi capitão
ENREDO
Tomás Cabral de Melo. Seu Lula casa com a filha dele e passa a comandar
o lugar, mas acaba se revelando autoritário.
 Parte III: o capitão Vitorino vive vagueando pelas estradas. Ao proteger o
Engenho Santa Fé, invadido por Antônio Silvino, é agredido. É preso e depois
de solto pensa em seguir carreira política. Fio condutor das 3 histórias: vivem
em uma realidade muito diferente da que tentam aparentar.

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TEXTO I

TRECHO DE “FOGO MORTO”


Aqueles meninos, aquelas mulheres, aquele coronel Lula, todos do mundo que o cercava eram
grades de ferro que o prendiam, que faziam de um homem trabalhador como ele um monstro, um
perigo, um criminoso. A filha se fora. Pensava que Sinhá voltasse às boas mas enganara-se. Estava
só no mundo, mais só que José Passarinho. E não tinha saúde para ganhar pela terra afora, e fugir
de todos. Lobisomem! Seria que os homens, as mulheres o tomavam mesmo por um filho do diabo,
por uma calamidade? José Passarinho, dentro de casa, lhe parecia agora outro homem. Há muito
que o negro não bebia. Era, ali em sua casa, quem lhe cozinhava o feijão, quem lhe fazia as coisas.
Era um bom negro. Via-o sujo, de pés cambados, de olhar quase morto, e mesmo assim o julgara
mais feliz do que ele. Não tinha aquela desgraça de sentir-se olhado pelos outros como um homem
com o diabo no corpo. Por que seria ele o escolhido para isto? Era tão da sua casa, era tão do
trabalho, e até a sua mulher temia-o, corria dele! O que existiria em sua cara que metesse pavor aos
meninos, às mulheres? Os cachorros latiam para ele. Latiam para todos os estranhos.
José Passarinho, quando ficava na cozinha, cantava baixo aquelas histórias que desde menino
ele ouvia, os cantos tristes, as mágoas de amores, as dolências tão do coração do povo. O mestre
José Amaro voltava à infância de Goiana. Lembrava-se daquela cantiga que Passarinho repetia tantas
vezes, com a voz baixa, em tom de dor, de sofrimento:

— Senhora, botai a mesa.


— A mesa sempre está posta
Para vossa senhoria.
Sentaram-se ambos os dois.

Nem um, nem outro comia.


Que as lágrimas eram tantas
Que pela toalha corriam.

— Senhora, fazei-me a cama.


— A cama sempre está feita
Para vossa senhoria.
Deitaram ambos os dois.
Nem um, nem outro dormia.
Que as lágrimas eram tantas
REGO, José Lins do. Fogo Morto [eletrônico]. Rio de Janeiro: José Olympio, 2012.

Comentários
Observação: “fogo morto” é um regionalismo para engenho desativado. Nesse trecho, o uso da
pontuação está atrelado à interpretação literária: as exclamações e interrogações indicam presença
de discurso indireto livre. A miscelânia entre diferentes gêneros textuais se revela no uso da prosa
associada à letra de música, escrita em versos. O tom lamurioso das canções de José Passarinho condiz
com algumas cantigas populares, já que elas eram proclamadas desde criança. Por fim, as histórias das
duas personagens homônimas – Josés – um Passarinho e outro Amaro se convergem, no sentido que
este se sente mais melancólico que o primeiro.

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TEXTO II

TRECHO DE “USINA”
A casa-grande da usina se encheu de parentes, de amigos do dr. Juca. D. Dondon viera para
preparar a festa. Há tempos que não punha os pés ali e achou tudo à toa. O marido estava levando
uma vida de bicho. A casa inteira numa desordem de fazer vergonha. E levou assim uma semana,
arrumando, limpando as vidraças, a preparar a casa para o dia da festa.
A Bom Jesus seria em breve uma usina de verdade. A notícia se espalhou no povo. Os moradores
viam os gringos andando a cavalo, correndo terras e comentavam, a seu jeito, as novidades: com
pouco mais a Bom Jesus seria duas vezes maior que a Goiana Grande e a São Félix. O dr. Juca trazia
máquinas maiores que as da estrada de ferro para puxar os seus trens de cana. E falavam até que o
riacho do Vertente seria trazido para dentro da usina. Os gringos já estavam medindo tudo para
montar os canos. As carroças de cana não precisariam de ninguém para cair nas esteiras. Era só numa
alavanca. Um homem só faria o serviço de cem.
REGO, José Lins do. Usina. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.

Comentários
Levando em consideração o Romance de 30, o trecho critica uma modernização que não
representa necessariamente o progresso, mas sim a animalização do homem. O romance da década
de 1930 foi um tipo de arte específica de um contexto histórico-social conturbado. Sua característica
principal foi retomar alguns pontos do Realismo, como a denúncia social. O romance Usina de José Lins
do Rego foi publicado em 1936. No excerto acima, o trecho “O marido estava levando uma vida de
bicho” lembra a fala de Fabiano em Vidas secas (1938) de Graciliano Ramos: “– Você é um bicho,
Fabiano”. A diferença é a classe social: Fabiano é um sertanejo, ao passo que a temática do romance
Usina é a transposição do modelo econômico colonial firmado em estruturas de engenho para o novo
formato de indústrias.

José Américo de Almeida

Foi o quinto ocupante da cadeira de número 38 da Academia


Brasileira de Letras. Nasceu em 1887 e faleceu em 1980. Ganhou o
Prêmio Juca Pato em 1976. Além de romancista, foi político, advogado e
professor universitário, tendo se interessado e pesquisado também
folclore e sociologia. Suas principais obras são:
 A Paraíba e seus problemas (1923);
 A bagaceira (1928) – magnum opus.;
 O boqueirão (1935).

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(Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2020)

Era o êxodo da seca de 1898. Uma ressurreição de cemitérios antigos — esqueletos redivivos,
com o aspecto terroso e o fedor das covas podres.
Os fantasmas estropiados como que iam dançando, de tão trôpegos e trêmulos, num passo
arrastado de quem leva as pernas, em vez de ser levado por elas.
Andavam devagar, olhando para trás, como quem quer voltar.
Não tinham pressa em chegar, porque não sabiam aonde iam. Expulsos do seu paraíso por
espadas de fogo, iam, ao acaso, em descaminhos, no arrastão dos maus fados.
Fugiam do sol e o sol guiava-os nesse forçado nomadismo.
Adelgaçados na magreira cômica, cresciam, como se o vento os levantasse. E os braços afinados
desciam-lhes aos joelhos, de mãos abanando.
Vinham escoteiros. Menos os hidrópicos — doentes da alimentação tóxica — com os fardos das
barrigas alarmantes.
Não tinham sexo, nem idade, nem condição nenhuma. Eram os retirantes. Nada mais.
Meninotas, com as pregas da súbita velhice, careteavam, torcendo as carinhas decrépitas de ex-
voto. Os vaqueiros másculos, como titãs alquebrados, em petição de miséria. Pequenos fazendeiros,
no arremesso igualitário, baralhavam-se nesse anônimo aniquilamento.
Mais mortos do que vivos. Vivos, vivíssimos só no olhar. Pupilas do sol da seca. Uns olhos
espasmódicos de pânico, assombrados de si próprios. Agônica concentração de vitalidade faiscante.
Fariscavam o cheiro enjoativo do melado que lhes exacerbava os estômagos jejunos. E, em vez
de comerem, eram comidos pela própria fome numa autofagia erosiva.
Lúcio almoçava com o sentido nos retirantes. Escondia côdeas nos bolsos para distribuir com eles,
como quem lança migalhas a aves de arribação.
A cabroeira escarninha metia-os à bulha:
— Vem tirar a barriga da miséria...
Párias da bagaceira, vítimas de uma emperrada organização do trabalho e de uma dependência
que os desumanizava, eram os mais insensíveis ao martírio das retiradas.
(ALMEIDA, José Américo de. A bagaceira. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004.)

Com base no excerto acima e nos seus conhecimentos acerca do modernismo de 1930, julgue os itens
a seguir.

1) O uso do superlativo enfático ajuda a conferir sensibilidade e vivacidade à descrição dos retirantes
que, se não fosse o olhar, pareceriam mortos.

Comentários:
 Questão de Gramática aplicada à Literatura/interpretação de texto literário.

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Como recurso expressivo, o uso gramatical do grau superlativo em “vivos, vivíssimos”


confere um tom chocante ao olhar dos retirantes que caminham como se já estivessem mortos
e morrem como se nunca tivessem vivido.
Gabarito: C.

2) A condição de retirante era passageira, tal como a vida. A morte é sinal de esperança, bem como
a organização numa coletividade.

Comentários:
 Questão de interpretação de texto literário.
Morte é certeza para o retirante, que não espera muito da vida. Nem mesmo a organização
plural numa classe social os impede de se desumanizarem, o que se infere do último parágrafo:
“Párias da bagaceira, vítimas de uma emperrada organização do trabalho e de uma dependência
que os desumanizava, eram os mais insensíveis ao martírio das retiradas.”
Gabarito: E.

3) Observa-se que era marcante para o retirante seu estigma de anonimato. Esse recurso também é
empregado quanto aos filhos de Fabiano em Vidas secas de Graciliano Ramos.

Comentários:
 Questão de interpretação de texto literário; conhecimento do
movimento literário e Literatura Comparada.
Atenção: uma cobrança possível é a comparação dos romances de 30
entre si. Os filhos de Fabiano são chamados apenas de “Menino mais velho”
e “Menino mais novo”. Ou seja, nem mesmo às crianças é permitida a
esperança de viver para vingar e ganhar o direito de adquirir um nome. Vidas
secas é um romance de 1938 e configura o típico romance de 30.
Gabarito: C.

4) Outro exemplo de obra que compartilha tanto da forma quanto do conteúdo de A bagaceira é
Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto.

Comentários:
 Questão de conhecimento do movimento literário.
Cuidado: tematicamente, sim; porém, formalmente, não, pois Morte e vida severina é um
poema. Embora narrativo, não corresponde ao romance de 30.
Gabarito: E.

5) A segunda geração modernista revelou na prosa o chamado romance de 30. Entre suas
características, as mais observáveis no excerto são influência das vanguardas e anarquia nas formas.

Comentários:
 Questão de conhecimento do movimento literário.
Características da primeira geração modernista e não da segunda.
Gabarito: E.

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6) A exposição a agruras fazia com que os retirantes desenvolvessem doenças, patologias que
lembram o movimento literário do Naturalismo.

Comentários:
 Questão de conhecimento dos movimentos literários.
Atenção: outro típico de cobrança possível é a comparação entre as gerações modernistas.
Por mais que a segunda geração modernista também tenha sido chamada de neorrealista, é
bastante comum nela a comparação do ser humano aos animais. No caso, a doença representada
é a hidropisia: derramamento de líquido seroso em tecidos ou cavidade corporal (dicionário
Aulete).
Gabarito: C.

7) O imaginário de mortos vivos pode ser comparado à literatura fantástica dos anos 60, um
verdadeiro resgate da literatura de uma geração anterior.

Comentários:
 Questão de conhecimento do movimento literário.
A literatura fantástica costuma estar ligada ao contexto de ditaduras latino-americanas nos
anos 60, porém, ela não tem ligação direta com o realismo como modo de representação da
segunda geração modernista. Além do mais, os retirantes eram vivos comparados a mortos; a
imagem serve mais como comparação do que um elemento fantástico ou zumbi.
Observa-se a seguir a definição sobre fantástico.
“O fantástico ocorre nesta incerteza; ao escolher uma ou outra resposta, deixa-se o fantástico
para se entrar num gênero vizinho, o estranho ou o maravilhoso. O fantástico é a hesitação
experimentada por um ser que só conhece as leis naturais, face a um acontecimento
aparentemente sobrenatural.
O conceito de fantástico se define pois com relação aos de real e de imaginário (...)”.
Referência Bibliográfica: TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. Trad. Maria
Clara Correa Castello. São Paulo: Perspectiva, 2014 (p. 31, grifo meu).
Gabarito: E.

Jorge Amado
Jorge Amado (1912-2000): baiano, estudou Direito.
Politicamente comprometido com o socialismo, participou da Aliança
Nacional Libertadora e chegou a publicar a biografia do Prestes. Retrata
a miséria e as desigualdades sociais. Suas principais obras foram as
seguintes:
 Cacau (1933);
 Capitães da areia (1937);
 Gabriela, cravo e canela (1958);
 Dona Flor e seus dois maridos (1966);
 Tieta do agreste (1977).

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Escritor muito popular, teve suas obras bastante televisionadas e foi muito produtivo em vida.
Porém, seu posicionamento político foi perseguido, o que lhe rendeu muitos desafetos. Em 1937, teve
seus livros queimados em praça pública em Salvador. Faleceu em 2000; portanto, escreveu na transição
da segunda para a terceira geração modernista e pode-se dizer que sua obra apresentou duas vertentes
principais: a mais militante e no início da carreira e uma outra mais erótica e sensual, mais para o fim da
carreira. Foi casado com Zélia Gattai e hoje sua memória continua sendo preservada pela Fundação Casa
de Jorge Amado (abaixo).

Fonte: Ficheiro Wikipedia. https://tinyurl.com/yyyfyfqd

Proletkult e realismo socialista. Proletkult é a abreviação para um termo em


russo que significa cultura proletária. Surgiu após a Revolução de 1917. Já o
realismo socialista foi um programa artístico do governo de Josef Stalin. A
linguagem romanesca deveria ser simplificada e inteligível para a classe
proletária. Os protagonistas deviam ser figuras do povo para gerarem exemplos.
Era um modelo a ser seguido. Algumas das obras de Jorge Amado procuraram
seguir esse padrão.

*Curiosidade: estudei Jorge Amado no meu Projeto de Iniciação Científica (PROIC) na graduação.

Capitães da Areia (1937)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
O livro é estruturado em capítulos e partes:
 Primeira parte: “Sob a lua, num velho trapiche abandonado” (11
capítulos).
ESTRUTURA
 Segunda parte: “Noite da Grande Paz, da Grande Paz dos teus olhos”
(8 capítulos).
 Terceira parte: “Canção da Bahia, Canção da Liberdade” (8 capítulos).

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Pedro Bala, Sem-Pernas, Gato, Professor, Pirulito, Boa Vida, João Grande,
PERSONAGENS
Dora, Padre José Pedro, Querido-de-Deus.
ESPAÇO Cidade de Salvador.
Não é fácil o cotidiano dos meninos de rua em situação marginalizada. O
chefe do grupo é Pedro Bala, cada uma tinha a sua particularidade: o
ENREDO
Professor lia à luz de velas à noite; Gato era bonito e se apaixona pela
prostituta Dalva, Sem-Pernas era um pessimista.
A doença da varíola começa a preocupar a população da cidade. Um dos
CONFLITO meninos fica doente e é internado. Pedro Bala se envolve com Dora e sente-
se responsabilizado por todos, tentando proteger o grupo.
Sem Pernas é morto pela polícia; o Professor vai para o Rio de Janeiro
CLÍMAX
pintar pobres baianos; Gato se torna cafetão de Dalva.
Pedro Bala passa o comando do grupo para outra pessoa e se torna um
DESFECHO
militante proletário com orientação socialista.

Erico Verissimo
Erico Verissimo (1905-1975): cursou jornalismo e foi
professor nos Estados Unidos. É gaúcho de Cruz Alta e sua
literatura se envereda pelo regionalismo. Sua obra pode ser
dividida em 3 fases:
1) registro cotidiano da vida urbana de Porto Alegre e
problemas morais, sociais e humanos decorrentes de valores
degradados, como Caminhos cruzados (1935);
2) obra cíclica e histórica de O tempo e vento (1949-1961);
3) obra mais universalista, mais crítica, com engajamento
social e até realismo fantástico, com Acidente em Antares (1971).

TRECHO DE “ACIDENTE EM ANTARES”


Durante alguns minutos a defunta fica a olhar em torno – para a esplanada, o céu, o muro do
cemitério, a lanterna acesa caída no chão... Depois se põe de joelhos e nessa posição, lentamente,
faz a volta do esquife vizinho, desatarraxando-lhe a tampa, que tenta em vão erguer, terminada a
operação. Bate três vezes com o punho 06 cerrado na tampa do caixão negro, cujo ocupante
responde, após segundos, com três batidas semelhantes. D. Quitéria vê a tampa que ela
desaparafusou erguer-se lentamente e por fim cair para um lado. Um homem de estatura mediana
e vestido de escuro sai do seu féretro, dá alguns passos com uma rigidez de boneco de mola, olha a
seu redor, inclina-se, apanha a lanterna, passeia a sua luz pelo muro do cemitério, depois pela copa
dos cinamomos, projeta-a contra a esplanada e por fim foca o rosto da dama, que continua
ajoelhada.
— D. Quitéria Campolargo! – exclama o desconhecido. — Que honra! Que prazer!
VERISSIMO, Erico. Incidente em Antares. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

Comentários
“Incidente” é um eufemismo, pois o que ocorre na fictícia cidade Antares (RS) está
verdadeiramente na ordem do sobrenatural: os mortos voltam à vida! A obra é dividida em duas
partes: Antares e o incidente. A cidade é marcada pelo conflito furioso entre as duas famílias principais:

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Vacariano e Campolargo. Logo, a primeira parte conta a perpetuação desse ódio ao longo das gerações.
Já o incidente ocorre em uma data muito específica: 13 de dezembro do ano de 1963, pois no dia
anterior foi declarada uma greve geral na cidade. Várias pessoas morreram, mas como seus corpos
não puderam ser enterrados, seus corpos ficaram à deriva e retornaram à vida. O contexto de
produção dessa obra levou em consideração dois aspectos importantes:
 Regime Militar no Brasil (Governo Médici; os anos de chumbo)
 Realismo fantástico na América Latina que surgiu também em meio a contextos de ditaturas.
Exemplo: Gabriel Garcia Márquez – Cem anos de solidão (1967). Alguns contos do livro livro O
seminário dos ratos (1977) de Lygia Fagundes Telles também são inspirados nessa vertente.

Dyonélio Machado

Dyonélio Machado (1895-1985): era médico de formação,


com especialização em psiquiatria. Além disso, era jornalista e
militante comunista. Seu pai foi assassinado enquanto criança, o que
marca sua existência, pois a família viveu na pobreza. Isso não o
impediu de estudar e se tornar um intelectual, chegando a deputado
federal pelo PCB. Suas principais obras foram as seguintes:
 Um pobre homem (1927).
 Os ratos (1935) – obra-prima.
 O louco do Cati (1942).
 Deuses econômicos (1966).
 Endiabrados (1980).
 Fada (1982).
 Ele vem do fundão (1982).

Os ratos (1935)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA Romance com 28 capítulos + um posfácio.
PERSONAGENS As personagens são esféricas, densas: Naziazeno, Adelaide, Mainho etc.
O Tempo cronológico: linear, marcado pela passagem das horas, durante
um dia de peregrinação de Naziazeno.
TEMPO
O Tempo psicológico: também é valorizado, principalmente nos últimos
capítulos do livro.
ESPAÇO Porto Alegre.
Naziazeno é um pacato funcionário público que agora se vê numa fria:
passa peregrinar pela cidade de Porto Alegre, buscando dinheiro para
ENREDO quitar sua dívida com o leiteiro. Ele recebeu um ultimato e agora tem 24
horas para pagar 53 mil réis! Entre os lugares que percorre, passa pelo
mercado, repartição e docas.
Naziazeno caminha como um rato e deixa um rastro por onde passa.
CONFLITO
Enquanto isso, vai se humilhando. Pensa em pedir dinheiro para Dr. Romeiro,

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o diretor da repartição, que já lhe ajudara em ocasiões anteriores, quando


seu filho estava doente.
Desesperadamente, Naziazeno penhora a joia de um colega, resolvendo
CLÍMAX
seu problema apenas temporariamente.
Compra presentes para a mulher e o filho, Mainho. Porém, não consegue
DESFECHO dormir a noite, pois tem alucinações e pensa que os ratos estão roendo seu
dinheiro. Prepara-se para outro dia de peregrinação/humilhação.

TRECHO DE "OS RATOS"

Ao seu redor, as coisas foram ficando mais apagadas. A cara da mulher... aquele desenho —
aquele ramo do frontispício do guarda-roupa... Tudo está sendo envolvido por uma claridade opaca,
dum amarelo meio sanguíneo. Com os olhos fechados, já não tem mais defronte da pálpebra aquela
bola amarela, translúcida. É tudo opaco, escuro... Repara na lamparina: o pingo de luz fininho e
comprido foi substituído por uma bolinha de chama, uma chama em que já há um pouco de brasa...
Depois duma trégua, os ratos voltaram a roer, a roer... Outra vez naquele canto do assoalho do
comedouro o triturar fininho de madeira roída (decerto é a madeira). Talvez depois de consumido o
dinheiro, eles passem a roer, a roer a tábua da mesa... Presta atenção. Alonga o ouvido. Espera ouvir
o crepitar miudinho das mandíbulas, vindo lá do fundo, de longe...
O seu ouvido pega mil ruidozinhos de novo, capta outra vez aquele chiado, o tinir do
malho na bigorna...
Tudo vai agora se confundindo nos seus ouvidos. Só individualizado, independente, o roer, o roer
da tábua do assoalho...

Comentários
"Os ratos" se insere na lógica do romance psicológico modernista.
Naziazeno é um homem comum, perfeitamente vidrado em seu
cotidiano mecânico, até que se vê diante de um grande problema: uma
dívida tão grande que não sabe o que fazer. Sua peregrinação lembra
aquela realizada pelo personagem Leopold Bloom, no romance irlandês
"Ulysses" (1922). Trata-se do homem emparedado, nos limites de sua
razão. Em 2022, esse clássico completa centenário.

O romance de 30 não foi produzido apenas na década de 1930. É uma


designação usada para o romance crítico e social que começou a ser
produzido nesta década, mas continuou depois dela. Tampouco todo
romance de 30 é regionalista. O regionalismo é uma tendência que pode
ou não ser usada no romance de 30, a depender do autor.

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OUTROS ROMANCISTAS DE 1930

Cornélio Penna

Cornélio de Oliveira Penna (1896-1958) foi um romancista, gravador,


pintor e desenhista brasileiro. Começa estudando Campinas e se forma em
Direito em São Paulo, onde realiza uma exposição pessoal em 1920. Logo
abandona as Artes Plásticas e se dedica à Literatura, integrando um grupo de
escritores católicos junto com Lúcio Cardoso e Adonias Filho. Seus romances
inauguram o que pode ser considerado pioneiro na literatura brasileira em
termos de linhagem psicológica. Suas principais obras são:
 Fronteira (1935);
 Dois romances de Nico Horta (1939);
 Repouso (1948);
 A menina morta (1954).

TRECHO DE “FRONTEIRA”
Mas seu olhar verde, inconfundível, impressionante, iluminava com sua luz misteriosa as sombrias
arcadas superciliares, que pareciam queimadas por ela, dizia logo a sua origem cruzada e decantada
através das misérias e dos orgulhos de homens de aventura, contadores de histórias fantásticas, e de
mulheres caladas e sofredoras, que acompanhavam os maridos e amantes através das matas
intermináveis, expostas às febres, às feras, às cobras do sertão indecifrável, ameaçador e sem fim,
que elas percorriam com a ambição única de um “pouso” onde pudessem viver, por alguns dias, a
vida ilusória de família e de lar, sempre no encalço dos homens, enfebrados pela procura do ouro e
do diamante.
PENNA, C. Fronteira. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d.

Comentários
Cornélio Penna é um romancista de 30. Sua obra “Fronteira” é um romance de 1930. O livro foi
publicado em 1935, mas já apresenta mistura de estilos e tendência intimista; é caracterizada como
um gênero misto, mesclando suspense policial e mistério. Fala sobre uma cidade anônima marcada
pelos fantasmas do ciclo da mineração. No modernismo brasileiro, quem ainda se destaca pelo uso
do fluxo de consciência é Clarice Lispector.

Cyro dos Anjos


Cyro Versiani dos Anjos (1906-1994) foi um escritor, ensaísta, romancista,
jornalista e advogado brasileiro. Durante os anos de faculdade já era funcionário
público e contribuiu com vários jornais, como Jornal da Tarde e Estado de Minas.
Foi professor de Literatura Portuguesa na Faculdade de Filosofia de Minas Gerais e
também lecionou na Universidade Autônoma do México, para onde foi convidado
pelo Itamarati em 1952. Em 1955, também passou pela Universidade de Brasília, já
no Governo Kubitschek. Conviveu com Carlos Drummond de Andrade, com quem
trocou cartas. Ganhou o Prêmio Jabuti em 1979. Sua obra-prima é “O amanuense Belmiro” (1937).

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POESIA

Cecília Meireles (1901-1964): poetisa com grande


preocupação com o interior. Suas obras são bastante introspectivas
e filosóficas. Dá muita atenção à musicalidade – o som das poesias.
Suas principais obras foram as seguintes:
 Vaga música (1942);
 Romanceiro da Inconfidência (1953);
 Canções (1956);
 Romance de Santa Cecília (1957);
 Poesias completas (1973).
Cecília Meireles tinha uma obra muito eclética. Escreveu
desde poesia infantil (Ou Isto ou Aquilo, de 1964); obras de cunho
de revisionismo histórico, como Romanceiro da Inconfidência
(1953) e algumas obras consideradas como intimistas e
sentimentais.
Logo, esses são traços que permitem enquadrá-la junto com Vinicius de Moraes numa tendência
chamada de Neossimbolismo.

A POESIA: O NEOSSIMBOLISMO
A rigor, Cecília Meireles nunca esteve filiada a nenhum movimento literário. Sua poesia, de
modo geral, filia-se às tradições da lírica luso-brasileira. Apesar disso, as publicações iniciais da
escritora – Espectros (1919), Nunca mais... e poema dos poemas (1923) e Baladas para El-Rei
(1925) – evidenciam certa inclinação pelo Simbolismo. Essa tendência é confirmada por sua
participação na revista carioca Festa, publicação literária de orientação espiritualista que
defendia o universalismo e a prevenção de certos valores tradicionais da poesia.
Além disso, a frequente presença de elementos como o vento, a água, o mar, o ar, o tempo,
o espaço, a solidão e a música dá à poesia de Cecília Meireles um caráter fluido e etéreo, que
confirma a inclinação neossimbolista da autora.
O espiritualismo e o orientalismo, tão prezados pelos simbolistas, também se fazem
presentes na obra da poetisa, que sempre se interessou pela cultura oriental e foi admiradora
e tradutora do poeta hindu Tagore, do chinês Li Po e do japonês Bashô.
Do ponto de vista formal, a escritora foi das mais habilidosas em nossa poesia moderna,
sendo cuidadosa sua seleção vocabular e forte a inclinação para a musicalidade (outro traço
associado ao Simbolismo), para o verso curto e para os paralelismos, a exemplo da poesia
medieval portuguesa.
CEREJA; William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens. 6. ed.
São Paulo: Atual, 2008 (v. 3, p. 314).

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TEXTO I

Valsa
Fez tanto luar que eu pensei em teus olhos antigos
e nas tuas antigas palavras.
O vento trouxe de longe tantos lugares em que estivemos
que tornei a viver contigo enquanto o vento passava.

Houve uma noite que cintilou sobre o teu rosto


e modelou tua voz entre as algas.
Eu moro, desde então, nas pedras frias que o céu protege
e estudo apenas o ar e as águas.

Coitado de quem pôs sua esperança


nas praias fora do mundo...
– Os ares fogem, viram-se as água,
mesmo as pedras, com o tempo, mudam.
MEIRELES, Cecília. Viagem e vaga música. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006, p. 42.

Comentários
O primeiro verso começa com uma oração subordinada adverbial consecutiva (de consequência:
“Fez tanto luar que eu pensei em teus olhos antigos”. O adjetivo “antigo” é repetido, sendo que na
segunda ocorrência – “antigas palavras” – encontra-se antes do adjetivo, conferindo ainda mais ênfase
ao termo. O vento é o elemento vago e etéreo (simbolista) que se interpõe na relação já esquecida no
tempo. Algas, pedras e águas são elementos naturais que também vão invadindo as memórias do eu
lírico.
Há no fim uma leve crítica ao cientificismo: entusiasmo fanático com a ciência. O eu lírico já não
mais se importa com nada da ordem do sensível; mora nas pedras e estuda a natureza. Porém, até
mesmo aquilo que aparentemente é mais sólido e estável (as pedras) sofrem a ação do tempo. Então,
o título do poema, que remete a uma dança geralmente burguesa e típica dos salões e da cultura do
século XIX, parece retornar às suas origens e dança corresponde agora ao movimento do universo,
numa dinâmica natural.

TEXTO II

Romance VIII ou do Chico Rei


Muito longe, em Luanda,
era bom viver.
Bate a enxada comigo, povo,
desce pelas grotas!
– Lá na banda em que corre o Congo
eu também fui Rei.

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Toda a terra é mina:


O ouro se abre em flor...
Já está livre o meu filho, povo,
– vinde libertar-nos,
que éreis, meu Príncipe, cativo,
e ora forro sois!

Mais ouro, mais ouro,


ainda vêm buscar.
Dobra a cabeça, e espera, povo,
que este cativeiro
já nos escorrega dos ombros,
já não pesa mais!

Olha a festa armada:


é vermelha e azul.
Canta e dança agora, meu povo,
livres somos todos!
Louvada a Virgem do Rosário,
vestida de luz.
Tigre está rugindo
nas praias do mar... Tiradentes
Hoje, os brancos também, meu povo,
são tristes cativos!
Virgem do Rosário, deixai-nos
descansar em paz.
MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global, 2015 (p. 41)

Comentários
“Raramente a poesia de Cecília Meireles foge à orientação intimista. Um desses momentos é
representado por Romanceiro da Inconfidência (1953), que, pelo viés da História, abre importante
espaço para a reflexão sobre questões de natureza política e social, tais como a liberdade, a justiça, a
miséria, a ganância, a traição, o idealismo.
Fruto de um longo trabalho que envolveu dez anos de pesquisa, Romanceiro da Inconfidência é
uma 'narrativa rimada', segundo a autora, que reconstrói, fundindo história e lenda, os
acontecimentos de Vila Rica à época da Inconfidência Mineira (1789)” (CEREJA; MAGALHÃES, 2008, p. 315).
Nesse poema, aborda-se a escravidão. O eu lírico reconstitui a época anterior à vinda involuntária
para terras desconhecidas, alegando que lá de onde viera tinha-se poder. Relata-se o bruto abismo
entre quem trabalha para extrair o ouro e que acaba por de fato obtê-lo e dele usufruir suas
consequências. O ouro só libertaria na medida que é tomado como posse.
Porém, há esperança: o eu lírico convoca o povo por meio de vocativo. Consideram-se já livres no
presente, tendo consciência de que se os brancos detém momentaneamente o ouro, a ambição, a
usura etc. também fazem com que mesmo os mais poderosos também se escravizem ante os bens
materiais. Porque, mesmo no Romantismo, José de Alencar foi capaz de cunhar a célebre frase de
Senhora: “o ouro é o metal que tudo corrompe”.
No fundo, a obra lança o questionamento de como é possível em pleno Século das Luzes (século
XVIII) continuar ocorrendo tantas injustiças. A Revolução Francesa de 1789 influenciou diretamente a
Conjuração Mineira no mesmo ano, inclusive com seus valores: fraternidade, igualdade e fraternidade.
Por outro lado, também foi época de muita perseguição e brutal violência, como é o caso do
esquartejamento de Tiradentes que, após seu assassinato, foi considerado mártir e representado à
semelhança de Jesus Cristo. O fato é que, naquela época, os que se rebelavam contra a Coroa

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Portuguesa eram considerados traidores. Porém, o que os inconfidentes estavam reivindicando a


princípio eram condições mais justas, já que os impostos cobrados pela monarquia portuguesa
estavam se revelando muito abusivos.
Hoje sabe-se que os inconfidentes, com sua coragem, propiciaram caminhos que em 1822
repercutiram na independência política do Brasil.

Murilo Mendes (1901-1975) aproximou-se da corrente do


Surrealismo e do Concretismo, sendo que grande parte das obras
apresentam a religiosidade. Suas principais obras são:
 Bumba-meu-poeta (1931);
 História do Brasil (1932);
 O sinal de Deus (1936);
 O visionário (1941);
 Mundo enigma (1945).

O FARRISTA
“Quando o almirante Cabral
Pôs as patas no Brasil
O anjo da guarda dos índios
Estava passeando em Paris.
Quando ele voltou de viagem
O holandês já está aqui.
O anjo respira alegre:
‘Não faz mal, isto é boa gente,
Vou arejar outra vez.’ Assim como em Romanceiro da Inconfidência de
O anjo transpôs a barra, Cecília Meireles e em outras obras modernistas,
Diz adeus a Pernambuco, o revisionismo histórico é uma importante
Faz barulho, vuco-vuco, chave de interpretação. Assim, mais de uma
Tal e qual o zepelim obra modernista pode ser cobrada na sua prova
Mas deu um vento no anjo,
no âmbito da Literatura Comparada.
Ele perdeu a memória...
E não voltou nunca mais.”
MENDES, Murilo. História do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992.

Comentários
Nesse fragmento, a fim de atrair a atenção do leitor para o processo colonizador, o eu lírico utiliza-
se de ironia para tratar da chegada dos europeus ao Brasil e do abandono do anjo da guarda dos
indígenas. O europeu é animalizado (“Pôs as patas no Brasil”) e o anjo da guarda, quando viu o
tamanho da bagunça, logo tratou de ir embora, abandonando seu posto de protetor.

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Vinicius de Moraes

Vinicius de Moraes (1913-1980): produção literária que


se mistura com a musical, devido a seu sucesso como
compositor. Tem poesia ligada tanto à religiosidade quanto ao
erotismo.
Teve várias parcerias, como por exemplo com Tom
Jobim; álbuns infantis e até mesmo poesias com cunho mais
social. Por isso, também é possível falar em separação temática
ou por fases em sua obra também.

TEXTO I

A ROSA DE HIROSHIMA
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas Comentários
Pensem nas meninas O poema alude ao episódio conhecido da Segunda
Cegas inexatas Guerra Mundial (1939- 1945). Logo, há interdisciplinaridade
Pensem nas mulheres com a História.
Rotas alteradas Quanto à análise do poema, a imagem da rosa é
Pensem nas feridas tradicionalmente associada à beleza em contextos nos quais
Como rosas cálidas
se pretende acentuar impressões positivas. Todavia, ao
Mas oh não se esqueçam
associá-la à Hiroshima, cidade que protagonizou um dos
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima episódios mais cruéis e destruidores da Segunda Guerra
A rosa hereditária Mundial, o eu lírico subverte esse sentido; ao emprestar-lhe
A rosa radioativa conotações negativas, aumenta a sua força poética e causa
Estúpida e inválida impacto no leitor pela estranheza que produz.
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
MORAES, Vinicius de. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2009 (p. 253).

TEXTO II

O operário em construção

“Era ele que erguia casas


Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas

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Ele subia com as casas


Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia Comentários
De sua grande missão: No poema, o eu lírico explica a rotina de
Não sabia, por exemplo um trabalhador, por meio de recursos narrativos
Que a casa de um homem é um templo como coesão e repetição enfática. O conectivo de
Um templo sem religião adição na negativa “tampouco” ajuda a gerar uma
Como tampouco sabia lógica argumentativa. Além disso, repetição das
Que a casa que ele fazia palavras “como”, “que” e “era” ao início dos
Sendo a sua liberdade versos conferem ênfase ao sentido.
Era a sua escravidão. (...)”
MORAES, Vinicius de. “Operário em construção”. Disponível em: https://tinyurl.com/e8wv6daf.
Acesso em: 15 maio 2021.

“Eu sei que vou te amar”


Eu sei que vou te amar
Música Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar

“Ternura”
Bebendo em tua boca o perfume dos
sorrisos
Erótico/ Das noites que vivi acalentando
Vinicius Sentimental Pela graça indizível dos teus passos
de Moraes
eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam
melacolicamente.
“Os malditos”
Foi muito antes dos pássaros — apenas
rolavam na esfera os cantos de Deus
E apenas a sua sombra imensa cruzava o ar
Religioso como um farol alucinado...
Existíamos já... No caos de Deus girávamos
como o pó prisioneiro da vertigem
Mas de onde viéramos nós e por que
privilégio recebido?

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Jorge de Lima
Jorge de Lima (1893-1953) foi escritor, político, médico e
tradutor brasileiro. Nasceu em Alagoas e se elegeu deputado estadual.
Depois se muda para o Rio de Janeiro e, a partir de 1935, com Murilo
Mendes se aproxima do catolicismo, enveredando para uma poesia
mais espiritual. Elegeu-se cinco vezes para a Academia Brasileira de
Letras e não foi eleito nenhuma, tornando-se amargurado com isso.
Suas principais obras são:
 XIV Alexandrinos (1914);
 Poemas Negros (1947);
 Invenção de Orfeu (1952) – obra-prima.

“Mulher proletária”
Mulher proletária — única fábrica
que o operário tem, (fabrica filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.
Comentários
Mulher proletária, “Mulher proletária” é de 1932, mesmo ano
o operário, teu proprietário do reconhecimento legal do trabalho feminino,
há de ver, há de ver: que viria a ser regulamentado na Constituição
a tua produção, de 1934. Além disso, o poema valoriza a
a tua superprodução, mulher trabalhadora, a qual é desobjetificada.
ao contrário das máquinas burguesas
salvar o teu proprietário.
(LIMA, Jorge de. “Mulher proletária” [1932]. In: Poesia completa. Organização de Alexei Bueno; textos
críticos de Marco Lucchesi [et. al]. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. p. 286-287)

Carlos Drummond de Andrade


Carlos Drummond de Andrade (1902-1987): um dos
autores mais populares e importantes da segunda geração
modernista. Sua poesia é marcada pela crítica social e pela
colocação do indivíduo no centro das discussões. Se interroga
constantemente acerca das dificuldades da sociedade
burguesa.
Drummond é um dos autores mais pedidos nas provas!
Se puder, se dedique a ler poemas do autor para se habituar
com sua linguagem. Tem sempre chance de cair! Sua obra
pode ser dividida da seguinte maneira:

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1) Fase gauche: do francês, gauche significa desajustado. Fase de consciência e isolamento –


década de 1930. Também chamada de “Eu maior que o mundo”. Características principais: pessimismo,
individualismo, isolamento, reflexão existencial e metalinguagem. Exemplo de obra: Alguma poesia
(1930).
2) Fase social: de 1940 a 1945, essa etapa representa o sentimento até a Segunda Guerra Mundial
e leva-o a simpatizar com o Partido Comunista. Também chamada de “Eu menor que o mundo”. Exemplo
de obra: Sentimento de mundo (1940).
3) Fase do signo do não: agora vigorava Guerra Fria, predominando a chamada poesia nominal,
com neologismos, aliterações, sugestões visuais e rupturas sintáticas. Também chamada de “Eu igual ao
mundo”. Exemplo de obra: Claro enigma (1951).

TEXTO I

Não faças versos sobre acontecimentos.


Não há criação nem morte perante a poesia. Metalinguagem: toda a poesia desse
Diante dela, a vida é um sol estático, período costuma ser reflexiva.
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou dor no escuro


são indiferentes.
Não me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem de equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
[Comentário: negação do subjetivismo na poesia].

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.


O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
[Comentário: série de negativas. Relembrar Capítulo CLX – Memórias póstumas de Brás Cubas: “Das
negativas”. Porém, também lembra os 10 mandamentos da Bíblia, todos na negativa].

O canto não é a natureza


nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.
[Comentário: a função da poesia é tornar sujeito e objeto idênticos, abolir margens].

Não dramatizes, não invoques,


não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas* e abusões, vossos esqueletos de família

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desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.


*mazurca: dança polonesa em compasso ternário.
[Comentário: atenção especial ao vocabulário].

Não recomponhas
tua sepultada e merencória* infância.
Não osciles entre o espelho e a Segundo a opinião do eu lírico, fatos
memória em dissipação. objetivos (acontecimentos) não são
Que se dissipou, não era poesia. matéria para poesia; a poesia se
Que se partiu, cristal não era. encontra no interior do reino das
*merencório: melancólico. palavras. A matéria bruta da poesia
[Comentário: atenção especial ao vocabulário]. é o sentido denotativo (do
dicionário); porém, poesia é outra
Penetra surdamente no reino das palavras.
coisa, é o uso que o poeta faz disso.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero, Por isso, a poesia, mesmo lírica e
há calma e frescura na superfície intata. subjetiva, parte antes daquilo que é
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. objetivo, o que significa dizer que
ele valoriza o lado social da poesia.

(...)
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
[Comentário: o poema é uma série de instruções, negativas e por fim afirmativas. Ele realiza esse
movimento: negação → afirmação/aceitação. Verbos no infinitivo são essenciais para a sua
compreensão. Verbos no imperativo dão instruções].

Chega mais perto e contempla as palavras.


Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?
[Comentário: Drummond fala que a poesia é como se fosse um icerberg com várias camadas – uma,
a superficial, é a neutra – mas há várias outras, inclusive algumas que podem ser incompreensíveis.
Uma pergunta na segunda pessoa do singular invoca um interlocutor].

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.
[Comentário: uso da metáfora do poema como rio].
ANDRADE, Carlos Drummond de. “Procura da poesia”. In: A rosa do povo.
São Paulo: Companhia das Letras, 2012 (p. 11-12).

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TEXTO II

Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

(...)
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os


homens presentes,
a vida presente.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. São Paulo: Cia. das Letras, 2012.

Comentários
O poema é um sinal de esperança mesmo em tempos difíceis. Mãos dadas é um símbolo de
comunidade e união. Percebam também que a primeira estrofe é marcada por negativas. O eu lírico
quer afirmar uma tomada de posição: o abandono do idealismo. Por isso essa geração também é
chamada de neorrealista, pois seus temas resgatam a realidade bruta e imediata. Porém, o eu lírico
brinca com a polissemia da palavra “presente” que, como matéria de poesia, serve tanto como tempo
verbal quando dádiva. Por fim, também tem o sentido de presença e participação, de homens que se
recusam a se resignar, mesmo ante a atmosfera de medo, guerras e incertezas. A oposição entre
diferentes estados de espírito se encontra no uso da conjunção adversativa “mas”.

(Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2020)

FUGA
De repente você resolve: fugir.
Não sabe para onde nem como nem por quê
(no fundo você sabe a razão de fugir; nasce com a gente).

É preciso fugir.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 37


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Sem dinheiro sem roupa sem destino.


Esta noite mesmo.
Quando os outros estiverem dormindo.
Ir a pé, de pés nus.
Calçar botina era acordar os gritos
que dormem na textura do soalho.

Levar pão e rosca para o dia.


Comida sobra em árvores infinitas,
do outro lado do projeto:
um verdor eterno, frutescente (deve ser).
(...)

Fugir agora ou nunca.


Vão chorar, vão esquecer você?
ou vão lembrar-se?
(lembrar é que é preciso,
compensa toda fuga)
ou vão amaldiçoá-lo, pais da bíblia?

Você não vai saber.


Você não volta nunca.
(essa palavra nunca, deliciosa)
Se irão sofrer, tanto melhor.
Você não volta nunca nunca nunca.
(...)
ANDRADE, Carlos Drummond. Alguma poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013 (p. 50-51).

A partir do poema modernista acima, julgue os itens a seguir.

I – A pontuação contribui para a narratividade do texto, de tal forma que cria uma coesão própria.
II – Infere-se que o poema fala de um menino que fugiu em busca de uma nova vida.
III – Uma das principais características do poema é a ironia, o que se verifica em: ”É preciso fugir.”

Estão corretas as afirmações:


a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) I e III.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/julgar itens.
Afirmação I: correta. O eu lírico brinca com um jogo de pontuações, entre as quais as
predominantes são: os parênteses, os dois pontos e o ponto de interrogação. Por exemplo, no

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Profa. Luana Signorelli

primeiro verso, ao colocar dois pontos entre dois verbos – “resolve” e “fugir” – é criada uma
ruptura na locução verbal que é recuperada depois entre parênteses: “(deve ser)”.
Afirmação II: correta. A juventude pode ser inferida a partir do verso: “um verdor eterno,
frutescente (deve ser).” Que o menino buscava uma nova vida pode ser inferido a partir do
termo: “projeto”.
Afirmação III: incorreta. Uma das principais características do estilo drummondiano, no
geral, é a ironia, mas não nesse poema. O verso: “É preciso fugir” é bem direto e objetivo.
Gabarito: D.

ALGUMA POESIA (1930) = fase gauche

Poema de sete faces;


Coração numeroso;
Identidade
Iniciação amorosa;
Também já fui brasileiro

Infância; Lanterna mágica


Memorialismo (épico em 8 partes); O que
fizeram do Natal; Família

Alguma poesia Toada do amor; Cantiga


(1930) Música de viúvo; Quadrilha;
49 poemas Música; Romaria

Poema de sete faces;


Sentimental; Poema que
Metalinguagem me aconteceu; Poesia;
Epigrama para Emílio
Moura

Lanterna mágica; Política;


Poema do jornal; Cota
Cidade/crítica social
zero; Cabaré mineiro;
sociedade; Outubro 1930

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Profa. Luana Signorelli

ROSA DO POVO (1945) = fase intermediária; fim da Segunda Guerra

Morte no avião, América,


Carta a Stalingrado,
Segunda guerra
Telegrama de Moscou, Mas
viveremos, Visão 1944

Passagem da noite, O
Cidade/crítica social
elefante, Morte do leiteiro

A rosa do povo
Procura da poesia, Nova
(1945) Metalinguagem
canção do exílio
55 poemas

No país dos Andrades,


Família
Retrato de família

Mário de Andrade desce


Modernismo e aos infernos, Canto ao
modernidade homem do povo Charlie
Chaplin

CLARO ENIGMA (1951) = fase madura

Metalinguagem,
Entre lobo e cão
soneto

Notícias Filosofia,
amorosas pessimismo

O menino e os
Intertextualidade
homens
Claro enigma
(1951)
Memorialismo,
Selo de Minas
Inconfidência

Os lábios Memorialismo,
cerrados família, “A mesa”

A máquina do
Dante, epifania
mundo

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

ANTOLOGIA POÉTICA (1962) = obra biográfica, reunião do próprio autor

Alguma poesia Poema de sete faces,


(1930) Quadrilha, Cota zero

Confidência do
“Sentimento de mundo” Itabirano, O operário no
(1940) mar; Morro da
Babilônia

“José” (1942) José, O lutador


Efeméride:
retrospectiva biográfica
60 anos
A procura da poesia, A
“A rosa do povo” (1945)
flor e a náusea

Legado, Oficina irritada,


“Claro enigma” (1951)
Máquina do mundo

Amar-amaro; A Carlito;
“Lição de coisas” (1962)
Science fiction

O livro é composto de eixos temáticos que partem da realidade circundante.


É importante identificar que todos são aspectos recorrentes na obra do autor.

O
O indivíduo A terra natal A família conhecimento
amoroso

A própria Uma tentativa O choque


Amigos
poesia de existência social

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 41


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
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UFA! Que aula pesada, não é mesmo, prezados alunos? Mas agora vamos relaxar. Eis
alguns sugestões de filmes acerca das temáticas estudadas. Fiz apenas uma seleção.

Getúlio (2014)
O suicídio de Getúlio Vargas, ocorrido em 24 de agosto de
1954, é daqueles momentos que marcam a história de um país.
Ainda mais se este for o Brasil, cuja fragilidade institucional fez com
que duas ditaduras assumissem o governo em menos de quatro
décadas. Porém, por um tempo, deixamos a história política à
parte – por enquanto – para nos ater à figura de Getúlio. Ditador
confesso, ele próprio admite ter rasgado duas Constituições
enquanto esteve no comando, com o objetivo de manter-se no
poder. Ao mesmo tempo, retornou à presidência do país graças ao
voto, em pleno ato democrático. Tamanha contradição se reflete
no próprio personagem título de Getúlio, o filme.

Terra em transe (1967)


O senador Porfírio Diaz (Paulo Autran) detesta seu povo e
pretende tornar-se imperador de Eldorado, um país localizado na
América do Sul. Porém existem diversos homens que querem este
poder, que resolvem enfrentá-lo. Enquanto isso, o poeta e
jornalista Paulo Martins (Jardel Filho), ao perceber as reais
intenções de Diaz, muda de lado, abandonando seu antigo
protetor. Do aclamado diretor Glauber Rocha, o filme integra o
Cinema Novo, típico no Brasil nas décadas de 1960 e 1970, o qual
serviu como reação à instabilidade de classes no Brasil e a lutas
ideológicas. Foi associado ao neorrealismo.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 42


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Gabriela (1975)
Série televisiva inspirada no romance Gabriela, cravo e
canela de Jorge Amado. Vítima da seca no Nordeste, Gabriela,
é forçada a migrar em busca por sobrevivência. Ela consegue
trabalho como cozinheira na casa de Nacib, que é conquistado
pela moça. Por ser uma moça ingênua e simples, ela tem
dificuldades para assimilar as regras de comportamento da
sociedade, e logo, por ser uma jovem muito bela e sensual, vira
objeto de desejo dos homens da cidade. Nacib, um homem
tranquilo e educado, é dono do Bar Vesúvio, que reúne as
figuras mais importantes do local. A vida de Nacib muda com a
chegada de Gabriela, mas sua natureza ingênua o deixa furioso.

Vidas secas (1963)


Baseado no romance de 30 homônimo de Graciliano
Ramos. Uma família miserável tenta escapar da seca no sertão
nordestino. Fabiano Sinhá Vitória seus dois filhos e a cachorra
Baleia vagam sem destino e já quase sem esperanças pelos confins
do interior, sobrevivendo às forças da natureza e à crueldade dos
homens. Adaptação da obra de Graciliano Ramos.

2.0 Modernismo de 1945: terceira geração modernista brasileira


A terceira geração modernista se inicia junto com o fim da Segunda Guerra Mundial. Ao mesmo
tempo, também vê o início da Guerra Fria, não conseguindo, portanto, se desvencilhar por completo do
sentimento de conflito. A discussão política entre o capitalismo e o comunismo atinge seu ponto mais
alto: o mundo está dividido entre dois sistemas políticos de governo. E eles disputarão silenciosamente
para decidir quem será o forte. No Brasil, o período é marcado pelo fim da Era Vargas. Getúlio voltaria ao
poder em 1951, mas dessa vez, eleito pelo povo. Após um governo autoritário, marcado por perseguições
políticas e censura, Getúlio seria eleito democraticamente.
Os escritores do período seguem criticando a sociedade brasileira da época, e mantendo-se
próximos das questões regionais. Os escritores do período, influenciados pela forte experiência da
Segunda Guerra, também se voltam para a sua subjetividade. Convenciona-se que a terceira fase do

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 43


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
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modernismo dura até os anos 1960. Após esse período, entra em vigor a chamada literatura
contemporânea.

A LITERATURA NOS ANOS 1940-50


Durante o período de 1930-1945, tanto a literatura quanto as artes plásticas no Brasil foram
essencialmente ideológicas, voltadas para a discussão dos problemas brasileiros.
Em 1945, terminou a Segunda Guerra Mundial e, no Brasil, a ditatura de Vargas. O mundo passou
a viver a Guerra Fria, e o Brasil, um período democrático e desenvolvimentista, que chegaria à
euforia no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961).
Menos exigidos social e politicamente, os artistas empreendiam uma pesquisa estética em
busca de novas formas de expressão. Nas artes plásticas, por exemplo, a pintura figurativista,
cujo centro é uma figura representativa da realidade, passou a dividir espaço com a pintura
abstrata, antifigurativista, que não apresenta relação direta com a realidade.
Na literatura, ao lado de obras que mantinham certa preocupação social e davam
continuidade até ao regionalismo, começaram a se destacar produções literárias em que a
grande novidade era a pesquisa em torno da própria linguagem literária.
 A poesia: a poesia dessa geração trouxe ao cenário das discussões literárias a seguinte
proposição: a poesia é a arte e da palavra. (...)
Panorama, a revista carioca em que foram divulgados os textos dessa geração, entre 1948 e
1953, anunciava: “Somos na realidade um novo estado poético, e muitos são os que buscam um
novo caminho fora dos limites do modernismo”. Foram publicadas nessa revista produções de
dezenas de novos poetas, entre eles (...) José Paulo Paes, Paulo Bonfim e João Cabral de Melo
Neto, o poeta de maior destaque dessa geração.
 A prosa: várias obras em prosa vieram a público nesse período, principalmente nos
gêneros conto e romance. Parte dessa prosa retoma e aprofunda a sondagem psicológica que já
vinha sendo desenvolvida, especialmente por autores como Mário de Andrade e Graciliano
Ramos. É o que se verifica, por exemplo, nos contos e romances de Clarice Lispector e Lygia
Fagundes Telles.
O regionalismo, fartamente explorado pela geração de 30, também foi retomado (...). O
espaço urbano também foi objeto de enfoque, representado nas crônicas de Rubem Braga e nos
contos e romances de Dalton Trevisan (...).
Fonte: CEREJA; MAGALHÃES, 2008, p. 359-360.

Nessa “altura do campeonato”, é importante estabelecer umas distinções de nomenclaturas. As


gerações modernistas também podem vir associadas a seus respectivos anos. Por exemplo, a terceira
geração modernista é sinônima de Modernismo de 1945. Outra observação importante: por causa do
tempo de vida e produção, alguns escritores transitaram de uma geração para outra. A dica é sempre
analisar o texto em questão para saber interpretar as suas características, a fim de enquadrá-lo em
determinada geração. Por fim, outra dica: via de regra, o que se produziu depois de 1960 é
considerado Literatura Contemporânea. Porém, pode ser que isso já não seja considerado assim tão
“contemporâneo” para os Millenials, isto é, termo sociológico para designar a também conhecida
como Geração Y, nascida depois de 1980. Então, caso prefiram pois também é aceito, chama-se de
Pós-Modernismo o que se produziu depois de 1960 e de Literatura Contemporânea o que está sendo
produzido exatamente hoje.

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TERCEIRA GERAÇÃO MODERNISTA: CARACTERÍSTICAS GERAIS

POESIA
• A poesia foi um gênero menos explorado nesse momento.
• Há preocupação principalmente com a forma poética, a estética.
• A métrica e a versificação são valorizadas.

PROSA
• Há três tipos de prosa diferentes predominantes no período.
• Prosa urbana: se passa nos espaços da cidade. Lygia Fagundes Telles é a principal
escritora.
• Prosa intimista: explora temas da ordem do psicológico, do subjetivo. Pensa temas
humanos e suas relações. Clarice Lispector é a grande expoente desse tipo de prosa.
• Prosa regionalista: pensa a vida no campo e no interior. Mantém ainda traços do
português regional e as variantes do português. Guimarães Rosa é o principal
escritor desse tipo de prosa.

EXPERIMENTAÇÕES
• Diferente das gerações anteriores, a experimentação aqui não está no uso da
linguagem, mas nos conteúdos abordados e no modo como são escritos.
• Há o aparecimento de textos de ficcção experimental e de realismo fantástico, ou
seja, textos com escrita que remete à realidade, mas tratando de assuntos da ordem
do fantástico, do impossível.

LINGUAGEM FORMAL
• Os escritores desse período são mais próximos do academicismo.
• Utilização de uma linguagem mais objetiva e formal, com atenção à norma culta e
aos usos da gramática.
• A metalinguagem é uma figura de linguagem comum.

RETORNO À RIGIDEZ FORMAL


• Os poetas da terceira geração modernista se inspiram em escolas literárias
anteriores, como o simbolismo e o parnasianismo e voltam a trabalhar com rigor
na forma.
• Na poesia, a métrica e a rima voltam a ser mais comuns.

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2.1 Autores e obras da geração de 1945


lite
TEATRO

Ariano Suassuna
Ariano Suassuna (1927-2014): autor que parte da fala
regional e do folclore para escrever romances, ensaios e
dramaturgias. Grande parte de sua obra se relaciona com o
nordeste brasileiro. Autor de Auto da Compadecida, o que além de
ser obra-prima teatral também se tornou uma obra-prima
cinematográfica. Curiosidade: tive o prazer de conhecê-lo
pessoalmente em uma palestra no Teatro Nacional Cláudio
Santoro em Brasília, antes de ele falecer. Ocupou a cadeira de
número 32 na Academia Brasileira de Letras e quando tomou
posse não quis usar o traje oficial, mas sim fez questão de usar uma
roupa produzida pelas simples costureiras de sua região.

TRECHO DE “O SANTO E A PORCA”


Entra MARGARIDA atraída pelo rumor. Vem acompanhada de DODÓ VICENTE, disfarçado com uma
horrível barbicha, com a boca torta, com corcova, coxeando e vestido de preto.
MARGARIDA — Papai! Que foi, meu pai? Ouvi o senhor gritar! Está sentindo alguma coisa?
EURICÃO — Ai minha filha, me acuda! Ai, ai! Os ladrões, minha filha, os ladrões!
MARGARIDA — Socorro! Socorro! Pega o ladrão!
EURICÃO — Ai a crise, ai a carestia!
MARGARIDA — Mas afinal de contas, o que foi que houve? Meu pai, eu vou contar...
DODÓ — Não!
PINHÃO — Não, não, Dona Margarida, quem fala sou eu! O que houve é que meu patrão escreveu
uma carta ao senhor seu pai.
MARGARIDA — Uma carta? Dizendo o quê?
EURICÃO — Você ainda pergunta? Só pode ser para pedir dinheiro emprestado! Aquele usurário!
Aquele ladrão!
CAROBA — Mas Seu Euricão, Seu Eudoro é um homem rico!
EURICÃO — E é por isso mesmo que eu estou com medo. Você já viu pobre pedir dinheiro
emprestado? Só os ricos é que vivem com essa safadeza! Santo Antônio, Santo Antônio!
Ariano Suassuna – O santo e a porca. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017.

Comentários
Pode-se inferir do recorte que o comportamento da personagem Euricão é hiperbólico, já que a sua
avareza prevê um roubo antes de acontecer. Enricão receia que será cobrado por meio de uma carta.
Grita acudindo socorro contra um roubo que na realidade não aconteceu; sequer na carta, que ainda
nem leu. Tudo ocorre em sua imaginação.

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Nelson Rodrigues
De acordo com a biografia de Nelson Rodrigues
escrita por Ruy Castro, O anjo pornográfico, Nelson
Rodrigues nasce em 1912, em Recife, mas veio com a família
muito cedo do Recife, para ir morar num bairro da zona
norte do Rio de Janeiro, o que ele irá denominar nas suas
crônicas em mais de um momento como Aldeia Campestre.
Lá, lembra-se de passar fome.
Começa a vida jornalística muito cedo, aos 13 anos,
no ramo do jornalismo policial. O jornalismo é quase como
que uma herança, pois a sua família também foi conhecida
nesse ramo. Por isso mesmo, teve contato com muitos
crimes passionais, o que irá inspirar vários de seus temas.
Esses crimes também tomavam cena na sua própria
vida. O pai Mário Rodrigues sofreu um atentado no próprio
trabalho. Uma grã-fina trai o marido e sai no jornal. Ela
compra uma arma e vai tirar satisfação. No entanto, o pai não estava lá na hora, mas apenas seu filho –
Mário Filho – que recebe a bala em seu lugar e é morto. A tragédia é muito sentida pela família, o pai
sente-se responsabilizado. Deprimido com a perda, falece pouco tempo depois. O livro A cabra vadia é
dedicado “à memória de Mário Filho”. Este nome também batizou o estádio do Maracanã, no Rio de
Janeiro, pelo fato de ele ter se destacado na área do jornalismo esportivo. Logo, destacou-se no teatro,
mas também nas crônicas.
Politicamente, Nelson Rodrigues autodeclarava-se reacionário e apoiava o Regime Militar, motivo
pelo qual seus livros continuaram sendo publicados, mesmo após a censura. Esse apoio, porém, irá durar
até 1969, quando seu filho Nelsinho é preso e torturado.

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Vestido de noiva (1943)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA Peça em 3 atos, estruturada em 3 planos: realidade, alucinação e memória.
Alaíde, Lúcia, Pedro, Madame Clessi (cocote de 1905), Mulher de véu,
primeiro repórter (Pimentel), segundo, terceiro e quarto repórteres, homem
PERSONAGENS
inatual, mulher inatual, namorado e assassino de Clessi, Gastão, D. Lígia, do
primeiro ao quarto médicos.
TEMPO Trânsito entre os anos de 1905 e 1940.
ESPAÇO Rio de Janeiro, mas vários ambientes: hospital, bordel.
A peça começa com uma cena de atropelamento. I ato: no plano da
realidade, repórteres anunciam o acontecimento. No plano da alucinação,
uma série de personagens desconhecidas informam Alaíde que madame
Clessi foi assassinada. Madame Clessi ajuda a resgatar o plano da memória:
CONFLITO
Alaíde descobre que ela era antiga habitante na mesma casa que ela morou
quando era criança. Alaíde relembra o dia que casou e que a sogra elogiara
seu vestido de noiva. II ato: no plano da memória, Alaíde lembra que brigou
com uma mulher de véu nesse dia e descobre que ela era a ex de seu noivo.
CLÍMAX III ato: a mulher no véu é Lúcia, irmã de Alaíde.
DESFECHO Alaíde morre e Lúcia acaba por se casar com o seu marido, o industrial Pedro.

Vestido de noiva (2001)


Baseada em peça homônima de Nelson Rodrigues. Após ser
atropelada, Alaíde é levada para o hospital com muitas dores, alucinação
e perda de memória. Ela se lembra de sua vida desde o momento em que
leu o diário da cafetina Madame Clessi (Marília Pera). Vai descobrindo
também a trama entre o marido e a irmã. Nesse misto de emoções, não
sabe se os fatos realmente aconteceram ou são mero fruto de sua
imaginação. Nessa montagem, há um grande elenco de atrizes.

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TRECHO DE “VESTIDO DE NOIVA”


CLESSI (choramingando) – O olhar daquele homem despe a gente!
MÃE (com absoluta falta de compostura) – Você exagera, Scarlett!
CLESSI – Rett é indigno de entrar numa casa de família!
MÃE (cruzando as pernas; incrível falta de modos) - Em compensação, Ashley é espiritual demais.
Demais! Assim também não gosto.
CLESSI (chorando despeitada) – Ashley pediu a mão de Melânie! Vai-se casar com Melânie!
MÃE (saliente) – Se eu fosse você, preferia RETT (Noutro tom). Cem vezes melhor que o outro!
CLESSI (chorosa) – Eu não acho!
MÃE (sensual e descritiva) – Mas é, minha filha! Você viu como ele é forte? Assim! Forte mesmo!"
RODRIGUES, Nelson. Vestido de noiva. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.

Comentários
No trecho acima, no trecho acima, as personagens de Vestido de noiva subitamente se põem a
recitar os diálogos do filme E o vento levou, filme sucesso de bilheteria e lançado em 1940. No contexto
dessa obra de Nelson Rodrigues, esse recurso de composição configura-se como uma sátira do
melodrama, além de conceber esta peça já no ápice da Indústria Cultural, ou seja, termo cunhado por
Adorno e Horkheimer em seus estudos sobre cultura de massa: “filme e rádio se autodefinem como
indústrias”.

Nelson Rodrigues – A falecida. Peça teatral modernista publicada em 1953, conta a


história de uma frustrada mulher chamada Zulmira. Sua única ambição é ter um
enterro luxuoso, com o objetivo de deixar enciumada sua prima Glorinha e os vizinhos.

Gianfrancesco Guarnieri
Dramaturgo, ator e poeta italiano, mas naturalizado brasileiro
(1934-2006). Sua mais importante obra é Eles Não Usam Black-Tie
(1958), uma obra de cunho sociopolítico. Na cena principal,
encontram-se personagens que são camponeses e gente simples,
usando linguagem coloquial. Foi transformado em filme em 1981.

TRECHO DE “ELES NÃO USAM BLACK-TIE”


MARIA – Sei muito mais. Tu era um grande mentiroso. Dizia pra menininha que era estudante,
contava uma porção de vantagem, até que um dia ela ia te pegando servindo de babá. Aí, quando
tu viu ela, quis escondê o carrinho da criança atrás do murinho da praia. O garoto caiu, machucou a
cabeça e tu levou uma bruta surra de teus padrinhos, e a menina não quis mais nada com você!
TIÃO – É uma bela história, mas é também uma grande mentira que eu nunca escondi de ninguém
que era cria dos meus padrinho, muito menos pra aquela enjoada lá. (Intrigado) Quem te contô tudo
isso?

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MARIA – Não digo.


TIÃO – Tá bem. Não pensa que eu vou rogá...
MARIA – E sem falá nas moças da fábrica de lã que tu namorou todas...
GUARNIERI, Gianfrancesco. Eles não usam black-tie.
Disponível em: https://tinyurl.com/yamp7sy3. Acesso em: 29 de maio de 2020.

Comentários
No trecho, Maria denuncia um comportamento de Tião que era o de ludibriar garotas. A omissão da
flexão de infinitivo consiste em apelo para a variante linguística típica nas falas das personagens. O
termo em parênteses indica rubrica, procedimento utilizado pelo dramaturgo para especificar ações,
gestos etc. a serem cumpridos pelas personagens.

Augusto Boal
Foi diretor, dramaturgo e ensaísta. Foi o fundador do Teatro do Oprimido e
também participou do Teatro de Arena (1956 e 1970). Publicou 22 livros, entre
os quais se destaca Jogos para atores e não atores, um sistema de monólogos
corporais. Também foi vereador do Rio de Janeiro (1993-1997).

PROSA

Intimismo/psicologismo

Clarice Lispector
Clarice Lispector (1920-1977): escritora que produz
uma prosa mais intimista. Era uma escritora ucraniana
naturalizada brasileira. Formou-se em jornalismo na
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Seus textos produzem
análises psicológicas das personagens, flertando com o
universo do sonho e a ideia de inconsciente (e fluxo de
consciência). No ano de 2020, a autora completou centenário.
Escreveu predominantemente contos, novelas e romances.
Suas principais obras são as seguintes:
 Perto do coração selvagem (1943);
 Laços de Família (1960);
 A Paixão segundo G.H. (1964);
 A Legião Estrangeira (1964) – 13 contos, com
destaque para "A legião estrangeira", "Viagem a Petrópolis",
"Tentação", "A mensagem", "A repartição dos pães" e "A quinta história".
 Felicidade Clandestina (1971) – 25 contos, com destaque para "Felicidade clandestina",
"Amizade sincera", "O ovo e a galinha" e "Os desastres de Sofia";
 Água viva (1973);
 A hora da estrela (1977);

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O MONÓLOGO INTERIOR
O primeiro a utilizá-lo foi o escritor francês Édouard Dujardin no livro Os loureiros estão cortados
(1931). Outros a utilizá-lo foram Laurence Sterne e James Joyce. A vanguarda do surrealismo o
aplicou na literatura.
Trata-se de uma técnica, propriamente literária, de apreensão e apresentação do fluxo de
consciência (o seu equivalente em inglês – stream of consciousness). É uma forma estilística na qual
se discerne um caminho de pensamento dentro da cabeça da personagem.
Corresponde a “psique” ou “mente”, a consciência recobre toda a área dos processos mentais,
inclusive as camadas pré-verbais. Daí que a descrição onisciente e o solilóquio (ato de alguém
conversar consigo próprio; monólogo) constituam, além do monólogo interior, técnicas de captação
ou representação do fluxo de consciência.
O monólogo interior se caracteriza por acontecer na cabeça da personagem na mente da
personagem (mónos, único, sozinho; lógos, palavra, discurso), como se o “eu” se dirigisse a si
próprio. Na realidade, continua a ser um diálogo, uma vez que subentende a presença de um
interlocutor, virtual ou real, incluindo a própria personagem, assim desdobrada em duas entidades
mentais (o “eu” e o “outro”), que trocam ideias ou impressões como pessoas diferentes.
Consiste na detecção dos estratos psíquicos situados antes da verbalização deliberada e
identifica-se pela desarticulação lógica das frases. O ato de escrever empresta alguma ordem ao
caos, mas tudo se passa como se o conteúdo inconsciente ou subconsciente vazasse no papel com
seu peculiar desconcerto.
Já a Livre Associação das Ideias é um método desenvolvido na psicanálise, em que palavras
descoladas são pronunciadas, incentivadas geralmente por um gatilho. Portanto é estimulada, não
natural. É a dubiedade do indivíduo, um mergulho nele mesmo.
Fonte: MOISÉS, 2013, p. 317-319 (adaptado).

A hora da estrela (1977)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
A obra tem em torno de 80 páginas, transitando entre os gêneros da novela
e do romance. Para além desse título, a autora aventa 12 outras
ESTRUTURA possibilidades, todas interpostas por “ou”, o que atesta o caráter
experimental da obra e seu aspecto de abertura a novas possibilidades. A
obra também ganha uma adaptação em forma de filme de 1985.
Rodrigo S. M. (narrador); Macabéa; Glória, Olímpico; Madame Carlota
PERSONAGENS
(cartomante); o estrangeiro atropelador.
Alguns indícios na obra permitem enquadrá-la em algum lugar do século XX,
TEMPO
como alusão ao cinema tecnicolor, mas o tempo não totalmente definido.
ESPAÇO Cidade do Rio de Janeiro.

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

É preciso entender que Clarice Lispector cria um narrador fictício, que só


entrega seu primeiro nome, mas se esconde depois por trás de iniciais:
Rodrigo S. M. Ele é um intelectual que trata Macabéa ora com pena e
compaixão; ora com superioridade e descaso, chamando-a de “essa coisa
aí”. Depois, o livro começa na “humilde” pretensão de narrar a história da
humanidade desde o surgimento dos seres, quando uma partícula disse sim à
outra e a junção dos corpos começou a acontecer. Então, a origem da história
se situa em um plano universal e ahistórico. Então, é possível falar também
ENREDO
que A hora da estrela começa onde Vidas secas parou: o que acontece
quando o nordestino foge do ciclo vicioso das secas para tentar a vida na
cidade grande. Macabéa representa a ingênua moça que deixa para trás
uma condição de miséria para enfrentar na cidade outros problemas
existenciais, como constrangimento, incompreensão e solidão. A obra nesse
sentido é extremamente metalinguística, pois ao passo que a Macabéa são
vedados os meios de comunicação, o narrador Rodrigo S. M. frequentemente
reflete sobre a linguagem.
Na grande cidade, Macabéa mora numa pensão com outras moças e
trabalha como datilógrafa. Tem a vida das mais simples e sente-se
insignificante, desimportante. Porém, não tem grande consciência das coisas
da vida, não conseguindo se relacionar nem se comunicar. Sua vida parece
CONFLITO
mudar quando conhece Olímpico, metalúrgico, nordestino igual a ela, com
quem até consegue conversar e sair um pouco. Porém, ele deseja mesmo é
ter relações sexuais com a secretária Glória, colega de trabalho de
Macabéa, uma maliciosa loira oxigenada.
Outra aparente mudança acontece na vida de Macabéa: ela vai visitar uma
cartomante para saber como vai ser seu futuro. Lá, houve uma profecia: ela
CLÍMAX
vai encontrar um estrangeiro que irá mudar sua vida. Macabéa se sente feliz
e sai de lá realizada, pois acha que vai se casar.
O título do livro se revela: a Macabéa são permitidos os 5 minutos de estrela,
ganhando fama temporária apenas no momento de sua morte. Ironia trágica:
distraída que estava por conta da felicidade da profecia, Macabéa
DESFECHO
atravessa a rua sem ver e é atropelada por uma Mercedes Benz. O criminoso
foge e Macabéa morre. A profecia não se cumpre ou se cumpre às avessas
e a obra no fundo lida com a imprevisibilidade da vida.

TRECHO DE “A HORA DA ESTRELA”

Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a
vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim.
Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 52


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

[...]
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta
continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas
acontecem antes de acontecer? Se antes da prépré-história já
havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe,
passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos
— sou eu que escrevo o que estou escrevendo. [...] Felicidade?
Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que
andam por aí aos montes.
Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual — há dois anos e
meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se
mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo
fim que justificaria o começo — como a morte parece dizer sobre a vida — porque preciso registrar
os fatos antecedentes.
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento).
Comentários
Trechos iniciais da obra A hora da estrela. É como
se Clarice Lispector quisesse recriar o Gênesis,
reescrevendo a História desde o início. Assim, a
obra é pretensiosa e se lança a uma dimensão
muito maior do que aparenta. Outros aspecto
importante na obra de Clarice Lispector como um
todo é a filosofia, sendo que o trecho aborda
paradoxos e a dificuldade de começar uma história
antes da história (brincadeira com o prefixo “pré-”.
É uma estrutura de mise-en-abyme, ou seja, vai se
desdobrando em si mesma. Ora revela-se o
narrador intrometido em primeira pessoa que vai
apresentando aos poucos a sua criatura, a
nordestina Macabéa, com quem joga um eterno
jogo de aproximação/distanciamento.

(Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2020)

“Estou dentro dos grandes sonhos da noite: pois o agora-já é de noite. E canto a passagem do tempo:
sou ainda a rainha dos medas e dos persas e sou também a minha lenta evolução que lança como uma
ponte levadiça num futuro cujas névoas leitosas já respiro hoje. Minha aura é mistério de vida. Eu me

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

ultrapasso abdicando de mim e então sou o mundo: sigo a voz do mundo, eu mesma de súbito com voz
única.
O mundo: um emaranhado de fios telegráficos em eriçamento. E a luminosidade no entanto obscura:
esta sou eu diante do mundo.”
LISPECTOR, Clarice. Água-viva.
Rio de Janeiro: Rocco, 1998, p. 24.

A partir do texto acima, julgue o item a seguir.


Essa prosa poética revela uma preocupação expressa na sistematização
da ordem do mundo, como lugar composto predominantemente por
espaço e tempo.
Comentários
 Questão de interpretação de texto literário.
O espaço é marcado por estruturas modernas como fios telegráficos
(modernas na época de Clarice Lispector; hoje, já somos wireless) e o
tempo é, para a narradora, acentuadamente o tempo da noite.
Na caricatura, encontramos Clarice Lispector e seu cão Ulisses, estátua inaugurada em 2016 e que
se encontra no Leme (Rio de Janeiro).
Gabarito: C.

Lygia Fagundes Telles

Lygia Fagundes Telles (1923-2022): faleceu em 03 de


abril de 2022. Foi uma escritora que transita tanto nos contos
quanto no romance. Sua obra é marcada tanto pela prosa
urbana quanto pela intimista. Escreveu predominantemente
romances e contos e era amiga de Hilda Hilst, outra escritora
modernista. Suas principais obras são:
 Ciranda de pedra (1954);
 Verão no aquário (1964);
 Antes do baile verde (1970);
 As meninas (1973) – transformado em filme em 1995;
 Seminário dos ratos (1977);
 A Estrutura da Bolha de Sabão (1991) – anteriormente
lançado como Filhos pródigos (1978).

TRECHO DE “A ESTRUTURA DA BOLHA DE SABÃO”


A CONFISSÃO DE LEONTINA

Engraçado é que agora que estou trancafiada viva me lembrando daquele tempo e essa
lembrança dói mais do que quando me dependuraram de um jeito que fiquei azul de dor. Nossa casa
ficava perto da vila e vivia caindo aos pedaços mas bem que era quentinha e alegre. Tinha eu e minha
mãe e Pedro. Sem falar na minha irmãzinha Luzia que era meio tontinha. Pedro era meu primo. Era

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mais velho do que eu, mas nunca se aproveitou disso pra judiar de mim. Nunca. Até que não era
mau, mas a verdade é que a gente não podia contar com ele pra nada. Quase não falava. Voltava da
escola e se metia no mato com os livros e só vinha pra comer e dormir. Parecia estar pensando
sempre numa coisa só. Perguntei um dia em que ele tanto pensava e ele respondeu que quando
crescesse não ia continuar assim um esfarrapado.
Que ia ser médico e importante que nem o doutor Pinho. Caí na risada ah ah ah. Ele me bateu,
mas me bateu mesmo e me obrigou a repetir tudo o que ele disse que ia ser. Não dê mais risada de
mim ficou repetindo não sei quantas vezes e com uma cara tão furiosa que fui me esconder no mato
com medo de apanhar mais.
TELLES, Lygia Fagundes. A confissão de Leontina. In: A estrutura da bolha de sabão.
São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

Comentários
No excerto, há a representação de duas personagens que se contrastam bastante, pois existe
diferença de gênero, o que faz com que o menino possa estudar e a menina se submeta a agressões.
A partir do trecho, sabe-se que a menina sofre agressões em mais de uma passagem: primeiramente
em “dependuraram de um jeito que fiquei azul de dor” e depois por causa do próprio primo Pedro:
“me bateu mesmo” e “fui me esconder no mato com medo de apanhar mais”.

Murilo Rubião
OBRA COMPLETA
• Todos os contos têm epígrafes retiradas do Velho ou do Novo Testamento)
e influência de Machado de Assis
• Aposentou-se como funcionário público (no conto O ex-mágico da Taberna
Minhota tem um mágico que resolve se suicidar, tendo ouvido dizer que ser
funcionário público era suicidar-se em vida)
• Era extremamente meticuloso, reescreveu e republicou diversos contos, por
isso sua obra não é extensa; por exemplo, demorou mais de 20 anos para
concluir o conto O convidado
• Os textos apresentam o pessimismo constante, com personagens
insatisfeitas, trazendo questões humanas universais.
• No total, há 33 contos, os mais conhecidos são O pirotécnico Zacarias
(lembra Brás Cubas), Zacarias morreu em um acidente, mas não consegue provar que está morto,
os colegas fogem dele, seu corpo não foi enterrado, na noite do acidente, saiu para a farra com os
rapazes que o atropelaram.

TRECHO DE "O PIROTÉCNICO ZACARIAS"

A esse respeito as opiniões são divergentes. Uns acham que estou vivo — o morto tinha apenas
alguma semelhança comigo. Outros, mais supersticiosos, acreditam que a minha morte pertence ao
rol dos fatos consumados e o indivíduo a quem andam chamando Zacarias não passa de uma alma
penada, envolvida por um pobre invólucro humano. Ainda há os que afirmam de maneira categórica
o meu falecimento e não aceitam o cidadão existente como sendo Zacarias, o artista pirotécnico,
mas alguém muito parecido com o finado.
RUBIÃO, Murilo. Obra completa. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

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Regionalismo

Guimarães Rosa
Guimarães Rosa (1908-1967): autor que se dedica à
compreensão e descrição do interior. Nasceu em Cordisburgo (MG) e
foi um dos escritores mais importantes do Modernismo Brasileiro, além
de ter sido também médico e diplomata. Seu estilo é marcado pela
oralidade e por uma linguagem cheia de regionalismos e neologismos.
Além disso, outros aspectos importantes na obra do autor são a
religiosidade e a representação dos costumes populares. Sua
linguagem é poética e fragmentada, maior parte constituindo no
gênero híbrido da prosa poética, assim como Clarice Lispector.
Suas principais obras são:

 Sagarana (1946);
 Corpo de baile (1956);
 Grande sertão: veredas (1956);
 Campo geral (1964).

Sagarana (1946)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
Sete-de-Ouros é um burrinho que, embora já tenha sido útil para vários donos,
agora está decrépito. Estava esquecido na fazenda de Seu Saulo, quando é
escalado para uma travessia, ajudando no transporte do gado. Nessa
perigosa passagem, todos morrem, exceto os bois sob os cuidados do
burrinho: Francolim e Badu. A história representa um enredo de adaptações,
superação e esperança.
O BURRINHO
PEDRÊS

Lalino é a representação de um tipo: o malandro que não gosta do trabalho


e só quer saber de aproveitar a vida. Larga sua mulher e vai para o Rio de
A VOLTA DO
Janeiro. Quando retorna, encontra a ex-mulher Maria Rita casada com um
MARIDO
espanhol, Ramiro. Conhecido como Laio, reconcilia-se com ela. Torna-se Major
PRÓDIGO
Anacleto. Dica: lembra o enredo de Memórias de um sargento de milícias,
romance romântico de Manuel Antônio de Almeida.
Dois primos, Ribeiro e Argemiro, contagiam-se pela doença da malária que
SARAPALHA
se alastrou pela cidade de Sarapalha. Sentem-se solitários, pois na região

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muitos já morreram, inclusive a esposa de Ribeiro, Luísa. Diante da morte e


querendo se confessar, Argemiro admite ao primo ter tido interesse pela
esposa de Ribeiro, que não reage bem e o expulsa de suas terras.

Este conto é uma espécie de labirinto de paisagens e de perseguições pelo


sertão. Turíbio Todo é um seleiro que, por falta de trabalho, passa muito
tempo fora de casa pescando. Um dia, uma de suas idas é cancelada e, no
regresso ao lar, ele surpreende a sua mulher em adultério com o ex-militar, o
Cassiano Gomes.

DUELO

Emílio visita a fazenda de seu tio, candidato às eleições, mas acaba se


apaixonando pela sua prima Maria Irma, sem, contudo, ser correspondido. Ela
MINHA GENTE se interessa por Ramiro, noivo de outra moça. Maria Irma acaba se casando
mesmo com Ramiro Gouveia e o primo Emílio com Armanda, apresentado a
ele pela própria prima.
O conto “São Marcos” também é narrado em primeira pessoa. O narrador,
José, é um homem culto que não acredita em feitiçaria, apesar de conhecer
mais de sessenta procedimentos e algumas rezas bravas para evitar o azar.
SÃO MARCOS
O seu desprezo pela feitiçaria se estende também aos feiticeiros, tanto que
sempre ao passar pela casa do feiticeiro do arraial ele vocifera ofensas
contra o preto.
A narrativa fantástica com marcas do regionalismo vai se tornar uma das
principais características da obra de João Guimarães Rosa. Ela começa em
forma de diálogo, intercalando a narrativa de Manuel Fulô com a conversa
CORPO
dele com o médico do arraial. O enredo principal é a história da sucessão de
FECHADO
valentões em Laginha, uma pequena cidade no interior de Minas Gerais.
Manuel Fulô vai contando dos diversos personagens que aterrorizaram
Laginha. Em meio a essas histórias, ele também conta sobre sua vida.

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Neste conto, como em tantos de Guimarães Rosa, diversas histórias se misturam


na narrativa. Enquanto um carro de bois faz o seu trajeto em uma procissão,
levando rapadura e um defunto, os bois conversam sobre os homens e sobre
um boi que pensava como um homem. O defunto no carro de boi é o pai do
menino-guia Tiãozinho. Ele não gosta do carreiro Agenor Soronho, que
mandava nele e era mau com o garoto. Ao longo dos pensamentos do menino,
percebemos que a relação do seu patrão com a sua mãe o incomoda.

CONVERSA DE
BOIS

Conta a história de Nhô Augusto, filho de fazendeiro, com muitas posses e


grande propensão para brigas, mulheres e bebidas. Os excessos de Nhô
Augusto vão, aos poucos, consumindo suas posses e desapontando a família.
Sua mulher ama outro homem e, um dia, resolve fugir com ele e com a filha.
Quando Nhô Augusto descobre a fuga, chama os seus capangas para
recuperar a mulher. O processo de recuperação de Nhô Augusto é lento e ele
é visitado muitas vezes pelo padre. Ao longo dessas visitas, ele sofre uma
transformação espiritual. Nhô Augusto passa a entender que todo o seu
sofrimento é uma amostra do que o espera no inferno e o seu objetivo se torna
A HORA E A ir para o céu.
VEZ DE
AUGUSTRO
MATRAGA

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Grande sertão: veredas (1956)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
Romance extenso de mais de 600 páginas, essa obra apresenta estrutura
circular, pois começa com o termo “Nonada” e termina com o símbolo do
infinito. Seu título também parece um neologismo: ser + tão, ou seja, verbo
ESTRUTURA no infinitivo caracterizando toda a existência, junto a uma partícula
intensificadora para criar o lugar do sertão, ao mesmo tempo mítico, pois
encarna o trânsito entre regional e universal. É dividida em dois volumes e
não em capítulos.
PERSONAGENS Riobaldo; Diadorim; Joca Ramiro; Zé Bebelo; Hermógenes; Ricardão etc.
Dois tempos: o do narrador (que não é mais a época do cangaço) narrando
TEMPO
a sua história para o médico (seu interlocutor) a época do cangaço.
ESPAÇO Vários Estados: Bahia; Minas Gerais etc.
Riobaldo Tatarana recebe essa alcunha, porque ele era muito bom de mira,
sendo o melhor atirador do bando. Ele acaba por receber uma boa
educação, propiciada pelo seu padrinho. Portanto, aprende a ler e escrever
e no futuro vai ser chamado de “Professor”, quando ensina aos cangaceiros
ENREDO
de Zé Bebelo. Ainda adolescente, conhece Diadorim e fica impressionado com
a coragem daquele que ele achava que era um garoto e a reencontra depois
no cangaço, tornando-se melhores amigos. Chega descobrir que ela é uma
mulher apenas quando ela morre.
Uma das grandes temáticas na obra é o misticismo e a religiosidade. O
livro é permeado por grandes discussões existenciais e religiosas, quanto à
capacidade de Deus e do Diabo. Riobaldo toma um lado, fazendo um pacto
com o diabo, pois, mesmo sendo articulado, sabendo se expressar, atirar
CLÍMAX
bem e sendo um bom líder, ainda não estava satisfeito, pois o que desejava
mesmo era ter a coragem de Diadorim, seu símbolo de admiração desde
sempre. O pacto também é motivado pelo desejo de ganhar do bando de
Hermógenes.

TRECHO DE “TUTAMÉIA” – JOÃO PORÉM, O CRIADOR DE PERUS

Se procuro, estou achando.


Se acho, ainda estou procurando?
Do Quatrêvo.

Agora o caso não cabendo em nossa cabeça. O pai teimava que ele não fosse João, nem não. A
mãe, sim. Daí o engano e nome, no assento de batismo. Indistinguível disso, ele viçara, sensato,
vesgo, não feio, algo gago, saudoso, semi-surdo; moço. Pai e mãe passaram, pondo-o sozinho. A

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aventura é obrigatória. Deixavam ao Porém o terreno e, ainda mais, um peru pastor e três ou duas
suas peruas.
E tanto; aquilo tudo e egiptos. Desprendado quanto ao resto, João Porém votou-se às aves –
vocação e meio de ganho. De dele rir-se? A de criar perus, os peruzinhos mofinos, foi sempre matéria
atribulativa, que malpaga, às poucas estimas.
Não para o João. Qual o homem e tal a tarefa: congruíam-se, como um tom de vida, com riqueza de
fundo e deveres muito recortados. Avante, até, próspero. Tomara a gosto. O pão é que faz o cada
dia.

Já o invejavam os do lugar – o céu aberto ao público –


aldeiazinha indiscreta, mal saída da paisagem. Ali qualquer
certeza seria imprudência. Vexavam-no a vender o pequeno
terreiro, próprio aos perus vingados gordos. Porém tardava-os,
com a indecisão falsa do zarolho e o pigarro inconcusso da
prudência. Tornaram; e Porém punha convicção no tossir, prático
de economias quiméricas, tomadas as coisas em seu meio.

Desistiram então de insistir, ou de esperar que, mais-menos dia, surgida alguma peste, ele desse
para trás. Mas lesavam-no, medianeiros, no negócio dos perus, produzidos já aos bandos; abusavam
de seu horror a qualquer espécie de surpresas. Porém perseverava, considerando o tempo e a arte,
tão clara e constantemente o sol não cai do céu. No fundo, coqueirais. Mas inventaram, a
despautação, de espevitar o espírito.
ROSA, Guimarães. Tutameia (Terceiras Estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009 (p. 118).

Comentários
João é um desses que quando nasce os pais brigam para decidir seu nome. Acaba levando uma
alcunha engraçada, pois no fundo é um conjunção adversativa (“Porém”), junto à profissão que ele
acaba por ter. Enveredou por esse rumo meio que por inaptidão para o resto. Apesar da zombaria dos
outros, ele parece não ter se ressentido, acaba até desenvolvendo gosto pelo que faz. Tentavam
dissuadi-lo, pois queriam que ele vendesse as terras, abandonasse a profissão. O narrador denuncia as
fofocas em uma pequena cidade.

Ruth Guimarães
Romance de estreia de Ruth Guimarães (1920-2014), uma das primeiras
escritoras negras a ganhar destaque na cena literária brasileira, Água funda foi
lançado em 1946 – mesmo ano de Sagarana, de Guimarães Rosa. Mas enquanto
o escritor mineiro se valia da plasticidade da fala sertaneja para inventar um
léxico novo, entre o popular e o erudito, Ruth fez aqui uma original
reconstituição em sua infância passada no Vale do Paraíba e Sul de Minas.
GUIMARÃES, Ruth. Água funda. São Paulo: Editora 34, 2018 (contracapa).

 Saga do mundo caipira;


 Arcaísmos da sociedade colonial;
 Personagens femininas: Sinhá Carolina (desaparece e volta caduca).

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POESIA

João Cabral de Melo Neto


João Cabral de Melo Neto (1920-1999): poeta de forma
equilibrada de escrever, com forte rigor estético e racionalismo na
escrita. Foi diplomata, tendo passado uma temporada na Espanha e
escrito sobre isso. Recifense que é, canta muito as paisagens de sua
terra, como a miséria retirante e o Rio Capibaribe (“O cão sem
plumas”). Cuidado: pode ser enquadrado tanto na segunda quanto
na terceira geração modernista, por conta de seu tempo de
produção. Seus versos são sintéticos. No ano de 2020, o poeta
completou centenário.
Suas principais obras são:
 Psicologia da Composição (1947);
 O Cão sem Plumas (1950);
 Morte e Vida Severina (1955);
 Quaderna (1960);
 A educação pela pedra (1966);
 Museu de tudo (1975);
 A escola das facas (1980);

TRECHO DE “MORTE E VIDA SEVERINA”


Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte Severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia.
MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio Janeiro: Nova Aguilar, 1994 (fragmento).

Comentários
No excerto de “Morte e vida severina”, o narrador em primeira pessoa apresenta-se como
um entre muitos outros, com o mesmo nome, a mesma cabeça grande e o mesmo destino trágico do
sertão: morrer de emboscada antes dos vinte anos, de velhice antes dos trinta e de fome um pouco a
cada dia. Ou seja, o poeta relata uma situação marcada por miséria e extrema vulnerabilidade social,
à qual muitos nordestinos estão expostos, simbolizada na figura de Severino.

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Ferreira Gullar
José de Ribamar Ferreira nasceu em São Luís (MA). Foi escritor,
poeta, dramaturgo, tradutor e crítico de Artes Plásticas. Suas
características mais marcantes são: cuidado formal; reflexão da
existência humana; engajamento político; temática social e irreverência.
Ferreira Gullar (1930-2016): poeta que começa a escrever no
Modernismo de 1945, mas estende sua carreira até o contemporâneo.
Se aproxima do movimento concreto e produz obras que exploram tanto
o som quanto a grafia das palavras. Posteriormente, adota lirismo
exacerbado. Suas principais obras são:
 A luta corporal (1954);
 Poema sujo (1985);
 Barulhos (1987);
 Muitas vozes (1999).

TRECHO DE “O AÇÚCAR”

O branco açúcar que adoçará meu café


Nesta manhã de Ipanema
Não foi produzido por mim
Nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
[...]
Em lugares distantes,
Onde não há hospital,
Nem escola, homens que não sabem ler e morrem de fome
Aos 27 anos
Plantaram e colheram a cana
Que viraria açúcar.
Em usinas escuras, homens de vida amarga
E dura
Produziram este açúcar
Branco e puro
Com que adoço meu café esta manhã
Em Ipanema.
GULLAR, Ferreira Toda Poesia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980 (fragmento).

Comentários
O eu lírico, em uma manhã serena e ambiente confortável, divaga sobre o elemento que usará
para adoçar seu café. Melancolicamente, percebe que o açúcar, branco e doce, contrasta com a
realidade “escura” e “amarga” de quem o produziu. A pureza do açúcar contrapõe-se à exploração do
trabalhador, sujeito a condições de vida.
Contrapõe-se claramente a produção com o consumo: aquele quem consume o açúcar não o
mesmo que o produz. Por fim, paradoxalmente, o doce açúcar é responsável, pela sua extração, por
causar amargor em muitas vidas de trabalhadores envolvidos com ele.

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Poema sujo (1976)


Segundo a Doutora em Estudos da Cultura, Rebeca Fuks, o livro foi escrito em Buenos Aires,
no ano de 1976, o Poema sujo foi composto enquanto o poeta Ferreira Gullar estava exilado por
motivos políticos. Os mais de dois mil versos criados na solidão do exílio são uma espécie de hino
pela liberdade.

a gestapo a
Exílio (Lima e
wehrmacht a raf a
Moscou)
feb a blitzkrieg

mais que isso


Infância (São Luís) e maranhense
Poema sujo
testemunho mais que isso
sanluisense

metida no armário
Crítica social (temas (mas
torpes e desabafo) embaixo: o membro
na vagina)

TRECHO DE "POEMA SUJO"

turvo
turvo
a turva
mão do sopro
contra o muro
Escuro
menos menos
menos que escuro
menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo
escuro
mais que escuro:
claro
como água? como pluma? claro mais que claro claro: coisa alguma
e tudo
(ou quase)
um bicho que o universo fabrica e vem sonhando desde as entranhas
GULLAR, Ferreira. Poema sujo. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

Comentários
O poema apresenta graficamente um efeito cascata que lembra o célebre poema "Um lance de
dados" do poeta simbolista francês Mallarmé. Há repetições e trocadilhos que tornam a linguagem do
texto mais fluida. Há também rupturas, típicas do movimento modernista.

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Irmãos Campos
Haroldo e Augusto de Campos são dois irmãos
modernistas que foram tradutores, poetas, críticos e
contribuíram muito para o cenário intelectual
brasileiro e para a crítica literária. Entre suas
traduções, encontra-se a de Ilíada de Homero.
Cunharam o termo transcriação para reinventar
livremente a tradução, sem precisar se preocupar
com a linguagem literal. Curiosidade: Augusto de
Campos ainda está vivo e tive o privilégio de conhecer
sua neta, Raquel Campos, na Universidade de Brasília.
Quanto às obras, O anticrítico de Augusto de
Campos foi relançado em 2020 e Haroldo de Campos
também escreveu O sequestro do barroco na
Formação da literatura brasileira: o caso Gregório de
Matos, para rivalizar enquanto crítico com Antonio Candido que em sua obra não levou em
consideração o poeta barroco brasileiro.

TRECHO DE “GALÁXIAS”
(...)
uma torção do tempo famosus ille fabulator que se faz memória
mementomomentomonumental matéria evêntica desventrada do tempo
da marsúpia vide espaço do tempo um livro também constrói o leitor
um livro de viagem em que o leitor seja a viagem um livro-areia
escorrendo entre os dedos e fazendo-se da figura desfeita onde
há pouco era o rugitar da areia constelada um livro perime o sujeito
e propõe o leitor como um ponto fuga este livro-agora travessia
(...)
CAMPOS, Haroldo. Galáxias. São Paulo: Editora 34, 2011.

Comentários
O texto se classifica como prosa poética, um gênero híbrido. É quando a poesia pode estar contida
numa linguagem versificada ou em prosa. Observa-se uma abordagem nada convencional de tempo e
espaço. Ambos são ressignificados.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 64


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

CONCRETISMO (anos 1950): movimento liderado por grupo de poetas que


buscam criar poesia visual, que utilize de efeitos gráficos que a palavra
pode proporcionar. As palavras formam verdadeiras imagens. Os
principais poetas são Décio Pignatari e os irmãos Campos. Se inspiram nas
vanguardas como o futurismo.

CONCRETISMO
Aparece já mais recentemente, a partir de 1950, sob as influências de tendências
anteriores em que se rastreiam as ideias de Mallarmé, Apollinaire, Pound, Cummings, e outros.
O concretismo caracteriza-se pelo intento de reduzir a expressão a signos concretos, dando
ênfase à representação gráfica da linguagem. Na linguagem as palavras não aparecem na forma
lógica e ordenada de frase ou de discurso, porém soltas, livres, autossuficientes. A expressão
consubstancia-se num plano de valor verbi-voco-visual (palavra-som-figura). Utiliza-se o
ideograma, o poema figurativo à moda dos caligramas de Apollinaire (...).
No Brasil, a revista “Nolgandres” (São Paulo) reuniu o seu grupo de vanguarda com Décio
Pignatari, Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Ronaldo Azeredo, Reinaldo Jarim e outros.
Fonte: TAVARES, 2002, p. 97-98, grifo meu (adaptado).

TEXTO I

CAMPOS, Augusto de. Viva vaia. Poesia 1949-1979. São Paulo: Ateliê Editorial, 2000 (p. 116-117).

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Profa. Luana Signorelli

Comentários
No poema, Augusto de Campos expõe exaustivamente, e de forma não arbitrária, mas sim
deliberada, anagramas da palavra “acaso”, que aparece invertida no título: são 60 combinações,
organizadas em grupo de 10 de 6 e dispostas decrescentemente.
A obra então brinca com a técnica literária, com a arbitrariedade na composição estética e até
mesmo com a análise combinatória na matemática, explorando a brincadeira das múltiplas
possibilidades de criação. Assim, o Modernismo se verifica mais uma vez um terreno fértil para a
interdisciplinaridade.

TEXTO II

Augusto de Campos
Disponível em:<http://brasilescola.uol.com.br/literatura/poesia-augusto-campos.htm>. Acesso em: 10 nov. 2016.

Comentários
Augusto de Campos, ao lado de Haroldo de Campos e Décio Pignatari, criaram uma produção
poética que dialoga diretamente com as outras linguagens artísticas e outros sistemas de comunicação
a fim de transgredir a forma discursiva e permitir o surgimento de novas formas e sentidos no âmbito
literário. Nesse poema, o amor é triangulado, como que para se remeter à expressão “triângulo
amoroso” e também como que para pôr termo ao amor, que, ao mesmo tempo, caminha junto com a
morte. O leitor pode escolher sua ordem de leitura.

CONTRACULTURA: chamada assim pois os membros eram contra


tudo, começou em maio de 1968 na França. Segundo Nelson
Rodrigues foi um evento em que estudantes e grevistas pararam o
país, arrancaram paralelepípedos do chão, picharam obras de arte,
para demonstrar o seu desafeto para com o presidente na época, o
conservador Charles de Gaulle. No mesmo ano, houve a Primavera
de Praga, liberalização política na Tchecoslováquia.

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A RESISTÊNCIA CULTURAL
Outros setores da sociedade, principalmente intelectuais e artistas, tentaram resistir à ditadura
por meio de manifestações culturais. A indústria televisiva e a fonográfica procuravam dar espaço
aos grupos de cultura jovem que se disseminavam no meio estudantil. Ao mesmo tempo, o Teatro
Opinião, o Teatro de Arena e o Teatro Oficina montavam shows e peças críticas sobre a realidade do
país. A rebeldia ganhava as artes plásticas, enquanto o Cinema Novo, movimento iniciado no final
dos anos 1950, prosseguia em sua busca de uma nova linguagem para exprimir a identidade
brasileira. Nos festivais da canção, músicas de jovens compositores expressavam o protesto de toda
uma geração. Foi nesse contexto que a indústria fonográfica e alguns artistas criaram o acrônimo
“MPB” (Música Popular Brasileira), com o intuito de divulgar essa nova estética nacionalista e
engajada.
Nesse mesmo período, surgiu a Jovem Guarda, que incorporava as influências do rock
internacional. O movimento surgido desse encontro entre a juventude e a indústria cultural foi o
Tropicalismo, incorporando influências da estética hippie e experimentações artísticas com
diferentes mídias nos anos 1960, o Tropicalismo buscou as raízes da identidade nacional misturando
o tradicional e o moderno.
Fonte: FERREIRA; GUGLIELMO; FRANCO, 2016, p. 653-654, grifos meus.

Mário Quintana (1906-1994): nasceu em Alegrete e se mudou em


1919 para Porto Alegre, onde estudou no Colégio Militar, publicando
ali suas primeiras produções literárias. Trabalhou para a Editora Globo
e depois na farmácia paterna. Considerado o "poeta das coisas
simples", com um estilo marcado pela ironia, pela profundidade e pela
perfeição técnica, ele trabalhou como jornalista quase toda a sua vida.
Traduziu mais de cento e trinta obras da literatura universal, entre elas
Em Busca do Tempo Perdido de Marcel Proust, Mrs. Dalloway de
Virginia Woolf.

Poeminho do Contra
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
(Casa Mario Quintana)
Eles passarão... Arquivo pessoal (2016).

No "Poeminho do comtra", brinca-se com a gramática, com o processo de formação de palavras.


Brinca-se também com a flexão de plural na conjugação dos verbos, para indicar tempo futuro
na terceira pessoa do plural do verbo “passar”: “eles passarão”, como se o sufixo “-ão” indicasse
superlativo, para depois usar outro diminutivo, esse sim já existente: “passarinho”, diminutivo
do substantivo “pássaro”. Por fim, há humor: situações cômicas ou potencialmente humorísticas
compartilham da característica do efeito surpresa.

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(Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2020)

Leia o texto que segue para responder à próxima questão.

Eu fiz um poema
Eu fiz um poema belo
e alto
como um girassol de Van Gogh
como um copo de chope sobre o mármore
de um bar
que um raio de sol atravessa
eu fiz um poema belo como um vitral
claro como um adro...
(...)
QUINTANA, Mário. Esconderijos do tempo. São Paulo: Alfaguara, 2013.

O fazer poético é descrito pelo eu lírico como um processo de tal forma que o poeta é comparado
a funções como a do pintor e do arqueólogo. Isso porque o poema pode ser considerado como
a) indiferente.
b) material.
c) sublime.
d) incipiente.
e) técnico.

Comentários
 Questão de interpretação de texto literário/semântica.
Alternativa A: incorreta. O eu lírico demonstra certa preocupação pelo risco de o poema
perder o seu encanto mágico para se tornar apenas um texto com sentido literal. Logo, não é
indiferente.
Alternativa B: correta – gabarito. Tanto o girassol pintado por Van Gogh quanto o sentido
das palavras buscadas pelo poeta-arqueólogo tais como se fossem relíquias verdadeiras
conferem ao poema uma noção de materialidade.
Alternativa C: incorreta. Não apenas, já que o poeta também poderia muito bem escrever,
se quisesse, sobre um copo de chope, por exemplo. Eis o prosaísmo modernista.
Alternativa D: incorreta. “Incipiente” é sinônimo de inicial, que está no começo. Se o eu
lírico diz que faz um poema como se fosse o girassol de Van Gogh, parte-se do pressuposto de
que não está começando.

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Alternativa E: incorreta. Cuidado: a associação a profissões não tem a ver literalmente com
a especialidade delas. O poeta é um pintor no sentido da representação plástica de imagens,
como quando descreve o raio de sol atravessando o copo de chope em um bar. Então, a descrição
é bem detalhada e específica. E sente-se como um arqueólogo no sentido de quem procura
sentidos vazios (cinzas), como se a mágica tivesse se apagado. Daí então sentir a necessidade de,
para isso, não mais se voltar para o chão, mas sim para as estrelas.
Gabarito: B.

Prosa
poética

Visão Morte
Mário
Quintana

Infância Cidade

OUTROS TEMAS IMPORTANTES PARA MÁRIO QUINTANA

 MODERNISMO VERSUS CLÁSSICO. Observa-se na obra de Mário Quintana a dialética entre o


clássico e o moderno. O poeta tenta usar formas tradicionais, como a elegia (“Elegia de número onze”;
“Elegia ecológica”) e haicai “A oferenda”), mas também usa versos livres e temas modernos,
questionando constantemente a cidade. Também opõe o indivíduo que se sente sozinho e alienado
contra a cidade.

 PROSAÍSMO. Trata-se do abandono do idealismo (algumas personagens são perdem seu heroísmo
e são retratadas como pessoas comuns, como Van Gogh). Em algumas passagens, são utilizados
parênteses para indicar intrusão de outras vozes. Muitos de seus temas são mundanos, banais e
cotidianos.

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Estética do
detalhe Amplificação
do sentido

TEXTO I

Intermezzo
Nem tudo pode estar sumido
ou consumido...
Deve — forçosamente — a qualquer instante
formar-se, pobre amigo, uma bolha de tempo nessa Eternidade...
e conde
— o mesmo barman no mesmo balcão,
por trás a esplêndida biblioteca de garrafas,
fonte da nossa colorida erudição —
haveremos de continuar aquela nossa velha discussão
(...)
a rir como uns perdidos,
a chorar como uns danados,
beberemos os dois nos crânios um do outro...
até o teto desabar!
(Perdão! até a bolha rebentar...)
QUINTANA, Mário. Esconderijos do tempo. São Paulo: Alfaguara, 2013.
Comentários
No texto, predomina um tom brincalhão quanto à passagem do tempo. O que se infere do último
verso. Nem mesmo a morbidez da imagem de beber em crânios impede o eu lírico de encarar a
passagem da vida como se fosse um eterno diálogo com um barman e trazer a discussão para o nível
do cotidiano. A intromissão entre parênteses é um toque modernista. Como se fosse uma voz à parte
invadindo o poema.

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TEXTO II

Desde pequeno, tive tendência para personificar as coisas. Tia Tula, que achava que mormaço
fazia mal, sempre gritava: “Vem pra dentro, menino, olha o mormaço!” Mas eu ouvia o mormaço
com M maiúsculo. Mormaço, para mim, era um velho que pegava crianças! Ia pra dentro logo. E
ainda hoje, quando leio que alguém se viu perseguido pelo clamor público, vejo com estes olhos o
Sr. Clamor Público, magro, arquejante, de preto, brandindo um guarda-chuva, com um gogó
protuberante que se abaixa e levanta no excitamento da perseguição. E já estava devidamente
grandezinho, pois devia contar uns trinta anos, quando me fui, com um grupo de colegas, a ver o
lançamento da pedra fundamental da ponte Uruguaiana-Libres, ocasião de grandes solenidades,
com os presidentes Justo e Getúlio, e gente muita, tanto assim que fomos alojados os do meu grupo
num casarão que creio fosse a Prefeitura, com os demais jornalistas do Brasil e Argentina. Era como
um alojamento de quartel, com breve espaço entre as camas e todas as portas e janelas abertas,
tudo com os alegres incômodos e duvidosos encantos de uma coletividade democrática. Pois lá pelas
tantas da noite, como eu pressentisse, em meu entredormir, um vulto junto à minha cama, sentei-
me estremunhado* e olhei atônito para um tipo de chiru**, ali parado, de bigodes caídos, pala
pendente e chapéu descido sobre os olhos. Diante da minha muda interrogação, ele resolveu
explicar-se, com a devida calma:
– Pois é! Não vê que eu sou o sereno...
Mário Quintana, As cem melhores crônicas brasileiras.

Glossário:
*estremunhado: mal acordado.
**chiru: que ou aquele que tem pele morena, traços acaboclados (regionalismo: Sul do Brasil).

Comentários
E nem só de poesia se fez o homem, pois Mário Quintana também
se destacou na prosa, especialmente na produção de crônicas. O efeito
de texto causado é o humor, dada a interpretação infantil. O conto é
centrado na narrativa em 1ª pessoa do singular. Trata-se de uma
memória de infância narrada na fase adulta. A criança confunde o que
ouviu e acha que “Mormaço” com a letra maiúscula é uma pessoa real.
A experiência de infância irá persegui-lo como uma espécie de trauma
na vida adulta, quando ele acha que viu o “Sereno”. Inclusive, consegue
imaginar características físicas para esses personagens.

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RESUMINDO MODERNISMO

Rompimento com o Influência das duas


Crítica social.
tradicionalismo. grandes guerras.

Experimentações
artísticas, tanto na Valorização do
Regionalismo. forma da escrita cotidiano e do
quanto nos conteúdos popular.
abordados.

Revisão crítica da Valorização de


Presença do humor e
cultura brasileira e a aspectos psicológicos,
da ironia.
formação do Brasil. internos.

3.0 Literatura Brasileira Contemporânea


Chegamos agora em um dos assuntos mais difíceis de sistematizar: a Literatura Contemporânea.
A verdade, é que não há consenso ainda sobre o que seria essa literatura contemporânea brasileira. O
que vamos fazer aqui é destacar algumas impressões acerca da produção literária brasileira a partir dos
anos 1970.
Alguns dados devem ser levados em consideração quando se
pensa no Brasil contemporâneo:
 O Brasil passa por um regime militar entre os anos de 1964
e 1985. Ao lado, Médici. Isso impacta o modo de produção das artes,
pois era preciso lidar com a censura, tanto imposta pelo governo
quanto a chamada autocensura, ou seja, os próprios artistas
limitavam suas ideias para não sofrer represálias. Essa censura era
muito mais moral do que política.
 Enquanto representação política, o homem chega na segunda metade do século XX ainda sem
respostas. A desigualdade e exploração pelo trabalho da sociedade capitalista não foi eliminada; as
tentativas de implantação de estados socialistas ou comunistas falharam, criando Estados com
desigualdades sociais tão profundas quanto, além de um sistema burocrático que imobilizava os homens.
 A cultura de massa alcança fortemente o Brasil, impactando o modo como os artistas dialogam
com as referências estrangeiras. O cinema e a televisão, principalmente americanos, passam a fazer parte
do cotidiano dos brasileiros.
 Há um aceleramento das informações, principalmente com a internet.

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 Cotidiano e simplicidade. Alguns autores do contemporâneo voltam seu olhar para o cotidiano
e a simplicidade. Isso pode aparecer de diversas maneiras: nas crônicas de assuntos corriqueiros ou nos
textos em prosa sobre situações banais.
Tendo em mente que não seria uma tarefa fácil tentar analisar o contexto histórico e seus impactos
no pensamento e produção artística contemporânea, optamos por pensar em tendências e processos de
produção da literatura do contemporâneo (assim mesmo, no plural!). Vamos ver como tem sido essa
produção da segunda metade do século XX até hoje.

3.1 Autores e obras da Literatura Brasileira Contemporânea


Autores sem filiação
Cora Coralina
Cora Coralina (1889-1985): poetisa que só ingressa na vida
literária aos 76 anos! E tinha quase 90 anos quando sua obra chega às
mãos de Carlos Drummond de Andrade, que a apresentou para o
mercado literário nacional. Sua poética se baseia nos detalhes,
escrevendo sobre o cotidiano com delicadeza. Seus poemas são muito
atentos às miudezas do dia a dia. Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas
nasceu na antiga Vila Boa de Goyaz. Por isso, parte de sua obra é ligada
ao regionalismo (literatura regional goiana), mas não só, pois ela
apresentou grande variedade temática. Não se filiou diretamente a
nenhuma corrente literária, mas sim é conhecida por ser uma grande
contadora de histórias (causos = estórias). Sua obra é um registro
histórico-social da transição entre séculos. Além de 10 obras infantis, outras que se destacam são:
 Poemas dos Becos de Goiás e estórias mais (poesia) – 1965;
 Estórias da Casa Velha da Ponte (18 contos) – 1985;
 Cora Coragem Cora Poesia (biografia escrita pela sua filha Vicência Bretas Tahan) – 1989.
Veja um trecho do seu poema "Saber viver”:

“Não sei…
se a vida é curta
Sensibilidade aguçada e consciência da sua
ou longa demais para nós. responsabilidade social enquanto poetisa.
Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:


Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta (...)
Amor que promove.”
CORALINA, Cora. “Saber viver”. Disponível em: https://tinyurl.com/8tnrtj4a. Acesso em: 15 maio 2021.

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Adélia Prado
Adélia Prado (1935-...) nasceu em Divinópolis (MG). É
escritora, tendo se destacado na poesia. Ingressou na Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Divinópolis e em 1973 formou-se em
Filosofia. As características principais de suas obras são: linguagem
coloquial, vocabulário simples, poemas leves e marcantes,
perspectiva da mulher e religiosidade. Sua poesia é conhecida por
retratar o cotidiano a partir do olhar feminino.
A autora publicou seu primeiro livro aos 40 anos, tendo sido
rapidamente aclamada pela crítica. Seus poemas buscam ressignificar
o cotidiano, usando linguagem simples e valorizando as pequenas
coisas. Suas principais obras são as seguintes:

 Bagagem (1975);
 O oráculo disparado (1977);
 Palavra de mulher (1979);
 Poesia reunida (1991);
 Oráculo do mato (1999);
 Quero minha mãe (2000);
 Quando eu era pequena (2009);
 Miserere (2013).

Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo.


Não é. Comentários
A coisa mais fina do mundo é o sentimento. A valorização da vida cotidiana traduz o olhar
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, observador do poeta do Modernismo que
ela falou comigo: transforma o que poderia ser considerado banal ou
"Coitado, até essa hora no serviço pesado". grosseiro pelas escolas que o precederam em rica
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com matéria poética. No poema de Adélia Prado, o
água quente. simples ato da mulher de deixar a comida quente
no fogão para o marido que está a trabalhar pela
Não me falou em amor. noite adentro revela, implicitamente, profundo
Essa palavra de luxo. sentimento amoroso e ternura.

PRADO, Adélia. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.

(Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2020)

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Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, (...)
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
PRADO, Adélia. Casamento. Disponível em: https://tinyurl.com/yb59kftn. Acesso em: 24 jul. 2020.

A poesia de Adélia Prado revela concepções acerca dos relacionamentos humanos. No caso desse
poema em particular, observa-se
a) uma conduta condizente com a do senso comum.
b) um comportamento atípico para a faixa etária.
c) veemente rancor contra as outras mulheres.
d) algum receio de rejeição por parte do marido.
e) certo orgulho por indicar a originalidade do casal.

Comentários
 Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. O senso comum seria agir como todo mundo na sociedade. O eu
lírico quer acreditar que seu relacionamento é especial, diferenciado.
Alternativa B: incorreta. Não se sabe a idade do eu lírico.
Alternativa C: incorreta. Não é assim tão forte. Está mais para ciúmes, pois deseja que seu
relacionamento seja diferente do delas, logo, melhor.
Alternativa D: incorreta. Parece haver, pela descrição do eu lírico, reciprocidade. Desde às
falas cotidianas, até mesmo fora de hora, até as fases iniciais do relacionamento: “O silêncio de
quando nos vimos a primeira vez”.
Alternativa E: correta – gabarito. O que fica claro primeiramente pela oposição “Há
mulheres que dizem: (...)/”Eu não”, mas também pelas atitudes de cumplicidade do casal.
Gabarito: E.
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Rubem Braga
Rubem Braga, (1913-1990) foi um escritor e jornalista. Foi embaixador do Brasil
em Marrocos e é um exímio cronista. Sua obra de estreia foi "O conde o
passarinho" (1936). Em 2018, foi lançada a edição "200 crônicas escolhidas".

De todos esses periquitinhos que tem no Brasil, tuim é capaz de ser o menor. Tem bico redondo
e rabo curto e é todo verde, mas o macho tem umas penas azuis para enfeitar. Três filhotes, cada
um mais feio que o outro, ainda sem penas, os três chorando. O menino levou-os para casa, inventou
comidinhas para eles; um morreu, outro morreu, ficou um.
(Rubem Braga)

Dalton Trevisan
Dalton Jérson Trevisan (1925-...) é um advogado curitibano, muito
ligado ao urbanismo de sua cidade. Ganhou o Prêmio Jabuti quatro vezes
(1960, 1965, 1995 e 2011), além de ganhar o Prêmio Camões em 2012. Entre
suas obras, destacam-se:
 Novelas nada Exemplares (1959);
 Cemitério de Elefantes (1964);
 O vampiro de Curitiba (1965);
 A mão na pena (2014);
 O beijo na nuca (2014).

Moacir Scliar

Moacyr Scliar (1937-2011) foi um escritor brasileiro. Em 2003 foi eleito para a
Academia Brasileira de Letras. Escreveu predominantemente contos, romances e
literatura infanto-juvenil. Seu romance Max e os felinos (1981) guarda
semelhanças com o filme “As aventuras de Pi” (2012). Ainda escreveu: "O ciclo
das águas" (1975), que fala sobre o tráfico de mulheres judias para a América e
"Histórias que os jornais não contam", seleção de 54 crônicas publicadas entre
2004 no Caderno Cotidiano da Folha de S. Paulo.

TRECHO DE "CICLO DAS ÁGUAS"

Com a comunidade judaica Esther não tem nenhum contato. Recusam-na. Uma vez ela vai ao
cinema Baltimore. Quer assistir a um filme iídiche: Uma Carta da Mamãe. Sabe que é um filme bom,
um filme triste. E quer chorar um pouco. Toma um táxi. Chega cedo. Mas já uma pequena e
barulhenta multidão comprime-se diante da bilheteria. Quando ela se aproxima, faz-se silêncio; à
sua passagem, afastam-se. Ela vê uma senhora gorda cuspir no chão. Vê uma senhora nervosa

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
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murmurar qualquer coisa ao ouvido do marido. Mas não se perturba. Avança até a bilheteria,
compra seu ingresso. — Vamos embora! – diz uma voz esganiçada, de mulher. Ela não se volta para
ver quem é. Entrega ao porteiro e entra. E é no cinema quase vazio que ela soluça, enquanto vê, com
olhos turvos, as cenas tristes – tão tristes quanto esperava; e tão verdadeiras!
SCLIAR, Moacyr. Ciclo das águas. Porto Alegre: LP&M, 2002.

Paulo Mendes Campos

Paulo Mendes Campos (1922-1991) foi um escritor, poeta e jornalista brasileiro.


Foi internado no Colégio Dom Bosco e seu interesse pela literatura surge na
década de 1930. Integrou uma geração mineira junto com Fernando Sabino, Otto
Lara Resende e Hélio Pellegrino. Colaborou com os principais jornais cariocas e
suas principais obras de crônicas são:
 Antologia brasileira de humorismo (1965);
 O anjo bêbado (1969);
 Alhos e bugalhos (2000);
 Quatro histórias de ladrão (2005).

Lya Luft

Lya Fett Luft (1938-2021) foi uma escritora e tradutora sulista. Nasceu em
Santa Cruz do Sul, cidade de colonização alemã. Sua formação literária fez
com que aos onze anos já conhecesse Goethe e Schiller. É formada em
Pedagogia e em Letras Anglo-Germânicas pela PUC-RS. Traduziu
escritores como Virginia Woolf, Rainer Maria Rilke, Hermann Hesse, Doris
Lessing, Günter Grass, Botho Strauss e Thomas Mann. Na Literatura,
destacou-se pelas seguintes obras:
 Canções de limiar (1964);
 As parceiras (1980);
 Histórias do tempo (2000);
 A casa inventada (2017);
 As coisas humanas (2020).

SOLIDARIEDADE
“O gesto não precisa ser grandioso nem público, não é necessário pertencer a uma ONG ou fazer
uma campanha. Sobretudo, convém não aparecer.
O gesto primeiro devia ser natural, e não decorrer de nenhum lema ou imposição, nem convite
nem sugestão vinda de fora.
Assim devíamos ser habitualmente, e não somos, ou geralmente não somos: cuidar do que está
do nosso lado. Cuidar não só na doença ou na pobreza, mas no cotidiano, em que tantas vezes falta
a delicadeza, a gentileza, a compreensão; esquecidos os pequenos rituais de respeito, de
preservação do mistério, e igualmente da superação das barreiras estéreis entre pessoas da mesma
casa, da família, das amizades mais próximas.
[...]

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Pois se ainda não começamos a ser solidários dentro de nós mesmos e dentro de nossa casa ou
do nosso círculo de amigos, como querer fazer campanhas, como pretender desfraldar bandeiras,
como desejar salvar o mundo - se estamos perdidos no nosso cotidiano?
Como dizer a palavra certa se estamos mudos, como escutar se estamos surdos, como abraçar se
estamos congelados?
Para mim, a solidariedade precisa ser antes de tudo o aprendizado da humanidade pessoal.
Depois de sermos gente, podemos - e devemos - sair dos muros e tentar melhorar o mundo. Que
anda tão, tão precisado. ”
(Lya Luft, São Paulo 2001. Adaptado)

Comentários
A narradora critica a falta de sensibilidade humana, principalmente no dia a dia. No cotidiano,
tendemos a ser rudes e esquecer de praticar a gentileza e ser solidários uns com os outros. Ter empatia
é um passo rumo à evolução humana, a começar pelo comportamento individual.

CULTURA DE MASSA

A Literatura Contemporânea é fortemente


influenciada pela chamada cultura de massa.
Chama-se de cultura de massa os produtos da
indústria cultural, ou seja, as expressões da cultura

Fonte: Pixabay
produzidas com o intuito de serem vendidas e gerar
lucro. Seu objetivo é atingir o grande público. Uma
de suas principais características é ser capaz de
absorver aquilo que se opõe a ela: sabe aquele
programa que passa na televisão e fala mal de
televisão? É isso!
As principais influências da cultura de massa
na literatura partem do cinema e da televisão. Hoje em dia, é possível ouvir falar também em cultura pop.
São expressões, portanto, intimamente ligadas à ideia de consumo.
No Brasil, o diálogo com a cultura de massa mais popular é a Tropicália, movimento musical que
surge nos contextos dos festivais de música do fim dos anos 1960. Os principais integrantes foram Caetano
Veloso, Gilberto Gil, Os mutantes e Tom Zé. Até hoje, porém, os escritores trabalham com referências a
elementos da cultura pop.

Os diálogos com a cultura de massa têm como uma de suas


principais características a referência à linguagem cinematográfica,
principalmente no aspecto da fragmentação, dos flashes de imagens e
das sequências montadas a partir de ideias distintas sobrepostas. Além
disso, fazem uso frequente do humor e da ironia. Veja um trecho do
poema “Geleia Geral”, de Torquato Neto (ao lado), que traz exemplos
de referência à cultura de massa:

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 78


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

“É a mesma dança na sala, no Canecão, na TV


E quem não dança não fala, assiste a tudo e se cala
Não vê no meio da sala as relíquias do Brasil:
Doce mulata malvada, um LP de Sinatra, maracujá, mês de abril
Santo barroco baiano, superpoder de paisano, formiplac e céu de anil
Três destaques da Portela, carne-seca na janela, alguém que chora por mim
Um carnaval de verdade, hospitaleira amizade, brutalidade jardim
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi”
NETO, Torquato. Torquatália: obra reunida de Torquato Neto. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.

TEXTO I

Como beber dessa bebida amarga?


Tragar a dor, engolir a labuta?
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Pai, afasta de mim esse cálice


Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como é difícil acordar calado


Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
BUARQUE, Chico (com participação de Milton Nascimento). Cálice.
Disponível em: https://tinyurl.com/y47evcln. Acesso em: 04 set. 2020.

Comentários
Analisando a expressão “o monstro da lagoa”, a figura de linguagem que aí se destaca é metáfora.
A metáfora é uma comparação subentendida: emprega-se um termo com significado de outro a partir
da semelhança entre ambos. No caso, o monstro emergindo do lago simbolizaria a resistência contra
o regime militar, algo a que o eu lírico quer assistir tal como se fosse espetáculo. É a chamada canção
de protesto, um gênero de resistência comum durante esse período.

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Chico Buarque

Francisco Buarque de Hollanda (1944-...) é um intérprete brasileiro. Sua carreira passa pelas
seguintes profissões: músico, dramaturgo, escritor e ator brasileiro. É conhecido como cantor de
Música Popular Brasileira (MPB). Também foi um artista da Resistência Cultural por canções de
protesto como “Cálice” na época do regime militar (exilou-se na Itália). Inclusive, adotou o
pseudônimo de Julinho de Adelaide.
É filho do modernista Sérgio Buarque de Hollanda e da Maria Amélia Cesário Alvim. Dos 9 aos
11 anos de idade, vai morar na Itália com a família. Começou a cursar Arquitetura na USP em 1963,
mas parou para se dedicar à sua carreira artística. Lançou Sonho de um Carnaval, inscrita no I Festival
Nacional de Música Popular Brasileira, transmitida pela TV Excelsior. Em 1965, conhece Elis Regina.
Explode em 1966 com “A banda”, no II Festival na TV Record. Retorna para a Itália em 1969, quando
se autoexila especificamente por conta dos Anos de Chumbo. Seu álbum “Construção” (1971) reúne
canções de protesto acerca deste período.
Em 2022/2023, está fazendo a turnê “Que tal um samba?”, junto com a cantora Mônica
Salmaso. De certa maneira, um diálogo com “Tem mais samba”, uma música de encomenda que ele
apresenta pela primeira vez aos 20 anos.

TEATRO
 Roda viva (1967) → provocou reação violenta do público e mudança de imagem: de menino ingênuo
passou a ser um rebelde contestador;
 Calabar: o elogio da traição (1973) → encenação foi proibida, mas foi editado e a publicação pelo
Círculo do Livro foi um sucesso;
 Gota d´’água (1975) – Parceria: Oduvaldo Viana Filho;
 Ópera do malandro (1985).

DISCOGRAFIA
 Morte e vida severina (1966);
 Apesar de você (1970);
 Construção (1971);
 Meus caros amigos (1976);
 Caravanas (2017).

LITERATURA
 Fazenda modelo (1974);
 Chapeuzinho amarelo (1979);
 Estorvo (1992) → Prêmio Jabuti/Livro do ano
 Budapeste (2003) → Prêmio Jabuti de 2004
 Leite derramado (2009) → Prêmio Jabuti de 2010
 O irmão alemão (2014);
 Essa gente (2019) → Prêmio Camões pelo conjunto de obra
 Anos de chumbo e outros contos (2021).

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Letras de música se enquadram no gênero lírico e ajudam a compor


a Literatura Contemporânea. Logo, em qualquer momento letras de
música podem ser cobradas na prova.

TEXTO II

Brazil, capital Buenos Aires


No dia em que a bossa nova inventou o Brazil
Teve que fazer direito, senhores pares,
Porque a nossa capital era Buenos Aires,
A nossa capital era Buenos Aires.
E na cultura-Hollywood o cinema dizia
Que em Buenos Aires havia uma praia
Chamada Rio de Janeiro
Que como era gelada só podia ter
Carnaval no mês de fevereiro.
Naquele Rio de Janeiro o tango nasceu
E Mangueira o imortalizou na avenida
Originária das tangas
Com que as índias fingiam
Cobrir a graça sagrada da vida.
Tom Zé. Disponível em http://letras.terra.com.br. Acesso em: abr. 2010.

Comentários
O eu lírico expressa a sua opinião sobre o estilo novo de tocar samba, a bossa nova, que colocou
o Brasil no mapa para um público internacional, que já não poderia confundir Brasil e Argentina, ou
Rio de Janeiro com Buenos Aires. A bossa nova foi um momento histórico da cultura brasileira,
inicialmente influenciado pelo jazz, be-bop e cool jazz, que desaguaria depois no Tropicalismo.

FORMAS BREVES

Na Literatura Contemporânea, há um aparecimento (ou reaparecimento) significativo de formas


literárias breves. Na prosa, isso fica demonstrado na preferência pelo conto e pela crônica; na poesia,
pelos poemas curtos de poucos versos e pelo haicai.

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Forma de poesia japonesa surgida no século XVI composta por três


versos, com escansão contabilizando redondilhas menores no
primeiro e último verso e maior no segundo. O haicai é um poema
de três versos em que o 1º verso possui 5 sílabas poéticas, o 2º
verso possui 7 sílabas poéticas e o 3º verso possui 5 sílabas
poéticas. Ainda que os poetas da Literatura Contemporânea
tenham subvertido um pouco a contagem das sílabas,
convencionou-se chamar haicai os poemas de três versos
produzidos nesse período.

Alice Ruiz
Alice Ruiz (1946): Poetisa, compositora e tradutora paranaense.
Desde os anos 1970, investiga a forma poética do haicai e produz
muitos poemas nesse formato. Veja abaixo um exemplo de poema seu:

“Você deixou tudo a tua cara


Só pra deixar tudo
Com cara de saudade.”
Disponível em: https://tinyurl.com/ympm3fjb. Acesso em: 15 maio 2021.

De sua obra, destaca-se o livro “Dois em um”, que é uma pequena coletânea que reúne poemas dos livros
Vice Versos (1988) e Pelos Pelos (1984). Da geração mimeógrafo, também sofre influência do
concretismo, mas também usa sonetos (“Olhos de Camões”).

e agora maria?
o amor acabou Intertextualidade com o poema "E agora, José?",
a filha casou de Carlos Drummond de Andrade.
o filho mudou
teu homem foi pra vida
que tudo cria
a fantasia
que você sonhou
apagou
à luz do dia
e agora maria?
vai com as outras
vai viver
com a hipocondria
Publicado no livro Navalhanaliga (1980). In: RUIZ, Alice. Pelos pelos.
São Paulo: Brasiliense, 1984. (Cantadas literárias, 24)

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Entre os principais representantes da prosa curta do período, encontramos:


 Contos: Caio Fernando Abreu, Dalton Trevisan, Hilda Hilst e Rubem Fonseca.
 Crônica: Fernando Sabino, Lya Luft, Luís Fernando Veríssimo, Millôr Fernandes, Moacyr
Scliar, Sérgio Sant'Anna e Martha Medeiros.

Você não precisa decorar esses nomes todos. O importante é


saber que esses são autores mais cobrados em provas e tentar ler
alguns de seus textos para se acostumar com sua linguagem.
Alguns deles nós já trabalhamos inclusive.

INTERTEXTUALIDADE

Os autores contemporâneos frequentemente fazem referência a outros autores. Por isso,


frequentemente você vai encontrar no âmbito da Literatura Contemporânea a abordagem da Literatura
Comparada. Muitas vezes, essas referências são bastante explícitas. Noutras, nem tanto.

Entende-se por intertextualidade a relação entre dois ou mais textos,


entendendo qual a natureza dessa relação. Algumas vezes a
intertextualidade é mais evidente outras não. Pode também
aparecer entre textos de diferentes naturezas, verbais e visuais.

A intertextualidade é um comum recurso na literatura contemporânea, especialmente


por causa do distanciamento histórico. Muitos autores estabelecem vínculo com
escritores do passado, agora já à luz dessa tradição.

Veja abaixo um exemplo de intertextualidade. Um dos poemas mais conhecidos de Adélia Prado é
este em que ela faz uma referência explícita a um poema de Carlos Drummond de Andrade:

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ADÉLIA PRADO – COM LICENÇA POÉTICA CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE – POEMA DE SETE FACES
QUANDO NASCI, UM ANJO TORTO
DESSES QUE VIVEM NA SOMBRA
DISSE: VAI, CARLOS! SER GAUCHE NA VIDA

AS CASAS ESPIAM OS HOMENS


QUE CORREM ATRÁS DE MULHERES
A TARDE TALVEZ FOSSE AZUL
NÃO HOUVESSE TANTOS DESEJOS
QUANDO NASCI UM ANJO ESBELTO,
O BONDE PASSA CHEIO DE PERNAS
DESSES QUE TOCAM TROMBETA, ANUNCIOU:
PERNAS BRANCAS PRETAS AMARELAS
VAI CARREGAR BANDEIRA.
PARA QUE TANTA PERNA, MEU DEUS, PERGUNTA MEU
CARGO MUITO PESADO PRA MULHER,
CORAÇÃO
ESTA ESPÉCIE AINDA ENVERGONHADA.
PORÉM MEUS OLHOS
ACEITO OS SUBTERFÚGIOS QUE ME CABEM,
NÃO PERGUNTAM NADA
SEM PRECISAR MENTIR.
NÃO TÃO FEIA QUE NÃO POSSA CASAR,
O HOMEM ATRÁS DO BIGODE
ACHO O RIO DE JANEIRO UMA BELEZA E
É SÉRIO, SIMPLES E FORTE
ORA SIM, ORA NÃO, CREIO EM PARTO SEM DOR.
QUASE NÃO CONVERSA
MAS, O QUE SINTO ESCREVO. CUMPRO A SINA.
TEM POUCOS, RAROS AMIGOS
INAUGURO LINHAGENS, FUNDO REINOS
[...]
— DOR NÃO É AMARGURA.
MINHA TRISTEZA NÃO TEM PEDIGREE,
MEU DEUS, POR QUE ME ABANDONASTE
JÁ A MINHA VONTADE DE ALEGRIA,
SE SABIAS QUE EU NÃO ERA DEUS
SUA RAIZ VAI AO MEU MIL AVÔ.
SE SABIAS QUE EU ERA FRACO
VAI SER COXO NA VIDA, É MALDIÇÃO PRA HOMEM.
MUNDO MUNDO VASTO MUNDO
MULHER É DESDOBRÁVEL. EU SOU.
SE EU ME CHAMASSE RAIMUNDO
(PRADO, ADÉLIA. BAGAGEM. RIO DE JANEIRO:
SERIA UMA RIMA, NÃO SERIA UMA SOLUÇÃO
RECORD, 2003).
MUNDO MUNDO VASTO MUNDO
MAIS VASTO É MEU CORAÇÃO

EU NÃO DEVIA TE DIZER


MAS ESSA LUA
MAS ESSE CONHAQUE
BOTAM A GENTE COMOVIDO COMO O DIABO
(ANDRADE, Carlos Drummond. Alguma poesia. São
Paulo: Companhia das Letras, 2013).

Vamos ver agora mais um exemplo, um pouco anterior, da primeira geração modernista, para
entendermos que esse procedimento foi frequente ao longo de todo o século XX. Trata-se da união do
moderno/contemporâneo com a tradição.

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OSWALD DE ANDRADE – CANTO DE REGRESSO À PÁTRIA GONÇALVES DIAS – CANÇÃO DO EXÍLIO


MINHA TERRA TEM PALMEIRAS,
ONDE CANTA O SABIÁ;
MINHA TERRA TEM PALMARES AS AVES, QUE AQUI GORJEIAM,
ONDE GORJEIA O MAR NÃO GORJEIAM COMO LÁ.
OS PASSARINHOS DAQUI
NÃO CANTAM COMO OS DE LÁ NOSSO CÉU TEM MAIS ESTRELAS,
NOSSAS VÁRZEAS TÊM MAIS FLORES,
MINHA TERRA TEM MAIS ROSAS NOSSOS BOSQUES TÊM MAIS VIDA,
E QUASE TEM MAIS AMORES NOSSA VIDA MAIS AMORES.
MINHA TERRA TEM MAIS OURO [...]
MINHA TERRA TEM MAIS TERRA
MINHA TERRA TEM PRIMORES,
OURO TERRA AMOR E ROSAS QUE TAIS NÃO ENCONTRO EU CÁ;
EU QUERO TUDO DE LÁ EM CISMAR — SOZINHO, À NOITE —
NÃO PERMITA DEUS QUE EU MORRA MAIS PRAZER EU ENCONTRO LÁ;
SEM QUE VOLTE PARA LÁ MINHA TERRA TEM PALMEIRAS
ONDE CANTA O SABIÁ.
NÃO PERMITA DEUS QUE EU MORRA
SEM QUE VOLTE PRA SÃO PAULO NÃO PERMITA DEUS QUE EU MORRA,
SEM QUE EU VEJA A RUA 15 SEM QUE EU VOLTE PARA LÁ;
E O PROGRESSO DE SÃO PAULO SEM QUE DESFRUTE OS PRIMORES
ANDRADE, O. CADERNOS DE POESIA DO ALUNO QUE NÃO ENCONTRO POR CÁ;
OSWALD. SEM QU’INDA AVISTE AS PALMEIRAS
SÃO PAULO: CÍRCULO DO LIVRO, S/D. ONDE CANTA O SABIÁ.
DIAS, G. POESIA E PROSA COMPLETAS.
RIO DE JANEIRO: AGUILAR, 1998.

Além disso, há uma tendência a misturar diferentes linguagens nos textos em prosa. Há misturas
entre romance e texto jornalístico, poemas em prosa, textos em prosa poética, biografias com aspectos
ficcionais, contos misturados com crônicas. A não fixação de uma forma é bastante característica da
literatura contemporânea.

MEIOS DIGITAIS

Mais recentemente, um elemento que tem sido importante para a escrita literária é a internet e
os meios digitais. Além das referências temáticas – obras cujos assuntos se debrucem sobre o tema da
vida digital – a internet modificou a relação da literatura com o público e com a divulgação da obra
literária.
A primeira década dos anos 2000 foi especialmente profícua para os blogs. Atualmente um pouco
em desuso, os blogs eram uma espécie de diário aberto. Ali se podia produzir conteúdo escrito tanto
pessoal quanto ficcional, literário. Muito autores que hoje se dedicam à escrita de livros físicos começaram
suas carreiras escrevendo em blogs nesse período.

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A linguagem da internet também é diferente da linguagem acadêmica. Há maior liberdade formal e


maior flexibilidade da norma culta, além de uma capacidade de síntese que permita que a informação
seja passada rapidamente. Essas características também transbordam para a literatura contemporânea.

INSTAPOETAS
Você sabe o que são “instapoetas”?
Instapoetas é o nome dado a uma geração de autores que utilizam plataformas como o
Instagram e o Facebook para publicarem seus conteúdos. Ao invés de procurarem uma editora que
aposte em seu trabalho, esses escritores publicam conteúdo online e formam público leitor. E aí, o
contrário acontece: as editoras é que buscam os autores para publicar livros com suas poesias.
A maioria dos instapoetas produzem textos curtos, com versos livres e brancos. As temáticas
favoritas são o amor e os relacionamentos. Há também o aparecimento de temas sociais, como
preconceito, por exemplo. As poesias costumam aparecer em imagens com design bem pensado,
acompanhadas de ilustrações ou com fontes diferentes. Eu aposto que você já viu vários desses
perfis pela internet!
Alguns instapoetas bastante populares no Instagram são:
 João Doederlein: @akapoeta
 Rupi Kaur: @rupikaur_
 Ryane Leão: @ondejazzmeucoracao
 Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente:
@textoscrueisdemais

MEMORIALISMO

Uma outra tendência importante do contemporâneo é a vontade de se debruçar sobre a questão


da memória. São comuns os livros que misturam elementos ficcionais com relatos autobiográficos. Alguns
autores que tinham sido exilados durante o regime militar, ao retornar para o Brasil, produziram
autobiografias com traços reflexivos, revendo a sua própria história.

“Feliz ano velho” (1982) é um romance brasileiro escrito por


Marcelo Rubens Paiva (ao lado). Misturando ficção com
autobiografia, ele relata o acidente que sofreu aos 20 anos. Ao
mergulhar em um lago, ele bateu a cabeça e o ferimento o
deixou tetraplégico. No livro, ele conta a história de sua
recuperação misturada a histórias curiosas de sua infância e
adolescência. É um livro de leitura fácil por conta de sua
linguagem bastante coloquial.

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Outro traço do memorialismo na literatura brasileira é


o interesse em publicar diários. Por muito tempo, entendeu-
se literatura como obras de ficção. No contemporâneo, os
relatos pessoais, não fictícios, começam a ser vistos dessa
forma também.
Por exemplo, a obra “Quarto de despejo: diário de uma
favelada”, de Carolina Maria de Jesus (ao lado). O livro,
lançado em 1960, reproduz o diário de Carolina Maria de
Jesus, narrando seu cotidiano vivendo na pobreza na cidade de
São Paulo dos anos 1940. O livro, como muitos diários, tem
linguagem simples e marcada pela oralidade. A autora
também escreveu “Diário de Bitita”, outra obra de cunho
autobiográfico narrando suas experiências pessoais.

TEXTO I

TRECHO DE “QUARTO DE DESPEJO”


15 de julho de 1955
Aniversário da minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela. Mas
o custo dos generos alimenticios nos impede a realização dos nossos desejos. Atualmente somos
escravos do custo de vida. Eu achei um par de sapatos no lixo, lavei e remendei para ela calçar.
JESUS, Maria Carolina de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo; Ática, 2014.

Comentários
Não devemos tratar as incorreções ortográficas em Carolina Maria de Jesus como erros em si, mas
sim como escrita marcada por uma pessoa de extrema vulnerabilidade social, catadora de lixo que
para dar um presente de aniversário à filha pega sapatos no lixo, pois não tem como comprá-los.
Carolina Maria de Jesus disse que o Brasil deveria ser governado por quem passou fome, pois a fome
é a melhor professora. Carolina Maria de Jesus representa uma escrita de resistência, ora alternando
dias melhores e mais animados com outros mais depressivos, como qualquer ser humano. Curiosidade:
ela em vida conheceu Clarice Lispector, com quem tirou uma foto histórica.

TEXTO II

TRECHO DE “DIÁRIO DE BITITA”


As mulheres pobres não tinham tempo disponível para cuidar dos seus lares. Às seis da manhã,
elas deviam estar nas casas das patroas para acender o fogo e preparar a refeição matinal. Que coisa
horrível! As que tinham mães deixavam com elas seus filhos e seus lares.

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As empregadas eram obrigadas a cozinhar, lavar e passar. As refeições deveriam ser preparadas
com artifícios: cestinhas de tomates, recheadas com maionese, cestinhas de batatas, recheadas com
presunto moído, azeitonas etc. As refeições eram servidas assim: primeiro uma sopa; após a sopa,
servia-se arroz, feijão, carne, salada. Quando serviam peixes, usavam-se outros pratos e outros
talheres. Por fim, a sobremesa e o café.
Quanta louça e talheres e panelas para serem lavadas! E tinha que arear os talheres. Lavar os
ladrilhos, enxugá-los com panos. Deixavam o trabalho às onze da noite. Trabalhavam
exclusivamente na cozinha. Era comum ouvir as pretas dizerem:
– Meu Deus! Estou tão cansada!
A comida que sobrava elas podiam levar para as suas casas. E nas suas casas, os seus filhos, que
elas chamavam de negrinhos, ficavam acordados esperando a mamãe chegar com a comida gostosa
das casas das ricas. No jantar as cozinheiras faziam mais comida, para sobrar. A comida que os
patrões comiam no almoço, não comiam no jantar.
Uma boa cozinheira ganhava trinta mil-réis por mês. Quando vencia o mês e a cozinheira
recebia, ela tinha a impressão de ser uma heroína. Enaltecia a si mesma dizendo:
– Eu sou forte! Não é qualquer uma que aguenta cozinhar para o doutor Souza.
JESUS, Maria Carolina de. Diário de Bitita. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986 (p. 32-33).

Comentários
No excerto, o traço mais característico dos patrões é uma parcimônia moderada, apenas se ela
não lhes tirar o benefício próprio. É preciso levar em consideração o ponto de vista do trecho. Ainda
que não fosse preciso conhecer o enredo, parte-se do pressuposto de que quem está narrando
conhece aquele cotidiano descrito. É um diário (registro) de uma personagem chamada Bitita (no
fundo, autobiográfico, pois são experiências da própria Maria Carolina de Jesus, na infância e na
adolescência).

Outra autora a ser destacada no ramo do memorialismo é


Helena Morley. Segundo a orelha de livro da edição de 1998 da
Companhia das Letras, “Helena Morley é o pseudônimo de Alice
Dayrell Caldeira Brant, nascida em 28 de agosto de 1880, em
Diamantina, Minas Gerais. Estudou na Escola Normal da cidade
e casou-se, em 1990, com Augusto Mario Caldeira Brant, com
quem teve seis filhos. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1970”.
“Minha vida de menina” é um livro que foi escrito pela
protagonista em sua pré-adolescência, em um momento de
transição da sua vida. Por isso mesmo a temática às vezes é mais
ingênua e outras, mais crítica. Por outro lado, foi escrito em uma
época (no fim do século XIX) e publicado em outra (quase na
metade do século XX).

TRECHO DE “MINHA VIDA DE MENINA”


Chegou de Montes Claros uma irmã da nora de tia Clarinha e foi visitar tia Agostinha no Jogo da
Bola. Ela é bonita, simpática e veste-se muito bem. [...] Ficaram todas as tias admiradas da beleza da
moça e de seus modos políticos de conversar. Falava explicado e tudo muito correto. Dizia “você”
em vez de “ocê”. Palavra que eu nunca tinha visto ninguém falar tão bem; tudo como se escreve sem
engolir um s nem um r. Tia Agostinha mandou vir uma bandeja de uvas e lhe perguntou se ela

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gostava de uvas. Ela respondeu: “Aprecio sobremaneira um cacho de uvas, Dona Agostinha.” Estas
palavras nos fizeram ficar de queixo caído. Depois ela foi passear com outras e laiá aproveitou para
lhe fazer elogios e comparar conosco. Ela dizia: “Vocês não tiveram inveja de ver uma moça [...] falar
tão bonito como ela? Vocês devem aproveitar a companhia dela para aprenderem”. [...] Na hora do
jantar eu e as primas começamos a dizer, para enfezar laiá: “Aprecio sobremaneira as batatas fritas”,
“Aprecio sobremaneira uma coxa de galinha”.
MORLEY, Helena. Minha vida de menina: cadernos de uma menina provinciana
nos fins do século XIX. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997.

Comentários
O uso do advérbio “sobremaneira” (bastante, muito) produziu a admiração da tia Agostinha e das
outras tias que a consideraram demonstração de “falar bonito”. No entanto, causou espanto à
narradora e às primas pela inadequação do termo em situações informais como as que são típicas em
convívio familiar. Ao repeti-la de forma afetada na hora de jantar, a narradora expõe uma visão
indicativa de ironia.

O interessante dessa obra é que ela foi escrita em uma época (quando Helena Morley era pré-
adolescente, entre 1893-1895) e publicado em outra (1942). Isso torna o seu enquadramento incerto,
uma vez que foi escrito no período correspondente ao movimento literário do Realismo – tendo o texto
inclusive algumas de suas características como a denúncia social, o psicologismo e a verossimilhança –,
mas foi publicado no período da segunda geração do Modernismo, que tem justamente o memorialismo
como uma de suas principais características.

Minha vida de menina (1942)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
Diário. Narrações curtas, de episódios sobre a vida cotidiana na roça. Não
apenas o dia a dia, mas também a lembrança e o papel da memória ocupam
ESTRUTURA
grande parte de seus relatos e de seus casos contados da vida e da
população local.
A protagonista Helena Morley, com seus de 13 a 14 anos de idade, a mãe
PERSONAGENS Carolina, o pai Alexandre, a avó, o irmão Renato, a irmã Luisinha, a tia
Madge, tio Geraldo.
Entre os anos de 1893, 1894 e 1895, compreendendo os 13, 14 e 15 anos
TEMPO
de Helena.
Cidade de Diamantina, porém, viagens por outras regiões de Minas Gerais,
como Biribiri, Bom Sucesso, Boa Vista, Sopa, Montes Claros etc. No plano
ESPAÇO
doméstico, temos as ruas como Curralinho, Glória, Jogo da Bola e Cavalhada,
por onde Helena Morley morava, transitava e ia visitar a sua família.
O diário se trata da formação de Helena, perpassando pelo seu caráter,
ENREDO moral, educação, visão de mundo e valores. As pessoas mais próximas são
da família, sobretudo a avó.
Com 84 anos, a avó falece, perto do aniversário de debutante (de 15 anos)
CLÍMAX
de Helena. Ela pega pneumonia.
A avó Teodora falece, deixando uma grande saudade no peito de Helena,
DESFECHO
que agora já está mais amadurecida.

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POESIA MARGINAL

A produção literária com viés social fica prejudicada com a censura. Foi preciso se valer de meios
que driblassem a censura, então a linguagem mais metafórica e as referências indiretas acabavam sendo
muito acessadas. Alguns poetas driblaram a censura de outro modo, porém: publicando e distribuindo
eles próprios sua poesia. Esses são os poetas marginais.
Os poetas marginais encontraram outros meios de distribuir sua poesia que não precisasse passar
pelo crivo da censura. Assim, os autores produziam e vendiam a valores baixos revistas, folhetos, cartazes
etc., sempre em pequenas tiragens. As obras eram impressas em mimeógrafo. Por isso, eram também
chamados de Geração Mimeógrafo.

Mimeógrafo: é o avô da impressora. Consistia em uma


máquina que copiava os textos a partir de uma matriz.
Escrevia-se numa folha especial (matriz) e colocava-se
essa folha num cilindro de feltro embebido em álcool.
Quando em contato com uma folha em branco, o
álcool transferia o conteúdo da matriz. As cópias
tinham cheiro muito forte de álcool e possuíam cor
azul-arroxeada.

Os poemas eram em sua maioria curtos, com referências visuais e linguagem coloquial. Muitas das
temáticas eram ligadas ao erotismo e ao cotidiano – principalmente da vida das cidades. Há também a
presença de gírias, palavrões e palavras de baixo calão.

A poesia marginal

Paulo Leminski

Paulo Leminski (1944-1989): Poeta, tradutor, crítico literário e


professor, Leminski ficou conhecido por seus poemas breves, usando com
frequência o haicai. Teve ligação com a tendência concretista e seus
poemas costumam brincar com várias tipografias diferentes, como se
fossem textos jornalísticos. Foi próximo de Cacaso e Ana Cristina Cesar,
tendo tido até envolvimento com produções musicais. Atualmente, suas
duas obras principais editadas são Toda poesia e Vida, mas também se
destaca sua obra Catatau.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 90


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Observem a experimentação formal presente em um de seus poemas mais conhecidos:

TEXTO I

LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

Comentários
A grande influência do poema é um preceito do concretismo denominado de critério verbi-voco-
visual. São levados em considerações aspectos como os verbais (escolha das palavras e sentidos),
vocais (aliterações, por exemplo) e visuais (a própria construção de um triângulo por meio da forma
do poema).

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 91


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

TEXTO II

BEM NO FUNDO
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,


aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela – silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,


maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,


problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
LEMINSKI, Paulo. Distraídos venceremos. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

Comentários
 PRIMEIRA ESTROFE
Já nos dois primeiros versos, observamos várias repetições, do que já consta no título: lá no fundo.
O objetivo é dar ênfase ao máximo a esse termo. E três versos inteiros ficam quase só nisso.
Os versos são cursos, rápidos, sem nenhuma pontuação a não ser a vírgula.
É utilizado o registro informal da linguagem, o que pode ser verificado com o uso da expressão “ a
gente”.
Por fim, há o trocadilho “problemas resolvidos por decreto”, como se todo e qualquer problema
pessoal pudesse ser resolvido por alguma instância jurídica, como se bastasse ter um problema e ele
já seria resolvido, como se valesse o dito popular: querer é poder.
Trocadilho é um jogo de palavras que apresentam sons semelhantes ou iguais, mas que possuem
significados diferentes, de que resultam equívocos por vezes engraçados. Ou então uso de expressão
que dá margem a diversas interpretações.
Já decreto é uma ordem ou resolução emanada de autoridade superior ou instituição, civil ou
militar, leiga ou eclesiástica. Decreto também pode ser meramente manifestação de vontade;
desígnio.
Por meio do pronome possessivo “nosso”, há uma aproximação entre o eu lírico e o leitor.
 SEGUNDA ESTROFE
Há continuidade ao jogo, pois um decreto é estipulado numa data específica, a partir de quando ele
será válido. É como se esse juiz supremo pudesse magicamente acabar com nossos problemas, silenciá-
los. Como se aos problemas pudesse ser decretada uma pena, uma punição, para que eles pudessem
ser mandados de volta ao lugar de onde vieram.

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Profa. Luana Signorelli

“Aquela mágoa sem remédio” corresponde a “nossos problemas”. Há o estabelecimento de dois


planos: o subjetivo, familiar (nossos problemas) junto ao objetivo, jurídico.
 TERCEIRA ESTROFE
O poema todo é construído numa linha de continuidade. Aqui há inversão da ordem direta: a ordem
direta seria Substantivo + Adjetivo, e no caso Machado inverte: Adjetivo + Substantivo (extinto todo o
remorso) e o que há no meio – por lei – é um adjunto adverbial. O objetivo de inversão de ordem direta
é sempre dar ênfase. Aqui, no caso, porque a palavra “extinto” tem uma carga emocional forte, ela
impacta, e pode se referir por exemplo a espécies extintas, aniquiladas, exterminadas.
Há toda uma sonoridade baseada na vogal “a” (aberta): lá, trás, há, nada. Então, existe a figura de
linguagem da assonância: quando há repetição de sons vocálicos.
O eu lírico vai se encaminhando para um destino fatídico: nada mais.
 QUARTA ESTROFE
Daí vem um único verso que quebra toda a linha de raciocínio e estabelece uma oposição, por meio
da conjunção de adversidade “mas”: mas problemas não se resolvem. Aqui, o eu lírico parece não
deixar esperança.
Até que esse efeito é quebrado pelo humor: a personificação do humor, como se ele fosse uma
pessoa e tivesse crias, que leva para passear aos domingos.

TEXTO III

Contranarciso
em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas

o outro
que há em mim
é você
você
e você

assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós
LEMINSKI, P. Toda poesia. São Paulo: Cia. das Letras. 2013.

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Comentários
O título do poema alude a Narciso, figura mitológica que, encantado pela sua própria beleza
refletida na água da lagoa, definha e morre, podendo ser entendido como o símbolo da vaidade e do
individualismo. “Contranarciso” seria, dessa forma, a inversão do mito, a expressão da necessidade do
eu lírico de “beber” em outros lagos, incapaz de desfrutar plenamente de seu próprio eu sem a ajuda
de outros.

Ana Cristina Cesar


Ana Cristina César (1952-1983): poetisa, tradutora e crítica literária,
Ana Cristina Cesar ficou conhecida como uma das vozes femininas mais
importantes da geração. Era depressiva e sua obra também costuma
expressar a cultura de sua época, como os gêneros musicais do blues e
jazz por exemplo. Sua poesia discute questões ligadas à feminilidade e
relacionamentos.

noite carioca
Diálogo de surdos, não: amistoso no frio. Atravanco na contramão.
Suspiros no contrafluxo. Te apresento a mulher mais discreta do
mundo: essa que não tem nenhum segredo

TRECHO DE “A TEUS PÉS”


26 de março
Preciso começar de novo o caderno terapêutico.
Não é como o fogo do final. Um caderno terapêutico é outra história. É deslavada. Sem luvas.
Meio bruta. É um papel que desistiu de dar recados. Uma imitação da lavanderia com suas máquinas
a seco e suas prensas a vapor. Um relatório do instituto nacional do comércio, ríspido mas ditoso,
inconfessadamente ditodos. Nele eu sou eu e você é você mesmo. Todos nós. Digo tudo com ais à
vontade. E recolho os restos das conversas, ambulância. Trottoir na casa. Umas tantas cismas. O
terapêutico não se faz de inocente ou rogado. Responde e passa as chaves. Metálico, estala na boca,
sem cascata.
E de novo.
CESAR, Ana Cristina. A teus pés. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 57.

Comentários
Nessa prosa poética, a personagem narradora, na iminência de um estado de choque, descreve
seu cotidiano numa tentativa de encarar a escrita como uma espécie de cura e superação da realidade

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imediata. O trecho mostra uma narradora apática, deprimida, que não encontra mais sentido nas ações
cotidianas. Porém, ela encara o gênero do diário, isto é, o exercício constante da escrita, como uma
forma de superação de seus dramas cotidianos. Então, a escrita funciona como uma espécie de cura
para o seu estado depressivo, ou ao menos o ameniza.

Cacaso

Antônio Carlos de Brito (1944-1987) nasceu em Uberaba e também


ficou conhecido como Cacaso, um dos principais poetas marginais. Além de
poeta, foi professor universitário. Suas principais obras são as seguintes:
 A palavra cerzida (1967);
 Grupo escolar (1974);
 Beijo na boca (1975);
 Na corda bamba (1978);
 Mar mineiro (1982);
 Poesia completa (2020).

Jogos florais
Minha terra tem palmeiras
onde canta o tico-tico.
Enquanto isso o sabiá
vive comendo o meu fubá.

Ficou moderno o Brasil


ficou moderno o milagre:
a água já não vira vinho,
vira direto vinagre.
CACASO. Jogos florais. Disponível em: https://tinyurl.com/y4scx95m.
Acesso em: 24 jul. 2020.

Comentários
O poema do Cacaso alude principalmente à natureza, as palmeiras e os tico-ticos, e também à
culinária (o fubá). Porém, Cacaso quer retratar que, diante desse cenário, o Brasil mudou muito, pois
passou por modernização. Cacaso é um poeta marginal que utilizou um poema como base para
estabelecer intertextualidade. O poema base no caso é a “Canção do exílio” do poeta da primeira
geração romântica Gonçalves Dias. Como já estudamos anteriormente, esse poema base já serviu de
intertextualidade para outros poetas também, como Oswald de Andrade, e ainda:
 Murilo Mendes – Canção do exílio.
 Carlos Drummond de Andrade – Nova canção do exílio.
 Jô Soares – Canção do exílio às avessas.

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Outros poetas marginais foram Chico Alvim; Chacal e Torquato Neto. Vamos ver mais exemplos
destes dois últimos abaixo. Mais vozes importantes no período foram: Waly Salomão; Jorge Mautner e
José Agrippino de Paula. Era um pessoal que estava descobrindo a Câmera Super 8 e novas experiências
na forma como fazer cinema; por isso, muito de seus poemas são como flashes cinematográficos: curtos,
breves e fragmentados. Também fizeram importantes documentários.

TEXTO I

Reclame
Se o mundo não vai bem
a seus olhos, use lentes
... ou transforme o mundo

ótica olho vivo


agradece a preferência
CHACAL et al. Poesia marginal. São Paulo: Ática, 2006.

Comentários
Chacal é um dos representantes da geração poética de 1970. A
produção literária dessa geração, considerada marginal e engajada, de
que é representativo o poema apresentado, valoriza o experimentalismo
em versos curtos e tom jocoso.
A obra de Ricardo de Carvalho Duarte (1951), conhecido como Chacal,
poeta e letrista brasileiro, explora a temática urbana, revelando influências
de Bandeira e Drummond e também da cultura pop, como a gíria carioca e
as canções de rock. A tônica do bom humor, em versos curtos e irregulares,
além de uma ironia entre o crítico e o debochado, explorando aspectos da
oralidade/coloquialidade e signos do corpo, com imagens que remetem à
cidade são características presentes no poema “Reclame”, valorizando o
experimentalismo.

TEXTO II

{terça-feira, 21 de setembro de 1971}


a palavra subterrânea
Pois é: palavra subterrânea debaixo da pele do uniforme de colégio que me vestem apareceu
primeiro no Pasquim, num Pasquim do ano passado, lançada às feras e aos olhares tortos por Hélio
Oiticica, o tal. A palavra subterrânea na seção Underground, de Maciel. Simplifico e explico que
subterrânea deve significar underground, só que traduzido para o brasileiro curtido de nossos dias,
do qual se fala tanto por aí. Onde melhor se vive esta língua, Fogareiro vira cinzas.

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Na subterrânea: do underground na cultura nacional para a vida (...): daqui pra lá é assim. De lá
pra cá volta assado, queimado. Assim como sempre. Volta tudo muito culto, muito astuto.
E eu sinto muito, e curto. Pode sim. Eis: subterrânea.
NETO, Torquato. Torquatália: obra reunida de Torquato Neto.
Rio de Janeiro: Rocco, 2004 (p. 234).

Comentários
Entre as funções de linguagem no trecho, prevalece a metalinguística. A é a linguagem se
remetendo a ela mesma. Porém, pode ser um filme se remetendo a ele mesmo; ou uma fotografia se
remetendo a ela mesma → trata-se de algo se remetendo a si mesmo. No caso, ela ocorre ao menos
duas vezes:
1) já desde o título, a partir da menção à palavra “palavra”, pois o trecho se empenha em discutir a
palavra “subterrânea”, a qual é associada com o seu equivalente em inglês “underground”, utilizado
geralmente para designar um tipo de cultura; e
2) também por conta da alusão ao veículo de comunicação Pasquim, um jornal.
Torquato Neto (1944-1972) se suicidou aos 28 anos de idade, trancando-se no banheiro e abrindo
o gás. Embora talentoso, era contemporâneo de artistas como Caetano Veloso e Gilberto Gil. Assim,
sentia-se frequentemente depressivo.

VOZES DISSONANTES (POLIFONIA)

Outra característica importante da literatura contemporânea é a presença das vozes dissonantes,


ou seja, da abertura de espaço para autores com perfis que normalmente não estavam na literatura.
Você deve ter percebido que há escritores com perfis bastante diferentes nessa aula: homens e
mulheres, negros e brancos, pessoas de origem pobre ou não... isso é um traço do contemporâneo. Há
interesse em ouvir vozes diferentes. Se durante boa parte da história a literatura era feita por homens de
classe alta, no contemporâneo há uma maior abertura para pessoas com outras vivências.
Isso se deve também, em parte, às mudanças no modo de produção e divulgação das obras. Com
o maior acesso que a internet permitiu, mais pessoas puderam produzir textos. Além disso, a internet
facilita a criação de comunidades, espaço de interesse comum. Nas redes sociais, é possível encontrar
grupos que incentivam a leitura de obras de determinados estratos sociais, o que ajuda na circulação de
obras que, por vezes, não ganhavam atenção das editoras.

O filme “Corra!” é um drama psicológico de 2017. O diretor


Jordan Peele é artista afro-americano contemporâneo que
produz filmes que tangenciam o problema do racismo. Em
todos os seus filmes, os protagonistas são atores negros.
Em “Corra!”, ele conta a história de um homem que vai
para o interior conhecer a família da namorada, mas coisas
estranhas começam a acontecer.

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
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Ainda assim, fora do meio da internet, o perfil do escritor brasileiro é parecido ao longo de todo o
período contemporâneo. Uma pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos em Literatura Contemporânea a
UnB revelou que ainda hoje, cerca de 70% dos autores são homens e 97% são brancos. 1 Isso indica que
ainda que tenha havido diversificação aparente nos autores, a realidade é que as vozes dissonantes ainda
estão em grande minoria.

LUGAR DE FALA

Se você é usuário ativo da internet e das redes sociais, você já deve ter ouvido essa expressão. Mas
o que é realmente um lugar de fala?
Apegando-se estritamente ao termo, significa “o lugar de onde parte minha fala”. É uma expressão
que aponta para o reconhecimento do que na sua vida e no seu cotidiano colabora para formar seu
discurso.
Nos textos literários, aponta muitas vezes para textos contaminados pela vivência pessoal. Por
exemplo, um texto com o tema “guerra” escrito por um homem, muitas vezes, será diferente de um texto
escrito por uma mulher, pois esse é um assunto que homens e mulheres experienciam tradicionalmente
de maneira diferente.
Não tem problema nenhum em sermos diferentes e falarmos de pontos de vista diferentes. Isso faz
parte da multiplicidade de vozes da Literatura Contemporânea.

Fonte: Pixabay.

Literatura preta/periférica

Meu Rosário
Meu rosário é feito de contas negras e mágicas.
Nas contas de meu rosário eu canto Mamãe Oxum e falo
padres-nossos, ave-marias.
Do meu rosário eu ouço os longínquos batuques do
meu povo

1
Disponível em: <https://tinyurl.com/y65ruer8>. Acesso em 13 maio 2019.

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e encontro na memória mal-adormecida


as rezas dos meses de maio de minha infância.
As coroações da Senhora, onde as meninas negras,
apesar do desejo de coroar a Rainha,
tinham de se contentar em ficar ao pé do altar
lançando flores.
As contas do meu rosário fizeram calos
nas minhas mãos,
pois são contas do trabalho na terra, nas fábricas,
nas casas, nas escolas, nas ruas, no mundo.
As contas do meu rosário são contas vivas.
(Alguém disse que um dia a vida é uma oração,
eu diria porém que há vidas-blasfemas).
Nas contas de meu rosário eu teço entumecidos
sonhos de esperanças.
Nas contas do meu rosário eu vejo rostos escondidos
por visíveis e invisíveis grades
e embalo a dor da luta perdida nas contas
do meu rosário.
Nas contas de meu rosário eu canto, eu grito, eu calo.
Do meu rosário eu sinto o borbulhar da fome
No estômago, no coração e nas cabeças vazias.
Quando debulho as contas de meu rosário,
eu falo de mim mesma em outro nome.
E sonho nas contas de meu rosário lugares, pessoas,
vidas que pouco a pouco descubro reais.
Vou e volto por entre as contas de meu rosário,
que são pedras marcando-me o corpo-caminho.
E neste andar de contas-pedras,
o meu rosário se transmuda em tinta,
me guia o dedo,
me insinua a poesia.
E depois de macerar conta por conto do meu rosário,
me acho aqui eu mesma
e descubro que ainda me chamo Maria.
EVARISTO, Conceição. Poemas de recordação e outros movimentos. Rio de Janeiro: Editora Malê, 2020.

Comentários
De tanto contar histórias alheias em outros nomes, ou seja, em outros pontos de vista, o eu lírico
aprende a colocar-se no lugar do outro. Para o eu lírico, a escrita é como uma forma de religião, de tal
forma que é possível criar simpatia. A escrita é um espaço de memória, utilizado pelo eu lírico no
sentido de ressaltar um viés da cultura brasileira que é o sincretismo religioso. No caso do poema, o
eu lírico embaralha a noção do rosário, uma espécie de terço da religião católico-cristã, com as religiões
nas quais se acreditam em orixás como Oxum, dona do ouro e das pedras preciosas, por exemplo. A
metalinguagem é um recurso poderoso para reinventar não só a escrita enquanto processo de
tessitura, como também as próprias histórias, podendo reescrever enredos que no passado não foram
tão idealistas assim. A literatura modernista e a contemporânea tendem a abandonar o idealismo do
século XIX, relegado ao Romantismo. Na literatura contemporânea, há o conceito de lugar de fala, em

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que voz minoritárias agora ganham o direito e poder de falar e narrar as suas próprias histórias, a partir
de seu ponto de vista, que nem sempre coincide com o da História Oficial.

Conceição Evaristo (1946-...) é uma das vozes mais importantes da


Literatura Contemporânea. Curiosidade: tive o prazer de conhecê-la
pessoalmente como consta na fotografia ao lado na Bienal do Livro de 2016
em Brasília, junto à outra importante voz do feminismo negro: Djamila
Ribeiro. Conceição Evaristo teve de conciliar os estudos com o trabalho de
empregada doméstica, mas conseguiu! Hoje, ela é Mestra em Literatura
Brasileira pela PUC-Rio e Doutora em Literatura Comparada pela
Universidade Federal Fluminense. Suas principais obras são as seguintes:
 Ponciá Vicêncio (2003);
 Becos da memória (2006);
 Poemas da recordação e outros movimentos (2017);
 Olhos d'água (2014) – contos.

Bienal do Livro de 2016 (Brasília).


Fonte: Acervo Pessoal.

Prezados alunos, vocês devem ter reparado que a aula de hoje é bem extensa.
Mas não se preocupem: hora de relaxar! Por isso, preparei mais uma lista de filmes
em que as questões sobre a contemporaneidade levantadas aqui aparecem.

Ex_Machina: Instinto Artificial Clube da Luta (Dir.: David Babel (Dir.: Alejandro González
(Dir.: Alex Garland, 2015) Fincher, 1999) Iñárittu, 2007)

Meios digitais Cultura de massa Forma breve/fragmentação


Programador ganha concurso Jovem executivo insatisfeito que Três histórias correm em
cujo prêmio é testar uma dribla sua mediocridade paralelo, como pequenos contos
inteligência artificial criada por consumindo sem parar. Ele que se misturam: um casal no
um bilionário excêntrico. Ele conhece um estranho misterioso Marrocos, atingido por um tiro;
acaba se envolvendo com a e fundam um clube secreto em uma babá mexicana cuidando de
criatura e já não sabe em quem que extravasam suas frustrações duas crianças; e um homem no
confiar. em lutas violentas. Japão com sua filha surda.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 100


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Aos treze (Dir.: Catherine O amor não tira férias (Dir.: Atlanta (Dir.: Donald Glover,
Hardwicke, 2003) Nancy Meyers, 2006) 2016)

Memorialismo Cotidiano/simplicidade Poesia marginal


Drama autobiográfico. O roteiro Duas mulheres trocam de casa Alguns dos herdeiros das
conta a história da própria para suas férias. Elas mudam experiências marginais foram as
diretora que, no início da completamente de vida: uma, batalhas de rap. A série Atlanta
adolescência, faz amizade com vai para uma pequena cidade mostra o cotidiano de um rapper
uma garota popular da escola inglesa e a outra para uma e um pretenso empresário
que a leva para um mundo de mansão em Los Angeles. Elas musical tentando crescer de
drogas, criminalidade, entre passam a encontrar beleza no maneira independente.
outros. cotidiano.

Cristiane Sobral
Cristiane Sobral (1974-...) estudou teatro no SESC-RJ em 1989. No
ano seguinte, mudou-se para Brasília e tem Mestrado em Artes pela
Universidade de Brasília (UnB), onde estudou teatro também. Atuou
no curta-metragem “A dança da espera”. É casada com Jurandir e é
mãe de Ayana Thainá e Malick Jorge. Em 2017, ganhou o Prêmio FAC
– Cultura Afro-brasileira. É autora das seguintes obras:
 Cadernos negros (2000) – obra de estreia na Literatura;
 Não vou mais lavar os pratos (2010) – poemas;
 Espelhos, miradouros, dialéticas da percepção (2011) – contos;
 Só por hoje vou deixar o meu cabelo em paz (2014) – poemas;
 O tapete voador (2016) – contos;
 Olhos de azeviche (2017) – coletânea de contos e crônicas.

POESIA PRETA FEMININA


Tem cheiro bom de perfume
Cor de azeviche
Letras de cura Observação: a pomba gira é uma entidade do
Poesia preta feminina candomblé e da umbanda. É um espírito ligado
Preciosa na monotonia da paisagem aos prazeres carnais, geralmente ligado a
Representa nossa diversidade mulheres que tiveram vidas insubmissas (como se
Entra na roda com muito axé fosse um Exu feminino).
(...) É jongo, é jogo, é gira

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Pomba trazendo ventos de mudança


Bate firme e demarca o espaço com esperança
Tem a atitude da nossa gente
A rezar nos passos da diáspora
Reinventando o compasso da história.
SOBRAL, Cristiane. Terra negra. Rio de Janeiro: Malê, 2017 (p. 92).

Luciene Carvalho
 Segundo a Revista Pixé: a escritora é corumbaense, vive em Cuiabá, no
Estado de Mato Grosso/BRASIL - desde 1974 - tendo já recebido o título de
cidadã cuiabana. É membro da Academia Mato-Grossense de Letras/AML.
Entre as obras poéticas publicadas, citamos: Aquelarre (2007); Insânia
(2009); Ladra de Flores (2012) e Dona (2018).
 Segundo o Portal O Livre (Marília Valderez): No livro DONA Luciene
Carvalho ironiza e brinca com signos/conceitos que funcionam como marcas
identitárias da velhice. Ao assim fazer a poeta joga para o leitor as
perguntas: qual é a ideia de corpo que permeia nossa relação com a vida,
suas dores, amores e prazeres.
 Segundo Sinval Santana (Guia de Linguagens): Luciene Carvalho não
deixa de fora a crítica ao Mato Grosso comercial, ao agronegócio predatório:
“Abro as narinas /mas o cheiro é de terra seca”

TRECHO DO POEMA "PERIFÉRICA"


(...) meu verso é periférico;
pulou o muro,
entrou pela janela,
veio pela entrada de serviço
– eu sei disso.
Meu verso é pardo
como meu país.
Meu verso é onde guardo
o olhar que tenho do mundo
que vejo da janela
do fundo
do ônibus, Fonte: Hypeness. Disponível em:
da calçada https://tinyurl.com/mv5macnd.
andada a pé. Disponível em: 04 abril. 2023.
Meu verso tem pé na rua,
sua sob o calorão.
Não tem ar-condicionado,
não tem horário marcado,
meu verso é feito à mão.
CARVALHO, Luciene. Dona. Carlini&Caniato, 2018.

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José Carlos Limeira

José Carlos Limeira Marinho (1951-...) é baiano de Salvador. É formado em


Engenharia Operacional Mecânica na Universidade de Santa Úrsula no Rio
de Janeiro e mais recentemente em Letras na Universidade Católica de
Salvador. Em 1999, " participou do Programa de Visitantes Voluntários
patrocinado pela USIA, o que lhe permitiu estadia em vinte universidades
estadunidenses tradicionalmente negras" (literafro-UFMG). Participou da
criação e coordenação do Projeto de Capacitação de Trabalhadores
Culturais Afrodescendentes e Fundador do GENS – Grupo de Escritores
Negros de Salvador. Suas principais obras são:

 Zumbi (1971) – poesia;


 Lembranças (1972);
 O arco-íris negro (1978), em parceria com Éle Semog;
 Negras intenções (2003);
 Encantadas (2015).

Zumbi...dos
Daqui de onde estou,
Ouço os primeiros ruídos.
Abafados, subterrâneos,
Como os sussurros cuidadosos,
Por meus avós também ouvidos.
Da nova gente que surge,
Com a coragem de herança,
Legadas por Zumbi,
Quase esquecida pela força,
Quase sangrada pelas alegorias, Comentários
Quase morta pelos passos na avenida. O poema é tanto uma brincadeira sonora com a
Daqui de onde estou, palavra "zumbidos" que poderia ser o adjetivo
Sussurro também cauteloso,
particípio do verbo "zumbir", ou uma alusão a
Para despertar outros ouvidos,
Zumbi dos Palmares, último líder do Quilombo
E destravar outras bocas,
Para sussurrarmos todos um dia, dos Palmares (hoje museu aberto, situado na
E fazermos um barulho, Serra da Barriga, Alagoas), e líder de resistência.
Que será tal,
Que se transformará,
Em fala! (...)
LIMEIRA, José Carlos. Textos selecionados. Disponível em: https://tinyurl.com/b45sv3xu. Acesso em: 04 abril. 2023.

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Geovani Martins
Geovani Martins nasceu em 1991 em Bangu, no Rio de Janeiro. Trabalhou em
lanchonetes de barraca na praia. Em 2013-15, participou de oficinas na Festa Literária
das Periferias (Flup). Publicou contos na revista Setor X. Seu livro de contos "O sol na
cabeça" foi lançado em 2018.

Jefferson Tenório
Jefferson Tenório (1977-...) é um escritor e pesquisador brasileiro. Seu romance de
estreia, "O beijo na parede" (2013), foi eleito o Livro do Ano pela Associação
Gaúcha de Escritores. Mas o autor se destaca mesmo por "O avesso da pele", um
romance contemporâneo de 2020 e Prêmio Jabuti 2021, que conta a história de
Pedro, cujo pai foi assassinado em uma desastrosa abordagem policial. Depois
disso, ele sai em procura de suas origens.

TRECHO DE "O AVESSO DA PELE"


Bruno Fragoso dirigia o escritório com a irmã. Depois que você foi admitido, você percebeu que
quem mandava mesmo no escritório era o Bruno. Isso vai fazer toda a diferença nos próximos meses
em que você vai trabalhar ali. Nesse período, você ganhou peso, sua úlcera fechou e não havia mais
uma ferida aberta no seu estômago, mas às vezes, quando você chora, quando lembra que pode
chorar, você tem a sensação de que aquela ferida de meio centímetro sempre esteve dentro de você,
desde o momento em que nasceu até a sua vida adulto. Bruno Fragoso era branco, rigo, gostava de
mulheres bonitas e carros importados, todo tipo de clichê possível para um homem branco e rico.
TENÓRIO, Jefferson. O avesso da pele. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.
Comentários
O trecho alerta para uma gritante desigualdade social no ambiente de trabalho; enquanto
alguns chefiam a empresa, outros sofrem abalos físicos e psicológicos. Dois universos
radicalmente diferentes são contrapostos.

Literatura indígena

Ailton Krenak
Ailton Krenak (1953-...) é um líder indígena e ambientalista mineiro.
Em 2023, vai completar 70 anos. Nascido na região do Rio Doce, para
ele a água não é um recurso, é uma entidade. Participou da
Assembleia Nacional Constituinte que elaborou a Constituição
Brasileira de 1988. Inclusive, foi responsável por um importante
protesto, pintando a cara de preto no Congresso Nacional. Recebe
em 2019 o título de Doutora Honoris Causa pela UFJF. Destaques:
“Ideias para adiar o fim do mundo” (2019); “A vida não é útil” (2020),
e "Futuro ancestral" (2022).

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 104


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

A ideia de que os brancos europeus podiam sair colonizando o resto do mundo estava sustentada
na premissa de que havia uma humanidade esclarecida que precisava ir ao encontro da humanidade
obscurecida, trazendo-a para essa luz incrível. Esse chamado para o seio da civilização sempre foi
justificado pela noção de que existe um jeito de estar aqui na Terra, uma certa verdade, ou uma
concepção de verdade, que guiou muitas escolhas feitas em diferentes períodos da história.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2020 (p. 11).

Daniel Mundukuru
Daniel Mundukuru (1964-...) nasceu no Pará. É um escritor indígena,
graduado em filosofia e licenciado em História e Psicologia. É Doutor
em Educação pela USP e Pós-Doutor em Linguística pela UFSCar. É
Diretor-Presidente do Instituto Casa dos Saberes Ancestrais (UKA);
Comentador da Ordem do Mérito Cultural da Presidência da República
desde 2008; recebeu a mesma honraria na categoria da Grã Cruz em
2013; é membro fundador da Academia de Letras de Lorena em São
Paulo, cidade do interior onde mora atualmente. Entre prêmios
recebidos, encontram-se: Prêmio da ABL, Prêmio Érico Vannucci
Mendes (CNPq) e Prêmio Tolerância. Escreveu mais de 40 livros para
crianças, jovens e educadores, sendo que muitos têm o selo Altamente
Recomendável outorgado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e
Juvenil (FNLIJ). Participará da próxima novela das 21h, “Terra
Vermelha, de Walcyr Carrasco, contracenando com Cauã Reymond. Suas principais obras são:
 Histórias de índio (1997) – obra de estreia;
 O Karaíba (2010) – publicado inicialmente pela Editora Amarilys (Manole);
 Vozes ancestrais (2016) – Segundo Lugar no Prêmio Jabuti 2017 (Juvenil).

TRECHO DE "O KARAÍBA: UMA HISTÓRIA DO PRÉ-BRASIL"


“Nesse momento, um forte vento anunciou a chegada do Karaíba. Apareceu do nada como se
tivesse vindo no próprio vento. Vestia-se com sua capa ornamentada de penas de pássaros e fechada
com cipós de embira. Sua chegada sempre era um espetáculo, pois se postava na entrada da aldeia
e algumas pessoas iam varrendo o chão para ele passar. Ele era tratado como um grande sábio e
profeta, merecendo o respeito de todos. Naquele dia, porém, ele não queria pompa. Tinha o
semblante sério, fechado. (...) Porque sábio cometeu injustiça. Quis juntar gente muito diferente e
quase estraga tudo. Potyra deve se casar com Periantã. Perna Solta deve se casar com Maraí. Esta é
a coisa certa a fazer.
– Coisa ruim vai acontecer em breve. Serão tempos difíceis. Fantasmas dos antepassados
chegarão nesta terra e tornarão nossos povos escravos de sua ganância. Eles não terão piedade nem
dos velhos nem das crianças. Simplesmente se sentirão donos desse lugar e de sua gente. Por isso,
não lutarão com arcos e flechas e não terão código de guerra. Serão homens duros e não respeitarão
a tradição."
MUNDUKURU, Daniel. O Karaíba: uma história do pré-Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 2018 (p. 106).

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

E MAIS... POR FIM!

Luis Fernando Verissimo

Luis Fernando Verissimo (1936-...): nasceu em Porto


Alegre e é filho do escritor Érico Verissimo. É um escritor,
humorista, cartunista, tradutor, roteirista de televisão, autor
de teatro e romancista brasileiro. Já foi publicitário e revisor
de jornal. É ainda músico, tendo tocado saxofone em alguns
conjuntos. Com mais de 60 títulos publicados, é um dos mais
populares escritores brasileiros contemporâneos.
Curiosidade: tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente em
uma palestra no Centro Cultural do Brasil em Brasília.

Suas principais obras são:


 O jardim do diabo (1987);
 Comédias da vida privada (1994);
 Comédias para se ler na escola (2000);
 As mentiras que os homens contam (2000);
 Todas as Histórias do Analista de Bagé (2002);
 Banquete com os deuses (2002).

TEXTO I

A BOLA
O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentira ao ganhar a sua primeira
bola do pai. Uma número 5 sem tento oficial de couro.
Agora não era mais de couro, era de plástico. Mas era uma bola.
O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse "Legal!". Ou o que os garotos dizem hoje em
dia quando gostam do presente ou não querem magoar o velho. Depois começou a girar a bola, à
procura de alguma coisa.
– Como é que liga? – perguntou.
– Como, como é que liga? Não se liga.
O garoto procurou dentro do papel de embrulho.
– Não tem manual de instrução?
O pai começou a desanimar e a pensar que os tempos são outros. Que os tempos são
decididamente outros.
– Não precisa de manual de instrução.
– O que é que ela faz?
– Ela não faz nada. Você é que faz coisas com ela.
– O quê?
– Controla, chuta...
– Ah, então é uma bola.
– Claro que é uma bola.
– Uma bola, bola. Uma bola mesmo.

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

– Você pensou que fosse o quê?


– Nada, não.
O garoto agradeceu, disse "Legal" de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente da tevê,
com a bola nova do lado, manejando os controles de um videogame. Algo chamado Monster Baú,
em que times de monstrinhos disputavam a posse de uma bola em forma de blip eletrônico na tela
ao mesmo tempo que tentavam se destruir mutuamente. O garoto era bom no jogo. Tinha
coordenação e raciocínio rápido. Estava ganhando da máquina.
O pai pegou a bola nova e ensaiou algumas embaixadas. Conseguiu equilibrar a bola no peito do
pé, como antigamente, e chamou o garoto.
– Filho, olha.
O garoto disse "Legal" mas não desviou os olhos da tela. O pai segurou a bola com as mãos e a
cheirou, tentando recapturar mentalmente o cheiro de couro. A bola cheirava a nada. Talvez um
manual de instrução fosse uma boa ideia, pensou. Mas em inglês, para a garotada se interessar.
VERISSIMO, Luis Fernando. Comédias para se ler na escola. São Paulo: Objetiva, 2001.

Comentários
Essa crônica retrata de um jeito bem-humorado e divertido o choque entre gerações. O filho
confronta o pai, indicando que a nova geração está preocupada com as questões técnicas, como se
todo e qualquer brinquedo tivesse que ser complicado, ou ser montado, decodificado etc. Ao
brinquedo não é mais permitido ser simples. Quando o pai lhe apresenta a bola, um presente, o filho
manifesta certa indiferença para com a realidade. Na verdade, em relação a tudo o que não é o seu
jogo; uma espécie de alienação. Mesmo o costume de fazer embaixadinhas parece ser algo da antiga
geração, já que a nova estava preocupada em jogar videogames. No fundo, há choque entre três
gerações, pois o pai rememora a ocasião em que ganhara uma bola do pai, ou seja, avô do menino.
O texto também expressa como que a nova geração se preocupa com estrangeirismos: o emprego
de frase, palavra, ou construção sintática estrangeira, usado geralmente em texto falado ou escrito em
vernáculo (dicionário Aulete).

TEXTO II

LIXO
(...)
– Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida
privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será
isso?
– Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
– Ontem, no seu lixo...
– O quê?
– Me enganei, ou eram cascas de camarão?
– Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
– Eu adoro camarão.
– Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
– Jantar juntos?
– É.
– Não quero dar trabalho.
– Trabalho nenhum.

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

– Vai sujar a sua cozinha?


– Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
– No seu lixo ou no meu?
VERISSIMO, Luis Fernando. O lixo.
Disponível em: https://tinyurl.com/yaw4docy. Acesso em: 12 jun. 2020.

Comentários
A crônica é um gênero textual que oscila entre a Literatura (ficcional) e o Jornalismo (não ficcional).
Entre os temas explorados no trecho acima, encontram-se os seguintes:
 HUMOR. Situações cômicas ou potencialmente humorísticas compartilham da característica do
efeito surpresa. O humor reside em ocorrer algo fora do esperado numa situação. Há diversas
situações em que o humor pode aparecer numa prova. Há as tirinhas e charges, que aliam texto e
imagem para criar efeito cômico; há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequentemente
acessadas como forma de gerar o riso, como o fato de um caso se conhecer mediante análise o lixo um
do outro.
 ANTECIPAÇÃO. Um antecipa a fala do outro, como por exemplo: “Quem sabe a gente pode...”
e o outro completa “– Jantar juntos?”.
 FILOSOFIA. A filosofia se encontra na formulação da teoria: “Através do lixo, o particular se
torna público.”
 SUBENTENDIDO. Ler um subentendido significa ir para além da camada superficial, o que se
quer inferior por meio do trecho: “aí você já está indo fundo demais no lixo”.

Marina Colasanti
Marina (1937-...) é escritora, contista, jornalista,
tradutora e artista plástica. Tem ascendência ítalo-brasileira,
mas nasceu mesmo em Asmara, uma cidade da Eritreia. É seis
vezes ganhadora do Prêmio Jabuti e sua obra “Passageira em
trânsito” é considerada sua magnum opus. Seu estilo é
marcado por uma escrita fluida, concisa, mas precisa, e trata
de vários temas contemporâneos, tendo escrito também
literatura infanto-juvenil. Entre várias outras, suas obras
principais são:
 Eu Sei, Mas Não Devia (1995)
 Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento (2006)
 Uma Ideia Toda Azul (2009)

CENA ANTIGA
Amanhece o dia entre neblinas, quando o Bem e o Mal se encontram para mais um duelo.
Escolhem as armas nos estojos, aproximam-se para o encontro ritual, encaram-se. Os padrinhos que
aguardam ao lado do campo, escuros como as gralhas que saltitam entre restolhos, são instados a
partir. Que não haja testemunhas.
Afastados estes, Bem e Mal guardam as armas, se envolvem em suas capas e caminham até a
taverna mais próxima. Ali, frente a canecos cheios, discutirão estratégias e trocarão conselhos
durante dias ou séculos, até o próximo duelo.

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

COLASANTI, Marina. Hora de alimentar serpentes. São Paulo: Global, 2013.

Comentários
No conto, as ações ganham relevância no processo de personificação das ideias de Bem e Mal:
“se encontram”, “escolhem”, “aproximam-se”, “encaram-se” etc. O duelo era uma prática da Idade
Média em que duas pessoas se enfrentam na presença de testemunhas. Essa cena é retomada como
cenário do confronto entre Bem e Mal. Por fim, conclui-se que Bem e Mal estão em constante diálogo
ao longo dos tempos.

Bernardo Carvalho
Bernardo Carvalho (1960-...) foi editor do suplemento de
ensaios Folhetim e correspondente da Folha de S. Paulo em Paris e
Nova Iorque. Ganhou o Prêmio APCA pela sua obra “Magnólia” da
Associação Paulista dos Críticos de Arte e também chegou a ganhar o
Prêmio Jabuti. Suas principais obras são:
 Aberração (1993) – contos;
 Nove noites (2002);
 Mongólia (2003);
 Onze (2006);
 O filho da mãe (2009);
 Simpatia pelo demônio (2016).

RESUMO DE “NOVE NOITES”

A obra se estrutura em duas personagens. Um narrador-


jornalista que ouve falar sobre o antropólogo em 2001,
lembra-se de que foi confundido com Buell Quain
(caricatura), quando seu pai morreu, e fica obcecado pela
história do americano. Depois, Buell Quain: é o real
protagonista da narrativa. Antropólogo que se matou no
Brasil em 1939, Aparentemente, teve uma relação
complicada com os pais. Procura encontrar-se na relação
com outras culturas.

O primeiro mistério é o da própria morte de Buell, que é relatada, e da qual não teremos pouca
certeza a não ser de que ele estava voltando para Carolina por causa de uma carta de Parsons, amigo
e, possivelmente amante. Deduz-se que a carta que recebera relatava a gravidez e nascimento
próximo de seu filho, fruto de uma relação casual com uma prostituta.
O segundo mistério tem a ver com Manoel Perna e sua frase enigmática: “isso é para quando
você vier”. A partir da narrativa dele, o leitor vai percebendo que ele escreve para Parsons, para se
desculpar por não ter enviado a carta que Buell. Manoel escrevera outra carta para que o amigo
viesse para o Brasil e o aguardava, mas seis anos depois, resolve fazer uma carta-testamento para
relatar o que acontecera no passado e os motivos que o levaram a não cumprir com sua obrigação.
Por fim, o terceiro mistério aparece também no jargão do narrador-jornalista: “Ninguém nunca
me perguntou. E por isso também nunca precisei responder”. O que não perguntaram a ele? O que
qualquer leitor pergunta-se logo que começa a ler a história: por que tal obsessão com a morte de

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Buell? Só depois de ele contar a história de seu pai e do dia da morte de Parsons é que o leitor
percebe qual é a chave desse mistério. A coincidência de ter sido confundidio com Buell Quain,
alguém que teve um destino trágico, como ficou sabendo em 2001, levou-o a investigar quem era
esse outro que poderia ter sido ele.

Milton Hatoum
Milton Hatoum (1952-...) é um escritor, tradutor e professor
brasileiro radicado em São Paulo. É descendente de libaneses e
ensinou literatura na Universidade Federal do Amazonas (UFAM),
mas também em Universidade da Califórnia em Berkeley. Sua
literatura é um importante patrimônio de registro de trânsito entre
várias culturas, com temas sobre refugiados, junto com agudo olhar
para a crítica social. Seu projeto mais recente envolve um estudo do
regime militar.
Suas principais obras são:
 Relato de um certo Oriente (1989);
 Dois irmãos (2000);
 Cinzas do Norte (2005);
 Órfãos do Eldorado (2008);
 A noite da espera (2017);
 Pontos de fuga (2019).

A lavadeira começou a viver como uma serviçal que impõe respeito e não mais como escrava.
Mas essa regalia súbita foi efêmera. Meus irmãos, nos frequentes deslizes que adulteravam este
novo relacionamento, geram dardejados pelo olhar severo de Emilie; eles nunca suportaram de bom
grado que uma índia passasse a comer na mesa da sala, usando os mesmos talheres e pratos, e
comprimindo com os lábios o mesmo cristal dos copos e a mesma porcelana das xícaras de café.
Uma espécie de asco e repulsa tingia-lhes o rosto, já não comiam com a mesma saciedade e
recusavam-se a elogiar os pastéis de picadinho de carneiro, os folheados de nata e tâmara, e o arroz
com amêndoas, dourado, exalando um cheiro de cebola tostada. Aquela mulher, sentada e muda,
com o rosto rastreado de rugas, era capaz de tirar o sabor e o odor dos alimentos e de suprimir a voz
e o gesto como se o seu silêncio ou a sua presença que era só silêncio impedisse o outro de viver.
HATOUM, Milton. Relato de um certo Oriente. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

Comentários
O incômodo provocado pela presença da índia durante as refeições familiares derivava do
preconceito de classe e de raça dos irmãos do narrador relativamente à escrava que, embora fosse
serviçal na casa grande, se sentava à mesa com eles. Os irmãos nem mais sentiam prazer por causa do
fato de uma empregada, índia, estar sentada à mesa junto a eles. Na verdade, eles se sentem
desgostos, rebaixados, pelo fato de sentir que estão perdendo seus direitos e sendo ameaçados por
uma nova classe social emergentes. No fundo, estão inseguros.

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Relato de um certo Oriente (1989)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA Romance em 8 capítulos.
Emilie; Emir; Samara Délia; Hakim; Hindié Conceição (amiga); Anastácia
PERSONAGENS
Socorro (criada); o fotógrafo alemão Dorner.
TEMPO Século XX.
ESPAÇO Líbano-Manaus.
Emilie é a matriarca de uma família libanesa. Seu irmão Edir se suicida. A
filha adotiva de Emilie retorna a Manaus. O romance mescla o passado
ENREDO
antes do Brasil e o movimento migratório. Emilie, católica, e seu marido
mulçumano têm quatro filhos: Samara Délia, Hakim e dois filhos sem nome.
O foco narrativo da obra chega por meio da filha adotiva de Emilie, que
volta para Manaus, e resgata acontecimentos da família antes da
imigração, que abrange quase um século, começando na no final do
DESFECHO primeiro ciclo da borracha e a belle époque da cidade. Ao fim, é internada
pela mãe biológica numa clínica em São Paulo. É vista vagando num
casarão tentando entender o complexo mosaico familiar composto pelos
registros e documentos que coletou.

Dois irmãos (2000)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA Romance em 12 capítulos, apenas enumerados, mas não intitulados.
PERSONAGENS Zana; Halim; Yaqub; Omar (o caçula); Rânia; Lívia; Domingas; Nael; Dália.
TEMPO Desde o fim a da Segunda Guerra Mundial (1945) até o regime militar.
ESPAÇO Manaus; Líbano; São Paulo.
A obra começa narrando a morte de Zana, mãe dos gêmeos Yaqub e
Omar, que vivem brigando interminavelmente. Claro que eles se
apaixonam pela mesma moça, Lívia. Omar se vinga ferindo o irmão no
ENREDO
rosto, e a cicatriz marca a luta corporalmente. Yaqub precisa ir forçado
para o Líbano e depois descobre-se que era para evitar conflito com o
irmão. Foi decisão de seus pais.
Quando Yaqub volta, ainda sente ódio pelo irmão. Parece dar uma trégua,
pois se foca nos estudos, revelando-se um ótimo matemático. Enquanto
CONFLITO Omar é expulso e torna-se boêmio, Yaqub é recompensado com uma
viagem a São Paulo. Omar é enviado para São Paulo onde encontra o
irmão e o desrespeita. Descobre que ele está casado com Lívia.
Omar volta para Manaus onde se envolve com contrabando. O pai, Halim,
CLÍMAX entrega-se às lembranças do passado. Começa o regime militar e o ex-
professor de Omar é espancado até a morte, o que o sensibiliza.
Mas não completamente. Um dia Yaqub vai a Manaus. Os irmãos
encontram-se o Omar chega a agredi-lo. Yaqub denuncia o irmão que
DESFECHO
agora é um foragido. Ao fim do romance, Yaqub morre e Omar sai da
cadeia pouco antes de cumprir a pena.

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Angélica Freitas
Angélica Freitas (1973-...) nasceu em Pelotas. É
formada em jornalismo pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS). Trabalhou como repórter
para o Estado de São Paulo e também para a revista
Hoje. Mudou-se várias vezes tendo passagem por
vários países como Holanda, Bolívia e Argentina.
Signo da reinvenção, sua literatura também é muito
importante por pensar questões femininas.
Suas principais obras são:
 Rilke Shake (2007)
 um útero é do tamanho de um punho ( 2013)
 Canções de atormentar (2020)

Observação: feminismo é o movimento que luta pela igualdade de direitos


entre mulheres e homens.

TEXTO I

eu durmo comigo
eu durmo comigo/ deitada de bruços eu durmo comigo/ virada pra direita eu durmo comigo/ eu
durmo comigo abraçada comigo/ não há noite tão longa em que não durma comigo/ (...) e mesmo
no escuro sei que estou dormindo comigo/ e quem quiser dormir comigo vai ter que dormir do lado.
Angélica Freitas – Um útero é do tamanho de um punho. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
Comentários
O ato de “dormir com” envolve uma intimidade que o eu lírico irá caracterizar sob o prisma da
prosa poética, numa tentativa de autoaceitação e valorização de si. A mulher não precisa de ninguém
para se deitar; ela está feliz com a sua própria companhia. Sujeito e objeto são idênticos.

TEXTO II

era uma vez uma mulher


e ela queria falar de gênero

era uma vez outra mulher


e ela queria falar de coletivos (...)

e fundaram o grupo de estudos


celso pedro luft

(Angélica Freitas, Um útero é do tamanho de um punho. São Paulo: Companhia das Letras, 2017, p.14.)

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Comentários
O livro Um útero é do tamanho de um punho da escritora gaúcha Angélica Freitas foi cobrado no
repertório obrigatório da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), tendo inclusive gerado
polêmicas.
As ambiguidades nas duas primeiras estrofes ocorrem devido ao uso de termos geralmente
provenientes da gramática, ou aplicados a ela, no vocabulário do cotidiano. No caso, primeiramente
há a ambiguidade em relação ao termo “gênero”, que pode se remeter a questões de gênero (homem,
mulher etc.) e flexão de gênero na gramática (feminino e masculino).
Em segundo lugar, há ambiguidade acerca da expressão “coletivos”, podendo aludir ao
substantivo coletivo, entre os quais como exemplo podemos mencionar matilha (coletivo de cão) e
enxame (coletivo de abelha), e a acepção moderna, que consistem em iniciativas de agrupamentos,
ajuntamentos em torno de uma causa.
Lembrando que os substantivos coletivos são aquelas palavras no singular que representam
grupos e ambiguidade é um efeito de texto que ocorre quando um mesmo vocábulo ou expressão
pode ser interpretado de mais de uma maneira. Ela pode aparecer de duas maneiras: como recurso
expressivo, principalmente no caso da publicidade ou dos textos humorísticos; ou como um defeito na
construção, prejudicando a clareza da mensagem. Ou seja, ela pode ser intencional ou não.
Quanto às figuras de linguagem que podem ser identificadas:
 Metonímia: ocorre quando há uma substituição da parte pelo todo, ou seja, utiliza-se um
termo para representar outro, pois há uma relação estabelecida entre eles. No caso, a obra (a
gramática) de Celso Pedro Luft é conhecido por meio do seu grupo, de forma que há correspondência
então entre autor e obra. Por exemplo, se falamos “eu frequento o grupo de estudos de Guimarães
Rosa”, quer dizer que nesse grupo se estuda a obra desse autor, e não exatamente a vida desse autor.
 Ironia: consiste tanto numa figura de linguagem quanto num efeito de texto. Ocorre quando
aquilo que está sendo dito é o contrário do que realmente se pretende dizer. No caso, ela pode ser
verificada no fato de que é um grupo formado por 3 mulheres (uma delas querendo inclusive falar
sobre gênero), que no fundo estudam um homem (Celso Pedro Luft).

Itamar Vieira Junior


Nasceu em Salvador (1976-...) e ganhou o
Prêmio LeYa em 2018 e o Prêmio Jabuti e o Prêmio
Oceanos em 2020 pelo seu romance "Torto arado". É
formado em Geografia pela UFBA, tendo ganhado a
Bolsa Milton Santos. Também fez Mestrado e é Doutor
em Estudos Étnico-Africanos pela UFBA. Seu foco de
estudo foi os quilombolas no interior do Nordeste.
Suas obras são:

CONTOS
 Dias (2012);
 A oração do carrasco (2017);
 Doramar ou a odisseia (2021).

ROMANCES
 Torto arado (2019);
 Salvar o fogo (2023).

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Torto arado (2019)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
Romance em 3 partes, cada uma narrada por um ponto de vista,
respectivamente: a narradora de "Fio de corte" é Bibiana, a narradora de
ESTRUTURA
"Torto arado" é Belonísia, e em "Rio de sangue" a narradora é uma
encantada, uma figura da mítica afro-brasileira.
Bibiana, Belonísia, Zeca Chapéu Grande, Donana, Salustiana Nicolau,
PERSONAGENS Santa Rita Pescadeira, Severo, Crispiniana, Sutério, Tio Servó, Hervelina
entre outros.
ESPAÇO Fazenda Água Negra (Chapada Diamantina, BA).
O romance conta a história de duas irmãs que na infância, num acidente
durante uma brincadeira, passam por um trauma: uma decepa a língua da
ENREDO outra com uma faca que pertencia à avó. Isso faz com que elas fiquem
muito unidas. A relação das duas se abala quando uma começa a se
relacionar romanticamente com um menino.
A família vive no sertão, numa condição de semi-escravidão trabalhando
CONFLITO para um dono de terras. O pai é místico, faz rezas para ajudar pessoas
doentes ou em sofrimento psíquico/espiritual.
Bibiana, professora formada na cidade, começa a lutar pelo direito dos
DESFECHO
quilombolas da região. Mas a luta tem um preço e a terra é manchada.

TRECHO DE "TORTO ARADO"

"Nesse campo desigual, Severo levantou a voz contra as determinações com que não
concordávamos. Virou um desafeto declarado do fazendeiro. Fez discursos sobre os direitos que
tínhamos. Que nossos antepassados migraram para as terras de Água Negra porque só restou aquela
peregrinação permanente a muitos negros depois da abolição. Que havíamos trabalhado para os
antigos fazendeiros sem que nunca termos recebido nada, sem direito a uma casa decente, que não
fosse de barro, e precisasse ser refeita a cada chuva" (VIERA JUNIOR, 2019, p. 197).

Comentários
A vida dos trabalhadores era considerada tão descartável que não podiam demonstrar marcas de
que sua vida é temporal. Viviam em habitações precárias, feitas de barro, porque – se fosse necessário
irem embora – seria mais fácil destruir a casa depois. Trabalhavam de domingo a domingo e não tinham
direito aos próprios bens, a não ser que trabalhassem em suas hortas domésticas no tempo livre,
completamente exaustos. Nesse sentido, o livro é importante como denúncia do trabalho escravo
contemporâneo.

Salvar o fogo (2023)


Nas margens do rio Tapera do Paraguaçu, vive Moisés com seu pai Mundinho e sua irmã
Luzia e os outros irmãos vivem pelo mundo. A comunidade é formada por pessoas de origem
afro-indígena: agricultores, pescadores e ceramistas e vive à sombra de um poder arcaico: a
igreja católica (um mosteiro construído no século XVII).

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Profa. Luana Signorelli

4.0 Modernismo e Tendências Contemporâneas em Portugal


Vamos resgatar como que o Modernismo ocorreu em Portugal, de acordo com aquela divisão por
gerações. Lembrando: elas não são idênticas às gerações modernistas brasileiras.

Orfismo Presencismo Neorrealismo


(1915-1927) (1927-1940) (1940-1974)

Entre os acontecimentos que marcaram a História de Portugal nesse período, podemos citar o
assassinato de rei D. Carlos e seu herdeiro em 1908; a instalação da República em 1910; o assassinato do
presidente Sidônio Paes em 1918; o estabelecimento do chamado Estado Novo em 1926 e o marco de 25
de abril de 1974, com a Revolução dos Cravos, que culminou na queda do regime salazariano. O período
de 1926 a 1974 em Portugal é conhecido como Neorrealismo e após disso carecemos de sistematização.
Vamos estudar alguns(mas) autore(as) à parte.

 Miguel Torga (1907-1995): destacou-se como poeta, contista e memorialista,


mas escreveu também romances, peças de teatro e ensaios. Estudou em Coimbra e
os temas de sua obra são o inconformismo, a sua origem aldeã, e a experiência
médica em contato com gente pobre. Ganhou o Prêmio Camões de 1989. Exemplo
de obra: Os contos da montanha (1941).

 Vergílio Ferreira (1916-1996): a sua obra perpassou pelos gêneros da ficção


(romance, conto), ensaio e diário, costuma ser dividida em duas fases: o Neorrealismo
e o Existencialismo. Mudança é considerada é a obra que marca a transição entre os
dois períodos. Exemplo de obra: Aparição (1959).

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 115


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 José Saramago (1922-2010): segundo a orelha da


Companhia das Letras: “José Saramago nasceu em 1922, de
uma família de camponeses da província do Ribatejo, em
Portugal. Exerceu diversas profissões – como serralheiro,
desenhista, funcionário público e jornalista – antes de se
dedicar só à literatura. Prêmio Nobel de 1998, escreveu
algumas das obras mais relevantes do romance
contemporâneo, como O ano da morte de Ricardo Reis, O
Evangelho segundo Jesus Cristo e Ensaio sobre a Cegueira
(...). Faleceu nas Ilhas Canárias.

Memorial do convento (1982)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA 25 capítulos sem número nem título (como costumam ser suas obras).
Blimunda, padre Bartolomeu Lourenço, Baltasar e personagens históricas
PERSONAGENS
como D. João V e sua esposa D. Ana Maria Josefa.
Cronológico e em duas datas: 1717 e Guerra de Alecrim e Manjerona, em
TEMPO
1739. A história tem duração de 22 anos.
ESPAÇO Palácio de D. João VI, ruas de Lisboa, chácara e Mafra.
Narra a construção de um convento em Mafra em cumprimento de uma
promessa feita pelo Rei D. João V, porque a rainha engravida. Entre o
ENREDO
povo, o ex-militar Baltasar e a sensitiva Blimunda se apaixonam, tendo se
conhecido num julgamento da Santa Igreja.
O casal não é casado, mas é abençoado pelo padre Bartolomeu, brasileiro
CONFLITO
e de formação jesuíta, um sonhador.
DESFECHO Desfecho trágico que representa o sofrimento do povo oprimido e anônimo.

História do cerco de Lisboa (1989)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA 18 capítulos sem número nem título (como costumam ser suas obras).
Raimundo Benvindo Silva; Maria Sara; Maria; Sara, D. Afonso Henriques,
PERSONAGENS
Henrique, Mogueime, Ouroana.
2 tempos/2 relatos: Século XII (ano de 1147 em ocasião do cerco de
Lisboa) versus era da modernidade, ano indeterminado, algo que apenas
TEMPO
sabemos por alusões a invenções como telefone, carro, marca texto, cartão
de crédito etc.
ESPAÇO Cidade de Lisboa (Portugal).
Um pacato revisor trabalha há 30 anos na mesma editora vivendo uma
vida regular, quando se lhe apresenta como trabalho um romance histórico
ENREDO sobre o cerco de Lisboa. Sofrendo um impulso tremendo, ele é tentado a
colocar um Não onde não havia, alterando todo o curso da história e com
isso criando um paradoxo temporal.

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Ao conhecer uma nova funcionária na editora, Maria Sara, ele passa por
um julgamento e acha que será demitido pelo seu erro. Porém, ela acha o
CONFLITO
caso curioso e pede para que ele dê continuidade ao romance, como se a
História tivesse realmente se passado de uma maneira diferente.
De interesse no romance, Maria Sara passa a demonstrar interesse pela
própria pessoa de Raimundo, único revisor com quem trava relações.
DESFECHO
Passam a conversar por telefone e depois se envolvem numa relação. O
que era História de Portugal acaba se revelando uma história de amor.

TRECHO DE “HISTÓRIA DO CERCO DE LISBOA”

“O cão aproximou-se outra vez, agora Raimundo Silva


olha-o apreensivo, sabe-se lá se não estará raivoso, uma
ocasião, não se lembra onde, leu que um dos sinais do
terrível mal é a cauda caída, e este rabo não demonstra
grande vigor, mas será por causa do mau passadio, que
bem se lhe vêem as costelas ao bicho e é sinal também,
mas esse decisivo, a sinistra baba escorrendo das fauces
e colmilhos, ora o rafeiro em presença, se saliva, será por
estímulo de um cheiro de comida em preparação aqui nas
Escadinhas de S. Crispim.”

SARAMAGO, José. História do cerco de Lisboa. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

Comentários
Ao passar por vielas, Raimundo – um solitário – vai encontrar o seu par em um cachorro vadio na
rua, de quem sente pena. O episódio ocorre nas Escadas de São Crispim. Raimundo pensa em como o
termo “cão” é usado como xingamento, inclusive um árabe usá-lo-ia mesmo como xingamento, uma
vez que a religião islâmica condena esse animal. Ele passa pela cidade observando seus azulejos e
pensando na usa procedência histórica. Raimundo é guia turístico de si mesmo, passando pela cidade
e fazendo anotações mentais.
Ele passa por tudo aquilo, porém, em angústia, pois ainda não conhecia seu lugar na história.
Esperava ansioso por uma ligação que mudaria a sua vida. Queria que descobrissem a sua façanha. O
tempo histórico idealizo por ele se confunde com o tempo meteorológico: há nevoeiro em Lisboa e há
desassossego na alma de Raimundo Silva. De noite, sonha com uma muralha com nada dentro, o que
não deixa de ser uma metáfora para o vazio.

O ano da morte de Ricardo Reis (1984): um dos heterônimos mais


importantes de Fernando Pessoa, ele agora volta para Lisboa depois
de uma temporada de autoexílio no Brasil. O contexto histórico,
porém, era outro: ele se encontra com o regime Salazarista, enquanto
seu irmão ibérico estava enfrentando Franco na Espanha.

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TRECHO DE “ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA”


O homem disse, Está a chover, e depois, Quem é você, Não sou daqui, Anda à procura de
comida, Sim, há quatro dias que não comemos, E como sabe que são quatro dias, É um cálculo, Está
sozinha, Estou com o meu marido e uns companheiros, Quantos são, Ao todo, sete; Se estão a pensar
em ficar conosco, tirem daí o sentido, já somos muitos, Só estamos de passagem, Donde vêm,
Estivemos internados desde que a cegueira começou, Ah, sim, a quarentena, não serviu de nada.
Porque diz isso, Deixaram-nos sair, Houve um incêndio e nesse momento percebemos que os
soldados que nos vigiavam tinham desaparecido, E saíram, Sim, Os vossos soldados devem ter sido
dos últimos a cegar, toda a gente está cega, Toda a gente, a cidade toda, o país,
SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Comentários
A cena retrata as experiências das personagens em um país atingido por uma epidemia. Nesse
sentido, vivem em uma situação alegórica que nem mesmo o médico vê; todos são assolados por uma
cegueira branca e devem se isolar em quarentena. A única que continua vendo é a mulher do médico,
que se finge de doente para poder ir com ele. No entanto, a obra explora a ironia: ver não é uma
qualidade neste mundo distópico.
No diálogo, a violação de determinadas regras de pontuação singulariza o estilo do autor e auxilia
na representação do ambiente caótico. O prêmio Nobel da Literatura português inovou na maneira

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como utiliza o ponto final e a vírgula (que ele prefere chamar de sinais de pausa) marcando a frase
com outro ritmo dado pela oralidade, um ritmo prosódico que é típico de quem fala a língua. No
excerto do enunciado, o início da fala de cada personagem é assinalado apenas por uma capitular,
formando diálogos dispostos em sequência acelerada coerente com o ambiente caótico em que
decorre a narrativa.

Ensaio sobre a cegueira (2008)


Sob a direção de Fernando Meirelles, trata-se
da adaptação do romance de Saramago. Uma inédita
e inexplicável epidemia de cegueira atinge uma
cidade. Chamada de "cegueira branca", já que as
pessoas atingidas apenas passam a ver uma
superfície leitosa, a doença surge inicialmente em
um homem no trânsito e, pouco a pouco, se espalha
pelo país. Assim, os afetados tentam encontrar a
humanidade perdida, bem como lutam contra seus
instintos mais animalescos.

 Agustina Bessa-Luís (1922-2019): veio de uma linhagem


rural, tendo sido seu pai português e a mãe espanhola.
Alguns de seus romances foram adaptados para o cinema. É
considerada da vertente neorromântica. Exemplo de obra:
A Sibila (1954).

 Valter Hugo Mãe (1971-...): além de escritor, é artista


plástico, apresentador de televisão e cantor. Nasceu na
realidade numa cidade angolana. Formou-se em Letras na
Universidade do Porto e ganhou o Prêmio Literário José
Saramago em 2007. Uma de suas principais obras é obra A
máquina de fazer espanhóis (2010).

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TRECHO DE “A MÁQUINA DE FAZER ESPANHÓIS”


pus-me para diante na cadeira, a encarar o velhote com uma antecipação enorme e ele atirou-se
para dentro dos meus olhos e confirmou, sim, é verdade, eu vivia em lisboa e ia sempre àquela
tacabaria. é verdade sim. os meus ouvidos afundaram incrivelmente no insondável da cabeça e eu
fiquei só a ver aquele rosto. o rosto de um homem com mais quinze anos do que eu, sorridente,
aberto, limpo ao mesmo sol que nos cobria, e era como se o próprio maravilhoso genial lindo
fernando pessoa ressuscitasse à minha frente, era como dar pele a um poema e trazê-lo à luz do dia,
a tocar-me no quotidiano afinal mágico que nos é dado levar. era como se alice viesse do país da
fantasia para nos contar como vivem os coelhos falantes e as aventuras de faz de conta. e eu voltei
a ouvi-lo dizer, mas eu tenho muita metafísica, isto de os poetas nos roubarem a alma não é coisa
decente, porque aquilo da poesia leva muita mentira. sorri. sorri verdadeiramente como nunca até
ali naquele lar. e o senhor pereira olhou para mim radiante e afirmou num triunfo, isto sim, agora,
é o lar da feliz idade.
HUGO MÃE, Valter Hugo. A máquina de fazer espanhóis. São Paulo: Cosac Naify, 2013, p. 51.

Comentários
António Jorge da Silva é um idoso que, após perder a mulher, vê-se obrigado a repensar a sua
vida. O romance – o qual também tangencia o regime de Salazar – foi escritor por Valter Hugo Mãe,
representante da Literatura Portuguesa Contemporânea. Então, no caso, no trecho acima verificam-
se os seguintes aspectos:
 apoia-se no princípio do experimentalismo o fato de o narrador optar pelo uso de letras
minúsculas e ausência de vírgulas, reinventando a gramática tradicional. Esse procedimento inclusive
aproxima Valter Hugo Mãe de outro escritor português moderno: José Saramago.
 no trecho “próprio maravilhoso genial lindo fernando pessoa”, há um jogo de palavras que
mescla funções gramaticais diferentes. No caso, há justaposição entre vários adjetivos: “próprio
maravilhoso genial lindo”, separados entre si sem vírgulas, e o substantivo próprio, mas com letras
minúsculas “Fernando pessoa”, o que – por ser colocado junto aos outros termos – parece que também
está adjetivado, por conta da disposição na sentença.
 pode-se falar de intertextualidade (diálogo entre obras) em relação à menção de uma obra
infanto-juvenil para contextualizar um imaginário. No caso, Alice no país das maravilhas, de Lewis
Carroll. A menção a desse trecho aqui se remete à redescoberta da felicidade diante do padrão de vida,
qualidade de vida ruins.
 no excerto “isto sim, agora, é o lar da feliz idade”, é possível identificar um jogo de palavras que
ressignifica o sentido do termo em questão. “Feliz idade” soa como/lembra “felicidade”, o contrário
do que o personagem parece estar sentido no asilo.

António Gedeão
Rómulo Vasco da Gama de Carvalho (1906-1996) foi um professor e poeta português. António
Gedeão é seu pseudônimo. Foi professor de físico-química do ensino secundário em vários liceus e sua
poesia é importante por divulgar a ciência em âmbito interdisciplinar. Seus poemas mais conhecidos são
“Pedra filosofal” e “Lágrima de preta”. Este último foi publicado em 1961 na obra “Máquina de fogo” e
foi musicada, tendo sido censurada pelo governo português que na época vivia o Regime Salazarista.

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DEZ RÉIS DE ESPERANÇA


Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos à boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.
António Gedeão. Dez réis de esperança. Disponível em: https://tinyurl.com/vdunenh5. Acesso em: 15 maio 2021.

Comentários
A #estratégia de composição do poema é pautada na construção de hipóteses, como esta oração
condicional. Esta certeza corresponde à esperança do eu lírico. Embora não se saiba de onde ela vem,
ela é a responsável pela manutenção de suas atitudes, evitando outras que seriam de desespero.
Quando o eu lírico diz “Acocorava-me a um canto”, esta seria uma atitude de resignação e medo que
só não acontece porque o eu lírico mantém suas esperanças.

António Lobo Nunes (1942-...): é um escritor e psiquiatra português. Estudou


no Liceu Camões e licenciou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da
Universidade de Lisboa. Atuou como médico militar em Angola (1971-1973).
Trocou correspondências com sua mulher que foi transformado no filme "Cartas
da guerra". Ganhou o Prêmio Camões em 2007. Suas principais obras são:
 Memória de elefante (1979);
 Os cus de Judas (1979) – o equivalente à expressão "onde Judas perdeu as
botas";
 Diccionario da linguagem das flores (2020);
 O tamanho do mundo (2022).

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5.0 Literaturas Africanas em Língua Portuguesa

Prezados alunos. Muito embora nos editais de suas bancas não esteja
discriminado este conteúdo especificamente, vocês bem observaram ao
longo de nossas aulas que procuramos ir além, para que vocês pudessem
ampliar o seu repertório cultural. Mantemos essa promessa até o fim e
agora não vai ser diferente. Essa seção é um complemento para que vocês
conheçam outras literaturas de língua portuguesa, mas de outras
nacionalidades. É de 2003 a Lei no 10.639, que torna obrigatória a inclusão
no currículo escolar do estudo da “História e Cultura Afro-Brasileira”,
legitimando também o ensino das Literaturas Africanas.

Conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa editado pelo próprio Senado Federal em
2014, são estes os países falantes de Língua Portuguesa contemplados no tratado:
 a República Popular de Angola,
 a República Federativa do Brasil,
 a República de Cabo Verde,
 a República da Guiné-Bissau,
 a República de Moçambique,
 a República Portuguesa,
 e a República Democrática de São Tomé e Príncipe.
Para fins práticos e de facilidade, vamos apenas resumir alguns autores e obras de maior alcance
global. A lista não esgota o tema; precisamos fazer algumas seleções. Como são várias as nacionalidades
e também porque são várias as tendências, já que compõem a Literatura Contemporânea, são tratadas
como Literaturas Africanas (no plural).

LITERATURA ANGOLANA

Luandino
José Luandino Vieira (1935-...) é o pseudônimo de José Vieira Mateus da
Graça. Na verdade, tem dupla nacionalidade: portuguesa e angolana. Foi com
os pais para Angola com 3 anos de idade. Participou do combate do MPLA e
chegou a ser detido pela Pide (Polícia Internacional e de Defesa do Estado),
que era a polícia política portuguesa entre 1945 e 1969. Fez algumas
contribuições jornalísticas. Suas principais obras são:
 Luuanda (1963) – contos, obra-prima;
 Vidas novas (1968) – contos;
 Macandumba (1978) – contos;
 Nosso Musseque (2003) – romance;
 O livro dos rios (2006) – romance.

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TRECHO DE “LUUANDA”
Falava verdade como todas as vizinhas viram bem, uma gorda galinha de pequenas penas brancas
e pretas, mirando toda a gente, desconfiada, debaixo do cesto ao contrário onde estava presa. Era
essa a razão dos insultos que nga Zefa tinha posto com Bina, chamando-lhe ladrona, feiticeira, queria
lhe roubar ainda a galinha e mesmo que a barriga da vizinha já se via, com o mona lá dentro,
adiantaram pelejar.
Miúdo Xico é que descobriu, andava na brincadeira com Beto, seu mais novo, fazendo essas
partidas vavô Petelu tinha-lhes ensinado, de imitar as falas dos animais e baralhar-lhes e quando
vieram no quintal de mamã Bina pararam admirados. A senhora não tinha criação, como é ouvia-se
a voz dela, pi, pi, pi, chamar galinha, o barulho do milho a cair no chão varrido? Mas Beto lembrou
os casos já antigos, as palavras da mãe queixando no pai quando, sete horas, estava voltar do
serviço:
— Rebento-lhe as fuças, João! Está ensinar a galinha a pôr lá!
Miguel João desculpava sempre, dizia a senhora andava assim de barriga, você sabe, às vezes é
só essas manias as mulheres têm, não adianta fazer confusão, se a galinha volta sempre na nossa
capoeira e os ovos você é que apanha... Mas nga Zefa não ficava satisfeita. Arreganhava que o
homem era um mole e jurava se a atrevida tocava na galinha ia passar luta.
VIEIRA, José Luandino. História da galinha e do ovo. In: Luuanda.
Alfragide (Portugal): Editorial Caminho, 2019.
Comentários
A prosopopeia é um recurso expressivo que ocorre quando se atribuem características humanas a
seres inanimados ou irracionais. No trecho acima, ela se “uma gorda galinha de pequenas penas
brancas e pretas, mirando toda a gente, desconfiada”. Desconfiar é uma ação humana e não do animal.
Ela é descrita assim porque era como se parecia. Para as Literaturas Africanas no geral, os animais são
importantes personagens, por causa de suas crenças no totemismo e na ancestralidade.

Agostinho Neto

António Agostinho Neto nasceu em Ícolo e Bengo (província de


Luanda, capital da Angola) em 1922. O pai era pastor protestante e
professor, bem como a mãe. Terminado o liceu, Neto trabalhou em
serviços de saúde. Estava decidido a estudar Medicina; portanto, juntou
parcos recursos e foi em 1947 para Portugal, estudar na Faculdade de
Medicina de Coimbra. Cedo envolveu-se em atividades políticas. Foi preso
em 1951 quando tentava reunir assinaturas. Foi perseguido pela Pide
(polícia política portuguesa). Tendo sido preso de novo em 1955. Em 10
de dezembro de 1956 forma-se o MPLA. Em 1958, doutorou-se em
Medicina. Com a esposa Maria Eugénia tem um filho. Em 1970, a 4ª
Conferência dos Escritores Afro-Asiáticos o concedeu o Prêmio Lótus.

Foi Presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola e em 1975 tornou-se o


primeiro Presidente de Angola até 1979. Em 1975-1976 foi-lhe atribuído o Prêmio
Lenine da Paz.
Suas principais obras são:

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 “Poemas”, Lisboa, Casa dos Estudantes do Império (1961);


 “Sagrada Esperança” (Lisboa, Sá da Costa), incluindo poemas dos dois primeiros livros (1974);
 “Quem é o inimigo… qual é o nosso objectivo?” (1974);
 “Destruir o velho para construir o novo” (1976);
 “Ainda o meu sonho” (1980);
 “A Renúncia Impossível” (Luanda, INALD), 1982);
 “Obra poética completa” (Lisboa, Fundação Dr. Agostinho Neto, 2016).

A voz igual
“Povo genial heroicamente vivo
onde outros pereceram
de vitalidade inultrapassada na História
alimentou continentes e deu ritmos à América
deuses e agilidade nos estádios
centelhas luminosas na ciência e na arte

Povo negro
homens anónimos no espírito da triste vaidade branca
agora construindo a nossa pátria
a nossa África
e no traço luminoso dos dias magníficos de hoje
definem a África solidária e esforçada
contra os desvarios duma natureza incongruente Fonte: Pixabay.
na independência
num mundo novo com a voz igual
(AGOSTINHO NETO, 1979, p. 136-137).

Pepetela

Pepetela é um pseudônimo (nome falso) para Artur Carlos Maurício


Pestana dos Santos. O escritor está vivo e esteve presente na
Universidade de São Paulo (USP) no dia 16 de outubro de 2019 para uma
conversa com o autor e a celebração da palestra: “Áfricas em trânsito”.
Exemplo não só de intelectual, mas de militante ativo e daquele que põe
suas ideias em prática. Agostinho Neto, que foi um dos maiores líderes
do Movimento Popular pela Libertação da Angola (MPLA) em ocasião da
luta pela Independência e o primeiro presidente da República de Angola,
chegou a ler "Mayombe" pessoalmente.

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Mayombe (1979)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
7 capítulos com narrador em 3ª pessoa; narrativas paralelas dos próprios
ESTRUTURA guerrilheiros, com narradores em 1ª pessoa, designadas por títulos como:
“Eu, o narrador, sou Teoria”. Trata-se de relatos dentro do relato.
Teoria, o professor; Comandante Sem Medo; Comissário; Chefe de
PERSONAGENS Operações; Ondina, André e outros guerrilheiros como Mundo Novo,
Lutamos, Milagre, Pagu-A-Kitina (enfermeiro) etc.
TEMPO Anos de 1970.
Angola e Congo (grande parte da narrativa se passa numa cidade
ESPAÇO
chamada Dolisie, que se localiza em Angola).
Um grupo de guerrilheiros do Movimento Popular de Libertação da Angola
(MPLA) se embrenham na mata do Mayombe para formar sua base tática
ENREDO
contra o inimigo português. Cada um tem sua própria história de vida e sua
individualidade, mas todos têm um elemento que os une: a solidão.
Com a História como plano de fundo, histórias nos níveis pessoais de
desenvolvem, como a do triângulo amoroso entre o Comissário (João); o
Comandante Sem Medo e Ondina. Ondina sente ternura por João, mas não
CLÍMAX se sente atraída sexualmente por ele. Eles estão noivos, mas a relação
desanda, pois Ondina procura satisfação em outros homens. Um desses
homens é o Comandante, amigo do Comissário. A relação é complexa e
por causa da guerra ninguém pode se manter juntos.
Sem Medo cresce politicamente. É intuitivo e muito respeitado pelos
DESFECHO
colegas. Passa a ser quadro político e a comandar a Revolução da cidade

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de Dolisie, até que o combate direto o chama para retornar ao Mayombe.


Num episódio de ocupação de Pau Caído, uma base portuguesa, ele é
atingido na barriga; morre e é sepultado na floresta, onde seu corpo e
alma se tornam parte daquele ecossistema. O final da sua morte é narrada
pelo último relato – do Comissário Político – que inferimos ser João, o ex-
Comissário, que ascendeu de cargo.

TRECHO DE “MAYOMBE”
“O Mayombe tinha aceitado os golpes dos machados, que nele abriram uma clareira. Clareira
invisível do alto, dos aviões que esquadrinhavam a mata, tentando localizar nela a presença dos
guerrilheiros. As casas tinham sido levantadas
nessa clareira e as árvores, alegremente,
formaram uma abóbada de ramos e folhas para
as encobrir. Os paus serviram para as paredes. O
capim do teto foi transportado de longe, de
perto do Lombe. Um montículo foi lateralmente
escavado e tornou-se forno para o pão. Os paus
mortos das paredes criaram raízes e agarraram-
se à terra e as cabanas tornaram-se fortalezas. E
os homens, vestidos de verde, tornaram-se
verdes como as folhas e castanhos como os
troncos colossais. A folhagem da abóbada não
deixava penetrar o Sol e o capim não cresceu em
baixo, no terreiro limpo que ligava as casas.
Ligava, não: separava com amarelo, pois a ligação era feita pelo verde.
Assim foi parida pelo Mayombe a base guerrilheira.” (PEPETELA, 2018, p. 67).

Comentários
Mayombe é uma floresta de clima tropical assim como a Floresta Amazônica. Ela é um ecossistema
que que passa por Angola, Congo e Gabão. Além de elemento natural, símbolo de orgulho nacional,
no romance ela apreende uma importante função social: abrigo e proteção para os guerrilheiros que
estavam lutando pela independência de Angola. O trecho acima a descrição de como era o lugar de
reunião onde os guerrilheiros planejavam suas táticas e onde eles praticamente moravam dentro da
floresta. Conhecemos um hábito dos guerrilheiros: vestir-se de verde para se camuflarem na floresta.
Em suma, tornar-se floresta, na essência e na aparência. Voltando à Base, os guerrilheiros se veem
com mais um problema: a falta de comida. Eles estão se alimentando apenas do que chamam de
“comunas”, amêndoas secas de onde tiravam os principais nutrientes: óleo vegetal e proteína.

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Uanhenga Xitu

Uanhenga Xitu é o nome Kinbundu de Agostinho André Mendes de


Carvalho (1924-2014). É um escritor angolano que ganhou o Prêmio de Cultura
e Artes 2006. Além de ser enfermeiro, exerceu cargos políticos. Suas principais
obras são:
 Maka na sanzala (1979);
 Vozes na sanzala (Kahitu) (1976);
 Os sobreviventes da máquina colonial depõem (1980);
 O ministro (1989);
 Meu discurso (1974).

POEMA DE UANHENGA XITU


Imagem de Retorno
Quando me debruçava sobre ela
o pensamento voltava sempre à infância
e andava nas nascentes de Kasady
de Nzele
da Menya-a-Mongwa
sombreadas de compacto
e verdejante mangal
e palmar,
pulava valas secas
e outras cheias de água;
Fonte: Pixabay.
passeava nas margens do Kwanza e Bengu Bioma da savana, representado
ali nas senzalas de Madimu pela acácia.
de Caju, Jinganga, Kasenda, Kilende,
Kinzenza, Ngala, Kabiri, Mbanza Kitel e Funda
nas noites de luar-prata
brincava, cantava
batia palmas com Kisanda
Mixinji, Tonya, Kyamuxinda, Mabunda, Kudijimbe, Keza

ia nos laços de pássaros e esquilos


aos cajueiros e mangueiras alheias
Uanhenga Xitu – Poesias. Disponível em: https://tinyurl.com/ybj72wcd. Acesso em: 12 jun. 2020.

Comentários
Para o eu lírico, o mais importante de sua infância está atrelado à paisagem e à musicalidade. O
que pode ser inferido a partir da alusão a vários lugares e também no verso “brincava, cantava /batia
palmas com Kisanda”. Como é um poema memorialístico em que se evocam lembranças de infância,
o sentido do termo é positivo. Segundo o Dicionário Houaiss, “senzala” pode significar apenas
povoação. Aqui, a intenção do eu lírico é se ligar a animais tanto terrestres (esquilo) quanto aéreos
(pássaro). O pássaro é uma figura simboliza liberdade. Por fim, em um dos versos o eu lírico descreve
que algumas valas eram cheias d’água, mas que outras eram vazias.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 127


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Agualusa
José Eduardo Agualusa (1960-...) é um escritor angolano, mas com
ascendência portuguesa e brasileira. É jornalista e editor, além de escritor.
Estudou Agronomia na Universidade Técnica de Lisboa. Escreve crônicas
jornalísticas inclusive para o jornal brasileiro O Globo. Suas obras principais
são as seguintes:
 Um estranho em Goa (2000) – romance;
 O homem que parecia um domingo (2002) – contos;
 O vendedor de passados (2004) – romance;
 As mulheres de meu pai (2007) – romance;
 Barroco tropical (2009) – romance;
 A sociedade dos sonhadores involuntários (2017) – romance;
 O paraíso e outros infernos (2018) – crônicas.

TRECHO DE “O VENDEDOR DE PASSADOS”


Estava à espera daquilo. Se conseguisse falar teria sido rude. O meu aparelho
vocal, porém, apenas me permite rir. Assim, tentei atirar-lhe à cara uma
gargalhada feroz, algum som capaz de o assustar, de o afastar dali, mas consegui
apenas um frouxo gargarejo. Até à semana passada o albino sempre me ignorou.
Desde essa altura, depois de me ter ouvido rir, chega mais cedo. Vai à cozinha,
retorna com um copo de sumo de papaia, senta-se no sofá, e partilha comigo a
festa do poente. Conversamos. Ou melhor, ele fala, e eu escuto. Às vezes rio-me
e isso basta-lhe. Já nos liga, suspeito, um fio de amizade. Nas noites de sábado,
não em todas, o albino chega com uma rapariga pela mão. São moças esguias,
altas e elásticas, de finas pernas de garça. Algumas entram a medo, sentam-se na
extremidade das cadeiras, evitando encará-lo, incapazes de disfarçar a repulsa.
Bebem um refrigerante, golo a golo, e a seguir despem-se em silêncio, esperam-
no estendidas de costas, os braços cruzados sobre os seios. Outras, mais afoitas, aventuram-se
sozinhas pela casa, avaliando o brilho das pratas, a nobreza dos móveis, mas depressa regressam à
sala, assustadas com as pilhas de livros nos quartos e nos corredores, e sobretudo com o olhar severo
dos cavalheiros de chapéu alto e monóculo, o olhar trocista das bessanganas de Luanda e de
Benguela, o olhar pasmado dos oficiais da marinha portuguesa nos seus uniformes de gala, o olhar
alucinado de um príncipe congolês do século XIX, o olhar desafiador de um famoso escritor negro
norte-americano, todos posando para a eternidade entre molduras douradas. Procuram nas
estantes algum disco.
AGUALUSA, José Eduardo. O vendedor de passados. 2. ed. Rio de Janeiro: Gryphus, 2011.

Comentários
Há uma mudança de comportamento do albino para com a personagem: até semana passada, a
personagem foi ignorada, mas depois disso, o albino passou a dividir com ela refeições e também
conversa. Há uma linguagem não verbal entendida entre a personagem narradora e o albino. No caso,
o sorriso, o que se verifica em: “Às vezes rio-me e isso basta-lhe. Já nos liga, suspeito, um fio de
amizade.” Por fim, as mulheres com quem o homem albino se relaciona parecem não gostar de cultura.
Infere-se que são prostitutas. Umas se acanham e outras até adentram a casa, mas se assustam com
livros e representações de personagens históricas ou escritores.

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
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O vendedor de passados (2004)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
32 capítulos entremeados por 6 sonhos e ao fim do livro Félix começa um
ESTRUTURA
diário: gênero híbrido → cartas, listas, diário.
PERSONAGENS Félix Ventura, José Buchmann, Eulálio, Ângela, Edmundo.
Luanda nos tempos de Guerra Civil de Angola, conflito militar que se
TEMPO E
prolongou de 1975 a 2002. Além da MPLA, outros grupos foram
ESPAÇO
importantes para o movimento anticolonial FNLA e UNITA.
Félix Ventura é um albino natural de Angola. Sua profissão é criar passados
honrosos, mas fictícios, especialmente para pessoas de status elevado. Um
ENREDO dia chega um estrangeiro com a demanda de criação não só de um
passado, como também de uma nova identidade angolana. Agora ele
passaria a se chamar José Buchmann.
Ajudando os outros, Félix vive infeliz e solitário, pois é rejeitado pelas
mulheres pela sua albinia. Conhece uma fotógrafa chamada Ângela Lúcia.
Ela e José Buchmann passam a frequentar sua casa e tornam seus amigos.
CONFLITO
Tornam-se obcecados pela procura da verdade, pois José Buchmann tem
uma identidade falsa e descobrem que o próprio presidente do país tinha
um duplo.
Ocorre uma reviravolta e um homem do passado de José Buchmann,
CLÍMAX Edmundo Barata dos Reis, acaba por identificá-lo. Há uma perseguição,
em que os dois acabam mortos.
Ângela Lúcia vai viajar pelo mundo; Félix Ventura acaba por começar a
escrever um diário (que poderia ter sido o próprio livro). Um segredo se
revela: Ângela Lúcia é filha de José Buchmann com Marta. Ele foi caçado
DESFECHO
na época do Regime Salazarista e precisou viajar o mundo como repórter
para escapar à censura. Marta foi presa e torturada, mas sua filha
sobrevive. Acaba por ter a mesma profissão do pai.

Jorge Macedo
Jorge Mendes Macedo (1941-...) nasceu em Malanje (Angola). Começou
cursando Filosofia e se formou no curso de Etnomusicologia na
Universidade de Kinshasa. Depois da Independência, foi Diretor da Escola
Nacional de Música e Diretor do Instituto Nacional de Línguas Angolanas.
Mora em Lisboa, onde dirige a revista Afro Letras da Casa de Angola. Seu
nome literário é Mário Samba. Suas principais obras são:
 Tetembu (1966);
 As mulheres (1970);
 Gentes do meu bairro (1977);
 Geografia da coragem (1978);
 O menino com olhos de bimba (1999).

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A CIDADE À NOITE

A festa dos reclamos luminosos


é minha.
Não gosto de coisas reais.
Todas as ilusões
me pertencem.
Sou milionário universal
da fantasia.
Gosto de passar pelas montras
e sonhar...

Sonhar sonhando,
sem cobiça,
sem pólvora, sem sangue,
sem ódio,
sem ferir o mundo.

Ondjaki

É o apelido de Ndalu de Almeida (1977-...). É um escritor angolano que foi


estudar em Lisboa. Graduou-se em Sociologia e fez Doutorado em Estudos
Africanos na Itália em 2010. Publica o primeiro livro quando obteve o
segundo lugar no Prêmio António Jacinto em Angola. Passa uma temporada
na Universidade de Colúmbia em Nova Iorque onde filma um documentário
com Kiluanje Liberdade. Suas obras já foram traduzidas para diversas línguas,
incluindo chinês e alemão. Em 2010, ganha o Prêmio Jabuti com o romance
Avó dezanove e o segredo do soviético. Escreveu poesia, contos, teatro e
literatura infanto-juvenil. Hoje mora em Luanda De seus romances,
destacam-se:
 Bom dia, camaradas (2001);
 Os transparentes (romance, 2012) → prêmio José Saramago 2013.

A vida às vezes é como um jogo brincado na rua: estamos no último minuto de uma brincadeira
bem quente e não sabemos que a qualquer momento pode chegar um mais-velho a avisar que a
brincadeira já acabou e está na hora de jantar. A vida afinal acontece muito de repente. Nós, as
crianças, vivíamos num tempo fora do tempo, sem nunca sabermos dos calendários de verdade. [...]
O "dia da véspera do Carnaval", como dizia o avô Nhé, era dia de confusão com roupas e pinturas a
serem preparadas, sonhadas e inventadas. Mas quando acontecia era um dia rápido, porque os dias
mágicos passam depressa deixando marcas fundas na nossa memória, que alguns chamam também
de coração.
ONDJAKI. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2007.
Comentários
O narrador se concentra na incidência das memórias narradas. Trata-se de um texto
predominantemente memorialista.

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
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LITERATURA MOÇAMBICANA

Noémia de Souza
Carolina Noémia Abranches de Sousa Soares (1926-2002) foi uma escritora,
jornalista, tradutora e militante moçambicana. Suas origens na verdade misturam
ascendências germânicas e goesas. Aos 6 anos, muda-se para Lourenço Marques
(antiga Maputo) e estuda na Escola Técnica, onde publica seus primeiros poemas.
Estudou também no Brasil e publica O brado africano. Viveu em Lisboa durante
1951-1964, mas por causa de seu posicionamento político precisou se exilar em
Paris, onde trabalha no consulado de Marrocos. Começa a usar o pseudônimo
Vera Micaia. Em 2001, a Associação dos Escritores Moçambicanos publica sua
poesia completa, reunindo poemas que estavam dispersos: "Sangue negro".

TRECHO DO POEMA "SANGUE NEGRO" (1949)


"Ó minha África misteriosa e natural,
minha virgem violentada,
minha Mãe!

Como eu andava há tanto desterrada,


de ti alheada
Comentários
distante e egocêntrica
A África é uma entidade
por estas ruas da cidade!
engravidadas de estrangeiros feminina personificada com quem o eu
lírico conversa por meio de vocativo.
Minha Mãe, perdoa! Trata-se de uma história marcada por
violência e sofrimento.
Como se eu pudesse viver assim,
desta maneira, eternamente,
ignorando a carícia fraternamente
morna do teu luar
(meu princípio e meu fim)..."
Disponível em: "Noémia de Sousa" em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/noemia-de-sousa.htm

José Craveirinha
José João Craveirinha (1922-2003) nasceu em Maputo. É considerado
o maior poeta em Moçambique. Estudou na escola Primeiro de Maio, ligada à
maçonaria. Colaborou em vários jornais moçambicanos, entre ele, O brado
africano. Adotou vários pseudônimos: Mário Vieira, J.C., J. Cravo, José Cravo,
Jesuíno Cravo e Abílio Cossa. Foi presidente da Associação Africana na década
de 1950. Foi o primeiro presidente da Associação de Escritores Moçambicanos
(AEMO). Em 1991, ganhou o Prêmio Camões. Em 2003, instituiu o prêmio que
leva o seu nome. Suas principais obras são:
 Xigubo (1980);
 Karingana ua karingana (1982);
 Poemas da prisão (2004);
 Poemas eróticos (2004).

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Grito
Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e me fazes tua mina, patrão.
Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão,
para te servir eternamente como força motriz
Comentários
mas eternamente não, patrão.
Um recurso que marca a
Eu sou carvão e tenho que arder sim;
queimar tudo com a força da minha combustão. expressividade é o uso da exclamação.
Eu sou carvão; O ato de queimar significa uma forma
tenho que arder na exploração de reação contra a violência sofrida.
arder até às cinzas da maldição Trata-se de uma ação, do eu lírico que
arder vivo como alcatrão, meu irmão, não quer permanecer naquela
até não ser mais a tua mina, patrão. situação. O carvão também remete ao
Eu sou carvão. trabalho braçal, à ação. Por fim, o tom
Tenho que arder é de protesto e não de resignação.
Queimar tudo com o fogo da minha
combustão. Sim!
Eu sou o teu carvão, patrão.
CRAVEIRINHA, José João. Karingana Ua Karingana.(Era uma vez). Lisboa: Edições 70, 1982.

Paulina Chiziane
Paulina Chiziane (1955-...) é uma escritora moçambicana.
Nasceu numa família protestante, mas aprende a Língua Portuguesa
numa escola católica. Estudou Linguística na Universidade Eduardo
Mondlane, mas não concluiu o curso. Foi militante política pela Frente
de Libertação de Moçambique (Frelimo). É a primeira mulher que
publicou um romance em Moçambique. Suas principais obras são:
 Balada do amor ao vento (1980);
 Ventos do apocalipse (1993);
 Niketche: Uma História de Poligamia (2002);
 Na mão de Deus (2013);
 O canto dos escravizados (2017).

Mulher é terra. Sem semear, sem regar, nada produz (Provérbio zambeziano)
Epígrafe da obra “Niketche: Uma História de Poligamia”.

– Foi a manga, mãe.


– Manga?
– Sim, aquela madura, lá no alto.
Levanto os olhos para a mangueira. A manga baloiça serena na brisa. É uma manga apetecível, sim
senhor. Redonda. Jovem. E o Betinho queria interromper-lhe o voo na flor da vida, muito verde,
ainda.

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Profa. Luana Signorelli

– Ah, Betinho, o que fizeste de mim?


– Castiga-me, mãe.
A voz de Betinho baloiça nos meus ouvidos como o sibilar doce dos pinheiros e dilui a minha raiva
em piedade. Lindo filho, este meu. No lugar de perdão pede um castigo. Homem justo, tenho eu
aqui. Fico enternecida. Encantada. A zanga se desfaz. Sinto orgulho de mãe.
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia.
São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 10).
Comentários
O romance Niketche – uma História de Poligamia (2001) conta a história do
casal Rami e Tony, alto funcionário do governo. Um dia, a mulher Rami descobre
que o marido é polígamo. Ela decide ir atrás de suas quatro mulheres. A primeira
delas é Juliana. O primeiro encontro com ela é muito agressivo, acaba em briga.
Porém, um certo dia Rami passa por um processo de epifania (revelação) e
descobre que a outra mulher, enquanto fonte e símbolo do sagrado feminino, é
tão poderosa quanto ela, vítimas do mesmo homem.
Nessa passagem em particular, no início do livro, Rami se identifica com uma mãe #coruja, pois
tenta projetar no filho, que é menino, a raiva que sente pelo pai (o homem), mas não consegue. Em
vez de dar uma bronca, tudo o que consegue fazer é sentir orgulho dele.

Luís Bernardo Honwana


Luís Bernardo Honwana (1942-...) nasceu em Maputo (antiga
Lourenço Marques). Foi estudar jornalismo na capital e foi revelado por
José Craveirinha. Inclusive, ganhou o Prémio José Craveirinha de
Literatura (2014). Em 1964, torna-se militante da Frelimo, lutando pela
independência, mas foi preso. Em 1970, vai para Portugal para estudar
Direito. Em Moçambique independente, trabalha no governo, como
Secretário de Cultura. Em 1987, torna-se membro da UNESCO. Sua
principais obras são:
 Nós Matámos o Cão-Tinhoso (1964);
 Rosita até morrer (1971).

TRECHO DE "NÓS MATAMOS O CÃO TINHOSO"


"O Quim disse-me um dia que o Cão-Tinhoso era muito velho, mas que quando ainda era novo
devia ter sido um cão com o pelo a brilhar como o do Mike. O Quim disse-me também que as feridas
do Cão-Tinhoso eram por causa da guerra e da bomba atómica, mas isso é capaz de ser pêta. O Quim
diz muitas coisas que a gente nem pensa que podem não ser verdadeiras, porque quando ele as
conta a gente fica tudo de boca aberta. A malta gosta de ouvir o Quim a contar coisas de outras
terras e os filmes que vai ver lá em Lourenço Marques, no Scala, e as coisas do El Índio Apache a
jogar luta-livre e a fazer tourada, e aquilo que El Índio Apache fez ao Zé Luís no Continental. O Quim
diz que El Índio Apache só não vai ao focinho ao Zé Luís porque não quer."

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Mia Couto

Mia Couto é um pseudônimo de António Emílio Leite Couto (1955-


...). Além de escritor, sua formação profissional é a de biólogo. Como
biólogo, dirige a Impacto Ambiental. Já pré-adolescente publica seus
primeiros poemas em jornais. Trabalhou na Tribuna e foi nomeado diretor
da Agência de Informação de Moçambique (AIM). Também lutou pela
guerra de libertação do seu país. Em 2013, ganha o Prêmio Camões e em
2022 o Prêmio José Craveirinha. É muito produtivo e um dos escritores
moçambicanos mais traduzidos. Suas principais obras são:
 Terra sonâmbula (1992);
 Estórias abensonhadas (1994) – contos;
 O último voo do flamingo (2001);
 Contos do nascer da terra (2002);
 Cada homem é uma raça (2005);
 E se Obama fosse africano? (2009);
 Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra (2002).
 Trilogia "As areias do imperador", volume 1: Mulheres de cinzas (2015);
 Trilogia "As areias do imperador", volume 2: A espada e a azagaia (2016);
 Trilogia "As areias do imperador", volume 3: O bebedor de horizontes (2017);
 O mapeador de ausências (2020).

Terra sonâmbula (1992)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
O livro se estrutura em 11 capítulos, cada um para o qual existe um
ESTRUTURA
Caderno de Kindzu correspondente.
PERSONAGENS Muidinga, Tuahir, Siqueleto, Kindzu, Taímo, Junhito, Farida, Tia Euzinha.
A Guerra de Independência de Moçambique durou de 25 de setembro de
1964 a 8 de setembro de 1974. O Dia de Declaração de Independência
TEMPO foi 25 de junho de 1975. Essa data é tão significativa no romance que um
personagem leva seu nome: “– Esta criança há-de ser chamada de
Vinticinco de Junho”.
ESPAÇO Moçambique.
Muidinga é um menino que sofreu amnésia, mas conta com a ajuda de
Tuahir, um sábio que tenta ajudá-lo no resgate de suas memórias. Os dois
vivenciam os conflitos civis pelos quais Moçambique estava passando na
época. Nesse cenário apocalíptico, encontram um ônibus abandonado e,
junto a um cadáver, um diário intitulado de Cadernos de Kindzu. Então,
ENREDO começa-se uma narração paralela: o pai desse menino era alcoólatra e
sonâmbulo. Lembrando que o sonambulismo na obra não figura só no
sentido literal, como também no metafórico, pois o país passava por uma
espécie de letargia e inércia que se assemelhava ao sonambulismo. Kindzu
também relata a sua relação com Farida e o início da guerra, assim
servindo o seu diário também como documento de registro histórico.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 134


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Muidinga e Tuahir moram no ônibus por um tempo, após enterrarem o


CLÍMAX corpo. Isso até caírem em uma armadilha e serem presos por Siqueleto, mas
são soltos.
Da relação de Kindzu e Farida nasce Gaspar. No último caderno de Kindzu,
narra-se uma situação em que ele vê um garoto em um ônibus abandonado
lendo seu diário. Revela-se a identidade: Muidinga pode ser Gaspar, o
DESFECHO
garoto que sofreu amnésia. Ele estava lendo o diário do pai o tempo inteiro
e não sabia. Logo, o diário é uma importante fonte de reconstrução do
passado: não só histórico, como também pessoa.

Filme: Terra sonâmbula (2007)

POEMA DE MIA COUTO


Lembrança alada
Em alguma vida fui ave.

Guardo memória
de paisagens espraiadas
e de escarpas em voo rasante.

E sinto em meus pés


o consolo de um pouso soberano
na mais alta copa da floresta.

Liga-me à terra
uma nuvem e seu desleixo de brancura.

Vivo a golpes
com coração de asa
e tombo como um relâmpago
faminto de terra.
Fonte: Pixabay.
Guardo a pluma
que resta dentro do peito

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

como um homem guarda o seu nome


no travesseiro do tempo.

Em alguma ave fui vida.


Mia Couto, em "Idades cidades divindades". Lisboa: Editorial Caminho, 2007.
Disponível em: https://tinyurl.com/y8nfgqu7. Acesso em: 17 de abril de 2020.

Comentários
No primeiro verso, há a lembrança; no segundo, a ave. O primeiro é um substantivo abstrato e o
segundo, concreto. Um dos jogos que estabelece o eu lírico é justamente esse: entre o abstrato e o
material. No verso “e tombo como um relâmpago”, há a presença da figura de linguagem da
comparação por meio do conectivo. O conectivo “como” opera a equiparação. A memória é um
receptáculo natural do qual o homem pode se alimentar para suprir necessidades. A memória é um
travesseiro no tempo; o homem pode dormir como pode se lembrar. Na verdade, ela é um de seus
principais temas, tanto na poesia quanto no romances. Por fim, o paralelo entre “Em alguma vida fui
ave” e “Em alguma ave fui vida” cria um jogo semântico que contribui para a fluidez. Essa
expressividade é construída por meio do jogo imagético entre lembrança e pássaro, como se ambos
fossem algo em movimento.

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(Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2020)

Leve em consideração os excertos abaixo para responder à questão.

TEXTO I
"A guerra crescia e tirava dali a maior parte dos habitantes. Mesmo na vila, sede do distrito, as
casas de cimento estavam agora vazias. As paredes, cheias de buracos de balas, semelhavam a pele
de um leproso. Os bandos disparavam contra as casas como se elas lhes trouxessem raiva. Quem
sabe alvejassem não as casas mas o tempo, esse tempo que trouxera o cimento e as residências
que duravam mais que a vida dos homens. Nas ruas cresciam arbustos, pelas janelas espreitavam
capins. Parecia o mato vinha agora buscar terrenos de que tinha sido exclusivo dono. Sempre me
tinham dito que a vila estava de pé por licença de poderes antigos, poderes vindos do longe. Quem
constrói a casa não é quem a ergueu mas quem nela mora. E agora, sem residentes, as casas de
cimento apodreciam como a carcaça que se tira a um animal."
COUTO, Mia. Terra Sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2016 (p. 23).

TEXTO II
Quais são as raízes que prendem, que ramos estendem
Desse entulho de pedras? Filho do homem,
Não podes dizer, suspeitar, já que conheces só
Uma pilha de imagens partidas, em que bate o sol,
E o tronco morto não te abriga, o grilo não mitiga,
E a pedra seca não ressoa a água. Só
Que há sombra sob esta pedra rubra,
(Vem ficar sob a sombra desta pedra rubra),
E vou te mostrar coisas diversa tanto (...).
ELIOT, T. S. Terra devastada. In: Poemas. Trad. Caetano W. Galindo.
São Paulo: Companhia das Letras, 2018 (p. 113).

A partir da leitura comparativa dos textos acima, assinale a alternativa correta.


a) É comum a formação de forças de guerrilhas para combater o opressor: os moradores
abandonam a vila para formar a FRELIMO e a pedra rubra representa a coletividade.
b) A fantasmagoria é a temática modernista predominante, pois no primeiro texto a cidade torna-
se fantasma por medo dos naparamas e no segundo pelo ceticismo quanto à ancestralidade.
c) Embora sejam textos de gêneros diferentes, o primeiro épico e o segundo lírico, são
manifestações de uma literatura nativista.
d) É importante no movimento modernista a relação do ser humano com a terra, que deixa de ser
um vínculo natural e corre o risco de perder sua essência.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 137


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e) O eixo fundamental de abordagem é a crítica histórica: a resistência da vila significa a cor


vermelha na bandeira de Moçambique e o tronco morto a aridez do sertão.

Comentários
 Questão de interpretação de texto literário e literatura comparada.
Alternativa A: incorreta. FRELIMO era a Frente de Libertação de Moçambique. Cuidado
com informações extratextuais: os moradores abandonam as vilas pelos mais variados motivos,
medo, necessidade etc. Já no poema do Eliot não há coletividade formada: a terra é devastada.
Alternativa B: incorreta. A fantasmagoria é uma das temáticas modernistas. Como na
alternativa anterior, houve várias motivações da saída dos moradores da vila. Os naparamas
eram considerados guerreiros sagrados. Kindzu sai da sua vila a princípio com o intuito de
encontrá-los. No segundo poema, há sim um questionamento quanto às raízes.
Alternativa C: incorreta. O nativismo é uma tendência que valoriza a natureza, o que não
ocorre em nenhum dos textos.
Alternativa D: correta – gabarito. Com o urbanismo, a mecanização e outras ameaças como
a guerra, o ser humano corre o risco de perder a consciência de que é um ser natural.
Alternativa E: incorreta. A cor vermelha na bandeira de Moçambique representa a
resistência secular ao colonialismo, a luta armada de libertação nacional e a defesa da soberania,
segundo o Portal do Governo Moçambicano. Tampouco o segundo poema representa o sertão,
pois Eliot é um escritor estadunidense.
Gabarito: D.

Ba Ka Khosa
Ungulani Ba Ka Khosa (1957-...) é o pseudônimo de Francisco Esaú
Cossa. É bacharelado em História e Geografia pela Universidade
Eduardo Mondlane (UEM). Em 1982, trabalha para o Ministério da
Educação e depois na Associação dos Escritores Moçambicanos
(AEMO), tendo participado com a publicação de contos na revista
Charrua. Ganhou o Prêmio José Craveirinha em 2007. Suas
principais obras são:
 Ualalapi (1987);
 No reino dos abutres (2002);
 Choriro (2009);
 O rei mocho (2016);
 Gungunhana (2018).

TRECHO DE "CHORIRO"
O apelo à aventura tocava fundo. No seu imaginário a África era mais profunda e densa que
aquele povoado de ruas poeirentas, sombras dispersas, gente indolente, casas mortas ao sol, e o rio,
largo e silencioso, espreitando e seguindo, com desdém, curva adiante, em direção à costa. Para ele,
aqueles sons tristes e secos que ecoavam em cada esquina, sobre as pedras e galhos que os cabritos
teimavam em levar à boca, não eram a África do seu imaginário. A sua África era das densas encostas

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 138


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que iam diminuindo de densidade ao atingirem a planície de chitas velozes que cortavam a savana
à caça de gazelas que em saltos rápidos desapareciam na floresta de ramos densos, que se batiam
quando bandos de pássaros se atiravam aos céus de nuvens brancas e dispersas. A sua África,
sonhada e vista, era a das manadas de elefantes abrindo ruidosamente carreiros por entre a
folhagem alta e verde, onde leões e leopardos se acoitavam, atentos e participantes no inevitável
equilíbrio da mãe natureza, na caça de kudus e impalas e búfalos em cavalgadas vibrantes ao longo
das savanas. A sua África estava nos misteriosos crocodilos que emergiam das turvas águas do
Zambeze, espalhando-se depois em grupos, ao longo das manhãs, pelas margens onde diligentes
pássaros os esperavam para a quotidiana limpeza de parasitas nos desnivelados e pontiagudos
dentes que sobressaíam das largas e profundas mandíbulas. Essa era a África idealizada que foi
avistando à medida que navegava a montante do rio, ao tempo da sua chegada ao continente e à
região dos rios Sena e Tete (KHOSA, 2015, p. 17-18).

Escritores africanos em língua portuguesa: outras nacionalidades

Corsino Fortes
Corsino António Fortes (1933-2014) foi um escritor e político cabo-verdiano.
Nasceu numa região bem pobre da ilha de São Vicente e ainda fica órfão
jovem, tendo que trabalhar como sapateiro. Seus primeiros poemas são
publicados em 1957 no 3º Ciclo Liceal. Trabalhou como juiz no Tribunal de
Benguela, em Angola. Foi militante PAIGC (Partido Africano para a
Independência da Guiné e Cabo Verde) e viveu na clandestinidade. Foi
membro de vários governos, com destaque para o cargo de embaixador cabo-
verdiano em Portugal em 1975. Suas principais obras são:
 Pão & Fonema (1974);
 Árvore & Tombor (1986);
 Pedras de Sol & Substância (2001);
 A cabeça calva de Deus (2001) → trilogia, reunindo os 3 livros anteriores.

“A cabeça calva de Deus” (2001) é uma trilogia épica de longos poemas, composta de “Pão e fonema”
(1974); Árvore e tambor” (1986) e “Pedras de sol e substância” (2001). O eu lírico recorre a um plano
histórico, indo da colônia à república.

Abdulai Silá
Abdulai Silá (1958-...) é um engenheiro, economista, investigador social e escritor
guineense. Nasceu em Catió, pequena cidade de Guiné-Bissau. Em 1970, muda-
se para Bissau a fim de frequentar o Liceu Honório Barreto. Frequentou a
Universidade de Dresden na Alemanha (1979-1985). Ele trabalha com segurança
na internet e com as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). Seus
principais romances são:
 Eterna paixão (1994);
 A última tragédia (2006) – obra-prima;
 Mistida (1997).

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 139


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

TRECHO DE "A ÚLTIMA TRAGÉDIA"


Era a primeira vez que os cipaios tinham visto um Chefe tão cobarde. Ficaram muito desiludidos.
Foram contar na tabanca, com um bocadinho de sal, como de costume. Toda a população soube do
acontecimento, ou pelo menos uma das suas várias versões. Tudo dependia da imaginação de quem
estava a contar e se era versão de primeira mão ou de segunda mão. De qualquer maneira, o Chefe
começou a receber cada dia menos oferta de coisas de comer. A outra parte das galinhas e patos e
ovos ia para o Capataz Barbosa. Ele é que era mesmo macho, merecia comer bem. Nunca tinha visto
um branco assim.
SILA, Abdulai. A última tragédia. Rio de Janeiro: Pallas, 2011 (p. 95).

6.0 Movimentos Artísticos no Geral

Das mais variadas tendências que permeiam a segunda metade do século XX até os nossos dias de
hoje, tratada como história do tempo presente, iremos estudar algumas escolas principais deste período.

6.1 Bauhaus
Revisão de um tópico já estudado. Trata-se da escola criada por Walter Gropius (ao lado).
Segundo Christian Demilly: “A arte é criada, mas também pode ser aprendida... Em 1919, é
fundada na cidade de Weimar, na Alemanha, uma escola de arte e arquitetura – a Bauhaus. Grandes
artistas lecionam na escola, entre eles Kandinski e Lásló Moholy-Nagy [1895-1946]... O programa é
variado: escultura, teatro, fotografia, tipografia, desenho, trabalho em madeira, cerâmica... A ideia é dar
aos alunos um ensino sólido, mas também uma grande autonomia. A Bauhaus é um verdadeiro
laboratório de criação onde todos os talentos são explorados, onde arte e artesanato se misturam para
dar lugar a aplicações concretas (design, arquitetura, publicidade).

O JOGO DE XADREZ DA BAUHAUS

Josef Hartig, jogo de xadrez.


1923-24, feito no ateliê de
escultura da escolha alemã
Bauhaus, cartão.
5 x 12,5 x 12,6 cm.

No conceito de Bauhaus, a arte


deve ser funcional. Gropius criou
3 centros de estudos, que
funcionaram nas cidades alemãs
de Weimar, Dessau e Berlim.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 140


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

6.2 Abstracionismo
E se a pintura decidisse não mostrar mais a realidade? Ser apenas a própria pintura? Cada um a
sua maneira, os movimentos e as vanguardas do início do século XX tentam se dissociar da realidade. Só
falta dar um passo para ignorar totalmente a figuração, para se livrar dos últimos vestígios de temas reais.
(...) Nas obras de Vassili Kandinksi (1866-1944) ou de Frantisek Kupka (1871-1957), pioneiros da
arte abstrata, não há mais figura alguma: apenas cores, linhas e formas que só representam a si mesmas.
São verdadeiras composições, como se diz em música. A música não precisa de palavras ou de sentido
para nos emocionar. Ela é abstrata, e, no entanto, as emoções que ela nos faz sentir são bem concretas.
Para os artistas, tudo é questão de ritmo e de sensação. Como as notas musicais, as cores vibram, ressoam
e expressam o invisível e o indizível: os sentimentos, as emoções, a vida interior do artista... para tocar
diretamente nossos próprios sentimentos e emoções, para nos fazer vibrar em uníssono com essas
sinfonias pictóricas. (DEMILLY, 2015, p. 62).

Wassily Kandinsky – Composição no 4. Fonte: Ficheiro Wikipedia.


Disponível em: https://tinyurl.com/86yjsjzp. Acesso em: 15 maio 2021.

6.3 Pop-Art
Segundo Christian Demilly: “Nos anos 1960, os Estados Unidos já são uma hiperpotência. Trata-se
de uma sociedade de consumo, de abundância, na qual reinam a publicidade e os bens materiais. Essa
sociedade é observada pelos artistas norte-americanos, meio fascinados, meio temerosos, e eles
resgatam seus símbolos para representar a banalidade, a expecionalidade...”.
A arte pop mostra, de maneira anestésica, um mundo que todos nós temos em comum. Um mundo
cheio de objetos que podem ser substituídos por outros. Com a produção em massa o universo se
uniformiza, os supermercados são quase os mesmos por toda parte, todos nós compramos e

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 141


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

consumismos quase as mesmas coisas. A arte pop chama a atenção para o que conhecemos de cor, para
nosso universo de todos os dias, tão familiar que já não olhamos para ele. Valoriza a beleza do banal, do
cotidiano. É uma arte de recuperação. À escuta da sociedade, ela se inspira, retoma e desvia o que essa
sociedade produz: anúncios, embalagens, produtos domésticos... E, já que mostra a sociedade de
consumo, a arte pop será, à sua imagem, uma arte de consumo, uma arte ‘popular, efêmera, descartável,
barata, produzida em massa, jovem, espirituosa, sexy, cheia de astúcias, glamorosa e um grande negócio’,
disse Richard Hamilton. Os artistas da arte pop nos mostram de maneira padronizada um mundo
padronizado. Eles desaparecem atrás de suas obras e se mantêm à distância. Não procuram expressar
uma emoção específica, nem mostrar um conhecimento técnico da arte. Como o mundo que descrevem,
suas obras dão a impressão de que podem ser realizadas em série, produzidas por qualquer um para
qualquer um... Ou seja, para todo mundo.
A arte pop é uma arte profundamente estadunidense. Sua inspiração vem do universo daquele
país: da cultura, do modo de vida e do imaginário norte-americano. No que há nele de melhor e de pior.
A arte pop aponta as realidades dessa sociedade, brinca com as representações, com as imagens que nos
invadem todos os dias, como na obra de Mel Ramos, que se diverte com a imagem da mulher exatamente
como podemos vê-la nos anúncios publicitários ou nas histórias em quadrinhos norte-americanas. Uma
jovem estrela nos olha, empoleirada sobre uma caixa de requeijão, como se fosse uma deusa sobre seu
pódio. A arte pop resgata os mitos norte-americanos, as imagens fortes que fundam os Estados Unidos e
a ideia que fazem de si mesmos: as grandes extensões, os postos de gasolina na beira de estradas desertas,
a conquista do espaço... Essas imagens fortes fascinam o mundo inteiro: dinheiro, brilho e paetês,
Hollywood e suas estrelas... o rosto glamoroso dos Estados Unidos. Mas atrás dessas imagens se esconde
outra realidade: os Estados Unidos, além de tudo isso, são a cadeira elétrica, a bomba atômica, a
pobreza... Os artistas da arte pop também mostram esse rosto mais inquietante. Eles utilizam, ainda,
imagens conhecidas de todos para fazer um retrato dos Estados Unidos, sem julgamento, mas sem
complacência...”.

Richard Hamilton, Just what as it that


makes today’s home so different, so
appealing? [O que faz com que hoje as
casas sejam tão diferentes, tão
atraentes?]. 1959. Colagem.

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
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7.0 Crítica Literária


Pois bem, alunos. O ideal é que a Crítica Literária dialogue com os termos abordados em cada aula.
Nesse sentido, selecionei dois textos para trabalharmos hoje:
 Affonso Ávila – O Modernismo.
 Regina Dalcastagnè – Literatura Brasileira Contemporânea.

TEXTO I

ESTRANGULAMENTO OU RECICLAGEM DO PROJETO


Estaria irreversivelmente concluído o ciclo modernista ou é ainda sob a sua vigência estética,
crítica e ideológica que temos de compreender o produto literário pós-roseano, especialmente o
trabalho das novas gerações? Esta questão, que vem sendo proposta com certa insistência
principalmente em decorrência da louvação cinquentenária da Semana de 22, tem encontrado
respostas divergentes, contraditórias, mas todas elas respostas de alcance sem dúvida provisório.
Os que se atêm à velha noção de literatura como um compartimento estanque e uma atividade
estável, ainda que fracionada por eventuais saltos de transformação da linguagem, estes não
admitem reservas e são peremptórios em afirmar a prevalência cíclica do Modernismo, embora
tenham do Modernismo uma ideia acomodadora e cristalizada, mais próxima talvez da ideia de um
pós-modernismo tão ao gosto da crítica oficial. Ao contrário, aqueles que aceitam o desafio da
grande fratura sofrida pela linguagem das artes nos últimos vinte nãos, com repercussões na própria
especificidade do discurso literário, dão como fato tranquilo o encerramento do ciclo modernista. A
verdade é que a poesia concreta e as proposições satélites, quebrando o tabu da estrutura discursiva
e introduzindo no aparato da linguagem poética materiais e signos não-verbais, precipitaram a
abertura de um fosso bem mais profundo do que o de transições intercíclicas anteriores
experimentadas pelo projeto literário brasileiro. Vivemos atualmente uma conjuntura de
estrangulamento que tanto pode indicar um fenômeno cabal de esgotamento, quanto um fenômeno
premonitório de reciclagem. E a crítica que pretender nesta altura intuir o futuro desdobramento do
projeto de nossa literatura terá que levar em conta não só a aderência de novas realidades postas
em giro pela comunicação de massa, a exemplo de formas ou técnicas que constituem uma
reformulação a seu modo da antiga inventividade do texto. A fusão e a interação das artes são
também fatalidades a que terá de submeter-se o discurso literário em incógnita, processo a que já
assistimos agora no âmbito da poesia, através da franca permutação de sua linguagem com a
linguagem da música ou da criação plástica. Da lição modernista há de prevalecer, todavia, a
radicalidade prospectiva, aquele ver com olhos novos, ver com olhos livres que, transmitido como a
grande herança de 22, fez há pouco artistas da geração moça reescrever criativamente, na linguagem
vanguardista do teatro e do cinema, o texto oswaldiano do Rei da vela e o Macunaíma, de Mário.
ÁVILA, Affonso. Do Barroco ao Modernismo: o desenvolvimento cíclico do projeto literário brasileiro. In:
ÁVILA, Affonso (Org). O Modernismo. São Paulo: Perspectiva, 2013 (Stylus, v. 1, p. 36, grifo meu).

Affonso Ávila (1928-2012) foi um ensaísta e poeta brasileiro. Foi criador do Instituto Estadual do
Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais e sua especialidade na pesquisa foi o Barroco Mineiro.
Ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia em 2007 com o livro O visto e o imaginado.

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
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Nesse texto em particular, o crítico literário questiona os novos caminhos do


Modernismo Brasileiro, após a deixa da Semana de 1922. Várias possibilidades
foram abertas depois do cenário vanguardista. Todas elas foram aproveitadas rumo
às gerações futuras e ao que se entende hoje por Literatura Contemporânea. Por
fim, devemos lembrar que o que está sendo produzido hoje está em constante
processo de reatualização, e é preciso estarmos sempre atentos a novas tendências.

TEXTO II

PLURALIDADE E ESCRITA
Desde os tempos em que era entendida como instrumento de afirmação da identidade nacional
até agora, quando diferentes grupos sociais procuram se apropriar de seus recursos, a literatura
brasileira é um território contestado. Muito além de estilos ou escolhas repertoriais, o que está em
jogo é a possibilidade de dizer sobre si e sobre o mundo, de se fazer visível dentro dele. Hoje, cada
vez mais, autores e críticos se movimentam na cena literária em busca de espaço – e de poder, o
poder de falar com legitimidade ou de legitimar aquele que fala. Daí os ruídos e o desconforto
causados pela presença de novas vozes, vozes “não autorizadas”; pela abertura de novas abordagens
e enquadramentos para pensar a literatura; ou, ainda, pelo debate da especificidade do literário, em
relação a outros modos de discurso, e das questões éticas suscitadas por esta especificidade.
É difícil pensar a literatura brasileira contemporânea sem movimentar um conjunto de
problemas, que pode parecer apaziguado, mas que se revelam em toda a sua extensão cada vez que
algo sai de seu lugar. Isso porque todo espaço é um espaço em disputa, seja ele inscrito no mapa
social, ou constituído numa narrativa. Daí o estabelecimento das hierarquias, às vezes, tão mais
violentas quanto mais discretas consigam parecer: quem pode passar por esta rua, quem entra neste
shopping, quem escreve literatura, quem deve se contentar em fazer testemunho. A não
concordância com as regras implica avançar sobre o campo alheio, o que gera tensão e conflito,
quase sempre, muito bem disfarçados. Por isso, a necessidade de refletir sobre como a literatura
brasileira contemporânea, e os estudos literários, situam-se dentro desse jogo de forças, observando
o modo como se elabora (ou não se elabora, contribuindo para o disfarce) a tensão resultante do
embate entre os que não estão dispostos a ficar em seu “devido lugar” e aqueles que querem manter
seu espaço descontaminado.
Para isso, é preciso dizer, em primeiro lugar, que o campo literário brasileiro ainda é
extremamente homogêneo. Sem dúvida, houve uma ampliação de espaços de publicação, seja nas
grandes editoras comerciais, seja a partir de pequenas casas editoriais, em edições pagas, blogs, sites
etc. Isso não quer dizer que esses espaços sejam valorados da mesma forma. Afinal, publicar um
livro não transforma ninguém em escritor, ou seja, alguém que está nas livrarias, nas resenhas de
jornais e revistas, nas listas dos premiados em concursos literários, nos programas das disciplinas,
nas prateleiras das bibliotecas. Basta observar quem são os autores que estão contemplados em
vários dos itens citados, como são parecidos entre si, como pertencem a uma mesma classe social,
quando não têm as mesmas profissões, vivem nas mesmas cidades, tem a mesma cor, o mesmo
sexo...
DALCASTAGNÈ, Regina. Literatura brasileira contemporânea: um território contestado. Vinhedo:
Editora Horizonte, 2012 [Kindle, p. 4-7].

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Regina Dalcastagnè (1967-...) é uma pesquisadora da


Universidade de Brasília. Hoje ela é responsável por
coordenar o Grupo de Estudos em Literatura Brasileira
Contemporânea (GELBC), tendo várias publicações
científicas e sendo referência nacional no estudo da
Literatura Contemporânea. Nesse texto, a professora fala
da heterogeneidade quanto à produção contemporânea,
seja nos suportes (blogs, sites etc.), seja no perfil de quem
produz essa literatura. Logo, algumas de suas pesquisas
que ela conduz são estatísticas.

8.0 Questões sem Comentários

Prezados alunos, eis algumas informações práticas antes de começarem.


A aula de hoje abordou muitos tópicos essenciais para a sua compreensão de texto. Vamos trazer
exercícios variados para a sua fixação. Então, vamos resolver questões das seguintes fontes e organizadas
dessa maneira:

QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS

• Questões anteriores da Prova da Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx);


• Questões autorais da Professora Luana Signorelli para a EsPCEx que já caíram nas seguintes
fontes: Simulados; Provões de Bolsa; SPRINTs; Salas VIPs; Chivunks; Operações (Hora da
Verdade, Revisão por Questões, Premonição e Revisão de Véspera) e Viradões.

LISTA DE FIXAÇÃO

• Nesta seção, a finalidade é trazer questões de outras bancas militares cuja tipologia se
assemelhe à sua prova, especialmente questões anteriores da Escola de Sargentos das Armas
(ESA);
• Questões autorais da Professora Luana Signorelli para a ESA que já caíram nas seguintes fontes:
Simulados; Provões de Bolsa; SPRINTs; Salas VIPs; Chivunks; Operações (Hora da Verdade,
Revisão por Questões, Premonição e Revisão de Véspera) e Viradões.

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Para complementar seu estudo cada vez mais, antes da resolução de cada questão eu
indicarei a tipologia de questão para treinarmos ao máximo o modelo de exercício que
costuma cair nas suas provas. E você pode contar com mais treino a partir dos nossos
simulados inéditos e gratuitos nos fins de semana.

1. (EsPCEx – 2023) Leia o poema abaixo.

Encomenda

Desejo uma fotografia


como esta — o senhor vê? — como esta:
em que para sempre me ria
como um vestido de eterna festa.

Como tenho a testa sombria,


derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.

Não meta fundos de floresta


nem de arbitrária fantasia…
Não… Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.
Fonte: Cecília Meireles (In: Vaga Música, 1942).

Quanto aos aspectos da linguagem poética presentes no poema "Encomenda", de Cecília Meireles:

I – A composição do poema é feita em forma de soneto.


II – Na segunda estrofe, o eu poética lança mão da antítese na percepção que tem de si mesmo.
III – Na construção dos versos, optou-se pela composição em redondilhas maiores.
IV – Como recurso para conferir musicalidade aos versos, há o emprego de rima alternada e de rima
interpolada.
V – Tendo em vista se tratar de um poema do Modernismo brasileiro, optou-se pela construção em
versos brancos.

Estão corretas apenas as afirmativas:


a) II e IV.
b) I e II.
c) III e IV.
d) II, III e V.
e) IV e V.
_____________________________________________________________________________________

2. (EsPCEx – 2023) Leia o trecho a seguir e marque a alternativa correta.

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"[...] Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez,
quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do
arrocho de autoridade. [...] Esses gerais são sem tamanho [...] O sertão está em toda parte.
Do demo? Não gloso. Senhor pergunte aos moradores. [...]
De primeiro, eu fazia e mexia, e pensar não pensava. Não possuía prazos. Vivi puxando difícil de
difícel, peixe vivo no moquém: quem mói no asp'ro, não fantasêia. Mas, agora, feita a folga que me
vem, e sem pequenos desassossegos, estou no range rede. E me inventei neste gosto, de especular
ideia. O diabo existe e não existe? Dou o dito. [...]

A respeito do fragmento, é correto afirmar que


a) a narrativa está situada no sertão mineiro de Guimarães Rosa, caracterizando o romance como
regional, uma vez que fixa, no espaço da narrativa, as fronteiras geográficas.
b) as marcas regionais são evidentes nos termos utilizados, na recriação da fala de sertanejos, mas as
questões tratadas abordam dramas humanos: dor, incertezas, medos... ampliando o regionalismo na
ficção roseana para uma dimensão universal.
c) o fragmento é marcado pela presença de neologismos, recriação de palavras como "asp'ro";
"fantasêia"..., característica de Guimarães Rosa, inovando o romance regional, caracterizando de modo
diferenciado o falar dos sertanejos.
d) apresenta os dramas, medos, sentimentos, incertezas do sertanejo. Trata-se de sofrimentos
provenientes das agruras do sertão, evidenciando uma abordagem exclusivamente regional do
universo ficcional de Guimarães Rosa.
e) caracteriza a fuga não só dos retirantes da caatinga como também de criminosos, conforme atesta
a passagem "onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso
vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de "autoridade", compondo o universo regional de "Vidas
secas", de Graciliano Ramos.
_____________________________________________________________________________________

3. (EsPCEx – 2021) “Esses gerais sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão
ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda parte”
O fragmento acima, de Guimarães Rosa, marca
a) os limites do regional.
b) o determinismo do meio.
c) o sertão universal.
d) o sertanejo e sua cor local.
e) sofrimento regional.
_____________________________________________________________________________________

4. (EsPCEx – 2018) Leia as afirmações abaixo sobre Carlos Drummond de Andrade:

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
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I. Preferiu não participar da Semana de Arte Moderna, mas enviou seu famoso poema “Os Sapos”, que,
lido por Ronald de Carvalho, tumultuou o Teatro Municipal.
II. Sua fase “gauche” caracterizou-se pelo pessimismo, pelo individualismo, pelo isolamento e pela
reflexão existencial. A obra mais importante foi o “Poema de Sete Faces”.
III. Na fase social, o eu lírico manifesta interesse pelo seu tempo e pelos problemas cotidianos,
buscando a solidariedade diante das frustrações e das esperanças humanas.
IV. A última fase foi marcada pela poesia intimista, de orientação simbolista, prezando o espiritualismo
e orientalismo e a musicalidade, traços que podem ser notados no poema “O motivo da Rosa”.

Estão corretas as afirmações:


a) I, II e III
b) II, III e IV
c) II e III
d) II e IV
e) III e IV
_____________________________________________________________________________________

5. (EsPCEx – 2015) Leia o trecho do romance São Bernardo e dê o que se pede.

“(...)
O que estou é velho. Cinquenta anos pelo S. Pedro. Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos
gastos sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O resultado é que endureci, calejei, e não
é um arranhão que penetra esta casca espessa e vem ferir cá dentro a sensibilidade embotada.
(...)
Cinquenta anos! Quantas horas inúteis! Consumir-se uma pessoa a vida inteira sem saber para
quê! Comer e dormir como um porco! Levantar-se cedo todas as manhãs e sair correndo, procurando
comida! E depois guardar comida para os filhos, para os netos, para muitas gerações. Que estupidez!
Que porcaria! Não é bom vir o diabo e levar tudo?
(...)
Penso em Madalena com insistência. Se fosse possível recomeçarmos... Para que enganar-me? Se
fosse possível recomeçarmos, aconteceria exatamente o que aconteceu. Não consigo modificar-me, é
o que mais me aflige.
(...)
Foi este modo de vida que me inutilizou. Sou um aleijado. Devo ter um coração miúdo, lacunas no
cérebro, nervos diferentes dos nervos dos outros homens. E um nariz enorme, uma boca enorme,
dedos enormes.
(...)”

Quanto ao trecho lido, é correto afirmar que


a) há predomínio de uma visão ufanista do narrador.
b) o intimismo dificulta uma visão crítica.
c) a abordagem universal permite alcançar à dimensão regional.
d) a incapacidade de modificar o modo de vida revela traços deterministas.

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e) o narrador externo explora conflitos internos do personagem.


_____________________________________________________________________________________

6. (EsPCEx – 2015) Leia os versos a seguir e responda.

“Catar Feijão
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar*
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e o oco, palha eco,”
*Alguidar: recipiente de barro, metal ou material plástico, usado para tarefas domésticas

Em "Catar feijão", João Cabral de Melo Neto revela


a) o princípio de que a poesia é fruto de inspiração poética, pois resulta de um trabalho emocional.
b) influência do Dadaísmo ao escolher palavras, ao acaso, que nada significam para a construção da
poesia.
c) preocupação com a construção de uma poesia racional contrária ao sentimentalismo choroso.
d) valorização do eu lírico, ao extravasar o estado de alma e o sentimento poético.
e) valorização do pormenor mediante jogos de palavras, sobrecarregando a poesia de figura e de
linguagem rebuscada.
_____________________________________________________________________________________

7. (EsPCEx – 2015) Assinale a alternativa que contém uma das características da segunda fase
modernista brasileira.
a) Os efeitos da crise econômica mundial e os choques ideológicos que levaram a posições mais
definidas formavam um campo propício ao desenvolvimento de um romance caracterizado pela
denúncia social.
b) Na poesia, ganha corpo uma geração de poetas que se opõem às conquistas e inovações dos
primeiros modernistas de 1922. Uma nova proposta é defendida inicialmente pela revista Orfeu.
c) O período de 1930 a 1945 é o mais radical do movimento modernista, pela necessidade de ruptura
com toda arte passadista.
d) As revistas e manifestos marcam o segundo momento modernista, com a divulgação do movimento
pelos vários estados brasileiros.
e) Ao mesmo tempo em que se procura o moderno, o original e o polêmico, o nacionalismo se
manifesta em suas múltiplas facetas: uma volta às origens, a pesquisa de fontes quinhentistas, a
procura de uma “língua brasileira”.
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8. (EsPCEx – 2015) Leia o trecho a seguir e responda.

“O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-
gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucúia. Toleima. Para os de
Corinto e do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga: é
onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de
morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucúia vem
dos montões oestes. Mas, hoje, que na beira dele, tudo dá – fazendões de fazendas, almargem de
vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até
ainda virgens dessas lá há. Os gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o
que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda parte.”

Quanto ao trecho, é correto afirmar que


a) não há ponto de vista do narrador, que apenas relata as impressões alheias.
b) apresenta alguns neologismos, como “toleima”, “almargem”, “opiniães” e “oestes”.
c) não há abordagem universal, a passagem constitui apenas uma descrição do sertão.
d) o trecho transpõe os limites do regional, alcançando a dimensão universal.
e) transparece todo misticismo sertanejo, baseado apenas nos dois extremos: o bem e o mal.
_____________________________________________________________________________________

9. (EsPCEx – 2014) É correto afirmar, em relação à poesia do segundo momento modernista brasileiro,
que
a) deixa de ser influenciada por Mário e Oswald de Andrade.
b) o poeta para de se questionar como indivíduo e como artista.
c) amadurece e amplia as conquistas da geração anterior.
d) fortalece a busca pela poesia construtiva e apolitizada.
e) se liberta das profundas transformações ocorridas no período.
_____________________________________________________________________________________

10. (EsPCEx – 2014) Leia o texto abaixo e responda o que se pede.

“(...)
– Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só.
E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros.
Vermelho, queimando, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia,
cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra.
Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase
imprudente. Corrigiu-a, murmurando:
– Você é um bicho, Fabiano.
Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades.”
(Fragmento de “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos)

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 150


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

A partir do texto apresentado, é correto afirmar que o personagem Fabiano


a) subestima-se pela própria condição animal.
b) questiona a própria condição humana.
c) valoriza-se como ser humano.
d) sente vergonha da condição animal.
e) abomina a própria condição animal.
_____________________________________________________________________________________

11. (EsPCEx – 2012) Leia o trecho abaixo:

“Não tenho uma palavra a dizer. Por que não me calo, então? Mas se eu não forçar a palavra a
mudez me engolfará para sempre em ondas. A palavra e a forma serão a tábua onde boiarei sobre
vagalhões de mudez.”

O fragmento, extraído da obra de Clarice Lispector, apresenta


a) uma reflexão sobre o processo de criação literária.
b) uma postura racional, antissentimental, triste e recorrente na literatura dessa fase.
c) traços visíveis da sensibilidade, característica presente na 2ª fase modernista.
d) a visão da autora, sempre preocupada com o valor da mulher na sociedade.
e) exemplos de neologismo, característica comum na 3ª fase modernista.
_____________________________________________________________________________________

12. (EsPCEx – 2012) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:

Leia o trecho abaixo, de “Morte e vida severina”, de João Cabral de Melo Neto.

“— Severino retirante,
deixa agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
(…)

E não há melhor resposta


que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,”

Quanto ao gênero literário, é correto afirmar que o fragmento lido é

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
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a) narrativo, que conta em prosa histórias do sertão nordestino.


b) uma peça teatral, desprovido de lirismo e com linguagem rústica.
c) bastante poético e marcado por rimas, sem metrificação.
d) uma epopeia, que traduz o desencanto pela vida dura do sertão.
e) dramático, que encena conflitos internos do ser humano.
_____________________________________________________________________________________

13. (EsPCEx – 2012) Em relação a esse mesmo fragmento, pode-se ainda afirmar que
a) trata da impotência do homem frente aos problemas do sertão e da cidade.
b) Severino representa todos os homens que são latifundiários.
c) reflete sobre as dificuldades que o homem encontra para trabalhar.
d) trata da temática que descarta a morte como solução para os problemas.
e) é um texto bem simples e poético sobre o significado do amor da época.
_____________________________________________________________________________________

14. (EsPCEx – 2012) Sobre a segunda fase do Modernismo no Brasil, é correto afirmar que
a) foi marcada pela exaltação da natureza, a volta ao passado histórico, o medievalismo e a criação do
herói nacional na figura do índio.
b) se caracterizou pela linguagem rebuscada, culta, extravagante; pela valorização do pormenor
mediante jogos de palavras.
c) representou um amadurecimento e um aprofundamento das conquistas da geração de 1922,
resultando em uma literatura mais construtiva e mais politizada.
d) se caracterizou por ser uma literatura meramente descritiva e, como tal, sem grande valor literário,
possuindo, portanto, somente interesse histórico.
e) seguiu os modelos clássicos greco-latinos e os renascentistas, retomando a mitologia pagã como
elemento estético.
_____________________________________________________________________________________

15. (EsPCEx – 2012) Sobre a narrativa de Clarice Lispector, pode-se afirmar que
a) se utiliza do fluxo de consciência, quebrando os limites espaço-temporais que tornam a obra
verossímil.
b) mostra a dor e o sofrimento da mulher sertaneja, castigada pela seca e pelo preconceito social e
cultural.
c) apresenta em sua obra recursos como o ritmo, aliterações, metáforas e imagens, retomando o
movimento concretista.
d) recria a própria língua portuguesa, utilizando-se de termos em desuso, bem como neologismos.
e) foi fortemente marcada pelo Simbolismo do séc. XIX, de cunho documental.
_____________________________________________________________________________________

16. (EsPCEx – 2011) Sobre a poesia da Segunda Geração modernista, é correto afirmar que

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a) apresenta fortes características regionalistas, assim como a prosa do período.


b) valoriza as formas fixas, como o soneto, em detrimento à liberdade de expressão.
c) preocupa-se fundamentalmente com o sentido da existência humana.
d) apresenta forte tendência nacionalista e de crítica à realidade social brasileira.
e) é essencialmente experimentalista e inovadora quanto a temas e formas de expressão.
_____________________________________________________________________________________

17. (EsPCEx – 2011) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES

CANÇÃO EXCÊNTRICA
1 Ando à procura de espaço
2 para o desenho da vida.
3 Em números me embaraço
4 e perco sempre a medida.
5 Se penso encontrar saída,
6 em vez de abrir um compasso,
7 projeto-me num abraço
8 e gero uma despedida.

9 Se volto sobre o meu passo,


10 é já distância perdida.

11 Meu coração, coisa de aço,


12 começa a achar um cansaço
13 esta procura de espaço
14 para o desenho da vida.
15 Já por exausta e descrida
16 não me animo a um breve traço:
17 – saudosa do que não faço
18 – do que faço, arrependida.
(Cecília Meireles)

Vocabulário
Excêntrico. 1.Que (se) desvia ou (se) afasta do centro. 2. Indivíduo original, extravagante, esquisito.
Exausta. Esgotada.
Descrida. Descrente.

Nesse poema, a expressão “desenho da vida” significa


a) sentido da existência.
b) preservação das conquistas já feitas.
c) esboço de formas geométricas.
d) retrato de uma paisagem.
e) idade da poetisa.
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18. (EsPCEx – 2011) O verso “para o desenho da vida” expressa uma circunstância de
a) tempo.
b) causa.
c) modo.
d) finalidade.
e) explicação.
_____________________________________________________________________________________

19. (EsPCEx – 2011) Em excêntrica, fora do centro, há uma ideia de ausência, exclusão, proveniente do
prefixo ex-. Nesse mesmo sentido, a palavra exangue, por exemplo, significa sem sangue. A palavra em
que ocorre a mesma situação é
a) exame.
b) hexadecimal.
c) exército.
d) extemporâneo.
e) exato.
_____________________________________________________________________________________

20. (EsPCEx – 2002) Considere o texto a seguir para responder às próximas cinco questões. Consistem
em exercícios de interpretação de texto.

No Retiro da Figueira
(Moacyr Scliar)
1º § Sempre achei que era bom demais. O lugar, principalmente. O lugar era... era maravilhoso.
Bem como dizia o prospecto: maravilhoso. Arborizado, tranquilo, um dos últimos locais – dizia o
anúncio – onde você pode ouvir um bem-te-vi cantar. Verdade: na primeira vez que fomos lá ouvimos
o bem-te-vi. E também constatamos que as casas eram sólidas e bonitas, exatamente como o
prospecto as descrevia: estilo moderno, sólidas e bonitas. Vimos os gramados, os parques, os pôneis,
o pequeno lago. Vimos o campo de aviação. Vimos a majestosa figueira que dava nome ao condomínio:
Retiro da Figueira.
2º § Mas o que mais agradou à minha mulher foi a segurança. Durante todo o trajeto de volta à
cidade – e eram uns bons cinquenta minutos – ela falou, entusiasmada, da cerca eletrificada, das torres
de vigia, dos holofotes, do sistema de alarmes – e sobretudo dos guardas. Oito guardas, homens fortes,
decididos – mas amáveis, educados. Aliás, quem nos recebeu naquela visita, e na seguinte, foi o chefe
deles, um senhor tão inteligente e culto que logo pensei: “ah, mas ele deve ser formado em alguma
universidade”. De fato: no decorrer da conversa ele mencionou – mas de maneira casual – que era
formado em Direito. O que só fez aumentar o entusiasmo de minha mulher.
3º § Ela andava muito assustada ultimamente. Os assaltos violentos se sucediam na vizinhança;
trancas e porteiros eletrônicos já não detinham os criminosos. Todos os dias sabíamos de alguém
roubado e espancado; e quando uma amiga nossa foi violentada por dois marginais, minha mulher
decidiu – tínhamos de mudar de bairro. Tínhamos de procurar um lugar seguro.

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4º § Foi então que enfiaram o prospecto colorido sob nossa porta. Às vezes penso que se
morássemos num edifício mais seguro o portador daquela mensagem publicitária nunca teria chegado
a nós, e, talvez... Mas isto agora são apenas suposições. De qualquer modo, minha mulher ficou
encantada com o Retiro da Figueira. Meus filhos estavam vidrados nos pôneis. E eu acabava de ser
promovido na firma. As coisas todas se encadearam, e o que começou com um prospecto sendo
enfiado sob a porta transformou-se – como dizia o texto – num novo estilo de vida.
5º § Não fomos os primeiros a comprar casa no Retiro da Figueira. Pelo contrário; entre nossa
primeira visita e a segunda – uma semana após – a maior parte das trinta residências já tinha sido
vendida. O chefe dos guardas me apresentou a alguns dos compradores. Gostei deles: gente como eu,
diretores de empresa, profissionais liberais, dois fazendeiros. Todos tinham vindo pelo prospecto. E
quase todos tinham se decidido pelo lugar por causa da segurança.
6º § Naquela semana descobri que o prospecto tinha sido enviado apenas a uma quantidade
limitada de pessoas. Na minha firma, por exemplo, só eu o tinha recebido. Minha mulher atribuiu o
fato a uma seleção cuidadosa de futuros moradores – e viu nisso mais um motivo de satisfação. Quanto
a mim, estava achando tudo muito bom. Bom demais.
7º § Mudamo-nos. A vida lá era realmente um encanto. Os bem-te-vis eram pontuais: às sete da
manhã começavam seu afinado concerto. Os pôneis eram mansos, as aleias ensaibradas estavam
sempre limpas. A brisa agitava as árvores do parque – cento e doze, bem como dizia o prospecto. Por
outro lado, o sistema de alarmes era impecável. Os guardas compareciam periodicamente à nossa casa
para ver se estava tudo bem – sempre gentis, sempre sorridentes. O chefe deles era uma pessoa
particularmente interessada: organizava festas e torneios, preocupava-se com nosso bem-estar. Fez
uma lista dos parentes e amigos dos moradores – para qualquer emergência, explicou, com um sorriso
tranquilizador. O primeiro mês decorreu – tal como prometido no prospecto – num clima de sonho. De
sonho, mesmo.
8º § Uma manhã de domingo, muito cedo – lembro-me que os bem-te-vis ainda não tinham
começado a cantar – soou a sirene de alarme. Nunca tinha tocado antes, de modo que ficamos um
pouco assustados – um pouco, não muito. Mas sabíamos o que fazer: nos dirigimos, em ordem, ao
salão de festas, perto do lago. Quase todos ainda de roupão ou pijama.
9º § O chefe dos guardas estava lá, ladeado por seus homens, todos armados de fuzis. Fez-nos
sentar, ofereceu café. Depois, sempre pedindo desculpas pelo transtorno, explicou o motivo da
reunião: é que havia marginais nos matos ao redor do Retiro e ele, avisado pela polícia, decidira pedir
que não saíssemos naquele domingo.
10º § – Afinal – disse, em tom de gracejo – está um belo domingo, os pôneis estão aí mesmo, as
quadras de tênis...
11º § Era mesmo um homem muito simpático. Ninguém chegou a ficar verdadeiramente
contrariado.
12º § Contrariados ficaram alguns no dia seguinte, quando a sirene tornou a soar de madrugada.
Reunimo-nos de novo no salão de festas, uns resmungando que era segunda-feira, dia de trabalho.
Sempre sorrindo, o chefe dos guardas pediu desculpas novamente e disse que infelizmente não
poderíamos sair – os marginais continuavam nos matos, soltos. Gente perigosa; entre eles, dois
assassinos foragidos. À pergunta de um irado cirurgião o chefe dos guardas respondeu que, mesmo de
carro, não poderíamos sair; os bandidos poderiam bloquear a estreita estrada do Retiro.
13º § – E vocês, por que não nos acompanham? – perguntou o cirurgião.
14º § – E quem vai cuidar da família de vocês? – disse o chefe dos guardas, sempre sorrindo.

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15º § Ficamos retidos naquele dia e no seguinte. Foi aí que a polícia cercou o local: dezenas de
viaturas com homens armados, alguns com máscaras contra gases. De nossas janelas nós os víamos e
reconhecíamos: o chefe dos guardas estava com a razão.
16º § Passávamos o tempo jogando cartas, passeando ou simplesmente não fazendo nada.
Alguns estavam até gostando. Eu não. Pode parecer presunção dizer isto agora, mas eu não estava
gostando nada daquilo.
17º § Foi no quarto dia que o avião desceu no campo de pouso. Um jatinho. Corremos para lá.
18º § Um homem desceu e entregou uma maleta ao chefe dos guardas. Depois olhou para nós –
amedrontado, pareceu-me – e saiu pelo portão da entrada, quase correndo.
19º § O chefe dos guardas fez sinal para que não nos aproximássemos. Entrou no avião. Deixou
a porta aberta, e assim pudemos ver que examinava o conteúdo da maleta. Fechou-a, chegou à porta
e fez um sinal. Os guardas vieram correndo, entraram todos no jatinho. A porta se fechou, o avião
decolou e sumiu.
20º § Nunca mais vimos o chefe e seus homens. Mas estou certo que estão gozando o dinheiro
pago por nosso resgate. Uma quantia suficiente para construir dez condomínios iguais ao nosso – que
eu, diga-se de passagem, sempre achei que era bom demais.
(Os melhores contos. 2. Ed. São Paulo, Global, 1968.)

Sobre os “organizadores” do condomínio Retiro da Figueira pode-se dizer que


a) não tiveram muito trabalho em organizar o “empreendimento”.
b) sabiam que estariam lidando com pessoas ingênuas.
c) planejaram, meticulosamente, cada detalhe da ação.
d) provavelmente todos tinham curso superior, dada a habilidade deles.
e) de qualquer forma sairiam lucrando muito, pois receberiam pelas casas vendidas.
_____________________________________________________________________________________

21. (EsPCEx – 2002) “Foi aí que a polícia cercou o local: dezenas de viaturas com homens armados,
alguns com máscaras contra gases. De nossas janelas nós os víamos e reconhecíamos: o chefe dos
guardas estava com a razão.” (15º§)

Nessa passagem do conto, o narrador


a) refere-se ao fato de que havia conseguido ver e reconhecer os marginais que cercavam o
condomínio, conforme informado pelo chefe dos guardas.
b) confirma a informação previamente transmitida aos moradores pelo chefe dos guardas sobre a
chegada da polícia para efetuar a prisão dos marginais que cercavam o condomínio.
c) equivoca-se quando reconhece que “o chefe dos guardas estava com a razão.”
d) reconhece que o condomínio lhes proporciona toda a segurança, tanto que passavam o tempo
“jogando cartas, passeando ou simplesmente não fazendo nada.”
e) atesta a eficiência dos guardas do condomínio, que auxiliam o trabalho da polícia.
_____________________________________________________________________________________

22. (EsPCEx – 2002) “Oito guardas, homens fortes, decididos – mas amáveis, educados.” (2º§)

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Em função do que se pode depreender da análise global do conto, os guardas tinham as características
a) adequadas ao padrão do condomínio e zelavam, com eficiência, pela segurança e bem-estar dos
moradores.
b) dissimuladoras de suas reais intenções e visavam não despertar qualquer desconfiança delas por
parte dos moradores.
c) pouco adequadas a homens que prestam tais serviços, mais eficazmente desempenhados por
homens brutos, grosseiros.
d) contraditórias, não sendo encontradas conjuntamente num mesmo indivíduo.
e) essenciais e que se mostraram decisivas quando da preservação da segurança dos moradores em
face do cerco dos marginais ao condomínio.
_____________________________________________________________________________________

23. (EsPCEx – 2002) A alternativa em que o narrador demonstra certa desconfiança do tratamento
oferecido pelos guardas é
a) “Sempre sorrindo, o chefe dos guardas pediu desculpas novamente e disse que infelizmente não
podíamos sair – os marginais continuavam nos matos, soltos.” (12º§)
b) “Os guardas compareciam periodicamente à nossa casa para ver se estava tudo bem – sempre
gentis, sempre sorridentes.” (7º§)
c) “O chefe deles era uma pessoa particularmente interessada: organizava festas e torneios,
preocupava-se com nosso bem-estar.” (7º§)
d) “Minha mulher (...) viu nisso mais um motivo de satisfação. Quanto a mim, estava achando tudo
muito bom. Bom demais.” (6º§)
e) “Passávamos o tempo jogando cartas, passeando ou simplesmente não fazendo nada. Alguns
estavam até gostando.” (16º§)
_____________________________________________________________________________________

24. (EsPCEx – 2002) A alternativa que destaca a ironia do conto é


a) Na verdade, o conto “No Retiro da Figueira” contrasta a tranquilidade do campo com a agitação da
cidade.
b) As gentilezas e o tratamento de primeiríssima qualidade dispensados pelos guardas às famílias
contrariam a verdadeira relação entre empregadores e empregados.
c) O conto alude às várias maneiras gentis pelas quais o cidadão é vitimado no dia-a-dia, tais como
concessão indiscriminada de crédito pessoal, cartões personalizados e atitude do garoto que nos
sinaleiros limpa os vidros dos carros.
d) O sequestro civilizado e elegante traduz uma das formas de que se reveste atualmente a violência.
e) Esta narrativa exemplifica o sequestro de final feliz, tão comum hoje, em que as vítimas saem
fisicamente ilesas.
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25. (EsPCEx – 2001) Considere o texto a seguir para responder às próximas cinco questões. Consistem
em exercícios de interpretação de texto.

NATAL
Rubem Braga
1°§ É noite de Natal, e estou só na casa de um amigo, que foi para a fazenda. Mais tarde talvez
saia. Mas vou me deixando ficar sozinho, numa confortável melancolia, na casa quieta e cômoda. Dou
alguns telefonemas, abraço à distância alguns amigos. Essas poucas vozes, de homem e de mulher, que
respondem alegremente à minha, são quentes, e me fazem bem. “Feliz Natal, muitas felicidades!”;
dizemos essas coisas simples com afetuoso calor; dizemos e creio que sentimos; e como sentimos,
merecemos. Feliz Natal!
2°§ Desembrulho a garrafa que um amigo teve a lembrança de me mandar ontem; vou lá dentro,
abro a geladeira, preparo um uísque, e venho me sentar no jardinzinho, perto das folhagens úmidas.
Sinto-me bem, oferecendo-me este copo, na casa silenciosa, nessa noite de rua quieta. Este jardinzinho
tem o encanto sábio e agreste da dona da casa que o formou. É um pequeno espaço folhudo e florido
de cores, que parece respirar; tem a vida misteriosa das moitas perdidas, um gosto de roça, uma alegria
meio caipira de verdes, vermelhos e amarelos.
3°§ Penso, sem saudade nem mágoa, no ano que passou. Há nele uma sombra dolorosa; evoco-a
neste momento, sozinho, com uma espécie de religiosa emoção. Há também, no fundo da paisagem
escura e desarrumada desse ano, uma clara mancha de sol. Bebo silenciosamente a essas imagens da
morte e da vida; dentro de mim elas são irmãs. Penso em outras pessoas; sou um homem sozinho,
numa noite quieta, junto de folhagens úmidas, bebendo gravemente em honra de muitas pessoas.
4°§ De repente um carro começa a buzinar com força, junto ao meu portão. Talvez seja algum
amigo que venha me desejar Feliz Natal ou convidar para ir a algum lugar. Hesito ainda um instante;
ninguém pode pensar que eu esteja em casa a esta hora. Mas a buzina é insistente. Levanto-me com
certo alvoroço, olho a rua, e sorrio: é um caminhão de lixo. Está tão carregado, que nem se pode fechar;
tão carregado como se trouxesse todo o lixo do ano que passou, todo o lixo da vida que se vai vivendo.
Bonito presente de Natal!
5°§ O motorista buzina ainda algumas vezes, olhando uma janela do sobrado vizinho. Lembro-me
de ter visto naquela janela uma jovem mulata de vermelho, sempre a cantarolar e espiar a rua. É
certamente a ela quem procura o motorista retardatário; mas a janela permanece fechada e escura.
Ele movimenta com violência seu grande carro negro e sujo; parte com ruído, estremecendo a rua.
6°§ Volto à minha paz, e ao meu uísque. Mas a frustração do lixeiro e a minha também quebraram
o encanto solitário da noite de Natal. Fecho a casa e saio devagar; vou humildemente filar uma fatia
de presunto e de alegria na casa de uma família amiga.
Rio, dezembro de 1951

Assinale a afirmação correta quanto ao sentido global do texto.


a) sentimento de abandono pelo ser amado só o Natal, com toda a sua magia, consegue apagar.
b) Natal desperta nos seres humanos estados de espírito contraditórios.
c) A solidão natalina da personagem encerra em si um encanto tão sutil e frágil que pode quebrar-se
ao menor incidente.
d) Natal de que trata o texto é puramente material, pois acena para a bebida (uísque) e comida
(presunto).

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e) Partilhar da alegria natalina em família na casa de amigos, definitivamente, acaba com a solidão
humana.
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26. (EsPCEx – 2001) No último parágrafo, o narrador fala: "Mas a frustração do lixeiro e a minha
também quebraram o encanto solitário da noite de Natal". No contexto, ele quis dizer que sua
frustração se devia ao fato de
a) lixeiro não ter visto a jovem mulata, e de ele, o narrador, não ter sido procurado por ninguém.
b) lixeiro ter buzinado com força junto ao portão, tirando-lhe a tranquilidade.
c) algum amigo ter pensado que ele estaria na casa àquela hora.
d) lixeiro estar dirigindo um grande carro negro e sujo.
e) lixeiro ter ficado frustrado.
_____________________________________________________________________________________

27. (EsPCEx – 2001) É válido afirmar que o texto


a) ressalta ideias contrárias (antitéticas), refletindo o desencanto, o descontentamento do narrador
diante dos acontecimentos, principalmente a melancolia acarretada pela solidão daquela noite.
b) reúne ideias opostas, mas simultâneas, como expressão dos elementos inseparáveis que constituem
o aspecto paradoxal que caracteriza o ser humano.
c) constitui uma metáfora, para exprimir a solidão que caracteriza a noite de Natal de um homem
solitário.
d) retrata a futilidade de que se revestem as festas tradicionais e a falsidade que norteia o
relacionamento humano.
e) confronta o mundo real com o idealizado, ressaltando a transitoriedade da vida, que, para o
narrador, compara-se a um caminhão de lixo que passa inexorável, independente de nossa vontade.
_____________________________________________________________________________________

28. (EsPCEx – 2001) Segundo o texto, o narrador


a) mostra-se saudoso e feliz com as suaves lembranças do ano que se encerrava.
b) utiliza os fatos passados como pretexto para divagação pessoal.
c) manifesta tristeza e ressentimento, pois só acumulou "lixo", numa vida cheia de solidão.
d) está preocupado com a realidade, principalmente com a presença constante da morte.
e) se acha sozinho na casa de um amigo, porque é noite de Natal.
_____________________________________________________________________________________

29. (EsPCEx – 2001) No texto, pode-se perceber uma leve ironia na seguinte passagem:
a) "É noite de Natal, e estou só na casa de um amigo..." (1°§)
b) "Bonito presente de Natal!" (4°§)
c) "Mais tarde talvez saia." (1°§)
d) "Feliz Natal, muitas felicidades!" (1°§)

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e) "Este jardinzinho tem o encanto sábio e agreste da dona que o formou." (2°§)
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30. (EsPCEx – 2001) Considere o texto a seguir para responder às próximas três questões. Consistem
em exercícios de interpretação de texto.

Coração Segundo
Carlos Drummond de Andrade
1º § — DE ACRÍLICO, de fórmica, de isopor, meticulosamente combinados, fiz meu segundo
coração, para enfrentar situações a que o primeiro, o de nascença, não teria condições de resistir.
Tornei-me, assim, homem de dois corações. A operação sigilosa foi ignorada pelos repórteres. Eu
mesmo fabriquei meu coração novo, nos fundos da casa onde moro. Nenhum vizinho desconfiou,
mesmo porque sabem que costumo fechar-me em casa, semanas inteiras, modelando bonecos de
barro ou de massa, que depois ofereço às crianças. Oferecia. Meus bonecos não têm arte, representam
o que eu quero. Fiz um Einstein que acharam parecido com Lampião. Para mim, era Einstein. Os garotos
riam, tentando adivinhar que tipos eu interpretara. Carlito! Não era. Às vezes, não sei por quê, admitia
fosse Carlito. Nunca dei importância a leis de semelhança e verossimilhança, que sufocam toda espécie
de criação.
2º § Mas, como disse, fiz meu coração sem ninguém saber. E à noite, em perfeita lucidez, abrindo
o peito mediante processo que não vou contar, pois minha descrição talvez horrorizasse o leitor, e eu
não pretendo horrorizar ninguém — abrindo o peito, instalei lá dentro esse coração especial, regulado
para não sofrer. Ao mesmo tempo, desliguei o outro. Como? Também prefiro não explicar. Possuo
extrema habilidade manual, aguçada à noite, e sei o que geralmente se sabe dos órgãos do corpo e
suas funções e reações, depois que ficou na moda tratar dessas coisas em jornais e revistas. Além disso,
minha capacidade de resistir à dor física sempre foi praticamente ilimitada. Desde criança. Mas as
dores morais, as dores alheias, as dores do mundo, acima de tudo, estas sempre me vulneraram.
Recompus a incisão, senti que tudo estava perfeito, e fui dormir.
3º § Na manhã seguinte, ao ler as notícias que falavam em fome no Paquistão, guerra civil na
Irlanda, soldados que se drogam no Vietnã para esquecer o massacre, explosão experimental de
bombas de hidrogênio, tensão permanente no Canal de Suez, golpes vitoriosos ou malogrados na
América Latina, bem, não senti absolutamente nada. O coração funcionava a contento. Fui para o
trabalho experimentando sensação inédita de leveza. No caminho, vi um corpo de homem e outro de
mulher estraçalhados entre restos de um automóvel. Pela primeira vez pude contemplar um
espetáculo desses sem me crispar e sem envenenar o meu dia. Fitei-o como a objetos de uma casa
expostos na calçada, em hora de mudança. E passei um dia normal. Trabalho, refeições, sono,
igualmente normais, coisa que não acontecia há anos.
4º § Meu coração fora planejado para evitar padecimento moral, e desempenhava bem a função.
Assisti impassível a cenas que antes me fariam explodir em lágrimas ou protestos. Felicitei-me pela
excelência. Mas aí começou a ocorrer um fenômeno desconcertante. Eu, que não sofria com as
doenças que me assaltavam, passei a sentir reflexos de moléstias inexistentes. Simples corte no dedo,
sem inflamação, afligia-me como chaga aberta. Dor de cabeça que passa com um comprimido ficava
durante semanas. Meu corpo tornou-se frágil, exposto ao sofrimento. E eu não tinha nada. Consultei
especialistas. Fiz checkup, não se descobriu qualquer lesão ou distúrbio funcional. Eram apenas
imotivadas, gratuitas. Meu coração nº 2 passava pela radiografia sem ser percebido. Irredutível à dor
moral, era invisível a aparelhos de precisão.

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

5º § Comecei a sofrer tanto com os meus males carnais que a vida se tornou insuportável. A dor
aparecia especialmente em horas impróprias. Em reuniões sociais. Em concertos. No escritório, ao
tratar de negócios. Então fazia caretas, emitia gemidos surdos, assumindo aspecto feroz. Assustavam-
se, queriam chamar ambulância, eu recusava. Tinha medo de que descobrissem o coração fabricado.
6º § Outra coisa: as crianças começaram a achar estranhos meus bonecos, não queriam aceitá-
los. Sempre gostei de crianças. E elas me repeliam. Esmerei-me na feitura de peças que pudessem
cativá-las, mas em vão.
7º § Hoje vi um homem encostado a um oiti, diante do mar. Sua expressão de angústia dava ao
rosto o aspecto de chão ressecado. Tive pena dele. Surpreso, ignorando tudo a seu respeito, mas
participando de sua angústia e trazendo-a comigo para casa.
8º § Agora à noite, decidi-me. Voltei a abrir o peito e examinei o coração segundo. Com pequena
fissura no isopor, já não era perfeito. Ao tocá-lo, as partes se descolaram. Inútil restaurá-lo. Joguei fora
os restos, liguei o antigo e fechei o cavername. Talvez pela falta de uso, sinto que o coração velho está
rateando. Que fazer? E vale a pena fazer? A manhã tarda a chegar, e não encontro resposta em mim.

Quanto ao narrador, pode-se afirmar que:


a) como ele confeccionava bonecos perfeitos, foi sempre benquisto pelas crianças.
b) a vida dele tornou-se insuportável em consequência de problemas políticos.
c) muito se angustiava por males e sofrimentos alheios.
d) plenamente convicto de suas ações, no final voltou a viver com seu coração de nascença, em perfeito
estado de saúde.
e) seu corpo, com o segundo coração, tornou-se frágil em decorrência de distúrbios hormonais.
_____________________________________________________________________________________

31. (EsPCEx – 2001) "... modelando bonecos de barro ou de massa, que depois ofereço às crianças.
Oferecia." A mudança de tempo verbal tem o seguinte significado:
a) o narrador antecipa uma cessação de ação, que se confirmará no decorrer da narrativa.
b) o pretérito imperfeito refere-se ao momento em que o narrador vai estar com o segundo coração.
c) já, antes da operação, encerrou-se a ação.
d) o narrador não fez mais os bonecos a partir da instalação do novo coração.
e) indicar que todos os fatos narrados pertencem ao passado.
_____________________________________________________________________________________

32. (EsPCEx – 2001) Quanto ao significado global do texto:


a) não está na ciência nem na tecnologia, ainda que levadas a um desenvolvimento extremo, o fim do
sofrimento humano.
b) a insensibilidade do autor perante as desgraças do mundo é o resultado do transplante de coração
a que se submeteu.
c) o hábito de fechar-se em casa foi a maneira eficaz encontrada pelo escritor para fugir à exposição
dos perigos da vida.
d) substituindo o coração de carne por outro artificial, o autor conseguiu atingir seu objetivo: evitar
padecimento moral.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 161


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e) ao se descolarem as partes do coração segundo, o homem ainda assim não se deu conta da
fragilidade desse órgão.
_____________________________________________________________________________________

33. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 4º Simulado EsPCEx
2021)

Os Ombros Suportam o Mundo


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Carlos Drummond de Andrade, Poesia e Prosa, em um volume. 7ª ed. –
Aparecida, Editora Nova Aguilar, 1992., pp. 67/68.

Entre as afirmações abaixo, pode-se depreender que o poema acima pode se classificar na fase
a) eu maior que o mundo, com consciência por parte do eu lírico, porém, distanciamento social, bem
como descaso e indiferença com a realidade.
b) social, em que o eu lírico manifesta interesse pelo seu tempo e problemas cotidianos, buscando
solidariedade diante das frustrações humanas.
c) gauche, do francês, direito, uma fase na vida do modernista Carlos Drummond de Andrade que ele
se envolveu na política.
d) eu menor que o mundo, quando o eu lírico adota uma visão pessimista e sabe que nada pode fazer
contra a força maior da sociedade.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 162


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e) eu igual ao mundo, em que o eu lírico encontra-se prostrado e resignado e desiste de tentar


convencer por meio do tom crítico.
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34. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 4º Simulado EsPCEx
2021)

Desde pequeno, tive tendência para personificar as coisas. Tia Tula, que achava que mormaço fazia
mal, sempre gritava: “Vem pra dentro, menino, olha o mormaço!” Mas eu ouvia o mormaço com M
maiúsculo. Mormaço, para mim, era um velho que pegava crianças! Ia pra dentro logo. E ainda hoje,
quando leio que alguém se viu perseguido pelo clamor público, vejo com estes olhos o Sr. Clamor
Público, magro, arquejante, de preto, brandindo um guarda-chuva, com um gogó protuberante que se
abaixa e levanta no excitamento da perseguição. E já estava devidamente grandezinho, pois devia
contar uns trinta anos, quando me fui, com um grupo de colegas, a ver o lançamento da pedra
fundamental da ponte Uruguaiana-Libres, ocasião de grandes solenidades, com os presidentes Justo e
Getúlio, e gente muita, tanto assim que fomos alojados os do meu grupo num casarão que creio fosse
a Prefeitura, com os demais jornalistas do Brasil e Argentina. Era como um alojamento de quartel, com
breve espaço entre as camas e todas as portas e janelas abertas, tudo com os alegres incômodos e
duvidosos encantos de uma coletividade democrática. Pois lá pelas tantas da noite, como eu
pressentisse, em meu entredormir, um vulto junto à minha cama, sentei-me estremunhado* e olhei
atônito para um tipo de chiru**, ali parado, de bigodes caídos, pala pendente e chapéu descido sobre
os olhos. Diante da minha muda interrogação, ele resolveu explicar-se, com a devida calma:
– Pois é! Não vê que eu sou o sereno...
Mário Quintana, As cem melhores crônicas brasileiras.
Glossário:
*estremunhado: mal acordado.
**chiru: que ou aquele que tem pele morena, traços acaboclados (regionalismo: Sul do Brasil).

Quanto ao trecho, é correto afirmar que


a) o efeito de texto causado é o humor, dada a interpretação infantil.
b) a técnica literária utilizada é a 3ª pessoa, com foco narrativo na Tia Tula.
c) a etapa de vida mais importante para o narrador é seu emprego como arquiteto.
d) a forma predominante no trecho acima é o romance, um texto em prosa.
e) o autor utiliza a mitologia clássica, pois associa o sono a Morfeu.
_____________________________________________________________________________________

35. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 5º Simulado EsPCEx
2021)

Ter uma casca é dar-se. – O ovo desnuda a cozinha. Faz da mesa um plano inclinado. O ovo expõe.
– Quem se aprofunda num ovo, quem vê mais do que a superfície do ovo, está querendo outra coisa:
está com fome.
O ovo é a alma da galinha. A galinha desajeitada. O ovo certo. A galinha assustada. O ovo certo.
Como um projétil parado.

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LISPECTOR, Clarice. O ovo e a galinha.


Disponível em: https://tinyurl.com/y7zjxy3g. Acesso em: 05 jun. 2020.

O fragmento, extraído da obra de Clarice Lispector, apresenta


a) personagem perturbada psicologicamente, cuja esquizofrenia faz com que ela converse consigo
mesma por diálogos interiores.
b) a descrição de uma cena cotidiana, em que a personagem vai almoçar, mas percebe que em casa
falta comida.
c) o contraste inevitável entre criação e criatura, sendo que a galinha é exposta em detrimento do ovo.
d) linguagem metafórica, à medida que o sentido é construído a partir de construções literais e
objetivas.
e) reflexão filosófica e metafísica quanto à dialética entre essência e aparência, bem como acerca da
origem do universo.
_____________________________________________________________________________________

36. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 6º Simulado EsPCEx
2021)

15 de julho de 1955
Aniversário da minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela. Mas o custo
dos generos alimenticios nos impede a realização dos nossos desejos. Atualmente somos escravos do
custo de vida. Eu achei um par de sapatos no lixo, lavei e remendei para ela calçar.

Em termos de gênero textual, o trecho acima consiste em um(a)


a) romance de cavalaria.
b) romance histórico.
c) conto humorístico.
d) peça teatral.
e) entrada de diário.
_____________________________________________________________________________________

37. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2º Simulado Exclusivo
Inédito EsPCEx 2021)

Os vazios do homem
Os vazios do homem não sentem ao nada
do vazio qualquer: do casaco vazio,
do da saca vazia (que não ficam de pé
quando vazios, ou o homem com vazios);
os vazios do homem sentem a um cheio
de uma coisa que inchasse já inchada;
ou ao que deve sentir, quando cheia,
uma saca: todavia não, qualquer saca.

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Os vazios do homem, esse vazio cheio,


não sentem ao que uma saca de tijolos,
uma saca de rebites; nem têm o pulso
que bate numa de sementes, de ovos.

Os vazios do homem, ainda que sintam


a uma plenitude (gora mas presença)
contêm nadas, contêm apenas vazios:
o que a esponja, vazia quando plena;
incham do que a esponja, de ar vazio,
e dela copiam certamente a estrutura:
toda em grutas ou em gotas de vazio,
postas em cachos de bolha, de não-uva.
Esse cheio vazio sente ao que uma saca
mas cheia de esponjas cheias de vazio;
os vazios do homem ou o vazio inchado:
ou vazio que inchou por estar vazio.
MELO NETO, João Cabral de. A educação pela pedra e outros poemas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008 (p. 251).

Nesse poema, o escritor modernista João Cabral de Melo Neto revela que
a) mesmo um nada pode estar contido em um vazio, desde que ele represente comida para preencher
o estômago.
b) os vazios do homem podem ser tanto físicos quanto metafóricos, mas, principalmente,
personificados.
c) o vazio é um ser orgânico como uma esponja, bem como a comparação estabelecida com o cacho
de uva.
d) o homem oitocentista está saturado de sua realidade social, o que ele acaba por transpor para o
plano existencial.
e) os sacos vazios de uma obra de construção são o cimento necessário para que a construção espiritual
do homem aconteça.
_____________________________________________________________________________________

38. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 1ª Rodada Avançada
de Simulados Chivunk EsPCEx 2021) Quanto à segunda fase modernista brasileira, julgue os itens a
seguir.

I. Embora tenha escrito um romance chamado “O quinze”, essa obra de Rachel de Queiroz é
representativa do romance de 30.
II. O protagonista de “São Bernardo” de Graciliano Ramos é Paulo Honório, um homem atormentado
que se envolve com Madalena.
III. A principal técnica de Clarice Lispector são os neologismos, ou seja, palavras inventadas.
IV. No plano da poesia, predominou com seu estilo mais concreto e objetivo João Cabral de Melo Neto.

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A sequência correta de itens é:


a) I e II.
b) I e III.
c) I, II e III.
d) I, II e IV.
e) I, II, III e IV.
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39. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3ª Rodada Avançada
de Simulados Chivunk EsPCEx 2021)

Mas era primavera, e, apertando o punho no bolso do casaco, ela mataria aqueles macacos em
levitação pela jaula, macacos felizes como ervas, macacos se entrepulando suaves, a macaca com olhar
resignado de amor, e a outra macaca dando de mamar. Ela os mataria com quinze secas balas: os
dentes da mulher se apertaram até o maxilar doer. A nudez dos macacos. O mundo que não via perigo
em ser nu. Ela mataria a nudez dos macacos. Um macaco também a olhou segurando as grades, os
braços descarnados abertos em crucifixo, o peito pelado exposto sem orgulho. Mas não era no peito
que ela mataria, era entre os olhos do macaco que ela mataria, era entre aqueles olhos que a olhavam
sem pestanejar. De repente a mulher desviou o rosto: é que os olhos do macaco tinham um véu branco
gelatinoso cobrindo a pupila, nos olhos a doçura da doença, era um macaco velho – a mulher desviou
o rosto, trancando entre os dentes um sentimento que ela não viera buscar, apressou os passos, ainda
voltou a cabeça espantada para o macaco de braços abertos: ele continuava a olhar para a frente. “Oh
não, não isso”, pensou.
LISPECTOR, Clarice. Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

Uma das principais características da prosa de Clarice Lispector é:


a) intimismo.
b) neologismo.
c) diálogo.
d) engajamento.
e) futurismo.
_____________________________________________________________________________________

40. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 1o Simulado 2022)

“– Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em
árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha
mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem
ser – se viu –; e com máscara de cachorro. Me disseram; eu não quis avistar. Mesmo que, por defeito
como nasceu, arrebitado de beiços, esse figurava rindo feito pessoa. Cara de gente, cara de cão:
determinaram – era o demo.”

A partir do excerto, é correto afirmar que

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 166


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
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a) o relato é narrado objetivamente a partir de um narrador externo, que conta como um sertanejo
desejava atirar em um animal.
b) há mescla entre estilo objetivo e subjetivo, sendo que o protagonista foi alertado pelos moradores
locais sobre um animal vigoroso que nasceu.
c) é um texto predominantemente subjetivo. Era costume do protagonista atirar em árvores desde a
mocidade, o que ele fazia quando foi alertado sobre um animal insólito.
d) a descrição se impõe hierarquicamente sobre a narração, pois a paisagem regional é exaustivamente
retratada em detalhes.
e) tipicamente um texto da segunda geração modernista, evidencia-se o uso de neologismos e novas
formas de linguagem, como o tratamento por "senhor".
_____________________________________________________________________________________

41. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2o Simulado 2022) Leia
o texto abaixo para responder à questão.

E não há melhor resposta


que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida Severina.

Quanto ao gênero literário apresentado acima, é possível afirmar que se trata de


a) prosa poética.
b) poesia prosaica.
c) teatro épico.
d) verso branco.
e) estrofe em oitava.
_____________________________________________________________________________________

42. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2o Simulado 2022)
"Talvez o que tenha me ocorrido seja uma compreensão - e que, para eu ser verdadeira, tenho
que continuar a não estar a saber, a minha nova ignorância, que é o esquecimento, tornou-se sagrada.
Sou a vestal de um segredo que não sei mais qual foi".

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 167


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

No texto clariciano, é comum a presença da epifania, momento quando a personagem cotidiana


encontra uma brecha de revelação. Entretanto, na passagem acima, a epifania não se concretiza
porque
a) não é efetivado o processo de compreensão e a personagem volta a se fechar na ignorância, que
para ela é sinônimo de esquecimento.
b) o autoconhecimento é concluído e a personagem demonstra sentimento de plenitude e satisfação,
ao se sentir como veste sagrada.
c) a protagonista se corrompe em uma sociedade que a deixa alienada, motivo principal para o passado
ser olvidado.
d) existe um choque de realidade na transição do regionalismo para o meio urbano, motivo pelo qual
a personagem esquece sua origem.
e) a personagem se sente desajustada na realidade exterior, ainda que no íntimo sinta a liberdade e o
poder de uma divindade.
_____________________________________________________________________________________

43. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3o Simulado 2022) Após
a leitura do excerto abaixo, responda ao que se pede.

Amanheceu um dia sem luz – mais um – e há um grande silêncio na rua. Chego à janela e não vejo
as figuras habituais dos primeiros trabalhadores. A cidade, ensopada de chuva, parece que desistiu de
viver. Só a chuva mantém constante seu movimento entre monótono e nervoso. É hora de escrever, e
não sinto a menor vontade de fazê-lo. Não que falte assunto. O assunto aí está, molhando, ensopando
os morros, as casas, as pistas, as pessoas, a alma de todos nós. Barracos que se desmancham como
armações de baralho e, por baixo de seus restos, mortos, mortos, mortos. Sobreviventes mariscando
na lama, à pesquisa de mortos e de pobres objetos amassados (...).
ANDRADE, Carlos Drummond de. Dias escuros.
Disponível em: https://tinyurl.com/jww6mn5r. Acesso em: 19 mar. 2021.

Quanto ao trecho lido, pode-se afirmar que


a) há predomínio de uma perspectiva niilista do narrador.
b) é notável o intimismo do narrador ao descrever a natureza.
c) a abordagem memorialista contrapõe a cidade ao interior.
d) a visão crítica do narrador é abafada pelo seu sentimentalismo.
e) a chuva é personificada a partir do senso nacionalista.

8.1 Lista de Fixação

44. (ESA – 2012) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES

POEMA TRANSITÓRIO
1. Eu que nasci na Era da Fumaça: - trenzinho

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Profa. Luana Signorelli

vagaroso com vagarosas


paradas
em cada estaçãozinha pobre
5. para comprar
pastéis
pés-de-moleque
sonhos
– principalmente sonhos!
10. porque as moças da cidade vinham olhar o trem passar;
elas suspirando maravilhosas viagens
e a gente com um desejo súbito de ali ficar morando
sempre...Nisto,
o apito da locomotiva
15. e o trem se afastando
e o trem arquejando
é preciso partir
é preciso chegar
é preciso partir é preciso chegar...Ah, como esta vida é urgente!
20. ...no entanto
eu gostava era mesmo de partir...
e - até hoje - quando acaso embarco
para alguma parte
acomodo-me no meu lugar
25. fecho os olhos e sonho:
viajar, viajar
mas para parte nenhuma...
viajar indefinidamente...
como uma nave espacial perdida entre as estrelas.
(Quintana, Mário. Baú de Espantos, in: MARÇAL, Iguami Antônio T. Antologia Escolar, Vol. 1; BIBLIEX; P.169.)

A expressão “viajar indefinidamente”, no Texto de Interpretação, só NÃO significa


a) passear de modo errante, a esmo.
b) sair por aí sem definir o nome das pessoas conhecidas.
c) viajar sem se preocupar com o tempo de chegar.
d) não ter a preocupação de saber o lugar para onde se vai.
e) aventura-se pelo mundo sem ter um objetivo definido.
_____________________________________________________________________________________

45. (ESA – 2012) Em função do que é dito nos versos do poema (Texto de Interpretação), observa-se
que o “eu lírico”
a) deseja ser mau e mórbido, por isso faz suas viagens pelas estrelas.
b) tem fome e pouco dinheiro, logo não gasta com comidas que não alimentam.
c) viaja, não só fisicamente, mas também por meio de seus pensamentos.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 169


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

d) é um homem agitado, que leva uma vida de passageiro com luxo e mordomias.
e) é uma voz que clama por tranquilidade e brada contra a poluição do ar.
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46. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3º Simulado ESA 2021)
Marque a alternativa que apresenta informação correta sobre autor e obra representativos da
literatura brasileira.
a) João Cabral de Melo Neto se insere no Modernismo de 45 e escreveu O cão sem plumas.
b) Escritor e tradutor, Mário Quintana classifica-se no Pré-Modernismo e publicou Sapato furado.
c) A poetisa Florbela Espanca tematizou o sofrimento em sua famosa obra chamada Livro de mágoas.
d) Lima Barreto é um escritor do Naturalismo e escreveu Triste fim de Policarpo Quaresma.
e) Ícone do Realismo, Machado de Assis escreveu um livro de contos intitulado Casa de pensão.
_____________________________________________________________________________________

47. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 6º Simulado ESA 2021)

Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo
que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo
me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só
quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão e
eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.
Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da
popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada
em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra
a ideia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso
pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua:
o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da
outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.
ROSA, Guimarães. A terceira margem do rio. In: ROSA, Guimarães. Ficção completa: volume II.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994 (p. 409-413).

Levando em conta o contexto do conto, em qual das alternativas há um sentido semelhante ao de “que
nessas artes não vadiava”?
a) “que estudou aquele artesanato”
b) “que era um preguiçoso”
c) “que era um especialista”
d) “que não entendia daquele assunto”
e) “que simplesmente ignorava a questão”
_____________________________________________________________________________________

48. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 7º Simulado ESA 2021)

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 170


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Pus o meu sonho num navio


e o navio em cima do mar;
– depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas


do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,


a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,


para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;


praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
MEIRELES, Cecília. Canção. Disponível em: https://tinyurl.com/y87wxovq. Acesso em: 19 jun. 2020.

Quanto às figuras de linguagem nesse poema, assinale a alternativa que apresentar a interpretação
INCORRETA.
a) “para o meu sonho naufragar” = metáfora
b) “e a cor que escorre de meus dedos” = sinestesia
c) “O vento vem vindo de longe” = assonância
d) “a noite se curva de frio” = personificação
e) “meus olhos secos como pedras” = comparação
_____________________________________________________________________________________

49. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 7º Simulado ESA 2021)

PALAVRAS ALADAS
Silêncio era a coisa de que aquele rei mais gostava. E de que, a cada dia, mais parecia gostar.
Qualquer ruído, dizia, era faca em seus ouvidos.
Por isso, muito jovem ainda, mandou construir altíssimos muros ao redor do castelo. E logo, não
satisfeito, ordenou que por cima dos muros, e por cima das torres, por cima dos telhados e dos jardins,
passasse imensa redoma de vidro. (...)

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 171


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Mas se os sons não podiam entrar, verdade é que também não podiam sair. Qualquer palavra
dita, qualquer espirro, soluço, canto, ficava vagando prisioneiro do castelo, sem que lhe fossem de valia
fresta de janela ou porta esquecida aberta. Pois se ainda era possível escapar às paredes, nada os
libertava da redoma.
Aos poucos, tempo passando sem que ninguém lhe ouvisse os passos, palavras foram se
acumulando pelos cantos, frases serpentearam na superfície dos móveis, interjeições salpicaram as
tapeçarias, um miado de gato arranhou os corredores.
COLASANTI, Marina. Doze reis e a moça no labirinto do vento. São Paulo: Global, 1999.

Neste pequeno excerto, pode ser observada uma alegoria de:


a) um sistema político em que os embaixadores e diplomatas são mais importantes.
b) uma crítica ao consumismo exacerbado que deixou as pessoas sem palavras.
c) uma sociedade oprimida por um jugo autoritário e sem liberdade de expressão.
d) um planejamento arquitetônico hierárquico no qual prevalecem castas.
e) uma pressão psicológica imposta por mecanismos modernos de depressão.
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50. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 1ª Rodada Avançada
de Simulados Chivunk ESA) Leia o poema abaixo para responder à questão.

Preparativos para a viagem


Uns vão de guarda-chuva e galochas,
outros arrastam um baú de guardados...
Inúteis precauções!
Mas,
se levares apenas as visões deste lado,
nada te será confiscado:
todo o mundo respeita os sonhos de um ceguinho
— a sua única felicidade!
E os próprios Anjos, esses que fitam eternamente a face do
Senhor...
os próprios Anjos te invejarão.
QUINTANA, Mário. Esconderijos do tempo. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2013.

Em função do que é dito nos versos, pode-se afirmar que o eu lírico:


a) considera a morte como uma viagem baseada também no sentido da visão.
b) ressalta o sentido do tato para uma apreensão transcendental da realidade.
c) enfatiza que diante da morte nada pode ser feito e o destino é inexorável.
d) satiriza a condição de inveja proporcionada por objetos como o baú.
e) zomba da situação dos deficientes visuais que têm dificuldade de locomoção.
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AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 172


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

51. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 4º Simulado ESA 2022)
Quanto ao Modernismo Brasileiro, assinale a alternativa correta.
a) O primeiro tempo modernista ainda foi de transição, pois muitos artistas estavam hesitantes entre
a tradição passadista e as novas técnicas.
b) Também foi conhecido como Neorrealismo a segunda geração modernista, pois o romance de 30
valorizava a denúncia social.
c) A terceira geração modernista foi essencialmente vanguardista, sendo que um exemplo de
vanguarda foi o indianismo.
d) O Pré-Modernismo é uma ponte entre o Romantismo e o Modernismo, sendo importante para
solidificar a popularidade modernista.
e) O Pós-Modernismo é sinônimo de Literatura Contemporânea, correspondendo ao período que vai
de 1960 a 2010.
_____________________________________________________________________________________

52. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 6º Simulado ESA 2022)
Quanto à segunda geração modernista brasileira, julgue o que for INCORRETO.
a) O romance de 30 também ficou conhecido como neorrealista, pois resgatava algumas premissas
como a denúncia social e o psicologismo humano.
b) Foi comum ressurgirem novamente tendências do passado, mas dessa vez atualizadas, como é o
caso do resgate de valores simbolistas e parnasianos na poesia.
c) Uma parte da poesia se voltou para temas metafísicos e existenciais, até mesmo memorialistas,
como é o caso de João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade.
d) Para se revoltarem contra as convenções vigentes, os intelectuais dessa geração usaram amiúde
recursos inovadores, que ficaram conhecidos como vanguardas.
e) No plano da prosa, alguns escritores se embrenhavam em pesquisas regionais, inclusive para
representar o falar típico de algumas localidades.
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53. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 9º Simulado ESA 2022)
Leia o poema abaixo para responder à questão.

A casa grande
... mas eu queria ter nascido numa dessas casas de meia-água
com o telhado descendo logo após as fachadas
só de porta e janela
e que tinham, no século, o carinhoso apelido
de cachorros sentados.
Porém nasci em um solar de leões.
(... escadarias, corredores, sótãos, porões, tudo isso...)
Não pude ser um menino da rua...
Aliás, a casa me assustava mais do que o mundo, lá fora.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 173


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

A casa era maior do que o mundo!


E até hoje
— mesmo depois que destruíram a casa grande —
até hoje eu vivo explorando os seus esconderijos...
QUINTANA, Mário. Esconderijos do tempo (p. 37). Alfaguara. Edição do Kindle.

Um dos recursos frequentemente utilizados em poemas de Quintana, especialmente os que abordam


a infância, é a linguagem conotativa. Assinale entre as opções a que NÃO apresenta tal expressão.
a) "o carinhoso apelido /de cachorros sentados."
b) "Porém nasci em um solar de leões."
c) "(... escadarias, corredores, sótãos, porões, tudo isso...)"
d) "A casa era maior do que o mundo!"
e) "até hoje eu vivo explorando os seus esconderijos..."
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54. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 12º Simulado ESA 2022)
Leia o trecho a seguir.

"Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma.
Estamos todos no mesmo barco.
Há no ar certo queixume sem razões muito claras.
Converso com mulheres que estão entre os 40 e 50 anos, todas com profissão, marido, filhos,
saúde, e ainda assim elas trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda,
mesmo estando tudo bem.
De onde vem isso? Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antonio
Cícero, uma música que dizia:

“Eu espero/ acontecimentos/ só que quando anoitece/ é festa no outro apartamento”.

Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo
em algum lugar para o qual eu não tinha convite. É uma das características da juventude: considerar-
se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são, ou aparentam ser [...]".
MEDEIROS, Marta. A grama do vizinho. Disponível em: https://tinyurl.com/699p67uj.
Acesso em: 19 ago. 2021.

No texto acima, o narrador expressa um sentimento típico do contemporâneo, que é o de:


a) depressão, prostrando o sujeito o qual se torna impossibilitado de agir, sentindo-se emparedado.
b) angústia, o que foi motivado depois de ouvir uma música, tendo provocado uma profunda reflexão.
c) revolta, uma vez que é na juventude que se costuma nascer o ímpeto contestador e revolucionário.
d) perplexidade, responsável por fazer a pessoa inconformada, levando uma vida inteira sem sentido.
e) carência, manifestando incompletude em que frequentemente se espera mais do que se consegue.
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AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 174


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

55. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3º Provão de Bolsas)

O pobre poema
Eu escrevi um poema horrível!
É claro que ele queria dizer alguma coisa...
Mas o quê?
Estaria engasgado?
Nas suas meias-palavras havia no entanto uma ternura mansa como a que se vê nos olhos de uma
criança doente, uma precoce, incompreensível gravidade
de quem, sem ler os jornais,
soubesse dos sequestros
dos que morrem sem culpa
dos que se desviam porque todos os caminhos estão tomados...
Poema, menininho condenado,

bem se via que ele não era deste mundo nem para este mundo...
Tomado, então, de um ódio insensato,
esse ódio que enlouquece os homens ante a insuportável
verdade, dilacerei-o em mil pedaços.

E respirei...
Também! quem mandou ter ele nascido no mundo errado?
Mário Quintana – O pobre poema.
Disponível em: https://tinyurl.com/th5gget. Acesso em: 09 mar. 2020.

Quanto à análise desse poema do modernista Mário Quintana, pode-se presumir que
a) a metafísica é o traço principal do poema, e o eu lírico resgata memórias de infância.
b) o poeta estabelece intertextualidade com Manuel Bandeira, com a linguagem jornalística.
c) a forma breve é herança do Modernismo, uma vez que o poema se limita a uma estrofe.
d) as reflexões metalinguísticas permitem com que o eu lírico reflita sobre o sentido da linguagem.
e) o discurso de ódio da humanidade está no verso “enlouquece os homens ante a insuportável”.
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56. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 6º Provão de Bolsas)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

(...)
– Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida
privadse integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
– Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
– Ontem, no seu lixo...
– O quê?
– Me enganei, ou eram cascas de camarão?

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 175


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

– Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.


– Eu adoro camarão.
– Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
– Jantar juntos?
– É.
– Não quero dar trabalho.
– Trabalho nenhum.
– Vai sujar a sua cozinha?
– Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
– No seu lixo ou no meu?
VERÍSSIMO, Luis Fernando. O lixo.
Disponível em: https://tinyurl.com/yaw4docy. Acesso em: 12 jun. 2020.

A crônica é um gênero textual que oscila entre a Literatura (ficcional) e o Jornalismo (não ficcional).
Entre os temas explorados no trecho acima, NÃO se encontra o(a):
a) humor.
b) metafísica.
c) antecipação.
d) filosofia.
e) subentendido.
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57. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 7º Provão de Bolsas)

Com licença poética


Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.


PRADO, Adélia. Com licença poética. Disponível em: https://tinyurl.com/yb59kftn. Acesso em: 13 jul. 2020.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 176


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Levando em conta o contexto do poema, pode-se afirmar que o eu lírico


a) utiliza uma forma literária fixa mesmo no modernismo.
b) está desolado, porque se sente deslocado na sociedade.
c) não se resigna diante de um fato que não pôde escolher.
d) cumpre o papel de porta-bandeira em uma escola de samba.
e) dialoga com uma tradição que passa pela comédia de costumes.
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58. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 8º Provão de Bolsas)
Considere o texto abaixo para responder à questão.

A casa-grande da usina se encheu de parentes, de amigos do dr. Juca. D. Dondon viera para
preparar a festa. Há tempos que não punha os pés ali e achou tudo à toa. O marido estava levando
uma vida de bicho. A casa inteira numa desordem de fazer vergonha. E levou assim uma semana,
arrumando, limpando as vidraças, a preparar a casa para o dia da festa.
A Bom Jesus seria em breve uma usina de verdade. A notícia se espalhou no povo. Os moradores viam
os gringos andando a cavalo, correndo terras e comentavam, a seu jeito, as novidades: com pouco mais
a Bom Jesus seria duas vezes maior que a Goiana Grande e a São Félix. O dr. Juca trazia máquinas
maiores que as da estrada de ferro para puxar os seus trens de cana. E falavam até que o riacho do
Vertente seria trazido para dentro da usina. Os gringos já estavam medindo tudo para montar os canos.
As carroças de cana não precisariam de ninguém para cair nas esteiras. Era só numa alavanca. Um
homem só faria o serviço de cem.
REGO, José Lins do. Usina. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.

Levando em consideração o Romance de 30, é correto afirmar que o trecho


a) explora uma das principais tendências do Pré-Modernismo que era a mistura de estilos, já que a
família toda se reunia.
b) revela a preocupação nacionalista e antropofágica em renegar a ajuda do estrangeiro na tentativa
de autoafirmação.
c) denuncia não só o trabalho escravo contemporâneo, como também o infantil, pois as máquinas não
ajudaram os homens.
d) mostra como a modernização no Brasil tendeu a abolir modelos coloniais e substitui-los por
tecnologia de última ponta.
e) critica uma modernização que não representa necessariamente o progresso, mas sim a animalização
do homem.
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59. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 9º Provão de Bolsas)
Leve em consideração o poema abaixo para responder à questão.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 177


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

OFICINA IRRITADA
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.

Quero que meu soneto, no futuro,


não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.

Esse meu verbo antipático e impuro


há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro,


cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Oficina irritada. In: Claro Enigma.
São Paulo: Companhia das Letras, 2012 (p. 38).

A partir do texto acima, é correto afirmar que


a) Carlos Drummond de Andrade é da mesma geração que Mário Quintana, tendo sido ambos
tradutores.
b) a poesia da segunda geração modernista usou, entre outros elementos, resgate às formas clássicas
e metalinguagem.
c) no título do poema, emprega-se o recurso expressivo da sinestesia, ao identificar o sentimento da
irritação.
d) Carlos Drummond de Andrade lembra Machado de Assis e Clarice Lispector no autorrebaixamento
de sua obra.
e) a chave de ouro cunha expressão responsável por nomear o livro, que significa quebra-cabeça fácil
de se entender.
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60. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 5º Provão de Bolsas)
Leia o poema abaixo para responder à questão.

MÃOS DADAS
Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 178


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

O presente é tão grande, não nos afastemos


Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história


Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes
A vida presente.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Mãos dadas. In: Sentimento de mundo.
São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

A partir da leitura, constata-se que o eu lírico se sente


a) auspicioso, embora na última estrofe expresse uma série de negacionismos que marcam seu
niilismo.
b) saudosista, pois sabe que no presente passa por dificuldade e por isso tenta se resguardar no
passado.
c) apreensivo, apesar de manter certa esperança por conta da união com uma coletividade empática.
d) cansado, já que está velho e na etapa final da vida deseja se reunir com os amigos para espairecer.
e) radiante, porque considera a vida como um dom divino, dádiva que deseja compartilhar com os
colegas.
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61. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 5º Provão de Bolsas)
Leia o trecho a seguir para responder ao que se pede.

Das memórias de uma trave de futebol em 1955, por Sérgio Sant’Anna


Para assistir a treinos só vêm mesmo os fanáticos, alguns sócios, a garotada matando aula, alguns
desocupados daqui de Laranjeiras. Meu posto é privilegiado, não só pela posição que ocupo no
gramado, como pelo fato de estar defendendo a baliza defendida pelo Castilho, o maior goleiro do
Brasil. Isso nem se discute. Mas o Fluminense está tão bem de goleiros, que o titular e o reserva,
Castilho e Veludo, foram convocados para a seleção na Copa de 54. Castilho treina entre os reservas,
para ser mais exigido pelo ataque titular. Nada menos que Telê, Didi, Valdo, Átis e Escurinho. Mas Didi
é meia armador e um exímio cobrador de faltas, que bate com sua famosa folha seca.
A folha seca é assim: a bola vem pelo alto, mas perto do gol, perto de mim, de repente perde a
força e cai, tantas vezes na rede. Didi acaba de bater uma falta dessas, só que a bola bateu na trave,
eu, bem no ângulo. Não sei se devo sentir orgulho ou decepção, acho que ambas as coisas. Pois a
cobrança foi perfeita, uma obra-prima, que assisti do meu posto privilegiado, mas ao mesmo tempo
me sinto defendendo o gol do Castilho, meu irmão quase, eu diria. Mas Didi sorriu para dentro, com
seu jeito discreto, pois foi bonito e engraçado. Pode isso? Pode. [...]
SANT’ANNA, Sérgio. Disponível em: https://tinyurl.com/5ewh7a4f. Acesso em: 08 jun. 2021.

Após a leitura, depreende-se que

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 179


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

a) a situação acabou por provocar reações contraditórias entre as partes envolvidas.


b) o episódio foi particularmente cômico especialmente para a massiva plateia espectadora.
c) o narrador é um jornalista esportivo que foi enviado para cobrir o jogo daquela competição.
d) o amigo do jogador se sente constrangido por não ter conseguido ajudá-lo a fazer o gol.
e) o personagem no fundo quer esconder sua decepção por ter perdido um gol, sendo artilheiro.

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62. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Chivunk ESA 2021) Leia
o texto abaixo para responder à questão.

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.


A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as
janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha
para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se
acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece
a amplidão.
COLASANTI, Marina. Eu sei, mas não devia.
Disponível em: https://tinyurl.com/y4768sp2. Acesso em: 23 ago. 2020.

Segundo o texto, é correto afirmar que o narrador


a) valoriza situações rotineiras em que o cotidiano mecânico se torna muito importante.
b) critica pessoas que preferem morar em apartamentos claustrofóbicos e não em casas.
c) problematiza um modo de vida que prioriza a resignação em detrimento do encantamento.
d) ressalta o apreço que tem o homem moderno pela natureza, ainda que more na cidade.
e) viola a coerência quando começa abordando o apartamento e termina com o sol.
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63. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Chivunk ESA 2021)
Ressignificação das formas literárias, memorialismo, lugar de fala e influência tecnológica. Essas são
características que identificam as obras de autores
a) barrocos.
b) árcades.
c) simbolistas.
d) decadentistas.
e) pós-modernistas.
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AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 180


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

64. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Chivunk ESA 2021) Leia
o poema abaixo para responder ao que se pede.

Deixa-me seguir para o mar


Tenta esquecer-me... Ser lembrado é como
evocar-se um fantasma... Deixa-me ser
o que sou, o que sempre fui, um rio que vai fluindo...

Em vão, em minhas margens cantarão as horas,


me recamarei de estrelas como um manto real,
me bordarei de nuvens e de asas,
às vezes virão em mim as crianças banhar-se...

Um espelho não guarda as coisas refletidas!


E o meu destino é seguir... é seguir para o Mar, as imagens perdendo no caminho...
Deixa-me fluir, passar, cantar...

toda a tristeza dos rios é não poderem parar!


QUINTANA, Mário. Deixa-me seguir para o mar.
Disponível em: https://tinyurl.com/th5gget. Acesso em: 23 ago. 2020.

De acordo com o eu lírico, o verbo “seguir” é sinônimo de


a) acostumar-se.
b) tornar-se.
c) espantar-se.
d) dividir-se.
e) contrapor-se.
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65. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Premonição ESA 2022)
Leia o soneto para responder ao que se pede.

Da vez primeira em que me assassinaram,


Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou


O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 181


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Pois dessa mão avaramente adunca


Não haverão de arrancar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!


Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!
QUINTANA, Mário. A rua dos cataventos. Disponível em: https://tinyurl.com/yhdh29ah.
Acesso em: 18 set. 2021.

Diante da visão global do texto, o texto justifica-se por causa do(a):


a) desilusão irreversível diante do fatalismo da morte.
b) remorso por não ter vivido o bastante nem como gostaria.
c) resistência como solução ao assimilar a passagem.
d) melancolia que se na inaptidão para lidar com o problema.
e) esperança a qual se reflete na crença de reencontrar a família.
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66. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) Leia
o texto abaixo para responder às próximas duas questões.

“Não, não é uma série de pontos de exclamação


— é uma avenida de álamos...
E o que, e para quem, clamariam então?!
Deserta está a cidade.
Todas as avenidas, todas as ruas, todas as estradas atônitas
se perguntam se vêm ou se vão...
Em nada lhes poderiam servir esses postes de quilometragem:
estão apenas desenhados, como num mapa.
Ah, se houvesse uns passos, ainda que fossem solitários...
Se houvesse alguém andando sozinho... e bastava! (...)"
QUINTANA, Mário. ‘Elegia número onze’. In: Esconderijos do tempo. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2013 [Kindle].

A partir do poema, depreende-se que


a) em relação às gerações modernistas anteriores, a última quando chega aproveita o mesmo ímpeto
vanguardista de se encantar com a novidade da modernidade.
b) é desenvolvida a história de alguém que abandona a família para tentar uma conexão mais próxima
à natureza, uma vez que não sentia mais segurança na cidade.
c) após o entusiasmo da primeira geração modernista, tomou-se consciência de que o crescimento nas
cidades era desmedido e poderia provocar problemas, como a acentuação de desigualdades.
d) a zona de indeterminação modernista se mantém na última geração, quando os artistas se sentem
totalmente desnorteados e não enxergam solução em nada.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 182


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e) o engrandecimento do meio urbano é elogiado, pois os seres humanos tendem a se tornar mais
solidários uns com os outros e a tecnologia aproxima pessoas.
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67. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) O eu
lírico desse poema adota uma visão de mundo particularmente
a) esperançosa.
b) eufórica.
c) batalhadora.
d) irada.
e) desolada.
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68. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) Leve
em consideração o poema a seguir e se atente ao comando da questão para depois respondê-la.

EU SEI, MAS NÃO DEVIA


“A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não seja as janelas
ao redor.
E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma acender mais cedo a luz.
E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.


A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. (...)”
COLASANTI, Marina. Eu sei, mas não devia. Disponível em: https://tinyurl.com/2sbrnnrz.
Acesso em: 02 maio 2021.

O poema acima alerta para vários riscos impostos pelo modo de vida contemporâneo. Entre eles,
identifique o que NÃO é exposto explicitamente no contexto.
a) Desconectar-se da natureza.
b) Trabalhar incomensuravelmente.
c) Sacrificar a própria saúde e bem-estar.
d) Usar entorpecentes e depois se suicidar.
e) Perder a autonomia e a subjetividade.

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69. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) A
principal diferença entre a segunda e a terceira geração modernista é:
a) a segunda geração é vanguardista e experimentalista, ao passo que a terceira representa um retorno
a formas tradicionais.
b) a segunda tem preocupação nitidamente social e a terceira se volta para outras tendências, como
regionalismo e intimismo.
c) a segunda geração vai ter expressão também nas artes plásticas e na música, ao passo que a terceira
é apenas literária.
d) a segunda geração produziu predominantemente poesia, com Graciliano Ramos, ao passo que a
terceira produziu poesia, com Vinicius de Moraes.
e) a segunda geração tenta ressignificar temas do passado, usando lugar de fala e cultura de massa,
enquanto a terceira geração ocorreu só no teatro.
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70. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) Leia
o trecho abaixo e responda ao que se pede.

“Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente.
Corrigiu-a, murmurando: – Você é um bicho, Fabiano.”

Mesmo sendo um romance de 30, por causa do zoomorfismo a obra “Vidas secas” de Graciliano Ramos
apresenta semelhança com outra escola literária, a ver:
a) Simbolismo.
b) Naturalismo.
c) Barroco.
d) Arcadismo.
e) Quinhentismo.
_____________________________________________________________________________________

71. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022)
Assinale a alternativa INCORRETA quanto à Literatura Brasileira.
a) A segunda geração modernista se distanciou da primeira, porque pretendeu resgatar valores de
movimentos literários anteriores, e não propor inovações.
b) São muito tênues as margens entre as gerações modernistas, tanto é que é possível haver escritores
escrevendo em mais de uma geração.
c) O que a crítica considera como Pós-Modernismo é a ruptura total com tudo o que foi produzido no
século XX, pois o que se apresenta hoje em termos literários é bem diferente.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 184


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

d) A terceira geração modernista é uma continuidade das outras duas, mas agora pensando em
aperfeiçoamento técnico e com mais variedade de estilos.
e) A transição da terceira geração modernista para a literatura brasileira contemporânea foi mediada
pelo fato histórico da Ditadura Militar.
_____________________________________________________________________________________

72. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022)
Participaram da vertente intimista da terceira geração modernista autores(as) como:
a) José Lins do Rego e Graciliano Ramos.
b) Graciliano Ramos e Guimarães Rosa.
c) Guimarães Rosa e Clarice Lispector.
d) Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles.
e) Rachel de Queiroz e Cecília Meireles.
_____________________________________________________________________________________

73. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) Leia
o trecho a seguir e se atente ao comando.

“De repente, deu estrondo. Que o vento quebrou galho do jenipapeiro do curral, e jogou perto
de casa. Todo o mundo levou susto. Quando foi o trovão! Trovejou enorme, uma porção de vezes, a
gente tapava os ouvidos, fechava os olhos. Aí o Dito se abraçou com Miguilim. O Dito não tremia,
malmente estava mais sério. ― "Por causa de Mamãe, Papai e tio Terêz, Papai-do-Céu está com raiva
de nós de surpresa..." ― ele foi falou.
― Miguilim, você tem medo de morrer?
― Demais... Dito, eu tenho um medo, mas só se fosse sozinho. Queria a gente todos morresse
juntos...
― Eu tenho. Não queria ir para o Céu menino pequeno.
Faziam uma pausa, só do tamanho dum respirar.”
ROSA, Guimarães. Manuelzão e Miguilim; Corpo de Baile. 12. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.

Traços estilísticos deste autor canônico da terceira geração modernista que se evidenciam no texto
são:
a) valorização da natureza, coloquialismos e linguagem afetiva.
b) neologismos, fluxo de consciência e narrador protagonista.
c) hipérboles, dualidades e rebuscamento formal.
d) idealização dos heróis, uso da mitologia e fuga da realidade.
e) pessimismo, morbidez, boemia e apego à morte.
_____________________________________________________________________________________

74. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) A
partir do excerto, responda à questão:

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 185


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

“Lá sei, ah! Rosa Desaparecida, Desaparecida, Desaparecida. Tentei refazer o retrato e ficou uma
imitação pobre: apenas uma moça na janela segurando uma laranja e não a Rosa segurando o meu
mundo, foi o meu mundo que ela segurou quando lhe dei a laranja, Segura assim, não se mexa.
Apodreceu. Tentei um segundo retrato e acabei rasgando tudo, estava só e bêbado quando chamei o
Diabo, Quero pintar como pintava, me faça pintar como antes e lhe dou já minh’alma! Será que você
não quer a minha alma? Mas é uma alma tão porcaria assim que nem você aceita? Quando Marina
chegou, contei que quis fazer o maldito do retrato e o Diabo nem deu sinal de vida. Ele já tem alma
demais, ela disse, está querendo se desfazer das que tem. Apodreceu. A laranja. Não, não se refaz
nada, meio século já se esvaiu, quanto ainda me resta? E se eu tentar de novo, você acha que é tarde?”
TELLES, Lygia Fagundes de. A sauna. In: O seminário dos ratos. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

A principal técnica literária utilizada no modernismo intimista, como a empregada acima, é:


a) fluxo de consciência.
b) discurso direto.
c) sujeito explícito.
d) narrador irônico.
e) monólogo exterior.
_____________________________________________________________________________________

75. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022)
Desfrute do poema abaixo e responda ao comando.

“Quando nasci um anjo esbelto,


desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir. (...)”
PRADO, Adélia. Com licença poética. Disponível em: https://tinyurl.com/h3r4zzje. Acesso em: 02 maio 2021.

Entre as características da literatura contemporânea, a que se verifica no poema acima é:


a) lugar de fala.
b) cultura de massa.
c) formas breves.
d) suporte tecnológico.
e) memorialismo.
_____________________________________________________________________________________

76. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022)
Fazem parte das tendências literárias portugueses autores como:

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a) Luís de Camões, Sá Miranda e Gil Vicente.


b) Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros.
c) Camilo Pessanha, Florbela Espanca e Eugênio de Castro.
d) Almeida Garrett, Camilo Castelo Branco e Júlio Dinis.
e) José Saramago, Valter Hugo Mãe e Agustina Bessa-Luís.
_____________________________________________________________________________________

77. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) Leia
o poema abaixo e responda à questão.

F O G O
F o r O
F o r A
F u r A
A u r A
A g r A
Á G U A

CAMPOS, Augusto de. Doublets. In: O anticrítico. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

O poema acima faz parte de uma vertente do Modernismo Tardio, a ver:


a) Versilibrismo.
b) Concretismo.
c) Metrificismo.
d) Esteticismo.
e) Paralelismo.
_____________________________________________________________________________________

78. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) A
partir do trecho abaixo, responda ao que se pede.

“E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte Severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia.”

Quanto aos seus conhecimentos acerca da obra acima, assinale a alternativa correta.
a) Uma das características da primeira geração modernista é a denúncia de situações sociais
miseráveis, como é o caso do retirante nordestino.

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b) Se todos morrem sempre da mesma maneira, o poema revela semelhança com um movimento
literário do fim do século XIX que é o determinismo.
c) O poema “Morte e vida Severina” é na verdade um teatro escrito em forma de versos, em que o
diálogo é uma potência humanizadora contra as mazelas sociais.
d) Essa obra cabralina apresenta traços em comum com o teatro de Ariano Suassuna, sobretudo no
quesito do efeito de texto voltado para o cômico e humorístico.
e) O romance de 30 se opôs radicalmente à poesia do mesmo período, tanto é que o romance era
crítico, à medida que a poesia era memorialista.
_____________________________________________________________________________________

79. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) Leia
o poema abaixo e responda à questão.

CONFISSÃO
Não amei bastante meu semelhante,
não catei o verme nem curei a sarna.
Só proferi algumas palavras,
melodiosas, tarde, ao voltar da festa.

Dei sem dar e beijei sem beijo.


(Cego é talvez quem esconde os olhos
embaixo do catre.) E na meia-luz
tesouros fanam-se, os mais excelentes.

Do que restou, como compor um homem


e tudo o que ele implica de suave,
de concordâncias vegetais, múrmurios
de riso, entrega, amor e piedade?

Não amei bastante sequer a mim mesmo,


contudo próximo. Não amei ninguém.
Salvo aquele pássaro – vinha azul e doido –
que se esfacelou na asa do avião.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Confissão. In: Claro enigma. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

A segunda geração modernista representa o retorno das formas clássicas. Após a leitura do soneto
acima, é correto inferir que o eu lírico
a) questiona sobre seu lugar no mundo, pois é influenciado pela brutalidade de uma guerra que o
atinge diretamente, mas depois disso consegue se reerguer.
b) caminha como um nômade por sua cidade tentando recuperar vínculos antigos com seus ancestrais,
rendendo-se às tendências passadistas e memorialistas.
c) sente-se conciliado consigo próprio, tanto é que tem um propósito ao conferir palavras, certeza que
ele descobre numa epifania depois de sair de uma festa.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 188


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d) estabelece intertextualidade implícita com movimentos literários anteriores, ao mesmo tempo que
tenta tirar de si o seu mérito, rebaixando o poema à banalidade e à sua visão de mundo pessimista.
e) demonstra o quanto é incapaz de mobilizar o amor próprio, tanto é que sua jornada é do desespero
rumo à conscientização e ao autoconhecimento.
_____________________________________________________________________________________

80. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) Leve
em consideração o poema a seguir e se atente ao comando.

“E aqui ficamos
todos contritos,
a ouvir na névoa
o desconforme,
submerso curso
dessa torrente
do purgatório...

Quais os que tombam,


em crime exaustos,
quais os que sobem,
purificados?”

Estes são os versos finais de “Romanceiro da Inconfidência” (1953), de Cecília Meireles. A partir do
excerto, depreende-se que o eu lírico
a) revela a continuidade de um raciocínio determinista e a mentalidade fatalista do fim do século
anterior.
b) é um registro resignado de quem sabe que perde uma guerra no passado e não deseja mais lutar.
c) tenta chamar atenção dos leitores mediante provocação e o apelo direto, incitando-lhes à
consciência.
d) procura colocar um ponto final em questões histórica mal resolvidas, mas para as quais agora há
solução.
e) é subvertido o valor moralista dos bons e dos maus, de tal forma que os criminoso não serão
expiados.

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8.2 Gabarito

1. A 11. A 21. C 31. A 41. B 51. B 61. A 71. C


2. B 12. E 22. B 32. A 42. A 52. D 62. C 72. D
3. C 13. D 23. D 33. B 43. A 53. C 63. E 73. A
4. C 14. C 24. D 34. A 44. B 54. E 64. B 74. A
5. D 15. A 25. C 35. E 45. C 55. D 65. C 75. A
6. C 16. C 26. A 36. E 46. A 56. B 66. C 76. E
7. A 17. A 27. B 37. B 47. D 57. C 67. E 77. B
8. D 18. D 28. B 38. D 48. C 58. C 68. D 78. C
9. C 19. D 29. B 39. A 49. C 59. B 69. B 79. D
10. B 20. C 30. C 40. C 50. A 60. C 70. B 80. C

9.0 Questões com Comentários

1. (EsPCEx – 2023) Leia o poema abaixo.

Encomenda

Desejo uma fotografia


como esta — o senhor vê? — como esta:
em que para sempre me ria
como um vestido de eterna festa.

Como tenho a testa sombria,


derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.

Não meta fundos de floresta


nem de arbitrária fantasia…
Não… Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.
Fonte: Cecília Meireles (In: Vaga Música, 1942).

Quanto aos aspectos da linguagem poética presentes no poema "Encomenda", de Cecília Meireles:

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I – A composição do poema é feita em forma de soneto.


II – Na segunda estrofe, o eu poética lança mão da antítese na percepção que tem de si mesmo.
III – Na construção dos versos, optou-se pela composição em redondilhas maiores.
IV – Como recurso para conferir musicalidade aos versos, há o emprego de rima alternada e de rima
interpolada.
V – Tendo em vista se tratar de um poema do Modernismo brasileiro, optou-se pela construção em
versos brancos.

Estão corretas apenas as afirmativas:


a) II e IV.
b) I e II.
c) III e IV.
d) II, III e V.
e) IV e V.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; julgamento de itens; teoria literária e conhecimento
de movimentos literários.
Afirmação I: incorreta. Um soneto clássico é composto por dois quartetos e dois tercetos e este
poema é estruturado em três quartetos.
Afirmação II: correta. Antítese é uma figura de linguagem que apresenta uma oposição visando a
uma síntese. No caso, a mesma testa é caracterizada como "sombria", mas também é onde a luz está
sendo derramada.
Afirmação III: incorreta. Redondilha maior é um verso com sete sílabas poéticas. No caso, segue
abaixo a metrificação completa do poema. As marcações em vermelho indicam as elisões.

De-se-jou-ma-fo-to-gra-FI-a (8 sílabas poéticas)


co-moes-ta—o-se-nhor-vê?—co-MOES-ta: (8 sílabas poéticas)
em-que-pa-ra-sem-pre-me-RI-a (8 sílabas poéticas)
co-moum-ves-ti-do-dee-ter-na-FES-ta. (9 sílabas poéticas)

Co-mo-te-nhoa-tes-ta-som-BRI-a, (8 sílabas poéticas)


der-ra-me-luz-na-mi-nha-TES-ta. (8 sílabas poéticas)
Dei-xees-ta-ru-ga,-que-meem-PRES-ta (8 sílabas poéticas)
um-cer-toar-de-sa-be-do-RI-a. (8 sílabas poéticas)

Não-me-ta-fun-dos-de-flo-RES-ta (8 sílabas poéticas)


nem-dear-bi-trá-ria-fan-ta-SI-a… (8 sílabas poéticas)
Não…-Nes-tees-pa-ço-queain-da-RES-ta, (8 sílabas poéticas)
po-nhau-ma-ca-dei-ra-va-ZI-a. (8 sílabas poéticas)

Portanto, conclui-se que quase todo o poema é composto de versos octassílabos (e não
heptassílabos, sinônimo de redondilhas maiores), com uma exceção no último verso da primeira estrofe.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 191


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
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Afirmação IV: correta. Rimas alternadas ou cruzadas são aquelas que seguem o esquema ABAB e
rimas interpoladas ou intercaladas são as que seguem o esquema ABBA. Nesse sentido, a primeira e a
terceira estrofe apresentam rimas alternadas e a segunda estrofe rimas interpoladas. Como a banca não
especificou a ordem das estrofes, o item permanece correto. Segue o exemplo abaixo:

Desejo uma fotografia (A)


como esta — o senhor vê? — como esta: (B)
em que para sempre me ria (A) ABAB → rimas alternadas
como um vestido de eterna festa. (B)

Como tenho a testa sombria, (A)


derrame luz na minha testa. (B)
Deixe esta ruga, que me empresta (B) ABBA → rimas interpoladas
um certo ar de sabedoria. (A)

Não meta fundos de floresta (B)


nem de arbitrária fantasia… (A) BABA → rimas alternadas
(*observação: a ordem dos fatores
Não… Neste espaço que ainda resta, (B)
não altera o resultado: BABA = ABAB).
ponha uma cadeira vazia. (A)

Afirmação V: incorreta. Cecília Meireles (1901-1964) é uma poetisa modernista. Ela transita entre
a segunda e a terceira geração e é conhecida pela influência da musicalidade. Atenção: apesar de
modernista, os versos acima apresentam rimas (com os esquemas classificados no item IV), e não versos
brancos (sem rima).
Gabarito: A.

_____________________________________________________________________________________

2. (EsPCEx – 2023) Leia o trecho a seguir e marque a alternativa correta.

"[...] Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez,
quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do
arrocho de autoridade. [...] Esses gerais são sem tamanho [...] O sertão está em toda parte.
Do demo? Não gloso. Senhor pergunte aos moradores. [...]
De primeiro, eu fazia e mexia, e pensar não pensava. Não possuía prazos. Vivi puxando difícil de
difícel, peixe vivo no moquém: quem mói no asp'ro, não fantasêia. Mas, agora, feita a folga que me
vem, e sem pequenos desassossegos, estou no range rede. E me inventei neste gosto, de especular
ideia. O diabo existe e não existe? Dou o dito. [...]

A respeito do fragmento, é correto afirmar que


a) a narrativa está situada no sertão mineiro de Guimarães Rosa, caracterizando o romance como
regional, uma vez que fixa, no espaço da narrativa, as fronteiras geográficas.
b) as marcas regionais são evidentes nos termos utilizados, na recriação da fala de sertanejos, mas as
questões tratadas abordam dramas humanos: dor, incertezas, medos... ampliando o regionalismo na
ficção roseana para uma dimensão universal.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 192


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

c) o fragmento é marcado pela presença de neologismos, recriação de palavras como "asp'ro";


"fantasêia"..., característica de Guimarães Rosa, inovando o romance regional, caracterizando de modo
diferenciado o falar dos sertanejos.
d) apresenta os dramas, medos, sentimentos, incertezas do sertanejo. Trata-se de sofrimentos
provenientes das agruras do sertão, evidenciando uma abordagem exclusivamente regional do
universo ficcional de Guimarães Rosa.
e) caracteriza a fuga não só dos retirantes da caatinga como também de criminosos, conforme atesta
a passagem "onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso
vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de "autoridade", compondo o universo regional de "Vidas
secas", de Graciliano Ramos.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento de autores e obras do cânone e
Gramática aplicada à Literatura.
Alternativa A: incorreta. Está tudo certo, com a exceção da palavra "fixa". Para o modernista
Guimarães Rosa, o sertão não é um lugar limitante, mas sim abrangente.
Alternativa B: correta – gabarito. O regionalismo é uma tendência literária na qual os traços locais
de uma região são exaltados, podendo contemplar natureza, geografia, cultura, linguagem etc. No caso,
trata-se de uma passagem do romance modernista "Grande sertão: veredas" (1946), de autoria de
Guimarães Rosa, que já caiu na EsPCEx 2021. Guimarães Rosa é um autor conhecido pelo uso dessa
tendência na terceira geração modernista, sendo que sua obra também explora psicologismo e angústias
existenciais, o que se infere da dúvida: "O diabo existe e não existe?".
Alternativa C: incorreta. Atenção: os exemplos apresentados não são neologismos (criação de
palavras). O termo "asp'ro" é uma abreviação do adjetivo "áspero" ("moer áspero" é uma expressão
popular que denota dureza). Já o termo "fantasêia" é uma variação linguística regional. Trata-se do
fenômeno do "ieísmo", tendência a inventar foneticamente a letra "i", já que deveria ser usado o presente
do indicativo por causa do paralelismo, e a conjugação deveria ser "fantasia". Exemplo:

quem mói no asp'ro, não fantasêia (expressão popular e regional)


3ª p. s. 3ª p. s.

quem não mói áspero, não fantasia (expressão de acordo com a norma culta)

Alternativa D: incorreta. Cuidado com absolutismos: "exclusivamente". O romance é extenso e se


passa em várias regiões. Conta a história de Riobaldo Tatarana, que dialoga com um médico.
Alternativa E: incorreta. Caatinga é um bioma predominante no Nordeste, sendo que Guimarães
Rosa ambienta a sua história no sertão mineiro. Além disso, Graciliano Ramos é um autor da segunda
geração modernista e Guimarães Rosa da terceira.
Gabarito: B.

_____________________________________________________________________________________

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 193


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
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3. (EsPCEx – 2021) “Esses gerais sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão
ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda parte”
O fragmento acima, de Guimarães Rosa, marca
a) os limites do regional.
b) o determinismo do meio.
c) o sertão universal.
d) o sertanejo e sua cor local.
e) sofrimento regional.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: incorreta. O regional não é limitado, pelo contrário, ele é abrangente, ele se
expande, tanto para o exterior quanto para o interior. Por isso é que sua obra se chama SER-TÃO, pois
leva também em consideração a questão existencial. Uma das principais características da terceira
geração modernista são a subjetividade e o intimismo. Assim como está expresso: “Esses gerais sem
tamanho”.
Alternativa B: incorreta. Trata-se de uma doutrina do fim do século XIX, que marcou
principalmente o movimento literário do Naturalismo, e até mesmo alguma parte do Pré-Modernismo,
mas não a terceira geração modernista.
Alternativa C: correta – gabarito. Grande sertão: veredas (1956) de Guimarães Rosa é uma obra da
terceira geração modernista. O protagonista é Riobaldo e as grandes temáticas são: duelo entre bem x
mal; Deus x Diabo. São temas metafísicos, existenciais e regionalistas. A definição de sertão para
Guimarães Rosa perpassa uma ideia que Antonio Candido expôs em seu livro de crítica literária A
educação pela noite e outros ensaios (1987, p. 61): o particular já é sempre, de antemão, universal. Como
também expressa o realista russo Liév Tolstói: para poder falar do mundo, primeiro comece falando de
sua aldeia. Por isso é que o conceito de Guimarães Rosa passa pela noção de que um substantivo no
singular (“pão”) pode se generalizar, isto é, universalizar-se, ao se transformar em plural (“pães”). Se for
para colocar numa fórmula: particular ⇌ universal.
Referências bibliográficas: CANDIDO, Antonio. A educação pela noite & outros ensaios. São Paulo: Ática, 1987.
Alternativa D: incorreta. Cor local está mais presente no Arcadismo e no Romantismo. Trata-se de
uma pintura, geralmente idealizada, de traços típicos regionais.
Alternativa E: incorreta. O sofrimento não é abordado.

Gabarito: C.

4. (EsPCEx – 2018) Leia as afirmações abaixo sobre Carlos Drummond de Andrade:

I. Preferiu não participar da Semana de Arte Moderna, mas enviou seu famoso poema “Os Sapos”, que,
lido por Ronald de Carvalho, tumultuou o Teatro Municipal.
II. Sua fase “gauche” caracterizou-se pelo pessimismo, pelo individualismo, pelo isolamento e pela
reflexão existencial. A obra mais importante foi o “Poema de Sete Faces”.
III. Na fase social, o eu lírico manifesta interesse pelo seu tempo e pelos problemas cotidianos,
buscando a solidariedade diante das frustrações e das esperanças humanas.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 194


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

IV. A última fase foi marcada pela poesia intimista, de orientação simbolista, prezando o espiritualismo
e orientalismo e a musicalidade, traços que podem ser notados no poema “O motivo da Rosa”.

Estão corretas as afirmações:


a) I, II e III
b) II, III e IV
c) II e III
d) II e IV
e) III e IV

Comentários
Questão de julgar itens/conhecimento de autor e obra do cânone.
Item I: falso. Drummond não participou da Semana de Arte Moderna. O poema aludido é de
Manuel Bandeira.
Item II: verdadeiro. Como “gauche”, Drummond expõe eu lírico que não consegue se adaptar às
vicissitudes sociais, logo a necessidade de utilizar máscaras (“Poema de Sete Faces”) é uma temática
constante em sua poesia dessa fase.
Item III: verdadeiro. A vertente social de Drummond foi extremamente influenciada pelo contexto
do regime militar no Brasil e II Guerra Mundial. Sua poesia evoca sentimentos como medo e necessidade
de resistência dos seus contemporâneos.
Item IV: falso. A última fase da poesia de Drummond é nomeada memorialista; as informações
apresentadas assim como o poema dizem respeito à Cecília Meireles.

Gabarito: C.

5. (EsPCEx – 2015) Leia o trecho do romance São Bernardo e dê o que se pede.

“(...)
O que estou é velho. Cinquenta anos pelo S. Pedro. Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos
gastos sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O resultado é que endureci, calejei, e não
é um arranhão que penetra esta casca espessa e vem ferir cá dentro a sensibilidade embotada.
(...)
Cinquenta anos! Quantas horas inúteis! Consumir-se uma pessoa a vida inteira sem saber para
quê! Comer e dormir como um porco! Levantar-se cedo todas as manhãs e sair correndo, procurando
comida! E depois guardar comida para os filhos, para os netos, para muitas gerações. Que estupidez!
Que porcaria! Não é bom vir o diabo e levar tudo?
(...)
Penso em Madalena com insistência. Se fosse possível recomeçarmos... Para que enganar-me? Se
fosse possível recomeçarmos, aconteceria exatamente o que aconteceu. Não consigo modificar-me, é
o que mais me aflige.
(...)

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 195


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Profa. Luana Signorelli

Foi este modo de vida que me inutilizou. Sou um aleijado. Devo ter um coração miúdo, lacunas no
cérebro, nervos diferentes dos nervos dos outros homens. E um nariz enorme, uma boca enorme,
dedos enormes.
(...)”

Quanto ao trecho lido, é correto afirmar que


a) há predomínio de uma visão ufanista do narrador.
b) o intimismo dificulta uma visão crítica.
c) a abordagem universal permite alcançar à dimensão regional.
d) a incapacidade de modificar o modo de vida revela traços deterministas.
e) o narrador externo explora conflitos internos do personagem.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: incorreta. Ufanismo significa nacionalismo exacerbado.
Alternativa B: incorreta. Pelo contrário: há criticidade.
Alternativa C: incorreta. Cuidado: é um trecho mais reflexivo, e não regionalista.
Alternativa D: correta – gabarito. O narrador debruça-se sobre seu passado, tentando entender a
si mesmo e a forma como se relaciona com o mundo exterior. O “eu” protagonista busca, então, por meio
da escrita de um livro, recompor sua vida, sua existência, em forma de um ato memorialista, procurando
justificar e legitimar seu discurso pelo argumento de que a falta de formação intelectual lhe compromete
o saber e responsabilidade de ações. Assim, é correta a opção D, pois o trecho coloca em evidência a
incapacidade do protagonista de modificar o modo de vida, com claros traços deterministas.
Alternativa E: incorreta. Há trechos em 3ª e em 1ª pessoa.

Gabarito: D.

6. (EsPCEx – 2015) Leia os versos a seguir e responda.

“Catar Feijão
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar*
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e o oco, palha eco,”
*Alguidar: recipiente de barro, metal ou material plástico, usado para tarefas domésticas

Em "Catar feijão", João Cabral de Melo Neto revela


a) o princípio de que a poesia é fruto de inspiração poética, pois resulta de um trabalho emocional.

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b) influência do Dadaísmo ao escolher palavras, ao acaso, que nada significam para a construção da
poesia.
c) preocupação com a construção de uma poesia racional contrária ao sentimentalismo choroso.
d) valorização do eu lírico, ao extravasar o estado de alma e o sentimento poético.
e) valorização do pormenor mediante jogos de palavras, sobrecarregando a poesia de figura e de
linguagem rebuscada.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: incorreta. Resulta de um trabalho braçal, ativo.
Alternativa B: incorreta. O dadaísmo é uma vanguarda. Características principais do dadaísmo são:
anarquia; nonsense, crítica, dadá não é nada.
Alternativa C: correta – gabarito. O eu lírico aborda, metalinguisticamente, sua concepção do ato
criador, tomando como referência o ato do cotidiano de escolher feijão. “Jogar” com as palavras sugere
a inspiração necessária para só depois selecionar os melhores grãos, ou seja, as palavras adequadas. O
objetivo é construir uma poesia que iniba o excesso, desfazendo-se de tudo o que for “leve e oco, palha
eco”, como o “pieguismo” sentimental.
Alternativa D: incorreta. Pelo contrário: priva pelo objetivo.
Alternativa E: incorreta. Busca o comedimento. Figuras de linguagem rebuscadas seriam uma
característica do Barroco.

Gabarito: C.

7. (EsPCEx – 2015) Assinale a alternativa que contém uma das características da segunda fase
modernista brasileira.
a) Os efeitos da crise econômica mundial e os choques ideológicos que levaram a posições mais
definidas formavam um campo propício ao desenvolvimento de um romance caracterizado pela
denúncia social.
b) Na poesia, ganha corpo uma geração de poetas que se opõem às conquistas e inovações dos
primeiros modernistas de 1922. Uma nova proposta é defendida inicialmente pela revista Orfeu.
c) O período de 1930 a 1945 é o mais radical do movimento modernista, pela necessidade de ruptura
com toda arte passadista.
d) As revistas e manifestos marcam o segundo momento modernista, com a divulgação do movimento
pelos vários estados brasileiros.
e) Ao mesmo tempo em que se procura o moderno, o original e o polêmico, o nacionalismo se
manifesta em suas múltiplas facetas: uma volta às origens, a pesquisa de fontes quinhentistas, a
procura de uma “língua brasileira”.

Comentários
Questão teórica de conhecimento sobre o movimento literário.
Alternativa A: correta – gabarito. O segundo período do Modernismo brasileiro (1930 a 1945) tem
como contexto histórico, no plano internacional, a depressão econômica causada pelas duas guerras

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mundiais (1919-1939) e o avanço do nazi-fascismo e, no plano nacional, a ascensão de Getúlio Vargas ao


poder. Os romances deste período refletem as preocupações sociais e políticas que agitavam o Brasil na
época, encaminhando-se para o documentário ou romance político, ou seja, obras caracterizadas pela
denúncia social.
Alternativa B: incorreta. Orfeu é uma revista modernista portuguesa.
Alternativa C: incorreta. Não necessariamente. Parte da poesia desse período retoma
características passadistas, como o rigor formal.
Alternativa D: incorreta. Cuidado: Esse é um traço da 1ª geração modernista.
Alternativa E: incorreta. Esse também seria um aspecto mais ligado à geração de 22.

Gabarito: A.

8. (EsPCEx – 2015) Leia o trecho a seguir e responda.

“O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-
gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucúia. Toleima. Para os de
Corinto e do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga: é
onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de
morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucúia vem
dos montões oestes. Mas, hoje, que na beira dele, tudo dá – fazendões de fazendas, almargem de
vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até
ainda virgens dessas lá há. Os gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o
que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda parte.”

Quanto ao trecho, é correto afirmar que


a) não há ponto de vista do narrador, que apenas relata as impressões alheias.
b) apresenta alguns neologismos, como “toleima”, “almargem”, “opiniães” e “oestes”.
c) não há abordagem universal, a passagem constitui apenas uma descrição do sertão.
d) o trecho transpõe os limites do regional, alcançando a dimensão universal.
e) transparece todo misticismo sertanejo, baseado apenas nos dois extremos: o bem e o mal.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento do movimento literário e
conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: incorreta. Pelo contrário: é um trecho descritivo que parece estar sendo narrado da
vivência própria, devido à riqueza de detalhes.
Alternativa B: incorreta. Atenção: “toleima” existe e está dicionarizado:
qualidade, característica ou estado do que é tolo; estultice; tolice (dicionário Aulete).
“Opiniães” e “almargens” não são neologismos, mas sim variações linguísticas regionais.
E “oestes”, processo de pluralização de ponto cardeal, trata-se de uma licença poética.
Alternativa C: incorreta. A partir da descrição da cor local pode-se alcançar a
representação de tipos universais.
Alternativa D: correta – gabarito. Guimarães Rosa, um dos principais representantes do
regionalismo brasileiro do Terceiro Tempo do Modernismo, desenvolve temáticas de dimensão universal,

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como o do excerto do enunciado em que o narrador descreve o sertão numa linguagem quase mística ou
filosófica. Trata-se do início da narrativa apresentada como um imenso monólogo em que Riobaldo conta
os casos que viveu, ao mesmo tempo que vai tecendo reflexões sobre os mistérios da condição humana.
Alternativa E: incorreta. Cuidado com os absolutismos: “apenas”.

Gabarito: D.

9. (EsPCEx – 2014) É correto afirmar, em relação à poesia do segundo momento modernista brasileiro,
que
a) deixa de ser influenciada por Mário e Oswald de Andrade.
b) o poeta para de se questionar como indivíduo e como artista.
c) amadurece e amplia as conquistas da geração anterior.
d) fortalece a busca pela poesia construtiva e apolitizada.
e) se liberta das profundas transformações ocorridas no período.

Comentários
Questão teórica de conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. Eles continuam produzindo.
Alternativa B: incorreta. Continua sendo um tema.
Alternativa C: correta – gabarito. A poesia do segundo momento modernista brasileiro, inaugurada
pela publicação de Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Andrade, em 1930, estendeu-se até 1945 e
consolidou as conquistas da geração anterior, iniciada durante a Semana de Arte Moderna, em 1922.
Alternativa D: incorreta. Pelo contrário: há influência da reflexão crítica quando às Guerras
Mundiais.
Alternativa E: incorreta. Pensa no seu próprio Zeitgeist (espírito da época).

Gabarito: C.

10. (EsPCEx – 2014) Leia o texto abaixo e responda o que se pede.

“(...)
– Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só.
E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros.
Vermelho, queimando, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia,
cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra.
Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase
imprudente. Corrigiu-a, murmurando:
– Você é um bicho, Fabiano.
Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades.”
(Fragmento de “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos)

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A partir do texto apresentado, é correto afirmar que o personagem Fabiano


a) subestima-se pela própria condição animal.
b) questiona a própria condição humana.
c) valoriza-se como ser humano.
d) sente vergonha da condição animal.
e) abomina a própria condição animal.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: incorreta. Fabiano não se sentia subestimado, mas sim orgulho de ser como era, o
que pode ser depreendido a partir do excerto: “Isto para ele era motivo de orgulho.”
Alternativa B: correta – gabarito. Vidas secas (1938) é um romance de 30 que trata da
vulnerabilidade social dos retirantes. No trecho, primeiramente as características físicas de Fabiano são
descritas. O que parte das preocupações de Fabiano é uma tentativa de entendimento da sua própria
identidade.
Alternativa C: incorreta. Não se identifica totalmente com o ser humano: “um bicho, capaz de
vencer dificuldades.”
Alternativa D: incorreta. Pelo contrário: sente orgulho.
Alternativa E: incorreta. Estaria errada pelos motivos da letra D.

Gabarito: B.

11. (EsPCEx – 2012) Leia o trecho abaixo:

“Não tenho uma palavra a dizer. Por que não me calo, então? Mas se eu não forçar a palavra a
mudez me engolfará para sempre em ondas. A palavra e a forma serão a tábua onde boiarei sobre
vagalhões de mudez.”

O fragmento, extraído da obra de Clarice Lispector, apresenta


a) uma reflexão sobre o processo de criação literária.
b) uma postura racional, antissentimental, triste e recorrente na literatura dessa fase.
c) traços visíveis da sensibilidade, característica presente na 2ª fase modernista.
d) a visão da autora, sempre preocupada com o valor da mulher na sociedade.
e) exemplos de neologismo, característica comum na 3ª fase modernista.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: correta – gabarito. O fragmento extraído de “A paixão segundo G.H.”, de Clarice
Lispector, expõe o fluxo de consciência da narradora no momento em que ela hesita sobre o que
verdadeiramente quer contar, ou seja, apresenta uma reflexão sobre processo da criação literária. Trata-
se do emprego do recurso metalinguístico.
Alternativa B: incorreta. Pelo contrário: uso de figuras de linguagem como a metáfora em “me
engolfará” e “boiarei sobre vagalhões de mudez” transmitem acentuada subjetividade.

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Alternativa C: incorreta. Não em toda a 2ª fase e Clarice produziu na realidade tanto na 2ª quanto
na 3ª fase.
Alternativa D: incorreta. Cuidado com os absolutismos: “sempre”. Além disso, atenção: não é a
visão da autora, mas sim do narrador.
Alternativa E: incorreta. Neologismos são comuns no estilo de autores específicos, como
Guimarães Rosa, por exemplo. Ademais, há vocabulário convencional no trecho.

Gabarito: A.

12. (EsPCEx – 2012) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:

Leia o trecho abaixo, de “Morte e vida severina”, de João Cabral de Melo Neto.

“— Severino retirante,
deixa agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
(…)

E não há melhor resposta


que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,”

Quanto ao gênero literário, é correto afirmar que o fragmento lido é


a) narrativo, que conta em prosa histórias do sertão nordestino.
b) uma peça teatral, desprovido de lirismo e com linguagem rústica.
c) bastante poético e marcado por rimas, sem metrificação.
d) uma epopeia, que traduz o desencanto pela vida dura do sertão.
e) dramático, que encena conflitos internos do ser humano.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: incorreta. Transcreve a fala em forma de verso.
Alternativa B: incorreta. Transmite os sentimentos do personagem, por isso apresenta forte carga
lírica, além de ser elaborado em linguagem culta.
Alternativa C: incorreta. Os versos apresentam métrica regular: redondilhas maiores;
Alternativa D: incorreta. A epopeia é um poema extenso, cuja narração descreve e relata os feitos
de um herói histórico, representante de um povo.

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Alternativa E: correta – gabarito. Embora não seja um drama propriamente dito, isto é, uma peça
teatral, adota procedimentos dramáticos, como a representação trágica.

Gabarito: E.

13. (EsPCEx – 2012) Em relação a esse mesmo fragmento, pode-se ainda afirmar que
a) trata da impotência do homem frente aos problemas do sertão e da cidade.
b) Severino representa todos os homens que são latifundiários.
c) reflete sobre as dificuldades que o homem encontra para trabalhar.
d) trata da temática que descarta a morte como solução para os problemas.
e) é um texto bem simples e poético sobre o significado do amor da época.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: incorreta. No sertão, não na cidade.
Alternativa B: incorreta. Pelo contrário: aqueles marginalizados, desfavorecidos.
Alternativa C: incorreta. Reflete sobre a condição de morrer cedo ante as adversidades regionais.
Alternativa D: correta – gabarito. É correta a opção D, pois as estrofes transcritas reproduzem a
resposta de mestre José aos conflitos de Severino que, descrente em alcançar condições mínimas de
sobrevivência, havia questionado se não seria preferível por fim à vida.
Alternativa E: incorreta. Não é um tema emotivo, mas sim objetivo. Trata-se da morte severina,
uma morte generalizada diante da condição de vulnerabilidade dos retirantes no sertão.

Gabarito: D.

14. (EsPCEx – 2012) Sobre a segunda fase do Modernismo no Brasil, é correto afirmar que
a) foi marcada pela exaltação da natureza, a volta ao passado histórico, o medievalismo e a criação do
herói nacional na figura do índio.
b) se caracterizou pela linguagem rebuscada, culta, extravagante; pela valorização do pormenor
mediante jogos de palavras.
c) representou um amadurecimento e um aprofundamento das conquistas da geração de 1922,
resultando em uma literatura mais construtiva e mais politizada.
d) se caracterizou por ser uma literatura meramente descritiva e, como tal, sem grande valor literário,
possuindo, portanto, somente interesse histórico.
e) seguiu os modelos clássicos greco-latinos e os renascentistas, retomando a mitologia pagã como
elemento estético.

Comentários
Questão teórica de conhecimento sobre o movimento literário.
Alternativa A: incorreta. Cuidado: essa é a 1ª geração do Romantismo e não do Modernismo.
Alternativa B: incorreta. Essas são características do Barroco e não do Modernismo.

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Alternativa C: correta – gabarito. Enquanto a geração de 22 estava preocupada com inovações


estilísticas, influenciados pelas vanguardas, e pela questão antropofágica, na tentativa de construção de
uma identidade nacional, a 2ª geração coincidiu com a Segunda Guerra Mundial.
Alternativa D: incorreta. Parecem ser aspectos do Quinhentismo, mas cuidado com absolutismos
como “meramente” e “somente”.
Alternativa E: incorreta. São características do Arcadismo e não do Modernismo.

Gabarito: C.

15. (EsPCEx – 2012) Sobre a narrativa de Clarice Lispector, pode-se afirmar que
a) se utiliza do fluxo de consciência, quebrando os limites espaço-temporais que tornam a obra
verossímil.
b) mostra a dor e o sofrimento da mulher sertaneja, castigada pela seca e pelo preconceito social e
cultural.
c) apresenta em sua obra recursos como o ritmo, aliterações, metáforas e imagens, retomando o
movimento concretista.
d) recria a própria língua portuguesa, utilizando-se de termos em desuso, bem como neologismos.
e) foi fortemente marcada pelo Simbolismo do séc. XIX, de cunho documental.

Comentários
Questão de conhecimento sobre autor e obra do cânone/conhecimento sobre o movimento
literário.
Alternativa A: correta – gabarito. O fluxo de consciência é uma técnica de representação dos
pensamentos dos personagens que costuma ser escrita em uma narrativa altamente subjetiva e não
linear. No Brasil, Clarice Lispector foi uma aperfeiçoadora desse método; na literatura universal, outros
nomes se juntam a ela, como Virginia Woolf E James Joyce.
Alternativa B: incorreta. Clarice Lispector é uma escritora da 2ª para a 3ª geração modernista e
não do romance de 30.
Alternativa C: incorreta. Ritmo e concretismo haveria se fosse poesia, mas Clarice Lispector
escreveu predominantemente prosa.
Alternativa D: incorreta. Quem utiliza neologismos da mesma geração modernista de Clarice
Lispector é outro escritor, Guimarães Rosa.
Alternativa E: incorreta. Ainda que fosse, o Simbolismo é antimaterialista e defende evasão da
realidade; logo, não é documental.

Gabarito: A.

16. (EsPCEx – 2011) Sobre a poesia da Segunda Geração modernista, é correto afirmar que
a) apresenta fortes características regionalistas, assim como a prosa do período.
b) valoriza as formas fixas, como o soneto, em detrimento à liberdade de expressão.
c) preocupa-se fundamentalmente com o sentido da existência humana.
d) apresenta forte tendência nacionalista e de crítica à realidade social brasileira.

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e) é essencialmente experimentalista e inovadora quanto a temas e formas de expressão.

Comentários
Questão teórica de conhecimento sobre o movimento literário.
Alternativa A: incorreta. A prosa regionalista é da Geração de 30, mas a poesia não manteve as
mesmas tendências. O que predominou na poesia desse período foi: crítica social, analisando a realidade
com profundidade, mas isso devido à Segunda Guerra Mundial
Alternativa B: incorreta. A vontade de ruptura formal é menos profunda, pois acompanham uma
estética dada na primeira fase do modernismo.
Alternativa C: correta – gabarito. Na poesia, surge a presença de traços de pessimismo e
individualismo e o aparecimento de poesia espiritualista, com temáticas filosóficas e religiosas. Na prosa,
por um lado, houve o romance de 30, de cunho mais regionalista, e por outro lado romances mais
psicológicos.
Alternativa D: incorreta. Não foi “forte tendência nacionalista”, mas sim regionalista.
Alternativa E: incorreta. Essa foi a primeira geração modernista e não a segunda.

Gabarito: C.

17. (EsPCEx – 2011) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES

CANÇÃO EXCÊNTRICA
1 Ando à procura de espaço
2 para o desenho da vida.
3 Em números me embaraço
4 e perco sempre a medida.
5 Se penso encontrar saída,
6 em vez de abrir um compasso,
7 projeto-me num abraço
8 e gero uma despedida.

9 Se volto sobre o meu passo,


10 é já distância perdida.

11 Meu coração, coisa de aço,


12 começa a achar um cansaço
13 esta procura de espaço
14 para o desenho da vida.
15 Já por exausta e descrida
16 não me animo a um breve traço:
17 – saudosa do que não faço
18 – do que faço, arrependida.
(Cecília Meireles)

Vocabulário
Excêntrico. 1.Que (se) desvia ou (se) afasta do centro. 2. Indivíduo original, extravagante, esquisito.

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Exausta. Esgotada.
Descrida. Descrente.

Nesse poema, a expressão “desenho da vida” significa


a) sentido da existência.
b) preservação das conquistas já feitas.
c) esboço de formas geométricas.
d) retrato de uma paisagem.
e) idade da poetisa.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: correta – gabarito. No sentido metafórico, isto é, conotativo, não literal.
Alternativa B: incorreta. Não são bem conquistas. Chega-se a se falar de sentimentos negativos:
despedidas e cansaços.
Alternativa C: incorreta. O eu lírico chega à conclusão de que não há cálculo exato para a vida.
Alternativa D: incorreta. É um poema mais sentimental do que descritivo. O eu lírico fala sobre seu
estado de espírito.
Alternativa E: incorreta. Não há informações suficientes para se afirmar nada quanto à faixa etária
da poetisa. Não é porque ela está refletindo sobre o sentido da existência que se pode partir do
pressuposto de que ela já está velha.

Gabarito: A.

18. (EsPCEx – 2011) O verso “para o desenho da vida” expressa uma circunstância de
a) tempo.
b) causa.
c) modo.
d) finalidade.
e) explicação.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; Gramática aplicada à Literatura e semântica.
Alternativa A: incorreta. Conjunções de tempo seriam: quando, enquanto, logo que, assim que,
depois que etc.
Alternativa B: incorreta. Conjunções de causa seriam: porque, uma vez que, como, posto que etc.
Alternativa C: incorreta. Segundo a Gramática Normativa, essa não seria uma classificação para
oração, mas sim para advérbio, o que não vem ao caso.
Alternativa D: correta – gabarito. Finalidade também como objetivo, sentido para a existência,
direcionamento. Aqui, a ideia semântica condiz com o sentido literário. “Ando à procura de espaço /para
o desenho da vida”: significa que o eu lírico procura espaço para algo específico, direcionando-se a algo
específico.

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Alternativa E: incorreta. Seriam orações coordenadas e não subordinadas, sendo suas conjunções:
porque, pois, que, porquanto.

Gabarito: D.

19. (EsPCEx – 2011) Em excêntrica, fora do centro, há uma ideia de ausência, exclusão, proveniente do
prefixo ex-. Nesse mesmo sentido, a palavra exangue, por exemplo, significa sem sangue. A palavra em
que ocorre a mesma situação é
a) exame.
b) hexadecimal.
c) exército.
d) extemporâneo.
e) exato.

Comentários
Outra questão que mistura Gramática, Interpretação de Texto e Literatura. Nesse
caso, era interessante também dominar um pouco de etimologia (origem das palavras)
e ter conhecimento sobre processo de formação de palavras. São esses os tópicos com
os quais dever-se-ia ter atenção.
O termo “excêntrico” por si também pode denotar algo que não é comum,
alguém que tem comportamento estranho, incomum; bizarro; extravagante; exótico
(dicionário Aulete).
Alternativa A: incorreta. A etimologia dessa palavra advém do latim: examen. “Ex-“ não é prefixo,
mas sim já faz parte da palavra.
Alternativa B: incorreta. Cuidado: o prefixo aqui é “hexa-“, relativo ao numeral seis, e não “ex-“,
prefixo que pode remeter à ideia de exterioridade ou também de anterioridade, algo que aconteceu no
passado. Exemplo: ex-namorada.
Alternativa C: incorreta. A etimologia dessa palavra advém do latim: exercĭtus. “Ex-“ não é prefixo,
mas sim já faz parte da palavra.
Alternativa D: correta – gabarito. Como o é caso da famosa obra do filósofo alemão Friedrich
Nietzsche: Considerações extemporâneas (1873). Outro termo no próprio poema que o eu lírico utiliza é:
“á por exausta e descrida”, mas aqui querendo dizer cansada, sem energia.
Alternativa E: incorreta. A etimologia dessa palavra advém do latim: exactus. O sentido original da
palavra é algo que é rejeitado, lançado fora, expulso.
Fonte Bibliográfica: CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário etimológico da língua portuguesa. 4. ed.
Rio de Janeiro: Lexicon, 2010.

Gabarito: D.

20. (EsPCEx – 2002) Considere o texto a seguir para responder às próximas cinco questões. Consistem
em exercícios de interpretação de texto.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 206


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No Retiro da Figueira
(Moacyr Scliar)
1º § Sempre achei que era bom demais. O lugar, principalmente. O lugar era... era maravilhoso.
Bem como dizia o prospecto: maravilhoso. Arborizado, tranquilo, um dos últimos locais – dizia o
anúncio – onde você pode ouvir um bem-te-vi cantar. Verdade: na primeira vez que fomos lá ouvimos
o bem-te-vi. E também constatamos que as casas eram sólidas e bonitas, exatamente como o
prospecto as descrevia: estilo moderno, sólidas e bonitas. Vimos os gramados, os parques, os pôneis,
o pequeno lago. Vimos o campo de aviação. Vimos a majestosa figueira que dava nome ao condomínio:
Retiro da Figueira.
2º § Mas o que mais agradou à minha mulher foi a segurança. Durante todo o trajeto de volta à
cidade – e eram uns bons cinquenta minutos – ela falou, entusiasmada, da cerca eletrificada, das torres
de vigia, dos holofotes, do sistema de alarmes – e sobretudo dos guardas. Oito guardas, homens fortes,
decididos – mas amáveis, educados. Aliás, quem nos recebeu naquela visita, e na seguinte, foi o chefe
deles, um senhor tão inteligente e culto que logo pensei: “ah, mas ele deve ser formado em alguma
universidade”. De fato: no decorrer da conversa ele mencionou – mas de maneira casual – que era
formado em Direito. O que só fez aumentar o entusiasmo de minha mulher.
3º § Ela andava muito assustada ultimamente. Os assaltos violentos se sucediam na vizinhança;
trancas e porteiros eletrônicos já não detinham os criminosos. Todos os dias sabíamos de alguém
roubado e espancado; e quando uma amiga nossa foi violentada por dois marginais, minha mulher
decidiu – tínhamos de mudar de bairro. Tínhamos de procurar um lugar seguro.
4º § Foi então que enfiaram o prospecto colorido sob nossa porta. Às vezes penso que se
morássemos num edifício mais seguro o portador daquela mensagem publicitária nunca teria chegado
a nós, e, talvez... Mas isto agora são apenas suposições. De qualquer modo, minha mulher ficou
encantada com o Retiro da Figueira. Meus filhos estavam vidrados nos pôneis. E eu acabava de ser
promovido na firma. As coisas todas se encadearam, e o que começou com um prospecto sendo
enfiado sob a porta transformou-se – como dizia o texto – num novo estilo de vida.
5º § Não fomos os primeiros a comprar casa no Retiro da Figueira. Pelo contrário; entre nossa
primeira visita e a segunda – uma semana após – a maior parte das trinta residências já tinha sido
vendida. O chefe dos guardas me apresentou a alguns dos compradores. Gostei deles: gente como eu,
diretores de empresa, profissionais liberais, dois fazendeiros. Todos tinham vindo pelo prospecto. E
quase todos tinham se decidido pelo lugar por causa da segurança.
6º § Naquela semana descobri que o prospecto tinha sido enviado apenas a uma quantidade
limitada de pessoas. Na minha firma, por exemplo, só eu o tinha recebido. Minha mulher atribuiu o
fato a uma seleção cuidadosa de futuros moradores – e viu nisso mais um motivo de satisfação. Quanto
a mim, estava achando tudo muito bom. Bom demais.
7º § Mudamo-nos. A vida lá era realmente um encanto. Os bem-te-vis eram pontuais: às sete da
manhã começavam seu afinado concerto. Os pôneis eram mansos, as aleias ensaibradas estavam
sempre limpas. A brisa agitava as árvores do parque – cento e doze, bem como dizia o prospecto. Por
outro lado, o sistema de alarmes era impecável. Os guardas compareciam periodicamente à nossa casa
para ver se estava tudo bem – sempre gentis, sempre sorridentes. O chefe deles era uma pessoa
particularmente interessada: organizava festas e torneios, preocupava-se com nosso bem-estar. Fez
uma lista dos parentes e amigos dos moradores – para qualquer emergência, explicou, com um sorriso
tranquilizador. O primeiro mês decorreu – tal como prometido no prospecto – num clima de sonho. De
sonho, mesmo.
8º § Uma manhã de domingo, muito cedo – lembro-me que os bem-te-vis ainda não tinham
começado a cantar – soou a sirene de alarme. Nunca tinha tocado antes, de modo que ficamos um

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pouco assustados – um pouco, não muito. Mas sabíamos o que fazer: nos dirigimos, em ordem, ao
salão de festas, perto do lago. Quase todos ainda de roupão ou pijama.
9º § O chefe dos guardas estava lá, ladeado por seus homens, todos armados de fuzis. Fez-nos
sentar, ofereceu café. Depois, sempre pedindo desculpas pelo transtorno, explicou o motivo da
reunião: é que havia marginais nos matos ao redor do Retiro e ele, avisado pela polícia, decidira pedir
que não saíssemos naquele domingo.
10º § – Afinal – disse, em tom de gracejo – está um belo domingo, os pôneis estão aí mesmo, as
quadras de tênis...
11º § Era mesmo um homem muito simpático. Ninguém chegou a ficar verdadeiramente
contrariado.
12º § Contrariados ficaram alguns no dia seguinte, quando a sirene tornou a soar de madrugada.
Reunimo-nos de novo no salão de festas, uns resmungando que era segunda-feira, dia de trabalho.
Sempre sorrindo, o chefe dos guardas pediu desculpas novamente e disse que infelizmente não
poderíamos sair – os marginais continuavam nos matos, soltos. Gente perigosa; entre eles, dois
assassinos foragidos. À pergunta de um irado cirurgião o chefe dos guardas respondeu que, mesmo de
carro, não poderíamos sair; os bandidos poderiam bloquear a estreita estrada do Retiro.
13º § – E vocês, por que não nos acompanham? – perguntou o cirurgião.
14º § – E quem vai cuidar da família de vocês? – disse o chefe dos guardas, sempre sorrindo.
15º § Ficamos retidos naquele dia e no seguinte. Foi aí que a polícia cercou o local: dezenas de
viaturas com homens armados, alguns com máscaras contra gases. De nossas janelas nós os víamos e
reconhecíamos: o chefe dos guardas estava com a razão.
16º § Passávamos o tempo jogando cartas, passeando ou simplesmente não fazendo nada.
Alguns estavam até gostando. Eu não. Pode parecer presunção dizer isto agora, mas eu não estava
gostando nada daquilo.
17º § Foi no quarto dia que o avião desceu no campo de pouso. Um jatinho. Corremos para lá.
18º § Um homem desceu e entregou uma maleta ao chefe dos guardas. Depois olhou para nós –
amedrontado, pareceu-me – e saiu pelo portão da entrada, quase correndo.
19º § O chefe dos guardas fez sinal para que não nos aproximássemos. Entrou no avião. Deixou
a porta aberta, e assim pudemos ver que examinava o conteúdo da maleta. Fechou-a, chegou à porta
e fez um sinal. Os guardas vieram correndo, entraram todos no jatinho. A porta se fechou, o avião
decolou e sumiu.
20º § Nunca mais vimos o chefe e seus homens. Mas estou certo que estão gozando o dinheiro
pago por nosso resgate. Uma quantia suficiente para construir dez condomínios iguais ao nosso – que
eu, diga-se de passagem, sempre achei que era bom demais.
(Os melhores contos. 2. Ed. São Paulo, Global, 1968.)

Sobre os “organizadores” do condomínio Retiro da Figueira pode-se dizer que


a) não tiveram muito trabalho em organizar o “empreendimento”.
b) sabiam que estariam lidando com pessoas ingênuas.
c) planejaram, meticulosamente, cada detalhe da ação.
d) provavelmente todos tinham curso superior, dada a habilidade deles.
e) de qualquer forma sairiam lucrando muito, pois receberiam pelas casas vendidas.

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Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Tiveram trabalho, envolveram pessoas e instituições.
Alternativa B: incorreta. Pelo contrário: os moradores eram selecionados, presumidamente
pessoas com status e boa remuneração: “Gostei deles: gente como eu, diretores de empresa, profissionais
liberais, dois fazendeiros.” Ao fim, também dialoga um cirurgião.
Alternativa C: correta – gabarito. O condomínio era estruturado com dois objetivos: o primeiro,
era uma aparência ideal de bem-estar, incluindo lazer, mas de forma que o ideal fosse permanecer ali,
não saindo sequer para trabalhar; segundo, a segurança. Faziam parecer que os moradores precisavam
de uma segurança contra um perigo externo quando na realidade até mesmo o perigo era um detalhe
planejado na ação.
Alternativa D: incorreta. Nem todos, foi apenas uma conjectura do narrador a princípio, ao que o
chefe respondeu: “De fato: no decorrer da conversa ele mencionou – mas de maneira casual – que era
formado em Direito.” Porém, sabendo ao final que se tratava de um esquema, até essa formação poderia
ter sido uma mentira.
Alternativa E: incorreta. Mesmo o final do conto não deixa isso claro. Cuidado,
pois a partir do trecho “Mas estou certo que estão gozando o dinheiro pago por nosso
resgate”, o termo grifado pode não corresponder a uma certeza, já que se trata de
narrador em primeira pessoa, portanto, nem sempre confiável. Com eles, é preciso
sempre manter a pulga atrás da orelha.

Gabarito: C.

21. (EsPCEx – 2002) “Foi aí que a polícia cercou o local: dezenas de viaturas com homens armados,
alguns com máscaras contra gases. De nossas janelas nós os víamos e reconhecíamos: o chefe dos
guardas estava com a razão.” (15º§)

Nessa passagem do conto, o narrador


a) refere-se ao fato de que havia conseguido ver e reconhecer os marginais que cercavam o
condomínio, conforme informado pelo chefe dos guardas.
b) confirma a informação previamente transmitida aos moradores pelo chefe dos guardas sobre a
chegada da polícia para efetuar a prisão dos marginais que cercavam o condomínio.
c) equivoca-se quando reconhece que “o chefe dos guardas estava com a razão.”
d) reconhece que o condomínio lhes proporciona toda a segurança, tanto que passavam o tempo
“jogando cartas, passeando ou simplesmente não fazendo nada.”
e) atesta a eficiência dos guardas do condomínio, que auxiliam o trabalho da polícia.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Cuidado, pois no trecho está escrito o seguinte: “víamos e
reconhecíamos”, isto é, consistem em verbos intransitivos. Ou seja, não sabemos exatamente o que foi

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visto nem reconhecido. Em “ver e reconhecer os marginais”, porque existe um objeto direto explícito há
também uma acusação a qual não se pode ter certeza apenas com as informações fornecidas.
Alternativa B: incorreta. Nenhuma informação foi previamente transmitida. O que foi solicitado
aos moradores foi que permanecessem em casa, mesmo sendo dia de trabalho. A justificativa foi a tomada
de uma medida de segurança.
Alternativa C: correta – gabarito. Não só ele: os moradores tinham sido enganados, tendo sido
tornados partes de uma tramoia.
Alternativa D: incorreta. O ócio não deliberado foi uma medida de segurança; foi forçado, não
era como se os moradores quisessem aquilo exatamente. Pelo contrário, o cirurgião a princípio
protestara.
Alternativa E: incorreta. É possível subentender que os guardas do condomínio estavam de
conluio justamente com a polícia. Isso porque os guardas cercaram o lugar com máscaras de gás, prevendo
um perigo muito maior do que realmente era o caso. Era como se quisessem, intencionalmente, provocar
medo nos habitantes, evitando com isso com que saíssem.

Gabarito: C.

22. (EsPCEx – 2002) “Oito guardas, homens fortes, decididos – mas amáveis, educados.” (2º§)

Em função do que se pode depreender da análise global do conto, os guardas tinham as características
a) adequadas ao padrão do condomínio e zelavam, com eficiência, pela segurança e bem-estar dos
moradores.
b) dissimuladoras de suas reais intenções e visavam não despertar qualquer desconfiança delas por
parte dos moradores.
c) pouco adequadas a homens que prestam tais serviços, mais eficazmente desempenhados por
homens brutos, grosseiros.
d) contraditórias, não sendo encontradas conjuntamente num mesmo indivíduo.
e) essenciais e que se mostraram decisivas quando da preservação da segurança dos moradores em
face do cerco dos marginais ao condomínio.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Os guardas tinham aparência amável demais, para além do respeito da
profissão. Ou seja, havia algo suspeito na conduta deles.
Alternativa B: correta – gabarito. Camuflavam suas intenções, justamente, por meio da
amabilidade excessiva.
Alternativa C: incorreta. Pelo contrário, até adequada, mas exagerada. O pressuposto indicado no
conto não é a de brutalidade ou grosseria, mas sim de que guardas supostamente deveriam ser mais
sérios do que de fato aparentavam.
Alternativa D: incorreta. Eram, sim, contraditórias, mas contradição não é um traço impeditivo no
indivíduo necessariamente.

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Alternativa E: incorreta. A segurança não foi preservada, mas, sim, pelo contrário, colocada em
jogo. É uma ironia: tentando fugir de um cenário em que a criminalidade estava aumentando, os
moradores se viram vítimas de um outro esquema, senão criminoso, no mínimo, suspeito.

Gabarito: B.

23. (EsPCEx – 2002) A alternativa em que o narrador demonstra certa desconfiança do tratamento
oferecido pelos guardas é
a) “Sempre sorrindo, o chefe dos guardas pediu desculpas novamente e disse que infelizmente não
podíamos sair – os marginais continuavam nos matos, soltos.” (12º§)
b) “Os guardas compareciam periodicamente à nossa casa para ver se estava tudo bem – sempre
gentis, sempre sorridentes.” (7º§)
c) “O chefe deles era uma pessoa particularmente interessada: organizava festas e torneios,
preocupava-se com nosso bem-estar.” (7º§)
d) “Minha mulher (...) viu nisso mais um motivo de satisfação. Quanto a mim, estava achando tudo
muito bom. Bom demais.” (6º§)
e) “Passávamos o tempo jogando cartas, passeando ou simplesmente não fazendo nada. Alguns
estavam até gostando.” (16º§)

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Por meio da oração subordinada reduzida de gerúndio – “sempre
sorrindo” – há apenas uma descrição, não um indicativo claro de desconfiança.
Alternativa B: incorreta. O que vai gerando a sensação de desconfiança do narrador, de fato, são
as afirmações reiteradas; porém, aqui apenas há narração do que está acontecendo e reiteração da
descrição dos guardas.
Alternativa C: incorreta. Aqui há meramente narração.
Alternativa D: correta – gabarito. Aqui há um posicionamento claro quanto à opinião do narrador.
Alternativa E: incorreta. Narra-se sobre a rotina dos moradores depois da medida de segurança.

Gabarito: D.

24. (EsPCEx – 2002) A alternativa que destaca a ironia do conto é


a) Na verdade, o conto “No Retiro da Figueira” contrasta a tranquilidade do campo com a agitação da
cidade.
b) As gentilezas e o tratamento de primeiríssima qualidade dispensados pelos guardas às famílias
contrariam a verdadeira relação entre empregadores e empregados.
c) O conto alude às várias maneiras gentis pelas quais o cidadão é vitimado no dia-a-dia, tais como
concessão indiscriminada de crédito pessoal, cartões personalizados e atitude do garoto que nos
sinaleiros limpa os vidros dos carros.
d) O sequestro civilizado e elegante traduz uma das formas de que se reveste atualmente a violência.

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e) Esta narrativa exemplifica o sequestro de final feliz, tão comum hoje, em que as vítimas saem
fisicamente ilesas.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Parte-se do pressuposto de que o lugar é afastado e que abarca vários
elementos naturais como pássaros, pôneis e aleias, mas não há dados conclusivos sobre isso. Talvez o
lugar ficasse longe a aparentasse ser no campo apenas por causa da trapaça: “Durante todo o trajeto de
volta à cidade – e eram uns bons cinquenta minutos – ela falou, entusiasmada” (grifo meu).
Alternativa B: incorreta. Não é bem “primeiríssima qualidade”, já que havia interesses de outra
ordem envolvidos.
Alternativa C: incorreta. Não há dados suficientes para se afirmar isso. São julgamentos
meramente extratextuais.
Alternativa D: correta – gabarito. Como sequestro relâmpago de pessoas selecionadas a dedo, mas
que proveem mais chance aos criminosos de ganharem resgate, por exemplo. Não é porque o condomínio
fornecia boa qualidade de vida e bem-estar que seus idealizadores não pudessem estar envolvidos
também em crimes. Há várias facetas do crime e ele chega a todas as classes da sociedade.
Alternativa E: incorreta. Não há final totalmente claro para o conto; paira ambiguidade, como é o
caso de quando o narrador não consegue completar a lacuna: “Às vezes penso que se morássemos num
edifício mais seguro o portador daquela mensagem publicitária nunca teria chegado a nós, e, talvez... Mas
isto agora são apenas suposições.”

Gabarito: D.

25. (EsPCEx – 2001) Considere o texto a seguir para responder às próximas cinco questões. Consistem
em exercícios de interpretação de texto.

NATAL
Rubem Braga
1°§ É noite de Natal, e estou só na casa de um amigo, que foi para a fazenda. Mais tarde talvez
saia. Mas vou me deixando ficar sozinho, numa confortável melancolia, na casa quieta e cômoda. Dou
alguns telefonemas, abraço à distância alguns amigos. Essas poucas vozes, de homem e de mulher, que
respondem alegremente à minha, são quentes, e me fazem bem. “Feliz Natal, muitas felicidades!”;
dizemos essas coisas simples com afetuoso calor; dizemos e creio que sentimos; e como sentimos,
merecemos. Feliz Natal!
2°§ Desembrulho a garrafa que um amigo teve a lembrança de me mandar ontem; vou lá dentro,
abro a geladeira, preparo um uísque, e venho me sentar no jardinzinho, perto das folhagens úmidas.
Sinto-me bem, oferecendo-me este copo, na casa silenciosa, nessa noite de rua quieta. Este jardinzinho
tem o encanto sábio e agreste da dona da casa que o formou. É um pequeno espaço folhudo e florido
de cores, que parece respirar; tem a vida misteriosa das moitas perdidas, um gosto de roça, uma alegria
meio caipira de verdes, vermelhos e amarelos.
3°§ Penso, sem saudade nem mágoa, no ano que passou. Há nele uma sombra dolorosa; evoco-a
neste momento, sozinho, com uma espécie de religiosa emoção. Há também, no fundo da paisagem
escura e desarrumada desse ano, uma clara mancha de sol. Bebo silenciosamente a essas imagens da

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morte e da vida; dentro de mim elas são irmãs. Penso em outras pessoas; sou um homem sozinho,
numa noite quieta, junto de folhagens úmidas, bebendo gravemente em honra de muitas pessoas.
4°§ De repente um carro começa a buzinar com força, junto ao meu portão. Talvez seja algum
amigo que venha me desejar Feliz Natal ou convidar para ir a algum lugar. Hesito ainda um instante;
ninguém pode pensar que eu esteja em casa a esta hora. Mas a buzina é insistente. Levanto-me com
certo alvoroço, olho a rua, e sorrio: é um caminhão de lixo. Está tão carregado, que nem se pode fechar;
tão carregado como se trouxesse todo o lixo do ano que passou, todo o lixo da vida que se vai vivendo.
Bonito presente de Natal!
5°§ O motorista buzina ainda algumas vezes, olhando uma janela do sobrado vizinho. Lembro-me
de ter visto naquela janela uma jovem mulata de vermelho, sempre a cantarolar e espiar a rua. É
certamente a ela quem procura o motorista retardatário; mas a janela permanece fechada e escura.
Ele movimenta com violência seu grande carro negro e sujo; parte com ruído, estremecendo a rua.
6°§ Volto à minha paz, e ao meu uísque. Mas a frustração do lixeiro e a minha também quebraram
o encanto solitário da noite de Natal. Fecho a casa e saio devagar; vou humildemente filar uma fatia
de presunto e de alegria na casa de uma família amiga.
Rio, dezembro de 1951

Assinale a afirmação correta quanto ao sentido global do texto.


a) sentimento de abandono pelo ser amado só o Natal, com toda a sua magia, consegue apagar.
b) Natal desperta nos seres humanos estados de espírito contraditórios.
c) A solidão natalina da personagem encerra em si um encanto tão sutil e frágil que pode quebrar-se
ao menor incidente.
d) Natal de que trata o texto é puramente material, pois acena para a bebida (uísque) e comida
(presunto).
e) Partilhar da alegria natalina em família na casa de amigos, definitivamente, acaba com a solidão
humana.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Ainda que um pouco confusa, preferi manter a alternativa do jeito que
estava. O conto narra casos em que as personagens, nem mesmo no Natal, são amadas. O protagonista
não se sabe bem o porquê, mas ele está envolvido numa aura de solidão. O lixeiro, porque sofre de um
amor platônico.
Alternativa B: incorreta. Não só o Natal, necessariamente. Até porque as situações agravadas ali,
naquele momento específico do Natal, desencadearam-se antes.
Alternativa C: correta – gabarito. O que se depreende do trecho: “Mas a frustração do lixeiro e a
minha também quebraram o encanto solitário da noite de Natal.”
Alternativa D: incorreta. Pelo contrário: as questões sofridas pelo protagonista e pelo lixeiro são
da ordem sentimental.
Alternativa E: incorreta. Cuidado com o absolutismo “absolutamente”. O protagonista só adota
essa medida como última opção.

Gabarito: C.

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26. (EsPCEx – 2001) No último parágrafo, o narrador fala: "Mas a frustração do lixeiro e a minha
também quebraram o encanto solitário da noite de Natal". No contexto, ele quis dizer que sua
frustração se devia ao fato de
a) lixeiro não ter visto a jovem mulata, e de ele, o narrador, não ter sido procurado por ninguém.
b) lixeiro ter buzinado com força junto ao portão, tirando-lhe a tranquilidade.
c) algum amigo ter pensado que ele estaria na casa àquela hora.
d) lixeiro estar dirigindo um grande carro negro e sujo.
e) lixeiro ter ficado frustrado.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: correta – gabarito. Se o protagonista se isola por vontade própria, ao menos, sente-
se melancólico. No fundo, quer estar com alguém, mas parece não se esforçar muito para alcançar esse
objetivo.
Alternativa B: incorreta. Não foi nem no seu portão que ele buzinou, mas sim no de uma vizinha.
Alternativa C: incorreta. Isso não seria frustração; pelo contrário, assim o protagonista seria
lembrado.
Alternativa D: incorreta. Esse era o trabalho do lixeiro.
Alternativa E: incorreta. Não foi só o lixeiro que ficou frustrado, o protagonista também, cada uma
à sua maneira.

Gabarito: A.

27. (EsPCEx – 2001) É válido afirmar que o texto


a) ressalta ideias contrárias (antitéticas), refletindo o desencanto, o descontentamento do narrador
diante dos acontecimentos, principalmente a melancolia acarretada pela solidão daquela noite.
b) reúne ideias opostas, mas simultâneas, como expressão dos elementos inseparáveis que constituem
o aspecto paradoxal que caracteriza o ser humano.
c) constitui uma metáfora, para exprimir a solidão que caracteriza a noite de Natal de um homem
solitário.
d) retrata a futilidade de que se revestem as festas tradicionais e a falsidade que norteia o
relacionamento humano.
e) confronta o mundo real com o idealizado, ressaltando a transitoriedade da vida, que, para o
narrador, compara-se a um caminhão de lixo que passa inexorável, independente de nossa vontade.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. A antítese é uma figura de linguagem que ocorre quando há a presença
de termos de sentidos opostos numa mesma oração. A melancolia é acarretada por fatos que se iniciaram
antes daquela noite; ela só foi realçada por aquela noite em si.

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Alternativa B: correta – gabarito. O paradoxo é uma figura de linguagem que ocorre quando são
apresentadas ideias de sentidos opostos formando um todo de sentido, ou seja, é uma expressão formada
por palavras cujos significados são aparentemente excludentes. Pode ser observado no trecho: “Bebo
silenciosamente a essas imagens da morte e da vida; dentro de mim elas são irmãs.”
Alternativa C: incorreta. A metáfora é uma figura de linguagem. É uma comparação subentendida:
emprega-se um termo com significado de outro a partir da semelhança entre ambos. No fim do conto, o
protagonista decidir ir para a casa de uma família amiga. Porém, a ironia é que antes disso já não estava
sozinho: desde a chegada do lixeiro.
Alternativa D: incorreta. Não é esse o tom destacado pelo conto. Pelo contrário: ocasiões festivas,
sobretudo aquelas de final de ano, tendem a gerar no ser humano pensamentos autorreflexivos quanto
ao seu desempenho naquele ano especificamente.
Alternativa E: incorreta. Até chega a pensar na transitoriedade da vida. No fim, o protagonista
chega a um balanço da vida, mas essa reflexão não se metaforiza no caminhão. O caminhão de lixo é uma
contingência, passou ali porque tinha que passar, era a função dele, mesmo na noite de Natal.

Gabarito: B.

28. (EsPCEx – 2001) Segundo o texto, o narrador


a) mostra-se saudoso e feliz com as suaves lembranças do ano que se encerrava.
b) utiliza os fatos passados como pretexto para divagação pessoal.
c) manifesta tristeza e ressentimento, pois só acumulou "lixo", numa vida cheia de solidão.
d) está preocupado com a realidade, principalmente com a presença constante da morte.
e) se acha sozinho na casa de um amigo, porque é noite de Natal.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Não só as feliz, mas as tristes também.
Alternativa B: correta – gabarito. E faz do Natal, ainda mais passado sozinho, uma ocasião
pertinente para reflexões de ordem pessoal.
Alternativa C: incorreta. Tanto é que se trata apenas de uma conjectura, uma hipótese e não uma
afirmação: “tão carregado como se trouxesse todo o lixo do ano que passou” (grifo meu).
Alternativa D: incorreta. Não é uma presença constante. Parece mais preocupada com o passado
na realidade.
Alternativa E: incorreta. Os fatos não se relacionam no sentido de causa e consequência. O
protagonista quis, intencionalmente, ficar sozinho naquela casa no Natal. Quer ficar sozinho para se
perder em seus pensamentos.

Gabarito: B.

29. (EsPCEx – 2001) No texto, pode-se perceber uma leve ironia na seguinte passagem:
a) "É noite de Natal, e estou só na casa de um amigo..." (1°§)
b) "Bonito presente de Natal!" (4°§)

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c) "Mais tarde talvez saia." (1°§)


d) "Feliz Natal, muitas felicidades!" (1°§)
e) "Este jardinzinho tem o encanto sábio e agreste da dona que o formou." (2°§)

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/identificação de trechos.
Alternativa A: incorreta. Trata-se da narração.
Alternativa B: correta – gabarito. A ironia é tanto uma figura de linguagem quanto um efeito de
texto que ocorre quando se diz o oposto do que se quer dizer. Geralmente, lixo costuma ser algo
repugnante, nojento, repulsivo e não bonito.
Alternativa C: incorreta. Consiste em uma hipótese. O narrador não sabe se se entrega totalmente
à divagação ou se decide por passar no Natal festejando.
Alternativa D: incorreta. Esses são os votos de felicidade na ocasião festiva do Natal.
Alternativa E: incorreta. Parte da descrição do protagonista quanto ao lugar físico onde ele estava.

Gabarito: B.

30. (EsPCEx – 2001) Considere o texto a seguir para responder às próximas três questões. Consistem
em exercícios de interpretação de texto.

Coração Segundo
Carlos Drummond de Andrade
1º § — DE ACRÍLICO, de fórmica, de isopor, meticulosamente combinados, fiz meu segundo
coração, para enfrentar situações a que o primeiro, o de nascença, não teria condições de resistir.
Tornei-me, assim, homem de dois corações. A operação sigilosa foi ignorada pelos repórteres. Eu
mesmo fabriquei meu coração novo, nos fundos da casa onde moro. Nenhum vizinho desconfiou,
mesmo porque sabem que costumo fechar-me em casa, semanas inteiras, modelando bonecos de
barro ou de massa, que depois ofereço às crianças. Oferecia. Meus bonecos não têm arte, representam
o que eu quero. Fiz um Einstein que acharam parecido com Lampião. Para mim, era Einstein. Os garotos
riam, tentando adivinhar que tipos eu interpretara. Carlito! Não era. Às vezes, não sei por quê, admitia
fosse Carlito. Nunca dei importância a leis de semelhança e verossimilhança, que sufocam toda espécie
de criação.
2º § Mas, como disse, fiz meu coração sem ninguém saber. E à noite, em perfeita lucidez, abrindo
o peito mediante processo que não vou contar, pois minha descrição talvez horrorizasse o leitor, e eu
não pretendo horrorizar ninguém — abrindo o peito, instalei lá dentro esse coração especial, regulado
para não sofrer. Ao mesmo tempo, desliguei o outro. Como? Também prefiro não explicar. Possuo
extrema habilidade manual, aguçada à noite, e sei o que geralmente se sabe dos órgãos do corpo e
suas funções e reações, depois que ficou na moda tratar dessas coisas em jornais e revistas. Além disso,
minha capacidade de resistir à dor física sempre foi praticamente ilimitada. Desde criança. Mas as
dores morais, as dores alheias, as dores do mundo, acima de tudo, estas sempre me vulneraram.
Recompus a incisão, senti que tudo estava perfeito, e fui dormir.
3º § Na manhã seguinte, ao ler as notícias que falavam em fome no Paquistão, guerra civil na
Irlanda, soldados que se drogam no Vietnã para esquecer o massacre, explosão experimental de
bombas de hidrogênio, tensão permanente no Canal de Suez, golpes vitoriosos ou malogrados na

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América Latina, bem, não senti absolutamente nada. O coração funcionava a contento. Fui para o
trabalho experimentando sensação inédita de leveza. No caminho, vi um corpo de homem e outro de
mulher estraçalhados entre restos de um automóvel. Pela primeira vez pude contemplar um
espetáculo desses sem me crispar e sem envenenar o meu dia. Fitei-o como a objetos de uma casa
expostos na calçada, em hora de mudança. E passei um dia normal. Trabalho, refeições, sono,
igualmente normais, coisa que não acontecia há anos.
4º § Meu coração fora planejado para evitar padecimento moral, e desempenhava bem a função.
Assisti impassível a cenas que antes me fariam explodir em lágrimas ou protestos. Felicitei-me pela
excelência. Mas aí começou a ocorrer um fenômeno desconcertante. Eu, que não sofria com as
doenças que me assaltavam, passei a sentir reflexos de moléstias inexistentes. Simples corte no dedo,
sem inflamação, afligia-me como chaga aberta. Dor de cabeça que passa com um comprimido ficava
durante semanas. Meu corpo tornou-se frágil, exposto ao sofrimento. E eu não tinha nada. Consultei
especialistas. Fiz checkup, não se descobriu qualquer lesão ou distúrbio funcional. Eram apenas
imotivadas, gratuitas. Meu coração nº 2 passava pela radiografia sem ser percebido. Irredutível à dor
moral, era invisível a aparelhos de precisão.
5º § Comecei a sofrer tanto com os meus males carnais que a vida se tornou insuportável. A dor
aparecia especialmente em horas impróprias. Em reuniões sociais. Em concertos. No escritório, ao
tratar de negócios. Então fazia caretas, emitia gemidos surdos, assumindo aspecto feroz. Assustavam-
se, queriam chamar ambulância, eu recusava. Tinha medo de que descobrissem o coração fabricado.
6º § Outra coisa: as crianças começaram a achar estranhos meus bonecos, não queriam aceitá-
los. Sempre gostei de crianças. E elas me repeliam. Esmerei-me na feitura de peças que pudessem
cativá-las, mas em vão.
7º § Hoje vi um homem encostado a um oiti, diante do mar. Sua expressão de angústia dava ao
rosto o aspecto de chão ressecado. Tive pena dele. Surpreso, ignorando tudo a seu respeito, mas
participando de sua angústia e trazendo-a comigo para casa.
8º § Agora à noite, decidi-me. Voltei a abrir o peito e examinei o coração segundo. Com pequena
fissura no isopor, já não era perfeito. Ao tocá-lo, as partes se descolaram. Inútil restaurá-lo. Joguei fora
os restos, liguei o antigo e fechei o cavername. Talvez pela falta de uso, sinto que o coração velho está
rateando. Que fazer? E vale a pena fazer? A manhã tarda a chegar, e não encontro resposta em mim.

Quanto ao narrador, pode-se afirmar que:


a) como ele confeccionava bonecos perfeitos, foi sempre benquisto pelas crianças.
b) a vida dele tornou-se insuportável em consequência de problemas políticos.
c) muito se angustiava por males e sofrimentos alheios.
d) plenamente convicto de suas ações, no final voltou a viver com seu coração de nascença, em perfeito
estado de saúde.
e) seu corpo, com o segundo coração, tornou-se frágil em decorrência de distúrbios hormonais.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Não são perfeitos, tanto é que havia inicialmente dificuldade em se
discernir quem o protagonista estava retratando nos bonecos. E não sempre foi benquisto pelas crianças;
ele sempre gostou de crianças, mas a recíproca não é verdadeira, como é dito no sexto parágrafo: “Sempre
gostei de crianças. E elas me repeliam.”.

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Alternativa B: incorreta. Não só geopolíticos: “Mas as dores morais, as dores alheias, as dores do
mundo, acima de tudo, estas sempre me vulneraram.” (§ 2º).
Alternativa C: correta – gabarito. Literalmente, tomava as dores dos outros para ri, como quando ao
fim do conto vê um homem na praia que acha que está angustiado.
Alternativa D: incorreta. Não estava convicto, no fim do conto lança uma série de questionamentos,
nem seu coração antigo estava em pleno estado: “Talvez pela falta de uso, sinto que o coração velho está
rateando. Que fazer? E vale a pena fazer?”.
Alternativa E: incorreta. Não há dados suficientes para se afirmar isso.

Gabarito: C.

31. (EsPCEx – 2001) "... modelando bonecos de barro ou de massa, que depois ofereço às crianças.
Oferecia." A mudança de tempo verbal tem o seguinte significado:
a) o narrador antecipa uma cessação de ação, que se confirmará no decorrer da narrativa.
b) o pretérito imperfeito refere-se ao momento em que o narrador vai estar com o segundo coração.
c) já, antes da operação, encerrou-se a ação.
d) o narrador não fez mais os bonecos a partir da instalação do novo coração.
e) indicar que todos os fatos narrados pertencem ao passado.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: correta – gabarito. A mudança da conjugação do tempo verbal do presente para o
pretérito imperfeito denota uma mudança. As coisas antes aconteciam de uma maneira que já não mais
acontecem, como se antes o estado delas fosse melhor.
Alternativa B: incorreta. Não necessariamente, mas sim ao momento em que ele deixa de produzir
bonecos para os outros e passou a produzir um segundo coração para si mesmo.
Alternativa C: incorreta. Demonstra uma mudança no comportamento do protagonista.
Alternativa D: incorreta. Até no sexto parágrafo o protagonista ainda fazia bonecos, como tudo
indica, cada vez piores: “Outra coisa: as crianças começaram a achar estranhos meus bonecos, não
queriam aceitá-los.”
Alternativa E: incorreta. Nem todos, há alguns também no presente.

Gabarito: A.

32. (EsPCEx – 2001) Quanto ao significado global do texto:


a) não está na ciência nem na tecnologia, ainda que levadas a um desenvolvimento extremo, o fim do
sofrimento humano.
b) a insensibilidade do autor perante as desgraças do mundo é o resultado do transplante de coração
a que se submeteu.
c) o hábito de fechar-se em casa foi a maneira eficaz encontrada pelo escritor para fugir à exposição
dos perigos da vida.

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d) substituindo o coração de carne por outro artificial, o autor conseguiu atingir seu objetivo: evitar
padecimento moral.
e) ao se descolarem as partes do coração segundo, o homem ainda assim não se deu conta da
fragilidade desse órgão.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: correta – gabarito. Atenção: faz parte da produção madura de Carlos Drummond
de Andrade, tanto na poesia quanto na prosa, criticar as promessas frustradas da ciência. Isso por causa
do engajamento social e do enfrentamento da experiência da Segunda Guerra Mundial. Na poesia,
destaca-se o soneto “A ingaia ciência”, presente em Claro enigma (1951). Ingaia significa infeliz. Também
no conto acima observa-se crítica semelhante: “Meu coração nº 2 passava pela radiografia sem ser
percebido. Irredutível à dor moral, era invisível a aparelhos de precisão.” Não deixa de ser, no plano maior,
a crítica continuada do Modernismo ao cientificismo (entusiasmo cego para com a ciência) do século XIX.
Alternativa B: incorreta. Pelo contrário: é a sensibilidade extremada.
Alternativa C: incorreta. Ele chega à radicalidade de criar artesanalmente para si um coração
novo, já que antes costumava produzir bonecos, ainda que não ideais.
Alternativa D: incorreta. Ele não atinge seus objetivos, tanto é que termina o conto numa
perspectiva pessimista: “A manhã tarda a chegar, e não encontro resposta em mim.”
Alternativa E: incorreta. O protagonista julgava que desde criança já se sentia frágil: “Além disso,
minha capacidade de resistir à dor física sempre foi praticamente ilimitada. Desde criança.”

Gabarito: A.

33. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 4º Simulado EsPCEx
2021)

Os Ombros Suportam o Mundo


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios

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provam apenas que a vida prossegue


e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Carlos Drummond de Andrade, Poesia e Prosa, em um volume. 7ª ed. –
Aparecida, Editora Nova Aguilar, 1992., pp. 67/68.

Entre as afirmações abaixo, pode-se depreender que o poema acima pode se classificar na fase
a) eu maior que o mundo, com consciência por parte do eu lírico, porém, distanciamento social, bem
como descaso e indiferença com a realidade.
b) social, em que o eu lírico manifesta interesse pelo seu tempo e problemas cotidianos, buscando
solidariedade diante das frustrações humanas.
c) gauche, do francês, direito, uma fase na vida do modernista Carlos Drummond de Andrade que ele
se envolveu na política.
d) eu menor que o mundo, quando o eu lírico adota uma visão pessimista e sabe que nada pode fazer
contra a força maior da sociedade.
e) eu igual ao mundo, em que o eu lírico encontra-se prostrado e resignado e desiste de tentar
convencer por meio do tom crítico.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: incorreta. Não é descaso tampouco indiferença. Ele revela profunda preocupação
social, falando de um tempo em que se sofria tanto que os homens não sabiam mais como chorar; não
havia mais crença. A vida era uma necessidade pura, imediata.
Alternativa B: correta – gabarito. Por meio do conectivo de adversidade “mas”, nos versos “mas
na sombra teus olhos resplandecem enormes. /És todo certeza, já não sabes sofrer”, o eu lírico demonstra
que não está representando “só um lado da moeda”, só o pessimismo. É preciso retomar a crença na vida
como direito humano universal para suportar os sofrimentos imediatos. A vida é maior do que tudo; ela
superará tudo.
Alternativa C: incorreta. É contrário: gauche do francês significa errado, torto, esquerdo.
Alternativa D: incorreta. Cuidado: embora retrate muita dor e sofrimento, a visão de mundo final
do poema não pessimista.
Alternativa E: incorreta. Não é resignado e o tom do poema é extremamente crítico.

Gabarito: B.

34. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 4º Simulado EsPCEx
2021)

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Desde pequeno, tive tendência para personificar as coisas. Tia Tula, que achava que mormaço fazia
mal, sempre gritava: “Vem pra dentro, menino, olha o mormaço!” Mas eu ouvia o mormaço com M
maiúsculo. Mormaço, para mim, era um velho que pegava crianças! Ia pra dentro logo. E ainda hoje,
quando leio que alguém se viu perseguido pelo clamor público, vejo com estes olhos o Sr. Clamor
Público, magro, arquejante, de preto, brandindo um guarda-chuva, com um gogó protuberante que se
abaixa e levanta no excitamento da perseguição. E já estava devidamente grandezinho, pois devia
contar uns trinta anos, quando me fui, com um grupo de colegas, a ver o lançamento da pedra
fundamental da ponte Uruguaiana-Libres, ocasião de grandes solenidades, com os presidentes Justo e
Getúlio, e gente muita, tanto assim que fomos alojados os do meu grupo num casarão que creio fosse
a Prefeitura, com os demais jornalistas do Brasil e Argentina. Era como um alojamento de quartel, com
breve espaço entre as camas e todas as portas e janelas abertas, tudo com os alegres incômodos e
duvidosos encantos de uma coletividade democrática. Pois lá pelas tantas da noite, como eu
pressentisse, em meu entredormir, um vulto junto à minha cama, sentei-me estremunhado* e olhei
atônito para um tipo de chiru**, ali parado, de bigodes caídos, pala pendente e chapéu descido sobre
os olhos. Diante da minha muda interrogação, ele resolveu explicar-se, com a devida calma:
– Pois é! Não vê que eu sou o sereno...
Mário Quintana, As cem melhores crônicas brasileiras.
Glossário:
*estremunhado: mal acordado.
**chiru: que ou aquele que tem pele morena, traços acaboclados (regionalismo: Sul do Brasil).

Quanto ao trecho, é correto afirmar que


a) o efeito de texto causado é o humor, dada a interpretação infantil.
b) a técnica literária utilizada é a 3ª pessoa, com foco narrativo na Tia Tula.
c) a etapa de vida mais importante para o narrador é seu emprego como arquiteto.
d) a forma predominante no trecho acima é o romance, um texto em prosa.
e) o autor utiliza a mitologia clássica, pois associa o sono a Morfeu.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: correta – gabarito. O conto é centrado na narrativa em 1ª pessoa do singular. Trata-
se de uma memória de infância narrada na fase adulta. A criança confunde o que ouviu e acha que
“Mormaço” com a letra maiúscula é uma pessoa real. A experiência de infância irá persegui-lo como uma
espécie de trauma na vida adulta, quando ele acha que viu o “Sereno”. Inclusive, consegue imaginar
características físicas para esses personagens.
Alternativa B: incorreta. O foco é em 1ª pessoa, o que podemos depreender já desde o início do
texto a partir da desinência verbal em “tive” e do sujeito explícito em “Mas eu ouvia”.
Alternativa C: incorreta. Não há dados suficientes para se afirmar isso.
Alternativa D: incorreta. Cuidado: é prosa; porém, não é romance, mas, sim, crônica.
Alternativa E: incorreta. A única alusão clara é “em meu entredormir”. Nesse momento, o que o
narrador teme é o sereno.

Gabarito: A.

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Profa. Luana Signorelli

35. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 5º Simulado EsPCEx
2021)

Ter uma casca é dar-se. – O ovo desnuda a cozinha. Faz da mesa um plano inclinado. O ovo expõe.
– Quem se aprofunda num ovo, quem vê mais do que a superfície do ovo, está querendo outra coisa:
está com fome.
O ovo é a alma da galinha. A galinha desajeitada. O ovo certo. A galinha assustada. O ovo certo.
Como um projétil parado.
LISPECTOR, Clarice. O ovo e a galinha.
Disponível em: https://tinyurl.com/y7zjxy3g. Acesso em: 05 jun. 2020.

O fragmento, extraído da obra de Clarice Lispector, apresenta


a) personagem perturbada psicologicamente, cuja esquizofrenia faz com que ela converse consigo
mesma por diálogos interiores.
b) a descrição de uma cena cotidiana, em que a personagem vai almoçar, mas percebe que em casa
falta comida.
c) o contraste inevitável entre criação e criatura, sendo que a galinha é exposta em detrimento do ovo.
d) linguagem metafórica, à medida que o sentido é construído a partir de construções literais e
objetivas.
e) reflexão filosófica e metafísica quanto à dialética entre essência e aparência, bem como acerca da
origem do universo.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: incorreta. Não há dados suficientes para se afirmar que ela é esquizofrênica.
Cuidado: o fato de o trecho apresentar travessões dentro da prosa não significa necessariamente
representação do discurso direto, mas sim do monólogo interior (e não diálogo). Trata-se de uma técnica
utilizada por Clarice Lispector.
Alternativa B: incorreta. Não era necessário conhecer o enredo, mas não é almoço exatamente. O
conto se inicia com o seguinte trecho: “De manhã na cozinha sobre a mesa vejo o ovo”, cena a partir da
qual é motivada a elucubração da personagem. Logo, não falta comida em casa.
Alternativa C: incorreta. Cuidado com os absolutismos: “inevitável.” Além disso, era uma questão
de semântica: a expressão “em detrimento de” significa desvantagem do segundo em relação ao primeiro.
Era preciso prestar atenção à ordem. Aparentemente, a galinha está sendo retratada em desvantagem,
embora, ao mesmo tempo, o ovo seja a alma dela. O que se quer dizer é que a criação é mais potente do
que quem a cria; porém, ambos estão numa relação visceral.
Alternativa D: incorreta. Atenção: é justamente o contrário. A linguagem metafórica é conotativa
e não literal. Clarice Lispector é extremamente subjetiva e não objetiva. O texto está repleto de figuras de
linguagem, por exemplo, o paradoxo: “um projétil parado”.
Alternativa E: correta – gabarito. A metáfora do núcleo e da casca, do exterior e do interior e até
mesmo da criação e do criador remete a um traço metalinguístico (a linguagem falando dela mesma), o
que é frequentemente utilizado pela modernista Clarice Lispector.

Gabarito: E.

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36. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 6º Simulado EsPCEx
2021)

15 de julho de 1955
Aniversário da minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela. Mas o custo
dos generos alimenticios nos impede a realização dos nossos desejos. Atualmente somos escravos do
custo de vida. Eu achei um par de sapatos no lixo, lavei e remendei para ela calçar.

Em termos de gênero textual, o trecho acima consiste em um(a)


a) romance de cavalaria.
b) romance histórico.
c) conto humorístico.
d) peça teatral.
e) entrada de diário.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento de autor e obra do cânone e teoria
literária.
Alternativa A: incorreta. As novelas de cavalaria são um gênero narrativo tipicamente medieval.
Em geral de autor desconhecido, são resultado da transformação das canções de gesta, poemas que
narravam heroicas aventuras de cavaleiros andantes.
Alternativa B: incorreta. O romance histórico é um tipo de romance que utiliza personagens
históricas e representa diversas classes sociais, das mais altas às mais baixas. Exemplo: Guerra e Paz do
russo Tolstói, cuja uma das personagens é Napoleão.
Alternativa C: incorreta. O conto é uma prosa mais breve que o romance. Pode ter várias vertentes:
filosófica, humorística etc. Porém, é dividido geralmente em capítulos e não em entradas.
Alternativa D: incorreta. Uma peça de teatro é baseada no drama, isto é, na ação. O texto é escrito
em forma de falas de personagens.
Alternativa E: correta – gabarito. O diário é um gênero de registro pessoal que relata os fatos do
cotidiano, como o aniversário da filha, por exemplo. Geralmente, é expresso pela primeira pessoa do
discurso.

Gabarito: E.

37. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2º Simulado Exclusivo
Inédito EsPCEx 2021)

Os vazios do homem
Os vazios do homem não sentem ao nada
do vazio qualquer: do casaco vazio,
do da saca vazia (que não ficam de pé

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quando vazios, ou o homem com vazios);


os vazios do homem sentem a um cheio
de uma coisa que inchasse já inchada;
ou ao que deve sentir, quando cheia,
uma saca: todavia não, qualquer saca.
Os vazios do homem, esse vazio cheio,
não sentem ao que uma saca de tijolos,
uma saca de rebites; nem têm o pulso
que bate numa de sementes, de ovos.

Os vazios do homem, ainda que sintam


a uma plenitude (gora mas presença)
contêm nadas, contêm apenas vazios:
o que a esponja, vazia quando plena;
incham do que a esponja, de ar vazio,
e dela copiam certamente a estrutura:
toda em grutas ou em gotas de vazio,
postas em cachos de bolha, de não-uva.
Esse cheio vazio sente ao que uma saca
mas cheia de esponjas cheias de vazio;
os vazios do homem ou o vazio inchado:
ou vazio que inchou por estar vazio.
MELO NETO, João Cabral de. A educação pela pedra e outros poemas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008 (p. 251).

Nesse poema, o escritor modernista João Cabral de Melo Neto revela que
a) mesmo um nada pode estar contido em um vazio, desde que ele represente comida para preencher
o estômago.
b) os vazios do homem podem ser tanto físicos quanto metafóricos, mas, principalmente,
personificados.
c) o vazio é um ser orgânico como uma esponja, bem como a comparação estabelecida com o cacho
de uva.
d) o homem oitocentista está saturado de sua realidade social, o que ele acaba por transpor para o
plano existencial.
e) os sacos vazios de uma obra de construção são o cimento necessário para que a construção espiritual
do homem aconteça.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: incorreta. Um nada por estar mesmo contido no vazio, o que seria um paradoxo. As
comidas aludidas também entram no jogo entre abundância e falta. Porém, não é uma relação de
condição.
Alternativa B: correta – gabarito. Físicos como um casaco vazio, por exemplo, e metafóricos como
um vazio existencial. O que é interessante de se notar no poema é que esse vazios sentem, isto é, são
dotados de qualidades humanas, como os sentimentos. Logo, são personificados e a eles é conferida uma

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 224


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grande importância. Notem também que “vazios” está no plural, justamente para abarcar a sua
polissemia.
Alternativa C: incorreta. Na verdade, o eu lírico menciona “cachos de bolha, de não-uva”.
Alternativa D: incorreta. João Cabral de Melo Neto é um escritor modernista (como o próprio
comando já diz); portanto, do século XX e não XIX. Cuidado: o termo “oitocentismo” se remete ao século
XIX (1800) e não ao XVIII.
Alternativa E: incorreta. O poema nem menciona obra de construção, nem cimento e ainda
necessário.

Gabarito: B.

38. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 1ª Rodada Avançada
de Simulados Chivunk EsPCEx 2021) Quanto à segunda fase modernista brasileira, julgue os itens a
seguir.

I. Embora tenha escrito um romance chamado “O quinze”, essa obra de Rachel de Queiroz é
representativa do romance de 30.
II. O protagonista de “São Bernardo” de Graciliano Ramos é Paulo Honório, um homem atormentado
que se envolve com Madalena.
III. A principal técnica de Clarice Lispector são os neologismos, ou seja, palavras inventadas.
IV. No plano da poesia, predominou com seu estilo mais concreto e objetivo João Cabral de Melo Neto.

A sequência correta de itens é:


a) I e II.
b) I e III.
c) I, II e III.
d) I, II e IV.
e) I, II, III e IV.

Comentários
Questão de julgar itens/conhecimento do movimento literário.
Afirmação I: correta. Atenção para não confundir os números. “O quinze” é regionalista e pode ser
enquadrado na denúncia social que caracterizava o romance de 30.
Afirmação II: correta. Paulo Honório inclusive usa a escrita do romance como uma oportunidade
de rememorar a sua vida.
Afirmação III: incorreta. Cuidado: o neologismo é uma técnica utilizada por Guimarães Rosa e não
Clarice Lispector, cuja principal técnica foi o fluxo de consciência. Além disso, ela foi uma escritora que
transitou da segunda para a terceira geração modernista.
Afirmação IV: correta. O autor escreveu, por exemplo, “Morte e vida severina”, e além disso
completa centenário nesse ano.

Gabarito: D.

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39. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3ª Rodada Avançada
de Simulados Chivunk EsPCEx 2021)

Mas era primavera, e, apertando o punho no bolso do casaco, ela mataria aqueles macacos em
levitação pela jaula, macacos felizes como ervas, macacos se entrepulando suaves, a macaca com olhar
resignado de amor, e a outra macaca dando de mamar. Ela os mataria com quinze secas balas: os
dentes da mulher se apertaram até o maxilar doer. A nudez dos macacos. O mundo que não via perigo
em ser nu. Ela mataria a nudez dos macacos. Um macaco também a olhou segurando as grades, os
braços descarnados abertos em crucifixo, o peito pelado exposto sem orgulho. Mas não era no peito
que ela mataria, era entre os olhos do macaco que ela mataria, era entre aqueles olhos que a olhavam
sem pestanejar. De repente a mulher desviou o rosto: é que os olhos do macaco tinham um véu branco
gelatinoso cobrindo a pupila, nos olhos a doçura da doença, era um macaco velho – a mulher desviou
o rosto, trancando entre os dentes um sentimento que ela não viera buscar, apressou os passos, ainda
voltou a cabeça espantada para o macaco de braços abertos: ele continuava a olhar para a frente. “Oh
não, não isso”, pensou.
LISPECTOR, Clarice. Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

Uma das principais características da prosa de Clarice Lispector é:


a) intimismo.
b) neologismo.
c) diálogo.
d) engajamento.
e) futurismo.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: correta – gabarito. Clarice Lispector é uma escritora da segunda/terceira geração
modernista que no ano de 2020 completa centenário. Sua prosa é essencialmente intimista e subjetiva,
nesse sentido, aproximando-se da de Lygia Fagundes Telles. É um trecho do conto “O búfalo”.
Alternativa B: incorreta. Cuidado: característica de outro escritor da mesma geração modernista
que ela: Guimarães Rosa.
Alternativa C: incorreta. Por si só não uma característica, até porque no trecho acima não há
discurso direto, mas sim fluxo de consciência.
Alternativa D: incorreta. Clarice Lispector é uma escritora mais preocupada na representação de
sentimentos interiores, na metalinguagem e na técnica literária.
Alternativa E: incorreta. Vanguarda da primeira geração modernista ligada à defesa de máquinas
e guerras. Não é o caso.

Gabarito: A.

40. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 1o Simulado 2022)

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 226


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“– Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em
árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha
mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem
ser – se viu –; e com máscara de cachorro. Me disseram; eu não quis avistar. Mesmo que, por defeito
como nasceu, arrebitado de beiços, esse figurava rindo feito pessoa. Cara de gente, cara de cão:
determinaram – era o demo.”

A partir do excerto, é correto afirmar que


a) o relato é narrado objetivamente a partir de um narrador externo, que conta como um sertanejo
desejava atirar em um animal.
b) há mescla entre estilo objetivo e subjetivo, sendo que o protagonista foi alertado pelos moradores
locais sobre um animal vigoroso que nasceu.
c) é um texto predominantemente subjetivo. Era costume do protagonista atirar em árvores desde a
mocidade, o que ele fazia quando foi alertado sobre um animal insólito.
d) a descrição se impõe hierarquicamente sobre a narração, pois a paisagem regional é exaustivamente
retratada em detalhes.
e) tipicamente um texto da segunda geração modernista, evidencia-se o uso de neologismos e novas
formas de linguagem, como o tratamento por "senhor".

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. O narrador é protagonista, tanto é que narra as suas experiências a partir
da primeira pessoa do singular: “Alvejei mira em árvore”, “Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto” etc.
Tampouco desejava atirar em animais, mas sim mirava em árvores.
Alternativa B: incorreta. O animal não era vigoroso, mas sim estranho. Os termos usados para
descrevê-lo são erroso, defeituoso, com “máscara de cachorro”. Também não há dados suficientes para
afirmar que os moradores são locais; trata-se de informação extratextual.
Alternativa C: correta – gabarito. Isso porque está impregnado das vivências e marcas linguísticas
de Riobaldo, narrador desse romance. Trata-se de um diálogo dele com um interlocutor, a quem ele
chama de senhor. “Insólito” quer dizer incomum. Riobaldo está praticando tiros nas árvores quando foram
chamá-lo por causa de bezerro diferente. É assim que começa o romance.
Alternativa D: incorreta. Não há dados suficientes para afirmar que a paisagem é regional; trata-
se de informação extratextual. Nem essa paisagem é descrita “exaustivamente”; pelo contrário, é descrita
de maneira vaga, geral: “Nonada”.
Alternativa E: incorreta. É um texto da terceira geração modernista, pois trata-se do excerto de
“Grande sertão: veredas” (1956) de Guimarães Rosa. Atenção: o texto até apresenta neologismos
(palavras novas inventadas, como “Nonada), mas o pronome de tratamento “senhor” não é inovador.
Trata-se do interlocutor de Riobaldo.

Gabarito: C.

41. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2o Simulado 2022) Leia
o texto abaixo para responder à questão.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 227


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

E não há melhor resposta


que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida Severina.

Quanto ao gênero literário apresentado acima, é possível afirmar que se trata de


a) prosa poética.
b) poesia prosaica.
c) teatro épico.
d) verso branco.
e) estrofe em oitava.

Comentários
Questão de teoria literária/interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. A prosa poética é quando o texto é escrito em forma de parágrafos, mas
apresenta elementos poéticos, como formação de imagens, aspectos líricos e figuras de linguagem.
Porém, o trecho em questão continua sendo um texto em forma de versos.
Alternativa B: correta – gabarito. Na poesia prosaica, o texto continua sendo um poema (gênero
da poesia), mas há presença de narratividade, o que atesta seu caráter prosaico. Por exemplo, no uso de
verbos e estruturas temporais: “vê-la desfiar seu fio”; “ver a fábrica que ela mesma,/ teimosamente, se
fabrica”; “vê-la brotar como há pouco /em nova vida explodida". A partir da estruturação lógica, é possível
resgatar a narratividade do poema. Trata-se de um trecho da obra modernista “Morte e vida severina”
(1955) de João Cabral de Melo Neto.
Alternativa C: incorreta. Esse é um termo estudado pelo dramaturgo alemão Bertold Brecht. A
noção de heroísmo era típica de um teatro voltado para o engajamento social. “Morte e vida severina” se
propõe como auto de Natal, e o auto é uma peça teatral breve e não longa.
Alternativa D: incorreta. Verso branco é o verso sem rima, e no caso há rima no poema em questão:
“fabrica/explodida” (rima toante ou assonante: em que há apenas a repetição dos sons vocálicos) e
“explodida/ocorrida” (rima idêntica).
Alternativa E: incorreta. Oitava é uma estrofe com oito versos. No caso, trata-se de um trecho de
uma estrofe maior.

Gabarito: B.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 228


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

42. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2o Simulado 2022)
"Talvez o que tenha me ocorrido seja uma compreensão - e que, para eu ser verdadeira, tenho
que continuar a não estar a saber, a minha nova ignorância, que é o esquecimento, tornou-se sagrada.
Sou a vestal de um segredo que não sei mais qual foi".

No texto clariciano, é comum a presença da epifania, momento quando a personagem cotidiana


encontra uma brecha de revelação. Entretanto, na passagem acima, a epifania não se concretiza
porque
a) não é efetivado o processo de compreensão e a personagem volta a se fechar na ignorância, que
para ela é sinônimo de esquecimento.
b) o autoconhecimento é concluído e a personagem demonstra sentimento de plenitude e satisfação,
ao se sentir como veste sagrada.
c) a protagonista se corrompe em uma sociedade que a deixa alienada, motivo principal para o passado
ser olvidado.
d) existe um choque de realidade na transição do regionalismo para o meio urbano, motivo pelo qual
a personagem esquece sua origem.
e) a personagem se sente desajustada na realidade exterior, ainda que no íntimo sinta a liberdade e o
poder de uma divindade.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário. Atenção
também para o vocabulário.
Alternativa A: correta – gabarito. Trata-se de um trecho da novela “A paixão segundo G. H.” (1964),
de Clarice Lispector, cuja protagonista passa por uma epifania no momento quando arruma o guarda-
roupa, encontra uma barata morta e a ingere. Por mais absurdo que pareça, trata-se de um texto
extremamente filosófico e existencialista, características principais da prosa clariciana.
Porém, no trecho em questão, a personagem esbarra nas suas limitações. Em primeiro lugar, a
compreensão é colocada em dúvida por meio da expressão “talvez”. Depois, a personagem admite que
para ser verdadeira precisa continuar a não saber, de tal forma que a compreensão não se efetiva. Uma
nova ignorância se forma e a personagem se fecha nela, mantendo-se no desconhecido do esquecimento.
Para ela, esse processo não é de todo negativo, mas sim consiste numa possibilidade. Justamente por se
voltar para o íntimo (interior) é aí onde pode residir o mistério, a sacralidade. Daí a associação com o
segredo.
Alternativa B: incorreta. O autoconhecimento não é concluído. A protagonista se mantém em sua
nova ignorância.
Alternativa C: incorreta. “Vestal” significa sacerdotisa da divindade Vesta, ligada à castidade. Logo,
a protagonista não se corrompe. Ao permanecer nas zonas íntimas e profundas do desconhecido, sente-
se inatingível.
Alternativa D: incorreta. Clarice Lispector é uma escritora da prosa intimista e urbana da terceira
geração modernista, e não regionalista.
Alternativa E: incorreta. Cuidado: não se sabe como a personagem se sente no mundo exterior.
Trata-se de uma informação extratextual.

Gabarito: A.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 229


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

43. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3o Simulado 2022) Após
a leitura do excerto abaixo, responda ao que se pede.

Amanheceu um dia sem luz – mais um – e há um grande silêncio na rua. Chego à janela e não vejo
as figuras habituais dos primeiros trabalhadores. A cidade, ensopada de chuva, parece que desistiu de
viver. Só a chuva mantém constante seu movimento entre monótono e nervoso. É hora de escrever, e
não sinto a menor vontade de fazê-lo. Não que falte assunto. O assunto aí está, molhando, ensopando
os morros, as casas, as pistas, as pessoas, a alma de todos nós. Barracos que se desmancham como
armações de baralho e, por baixo de seus restos, mortos, mortos, mortos. Sobreviventes mariscando
na lama, à pesquisa de mortos e de pobres objetos amassados (...).
ANDRADE, Carlos Drummond de. Dias escuros.
Disponível em: https://tinyurl.com/jww6mn5r. Acesso em: 19 mar. 2021.

Quanto ao trecho lido, pode-se afirmar que


a) há predomínio de uma perspectiva niilista do narrador.
b) é notável o intimismo do narrador ao descrever a natureza.
c) a abordagem memorialista contrapõe a cidade ao interior.
d) a visão crítica do narrador é abafada pelo seu sentimentalismo.
e) a chuva é personificada a partir do senso nacionalista.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento de movimento literário e
conhecimento de autor do cânone. Questão inspirada na prova da EsPCEx 2015.
Alternativa A: correta – gabarito. Niilismo significa a total descrença ou a crença no nada absoluto.
No caso, essa visão coincide com o pessimismo do narrador.
Alternativa B: incorreta. A prosa modernista intimista foi predominante em autoras como Lygia
Fagundes Telles e Clarice Lispector.
Alternativa C: incorreta. Atenção: Carlos Drummond de Andrade até apresenta traços
memorialistas em sua poesia, mas quando ele fala de sua cidade natal, Itabira (MG), o que não é o caso.
Além disso, o narrador denuncia uma situação urbana.
Alternativa D: incorreta. O sentimentalismo é uma característica típica do Romantismo e não do
Modernismo. No texto, o narrador mostra-se apático.
Alternativa E: incorreta. Quem é dotado de vida é o assunto – “ensopando, molhando” –, como se
tivesse vida, mas ainda assim não são ações humanas. Além disso, o nacionalismo é uma característica
típica da primeira geração modernista.
Gabarito: A.

9.1 Lista de Fixação Comentada

44. (ESA – 2012) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 230


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

POEMA TRANSITÓRIO
1. Eu que nasci na Era da Fumaça: - trenzinho
vagaroso com vagarosas
paradas
em cada estaçãozinha pobre
5. para comprar
pastéis
pés-de-moleque
sonhos
– principalmente sonhos!
10. porque as moças da cidade vinham olhar o trem passar;
elas suspirando maravilhosas viagens
e a gente com um desejo súbito de ali ficar morando
sempre...Nisto,
o apito da locomotiva
15. e o trem se afastando
e o trem arquejando
é preciso partir
é preciso chegar
é preciso partir é preciso chegar...Ah, como esta vida é urgente!
20. ...no entanto
eu gostava era mesmo de partir...
e - até hoje - quando acaso embarco
para alguma parte
acomodo-me no meu lugar
25. fecho os olhos e sonho:
viajar, viajar
mas para parte nenhuma...
viajar indefinidamente...
como uma nave espacial perdida entre as estrelas.
(Quintana, Mário. Baú de Espantos, in: MARÇAL, Iguami Antônio T. Antologia Escolar, Vol. 1; BIBLIEX; P.169.)

A expressão “viajar indefinidamente”, no Texto de Interpretação, só NÃO significa


a) passear de modo errante, a esmo.
b) sair por aí sem definir o nome das pessoas conhecidas.
c) viajar sem se preocupar com o tempo de chegar.
d) não ter a preocupação de saber o lugar para onde se vai.
e) aventura-se pelo mundo sem ter um objetivo definido.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: correta. O eu lírico deixa subtendida a relação poética entre viajar e sonhar, divagar.
Alternativa B: incorreta – gabarito. Não se aplica.
Alternativa C: correta. Em contraposição à vida atribulada, como o eu lírico expressa no verso: “Ah,
como esta vida é urgente!”.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 231


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Alternativa D: correta. Reflete certa indeterminação.


Alternativa E: correta. Como diria o poeta também modernista Carlos Drummond de Andrade no
“Poema de Sete Faces”: “Mundo mundo vasto mundo, /se eu me chamasse Raimundo/seria uma rima,
não seria uma solução”.

Gabarito: B.

45. (ESA – 2012) Em função do que é dito nos versos do poema (Texto de Interpretação), observa-se
que o “eu lírico”
a) deseja ser mau e mórbido, por isso faz suas viagens pelas estrelas.
b) tem fome e pouco dinheiro, logo não gasta com comidas que não alimentam.
c) viaja, não só fisicamente, mas também por meio de seus pensamentos.
d) é um homem agitado, que leva uma vida de passageiro com luxo e mordomias.
e) é uma voz que clama por tranquilidade e brada contra a poluição do ar.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Não há maldade, mas sim certa ingenuidade. O eu lírico lembra de seu
tempo de criança. Morbidez seria uma característica do Ultrarromantismo (2ª geração romântica).
Alternativa B: incorreta. Isso seria apenas em uma etapa da sua vida, quando era criança.
Alternativa C: correta – gabarito. Aí está o tom lírico, subjetivo e emocional do poema, bem como
a relação entre viajar e sonhar.
Alternativa D: incorreta. Não há dados suficientes para se afirmar isso.
Alternativa E: incorreta. Pelo contrário: o eu lírico tem consciência de que está na modernidade e
a vida do sujeito moderno costuma ser agitada, o que ele associa ao movimento e aos barulhos inclusive
do trem.

Gabarito: C.

46. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3º Simulado ESA 2021)
Marque a alternativa que apresenta informação correta sobre autor e obra representativos da
literatura brasileira.
a) João Cabral de Melo Neto se insere no Modernismo de 45 e escreveu O cão sem plumas.
b) Escritor e tradutor, Mário Quintana classifica-se no Pré-Modernismo e publicou Sapato furado.
c) A poetisa Florbela Espanca tematizou o sofrimento em sua famosa obra chamada Livro de mágoas.
d) Lima Barreto é um escritor do Naturalismo e escreveu Triste fim de Policarpo Quaresma.
e) Ícone do Realismo, Machado de Assis escreveu um livro de contos intitulado Casa de pensão.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 232


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Comentários
Questão teórica de conhecimento de autores e obras do cânone/conhecimento sobre movimentos
literários.
Alternativa A: correta – gabarito. Poeta de forma equilibrada de escrever, com forte rigor estético
e racionalismo na escrita. Seus versos são sintéticos. Autor de Morte e Vida Severina.
Alternativa B: incorreta. Trata-se de uma obra infantil. Está tudo certo, mas Mário Quintana é
escritor do Modernismo de 3ª geração/Literatura Contemporânea.
Alternativa C: incorreta. Está tudo correto, mas ela é uma escritora portuguesa, e não brasileira.
Alternativa D: incorreta. É do Pré-Modernismo e não do Naturalismo.
Alternativa E: incorreta. Essa obra é de Aluísio de Azevedo, não de Machado de Assis. Além do
mais, o livro mais famoso de contos de Machado de Assis é Papéis avulsos.

Gabarito: A.

47. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 6º Simulado ESA 2021)

Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo
que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo
me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só
quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão e
eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.
Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da
popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada
em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra
a ideia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso
pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua:
o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da
outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.
ROSA, Guimarães. A terceira margem do rio. In: ROSA, Guimarães. Ficção completa: volume II.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994 (p. 409-413).

Levando em conta o contexto do conto, em qual das alternativas há um sentido semelhante ao de “que
nessas artes não vadiava”?
a) “que estudou aquele artesanato”
b) “que era um preguiçoso”
c) “que era um especialista”
d) “que não entendia daquele assunto”
e) “que simplesmente ignorava a questão”

Comentários
É uma questão que mistura Semântica e Interpretação de Texto com Literatura. Isso envolve a
linguagem inovadora trabalhada pelo modernista Guimarães Rosa.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 233


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Alternativa A: incorreta. Nesse caso, “artes” não é necessariamente sinônimo de “artesanato”


(técnicas, trabalhos manuais). “Artes” significa assuntos, matérias.
Alternativa B: incorreta. Cuidado: no contexto do conto, “vadiar” não significa ser preguiçoso.
Alternativa C: incorreta. Pelo contrário: era algo no qual ele não era versado, que ele não entendia.
Alternativa D: correta – gabarito. Atenção: todo o trecho “Seria que, ele, que nessas artes não
vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas?” corresponde ao discurso indireto livre, isto é,
representa um questionamento, um pensamento da mãe. E por meio do advérbio de tempo “agora”
pode-se inferir que agora ele irá trabalhar com algo que ele não domina, não conhece.
Alternativa E: incorreta. “Ignorar” até pode ser sinônimo de “desconhecer”, mas o advérbio de
modo “simplesmente” não se aplica.

Gabarito: D.

48. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 7º Simulado ESA 2021)

Pus o meu sonho num navio


e o navio em cima do mar;
– depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas


do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,


a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,


para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;


praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
MEIRELES, Cecília. Canção. Disponível em: https://tinyurl.com/y87wxovq. Acesso em: 19 jun. 2020.

Quanto às figuras de linguagem nesse poema, assinale a alternativa que apresentar a interpretação
INCORRETA.
a) “para o meu sonho naufragar” = metáfora

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 234


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

b) “e a cor que escorre de meus dedos” = sinestesia


c) “O vento vem vindo de longe” = assonância
d) “a noite se curva de frio” = personificação
e) “meus olhos secos como pedras” = comparação

Comentários
Consiste numa questão que envolve Gramática e Interpretação de Texto aplicadas à Literatura.
Alternativa A: correta. A metáfora é uma comparação subentendida: emprega-se um termo com
significado de outro a partir da semelhança entre ambos. No caso, o verbo “naufragar” está sendo usado
no sentido de morrer.
Alternativa B: correta. A sinestesia se caracteriza pela mistura de sensações (audição, olfato,
paladar, tato, visão). No caso, a cor estaria associada ao sentido da visão e ao mesmo tempo ao do tato.
Alternativa C: incorreta – gabarito. No caso, seriam repetições de consoantes (aliteração) e não
vogais (assonância): “vento vem vindo de longe”.
Alternativa D: correta. A personificação ou a prosopopeia ocorre quando se atribuem
características humanas a seres inanimados ou irracionais. No caso, curvar-se é uma característica
humana que no verso se aplica à noite.
Alternativa E: correta. A comparação se verifica quando se estabelece confronto entre dois termos
a partir do que eles têm de semelhante. Essa figura de linguagem vem sempre acompanhada de um
conectivo: como, assim como, tal qual, que nem. No caso desse verso, ela é percebida no uso do conectivo
“como”: “secos como pedras”.

Gabarito: C.

49. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 7º Simulado ESA 2021)

PALAVRAS ALADAS
Silêncio era a coisa de que aquele rei mais gostava. E de que, a cada dia, mais parecia gostar.
Qualquer ruído, dizia, era faca em seus ouvidos.
Por isso, muito jovem ainda, mandou construir altíssimos muros ao redor do castelo. E logo, não
satisfeito, ordenou que por cima dos muros, e por cima das torres, por cima dos telhados e dos jardins,
passasse imensa redoma de vidro. (...)
Mas se os sons não podiam entrar, verdade é que também não podiam sair. Qualquer palavra
dita, qualquer espirro, soluço, canto, ficava vagando prisioneiro do castelo, sem que lhe fossem de valia
fresta de janela ou porta esquecida aberta. Pois se ainda era possível escapar às paredes, nada os
libertava da redoma.
Aos poucos, tempo passando sem que ninguém lhe ouvisse os passos, palavras foram se
acumulando pelos cantos, frases serpentearam na superfície dos móveis, interjeições salpicaram as
tapeçarias, um miado de gato arranhou os corredores.
COLASANTI, Marina. Doze reis e a moça no labirinto do vento. São Paulo: Global, 1999.

Neste pequeno excerto, pode ser observada uma alegoria de:


a) um sistema político em que os embaixadores e diplomatas são mais importantes.
b) uma crítica ao consumismo exacerbado que deixou as pessoas sem palavras.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 235


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

c) uma sociedade oprimida por um jugo autoritário e sem liberdade de expressão.


d) um planejamento arquitetônico hierárquico no qual prevalecem castas.
e) uma pressão psicológica imposta por mecanismos modernos de depressão.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Essa exata ordem de importância não é evidenciada. Se houvesse uma, o
rei estaria no topo, em se tratando de uma monarquia.
Alternativa B: incorreta. O consumismo é um elemento do meio de produção capitalista e, pelo
fato de o conto mencionar um rei, parte-se do pressuposto de que se estava em vigor uma monarquia.
Alternativa C: correta – gabarito. Apenas pela vontade do rei, toda uma sociedade foi construída
de modo a impedir que palavras fossem expressas e saíssem daquele meio. Ou seja, elas não podiam
circular livremente. Dessa forma, o título estaria justificado: as palavras são aladas, pois devem encontrar
formas de romper com as barreiras da redoma para poderem ser ouvidas e entendidas.
Alternativa D: incorreta. Cuidado: existe uma hierarquia e a arquitetura foi planejada, mas não há
dados suficientes no texto para se afirmar que se tratava de uma sociedade de castas.
Alternativa E: incorreta. A monarquia não é moderna e o assunto do conto não é a depressão, mas
sim a repressão.

Gabarito: C.

50. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 1ª Rodada Avançada
de Simulados Chivunk ESA) Leia o poema abaixo para responder à questão.

Preparativos para a viagem


Uns vão de guarda-chuva e galochas,
outros arrastam um baú de guardados...
Inúteis precauções!
Mas,
se levares apenas as visões deste lado,
nada te será confiscado:
todo o mundo respeita os sonhos de um ceguinho
— a sua única felicidade!
E os próprios Anjos, esses que fitam eternamente a face do
Senhor...
os próprios Anjos te invejarão.
QUINTANA, Mário. Esconderijos do tempo. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2013.

Em função do que é dito nos versos, pode-se afirmar que o eu lírico:


a) considera a morte como uma viagem baseada também no sentido da visão.
b) ressalta o sentido do tato para uma apreensão transcendental da realidade.
c) enfatiza que diante da morte nada pode ser feito e o destino é inexorável.
d) satiriza a condição de inveja proporcionada por objetos como o baú.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 236


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

e) zomba da situação dos deficientes visuais que têm dificuldade de locomoção.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: correta – gabarito. Essa imagem da vida como passagem, como viagem transitória é
importante para Mário Quintana. Basta lembrar de seu poema que caiu na prova da ESA 2012. O eu lírico
explora o sentido da visão no âmbito metafórico: no plano celestial, os anjos não seriam capazes de
enxergar cenas terrestres. Essa não capacidade levá-los-ia à inveja.
Alternativa B: incorreta. Do tato não, da visão.
Alternativa C: incorreta. A visão de mundo do eu lírico não é fatalista, mas, sim, brincalhona.
Alternativa D: incorreta. O que causa inveja aos anjos é a inacessibilidade visual das experiências
do falecido.
Alternativa E: incorreta. Não há dados suficientes para se afirmar isso.

Gabarito: A.

51. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 4º Simulado ESA 2022)
Quanto ao Modernismo Brasileiro, assinale a alternativa correta.
a) O primeiro tempo modernista ainda foi de transição, pois muitos artistas estavam hesitantes entre
a tradição passadista e as novas técnicas.
b) Também foi conhecido como Neorrealismo a segunda geração modernista, pois o romance de 30
valorizava a denúncia social.
c) A terceira geração modernista foi essencialmente vanguardista, sendo que um exemplo de
vanguarda foi o indianismo.
d) O Pré-Modernismo é uma ponte entre o Romantismo e o Modernismo, sendo importante para
solidificar a popularidade modernista.
e) O Pós-Modernismo é sinônimo de Literatura Contemporânea, correspondendo ao período que vai
de 1960 a 2010.

Comentários
Questão teórica de conhecimentos de movimentos literários.
Alternativa A: incorreta. Atenção: “tempo” é sinônimo de “geração” nesse caso. A primeira
geração modernista foi experimentalista, vanguardista e inovadora. Os artistas propunham ruptura com
a tradição.
Alternativa B: correta – gabarito. Na segunda geração modernista, várias tendências prefixadas
por “neo-“ começaram a surgir. Na prosa, o Neorrealismo coincidiu com o romance de 30, um tipo de
romance de denúncia social, como é o caso de “Vidas secas” (1938) de Graciliano Ramos, entre outros.
Alternativa C: incorreta. A geração modernista vanguardista foi a primeira e não a terceira.
Alternativa D: incorreta. O Pré-Modernismo serviu como ponte para o Modernismo e uma de suas
principais características foi o uso da cultura popular. Porém, ele não se liga diretamente ao Romantismo
nem foi um movimento de solidificação, pois apresentou variedade de estilos.
Alternativa E: incorreta. A primeira parte da alternativa está correta, mas a Literatura
Contemporânea vigora até hoje.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 237


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Gabarito: B.

52. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 6º Simulado ESA 2022)
Quanto à segunda geração modernista brasileira, julgue o que for INCORRETO.
a) O romance de 30 também ficou conhecido como neorrealista, pois resgatava algumas premissas
como a denúncia social e o psicologismo humano.
b) Foi comum ressurgirem novamente tendências do passado, mas dessa vez atualizadas, como é o
caso do resgate de valores simbolistas e parnasianos na poesia.
c) Uma parte da poesia se voltou para temas metafísicos e existenciais, até mesmo memorialistas,
como é o caso de João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade.
d) Para se revoltarem contra as convenções vigentes, os intelectuais dessa geração usaram amiúde
recursos inovadores, que ficaram conhecidos como vanguardas.
e) No plano da prosa, alguns escritores se embrenhavam em pesquisas regionais, inclusive para
representar o falar típico de algumas localidades.

Comentários
Questão teórica conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: correta. Um exemplo de romance de 30 é a obra “Vidas secas” de Graciliano Ramos;
porém, outros autores também se destacaram, como José Lins do Rego, José Américo de Almeida e Rachel
de Queiroz.
Alternativa B: correta. Tendências conhecidas como neoparnasianismo e neossimbolismo
voltaram à tona. Vinicius de Moraes, Cecília Meireles e Murilo Mendes foram exemplos de escritores
considerados como neossimbolistas, pelo resgate a certos temas que eram caros a esse movimento
literário.
Alternativa C: correta. Tanto é que João Cabral de Melo Neto frequentemente vai falar de onde
veio (Recife), sobretudo, quando atua como diplomata na Espanha; e Carlos Drummond de Andrade, por
sua vez, de sua cidade natal, Itabira.
Alternativa D: incorreta – gabarito. Essa é uma característica da primeira geração modernista e
não da segunda. Lembrando que as bancas, quando costumam cobrar Modernismo, tendem a embaralhar
as gerações.
Alternativa E: correta. Alguns escritores usavam regionalismos com mais propriedade por serem
provenientes da região e outros inclusive realizavam pesquisa para poder retratar com mais
verossimilhança a cultura regional.

Gabarito: D.

53. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 9º Simulado ESA 2022)
Leia o poema abaixo para responder à questão.

A casa grande

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 238


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

... mas eu queria ter nascido numa dessas casas de meia-água


com o telhado descendo logo após as fachadas
só de porta e janela
e que tinham, no século, o carinhoso apelido
de cachorros sentados.
Porém nasci em um solar de leões.
(... escadarias, corredores, sótãos, porões, tudo isso...)
Não pude ser um menino da rua...
Aliás, a casa me assustava mais do que o mundo, lá fora.
A casa era maior do que o mundo!
E até hoje
— mesmo depois que destruíram a casa grande —
até hoje eu vivo explorando os seus esconderijos...
QUINTANA, Mário. Esconderijos do tempo (p. 37). Alfaguara. Edição do Kindle.

Um dos recursos frequentemente utilizados em poemas de Quintana, especialmente os que abordam


a infância, é a linguagem conotativa. Assinale entre as opções a que NÃO apresenta tal expressão.
a) "o carinhoso apelido /de cachorros sentados."
b) "Porém nasci em um solar de leões."
c) "(... escadarias, corredores, sótãos, porões, tudo isso...)"
d) "A casa era maior do que o mundo!"
e) "até hoje eu vivo explorando os seus esconderijos..."

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/Semântica.
Alternativa A: correta. O sentido nesses versos é metafórico, porque o eu lírico só qualifica a casa
como se fossem cachorros sentados pela relação de equivalência, porque a casa se parece assim.
Alternativa B: correta. É conotativa a linguagem em "solar de leões", pois a casa amedrontava o
eu lírico. Quando criança, sentia que a casa era imponente e a temia.
Alternativa C: incorreta – gabarito. A linguagem nesse trecho é literal e não conotativa, porque se
trata da descrição real da casa. Porque apresenta um excesso de cômodos e uma complexidade na
organização, a casa incomodava o eu lírico.
Alternativa D: correta. Não que a casa fosse de fato maior que o mundo, trata-se de uma hipérbole,
um recurso expressivo que aqui foi empregado com subjetividade, a partir da perspectiva do eu lírico.
Alternativa E: correta. Explorando metaforicamente, porque, como dito logo no verso acima, a
casa havia sido demolida.

Gabarito: C.

54. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 12º Simulado ESA 2022)
Leia o trecho a seguir.

"Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 239


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Estamos todos no mesmo barco.


Há no ar certo queixume sem razões muito claras.
Converso com mulheres que estão entre os 40 e 50 anos, todas com profissão, marido, filhos,
saúde, e ainda assim elas trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda,
mesmo estando tudo bem.
De onde vem isso? Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antonio
Cícero, uma música que dizia:

“Eu espero/ acontecimentos/ só que quando anoitece/ é festa no outro apartamento”.

Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo
em algum lugar para o qual eu não tinha convite. É uma das características da juventude: considerar-
se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são, ou aparentam ser [...]".
MEDEIROS, Marta. A grama do vizinho. Disponível em: https://tinyurl.com/699p67uj.
Acesso em: 19 ago. 2021.

No texto acima, o narrador expressa um sentimento típico do contemporâneo, que é o de:


a) depressão, prostrando o sujeito o qual se torna impossibilitado de agir, sentindo-se emparedado.
b) angústia, o que foi motivado depois de ouvir uma música, tendo provocado uma profunda reflexão.
c) revolta, uma vez que é na juventude que se costuma nascer o ímpeto contestador e revolucionário.
d) perplexidade, responsável por fazer a pessoa inconformada, levando uma vida inteira sem sentido.
e) carência, manifestando incompletude em que frequentemente se espera mais do que se consegue.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de movimentos literários.
Alternativa A: incorreta. Sente-se desajustado, mas não necessariamente limitado.
Alternativa B: incorreta. Não foi a música em si que desencadeou a reflexão.
Alternativa C: incorreta. O narrador usa a juventude para explicar um sentimento que insiste, mas
nem sabe defini-lo exatamente.
Alternativa D: incorreta. Cuidado com absolutismos: "vida inteira".
Alternativa E: correta – gabarito. O narrador alerta para o risco de as pessoas não se conformarem
com o que têm, buscando sempre algo inalcançável ou até mesmo incompreensível.

Gabarito: E.

55. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3º Provão de Bolsas)

O pobre poema
Eu escrevi um poema horrível!
É claro que ele queria dizer alguma coisa...
Mas o quê?
Estaria engasgado?
Nas suas meias-palavras havia no entanto uma ternura mansa como a que se vê nos olhos de uma

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 240


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

criança doente, uma precoce, incompreensível gravidade


de quem, sem ler os jornais,
soubesse dos sequestros
dos que morrem sem culpa
dos que se desviam porque todos os caminhos estão tomados...
Poema, menininho condenado,

bem se via que ele não era deste mundo nem para este mundo...
Tomado, então, de um ódio insensato,
esse ódio que enlouquece os homens ante a insuportável
verdade, dilacerei-o em mil pedaços.

E respirei...
Também! quem mandou ter ele nascido no mundo errado?
Mário Quintana – O pobre poema.
Disponível em: https://tinyurl.com/th5gget. Acesso em: 09 mar. 2020.

Quanto à análise desse poema do modernista Mário Quintana, pode-se presumir que
a) a metafísica é o traço principal do poema, e o eu lírico resgata memórias de infância.
b) o poeta estabelece intertextualidade com Manuel Bandeira, com a linguagem jornalística.
c) a forma breve é herança do Modernismo, uma vez que o poema se limita a uma estrofe.
d) as reflexões metalinguísticas permitem com que o eu lírico reflita sobre o sentido da linguagem.
e) o discurso de ódio da humanidade está no verso “enlouquece os homens ante a insuportável”.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. É a metalinguagem, não a metafísica (investigação de realidades
transcendentes). A alusão à criança não tem a ver com o próprio eu lírico, pois se utiliza um artigo
indefinido: “uma”.
Alternativa B: incorreta. A linguagem não é objetiva, embora haja menção no verso “sem ler os
jornais”. Não seria o poeta, mas o eu lírico.
Alternativa C: incorreta. O poema tem 3 estrofes; nem é tão breve.
Alternativa D: correta – gabarito. A metalinguagem é uma função de linguagem em que o código
se volta para si mesmo. No caso, o eu lírico defende um “grau zero de linguagem”, um retorno à sua
inocência, isto é, à linguagem das crianças que tudo sabe expressar e se fazer entender sem, contudo,
conhecer todo o vocabulário.
Alternativa E: incorreta. Essa é a condição é a do eu lírico que não sabe lidar com a linguagem, não
da humanidade como um todo. De qualquer forma, não seria discurso de ódio: incitamento ao ódio.

Gabarito: D.

56. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 6º Provão de Bolsas)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 241


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

(...)
– Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida
privadse integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
– Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
– Ontem, no seu lixo...
– O quê?
– Me enganei, ou eram cascas de camarão?
– Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
– Eu adoro camarão.
– Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
– Jantar juntos?
– É.
– Não quero dar trabalho.
– Trabalho nenhum.
– Vai sujar a sua cozinha?
– Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
– No seu lixo ou no meu?
VERÍSSIMO, Luis Fernando. O lixo.
Disponível em: https://tinyurl.com/yaw4docy. Acesso em: 12 jun. 2020.

A crônica é um gênero textual que oscila entre a Literatura (ficcional) e o Jornalismo (não ficcional).
Entre os temas explorados no trecho acima, NÃO se encontra o(a):
a) humor.
b) metafísica.
c) antecipação.
d) filosofia.
e) subentendido.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário. Luis Fernando Veríssimo é um escritor contemporâneo
que já caiu na prova da ESA 2009.
Alternativa A: correta. Situações cômicas ou potencialmente humorísticas compartilham da
característica do efeito surpresa. O humor reside em ocorrer algo fora do esperado numa situação. Há
diversas situações em que o humor pode aparecer numa prova. Há as tirinhas e charges, que aliam texto
e imagem para criar efeito cômico; há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequentemente
acessadas como forma de gerar o riso, como o fato de um caso se conhecer mediante análise o lixo um
do outro.
Alternativa B: incorreta – gabarito. A metafísica é o estudo das causas primárias e dos princípios
elementares do conhecimento e do ser ou sutileza com que se discorre sobre algum assunto (dicionário
Aulete), o que não é o caso.
Alternativa C: correta. Um antecipa a fala do outro, como por exemplo: “Quem sabe a gente
pode...” e o outro completa “– Jantar juntos?”.
Alternativa D: correta. A filosofia se encontra na formulação da teoria: “Através do lixo, o particular
se torna público.”

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 242


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Alternativa E: correta. Ler um subentendido significa ir para além da camada superficial, o que se
quer inferior por meio do trecho: “aí você já está indo fundo demais no lixo”.

Gabarito: B.

57. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 7º Provão de Bolsas)

Com licença poética


Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.


PRADO, Adélia. Com licença poética. Disponível em: https://tinyurl.com/yb59kftn. Acesso em: 13 jul. 2020.

Levando em conta o contexto do poema, pode-se afirmar que o eu lírico


a) utiliza uma forma literária fixa mesmo no modernismo.
b) está desolado, porque se sente deslocado na sociedade.
c) não se resigna diante de um fato que não pôde escolher.
d) cumpre o papel de porta-bandeira em uma escola de samba.
e) dialoga com uma tradição que passa pela comédia de costumes.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Não é uma forma fixa. Consistem em versos brancos (sem rimas) e livres
(sem métrica).
Alternativa B: incorreta. Pelo contrário, o tempo inteiro acha subterfúgios, consegue se adaptar:
“Não tão feia que não possa casar”. O fato de ser deslocado (coxo) ela deixa para os homens.
Alternativa C: correta – gabarito. O eu lírico nasce mulher sem poder escolher. Ao longo da vida,
percebe que o seu gênero sofre desigualdades. A ele são impostos fardos, obrigações, dores. Porém, não

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 243


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

se resigna diante disso. Escreve o que sente e sente uma alegria herdada. Podem ser identificadas duas
partes no poema: a primeira mais descritiva, e a segunda que manifesta a tomada de uma posição positiva
do eu lírico, iniciada pela conjunção adversativa: “mas”.
Alternativa D: incorreta. Não há dados suficientes para se afirmar isso. Aliás, a bandeira aqui serve
como um elemento metafórico, como se fosse um cargo, uma posição ou um fardo muito difícil e que a
mulher, ainda limitada de recursos, sobretudo, força física, não seria capaz de carregar.
Alternativa E: incorreta. Na realidade, dialoga com o “Poema de Sete Faces” do modernista Carlos
Drummond de Andrade.

Gabarito: C.

58. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 8º Provão de Bolsas)
Considere o texto abaixo para responder à questão.

A casa-grande da usina se encheu de parentes, de amigos do dr. Juca. D. Dondon viera para
preparar a festa. Há tempos que não punha os pés ali e achou tudo à toa. O marido estava levando
uma vida de bicho. A casa inteira numa desordem de fazer vergonha. E levou assim uma semana,
arrumando, limpando as vidraças, a preparar a casa para o dia da festa.
A Bom Jesus seria em breve uma usina de verdade. A notícia se espalhou no povo. Os moradores viam
os gringos andando a cavalo, correndo terras e comentavam, a seu jeito, as novidades: com pouco mais
a Bom Jesus seria duas vezes maior que a Goiana Grande e a São Félix. O dr. Juca trazia máquinas
maiores que as da estrada de ferro para puxar os seus trens de cana. E falavam até que o riacho do
Vertente seria trazido para dentro da usina. Os gringos já estavam medindo tudo para montar os canos.
As carroças de cana não precisariam de ninguém para cair nas esteiras. Era só numa alavanca. Um
homem só faria o serviço de cem.
REGO, José Lins do. Usina. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.

Levando em consideração o Romance de 30, é correto afirmar que o trecho


a) explora uma das principais tendências do Pré-Modernismo que era a mistura de estilos, já que a
família toda se reunia.
b) revela a preocupação nacionalista e antropofágica em renegar a ajuda do estrangeiro na tentativa
de autoafirmação.
c) denuncia não só o trabalho escravo contemporâneo, como também o infantil, pois as máquinas não
ajudaram os homens.
d) mostra como a modernização no Brasil tendeu a abolir modelos coloniais e substitui-los por
tecnologia de última ponta.
e) critica uma modernização que não representa necessariamente o progresso, mas sim a animalização
do homem.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento do movimento literário e
conhecimento de autor e obra do cânone.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 244


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Alternativa A: incorreta. O trecho, como o próprio comando diz, é pertencente à Geração de 30,
isto é, segunda geração modernista. A mistura de estilos é, sim, uma característica pré-modernista, mas
não vem ao caso.
Alternativa B: incorreta. Esses são aspectos da primeira geração modernista e não da segunda. No
caso, o estrangeiro no texto está sendo exaltado. Isto é, quer se chamar atenção dele: é importante que
a nova usina criada seja maior que a dos vizinhos e interesse aos estrangeiros.
Alternativa C: incorreta. O trabalho escravo, talvez, mas não contemporâneo, mas sim moderno.
E também nada se fala quanto ao trabalho infantil.
Alternativa D: incorreta. Pelo contrário: a alusão à casa-grande no início faz com que mesmo os
modos de trabalho modernos guardem semelhanças com o passado histórico.
Alternativa E: correta – gabarito. O romance da década de 1930 foi um tipo de arte específica de
um contexto histórico-social conturbado. Sua característica principal foi retomar alguns pontos do
Realismo, como a denúncia social. O romance Usina de José Lins do Rego foi publicado em 1936. No
excerto acima, o trecho “O marido estava levando uma vida de bicho” lembra a fala de Fabiano em Vidas
secas (1938) de Graciliano Ramos: “– Você é um bicho, Fabiano”. A diferença é a classe social: Fabiano é
um sertanejo, ao passo que a temática do romance Usina é a transposição do modelo econômico colonial
firmado em estruturas de engenho para o novo formato de indústrias.

Gabarito: C.

59. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 9º Provão de Bolsas)
Leve em consideração o poema abaixo para responder à questão.

OFICINA IRRITADA
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.

Quero que meu soneto, no futuro,


não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.

Esse meu verbo antipático e impuro


há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro,


cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Oficina irritada. In: Claro Enigma.
São Paulo: Companhia das Letras, 2012 (p. 38).

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 245


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

A partir do texto acima, é correto afirmar que


a) Carlos Drummond de Andrade é da mesma geração que Mário Quintana, tendo sido ambos
tradutores.
b) a poesia da segunda geração modernista usou, entre outros elementos, resgate às formas clássicas
e metalinguagem.
c) no título do poema, emprega-se o recurso expressivo da sinestesia, ao identificar o sentimento da
irritação.
d) Carlos Drummond de Andrade lembra Machado de Assis e Clarice Lispector no autorrebaixamento
de sua obra.
e) a chave de ouro cunha expressão responsável por nomear o livro, que significa quebra-cabeça fácil
de se entender.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento do movimento literário e
conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. Atenção: essa afirmação é verdade, mas não pode ser inferida apenas a
partir do texto. Inclusive, ambos participaram de um projeto de tradução de Em busca do tempo perdido
de Marcel Proust: Mário Quintana traduziu os volumes de 1 a 4 e Carlos Drummond de Andrade o volume
6.
Alternativa B: correta – gabarito. Formas clássicas como o soneto, e até mesmo a mitologia (Vênus
é Afrodite, deusa do amor, e Arcturo é a estrela mais brilhante da Constelação de Boieiro), e
metalinguagem no procedimento de refletir sobre a própria feitura do poema.
Alternativa C: incorreta. Sinestesia não, mas sim personificação: atribuição de características
humanas (irritação) a seres inanimados (oficina).
Alternativa D: incorreta. Cuidado: essa afirmação é verdade, mas não pode ser inferida apenas a
partir do texto. O eu lírico de Drummond afirma o seguinte: “Quero que meu soneto, no futuro, /não
desperte em ninguém nenhum prazer.” Em várias ocasiões, o narrador irônico machadiano fala para o
leitor fechar o livro se não estiver gostando, e o narrador Rodrigo S. M de A hora da estrela trata sua
criatura como “esta coisa aí”.
Alternativa E: incorreta. Pelo contrário: claro enigma é contraditório; é como se fosse uma esfinge,
difícil de ser decifrada.

Gabarito: B.

60. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 5º Provão de Bolsas)
Leia o poema abaixo para responder à questão.

MÃOS DADAS
Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 246


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Entre eles, considero a enorme realidade


O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história


Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes
A vida presente.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Mãos dadas. In: Sentimento de mundo.
São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

A partir da leitura, constata-se que o eu lírico se sente


a) auspicioso, embora na última estrofe expresse uma série de negacionismos que marcam seu
niilismo.
b) saudosista, pois sabe que no presente passa por dificuldade e por isso tenta se resguardar no
passado.
c) apreensivo, apesar de manter certa esperança por conta da união com uma coletividade empática.
d) cansado, já que está velho e na etapa final da vida deseja se reunir com os amigos para espairecer.
e) radiante, porque considera a vida como um dom divino, dádiva que deseja compartilhar com os
colegas.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: incorreta. “Auspicioso” é sinônimo de esperançoso, animador. Pelo contrário: o eu
lírico tem suas ressalvas e é cauteloso, mas isso não o impede de agir.
Alternativa B: incorreta. Saudosismo é a tendência de se voltar para o passado. Carlos Drummond
de Andrade é um poeta modernista que até apresenta memorialismo em parte de sua poesia,
especialmente quando fala de sua cidade natal, Itabira, mas não nesse caso.
Alternativa C: correta – gabarito. Constata que seus colegas estão taciturnos; no fundo, se sente
um pouco assim também. Mas faz um apelo para a importância de se organizarem a fim de vencer por
meio da luta as dificuldades do tempo presente.
Alternativa D: incorreta. O eu lírico admite no primeiro verso que não quer ter relação com o
mundo caduco. Para combater o enlouquecimento do mundo, o eu lírico faz uma convocação, não a fim
de espairecer, mas sim para se ajudarem.
Alternativa E: incorreta. Até porque o termo “presente” pode ser considerado polissêmico.

Gabarito: C.

61. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 5º Provão de Bolsas)
Leia o trecho a seguir para responder ao que se pede.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 247


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Das memórias de uma trave de futebol em 1955, por Sérgio Sant’Anna


Para assistir a treinos só vêm mesmo os fanáticos, alguns sócios, a garotada matando aula, alguns
desocupados daqui de Laranjeiras. Meu posto é privilegiado, não só pela posição que ocupo no
gramado, como pelo fato de estar defendendo a baliza defendida pelo Castilho, o maior goleiro do
Brasil. Isso nem se discute. Mas o Fluminense está tão bem de goleiros, que o titular e o reserva,
Castilho e Veludo, foram convocados para a seleção na Copa de 54. Castilho treina entre os reservas,
para ser mais exigido pelo ataque titular. Nada menos que Telê, Didi, Valdo, Átis e Escurinho. Mas Didi
é meia armador e um exímio cobrador de faltas, que bate com sua famosa folha seca.
A folha seca é assim: a bola vem pelo alto, mas perto do gol, perto de mim, de repente perde a
força e cai, tantas vezes na rede. Didi acaba de bater uma falta dessas, só que a bola bateu na trave,
eu, bem no ângulo. Não sei se devo sentir orgulho ou decepção, acho que ambas as coisas. Pois a
cobrança foi perfeita, uma obra-prima, que assisti do meu posto privilegiado, mas ao mesmo tempo
me sinto defendendo o gol do Castilho, meu irmão quase, eu diria. Mas Didi sorriu para dentro, com
seu jeito discreto, pois foi bonito e engraçado. Pode isso? Pode. [...]
SANT’ANNA, Sérgio. Disponível em: https://tinyurl.com/5ewh7a4f. Acesso em: 08 jun. 2021.

Após a leitura, depreende-se que


a) a situação acabou por provocar reações contraditórias entre as partes envolvidas.
b) o episódio foi particularmente cômico especialmente para a massiva plateia espectadora.
c) o narrador é um jornalista esportivo que foi enviado para cobrir o jogo daquela competição.
d) o amigo do jogador se sente constrangido por não ter conseguido ajudá-lo a fazer o gol.
e) o personagem no fundo quer esconder sua decepção por ter perdido um gol, sendo artilheiro.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: correta – gabarito. O que se constata a partir de trechos como “Não sei se devo
sentir orgulho ou decepção” e “pois foi bonito e engraçado”.
Alternativa B: incorreta. Não foi apenas cômico, ou cômico para todos, apenas o colega do jogador
que segura o riso. Tampouco a plateia era grande.
Alternativa C: incorreta. O narrador é um jogador, que está numa posição privilegiada, pois está
dentro do jogo, tanto jogando-o quanto o assistindo.
Alternativa D: incorreta. Pelo contrário, o amigo quer rir do amigo, mas acaba por não fazer isso,
provavelmente para respeitá-lo.
Alternativa E: incorreta. Sente-se dividido: na verdade, a jogada foi bonita, mas acaba por errá-la.
Nem há dados suficientes para afirmar que o jogador era artilheiro.

Gabarito: A.

62. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Chivunk ESA 2021) Leia
o texto abaixo para responder à questão.

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 248


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as
janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha
para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se
acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece
a amplidão.
COLASANTI, Marina. Eu sei, mas não devia.
Disponível em: https://tinyurl.com/y4768sp2. Acesso em: 23 ago. 2020.

Segundo o texto, é correto afirmar que o narrador


a) valoriza situações rotineiras em que o cotidiano mecânico se torna muito importante.
b) critica pessoas que preferem morar em apartamentos claustrofóbicos e não em casas.
c) problematiza um modo de vida que prioriza a resignação em detrimento do encantamento.
d) ressalta o apreço que tem o homem moderno pela natureza, ainda que more na cidade.
e) viola a coerência quando começa abordando o apartamento e termina com o sol.

Comentários
Questões de interpretação de texto são comuns na prova da ESA. Precisamos estar preparados
para elas também. Além disso, Marina Colasanti é uma escritora contemporânea que caiu na prova da
ESA 2019.
Alternativa A: incorreta. Pelo contrário: não as valoriza, mas sim as critica. Não se sabe se são
apartamentos claustrofóbicos, mas sim que morar neles causam uma rotina que torna a visão de mundo
limitada.
Alternativa B: incorreta. Essa questão não é diretamente colocada.
Alternativa C: correta – gabarito. A questão não é só focada no fato de morar em apartamentos,
mas sim de um ser humano que perdeu a capacidade de olhar para o redor e ver para além da realidade
aparente.
Alternativa D: incorreta. Para o narrador, acostumar-se também é “esquece o sol”, ou seja, não se
importar com a natureza.
Alternativa E: incorreta. Pelo contrário: o recurso estilístico empregado no texto inclusive para
imitar a rotina enfadonha é a repetição de estruturas gramaticais, o que ajuda a conferir coesão e
coerência ao texto.

Gabarito: C.

63. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Chivunk ESA 2021)
Ressignificação das formas literárias, memorialismo, lugar de fala e influência tecnológica. Essas são
características que identificam as obras de autores
a) barrocos.
b) árcades.
c) simbolistas.
d) decadentistas.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 249


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

e) pós-modernistas.

Comentários
Questão teórica de conhecimento do movimento literário. A literatura contemporânea vem caindo
na prova da ESA, nem que seja no texto de apresentação da prova, aquele que serve de base para as
questões de português.
Alternativa A: incorreta. A tecnologia na época do Barroco (século XVII) não era avançada nem
influenciadora.
Alternativa B: incorreta. Não há ressignificação de formas, mas sim aproveitamento de formas
clássicas.
Alternativa C: incorreta. Não há valorização da memória, por exemplo, mas sim do inconsciente,
do sonho.
Alternativa D: incorreta. Decadentismo é sinônimo de Simbolismo.
Alternativa E: correta – gabarito. Pós-Modernismo é sinônimo de Literatura Contemporânea.

Gabarito: E.

64. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Chivunk ESA 2021) Leia
o poema abaixo para responder ao que se pede.

Deixa-me seguir para o mar


Tenta esquecer-me... Ser lembrado é como
evocar-se um fantasma... Deixa-me ser
o que sou, o que sempre fui, um rio que vai fluindo...

Em vão, em minhas margens cantarão as horas,


me recamarei de estrelas como um manto real,
me bordarei de nuvens e de asas,
às vezes virão em mim as crianças banhar-se...

Um espelho não guarda as coisas refletidas!


E o meu destino é seguir... é seguir para o Mar, as imagens perdendo no caminho...
Deixa-me fluir, passar, cantar...

toda a tristeza dos rios é não poderem parar!


QUINTANA, Mário. Deixa-me seguir para o mar.
Disponível em: https://tinyurl.com/th5gget. Acesso em: 23 ago. 2020.

De acordo com o eu lírico, o verbo “seguir” é sinônimo de


a) acostumar-se.
b) tornar-se.
c) espantar-se.
d) dividir-se.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 250


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
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e) contrapor-se.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/semântica. Lembrando que 2 questões dessa mesma
natureza e sobre o mesmo autor caíram na prova ESA 2012.
Alternativa A: incorreta. Ao fim, o eu lírico revela que, como águas passantes, ele sente que não
vai parar, e isso seria uma tristeza, porque é incontrolável. Não é um costume nem um conforto.
Alternativa B: correta – gabarito. O eu lírico manifesta que se corresponde com o mar em sua
fluidez.
Alternativa C: incorreta. Não é o estado de espírito do eu lírico.
Alternativa D: incorreta. O eu lírico não se divide nem se fragmenta, mas sim se reflete, menciona
um espelho.
Alternativa E: incorreta. Pelo contrário: eu o lírico não se opõe ao mar, mas sim se identifica com
ele.

Gabarito: B.

65. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Premonição ESA 2022)
Leia o soneto para responder ao que se pede.

Da vez primeira em que me assassinaram,


Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou


O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!


Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arrancar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!


Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!
QUINTANA, Mário. A rua dos cataventos. Disponível em: https://tinyurl.com/yhdh29ah.
Acesso em: 18 set. 2021.

Diante da visão global do texto, o texto justifica-se por causa do(a):


a) desilusão irreversível diante do fatalismo da morte.
b) remorso por não ter vivido o bastante nem como gostaria.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 251


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c) resistência como solução ao assimilar a passagem.


d) melancolia que se na inaptidão para lidar com o problema.
e) esperança a qual se reflete na crença de reencontrar a família.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. O poema é um grito de apelo contra os corvos, chacais e ladrões.
Alternativa B: incorreta. O tom não é lamentativo, mas sim de enfrentamento.
Alternativa C: correta – gabarito. Em pleno Modernismo, sonetos ainda podem ser escritos. Ainda
que atípicos, este é um exemplo em que, apesar de todo o aparente pessimismo, o eu lírico tenta se
afirmar.
Alternativa D: incorreta. Usa as ferramentas que tem, desenvolvendo um raciocínio e adotando
tom apelativo.
Alternativa E: incorreta. Cuidado com informações extratextuais: nada se fala sobre a família.

Gabarito: C.

66. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) Leia
o texto abaixo para responder às próximas duas questões.

“Não, não é uma série de pontos de exclamação


— é uma avenida de álamos...
E o que, e para quem, clamariam então?!
Deserta está a cidade.
Todas as avenidas, todas as ruas, todas as estradas atônitas
se perguntam se vêm ou se vão...
Em nada lhes poderiam servir esses postes de quilometragem:
estão apenas desenhados, como num mapa.
Ah, se houvesse uns passos, ainda que fossem solitários...
Se houvesse alguém andando sozinho... e bastava! (...)"
QUINTANA, Mário. ‘Elegia número onze’. In: Esconderijos do tempo. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2013 [Kindle].

A partir do poema, depreende-se que


a) em relação às gerações modernistas anteriores, a última quando chega aproveita o mesmo ímpeto
vanguardista de se encantar com a novidade da modernidade.
b) é desenvolvida a história de alguém que abandona a família para tentar uma conexão mais próxima
à natureza, uma vez que não sentia mais segurança na cidade.
c) após o entusiasmo da primeira geração modernista, tomou-se consciência de que o crescimento nas
cidades era desmedido e poderia provocar problemas, como a acentuação de desigualdades.
d) a zona de indeterminação modernista se mantém na última geração, quando os artistas se sentem
totalmente desnorteados e não enxergam solução em nada.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 252


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e) o engrandecimento do meio urbano é elogiado, pois os seres humanos tendem a se tornar mais
solidários uns com os outros e a tecnologia aproxima pessoas.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário. Inspirada na
prova da ESA 2012, quando caiu Mário Quintana.
Alternativa A: incorreta. Pelo contrário: trata-se de uma diferença evidenciada no poema acima.
Ao passo que obras como “Pauliceia desvairada”, de Mário de Andrade, da primeira geração modernista,
exaltam a cidade e a vida moderna, a terceira geração modernista já está consciente dos riscos de tal
modernização.
Alternativa B: incorreta. Cuidado com informações extratextuais: não há dados suficientes para se
afirmar isso.
Alternativa C: correta – gabarito. A desigualdade no poema se observa em dois níveis: oposição
entre homem versus natureza e o homem consigo próprio, pois agora ele se vê isolado: “Deserta está a
cidade.”
Alternativa D: incorreta. Cuidado com absolutismos: “totalmente”. O eu lírico usa uma oração
subordinada condicional: “Se houvesse alguém andando sozinho... e bastava!” Ao menos oferece uma
solução, ainda que hipotética.
Alternativa E: incorreta. Não é elogiado, mas sim criticado. Não há menção direta à tecnologia.

Gabarito: C.

67. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) O eu
lírico desse poema adota uma visão de mundo particularmente
a) esperançosa.
b) eufórica.
c) batalhadora.
d) irada.
e) desolada.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento do movimento literário e semântica.
Alternativa A: incorreta. O eu lírico se mostra crítico quanto a uma situação social. Oferece uma
saída hipotética e não concreta. Não tem peso de solução real para sua perspectiva ser classificada como
esperançosa.
Alternativa B: incorreta. Nesse sentido, “esperançosa” poderia ser considerado um termo
sinônimo de “eufórica”. Então, a alternativa se invalida pelos mesmos motivos da letra A.
Alternativa C: incorreta. Pelo contrário: o eu lírico observa uma paisagem desolada de modo
passivo e não ativo.
Alternativa D: incorreta. Apesar de o eu lírico se sentir desconfortável com o que vê e se mostrar
questionador, ira não é um sentimento que ele parece demonstrar.
Alternativa E: correta – gabarito. O que predomina no poema são as sensações de solidão e
incerteza. O eu lírico se revela desnorteado e sem sentido.

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Gabarito: E.

68. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) Leve
em consideração o poema a seguir e se atente ao comando da questão para depois respondê-la.

EU SEI, MAS NÃO DEVIA


“A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não seja as janelas
ao redor.
E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma acender mais cedo a luz.
E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.


A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. (...)”
COLASANTI, Marina. Eu sei, mas não devia. Disponível em: https://tinyurl.com/2sbrnnrz.
Acesso em: 02 maio 2021.

O poema acima alerta para vários riscos impostos pelo modo de vida contemporâneo. Entre eles,
identifique o que NÃO é exposto explicitamente no contexto.
a) Desconectar-se da natureza.
b) Trabalhar incomensuravelmente.
c) Sacrificar a própria saúde e bem-estar.
d) Usar entorpecentes e depois se suicidar.
e) Perder a autonomia e a subjetividade.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário. A autora
Marina Colasanti já caiu anteriormente na prova da ESA.
Alternativa A: correta. O que se verifica no verso: “à medida que se acostuma, esquece o sol,
esquece o ar, esquece a amplidão.” O verbo “esquecer-se” nesse contexto é sinônimo de “desconectar-
se”. Quer dizer que o sujeito contemporâneo não se sente mais parte integrante da natureza.
Alternativa B: correta. “Incomensuravelmente” é um advérbio tanto de modo quanto de
intensidade. Esse aspecto pode ser observado no verso: “A sair do trabalho porque já é noite.”
Alternativa C: correta. O poema é uma crítica à mecanização da vida. Então, o autossacrifício pode
ser compreendido a partir do verso: “A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.”

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Alternativa D: incorreta – gabarito. Cuidado: estas são consequências muito arriscadas ao se levar
esse modo de vida descrito no texto ao extremo. Porém, esses costumes eram mais predominantes no
movimento literário do Simbolismo do que na Literatura Contemporânea propriamente dita.
Alternativa E: correta. O maior risco do modo de vida contemporâneo é a mecanização da vida
tomar lugar da conscientização. Isso pode ser notado em: “A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido
o dia.” É como viver sem existir.

Gabarito: D.

69. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) A
principal diferença entre a segunda e a terceira geração modernista é:
a) a segunda geração é vanguardista e experimentalista, ao passo que a terceira representa um retorno
a formas tradicionais.
b) a segunda tem preocupação nitidamente social e a terceira se volta para outras tendências, como
regionalismo e intimismo.
c) a segunda geração vai ter expressão também nas artes plásticas e na música, ao passo que a terceira
é apenas literária.
d) a segunda geração produziu predominantemente poesia, com Graciliano Ramos, ao passo que a
terceira produziu poesia, com Vinicius de Moraes.
e) a segunda geração tenta ressignificar temas do passado, usando lugar de fala e cultura de massa,
enquanto a terceira geração ocorreu só no teatro.

Comentários
Questão teórica de conhecimento de movimentos literários.
Alternativa A: incorreta. É a primeira geração que é vanguardista e experimentalista e é a segunda
que representa um retorno a formas tradicionais. #Dica: cuidado para não se confundir!
Alternativa B: correta – gabarito. A segunda geração modernista é dividida em prosa (romance de
30) e poesia, que também costuma apresentar cunho social. A terceira geração modernista conta com
autores como Guimarães Rosa (regionalista) e Clarice Lispector (intimista).
Alternativa C: incorreta. A segunda geração tem predominância nos gêneros da prosa e poesia; é
a terceira geração modernista que apresenta ligação com a música. Alguns de seus poetas, como Vinicius
de Moraes, por exemplo, também era intérprete. E é a primeira geração modernista que tem ligação com
as artes plásticas.
Alternativa D: incorreta. Graciliano Ramos é um escritor de prosa e não poesia.
Alternativa E: incorreta. As características de ressignificação, uso do lugar de fala e cultura de
massa são da literatura contemporânea e não da segunda geração modernista. Além disso, a terceira
geração modernista apresentou expressão na prosa, poesia e teatro.

Gabarito: B.

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70. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) Leia
o trecho abaixo e responda ao que se pede.

“Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente.
Corrigiu-a, murmurando: – Você é um bicho, Fabiano.”

Mesmo sendo um romance de 30, por causa do zoomorfismo a obra “Vidas secas” de Graciliano Ramos
apresenta semelhança com outra escola literária, a ver:
a) Simbolismo.
b) Naturalismo.
c) Barroco.
d) Arcadismo.
e) Quinhentismo.

Comentários
Alternativa A: incorreta. Até porque o trecho acima é escrito em prosa (em forma de parágrafos,
inclusive apresentando discurso direto), ao passo que o Simbolismo foi um movimento poético.
Alternativa B: correta – gabarito. Zoomorfismo ou animalização é a tendência de comparar o ser
humano ao animal, geralmente o rebaixando. É o que o ocorre no trecho: a identificação do personagem
Fabiano com um organismo natural, como ocorria também no movimento do fim do século XIX.
Alternativa C: incorreta. O Barroco é um movimento do século XVII, cuja visão de mundo era
predominantemente teocêntrica. Justamente por causa disso, muitas obras costumavam ser religiosas, o
que não tem ligação com o trecho acima.
Alternativa D: incorreta. O Arcadismo é um movimento literário do século XVIII que valorizou a
natureza, porém, de forma idealizada. A comparação de Fabiano com um animal ocorre diante do
sentimento de desajuste dele com o mundo.
Alternativa E: incorreta. O Quinhentismo é um movimento literário do Brasil Colônia. Apresentou
duas tendências: literatura de informação e de catequese, e nenhuma delas tem ligação com o trecho
acima.

Gabarito: B.

71. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022)
Assinale a alternativa INCORRETA quanto à Literatura Brasileira.
a) A segunda geração modernista se distanciou da primeira, porque pretendeu resgatar valores de
movimentos literários anteriores, e não propor inovações.
b) São muito tênues as margens entre as gerações modernistas, tanto é que é possível haver escritores
escrevendo em mais de uma geração.
c) O que a crítica considera como Pós-Modernismo é a ruptura total com tudo o que foi produzido no
século XX, pois o que se apresenta hoje em termos literários é bem diferente.
d) A terceira geração modernista é uma continuidade das outras duas, mas agora pensando em
aperfeiçoamento técnico e com mais variedade de estilos.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 256


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e) A transição da terceira geração modernista para a literatura brasileira contemporânea foi mediada
pelo fato histórico da Ditadura Militar.

Comentários
Questão teórica de conhecimento de movimentos literários.
Alternativa A: correta. Na prosa (romance de 30), os autores tenderam resgatar a denúncia social
do Realismo, bem como o determinismo naturalista; na poesia, também de cunho social, os autores
retornaram a formas fixas como o soneto, por exemplo. Tanto é que nessa geração surgiram várias
tendências chamadas de neossimbolismo, neoparnasianismo etc.
Alternativa B: correta. Por exemplo, Carlos Drummond de Andrade e Mário Quintana. Geralmente,
quando é assim, são autores de difícil classificação e a dica é sempre analisar a obra em si e ver quais
características a obra manifesta. A depender do que ela expressa, pode ser classificada em uma ou em
outra geração.
Alternativa C: incorreta – gabarito. Pós-Modernismo é sinônimo de Literatura Contemporânea, e
é considerada como uma extensão continuada do Modernismo. Portanto, apresenta características
parecidas.
Alternativa D: correta. Autores como Guimarães Rosa aperfeiçoam o estilo com neologismos, ao
passo que Clarice Lispector usa fluxo de consciência.
Alternativa E: correta. Como o regime militar no Brasil começou em 1964, este costuma ser um
marco e um divisor de águas também na classificação de movimentos literários. Considera-se como
Literatura Contemporânea o que foi produzido depois da década de 60.

Gabarito: C.

72. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022)
Participaram da vertente intimista da terceira geração modernista autores(as) como:
a) José Lins do Rego e Graciliano Ramos.
b) Graciliano Ramos e Guimarães Rosa.
c) Guimarães Rosa e Clarice Lispector.
d) Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles.
e) Rachel de Queiroz e Cecília Meireles.

Comentários
Questão de conhecimento sobre autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. Ambos são escritores da segunda geração modernista e não da terceira.
Escreveram romance de 30, de denúncia social.
Alternativa B: incorreta. Graciliano Ramos é da segunda geração e não da terceira. Guimarães Rosa
é da terceira geração modernista, mas escreveu prosa regionalista e não intimista.
Alternativa C: incorreta. Ambos são da terceira geração, mas apenas Clarice Lispector escreveu
prosa intimista.
Alternativa D: correta – gabarito. O intimismo é uma tendência na literatura de modo a expressar
o subjetivismo de personagens com consciência de sua sentimentalidade. São personagens que se voltam
para si e para suas experiências.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 257


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Alternativa E: incorreta. Ambas são escritoras da segunda geração modernista e não da terceira.
Rachel de Queiroz escreveu romance de 30 e Cecília Meireles escreveu poesia eclética.

Gabarito: D.

73. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) Leia
o trecho a seguir e se atente ao comando.

“De repente, deu estrondo. Que o vento quebrou galho do jenipapeiro do curral, e jogou perto
de casa. Todo o mundo levou susto. Quando foi o trovão! Trovejou enorme, uma porção de vezes, a
gente tapava os ouvidos, fechava os olhos. Aí o Dito se abraçou com Miguilim. O Dito não tremia,
malmente estava mais sério. ― "Por causa de Mamãe, Papai e tio Terêz, Papai-do-Céu está com raiva
de nós de surpresa..." ― ele foi falou.
― Miguilim, você tem medo de morrer?
― Demais... Dito, eu tenho um medo, mas só se fosse sozinho. Queria a gente todos morresse
juntos...
― Eu tenho. Não queria ir para o Céu menino pequeno.
Faziam uma pausa, só do tamanho dum respirar.”
ROSA, Guimarães. Manuelzão e Miguilim; Corpo de Baile. 12. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.

Traços estilísticos deste autor canônico da terceira geração modernista que se evidenciam no texto
são:
a) valorização da natureza, coloquialismos e linguagem afetiva.
b) neologismos, fluxo de consciência e narrador protagonista.
c) hipérboles, dualidades e rebuscamento formal.
d) idealização dos heróis, uso da mitologia e fuga da realidade.
e) pessimismo, morbidez, boemia e apego à morte.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento de autor e obra do cânone e
conhecimento de movimentos literários.
Alternativa A: correta – gabarito. A natureza é representada como uma potente força hostil da
qual os personagens sentem medo, inclusive porque são crianças. Os trovões são tão ameaçadores que
pensam que podem morrer, o que motiva a discussão sobre a morte. Os coloquialismos são observados
tanto no registro do narrador quanto na fala das próprias personagens. Por fim, a linguagem afetiva
transmite a subjetividade desse texto, que conta a história da cumplicidade desses irmãos.
Alternativa B: incorreta. Cuidado: os neologismos são um recurso estilístico de Guimarães Rosa,
mas eles não são predominantes nesse trecho. Tampouco há fluxo de consciência nem o narrador é
protagonista.
Alternativa C: incorreta. Essas são características do Barroco e não do Modernismo.
Alternativa D: incorreta. Essas são características do Arcadismo e não do Modernismo.
Alternativa E: incorreta. Essas são características da segunda geração romântica, conhecida como
mal do século, e não do Modernismo.

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Gabarito: A.

74. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) A
partir do excerto, responda à questão:

“Lá sei, ah! Rosa Desaparecida, Desaparecida, Desaparecida. Tentei refazer o retrato e ficou uma
imitação pobre: apenas uma moça na janela segurando uma laranja e não a Rosa segurando o meu
mundo, foi o meu mundo que ela segurou quando lhe dei a laranja, Segura assim, não se mexa.
Apodreceu. Tentei um segundo retrato e acabei rasgando tudo, estava só e bêbado quando chamei o
Diabo, Quero pintar como pintava, me faça pintar como antes e lhe dou já minh’alma! Será que você
não quer a minha alma? Mas é uma alma tão porcaria assim que nem você aceita? Quando Marina
chegou, contei que quis fazer o maldito do retrato e o Diabo nem deu sinal de vida. Ele já tem alma
demais, ela disse, está querendo se desfazer das que tem. Apodreceu. A laranja. Não, não se refaz
nada, meio século já se esvaiu, quanto ainda me resta? E se eu tentar de novo, você acha que é tarde?”
TELLES, Lygia Fagundes de. A sauna. In: O seminário dos ratos. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

A principal técnica literária utilizada no modernismo intimista, como a empregada acima, é:


a) fluxo de consciência.
b) discurso direto.
c) sujeito explícito.
d) narrador irônico.
e) monólogo exterior.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/Gramática aplicada à Literatura. Observação: esse livro
foi obra obrigatória do ITA 2020.
Alternativa A: correta – gabarito. O fluxo de consciência é a manifestação do monólogo interior. É
dar vazão ao pensamento da personagem, o que no texto se concretiza como se fosse uma verborragia.
Tudo parte da mente da personagem, sem a mediação de um narrador. O homem no texto se mostra
atormentado, cheio de questionamentos.
Alternativa B: incorreta. O discurso direto é representado por fala. O diálogo se expressa por
pontuações: travessão ou aspas, não é o caso. Tudo é fluido, como se fosse uma torrente, daí o nome
fluxo de consciência.
Alternativa C: incorreta. Essa seria uma técnica gramatical e não literária.
Alternativa D: incorreta. O narrador irônico é típico do Realismo e não da prosa modernista da
terceira geração.
Alternativa E: incorreta. O nome exato seria monólogo interior e não exterior.

Gabarito: A.

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75. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022)
Desfrute do poema abaixo e responda ao comando.

“Quando nasci um anjo esbelto,


desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir. (...)”
PRADO, Adélia. Com licença poética. Disponível em: https://tinyurl.com/h3r4zzje. Acesso em: 02 maio 2021.

Entre as características da literatura contemporânea, a que se verifica no poema acima é:


a) lugar de fala.
b) cultura de massa.
c) formas breves.
d) suporte tecnológico.
e) memorialismo.

Comentários
Alternativa A: correta – gabarito. O lugar de fala é a oportunidade que minorias têm de se
expressar, geralmente depois de um longo tempo sem poder. A questão de gênero é a temática principal
no poema, por isso é uma importante força de expressão feminina.
Alternativa B: incorreta. Na literatura contemporânea, a cultura de massa alcança fortemente o
Brasil, impactando o modo como os artistas dialogam com as referências estrangeiras. O cinema e a
televisão, principalmente estadunidenses, passam a fazer parte do cotidiano dos brasileiros. Porém, esse
traço não se observa no poema.
Alternativa C: incorreta. Cuidado: a estrofe termina com o símbolo de reticências entre parênteses,
o que indica que apenas um trecho do poema foi utilizado e não ele na íntegra. Por causa disso, não temos
acesso à dimensão total do poema para afirmar se ele se classifica como forma breve ou não.
Alternativa D: incorreta. É comum a literatura participar da era tecnocientífica, usufruindo-se dos
meios tecnológicos. Todavia, essa característica não se verifica na estrofe acima.
Alternativa E: incorreta. O memorialismo é mais comum em diários como “Quarto de despejo” de
Maria Carolina de Jesus. No poema, o eu lírico tenta se afirmar enquanto mulher.

Gabarito: A.

76. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022)
Fazem parte das tendências literárias portugueses autores como:
a) Luís de Camões, Sá Miranda e Gil Vicente.
b) Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros.
c) Camilo Pessanha, Florbela Espanca e Eugênio de Castro.

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d) Almeida Garrett, Camilo Castelo Branco e Júlio Dinis.


e) José Saramago, Valter Hugo Mãe e Agustina Bessa-Luís.

Comentários
Questão de conhecimento sobre autores do cânone literário português.
Alternativa A: incorreta. Luís de Camões e Sá Miranda são escritores do Classicismo Português,
também chamado de Renascimento e Gil Vicente é um escritor humanista.
Alternativa B: incorreta. São todos escritores da primeira geração modernista portuguesa, também
chamada de Orfismo.
Alternativa C: incorreta. São todos escritores do movimento de transição do século XIX para o XX,
que em Portugal foi a expressão do Simbolismo.
Alternativa D: incorreta. São todos escritores românticos portugueses, da primeira, segunda e
terceira geração respectivamente.
Alternativa E: correta – gabarito. São todos escritores da literatura portuguesa
contemporânea. José Saramago escreveu “Ensaio sobre a cegueira”, Valter Hugo Mãe
escreveu “A máquina de fazer espanhóis” e Agustina Bessa-Luís escreveu “A Sibila”,
entre outros. #Dica: há um filme de “Ensaio sobre a cegueira” com direção do brasileiro
Fernando Meirelles. #AprendaSeDivertindo #CorujaTambémSeDiverte.

Gabarito: E.

77. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) Leia
o poema abaixo e responda à questão.

F O G O
F o r O
F o r A
F u r A
A u r A
A g r A
Á G U A

CAMPOS, Augusto de. Doublets. In: O anticrítico. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

O poema acima faz parte de uma vertente do Modernismo Tardio, a ver:


a) Versilibrismo.
b) Concretismo.
c) Metrificismo.
d) Esteticismo.
e) Paralelismo.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento do movimento literário e Gramática
aplicada à Literatura.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 261


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
Profa. Luana Signorelli

Alternativa A: incorreta. O versilibrismo é o uso de versos livres (sem métrica fixa). No caso do
poema acima, sequer se trata de um verso tradicional, pois ele pode ser lido em mais de uma direção.
Alternativa B: correta – gabarito. O concretismo é uma vertente da transição da segunda geração
modernista apara a terceira, da qual fizeram parte autores como os Irmãos Campos (Augusto e Haroldo;
o Augusto ainda está vivo até hoje); Décio Pignatari, entre outros. O preceito do concretismo é o critério
verbi-voco-visual. São levados em consideração aspectos como os verbais (escolha das palavras e
sentidos), vocais (semelhança entre as palavras, troca de letras) e visuais (a própria construção de um
retângulo por meio da forma do poema). Ou seja, os concretistas costumam valorizar muito as formas
geométricas.
Alternativa C: incorreta. Esse termo sequer existe. A metrificação não é tão importante no
Concretismo, mas sim a disposição das palavras e a ressignificação do verso, que é levado ao limite.
Alternativa D: incorreta. O esteticismo é sinônimo de Parnasianismo. Ou seja, apego ao lema: “arte
pela arte”.
Alternativa E: incorreta. Na Literatura, paralelismo é o recurso de repetição de refrões, algo mais
comum em letras de música. Na Gramática, é a correspondência de funções gramaticais e semânticas
existentes nas orações. Não há repetição idêntica de trechos inteiros nem tal correspondência no poema.
Entre os versos, tanto a classe morfológica das palavras muda quanto o seu sentido também. Por exemplo:
“fogo” e “água” são substantivos; “fora” é advérbio e “fura” é verbo conjugado na terceira pessoa do
singular.

Gabarito: B.

78. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) A
partir do trecho abaixo, responda ao que se pede.

“E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte Severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia.”

Quanto aos seus conhecimentos acerca da obra acima, assinale a alternativa correta.
a) Uma das características da primeira geração modernista é a denúncia de situações sociais
miseráveis, como é o caso do retirante nordestino.
b) Se todos morrem sempre da mesma maneira, o poema revela semelhança com um movimento
literário do fim do século XIX que é o determinismo.
c) O poema “Morte e vida Severina” é na verdade um teatro escrito em forma de versos, em que o
diálogo é uma potência humanizadora contra as mazelas sociais.
d) Essa obra cabralina apresenta traços em comum com o teatro de Ariano Suassuna, sobretudo no
quesito do efeito de texto voltado para o cômico e humorístico.

AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES 262


DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
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e) O romance de 30 se opôs radicalmente à poesia do mesmo período, tanto é que o romance era
crítico, à medida que a poesia era memorialista.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento do movimento literário e
conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. Não da primeira, mas sim da segunda geração modernista.
Alternativa B: incorreta. O determinismo é uma teoria do fim do século XIX, mas não movimento.
O movimento que fez uso dele foi o Naturalismo.
Alternativa C: correta – gabarito. Tanto é que o subtítulo dessa obra é “auto de Natal”. Porque as
personagens conversam e compartilham suas agruras entre si, elas são capazes de superar suas limitações
imediatas e alcançam a esperança no fim do poema mediante afirmação da vida.
Alternativa D: incorreta. O poema acima expressa condições de morte precoce, o que é bem
trágico e não cômico.
Alternativa E: incorreta. Cuidado com absolutismos: “radicalmente”. Pelo contrário: tanto a prosa
quanto a poesia da geração de 1930 tenderam a ser sociais.

Gabarito: C.

79. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) Leia
o poema abaixo e responda à questão.

CONFISSÃO
Não amei bastante meu semelhante,
não catei o verme nem curei a sarna.
Só proferi algumas palavras,
melodiosas, tarde, ao voltar da festa.

Dei sem dar e beijei sem beijo.


(Cego é talvez quem esconde os olhos
embaixo do catre.) E na meia-luz
tesouros fanam-se, os mais excelentes.

Do que restou, como compor um homem


e tudo o que ele implica de suave,
de concordâncias vegetais, múrmurios
de riso, entrega, amor e piedade?

Não amei bastante sequer a mim mesmo,


contudo próximo. Não amei ninguém.
Salvo aquele pássaro – vinha azul e doido –
que se esfacelou na asa do avião.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Confissão. In: Claro enigma. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
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A segunda geração modernista representa o retorno das formas clássicas. Após a leitura do soneto
acima, é correto inferir que o eu lírico
a) questiona sobre seu lugar no mundo, pois é influenciado pela brutalidade de uma guerra que o
atinge diretamente, mas depois disso consegue se reerguer.
b) caminha como um nômade por sua cidade tentando recuperar vínculos antigos com seus ancestrais,
rendendo-se às tendências passadistas e memorialistas.
c) sente-se conciliado consigo próprio, tanto é que tem um propósito ao conferir palavras, certeza que
ele descobre numa epifania depois de sair de uma festa.
d) estabelece intertextualidade implícita com movimentos literários anteriores, ao mesmo tempo que
tenta tirar de si o seu mérito, rebaixando o poema à banalidade e à sua visão de mundo pessimista.
e) demonstra o quanto é incapaz de mobilizar o amor próprio, tanto é que sua jornada é do desespero
rumo à conscientização e ao autoconhecimento.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento do movimento literário e
conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. Há uma fase na poesia drummondiana bem influenciada pela guerra, mas
não há menção direta dessa temática no poema acima.
Alternativa B: incorreta. Também uma parte da poesia drummondiana é memorialista, quando ele
fala de sua cidade natal Itabira, mas não é o caso. Além disso, essas características são de outro poema
de “Claro enigma”, aquele que fecha a obra e se chama “Máquina do mundo”.
Alternativa C: incorreta. Nem se sente conciliado tampouco certo, mas sim cheio de dúvidas, nem
passou por epifania. Pois epifania significa grande revelação, e o eu lírico parece debochar do fato,
rebaixando-o: “Só proferi algumas palavras”.
Alternativa D: correta – gabarito. Intertextualidade implícita porque na primeira estrofe o eu lírico,
por causa da menção ao “verme”, pode estar se referindo a autores de movimentos literários anteriores
a ele, como Machado de Assis no Realismo e Augusto dos Anjos no Pré-Modernismo. No romance
“Memórias póstumas de Brás Cubas”, o narrador-defunto diz: “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes
do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas” e Augusto dos Anjos
também tinha obsessão por vermes, como no poema “O deus-verme”: “Verme - é o seu nome obscuro
de batismo”. No fundo, o eu lírico sente dúvidas e questiona o seu lugar nessa História Literária.
Alternativa E: incorreta. Não chega a conscientizar-se. Pelo contrário, o poema acaba de maneira
bem pessimista: com o esfalecer de asas no avião.

Gabarito: D.

80. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) Leve
em consideração o poema a seguir e se atente ao comando.

“E aqui ficamos
todos contritos,

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
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a ouvir na névoa
o desconforme,
submerso curso
dessa torrente
do purgatório...

Quais os que tombam,


em crime exaustos,
quais os que sobem,
purificados?”

Estes são os versos finais de “Romanceiro da Inconfidência” (1953), de Cecília Meireles. A partir do
excerto, depreende-se que o eu lírico
a) revela a continuidade de um raciocínio determinista e a mentalidade fatalista do fim do século
anterior.
b) é um registro resignado de quem sabe que perde uma guerra no passado e não deseja mais lutar.
c) tenta chamar atenção dos leitores mediante provocação e o apelo direto, incitando-lhes à
consciência.
d) procura colocar um ponto final em questões histórica mal resolvidas, mas para as quais agora há
solução.
e) é subvertido o valor moralista dos bons e dos maus, de tal forma que os criminoso não serão
expiados.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento do movimento literário e
conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. Se fosse determinista, todos os bons e os maus já estariam julgados de
antemão, mas não é isso o que propõe o poema; pelo contrário: permite a dúvida.
Alternativa B: incorreta. Não é resignado nem derrotista: o eu lírico diz que estão contritos
(arrependidos); então, podem mudar.
Alternativa C: correta – gabarito. É nesse sentido que representa o que o crítico literário Umberto
Eco chama de obra aberta, pois à medida que a obra termina com uma pergunta, todo o curso da História
é ressignificado, fazendo com que os leitores participem dela ativamente.
Alternativa D: incorreta. Não traz certeza nenhuma, tanto é que o trecho se encerra com uma
pergunta.
Alternativa E: incorreta. Nada é consolidado de forma absoluta. Pelo contrário, os versos apontam
para uma possível reflexão.
Gabarito: C.

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DE 1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO
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11.0 Considerações Finais

Prezados alunos, foi um prazer guiar-lhes na sua jornada. Mas ela não termina por aqui: não vou
sossegar enquanto vocês não conseguirem a aprovação! Por isso, os mesmos recados de sempre são
válidos.
Eu me coloco à disposição de vocês para sanar eventuais dúvidas.
Tenho a meta de responder ao Fórum de Dúvidas, com a qualidade e profundidade exigidas, assim
como podem me encontrar em redes sociais. E agora também temos Sala VIP.

Versão Data Modificações Professora


1 10/04/2023 Entrega da primeira versão do texto. Luana Signorelli

Professora Luana Signorelli

/luana.signorelli Professora Luana @profa.luana.signorelli


Signorelli

Luana Signorelli @luanasignorelli1

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