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Sumário

Introdução ...................................................................................... 2
Biografia ......................................................................................... 3
Bolívia ............................................................................................ 5
Sob a lente de Wicky ..................................................................... 7
Análise de fotos ............................................................................. 9
Coca ............................................................................................. 14
Considerações finais: ................................................................. 15
Anexo - Entrevista ....................................................................... 17
Bibliografia................................................................................... 19

1
Introdução
A história da fotografia é algo pouco trabalhado no curso de licenciatura de
forma geral, talvez pelo medo de fazer uma análise errônea da imagem ou mesmo
pela falta de técnica ao interpretar, o curso de “História da Fotografia da América
Latina” tenta desmistificar esse medo, e nos ensina a utilizar a imagem, afinal estamos
na era da imagem, as pessoas de forma geral acreditam no que veem e isto não será
diferente com futuras gerações.

O professor ministrante da disciplina nos pediu um paper sobre algo da


história da fotografia, relacionada com a América latina, mas não limitou a temática,
poderíamos trabalhar com aquilo que quiséssemos dentro deste enorme universo que
é a América latina, óbvio que quando ficamos com tanta liberdade no âmbito
acadêmico chega a dar certo receio, afinal todos os temas normalmente são pré-
expostos, e formou-se então a dúvida do que escolher para o tema. O assunto de
classes trabalhadoras marginalizadas é bem interessante para o estudo,
principalmente quando incluídos em fotografia, pois em sua maioria, as pessoas
retratadas não escrevem sua própria história, é sempre a visão do outro sobre sua
vida, e posteriormente vemos diversas pesquisas para compreender o que é exposto.
As fotografias do suíço Jean-Claude Wicky são encantadoras, por mostrar os
mineradores bolivianos, pois de forma geral todos sabem o trabalho pesado e cruel
que os mineradores exercem nas minas, mas as fotografias dele deixa tudo de uma
forma tão artística que é preciso ser analisado.

As primeiras dificuldades encontradas nesse tema foram à falta de fontes e


a linguagem; grandes partes das informações estão em outras línguas, como: alemão,
holandês, francês e espanhol que são línguas que são domínio por grande parte da
população, mas, da melhor forma foi possível trazer as informações corretas. Jean-
Claude Wicky escreveu livros, mas nenhum foi divulgado na internet, então as
informações que temos são bem escassas, portanto utilizaram-se vários livros e
reportagens de sites, entrevistas e revistas relacionados ao tema, para dar a base ao
estudo.

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Biografia
Jean-Claude Wicky nasceu em 1946 em Moutier, Suíça. É um fotógrafo
autodidata e renomado, sua série mais conhecida é sobre mineiros bolivianos (1984-
2001), que é a que analisaremos, sua obra foi exposta na Fundação Suíça para a
Fotografia, o Musée de l'Elysée, em Lausanne, e do Instituto de Artes Minneapolis, e
tem fotografias em diversas coleções como Biblioteca do Congresso Washington,
Minneapolis Institute of Arts e da Fundação Suíça para a fotografia em Winterthur e
Colabora com vários jornais e revistas, incluindo GEO e da Revista Smithsonian.

Ele era empregado no comércio e futebolista, mas viu que seu verdadeiro
amor era por viagens, e sonhava em ser fotógrafo, tendo que adiar esse sonho por
não poder comprar imediatamente os equipamentos necessários, então foi ao Japão e
comprou as duas câmeras que precisava. Durante sua viajem a América Latina, se
chocará com as condições de vida e a cultura, e isso condicionará parte de sua vida,
principalmente as minas de prata de Potosí, na Bolívia "Comecei visitando a única
mina que era na época para visitar turistas. Intrigado, no dia seguinte, subi mais alto
da montanha e passei o dia em uma cooperativa de mineração", ele então decidiu
fazer um trabalho sobre, mas vai esperar anos para começar, inicia sua jornada em
1984 a 2001, durante este tempo faz mais de uma dezena de viagens para Potosí.

Jean ainda vive em Moutier na Suíça em sua trajetória de vida de 1969 a


1975, deu a volta ao mundo e começou como fotógrafo durante uma estadia de 22
meses no Japão. Sua primeira exposição chamava "Através Índico América", e foi
exposta em Moutier, em 1978, nos anos 80 ganhou bolsa para estudar a nível
internacional e também ganhou Prêmio Cultural da Cidade de Moutier. Através da
Fundação Suíça para a fotografia participou em várias exposições coletivas, incluindo:
“A fotografia Swiss desde suas origens até o presente, apresentado em Paris em
1985; a instituição comprou, além disso, 40 de suas obras. Em 1997, ele participou da
apresentação das coleções de fotografia da Confederação, no Musée de l'Elysée, em
Lausanne.”

Já em 1995, iniciou uma obra fotográfica no sudeste da Ásia e foi um dos


fotógrafos estrangeiros pioneiros que fizeram uma apresentação em Vientiane, Laos
(A visão do Laos), e entre 1984 e 2001, fez estadias sucessivas em trinta campos de
mineração bolivianas. “Seu trabalho foi completado com uma exposição e um livro. A
exposição foi apresentada nas dez maiores cidades da Bolívia. Então ele foi para
outros países da América Latina. Até agora, foi apresentado em 36 cidades, 12 países.
É agora no México. Ele foi visitado por mais de 500.000 pessoas.”

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“O livro "Mineiros Bolívia" foi publicado em quatro edições: francês,
espanhol, alemão e italiano.” E a serie fotográfica já foi vista em museus e
galerias na Europa e na América Latina. O trabalho de Jean foi publicado
em vários jornais e revistas na Europa e na América Latina, incluindo a
revista Smithsonian e Geo Magazine.

“Suas fotografias estão em coleções públicas e privadas, incluindo a


Biblioteca do Congresso (EUA), o Instituto de Arte de Minneapolis (EUA), a
Confederação Suíça, o Musée de l'Elysée, em Lausanne, o cantões de
Berna e Jura, a cidade de Moutier, da Fundação Suíça de Fotografia em
Zurique, o Musée de l'Elysée, em Lausanne, o centro histórico do museu de
mineração, Lewarde, França.”

Durante anos, viajou para a Bolívia, para fotografar o mundo dos mineiros, ao
finalizar o trabalho e voltar para sua casa com o livro pronto decide fazer um filme com
as fotografias em “preto e branco alternativo com seqüências filmadas trazer o
espectador para as profundezas do Tierre onde o rosto mineiros rocha e do diálogo
com o tio. (o diabo). Diga a sua dura realidade, mas também a sua dignidade, o seu
orgulho, sua nobreza e costumes.”

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Imagem 01- Cartaz da exposição na Venezuela

Bolívia
A região mineradora mais conhecida é Potosi, grande parte das riquezas
adquiridas no império colonial vieram da região de Cerro Rico, levando a riqueza para
Europa. A pobreza na região, que até os dias de hoje convive com grandes
desigualdades sociais, mesmo já dando sinais de sua escassez de recursos a
mineração ainda continua sendo praticada.

“A descoberta das minas de prata de Potosi representou um dos


acontecimentos mais importantes da historia americana. Esta vila foi
durante muito tempo o coração econômico, a “joia do império” o
impulsionador da economia colonial sul-americana” (PRODAV, p.37)

O trabalho inicialmente introduzido pelos espanhóis nas minas era a mita,


um sistema já praticado pelos índios e reaproveitado pelos colonizadores, não da
forma executada incialmente que era comunitária, e sim pela força e repressão, os
índios eram arrancados de suas comunidades e obrigados a trabalhar em condições
desumanas, grande parte da população nativa morreu neste período, vitima de
doenças, intoxicação e doenças do pulmão.

“ A escravidão foi o regime de trabalho preponderante na colonização do


Novo Mundo; o trafico de africanos, que a alimentou, um dos setores mais
rentáveis do comercio colonial. Se à escravidão africana acrescermos as
varias formas de trabalho compulsório, serviu e semi-servil – encomenda,

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mita, “indenture”, etc.-, resulta que era estreitíssima a faixa que restava, no
conjunto do mundo colonial, ao trabalho livre. A colonização do Antigo
Regime foi, pois, o universo paradisíaco do trabalho não-livre, eldorado
enriquecedor da Europa” (CARDOSO p.70)

“As condições de trabalho eram precárias e desgastavam fisicamente seus


agentes reduzindo-lhes o tempo de vida. As fontes dão conta de que
embora o trabalho no interior da mina fosse esgotante, muitos indígenas
depois de cumprir suas obrigações referencias à mita, permaneciam
lavrando em Potosi por não ter uma alternativa de sobrevivência melhor.”
(PRODAV, p.49)

A Bolívia, foi uma das primeiras colônias a conquistar a independência,


liderado por Simon Bolívar, e em homenagem a ele o país recebeu seu nome, “A nova
configuração do território boliviano unida à grande instabilidade política, faz a Bolívia
conhecer um golpe de estado a cada ano entre 1850 e 1950. Mesmo assim, houve,
naquele país, fases de prosperidade com a exploração da quinina, planta usada como
remédio (1830-1850), do guano (fertilizante orgânico) e do salitre (1868-1878),
do látex (1895-1915) e do estanho a partir de 1880.”3

Devido a grande desigualdade social, em 1952, ocorreu um movimento


popular liderado pelo grupo (MNR) movimento nacionalista revolucionário, que chega
ao poder, graças a isso as minas foram nacionalizadas, se consegue o direito do voto
universal e a reforma agrária, posteriormente o grupo se divide, e em 1964 o exército
toma o poder e uma curiosidade é que Che Guevara é executado pelo exército em
1967.

“Neste congresso, já se discutir bastante sobre como concepções e linhas


politicas erradas podem levar a classe operaria a derrotas, como a queda
do general Torres, por exemplo. Este episodio não foi só uma derrota dos
trabalhadores, mas de todo o povo, porque todos pagaram por ela. O
sergimento do fascimo, após a queda de Torres, em 1971, submeteu a
maioria do país em beneficio de 10 por cento da população boliviana.”
(FILHO, p.184)

“Vejamos. Hoje o povo boliviano está vivendo uma conjuntura democrática,


um processo democrático, e não esta vivendo nem a revolução proletária,
nem a ditadura do proletariado.” (FILHO, p.184)

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http://www.infoescola.com/bolivia/historia-da-bolivia/

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Em 1982, os civis retomam o poder, mas passam por sérias crises
econômicas, teve a maior inflação de sua história, como forma de controlar a
economia, nos anos 1993-1997 o presidente Gonzalo Sanchez de Lozada, tenta
executar o liberalismo econômico privatizando às minas e empresas, mas ainda assim
a instabilidade persiste, pois o investimento externo não beneficiava setores com
muitos empregos, privilegiando o petróleo e telecomunicações, juntamente com a
pressão dos EUA, que obrigava o país a abrir mão de sua grande fonte de renda: a
produção de coca que representava certa de 8% do produto interno bruto, e com isso
o presidente desagrada a população, em 1997 Hugo Banzer ex-ditador vence pelas
urnas e tenta novamente parar a produção de coca, liberando restritivamente por ser
um hábito milenar, apostando tudo na exploração de gás, causando estagnação
econômica e novamente a revolta popular. Este é o período que mais nos interessa,
pois é a contextualização histórica do período que Wicky fotografou os mineiros,
vemos que essa delimitação de tempo foi marcada por muitas crises, e levantes
populares.

Em 2003, os sindicatos, líderes indígenas e camponeses pedem a


nacionalização do gás natural, liderados por Evo Morales, que em 2006 se torna o
primeiro presidente indígena, conseguindo estabilidade, e estatizando as empresas, e
conseguindo mais privilégios aos índios. Atualmente o país tem exploração do petróleo
e do gás natural e a mineração.

Sob a lente de Wicky

"Eu entrei no país através da sua porta mais dolorosa"4, conta o fotografo
que ficou duas décadas registrando em formato analógico (longe de dispositivos
digitais), superando o desafio de fotografar em ambiente escuro sem flash, e as
barreiras como a umidade e a poeira, tudo para poder retratar as péssimas condições
de trabalho vividas pelos mineiros o ambiente de trabalho que é bastante quente e
cheio de perigo, juntamente com os péssimos salários, a falta de saúde e segurança
dos mineiros, desde crianças aos pensionistas. Os retratos são em preto e branco “a
luz fraca banha os rostos cansados, sujos, suados, mas o olhar do fotógrafo não é de
piedade nem medo, é simplesmente um olhar carinhoso, amigo.”5

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http://www.paginasiete.bo/cultura/2014/5/11/todos-dias-noche-21167.html
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http://www.paginasiete.bo/cultura/2014/5/11/todos-dias-noche-21167.html

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Ser minerador é certamente uns dos trabalhos mais difícil do mundo, mas
também é um dos proletariados mais ignorados. A Bolívia é um país do terceiro mundo
que dependem de seus recursos, Wicky trabalha de forma incrível, pois ele não queria
usar os mineiros e sim mostrar para o mundo sua situação. Para este fazer este
trabalho ele fica anos na Bolívia, na maior parte do tempo ele não usava as câmeras
para não intimida-los, ele se torna amigo dos trabalhadores, conviveu com as
mulheres, velhos e crianças; para ele não são rostos anônimos, todos tem nome e
história. Ele chegou a visitar 30 minas, incluindo pequenas cooperativas que correm
todos os riscos, foi um trabalho lento, mas aos poucos ele tornou-se amigo dos
mineradores, e assim mostrar sua visão de valores e justiça social, para obter êxito
entra em tuneis claustrofóbicos de mineração, ele queria retratar tudo:

"Como fotografar a umidade, calor, o cheiro acre do mineral que permeia os


corpos do minério? Como fotografar a mina escura, espessa, impenetrável
que a rocha, que apaga todo o senso de direção, a noção do tempo e
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distância (...)? ".

Quando o livro foi lançado em espanhol, Wicky pegou exemplares e doou


para os mineiros, bibliotecas escolares para mostrar que eles e seu trabalho agora
estavam sendo vistos pelo mundo todo. As reações das pessoas foram tão
impressionantes que o fotografo decidiu fazer um documentário com testemunhos.

Imagem 02 – Wicky mostrando seu livro a um dos trabalhadores

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http://www.paginasiete.bo/cultura/2014/5/11/todos-dias-noche-21167.html

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Análise de fotos
O mais extraordinário das fotografias de Jean-Claude Wicky é o jogo de
preto/branco e luz/sombra. Para a análise dessas imagens foi utilizado suportes de
leitura, todavia a interpretação pode não ser totalmente certa.

Imagem 03- Nessa imagem, vemos a escuridão dos tuneis nas minas, sendo
iluminada apelas pelo capacete do trabalhador, o espaço apertado, a precariedade
das escadas que facilmente poderiam se quebrar e o ambiente sufocante causando
falta de ar. Parecendo uma gravura, com linhas fortes e trazendo uma angustia a
quem olha, pelas condições que o trabalhador se encontra, e sabendo que, a qualquer
momento a mina poderia desmoronar e sufocá-los.

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http://www.culture24.org.uk/art/photography-and-film/art367105
Todas as imagens de Wicky estavam sem datação, ou local de onde foram fotografadas.

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Imagem 04 - Essa foto, com a descrição, foi tirada de um site


especializado do fotógrafo, inicialmente o que chama a atenção é a bochecha do
homem, o porquê ela está cheia; por meio de estudos, descobre-se que é “coca”, um
costume típico da população da América Latina, ela é utilizada para dar energia.

Outra coisa que chama a atenção é a frase, que o site colocou junto a foto,
não posso afirmar se esse homem é “Don Paulino Calisaya”, mas a frase é do livro de
Wicky, e chama a atenção pois nas imagens ficam claras as condições horríveis e
desumanas que os mineiros trabalham, com risco constante a vida, assim, a frase
pode ser compreendida, pois sabendo as condições que os trabalhadores são
expostos, para que eles tirem a riqueza do solo do seu país, fazem com que eles
tenham uma vida medíocre, portanto, enquanto aquele solo produzir o tanto de riqueza
que ele produz, a condição de vida dos bolivianos estará em crise.

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http://www.touslesjourslanuit.com/en/photos

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Imagem 05 - O fotógrafo utiliza a mesma técnica das fotos dos


mineradores trabalhando, com a criança. Talvez ele quisesse mostrar que num futuro
próximo esse quadro de pobreza e falta de segurança que os mineradores vivam não
se alterara, pelas roupas simples e o rosto desse menino sofrido desde tão pequeno e
carrega uma tristeza no olhar; a fotografia quer dizer que estas crianças
marginalizadas estão condenadas a esse trabalho, talvez possamos associar isso a
uma critica ao governo que não faça nada para mudar esse quadro.

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http://www.touslesjourslanuit.com/en/photos/mines/nb1

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Imagem 06 - Essa imagem transmite tristeza, esse homem aparenta estar


fazendo um trabalho pesado, mas fica nítido sua magreza e desnutrição. A posição em
que ele se enquadra, pode até ser comparado a um animal, por estar servindo apenas
para manusear um instrumento com sua força; o que chama a atenção também é a
aparência dele, que apesar de parecer um homem já mais velho, na verdade é o
desgasto que sua profissão o coloca, fazendo um adulto parecer um idoso.

A ênfase está voltada para o homem, pois nota-se a uma luz apenas nele,
deixando a atenção voltada para um foco principal.

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http://www.aworldtowin.net/reviews/BoliviaMiners.html

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Imagem 07 - Nesta representação vemos dois trabalhadores tendo uma


refeição, o que também é uma imagem que choca, pois as minas são úmidas,
escuras, sem circulação de ar, e dá uma certa revolta ver essas duas pessoas
comendo num lugar tão sujo, sem estrutura nenhuma, tudo está improvisado, e
obviamente estão ali pela necessidade e a dificuldade de sair para fazer suas
refeições e depois voltar.

Outro elemento, é a bebida, há uma quantidade notória de garrafas em


torno dos homens. E sabe-se que esses mineradores trabalham por muitas horas, e
tentam manter-se acordados, para isso bebem muito álcool, na maioria das vezes até
mesmo o álcool puro de cozinha, outro fator para consumir esta substância é a
necessidade de manter equilíbrio de temperatura corpórea.

Isso faz com que refletimos sobre a saúde destes trabalhadores, que são
sujeitos a consumirem substâncias nocivas em prol do seu rendimento no trabalho.

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http://www.touslesjourslanuit.com/en/photos/mines/nb2

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Coca

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Imagem 08-09 - Quando vemos o grande acervo de fotos notamos que


grande parte dos mineiros está com a bochecha cheia, e isso é devido ao hábito de
mascar folha de coca, um habito que grande parte das pessoas desconhece, mas
historicamente comum, pois a “América é um continente que masca. A do Norte,
chiclete. A do Sul, coca, tabaco, erva ou fome.” (CABALLERO p.144).13

“ O uso de drogas entre a população indígena foi uma característica


marcante em Potosi. Logo no inicio da exploração das minas no século XVI,
o consumo de folhas de coca pelos indígenas mineradores atingiu volumes
altíssimos. Essa planta, originalmente na sociedade indígena era
empregada com finalidades medicinais, assépticas, estimulante físico,
moeda, em cerimonias religiosas, entre outras aplicações” (PRODAV p. 61)

Na América espanhola, inicialmente era um hábito restrito a realeza, há


uma lenda de que uma moça muito atraente e egoísta chamada Coca seduzia os
homens, e logo depois os rejeitava, quando isso chega aos ouvidos do imperador, ele
manda sacrifica-la, dividir seu corpo e enterrar nos quatro cantos do reino. De seu
corpo nasce a planta chamada de Mama Coca, a planta era considerada regalia dos
deuses, e só poderia ser consumida pela população de forma geral se tivesse
autorização (BarretoI), isso se perdeu com a colonização espanhola e a introdução
dos índios nas minas viu-se o consumo se acelerar descontroladamente como forma
de enganar a fome e dar forças para trabalhar.

“ Com a desarticulação do Império Inca e de grande parte das


comunidades indígenas espalhadas pelo Peru, o consumo de folhas de
coca, que de certo modo era controlado, racionado e elitizado, sofreu uma
brusca difusão entre todas ao grupo sociais, principalmente nos centros

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http://www.touslesjourslanuit.com/en/photos/mines/nb2
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“ América es el continente que masca. La del Norte, chicle. La del Sur, coca, tabaco, yerba o hambre.”

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mineradores como Potosi. Além disso, os fortes interesses mercantis
advindos da produção e comercialização das folhas de coca, fizeram
prosperar a disseminação e seu consumo, fazendo com que os partidários
do uso indiscriminado da coca no século XVI afirmassem que “no hay Perú
sin coca” (PRODAV, p. 61)

Considerações finais:

Na série fotográfica de Jean-Claude Wicky, muito mais do que um


interesse profissional, foi transmitida uma questão social com compromisso à Bolívia,
um país usado e explorado em sua história, que apesar de ter se passado muito
tempo desde a colonização espanhola, ainda muitos mineiros indígenas ainda dobram
as montanhas, caminhando até as minas.

“ Assim sendo, com toda a sua complexidade as minas do cerro rico de Potosi
representaram o inicio, a base fundamental e subsistência econômica da vila. Sua
importância na estruturação de Potosi é total, ela é o coração e a razão de ser
deste núcleo urbano que nasceu com a descoberta de prata, se desenvolveu
graças a esta atividade e que ainda hoje, depois do esgotamento das minas, vive
dessa fantasia e representação.” (PRODAV p.51)

Homens que trabalham nas minas de prata, com serviço desumano, em


péssimas condições sociais e trabalhadoras. A questão é tão nociva que faz até com
que sentimos vontade de que o solo pare com a produção para que a vida tenha uma
melhora. Nas imagens há a comovente foto de uma criança, com o olhar triste,
parecendo que já sabe seu destino, fazendo-nos lembrar dos predestinados, que não
importa o que aconteça o seu destino já está traçado. Apesar de sabermos que a coca
é um costume cultural, o que entristece é vermos que os trabalhadores a utilizam por
necessidade, para enganar a fome e juntamente com o álcool, fazendo efeito de deixa-
los acordados e dar uma sensação anestésica. Isso faz uma reflexão séria, pois as
condições que vimos nas fotos foi desumana, Jean transmite na arte de fotografar
tantas informações a serem interpretadas que sinceramente dá agonia ver aqueles
homens em condições nocivas à sua vida.

O que pode ser interessante para esse tema, é que seu corpo tem uma
função específica de manter-se vivo, de se defender e continuar seu funcionamento.
Então quando vemos seres racionais entrando em minas que podem desabar, em
tubos minúsculos, mascando coca e bebendo álcool puro que são substancias ruins

15
que seu corpo na maioria das vezes tenta expelir, mas eles tem que acostumar com
aquilo pois é praticamente objeto de trabalho, faz com que vejamos o quão absurdo
esse tema se torna. Quando olhamos as fotos dos mineradores é como se eles nos
olhássemos num pedido de socorro, para que não esqueçamos deles, de tudo o que
passam, e o trabalho de Wicky foi incrível neste sentido, mostrar ao mundo o que
estas pessoas estão sujeitas, ainda mais no período tratado, que é de grande
instabilidade politica e crises.

Suas fotografias podem se assemelhar ao livro Germina de Émile Zola14,


pois ambos conviveram com os mineiros, sentiram suas dificuldades e suas aflições,
enquanto Zola tenta passar tudo isso em sua romance, mostrando para os leitores
essa visão, Wicky faz o mesmo só que sob a lente de sua câmera, ambos mostram ao
mundo essa classe tão excluída e esquecida. Não poderemos esquecem quem ambos
são a visão do outro sobre esse tema, mas executam de maneira fenomenal essa
função.

14
http://ciml.250x.com/archive/literature/portuguese/zola_germinal.pdf

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Anexo - Entrevista

Mineiros da Bolívia: imagens captadas do coração15

''O fotógrafo suíço Jean-Claude Wicky compartilha com Havana sua exposição ''Mineiros
da Bolívia'', todos os dias, à noite, a qual, com a força das imagens, evidentemente
captadas do coração, não precisam muitas palavras explicativas''. Por MireyaCastañe

Trata-se de cem fotografias, algumas de grande tamanho, em branco e preto, em que,


sem dúvida, um estremecido Wicky (Moutier, Suíça, 1946) reflete as paisagens áridas
bolivianas e seus mineiros. Não são cartões-postais.

O fotógrafo consegue transmitir os rostos envelhecidos (esperança de vida de 38 anos) e


doces dos mineiros e seus acampamentos (povos artificiais que surgem ao redor das
minas) e fundamentalmente como trabalham no interior de uma terra rica em prata e
estanho que o Homem sulcou de quilômetros de túneis.

Mostra assim as infinitas e escuras abóbadas (compreendendo imediatamente o porquê


do branco e preto) e o espectador sente a falta de oxigênio, a umidade da chuva azeda
que corrói a roupa e a pele.

De maneira magistral Wicky mostra a personalidade do mineiro boliviano e seu entorno


mágico, porém, dantesco.

Na inauguração, no Centro Hispano-Americano da Cultura, o embaixador boliviano em


Cuba, Saúl Chávez, lembrou que a história da mineração em seu país remonta à conquista
espanhola e sublinhou que o Cerro Potosí, que em quíchua significa Magnífico, se revelou
como a mina de prata mais rica do mundo, dando lugar a expressões como ''vale um
Potosí''.

A mina gerou fortunas como a do mestiço SimónPatiño — salientou — e uma classe de


trabalhadores submetida às piores condições de vida.

Por sua parte, o conselho da embaixada da Suíça, Francesco Ottolini, manifestou que é
uma honra para seu país expor, pela primeira vez, no Centro Hispano-Americano e se
referiu à obra de Wicky, cuja mostra data de 1978, ''Através da América índia''.

Eusebio Leal, Historiador da Cidade, destacou que, em pouco tempo, Havana desfrutou de
três mostras de três brilhantes fotógrafos suíços, Luc Chessex, Burri (presente na
inauguração) e Wicky.

15
http://www.vermelho.org.br/noticia/16246-11

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Afirmou que as fotos de Wicky revelam o olhar do artista que nasce do mais alto da
consciência. Ao concluir a simples cerimônia inaugural, o artista teve uma conversa com o
Granma Internacional.

Como chegou à Bolívia e aos mineiros?

Uma vez, viajando pelo mundo, cheguei à Bolívia e visitei uma mina, naquela época, a
única que deixavam ver aos turistas e só vi um mineiro, mas no dia seguinte subi um
pouco mais no Cerro, o Potosí, e passei o dia todo na mina onde trabalhavam
cooperativistas. Saí tão impressionado, tão perturbado da mina, que eu disse a mim
próprio, um dia vou fazer uma exposição de fotografias sobre os mineiros bolivianos. Só
pude começar este trabalho dez anos depois. Acostumava a viajar à Bolívia uma vez por
ano. O conjunto de fotos, que são cem as que estão aqui, é o resultado de 15 viagens à
Bolívia durante 17 anos.

O que o seduz, os rostos, as minas?

A Bolívia é um país diferente de outros da América Latina, talvez mais autêntico, mais
misterioso. Seduziram-me suas paisagens áridas e a ternura da gente. Entrei por sua porta
mais dolorosa, os acampamentos mineiros e as minas.

O que é para o senhor a fotografia?

A fotografia é o que se sente, não o que se vê. A fotografia consegue ser entendida, mas o
importante é mostrá-la (a exposição foi exibida em mais de 30 cidades latino-americanas)
não por presunção de que pode mudar o mundo, mas é uma pedra a mais no caminho da
informação.

São fotos muito impressionantes.

Obrigado. Sim, mesmo reduzindo ao máximo a imagem. Os mineiros bolivianos realizam


um trabalho quase desumano. Cada foto tem uma história de amizade e solidariedade.
Não é sensacionalismo, mas mostrar a vida da gente com respeito.

Vendo as fotos se compreende por que utiliza o branco e preto.

É assim. Nas minas, acredito que não teria justificação a cor, porque o interior da mina é
um mundo branco e preto.

O que significa esta mostra para o senhor?

O trabalho foi uma experiência humana extraordinária.

18
Bibliografia

ANTUNES, V. Coleção Objetivo - Geografia Geral. Cered. (pag. 72-74) Obs: livro
didático

BARROS FILHO, O. Bolívia: Vocação e Destino. São Paulo, Versus, 1980

CABALLERO, E. Maravillosa Bolivia. Madri: Ediciones cultura hispânica, 1957.

CARDOSO, C. BRIGNOLI, H. História Econômica Da América Latina – Sistemas


agrários e historia colonial. 2 edição. Rio de Janeiro: Graal, 1988

PRODANOV, Cléber C. Cultura E Sociedade Mineradora: Potosi, 1569-1670. São


Paulo: Annablume, 2002.

Disponível em: <http://www.aworldtowin.net/reviews/BoliviaMiners.html> acesso: 01 de


agosto de 2015

Disponível em:
<http://www.comunidadboliviana.com.ar/shop/detallenot.asp?notid=1158> acesso: 01
de agosto de 2015

Disponível em: <http://www.culture24.org.uk/art/photography-and-film/art367105>


acesso 07 de agosto de 2015

Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/acontece/ac1504200301.htm>


acesso em 23 de julho de 2015

Disponível em: <http://www.infoescola.com/bolivia/historia-da-bolivia/> acesso 23 de


julho de 2015

Disponível em: <http://www.paginasiete.bo/cultura/2014/5/11/todos-dias-noche-


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