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• Surge, então, a sociologia contemporânea e o papel de importantes nomes das ciências humanas.
Estudaremos:
1. Norbert Elias
2. Pierre Bourdieu
NORBERT ELIAS (1897-1990)
• Considerado um dos pensadores mais importantes do
século XX
• O que é civilizado?
CIVILIZAÇÃO X BARBÁRIE
(Unicamp 2022)
• Transcrição da primeira legenda: “Mas também, quando a gente se lembra que eles assentam um pobre cristão naquele prato que travam no
beiço e o engolem como se fosse feijoada!…Que horror!”
• Transcrição da segunda legenda: “Mas quem diria! Esses antropófagos é que ficaram com medo de serem devorados pela curiosidade
pública. Só a muito custo o diretor do museu impediu que eles fugissem."
• (Angelo Agostini, Charge sobre a Exposição Antropológica, Revista Ilustrada, n. 310, 1882, p. 4-5.)
• “A Exposição Antropológica Brasileira, ocorrida em 1882, insere-se no quadro das grandes Exposições
Internacionais, bem como das exposições etnográficas desenvolvidas ao longo do século XIX.
Marcadas pela prática colecionista e pela ambição de conhecer, colonizar e categorizar o mundo, as
exposições etnográficas expunham objetos e muitas vezes pessoas de culturas exóticas e distantes. Na
ocasião, sete índios botocudos, acompanhados de intérprete, foram enviados para o Rio de Janeiro com
a finalidade de serem expostos ao público e também estudados pelos pesquisadores do Museu
Nacional.
• Os Botocudos pareciam estar ali para performar o mito do primeiro contato ao serem apresentados
como selvagens, bárbaros, violentos e grotescos. Apesar de terem vivido no aldeamento do Mutum,
portanto sob o jugo e tutela do Estado, foram lidos pelos habitantes da corte como se estivessem tendo
seu primeiro contato com os brancos naquele momento, já que, segundo os jornais, estavam com medo
e queriam fugir. Nessa exposição os Botocudos representavam por definição “o outro”, a imagem que
espelha exatamente o contrário do Brasil civilizado.”
• b) Na charge, os Botocudos são representados como selvagens, violentos e arredios. O trecho deixa
evidente, no entanto, que os brancos de origem europeia capturaram violentamente os indígenas, os
retiraram à força de suas terras e os expuseram a uma condição da qual queriam fugir. Estes são,
portanto, os verdadeiros atos violentos, condizentes com a mentalidade evolucionista do século XIX.
NATUREZA X CULTURA
• Elias deu grande atenção a um tema que, até aquele momento, nenhum sociólogo havia dado
muita importância: as emoções dos indivíduos.
• Quando pensamos em emoções – tristeza, alegria, raiva – ou em instintos – fome, sede, medo
–, normalmente os relacionamos a aspectos biológicos e psicológicos do indivíduo.
Dificilmente pensamos nisso como manifestações culturais.
NATUREZA X CULTURA
• Importante: Norbert Elias não negou que os sentimentos e instintos são parte da nossa
constituição biológica, mas procurou perceber que, em grande parte, a maneira como
manifestamos nossos sentimentos e instintos eles são fruto da cultura que pertencemos.
• Ainda que sejamos animais do ponto de vista biológico, somos capazes de domar, disciplinar
nossos instintos de maneira que nenhuma outra espécie é capaz.
POR EXEMPLO:
• Cultura alimentar americana baseada em fast food e enlatados baseada na ideia de que tempo é dinheiro. Parar para o
almoço, nesse caso, é perca de tempo.
Café da manhã típico do Reino Unido
Café da manhã Paulista
Café da manhã Nordestino
CIVILIDADE E CIVILIZAÇÃO
• Percebe-se, então, que há uma relação forte entre natureza e cultura que interessava bastante a Elias.
• Os Padrões culturais, geralmente, são impostos pelas classes mais ricas e dominantes. Isso serve, de
maneira geral, para diferenciar e distanciar pessoas, criando uma hierarquia inclusive no
comportamento.
• Para Elias essa visão deve ser superada e devemos entender os indivíduos como membros de uma
mesma trama social que foi sendo construída a partir das mais variadas experiências, sem um
planejamento específico.
PIERRE BOURDIEU (1930-2002)
• Uma das questões centrais de Bourdieu era como superar a questão entre agente social, o
indivíduo (e sua subjetividade), e estrutura social, a sociedade (e sua objetividade)?
• Para o autor, diferentemente dos clássicos, não há uma separação entre indivíduo e sociedade,
mas uma relação dialética entre os dois. O que mediaria essa relação entre indivíduo e sociedade
é aquilo que o autor chama de habitus, ou seja, o padrão de comportamento internalizado que
orienta a ação dos indivíduos.
HABITUS
• À medida em que o indivíduo vive e socializa dentro de suas redes de relações, vai
incorporando uma série de regras de convivência, disposições, modos de pensar, preferências,
vestir, sentir, próprios não apenas da sua sociedade ou grupo, mas da sua posição dentro da
classe social. O habitus seria uma lente pela qual o indivíduo olha a sociedade.
• Quando você pensa em um lugar ou uma atividade para se divertir, qual a primeira coisa que
vem à sua mente? Para Bourdieu, o tipo de resposta a essa pergunta revela muito da sua
posição em uma determinada classe social e o habitus que você adquiriu.
CAPITAIS
• Para definir sua posição em uma classe, conforme Bourdieu, é necessário levar em
consideração o quanto e quais capitais o indivíduo dispõe. Capital pode ser entendido como
todo recurso ou poder manifestado em uma atividade social.
• Bourdieu expande a visão marxista ao mostrar que outros tipos de capitais – cultural
(conhecimento e saberes); social (relações sociais que podem ser usados como recursos para se
beneficiar em alguma ocasião) e simbólico (prestígio que identifica determinados indivíduos
em uma ocasião ou espaço) – também são igualmente relevantes
VIOLÊNCIA SIMBÓLICA
• Dentre as “faces” que a violência pode se apresentar destaca-se a violência simbólica, que é um
tipo que se apresenta de maneira mais sutil, nem sempre perceptível e facilmente identificada.
• O sociólogo francês Pierre Bourdieu analisou como os aspectos simbólicos determinam as
práticas sociais e como as hierarquias são mantidas ao longo do tempo.
• A partir disso, cunhou o conceito de Violência Simbólica, que envolve o poder que consiga
impor significados e os torna legítimos quando esconde as relações de força.
• Para que a dominação simbólica funcione, é necessário que os dominados tenham incorporado
as estruturas ligadas à submissão e ao consentimento.
VAI VERÃO...
“Eu não sou índio, não existem índios no Brasil. [...] No dia 19 de abril, a gente comemora um equívoco,
porque se esconde a diversidade de povos que existem no Brasil. Cada povo cria seu modo de estar no
mundo a partir da cultura, que é alimentada pela língua que ele fala. E cada povo tem suas tradições, sua
crença, cultura, política e economia. Nós aprendemos que só existe a língua portuguesa por aqui, né? Mas no
Brasil existem 307 línguas muito antigas e diferentes entre si. E a língua é uma leitura de mundo. Quando a
gente generaliza e diz que ‘o índio chama casa de oca’, imediatamente a gente está esquecendo que oca é
apenas um jeito de falar. E essas línguas são tão diferentes entre si quanto o português é diferente do chinês.”
Disponível em: http://www.nonada.com.br/2017/11/daniel-munduruku-eu-nao-sou-indio-nao-existem-indios-
no-brasil/. Acesso em: 03 de fev. 2020.
a) Conforme o texto, cite e explique duas formas de violência simbólica contra a população indígena no
Brasil.
b) Explique de que maneira o conceito de violência simbólica estaria relacionado ao conceito de
etnocentrismo.
GABARITO
• a) Alguns grupos consideram os indígenas como atrasados, primitivos, pouco propícios ao trabalho,
preguiçosos, não civilizados e selvagens. Existe um imaginário que envolve a noção de que é considerado
como indígena apenas aquele indivíduo que fala somente a língua nativa, que não utiliza instrumentos
tecnológicos, que segue, exclusivamente, os hábitos e os costumes relacionados à sua etnia.
• Para além dos estereótipos citados, o texto motivador com trechos da entrevista concedida pelo pesquisador
indígena Daniel Munduruku, considera como violência simbólica aspectos relacionados aos diversos tipos
de preconceito sofridos por esses povos (no caso do texto, o tipo abordado é o preconceito linguístico), à
crença de que todas as etnias indígenas no Brasil falam o mesmo idioma, desconsiderando e
negligenciando assim, a diversidade linguística destes grupos étnicos. Além disso, o texto retrata a crença
de que todos os indígenas utilizam somente as ocas como habitação, impondo uma cultura sem considerar
as peculiaridades da própria cultura indígena, sua diversidade, seus hábitos, sua linguagem e suas crenças.
Pode-se destacar também, a comemoração do “Dia do Índio” sem conhecer sua cultura ou preservá-la.
• B) A violência pode se manifestar de diversas formas. Dentre as “faces” que a violência pode se apresentar
destaca-se a violência simbólica, que é um tipo que se apresenta de maneira mais sutil, nem sempre
perceptível e facilmente identificada. O sociólogo francês Pierre Bourdieu analisou como os aspectos
simbólicos determinam as práticas sociais e como as hierarquias são mantidas ao longo do tempo. A partir
disso, cunhou o conceito de Violência Simbólica, que envolve o poder que consiga impor significados e a
impô-los como legítimos quando esconde as relações de força. Na obra O poder simbólico, Bourdieu ressalta a
importância de que, para que a dominação simbólica funcione, é necessário que os dominados tenham
incorporado as estruturas ligadas à submissão e ao consentimento.
• O Etnocentrismo ocorre quando uma etnia coloca seus valores, suas crenças, sua visão de mundo e seus
sentimentos como centrais e superiores. É como se fosse uma cegueira para considerar e respeitar as
diversidades que os grupos podem apresentar. Tanto o Etnocentrismo, quanto a violência simbólica, refere-se à
imposição de “modelos” considerados como corretos e que, pertencem à classe hegemônica da sociedade.
• A relação que pode ser estabelecida entre os dois termos é de considerar o Etnocentrismo como um dos
possíveis fundamentos da referida violência, pois o dominado reconhece, comporta e legitima elementos
simbólicos que a geram. Dessa forma, gera essa percepção no próprio dominado de que ele representa
elementos que o desqualificam, buscando impor essa visão etnocêntrica como legítima e arraigada.
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