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Parte B

Eno1 sagrado2 em Vigo


bailava corpo velido3.
Amor hei4!
Em Vigo, no sagrado
bailava corpo delgado5.
Amor hei!
Bailava corpo velido
que nunc'houver’6 amigo.
Amor hei!
Bailava corpo delgado
que nunc' houver' amado.
Amor hei!
Que nunc' houver'amigo
ergas7 no sagrad'em Vigo.
Amor hei!
Que nunc'houver'amado
ergas em Vigo no sagrado.
Amor hei!

Martim Codax, B 1283/V 889/ PV 6 (in https://cantigas,fcsh.unl.pt).

Notas
1
Eno – No.
2
sagrado – adro da igreja.
3
velido – belo, formoso, elegante.
4
Amor hei – Tenho amores.
5
delgado – esbelto, formoso.
6
houver – tivera.
7
ergas – exceto, senão.

Indique uma característica temática e uma formal que fundamentem a inclusão da


composição no género das cantigas de amigo.
Como características temáticas, podemos considerar a temática amorosa, em que o sujeito
lírico é uma donzela, que manifesta, através da dança, a sua alegria por estar apaixonada.
Quanto à forma, temos a presença de paralelismo perfeito com leixa-pren e trata-se de uma
cantiga de refrão.

Caraterize o estado de espírito do sujeito lírico, tendo em conta o refrão da cantiga.


A donzela está manifestamente feliz, revelando até uma certa euforia, por estar, pela primeira
vez, apaixonada e parecer ser correspondida.
O refrão realça o motivo do estado de espírito e o facto de esta estar apaixonada.
Complete as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada
espaço. Na folha de respostas, registe apenas as letras – a), b) e c) – e, para cada uma
delas, o número que corresponde a opção selecionada em cada um dos casos.

No verso «bailava corpo velido» (v.2) está presente a _____a)_____, que sugere a
musicalidade e o movimento circular da dança. Já aforma verbal «bailava» encontra-se
no _____b)_____ , traduzindo, desta forma, a ideia de ação contínua , repetitiva e
prolongada no tempo da dança executada pela donzela. Por seu turno, o tempo verbal
expresso no refrão «amor ei» serve para salientar o facto de a donzela
_____c)________.
a) b) c)
1. personificação 1. pretérito imperfeito 1. ter estado apaixonada
2. metáfora 2. pretérito perfeito 2. ansiar estar apaixonada
3. aliteração 3. presente 3. estar apaixonada
Portugal: o melhor país do mundo para portugueses e estrangeiros

Quer queiramos, quer não - tão poucas palavras, tanto verbo querer -, Portugal
não é o pior país do mundo, Mas - porque querer é poder até pode ser. Ser português é
ser capaz de pensar como é que Portugal pode ser o pior país do mundo e nós, os que
vivemos cá, os mais desgraçados habitantes.
Portugal pode ser o pior porque, atendendo aos muitos benefícios que Deus lhe
deu – o clima, a beleza das paisagens, o sabor das azeitonas e das uvas, mais tudo
aquilo que existe sem ser pelo mérito dos portugueses -, Portugal poderia ser muito
melhor do que é.
Quando agradecemos o bom tempo, a luz e as praias, está implícito que só
continuamos a dispor destas coisas boas porque os políticos não conseguiram até hoje
arranjar maneira de vendê-las ou estragá-las de uma vez por todas. […]
Só um português sabe o difícil que é defender Portugal em Portugal ou os
portugueses junto dos portugueses. A primeira objeção é logo a mais devastadora:
«Mas quem é que está a atacar Portugal e os portugueses para tu estares aí todo
empenhadinho em defendê-los?»
Só os estrangeiros podem atacar Portugal e os portugueses. Se o fazem, ninguém
perdoa ou descansa enquanto não forem violentamente rebatidos. Os estrangeiros têm
de amar Portugal ou levar a sua falta de amor para outro lugar.
Resultado: é tão difícil ser-se estrangeiro em Portugal como português. É uma
coisa que se partilha, essa dificuldade, felizmente.
Para ouvir portugueses a elogiar Portugal, é preciso atacar Portugal para provocá-
los. Nem é preciso ser um ataque desmesurado: basta um insultozinho qualquer. (…)
Portugal pode não ser perfeito mas não é nada mau. E de longe o país com mais
pessoas portuguesas e mais coisas portuguesas. Para quem gosta de pessoas e coisas
portuguesas, Portugal é o melhor sítio onde perseguir esses gostos.
Não, não é um paraíso. É um país. Nem é por ser o nosso - a gente sabe lá de
quem é. É apenas aquele em que, se não formos estrangeiros, nos podemos queixar à
vontade de Portugal e dos portugueses sem que ninguém levante uma sobrancelha.
CARDOSO, Miguel Esteves, 2019. No passado e no futuro estamos todos mortos.
Porto: Porto Editora (pp. 175-176]

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