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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDO DO SUL

INSTITUTO DE ARTES

SEMINÁRIOS DE TÓPICOS ESPECIAIS EM ARTE NO BRASIL II

Professora Dra. Bianca Knaak

Graduanda Elisa Guerreiro Boaventura

Semana de Arte Moderna de 1922 e Institucionalização da Arte no Brasil

Os dois Tempos do modernismo (contextualização)

Desde a conferência de Mário de Andrade na escadaria do Teatro Oficina, a semana de


Arte Moderna de 22 vem sendo considerada um marco inaugural no modernismo, ou o
ingresso do Brasil no concerto das nações cultas, como eram conceitualmente relacionados
os países modernistas.
No primeiro momento a semana de arte moderna se relaciona principalmente com as
vanguardas europeias, a educação eurocentrada entendida como um molde para as outras
nações e herdada da colonização das Missões Francesas e outros países colonizadores,
seguiu firme no imaginário social que compunha o contexto social Brasileiro de 1922. Os
modernistas criticavam os passadistas, crítica exposta por Mário de Andrada, evidenciando
a inatualidade do poetas parnasianos e as produções literárias e artísticas, que se fazem
presentes também no discurso de Oswald de Andrade em homenagem de a Menotti del
Picchia.
Em 1924 a inserção da modernidade por uma simples adoção de linguagens modernas é
posta em questão, em um segundo tempo modernista começa a ser pensada a medicação
e não mais o imediatismo do fazer-se moderno; procura-se uma produção artística feita no
país de traços nacionais.
“Manisfesto da Poesia Pau-Brasil” se situa na segunda parte do modernismo, elevando os
modernistas ao mesmo patamar das vanguardas europeias sendo denominados como
‘geração futurista’.
Os modernistas do segundo tempo buscavam abarcar os conceitos de nacional, pureza e
genuíno. O significante nacional se conduz através de um sentido de fazeres artísticos
brasileiros e que a produção fosse conduzida através de referências brasileiras e não mais
européias. A pureza ou genuinidade para os modernistas é interpretada como
autenticidade, na sua época. esses significantes traduzem a ideia colocada em questão por
Mário de Andrade, de tradicionalização, para a concretização de uma sensibilidade nacional
e de identidade, que encontra nos elementos folclóricos, populares, uma transposição
erudita.
Instituições de Educação e Modernismo

Desde a missão francesa trazida por D. João IV, com a finalidade de formar uma escola de
Arte, que teve início dez anos mais tarde que o seu planejamento, entre 1890 e 1920, a
ideia predominante do ensino de Artes estava vinculado a cópia de quadros e desenhos
geométricos; somente em 1920 a arte passa a ser incluída no currículo escolar com
atividade integrativa, que auxilia no aprendizado de outras matérias.
A Semana de Arte Moderna de 1922 teve influência direta nos caminhos percorridos pela
educação de arte no Brasil, através da livre expressão muito defendida por Anita Malfatti e
Maria de Andrade, que acreditavam na educação da arte como forma de expressão e não
como ensino/ matéria.

Limites do território Moderno

O caráter de universalização se expande para os conceitos regionais e nacionais, na


tentativa falha de unificar as regiões, não reconhecendo as singularidades de cada região
do Brasil. A desgeograficação quer findar as distâncias de espaço-tempo no país.
Durante a Semana de Arte Moderna, algumas confluências acontecem, o primeiro voo que
cruzou o atlântico foi na mesma semana de Arte de 22, assim como as reformas urbanas da
capital da república e de São Paulo, inspiradas nos modelos franceses, queriam aproximar
o Brasil das noções de nação culta; o espaço dita o status da população e através do
conceitos geradas sobre o que é moderno e o conceito de espaço moderno permeia a
sociedade até hoje.
O início do século XX era culturalmente associadas às práticas artísticas dentro das
instituições com exposições oficiais, os salões organizados pelas escolas de belas artes ou
por outras instituições; teve um papel importante na institucionalização da arte as críticas e
publicações artísticas, retomando o vontade dos Modernistas de que o evento fosse
histórico. Esses processos de avaliações críticas, publicações, salões e exposições
relacionadas aos modernistas é consolidado nas Bienais de 1950, onde os principais
artistas do modernismo foram premiados e tornam-se objeto de salas especiais e
publicações. Diversos discursos repercutem sobre arte moderna em outros países da
América Latina e nos EUA, um grande precursor desses discursos foram os novos museus
de arte moderna, que tiveram como modelo o Museu de Arte Moderna de Nova York.

A Arte Moderna Instituída

Gradativamente a arte moderna chegou no Brasil e contou com a organização de mostras


de artistas brasileiros que vinham da europa carregando consigo inspirações dos
movimentos de vanguardas europeias, de extrangeiro imigrados e de mostras coletivas,
reformulando as mostras tradicionais e institucionalizando a arte no Brasil, ou formalizando
a Arte; são essas mesmas mostras coletivas e individuais que dão espaço para a criação
dos Museus de Arte Moderna e das Bienais, que tem um papel fundamental no debate de
Arte Moderna e a confrontação com a Arte Contemporânea.
No fim do século XIX um seleto grupo de pessoas provenientes de altas camadas sociais,
geralmente relacionados a arte por parentesco, amizade ou por interesses, começaram a
participar dos salões culturais organizados por mecenas. uma parte considerável da vida
intelectual paulistana fomentou esses eventos inspirados no modelos francês que foi
introduzidos no Brasil pela elite; reunindo intelectuais, artistas, políticos e colecionadores
com atividades como bailes, festas, banquetes, ciclos de conferências, programas literários
e musicais. O relacionamento entre os artistas e os mecenas, que eram normalmente
colecionadores de obras de arte, apresentavam contradições. Havia um escambo entre
eles, geralmente relacionados a inserção desses artistas no mercado de arte, seja através
de bolsa de estudos, seja através da realização de exposição, e a concessão ou venda por
um valor baixo das produções desses artistas aos colecionadores, criando uma rede
fechada, um circuito que se retroalimenta sempre dos mesmos, isso significa a manutenção
dos privilégios.
Depois da revolução de 1930 a elite paulistana viu a centralização migrar para os órgãos do
estado, assim aconteceu uma redefinição da acessibilidade e influências dentro do sistema
da arte, além de ampliar o espaço da arte e de certa forma torná-la um pouco mais
democrática. No dia 24 de novembro de 1932 é inaugurado O Clube dos Artistas Modernos,
onde foram organizados reuniões, sessões de pinturas de modelo vivo, bibliotecas com
livros e revistas sobre arte, mantendo uma agenda de reuniões e exposições, visando a
adequação de tendências culturais ao início da década, como exemplo houve um curso
para o aprendizado de pinturas cubistas, ministrado por Antônia Guedes; esse se torna
então o primeiro modelo empresarial pensado e gerido por artistas.
O CAM (Clube dos Artistas Modernos) funcionou como um grande espaço em e para São
Paulo para divulgação da arte moderna, abrindo novas possibilidade e esquemas dentro do
sistema, até o surgimento de uma institucionalização do modernismo fosse efetivado tanto
no lado do empresariado, quanto no estado, e servindo como inspiração para movimentos
de institucionalização em todo o Brasil.
Em 1950 foi organizado por Lourival Gomes a primeira representação Brasileira na Bienal
Internacional de Veneza, com a participação dos artistas Emiliano Di Cavalcanti, Burle Marx,
Candido Portinari, Victor Brecheret, Alfredo Volpi, Milton Dacosta, Lívio Abramo, Pancetti,
Oswaldo Goeldi e Bruno Giorgi, e patrocinado pelo MAM; esse evento além das exposições
internacionais, foram aos poucos construindo um prestígio ao MAM, e dando início a
primeira Bienal Internacional de São Paulo.
A Bienal aconteceu pela primeira vez no dia 20 de outubro de 1951, na Avenida Paulista,
onde atualmente se encontra o MASP. Contou com a participação de 25 países, 729 artistas
e 1854 obras. A Bienal torna-se no Brasil o símbolo de uma metrópole moderna em
desenvolvimento, foram escolhidos artistas consagrados, e também aqueles que estavam
no início de carreira.
A Semana de Arte Moderna de 22, para além do discurso dualista de bom ou ruim, teve seu
papel no sentido de acompanhar o movimento, o Brasil compõe o movimento artístico
mundial do modernismo e tem seu período histórico analisado, ou sejo, ganha um papel
importante na história, criando espaço para outras vertentes, repercussões sobre arte, ou
sobre o que é arte Brasileira? A institucionalização da Arte é importantíssima para os
próximos movimentos de arte, para o ensino de arte nas escolas e universidades, para a
curricularização da arte, para as galerias e circuitos de arte num geral, apenas por gerar
discussão em e sobre arte.
Linha do Tempo

(1800)
Romantismo;

(1883)
Fundação da Livraria O Globo;

(1850)
Movimentos literários-poéticos pós-romanticos;

(1908)
Criação do IBA;
Fundação da Escola de Belas Artes do Rio Grande do Sul;

(1913)
Tarsila do Amaral muda-se para São Paulo;

(1917)
Estreia literária com ‘Há uma gota de sangue em cada poema’;

(1920)
A arte passa a ser incluída no currículo escolar com atividade integrativa;

(1922)
Semana de Arte Moderna;
Primeira fase do Modernismo: tentativas de consolidar o movimento, divulgação de obras
modernistas, nacionalismo crítico;
Paulicéia Desvairada;
Tarsila do amaral viaja a estudos para Espanha e Inglaterra, retorna ao Brasil para formar o
grupo dos cinco;

(1924)
Tarsila inicia a pintura pau-Brasil;
Memórias sentimentais de João Miramar;
Manifesto Pau-Brasil;

(1927)
Erro de português;

(1928)
Manifesto Antropofágico;
Macunaíma: o herói sem nenhum caráter;

(1929)
Fundação da revista O Globo;
Primeira exposição da Tarsila do Amaral;
(1930)
Segunda fase do modernismo: marcada pelo regionalismo, narrativas críticas e denúncia
social;
Libertinagem;

(1932)
Inaugurado O Clube dos Artistas Modernos,
SPAM;

(1933)
Tarsila do Amaral Começa uma fase voltada para temas sociais com as obras Operários e
2ª Classe, e realiza viagem com Osório Cesar para participar de Congresso político em
Montevidéu;

(1936)
Estrela do Amanhã;

(1945)
Terceira fase, ou geração de 45, retomada de questões parnasianas e simbolistas nas
obras, retomada da forma métrica clássica na literatura, ruptura com a primeira e a segunda
fase do modernismo;
Fundação do MASP, MAM-SP e MSM-Rio;

(1947)
Criação do Museu de Arte Moderna;

(1950)
Primeira representação Brasileira na Bienal Internacional de Veneza;

(1951)
Primeira Bienal Internacional de São Paulo;

(1952)
Tarsila do Amaral ganha prêmio de Artes Plásticas da Municipalidade de São Paulo,
organizado pelo Jornal de Letras;

(1954)
Ado Malagoli funda o MARGS;

(1997)
Bienal do Mercosul;

Referências

PIRES, Camila. O Museu de Arte Moderna de São Paulo e a Institucionalização da arte


Moderna no Brasil. Universidade de Brasília, Departamento de Artes Visuais - VIS, 2018;
HOFFMAN, Maria. A Arte Moderna no Brasil e o seu processo de institucionalização.
Resgate - Rev. Interdiscip. Cult., Campinas, 2017;
JARDIM, Eduardo. 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922. Pontifícia
Universidade Católica, Departamento de Filosofia, Rio de Janeiro, Brasil.

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