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EPHTM/CELFF – Porto Santo

Português – Poesia Trovadoresca

Prof. José Campinho

Cantigas de Amigo
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo?
e ai Deus, se verrá cedo?
Ondas do mar levado,
5 se vistes meu amado?
e ai Deus, se verrá cedo?
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro?
e ai Deus, se verrá cedo?
10 Se vistes meu amado,
o por que hei gram coidado?
e ai Deus, se verrá cedo?

Martim Codax (Galiza, séc. XIII)

Sedia-m'eu na ermida de Sam Simion


e cercarom-mi as ondas, que grandes som!
Eu atendendo meu amig', eu a[tendendo].
Estando na ermida ant'o altar
5 [e] cercarom-mi as ondas grandes do mar.
Eu atendendo meu amig', eu a[tendendo].
E cercarom-mi as ondas, que grandes som!
Nom hei [eu i] barqueiro nem remador.
Eu atendendo meu amig', eu a[tendendo].
10 E cercarom-mi [as] ondas do alto mar;
nom hei [eu i] barqueiro nem sei remar.
Eu atendendo meu amig', eu a[tendendo].
Nom hei [eu] i barqueiro nem remador
[e] morrerei fremosa no mar maior.
15 Eu atendendo meu amig', eu a[tendendo].
Nom hei [eu i] barqueiro nem sei remar
e morrerei fremosa no alto mar.

Mendinho
Bailemos nós já todas três, ai amigas,
sô aquestas avelaneiras frolidas,
e quem for velida, como nós, velidas,
se amigo amar,
5 sô aquestas avelaneiras frolidas
verrá bailar.
Bailemos nós já todas três, ai irmanas,
sô aqueste ramo destas avelanas,
e quem for louçana, como nós, louçanas,
10 se amigo amar,
sô aqueste ramo destas avelanas
verrá bailar.
Por Deus, ai amigas, mentr'al nom fazemos
sô aqueste ramo frolido bailemos,
15 e quem bem parecer, como nós parecemos,
se amigo amar,
sô aqueste ramo, sol que nós bailemos,
verrá bailar.

Airas Nunes Clérigo trovador. Galiza, séc. XIII)

Nota geral:

Esta é a "bailia das avelaneiras", uma das mais célebres cantigas de amigo que os
Cancioneiros nos transmitiram. Neste breve comentário chamamos a atenção para o
facto de as avelaneiras serem árvores associadas, em muitas culturas antigas, a ritos
nupciais (ou seja, com um valor simbólico semelhante ao das flores de laranjeira
atuais). Chamamos igualmente a atenção do leitor para a (maliciosa)
expressão mentr´al nom fazemos (v. 13).
Nos Cancioneiros encontramos uma outra versão desta cantiga (mas sem a terceira
estrofe), da autoria de João Zorro, Bailemos agora, por Deus, ai velidas. Podendo
qualquer dos autores ter retomado a cantiga do outro, parece mais provável que tenha
sido Airas Nunes a retomar uma anterior composição de Zorro, até pelo evidente gosto
que o trovador mostra por este processo, visível em diversas outras cantigas suas. Mas
também é possível, como sugeriu Rodrigues Lapa1, que ambos tivessem partido de
uma composição tradicional.

Fonte: https://cantigas.fcsh.unl.pt/

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