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Cantigas de amigo e cantigas de amor

Para a minha apresentação oral, o tema a ser abordado será a Poesia


trovadoresca, nomeadamente as cantigas de amigo e as cantigas de amor.
Antes de falar sobre estas cantigas irei fazer uma breve introdução
relativamente à poesia trovadoresca e só depois irei abordar cada um dos
temas.
A poesia trovadoresca é a designação dada ao conjunto de
composições poéticas medievais, enquadradas em diferentes géneros,
destinadas a serem cantadas, por poetas que, para além de comporem as
cantigas, tocavam-nas e cantavam-nas, daí serem chamados de
trovadores.
A poesia trovadoresca floresceu durante a Idade média, isto é,
durante os séculos 12 a 14.
Conhece-se cerca de 1680 cantigas que se distribuem por três
géneros: as cantigas de amigo, as cantigas de amor e as cantigas de
escárnio e maldizer.

Para falar sobre as cantigas de amigo e sobre as cantigas de amor eu


decidi analisar um poema de cada um dos géneros, retratando as suas
características ao longo da análise.

Cantigas de amigo:

“Ai flores, ai flores do verde pino”

-Ai flores, ai flores do verde pino, Vós me preguntades polo voss'amigo


se sabedes novas do meu amigo! e eu ben vos digo que é san'e vivo.
 e u é?
Ai Deus, Ai Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo, Vós me preguntades polo voss'amado,


se sabedes novas do meu amado! e eu ben vos digo que é viv'e sano.
Ai Deus, e u é? Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo, E eu ben vos digo que é san'e vivo
aquel que mentiu do que pôs comigo! e seerá vosc'ant'o prazo saído.
Ai Deus, e u é? Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado, E eu ben vos digo que é viv'e sano
aquel que mentiu do que mi á jurado! e seerá vosc'ant'o prazo passado.
Ai Deus, e u é? Ai Deus, e u é?
Tal como em todas as cantigas de amigo, nesta cantiga, o sujeito
poético é uma donzela de origem popular, que fala sobre os incidentes da
sua vida amorosa.

Este poema pode ser dividido em duas partes: -A primeira parte é


constituída pelas 4 primeiras estrofes, nas quais o sujeito poético se dirige
à natureza, pedindo-lhe notícias do seu amigo, que acusa de ter faltado ao
prometido; - Na segunda parte estão incluídas as últimas 4 estrofes, em
que as flores, que são personificadas, dão respostas à donzela sobre o seu
amigo.

Neste poema, as “flores de verde pino” são personificadas tendo a


função de confidentes da donzela. O mesmo acontece, nas outras cantigas
de amigo com diferentes elementos da natureza. No entanto, em muitas
das cantigas de amigo, a mãe e as amigas assumem também um papel de
confidentes do “eu”.

Ao longo desta cantiga percebemos que a donzela se sente


angustiada pela ausência de notícias do seu amigo e pelo facto de ele não
cumprir como prometido. No geral, nas cantigas de amigo são frequentes
as alusões aos encontros com o amado. No entanto a figura feminina
mostra-se profundamente angustiada pela ausência do amigo, uma vez
que este partira para a guerra com o rei ou senhor que servia, e pela falta
de notícias do mesmo. O “eu”exprime ainda o sentimento de tristeza
devido à indiferença do amigo ou mesmo fúria pelas mentiras e traições.

Quanto à estrutura esta cantiga, tal como a maioria das cantigas de


amigo, é uma cantiga paralelística, isto é, o último verso de cada estrofe é
retomado no primeiro verso da estrofe correspondente no par de dísticos
seguintes. É também uma cantiga de refrão. No entanto existem cantigas
de amigo de mestria, ou seja, sem refrão.

Cantigas de amor:
“Se eu pudesse desamar”

Se eu podesse desamar Mais rog'a Deus que desampar


a quen me sempre desamou, a quen m'assí desamparou,
e podess'algún mal buscar vel que podess'eu destorvar
a quen me sempre mal buscou! a quen me sempre destorvou.
Assí me vingaría eu, E logo dormiría eu,
se eu podesse coita dar, se eu podesse coita dar,
a quen me sempre coita deu. a quen me sempre coita deu.

Mais sol non posso eu enganar Vel que ousass'eu preguntar


meu coraçón que m'enganou, a quen me nunca preguntou,
por quanto me fez desejar por que me fez en si cuidar,
a quen me nunca desejou. pois ela nunca en min cuidou.
E per esto non dormio eu, E por esto lazeiro eu,
porque non poss'eu coita dar, porque non poss'eu coita dar,
a quen me sempre coita deu. a quen me sempre coita deu.

O tema central das cantigas de amor, como o nome indica é o amor.


O sujeito poético é um homem que expressa os seus sentimentos pela
amada.

Nesta cantiga de amor, o SP exprime o desejo de vingar-se daquela


que sempre o tratou mal, pagando-lhe na mesma moeda: deixando de a
amar, procurando o seu mal e fazendo-a sofrer. Mas é este um desejo
impossível, até porque a culpa é do seu próprio coração, que o fez desejar
quem nunca o desejou. Sem poder dormir, só lhe resta pedir a Deus que
desampare quem sempre o desamparou e lhe dê a ele a capacidade para
a perturbar um pouco, ou pelo menos que lhe desse coragem para falar
com ela.

Estas cantigas procuram representar o estado emocional e a vivência


psicológica do amador bem como o discurso que os exprime. Esse
sentimento pode ser contraditório, isto é, o “eu” poético afirma que ama
e sofre por amor (coita de amor). Queixa-se, ainda, de não ter atenção por
parte da amada. No entanto espera sempre uma recompensa dela, um
sinal do seu afeto.

De uma certa forma, esta cantiga contraria o conceito de “amor


cortês” pois o sujeito poético não aceita o sofrimento amoroso. No
entanto, na maioria das cantigas de amor, cultiva-se o amor cortês, isto é
um ideal amoroso por convenções e por algum artificialismo, em que o
apaixonado diz servir a sua amada numa relação de vassalagem amorosa.

Em oposição às cantigas de amigo, as cantigas de amor são


maioritariamente de mestria, como é o caso da cantiga analisada. No
entanto existem algumas cantigas de refrão.

Assim, concluímos que a poesia trovadoresca teve um grande


impacto na nossa sociedade, e que vem a revelar-se desde então.
Assumiu assim um papel fundamental durante a idade média pois os
poemas feitos pelos trovadores tinham como finalidade serem cantados
em feiras, festas e até mesmo nos castelos, de modo a entreter a
sociedade daquela altura.

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