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O CONTO BRASILEIRO EM GOIÁS


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O trabalho que você vé

EDUCAÇA0

GOIÂNIA

COLEÇÃO

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Editora da

UCG
Editora da UCG
Pró-Reitor da Prope
Prof. José Nicolau Heck
Coordenador Geral da Editora da UCG
Prof. Gil Barreto Ribeiro
Conselho Editorial
Presidente
Profa. Dra. Regina Lúcia de Araújo
Membros
Prof. Dr. Aparecido Divino da Cruz
Profa. Dra. Elane Ribeiro Peixoto
Profa. Dra. Heloisa Capel
Profa. Dra. Maria do Espírito Santo Rosa Cavalcante
Prof. Dr. Cristóvão Giovani Burgarelli
Ms. Heloísa Helena de Campos Borges
Júri Rincon Godinho
Maria Luisa Ribeiro
Ubirajara Galli
e
GILBÉRTÜ MENDONÇA TELES
4

O CONTO BRASILEIRO EM GOIÁS

Segunda Edição

Editora da

UCG
Prefeitura

O trabalho que você vê

Goiânia, GO
2007
2007 by Gilberto Mendonça Teles

Editora da UCG
Rua Colônia, Qd. 240-C, Lt. 26 - 29
Chácara C2, Jardim Novo Mundo
CEP. 74.713-200 — Goiânia — Goiás — Brasil
Secretaria e Fax (62) 3946-1814 — Revistas (62) 3946-1815
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www.ucg.brieditora

Comissão Técnica
Biblioteca Central
Normatizaçáo
Virgínia Roselene Guimarães
Foto da Capa
Acervo de Frei Confaloni
Via-Sacra, Óleo sobre Tela, 50x70(Detalhe)
Ilustração da Capa
Célio Otacílio da Silva
Editoração Eletrônica e Arte-Final de Capa
Laerte Araújo Pereira
Projeto Gra'fico e Capa

T269c Teles, Gilberto Mendonça (kj3 tf)


O Conto Brasileiro em Goiás / Gilberto Mendonça Teles — 2a ed.
— Goiânia: Ed. da UCG, 2007.
206 p.: - (Coleção: Goiânia em prosa e verso)

ISBN 978-85-7103-419-8

1. Literatura brasileira — conto. 2. Conto brasileiro — história e


crítica. 3. Literatura Goiana — conto. I. Título. II. Série.

CDU: 821.134.3(81)-34.09
821.134.3(817.3)-34.09

Impresso no Brasil
Printed in Brazil
2007
A Albino J. Peixto Júnior e
Rubem Andresen Leitão.
SUMÁRIO

Nota para a 2a edição, 9


Explicação necessária, 17

1—O CONTO NO BRASIL, 21

II — O ESTADO DE GOIÁS, 27

III — MANIFESTAÇÕES LITERÁRIAS, 31

IV — EVOLUÇÃO DO CONTO GOIANO, 35


1 — Os Precursores, 35
2 — Sob o Signo de Tropas e boiadas, 49
3 — O Primitivismo de Pedro Gomes, 59
4 — O Testemunho Literário de Ermos e gerais, 63
5 — Intenções Regionalistas e Folclóricas, 71
6 — No Ciclo da Boiada e do Sertão, 73
7 — Perspectivas de Tempo e de Estrutura, 91 G ÁS
OCO NTO BRASILEI ROEM OI
8 — Passado e Presente em 1966/67, 100
9 — "Literatura Infantil", 117
10 — Contistas de Antologia, mas sem livro, 122

V —FONTES E INFLUÊNCIAS, 125

VI —EVOLUÇÃO DO CONTO GOIANO, 141


7I

VII —CONCLUSÃO, 149


APÊNDICE 151

1 — Cronologia do Conto Goiano, 151


2 — Antologias em que aparecem contos goianos [até 1967], 161
3 — índice onomástico e de títulos de livros, 165
4 — Obras do e sobre o autor, 183

traits of character that 'ater acre embodied


the literature of the arca where Brasilia, tlw
-,country's new capital, is located. Through the
author's meticulous survey une can discern the
crossings of the much-traveled roads that were
part of the settlement of Brazil and its V3St
hinteriands, the vital arteries so bountifut in
the folklore and oft-told tales forming the
beginning stages aí a literature destined to
play a leading part in South American letters.
lhe regional aspects aÍ this literature are very
rich, due to the exotic landscape, mingling of
mes„ and newness of the land, to motim',
only several com ributing factors. One discerns
Gilberto Mendonça Teles. O Conto Brasi- how old traditions worked out in the lives aí
leiro em Goiás. Goiânia. Departamento pioneers creating 1 new civilization acquire
Estadual de Cultura. 1969. 163 pages. modern meanings, and boa' varying versions
Good textbooks are among the best sources of the same story cropping up in different
for those in search of germine knowledge and locales reveal literature's foundations ia 63k
'ore.
ro Mendonca Teles

the present survey of the development of the


story in the Brazilian state of Goiás ranks high 'lhe author's survey, starting with the rather
in (bis respect. A painstaking search of ali meager reeords of the earliest colonial times,
relevant material--newspapers, magazines, coneludes with important contemporary
books and pamphlets—gives fruitful results. figures, tvvo of whoin, liugp Carvalho Ramos
The author is ao expert ia the field whose and Bernardo nis, are representative of the
previous work ou the poetry of Goiás reeeived .sound regional currents which characterize
criticai praise. tlw best in modero Brazilian literature.
Many of the tides of migration that popu David Lord
lated Brazil flowed through Goiás, leaving lacksonville, Ra,
there the turns of speech, traditions, and oc
NOTA PARA A 2a EDIÇÃO

F az trinta e oito anos que este livro foi editado em Goiânia, num
momento crítico da vida nacional. O autor, nessa época, vivia
em Montevidéu, como professor de literatura brasileira, a serviço
do Departamento Cultural do Itamaraty. Levou para o Uruguai
os apontamentos que havia extraído de sua biblioteca em Goiânia e
pôde, assim, nas horas vagas, registrar a sua visão histórica e critica
do conto em Goiás. Tinha a experiência de A poesia em Goiás, para
o qual teve de comprar duas pequenas bibliotecas particulares, às
vezes por causa de um único livro de que precisava. Em 1970, ao
mudar-se definitivamente para o Rio de Janeiro, deixou com o seu
irmão José todos os livros de e sobre Goiás, com a preocupação de
que esses livros — muitos realmente raros — ficassem em Goiás para
os futuros investigadores.
Diante da repercussão de A poesia em Goiás, o seu plano foi o
de escrever uma história crítica de todas as manifestações literárias
em Goiás, que continuasse com o conto, o romance, o teatro e a
critica. A Editora da UFG, em 1981, na época sob a coordenação
do Dr. Joffre Marcondes de Rezende, chegou a aprovar o plano de
9 1 OCONTO BRASILEIRO EM GOIÁS
publicação de quatro volumes denominados ESTUDOS GOIA-
NOS, assim especificados: I —A poesia em Goiás (reedição); II — Es-
tudos sobre narrativas (romance, conto e crônicas); III — Literatura e
9I OConto Brasileiro em Goiás

linguagem (estudos avulsos sobre livros goianos); e IV — Documentos


para o estudo da cultura de Goiás.
A partir do Rio de Janeiro, o autor passou a ter outras soli-
citações que acabaram por desviar a sua preocupação de estudar a
cultura goiana. Mesmo assim organizou um volume com os artigos
e ensaios que escreveu sobre Goiás: foi muitíssimo mal editado pela
UFG com o nome de ESTUDOS GOIANOS II — A crítica e o
principio do prazer. Com isso, achou que o melhor seria desistir do
plano e aguardar o aparecimento de críticos e historiadores talentosos,
despidos de preconceitos e com capacidade de julgar, com ciência e
arte, a produção literária do Estado de Goiás.
A ausência de estudiosos voltados para a história literária, que
chegou a ser banida das universidade de Goiás, o medo político dos
goianos em se manifestar sobre o livro de um autor cassado, com o AI-1
e o AI-5, ou, ainda, o despreparo e a falta de isenção critica na apreciação
de um volume de história literária, podem ter sido as causas de O conto
brasileiro em Goiás ter ficado quase inteiramente desconhecido em Goiás,
embora tenha recebido um prêmio do PEN Clube de São Paulo e tenha
tido resenha nos jornais e revistas de São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro,
além de uma nos Estados Unidos. O livro é lido, é "chupado", mas às
escondidas, assim como fazem com o volume de Vanguarda européia e
modernismo brasileiro, hoje na 20a edição.
O autor, por força da aprendizagem na preparação deste
livro, passou a ser tido como especialista no estudo do conto, sendo
chamado para cursos, conferências e prefácios sobre esse gênero. É o
que se pode ver na relação abaixo, que abrange um período de quase
quarenta anos de sua produção crítica sobre o conto:
1. O conto brasileiro em Goiás. Goiânia: Departamento de
Cultura, 1969. 2a ed. Goiânia: Secretaria de Cultura da Prefeitura
Municipal de Goiânia, 2007.
2. "Solidão e solidariedade nos caminhos de Orígenes Lessa",
Seleta de °ri/genes Lessa. Rio de Janeiro: José Olympio, 1972.
3. "Os limites da comparação". Idem, ibidem.
101GILBERTOMEN DONÇATELES

4. "O claro, clárido clarão da poesia no conto", prefácio a


Canção para o totem, de Regina Célia Colônia. Rio de Janeiro: Ci-
vilização Brasileira, 1975.
5."A didática do conto", prefácio ao livro Sobre o conto brasileiro,
de Maria Consuelo Cunha Campos. Rio de Janeiro: Gradus, 1977.
6. "Conto e poesia", Retórica do silêncio. São Paulo: Cultrix,
1979.
7. "O Maktub de Macatuba'', prefácio a Os de Macatuba, de
Tarcísio Gurgel. Natal, RN: Fundação José Augusto, 1975.
8. "Os laços e suas margens" (Clarice Lispector). Retórica do
silêncio. Op. cit.
9. "A (Des)continuidade de Miguel Jorge", prefácio a Avarmas.
São Paulo: Ática, 1978. In. Retórica do silêncio, op. cit.
10. "A síntese su/realista de Bernardo Elis". Introdução a Os
Melhores contos de Bernardo Elis. São Paulo: Global, 1994.
11. "Formas do conto regional na fronteira uruguaio-bra-
sileira". Atas do Congreso Internacional de Historia y Cultura en la
Frontera. Cáceres, Universidad de Extremadura, 2000.
12. "Herberto, o contista". Contramargem. Rio de Janeiro:
PUC / Loyola, 2002.
13. "Prefácio" a O melhor do conto brasileiro. Joinville, SC:
Sucesso Pocket, 2002.
14."Para uma poética do conto brasileiro". Revista de filologia
românica. Madrid, n° 19, 2002.

FORTUNA CRÍTICA

Talvez pela atitude bem provinciana dos goianos ou por falta


de amdurecimento critico para apreciá-lo e julgá-lo, o livro O conto
brasileiro em Goiás, escrito cinco anos depois de A poesia em Goiás,
não teve nenhuma repercussão em Goiânia, tendo apenas algumas
pequenas notas de jornal, mas nenhuma avaliação critica digna de
ser lida como verdadeiramente critica. Em 1969, o autor não vivia
mais em Goiânia e, apesar de várias entrevistas, nunca lhe fizeram
1110CONTO BRASILEIRO EMGOIÁS

pergunta sobre esse livro. Parece que tinham medo de falar sobre a
obra de alguém que havia sido cassado exatamente no ano do seu
lançamento. Mais tarde Bernardo Élis me diria que "os goianos foram
pegos de surpresa: não se acreditava que alguém daqui, ainda bem novo,
fosse capaz de tamanha demonstração de independência na apreciação
crítica". O que se discutia à boca pequena era o seu titulo: "Por que
brasileiro? Sendo de Goiás, já era brasileiro", na melhor lógica tu-
piniquim, melhor dizemdo, carajaim. Eram incapazes de perceber
que, com o adjetivo, eu estava ressalvando o lado bom do que havia
de narrativa em Goiás.
Mas o livro, escrito fora de Goiás, chegou à critica fora de
Goiás, como o comprovam as resenhas em jornais e revistas de
São Paulo, do Rio de Janeiro, do Paraná, de Oklahoma (USA),
de Portugal, da Itália e do Uruguai, além de cartas existentes no
meu arquivo pessoal. A sua Fortuna Critica começa mesmo antes
de ser publicado, como a noticia no Suplemento Literário de
O Estado de São Paulo (1967) e as noticias e pequenas resenhas
em O Popular (Goiânia, 2.4.1967 e 8.7.1969), Cinco de Março
(Goiânia, 7,7,1969), O Estado do Paraná (Curitiba, 20.7.1969),
Gazeta Esportiva (São Paulo, 7.9.1969) e Diário do Paraná (Curi-
tiba, 19.7.1969). Merecem destaque os artigos, transcritos pela
ordem cronológica:
ACHILES, Aristheu. Literatura em Goiás. Goiânia, O Popu-
lar, 7.9.1969.
LORD, David. Resenha em Books Abroad. Oklahoma
(USA),
julho de 1970.
DIMAS, Antônio. Resenha na Revista do Instituto de Estudos
Brasileiros, n° 8, Universidade de São Paulo, 1970
LINHARES, Temistocles. Situação do conto no Brasil-9, Suple-
mento Literário de O Estado de São Paulo, 13.12.1970.
. Situação do conto no Brasil. Goiânia, O Popular,
21.2.1971.
.22 diálogos sobre o conto brasileiro atual. Rio: J. Olympio,
1973.
BULHÕES , Aristheu. Um regionalista goiano. Goiânia, °Popular,
25.5.1975.
BARBOSA, Alaor. O conto em Goiás. Goiânia, O Popular,
12Gilberto Mendonça Teles

26.2.1978.
SILVEIRA, Homero. Na revista Convivium, São Paulo, n° 25, set.
out. 1979.
CARTAS de: Alaor Barbosa, Ada Curado, Xavier Júnior, Silveira
Bueno, José Bertaso, Homero Silveira, Vitor de Carvalho Ramos,
Ruben A., Agostinho da Silva, Joaquim Montezuma de Carva-
lho, João Lira Filho, Cândido Motta Filho, Raymundo Maga-
lhães Júnior e Fábio Lucas, todas de 1969. E cartas de Maria
Alice Barroso e Giuseppe Cano Rossi, de 1970.

Entre as cartas há que ressaltar a de GERARD MOSER, do


Department of Spanish, Italian and Portuguese da University Park, na
Pennsylvania, datada de 15 de setembro de 1969. Mais tarde, quando
eu era professor na Universidade de Lisboa, tive o prazer de jantar com
ele em casa de Manuel Ferreira, o notável historiador das literaturas
africanas de expressão portuguesa:

Meu prezado Senhor Teles,


Muito lhe agradeço a amável oferta dum exemplar da
sua obra pioneira, O Conto brasileiro em Goiás, que teve a
bondade de dedicar-me. Aprendi muita coisa dela: até igno-
rava os contos de Carvalho Ramos e Bernardo Elis! É mais
um elemento valioso para a sua futura história da literatura
em Goiás. Como a sua obra dá vontade de ler certos contos,
como os dos autores citados, vou pedir algumas das antologias
mencionadas no final da obra para a nossa biblioteca univer-
sitária. Como vê, fez obra útil.
Aceite, prezado senhor e Colega, os meus melhores
cumprimentos e felicitações.
P.S. Conhece, por acaso, pessoalmente o escritor [uru-
guaio] Juan Carlos Onetti? Gostaria de saber o que ele faz e
escreve atualmente porque um aluno meu prepara sobre ele
uma tese de doutoramento. G.M. 13 1 O CONTO BRASILEIRO EM GOIÁS

Vale a pena transcrever também trechos da carta do escri-


tor português RUBEN A. [Ruben Andresen Leitão], de Lisboa,
24 de julho de 1969:

Meu Caríssimo Gilberto,


Quis escrever-lhe logo, logo mesmo, já meti o nariz
fundo no livro, o seu entusiasmo pela nova safra de 66-67
que se deu em Goiás — dez livros de contos nesses anos, fiquei
satisfeito com seu trabalho de pesquisa, de amor, sobretudo
na esteira dos nomes notáveis de Hugo de Carvalho Ramos
— que V. me desvendou e a quem estarei infinita eterna
sempre grato — e de Bernardo Elis.
As suas conclusões são muito boas e sérias, depois de
ter traçado um panorama apaixonante do que há e do que
não há. [...] / E quero dizer-lhe coisas que muito apreciei: 1)
A Cronologia do Conto Goiano e mais 2) o magnífico índice
Onomástico: dá trabalho, bem sei, mas a obra fica como dever
ser. Nos países civilizados — Inglaterra — não há ensaio ou
estudo que não traga o respectivo índice. V. tem feito mais
pelo seu Estado do que os milhentos políticos que chupam o
poder sem nada de rastro deixarem.

E transcrever por inteiro a de CÂNDIDO MOTTA FILHO, da


Academia Brasileira de Letras. Em 12 de julho de 1969, me escreveu
o seguinte:

Prezado Mendonça Teles,


Não é minha ligação sentimental com o Planalto Central,
que me fez ler, com grande curiosidade, o seu ensaio: O conto bra-
sileiro em Goiás. É que eu já o conhecia como escritor seguro
e agradável. O ensaio de agora, além de estar bem montado,
é um estudo claro que nos dá uma idéia abrangente do conto
goiano, amparado pela sua cultura e seu saber.
Como o patrono de minha cadeira é Bernardo Guima-
rães foi ele o primeiro a conduzir para o sertão goiano. Depois
141 GILBERTOMEND ONÇATELES

li Tropas e boiadas e terminei em Bernardo Élis. A visão pano-


râmica oferece-me o seu primoroso ensaio, que traz, além de
tudo, excelentes considerações sobre a linguagem ou sobre a
fala coloquial.
Se for por mim, acredito que o seu livro é de primeira ordem
como roteiro, como pensamento e como afirmação. Obra para
os que querem estudar e para os que aspiram conhecer melhor
a complexidade da formação cultural do Brasil.
Afetuosamente
Quase dez anos depois de seu lançamento, ALAOR BARBOSA,
publica em O Popular, edição de 26 de fevereiro de 1978, um pe-
queno artigo intitulado "O conto em Goiás". Eis alguns trechos do
que escreveu:
Um livro que passou até agora despercebido em Goiás\:
O conto brasileiro em Goiás, de Gilberto Mendonça Teles.
Foi publicado em 1969 — há quase dez anos, portanto.
Nele, Gilberto Mendonça Teles — um dos poucos intelectuais
goianos que fazem da atividade intelectual um trabalho sério e
continuo e que por isso muito contribui para fundar em Goiás
uma tradição nova, oposta à da sonolenta indiferença pela cria-
ção intelectual, estudando a evolução e a situação do conto em
nossa terra. [...]

Finalmente, um trecho da resenha de Homero da Silveira na


revista Convivium, São Paulo, n° 5 de set./out. 1979:

Gilberto Mendonça Teles, jovem poeta e professor


goiano, é um apaixonado de sua terra natal. Em 1964,
publicou um alentado estudo sobre: A poesia em Goiás
seguido de antologia; nesse mesmo ano saiu a lume outro
estudo: Goiás e literatura, em que põe em relevo a poesia
de Leo Lynce e o sentido simbolista da poesia de Érico
Curado (dois autores goianos). [...] Gilberto Mendonça
Teles, então com seus 25 anos de idade, mas já atuante 151 O CONTO BRASILEIRO EM GOIÁS
nos meios mais esclarecidos, reuniu um grupo de poetas e
ensaístas, "Os Quinze", e dai nasceu e frutificou um movi-
mento de renovação, que trouxe a Goiás o sopro vivificador
das novas conquistas literárias que abalavam todo o Pais
desde 1922. É, pois, um poeta esclarecido e um mestre de
Literatura que agora com o volume O conto brasileiro em
Goiás acrescenta à bibliografia do Brasil Central mais um
excelente trabalho. [...] Homens como Gilberto Mendonça
Teles são indispensáveis em Goiás.
*

Reedita-se este livro tal como ele Foi escrito em 1968, colo-
cando-se entre colchetes E] algumas atualizações que o autor julgou
necessárias.
No mais, que Deus seja louvado.

Rio de Janeiro, 30 de junho de 2007


161GILBERTO MEND ONÇATELES
EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA

E m fevereiro de 1966, depois de haver passado um ano em


I Portugal, retornamos a Goiânia e, aguardando o reinicio do
período letivo das universidades, resolvemos atualizar algumas
anotações sobre os contistas goianos. Assim, durante dois meses
trabalhamos lendo, relendo e anotando. Já havíamos começado
este trabalho quando, em abril, recebemos o convite da Divisão de
Cooperação Intelectual do Itamaraty para lecionar literatura brasi-
leira no Instituto de Cultura Uruguaio-Brasileiro, em Montevidéu.
Levamos o material e, nas horas vagas, fomos vivendo a saudade
de Goiás na redação destas notas sobre os seus escritores de ficção,
no conto e na novela curta. Nas rápidas férias de janeiro de 1967 e
de 1968, passadas em Goiás, incluímos anotações sobre os últimos
livros editados, de modo que abrangemos toda a história da ficção
goiana — no conto — até o ano de 1967, inclusive. Ficamos portanto
coerente com o que escrevemos em 1964, em A poesia em Goiás:
"É nossa intenção proceder ao estudo dos outros gêneros, possivel-
mente a partir do próximo ano, pois só assim, com estudos isolados
de cada gênero, acreditamos num levantamento completo da nossa 171 O CON TOBRASILEIRO EM GOIÁS
história literária".
Tratando somente de autores com livros publicados ou com
contos insertos em antologia, procuramos estabelecer, dentro de
um critério eclético (cronológico-temático-estilístico), uma visão
critica da evolução técnico-estrutural do conto em Goiás, já com
repercussões válidas no contexto literário nacional. É certo que demos
maior ênfase ao ponto de vista estilístico, fazendo maior número de
observações relativamente à linguagem, no seu duplo aspecto literário
e lingüístico. Buscamos, por um lado, a perspectiva da "forma inte-
rior", no conceito de Dámaso Alonso (Poesia espahola, 1950) e, por
outro, aquela "unidad esencial" sugerida por Leo Spitzer (Lingüística
y historia literaria, 1961) para os estudos de lingüística e literatura.
Daí a montagem dos capítulos e subcapítulos, aparecendo
em primeiro lugar uma síntese da evolução do conto nacional e
nela integrando-se, um tanto palidamente, a contribuição goiana.
O capítulo sobre o Estado de Goiás tem como objetivo chamar a
atenção para as "zonas culturais" que dão um caráter heterogêneo ao
processo cultural do Estado, fato para o qual já chamamos a atenção
em 1963, no primeiro e último número dos Cadernos de Estudos
Brasileiros. O capítulo "Evolução do Conto Goiano", constitui, re-
almente, todo o conjunto deste livro: divide-se, com exceção de "Os
Precursores", em diversos blocos temáticos ou expressivos, dentro dos
quais situamos todos os livros de contos aparecidos em Goiás. No
capítulo "Fontes e Influências" esboçamos um estudo comparativo,
a ser mais tarde desenvolvido noutro livro; mostramos aí, de ma-
neira sintética, algumas possíveis identidades temáticas e estilísticas
de escritores goianos com escritores consagrados nacionalmente
como, por exemplo, Guimarães Rosa. Estes vários blocos temáticos
forneceram os elementos para o capitulo final "Linhas de Evolução"
onde se encontram agrupadas as obras que representam efetivamente
a contribuição literária de Goiás. Finalmente, em "Cronologia do
Conto Goiano", julgamos oportuno algumas observações sobre os
raros levantamentos biobliográficos feitos em Goiás. Neste sentido,
não se deve deixar de insistir que cabe à Universidade e ao Estado a
grande e urgente tarefa de um levantamento sistemático de toda a
bibliografia goiana, não só nas letras, mas referentes a todos os as-
suntos, pois até hoje se desconhecem (ou conhecem por ouvir dizer)
muitas obras de interesse para a investigação, para o estudo e para
1 Gilbe rto Mendonça Teles

a interpretação da cultura no Brasil Central. Era esse, aliás, o nosso


propósito no malogrado Centro de Estudos Brasileiros.
Como é praticamente desconhecida a produção literária do
Estado de Goiás, fazendo exceção apenas os nomes de Hugo de
Carvalho Ramos, Bernardo Élis e Afonso Félix de Sousa, este na
poesia, e como os estudos de caráter nacional que se dedicaram às
18

províncias" (por ex.: a Introdução ao estudo da literatura brasileira,


do Instituto Nacional do Livro, em 1963 ou o de Wilson Lousada,
no segundo volume de A literatura no Brasil, de 1955), são relativa-
mente pobres, para não dizer deficientissimos, temos a certeza de
que o nosso trabalho — o único no gênero — contribuirá em algum
sentido para a atualização bibliográfica dos estudos de Literatura
Brasileira, nas suas manifestações regionais.

Cumpre finalmente deixar meu agradecimento a Maria do


Rosário de Morais Teles, minha esposa, que fez o primeiro trabalho
datilográfico deste livro; a Ney Teles de Paula, que datilografou esta
cópia; e a Domiciano de Faria Pereira, raro amigo, que, como Diretor
do Departamento Estadual de Cultura, tratou de sua publicação.

Goiânia, 20 de janeiro de 1968.

191 OCONTOBRASILE IROEMG OIÁS


I - O CONTO NO BRASIL

De modo que o conto é a forma espontânea da prosa


popular, ao passo que o romance vai ser uma conseqüência
culta da transformação dos longos poemas épicos. O conto é,
portanto, uma forma literária da maior antigüidade, em todas
as literaturas, de modo que não admira que em nós seja ele,
sob a forma das estórias e dos mitos populares, uma forma
também primitiva da nossa formação literária.
ALCEU AMOROSO LIMA
Curso de contos, ABL, 1958.

S endo uma das mais antigas formas literárias de que se tem noticia,
perdendo-se as suas origens na mitologia primitiva e constituindo
mesmo uma constante da tradição oral popular, o conto é, como
"entidade literária autônoma" — conforme assinala Herman Lima
(O Conto, 1958) — o nosso mais moderno gênero literário. No Brasil
o termo conto abrange duas vertentes da narrativa curta, na verdade
as duas faces de uma mesma moeda: o conto oral e o conto escrito — o
primeiro de inicio estudado pela antropologia cultural; o segundo
21 1OCONTO BRASILEIRO EM GOIÁS

pelo estudos de literatura. Se a "teoria" do conto oral provém dos


escritores alemães do século XVIII, a do conto escrito é realmente
bem nova e surgiu em 1843, com a resenha de Edgar A. Poe sobre
o livro de Nathanael Hawthorne, Twice told tales, na qual se traçou
não a demarcatória, mas as relações entre as duas formas de narrati-
va. O curioso, porém, que os estudiosos brasileiros ainda teimas em
estudar um livro de conto com os elementos estruturais do romance,
como se o conto fosse sempre o núcleo embrionário de um romance.
Se isto se deu com Vidas secas, não quer dizer que foi sempre assim.
Pode-se dizer que existem hoje duas linhas técnicas e estéticas em
que o conto se vem projetando, a partir de Maupassant e Tchecov,
ou Catherine Mansfield.
À clareza linear do conto tipo Maupassant — o de estrutura
tradicional — se contrapõe a nebulosidade subjetiva, lírica dos contos
tchecovianos, fonte, por assim dizer, das experiências mais recentes
na arte de contar. Num, a narrativa ordenada e conseqüentemente
desenvolvida em plano horizontal, com um assunto facilmente per-
cebido, recriado e recontado e, por isto mesmo, muito mais popular,
na opinião de E.M. Forster (Aspects of the novel, 1927). Noutro, a
obliqüidade, o esbatimento dos contornos, a busca de novas es-
truturas, como se o tempo, o espaço e as coisas todas, inclusive as
personagens, se fundissem numa atmosfera de penumbra, densa de
poesia e situada em outras dimensões menos descritas que sugeridas
na expressão literária, dentro portanto do pensamento de Flaubert,
quando escreveu a Louise Colet dizendo que "me agradaria escrever
um livro que não tratasse de nada. Um livro que não fizesse refe-
rência a nada que estivesse fora dele mesmo, pela força interior de
seu estilo", pois, para Flaubert, "os melhores livros são os que têm
menos assunto", conforme vejo anotado por Mirian Allott em Los
novelistas y Ia novela, de 1966.
No Brasil, o conto surgiu com o Romantismo, sincronicamen-
te portanto com a tomada de consciência literária, de bases eviden-
temente nacionalistas, mas com seus fundamentos na adequação do
gênero à expressão dos aspectos típicos, sugestivos da paisagem e do
homem brasileiros. Iniciava-se com o aproveitamento de uma temáti-
ca nacional e mobilizava-se a contribuição dos elementos lingüísticos
221G ILBERTO MEND ONÇATELES

(formas e imagens) que projetaram uma fisionomia estilisticamente


brasileira. Partiu daí a preocupação com uma linguagem maleável,
fora dos rigores clássicos lusitanos e mais sensível à realidade dos
falares brasileiros, dando assim começo ao amadurecimento de uma
expressão verdadeiramente nacional que, passando pelos sertanistas,
regionalistas e neo-realistas, vem atingir hoje o dinamismo expressivo
de um Corpo de baile, em 1956, que rompe em definitivo com toda
uma estrutura tradicional e cria, de certa forma, uma nova teoria de
linguagem e uma nova fase na ficção do Brasil. E Guimarães Rosa
chegará depois à extrema economia da arte do conto ao escrever os
quarentas contos de Tutarnéia, de 1967.
No período colonial, a não ser as Aventuras de Diófanes
(1752), nada se produziu no gênero ficcional, correndo as narrativas
sob a forma de estórias, numa linguagem oral, anônima e popular,
em forma de "embriões". A partir, porém, do Romantismo o conto
brasileiro começa a aparecer, desenvolvendo-se e tomando alguma
importância com Bernardo Guimarães para, em seguida, declinar,
não alcançando na época o mesmo ritmo de popularidade que se
verificou no romance. Foi o Realismo que deu novas dimensões ao
conto brasileiro, introduzindo-lhe os elementos de cor local e um
artesanato técnico de projeções admiráveis, sobretudo em Machado
de Assis, mas também através de outros como Artur Azevedo, Va-
lentim Magalhães e do impressionismo de Coelho Neto.
Se o Simbolismo, pela natureza mesma de sua recriação da rea-
lidade — mais psicológica do que física — pouca contribuição trouxe ao
desenvolvimento do gênero, a não ser o gosto pelas crônicas poéticas
e, mais tarde, por aquele período estilístico impressionista de que fala
Afrânio Coutinho (Introdução à literatura no Brasil, 1964), o mesmo
já não se pode dizer do Modernismo e notadamente do chamado Ne-
omodernismo cujo acervo contístico, depois de 1945, é, talvez, um dos
aspectos mais característicos da literatura brasileira na atualidade.
Marcados quase sempre por caracteres realistas, enriquecidos
pelas novas perspectivas de conteúdo urbano e social, além das solu-
ções e do adensamento poético herdados do Simbolismo, os contos
23 1 O CONTO BRASILEIRO EMG OIÁS
atuais têm-se distinguido também pelas inovações de organicidade
e estrutura, muitas vezes sob influências estrangeiras (Kafka, Joyce,
Mansfield). Afinal, uma nova linha de conto em que alguns escritores
se vêm lançando na busca de novas formas de expressão ficcional,
desprezando o diálogo externo, elegendo o processo contrapontísti-
co, o simultaneísmo das ações, soltando os episódios, destruindo as
personagens e confundindo as tradicionais (e populares) dimensões
de tempo e espaço, num esforço de originalidade nem sempre bem
sucedido, mas que marca indelevelmente a evolução da prosa de
ficção no Brasil. De passagem, se poderia dizer que o cúmulo do
exagero técnico-estrutural no conto brasileiro foram as experiências
da chamada "prosa neoconcreta"...
Mas se uma constante se pode notar na evolução da literatura
brasileira, é sem dúvida o amadurecimento progressivo no sentido
da absorção dos elementos típicos da paisagem e da vida do homem
nacional.
Os países americanos, herdeiros de uma cultura européia,
iniciaram o seu processo de emancipação colonial primeiramente
descobrindo a natureza exótica, adaptando-se ao novo ambiente
e dele retirando, sucessivamente, os meios primários de subsistên-
cia, de comércio e de manifestação do espírito, ao mesmo tempo
em que os produtos europeus, cada vez mais raros e difíceis, se
iam restringindo às classes economicamente superiores. A grande
massa popular, já no segundo século do descobrimento do Brasil,
sabia retirar da terra e dos rios tanto o alimento como o vestuá-
rio, adquirindo novos hábitos, substituindo os traços da cultura
européia pelas formas mestiças americanas, tanto material quanto
espiritualmente.
Dai o "sentimento da terra" e do espírito nativista que datam
da Guerra do Açúcar, nos primeiros anos do século XVII; daí o
desenvolvimento e a incorporação de matizes autonômicos no "nati-
vismo" do XVIII século e no "ufanismo" do XIX, transformando-se,
afinal, numa das mais poderosas e legitimas correntes da literatura
brasileira, acusando-se no "indianismo" e no "sertanismo" dos ro-
mânticos, individualizando-se no "caboclismo" realista e adquirindo
241GILBERTO MEND ONÇATELES

um revigoramento e uma conscientização no "regionalismo" que


chega aos nossos dias acentuando o aspecto social, neo-realista, da
literatura nacional nas suas manifestações regionais.
É certo que a nossa literatura sempre vacilou entre o uni-
versalismo clássico e o americanismo romântico, como quer Lúcia
Miguel-Pereira (Prosa de ficção — de 1870 a 1920, 1950), com predo-
mínio por muito tempo do universalismo europeu. Entretanto, se o
sentimento local foi descoberto muito tarde, é porque tarde também
se verificou a nossa autonomia literária que só o Romantismo pôde
realmente acentuar. E é interessante que um dos traços mais típicos
do romantismo brasileiro seja precisamente a valorização do índio
e do homem do sertão, como em Gonçalves Dias e José de Alencar.
É que esse sentimento de exaltação dos elementos nacionais estava
sufocado, não os haviam ainda elevado à categoria de valor literário,
embora constituíssem toda a estrutura de vida do povo brasileiro.
No momento em que foi possível essa libertação temática, quando a
atmosfera romântica propiciou uma tomada de consciência no sen-
tido do nacional, imediatamente assistiu-se à adesão do público que
via assim a sua concepção de vida e o seu próprio mundo refletidos
na obra literária. E isto explica também a popularidade do escritor
romântico, cujas obras de prosa e poesia são ainda as mais lidas pelo
povo no Brasil.
Mas a grande integração do conto no espírito do povo bra-
sileiro só se deu mesmo com o Regionalismo que, além do amadu-
recimento dessa tendência autenticamente nacional, foi também
a atualização do Realismo e do Naturalismo, constituindo, dessa
forma, com o Romantismo, os dois pólos naturais e constantes na
dialética da literatura brasileira. O espírito de observação e análise
do Realismo continuava a atualizar-se no Regionalismo, procurando
expressar com exatidão a realidade, dando ênfase à cor local, fazendo
aflorar os aspectos científicos da problemática rural, tudo isso amal---
gamado agora com os elementos exuberantes da paisagem, ecologica-
mente sentida na exposição do conformismo e da miséria resignada e
humilde do homem rural. E tudo isso também expresso através dos
exotismos arcaizantes e mais ou menos dialetais dos diferentes falares 251 O CONTO BRASILEI RO EM GOIÁS
do português brasileiro. Outro aspecto que merece ser mencionado
é que este Regionalismo, florescendo no período pré-modernista de
nossas letras, atuou como base para as várias manifestações da prosa
modernista, no romance e no conto.
Quando faltou o espirito de integração, quando a literatura
regional adquiriu intempestivamente certas atitudes de auto-sufi-
ciência, fechando-se nas suas limitações, sem aspiração universal,
assistiu-se à contrafação do Regionalismo na sua forma primária de
Provincianismo, na observação de Afrânio Coutinho. O verdadeiro
Regionalismo, o que soube explorar os conflitos locais, dando-lhes
perspectivas universais, este possui um registro válido, por isso que
incorporou à literatura brasileira um patrimônio rico de informa-
ções humanas, como se pode depreender da leitura de autores como
Bernardo Guimarães, Afonso Arinos, Xavier Marques, Domingos
Olímpio, Oliveira Paiva, Inglês de Sousa, Simões Lopes Neto, Coelho
Neto, Afrânio Peixoto, Valdomiro Silveira, Alcides Maya e Hugo
de Carvalho Ramos.
Assim, passada a primeira e mais importante fase da litera-
tura regional, compreendida entre os fins do século XX e o advento
do Modernismo, em 1922, período em que houve um predomínio
absoluto do conto ou da novela curta, começa a delinear-se, depois
das experiências panbrasileiras de Mário de Andrade (Macunaz'ma,
1928), o aparecimento do que se convencionou denominar "romance
do nordeste", levando a corrente regionalista a outras dimensões,
mais amplas e portanto incapazes de serem expressas nos estreitos
limites do conto, Daí a ênfase ao romance e os nomes de José Amé-
rico de Almeida, Raquel de Queiroz, José Lins do Rego, Graciliano
Ramos, Amando Fontes e Jorge Amado, popularizando esta linha
nacional da novelística brasileira. A partir, entretanto, da publicação
de Sagarana (1946), é possível assinalar-se novamente uma certa
preferência dos escritores pelo conto, dando-lhe perspectivas urbanas
e introduzindo-lhe inovações estruturais, mesmo quando exploram
uma temática regional.
Merece finalmente dizer que é muito rica a bibliografia regio-
nal na literatura brasileira, ainda que não tenha sido rigorosamente
261 GILBERTOMENDONÇATELES

levantada em todas as regiões ou Estados. Mas na verdade poucas


são as obras que possuem maior valor literário para sair do âmbito
puramente regional e situar-se no nível superior da literatura no
Brasil. É o que se verifica, por exemplo, no Estado de Goiás, onde
os vinte e cinco autores responsáveis pelos trinta e seis livros de con-
tos editados não aspiraram a maiores repercussões, com exceção, é
claro, de Hugo de Carvalho Ramos, Bernardo Élis e um ou outro
nome cujas obras ocupam posição de relevo no Grupo Central do
regionalismo brasileiro.
II - O ESTADO DE GOIÁS

Descoberto e nascido da expansão bandeirante, o


deserto chamado sertão ainda preenche os espaços entre
cidades (pouco mais que vilas), vilas indistinguíveis dos
povoados, aldeias, arruados e outros minúsculos agrupa-
mentos de moradias e moradores, cujos nomes, em latim,
ficariam definidos no pagus comum. A densidade demográ-
fica do Sul de Mato Grosso e Goiás, com Brasília e tudo,
não cobre área capaz de invalidar o que se disse.
M. CAVALCANTI PROENÇA
Introdução à 5.. edição de Tropas e boiadas,
1965.

0
Estado de Goiás', situado no Planalto Central do Brasil e cuja
maior extensão territorial ocupa o sentido norte-sul, possui uma
posição de grande importância no futuro do Pais, não somente como
espaço estratégico para o desenvolvimento, político-administrativo,
mas principalmente por confluírem às suas terras elementos culturais
de todas as regiões brasileiras, num processo de aculturação ainda
27 1 OCONTOBRA SILEIRO EMGOIÁS
'Parte já divulgada, sob o titulo de "Atualidade do Romance em Goiás", na
revista Mimésis, n°. 1, 1965, da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal
de Goiás. Sobre as "zonas culturais", ver a nota que publicamos no primeiro nú-
mero de Cadernos de Estudos Brasileiros, de 1963, verbis: "É interessante lembrar
que Goiânia, com trinta anos de existência, ainda não está cumprindo rigorosa-
mente a sua função centralizadora no sentido da unificação das forças econômi-
co-sociais do Estado, havendo regiões (como o Sudoeste, o Norte e o Nordeste)
cujos contatos culturais e econômicos se têm verificado mais com o Triângulo
Mineiro, com Belém do Pará e com Barreiras (BA), respectivamente. De certo
modo, a "capital" do Sudoeste tem sido Uberlândia ou Uberaba (MG), enquan-
to Araguari (MG) até há pouco centralizava a vida da região sul.
mais ou menos indefinido, porém de profundas significações para
os estudos antropológicos, sociológicos, econômicos, lingüísticos e
literários.
Limitando com os Estados do norte, nordeste, leste, oeste e
centro-sul, deles recebe continuamente uma diversidade de material
humano, com características que se entrechocam e se mesclam rapi-
damente, dinamizando todo um estrato cultural antigo, com traços
mais ou menos próprios, e que, por condições facilmente explicá-
veis, se encontram acantonados em diferentes regiões, constituindo
autênticas "zonas culturais" do Estado. Essas "zonas culturais", que
se explicam não apenas por fatores de ordem geográfica, mas tam-
bém pelos movimentos migratórios e pelas atividades econômicas
propiciadas no sentido da ocupação humana do Centro-Oeste,
constituem permanentes pontos de contato com o Norte e o Sul do
Brasil e revelam na toponímia, nos oragos, na antroponímia e mesmo
na etnografia a procedência de sua população.
Assim é que no norte do Estado, em torno de Porto Nacional
(considerada a "capital" do norte goiano, de tendência separatista
— o futuro Estado do Tocantins), os habitantes são provenientes, na
sua maioria, dos Estados do Pará, Maranhão, Piauí, Ceará e Bahia,
apesar da grande e recente afluência de elementos de outros Estados,
atraídos agora pela construção da rodovia Belém-Brasília (BR-14).
Na zona compreendida à direita do rio Paranã, prolongamento
geográfico do grande sertão de Euclides da Cunha e, também, do
de Guimarães Rosa, a população é predominantemente baiana e
o ponto de dispersão foi, de certo modo, a cidade de Barreiras,
281 GILBERTO MENDONÇATELES

no Estado da Bahia. E em todo o vasto Planalto Central Goiano,


bem como em toda a região sul, sudoeste e oeste, a maior parte
dos habitantes têm raizes mineiras e paulistas. Só depois de 1930
passaram a receber com maior intensidade contingentes de famílias
nordestinas.
A região sul e sudoeste, a mais densamente povoada, tem como
centro cultural a Capital do Estado, Goiânia, construída em 1935 e
contando hoje [1967] mais de trezentos e cinqüenta mil habitantes.
[A estimativa atual é de 1.300.000.] Está situada a duzentos quilô-
metros de Brasília e a cento e poucos quilômetros da cidade de Goiás,
antiga Vila-Boa e primeira capital do Estado, fundada em 1726 pelo
bandeirante paulista Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhangüera.
Apesar de existirem no norte de Goiás algumas cidades
antigas e de certa importância histórica, como Porto Nacional,
Tocantinópolis, Dianópolis (Cp. o romance O Tronco, de Bernardo
Élis), Natividade e Arraias, o certo é que o norte goiano, obrigado a
sujeitar-se ao seu isolamento geográfico, não pôde logo beneficiar-se
dos raros empreendimentos culturais que tiveram as cidades do centro
e do sul, mais próximas da Capital, como Pirenópolis, Corumbá de
Goiás, Jaraguá, Anápolis, Luziânia, Silvânia, Pires do Rio, Ipameri,
Bela Vista de Goiás, Rio Verde, Jataí, Itumbiara e poucas outras.
Dentre esses empreendimentos, citam-se: a instrução primária,
iniciada em 1788 nas cidades de Goiás, Pirenópolis e Pilar de Goiás,
ao mesmo tempo em que, nas duas primeiras, surgem também os pri-
meiros professores de Latim e Retórica, isto é, de Língua Portuguesa;
o jornalismo que, desde 1830, quando apareceu a Matutina Meiapon-
tense, vem desenvolvendo-se através de jornais de vida efêmera mas que
não deixaram de contribuir para que, já em 1869, data em que surgiu
A Província Literária, sob a direção de Félix de Bulhões, constituísse
o gênero "literário" dominante; a criação de uma biblioteca pública em
1850, na capital da Província, depois de já existir uma em Pirenópolis,
numa rivalização intelectual que só não continua nos dias atuais devido
à ação centrípeta e cultural de Goiânia na zona central do Estado; a
criação do Liceu de Goiás em 1847; a fundação do Gabinete Literário
O CONTO BRASILEIRO EM GOIÁS
Goiano em 1864; a importância humanistica do Seminário Santa
Cruz, fundado em 1873 e responsável pela formação intelectual dos
primeiros homens públicos e dos primeiros escritores; e, já no século
vinte, o aparecimento da Academia de Direito em 1903 e de uma
Academia de Letras, em 1904, antecipando a fundação da Academia
Goiana de Letras, em 1939.
A essas e mais algumas realizações culturais a que se juntaram
também o entusiasmo das idéias republicanas, incentivando e de-
senvolvendo o jornalismo e a oratória, o exemplo de publicações de
29 I

livros e o gosto pelas tertúlias e saraus, é que se deve uma atmosfera


de intelectualismo nos primeiros anos do século XX, contribuindo
decisivamente para a formação de uma mentalidade goiana mais
exigente na produção literária.
Mais recentemente, na segunda década do século XX, depois
dos benefícios da estrada-de-ferro ligando as cidades da zona sul na
direção do Triângulo Mineiro, depois da revolução de 1930, depois de
Goiânia e de outras iniciativas propriamente culturais como o Instituto
Histórico e Geográfico de Goiás (1933), a reestruturação da Academia
Goiana de Letras (1939), a instituição da "Bolsa de Publicação Hugo
de Carvalho Ramos" (1943), a fundação da Associação Brasileira de
Escritores (1945), o aparecimento da Associação Goiana de Teatro
(1946) e, agora, culminantemente, com a instituição das universidades
(Universidade de Goiás, Católica, em1960; e Universidade Federal
de Goiás, 1962) — depois, enfim, das várias providências nacionais
no sentido do desenvolvimento sócio-cultural do Brasil, percebem-se
nitidamente uma renovação espiritual no Estado de Goiás, de norte a
sul se despertando, mas por ora naquele status de transição, "em que os
artistas, os escritores, os políticos, todos os homens capazes de influir
na vida de outros homens, se vão sentindo ou superados ou indeci-
sos, ou armados de novas forças de criação e movimento. A maioria
desaparece; outros não conseguem descobrir seus próprios caminhos;
e alguns, mais argutos e atilados, compromissados com o seu tempo
e com a sua própria consciência, se lançam confiantes à execução de
algum trabalho meritório, intelectual ou político", conforme escreve-
mos num "Balanço Literário de Goiás em 1963", publicado na revista
iGILBERTOMEN DONÇATELES

Oásis, em janeiro de 1964.


30
III - MANIFESTAÇÕES LITERÁRIAS

Augusto de Saint-Hilaire, que nos visitara em prin-


cípios do século XIX, escrevia que já então só vira ali, por
toda a parte, 'triste decadência e ruína do esplendor de ou-
trora'. Não só este sábio naturalista, como outros estran-
geiros notáveis admiraram os talentos originais do Goiano
cuja vocação artística, guiada apenas pelo instinto, sem
mestres e sem modelos clássicos, se exerciam nos mais finos
lavores da ourivesaria, das obras de talha, na pintura, na
música e no cultivo das letras.
HENRIQUE SILVA
Poetas goianos, 1901.

D este modo, foi na região centro-sul do Estado que tiveram


início as primeiras manifestações literárias2. Embora a poesia
(épica, lírica e satírica) se assinale no primeiro século da história
de Goiás (XVIII), continuando mais ou menos, através de vultos
isolados, o espírito arcádico dos escritores mineiros e, em seguida,
acompanhando o curso do pensamento nacional, se verifique um 3 1 1 OCONTOBRASILEIRO EM GOI ÁS
surto considerável no jornalismo, a prosa de ficção (o conto, depois
o romance) somente vem aparecer nos fins do século XIX, antes
mesmo do aparecimento do teatro escrito, nas primeiras décadas

'Em A poesia em Goiás, de 1964, assinalamos os principais aspectos do desenvol-


vimento literário de Goiás, com ênfase entretanto na poesia. Algumas das obser-
vações — sobretudo as de caráter geral — estão sendo aproveitadas neste trabalho,
sem, todavia, retirar-lhe a singularidade de ser uma introdução ao estudo do
conto goiano, a que se seguirá brevemente outro estudo sobre o romance, com o
objetivo final de completar-se uma planejada história da literatura goiana.
de 1900.
Foi por volta de 1790 que BARTOLOMEU ANTÔNIO
CORDOVIL, pseudônimo de Antônio Lopes da Cruz (1746-1810),
escreveu em Meia-Ponte (Pirenópolis) o seu "Ditirambo às ninfas
goianas", o mais antigo, poema de que se, tem notícia em Goiás.
Dos primeiros anos do século passado e, pode-se dizer, de toda a
sua primeira metade, apenas dois poetas são conhecidos: o cônego
LUÍS ANTÔNIO DA SILVA E SOUSA (1764-1840), autor de al-
guns poemas satíricos e FLORÊNCIO ANTÔNIO DA FONSECA
GROSTOM (1777-1860), de que se conhecem, ainda em manus-
crito, cinqüenta estrofes de inspiração camoneana, numa tentativa
épica. Embora na segunda metade surjam alguns valores como
ANTÔNIO FÉLIX DE BULHÕES JARDIM (1845-1887), cuja
obra, publicada em 1906, traz poemas datados de 1885, conferindo
a seu autor a primazia de ser o primeiro poeta romântico de Goiás,
a maior parte dos escritores da época não chegaram a publicar os
seus livros e outros, como HIGINO RODRIGUES (1869-1906), o
fizeram, mas as suas obras, geralmente folhetos de poucas páginas,
estão hoje completamente desaparecidas.
Cabe a MANUEL LOPES DE CARVALHO RAMOS (1864-
1911), natural do Estado da Bahia, mas em Goiás desde 1889, o privi-
légio de haver iniciado a bibliografia literária dos goianos, motivando
com isto um certo movimento literário nos jornais do fim do século
XIX e uma preocupação editorial nos primeiros anos de 1900. Pela
temática, inclusive pelo aproveitamento épico da história de Goiás,
1GILBERTOMEND ONÇATELES

como também pela sua exuberância estilística, com visos condoreiros,


este autor tem sido injustamente olvidado, mas possui, incomparavel-
mente, muito mais interesse literário do que Félix de Bulhões, que deve
a sua inegável popularidade a acontecimentos extraliterários, como
as lutas pela emancipação dos escravos e pelo advento da República,
através do jornalismo político que lhe confere ainda hoje uma auré-
ola de simpatia. Em termos estritamente literários a obra de Manuel
Lopes de Carvalho Ramos é, na verdade, muito superior e merece ser
estudada com mais profundidade.
32

Os poetas do fim do século XIX e Os das duas primeiras dé-


cadas do XX refletem em Goiás as várias correntes do Romantismo,
tendo como modelo Gonçalves Dias, Castro Alves e, predominan-
temente, Casimiro de Abreu, cuja obra influenciou a maioria dos
poetas que se seguem: JOAQUIM BONIFÁCIO GOMES DF,
SIQUEIRA (1883-1923), LUÍS RAMOS DE OLIVEIRA COU-
TO (1888-1948), GASTÃO DE DEUS VICTOR RODRIGUES
(1883-1917), LEODEGÁRIA DE JESUS (1889-1978), ARLINDO
COSTA (1880-1928) e AUGUSTO RIOS (1878-1959). Na verdade,
esses autores, que se expressaram mais pelo soneto, já denunciam
também caracteres parnasianos. ERICO CURADO (1880-1961) é,
todavia, o melhor poeta parnasiano-simbolista da região.
Em 1928, publicando Ontem, CILINEU MARQUES DF,
ARAÚJO VALE (1889-1954), mais conhecido por Leo Lynce, divul-
ga já algumas expressões do Modernismo de 1922, movimento que,
depois da construção de Goiânia e numa atualização surpreendente,
ganha forma nas obras dos poetas da atualidade, alguns já inativos,
outros empenhados na elaboração de uma poesia válida na literatura
brasileira, tal como já registramos em A poesia em Goiás.

Poder-se-ia dizer, portanto, que o fenômeno literário em Goiás


possui a sua história, de repercussões isoladas, dentro de um proces-
samento ininterrupto e cada vez mais vigoroso, consoante a teoria 33 IOCONTO BRASILEIRO EM GOIÁS
evolutiva de Hegel e Menéndez y Pelayo, segundo a qual ao lirismo
das coletividades (a épica anônima) e à lírica pessoal e subjetiva
segue-se o desenvolvimento do gênero dramático, assim compre-
endendo a ficção, inicialmente sob a forma de crônicas, evoluindo
depois para o conto e para o romance que, na opinião do goiano
FRANCISCO XAVIER DE ALMEIDA (1877-1936), 'perverte a
imaginação e enche às vezes o cérebro da mulher de fantasias tão
loucas que a vida se lhe torna uma tortura insuportável". Essa página
intitulada "Romances", divulgada por FRANCISCO FERREIRA
DOS SANTOS AZEVEDO no seu Anuário histórico, geogra'fico e
descritivo do Estado de Goiás, de 1910, não traz infelizmente a data
em que foi escrita, mas não deixa de ser curiosa por se tratar de um
médico e revelar, de certa forma, a opinião que se tinha a respeito de
romances e romancistas, que o escritor goiano vê como "um destrui-
dor da vida natural, humana e sensata; é um semeador maldito..."
Dai talvez porque as primeiras informações sobre as letras de Goiás
se referem somente à poesia, como é a "Parte Literária" do Anuário
referido ou o Parnaso goiano, de GASTÃO DE DEUS VÍTOR
RODRIGUES, de 1917. A única referência à prosa no Anuário do
Professor Ferreira é a feita ao conto de Cora Coralina, pseudônimo
de ANA LINS DOS GUIMARÃES PEIXOTO, com a ressalva,
porém, de que "não cultiva o verso, mas conta na prosa animada
tudo o que o mundo tem de bom"...
A critica literária não apresenta ainda valores que se situem
no plano superior de algumas manifestações goianas, sobretudo no
conto.
34IGILBERTOMEND ONÇATELES
IV - EVOLUÇÃO DO CONTO GOIANO

Sim, naquele curto e não longo espaço de 1891 a 97,


estava compreendido todo o áureo período da nossa assaz
embrionária e completamente desconhecida literatura. Foi
então que apareceu [sic] aqueles burilados contos de Ismael
Vaga, um delicado pseudônimo. dignos de um Machado
de Assis, com os quais rivalizavam e que muitas vezes ul-
trapassavam pela elegância do estilo, psicologia apurada,
gracioso enredo e ótimo deslance [sic]; entre eles podemos
citar "Tálamo e Túmulo", "Belinha", "Irmã", etc., que de-
ram ao fino conteur, grande notabilidade em nosso meio, a
voga invejável de que gozava.
HUGO DE CARVALHO RAMOS
em A Semana, de 1911.

1. OS PRECURSORES

I mpondo-se corno autêntica demonstração literária das regiões


brasileiras e orientando-se no sentido da unidade nacional, o
Regionalismo' é a corrente literária em que, mais ou menos se
35 I OCONTO BRASILEIRO EMGOIÁS

'Damos aqui à palavra Regionalismo um sentido mais amplo, de modo a abran-


ger o chamado Regionalismo propriamente dito (entre 1896 e 1922) e, também,
a acepção consignada por Ernani da Silva Bruno para o verbete "Sertão" no Pe-
queno dicionário de literatura brasileira (1967): "indicando as áreas mais desertas
do Pais, menos povoadas ou mais distanciadas da costa e dos grandes centros de
população".
filiam todos os escritores de ficção, goiana4 relativamente nova,
como toda a sua literatura. Os primeiros livros de conto datam de
1910, embora se encontrem nos jornais do último decénio do sé-
culo XIX as primitivas experiências neste sentido, muitas das quais
não conseguindo transpor as fronteiras da crônica, focalizando
geralmente assuntos líricos ou temas gerais como a tarde, a noite,
o luar, o amor, a saudade, a tristeza, às vezes num mero "jogo de
palavras, em que se exercitam a habilidade e o engenho dos autores",
na expressão de Brito Broca, citado por Afrânio Coutinho na sua
Introdução à literatura no Brasil. Não resta dúvida entretanto de
que nesse período se verifica a fase embrionária de que fala Hugo de
Carvalho Ramos, revigorando-se o jornalismo e despontando-se a
critica literária e os primeiros contos nos jornais, além da publicação
dos primeiros livros de poemas.
Os mais antigos livros goianos que trouxeram algumas páginas
de conto, como os de Henrique Silva, Zeferino de Abreu e até os de
Gastão de Deus Vitor Rodrigues e Pedro Gomes não conseguiram
muitas vezes guardar as características mais gerais do conto e melhor
se classificariam como livros de crônicas, tratando da paisagem ou
dos tipos humanos de maneira fotográfica e descritiva, não os mo-
vimentando em conflito nem os elevando à condição de autenticas
personagens.
Foi, aliás, sob a inspiração de dois grandes escritores nacionais
que se iniciou a ficção goiana. Vivendo em Goiás, na cidade de Catalão,
no ano de 1876 e escrevendo antes sobre temas particularmente goia-
nos, BERNARDO GUIMARÃES (1825-1884), através de O Ermitão
361 GILBERTO MEND ONÇATELES

de Muquém, de 1865 (Muquém é povoação goiana, famosa ainda hoje


pela sua romaria), O Garimpeiro, de 1872 e O índio Afonso (1873)
foi desde cedo conhecido e deve ter servido de modelo às primeiras
tentativas literárias da prosa goiana. Em Poetas goianos, de 1901,

4Divulgado, em parte, sob o titulo de "Roteiro do Conto Goiano", nos Cadernos


de Estudos Brasileiros, n°. 1, 1963, publicado pelo Centro de Estudos Brasileiros
da U.F.G.
Henrique Silva menciona o fato, escrevendo, mais como poeta do que
como critico, que "também sob o langor daquele céu de um azul mis-
terioso que arqueia sobre o Tocantins e o Araguaia — vivera e vibrara
a alma de um Bernardo Guimarães, cujos versos límpidos e cantantes
harmonizavam a expansiva sensualidade bucólica e a melancolia das
endeixas sertanejas — plangentes como o arrulo das pombas rabançãs
na espessura adentro das florestas do Alto-Brasil". E não deixa de
ser também interessante que Hugo de Carvalho Ramos repete mais
ou menos um tema de seus contos, conforme trataremos adiante,
no capítulo sobre Fontes e Influências. Toda a obra de Bernardo
Guimarães, segundo escreve Wilson Lousada ("Grupo Central", in
A Literatura no Brasil, vol. 11, 1955), "reflete de algum modo, o estilo
de vida sertaneja, apoiada principalmente no descritivo paisagístico,
mas sem fugir às tradições e lendas das terras do planalto central,
povoadas de vaqueiros, tropeiros e rudes senhores de fazendas".
Assim também se passou com AFONSO ARINOS (1868-
1916), natural de Paracatu, nos limites de Goiás e Minas Gerais e
ponto certo na antiga estrada real, mais ou menos seguida hoje pela
rodovia Brasília - Belo Horizonte, na "geografia" do Grande sertão:
veredas de Guimarães Rosa. Essa cidade exerceu por algum tempo
uma certa influência nalgum aspecto da cultura goiana, sendo até hoje
famosa a sela paracatuense e se falando com certo prazer na antiga
notável cachaça de Paracatu. Pelo sertão, publicado em 1898 (e mais
tarde Lendas e tradições brasileiras, de 1917) é tido como iniciador do
Regionalismo brasileiro, pagou tributo à paisagem goiana, como aquele 37IOCONTOBRASILEI ROEMGOIÁS
"buriti perdido" a profetizar o aparecimento de Brasília. E Tropas e
boiadas, o primeiro e um dos mais sérios livros da literatura no Brasil
Central, possui também inúmeras semelhanças estilísticas com o livro
de Afonso Arinos, que lhe deve ter servido de modelo, ainda que a
obra do escritor goiano contenha muito mais atualidade e muito mais
densidade literária.
Se se desprezarem, pois, as narrativas entremeadas de obser-
vações históricas e sociológicas dos famosos viajantes e naturalistas
da primeira metade do século dezenove e os trabalhos de COUTO
DE MAGALHÃES (O Selvagem, 1876), e do português OSCAR
LEAL (Viagem às terras goianas, 1892), — é lícito dizer que as mais
antigas tentativas de conto em Goiás somente se registraram depois
de 1890, coincidindo também com o romantismo poético, quando
se começaram a perceber os sinais de uma séria preocupação lite-
rária, não mais individual e sim coletiva, pelo menos na pequena
coletividade letrada de Vila-Boa de Goiás'. A respeito dessa data,
que escolhemos para o início da ficção goiana, pode-se dizer que
a encontramos no livro Casos reais, publicado em 1910 pelo padre
ZEFERINO DE ABREU — o primeiro contista goiano com livro
publicado: há ali um único conto datado ("A Bandeira", 1890),
embora não se saiba exatamente se o conto foi escrito nesse ano ou
se o fato contado ocorreu em 1890, o que é bem provável por se
tratar de uma história ligada aos primeiros tempos da República. De
qualquer forma, três anos depois, em 1893, já encontramos alguns
contos publicados nos jornais,
No Jornal de Goyaz, edição de 4 de janeiro de 1893, na secção
"Letras", aparece o conto "Irma", assinado por IV., que sabemos tratar-
se de Ismael Vaga, pseudônimo de MATHIAS DA GAMA E SILVA
(1815-1905). Era também poeta e sobre ele escrevemos em A Poesia em
Goiás, informando que, embora paraibano de nascimento, desde 1890
até a sua morte viveu em Goiás, tendo exercido o cargo de juiz de direito
em Cavalcante e Formosa e, depois, de desembargador. Não foi um
bom poeta, revelando-se mais como professor de Direito, tendo tomado
parte ativa (e foi o orador) na instalação da Academia de Direito, em
1903. Seus versos apresentam pouca originalidade, sofrendo também
38 1 GILBE RTO MENDONÇA TELES

da influência retórica de Castro Alves.


Foi Darcy Damasceno que nos chamou a atenção para a

5 Em A poesia em Goiás, p. 228, escrevemos: "Foram por certo os primeiros viajan-


tes, na maioria estrangeiros, que iniciaram em Goiás o recolhimento das histó-
rias, dos causos e da poesia oral, fazendo observações que nos dão hoje uma idéia
dos primeiros instantes da nossa formação cultural".
'Como o artigo de Hugo de Carvalho Ramos em A Semana, Goiás, é de 1911,
não é possível a confusão com o nome de Higino Rodrigues, morto em 1906: é
que ambos usaram as siglas H. R. na assinatura de seus trabalhos.
observação de Hugo de Carvalho Ramos', publicada em A Se-
mana, edição de 19 de junho de 1911, segundo a qual havia um
ótimo contista goiano que assinava I.Vaga e cujo estilo lembrava
Machado de Assis. Como se viu na epígrafe a este capitulo, Hugo
de Carvalho Ramos não só comparava os contos de Ismael Vaga
aos de Machado de Assis, mas informava que "muitas vezes os
ultrapassavam pela elegância de estilo, psicologia apurada, gracioso
enredo e ótimo deslance [sid". Seguindo tal orientação, consulta-
mos vários jornais do fim do século XIX e pudemos comprovar a
observação do escritor goiano, embora sem ratificar totalmente as
suas comparações que correram, por certo, à conta de seus dezesseis
anos. E o primeiro conto que encontramos foi esse "Irma", datado de
1893, que o autor, no final, diz haver prometido a Eduardo Sócrates,
nome muito citado na imprensa da época.
Trata-se de uma história de amor, de que participam três
personagens: duas moças, uma rica e outra pobre e um mancebo
que acaba casando com a rica, mas continua flertando com a pobre,
isto e, continua gostando da pobre. A história começa com o autor
narrando em primeira pessoa, passando depois a narração para uma
personagem que a continua, em estilo direto, ate que o autor retoma
a história, terminando-a com o fecho da narrativa clássica:

Soavam duas horas quando o meu amigo concluiu a sua


narração./ A cidade continuava silenciosa, a lua esplêndida, noite
fresca. Apertei-lhe a mão despedindo-me,/ — Então não me acom-
GOIÁS
panhas?! — Não posso./ — Porque prometi ao Eduardo Sócrates um OCONTO BRAS ILEIROEM

conto e é necessário que eu vá escrevê-lo, enquanto estou com as


idéias frescas. / — Mas o conto não está completo. / — O que lhe
falta?! — A moralidade. / Qual é ela?/ — Irma é pobre; Rosália Gomes
é rica. Adeus./ Boa Noite!

Iniciava-se em Goiás a publicação dos folhetins, aparecendo


contos de Catule Mendes, Guy de Maupassant, Coelho Neto, alem
de vários outros assinados por pseudônimos, dentre os quais Pierre
39 I

Mael, Armand Silvestre, Ismael Vaga (I. Vaga, 1. V), Jeana Nihilus, Roch
Hardy, Marius, Erasmo, Searon, Sidney, Heitor Malheiros e outros. Não
nos interessou desvendar tais pseudônimos, principalmente porque
tiveram pouca freqüência, a não ser o de Ismael Vaga, na verdade quem
mais escreveu, aparecendo no Jornal de Goyaz — o mais importante
periódico desse tempo — os seguintes contos de sua autoria: "Irma",
"Onde está a felicidade?", "Simples histórias", "Mistérios do coração",
'A flor seca", "D'aprés nature" (cenas da época), "Belinha" (novela) e
"Tálamo e túmulo", novela de quatorze capítulos, dedicada a Luís
Gonzaga Jayme e terminada em 18 de dezembro de 1893.
Trata-se, também, da primeira novela goiana, uma vez que a
que aparece com o nome de "romance" no número 474 de o Goyaz
é de 1894 e, além disso, escrita por vários autores, estando os seis
capítulos assim assinados: I Searon, II — Marius, III — Ismael Vaga,
IV — Erasmo, V — Marius e VI — I. Vaga. Mas o interessante é que
a secção do jornal já se denomina "Literatura Goiana" e o anúncio
do "romance" é feito nos seguintes termos:

Começamos hoje a publicar um romance original goiano


sob o título — "Noites de chuva" — no qual colaboram três penas
habilíssimas./ O Romance não tem plano algum e nem preside ao
seu desenvolvimento idéia alguma preconcebida./ Compor-se-á de
páginas soltas, à guisa de meditações, de uma série de folhetins sem
nexo, mas interessantíssimo [sid, pela beleza da forma e harmonia
do estilo? [sid/ O que podemos adiantar aos nossos leitores é que
os três autores [aparecem quatro] se revezarão, escrevendo cada um
40 1GILBERTO MENDONÇATELES

a sua parte do romance, em seis tiras no máximo, dentro de cada


semana, sem forçar o seu estilo, sem se preocupar com a unidade da
ação, mas obedecendo à deixa do que o preceder, e que o entrecho
é goiano da gema, goianos os personagens, não sendo permitido
qualquer modificação neste sentido.

Só muito tempo depois, em 1917, Hugo de Carvalho Ramos


publicaria em livro a primeira novela goiana "Gente da Gleba"
— na última parte de Tropas e boiadas, sendo que o primeiro ro-
mance, ()Apóstata, de RIBEIRO DA SILVA, cujo nome completo
é Antônio Ferreira Ribeiro da Silva (1868-1923), só foi publicado
em 1923, na cidade de São João dei Rei e sob o pseudônimo de
Sérgio Guido.
Cabe, finalmente, mencionar a existência de um conto de
Higino Rodrigues [voltamos a grafar Higino, em vez de Ygino,
pois agora vimos a sua assinatura no livro Cantos e contos, de 1894].
Através de uma informação de Regina Lacerda, descobrimos no
Gabinete Literário Goiano a obra mencionada. Trata-se de um livro
pertencente a dois autores: HIGINO RODRIGUES (1872-1907) e
ARTHUR COSTA [? -1, com prefácio de Arthur LObo; foi publica-
do pela Gazeta de Uberaba e está dedicado aos uberabenses. Consta
de duas partes: os "Cantos" são de Higino e trazem as siglas H.R. e
os "Contos" (que têm o nome de "Saudades" e não são contos coisa
alguma) são de Arthur Costa e trazem as siglas A.C. Entretanto, no
fim da primeira parte dos bons poemas de Higino Rodrigues apa-
rece também um conto — "Izaac, o trovador" — assinado por H.R.
É conto de inspiração romântica, da linha também de Álvares de
Azevedo. Explora um tema muito comum na poesia romântica, de
origem aliás medieval. É a história de uma festa de São João em que
os participantes tiravam a sorte para ver o futuro. Numa das rodadas
deu que a linda filha do festeiro se casaria com um trovador. No
mesmo instante, no meio da festa, chega Izaac, o trovador; com ele
chega o fogo, há um incêndio e o "trovador", que era o demônio,
canta uma canção que nada mais é que um pretexto do autor para
inserir ai um poema. Depois, o trovador foge lavando consigo a 411 0 CONTO BRA SILEIRO EM GOIÁS
linda Nholita, pondo fim à festa e ao conto. Com relação a Arthur
Costa, o parceiro nesse livro, sabe-se que é baiano, tanto que numa
crônica [conto?] — "Scherzando" — ele mesmo diz: "Ah! eu te adoro,
minha altiva Bahia, no teu modesto viver, na poesia de sua simplicidade.
Como és radiante de beleza, oh minha altiva Bahiar .

Estão ai, portanto, as raizes, os primeiros balbucios, arre-


medos quase sempre na arte de contar. É o tempo também em
que as estórias e os causos começam a emergir como embriões de
narrativas do fundo folclórico indígena e africano, perdendo a
sua oralidade e transformando-se em histórias de ficção sob a
pena acanhada mas pioneira dos juízes, promotores e alguns
bacharéis idealistas e propagandistas da República, positivistas
e sobre tudo com a grande preocupação de projetar o Estado de
Goiás no cenário nacional.
Os livros de HENRIQUE SILVA (1865-1935), como os de
outros, viajantes, são bem o exemplo desse incipiente aproveitamen-
to do material folclórico de Goiás, encontrando-se ainda exemplos
na atualidade. A caça no Brasil Central, 1898, e Sumé e o destino
da Nação Goid, 1910, não são entretanto livros de contos; no pri-
meiro — o mais importante — encontramos um tratado cinegético
e venatório em que, à maneira de ilustração, vão aparecendo algu-
mas historietas de caçadas, primariamente desenvolvidas, dentro
daquela espécie do "ciclo do jabuti", de inspiração indígena, como
nos estudos de Couto de Magalhães e Sílvio Romero.
A maior parte desse material, reelaborado como tema dos
primeiros contistas inéditos de Goiás, se perdeu ou continua esque-
cida nas páginas dos jornais do fim do século XIX, na época em que
começam a surgir as crônicas poéticas. No alvorecer do século XX
surgem os contos que, mais tarde, vão aparecer publicados em livro,
antologias ou de mistura com os assuntos mais diversos. Assim é que
se dá com "Na Taverna", do poeta JOAQUIM BONIFÁCIO GOMES
DE SIQUEIRA (1883-1923). Está datado de 1903 e, em que pese à
1G ILBERTOMEND ONÇATELES

sua estrutura retórica e ao evidente pessimismo romântico haurido


em A noite na taverna, de Álvares de Azevedo, revela já as primeiras
influências naturalistas em Goiás, citando-se Zola e deixando entrever
referência a uma vaga concepção marxista da sodedade, escrevendo
que "o Capital estúpido assenta o seu tentai sobre o coração da plebe!"
Outro aspecto a assinalar nesse conto é a sua preocupação de exaltar
a mulher, coincidindo com uma época de interesses e reivindicações
da mulher no Estado de Goiás, conforme já escrevemos7.
42

Logo em seguida aparece "Ecide", datado de 1904, de EURf-


DICE NATAL (1883-1970), que só o publicou mais tarde juntamente
com umas notas de viagem ao rio Araguaia, quando abundavam os
estudos e as impressões sobre o grande rio do oeste goiano. O conto,
todavia, não possui maior interesse, nem mesmo cronológico, uma
vez que, escrito em 1904, só foi divulgado em 1939. O que não
deixa de ser particularmente interessante é ter sido escrito por uma
mulher, aliás, a primeira presidente da Academia de Letras fundada
em Goiás, em 1904.
Foi provavelmente por esse tempo, nos dez primeiros anos do
século XX, que JOÃO TEIXEIRA ALVARES (1858-1940) publicou
no Lavoura e Comércio, de Uberaba, o seu conto "Sicci oculi", de que
só se tem noticia escrita através da Antologia goiana, de Veiga Neto.
João Teixeira Álvares Júnior, filho do autor, acha que o conto foi
publicado em 1907. Trata-se, pois, de um conto e não de um livro,
como por muito tempo se supôs. E o seu nome é mesmo "Sicci oculi":
olhos secos, enxutos, e não "Secchi oculi", como está na Antologia
goiana. A revista Oeste, número 18, de 1944, faz referência a uma
novela — Charitas — desse autor e traz publicado o conto "Anuncia-
ção", de tema bíblico. Autor também de algumas peças de teatro
(Montezuma, 1900; Eleusa, 1912), João Teixeira Álvares é assim o
fundador do teatro escrito em Goiás. Granjeou grande fama em
Uberaba, onde viveu e publicou os seus livros, e em Goiás era tido
como "um dos mais brilhantes cultores das letras no Brasil", na frase
de Moisés Santana, em Vultos e factos de Goiás, de 1928. Possuía,
porém, uma linguagem excessivamente literária, com muito gosto
43 I O CONTOBRASILEIRO EM GOIÁS

pela verbosidade, pelo estilo retórico e pelos temas da antiguidade


clássica, tratado de maneira romântica, o que lhe diminuiu muito
no sentido da originalidade criadora.
Parece que o único conto representativo dessa fase nebulosa
e genética da ficção em Goiás é "Tragédia na roça", de ANA LINS
DOS GUIMARÃES PEIXOTO (1890-1985), mais conhecida pelo
pseudônimo de Cora Coralina. Vem publicado na página literária do

7Cf.do autor "A Mulher nas Letras de Goiás", publicado no primeiro número,
1965, da Revista da Universidade Federal de Goiás.
Anuário Histórico, Geográfico e Descritivo do Estado de Goiás, de 1910,
organizado por Francisco Ferreira dos Santos Azevedo que parecia mes-
mo encantado com a beleza literária desse conto, pois chega a escrever
que a autora é um dos maiores talentos literários que possui Goiás; é
um temperamento de verdadeiro artista. Não cultiva o verso, mas conta
na prosa animada tudo o que o mundo tem de bom, numa linguagem
fácil e harmoniosa, ao mesmo tempo elegante. É a maior escritora do
nosso Estado, apesar de não contar ainda vinte anos de idade.
De fato, percebem-se no conto de Cora Coralina os primeiros
sintomas do regionalismo goiano, evidentemente mais no aproveita-
mento do tema rural do que pelos caracteres da linguagem criadora,
de teor poético mas estilisticamente romântica. No entanto, apesar
de uma e outra imagem já inoperante e frágil para a época, apesar da
estrutura numa mesma pauta e ritmo, não se pode negar-lhe a mo-
vimentação dramática, a concisão expressiva, a fina sensibilidade da
pincelada rápida e sugestiva.
[Cora Coralina, saiu de Goiás e foi viver no interior de São
Paulo e só muitos anos depois, em 1957, voltou a Goiás, já nos seus
setenta anos e sem livro publicado. Depois disso é que foi publican-
do o seus livros (Meu livro de cordel, 1976; Vintém de cobre, 1983; e
Estórias da casa velha da ponte, 1985) e se tornando a mulher mais
importante na literatura do Brasil Central, embora sempre mal es-
tudada. Como se tornou um mito, misto de feminismo e literatura,
estuda-se a sua obra a partir do seu nome ou, antes, louva-se a sua
obra, como se tudo fosse de primeira grandeza. Os estudos que
441GI LBERTOMEND ONÇATELES

têm aparecido visam principalmente à confirmação do mito e não


à possível excelência literária de seus poemas. É preciso mostrar em
análise porque são bons [Nota de 2007].
Fácil é portanto verificar-se a afirmativa de que as mais antigas
experiências de conto em Goiás se registraram na última década
do século XIX, ainda que não apareça nenhum livro propriamente
de contos nessa época. As tentativas não passaram das páginas dos
jornais e muitos inéditos se perderem nos baús das famílias zelosas
dos seus antepassados intelectuais. Deste modo, só a partir de 1893
se pode notar a preocupação dos goianos em escrever poemas e
contos, num despertar mais ou menos coletivo, talvez traduzindo a
era de democracia iniciada com a República, facilitando a difusão
das idéias, e possibilitando a circulação dos jornais políticos que, de
vez em quando, acolhiam a produção literária.

Assim, dentro do entusiasmo geral dos primeiros anos do


século XX, quando houve a publicação de vários livros de poesia,
encontramos a obra do padre ZEFERINO DE ABREU, (falecido
em 1913) de que se sabe ter nascido em Goiás, ordenando-se em
1890 e formando-se no Seminário de Santa Cruz. Mas tarde exerceu
a função de vigário em Piedade, no município de Leopoldina, em
Minas Gerais, onde publicou Casos reais, em 1910. Foi Monsenhor
Primo Vieira quem o descobriu em Goiás, fornecendo-nos as infor-
mações que, em 1964, publicamos em nota ao pé da página 214 de
A poesia em Goiás. Agora, Monsenhor Primo encontrou o livro e
no-lo emprestou para estas notas.
A Antologia portuguesa, organizada por Nestor Delvaux em
1964 (Coleção FTD), informa que o escritor faleceu em 1913, tendo
deixado Contos sertanejos, de que não temos mais notícias, e Contos
reais [sia revelando-se um "observador perspicaz dos costumes do
homem do povo. Seus motivos são espirituosos e interessantes".
Faltou dizer que todos os contos de Casos reais (e não Contos reais)
451O CONTO BRASILEIRO EM GOIÁS
encerram uma lição moral ou religiosa, de maneira a ridicularizar
a maçonaria, o protestantismo, o político (que exonerou o padre),
a República, o positivismo, o trabalho aos domingos, exaltando ao
mesmo tempo o amor de mãe, o trabalho dos padres, o amor de
Deus e de Nossa Senhora. Apesar da preocupação moralizante que
o autor faz questão de ressaltar no prólogo ("A moral que flui de
cada narrativa é tão óbvia, que me abstive de maiores comentários"),
trata-se de um narrador habilidoso, consciente de sua função de
contador de estórias, estabelecendo conflitos e criando um certo
interesse no desenrolar da narrativa, havendo contos como "Fim
de um bandido", "Vingança do padre", "Habeas corpus para uma
coruja" que prendem a atenção do leitor, possuindo mesmo uma
estrutura e uma atualidade admiráveis. Na maioria, porém, o
autor não consegue afastar-se da crônica ou do simples docu-
mentário, transformando-se o assunto num mero caso de origem
anedótica.
As personagens, na sua maioria, possuem nomes humorísticos,
formados da justaposição de duas palavras, tais como: Secundino
Tiracouro, Tremetreme, Tristão Jaratataca, Colherão, Antônio Pei-
tudo Limpamato, Raimundo Sucupira Patchuli, Miguel Papaterra,
Josefina dos Suspiros, etc. Aliás, o próprio autor, no prólogo datado
de 1910, explica que

Não podendo produzir obra de fôlego, à míngua de forças


intelectuais, dou à lume uma ligeira série de casos singelos.
Se falece em meu livrinho o arrojado dos tropos e o esplendor
dos conceitos, uma cousa tenho o garbo de assegurar, sob hipoteca
de palavra: a autenticidade histórica.
Por isso adjetivei Casos de — reais, quer dizer, verdadeiros.
A imaginação apenas fantasiou os apelidos dos diversos perso-
nagens.

Mais adiante, informa que "escrevendo de homens simples, que


fazem a gala de nossas selvas e de nossas campinas, procurei guardar
a encantadora linguagem que eles usam". E aí está, na verdade, um
46 I GILBERTOMEND ONÇATELES

ponto relevante em sua obra, o registro de termos populares, antigos,


muitos, dos quais presentes na obra de Hugo de Carvalho Ramos.
Casos reais é assim não só o primeiro livro de contos goianos, mas
o primeiro a documentar os aspectos da realidade sertaneja, apare-
cendo nele os temas das tropas e das boiadas, bases e conteúdos da
melhor literatura de Goiás. Ademais, sendo de 1910, é coetâneo das
melhores obras do Regionalismo brasileiro. Tendo consciência da
mobilização dos termos regionais (ou populares), o autor os pôs em
grifo mas nem sempre os soube movimentar, adequando-os à expres-
são, deixando-se às vezes entrever o propósito claro, inespontâneo,
do aspecto documental que atribuímos a esse livro, onde os contos
refletem cenas de algumas cidades de Goiás e de Minas, ligados na
sua maior parte à vida eclesiástica.

Basileu Toledo França, em Sudoeste - antologia de uma região,


faz referência a Contos inéditos de CRISPINIANO TAVARES (1855-
1906), publicado em 1910 pela Gazeta de Uberaba. O organizador da
antologia informa que o autor era engenheiro e protegido de D. Pedro
II e os seus contos estão vazados numa linguagem popular, retratando
cenas e tipos do sudoeste goiano. Sabe-se também que nasceu em
Portugal e morreu assassinado em Rio Verde, Goiás. Não existindo
na Biblioteca Nacional nenhuma alusão a esse livro de contos, embora
o nome de Crispiniano Tavares esteja ali documentado como autor
de obras de engenharia, valemo-nos das informações (nem sempre
corretas) de Basileu Toledo França para dizer que ao lado de alguns
contos com tendências regionalistas, o que predomina em Contos
inéditos são as páginas de crônicas, pesadas de informações folclóricas,
conforme já escrevemos no ensaio "Aspectos da Literatura Goiana",
em 1963. No Dicionário bibliográfico brasileiro, volume II, p. 106 de
Sacramento Blake, há referência a Crispiniano Tavares, engenheiro
de minas pelas Escolas de Ouro Preto e autor de uma Memória sobre
as vantagens da exploração das jazidas de galena argentzfera do Abaeté,
editada no Rio de Janeiro, em 1881, ano em que aparece também 471OCONTOBRASILEI ROEM GOIÁS

Projetos sobre a exploração de carvão de pedra na bacia do Araçuaí.


Não há nada, porém, sobre suas atividades literárias.
Portanto, se, conforme mencionamos, a gênese do conto
goiano se pode documentar a partir do ano de 1893, com as ex-
periências dos folhetins periódicos, o ano de 1910 assinala o início
da bibliografia de ficção em Goiás, embora os três livros dessa data
tenham sido publicados em Minas Gerais: o Anuário, de Francisco
Ferreira dos Santos Azevedo, onde vem o conto de Cora Coralina,
foi impresso em Uberaba; o livro de Crispiniano Tavares (que é o
único livro que não pudemos consultar), é também de Uberaba; e
Casos reais, do padre Zeferino de Abreu, é de Cataguazes, sendo este,
realmente, o primeiro livro de contos na literatura de Goiás.

Apesar do critério de se referir, depois dos Precursores, somente


a autores de livros publicados, é oportuno mencionar a existência de
alguns contos em jornais e revistas, fornecendo maiores subsídios para
o estudo do conto em Goiás. Por exemplo, em 1920, publicou-se em
Luziânia o primeiro dos dois únicos números do Almanaque de Santa
Luzia, organizado por Evangelino Meireles e Gelmires Reis, não
oferecendo grandes possibilidades literárias. No mesmo ano a revista
Informação goiana, número 11, editada no Rio de Janeiro, trouxe o
conto "A caçada", de José Americano do Brasil. Nenhum desses autores
chegou a publicar livro de contos. Tal como também vai acontecer
com Sebastião Veloso Peleja que, em 1937, incluiu um conto seu num
livrinho de intenções didáticas — Exercícios de literatura.
Foi todavia a revista Oeste (1942-45) que, sem dúvida alguma,
redespertou o interesse pelo conto, refletindo em Goiás as tendências
nacionais apontadas por Alceu Amoroso Lima. Além disso, foi essa
revista que "descobriu" a obra de Hugo de Carvalho Ramos, segundo
se vê ali num artigo assinado por Domingos Félix de Sousa. A famosa
revista do Estado Novo em Goiás divulgou contos dos seguintes escri-
1GILBERTO MENDONÇATELES

tores, muitos dos quais permaneceram inéditos em livro: Domingos


Félix de Sousa, José Campos, José Bernardo Félix de Sousa, Frederico
de Medeiros, José Décio Filho, Gerson de Castro Costa, Marilda
Palínia (Maria Paula Fleury de Godoy), Lupicinio de Araújo, Ber-
nardo Élis, Pedro Gomes, Hugo de Carvalho Ramos, Gelmires Reis,
M. A. Félix de Sousa, José Décio (pai), Francisco de Brito, Rômulo
Gonçalves, José Godoy Garcia, Genezy de Castro e Silva, Orlando
Ferreira, João Teixeira Álvares, José Crispim Borges, Durval Pereira,
Guilherme Xavier de Almeida, João Accioli, Nita Fleury Curado,
48

Raimundo Moreira dos Santos e Afonso Félix de Sousa.


Por último, mais recentemente, merece atenção o Jornal Oió
(1956-58) e os suplementos literários de Folha de Goiaz e o de O Popu-
lar, este, fundado por nós em 1964, tem publicado, todos os domingos,
um conto de escritor goiano, inédito ou não.

2. SOB O SIGNO DE TROPAS E BOIADAS

É mesmo interessante lembrar que foi também a partir de


1910 que HUGO DE CARVALHO RAMOS (1895-1921), então
com quinze anos, começou a escrever os contos que, em 1917, iria
reunir sob o nome geral de Tropas e boiadas, inaugurando no Brasil,
no pensamento de Lúcia Miguel-Pereira, uma nova fase no Regiona-
lismo, a que não se contenta com descrever, mas fá-lo com intenções
denunciadoras. Já não é só a cor local que sobretudo interessa ao
autor, e sim a sorte das criaturas. A natureza e os hábitos goianos, que
evoca com amor, não lhe fazem esquecer que os tropeiros, boiadeiros
e camaradas são sobretudo homens — homens que vivem ainda mais
miserável que pitorescamente. Já Herman Lima (Variações sobre o
conto, 1952), acha que "Embora não se tratasse dum renovador do
gênero, o jovem contista de "Gente da gleba", "Ninho de periquitos",
"Nostalgia", "Mágoa de vaqueiro", ficou em nossas letras como um
mestre, por força da sua arte profundamente impregnada do amor à
terra semibárbara do sertão goiano, que ele soube evocar poderosa-
mente, numa prosa cheia de emoção e colorido". Logo em seguida, 49 I OCONTOBRASILEIRO EMGOIÁS
Herman Lima trata de Bernardo Élis, vendo nos seus livros "o cunho
inconfundível da verdadeira obra de arte que é o de ser ao mesmo
tempo um símbolo". Compara Hugo de Carvalho Ramos e Bernardo
Élis, dizendo que aquele fixou paisagens "tocadas de lírica beleza" e
este, "a densa atmosfera de uma noite medieval que se estende ainda
por sobre a rude humanidade daquelas mesmas paragens". Diz ainda
que o livro de Bernardo (Ermos e gerais, 1944) é "ao mesmo tempo
depoimento e litania".
Ora, em que pese ao grande apreço à obra de Bernardo Élis,
a mais importante de Goiás na atualidade e com lugar garantido no
panorama novelístico do Brasil, faz-se mister, entretanto, debruçar-se
sobre o pensamento de Herman Lima que encerra, a nosso entender,
alguns equívocos tantos literários como históricos. Principalmente
quando parece, um tanto indiretamente, realçar a obra de um em
detrimento da de outro, quando o certo seria ver em Ermos e gerais
o amadurecimento e o revigoramento das tendências denunciadoras
de Tropas e boiadas'. É necessário situá-las no tempo, cada uma em
seu tempo: a de Hugo em 1917, numa fase em que a literatura brasi-
leira se debatia em transição e as idéias sociais tinham ainda os seus
laivos positivistas e quando um livro como Juca Mulato, também de
1917, apareceu idealizando romanticamente o homem do sertão; a
de Bernardo Élis, de 1944, depois das experiências do Modernismo e
dos largos horizontes da revolução de 1930, depois da penetração no
Brasil das idéias socialistas, depois que o Brasil alcançou um desen-
volvimento social de grandes proporções e a sua literatura, temperada
por importantes acontecimentos nacionais e estrangeiros, chegou
com êxito a novas formas da técnica realista e naturalista de narrar,
mesclando ideologia e realidade — o Neo-realismo, o realismo crítico
e atingindo a dimensão de José Américo de Almeida, José Lins do
Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado e, noutra linha, Guimarães
Rosa — os mais expressivos prosadores brasileiros do século XX.
Todos os críticos nacionais estão acordes quanto às intenções
denunciadoras de Tropas e boiadas, desde "Caminhos das tropas" a
"Gente da gleba". E um estilista da têmpera de M. Cavalcanti Proença
não vacila em afirmar em ("Literatura do Chapadão" — introdução
I GILBERTO MENDONÇA TELES

à quinta edição de Tropas e boiadas, 1965) que "Como regionalista


Hugo de Carvalho Ramos pertence ao grupo a que poderíamos

'Aliás, Herman Lima chegou posteriormente à mesma conclusão, pois no capí-


tulo "O Conto, do realismo aos nossos dias" que escreveu para o segundo volu-
me de A literatura no Brasil, de 1955, diz que Hugo permanece em nossas letras
como um jovem mestre, pela força humana de suas criações impregnadas de
energia da terra semibárbara dos sertões remotos, poderosamente evocados por
uma prosa viva e colorida, vinte anos depois renovada por outro conterrâneo;
uma figura de contista moderno que é Bernardo Élis com o seu livro estranho,
50

fascinante e doloroso, Ermos e gerais (1944)".


chamar documentarista, de vez que sua obra artística transborda da
pura função estética para o aproveitamento pragmático do material
sociológico e até geográfico, presente nas descrições de paisagens e
ambientes". Dai o caráter de renovador dentro do regionalismo da
época. Renovador, porque, primeiro que todos os grandes regio-
nalistas, soube infundir na temática regional um novo tom, uma
intenção deliberada de pôr à mostra os velhos hábitos de exploração
social no trabalho do campo, nas fazendas e na antiga profissão de
tropeiro. E tal preocupação não deixou de trazer-lhe efeitos estilís-
ticos negativos, uma vez que em determinados trechos da novela
"Gente da gleba", existe a diluição do escritor e o aparecimento
do sociólogo, como no famoso monólogo de Sê) Dito, quando este
ia em busca do negro Malaquias, fugindo por não poder pagar as
dívidas ao patrão:

Geralmente, o empregado na lavoura ou simples trabalho de


campo e criação, ganha no mínimo quinze mil reis ao mês. Quando
tem longa prática no traquejo e e homem de confiança, chega a
perceber vinte, quantia já considerada exorbitante na maioria dos
casos. É essa a soma irrisória que deve prover às suas necessidades.
Gasta-se em poucos dias. Principia então a tomar emprestado ao
senhor. Dá-lhe este cinco hoje, dez amanhã, certo de que cada mil
reis que adianta e mais um elo acrescentado à cadeia que prende o
jornaleiro ao seu serviço. Isso, no começo do trato; com o tempo, a
dívida avoluma-se, chega a proporções exageradas, resultando para 5 1 I OCON TOBRASILEIROEM GOIÁS
o infeliz não poder nunca saldá-la, e torna-se assim completamente
alienado da vontade própria. Perde o credito na venda próxima,
não faz o mínimo negócio sem pleno consentimento do patrão,
que já não lhe adianta mais dinheiro. É escravo da sua dívida que,
no sertão, constitui hoje em dia uma das curiosas modalidades do
antigo cativeiro. Quando muito, querendo de algum modo mudar
de condição, pede a conta ao senhor, que fica no livre arbítrio de
lha dar, e sai à procura dum novo patrão que queira resgatá-la ao
antigo, tomando-o a seu serviço. Passa assim de mão em mão,
devendo em media de quinhentos a um conto e mais, maltratado
aqui por uns de coração empedernido, ali mais ou menos aliviado
dos maus tratos, mas sempre sujeito ao ajuste, de que só se livra
comumente quando chega a morte.

Ademais, raciocinando por outro lado, saber até que ponto


uma obra literária tem que ser documento e depoimento para ser
classificada como "verdadeira obra de arte" é questão que nem vale
a pena referir, uma vez que os modernos estudos literários já não
oferecem mais nenhuma dúvida a respeito, ficando as controvérsias
nos terreiros cada vez mais exíguos dos "críticos marxistas" e "pro-
vincianos", num unilateralismo que faz da obra literária simples
produto político-social e em que os valores estéticos parecem não
ter significados. E, como assinala René Wellek (Teoria da literatura,
1962), literatura não é nenhum substituto da sociologia, da política
ou da filosofia, mas "tem justificação e objetivo específico". Na in-
trodução ao romance Pierre et Jean, de 1888, Guy de Maupassant
já falava que o escritor realista deveria melhor chamar-se ilusionista,
porque "fazer, pois, que algo seja verdade, consiste em dar a ilusão
completa da verdade, seguindo a lógica ordinária dos fatos, não
transcrevendo-os servilmente, de acordo com a sua sucessão for-
tuita". E uma novelista da importância e da atualidade de Virgínia
Woolf escreve (Modern fiction, 1919) que "o enorme trabalho de
provar a solidez da história, sua semelhança com a vida, não é só
um trabalho desperdiçado senão um trabalho mal empregado".
"O escritor — continua — está de certo modo constrangido a isto,
mas "não por sua própria e livre vontade, senão por causa de um
521 GILBERTO MENDONÇATELES

tirano poderoso e sem escrúpulos que o mantém na escravidão".


Deste modo, olvidando-se aquele antigo e inexato conceito de
"noite medieval" — inexato mesmo quando se referisse à própria Idade
Média, conforme nos demonstra Ernest Robert Curtius (Literatura
européia e Idade Média latina, 1957); e olvidando-se também a intenção
indireta a uma literatura de ideologia, aceita-se a imagem de Herman
Lima para dizer que, na verdade, a obra de Bernardo Élis é mesmo
um símbolo dessa humanização da paisagem e do homem brasileiros,
segundo demonstraremos adiante, ao tratar, com mais profundidade,
do autor de Veranico de janeiro. Mas o que não se pode olvidar é que a
obra de Bernardo Élis ganhou alento e desenvolveu-se debaixo do signo
de Tropas e boiadas. E basta uma simples aproximação estilística da
composição dos títulos para evidenciar esta asserção: dois substantivos
que se completam, como "tropas" e "boiadas", "ermos" e "gerais" e,
mais recentemente, "caminhos" e "descaminhos", acentuando-se a
filiação, na mais legitima significação do termo.
Assim, retornando à obra de Hugo de Carvalho Ramos e
à sua posição de renovador da prosa regionalista brasileira, fixe-se
outro aspecto de grande importância no seu livro — a linguagem
que, além de sua técnica impressionista, de seu rico manancial esti-
lístico, é também fonte limpa e abundante de material lingüístico,
fornecendo ao estudioso elementos lexicais de rara importância para
os estudos da língua portuguesa no Brasil. Todo o movimento de
ocupação humana do Planalto Central de Goiás [e é o tema de nossa
comunicação "A Linguagem de Goiás", apresentada ao XI Congresso
Internacional de Lingüística e Filosofia Românicas, Madrid, 1965, e
publicada hoje em A crítica e o princípio do prazer, de 1995], se deu
inicialmente através de duas correntes de povoamento, fato que já
foi apontado por Capristano de Abreu e outros historiadores: uma
que vinha do sul do País, num contato mais ou menos oficial e com
a finalidade de manter o comércio entre o sertão e o litoral, e tendo
nas tropas e nos tropeiros o seu veiculo de realização; outra, através
das boiadas que, pelo sertão nordestino, subindo naturalmente
o curso do São Francisco e penetrando, em forma de leque, por 53I OCONTOBRASILEIRO EM GOIÁS
vários caminhos, atingiu o norte, o nordeste e o leste do Estado de
Goiás, estabelecendo assim, no Planalto, o ponto de convergência
não só das populações, mas, com elas, o contato cultural inevitável,
misturando usos e costumes, crenças e tradições, numa legítima
simbiose brasileira, ainda em via de processamento. Daí a grande
importância, literária e científica de Tropas e boiadas, celebrada
por todos os críticos brasileiros que se ocuparam do Regionalismo,
levando Mário de Andrade, na conferência sobre "O Movimento
Modernista" pronunciada no Ministério das Relações Exteriores,
em 1942, a proclamar que "conhecer Alcides Maya, um Carvalho
Ramos e um Teles Júnior era, nos brasileiros de há vinte anos, um fato
individualista de maior ou menor civilização".
Tropas e boiadas conta hoje [2007] oito edições e a última, de
1997, com texto restabelecido por Gilberto Mendonça Teles. A medi-
da que vai sendo "descoberto" pelas novas gerações, desperta sempre
novos interesses e continua influenciando os melhores escritores de
Goiás. Constitui, realmente, um modelo de contenção estilística,
embora a exuberância impressionista na linha de Euclides da Cunha e
Coelho Neto, parece às vezes denunciar o rompimento da sobriedade
expressiva, na direção daquele "tom oratório característico dos livros
que pedem leitura em voz alta, com adjetivos servindo para equilibrar
substantivos, que se distribuem como a carga no lombo dos muares",
no expressivo dizer de Cavalcanti Proença.
Exato e persuasivo na atmosfera dramática levada à catarse em
"Gente da gleba", minucioso sem ser irritante e sem ser demasiadamen-
te documentarista na fidelidade à paisagem e aos costumes da gente do
sertão e sobretudo experimentando técnicas diferentes na estruturação
de cada conto, passando do estilo indireto-livre ao diálogo interno,
das frases nominais concretas e concisas ao largo espraiamento dos
períodos compostos, num fluxo e refluxo de grandes efeitos estéticos,
a obra de Hugo de Carvalho Ramos é um conjunto plástico da natu-
reza rude do sertão. É o sertão visto e sentido não de longe, de dentro,
mas de dentro de uma grande alma criadora, cuja intuição artística
perde sua própria personalidade no tema de sua criação, e leva sua
identificação tão longe que na realidade se converte em criação de
si mesmo", aproveitando-se aqui a frase de François Mauriac (Dieu
541 GILBERTOMENDONÇATELES

et Mammon, 1929) ou no pensamento de uma personagem de Gide


(Les Faux-Monnayeurs, 1925), quando diz que o seu desejo é escrever
uma novela "que fosse ao mesmo tempo tão veraz e tão distante da
realidade, tão particular e ao mesmo tempo tão geral, tão humana e
tão fictícia como Athalie, ou Tartuffe ou Cinna".
Esses dois extremos do estilo de Hugo — a exuberância e a
concisão — aparecem freqüentemente ao longo dos contos, como se
o autor se esforçasse por adequar a expressão do seu pensamento
aos diferentes aspectos da realidade, valendo-se para isto da técnica
impressionista das orações justapostas, assindéticas, intercaladas de
orações nominais, denunciando assim a interferência do autor e mo-
tivando de certa forma aquela cadência maior das massas crescentes,
tão características da frase francesa, no dizer de Marcel Cressot, em
Le style et ses techniques, 1959. Sirva de exemplo um trecho de "Mágoa
de vaqueiro", depois que o velho Tonico toma consciência de que
a filha havia fugido e, impotente para "tirar a desforra merecida da
afronta", encosta-se num "cupinzeiro que erguia o seu cone crivado à
frente da palhoça, a olhar emudecido, em desespero":

O sertão abria-se naquela manhã de junho festiva, na glória


fecunda das ondulações verdes, sombreado aqui pelas restingas das
matas, escalonadas mais além pelas colinas aprumadas, a varar o
céu azul com suas aguilhadas de ouro; batuíras e xexéns chilravam
nas embaúbas digitadas dos grotões; e um sorvo longo de vida e
contentamento errava derredor, no catingueiro roxo dos serrotes,
emperolado da orvalhada, a recender acre, e nas abas dos montes
e encruzilhadas, onde preás minúsculas e calangos esverdinhados
retouçavana familiares, ao esplendor do dia.

Por outro lado, a economia expressiva e impressionística de


"Engolimos num trago aquele chão" ("O poldro picaço") se revela
também em inúmeras passagens, através de interpretações rápi-
das, intuitivas, dos acontecimentos, atribuindo-lhe outra forma
e outra significação, como em "Caminhos das tropas", quando a
OCONTOBRASILEIROEM GOIÁS
personagem narradora diz que, encurtando as rédeas do matungo
que passarinhava e escrutando melhor a vista, já acostumada à
escuridão, viu que à sua frente, "roçando o chão, brancacento, ia
um lençol aberto", para explicar depois que "parecera, a este pobre
cristão, melhor observado, que era a mesma franja de bambolins,
o lençol que seguia estendido à minha frente, — aquela mesmíssima
mortalha com que dias antes enroláramos o corpo do mal-aven-
turado Bentinho..."
Outro exemplo desse impressionismo narrativo, "à margem
55 I

do exame consciente, analítico", captando "os fatos exteriores sem


referi-los a causas ou efeitos", segundo ensina Raúl H. Castagnino
(EI análisis literario, 1965), pode-se ver em "Gente da gleba", numa
passagem realmente bela em que SO Dito dos Dourados, de volta à
fazenda, tem que passar à noite por um lugar que desde a infância lhe
parecera assombrado; um grito rouco chega-lhe ao ouvido, e o seu
cavalo se detém na estrada, assustado:

Junto ao córrego, estralejante, um fogaréu luziluzia entre


os cipoais, alumiando ao fundo, vagamente, um amontoado de
vultos esquisitos, que a vista turva não distinguia bem; uns aqui
direitos como guardas, outro ali de cócoras, sob uma coberta;
no meio espaço, lívido, sinistro, estirado no chão duro, um rosto
magro olhava o céu, as formas do corpo sobressaindo angulosa da
mortalha, restos talvez de quem sucumbira escanifrado de fome,
ou houvessem os vampiros e demônios chupado o sangue em seu
festim imundo...

Logo em seguida, desfeita a primeira impressão, ele mesmo


trata de explicar que

Tudo ficou claro. A tropilha de bruxos encapotada ao fundo,


era o carro do velho, o respectivo toldo de couro malhado, os fueiros
e as cangas e cambões enfeixados ao lado. O defunto do lençol e
para o qual olhava ainda com desconfiança, um filho do Cristino,
que também ganhava a vida carreando nessas estradas. Apanhara
umas febres no Veríssimo e vinha por toda a viagem tiritando no
561GILBERTO MENDONÇATELES

fundo do carretão. Morrera esse dia e o pai, entre lágrimas, orando


ao Santíssimo, estava ali cuidando da sepultura, quando o surpre-
enderam os tiraços do passageiro.

A obra do escritor goiano justifica assim o interesse crescente


da critica. Entretanto, apesar de haver sido bem recebida pelos prin-
cipais escritores da época e ocupar lugar de destaque no panorama
regionalista brasileiro, o livro não teve grandes repercussões em
Goiás, permanecendo mais ou menos ignorado por muito tempo,
pelo menos no período que vai até a mudança da Capital do Estado
para Goiânia, quando então a nova geração "o descobre" e passa a
tomá-lo como modelo, surgindo assim os livros mais importantes,
como Ermos e Gerais e outros, que inauguram também outra face
importante na vida literária do Estado, tendo agora como centro
o nome de Bernardo Élis.
É portanto sob o signo de Tropas e boiadas que se desenvolveu
a ficção goiana que tem hoje, em Bernardo Élis um símbolo vivo de
continuidade intelectual que se incorpora na mais legítima tradição
do Regionalismo. Foi, aliás, baseado nas obras de Hugo de Carvalho
Ramos e Bernardo Élis que Franklin de Oliveira, num artigo sobre
Mário Palmério (A fantasia exata, 1959), pôde dizer que o grupo
mais expressivo da ficção brasileira na atualidade é integrado por
mineiros, paulistas e goianos, acrescentando que na linha centro-
oeste-sul se "afundam as raízes da ficção nacional, e cuja demarcação
é imprescindível à compreensão crítica dos autores".
É interessante assinalar, finalmente, que em 1921, quatro anos
depois da publicação de Tropas e boiadas e por ocasião da morte do
seu autor, aos vinte e seis anos, foi preciso que um jornalista goiano,
Gercino Monteiro (A obra literária de Hugo de Carvalho Ramos, 1921),
através de conferências e artigos, protestasse contra o desprezo que
os vilaboenses estavam dando ao escritor, ao qual, recentemente, um
crítico sério como Fausto Cunha se referiu no Correio da Manhã,
edição de 8 de abril de 1966, dizendo que Tropas e boiadas é um dos
maiores livros da literatura brasileira.
Parte de Hugo de Carvalho Ramos, portanto, a melhor 57 I OCONTO BRASILEIRO EMGOIÁS
linha da ficção goiana, a que aqui denominamos intelectualista
e que se vem projetando nas obras dos melhores prosadores da
atualidade.
[Acrescento, entre colchetes, o que ouvi de Guimarães Rosa,
numa visita que lhe fiz em 1967, no Itamaraty, levado pelo seu se-
cretário Willian Agel de Melo. Depois de dizer-lhe que eu via no
Grande sertão: veredas algumas marcas de livros regionalistas como
Pelo sertão, Tropas e boiadas e Ermos e gerais, o autor de Tutameia
tomou a palavra e durante quase uma hora falou sobre as suas leitu-
ras e da sua divida para com os dois autores goianos, destacando as
qualidades literárias de Tropas e boiadas.
E acrescento também que no meu livro A crítica e o princz'pio do
prazer (ESTUDOS GOIANOS — II), de 1995, existem dois ensaios
sobre a obra de Hugo de Carvalho Ramos: O primeiro, sob o título
de "Tropas e boiadas — Gramática e estilo", foi publicado inicialmente
em O Popular, edições de 20.3. e 27.3.1966; e transcrito em Aspectos
da cultura goiana vol I, de 1971. O segundo, em forma de aponta-
mentos, se denomina "A estrutura ternária de Tropas e boiadas", e
foi usado em aula num curso de Pós-Graduação da PUC-Rio, em
1974. Além desses, há também a "Nota desta edição", com que abro
a 8' edição de Tropas e boiadas, em 1997.]

No mesmo ano em que Carvalho Ramos publicava, no Rio


de Janeiro, os seus contos regionais, GASTAO DE DEUS VICTOR
RODRIGUES (1883-1917), que, em 1905, se estreara com Agapantos
(poemas), publicava em São Paulo um livro híbrido — Páginas goianas
— cuja primeira parte (Parnaso Goiano) trazia excelentes observações
sobre os primeiros poetas do Estado, aparecendo na segunda parte
("Traços Multicolores") quatorze trabalhos de prosa, muito dos
quais simples crônicas ou páginas com intenções poéticas, à moda
da transição parnasiano-simbolista, já mencionada. Há, todavia,
intenções regionalistas nalguns contos, numa linguagem que não
5 81G ILBERTO MEND ONÇATELES

chega a levantar vôo e ultrapassar as lindes para uma superior forma


de ficção. Nota-se-lhe a insegurança expressiva, a frouxidão dos diá-
logos inespontâneos, alguns chavões oratórios e um tom moralizante
contra a política e a imprensa, na exaltação (por contraste) da vida
do sertão, que lhe parecia saudável, Tópicos e tendências, portanto,
românticas e, até, das mais remotas tradições greco-latinas e revividas
pela pior música sertaneja de Goiás. Mas é preciso também ressaltar
a sua preocupação regional, a temática das "tropas", e, acima de tudo,
o uso moderado, equilibrado, dos traços dialetais da fala goiana,
não perpetrando os erros lingüísticos que os seus conterrâneos vão,
depois, levar ao exagero e do qual não fica isento nem mesmo Ber-
nardo Élis. [Deixou também uma novela, Cazeca, de 1910, segundo
o Dicionário do escritor goiano, 3a edição, 2006, de José Mendonça
Teles. Nota de 2007].
Sobre essa tendência do pior regionalismo em fotografar a
realidade nos seus mínimos detalhes, inclusive na linguagem — e
que foi responsável, infelizmente, pela existência de muitas obras
inferiores — é oportuno transcrever a opinião de um romancista
da importância de José Américo de Almeida, na introdução ao seu
famoso A Bagaceira, de 1928:

Um romance brasileiro sem paisagem seria como Eva


expulsa do paraíso. O ponto é suprimir os lugares-comuns da
natureza. A língua nacional tem rr e ss finais... Deve ser utilizada
sem os plebeísmos que lhe afeiam a formação. Brasileirismo não é
corruptela nem solecismo. A plebe fala errado; mas escrever é disci-
plinar e construir... Valem as reticências e as intenções.

3.0 PRIMITIVISMO DE PEDRO GOMES

Foi em 1924 que PEDRO GOMES DE OLIVEIRA (1882-


1955), publicou seu primeiro livro — Na cidade e na roça —, explorando
com certa habilidade o linguajar goiano, de Vila-Boa [Cidade de 59IOCONTO BRASILEIRO EM GOIÁS
Goiás], e principalmente pondo em cena os tipos humanos mais
pitorescos da antiga Capital. Revelava-se bom contador de histórias,
embora a maioria de seus contos se caracterizasse por um tom ane-
dótico que, não raras vezes, impedia sua maior realização literária.
Faltou-lhe maior força criadora para a construção de uma obra mais
sólida. Deixou-se levar, talvez, pela facilidade com que escrevia e se
consentiu demasiadamente no pitoresco e na simplicidade exagerada,
não se dando conta de que a literatura, embora aproveitando os temas
populares, é antes de tudo um instrumento de cultura, exigindo
trabalho e uma constante aprendizagem de técnica e linguagem.
Não se trata aqui, evidentemente, do problema das relações
entre Arte e Povo, do comprometimento do escritor com determi-
nada ideologia político-social. Tal atitude, que justifica a fama de
alguns bons novelistas do Neo-realismo brasileiro e que, infeliz-
mente, se propagou aos escritores menores, tornando-se verdadeira
"moda literária" nos últimos anos, foi muito bem combatida por
José Guilherme Merquior que, em Razão do poema, de 1965, afirma,
categórico: "A consideração do social não equivale a reduzir um
instrumento culto, ao endereço restrito e voluntariamente castrado
de uma poesia para o povo entender. O 'povo' não precisa de poesia
ao seu nível; o que melhora o povo, o que o ergue a dignidades
justamente recusadas, é dotá-lo do poder e da consciência de receber
arte — arte e seus requintes [...]. Fazer poesia, descobrir que há povo,
fazer poesia lutar, como poesia pelo povo — eu não confundo isto
com fazer verso para o povo".
Em Pedro Gomes, a cor local é menos paisagem que cari-
caturas de bobos e tipos populares; a temática é menos folclórica
que acontecimentos, historietas, anedotas caseiras e roceiras; e
as personagens não chegam a ganhar a autonomia da verdadeira
personagem que, quando atua — na expressão de Raúl Castagnino
— revela uma linha de conduta, descobre seu "caráter". Em Pedro
Gomes, as personagens, mesmo no sentido tradicional do termo,
são tipos de rua, copiados, e que se movem presos, como títeres,
aos dedos apressados do escritor. Daí a razão por que muitos de
seus contos não passam de crônicas, descrições de ambientes e
pessoas, dentro das estruturas mais simples e primárias na história
60 1G ILBERTOMEND ONÇATELES

do conto. Falta-lhe o poder fabulador, mimético, no mais legitimo


termo aristotélico.
O objetivo do escritor era realçar o pitoresco e o estritamente
regional, melhor dizer, o estritamente local, o que se percebe não só
pela mobilização dos temas como na preocupação do emprego (em
grifos) dos termos insólitos, de registrar as corruptelas fonéticas e
morfológicas da linguagem popular e de relacionar, em "elucidário",
os vocábulos de significação (para ele) puramente regional. É certo que
logrou alcançar alguns instantes de boa literatura, e nos deu, mesmo
sem muita arte, um retrato da vida urbana de uma cidade tão cheia de
hábitos rurais, conservadores e provincianos, como é a cidade de Goiás
e, em muitos sentidos, também a capital, Goiânia. Mesmo assim não
passa de um regionalismo romântico e primitivo, idealizando a roça
em oposição à cidade, talvez por influências de leituras e escrevendo
que "a tristeza na roça é mais triste do que na cidade". [Um sinal desse
provincianismo — o pior possível — é o hábito de se lavar carros na porta
das casas, com o alto-falante em tom mais alto possível, numa atitude
de exibicionismo e de desrespeito aos outros. Nota de 20071
Pedro Gomes situa-se deste modo num meio termo, entre
o literário e o popular, propendendo-se naturalmente à expressão
dos pequenos acontecimentos de caráter mais ou menos anedóti-
co. A sua vida de homem, como professor do Liceu de Goiás, teve
também o mesmo caráter pitoresco dos seus contos: foi um homem
brincalhão, contador de anedotas, de extrema simplicidade nas suas
relações, tornando-se assim uma figura popular. Tão popular como
seu livro. Todos os habitantes de Vila-Boa conheceram as histórias
contadas por Pedro Gomes; ou melhor, conheciam-nas realmente,
circulando de boca em boca, antes de serem "copiadas" pelo escritor
que ajuntava no seu livro muitos acontecimentos espirituosos que
iam caindo no esquecimento. Todos conheciam o escritor e havia,
mesmo, a curiosidade — às vezes invejosas, às vezes simpática — de
saber como o contista recontara os causos já de todos conhecidos.
Daí a popularidade de Na cidade e na roça que era, também, o pri-
meiro livro de contos publicados por escritor goiano e residente em
611 0 CONTO BRASILEIRO EM GOIÁS
Goiás, pois o livro de Carvalho Ramos havia sido publicado quando
o autor residia no Rio de Janeiro e o de Zeferino de Abreu nem era
conhecido em Goiás.
Quando em 1942, já residindo em Goiânia, voltou a editar
outro livro de contos — O pito aceso — não obteve maiores repercus-
sões, embora este Ultimo seja muito melhor que o primeiro, pos-
suindo melhor estrutura e muito mais sabor literário. Era também
o primeiro livro de contos de Goiânia. Mas era outro o ambiente;
havia uma plêiade de valores novos, ávidos de modernismo, dentre
os quais Bernardo Élis.
Assim, os dois livros de Pedro Gomes carecem, de um modo
geral, de maior coesão ficcional, não tendo o seu autor conseguido
transformar em valor estético o grande material humano e a arguta ca-
pacidade de observação de que dispunha. Contudo, não se pode negar-
lhe em determinados contos uma naturalidade no desenvolvimento do
assunto, no desenho sensível e rápido, firme, de algumas personagens,
a incisão na psicologia do matuto e, acima de tudo, a fixação admirável
dos termos correntes na linguagem da época, constituindo também
fonte para o estudo da língua portuguesa em Goiás.
Parte de Pedro Gomes a linha popular, mais ou menos primi-
tivista, da ficção goiana, e que vem aos nossos dias numa persistência
às vezes irritante.
Deste modo, se Hugo de Carvalho Ramos, com Tropas e boia-
das, aparece como iniciador da mais autêntica literatura de Goiás,
na linha de sua melhor e mais vigorosa manifestação, os livros de
Pedro Gomes são mais ou menos responsáveis pela maioria das obras
de contos despidas de outras significações que a da exploração da
temática regional, em que o homem aparece como objeto estranho,
movimentado apenas na exaltação da paisagem para se imprimir um
tom pitoresco à narrativa. Talvez essa visão telúrica do regionalismo
goiano tenha sido captada apenas por Hugo de Carvalho Ramos
e, agora, por Bernardo Élis, permanecendo os outros contistas que
exploraram o mesmo tema numa atitude mais ou menos romântica,
focalizando a paisagem, mas de longe, sem penetrar na sua ecologia
e transformá-la, artisticamente, numa realidade maior, imaginada,
e muito mais evidente do que a própria realidade, nas palavras de
62 1GILBERTOMEN D ONÇATELES

Josep Conrad, citada por Mirian Allott.

Com Páginas do meu sertão, 1930, DERVAL DE CASTRO


(1896-1952) continua a tradição do conto popular, de técnicas primiti-
vas, iniciada em Goiás com o padre Zeferino de Abreu e popularizada
por Pedro Gomes. Percebe-se nitidamente o seu propósito de divulgar
os aspectos folclóricos, acentuando o tradicional e pitoresco, num
regionalismo puramente documental e incipiente, como é também
incipiente a sua estrutura narrativa: uma crônica e dentro dela a his-
tória, o causo, o simples comentário do escritor, num processo híbrido
de depoimento e ficção, muito comum nos livros goianos. Derval de
Castro é um escritor menos ficcionista do que observador estudioso.
Nele o homem de ciência predomina. É mais intelectual e muitas
de suas páginas têm um certo encantamento e são, na verdade, mais
importantes como fonte de estudos etnológicos e lingüísticos.
Teve também "consciência" de que trabalhava com palavras
"desconhecidas" e não deixou de pôr, no fim do volume, um "Vo-
cabulário do Sertanejo Goiano", nome deveras pretensioso para o
pequeno vocabulário, primário e tecnicamente deficiente.

4.0 TESTEMUNHO LITERÁRIO DE ERMOS E GERAIS

Constituindo a mais importante figura do Modernismo em


Goiás, o único aliás de sua geração goiana que não se deteve na
especulação do fenômeno literário, BERNARDO ÉLIS FLEURY
DE CAMPOS CURADO (1915-1997) deve ter feito os seus es-
cândalos na antiga capital do Estado, onde a poesia, na época, era
compreendida nas suas mais estreitas dimensões tradicionais. Dando
eco às experimentações dos modernistas de 1922, escreveu poemas
como "As tranças de Matilde", "Femininas do beco", "O Poço do
bispo", "Procissão do Senhor Morto" e mais alguns que constituíram 63 I O CONTO BRASILEIRO EM GOIÁS
verdadeiros escândalos, quando não chegaram a ser tachados de
obscenos e imorais. No poema "Femininas do beco", que aparece
no único livro de poemas que publicou, em 1955 — Primeira chuva
—, diz o poeta que

As mulheres do beco
vivem às claras,
de portas escancaradas.
Entram homens,
saem homens;
uns fumando, de chapéu,
outros calmos, assobiando.
Às vezes há gritos,
mortes, raramente.
Mas um são-caetano,
maliciosamente, pula o muro.

Toda uma nova sensibilidade poética, caracterizada pela lin-


guagem nova para a época, por ritmos desconhecidos em Goiás, por
imagens comuns mas surpreendentes e pela ironia deliciosa de um
observador adolescente, o poeta que anuncia o contista admirável
de hoje, que recebe, com Veranico de janeiro, a consagração nacional
com o prêmio "José Lins do Rego", de 1964.
Começando, pois, a sua vida literária na poesia, acabou por
encontrar na prosa o alento com que melhor se identificou para a
recriação artística da realidade goiana. E veio tornar-se o melhor
contista do Brasil Central na atualidade, tal como seu pai (Érico
Curado) foi o maior poeta simbolista desta região.
Publicando em 1944 o seu Ermos e gerais, o nome de Bernardo
Élis ganhou fama e seu livro recebeu os melhores louvores de críticos e
escritores como Alceu Amoroso Lima, Mário de Andrade e Monteiro
Lobato, passando a figurar entre as mais típicas obras regionais do
Brasil e cujo valor e originalidade somente encontrava paralelo, em
Goiás, na obra de Hugo de Carvalho Ramos.
Aliás, o paralelo entre os dois maiores escritores goianos deve
ser estabelecido com espirito critico e não, como é comum na pro-
641G ILBERTOMENDONÇATELES

víncia, no sentido de engrandecer um em detrimento de outro ou


pesando as suas obras de acordo com padrões ideológicos, quando
não ocorre simplesmente a avaliação por interesses de grupos ou
amizades... Não só por se aproximarem muitas vezes do mesmo
tema (o tema, por exemplo, dos leprosos em "Pelo Caiapó Velho",
de Hugo, e em "As morféticas", de Bernardo Élis), com tratamen-
tos literários que se assemelham, como também pela identificação
estilística que se pode colher ao longo dessas duas obras, aliados
ao fato de pertencerem à mesma região, é motivo de sobra para
que o estudioso possa, até quando seja possível o rigor científico da
comparação, estabelecer os pontos de contatos necessários à fixação
dos valores correspondentes a cada autor. É certo que isto não é
tarefa deste trabalho que embora tenha um capitulo sobre fontes
e influências na literatura goiana, se limita a registrar as etapas de
amadurecimento literário da prosa em Goiás, como já se fez notar
quando se tratou da obra de Hugo de Carvalho Ramos.
Cada autor foi testemunha de sua época: a obra de Hugo, refle-
tindo pela primeira vez a vida larga e desconhecida do sertão goiano,
num período em que o Brasil se preparava para a revolução literária de
1922 e para a revolução política de 1930; a de Bernardo Élis, fixando
agora os quadros de miséria e resignação do homem, num tempo de
reivindicações, quando o Brasil caminha a passos largos na consciência
de seus inúmeros problemas sociais. Voltando-se para os problemas
do homem rural, perdido nas mais distantes localidades do interior,
Bernardo Élis filiou-se assim ao Neo-realismo brasileiro, caracterizado
pelas intenções ideológicas, de comprometimento na reforma social,
dentro portanto das mais antigas tradições da prosa de ficção, conforme
acentua Mariano Baquero Goyanes em Problemas de la novela con-
temportinea, de 1951, citando Roger Caillois, que traduzimos: "parece
evidente que, por sua origem e natureza, a novela pode considerar-se
como predestinada a combater sempre a sociedade mais que defende-
la, se bem que muitas vezes essa oposição é defesa e aviso, tal como
ocorreu com algumas de nossas novelas picarescas".
Mas se existe identidade estilística entre os dois autores,
65 I OCONTO BRASILEIRO EMGOIÁS
permitindo-se a aproximação de suas obras, o certo também é
que, paradoxalmente, é pelo estilo que elas se distanciam nas suas
individualidades literárias. Se o impressionismo de Hugo o leva aos
períodos sensivelmente musicais, tanto sindéticos como assindéticos,
na hipotaxe dos grandes períodos lógicos e na parataxe propícia às
orações nominais, dando "soltura a la frase", como escrevem Amado
Alonso e Raimundo Lida (El impresionismo en el lenguaje, 1936),
em Bernardo Élis — em toda a sua obra — o que predomina é aquele
"estilo veni-vidi-vici", na denominação de Helmut Hatzfeld (El
Quijote como obra de arte dei lenguaje, 1949): a frase curta, direta,
incisiva; as imagens rápidas, antipoéticas, prosaicas, acentuando o
cunho neo-realista e, como tônica geral de toda a sua obra, o fio
negro, desumano, do humor às avessas, do humor negro que eletriza
o espirito como uma faisca de horror. Dai a exatidão das palavras
de Herman Lima, ao dizer que "suas páginas se carregam assim
duma aura de espantos que fazem dele uma espécie de Poe rústico
e terrível, a sobrepor aos problemas de agudo cerebralismo do poeta
d' '0 Corvo' o resultado de uma funda experiência de sangue e de
lágrimas". E, depois, "sinfonia bárbara dos terrores atávicos da terra
embruxada pela mata, comida dos fundos mistérios que vêm duma
noite que ainda não se levantou de todo no coração do Brasil".
Paisagista admirável, soube descobrir as possibilidades literárias
das cidadezinhas do interior, encontrou ai a gente humilde do campo,
conheceu os seus costumes, o estado miserável de desconforto físico e
moral em que vivem os agregados, sujeitos a uma escravidão econômica
de que muitas vezes nem sonham libertar-se.
Mas um aspecto de grande importância em Ermos e gerais e
em toda a obra de Bernardo Élis é a utilização dos tons expressivos
da linguagem de Goiás, arcaizantes e peculiares nas suas variações
fonéticas e semânticas e, por isto mesmo, capazes de transmitir me-
lhor os estágios econômicos e sociais do homem rural, bem como
os preconceitos tradicionais dos vilarejos e a trama quase anônima
da luta pela vida.
Entretanto, essa preocupação de captar a realidade lingüística
tem os seus lados negativos, por isso que leva também o escritor a
documentar determinados fenômenos que, melhor e mais seriamente
66 1GILBERTO MEND ONÇATELES

observados, possuem outras características.


Na verdade, existe entre os escritores goianos a preocupação
constante de fixar a realidade lingüística da comunidade que recria
na obra literária, como se fosse condição inevitável para a auten-
ticidade da obra o emprego deformado da linguagem coloquial,
quando todo escritor deveria, além de suas especulações estilísticas,
preocupar-se com a "urdidura elegante e fecunda" no pensamento
de Robert Luis Stevenson, ou como aquele "pensamento comovido"
com que Gide, no seu journal, caracteriza o estilo de Stendhal,
pois escrever é disciplinar e construir e brasileirismo não é simples
corruptela ou solecismo, repetindo o que escreveu José Américo
de Almeida.
Em Caminhos e descaminhos, de 1964, e agora com Veranico
de janeiro, de 1966, o escritor goiano volta a afirmar a sua perso-
nalidade literária de contista, na linha de Ermos e gerais, porém,
numa atualidade que se evidencia na preocupação de novas formas
e estruturas, deixando-se influenciar pelas experiências dos mais
recentes novelistas, mas não em todos os contos, que a maior parte
se resolve dentro dos planos comuns da unidade narrativa, mas em
nível literário.
As inovações todavia se registram mais em Caminhos e desca-
minhos que marca o maior desenvolvimento artístico de Bernardo
Élis, conforme escrevemos no Suplemento de O Popular, em 24
de abril de 1966. É, de certo modo, uma tentativa do escritor em
focalizar outros temas da realidade goiana, sem aquelas perspecti-
vas de humor negro e engagement que constituem, inicialmente, os
primeiros elementos de individualização de suas obras. Nesse livro,
publicado exatamente vinte anos depois de sua estréia literária,
sobreleva o artista, a consciência de que a literatura não é simples-
mente um fundo ficcional a ser transmitido: é muito mais do que
isto, um vez que todo o valor desse conteúdo não é mais do que o
valor da maneira como se deixa transmitir; ao interesse argumental
se contrapõe hoje o virtuosismo técnico. "Ao ir-se esgotando os te-
mas novelísticos, conforme quer Ortega, ou a imaginação, segundo
Weiddlé, o acento teve de transladar-se do já inexistente interesse 67 I OCONTO BRASILEIRO EMGOIÁS
argumental à habilidade técnica".
E Mariano Baquero Goyanes de quem extraímos a citação,
resume admiravelmente a situação da novela da atualidade, ao dizer
que "assim como alguma vez já se disse que certo setor da poesia contem-
porânea é uma poesia para poetas, talvez dentro de pouco caberá dizer
o mesmo da novela". Pois hoje já é talvez impossível "um retorno à
novela novelesca a base de interesse argumental, carente de atrativo
para umas gerações excessivamente intelectualizadas e seduzidas
pela técnica." E continua: "Ao leitor refinado lhe interessa já menos
o que se conta e mais como se conta, como se descrevem os ambientes
e seres." Termina de maneira lúcida:

A primitiva novela ia dirigida ao homem sensível e elementar


de outras épocas, ser, por outro lado, que parece existirá sempre —,
capaz de interessar-se pelo desnudo relato de uma ficção, de um fato
novo e surpreendente. A de hoje vai dirigida ao complicado homem de
nossos dias, a essa já abundante minoria — por paradoxal que pareça
— que possui a suficiente bagagem cultural como para enfrentar-se
com tais novelas, não só com esperança de entendimento, senão
esperando achar nelas a expressão exata de suas inquietações.

Em Caminhos e descaminhos o autor surge como artista cioso


e consciente do seu ofício, procurando à força de novas técnicas, a
experimentação de novas estruturas e o manejamento de uma lin-
guagem atualizada, dentro de uma nova imagética, muito diferente
do autor objetivo e linear do primeiro livro, em que a história vinha
uniformemente desenvolvida e a narração não era freqüentemente
interrompida com as divagações e sutilezas da digressão contrapon-
tística. Por isto, talvez, a falta de repercussão de seu livro, passado
quase despercebido da crítica e do público. O golpe militar de 1964
teve alguma responsabilidade nisto, pois apavorou os críticos e até
mesmo Bernardo Elis que nem pode revisar as provas de seu livro, o
que foi feito às escondidas por outrem. E assim continuará por certo
tempo, mas, logo em seguida, Bernardo Élis obtém um prêmio literá-
i GILBERTO MENDONÇA TELES

rio de largas repercussões, com outro livro publicado posteriormente


mas escrito muito tempo antes de Caminhos e descaminhos, em que
o conto "Uma certa porta" dá as necessárias dimensões da evolução
do autor, não só pela adoção de urna técnica de simultaneísmo de
ações, como, notadamente, pelo apuramento do estilo, a mobilização
de maior soma de recursos expressivos, como se pode ver logo no
seu primeiro parágrafo:

Entre um pulo e um coice, eriçando a crina, o cavalo corco-


68

veia, mete a cabeça entre as patas, sacode os freios, um relincho e


outro pincho, eis que vou às nuvens e a sela me foge, refoge o estribo
e me estrepo e me atrepo, me agarro no vento: em baixo são pedras
e patas e pedras e pontas de paus.

Basta uma leitura mais em profundidade para se descobri-


rem nesta mostra da microestrutura do texto os elementos lingü-
ísticos e estilísticos comprovantes destas observações, dentre os
quais: a simetria dos segmentos melódicos da frase, a traduzir o
movimento rápido e diferentemente repetido de um cavalo em-
pinando-se; a rima ou a repetição rítmica de conjuntos fônicos
(foge-refoge, estribo-estrepo-atrepo, relincho-pincho), a intensificar
e localizar dentro da ação geral as ações e os movimentos parti-
culares; e, finalmente, o jogo verdadeiramente cinematográfico
de aproximação e afastamento da imagem (objetiva zum / zoon),
conseguido literariamente pelo antigo recurso da aliteração que,
entretanto, aqui se atualiza na repetição léxica e na alternância
de consoantes explosivas, surdas e sonoras, logo depois dos dois
pontos, numa oração de efeitos admiráveis pela dinamização não
somente da imagem visual, mas também da imagem sonora das
patas no chão e do movimento seguido, repetido, do galope do
cavalo.
Já em Veranico de janeiro, de 1966, que marca defini-
tivamente a repercussão nacional de Bernardo Élis, é fácil
encontrar-se também comprovação estilística de que o escritor
está em constante atualização expressiva, numa comparação 69 I OCONTO BRA SILEIRO EMGOIÁS
que tem como ponto de partida a sua primeira obra, em 1944.
Mas esses elementos de atualização são muito mais reduzidos
que em Caminhos e descaminhos, que constitui, neste aspecto, o
mais recente livro do escritor goiano. Como se disse, Veranico
de janeiro é bem anterior e fazia mesmo parte de um romance
que tem por título "São Miguel e Almas", ainda inédito e, agora,
completamente refundido pelo escritor. Desse romance Bernardo
Élis tirou alguns episódios que são alguns contos de Veranico de
janeiro. E aí aparece, portanto, o escritor novamente em contato
com a preocupação social, neo-realista e praxista na sua filosofia
literária, agnóstico no caracterizar a vida e a alma das suas perso-
nagens, comprazendo-se na exploração do grotesco e desumano,
como aqueles farrapos humanos de "A Enxada", cujas mãos se
transformam na enxada negada pelo patrão e se exibem como
"duas bolas de lama, de cujas rachaduras um sangue grosso corria
e pingava, de mistura com pelancas penduradas, tacos de unhas,
pedaços de nervos e ossos".
Esse conto é, talvez, o mais dramático e característico do "hu-
mor negro" em Bernardo Élis, preocupado sempre com o fundo social
de sua obra, onde as personagens são sempre os párias, indigentes,
loucos, agregados miseráveis, enfim, poda uma galeria de personagens
neonaturalistas, teratológicas, com suas taras e problemas, numa
visão macabra e terrível do mundo, como se não houvesse, nunca,
para o homem pobre a esperança e a beleza da felicidade material,
porquanto a outra felicidade, aquela que mais se identifica com a
natureza do espírito, esta parece completamente alheia à obra de
Bernardo Élis.
Vale dizer, ainda, para concluir, que o conto "A Enxada"
termina acentuando e dando continuidade a um estado de vida de
conformação na pobreza, de resignação no medo, numa passagem
realmente admirável e também cinematográfica — o bobo carregando
a mãe nas costas, pedindo esmolas que não deixa de ter grande
semelhança com um episódio dos retirantes, em A Bagaceira, numa
possível influência de leitura.
701GILBERTOMEND ONÇATEL ES

Em 1956, Bernardo Élis fez a sua estréia como romancista,


publicando O tronco, para o que aproveitou fatos da história de Goiás,
ocorridos por volta de 1920 no município de Dianópolis, no norte
do Estado, na divisa com a Bahia. Essa obra, embora não possua
o vigor, a síntese expressiva e a vivacidade encontrados nos contos
do autor, foi um sucesso literário em Goiás, por isso que suscitou
polêmicas, principalmente por andarem os críticos confundindo
história e ficção, como se o romancista, em vez de romancista, fosse
historiador9.
Estruturalmente tradicional (na linha tradicional da no-
velística brasileira), mas vazado numa linguagem plasticamente
satisfatória, o romance de Bernardo se inscreve entre aquelas obras
que, sem constituírem grandes mensagens humanas, têm o mérito
de permanecer como documento ilustrativo de uma época e de uma
sociedade. Mas, além disso O tronco é portador de um material de
fundo político-social que se reacende e se transforma num conflito
de força dramática admirável e terrivelmente humana. Este romance
aparece agora [1967] refundido, em segunda edição, pela Livraria
José Olímpio e com nota de Francisco de Assis Barbosa.

5. INTENÇÕES REGIONALISTAS E FOLCLÓRICAS

De 1945 a 1953 surgiram em Goiás cinco livros de contos,


vinte e cinco de poemas, quatro romances e dois livros de crônicas.
Na verdade, dentro das limitações do ambiente, muita produção
literária para tão pouco tempo, que o tempo na Província se arrasta
lentamente como um carro de bois puxando a monotonia da pai-
sagem e se restringindo cada dia à vida da fazenda e do sertão. Este
excesso de produção não deixa de ser responsável por uma falta de
amadurecimento literário que infelizmente empobrece a literatura
goiana, principalmente nos tempos atuais. Publica-se muito, há
711 OCONTOBRASILEIRO EMGOIÁS
uma certa facilidade nas edições e falta ao escritor maior senso de
responsabilidade quando não de autocrítica, motivando assim uma
"riqueza" bibliográfica de que apenas uma e outra obra consegue
salvação.
Mas se entre os livros de poemas contam-se, talvez, algumas
das melhores obras da poesia goiana e, no romance, a obra mais
importante de Eli Brasiliense (Pium, 1949), os livros de crônicas não

'Cf. Jarmund Nasser, "O tronco — um romance sem originalidade", Jornal de


Notícias, 30-11-56. Transcrito em O Popular, de 15-9-68.
possuem maior interesse e os de contos, receosos do futuro, parece
que se agruparam solidários numa linha rasteira e primitiva.
Páginas da roça, de 1945, é o livro com que GELMIRES
REIS (1893-1979) tenta expressar na ficção as suas experiências de
homem do interior, conhecedor das fazendas e dos hábitos naturais
do homem da roça. Mas é um conhecedor simplesmente, não um
artista capaz de transformar em vivências, segundo Dilthey (Psicologia
y teoria dei conocimiento, 1945), os estímulos do mundo sensorial.
Seus contos não conseguem transmitir uma sensação superior de
beleza, realizando-se num plano demasiadamente linear, em que a
ação se esvai na descrição solene e sindicante da paisagem. Argu-
mento e história beirando o anedotário, com final surpreendente e
linguagem sóbria, porém demasiadamente sóbria para a temática
regional que o autor tinha intenção de recriar. O conto "Debaixo
do pequizeiro" termina com a mesma clássica solução de Gil Vicente
no Auto da Mofina Mendes (Mistério da Virgem), o que não deixa de
ser interessante para o estudo do folclore luso-brasileiro. [Deixou
100 contos reais, 1978; Lembranças do passado, 1979; e Folclore de
Luziânia, s.d. Nota de 2007].
Também com intenções regionais é o livro de JOSÉ CRU-
CIANO DE ARAÚJO (1929-2001), publicado em 1950 com o
nome de Três contos que não são de réis. São precisamente três contos
sem grande poder de germinação e estrutura e sem estilo suficiente
para apagar algumas incongruências de tempo e perspectiva narra-
dora. No entanto, muita intenção de regionalismo; documentário
pitoresco, soluções românticas e algumas ingenuidades inoperantes
721 GILBERTO MENDONÇATELES

na fixação real da supra-realidade, de que o seguinte estilema dá


as devidas proporções do que afirmamos: "Os nomes de seus cinco
filhos, em lembrança da falecida sogra, a Bastiana, de quem herdaram
pequena fortuna, já desaparecida, começava todos com B".
Já o livro de MARIO RIZÉRIO LEITE (Bahia, 1912), Len-
das de minha terra, 1951, possui outras preocupações: agora não é
mais a vontade de transformar em literatura os traços pitorescos do
homem e da paisagem da zona rural, como se nas cidades de Goiás,
mesmo em Goiânia, não persistissem hábitos e costumes rurais, com
caracteres verdadeiramente regionais; agora a intenção é realçar o
substrato cultural indígena, ampliar, até ao inverossímil, o fundo
folclórico dos lobisomens e caiporas. Utilizando, porém, uma lin-
guagem comum, simplesmente popular e sem maiores ambições de
estilo ou de estrutura, o romancista de Poeira no ar, 1955, não dispôs
da energia necessária para criar uma atmosfera conflitual e converter
o seu perigoso material mitológico em autênticas categorias da ficção
literária. Teve, no entanto, o mérito de ajudar a manter viva um dos
mais ricos filões da tradição cultural.
Um ano depois imprimiu com o nome de Mãe marinha um
único conto, explorando agora outro pólo da realidade folclórica
— o tema do negro, de larga inspiração romântica e deixado de lado,
por algum tempo, pelos modernistas de 1922. Aliás, a propósito de
folheto com um único conto, deve ser aqui mencionado o conto
O sonho do Senador, de JOÃO BATISTA MACHADO, residente
em Goianápolis. O folheto não traz data e é, até mais da metade,
uma narrativa de certo interesse, faltando ao autor maior agilidade
para a solução do conflito que propôs.
Embora noutra linha, com certa tendência para os temas
urbanos, GUMERCINDO FERREIRA (Buriti Alegre, 1923) pu-
blicou em 1953 O Engraxate e outros (Contos), criando, voluntária
ou involuntariamente, uma ambigüidade no título, uma vez que a
palavra contos vem aí entre parênteses. Procura também, de vez em
quando, abordar o tema regional. Mas o autor, que em 1951 publicara
um livro de crônicas (Lágrimas), não conseguiu deixar os limites
da crônica e alguns de seus contos carecem de melhor densidade 73I OCONTO BRASILEIRO EM GOIÁS
literária: o seu regionalismo aparece travestido, mero depoimento,
como se "as pacatas cidades do interior" estivessem sendo vistas pelo
lado contrário de um binóculo...

6. NO CICLO DA BOIADA E DO SERTÃO

Agora sim, a melhor linha do regionalismo goiano nova-


mente se acentua na obra de LEO GODOY OTERO (Morri-
nhos, 1927). Estreando com Gente de rancho, 1954, o autor pagou
tributo, inicialmente, à necessidade do depoimento, trazendo para
os seus contos uma série de tipos humanos dos arredores da cidade
de Morrinhos, acentuando sempre o desnível das classes sociais e
a vida de miséria e doença das suas personagens. Filiou-se imedia-
tamente ao realismo lingüístico, mas tendo o cuidado de destacar
entre aspas as expressões peculiares à fala regional, quando, ainda
que indiretamente, se referia à personagem. O autor, todavia, se
reserva e a sua linguagem adquire tons realmente superiores, numa
sobriedade irrepreensível e num ritmo de pequenas orações que se
sucedem com o objetivo francamente de narrar. Graciliano Ramos
seria, comparativamente, o seu modelo na exatidão expressiva,
na concisão, no amadurecimento do estilo veni-vidi-vici, mas a
influência de Hugo de Carvalho Ramos está presente, a começar
pelo título do livro: Gente de rancho, o livro de Leo Godoy Otero
faz lembrar imediatamente a novela "Gente da gleba", de Hugo;
e, pelo conteúdo, o interesse em dar ênfase ao social. Talvez um
social mais literário, despido de certa força interior, mais artificial
que real. Enfim, uma tendência ao documentário, com predomínio
da observação sobre a invenção, conforme ensina Lúcia Miguel
Pereira ao acentuar que somente pertencem ao Regionalismo, de
pleno direito, as obras cujo fim primordial for a fixação de tipos,
costumes e linguagem locais, cujo conteúdo perderia a significação
sem esses elementos exteriores, e que se passem em ambientes onde
os hábitos e estilos de vida se diferenciem dos que imprimem a
741GILBERTOMENDONÇATELES

civilização niveladora.
Se esta foi a sua estréia, melhor ainda se expressaria em 1958,
quando lançou O Caminho das boiadas, livro muito mais sólido,
mais largo na compreensão literária dos assuntos regionais que
são aí excelentemente desenvolvidos. O que pode haver de simples
detalhe de pitoresco, como algumas expressões dialetais, se destina,
antes de tudo, a acentuar a ação do homem rural, estabelecer o
seu nível de vida — geralmente baixo, mesmo quando se trata de
fazendeiros latifundiários. Há, portanto, o predomínio do social,
a intenção de documentar um estágio econômico característico
da vida nas grandes fazendas, em que o empregado (ou qualquer
outro nome que se lhe dê) se vê reduzido à condição de eterno
dependente de um patrão, que age sob impulso do que lhe agrada
ou desagrada.
Acentue-se ainda que, em O Caminho das boiadas, é manifesta
a presença de Tropas e boiadas não só pelo titulo (que lembra o conto
"Caminho das tropas"),como principalmente por determinadas
passagens (o tema, por exemplo, da capação, de "Gente da gleba",
repetido e atenuado em "As filhas do Malaquias", aliás nome de
uma personagem da novela de Hugo). Não resta dúvida, porém,
que existe um novo tratamento do tema das boiadas que, em Hugo
de Carvalho Ramos, é menos importante que o tema das tropas.
Ai residente a diferença dos dois autores. Em Hugo, toda a ação
se desenrola em torno das tropas e dos tropeiros que estão sempre
em marcha na direção do Paranaiba ou do Triângulo Mineiro, a
acentuar o caminho das tropas e das boiadas, ou da antiga estrada
salineira. É esta, aliás, uma constante estilística de Hugo de Carvalho
Ramos, verificando-se até uma dualidade de perspectiva em Tropas
e boiadas: a da personagem, vivendo em Goiás mas constantemente
se referindo à "direção do Paranaiba", como se houvesse um secreto
desejo de escapar às fronteiras goianas; e a do autor, vivendo no Rio
de Janeiro e situando as ações "naqueles fundões", como se todas
as suas recordações da terra natal chegassem de muito longe, numa
mistura de lonjura de tempo e geografia.
Em Leo Godoy Otero, o fulcro da ação se desloca para as boia-
75 I OCONTOBRA SILEIROEM GOIÁS
das, em marcha, engordando nas envernadas ou tratadas nos currais
das fazendas, sob a vista exigente de seu dono. Em torno das boiadas
estão os homens e os seus movimentos e atividades, recolhidas com
certo realismo pelo escritor da cidade de Morrinhos, antigo ponto
estratégico de tropeiros e boiadeiros que levavam o gado em direção
a Barretos, SP, à procura das grandes charqueadas.
Retomando assim o tema das boiadas, uma das principais fon-
tes de renda e de ocupação humana do Estado de Goiás, [motivador
da música sertaneja e de um certo orgulho country dos goianos (a
ponto de o poeta Brasigóis Felicio criar o termo boiás para satirizar
o lado caubói, americanizado, desta tendência transplantada], Leo
Godoy Otero se apresenta como o bom continuador de uma tradição
legitima do interior do Brasil e se insere vigorosamente no ciclo das
boiadas, alargado modernamente, noutras dimensões, pela obra de
Guimarães Rosa.

Foi também em 1954 que ADA CIOCCI CURADO (1916-


1999) iniciou a sua carreira literária em Goiás, publicando O sonho
do pracinha e outros contos a que se seguiram em 1958 o romance
Morena e, em 1966, outro livro de contos — Nego rei.
Apesar de apresentar-se com mais força criadora no romance,
onde a sua linguagem se derrama espontânea e clara, sem muita
preocupação estilística, não se pode negar a seu primeiro livro de
contos uma simplicidade no tratamento dos temas semi-regionais,
uma certa argúcia inteligente na trama e na fixação da psicologia
feminina, como no conto "O que viveu sem ter nascido". A intenção
de explorar assuntos regionais, o gosto pelos temas populares e fol-
clóricos, aliados a uma sensibilidade irriquieta no trabalho literário,
em contínua produção, conferem a Ada Curado uma posição sui
generis nas letras de Goiás, não podendo ser exatamente classificada
nem como regionalista nem como citadina. Está num meio termo
e a sua obra reflete muito bem estas duas tendências naturais da
literatura brasileira, em Goiás.
E esta tradicionalidade da escritora se acentua no gosto pelas
761 GILBERTOMENDONÇATELES

estruturas lineares da ficção, sem maiores especulações e experimen-


tações no processo narrativo que se desenvolve numa sintaxe normal,
em períodos geralmente curtos, no ritmo natural da fala corrente,
coloquial, da língua portuguesa no Brasil. É claro que não nos referi-
mos aqui à linguagem popular, plebéia, aquela em que se exprimem as
pessoas iletradas, das classes mais humildes da sociedade, das camadas
inferiores da população, em que é apreciável a percentagem de analfa-
betos; ao passo que a que chamamos aqui de corrente ou coloquial é
a linguagem correta, da classe média, em que as pessoas de certa ins-
trução e educação — e entre elas os próprios mestres da língua literária
— se intercomunicam quotidianamente, nas escolas e nas repartições,
nas observações com os amigos e nas palestras familiares... E o livro
de Luis Carlos Lessa (O modernismo brasileiro e a língua portuguesa,
1966) continua explicando que a linguagem coloquial é um "lin-
guajar correto, mas sem os adornos literários da língua artística, pois
que a beleza da expressão, o objetivo estético, é então relegado a um
plano de todo secundário, para que prevaleça tão somente o interesse
utilitarista e imediato da transmissão das idéias".
No seu último livro — Nego rei — a autora procura superar
algumas possíveis limitações no tratamento da matéria ficcional,
não só pela variedade do tema — que lhe retira, por isso mesmo,
uma oscilante e essencial unidade de conteúdo — como também pela
expressão, agora mais exigente e maleável, embora se consentindo,
deliberadamente, na apreensão de elementos lingüísticos tidos, em-
piricamente, como peculiares à linguagem popular goiana.
Também o seu processo de narração é variado, como se a
escritora estivesse em busca de um caminho e experimentasse todos
os recursos para a fixação de seu estilo, de sua autenticidade literária.
Se a sua técnica de narrar mais comum é, ainda, a da terceira pessoa,
narrada externamente, oniscientemente, adota também a técnica
naturalista da impassibilidade absoluta; movimenta noutro conto a do
ponto de vista, como em Henry James, escrevendo também na primeira
pessoa e, não raro, se misturando declaradamente entre as personagens
e dando à narrativa caráter autobiográfico. 77 I OCONTO BRASILEIRO EMGOIÁS
Se revela influência do estilo de Hugo de Carvalho Ra-
mos (compare, por exemplo, as duas frases: "Engolimos num
trago aquele chão" (Tropas e boiadas) e "O jipe ia engolindo a
estrada" (Nego Rei), ambas em períodos isolados, a acentuar o
impressionismo da narração, não deixa entretanto de se mostrar
independente e pessoal na condução do processo narrativo e na
caracterização geral de paisagem e personagens. Existe mesmo
uma graça estilística, certa diafaneidade feminina na expressão
literária de Ada Curado, o que, algumas vezes, se resolve em
gratuidade e desnível estético.
Se o "ciclo da boiada", iniciado em Goiás com Hugo de Carvalho
Ramos, recebeu na pena de Leo Godoy Otero um tratamento atualizado,
também o "ciclo do sertão", originado de Pedro Gomes, se avoluma e
se enriquece consideravelmente na obra de WALDOMIRO BARIANI
ORTÊNCIO (São Paulo, 1923) que, no espaço de nove anos, publicou
três livros de contos, cada um melhor do que outro, numa via de evolução
que se acentua à medida que o escritor vai tomando conhecimento das
técnicas de expressão da novelística moderna.
A sua estréia se deu em 1956, com o livro O que foi pelo sertão,
publicado juntamente com outro livro de contos (Vovó do pito) de Luis
Franceschini, de São Paulo. Revelou-se legitimo discípulo de Pedro
Gomes, não somente pela estruturação mais ou menos primária das
suas narrativas mas também pelas aproximações de temas como no
conto "O liquidante", assunto tratado também por Carmo Bernardes.
É o mesmo processo narrativo, descambando no anedótico e perdendo
às vezes excelentes oportunidades de explorar melhor outros aspectos
do tema. Talvez, por isso mesmo, as suas histórias, elaboradas tradi-
cionalmente — no sentido da sugestão final —, se nos apresentam com
o valor substancial de pôr em movimento os retratos, as cenas, os tipos
que ainda persistem nas pequenas comunidades rurais dos municípios
goianos. Se a sua capacidade de recriação artística não vai, nesse livro,
além de uma exposição mais ou menos sumária dos acontecimentos,
salva-se o seu modo ingênuo na condução do interesse argumental,
fato que talvez tenha contribuído para uma certa popularização de seus
781GILBERTOM EN DONÇATELES

contos, tal como ocorreu com os livros de Pedro Gomes.


Logo depois, em 1959, apareceu O Sertão — O rio e a terra, já
muito mais amadurecido, procurando o autor expressar-se com mais
seriedade artística e conseguindo algumas páginas realmente notáveis
pela simplicidade e pela linguagem puramente coloquial, sem preten-
sões a ser erudita ou demasiadamente literária. A sua preocupação é
contar a história, movimentar as personagens, fazê-las falar e pensar,
mas sempre de um ponto de vista onisciente, como se o contista fosse
mesmo um contista, isto é, um elemento imprescindível ao mundo
novelesco, não adquirindo esse mundo possibilidade de existência por
si mesmo, independente do autor. Um mundo que o leitor fosse devas-
sando e recriando sem pensar no escritor que o imaginou e escreveu,
dentro do pensamento de Arthur Nisin (La literatura y el lector, 1962),
segundo o qual a obra literária tem sempre a possibilidade de atualiza-
ção, de reanimação ou de ressurreição, "bafo una mirada" do leitor.
[Isto foi escrito antes da moda da "estética da recepção"
atingir e dominar a universidade brasileira, onde, na maioria das
vezes, esse assunto é tratado apenas teoricamente: é mais fácil seguir
a teoria européia que fazer estudos práticos da leitura. Cf. o nosso
"O Mercado do livro universitário", em Literatura e mídia. Org. de
Heidrum Olinto e Karl Erik Schollhammer. Rio de Janeiro: PUC
Rio / Loyola, 2002. Nota de 2007.]
Se continuou a linearidade da "história", o certo é que essas
histórias evoluem consideravelmente da anedota para organismo)
ficcional, conservando-se no plano mais comum da tradição nove-
lística, naquele mesmo sentido com que Tchecov achava que o seu
instinto dizia que "ao final de uma novela ou de uma história, tenho
que concentrar habilmente para o leitor uma impressão da obra completa
e, portanto, tenho que dizer algo daquilo que já apresentei. Talvez esteja
errado". Na verdade, o grande contista, autêntico criador e reformador
da novelística russa, tinha consciência de seu "erro" e parece não ter
agido assim na maioria dos contos que escreveu, pois muitas vezes os
seus "enredos", as suas "histórias" adquirem surpreendentemente uns
tons difusos, difíceis de serem exatamente apreendidos como um todo
orgânico para ser, depois, repetido ou recontando. Em Tchecov, como 79I OCONTO BRASILEIRO EM GOIÁS
nos grandes escritores, o argumento ficcional está intimamente ligado à
estrutura e à linguagem, vale dizer, forma e conteúdo constituem uma
realidade única, inseparáveis, pois, nas palavras de Arthur Nisin,

la mira de la literatura no es ante todo una comunicación, a


la que el lenguaje serviria de vehiculo más o menos ataviado.
Aun que todo lenguaje comunica alguna noción y refleja de
alguna manera a su autor, la obra no nos conduce em primer
lugar a ese autor ni exclusivamente a un contenido. Ella se
define ante todo por una estructura.
Não é positivamente o que acontece com o escritor goiano,
cujas obras não podem deixar de ser compostas de várias histórias
com seus princípios, meios e fins, e não concebe o autor outra
maneira de escrever contos. Mas nisso está também toda a sua
riqueza e autenticidade. Quando procura escapar a este esquema
tradicional, parece que alguma coisa soa falso, como se a Arte se
afastasse demais da Vida, pelo menos da vida do autor que não se
distancia muito do homem Bariani Ortencio. Deste modo, toda
inovação que se registra na sua obra é de natureza estilística, não
de estrutura, ganhando assim uma linguagem que se embeleza e
se enriquece de livro para livro, embora ainda persista na ânsia
da documentação lingüística ou folclórica, sem deixar que tais
elementos se filtrem para a sua obra espontaneamente ou, nos
momentos oportunos da expressão, sem se transformar em algo
irritante, por supérfluo.
Assim é ainda em Sertão sem fim, de 1965, obra de muito mais
densidade estética, portadora de uma temática variada e sóbria em que
se projeta uma fisionomia cultural da vida simples do povo goiano: a
sua paciência e certa resignação ante os acontecimentos afrontosos, o
sentido de fidelidade e astúcia da mulher roceira, a velhacaria, o ban-
ditismo, tudo isto temperado com aspectos da crendice popular, como
as histórias do patuá, do benzedor de cobras, do folclore negro, enfim,
uma multiplicidade de assuntos que valem por toda a vida de uma
comunidade do interior, ganhando as personagens identidades naturais
com o homem rural, desde a figura imponente do coronel à gente mais
humilde, nem por isso menos astuta, como a mulher do Elpídio.
80 1GILBERTOMENDONÇATELES

Continua a história, na mesma perspectiva horizontal, mas ad-


quirindo agora mais temporalidade e, com isso, mais alargamento da
narrativa, embora perdendo assim aquela característica mais importante
do conto — a brevidade, a síntese expressiva, o corte rápido, veemente,
na realidade fabulada. Tanto é certo que, no seu último livro, o menor
conto tem sete páginas e os outros vão de dez a vinte e três, sem falar
na novela "A Busca" que se estende por setenta e oito páginas.
A obra de W. Bariani Ortêncio, até agora, pode ser vista
num conjunto temático, aqui chamado o "ciclo do sertão", não só
por aparecer esta palavra em todos os seus livros, mas, sobretudo,
pela incorporação de um estágio cultural típico do Brasil Central,
no seu duplo aspecto de testemunho humano e científico, apesar
das restrições que se devem fazer com relação ao valor científico de
alguns termos e expressões postas na boca da personagem goiana,
como se fossem típicos da nossa fala regional, quando se sabe que o
termo, de freqüência noutra região, é apenas empregado pelo autor.
Isto se dá, por exemplo, com a expressão Bié que, no glossário de
Sertão sem fim, vem arrolado como "Pessoa humilde. Trabalhador
de Olaria". É na verdade a acepção que tem no litoral de São Paulo
e, possivelmente, em todas as regiões onde houve o trabalho escravo,
tal qual aparece como titulo do livro de Myrtha Guarany Rosato,
poetisa de Santos: "A vida dos biéis sempre anoitece/ ao amadurecer
do bananal/ aos órfãos/ vagalumes de alma rota/ na morte das mai.s.
tristezas". Bié é o nome de uma província angolana. Deve ter sig-
nificado, inicialmente, o negro vindo dessa região e, depois, por
extensão, o trabalhador humilde. É termo sem muita circulação e
não aparece ainda nos melhores dicionários brasileiros. Além disso,
em Goiás, é muito comum o hipocorístico Bié, de Gabriel. Pois
bem, o autor, paulista, vindo para Goiás comprou uma fazenda
onde existe uma olaria. Começou a chamar os empregados de Bié,
em tom de brincadeira, e hoje é comum o seu emprego, mas só
nessa localidade.
Vale ainda dizer que o sertão não tem na obra de W. Bariani
Ortêncio a grandiosidade formidável da obra de Euclides da Cunha 81 1 OCONTO BRASIL EIROEM GOIÁS
ou de Guimarães Rosa; é um sertão que melhor se traduz como
interior, zona rural, onde a maneira de vestir, de pensar e de agir
se pauta por um empirismo supersticioso posto, geralmente, em
confronto com a vida dinâmica da cidade. Um sertão, enfim, sem a
individualidade especifica da definição poética de Félix de Athayde,
no expressivo poema concreto

ser tão sem


sem ser tão
tão sem ser
em que a fragmentação das duas sílabas do vocábulo e a sua dina-
mização no contexto, num sistema combinatório, projeta na mente
do leitor toda a problemática humana dos sertões brasileiros. Em
Bariani Ortêncio, o sertão é uma maneira de ser regional, mas
regionalistas são, de certa forma, todos os escritores de Goiás; não
por viverem numa região do interior do Brasil, na oposição litoral
/ sertão estudada por Alceu Amoroso Lima (Introdução à literatura
brasileira,1957), e sim pelo fato de esses escritores se expressarem
sobre temas da região, incorporando vocábulos e imagens mais ou
menos típicas do modo de viver do povo goiano e buscando o pi-
toresco, real ou imaginário, da cor local. Neste sentido, mesmo os
escritores que, conscientemente, não querem ser regionalistas, como
Alaor Barbosa e Miguel Jorge — as duas mais notáveis revelações da
ficção goiana — não conseguem fugir à classificação, uma vez que
as suas obras transmitem essa potencialidade cultural que, sendo
embora mais ou menos característica de toda comunidade brasileira,
em idênticas condições econômico-sociais, guarda, na idiossincrasia
coletiva, uma legítima fisionomia do povo goiano.
Ora, em W. Bariani Ortêncio esse sentido do pitoresco e
da cor local é levado às vezes ao extremo, como se o escritor, em
vez de simplesmente construir um cenário, um ambiente, para
nele situar o drama humano ou um conflito qualquer, procurasse,
meticulosamente, documentar a paisagem, os hábitos, o linguajar,
enfim, elementos externos ao homem, não o homem mesmo, com
a sua psicologia, seu modo ingênuo e malicioso de encarar a vida e
o mundo. É que para o escritor o homem é também um traço da
82 1 GILBERTO MENDONÇATELES

cor local; são individualidades que se destacam por terem hábitos e


costumes diferentes dos da cidade, tidos, por suposto, como ideais.
Tanto é verdade que quando o autor consegue penetrar no pensamen-
to das suas personagens, adequando esse pensamento ao ambiente,
surgem os seus melhores contos, como "O liquidante", "Iniciação",
"Negociando porco" e alguns mais. E um crítico como Adolfo
Casais Monteiro ("Um contista goiano", in O Estado de São Paulo,
4-8-59), não vacilou em escrever que "só quem possui o dom podia
ter escrito "Iniciação", porque até a sua relativa brevidade reforça
a profunda humanidade do tema: dois irmãos de súbito sozinhos
pela morte do pai, misérrimo caboclo, que vivia com eles quase no
ermo, e a substituição do pai pelo mais velho (mocinho de 15 anos),
retomando imediatamente as mesmas ocupações; e não se podia
contar com mais sóbria autenticidade uma história de rudeza como
esta é, história de dignidade do homem, de força, verdadeira, de tão
sóbrio heroísmo como é sóbrio o autor em contá-la".
Waldomiro Bariani Ortêncio não é um daqueles turistas do
Regionalismo, de que fala Lúcia Miguel-Pereira. Nascido às margens
do rio Grande, no Estado de São Paulo, na zona da Usina Junqueira,
passou ali a sua infância, em contato com o "sertão", o rio e a terra.
Só depois dos 15 anos é que veio para Goiás, onde até hoje continua
amigo das pescarias no rio Araguaia, das caçadas de espera e do rico
anedotário brasileiro. Com uma tenacidade e uma capacidade de tra-
balho incansável, escreve constantemente, registrando os modismos,
as expressões, os termos que lhe parecem genuinamente goianos e
mobilizando-os para as suas histórias, cujo conteúdo é sempre de
natureza sertaneja. Tem razão, pois, Casais Monteiro ao escrever
que as suas histórias nos falam exclusivamente de gente perdida de
convivência humana, de solitários, por vocação ou por necessidade,
e nas melhores delas o estreito convívio do homem com a natureza,
o domínio desta sobre aquele, parece-me indicar o mais autêntico
rumo deste contista que deve a si próprio muito mais do que a simples
ambição de ser um autor regionalista.
Entretanto, excede também nesta preocupação constante de 83 1 OCONTOBRASILEIRO EM GOIÁS
registrar a "fala" regional, infundindo à sua obra um testemunho
lingüístico que lhe falseia de vez em quando o estilo e não lhe traz
mais energia para atingir o nível ideal da prosa regionalista no
Brasil. Por várias vezes, no correr deste trabalho, há referência a
esse realismo de linguagem, infelizmente elevado à condição sine
qua non de ser regionalista em Goiás. Um dos mais importantes
escritores goianos — Hugo de Carvalho Ramos — embora escre-
vendo numa época em que os estudos lingüísticos não possuíam
a dimensão científica da atualidade, não procedeu desta maneira.
Em Bernardo Élis, pelo menos nos últimos livros, o vocabulário
com mais sabor regional são exatamente os de tonalidade arcaicas,
como alimal, lavorar, cunzinhas, otusa (por obtusa), chaculató rias
(por jaculatórias), etc., paciente e inteligentemente aproveitados e
com grande poder de sugestão.
Não é o que freqüentemente se verifica na obra de Baria-
ni Ortêncio que, para ficar apenas em mais um exemplo, torna
"irreal" a sua expressão ao escrever: Esses pássaro preto, quando
o normal seria esperar "Esses pass'o preto", sabido que — e isto é
mesmo uma tendência evolutiva na Lingüística Geral — os vocá-
bulos proparoxítonos, pela lei do mínimo esforço articulatório,
tendem a reduzir-se a paroxítonos e das línguas românicas apenas
o italiano, por guardar a continuidade geográfica e cultural dos
latinos, conserva um ritmo geral dactílico, com predominância
de esdrúxulos, enquanto o português e o espanhol se identificam
pelo ritmo trocaico, paroxítono, e o francês se expressa num ritmo
jâmbico, com as preferências naturais pelos vocábulos oxítonos.
Além disso "pássaro" é sobretudo uma forma de linguagem escrita,
porque normalmente o que se ouve, mesmo na boca de pessoa culta,
é "pass'o" (ou passo-preto), como aliás vem empregado por Hugo
de Carvalho Ramos. Ora, a eliminação do morfema indicativo de
plural, na concordância normal do substantivo composto com o
pronome demonstrativo, indica evidentemente a intenção do autor
em fixar um tipo de linguagem caipira; mas, em se tratando de
uma atitude de natureza documental e não puramente ficcional,
criadora, o escritor não deixa de se trair, misturando termos cul-
tos com sintaxe popular e construindo assim uma forma literária
841GILBERTO MENDONÇATELES

discutível, num meio termo entre a realidade (que ainda não foi
pesquisada cientificamente) e a linguagem de uma ficção superior,
na expressão superior da literatura brasileira. Dai a observação da
professora Dirce Côrtes Riedel, na introdução crítica que fez à
terceira edição de Os Caboclos, de Valdomiro Silveira: "O excesso
de modismo não traria, por si, prejuízo evidente da emoção dos va-
lores estéticos. Tudo dependeria da penetração funda no reino das
palavras, da utilização destes modismos no processo estético, cuja
técnica é, na literatura regionalista, também influenciada pela região
(modismos, ritmo, imagistica...), e não apenas os conflitos, baseados
numa interpretação sociológica dos valores culturais da tradição".
Não a propósito de Bariani Ortêncio que, conforme escreveu
Brito Broca (Correio da Manhã, citado na orelha do livro), "narra os
casos de sua terra numa linguagem simples, mas sem deselegância
sintática, sem impropriedades de vocábulos ou mau gosto de expres-
são", mas para confirmar uma afirmação noutra parte deste trabalho
com respeito à linguagem literária, não será fora de oportunidade
fazer mais de uma citação, desta vez transcrevendo o post-scriptum de
um artigo de Mário de Andrade sobre o que ele chamou língua viva
e que foi transcrito por Francisco de Assis Barbosa em O romance, a
novela e o conto no Brasil, de 1950, e que diz o seguinte:

Está claro que nenhuma destas minhas ousadias justifica


a ignorância. O escritor é o indivíduo que se expressa pela lin-
guagem alfabética, isto é, a linguagem culta. É preciso, pois, que
ele conheça essa linguagem que lhe vai servir de instrumento de
expressão. É quase lapalissada afirmar que só tem direito a errar
quem conhece o certo. Só então o erro deixa de o ser, para se tor-
nar um ir além das convenções, tornadas inúteis pelas exigências
novas de uma nova expressão. O resto é academismo, e é interesse
pessoal não obra de arte.

Por último, restaria falar na mania de "vocabulário" em todos


os seus livros, prova bem evidente da sua "pesquisa" do linguajar 85 I OCONTO BRASILEIRO EM GOIÁS
goiano. Acontece que, talvez sem o devido preparo na ciência da
linguagem, comete algumas ingenuidades e até, alguns erros imper-
doáveis que não deixam de desmerecer a sua obra literária, o que, aliás
já foi notado por Domingos Carvalho da Silva, num artigo sobre
Sertão sem fim. Mas a respeito dos "elucidários", se falará adiante,
ao terminar este estudo.
Assim, em que pese à obra de Waldomiro Bariani Ortêncio o
tom um tanto negativo dessas observações, o certo é que não se lhe
pode ocultar o mérito de narrador habilidoso, prendendo a atenção do
leitor do início ao fim do conto, usando uma linguagem popular que
torna o seu livro acessível a um público mais amplo, menos exigente e
que, segundo Mariano Baquero Goyanes, existirá sempre. Figurando
em algumas antologias do conto brasileiro, Bariani Ortêncio é, na
verdade, um escritor em plena ascensão: melhor e mais maduro em
cada livro, técnica e tematicamente, porquanto, fiel ao seu "ciclo do
sertão", vem-se lançando na exploração desse material numa gradati-
vidade artística, artesanal, que se não for interrompida brevemente lhe
trará com certeza um lugar invejável nas letras brasileiras. E a maior
parte dessas deficiências de linguagem e de estrutura já está superada
em Vão dos Angicos, ainda inédito, mas que poderá vir a ser a melhor
obra do autor, dada a disponibilidade de trabalho na sua construção e,
além disso, a consciência da feitura de uma obra nova, transcendendo
a história e buscando uma expressão plástica, aliciante, e envolvendo a
narração numa atmosfera de fina ironia que lhe fica muito bem, como
no caso da novela que dá título ao livro.
[Vendo, agora, a sua obra e a sua grande e incansável atividade
intelectual, podemos afirmar que Bariani Ortêncio se transformou
no mais completo estudioso da cultura goiana, fazendo jus, portanto,
à popularidade de que goza nos meios intelectuais da terra que o
acolheu há mais de cinqüenta anos. Nota de 2007.]
CARMO BERNARDES (1915-1996), que já tinha um conto
publicado na Antologia ilustrada do folclore brasileiro, de 1962, fez
a sua estréia com Vida mundo, em 1966, livro de que fazem parte,
como contos, alguns episódios de um "romance" ainda inédito
(Jurubatuba) e sobre o qual escrevemos em 1965 um artigo, a pe-
dido do autor. Dos quinze contos de Vida mundo, pelo menos seis
861GILBERTO MEN DONÇATELES

(e na verdade os melhores) pertenciam a esse romance que ainda


conservamos em original. Assim, seguindo o exemplo de Bernardo
Élis que retirou de um romance inédito grande parte dos contos
que enfeixou em Veranico de janeiro, Carmo Bernardes optou pela
narrativa curta, de maior contenção emocional por causa de sua
tonalidade unitária, sem a complexidade do romance que é, como
assinala Mariano Baquero Goyanes (Qué es la novela, 1961), "um
conjunto de notas emocionais que poderíamos comparar com a sinfo-
nia musical, cujo sentido completo não percebemos até ouvir o último
compasso, lido o último capítulo". Ao passo que o conto se identifica,
na síntese de Antônio Soares Amora (Teoria da literatura, 1964),
pela brevidade dramática que se obtém por vários processos: ou se
narra uma história que por sua natureza tenha brevidade de tempo,
simplicidade de ação, e máxima unidade de espaço; ou se pratica, na
composição da obra, o máximo de condensação de seus elementos;
e neste caso a técnica do conto aproxima-se da técnica da novela; ou
então, começa-se a narrativa o mais próximo possível do desenlace,
com o que se pode encurtar consideravelmente a narração.
Até que ponto o autor terá sido feliz em "desfalcar" o romance
de alguns de seus melhores episódios, é conjectura que não vem ao
caso, uma vez que a realidade literária e estética com que deparamos
agora é um livro de contos, não um romance. Mas pelo menos uma
consideração inicial, de ordem comparativa, poderia ser feita: se com
o romance representaria uma etapa de amadurecimento intelectual
em Goiás, abrindo mesmo alguns rumos na novelística goiana, tão
presa ainda às fórmulas do realismo-naturalismo, com o livro de
contos não conseguiu, a nosso ver, avançar além das pegadas de
Bernardo Élis, cuja obra, já hoje perfeitamente definida, possui um
vértice de homogeneidade temático-expressiva que o livro de Carmo
Bernardes não poderia evidentemente comportar.
Não há dúvidas de que se trata todavia de um bom livro
nas letras de Goiás. Bom sobretudo pela linguagem nova, melhor,
pelo vocabulário novo, porque os processos narrativos, apesar de
algumas tentativas ao contrário, são os comuns, não apresentando
87 1 OCONTO BRASILEI ROEMGOIÁS
portanto inovações sob o ponto de vista estrutural, tal como se dá,
por exemplo, nos escritores de vanguarda no Brasil e na mais atual
novelística francesa — a de Michel Buttor, Allan Robbe-Grillet, Na-
thalie Sarraute, Claude 011ier e outros na linha do nouveau-norman.
Ou, para ficar em Goiás, tal como se vê no recente livro de Miguel
Jorge (Antes do túnel, 1966) que, apesar de uma certa obscuridade
consciente e de alguns procedimentos censuráveis, experimenta
com muito êxito a incursão numa nova realidade literária, recrian-
do verdadeiramente um mundo fabuloso e rico de formas poéticas,
evanescentes e ao mesmo tempo plenas de realidades psicológicas.
Neste sentido, escrevendo sobre a situação da novela atual, Mariano
Baquero Goyanes, no seu último livro referido, fala na técnica de
apresentar ocultando, de novelistas como Faulkner, que não se con-
tentam já com oferecer ao leitor o material novelesco sem o especial
relevo da descrição organizadora e aclaradora de tal material, senão
que, indo mais longe, rompem ou suprimem os nexos lógicos e as
transições temporais, silenciam ou tão só dão por alusão momentos
decisivos da ação, e, em resumo, conferem a esta uma deliberada
obscuridade, fruto de tal técnica ocultativa. A ação novelesca nos é
oferecida, então, em toda sua fluidez vital, freqüentemente caótica,
excitadora da atenção do leitor. Cumpre-se assim o preconizado por
Sartre ao considerar que, na novela atual, é preciso semear tudo de
dúvidas, de esperas, sem um fim ou desenlace, para assim obrigar o
leitor a fazer conjecturas, inspirando-o a sensação de que seus pontos
de vistas sobre a intriga e os personagens não são mais do que uma
opinião entre muitas.
Conforme várias vezes assinalamos no artigo 'Atualidade do
Romance em Goiás", publicado na revista Mimésis, 1965, o romance
(inédito) de Carmo Bernardes se estruturava tradicionalmente alinha-
vando episódios, somente que ai os tais episódios possuíam demasiado
relevo, "funcionando como peças aparentemente autônomas" que,
para fugir do tradicional, de vez em quando se contraponteiam
com a história central e outras vezes não passam de mero expediente
documentário". Mais adiante, explicando a estrutura de "Jurubatuba",
escrevemos que o livro estava construído "sobre um plano geral em que
os vários episódios laterais, à maneira de afluentes, vão-se interferindo no
881 GILBERTO MENDONÇATELES

curso natural do romance, cujo drama é a paixão de Salustino por Duar-


da". Enfim, expressões como "montagem dos capítulos e episódios",
"eventualidade dos episódios", "vários episódios laterais", "vão-se acu-
mulando episódios", "episódios funcionando como peças autônomas"
e outras que usamos nesse artigo sobre o romance (inédito) de Carmo
Bernardes são suficientes para demonstrar a impressão que tivemos e
que chegamos a comunicar ao autor a de que o seu romance parecia
ter sido feito de muitos contos "alinhavados", transitando por cada
um deles, apenas como nexo novelesco, a personagem principal e o
seu pequeno conflito circundante. E chegamos também a escrever
que sendo pequeno o número de personagens, girando o romance em
torno apenas de duas ou três, as outras aparecendo e desaparecendo,
ao longo da narrativa, na eventualidade dos episódios, o conflito
humano tem ai o seu raio de confluência bastante limitado, abran-
gendo simplesmente as preocupações do protagonista, cuja atuação
se desenvolve, às vezes, no sentido do picaresco, assemelhando-se de
vez em quando a algum xerife de cinema americano.
E o leitor poderá comprovar essas observações com as per-
sonagens dos contos "Alegria de vaqueiro", "Estórias de pescaria",
"O desencanto de um encanto", "Vida geralina" e "Fiado só amanhã",
que se encontram em Vida mundo.
Deste modo, retirando as observações válidas apenas para o
romance, que já não é, podem-se aplicar ao livro de contos de Carmo
Bernardes aquelas mesmas observações que lhe fizemos quanto à
linguagem, aspecto que sublinha inegavelmente a sua estréia lite-
rária. Assim, tal como o seu "Jurubatuba", Vida mundo é portador
de uma linguagem, de um estilo, ainda que se lhe possam assinalar
notáveis pontos de contatos estilísticos com Hugo de Carvalho
Ramos, Graciliano Ramos e sobretudo com Guimarães Rosa, de
que o autor muito se aproxima, mesmo pela semelhança de alguns
temas, conforme mostraremos no capítulo sobre fontes e influências
na ficção goiana.
O aspecto que nos parece realmente substancioso no seu livro
é a linguagem vigorosa, sugestiva e mantida numa consistência de 89 I O CONTO BRASILEIRO EM GOIÁS
tom dificilmente encontrada entre os escritores de Goiás. Nisto,
aliás, Carmo Bernardes se aproxima do autor de Tropas e boiadas.
Ambos, ainda que tratando de tipos populares e utilizando termos
peculiares ao falar goiano, não se perderam no pitoresco e nem se
deixaram levar por um falso realismo lingüístico que, infelizmente,
vem sendo reavivado pela maioria dos escritores de Goiás. O au-
tor soube movimentar seu vocabulário, díspondo-o numa sintaxe
arcaizante e oral e com aspectos do que se poderia chamar uma
fala goiana. Compreendendo, por intuição talvez, que a linguagem
literária não é simplesmente a língua gramaticalmente considerada,
mas o uso vivo esteticamente recriado, a dinamização dos elementos
lingüísticos da comunidade, lançou-se à escolha de seu material de
expressão. Soube compreender, com Marouzeau (Précis de stylistique
française, 1959), que esta escolha se subordina a limites de várias
naturezas; soube também que o escritor brasileiro vive em luta para
conseguir uma expressão essencialmente nacional; e soube, ainda,
que toda a riqueza distintiva de uma língua reside menos no seu
opulento vocabulário ou na sua maior ou menor sonoridade do que
na sua engrenagem sintática, em que os modismos, certas nuances
do torneio frásico, o ritmo e a entoação se apresentam coordenados
e estruturados para a transmissão do pensamento e da emoção, em
termos sobretudo artísticos.
Vida mundo é portanto um livro de valor na literatura de
Goiás, embora seja muito variada a sua temática, diminuindo a
sua unidade como livro de ficção — uma unidade ideal, digamos
assim —, é inegável que pertence também ao "ciclo da boiada e
do sertão", filiando-se ao lado de Leo Godoy Otero e W. Bariani
Ortêncio, talvez os superando na linguagem e não pelo poder de
fabulação ou pelo manejamento de novas estruturas narrativas,
pois, nisto, as suas tentativas não tiveram força e coerência ne-
cessárias para romper com a tradição e impor-se, espontâneas,
como nova realidade estrutural. Daí a fragilidade, por exemplo,
de um conto como "O milagre", de tal maneira fraco com relação
aos outros, de tal maneira sem convicção para a fábula, que perde
toda importância diante daquele resumo ("O assunto") que serviu
de inspiração ao conto ("O causo").
901G ILBE RTO MENDONÇATELES

[Acrescento que, quando me preparava para ir pela primeira


vez ao exterior, com uma bolsa de estudos em Portugal, Carmo
Bernardes começou a me procurar, a ir à minha casa, insistindo
que eu fizesse um prefácio para o seu romance "Jurubatuba", cujos
originais me entregou. Acabei escrevendo e publicando-o em O Po-
pular, em 17.1.1965, e na revista Mimésis, n° 1, 1965. Está também
no meu livro ESTUDOS GOIANOS — II: A crítica e o princípio do
prazer, de 1995. Acontece que, enquanto eu estava em Portugal, o
autor, sabendo que eu havia sido atingido pelo AI-I e com medo dos
militares, tratou de transformar o "romance" em "contos", seguindo,
aliás, a sugestão da minha crítica. Mas, tratou também de eliminar
o meu nome do seu novo livro, pedindo a outrem que o prefaciasse.
Só que (soque mesmo) não teve a coragem de mo dizer. Muito tempo
depois soube do seu livro de contos... Nota de 200Z]

7. PERSPECTIVAS DE TEMPO E DE ESTRUTURA

Escrevendo que "a pesquisa de novos recursos expressivos não


tem sido, de maneira geral, uma preocupação freqüente em nossos
contistas", Eduardo Portella (Dimensões —II, 1959), baseando-se em
Alceu Amoroso Lima, estuda os dois acentos rítmicos de evolução do
conto brasileiro, que vem vacilando entre uma tendência lírica e uma
notação social, entre a imaginação e a realidade, ou, noutras palavras,
correspondendo àquela polaridade — nacionalismo / universalismo
— que tem presidido a toda a evolução de nossas letras.
A corrente ou a "vertente socializante" tem reunido maior
número de adeptos, tornando-se a linha mais familiar do conto no
Brasil, principalmente depois do grande espraiamento regionalista
e neo-regionalista da atualidade. Daí, por certo, a popularização
do conto tradicional e, também, o seu abastardamento, a falta de
originalidade e uma certa complacência geral, de público e autor,
motivando a fossilização padronizante desse tipo de conto. Mas
tal como se deu no romance, a linha formalista entrou em ação,
voltando-se do exterior para o mundo psicológico, introspectivo, 9 1 I O CONTO BRA SILEIROEMGOIÁS
criando com mais vigor uma nova realidade onírica e, na palavra de
Eduardo Portella, eliminando o herói e a fábula, cria entidades novas
dentro da ficção moderna. O elemento nuclear dessa ficção tanto
pode ser um forte veio poético — em nossa literatura perfeitamente
representado por Clarice Lispector, Joel Silveira, Samuel Rawet ou
Paulo Novais — como a 'atmosfera' vital, ou os elementos mesmo da
realidade lingüística.
Somente que esta inovação às vezes atinge limites extremos,
ultrapassa o nosso território cultural e, na ânsia de paralelismo
com o escritor europeu, o escritor brasileiro resvala-se em erro de
perspectiva social e, como informa Portella no caso da influência
de Kafka, se esquece "de que o contexto social que condicionou e
explica a literatura do grande ficcionista tcheco é radicalmente diverso
do nosso".
Não resta dúvida de que esta oposição dialética tem concor-
rido consideravelmente para o desenvolvimento estrutural do conto
no Brasil, principalmente pelo sincretismo resultante de técnicas e
processos narrativos aplicados à observação ou à invenção da realidade
ou da supra-realidade nacional.
Publicando Os cavalinhos de Platiplanto em 1959, JOSÉ J.
VEIGA (1915-1999) e ALAOR BARBOSA (Morrinhos, 1944),
que se estreou na prosa de ficção com Cidade do tempo, 1964,
antecederam a Bernardo Élis na renovação do conto goiano.
Tudo o que se poderia dizer sobre a consciência de renovação do
gênero no Brasil aparece como experimentações surpreendente-
mente válidas nesses dois livros: o primeiro focalizando de longe
a paisagem goiana, que ali reponta esteticamente transmudada,
com outras dimensões de tempo e movimento e num processo
surrealístico, mais ou menos kafkaniano, poetizante; o segundo,
movimentando-se num ambiente realisticamente goiano, vê as
coisas como simples referências para as reações fenomenológicas
do homem: as coisas têm valor, adquirem valor, porque sublinham
a conduta da personagem, constituem elementos concretos desti-
nados a estimular-lhe a memória e despertar-lhe uma vaga emoção
1GILBERTO MENDONÇATELES

angustiante. E o escritor sente então a necessidade de enumerá-


las, descrevê-las minuciosamente, repeti-las, embora considere
simples aparência do seu mundo interior. A personagem é um ser
difuso, se esfuma no acontecimento e reaparece adiante, plena mas
incaraterística, dentro pois das experiências do nouveau-roman,
como em O labirinto, de Allain Robbe-Grillet.
Tanto o livro de José Veiga como o de Alaor Barbosa trans-
portam maior potencialidade de poesia, porquanto possuem maior
grau de mais pura criação literária, não se consentindo, como nos
92

naturalistas, regionalistas e neo-realistas, na aproximação demasiada


(fotográfica) da realidade sensível, física ou psicológica. É a pura
criação, a "criação de fantasmas", na mais atual confirmação aris-
totélica da mimésis, embora, sob este aspecto, o livro de José Veiga
possua maio poder de deformação do real, se inserindo com mais
vigor naquela "atmosfera vital" dos mundos da arte, enquanto o de
Alaor Barbosa se constrói sobre uma plataforma de memória, mas
de memória localizada num contexto geográfico. Mesmo assim, é
bastante grande a distância estética e estrutural entre esses dois livros
e a absoluta maioria dos livros de contos em Goiás, presos, ainda,
às fórmulas de análise, de depoimento ou documento, do homem
e da paisagem — protagonistas geralmente de conflitos exteriores,
traços curiosos do sertão, seres estranhos num mundo marginal da
vida brasileira.
Toda a problemática de tempo e de estrutura que tem
modificado e alentado a novelística contemporânea pode ser
pressentida nesses dois livros. O tempo como fluir tragicamente
para a morte, mas não somente nas coisas e seres que rodeiam
o homem: no homem também, um tempo interior que aflora à
consciência numa corrente de coisas que não são o que foram, mas
o "sido", como em Heidegger. Para Georges Lúkacs (La theorie
du roman, 1963)

Cest seulement dans le roman, dont tout le contenu consiste en


une quête nécessaire de l'essence et dans une impuissance à la trouver,
que le temps se trouve lié à la forme: le temps est la façon dont la vie
purement organique résiste au sens présent, la façon dont la vie affirme 93 I OCONTO BRASILEIRO EM GOIÁS
sa volonté de subsister en sa propre immanence, parfaitement dose.

E Likacs acrescenta que "Dans le roman, sens et vi se séparent et,


avec eux, essence et temporalité; on pourrait presque dire qu'en ce qu'elle a de
plus intime, toute láction du roman n'est qu'un combat contre les puissances
du temps".
Esta consciência do tempo presente nas mais discutidas
novelas contemporâneas é, ao lado das inovações estruturais, uma
maneira de atualização da literatura que, assim, eliminadas as
fronteiras temporais, mergulha no tema da infância e da memória
na busca desesperada do tempo perdido... Bem sugestiva é, a este
respeito, o conto "Fronteiras" no livro Os cavalinhos de Platiplanto,
de que o trecho seguinte pode dar uma imagem de sobriedade verbal
e de contenção poética:

Raro era o dia em que eu não aprendia alguma coisa nova,


e embora a descoberta só tivesse utilidade na estrada, eu recolhia
para utilização futura, ou para ampliação de meus conhecimen-
tos. Foi ao abaixar-me num córrego para beber água que fiz uma
descoberta a meu ver muito importante: descobri que quando se
derruba uma moeda em água corrente, não se deve pensar em
recuperá-la. Quem tentar fazê-lo poderá ficar o resto da vida à
beira d'água retirando moedas. É como se a pessoa sangrasse a
areia do fundo d'água e depois não conseguisse estancar o jorro
de moedas.

[Atualizando os seus meios de expressão, apurando a sua técni-


ca de narrar através de uma série de livros de contos e romances, José
J. Veiga veio a se tornar, sem sombra de dúvida, o mais importante
ficcionista dos últimos tempos no Brasil.
Por ocasião da morte do escritor, o Suplemento literário de
Minas Gerais, n° 52, outubro de 1999, me pediu um depoimento
sobre o grande escritor goiano. Saiu publicado com o título de
"Do outro lado, na invernada do Sossego" e foi transcrito na re-
vista Meya Ponte, Pirenópolis, Goiás, set-dez. de 1999. Aí vai esse
941 GILBE RTOMENDONÇATEL E S

depoimento:
Ao me enviar um exemplar de seu livro de novelas, De Jogo.s.
e Festas, em deembro de 1980, José J. Veiga escreveu na dedica-
tória: "A Gilben-o Mendonça Teles, pirenopolino de origem e universal
de intelecto, com toda a admiração do Veiga". Na verdade, eu é que o
admirava pela serenidade do homem e pela excelência de sua literatura.
E a minha mãe é que era de Pirenópolis, cidade vizinha de Corumbá
de Goiás, onde nasceram José J. Veiga e Bernardo Elis. Este tema,
aliás, era constante das nossas conversas, nos poucos momentos em
que conseguíamos ficar a sós nos nossos encontros, quase sempre nos
congressos e nos concursos literários, como o de Brasília, o da Nes-
tlé, o da SUAM, no Rio de Janeiro, e uma e outra vez em Goiânia,
participando de eventos literários. Um dia nos encontramos também
num congresso em Lisboa, onde houve tempo para jantar e falar das
coisas boas de Goiás.
Uma vez, em Brasília, num dos encontros de escritores de que
participavam Bernardo Elis, José J. Veiga, Afonso Félix de Sousa e
eu, alguém teve a idéia de fotografar os quatros goianos. E Bernardo
Elis, que havia estudado a genealogia do general Curado, o primei-
ro brasileiro a chegar ao posto de Marechal do Exército Nacional,
aproveitou para nos dizer que éramos todos parentes, pois descendí-
amos do velho Marechal: a família de Bernardo e a de Veiga são de
Corumbá de Goiás; a de Afonso é de Jaraguá; e a minha, da minha
mãe, de Pirenópolis. As três cidades se situam na mesma região,
conhecida por "mato grosso" e estão bem próxima uma da outra: de
Pirenópolis a Jaraguá a distância é de apenas cinqüenta quilômetros;
e de Pirenópolis a Corumbá de Goiás não há mais que dezessete.
José J. Veiga nasceu numa fazenda entre estas duas cidades,
mas no município de Corumbá de Goiás, por isso se dizia meio
pirenopolino. A geografia de seus contos, o espaço aberto de sua
criação, principalmente em Os Cavalinho de Platiplanto, aponta
para essa região, para esse entrelugar, onde um rio (o Corumbá)
serviu de limite e de travessia para o lado do imaginário, para ir
ver "Os do outro lado", para se chegar à "Fronteira" e encontrar 95 I OCONTO BRASILEIRO EM GOIÁS
"A invernada do sossego" ou então ficar brincando na ilha dos
"gatos pingados".
Quando cheguei ao Rio de Janeiro, em 1970, vindo do Uruguai
e com os "diplomas" de AI-1 e AI-5, tratei de conseguir um trabalho
numa universidade particular, pois estava aposentado na Federal de
Goiás. Um dia fui levado a Benedicto Silva, também goiano e nome
importante na Fundação Getúlio Vargas. Soube da minha situação.
Logo depois a PUC me contratou com vinte horas semanais e, na
mesma semana, recebo um telefonema de Benedicto Silva: tinha um
cargo de tempo integral e dedicação exclusiva para mim, na editora
da Fundação. Isso me obrigava a deixar a universidade, pois não era
possível trabalhar nos dois lugares ao mesmo tempo. Optei pela uni-
versidade, mesmo com a metade do vencimento que teria na Fundação.
Foi por essa época que Veiga voltou ao Rio de Janeiro e Benedicto
Silva o levou para a editora da Fundação Getúlio Vargas, onde ele
trabalhou por muitos anos e viu crescer a sua fama de grande escritor.
Ali o conheci pessoalmente e uma e outra vez o visitei, numa dessas
rápidas conversas de café.
Poucas vezes nos falamos por telefone. Lembro que em 1989,
ele me ligou para me cumprimentar pelo prêmio "Machado de Assis"
e foi à Academia me dar um abraço. A última vez que nos falamos
foi através de um telefonema que lhe dei, de Salamanca, quando
soube que ele ia receber o prêmio "Machado de Assis". Disse-lhe
que gostaria de estar na sua festa para retribuir aquele abraço de
1989. E ele: um dia comemoraremos isto tomando uma cachacinha
goiana, das legitimas. Certa vez Adonias Filho me disse que o Veiga
só não entrava para a Academia porque não se candidatava. E, por
mais que meu irmão José, na época presidente da Academia Goiana
de Letras, insistisse para que ele aceitasse uma vaga na academia de
Goiás, sem necessitar de pedir votos, ele achava sempre um jeito de
se esquivar. Viveu assim, tranqüilo e silencioso, tal como a linguagem
de seus livros, linguagem para ser lida e fruída em silêncio, palavra
por palavra, assim como a de Murilo Rubião, os dois criadores de
uma nova dicção para a narrativa curta brasileira.
Em 1986, tive a honra de presidir na SUAM uma mesa redonda
de que participaram como expositores Murilo Rubião, José J. Veiga e
961G ILBERTOM ENDONÇATELES

Nélida Pirión, assim, nesta ordem. Cada um tinha quinze minutos para
falar de seu processo de criação. Depois a palavra seria franqueada ao
público, para perguntas. Murilo resumiu tudo em doze minutos e Veiga
não chegou a dez. As respostas dadas ao público giravam em torno do
que haviam dito: tomar um assunto, geralmente ocorrido na infância,
e escrever sobre ele, como se o estivesse inventando no momento da
escrita e, por isso, não podendo dizer tudo sobre ele. O segredo, parece,
era saber manter o tom e deixar a linguagem desempenhar o seu papel
de representação de si mesma.
É por aí que se pode falar criticamente da obra de José J. Vei-
ga, do valor da sua contribuição para a renovação da prosa no Brasil
— no conto, na novela e no romance, para ficar nesta ordem que não
deixa de ter lá a sua razão estrutural. Várias vezes me aproximei de
sua obra, em leitura, cursos e conferências, e orientando duas ou três
dissertações sobre ela. Mas foi sobre Os Cavalinhos de Platiplanto que
mais escrevi, a começar com um artigo, "Roteiro do conto goiano"
[1963], no qual digo que entre os autores goianos José J. Veiga, "sem
maiores especulações de técnica — a não ser a da linguagem — se apresenta
com novas dimensões da arte de narrar, numa fabulação clara e altamente
persuasiva". Cito-o depois em A Poesia, em Goiás de 1964; num verbete
que escrevi em 1969 para a Verbo-enciclopédia luso-brasileira, de Lisboa;
e, num estudo sobre os contos de Alaor Barbosa, "Do arraial para o
cosmo", de 1979, tomo-o como modelo, escrevendo que 'A maior parte
dos escritores sucumbe ao fascínio da cor local e se deixa envolver por ela, em
vez de envolvê-la na linguagem. Há os que conseguem escapar à tentação
literária, como é o caso inigualável de José J. Veiga". E menciono várias
vezes a sua obra na Retórica do silêncio [1979].
Mas é sem dúvida em O conto brasileiro em Goiás, de 1969,
o lugar onde mais me debruço sobre os seus contos. Começo por
dizer que José J. Veiga, com Os Cavalinhos de Platiplanto (1959)
antecedeu a Bernardo Elis na renovação do conto goiano, muito
preso a fórmulas de análise, de depoimento ou de documento, do
homem e da paisagem. E acrescento que tudo o que se poderia dizer
sobre a consciência de renovação do gênero no Brasil aparece como 97 I OCONTO BRASILEIRO EM GOIÁS
experimentações surpreendentemente válidas no livro de Veiga que
focalizava de longe a paisagem goiana, que ali reponta esteticamente
transmudada, com outras dimensões de tempo e movimento e num
processo que tinha muito a ver com o surrealismo, um processo ka-
fkaniano e poetizante, porquanto possui maior grau de pura criação
literária, não se consentindo, como nos naturalistas e neo-realistas,
na aproximação demasiada (fotográfica) da realidade sensível, física
e psicológica. É a inserção na "atmosfera vital" do mundo da arte
— na linguagem — a pura criação, a "criação de fantasmas" na mais
atual confirmação aristotelica da mimese.
O leitor nem precisa de chegar ao fim da história para o seu
gozo estético — tudo é feito durante, no corpo a corpo da leitura, no
jeito especial de combinar as palavras, de construir uma linguagem
que aponta ao mesmo tempo para este e para "o outro lado", que deixa
ver os problemas político-sociais e, simultaneamente, a utopia da
"invernada do sossego", a qual se pode estender, alegoricamente, por
livros como A hora dos ruminantes, A estranha máquina extraviada, Os
pecados da tribo e Sombras dos reis barbudos. É assim que a obra de José
J. Veiga, tal como a de Murilo Rubião, com o seu realismo mágico,
ou surrealístico, ou kafkaniano, ou que nome tenha, conquistou de
vez a atenção do melhor leitor e trouxe à narrativa brasileira uma
densidade nova, próxima da poesia, capaz portanto de exprimir o
real e o mítico pelo simples fato de dar emoção e encantamento à
sua nova maneira de dizer.

Rio de Janeiro, 9 outubro de 1999. Nota de 2007.]

No livro de Alaor Barbosa (Cidade do tempo) se verifica


igual poder de poetização, mas uma poesia menos lírica e mais
racional, filosófica, problematizante. Embora o tema seja ainda
um tempo presente na memória, exatas ou inexatas reminiscências
que a linguagem e o processo narrativo, ziguezagueante, acabam
981GILBERTOMENDONÇATELES

por envolver numa penumbra de recordação, a técnica narrativa


da sondagem psicológica que o faz discípulo de Machado de Assis
o conduz a uma certa profundidade de análise e interrogações,
criando também um clima nebuloso, de tendência esotérica, em
que, segundo Forster (The development of english prose between 1918
and 1939, 1945), se filiam as obras que intentaram criar algo mais
válido que a monotonia e o derramamento de sangue. O conto
"A despedida" constitui um bom exemplo dessa conscientização do
tempo em que o homem se transforma em personagem esgarçada,
sem contornos, vivendo "uma sensação esgarçada de que todas as
coisas do mundo" [...] "estão imbuídas de uma certa tristeza imóvel,
plácida, evanescente":

Está pensando em nada, mas sente profundamente o fluxo


do tempo pesado, compacto. Está imanentemente esquecido de si
mesmo; sabe, apenas, e sem pensar nisso, que está no banheiro,
encostado à sua parede áspera, que água está caindo morna, que
amanhã vai embora; essa sensação escorre, devagarinho, dele para
o infinito, à maneira e ao estilo do fluir de um rio em devenir
incessante, entre margens sombreadas por árvores centenárias,
intocadas e mudas. Ele sente que aquele momento exato está
passando para jamais.

Também de 1964 é Contos para ler de pé, de EDUARDO


JORDÃO (Ipameri, 1943), bastante jovem e, na verdade, imaturo
ainda nas suas tentativas de literatura. Linguagem até certo ponto
indolente, estruturas primárias, mais de crônicas que de contos e
despidas de maior encantamento. No entanto, com certa capacida-
de de invenção, ainda rebelde, esperando talvez maior habilidade
expressiva e mais consciência estética. Mas alguma história, por
ingênua e breve, possui qualquer coisa de sedução, como "Simpatia
prá vento", que ai vai, na integra: 99 I OCONTO BRASILEIRO EM GOI ÁS

Do lado do nascente a chuva viria forte, pois o céu estava


coberto de nuvens escuras. um forte vendaval, repentinamente,
começara a varrer a pacata Ipameri, arrancando até algumas
telhas de nossa velha casa, ainda de estilo colonial./ Minino, de-
pressa, jogue farinha no fogo, gritava mamãe afobada, sacudindo
as janelas feitas de caixote./ Depois, na fornalha, a farinha de
mandioca incendiava-se e pronto! Lá se ia o vento. Simpatia prá
vento passar, dizia ela.
[Publicou depois Delírio das massas, 1969; Os caminhos
do absurdo ou o triunfo da estupidez, 1972, além de outros. Nota
de 2007].

8. PASSADO E PRESENTE EM 1966 / 67

Enquanto em 1965 somente se publicaram dois livros de con-


tos em Goiás — um de Bernardo Élis e outro de W. Bariani Ortêncio
—, os anos de 1966 e 1967 foram realmente pródigos e importantes
para bibliografia da literatura de ficção em nosso Estado, pois nada
menos de dez livros de contos, além de uma antologia literária dos
acadêmicos da Faculdade de Direito da Universidade de Goiás (Ca-
tólica), constituíram um saldo altamente positivo na bibliografia do
conto goiano. Verdadeira "safra literária", para usar o nome da antiga
secção critica de Xavier Júnior, quando registrava o aparecimento
de livro em Goiás.
E o que é realmente notável é o saldo superior verificado, sendo
maior o número de obras de significação nacional, numa legitima
contribuição à literatura brasileira.
Ademais, é licito dizer que nesses anos se verificou novamente,
depois de muito tempo, o encontro do passado vilaboense com o
presente / futuro de uma nova realidade literária em Goiás. A uma
literatura de passatempo se contrapõe agora uma série de obras cons-
ciente, comprometida com o seu tempo e insatisfeita com a simples
repercussão estadual. O escritor goiano de hoje quer estar em sintonia
GILBERTO ME ND ONÇATELES

com o mundo, está imbuído do valor do seu trabalho como arte e


a sua obra procura sincronizar-se no desenvolvimento da literatura
nacional. E o escritor goiano que não procura dar à sua obra, mesmo
regional, o cunho humano desta atualidade, permanecerá ignorado
e a sua obra resultará inútil. Desaparecerá logo.
Dentre os contistas que publicaram suas obras em 1966,
Bernardo Élis, Ada Curado e Carmo Bernardes já foram estudados,
o primeiro sob o título geral de "O TESTEMUNHO LITERÁ-
RIO DE ERMOS E GERAIS" e os dois outros sob o título de "NO
100

CICLO DA BOIADA E DO SERTÃO". Resta falar nas obras de


Altamiro de Moura Pacheco, Maria Paula Fleury de Godoy, Miguel
Jorge e Alaor Barbosa, que editou agora o seu segundo livro de
contos. Em 1967 se verificaram apenas três lançamentos de livro
de contos: Chico Melancolia, de Humberto Crispim Borges; Amor
em quarto crescente, de Cornélio Ramos, e um volume com dois
contistas mirins — Estórias do cerrado, de Ivo Curado (15 anos) e
O Muro que voava, de Nancy Ortêncio (15 anos).
ALTAMIRO DE MOURA. PACHECO (1896-1996) pu-
blicou um livro com o nome de Realidade e ficção. Trata-se, como
se vê pelo título, de livro misto de crônica e contos, somente que
agora o escritor, ilustre médico e estudioso de Goiás, homem viajado
pelo mundo inteiro, tem plena consciência dos dois gêneros, não
cometendo o erro, muito comum em Goiás, de designar como conto
algumas simples crônicas descritivas de ambientes ou pessoas. Situ-
ando o ambiente de seus contos nalguma cidade do interior goiano,
ou mesmo em Goiânia, Altamiro de Moura Pacheco construiu uma
obra em cuja atmosfera de estrutura tradicional se interferem, de
vez em quando, certas reminiscências de viagem, perturbando a
efêmera cor local e fazendo perigar a narrativa, diminuindo-lhe o
poder de ficção. Na verdade o autor é menos contista que observador
sensível dos acontecimentos político-sociais do Brasil, penetrando
com argúcia alguns aspectos da política brasileira. Entretanto, dois
pontos devem ser evidenciados em Realidade e ficção: a pincelada
incisiva e caricata de alguns tipos humanos das pequenas cidades
do interior goiano e um estilo sóbrio, elegante e preciso, realizado 10110CONTOBRA SILEIROEMGOIÁS
dentro das mais lídimas tradições vernáculas da língua portuguesa.
O conto "Adeus, Pilar" é bem um modelo de sua arte de contar,
fazendo deslizar sobre a realidade histórica o fluxo da inspiração
criadora.

Continuando também a tradição literária, em que a maneira


de escrever é menos pessoal e rebelde do que submissa à gramática
e em que a história possui na sua composição o assunto, o caráter, a
verossimilhança e o desfecho, aqueles "quatro elementos constituti-
vos" de que fala Eduardo Portella, MARIA PAULA FLEURY DF,
GODOY (1894-1985), publicou Sombras, informando, na apresen-
tação, que "Estas páginas, escritas ao sabor da Fantasia, entre largos
intervalos, representam diferentes estados de espírito em diferentes
épocas e não têm, por certo, a pretensão de ser um espelho da vida".
/ "O livro de ficção foi sempre, para mim, uma forma de evasão,
de fuga da realidade, e não um retrato fiel do homem ou a exata
história de sua vida".
Em A poesia em Goiás, escrevemos que "outra escritora, ver-
dadeiramente polígrafa, é Marilda Palinia, pseudônimo de Maria
Paula Fleury de Godoy". Encontrando textos desta poetisa datados
de 1926, escrevemos também que foi juntamente com Leo Lynce os
primeiros a tentar o modernismo na poesia goiana. "Sofreu, a nosso
ver, do mal da época, o de fiar-se na facilidade do verso livre, ainda
sem muita consistência rítmica, e nos deixar longos poemas, as mais
das vezes com raras tonalidades poéticas. É, como Cora Coralina,
mais prosadora que poetisa". [Só depois Cora Coralina publicará
seus livros de poemas. Nota de 2007.]
De fato, a publicação de Sombras vem confirmar o nosso ponto
de vista, e tanto que um escritor como Bernardo Élis não vacilou
em escrever que "Os personagens de Sombras são parentes próximos
dos de Katherine Mansfield e Anton Tchecov. Mal começa o conto,
já os personagens engolfam em devaneios que os vão envolvendo e
1021 GILBERTOMENDONÇATELES

fazendo-os flutuar reconstruindo esse instável e mal delineado


reino do que deveria ter sido mas geralmente não foi, ou daquilo
que nós gostaríamos que fosse mas que a vida atropelou cruelmente
com dedos de espuma".
Desde o primeiro conto ("Era uma noite assim"), em que o
tema possui raízes folclóricas e mais ou menos se repete em "A estra-
nha freguesa", até às páginas finais que dão o título ao livro e vêm
em forma de diário, pode o leitor penetrar num mundo pleno de
recordações, delineando-se alguns flagrantes da vida burguesa numa
cidade antiga, vista de longe, no tempo, ou de uma grande cidade,
numa perspectiva em que a saudade e o sonho do passado se mesclam
fugidios, deslizantes.
Muitas vezes a autora não consegue dar à sua narrativa a
autonomia necessária à existência do conto como realidade em si
mesmo, motivando assim a falta de um clima fabuloso, vitalizante,
de algumas histórias, ainda que tenham sido "escritas ao sabor da
Fantasia". Reflete, nalguns contos, aquela transição entre a crônica
e o conto que, na literatura brasileira, data dos primeiros anos deste
século.
Aliás, não será fora de propósito transcrever parte do que cer-
ta vez escrevemos, prefaciando um livro de crônicas (Copo quebrado,
1965) de Oliveira Mello e tocando no problema da aproximação dos
dois gêneros: "As fronteiras entre uma crônica e um conto não estão
ainda claramente definidas, para se permitir uma separação segura
e válida nas possíveis classificações. Nem a história das duas espé-
cies literárias pode servir como base da ampla significação que lhes
conferem hoje a crítica e o historiador da literatura. / E a crônica,
em cuja evolução se percebem transições da área científica (histo-
riográfica) para os vastos territórios literários, se não é porventura
tão antiga como o conto, pelo menos com ele se tem algumas vezes
identificado, seja por uma anedota ou acontecimento registrado em
livros de linhagem, seja pelo tratamento arquitetônico de alguns
contos da atualidade. E, pelo seu aspecto indefinido, oscilando
entre uma forma de impressão e a narrativa organizada em conto,

103 10CO NTO BRASILEIROEMGOIÁS


parece originar-se de um estado anterior ao conto, que denuncia
algumas vezes, em determinadas literaturas, uma fase embrioná-
ria, em processo de amadurecimento. É o que se pode observar no
estudo histórico das literaturas, de que a brasileira, com as suas
manifestações provincianas, oferecem numerosos exemplos. Antes
do aparecimento do conto, como tal definido e estruturado, o que
se percebe é uma forma de literatura em transição: opiniões pessoais
se misturando com elementos de ficção e observações científicas,
como é comum na nossa literatura. colonial".
De qualquer forma, porém, Sombras é um livro agradável, de
leitura convidativa, possuindo a sua autora o talento necessário para saber
prender o leitor, como se lhe oferecesse a mão para um passeio numa
época distante, revivendo com ele aquela "vida inteira que podia ter sido
e que não foi", conforme o verso conhecido de Manuel Bandeira.

Dentro daquelas "perspectivas de tempo e de estrutura" de que


falamos cabem dois dos mais importantes livros de contos aparecidos
em Goiás, no ano de 1966. Referimo-nos a Antes do túnel, de MI-
GUEL JORGE (Campo Grande, MT, 1933) e a Picumãs, de ALA-
OR BARBOSA, já mencionado. E tal como fizemos estudando ao
mesmo tempo o primeiro livro de Alaor Barbosa e o de José J. Veiga
(que publicou este ano o romance A hora dos ruminantes), pode-se
aqui juntar, num mesmo nível técnico, as duas obras recentemente
editadas, mesmo que entre elas exista alguma fronteira de natureza
puramente criadora.
Foi o que também já assinalamos comparando Os cavalinhos
de Platiplanto e Cidade do tempo, distinguindo, naquele, a construção
de um território irreal, poetizante e, nesta, a sujeição da fábula a uma
realidade geográfica, memorizada. Ora, a partir deste ponto de vista,
Antes do túnel e Picumãs, que se identificam pelas inovações estrutu-
rais, guardam cada uma as suas peculiaridades quanto ao processo
do tratamento da realidade literária, mais sensível e física na obra de
Alaor Barbosa, mais psicológica e interior na de Miguel Jorge, que
104 1 GILBERTO MENDONÇATELES

se realiza dentro daquele "signo da invenção e da memória", referido


por Eduardo Portella. Num, a consciência das coisas, da paisagem,
a estética da minúcia descritiva, o esforço para surpreender os míni-
mos detalhes do mundo sensível e as mais sutis reações psicológicas
das personagens, numa fenomenologia em que avulta, considerável,
o mundo exterior, transitando por ele a personagem que vê, "tudo
existente, existindo — trans-indo", na frase encontrada em Picumãs.
Noutro, "a predominância dos seres sobre a paisagem" , conforme anotou
Fábio Lucas, no prefácio. Mas os seres ai se apresentam descolori-
dos, envoltos em bruma, imagem obsessiva, persistente, a diluir os
acontecimentos e dar-lhes aquela atmosfera kafkaniana e hermética,
de forte conteúdo poético nalguns contos, obscura e injustificada
em outros, quando o autor não consegue muito bem levantar vôo
do território horizontal da crônica que se quer conto, ainda que de
natureza introspectiva.
Arturo Cambours Ocampo na sua Teoria y técnica de la
creación literaria, de 1966, transcreve alguns conceitos da Arte e
belleza de Mauricio de Wulf, em que o filósofo belga diz que em
toda arte se praticam procedimentos de mutilação, de previsão,
de sugestão artística. "Impõe-se o seu emprego em novelas, tragé-
dias, comédias, dramas, na mais simples descrição literária. Uma
novela que, detalhadamente e sem nos perdoar nenhum pormenor,
expusesse as menores ações e palavras de suas personagens, se
tornaria insuportável. O autor usa subentendidos, prescinde de
fatos intermediários, mas a obra contém os elementos necessários
para que a imaginação do leitor possa reconstruir por completo a
trama". E, mais adiante: "Grande poeta, grande novelista, grande
literato, é aquele que sabe calar-se no momento preciso, e que sabe
converter os seus leitores em poetas, novelistas e literatos". Antes
do túnel, mais do que Picumãs, sabe conduzir-se neste sentido,
obrigando o leitor a tomar parte no conto, a preencher-lhe as
"lacunas", noutro processo de recriação em que a obra literária
completa realmente o seu círculo de existência, incorporando
definitivamente nas suas relações o leitor ou o "consumidor", na
teoria de Paul Valéry e dentro que hoje [2007] virou moda com o 10510 CONTO BRASILEIRO EMGOIÁS
nome de "estética da recepção", que as universidades trabalham,
mas só teoricamente.
Debruçando-se também sobre o tema da infância e retirando
a matéria-prima de seus contos do mundo subjetivo da memória,
mas de uma memória que não se localiza numa paisagem sensível,
conduzindo, antes, aos acontecimentos mágicos da criança, Miguel
Jorge fez um livro surpreendentemente válido, com uma forte carga
inventiva predominando sobre a simples observação e análise do
mundo exterior, que o faz, de certo modo, discípulo de Clarice
Lispector, além de declarada filiação ao contista tcheco.
Se experimenta novas estruturas e emprega com algum sucesso
procedimentos narrativos que fogem ao tradicional, muitas vezes se
deixa prender na trama dessas inovações, recorrendo ao estilo direto
e construindo um diálogo que destoa sensivelmente do clima geral de
renovação, deliberadamente tentada pelo autor. O conto que dá título
ao livro começa bem urdido, numa linguagem clara, sem rebuscamen-
tos nos períodos curtos, como se fossem traços retilíneos e isolados na
lembrança do narrador que se dissimula, impressionisticamente, atrás
do verbo no pretérito "para describir en ia narración cosas en realidad
no sometidas ai tiempo", na reflexão de Elise Richter (El impresionismo
en el lenguaje, 1956). É o estilo indireto simples, "menos ágil, menos
vital", na opinião de Eduardo Portella (Dimensões —1, 1958). Eis um
trecho, como exemplo:

Ele não sabia como ali se encontrava. Andava absorto pelas


ruas, examinando as pedras, parando de vez em quando para olhar
o tempo. Era uma simples tarde de verão. As casas, estas pareciam
pequenas e mal alinhadas de um lado e do outro da rua. Não havia
nenhum movimento. Ninguém que por ali passasse. Somente ele
existia e o som de seus sapatos atritando a sola da calçada. Pare-
ceram imensos seus passos e o som vindo deles poderia acordar o
mundo.

Entretanto, depois desta bela linguagem, surpreende-se o


tom negativo da seqüência: depois de atravessar o túnel, "seus olhos
1061 GILBERTOMEND ONÇATELES

caíram sobre uma velha" que declamava uns versos sem razão de ser,
apocalípticos, a que o autor chama trágicos. Imediatamente uma
multidão vem escutá-la. "A mulher crescia em tamanho. Agora parecia
um gigante e sua voz se avolumava, subia aos ares, se alastrava pelo
céu. Os pássaros pousaram nas árvores e lá permaneceram". Então a
personagem pergunta o nome da mulher e um menino responde,
espantado: "É a velha senhora, a quem chamamos Instituição". Não
satisfeito com a alegoria, volta-se ao menino e pergunta: "E você,
como se chama? — Sou a nova Instituição", responde, e "quando a
velha desaparecer começarei a ser ouvido". Aí está, no meio de muitos
contos realmente notáveis, a fragilidade (para não dizer ingenuidade)
criadora que recorre a um processo tão antiquado como é a alegoria,
transportando para o nome de Instituição, de certo modo, o mesmo
conflito anual entre o Ano Velho e o Ano Novo das folhinhas e
almanaques. Cai-se de dez a quase zero e o que é chamado "novo"
é mais velho que o velho.
Também outro dos melhores contos de Antes do túnel— "Perse-
guição", aquele que mais oferece ao leitor um modelo de como contar,
originalmente, acontecimentos comuns na infância de todo homem,
também se vale do estratagema da recordação, diminuindo-lhe a vita-
lidade criadora. Não que o autor deva evitar o ardil, pois nele reside,
afinal, a possibilidade das inovações; mas nos momentos em que o
processo se torna comum e se estabelece entre ele e a técnica uma com-
placência tradicional, todo o efeito da surpresa inventiva e genética se
vai por água a baixo ou pelo menos atenua o efeito de originalidade.
Nesse conto, a personagem, abrindo uma gaveta da cômoda,
depara com um cinto de couro. "Via nele sua infância. O passado
que não era realmente passado. Tomou-o entre as mãos. Recordava".
Começa ai o conto, acomodando-se a estrutura numa corrente de
recordações... É também o mesmo processo do último conto, "O solar
adormecido", somente que ai se abre uma brecha na memória do
viajante que torna à cidadezinha de sua infância, subterfúgio de que
se vale o autor para contar toda a história da personagem, fechando-
se o parêntese que tem o mérito de não se isolar, integrando-se no
curso dos acontecimentos e justificando o título geral da segunda 107 I O CON TOBRASILEIRO EM GOIÁS
parte do livro — "Integração".
Se possui menor rigor estilístico, na comparação com o livro
de Alaor Barbosa, incidindo-se em algumas imagens estereotipadas
e algumas alusões que não correspondem ao verdadeiro humor de
Carlos Drummond de Andrade ("— Meu verdadeiro nome é Floris-
munda, já é quase rima para um poeta menos inspirado."), é certo que
contém uma densidade literária que lhe confere, indiscutivelmente,
um lugar seguro na literatura de Goiás, constituindo um exemplo
oportuno para as novas e mesmo para as velhas gerações literárias
em nosso Estado.
Apesar de ser um livro de estréia, rodeado portanto de vaci-
lações, esperanças e perplexidades, Antes do túnel é também, antes
de tudo, uma afirmação de personalidade criadora, ciente de seu
tempo e responsabilidade. Poderá vir a ser um marco literário na
ficção de Goiás.
[Em 1978, prefaciamos o livro Avarmas, de Miguel Jorge e
escrevemos que "Bem mais recente, a 'linha universalista', iniciada
de fora de Goiás com José J. Veiga, encontra agora, a partir mesmo
de Goiás, a continuidade descontínua de Miguel Jorge, que tem
sabido introduzir as mais audaciosas modificações na linguagem
de seus contos. Esta linha é a das relações metafóricas, uma vez
que estabelece liames por similaridade e possibilita o caráter sim-
bólico de que se reveste o seu tipo de representação. Na verdade,
o processo de representação aparece misturado com o de criação,
quer dizer, o tipo de "arte de representação", própria da prosa, se
vê relacionado com o de "arte de criação", própria da poesia.
[...]. Sem abandonar os temas goianos, mas universalizando-os à
sua maneira, MIGUEL JORGE procura nos contos de Avarmas
emprestar à ação, a atmosfera e a relação dos personagens entre
si uma aura de sugestão e de encantamento. Isto dá a seus textos
aquela tonalidade poética que praticamente elimina as fronteiras
do conto como narrativa, concorrendo para a criação de um es-
paço textual novo, solitário na sua linguagem, às vezes obscura
e difícil como na maior parte da melhor poesia contemporânea."
[...] Avarmas é um livro de contos em que as técnicas da lingua-
1081GILBERTO MENDONÇA TELES

gem artística e da linguagem poética (arte verbal) se não falam


mais alto, pelo menos estão no mesmo plano da linguagem da
ficção. Às vezes, é bastante evidente o recurso à linguagem ar-
tística, como no caso de "Macro micro" que se constrói sobre a
terminologia e a fragmentariedade da técnica cinematográfica".
[...] Pode-se dizer que este é o tipo de linguagem das narrativas
de Avarmas, livro cujo título, mistura de aves e armas, sugere o
encontro (o jogo) da linguagem alada da poesia com a linguagem
armada nestas narrativas: ala-se para armar; ou arma-se para
alar". Nota de 2007].
Resta-nos agora situar o novo livro de Alaor Barbosa dentro de
suas coordenadas essencialmente formais, uma vez que Picumãs deixa
entrever, lucidamente, a preocupação das experimentações verbais e
frásicas, de origem estrangeira (Joyce, Cummnings), mas, entre nós,
popularizada (ou difundida) através das obras de Guimarães Rosa,
de que o autor se considera discípulo, como expressamente o declara
na dedicatória do primeiro livro, em 1964.
Para acentuar a realidade de seu processo de criação literá-
ria, em que a memória, como um filtro mágico, excita recordações
de infância e, noutro plano, exige a presentificação da cidade e de
seus arredores num tempo memorável, para acentuar portanto o
realismo dessa nova paisagem literária, o autor permaneceu numa
temática, geograficamente delineada, atuando às vezes como simples
observador dos acontecimentos ("Leilão na praça") ou se aderindo,
reminiscentemente, à ação, como no caso de "Espritado".
Quando consegue libertar-se da memória ou, melhor,
transmudá-la em uma essencialidade indispensável e coerente,
ocultando-se atrás das personagens e deixando que a história se
desenvolva sem a sua participação de narrador, então surgem os
seus melhores contos em Picumãs, como "Viagem ao anoitecer" e
"Vida perigosa", portadores, cada um deles, de técnicas diferentes,
mas expressos ambos numa linguagem de grandes potencialida- 109 I OCONTO BRASILEIRO EM GOIÁS
des sugestivas. O estilo direto, predominante no segundo, dá-lhe
toda uma característica tradicional, apesar da interseção de planos
temporais e, mesmo, da repetição cênica (páginas 56 e 71) num
mesmo tempo, porém noutra perspectiva, realçando primeiramente
a figura do sargento Morais e, depois, o diálogo entre o dono da
pensão e a vítima do furto.
Mas é inegável que o novo livro do escritor goiano concentra
grande parte de seu mérito na elaboração de uma estilística e de uma
cosmovisão cinematográfica conveniente à atualidade da prosa de ficção
brasileira. Daí os dois aspectos de linguagem e estrutura que sublinham
harmoniosamente a sua obra. Sob o ponto de vista estrutural, não deixa
de ser um livro eclético, realizado num meio termo entre o tradicional
e a experiência renovadora, sem cair, por conseguinte, em extremismos
e mantendo a narrativa num nível capaz de satisfazer os dois tipos de
público de que fala Mariano Baquero Goyanes. Assim, o primeiro conto
do livro ("Viagem ao anoitecer") se apresenta como o mais rigorosamente
construido, experimentando-se nele, e com êxito, os processos mais
usuais da novela de vanguarda, notadamente o estilo indireto livre e o
monólogo interior, de que são um bom exemplo as conjecturas sobre o ca-
samento, na página 21. Já em "Surpresa no buracád, que lembra o áspero
humor de Dalton Trevisan, e em "A visita", de corte nitidamente linear,
a surpresa da composição cede lugar ao funcionalismo da linguagem,
que é o outro aspecto importante desse livro. Às vezes o procedimento
do autor, tentando a originalidade, resulta inoperante e frágil, como
no citado conto "Surpresa no buracão''. Para não iniciar comumente a
sua história, busca o estratagema, e diz: "Um caso eu não quero contar,
o qual é o seguinte". E ai começa: "No lugar de nome Buracão", etc. Em
vez de levar diretamente o leitor à fábula, apresenta-se como narrador,
diminuindo consideravelmente o interesse inicial, além de lançar mão
de um recurso da antiga retórica, o acismo, em que, fingindo recusar
alguma coisa, que deseja veemente, o autor desenvolve o seu discurso.
Finalmente, partindo do pressuposto de que a linguagem
de Picumãs é uma linguagem nova, restaria uma análise de seu
comportamento estilístico, de seu procedimento na língua para
exprimir aparências e sutilidades. Saber retirar da langue os elemen-
110 1 GILBERTO ME ND ONÇATELES

tos que dão originalidade à parole literária e saber criar um idioleto


literário, isto é, saber criar um estilo, é de certa forma saber escolher
o léxico, as imagens e, sobretudo, penetrar no reino da sintaxe e
conformá-la ao ritmo da vida, buscar uma entonação dinâmica,
com seus altos e baixos, ainda que para isto seja preciso ultrapassar
a tradição gramatical. "La justeza o correción gramatical — escreve
Karl Vossler (Filosofi'a dei lenguaje, 1957) no tiene nada que ver
con la exactitud empírica, ni con la histórica, ni con la lógica. Ni
tampoco con la verdad". Mais adiante, defendendo a língua viva,
"Ilena de significado", escreve que o ideal do pensamento lingüístico
é a "más excluyente individualidad unida a la más comprensiva
universalidad".
Alaor Barbosa tem consciência dessas verdades e, para cons-
truir a sua linguagem pessoal, parece ter ouvido fielmente a lição
do poeta e penetrou surdamente no reino das palavras, procedendo
a montagens ("cantacantarola", "tardetardinha") de origem colo-
quial, servindo-se da repetição sufixal ("Zeferino sentiu um nó, um
nózinho, zinho, zico, quase invisível, um apertico de saudade no
coração".), recorrendo à gramaticalização e ao estilo impressionista
das frases rápidas, de orações nominais e elípticas, lançando o leitor
num mundo verbal pleno de estímulos semânticos, à Guimarães
Rosa, como no seguinte trecho:

A janela da casa de Helena. Que morena! Casar. (Não). Pela


janela do quarto, Zeferino olha lá adiante; lá em riba, no meio
do pico do morro, uma imóvel vaca alazã, em pose para sempre.
Minha. Compadre Raulim quer comprá-las mas Zeferino não
vende. Só se. Não. Oitenta mil cruzeiros é pouco. Que idéia, essa,
de este outro dia. Rapaz solteiro pensar em reservar a Alazã para
seu filho — que filho?, e além disso Zeferino acha que não quer
casar, nem pensa nisso, tem raiva só de lhe falarem no assunto.
E Helena — Zeferino lembra, e treme: Helena também nunca lhe
falou em casamento.

1OCONTO BRASILEIRO EMGOIÁS


De vez em quando, todavia, a sua ânsia de apreender o mais
íntimo aspecto do idioma, apreender e expressá-lo, leva-o a algumas
experiências injustificáveis, caindo no lado oposto dos regionalistas
por excesso talvez de exatidão. É o que se dá com o uso do após-
trofo no sintagma "Não tem", que o autor invariavelmente registra
"N'tem", formando uma pronúncia consonantal impossível na fo-
nética do português brasileiro sobretudo no de Goiás. Se o intuito
foi representar a negação apocopada na fonética sintática, poderia
ter utilizado a vogal /e/ que, no caso, se apresentaria foneticamente
reduzida, evitando-se a quase supressão de um morfema de grande
importância na frase negativa.
[Em novembro de 1979, recebi Alaor Barbosa na Academia
Goiana de Letras. O meu discurso, publicado na Revista da Acade-
mia Goiana de Letras, n° 7, agosto de 1980, se intitula "Do arraial
para o cosmo" e trata de todos os livros do escritor até aquela data:
A cidade do tempo, Picumiis e Campo e noite. Ponho em destaque
o que escrevi sobre o termo regionalismo, buscando na sua etimo-
logia outras significações, como: "A palavra região possuía vários
sentidos em latim. Um dos quais disignava as linhas visuais que
os áugures traçavam no céu para as suas observações e predições.
Creio que posso recuperar aqui esse sentido latino (regio, regionis)
para a obra de ficção de Alaor Barbosa, os seus três livros de contos,
cujos contornos podem ser dimensionados no céu ou na terra que
circunscreve o espaço existencial e geograficamente configurado na
cidade e no município de Morrinhos. A sua obra é neste sentido,
uma obra regional: todos os seus livros, todos os contos de seus
livros se dirigem, direta ou indiretamente, para esse lugar social e
ao mesmo tempo literário, princípio e fim de seu discurso narrativo.
A forma com que o escritor se apropria dos elementos dessa região
é que vai determinar o maior ou o menor grau de regionalidade ou
o maior ou o menor grau de universalidade de sua criação literária.
[...] Alguém já observou, de maneira, aliás, um tanto primária, que
as casas de Machado de Assis não tinham quintal. As de Alaor
têm e o que se vê é casa e quintal constituírem um todo, com um
direito e um avesso que se deixam ler em toda a sua obra de ficção
e memória, enchendo-a de ressonâncias altamente poéticas. No
1121 GILBERTO MENDONÇATELES

quintal estão os possíveis de verossimilhança externa, uma vez que


situam os contos em Morrinhos; mas é nele, ou a partir dele que
se lêem os verossímeis interiores, textuais, porquanto o quintal é
também o lugar aberto ao imaginário e à linguagem. / Passa-se da
casa para a cidade e desta para Goiânia e para o Rio de Janeiro,
no percurso do autor e de uma de suas personagens. Mas o critico
pode seguir outro caminho, o dos fundos, passando da casa para
o quintal e deste para a região contígua ao todo brasileiro. Vai-se
portanto ao quintal e de lá, com a imaginação criadora que faz da
crítica ao mesmo tempo ciência e arte, pode-se avistar claramente
todo o Brasil, uma vez que no quintal coexistem os elementos
regionais e universais codificados e simultaneamente camuflados
no momento da criação". Nota de 2007].
Dentro, pois, dessas duas perspectivas do moderno conto
brasileiro em que a linguagem condiciona a estrutura e vice-versa,
as obras goianas de José J. Veiga, Alaor Barbosa e Miguel Jorge ocu-
pam lugar destacado, uma vez que os contistas modernos do Brasil,
nas palavras de Assis Brasil (Jornal de Letras, maio/1966), "estão
desligados — de um modo geral — de influências, de modismos, de
certos cacoetes que têm sempre marcado nossos contistas", tal como
se verifica agora em Goiás.
O livro de HUMBERTO CRISPIM BORGES (Ipameri,
1918) se situa também nessa vertente superior da novelística goiana.
Chico Melancolia, de 1967, marca inicialmente o reaparecimento da
Bolsa de Publicações "Hugo de Carvalho Ramos" cuja atividade
é, sem dúvida, uma das mais importantes na história da cultura
goiana. E marca o aparecimento de um escritor que surpreende,
a começar pelo título de sua obra, titulo acanhado, sem muitas
pretensões, melancólico como a personagem do último conto. Se
fiasse apenas nas aparências, o leitor mais exigente poderia torcer
o nariz, ir buscar outro livro para as suas necessidades de leitura.
No entanto, à medida que vai penetrando as páginas de Chico
Melancolia, vai-se deslumbrando e penetrando também outras
surpresas, belas algumas, irritantes outras, como se a imersão nesse
mundo verbal fosse somente uma viagem de aventuras eletrizan- 113 I OCONTO BRASILEIROEMGOIÁS
tes, de choque mesmo, revelando aqui um impacto estilístico de
significados modernos, caindo depois numa paisagem árida, numa
sintaxe tradicional, de natureza clássica, para, mais adiante, em
dois ou três outros contos, subir-se novamente na onda de outro
influxo semântico renovador.
O autor, que segue a "carreira das armas", segundo se vê
nos seus dados biográficos, elege evidentemente uma temática
cuja geografia se circunscreve quase absoluta às suas experiências
de caserna. Dos dezesseis contos que compõem o livro, apenas seis
possuem assunto diferentes, estando entre eles, coincidentemente,
os melhores, justamente aqueles como "Caminho do inferno",
"O manda chuva" e "Sangue de bárbaro", em que a capacidade
ficcional atinge aquela " illusion of language" de que fala Theodoro
Goodman (The writing of fiction, 1961). Nos demais, explora-se a
temática da caserna. É certo que, sendo militar, grande parte de
suas vivências decorre da vida e experiências no quartel, motivan-
do assim uma corrente emocional que justifica a escolha de seu
material de ficção. Não se trata de prevenção contra este ou aquele
tema, que não tem mais sentido em nossos dias. O problema surge
quando o aproveitamento desse material se faz dentro de cânones
tradicionais na história da ficção e, até, melhor dizendo, da ficção
popular, de natureza anedótica, a ponto de restringir-se às estreitas
ressonâncias da "piada da caserna". Quando se verifica uma verda-
deira elaboração artística, como no caso de "Noite sangrenta", de
tons surrealistas, ou no caso de "O poço da cruz". de beleza serena
e emocionante, não interessa especular sobre a origem ou natureza
do tema tratado, pois a força estética e estrutural do texto supre
quaisquer deficiências contingentes, sobretudo de temas tão "mal-
tratados" pelo anedotário popular.
Infelizmente, porém, não é esse o nível em que se situa a
maioria dos contos cujo enredo é a anotação de certos incidentes
ocorridos no quartel e que, tratado com certo teor emocional (ou,
quem sabe, escritos há mais tempo), destoam sensivelmente de outros
contos do livro, justificando aquela constante de surpresa, alegre ou
irritante, em que o leitor se deixa inconscientemente arrastar. Há
1141 GILBERTO MENDONÇATELES

contos, como "Véspera de Natal" e "O Louco" que se conformam


dentro dos esquemas primários da piada. O primeiro, principal-
mente, chegando até a guardar semelhanças (mesmo de conteúdo)
com aquela anedota da vitrola que W. Bariani Ortêncio apresenta
em forma de conto no seu primeiro livro.
No momento, entretanto, que o autor tomou consciência de que
não bastava escrever, com certa emoção, os acontecimentos e vivências,
mas que era necessário uma recriação dos elementos da língua — ainda
que esta aventura se faça sobre um modelo —, nesse momento Humber-
to Crispim Borges eleva o seu ouvido do chão indígena e busca emitir
outra comunicação, que já não é a comum, mas a sua, inserindo-se
com vigor na estrutura da língua e deixando em dois ou três contos a
têmpera madura de sua personalidade criadora. "Caminho do inferno",
por exemplo, fere também o tema comum dos leprosos, tão comum
que parece pertencer à tradição popular que cristalizou a denúncia de
uma época em que não existia ainda o Serviço de Profilaxia da Lepra
e os doentes (com a rica variação onomasiológica) perambulavam ao
deus-dará, motivando lendas e superstições. Em Goiás, o assunto tem
o mesmo tratamento em Hugo de Carvalho Ramos e Bernardo Élis;
reaparece agora em Humberto Crispim Borges e com certa identidade
com a história que se encontra em Os Caboclos, de Valdomiro Silveira.
Mas enquanto os contistas goianos viram o leproso como um elemento
passivo e complacente, sujeito à sua miséria, o autor de Chico Melancolia
inverte os termos da tradição e coloca a sua personagem em movimento.
Não é, porém, um movimento vectorial, para determinada direção.
É bem um devenir, em que o corpo e a alma se confundem integral
numa sensação de mudança, de busca e esperança, muito cristã aliás,
que leva a personagem a exclamar, não resignado como Jó, mas rebel-
de, humano: "O inferno está em baixo, nos pés. Cavei, escavaquei,
carafunchei. Potoca! Sepultei a fortuna e parti humildoso, de déu em
déu, em busca de xingo e vômito".
Não importa que seja um monólogo ou que seja narrado em pri-
meira pessoa. O que conta é a urdidura elegante, a expressão renovada
e a interferência de um estilo indireto livre, quase sempre construido

115 10CONTO BRASILEIRO EMGOIÁS


nominalmente, numa linguagem realmente notável e cheia de signi-
ficados atuais. A cena em que a personagem toma conhecimento de
que está leprosa é assim contada, quase telegraficamente, numa síntese
difícil de se conseguir numa descrição:
"O moleque anunciou, no clarão:
— Padrinho está feio, despelando.
Fiquei caçununga, cascavel. Sapequei bicanca e garoto beijou
o chão. Saí feroz, batendo no soalho pesão chato. Espelho! Virei,
desvirei. Caco mixa falou verdade. Estuporei, vertendo líquido,
estrumando solto. Percevejos, pulgas, pernilongos — imaginei. Pode
ser — duvidei. Vai ser — estabeleci confioso".
Ora, além desses adjetivos surpreendentes, de mistura com
termos de gíria, além dessas frases quase entrecortadas, renitentes,
sobressai toda uma gama psicológica para cuja expressão dificilmente
se adequaria o ritmo da sintaxe tradicional. Só o cinema dispõe de
recursos tecnológicos para exprimir bem essas conturbações da alma.
O escritor, lavrando sobre palavras, quase sempre tem que recorrer
a circunlóquios e comparações. Quando alguém consegue driblar
esses obstáculos naturais como no caso acima, é certo que logrou a
realização de uma obra invejável. [Publicou depois Cacho de tucum,
1970; O vale das imbaúbas, 1979; Chico Trinta, 1982; e Brinco-de-
rainha, 2005, dentre outros livros. Nota de 2007].

Também de 1967 é o livro Amor em quarto crescente, de COR-


NÉLIO RAMOS (1910-2001). Vivendo em Catalão, o autor se vale
constantemente do pitoresco de sua paisagem para tecer os contos desse
livro. Falta-lhe no entanto, maior sopro de criação, mais atualidade
expressiva e construção de uma obra capaz de situar-se no nível literário
já atingido pela prosa em Goiás. Misturando assuntos diversos, desde
uma débil aventura regionalista a temas de natureza urbana, tratando
de ciganos e de ilações morais, o autor não consegue uma adequação
estilística para cada um, resultando um livro frágil, que nem a sobriedade
gramatical consegue atenuar, entre os inúmeros erros de revisão...
GILBERTO MENDONÇA TELES

De vez em quando, porém, como no conto "A resposta de


José Jim'', consegue uma estrutura bem urdida, capaz de gerar certo
prazer estético, devido principalmente ao impacto que soube fazer
deslizar para o fim da narrativa, dentro, pois, das "sendas tradicionais
do conto", como escreve, no prefácio Monsenhor Primo Vieira.
Mas o autor lida ainda com expressões já mais ou menos
estereotipadas, metáforas gastas pelo uso comum da linguagem,
não despertando mais a surpresa da transferência de sentido. Para
exemplo, bastam conhecer: "a terra, que era boa e dadivosa", "surto
novo de progresso", "maldoso plano de vingança'', "animada conversa",
"deplorável estado de espírito", "acalmar-se os ânimos", "o volumoso
Paranatia", "a bucólica margem do caudaloso rio", "profundas águas
do perigoso rio", e até a nostalgia lírica da Idade do Ouro, quando
escreve que a paisagem era deslumbrante, encantadora. "Tudo ali
respirava grandeza, saúde e vigor", fórmula que lembra, um pouco,
alguns anúncios de remédio.
Não obstante essas anotações realmente "críticas", confessa-
mos uma certa simpatia pelos temas humanos desse Amor em quarto
crescente, revelando um escritor cheio de solidariedade e compreensão,
embora um tanto anacrônico na sua expressão literária. Não vemos,
pois, como quer o prefaciador, a possibilidade de esse livro "ganhar
êxito seguro nas livrarias", mesmo de Goiânia.
[Devo mencionar aqui, embora fora de lugar, o nome de ELI
BRASILIENSE como contista, autor do livro O irmão da noite, 1968,
que não podemos ler para esta reedição. Nota de 2007].

9. "LITERATURA INFANTIL"

O desenvolvimento da chamada "literatura infantil", se é que


existe mesmo uma "literatura infantil", segue o mesmo processo e está-
gios por que passou toda a literatura ao longo de seus quatro séculos de
integração cultural, embora seja aquela de aparecimento recente, com
as suas origens nos fins do século passado. É claro que nos referimos à
"literatura infantil" escrita, pois a de expressão oral sempre se manifestou 117 10 CONTO BRASILEIRO EM GOIÁS

paralelamente à literatura erudita e com ela se misturou, "impregnando-a


de um conteúdo mais rico de elementos nacionais", segundo escrevemos
em A poesia em Goiás. O encontro do elemento europeu, de raízes
ibéricas, com o rico substrato mitológico dos indígenas, temperado
e dinamizado depois pela contribuição africana, constitui as bases
históricas e ainda não suficientemente exploradas de toda a nossa "lite-
ratura infantil" oralizada, e que só foi tomando forma escrita através de
algumas personagens negras da ficção brasileira, como as mães- pretas,
as mucanas e iaiás, como se vê no livro de Leonardo Arroyo (Literatura
infantil brasileira, 1968).
Assim, ao lado de uma "literatura infantil" traduzida de auto-
res clássicos no gênero, como Perrault, os irmãos Grimm, Andersen
e do português Trancoso, se foi delineando um tipo de literatura
escolar, de que o exemplo mais conhecido é o do famoso professor
Abílio César Borges, Barão de Macalibas, que Raul Pompéia revi-
ve na figura do diretor Aristarco, em O Ateneu e a que Graciliano
Ramos se refere com certo desdém em Infância. Mas contra essa
literatura infantil de finalidades didáticas — ensina Leonardo Arroyo
(in Pequeno dicionário de literatura brasileira, 1967) surgiram alguns
livros importantes que até hoje continuam encantando as crianças
(e os adultos) no interior do Brasil como os Contos da Carochinha
(1894), Histórias da baratinha (1896) e Histórias da avozinha, de
Alberto Figueiredo Pimentel. Logo depois, coincidindo com a cam-
panha cívica de Olavo Bilac, surge a mais importante contribuição à
literatura infantil brasileira até hoje, através da fecunda e inteligente
renovação que lhe imprime Monteiro Lobato, criando um mundo
lúdico e mágico em que os mitos clássicos e populares, os bichos e
as coisas nacionais aparecem misturados — em aculturação? — com
as velhas personagens de Esopo ou de La Fontaine. Alguns de seus
livros como o Narizinho arrebitado (1921), o Marquês de Rabicó
(1927) e Aventuras de Hans Staden (1932), O minotauro, e tantos e
tantos outros revelam a sua preocupação em explorar, com excelên-
cia, os temas nacionais, razão por que se tornaram popularíssimos,
mesmo entre os adultos.
É, pois, a partir de Monteiro Lobato que a "literatura infantil"
118 1G ILBERTO M END ONÇATELES

ou literatura para crianças adquire no Brasil sua plena autonomia,


sendo hoje cultivada em diferentes gêneros e por diversos escritores
que, entretanto, não conseguiram ainda outra renovação tão grande
como a de Lobato. Mas no interior, nas fazendas e povoados, ainda
se mantém viva a tradição oral das histórias de príncipes e fadas, de
lendas indígenas e misticismos africanos.
Em Goiás, não se pode falar em uma "literatura infantil" pro-
priamente dita. Os raros livros que surgiram, destinado à infância, se
revestiram de caráter didático. misturando ficção, epistolografia, his-
tória, geografia e literatura —, com é o caso do livro de Ofélia Sócrates
do Nascimento Monteiro. Seu Goiás, coração do Brasil, de 1933, apesar
desse ecletismo, teve o mérito de falar das coisas goianas com certa
simplicidade, o que o torna, neste aspecto, um livro que não foi ainda
suplantado por nenhum outro, embora esteja já muitos anos esgotado.
O que existe em Goiás é um curioso caso de literatura "in-
fantil" [com ênfase aqui no "infantil"], escrita não por adultos, mas
por crianças, com no livro gêmeo O Muro que voava / Estórias do
cerrado publicado em 1967 pela F.T.D., filial de Goiânia. Um de
NANCY ORTÊNCIO (1953), outro de IVO CURADO (1953)
Tal livro apareceu no terreno da ficção goiana para de certo modo
reeditar o que já havia ocorrido na poesia, com o livro de MARIA
LÚCIA FÉLIX DE SOUSA, em 1950, a qual, aos onze anos, pro-
duzia poemas de grande maturidade expressiva, como em "Cântico
do sofrimento", escrito aos doze anos:

Os que sofrem, sofram comigo,


porque sei me consolar com o sofrimento.
Nas horas de amargura eu os espero
porque sei me acomodar com a tristeza.
Os que não têm esperança venham todos,
que eu ensinarei quem não espera.
E os que não amam aprendam a amar comigo
apesar de com isso sofrerem muito mais.

Foi aliás essa maturidade expressiva e esta serenidade filosófica que nos 119IOCONTOBRASI LEIRO EM GOIÁS
moveram a escrever um tanto cautelosamente que, segundo informações
de seu pai, Domingos Félix de Sousa, Maria Lúcia revelou desde cedo
uma estranha vocação para a poesia. O que nos levou a dizer em A poesia
em Goiás, p. 217, que escrevendo poemas com incrível espontaneidade,
e quase sempre vinculados a uma temática que nada tem de infantil e
se caracteriza, ao contrário, por uma evidente preocupação filosófica,
expressa numa consciência perfeita das técnicas poemáticas, fato que tem
levado muitas pessoas a atribuir ao pai os poemas da filha.
Não é exatamente o mesmo que se verifica com os livros de
contos, de tons evidentemente infantis, ainda que os contistas-mirins
sejam nada menos filha de W. Bariani Ortêncio e filho de Bernardo
Élis... Mas o que nos chama a atenção aqui é que a linguagem e a
estrutura narrativa desses contos se situam no nível mental de uma
pessoa de quatorze anos, percebendo-se os cacoetes e vacilações pró-
prios de quem não sabe ainda dobrar o idioma inteiramente a seus
desígnios, ainda que tivessem recebido uma e outra correção paterna.
O que conta, portanto, é que a expressão está realizada numa mesma
pauta e num mesmo ritmo, sem preocupação de linguagem figurada.
Tudo é coloquial e reto como um menino contando uma história, já
muitas vezes repetida. Em ambos os contistas se percebem os ecos dos
temas tradicionais, tanto do lado europeu como do lado americano.
Mas o que também chama logo a atenção é o poder de atualização,
a deformação desses temas que são revividos pela imaginação de
crianças acostumadas ao cinema, à televisão e a uma vida social ati-
va que lhes retira em grande parte a antiga fantasia, substituindo-a
por termos práticos e realistas, como na história "O pé de milho",
de Nancy Ortêncio, e na da vaca e o mosquito, de Ivo Curado. Em
ambos a originalidade consiste simplesmente em descrever a história
conhecida, mas de outro ângulo, de outro ponto de vista. Isto para a
maioria dos contos, pois existem aqueles realmente originais, como
o da "Pequerrucha", de Nancy e o de "O Tamanduá e as formigas",
de Ivo Curado.
Prefaciando o livro de Nancy Ortêncio, a escritora Lúcia
Benedetti — um dos grandes nomes da literatura para crianças no
Brasil — chega a apontar uma constante no núcleo de suas histórias: "o
120 1GILBERTO MENDONÇATELES

triunfo através do dinheiro", fato que encontra explicação quando se


sabe que W. Bariano Ortêncio é, além de escritor, um dos mais fortes
comerciantes de Goiás, cujo escritório é também lugar de reunião de
artistas e escritores. Mas além dessa preocupação de comprar e vender
as coisas que se nota nos contos de Nancy, se pode rastrear também
outra constante, a do humorismo, de inegável influência paterna,
como no conto "Macacada", de feitio anedótico. A linguagem de
Nancy deixa entrever no entretanto as marcas dos livros de leitura,
onde buscou "inspiração" para os seus contos. Fala em "pequerrucha",
"aldeia" e outras palavras de cunho nitidamente lusitano ou, melhor,
livresco. Mas que simplicidade em narrar e atualizar as histórias
tradicionais, como no seguinte trecho de "O pé de milho": "No dia
seguinte, lá foi a menina com uma faca, uma latinha d'água e os dois
grãos de milho. Plantou um aqui, outro acolá, regou e sentou lá perto,
olhando uma revistinha. Depois foi deitar".
Já Ivo Curado, como não podia deixar de ser, se volta para o tema
dos cerrados, tratando de bichos e insetos, na linha bem nacional do
"ciclo do jabuti". Suas histórias são mais "reais", seu poder de verossimi-
lhança é mais incisivo que os de Nancy e, na esteira do pai, parece guardar
um certo comprazimento em especular um humor negro surpreendente,
como na história de "A vaca e o mosquito", tomado à literatura clássica:
vaca e o mosquito estavam conversando na beira do rio, quando a vaca
disse ao mosquito: — Sabe, senhor mosquito, eu sou capaz de ficar do seu
tamanho. O mosquito respondeu à vaca: — Cuidado com essa brincadeira.
A senhora sabe do caso da rã com o boi? — Mas isso é mentira. Vai ver se eu
não fico do seu tamanho — respondeu a vaca, e foi ficando toda vermelhinha,
e foi diminuindo, diminuindo até que já estava do tamanho do porco, de
uma galinha, na hora que quase estava do tamanho do mosquito, um sapo
esticou a língua e engoliu a vaca. O mosquito disse: — É, meus amigos, bem
que avisei a vaca, mas ela não me ouviu: vou-me embora senão levo o mesmo
fim, e cada um deve ser do seu tamanho".
Seus contos invariavelmente terminam com um conceito ético,
uma conclusão em forma lapidar e clássica, mas às avessas, como em:
"Quem é muito guloso, ganha, castigo!", "Com esperteza tudo se

1211 OCONTO BRASILEIRO EM GOIÁS


consegue", "Com astúcia sempre vence", "Astúcia e inteligência a tudo
vencem", "Quem não tem astúcia, sempre perde da força bruta", etc.
Nancy Ortêncio revela inclinação pelos temas universais da
"literatura infantil", ao passo que Ivo Curado se preocupa com os
elementos da cultura nacional, De um lado a raiz européia, revifi-
cada pela imigração e popularizada pela indústria gráfica; de outro,
a raiz autóctone, originariamente indígena e africana, persistente
na imaginação popular. O conjunto: uma notável contribuição à
"literatura infantil" (para criança) no Brasil.
[Sempre achei estranhas as expressões "literatura infantil" e
"literatura feminina", assim como o termo "poeta" usado para designar
a mulher que escreve poema, ou "poesia". É comum a confusão entre
poema e poesia, por parte dos leigos, dos jovens poetas e de professores
e jornalistas apressados. E mais comum ainda é o uso de "poeta" em
lugar de poetisa: é como se todo homem que escrevesse poemas fosse
"bom" poeta e, vice-versa, toda mulher fosse sempre "má" poetisa...
O feminino de poeta é poetisa, em português, em todas as línguas
românicas e germânicas, no grego, no latim (exatamente como no
grego), no russo, no chinês, no japonês e nas principais línguas escritas.
Também por várias vezes me pronunciei sobre a chamada "literatura
infantil". É literatura feita por crianças? para crianças? Com finalida-
des pedagógicas? Ou é simplesmente a Literatura, com L maiúsculo,
à espera de quem a souber ler e apreciar? O mesmo se dá entre os
grupos feministas, com a expressão "literatura feminina". É literatura
para mulheres? Ou feita por mulheres? Sendo escrita por mulheres,
em que é diferente da escrita por homem? O que existe, a meu ver,
é a Literatura e, nela, modalidades temáticas e estilísticas que, sem
deixar de representar o humano, apontam para a vivência da mulher
em uma sociedade que, por isso e por aquilo, a manteve ilusoriamente
subordinada ao homem, dentro do mito de uma suposta inferioridade
feminina. (Nota de 2007, extraída do prefácio que escrevemos para o
livro Terra branca, terra vermelha, de Maria Adélia Mendonça Arantes
—Tia Menina).]

10. CONTISTAS DE ANTOLOGIA, MAS SEM LIVRO


1 22IG ILBERTO MENDONÇATELES

Além desses escritores, com livros editados, Goiás possui


ainda bons contistas inéditos, como é fácil verificar nos jornais e
revistas que circularam depois de 1956, em Goiânia ou em alguma
cidade do interior, sobretudo Anápolis, conforme já mencionamos
ao tratar dos precursores do conto em Goiás. Dentre esses, para
mencionar somente os que já têm conto publicado em antologias
e, portanto, com melhor fonte de referência para a crítica literária,
é mister relacionar os nomes de Domingos Félix de Sousa, Bene-
dito Odilon Rocha, Paulo Rosa e José Mendonça Teles, dentro
sempre do critério cronológico-temático adotado na feitura deste
trabalho.
DOMINGOS FÉLIX DE SOUSA (Jaraguá, 1923) tem um
conto na Antologia de contos e escritores novos do Brasil, publicada pela
Revista Branca, em 1949, organizada por Saldanha Coelho e Constantino
Paleólogo. Trata-se de "O Maquinista", explorando-se pela primeira vez
em Goiás o tema da estrada de ferro, numa visão de motivos literários em
que se percebem intenções de renovação na estrutura e na linguagem.
Já BENEDITO ODILON ROCHA (1916-1990), que tem o
conto "A Filha" publicado em Contos e novelas, volume III, antologia
organizada por Graciliano Ramos e editada pela Casa dos Estudan-
tes do Brasil, em 1957, possui, talvez, mais densidade e arquitetura,
penetrando com mais habilidade na análise psicológica de sua per-
sonagem, uma mocinha enamorada. Valendo-se de planos que se
contrapõem, consegue uma visão movimentada e poética.
É o que se dá também com PAULO ROSA (Uberaba, 1905),
residente em Anápolis, com um conto ("O crime de Salustiano")
laureado em primeiro lugar num concurso entre médicos e publica-
do numa antologia Contos de médicos, de 1965. "O conto de Paulo
Rosa conforme se lê na orelha da antologia — diretamente na linha
de Guimarães Rosa, acrescenta muita coisa à influência confessa
do mestre de Sagarana. É um trabalho forte, com uma linguagem
poderosa". No que estamos plenamente de acordo.
Em 1966, oito bacharelandos da Faculdade de Direito da Univer-
123 10 CONTO BRASILEIRO EM GOIÁS
sidade de Goiás (Católica) organizaram uma antologia — Poesias e contos
bacharéis, nela aparecendo contos de Alaor Barbosa, José Mendonça
Teles, Luiz Fernando Valladares Borges, Miguel Jorge e fragmentos de
um romance inédito de Martiniano José da Silva, que se tornou um bom
romancista e um grande pesquisador da história do negro em Goiás.
Omitindo referências a Alaor Barbosa dos Santos e a Miguel Jorge, de
que nos ocupamos páginas atrás, e omitindo também opinião sobre os
excertos do romance — que foge ao objetivo deste livro, tocam-nos ligeiros
comentários aos contos de JOSÉ MENDONÇA TELES (Hidrolândia,
1936, [autor hoje de vários livros de contos e de crônicas e do Dicionário
do escritor goiano, 2000, com 3a edição em 2006)].
E o primeiro comentário que se pode fazer, de ordem geral,
é que ambos possuem consciência de um conto novo embora lhes
falte ainda maior domínio de expressão e a segurança de ação no
esquema narrativo, denunciando logo à primeira vista tratar-se de
formas mais ou menos rebeldes que só o longo e persistente exercício
poderá de todo harmonizar em categorias plenas de valor e significado
realmente literário.
José Mendonça Teles se apresenta mais apegado ao tradicional
e menos vigoroso nas suas três histórias, das quais a segunda — "A sol-
teirona do pensionato" — é a melhor, embora lhes faltem a todas elas
a atmosfera inventiva, um certo rigor de estilo e, sobretudo, o sentido
estrutural da ficção, de forma a desligá-la de sua fatal identidade com
a crônica, em primeira pessoa, ainda que longe do tom autobiográfico,
como em "Fatalismo". Sobra-lhe, por outro lado, um sorvo fecundo de
calor humano na eleição dos temas, sempre de perplexidade, às vezes
demasiadamente simples ou ingênua, diante da vida ou da morte. Pena
que só com o tema não se faz a boa literatura.
Finalmente, embora não tenha conto em nenhuma antologia,
é lícito mencionar o nome de ELI BRASILIENSE RIBEIRO (1915-
1998), o mais importante romancista de Goiás e agora com um livro
de contos a ser brevemente publicado com o título de Irmão da noite.
Sem se afastar de uma temática que o situa como o primeiro escritor
do norte de Goiás, Eli Brasiliense é autor de quatro romances, dos
quais se destacam Pium (1949) e Rio Turuna (1964), o primeiro e o
último, respectivamente. Apesar de seus romances não apresentarem
124 1GILBERTO MENDONÇATELES

inovação sob o ponto de vista estrutural, possuem uma linguagem


válida e uma densidade ficcional que o situa na mesma direção do
romance neo-realista. As suas experiências, agora, no conto não dei-
xam de revelar o largo fôlego do romancista, exigindo-lhe entretanto
aquela síntese dramática inevitável nas narrativas curtas, que soube
notavelmente encontrar.
V - FONTES E INFLUÊNCIAS

Porque não é demais repetir: não é o fim da Litera-


tura Comparada demonstrar apenas que todo e qualquer
escritor é tributário de criações alheias. Mas sim, que esse
tributo inevitável não importa de modo algum em nega-
ção de originalidade.
TASSO DA SILVEIRA
Literatura comparada, 1964.

O conceito geral de Literatura Brasileira se baseia comumente


em duas coordenadas, geográfica e estética. Localiza-se ai
o problema das literaturas regionais, a ascensão da obra de uma
região (Estado) ao grande acervo da literatura nacional, tendo para
isto de passar por um crivo estético determinado pela critica. Tra-
ta-se, na verdade, de uma questão de sobrevivência de valor com
algumas injustiças que o tempo lentamente se encarrega de reparar, BRASILEIRO EM GOIÁS

porquanto a critica raramente toma conhecimento da maioria das


obras publicadas na "província" e só à custa de muita perseveran-
ça e algum "milagre", como um prêmio literário, a mão generosa
de um editor, consegue o escritor arrancar-se do seu anonimato
provinciano. Antigamente era até preciso mudar-se para o Rio de
125 10 CONTO

Janeiro. Verifica-se portanto uma luta interna entre duas ordens de


valores que, afinal, se resumem num só — a evolução da literatura
brasileira. Dai a fina ironia de Carlos Drummond de Andrade, na
sua "Política literária":
O poeta municipal
discute com o poeta estadual
qual deles é capaz de bater o poeta federal.
Enquanto isto o poeta federal
tira ouro do nariz.

À margem, entretanto, de valores admitidos sem contestação


à comunidade mais representativa da literatura brasileira, existem
também escritores que, embora sem maiores predicados literários,
exerceram geograficamente atuação importante porque contribuíram
para a manutenção e o fortalecimento do espírito literário, mesmo
relativamente inferior ou anacrônico. Ademais, atuando como focos
de absorção das idéias literárias nacionais, contribuíram também
para que melhor fossem divulgadas. Há na Província dois tipos
de escritores: os que contemplam passivamente, sem visão crítica
nenhuma, os escritores nacionais (do Rio de Janeiro e São Paulo);
e os que, ansiando sempre por uma ascensão ao plano nacional e
tendo para isto de lutar com uma série de fatores adversos, estão
constantemente voltados, mas de maneira ativa, para os grandes
nomes da literatura brasileira, que são, às vezes inconscientemente,
tomados como modelo. Registram-se assim influências permanentes
da literatura nacional nas literaturas regionais que, depois do Moder-
nismo, começam a apresentar valores com repercussões nacionais,
notadamente quando o escritor consegue dar ao material da região
um tratamento que transcende os âmbitos puramente locais pelo
1261G ILBERTOM END ONÇATELES

sentido de u liversalização que às vezes logra atingir.


Daí, como se disse, os influxos, os pontos de contatos, as
identidades de tema, idéias, tipos, técnicas e estilos e, raras vezes,
a pura imitaçã,) intencional, principalmente no início da carreira
do escritor, cor io é natural e vem geralmente contado nas suas
memórias. Em Goiás, por exemplo, os dois maiores contistas não
escondem essa v -rdade: diz Hugo, numa de suas cartas, datada de
1911, que à noite, na cidade de Goiás, chegava em casa e escrevia
"algum conto fantástico à semelhança de Hoffman ou da Noite na
taverna de Álvares de Azevedo, que, talvez, pode ter visto ai pelos
jornais da terra"; e Bernardo Élis na ficha autobiográfica, escrita para
a edição de Veranico de janeiro, informa que depois que descobriu a
Antologia dos poetas modernos, organizada por Dante Milanom, fez
"pastiche dos poemas, publiquei-os no Liceu passei a criticar os poetas
antigos, metia o pau em Camões, cuspia no chão quando cruzava
pelos poetas consagrados de Goiás, como Luis do Couto, Vasco dos
Reis. Fiquei famoso como poeta e passei para o conto, já que romance
não tinha jeito de publicar". Assim, não resta dúvida, como afirma
René Wellek, que poder "descrever a parte exata que pertence a cada
contributo corresponderia a conhecer muito daquilo que vale a pena
ser conhecido no conjunto da história literária".
Ora, os melhores historiadores da Literatura Brasileira não
se têm preocupado com as literaturas provincianas e desde Sílvio
Romero vêm mais ou menos repetindo alguns esquemas e autores
tradicionais, pouco variando, aliás, nos seus pontos de vista e nos
critérios metodológicos. Os historiadores preferem repetir o colega
anterior e assim, com repetições, vai-se fazendo a péssima história
literária do Brasil. Raramente aparece um que olha para os escritores
provincianos. Quando se procura uma interpretação do processo de
irradiação das idéias literárias para as várias regiões do País, poucas
são as obras que nos podem oferecer alguma contribuição, como a
de Alceu Amoroso Lima (Introdução à literatura brasileira, 1956).
Este mesmo crítico reconheceu que tem faltado aos nossos críticos
e historiadores uma minúcia bibliográfica, o que vale dizer, maior

EM GOIÁS
sentido de pesquisa e revisão de valores e problemas, motivando de
vez em quando uma descoberta importante, como é o caso da revisão
de Sousândrade que, já mencionado por João Ribeiro, somente ga-
127 10 CONTO BRASILEIRO

nhou relevo entre os novos de São Paulo com o trabalho dos irmãos
Haroldo e Augusto de Campos, mais críticos do que propriamente
poetas, apesar da propaganda da poesia concreta.

'"Bernardo Élis diz que a Antologia de poetas modernos foi organizada por Atílio
Milano, mas a que foi publicada em 1935 foi feita por Dante Milano, contendo
16 páginas, e se chamava Antologia dos poetas modernos.
Viana Moog, em Uma interpretação da literatura brasileira, de
1943, também tocou no assunto, chegando a acentuar que os escri-
tores da província somente se realizavam literariamente e ganhavam
nome nacional quando iam para o Rio de Janeiro, o que já não é
totalmente verdadeiro em face dos grandes centros culturais que vão
surgindo, com as universidades, em diversos pontos do Brasil.
Assim, com exceção dos estudos regionais feitos na província,
o que tem sido estudado até agora são os pontos de irradiação, mas
não vistos como "pontos de irradiação" e sim como centros literários,
geralmente motivado por fatores econômico-sociais e políticos, como
Recife — centro cultural do Brasil no século XVI; Salvador, no século
XVII; Minas Gerais (Ouro Preto), no XVIII. No inicio do século XIX
o Rio de Janeiro começa a centralizar o movimento cultural que, a
partir do Romantismo, se distribui por São Paulo e novamente Recife,
donde partem as idéias naturalistas. Só depois de 1900 e mais clara-
mente com o Modernismo é que se inicia aquele "promissor fenômeno
de descentralização literária" com que Alceu Amoroso Lima caracteriza
o aparecimento de revistas literárias em várias partes do Brasil e dentro,
pois, da afirmativa de Drummond segundo a qual o Modernismo havia
sido um movimento literário de vilas e povoados.
Mesmo os organismos oficiais têm olvidado este aspecto tão
importante e as bibliografias publicadas nem sempre refletem toda a
intensidade do movimento editorial do Pais, não se pesquisando de-
vidamente as publicações feitas nos vários Estados da União. Prova do
que dizemos é a Introdução ao estudo da literatura brasileira, organizada
1281G ILBERTOMENDONÇA TELE S

por Brito Broca e Galante de Sousa e publicada pelo Instituto Nacional


do Livro, em 1963. A parte que se refere ao Estado de Goiás, além de
não conter os textos principais, falha pela citação de algumas fontes
que com toda a certeza não devem ter sido consultadas.
Chegamos certa vez a fazer um levantamento das obras escritas
com pretensão nacional, isto é, cobrindo todo o território nacional,
pelo menos de nome, mas omitindo qualquer referência ao Centro
do Brasil, como se aqui não se forjasse uma grande realidade com
significações sociológica, econômica, política, lingüística e antro-
pológica de que hoje já se começa a tomar o devido conhecimento.
Num artigo publicado em 0 40 Poder (maio de 1964) chamamos a
atenção para o problema. No primeiro número de Informação Goiana
(Rio, 1917), Henrique Silva dizia que o Estado de Goiás precisava ser
mais divulgado, porque "em geral, o que aqui na Capital Federal se
sabe do Estado de Goiás — a imprensa particularmente — é confundi-lo
com o de Mato Grosso".
Hoje, decorrido já quase meio século e depois de tantos acon-
tecimentos no sentido da unidade brasileira, naquilo que temos de
mais fundo na nossa psicologia, ainda podemos reeditar a mesma
preocupação desse grande goiano, que muito amou as coisas de sua
terra. E amou, com tal veemência, que os seus artigos e estudos trans-
cendiam às vezes o limite do real, atingindo uma atitude insustentável
de exagero provinciano. Mas era o recurso de que dispunha e, com
isto, prestou inegável benefício ao Estado de Goiás.
[Moro no Rio de Janeiro desde 1970 e posso dizer, infeliz-
mente, que a visão de Henrique Silva continua atual. Até velhos
intelectuais, mulheres sobretudo, confundem Goiás e Mato Grosso.
Daí o meu poema (de Álibis, 2000) que visa à determinada classe
de escritoras do PEN Clube: uma das quais, além dos pecadilhos
geográficos, insistia em me chamar de Geraldo:

COMPLEXO DE GERALDO
129 I O CONTO B RASILEIRO EM GOIÁS
Se Freud houvesse passado alguma vez
pelo Rio de Janeiro, teria dado atenção
à cultura do "complexo de Geraldo",
que ataca de noite, na água choca,
a insolação das cari-ocas.

— Geraldo, acabei de ler o seu Plural.


— Tem ido a Goiás do Mato Grosso, Geraldo?
— Diga, Geraldo, o que você pensa, o que diria
do mau livro, isto é, do meu livro de poesia.
Apesar de emendarem os seus lapsos,
escorregando nas elipses e nos psius,
fico sempre com a impressão meio pagã
de que por aqui tenha passado disfarçado
ou o Geraldo-sem-Pavor ou o D. Juan.

Ou será que meu nome — lança em riste —


as apavora para além do chiste?]

Depois de 1925, Goiás tem sido o campo de importantes


acontecimentos, cuja repercussão positiva nos outros Estados é facil-
mente evidenciada, se bem que possa, alguma vez, ter sido negativo,
como é, por exemplo, o fato contado por Raul Bopp (Movimentos
modernistas no Brasil, 1966)11 A vanguarda modernista de 1922
havia programado levar o movimento a todos os Estado e já haviam
marcado uma viagem a Goiás, em companhia de Graça Aranha. Mas
um dia, pela manhã - conta Raul Bopp: "recebi na minha pensão, à
rua Almirante Jaceguay, uma carta de Graça Aranha, com data de 29
de setembro de 1926. Em três páginas manuscritas, ele me informava
que a viagem planejada a Goiás, não poderia ser realizada, devido ao
movimento revolucionário que irrompera na região. Os transportes
estavam inteiramente entregues às autoridades. O acesso era difi'cil.
Não se tinha notícias de Morsbeck. Ele mesmo, Graça, tinha recebido
conselho de altas autoridades para desistir desse projeto". Mas é certo
que a construção de Goiânia, o seu batismo cultural em 1942, a
1 GILBERTO MEN DONÇATEL ES

realização do I Congresso de Intelectuais Brasileiros, as Universi-


dades e o aspecto de "terra prometida" que vem atraindo técnicos e
aventureiros de todas as regiões do Brasil, tudo isto vem refletindo
na opinião pública, elevando o conceito do goiano a um plano já
invejável em relação a outras unidades federadas.

11-Veja-se o "Posfácio" que escrevemos para Estudos Goianos — II, A crítica e o


princípio do prazer, de 1995, com o título de "Drummond, Machado de Assis &
130

Goiás".
A Capital Federal, a duzentos quilômetros de Goiânia, é hoje
um fator indiscutível para o conhecimento de Goiás. Mas o certo é
que, por muito tempo ainda, serão os escritores do Rio de Janeiro
e São Paulo que continuarão a informar o pensamento nacional.
A provar que a antiga preocupação de Henrique Silva é ainda
válida, sob muitos aspectos, aí estão, nos mercados livreiros do pais,
várias obras sobre formas de cultura brasileira. Em 1943, Viana Moog,
num belo estudo sobre a existência de áreas culturais no Brasil e os
seus reflexos na literatura brasileira, escreveu Uma interpretação da
literatura brasileira, concluindo pela existência das seguintes "regiões
literárias" no Brasil: Amazônia (sentido cósmico e telúrico), Nordeste
(sentido social), Bahia (o tradicionalismo retórico e barroco), Minas
Gerais (o municipalismo), São Paulo (o bandeirantismo), Rio Grande
do Sul (o individualismo) e Rio de Janeiro (a soma de elementos de
todas as regiões e a respectiva consagração). O ilustre escritor não
tinha nessa época muitos motivos literários para apontar mesmo
uma "região central", mas é fora de dúvida que não podia esquecer os
delineamentos de uma área cultural no centro do Brasil, heterogênea
na sua formação, mas tendente a uma incontestável homogeneidade.
Não teria conhecido por certo o livro de Hugo de Carvalho Ramos
— Tropas e boiadas — que já andava pela terceira edição...
Também o autor do Dicionário do folclore brasileiro peca por
omissão numa época em que isto já não é mais possível desculpar-
se. Na sua Antologia do folclore brasileiro, de 1944, Luiz da Câmara
Cascudo não faz a mínima referência ao Folclore goiano, de J. Apare- 1311 O CONTO BRASILEIRO EM GOIÁS
cido Teixeira, publicado três anos antes, em 1941, pela Companhia
Editora Nacional e hoje já em segunda edição (1959) na "Coleção
Brasiliana". Na segunda edição, dessa Antologia, pronta em 1954
mas publicada em 1956, não se corrigiu o lapso, ali aparecendo
apenas o nome de Americano do Brasil, cujo livro (Cancioneiro de
trovas do Brasil Central) é de 1925. Também na História da literatura
brasileira — Literatura Oral (volume VI, 1952) não se menciona o
livro de José A. Teixeira. Já na segunda edição do Dicionário (1962)
a omissão é ao livro de Regina Lacerda (Vila Boa, 1957), sendo que
a folclorista goiana tem sido mencionada por autores estrangeiros,
como Félix Colucci, da Argentina, no Guia de instituições e folcloristas
do mundo, de 1963.
No Congresso Brasileiro de Língua Vernácula, realizado no
Rio de Janeiro de 21 a 29 de outubro de 1949, o professor Sílvio Elia
apresentou a tese "A Unidade Lingüística do Território Brasileiro" que
agora aparece publicada nos Anais do Congresso brasileiro de língua
vernácula (volume II, 1957). O objetivo da tese era provar a unidade
da língua portuguesa no Brasil, valendo-se para isto das obras de es-
pecialistas como Clóvis Monteiro, Serafim da Silva Neto, Gladstone
Chaves de Melo, Amadeu Amaral, Antenor Nascente, Mário Marro-
quim e alguns outros — autores de dicionários ou glossários, parciais
ou de conjuntos, sobre a realidade lingüística brasileira. O processo
de que se valeu, dentro dos cânones da Geografia Lingüística, foi o
de estabelecer fronteiras para as características fonéticas, morfológicas
e sintáticas, documentando a circulação de determinados fenômenos
lingüísticos dentro de "áreas" ou regiões para, afinal, indicar as "áreas
maiores" de identificação, em que os fenômenos se possam classificar
como originários de traços culturais mais ou menos homogêneos.
O professor Sílvio Elia não chegou entretanto, nesse trabalho, a
elaborar nenhum mapa para o distante e futurissimo Atlas lingüístico
do Brasil. Limitou-se, como expressamente o declara, à comparação de
dados extraídos de trabalhos parciais, espécie de monografias dialetais.
Daí a falta de "isoglossas" para as áreas estudadas, o que não impediu,
todavia, a visão panorâmica que teve intenção de realçar. As áreas
estudadas foram as seguintes: Nordeste, Centro, Sudeste, Sul e Norte,
132 1GILBERTO MENDONÇATELES

além de áreas especificas, como da Ilha de Marajó, do Rio Grande do


Sul, da Guanabara, etc. Chamou-nos logo a atenção o vocabulário da
área "Central", onde deveria estar incluído o Estado de Goiás, uma vez
que não havia referência a uma área Centro-Oeste ou simplesmente
Oeste, de acordo com as regiões fisiográficas brasileiras. Mas para o
autor de Orientações da lingüística moderna, a região central (ou Centro)
abrange somente os Estados de Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Rio de
Janeiro e Minas Gerais. E quando chega a mencionar os Estados de
Goiás e Mato Grosso, o faz de passagem, como se estivessem sendo
lembrados à força e à última hora: 'A essa zona (Nordeste, Central
e Sudeste), sem dúvida dever-se-á acrescentar grande parte da região
oeste, que está sendo progressivamente incorporada à cultura do litoral:
oeste de Minas, sul de Goiás e Mato Grosso".
Assim o professor Sílvio Elia a quem hoje dedicamos a nossa
maior admiração e amizade [é meu compadre], viu o processo cul-
tural do Centro-Oeste como se nada houvesse nele de característico,
sendo que a própria transplantação cultural (de Minas, de São Paulo,
do Norte e do Nordeste, e não simplesmente do "litoral"), por ser
exatamente "transplantação", já condiciona elementos diferenciadores
que, afinal, se cristalizarão como traços típicos da cultura regional.
Omitiu também um trabalho de José A. Teixeira, não o Folclore
goiano, onde existem abundantes elementos para os estudos lingüís-
ticos, mas omitiu o Estudo de dialectologia portuguesa — Linguagem de
Goiás, publicado pela Editora Anchieta, São Paulo, 1944, cinco anos
antes da tese apresentada. Apesar do nosso interesse em analisar e di-
vulgar esse importante trabalho (tese) do professor Sílvio Elia, não nos
podemos furtar à oportunidade de criticar a omissão, principalmente
quando se sabe que em outro trabalho de real valor (O Problema da
língua brasileira, 1961) não fez ainda referência ao livro goiano, o que
somente vai ser feito em Ensaios de filologia, de 1963.
Em Contribuição à história da imprensa brasileira, de 1945,
Hélio Víanna não registra a nossa Matutina Meiapontense, publicada
em Pirenópolis, no ano de 1830, embora trate de outros posteriores
e da mesma natureza. Há ainda o caso de Mário de Andrade, que
já mencionamos em A poesia em Goiás: na sua coleção de modinhas
brasileiras não inclui material de Goiás. 133 I OCONTO B RASIL EIROEMGOIÁS
Assim, muitos trabalhos de interpretação e estudo da realidade
brasileira omitem deliberadamente, ou por falta de elementos, o Estado
de Goiás, fato que não deixa de ser uma lástima para o conhecimento
de algumas etapas de evolução da cultura brasileira, nas suas diversas
regiões, pois isto se deve verificar também com outros Estados.
É bem verdade que a seção da Biblioteca Nacional destinada
a jornais e revistas é lamentavelmente pobre com relação a Goiás,
mas, mesmo assim, consideravelmente rica em relação à Biblioteca
Pública de Goiânia...
Se não se pode contestar a afirmação de Paul van Tieghen
(La littérature comparée, 1951) de que a história literária tem de
ocupar-se constantemente de influências, imitações e empréstimos,
que não dizer de uma literatura regional, sem grandes personalidades
criadoras e que, na ânsia natural de guindar-se ao nível superior da
literatura brasileira, tomam deliberadamente como modelo as obras
de maior repercussão nacional? Investigar, portanto, as fontes e as
influências receptivas numa literatura regional, quase sempre mais
provinciana" que regional, é alguma coisa assim como chover no
molhado, tão evidente se presumem tais influências. Mas é preciso
também se saiba que tais investigações devem ser processadas com
rigoroso espirito cientifico, pois o fato de verificar-se que um escritor
é tributário de outro ou que versou o mesmo tema ou que possuem
identidades estilísticas não tem nada a ver com o maior ou menor
valor de sua obra, a não ser que se trate realmente de plágio, infrin-
gindo não só a própria personalidade como também a lei que regula
os direitos autorais.
O professor Tasso da Silveira (Literatura comparada, 1964)
expõe claramente o problema da criação da obra literária em face de
outras obras, escrevendo que "Mais do que fruto de um determinado
meio físico, ou de um determinado meio social, ou de um determi-
nado momento histórico, — posta de parte a consideração do espirito
134 GILBERTO MENDONÇATELES

criador da personalidade, da originalidade própria do artista, que pre-


valecem sobre tudo mais, — um romance, um poema, um drama, são
o fruto, mediato ou imediato, da influência de realizações congêneres
alheias, coetâneas ou remotas. / Cada romancista, cada dramaturgo,
cada poeta, é discípulo, não apenas de um, porém de muitos mestres.
Cada obra tem raizes além, na seara de outros donos. E esta feição
do problema interessa particularmente à história do espirito criador,
porque por ela se percebe a continuidade do esforço de criação de
beleza ao longo dos séculos e milênios. E, sobretudo, se percebe a
infrangível unidade espiritual da imensa massa humana".
Ora, dentro de tal compreensão, não deixa de possuir interesse
apontar algumas aproximações de natureza temática, seja de um
autor para outro em Goiás, seja de autores goianos com escritores de
fama nacional, propiciando um rico e variado material para estudo
de Literatura Comparada ou, como dissemos, do processo de irra-
diação da literatura brasileira a partir do litoral, para as literaturas
regionais.
Parece mesmo que se pode estabelecer uma espécie de "lei de
retorno" na literatura regional brasileira, quando o fato aliás, não
puder ser explicado pelo fundo comum do substrato cultural e fol-
clórico, por um pan-brasileirismo temático que oferece a escritores
das mais distantes regiões o mesmo material de ficção, como, por
exemplo, o tema da mulher leprosa que ama o viajante: possui mais
ou menos o mesmo desenvolvimento em "Pelo Caiapó Velho", de
Hugo de Carvalho Ramos; em "As morféticas", de Bernardo Élis;
e em "Noites brancas", de Gastão Cruls, sendo o conto de Hugo o
mais antigo, de 1911, quando foi publicado no Lavoura e Comércio,
de Uberaba, mas só aparecendo nas duas últimas edições de Tropas
e boiadas; Coivara, de Gastão Cruls, é de 1920.
Essa identidade temática, de índole folclórica, já motivou em
Goiás uma polêmica em que tomaram parte W. Bariani Ortêncio,
Victor de Carvalho Ramos e Regina Lacerda. O autor de Sertão sem
fim publicou no suplemento literário de Folha de Goiás (23-9-56) um
artigo sob o titulo "De quem é a vaca?", apontando a semelhança

OCONTOBRASILEIROEMGO IÁS
de um conto de Hugo com um de Bernardo Guimarães. Trata-se
da história de uma vaca preta, mas de barriga branca (jaguané)
que, à noite, deu ao viajante a impressão de que eram dois negros
carregando um defunto. Tanto Hugo como Bernardo Guimarães
contam a mesma história, debaixo entretanto de outras perspecti-
vas narradoras e estilísticas. Victor de Carvalho Ramos, irmão de
Hugo, mandou uma carta ("Em defesa de Hugo Ramos") que foi
publicada no mesmo suplemento, na edição de 20-10-56. Com farta
documentação, soube situar bem o problema, escrevendo que "Coin-
cidiu que Bernardo Guimarães e Hugo Ramos se aproveitassem
135I

do mesmo tema de assombração para escreverem seus contos, com


uma diferença — enquanto é o próprio Bernardo Guimarães quem
topou com a vaca em seu caminho, Hugo, ao descrever um rancho
de tropeiros, conta que foi Aleixo um caburé truculento, quem a viu
num carreiro de estrada, tomando-a por um fantasma. E termina:
"54 vaca, pois, não é de ninguém. Como o ar, a luz, ela pertence a
todos". Na edição de 17-11-56, volta Bariani, respondendo a Victor
e escrevendo que "Não disse que era ou foi plágio: apenas contei a
história com frases de um e outro autor". Foi então que apareceu
o artigo de Regina Lacerda ("Eu quero a vaca", ed. de 8-1-57),
pondo termo à demanda: a vaca é do folclore goiano, "como o
Negrinho do Pastoreio é do gaúcho. E o folclore é de todos".
Assim, autênticos regionalistas como Afonso Arinos e Si-
mões Lopes Neto influenciaram outros regionalistas como Hugo
de Carvalho Ramos, o que se comprova facilmente pela freqüência
do vocabulário e às vezes de imagens daqueles na obra deste. Mais
tarde, a obra de Hugo é que vai servir como fonte a outros escritores,
como Guimarães Rosa que se valeu de seu vocabulário, pois tanto
em Sagarana como em Grande sertão: veredas se documenta essa
aproximação, além do depoimento do próprio escritor, conforme já
registramos acima. Neste último, por exemplo, além de um léxico
arcaico (ou arcaizante) como adestro, afiançado, amofinar, fiança,
fidúcia, sustância e outros, comuns em Tropas e boiadas, podem ser
mencionados vinte e seis referencias ao nome de Goiás e às coisas
mais ou menos típicas deste Estado, chegando a escrever na página
193 da primeira edição um sintagma bastante significativo, como
1361 GILBERTO MENDONÇA TELES

ermo dos Gerais". Mas para o professor M. Cavalcanti Proença


("Trilhas do Grande Sertão", in Augusto dos Anjos e outros ensaios,
1959), "Quando Guimarães Rosa batizou seu primeiro livro com-
pondo um vocábulo em que se fundiam o radical germânico Saga e o
sufixo —rã, ou — rana, 'guarani o más bien tupi', do padre Montoya,
estava definindo um programa estilístico. Criava o seu vocábulo,
sonoro e claro, sem preocupar-se com o veto gramatical aos hibri-
dismos e proclama sua adesão a um conceito de liberdade artística:
dai por diante utilizaria o instrumento que melhor transmitisse sua
mensagem, sem indagar-lhe a origem ou a idade. "Vê-se, portanto,
que no processo estilístico de Guimarães Rosa se verifica uma síntese
lingüística, diacrônica ou sincronicamente considerada, sendo talvez
o motivo por que facilmente se rastreiam nos seus livros vocábulos de
procedências diversas, aos quais o escritor confere novas dimensões,
integrando-os no seu contexto artístico.
Mais tarde é Guimarães Rosa que influenciará os autores goia-
nos, que dele retiram não só as soluções de estrutura e linguagem,
como também alguns aspectos temáticos. W. Bariani Ortêncio, em
Sertão sem fim, traça no conto "Negociando porco" a psicologia do
matuto, tal qual se vê na página 175 de Sagarana. Bernardo Élis
(Veranico de janeiro) e Ada Curado (Nego rei) abordam o mesmo
tema do padre em cima do jumento empacador, que se encontra
na página 333 de Sagarana. E não deixa de ser curioso que o titulo
do último livro de Bernardo Élis apresente notável identidade com
uma passagem da novela "Minha gente", de Sagarana, quando a
personagem diz, coincidentemente, que "Cheguei numa tarde assaz
bonita e quente, porque era fim de janeiro com veranico." (p. 206).
E já mencionamos também outra aproximação de uma passagem da
novela "A enxada" com uma cena em A Bagaceira, de José Américo
de Almeida.
Com relação ainda à obra de Guimarães Rosa, isto é, à
influência de sua obra nos escritores de Goiás, há finalmente
que mencionar o que se passa com Carmo Bernardes, em várias
passagens de seu Vida mundo. Além do procedimento estilístico,
apresenta inegáveis semelhanças temáticas com o grande escritor
137 I OCONTO BRASILEIRO EM GOIÁS
brasileiro. É o que se dá com alguns trechos dos contos "O liqui-
dante", "O último natal do cabo Rogaciano" e "Idas e vindas" que
guardam nítidas relações com os contos "Corpo fechado", "Minha
gente" e "São Marcos", todos de Sagarana. Em "Corpo fechado" de
Guimarães Rosa, um feiticeiro chamado Antonico das Pedras (ou
Antonico das Águas), faz tudo para comprar a besta de Mané Fulô,
mas este não pensa nunca em vendê-la. Quando, porém, se vê em
dificuldades e tem de enfrentar um valentão do lugar, o feiticeiro
o chama para um canto, para assunto secretíssimo. No fim, Mané
Fulô diz — "Podem entregar a minha Beija-Fulô pra o seu Toninho
das Águas, que ela agora é dele" (p.. 262 de Sagarana). Em Carmo
Bernardes, no conto "O liquidante" (tema também explorado antes
por Pedro Gomes e Bariani Ortencio), o delegado sonha sempre em
comprar a besta de Adão, e este jamais pensa em vendê-la. Depois
que o liquidante aparece morto, o delegado chama o dono da besta
para uma banda e ficam conversando um eito de hora. No final,
Adão grita para o menino: "Ó Toinho. Panha o buçal lá dentro e
vai pegar a Mulata. Ela agora é do Seu-Delmiro" (p. 30 de Vida
mundo). Coincidências? Não, reflexo de leitura e um pouco falta
de autocrítica.
Também no último livro de contos publicados em Goiás no ano
de 1966, o Picumãs, de Alaor Barbosa, pode-se perceber um paralelis-
mo de enredo do conto "Viagem ao anoitecer" com uma passagem da
novela "Gente da gleba", de Hugo de Carvalho Ramos. Em Tropas e
boiadas, Benedito, que há muito tempo não vai ao povoado ver a sua
Chica, arreia a besta Pelintra e parte, à noite. O estilo impressionista
de Hugo o faz resumir toda a viagem do caboclo na seguinte frase,
admirável pela concisão: "Entanto, Benedito batia longe, no galope
sustado da rosilha" . Chega ao povoado, amarra a besta e se dirige para
a casa de sua amante; desperta o faro de um güegiié, ouve rumor de
conversa, arrebenta a porta, o homem que estava lá dentro (seu patrão)
foge e ele, Benedito, depois de bater na Chica, termina possuindo-a
violentamente. Em Picumãs, todo o conto se desenrola dentro do
mesmo esquema e, até certo ponto, exatamente igual, distinguindo-se
apenas o final, pois Zeferino sai a cavalo de sua casa para ver Helena
138 1GILBERTOMEND ONÇATELES

no povoado (real) de Jardim da Luz; chega, tira o freio do cavalo,


dirige-se à casinha da amada ("A casa não tem cachorro, lembra Zeferino:
coisa boa"), ouve barulho da cama, empurra a porta e é atacado por
um homem que depois é ferido pela própria mulher, pois era outro
casal que habitava a casa de Helena, Ora, o episódio da novela de
Hugo é tratado ligeiramente, a fim de se obter o conflito entre patrão
e empregado, culminando com a cena dramática da castração do
empregado. Mas em Picumãs, não se trata de um episódio de novela,
é o conteúdo mesmo de uma novela curta, esquematicamente idêntica
à passagem de Hugo, variando, é lógico, e estilo da narrativa, que em
Alaor é feito em câmara lenta por causa dos monólogos internos da
personagem que, entre a sua casa e o povoado, deixa correr o fluxo
da consciência, estratagema de que se vale o autor para contar vários
episódios da vida de Zeferino.
Aí está, portanto, uma série de coincidências muito próximas
que, se denunciam por um lado o comprometimento de autenticida-
de, revelam, por outro, a fidelidade do escritor aos temas da região
ou a preocupação notável de tomar como modelo obras de grande
nomeada e valor na novelística brasileira.
Muitas e muitas outras aproximações podiam ser feitas, forne-
cendo um importante material de estudo a um capítulo de literatura
comparada, principalmente nos domínios da tematologia a que nos
cingimos nestas notas. Até agora não se conhece em Goiás, em maté-
ria de ficção, um caso verdadeiro de plágio. Se se têm verificado tais
semelhanças, isto se deve ao fato de que, conforme assinala Tasso da
Silveira, no estudo das fontes (Crenologia) de um autor, o comparatista
indaga: de onde vêm certos elementos e feições que mais fortemente
lhe prendem a atenção na obra do autor determinado. As fontes de um
autor podem ser de caráter vário. A obra nasce, por vezes, de simples
impressões sensoriais, às quais outros elementos de fecundação se
associam sem dúvida, mas que nem por isto deixam de ser a origem
primeira da nova realização do espírito criador.
Mas não se pode olvidar a observação de P. Van Tieghem (La
littérature comparée, 1951) sobre as fontes orais. Diz ele: Il faut aussi
tenir compte dáutres sources plus précises, et pourtant non écrites: les 139 IOCONTOBRASILEIRO EMGOIÁS
souces orales, surtout quand il ságit des sujets ou des idées. Tel récit
entendu, telle conversation, est à base d'une page, d'un volume, parfois
de l'oeuvre entière d'un écrivain.
VI— EVOLUÇÃO DO CONTO GOIANO

A gênese de um processo ou de um fenômeno qualquer


ficará consistindo nisso: focalizar uma situação dada, concreta,
situação-momento, espaço e tempo imediatamente configura-
dos, no ângulo maior das influências que são afirmadoras de
uma época. Este primeiro passo da historicidade vem demons-
trando que a situação imediata não se explica por si mesma, ten-
do que ser dinamicamente vista num contexto maior e podendo
ser interpretada através de contradições mais totalizantes.
JOMARD MUNIZ DE BRITTO
Do modernismo à bossa nova, 1966.

A pesar de neste trabalho ter-se adotado o critério cronológico


e mais ou menos de agrupação temático-estilística, num sin-
cretismo que tem a sua razão de ser na própria complexidade do
acontecimento literário, a história do conto goiano talvez se compre-
enda mais claramente imaginando-se duas linhas de evolução, com
suas origens em Casos reais (1910) e Tropas e boiadas (1917). São, na
verdade, duas perspectivas teóricas, menos temática que expressivas,
141 I O CONTO BRASILEIROEMGOIÁS
dentro das quais, estilisticamente, se vêm mais ou menos filiando
os contistas goianos, segundo já escrevemos no primeiro número
dos Cadernos de estudos brasileiros, em 1963.
Quer dizer: a partir da obra do padre Zeferino de Abreu e da
de Hugo de Carvalho Ramos, podem-se distinguir, pela forma de
expressão, pela maior ou menor capacidade de recriação artística da
realidade, pela estrutura e pela linguagem (seleção lexical e sintática,
poder imagistico ou imaginistico — como dizem os portugueses),
duas tendências estilísticas que, afinal, não passam de dois níveis
de valores, numa escala cujo mais alto grau constitui o nível ideal,
superior, da Literatura Brasileira. Tematicamente, como já foi dito,
todos os contistas de Goiás se enquadram na corrente regionalista
ou, noutra palavra, sertanista; mesmo aqueles, como Alaor Barbosa
e Miguel Jorge, mais criadores que plasmadores da realidade regional
e com certa inclinação para os temas urbanos, se inserem também
no Regionalismo pela acentuação, não do exotismo paisagístico ou
lingüístico, mas pelo registro da psicologia do homem rural, das
cidades e dos campos.
A primeira dessas linhas — a que se poderia denominar aqui
"intelectualista" — tem como ponto de partida Tropas e boiadas e se
caracteriza pelo superior tratamento dispensado à temática goiana.
Mesmo o material de fundo folclórico ou popular é deformado
por uma linguagem literariamente valida, em que os modismos e
algumas tendências dos falares regionais são utilizados com parci-
mônia e disciplina, atendendo-se mais ao conteúdo e à natureza da
expressão e menos à simples razão de exotismo e pitoresco. Sobre a
técnica de construção narrativa e do interesse argumental, pode-se
dizer que se agrupam nessa linha os escritores que mais souberam
dispor dos recursos que a evolução da novela curta tem conseguido;
escritores que, conscientes de sua intuição criadora, procuraram
constantemente discipliná-la, informando-se, atualizando os seus
meios de expressões e realizando-se, de certo modo, como escritores,
construindo obras sólidas, muitas das quais atingindo o melhor nível
da literatura nacional.
É portanto a linha em que se têm manifestado pouquíssimas
142 1GILBERTO MENDONÇATELES

obras: partindo de Hugo de Carvalho Ramos, vem projetando-se


mais fortemente nas obras de Bernardo Élis, Leo Godoy Otero, W.
Bariani Ortêncio, José J. Veiga, Alaor Barbosa, Carmo Bernardes
e mais recentemente na de Miguel Jorge e de Humberto Crispim
Borges. Esta projeção não deve ser todavia, entendida como um
processo evolutivo, constantemente enriquecido e atualizado:
isto na verdade se verifica num e noutro autor, existindo altos e
baixos, livros com maior ou menor possibilidade de valor literá-
rio. Constituindo assim mesmo o melhor nível do conto goiano,
aparece também como um nível ideal a que alguns escritores, em
continua produção, procuram constantemente elevar-se. É o caso,
por exemplo, de W. Bariani Ortêncio que, estreando-se na linha
"primitivista", se tem constantemente imbuído de que a arte do
nosso tempo não depende da inspiração (palavra que, de resto,
se encontra infelizmente banida da linguagem critica) e sim da
consciência artesanal criadora, atingindo atualmente uma forma
de expressão que se identifica com o que há de melhor na literatura
do conto, no Brasil.
A outra vertente do conto goiano - a linha "primitivista" ou
popular — com sua origem em Casos reais, do padre Zeferino de
Abreu e ligando-se a todos os incipientes contistas precursores, é
muito mais ampla, nelas se enquadrando, sem qualquer seleção,
alguns bons contistas populares e todos os que, de qualquer ma-
neira, se tornaram autores de obras pobres de valores estéticos. Se o
que caracteriza a linha "intelectualista" é a consciência artística, a
preocupação da forma — a arquitetura e a linguagem —, nos contistas
da linha "primitivista" o que predomina são as vivências mais ou
menos primárias dos conteúdos de natureza anedótica, numa ficção
rasante, expressa sem a natural preocupação de estilo. É certo que
essa "consciência artística" existe sempre, variando apenas o seu
grau de atuação. Nos escritores denominados "primitivistas", numa
semântica relacional, despida de quaisquer intenções depreciativas,
essa consciência se manifesta numa polaridade entre a exagerada
despreocupação com as estruturas lingüísticas, numa intenção de
popularidade, e a preocupação exagerada, perdendo-se quase sempre
em burilamentos simplesmente gramaticais, dando ênfase à forma
considerada em si mesma, num evidente prejuízo da expressividade
143 10 Conto Brasileiro em Goiás

natural exigida pelo material humanizado em arte. É claro que a


falta de talento criador é, nalguns casos, a característica maior dessa
linha popular.
A ela pertencem os livros de Pedro Gomes, Derval de Castro,
Gelmires Reis, José Cruciano de Araújo, Mário Rizério Leite, Gumer-
cindo Ferreira, João Batista Machado, Eduardo Jordão, Maria Paula
Fleury de Godoy, Altamiro de Moura Pacheco, Cornélio Ramos,
Ada Curado, José Mendonça Teles e o primeiro livro de W. Bariani
Ortêncio. Podem também ser mencionados nesta linha os escritores
que, em vez da criação literária, se dispuseram a recolher as lendas e
histórias populares ou do folclore goiano, dentre os quais, depois de
Couto de Magalhães e Henrique Silva, os nomes de Antônio Ame-
ricano do Brasil, Ivã Geraldo Americano do Brasil, José Aparecido
Teixeira e Regina Lacerda, não se falando em muitos outros que, em
crônicas, relatórios de viagem e trabalhos antropológicos, continuam
repetindo Saint-Hilaire, Pohl, Martius, Couto de Magalhães e mais
alguns viajantes e naturalistas pioneiros.

A distinção acima não implica exatamente no paralelismo


que se realiza entre Literatura e Folclore, entre o que se conhece
por literatura erudita e como manifestação da cultura popular (ou
oratura), apesar da validez de tal estudo, pois, como afirma René
Wellek (Teoria da literatura, 1962) devemos "abonar a tese de que o
estudo da literatura oral é parte integrante da investigação literária,
por isso mesmo que esse estudo não pode dissociar-se do das obras
escritas e dado que tem havido e contínua a haver uma constante
integração entre a literatura oral e a escrita".
Trata-se de uma questão de qualidade literária, uma vez que se
nota nos escritores da linha popular uma preocupação de desenvolvi-
mento no sentido de atingir o nível em que se situam os escritores de
144 GILBERTOMENDONÇATELES

maior valor e repercussão. É certo que se trata também de uma divisão


flexível, não rígida, absoluta, pois em todas as literaturas estas duas
tendências se manifestam paralelas, muitas vezes se misturando, uma
adquirindo gradativamente os tons da outra e, noutras épocas, sujeitas
a outras exigências e gostos, afastam-se novamente, para mais tarde
se reaproximarem de novo, num movimento incessante ao longo da
história das literaturas. Se isto é fenômeno geral nas literaturas, não
deixa de ser também fenômeno particular, adstrito à "fala" do escritor
que, em continua produção, vai tomando consciência do nível de sua
produção literária. Dai a ascensão.
E não se trata também, evidentemente, da divisão proposta
por Alceu Amoroso Lima no Quadro sintético da literatura brasileira,
de 1956: as "duas correntes — a localista e a universalista que atraem
em sentidos opostos todos os nossos homens de letras, uns inspi-
rados pela terra nova, outros preocupados pelo espírito universal".
Estamos simplesmente apontando dentro da corrente "localista" os
dois pólos de uma única realidade. Não passam todas de obras "re-
gionais". Algumas com maiores dimensões estéticas, já consagradas
pela crítica nacional; a maioria, procurando autenticidade apenas
na temática, buscando impressionar pelo pitoresco e documental,
não conseguindo às vezes erguer-se a plano de valor propriamente
literário. Mas todas, é inegável, pertencente a uma hierarquia de
valores, cujo conjunto máximo constitui o patrimônio literário da
ficção em Goiás.

É interessante salientar ainda que pelo menos cinco dos livros


classificados como pertencentes à linha popular, primitivista, trazem elu-
cidário ou glossário no fim ou depois de cada conto, como em W. Bariani
Ortêncio, enquanto apenas um da linha intelectualista — O Caminho das
boiadas, de Leo Godoy Otero — vem seguido de glossário. Deste modo,
os melhores livros de conto em Goiás, como o de Hugo de Carvalho
Ramos e os de Bernardo Élis, aqueles justamente que mais se distinguem 145IO CONTOBRASILEIROEMGOIÁS
pela movimentação do linguajar goiano, dispensaram glossário (na
verdade, até agora, simples vocabulário), porque os seus autores tiveram
consciência de que a linguagem não é puramente o elemento lexical, o
vocábulo raro ou apenas regional, destinado a transmitir uma história,
real ou não. Ciente de que estavam construindo uma literatura superior
e aspirando tão só ao universal, ainda que fazendo inúmeras conces-
sões a traços dialetais (fonéticos, morfológicos e semânticos), Hugo de
Carvalho Ramos e Bernardo Élis tinham da linguagem literária uma
concepção mais profunda, dentro talvez daquela nuance qualitativa e
quantitativa associada a um certo vocabulário, a um certo giro de frase
e, no anunciado oral, a uma certa articulação, a uma certa entonação,
que, conjugadas ou não, visent à provoquer cette adhésion.
E esta adesão, continua Marcel Cressot, não é somente pela
solidez, pelo vigor, pelo dinamismo do enunciado. O encantamento
da comunicação, o prazer levado ao destinatário, é também um fator
de adesão.
Ora, os bons livros, os grandes livros da ficção goiana estão
expressos nos elementos universais da língua portuguesa do Brasil,
de compreensão geral, não necessitando, portanto, de "glossário" ou
"elucidários" para serem entendidos pelo leitor brasileiro ou portu-
guês. Mesmo algumas obras que trazem o elucidário, talvez o tragam
sem necessidade, por imitação ou por simples desconhecimento da
amplitude lingüística dos termos relacionados.
Depois de redigido este capitulo, recebemos o livro de
Carmo Bernardes, onde tivemos a satisfação de ver que o pro-
fessor Jerônimo Geraldo de Queiroz, na apresentação, datada do
quase apocalíptico 6-6-66, toca no mesmo problema, dizendo
que não há (no livro) "nenhuma palavra para realçar ou desna-
turar, e todo mundo entendendo sem necessidade de cochichos
explicativos [...] nem de notas de rodapé de página, de fim de
livro ou de glossário."
A respeito dos elucidários já se havia manifestado Barbosa
Lima Sobrinho, quando escreveu em A língua portuguesa e a unidade
do Brasil, de 1958, que "o esforço de literatura regionalista revela sua
fraqueza, quando sente a necessidade dos glossários ou elucidários,
que permitam entender o texto apresentado". E cita os primeiros
autores brasileiros que assim procederam, concluindo que esses livros
se destinam ao público brasileiro e tanto consideram restrito a uma
rto Mendonça Teles

região o uso dos modismos apresentados, que procuram o meio de


chegar ao conhecimento e à leitura de outros centros do próprio país.
O glossário vale, no caso, como uma confissão de que não se trata
de linguagem de uso nacional.
1461 Gi lbe

E no caso de Goiás, acrescente-se, o elucidário vale também


como uma falta de confiança no valor literário ou até, como tem
acontecido, com certa mostra de ingenuidade do autor, arrolando
termos como típicos de Goiás, quando se sabe que todos os traços
lingüísticos do centro nada mais são do que uma síntese dos fala-
res de todas as regiões do Brasil. É certo que existem alguns raros
termos de circulação restrita, certos vocábulos não propriamente
arcaicos mas de feição antiga, arcaizantes, alguns termos referentes
à modalidades profissionais que, ou ganham a língua geral, ou vão
reduzindo-se aos falares do homem da roça quase sempre analfa-
beto. Muitos deles se encontram dicionarizados como típicos de
Goiás, entretanto até hoje não foi feito no Brasil nenhum inquérito
lingüístico de proporções nacionais, localizando os modismos nas
suas respectivas regiões.
Falou-se, acima, numa síntese de falares brasileiros,mas não
síntese literária, como a imaginou Mário de Andrade em Macunaíma,
conforme assinala Cavalcanti Proença no Roteiro de Macunaíma, de
1953, informando que o "caráter de súmula de caracteres é também
encontrado no vocabulário, que os mistura sem ordem de procedência:
palavras do Rio Grande do Sul ao lado de regionalismos nordestinos,
do Brasil Central ou da Amazônia". Mas nos referimos a uma síntese
natural, não literariamente fabricada, e sim a uma koiné decorrente da
própria expansão do Brasil, da ocupação humana do Planalto Cen-
tral, fazendo do Estado de Goiás um espaço onde se encontram e se
cruzam as grandes correntes de ocupação humana do País, na grande
marcha para Oeste. É este, aliás, o tema de A Linguagem de Goiás:
Contribuição ao estudo da unidade lingüística dos falares brasileiros que,
em 1965, apresentamos ao XI Congresso Internacional de Lingüística
e Filosofia Românicas, realizado em Madrid: Possivelmente dessa
imensa área central — escrevemos — surgirá o denominador comum
147 10 Conto Brasileiro em Goiás

da fala brasileira. Apesar da existência de falares regionais, a língua


portuguesa no Brasil se mantém a mesma em todas as regiões, com
apenas algumas variantes lexicais, com traços fonéticos e semânticos
particulares, tendentes, porém, a dissolverem-se pela ação do desen-
volvimento nacional, um novo tipo de expressão — a futura koiné
dos falares brasileiros, que algumas obras literárias, como o Grande
sertão: veredas, de Guimarães Rosa, já começam a nos dar as devidas
dimensões.
VII— CONCLUSÃO

Constreriido en su enérgica brevedad, el cuento es y


no puede ser otra cosa que lo que todos, cultos e ignoran-
tes, entendemos por tal.
HORACIO QUIROGA
Sobre literatura, tomo VII, 1970

N a verdade, a conclusão deste estudo é o capitulo anterior.


Este serve apenas para reiterar algumas afirmações que po-
derão ter passado despercebidas. Assim, apesar de haver manifes-
tações de poesia desde os primeiros tempos da história de Goiás,
o certo é que a literatura goiana somente começa a delinear-se na
última década do século XIX, quando se verifica nos jornais as
primeiras produções r'lFidas de poesia, prosa (conto) e de crítica,
principalmente poesia satírica que desde cedo foi muito cultivada
149 10 CONTO BRASILEIRO EMGOIÁS
como arma política.
Cunha Mattos, na sua Corografia histórica da Província de
Goiás, redigida em 1824, falando sobre o caráter, usos e costumes
mais notáveis do povo goiano, informava que 'A poesia é cultivada
com gosto em Goiás" mas 'A literatura nesta Comarca acha-se na mais
deplorável decadência". E assim foi durante todo o século dezenove
até o aparecimento de Félix de Bulhões e, por volta de 1890, a grande
atuação poética de Manuel Lopes de Carvalho Ramos. Data dai a
"fase embrionária" a que se referiu mais tarde o seu filho Hugo de
Carvalho Ramos, em torno de cuja obra vem até hoje se desenvol-
vendo a literatura em Goiás.
Se uma característica se pode apontar hoje nessa literatura
é a plena madurez da ficção, com obras realmente válidas no
contexto nacional, enquanto a poesia e outros géneros ainda não
ganharam maior relevo, situando-se em plano evidentemente
inferior. Desde a instalação da Imprensa Universitária da Uni-
versidade Federal de Goiás, existe uma relativa facilidade de pu-
blicação, justificando assim o grande número de livros aparecidos
ultimamente, a maioria dos quais prematuros e secundários com
relação ao nível literário em que se encontram já algumas obras
de poesia e de ficção.
As duas perspectivas pelas quais distinguimos certas analogias
e filiações no desenvolvimento do conto em Goiás possuem certamen-
te as suas limitações. Mas não deixa de ser uma tomada de contato
com o problema, até hoje olvidado e desconhecido. E é também uma
visão conjunta e comparada da evolução do conto goiano.
Essas duas linhas teóricas, aparentemente contraditórios, não
deixam de ter as suas imbricações estilísticas e, longe de se separarem
ou constituírem blocos isolados na literatura goiana, se juntam e se
completam, formando no panorama cultural do Estado um bloco
coeso, alguma coisa de positivo, às vezes com repercussões sensíveis
na Literatura Brasileira, como se deu com Hugo de Carvalho Ramos
e se dá agora com a obra de Bernardo Élis.
1501GILBERTO MENDONÇATELES
APÊNDICE

1. CRONOLOGIA DO CONTO GOIANO

De há muito que se fazia sentir aos estudiosos


a publicação de uma resenha das obras existentes so-
bre o Brasil Central, que é, de todas as regiões nos-
sas, a menos conhecida.
HENRIQUE SILVA
in Informação goiana, 1917.

esprezando-se as narrativas mais ou menos pitorescas dos


D viajantes e naturalistas do século passado, como também os
escritos mais ou menos científicos de Henrique Silva, permanece
como o primeiro conto goiano o "Irma", assinado por Ismael Vaga
e datado de 1893. Sabe-se que este era o pseudônimo de Mathias da
Gama e Silva, que também era poeta. Só depois dele é que aparecem
os contos isolados de Higino Rodrigues, Eurídice Natal, João Teixeira
Álvares, Joaquim Bonifácio e o de Cora Coralina, este publicado no
Anuário do Prof. Ferreira, em 1910.
15110CONTOBRASILEI ROEMGOIÁS
Mas o primeiro livro de contos é mesmo o do padre Zeferino
de Abreu, publicado em Cataguases, MG, em 1910. Começa, pois,
aí a bibliografia do conto em Goiás, seguindo-se depois o livro de
Hugo de Carvalho Ramos, de 1917, ano em que se publicou também
o de Gastão de Deus Victor Rodrigues.
O levantamento bibliográfico das letras goianas tem sido uma
preocupação constante dos estudiosos, dando-se porém à palavra
letras a significação mais ampla possível, de modo que as publicações
a respeito pecam principalmente pela falta de seleção, incluindo
como conto ou romance e mesmo poesia alguns livros que nada têm
a ver com o assunto.
As primeiras e importantes preocupações neste sentido foram as
de Henrique Silva, na revista Informação goiana (1917-1935), publicada
no Rio de Janeiro. Ali se encontram referências principalmente a uma
"literatura" geral sobre o Estado de Goiás, aparecendo o nome dos
viajantes e estudiosos, brasileiros e estrangeiros, que escreveram sobre
Goiás. Mais tarde, é na revista Oeste (1942-45) que encontramos uma
tentativa bibliográfica de J. Lupus (José LObo), defeituosa principal-
mente por arrolar alguns livros que jamais foram publicados.
Em 1957, por ocasião da II Semana de Arte em Goiás, a Associa-
ção Brasileira de Escritores — Secção de Goiás, através de seu presidente
Oscar Sabino Júnior divulgou o Catálogo da primeira exposição do livro
goiano, com secções para "Poesias", "Contos", "Romances", "Sociologia
e Folclore", "Geografia e História", "Viagens e Expedições", "Econo-
mia", "Direito". "Assuntos Gerais", "Assuntos Diversos" e "Crônicas."
É, realmente, a melhor e mais bem externamente organizada biblio-
grafia de Goiás, mas por dentro deixa muito a desejar. Algumas obras
não estão adequadamente classificadas, arrolando-se, por exemplo,
Goiás, de Victor Coelho de Almeida, Antologia goiana, de Veiga Neto,
e Dicionário analógico da língua portuguesa, de Francisco Ferreira dos
Santos Azevedo, e muitas outras como se fossem Crônicas. Isto para
dar apenas um exemplo dentro de um gênero.
Em 1964, como apêndice a A poesia em Goiás, publicamos um
"Índice Bibliográfico da Literatura Goiana", abrangendo a poesia, o
conto, o romance, a crônica, o teatro e a critica, além das antologias e
livros que divulgaram poemas e contos de escritores goianos, ou que
1521 GILBERTOMENDONÇA TELES

constituem fontes para o estudo da nossa poesia e do nosso conto. Di-


vulgado também em separata, esse "índice Bibliográfico da Literatura
Goiana", cuja parte referente ao conto publicamos atualizada e melhorada
na primeira edição de O conto brasileiro em Goiás, foi organizado com
o intuito de levantar apenas a bibliografia poética, razão por que não
nos detivemos, com mais vagar, no arrolamento dos outros gêneros. E
o método que adotamos foi o da conjugação de um roteiro genético e
cronológico, mas anotando — e isto é o seu maior mérito — apenas as
obras realmente literárias, com o objetivo de fornecer aos estudiosos
e interessados uma visão, resumida, da nossa história literária. Não
houve, pois, preocupação de uma bibliografia geral, tanto que, na sua
conclusão, escrevemos: "Se o leitor desejar conhecer outras obras sobre
Goiás, principalmente para o estudo de sua história, bem como de seus
aspectos econômicos, sociais e antropológicos, poderá consultar as ci-
tações dos rodapés e as páginas 51, 85, 86, 89, 228 e 235 do livro a que
esta bibliografia serve de apêndice". Ademais, fizemos anteceder a cada
gênero uma síntese de sua história na literatura de Goiás.
Finalmente, em 1966, o Serviço Social de Comércio (SESC)
editou pela Imprensa Universitária da Universidade Federal de Goiás o
Catálogo bibliográfico de Goiás, iniciativa e idealismo do prof. Francisco
Balduino Santa Cruz. Está organizado por autor e por assunto, somente
que em ambas as partes há erros fundamentais, principalmente pela
falta de sistematização bibliográfica e, tal como se verificou no catá-
logo elaborado pela ABDE, mistura assuntos distintos, pondo entre
contos obra que pela sua natureza e estrutura melhor se classificaria
entre os romances; põe entre romances as duas obras de teatro de João
Teixeira Álvares; e arrola nos "Assuntos Diversos" muitos livros que
deveriam ser classificados numa das rubricas anteriores, de geografia,
de história, sociologia, folclore, viagens, etc. Além da técnica superada
de apresentação dos verbetes, separando as características da obra por
travessão, omitindo a data numa, citando o número de páginas em
outras, numa irregularidade que bem demonstra a necessidade de
estudos de biblioteconomia em Goiás, segundo certa vez sugerimos
à Universidade Federal de Goiás. Outra irregularidade é a citação da
obra mencionada em outra obra, mas sem indicar a fonte de consulta, 153 I OCONTO BRASILEIROEMGOIÁS
de que há vários exemplos no Catálogo. (Cp., por exemplo, na secção
de Poesia, as obras de Higino Rodrigues, que vem grafado Hygino;
quando mencionamos as suas obras tivemos o cuidado de informar que
não pudemos conseguir a data em que foram publicadas, possivelmente
na última década do século passado).
Mesmo assim, é um catálogo utilíssimo para os estudiosos e
oxalá nas outras edições em que for atualizado se ponha de acordo
com os princípios mais comuns da técnica bibliográfica.
Agora, o aspecto realmente importante desse Catálogo é o estudo
de Waldir Castro Quinta — Letras e literatos / de ontem e de hoje — com
anotações adicionais do autor, conferência pronunciada na solenidade
da inauguração da "Estante do Escritor Goiano", no SESC, em 1962.
A nosso entender deveria abrir o Catálogo, mas aparece no fim. Trata-se
de um dos mais bem documentados estudos sobre os primeiros tempos
da história literária de Goiás, fonte segura e criteriosa, coisa muito difícil
na maioria dos estudiosos goianos. [Infelizmente, não pudemos atualizar
esta parte com as notas acrescentadas em 2007].

1910
1. ABREU, Zeferino de (Pe.) (falecido em1913). Casos reais. Cataguases, MG:
S. José, 1910. 208 p. Algumas ilustradas.
2. TAVARES, Crispiniano (1855-1906) Contos inéditos. Uberaba, MG: Gazeta
de Uberaba, 1910.

1917
3. RAMOS, Hugo de Carvalho (1895-1921). Tropas e boiadas. Rio de Janeiro:
Revista dos Tribunais, 1917. 194 p. A segunda edição foi publicada em 1922,
por Monteiro Lobato & Cia., São Paulo, 276 páginas, traz prefácio de Go-
mes Leite e dados biográficos escritos por Victor de Carvalho Ramos. Possui
também uma relação dos trabalhos literários do autor. A terceira é de 1938,
pela Livraria Editora Record, São Paulo, 256 páginas; traz prefácio de Sílvio
Júlio. A quarta é de 1950, pela Companhia Editora Panorama, São Paulo, 119
154 GILBERTO MEND ONÇATELES

páginas, mas vem seguida, num volume único, de outras obras do autor, sob
o título geral de Obras completas de Hugo de Carvalho Ramos; traz prefácio
de Tasso da Silveira e os prefácios das edições anteriores, e, no fim, um Juízo
Crítico sobre Tropas e boiadas. A quinta edição foi publicada em 1965 pela
José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 154 páginas. É a mais importante:
além de ilustrações fotográficas e de uma minuciosa "Nota bibliográfica" de
Victor de Carvalho Ramos, o volume contém, como introdução, um impor-
tante estudo estilístico ("Literatura do Chapadáo") de M. Cavalcanti Pro-
ença que restabeleceu o texto da primeira edição. É também a edição mais
completa, pois vem acrescida de "Dias de Chuva", que não figurava nas outras
edições. Ademais, cada edição foi sempre aumentada de um ou dois contos,
de modo que a primeira edição é bem diferente das outras.
Em "Nota desta edição", escrita para a oitava edição, organizada por Gil-
berto Mendonça Teles, em 1997, há uma história completa de todas as edições
e levantamos os dados para uma edição crítica de Tropas e boiadas. E esclarece-
mos que a sexta edição é "uma cópia xerox da quinta, feita apressadamente pela
Livraria e Editora Cultura Goiana, 1984, 180 p., formato 21 x 14,5. A excelente
"Introdução" de M. Cavalcanti Proença foi substituída por uma de Romeu
Henkes. No colofão se diz erradamente que a edição que serviu de modelo
para a cópia xerox é de 1964, quando não resta dúvida de que é a de 1965.
Foi tão apressada que utilizou como índice o fac-símile manuscrito que Hugo
preparou dois anos antes de sua morte, em 1921, deixando sem indicação os
contos incluídos nas edições anteriores. / Informamos também que a sétima
edição, que traz algumas notas de Carmo Bernardes, foi feita em Belo Hori-
zonte, pela Editora Itatiaia, em 1986.
4. RODRIGUES, Gastão de Deus Victor (1883-1917). Traços multicolores. In:
Páginas goianas. São Paulo: Paulicéia, .1917. 128 p. pt. 2. A parte dos contos
tem 81 páginas.

1924
5. OLIVEIRA, Pedro Gomes de (1882-1955). Na cidade e na roça. São Paulo:
Ed. Monteiro Lobato, 1924. 158 p. O segundo livro do autor é de 1942.

1930
6. CASTRO, Derval de (1896-1952). Páginas do meu sertão. São Paulo: Duprat-
Mayença, 1930. 135 p. Inclui um "vocabulário do sertanejo goiano". Crôni-
155I OCONTOBRASILEIRO EM GOIÁS
cas e contos.

1937
7. PELEJA, Sebastião Veloso (1909). Exercício de literatura. Goiás: Po-
pular, 1937. 43 p. São crônicas, algumas em forma de conto, como o
"Diálogo".

1939
8. NATAL, Eurídice (1883-1970). Notas de viagem ao Araguaia. Goiânia:
O Popular, 1939. 43 p. Traz o conto "Ecide", de 1904.
1942
9. OLIVEIRA, Pedro Gomes de. O pito aceso. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1942. 114 p. Seguido de um Elucidário. Capa de Kaiká. O primeiro livro do
autor é de 1924.

1944
10. ÉLIS, Bernardo (1915-1997). Ermos e gerais. São Paulo: Revista dos Tribu-
nais, 1944. 172 p. "Bolsa de publicações Hugo de Carvalho Ramos". A se-
gunda edição é de 1959, pela editora Oió, Goiânia/ Revista dos Tribunais,
São Paulo, 288 p. Capa de Manuel Hermano. Os outros livros de conto de
Bernardo Elis são de 1965 e 1966.

1945
11. REIS, Gelmires (1893-1979). Páginas da roça. Luziânia, GO: Luzianas,
1945.76 p.

1950
12. ARAÚJO, José Cruciano de (1929-2001). Três contos que não são de réis. Goi-
ânia: Imperial, 1950. 29 páginas.

1951
13. LEITE, Mário Rizério (1912) Lendas de minha terra. Goiânia: Escola Técni-
ca de Goiânia, 1951. 130 p. "Bolsa de publicação Hugo de Carvalho Ramos"
Há outro livro do autor, de 1952.

1952
156GILBERTO MENDONÇATELES

14. . Mãe marinha. Goiânia: Escola Técnica de Goiânia, 1952. 15 p. Trata-


se de um conto apenas. O primeiro livro de contos do autor é de 1951.

1953
15. FERREIRA, Gumercindo (1923-). O Engraxate e outros (contos). Goiânia.
Escola Técnica de Goiânia, 1953. 62 p.

1954
16. OTERO, Leo Godoy (1927). Gente de rancho. São Paulo: Revista dos Tribu-
nais, 1954. 146 p. "Bolsa de publicações Hugo de Carvalho Ramos" O outro
livro do autor é de 1958.
17. CURADO, Ada Ciocci (1916-1999). O Sonho do pracinha e outros contos. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1954. 115 p. O outro livro da autora e de 1966.

1956
18. ORTÊNCIO, Waldomiro Bariani (1923). O que foi pelo sertão. São Paulo: Ed.
de Autores Novos, 1956. 128 p. Traz um Vocabulário depois de cada conto. De
parceria com outro livro de contos (Vovó do Pito, de Luís Franceschini). O livro
todo tem 206 páginas. Os outros livros do autor são de 1959 e 1965.

1958
19. OTERO, Leo Godoy (1927). O Caminho das boiadas. São Paulo: Jose Olym-
pio, 1958. 200 p. Traz um Glossário. Capa de Poty. O outro livro do autor
e de 1954.

1959
20. VEIGA, Jose J. (1915-1999). Os cavalinhos de platiplanto. Rio de Janeiro: Nítida,
1959. 143 p. Capa de Clerida. [Outros livros do autor: Novelas - Sombras de reis
barbudos, 1972; Os pecados da tribo, 1976; De jogos e festas, 1980. Contos -A má-
quina extraviada, 1968; Aquele mundo de Vasabarros, 1981; Torvelinho dia e noite,
1985; A casca da serpente, 1989; e Relógio Belisário, 1996. Nota de 2007].

21. ORTÊNCIO, Waldomiro Bariani (1923). O Sertão o rio e a terra. Rio de


Janeiro: Liv. São Jose, 1959. 209 p. Traz um Elucidário, depois de cada conto.
Capa de Hermano. Os outros livros do autor são de 1956 e 1965. [A cozinha
goiana, 1967; Vão dos Angicos, 1969; Força da terra, 1974; Morte sob encomen-
da, 1974; Meu tio-avô e o diabo, 1993; João do fogo, 1996, alem de outros. 157IO CONTOBRASILEIRO EM GOIÁS
Grande contribuição a do seu Dicionário do Brasil Central, de 1983. Também
da Medicina popular do Centro-Oeste, 1994. Nota de 2007].

1964
22. SANTOS, Alaor Barbosa dos (1940). Cidade do tempo: contos. Goiânia: Ed.
Goiás, 1964. 136 p. O outro livro do autor e de 1966. [Campo e noite, 1971;
Caminhos de Rafael, 1995; e outros. Nota de 2007].

23. JORDÃO, Eduardo R. (1943). Contos para ler de pé. Goiânia: Cia. Ed. Social
Ind. e Comercio, 1964. 56 páginas.
1965
24. ÉLIS, Bernardo. Caminhos e descaminhos. Goiânia: Brasil Central, 1965. 159 p.
Os outros livros do autor são de 1944 e 1966. [Há mais livros de Bernardo, como
Caminho dos gerais, de 1975; Apenas um violão, 1984; Seleta de Bernardo Elis — or-
ganizada por mim para a J. Olympio, 1974; e Os melhores contos de Bernardo Elis,
também organizada por mim, para a Global, em 2003. Nota de 2007].

25. ORTÊNCIO Waldomiro Bariani. Sertão sem fim. Rio de Janeiro: Liv. São
José; Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 1965. 261 p. Seguido de um
Glossário. Contém nota de Adolfo Casais Monteiro. Capa de Hermano. Os
outros livros do autor são de 1956 e 1959.

1966
26. ÉLIS, Bernardo. Veranico de janeiro. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966. 144
p. Premio "José Lins do Rego" de 1964. Os outros livros de contos do autor
são de 1944 e 1965. Contém "Notas Biográficas do autor" e apresentação de
Herman de Lima, Capa de Poty.

27. PACHECO, Altamiro de Moura (1896-1996). Realidade e ficção. Goiânia:


Brasil Central; Rio de Janeiro: Fon-Fon, 1966. 181 p. Crônicas e contos.
Capa de Wong Calvo.

28. CURADO, Ada Ciocci. Nego rei. Goiânia: Livraria Brasil Central, 1966. 166
p. O outro livro de conto da autora é de 1954. Capa de Cecy A. Curado.
158GILBERTOMENDONÇATEL ES

29. BERNAWJES, Carmo (1915-1996). Vida mundo. Goiânia: Livraria Brasil


Central, 1966. 154 p. Apresentação, de Jerônimo Geraldo de Queiroz. Capa
de Violeta Bitus.

30. JORGE. Migucl (1933). Antes do túnel. Goiânia: Universidade Federal de Goiás,
1966. 179 Págir ias. Traz prefácio de Fábio Lucas. Capa de Marcel de Paoli.

31. GODOY, Maria Paula Fleury de (1894-1985). Sombras. Goiânia: Universi-


dade Federal de Goiás, 1966. 164 p. Orelha de Bernardo Élis. Sem indicação
de autoria da capa
32. SANTOS, Alaor Barbosa dos. Picumãs. Goiânia: Brasil Central; Belo Hori-
zonte, MG: Gráfica Santa Maria, 1966. 149 p. Capa de Maria Guilhermina.

33. BARBOSA, Alaor et alii. Poesia e contos bacharéis. Goiânia: Universidade


Federal de Goiás, 1966. 95 p. Apresentação de Jerônimo Geraldo de Quei-
roz. Traz contos de Alaor Barbosa dos Santos, José Mendonça Teles, Luiz
Fernando Valladares Borges, Miguel Jorge e fragmentos de um romance de
Martiniano José da Silva, além de poemas. Não traz indicação de autoria da
capa, mas é de Maria Guilhermina.

34. BORGES, Humberto Crispim (1918). Chico melancolia. Goiânia: Universidade


Federal de Goiás, 1966. 168 p. "Bolsa de publicações Hugo de Carvalho Ramos"

35. RAMOS, Cornelio (1910-2001). Amor em quarto crescente. Catalão, GO: Ru-
bro Negro ed., 1966. 148 p.

36. CURADO, Ivo (1953). Estórias do cerrado. Goiânia: Ed. FTD, (1966). Com:
ORTÊNCIO, Nancy (1953). O muro que voava. A parte de Nancy contém
93 páginas, a de Ivo. 91 páginas.

SEM DATA
37. MACHADO, João Batista (1913). O sonho do senador. Goiânia: Oficinas
Gráficas do Departamento Estadual de Imprensa. É apenas um conto de 10
páginas.

159 I O CONTO BRASILEIRO EM GOIÁS


38. ABREU, Zeferino de (Pe). Contos sertanejos. Ver o capítulo sobre os Precur-
sores.
2. ANTOLOGIAS EM QUE APARECEM CONTOS
GOIANO [ATÉ 1967]

S em a pretensão de arrolamento absoluto, podem mencionar-se


[até fevereiro de 1 9 6 8] as seguintes Antologias, em que se en-
contram contos de escritores goianos. Hugo de Carvalho Ramos
e Bernardo Élis podem ser estudados nas melhores histórias da Li-
teratura Brasileira, como, por exemplo, em A literatura no Brasil,
volume II, de 1955, sob a direção de Afrânio Coutinho.

1910 —AZEVEDO, Francisco Ferreira dos Santos (org.). (Prof.. Ferreira). Anuário
histórico, geográfico e descritivo do Estado de Goiás. Uberaba, MG.: Livraria
Século XX, 1910. 240 p. Na parte literária, traz um conto de Cora Coralina,
uma crônica de Júlio Nunes e vários poemas: dá a primeira visão geral da
literatura goiana, em 18 páginas.

1920 — MEIRELES, Evangelino ; REIS, Gelmires (org.). Almanaque de Santa


Luzia. Luziânia, GO: O Planalto, 1920. 208 p. Traz contos de Henrique Silva,
Feliciano Neto e Baltazar dos Reis.

1937 — PELEJA, Sebastião Veloso. Exercício de literatura. Goiás: Popular, 1937.


43 p. São crônicas e alguns contos. 1 611 0CONTOBRAS ILEIROEMGOIÁS

1938 — BRASIL, I. G Americano do (Ivã Geraldo), (org.). Lendas e encantamentos


do sertão. São Paulo: Ed. e publ.Brasil, 1938. 113 p. Traz lendas de Goiás e
Mato Grosso.

1941 — TEIXEIRA, José Aparecido. Folclore goiano. São Paulo: Ed. Nacional,
1941. 434 p. É o melhor trabalho, no gênero, em Goiás. Estuda vários ciclos
das histórias orais mais comuns em Goiás, além do vasto repositório da poesia
popular. Existe segunda edição, publicada na Coleção Brasiliana, volume 306,
de 1959, com 342 páginas.
1944 — VEIGA NETO (org.). Antologia goiana: prosadores, jornalistas e poetas
falecidos, de 1838-1944. São Paulo: Revista dos Tribunais; Goiânia: "Bolsa de
Publicações Hugo de Carvalho Ramos", 1944. tomo I. 310 p.Nunca saiu o t.
II. Imprescindível para qualquer trabalho literário sobre Goiás.

1949 — COELHO, Saldanha; PALEÓLOGO, Constantino (org.). Antologia de


contos e escritores novos do Brasil. Rio de Janeiro: Revista Branca; A Noite, 1949.
Traz um conto de Domingos Felix de Souza.

1952 — DEIN Lescbuch Für Schule Und Heim. Curitiba: [s.n], 1952. Traz o conto
"Ninho de Periquitos" de Hugo de Carvalho Ramos, traduzido - (Das nest
Der Periquitos) por Amo Eytelz.

1956 — ANTOLOGIA de contistas brasileiros. Bogotá; Bolívia: Fondo de Editores


Indo-americanos, 1956. Traz um conto de Mário Rizerio Leite. Não a con-
sultamos.

1957 — RAMOS, Graciliano (org.). Contos e novelas. Rio de Janeiro: Editora da


Casa dos Estudantes do Brasil, 1957. volume III. Traz contos de Hugo de
Carvalho Ramos, Bernardo Élis e Benedito Odilon Rocha.

1958— RIEDEL, Diaulas (org.). Maravilhas do conto brasileiro. São Paulo: Cultrix,
1958. 311 p. Traz um conto de Hugo de Carvalho Ramos.

. Maravilhas do conto moderno brasileiro. São Paulo: Cultrix, 1985. 329 p.


1621GILBERTO MENDONÇA TELES

Traz um conto de Bernardo Élis.

1959— RIEDEL, Diaulas (org.). As selvas e o pantanal: Goiás e o Mato Grosso. São
Paulo: Cultrix, 1959. 314 p. (Coleção Histórias e paisagens do Brasil, v. 10).
Traz os contos de Leo Godoy Otero, Couto Magalhães, Waldomiro Bariani
Ortêncio, Bernardo Élis e Hugo de Carvalho Ramos.

1962 — ANTOLOGIA ilustrada do folclore brasileiro. Prefácio de Regina Lacerda.


São Paulo: Livrat, 1962. Volume 7: Histórias e Lendas de Goiás e Mato Grosso.
Traz contos de Leo Godoy Otero, Bernardo Guimarães, José Décio, Hugo de
Carvalho Ramos, Ivá Geraldo Americano do Brasil, Gelmires Reis, José Apa-
recido Teixeira, Mário Rizério Leite, Regina Lacerda, Pedro Gomes, Bernardo
Élis, Waldomiro Bariani Orténcio e Carmo Bernardes. 320 páginas.

1965 — AVANÇO, Douglas. Roteiro de análise. Goiás: Universidade Federal de


Goiás, 1965. 159 p. Há trechos e biografia de escritores goianos.

1965 — CONTOS de médicos: os dez melhores contos de médicos de todo o pais.


Rio de Janeiro: Ed. Pulso, 1965. 139 p. Traz um conto de Paulo Rosa.

1966 — ANTOLOGIA da literatura brasileira (1 - Prosa). coordenação final de


Gilberto Mendonça Teles. Montevidéu, Uruguai: Instituto de Cultura Uru-
guaio-Brasileiro, 1966. 211 p. Traz um conto de Hugo de Carvalho Ramos.

1967 — DIE REIHER und Andere Brasiliaische ErzahIugen. Organizada e traduzida


por Curt Meyer-Clason. Stuttgart, Alemanha: [s.n.], 1967. Traz um conto de
Hugo de Carvalho Ramos "Das Nest der Sittiche", ("O Ninho de Periquitos")
e de Bernardo Élis ("Nhola von den Engeln und die Uberchwemmung von
Corumbá", "Nhola dos Anjos e a Cheia do Corumbá").

[Dados de fevereiro de 2007].

OCON TOBRASILEIROEMGOIÁS
163 I
3. INDICE ONOMÁSTICO E DE TÍTULOS
DE LIVROS

Obras Avulsas, Revistas, Jornais e Artigos Mencionados


-A- "A estrutura ternária de
A bagaceira — 57, 68, 135. Tropas e boiadas" — 56.
"A Bandeira" — 36. A fantasia exata — 55.
ABREU, Capristano de — 56. "A Filha" — 121.
ABREU, Zeferino de — 34, 36, "A Flor Seca" — 38.
43, 46, 59, 61, 139, 141, Agapantos — 56.
149, 152, 157. A hora dos ruminantes — 96,
"A Busca" — 79. 102.
"A Caçada" — 46. "Alegria de Vaqueiro" — 87.
A caça no Brasil Central— 40. ALENCAR, José de — 23.
A casca da serpente — 155. Álibis — 127.
ACCIOLI, João — 47. "A Linguagem de Goiás:
ACHILES, Aristeu — 11. Contribuição ao Estudo
A cidade do tempo — 110. da Unidade Lingüística
A cozinha goiana — 155. dos Falares Brasileiros"
A crítica e o princz'pio do prazer — 51, 145.
— 9, 10, 51, 56, 89, 128. A língua portuguesa e a unidade
do Brasil— 144. 165 I OCONTOBRASILEIRO EM GOIÁS
"A (Des)continuidade
de Miguel Jorge" — 10. A literatura no Brasil — 17, 35,
"A Despedida" — 97. 48, 159.
"Adeus Pilar" — 100. ALLOT, Mirian — 20, 60.
"A didática do conto" — 10. Almanaque de Santa Luzia
ADONIAS FILHO — 94. — 46, 159.
"A Enxada" — 68, 135. ALMEIDA, Francisco
"A Estranha Freguesa" — 101. Xavier de — 31.
A estranha máquina ALMEIDA, Guilherme
extraviada — 96. Xavier de — 47.
ALMEIDA, José Américo brasileira — 161.
de — 24, 48, 57, 65, 135. Antologia, de Contistas
ALMEIDA, Victor Brasileiros — 160.
Coelho, de — 150. Antologia de contos e escritores
ALONSO, Amado — 64. novos do Brasil— 121, 160.
ALONSO, Dámaso — 15. Antologia do folclore brasileiro
ÁLVARES, João Teixeira — 41, —129.
47, 149, 151. Antologia dos poetas modernos
ÁLVARES JÚNIOR, João —125.
Teixeira — 41. Antologia goiana — 41, 150,
AMADO, Jorge — 24, 48. 160.
A máquina extraviada — 155. Antologia ilustrada do folclore
AMARAL, Amadeu — 130. brasileiro — 84, 129, 160.
AMERICANO DO BRASIL, Antologia portuguesa — 43.
Antônio — 129, 142. Anuário histórico, geográfico
AMERICANO DO BRASIL, e descritivo do Estado de
I. G. — 142, 159, 161. Goiás —31, 32, 42, 46, 149,
AMERICANO DO BRASIL, 159.
José — 46. "Anunciação" — 41.
Amor em quarto crescente — 99, A obra literária de Hugo
114, 115, 157. de Carvalho Ramos — 55.
"A Mulher nas Letras Apenas um violão — 156.
de Goiás" — 41. A poesia em Goiás — 9, 11, 14,
Anais do Congresso Brasileiro de 15, 29, 31, 36, 43, 95, 100,
Língua Vernácula— 130. 115, 117, 131, 150.
ANDERSEN, — 116. A Província Literária — 27.
ANDRADE, Carlos Aquele mundo de vasaborros
Drummond de — 106, 123, —155.
1661 Gilberto Mendonça Teles

126. ARANHA, Graça — 128.


ANDRADE, Mário de — 24, ARANTES, Maria Adélia
52, 62, 83, 131, 145. Mendonça — 120.
A noite na taverna — 40. ARAÚJO, José Cruciano de
Antes do túnel — 85, 102, 103, —70, 141, 154.
105, 106, 156. ARAÚJO, Lupicinio de — 46.
Antologia da literatura ARAÚJO VALE, Cilineu
Marques de — 14, 31, 100. Aventuras de Diófanes — 21.
"A Resposta de José Jim" — 114. Aventuras de Hans Staden
ARINOS, Afonso — 24, 35, 134. —116.
ARROYO, Leonardo — 116. "A Visita" — 108.
Arte y belleza — 103. AZEVEDO, Álvares de — 39,
A Semana — 33, 36, 37. 40, 124.
"As Filhas do Malaquias" — 73. AZEVEDO, Artur — 21.
"A síntese su/realista de AZEVEDO, Francisco Ferreira
Bernardo Élis" — 10. Santos — 31, 42, 46, 149,
"A Solteirona do Pensionato" 150, 159.
— 122.
"As Morféticas" — 61, 133. -B-
Aspectos da cultura goiana — 56. "Balanço Literário de Goiás
"Aspectos da Literatura em 1963" — 28.
Goiana" — 45. BANDEIRA, Manuel — 102.
Aspects of the novel— 20. BARBOSA, Alaor — 12, 14,
As selvas e o pantanal— 160. 80, 90, 91, 95, 96, 99, 102,
ASSIS, Machado de — 21, 33, 106, 107, 109, 110, 111,
37, 96, 110. 121, 136, 140, 155, 157.
"As Tranças de Matilde" — 61. BARBOSA, Francisco de Assis
Atas do Congreso Internacional —69, 83, 88, 94, 97.
de Historia y Cultura BARIANI ORTÊNCIO,
en la Frontera — 10, 11. Walclomiro — 76, 78, 79,
Athalie — 53. 80, 81, 82, 83, 84, 88, 98,
ATHAYDE, Félix de — 79. 118, 133, 134, 135, 136,
"Atualidade do Romance 140, 141, 142, 143, 155,
em Goiás" — 25, 86. 160, 161.
167 10 Conto Brasileiro em Goiás

Augusto dos Anjos e outros BARROSO, Maria Alice — 12.


ensaios— 134. "Belinha" — 33, 38.
"A Vaca e o Mosquito" — 119. BENEDETTI, Lúcia — 118.
AVANÇO, Douglas — 161. BERNARDES, Carmo — 76,
Avarmas — 10, 106, 107. 84, 85, 86, 88, 88, 99, 112,
"A Unidade Lingüística do 97, 135, 140, 144, 153, 156,
Território Brasileiro" 161.
— 130. BERTASO, José — 12.
BILAC, Olavo — 116. CALVO, Wong — 156.
BITARS, Violeta — 156. "Caminhos das Tropas" — 49,
BLAKE, Sacramento — 45. 53, 73.
BONIFACIO, Joaquim Caminho dos gerais— 156.
(Gomes de Siqueira) — 31, "Caminho do Inferno" — 112,
40, 149. 113.
BOPP, Raul — 128. Caminhos de Rafael— 155.
BORGES, Humberto Crispim Caminhos e descaminhos— 65,
—99, 111, 113, 140, 157. 66, 67, 156.
BORGES, José Crispim — 47. CAMÕES — 125.
BORGES, Luís Fernando Campo enoite— 110, 155.
Valladares — 121, 119, 120, CAMPOS, Augusto de — 125.
157. CAMPOS, Haroldo de — 125.
BRASIL, Assis — 111. CAMPOS, José — 46.
BRASILIENSE, EU — 69, 115, CAMPOS, Maria Consuelo
120, 122, Cunha— 10.
Brinco de rainha — 114. Cancioneiro de trovas do Brasil
BRITO, Francisco de — 47. Central— 129.
BRITTO, Jomard de Muniz Canção para o totem — 10.
—139. "Cântico do Sofrimento" — 117.
BROCA, Brito — 34, 83, 126. Cantos e contos — 39.
Books Abroad — 11. CARVALHO, Joaquim
BUENO DA SILVA, Montezuma de — 12.
Bartolomeu — 27. CASCUDO, Luis da Camara
BUENO, Silveira — 12. —129.
BULHÕES, Antônio Felix de CASIMIRO DE ABREU — 31.
—27, 30, 147. Casos reais — 36, 43, 44, 45,
BULHÕES, Aristeu — 12. 139, 141, 142, 152.
1 Gilberto Mendonça Teles

BUTTOR, Michel — 85. CASTAGNINO, Raúl H.


—54, 58.
- - CASTRO ALVES — 31, 36.
Cacho de tucum — 114. CASTRO, Derval de — 61,
Cadernos de Estudos Brasileiros 141, 153.
—16, 25, 34, 139. CASTRO E SILVA,
1 68

CAILLOIS, Roger — 63. Genezi de — 47.


Catálogo bibliográfico de Goiás Contribuição à história
—151, 152. da imprensa brasileira — 131.
Catálogo da primeira exposição Convivium — 12, 14.
do livro goiano— 150. Copo Quebrado — 101.
Cazeca — 57. CORALINA, Cora. Ver
100 contos reais — 70. PEIXOTO, Ana Lins dos
CÉSAR BORGES, Abílio Guimarães
—113. CORDOVIL, Bartolomeu An-
Charitas — 41. tônio. Ver CRUZ, Antônio
Chico Melancolia — 99, 111, Lopes da
113, 157. Corografia Histórica da
Chico trinta — 114. Província de Goiás — 147.
Cidade do tempo — 90, 96, 102, Corpo de baile — 20.
155. "Corpo Fechado" — 135.
Cinco de Março— 11. Correio da Manhã — 55, 83.
Cinna — 57. COSTA. Arlindo — 31.
CLÉRIDA — 155. COSTA, Arthur — 39.
COELHO NETO — 21, 24, COSTA, Gerson de Castro
37, 52. —46.
COELHO, Saldanha — 121, COUTINHO, Afrânio — 21,
160. 23, 34, 159.
Coivara — 133. COUTO, Luís Ramos de
COLET, Louise — 20. Oliveira — 31, 125.
COLÔNIA, Regina Célia — 10. CRESSOT, Marcel — 53, 144.
COLUCCI, Félix — 129. CRULS, Gastão — 133.
"Complexo de Geraldo" — 127. CRUZ, Antônio Lopes da
CONRAD, Josep — 60. —30.
169 10 Conto Brasileiro em Goiás

"Conto e poesia" — 10. CUMMININGS — 107.


Contos da Carochinha— 116. CUNHA, Euclides da — 26,
Contos de médicos — 121, 161. 52, 79.
Contos e novelas — 121, 160. CUNHA, Fausto — 55.
Contos inéditos — 45, 152. CUNHA MATOS — 147.
Contos para ler de pé— 97, 155. CURADO, Ada Ciocci — 12,
Contos sertanejos — 43, 157. 74, 75, 99, 135, 141, 155,
Contramargem — 11. 156.
CURADO, Bernardo Élis Dicionário do Escritor
Fleury. Ver ÉLIS, Bernardo Goiano — 57, 122.
CURADO, Cecy A. — 156. Die reiher und Andere
CURADO, Érico — 14, 31, 62. Brasiliaische Erzahluge
CURADO, Ivo —99, 117, 118, — 161.
119, 157. Dieu et Mammou — 52.
CURADO, Nita Fleury — 47. DILTHEY — 70.
Curso de contos — 19. DIMAS, Antônio — 12.
CURT-MEYER, Clason — 161 Dimensões, 1— 104.
CURTIUS, Ernest Robert Dimensões, II— 89.
—51. "Ditirambo às Ninfas Goianas"
30.
-D- "Do arraial para o cosmo"
"D'Apres Nature" — 38. —95, 110.
DAMASCENO, Darcy — 36. Do modernismo à Bossa Nova
"Debaixo do Pequizeiro" — 70. —139.
DÉCIO, José — 47, 160. D. PEDRO II — 45.
DÉCIO FILHO, José — 46. "Do outro lado na invernada
Dein Lescbuch Für Schule Und do sossego — 92.
Hein — 160.
De jogos e festas — 92, 155. -E-
Delírio das massas — 98. "Ecide" — 41, 153.
DELVAUX, Nestor — 43. El análisis literario — 54.
"De Quem é a Vaca?" — 133. Eleusa — 41.
"Diálogo" — 153. ELIA, Silvio — 129, 130, 131.
Diário do Paraná— 11. El impresionismo en el lenguaje
"Dias de Chuva" — 153. — 64, 104.
Dicionário analógico da língua ÉLIS, Bernardo — 11, 12, 13,
1701Gilberto Mendonça Teles

portuguesa — 150. 16, 24, 27, 46, 47, 48, 51,


Dicionário bibliográfico 55, 57, 60, 61, 62, 63, 64,
brasileiro — 45. 65, 66, 67, 68, 69, 82, 84,
Dicionário de folclore 85, 90, 93, 95, 98, 99, 100,
brasileiro —129. 113, 118, 124, 125, 133,
Dicionário do Brasil 135, 140, 143, 148, 154,
Central— 155. 156, 159, 160, 161.
El Quijote como obra de arte "Fiado só Amanhã" — 87.
dei lenguaje — 64. Filosofia dei lenguaje — 109.
"Em Defesa de Hugo Ramos" "Fim de um Bandido" — 44.
—133. FLAUBERT — 20.
Ensaios de filologia — 131. Folclore de Luziânia — 70
"Era uma Noite Assim" — 101. Folclore goiano — 129, 131, 159.
Ermos e gerais — 48, 55, 61, 62, Folha de Goiás — 47, 133.
64, 154. FONTES, Amando — 24.
ESOPO — 116. Força da terra — 155.
"Espritado" — 107. "Formas do conto regional na
Estórias da casa velha da ponte fronteira uruguaio-brasileira"
—42. —10.
"Estórias de Pescaria" — 87, FORSTER, E. M. — 20, 96.
115. FRANCESCHINI, Luis — 76,
Estórias do cerrado — 99, 117, 155.
157. FRANÇA, Basileu Toledo — 45.
Estudos de dialectologia "Fronteiras" — 92.
portuguesa — Linguagem de
Goiás— 131. -G-
"Eu Quero a Vaca" — 134. GAMA E SILVA, Mathias da
"Evolução do Conto Goiano" —33, 36, 37, 38, 149.
—16. GARCIA, José Godoy — 47.
Exercícios de literatura — 46, Gazeta de Uberaba — 39.
153, 159. Gazeta Esportiva — 11.
EYTELZ, Amo — 160. "Gente da Gleba" — 38, 47, 49,
54, 72, 73, 136.
-F- Gente de rancho — 72, 154.
17110Conto Brasileiro em Goiás

"Fatalismo" — 122. GIDE — 52, 65.


FAULKNER — 86. GODOY, Maria Paula Fleury
FELÍCIO. Brasigóis — 73. de — 46, 99, 100, 141, 156.
"Femininas do Beco" — 61. Goiás, coração do Brasil — 117.
FERREIRA, Gumercindo Goiás e literatura — 14.
—71, 141, 154. GOMES, LEITE — 152.
FERREIRA, Manuel — 12. GOMES, Pedro (G.) de
FERREIRA, Orlando — 47. Oliveira — 7, 34, 46, 57, 58,
59, 60, 61, 76, 135, 141, HEIDEGGER — 89.
153, 154, 161. HENKES, Romeu — 153.
GONÇALVES DIAS — 23, 31. "Herberto, o contista" — 11.
GONÇALVES, Rômulo — 47. HERMAN°, Manuel — 154,
GONZAGA JAYME, Luís 155, 156.
—38. Histórias da avozinha — 115.
GOODMAN, Theodoro Histórias da baratinha — 116.
—112. História da literatura brasileira,
GOYANES, Mariano Baquero literatura oral (Vol. VI)
—63, 65, 84, 85, 86, 108. — 129.
Goyaz — 38, 150. HOFFMAN — 124.
Grande sertão: veredas — 35, 56,
134, 145. -I-
GRILLET, Alain Robbe — 85, "Idas e Vindas" — 135.
90. Índice bibliogra'fico da literatura
GRIMM (Irmãos) — 116. goiana — 150.
GROSTOM, Florêncio Infância — 116, 125.
Antônio da Fonseca — 30. Informação goiana — 46, 127,
"Grupo Central" — 35. 149, 150.
Guia de instituições e folcloristas "Iniciação" — 80.
do mundo — 129. Introdução à literatura
GUIDO, Sérgio — Ver SILVA, brasileira — 80, 125.
Ribeiro da. Introdução à literatura
GUILHERMINA, Maria no Brasil— 21, 34.
—157. Introdução ao estudo da
GUIMARÃES, Bernardo literatura brasileira — 16,
—13, 21, 24, 35, 133, 160. 126.
GURGEL, Tarcísio — 10. "Irma" — 37, 38, 149.
1721 Gilbe rto Mendonça Teles

Irmão da Noite — 122.


-H- "Isaac, o Trovador" — 39.
"Habeas Corpus" — 44.
HATZFELD, Helmut — 64. - -
HAWTHORNE, Nathanael JAMES, Henri — 75.
—19. JESUS, Leodegária de — 31.
HEGEL — 31. João do fogo — 155.
JORDÃO, Eduardo — 97, 141, Lembranças do passado — 70.
155. Lendas e tradições brasileiras — 35.
JORGE, Miguel — 80, 85, 99, Lendas de minha terra — 70,
102, 104, 106, 111, 121, 154.
140, 156, 157. Lendas e encantamento do sertão
Jornal de Goyaz — 36, 38. — 159.
Jorna/de Letras — 111. Les faux-monnayeurs — 52.
Jornal de Notícias — 69 LESSA, Luis Carlos — 75.
Jornal Oió — 47. Le style et ses téchniques — 53.
Journal — 65. "Letras e Literatos de Ontem e
JOYCE — 21, 107. de Hoje" — 151,152.
Juca Mulato — 48. LIDA, Raimundo — 64.
JÚLIO, Silvio — 152. LIMA, Alceu Amoroso — 19,
Jurubatuba — 84, 86, 87, 88. 46, 62, 80, 89, 125, 126,
143.
-K- LIMA, Herman — 19, 47, 48,
KAFKA — 21, 90. 51, 64, 156.
KAIKÁ — 154. LIMA SOBRINHO, Barbosa
—144.
-L- Lingüística y historia literaria
LACERDA, Regina — 34, 129, —16.
133, 134, 142, 160, 161. LINS DO RÊGO, José — 24,
LA FONTAINE — 116. 48.
Lágrimas —71. LINHARES, Temistocles — 12.
La literatura y el lector —77. LIRA FILHO, João — 12.
La theorie du roman — 91. LISPECTOR, Clarice — 10,
La Littérature Comparée — 131, 90, 104.
17310 Conto Brasileiro em Goiás

137. Literatura comparada — 123,


Lavoura e Comércio — 41, 133. 132.
LEAL, Oscar — 35. "Literatura do Chapadão" — 49,
"Leilão na Praça" — 107. 52, 152.
LEITÃO, Rubem Andresen Literatura e mídia — 77.
— 5, 12, 13. Literatura européia e Idade
LEITE, Mário Rizerio — 70, Média latina — 51.
141, 154, 160, 161. Literatura infantil brasileira — 116.
LOBATO, Monteiro - 62, 116. MARROQUIM, Mário - 130.
LÓSO, Arthur - 39. MARTIUS - 142.
LÓSO, José - 150. Matutina Meiapontense - 27,
LOPES NETO, Simões - 24. 131.
LORD, David - 11. MAUPASSANT - 20, 37, 50.
Los novelistas y la novela - 20. MAURIAC, François - 52.
LOUSADA, Wilson - 17, 35. MAYA, Alcides - 24, 52.
LUCAS, Fábio- 103, 156. MEDEIROS, Frederico de
LUKACS, Georges - 91. 46.
LUPUS, J - Ver LÓSO, José. Medicina popular do Centro
LYNCE, Leo - Ver ARAÚJO -Oeste- 155.
VALE, Cilineu Marques MEIRELES, Evangelino - 46,
de. 159.
MELO, Gladstone Chaves de
-M- - 130.
"Macacada" - 119. MELO, Wilian Agel de - 56.
MACHADO, João Batista Memórias sobre as vantagens
- 71, 14, 157. de exploração de jazida de
Macunaz'ma -145. galena argentífèra de Abaeté
Mãe Marinha -71, 154. - 45.
MAGALHAES, Couto de MENDÉS, Catule - 37.
- 35, 40, 142, 160. MERQUIOR, José Guilherme
MAGALHAES, Valentim - 21. - 58.
MAGALHÃES JUNIOR, Meu livro de cordel- 42.
Raymundo - 12. Meu tio-avo e o diabo -155.
"Mágoa de Vaqueiro" - 47, 53. Meya ponte- 92.
MANSFIELD, Katherine MIGUEL-PEREIRA, Lúcia
- 20, 21, 100. - 22, 47, 72, 81.
174I Gi lbe rto Mendonça Teles

Maravilhas do conto brasileiro "Minha Gente" - 135.


- 160. MILANO, Atílio - 125.
Maravilhas do conto moderno MILANO, Dante - 125.
brasileiro - 160. Mimésis - 25, 84, 86, 89.
MAROUZEAU - 87. "Mistérios do Coração" - 38.
"Marquês de Rabicó" - 116. Mistério da Virgem (Auto da
MARQUES, Xavier - 24. Mofina Mendes) - 70.
Modern fiction. - 50. "Ninho de Periquitos" - 47,
MONTEIRO, Adolfo Casais 160, 161.
- 79, 81, 156. NISIN, Artur - 77.
MONTEIRO, Clóvis - 130. "No ciclo da boiada e do
MONTEIRO, Gercino - 55. sertão" - 97.
MONTEIRO, Ofélia Sócrates "Noite na Taverna" - 124.
do Nascimento - 117. "Noite Sangrenta" - 112.
Montezuma - 41. "Noites Brancas" - 133.
MONTOYA - 134. "Noites de Chuva" - 37.
MOOG, Viana - 125, 129. "Nostalgia" - 47.
Morena - 74. Notas de viagem ao Araguaia
MORSBECK - 128. - 153.
Morte sob encomenda - 155. NOVAIS, Paulo - 90.
MOSER, Gerard - 12. NUNES, Júlio - 159.
MOTTA FILHO, Cândido
- 12, 13. - O -
MOURA PACHECO, O Apóstata - 38.
Altamiro de - 99, 141, 156. Oásis - 28.
Movimentos modernistas no °Ateneu - 116.
Brasil- 128. Obras Completas de Hugo
de Carvalho Ramos - 152.
-N - O caminho das boiadas - 72,
Na cidade e na roça - 57, 59, 73, 143, 155.
153. OCAMPO, Artur Cambours
Narizinho arrebitado - 116. - 103.
NASCENTES, Antenor - 130. " O claro,clárido clarão da
NASSER, Jarmund - 69. poesia no conto"- 10.
175 10 Conto Brasileiro em Goiás

NATAL, Euriclice - 41, 149, O Conto - 19.


153. O conto brasileiro em Goiás
"Na Taverna" - 40. - 10, 11, 12, 14, 95, 150.
"Negociando Porco" - 81, 135. "O Conto do Realismo aos
Nego rei - 75, 135, 156. Nossos Dias" - 48
NETO, Feliciano - 159. "O Conto em Goiás" - 14.
"Nhola dos Anjos e a Cheia "O Corvo" - 62.
de Corumbá" - 161. "O Crime do Salustiano" - 121.
"O Desencanto de um O modernismo brasileiro e a
Encanto" — 87. língua portuguesa — 75.
ONETTI, Carlos — 12. "O Movimento Modernista"
O engraxate e outros (Contos) —52.
—71, 154. O muro que voava — 99, 117,
O ermitão de Muquém — 34. 157.
Oeste — 41, 46, 150. "Onde Está a Felicidade?"
O Estado de São Paulo —11, —38.
12, 81. Ontem — 31.
O Estado do Paraná — 11. "O Outro" — 120.
O folclore de Luziânia — 68. "O Pé de Milho" — 118, 119.
O Garimpeiro — 34. O pito aceso — 59, 154.
O índio Afonso — 34. "O Poço do Bispo" — 61.
O irmão da noite — 115. "O Poço da Cruz" — 112.
O Labirinto — 90. "O Poldro Picaço" — 57.
"O Liquidante" (W. Bariani O Popular— 11, 12, 14, 47, 56,
Ortêncio) — 80. 65, 69, 89.
"O Liquidante" (C. Bernardes) O problema da língua brasileira
— 76, 135. — 131.
OLÍMPIO, Domingos — 24. 0 4°. Poder— 126.
OLINTO, Heidrum — 79. O que foi pelo sertão — 76, 155.
OLIVEIRA, Franklin de — 55. "O que viveu sem ter nascido"
OLIVEIRA MELO — 101. —74.
OLIVEIRA PAIVA — 24. Orientações da lingüística
OLLIER, Claude — 85. moderna — 130.
"O Louco" — 112. O romance a novela e o conto
"O maktub de macatuba" — 10 no Brasil— 83.
"O Manda-Chuva" — 112. ORTEGA Y GASSET — 65.
1761 Gilbe rto Mendonça Teles

"O Maquinista" — 121. ORTÊNCIO, Nancy — 99,


O melhor do conto brasileiro 117, 118, 119, 157.
— 11. Os Caboclos — 82, 113.
"O mercado do livro Os caminhos do absurdo ou o
universitário" — 77 triunfo da estupidez — 98.
"O Milagre" — 88. Os cavalinhos de Platiplanto
O minotauro — 116. — 90, 92, 93, 95, 102.
"Os laços e suas margens" — 10. PAOLI, Marcel de — 156.
"Os limites da comparação" — 10. PALMÉRIO, Mário — 55.
Os de Macatuba —10. "Para uma poética do conto
Os melhores contos de Bernardo brasileiro" — 11.
Pis — 10, 156. Parnaso Goiano — 32, 56.
Os pecados da tribo — 96, 155. PEIXOTO, Afrânio — 24.
O Selvagem — 31. PEIXOTO, Ana Lins dos Gui-
O sertão - o rio e a terra — 76, marães — 32, 42, 46, 100,
155. 149, 159.
O sonho do Pracinha e outros PEIXOTO JÚNIOR, Albino
contos — 74, 155. J. - 5.
O sonho do senador — 71, 157. PELAYO, Menéndez — 31.
"O Tamanduá e as Formigas" PELEJA, Sebastião Veloso
— 118. — 46, 153, 159.
OTERO, Leo Godoy — 72, 73, "Pelo Caiapó Velho" — 63, 133.
74, 76, 88, 140, 143, 154, Pelo sertão — 35, 56.
155, 160. Pequeno dicionário de literatura
"O testemunho literário de brasileira — 33, 116.
Ermos e Gerais — 97. "Pequerrucha" — 118.
O Tronco — 27, 68, 69. PEREIRA, Domiciano de
"O Tronco - Um Romance sem Faria — 17.
Originalidade" — 69. PEREIRA, Durval — 47.
"O Último Natal do Cabo PERRAULT — 116.
Rogaciano" — 135. "Perseguição" — 105.
O vale das imbaúbas — 114. Picurnãs — 102, 103, 107, 110,
136, 157.
—P — Pierre et Jean — 50.
177 10 Conto Brasileiro em Goiás

Páginas da Roça — 70, 154. PIMENTEL, Alberto


Páginas do Meu Sertão — 61, Figueiredo — 116.
153. PINÓN, Nélida — 94.
Páginas Goianas — 56, 153. Pium — 69, 122.
PALEÓLOGO, Constantino Poe — 19.
— 121, 160. Poeira no ar —71.
PAÚNIA, Marilda — Ver GO- Poesias e contos bacharéis — 121,
DOY, Maria Paula Fleury de. 157.
Poesia espanhola — 15. QUIROGA, Horacio — 147.
Poetas goianos — 34. —R—
POHL — 142. RAMOS, Cornai() — 99, 114,
"Política Literária" — 123. 141, 157.
POMPÉIA, Raul — 116. RAMOS, Graciliano — 24, 48,
PORTELA, Eduardo — 89, 90, 72, 87, 116, 121, 160.
100, 104. RAMOS, Hugo de Carvalho
POTY — 155, 156. —12, 13, 16, 24, 33, 34,
Précis de stilistique française 35, 36, 37, 38, 44, 46, 47,
—88. 48, 49, 52, 53, 55, 56, 59,
"Prefácio" — 11. 60, 62, 63, 72, 73, 75, 76,
Primeira chuva — 61. 82, 87, 113, 124, 129, 133,
Problemas de la novela 134, 136, 139, 140, 143,
contemporanea — 63. 147, 148, 149, 152, 153, 159,
"Procissão do Senhor Morto" 160, 161.
—61. RAMOS, Manuel Lopes de
PROENÇA, M. Cavalcante Carvalho — 30, 147.
—25, 49, 52, 134 ,145, 152, RAMOS, Victor de Carvalho
153. —12, 133, 134, 152.
Projetos sobre a exploração do RAWET, Samuel — 90.
carvão de pedra Razão do poema — 58.
na bacia do Araçuaí — 45. Realidade e ficção — 99, 156.
Prosa de ficção, de 1870 a 1920 REIS, Baltazar dos — 159.
—22. REIS, Gelmires — 47, 70, 141,
Psicologia y teoria dei 154, 161.
conocimiento — 70. REIS, Vasco dos — 125.
Relógio Belisário — 155.
-Q- Retórica do silêncio — 10, 13, 95.
1781 Gilberto Mendonça Teles

Quadro sintético da literatura Revista Branca — 121.


Brasileira — 143. Revista da Academia Goiana
Qué es la novela? — 85. de Letras— 110.
QUEIROZ, Jerônimo Geraldo Revista da UFG — 41
de — 144, 156, 157. Revista de filologia românica — 11.
QUEIROZ, Raquel de — 24. Revista do Instituto de Estudos
QUINTA, Waldir Castro — 151. Brasileiros (USP) — 12.
REZENDE, Jofre — 19. Balduino — 151.
RIBEIRO, João — 125. SANTOS, Raimundo Moreira
RICHTER, Elise — 104. dos — 47.
RIEDEL, Dirce Cortes — 82. "São Marcos" — 135.
RIEDEL, Diaulas — 160. "São Miguel e Almas" — 67.
RIOS, Augusto — 31. SARRAUTE, Nathalie — 85.
Rio Turuna — 122. SARTRE — 86.
ROCHA, Benedito Odilon "Saudades" — 39.
—121, 160. "Scherzando" — 39.
RODRIGUES, Higino — 30, SCHOLLHAMMER, Karl
36, 39, 149, 151. Erik — 77.
"Romances" — 31. Seleta de Bernardo Élis — 156.
ROMERO, Silvio — 40, 125. Seleta de Orígenes Lessa — 10.
ROSA, Guimarães — 16, 20, ",Sertão" — 33.
Sertão sem fim — 78, 79, 83,
26, 35, 48, 56, 74, 79, 87,
107, 109, 121, 134, 135, 133, 135, 156.
145. "Sicci Oculi" — 41.
ROSA, Paulo — 124, 161. SILVA, Agostinho da — 12.
ROSATO, Myrta Guarany SILVA, Benedicto — 94.
—79. SILVA, Domingos Carvalho
ROSSI, Giuseppe — 12. da — 83.
Roteiro de Análise — 161. SILVA, Henrique — 29, 34, 40,
Roteiro do Conto Goiano — 34, 127, 129, 142, 149, 150,
95. 159.
Roteiro de Macunaima — 145. SILVA, Martiniano José da
RUBIÃO, Murilo — 94, 96. —121, 157.
SILVA, Ribeiro da — 39.
179 10Conto Brasileiro em Goiás

—S— SILVA BRUNO, Ernani — 33.


SABINO JÚNIOR, Oscar — 150. SILVA E SOUSA, Luís
Sagarana — 24, 121, 134, 135. Antônio da — 30.
SAINT-HILAIRE, Augusto de SILVA NETO, Serafim da
—142. —130.
"Sangue de Bárbaro" — 112. SILVEIRA, Joel — 90.
SANTANA, Moisés — 41. SILVEIRA, Tasso — 123, 132,
SANTA CRUZ, Francisco 137, 152.
SILVEIRA, Homero — 12, 14. Goiás — 40.
SILVEIRA, Valclomiro — 24, Suplemento Literário de Minas
82, 113. Gerais — 92.
"Simpatia pra vento" — 97. "Surpresa no Buracão" — 108.
"Simples Histórias" — 38.
"Situação do conto no Brasil" — 12 — T —
SOARES AMORA, Antônio "Tálamo e Túmulo" — 33, 38.
85. Tartuffe — 53.
Sobre o conto brasileiro — 12. TAVARES, Crispiniano — 45,
SÓCRATES, Eduardo — 37. 46, 152.
"Solidão e solidariedade TCHECOV — 20, 77, 100.
nos caminhos de Origenes TEIXEIRA, J. Aparecido
Lessa" — 10. —129, 131, 142, 159, 161.
Sombras— 100, 102, 156. TELES, Gilberto Mendonça
Sombras dos reis barbudos — 96, —14, 52, 93, 153, 161.
155. TELES, José Mendonça — 57,
SOUSA, Afonso Felix de — 16, 121, 122, 141, 157.
47, 93. TELES, Maria do Rosário de
SOUSA, Domingos Felix de Morais — 17.
—46, 117, 119, 121, 160. TELES, Ney de Paula, — 17.
SOUSA, Galante de — 126. TELES JÚNIOR — 52.
SOUSA, Inglês de — 24. Teoria da literatura
SOUSA, José Bernardo Felix (René Wellek) — 50, 142.
de — 46. Teoria da literatura (Soares
SOUSA, Manuel Amorim Amora) — 85.
Felix de —47 Teoria do conto — 13.
SOUSA, Maria Lúcia Felix Teoria y técnica de la creación
de— 117. literaria — 103.
1801 Gilberto Mendonça Teles

SOUSÂNDRADE — 125. Terra branca, terra vermelha


SPITZER, Leo — 16, 86. — 120.
STEVENSON, Robert Luis —65. lhe development of english prose
STENDHAL — 65. between 1918 an 1939 — 96,
Sudoeste. Antologia de uma 97.
região — 45. lhe writings of fiction — 112.
Sumé e o destino da Nação TIEGHEN, Paul van— 131,137.
Torvelinho dia e noite — 155. VEIGA, José J — 88, 90, 91, 92,
"Traços Multicolores" — 56, 93, 94, 95, 96, 102, 106,
153. 111, 140, 155, 160.
"Tragédia na Roça" — 42. VEIGA NETO — 41, 150.
TRANCOSO — 116. "Vento Morno" — 120.
Três contos que não são de réis Veranico de janeiro — 51, 61, 65,
—70, 154. 67, 84, 124, 135, 156.
TREVISAN, Dalton — 108. Verbo-enciclopédia
"Trilhas do Grande Sertão" luso-brasileira (Lisboa) — 95.
—134. "Véspera de Natal" — 112.
Tropas e boiadas — 13, 25, 35, "Viagem ao Anoitecer" — 107,
39, 47, 48, 49, 51, 52, 55, 108, 136.
56, 60, 73, 75, 87, 129, 133, Viagem às terras goianas— 35.
134, 136, 139, 140, 152, VIANA, Hélio — 131.
153. VICENTE, Gil — 70.
"Tropas e boiadas - gramática VICTOR RODRIGUES,
e estilo" — 54. Gastão Deus — 31, 32, 34,
Tutaméia — 20, 56. 56, 149, 153.
Twice told tales — 19. "Vida Geralina" — 87.
Vida mundo — 84, 87, 136, 156.
—U — "Vida Perigosa" — 107.
"Uma Certa Porta" — 66. Vidas Secas — 19.
Uma interpretação da literatura VIEIRA, Monsenhor Primo
brasileira— 125, 129. — 43, 114.
"Um Contista Goiano" — 81. Vila Boa — 129.
Um regionalista goiano — 12. "Vingança do Padre" — 44.
Vinte e dois diálogos sobre
181 1 O Conto Brasileiro em Goiás

—V — o conto brasileiro atual


VAGA, Ismael. Ver GAMA E — 12.
SILVA, Mathias da. Vintém de cobre — 42.
VALÉRY, Paul — 103. "Vocabulário do Sertanejo
Vanguarda européia e Goiano" — 61, 153.
modernismo brasileiro — 10. VOSSLER, Karl — 109.
Vão dos Angicos — 84, 155. Vovó do pito — 76, 155.
Variações sobre o conto — 47. Vultos e factos de Goiás — 41.
—X — WOOLF, Virgínia — 50.
XAVIER JÚNIOR — 12, 98. WULF, Mauricio de — 103.

—W — —Z—
WEIDDLÉ — 65. ZOLA — 40.
WELLEK, René — 50, 125, 142.

1821 Gilberto Mendonça Teles


4. OBRAS DO E SOBRE O AUTOR

DADOS BIBLIOGRÁFICOS

T ELES, GILBERTO MENDONÇA nasceu em 30 de junho


de 1931, em Bela Vista de Goiás, GO. Reside há 30 anos no
Rio de Janeiro. Fez toda a sua formação acadêmica em Goiânia:
o Ginásio, no Ateneu Dom Bosco, dos salesianos, e no Colégio
Estadual, onde cursou também o Científico; o curso de Letras Ne-
olatinas, na Faculdade de Filosofia da Universidade Católica de
Goiás; e o de Direito, na Universidade Federal do mesmo estado.
Em 1965, foi com bolsa de estudos para Portugal, obtendo, em
Coimbra, o Curso de Especialização em Língua Portuguesa. Em
1969, doutorou-se em Letras pela Pontificia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul, defendendo também tese de Livre-Docên-
cia em Literatura Brasileira.Em Goiás, foi, durante quatorze anos,
funcionário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e, ao
mesmo tempo, professor do Colégio Estadual [Liceu], antes de ini-
ciar sua carreira de professor-universitário. Foi professor-fundador
da Universidade Católica e da Universidade Federal de Goiás, onde
estruturou e dirigiu o Centro de Estudos Brasileiros, fechado pelos
militares em 1964. Por duas vezes presidiu a União Brasileira de
Escritores, secção de Goiás, e o Instituto Histórico e Geográfico de
Goiás. Atingido pelo AI-5, quando professor de literatura brasileira
183 1 O Conto Brasileiro em Goiás

no Instituto de Cultura Uruguaio-Brasileiro, de Montevidéu, veio


para o Rio de Janeiro em janeiro de 1970, sendo saudado por Carlos
Drummond de Andrade, que lhe dedicou os seguintes versos:

Repito aqui — repetição


é meu forte ou meu fraco? — tudo
que floresce em admiração
no itabirano peito rudo
(e em grata amizade também)
ao professor, melhor, ao poeta
que de Goiás ao Rio vem,
palmilhando rota indireta,
mostrar — com um ou com dois eles
no nome — que ciência e poesia
em Gilberto Mendonça Teles
são acordes de uma harmonia.

Durante três meses deu aula em pequenos colégios e cur-


sinhos do Rio de Janeiro, até ser contratado pela Pontifícia Uni-
versidade Católica do Rio de Janeiro [PUC-RJ], onde leciona
Literatura Brasileira e Teoria da Literatura, sendo hoje Professor
Emérito. Com a anistia, transferiu seus cargos públicos para as
Universidade Federal Fluminense e Federal do Rio de Janeiro,
aposentando-se em 1988 e 1990, respectivamente. Além de pro-
fessor no Uruguai, lecionou em Portugal [Professor-Catedrático-
Visitante da Universidade de Lisboa], na França [Professeur As-
socie da Universidade de Haute Bretagne, em Rennes; e Maitre
de Conference na Universidade de Nantes], nos Estados Unidos
[Tinker Visiting Professor da Universidade de Chicago] e na Es-
panha [Catedrático Visitante da Universidade de Salamanca]. /
Quanto a prêmios e distinções, veja-se o final.
184iGILBERTO MENDONÇATELES

A mais recente crítica literária, do Brasil, tem-se pronun-


ciado sobre a sua obra de poesia e de crítica, como na opinião
de:

CASSIANO RICARDO, Prefácio a A Raiz da fala, São


Paulo, 1972:
Tem ele, grande poeta, consciência do que faz e dai a au-
tenticidade pessoal que o eleva na admiração de quantos amam o
poema como poema", que é o seu poema. Semeado, aqui e ali, de
folhiflores visuais, surpreendentes e inesquecíveis.
ALCEU AMOROSO LIMA [Tristão de Athayde], Jornal do
Brasil, Rio, 22.6.1978:
A evolução poética de Gilberto Mendonça Teles, por-
tanto, desde o seu subjetivismo "azul" inicial até uma reifica-
ção esotérica, em que a preocupação com a própria linguagem
das coisas emerge de sua crescente exigência criadora, repre-
senta uma das ricas aventuras poéticas de nossa língua, sempre
guiada por uma espeleologia crítica, como a que revelou na
interpretação da obra de nosso poeta máximo, Carlos Drum-
mond de Andrade.

IVAN JUNQUEIRA, O Globo, Rio, 15.4.1979:


Qualificar de importantíssimo (ou, talvez, em certo sentido,
talvez mesmo crucial) o lançamento [...] de Retórica do silêncio se-
ria ainda muito pouco para o que merecem a argúcia, a proficiência
e a acuidade crítica deste admirável poeta e ensaísta que é Gilberto
Mendonça Teles. [...] Obra de se ler, reler e de com ela muito apren-
der. A Retórica do silêncio releva por seu texto fluente e conciso, pela
modernidade dos temas que versa, pela organicidade de seu desenvol-
vimento expositivo [...], pela perspectiva sempre lúcida e eqüidistante
do autor, pela extrema pertinência do leque de propostas e indagações
que nos abre, por sua erudição jamais pernóstica e, afinal, por um
didatismo que, longe de enfarar o leitor, docemente o intima à refle-
xão e ao convívio com algumas das mais agudas e ainda controversas
questões da literatura brasileira, particularmente as que se irradiam 185 10CONTO BRASILEIRO EM GOIÁS
do modernismo.

DONALDO SCHULLE, O Estado de São Paulo, São


Paulo, 1982:
G.M.T. mete o Saci texto a dentro [...1. Com jeito de Saci,
o poeta não se compromete com nenhuma corrente literária. Fre-
qüenta tanto a vanguarda como a dicção mais antiga, misturando
galhofeiramente tudo, sem levar nada a sério. A técnica que Eliot
elegeu para reconstruir a cultura ocidental, utilizou-a Teles para
sacudir o peso da erudição antiga ou moderna. Retoma a blague
dos poetas de 22 e dirige-a contra a sociedade dos últimos anos,
tão maléfica à nossa situação humana, mesmo com o resulta do
progresso material.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, Dedicatória


na 5a ed. de Poesia e prosa, Rio, out. de 1983:
Querido Gilberto: Você tem sido generoso "cúmplice da
minha poesia", analisando-a e valorizando-a como eu jamais po-
deria esperar. Meu agradecimento profundo, neste abraço amigo,
que é também de admiração pelo seu espírito critico e pelo criador,
igualmente notáveis.

PÉRICLES EUGÊNIO DA SILVA RAMOS, Revista de po-


esia e crítica, Brasília, 11.9.1985:
A faceta bem-humorada do poeta e o modo como a lapida
situam-no em posto perfeitamente dele, pessoal, inconfundível,
apesar das raízes longínquas que possa ter de escassos mestres.
Na verdade, ninguém desenvolveu, como ele, em nossa poesia
moderna, essa feição alegre, foliona, mas completamente desti-
tuída de ferrão, satírico ou mordaz, de qualquer ofensa ou mal-
dade.

ANTÔNIO CARLOS SECCHIN, Gilberto: 40 anos de po-


esia, Rio, 1999:
Assim em Gilberto, como em todo efetivo criador, a par-
cela indissociável do homem, a sua efetiva cara-metade não é o
corpo da musa que eventualmente o acolhe e temporariamente
o satisfaz; é sim, e sobretudo, aquele outro corpo onde ele, poeta
1861 Gilbe rto Mendonça Teles

e homem, está desde sempre aninhado: o corpo vivo da lingua-


gem.
OBRAS DO AUTOR

POESIA
• Alvorada. Goiânia: Escola Téc- • Sintaxe invisível. Rio de Janeiro:
nica de Goiânia, 1955. Pref. do Cancioneiro de Orfeu, 1967. Foto
Autor Capa de Péclat de Chavan- do Autor por Luiz Prieto. 88 p.
nes. 54 p. 2a Edição, fac-similada.
Goiânia: Academia Goiana de • A raiz da fala. Rio de Janeiro:
Letras, 2005. 110 p. Gernasa / INL, 1972. Capa de
Vera Duarte. Pref. de Cassiano
• Estrela-d'alva. Goiânia: Brasil Ricardo. Prêmios: Secretaria de
Central, 1956. Pref. do Autor. Educação e Cultura do Distrito
Prêmio Félix de Bulhões, da Aca- Federal, V Encontro Nacional de
demia Goiana de Letras. 78 p. Escritores (1970); Olavo Bilac,
da Academia Brasileira de Letras
• Planície. São Paulo: Revista dos (1971). 120 p.
Tribunais, 1958. Capa e ilustra-
ções de Fr. Confaloni. Prêmio de • Arte de armar. Rio de Janeiro:
Publicações da Bolsa Hugo de Imago, 1977; 2a ed. Idem. Prêmio
Carvalho Ramos, da Prefeitura Banco Bandeirantes, da Socie-
Municipal de Goiânia. 102 p. dade Amigas da Cultura, Belo
Horizonte (1976); Prêmio Bra-
• Fábula de fogo. São Paulo: Revista sília de Poesia, do XII Encontro
dos Tribunais, 1961. Ilustração de Nacional dos Escritores, (1978).
Fr. Confaloni. Prêmio Leo Lynce, 92 p.
da União Brasileira de Escritores
— Seção de Goiás. 178 p. • Poemas reunidos. Rio de Janeiro:
J. Olympio / INL, 1978; 2a ed.
• Pássaro de pedra. Goiânia: Escola J. Olympio, 1979. 3a ed. au-
Técnica de Goiânia, 1962. Capa e mentada e com o título de Hora
desenho de D. J. Oliveira. Orelha aberta. Idem, 1986. Capa de
187 10 Conto Brasileiro em Goiás

de Jesus Barros Boquady. Prêmio Eugênio Hirsch. Bico-de-pena


Álvares de Azevedo, da Academia de Amaury Menezes. Pref. de
Paulista de Letras. 104 p. Emanuel de Moraes. Apêndice:
"Itinerário Crítico" de 1955 a
• [Sonetos do azul sem tempo]. O Po- 1977. [É a 2a ed. de todos os
pular, Goiânia, 1964. São XXII livros até então, com exceção
sonetos incluídos em Poemas de Alvorada e Estrela-d'alva, de
reunidos e em Hora aberta. Não que aparece apenas uma seleção
se fez edição em separado. de poemas.] 308 p.
• Saciologia goiana [Livro de • Hora aberta. [3a ed. dos Poemas
Cordel assinado por Camon- reunidos]. Rio de Janeiro: J.
go]. Guarabira, PB: Tipografia Olympio, 1986. Edição come-
Pontes, 1980. Reeditado em morativa dos 30 anos de poesia
Saciologia Goiana com o nome do Autor. Contém nota do
de Camongo. 16 p. Autor, reprodução das capas de
seus livros, algumas partituras
• Saciologia goiana. Rio de Janeiro: de poemas musicados, sombra
Civilização Brasileira / INL, de seu perfil e bibliografia com-
1982. Capa de Irene Peixoto e pleta. Prêmio Cassiano Ricardo
Márcia Cabral. Orelha de Mário do Clube de Poesia de São Paulo
da Silva Brito. 158 p. — 2a ed. (1987); Prêmio Machado de
Hora aberta (3a ed. de Poemas Assis [Conjunto de Obras], da
reunidos, supra). — 3a ed. Goiânia: Academia Brasileira de Letras,
Conselho de Cultura de Goiás, 1989. 592 p. 4a ed. aumentada
1987. "Sacicatura" por Silvio. com Alvorada, Estrela-d'alva e
Capa de Jair Pinto. 148 p. — 4a ed. Poemas avulsos (inéditos). Orga-
aumentada. Goiânia: Agência de nizada por Eliane Vasconcellos.
Cultura Goiana, 2001. Fortuna Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
Critica da obra e Bibliografia Pref. de Ángel Marcos de Dios.
Completa do Autor. Capa de Cronologia da Vida e Obra,
Vitor Burton, 196 p. — 5' ed. Iconografia, Fortuna Critica e
aumentada, na 4a ed. de Hora Bibliografia de e sobre o Autor.
aberta, infra. — 6. ed. Goiânia: 1114 p.
Kelps, 2004. A mesma capa da
4a ed. 204 p. • Caixa de fósforos (Poemas De-
dicados e Circunstanciais). São
• Plural de nuvens. Porto: Gota de Paulo: Giordano, 1999. Prefácio
Água, 1984. 112 p. 3a ed. Rio de do Autor. 112 p. 2a ed. aumen-
Janeiro: J. Olympio, 1990. Pref. tada em Hora Aberta, 4' ed.
de Telênia Hill. Capa de Joatan
Sousa da Silva. Foto do Autor • Álibis. Joinville, SC: Sucesso
1881 Gilberto Mendonça Teles

por Rosary Caldas. 95 p. Pocket, 2000. Capa de Vitor


Burton. 110 p.

• á- Cone de sombras. São Paulo: • Arabiscos. Na 4a ed. de Hora


Massao Ohno Editor, 1995. aberta.
Capa: Escrita, gravura de Selma
Daffre. Orelha do Autor. Foto de • Improvisuais. Na 4a ed. de Hora
Elisa Hermana. 143 p. aberta.
ANTOLOGIA POÉTICA

• Poemas de Gilberto Mendonça com retrato a óleo por Marcelo


Teles. In: Revista de Cultura Brasi- Batista. Pref. do Autor. Orelha
lefia, Madrid, no 23, diciembre de de Fernando Py. 114 p.
1967. Cubierta de Ángel Crespo
y Gómez Bedate. 20 p. • Casa de vidrio. Salamanca: Luso-
Espariola de Ediciones, 1999.
• La palabra perdida . Montevidéu: Trad. de Gastón Figueira e
Barreiro y Ramos, 1967. 96 p. 2 a Dardo Eyherabide. Pref. de
ed. Casa de vidrio. Ángel Marcos de Dios. Capa
de Ana Maria Barbero Franco.
• Fa/avra. Lisboa:Dinalivros,1990. Foto de M. Rosário. Nota do
Pref. de Arnaldo Saraiva. Capa de Autor. 134 p.
Ana Filipa.148 p.
• 50 poemas escolhidos pelo autor.
• L'Animal. Paris: IiHarmatan, 1990. Rio de Janeiro: Galo Branco,
Trad. de Christine Chauffey. Pref. 2003. Orelha do editor. 116 p.
de Jean-Claude Elias. (Poetes de
Cinq Continents). 82 p. • Teologia de bolso. Joinvile: Su-
cesso Pocket, 2005. Seleção e
• Nominais (Seleção de poemas introdução de José Fernandes.
de sintaxe nominal e visual). 120 p.
Vitória: Nejarim, 1993. Pref. de
João Ricardo Moderno. Capa de • Lugares imaginários. Antologia
Gonçalo Ivo. Apêndice Seleção bilíngüe: português-búlgaro.
de Estudos de José Fernandes Sófia: Universidade do Algarve,
sobre os poemas visuais do Autor. 2005. Seleção e prefácio de Petar
120 p. Petrov. 176 p.

• Os melhores poemas de Gilberto • Plurale di nuvole / Plural de nu-


em Goiás

Mendonça Teles. São Paulo: Glo- vens. Antologia bilíngüe: italia-


bal, 1993 Seleção e estudo de Luiz no-português. Nápoli: Liguori
Busatto. 2a ed. Idem, 1994. 3a ed.
18910 Conto Brasileiro

Editore, 2006. 244 p. Seleção


Idem, 2001. 4a ed. aumentada, e introdução de Giovanni Ric-
idem, 2006. Pref. de Luiz Busat- ciardi. Tradução de Carmen
to. 220 El p. Pagliuca.

• Sonetos (Reunião). Rio de Janeiro: • La syntaxe invisible. Paris: Édi-


Edições Galo Branco, 1998. Capa tions Caracteres, 2006. 124 p.
Seleção, tradução e estudo de Ca- • A SAIR: Antologia poética em
therine Dumas. Esta edição traz inglês, alemão, romeno e cata-
também os poemas de LAnimal. lão.
Paris: UHarmattan, 1990, acima
mencionada.

1901 Gilberto Mendonça Teles


ANTOLOGIA DE QUE FAZ PARTE
[55, no Brasil e no Exterior]

CRÍTICA / ENSAIO los Drummond de Andrade. (Col.


Documentos Brasileiros). Prêmio
• Goiás e literatura. Goiânia: Es- Silvio Romero, da Academia Bra-
cola Técnica de Goiânia, 1964. sileira de Letras (1970).202 p. 2a
76 p. ed. Idem, 1976. Capa de Mauro
Kleiman. Apêndice: "Repetição
• A poesia em Goiás. Goiânia: Im- ou Redundância?".216 p. 3a ed.
prensa Universitária da UFG, São Paulo: Experimento, 1997.
1964. Capa de Maria Guilher- Nota do Autor. Fotos de Carlos
mina Pref. de Domingos Félix. Drummond de Andrade, Joa-
Apêndice: índice Bibliográfico quim Inojosa e do Autor. Capa
da Literatura Goiana. Prêmio de Ana Aly. 216 p. [A ed. inicial,
Universidade Federal de Goiás. mimeografada, com o titulo de
536 p. 2a ed. Idem, 1982, com A Repetição: Processo estilístico de
titulo geral de Estudos Goianos, v. Carlos Drumrnond de Andrade, foi
1. Foto de Rosary Caldas.510 p. feita em Montevidéu, em 1967.
72 p.
• O conto brasileiro em Goiás. Goi-
ânia: Departamento Estadual de • Vanguarda européia e modernis-
Cultura, 1969. Menção Honrosa mo brasileiro. Rio de Janeiro:
do PEN Club de São Paulo Vozes, 1972. Capa de Paulo de
(1970). 168 p. 2a ed. Goiânia: Oliveira.272 p. 3a ed. rev. e aum.
Secretaria Municipal de Cultu- Idem, 1976. 384 p. 10 ed. Rio de
ra, 2007. 204 p. Janeiro: Record, 1988. 448 p.
13a ed. Idem, 2000. 446 p. Nota
• La poesia brasileha en la actu- do Autor em todas as edições.
em Goiás

alidad. Montevidéu: Editorial 17a ed., Idem, 2002, 448 p.


Letras, 1969. Capa de Mario Tor-
rado. Trad. e Orelha de Cipriano
19110 Conto Brasileiro

• Camões e a poesia brasileira. Rio


Vitureira.136 p. de Janeiro: Fundação Casa de Rui
Barbosa / MEC, 1973. Pref. de
• Drummond— a estilística da repe- Maximiano Carvalho da Silva.
tição. Rio de Janeiro: J. Olympio, Prêmio IV Centenário de Os Lu-
1970. Pref. de Othon Moacyr siadas (1972); Prêmio Fundação
Garcia. Fotos do Autor e de Car- Cultural do Distrito Federal,
no VIII Encontro de Escritores Goianos, v. III. Óleo por: Wal-
(1973) e Menção Honrosa do demar Dias da Cunha. Capa de
Instituto Nacional do Livro Laerte Araújo Pereira. 446 p.
(1974), 264 p. 2a ed. São Paulo:
Quiron / INL, 1976. Capa de • A escrituração da escrita. Petró-
Mauro R. Godoy. (Logos), 318 polis: Vozes, 1996. 2a ed. Idem,
p. 3a ed. Rio de Janeiro: Livros 2001.440 p.
Técnicos e Científicos, 1979.
(Biblioteca Universitária de Li- • Intenções de ofício (Depoimento
teratura Brasileira), 340 p. 4a ed. sobre Poesia). Florianópolis: Museu
Lisboa: Imprensa Nacional - Casa / Arquivo da Poesia Manuscrita.
da Moeda, 2000. Acrescido 1998. [ 20 p].
de O Mito camoniano na língua
portuguesa. Nota do Autor. Capa • Vanguardia latinoamericana. Co-
de J. Bandeira. 488 p. autoria de Klaus Müller-Bergh
(University of Illinois at Chi-
• Retórica do silêncio. São Paulo: cago). Madri: Iberoamericana,
Cultrix / INL, 1979. 348 p.2a 2000. 5 v. Capa de Carlos Perez
ed. Retórica do silêncio —1. Rio de Casanova. Já saíram os Tomos
Janeiro: J. Olympio, 1989. Fotos I [México y América Central],
de Joaquim Inojosa, Mário da 2000, 360 p.; tomo II [Caribe.
Silva Brito, Wilson Martins e o Antillas Mayores y Menores],
Autor. Capa de Rogério Meier. 2002, 286 p.; tomo III [Venezue-
396 p. la e Colombia], 2004, 270 p.; IV
[Equador, Peru e Bolivia], 2005,
• Estudos de poesia brasileira. Coim- 352 p.
bra: Almedina, 1985. Pref. do
Autor.386 p. • Contramargem. Rio de Janeiro:
Loyola / PUC-Rio, 2002. Prêmio
• A crítica e o romance de 30 no Juca Pato (Intelectual do Ano
Nordeste. Rio de Janeiro: Atheneu 2002), 376 p.
Cultural, 1990. Orelha de Pedro
Paulo Montenegro.136 p. Publi-
1921 Gilberto Mendonça Teles

• Sortilégio da criação. Discurso


cado inicialmente em O Romance de posse e de recepção [Nelson
de 30 do Nordeste. Fortaleza: Mello e Souza] na Academia
Universidade Federal do Ceará, Brasileira de Filosofia. Rio de
1983. Organização de Pedro Paulo
Janeiro: Edições Galo Branco,
Montenegro. 212 p.
2005. 76 p.
• A crítica e o principio do prazer.
• Contramargem — II, a sair.
Goiânia: UFG, 1995. Estudos
• Discursos paralelos. Seleção de Olympio, 1974. Capa de Gian
prefácios escritos pro GMT., em Calvi. (Col. Brasil Jovem), 180 p.
organização.
• O mito camoniano. A sair. • Tristáo de Athayde: Teoria, Crítica
e História Literária. Seleção, in-
• Memórias entrevistas. Em organi- trodução e notas. Rio de Janeiro:
zação. Livros Téc. e Científicos / INL,
1980. (Biblioteca Universitária
Brasileira), 594 p.
EM COLABORAÇÃO
• Poetas goianos — I; Século XIX.
• Enciclopédia dos municípios bra-
Seleção, estudos e notas. G6*-
sileiros. Org. e Ver.Téc. Rio de
ânia: Universidade Católica
Janeiro: IBGE, 1965. v. XXXV,
de Goiás, 1984. Capa de José
456p.
Eurípedes Rosa, 352 p.
• Antologia da literatura brasilei- • Prefácios de romances brasileiros.
ra. Coordenação. Montevidéu: Organizada junto com Ir. Elvo
ICUB, 1967. v. 1 Prosa, 216 p. Clemente, Heda Maciel Cami-
nha e Alice Terezinha Campos
• Gonçalves Dias (Antologia). Pla- Moreira. Porto Alegre: Acadêmi-
nejamento. Montevidéu: ICUB, ca, 1986, 234 p.
1967, 74 p.
• " Se souberas falar, também falaras".
• Seleta em prosa e verso de Carlos Antologia de Gregório de Matos.
Drummond de Andrade. Textos Lisboa: Imprensa Nacional — Casa
escolhidos por CDA. Introdução, da Moeda, 1989, 424 p.
notas e estudos. Rio de Janeiro:
J. Olympio, 1971. Capa de Gian • Os melhores poemas de Jorge de
Calvi. (Col. Brasil Jovem). 228 Lima. Seleção e prefácio. São
p.10a ed. Rio de Janeiro: Record, Paulo: Global, 1994, 192 p. 2a
1995.240 p. ed. Idem, 2001, 192 p.
193 10 Conto Brasileiro em Goiás

• Seleta de Orígenes Lessa. Sele- • Poesia completa, de Augusto Fre-


ção, estudos e notas. Rio de derico Schmidt. Prefácio. Rio de
Janeiro: J. Olympio, 1973. Janeiro: Topbook, 1995, 696 p.
Capa de Gian Calvi. (Col..
Brasil Jovem), 198 p. • Os melhores contos de Bernardo
_Élis. Seleção, introd. e organiza-
• Seleta de Bernardo Élis. Seleção ção. São Paulo: Global, 1995, 176
e estudo final. Rio de Janeiro: J. p. 2a ed. Idem, 2001, 176 p.
• Tropas e boiadas, de Hugo neiro: Nova Aguilar, 2001,
de Carvalho Ramos. Orga- 1602 p. Há também a Poesia
nização, introdução e notas. completa, feita para a co-
Goiânia: Universidade Federal memoração do Centenário.
de Goiás, 1997. Capa de Ornar Rio de Janeiro: Aguilar /
Souto, 168 p. Bradesco Seguros, 2001, II
v: 1600 p.
• Poesia completa, de Carlos
Drummond de Andrade. • [Estudos sobre os Livros de
Volume único. Fixação de Ensaio / Critica. Cf. Curri-
textos e notas. Rio de Ja- culum Vitae completo]
1941 GILBERTO MENDONÇATELES
PREFÁCIOS / ORELHAS / CONTRACAPAS
[Cf. Curriculum Vitad

ENTREVISTAS

[Cf. Curriculum Vitad

CONFERÊNCIA
[Cf. Curriculum Vitad

DISCOGRAFIA Marcelo. Somos Goiás. Goiânia:


• O jogo, musicado por José Eduar- Barra Produções, 1993. CD.
do de Morais. In: BARRA, Mar-
celo, MORAIS, José Eduardo de. • Viagem, À Margem, Rondó, O
Coisas tão Nossas. Rio de Janeiro: Jogo, Soneto, O Barco, A Noite,
Polygram, 1981. LP. Eternidade, A Raiz da Fala, Re
descoberta, Os Arrozais e O Ciclo,
• Viola goiana, musicado por Fer- musicados por Ita K. In: KEIBER,
nando Perillo. In: PERILLO, Ita. O canto da fala. Santa Rosa,
Fernando. Sinal de Vida. Pro RS: JTEC, 1998. CD.
dução de José Eduardo de Mo-
rais. Goiânia: Flor do Cerrado, • Pavloviana, musicado por Dico
1983. LP. KRIBER.. O Canto da fala. Santa
Rosa, RS: JTEC, 1998.
• Recado, musicado por José Eduar- Currículo, Declinação, Flautim e
do de Morais. In: BARRA, Mar- Despojamento, musicados por Ita K
195 I OCONTOBRASILE IROEMGOIÁS
celo, MORAIS, José Eduardo de. e Dico Keiber. In: KEIBER, Ita e
Recado. Rio de Janeiro: Polygram, Dico. Cinco Poemas Musicais. Brasí-
1984. LP. lia, DF: Compact Disc, 2001. CD.

• Acaso, musicado por Fernando • No escurô da pronúncia. 56 poemas


Perillo e Bororó. In: PERILLO, em CD ditos pelo Autor. Intro-
Fernando. O Outro Lado da Lua. dução ao encarte de Maria Luzia
Rio de Janeiro: Multi Studio, Sisterolli. Goiânia: Agepel, 2001.
1987. LP.
• Pra Goiandira, musicado por
• Viola goiana, musicado por Fer- Marcelo BARRA.. Goiás. Goiâ-
nando Perillo. In: BARRA, nia, Música Goiana, 2001.
• Parlenda, musicado por De- • Inspiração, musicado por Pedro
layne BRASIL. Nota no verso. Luis e cantado por Ney Ma-
Rio de Janeiro: Compact Disc, togrosso em Vagabundo. Rio
2003. de Janeiro: Universal Music,
2004.

1 Gilberto Mendonça Teles


196
OBRAS SOBRE O AUTOR
[ESTUDOS, TESES E DISSERTAÇÕES]

FERNANDES, José. O poeta da linguagem. Rio de Janeiro: Presença,


1983. 158 p.
. O selo de Gilberto Mendonça Teles. Cadernos de Letras, Ca-
dernos de Pesquisa do ICHL, Goiânia, n° 9, p. 6-38. (Série Literatura
Goiana). Número Monográfico. Goiânia: UFG, 1989.
. A Palavra. FERNANDES, José. Dimensões da literatura goiana.
Goiân: Geme, 1992. 156 p.
. O Novo no Velho. In: FERNANDES, José.. O poema visual
(Literatura do Imaginário Esotérico da Antigüidade ao Século XX).
Petrópolis, RJ: Vozes, 1996. 246 p.
. Os Arcanos da Modernidade. In: FERNANDES, José. O poema
visual (Literatura do Imaginário Esotérico da Antigüidade ao Século
XX). Petrópolis, RJ: Vozes, 1996. 246 p.
. O selo do poeta. Rio de Janeiro: Edições Galo Branco, 2005. 352
p. [Contém a 21 ed. de O poeta da linguagem e outros ensaios.]
DENÓFRIO, Darcy França. O poema do poema. Rio de Janeiro: Presen-
ça, 1984. 216 p. Dissertação de Mestrado.
. Poesia contemporânea GMT o regresso às origens. Porto Alegre:
Acadêmica, 1987. 92 p.

197 I OCONTO BRASILEIRO EM GOIÁS


. O luminoso tetragrama de Hora aberta. Caderno de Letras, Ca-
dernos de Pesquisa do ICHL, Goiânia, n° 7, p. 4-48. (Série Literatura
Goiana). Número Monográfico. Goiânia: UFG, 1988.
. Lavra dos goiases. Gilberto & Miguel. Goiânia: Fundação Cul-
tural Pedro Ludovico, 1997. 133 p. Prêmio Bolsa de Publicações Cora
Coralina da Fundação Cultural Pedro Ludovico Teixeira, em 1996.
. O redomoinho do lírico. Ensaios sobre a poesia de Gilberto Men-
donça Teles. Petrópolis: Vozes, 2005. 370 p.
FILOMENA, Deolinda. No rasto das nuvens. Lisboa: Lousanense, 1985. 76p.
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS. Gilberto:30 anos de poesia.
Goiânia. UCG, 1986. 142 p.
VIANA, Dulce Maria (org.). Poesia á- crítica. Antologia de Textos Críti-
cos sobre a Poesia de Gilberto Mendonça Teles. Goiânia: Secretaria de
Cultura de Goiás, 1987. 712 p. Prêmio da União Brasileira de Escrito-
res do Rio de Janeiro.
ANAIS DO V SEMINÁRIO DE CRITICA LITERÁRIA E IV SEMINÁ-
RIO DE CRÍTICA DO RIO GRANDE DO SUL, com uma parte de
homenagens aos 30 anos de poesia de GMT. Porto Alegre: PUC-RS,
1987. Artigos de: HILL, Telênia. A poetização da existência em Plu-
ral de nuvens, p. 65-73. (Prefácio. Plural de nuvens. Rio de Janeiro: J.
Olympio, 1989) e de FERNANDES, José. Arte e manhas de um poeta
plural, p. 75-93.
CALLADO, Tereza de Castro. Uma nova ordenação do real na poética
de Plural de nuvens. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 1991.
Dissertação de Mestrado. 181 p.
LIMA, Maria de Fátima Gonçalves. O signo de eros na poesia de Gilberto
Mendonça Teles. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 1992. Disser-
tação de Mestrado. 202 p. Prêmio Fundação Jayme Câmara, de Goiânia.
Goiânia: Kelps, 2005. 140 p.
VASCONCELOS, Cléa Ferreira. Gilberto Mendonça Teles: crítica e história
Literária. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 1992. Dissertação
de Mestrado. 89 p.
BARROS, Marília Ntibile. De carnaval a carnis levamen (Estudo da poesia
de Gilberto Mendonça Teles). Rio de Janeiro: Universo, 1998. Prêmio
União Brasileira de Escritores de Goiás, 1983. 140 p.
SISTEROLLI, Maria Luzia. Da lira ao ludus: Travessia. São Paulo: Anna-
blume, 1998. 232 p. Dissertação de Mestrado.
. Os Álibis da Hora aberta. Tese de Doutorado na PUC-Rio, 2001.
198 IGILBERTO MENDONÇATELES

225 p.
TURCHI, Zaíra. A Contraluz da Fusão Lírica. In: TURCHI, Zaíra. Lite-
ratura e antropologia do imaginário: uma mitocrítica dos gêneros literários.
, Tese de Doutorado, PUC-RS, 1999. 332 p.
MORAES, Emanuel de. Amor e vida na poesia de Gilberto Mendonça Teles.
Rio de Janeiro: Galo Branco, 1999. 132 p.
ARAÚJO, Waldenides Cabral de. Das margens do corpo ao corpo de linguagem:
a incorporação na poética de Gilberto Mendonça Teles. Recife: Universi-
dade Federal de Pernambuco, 1999. Dissertação de Mestrado. 136 p.
CENTRO ACADÊMICO DO DEPARTAMENTO DE LETRAS DA PUC-
RIO. Gilberto: 40 anos de poesia. Rio de Janeiro: Galo Branco, 1999. 248 p.
ROSSI, Carmelita de Mello. Uma leitura por Goiás: A Sa(o)ciologia de Gil-
berto Mendonça Teles. Universidade Federal de Goiás, 2002. Dissertação
de Mestrado. 112 p.
BRAGA, Jurema Coutinho. Tradição e vanguarda na poesia de Gilberto
Mendonça Teles. Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, 2004.
Dissertação de Mestrado. 145 p.
SALES, Luciana Netto de. As janelas do invisível: Uma leitura de Álibis, de
Gilberto Mendonça Teles. Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora,
2005. Dissertação de Mestrado. 108 p. Rio de Janeiro: Edições Galo
Branco, 2006. 220 p. El
MACHADO, Neuza. Criação poética: Tema e Reflexão sobre a obra poética
de Gilberto Mendonça Teles. Rio de Janeiro: Nmachado, 2005. 88 p.
FERNANDES, José. O selo do poeta. Rio de Janeiro: Edições Galo Branco,
2005. 352 p.
DENÓFRIO, Darcy França. O redemoinho do lírico: Estudo sobre a poesia
de Gilberto Mendonça Teles. Petrópolis: Editora Vozes, 2005. 370 p.
VÁRIOS. A plumagem dos nomes I Gilberto: 50 anos de literatura,
Goiânia: Kelps/Secretaria Municipal de Cultura, 2007. 812 p.

199 I OCONTO BRASILEIRO EMGOIÁS


5. HOMENAGENS

PRÊMIOS A LIVROS DE POEMAS

1956— Felix de Bulhões, da Academia Goiana de Letras, para Estrela-d'alva.


1958 — Hugo de Carvalho Ramos, da Prefeitura Municipal de Goiânia,
para Planície.
1961 — Leo Lynce, da União Brasileira de Escritores — Seção de Goiás,
para Fábula de fogo.
1962 — Álvares de Azevedo, da Academia Paulista de Letras para Pássaro
de pedra.
1971 — Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras, para A raiz da
fala. [Ainda inédito.]
1972 — Secretaria de Educação e Cultura do Distrito Federal, do V En-
contro Nacional de Escritores (1970), para A raiz da fala.
1976 — Banco Bandeirantes, da Sociedade Amigas da Cultura, Belo
Horizonte, para Arte de armar.
1978 — Brasília de Poesia, do XII Encontro Nacional dos Escritores, para
Arte de armar.
1987 — Cassiano Ricardo do Clube de Poesia de São Paulo, para Hora
aberta.
1989 — Machado de Assis [Conjunto de Obras], da Academia Brasileira
de Letras, para Hora aberta [3a edição].
2003 — Troféu Juca Pato, da União Brasileira de Escritores, de São Paulo,
patrocinadado pela Folha de S. Paulo, em 13.10.2003.
— Plínio Doyle, da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, para
Hora aberta [4a edição].
201 I o conto Brasileiro em Goiás

— Papyrus, da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, para Hora


aberta [4a edição].

PRÊMIOS A LIVROS DE ENSAIOS / CRÍTICA

1964 — Prêmio Universidade Federal de Goiás, para A poesia em Goiás.


1970 — Menção Honrosa do PEN Club de São Paulo, para O conto bra-
sileiro em Goiás
—. Prêmio Sílvio Romero, da Academia Brasileira de Letras, para Drum-
mond — a estilística da repetição.
1973 —.Prêmio IV Centenário de Os Lusíadas, para Camões e a poesia
brasileira.
— Prêmio Fundação Cultural do Distrito Federal, do VIII Encontro
Nacional de Escritores, para Camões e a poesia brasileira.
1974 — Menção Honrosa do Instituto Nacional do Livro , para Camões
e a poesia brasileira.
2003 —Eleito em 31.07 O Intelectual do Ano 2002 [Troféu Juca Pato],
título dado pela União Brasileira de Escritores de São Paulo e Folha
de S. Paulo pelo livro Contramargem.

DISTINÇÕES

1955 — Homenagem da Associação Brasileira de Escritores, de Goiás,


pela publicação de Alvorada.
1962 — Eleito para a Academia Goiana de Letras e para o Instituto
Histórico e Geográfico de Goiás.
1964— Homenagem da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Uni-
versidade Federal de Goiás pelo lançamento de A poesia em Goiás.
— Diploma de Honra ao Mérito, da Faculdade de Filosofia da Univer-
sidade Católica de Goiás.
1967 — Homenagem da Asociación Estudantil Brasil-Uruguay, em
Montevidéu.
1970 — Diploma de Mérito Cultural, da União Brasileira de Escritores,
2021G ILBERTOMENDONÇATELES

de Goiás.
1971 — Diploma de Mérito Cultural, da União Brasileira de Escritores,
de Goiás.
1973 — Homenagem de O Popular, Goiânia, pela "dilatação das fron-
teiras culturais do Estado".
— Eleito para a Academia Brasileira de Filologia.
1976 — Medalha Mérito Filológico Oscar Nobiling, da Sociedade Bra-
sileira de Língua e Literatura, no Rio de Janeiro.
1979 — Eleito Príncipe dos Poetas Goianos (IV),pela Academia Feminina
de Letras e Artes de Goiás
Diploma do Instituto Lusíada do Ceará "pelos significativos servi-
ços prestados às atividades culturais da Secretaria de Educação do
Governo do Ceará".
— Diploma e Medalha de Honra ao Mérito, da Universidade Católica
de Goiás, Goiânia, "pelo seu testemunho claro e autêntico de serviço
solidário, participando do bem que a universidade vem realizando,
na busca da verdade e na fidelidade à igreja".
1980 — Troféu Tiokô, Especial, da União Brasileira de Escritores de
Goiás.
1981 — Medalha Cidade de Fortaleza, da Câmara Municipal de For-
taleza.
— Eleito para a Academia Carioca de Letras.
1982 — Diploma de Personalidade Cultural, da União Brasileira de
Escritores do Rio de Janeiro.
1983 — Presidente de Honra do VIII Congresso Nacional de Estudos
de Lingüística e Literatura, no Rio de Janeiro.
1984 — Título de Cidadão Goianiense, da Câmara Municipal de Goi-
ânia.
1985 — Homenagem aos 30 anos de poesia, do Centro de Cultura da
Região Centro Oeste, Brasília.
1986 — Homenagem do V Seminário Brasileiro de Crítica Literária, da
PUC-RS, Porto Alegre, pelos 30 anos de poesia.
1987 — Homenagem do II Congresso de Literatura Goiana da Univer-
sidade Federal de Goiás.
— Condecoração da Ordem do Infante Dom Henrique, no grau de Co-

203 I O CONTOBRASILEIRO EMGOIÁS


mendador, do Governo de Portugal.
— Diploma de Honra ao Mérito da Universidade Católica de Goiás.
1992 — Concurso Nacional "Gilberto Mendonça Teles de Poesia", pro-
movido pela União Brasileira de Escritores de Goiás.
1995 — Homenagem do Centro Acadêmico do Depart. de Letras da
PUC-RJ pelos 40 anos de poesia.
1996 — Título Honorifico da Câmara Municipal de Bela Vista de
Goiás.
— Professor Honoris Causa, da Universidade Federal do Ceará.
1997 — Medalha Carlos Drummond de Andrade, da União Brasileira de
Escritores do Rio de Janeiro.
1998 — Medalha de Mérito Cruz e Sousa, do Governo de Santa Cata-
rina.
— Eleito para a Academia de Ciências de Lisboa.
1999 — Publicação de Gilberto: 40 anos de poesia. Rio de Janeiro: PUC-
Rio/ Edições Galo Branco.
2000 — Eleito para a Academia Brasileira de Filosofia.
2001 — Sócio Benemérito do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás.
— Prêmio Sexagésimo Aniversário da PUC-Rio.
2002 — Homenagem da Associação São José nos 106 anos da cidade de
Bela Vista de Goiás.
— Membro do Comité de Parrainage da revista Si gila: Paris, Gris-Fran-
ce.
— Membro do Consejo Editorial da revista Estudios Portugueses-1: Sala-
manca (Espanha): Luso-Espariola de Ediciones.
— Membro do Comité Scientifique International da revista Isis, da Uni-
vesidade de Grenoble (França).
— Medalha Centenário Carlos Drummond de Andrade, da União Braasileira
de Escritores do Rio de Janeiro, em 20 de setembro na ABL.
— Comenda Colemar Natal e Silva, da Assembléia Legislativa do Estado
de Goiás, "Como personalidade que projeta Goiás, nacional e inter-
nacionalmente".
— Diretor das coleções O melhor do conto brasileiro e O melhor da poesia
brasileira em cada estado do Brasil. Joinville, SC, Sucesso Pocket
— Medalha Antônio Houaiss, do Sindicato dos Escritores do Estado do Rio
de Janeiro e Casa de Cultura Lima Barreto, em 13 de dezembro.
2003 — Eleito Intelectual do Ano 2002, em 31 de julho, recebendo o troféu
2041 GILBERTOMENDONÇATELES

Juca Pato, da União de Brasileira de Escritores de São Paulo e da Folha


de S. Paulo, em 13 de outubro.
— Prêmio "Plínio Doyle", da União Brasileira dos Escritores do Rio de
Janeiro, pelo livro Hora aberta, em 31 de outubro.
— Homenagem do Senador DEMÓSTENES TORRES, no Senado
Federal, pelo Troféu Juca Pato - Intelectual do Ano, em 14 de agosto.
— Homenagem no XVII Salão "Psiu Poético", do Centro Cultural de
Montes Claros, MG, em 07 de outubro.
— Homenagem da Academia Urutaína de Letras, Artes e Ciências "Marília
de Dirceu Vieira", de Urutaí, GO , com o "Prêmio Nacional de Poesia
Gilberto Mendonça Teles, em 2003.
— Homenagem pelo troféu Juca Pato, em "Poesia em Festa", no V Festival
Carioca de Poesia da APPERJ, Rio de Janeiro, 17 de novembro.
— Troféu Papirus, dado a Hora aberta pela Academia Feminina de Letras
e Artes de Goiás, Goiânia, em 09 de novembro.
— Eleito para o Conselho Fiscal do Sindicato dos Escritores do Estado
do Rio de Janeiro, para o triênio 2001/2004.
— Troféu Poeterê como Personalidade Poética, no III Poeterê da Funda-
ção Educacional da Serra dos Órgãos, em Teresópolis, RJ, em 22 de
novembro.
— Troféu Tioleô, dado pela União Brasileira de Escritores de Goiás, em
9 de novembro.
2004 — Comenda da Ordem do Mérito Anhangüera, do Governo de
Goiás, em 26 de julho.
2005 — Troféu Honra ao Mérito, da Editora Kelps e Leart Distribuidora,
na XII Bienal do Livro do Rio de Janeiro.
— Troféu Aimberê do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, em 17
de novembro.
— Título de Professor Emérito pela Universidade Federal de Goiá, em
9 de dezembro.
— Comenda Veiga Valle, da Organização Vilaboense de Artes e Tradições,
em 17 de dezembro.
— Homenagem pelos 50 anos de Poesia. Cf. Revista Poesia para Todos:
Rio de Janeiro, n° 7, dez.embro. E A plumagem dos nomes I Gilberto:
50 anos de literatura, 2007.
205i O CONTO BRASILEIRO EM GOIÁS
2006 — Sócio Honorário da Academia Belavistense de Letras e Artes,
em 4 de março.
— Título de Professor Emérito da PUC-Rio, em 17 de maio.
— Membro Honorário da Academia Brasileira de Filologia, em 20 de
maio.
— Medalha de Comemoração dos 60 anos da PUC-Rio, em 20 de
maio.

SITES

SITE: http://gilbertomendoncateles.kit.net
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia/poesia/index.
ENTREVISTAS NOS SEGUINTES SITES:

GUIA ASSIS [www.guiassis.com.br],


BLOCOS [www.blocosonline.com.br],
REVISTA BULA [www.revistabula.com],
NAVE DA PALAVRA [.http:// www.navedapalavra.com.br].
http://www.p1ataforma.paraap0esia.n0mtri 2004entgmt.htm
www.observadorcultural.org.

Atualizado em 30 de junho de 2007


2061G ILBERTO MEND ONÇATELES
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do autor, inclusive a revisão.

Renascer
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