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E, de fato, o que predomina neste Salon Felippéa é a paisagem ao invés de algum sopro
modernista que já surgia na vizinha Recife. O mar e seus coqueirais, além das cenas urbanas,
refletem a opção por temas bucólicos e atesta o isolamento vivido pelas artes plásticas da
província, o que vai perdurar até a década de 50. Realmente, “a Paraíba não participou do
ideário modernista a não ser na literatura com a presença de José Américo de Almeida e José
Lins do Rego.” 2
Neste período o retrato também se torna algo comum entre as famílias mais abastadas. A
fotografia é amplamente utilizada, em especial na revista, Era Nova (anos 1920), que tratava
da vida social às amenidades políticoculturais da elite paraibana e vai “fornecer as imagens
necessárias dos modelos, ao mesmo tempo, passam a ser colorizadas e tratadas como
pintura.” 3
Tanto que, na época, os pintores Frederico Falcão, Pedro Tavares, Olívio Pinto, Pinto Serrano
e, anos mais tarde, José Lyra, tiveram destacada atuação como fotógrafos, mesmo caso do
desenhista suíço, Eduardo Stuckert, estabelecido na cidade desde 1900. Outro pioneiro, o
fotógrafo, Walfredo Rodriguez, profundo conhecedor da nossa cultura, publicou livros sobre
a cidade, realizou exposições e documentou os acontecimentos sociais, com destaque para o
filme, Sob o céu nordestino (192428), um verdadeiro marco do cinema paraibano.
Outra categoria – a caricatura – teve grande aceitação na Paraíba e noutros estados, surgia
em mostras de grande popularidade e eram publicadas em jornais e revistas da época. Rubem
Diniz e Hernani Sá, entre outros artistas nordestinos que aqui atuaram, eram os paraibanos
mais reconhecidos. “A importância social desse movimento artístico que tinha à frente
jornalistas e trabalhadores da imprensa, ainda necessita de um estudo à parte para avaliar a
sua significação, nesse período de declínio da arte acadêmica e início da consolidação do
modernismo no Brasil.” 4
No livro, Os anos 60 – Revisão das artes plásticas da Paraíba, Raul Córdula afirma que “antes
da intensificação do movimento de artes plásticas que caracterizou os anos 60 houve, em
João Pessoa, um aglomerado de artistas de cavalete que, reunidos no Centro de Artes
Plásticas da Paraíba, assumiu a pintura de paisagem e retratos da cidade daquela época. A
esses artistas, envolvidos no bucolismo da Felipéia, leitores de Rainer Maria Rilke e Marcel
Proust, decupadores dos tons de verde vegetal e marinho, seguidores dos pintores franceses,
de Monet a Matisse, os jovens artistas dos anos 60 devem o sereno exemplo da humildade.
Foi no Centro de Artes Plásticas que Ivan Freitas, Archidy Picado e Breno Mattos iniciaram
se através da orientação de José Lyra, Olívio Pinto, Pinto Serrano e Hermano José. Ivan
Freitas deixou a Paraíba em 1957, mas continuou aqui o seu gesto criador como lenda que
servia de apoio às novas atitudes dos então ‘enumerados’ artistas jovens advindos da Geração
59. Archidy Picado, desde cedo rompeu com a norma vigente e, entre viagens ao Rio de
Janeiro, frequentou o ateliê de Ivan Serpa no MAM [Museu de Arte Moderna] onde conheceu
artistas atuantes e novas realidades. De volta à João Pessoa, Archidy instalou em sua casa, no
bairro de Jaguaribe, seu ateliê que foi frequentado por Antônio Cândido, Marconi Beniz e por
mim.” 6
A década de 60 se caracterizou por uma maior dinamização das artes plásticas, através da
ação dos novos artistas que passaram a ocupar o Theatro Santa Roza: um ateliê coletivo na
mesma ideia do CAP. Foi uma época de inúmeras exposições, realizadas onde fosse possível,
para apresentar as recentes produções da arte moderna. Nesse momento, a Biblioteca Pública
[rua General Osório] era o ponto de encontro das artes. A UFPB, em 1962, cria o seu
Departamento de Artes, a partir da colaboração dos artistas do grupo Tomás Santa Rosa. O
setor de artes plásticas, com Archidy Picado na organização, passou a funcionar no Casarão
de Azulejos, em frente à Praça Dom Adauto, no centro da cidade. E, em 1963, abriu inscrições
para seus cursos de artes plásticas, contabilizando mais de 300 interessados. Destes cursos,
surgiram artistas que se destacariam no panorama local, como Flávio Tavares, Régis
Cavalcanti e Celene Sitônio.
O curador da mostra, Museu de Arte Assis Chateaubriand (CCBB, Brasília, 2001), Marcus
Lontra, em seu texto de apresentação, diz: “A década de 1960 foi extremamente rica e
conturbada; nas artes, tanto na Europa como no Brasil, a nova figuração, influenciada pela
arte pop norteamericana, inseriase nas discussões comportamentais que caracterizaram
esta época. Entre nós, o período marcado entre o golpe militar de 1964, e a definitiva
implantação da ditadura, em dezembro de 1968, foi de intensa movimentação: a figuração
brasileira investiu nos aspectos políticos, e o Brasil passou a produzir uma arte tipicamente
urbana, violenta e sexualizada, em que se destaca o artista paraibano Antonio Dias, ainda
hoje referência fundamental na produção estética brasileira contemporânea. É essa arte pop,
política, irônica, crítica, apaixonada, que incorpora elementos da arte povera italiana e
termina por desembocar no tropicalismo, que constitui um núcleo destacado na coleção do
Museu de Campina Grande.”
Na esteira do boom econômico dos anos 70, surge uma classe média interessada num gosto
bem “decorativo” e proliferam galerias pelo país. Na Paraíba, no entanto, algumas poucas
ações de mercado começam a investir mais no artista local, na ideia de formar colecionadores
e exibir os artistas emergentes. Daí surge a Galeria Batik, misto de galeria e escritório das
arquitetas, Conceição Serra e Madalena Zaccara, que existiu até 1979.
Em 1976 a Universidade Federal da Paraíba, tendo à frente o Reitor Lynaldo Cavalcanti, volta
a desempenhar papel importante para o desenvolvimento das artes plásticas no Estado, como
havia sido na década anterior. Ainda funcionavam os cursos livres de arte, sob a supervisão
da Coordenação de Extensão Cultural, setor que substituíra o antigo Departamento Cultural,
instalada num edifício na Praça Rio Branco, centro da capital, e onde lecionavam os artistas
Gilvan Samico, Montez Magno, João Câmara Filho, Arthur Cantalice, Roberto Lúcio, Alfonso
Bernal, Euclides Sá, entre outros.
E em 1977, finalmente, era criado, com a ajuda da educadora Laís Aderne, o curso de
Educação Artística na UFPB, e Chico Pereira explica: “A nova dinâmica imposta por Lynaldo
Cavalcanti nas áreas da ciência e tecnologia passou a exigir também, no campo da cultura, a
mesma postura. Foi criado o Departamento de Artes e de Comunicação, para a formação de
arteeducadores, jornalistas e relações públicas.” (...) “No mesmo período, foram criados os
atuais núcleos artísticos e de pesquisas culturais, entre eles o Núcleo de Arte Contemporânea
NAC, este com o objetivo de estabelecer uma ponte entre a Paraíba e centros nacionais e
internacionais, bem como promover internamente uma atualização crítica do ponto de vista
teórico e prático com as outras disciplinas universitárias. Para a criação deste Núcleo, a UFPB
convidou o artista Antonio Dias e o crítico Paulo Sérgio Duarte, que se responsabilizaram
pelo projeto do NAC, o qual teve também a participação do artista plástico Raul Córdula e do
sociólogo Silvino Espínola. O Núcleo de Arte Contemporânea foi marco divisor no panorama
da arte local. Apesar do processo de modernidade acontecido desde décadas passadas, o NAC
produziu no cenário da arte local um questionamento importante, que foi o de romper a
ditadura da hegemonia do eixo RioSão Paulo. Até então, era impossível acontecer
movimento significativo de arte contemporânea fora dessa engrenagem. Logo depois da
instalação do NAC, a UFPB criou o Departamento de Artes do Campus II, em Campina
Grande, com a finalidade de expandir o ensino das artes. Apesar de ser um departamento,
funciona até hoje como extensão artística. Terminado o Reitorado Lynaldo Cavalcanti, as
administrações posteriores não emprestaram ao NAC a mesma atenção quando da fase da
sua criação, até porque os recursos também se tomaram escassos e as sucessivas mudanças
ocorridas na direção desse Núcleo concorreram para o seu declínio.” 7
E a curta vida ativa do NAC acaba por influir na criação de uma associação de artistas
plásticos, visto que os artistas locais, em sua maioria “artistas de cavalete”, não consideravam
a programação do NAC como algo a ser levado a sério. Há até rumores de atitudes xenófobas
que criticava a presença dos artistas da vanguarda da época, convidados por Antonio Dias e
Paulo Sérgio Duarte, com suas “esquisitas” ações de “arte contemporânea”, termo já
incompreensível para a modernidade local.
Neste período, o Governo Burity construiu o Espaço Cultural José Lins do Rêgo, projeto de
Sérgio Bernardes e inaugurado em 1983, no bairro de Tambauzinho. Ali se instalava a
Fundação Espaço Cultural da ParaíbaFunesc, cujo setor de artes plásticas – sob a orientação
dos artistas Hermano José, Régis Cavalcanti e, depois, Arthur Cantalice – foi dos primeiros a
desenvolver suas atividades com a oferta de cursos livres e a realização de mostras de novos
artistas. Archidy Picado, Unhandeijara Lisboa, Dyógenes Chaves, Fred Svendsen, Chico
Ferreira, Chico Dantas e Alcides Ferreira, eram alguns dos professores. Logo após abrigar a
gigantesca mostra de arte neoexpressionista alemã [Momentaufnen, 1987], seguida de
workshops entre brasileiros e alemães, a Funesc organizou, por solicitação da classe artística
e empenho direto do governador Tarcísio Burity, duas grandes mostras, Arte atual paraibana,
I e II, em que se apresentava um panorama da arte local produzida naquele momento. Em
1987 a UFPB cria a sua Pinacoteca, em um espaço provisório na Biblioteca Central, “com
obras de artistas que atuaram como professores do Departamento Cultural nos anos sessenta
e que tiveram importante papel na formação de uma geração que vai emergir neste mesmo
período e nas gerações subseqüentes”, como relata a professora Rosires Andrade, exdiretora
da Pinacoteca.
Fazendo uma análise sobre a tradição da pintura na Pinacoteca da UFPB, afirma Rosires: “A
produção artística, nas primeiras décadas, esteve mais ligada à figuração mais próxima da
Escola Pernambucana, a um repertório regional no sentido do apego às tradições e ao
imaginário popular nordestino, presentes de maneira exemplar, na obra de João Câmara,
Roberto Lúcio, Miguel dos Santos e Flávio Tavares. Por outro lado, notase a reação de um
grupo de artistas liderados por Raul Córdula, em que a figuração cede lugar a uma expressão
em que os elementos visuais, cores e formas são o tema e o assunto.” (...) “A corrente
figurativa tem continuidade nas décadas seguintes através de uma diversidade de propostas
embasadas no expressionismo, representadas pela produção dos artistas: Alice Vinagre,
apresentando uma visão ontológica do homem mergulhado nas contradições do mundo atual;
Chico Dantas, revelando uma obsessão pela anatomia humana apresentando de maneira
velada a nebulosidade do ser contemporâneo; Fred Svendsen, compondo figuras bestiais de
um mundo taciturno; José Crisólogo, mostrando o imaginário do povo sertanejo na sua força
para vencer as adversidades; e Sérgio Lucena, reiterando uma face mascarada e espectral do
imaginário, povoado de figuras sinistras.”
Dentre as galerias de arte surgidas neste período, em João Pessoa, destacase a Galeria
Gamela, de Roseli e Altemir Garcia, no centro da cidade [rua Almirante Barroso, nº 144], que
desde 1980 tem se consolidado no comércio de obras de artistas já consagrados e/ou de
novos talentos locais. Em maio de 1985 é inaugurada a Galeria Archidy Picado, nas
dependências da Funesc, em homenagem a este artista falecido no início do ano, com
objetivos de apoiar os novos artistas e as tendências menos comerciais. No começo da década
a arquiteta, Madalena Zaccara, criou a MZ Artearquitetura (mantevese até 1982) que
realizou mostras dos artistas Rubens Gerchman e Claudio Tozzi (em contatos estabelecidos
através do NAC), Maurício Arraes, Raul Córdula, Flávio Tavares, José Lucena e sua filha
Letícia, Tota e seu filho Temílson Régis. Outros espaços que funcionavam na cidade: o Hall
da Biblioteca Central da UFPB, dedicada a alunos e professores do curso de Educação
Artística e, no Theatro Santa Roza, a Galeria José Américo de Almeida (criada anteriormente
com o nome de Galeria Tomás Santa Rosa), que, sob a direção do artista Hermano José,
realizou o Salão A presença do mar nas artes plásticas; e, a Galeria Visual, do artista
campinense Antonio Rocha.
Com o encerramento das atividades do Centro de Artes Visuais Tambiá, em 2000, alguns dos
seus exalunos buscam no associativismo a solução ideal para continuar as experiências já
iniciadas com os professores, Flávio Tavares, Marlene Almeida, Alice Vinagre, Dyógenes
Chaves, Chico Ferreira e José Rufino. Surge, assim, o grupo Grilo (Alena Sá, Neuma Sales,
Antonio Coutinho, Hilda Andrade, Eimar Fernandes, Noemi D’Ávila e Everaldo Alves), que se
instalou em um prédio no Centro Histórico; e, a Associação de Artistas Plásticos da Paraíba
Associart, uma Ong que, apesar do nome, não é a mesma associação de artistas plásticos que
vingou até final dos anos 1980. A Associart, instalada nas dependências da Funesc, é formada
por mulheres, em sua maioria, com objetivos de continuar estudando e exibir suas obras,
neste caso, às vezes, mostras de caráter mais social que comercial, mais amador que
profissional. Isso, talvez, em função da falta de orientação em suas atividades. Mesmo assim,
criou o Festival de Artes Visuais da ParaíbaFAVI, que se tornou, a cada mês de maio, o
evento ideal para os sócios exibirem sua produção. Mesmo pouco consistente, já foi
reconhecido oficialmente como parte da programação cultural da cidade.
Em João Pessoa, como noutros centros mais avançados (no quesito mercado de arte), o
marchand dá lugar ao decorador e ao arquiteto, que passam a ditar o gosto e a obra que
“combina” com o projeto de interiores. A prova é a extinção de muitas galerias na cidade,
permanecendo apenas, heroicamente, a Galeria Gamela (agora com filial na praia de
Tambaú), e a recente Galeria Louro&Canela, adequadamente instalada no escritório de seu
proprietário, o artista e arquiteto, Jonas Lourenço, na avenida Edson Ramalho (a “nossa”
Oscar Freire), em Manaíra.
Na verdade, não existe colecionismo na cidade e saíram de cena nossos poucos
colecionadores – Antônio de Pádua, Odilon Ribeiro Coutinho, Walter Cunha etc. – o que,
talvez, tenha influenciado que alguns artistas locais deixassem a cidade para se aventurar em
centros com um mercado de arte mais consolidado, como fizeram Alice Vinagre (Recife),
Verdeee, Sérgio Lucena e Fabiano Gonper (São Paulo), Murilo Campelo (Genebra/Suíça) e
Flauberto Queiroz (Berlim/Alemanha). Já outros, como José Rufino, Júlio Leite e Martinho
Patrício, mesmo residindo na “terrinha”, estão representados em galerias do Rio e São Paulo,
e por essa condição de visibilidade tem participado das principais bienais e feiras
internacionais, como as de Havana, São Paulo, Mercosul, Vento Sul, Cuenca, do Fim do
Mundo, e ARCO de Madri.
Em paralelo, e mesmo com altos e baixos, os governos oficiais apresentaram à classe artística,
novo formato de mecenato: as leis de incentivo à cultura – o FIC Augusto dos Anjos (do
Governo do Estado) e o FMC (da Prefeitura de João Pessoa). Infelizmente, as comissões de
avaliação não contam com especialistas em todas as áreas, daí que o resultado ser, na
maioria, um verdadeiro fiasco para o setor de artes visuais. Na verdade, a maior culpa disso
está na desmobilização dos artistas plásticos para a indicação, como representantes da
sociedade civil, de seus pares para compor estas comissões. Com a união da classe talvez
houvesse melhores resultados nestes editais.
Desde os anos 90, outro fenômeno “nacional” atinge as artes plásticas: o desaparecimento da
crítica de arte nos periódicos. Até pouco tempo, este autor mantinha coluna semanal no
jornal O Norte (20052010), em que usava o espaço muito mais como divulgação das
atividades que aconteciam na cidade que um lugar para a “crítica de arte”. É compreensível
até reconhecer que o jornal diário não seja, nos dias de hoje, o melhor lugar para um ensaio
técnico – muitas vezes hermético – sobre artes visuais (já foi o tempo que havia, nos jornais
da cidade, três ou quatro colunistas escrevendo sobre cinema). Ainda mais, o avanço da
tecnologia fez surgir um novo “espaço” – a internet – para exibição da produção artística e
intelectual. Proliferam os sites e blogs pessoais e as revistas eletrônicas. Na contramão, o
lançamento da revista Pessoa (editorias de Fábio Queiroz, William Costa e Dyógenes Chaves),
foi uma resposta à falta de espaço para artigos e ensaios sobre artes visuais. Com custo
popular e projeto gráfico simples (impressão em preto sobre papel jornal), a revista tinha o
propósito de atingir um público mais especializado, de dentro e de fora da universidade.
Já no final da década de 2000, algumas notícias sugerem uma temporada de boa colheita
para o setor de artes visuais. O MEC finalmente aprova o Mestrado em Artes Visuais da UFPB
(num “consórcio” com a UFPE) e não há dúvida de que vai movimentar a discussão e reflexão
da produção contemporânea local. Até vem coroar a chegada, em boa hora, da artista e
professora, Marta Penner, para coordenar o NAC/UFPB (desde 2006), dando novo impulso
às atividades deste equipamento universitário ao reintegrálo ao curso de Artes Visuais, como
já ocorreu na gestão inicial (19781984), quando se desenvolviam ações de arteeducação e
pesquisa, hoje tão em moda como fruição e mediação na arte contemporânea.
Nesta mesma empreitada da UFPB, anunciase novo prédio para sua Pinacoteca (que ainda
funciona provisoriamente na Biblioteca Central), no mesmo instante que o Governo do
Estado deseja instalar o Museu de Arte Contemporânea da ParaíbaMAC, na Funesc. Este
museu, que já conta com acervo razoável, existe no “papel” (Decreto nº 20.696, de
05/11/1999, assinado pelo então governador José Maranhão), e tem todas as condições de se
tornar realidade para a sociedade paraibana e a classe artística, ainda sem um espaço
museológico que abrigue a arte contemporânea, apesar da reconhecida importância dos
nossos artistas. O único impasse é a falta de compromisso e despreparo dos dirigentes
culturais, em sua maioria, nomeados por interesses políticos.
Outra obra, a Estação Cabo Branco (Prefeitura de João Pessoa), mais um múltiplo da série de
projetos de Oscar Niemeyer e instalada em área polêmica no topo da barreira do Cabo
Branco, talvez seja o lugar mais visitado da cidade. A inexistência de um programa curatorial
antenado com a arte contemporânea, faz da Estação Cabo Branco apenas um “mirante” para
os turistas, com vista privilegiada para o litoral da cidade. E isso atesta a ineficiência da
política cultural da Prefeitura para o setor de artes visuais, que carece de orientação e rumo.
Na contramão das curadorias pouco preparadas, ao final, destaco duas ações: a Galeria
Cilindro [site specific], criada pelo artista Júlio Leite na Praça da Bandeira (Campina
Grande), que utiliza as instalações externas de um caixa eletrônico do Banco do Brasil e o
transforma em espaço para lambelambe e outras intervenções; e, o programa JTP (Jovens
Talentos da Paraíba), promovido pela Aliança Francesa João Pessoa desde 2009, que utiliza
método simples e eficaz: uma curadoria – formada pelos artistas e professores Bertrand Lyra,
Dyógenes Chaves e Marta Penner – seleciona (e acompanha) alguns jovens artistas que ainda
não realizaram exposição individual, para uma exibição solo em seu prédio [rua Bento da
Gama, nº 396, Torre]. No final do ano é publicado um catálogo bilíngüe com todas as
exposições. Estas, talvez sejam ações isoladas e despretensiosas, mas, se utiliza de uma
fórmula típica da contemporaneidade: poucos recursos, boa capacidade técnica e
investimento no novo. Aliás, curioso é que essa fórmula é a mesma de vitoriosos projetos e
ideias do passado, tipo: NAC, CAP, Geração 59, SAPP, Equipe 3, Centro de Artes Visuais
Tambiá... Por isso, eu ainda acredito.