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Relatório do Software Anti-plágio CopySpider


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Instruções
Este relatório apresenta na próxima página uma tabela na qual cada linha associa o conteúdo do arquivo
de entrada com um documento encontrado na internet (para "Busca em arquivos da internet") ou do
arquivo de entrada com outro arquivo em seu computador (para "Pesquisa em arquivos locais"). A
quantidade de termos comuns representa um fator utilizado no cálculo de Similaridade dos arquivos sendo
comparados. Quanto maior a quantidade de termos comuns, maior a similaridade entre os arquivos. É
importante destacar que o limite de 3% representa uma estatística de semelhança e não um "índice de
plágio". Por exemplo, documentos que citam de forma direta (transcrição) outros documentos, podem ter
uma similaridade maior do que 3% e ainda assim não podem ser caracterizados como plágio. Há sempre a
necessidade do avaliador fazer uma análise para decidir se as semelhanças encontradas caracterizam ou
não o problema de plágio ou mesmo de erro de formatação ou adequação às normas de referências
bibliográficas. Para cada par de arquivos, apresenta-se uma comparação dos termos semelhantes, os
quais aparecem em vermelho.
Veja também:
Analisando o resultado do CopySpider
Qual o percentual aceitável para ser considerado plágio?

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Modo: web / detailed

Arquivos Termos comuns Similaridade


368.docx X 1109 6,93
https://www.snh2021.anpuh.org/resources/anais/8/snh2021/162
8527484_ARQUIVO_259bab467b4e1afddd29055ba9f3e984.pd
f
368.docx X 147 1,03
https://www.cofemac.com.br/noticias/15395-conheca-tomas-
santa-rosa-considerado-pai-do-livro-moderno-e-protagonista-
nas-artes-graficas-brasileiras
368.docx X 83 0,63
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa5506/santa-rosa
368.docx X 167 0,57
https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2022/02/13/conheca-
tomas-santa-rosa-considerado-pai-do-livro-moderno-e-
protagonista-nas-artes-graficas-brasileiras.ghtml
368.docx X 67 0,45
https://1library.org/article/ecos-amizade-open-jos%C3%A9-
sime%C3%A3o-leal-escritos-trajet%C3%B3ria.y6e1vp7z
368.docx X 35 0,27
https://1library.org/article/jos%C3%A9-sime%C3%A3o-leal-
trajet%C3%B3ria-de-vida-arquivo-pessoal.zpn4rgry
368.docx X 34 0,26
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Sime%C3%A3o_Leal
368.docx X 15 0,12
https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/tede/6264
368.docx X 0 0,00
https://www.lifehack.org/articles/communication/daily-quote-
when-begin-understand-ourselves.html
368.docx X 0 0,00
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=089842_0
3&pasta=ano+192&pesq=igreja
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recomendável baixar o arquivo
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que o documento não existe ou não pode
ser acessado. HTTP response code: 403 -
Server returned HTTP response code:
403 for URL:
https://www.geledes.org.br/tomas-santa-
rosa
https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/22707/1/T Não foi possível baixar o arquivo. É
hiagoBrand%C3%A3oDaSilva_Dissert.pdf recomendável baixar o arquivo
manualmente e realizar a análise em
conluio (Um contra todos). - 30

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Arquivo 1: 368.docx (11651 termos)
Arquivo 2:
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d29055ba9f3e984.pdf (5454 termos)
Termos comuns: 1109
Similaridade: 6,93%
O texto abaixo é o conteúdo do documento 368.docx (11651 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://www.snh2021.anpuh.org/resources/anais/8/snh2021/1628527484_ARQUIVO_259bab467b4e1afdd
d29055ba9f3e984.pdf (5454 termos)

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ESCRITA ? DA ? HISTÓRIA
Uma experiência afro-brasileira no mundo das Artes: vida, pensamento e sociabilidade de Tomás Santa
Rosa (1909-1956)
Tomás Santa Rosa (1909-1956) uma experiência afro-brasileira no mundo das Artes...
Thiago Brandão da Silva
[1: Este artigo é originado da dissertação de mestrado ?Fragmentos de uma história de vida, o afro-
paraibano Tomás Santa Rosa Jr. (1909-1956): entre vivências, intelectualidades, ditos e feitos artísticos,
defendida em 2021, no Programa de Pós-Graduação em História.* Mestre em História pela Universidade
Federal da Paraíba. Professor da Educação básica. Membro/colaborador do Núcleo de Estudos Afro-
brasileiros e Indígenas (NEABI/UFPB).]
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com

Resumo
Trata-se de refletir sobre a vida do multifacetado artista negro modernista que atuou na construção cultural
e artística do país em diferentes âmbitos, Tomás Santa Rosa. A pesquisa se insere na gleba da escrita
sobre intelectualidades negras no pós-abolição. Metodologicamente, leva-se em consideração a dinâmica
social vista sob a égide da microanálise, o que amplia a compreensão dos caminhos, escolhas, decisões,
que formam o campo (ou uma sucessão) de sentidos que tangencia(m) uma trajetória de vida. Considera-
se o descortinar do cenário geracional de sua trajetória de vida enquanto possibilidade para compreender
suas dimensões sociais: a família, o emprego, amigos e estratégias de mobilidade social, além da feição
discursiva do ideal de moderno e das transformações metamórficas do espaço vivido e do debate
intelectual a partir da História Social da Cultura. Busca-se comtemplar a participação de um sujeito
histórico negro no mundo das artes enquanto referência e possibilidade de estudo para estudos afro-
pedagógicos e a agenda de historiadores/as sobre trajetórias e sociabilidades de homens e mulheres
negros no pós-abolição.

Palavras-chaves: Tomás Santa Rosa; Cidade da Parahyba; Sociabilidade; Pós-Abolição; Modernismo.

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Abstract
It is about reflecting on the life of the multifaceted modernist black artist who acted in the cultural and
artistic construction of the country in different areas, Tomás Santa Rosa. The research is part of the field of
writing about black intellectuals in the post-abolition period. Methodologically, the social dynamics seen
under the aegis of microanalysis are taken into account, which broadens the understanding of the paths,
choices, decisions, which form the field (or a succession) of meanings that touch (m) a life trajectory. It is
considered the unveiling of the generational scenario of his life trajectory as a possibility to understand its
social dimensions: family, employment, friends and social mobility strategies, in addition to the discursive
feature of the modern ideal and the metamorphic transformations of the lived space and of the intellectual
debate from the Social History of Culture. It seeks to contemplate the participation of a black historical
subject in the world of the arts as a reference and possibility of study for Afro-pedagogical studies and the
agenda of historians on trajectories and sociability of black men and women in the post-abolition period.

Keywords: Thomas Santa Rosa; City of Parahyba; Sociability; Post-Abolition; Modernism.

Numa tarde de domingo típica do verão carioca, em 16 de dezembro de 1956, algo acontecia nas
proximidades do Teatro Municipal do Rio de Janeiro - localizado na Avenida Rio Branco, antiga Avenida
Central. Quem naquela tarde trafegasse por aquela avenida veria um amontoado de pessoas nas
escadarias do monumental edifício e, tão logo, perceberia um cenário fúnebre. Ao se aproximar,
provavelmente, escutaria no diapasão de conversas íntimas frases cortadas do tipo: ?ele não gostava dos
papéis do banco?, ?era um pintor modernista?, ?ele foi pra Europa duas vezes?, ?estive com ele no Norte
?, ?detestava andar de bonde; sempre preferiu o táxi?; ou, ainda, algumas especulações acerca de sua
origem étnica ? ?um mulato?, ?nossa raça? etc... Enfim, peças do quebra-cabeça de uma investigação
histórica. É que os mortos geralmente deixam vestígios e os vivos lançam-se às memórias, ambos
elementos essenciais ao trabalho do historiador. Mas, como é realizada uma pesquisa sobre a vida de
alguém? Responderemos, de acordo com Vavy Pacheco Borges (2011), para quem o ?intermédio das ?
vozes? [chega] do passado a partir de fragmentos de uma existência e dos registros das fontes
documentais? (BORGES, 2012, p. 2011. É desta feita que iremos esquadrinhar uma trajetória vivida, uma
existência vivida na alvorada republicana, no cenário pós-abolição da escravidão.
O objetivo da presente pesquisa é investigar fragmentos de uma trajetória de vida, vivida pelo
multifacetado artista paraibano Tomás Santa Rosa Jr, o ?Santa? ou simplesmente Santa Rosa. Nascido
em 20 de setembro de 1909, na Cidade da Parahyba, (atualmente nomeada João Pessoa), capital do
estado da Paraíba. Santa Rosa faleceu em; 26 de novembro de 1956. Na ocasião, estava ele ao leste da
Índia numa viagem oficial do governo brasileiro para a Conferência Geral da Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura ? evento promovido pela UNESCO, em Bombaim (Índia), no
qual, ele, Santa Rosa ocupava cadeira como representante do Diretório Nacional de Teatro. Quando
estava no Hotel no momento de descanso em Nova Délhi, cidade vizinha, e se preparava para seguir
viagem pela Europa, o destino pregou-lhe uma ?peça?.
Após sentir fortes dores abdominais (aos 47 anos de idade) foi encaminhado de ambulância ao Hospital
Wellington, percorreu alguns poucos quilômetros e ficou em observação. Já no outro dia recebeu visitas e,
quando tudo parecia ter sido apenas um susto, acabou surpreendendo os amigos/as durante a madrugada
, momento em que seu quadro clínico piorou e o levou a óbito ? provavelmente por um comprometimento
do sistema cardiovascular decorrente de complicações renais.
Até a chegada de seu corpo de lá (Índia) para cá (Brasil) são contabilizados dezoito melancólicos dias que

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, em síntese, podem ser explicados por conta dos trâmites burocráticos e pelo fator cultural, uma vez que
no país de maioria hinduísta permeia a cremação dos restos mortais, e não dispunha de reserva e
logística do transporte de seus restos mortais para outros país. No aeroporto do Rio de Janeiro,
aguardavam por ele suas irmãs Heliomar Santa Rosa e Crisantina Santa Rosa Iwata. Santa Rosa foi
casado no civil com Maria da Gloria Monteiro (1935), numa celebração simples no apartamento de seu
amigo e mentor (renomado das artes plásticas) Cândido Portinari. Em 1942 se casaria novamente, agora
no religioso, com Nely Guimarães. Porém, foi com Oscarina Amorim que teve seu único filho, Luiz Carlos,
que também o esperava junto às tias. Além disso, no aeroporto também aguardavam por ele o ex-senador
Ivo d?Aquino, o escritor Marques Rebelo e o teatrólogo Joracy Camargo (CHEGARAM... 1956, p. 01).
É importante apontar que no ano de seu falecimento foi possível averiguar dezenas de homenagens
escritas à guisa de lembranças em jornais da época. Estas são, para a presente pesquisa, caminhos para
uma melhor compreensão de sua rede sociabilidade, do microclima intelectual, político e cultural de seu
tempo, de seu vínculo afetivo, profissional com dezenas de outros criadores e mediadores da cultura que
formam ?[...] as elites culturais, mesmo quando entidades autônomas, em posição de extraterritorialidade
ligadas à sociedade que os rodeia e são precisamente esses laços, especialmente políticos, que lhes
conferem uma identidade? (SIRINELLI, 1998, p. 259).
Figura 01 ? Saída do cortejo fúnebre de Santa Rosa

Dito isto, a partir de uma série delas (re) conheceremos o homem do seu tempo, o intelectual das artes, o
artista, o funcionário público, o ?Santa?, o ?Santa Rosa?. Afinal, ainda a esse respeito, Ricoeur (2007)
ressalta que a lembrança inaugura um novo ângulo da representação histórica, ?(...) uma imagem
presente de uma coisa ausente? (...) (RICOEUR, 2007, p. 199) ? constituindo-se, dessa forma, como uma
maneira de entender o passado por meio das mensagens póstumas de sua rede de amigos.
Em reclames por conta de um encontro que não aconteceu, o escritor e jornalista brasileiro João Condé
rememora o momento de sua partida para a Índia ?(...) no dia de seu embarque, estive com ele [Santa
Rosa], Alcântara Silveira e Simeão Leal, no City Bank (...) todo eufórico, trocava cruzeiros por dólares. E
no abraço de despedida perguntou-me o que desejava que trouxesse? (CONDÉ, 1956, p. 12). As
lembranças, de maneira verossímil, ajudam a compor uma série de apontamentos, caminhos e
postulações acerca da trajetória de vida de Santa Rosa.
Desta feita, passaremos a refletir acerca da trajetória de vida do multifacetado artista modernista, Santa
Rosa. Assim, pretende-se compreender fragmentos de sua trajetória vivida no espaço-tempo de sua
ambiência geracional; identificar como formou e se beneficiou de uma rede de sociabilidade composta por
uma renomada plêiade de intelectuais e reconhecer seu protagonismo no cenário artístico-cultural de seu
tempo. Metodologicamente, considera-se a dinâmica social vista sob a égide da microanálise, ou seja, o

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grau de singularidade quando aproximamos a lente que analisa os processos históricos.


Assim, a pesquisa adota a perspectiva teórica da história social cultura e arrola sob a égide teórica-
metodológica da política das elites culturais, da comunicação social das redes sociabilidade, da realização
cultural de feitos artísticos (SIRINELLE, 1998; 2003). A trajetória de vida do multifacetado artista, Santa
Rosa, é por aqui compreendido levando em consideração as premissas, do geografo Milton Santos, em
que o espaço é o elo de junção, na medida em que liga-se os ?(...) fatores à genes, ao funcionamento e à
evolução do espaço (...)?, ou seja, ?o espaço pode ser definido de maneira tripartida: primeiro, como um
fator social (determina as condições sociais); segundo, como um fato social (produto e produtor); terceiro,
como uma instância social, pois é um ?(...) revelador que permite ser decifrado por aqueles mesmos a
quem revela (...)? (SANTOS, 2004, p. 163). Desta forma, a pesquisa se fundamenta a partir da tríade
objeto-tempo-espaço (REVEL 1998; BOURDIEU, 2006; SANTOS, 2004).
O corpus documental analisado é formado por uma série de escritos de amigos e de sua autoria
publicados em jornais, revistas e suplementos literários, especialmente, acessados a partir da Hemeroteca
Digital da Biblioteca Nacional (BNDigital). Conforme defende Luca (2011), a partir da utilização do jornal é
possível captar a nova vida citadina do século XX. Afinal, são os periódicos que registram as modificações
da urbanização, modernização dos espaços, e se encaixam no mesmo fluxo de outros dispositivos que
surgem na modernidade.
Nesse sentido, comunicaremos a pesquisa seguindo o seguinte enredo. No primeiro momento trataremos
interpretar Santa Rosa a partir de recordações de seus amigos (as) que compuseram sua rede de
sociabilidade. Em um segundo momento, iremos compreender sua trajetória em seu cenário geracional,
assim, leva-se em consideração: família, espaço e sociabilidades de Santa Rosa. No terceiro e último
momento vamos apresentar parte da experiência do artista multifacetado.
Aos vivos: (re) apresentação de Santa Rosa

Para Paul Ricouer (2007, p. 199) as lembranças encontradas em mensagens-póstumas (ou seja,
homenagens escritas após o falecimento do indivíduo encontrada no formato de crônicas) evocam um
presente ou uma presença, ?[...] buscam na operação de recordar que se conclui com a experiência do
reconhecimento, [pois] a lembrança é representação, re(a)presentação?. Em vista disso, iremos
apresentar a maneira com a qual Santa Rosa é (re) apresentado por alguns amigos que compõem sua
rede de sociabilidade. Não sem antes advertir a (a) leitor (a) sobre as idiossincrasias da atmosfera política
da década de 1930 em que havia um embate político ferrenho entre movimentos comunistas, fascistas e,
também que falavam da temática do negro. E isso de uma maneira que aumentava substancialmente as
disputas ideológicas que o governo varguista conduziu com destreza política.
[2: Santa Rosa fez parte de uma plêiade de intelectuais que estava a serviço do governo varguista, sob a
liderança do ministro Capanema. A esse respeito, Miceli (2001, p. 195) evidencia a maneira pela qual o
período correspondente ao mandato de Capanema (1934-1945) foi marcado pela cooptação dos
intelectuais, seja ?(...) como funcionários em tempo parcial, seja para desempenho de cargos de confiança
junto ao estado-maior do estamento, seja para preencherem os lugares que se abriam por forças das
novas carreiras que a extensão da ingerência passou a exigir, seja enfim acoplando inúmeras dessas
posições e auferindo rendimentos dobrados.?. Por outro lado, Fábio S. Cardoso (2019), biógrafo do
ministro Gustavo Capanema, endossado pela atuação de Graciliano Ramos e Carlos Drummond de
Andrade (dois declarados comunistas) no ministério, sugere (numa recente publicação) que havia, sim,
flexibilidade ideológica na ?constelação Capanema".]
No tempo de Santa Rosa, contendas ideológicas se fizeram presente. Houve pelo menos um fato em que

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Santa Rosa se envolveu diretamente. Trata-se de sua prisão na época em que trabalhava numa editora.
Quem narra o ocorrido é o escritor José Lins do Rego que diz:
Vi-o um dia sair preso da Livraria José Olímpio, num sábado de carnaval, que era a sua festa preferida. Vi-
o no meio dos esbirros num carro de Polícia. Lembro-me de seu olhar triste, a única vez que aquela
fisionomia prazenteira se fechava em angústia. Eram as saudades do carnaval perdido. Santa não
demorou entre as grades. José Olímpio bateu em todas as portas para libertá-lo. (REGO, 1956, p. 4).
É bem verdade que não sabemos os reais argumentos que levaram à prisão de Santa Rosa, embora
postule-se sua ligação, assim como a de outros intelectuais, com clubes, agremiações artísticas ligadas à
Aliança Nacional - célula maior da arquitetura do projeto comunista. Santa Rosa foi cofundador do Clube
de Cultura Moderna, fundado no dia 28 de novembro de 1934. Sua presença e a de outros artistas
modernos, como o amigo Aníbal Machado, evidenciava, portanto, a postura política dos artistas.
Na ambiência intelectual de seu tempo participava da rede de sociabilidade pessoal de Santa Rosa
artistas e escritores que já detinham prestígio, a exemplo, do escritor baiano Jorge Amado. Em seu livro
autobiográfico, Amado comenta sobre uma viagem a São Paulo ao encontro do artista modernista, pintor e
cenógrafo Flávio Carvalho (1899-1973) na companhia de Santa Rosa em 1933 em que é possível
evidenciar o microclima intelectual do momento, diz Amado (1992):
Eu o conheci quando fui a São Paulo pela primeira vez, em 1933, em companhia de Santa Rosa.
Hospedando-nos em casa de Tarsila do Amaral* e Osório César, na ocasião marido e mulher ? haviam
recém-chegado de Moscou, ir à URSS naquele então era aventura cercada de dificuldades, viagem de
espantos ? realizavam uma exposição de cartazes soviéticos, insólitos e românticos, no Clube de Artistas
Modernos, organismo criado e dirigido por Flávio de Carvalho, na época o centro de cultura mais sério do
Brasil, o que colocava a proposta mais avançada. Ali pronunciei conferência sobre as crianças nas
plantações de cacau, autografei o livro ilustrado por Santa Rosa, assisti ao Bailado do Deus morto, de
Flávio, que espetáculo!, logo proibido pela polícia política. A censura não dava tréguas ao CAM (...).
(AMADO, 1992, p. 202).
Santa Rosa participou junto com outros intelectuais de seu tempo, como Aníbal Machado, Jorge Amado,
José Lins do Rego entre outros, do CAM - Clube de Arte Moderna. Entre outras atribuições, destaca-se
sua coordenação da comissão da exposição para escolha do melhor tema sobre Palmares a partir do
ponto de vista do modernismo, em 1935 . Também fez parte da direção da Revista Movimento, que
ancorava reportagens e editoriais feitos pelos integrantes do CAM.
O Clube passou a aderir oficialmente, em setembro de 1935, a Aliança Nacional Libertadora (ANL) uma
organização de âmbito nacional que promovia ideias comunistas para combater a difusão do pensamento
fascista disseminado pela Ação Integralista Brasileira (AIB). Naquela década, de modo geral, havia um
estreito corredor de escolhas para partidários e intelectuais, prevalecendo ambos os movimentos. Neste
cenário, em que ?(...) fundiram-se a libertação do academismo, dos recalques históricos, do oficialismo
literário; as tendências de educação política e reforma social; o ardor de conhecer o país" (MELO E
SOUSA, 2000, p. 114) as capilaridades ideológicas do âmbito artístico sofreram efetivas mudanças.
Na adesão à ANL falou-se sobre a importância da Cultura para o povo, para as massas, para os
trabalhadores do país. Um momento de pulsante denúncia contra os integralistas e os regimes de
opressão (Nazismo e Facismo) e aclamação para união em prol de um programa de Cultural modernista
(uma contraposição a erudição exclusiva do academicismo) para o povo. Subiram ao palanque para
discutir acerca do tema ?Cultura e Liberdade?: Edgard Sussekind de Mendonça, Febus Gikovate Miguel
Costa Filho, Luiz Werneck de Castro, Carneiro Ayrosa, José Lins do Rego. Demetrio Hamam, Jorge
Amado, Annibal Machado, Cordeiro de Melo.

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(...) todos pronunciando-se contra os regimes de força, contra o Facismo, contra o integralismo, em prol da
mais completa liberdade (...) O Sr. Febus aludiu ao programa da Aliança Nacional Libertadora, mostrando
que em face do pronunciamento da assembleia que aplaudiram os oradores e sendo aquele movimento de
frente única o único que no momento pode libertar o Brasil, submetia a debate e votação dos presentes e
decisão do Clube de Arte Moder de aderir à Aliança Nacional Libertadora. Uma salva de palmas saudou as
últimas palavras, ficando assim aprovada unanimemente aquela decisão do Club. Em seguida, a
comissão do Club de Cultura, acompanhado de grande número de sócios, dirigiu-se à sede da ANL. Esta,
reunida em sessão, sob a presidência do comandante Cascardo ouviu a decisão, e em nome do diretório
da ANL falou sr. Amoretty Osório que agradeceu a atitude do Club de Cultura Moderna. (O QUE...1935, p.
5).
Já nas lembranças do amigo Sérgio Porto, jornalista do Diário Carioca ficou registrado o cenário de
criação do personagem cabotino Stanislaw Ponte Preta. Sobre isso, Porto conta que Santa Rosa junto
com ele idealizou o personagem. A esse detalhe vale salientar que interessou a Santa Rosa o espaço de
charges em jornais. Diariamente, representações artísticas da atmosfera política se projetam por meio de
formas extravagantes nos jornais. Conforme diz Santa Rosa, a ?[...] [política], com os seus artifícios e as
suas peras perversões, tem-lhe fornecido um material copioso, em que se tem exercitado a irônica e
sarcástica verve dos artistas [...]? (SANTA ROSA, 1947, p. 12). Porto também foi quem buscou explicar a
desapropriada pontualidade que o amigo costumeiramente exercitava. Ficou conhecido no meio
profissional por entregar encomendas fora do prazo. Para ele, a culpa de procrastinar as encomendas
advinha de sua impulsividade em querer conferir as novidades do mundo da arte, pois costumeiramente
deixava
(...) de fazer um quadro para ir comprar o último disco de Armstrong, ou para ver o desfile de uma escola
de samba. Deixava pelo meio da tela para ir assistir uma peça mambembe, onde um intérprete
coadjuvante surgia como esperança de bom ator. Perdia horas numa livraria folheando livros de arte (...).
(PONTE PRETA, 1956, p. 11).
A trajetória de vida do sujeito histórico negro, letrado, migrante, que participou ativamente da produção
cultural do país, especialmente, entre as décadas de 1930-1950, evidencia um cenário político, cultural e
artístico, um capítulo da história republicana no período do pós-abolição. Desta feita, essa pesquisa
acompanha uma série de estudos historiográficos do pós-abolição em que homens e mulheres negros-(as
) letrados-(as) são evidenciados atuando como protagonistas em instituições, espaços de sociabilidade e
poder; desempenhando variados ofícios, sobretudo no primeiro quinquênio do século XX.
A produção de estudos da população negra relacionados ao período posterior à abolição da escravidão se
diversifica e; o que outrora eram lacunas se tornam caminhos a serem percorridos, a exemplo da utilização
de fontes primárias tais como: registros de batismo; certidões de casamento, de óbito; uso da genealogia;
jornais; literatura; entrevistas orais com remanescentes quilombolas; acervos pessoais e privados
(MATTOS; RIOS, 2004). Ou seja, a pesquisa histórica que se ocupa em compreender a dinâmica das
trajetórias de vida de homens e mulheres negros (as) no pós-abolição ampliou a dimensão espaço-tempo
e, com isso, acabou, através de novas perguntas descortinando as ?(...) conexões transnacionais da
história intelectual e da história das ideias que sempre estiveram relacionadas com as perspectivas ligadas
ao pós-emancipação e os debates sobre racismo, direitos humanos e cidadania? (DOMINGUES; GOMES
, 2011, p. 10).
Em Experiências da emancipação: biografias, instituições e movimentos sociais no pós-abolição (1890-
1980), Domingues e Gomes (2011) evidenciam uma gama de trabalhos que discorrem sobre o período do
pós-abolição, a partir de pesquisas sobre associações, convenções, congressos e instituições políticas,

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militares negros, além do debate historiográfico sobre as trajetórias negras. Vale salientar, experiências no
âmbito da arte, a exemplo, do ator pernambucano, pintor e poeta Solano Trindade (1908-1974) e sobre o
escritor e abolicionista baiano Manuel Quirino (1851-1923). No que concerne às mulheres negras também
foram representadas, destaca-se a trajetória da professora e deputada catarinense Antonieta de Barros
(1901-1952). Já em Quase Cidadão: histórias e antropologias da pós-abolição no Brasil (2007), de modo
geral, objetivo foi compreender ?[como], onde, em que condições homens e mulheres de cor dela
[múltiplas liberdades] usufruíram, transformaram-na em objeto de interpretação, contendas, ou mesmo
rejeitaram os significados a ela atribuídos pelo discurso jurídico? (CUNHA; GOMES, 2007, p. 14). Uma
leitura possível no debate historiográfico é sobre a cidadania da população negra no pós-abolição.
Ao analisarmos trajetórias negras no espaço-tempo em que esteve inserido Santa Rosa, ou seja, início do
século XX, na Cidade da Parahyba, podemos acompanhar pesquisas recentes que colaboram com o
entendimento do pós-abolição. Assim, a historicidade quanto aos afro-paraibanos no pós-abolição tem
sido tema de publicações que norteiam a presença de homens negros letrados na região setentrional do
país, especialmente. As recentes pesquisas que ampliam o olhar sobre experiências negras no pós-
abolição na Paraíba têm sido realizadas pelos pesquisadores Elio Flores (2015), Solange Rocha (2015),
Petrônio Domingues (2017) e Surya Barros (2020).
Nesse sentido, seguindo sob a esteira de pesquisas acerca de pessoas negras inscrevemos a presente
pesquisa na historiografia recente que tem evidenciado, figuras desse segmento populacional, com
atuação ativa na Primeira República ? período de reordenamento social, de reconfigurações das
hierarquias raciais e de disputas dos projetos de nação ?, também se destacaram na cena política e
cultural. Como exemplo, os baianos Manuel Querino e Alfredo Casemiro da Rocha; o maranhense,
Hemetério dos Santos; o pernambucano Monteiro Lopes; o gaúcho Aurélio Veríssimo de Bittencourt; o
mineiro Benjamim de Oliveira; os cariocas Evaristo de Moraes, Eduardo das Neves e Lima Barreto; entre
outros que debateram e disputaram os diferentes projetos de política, cultura e identidade nacional, e
foram reconhecidos em vida, mas aos poucos caíram na galeria do preterimento, do ostracismo, da
subestimação ou simplesmente jazem nos desvãos da memória após a morte (DOMINGUES; ROCHA;
FLORES, 2019, p. 145-146).
A cada passo dado novas questões chegam à lume e o olhar para a interpretação da ?nova abolição?
inverte o sentido do problema; ou seja, o fato histórico do fim da instituição escravista é, por conseguinte, o
fomento para o início de uma gama de problematizações que colaboram com a nitidez do que há de ser
visto por Clio. Em Vicente Gomes Jardim: um ?artista e autor ?de cor no final do século XIX e início do XX
, Surya Barros (2020) reflete, a partir da égide da história social da escravidão, a trajetória de um homem
negro livre, no período da transição do Império e a República. Em que se buscou a experiência de vida de
Vicente Jardim enquanto liderança da Sociedade de Artistas Mechanicos e Liberaes da Parahyba e
membro da Irmandade dos pardos.
Assim, o propósito, evidentemente, é acentuar o avanço face às limitações constituídas pelo silenciamento
de Clio sobre a participação protagonista da ?gente negra? na história do Brasil após a abolição de 1888.
Tal enfoque tem contribuído para ampliar a compreensão da historicidade do pós-abolição.
Portanto, compreender a trajetória de vida do sujeito histórico negro, Santa Rosa é também perceber as
tessituras sociocultural e políticas de seu tempo. Assim, comunico ao leitor (a) que passaremos a percebê-
lo em seu espaço geracional cujo objetivo é ter a possibilidade de entender suas ambições, decisões,
frustrações e objetivos. Além de, por outro lado, explicar a influência de sua rede de sociabilidade para
compreender fragmentos de uma história de vida em suas dimensões sociais: a família, o emprego,
amigos e estratégias de mobilidade social. Desta feita, caro leitor, passaremos a compreender o tempo de

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Santa Rosa em sua cidade natalícia.As transformações que metamorfoseiam o cenário geracional de
Santa Rosa são elementos imprescindíveis para compreendermos fragmentos de sua história de vida,
vivida em meio a conjuntura de modernização do espaço da Cidade da Parahyba no pós-abolição. O olhar
em seu presente-passado corrobora enquanto ?testemunha ocular? Burke (2004), das ?rugosidades?
Santos (1998) do espaço da cidade da Parahyba (1920-1930) acarretadas pela modernização de
dispositivos estruturais do serviço público.
[3: Assim também, é partindo do pressuposto de que, conforme aponta Milton Santos (2004, p. 146),
entendemos o espaço seja como ?um produto histórico?, consideram-se os fragmentos de uma trajetória
vivida em terras paraibanas. como elo de junção, na medida em que liga-se os ?(...) fatores à genes, ao
funcionamento e à evolução do espaço (...)?. ]

A Cidade da Parahyba no tempo de Tomás Santa Rosa Jr. (1909-1932): família, espaço e sociabilidade
A casa em que Maria Alexina Santa Rosa (mãe de Santa Rosa) residiria com seu filho Santa Rosa até
1932, era nas proximidades à comunidade católica da qual era assídua frequentadora ? a Igreja Matriz de
Nossa Senhora das Neves, a catedral da cidade. Seu pai, Tomás Mauricio Santa Rosa, artista, alfaiate de
profissão, por sua vez, manipulava a arte de ?vestir? pessoas ? em parte, assemelhando-se ao filho, que
?vestia? livros, sobretudo aquelas que detinham cabedal suficiente para adquirir um traje ?da moda?,
comumente utilizado para situações da vida social na cidade, como missas, bailes, casamentos, batizados
e cerimônias. Conforme Waldeci Chagas:
Os rapazolas se contentavam com as peças de brim em várias tonalidades. Do contrário, a casimira era
bem encomendada pelos alfaiates. As alfaiatarias e camisarias sempre estavam abarrotadas de
encomendas, principalmente se estavam próximas as festas da padroeira, Nossa Senhora das Neves, do
Natal e do Ano bom. Nessas épocas, era comum o rapaz encomendar o corte e costura de um novo
conjunto composto de paletó colete e calça (CHAGAS, 2004, p. 121).

No tempo de Santa Rosa, a moda é matéria prima para que personagens importantes do microclima
intelectual da década de 1920, na Cidade da Parahyba escrevessem a seu respeito, a exemplo do
historiador Horácio de Almeida quem, por seu turno, contesta, em tom de denúncia, a chegada da nova
(do moderno) maneira de ?vestir-se? ? para ele, a moda da/na década de 1920, quando posta na balança
da moralidade, seria um ônus negativo. Acusada, a moda passou a ser evocada como má influência para
toda uma geração (tanto para homens quanto para mulheres). Julgada por Almeida, a moda passou a
ocupar as linhas da Revista Era Nova, ao escrever o artigo O poder da moda, em 1921, por onde destila:
[4: [...] uma revista quinzenal ilustrada na década de 1920, produzida na Paraíba. A princípio foi fundada
na cidade de Bananeira/PB e logo depois seu núcleo foi transferido para capital da Parahyba do Norte. Se
manteve circulando de 1921 a 1926, quando, dela, se tem notícia pela última vez. Seu primeiro nº, do ano
I, data de 27 de março de 1921, sendo oficialmente apresentada por seu diretor Severino de Lucena e seu
redator-chefe Guimarães Sobrinho, com a proposta de inaugurar uma nova era nos círculos literários e
intelectuais paraibanos. (RODRIGUES, 2013, p. 3).]

[moçoilas] catilas e espevitadas desaforam-se de corpinhos e sobem vestidos e descem os decotes para
os pitaratas galanteadores analysem em seus contornos a perfeição artística de suas joias. Insatisfeitas
com a liberdade que gozam, disputam o direito de voto e com este o direito de representação (...)
Galopeamos nesta marcha para o aniquilamento moral de nossa raça, para a efeminação do caráter
másculo de nossa juventude, para o ignominioso e abdiminavel hermafroditismo social. E chama isso de

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evolução! (ERA NOVA, 1921, p. 15)

O registro presente na documentação da Arquidiocese da Paraíba evidencia que o casamento do casal


Santa Rosa foi em julho de 1906. Ao analisar o referido documento, é possível verificar/comprovar
algumas informações pertinentes à origem de Santa Rosa. Com 19 anos de idade, Thomaz Mauricio Santa
Rosa oficializa (no civil) seu casamento com Maria Alexina das Neves Pereira, que, aos 22 anos, era um
pouco mais velha e já contava com a maioridade jurídica. Também é possível averiguar nesse registro a
ramificação de parentesco de suas avós, sendo elas, respectivamente: Maria Marcionilla Martinho e
Felismina Batista Freire. Assim,
(...) aos trinta dias do mês de Julho de mil novecentos e seis, décimo sétimo ano festivo da proclamação
da República dos Estados Unidos do Brasil, nesta cidade da Parahyba do Norte, capital do Estado do
mesmo nome (...) Thomaz Mauricio Santa Rosa e Dona Maria Alexina das Neves Pereira que neste ato
queiram casar-se. Thomaz Mauricio Santa Rosa, solteiro, com dezenove anos de idade, natural e
residente nesta capital, filho natural de Maria Marcionilla Martinho, residente nesta cidade. Dona Maria
Alexina das Neves Pereira, solteira, com vinte e dois anos de idade, também natural e residente nesta
capital, filha ilegítima de D. Felismina Batista Freire (...).
[5: TESTAMENTO de casamento dos pais de Santa Rosa. Disponível em: https://www.familysearch.org/
ark:/61903/3:1:S3HY-61X9-. Acesso em: 25 fev. 2023.]
Tomas Santa Rosa morador da Rua do Barão de Passagem (atual Rua da Areia), nº 320, testemunhou a
implementação de dispositivos estruturais, tais como iluminação, água encanada e esgotamento.
Enquanto morador da cidade baixa, Santa Rosa foi testemunha ocular das edificações que ganhavam,
naquele momento, construções de sobrados de dois andares, feituras quase exclusivamente da área
comercial da cidade no centro da cidade. Assim, essa nova elaboração de estrutura da cidade criava um
aglomerado que com o tempo foi se transformando na urbe paraibana, dividido entre as regiões ?alta? e
?baixa? ?[...] onde o comerciante podia juntar o armazém, a família, e os caixeiros, respectivamente, no
andar térreo primeiro e segundo andares (...)? (BATISTA, 1951, p. 17). Em suma, como assinala Wylnna
Vidal
(...) da primeira metade dos anos 1910, quando foram implantados os primeiros serviços urbanos
modernos (abastecimento d'água, energia elétrica e bondes), até 1940, podemos observar o trinômio
[embelezar, sanear e circular] presente no discurso do poder público justiçando as ações; presente nas
reivindicações de melhoria e embelezamento urbano da elite local; presente no discurso favorável às
transformações e presente também no discurso que se mostraram às mudanças (VIDAL, 2004, p. 45)
As ruas do centro da cidade funcionavam como artérias de chegada do moderno. Eram consideradas
como uma espécie de ?termômetro? social e econômico do início do século XX. Em especial a Maciel
Pinheiro que, nesse contexto, se tornava uma das principais esteiras do comércio da Paraíba, na qual as
transformações culturais ?pintavam? as vitrines com suas cores e tessituras, e por onde certamente
Tomaz Maurício Santa Rosa trabalhava e construía apreço social gerado por sua vida profissional, cuja
função em confeccionar o vestuário de membros da elite paraibana o levaria a costurar certa rede de
sociabilidade.
A ambiência em que residia a família Santa Rosa era de extrema importância comercial, pois recebia de
cidades do interior como Itabaiana e Campina Grande carregamentos de uma mercadoria que nutriu a
opulência de parte dos produtores paraibanos: o algodão ? um gênero de grande relevância para a
economia paraibana e principal produto da década de 1920. De certo modo, o acúmulo de capital de
alguns comerciantes advindos do interior para morar na zona urbana da capital, e que logo iriam construir

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suas residências na parte da ?cidade alta?, mantendo seus comércios na parte baixa da foi o apogeu do
algodão no final do século XIX, devido ao cenário do mercado internacional. Com efeito, trata-se de um
elemento preponderante para a modernização da cidade, uma vez que, como aponta Galliza (1993, p. 45),
durante o período compreendido entre 1900 e 1929 o algodão e a pecuária foram não apenas
fundamentais, mas principais produtos da economia paraibana. Tal evidência reverberava nas mudanças
administrativas da cidade.
A iniciativa do poder público em modernizar a cidade gerou mudanças não apenas em seus edifícios, mas
também no campo administrativo, uma vez que o aparato burocrático paraibano teve que ser ampliado.
Vale lembrar que, apenas em 1916, é que a Paraíba inaugurava seu primeiro banco (uma filial do Banco
do Brasil no estado), ? então, o capital mercantil do estado era majoritariamente manipulado por
empresários estrangeiros. Assim, atividades aduaneiras de exportação algodoeira essenciais à economia
local ficavam sob a égide de firmas estrangeiras, a exemplo da francesa Cahan Fréres & Cia (fundada em
1864), que, contando com filiais em Guarabira e Mamanguape, monopolizava o comércio externo da
Paraíba (GALLIZA, 1993).
Entretanto, as modificações advindas do profícuo momento econômico em que passava o espaço natalício
de Santa Rosa não impediu o avanço das mazelas advindas da falta de saneamento básico. A
precariedade do saneamento básico, certamente, colaborou com o triste capítulo na história da família da
Santa Rosa, que passaremos a comunicar.
Além de superar a morte de três filhos homens, a família Santa Rosa passou por outras dificuldades,
sobretudo Maria Alexina (mãe), uma vez que ela teve que prosseguir com a criação do único filho homem
sobrevivente (Santa Rosa) e suas duas irmãs, sozinha, já que seu pai, Tomaz Mauricio ?(...) abandonara a
família para tentar a sorte ao centro-norte do país, só retornando para revê-los nos últimos anos de sua
vida (...)?, falecendo em 1953, três anos antes do filho (BARSANTE, 1982, p. 7). Possivelmente, a
?aventura? iniciada pelo senhor Tomaz, teve um aspecto potencializador ? à época, o sonho de muitos era
saborear um promissor enriquecimento através da extração da borracha. Desse modo, muitos nordestinos
partiram para as trilhas das florestas, se inserindo na produção da borracha.
[6: A esse respeito, Caio Prado Jr. (2004, p. 199) observa: ?(...) a borracha, que graças aos automóveis e
seus pneumáticos estará destinada a um futuro magnífico, e que na nativa do vale amazônico daria
momentaneamente ao Brasil o monopólio de uma mercadoria de grande consumo internacional?.
Entretanto, o surto do ciclo da borracha acabaria se encerrando, à medida que produtores dos países da
Ásia menor passaram a cultivar seringueiras, agradando com preços baixos os principais compradores (os
estadunidenses). O final do primeiro surto da borracha foi em meados de 1920, chegando ao seu declínio
, de fato, já na década de 1950, por conta dos derivados do petróleo.]
O triste capítulo na história da família de Santa Rosa foi agravado pela precariedade do saneamento
básico, o que atuou nos consecutivos falecimentos de seus três irmãos. A partir da imprensa local,
inclusive, é possível perceber na atmosfera epidêmica, a tônica conjuntural de preocupações com
enfermidades, ? no tempo do nascimento dos irmãos de Santa Rosa (1907-1908) manifestavam-se, tanto
pelo ?bater dos sinos? das igrejas (que anunciam mais momentos fúnebres), quanto pelos informes da
imprensa local, que a descreve da seguinte maneira: ?(...) já temos diante de nós a triste perspectiva de
um quadro semelhante às 56 dos anos de 1905 a 1907, quando a Parahyba foi dolorosamente flagelada
por essas pestes (...)? (COLUNA..., 1913, p. 1). O fato é que, sem um serviço de distribuição de água
encanada, a cidade pouco se apresentava enquanto um espaço moderno. Conforma Araújo (2001) e
Chagas (2004) havia um volumoso debate político acerca da qualidade da água, médicos e engenheiros
travavam um embate cientifico para sanar a proliferação de doenças. Porém, a mobilização discursiva não

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efetivava as condições insalubres. Vale salientar que apenas em 1914 a cidade natalícia de Santa Rosa
será contemplada com serviço de água encanada e que o abastecimento era realizado pelos aguadeiros.
Em 16 de outubro de 1908, um ano após casal Santa Rosa formaliza matrimônio, é evidenciada a morte
do que seria primeiro irmão de Santa Rosa ?(...) Anjo ? finou-se antehontem, o pequeno Moacyr Santa
Rosa, filho do senhor Thomaz Mauricio Santa Rosa. Seu enterro effectuou-se hontem pelas 4 horas.
Pêsames aos seus desolados genitores (...)? (ANJO, 1908, p. 2). Ou seja, ao que se indica, um dos
primogênitos faleceu de forma prematura, sem chegar a completar dois anos de idade em vida. É na
ambiência dos problemas sanitários que nasce outro irmão de Santa Rosa, Pelópidas, registrado no dia 28
de junho de 1908 também falecendo de forma prematura. Conformidade com Barsante (1982, p. 7),
nenhum de seus falecidos irmãos alcançou (em vida) a infância.
[7: CERTIDÃO de óbito. Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-X38SJHH?i
=64&cc=2015754. Acesso em: 30 set. 2022.]
A questão da distribuição de água na cidade é um capítulo digno de novela livresca. As polêmicas acerca
da qualidade da água causaram estardalhaço no nicho político paraibano: farpas entre correligionários
locais, com os aliados protagonizando o conflito, cuja saída foi convidar especialistas externos para pôr fim
nas querelas. Por esse nasceu em 29 de setembro de 1909, Santa Rosa, o único filho homem de Maria
Alexina e Thomaz Mauricio a sobreviver ao nefasto ambiente. Consta na documentação da Arquidiocese
da Paraíba o seguinte registro:
Aos vinte e sete de março de mil novecentos e dez na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Neves de
minha licença, Reverendo Padre Mathias Freire batizou solenemente a Thomaz, nascido aos vinte de
setembro do ano próximo passado [1909], Tomaz Santa Rosa; filho de Thomaz Mauricio de Santa Roza e
Dona Maria Alexina de Santa Roza (sic!). Foram seus padrinhos Thomaz Ferreira Soares e sua mulher
Dona Amélia Ferreira Soares. E para constar mandei lavrar o presente termo que assino.
[8: Fonte: Arquivo Eclesiástico ? Arquidiocese da Paraíba ? Livro 13, nº 1876-1878.]
Os primeiros passos de sua vida escolar foram dados na Quinta Cadeira Mista da Paraíba; posteriormente
, buscou admissão no Grupo Escolar Tomás Mindelo, por meio do qual ingressou no conceituado Lyceu
Paraibano onde estudou até 1927. Este ficava próximo à Escola Normal, instituição responsável pela
formação das moças paraibanas. Santa Rosa fez aulas de piano com a professora Alice Pereira quando
ainda era garoto. Todavia, é sabido que a sua dedicação autodidata o levou a aprender outro idioma, o
mais exigido em seu tempo, o francês. Sua formação cultural e a aproximação de sua mãe da Paróquia
local foram decisivas para que ele participasse de aulas de canto, atividades realizadas na Igreja Matriz de
Nossa Senhora das Neves, da qual, decerto, sua mãe fazia parte.
Na igreja constatou-se uma potencial habilidade vocal, e ele passou a participar do Te Deum dos alunos
do Sacro-colégio do Arcebispado. O garoto, Santa Rosa, ainda arranjava tempo para apreciar as aulas do
seu professor de música Grazzi Galvão de Sá (natural da Cidade da Parahyba). Vale salientar que Santa
almejou se torna um músico profissional. Apostando em sua qualidade musical de barítono, naquele
período seguiu buscando participar de concursos de novos talentos, até que, certa feita, um conhecido,
Murilo de Carvalho (que era profissional de canto), o orienta a deixar a ideia de lado (BARSANTE, 1982).
Anos depois, sua carreira profissional se inicia no funcionalismo público imerso no setor de contabilidade
da administração local.
Sua trajetória na carreira do funcionalismo público se deu em meio a consolidação do regime republicano.
Era o tempo do segundo mandato do governado Solon Barbosa de Lucena (1920-1924) quando Santa
Rosa recebeu o convite que iria influenciar os rumos da vida do garoto de apenas 14 anos de idade. Na
ocasião, o convite foi feito pelo então engenheiro-chefe da Secção de Saneamento do Estado da Paraíba,

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Lourenço Baeta Neves, em conjunto com o secretário-geral de Estado Álvaro de Carvalho (BARSANTE,
1982, p. 9). Logo, a partir de 1923 Santa Rosa passaria a trabalhar no setor da contabilidade oficial do
governo ? naquele ano o prédio do Palácio do Governo funcionava nas proximidades de sua casa. Desse
modo, a citada contratação para o setor de contabilidade do Tesouro Estadual da Parahyba do Norte foi
realizada por indicação de homens da política local.
Figura 02 ? Tomás Santa Rosa aos 18 anos de idade

Fonte: BARSANTE, 1982.

Cabe ressaltar que o início de sua vida no funcionalismo público é de suma importância, pois por meio
desse vetor de compreensão de sua trajetória de vida é possível, também, descortinar sua rede de amigos
. É esse um assunto que requer atenção, afinal Santa Rosa não teve em sua origem uma opulência de
berço, como outros de seu convívio, mas logrou êxito quanto a apropriação de capital cultural e social.
A mencionada rede (e as relações de proximidade dela decorrentes) pode ter granjeado certo capital
social ao Sr. Tomaz, afinal homens da elite e da classe média paraibana recorriam ao comércio de
vestimentas para adquirir trajes apropriados para os oportunos momentos de socialização (casamentos,
bailes) pautados pela agenda de celebrações. Desta feita, agraciado por uma oferta de emprego, no setor
de contabilidade do Tesouro Estadual. Essa oferta pode ser especulada a partir da influência de seu
padrinho, Thomaz Ferreira Soares. Membro de uma tradicional família da cidade (os ?Ferreira Soares?),
casado com a Sra. Amélia Soares (carinhosamente chamada por parentes e pessoas próximas como Mãe
Lindoca), com quem teve um filho chamado Acácio (Sula), era funcionário/tesoureiro de carreira em um
banco, na Cidade da Parahyba.
Há ainda outra possibilidade que advém de sua rede (direta e indireta) de amigos ter proporcionado um
caminho confortável para a inserção em seu primeiro emprego, e por conseguinte mobilidade social.
Nesse sentido, há uma memória do tempo em que Santa Rosa trabalhou no Tesouro Estadual, produzida
pelo jornalista Luiz Pinto, com quem Santa Rosa não tinha amizade, mas mantinha relações de
proximidade pelo fato de trabalharem na mesma repartição pública, que ajudaria a endossar essa
suposição. De fato, o jovem Santa Rosa contou com uma importante rede de amigos no âmbito social que
correspondia à sua função no setor de contabilidade. Sendo assim, ao relembrar em tom nostálgico de sua
experiência no tempo em que Santa Rosa era morador e funcionário público, Pinto o descreve como
alguém de distinção, sobretudo por sua relação de amizade com membros da elite paraibana nos anos
1920 (a exemplo de Aloísio França e Luís França, os ?meninos do Tesouro?).
Conheci-o, já se vai muitos anos! Éramos tão jovens... O mundo uma incógnita, um poço de ilusões, um
marco de esperança. Seu apelido na época era Bonzinho. Íntimo de Aloísio França, de Luís França, os
meninos do Tesouro do Estado. Na vida da Paraíba trabalhamos todos no tesouro do Estado na minha
velha província, entre os paredões lendários do velho Convento de S. Bento, onde funcionava aquela

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repartição estadual. (PINTO, 1956, p. 3).


Para uma melhor compreensão do Santa Rosa funcionário público do Tesouro Estadual, contudo, faz-se
necessário acionar um outro personagem. Em se tratando de sua rede de sociabilidade, outro possível
apoiador de sua trajetória profissional, Ademar Victor de Menezes Vidal, oriundo de família da elite
paraibana. Vidal ocupou diversos cargos na esfera jurídica da República, chegando a atuar como
procurador durante o governo de Solón Barbosa de Lucena (1920-1924) e como secretário de Interior e
Justiça e Segurança no governo de João Pessoa (1928-1930). Ao que as fontes indicam, ele mantinha
uma relação de apadrinhamento com o jovem Santa Rosa (VIDAL, 1956).
Morador da Cidade da Parahyba, e, oriundo de uma família da elite (atuante no ramo jornalístico), Vidal
detinha capital (político e social) suficiente para influenciar na política burocrática que determinava o
preenchimento de vagas de emprego. Com efeito, ao assumir a pasta de Secretário do Interior e
Segurança (1928), no breve governo de João Pessoa Cavalcanti (1928-1930), Vidal pôde amparar o
noviço funcionário público com imediata promoção na função dos serviços no Tesouro Estadual.
Cabe mencionar que, ao esquadrinhar a documentação pertencente ao Arquivo Estadual do Governo do
Estado da Paraíba, identificamos, no setor de contabilidade da Companhia de Água, uma lista de
pagamento dos vencimentos dos empregados nas Obras Públicas (Saneamento e Indústria Pastoril).
Tomás Santa Rosa Jr. foi lotado no departamento de Saneamento Básico do Estado, e se encontrava na
função de contador e arrematava mensalmente 300$000 (trezentos mil réis). Em uma nota-homenagem
intitulada ?O autodidata?,publicada no jornal O Norte, Vidal menciona ter agido politicamente em benefício
de Santa Rosa, o que teria resultado em sua mobilidade social:
[O] Paraibano da rua Direita [em verdade rua do Barão de Passagem], atual Rua da Areia], era lá onde me
habituei a vê-lo com os desenhos que mostrava, trabalhando no serviço público do Estado e, anos depois
, ocasionalmente me encontrando com o poder nas mãos sua situação fora melhorada como funcionário
do Abastecimento de Água. (VIDAL, 1956, p. 2).
É importante salientar que, anos depois, livros escritos por Ademar Vidal que versam sobre cultura popular
e nordeste foram ilustrados pelo artista Santa Rosa, a exemplo do livro Lendas e Superstições: contos
populares, (1950. Já o funcionário público e contador do Tesouro almejava ir, no início da década de 1930
à capital do país, Rio de Janeiro. Sua vida parecia estar dividida entre a carreira do funcionalismo público
e as oportunidades do mundo das artes.
Santa Rosa esteve inserido numa conjuntura econômica marcada pelo surto da industrialização, por
medidas de modernização e pela expansão das instituições artísticas, que ele acompanhava através de
revistas e jornais que comprava ou pegava de empréstimo de seu ?amigo de sempre? José Simeão Leal.
Era com Simão que Santa Rosa trocava missivas frequentemente. A comunicação feita a partir das cartas
permite a ampliação das possibilidades de pesquisa para um campo de maior interpretação sobre a
trajetória de Santa Rosa, a linha entre suas subjetividades e seus anseios mais íntimos geram uma
profícua gleba de análise. Para Gontijo, do ponto de vista metodológico, há no ?pensar carta? uma
chancela de compreensão do pensamento individual ou de um determinado grupo. De tal modo, que o
[...] estudo da correspondência de escritores e intelectuais ajuda a compreender os meandros da
construção de uma obra e/ou da elaboração de projetos, revelando ações e intenções e deixando entrever
a especificidade dos procedimentos cognitivos e argumentativos. Também permite observar as relações
entre os indivíduos, fornecendo indícios de suas experiências como atores sociais. (GONTIJO, 2008, p.
55).
Desta feita, passemos a entender a quanto notória foi a influência de Simeão Leal no que diz respeito ao
empreendimento que objetivou contribuir a mobilidade social de Santa Rosa. Um assunto presento foi o

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concurso para o Banco do Brasil. É explícita a intenção de Santa Rosa: ?um pedido?. Ele solicitou ao
amigo que intervenha em sua nomeação, para que fosse enviado à matriz do Banco do Brasil, localizada
na capital do país, o itinerário perseguido por Santa Rosa.
Foi aí que passou a vislumbrar uma gama social que pudesse ser proveitosa quanto a sua aprovação, já
que, para ele, o modus operandi da cultura política existente em seu tempo obedecia aos critérios políticos
da nomeação, e não do mérito. Assim, Santa Rosa se inclinou na busca de intermediários/ ?pistolões?, e
aciona sua rede de sociabilidade para promover empreendimento tático à sua aprovação:
(...) [Bem] sei que este concurso, como todas as cousas actuaes, não se processa, naturalmente, na razão
directa dos valores demonstrados, mas sob os auspícios dos pistolões e de todas as recomendações
assignados pelos fazedores da política e já que é preciso ser assim; já que somos forçados a fazer assim:
? sejamos e façamos com a situação nos obriga (...) E é sobre isto que venho pedir de sua amizade, um
grandíssimo favor (...) É possível que ahi entre toda essa novidade do seu convívio haja alguém que no
momento actual te possa servir como um intermediário para o meu interesse de ser nomeado... Alguém
cuja família representa no momento, algo de realmente prestigiado que seja um factor, no cenário
ambiente, de relevo e de força irradiante (...). (SANTA ROSA, 1931, p. 2).
Sua ambição em sair da cidade da Parahyba tornou-se ainda mais notória quando ele, deixando de lado
qualquer formalidade, passou a clamar de maneira mais direta:
(...) Acrescento, meu amigo, que o local pouco me dá! ei-me fora do interesse ir a tal ou qual lugar.
Entretanto como é natural, prefiro as agências do sul. É caso interessante, o que menos desejo é ficar aqui
. Não há por acaso parahybanos do seu conhecimento na Matriz do Banco do Brasil? (SANTA ROSA,
1931, p. 3).
Para alcançar o objetivo, Santa Rosa, elaborou estratégia que, dando certo, seria o seu passaporte para
alcançar seu obstinado destino, assim como o impulsionar para outros ares, para além da pacata Cidade
da Parahyba, que passou a chamar pela alcunha de ?exílio?. Santa Rosa pretendia sair de sua atmosfera
natal e partir em busca de uma ambiência profícua de profundas mudanças.
[9: É o que aponta Miceli (2001, p. 77), para quem: [as] décadas de 1920, 1930, 1940 assinalam as
transformações decisivas no planos econômicos (crise do setor agrícola voltado para exportação,
aceleração dos processos de industrialização voltados para a urbanização, crescente intervenção do
Estado em setores-chaves da economia etc.), social (consolidação da classe operária e da fração de
empresários industriais, expansão das profissões de nível superior, de técnicos especializados e de
pessoal administrativo nos setores público e privados etc.), político (revoltas militares, declínio político das
oligarquias agrária, abertura de novas organizações partidárias, expansão dos aparelhos do Estado etc.) e
cultural (criação de novos cursos superiores, expansão da rede de instituições culturais públicas, surto
editorial etc.).]
Ele visava ser inserido na carreira pública no Banco do Brasil e alcançar estabilidade, a possibilidade de
vivenciar um contexto propício para desenvolver o seu projeto de uma vida artística. Parecia que tudo
daria certo: assegurar seu lugar no serviço público e vivenciar os principais corredores do mundo artístico.
Ledo engano. O que parecia motivo para comemoração se tornou um imbróglio trágico, uma vez que sua
tática não alcançou o sucesso necessário e, ao invés de ir ao Rio de Janeiro, foi enviado para uma
agência em Recife.
A fim de alcançar seu objetivo, Santa Rosa acionou, ao mesmo tempo, Simeão Leal e outro influente
amigo ? o gaúcho Moziul Moreira Lima, tenente do Exército. Nos anos 1950 é possível identificá-lo como
membro conselheiro da Associação de Ex-combatentes do Distrito Federal (Rio de Janeiro), já com a
insígnia de major. Com isso, a estratégia de Santa Rosa foi gerar duas forças de influência para efetivar

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sua meta de ser nomeado como funcionário do Banco do Brasil no Rio de Janeiro. Mas, novamente não
obteve êxito, e foi transferido apenas para Maceió, Alagoas. Todavia, por lá não abandonou a sua
obstinada dedicação em ?fazer-se artista.
Na atmosfera cultural de Maceió, Santa Rosa compartilhou trabalhos, se aproximou de outros jovens
artistas, e vivenciou espaços de sociabilidade: participando de salões, exposições, e contribuindo com
seus feitos artísticos (gravuras e poesias) em jornais e revistas locais. Naquele ambiente de difusão da
cultura unia-se a uma plêiade de intelectuais. Entre eles, José Auto da Cruz Oliveira, o poeta ? Zé auto?,
com escritores modernistas, a exemplo de Raquel de Queiroz e Graciliano Ramos ? este já tinha sido
prefeito de Palmeira dos Índios. Em 1932 Ramos já havia sido nomeado diretor da Secretária da Imprensa
Oficial, e utilizava de sua influência para realizar encontros em seu gabinete. Outro importante espaço de
sociabilidade de Maceió em que ocorriam os encontros, era no boêmio Bar Central. Em setembro de 1956,
o Correio da Manhã publica, na coluna Escritores informações sobre o grupo, diz:

?Reunidos em torno do escritor, no seu gabinete na Imprensa, ou no ?Ponto Central? os rapazes ficavam
em conversas e discussões literárias que se prolongavam horas a fio?. Além de médicos e professores
pertenciam aquele ciclo ?alguns escritores e artistas de outros estados, como José Lins do Rego, Raquel
de Queiroz e Santa Rosa? (ESCRITORES..., 1956, p. 10).

O pintor Santa Rosa realizou uma exposição de sua arte modernista na capital alagoana. É o jornalista
Manoel Diógenes Junior, que recorda quando no Instituto Histórico de Alagoas, em 1932, o crítico e
jornalista, Valdemar Cavalcanti

(...) apresentou Santa Rosa numa palestra em que estudava sua arte dentro do modernismo brasileiro. E
assinala-se eu esta noite de modernismo, em que se tocou Debussy e se cantou Blue, onde se
apresentavam os trabalhos modernos de Santa Rosa, se realizou nos austeros salões do venerando
Instituto Histórico de Alagoas (JUNIOR DIOGENES, 1956, p.03).

O que as fontes mostram é que ele Santa Rosa, abandonou o emprego no Banco quando se mudou para
o Rio de Janeiro. Sua trajetória é marcada por uma decisão que modificou sua vivência e assustou amigos
/as, quando decidiu abandonar o emprego no Banco do Brasil para consolidar seu sonho. Segundo, a
escritora Rachel de Queiroz:
[Santa Rosa] pediu transferência para o Rio, mas recusaram a transferência. Ele então abandonou o
emprego e se tocou para cá, entregando-se deliberadamente às dificuldades, quase à miséria, do artista
que tenta abrir caminho na cidade grande. Passou o diabo, passou fome, todo mundo o considerava louco
por abandonar um emprego excelente por amor de um sonho, ou como lhe dizia um amigo, ?uma vocação
abstrata?. Santa explicava pacientemente: ?Mas eu sou pintor". (QUEIROZ, 1961, p. 8).

Na cidade carioca, se inseriu no mundo editorial ? uma decisão tomada que, sem saber, o tornaria um
artista que logrou êxito como pintor, crítico de arte, cenógrafo, professor e profissional do âmbito gráfico
entre seus pares, como discutiremos no próximo tópico.

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O multifacetado artista
Santa Rosa foi um artista multifacetado, característica comum de sua geração, atuando em diversos
âmbitos da arte de maneira concomitante. Acompanhar sua vivência no mundo da pintura, cenografia e
artes gráficas é um convite para o mundo artístico cultural do início do século XX. O esquadrinhamento de
parte de sua trajetória é perpassado por ideias do movimento modernista à brasileira, que prevaleceu
hegemônico, sobretudo, entre as décadas de 1930 e 1950.
A partir de 1933, após abandonar o emprego na agência alagoana do Banco do Brasil em Maceió e viajar
à então capital do país, Santa Rosa adentrou in loco no microclima intelectual carioca. Sua carreira
artística teve início enquanto responsável por projetos visuais em editoras, jornais e revistas ilustradas.
Aproveitando o boom de vendas ocasionadas pelos gêneros literários (ficção, romantismo), se viu em meio
à demanda por mão de obra especializada. O trabalho inicial nas editoras Ariel, Schmidt e José Olympio
foi profícuo. O cenário de ofertas de emprego era, de maneira geral, atraente.
[10: Conforme explica Miceli (2001, p. 148), ?[o] surto editorial da década de 1930 é marcado pelo
estabelecimento de inúmeras editoras, por fusões e outros processos de incorporação que ocorrem no
mercado editorial e, ainda, por um conjunto significativo de transformações que acabaram afetando a
própria definição do trabalho intelectual: aquisição de rotativas para impressão, diversificação dos
investimentos e programas editoriais, recrutamento de especialistas para os diferentes encargos de
produção e acabamento, inovações mercadológicas nas estratégias de vendas ? implantação do serviço
de reembolso postal, contratação de representantes e viajantes etc. ?, mudanças na feição gráfica dos
livros, com o intento de ajustar o acabamento das edições às diferentes camadas do público, e, sobretudo
, empenho das principais editoras em verticalizar o processo produtivo e diversificar suas atividades?.]
Ao chegar à capital do país, Santa Rosa já era pintor e desenhista. Com essas habilidades buscou nas
editoras um meio de vida. No seu tempo, editoras investiram na visualidade dos livros para atrair cada vez
mais o público leitor ávido em consumir o bem cultural da modernidade: o livro ilustrado. Neste momento,
trabalhou inicialmente nas editoras Ariel e Schmidt, mas foram as duas décadas dedicadas as feituras
gráficas pela editora José Olímpio que o consagrou. Seus feitos artísticos expressavam outra estética aos
livros que circulavam pelas principais livrarias da cidade, ou nas exposições das capas de livros que,
acomodadas nas vitrines, exibiam imagens assinadas por Santa Rosa. Estas tinham por objetivo o
aumento das vendas, e funcionavam enquanto rede de entrelaçamento de sua sociabilidade. Assim,
discorre Bueno:
Tendo [Santa Rosa] participado, desde os tempos de Maceió, da vida intelectual brasileira, seu trabalho de
criador de capas era também uma forma de participação direta na vida cultural e literária de seu tempo,
além de representar uma modalidade de cooperação criativa com os confrades escritores. Vida
profissional e camaradagem. No caso da literatura brasileira, mas não só ler os livros para desenhar-lhes
uma capa era mais que uma tarefa feita por obrigação. (BUENO, 2015, p. 63).
Santa Rosa conquistou, ao longo de duas décadas de trabalho no mundo das artes gráficas, lugar de
destaque como artista gráfico modernista, ?(...) sendo responsável quase sozinho pela transformação
estética do livro brasileiro nos anos de 1930-1940 (...)? (HALLEWELL, 2017, p. 512). Quase todas as
editoras neste período têm sua assinatura, o que reforça o nível de importância do artista afro-brasileiro.
Conforme aponta Bueno (2015), a produção de Santa Rosa se de especialmente na editora José Olímpio,
onde construiu um prodigioso acervo de imagens para as capas de livros. É enorme sua relevância e seu
protagonismo na história das artes visuais do país, afinal:
(...) quem quiser contar a história da evolução das artes visuais no Brasil do século XX não pode escapar
ao nome de Santa Rosa (...) é preciso reconhecer que Santa Rosa fez esse trabalho como mais ninguém.

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Se nem todas as ações oficiais que propôs se concretizaram, seu trabalho contínuo por mais de vinte anos
deixou exposta em parte uma visualidade que não pode ser colocada noutro lugar que não o da arte
moderna. (BUENO, 2015, p. 22).
Santa Rosa é reconhecido pela inovação no metiê das artes gráficas, e talvez por isso seja mencionado
como ?pai do livro moderno? (HALLEWELL, 2017). O afro-brasileiro entrou para a história das artes
visuais tanto por conta de seu desempenho singular no desenvolvimento do ofício, quanto pela assídua
defesa intelectual sobre a profissionalização do metiê. De acordo com Laurence Hallewell, praticamente,
todas as obras que formam a geração romancista de 1930 com suas imagens-síntese, ainda menciona
que
?Os livros com o sinete editorial da José Olympio logo começaram a destacarse da insípida mediocridade
dos concorrentes, pois o editor, desde o início, dedicou cuidadosa atenção ao projeto gráfico. Seu
colaborador nessa área, mais uma vez, foi um nordestino, Tomás Santa Rosa, que trabalhara
anteriormente em diagramação e em desenhos de capa para a Schmidt (...) [deste modo] ele tem sido
considerado o maior produtor gráfico de livros do Brasil, responsável, quase sozinho, pela transformação
estética do livro brasileiro nos anos de 1930-1940 produtor gráfico de livros do Brasil, responsável quase
que sozinho pelas transformações estéticas do livro brasileiro nos anos de 1930-1940?. (HALLEWELL,
2017, p. 512).
O reconhecimento maior de Santa Rosa no âmbito das artes gráficas veio quando ele foi convidado a criar
e coordenar um pioneiro projeto escolar que contribuísse diretamente com a formação de artistas no
âmbito das artes gráficas. Em março de 1946 sua ambição de difundir a profissionalização do ofício
através de um conhecimento sistematizado sobre o âmbito foi consolidada. Certamente, sua atuação o
consagrava como principal peça de montagem e coordenação do Curso de Artes Gráficas, realizado pela
Fundação Getúlio Vargas, na cidade do Rio de Janeiro:
Em 1946, a Fundação Getúlio Vargas doava ao nosso meio artístico um atelier de gravura, o qual tive a
honra de dirigir. Com a colaboração do Carlos Osvald e Leskoscheck, efetuou-se um trabalho de
desbravamento cujos resultados em oito meses teremos a oportunidade de expor ao público ainda este
mês. É admirável a ágil e curiosa inteligência dos jovens alunos, aprendendo e experimentando com
eficiência rapidez, técnicas como as da gravura, complexas e variadas (SANTA ROSA, 1947, p. 10).
Nesse sentido, acompanhando a leitura quanto à repercussão do Curso feita pela crítica de arte, podemos
avaliar até que ponto a iniciativa coordenada por Santa Rosa foi benéfica ao fazer-se do metiê. A cargo da
coordenação do primeiro curso de artes gráficas do país, Santa Rosa difundiu suas proposituras e
diretrizes quanto à formação de novos profissionais. Tendo ele ainda desempenhado a função de
professor. Assim, foi possível avaliar como o artista/professor articulou seu conhecimento no âmbito.
Sobre a repercussão do curso, Santa Rosa , pondera que a consequência maior é a de estabelecer uma
positiva relação de novos artistas/profissionais, assim, ?(...) com paginadores de nova visão, as editoras
com ilustrações possuidoras de todas as técnicas, e as agências de publicidade em ?layoutmans? e
cartazistas?. Investir nos campos de artes gráficas que se voltam para comunicação em massa (FALA...,
1946, p. 8). Vale salientar que sua preocupação em fortalecer o mercado interno, ?(...) fazer ressurgir
essas técnicas da obscuridade em questão, e trazer ao meio brasileiro uma contribuição objetiva, digna de
consideração? (FALA..., 1946, p. 8).
No período aqui abordado, especialmente entre a década de 1930 e a de 1950, embates que revelam
divergências sobre a arte e a cultura, trazendo à tona caminhos para compreensão da cultura artística de
um tempo. É possível evidenciar questões fulcrais à atmosfera artística, entre elas a qualificação técnica, a
influência ideológica e a função social do artista no metiê.

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No plano individual, Santa Rosa não detinha prerrogativas institucionais oficialmente registradas por
instituições de renome, sua formação na pintura se deu a partir da mentoria de Cândido Portinari, somada
ao seu autodidatismo; assim como nas artes gráficas teve que lidar com o desconforto de não possuir
comprovação institucional.
Já o perfil estético do pintor Santa Rosa pode ser evidenciado em suas inúmeras obras. São diversos
cenários como: festas, vida cotidiana, reminiscências de sua infância, celebrações religiosas, pescadores,
trabalhadores, samba. Em relação à representação de mulheres, é interessante perceber que,
diferentemente do projeto visual da década de 1930, Santa Rosa investiu em adereços africanistas, como
turbantes e vestidos longos de cores fortes. A escolha em representar a estética negra através de lenços,
vestidos e indumentárias foi a maneira de criar suas imagens-síntese. Assim é também possível
evidenciar suas memórias da Cidade da Parahyba.

Imagem 03 ? Festa, (óleo sobre tela) 80 x 63 cm, Santa Rosa, 1950

Fonte: BARSANTE, 1993

Os embates quanto às modificações no âmbito da arte atravessam a conjuntura cultural do primeiro


quinquênio do século XX. Tanto é que a tessitura pictórica de Santa Rosa, assim como a de outros/as
artistas modernistas, foi alvo de protestos em algumas exposições pelo país. Um bom exemplo ocorreu na
Semana de Arte Moderna de Belo Horizonte de 1944, quando as realizações modernistas não agradaram
parte do público geral. A pintura moderna ficou marcada por uma investida em tom de manifesto, contra a
realização da Semana de Arte Moderna Belorizontina. Trata-se de um atentado às telas e esculturas
registrado pela imprensa local e revistas de arte.
No ensaio ?Fígaro barbeia o modernismo?, do crítico de arte Henrique Pongetti, é possível compreender
cenas surpreendentes. Pongetti conta sobre um homem desconhecido que saiu distribuindo coléricas
navalhadas em formato de cruzes nas telas dos quadros que compunham a exposição. O advento revela,
entre outras questões, querelas de pulso ideológico circunscritas à atmosfera artística do tempo de Santa
Rosa.
Figura 04 ? As Três Idades da Vida (óleo sobre tela) 90 x 76 cm, Santa Rosa (obra danificada)

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Fonte: BARSANTE, 1993.

O pintor modernista premiado com medalha de prata na mais importante exposição do país, o Salão
Nacional de Arte (1941) defendia ferrenhamente a concepção do modernismo nacional, ou seja, a ideia
que embora o modernismo brasileiro sofresse influência do arte europeia já havia idiossincrasias artísticas
locais que caracterizavam o modernismo nacional. Santa Rosa foi júri de expoentes exposições nacionais,
a exemplo da Bienal de São Paulo em 1951 e 1953; e no Salão Nacional na seção de Arte Moderna. Vale
salientar que o Salão Nacional era um importante espaço na história da pintura e da intelectualidade
artística no país, que protagonizou exposições marcantes, que deteve por função institucional a anuência
de reconhecer um quadro enquanto obra de arte, é o Salão Nacional. Conforme explica Luz, o Salão:
[11: O debate historiográfico acerca do modernismo e nacionalismo é de longa data, aqui, daremos
atenção especial à temporalidade que marca o fazer-se do multiartista Santa Rosa, ou seja, a atmosfera
artística cultural (entre 1930 e 1950) na qual o intelectual-multiartista Santa Rosa experimentou no mundo
da arte, de seu tempo, sentidos do modernismo. Como outros intelectuais, encarou a vida artística
enquanto aquilo que Gomes (2004, p. 82) determinou por ?[...] doublé de teórico da cultura e de produtor
de arte, inaugurando novas formas de expressão e refletindo sobre as funções e desdobramentos sociais
que tais formas guardariam?. Em relação ao nacional, ou seja, a criação do referido constructo ideológico
de unidade nacional desempenhada pelo Estado Novo buscou, segundo Gomes (2007), agir em benefício
da recuperação de um passado colonial, harmônico e glorioso. Por seu turno, Oliveira (2013) enveredou a
compreender o nacionalismo identificando o aparecimento, no início do século XX, de movimentos
artísticos nacionais que corroboram com a evocação do nacional, a exemplo do Manifesto Pau-Brasil
(1924) e do Manifesto antropofágico (1924), em cujo contexto a modernização de dispositivos de
comunicação (tais como rádio, indústria editorial e cinema) foi imprescindível para a difusão de símbolos e
sentidos de nacionalismos.]
(...) propiciava a oportunidade para todo e qualquer artista, independente da situação econômica que
tivesse, poder se aperfeiçoar nos principais centros de produção artística na Europa. A cada ano, a
emulação entre os concorrentes 173 ajudava o despertar de novos valores para a arte brasileira. Como as
obras premiadas ficavam para a coleção da Academia, depois Escola Nacional de Belas Artes, e que, em
1937, no governo de Getúlio Vargas, deu origem ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes, temos,
ainda, a grande contribuição dos Salões para a formação e ampliação desse acervo notável de nosso
museu. (LUZ, 2006, p. 60).
Ou seja, ao participar do Salão, o artista pavimentava sua trajetória rumo à consagração. A expectativa do
reconhecimento dos pares significava não apenas uma condecoração, mas também a possibilidade de
ascensão social, uma vez que se almejava abocanhar a premiação concedida pela Escola Nacional de
Belas Artes. As bolsas de estudos eram concedidas com intuito de ampliar o conhecimento em viagens
pelo Brasil (prêmio nacional) ou à Europa (prêmio internacional). Santa Rosa não se beneficiou de viagens
internacionais através do prêmio do Salão, foi através de sua conquista em outro âmbito da arte, o teatro.
A trajetória de Santa Rosa no teatro foi propiciada por inúmeras participações enquanto cenógrafo em
diversas companhias, entre elas ?Os comediantes? e a ?Companhia Dramática Nacional''. Além disso, ele
ocupou os seguintes cargos: diretor do Museu de Arte Moderna (1948), coordenador do ateliê de
decoração do Teatro da Escola Nacional (1950) e diretor do Conservatório Nacional de Teatro. Em 1952,
fez sua primeira viagem à Europa representando o Brasil na Reunião dos Artistas em Veneza, conferência

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organizada pela Unesco. Nesse período, ele circulou pela Itália, Espanha, Inglaterra e França por quase
dois meses. Em 1955, passou a dirigir o Conservatório Nacional de Teatro. Em 1956, ano que marca sua
morte, foi nomeado professor de cenografia na Escola Nacional de Belas Artes da Universidade do Brasil.
Entre seus maiores anseios estava a criação de uma escola de Teatro, Teatro para Crianças e o Teatro
de Negros. A sua relação com o Teatro Experimental do Negro foi efetiva, tanto na produção de cenários
como em incisivas defesas em jornais da época. Para o TEN, Santa Rosa realizou a cenografia para o
Recital Castro Alves, dirigido por Abdias Nascimento, no Teatro Fênix, no Rio de Janeiro. Ele foi
responsável, também, pelo cenário da peça Terras do sem-fim, espetáculo adaptado da obra do baiano
Jorge Amado, por Graça Mello. Já em 1948, assinou a produção visual dos figurinos e cenários da peça A
Família e a Festa na Roça, dirigida por Dulcina de Moraes. Já em 1949, o intelectual negro das artes
visuais realizou a feitoria de Filhos de Santo, obra escrita por José Morais de Pinheiro, com direção de
Abdias Nascimento. E Calígula, texto escrito pelo filósofo argelino Albert Camus, que por falta de recursos
não conseguiu ser exibida mais de uma vez, contou com a cenografia e arte figurinista de Santa Rosa,
sendo a direção de Abdias Nascimento.
Santa Rosa promoveu assertivas defesas a favor da consolidação do teatro para negros. No dia 25 de
agosto de 1946 no jornal Diário Trabalhista, é possível evidenciar em ?PROBLEMAS e aspirações do
negro brasileiro: o Teatro Experimental do Negro e a cultura do povo?, a denúncia sobre interrupções nos
ensaios do grupo, que ocorriam no teatro Fênix, do referido grupo.
Niuxa Dias Drago (2014), em A cenografia de Santa Rosa ? espaço e modernidade, apresenta sua
notoriedade em sua trajetória no Teatro que passa a influenciar o âmbito do teatro nacional, considerando
que ele foi um dos precursores da perspectiva modernista e da arte-social na atmosfera do teatro. O ofício
da arte cenográfica coincide com mudanças significativas ocorridas nesta área, considerando sua
condição de inovador da perspectiva moderna ? pode-se dizer que a grande modificação trazida por Santa
Rosa é propiciada por meio de novas funções para elementos como luz, arquitetura de palco e adereços.
Com isso, Santa Rosa ? ao empreender uma transformação da perspectiva (que passaria de dual para
tridimensional) ? acabaria se tornando responsável por transformar a arte cenográfica no teatro nacional
na primeira metade do século XX, fazendo com que esta deixasse de ser um simples elemento decorativo
e passasse a se impor como um conteúdo específico da arte teatral. Note-se que a primeira versão da
peça Vestido de Noiva (1943), de autoria de seu amigo e escritor Nelson Rodrigues e direção do imigrante
polonês (evadido dos conflitos da Segunda Guerra Mundial) Zbigniew Marian Ziembinski, é o marco que
divide a cenografia brasileira.
Figura 04 ? Cenário da peça Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues, 1943

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Fonte: BARSANTE, 1982.


A melodia da vida e o ritmo de pinceladas entrelaçadas em suas formas, linhas e cores, condensadas em
quadros, murais e capas de livros ilustram feitorias de um artista, mas também, o olhar de um homem em
seu tempo para a cenografia são vestígios de uma trajetória de vida, vivida pelo sujeito histórico Santa
Rosa.

Considerações Finais
Como visto, o espaço geracional de Santa Rosa foi analisado como possibilidade para compreender a sua
experiência em meio a repercussão do ideal moderno e as transformações/modernização dos dispositivos
essenciais para a vida na urbe (luz, água, transporte). A vida na Cidade da Parahyba, vivida por pouco
mais de duas décadas, levou Santa Rosa a elaborar suas impressões sobre o meio social, cultural, político
e arquitetônico que o rodeava.
A sua a vida familiar do pequeno ?Bosinho? não foi fácil. Afinal, a conjuntura epidêmica na infância
resultou na perda de três irmãos. Santa Rosa tornou-se o único filho homem de Alexina e Thomaz Santa
Rosa. As postulações ensejadas buscaram explicar a maneira pela qual o jovem Santa Rosa foi
beneficiário de uma boa formação educacional, e de como chegou a cargos no funcionalismo público da
cidade. Uma vez funcionário público do Tesouro Estadual, se beneficiou de uma rede de sociabilidade que
fora iniciada bem antes, com a escolha de seu padrinho, medida salutar a sua trajetória no âmbito do
trabalho.
Também buscamos compreender a trajetória de vida de Santa Rosa a partir de sua experiência vivida em
espaços de sociabilidade que circulou. Assim, procuramos apresentar os primeiros passos do artista
gráfico, professor, pintor e crítico, revelando expedientes de seu protagonismo enquanto um artista afro-
brasileiro multifacetado. No Teatro, o cenógrafo Santa Rosa difundiu referências ideológicas e
contribuições técnicas para a cenografia, a maneira com a qual utilizou elementos que projetam aspectos
em formas e conteúdo da cultura afro-brasileira e africana na feitura cênica do teatro nacional junto ao
Teatro Experimental do Negro.
Nosso intuito foi colaborar com os estudos afro-pedagógicos concernentes às trajetórias de vidas de
homens letrados no pós-abolição. A investigação histórica se alimenta de perguntas que são ensejadas a
cada novo olhar sobre o mesmo documento/testemunho, e estas vêm à luz a partir do tempo presente.
Alguns apontamentos chegam enquanto bússola que norteia novas navegações da pesquisa. O mar das
emancipações, do pós-abolição está propicio para longas e profundas navegações em que o fato histórico
da abolição da escravidão em 1888 é a égide para novas conexões do passado-presente.

Referências bibliográficas
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escreverei. São Paulo: Companhias das Letras, 1992.
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Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2001.

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ano%20194&pesq=sant a%20rosa&pagfis=364. Acesso em: 14 jan. 2021.
SANTA ROSA, Tomás. [Correspondência]. Destinatário: José Simeão Leal. João Pessoa, 25 fev. 1931. 2
carta.
SANTA ROSA, Tomás. [Correspondência]. Destinatário: José Simeão Leal. João Pessoa, 25 fev. 1931. 3
carta.

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SANTA ROSA, [Tomás]. Sobre a arte da Ilustração - Suplemento Letras e Artes. A Manhã, Rio de Janeiro,
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Arquivo 1: 368.docx (11651 termos)
Arquivo 2: https://www.cofemac.com.br/noticias/15395-conheca-tomas-santa-rosa-considerado-pai-do-
livro-moderno-e-protagonista-nas-artes-graficas-brasileiras (2714 termos)
Termos comuns: 147
Similaridade: 1,03%
O texto abaixo é o conteúdo do documento 368.docx (11651 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://www.cofemac.com.br/noticias/15395-conheca-tomas-santa-rosa-considerado-pai-do-livro-moderno-
e-protagonista-nas-artes-graficas-brasileiras (2714 termos)

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ESCRITA ? DA ? HISTÓRIA
Uma experiência afro-brasileira no mundo das Artes: vida, pensamento e sociabilidade de Tomás Santa
Rosa (1909-1956)
Tomás Santa Rosa (1909-1956) uma experiência afro-brasileira no mundo das Artes...
Thiago Brandão da Silva
[1: Este artigo é originado da dissertação de mestrado ?Fragmentos de uma história de vida, o afro-
paraibano Tomás Santa Rosa Jr. (1909-1956): entre vivências, intelectualidades, ditos e feitos artísticos,
defendida em 2021, no Programa de Pós-Graduação em História.* Mestre em História pela Universidade
Federal da Paraíba. Professor da Educação básica. Membro/colaborador do Núcleo de Estudos Afro-
brasileiros e Indígenas (NEABI/UFPB).]
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com

Resumo
Trata-se de refletir sobre a vida do multifacetado artista negro modernista que atuou na construção cultural
e artística do país em diferentes âmbitos, Tomás Santa Rosa. A pesquisa se insere na gleba da escrita
sobre intelectualidades negras no pós-abolição. Metodologicamente, leva-se em consideração a dinâmica
social vista sob a égide da microanálise, o que amplia a compreensão dos caminhos, escolhas, decisões,
que formam o campo (ou uma sucessão) de sentidos que tangencia(m) uma trajetória de vida. Considera-
se o descortinar do cenário geracional de sua trajetória de vida enquanto possibilidade para compreender
suas dimensões sociais: a família, o emprego, amigos e estratégias de mobilidade social, além da feição
discursiva do ideal de moderno e das transformações metamórficas do espaço vivido e do debate
intelectual a partir da História Social da Cultura. Busca-se comtemplar a participação de um sujeito
histórico negro no mundo das artes enquanto referência e possibilidade de estudo para estudos afro-
pedagógicos e a agenda de historiadores/as sobre trajetórias e sociabilidades de homens e mulheres
negros no pós-abolição.

Palavras-chaves: Tomás Santa Rosa; Cidade da Parahyba; Sociabilidade; Pós-Abolição; Modernismo.

Abstract

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It is about reflecting on the life of the multifaceted modernist black artist who acted in the cultural and
artistic construction of the country in different areas, Tomás Santa Rosa. The research is part of the field of
writing about black intellectuals in the post-abolition period. Methodologically, the social dynamics seen
under the aegis of microanalysis are taken into account, which broadens the understanding of the paths,
choices, decisions, which form the field (or a succession) of meanings that touch (m) a life trajectory. It is
considered the unveiling of the generational scenario of his life trajectory as a possibility to understand its
social dimensions: family, employment, friends and social mobility strategies, in addition to the discursive
feature of the modern ideal and the metamorphic transformations of the lived space and of the intellectual
debate from the Social History of Culture. It seeks to contemplate the participation of a black historical
subject in the world of the arts as a reference and possibility of study for Afro-pedagogical studies and the
agenda of historians on trajectories and sociability of black men and women in the post-abolition period.

Keywords: Thomas Santa Rosa; City of Parahyba; Sociability; Post-Abolition; Modernism.

Numa tarde de domingo típica do verão carioca, em 16 de dezembro de 1956, algo acontecia nas
proximidades do Teatro Municipal do Rio de Janeiro - localizado na Avenida Rio Branco, antiga Avenida
Central. Quem naquela tarde trafegasse por aquela avenida veria um amontoado de pessoas nas
escadarias do monumental edifício e, tão logo, perceberia um cenário fúnebre. Ao se aproximar,
provavelmente, escutaria no diapasão de conversas íntimas frases cortadas do tipo: ?ele não gostava dos
papéis do banco?, ?era um pintor modernista?, ?ele foi pra Europa duas vezes?, ?estive com ele no Norte
?, ?detestava andar de bonde; sempre preferiu o táxi?; ou, ainda, algumas especulações acerca de sua
origem étnica ? ?um mulato?, ?nossa raça? etc... Enfim, peças do quebra-cabeça de uma investigação
histórica. É que os mortos geralmente deixam vestígios e os vivos lançam-se às memórias, ambos
elementos essenciais ao trabalho do historiador. Mas, como é realizada uma pesquisa sobre a vida de
alguém? Responderemos, de acordo com Vavy Pacheco Borges (2011), para quem o ?intermédio das
?vozes? [chega] do passado a partir de fragmentos de uma existência e dos registros das fontes
documentais? (BORGES, 2012, p. 2011. É desta feita que iremos esquadrinhar uma trajetória vivida, uma
existência vivida na alvorada republicana, no cenário pós-abolição da escravidão.
O objetivo da presente pesquisa é investigar fragmentos de uma trajetória de vida, vivida pelo
multifacetado artista paraibano Tomás Santa Rosa Jr, o ?Santa? ou simplesmente Santa Rosa. Nascido
em 20 de setembro de 1909, na Cidade da Parahyba, (atualmente nomeada João Pessoa), capital do
estado da Paraíba. Santa Rosa faleceu em; 26 de novembro de 1956. Na ocasião, estava ele ao leste da
Índia numa viagem oficial do governo brasileiro para a Conferência Geral da Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura ? evento promovido pela UNESCO, em Bombaim (Índia), no
qual, ele, Santa Rosa ocupava cadeira como representante do Diretório Nacional de Teatro. Quando
estava no Hotel no momento de descanso em Nova Délhi, cidade vizinha, e se preparava para seguir
viagem pela Europa, o destino pregou-lhe uma ?peça?.
Após sentir fortes dores abdominais (aos 47 anos de idade) foi encaminhado de ambulância ao Hospital
Wellington, percorreu alguns poucos quilômetros e ficou em observação. Já no outro dia recebeu visitas e,
quando tudo parecia ter sido apenas um susto, acabou surpreendendo os amigos/as durante a madrugada
, momento em que seu quadro clínico piorou e o levou a óbito ? provavelmente por um comprometimento
do sistema cardiovascular decorrente de complicações renais.
Até a chegada de seu corpo de lá (Índia) para cá (Brasil) são contabilizados dezoito melancólicos dias que
, em síntese, podem ser explicados por conta dos trâmites burocráticos e pelo fator cultural, uma vez que

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no país de maioria hinduísta permeia a cremação dos restos mortais, e não dispunha de reserva e
logística do transporte de seus restos mortais para outros país. No aeroporto do Rio de Janeiro,
aguardavam por ele suas irmãs Heliomar Santa Rosa e Crisantina Santa Rosa Iwata. Santa Rosa foi
casado no civil com Maria da Gloria Monteiro (1935), numa celebração simples no apartamento de seu
amigo e mentor (renomado das artes plásticas) Cândido Portinari. Em 1942 se casaria novamente, agora
no religioso, com Nely Guimarães. Porém, foi com Oscarina Amorim que teve seu único filho, Luiz Carlos,
que também o esperava junto às tias. Além disso, no aeroporto também aguardavam por ele o ex-senador
Ivo d?Aquino, o escritor Marques Rebelo e o teatrólogo Joracy Camargo (CHEGARAM... 1956, p. 01).
É importante apontar que no ano de seu falecimento foi possível averiguar dezenas de homenagens
escritas à guisa de lembranças em jornais da época. Estas são, para a presente pesquisa, caminhos para
uma melhor compreensão de sua rede sociabilidade, do microclima intelectual, político e cultural de seu
tempo, de seu vínculo afetivo, profissional com dezenas de outros criadores e mediadores da cultura que
formam ?[...] as elites culturais, mesmo quando entidades autônomas, em posição de extraterritorialidade
ligadas à sociedade que os rodeia e são precisamente esses laços, especialmente políticos, que lhes
conferem uma identidade? (SIRINELLI, 1998, p. 259).
Figura 01 ? Saída do cortejo fúnebre de Santa Rosa

Dito isto, a partir de uma série delas (re) conheceremos o homem do seu tempo, o intelectual das artes, o
artista, o funcionário público, o ?Santa?, o ?Santa Rosa?. Afinal, ainda a esse respeito, Ricoeur (2007)
ressalta que a lembrança inaugura um novo ângulo da representação histórica, ?(...) uma imagem
presente de uma coisa ausente? (...) (RICOEUR, 2007, p. 199) ? constituindo-se, dessa forma, como uma
maneira de entender o passado por meio das mensagens póstumas de sua rede de amigos.
Em reclames por conta de um encontro que não aconteceu, o escritor e jornalista brasileiro João Condé
rememora o momento de sua partida para a Índia ?(...) no dia de seu embarque, estive com ele [Santa
Rosa], Alcântara Silveira e Simeão Leal, no City Bank (...) todo eufórico, trocava cruzeiros por dólares. E
no abraço de despedida perguntou-me o que desejava que trouxesse? (CONDÉ, 1956, p. 12). As
lembranças, de maneira verossímil, ajudam a compor uma série de apontamentos, caminhos e
postulações acerca da trajetória de vida de Santa Rosa.
Desta feita, passaremos a refletir acerca da trajetória de vida do multifacetado artista modernista, Santa
Rosa. Assim, pretende-se compreender fragmentos de sua trajetória vivida no espaço-tempo de sua
ambiência geracional; identificar como formou e se beneficiou de uma rede de sociabilidade composta por
uma renomada plêiade de intelectuais e reconhecer seu protagonismo no cenário artístico-cultural de seu
tempo. Metodologicamente, considera-se a dinâmica social vista sob a égide da microanálise, ou seja, o
grau de singularidade quando aproximamos a lente que analisa os processos históricos.

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Assim, a pesquisa adota a perspectiva teórica da história social cultura e arrola sob a égide teórica-
metodológica da política das elites culturais, da comunicação social das redes sociabilidade, da realização
cultural de feitos artísticos (SIRINELLE, 1998; 2003). A trajetória de vida do multifacetado artista, Santa
Rosa, é por aqui compreendido levando em consideração as premissas, do geografo Milton Santos, em
que o espaço é o elo de junção, na medida em que liga-se os ?(...) fatores à genes, ao funcionamento e à
evolução do espaço (...)?, ou seja, ?o espaço pode ser definido de maneira tripartida: primeiro, como um
fator social (determina as condições sociais); segundo, como um fato social (produto e produtor); terceiro,
como uma instância social, pois é um ?(...) revelador que permite ser decifrado por aqueles mesmos a
quem revela (...)? (SANTOS, 2004, p. 163). Desta forma, a pesquisa se fundamenta a partir da tríade
objeto-tempo-espaço (REVEL 1998; BOURDIEU, 2006; SANTOS, 2004).
O corpus documental analisado é formado por uma série de escritos de amigos e de sua autoria
publicados em jornais, revistas e suplementos literários, especialmente, acessados a partir da Hemeroteca
Digital da Biblioteca Nacional (BNDigital). Conforme defende Luca (2011), a partir da utilização do jornal é
possível captar a nova vida citadina do século XX. Afinal, são os periódicos que registram as modificações
da urbanização, modernização dos espaços, e se encaixam no mesmo fluxo de outros dispositivos que
surgem na modernidade.
Nesse sentido, comunicaremos a pesquisa seguindo o seguinte enredo. No primeiro momento trataremos
interpretar Santa Rosa a partir de recordações de seus amigos (as) que compuseram sua rede de
sociabilidade. Em um segundo momento, iremos compreender sua trajetória em seu cenário geracional,
assim, leva-se em consideração: família, espaço e sociabilidades de Santa Rosa. No terceiro e último
momento vamos apresentar parte da experiência do artista multifacetado.
Aos vivos: (re) apresentação de Santa Rosa

Para Paul Ricouer (2007, p. 199) as lembranças encontradas em mensagens-póstumas (ou seja,
homenagens escritas após o falecimento do indivíduo encontrada no formato de crônicas) evocam um
presente ou uma presença, ?[...] buscam na operação de recordar que se conclui com a experiência do
reconhecimento, [pois] a lembrança é representação, re(a)presentação?. Em vista disso, iremos
apresentar a maneira com a qual Santa Rosa é (re) apresentado por alguns amigos que compõem sua
rede de sociabilidade. Não sem antes advertir a (a) leitor (a) sobre as idiossincrasias da atmosfera política
da década de 1930 em que havia um embate político ferrenho entre movimentos comunistas, fascistas e,
também que falavam da temática do negro. E isso de uma maneira que aumentava substancialmente as
disputas ideológicas que o governo varguista conduziu com destreza política.
[2: Santa Rosa fez parte de uma plêiade de intelectuais que estava a serviço do governo varguista, sob a
liderança do ministro Capanema. A esse respeito, Miceli (2001, p. 195) evidencia a maneira pela qual o
período correspondente ao mandato de Capanema (1934-1945) foi marcado pela cooptação dos
intelectuais, seja ?(...) como funcionários em tempo parcial, seja para desempenho de cargos de confiança
junto ao estado-maior do estamento, seja para preencherem os lugares que se abriam por forças das
novas carreiras que a extensão da ingerência passou a exigir, seja enfim acoplando inúmeras dessas
posições e auferindo rendimentos dobrados.?. Por outro lado, Fábio S. Cardoso (2019), biógrafo do
ministro Gustavo Capanema, endossado pela atuação de Graciliano Ramos e Carlos Drummond de
Andrade (dois declarados comunistas) no ministério, sugere (numa recente publicação) que havia, sim,
flexibilidade ideológica na ?constelação Capanema".]
No tempo de Santa Rosa, contendas ideológicas se fizeram presente. Houve pelo menos um fato em que
Santa Rosa se envolveu diretamente. Trata-se de sua prisão na época em que trabalhava numa editora.

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Quem narra o ocorrido é o escritor José Lins do Rego que diz:


Vi-o um dia sair preso da Livraria José Olímpio, num sábado de carnaval, que era a sua festa preferida. Vi-
o no meio dos esbirros num carro de Polícia. Lembro-me de seu olhar triste, a única vez que aquela
fisionomia prazenteira se fechava em angústia. Eram as saudades do carnaval perdido. Santa não
demorou entre as grades. José Olímpio bateu em todas as portas para libertá-lo. (REGO, 1956, p. 4).
É bem verdade que não sabemos os reais argumentos que levaram à prisão de Santa Rosa, embora
postule-se sua ligação, assim como a de outros intelectuais, com clubes, agremiações artísticas ligadas à
Aliança Nacional - célula maior da arquitetura do projeto comunista. Santa Rosa foi cofundador do Clube
de Cultura Moderna, fundado no dia 28 de novembro de 1934. Sua presença e a de outros artistas
modernos, como o amigo Aníbal Machado, evidenciava, portanto, a postura política dos artistas.
Na ambiência intelectual de seu tempo participava da rede de sociabilidade pessoal de Santa Rosa
artistas e escritores que já detinham prestígio, a exemplo, do escritor baiano Jorge Amado. Em seu livro
autobiográfico, Amado comenta sobre uma viagem a São Paulo ao encontro do artista modernista, pintor e
cenógrafo Flávio Carvalho (1899-1973) na companhia de Santa Rosa em 1933 em que é possível
evidenciar o microclima intelectual do momento, diz Amado (1992):
Eu o conheci quando fui a São Paulo pela primeira vez, em 1933, em companhia de Santa Rosa.
Hospedando-nos em casa de Tarsila do Amaral* e Osório César, na ocasião marido e mulher ? haviam
recém-chegado de Moscou, ir à URSS naquele então era aventura cercada de dificuldades, viagem de
espantos ? realizavam uma exposição de cartazes soviéticos, insólitos e românticos, no Clube de Artistas
Modernos, organismo criado e dirigido por Flávio de Carvalho, na época o centro de cultura mais sério do
Brasil, o que colocava a proposta mais avançada. Ali pronunciei conferência sobre as crianças nas
plantações de cacau, autografei o livro ilustrado por Santa Rosa, assisti ao Bailado do Deus morto, de
Flávio, que espetáculo!, logo proibido pela polícia política. A censura não dava tréguas ao CAM (...).
(AMADO, 1992, p. 202).
Santa Rosa participou junto com outros intelectuais de seu tempo, como Aníbal Machado, Jorge Amado,
José Lins do Rego entre outros, do CAM - Clube de Arte Moderna. Entre outras atribuições, destaca-se
sua coordenação da comissão da exposição para escolha do melhor tema sobre Palmares a partir do
ponto de vista do modernismo, em 1935 . Também fez parte da direção da Revista Movimento, que
ancorava reportagens e editoriais feitos pelos integrantes do CAM.
O Clube passou a aderir oficialmente, em setembro de 1935, a Aliança Nacional Libertadora (ANL) uma
organização de âmbito nacional que promovia ideias comunistas para combater a difusão do pensamento
fascista disseminado pela Ação Integralista Brasileira (AIB). Naquela década, de modo geral, havia um
estreito corredor de escolhas para partidários e intelectuais, prevalecendo ambos os movimentos. Neste
cenário, em que ?(...) fundiram-se a libertação do academismo, dos recalques históricos, do oficialismo
literário; as tendências de educação política e reforma social; o ardor de conhecer o país" (MELO E
SOUSA, 2000, p. 114) as capilaridades ideológicas do âmbito artístico sofreram efetivas mudanças.
Na adesão à ANL falou-se sobre a importância da Cultura para o povo, para as massas, para os
trabalhadores do país. Um momento de pulsante denúncia contra os integralistas e os regimes de
opressão (Nazismo e Facismo) e aclamação para união em prol de um programa de Cultural modernista
(uma contraposição a erudição exclusiva do academicismo) para o povo. Subiram ao palanque para
discutir acerca do tema ?Cultura e Liberdade?: Edgard Sussekind de Mendonça, Febus Gikovate Miguel
Costa Filho, Luiz Werneck de Castro, Carneiro Ayrosa, José Lins do Rego. Demetrio Hamam, Jorge
Amado, Annibal Machado, Cordeiro de Melo.
(...) todos pronunciando-se contra os regimes de força, contra o Facismo, contra o integralismo, em prol da

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mais completa liberdade (...) O Sr. Febus aludiu ao programa da Aliança Nacional Libertadora, mostrando
que em face do pronunciamento da assembleia que aplaudiram os oradores e sendo aquele movimento de
frente única o único que no momento pode libertar o Brasil, submetia a debate e votação dos presentes e
decisão do Clube de Arte Moder de aderir à Aliança Nacional Libertadora. Uma salva de palmas saudou as
últimas palavras, ficando assim aprovada unanimemente aquela decisão do Club. Em seguida, a
comissão do Club de Cultura, acompanhado de grande número de sócios, dirigiu-se à sede da ANL. Esta,
reunida em sessão, sob a presidência do comandante Cascardo ouviu a decisão, e em nome do diretório
da ANL falou sr. Amoretty Osório que agradeceu a atitude do Club de Cultura Moderna. (O QUE...1935, p.
5).
Já nas lembranças do amigo Sérgio Porto, jornalista do Diário Carioca ficou registrado o cenário de
criação do personagem cabotino Stanislaw Ponte Preta. Sobre isso, Porto conta que Santa Rosa junto
com ele idealizou o personagem. A esse detalhe vale salientar que interessou a Santa Rosa o espaço de
charges em jornais. Diariamente, representações artísticas da atmosfera política se projetam por meio de
formas extravagantes nos jornais. Conforme diz Santa Rosa, a ?[...] [política], com os seus artifícios e as
suas peras perversões, tem-lhe fornecido um material copioso, em que se tem exercitado a irônica e
sarcástica verve dos artistas [...]? (SANTA ROSA, 1947, p. 12). Porto também foi quem buscou explicar a
desapropriada pontualidade que o amigo costumeiramente exercitava. Ficou conhecido no meio
profissional por entregar encomendas fora do prazo. Para ele, a culpa de procrastinar as encomendas
advinha de sua impulsividade em querer conferir as novidades do mundo da arte, pois costumeiramente
deixava
(...) de fazer um quadro para ir comprar o último disco de Armstrong, ou para ver o desfile de uma escola
de samba. Deixava pelo meio da tela para ir assistir uma peça mambembe, onde um intérprete
coadjuvante surgia como esperança de bom ator. Perdia horas numa livraria folheando livros de arte (...).
(PONTE PRETA, 1956, p. 11).
A trajetória de vida do sujeito histórico negro, letrado, migrante, que participou ativamente da produção
cultural do país, especialmente, entre as décadas de 1930-1950, evidencia um cenário político, cultural e
artístico, um capítulo da história republicana no período do pós-abolição. Desta feita, essa pesquisa
acompanha uma série de estudos historiográficos do pós-abolição em que homens e mulheres negros-(as
) letrados-(as) são evidenciados atuando como protagonistas em instituições, espaços de sociabilidade e
poder; desempenhando variados ofícios, sobretudo no primeiro quinquênio do século XX.
A produção de estudos da população negra relacionados ao período posterior à abolição da escravidão se
diversifica e; o que outrora eram lacunas se tornam caminhos a serem percorridos, a exemplo da utilização
de fontes primárias tais como: registros de batismo; certidões de casamento, de óbito; uso da genealogia;
jornais; literatura; entrevistas orais com remanescentes quilombolas; acervos pessoais e privados
(MATTOS; RIOS, 2004). Ou seja, a pesquisa histórica que se ocupa em compreender a dinâmica das
trajetórias de vida de homens e mulheres negros (as) no pós-abolição ampliou a dimensão espaço-tempo
e, com isso, acabou, através de novas perguntas descortinando as ?(...) conexões transnacionais da
história intelectual e da história das ideias que sempre estiveram relacionadas com as perspectivas ligadas
ao pós-emancipação e os debates sobre racismo, direitos humanos e cidadania? (DOMINGUES; GOMES
, 2011, p. 10).
Em Experiências da emancipação: biografias, instituições e movimentos sociais no pós-abolição (1890-
1980), Domingues e Gomes (2011) evidenciam uma gama de trabalhos que discorrem sobre o período do
pós-abolição, a partir de pesquisas sobre associações, convenções, congressos e instituições políticas,
militares negros, além do debate historiográfico sobre as trajetórias negras. Vale salientar, experiências no

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âmbito da arte, a exemplo, do ator pernambucano, pintor e poeta Solano Trindade (1908-1974) e sobre o
escritor e abolicionista baiano Manuel Quirino (1851-1923). No que concerne às mulheres negras também
foram representadas, destaca-se a trajetória da professora e deputada catarinense Antonieta de Barros
(1901-1952). Já em Quase Cidadão: histórias e antropologias da pós-abolição no Brasil (2007), de modo
geral, objetivo foi compreender ?[como], onde, em que condições homens e mulheres de cor dela
[múltiplas liberdades] usufruíram, transformaram-na em objeto de interpretação, contendas, ou mesmo
rejeitaram os significados a ela atribuídos pelo discurso jurídico? (CUNHA; GOMES, 2007, p. 14). Uma
leitura possível no debate historiográfico é sobre a cidadania da população negra no pós-abolição.
Ao analisarmos trajetórias negras no espaço-tempo em que esteve inserido Santa Rosa, ou seja, início do
século XX, na Cidade da Parahyba, podemos acompanhar pesquisas recentes que colaboram com o
entendimento do pós-abolição. Assim, a historicidade quanto aos afro-paraibanos no pós-abolição tem
sido tema de publicações que norteiam a presença de homens negros letrados na região setentrional do
país, especialmente. As recentes pesquisas que ampliam o olhar sobre experiências negras no pós-
abolição na Paraíba têm sido realizadas pelos pesquisadores Elio Flores (2015), Solange Rocha (2015),
Petrônio Domingues (2017) e Surya Barros (2020).
Nesse sentido, seguindo sob a esteira de pesquisas acerca de pessoas negras inscrevemos a presente
pesquisa na historiografia recente que tem evidenciado, figuras desse segmento populacional, com
atuação ativa na Primeira República ? período de reordenamento social, de reconfigurações das
hierarquias raciais e de disputas dos projetos de nação ?, também se destacaram na cena política e
cultural. Como exemplo, os baianos Manuel Querino e Alfredo Casemiro da Rocha; o maranhense,
Hemetério dos Santos; o pernambucano Monteiro Lopes; o gaúcho Aurélio Veríssimo de Bittencourt; o
mineiro Benjamim de Oliveira; os cariocas Evaristo de Moraes, Eduardo das Neves e Lima Barreto; entre
outros que debateram e disputaram os diferentes projetos de política, cultura e identidade nacional, e
foram reconhecidos em vida, mas aos poucos caíram na galeria do preterimento, do ostracismo, da
subestimação ou simplesmente jazem nos desvãos da memória após a morte (DOMINGUES; ROCHA;
FLORES, 2019, p. 145-146).
A cada passo dado novas questões chegam à lume e o olhar para a interpretação da ?nova abolição?
inverte o sentido do problema; ou seja, o fato histórico do fim da instituição escravista é, por conseguinte, o
fomento para o início de uma gama de problematizações que colaboram com a nitidez do que há de ser
visto por Clio. Em Vicente Gomes Jardim: um ?artista e autor ?de cor no final do século XIX e início do XX
, Surya Barros (2020) reflete, a partir da égide da história social da escravidão, a trajetória de um homem
negro livre, no período da transição do Império e a República. Em que se buscou a experiência de vida de
Vicente Jardim enquanto liderança da Sociedade de Artistas Mechanicos e Liberaes da Parahyba e
membro da Irmandade dos pardos.
Assim, o propósito, evidentemente, é acentuar o avanço face às limitações constituídas pelo silenciamento
de Clio sobre a participação protagonista da ?gente negra? na história do Brasil após a abolição de 1888.
Tal enfoque tem contribuído para ampliar a compreensão da historicidade do pós-abolição.
Portanto, compreender a trajetória de vida do sujeito histórico negro, Santa Rosa é também perceber as
tessituras sociocultural e políticas de seu tempo. Assim, comunico ao leitor (a) que passaremos a percebê-
lo em seu espaço geracional cujo objetivo é ter a possibilidade de entender suas ambições, decisões,
frustrações e objetivos. Além de, por outro lado, explicar a influência de sua rede de sociabilidade para
compreender fragmentos de uma história de vida em suas dimensões sociais: a família, o emprego,
amigos e estratégias de mobilidade social. Desta feita, caro leitor, passaremos a compreender o tempo de
Santa Rosa em sua cidade natalícia.As transformações que metamorfoseiam o cenário geracional de

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Santa Rosa são elementos imprescindíveis para compreendermos fragmentos de sua história de vida,
vivida em meio a conjuntura de modernização do espaço da Cidade da Parahyba no pós-abolição. O olhar
em seu presente-passado corrobora enquanto ?testemunha ocular? Burke (2004), das ?rugosidades?
Santos (1998) do espaço da cidade da Parahyba (1920-1930) acarretadas pela modernização de
dispositivos estruturais do serviço público.
[3: Assim também, é partindo do pressuposto de que, conforme aponta Milton Santos (2004, p. 146),
entendemos o espaço seja como ?um produto histórico?, consideram-se os fragmentos de uma trajetória
vivida em terras paraibanas. como elo de junção, na medida em que liga-se os ?(...) fatores à genes, ao
funcionamento e à evolução do espaço (...)?. ]

A Cidade da Parahyba no tempo de Tomás Santa Rosa Jr. (1909-1932): família, espaço e sociabilidade
A casa em que Maria Alexina Santa Rosa (mãe de Santa Rosa) residiria com seu filho Santa Rosa até
1932, era nas proximidades à comunidade católica da qual era assídua frequentadora ? a Igreja Matriz de
Nossa Senhora das Neves, a catedral da cidade. Seu pai, Tomás Mauricio Santa Rosa, artista, alfaiate de
profissão, por sua vez, manipulava a arte de ?vestir? pessoas ? em parte, assemelhando-se ao filho, que
?vestia? livros, sobretudo aquelas que detinham cabedal suficiente para adquirir um traje ?da moda?,
comumente utilizado para situações da vida social na cidade, como missas, bailes, casamentos, batizados
e cerimônias. Conforme Waldeci Chagas:
Os rapazolas se contentavam com as peças de brim em várias tonalidades. Do contrário, a casimira era
bem encomendada pelos alfaiates. As alfaiatarias e camisarias sempre estavam abarrotadas de
encomendas, principalmente se estavam próximas as festas da padroeira, Nossa Senhora das Neves, do
Natal e do Ano bom. Nessas épocas, era comum o rapaz encomendar o corte e costura de um novo
conjunto composto de paletó colete e calça (CHAGAS, 2004, p. 121).

No tempo de Santa Rosa, a moda é matéria prima para que personagens importantes do microclima
intelectual da década de 1920, na Cidade da Parahyba escrevessem a seu respeito, a exemplo do
historiador Horácio de Almeida quem, por seu turno, contesta, em tom de denúncia, a chegada da nova
(do moderno) maneira de ?vestir-se? ? para ele, a moda da/na década de 1920, quando posta na balança
da moralidade, seria um ônus negativo. Acusada, a moda passou a ser evocada como má influência para
toda uma geração (tanto para homens quanto para mulheres). Julgada por Almeida, a moda passou a
ocupar as linhas da Revista Era Nova, ao escrever o artigo O poder da moda, em 1921, por onde destila:
[4: [...] uma revista quinzenal ilustrada na década de 1920, produzida na Paraíba. A princípio foi fundada
na cidade de Bananeira/PB e logo depois seu núcleo foi transferido para capital da Parahyba do Norte. Se
manteve circulando de 1921 a 1926, quando, dela, se tem notícia pela última vez. Seu primeiro nº, do ano
I, data de 27 de março de 1921, sendo oficialmente apresentada por seu diretor Severino de Lucena e seu
redator-chefe Guimarães Sobrinho, com a proposta de inaugurar uma nova era nos círculos literários e
intelectuais paraibanos. (RODRIGUES, 2013, p. 3).]

[moçoilas] catilas e espevitadas desaforam-se de corpinhos e sobem vestidos e descem os decotes para
os pitaratas galanteadores analysem em seus contornos a perfeição artística de suas joias. Insatisfeitas
com a liberdade que gozam, disputam o direito de voto e com este o direito de representação (...)
Galopeamos nesta marcha para o aniquilamento moral de nossa raça, para a efeminação do caráter
másculo de nossa juventude, para o ignominioso e abdiminavel hermafroditismo social. E chama isso de
evolução! (ERA NOVA, 1921, p. 15)

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O registro presente na documentação da Arquidiocese da Paraíba evidencia que o casamento do casal


Santa Rosa foi em julho de 1906. Ao analisar o referido documento, é possível verificar/comprovar
algumas informações pertinentes à origem de Santa Rosa. Com 19 anos de idade, Thomaz Mauricio Santa
Rosa oficializa (no civil) seu casamento com Maria Alexina das Neves Pereira, que, aos 22 anos, era um
pouco mais velha e já contava com a maioridade jurídica. Também é possível averiguar nesse registro a
ramificação de parentesco de suas avós, sendo elas, respectivamente: Maria Marcionilla Martinho e
Felismina Batista Freire. Assim,
(...) aos trinta dias do mês de Julho de mil novecentos e seis, décimo sétimo ano festivo da proclamação
da República dos Estados Unidos do Brasil, nesta cidade da Parahyba do Norte, capital do Estado do
mesmo nome (...) Thomaz Mauricio Santa Rosa e Dona Maria Alexina das Neves Pereira que neste ato
queiram casar-se. Thomaz Mauricio Santa Rosa, solteiro, com dezenove anos de idade, natural e
residente nesta capital, filho natural de Maria Marcionilla Martinho, residente nesta cidade. Dona Maria
Alexina das Neves Pereira, solteira, com vinte e dois anos de idade, também natural e residente nesta
capital, filha ilegítima de D. Felismina Batista Freire (...).
[5: TESTAMENTO de casamento dos pais de Santa Rosa. Disponível em: https://www.familysearch.org
/ark:/61903/3:1:S3HY-61X9-. Acesso em: 25 fev. 2023.]
Tomas Santa Rosa morador da Rua do Barão de Passagem (atual Rua da Areia), nº 320, testemunhou a
implementação de dispositivos estruturais, tais como iluminação, água encanada e esgotamento.
Enquanto morador da cidade baixa, Santa Rosa foi testemunha ocular das edificações que ganhavam,
naquele momento, construções de sobrados de dois andares, feituras quase exclusivamente da área
comercial da cidade no centro da cidade. Assim, essa nova elaboração de estrutura da cidade criava um
aglomerado que com o tempo foi se transformando na urbe paraibana, dividido entre as regiões ?alta? e
?baixa? ?[...] onde o comerciante podia juntar o armazém, a família, e os caixeiros, respectivamente, no
andar térreo primeiro e segundo andares (...)? (BATISTA, 1951, p. 17). Em suma, como assinala Wylnna
Vidal
(...) da primeira metade dos anos 1910, quando foram implantados os primeiros serviços urbanos
modernos (abastecimento d'água, energia elétrica e bondes), até 1940, podemos observar o trinômio
[embelezar, sanear e circular] presente no discurso do poder público justiçando as ações; presente nas
reivindicações de melhoria e embelezamento urbano da elite local; presente no discurso favorável às
transformações e presente também no discurso que se mostraram às mudanças (VIDAL, 2004, p. 45)
As ruas do centro da cidade funcionavam como artérias de chegada do moderno. Eram consideradas
como uma espécie de ?termômetro? social e econômico do início do século XX. Em especial a Maciel
Pinheiro que, nesse contexto, se tornava uma das principais esteiras do comércio da Paraíba, na qual as
transformações culturais ?pintavam? as vitrines com suas cores e tessituras, e por onde certamente
Tomaz Maurício Santa Rosa trabalhava e construía apreço social gerado por sua vida profissional, cuja
função em confeccionar o vestuário de membros da elite paraibana o levaria a costurar certa rede de
sociabilidade.
A ambiência em que residia a família Santa Rosa era de extrema importância comercial, pois recebia de
cidades do interior como Itabaiana e Campina Grande carregamentos de uma mercadoria que nutriu a
opulência de parte dos produtores paraibanos: o algodão ? um gênero de grande relevância para a
economia paraibana e principal produto da década de 1920. De certo modo, o acúmulo de capital de
alguns comerciantes advindos do interior para morar na zona urbana da capital, e que logo iriam construir
suas residências na parte da ?cidade alta?, mantendo seus comércios na parte baixa da foi o apogeu do

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algodão no final do século XIX, devido ao cenário do mercado internacional. Com efeito, trata-se de um
elemento preponderante para a modernização da cidade, uma vez que, como aponta Galliza (1993, p. 45),
durante o período compreendido entre 1900 e 1929 o algodão e a pecuária foram não apenas
fundamentais, mas principais produtos da economia paraibana. Tal evidência reverberava nas mudanças
administrativas da cidade.
A iniciativa do poder público em modernizar a cidade gerou mudanças não apenas em seus edifícios, mas
também no campo administrativo, uma vez que o aparato burocrático paraibano teve que ser ampliado.
Vale lembrar que, apenas em 1916, é que a Paraíba inaugurava seu primeiro banco (uma filial do Banco
do Brasil no estado), ? então, o capital mercantil do estado era majoritariamente manipulado por
empresários estrangeiros. Assim, atividades aduaneiras de exportação algodoeira essenciais à economia
local ficavam sob a égide de firmas estrangeiras, a exemplo da francesa Cahan Fréres & Cia (fundada em
1864), que, contando com filiais em Guarabira e Mamanguape, monopolizava o comércio externo da
Paraíba (GALLIZA, 1993).
Entretanto, as modificações advindas do profícuo momento econômico em que passava o espaço natalício
de Santa Rosa não impediu o avanço das mazelas advindas da falta de saneamento básico. A
precariedade do saneamento básico, certamente, colaborou com o triste capítulo na história da família da
Santa Rosa, que passaremos a comunicar.
Além de superar a morte de três filhos homens, a família Santa Rosa passou por outras dificuldades,
sobretudo Maria Alexina (mãe), uma vez que ela teve que prosseguir com a criação do único filho homem
sobrevivente (Santa Rosa) e suas duas irmãs, sozinha, já que seu pai, Tomaz Mauricio ?(...) abandonara a
família para tentar a sorte ao centro-norte do país, só retornando para revê-los nos últimos anos de sua
vida (...)?, falecendo em 1953, três anos antes do filho (BARSANTE, 1982, p. 7). Possivelmente, a
?aventura? iniciada pelo senhor Tomaz, teve um aspecto potencializador ? à época, o sonho de muitos era
saborear um promissor enriquecimento através da extração da borracha. Desse modo, muitos nordestinos
partiram para as trilhas das florestas, se inserindo na produção da borracha.
[6: A esse respeito, Caio Prado Jr. (2004, p. 199) observa: ?(...) a borracha, que graças aos automóveis e
seus pneumáticos estará destinada a um futuro magnífico, e que na nativa do vale amazônico daria
momentaneamente ao Brasil o monopólio de uma mercadoria de grande consumo internacional?.
Entretanto, o surto do ciclo da borracha acabaria se encerrando, à medida que produtores dos países da
Ásia menor passaram a cultivar seringueiras, agradando com preços baixos os principais compradores (os
estadunidenses). O final do primeiro surto da borracha foi em meados de 1920, chegando ao seu declínio
, de fato, já na década de 1950, por conta dos derivados do petróleo.]
O triste capítulo na história da família de Santa Rosa foi agravado pela precariedade do saneamento
básico, o que atuou nos consecutivos falecimentos de seus três irmãos. A partir da imprensa local,
inclusive, é possível perceber na atmosfera epidêmica, a tônica conjuntural de preocupações com
enfermidades, ? no tempo do nascimento dos irmãos de Santa Rosa (1907-1908) manifestavam-se, tanto
pelo ?bater dos sinos? das igrejas (que anunciam mais momentos fúnebres), quanto pelos informes da
imprensa local, que a descreve da seguinte maneira: ?(...) já temos diante de nós a triste perspectiva de
um quadro semelhante às 56 dos anos de 1905 a 1907, quando a Parahyba foi dolorosamente flagelada
por essas pestes (...)? (COLUNA..., 1913, p. 1). O fato é que, sem um serviço de distribuição de água
encanada, a cidade pouco se apresentava enquanto um espaço moderno. Conforma Araújo (2001) e
Chagas (2004) havia um volumoso debate político acerca da qualidade da água, médicos e engenheiros
travavam um embate cientifico para sanar a proliferação de doenças. Porém, a mobilização discursiva não
efetivava as condições insalubres. Vale salientar que apenas em 1914 a cidade natalícia de Santa Rosa

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será contemplada com serviço de água encanada e que o abastecimento era realizado pelos aguadeiros.
Em 16 de outubro de 1908, um ano após casal Santa Rosa formaliza matrimônio, é evidenciada a morte
do que seria primeiro irmão de Santa Rosa ?(...) Anjo ? finou-se antehontem, o pequeno Moacyr Santa
Rosa, filho do senhor Thomaz Mauricio Santa Rosa. Seu enterro effectuou-se hontem pelas 4 horas.
Pêsames aos seus desolados genitores (...)? (ANJO, 1908, p. 2). Ou seja, ao que se indica, um dos
primogênitos faleceu de forma prematura, sem chegar a completar dois anos de idade em vida. É na
ambiência dos problemas sanitários que nasce outro irmão de Santa Rosa, Pelópidas, registrado no dia 28
de junho de 1908 também falecendo de forma prematura. Conformidade com Barsante (1982, p. 7),
nenhum de seus falecidos irmãos alcançou (em vida) a infância.
[7: CERTIDÃO de óbito. Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-X38SJHH?i
=64&cc=2015754. Acesso em: 30 set. 2022.]
A questão da distribuição de água na cidade é um capítulo digno de novela livresca. As polêmicas acerca
da qualidade da água causaram estardalhaço no nicho político paraibano: farpas entre correligionários
locais, com os aliados protagonizando o conflito, cuja saída foi convidar especialistas externos para pôr fim
nas querelas. Por esse nasceu em 29 de setembro de 1909, Santa Rosa, o único filho homem de Maria
Alexina e Thomaz Mauricio a sobreviver ao nefasto ambiente. Consta na documentação da Arquidiocese
da Paraíba o seguinte registro:
Aos vinte e sete de março de mil novecentos e dez na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Neves de
minha licença, Reverendo Padre Mathias Freire batizou solenemente a Thomaz, nascido aos vinte de
setembro do ano próximo passado [1909], Tomaz Santa Rosa; filho de Thomaz Mauricio de Santa Roza e
Dona Maria Alexina de Santa Roza (sic!). Foram seus padrinhos Thomaz Ferreira Soares e sua mulher
Dona Amélia Ferreira Soares. E para constar mandei lavrar o presente termo que assino.
[8: Fonte: Arquivo Eclesiástico ? Arquidiocese da Paraíba ? Livro 13, nº 1876-1878.]
Os primeiros passos de sua vida escolar foram dados na Quinta Cadeira Mista da Paraíba; posteriormente
, buscou admissão no Grupo Escolar Tomás Mindelo, por meio do qual ingressou no conceituado Lyceu
Paraibano onde estudou até 1927. Este ficava próximo à Escola Normal, instituição responsável pela
formação das moças paraibanas. Santa Rosa fez aulas de piano com a professora Alice Pereira quando
ainda era garoto. Todavia, é sabido que a sua dedicação autodidata o levou a aprender outro idioma, o
mais exigido em seu tempo, o francês. Sua formação cultural e a aproximação de sua mãe da Paróquia
local foram decisivas para que ele participasse de aulas de canto, atividades realizadas na Igreja Matriz de
Nossa Senhora das Neves, da qual, decerto, sua mãe fazia parte.
Na igreja constatou-se uma potencial habilidade vocal, e ele passou a participar do Te Deum dos alunos
do Sacro-colégio do Arcebispado. O garoto, Santa Rosa, ainda arranjava tempo para apreciar as aulas do
seu professor de música Grazzi Galvão de Sá (natural da Cidade da Parahyba). Vale salientar que Santa
almejou se torna um músico profissional. Apostando em sua qualidade musical de barítono, naquele
período seguiu buscando participar de concursos de novos talentos, até que, certa feita, um conhecido,
Murilo de Carvalho (que era profissional de canto), o orienta a deixar a ideia de lado (BARSANTE, 1982).
Anos depois, sua carreira profissional se inicia no funcionalismo público imerso no setor de contabilidade
da administração local.
Sua trajetória na carreira do funcionalismo público se deu em meio a consolidação do regime republicano.
Era o tempo do segundo mandato do governado Solon Barbosa de Lucena (1920-1924) quando Santa
Rosa recebeu o convite que iria influenciar os rumos da vida do garoto de apenas 14 anos de idade. Na
ocasião, o convite foi feito pelo então engenheiro-chefe da Secção de Saneamento do Estado da Paraíba,
Lourenço Baeta Neves, em conjunto com o secretário-geral de Estado Álvaro de Carvalho (BARSANTE,

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1982, p. 9). Logo, a partir de 1923 Santa Rosa passaria a trabalhar no setor da contabilidade oficial do
governo ? naquele ano o prédio do Palácio do Governo funcionava nas proximidades de sua casa. Desse
modo, a citada contratação para o setor de contabilidade do Tesouro Estadual da Parahyba do Norte foi
realizada por indicação de homens da política local.
Figura 02 ? Tomás Santa Rosa aos 18 anos de idade

Fonte: BARSANTE, 1982.

Cabe ressaltar que o início de sua vida no funcionalismo público é de suma importância, pois por meio
desse vetor de compreensão de sua trajetória de vida é possível, também, descortinar sua rede de amigos
. É esse um assunto que requer atenção, afinal Santa Rosa não teve em sua origem uma opulência de
berço, como outros de seu convívio, mas logrou êxito quanto a apropriação de capital cultural e social.
A mencionada rede (e as relações de proximidade dela decorrentes) pode ter granjeado certo capital
social ao Sr. Tomaz, afinal homens da elite e da classe média paraibana recorriam ao comércio de
vestimentas para adquirir trajes apropriados para os oportunos momentos de socialização (casamentos,
bailes) pautados pela agenda de celebrações. Desta feita, agraciado por uma oferta de emprego, no setor
de contabilidade do Tesouro Estadual. Essa oferta pode ser especulada a partir da influência de seu
padrinho, Thomaz Ferreira Soares. Membro de uma tradicional família da cidade (os ?Ferreira Soares?),
casado com a Sra. Amélia Soares (carinhosamente chamada por parentes e pessoas próximas como Mãe
Lindoca), com quem teve um filho chamado Acácio (Sula), era funcionário/tesoureiro de carreira em um
banco, na Cidade da Parahyba.
Há ainda outra possibilidade que advém de sua rede (direta e indireta) de amigos ter proporcionado um
caminho confortável para a inserção em seu primeiro emprego, e por conseguinte mobilidade social.
Nesse sentido, há uma memória do tempo em que Santa Rosa trabalhou no Tesouro Estadual, produzida
pelo jornalista Luiz Pinto, com quem Santa Rosa não tinha amizade, mas mantinha relações de
proximidade pelo fato de trabalharem na mesma repartição pública, que ajudaria a endossar essa
suposição. De fato, o jovem Santa Rosa contou com uma importante rede de amigos no âmbito social que
correspondia à sua função no setor de contabilidade. Sendo assim, ao relembrar em tom nostálgico de sua
experiência no tempo em que Santa Rosa era morador e funcionário público, Pinto o descreve como
alguém de distinção, sobretudo por sua relação de amizade com membros da elite paraibana nos anos
1920 (a exemplo de Aloísio França e Luís França, os ?meninos do Tesouro?).
Conheci-o, já se vai muitos anos! Éramos tão jovens... O mundo uma incógnita, um poço de ilusões, um
marco de esperança. Seu apelido na época era Bonzinho. Íntimo de Aloísio França, de Luís França, os
meninos do Tesouro do Estado. Na vida da Paraíba trabalhamos todos no tesouro do Estado na minha
velha província, entre os paredões lendários do velho Convento de S. Bento, onde funcionava aquela
repartição estadual. (PINTO, 1956, p. 3).

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Para uma melhor compreensão do Santa Rosa funcionário público do Tesouro Estadual, contudo, faz-se
necessário acionar um outro personagem. Em se tratando de sua rede de sociabilidade, outro possível
apoiador de sua trajetória profissional, Ademar Victor de Menezes Vidal, oriundo de família da elite
paraibana. Vidal ocupou diversos cargos na esfera jurídica da República, chegando a atuar como
procurador durante o governo de Solón Barbosa de Lucena (1920-1924) e como secretário de Interior e
Justiça e Segurança no governo de João Pessoa (1928-1930). Ao que as fontes indicam, ele mantinha
uma relação de apadrinhamento com o jovem Santa Rosa (VIDAL, 1956).
Morador da Cidade da Parahyba, e, oriundo de uma família da elite (atuante no ramo jornalístico), Vidal
detinha capital (político e social) suficiente para influenciar na política burocrática que determinava o
preenchimento de vagas de emprego. Com efeito, ao assumir a pasta de Secretário do Interior e
Segurança (1928), no breve governo de João Pessoa Cavalcanti (1928-1930), Vidal pôde amparar o
noviço funcionário público com imediata promoção na função dos serviços no Tesouro Estadual.
Cabe mencionar que, ao esquadrinhar a documentação pertencente ao Arquivo Estadual do Governo do
Estado da Paraíba, identificamos, no setor de contabilidade da Companhia de Água, uma lista de
pagamento dos vencimentos dos empregados nas Obras Públicas (Saneamento e Indústria Pastoril).
Tomás Santa Rosa Jr. foi lotado no departamento de Saneamento Básico do Estado, e se encontrava na
função de contador e arrematava mensalmente 300$000 (trezentos mil réis). Em uma nota-homenagem
intitulada ?O autodidata?,publicada no jornal O Norte, Vidal menciona ter agido politicamente em benefício
de Santa Rosa, o que teria resultado em sua mobilidade social:
[O] Paraibano da rua Direita [em verdade rua do Barão de Passagem], atual Rua da Areia], era lá onde me
habituei a vê-lo com os desenhos que mostrava, trabalhando no serviço público do Estado e, anos depois
, ocasionalmente me encontrando com o poder nas mãos sua situação fora melhorada como funcionário
do Abastecimento de Água. (VIDAL, 1956, p. 2).
É importante salientar que, anos depois, livros escritos por Ademar Vidal que versam sobre cultura popular
e nordeste foram ilustrados pelo artista Santa Rosa, a exemplo do livro Lendas e Superstições: contos
populares, (1950. Já o funcionário público e contador do Tesouro almejava ir, no início da década de 1930
à capital do país, Rio de Janeiro. Sua vida parecia estar dividida entre a carreira do funcionalismo público
e as oportunidades do mundo das artes.
Santa Rosa esteve inserido numa conjuntura econômica marcada pelo surto da industrialização, por
medidas de modernização e pela expansão das instituições artísticas, que ele acompanhava através de
revistas e jornais que comprava ou pegava de empréstimo de seu ?amigo de sempre? José Simeão Leal.
Era com Simão que Santa Rosa trocava missivas frequentemente. A comunicação feita a partir das cartas
permite a ampliação das possibilidades de pesquisa para um campo de maior interpretação sobre a
trajetória de Santa Rosa, a linha entre suas subjetividades e seus anseios mais íntimos geram uma
profícua gleba de análise. Para Gontijo, do ponto de vista metodológico, há no ?pensar carta? uma
chancela de compreensão do pensamento individual ou de um determinado grupo. De tal modo, que o
[...] estudo da correspondência de escritores e intelectuais ajuda a compreender os meandros da
construção de uma obra e/ou da elaboração de projetos, revelando ações e intenções e deixando entrever
a especificidade dos procedimentos cognitivos e argumentativos. Também permite observar as relações
entre os indivíduos, fornecendo indícios de suas experiências como atores sociais. (GONTIJO, 2008, p.
55).
Desta feita, passemos a entender a quanto notória foi a influência de Simeão Leal no que diz respeito ao
empreendimento que objetivou contribuir a mobilidade social de Santa Rosa. Um assunto presento foi o
concurso para o Banco do Brasil. É explícita a intenção de Santa Rosa: ?um pedido?. Ele solicitou ao

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amigo que intervenha em sua nomeação, para que fosse enviado à matriz do Banco do Brasil, localizada
na capital do país, o itinerário perseguido por Santa Rosa.
Foi aí que passou a vislumbrar uma gama social que pudesse ser proveitosa quanto a sua aprovação, já
que, para ele, o modus operandi da cultura política existente em seu tempo obedecia aos critérios políticos
da nomeação, e não do mérito. Assim, Santa Rosa se inclinou na busca de intermediários/ ?pistolões?, e
aciona sua rede de sociabilidade para promover empreendimento tático à sua aprovação:
(...) [Bem] sei que este concurso, como todas as cousas actuaes, não se processa, naturalmente, na razão
directa dos valores demonstrados, mas sob os auspícios dos pistolões e de todas as recomendações
assignados pelos fazedores da política e já que é preciso ser assim; já que somos forçados a fazer assim:
? sejamos e façamos com a situação nos obriga (...) E é sobre isto que venho pedir de sua amizade, um
grandíssimo favor (...) É possível que ahi entre toda essa novidade do seu convívio haja alguém que no
momento actual te possa servir como um intermediário para o meu interesse de ser nomeado... Alguém
cuja família representa no momento, algo de realmente prestigiado que seja um factor, no cenário
ambiente, de relevo e de força irradiante (...). (SANTA ROSA, 1931, p. 2).
Sua ambição em sair da cidade da Parahyba tornou-se ainda mais notória quando ele, deixando de lado
qualquer formalidade, passou a clamar de maneira mais direta:
(...) Acrescento, meu amigo, que o local pouco me dá! ei-me fora do interesse ir a tal ou qual lugar.
Entretanto como é natural, prefiro as agências do sul. É caso interessante, o que menos desejo é ficar aqui
. Não há por acaso parahybanos do seu conhecimento na Matriz do Banco do Brasil? (SANTA ROSA,
1931, p. 3).
Para alcançar o objetivo, Santa Rosa, elaborou estratégia que, dando certo, seria o seu passaporte para
alcançar seu obstinado destino, assim como o impulsionar para outros ares, para além da pacata Cidade
da Parahyba, que passou a chamar pela alcunha de ?exílio?. Santa Rosa pretendia sair de sua atmosfera
natal e partir em busca de uma ambiência profícua de profundas mudanças.
[9: É o que aponta Miceli (2001, p. 77), para quem: [as] décadas de 1920, 1930, 1940 assinalam as
transformações decisivas no planos econômicos (crise do setor agrícola voltado para exportação,
aceleração dos processos de industrialização voltados para a urbanização, crescente intervenção do
Estado em setores-chaves da economia etc.), social (consolidação da classe operária e da fração de
empresários industriais, expansão das profissões de nível superior, de técnicos especializados e de
pessoal administrativo nos setores público e privados etc.), político (revoltas militares, declínio político das
oligarquias agrária, abertura de novas organizações partidárias, expansão dos aparelhos do Estado etc.) e
cultural (criação de novos cursos superiores, expansão da rede de instituições culturais públicas, surto
editorial etc.).]
Ele visava ser inserido na carreira pública no Banco do Brasil e alcançar estabilidade, a possibilidade de
vivenciar um contexto propício para desenvolver o seu projeto de uma vida artística. Parecia que tudo
daria certo: assegurar seu lugar no serviço público e vivenciar os principais corredores do mundo artístico.
Ledo engano. O que parecia motivo para comemoração se tornou um imbróglio trágico, uma vez que sua
tática não alcançou o sucesso necessário e, ao invés de ir ao Rio de Janeiro, foi enviado para uma
agência em Recife.
A fim de alcançar seu objetivo, Santa Rosa acionou, ao mesmo tempo, Simeão Leal e outro influente
amigo ? o gaúcho Moziul Moreira Lima, tenente do Exército. Nos anos 1950 é possível identificá-lo como
membro conselheiro da Associação de Ex-combatentes do Distrito Federal (Rio de Janeiro), já com a
insígnia de major. Com isso, a estratégia de Santa Rosa foi gerar duas forças de influência para efetivar
sua meta de ser nomeado como funcionário do Banco do Brasil no Rio de Janeiro. Mas, novamente não

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obteve êxito, e foi transferido apenas para Maceió, Alagoas. Todavia, por lá não abandonou a sua
obstinada dedicação em ?fazer-se artista.
Na atmosfera cultural de Maceió, Santa Rosa compartilhou trabalhos, se aproximou de outros jovens
artistas, e vivenciou espaços de sociabilidade: participando de salões, exposições, e contribuindo com
seus feitos artísticos (gravuras e poesias) em jornais e revistas locais. Naquele ambiente de difusão da
cultura unia-se a uma plêiade de intelectuais. Entre eles, José Auto da Cruz Oliveira, o poeta ? Zé auto?,
com escritores modernistas, a exemplo de Raquel de Queiroz e Graciliano Ramos ? este já tinha sido
prefeito de Palmeira dos Índios. Em 1932 Ramos já havia sido nomeado diretor da Secretária da Imprensa
Oficial, e utilizava de sua influência para realizar encontros em seu gabinete. Outro importante espaço de
sociabilidade de Maceió em que ocorriam os encontros, era no boêmio Bar Central. Em setembro de 1956,
o Correio da Manhã publica, na coluna Escritores informações sobre o grupo, diz:

?Reunidos em torno do escritor, no seu gabinete na Imprensa, ou no ?Ponto Central? os rapazes ficavam
em conversas e discussões literárias que se prolongavam horas a fio?. Além de médicos e professores
pertenciam aquele ciclo ?alguns escritores e artistas de outros estados, como José Lins do Rego, Raquel
de Queiroz e Santa Rosa? (ESCRITORES..., 1956, p. 10).

O pintor Santa Rosa realizou uma exposição de sua arte modernista na capital alagoana. É o jornalista
Manoel Diógenes Junior, que recorda quando no Instituto Histórico de Alagoas, em 1932, o crítico e
jornalista, Valdemar Cavalcanti

(...) apresentou Santa Rosa numa palestra em que estudava sua arte dentro do modernismo brasileiro. E
assinala-se eu esta noite de modernismo, em que se tocou Debussy e se cantou Blue, onde se
apresentavam os trabalhos modernos de Santa Rosa, se realizou nos austeros salões do venerando
Instituto Histórico de Alagoas (JUNIOR DIOGENES, 1956, p.03).

O que as fontes mostram é que ele Santa Rosa, abandonou o emprego no Banco quando se mudou para
o Rio de Janeiro. Sua trajetória é marcada por uma decisão que modificou sua vivência e assustou amigos
/as, quando decidiu abandonar o emprego no Banco do Brasil para consolidar seu sonho. Segundo, a
escritora Rachel de Queiroz:
[Santa Rosa] pediu transferência para o Rio, mas recusaram a transferência. Ele então abandonou o
emprego e se tocou para cá, entregando-se deliberadamente às dificuldades, quase à miséria, do artista
que tenta abrir caminho na cidade grande. Passou o diabo, passou fome, todo mundo o considerava louco
por abandonar um emprego excelente por amor de um sonho, ou como lhe dizia um amigo, ?uma vocação
abstrata?. Santa explicava pacientemente: ?Mas eu sou pintor". (QUEIROZ, 1961, p. 8).

Na cidade carioca, se inseriu no mundo editorial ? uma decisão tomada que, sem saber, o tornaria um
artista que logrou êxito como pintor, crítico de arte, cenógrafo, professor e profissional do âmbito gráfico
entre seus pares, como discutiremos no próximo tópico.

O multifacetado artista

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Santa Rosa foi um artista multifacetado, característica comum de sua geração, atuando em diversos
âmbitos da arte de maneira concomitante. Acompanhar sua vivência no mundo da pintura, cenografia e
artes gráficas é um convite para o mundo artístico cultural do início do século XX. O esquadrinhamento de
parte de sua trajetória é perpassado por ideias do movimento modernista à brasileira, que prevaleceu
hegemônico, sobretudo, entre as décadas de 1930 e 1950.
A partir de 1933, após abandonar o emprego na agência alagoana do Banco do Brasil em Maceió e viajar
à então capital do país, Santa Rosa adentrou in loco no microclima intelectual carioca. Sua carreira
artística teve início enquanto responsável por projetos visuais em editoras, jornais e revistas ilustradas.
Aproveitando o boom de vendas ocasionadas pelos gêneros literários (ficção, romantismo), se viu em meio
à demanda por mão de obra especializada. O trabalho inicial nas editoras Ariel, Schmidt e José Olympio
foi profícuo. O cenário de ofertas de emprego era, de maneira geral, atraente.
[10: Conforme explica Miceli (2001, p. 148), ?[o] surto editorial da década de 1930 é marcado pelo
estabelecimento de inúmeras editoras, por fusões e outros processos de incorporação que ocorrem no
mercado editorial e, ainda, por um conjunto significativo de transformações que acabaram afetando a
própria definição do trabalho intelectual: aquisição de rotativas para impressão, diversificação dos
investimentos e programas editoriais, recrutamento de especialistas para os diferentes encargos de
produção e acabamento, inovações mercadológicas nas estratégias de vendas ? implantação do serviço
de reembolso postal, contratação de representantes e viajantes etc. ?, mudanças na feição gráfica dos
livros, com o intento de ajustar o acabamento das edições às diferentes camadas do público, e, sobretudo
, empenho das principais editoras em verticalizar o processo produtivo e diversificar suas atividades?.]
Ao chegar à capital do país, Santa Rosa já era pintor e desenhista. Com essas habilidades buscou nas
editoras um meio de vida. No seu tempo, editoras investiram na visualidade dos livros para atrair cada vez
mais o público leitor ávido em consumir o bem cultural da modernidade: o livro ilustrado. Neste momento,
trabalhou inicialmente nas editoras Ariel e Schmidt, mas foram as duas décadas dedicadas as feituras
gráficas pela editora José Olímpio que o consagrou. Seus feitos artísticos expressavam outra estética aos
livros que circulavam pelas principais livrarias da cidade, ou nas exposições das capas de livros que,
acomodadas nas vitrines, exibiam imagens assinadas por Santa Rosa. Estas tinham por objetivo o
aumento das vendas, e funcionavam enquanto rede de entrelaçamento de sua sociabilidade. Assim,
discorre Bueno:
Tendo [Santa Rosa] participado, desde os tempos de Maceió, da vida intelectual brasileira, seu trabalho de
criador de capas era também uma forma de participação direta na vida cultural e literária de seu tempo,
além de representar uma modalidade de cooperação criativa com os confrades escritores. Vida
profissional e camaradagem. No caso da literatura brasileira, mas não só ler os livros para desenhar-lhes
uma capa era mais que uma tarefa feita por obrigação. (BUENO, 2015, p. 63).
Santa Rosa conquistou, ao longo de duas décadas de trabalho no mundo das artes gráficas, lugar de
destaque como artista gráfico modernista, ?(...) sendo responsável quase sozinho pela transformação
estética do livro brasileiro nos anos de 1930-1940 (...)? (HALLEWELL, 2017, p. 512). Quase todas as
editoras neste período têm sua assinatura, o que reforça o nível de importância do artista afro-brasileiro.
Conforme aponta Bueno (2015), a produção de Santa Rosa se de especialmente na editora José Olímpio,
onde construiu um prodigioso acervo de imagens para as capas de livros. É enorme sua relevância e seu
protagonismo na história das artes visuais do país, afinal:
(...) quem quiser contar a história da evolução das artes visuais no Brasil do século XX não pode escapar
ao nome de Santa Rosa (...) é preciso reconhecer que Santa Rosa fez esse trabalho como mais ninguém.
Se nem todas as ações oficiais que propôs se concretizaram, seu trabalho contínuo por mais de vinte anos

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deixou exposta em parte uma visualidade que não pode ser colocada noutro lugar que não o da arte
moderna. (BUENO, 2015, p. 22).
Santa Rosa é reconhecido pela inovação no metiê das artes gráficas, e talvez por isso seja mencionado
como ?pai do livro moderno? (HALLEWELL, 2017). O afro-brasileiro entrou para a história das artes
visuais tanto por conta de seu desempenho singular no desenvolvimento do ofício, quanto pela assídua
defesa intelectual sobre a profissionalização do metiê. De acordo com Laurence Hallewell, praticamente,
todas as obras que formam a geração romancista de 1930 com suas imagens-síntese, ainda menciona
que
?Os livros com o sinete editorial da José Olympio logo começaram a destacarse da insípida mediocridade
dos concorrentes, pois o editor, desde o início, dedicou cuidadosa atenção ao projeto gráfico. Seu
colaborador nessa área, mais uma vez, foi um nordestino, Tomás Santa Rosa, que trabalhara
anteriormente em diagramação e em desenhos de capa para a Schmidt (...) [deste modo] ele tem sido
considerado o maior produtor gráfico de livros do Brasil, responsável, quase sozinho, pela transformação
estética do livro brasileiro nos anos de 1930-1940 produtor gráfico de livros do Brasil, responsável quase
que sozinho pelas transformações estéticas do livro brasileiro nos anos de 1930-1940?. (HALLEWELL,
2017, p. 512).
O reconhecimento maior de Santa Rosa no âmbito das artes gráficas veio quando ele foi convidado a criar
e coordenar um pioneiro projeto escolar que contribuísse diretamente com a formação de artistas no
âmbito das artes gráficas. Em março de 1946 sua ambição de difundir a profissionalização do ofício
através de um conhecimento sistematizado sobre o âmbito foi consolidada. Certamente, sua atuação o
consagrava como principal peça de montagem e coordenação do Curso de Artes Gráficas, realizado pela
Fundação Getúlio Vargas, na cidade do Rio de Janeiro:
Em 1946, a Fundação Getúlio Vargas doava ao nosso meio artístico um atelier de gravura, o qual tive a
honra de dirigir. Com a colaboração do Carlos Osvald e Leskoscheck, efetuou-se um trabalho de
desbravamento cujos resultados em oito meses teremos a oportunidade de expor ao público ainda este
mês. É admirável a ágil e curiosa inteligência dos jovens alunos, aprendendo e experimentando com
eficiência rapidez, técnicas como as da gravura, complexas e variadas (SANTA ROSA, 1947, p. 10).
Nesse sentido, acompanhando a leitura quanto à repercussão do Curso feita pela crítica de arte, podemos
avaliar até que ponto a iniciativa coordenada por Santa Rosa foi benéfica ao fazer-se do metiê. A cargo da
coordenação do primeiro curso de artes gráficas do país, Santa Rosa difundiu suas proposituras e
diretrizes quanto à formação de novos profissionais. Tendo ele ainda desempenhado a função de
professor. Assim, foi possível avaliar como o artista/professor articulou seu conhecimento no âmbito.
Sobre a repercussão do curso, Santa Rosa , pondera que a consequência maior é a de estabelecer uma
positiva relação de novos artistas/profissionais, assim, ?(...) com paginadores de nova visão, as editoras
com ilustrações possuidoras de todas as técnicas, e as agências de publicidade em ?layoutmans? e
cartazistas?. Investir nos campos de artes gráficas que se voltam para comunicação em massa (FALA...,
1946, p. 8). Vale salientar que sua preocupação em fortalecer o mercado interno, ?(...) fazer ressurgir
essas técnicas da obscuridade em questão, e trazer ao meio brasileiro uma contribuição objetiva, digna de
consideração? (FALA..., 1946, p. 8).
No período aqui abordado, especialmente entre a década de 1930 e a de 1950, embates que revelam
divergências sobre a arte e a cultura, trazendo à tona caminhos para compreensão da cultura artística de
um tempo. É possível evidenciar questões fulcrais à atmosfera artística, entre elas a qualificação técnica, a
influência ideológica e a função social do artista no metiê.
No plano individual, Santa Rosa não detinha prerrogativas institucionais oficialmente registradas por

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instituições de renome, sua formação na pintura se deu a partir da mentoria de Cândido Portinari, somada
ao seu autodidatismo; assim como nas artes gráficas teve que lidar com o desconforto de não possuir
comprovação institucional.
Já o perfil estético do pintor Santa Rosa pode ser evidenciado em suas inúmeras obras. São diversos
cenários como: festas, vida cotidiana, reminiscências de sua infância, celebrações religiosas, pescadores,
trabalhadores, samba. Em relação à representação de mulheres, é interessante perceber que,
diferentemente do projeto visual da década de 1930, Santa Rosa investiu em adereços africanistas, como
turbantes e vestidos longos de cores fortes. A escolha em representar a estética negra através de lenços,
vestidos e indumentárias foi a maneira de criar suas imagens-síntese. Assim é também possível
evidenciar suas memórias da Cidade da Parahyba.

Imagem 03 ? Festa, (óleo sobre tela) 80 x 63 cm, Santa Rosa, 1950

Fonte: BARSANTE, 1993

Os embates quanto às modificações no âmbito da arte atravessam a conjuntura cultural do primeiro


quinquênio do século XX. Tanto é que a tessitura pictórica de Santa Rosa, assim como a de outros/as
artistas modernistas, foi alvo de protestos em algumas exposições pelo país. Um bom exemplo ocorreu na
Semana de Arte Moderna de Belo Horizonte de 1944, quando as realizações modernistas não agradaram
parte do público geral. A pintura moderna ficou marcada por uma investida em tom de manifesto, contra a
realização da Semana de Arte Moderna Belorizontina. Trata-se de um atentado às telas e esculturas
registrado pela imprensa local e revistas de arte.
No ensaio ?Fígaro barbeia o modernismo?, do crítico de arte Henrique Pongetti, é possível compreender
cenas surpreendentes. Pongetti conta sobre um homem desconhecido que saiu distribuindo coléricas
navalhadas em formato de cruzes nas telas dos quadros que compunham a exposição. O advento revela,
entre outras questões, querelas de pulso ideológico circunscritas à atmosfera artística do tempo de Santa
Rosa.
Figura 04 ? As Três Idades da Vida (óleo sobre tela) 90 x 76 cm, Santa Rosa (obra danificada)

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Fonte: BARSANTE, 1993.

O pintor modernista premiado com medalha de prata na mais importante exposição do país, o Salão
Nacional de Arte (1941) defendia ferrenhamente a concepção do modernismo nacional, ou seja, a ideia
que embora o modernismo brasileiro sofresse influência do arte europeia já havia idiossincrasias artísticas
locais que caracterizavam o modernismo nacional. Santa Rosa foi júri de expoentes exposições nacionais,
a exemplo da Bienal de São Paulo em 1951 e 1953; e no Salão Nacional na seção de Arte Moderna. Vale
salientar que o Salão Nacional era um importante espaço na história da pintura e da intelectualidade
artística no país, que protagonizou exposições marcantes, que deteve por função institucional a anuência
de reconhecer um quadro enquanto obra de arte, é o Salão Nacional. Conforme explica Luz, o Salão:
[11: O debate historiográfico acerca do modernismo e nacionalismo é de longa data, aqui, daremos
atenção especial à temporalidade que marca o fazer-se do multiartista Santa Rosa, ou seja, a atmosfera
artística cultural (entre 1930 e 1950) na qual o intelectual-multiartista Santa Rosa experimentou no mundo
da arte, de seu tempo, sentidos do modernismo. Como outros intelectuais, encarou a vida artística
enquanto aquilo que Gomes (2004, p. 82) determinou por ?[...] doublé de teórico da cultura e de produtor
de arte, inaugurando novas formas de expressão e refletindo sobre as funções e desdobramentos sociais
que tais formas guardariam?. Em relação ao nacional, ou seja, a criação do referido constructo ideológico
de unidade nacional desempenhada pelo Estado Novo buscou, segundo Gomes (2007), agir em benefício
da recuperação de um passado colonial, harmônico e glorioso. Por seu turno, Oliveira (2013) enveredou a
compreender o nacionalismo identificando o aparecimento, no início do século XX, de movimentos
artísticos nacionais que corroboram com a evocação do nacional, a exemplo do Manifesto Pau-Brasil
(1924) e do Manifesto antropofágico (1924), em cujo contexto a modernização de dispositivos de
comunicação (tais como rádio, indústria editorial e cinema) foi imprescindível para a difusão de símbolos e
sentidos de nacionalismos.]
(...) propiciava a oportunidade para todo e qualquer artista, independente da situação econômica que
tivesse, poder se aperfeiçoar nos principais centros de produção artística na Europa. A cada ano, a
emulação entre os concorrentes 173 ajudava o despertar de novos valores para a arte brasileira. Como as
obras premiadas ficavam para a coleção da Academia, depois Escola Nacional de Belas Artes, e que, em
1937, no governo de Getúlio Vargas, deu origem ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes, temos,
ainda, a grande contribuição dos Salões para a formação e ampliação desse acervo notável de nosso
museu. (LUZ, 2006, p. 60).
Ou seja, ao participar do Salão, o artista pavimentava sua trajetória rumo à consagração. A expectativa do
reconhecimento dos pares significava não apenas uma condecoração, mas também a possibilidade de
ascensão social, uma vez que se almejava abocanhar a premiação concedida pela Escola Nacional de
Belas Artes. As bolsas de estudos eram concedidas com intuito de ampliar o conhecimento em viagens
pelo Brasil (prêmio nacional) ou à Europa (prêmio internacional). Santa Rosa não se beneficiou de viagens
internacionais através do prêmio do Salão, foi através de sua conquista em outro âmbito da arte, o teatro.
A trajetória de Santa Rosa no teatro foi propiciada por inúmeras participações enquanto cenógrafo em
diversas companhias, entre elas ?Os comediantes? e a ?Companhia Dramática Nacional''. Além disso, ele
ocupou os seguintes cargos: diretor do Museu de Arte Moderna (1948), coordenador do ateliê de
decoração do Teatro da Escola Nacional (1950) e diretor do Conservatório Nacional de Teatro. Em 1952,
fez sua primeira viagem à Europa representando o Brasil na Reunião dos Artistas em Veneza, conferência
organizada pela Unesco. Nesse período, ele circulou pela Itália, Espanha, Inglaterra e França por quase

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dois meses. Em 1955, passou a dirigir o Conservatório Nacional de Teatro. Em 1956, ano que marca sua
morte, foi nomeado professor de cenografia na Escola Nacional de Belas Artes da Universidade do Brasil.
Entre seus maiores anseios estava a criação de uma escola de Teatro, Teatro para Crianças e o Teatro
de Negros. A sua relação com o Teatro Experimental do Negro foi efetiva, tanto na produção de cenários
como em incisivas defesas em jornais da época. Para o TEN, Santa Rosa realizou a cenografia para o
Recital Castro Alves, dirigido por Abdias Nascimento, no Teatro Fênix, no Rio de Janeiro. Ele foi
responsável, também, pelo cenário da peça Terras do sem-fim, espetáculo adaptado da obra do baiano
Jorge Amado, por Graça Mello. Já em 1948, assinou a produção visual dos figurinos e cenários da peça A
Família e a Festa na Roça, dirigida por Dulcina de Moraes. Já em 1949, o intelectual negro das artes
visuais realizou a feitoria de Filhos de Santo, obra escrita por José Morais de Pinheiro, com direção de
Abdias Nascimento. E Calígula, texto escrito pelo filósofo argelino Albert Camus, que por falta de recursos
não conseguiu ser exibida mais de uma vez, contou com a cenografia e arte figurinista de Santa Rosa,
sendo a direção de Abdias Nascimento.
Santa Rosa promoveu assertivas defesas a favor da consolidação do teatro para negros. No dia 25 de
agosto de 1946 no jornal Diário Trabalhista, é possível evidenciar em ?PROBLEMAS e aspirações do
negro brasileiro: o Teatro Experimental do Negro e a cultura do povo?, a denúncia sobre interrupções nos
ensaios do grupo, que ocorriam no teatro Fênix, do referido grupo.
Niuxa Dias Drago (2014), em A cenografia de Santa Rosa ? espaço e modernidade, apresenta sua
notoriedade em sua trajetória no Teatro que passa a influenciar o âmbito do teatro nacional, considerando
que ele foi um dos precursores da perspectiva modernista e da arte-social na atmosfera do teatro. O ofício
da arte cenográfica coincide com mudanças significativas ocorridas nesta área, considerando sua
condição de inovador da perspectiva moderna ? pode-se dizer que a grande modificação trazida por Santa
Rosa é propiciada por meio de novas funções para elementos como luz, arquitetura de palco e adereços.
Com isso, Santa Rosa ? ao empreender uma transformação da perspectiva (que passaria de dual para
tridimensional) ? acabaria se tornando responsável por transformar a arte cenográfica no teatro nacional
na primeira metade do século XX, fazendo com que esta deixasse de ser um simples elemento decorativo
e passasse a se impor como um conteúdo específico da arte teatral. Note-se que a primeira versão da
peça Vestido de Noiva (1943), de autoria de seu amigo e escritor Nelson Rodrigues e direção do imigrante
polonês (evadido dos conflitos da Segunda Guerra Mundial) Zbigniew Marian Ziembinski, é o marco que
divide a cenografia brasileira.
Figura 04 ? Cenário da peça Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues, 1943

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Fonte: BARSANTE, 1982.


A melodia da vida e o ritmo de pinceladas entrelaçadas em suas formas, linhas e cores, condensadas em
quadros, murais e capas de livros ilustram feitorias de um artista, mas também, o olhar de um homem em
seu tempo para a cenografia são vestígios de uma trajetória de vida, vivida pelo sujeito histórico Santa
Rosa.

Considerações Finais
Como visto, o espaço geracional de Santa Rosa foi analisado como possibilidade para compreender a sua
experiência em meio a repercussão do ideal moderno e as transformações/modernização dos dispositivos
essenciais para a vida na urbe (luz, água, transporte). A vida na Cidade da Parahyba, vivida por pouco
mais de duas décadas, levou Santa Rosa a elaborar suas impressões sobre o meio social, cultural, político
e arquitetônico que o rodeava.
A sua a vida familiar do pequeno ?Bosinho? não foi fácil. Afinal, a conjuntura epidêmica na infância
resultou na perda de três irmãos. Santa Rosa tornou-se o único filho homem de Alexina e Thomaz Santa
Rosa. As postulações ensejadas buscaram explicar a maneira pela qual o jovem Santa Rosa foi
beneficiário de uma boa formação educacional, e de como chegou a cargos no funcionalismo público da
cidade. Uma vez funcionário público do Tesouro Estadual, se beneficiou de uma rede de sociabilidade que
fora iniciada bem antes, com a escolha de seu padrinho, medida salutar a sua trajetória no âmbito do
trabalho.
Também buscamos compreender a trajetória de vida de Santa Rosa a partir de sua experiência vivida em
espaços de sociabilidade que circulou. Assim, procuramos apresentar os primeiros passos do artista
gráfico, professor, pintor e crítico, revelando expedientes de seu protagonismo enquanto um artista afro-
brasileiro multifacetado. No Teatro, o cenógrafo Santa Rosa difundiu referências ideológicas e
contribuições técnicas para a cenografia, a maneira com a qual utilizou elementos que projetam aspectos
em formas e conteúdo da cultura afro-brasileira e africana na feitura cênica do teatro nacional junto ao
Teatro Experimental do Negro.
Nosso intuito foi colaborar com os estudos afro-pedagógicos concernentes às trajetórias de vidas de
homens letrados no pós-abolição. A investigação histórica se alimenta de perguntas que são ensejadas a
cada novo olhar sobre o mesmo documento/testemunho, e estas vêm à luz a partir do tempo presente.
Alguns apontamentos chegam enquanto bússola que norteia novas navegações da pesquisa. O mar das
emancipações, do pós-abolição está propicio para longas e profundas navegações em que o fato histórico
da abolição da escravidão em 1888 é a égide para novas conexões do passado-presente.

Referências bibliográficas
AMADO, Jorge. Navegação de cabotagem: apontamentos para um livro de memórias que jamais
escreverei. São Paulo: Companhias das Letras, 1992.
ANJO. O Norte, Cidade da Parahyba, 16 out. 1908. p. 2. [terceira coluna]. Disponível em: http://memoria
.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=120774&pasta=ano%20190&pesq=anjo&pagfis=1064. Acesso em:
1º nov. 2022.
ARAÚJO, Edna Maria Nóbrega. Uma cidade, muitas tramas: a cidade da Parahyba e seus encontros com
a modernidade (1880-1920). 2001. Dissertação (Mestrado em História) ? Centro de Filosofia e Ciências
Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2001.
BARROS, Surya Aaronovich Pombo de. Vicente Gomes Jardim: um ?artista? e autor ?de cor? no final do

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século XIX e início do XX. Resgate: Revista Interdisciplinar de Cultura, Campinas, SP, v. 28, e020024, p.
1-34, 2020. DOI: 10.20396/resgate.v28i0.8658603. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs
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SANTA ROSA, [Tomás]. Sobre a arte da Ilustração - Suplemento Letras e Artes. A Manhã, Rio de Janeiro,

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Arquivo 1: 368.docx (11651 termos)
Arquivo 2: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa5506/santa-rosa (1564 termos)
Termos comuns: 83
Similaridade: 0,63%
O texto abaixo é o conteúdo do documento 368.docx (11651 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa5506/santa-rosa (1564 termos)

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ESCRITA ? DA ? HISTÓRIA
Uma experiência afro-brasileira no mundo das Artes: vida, pensamento e sociabilidade de Tomás Santa
Rosa (1909-1956)
Tomás Santa Rosa (1909-1956) uma experiência afro-brasileira no mundo das Artes...
Thiago Brandão da Silva
[1: Este artigo é originado da dissertação de mestrado ?Fragmentos de uma história de vida, o afro-
paraibano Tomás Santa Rosa Jr. (1909-1956): entre vivências, intelectualidades, ditos e feitos artísticos,
defendida em 2021, no Programa de Pós-Graduação em História.* Mestre em História pela Universidade
Federal da Paraíba. Professor da Educação básica. Membro/colaborador do Núcleo de Estudos Afro-
brasileiros e Indígenas (NEABI/UFPB).]
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com

Resumo
Trata-se de refletir sobre a vida do multifacetado artista negro modernista que atuou na construção cultural
e artística do país em diferentes âmbitos, Tomás Santa Rosa. A pesquisa se insere na gleba da escrita
sobre intelectualidades negras no pós-abolição. Metodologicamente, leva-se em consideração a dinâmica
social vista sob a égide da microanálise, o que amplia a compreensão dos caminhos, escolhas, decisões,
que formam o campo (ou uma sucessão) de sentidos que tangencia(m) uma trajetória de vida. Considera-
se o descortinar do cenário geracional de sua trajetória de vida enquanto possibilidade para compreender
suas dimensões sociais: a família, o emprego, amigos e estratégias de mobilidade social, além da feição
discursiva do ideal de moderno e das transformações metamórficas do espaço vivido e do debate
intelectual a partir da História Social da Cultura. Busca-se comtemplar a participação de um sujeito
histórico negro no mundo das artes enquanto referência e possibilidade de estudo para estudos afro-
pedagógicos e a agenda de historiadores/as sobre trajetórias e sociabilidades de homens e mulheres
negros no pós-abolição.

Palavras-chaves: Tomás Santa Rosa; Cidade da Parahyba; Sociabilidade; Pós-Abolição; Modernismo.

Abstract
It is about reflecting on the life of the multifaceted modernist black artist who acted in the cultural and
artistic construction of the country in different areas, Tomás Santa Rosa. The research is part of the field of

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writing about black intellectuals in the post-abolition period. Methodologically, the social dynamics seen
under the aegis of microanalysis are taken into account, which broadens the understanding of the paths,
choices, decisions, which form the field (or a succession) of meanings that touch (m) a life trajectory. It is
considered the unveiling of the generational scenario of his life trajectory as a possibility to understand its
social dimensions: family, employment, friends and social mobility strategies, in addition to the discursive
feature of the modern ideal and the metamorphic transformations of the lived space and of the intellectual
debate from the Social History of Culture. It seeks to contemplate the participation of a black historical
subject in the world of the arts as a reference and possibility of study for Afro-pedagogical studies and the
agenda of historians on trajectories and sociability of black men and women in the post-abolition period.

Keywords: Thomas Santa Rosa; City of Parahyba; Sociability; Post-Abolition; Modernism.

Numa tarde de domingo típica do verão carioca, em 16 de dezembro de 1956, algo acontecia nas
proximidades do Teatro Municipal do Rio de Janeiro - localizado na Avenida Rio Branco, antiga Avenida
Central. Quem naquela tarde trafegasse por aquela avenida veria um amontoado de pessoas nas
escadarias do monumental edifício e, tão logo, perceberia um cenário fúnebre. Ao se aproximar,
provavelmente, escutaria no diapasão de conversas íntimas frases cortadas do tipo: ?ele não gostava dos
papéis do banco?, ?era um pintor modernista?, ?ele foi pra Europa duas vezes?, ?estive com ele no Norte
?, ?detestava andar de bonde; sempre preferiu o táxi?; ou, ainda, algumas especulações acerca de sua
origem étnica ? ?um mulato?, ?nossa raça? etc... Enfim, peças do quebra-cabeça de uma investigação
histórica. É que os mortos geralmente deixam vestígios e os vivos lançam-se às memórias, ambos
elementos essenciais ao trabalho do historiador. Mas, como é realizada uma pesquisa sobre a vida de
alguém? Responderemos, de acordo com Vavy Pacheco Borges (2011), para quem o ?intermédio das
?vozes? [chega] do passado a partir de fragmentos de uma existência e dos registros das fontes
documentais? (BORGES, 2012, p. 2011. É desta feita que iremos esquadrinhar uma trajetória vivida, uma
existência vivida na alvorada republicana, no cenário pós-abolição da escravidão.
O objetivo da presente pesquisa é investigar fragmentos de uma trajetória de vida, vivida pelo
multifacetado artista paraibano Tomás Santa Rosa Jr, o ?Santa? ou simplesmente Santa Rosa. Nascido
em 20 de setembro de 1909, na Cidade da Parahyba, (atualmente nomeada João Pessoa), capital do
estado da Paraíba. Santa Rosa faleceu em; 26 de novembro de 1956. Na ocasião, estava ele ao leste da
Índia numa viagem oficial do governo brasileiro para a Conferência Geral da Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura ? evento promovido pela UNESCO, em Bombaim (Índia), no
qual, ele, Santa Rosa ocupava cadeira como representante do Diretório Nacional de Teatro. Quando
estava no Hotel no momento de descanso em Nova Délhi, cidade vizinha, e se preparava para seguir
viagem pela Europa, o destino pregou-lhe uma ?peça?.
Após sentir fortes dores abdominais (aos 47 anos de idade) foi encaminhado de ambulância ao Hospital
Wellington, percorreu alguns poucos quilômetros e ficou em observação. Já no outro dia recebeu visitas e,
quando tudo parecia ter sido apenas um susto, acabou surpreendendo os amigos/as durante a madrugada
, momento em que seu quadro clínico piorou e o levou a óbito ? provavelmente por um comprometimento
do sistema cardiovascular decorrente de complicações renais.
Até a chegada de seu corpo de lá (Índia) para cá (Brasil) são contabilizados dezoito melancólicos dias que
, em síntese, podem ser explicados por conta dos trâmites burocráticos e pelo fator cultural, uma vez que
no país de maioria hinduísta permeia a cremação dos restos mortais, e não dispunha de reserva e
logística do transporte de seus restos mortais para outros país. No aeroporto do Rio de Janeiro,

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aguardavam por ele suas irmãs Heliomar Santa Rosa e Crisantina Santa Rosa Iwata. Santa Rosa foi
casado no civil com Maria da Gloria Monteiro (1935), numa celebração simples no apartamento de seu
amigo e mentor (renomado das artes plásticas) Cândido Portinari. Em 1942 se casaria novamente, agora
no religioso, com Nely Guimarães. Porém, foi com Oscarina Amorim que teve seu único filho, Luiz Carlos,
que também o esperava junto às tias. Além disso, no aeroporto também aguardavam por ele o ex-senador
Ivo d?Aquino, o escritor Marques Rebelo e o teatrólogo Joracy Camargo (CHEGARAM... 1956, p. 01).
É importante apontar que no ano de seu falecimento foi possível averiguar dezenas de homenagens
escritas à guisa de lembranças em jornais da época. Estas são, para a presente pesquisa, caminhos para
uma melhor compreensão de sua rede sociabilidade, do microclima intelectual, político e cultural de seu
tempo, de seu vínculo afetivo, profissional com dezenas de outros criadores e mediadores da cultura que
formam ?[...] as elites culturais, mesmo quando entidades autônomas, em posição de extraterritorialidade
ligadas à sociedade que os rodeia e são precisamente esses laços, especialmente políticos, que lhes
conferem uma identidade? (SIRINELLI, 1998, p. 259).
Figura 01 ? Saída do cortejo fúnebre de Santa Rosa

Dito isto, a partir de uma série delas (re) conheceremos o homem do seu tempo, o intelectual das artes, o
artista, o funcionário público, o ?Santa?, o ?Santa Rosa?. Afinal, ainda a esse respeito, Ricoeur (2007)
ressalta que a lembrança inaugura um novo ângulo da representação histórica, ?(...) uma imagem
presente de uma coisa ausente? (...) (RICOEUR, 2007, p. 199) ? constituindo-se, dessa forma, como uma
maneira de entender o passado por meio das mensagens póstumas de sua rede de amigos.
Em reclames por conta de um encontro que não aconteceu, o escritor e jornalista brasileiro João Condé
rememora o momento de sua partida para a Índia ?(...) no dia de seu embarque, estive com ele [Santa
Rosa], Alcântara Silveira e Simeão Leal, no City Bank (...) todo eufórico, trocava cruzeiros por dólares. E
no abraço de despedida perguntou-me o que desejava que trouxesse? (CONDÉ, 1956, p. 12). As
lembranças, de maneira verossímil, ajudam a compor uma série de apontamentos, caminhos e
postulações acerca da trajetória de vida de Santa Rosa.
Desta feita, passaremos a refletir acerca da trajetória de vida do multifacetado artista modernista, Santa
Rosa. Assim, pretende-se compreender fragmentos de sua trajetória vivida no espaço-tempo de sua
ambiência geracional; identificar como formou e se beneficiou de uma rede de sociabilidade composta por
uma renomada plêiade de intelectuais e reconhecer seu protagonismo no cenário artístico-cultural de seu
tempo. Metodologicamente, considera-se a dinâmica social vista sob a égide da microanálise, ou seja, o
grau de singularidade quando aproximamos a lente que analisa os processos históricos.
Assim, a pesquisa adota a perspectiva teórica da história social cultura e arrola sob a égide teórica-
metodológica da política das elites culturais, da comunicação social das redes sociabilidade, da realização

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cultural de feitos artísticos (SIRINELLE, 1998; 2003). A trajetória de vida do multifacetado artista, Santa
Rosa, é por aqui compreendido levando em consideração as premissas, do geografo Milton Santos, em
que o espaço é o elo de junção, na medida em que liga-se os ?(...) fatores à genes, ao funcionamento e à
evolução do espaço (...)?, ou seja, ?o espaço pode ser definido de maneira tripartida: primeiro, como um
fator social (determina as condições sociais); segundo, como um fato social (produto e produtor); terceiro,
como uma instância social, pois é um ?(...) revelador que permite ser decifrado por aqueles mesmos a
quem revela (...)? (SANTOS, 2004, p. 163). Desta forma, a pesquisa se fundamenta a partir da tríade
objeto-tempo-espaço (REVEL 1998; BOURDIEU, 2006; SANTOS, 2004).
O corpus documental analisado é formado por uma série de escritos de amigos e de sua autoria
publicados em jornais, revistas e suplementos literários, especialmente, acessados a partir da Hemeroteca
Digital da Biblioteca Nacional (BNDigital). Conforme defende Luca (2011), a partir da utilização do jornal é
possível captar a nova vida citadina do século XX. Afinal, são os periódicos que registram as modificações
da urbanização, modernização dos espaços, e se encaixam no mesmo fluxo de outros dispositivos que
surgem na modernidade.
Nesse sentido, comunicaremos a pesquisa seguindo o seguinte enredo. No primeiro momento trataremos
interpretar Santa Rosa a partir de recordações de seus amigos (as) que compuseram sua rede de
sociabilidade. Em um segundo momento, iremos compreender sua trajetória em seu cenário geracional,
assim, leva-se em consideração: família, espaço e sociabilidades de Santa Rosa. No terceiro e último
momento vamos apresentar parte da experiência do artista multifacetado.
Aos vivos: (re) apresentação de Santa Rosa

Para Paul Ricouer (2007, p. 199) as lembranças encontradas em mensagens-póstumas (ou seja,
homenagens escritas após o falecimento do indivíduo encontrada no formato de crônicas) evocam um
presente ou uma presença, ?[...] buscam na operação de recordar que se conclui com a experiência do
reconhecimento, [pois] a lembrança é representação, re(a)presentação?. Em vista disso, iremos
apresentar a maneira com a qual Santa Rosa é (re) apresentado por alguns amigos que compõem sua
rede de sociabilidade. Não sem antes advertir a (a) leitor (a) sobre as idiossincrasias da atmosfera política
da década de 1930 em que havia um embate político ferrenho entre movimentos comunistas, fascistas e,
também que falavam da temática do negro. E isso de uma maneira que aumentava substancialmente as
disputas ideológicas que o governo varguista conduziu com destreza política.
[2: Santa Rosa fez parte de uma plêiade de intelectuais que estava a serviço do governo varguista, sob a
liderança do ministro Capanema. A esse respeito, Miceli (2001, p. 195) evidencia a maneira pela qual o
período correspondente ao mandato de Capanema (1934-1945) foi marcado pela cooptação dos
intelectuais, seja ?(...) como funcionários em tempo parcial, seja para desempenho de cargos de confiança
junto ao estado-maior do estamento, seja para preencherem os lugares que se abriam por forças das
novas carreiras que a extensão da ingerência passou a exigir, seja enfim acoplando inúmeras dessas
posições e auferindo rendimentos dobrados.?. Por outro lado, Fábio S. Cardoso (2019), biógrafo do
ministro Gustavo Capanema, endossado pela atuação de Graciliano Ramos e Carlos Drummond de
Andrade (dois declarados comunistas) no ministério, sugere (numa recente publicação) que havia, sim,
flexibilidade ideológica na ?constelação Capanema".]
No tempo de Santa Rosa, contendas ideológicas se fizeram presente. Houve pelo menos um fato em que
Santa Rosa se envolveu diretamente. Trata-se de sua prisão na época em que trabalhava numa editora.
Quem narra o ocorrido é o escritor José Lins do Rego que diz:
Vi-o um dia sair preso da Livraria José Olímpio, num sábado de carnaval, que era a sua festa preferida. Vi-

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o no meio dos esbirros num carro de Polícia. Lembro-me de seu olhar triste, a única vez que aquela
fisionomia prazenteira se fechava em angústia. Eram as saudades do carnaval perdido. Santa não
demorou entre as grades. José Olímpio bateu em todas as portas para libertá-lo. (REGO, 1956, p. 4).
É bem verdade que não sabemos os reais argumentos que levaram à prisão de Santa Rosa, embora
postule-se sua ligação, assim como a de outros intelectuais, com clubes, agremiações artísticas ligadas à
Aliança Nacional - célula maior da arquitetura do projeto comunista. Santa Rosa foi cofundador do Clube
de Cultura Moderna, fundado no dia 28 de novembro de 1934. Sua presença e a de outros artistas
modernos, como o amigo Aníbal Machado, evidenciava, portanto, a postura política dos artistas.
Na ambiência intelectual de seu tempo participava da rede de sociabilidade pessoal de Santa Rosa
artistas e escritores que já detinham prestígio, a exemplo, do escritor baiano Jorge Amado. Em seu livro
autobiográfico, Amado comenta sobre uma viagem a São Paulo ao encontro do artista modernista, pintor e
cenógrafo Flávio Carvalho (1899-1973) na companhia de Santa Rosa em 1933 em que é possível
evidenciar o microclima intelectual do momento, diz Amado (1992):
Eu o conheci quando fui a São Paulo pela primeira vez, em 1933, em companhia de Santa Rosa.
Hospedando-nos em casa de Tarsila do Amaral* e Osório César, na ocasião marido e mulher ? haviam
recém-chegado de Moscou, ir à URSS naquele então era aventura cercada de dificuldades, viagem de
espantos ? realizavam uma exposição de cartazes soviéticos, insólitos e românticos, no Clube de Artistas
Modernos, organismo criado e dirigido por Flávio de Carvalho, na época o centro de cultura mais sério do
Brasil, o que colocava a proposta mais avançada. Ali pronunciei conferência sobre as crianças nas
plantações de cacau, autografei o livro ilustrado por Santa Rosa, assisti ao Bailado do Deus morto, de
Flávio, que espetáculo!, logo proibido pela polícia política. A censura não dava tréguas ao CAM (...).
(AMADO, 1992, p. 202).
Santa Rosa participou junto com outros intelectuais de seu tempo, como Aníbal Machado, Jorge Amado,
José Lins do Rego entre outros, do CAM - Clube de Arte Moderna. Entre outras atribuições, destaca-se
sua coordenação da comissão da exposição para escolha do melhor tema sobre Palmares a partir do
ponto de vista do modernismo, em 1935 . Também fez parte da direção da Revista Movimento, que
ancorava reportagens e editoriais feitos pelos integrantes do CAM.
O Clube passou a aderir oficialmente, em setembro de 1935, a Aliança Nacional Libertadora (ANL) uma
organização de âmbito nacional que promovia ideias comunistas para combater a difusão do pensamento
fascista disseminado pela Ação Integralista Brasileira (AIB). Naquela década, de modo geral, havia um
estreito corredor de escolhas para partidários e intelectuais, prevalecendo ambos os movimentos. Neste
cenário, em que ?(...) fundiram-se a libertação do academismo, dos recalques históricos, do oficialismo
literário; as tendências de educação política e reforma social; o ardor de conhecer o país" (MELO E
SOUSA, 2000, p. 114) as capilaridades ideológicas do âmbito artístico sofreram efetivas mudanças.
Na adesão à ANL falou-se sobre a importância da Cultura para o povo, para as massas, para os
trabalhadores do país. Um momento de pulsante denúncia contra os integralistas e os regimes de
opressão (Nazismo e Facismo) e aclamação para união em prol de um programa de Cultural modernista
(uma contraposição a erudição exclusiva do academicismo) para o povo. Subiram ao palanque para
discutir acerca do tema ?Cultura e Liberdade?: Edgard Sussekind de Mendonça, Febus Gikovate Miguel
Costa Filho, Luiz Werneck de Castro, Carneiro Ayrosa, José Lins do Rego. Demetrio Hamam, Jorge
Amado, Annibal Machado, Cordeiro de Melo.
(...) todos pronunciando-se contra os regimes de força, contra o Facismo, contra o integralismo, em prol da
mais completa liberdade (...) O Sr. Febus aludiu ao programa da Aliança Nacional Libertadora, mostrando
que em face do pronunciamento da assembleia que aplaudiram os oradores e sendo aquele movimento de

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frente única o único que no momento pode libertar o Brasil, submetia a debate e votação dos presentes e
decisão do Clube de Arte Moder de aderir à Aliança Nacional Libertadora. Uma salva de palmas saudou as
últimas palavras, ficando assim aprovada unanimemente aquela decisão do Club. Em seguida, a
comissão do Club de Cultura, acompanhado de grande número de sócios, dirigiu-se à sede da ANL. Esta,
reunida em sessão, sob a presidência do comandante Cascardo ouviu a decisão, e em nome do diretório
da ANL falou sr. Amoretty Osório que agradeceu a atitude do Club de Cultura Moderna. (O QUE...1935, p.
5).
Já nas lembranças do amigo Sérgio Porto, jornalista do Diário Carioca ficou registrado o cenário de
criação do personagem cabotino Stanislaw Ponte Preta. Sobre isso, Porto conta que Santa Rosa junto
com ele idealizou o personagem. A esse detalhe vale salientar que interessou a Santa Rosa o espaço de
charges em jornais. Diariamente, representações artísticas da atmosfera política se projetam por meio de
formas extravagantes nos jornais. Conforme diz Santa Rosa, a ?[...] [política], com os seus artifícios e as
suas peras perversões, tem-lhe fornecido um material copioso, em que se tem exercitado a irônica e
sarcástica verve dos artistas [...]? (SANTA ROSA, 1947, p. 12). Porto também foi quem buscou explicar a
desapropriada pontualidade que o amigo costumeiramente exercitava. Ficou conhecido no meio
profissional por entregar encomendas fora do prazo. Para ele, a culpa de procrastinar as encomendas
advinha de sua impulsividade em querer conferir as novidades do mundo da arte, pois costumeiramente
deixava
(...) de fazer um quadro para ir comprar o último disco de Armstrong, ou para ver o desfile de uma escola
de samba. Deixava pelo meio da tela para ir assistir uma peça mambembe, onde um intérprete
coadjuvante surgia como esperança de bom ator. Perdia horas numa livraria folheando livros de arte (...).
(PONTE PRETA, 1956, p. 11).
A trajetória de vida do sujeito histórico negro, letrado, migrante, que participou ativamente da produção
cultural do país, especialmente, entre as décadas de 1930-1950, evidencia um cenário político, cultural e
artístico, um capítulo da história republicana no período do pós-abolição. Desta feita, essa pesquisa
acompanha uma série de estudos historiográficos do pós-abolição em que homens e mulheres negros-(as
) letrados-(as) são evidenciados atuando como protagonistas em instituições, espaços de sociabilidade e
poder; desempenhando variados ofícios, sobretudo no primeiro quinquênio do século XX.
A produção de estudos da população negra relacionados ao período posterior à abolição da escravidão se
diversifica e; o que outrora eram lacunas se tornam caminhos a serem percorridos, a exemplo da utilização
de fontes primárias tais como: registros de batismo; certidões de casamento, de óbito; uso da genealogia;
jornais; literatura; entrevistas orais com remanescentes quilombolas; acervos pessoais e privados
(MATTOS; RIOS, 2004). Ou seja, a pesquisa histórica que se ocupa em compreender a dinâmica das
trajetórias de vida de homens e mulheres negros (as) no pós-abolição ampliou a dimensão espaço-tempo
e, com isso, acabou, através de novas perguntas descortinando as ?(...) conexões transnacionais da
história intelectual e da história das ideias que sempre estiveram relacionadas com as perspectivas ligadas
ao pós-emancipação e os debates sobre racismo, direitos humanos e cidadania? (DOMINGUES; GOMES
, 2011, p. 10).
Em Experiências da emancipação: biografias, instituições e movimentos sociais no pós-abolição (1890-
1980), Domingues e Gomes (2011) evidenciam uma gama de trabalhos que discorrem sobre o período do
pós-abolição, a partir de pesquisas sobre associações, convenções, congressos e instituições políticas,
militares negros, além do debate historiográfico sobre as trajetórias negras. Vale salientar, experiências no
âmbito da arte, a exemplo, do ator pernambucano, pintor e poeta Solano Trindade (1908-1974) e sobre o
escritor e abolicionista baiano Manuel Quirino (1851-1923). No que concerne às mulheres negras também

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foram representadas, destaca-se a trajetória da professora e deputada catarinense Antonieta de Barros


(1901-1952). Já em Quase Cidadão: histórias e antropologias da pós-abolição no Brasil (2007), de modo
geral, objetivo foi compreender ?[como], onde, em que condições homens e mulheres de cor dela
[múltiplas liberdades] usufruíram, transformaram-na em objeto de interpretação, contendas, ou mesmo
rejeitaram os significados a ela atribuídos pelo discurso jurídico? (CUNHA; GOMES, 2007, p. 14). Uma
leitura possível no debate historiográfico é sobre a cidadania da população negra no pós-abolição.
Ao analisarmos trajetórias negras no espaço-tempo em que esteve inserido Santa Rosa, ou seja, início do
século XX, na Cidade da Parahyba, podemos acompanhar pesquisas recentes que colaboram com o
entendimento do pós-abolição. Assim, a historicidade quanto aos afro-paraibanos no pós-abolição tem
sido tema de publicações que norteiam a presença de homens negros letrados na região setentrional do
país, especialmente. As recentes pesquisas que ampliam o olhar sobre experiências negras no pós-
abolição na Paraíba têm sido realizadas pelos pesquisadores Elio Flores (2015), Solange Rocha (2015),
Petrônio Domingues (2017) e Surya Barros (2020).
Nesse sentido, seguindo sob a esteira de pesquisas acerca de pessoas negras inscrevemos a presente
pesquisa na historiografia recente que tem evidenciado, figuras desse segmento populacional, com
atuação ativa na Primeira República ? período de reordenamento social, de reconfigurações das
hierarquias raciais e de disputas dos projetos de nação ?, também se destacaram na cena política e
cultural. Como exemplo, os baianos Manuel Querino e Alfredo Casemiro da Rocha; o maranhense,
Hemetério dos Santos; o pernambucano Monteiro Lopes; o gaúcho Aurélio Veríssimo de Bittencourt; o
mineiro Benjamim de Oliveira; os cariocas Evaristo de Moraes, Eduardo das Neves e Lima Barreto; entre
outros que debateram e disputaram os diferentes projetos de política, cultura e identidade nacional, e
foram reconhecidos em vida, mas aos poucos caíram na galeria do preterimento, do ostracismo, da
subestimação ou simplesmente jazem nos desvãos da memória após a morte (DOMINGUES; ROCHA;
FLORES, 2019, p. 145-146).
A cada passo dado novas questões chegam à lume e o olhar para a interpretação da ?nova abolição?
inverte o sentido do problema; ou seja, o fato histórico do fim da instituição escravista é, por conseguinte, o
fomento para o início de uma gama de problematizações que colaboram com a nitidez do que há de ser
visto por Clio. Em Vicente Gomes Jardim: um ?artista e autor ?de cor no final do século XIX e início do XX
, Surya Barros (2020) reflete, a partir da égide da história social da escravidão, a trajetória de um homem
negro livre, no período da transição do Império e a República. Em que se buscou a experiência de vida de
Vicente Jardim enquanto liderança da Sociedade de Artistas Mechanicos e Liberaes da Parahyba e
membro da Irmandade dos pardos.
Assim, o propósito, evidentemente, é acentuar o avanço face às limitações constituídas pelo silenciamento
de Clio sobre a participação protagonista da ?gente negra? na história do Brasil após a abolição de 1888.
Tal enfoque tem contribuído para ampliar a compreensão da historicidade do pós-abolição.
Portanto, compreender a trajetória de vida do sujeito histórico negro, Santa Rosa é também perceber as
tessituras sociocultural e políticas de seu tempo. Assim, comunico ao leitor (a) que passaremos a percebê-
lo em seu espaço geracional cujo objetivo é ter a possibilidade de entender suas ambições, decisões,
frustrações e objetivos. Além de, por outro lado, explicar a influência de sua rede de sociabilidade para
compreender fragmentos de uma história de vida em suas dimensões sociais: a família, o emprego,
amigos e estratégias de mobilidade social. Desta feita, caro leitor, passaremos a compreender o tempo de
Santa Rosa em sua cidade natalícia.As transformações que metamorfoseiam o cenário geracional de
Santa Rosa são elementos imprescindíveis para compreendermos fragmentos de sua história de vida,
vivida em meio a conjuntura de modernização do espaço da Cidade da Parahyba no pós-abolição. O olhar

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em seu presente-passado corrobora enquanto ?testemunha ocular? Burke (2004), das ?rugosidades?
Santos (1998) do espaço da cidade da Parahyba (1920-1930) acarretadas pela modernização de
dispositivos estruturais do serviço público.
[3: Assim também, é partindo do pressuposto de que, conforme aponta Milton Santos (2004, p. 146),
entendemos o espaço seja como ?um produto histórico?, consideram-se os fragmentos de uma trajetória
vivida em terras paraibanas. como elo de junção, na medida em que liga-se os ?(...) fatores à genes, ao
funcionamento e à evolução do espaço (...)?. ]

A Cidade da Parahyba no tempo de Tomás Santa Rosa Jr. (1909-1932): família, espaço e sociabilidade
A casa em que Maria Alexina Santa Rosa (mãe de Santa Rosa) residiria com seu filho Santa Rosa até
1932, era nas proximidades à comunidade católica da qual era assídua frequentadora ? a Igreja Matriz de
Nossa Senhora das Neves, a catedral da cidade. Seu pai, Tomás Mauricio Santa Rosa, artista, alfaiate de
profissão, por sua vez, manipulava a arte de ?vestir? pessoas ? em parte, assemelhando-se ao filho, que
?vestia? livros, sobretudo aquelas que detinham cabedal suficiente para adquirir um traje ?da moda?,
comumente utilizado para situações da vida social na cidade, como missas, bailes, casamentos, batizados
e cerimônias. Conforme Waldeci Chagas:
Os rapazolas se contentavam com as peças de brim em várias tonalidades. Do contrário, a casimira era
bem encomendada pelos alfaiates. As alfaiatarias e camisarias sempre estavam abarrotadas de
encomendas, principalmente se estavam próximas as festas da padroeira, Nossa Senhora das Neves, do
Natal e do Ano bom. Nessas épocas, era comum o rapaz encomendar o corte e costura de um novo
conjunto composto de paletó colete e calça (CHAGAS, 2004, p. 121).

No tempo de Santa Rosa, a moda é matéria prima para que personagens importantes do microclima
intelectual da década de 1920, na Cidade da Parahyba escrevessem a seu respeito, a exemplo do
historiador Horácio de Almeida quem, por seu turno, contesta, em tom de denúncia, a chegada da nova
(do moderno) maneira de ?vestir-se? ? para ele, a moda da/na década de 1920, quando posta na balança
da moralidade, seria um ônus negativo. Acusada, a moda passou a ser evocada como má influência para
toda uma geração (tanto para homens quanto para mulheres). Julgada por Almeida, a moda passou a
ocupar as linhas da Revista Era Nova, ao escrever o artigo O poder da moda, em 1921, por onde destila:
[4: [...] uma revista quinzenal ilustrada na década de 1920, produzida na Paraíba. A princípio foi fundada
na cidade de Bananeira/PB e logo depois seu núcleo foi transferido para capital da Parahyba do Norte. Se
manteve circulando de 1921 a 1926, quando, dela, se tem notícia pela última vez. Seu primeiro nº, do ano
I, data de 27 de março de 1921, sendo oficialmente apresentada por seu diretor Severino de Lucena e seu
redator-chefe Guimarães Sobrinho, com a proposta de inaugurar uma nova era nos círculos literários e
intelectuais paraibanos. (RODRIGUES, 2013, p. 3).]

[moçoilas] catilas e espevitadas desaforam-se de corpinhos e sobem vestidos e descem os decotes para
os pitaratas galanteadores analysem em seus contornos a perfeição artística de suas joias. Insatisfeitas
com a liberdade que gozam, disputam o direito de voto e com este o direito de representação (...)
Galopeamos nesta marcha para o aniquilamento moral de nossa raça, para a efeminação do caráter
másculo de nossa juventude, para o ignominioso e abdiminavel hermafroditismo social. E chama isso de
evolução! (ERA NOVA, 1921, p. 15)

O registro presente na documentação da Arquidiocese da Paraíba evidencia que o casamento do casal

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Santa Rosa foi em julho de 1906. Ao analisar o referido documento, é possível verificar/comprovar
algumas informações pertinentes à origem de Santa Rosa. Com 19 anos de idade, Thomaz Mauricio Santa
Rosa oficializa (no civil) seu casamento com Maria Alexina das Neves Pereira, que, aos 22 anos, era um
pouco mais velha e já contava com a maioridade jurídica. Também é possível averiguar nesse registro a
ramificação de parentesco de suas avós, sendo elas, respectivamente: Maria Marcionilla Martinho e
Felismina Batista Freire. Assim,
(...) aos trinta dias do mês de Julho de mil novecentos e seis, décimo sétimo ano festivo da proclamação
da República dos Estados Unidos do Brasil, nesta cidade da Parahyba do Norte, capital do Estado do
mesmo nome (...) Thomaz Mauricio Santa Rosa e Dona Maria Alexina das Neves Pereira que neste ato
queiram casar-se. Thomaz Mauricio Santa Rosa, solteiro, com dezenove anos de idade, natural e
residente nesta capital, filho natural de Maria Marcionilla Martinho, residente nesta cidade. Dona Maria
Alexina das Neves Pereira, solteira, com vinte e dois anos de idade, também natural e residente nesta
capital, filha ilegítima de D. Felismina Batista Freire (...).
[5: TESTAMENTO de casamento dos pais de Santa Rosa. Disponível em: https://www.familysearch.org
/ark:/61903/3:1:S3HY-61X9-. Acesso em: 25 fev. 2023.]
Tomas Santa Rosa morador da Rua do Barão de Passagem (atual Rua da Areia), nº 320, testemunhou a
implementação de dispositivos estruturais, tais como iluminação, água encanada e esgotamento.
Enquanto morador da cidade baixa, Santa Rosa foi testemunha ocular das edificações que ganhavam,
naquele momento, construções de sobrados de dois andares, feituras quase exclusivamente da área
comercial da cidade no centro da cidade. Assim, essa nova elaboração de estrutura da cidade criava um
aglomerado que com o tempo foi se transformando na urbe paraibana, dividido entre as regiões ?alta? e
?baixa? ?[...] onde o comerciante podia juntar o armazém, a família, e os caixeiros, respectivamente, no
andar térreo primeiro e segundo andares (...)? (BATISTA, 1951, p. 17). Em suma, como assinala Wylnna
Vidal
(...) da primeira metade dos anos 1910, quando foram implantados os primeiros serviços urbanos
modernos (abastecimento d'água, energia elétrica e bondes), até 1940, podemos observar o trinômio
[embelezar, sanear e circular] presente no discurso do poder público justiçando as ações; presente nas
reivindicações de melhoria e embelezamento urbano da elite local; presente no discurso favorável às
transformações e presente também no discurso que se mostraram às mudanças (VIDAL, 2004, p. 45)
As ruas do centro da cidade funcionavam como artérias de chegada do moderno. Eram consideradas
como uma espécie de ?termômetro? social e econômico do início do século XX. Em especial a Maciel
Pinheiro que, nesse contexto, se tornava uma das principais esteiras do comércio da Paraíba, na qual as
transformações culturais ?pintavam? as vitrines com suas cores e tessituras, e por onde certamente
Tomaz Maurício Santa Rosa trabalhava e construía apreço social gerado por sua vida profissional, cuja
função em confeccionar o vestuário de membros da elite paraibana o levaria a costurar certa rede de
sociabilidade.
A ambiência em que residia a família Santa Rosa era de extrema importância comercial, pois recebia de
cidades do interior como Itabaiana e Campina Grande carregamentos de uma mercadoria que nutriu a
opulência de parte dos produtores paraibanos: o algodão ? um gênero de grande relevância para a
economia paraibana e principal produto da década de 1920. De certo modo, o acúmulo de capital de
alguns comerciantes advindos do interior para morar na zona urbana da capital, e que logo iriam construir
suas residências na parte da ?cidade alta?, mantendo seus comércios na parte baixa da foi o apogeu do
algodão no final do século XIX, devido ao cenário do mercado internacional. Com efeito, trata-se de um
elemento preponderante para a modernização da cidade, uma vez que, como aponta Galliza (1993, p. 45),

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durante o período compreendido entre 1900 e 1929 o algodão e a pecuária foram não apenas
fundamentais, mas principais produtos da economia paraibana. Tal evidência reverberava nas mudanças
administrativas da cidade.
A iniciativa do poder público em modernizar a cidade gerou mudanças não apenas em seus edifícios, mas
também no campo administrativo, uma vez que o aparato burocrático paraibano teve que ser ampliado.
Vale lembrar que, apenas em 1916, é que a Paraíba inaugurava seu primeiro banco (uma filial do Banco
do Brasil no estado), ? então, o capital mercantil do estado era majoritariamente manipulado por
empresários estrangeiros. Assim, atividades aduaneiras de exportação algodoeira essenciais à economia
local ficavam sob a égide de firmas estrangeiras, a exemplo da francesa Cahan Fréres & Cia (fundada em
1864), que, contando com filiais em Guarabira e Mamanguape, monopolizava o comércio externo da
Paraíba (GALLIZA, 1993).
Entretanto, as modificações advindas do profícuo momento econômico em que passava o espaço natalício
de Santa Rosa não impediu o avanço das mazelas advindas da falta de saneamento básico. A
precariedade do saneamento básico, certamente, colaborou com o triste capítulo na história da família da
Santa Rosa, que passaremos a comunicar.
Além de superar a morte de três filhos homens, a família Santa Rosa passou por outras dificuldades,
sobretudo Maria Alexina (mãe), uma vez que ela teve que prosseguir com a criação do único filho homem
sobrevivente (Santa Rosa) e suas duas irmãs, sozinha, já que seu pai, Tomaz Mauricio ?(...) abandonara a
família para tentar a sorte ao centro-norte do país, só retornando para revê-los nos últimos anos de sua
vida (...)?, falecendo em 1953, três anos antes do filho (BARSANTE, 1982, p. 7). Possivelmente, a
?aventura? iniciada pelo senhor Tomaz, teve um aspecto potencializador ? à época, o sonho de muitos era
saborear um promissor enriquecimento através da extração da borracha. Desse modo, muitos nordestinos
partiram para as trilhas das florestas, se inserindo na produção da borracha.
[6: A esse respeito, Caio Prado Jr. (2004, p. 199) observa: ?(...) a borracha, que graças aos automóveis e
seus pneumáticos estará destinada a um futuro magnífico, e que na nativa do vale amazônico daria
momentaneamente ao Brasil o monopólio de uma mercadoria de grande consumo internacional?.
Entretanto, o surto do ciclo da borracha acabaria se encerrando, à medida que produtores dos países da
Ásia menor passaram a cultivar seringueiras, agradando com preços baixos os principais compradores (os
estadunidenses). O final do primeiro surto da borracha foi em meados de 1920, chegando ao seu declínio
, de fato, já na década de 1950, por conta dos derivados do petróleo.]
O triste capítulo na história da família de Santa Rosa foi agravado pela precariedade do saneamento
básico, o que atuou nos consecutivos falecimentos de seus três irmãos. A partir da imprensa local,
inclusive, é possível perceber na atmosfera epidêmica, a tônica conjuntural de preocupações com
enfermidades, ? no tempo do nascimento dos irmãos de Santa Rosa (1907-1908) manifestavam-se, tanto
pelo ?bater dos sinos? das igrejas (que anunciam mais momentos fúnebres), quanto pelos informes da
imprensa local, que a descreve da seguinte maneira: ?(...) já temos diante de nós a triste perspectiva de
um quadro semelhante às 56 dos anos de 1905 a 1907, quando a Parahyba foi dolorosamente flagelada
por essas pestes (...)? (COLUNA..., 1913, p. 1). O fato é que, sem um serviço de distribuição de água
encanada, a cidade pouco se apresentava enquanto um espaço moderno. Conforma Araújo (2001) e
Chagas (2004) havia um volumoso debate político acerca da qualidade da água, médicos e engenheiros
travavam um embate cientifico para sanar a proliferação de doenças. Porém, a mobilização discursiva não
efetivava as condições insalubres. Vale salientar que apenas em 1914 a cidade natalícia de Santa Rosa
será contemplada com serviço de água encanada e que o abastecimento era realizado pelos aguadeiros.
Em 16 de outubro de 1908, um ano após casal Santa Rosa formaliza matrimônio, é evidenciada a morte

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do que seria primeiro irmão de Santa Rosa ?(...) Anjo ? finou-se antehontem, o pequeno Moacyr Santa
Rosa, filho do senhor Thomaz Mauricio Santa Rosa. Seu enterro effectuou-se hontem pelas 4 horas.
Pêsames aos seus desolados genitores (...)? (ANJO, 1908, p. 2). Ou seja, ao que se indica, um dos
primogênitos faleceu de forma prematura, sem chegar a completar dois anos de idade em vida. É na
ambiência dos problemas sanitários que nasce outro irmão de Santa Rosa, Pelópidas, registrado no dia 28
de junho de 1908 também falecendo de forma prematura. Conformidade com Barsante (1982, p. 7),
nenhum de seus falecidos irmãos alcançou (em vida) a infância.
[7: CERTIDÃO de óbito. Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-X38SJHH?i
=64&cc=2015754. Acesso em: 30 set. 2022.]
A questão da distribuição de água na cidade é um capítulo digno de novela livresca. As polêmicas acerca
da qualidade da água causaram estardalhaço no nicho político paraibano: farpas entre correligionários
locais, com os aliados protagonizando o conflito, cuja saída foi convidar especialistas externos para pôr fim
nas querelas. Por esse nasceu em 29 de setembro de 1909, Santa Rosa, o único filho homem de Maria
Alexina e Thomaz Mauricio a sobreviver ao nefasto ambiente. Consta na documentação da Arquidiocese
da Paraíba o seguinte registro:
Aos vinte e sete de março de mil novecentos e dez na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Neves de
minha licença, Reverendo Padre Mathias Freire batizou solenemente a Thomaz, nascido aos vinte de
setembro do ano próximo passado [1909], Tomaz Santa Rosa; filho de Thomaz Mauricio de Santa Roza e
Dona Maria Alexina de Santa Roza (sic!). Foram seus padrinhos Thomaz Ferreira Soares e sua mulher
Dona Amélia Ferreira Soares. E para constar mandei lavrar o presente termo que assino.
[8: Fonte: Arquivo Eclesiástico ? Arquidiocese da Paraíba ? Livro 13, nº 1876-1878.]
Os primeiros passos de sua vida escolar foram dados na Quinta Cadeira Mista da Paraíba; posteriormente
, buscou admissão no Grupo Escolar Tomás Mindelo, por meio do qual ingressou no conceituado Lyceu
Paraibano onde estudou até 1927. Este ficava próximo à Escola Normal, instituição responsável pela
formação das moças paraibanas. Santa Rosa fez aulas de piano com a professora Alice Pereira quando
ainda era garoto. Todavia, é sabido que a sua dedicação autodidata o levou a aprender outro idioma, o
mais exigido em seu tempo, o francês. Sua formação cultural e a aproximação de sua mãe da Paróquia
local foram decisivas para que ele participasse de aulas de canto, atividades realizadas na Igreja Matriz de
Nossa Senhora das Neves, da qual, decerto, sua mãe fazia parte.
Na igreja constatou-se uma potencial habilidade vocal, e ele passou a participar do Te Deum dos alunos
do Sacro-colégio do Arcebispado. O garoto, Santa Rosa, ainda arranjava tempo para apreciar as aulas do
seu professor de música Grazzi Galvão de Sá (natural da Cidade da Parahyba). Vale salientar que Santa
almejou se torna um músico profissional. Apostando em sua qualidade musical de barítono, naquele
período seguiu buscando participar de concursos de novos talentos, até que, certa feita, um conhecido,
Murilo de Carvalho (que era profissional de canto), o orienta a deixar a ideia de lado (BARSANTE, 1982).
Anos depois, sua carreira profissional se inicia no funcionalismo público imerso no setor de contabilidade
da administração local.
Sua trajetória na carreira do funcionalismo público se deu em meio a consolidação do regime republicano.
Era o tempo do segundo mandato do governado Solon Barbosa de Lucena (1920-1924) quando Santa
Rosa recebeu o convite que iria influenciar os rumos da vida do garoto de apenas 14 anos de idade. Na
ocasião, o convite foi feito pelo então engenheiro-chefe da Secção de Saneamento do Estado da Paraíba,
Lourenço Baeta Neves, em conjunto com o secretário-geral de Estado Álvaro de Carvalho (BARSANTE,
1982, p. 9). Logo, a partir de 1923 Santa Rosa passaria a trabalhar no setor da contabilidade oficial do
governo ? naquele ano o prédio do Palácio do Governo funcionava nas proximidades de sua casa. Desse

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modo, a citada contratação para o setor de contabilidade do Tesouro Estadual da Parahyba do Norte foi
realizada por indicação de homens da política local.
Figura 02 ? Tomás Santa Rosa aos 18 anos de idade

Fonte: BARSANTE, 1982.

Cabe ressaltar que o início de sua vida no funcionalismo público é de suma importância, pois por meio
desse vetor de compreensão de sua trajetória de vida é possível, também, descortinar sua rede de amigos
. É esse um assunto que requer atenção, afinal Santa Rosa não teve em sua origem uma opulência de
berço, como outros de seu convívio, mas logrou êxito quanto a apropriação de capital cultural e social.
A mencionada rede (e as relações de proximidade dela decorrentes) pode ter granjeado certo capital
social ao Sr. Tomaz, afinal homens da elite e da classe média paraibana recorriam ao comércio de
vestimentas para adquirir trajes apropriados para os oportunos momentos de socialização (casamentos,
bailes) pautados pela agenda de celebrações. Desta feita, agraciado por uma oferta de emprego, no setor
de contabilidade do Tesouro Estadual. Essa oferta pode ser especulada a partir da influência de seu
padrinho, Thomaz Ferreira Soares. Membro de uma tradicional família da cidade (os ?Ferreira Soares?),
casado com a Sra. Amélia Soares (carinhosamente chamada por parentes e pessoas próximas como Mãe
Lindoca), com quem teve um filho chamado Acácio (Sula), era funcionário/tesoureiro de carreira em um
banco, na Cidade da Parahyba.
Há ainda outra possibilidade que advém de sua rede (direta e indireta) de amigos ter proporcionado um
caminho confortável para a inserção em seu primeiro emprego, e por conseguinte mobilidade social.
Nesse sentido, há uma memória do tempo em que Santa Rosa trabalhou no Tesouro Estadual, produzida
pelo jornalista Luiz Pinto, com quem Santa Rosa não tinha amizade, mas mantinha relações de
proximidade pelo fato de trabalharem na mesma repartição pública, que ajudaria a endossar essa
suposição. De fato, o jovem Santa Rosa contou com uma importante rede de amigos no âmbito social que
correspondia à sua função no setor de contabilidade. Sendo assim, ao relembrar em tom nostálgico de sua
experiência no tempo em que Santa Rosa era morador e funcionário público, Pinto o descreve como
alguém de distinção, sobretudo por sua relação de amizade com membros da elite paraibana nos anos
1920 (a exemplo de Aloísio França e Luís França, os ?meninos do Tesouro?).
Conheci-o, já se vai muitos anos! Éramos tão jovens... O mundo uma incógnita, um poço de ilusões, um
marco de esperança. Seu apelido na época era Bonzinho. Íntimo de Aloísio França, de Luís França, os
meninos do Tesouro do Estado. Na vida da Paraíba trabalhamos todos no tesouro do Estado na minha
velha província, entre os paredões lendários do velho Convento de S. Bento, onde funcionava aquela
repartição estadual. (PINTO, 1956, p. 3).
Para uma melhor compreensão do Santa Rosa funcionário público do Tesouro Estadual, contudo, faz-se
necessário acionar um outro personagem. Em se tratando de sua rede de sociabilidade, outro possível

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apoiador de sua trajetória profissional, Ademar Victor de Menezes Vidal, oriundo de família da elite
paraibana. Vidal ocupou diversos cargos na esfera jurídica da República, chegando a atuar como
procurador durante o governo de Solón Barbosa de Lucena (1920-1924) e como secretário de Interior e
Justiça e Segurança no governo de João Pessoa (1928-1930). Ao que as fontes indicam, ele mantinha
uma relação de apadrinhamento com o jovem Santa Rosa (VIDAL, 1956).
Morador da Cidade da Parahyba, e, oriundo de uma família da elite (atuante no ramo jornalístico), Vidal
detinha capital (político e social) suficiente para influenciar na política burocrática que determinava o
preenchimento de vagas de emprego. Com efeito, ao assumir a pasta de Secretário do Interior e
Segurança (1928), no breve governo de João Pessoa Cavalcanti (1928-1930), Vidal pôde amparar o
noviço funcionário público com imediata promoção na função dos serviços no Tesouro Estadual.
Cabe mencionar que, ao esquadrinhar a documentação pertencente ao Arquivo Estadual do Governo do
Estado da Paraíba, identificamos, no setor de contabilidade da Companhia de Água, uma lista de
pagamento dos vencimentos dos empregados nas Obras Públicas (Saneamento e Indústria Pastoril).
Tomás Santa Rosa Jr. foi lotado no departamento de Saneamento Básico do Estado, e se encontrava na
função de contador e arrematava mensalmente 300$000 (trezentos mil réis). Em uma nota-homenagem
intitulada ?O autodidata?,publicada no jornal O Norte, Vidal menciona ter agido politicamente em benefício
de Santa Rosa, o que teria resultado em sua mobilidade social:
[O] Paraibano da rua Direita [em verdade rua do Barão de Passagem], atual Rua da Areia], era lá onde me
habituei a vê-lo com os desenhos que mostrava, trabalhando no serviço público do Estado e, anos depois
, ocasionalmente me encontrando com o poder nas mãos sua situação fora melhorada como funcionário
do Abastecimento de Água. (VIDAL, 1956, p. 2).
É importante salientar que, anos depois, livros escritos por Ademar Vidal que versam sobre cultura popular
e nordeste foram ilustrados pelo artista Santa Rosa, a exemplo do livro Lendas e Superstições: contos
populares, (1950. Já o funcionário público e contador do Tesouro almejava ir, no início da década de 1930
à capital do país, Rio de Janeiro. Sua vida parecia estar dividida entre a carreira do funcionalismo público
e as oportunidades do mundo das artes.
Santa Rosa esteve inserido numa conjuntura econômica marcada pelo surto da industrialização, por
medidas de modernização e pela expansão das instituições artísticas, que ele acompanhava através de
revistas e jornais que comprava ou pegava de empréstimo de seu ?amigo de sempre? José Simeão Leal.
Era com Simão que Santa Rosa trocava missivas frequentemente. A comunicação feita a partir das cartas
permite a ampliação das possibilidades de pesquisa para um campo de maior interpretação sobre a
trajetória de Santa Rosa, a linha entre suas subjetividades e seus anseios mais íntimos geram uma
profícua gleba de análise. Para Gontijo, do ponto de vista metodológico, há no ?pensar carta? uma
chancela de compreensão do pensamento individual ou de um determinado grupo. De tal modo, que o
[...] estudo da correspondência de escritores e intelectuais ajuda a compreender os meandros da
construção de uma obra e/ou da elaboração de projetos, revelando ações e intenções e deixando entrever
a especificidade dos procedimentos cognitivos e argumentativos. Também permite observar as relações
entre os indivíduos, fornecendo indícios de suas experiências como atores sociais. (GONTIJO, 2008, p.
55).
Desta feita, passemos a entender a quanto notória foi a influência de Simeão Leal no que diz respeito ao
empreendimento que objetivou contribuir a mobilidade social de Santa Rosa. Um assunto presento foi o
concurso para o Banco do Brasil. É explícita a intenção de Santa Rosa: ?um pedido?. Ele solicitou ao
amigo que intervenha em sua nomeação, para que fosse enviado à matriz do Banco do Brasil, localizada
na capital do país, o itinerário perseguido por Santa Rosa.

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Foi aí que passou a vislumbrar uma gama social que pudesse ser proveitosa quanto a sua aprovação, já
que, para ele, o modus operandi da cultura política existente em seu tempo obedecia aos critérios políticos
da nomeação, e não do mérito. Assim, Santa Rosa se inclinou na busca de intermediários/ ?pistolões?, e
aciona sua rede de sociabilidade para promover empreendimento tático à sua aprovação:
(...) [Bem] sei que este concurso, como todas as cousas actuaes, não se processa, naturalmente, na razão
directa dos valores demonstrados, mas sob os auspícios dos pistolões e de todas as recomendações
assignados pelos fazedores da política e já que é preciso ser assim; já que somos forçados a fazer assim:
? sejamos e façamos com a situação nos obriga (...) E é sobre isto que venho pedir de sua amizade, um
grandíssimo favor (...) É possível que ahi entre toda essa novidade do seu convívio haja alguém que no
momento actual te possa servir como um intermediário para o meu interesse de ser nomeado... Alguém
cuja família representa no momento, algo de realmente prestigiado que seja um factor, no cenário
ambiente, de relevo e de força irradiante (...). (SANTA ROSA, 1931, p. 2).
Sua ambição em sair da cidade da Parahyba tornou-se ainda mais notória quando ele, deixando de lado
qualquer formalidade, passou a clamar de maneira mais direta:
(...) Acrescento, meu amigo, que o local pouco me dá! ei-me fora do interesse ir a tal ou qual lugar.
Entretanto como é natural, prefiro as agências do sul. É caso interessante, o que menos desejo é ficar aqui
. Não há por acaso parahybanos do seu conhecimento na Matriz do Banco do Brasil? (SANTA ROSA,
1931, p. 3).
Para alcançar o objetivo, Santa Rosa, elaborou estratégia que, dando certo, seria o seu passaporte para
alcançar seu obstinado destino, assim como o impulsionar para outros ares, para além da pacata Cidade
da Parahyba, que passou a chamar pela alcunha de ?exílio?. Santa Rosa pretendia sair de sua atmosfera
natal e partir em busca de uma ambiência profícua de profundas mudanças.
[9: É o que aponta Miceli (2001, p. 77), para quem: [as] décadas de 1920, 1930, 1940 assinalam as
transformações decisivas no planos econômicos (crise do setor agrícola voltado para exportação,
aceleração dos processos de industrialização voltados para a urbanização, crescente intervenção do
Estado em setores-chaves da economia etc.), social (consolidação da classe operária e da fração de
empresários industriais, expansão das profissões de nível superior, de técnicos especializados e de
pessoal administrativo nos setores público e privados etc.), político (revoltas militares, declínio político das
oligarquias agrária, abertura de novas organizações partidárias, expansão dos aparelhos do Estado etc.) e
cultural (criação de novos cursos superiores, expansão da rede de instituições culturais públicas, surto
editorial etc.).]
Ele visava ser inserido na carreira pública no Banco do Brasil e alcançar estabilidade, a possibilidade de
vivenciar um contexto propício para desenvolver o seu projeto de uma vida artística. Parecia que tudo
daria certo: assegurar seu lugar no serviço público e vivenciar os principais corredores do mundo artístico.
Ledo engano. O que parecia motivo para comemoração se tornou um imbróglio trágico, uma vez que sua
tática não alcançou o sucesso necessário e, ao invés de ir ao Rio de Janeiro, foi enviado para uma
agência em Recife.
A fim de alcançar seu objetivo, Santa Rosa acionou, ao mesmo tempo, Simeão Leal e outro influente
amigo ? o gaúcho Moziul Moreira Lima, tenente do Exército. Nos anos 1950 é possível identificá-lo como
membro conselheiro da Associação de Ex-combatentes do Distrito Federal (Rio de Janeiro), já com a
insígnia de major. Com isso, a estratégia de Santa Rosa foi gerar duas forças de influência para efetivar
sua meta de ser nomeado como funcionário do Banco do Brasil no Rio de Janeiro. Mas, novamente não
obteve êxito, e foi transferido apenas para Maceió, Alagoas. Todavia, por lá não abandonou a sua
obstinada dedicação em ?fazer-se artista.

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Na atmosfera cultural de Maceió, Santa Rosa compartilhou trabalhos, se aproximou de outros jovens
artistas, e vivenciou espaços de sociabilidade: participando de salões, exposições, e contribuindo com
seus feitos artísticos (gravuras e poesias) em jornais e revistas locais. Naquele ambiente de difusão da
cultura unia-se a uma plêiade de intelectuais. Entre eles, José Auto da Cruz Oliveira, o poeta ? Zé auto?,
com escritores modernistas, a exemplo de Raquel de Queiroz e Graciliano Ramos ? este já tinha sido
prefeito de Palmeira dos Índios. Em 1932 Ramos já havia sido nomeado diretor da Secretária da Imprensa
Oficial, e utilizava de sua influência para realizar encontros em seu gabinete. Outro importante espaço de
sociabilidade de Maceió em que ocorriam os encontros, era no boêmio Bar Central. Em setembro de 1956,
o Correio da Manhã publica, na coluna Escritores informações sobre o grupo, diz:

?Reunidos em torno do escritor, no seu gabinete na Imprensa, ou no ?Ponto Central? os rapazes ficavam
em conversas e discussões literárias que se prolongavam horas a fio?. Além de médicos e professores
pertenciam aquele ciclo ?alguns escritores e artistas de outros estados, como José Lins do Rego, Raquel
de Queiroz e Santa Rosa? (ESCRITORES..., 1956, p. 10).

O pintor Santa Rosa realizou uma exposição de sua arte modernista na capital alagoana. É o jornalista
Manoel Diógenes Junior, que recorda quando no Instituto Histórico de Alagoas, em 1932, o crítico e
jornalista, Valdemar Cavalcanti

(...) apresentou Santa Rosa numa palestra em que estudava sua arte dentro do modernismo brasileiro. E
assinala-se eu esta noite de modernismo, em que se tocou Debussy e se cantou Blue, onde se
apresentavam os trabalhos modernos de Santa Rosa, se realizou nos austeros salões do venerando
Instituto Histórico de Alagoas (JUNIOR DIOGENES, 1956, p.03).

O que as fontes mostram é que ele Santa Rosa, abandonou o emprego no Banco quando se mudou para
o Rio de Janeiro. Sua trajetória é marcada por uma decisão que modificou sua vivência e assustou amigos
/as, quando decidiu abandonar o emprego no Banco do Brasil para consolidar seu sonho. Segundo, a
escritora Rachel de Queiroz:
[Santa Rosa] pediu transferência para o Rio, mas recusaram a transferência. Ele então abandonou o
emprego e se tocou para cá, entregando-se deliberadamente às dificuldades, quase à miséria, do artista
que tenta abrir caminho na cidade grande. Passou o diabo, passou fome, todo mundo o considerava louco
por abandonar um emprego excelente por amor de um sonho, ou como lhe dizia um amigo, ?uma vocação
abstrata?. Santa explicava pacientemente: ?Mas eu sou pintor". (QUEIROZ, 1961, p. 8).

Na cidade carioca, se inseriu no mundo editorial ? uma decisão tomada que, sem saber, o tornaria um
artista que logrou êxito como pintor, crítico de arte, cenógrafo, professor e profissional do âmbito gráfico
entre seus pares, como discutiremos no próximo tópico.

O multifacetado artista
Santa Rosa foi um artista multifacetado, característica comum de sua geração, atuando em diversos
âmbitos da arte de maneira concomitante. Acompanhar sua vivência no mundo da pintura, cenografia e

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artes gráficas é um convite para o mundo artístico cultural do início do século XX. O esquadrinhamento de
parte de sua trajetória é perpassado por ideias do movimento modernista à brasileira, que prevaleceu
hegemônico, sobretudo, entre as décadas de 1930 e 1950.
A partir de 1933, após abandonar o emprego na agência alagoana do Banco do Brasil em Maceió e viajar
à então capital do país, Santa Rosa adentrou in loco no microclima intelectual carioca. Sua carreira
artística teve início enquanto responsável por projetos visuais em editoras, jornais e revistas ilustradas.
Aproveitando o boom de vendas ocasionadas pelos gêneros literários (ficção, romantismo), se viu em meio
à demanda por mão de obra especializada. O trabalho inicial nas editoras Ariel, Schmidt e José Olympio
foi profícuo. O cenário de ofertas de emprego era, de maneira geral, atraente.
[10: Conforme explica Miceli (2001, p. 148), ?[o] surto editorial da década de 1930 é marcado pelo
estabelecimento de inúmeras editoras, por fusões e outros processos de incorporação que ocorrem no
mercado editorial e, ainda, por um conjunto significativo de transformações que acabaram afetando a
própria definição do trabalho intelectual: aquisição de rotativas para impressão, diversificação dos
investimentos e programas editoriais, recrutamento de especialistas para os diferentes encargos de
produção e acabamento, inovações mercadológicas nas estratégias de vendas ? implantação do serviço
de reembolso postal, contratação de representantes e viajantes etc. ?, mudanças na feição gráfica dos
livros, com o intento de ajustar o acabamento das edições às diferentes camadas do público, e, sobretudo
, empenho das principais editoras em verticalizar o processo produtivo e diversificar suas atividades?.]
Ao chegar à capital do país, Santa Rosa já era pintor e desenhista. Com essas habilidades buscou nas
editoras um meio de vida. No seu tempo, editoras investiram na visualidade dos livros para atrair cada vez
mais o público leitor ávido em consumir o bem cultural da modernidade: o livro ilustrado. Neste momento,
trabalhou inicialmente nas editoras Ariel e Schmidt, mas foram as duas décadas dedicadas as feituras
gráficas pela editora José Olímpio que o consagrou. Seus feitos artísticos expressavam outra estética aos
livros que circulavam pelas principais livrarias da cidade, ou nas exposições das capas de livros que,
acomodadas nas vitrines, exibiam imagens assinadas por Santa Rosa. Estas tinham por objetivo o
aumento das vendas, e funcionavam enquanto rede de entrelaçamento de sua sociabilidade. Assim,
discorre Bueno:
Tendo [Santa Rosa] participado, desde os tempos de Maceió, da vida intelectual brasileira, seu trabalho de
criador de capas era também uma forma de participação direta na vida cultural e literária de seu tempo,
além de representar uma modalidade de cooperação criativa com os confrades escritores. Vida
profissional e camaradagem. No caso da literatura brasileira, mas não só ler os livros para desenhar-lhes
uma capa era mais que uma tarefa feita por obrigação. (BUENO, 2015, p. 63).
Santa Rosa conquistou, ao longo de duas décadas de trabalho no mundo das artes gráficas, lugar de
destaque como artista gráfico modernista, ?(...) sendo responsável quase sozinho pela transformação
estética do livro brasileiro nos anos de 1930-1940 (...)? (HALLEWELL, 2017, p. 512). Quase todas as
editoras neste período têm sua assinatura, o que reforça o nível de importância do artista afro-brasileiro.
Conforme aponta Bueno (2015), a produção de Santa Rosa se de especialmente na editora José Olímpio,
onde construiu um prodigioso acervo de imagens para as capas de livros. É enorme sua relevância e seu
protagonismo na história das artes visuais do país, afinal:
(...) quem quiser contar a história da evolução das artes visuais no Brasil do século XX não pode escapar
ao nome de Santa Rosa (...) é preciso reconhecer que Santa Rosa fez esse trabalho como mais ninguém.
Se nem todas as ações oficiais que propôs se concretizaram, seu trabalho contínuo por mais de vinte anos
deixou exposta em parte uma visualidade que não pode ser colocada noutro lugar que não o da arte
moderna. (BUENO, 2015, p. 22).

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Santa Rosa é reconhecido pela inovação no metiê das artes gráficas, e talvez por isso seja mencionado
como ?pai do livro moderno? (HALLEWELL, 2017). O afro-brasileiro entrou para a história das artes
visuais tanto por conta de seu desempenho singular no desenvolvimento do ofício, quanto pela assídua
defesa intelectual sobre a profissionalização do metiê. De acordo com Laurence Hallewell, praticamente,
todas as obras que formam a geração romancista de 1930 com suas imagens-síntese, ainda menciona
que
?Os livros com o sinete editorial da José Olympio logo começaram a destacarse da insípida mediocridade
dos concorrentes, pois o editor, desde o início, dedicou cuidadosa atenção ao projeto gráfico. Seu
colaborador nessa área, mais uma vez, foi um nordestino, Tomás Santa Rosa, que trabalhara
anteriormente em diagramação e em desenhos de capa para a Schmidt (...) [deste modo] ele tem sido
considerado o maior produtor gráfico de livros do Brasil, responsável, quase sozinho, pela transformação
estética do livro brasileiro nos anos de 1930-1940 produtor gráfico de livros do Brasil, responsável quase
que sozinho pelas transformações estéticas do livro brasileiro nos anos de 1930-1940?. (HALLEWELL,
2017, p. 512).
O reconhecimento maior de Santa Rosa no âmbito das artes gráficas veio quando ele foi convidado a criar
e coordenar um pioneiro projeto escolar que contribuísse diretamente com a formação de artistas no
âmbito das artes gráficas. Em março de 1946 sua ambição de difundir a profissionalização do ofício
através de um conhecimento sistematizado sobre o âmbito foi consolidada. Certamente, sua atuação o
consagrava como principal peça de montagem e coordenação do Curso de Artes Gráficas, realizado pela
Fundação Getúlio Vargas, na cidade do Rio de Janeiro:
Em 1946, a Fundação Getúlio Vargas doava ao nosso meio artístico um atelier de gravura, o qual tive a
honra de dirigir. Com a colaboração do Carlos Osvald e Leskoscheck, efetuou-se um trabalho de
desbravamento cujos resultados em oito meses teremos a oportunidade de expor ao público ainda este
mês. É admirável a ágil e curiosa inteligência dos jovens alunos, aprendendo e experimentando com
eficiência rapidez, técnicas como as da gravura, complexas e variadas (SANTA ROSA, 1947, p. 10).
Nesse sentido, acompanhando a leitura quanto à repercussão do Curso feita pela crítica de arte, podemos
avaliar até que ponto a iniciativa coordenada por Santa Rosa foi benéfica ao fazer-se do metiê. A cargo da
coordenação do primeiro curso de artes gráficas do país, Santa Rosa difundiu suas proposituras e
diretrizes quanto à formação de novos profissionais. Tendo ele ainda desempenhado a função de
professor. Assim, foi possível avaliar como o artista/professor articulou seu conhecimento no âmbito.
Sobre a repercussão do curso, Santa Rosa , pondera que a consequência maior é a de estabelecer uma
positiva relação de novos artistas/profissionais, assim, ?(...) com paginadores de nova visão, as editoras
com ilustrações possuidoras de todas as técnicas, e as agências de publicidade em ?layoutmans? e
cartazistas?. Investir nos campos de artes gráficas que se voltam para comunicação em massa (FALA...,
1946, p. 8). Vale salientar que sua preocupação em fortalecer o mercado interno, ?(...) fazer ressurgir
essas técnicas da obscuridade em questão, e trazer ao meio brasileiro uma contribuição objetiva, digna de
consideração? (FALA..., 1946, p. 8).
No período aqui abordado, especialmente entre a década de 1930 e a de 1950, embates que revelam
divergências sobre a arte e a cultura, trazendo à tona caminhos para compreensão da cultura artística de
um tempo. É possível evidenciar questões fulcrais à atmosfera artística, entre elas a qualificação técnica, a
influência ideológica e a função social do artista no metiê.
No plano individual, Santa Rosa não detinha prerrogativas institucionais oficialmente registradas por
instituições de renome, sua formação na pintura se deu a partir da mentoria de Cândido Portinari, somada
ao seu autodidatismo; assim como nas artes gráficas teve que lidar com o desconforto de não possuir

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comprovação institucional.
Já o perfil estético do pintor Santa Rosa pode ser evidenciado em suas inúmeras obras. São diversos
cenários como: festas, vida cotidiana, reminiscências de sua infância, celebrações religiosas, pescadores,
trabalhadores, samba. Em relação à representação de mulheres, é interessante perceber que,
diferentemente do projeto visual da década de 1930, Santa Rosa investiu em adereços africanistas, como
turbantes e vestidos longos de cores fortes. A escolha em representar a estética negra através de lenços,
vestidos e indumentárias foi a maneira de criar suas imagens-síntese. Assim é também possível
evidenciar suas memórias da Cidade da Parahyba.

Imagem 03 ? Festa, (óleo sobre tela) 80 x 63 cm, Santa Rosa, 1950

Fonte: BARSANTE, 1993

Os embates quanto às modificações no âmbito da arte atravessam a conjuntura cultural do primeiro


quinquênio do século XX. Tanto é que a tessitura pictórica de Santa Rosa, assim como a de outros/as
artistas modernistas, foi alvo de protestos em algumas exposições pelo país. Um bom exemplo ocorreu na
Semana de Arte Moderna de Belo Horizonte de 1944, quando as realizações modernistas não agradaram
parte do público geral. A pintura moderna ficou marcada por uma investida em tom de manifesto, contra a
realização da Semana de Arte Moderna Belorizontina. Trata-se de um atentado às telas e esculturas
registrado pela imprensa local e revistas de arte.
No ensaio ?Fígaro barbeia o modernismo?, do crítico de arte Henrique Pongetti, é possível compreender
cenas surpreendentes. Pongetti conta sobre um homem desconhecido que saiu distribuindo coléricas
navalhadas em formato de cruzes nas telas dos quadros que compunham a exposição. O advento revela,
entre outras questões, querelas de pulso ideológico circunscritas à atmosfera artística do tempo de Santa
Rosa.
Figura 04 ? As Três Idades da Vida (óleo sobre tela) 90 x 76 cm, Santa Rosa (obra danificada)

Fonte: BARSANTE, 1993.

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O pintor modernista premiado com medalha de prata na mais importante exposição do país, o Salão
Nacional de Arte (1941) defendia ferrenhamente a concepção do modernismo nacional, ou seja, a ideia
que embora o modernismo brasileiro sofresse influência do arte europeia já havia idiossincrasias artísticas
locais que caracterizavam o modernismo nacional. Santa Rosa foi júri de expoentes exposições nacionais,
a exemplo da Bienal de São Paulo em 1951 e 1953; e no Salão Nacional na seção de Arte Moderna. Vale
salientar que o Salão Nacional era um importante espaço na história da pintura e da intelectualidade
artística no país, que protagonizou exposições marcantes, que deteve por função institucional a anuência
de reconhecer um quadro enquanto obra de arte, é o Salão Nacional. Conforme explica Luz, o Salão:
[11: O debate historiográfico acerca do modernismo e nacionalismo é de longa data, aqui, daremos
atenção especial à temporalidade que marca o fazer-se do multiartista Santa Rosa, ou seja, a atmosfera
artística cultural (entre 1930 e 1950) na qual o intelectual-multiartista Santa Rosa experimentou no mundo
da arte, de seu tempo, sentidos do modernismo. Como outros intelectuais, encarou a vida artística
enquanto aquilo que Gomes (2004, p. 82) determinou por ?[...] doublé de teórico da cultura e de produtor
de arte, inaugurando novas formas de expressão e refletindo sobre as funções e desdobramentos sociais
que tais formas guardariam?. Em relação ao nacional, ou seja, a criação do referido constructo ideológico
de unidade nacional desempenhada pelo Estado Novo buscou, segundo Gomes (2007), agir em benefício
da recuperação de um passado colonial, harmônico e glorioso. Por seu turno, Oliveira (2013) enveredou a
compreender o nacionalismo identificando o aparecimento, no início do século XX, de movimentos
artísticos nacionais que corroboram com a evocação do nacional, a exemplo do Manifesto Pau-Brasil
(1924) e do Manifesto antropofágico (1924), em cujo contexto a modernização de dispositivos de
comunicação (tais como rádio, indústria editorial e cinema) foi imprescindível para a difusão de símbolos e
sentidos de nacionalismos.]
(...) propiciava a oportunidade para todo e qualquer artista, independente da situação econômica que
tivesse, poder se aperfeiçoar nos principais centros de produção artística na Europa. A cada ano, a
emulação entre os concorrentes 173 ajudava o despertar de novos valores para a arte brasileira. Como as
obras premiadas ficavam para a coleção da Academia, depois Escola Nacional de Belas Artes, e que, em
1937, no governo de Getúlio Vargas, deu origem ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes, temos,
ainda, a grande contribuição dos Salões para a formação e ampliação desse acervo notável de nosso
museu. (LUZ, 2006, p. 60).
Ou seja, ao participar do Salão, o artista pavimentava sua trajetória rumo à consagração. A expectativa do
reconhecimento dos pares significava não apenas uma condecoração, mas também a possibilidade de
ascensão social, uma vez que se almejava abocanhar a premiação concedida pela Escola Nacional de
Belas Artes. As bolsas de estudos eram concedidas com intuito de ampliar o conhecimento em viagens
pelo Brasil (prêmio nacional) ou à Europa (prêmio internacional). Santa Rosa não se beneficiou de viagens
internacionais através do prêmio do Salão, foi através de sua conquista em outro âmbito da arte, o teatro.
A trajetória de Santa Rosa no teatro foi propiciada por inúmeras participações enquanto cenógrafo em
diversas companhias, entre elas ?Os comediantes? e a ?Companhia Dramática Nacional''. Além disso, ele
ocupou os seguintes cargos: diretor do Museu de Arte Moderna (1948), coordenador do ateliê de
decoração do Teatro da Escola Nacional (1950) e diretor do Conservatório Nacional de Teatro. Em 1952,
fez sua primeira viagem à Europa representando o Brasil na Reunião dos Artistas em Veneza, conferência
organizada pela Unesco. Nesse período, ele circulou pela Itália, Espanha, Inglaterra e França por quase
dois meses. Em 1955, passou a dirigir o Conservatório Nacional de Teatro. Em 1956, ano que marca sua
morte, foi nomeado professor de cenografia na Escola Nacional de Belas Artes da Universidade do Brasil.

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Entre seus maiores anseios estava a criação de uma escola de Teatro, Teatro para Crianças e o Teatro
de Negros. A sua relação com o Teatro Experimental do Negro foi efetiva, tanto na produção de cenários
como em incisivas defesas em jornais da época. Para o TEN, Santa Rosa realizou a cenografia para o
Recital Castro Alves, dirigido por Abdias Nascimento, no Teatro Fênix, no Rio de Janeiro. Ele foi
responsável, também, pelo cenário da peça Terras do sem-fim, espetáculo adaptado da obra do baiano
Jorge Amado, por Graça Mello. Já em 1948, assinou a produção visual dos figurinos e cenários da peça A
Família e a Festa na Roça, dirigida por Dulcina de Moraes. Já em 1949, o intelectual negro das artes
visuais realizou a feitoria de Filhos de Santo, obra escrita por José Morais de Pinheiro, com direção de
Abdias Nascimento. E Calígula, texto escrito pelo filósofo argelino Albert Camus, que por falta de recursos
não conseguiu ser exibida mais de uma vez, contou com a cenografia e arte figurinista de Santa Rosa,
sendo a direção de Abdias Nascimento.
Santa Rosa promoveu assertivas defesas a favor da consolidação do teatro para negros. No dia 25 de
agosto de 1946 no jornal Diário Trabalhista, é possível evidenciar em ?PROBLEMAS e aspirações do
negro brasileiro: o Teatro Experimental do Negro e a cultura do povo?, a denúncia sobre interrupções nos
ensaios do grupo, que ocorriam no teatro Fênix, do referido grupo.
Niuxa Dias Drago (2014), em A cenografia de Santa Rosa ? espaço e modernidade, apresenta sua
notoriedade em sua trajetória no Teatro que passa a influenciar o âmbito do teatro nacional, considerando
que ele foi um dos precursores da perspectiva modernista e da arte-social na atmosfera do teatro. O ofício
da arte cenográfica coincide com mudanças significativas ocorridas nesta área, considerando sua
condição de inovador da perspectiva moderna ? pode-se dizer que a grande modificação trazida por Santa
Rosa é propiciada por meio de novas funções para elementos como luz, arquitetura de palco e adereços.
Com isso, Santa Rosa ? ao empreender uma transformação da perspectiva (que passaria de dual para
tridimensional) ? acabaria se tornando responsável por transformar a arte cenográfica no teatro nacional
na primeira metade do século XX, fazendo com que esta deixasse de ser um simples elemento decorativo
e passasse a se impor como um conteúdo específico da arte teatral. Note-se que a primeira versão da
peça Vestido de Noiva (1943), de autoria de seu amigo e escritor Nelson Rodrigues e direção do imigrante
polonês (evadido dos conflitos da Segunda Guerra Mundial) Zbigniew Marian Ziembinski, é o marco que
divide a cenografia brasileira.
Figura 04 ? Cenário da peça Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues, 1943

Fonte: BARSANTE, 1982.

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A melodia da vida e o ritmo de pinceladas entrelaçadas em suas formas, linhas e cores, condensadas em
quadros, murais e capas de livros ilustram feitorias de um artista, mas também, o olhar de um homem em
seu tempo para a cenografia são vestígios de uma trajetória de vida, vivida pelo sujeito histórico Santa
Rosa.

Considerações Finais
Como visto, o espaço geracional de Santa Rosa foi analisado como possibilidade para compreender a sua
experiência em meio a repercussão do ideal moderno e as transformações/modernização dos dispositivos
essenciais para a vida na urbe (luz, água, transporte). A vida na Cidade da Parahyba, vivida por pouco
mais de duas décadas, levou Santa Rosa a elaborar suas impressões sobre o meio social, cultural, político
e arquitetônico que o rodeava.
A sua a vida familiar do pequeno ?Bosinho? não foi fácil. Afinal, a conjuntura epidêmica na infância
resultou na perda de três irmãos. Santa Rosa tornou-se o único filho homem de Alexina e Thomaz Santa
Rosa. As postulações ensejadas buscaram explicar a maneira pela qual o jovem Santa Rosa foi
beneficiário de uma boa formação educacional, e de como chegou a cargos no funcionalismo público da
cidade. Uma vez funcionário público do Tesouro Estadual, se beneficiou de uma rede de sociabilidade que
fora iniciada bem antes, com a escolha de seu padrinho, medida salutar a sua trajetória no âmbito do
trabalho.
Também buscamos compreender a trajetória de vida de Santa Rosa a partir de sua experiência vivida em
espaços de sociabilidade que circulou. Assim, procuramos apresentar os primeiros passos do artista
gráfico, professor, pintor e crítico, revelando expedientes de seu protagonismo enquanto um artista afro-
brasileiro multifacetado. No Teatro, o cenógrafo Santa Rosa difundiu referências ideológicas e
contribuições técnicas para a cenografia, a maneira com a qual utilizou elementos que projetam aspectos
em formas e conteúdo da cultura afro-brasileira e africana na feitura cênica do teatro nacional junto ao
Teatro Experimental do Negro.
Nosso intuito foi colaborar com os estudos afro-pedagógicos concernentes às trajetórias de vidas de
homens letrados no pós-abolição. A investigação histórica se alimenta de perguntas que são ensejadas a
cada novo olhar sobre o mesmo documento/testemunho, e estas vêm à luz a partir do tempo presente.
Alguns apontamentos chegam enquanto bússola que norteia novas navegações da pesquisa. O mar das
emancipações, do pós-abolição está propicio para longas e profundas navegações em que o fato histórico
da abolição da escravidão em 1888 é a égide para novas conexões do passado-presente.

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SANTA ROSA, Tomás. [Correspondência]. Destinatário: José Simeão Leal. João Pessoa, 25 fev. 1931. 2
carta.
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Arquivo 1: 368.docx (11651 termos)
Arquivo 2: https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2022/02/13/conheca-tomas-santa-rosa-considerado-
pai-do-livro-moderno-e-protagonista-nas-artes-graficas-brasileiras.ghtml (17807 termos)
Termos comuns: 167
Similaridade: 0,57%
O texto abaixo é o conteúdo do documento 368.docx (11651 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2022/02/13/conheca-tomas-santa-rosa-considerado-pai-do-livro-
moderno-e-protagonista-nas-artes-graficas-brasileiras.ghtml (17807 termos)

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ESCRITA ? DA ? HISTÓRIA
Uma experiência afro-brasileira no mundo das Artes: vida, pensamento e sociabilidade de Tomás Santa
Rosa (1909-1956)
Tomás Santa Rosa (1909-1956) uma experiência afro-brasileira no mundo das Artes...
Thiago Brandão da Silva
[1: Este artigo é originado da dissertação de mestrado ?Fragmentos de uma história de vida, o afro-
paraibano Tomás Santa Rosa Jr. (1909-1956): entre vivências, intelectualidades, ditos e feitos artísticos,
defendida em 2021, no Programa de Pós-Graduação em História.* Mestre em História pela Universidade
Federal da Paraíba. Professor da Educação básica. Membro/colaborador do Núcleo de Estudos Afro-
brasileiros e Indígenas (NEABI/UFPB).]
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com

Resumo
Trata-se de refletir sobre a vida do multifacetado artista negro modernista que atuou na construção cultural
e artística do país em diferentes âmbitos, Tomás Santa Rosa. A pesquisa se insere na gleba da escrita
sobre intelectualidades negras no pós-abolição. Metodologicamente, leva-se em consideração a dinâmica
social vista sob a égide da microanálise, o que amplia a compreensão dos caminhos, escolhas, decisões,
que formam o campo (ou uma sucessão) de sentidos que tangencia(m) uma trajetória de vida. Considera-
se o descortinar do cenário geracional de sua trajetória de vida enquanto possibilidade para compreender
suas dimensões sociais: a família, o emprego, amigos e estratégias de mobilidade social, além da feição
discursiva do ideal de moderno e das transformações metamórficas do espaço vivido e do debate
intelectual a partir da História Social da Cultura. Busca-se comtemplar a participação de um sujeito
histórico negro no mundo das artes enquanto referência e possibilidade de estudo para estudos afro-
pedagógicos e a agenda de historiadores/as sobre trajetórias e sociabilidades de homens e mulheres
negros no pós-abolição.

Palavras-chaves: Tomás Santa Rosa; Cidade da Parahyba; Sociabilidade; Pós-Abolição; Modernismo.

Abstract

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It is about reflecting on the life of the multifaceted modernist black artist who acted in the cultural and
artistic construction of the country in different areas, Tomás Santa Rosa. The research is part of the field of
writing about black intellectuals in the post-abolition period. Methodologically, the social dynamics seen
under the aegis of microanalysis are taken into account, which broadens the understanding of the paths,
choices, decisions, which form the field (or a succession) of meanings that touch (m) a life trajectory. It is
considered the unveiling of the generational scenario of his life trajectory as a possibility to understand its
social dimensions: family, employment, friends and social mobility strategies, in addition to the discursive
feature of the modern ideal and the metamorphic transformations of the lived space and of the intellectual
debate from the Social History of Culture. It seeks to contemplate the participation of a black historical
subject in the world of the arts as a reference and possibility of study for Afro-pedagogical studies and the
agenda of historians on trajectories and sociability of black men and women in the post-abolition period.

Keywords: Thomas Santa Rosa; City of Parahyba; Sociability; Post-Abolition; Modernism.

Numa tarde de domingo típica do verão carioca, em 16 de dezembro de 1956, algo acontecia nas
proximidades do Teatro Municipal do Rio de Janeiro - localizado na Avenida Rio Branco, antiga Avenida
Central. Quem naquela tarde trafegasse por aquela avenida veria um amontoado de pessoas nas
escadarias do monumental edifício e, tão logo, perceberia um cenário fúnebre. Ao se aproximar,
provavelmente, escutaria no diapasão de conversas íntimas frases cortadas do tipo: ?ele não gostava dos
papéis do banco?, ?era um pintor modernista?, ?ele foi pra Europa duas vezes?, ?estive com ele no Norte
?, ?detestava andar de bonde; sempre preferiu o táxi?; ou, ainda, algumas especulações acerca de sua
origem étnica ? ?um mulato?, ?nossa raça? etc... Enfim, peças do quebra-cabeça de uma investigação
histórica. É que os mortos geralmente deixam vestígios e os vivos lançam-se às memórias, ambos
elementos essenciais ao trabalho do historiador. Mas, como é realizada uma pesquisa sobre a vida de
alguém? Responderemos, de acordo com Vavy Pacheco Borges (2011), para quem o ?intermédio das
?vozes? [chega] do passado a partir de fragmentos de uma existência e dos registros das fontes
documentais? (BORGES, 2012, p. 2011. É desta feita que iremos esquadrinhar uma trajetória vivida, uma
existência vivida na alvorada republicana, no cenário pós-abolição da escravidão.
O objetivo da presente pesquisa é investigar fragmentos de uma trajetória de vida, vivida pelo
multifacetado artista paraibano Tomás Santa Rosa Jr, o ?Santa? ou simplesmente Santa Rosa. Nascido
em 20 de setembro de 1909, na Cidade da Parahyba, (atualmente nomeada João Pessoa), capital do
estado da Paraíba. Santa Rosa faleceu em; 26 de novembro de 1956. Na ocasião, estava ele ao leste da
Índia numa viagem oficial do governo brasileiro para a Conferência Geral da Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura ? evento promovido pela UNESCO, em Bombaim (Índia), no
qual, ele, Santa Rosa ocupava cadeira como representante do Diretório Nacional de Teatro. Quando
estava no Hotel no momento de descanso em Nova Délhi, cidade vizinha, e se preparava para seguir
viagem pela Europa, o destino pregou-lhe uma ?peça?.
Após sentir fortes dores abdominais (aos 47 anos de idade) foi encaminhado de ambulância ao Hospital
Wellington, percorreu alguns poucos quilômetros e ficou em observação. Já no outro dia recebeu visitas e,
quando tudo parecia ter sido apenas um susto, acabou surpreendendo os amigos/as durante a madrugada
, momento em que seu quadro clínico piorou e o levou a óbito ? provavelmente por um comprometimento
do sistema cardiovascular decorrente de complicações renais.
Até a chegada de seu corpo de lá (Índia) para cá (Brasil) são contabilizados dezoito melancólicos dias que
, em síntese, podem ser explicados por conta dos trâmites burocráticos e pelo fator cultural, uma vez que

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no país de maioria hinduísta permeia a cremação dos restos mortais, e não dispunha de reserva e
logística do transporte de seus restos mortais para outros país. No aeroporto do Rio de Janeiro,
aguardavam por ele suas irmãs Heliomar Santa Rosa e Crisantina Santa Rosa Iwata. Santa Rosa foi
casado no civil com Maria da Gloria Monteiro (1935), numa celebração simples no apartamento de seu
amigo e mentor (renomado das artes plásticas) Cândido Portinari. Em 1942 se casaria novamente, agora
no religioso, com Nely Guimarães. Porém, foi com Oscarina Amorim que teve seu único filho, Luiz Carlos,
que também o esperava junto às tias. Além disso, no aeroporto também aguardavam por ele o ex-senador
Ivo d?Aquino, o escritor Marques Rebelo e o teatrólogo Joracy Camargo (CHEGARAM... 1956, p. 01).
É importante apontar que no ano de seu falecimento foi possível averiguar dezenas de homenagens
escritas à guisa de lembranças em jornais da época. Estas são, para a presente pesquisa, caminhos para
uma melhor compreensão de sua rede sociabilidade, do microclima intelectual, político e cultural de seu
tempo, de seu vínculo afetivo, profissional com dezenas de outros criadores e mediadores da cultura que
formam ?[...] as elites culturais, mesmo quando entidades autônomas, em posição de extraterritorialidade
ligadas à sociedade que os rodeia e são precisamente esses laços, especialmente políticos, que lhes
conferem uma identidade? (SIRINELLI, 1998, p. 259).
Figura 01 ? Saída do cortejo fúnebre de Santa Rosa

Dito isto, a partir de uma série delas (re) conheceremos o homem do seu tempo, o intelectual das artes, o
artista, o funcionário público, o ?Santa?, o ?Santa Rosa?. Afinal, ainda a esse respeito, Ricoeur (2007)
ressalta que a lembrança inaugura um novo ângulo da representação histórica, ?(...) uma imagem
presente de uma coisa ausente? (...) (RICOEUR, 2007, p. 199) ? constituindo-se, dessa forma, como uma
maneira de entender o passado por meio das mensagens póstumas de sua rede de amigos.
Em reclames por conta de um encontro que não aconteceu, o escritor e jornalista brasileiro João Condé
rememora o momento de sua partida para a Índia ?(...) no dia de seu embarque, estive com ele [Santa
Rosa], Alcântara Silveira e Simeão Leal, no City Bank (...) todo eufórico, trocava cruzeiros por dólares. E
no abraço de despedida perguntou-me o que desejava que trouxesse? (CONDÉ, 1956, p. 12). As
lembranças, de maneira verossímil, ajudam a compor uma série de apontamentos, caminhos e
postulações acerca da trajetória de vida de Santa Rosa.
Desta feita, passaremos a refletir acerca da trajetória de vida do multifacetado artista modernista, Santa
Rosa. Assim, pretende-se compreender fragmentos de sua trajetória vivida no espaço-tempo de sua
ambiência geracional; identificar como formou e se beneficiou de uma rede de sociabilidade composta por
uma renomada plêiade de intelectuais e reconhecer seu protagonismo no cenário artístico-cultural de seu
tempo. Metodologicamente, considera-se a dinâmica social vista sob a égide da microanálise, ou seja, o
grau de singularidade quando aproximamos a lente que analisa os processos históricos.

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Assim, a pesquisa adota a perspectiva teórica da história social cultura e arrola sob a égide teórica-
metodológica da política das elites culturais, da comunicação social das redes sociabilidade, da realização
cultural de feitos artísticos (SIRINELLE, 1998; 2003). A trajetória de vida do multifacetado artista, Santa
Rosa, é por aqui compreendido levando em consideração as premissas, do geografo Milton Santos, em
que o espaço é o elo de junção, na medida em que liga-se os ?(...) fatores à genes, ao funcionamento e à
evolução do espaço (...)?, ou seja, ?o espaço pode ser definido de maneira tripartida: primeiro, como um
fator social (determina as condições sociais); segundo, como um fato social (produto e produtor); terceiro,
como uma instância social, pois é um ?(...) revelador que permite ser decifrado por aqueles mesmos a
quem revela (...)? (SANTOS, 2004, p. 163). Desta forma, a pesquisa se fundamenta a partir da tríade
objeto-tempo-espaço (REVEL 1998; BOURDIEU, 2006; SANTOS, 2004).
O corpus documental analisado é formado por uma série de escritos de amigos e de sua autoria
publicados em jornais, revistas e suplementos literários, especialmente, acessados a partir da Hemeroteca
Digital da Biblioteca Nacional (BNDigital). Conforme defende Luca (2011), a partir da utilização do jornal é
possível captar a nova vida citadina do século XX. Afinal, são os periódicos que registram as modificações
da urbanização, modernização dos espaços, e se encaixam no mesmo fluxo de outros dispositivos que
surgem na modernidade.
Nesse sentido, comunicaremos a pesquisa seguindo o seguinte enredo. No primeiro momento trataremos
interpretar Santa Rosa a partir de recordações de seus amigos (as) que compuseram sua rede de
sociabilidade. Em um segundo momento, iremos compreender sua trajetória em seu cenário geracional,
assim, leva-se em consideração: família, espaço e sociabilidades de Santa Rosa. No terceiro e último
momento vamos apresentar parte da experiência do artista multifacetado.
Aos vivos: (re) apresentação de Santa Rosa

Para Paul Ricouer (2007, p. 199) as lembranças encontradas em mensagens-póstumas (ou seja,
homenagens escritas após o falecimento do indivíduo encontrada no formato de crônicas) evocam um
presente ou uma presença, ?[...] buscam na operação de recordar que se conclui com a experiência do
reconhecimento, [pois] a lembrança é representação, re(a)presentação?. Em vista disso, iremos
apresentar a maneira com a qual Santa Rosa é (re) apresentado por alguns amigos que compõem sua
rede de sociabilidade. Não sem antes advertir a (a) leitor (a) sobre as idiossincrasias da atmosfera política
da década de 1930 em que havia um embate político ferrenho entre movimentos comunistas, fascistas e,
também que falavam da temática do negro. E isso de uma maneira que aumentava substancialmente as
disputas ideológicas que o governo varguista conduziu com destreza política.
[2: Santa Rosa fez parte de uma plêiade de intelectuais que estava a serviço do governo varguista, sob a
liderança do ministro Capanema. A esse respeito, Miceli (2001, p. 195) evidencia a maneira pela qual o
período correspondente ao mandato de Capanema (1934-1945) foi marcado pela cooptação dos
intelectuais, seja ?(...) como funcionários em tempo parcial, seja para desempenho de cargos de confiança
junto ao estado-maior do estamento, seja para preencherem os lugares que se abriam por forças das
novas carreiras que a extensão da ingerência passou a exigir, seja enfim acoplando inúmeras dessas
posições e auferindo rendimentos dobrados.?. Por outro lado, Fábio S. Cardoso (2019), biógrafo do
ministro Gustavo Capanema, endossado pela atuação de Graciliano Ramos e Carlos Drummond de
Andrade (dois declarados comunistas) no ministério, sugere (numa recente publicação) que havia, sim,
flexibilidade ideológica na ?constelação Capanema".]
No tempo de Santa Rosa, contendas ideológicas se fizeram presente. Houve pelo menos um fato em que
Santa Rosa se envolveu diretamente. Trata-se de sua prisão na época em que trabalhava numa editora.

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Quem narra o ocorrido é o escritor José Lins do Rego que diz:


Vi-o um dia sair preso da Livraria José Olímpio, num sábado de carnaval, que era a sua festa preferida. Vi-
o no meio dos esbirros num carro de Polícia. Lembro-me de seu olhar triste, a única vez que aquela
fisionomia prazenteira se fechava em angústia. Eram as saudades do carnaval perdido. Santa não
demorou entre as grades. José Olímpio bateu em todas as portas para libertá-lo. (REGO, 1956, p. 4).
É bem verdade que não sabemos os reais argumentos que levaram à prisão de Santa Rosa, embora
postule-se sua ligação, assim como a de outros intelectuais, com clubes, agremiações artísticas ligadas à
Aliança Nacional - célula maior da arquitetura do projeto comunista. Santa Rosa foi cofundador do Clube
de Cultura Moderna, fundado no dia 28 de novembro de 1934. Sua presença e a de outros artistas
modernos, como o amigo Aníbal Machado, evidenciava, portanto, a postura política dos artistas.
Na ambiência intelectual de seu tempo participava da rede de sociabilidade pessoal de Santa Rosa
artistas e escritores que já detinham prestígio, a exemplo, do escritor baiano Jorge Amado. Em seu livro
autobiográfico, Amado comenta sobre uma viagem a São Paulo ao encontro do artista modernista, pintor e
cenógrafo Flávio Carvalho (1899-1973) na companhia de Santa Rosa em 1933 em que é possível
evidenciar o microclima intelectual do momento, diz Amado (1992):
Eu o conheci quando fui a São Paulo pela primeira vez, em 1933, em companhia de Santa Rosa.
Hospedando-nos em casa de Tarsila do Amaral* e Osório César, na ocasião marido e mulher ? haviam
recém-chegado de Moscou, ir à URSS naquele então era aventura cercada de dificuldades, viagem de
espantos ? realizavam uma exposição de cartazes soviéticos, insólitos e românticos, no Clube de Artistas
Modernos, organismo criado e dirigido por Flávio de Carvalho, na época o centro de cultura mais sério do
Brasil, o que colocava a proposta mais avançada. Ali pronunciei conferência sobre as crianças nas
plantações de cacau, autografei o livro ilustrado por Santa Rosa, assisti ao Bailado do Deus morto, de
Flávio, que espetáculo!, logo proibido pela polícia política. A censura não dava tréguas ao CAM (...).
(AMADO, 1992, p. 202).
Santa Rosa participou junto com outros intelectuais de seu tempo, como Aníbal Machado, Jorge Amado,
José Lins do Rego entre outros, do CAM - Clube de Arte Moderna. Entre outras atribuições, destaca-se
sua coordenação da comissão da exposição para escolha do melhor tema sobre Palmares a partir do
ponto de vista do modernismo, em 1935 . Também fez parte da direção da Revista Movimento, que
ancorava reportagens e editoriais feitos pelos integrantes do CAM.
O Clube passou a aderir oficialmente, em setembro de 1935, a Aliança Nacional Libertadora (ANL) uma
organização de âmbito nacional que promovia ideias comunistas para combater a difusão do pensamento
fascista disseminado pela Ação Integralista Brasileira (AIB). Naquela década, de modo geral, havia um
estreito corredor de escolhas para partidários e intelectuais, prevalecendo ambos os movimentos. Neste
cenário, em que ?(...) fundiram-se a libertação do academismo, dos recalques históricos, do oficialismo
literário; as tendências de educação política e reforma social; o ardor de conhecer o país" (MELO E
SOUSA, 2000, p. 114) as capilaridades ideológicas do âmbito artístico sofreram efetivas mudanças.
Na adesão à ANL falou-se sobre a importância da Cultura para o povo, para as massas, para os
trabalhadores do país. Um momento de pulsante denúncia contra os integralistas e os regimes de
opressão (Nazismo e Facismo) e aclamação para união em prol de um programa de Cultural modernista
(uma contraposição a erudição exclusiva do academicismo) para o povo. Subiram ao palanque para
discutir acerca do tema ?Cultura e Liberdade?: Edgard Sussekind de Mendonça, Febus Gikovate Miguel
Costa Filho, Luiz Werneck de Castro, Carneiro Ayrosa, José Lins do Rego. Demetrio Hamam, Jorge
Amado, Annibal Machado, Cordeiro de Melo.
(...) todos pronunciando-se contra os regimes de força, contra o Facismo, contra o integralismo, em prol da

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mais completa liberdade (...) O Sr. Febus aludiu ao programa da Aliança Nacional Libertadora, mostrando
que em face do pronunciamento da assembleia que aplaudiram os oradores e sendo aquele movimento de
frente única o único que no momento pode libertar o Brasil, submetia a debate e votação dos presentes e
decisão do Clube de Arte Moder de aderir à Aliança Nacional Libertadora. Uma salva de palmas saudou as
últimas palavras, ficando assim aprovada unanimemente aquela decisão do Club. Em seguida, a
comissão do Club de Cultura, acompanhado de grande número de sócios, dirigiu-se à sede da ANL. Esta,
reunida em sessão, sob a presidência do comandante Cascardo ouviu a decisão, e em nome do diretório
da ANL falou sr. Amoretty Osório que agradeceu a atitude do Club de Cultura Moderna. (O QUE...1935, p.
5).
Já nas lembranças do amigo Sérgio Porto, jornalista do Diário Carioca ficou registrado o cenário de
criação do personagem cabotino Stanislaw Ponte Preta. Sobre isso, Porto conta que Santa Rosa junto
com ele idealizou o personagem. A esse detalhe vale salientar que interessou a Santa Rosa o espaço de
charges em jornais. Diariamente, representações artísticas da atmosfera política se projetam por meio de
formas extravagantes nos jornais. Conforme diz Santa Rosa, a ?[...] [política], com os seus artifícios e as
suas peras perversões, tem-lhe fornecido um material copioso, em que se tem exercitado a irônica e
sarcástica verve dos artistas [...]? (SANTA ROSA, 1947, p. 12). Porto também foi quem buscou explicar a
desapropriada pontualidade que o amigo costumeiramente exercitava. Ficou conhecido no meio
profissional por entregar encomendas fora do prazo. Para ele, a culpa de procrastinar as encomendas
advinha de sua impulsividade em querer conferir as novidades do mundo da arte, pois costumeiramente
deixava
(...) de fazer um quadro para ir comprar o último disco de Armstrong, ou para ver o desfile de uma escola
de samba. Deixava pelo meio da tela para ir assistir uma peça mambembe, onde um intérprete
coadjuvante surgia como esperança de bom ator. Perdia horas numa livraria folheando livros de arte (...).
(PONTE PRETA, 1956, p. 11).
A trajetória de vida do sujeito histórico negro, letrado, migrante, que participou ativamente da produção
cultural do país, especialmente, entre as décadas de 1930-1950, evidencia um cenário político, cultural e
artístico, um capítulo da história republicana no período do pós-abolição. Desta feita, essa pesquisa
acompanha uma série de estudos historiográficos do pós-abolição em que homens e mulheres negros-(as
) letrados-(as) são evidenciados atuando como protagonistas em instituições, espaços de sociabilidade e
poder; desempenhando variados ofícios, sobretudo no primeiro quinquênio do século XX.
A produção de estudos da população negra relacionados ao período posterior à abolição da escravidão se
diversifica e; o que outrora eram lacunas se tornam caminhos a serem percorridos, a exemplo da utilização
de fontes primárias tais como: registros de batismo; certidões de casamento, de óbito; uso da genealogia;
jornais; literatura; entrevistas orais com remanescentes quilombolas; acervos pessoais e privados
(MATTOS; RIOS, 2004). Ou seja, a pesquisa histórica que se ocupa em compreender a dinâmica das
trajetórias de vida de homens e mulheres negros (as) no pós-abolição ampliou a dimensão espaço-tempo
e, com isso, acabou, através de novas perguntas descortinando as ?(...) conexões transnacionais da
história intelectual e da história das ideias que sempre estiveram relacionadas com as perspectivas ligadas
ao pós-emancipação e os debates sobre racismo, direitos humanos e cidadania? (DOMINGUES; GOMES
, 2011, p. 10).
Em Experiências da emancipação: biografias, instituições e movimentos sociais no pós-abolição (1890-
1980), Domingues e Gomes (2011) evidenciam uma gama de trabalhos que discorrem sobre o período do
pós-abolição, a partir de pesquisas sobre associações, convenções, congressos e instituições políticas,
militares negros, além do debate historiográfico sobre as trajetórias negras. Vale salientar, experiências no

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âmbito da arte, a exemplo, do ator pernambucano, pintor e poeta Solano Trindade (1908-1974) e sobre o
escritor e abolicionista baiano Manuel Quirino (1851-1923). No que concerne às mulheres negras também
foram representadas, destaca-se a trajetória da professora e deputada catarinense Antonieta de Barros
(1901-1952). Já em Quase Cidadão: histórias e antropologias da pós-abolição no Brasil (2007), de modo
geral, objetivo foi compreender ?[como], onde, em que condições homens e mulheres de cor dela
[múltiplas liberdades] usufruíram, transformaram-na em objeto de interpretação, contendas, ou mesmo
rejeitaram os significados a ela atribuídos pelo discurso jurídico? (CUNHA; GOMES, 2007, p. 14). Uma
leitura possível no debate historiográfico é sobre a cidadania da população negra no pós-abolição.
Ao analisarmos trajetórias negras no espaço-tempo em que esteve inserido Santa Rosa, ou seja, início do
século XX, na Cidade da Parahyba, podemos acompanhar pesquisas recentes que colaboram com o
entendimento do pós-abolição. Assim, a historicidade quanto aos afro-paraibanos no pós-abolição tem
sido tema de publicações que norteiam a presença de homens negros letrados na região setentrional do
país, especialmente. As recentes pesquisas que ampliam o olhar sobre experiências negras no pós-
abolição na Paraíba têm sido realizadas pelos pesquisadores Elio Flores (2015), Solange Rocha (2015),
Petrônio Domingues (2017) e Surya Barros (2020).
Nesse sentido, seguindo sob a esteira de pesquisas acerca de pessoas negras inscrevemos a presente
pesquisa na historiografia recente que tem evidenciado, figuras desse segmento populacional, com
atuação ativa na Primeira República ? período de reordenamento social, de reconfigurações das
hierarquias raciais e de disputas dos projetos de nação ?, também se destacaram na cena política e
cultural. Como exemplo, os baianos Manuel Querino e Alfredo Casemiro da Rocha; o maranhense,
Hemetério dos Santos; o pernambucano Monteiro Lopes; o gaúcho Aurélio Veríssimo de Bittencourt; o
mineiro Benjamim de Oliveira; os cariocas Evaristo de Moraes, Eduardo das Neves e Lima Barreto; entre
outros que debateram e disputaram os diferentes projetos de política, cultura e identidade nacional, e
foram reconhecidos em vida, mas aos poucos caíram na galeria do preterimento, do ostracismo, da
subestimação ou simplesmente jazem nos desvãos da memória após a morte (DOMINGUES; ROCHA;
FLORES, 2019, p. 145-146).
A cada passo dado novas questões chegam à lume e o olhar para a interpretação da ?nova abolição?
inverte o sentido do problema; ou seja, o fato histórico do fim da instituição escravista é, por conseguinte, o
fomento para o início de uma gama de problematizações que colaboram com a nitidez do que há de ser
visto por Clio. Em Vicente Gomes Jardim: um ?artista e autor ?de cor no final do século XIX e início do XX
, Surya Barros (2020) reflete, a partir da égide da história social da escravidão, a trajetória de um homem
negro livre, no período da transição do Império e a República. Em que se buscou a experiência de vida de
Vicente Jardim enquanto liderança da Sociedade de Artistas Mechanicos e Liberaes da Parahyba e
membro da Irmandade dos pardos.
Assim, o propósito, evidentemente, é acentuar o avanço face às limitações constituídas pelo silenciamento
de Clio sobre a participação protagonista da ?gente negra? na história do Brasil após a abolição de 1888.
Tal enfoque tem contribuído para ampliar a compreensão da historicidade do pós-abolição.
Portanto, compreender a trajetória de vida do sujeito histórico negro, Santa Rosa é também perceber as
tessituras sociocultural e políticas de seu tempo. Assim, comunico ao leitor (a) que passaremos a percebê-
lo em seu espaço geracional cujo objetivo é ter a possibilidade de entender suas ambições, decisões,
frustrações e objetivos. Além de, por outro lado, explicar a influência de sua rede de sociabilidade para
compreender fragmentos de uma história de vida em suas dimensões sociais: a família, o emprego,
amigos e estratégias de mobilidade social. Desta feita, caro leitor, passaremos a compreender o tempo de
Santa Rosa em sua cidade natalícia.As transformações que metamorfoseiam o cenário geracional de

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Santa Rosa são elementos imprescindíveis para compreendermos fragmentos de sua história de vida,
vivida em meio a conjuntura de modernização do espaço da Cidade da Parahyba no pós-abolição. O olhar
em seu presente-passado corrobora enquanto ?testemunha ocular? Burke (2004), das ?rugosidades?
Santos (1998) do espaço da cidade da Parahyba (1920-1930) acarretadas pela modernização de
dispositivos estruturais do serviço público.
[3: Assim também, é partindo do pressuposto de que, conforme aponta Milton Santos (2004, p. 146),
entendemos o espaço seja como ?um produto histórico?, consideram-se os fragmentos de uma trajetória
vivida em terras paraibanas. como elo de junção, na medida em que liga-se os ?(...) fatores à genes, ao
funcionamento e à evolução do espaço (...)?. ]

A Cidade da Parahyba no tempo de Tomás Santa Rosa Jr. (1909-1932): família, espaço e sociabilidade
A casa em que Maria Alexina Santa Rosa (mãe de Santa Rosa) residiria com seu filho Santa Rosa até
1932, era nas proximidades à comunidade católica da qual era assídua frequentadora ? a Igreja Matriz de
Nossa Senhora das Neves, a catedral da cidade. Seu pai, Tomás Mauricio Santa Rosa, artista, alfaiate de
profissão, por sua vez, manipulava a arte de ?vestir? pessoas ? em parte, assemelhando-se ao filho, que
?vestia? livros, sobretudo aquelas que detinham cabedal suficiente para adquirir um traje ?da moda?,
comumente utilizado para situações da vida social na cidade, como missas, bailes, casamentos, batizados
e cerimônias. Conforme Waldeci Chagas:
Os rapazolas se contentavam com as peças de brim em várias tonalidades. Do contrário, a casimira era
bem encomendada pelos alfaiates. As alfaiatarias e camisarias sempre estavam abarrotadas de
encomendas, principalmente se estavam próximas as festas da padroeira, Nossa Senhora das Neves, do
Natal e do Ano bom. Nessas épocas, era comum o rapaz encomendar o corte e costura de um novo
conjunto composto de paletó colete e calça (CHAGAS, 2004, p. 121).

No tempo de Santa Rosa, a moda é matéria prima para que personagens importantes do microclima
intelectual da década de 1920, na Cidade da Parahyba escrevessem a seu respeito, a exemplo do
historiador Horácio de Almeida quem, por seu turno, contesta, em tom de denúncia, a chegada da nova
(do moderno) maneira de ?vestir-se? ? para ele, a moda da/na década de 1920, quando posta na balança
da moralidade, seria um ônus negativo. Acusada, a moda passou a ser evocada como má influência para
toda uma geração (tanto para homens quanto para mulheres). Julgada por Almeida, a moda passou a
ocupar as linhas da Revista Era Nova, ao escrever o artigo O poder da moda, em 1921, por onde destila:
[4: [...] uma revista quinzenal ilustrada na década de 1920, produzida na Paraíba. A princípio foi fundada
na cidade de Bananeira/PB e logo depois seu núcleo foi transferido para capital da Parahyba do Norte. Se
manteve circulando de 1921 a 1926, quando, dela, se tem notícia pela última vez. Seu primeiro nº, do ano
I, data de 27 de março de 1921, sendo oficialmente apresentada por seu diretor Severino de Lucena e seu
redator-chefe Guimarães Sobrinho, com a proposta de inaugurar uma nova era nos círculos literários e
intelectuais paraibanos. (RODRIGUES, 2013, p. 3).]

[moçoilas] catilas e espevitadas desaforam-se de corpinhos e sobem vestidos e descem os decotes para
os pitaratas galanteadores analysem em seus contornos a perfeição artística de suas joias. Insatisfeitas
com a liberdade que gozam, disputam o direito de voto e com este o direito de representação (...)
Galopeamos nesta marcha para o aniquilamento moral de nossa raça, para a efeminação do caráter
másculo de nossa juventude, para o ignominioso e abdiminavel hermafroditismo social. E chama isso de
evolução! (ERA NOVA, 1921, p. 15)

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O registro presente na documentação da Arquidiocese da Paraíba evidencia que o casamento do casal


Santa Rosa foi em julho de 1906. Ao analisar o referido documento, é possível verificar/comprovar
algumas informações pertinentes à origem de Santa Rosa. Com 19 anos de idade, Thomaz Mauricio Santa
Rosa oficializa (no civil) seu casamento com Maria Alexina das Neves Pereira, que, aos 22 anos, era um
pouco mais velha e já contava com a maioridade jurídica. Também é possível averiguar nesse registro a
ramificação de parentesco de suas avós, sendo elas, respectivamente: Maria Marcionilla Martinho e
Felismina Batista Freire. Assim,
(...) aos trinta dias do mês de Julho de mil novecentos e seis, décimo sétimo ano festivo da proclamação
da República dos Estados Unidos do Brasil, nesta cidade da Parahyba do Norte, capital do Estado do
mesmo nome (...) Thomaz Mauricio Santa Rosa e Dona Maria Alexina das Neves Pereira que neste ato
queiram casar-se. Thomaz Mauricio Santa Rosa, solteiro, com dezenove anos de idade, natural e
residente nesta capital, filho natural de Maria Marcionilla Martinho, residente nesta cidade. Dona Maria
Alexina das Neves Pereira, solteira, com vinte e dois anos de idade, também natural e residente nesta
capital, filha ilegítima de D. Felismina Batista Freire (...).
[5: TESTAMENTO de casamento dos pais de Santa Rosa. Disponível em: https://www.familysearch.org
/ark:/61903/3:1:S3HY-61X9-. Acesso em: 25 fev. 2023.]
Tomas Santa Rosa morador da Rua do Barão de Passagem (atual Rua da Areia), nº 320, testemunhou a
implementação de dispositivos estruturais, tais como iluminação, água encanada e esgotamento.
Enquanto morador da cidade baixa, Santa Rosa foi testemunha ocular das edificações que ganhavam,
naquele momento, construções de sobrados de dois andares, feituras quase exclusivamente da área
comercial da cidade no centro da cidade. Assim, essa nova elaboração de estrutura da cidade criava um
aglomerado que com o tempo foi se transformando na urbe paraibana, dividido entre as regiões ?alta? e
?baixa? ?[...] onde o comerciante podia juntar o armazém, a família, e os caixeiros, respectivamente, no
andar térreo primeiro e segundo andares (...)? (BATISTA, 1951, p. 17). Em suma, como assinala Wylnna
Vidal
(...) da primeira metade dos anos 1910, quando foram implantados os primeiros serviços urbanos
modernos (abastecimento d'água, energia elétrica e bondes), até 1940, podemos observar o trinômio
[embelezar, sanear e circular] presente no discurso do poder público justiçando as ações; presente nas
reivindicações de melhoria e embelezamento urbano da elite local; presente no discurso favorável às
transformações e presente também no discurso que se mostraram às mudanças (VIDAL, 2004, p. 45)
As ruas do centro da cidade funcionavam como artérias de chegada do moderno. Eram consideradas
como uma espécie de ?termômetro? social e econômico do início do século XX. Em especial a Maciel
Pinheiro que, nesse contexto, se tornava uma das principais esteiras do comércio da Paraíba, na qual as
transformações culturais ?pintavam? as vitrines com suas cores e tessituras, e por onde certamente
Tomaz Maurício Santa Rosa trabalhava e construía apreço social gerado por sua vida profissional, cuja
função em confeccionar o vestuário de membros da elite paraibana o levaria a costurar certa rede de
sociabilidade.
A ambiência em que residia a família Santa Rosa era de extrema importância comercial, pois recebia de
cidades do interior como Itabaiana e Campina Grande carregamentos de uma mercadoria que nutriu a
opulência de parte dos produtores paraibanos: o algodão ? um gênero de grande relevância para a
economia paraibana e principal produto da década de 1920. De certo modo, o acúmulo de capital de
alguns comerciantes advindos do interior para morar na zona urbana da capital, e que logo iriam construir
suas residências na parte da ?cidade alta?, mantendo seus comércios na parte baixa da foi o apogeu do

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algodão no final do século XIX, devido ao cenário do mercado internacional. Com efeito, trata-se de um
elemento preponderante para a modernização da cidade, uma vez que, como aponta Galliza (1993, p. 45),
durante o período compreendido entre 1900 e 1929 o algodão e a pecuária foram não apenas
fundamentais, mas principais produtos da economia paraibana. Tal evidência reverberava nas mudanças
administrativas da cidade.
A iniciativa do poder público em modernizar a cidade gerou mudanças não apenas em seus edifícios, mas
também no campo administrativo, uma vez que o aparato burocrático paraibano teve que ser ampliado.
Vale lembrar que, apenas em 1916, é que a Paraíba inaugurava seu primeiro banco (uma filial do Banco
do Brasil no estado), ? então, o capital mercantil do estado era majoritariamente manipulado por
empresários estrangeiros. Assim, atividades aduaneiras de exportação algodoeira essenciais à economia
local ficavam sob a égide de firmas estrangeiras, a exemplo da francesa Cahan Fréres & Cia (fundada em
1864), que, contando com filiais em Guarabira e Mamanguape, monopolizava o comércio externo da
Paraíba (GALLIZA, 1993).
Entretanto, as modificações advindas do profícuo momento econômico em que passava o espaço natalício
de Santa Rosa não impediu o avanço das mazelas advindas da falta de saneamento básico. A
precariedade do saneamento básico, certamente, colaborou com o triste capítulo na história da família da
Santa Rosa, que passaremos a comunicar.
Além de superar a morte de três filhos homens, a família Santa Rosa passou por outras dificuldades,
sobretudo Maria Alexina (mãe), uma vez que ela teve que prosseguir com a criação do único filho homem
sobrevivente (Santa Rosa) e suas duas irmãs, sozinha, já que seu pai, Tomaz Mauricio ?(...) abandonara a
família para tentar a sorte ao centro-norte do país, só retornando para revê-los nos últimos anos de sua
vida (...)?, falecendo em 1953, três anos antes do filho (BARSANTE, 1982, p. 7). Possivelmente, a
?aventura? iniciada pelo senhor Tomaz, teve um aspecto potencializador ? à época, o sonho de muitos era
saborear um promissor enriquecimento através da extração da borracha. Desse modo, muitos nordestinos
partiram para as trilhas das florestas, se inserindo na produção da borracha.
[6: A esse respeito, Caio Prado Jr. (2004, p. 199) observa: ?(...) a borracha, que graças aos automóveis e
seus pneumáticos estará destinada a um futuro magnífico, e que na nativa do vale amazônico daria
momentaneamente ao Brasil o monopólio de uma mercadoria de grande consumo internacional?.
Entretanto, o surto do ciclo da borracha acabaria se encerrando, à medida que produtores dos países da
Ásia menor passaram a cultivar seringueiras, agradando com preços baixos os principais compradores (os
estadunidenses). O final do primeiro surto da borracha foi em meados de 1920, chegando ao seu declínio
, de fato, já na década de 1950, por conta dos derivados do petróleo.]
O triste capítulo na história da família de Santa Rosa foi agravado pela precariedade do saneamento
básico, o que atuou nos consecutivos falecimentos de seus três irmãos. A partir da imprensa local,
inclusive, é possível perceber na atmosfera epidêmica, a tônica conjuntural de preocupações com
enfermidades, ? no tempo do nascimento dos irmãos de Santa Rosa (1907-1908) manifestavam-se, tanto
pelo ?bater dos sinos? das igrejas (que anunciam mais momentos fúnebres), quanto pelos informes da
imprensa local, que a descreve da seguinte maneira: ?(...) já temos diante de nós a triste perspectiva de
um quadro semelhante às 56 dos anos de 1905 a 1907, quando a Parahyba foi dolorosamente flagelada
por essas pestes (...)? (COLUNA..., 1913, p. 1). O fato é que, sem um serviço de distribuição de água
encanada, a cidade pouco se apresentava enquanto um espaço moderno. Conforma Araújo (2001) e
Chagas (2004) havia um volumoso debate político acerca da qualidade da água, médicos e engenheiros
travavam um embate cientifico para sanar a proliferação de doenças. Porém, a mobilização discursiva não
efetivava as condições insalubres. Vale salientar que apenas em 1914 a cidade natalícia de Santa Rosa

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será contemplada com serviço de água encanada e que o abastecimento era realizado pelos aguadeiros.
Em 16 de outubro de 1908, um ano após casal Santa Rosa formaliza matrimônio, é evidenciada a morte
do que seria primeiro irmão de Santa Rosa ?(...) Anjo ? finou-se antehontem, o pequeno Moacyr Santa
Rosa, filho do senhor Thomaz Mauricio Santa Rosa. Seu enterro effectuou-se hontem pelas 4 horas.
Pêsames aos seus desolados genitores (...)? (ANJO, 1908, p. 2). Ou seja, ao que se indica, um dos
primogênitos faleceu de forma prematura, sem chegar a completar dois anos de idade em vida. É na
ambiência dos problemas sanitários que nasce outro irmão de Santa Rosa, Pelópidas, registrado no dia 28
de junho de 1908 também falecendo de forma prematura. Conformidade com Barsante (1982, p. 7),
nenhum de seus falecidos irmãos alcançou (em vida) a infância.
[7: CERTIDÃO de óbito. Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-X38SJHH?i
=64&cc=2015754. Acesso em: 30 set. 2022.]
A questão da distribuição de água na cidade é um capítulo digno de novela livresca. As polêmicas acerca
da qualidade da água causaram estardalhaço no nicho político paraibano: farpas entre correligionários
locais, com os aliados protagonizando o conflito, cuja saída foi convidar especialistas externos para pôr fim
nas querelas. Por esse nasceu em 29 de setembro de 1909, Santa Rosa, o único filho homem de Maria
Alexina e Thomaz Mauricio a sobreviver ao nefasto ambiente. Consta na documentação da Arquidiocese
da Paraíba o seguinte registro:
Aos vinte e sete de março de mil novecentos e dez na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Neves de
minha licença, Reverendo Padre Mathias Freire batizou solenemente a Thomaz, nascido aos vinte de
setembro do ano próximo passado [1909], Tomaz Santa Rosa; filho de Thomaz Mauricio de Santa Roza e
Dona Maria Alexina de Santa Roza (sic!). Foram seus padrinhos Thomaz Ferreira Soares e sua mulher
Dona Amélia Ferreira Soares. E para constar mandei lavrar o presente termo que assino.
[8: Fonte: Arquivo Eclesiástico ? Arquidiocese da Paraíba ? Livro 13, nº 1876-1878.]
Os primeiros passos de sua vida escolar foram dados na Quinta Cadeira Mista da Paraíba; posteriormente
, buscou admissão no Grupo Escolar Tomás Mindelo, por meio do qual ingressou no conceituado Lyceu
Paraibano onde estudou até 1927. Este ficava próximo à Escola Normal, instituição responsável pela
formação das moças paraibanas. Santa Rosa fez aulas de piano com a professora Alice Pereira quando
ainda era garoto. Todavia, é sabido que a sua dedicação autodidata o levou a aprender outro idioma, o
mais exigido em seu tempo, o francês. Sua formação cultural e a aproximação de sua mãe da Paróquia
local foram decisivas para que ele participasse de aulas de canto, atividades realizadas na Igreja Matriz de
Nossa Senhora das Neves, da qual, decerto, sua mãe fazia parte.
Na igreja constatou-se uma potencial habilidade vocal, e ele passou a participar do Te Deum dos alunos
do Sacro-colégio do Arcebispado. O garoto, Santa Rosa, ainda arranjava tempo para apreciar as aulas do
seu professor de música Grazzi Galvão de Sá (natural da Cidade da Parahyba). Vale salientar que Santa
almejou se torna um músico profissional. Apostando em sua qualidade musical de barítono, naquele
período seguiu buscando participar de concursos de novos talentos, até que, certa feita, um conhecido,
Murilo de Carvalho (que era profissional de canto), o orienta a deixar a ideia de lado (BARSANTE, 1982).
Anos depois, sua carreira profissional se inicia no funcionalismo público imerso no setor de contabilidade
da administração local.
Sua trajetória na carreira do funcionalismo público se deu em meio a consolidação do regime republicano.
Era o tempo do segundo mandato do governado Solon Barbosa de Lucena (1920-1924) quando Santa
Rosa recebeu o convite que iria influenciar os rumos da vida do garoto de apenas 14 anos de idade. Na
ocasião, o convite foi feito pelo então engenheiro-chefe da Secção de Saneamento do Estado da Paraíba,
Lourenço Baeta Neves, em conjunto com o secretário-geral de Estado Álvaro de Carvalho (BARSANTE,

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1982, p. 9). Logo, a partir de 1923 Santa Rosa passaria a trabalhar no setor da contabilidade oficial do
governo ? naquele ano o prédio do Palácio do Governo funcionava nas proximidades de sua casa. Desse
modo, a citada contratação para o setor de contabilidade do Tesouro Estadual da Parahyba do Norte foi
realizada por indicação de homens da política local.
Figura 02 ? Tomás Santa Rosa aos 18 anos de idade

Fonte: BARSANTE, 1982.

Cabe ressaltar que o início de sua vida no funcionalismo público é de suma importância, pois por meio
desse vetor de compreensão de sua trajetória de vida é possível, também, descortinar sua rede de amigos
. É esse um assunto que requer atenção, afinal Santa Rosa não teve em sua origem uma opulência de
berço, como outros de seu convívio, mas logrou êxito quanto a apropriação de capital cultural e social.
A mencionada rede (e as relações de proximidade dela decorrentes) pode ter granjeado certo capital
social ao Sr. Tomaz, afinal homens da elite e da classe média paraibana recorriam ao comércio de
vestimentas para adquirir trajes apropriados para os oportunos momentos de socialização (casamentos,
bailes) pautados pela agenda de celebrações. Desta feita, agraciado por uma oferta de emprego, no setor
de contabilidade do Tesouro Estadual. Essa oferta pode ser especulada a partir da influência de seu
padrinho, Thomaz Ferreira Soares. Membro de uma tradicional família da cidade (os ?Ferreira Soares?),
casado com a Sra. Amélia Soares (carinhosamente chamada por parentes e pessoas próximas como Mãe
Lindoca), com quem teve um filho chamado Acácio (Sula), era funcionário/tesoureiro de carreira em um
banco, na Cidade da Parahyba.
Há ainda outra possibilidade que advém de sua rede (direta e indireta) de amigos ter proporcionado um
caminho confortável para a inserção em seu primeiro emprego, e por conseguinte mobilidade social.
Nesse sentido, há uma memória do tempo em que Santa Rosa trabalhou no Tesouro Estadual, produzida
pelo jornalista Luiz Pinto, com quem Santa Rosa não tinha amizade, mas mantinha relações de
proximidade pelo fato de trabalharem na mesma repartição pública, que ajudaria a endossar essa
suposição. De fato, o jovem Santa Rosa contou com uma importante rede de amigos no âmbito social que
correspondia à sua função no setor de contabilidade. Sendo assim, ao relembrar em tom nostálgico de sua
experiência no tempo em que Santa Rosa era morador e funcionário público, Pinto o descreve como
alguém de distinção, sobretudo por sua relação de amizade com membros da elite paraibana nos anos
1920 (a exemplo de Aloísio França e Luís França, os ?meninos do Tesouro?).
Conheci-o, já se vai muitos anos! Éramos tão jovens... O mundo uma incógnita, um poço de ilusões, um
marco de esperança. Seu apelido na época era Bonzinho. Íntimo de Aloísio França, de Luís França, os
meninos do Tesouro do Estado. Na vida da Paraíba trabalhamos todos no tesouro do Estado na minha
velha província, entre os paredões lendários do velho Convento de S. Bento, onde funcionava aquela
repartição estadual. (PINTO, 1956, p. 3).

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Para uma melhor compreensão do Santa Rosa funcionário público do Tesouro Estadual, contudo, faz-se
necessário acionar um outro personagem. Em se tratando de sua rede de sociabilidade, outro possível
apoiador de sua trajetória profissional, Ademar Victor de Menezes Vidal, oriundo de família da elite
paraibana. Vidal ocupou diversos cargos na esfera jurídica da República, chegando a atuar como
procurador durante o governo de Solón Barbosa de Lucena (1920-1924) e como secretário de Interior e
Justiça e Segurança no governo de João Pessoa (1928-1930). Ao que as fontes indicam, ele mantinha
uma relação de apadrinhamento com o jovem Santa Rosa (VIDAL, 1956).
Morador da Cidade da Parahyba, e, oriundo de uma família da elite (atuante no ramo jornalístico), Vidal
detinha capital (político e social) suficiente para influenciar na política burocrática que determinava o
preenchimento de vagas de emprego. Com efeito, ao assumir a pasta de Secretário do Interior e
Segurança (1928), no breve governo de João Pessoa Cavalcanti (1928-1930), Vidal pôde amparar o
noviço funcionário público com imediata promoção na função dos serviços no Tesouro Estadual.
Cabe mencionar que, ao esquadrinhar a documentação pertencente ao Arquivo Estadual do Governo do
Estado da Paraíba, identificamos, no setor de contabilidade da Companhia de Água, uma lista de
pagamento dos vencimentos dos empregados nas Obras Públicas (Saneamento e Indústria Pastoril).
Tomás Santa Rosa Jr. foi lotado no departamento de Saneamento Básico do Estado, e se encontrava na
função de contador e arrematava mensalmente 300$000 (trezentos mil réis). Em uma nota-homenagem
intitulada ?O autodidata?,publicada no jornal O Norte, Vidal menciona ter agido politicamente em benefício
de Santa Rosa, o que teria resultado em sua mobilidade social:
[O] Paraibano da rua Direita [em verdade rua do Barão de Passagem], atual Rua da Areia], era lá onde me
habituei a vê-lo com os desenhos que mostrava, trabalhando no serviço público do Estado e, anos depois
, ocasionalmente me encontrando com o poder nas mãos sua situação fora melhorada como funcionário
do Abastecimento de Água. (VIDAL, 1956, p. 2).
É importante salientar que, anos depois, livros escritos por Ademar Vidal que versam sobre cultura popular
e nordeste foram ilustrados pelo artista Santa Rosa, a exemplo do livro Lendas e Superstições: contos
populares, (1950. Já o funcionário público e contador do Tesouro almejava ir, no início da década de 1930
à capital do país, Rio de Janeiro. Sua vida parecia estar dividida entre a carreira do funcionalismo público
e as oportunidades do mundo das artes.
Santa Rosa esteve inserido numa conjuntura econômica marcada pelo surto da industrialização, por
medidas de modernização e pela expansão das instituições artísticas, que ele acompanhava através de
revistas e jornais que comprava ou pegava de empréstimo de seu ?amigo de sempre? José Simeão Leal.
Era com Simão que Santa Rosa trocava missivas frequentemente. A comunicação feita a partir das cartas
permite a ampliação das possibilidades de pesquisa para um campo de maior interpretação sobre a
trajetória de Santa Rosa, a linha entre suas subjetividades e seus anseios mais íntimos geram uma
profícua gleba de análise. Para Gontijo, do ponto de vista metodológico, há no ?pensar carta? uma
chancela de compreensão do pensamento individual ou de um determinado grupo. De tal modo, que o
[...] estudo da correspondência de escritores e intelectuais ajuda a compreender os meandros da
construção de uma obra e/ou da elaboração de projetos, revelando ações e intenções e deixando entrever
a especificidade dos procedimentos cognitivos e argumentativos. Também permite observar as relações
entre os indivíduos, fornecendo indícios de suas experiências como atores sociais. (GONTIJO, 2008, p.
55).
Desta feita, passemos a entender a quanto notória foi a influência de Simeão Leal no que diz respeito ao
empreendimento que objetivou contribuir a mobilidade social de Santa Rosa. Um assunto presento foi o
concurso para o Banco do Brasil. É explícita a intenção de Santa Rosa: ?um pedido?. Ele solicitou ao

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amigo que intervenha em sua nomeação, para que fosse enviado à matriz do Banco do Brasil, localizada
na capital do país, o itinerário perseguido por Santa Rosa.
Foi aí que passou a vislumbrar uma gama social que pudesse ser proveitosa quanto a sua aprovação, já
que, para ele, o modus operandi da cultura política existente em seu tempo obedecia aos critérios políticos
da nomeação, e não do mérito. Assim, Santa Rosa se inclinou na busca de intermediários/ ?pistolões?, e
aciona sua rede de sociabilidade para promover empreendimento tático à sua aprovação:
(...) [Bem] sei que este concurso, como todas as cousas actuaes, não se processa, naturalmente, na razão
directa dos valores demonstrados, mas sob os auspícios dos pistolões e de todas as recomendações
assignados pelos fazedores da política e já que é preciso ser assim; já que somos forçados a fazer assim:
? sejamos e façamos com a situação nos obriga (...) E é sobre isto que venho pedir de sua amizade, um
grandíssimo favor (...) É possível que ahi entre toda essa novidade do seu convívio haja alguém que no
momento actual te possa servir como um intermediário para o meu interesse de ser nomeado... Alguém
cuja família representa no momento, algo de realmente prestigiado que seja um factor, no cenário
ambiente, de relevo e de força irradiante (...). (SANTA ROSA, 1931, p. 2).
Sua ambição em sair da cidade da Parahyba tornou-se ainda mais notória quando ele, deixando de lado
qualquer formalidade, passou a clamar de maneira mais direta:
(...) Acrescento, meu amigo, que o local pouco me dá! ei-me fora do interesse ir a tal ou qual lugar.
Entretanto como é natural, prefiro as agências do sul. É caso interessante, o que menos desejo é ficar aqui
. Não há por acaso parahybanos do seu conhecimento na Matriz do Banco do Brasil? (SANTA ROSA,
1931, p. 3).
Para alcançar o objetivo, Santa Rosa, elaborou estratégia que, dando certo, seria o seu passaporte para
alcançar seu obstinado destino, assim como o impulsionar para outros ares, para além da pacata Cidade
da Parahyba, que passou a chamar pela alcunha de ?exílio?. Santa Rosa pretendia sair de sua atmosfera
natal e partir em busca de uma ambiência profícua de profundas mudanças.
[9: É o que aponta Miceli (2001, p. 77), para quem: [as] décadas de 1920, 1930, 1940 assinalam as
transformações decisivas no planos econômicos (crise do setor agrícola voltado para exportação,
aceleração dos processos de industrialização voltados para a urbanização, crescente intervenção do
Estado em setores-chaves da economia etc.), social (consolidação da classe operária e da fração de
empresários industriais, expansão das profissões de nível superior, de técnicos especializados e de
pessoal administrativo nos setores público e privados etc.), político (revoltas militares, declínio político das
oligarquias agrária, abertura de novas organizações partidárias, expansão dos aparelhos do Estado etc.) e
cultural (criação de novos cursos superiores, expansão da rede de instituições culturais públicas, surto
editorial etc.).]
Ele visava ser inserido na carreira pública no Banco do Brasil e alcançar estabilidade, a possibilidade de
vivenciar um contexto propício para desenvolver o seu projeto de uma vida artística. Parecia que tudo
daria certo: assegurar seu lugar no serviço público e vivenciar os principais corredores do mundo artístico.
Ledo engano. O que parecia motivo para comemoração se tornou um imbróglio trágico, uma vez que sua
tática não alcançou o sucesso necessário e, ao invés de ir ao Rio de Janeiro, foi enviado para uma
agência em Recife.
A fim de alcançar seu objetivo, Santa Rosa acionou, ao mesmo tempo, Simeão Leal e outro influente
amigo ? o gaúcho Moziul Moreira Lima, tenente do Exército. Nos anos 1950 é possível identificá-lo como
membro conselheiro da Associação de Ex-combatentes do Distrito Federal (Rio de Janeiro), já com a
insígnia de major. Com isso, a estratégia de Santa Rosa foi gerar duas forças de influência para efetivar
sua meta de ser nomeado como funcionário do Banco do Brasil no Rio de Janeiro. Mas, novamente não

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obteve êxito, e foi transferido apenas para Maceió, Alagoas. Todavia, por lá não abandonou a sua
obstinada dedicação em ?fazer-se artista.
Na atmosfera cultural de Maceió, Santa Rosa compartilhou trabalhos, se aproximou de outros jovens
artistas, e vivenciou espaços de sociabilidade: participando de salões, exposições, e contribuindo com
seus feitos artísticos (gravuras e poesias) em jornais e revistas locais. Naquele ambiente de difusão da
cultura unia-se a uma plêiade de intelectuais. Entre eles, José Auto da Cruz Oliveira, o poeta ? Zé auto?,
com escritores modernistas, a exemplo de Raquel de Queiroz e Graciliano Ramos ? este já tinha sido
prefeito de Palmeira dos Índios. Em 1932 Ramos já havia sido nomeado diretor da Secretária da Imprensa
Oficial, e utilizava de sua influência para realizar encontros em seu gabinete. Outro importante espaço de
sociabilidade de Maceió em que ocorriam os encontros, era no boêmio Bar Central. Em setembro de 1956,
o Correio da Manhã publica, na coluna Escritores informações sobre o grupo, diz:

?Reunidos em torno do escritor, no seu gabinete na Imprensa, ou no ?Ponto Central? os rapazes ficavam
em conversas e discussões literárias que se prolongavam horas a fio?. Além de médicos e professores
pertenciam aquele ciclo ?alguns escritores e artistas de outros estados, como José Lins do Rego, Raquel
de Queiroz e Santa Rosa? (ESCRITORES..., 1956, p. 10).

O pintor Santa Rosa realizou uma exposição de sua arte modernista na capital alagoana. É o jornalista
Manoel Diógenes Junior, que recorda quando no Instituto Histórico de Alagoas, em 1932, o crítico e
jornalista, Valdemar Cavalcanti

(...) apresentou Santa Rosa numa palestra em que estudava sua arte dentro do modernismo brasileiro. E
assinala-se eu esta noite de modernismo, em que se tocou Debussy e se cantou Blue, onde se
apresentavam os trabalhos modernos de Santa Rosa, se realizou nos austeros salões do venerando
Instituto Histórico de Alagoas (JUNIOR DIOGENES, 1956, p.03).

O que as fontes mostram é que ele Santa Rosa, abandonou o emprego no Banco quando se mudou para
o Rio de Janeiro. Sua trajetória é marcada por uma decisão que modificou sua vivência e assustou amigos
/as, quando decidiu abandonar o emprego no Banco do Brasil para consolidar seu sonho. Segundo, a
escritora Rachel de Queiroz:
[Santa Rosa] pediu transferência para o Rio, mas recusaram a transferência. Ele então abandonou o
emprego e se tocou para cá, entregando-se deliberadamente às dificuldades, quase à miséria, do artista
que tenta abrir caminho na cidade grande. Passou o diabo, passou fome, todo mundo o considerava louco
por abandonar um emprego excelente por amor de um sonho, ou como lhe dizia um amigo, ?uma vocação
abstrata?. Santa explicava pacientemente: ?Mas eu sou pintor". (QUEIROZ, 1961, p. 8).

Na cidade carioca, se inseriu no mundo editorial ? uma decisão tomada que, sem saber, o tornaria um
artista que logrou êxito como pintor, crítico de arte, cenógrafo, professor e profissional do âmbito gráfico
entre seus pares, como discutiremos no próximo tópico.

O multifacetado artista

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Santa Rosa foi um artista multifacetado, característica comum de sua geração, atuando em diversos
âmbitos da arte de maneira concomitante. Acompanhar sua vivência no mundo da pintura, cenografia e
artes gráficas é um convite para o mundo artístico cultural do início do século XX. O esquadrinhamento de
parte de sua trajetória é perpassado por ideias do movimento modernista à brasileira, que prevaleceu
hegemônico, sobretudo, entre as décadas de 1930 e 1950.
A partir de 1933, após abandonar o emprego na agência alagoana do Banco do Brasil em Maceió e viajar
à então capital do país, Santa Rosa adentrou in loco no microclima intelectual carioca. Sua carreira
artística teve início enquanto responsável por projetos visuais em editoras, jornais e revistas ilustradas.
Aproveitando o boom de vendas ocasionadas pelos gêneros literários (ficção, romantismo), se viu em meio
à demanda por mão de obra especializada. O trabalho inicial nas editoras Ariel, Schmidt e José Olympio
foi profícuo. O cenário de ofertas de emprego era, de maneira geral, atraente.
[10: Conforme explica Miceli (2001, p. 148), ?[o] surto editorial da década de 1930 é marcado pelo
estabelecimento de inúmeras editoras, por fusões e outros processos de incorporação que ocorrem no
mercado editorial e, ainda, por um conjunto significativo de transformações que acabaram afetando a
própria definição do trabalho intelectual: aquisição de rotativas para impressão, diversificação dos
investimentos e programas editoriais, recrutamento de especialistas para os diferentes encargos de
produção e acabamento, inovações mercadológicas nas estratégias de vendas ? implantação do serviço
de reembolso postal, contratação de representantes e viajantes etc. ?, mudanças na feição gráfica dos
livros, com o intento de ajustar o acabamento das edições às diferentes camadas do público, e, sobretudo
, empenho das principais editoras em verticalizar o processo produtivo e diversificar suas atividades?.]
Ao chegar à capital do país, Santa Rosa já era pintor e desenhista. Com essas habilidades buscou nas
editoras um meio de vida. No seu tempo, editoras investiram na visualidade dos livros para atrair cada vez
mais o público leitor ávido em consumir o bem cultural da modernidade: o livro ilustrado. Neste momento,
trabalhou inicialmente nas editoras Ariel e Schmidt, mas foram as duas décadas dedicadas as feituras
gráficas pela editora José Olímpio que o consagrou. Seus feitos artísticos expressavam outra estética aos
livros que circulavam pelas principais livrarias da cidade, ou nas exposições das capas de livros que,
acomodadas nas vitrines, exibiam imagens assinadas por Santa Rosa. Estas tinham por objetivo o
aumento das vendas, e funcionavam enquanto rede de entrelaçamento de sua sociabilidade. Assim,
discorre Bueno:
Tendo [Santa Rosa] participado, desde os tempos de Maceió, da vida intelectual brasileira, seu trabalho de
criador de capas era também uma forma de participação direta na vida cultural e literária de seu tempo,
além de representar uma modalidade de cooperação criativa com os confrades escritores. Vida
profissional e camaradagem. No caso da literatura brasileira, mas não só ler os livros para desenhar-lhes
uma capa era mais que uma tarefa feita por obrigação. (BUENO, 2015, p. 63).
Santa Rosa conquistou, ao longo de duas décadas de trabalho no mundo das artes gráficas, lugar de
destaque como artista gráfico modernista, ?(...) sendo responsável quase sozinho pela transformação
estética do livro brasileiro nos anos de 1930-1940 (...)? (HALLEWELL, 2017, p. 512). Quase todas as
editoras neste período têm sua assinatura, o que reforça o nível de importância do artista afro-brasileiro.
Conforme aponta Bueno (2015), a produção de Santa Rosa se de especialmente na editora José Olímpio,
onde construiu um prodigioso acervo de imagens para as capas de livros. É enorme sua relevância e seu
protagonismo na história das artes visuais do país, afinal:
(...) quem quiser contar a história da evolução das artes visuais no Brasil do século XX não pode escapar
ao nome de Santa Rosa (...) é preciso reconhecer que Santa Rosa fez esse trabalho como mais ninguém.
Se nem todas as ações oficiais que propôs se concretizaram, seu trabalho contínuo por mais de vinte anos

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deixou exposta em parte uma visualidade que não pode ser colocada noutro lugar que não o da arte
moderna. (BUENO, 2015, p. 22).
Santa Rosa é reconhecido pela inovação no metiê das artes gráficas, e talvez por isso seja mencionado
como ?pai do livro moderno? (HALLEWELL, 2017). O afro-brasileiro entrou para a história das artes
visuais tanto por conta de seu desempenho singular no desenvolvimento do ofício, quanto pela assídua
defesa intelectual sobre a profissionalização do metiê. De acordo com Laurence Hallewell, praticamente,
todas as obras que formam a geração romancista de 1930 com suas imagens-síntese, ainda menciona
que
?Os livros com o sinete editorial da José Olympio logo começaram a destacarse da insípida mediocridade
dos concorrentes, pois o editor, desde o início, dedicou cuidadosa atenção ao projeto gráfico. Seu
colaborador nessa área, mais uma vez, foi um nordestino, Tomás Santa Rosa, que trabalhara
anteriormente em diagramação e em desenhos de capa para a Schmidt (...) [deste modo] ele tem sido
considerado o maior produtor gráfico de livros do Brasil, responsável, quase sozinho, pela transformação
estética do livro brasileiro nos anos de 1930-1940 produtor gráfico de livros do Brasil, responsável quase
que sozinho pelas transformações estéticas do livro brasileiro nos anos de 1930-1940?. (HALLEWELL,
2017, p. 512).
O reconhecimento maior de Santa Rosa no âmbito das artes gráficas veio quando ele foi convidado a criar
e coordenar um pioneiro projeto escolar que contribuísse diretamente com a formação de artistas no
âmbito das artes gráficas. Em março de 1946 sua ambição de difundir a profissionalização do ofício
através de um conhecimento sistematizado sobre o âmbito foi consolidada. Certamente, sua atuação o
consagrava como principal peça de montagem e coordenação do Curso de Artes Gráficas, realizado pela
Fundação Getúlio Vargas, na cidade do Rio de Janeiro:
Em 1946, a Fundação Getúlio Vargas doava ao nosso meio artístico um atelier de gravura, o qual tive a
honra de dirigir. Com a colaboração do Carlos Osvald e Leskoscheck, efetuou-se um trabalho de
desbravamento cujos resultados em oito meses teremos a oportunidade de expor ao público ainda este
mês. É admirável a ágil e curiosa inteligência dos jovens alunos, aprendendo e experimentando com
eficiência rapidez, técnicas como as da gravura, complexas e variadas (SANTA ROSA, 1947, p. 10).
Nesse sentido, acompanhando a leitura quanto à repercussão do Curso feita pela crítica de arte, podemos
avaliar até que ponto a iniciativa coordenada por Santa Rosa foi benéfica ao fazer-se do metiê. A cargo da
coordenação do primeiro curso de artes gráficas do país, Santa Rosa difundiu suas proposituras e
diretrizes quanto à formação de novos profissionais. Tendo ele ainda desempenhado a função de
professor. Assim, foi possível avaliar como o artista/professor articulou seu conhecimento no âmbito.
Sobre a repercussão do curso, Santa Rosa , pondera que a consequência maior é a de estabelecer uma
positiva relação de novos artistas/profissionais, assim, ?(...) com paginadores de nova visão, as editoras
com ilustrações possuidoras de todas as técnicas, e as agências de publicidade em ?layoutmans? e
cartazistas?. Investir nos campos de artes gráficas que se voltam para comunicação em massa (FALA...,
1946, p. 8). Vale salientar que sua preocupação em fortalecer o mercado interno, ?(...) fazer ressurgir
essas técnicas da obscuridade em questão, e trazer ao meio brasileiro uma contribuição objetiva, digna de
consideração? (FALA..., 1946, p. 8).
No período aqui abordado, especialmente entre a década de 1930 e a de 1950, embates que revelam
divergências sobre a arte e a cultura, trazendo à tona caminhos para compreensão da cultura artística de
um tempo. É possível evidenciar questões fulcrais à atmosfera artística, entre elas a qualificação técnica, a
influência ideológica e a função social do artista no metiê.
No plano individual, Santa Rosa não detinha prerrogativas institucionais oficialmente registradas por

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instituições de renome, sua formação na pintura se deu a partir da mentoria de Cândido Portinari, somada
ao seu autodidatismo; assim como nas artes gráficas teve que lidar com o desconforto de não possuir
comprovação institucional.
Já o perfil estético do pintor Santa Rosa pode ser evidenciado em suas inúmeras obras. São diversos
cenários como: festas, vida cotidiana, reminiscências de sua infância, celebrações religiosas, pescadores,
trabalhadores, samba. Em relação à representação de mulheres, é interessante perceber que,
diferentemente do projeto visual da década de 1930, Santa Rosa investiu em adereços africanistas, como
turbantes e vestidos longos de cores fortes. A escolha em representar a estética negra através de lenços,
vestidos e indumentárias foi a maneira de criar suas imagens-síntese. Assim é também possível
evidenciar suas memórias da Cidade da Parahyba.

Imagem 03 ? Festa, (óleo sobre tela) 80 x 63 cm, Santa Rosa, 1950

Fonte: BARSANTE, 1993

Os embates quanto às modificações no âmbito da arte atravessam a conjuntura cultural do primeiro


quinquênio do século XX. Tanto é que a tessitura pictórica de Santa Rosa, assim como a de outros/as
artistas modernistas, foi alvo de protestos em algumas exposições pelo país. Um bom exemplo ocorreu na
Semana de Arte Moderna de Belo Horizonte de 1944, quando as realizações modernistas não agradaram
parte do público geral. A pintura moderna ficou marcada por uma investida em tom de manifesto, contra a
realização da Semana de Arte Moderna Belorizontina. Trata-se de um atentado às telas e esculturas
registrado pela imprensa local e revistas de arte.
No ensaio ?Fígaro barbeia o modernismo?, do crítico de arte Henrique Pongetti, é possível compreender
cenas surpreendentes. Pongetti conta sobre um homem desconhecido que saiu distribuindo coléricas
navalhadas em formato de cruzes nas telas dos quadros que compunham a exposição. O advento revela,
entre outras questões, querelas de pulso ideológico circunscritas à atmosfera artística do tempo de Santa
Rosa.
Figura 04 ? As Três Idades da Vida (óleo sobre tela) 90 x 76 cm, Santa Rosa (obra danificada)

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Fonte: BARSANTE, 1993.

O pintor modernista premiado com medalha de prata na mais importante exposição do país, o Salão
Nacional de Arte (1941) defendia ferrenhamente a concepção do modernismo nacional, ou seja, a ideia
que embora o modernismo brasileiro sofresse influência do arte europeia já havia idiossincrasias artísticas
locais que caracterizavam o modernismo nacional. Santa Rosa foi júri de expoentes exposições nacionais,
a exemplo da Bienal de São Paulo em 1951 e 1953; e no Salão Nacional na seção de Arte Moderna. Vale
salientar que o Salão Nacional era um importante espaço na história da pintura e da intelectualidade
artística no país, que protagonizou exposições marcantes, que deteve por função institucional a anuência
de reconhecer um quadro enquanto obra de arte, é o Salão Nacional. Conforme explica Luz, o Salão:
[11: O debate historiográfico acerca do modernismo e nacionalismo é de longa data, aqui, daremos
atenção especial à temporalidade que marca o fazer-se do multiartista Santa Rosa, ou seja, a atmosfera
artística cultural (entre 1930 e 1950) na qual o intelectual-multiartista Santa Rosa experimentou no mundo
da arte, de seu tempo, sentidos do modernismo. Como outros intelectuais, encarou a vida artística
enquanto aquilo que Gomes (2004, p. 82) determinou por ?[...] doublé de teórico da cultura e de produtor
de arte, inaugurando novas formas de expressão e refletindo sobre as funções e desdobramentos sociais
que tais formas guardariam?. Em relação ao nacional, ou seja, a criação do referido constructo ideológico
de unidade nacional desempenhada pelo Estado Novo buscou, segundo Gomes (2007), agir em benefício
da recuperação de um passado colonial, harmônico e glorioso. Por seu turno, Oliveira (2013) enveredou a
compreender o nacionalismo identificando o aparecimento, no início do século XX, de movimentos
artísticos nacionais que corroboram com a evocação do nacional, a exemplo do Manifesto Pau-Brasil
(1924) e do Manifesto antropofágico (1924), em cujo contexto a modernização de dispositivos de
comunicação (tais como rádio, indústria editorial e cinema) foi imprescindível para a difusão de símbolos e
sentidos de nacionalismos.]
(...) propiciava a oportunidade para todo e qualquer artista, independente da situação econômica que
tivesse, poder se aperfeiçoar nos principais centros de produção artística na Europa. A cada ano, a
emulação entre os concorrentes 173 ajudava o despertar de novos valores para a arte brasileira. Como as
obras premiadas ficavam para a coleção da Academia, depois Escola Nacional de Belas Artes, e que, em
1937, no governo de Getúlio Vargas, deu origem ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes, temos,
ainda, a grande contribuição dos Salões para a formação e ampliação desse acervo notável de nosso
museu. (LUZ, 2006, p. 60).
Ou seja, ao participar do Salão, o artista pavimentava sua trajetória rumo à consagração. A expectativa do
reconhecimento dos pares significava não apenas uma condecoração, mas também a possibilidade de
ascensão social, uma vez que se almejava abocanhar a premiação concedida pela Escola Nacional de
Belas Artes. As bolsas de estudos eram concedidas com intuito de ampliar o conhecimento em viagens
pelo Brasil (prêmio nacional) ou à Europa (prêmio internacional). Santa Rosa não se beneficiou de viagens
internacionais através do prêmio do Salão, foi através de sua conquista em outro âmbito da arte, o teatro.
A trajetória de Santa Rosa no teatro foi propiciada por inúmeras participações enquanto cenógrafo em
diversas companhias, entre elas ?Os comediantes? e a ?Companhia Dramática Nacional''. Além disso, ele
ocupou os seguintes cargos: diretor do Museu de Arte Moderna (1948), coordenador do ateliê de
decoração do Teatro da Escola Nacional (1950) e diretor do Conservatório Nacional de Teatro. Em 1952,
fez sua primeira viagem à Europa representando o Brasil na Reunião dos Artistas em Veneza, conferência
organizada pela Unesco. Nesse período, ele circulou pela Itália, Espanha, Inglaterra e França por quase

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dois meses. Em 1955, passou a dirigir o Conservatório Nacional de Teatro. Em 1956, ano que marca sua
morte, foi nomeado professor de cenografia na Escola Nacional de Belas Artes da Universidade do Brasil.
Entre seus maiores anseios estava a criação de uma escola de Teatro, Teatro para Crianças e o Teatro
de Negros. A sua relação com o Teatro Experimental do Negro foi efetiva, tanto na produção de cenários
como em incisivas defesas em jornais da época. Para o TEN, Santa Rosa realizou a cenografia para o
Recital Castro Alves, dirigido por Abdias Nascimento, no Teatro Fênix, no Rio de Janeiro. Ele foi
responsável, também, pelo cenário da peça Terras do sem-fim, espetáculo adaptado da obra do baiano
Jorge Amado, por Graça Mello. Já em 1948, assinou a produção visual dos figurinos e cenários da peça A
Família e a Festa na Roça, dirigida por Dulcina de Moraes. Já em 1949, o intelectual negro das artes
visuais realizou a feitoria de Filhos de Santo, obra escrita por José Morais de Pinheiro, com direção de
Abdias Nascimento. E Calígula, texto escrito pelo filósofo argelino Albert Camus, que por falta de recursos
não conseguiu ser exibida mais de uma vez, contou com a cenografia e arte figurinista de Santa Rosa,
sendo a direção de Abdias Nascimento.
Santa Rosa promoveu assertivas defesas a favor da consolidação do teatro para negros. No dia 25 de
agosto de 1946 no jornal Diário Trabalhista, é possível evidenciar em ?PROBLEMAS e aspirações do
negro brasileiro: o Teatro Experimental do Negro e a cultura do povo?, a denúncia sobre interrupções nos
ensaios do grupo, que ocorriam no teatro Fênix, do referido grupo.
Niuxa Dias Drago (2014), em A cenografia de Santa Rosa ? espaço e modernidade, apresenta sua
notoriedade em sua trajetória no Teatro que passa a influenciar o âmbito do teatro nacional, considerando
que ele foi um dos precursores da perspectiva modernista e da arte-social na atmosfera do teatro. O ofício
da arte cenográfica coincide com mudanças significativas ocorridas nesta área, considerando sua
condição de inovador da perspectiva moderna ? pode-se dizer que a grande modificação trazida por Santa
Rosa é propiciada por meio de novas funções para elementos como luz, arquitetura de palco e adereços.
Com isso, Santa Rosa ? ao empreender uma transformação da perspectiva (que passaria de dual para
tridimensional) ? acabaria se tornando responsável por transformar a arte cenográfica no teatro nacional
na primeira metade do século XX, fazendo com que esta deixasse de ser um simples elemento decorativo
e passasse a se impor como um conteúdo específico da arte teatral. Note-se que a primeira versão da
peça Vestido de Noiva (1943), de autoria de seu amigo e escritor Nelson Rodrigues e direção do imigrante
polonês (evadido dos conflitos da Segunda Guerra Mundial) Zbigniew Marian Ziembinski, é o marco que
divide a cenografia brasileira.
Figura 04 ? Cenário da peça Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues, 1943

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Fonte: BARSANTE, 1982.


A melodia da vida e o ritmo de pinceladas entrelaçadas em suas formas, linhas e cores, condensadas em
quadros, murais e capas de livros ilustram feitorias de um artista, mas também, o olhar de um homem em
seu tempo para a cenografia são vestígios de uma trajetória de vida, vivida pelo sujeito histórico Santa
Rosa.

Considerações Finais
Como visto, o espaço geracional de Santa Rosa foi analisado como possibilidade para compreender a sua
experiência em meio a repercussão do ideal moderno e as transformações/modernização dos dispositivos
essenciais para a vida na urbe (luz, água, transporte). A vida na Cidade da Parahyba, vivida por pouco
mais de duas décadas, levou Santa Rosa a elaborar suas impressões sobre o meio social, cultural, político
e arquitetônico que o rodeava.
A sua a vida familiar do pequeno ?Bosinho? não foi fácil. Afinal, a conjuntura epidêmica na infância
resultou na perda de três irmãos. Santa Rosa tornou-se o único filho homem de Alexina e Thomaz Santa
Rosa. As postulações ensejadas buscaram explicar a maneira pela qual o jovem Santa Rosa foi
beneficiário de uma boa formação educacional, e de como chegou a cargos no funcionalismo público da
cidade. Uma vez funcionário público do Tesouro Estadual, se beneficiou de uma rede de sociabilidade que
fora iniciada bem antes, com a escolha de seu padrinho, medida salutar a sua trajetória no âmbito do
trabalho.
Também buscamos compreender a trajetória de vida de Santa Rosa a partir de sua experiência vivida em
espaços de sociabilidade que circulou. Assim, procuramos apresentar os primeiros passos do artista
gráfico, professor, pintor e crítico, revelando expedientes de seu protagonismo enquanto um artista afro-
brasileiro multifacetado. No Teatro, o cenógrafo Santa Rosa difundiu referências ideológicas e
contribuições técnicas para a cenografia, a maneira com a qual utilizou elementos que projetam aspectos
em formas e conteúdo da cultura afro-brasileira e africana na feitura cênica do teatro nacional junto ao
Teatro Experimental do Negro.
Nosso intuito foi colaborar com os estudos afro-pedagógicos concernentes às trajetórias de vidas de
homens letrados no pós-abolição. A investigação histórica se alimenta de perguntas que são ensejadas a
cada novo olhar sobre o mesmo documento/testemunho, e estas vêm à luz a partir do tempo presente.
Alguns apontamentos chegam enquanto bússola que norteia novas navegações da pesquisa. O mar das
emancipações, do pós-abolição está propicio para longas e profundas navegações em que o fato histórico
da abolição da escravidão em 1888 é a égide para novas conexões do passado-presente.

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escreverei. São Paulo: Companhias das Letras, 1992.
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SANTA ROSA, Tomás. [Correspondência]. Destinatário: José Simeão Leal. João Pessoa, 25 fev. 1931. 3
carta.
SANTA ROSA, [Tomás]. Sobre a arte da Ilustração - Suplemento Letras e Artes. A Manhã, Rio de Janeiro,

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12 jan 1947, p. 12. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=114774&pasta


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Arquivo 1: 368.docx (11651 termos)
Arquivo 2: https://1library.org/article/ecos-amizade-open-jos%C3%A9-sime%C3%A3o-leal-escritos-
trajet%C3%B3ria.y6e1vp7z (3238 termos)
Termos comuns: 67
Similaridade: 0,45%
O texto abaixo é o conteúdo do documento 368.docx (11651 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento https://1library.org/article/ecos-amizade-
open-jos%C3%A9-sime%C3%A3o-leal-escritos-trajet%C3%B3ria.y6e1vp7z (3238 termos)

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ESCRITA ? DA ? HISTÓRIA
Uma experiência afro-brasileira no mundo das Artes: vida, pensamento e sociabilidade de Tomás Santa
Rosa (1909-1956)
Tomás Santa Rosa (1909-1956) uma experiência afro-brasileira no mundo das Artes...
Thiago Brandão da Silva
[1: Este artigo é originado da dissertação de mestrado ?Fragmentos de uma história de vida, o afro-
paraibano Tomás Santa Rosa Jr. (1909-1956): entre vivências, intelectualidades, ditos e feitos artísticos,
defendida em 2021, no Programa de Pós-Graduação em História.* Mestre em História pela Universidade
Federal da Paraíba. Professor da Educação básica. Membro/colaborador do Núcleo de Estudos Afro-
brasileiros e Indígenas (NEABI/UFPB).]
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com

Resumo
Trata-se de refletir sobre a vida do multifacetado artista negro modernista que atuou na construção cultural
e artística do país em diferentes âmbitos, Tomás Santa Rosa. A pesquisa se insere na gleba da escrita
sobre intelectualidades negras no pós-abolição. Metodologicamente, leva-se em consideração a dinâmica
social vista sob a égide da microanálise, o que amplia a compreensão dos caminhos, escolhas, decisões,
que formam o campo (ou uma sucessão) de sentidos que tangencia(m) uma trajetória de vida. Considera-
se o descortinar do cenário geracional de sua trajetória de vida enquanto possibilidade para compreender
suas dimensões sociais: a família, o emprego, amigos e estratégias de mobilidade social, além da feição
discursiva do ideal de moderno e das transformações metamórficas do espaço vivido e do debate
intelectual a partir da História Social da Cultura. Busca-se comtemplar a participação de um sujeito
histórico negro no mundo das artes enquanto referência e possibilidade de estudo para estudos afro-
pedagógicos e a agenda de historiadores/as sobre trajetórias e sociabilidades de homens e mulheres
negros no pós-abolição.

Palavras-chaves: Tomás Santa Rosa; Cidade da Parahyba; Sociabilidade; Pós-Abolição; Modernismo.

Abstract
It is about reflecting on the life of the multifaceted modernist black artist who acted in the cultural and

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artistic construction of the country in different areas, Tomás Santa Rosa. The research is part of the field of
writing about black intellectuals in the post-abolition period. Methodologically, the social dynamics seen
under the aegis of microanalysis are taken into account, which broadens the understanding of the paths,
choices, decisions, which form the field (or a succession) of meanings that touch (m) a life trajectory. It is
considered the unveiling of the generational scenario of his life trajectory as a possibility to understand its
social dimensions: family, employment, friends and social mobility strategies, in addition to the discursive
feature of the modern ideal and the metamorphic transformations of the lived space and of the intellectual
debate from the Social History of Culture. It seeks to contemplate the participation of a black historical
subject in the world of the arts as a reference and possibility of study for Afro-pedagogical studies and the
agenda of historians on trajectories and sociability of black men and women in the post-abolition period.

Keywords: Thomas Santa Rosa; City of Parahyba; Sociability; Post-Abolition; Modernism.

Numa tarde de domingo típica do verão carioca, em 16 de dezembro de 1956, algo acontecia nas
proximidades do Teatro Municipal do Rio de Janeiro - localizado na Avenida Rio Branco, antiga Avenida
Central. Quem naquela tarde trafegasse por aquela avenida veria um amontoado de pessoas nas
escadarias do monumental edifício e, tão logo, perceberia um cenário fúnebre. Ao se aproximar,
provavelmente, escutaria no diapasão de conversas íntimas frases cortadas do tipo: ?ele não gostava dos
papéis do banco?, ?era um pintor modernista?, ?ele foi pra Europa duas vezes?, ?estive com ele no Norte
?, ?detestava andar de bonde; sempre preferiu o táxi?; ou, ainda, algumas especulações acerca de sua
origem étnica ? ?um mulato?, ?nossa raça? etc... Enfim, peças do quebra-cabeça de uma investigação
histórica. É que os mortos geralmente deixam vestígios e os vivos lançam-se às memórias, ambos
elementos essenciais ao trabalho do historiador. Mas, como é realizada uma pesquisa sobre a vida de
alguém? Responderemos, de acordo com Vavy Pacheco Borges (2011), para quem o ?intermédio das
?vozes? [chega] do passado a partir de fragmentos de uma existência e dos registros das fontes
documentais? (BORGES, 2012, p. 2011. É desta feita que iremos esquadrinhar uma trajetória vivida, uma
existência vivida na alvorada republicana, no cenário pós-abolição da escravidão.
O objetivo da presente pesquisa é investigar fragmentos de uma trajetória de vida, vivida pelo
multifacetado artista paraibano Tomás Santa Rosa Jr, o ?Santa? ou simplesmente Santa Rosa. Nascido
em 20 de setembro de 1909, na Cidade da Parahyba, (atualmente nomeada João Pessoa), capital do
estado da Paraíba. Santa Rosa faleceu em; 26 de novembro de 1956. Na ocasião, estava ele ao leste da
Índia numa viagem oficial do governo brasileiro para a Conferência Geral da Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura ? evento promovido pela UNESCO, em Bombaim (Índia), no
qual, ele, Santa Rosa ocupava cadeira como representante do Diretório Nacional de Teatro. Quando
estava no Hotel no momento de descanso em Nova Délhi, cidade vizinha, e se preparava para seguir
viagem pela Europa, o destino pregou-lhe uma ?peça?.
Após sentir fortes dores abdominais (aos 47 anos de idade) foi encaminhado de ambulância ao Hospital
Wellington, percorreu alguns poucos quilômetros e ficou em observação. Já no outro dia recebeu visitas e,
quando tudo parecia ter sido apenas um susto, acabou surpreendendo os amigos/as durante a madrugada
, momento em que seu quadro clínico piorou e o levou a óbito ? provavelmente por um comprometimento
do sistema cardiovascular decorrente de complicações renais.
Até a chegada de seu corpo de lá (Índia) para cá (Brasil) são contabilizados dezoito melancólicos dias que
, em síntese, podem ser explicados por conta dos trâmites burocráticos e pelo fator cultural, uma vez que
no país de maioria hinduísta permeia a cremação dos restos mortais, e não dispunha de reserva e

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logística do transporte de seus restos mortais para outros país. No aeroporto do Rio de Janeiro,
aguardavam por ele suas irmãs Heliomar Santa Rosa e Crisantina Santa Rosa Iwata. Santa Rosa foi
casado no civil com Maria da Gloria Monteiro (1935), numa celebração simples no apartamento de seu
amigo e mentor (renomado das artes plásticas) Cândido Portinari. Em 1942 se casaria novamente, agora
no religioso, com Nely Guimarães. Porém, foi com Oscarina Amorim que teve seu único filho, Luiz Carlos,
que também o esperava junto às tias. Além disso, no aeroporto também aguardavam por ele o ex-senador
Ivo d?Aquino, o escritor Marques Rebelo e o teatrólogo Joracy Camargo (CHEGARAM... 1956, p. 01).
É importante apontar que no ano de seu falecimento foi possível averiguar dezenas de homenagens
escritas à guisa de lembranças em jornais da época. Estas são, para a presente pesquisa, caminhos para
uma melhor compreensão de sua rede sociabilidade, do microclima intelectual, político e cultural de seu
tempo, de seu vínculo afetivo, profissional com dezenas de outros criadores e mediadores da cultura que
formam ?[...] as elites culturais, mesmo quando entidades autônomas, em posição de extraterritorialidade
ligadas à sociedade que os rodeia e são precisamente esses laços, especialmente políticos, que lhes
conferem uma identidade? (SIRINELLI, 1998, p. 259).
Figura 01 ? Saída do cortejo fúnebre de Santa Rosa

Dito isto, a partir de uma série delas (re) conheceremos o homem do seu tempo, o intelectual das artes, o
artista, o funcionário público, o ?Santa?, o ?Santa Rosa?. Afinal, ainda a esse respeito, Ricoeur (2007)
ressalta que a lembrança inaugura um novo ângulo da representação histórica, ?(...) uma imagem
presente de uma coisa ausente? (...) (RICOEUR, 2007, p. 199) ? constituindo-se, dessa forma, como uma
maneira de entender o passado por meio das mensagens póstumas de sua rede de amigos.
Em reclames por conta de um encontro que não aconteceu, o escritor e jornalista brasileiro João Condé
rememora o momento de sua partida para a Índia ?(...) no dia de seu embarque, estive com ele [Santa
Rosa], Alcântara Silveira e Simeão Leal, no City Bank (...) todo eufórico, trocava cruzeiros por dólares. E
no abraço de despedida perguntou-me o que desejava que trouxesse? (CONDÉ, 1956, p. 12). As
lembranças, de maneira verossímil, ajudam a compor uma série de apontamentos, caminhos e
postulações acerca da trajetória de vida de Santa Rosa.
Desta feita, passaremos a refletir acerca da trajetória de vida do multifacetado artista modernista, Santa
Rosa. Assim, pretende-se compreender fragmentos de sua trajetória vivida no espaço-tempo de sua
ambiência geracional; identificar como formou e se beneficiou de uma rede de sociabilidade composta por
uma renomada plêiade de intelectuais e reconhecer seu protagonismo no cenário artístico-cultural de seu
tempo. Metodologicamente, considera-se a dinâmica social vista sob a égide da microanálise, ou seja, o
grau de singularidade quando aproximamos a lente que analisa os processos históricos.
Assim, a pesquisa adota a perspectiva teórica da história social cultura e arrola sob a égide teórica-

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metodológica da política das elites culturais, da comunicação social das redes sociabilidade, da realização
cultural de feitos artísticos (SIRINELLE, 1998; 2003). A trajetória de vida do multifacetado artista, Santa
Rosa, é por aqui compreendido levando em consideração as premissas, do geografo Milton Santos, em
que o espaço é o elo de junção, na medida em que liga-se os ?(...) fatores à genes, ao funcionamento e à
evolução do espaço (...)?, ou seja, ?o espaço pode ser definido de maneira tripartida: primeiro, como um
fator social (determina as condições sociais); segundo, como um fato social (produto e produtor); terceiro,
como uma instância social, pois é um ?(...) revelador que permite ser decifrado por aqueles mesmos a
quem revela (...)? (SANTOS, 2004, p. 163). Desta forma, a pesquisa se fundamenta a partir da tríade
objeto-tempo-espaço (REVEL 1998; BOURDIEU, 2006; SANTOS, 2004).
O corpus documental analisado é formado por uma série de escritos de amigos e de sua autoria
publicados em jornais, revistas e suplementos literários, especialmente, acessados a partir da Hemeroteca
Digital da Biblioteca Nacional (BNDigital). Conforme defende Luca (2011), a partir da utilização do jornal é
possível captar a nova vida citadina do século XX. Afinal, são os periódicos que registram as modificações
da urbanização, modernização dos espaços, e se encaixam no mesmo fluxo de outros dispositivos que
surgem na modernidade.
Nesse sentido, comunicaremos a pesquisa seguindo o seguinte enredo. No primeiro momento trataremos
interpretar Santa Rosa a partir de recordações de seus amigos (as) que compuseram sua rede de
sociabilidade. Em um segundo momento, iremos compreender sua trajetória em seu cenário geracional,
assim, leva-se em consideração: família, espaço e sociabilidades de Santa Rosa. No terceiro e último
momento vamos apresentar parte da experiência do artista multifacetado.
Aos vivos: (re) apresentação de Santa Rosa

Para Paul Ricouer (2007, p. 199) as lembranças encontradas em mensagens-póstumas (ou seja,
homenagens escritas após o falecimento do indivíduo encontrada no formato de crônicas) evocam um
presente ou uma presença, ?[...] buscam na operação de recordar que se conclui com a experiência do
reconhecimento, [pois] a lembrança é representação, re(a)presentação?. Em vista disso, iremos
apresentar a maneira com a qual Santa Rosa é (re) apresentado por alguns amigos que compõem sua
rede de sociabilidade. Não sem antes advertir a (a) leitor (a) sobre as idiossincrasias da atmosfera política
da década de 1930 em que havia um embate político ferrenho entre movimentos comunistas, fascistas e,
também que falavam da temática do negro. E isso de uma maneira que aumentava substancialmente as
disputas ideológicas que o governo varguista conduziu com destreza política.
[2: Santa Rosa fez parte de uma plêiade de intelectuais que estava a serviço do governo varguista, sob a
liderança do ministro Capanema. A esse respeito, Miceli (2001, p. 195) evidencia a maneira pela qual o
período correspondente ao mandato de Capanema (1934-1945) foi marcado pela cooptação dos
intelectuais, seja ?(...) como funcionários em tempo parcial, seja para desempenho de cargos de confiança
junto ao estado-maior do estamento, seja para preencherem os lugares que se abriam por forças das
novas carreiras que a extensão da ingerência passou a exigir, seja enfim acoplando inúmeras dessas
posições e auferindo rendimentos dobrados.?. Por outro lado, Fábio S. Cardoso (2019), biógrafo do
ministro Gustavo Capanema, endossado pela atuação de Graciliano Ramos e Carlos Drummond de
Andrade (dois declarados comunistas) no ministério, sugere (numa recente publicação) que havia, sim,
flexibilidade ideológica na ?constelação Capanema".]
No tempo de Santa Rosa, contendas ideológicas se fizeram presente. Houve pelo menos um fato em que
Santa Rosa se envolveu diretamente. Trata-se de sua prisão na época em que trabalhava numa editora.
Quem narra o ocorrido é o escritor José Lins do Rego que diz:

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Vi-o um dia sair preso da Livraria José Olímpio, num sábado de carnaval, que era a sua festa preferida. Vi-
o no meio dos esbirros num carro de Polícia. Lembro-me de seu olhar triste, a única vez que aquela
fisionomia prazenteira se fechava em angústia. Eram as saudades do carnaval perdido. Santa não
demorou entre as grades. José Olímpio bateu em todas as portas para libertá-lo. (REGO, 1956, p. 4).
É bem verdade que não sabemos os reais argumentos que levaram à prisão de Santa Rosa, embora
postule-se sua ligação, assim como a de outros intelectuais, com clubes, agremiações artísticas ligadas à
Aliança Nacional - célula maior da arquitetura do projeto comunista. Santa Rosa foi cofundador do Clube
de Cultura Moderna, fundado no dia 28 de novembro de 1934. Sua presença e a de outros artistas
modernos, como o amigo Aníbal Machado, evidenciava, portanto, a postura política dos artistas.
Na ambiência intelectual de seu tempo participava da rede de sociabilidade pessoal de Santa Rosa
artistas e escritores que já detinham prestígio, a exemplo, do escritor baiano Jorge Amado. Em seu livro
autobiográfico, Amado comenta sobre uma viagem a São Paulo ao encontro do artista modernista, pintor e
cenógrafo Flávio Carvalho (1899-1973) na companhia de Santa Rosa em 1933 em que é possível
evidenciar o microclima intelectual do momento, diz Amado (1992):
Eu o conheci quando fui a São Paulo pela primeira vez, em 1933, em companhia de Santa Rosa.
Hospedando-nos em casa de Tarsila do Amaral* e Osório César, na ocasião marido e mulher ? haviam
recém-chegado de Moscou, ir à URSS naquele então era aventura cercada de dificuldades, viagem de
espantos ? realizavam uma exposição de cartazes soviéticos, insólitos e românticos, no Clube de Artistas
Modernos, organismo criado e dirigido por Flávio de Carvalho, na época o centro de cultura mais sério do
Brasil, o que colocava a proposta mais avançada. Ali pronunciei conferência sobre as crianças nas
plantações de cacau, autografei o livro ilustrado por Santa Rosa, assisti ao Bailado do Deus morto, de
Flávio, que espetáculo!, logo proibido pela polícia política. A censura não dava tréguas ao CAM (...).
(AMADO, 1992, p. 202).
Santa Rosa participou junto com outros intelectuais de seu tempo, como Aníbal Machado, Jorge Amado,
José Lins do Rego entre outros, do CAM - Clube de Arte Moderna. Entre outras atribuições, destaca-se
sua coordenação da comissão da exposição para escolha do melhor tema sobre Palmares a partir do
ponto de vista do modernismo, em 1935 . Também fez parte da direção da Revista Movimento, que
ancorava reportagens e editoriais feitos pelos integrantes do CAM.
O Clube passou a aderir oficialmente, em setembro de 1935, a Aliança Nacional Libertadora (ANL) uma
organização de âmbito nacional que promovia ideias comunistas para combater a difusão do pensamento
fascista disseminado pela Ação Integralista Brasileira (AIB). Naquela década, de modo geral, havia um
estreito corredor de escolhas para partidários e intelectuais, prevalecendo ambos os movimentos. Neste
cenário, em que ?(...) fundiram-se a libertação do academismo, dos recalques históricos, do oficialismo
literário; as tendências de educação política e reforma social; o ardor de conhecer o país" (MELO E
SOUSA, 2000, p. 114) as capilaridades ideológicas do âmbito artístico sofreram efetivas mudanças.
Na adesão à ANL falou-se sobre a importância da Cultura para o povo, para as massas, para os
trabalhadores do país. Um momento de pulsante denúncia contra os integralistas e os regimes de
opressão (Nazismo e Facismo) e aclamação para união em prol de um programa de Cultural modernista
(uma contraposição a erudição exclusiva do academicismo) para o povo. Subiram ao palanque para
discutir acerca do tema ?Cultura e Liberdade?: Edgard Sussekind de Mendonça, Febus Gikovate Miguel
Costa Filho, Luiz Werneck de Castro, Carneiro Ayrosa, José Lins do Rego. Demetrio Hamam, Jorge
Amado, Annibal Machado, Cordeiro de Melo.
(...) todos pronunciando-se contra os regimes de força, contra o Facismo, contra o integralismo, em prol da
mais completa liberdade (...) O Sr. Febus aludiu ao programa da Aliança Nacional Libertadora, mostrando

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que em face do pronunciamento da assembleia que aplaudiram os oradores e sendo aquele movimento de
frente única o único que no momento pode libertar o Brasil, submetia a debate e votação dos presentes e
decisão do Clube de Arte Moder de aderir à Aliança Nacional Libertadora. Uma salva de palmas saudou as
últimas palavras, ficando assim aprovada unanimemente aquela decisão do Club. Em seguida, a
comissão do Club de Cultura, acompanhado de grande número de sócios, dirigiu-se à sede da ANL. Esta,
reunida em sessão, sob a presidência do comandante Cascardo ouviu a decisão, e em nome do diretório
da ANL falou sr. Amoretty Osório que agradeceu a atitude do Club de Cultura Moderna. (O QUE...1935, p.
5).
Já nas lembranças do amigo Sérgio Porto, jornalista do Diário Carioca ficou registrado o cenário de
criação do personagem cabotino Stanislaw Ponte Preta. Sobre isso, Porto conta que Santa Rosa junto
com ele idealizou o personagem. A esse detalhe vale salientar que interessou a Santa Rosa o espaço de
charges em jornais. Diariamente, representações artísticas da atmosfera política se projetam por meio de
formas extravagantes nos jornais. Conforme diz Santa Rosa, a ?[...] [política], com os seus artifícios e as
suas peras perversões, tem-lhe fornecido um material copioso, em que se tem exercitado a irônica e
sarcástica verve dos artistas [...]? (SANTA ROSA, 1947, p. 12). Porto também foi quem buscou explicar a
desapropriada pontualidade que o amigo costumeiramente exercitava. Ficou conhecido no meio
profissional por entregar encomendas fora do prazo. Para ele, a culpa de procrastinar as encomendas
advinha de sua impulsividade em querer conferir as novidades do mundo da arte, pois costumeiramente
deixava
(...) de fazer um quadro para ir comprar o último disco de Armstrong, ou para ver o desfile de uma escola
de samba. Deixava pelo meio da tela para ir assistir uma peça mambembe, onde um intérprete
coadjuvante surgia como esperança de bom ator. Perdia horas numa livraria folheando livros de arte (...).
(PONTE PRETA, 1956, p. 11).
A trajetória de vida do sujeito histórico negro, letrado, migrante, que participou ativamente da produção
cultural do país, especialmente, entre as décadas de 1930-1950, evidencia um cenário político, cultural e
artístico, um capítulo da história republicana no período do pós-abolição. Desta feita, essa pesquisa
acompanha uma série de estudos historiográficos do pós-abolição em que homens e mulheres negros-(as
) letrados-(as) são evidenciados atuando como protagonistas em instituições, espaços de sociabilidade e
poder; desempenhando variados ofícios, sobretudo no primeiro quinquênio do século XX.
A produção de estudos da população negra relacionados ao período posterior à abolição da escravidão se
diversifica e; o que outrora eram lacunas se tornam caminhos a serem percorridos, a exemplo da utilização
de fontes primárias tais como: registros de batismo; certidões de casamento, de óbito; uso da genealogia;
jornais; literatura; entrevistas orais com remanescentes quilombolas; acervos pessoais e privados
(MATTOS; RIOS, 2004). Ou seja, a pesquisa histórica que se ocupa em compreender a dinâmica das
trajetórias de vida de homens e mulheres negros (as) no pós-abolição ampliou a dimensão espaço-tempo
e, com isso, acabou, através de novas perguntas descortinando as ?(...) conexões transnacionais da
história intelectual e da história das ideias que sempre estiveram relacionadas com as perspectivas ligadas
ao pós-emancipação e os debates sobre racismo, direitos humanos e cidadania? (DOMINGUES; GOMES
, 2011, p. 10).
Em Experiências da emancipação: biografias, instituições e movimentos sociais no pós-abolição (1890-
1980), Domingues e Gomes (2011) evidenciam uma gama de trabalhos que discorrem sobre o período do
pós-abolição, a partir de pesquisas sobre associações, convenções, congressos e instituições políticas,
militares negros, além do debate historiográfico sobre as trajetórias negras. Vale salientar, experiências no
âmbito da arte, a exemplo, do ator pernambucano, pintor e poeta Solano Trindade (1908-1974) e sobre o

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escritor e abolicionista baiano Manuel Quirino (1851-1923). No que concerne às mulheres negras também
foram representadas, destaca-se a trajetória da professora e deputada catarinense Antonieta de Barros
(1901-1952). Já em Quase Cidadão: histórias e antropologias da pós-abolição no Brasil (2007), de modo
geral, objetivo foi compreender ?[como], onde, em que condições homens e mulheres de cor dela
[múltiplas liberdades] usufruíram, transformaram-na em objeto de interpretação, contendas, ou mesmo
rejeitaram os significados a ela atribuídos pelo discurso jurídico? (CUNHA; GOMES, 2007, p. 14). Uma
leitura possível no debate historiográfico é sobre a cidadania da população negra no pós-abolição.
Ao analisarmos trajetórias negras no espaço-tempo em que esteve inserido Santa Rosa, ou seja, início do
século XX, na Cidade da Parahyba, podemos acompanhar pesquisas recentes que colaboram com o
entendimento do pós-abolição. Assim, a historicidade quanto aos afro-paraibanos no pós-abolição tem
sido tema de publicações que norteiam a presença de homens negros letrados na região setentrional do
país, especialmente. As recentes pesquisas que ampliam o olhar sobre experiências negras no pós-
abolição na Paraíba têm sido realizadas pelos pesquisadores Elio Flores (2015), Solange Rocha (2015),
Petrônio Domingues (2017) e Surya Barros (2020).
Nesse sentido, seguindo sob a esteira de pesquisas acerca de pessoas negras inscrevemos a presente
pesquisa na historiografia recente que tem evidenciado, figuras desse segmento populacional, com
atuação ativa na Primeira República ? período de reordenamento social, de reconfigurações das
hierarquias raciais e de disputas dos projetos de nação ?, também se destacaram na cena política e
cultural. Como exemplo, os baianos Manuel Querino e Alfredo Casemiro da Rocha; o maranhense,
Hemetério dos Santos; o pernambucano Monteiro Lopes; o gaúcho Aurélio Veríssimo de Bittencourt; o
mineiro Benjamim de Oliveira; os cariocas Evaristo de Moraes, Eduardo das Neves e Lima Barreto; entre
outros que debateram e disputaram os diferentes projetos de política, cultura e identidade nacional, e
foram reconhecidos em vida, mas aos poucos caíram na galeria do preterimento, do ostracismo, da
subestimação ou simplesmente jazem nos desvãos da memória após a morte (DOMINGUES; ROCHA;
FLORES, 2019, p. 145-146).
A cada passo dado novas questões chegam à lume e o olhar para a interpretação da ?nova abolição?
inverte o sentido do problema; ou seja, o fato histórico do fim da instituição escravista é, por conseguinte, o
fomento para o início de uma gama de problematizações que colaboram com a nitidez do que há de ser
visto por Clio. Em Vicente Gomes Jardim: um ?artista e autor ?de cor no final do século XIX e início do XX
, Surya Barros (2020) reflete, a partir da égide da história social da escravidão, a trajetória de um homem
negro livre, no período da transição do Império e a República. Em que se buscou a experiência de vida de
Vicente Jardim enquanto liderança da Sociedade de Artistas Mechanicos e Liberaes da Parahyba e
membro da Irmandade dos pardos.
Assim, o propósito, evidentemente, é acentuar o avanço face às limitações constituídas pelo silenciamento
de Clio sobre a participação protagonista da ?gente negra? na história do Brasil após a abolição de 1888.
Tal enfoque tem contribuído para ampliar a compreensão da historicidade do pós-abolição.
Portanto, compreender a trajetória de vida do sujeito histórico negro, Santa Rosa é também perceber as
tessituras sociocultural e políticas de seu tempo. Assim, comunico ao leitor (a) que passaremos a percebê-
lo em seu espaço geracional cujo objetivo é ter a possibilidade de entender suas ambições, decisões,
frustrações e objetivos. Além de, por outro lado, explicar a influência de sua rede de sociabilidade para
compreender fragmentos de uma história de vida em suas dimensões sociais: a família, o emprego,
amigos e estratégias de mobilidade social. Desta feita, caro leitor, passaremos a compreender o tempo de
Santa Rosa em sua cidade natalícia.As transformações que metamorfoseiam o cenário geracional de
Santa Rosa são elementos imprescindíveis para compreendermos fragmentos de sua história de vida,

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vivida em meio a conjuntura de modernização do espaço da Cidade da Parahyba no pós-abolição. O olhar


em seu presente-passado corrobora enquanto ?testemunha ocular? Burke (2004), das ?rugosidades?
Santos (1998) do espaço da cidade da Parahyba (1920-1930) acarretadas pela modernização de
dispositivos estruturais do serviço público.
[3: Assim também, é partindo do pressuposto de que, conforme aponta Milton Santos (2004, p. 146),
entendemos o espaço seja como ?um produto histórico?, consideram-se os fragmentos de uma trajetória
vivida em terras paraibanas. como elo de junção, na medida em que liga-se os ?(...) fatores à genes, ao
funcionamento e à evolução do espaço (...)?. ]

A Cidade da Parahyba no tempo de Tomás Santa Rosa Jr. (1909-1932): família, espaço e sociabilidade
A casa em que Maria Alexina Santa Rosa (mãe de Santa Rosa) residiria com seu filho Santa Rosa até
1932, era nas proximidades à comunidade católica da qual era assídua frequentadora ? a Igreja Matriz de
Nossa Senhora das Neves, a catedral da cidade. Seu pai, Tomás Mauricio Santa Rosa, artista, alfaiate de
profissão, por sua vez, manipulava a arte de ?vestir? pessoas ? em parte, assemelhando-se ao filho, que
?vestia? livros, sobretudo aquelas que detinham cabedal suficiente para adquirir um traje ?da moda?,
comumente utilizado para situações da vida social na cidade, como missas, bailes, casamentos, batizados
e cerimônias. Conforme Waldeci Chagas:
Os rapazolas se contentavam com as peças de brim em várias tonalidades. Do contrário, a casimira era
bem encomendada pelos alfaiates. As alfaiatarias e camisarias sempre estavam abarrotadas de
encomendas, principalmente se estavam próximas as festas da padroeira, Nossa Senhora das Neves, do
Natal e do Ano bom. Nessas épocas, era comum o rapaz encomendar o corte e costura de um novo
conjunto composto de paletó colete e calça (CHAGAS, 2004, p. 121).

No tempo de Santa Rosa, a moda é matéria prima para que personagens importantes do microclima
intelectual da década de 1920, na Cidade da Parahyba escrevessem a seu respeito, a exemplo do
historiador Horácio de Almeida quem, por seu turno, contesta, em tom de denúncia, a chegada da nova
(do moderno) maneira de ?vestir-se? ? para ele, a moda da/na década de 1920, quando posta na balança
da moralidade, seria um ônus negativo. Acusada, a moda passou a ser evocada como má influência para
toda uma geração (tanto para homens quanto para mulheres). Julgada por Almeida, a moda passou a
ocupar as linhas da Revista Era Nova, ao escrever o artigo O poder da moda, em 1921, por onde destila:
[4: [...] uma revista quinzenal ilustrada na década de 1920, produzida na Paraíba. A princípio foi fundada
na cidade de Bananeira/PB e logo depois seu núcleo foi transferido para capital da Parahyba do Norte. Se
manteve circulando de 1921 a 1926, quando, dela, se tem notícia pela última vez. Seu primeiro nº, do ano
I, data de 27 de março de 1921, sendo oficialmente apresentada por seu diretor Severino de Lucena e seu
redator-chefe Guimarães Sobrinho, com a proposta de inaugurar uma nova era nos círculos literários e
intelectuais paraibanos. (RODRIGUES, 2013, p. 3).]

[moçoilas] catilas e espevitadas desaforam-se de corpinhos e sobem vestidos e descem os decotes para
os pitaratas galanteadores analysem em seus contornos a perfeição artística de suas joias. Insatisfeitas
com a liberdade que gozam, disputam o direito de voto e com este o direito de representação (...)
Galopeamos nesta marcha para o aniquilamento moral de nossa raça, para a efeminação do caráter
másculo de nossa juventude, para o ignominioso e abdiminavel hermafroditismo social. E chama isso de
evolução! (ERA NOVA, 1921, p. 15)

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O registro presente na documentação da Arquidiocese da Paraíba evidencia que o casamento do casal


Santa Rosa foi em julho de 1906. Ao analisar o referido documento, é possível verificar/comprovar
algumas informações pertinentes à origem de Santa Rosa. Com 19 anos de idade, Thomaz Mauricio Santa
Rosa oficializa (no civil) seu casamento com Maria Alexina das Neves Pereira, que, aos 22 anos, era um
pouco mais velha e já contava com a maioridade jurídica. Também é possível averiguar nesse registro a
ramificação de parentesco de suas avós, sendo elas, respectivamente: Maria Marcionilla Martinho e
Felismina Batista Freire. Assim,
(...) aos trinta dias do mês de Julho de mil novecentos e seis, décimo sétimo ano festivo da proclamação
da República dos Estados Unidos do Brasil, nesta cidade da Parahyba do Norte, capital do Estado do
mesmo nome (...) Thomaz Mauricio Santa Rosa e Dona Maria Alexina das Neves Pereira que neste ato
queiram casar-se. Thomaz Mauricio Santa Rosa, solteiro, com dezenove anos de idade, natural e
residente nesta capital, filho natural de Maria Marcionilla Martinho, residente nesta cidade. Dona Maria
Alexina das Neves Pereira, solteira, com vinte e dois anos de idade, também natural e residente nesta
capital, filha ilegítima de D. Felismina Batista Freire (...).
[5: TESTAMENTO de casamento dos pais de Santa Rosa. Disponível em: https://www.familysearch.org
/ark:/61903/3:1:S3HY-61X9-. Acesso em: 25 fev. 2023.]
Tomas Santa Rosa morador da Rua do Barão de Passagem (atual Rua da Areia), nº 320, testemunhou a
implementação de dispositivos estruturais, tais como iluminação, água encanada e esgotamento.
Enquanto morador da cidade baixa, Santa Rosa foi testemunha ocular das edificações que ganhavam,
naquele momento, construções de sobrados de dois andares, feituras quase exclusivamente da área
comercial da cidade no centro da cidade. Assim, essa nova elaboração de estrutura da cidade criava um
aglomerado que com o tempo foi se transformando na urbe paraibana, dividido entre as regiões ?alta? e
?baixa? ?[...] onde o comerciante podia juntar o armazém, a família, e os caixeiros, respectivamente, no
andar térreo primeiro e segundo andares (...)? (BATISTA, 1951, p. 17). Em suma, como assinala Wylnna
Vidal
(...) da primeira metade dos anos 1910, quando foram implantados os primeiros serviços urbanos
modernos (abastecimento d'água, energia elétrica e bondes), até 1940, podemos observar o trinômio
[embelezar, sanear e circular] presente no discurso do poder público justiçando as ações; presente nas
reivindicações de melhoria e embelezamento urbano da elite local; presente no discurso favorável às
transformações e presente também no discurso que se mostraram às mudanças (VIDAL, 2004, p. 45)
As ruas do centro da cidade funcionavam como artérias de chegada do moderno. Eram consideradas
como uma espécie de ?termômetro? social e econômico do início do século XX. Em especial a Maciel
Pinheiro que, nesse contexto, se tornava uma das principais esteiras do comércio da Paraíba, na qual as
transformações culturais ?pintavam? as vitrines com suas cores e tessituras, e por onde certamente
Tomaz Maurício Santa Rosa trabalhava e construía apreço social gerado por sua vida profissional, cuja
função em confeccionar o vestuário de membros da elite paraibana o levaria a costurar certa rede de
sociabilidade.
A ambiência em que residia a família Santa Rosa era de extrema importância comercial, pois recebia de
cidades do interior como Itabaiana e Campina Grande carregamentos de uma mercadoria que nutriu a
opulência de parte dos produtores paraibanos: o algodão ? um gênero de grande relevância para a
economia paraibana e principal produto da década de 1920. De certo modo, o acúmulo de capital de
alguns comerciantes advindos do interior para morar na zona urbana da capital, e que logo iriam construir
suas residências na parte da ?cidade alta?, mantendo seus comércios na parte baixa da foi o apogeu do
algodão no final do século XIX, devido ao cenário do mercado internacional. Com efeito, trata-se de um

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elemento preponderante para a modernização da cidade, uma vez que, como aponta Galliza (1993, p. 45),
durante o período compreendido entre 1900 e 1929 o algodão e a pecuária foram não apenas
fundamentais, mas principais produtos da economia paraibana. Tal evidência reverberava nas mudanças
administrativas da cidade.
A iniciativa do poder público em modernizar a cidade gerou mudanças não apenas em seus edifícios, mas
também no campo administrativo, uma vez que o aparato burocrático paraibano teve que ser ampliado.
Vale lembrar que, apenas em 1916, é que a Paraíba inaugurava seu primeiro banco (uma filial do Banco
do Brasil no estado), ? então, o capital mercantil do estado era majoritariamente manipulado por
empresários estrangeiros. Assim, atividades aduaneiras de exportação algodoeira essenciais à economia
local ficavam sob a égide de firmas estrangeiras, a exemplo da francesa Cahan Fréres & Cia (fundada em
1864), que, contando com filiais em Guarabira e Mamanguape, monopolizava o comércio externo da
Paraíba (GALLIZA, 1993).
Entretanto, as modificações advindas do profícuo momento econômico em que passava o espaço natalício
de Santa Rosa não impediu o avanço das mazelas advindas da falta de saneamento básico. A
precariedade do saneamento básico, certamente, colaborou com o triste capítulo na história da família da
Santa Rosa, que passaremos a comunicar.
Além de superar a morte de três filhos homens, a família Santa Rosa passou por outras dificuldades,
sobretudo Maria Alexina (mãe), uma vez que ela teve que prosseguir com a criação do único filho homem
sobrevivente (Santa Rosa) e suas duas irmãs, sozinha, já que seu pai, Tomaz Mauricio ?(...) abandonara a
família para tentar a sorte ao centro-norte do país, só retornando para revê-los nos últimos anos de sua
vida (...)?, falecendo em 1953, três anos antes do filho (BARSANTE, 1982, p. 7). Possivelmente, a
?aventura? iniciada pelo senhor Tomaz, teve um aspecto potencializador ? à época, o sonho de muitos era
saborear um promissor enriquecimento através da extração da borracha. Desse modo, muitos nordestinos
partiram para as trilhas das florestas, se inserindo na produção da borracha.
[6: A esse respeito, Caio Prado Jr. (2004, p. 199) observa: ?(...) a borracha, que graças aos automóveis e
seus pneumáticos estará destinada a um futuro magnífico, e que na nativa do vale amazônico daria
momentaneamente ao Brasil o monopólio de uma mercadoria de grande consumo internacional?.
Entretanto, o surto do ciclo da borracha acabaria se encerrando, à medida que produtores dos países da
Ásia menor passaram a cultivar seringueiras, agradando com preços baixos os principais compradores (os
estadunidenses). O final do primeiro surto da borracha foi em meados de 1920, chegando ao seu declínio
, de fato, já na década de 1950, por conta dos derivados do petróleo.]
O triste capítulo na história da família de Santa Rosa foi agravado pela precariedade do saneamento
básico, o que atuou nos consecutivos falecimentos de seus três irmãos. A partir da imprensa local,
inclusive, é possível perceber na atmosfera epidêmica, a tônica conjuntural de preocupações com
enfermidades, ? no tempo do nascimento dos irmãos de Santa Rosa (1907-1908) manifestavam-se, tanto
pelo ?bater dos sinos? das igrejas (que anunciam mais momentos fúnebres), quanto pelos informes da
imprensa local, que a descreve da seguinte maneira: ?(...) já temos diante de nós a triste perspectiva de
um quadro semelhante às 56 dos anos de 1905 a 1907, quando a Parahyba foi dolorosamente flagelada
por essas pestes (...)? (COLUNA..., 1913, p. 1). O fato é que, sem um serviço de distribuição de água
encanada, a cidade pouco se apresentava enquanto um espaço moderno. Conforma Araújo (2001) e
Chagas (2004) havia um volumoso debate político acerca da qualidade da água, médicos e engenheiros
travavam um embate cientifico para sanar a proliferação de doenças. Porém, a mobilização discursiva não
efetivava as condições insalubres. Vale salientar que apenas em 1914 a cidade natalícia de Santa Rosa
será contemplada com serviço de água encanada e que o abastecimento era realizado pelos aguadeiros.

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Em 16 de outubro de 1908, um ano após casal Santa Rosa formaliza matrimônio, é evidenciada a morte
do que seria primeiro irmão de Santa Rosa ?(...) Anjo ? finou-se antehontem, o pequeno Moacyr Santa
Rosa, filho do senhor Thomaz Mauricio Santa Rosa. Seu enterro effectuou-se hontem pelas 4 horas.
Pêsames aos seus desolados genitores (...)? (ANJO, 1908, p. 2). Ou seja, ao que se indica, um dos
primogênitos faleceu de forma prematura, sem chegar a completar dois anos de idade em vida. É na
ambiência dos problemas sanitários que nasce outro irmão de Santa Rosa, Pelópidas, registrado no dia 28
de junho de 1908 também falecendo de forma prematura. Conformidade com Barsante (1982, p. 7),
nenhum de seus falecidos irmãos alcançou (em vida) a infância.
[7: CERTIDÃO de óbito. Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-X38SJHH?i
=64&cc=2015754. Acesso em: 30 set. 2022.]
A questão da distribuição de água na cidade é um capítulo digno de novela livresca. As polêmicas acerca
da qualidade da água causaram estardalhaço no nicho político paraibano: farpas entre correligionários
locais, com os aliados protagonizando o conflito, cuja saída foi convidar especialistas externos para pôr fim
nas querelas. Por esse nasceu em 29 de setembro de 1909, Santa Rosa, o único filho homem de Maria
Alexina e Thomaz Mauricio a sobreviver ao nefasto ambiente. Consta na documentação da Arquidiocese
da Paraíba o seguinte registro:
Aos vinte e sete de março de mil novecentos e dez na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Neves de
minha licença, Reverendo Padre Mathias Freire batizou solenemente a Thomaz, nascido aos vinte de
setembro do ano próximo passado [1909], Tomaz Santa Rosa; filho de Thomaz Mauricio de Santa Roza e
Dona Maria Alexina de Santa Roza (sic!). Foram seus padrinhos Thomaz Ferreira Soares e sua mulher
Dona Amélia Ferreira Soares. E para constar mandei lavrar o presente termo que assino.
[8: Fonte: Arquivo Eclesiástico ? Arquidiocese da Paraíba ? Livro 13, nº 1876-1878.]
Os primeiros passos de sua vida escolar foram dados na Quinta Cadeira Mista da Paraíba; posteriormente
, buscou admissão no Grupo Escolar Tomás Mindelo, por meio do qual ingressou no conceituado Lyceu
Paraibano onde estudou até 1927. Este ficava próximo à Escola Normal, instituição responsável pela
formação das moças paraibanas. Santa Rosa fez aulas de piano com a professora Alice Pereira quando
ainda era garoto. Todavia, é sabido que a sua dedicação autodidata o levou a aprender outro idioma, o
mais exigido em seu tempo, o francês. Sua formação cultural e a aproximação de sua mãe da Paróquia
local foram decisivas para que ele participasse de aulas de canto, atividades realizadas na Igreja Matriz de
Nossa Senhora das Neves, da qual, decerto, sua mãe fazia parte.
Na igreja constatou-se uma potencial habilidade vocal, e ele passou a participar do Te Deum dos alunos
do Sacro-colégio do Arcebispado. O garoto, Santa Rosa, ainda arranjava tempo para apreciar as aulas do
seu professor de música Grazzi Galvão de Sá (natural da Cidade da Parahyba). Vale salientar que Santa
almejou se torna um músico profissional. Apostando em sua qualidade musical de barítono, naquele
período seguiu buscando participar de concursos de novos talentos, até que, certa feita, um conhecido,
Murilo de Carvalho (que era profissional de canto), o orienta a deixar a ideia de lado (BARSANTE, 1982).
Anos depois, sua carreira profissional se inicia no funcionalismo público imerso no setor de contabilidade
da administração local.
Sua trajetória na carreira do funcionalismo público se deu em meio a consolidação do regime republicano.
Era o tempo do segundo mandato do governado Solon Barbosa de Lucena (1920-1924) quando Santa
Rosa recebeu o convite que iria influenciar os rumos da vida do garoto de apenas 14 anos de idade. Na
ocasião, o convite foi feito pelo então engenheiro-chefe da Secção de Saneamento do Estado da Paraíba,
Lourenço Baeta Neves, em conjunto com o secretário-geral de Estado Álvaro de Carvalho (BARSANTE,
1982, p. 9). Logo, a partir de 1923 Santa Rosa passaria a trabalhar no setor da contabilidade oficial do

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governo ? naquele ano o prédio do Palácio do Governo funcionava nas proximidades de sua casa. Desse
modo, a citada contratação para o setor de contabilidade do Tesouro Estadual da Parahyba do Norte foi
realizada por indicação de homens da política local.
Figura 02 ? Tomás Santa Rosa aos 18 anos de idade

Fonte: BARSANTE, 1982.

Cabe ressaltar que o início de sua vida no funcionalismo público é de suma importância, pois por meio
desse vetor de compreensão de sua trajetória de vida é possível, também, descortinar sua rede de amigos
. É esse um assunto que requer atenção, afinal Santa Rosa não teve em sua origem uma opulência de
berço, como outros de seu convívio, mas logrou êxito quanto a apropriação de capital cultural e social.
A mencionada rede (e as relações de proximidade dela decorrentes) pode ter granjeado certo capital
social ao Sr. Tomaz, afinal homens da elite e da classe média paraibana recorriam ao comércio de
vestimentas para adquirir trajes apropriados para os oportunos momentos de socialização (casamentos,
bailes) pautados pela agenda de celebrações. Desta feita, agraciado por uma oferta de emprego, no setor
de contabilidade do Tesouro Estadual. Essa oferta pode ser especulada a partir da influência de seu
padrinho, Thomaz Ferreira Soares. Membro de uma tradicional família da cidade (os ?Ferreira Soares?),
casado com a Sra. Amélia Soares (carinhosamente chamada por parentes e pessoas próximas como Mãe
Lindoca), com quem teve um filho chamado Acácio (Sula), era funcionário/tesoureiro de carreira em um
banco, na Cidade da Parahyba.
Há ainda outra possibilidade que advém de sua rede (direta e indireta) de amigos ter proporcionado um
caminho confortável para a inserção em seu primeiro emprego, e por conseguinte mobilidade social.
Nesse sentido, há uma memória do tempo em que Santa Rosa trabalhou no Tesouro Estadual, produzida
pelo jornalista Luiz Pinto, com quem Santa Rosa não tinha amizade, mas mantinha relações de
proximidade pelo fato de trabalharem na mesma repartição pública, que ajudaria a endossar essa
suposição. De fato, o jovem Santa Rosa contou com uma importante rede de amigos no âmbito social que
correspondia à sua função no setor de contabilidade. Sendo assim, ao relembrar em tom nostálgico de sua
experiência no tempo em que Santa Rosa era morador e funcionário público, Pinto o descreve como
alguém de distinção, sobretudo por sua relação de amizade com membros da elite paraibana nos anos
1920 (a exemplo de Aloísio França e Luís França, os ?meninos do Tesouro?).
Conheci-o, já se vai muitos anos! Éramos tão jovens... O mundo uma incógnita, um poço de ilusões, um
marco de esperança. Seu apelido na época era Bonzinho. Íntimo de Aloísio França, de Luís França, os
meninos do Tesouro do Estado. Na vida da Paraíba trabalhamos todos no tesouro do Estado na minha
velha província, entre os paredões lendários do velho Convento de S. Bento, onde funcionava aquela
repartição estadual. (PINTO, 1956, p. 3).
Para uma melhor compreensão do Santa Rosa funcionário público do Tesouro Estadual, contudo, faz-se

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necessário acionar um outro personagem. Em se tratando de sua rede de sociabilidade, outro possível
apoiador de sua trajetória profissional, Ademar Victor de Menezes Vidal, oriundo de família da elite
paraibana. Vidal ocupou diversos cargos na esfera jurídica da República, chegando a atuar como
procurador durante o governo de Solón Barbosa de Lucena (1920-1924) e como secretário de Interior e
Justiça e Segurança no governo de João Pessoa (1928-1930). Ao que as fontes indicam, ele mantinha
uma relação de apadrinhamento com o jovem Santa Rosa (VIDAL, 1956).
Morador da Cidade da Parahyba, e, oriundo de uma família da elite (atuante no ramo jornalístico), Vidal
detinha capital (político e social) suficiente para influenciar na política burocrática que determinava o
preenchimento de vagas de emprego. Com efeito, ao assumir a pasta de Secretário do Interior e
Segurança (1928), no breve governo de João Pessoa Cavalcanti (1928-1930), Vidal pôde amparar o
noviço funcionário público com imediata promoção na função dos serviços no Tesouro Estadual.
Cabe mencionar que, ao esquadrinhar a documentação pertencente ao Arquivo Estadual do Governo do
Estado da Paraíba, identificamos, no setor de contabilidade da Companhia de Água, uma lista de
pagamento dos vencimentos dos empregados nas Obras Públicas (Saneamento e Indústria Pastoril).
Tomás Santa Rosa Jr. foi lotado no departamento de Saneamento Básico do Estado, e se encontrava na
função de contador e arrematava mensalmente 300$000 (trezentos mil réis). Em uma nota-homenagem
intitulada ?O autodidata?,publicada no jornal O Norte, Vidal menciona ter agido politicamente em benefício
de Santa Rosa, o que teria resultado em sua mobilidade social:
[O] Paraibano da rua Direita [em verdade rua do Barão de Passagem], atual Rua da Areia], era lá onde me
habituei a vê-lo com os desenhos que mostrava, trabalhando no serviço público do Estado e, anos depois
, ocasionalmente me encontrando com o poder nas mãos sua situação fora melhorada como funcionário
do Abastecimento de Água. (VIDAL, 1956, p. 2).
É importante salientar que, anos depois, livros escritos por Ademar Vidal que versam sobre cultura popular
e nordeste foram ilustrados pelo artista Santa Rosa, a exemplo do livro Lendas e Superstições: contos
populares, (1950. Já o funcionário público e contador do Tesouro almejava ir, no início da década de 1930
à capital do país, Rio de Janeiro. Sua vida parecia estar dividida entre a carreira do funcionalismo público
e as oportunidades do mundo das artes.
Santa Rosa esteve inserido numa conjuntura econômica marcada pelo surto da industrialização, por
medidas de modernização e pela expansão das instituições artísticas, que ele acompanhava através de
revistas e jornais que comprava ou pegava de empréstimo de seu ?amigo de sempre? José Simeão Leal.
Era com Simão que Santa Rosa trocava missivas frequentemente. A comunicação feita a partir das cartas
permite a ampliação das possibilidades de pesquisa para um campo de maior interpretação sobre a
trajetória de Santa Rosa, a linha entre suas subjetividades e seus anseios mais íntimos geram uma
profícua gleba de análise. Para Gontijo, do ponto de vista metodológico, há no ?pensar carta? uma
chancela de compreensão do pensamento individual ou de um determinado grupo. De tal modo, que o
[...] estudo da correspondência de escritores e intelectuais ajuda a compreender os meandros da
construção de uma obra e/ou da elaboração de projetos, revelando ações e intenções e deixando entrever
a especificidade dos procedimentos cognitivos e argumentativos. Também permite observar as relações
entre os indivíduos, fornecendo indícios de suas experiências como atores sociais. (GONTIJO, 2008, p.
55).
Desta feita, passemos a entender a quanto notória foi a influência de Simeão Leal no que diz respeito ao
empreendimento que objetivou contribuir a mobilidade social de Santa Rosa. Um assunto presento foi o
concurso para o Banco do Brasil. É explícita a intenção de Santa Rosa: ?um pedido?. Ele solicitou ao
amigo que intervenha em sua nomeação, para que fosse enviado à matriz do Banco do Brasil, localizada

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na capital do país, o itinerário perseguido por Santa Rosa.


Foi aí que passou a vislumbrar uma gama social que pudesse ser proveitosa quanto a sua aprovação, já
que, para ele, o modus operandi da cultura política existente em seu tempo obedecia aos critérios políticos
da nomeação, e não do mérito. Assim, Santa Rosa se inclinou na busca de intermediários/ ?pistolões?, e
aciona sua rede de sociabilidade para promover empreendimento tático à sua aprovação:
(...) [Bem] sei que este concurso, como todas as cousas actuaes, não se processa, naturalmente, na razão
directa dos valores demonstrados, mas sob os auspícios dos pistolões e de todas as recomendações
assignados pelos fazedores da política e já que é preciso ser assim; já que somos forçados a fazer assim:
? sejamos e façamos com a situação nos obriga (...) E é sobre isto que venho pedir de sua amizade, um
grandíssimo favor (...) É possível que ahi entre toda essa novidade do seu convívio haja alguém que no
momento actual te possa servir como um intermediário para o meu interesse de ser nomeado... Alguém
cuja família representa no momento, algo de realmente prestigiado que seja um factor, no cenário
ambiente, de relevo e de força irradiante (...). (SANTA ROSA, 1931, p. 2).
Sua ambição em sair da cidade da Parahyba tornou-se ainda mais notória quando ele, deixando de lado
qualquer formalidade, passou a clamar de maneira mais direta:
(...) Acrescento, meu amigo, que o local pouco me dá! ei-me fora do interesse ir a tal ou qual lugar.
Entretanto como é natural, prefiro as agências do sul. É caso interessante, o que menos desejo é ficar aqui
. Não há por acaso parahybanos do seu conhecimento na Matriz do Banco do Brasil? (SANTA ROSA,
1931, p. 3).
Para alcançar o objetivo, Santa Rosa, elaborou estratégia que, dando certo, seria o seu passaporte para
alcançar seu obstinado destino, assim como o impulsionar para outros ares, para além da pacata Cidade
da Parahyba, que passou a chamar pela alcunha de ?exílio?. Santa Rosa pretendia sair de sua atmosfera
natal e partir em busca de uma ambiência profícua de profundas mudanças.
[9: É o que aponta Miceli (2001, p. 77), para quem: [as] décadas de 1920, 1930, 1940 assinalam as
transformações decisivas no planos econômicos (crise do setor agrícola voltado para exportação,
aceleração dos processos de industrialização voltados para a urbanização, crescente intervenção do
Estado em setores-chaves da economia etc.), social (consolidação da classe operária e da fração de
empresários industriais, expansão das profissões de nível superior, de técnicos especializados e de
pessoal administrativo nos setores público e privados etc.), político (revoltas militares, declínio político das
oligarquias agrária, abertura de novas organizações partidárias, expansão dos aparelhos do Estado etc.) e
cultural (criação de novos cursos superiores, expansão da rede de instituições culturais públicas, surto
editorial etc.).]
Ele visava ser inserido na carreira pública no Banco do Brasil e alcançar estabilidade, a possibilidade de
vivenciar um contexto propício para desenvolver o seu projeto de uma vida artística. Parecia que tudo
daria certo: assegurar seu lugar no serviço público e vivenciar os principais corredores do mundo artístico.
Ledo engano. O que parecia motivo para comemoração se tornou um imbróglio trágico, uma vez que sua
tática não alcançou o sucesso necessário e, ao invés de ir ao Rio de Janeiro, foi enviado para uma
agência em Recife.
A fim de alcançar seu objetivo, Santa Rosa acionou, ao mesmo tempo, Simeão Leal e outro influente
amigo ? o gaúcho Moziul Moreira Lima, tenente do Exército. Nos anos 1950 é possível identificá-lo como
membro conselheiro da Associação de Ex-combatentes do Distrito Federal (Rio de Janeiro), já com a
insígnia de major. Com isso, a estratégia de Santa Rosa foi gerar duas forças de influência para efetivar
sua meta de ser nomeado como funcionário do Banco do Brasil no Rio de Janeiro. Mas, novamente não
obteve êxito, e foi transferido apenas para Maceió, Alagoas. Todavia, por lá não abandonou a sua

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obstinada dedicação em ?fazer-se artista.


Na atmosfera cultural de Maceió, Santa Rosa compartilhou trabalhos, se aproximou de outros jovens
artistas, e vivenciou espaços de sociabilidade: participando de salões, exposições, e contribuindo com
seus feitos artísticos (gravuras e poesias) em jornais e revistas locais. Naquele ambiente de difusão da
cultura unia-se a uma plêiade de intelectuais. Entre eles, José Auto da Cruz Oliveira, o poeta ? Zé auto?,
com escritores modernistas, a exemplo de Raquel de Queiroz e Graciliano Ramos ? este já tinha sido
prefeito de Palmeira dos Índios. Em 1932 Ramos já havia sido nomeado diretor da Secretária da Imprensa
Oficial, e utilizava de sua influência para realizar encontros em seu gabinete. Outro importante espaço de
sociabilidade de Maceió em que ocorriam os encontros, era no boêmio Bar Central. Em setembro de 1956,
o Correio da Manhã publica, na coluna Escritores informações sobre o grupo, diz:

?Reunidos em torno do escritor, no seu gabinete na Imprensa, ou no ?Ponto Central? os rapazes ficavam
em conversas e discussões literárias que se prolongavam horas a fio?. Além de médicos e professores
pertenciam aquele ciclo ?alguns escritores e artistas de outros estados, como José Lins do Rego, Raquel
de Queiroz e Santa Rosa? (ESCRITORES..., 1956, p. 10).

O pintor Santa Rosa realizou uma exposição de sua arte modernista na capital alagoana. É o jornalista
Manoel Diógenes Junior, que recorda quando no Instituto Histórico de Alagoas, em 1932, o crítico e
jornalista, Valdemar Cavalcanti

(...) apresentou Santa Rosa numa palestra em que estudava sua arte dentro do modernismo brasileiro. E
assinala-se eu esta noite de modernismo, em que se tocou Debussy e se cantou Blue, onde se
apresentavam os trabalhos modernos de Santa Rosa, se realizou nos austeros salões do venerando
Instituto Histórico de Alagoas (JUNIOR DIOGENES, 1956, p.03).

O que as fontes mostram é que ele Santa Rosa, abandonou o emprego no Banco quando se mudou para
o Rio de Janeiro. Sua trajetória é marcada por uma decisão que modificou sua vivência e assustou amigos
/as, quando decidiu abandonar o emprego no Banco do Brasil para consolidar seu sonho. Segundo, a
escritora Rachel de Queiroz:
[Santa Rosa] pediu transferência para o Rio, mas recusaram a transferência. Ele então abandonou o
emprego e se tocou para cá, entregando-se deliberadamente às dificuldades, quase à miséria, do artista
que tenta abrir caminho na cidade grande. Passou o diabo, passou fome, todo mundo o considerava louco
por abandonar um emprego excelente por amor de um sonho, ou como lhe dizia um amigo, ?uma vocação
abstrata?. Santa explicava pacientemente: ?Mas eu sou pintor". (QUEIROZ, 1961, p. 8).

Na cidade carioca, se inseriu no mundo editorial ? uma decisão tomada que, sem saber, o tornaria um
artista que logrou êxito como pintor, crítico de arte, cenógrafo, professor e profissional do âmbito gráfico
entre seus pares, como discutiremos no próximo tópico.

O multifacetado artista
Santa Rosa foi um artista multifacetado, característica comum de sua geração, atuando em diversos

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âmbitos da arte de maneira concomitante. Acompanhar sua vivência no mundo da pintura, cenografia e
artes gráficas é um convite para o mundo artístico cultural do início do século XX. O esquadrinhamento de
parte de sua trajetória é perpassado por ideias do movimento modernista à brasileira, que prevaleceu
hegemônico, sobretudo, entre as décadas de 1930 e 1950.
A partir de 1933, após abandonar o emprego na agência alagoana do Banco do Brasil em Maceió e viajar
à então capital do país, Santa Rosa adentrou in loco no microclima intelectual carioca. Sua carreira
artística teve início enquanto responsável por projetos visuais em editoras, jornais e revistas ilustradas.
Aproveitando o boom de vendas ocasionadas pelos gêneros literários (ficção, romantismo), se viu em meio
à demanda por mão de obra especializada. O trabalho inicial nas editoras Ariel, Schmidt e José Olympio
foi profícuo. O cenário de ofertas de emprego era, de maneira geral, atraente.
[10: Conforme explica Miceli (2001, p. 148), ?[o] surto editorial da década de 1930 é marcado pelo
estabelecimento de inúmeras editoras, por fusões e outros processos de incorporação que ocorrem no
mercado editorial e, ainda, por um conjunto significativo de transformações que acabaram afetando a
própria definição do trabalho intelectual: aquisição de rotativas para impressão, diversificação dos
investimentos e programas editoriais, recrutamento de especialistas para os diferentes encargos de
produção e acabamento, inovações mercadológicas nas estratégias de vendas ? implantação do serviço
de reembolso postal, contratação de representantes e viajantes etc. ?, mudanças na feição gráfica dos
livros, com o intento de ajustar o acabamento das edições às diferentes camadas do público, e, sobretudo
, empenho das principais editoras em verticalizar o processo produtivo e diversificar suas atividades?.]
Ao chegar à capital do país, Santa Rosa já era pintor e desenhista. Com essas habilidades buscou nas
editoras um meio de vida. No seu tempo, editoras investiram na visualidade dos livros para atrair cada vez
mais o público leitor ávido em consumir o bem cultural da modernidade: o livro ilustrado. Neste momento,
trabalhou inicialmente nas editoras Ariel e Schmidt, mas foram as duas décadas dedicadas as feituras
gráficas pela editora José Olímpio que o consagrou. Seus feitos artísticos expressavam outra estética aos
livros que circulavam pelas principais livrarias da cidade, ou nas exposições das capas de livros que,
acomodadas nas vitrines, exibiam imagens assinadas por Santa Rosa. Estas tinham por objetivo o
aumento das vendas, e funcionavam enquanto rede de entrelaçamento de sua sociabilidade. Assim,
discorre Bueno:
Tendo [Santa Rosa] participado, desde os tempos de Maceió, da vida intelectual brasileira, seu trabalho de
criador de capas era também uma forma de participação direta na vida cultural e literária de seu tempo,
além de representar uma modalidade de cooperação criativa com os confrades escritores. Vida
profissional e camaradagem. No caso da literatura brasileira, mas não só ler os livros para desenhar-lhes
uma capa era mais que uma tarefa feita por obrigação. (BUENO, 2015, p. 63).
Santa Rosa conquistou, ao longo de duas décadas de trabalho no mundo das artes gráficas, lugar de
destaque como artista gráfico modernista, ?(...) sendo responsável quase sozinho pela transformação
estética do livro brasileiro nos anos de 1930-1940 (...)? (HALLEWELL, 2017, p. 512). Quase todas as
editoras neste período têm sua assinatura, o que reforça o nível de importância do artista afro-brasileiro.
Conforme aponta Bueno (2015), a produção de Santa Rosa se de especialmente na editora José Olímpio,
onde construiu um prodigioso acervo de imagens para as capas de livros. É enorme sua relevância e seu
protagonismo na história das artes visuais do país, afinal:
(...) quem quiser contar a história da evolução das artes visuais no Brasil do século XX não pode escapar
ao nome de Santa Rosa (...) é preciso reconhecer que Santa Rosa fez esse trabalho como mais ninguém.
Se nem todas as ações oficiais que propôs se concretizaram, seu trabalho contínuo por mais de vinte anos
deixou exposta em parte uma visualidade que não pode ser colocada noutro lugar que não o da arte

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moderna. (BUENO, 2015, p. 22).


Santa Rosa é reconhecido pela inovação no metiê das artes gráficas, e talvez por isso seja mencionado
como ?pai do livro moderno? (HALLEWELL, 2017). O afro-brasileiro entrou para a história das artes
visuais tanto por conta de seu desempenho singular no desenvolvimento do ofício, quanto pela assídua
defesa intelectual sobre a profissionalização do metiê. De acordo com Laurence Hallewell, praticamente,
todas as obras que formam a geração romancista de 1930 com suas imagens-síntese, ainda menciona
que
?Os livros com o sinete editorial da José Olympio logo começaram a destacarse da insípida mediocridade
dos concorrentes, pois o editor, desde o início, dedicou cuidadosa atenção ao projeto gráfico. Seu
colaborador nessa área, mais uma vez, foi um nordestino, Tomás Santa Rosa, que trabalhara
anteriormente em diagramação e em desenhos de capa para a Schmidt (...) [deste modo] ele tem sido
considerado o maior produtor gráfico de livros do Brasil, responsável, quase sozinho, pela transformação
estética do livro brasileiro nos anos de 1930-1940 produtor gráfico de livros do Brasil, responsável quase
que sozinho pelas transformações estéticas do livro brasileiro nos anos de 1930-1940?. (HALLEWELL,
2017, p. 512).
O reconhecimento maior de Santa Rosa no âmbito das artes gráficas veio quando ele foi convidado a criar
e coordenar um pioneiro projeto escolar que contribuísse diretamente com a formação de artistas no
âmbito das artes gráficas. Em março de 1946 sua ambição de difundir a profissionalização do ofício
através de um conhecimento sistematizado sobre o âmbito foi consolidada. Certamente, sua atuação o
consagrava como principal peça de montagem e coordenação do Curso de Artes Gráficas, realizado pela
Fundação Getúlio Vargas, na cidade do Rio de Janeiro:
Em 1946, a Fundação Getúlio Vargas doava ao nosso meio artístico um atelier de gravura, o qual tive a
honra de dirigir. Com a colaboração do Carlos Osvald e Leskoscheck, efetuou-se um trabalho de
desbravamento cujos resultados em oito meses teremos a oportunidade de expor ao público ainda este
mês. É admirável a ágil e curiosa inteligência dos jovens alunos, aprendendo e experimentando com
eficiência rapidez, técnicas como as da gravura, complexas e variadas (SANTA ROSA, 1947, p. 10).
Nesse sentido, acompanhando a leitura quanto à repercussão do Curso feita pela crítica de arte, podemos
avaliar até que ponto a iniciativa coordenada por Santa Rosa foi benéfica ao fazer-se do metiê. A cargo da
coordenação do primeiro curso de artes gráficas do país, Santa Rosa difundiu suas proposituras e
diretrizes quanto à formação de novos profissionais. Tendo ele ainda desempenhado a função de
professor. Assim, foi possível avaliar como o artista/professor articulou seu conhecimento no âmbito.
Sobre a repercussão do curso, Santa Rosa , pondera que a consequência maior é a de estabelecer uma
positiva relação de novos artistas/profissionais, assim, ?(...) com paginadores de nova visão, as editoras
com ilustrações possuidoras de todas as técnicas, e as agências de publicidade em ?layoutmans? e
cartazistas?. Investir nos campos de artes gráficas que se voltam para comunicação em massa (FALA...,
1946, p. 8). Vale salientar que sua preocupação em fortalecer o mercado interno, ?(...) fazer ressurgir
essas técnicas da obscuridade em questão, e trazer ao meio brasileiro uma contribuição objetiva, digna de
consideração? (FALA..., 1946, p. 8).
No período aqui abordado, especialmente entre a década de 1930 e a de 1950, embates que revelam
divergências sobre a arte e a cultura, trazendo à tona caminhos para compreensão da cultura artística de
um tempo. É possível evidenciar questões fulcrais à atmosfera artística, entre elas a qualificação técnica, a
influência ideológica e a função social do artista no metiê.
No plano individual, Santa Rosa não detinha prerrogativas institucionais oficialmente registradas por
instituições de renome, sua formação na pintura se deu a partir da mentoria de Cândido Portinari, somada

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ao seu autodidatismo; assim como nas artes gráficas teve que lidar com o desconforto de não possuir
comprovação institucional.
Já o perfil estético do pintor Santa Rosa pode ser evidenciado em suas inúmeras obras. São diversos
cenários como: festas, vida cotidiana, reminiscências de sua infância, celebrações religiosas, pescadores,
trabalhadores, samba. Em relação à representação de mulheres, é interessante perceber que,
diferentemente do projeto visual da década de 1930, Santa Rosa investiu em adereços africanistas, como
turbantes e vestidos longos de cores fortes. A escolha em representar a estética negra através de lenços,
vestidos e indumentárias foi a maneira de criar suas imagens-síntese. Assim é também possível
evidenciar suas memórias da Cidade da Parahyba.

Imagem 03 ? Festa, (óleo sobre tela) 80 x 63 cm, Santa Rosa, 1950

Fonte: BARSANTE, 1993

Os embates quanto às modificações no âmbito da arte atravessam a conjuntura cultural do primeiro


quinquênio do século XX. Tanto é que a tessitura pictórica de Santa Rosa, assim como a de outros/as
artistas modernistas, foi alvo de protestos em algumas exposições pelo país. Um bom exemplo ocorreu na
Semana de Arte Moderna de Belo Horizonte de 1944, quando as realizações modernistas não agradaram
parte do público geral. A pintura moderna ficou marcada por uma investida em tom de manifesto, contra a
realização da Semana de Arte Moderna Belorizontina. Trata-se de um atentado às telas e esculturas
registrado pela imprensa local e revistas de arte.
No ensaio ?Fígaro barbeia o modernismo?, do crítico de arte Henrique Pongetti, é possível compreender
cenas surpreendentes. Pongetti conta sobre um homem desconhecido que saiu distribuindo coléricas
navalhadas em formato de cruzes nas telas dos quadros que compunham a exposição. O advento revela,
entre outras questões, querelas de pulso ideológico circunscritas à atmosfera artística do tempo de Santa
Rosa.
Figura 04 ? As Três Idades da Vida (óleo sobre tela) 90 x 76 cm, Santa Rosa (obra danificada)

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Fonte: BARSANTE, 1993.

O pintor modernista premiado com medalha de prata na mais importante exposição do país, o Salão
Nacional de Arte (1941) defendia ferrenhamente a concepção do modernismo nacional, ou seja, a ideia
que embora o modernismo brasileiro sofresse influência do arte europeia já havia idiossincrasias artísticas
locais que caracterizavam o modernismo nacional. Santa Rosa foi júri de expoentes exposições nacionais,
a exemplo da Bienal de São Paulo em 1951 e 1953; e no Salão Nacional na seção de Arte Moderna. Vale
salientar que o Salão Nacional era um importante espaço na história da pintura e da intelectualidade
artística no país, que protagonizou exposições marcantes, que deteve por função institucional a anuência
de reconhecer um quadro enquanto obra de arte, é o Salão Nacional. Conforme explica Luz, o Salão:
[11: O debate historiográfico acerca do modernismo e nacionalismo é de longa data, aqui, daremos
atenção especial à temporalidade que marca o fazer-se do multiartista Santa Rosa, ou seja, a atmosfera
artística cultural (entre 1930 e 1950) na qual o intelectual-multiartista Santa Rosa experimentou no mundo
da arte, de seu tempo, sentidos do modernismo. Como outros intelectuais, encarou a vida artística
enquanto aquilo que Gomes (2004, p. 82) determinou por ?[...] doublé de teórico da cultura e de produtor
de arte, inaugurando novas formas de expressão e refletindo sobre as funções e desdobramentos sociais
que tais formas guardariam?. Em relação ao nacional, ou seja, a criação do referido constructo ideológico
de unidade nacional desempenhada pelo Estado Novo buscou, segundo Gomes (2007), agir em benefício
da recuperação de um passado colonial, harmônico e glorioso. Por seu turno, Oliveira (2013) enveredou a
compreender o nacionalismo identificando o aparecimento, no início do século XX, de movimentos
artísticos nacionais que corroboram com a evocação do nacional, a exemplo do Manifesto Pau-Brasil
(1924) e do Manifesto antropofágico (1924), em cujo contexto a modernização de dispositivos de
comunicação (tais como rádio, indústria editorial e cinema) foi imprescindível para a difusão de símbolos e
sentidos de nacionalismos.]
(...) propiciava a oportunidade para todo e qualquer artista, independente da situação econômica que
tivesse, poder se aperfeiçoar nos principais centros de produção artística na Europa. A cada ano, a
emulação entre os concorrentes 173 ajudava o despertar de novos valores para a arte brasileira. Como as
obras premiadas ficavam para a coleção da Academia, depois Escola Nacional de Belas Artes, e que, em
1937, no governo de Getúlio Vargas, deu origem ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes, temos,
ainda, a grande contribuição dos Salões para a formação e ampliação desse acervo notável de nosso
museu. (LUZ, 2006, p. 60).
Ou seja, ao participar do Salão, o artista pavimentava sua trajetória rumo à consagração. A expectativa do
reconhecimento dos pares significava não apenas uma condecoração, mas também a possibilidade de
ascensão social, uma vez que se almejava abocanhar a premiação concedida pela Escola Nacional de
Belas Artes. As bolsas de estudos eram concedidas com intuito de ampliar o conhecimento em viagens
pelo Brasil (prêmio nacional) ou à Europa (prêmio internacional). Santa Rosa não se beneficiou de viagens
internacionais através do prêmio do Salão, foi através de sua conquista em outro âmbito da arte, o teatro.
A trajetória de Santa Rosa no teatro foi propiciada por inúmeras participações enquanto cenógrafo em
diversas companhias, entre elas ?Os comediantes? e a ?Companhia Dramática Nacional''. Além disso, ele
ocupou os seguintes cargos: diretor do Museu de Arte Moderna (1948), coordenador do ateliê de
decoração do Teatro da Escola Nacional (1950) e diretor do Conservatório Nacional de Teatro. Em 1952,
fez sua primeira viagem à Europa representando o Brasil na Reunião dos Artistas em Veneza, conferência
organizada pela Unesco. Nesse período, ele circulou pela Itália, Espanha, Inglaterra e França por quase
dois meses. Em 1955, passou a dirigir o Conservatório Nacional de Teatro. Em 1956, ano que marca sua

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morte, foi nomeado professor de cenografia na Escola Nacional de Belas Artes da Universidade do Brasil.
Entre seus maiores anseios estava a criação de uma escola de Teatro, Teatro para Crianças e o Teatro
de Negros. A sua relação com o Teatro Experimental do Negro foi efetiva, tanto na produção de cenários
como em incisivas defesas em jornais da época. Para o TEN, Santa Rosa realizou a cenografia para o
Recital Castro Alves, dirigido por Abdias Nascimento, no Teatro Fênix, no Rio de Janeiro. Ele foi
responsável, também, pelo cenário da peça Terras do sem-fim, espetáculo adaptado da obra do baiano
Jorge Amado, por Graça Mello. Já em 1948, assinou a produção visual dos figurinos e cenários da peça A
Família e a Festa na Roça, dirigida por Dulcina de Moraes. Já em 1949, o intelectual negro das artes
visuais realizou a feitoria de Filhos de Santo, obra escrita por José Morais de Pinheiro, com direção de
Abdias Nascimento. E Calígula, texto escrito pelo filósofo argelino Albert Camus, que por falta de recursos
não conseguiu ser exibida mais de uma vez, contou com a cenografia e arte figurinista de Santa Rosa,
sendo a direção de Abdias Nascimento.
Santa Rosa promoveu assertivas defesas a favor da consolidação do teatro para negros. No dia 25 de
agosto de 1946 no jornal Diário Trabalhista, é possível evidenciar em ?PROBLEMAS e aspirações do
negro brasileiro: o Teatro Experimental do Negro e a cultura do povo?, a denúncia sobre interrupções nos
ensaios do grupo, que ocorriam no teatro Fênix, do referido grupo.
Niuxa Dias Drago (2014), em A cenografia de Santa Rosa ? espaço e modernidade, apresenta sua
notoriedade em sua trajetória no Teatro que passa a influenciar o âmbito do teatro nacional, considerando
que ele foi um dos precursores da perspectiva modernista e da arte-social na atmosfera do teatro. O ofício
da arte cenográfica coincide com mudanças significativas ocorridas nesta área, considerando sua
condição de inovador da perspectiva moderna ? pode-se dizer que a grande modificação trazida por Santa
Rosa é propiciada por meio de novas funções para elementos como luz, arquitetura de palco e adereços.
Com isso, Santa Rosa ? ao empreender uma transformação da perspectiva (que passaria de dual para
tridimensional) ? acabaria se tornando responsável por transformar a arte cenográfica no teatro nacional
na primeira metade do século XX, fazendo com que esta deixasse de ser um simples elemento decorativo
e passasse a se impor como um conteúdo específico da arte teatral. Note-se que a primeira versão da
peça Vestido de Noiva (1943), de autoria de seu amigo e escritor Nelson Rodrigues e direção do imigrante
polonês (evadido dos conflitos da Segunda Guerra Mundial) Zbigniew Marian Ziembinski, é o marco que
divide a cenografia brasileira.
Figura 04 ? Cenário da peça Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues, 1943

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Fonte: BARSANTE, 1982.


A melodia da vida e o ritmo de pinceladas entrelaçadas em suas formas, linhas e cores, condensadas em
quadros, murais e capas de livros ilustram feitorias de um artista, mas também, o olhar de um homem em
seu tempo para a cenografia são vestígios de uma trajetória de vida, vivida pelo sujeito histórico Santa
Rosa.

Considerações Finais
Como visto, o espaço geracional de Santa Rosa foi analisado como possibilidade para compreender a sua
experiência em meio a repercussão do ideal moderno e as transformações/modernização dos dispositivos
essenciais para a vida na urbe (luz, água, transporte). A vida na Cidade da Parahyba, vivida por pouco
mais de duas décadas, levou Santa Rosa a elaborar suas impressões sobre o meio social, cultural, político
e arquitetônico que o rodeava.
A sua a vida familiar do pequeno ?Bosinho? não foi fácil. Afinal, a conjuntura epidêmica na infância
resultou na perda de três irmãos. Santa Rosa tornou-se o único filho homem de Alexina e Thomaz Santa
Rosa. As postulações ensejadas buscaram explicar a maneira pela qual o jovem Santa Rosa foi
beneficiário de uma boa formação educacional, e de como chegou a cargos no funcionalismo público da
cidade. Uma vez funcionário público do Tesouro Estadual, se beneficiou de uma rede de sociabilidade que
fora iniciada bem antes, com a escolha de seu padrinho, medida salutar a sua trajetória no âmbito do
trabalho.
Também buscamos compreender a trajetória de vida de Santa Rosa a partir de sua experiência vivida em
espaços de sociabilidade que circulou. Assim, procuramos apresentar os primeiros passos do artista
gráfico, professor, pintor e crítico, revelando expedientes de seu protagonismo enquanto um artista afro-
brasileiro multifacetado. No Teatro, o cenógrafo Santa Rosa difundiu referências ideológicas e
contribuições técnicas para a cenografia, a maneira com a qual utilizou elementos que projetam aspectos
em formas e conteúdo da cultura afro-brasileira e africana na feitura cênica do teatro nacional junto ao
Teatro Experimental do Negro.
Nosso intuito foi colaborar com os estudos afro-pedagógicos concernentes às trajetórias de vidas de
homens letrados no pós-abolição. A investigação histórica se alimenta de perguntas que são ensejadas a
cada novo olhar sobre o mesmo documento/testemunho, e estas vêm à luz a partir do tempo presente.
Alguns apontamentos chegam enquanto bússola que norteia novas navegações da pesquisa. O mar das
emancipações, do pós-abolição está propicio para longas e profundas navegações em que o fato histórico
da abolição da escravidão em 1888 é a égide para novas conexões do passado-presente.

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carta.
SANTA ROSA, Tomás. [Correspondência]. Destinatário: José Simeão Leal. João Pessoa, 25 fev. 1931. 3
carta.
SANTA ROSA, [Tomás]. Sobre a arte da Ilustração - Suplemento Letras e Artes. A Manhã, Rio de Janeiro,
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Arquivo 1: 368.docx (11651 termos)
Arquivo 2: https://1library.org/article/jos%C3%A9-sime%C3%A3o-leal-trajet%C3%B3ria-de-vida-arquivo-
pessoal.zpn4rgry (1047 termos)
Termos comuns: 35
Similaridade: 0,27%
O texto abaixo é o conteúdo do documento 368.docx (11651 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento https://1library.org/article/jos%C3%A9-
sime%C3%A3o-leal-trajet%C3%B3ria-de-vida-arquivo-pessoal.zpn4rgry (1047 termos)

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ESCRITA ? DA ? HISTÓRIA
Uma experiência afro-brasileira no mundo das Artes: vida, pensamento e sociabilidade de Tomás Santa
Rosa (1909-1956)
Tomás Santa Rosa (1909-1956) uma experiência afro-brasileira no mundo das Artes...
Thiago Brandão da Silva
[1: Este artigo é originado da dissertação de mestrado ?Fragmentos de uma história de vida, o afro-
paraibano Tomás Santa Rosa Jr. (1909-1956): entre vivências, intelectualidades, ditos e feitos artísticos,
defendida em 2021, no Programa de Pós-Graduação em História.* Mestre em História pela Universidade
Federal da Paraíba. Professor da Educação básica. Membro/colaborador do Núcleo de Estudos Afro-
brasileiros e Indígenas (NEABI/UFPB).]
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com

Resumo
Trata-se de refletir sobre a vida do multifacetado artista negro modernista que atuou na construção cultural
e artística do país em diferentes âmbitos, Tomás Santa Rosa. A pesquisa se insere na gleba da escrita
sobre intelectualidades negras no pós-abolição. Metodologicamente, leva-se em consideração a dinâmica
social vista sob a égide da microanálise, o que amplia a compreensão dos caminhos, escolhas, decisões,
que formam o campo (ou uma sucessão) de sentidos que tangencia(m) uma trajetória de vida. Considera-
se o descortinar do cenário geracional de sua trajetória de vida enquanto possibilidade para compreender
suas dimensões sociais: a família, o emprego, amigos e estratégias de mobilidade social, além da feição
discursiva do ideal de moderno e das transformações metamórficas do espaço vivido e do debate
intelectual a partir da História Social da Cultura. Busca-se comtemplar a participação de um sujeito
histórico negro no mundo das artes enquanto referência e possibilidade de estudo para estudos afro-
pedagógicos e a agenda de historiadores/as sobre trajetórias e sociabilidades de homens e mulheres
negros no pós-abolição.

Palavras-chaves: Tomás Santa Rosa; Cidade da Parahyba; Sociabilidade; Pós-Abolição; Modernismo.

Abstract
It is about reflecting on the life of the multifaceted modernist black artist who acted in the cultural and

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artistic construction of the country in different areas, Tomás Santa Rosa. The research is part of the field of
writing about black intellectuals in the post-abolition period. Methodologically, the social dynamics seen
under the aegis of microanalysis are taken into account, which broadens the understanding of the paths,
choices, decisions, which form the field (or a succession) of meanings that touch (m) a life trajectory. It is
considered the unveiling of the generational scenario of his life trajectory as a possibility to understand its
social dimensions: family, employment, friends and social mobility strategies, in addition to the discursive
feature of the modern ideal and the metamorphic transformations of the lived space and of the intellectual
debate from the Social History of Culture. It seeks to contemplate the participation of a black historical
subject in the world of the arts as a reference and possibility of study for Afro-pedagogical studies and the
agenda of historians on trajectories and sociability of black men and women in the post-abolition period.

Keywords: Thomas Santa Rosa; City of Parahyba; Sociability; Post-Abolition; Modernism.

Numa tarde de domingo típica do verão carioca, em 16 de dezembro de 1956, algo acontecia nas
proximidades do Teatro Municipal do Rio de Janeiro - localizado na Avenida Rio Branco, antiga Avenida
Central. Quem naquela tarde trafegasse por aquela avenida veria um amontoado de pessoas nas
escadarias do monumental edifício e, tão logo, perceberia um cenário fúnebre. Ao se aproximar,
provavelmente, escutaria no diapasão de conversas íntimas frases cortadas do tipo: ?ele não gostava dos
papéis do banco?, ?era um pintor modernista?, ?ele foi pra Europa duas vezes?, ?estive com ele no Norte
?, ?detestava andar de bonde; sempre preferiu o táxi?; ou, ainda, algumas especulações acerca de sua
origem étnica ? ?um mulato?, ?nossa raça? etc... Enfim, peças do quebra-cabeça de uma investigação
histórica. É que os mortos geralmente deixam vestígios e os vivos lançam-se às memórias, ambos
elementos essenciais ao trabalho do historiador. Mas, como é realizada uma pesquisa sobre a vida de
alguém? Responderemos, de acordo com Vavy Pacheco Borges (2011), para quem o ?intermédio das
?vozes? [chega] do passado a partir de fragmentos de uma existência e dos registros das fontes
documentais? (BORGES, 2012, p. 2011. É desta feita que iremos esquadrinhar uma trajetória vivida, uma
existência vivida na alvorada republicana, no cenário pós-abolição da escravidão.
O objetivo da presente pesquisa é investigar fragmentos de uma trajetória de vida, vivida pelo
multifacetado artista paraibano Tomás Santa Rosa Jr, o ?Santa? ou simplesmente Santa Rosa. Nascido
em 20 de setembro de 1909, na Cidade da Parahyba, (atualmente nomeada João Pessoa), capital do
estado da Paraíba. Santa Rosa faleceu em; 26 de novembro de 1956. Na ocasião, estava ele ao leste da
Índia numa viagem oficial do governo brasileiro para a Conferência Geral da Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura ? evento promovido pela UNESCO, em Bombaim (Índia), no
qual, ele, Santa Rosa ocupava cadeira como representante do Diretório Nacional de Teatro. Quando
estava no Hotel no momento de descanso em Nova Délhi, cidade vizinha, e se preparava para seguir
viagem pela Europa, o destino pregou-lhe uma ?peça?.
Após sentir fortes dores abdominais (aos 47 anos de idade) foi encaminhado de ambulância ao Hospital
Wellington, percorreu alguns poucos quilômetros e ficou em observação. Já no outro dia recebeu visitas e,
quando tudo parecia ter sido apenas um susto, acabou surpreendendo os amigos/as durante a madrugada
, momento em que seu quadro clínico piorou e o levou a óbito ? provavelmente por um comprometimento
do sistema cardiovascular decorrente de complicações renais.
Até a chegada de seu corpo de lá (Índia) para cá (Brasil) são contabilizados dezoito melancólicos dias que
, em síntese, podem ser explicados por conta dos trâmites burocráticos e pelo fator cultural, uma vez que
no país de maioria hinduísta permeia a cremação dos restos mortais, e não dispunha de reserva e

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logística do transporte de seus restos mortais para outros país. No aeroporto do Rio de Janeiro,
aguardavam por ele suas irmãs Heliomar Santa Rosa e Crisantina Santa Rosa Iwata. Santa Rosa foi
casado no civil com Maria da Gloria Monteiro (1935), numa celebração simples no apartamento de seu
amigo e mentor (renomado das artes plásticas) Cândido Portinari. Em 1942 se casaria novamente, agora
no religioso, com Nely Guimarães. Porém, foi com Oscarina Amorim que teve seu único filho, Luiz Carlos,
que também o esperava junto às tias. Além disso, no aeroporto também aguardavam por ele o ex-senador
Ivo d?Aquino, o escritor Marques Rebelo e o teatrólogo Joracy Camargo (CHEGARAM... 1956, p. 01).
É importante apontar que no ano de seu falecimento foi possível averiguar dezenas de homenagens
escritas à guisa de lembranças em jornais da época. Estas são, para a presente pesquisa, caminhos para
uma melhor compreensão de sua rede sociabilidade, do microclima intelectual, político e cultural de seu
tempo, de seu vínculo afetivo, profissional com dezenas de outros criadores e mediadores da cultura que
formam ?[...] as elites culturais, mesmo quando entidades autônomas, em posição de extraterritorialidade
ligadas à sociedade que os rodeia e são precisamente esses laços, especialmente políticos, que lhes
conferem uma identidade? (SIRINELLI, 1998, p. 259).
Figura 01 ? Saída do cortejo fúnebre de Santa Rosa

Dito isto, a partir de uma série delas (re) conheceremos o homem do seu tempo, o intelectual das artes, o
artista, o funcionário público, o ?Santa?, o ?Santa Rosa?. Afinal, ainda a esse respeito, Ricoeur (2007)
ressalta que a lembrança inaugura um novo ângulo da representação histórica, ?(...) uma imagem
presente de uma coisa ausente? (...) (RICOEUR, 2007, p. 199) ? constituindo-se, dessa forma, como uma
maneira de entender o passado por meio das mensagens póstumas de sua rede de amigos.
Em reclames por conta de um encontro que não aconteceu, o escritor e jornalista brasileiro João Condé
rememora o momento de sua partida para a Índia ?(...) no dia de seu embarque, estive com ele [Santa
Rosa], Alcântara Silveira e Simeão Leal, no City Bank (...) todo eufórico, trocava cruzeiros por dólares. E
no abraço de despedida perguntou-me o que desejava que trouxesse? (CONDÉ, 1956, p. 12). As
lembranças, de maneira verossímil, ajudam a compor uma série de apontamentos, caminhos e
postulações acerca da trajetória de vida de Santa Rosa.
Desta feita, passaremos a refletir acerca da trajetória de vida do multifacetado artista modernista, Santa
Rosa. Assim, pretende-se compreender fragmentos de sua trajetória vivida no espaço-tempo de sua
ambiência geracional; identificar como formou e se beneficiou de uma rede de sociabilidade composta por
uma renomada plêiade de intelectuais e reconhecer seu protagonismo no cenário artístico-cultural de seu
tempo. Metodologicamente, considera-se a dinâmica social vista sob a égide da microanálise, ou seja, o
grau de singularidade quando aproximamos a lente que analisa os processos históricos.
Assim, a pesquisa adota a perspectiva teórica da história social cultura e arrola sob a égide teórica-

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metodológica da política das elites culturais, da comunicação social das redes sociabilidade, da realização
cultural de feitos artísticos (SIRINELLE, 1998; 2003). A trajetória de vida do multifacetado artista, Santa
Rosa, é por aqui compreendido levando em consideração as premissas, do geografo Milton Santos, em
que o espaço é o elo de junção, na medida em que liga-se os ?(...) fatores à genes, ao funcionamento e à
evolução do espaço (...)?, ou seja, ?o espaço pode ser definido de maneira tripartida: primeiro, como um
fator social (determina as condições sociais); segundo, como um fato social (produto e produtor); terceiro,
como uma instância social, pois é um ?(...) revelador que permite ser decifrado por aqueles mesmos a
quem revela (...)? (SANTOS, 2004, p. 163). Desta forma, a pesquisa se fundamenta a partir da tríade
objeto-tempo-espaço (REVEL 1998; BOURDIEU, 2006; SANTOS, 2004).
O corpus documental analisado é formado por uma série de escritos de amigos e de sua autoria
publicados em jornais, revistas e suplementos literários, especialmente, acessados a partir da Hemeroteca
Digital da Biblioteca Nacional (BNDigital). Conforme defende Luca (2011), a partir da utilização do jornal é
possível captar a nova vida citadina do século XX. Afinal, são os periódicos que registram as modificações
da urbanização, modernização dos espaços, e se encaixam no mesmo fluxo de outros dispositivos que
surgem na modernidade.
Nesse sentido, comunicaremos a pesquisa seguindo o seguinte enredo. No primeiro momento trataremos
interpretar Santa Rosa a partir de recordações de seus amigos (as) que compuseram sua rede de
sociabilidade. Em um segundo momento, iremos compreender sua trajetória em seu cenário geracional,
assim, leva-se em consideração: família, espaço e sociabilidades de Santa Rosa. No terceiro e último
momento vamos apresentar parte da experiência do artista multifacetado.
Aos vivos: (re) apresentação de Santa Rosa

Para Paul Ricouer (2007, p. 199) as lembranças encontradas em mensagens-póstumas (ou seja,
homenagens escritas após o falecimento do indivíduo encontrada no formato de crônicas) evocam um
presente ou uma presença, ?[...] buscam na operação de recordar que se conclui com a experiência do
reconhecimento, [pois] a lembrança é representação, re(a)presentação?. Em vista disso, iremos
apresentar a maneira com a qual Santa Rosa é (re) apresentado por alguns amigos que compõem sua
rede de sociabilidade. Não sem antes advertir a (a) leitor (a) sobre as idiossincrasias da atmosfera política
da década de 1930 em que havia um embate político ferrenho entre movimentos comunistas, fascistas e,
também que falavam da temática do negro. E isso de uma maneira que aumentava substancialmente as
disputas ideológicas que o governo varguista conduziu com destreza política.
[2: Santa Rosa fez parte de uma plêiade de intelectuais que estava a serviço do governo varguista, sob a
liderança do ministro Capanema. A esse respeito, Miceli (2001, p. 195) evidencia a maneira pela qual o
período correspondente ao mandato de Capanema (1934-1945) foi marcado pela cooptação dos
intelectuais, seja ?(...) como funcionários em tempo parcial, seja para desempenho de cargos de confiança
junto ao estado-maior do estamento, seja para preencherem os lugares que se abriam por forças das
novas carreiras que a extensão da ingerência passou a exigir, seja enfim acoplando inúmeras dessas
posições e auferindo rendimentos dobrados.?. Por outro lado, Fábio S. Cardoso (2019), biógrafo do
ministro Gustavo Capanema, endossado pela atuação de Graciliano Ramos e Carlos Drummond de
Andrade (dois declarados comunistas) no ministério, sugere (numa recente publicação) que havia, sim,
flexibilidade ideológica na ?constelação Capanema".]
No tempo de Santa Rosa, contendas ideológicas se fizeram presente. Houve pelo menos um fato em que
Santa Rosa se envolveu diretamente. Trata-se de sua prisão na época em que trabalhava numa editora.
Quem narra o ocorrido é o escritor José Lins do Rego que diz:

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Vi-o um dia sair preso da Livraria José Olímpio, num sábado de carnaval, que era a sua festa preferida. Vi-
o no meio dos esbirros num carro de Polícia. Lembro-me de seu olhar triste, a única vez que aquela
fisionomia prazenteira se fechava em angústia. Eram as saudades do carnaval perdido. Santa não
demorou entre as grades. José Olímpio bateu em todas as portas para libertá-lo. (REGO, 1956, p. 4).
É bem verdade que não sabemos os reais argumentos que levaram à prisão de Santa Rosa, embora
postule-se sua ligação, assim como a de outros intelectuais, com clubes, agremiações artísticas ligadas à
Aliança Nacional - célula maior da arquitetura do projeto comunista. Santa Rosa foi cofundador do Clube
de Cultura Moderna, fundado no dia 28 de novembro de 1934. Sua presença e a de outros artistas
modernos, como o amigo Aníbal Machado, evidenciava, portanto, a postura política dos artistas.
Na ambiência intelectual de seu tempo participava da rede de sociabilidade pessoal de Santa Rosa
artistas e escritores que já detinham prestígio, a exemplo, do escritor baiano Jorge Amado. Em seu livro
autobiográfico, Amado comenta sobre uma viagem a São Paulo ao encontro do artista modernista, pintor e
cenógrafo Flávio Carvalho (1899-1973) na companhia de Santa Rosa em 1933 em que é possível
evidenciar o microclima intelectual do momento, diz Amado (1992):
Eu o conheci quando fui a São Paulo pela primeira vez, em 1933, em companhia de Santa Rosa.
Hospedando-nos em casa de Tarsila do Amaral* e Osório César, na ocasião marido e mulher ? haviam
recém-chegado de Moscou, ir à URSS naquele então era aventura cercada de dificuldades, viagem de
espantos ? realizavam uma exposição de cartazes soviéticos, insólitos e românticos, no Clube de Artistas
Modernos, organismo criado e dirigido por Flávio de Carvalho, na época o centro de cultura mais sério do
Brasil, o que colocava a proposta mais avançada. Ali pronunciei conferência sobre as crianças nas
plantações de cacau, autografei o livro ilustrado por Santa Rosa, assisti ao Bailado do Deus morto, de
Flávio, que espetáculo!, logo proibido pela polícia política. A censura não dava tréguas ao CAM (...).
(AMADO, 1992, p. 202).
Santa Rosa participou junto com outros intelectuais de seu tempo, como Aníbal Machado, Jorge Amado,
José Lins do Rego entre outros, do CAM - Clube de Arte Moderna. Entre outras atribuições, destaca-se
sua coordenação da comissão da exposição para escolha do melhor tema sobre Palmares a partir do
ponto de vista do modernismo, em 1935 . Também fez parte da direção da Revista Movimento, que
ancorava reportagens e editoriais feitos pelos integrantes do CAM.
O Clube passou a aderir oficialmente, em setembro de 1935, a Aliança Nacional Libertadora (ANL) uma
organização de âmbito nacional que promovia ideias comunistas para combater a difusão do pensamento
fascista disseminado pela Ação Integralista Brasileira (AIB). Naquela década, de modo geral, havia um
estreito corredor de escolhas para partidários e intelectuais, prevalecendo ambos os movimentos. Neste
cenário, em que ?(...) fundiram-se a libertação do academismo, dos recalques históricos, do oficialismo
literário; as tendências de educação política e reforma social; o ardor de conhecer o país" (MELO E
SOUSA, 2000, p. 114) as capilaridades ideológicas do âmbito artístico sofreram efetivas mudanças.
Na adesão à ANL falou-se sobre a importância da Cultura para o povo, para as massas, para os
trabalhadores do país. Um momento de pulsante denúncia contra os integralistas e os regimes de
opressão (Nazismo e Facismo) e aclamação para união em prol de um programa de Cultural modernista
(uma contraposição a erudição exclusiva do academicismo) para o povo. Subiram ao palanque para
discutir acerca do tema ?Cultura e Liberdade?: Edgard Sussekind de Mendonça, Febus Gikovate Miguel
Costa Filho, Luiz Werneck de Castro, Carneiro Ayrosa, José Lins do Rego. Demetrio Hamam, Jorge
Amado, Annibal Machado, Cordeiro de Melo.
(...) todos pronunciando-se contra os regimes de força, contra o Facismo, contra o integralismo, em prol da
mais completa liberdade (...) O Sr. Febus aludiu ao programa da Aliança Nacional Libertadora, mostrando

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que em face do pronunciamento da assembleia que aplaudiram os oradores e sendo aquele movimento de
frente única o único que no momento pode libertar o Brasil, submetia a debate e votação dos presentes e
decisão do Clube de Arte Moder de aderir à Aliança Nacional Libertadora. Uma salva de palmas saudou as
últimas palavras, ficando assim aprovada unanimemente aquela decisão do Club. Em seguida, a
comissão do Club de Cultura, acompanhado de grande número de sócios, dirigiu-se à sede da ANL. Esta,
reunida em sessão, sob a presidência do comandante Cascardo ouviu a decisão, e em nome do diretório
da ANL falou sr. Amoretty Osório que agradeceu a atitude do Club de Cultura Moderna. (O QUE...1935, p.
5).
Já nas lembranças do amigo Sérgio Porto, jornalista do Diário Carioca ficou registrado o cenário de
criação do personagem cabotino Stanislaw Ponte Preta. Sobre isso, Porto conta que Santa Rosa junto
com ele idealizou o personagem. A esse detalhe vale salientar que interessou a Santa Rosa o espaço de
charges em jornais. Diariamente, representações artísticas da atmosfera política se projetam por meio de
formas extravagantes nos jornais. Conforme diz Santa Rosa, a ?[...] [política], com os seus artifícios e as
suas peras perversões, tem-lhe fornecido um material copioso, em que se tem exercitado a irônica e
sarcástica verve dos artistas [...]? (SANTA ROSA, 1947, p. 12). Porto também foi quem buscou explicar a
desapropriada pontualidade que o amigo costumeiramente exercitava. Ficou conhecido no meio
profissional por entregar encomendas fora do prazo. Para ele, a culpa de procrastinar as encomendas
advinha de sua impulsividade em querer conferir as novidades do mundo da arte, pois costumeiramente
deixava
(...) de fazer um quadro para ir comprar o último disco de Armstrong, ou para ver o desfile de uma escola
de samba. Deixava pelo meio da tela para ir assistir uma peça mambembe, onde um intérprete
coadjuvante surgia como esperança de bom ator. Perdia horas numa livraria folheando livros de arte (...).
(PONTE PRETA, 1956, p. 11).
A trajetória de vida do sujeito histórico negro, letrado, migrante, que participou ativamente da produção
cultural do país, especialmente, entre as décadas de 1930-1950, evidencia um cenário político, cultural e
artístico, um capítulo da história republicana no período do pós-abolição. Desta feita, essa pesquisa
acompanha uma série de estudos historiográficos do pós-abolição em que homens e mulheres negros-(as
) letrados-(as) são evidenciados atuando como protagonistas em instituições, espaços de sociabilidade e
poder; desempenhando variados ofícios, sobretudo no primeiro quinquênio do século XX.
A produção de estudos da população negra relacionados ao período posterior à abolição da escravidão se
diversifica e; o que outrora eram lacunas se tornam caminhos a serem percorridos, a exemplo da utilização
de fontes primárias tais como: registros de batismo; certidões de casamento, de óbito; uso da genealogia;
jornais; literatura; entrevistas orais com remanescentes quilombolas; acervos pessoais e privados
(MATTOS; RIOS, 2004). Ou seja, a pesquisa histórica que se ocupa em compreender a dinâmica das
trajetórias de vida de homens e mulheres negros (as) no pós-abolição ampliou a dimensão espaço-tempo
e, com isso, acabou, através de novas perguntas descortinando as ?(...) conexões transnacionais da
história intelectual e da história das ideias que sempre estiveram relacionadas com as perspectivas ligadas
ao pós-emancipação e os debates sobre racismo, direitos humanos e cidadania? (DOMINGUES; GOMES
, 2011, p. 10).
Em Experiências da emancipação: biografias, instituições e movimentos sociais no pós-abolição (1890-
1980), Domingues e Gomes (2011) evidenciam uma gama de trabalhos que discorrem sobre o período do
pós-abolição, a partir de pesquisas sobre associações, convenções, congressos e instituições políticas,
militares negros, além do debate historiográfico sobre as trajetórias negras. Vale salientar, experiências no
âmbito da arte, a exemplo, do ator pernambucano, pintor e poeta Solano Trindade (1908-1974) e sobre o

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escritor e abolicionista baiano Manuel Quirino (1851-1923). No que concerne às mulheres negras também
foram representadas, destaca-se a trajetória da professora e deputada catarinense Antonieta de Barros
(1901-1952). Já em Quase Cidadão: histórias e antropologias da pós-abolição no Brasil (2007), de modo
geral, objetivo foi compreender ?[como], onde, em que condições homens e mulheres de cor dela
[múltiplas liberdades] usufruíram, transformaram-na em objeto de interpretação, contendas, ou mesmo
rejeitaram os significados a ela atribuídos pelo discurso jurídico? (CUNHA; GOMES, 2007, p. 14). Uma
leitura possível no debate historiográfico é sobre a cidadania da população negra no pós-abolição.
Ao analisarmos trajetórias negras no espaço-tempo em que esteve inserido Santa Rosa, ou seja, início do
século XX, na Cidade da Parahyba, podemos acompanhar pesquisas recentes que colaboram com o
entendimento do pós-abolição. Assim, a historicidade quanto aos afro-paraibanos no pós-abolição tem
sido tema de publicações que norteiam a presença de homens negros letrados na região setentrional do
país, especialmente. As recentes pesquisas que ampliam o olhar sobre experiências negras no pós-
abolição na Paraíba têm sido realizadas pelos pesquisadores Elio Flores (2015), Solange Rocha (2015),
Petrônio Domingues (2017) e Surya Barros (2020).
Nesse sentido, seguindo sob a esteira de pesquisas acerca de pessoas negras inscrevemos a presente
pesquisa na historiografia recente que tem evidenciado, figuras desse segmento populacional, com
atuação ativa na Primeira República ? período de reordenamento social, de reconfigurações das
hierarquias raciais e de disputas dos projetos de nação ?, também se destacaram na cena política e
cultural. Como exemplo, os baianos Manuel Querino e Alfredo Casemiro da Rocha; o maranhense,
Hemetério dos Santos; o pernambucano Monteiro Lopes; o gaúcho Aurélio Veríssimo de Bittencourt; o
mineiro Benjamim de Oliveira; os cariocas Evaristo de Moraes, Eduardo das Neves e Lima Barreto; entre
outros que debateram e disputaram os diferentes projetos de política, cultura e identidade nacional, e
foram reconhecidos em vida, mas aos poucos caíram na galeria do preterimento, do ostracismo, da
subestimação ou simplesmente jazem nos desvãos da memória após a morte (DOMINGUES; ROCHA;
FLORES, 2019, p. 145-146).
A cada passo dado novas questões chegam à lume e o olhar para a interpretação da ?nova abolição?
inverte o sentido do problema; ou seja, o fato histórico do fim da instituição escravista é, por conseguinte, o
fomento para o início de uma gama de problematizações que colaboram com a nitidez do que há de ser
visto por Clio. Em Vicente Gomes Jardim: um ?artista e autor ?de cor no final do século XIX e início do XX
, Surya Barros (2020) reflete, a partir da égide da história social da escravidão, a trajetória de um homem
negro livre, no período da transição do Império e a República. Em que se buscou a experiência de vida de
Vicente Jardim enquanto liderança da Sociedade de Artistas Mechanicos e Liberaes da Parahyba e
membro da Irmandade dos pardos.
Assim, o propósito, evidentemente, é acentuar o avanço face às limitações constituídas pelo silenciamento
de Clio sobre a participação protagonista da ?gente negra? na história do Brasil após a abolição de 1888.
Tal enfoque tem contribuído para ampliar a compreensão da historicidade do pós-abolição.
Portanto, compreender a trajetória de vida do sujeito histórico negro, Santa Rosa é também perceber as
tessituras sociocultural e políticas de seu tempo. Assim, comunico ao leitor (a) que passaremos a percebê-
lo em seu espaço geracional cujo objetivo é ter a possibilidade de entender suas ambições, decisões,
frustrações e objetivos. Além de, por outro lado, explicar a influência de sua rede de sociabilidade para
compreender fragmentos de uma história de vida em suas dimensões sociais: a família, o emprego,
amigos e estratégias de mobilidade social. Desta feita, caro leitor, passaremos a compreender o tempo de
Santa Rosa em sua cidade natalícia.As transformações que metamorfoseiam o cenário geracional de
Santa Rosa são elementos imprescindíveis para compreendermos fragmentos de sua história de vida,

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vivida em meio a conjuntura de modernização do espaço da Cidade da Parahyba no pós-abolição. O olhar


em seu presente-passado corrobora enquanto ?testemunha ocular? Burke (2004), das ?rugosidades?
Santos (1998) do espaço da cidade da Parahyba (1920-1930) acarretadas pela modernização de
dispositivos estruturais do serviço público.
[3: Assim também, é partindo do pressuposto de que, conforme aponta Milton Santos (2004, p. 146),
entendemos o espaço seja como ?um produto histórico?, consideram-se os fragmentos de uma trajetória
vivida em terras paraibanas. como elo de junção, na medida em que liga-se os ?(...) fatores à genes, ao
funcionamento e à evolução do espaço (...)?. ]

A Cidade da Parahyba no tempo de Tomás Santa Rosa Jr. (1909-1932): família, espaço e sociabilidade
A casa em que Maria Alexina Santa Rosa (mãe de Santa Rosa) residiria com seu filho Santa Rosa até
1932, era nas proximidades à comunidade católica da qual era assídua frequentadora ? a Igreja Matriz de
Nossa Senhora das Neves, a catedral da cidade. Seu pai, Tomás Mauricio Santa Rosa, artista, alfaiate de
profissão, por sua vez, manipulava a arte de ?vestir? pessoas ? em parte, assemelhando-se ao filho, que
?vestia? livros, sobretudo aquelas que detinham cabedal suficiente para adquirir um traje ?da moda?,
comumente utilizado para situações da vida social na cidade, como missas, bailes, casamentos, batizados
e cerimônias. Conforme Waldeci Chagas:
Os rapazolas se contentavam com as peças de brim em várias tonalidades. Do contrário, a casimira era
bem encomendada pelos alfaiates. As alfaiatarias e camisarias sempre estavam abarrotadas de
encomendas, principalmente se estavam próximas as festas da padroeira, Nossa Senhora das Neves, do
Natal e do Ano bom. Nessas épocas, era comum o rapaz encomendar o corte e costura de um novo
conjunto composto de paletó colete e calça (CHAGAS, 2004, p. 121).

No tempo de Santa Rosa, a moda é matéria prima para que personagens importantes do microclima
intelectual da década de 1920, na Cidade da Parahyba escrevessem a seu respeito, a exemplo do
historiador Horácio de Almeida quem, por seu turno, contesta, em tom de denúncia, a chegada da nova
(do moderno) maneira de ?vestir-se? ? para ele, a moda da/na década de 1920, quando posta na balança
da moralidade, seria um ônus negativo. Acusada, a moda passou a ser evocada como má influência para
toda uma geração (tanto para homens quanto para mulheres). Julgada por Almeida, a moda passou a
ocupar as linhas da Revista Era Nova, ao escrever o artigo O poder da moda, em 1921, por onde destila:
[4: [...] uma revista quinzenal ilustrada na década de 1920, produzida na Paraíba. A princípio foi fundada
na cidade de Bananeira/PB e logo depois seu núcleo foi transferido para capital da Parahyba do Norte. Se
manteve circulando de 1921 a 1926, quando, dela, se tem notícia pela última vez. Seu primeiro nº, do ano
I, data de 27 de março de 1921, sendo oficialmente apresentada por seu diretor Severino de Lucena e seu
redator-chefe Guimarães Sobrinho, com a proposta de inaugurar uma nova era nos círculos literários e
intelectuais paraibanos. (RODRIGUES, 2013, p. 3).]

[moçoilas] catilas e espevitadas desaforam-se de corpinhos e sobem vestidos e descem os decotes para
os pitaratas galanteadores analysem em seus contornos a perfeição artística de suas joias. Insatisfeitas
com a liberdade que gozam, disputam o direito de voto e com este o direito de representação (...)
Galopeamos nesta marcha para o aniquilamento moral de nossa raça, para a efeminação do caráter
másculo de nossa juventude, para o ignominioso e abdiminavel hermafroditismo social. E chama isso de
evolução! (ERA NOVA, 1921, p. 15)

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O registro presente na documentação da Arquidiocese da Paraíba evidencia que o casamento do casal


Santa Rosa foi em julho de 1906. Ao analisar o referido documento, é possível verificar/comprovar
algumas informações pertinentes à origem de Santa Rosa. Com 19 anos de idade, Thomaz Mauricio Santa
Rosa oficializa (no civil) seu casamento com Maria Alexina das Neves Pereira, que, aos 22 anos, era um
pouco mais velha e já contava com a maioridade jurídica. Também é possível averiguar nesse registro a
ramificação de parentesco de suas avós, sendo elas, respectivamente: Maria Marcionilla Martinho e
Felismina Batista Freire. Assim,
(...) aos trinta dias do mês de Julho de mil novecentos e seis, décimo sétimo ano festivo da proclamação
da República dos Estados Unidos do Brasil, nesta cidade da Parahyba do Norte, capital do Estado do
mesmo nome (...) Thomaz Mauricio Santa Rosa e Dona Maria Alexina das Neves Pereira que neste ato
queiram casar-se. Thomaz Mauricio Santa Rosa, solteiro, com dezenove anos de idade, natural e
residente nesta capital, filho natural de Maria Marcionilla Martinho, residente nesta cidade. Dona Maria
Alexina das Neves Pereira, solteira, com vinte e dois anos de idade, também natural e residente nesta
capital, filha ilegítima de D. Felismina Batista Freire (...).
[5: TESTAMENTO de casamento dos pais de Santa Rosa. Disponível em: https://www.familysearch.org
/ark:/61903/3:1:S3HY-61X9-. Acesso em: 25 fev. 2023.]
Tomas Santa Rosa morador da Rua do Barão de Passagem (atual Rua da Areia), nº 320, testemunhou a
implementação de dispositivos estruturais, tais como iluminação, água encanada e esgotamento.
Enquanto morador da cidade baixa, Santa Rosa foi testemunha ocular das edificações que ganhavam,
naquele momento, construções de sobrados de dois andares, feituras quase exclusivamente da área
comercial da cidade no centro da cidade. Assim, essa nova elaboração de estrutura da cidade criava um
aglomerado que com o tempo foi se transformando na urbe paraibana, dividido entre as regiões ?alta? e
?baixa? ?[...] onde o comerciante podia juntar o armazém, a família, e os caixeiros, respectivamente, no
andar térreo primeiro e segundo andares (...)? (BATISTA, 1951, p. 17). Em suma, como assinala Wylnna
Vidal
(...) da primeira metade dos anos 1910, quando foram implantados os primeiros serviços urbanos
modernos (abastecimento d'água, energia elétrica e bondes), até 1940, podemos observar o trinômio
[embelezar, sanear e circular] presente no discurso do poder público justiçando as ações; presente nas
reivindicações de melhoria e embelezamento urbano da elite local; presente no discurso favorável às
transformações e presente também no discurso que se mostraram às mudanças (VIDAL, 2004, p. 45)
As ruas do centro da cidade funcionavam como artérias de chegada do moderno. Eram consideradas
como uma espécie de ?termômetro? social e econômico do início do século XX. Em especial a Maciel
Pinheiro que, nesse contexto, se tornava uma das principais esteiras do comércio da Paraíba, na qual as
transformações culturais ?pintavam? as vitrines com suas cores e tessituras, e por onde certamente
Tomaz Maurício Santa Rosa trabalhava e construía apreço social gerado por sua vida profissional, cuja
função em confeccionar o vestuário de membros da elite paraibana o levaria a costurar certa rede de
sociabilidade.
A ambiência em que residia a família Santa Rosa era de extrema importância comercial, pois recebia de
cidades do interior como Itabaiana e Campina Grande carregamentos de uma mercadoria que nutriu a
opulência de parte dos produtores paraibanos: o algodão ? um gênero de grande relevância para a
economia paraibana e principal produto da década de 1920. De certo modo, o acúmulo de capital de
alguns comerciantes advindos do interior para morar na zona urbana da capital, e que logo iriam construir
suas residências na parte da ?cidade alta?, mantendo seus comércios na parte baixa da foi o apogeu do
algodão no final do século XIX, devido ao cenário do mercado internacional. Com efeito, trata-se de um

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elemento preponderante para a modernização da cidade, uma vez que, como aponta Galliza (1993, p. 45),
durante o período compreendido entre 1900 e 1929 o algodão e a pecuária foram não apenas
fundamentais, mas principais produtos da economia paraibana. Tal evidência reverberava nas mudanças
administrativas da cidade.
A iniciativa do poder público em modernizar a cidade gerou mudanças não apenas em seus edifícios, mas
também no campo administrativo, uma vez que o aparato burocrático paraibano teve que ser ampliado.
Vale lembrar que, apenas em 1916, é que a Paraíba inaugurava seu primeiro banco (uma filial do Banco
do Brasil no estado), ? então, o capital mercantil do estado era majoritariamente manipulado por
empresários estrangeiros. Assim, atividades aduaneiras de exportação algodoeira essenciais à economia
local ficavam sob a égide de firmas estrangeiras, a exemplo da francesa Cahan Fréres & Cia (fundada em
1864), que, contando com filiais em Guarabira e Mamanguape, monopolizava o comércio externo da
Paraíba (GALLIZA, 1993).
Entretanto, as modificações advindas do profícuo momento econômico em que passava o espaço natalício
de Santa Rosa não impediu o avanço das mazelas advindas da falta de saneamento básico. A
precariedade do saneamento básico, certamente, colaborou com o triste capítulo na história da família da
Santa Rosa, que passaremos a comunicar.
Além de superar a morte de três filhos homens, a família Santa Rosa passou por outras dificuldades,
sobretudo Maria Alexina (mãe), uma vez que ela teve que prosseguir com a criação do único filho homem
sobrevivente (Santa Rosa) e suas duas irmãs, sozinha, já que seu pai, Tomaz Mauricio ?(...) abandonara a
família para tentar a sorte ao centro-norte do país, só retornando para revê-los nos últimos anos de sua
vida (...)?, falecendo em 1953, três anos antes do filho (BARSANTE, 1982, p. 7). Possivelmente, a
?aventura? iniciada pelo senhor Tomaz, teve um aspecto potencializador ? à época, o sonho de muitos era
saborear um promissor enriquecimento através da extração da borracha. Desse modo, muitos nordestinos
partiram para as trilhas das florestas, se inserindo na produção da borracha.
[6: A esse respeito, Caio Prado Jr. (2004, p. 199) observa: ?(...) a borracha, que graças aos automóveis e
seus pneumáticos estará destinada a um futuro magnífico, e que na nativa do vale amazônico daria
momentaneamente ao Brasil o monopólio de uma mercadoria de grande consumo internacional?.
Entretanto, o surto do ciclo da borracha acabaria se encerrando, à medida que produtores dos países da
Ásia menor passaram a cultivar seringueiras, agradando com preços baixos os principais compradores (os
estadunidenses). O final do primeiro surto da borracha foi em meados de 1920, chegando ao seu declínio
, de fato, já na década de 1950, por conta dos derivados do petróleo.]
O triste capítulo na história da família de Santa Rosa foi agravado pela precariedade do saneamento
básico, o que atuou nos consecutivos falecimentos de seus três irmãos. A partir da imprensa local,
inclusive, é possível perceber na atmosfera epidêmica, a tônica conjuntural de preocupações com
enfermidades, ? no tempo do nascimento dos irmãos de Santa Rosa (1907-1908) manifestavam-se, tanto
pelo ?bater dos sinos? das igrejas (que anunciam mais momentos fúnebres), quanto pelos informes da
imprensa local, que a descreve da seguinte maneira: ?(...) já temos diante de nós a triste perspectiva de
um quadro semelhante às 56 dos anos de 1905 a 1907, quando a Parahyba foi dolorosamente flagelada
por essas pestes (...)? (COLUNA..., 1913, p. 1). O fato é que, sem um serviço de distribuição de água
encanada, a cidade pouco se apresentava enquanto um espaço moderno. Conforma Araújo (2001) e
Chagas (2004) havia um volumoso debate político acerca da qualidade da água, médicos e engenheiros
travavam um embate cientifico para sanar a proliferação de doenças. Porém, a mobilização discursiva não
efetivava as condições insalubres. Vale salientar que apenas em 1914 a cidade natalícia de Santa Rosa
será contemplada com serviço de água encanada e que o abastecimento era realizado pelos aguadeiros.

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Em 16 de outubro de 1908, um ano após casal Santa Rosa formaliza matrimônio, é evidenciada a morte
do que seria primeiro irmão de Santa Rosa ?(...) Anjo ? finou-se antehontem, o pequeno Moacyr Santa
Rosa, filho do senhor Thomaz Mauricio Santa Rosa. Seu enterro effectuou-se hontem pelas 4 horas.
Pêsames aos seus desolados genitores (...)? (ANJO, 1908, p. 2). Ou seja, ao que se indica, um dos
primogênitos faleceu de forma prematura, sem chegar a completar dois anos de idade em vida. É na
ambiência dos problemas sanitários que nasce outro irmão de Santa Rosa, Pelópidas, registrado no dia 28
de junho de 1908 também falecendo de forma prematura. Conformidade com Barsante (1982, p. 7),
nenhum de seus falecidos irmãos alcançou (em vida) a infância.
[7: CERTIDÃO de óbito. Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-X38SJHH?i
=64&cc=2015754. Acesso em: 30 set. 2022.]
A questão da distribuição de água na cidade é um capítulo digno de novela livresca. As polêmicas acerca
da qualidade da água causaram estardalhaço no nicho político paraibano: farpas entre correligionários
locais, com os aliados protagonizando o conflito, cuja saída foi convidar especialistas externos para pôr fim
nas querelas. Por esse nasceu em 29 de setembro de 1909, Santa Rosa, o único filho homem de Maria
Alexina e Thomaz Mauricio a sobreviver ao nefasto ambiente. Consta na documentação da Arquidiocese
da Paraíba o seguinte registro:
Aos vinte e sete de março de mil novecentos e dez na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Neves de
minha licença, Reverendo Padre Mathias Freire batizou solenemente a Thomaz, nascido aos vinte de
setembro do ano próximo passado [1909], Tomaz Santa Rosa; filho de Thomaz Mauricio de Santa Roza e
Dona Maria Alexina de Santa Roza (sic!). Foram seus padrinhos Thomaz Ferreira Soares e sua mulher
Dona Amélia Ferreira Soares. E para constar mandei lavrar o presente termo que assino.
[8: Fonte: Arquivo Eclesiástico ? Arquidiocese da Paraíba ? Livro 13, nº 1876-1878.]
Os primeiros passos de sua vida escolar foram dados na Quinta Cadeira Mista da Paraíba; posteriormente
, buscou admissão no Grupo Escolar Tomás Mindelo, por meio do qual ingressou no conceituado Lyceu
Paraibano onde estudou até 1927. Este ficava próximo à Escola Normal, instituição responsável pela
formação das moças paraibanas. Santa Rosa fez aulas de piano com a professora Alice Pereira quando
ainda era garoto. Todavia, é sabido que a sua dedicação autodidata o levou a aprender outro idioma, o
mais exigido em seu tempo, o francês. Sua formação cultural e a aproximação de sua mãe da Paróquia
local foram decisivas para que ele participasse de aulas de canto, atividades realizadas na Igreja Matriz de
Nossa Senhora das Neves, da qual, decerto, sua mãe fazia parte.
Na igreja constatou-se uma potencial habilidade vocal, e ele passou a participar do Te Deum dos alunos
do Sacro-colégio do Arcebispado. O garoto, Santa Rosa, ainda arranjava tempo para apreciar as aulas do
seu professor de música Grazzi Galvão de Sá (natural da Cidade da Parahyba). Vale salientar que Santa
almejou se torna um músico profissional. Apostando em sua qualidade musical de barítono, naquele
período seguiu buscando participar de concursos de novos talentos, até que, certa feita, um conhecido,
Murilo de Carvalho (que era profissional de canto), o orienta a deixar a ideia de lado (BARSANTE, 1982).
Anos depois, sua carreira profissional se inicia no funcionalismo público imerso no setor de contabilidade
da administração local.
Sua trajetória na carreira do funcionalismo público se deu em meio a consolidação do regime republicano.
Era o tempo do segundo mandato do governado Solon Barbosa de Lucena (1920-1924) quando Santa
Rosa recebeu o convite que iria influenciar os rumos da vida do garoto de apenas 14 anos de idade. Na
ocasião, o convite foi feito pelo então engenheiro-chefe da Secção de Saneamento do Estado da Paraíba,
Lourenço Baeta Neves, em conjunto com o secretário-geral de Estado Álvaro de Carvalho (BARSANTE,
1982, p. 9). Logo, a partir de 1923 Santa Rosa passaria a trabalhar no setor da contabilidade oficial do

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governo ? naquele ano o prédio do Palácio do Governo funcionava nas proximidades de sua casa. Desse
modo, a citada contratação para o setor de contabilidade do Tesouro Estadual da Parahyba do Norte foi
realizada por indicação de homens da política local.
Figura 02 ? Tomás Santa Rosa aos 18 anos de idade

Fonte: BARSANTE, 1982.

Cabe ressaltar que o início de sua vida no funcionalismo público é de suma importância, pois por meio
desse vetor de compreensão de sua trajetória de vida é possível, também, descortinar sua rede de amigos
. É esse um assunto que requer atenção, afinal Santa Rosa não teve em sua origem uma opulência de
berço, como outros de seu convívio, mas logrou êxito quanto a apropriação de capital cultural e social.
A mencionada rede (e as relações de proximidade dela decorrentes) pode ter granjeado certo capital
social ao Sr. Tomaz, afinal homens da elite e da classe média paraibana recorriam ao comércio de
vestimentas para adquirir trajes apropriados para os oportunos momentos de socialização (casamentos,
bailes) pautados pela agenda de celebrações. Desta feita, agraciado por uma oferta de emprego, no setor
de contabilidade do Tesouro Estadual. Essa oferta pode ser especulada a partir da influência de seu
padrinho, Thomaz Ferreira Soares. Membro de uma tradicional família da cidade (os ?Ferreira Soares?),
casado com a Sra. Amélia Soares (carinhosamente chamada por parentes e pessoas próximas como Mãe
Lindoca), com quem teve um filho chamado Acácio (Sula), era funcionário/tesoureiro de carreira em um
banco, na Cidade da Parahyba.
Há ainda outra possibilidade que advém de sua rede (direta e indireta) de amigos ter proporcionado um
caminho confortável para a inserção em seu primeiro emprego, e por conseguinte mobilidade social.
Nesse sentido, há uma memória do tempo em que Santa Rosa trabalhou no Tesouro Estadual, produzida
pelo jornalista Luiz Pinto, com quem Santa Rosa não tinha amizade, mas mantinha relações de
proximidade pelo fato de trabalharem na mesma repartição pública, que ajudaria a endossar essa
suposição. De fato, o jovem Santa Rosa contou com uma importante rede de amigos no âmbito social que
correspondia à sua função no setor de contabilidade. Sendo assim, ao relembrar em tom nostálgico de sua
experiência no tempo em que Santa Rosa era morador e funcionário público, Pinto o descreve como
alguém de distinção, sobretudo por sua relação de amizade com membros da elite paraibana nos anos
1920 (a exemplo de Aloísio França e Luís França, os ?meninos do Tesouro?).
Conheci-o, já se vai muitos anos! Éramos tão jovens... O mundo uma incógnita, um poço de ilusões, um
marco de esperança. Seu apelido na época era Bonzinho. Íntimo de Aloísio França, de Luís França, os
meninos do Tesouro do Estado. Na vida da Paraíba trabalhamos todos no tesouro do Estado na minha
velha província, entre os paredões lendários do velho Convento de S. Bento, onde funcionava aquela
repartição estadual. (PINTO, 1956, p. 3).
Para uma melhor compreensão do Santa Rosa funcionário público do Tesouro Estadual, contudo, faz-se

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necessário acionar um outro personagem. Em se tratando de sua rede de sociabilidade, outro possível
apoiador de sua trajetória profissional, Ademar Victor de Menezes Vidal, oriundo de família da elite
paraibana. Vidal ocupou diversos cargos na esfera jurídica da República, chegando a atuar como
procurador durante o governo de Solón Barbosa de Lucena (1920-1924) e como secretário de Interior e
Justiça e Segurança no governo de João Pessoa (1928-1930). Ao que as fontes indicam, ele mantinha
uma relação de apadrinhamento com o jovem Santa Rosa (VIDAL, 1956).
Morador da Cidade da Parahyba, e, oriundo de uma família da elite (atuante no ramo jornalístico), Vidal
detinha capital (político e social) suficiente para influenciar na política burocrática que determinava o
preenchimento de vagas de emprego. Com efeito, ao assumir a pasta de Secretário do Interior e
Segurança (1928), no breve governo de João Pessoa Cavalcanti (1928-1930), Vidal pôde amparar o
noviço funcionário público com imediata promoção na função dos serviços no Tesouro Estadual.
Cabe mencionar que, ao esquadrinhar a documentação pertencente ao Arquivo Estadual do Governo do
Estado da Paraíba, identificamos, no setor de contabilidade da Companhia de Água, uma lista de
pagamento dos vencimentos dos empregados nas Obras Públicas (Saneamento e Indústria Pastoril).
Tomás Santa Rosa Jr. foi lotado no departamento de Saneamento Básico do Estado, e se encontrava na
função de contador e arrematava mensalmente 300$000 (trezentos mil réis). Em uma nota-homenagem
intitulada ?O autodidata?,publicada no jornal O Norte, Vidal menciona ter agido politicamente em benefício
de Santa Rosa, o que teria resultado em sua mobilidade social:
[O] Paraibano da rua Direita [em verdade rua do Barão de Passagem], atual Rua da Areia], era lá onde me
habituei a vê-lo com os desenhos que mostrava, trabalhando no serviço público do Estado e, anos depois
, ocasionalmente me encontrando com o poder nas mãos sua situação fora melhorada como funcionário
do Abastecimento de Água. (VIDAL, 1956, p. 2).
É importante salientar que, anos depois, livros escritos por Ademar Vidal que versam sobre cultura popular
e nordeste foram ilustrados pelo artista Santa Rosa, a exemplo do livro Lendas e Superstições: contos
populares, (1950. Já o funcionário público e contador do Tesouro almejava ir, no início da década de 1930
à capital do país, Rio de Janeiro. Sua vida parecia estar dividida entre a carreira do funcionalismo público
e as oportunidades do mundo das artes.
Santa Rosa esteve inserido numa conjuntura econômica marcada pelo surto da industrialização, por
medidas de modernização e pela expansão das instituições artísticas, que ele acompanhava através de
revistas e jornais que comprava ou pegava de empréstimo de seu ?amigo de sempre? José Simeão Leal.
Era com Simão que Santa Rosa trocava missivas frequentemente. A comunicação feita a partir das cartas
permite a ampliação das possibilidades de pesquisa para um campo de maior interpretação sobre a
trajetória de Santa Rosa, a linha entre suas subjetividades e seus anseios mais íntimos geram uma
profícua gleba de análise. Para Gontijo, do ponto de vista metodológico, há no ?pensar carta? uma
chancela de compreensão do pensamento individual ou de um determinado grupo. De tal modo, que o
[...] estudo da correspondência de escritores e intelectuais ajuda a compreender os meandros da
construção de uma obra e/ou da elaboração de projetos, revelando ações e intenções e deixando entrever
a especificidade dos procedimentos cognitivos e argumentativos. Também permite observar as relações
entre os indivíduos, fornecendo indícios de suas experiências como atores sociais. (GONTIJO, 2008, p.
55).
Desta feita, passemos a entender a quanto notória foi a influência de Simeão Leal no que diz respeito ao
empreendimento que objetivou contribuir a mobilidade social de Santa Rosa. Um assunto presento foi o
concurso para o Banco do Brasil. É explícita a intenção de Santa Rosa: ?um pedido?. Ele solicitou ao
amigo que intervenha em sua nomeação, para que fosse enviado à matriz do Banco do Brasil, localizada

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na capital do país, o itinerário perseguido por Santa Rosa.


Foi aí que passou a vislumbrar uma gama social que pudesse ser proveitosa quanto a sua aprovação, já
que, para ele, o modus operandi da cultura política existente em seu tempo obedecia aos critérios políticos
da nomeação, e não do mérito. Assim, Santa Rosa se inclinou na busca de intermediários/ ?pistolões?, e
aciona sua rede de sociabilidade para promover empreendimento tático à sua aprovação:
(...) [Bem] sei que este concurso, como todas as cousas actuaes, não se processa, naturalmente, na razão
directa dos valores demonstrados, mas sob os auspícios dos pistolões e de todas as recomendações
assignados pelos fazedores da política e já que é preciso ser assim; já que somos forçados a fazer assim:
? sejamos e façamos com a situação nos obriga (...) E é sobre isto que venho pedir de sua amizade, um
grandíssimo favor (...) É possível que ahi entre toda essa novidade do seu convívio haja alguém que no
momento actual te possa servir como um intermediário para o meu interesse de ser nomeado... Alguém
cuja família representa no momento, algo de realmente prestigiado que seja um factor, no cenário
ambiente, de relevo e de força irradiante (...). (SANTA ROSA, 1931, p. 2).
Sua ambição em sair da cidade da Parahyba tornou-se ainda mais notória quando ele, deixando de lado
qualquer formalidade, passou a clamar de maneira mais direta:
(...) Acrescento, meu amigo, que o local pouco me dá! ei-me fora do interesse ir a tal ou qual lugar.
Entretanto como é natural, prefiro as agências do sul. É caso interessante, o que menos desejo é ficar aqui
. Não há por acaso parahybanos do seu conhecimento na Matriz do Banco do Brasil? (SANTA ROSA,
1931, p. 3).
Para alcançar o objetivo, Santa Rosa, elaborou estratégia que, dando certo, seria o seu passaporte para
alcançar seu obstinado destino, assim como o impulsionar para outros ares, para além da pacata Cidade
da Parahyba, que passou a chamar pela alcunha de ?exílio?. Santa Rosa pretendia sair de sua atmosfera
natal e partir em busca de uma ambiência profícua de profundas mudanças.
[9: É o que aponta Miceli (2001, p. 77), para quem: [as] décadas de 1920, 1930, 1940 assinalam as
transformações decisivas no planos econômicos (crise do setor agrícola voltado para exportação,
aceleração dos processos de industrialização voltados para a urbanização, crescente intervenção do
Estado em setores-chaves da economia etc.), social (consolidação da classe operária e da fração de
empresários industriais, expansão das profissões de nível superior, de técnicos especializados e de
pessoal administrativo nos setores público e privados etc.), político (revoltas militares, declínio político das
oligarquias agrária, abertura de novas organizações partidárias, expansão dos aparelhos do Estado etc.) e
cultural (criação de novos cursos superiores, expansão da rede de instituições culturais públicas, surto
editorial etc.).]
Ele visava ser inserido na carreira pública no Banco do Brasil e alcançar estabilidade, a possibilidade de
vivenciar um contexto propício para desenvolver o seu projeto de uma vida artística. Parecia que tudo
daria certo: assegurar seu lugar no serviço público e vivenciar os principais corredores do mundo artístico.
Ledo engano. O que parecia motivo para comemoração se tornou um imbróglio trágico, uma vez que sua
tática não alcançou o sucesso necessário e, ao invés de ir ao Rio de Janeiro, foi enviado para uma
agência em Recife.
A fim de alcançar seu objetivo, Santa Rosa acionou, ao mesmo tempo, Simeão Leal e outro influente
amigo ? o gaúcho Moziul Moreira Lima, tenente do Exército. Nos anos 1950 é possível identificá-lo como
membro conselheiro da Associação de Ex-combatentes do Distrito Federal (Rio de Janeiro), já com a
insígnia de major. Com isso, a estratégia de Santa Rosa foi gerar duas forças de influência para efetivar
sua meta de ser nomeado como funcionário do Banco do Brasil no Rio de Janeiro. Mas, novamente não
obteve êxito, e foi transferido apenas para Maceió, Alagoas. Todavia, por lá não abandonou a sua

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obstinada dedicação em ?fazer-se artista.


Na atmosfera cultural de Maceió, Santa Rosa compartilhou trabalhos, se aproximou de outros jovens
artistas, e vivenciou espaços de sociabilidade: participando de salões, exposições, e contribuindo com
seus feitos artísticos (gravuras e poesias) em jornais e revistas locais. Naquele ambiente de difusão da
cultura unia-se a uma plêiade de intelectuais. Entre eles, José Auto da Cruz Oliveira, o poeta ? Zé auto?,
com escritores modernistas, a exemplo de Raquel de Queiroz e Graciliano Ramos ? este já tinha sido
prefeito de Palmeira dos Índios. Em 1932 Ramos já havia sido nomeado diretor da Secretária da Imprensa
Oficial, e utilizava de sua influência para realizar encontros em seu gabinete. Outro importante espaço de
sociabilidade de Maceió em que ocorriam os encontros, era no boêmio Bar Central. Em setembro de 1956,
o Correio da Manhã publica, na coluna Escritores informações sobre o grupo, diz:

?Reunidos em torno do escritor, no seu gabinete na Imprensa, ou no ?Ponto Central? os rapazes ficavam
em conversas e discussões literárias que se prolongavam horas a fio?. Além de médicos e professores
pertenciam aquele ciclo ?alguns escritores e artistas de outros estados, como José Lins do Rego, Raquel
de Queiroz e Santa Rosa? (ESCRITORES..., 1956, p. 10).

O pintor Santa Rosa realizou uma exposição de sua arte modernista na capital alagoana. É o jornalista
Manoel Diógenes Junior, que recorda quando no Instituto Histórico de Alagoas, em 1932, o crítico e
jornalista, Valdemar Cavalcanti

(...) apresentou Santa Rosa numa palestra em que estudava sua arte dentro do modernismo brasileiro. E
assinala-se eu esta noite de modernismo, em que se tocou Debussy e se cantou Blue, onde se
apresentavam os trabalhos modernos de Santa Rosa, se realizou nos austeros salões do venerando
Instituto Histórico de Alagoas (JUNIOR DIOGENES, 1956, p.03).

O que as fontes mostram é que ele Santa Rosa, abandonou o emprego no Banco quando se mudou para
o Rio de Janeiro. Sua trajetória é marcada por uma decisão que modificou sua vivência e assustou amigos
/as, quando decidiu abandonar o emprego no Banco do Brasil para consolidar seu sonho. Segundo, a
escritora Rachel de Queiroz:
[Santa Rosa] pediu transferência para o Rio, mas recusaram a transferência. Ele então abandonou o
emprego e se tocou para cá, entregando-se deliberadamente às dificuldades, quase à miséria, do artista
que tenta abrir caminho na cidade grande. Passou o diabo, passou fome, todo mundo o considerava louco
por abandonar um emprego excelente por amor de um sonho, ou como lhe dizia um amigo, ?uma vocação
abstrata?. Santa explicava pacientemente: ?Mas eu sou pintor". (QUEIROZ, 1961, p. 8).

Na cidade carioca, se inseriu no mundo editorial ? uma decisão tomada que, sem saber, o tornaria um
artista que logrou êxito como pintor, crítico de arte, cenógrafo, professor e profissional do âmbito gráfico
entre seus pares, como discutiremos no próximo tópico.

O multifacetado artista
Santa Rosa foi um artista multifacetado, característica comum de sua geração, atuando em diversos

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âmbitos da arte de maneira concomitante. Acompanhar sua vivência no mundo da pintura, cenografia e
artes gráficas é um convite para o mundo artístico cultural do início do século XX. O esquadrinhamento de
parte de sua trajetória é perpassado por ideias do movimento modernista à brasileira, que prevaleceu
hegemônico, sobretudo, entre as décadas de 1930 e 1950.
A partir de 1933, após abandonar o emprego na agência alagoana do Banco do Brasil em Maceió e viajar
à então capital do país, Santa Rosa adentrou in loco no microclima intelectual carioca. Sua carreira
artística teve início enquanto responsável por projetos visuais em editoras, jornais e revistas ilustradas.
Aproveitando o boom de vendas ocasionadas pelos gêneros literários (ficção, romantismo), se viu em meio
à demanda por mão de obra especializada. O trabalho inicial nas editoras Ariel, Schmidt e José Olympio
foi profícuo. O cenário de ofertas de emprego era, de maneira geral, atraente.
[10: Conforme explica Miceli (2001, p. 148), ?[o] surto editorial da década de 1930 é marcado pelo
estabelecimento de inúmeras editoras, por fusões e outros processos de incorporação que ocorrem no
mercado editorial e, ainda, por um conjunto significativo de transformações que acabaram afetando a
própria definição do trabalho intelectual: aquisição de rotativas para impressão, diversificação dos
investimentos e programas editoriais, recrutamento de especialistas para os diferentes encargos de
produção e acabamento, inovações mercadológicas nas estratégias de vendas ? implantação do serviço
de reembolso postal, contratação de representantes e viajantes etc. ?, mudanças na feição gráfica dos
livros, com o intento de ajustar o acabamento das edições às diferentes camadas do público, e, sobretudo
, empenho das principais editoras em verticalizar o processo produtivo e diversificar suas atividades?.]
Ao chegar à capital do país, Santa Rosa já era pintor e desenhista. Com essas habilidades buscou nas
editoras um meio de vida. No seu tempo, editoras investiram na visualidade dos livros para atrair cada vez
mais o público leitor ávido em consumir o bem cultural da modernidade: o livro ilustrado. Neste momento,
trabalhou inicialmente nas editoras Ariel e Schmidt, mas foram as duas décadas dedicadas as feituras
gráficas pela editora José Olímpio que o consagrou. Seus feitos artísticos expressavam outra estética aos
livros que circulavam pelas principais livrarias da cidade, ou nas exposições das capas de livros que,
acomodadas nas vitrines, exibiam imagens assinadas por Santa Rosa. Estas tinham por objetivo o
aumento das vendas, e funcionavam enquanto rede de entrelaçamento de sua sociabilidade. Assim,
discorre Bueno:
Tendo [Santa Rosa] participado, desde os tempos de Maceió, da vida intelectual brasileira, seu trabalho de
criador de capas era também uma forma de participação direta na vida cultural e literária de seu tempo,
além de representar uma modalidade de cooperação criativa com os confrades escritores. Vida
profissional e camaradagem. No caso da literatura brasileira, mas não só ler os livros para desenhar-lhes
uma capa era mais que uma tarefa feita por obrigação. (BUENO, 2015, p. 63).
Santa Rosa conquistou, ao longo de duas décadas de trabalho no mundo das artes gráficas, lugar de
destaque como artista gráfico modernista, ?(...) sendo responsável quase sozinho pela transformação
estética do livro brasileiro nos anos de 1930-1940 (...)? (HALLEWELL, 2017, p. 512). Quase todas as
editoras neste período têm sua assinatura, o que reforça o nível de importância do artista afro-brasileiro.
Conforme aponta Bueno (2015), a produção de Santa Rosa se de especialmente na editora José Olímpio,
onde construiu um prodigioso acervo de imagens para as capas de livros. É enorme sua relevância e seu
protagonismo na história das artes visuais do país, afinal:
(...) quem quiser contar a história da evolução das artes visuais no Brasil do século XX não pode escapar
ao nome de Santa Rosa (...) é preciso reconhecer que Santa Rosa fez esse trabalho como mais ninguém.
Se nem todas as ações oficiais que propôs se concretizaram, seu trabalho contínuo por mais de vinte anos
deixou exposta em parte uma visualidade que não pode ser colocada noutro lugar que não o da arte

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moderna. (BUENO, 2015, p. 22).


Santa Rosa é reconhecido pela inovação no metiê das artes gráficas, e talvez por isso seja mencionado
como ?pai do livro moderno? (HALLEWELL, 2017). O afro-brasileiro entrou para a história das artes
visuais tanto por conta de seu desempenho singular no desenvolvimento do ofício, quanto pela assídua
defesa intelectual sobre a profissionalização do metiê. De acordo com Laurence Hallewell, praticamente,
todas as obras que formam a geração romancista de 1930 com suas imagens-síntese, ainda menciona
que
?Os livros com o sinete editorial da José Olympio logo começaram a destacarse da insípida mediocridade
dos concorrentes, pois o editor, desde o início, dedicou cuidadosa atenção ao projeto gráfico. Seu
colaborador nessa área, mais uma vez, foi um nordestino, Tomás Santa Rosa, que trabalhara
anteriormente em diagramação e em desenhos de capa para a Schmidt (...) [deste modo] ele tem sido
considerado o maior produtor gráfico de livros do Brasil, responsável, quase sozinho, pela transformação
estética do livro brasileiro nos anos de 1930-1940 produtor gráfico de livros do Brasil, responsável quase
que sozinho pelas transformações estéticas do livro brasileiro nos anos de 1930-1940?. (HALLEWELL,
2017, p. 512).
O reconhecimento maior de Santa Rosa no âmbito das artes gráficas veio quando ele foi convidado a criar
e coordenar um pioneiro projeto escolar que contribuísse diretamente com a formação de artistas no
âmbito das artes gráficas. Em março de 1946 sua ambição de difundir a profissionalização do ofício
através de um conhecimento sistematizado sobre o âmbito foi consolidada. Certamente, sua atuação o
consagrava como principal peça de montagem e coordenação do Curso de Artes Gráficas, realizado pela
Fundação Getúlio Vargas, na cidade do Rio de Janeiro:
Em 1946, a Fundação Getúlio Vargas doava ao nosso meio artístico um atelier de gravura, o qual tive a
honra de dirigir. Com a colaboração do Carlos Osvald e Leskoscheck, efetuou-se um trabalho de
desbravamento cujos resultados em oito meses teremos a oportunidade de expor ao público ainda este
mês. É admirável a ágil e curiosa inteligência dos jovens alunos, aprendendo e experimentando com
eficiência rapidez, técnicas como as da gravura, complexas e variadas (SANTA ROSA, 1947, p. 10).
Nesse sentido, acompanhando a leitura quanto à repercussão do Curso feita pela crítica de arte, podemos
avaliar até que ponto a iniciativa coordenada por Santa Rosa foi benéfica ao fazer-se do metiê. A cargo da
coordenação do primeiro curso de artes gráficas do país, Santa Rosa difundiu suas proposituras e
diretrizes quanto à formação de novos profissionais. Tendo ele ainda desempenhado a função de
professor. Assim, foi possível avaliar como o artista/professor articulou seu conhecimento no âmbito.
Sobre a repercussão do curso, Santa Rosa , pondera que a consequência maior é a de estabelecer uma
positiva relação de novos artistas/profissionais, assim, ?(...) com paginadores de nova visão, as editoras
com ilustrações possuidoras de todas as técnicas, e as agências de publicidade em ?layoutmans? e
cartazistas?. Investir nos campos de artes gráficas que se voltam para comunicação em massa (FALA...,
1946, p. 8). Vale salientar que sua preocupação em fortalecer o mercado interno, ?(...) fazer ressurgir
essas técnicas da obscuridade em questão, e trazer ao meio brasileiro uma contribuição objetiva, digna de
consideração? (FALA..., 1946, p. 8).
No período aqui abordado, especialmente entre a década de 1930 e a de 1950, embates que revelam
divergências sobre a arte e a cultura, trazendo à tona caminhos para compreensão da cultura artística de
um tempo. É possível evidenciar questões fulcrais à atmosfera artística, entre elas a qualificação técnica, a
influência ideológica e a função social do artista no metiê.
No plano individual, Santa Rosa não detinha prerrogativas institucionais oficialmente registradas por
instituições de renome, sua formação na pintura se deu a partir da mentoria de Cândido Portinari, somada

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ao seu autodidatismo; assim como nas artes gráficas teve que lidar com o desconforto de não possuir
comprovação institucional.
Já o perfil estético do pintor Santa Rosa pode ser evidenciado em suas inúmeras obras. São diversos
cenários como: festas, vida cotidiana, reminiscências de sua infância, celebrações religiosas, pescadores,
trabalhadores, samba. Em relação à representação de mulheres, é interessante perceber que,
diferentemente do projeto visual da década de 1930, Santa Rosa investiu em adereços africanistas, como
turbantes e vestidos longos de cores fortes. A escolha em representar a estética negra através de lenços,
vestidos e indumentárias foi a maneira de criar suas imagens-síntese. Assim é também possível
evidenciar suas memórias da Cidade da Parahyba.

Imagem 03 ? Festa, (óleo sobre tela) 80 x 63 cm, Santa Rosa, 1950

Fonte: BARSANTE, 1993

Os embates quanto às modificações no âmbito da arte atravessam a conjuntura cultural do primeiro


quinquênio do século XX. Tanto é que a tessitura pictórica de Santa Rosa, assim como a de outros/as
artistas modernistas, foi alvo de protestos em algumas exposições pelo país. Um bom exemplo ocorreu na
Semana de Arte Moderna de Belo Horizonte de 1944, quando as realizações modernistas não agradaram
parte do público geral. A pintura moderna ficou marcada por uma investida em tom de manifesto, contra a
realização da Semana de Arte Moderna Belorizontina. Trata-se de um atentado às telas e esculturas
registrado pela imprensa local e revistas de arte.
No ensaio ?Fígaro barbeia o modernismo?, do crítico de arte Henrique Pongetti, é possível compreender
cenas surpreendentes. Pongetti conta sobre um homem desconhecido que saiu distribuindo coléricas
navalhadas em formato de cruzes nas telas dos quadros que compunham a exposição. O advento revela,
entre outras questões, querelas de pulso ideológico circunscritas à atmosfera artística do tempo de Santa
Rosa.
Figura 04 ? As Três Idades da Vida (óleo sobre tela) 90 x 76 cm, Santa Rosa (obra danificada)

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Fonte: BARSANTE, 1993.

O pintor modernista premiado com medalha de prata na mais importante exposição do país, o Salão
Nacional de Arte (1941) defendia ferrenhamente a concepção do modernismo nacional, ou seja, a ideia
que embora o modernismo brasileiro sofresse influência do arte europeia já havia idiossincrasias artísticas
locais que caracterizavam o modernismo nacional. Santa Rosa foi júri de expoentes exposições nacionais,
a exemplo da Bienal de São Paulo em 1951 e 1953; e no Salão Nacional na seção de Arte Moderna. Vale
salientar que o Salão Nacional era um importante espaço na história da pintura e da intelectualidade
artística no país, que protagonizou exposições marcantes, que deteve por função institucional a anuência
de reconhecer um quadro enquanto obra de arte, é o Salão Nacional. Conforme explica Luz, o Salão:
[11: O debate historiográfico acerca do modernismo e nacionalismo é de longa data, aqui, daremos
atenção especial à temporalidade que marca o fazer-se do multiartista Santa Rosa, ou seja, a atmosfera
artística cultural (entre 1930 e 1950) na qual o intelectual-multiartista Santa Rosa experimentou no mundo
da arte, de seu tempo, sentidos do modernismo. Como outros intelectuais, encarou a vida artística
enquanto aquilo que Gomes (2004, p. 82) determinou por ?[...] doublé de teórico da cultura e de produtor
de arte, inaugurando novas formas de expressão e refletindo sobre as funções e desdobramentos sociais
que tais formas guardariam?. Em relação ao nacional, ou seja, a criação do referido constructo ideológico
de unidade nacional desempenhada pelo Estado Novo buscou, segundo Gomes (2007), agir em benefício
da recuperação de um passado colonial, harmônico e glorioso. Por seu turno, Oliveira (2013) enveredou a
compreender o nacionalismo identificando o aparecimento, no início do século XX, de movimentos
artísticos nacionais que corroboram com a evocação do nacional, a exemplo do Manifesto Pau-Brasil
(1924) e do Manifesto antropofágico (1924), em cujo contexto a modernização de dispositivos de
comunicação (tais como rádio, indústria editorial e cinema) foi imprescindível para a difusão de símbolos e
sentidos de nacionalismos.]
(...) propiciava a oportunidade para todo e qualquer artista, independente da situação econômica que
tivesse, poder se aperfeiçoar nos principais centros de produção artística na Europa. A cada ano, a
emulação entre os concorrentes 173 ajudava o despertar de novos valores para a arte brasileira. Como as
obras premiadas ficavam para a coleção da Academia, depois Escola Nacional de Belas Artes, e que, em
1937, no governo de Getúlio Vargas, deu origem ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes, temos,
ainda, a grande contribuição dos Salões para a formação e ampliação desse acervo notável de nosso
museu. (LUZ, 2006, p. 60).
Ou seja, ao participar do Salão, o artista pavimentava sua trajetória rumo à consagração. A expectativa do
reconhecimento dos pares significava não apenas uma condecoração, mas também a possibilidade de
ascensão social, uma vez que se almejava abocanhar a premiação concedida pela Escola Nacional de
Belas Artes. As bolsas de estudos eram concedidas com intuito de ampliar o conhecimento em viagens
pelo Brasil (prêmio nacional) ou à Europa (prêmio internacional). Santa Rosa não se beneficiou de viagens
internacionais através do prêmio do Salão, foi através de sua conquista em outro âmbito da arte, o teatro.
A trajetória de Santa Rosa no teatro foi propiciada por inúmeras participações enquanto cenógrafo em
diversas companhias, entre elas ?Os comediantes? e a ?Companhia Dramática Nacional''. Além disso, ele
ocupou os seguintes cargos: diretor do Museu de Arte Moderna (1948), coordenador do ateliê de
decoração do Teatro da Escola Nacional (1950) e diretor do Conservatório Nacional de Teatro. Em 1952,
fez sua primeira viagem à Europa representando o Brasil na Reunião dos Artistas em Veneza, conferência
organizada pela Unesco. Nesse período, ele circulou pela Itália, Espanha, Inglaterra e França por quase
dois meses. Em 1955, passou a dirigir o Conservatório Nacional de Teatro. Em 1956, ano que marca sua

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morte, foi nomeado professor de cenografia na Escola Nacional de Belas Artes da Universidade do Brasil.
Entre seus maiores anseios estava a criação de uma escola de Teatro, Teatro para Crianças e o Teatro
de Negros. A sua relação com o Teatro Experimental do Negro foi efetiva, tanto na produção de cenários
como em incisivas defesas em jornais da época. Para o TEN, Santa Rosa realizou a cenografia para o
Recital Castro Alves, dirigido por Abdias Nascimento, no Teatro Fênix, no Rio de Janeiro. Ele foi
responsável, também, pelo cenário da peça Terras do sem-fim, espetáculo adaptado da obra do baiano
Jorge Amado, por Graça Mello. Já em 1948, assinou a produção visual dos figurinos e cenários da peça A
Família e a Festa na Roça, dirigida por Dulcina de Moraes. Já em 1949, o intelectual negro das artes
visuais realizou a feitoria de Filhos de Santo, obra escrita por José Morais de Pinheiro, com direção de
Abdias Nascimento. E Calígula, texto escrito pelo filósofo argelino Albert Camus, que por falta de recursos
não conseguiu ser exibida mais de uma vez, contou com a cenografia e arte figurinista de Santa Rosa,
sendo a direção de Abdias Nascimento.
Santa Rosa promoveu assertivas defesas a favor da consolidação do teatro para negros. No dia 25 de
agosto de 1946 no jornal Diário Trabalhista, é possível evidenciar em ?PROBLEMAS e aspirações do
negro brasileiro: o Teatro Experimental do Negro e a cultura do povo?, a denúncia sobre interrupções nos
ensaios do grupo, que ocorriam no teatro Fênix, do referido grupo.
Niuxa Dias Drago (2014), em A cenografia de Santa Rosa ? espaço e modernidade, apresenta sua
notoriedade em sua trajetória no Teatro que passa a influenciar o âmbito do teatro nacional, considerando
que ele foi um dos precursores da perspectiva modernista e da arte-social na atmosfera do teatro. O ofício
da arte cenográfica coincide com mudanças significativas ocorridas nesta área, considerando sua
condição de inovador da perspectiva moderna ? pode-se dizer que a grande modificação trazida por Santa
Rosa é propiciada por meio de novas funções para elementos como luz, arquitetura de palco e adereços.
Com isso, Santa Rosa ? ao empreender uma transformação da perspectiva (que passaria de dual para
tridimensional) ? acabaria se tornando responsável por transformar a arte cenográfica no teatro nacional
na primeira metade do século XX, fazendo com que esta deixasse de ser um simples elemento decorativo
e passasse a se impor como um conteúdo específico da arte teatral. Note-se que a primeira versão da
peça Vestido de Noiva (1943), de autoria de seu amigo e escritor Nelson Rodrigues e direção do imigrante
polonês (evadido dos conflitos da Segunda Guerra Mundial) Zbigniew Marian Ziembinski, é o marco que
divide a cenografia brasileira.
Figura 04 ? Cenário da peça Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues, 1943

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Fonte: BARSANTE, 1982.


A melodia da vida e o ritmo de pinceladas entrelaçadas em suas formas, linhas e cores, condensadas em
quadros, murais e capas de livros ilustram feitorias de um artista, mas também, o olhar de um homem em
seu tempo para a cenografia são vestígios de uma trajetória de vida, vivida pelo sujeito histórico Santa
Rosa.

Considerações Finais
Como visto, o espaço geracional de Santa Rosa foi analisado como possibilidade para compreender a sua
experiência em meio a repercussão do ideal moderno e as transformações/modernização dos dispositivos
essenciais para a vida na urbe (luz, água, transporte). A vida na Cidade da Parahyba, vivida por pouco
mais de duas décadas, levou Santa Rosa a elaborar suas impressões sobre o meio social, cultural, político
e arquitetônico que o rodeava.
A sua a vida familiar do pequeno ?Bosinho? não foi fácil. Afinal, a conjuntura epidêmica na infância
resultou na perda de três irmãos. Santa Rosa tornou-se o único filho homem de Alexina e Thomaz Santa
Rosa. As postulações ensejadas buscaram explicar a maneira pela qual o jovem Santa Rosa foi
beneficiário de uma boa formação educacional, e de como chegou a cargos no funcionalismo público da
cidade. Uma vez funcionário público do Tesouro Estadual, se beneficiou de uma rede de sociabilidade que
fora iniciada bem antes, com a escolha de seu padrinho, medida salutar a sua trajetória no âmbito do
trabalho.
Também buscamos compreender a trajetória de vida de Santa Rosa a partir de sua experiência vivida em
espaços de sociabilidade que circulou. Assim, procuramos apresentar os primeiros passos do artista
gráfico, professor, pintor e crítico, revelando expedientes de seu protagonismo enquanto um artista afro-
brasileiro multifacetado. No Teatro, o cenógrafo Santa Rosa difundiu referências ideológicas e
contribuições técnicas para a cenografia, a maneira com a qual utilizou elementos que projetam aspectos
em formas e conteúdo da cultura afro-brasileira e africana na feitura cênica do teatro nacional junto ao
Teatro Experimental do Negro.
Nosso intuito foi colaborar com os estudos afro-pedagógicos concernentes às trajetórias de vidas de
homens letrados no pós-abolição. A investigação histórica se alimenta de perguntas que são ensejadas a
cada novo olhar sobre o mesmo documento/testemunho, e estas vêm à luz a partir do tempo presente.
Alguns apontamentos chegam enquanto bússola que norteia novas navegações da pesquisa. O mar das
emancipações, do pós-abolição está propicio para longas e profundas navegações em que o fato histórico
da abolição da escravidão em 1888 é a égide para novas conexões do passado-presente.

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escreverei. São Paulo: Companhias das Letras, 1992.
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Arquivo 1: 368.docx (11651 termos)
Arquivo 2: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Sime%C3%A3o_Leal (1045 termos)
Termos comuns: 34
Similaridade: 0,26%
O texto abaixo é o conteúdo do documento 368.docx (11651 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Sime%C3%A3o_Leal (1045 termos)

=================================================================================
ESCRITA ? DA ? HISTÓRIA
Uma experiência afro-brasileira no mundo das Artes: vida, pensamento e sociabilidade de Tomás Santa
Rosa (1909-1956)
Tomás Santa Rosa (1909-1956) uma experiência afro-brasileira no mundo das Artes...
Thiago Brandão da Silva
[1: Este artigo é originado da dissertação de mestrado ?Fragmentos de uma história de vida, o afro-
paraibano Tomás Santa Rosa Jr. (1909-1956): entre vivências, intelectualidades, ditos e feitos artísticos,
defendida em 2021, no Programa de Pós-Graduação em História.* Mestre em História pela Universidade
Federal da Paraíba. Professor da Educação básica. Membro/colaborador do Núcleo de Estudos Afro-
brasileiros e Indígenas (NEABI/UFPB).]
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com

Resumo
Trata-se de refletir sobre a vida do multifacetado artista negro modernista que atuou na construção cultural
e artística do país em diferentes âmbitos, Tomás Santa Rosa. A pesquisa se insere na gleba da escrita
sobre intelectualidades negras no pós-abolição. Metodologicamente, leva-se em consideração a dinâmica
social vista sob a égide da microanálise, o que amplia a compreensão dos caminhos, escolhas, decisões,
que formam o campo (ou uma sucessão) de sentidos que tangencia(m) uma trajetória de vida. Considera-
se o descortinar do cenário geracional de sua trajetória de vida enquanto possibilidade para compreender
suas dimensões sociais: a família, o emprego, amigos e estratégias de mobilidade social, além da feição
discursiva do ideal de moderno e das transformações metamórficas do espaço vivido e do debate
intelectual a partir da História Social da Cultura. Busca-se comtemplar a participação de um sujeito
histórico negro no mundo das artes enquanto referência e possibilidade de estudo para estudos afro-
pedagógicos e a agenda de historiadores/as sobre trajetórias e sociabilidades de homens e mulheres
negros no pós-abolição.

Palavras-chaves: Tomás Santa Rosa; Cidade da Parahyba; Sociabilidade; Pós-Abolição; Modernismo.

Abstract
It is about reflecting on the life of the multifaceted modernist black artist who acted in the cultural and
artistic construction of the country in different areas, Tomás Santa Rosa. The research is part of the field of

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writing about black intellectuals in the post-abolition period. Methodologically, the social dynamics seen
under the aegis of microanalysis are taken into account, which broadens the understanding of the paths,
choices, decisions, which form the field (or a succession) of meanings that touch (m) a life trajectory. It is
considered the unveiling of the generational scenario of his life trajectory as a possibility to understand its
social dimensions: family, employment, friends and social mobility strategies, in addition to the discursive
feature of the modern ideal and the metamorphic transformations of the lived space and of the intellectual
debate from the Social History of Culture. It seeks to contemplate the participation of a black historical
subject in the world of the arts as a reference and possibility of study for Afro-pedagogical studies and the
agenda of historians on trajectories and sociability of black men and women in the post-abolition period.

Keywords: Thomas Santa Rosa; City of Parahyba; Sociability; Post-Abolition; Modernism.

Numa tarde de domingo típica do verão carioca, em 16 de dezembro de 1956, algo acontecia nas
proximidades do Teatro Municipal do Rio de Janeiro - localizado na Avenida Rio Branco, antiga Avenida
Central. Quem naquela tarde trafegasse por aquela avenida veria um amontoado de pessoas nas
escadarias do monumental edifício e, tão logo, perceberia um cenário fúnebre. Ao se aproximar,
provavelmente, escutaria no diapasão de conversas íntimas frases cortadas do tipo: ?ele não gostava dos
papéis do banco?, ?era um pintor modernista?, ?ele foi pra Europa duas vezes?, ?estive com ele no Norte
?, ?detestava andar de bonde; sempre preferiu o táxi?; ou, ainda, algumas especulações acerca de sua
origem étnica ? ?um mulato?, ?nossa raça? etc... Enfim, peças do quebra-cabeça de uma investigação
histórica. É que os mortos geralmente deixam vestígios e os vivos lançam-se às memórias, ambos
elementos essenciais ao trabalho do historiador. Mas, como é realizada uma pesquisa sobre a vida de
alguém? Responderemos, de acordo com Vavy Pacheco Borges (2011), para quem o ?intermédio das
?vozes? [chega] do passado a partir de fragmentos de uma existência e dos registros das fontes
documentais? (BORGES, 2012, p. 2011. É desta feita que iremos esquadrinhar uma trajetória vivida, uma
existência vivida na alvorada republicana, no cenário pós-abolição da escravidão.
O objetivo da presente pesquisa é investigar fragmentos de uma trajetória de vida, vivida pelo
multifacetado artista paraibano Tomás Santa Rosa Jr, o ?Santa? ou simplesmente Santa Rosa. Nascido
em 20 de setembro de 1909, na Cidade da Parahyba, (atualmente nomeada João Pessoa), capital do
estado da Paraíba. Santa Rosa faleceu em; 26 de novembro de 1956. Na ocasião, estava ele ao leste da
Índia numa viagem oficial do governo brasileiro para a Conferência Geral da Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura ? evento promovido pela UNESCO, em Bombaim (Índia), no
qual, ele, Santa Rosa ocupava cadeira como representante do Diretório Nacional de Teatro. Quando
estava no Hotel no momento de descanso em Nova Délhi, cidade vizinha, e se preparava para seguir
viagem pela Europa, o destino pregou-lhe uma ?peça?.
Após sentir fortes dores abdominais (aos 47 anos de idade) foi encaminhado de ambulância ao Hospital
Wellington, percorreu alguns poucos quilômetros e ficou em observação. Já no outro dia recebeu visitas e,
quando tudo parecia ter sido apenas um susto, acabou surpreendendo os amigos/as durante a madrugada
, momento em que seu quadro clínico piorou e o levou a óbito ? provavelmente por um comprometimento
do sistema cardiovascular decorrente de complicações renais.
Até a chegada de seu corpo de lá (Índia) para cá (Brasil) são contabilizados dezoito melancólicos dias que
, em síntese, podem ser explicados por conta dos trâmites burocráticos e pelo fator cultural, uma vez que
no país de maioria hinduísta permeia a cremação dos restos mortais, e não dispunha de reserva e
logística do transporte de seus restos mortais para outros país. No aeroporto do Rio de Janeiro,

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aguardavam por ele suas irmãs Heliomar Santa Rosa e Crisantina Santa Rosa Iwata. Santa Rosa foi
casado no civil com Maria da Gloria Monteiro (1935), numa celebração simples no apartamento de seu
amigo e mentor (renomado das artes plásticas) Cândido Portinari. Em 1942 se casaria novamente, agora
no religioso, com Nely Guimarães. Porém, foi com Oscarina Amorim que teve seu único filho, Luiz Carlos,
que também o esperava junto às tias. Além disso, no aeroporto também aguardavam por ele o ex-senador
Ivo d?Aquino, o escritor Marques Rebelo e o teatrólogo Joracy Camargo (CHEGARAM... 1956, p. 01).
É importante apontar que no ano de seu falecimento foi possível averiguar dezenas de homenagens
escritas à guisa de lembranças em jornais da época. Estas são, para a presente pesquisa, caminhos para
uma melhor compreensão de sua rede sociabilidade, do microclima intelectual, político e cultural de seu
tempo, de seu vínculo afetivo, profissional com dezenas de outros criadores e mediadores da cultura que
formam ?[...] as elites culturais, mesmo quando entidades autônomas, em posição de extraterritorialidade
ligadas à sociedade que os rodeia e são precisamente esses laços, especialmente políticos, que lhes
conferem uma identidade? (SIRINELLI, 1998, p. 259).
Figura 01 ? Saída do cortejo fúnebre de Santa Rosa

Dito isto, a partir de uma série delas (re) conheceremos o homem do seu tempo, o intelectual das artes, o
artista, o funcionário público, o ?Santa?, o ?Santa Rosa?. Afinal, ainda a esse respeito, Ricoeur (2007)
ressalta que a lembrança inaugura um novo ângulo da representação histórica, ?(...) uma imagem
presente de uma coisa ausente? (...) (RICOEUR, 2007, p. 199) ? constituindo-se, dessa forma, como uma
maneira de entender o passado por meio das mensagens póstumas de sua rede de amigos.
Em reclames por conta de um encontro que não aconteceu, o escritor e jornalista brasileiro João Condé
rememora o momento de sua partida para a Índia ?(...) no dia de seu embarque, estive com ele [Santa
Rosa], Alcântara Silveira e Simeão Leal, no City Bank (...) todo eufórico, trocava cruzeiros por dólares. E
no abraço de despedida perguntou-me o que desejava que trouxesse? (CONDÉ, 1956, p. 12). As
lembranças, de maneira verossímil, ajudam a compor uma série de apontamentos, caminhos e
postulações acerca da trajetória de vida de Santa Rosa.
Desta feita, passaremos a refletir acerca da trajetória de vida do multifacetado artista modernista, Santa
Rosa. Assim, pretende-se compreender fragmentos de sua trajetória vivida no espaço-tempo de sua
ambiência geracional; identificar como formou e se beneficiou de uma rede de sociabilidade composta por
uma renomada plêiade de intelectuais e reconhecer seu protagonismo no cenário artístico-cultural de seu
tempo. Metodologicamente, considera-se a dinâmica social vista sob a égide da microanálise, ou seja, o
grau de singularidade quando aproximamos a lente que analisa os processos históricos.
Assim, a pesquisa adota a perspectiva teórica da história social cultura e arrola sob a égide teórica-
metodológica da política das elites culturais, da comunicação social das redes sociabilidade, da realização

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cultural de feitos artísticos (SIRINELLE, 1998; 2003). A trajetória de vida do multifacetado artista, Santa
Rosa, é por aqui compreendido levando em consideração as premissas, do geografo Milton Santos, em
que o espaço é o elo de junção, na medida em que liga-se os ?(...) fatores à genes, ao funcionamento e à
evolução do espaço (...)?, ou seja, ?o espaço pode ser definido de maneira tripartida: primeiro, como um
fator social (determina as condições sociais); segundo, como um fato social (produto e produtor); terceiro,
como uma instância social, pois é um ?(...) revelador que permite ser decifrado por aqueles mesmos a
quem revela (...)? (SANTOS, 2004, p. 163). Desta forma, a pesquisa se fundamenta a partir da tríade
objeto-tempo-espaço (REVEL 1998; BOURDIEU, 2006; SANTOS, 2004).
O corpus documental analisado é formado por uma série de escritos de amigos e de sua autoria
publicados em jornais, revistas e suplementos literários, especialmente, acessados a partir da Hemeroteca
Digital da Biblioteca Nacional (BNDigital). Conforme defende Luca (2011), a partir da utilização do jornal é
possível captar a nova vida citadina do século XX. Afinal, são os periódicos que registram as modificações
da urbanização, modernização dos espaços, e se encaixam no mesmo fluxo de outros dispositivos que
surgem na modernidade.
Nesse sentido, comunicaremos a pesquisa seguindo o seguinte enredo. No primeiro momento trataremos
interpretar Santa Rosa a partir de recordações de seus amigos (as) que compuseram sua rede de
sociabilidade. Em um segundo momento, iremos compreender sua trajetória em seu cenário geracional,
assim, leva-se em consideração: família, espaço e sociabilidades de Santa Rosa. No terceiro e último
momento vamos apresentar parte da experiência do artista multifacetado.
Aos vivos: (re) apresentação de Santa Rosa

Para Paul Ricouer (2007, p. 199) as lembranças encontradas em mensagens-póstumas (ou seja,
homenagens escritas após o falecimento do indivíduo encontrada no formato de crônicas) evocam um
presente ou uma presença, ?[...] buscam na operação de recordar que se conclui com a experiência do
reconhecimento, [pois] a lembrança é representação, re(a)presentação?. Em vista disso, iremos
apresentar a maneira com a qual Santa Rosa é (re) apresentado por alguns amigos que compõem sua
rede de sociabilidade. Não sem antes advertir a (a) leitor (a) sobre as idiossincrasias da atmosfera política
da década de 1930 em que havia um embate político ferrenho entre movimentos comunistas, fascistas e,
também que falavam da temática do negro. E isso de uma maneira que aumentava substancialmente as
disputas ideológicas que o governo varguista conduziu com destreza política.
[2: Santa Rosa fez parte de uma plêiade de intelectuais que estava a serviço do governo varguista, sob a
liderança do ministro Capanema. A esse respeito, Miceli (2001, p. 195) evidencia a maneira pela qual o
período correspondente ao mandato de Capanema (1934-1945) foi marcado pela cooptação dos
intelectuais, seja ?(...) como funcionários em tempo parcial, seja para desempenho de cargos de confiança
junto ao estado-maior do estamento, seja para preencherem os lugares que se abriam por forças das
novas carreiras que a extensão da ingerência passou a exigir, seja enfim acoplando inúmeras dessas
posições e auferindo rendimentos dobrados.?. Por outro lado, Fábio S. Cardoso (2019), biógrafo do
ministro Gustavo Capanema, endossado pela atuação de Graciliano Ramos e Carlos Drummond de
Andrade (dois declarados comunistas) no ministério, sugere (numa recente publicação) que havia, sim,
flexibilidade ideológica na ?constelação Capanema".]
No tempo de Santa Rosa, contendas ideológicas se fizeram presente. Houve pelo menos um fato em que
Santa Rosa se envolveu diretamente. Trata-se de sua prisão na época em que trabalhava numa editora.
Quem narra o ocorrido é o escritor José Lins do Rego que diz:
Vi-o um dia sair preso da Livraria José Olímpio, num sábado de carnaval, que era a sua festa preferida. Vi-

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o no meio dos esbirros num carro de Polícia. Lembro-me de seu olhar triste, a única vez que aquela
fisionomia prazenteira se fechava em angústia. Eram as saudades do carnaval perdido. Santa não
demorou entre as grades. José Olímpio bateu em todas as portas para libertá-lo. (REGO, 1956, p. 4).
É bem verdade que não sabemos os reais argumentos que levaram à prisão de Santa Rosa, embora
postule-se sua ligação, assim como a de outros intelectuais, com clubes, agremiações artísticas ligadas à
Aliança Nacional - célula maior da arquitetura do projeto comunista. Santa Rosa foi cofundador do Clube
de Cultura Moderna, fundado no dia 28 de novembro de 1934. Sua presença e a de outros artistas
modernos, como o amigo Aníbal Machado, evidenciava, portanto, a postura política dos artistas.
Na ambiência intelectual de seu tempo participava da rede de sociabilidade pessoal de Santa Rosa
artistas e escritores que já detinham prestígio, a exemplo, do escritor baiano Jorge Amado. Em seu livro
autobiográfico, Amado comenta sobre uma viagem a São Paulo ao encontro do artista modernista, pintor e
cenógrafo Flávio Carvalho (1899-1973) na companhia de Santa Rosa em 1933 em que é possível
evidenciar o microclima intelectual do momento, diz Amado (1992):
Eu o conheci quando fui a São Paulo pela primeira vez, em 1933, em companhia de Santa Rosa.
Hospedando-nos em casa de Tarsila do Amaral* e Osório César, na ocasião marido e mulher ? haviam
recém-chegado de Moscou, ir à URSS naquele então era aventura cercada de dificuldades, viagem de
espantos ? realizavam uma exposição de cartazes soviéticos, insólitos e românticos, no Clube de Artistas
Modernos, organismo criado e dirigido por Flávio de Carvalho, na época o centro de cultura mais sério do
Brasil, o que colocava a proposta mais avançada. Ali pronunciei conferência sobre as crianças nas
plantações de cacau, autografei o livro ilustrado por Santa Rosa, assisti ao Bailado do Deus morto, de
Flávio, que espetáculo!, logo proibido pela polícia política. A censura não dava tréguas ao CAM (...).
(AMADO, 1992, p. 202).
Santa Rosa participou junto com outros intelectuais de seu tempo, como Aníbal Machado, Jorge Amado,
José Lins do Rego entre outros, do CAM - Clube de Arte Moderna. Entre outras atribuições, destaca-se
sua coordenação da comissão da exposição para escolha do melhor tema sobre Palmares a partir do
ponto de vista do modernismo, em 1935 . Também fez parte da direção da Revista Movimento, que
ancorava reportagens e editoriais feitos pelos integrantes do CAM.
O Clube passou a aderir oficialmente, em setembro de 1935, a Aliança Nacional Libertadora (ANL) uma
organização de âmbito nacional que promovia ideias comunistas para combater a difusão do pensamento
fascista disseminado pela Ação Integralista Brasileira (AIB). Naquela década, de modo geral, havia um
estreito corredor de escolhas para partidários e intelectuais, prevalecendo ambos os movimentos. Neste
cenário, em que ?(...) fundiram-se a libertação do academismo, dos recalques históricos, do oficialismo
literário; as tendências de educação política e reforma social; o ardor de conhecer o país" (MELO E
SOUSA, 2000, p. 114) as capilaridades ideológicas do âmbito artístico sofreram efetivas mudanças.
Na adesão à ANL falou-se sobre a importância da Cultura para o povo, para as massas, para os
trabalhadores do país. Um momento de pulsante denúncia contra os integralistas e os regimes de
opressão (Nazismo e Facismo) e aclamação para união em prol de um programa de Cultural modernista
(uma contraposição a erudição exclusiva do academicismo) para o povo. Subiram ao palanque para
discutir acerca do tema ?Cultura e Liberdade?: Edgard Sussekind de Mendonça, Febus Gikovate Miguel
Costa Filho, Luiz Werneck de Castro, Carneiro Ayrosa, José Lins do Rego. Demetrio Hamam, Jorge
Amado, Annibal Machado, Cordeiro de Melo.
(...) todos pronunciando-se contra os regimes de força, contra o Facismo, contra o integralismo, em prol da
mais completa liberdade (...) O Sr. Febus aludiu ao programa da Aliança Nacional Libertadora, mostrando
que em face do pronunciamento da assembleia que aplaudiram os oradores e sendo aquele movimento de

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frente única o único que no momento pode libertar o Brasil, submetia a debate e votação dos presentes e
decisão do Clube de Arte Moder de aderir à Aliança Nacional Libertadora. Uma salva de palmas saudou as
últimas palavras, ficando assim aprovada unanimemente aquela decisão do Club. Em seguida, a
comissão do Club de Cultura, acompanhado de grande número de sócios, dirigiu-se à sede da ANL. Esta,
reunida em sessão, sob a presidência do comandante Cascardo ouviu a decisão, e em nome do diretório
da ANL falou sr. Amoretty Osório que agradeceu a atitude do Club de Cultura Moderna. (O QUE...1935, p.
5).
Já nas lembranças do amigo Sérgio Porto, jornalista do Diário Carioca ficou registrado o cenário de
criação do personagem cabotino Stanislaw Ponte Preta. Sobre isso, Porto conta que Santa Rosa junto
com ele idealizou o personagem. A esse detalhe vale salientar que interessou a Santa Rosa o espaço de
charges em jornais. Diariamente, representações artísticas da atmosfera política se projetam por meio de
formas extravagantes nos jornais. Conforme diz Santa Rosa, a ?[...] [política], com os seus artifícios e as
suas peras perversões, tem-lhe fornecido um material copioso, em que se tem exercitado a irônica e
sarcástica verve dos artistas [...]? (SANTA ROSA, 1947, p. 12). Porto também foi quem buscou explicar a
desapropriada pontualidade que o amigo costumeiramente exercitava. Ficou conhecido no meio
profissional por entregar encomendas fora do prazo. Para ele, a culpa de procrastinar as encomendas
advinha de sua impulsividade em querer conferir as novidades do mundo da arte, pois costumeiramente
deixava
(...) de fazer um quadro para ir comprar o último disco de Armstrong, ou para ver o desfile de uma escola
de samba. Deixava pelo meio da tela para ir assistir uma peça mambembe, onde um intérprete
coadjuvante surgia como esperança de bom ator. Perdia horas numa livraria folheando livros de arte (...).
(PONTE PRETA, 1956, p. 11).
A trajetória de vida do sujeito histórico negro, letrado, migrante, que participou ativamente da produção
cultural do país, especialmente, entre as décadas de 1930-1950, evidencia um cenário político, cultural e
artístico, um capítulo da história republicana no período do pós-abolição. Desta feita, essa pesquisa
acompanha uma série de estudos historiográficos do pós-abolição em que homens e mulheres negros-(as
) letrados-(as) são evidenciados atuando como protagonistas em instituições, espaços de sociabilidade e
poder; desempenhando variados ofícios, sobretudo no primeiro quinquênio do século XX.
A produção de estudos da população negra relacionados ao período posterior à abolição da escravidão se
diversifica e; o que outrora eram lacunas se tornam caminhos a serem percorridos, a exemplo da utilização
de fontes primárias tais como: registros de batismo; certidões de casamento, de óbito; uso da genealogia;
jornais; literatura; entrevistas orais com remanescentes quilombolas; acervos pessoais e privados
(MATTOS; RIOS, 2004). Ou seja, a pesquisa histórica que se ocupa em compreender a dinâmica das
trajetórias de vida de homens e mulheres negros (as) no pós-abolição ampliou a dimensão espaço-tempo
e, com isso, acabou, através de novas perguntas descortinando as ?(...) conexões transnacionais da
história intelectual e da história das ideias que sempre estiveram relacionadas com as perspectivas ligadas
ao pós-emancipação e os debates sobre racismo, direitos humanos e cidadania? (DOMINGUES; GOMES
, 2011, p. 10).
Em Experiências da emancipação: biografias, instituições e movimentos sociais no pós-abolição (1890-
1980), Domingues e Gomes (2011) evidenciam uma gama de trabalhos que discorrem sobre o período do
pós-abolição, a partir de pesquisas sobre associações, convenções, congressos e instituições políticas,
militares negros, além do debate historiográfico sobre as trajetórias negras. Vale salientar, experiências no
âmbito da arte, a exemplo, do ator pernambucano, pintor e poeta Solano Trindade (1908-1974) e sobre o
escritor e abolicionista baiano Manuel Quirino (1851-1923). No que concerne às mulheres negras também

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foram representadas, destaca-se a trajetória da professora e deputada catarinense Antonieta de Barros


(1901-1952). Já em Quase Cidadão: histórias e antropologias da pós-abolição no Brasil (2007), de modo
geral, objetivo foi compreender ?[como], onde, em que condições homens e mulheres de cor dela
[múltiplas liberdades] usufruíram, transformaram-na em objeto de interpretação, contendas, ou mesmo
rejeitaram os significados a ela atribuídos pelo discurso jurídico? (CUNHA; GOMES, 2007, p. 14). Uma
leitura possível no debate historiográfico é sobre a cidadania da população negra no pós-abolição.
Ao analisarmos trajetórias negras no espaço-tempo em que esteve inserido Santa Rosa, ou seja, início do
século XX, na Cidade da Parahyba, podemos acompanhar pesquisas recentes que colaboram com o
entendimento do pós-abolição. Assim, a historicidade quanto aos afro-paraibanos no pós-abolição tem
sido tema de publicações que norteiam a presença de homens negros letrados na região setentrional do
país, especialmente. As recentes pesquisas que ampliam o olhar sobre experiências negras no pós-
abolição na Paraíba têm sido realizadas pelos pesquisadores Elio Flores (2015), Solange Rocha (2015),
Petrônio Domingues (2017) e Surya Barros (2020).
Nesse sentido, seguindo sob a esteira de pesquisas acerca de pessoas negras inscrevemos a presente
pesquisa na historiografia recente que tem evidenciado, figuras desse segmento populacional, com
atuação ativa na Primeira República ? período de reordenamento social, de reconfigurações das
hierarquias raciais e de disputas dos projetos de nação ?, também se destacaram na cena política e
cultural. Como exemplo, os baianos Manuel Querino e Alfredo Casemiro da Rocha; o maranhense,
Hemetério dos Santos; o pernambucano Monteiro Lopes; o gaúcho Aurélio Veríssimo de Bittencourt; o
mineiro Benjamim de Oliveira; os cariocas Evaristo de Moraes, Eduardo das Neves e Lima Barreto; entre
outros que debateram e disputaram os diferentes projetos de política, cultura e identidade nacional, e
foram reconhecidos em vida, mas aos poucos caíram na galeria do preterimento, do ostracismo, da
subestimação ou simplesmente jazem nos desvãos da memória após a morte (DOMINGUES; ROCHA;
FLORES, 2019, p. 145-146).
A cada passo dado novas questões chegam à lume e o olhar para a interpretação da ?nova abolição?
inverte o sentido do problema; ou seja, o fato histórico do fim da instituição escravista é, por conseguinte, o
fomento para o início de uma gama de problematizações que colaboram com a nitidez do que há de ser
visto por Clio. Em Vicente Gomes Jardim: um ?artista e autor ?de cor no final do século XIX e início do XX
, Surya Barros (2020) reflete, a partir da égide da história social da escravidão, a trajetória de um homem
negro livre, no período da transição do Império e a República. Em que se buscou a experiência de vida de
Vicente Jardim enquanto liderança da Sociedade de Artistas Mechanicos e Liberaes da Parahyba e
membro da Irmandade dos pardos.
Assim, o propósito, evidentemente, é acentuar o avanço face às limitações constituídas pelo silenciamento
de Clio sobre a participação protagonista da ?gente negra? na história do Brasil após a abolição de 1888.
Tal enfoque tem contribuído para ampliar a compreensão da historicidade do pós-abolição.
Portanto, compreender a trajetória de vida do sujeito histórico negro, Santa Rosa é também perceber as
tessituras sociocultural e políticas de seu tempo. Assim, comunico ao leitor (a) que passaremos a percebê-
lo em seu espaço geracional cujo objetivo é ter a possibilidade de entender suas ambições, decisões,
frustrações e objetivos. Além de, por outro lado, explicar a influência de sua rede de sociabilidade para
compreender fragmentos de uma história de vida em suas dimensões sociais: a família, o emprego,
amigos e estratégias de mobilidade social. Desta feita, caro leitor, passaremos a compreender o tempo de
Santa Rosa em sua cidade natalícia.As transformações que metamorfoseiam o cenário geracional de
Santa Rosa são elementos imprescindíveis para compreendermos fragmentos de sua história de vida,
vivida em meio a conjuntura de modernização do espaço da Cidade da Parahyba no pós-abolição. O olhar

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em seu presente-passado corrobora enquanto ?testemunha ocular? Burke (2004), das ?rugosidades?
Santos (1998) do espaço da cidade da Parahyba (1920-1930) acarretadas pela modernização de
dispositivos estruturais do serviço público.
[3: Assim também, é partindo do pressuposto de que, conforme aponta Milton Santos (2004, p. 146),
entendemos o espaço seja como ?um produto histórico?, consideram-se os fragmentos de uma trajetória
vivida em terras paraibanas. como elo de junção, na medida em que liga-se os ?(...) fatores à genes, ao
funcionamento e à evolução do espaço (...)?. ]

A Cidade da Parahyba no tempo de Tomás Santa Rosa Jr. (1909-1932): família, espaço e sociabilidade
A casa em que Maria Alexina Santa Rosa (mãe de Santa Rosa) residiria com seu filho Santa Rosa até
1932, era nas proximidades à comunidade católica da qual era assídua frequentadora ? a Igreja Matriz de
Nossa Senhora das Neves, a catedral da cidade. Seu pai, Tomás Mauricio Santa Rosa, artista, alfaiate de
profissão, por sua vez, manipulava a arte de ?vestir? pessoas ? em parte, assemelhando-se ao filho, que
?vestia? livros, sobretudo aquelas que detinham cabedal suficiente para adquirir um traje ?da moda?,
comumente utilizado para situações da vida social na cidade, como missas, bailes, casamentos, batizados
e cerimônias. Conforme Waldeci Chagas:
Os rapazolas se contentavam com as peças de brim em várias tonalidades. Do contrário, a casimira era
bem encomendada pelos alfaiates. As alfaiatarias e camisarias sempre estavam abarrotadas de
encomendas, principalmente se estavam próximas as festas da padroeira, Nossa Senhora das Neves, do
Natal e do Ano bom. Nessas épocas, era comum o rapaz encomendar o corte e costura de um novo
conjunto composto de paletó colete e calça (CHAGAS, 2004, p. 121).

No tempo de Santa Rosa, a moda é matéria prima para que personagens importantes do microclima
intelectual da década de 1920, na Cidade da Parahyba escrevessem a seu respeito, a exemplo do
historiador Horácio de Almeida quem, por seu turno, contesta, em tom de denúncia, a chegada da nova
(do moderno) maneira de ?vestir-se? ? para ele, a moda da/na década de 1920, quando posta na balança
da moralidade, seria um ônus negativo. Acusada, a moda passou a ser evocada como má influência para
toda uma geração (tanto para homens quanto para mulheres). Julgada por Almeida, a moda passou a
ocupar as linhas da Revista Era Nova, ao escrever o artigo O poder da moda, em 1921, por onde destila:
[4: [...] uma revista quinzenal ilustrada na década de 1920, produzida na Paraíba. A princípio foi fundada
na cidade de Bananeira/PB e logo depois seu núcleo foi transferido para capital da Parahyba do Norte. Se
manteve circulando de 1921 a 1926, quando, dela, se tem notícia pela última vez. Seu primeiro nº, do ano
I, data de 27 de março de 1921, sendo oficialmente apresentada por seu diretor Severino de Lucena e seu
redator-chefe Guimarães Sobrinho, com a proposta de inaugurar uma nova era nos círculos literários e
intelectuais paraibanos. (RODRIGUES, 2013, p. 3).]

[moçoilas] catilas e espevitadas desaforam-se de corpinhos e sobem vestidos e descem os decotes para
os pitaratas galanteadores analysem em seus contornos a perfeição artística de suas joias. Insatisfeitas
com a liberdade que gozam, disputam o direito de voto e com este o direito de representação (...)
Galopeamos nesta marcha para o aniquilamento moral de nossa raça, para a efeminação do caráter
másculo de nossa juventude, para o ignominioso e abdiminavel hermafroditismo social. E chama isso de
evolução! (ERA NOVA, 1921, p. 15)

O registro presente na documentação da Arquidiocese da Paraíba evidencia que o casamento do casal

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Santa Rosa foi em julho de 1906. Ao analisar o referido documento, é possível verificar/comprovar
algumas informações pertinentes à origem de Santa Rosa. Com 19 anos de idade, Thomaz Mauricio Santa
Rosa oficializa (no civil) seu casamento com Maria Alexina das Neves Pereira, que, aos 22 anos, era um
pouco mais velha e já contava com a maioridade jurídica. Também é possível averiguar nesse registro a
ramificação de parentesco de suas avós, sendo elas, respectivamente: Maria Marcionilla Martinho e
Felismina Batista Freire. Assim,
(...) aos trinta dias do mês de Julho de mil novecentos e seis, décimo sétimo ano festivo da proclamação
da República dos Estados Unidos do Brasil, nesta cidade da Parahyba do Norte, capital do Estado do
mesmo nome (...) Thomaz Mauricio Santa Rosa e Dona Maria Alexina das Neves Pereira que neste ato
queiram casar-se. Thomaz Mauricio Santa Rosa, solteiro, com dezenove anos de idade, natural e
residente nesta capital, filho natural de Maria Marcionilla Martinho, residente nesta cidade. Dona Maria
Alexina das Neves Pereira, solteira, com vinte e dois anos de idade, também natural e residente nesta
capital, filha ilegítima de D. Felismina Batista Freire (...).
[5: TESTAMENTO de casamento dos pais de Santa Rosa. Disponível em: https://www.familysearch.org
/ark:/61903/3:1:S3HY-61X9-. Acesso em: 25 fev. 2023.]
Tomas Santa Rosa morador da Rua do Barão de Passagem (atual Rua da Areia), nº 320, testemunhou a
implementação de dispositivos estruturais, tais como iluminação, água encanada e esgotamento.
Enquanto morador da cidade baixa, Santa Rosa foi testemunha ocular das edificações que ganhavam,
naquele momento, construções de sobrados de dois andares, feituras quase exclusivamente da área
comercial da cidade no centro da cidade. Assim, essa nova elaboração de estrutura da cidade criava um
aglomerado que com o tempo foi se transformando na urbe paraibana, dividido entre as regiões ?alta? e
?baixa? ?[...] onde o comerciante podia juntar o armazém, a família, e os caixeiros, respectivamente, no
andar térreo primeiro e segundo andares (...)? (BATISTA, 1951, p. 17). Em suma, como assinala Wylnna
Vidal
(...) da primeira metade dos anos 1910, quando foram implantados os primeiros serviços urbanos
modernos (abastecimento d'água, energia elétrica e bondes), até 1940, podemos observar o trinômio
[embelezar, sanear e circular] presente no discurso do poder público justiçando as ações; presente nas
reivindicações de melhoria e embelezamento urbano da elite local; presente no discurso favorável às
transformações e presente também no discurso que se mostraram às mudanças (VIDAL, 2004, p. 45)
As ruas do centro da cidade funcionavam como artérias de chegada do moderno. Eram consideradas
como uma espécie de ?termômetro? social e econômico do início do século XX. Em especial a Maciel
Pinheiro que, nesse contexto, se tornava uma das principais esteiras do comércio da Paraíba, na qual as
transformações culturais ?pintavam? as vitrines com suas cores e tessituras, e por onde certamente
Tomaz Maurício Santa Rosa trabalhava e construía apreço social gerado por sua vida profissional, cuja
função em confeccionar o vestuário de membros da elite paraibana o levaria a costurar certa rede de
sociabilidade.
A ambiência em que residia a família Santa Rosa era de extrema importância comercial, pois recebia de
cidades do interior como Itabaiana e Campina Grande carregamentos de uma mercadoria que nutriu a
opulência de parte dos produtores paraibanos: o algodão ? um gênero de grande relevância para a
economia paraibana e principal produto da década de 1920. De certo modo, o acúmulo de capital de
alguns comerciantes advindos do interior para morar na zona urbana da capital, e que logo iriam construir
suas residências na parte da ?cidade alta?, mantendo seus comércios na parte baixa da foi o apogeu do
algodão no final do século XIX, devido ao cenário do mercado internacional. Com efeito, trata-se de um
elemento preponderante para a modernização da cidade, uma vez que, como aponta Galliza (1993, p. 45),

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durante o período compreendido entre 1900 e 1929 o algodão e a pecuária foram não apenas
fundamentais, mas principais produtos da economia paraibana. Tal evidência reverberava nas mudanças
administrativas da cidade.
A iniciativa do poder público em modernizar a cidade gerou mudanças não apenas em seus edifícios, mas
também no campo administrativo, uma vez que o aparato burocrático paraibano teve que ser ampliado.
Vale lembrar que, apenas em 1916, é que a Paraíba inaugurava seu primeiro banco (uma filial do Banco
do Brasil no estado), ? então, o capital mercantil do estado era majoritariamente manipulado por
empresários estrangeiros. Assim, atividades aduaneiras de exportação algodoeira essenciais à economia
local ficavam sob a égide de firmas estrangeiras, a exemplo da francesa Cahan Fréres & Cia (fundada em
1864), que, contando com filiais em Guarabira e Mamanguape, monopolizava o comércio externo da
Paraíba (GALLIZA, 1993).
Entretanto, as modificações advindas do profícuo momento econômico em que passava o espaço natalício
de Santa Rosa não impediu o avanço das mazelas advindas da falta de saneamento básico. A
precariedade do saneamento básico, certamente, colaborou com o triste capítulo na história da família da
Santa Rosa, que passaremos a comunicar.
Além de superar a morte de três filhos homens, a família Santa Rosa passou por outras dificuldades,
sobretudo Maria Alexina (mãe), uma vez que ela teve que prosseguir com a criação do único filho homem
sobrevivente (Santa Rosa) e suas duas irmãs, sozinha, já que seu pai, Tomaz Mauricio ?(...) abandonara a
família para tentar a sorte ao centro-norte do país, só retornando para revê-los nos últimos anos de sua
vida (...)?, falecendo em 1953, três anos antes do filho (BARSANTE, 1982, p. 7). Possivelmente, a
?aventura? iniciada pelo senhor Tomaz, teve um aspecto potencializador ? à época, o sonho de muitos era
saborear um promissor enriquecimento através da extração da borracha. Desse modo, muitos nordestinos
partiram para as trilhas das florestas, se inserindo na produção da borracha.
[6: A esse respeito, Caio Prado Jr. (2004, p. 199) observa: ?(...) a borracha, que graças aos automóveis e
seus pneumáticos estará destinada a um futuro magnífico, e que na nativa do vale amazônico daria
momentaneamente ao Brasil o monopólio de uma mercadoria de grande consumo internacional?.
Entretanto, o surto do ciclo da borracha acabaria se encerrando, à medida que produtores dos países da
Ásia menor passaram a cultivar seringueiras, agradando com preços baixos os principais compradores (os
estadunidenses). O final do primeiro surto da borracha foi em meados de 1920, chegando ao seu declínio
, de fato, já na década de 1950, por conta dos derivados do petróleo.]
O triste capítulo na história da família de Santa Rosa foi agravado pela precariedade do saneamento
básico, o que atuou nos consecutivos falecimentos de seus três irmãos. A partir da imprensa local,
inclusive, é possível perceber na atmosfera epidêmica, a tônica conjuntural de preocupações com
enfermidades, ? no tempo do nascimento dos irmãos de Santa Rosa (1907-1908) manifestavam-se, tanto
pelo ?bater dos sinos? das igrejas (que anunciam mais momentos fúnebres), quanto pelos informes da
imprensa local, que a descreve da seguinte maneira: ?(...) já temos diante de nós a triste perspectiva de
um quadro semelhante às 56 dos anos de 1905 a 1907, quando a Parahyba foi dolorosamente flagelada
por essas pestes (...)? (COLUNA..., 1913, p. 1). O fato é que, sem um serviço de distribuição de água
encanada, a cidade pouco se apresentava enquanto um espaço moderno. Conforma Araújo (2001) e
Chagas (2004) havia um volumoso debate político acerca da qualidade da água, médicos e engenheiros
travavam um embate cientifico para sanar a proliferação de doenças. Porém, a mobilização discursiva não
efetivava as condições insalubres. Vale salientar que apenas em 1914 a cidade natalícia de Santa Rosa
será contemplada com serviço de água encanada e que o abastecimento era realizado pelos aguadeiros.
Em 16 de outubro de 1908, um ano após casal Santa Rosa formaliza matrimônio, é evidenciada a morte

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do que seria primeiro irmão de Santa Rosa ?(...) Anjo ? finou-se antehontem, o pequeno Moacyr Santa
Rosa, filho do senhor Thomaz Mauricio Santa Rosa. Seu enterro effectuou-se hontem pelas 4 horas.
Pêsames aos seus desolados genitores (...)? (ANJO, 1908, p. 2). Ou seja, ao que se indica, um dos
primogênitos faleceu de forma prematura, sem chegar a completar dois anos de idade em vida. É na
ambiência dos problemas sanitários que nasce outro irmão de Santa Rosa, Pelópidas, registrado no dia 28
de junho de 1908 também falecendo de forma prematura. Conformidade com Barsante (1982, p. 7),
nenhum de seus falecidos irmãos alcançou (em vida) a infância.
[7: CERTIDÃO de óbito. Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-X38SJHH?i
=64&cc=2015754. Acesso em: 30 set. 2022.]
A questão da distribuição de água na cidade é um capítulo digno de novela livresca. As polêmicas acerca
da qualidade da água causaram estardalhaço no nicho político paraibano: farpas entre correligionários
locais, com os aliados protagonizando o conflito, cuja saída foi convidar especialistas externos para pôr fim
nas querelas. Por esse nasceu em 29 de setembro de 1909, Santa Rosa, o único filho homem de Maria
Alexina e Thomaz Mauricio a sobreviver ao nefasto ambiente. Consta na documentação da Arquidiocese
da Paraíba o seguinte registro:
Aos vinte e sete de março de mil novecentos e dez na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Neves de
minha licença, Reverendo Padre Mathias Freire batizou solenemente a Thomaz, nascido aos vinte de
setembro do ano próximo passado [1909], Tomaz Santa Rosa; filho de Thomaz Mauricio de Santa Roza e
Dona Maria Alexina de Santa Roza (sic!). Foram seus padrinhos Thomaz Ferreira Soares e sua mulher
Dona Amélia Ferreira Soares. E para constar mandei lavrar o presente termo que assino.
[8: Fonte: Arquivo Eclesiástico ? Arquidiocese da Paraíba ? Livro 13, nº 1876-1878.]
Os primeiros passos de sua vida escolar foram dados na Quinta Cadeira Mista da Paraíba; posteriormente
, buscou admissão no Grupo Escolar Tomás Mindelo, por meio do qual ingressou no conceituado Lyceu
Paraibano onde estudou até 1927. Este ficava próximo à Escola Normal, instituição responsável pela
formação das moças paraibanas. Santa Rosa fez aulas de piano com a professora Alice Pereira quando
ainda era garoto. Todavia, é sabido que a sua dedicação autodidata o levou a aprender outro idioma, o
mais exigido em seu tempo, o francês. Sua formação cultural e a aproximação de sua mãe da Paróquia
local foram decisivas para que ele participasse de aulas de canto, atividades realizadas na Igreja Matriz de
Nossa Senhora das Neves, da qual, decerto, sua mãe fazia parte.
Na igreja constatou-se uma potencial habilidade vocal, e ele passou a participar do Te Deum dos alunos
do Sacro-colégio do Arcebispado. O garoto, Santa Rosa, ainda arranjava tempo para apreciar as aulas do
seu professor de música Grazzi Galvão de Sá (natural da Cidade da Parahyba). Vale salientar que Santa
almejou se torna um músico profissional. Apostando em sua qualidade musical de barítono, naquele
período seguiu buscando participar de concursos de novos talentos, até que, certa feita, um conhecido,
Murilo de Carvalho (que era profissional de canto), o orienta a deixar a ideia de lado (BARSANTE, 1982).
Anos depois, sua carreira profissional se inicia no funcionalismo público imerso no setor de contabilidade
da administração local.
Sua trajetória na carreira do funcionalismo público se deu em meio a consolidação do regime republicano.
Era o tempo do segundo mandato do governado Solon Barbosa de Lucena (1920-1924) quando Santa
Rosa recebeu o convite que iria influenciar os rumos da vida do garoto de apenas 14 anos de idade. Na
ocasião, o convite foi feito pelo então engenheiro-chefe da Secção de Saneamento do Estado da Paraíba,
Lourenço Baeta Neves, em conjunto com o secretário-geral de Estado Álvaro de Carvalho (BARSANTE,
1982, p. 9). Logo, a partir de 1923 Santa Rosa passaria a trabalhar no setor da contabilidade oficial do
governo ? naquele ano o prédio do Palácio do Governo funcionava nas proximidades de sua casa. Desse

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modo, a citada contratação para o setor de contabilidade do Tesouro Estadual da Parahyba do Norte foi
realizada por indicação de homens da política local.
Figura 02 ? Tomás Santa Rosa aos 18 anos de idade

Fonte: BARSANTE, 1982.

Cabe ressaltar que o início de sua vida no funcionalismo público é de suma importância, pois por meio
desse vetor de compreensão de sua trajetória de vida é possível, também, descortinar sua rede de amigos
. É esse um assunto que requer atenção, afinal Santa Rosa não teve em sua origem uma opulência de
berço, como outros de seu convívio, mas logrou êxito quanto a apropriação de capital cultural e social.
A mencionada rede (e as relações de proximidade dela decorrentes) pode ter granjeado certo capital
social ao Sr. Tomaz, afinal homens da elite e da classe média paraibana recorriam ao comércio de
vestimentas para adquirir trajes apropriados para os oportunos momentos de socialização (casamentos,
bailes) pautados pela agenda de celebrações. Desta feita, agraciado por uma oferta de emprego, no setor
de contabilidade do Tesouro Estadual. Essa oferta pode ser especulada a partir da influência de seu
padrinho, Thomaz Ferreira Soares. Membro de uma tradicional família da cidade (os ?Ferreira Soares?),
casado com a Sra. Amélia Soares (carinhosamente chamada por parentes e pessoas próximas como Mãe
Lindoca), com quem teve um filho chamado Acácio (Sula), era funcionário/tesoureiro de carreira em um
banco, na Cidade da Parahyba.
Há ainda outra possibilidade que advém de sua rede (direta e indireta) de amigos ter proporcionado um
caminho confortável para a inserção em seu primeiro emprego, e por conseguinte mobilidade social.
Nesse sentido, há uma memória do tempo em que Santa Rosa trabalhou no Tesouro Estadual, produzida
pelo jornalista Luiz Pinto, com quem Santa Rosa não tinha amizade, mas mantinha relações de
proximidade pelo fato de trabalharem na mesma repartição pública, que ajudaria a endossar essa
suposição. De fato, o jovem Santa Rosa contou com uma importante rede de amigos no âmbito social que
correspondia à sua função no setor de contabilidade. Sendo assim, ao relembrar em tom nostálgico de sua
experiência no tempo em que Santa Rosa era morador e funcionário público, Pinto o descreve como
alguém de distinção, sobretudo por sua relação de amizade com membros da elite paraibana nos anos
1920 (a exemplo de Aloísio França e Luís França, os ?meninos do Tesouro?).
Conheci-o, já se vai muitos anos! Éramos tão jovens... O mundo uma incógnita, um poço de ilusões, um
marco de esperança. Seu apelido na época era Bonzinho. Íntimo de Aloísio França, de Luís França, os
meninos do Tesouro do Estado. Na vida da Paraíba trabalhamos todos no tesouro do Estado na minha
velha província, entre os paredões lendários do velho Convento de S. Bento, onde funcionava aquela
repartição estadual. (PINTO, 1956, p. 3).
Para uma melhor compreensão do Santa Rosa funcionário público do Tesouro Estadual, contudo, faz-se
necessário acionar um outro personagem. Em se tratando de sua rede de sociabilidade, outro possível

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apoiador de sua trajetória profissional, Ademar Victor de Menezes Vidal, oriundo de família da elite
paraibana. Vidal ocupou diversos cargos na esfera jurídica da República, chegando a atuar como
procurador durante o governo de Solón Barbosa de Lucena (1920-1924) e como secretário de Interior e
Justiça e Segurança no governo de João Pessoa (1928-1930). Ao que as fontes indicam, ele mantinha
uma relação de apadrinhamento com o jovem Santa Rosa (VIDAL, 1956).
Morador da Cidade da Parahyba, e, oriundo de uma família da elite (atuante no ramo jornalístico), Vidal
detinha capital (político e social) suficiente para influenciar na política burocrática que determinava o
preenchimento de vagas de emprego. Com efeito, ao assumir a pasta de Secretário do Interior e
Segurança (1928), no breve governo de João Pessoa Cavalcanti (1928-1930), Vidal pôde amparar o
noviço funcionário público com imediata promoção na função dos serviços no Tesouro Estadual.
Cabe mencionar que, ao esquadrinhar a documentação pertencente ao Arquivo Estadual do Governo do
Estado da Paraíba, identificamos, no setor de contabilidade da Companhia de Água, uma lista de
pagamento dos vencimentos dos empregados nas Obras Públicas (Saneamento e Indústria Pastoril).
Tomás Santa Rosa Jr. foi lotado no departamento de Saneamento Básico do Estado, e se encontrava na
função de contador e arrematava mensalmente 300$000 (trezentos mil réis). Em uma nota-homenagem
intitulada ?O autodidata?,publicada no jornal O Norte, Vidal menciona ter agido politicamente em benefício
de Santa Rosa, o que teria resultado em sua mobilidade social:
[O] Paraibano da rua Direita [em verdade rua do Barão de Passagem], atual Rua da Areia], era lá onde me
habituei a vê-lo com os desenhos que mostrava, trabalhando no serviço público do Estado e, anos depois
, ocasionalmente me encontrando com o poder nas mãos sua situação fora melhorada como funcionário
do Abastecimento de Água. (VIDAL, 1956, p. 2).
É importante salientar que, anos depois, livros escritos por Ademar Vidal que versam sobre cultura popular
e nordeste foram ilustrados pelo artista Santa Rosa, a exemplo do livro Lendas e Superstições: contos
populares, (1950. Já o funcionário público e contador do Tesouro almejava ir, no início da década de 1930
à capital do país, Rio de Janeiro. Sua vida parecia estar dividida entre a carreira do funcionalismo público
e as oportunidades do mundo das artes.
Santa Rosa esteve inserido numa conjuntura econômica marcada pelo surto da industrialização, por
medidas de modernização e pela expansão das instituições artísticas, que ele acompanhava através de
revistas e jornais que comprava ou pegava de empréstimo de seu ?amigo de sempre? José Simeão Leal.
Era com Simão que Santa Rosa trocava missivas frequentemente. A comunicação feita a partir das cartas
permite a ampliação das possibilidades de pesquisa para um campo de maior interpretação sobre a
trajetória de Santa Rosa, a linha entre suas subjetividades e seus anseios mais íntimos geram uma
profícua gleba de análise. Para Gontijo, do ponto de vista metodológico, há no ?pensar carta? uma
chancela de compreensão do pensamento individual ou de um determinado grupo. De tal modo, que o
[...] estudo da correspondência de escritores e intelectuais ajuda a compreender os meandros da
construção de uma obra e/ou da elaboração de projetos, revelando ações e intenções e deixando entrever
a especificidade dos procedimentos cognitivos e argumentativos. Também permite observar as relações
entre os indivíduos, fornecendo indícios de suas experiências como atores sociais. (GONTIJO, 2008, p.
55).
Desta feita, passemos a entender a quanto notória foi a influência de Simeão Leal no que diz respeito ao
empreendimento que objetivou contribuir a mobilidade social de Santa Rosa. Um assunto presento foi o
concurso para o Banco do Brasil. É explícita a intenção de Santa Rosa: ?um pedido?. Ele solicitou ao
amigo que intervenha em sua nomeação, para que fosse enviado à matriz do Banco do Brasil, localizada
na capital do país, o itinerário perseguido por Santa Rosa.

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Foi aí que passou a vislumbrar uma gama social que pudesse ser proveitosa quanto a sua aprovação, já
que, para ele, o modus operandi da cultura política existente em seu tempo obedecia aos critérios políticos
da nomeação, e não do mérito. Assim, Santa Rosa se inclinou na busca de intermediários/ ?pistolões?, e
aciona sua rede de sociabilidade para promover empreendimento tático à sua aprovação:
(...) [Bem] sei que este concurso, como todas as cousas actuaes, não se processa, naturalmente, na razão
directa dos valores demonstrados, mas sob os auspícios dos pistolões e de todas as recomendações
assignados pelos fazedores da política e já que é preciso ser assim; já que somos forçados a fazer assim:
? sejamos e façamos com a situação nos obriga (...) E é sobre isto que venho pedir de sua amizade, um
grandíssimo favor (...) É possível que ahi entre toda essa novidade do seu convívio haja alguém que no
momento actual te possa servir como um intermediário para o meu interesse de ser nomeado... Alguém
cuja família representa no momento, algo de realmente prestigiado que seja um factor, no cenário
ambiente, de relevo e de força irradiante (...). (SANTA ROSA, 1931, p. 2).
Sua ambição em sair da cidade da Parahyba tornou-se ainda mais notória quando ele, deixando de lado
qualquer formalidade, passou a clamar de maneira mais direta:
(...) Acrescento, meu amigo, que o local pouco me dá! ei-me fora do interesse ir a tal ou qual lugar.
Entretanto como é natural, prefiro as agências do sul. É caso interessante, o que menos desejo é ficar aqui
. Não há por acaso parahybanos do seu conhecimento na Matriz do Banco do Brasil? (SANTA ROSA,
1931, p. 3).
Para alcançar o objetivo, Santa Rosa, elaborou estratégia que, dando certo, seria o seu passaporte para
alcançar seu obstinado destino, assim como o impulsionar para outros ares, para além da pacata Cidade
da Parahyba, que passou a chamar pela alcunha de ?exílio?. Santa Rosa pretendia sair de sua atmosfera
natal e partir em busca de uma ambiência profícua de profundas mudanças.
[9: É o que aponta Miceli (2001, p. 77), para quem: [as] décadas de 1920, 1930, 1940 assinalam as
transformações decisivas no planos econômicos (crise do setor agrícola voltado para exportação,
aceleração dos processos de industrialização voltados para a urbanização, crescente intervenção do
Estado em setores-chaves da economia etc.), social (consolidação da classe operária e da fração de
empresários industriais, expansão das profissões de nível superior, de técnicos especializados e de
pessoal administrativo nos setores público e privados etc.), político (revoltas militares, declínio político das
oligarquias agrária, abertura de novas organizações partidárias, expansão dos aparelhos do Estado etc.) e
cultural (criação de novos cursos superiores, expansão da rede de instituições culturais públicas, surto
editorial etc.).]
Ele visava ser inserido na carreira pública no Banco do Brasil e alcançar estabilidade, a possibilidade de
vivenciar um contexto propício para desenvolver o seu projeto de uma vida artística. Parecia que tudo
daria certo: assegurar seu lugar no serviço público e vivenciar os principais corredores do mundo artístico.
Ledo engano. O que parecia motivo para comemoração se tornou um imbróglio trágico, uma vez que sua
tática não alcançou o sucesso necessário e, ao invés de ir ao Rio de Janeiro, foi enviado para uma
agência em Recife.
A fim de alcançar seu objetivo, Santa Rosa acionou, ao mesmo tempo, Simeão Leal e outro influente
amigo ? o gaúcho Moziul Moreira Lima, tenente do Exército. Nos anos 1950 é possível identificá-lo como
membro conselheiro da Associação de Ex-combatentes do Distrito Federal (Rio de Janeiro), já com a
insígnia de major. Com isso, a estratégia de Santa Rosa foi gerar duas forças de influência para efetivar
sua meta de ser nomeado como funcionário do Banco do Brasil no Rio de Janeiro. Mas, novamente não
obteve êxito, e foi transferido apenas para Maceió, Alagoas. Todavia, por lá não abandonou a sua
obstinada dedicação em ?fazer-se artista.

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Na atmosfera cultural de Maceió, Santa Rosa compartilhou trabalhos, se aproximou de outros jovens
artistas, e vivenciou espaços de sociabilidade: participando de salões, exposições, e contribuindo com
seus feitos artísticos (gravuras e poesias) em jornais e revistas locais. Naquele ambiente de difusão da
cultura unia-se a uma plêiade de intelectuais. Entre eles, José Auto da Cruz Oliveira, o poeta ? Zé auto?,
com escritores modernistas, a exemplo de Raquel de Queiroz e Graciliano Ramos ? este já tinha sido
prefeito de Palmeira dos Índios. Em 1932 Ramos já havia sido nomeado diretor da Secretária da Imprensa
Oficial, e utilizava de sua influência para realizar encontros em seu gabinete. Outro importante espaço de
sociabilidade de Maceió em que ocorriam os encontros, era no boêmio Bar Central. Em setembro de 1956,
o Correio da Manhã publica, na coluna Escritores informações sobre o grupo, diz:

?Reunidos em torno do escritor, no seu gabinete na Imprensa, ou no ?Ponto Central? os rapazes ficavam
em conversas e discussões literárias que se prolongavam horas a fio?. Além de médicos e professores
pertenciam aquele ciclo ?alguns escritores e artistas de outros estados, como José Lins do Rego, Raquel
de Queiroz e Santa Rosa? (ESCRITORES..., 1956, p. 10).

O pintor Santa Rosa realizou uma exposição de sua arte modernista na capital alagoana. É o jornalista
Manoel Diógenes Junior, que recorda quando no Instituto Histórico de Alagoas, em 1932, o crítico e
jornalista, Valdemar Cavalcanti

(...) apresentou Santa Rosa numa palestra em que estudava sua arte dentro do modernismo brasileiro. E
assinala-se eu esta noite de modernismo, em que se tocou Debussy e se cantou Blue, onde se
apresentavam os trabalhos modernos de Santa Rosa, se realizou nos austeros salões do venerando
Instituto Histórico de Alagoas (JUNIOR DIOGENES, 1956, p.03).

O que as fontes mostram é que ele Santa Rosa, abandonou o emprego no Banco quando se mudou para
o Rio de Janeiro. Sua trajetória é marcada por uma decisão que modificou sua vivência e assustou amigos
/as, quando decidiu abandonar o emprego no Banco do Brasil para consolidar seu sonho. Segundo, a
escritora Rachel de Queiroz:
[Santa Rosa] pediu transferência para o Rio, mas recusaram a transferência. Ele então abandonou o
emprego e se tocou para cá, entregando-se deliberadamente às dificuldades, quase à miséria, do artista
que tenta abrir caminho na cidade grande. Passou o diabo, passou fome, todo mundo o considerava louco
por abandonar um emprego excelente por amor de um sonho, ou como lhe dizia um amigo, ?uma vocação
abstrata?. Santa explicava pacientemente: ?Mas eu sou pintor". (QUEIROZ, 1961, p. 8).

Na cidade carioca, se inseriu no mundo editorial ? uma decisão tomada que, sem saber, o tornaria um
artista que logrou êxito como pintor, crítico de arte, cenógrafo, professor e profissional do âmbito gráfico
entre seus pares, como discutiremos no próximo tópico.

O multifacetado artista
Santa Rosa foi um artista multifacetado, característica comum de sua geração, atuando em diversos
âmbitos da arte de maneira concomitante. Acompanhar sua vivência no mundo da pintura, cenografia e

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artes gráficas é um convite para o mundo artístico cultural do início do século XX. O esquadrinhamento de
parte de sua trajetória é perpassado por ideias do movimento modernista à brasileira, que prevaleceu
hegemônico, sobretudo, entre as décadas de 1930 e 1950.
A partir de 1933, após abandonar o emprego na agência alagoana do Banco do Brasil em Maceió e viajar
à então capital do país, Santa Rosa adentrou in loco no microclima intelectual carioca. Sua carreira
artística teve início enquanto responsável por projetos visuais em editoras, jornais e revistas ilustradas.
Aproveitando o boom de vendas ocasionadas pelos gêneros literários (ficção, romantismo), se viu em meio
à demanda por mão de obra especializada. O trabalho inicial nas editoras Ariel, Schmidt e José Olympio
foi profícuo. O cenário de ofertas de emprego era, de maneira geral, atraente.
[10: Conforme explica Miceli (2001, p. 148), ?[o] surto editorial da década de 1930 é marcado pelo
estabelecimento de inúmeras editoras, por fusões e outros processos de incorporação que ocorrem no
mercado editorial e, ainda, por um conjunto significativo de transformações que acabaram afetando a
própria definição do trabalho intelectual: aquisição de rotativas para impressão, diversificação dos
investimentos e programas editoriais, recrutamento de especialistas para os diferentes encargos de
produção e acabamento, inovações mercadológicas nas estratégias de vendas ? implantação do serviço
de reembolso postal, contratação de representantes e viajantes etc. ?, mudanças na feição gráfica dos
livros, com o intento de ajustar o acabamento das edições às diferentes camadas do público, e, sobretudo
, empenho das principais editoras em verticalizar o processo produtivo e diversificar suas atividades?.]
Ao chegar à capital do país, Santa Rosa já era pintor e desenhista. Com essas habilidades buscou nas
editoras um meio de vida. No seu tempo, editoras investiram na visualidade dos livros para atrair cada vez
mais o público leitor ávido em consumir o bem cultural da modernidade: o livro ilustrado. Neste momento,
trabalhou inicialmente nas editoras Ariel e Schmidt, mas foram as duas décadas dedicadas as feituras
gráficas pela editora José Olímpio que o consagrou. Seus feitos artísticos expressavam outra estética aos
livros que circulavam pelas principais livrarias da cidade, ou nas exposições das capas de livros que,
acomodadas nas vitrines, exibiam imagens assinadas por Santa Rosa. Estas tinham por objetivo o
aumento das vendas, e funcionavam enquanto rede de entrelaçamento de sua sociabilidade. Assim,
discorre Bueno:
Tendo [Santa Rosa] participado, desde os tempos de Maceió, da vida intelectual brasileira, seu trabalho de
criador de capas era também uma forma de participação direta na vida cultural e literária de seu tempo,
além de representar uma modalidade de cooperação criativa com os confrades escritores. Vida
profissional e camaradagem. No caso da literatura brasileira, mas não só ler os livros para desenhar-lhes
uma capa era mais que uma tarefa feita por obrigação. (BUENO, 2015, p. 63).
Santa Rosa conquistou, ao longo de duas décadas de trabalho no mundo das artes gráficas, lugar de
destaque como artista gráfico modernista, ?(...) sendo responsável quase sozinho pela transformação
estética do livro brasileiro nos anos de 1930-1940 (...)? (HALLEWELL, 2017, p. 512). Quase todas as
editoras neste período têm sua assinatura, o que reforça o nível de importância do artista afro-brasileiro.
Conforme aponta Bueno (2015), a produção de Santa Rosa se de especialmente na editora José Olímpio,
onde construiu um prodigioso acervo de imagens para as capas de livros. É enorme sua relevância e seu
protagonismo na história das artes visuais do país, afinal:
(...) quem quiser contar a história da evolução das artes visuais no Brasil do século XX não pode escapar
ao nome de Santa Rosa (...) é preciso reconhecer que Santa Rosa fez esse trabalho como mais ninguém.
Se nem todas as ações oficiais que propôs se concretizaram, seu trabalho contínuo por mais de vinte anos
deixou exposta em parte uma visualidade que não pode ser colocada noutro lugar que não o da arte
moderna. (BUENO, 2015, p. 22).

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Santa Rosa é reconhecido pela inovação no metiê das artes gráficas, e talvez por isso seja mencionado
como ?pai do livro moderno? (HALLEWELL, 2017). O afro-brasileiro entrou para a história das artes
visuais tanto por conta de seu desempenho singular no desenvolvimento do ofício, quanto pela assídua
defesa intelectual sobre a profissionalização do metiê. De acordo com Laurence Hallewell, praticamente,
todas as obras que formam a geração romancista de 1930 com suas imagens-síntese, ainda menciona
que
?Os livros com o sinete editorial da José Olympio logo começaram a destacarse da insípida mediocridade
dos concorrentes, pois o editor, desde o início, dedicou cuidadosa atenção ao projeto gráfico. Seu
colaborador nessa área, mais uma vez, foi um nordestino, Tomás Santa Rosa, que trabalhara
anteriormente em diagramação e em desenhos de capa para a Schmidt (...) [deste modo] ele tem sido
considerado o maior produtor gráfico de livros do Brasil, responsável, quase sozinho, pela transformação
estética do livro brasileiro nos anos de 1930-1940 produtor gráfico de livros do Brasil, responsável quase
que sozinho pelas transformações estéticas do livro brasileiro nos anos de 1930-1940?. (HALLEWELL,
2017, p. 512).
O reconhecimento maior de Santa Rosa no âmbito das artes gráficas veio quando ele foi convidado a criar
e coordenar um pioneiro projeto escolar que contribuísse diretamente com a formação de artistas no
âmbito das artes gráficas. Em março de 1946 sua ambição de difundir a profissionalização do ofício
através de um conhecimento sistematizado sobre o âmbito foi consolidada. Certamente, sua atuação o
consagrava como principal peça de montagem e coordenação do Curso de Artes Gráficas, realizado pela
Fundação Getúlio Vargas, na cidade do Rio de Janeiro:
Em 1946, a Fundação Getúlio Vargas doava ao nosso meio artístico um atelier de gravura, o qual tive a
honra de dirigir. Com a colaboração do Carlos Osvald e Leskoscheck, efetuou-se um trabalho de
desbravamento cujos resultados em oito meses teremos a oportunidade de expor ao público ainda este
mês. É admirável a ágil e curiosa inteligência dos jovens alunos, aprendendo e experimentando com
eficiência rapidez, técnicas como as da gravura, complexas e variadas (SANTA ROSA, 1947, p. 10).
Nesse sentido, acompanhando a leitura quanto à repercussão do Curso feita pela crítica de arte, podemos
avaliar até que ponto a iniciativa coordenada por Santa Rosa foi benéfica ao fazer-se do metiê. A cargo da
coordenação do primeiro curso de artes gráficas do país, Santa Rosa difundiu suas proposituras e
diretrizes quanto à formação de novos profissionais. Tendo ele ainda desempenhado a função de
professor. Assim, foi possível avaliar como o artista/professor articulou seu conhecimento no âmbito.
Sobre a repercussão do curso, Santa Rosa , pondera que a consequência maior é a de estabelecer uma
positiva relação de novos artistas/profissionais, assim, ?(...) com paginadores de nova visão, as editoras
com ilustrações possuidoras de todas as técnicas, e as agências de publicidade em ?layoutmans? e
cartazistas?. Investir nos campos de artes gráficas que se voltam para comunicação em massa (FALA...,
1946, p. 8). Vale salientar que sua preocupação em fortalecer o mercado interno, ?(...) fazer ressurgir
essas técnicas da obscuridade em questão, e trazer ao meio brasileiro uma contribuição objetiva, digna de
consideração? (FALA..., 1946, p. 8).
No período aqui abordado, especialmente entre a década de 1930 e a de 1950, embates que revelam
divergências sobre a arte e a cultura, trazendo à tona caminhos para compreensão da cultura artística de
um tempo. É possível evidenciar questões fulcrais à atmosfera artística, entre elas a qualificação técnica, a
influência ideológica e a função social do artista no metiê.
No plano individual, Santa Rosa não detinha prerrogativas institucionais oficialmente registradas por
instituições de renome, sua formação na pintura se deu a partir da mentoria de Cândido Portinari, somada
ao seu autodidatismo; assim como nas artes gráficas teve que lidar com o desconforto de não possuir

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comprovação institucional.
Já o perfil estético do pintor Santa Rosa pode ser evidenciado em suas inúmeras obras. São diversos
cenários como: festas, vida cotidiana, reminiscências de sua infância, celebrações religiosas, pescadores,
trabalhadores, samba. Em relação à representação de mulheres, é interessante perceber que,
diferentemente do projeto visual da década de 1930, Santa Rosa investiu em adereços africanistas, como
turbantes e vestidos longos de cores fortes. A escolha em representar a estética negra através de lenços,
vestidos e indumentárias foi a maneira de criar suas imagens-síntese. Assim é também possível
evidenciar suas memórias da Cidade da Parahyba.

Imagem 03 ? Festa, (óleo sobre tela) 80 x 63 cm, Santa Rosa, 1950

Fonte: BARSANTE, 1993

Os embates quanto às modificações no âmbito da arte atravessam a conjuntura cultural do primeiro


quinquênio do século XX. Tanto é que a tessitura pictórica de Santa Rosa, assim como a de outros/as
artistas modernistas, foi alvo de protestos em algumas exposições pelo país. Um bom exemplo ocorreu na
Semana de Arte Moderna de Belo Horizonte de 1944, quando as realizações modernistas não agradaram
parte do público geral. A pintura moderna ficou marcada por uma investida em tom de manifesto, contra a
realização da Semana de Arte Moderna Belorizontina. Trata-se de um atentado às telas e esculturas
registrado pela imprensa local e revistas de arte.
No ensaio ?Fígaro barbeia o modernismo?, do crítico de arte Henrique Pongetti, é possível compreender
cenas surpreendentes. Pongetti conta sobre um homem desconhecido que saiu distribuindo coléricas
navalhadas em formato de cruzes nas telas dos quadros que compunham a exposição. O advento revela,
entre outras questões, querelas de pulso ideológico circunscritas à atmosfera artística do tempo de Santa
Rosa.
Figura 04 ? As Três Idades da Vida (óleo sobre tela) 90 x 76 cm, Santa Rosa (obra danificada)

Fonte: BARSANTE, 1993.

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O pintor modernista premiado com medalha de prata na mais importante exposição do país, o Salão
Nacional de Arte (1941) defendia ferrenhamente a concepção do modernismo nacional, ou seja, a ideia
que embora o modernismo brasileiro sofresse influência do arte europeia já havia idiossincrasias artísticas
locais que caracterizavam o modernismo nacional. Santa Rosa foi júri de expoentes exposições nacionais,
a exemplo da Bienal de São Paulo em 1951 e 1953; e no Salão Nacional na seção de Arte Moderna. Vale
salientar que o Salão Nacional era um importante espaço na história da pintura e da intelectualidade
artística no país, que protagonizou exposições marcantes, que deteve por função institucional a anuência
de reconhecer um quadro enquanto obra de arte, é o Salão Nacional. Conforme explica Luz, o Salão:
[11: O debate historiográfico acerca do modernismo e nacionalismo é de longa data, aqui, daremos
atenção especial à temporalidade que marca o fazer-se do multiartista Santa Rosa, ou seja, a atmosfera
artística cultural (entre 1930 e 1950) na qual o intelectual-multiartista Santa Rosa experimentou no mundo
da arte, de seu tempo, sentidos do modernismo. Como outros intelectuais, encarou a vida artística
enquanto aquilo que Gomes (2004, p. 82) determinou por ?[...] doublé de teórico da cultura e de produtor
de arte, inaugurando novas formas de expressão e refletindo sobre as funções e desdobramentos sociais
que tais formas guardariam?. Em relação ao nacional, ou seja, a criação do referido constructo ideológico
de unidade nacional desempenhada pelo Estado Novo buscou, segundo Gomes (2007), agir em benefício
da recuperação de um passado colonial, harmônico e glorioso. Por seu turno, Oliveira (2013) enveredou a
compreender o nacionalismo identificando o aparecimento, no início do século XX, de movimentos
artísticos nacionais que corroboram com a evocação do nacional, a exemplo do Manifesto Pau-Brasil
(1924) e do Manifesto antropofágico (1924), em cujo contexto a modernização de dispositivos de
comunicação (tais como rádio, indústria editorial e cinema) foi imprescindível para a difusão de símbolos e
sentidos de nacionalismos.]
(...) propiciava a oportunidade para todo e qualquer artista, independente da situação econômica que
tivesse, poder se aperfeiçoar nos principais centros de produção artística na Europa. A cada ano, a
emulação entre os concorrentes 173 ajudava o despertar de novos valores para a arte brasileira. Como as
obras premiadas ficavam para a coleção da Academia, depois Escola Nacional de Belas Artes, e que, em
1937, no governo de Getúlio Vargas, deu origem ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes, temos,
ainda, a grande contribuição dos Salões para a formação e ampliação desse acervo notável de nosso
museu. (LUZ, 2006, p. 60).
Ou seja, ao participar do Salão, o artista pavimentava sua trajetória rumo à consagração. A expectativa do
reconhecimento dos pares significava não apenas uma condecoração, mas também a possibilidade de
ascensão social, uma vez que se almejava abocanhar a premiação concedida pela Escola Nacional de
Belas Artes. As bolsas de estudos eram concedidas com intuito de ampliar o conhecimento em viagens
pelo Brasil (prêmio nacional) ou à Europa (prêmio internacional). Santa Rosa não se beneficiou de viagens
internacionais através do prêmio do Salão, foi através de sua conquista em outro âmbito da arte, o teatro.
A trajetória de Santa Rosa no teatro foi propiciada por inúmeras participações enquanto cenógrafo em
diversas companhias, entre elas ?Os comediantes? e a ?Companhia Dramática Nacional''. Além disso, ele
ocupou os seguintes cargos: diretor do Museu de Arte Moderna (1948), coordenador do ateliê de
decoração do Teatro da Escola Nacional (1950) e diretor do Conservatório Nacional de Teatro. Em 1952,
fez sua primeira viagem à Europa representando o Brasil na Reunião dos Artistas em Veneza, conferência
organizada pela Unesco. Nesse período, ele circulou pela Itália, Espanha, Inglaterra e França por quase
dois meses. Em 1955, passou a dirigir o Conservatório Nacional de Teatro. Em 1956, ano que marca sua
morte, foi nomeado professor de cenografia na Escola Nacional de Belas Artes da Universidade do Brasil.

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Entre seus maiores anseios estava a criação de uma escola de Teatro, Teatro para Crianças e o Teatro
de Negros. A sua relação com o Teatro Experimental do Negro foi efetiva, tanto na produção de cenários
como em incisivas defesas em jornais da época. Para o TEN, Santa Rosa realizou a cenografia para o
Recital Castro Alves, dirigido por Abdias Nascimento, no Teatro Fênix, no Rio de Janeiro. Ele foi
responsável, também, pelo cenário da peça Terras do sem-fim, espetáculo adaptado da obra do baiano
Jorge Amado, por Graça Mello. Já em 1948, assinou a produção visual dos figurinos e cenários da peça A
Família e a Festa na Roça, dirigida por Dulcina de Moraes. Já em 1949, o intelectual negro das artes
visuais realizou a feitoria de Filhos de Santo, obra escrita por José Morais de Pinheiro, com direção de
Abdias Nascimento. E Calígula, texto escrito pelo filósofo argelino Albert Camus, que por falta de recursos
não conseguiu ser exibida mais de uma vez, contou com a cenografia e arte figurinista de Santa Rosa,
sendo a direção de Abdias Nascimento.
Santa Rosa promoveu assertivas defesas a favor da consolidação do teatro para negros. No dia 25 de
agosto de 1946 no jornal Diário Trabalhista, é possível evidenciar em ?PROBLEMAS e aspirações do
negro brasileiro: o Teatro Experimental do Negro e a cultura do povo?, a denúncia sobre interrupções nos
ensaios do grupo, que ocorriam no teatro Fênix, do referido grupo.
Niuxa Dias Drago (2014), em A cenografia de Santa Rosa ? espaço e modernidade, apresenta sua
notoriedade em sua trajetória no Teatro que passa a influenciar o âmbito do teatro nacional, considerando
que ele foi um dos precursores da perspectiva modernista e da arte-social na atmosfera do teatro. O ofício
da arte cenográfica coincide com mudanças significativas ocorridas nesta área, considerando sua
condição de inovador da perspectiva moderna ? pode-se dizer que a grande modificação trazida por Santa
Rosa é propiciada por meio de novas funções para elementos como luz, arquitetura de palco e adereços.
Com isso, Santa Rosa ? ao empreender uma transformação da perspectiva (que passaria de dual para
tridimensional) ? acabaria se tornando responsável por transformar a arte cenográfica no teatro nacional
na primeira metade do século XX, fazendo com que esta deixasse de ser um simples elemento decorativo
e passasse a se impor como um conteúdo específico da arte teatral. Note-se que a primeira versão da
peça Vestido de Noiva (1943), de autoria de seu amigo e escritor Nelson Rodrigues e direção do imigrante
polonês (evadido dos conflitos da Segunda Guerra Mundial) Zbigniew Marian Ziembinski, é o marco que
divide a cenografia brasileira.
Figura 04 ? Cenário da peça Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues, 1943

Fonte: BARSANTE, 1982.

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A melodia da vida e o ritmo de pinceladas entrelaçadas em suas formas, linhas e cores, condensadas em
quadros, murais e capas de livros ilustram feitorias de um artista, mas também, o olhar de um homem em
seu tempo para a cenografia são vestígios de uma trajetória de vida, vivida pelo sujeito histórico Santa
Rosa.

Considerações Finais
Como visto, o espaço geracional de Santa Rosa foi analisado como possibilidade para compreender a sua
experiência em meio a repercussão do ideal moderno e as transformações/modernização dos dispositivos
essenciais para a vida na urbe (luz, água, transporte). A vida na Cidade da Parahyba, vivida por pouco
mais de duas décadas, levou Santa Rosa a elaborar suas impressões sobre o meio social, cultural, político
e arquitetônico que o rodeava.
A sua a vida familiar do pequeno ?Bosinho? não foi fácil. Afinal, a conjuntura epidêmica na infância
resultou na perda de três irmãos. Santa Rosa tornou-se o único filho homem de Alexina e Thomaz Santa
Rosa. As postulações ensejadas buscaram explicar a maneira pela qual o jovem Santa Rosa foi
beneficiário de uma boa formação educacional, e de como chegou a cargos no funcionalismo público da
cidade. Uma vez funcionário público do Tesouro Estadual, se beneficiou de uma rede de sociabilidade que
fora iniciada bem antes, com a escolha de seu padrinho, medida salutar a sua trajetória no âmbito do
trabalho.
Também buscamos compreender a trajetória de vida de Santa Rosa a partir de sua experiência vivida em
espaços de sociabilidade que circulou. Assim, procuramos apresentar os primeiros passos do artista
gráfico, professor, pintor e crítico, revelando expedientes de seu protagonismo enquanto um artista afro-
brasileiro multifacetado. No Teatro, o cenógrafo Santa Rosa difundiu referências ideológicas e
contribuições técnicas para a cenografia, a maneira com a qual utilizou elementos que projetam aspectos
em formas e conteúdo da cultura afro-brasileira e africana na feitura cênica do teatro nacional junto ao
Teatro Experimental do Negro.
Nosso intuito foi colaborar com os estudos afro-pedagógicos concernentes às trajetórias de vidas de
homens letrados no pós-abolição. A investigação histórica se alimenta de perguntas que são ensejadas a
cada novo olhar sobre o mesmo documento/testemunho, e estas vêm à luz a partir do tempo presente.
Alguns apontamentos chegam enquanto bússola que norteia novas navegações da pesquisa. O mar das
emancipações, do pós-abolição está propicio para longas e profundas navegações em que o fato histórico
da abolição da escravidão em 1888 é a égide para novas conexões do passado-presente.

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ESCRITA ? DA ? HISTÓRIA
Uma experiência afro-brasileira no mundo das Artes: vida, pensamento e sociabilidade de Tomás Santa
Rosa (1909-1956)
Tomás Santa Rosa (1909-1956) uma experiência afro-brasileira no mundo das Artes...
Thiago Brandão da Silva
[1: Este artigo é originado da dissertação de mestrado ?Fragmentos de uma história de vida, o afro-
paraibano Tomás Santa Rosa Jr. (1909-1956): entre vivências, intelectualidades, ditos e feitos artísticos,
defendida em 2021, no Programa de Pós-Graduação em História.* Mestre em História pela Universidade
Federal da Paraíba. Professor da Educação básica. Membro/colaborador do Núcleo de Estudos Afro-
brasileiros e Indígenas (NEABI/UFPB).]
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com

Resumo
Trata-se de refletir sobre a vida do multifacetado artista negro modernista que atuou na construção cultural
e artística do país em diferentes âmbitos, Tomás Santa Rosa. A pesquisa se insere na gleba da escrita
sobre intelectualidades negras no pós-abolição. Metodologicamente, leva-se em consideração a dinâmica
social vista sob a égide da microanálise, o que amplia a compreensão dos caminhos, escolhas, decisões,
que formam o campo (ou uma sucessão) de sentidos que tangencia(m) uma trajetória de vida. Considera-
se o descortinar do cenário geracional de sua trajetória de vida enquanto possibilidade para compreender
suas dimensões sociais: a família, o emprego, amigos e estratégias de mobilidade social, além da feição
discursiva do ideal de moderno e das transformações metamórficas do espaço vivido e do debate
intelectual a partir da História Social da Cultura. Busca-se comtemplar a participação de um sujeito
histórico negro no mundo das artes enquanto referência e possibilidade de estudo para estudos afro-
pedagógicos e a agenda de historiadores/as sobre trajetórias e sociabilidades de homens e mulheres
negros no pós-abolição.

Palavras-chaves: Tomás Santa Rosa; Cidade da Parahyba; Sociabilidade; Pós-Abolição; Modernismo.

Abstract
It is about reflecting on the life of the multifaceted modernist black artist who acted in the cultural and
artistic construction of the country in different areas, Tomás Santa Rosa. The research is part of the field of

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writing about black intellectuals in the post-abolition period. Methodologically, the social dynamics seen
under the aegis of microanalysis are taken into account, which broadens the understanding of the paths,
choices, decisions, which form the field (or a succession) of meanings that touch (m) a life trajectory. It is
considered the unveiling of the generational scenario of his life trajectory as a possibility to understand its
social dimensions: family, employment, friends and social mobility strategies, in addition to the discursive
feature of the modern ideal and the metamorphic transformations of the lived space and of the intellectual
debate from the Social History of Culture. It seeks to contemplate the participation of a black historical
subject in the world of the arts as a reference and possibility of study for Afro-pedagogical studies and the
agenda of historians on trajectories and sociability of black men and women in the post-abolition period.

Keywords: Thomas Santa Rosa; City of Parahyba; Sociability; Post-Abolition; Modernism.

Numa tarde de domingo típica do verão carioca, em 16 de dezembro de 1956, algo acontecia nas
proximidades do Teatro Municipal do Rio de Janeiro - localizado na Avenida Rio Branco, antiga Avenida
Central. Quem naquela tarde trafegasse por aquela avenida veria um amontoado de pessoas nas
escadarias do monumental edifício e, tão logo, perceberia um cenário fúnebre. Ao se aproximar,
provavelmente, escutaria no diapasão de conversas íntimas frases cortadas do tipo: ?ele não gostava dos
papéis do banco?, ?era um pintor modernista?, ?ele foi pra Europa duas vezes?, ?estive com ele no Norte
?, ?detestava andar de bonde; sempre preferiu o táxi?; ou, ainda, algumas especulações acerca de sua
origem étnica ? ?um mulato?, ?nossa raça? etc... Enfim, peças do quebra-cabeça de uma investigação
histórica. É que os mortos geralmente deixam vestígios e os vivos lançam-se às memórias, ambos
elementos essenciais ao trabalho do historiador. Mas, como é realizada uma pesquisa sobre a vida de
alguém? Responderemos, de acordo com Vavy Pacheco Borges (2011), para quem o ?intermédio das
?vozes? [chega] do passado a partir de fragmentos de uma existência e dos registros das fontes
documentais? (BORGES, 2012, p. 2011. É desta feita que iremos esquadrinhar uma trajetória vivida, uma
existência vivida na alvorada republicana, no cenário pós-abolição da escravidão.
O objetivo da presente pesquisa é investigar fragmentos de uma trajetória de vida, vivida pelo
multifacetado artista paraibano Tomás Santa Rosa Jr, o ?Santa? ou simplesmente Santa Rosa. Nascido
em 20 de setembro de 1909, na Cidade da Parahyba, (atualmente nomeada João Pessoa), capital do
estado da Paraíba. Santa Rosa faleceu em; 26 de novembro de 1956. Na ocasião, estava ele ao leste da
Índia numa viagem oficial do governo brasileiro para a Conferência Geral da Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura ? evento promovido pela UNESCO, em Bombaim (Índia), no
qual, ele, Santa Rosa ocupava cadeira como representante do Diretório Nacional de Teatro. Quando
estava no Hotel no momento de descanso em Nova Délhi, cidade vizinha, e se preparava para seguir
viagem pela Europa, o destino pregou-lhe uma ?peça?.
Após sentir fortes dores abdominais (aos 47 anos de idade) foi encaminhado de ambulância ao Hospital
Wellington, percorreu alguns poucos quilômetros e ficou em observação. Já no outro dia recebeu visitas e,
quando tudo parecia ter sido apenas um susto, acabou surpreendendo os amigos/as durante a madrugada
, momento em que seu quadro clínico piorou e o levou a óbito ? provavelmente por um comprometimento
do sistema cardiovascular decorrente de complicações renais.
Até a chegada de seu corpo de lá (Índia) para cá (Brasil) são contabilizados dezoito melancólicos dias que
, em síntese, podem ser explicados por conta dos trâmites burocráticos e pelo fator cultural, uma vez que
no país de maioria hinduísta permeia a cremação dos restos mortais, e não dispunha de reserva e
logística do transporte de seus restos mortais para outros país. No aeroporto do Rio de Janeiro,

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aguardavam por ele suas irmãs Heliomar Santa Rosa e Crisantina Santa Rosa Iwata. Santa Rosa foi
casado no civil com Maria da Gloria Monteiro (1935), numa celebração simples no apartamento de seu
amigo e mentor (renomado das artes plásticas) Cândido Portinari. Em 1942 se casaria novamente, agora
no religioso, com Nely Guimarães. Porém, foi com Oscarina Amorim que teve seu único filho, Luiz Carlos,
que também o esperava junto às tias. Além disso, no aeroporto também aguardavam por ele o ex-senador
Ivo d?Aquino, o escritor Marques Rebelo e o teatrólogo Joracy Camargo (CHEGARAM... 1956, p. 01).
É importante apontar que no ano de seu falecimento foi possível averiguar dezenas de homenagens
escritas à guisa de lembranças em jornais da época. Estas são, para a presente pesquisa, caminhos para
uma melhor compreensão de sua rede sociabilidade, do microclima intelectual, político e cultural de seu
tempo, de seu vínculo afetivo, profissional com dezenas de outros criadores e mediadores da cultura que
formam ?[...] as elites culturais, mesmo quando entidades autônomas, em posição de extraterritorialidade
ligadas à sociedade que os rodeia e são precisamente esses laços, especialmente políticos, que lhes
conferem uma identidade? (SIRINELLI, 1998, p. 259).
Figura 01 ? Saída do cortejo fúnebre de Santa Rosa

Dito isto, a partir de uma série delas (re) conheceremos o homem do seu tempo, o intelectual das artes, o
artista, o funcionário público, o ?Santa?, o ?Santa Rosa?. Afinal, ainda a esse respeito, Ricoeur (2007)
ressalta que a lembrança inaugura um novo ângulo da representação histórica, ?(...) uma imagem
presente de uma coisa ausente? (...) (RICOEUR, 2007, p. 199) ? constituindo-se, dessa forma, como uma
maneira de entender o passado por meio das mensagens póstumas de sua rede de amigos.
Em reclames por conta de um encontro que não aconteceu, o escritor e jornalista brasileiro João Condé
rememora o momento de sua partida para a Índia ?(...) no dia de seu embarque, estive com ele [Santa
Rosa], Alcântara Silveira e Simeão Leal, no City Bank (...) todo eufórico, trocava cruzeiros por dólares. E
no abraço de despedida perguntou-me o que desejava que trouxesse? (CONDÉ, 1956, p. 12). As
lembranças, de maneira verossímil, ajudam a compor uma série de apontamentos, caminhos e
postulações acerca da trajetória de vida de Santa Rosa.
Desta feita, passaremos a refletir acerca da trajetória de vida do multifacetado artista modernista, Santa
Rosa. Assim, pretende-se compreender fragmentos de sua trajetória vivida no espaço-tempo de sua
ambiência geracional; identificar como formou e se beneficiou de uma rede de sociabilidade composta por
uma renomada plêiade de intelectuais e reconhecer seu protagonismo no cenário artístico-cultural de seu
tempo. Metodologicamente, considera-se a dinâmica social vista sob a égide da microanálise, ou seja, o
grau de singularidade quando aproximamos a lente que analisa os processos históricos.
Assim, a pesquisa adota a perspectiva teórica da história social cultura e arrola sob a égide teórica-
metodológica da política das elites culturais, da comunicação social das redes sociabilidade, da realização

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cultural de feitos artísticos (SIRINELLE, 1998; 2003). A trajetória de vida do multifacetado artista, Santa
Rosa, é por aqui compreendido levando em consideração as premissas, do geografo Milton Santos, em
que o espaço é o elo de junção, na medida em que liga-se os ?(...) fatores à genes, ao funcionamento e à
evolução do espaço (...)?, ou seja, ?o espaço pode ser definido de maneira tripartida: primeiro, como um
fator social (determina as condições sociais); segundo, como um fato social (produto e produtor); terceiro,
como uma instância social, pois é um ?(...) revelador que permite ser decifrado por aqueles mesmos a
quem revela (...)? (SANTOS, 2004, p. 163). Desta forma, a pesquisa se fundamenta a partir da tríade
objeto-tempo-espaço (REVEL 1998; BOURDIEU, 2006; SANTOS, 2004).
O corpus documental analisado é formado por uma série de escritos de amigos e de sua autoria
publicados em jornais, revistas e suplementos literários, especialmente, acessados a partir da Hemeroteca
Digital da Biblioteca Nacional (BNDigital). Conforme defende Luca (2011), a partir da utilização do jornal é
possível captar a nova vida citadina do século XX. Afinal, são os periódicos que registram as modificações
da urbanização, modernização dos espaços, e se encaixam no mesmo fluxo de outros dispositivos que
surgem na modernidade.
Nesse sentido, comunicaremos a pesquisa seguindo o seguinte enredo. No primeiro momento trataremos
interpretar Santa Rosa a partir de recordações de seus amigos (as) que compuseram sua rede de
sociabilidade. Em um segundo momento, iremos compreender sua trajetória em seu cenário geracional,
assim, leva-se em consideração: família, espaço e sociabilidades de Santa Rosa. No terceiro e último
momento vamos apresentar parte da experiência do artista multifacetado.
Aos vivos: (re) apresentação de Santa Rosa

Para Paul Ricouer (2007, p. 199) as lembranças encontradas em mensagens-póstumas (ou seja,
homenagens escritas após o falecimento do indivíduo encontrada no formato de crônicas) evocam um
presente ou uma presença, ?[...] buscam na operação de recordar que se conclui com a experiência do
reconhecimento, [pois] a lembrança é representação, re(a)presentação?. Em vista disso, iremos
apresentar a maneira com a qual Santa Rosa é (re) apresentado por alguns amigos que compõem sua
rede de sociabilidade. Não sem antes advertir a (a) leitor (a) sobre as idiossincrasias da atmosfera política
da década de 1930 em que havia um embate político ferrenho entre movimentos comunistas, fascistas e,
também que falavam da temática do negro. E isso de uma maneira que aumentava substancialmente as
disputas ideológicas que o governo varguista conduziu com destreza política.
[2: Santa Rosa fez parte de uma plêiade de intelectuais que estava a serviço do governo varguista, sob a
liderança do ministro Capanema. A esse respeito, Miceli (2001, p. 195) evidencia a maneira pela qual o
período correspondente ao mandato de Capanema (1934-1945) foi marcado pela cooptação dos
intelectuais, seja ?(...) como funcionários em tempo parcial, seja para desempenho de cargos de confiança
junto ao estado-maior do estamento, seja para preencherem os lugares que se abriam por forças das
novas carreiras que a extensão da ingerência passou a exigir, seja enfim acoplando inúmeras dessas
posições e auferindo rendimentos dobrados.?. Por outro lado, Fábio S. Cardoso (2019), biógrafo do
ministro Gustavo Capanema, endossado pela atuação de Graciliano Ramos e Carlos Drummond de
Andrade (dois declarados comunistas) no ministério, sugere (numa recente publicação) que havia, sim,
flexibilidade ideológica na ?constelação Capanema".]
No tempo de Santa Rosa, contendas ideológicas se fizeram presente. Houve pelo menos um fato em que
Santa Rosa se envolveu diretamente. Trata-se de sua prisão na época em que trabalhava numa editora.
Quem narra o ocorrido é o escritor José Lins do Rego que diz:
Vi-o um dia sair preso da Livraria José Olímpio, num sábado de carnaval, que era a sua festa preferida. Vi-

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o no meio dos esbirros num carro de Polícia. Lembro-me de seu olhar triste, a única vez que aquela
fisionomia prazenteira se fechava em angústia. Eram as saudades do carnaval perdido. Santa não
demorou entre as grades. José Olímpio bateu em todas as portas para libertá-lo. (REGO, 1956, p. 4).
É bem verdade que não sabemos os reais argumentos que levaram à prisão de Santa Rosa, embora
postule-se sua ligação, assim como a de outros intelectuais, com clubes, agremiações artísticas ligadas à
Aliança Nacional - célula maior da arquitetura do projeto comunista. Santa Rosa foi cofundador do Clube
de Cultura Moderna, fundado no dia 28 de novembro de 1934. Sua presença e a de outros artistas
modernos, como o amigo Aníbal Machado, evidenciava, portanto, a postura política dos artistas.
Na ambiência intelectual de seu tempo participava da rede de sociabilidade pessoal de Santa Rosa
artistas e escritores que já detinham prestígio, a exemplo, do escritor baiano Jorge Amado. Em seu livro
autobiográfico, Amado comenta sobre uma viagem a São Paulo ao encontro do artista modernista, pintor e
cenógrafo Flávio Carvalho (1899-1973) na companhia de Santa Rosa em 1933 em que é possível
evidenciar o microclima intelectual do momento, diz Amado (1992):
Eu o conheci quando fui a São Paulo pela primeira vez, em 1933, em companhia de Santa Rosa.
Hospedando-nos em casa de Tarsila do Amaral* e Osório César, na ocasião marido e mulher ? haviam
recém-chegado de Moscou, ir à URSS naquele então era aventura cercada de dificuldades, viagem de
espantos ? realizavam uma exposição de cartazes soviéticos, insólitos e românticos, no Clube de Artistas
Modernos, organismo criado e dirigido por Flávio de Carvalho, na época o centro de cultura mais sério do
Brasil, o que colocava a proposta mais avançada. Ali pronunciei conferência sobre as crianças nas
plantações de cacau, autografei o livro ilustrado por Santa Rosa, assisti ao Bailado do Deus morto, de
Flávio, que espetáculo!, logo proibido pela polícia política. A censura não dava tréguas ao CAM (...).
(AMADO, 1992, p. 202).
Santa Rosa participou junto com outros intelectuais de seu tempo, como Aníbal Machado, Jorge Amado,
José Lins do Rego entre outros, do CAM - Clube de Arte Moderna. Entre outras atribuições, destaca-se
sua coordenação da comissão da exposição para escolha do melhor tema sobre Palmares a partir do
ponto de vista do modernismo, em 1935 . Também fez parte da direção da Revista Movimento, que
ancorava reportagens e editoriais feitos pelos integrantes do CAM.
O Clube passou a aderir oficialmente, em setembro de 1935, a Aliança Nacional Libertadora (ANL) uma
organização de âmbito nacional que promovia ideias comunistas para combater a difusão do pensamento
fascista disseminado pela Ação Integralista Brasileira (AIB). Naquela década, de modo geral, havia um
estreito corredor de escolhas para partidários e intelectuais, prevalecendo ambos os movimentos. Neste
cenário, em que ?(...) fundiram-se a libertação do academismo, dos recalques históricos, do oficialismo
literário; as tendências de educação política e reforma social; o ardor de conhecer o país" (MELO E
SOUSA, 2000, p. 114) as capilaridades ideológicas do âmbito artístico sofreram efetivas mudanças.
Na adesão à ANL falou-se sobre a importância da Cultura para o povo, para as massas, para os
trabalhadores do país. Um momento de pulsante denúncia contra os integralistas e os regimes de
opressão (Nazismo e Facismo) e aclamação para união em prol de um programa de Cultural modernista
(uma contraposição a erudição exclusiva do academicismo) para o povo. Subiram ao palanque para
discutir acerca do tema ?Cultura e Liberdade?: Edgard Sussekind de Mendonça, Febus Gikovate Miguel
Costa Filho, Luiz Werneck de Castro, Carneiro Ayrosa, José Lins do Rego. Demetrio Hamam, Jorge
Amado, Annibal Machado, Cordeiro de Melo.
(...) todos pronunciando-se contra os regimes de força, contra o Facismo, contra o integralismo, em prol da
mais completa liberdade (...) O Sr. Febus aludiu ao programa da Aliança Nacional Libertadora, mostrando
que em face do pronunciamento da assembleia que aplaudiram os oradores e sendo aquele movimento de

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frente única o único que no momento pode libertar o Brasil, submetia a debate e votação dos presentes e
decisão do Clube de Arte Moder de aderir à Aliança Nacional Libertadora. Uma salva de palmas saudou as
últimas palavras, ficando assim aprovada unanimemente aquela decisão do Club. Em seguida, a
comissão do Club de Cultura, acompanhado de grande número de sócios, dirigiu-se à sede da ANL. Esta,
reunida em sessão, sob a presidência do comandante Cascardo ouviu a decisão, e em nome do diretório
da ANL falou sr. Amoretty Osório que agradeceu a atitude do Club de Cultura Moderna. (O QUE...1935, p.
5).
Já nas lembranças do amigo Sérgio Porto, jornalista do Diário Carioca ficou registrado o cenário de
criação do personagem cabotino Stanislaw Ponte Preta. Sobre isso, Porto conta que Santa Rosa junto
com ele idealizou o personagem. A esse detalhe vale salientar que interessou a Santa Rosa o espaço de
charges em jornais. Diariamente, representações artísticas da atmosfera política se projetam por meio de
formas extravagantes nos jornais. Conforme diz Santa Rosa, a ?[...] [política], com os seus artifícios e as
suas peras perversões, tem-lhe fornecido um material copioso, em que se tem exercitado a irônica e
sarcástica verve dos artistas [...]? (SANTA ROSA, 1947, p. 12). Porto também foi quem buscou explicar a
desapropriada pontualidade que o amigo costumeiramente exercitava. Ficou conhecido no meio
profissional por entregar encomendas fora do prazo. Para ele, a culpa de procrastinar as encomendas
advinha de sua impulsividade em querer conferir as novidades do mundo da arte, pois costumeiramente
deixava
(...) de fazer um quadro para ir comprar o último disco de Armstrong, ou para ver o desfile de uma escola
de samba. Deixava pelo meio da tela para ir assistir uma peça mambembe, onde um intérprete
coadjuvante surgia como esperança de bom ator. Perdia horas numa livraria folheando livros de arte (...).
(PONTE PRETA, 1956, p. 11).
A trajetória de vida do sujeito histórico negro, letrado, migrante, que participou ativamente da produção
cultural do país, especialmente, entre as décadas de 1930-1950, evidencia um cenário político, cultural e
artístico, um capítulo da história republicana no período do pós-abolição. Desta feita, essa pesquisa
acompanha uma série de estudos historiográficos do pós-abolição em que homens e mulheres negros-(as
) letrados-(as) são evidenciados atuando como protagonistas em instituições, espaços de sociabilidade e
poder; desempenhando variados ofícios, sobretudo no primeiro quinquênio do século XX.
A produção de estudos da população negra relacionados ao período posterior à abolição da escravidão se
diversifica e; o que outrora eram lacunas se tornam caminhos a serem percorridos, a exemplo da utilização
de fontes primárias tais como: registros de batismo; certidões de casamento, de óbito; uso da genealogia;
jornais; literatura; entrevistas orais com remanescentes quilombolas; acervos pessoais e privados
(MATTOS; RIOS, 2004). Ou seja, a pesquisa histórica que se ocupa em compreender a dinâmica das
trajetórias de vida de homens e mulheres negros (as) no pós-abolição ampliou a dimensão espaço-tempo
e, com isso, acabou, através de novas perguntas descortinando as ?(...) conexões transnacionais da
história intelectual e da história das ideias que sempre estiveram relacionadas com as perspectivas ligadas
ao pós-emancipação e os debates sobre racismo, direitos humanos e cidadania? (DOMINGUES; GOMES
, 2011, p. 10).
Em Experiências da emancipação: biografias, instituições e movimentos sociais no pós-abolição (1890-
1980), Domingues e Gomes (2011) evidenciam uma gama de trabalhos que discorrem sobre o período do
pós-abolição, a partir de pesquisas sobre associações, convenções, congressos e instituições políticas,
militares negros, além do debate historiográfico sobre as trajetórias negras. Vale salientar, experiências no
âmbito da arte, a exemplo, do ator pernambucano, pintor e poeta Solano Trindade (1908-1974) e sobre o
escritor e abolicionista baiano Manuel Quirino (1851-1923). No que concerne às mulheres negras também

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foram representadas, destaca-se a trajetória da professora e deputada catarinense Antonieta de Barros


(1901-1952). Já em Quase Cidadão: histórias e antropologias da pós-abolição no Brasil (2007), de modo
geral, objetivo foi compreender ?[como], onde, em que condições homens e mulheres de cor dela
[múltiplas liberdades] usufruíram, transformaram-na em objeto de interpretação, contendas, ou mesmo
rejeitaram os significados a ela atribuídos pelo discurso jurídico? (CUNHA; GOMES, 2007, p. 14). Uma
leitura possível no debate historiográfico é sobre a cidadania da população negra no pós-abolição.
Ao analisarmos trajetórias negras no espaço-tempo em que esteve inserido Santa Rosa, ou seja, início do
século XX, na Cidade da Parahyba, podemos acompanhar pesquisas recentes que colaboram com o
entendimento do pós-abolição. Assim, a historicidade quanto aos afro-paraibanos no pós-abolição tem
sido tema de publicações que norteiam a presença de homens negros letrados na região setentrional do
país, especialmente. As recentes pesquisas que ampliam o olhar sobre experiências negras no pós-
abolição na Paraíba têm sido realizadas pelos pesquisadores Elio Flores (2015), Solange Rocha (2015),
Petrônio Domingues (2017) e Surya Barros (2020).
Nesse sentido, seguindo sob a esteira de pesquisas acerca de pessoas negras inscrevemos a presente
pesquisa na historiografia recente que tem evidenciado, figuras desse segmento populacional, com
atuação ativa na Primeira República ? período de reordenamento social, de reconfigurações das
hierarquias raciais e de disputas dos projetos de nação ?, também se destacaram na cena política e
cultural. Como exemplo, os baianos Manuel Querino e Alfredo Casemiro da Rocha; o maranhense,
Hemetério dos Santos; o pernambucano Monteiro Lopes; o gaúcho Aurélio Veríssimo de Bittencourt; o
mineiro Benjamim de Oliveira; os cariocas Evaristo de Moraes, Eduardo das Neves e Lima Barreto; entre
outros que debateram e disputaram os diferentes projetos de política, cultura e identidade nacional, e
foram reconhecidos em vida, mas aos poucos caíram na galeria do preterimento, do ostracismo, da
subestimação ou simplesmente jazem nos desvãos da memória após a morte (DOMINGUES; ROCHA;
FLORES, 2019, p. 145-146).
A cada passo dado novas questões chegam à lume e o olhar para a interpretação da ?nova abolição?
inverte o sentido do problema; ou seja, o fato histórico do fim da instituição escravista é, por conseguinte, o
fomento para o início de uma gama de problematizações que colaboram com a nitidez do que há de ser
visto por Clio. Em Vicente Gomes Jardim: um ?artista e autor ?de cor no final do século XIX e início do XX
, Surya Barros (2020) reflete, a partir da égide da história social da escravidão, a trajetória de um homem
negro livre, no período da transição do Império e a República. Em que se buscou a experiência de vida de
Vicente Jardim enquanto liderança da Sociedade de Artistas Mechanicos e Liberaes da Parahyba e
membro da Irmandade dos pardos.
Assim, o propósito, evidentemente, é acentuar o avanço face às limitações constituídas pelo silenciamento
de Clio sobre a participação protagonista da ?gente negra? na história do Brasil após a abolição de 1888.
Tal enfoque tem contribuído para ampliar a compreensão da historicidade do pós-abolição.
Portanto, compreender a trajetória de vida do sujeito histórico negro, Santa Rosa é também perceber as
tessituras sociocultural e políticas de seu tempo. Assim, comunico ao leitor (a) que passaremos a percebê-
lo em seu espaço geracional cujo objetivo é ter a possibilidade de entender suas ambições, decisões,
frustrações e objetivos. Além de, por outro lado, explicar a influência de sua rede de sociabilidade para
compreender fragmentos de uma história de vida em suas dimensões sociais: a família, o emprego,
amigos e estratégias de mobilidade social. Desta feita, caro leitor, passaremos a compreender o tempo de
Santa Rosa em sua cidade natalícia.As transformações que metamorfoseiam o cenário geracional de
Santa Rosa são elementos imprescindíveis para compreendermos fragmentos de sua história de vida,
vivida em meio a conjuntura de modernização do espaço da Cidade da Parahyba no pós-abolição. O olhar

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em seu presente-passado corrobora enquanto ?testemunha ocular? Burke (2004), das ?rugosidades?
Santos (1998) do espaço da cidade da Parahyba (1920-1930) acarretadas pela modernização de
dispositivos estruturais do serviço público.
[3: Assim também, é partindo do pressuposto de que, conforme aponta Milton Santos (2004, p. 146),
entendemos o espaço seja como ?um produto histórico?, consideram-se os fragmentos de uma trajetória
vivida em terras paraibanas. como elo de junção, na medida em que liga-se os ?(...) fatores à genes, ao
funcionamento e à evolução do espaço (...)?. ]

A Cidade da Parahyba no tempo de Tomás Santa Rosa Jr. (1909-1932): família, espaço e sociabilidade
A casa em que Maria Alexina Santa Rosa (mãe de Santa Rosa) residiria com seu filho Santa Rosa até
1932, era nas proximidades à comunidade católica da qual era assídua frequentadora ? a Igreja Matriz de
Nossa Senhora das Neves, a catedral da cidade. Seu pai, Tomás Mauricio Santa Rosa, artista, alfaiate de
profissão, por sua vez, manipulava a arte de ?vestir? pessoas ? em parte, assemelhando-se ao filho, que
?vestia? livros, sobretudo aquelas que detinham cabedal suficiente para adquirir um traje ?da moda?,
comumente utilizado para situações da vida social na cidade, como missas, bailes, casamentos, batizados
e cerimônias. Conforme Waldeci Chagas:
Os rapazolas se contentavam com as peças de brim em várias tonalidades. Do contrário, a casimira era
bem encomendada pelos alfaiates. As alfaiatarias e camisarias sempre estavam abarrotadas de
encomendas, principalmente se estavam próximas as festas da padroeira, Nossa Senhora das Neves, do
Natal e do Ano bom. Nessas épocas, era comum o rapaz encomendar o corte e costura de um novo
conjunto composto de paletó colete e calça (CHAGAS, 2004, p. 121).

No tempo de Santa Rosa, a moda é matéria prima para que personagens importantes do microclima
intelectual da década de 1920, na Cidade da Parahyba escrevessem a seu respeito, a exemplo do
historiador Horácio de Almeida quem, por seu turno, contesta, em tom de denúncia, a chegada da nova
(do moderno) maneira de ?vestir-se? ? para ele, a moda da/na década de 1920, quando posta na balança
da moralidade, seria um ônus negativo. Acusada, a moda passou a ser evocada como má influência para
toda uma geração (tanto para homens quanto para mulheres). Julgada por Almeida, a moda passou a
ocupar as linhas da Revista Era Nova, ao escrever o artigo O poder da moda, em 1921, por onde destila:
[4: [...] uma revista quinzenal ilustrada na década de 1920, produzida na Paraíba. A princípio foi fundada
na cidade de Bananeira/PB e logo depois seu núcleo foi transferido para capital da Parahyba do Norte. Se
manteve circulando de 1921 a 1926, quando, dela, se tem notícia pela última vez. Seu primeiro nº, do ano
I, data de 27 de março de 1921, sendo oficialmente apresentada por seu diretor Severino de Lucena e seu
redator-chefe Guimarães Sobrinho, com a proposta de inaugurar uma nova era nos círculos literários e
intelectuais paraibanos. (RODRIGUES, 2013, p. 3).]

[moçoilas] catilas e espevitadas desaforam-se de corpinhos e sobem vestidos e descem os decotes para
os pitaratas galanteadores analysem em seus contornos a perfeição artística de suas joias. Insatisfeitas
com a liberdade que gozam, disputam o direito de voto e com este o direito de representação (...)
Galopeamos nesta marcha para o aniquilamento moral de nossa raça, para a efeminação do caráter
másculo de nossa juventude, para o ignominioso e abdiminavel hermafroditismo social. E chama isso de
evolução! (ERA NOVA, 1921, p. 15)

O registro presente na documentação da Arquidiocese da Paraíba evidencia que o casamento do casal

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Santa Rosa foi em julho de 1906. Ao analisar o referido documento, é possível verificar/comprovar
algumas informações pertinentes à origem de Santa Rosa. Com 19 anos de idade, Thomaz Mauricio Santa
Rosa oficializa (no civil) seu casamento com Maria Alexina das Neves Pereira, que, aos 22 anos, era um
pouco mais velha e já contava com a maioridade jurídica. Também é possível averiguar nesse registro a
ramificação de parentesco de suas avós, sendo elas, respectivamente: Maria Marcionilla Martinho e
Felismina Batista Freire. Assim,
(...) aos trinta dias do mês de Julho de mil novecentos e seis, décimo sétimo ano festivo da proclamação
da República dos Estados Unidos do Brasil, nesta cidade da Parahyba do Norte, capital do Estado do
mesmo nome (...) Thomaz Mauricio Santa Rosa e Dona Maria Alexina das Neves Pereira que neste ato
queiram casar-se. Thomaz Mauricio Santa Rosa, solteiro, com dezenove anos de idade, natural e
residente nesta capital, filho natural de Maria Marcionilla Martinho, residente nesta cidade. Dona Maria
Alexina das Neves Pereira, solteira, com vinte e dois anos de idade, também natural e residente nesta
capital, filha ilegítima de D. Felismina Batista Freire (...).
[5: TESTAMENTO de casamento dos pais de Santa Rosa. Disponível em: https://www.familysearch.org
/ark:/61903/3:1:S3HY-61X9-. Acesso em: 25 fev. 2023.]
Tomas Santa Rosa morador da Rua do Barão de Passagem (atual Rua da Areia), nº 320, testemunhou a
implementação de dispositivos estruturais, tais como iluminação, água encanada e esgotamento.
Enquanto morador da cidade baixa, Santa Rosa foi testemunha ocular das edificações que ganhavam,
naquele momento, construções de sobrados de dois andares, feituras quase exclusivamente da área
comercial da cidade no centro da cidade. Assim, essa nova elaboração de estrutura da cidade criava um
aglomerado que com o tempo foi se transformando na urbe paraibana, dividido entre as regiões ?alta? e
?baixa? ?[...] onde o comerciante podia juntar o armazém, a família, e os caixeiros, respectivamente, no
andar térreo primeiro e segundo andares (...)? (BATISTA, 1951, p. 17). Em suma, como assinala Wylnna
Vidal
(...) da primeira metade dos anos 1910, quando foram implantados os primeiros serviços urbanos
modernos (abastecimento d'água, energia elétrica e bondes), até 1940, podemos observar o trinômio
[embelezar, sanear e circular] presente no discurso do poder público justiçando as ações; presente nas
reivindicações de melhoria e embelezamento urbano da elite local; presente no discurso favorável às
transformações e presente também no discurso que se mostraram às mudanças (VIDAL, 2004, p. 45)
As ruas do centro da cidade funcionavam como artérias de chegada do moderno. Eram consideradas
como uma espécie de ?termômetro? social e econômico do início do século XX. Em especial a Maciel
Pinheiro que, nesse contexto, se tornava uma das principais esteiras do comércio da Paraíba, na qual as
transformações culturais ?pintavam? as vitrines com suas cores e tessituras, e por onde certamente
Tomaz Maurício Santa Rosa trabalhava e construía apreço social gerado por sua vida profissional, cuja
função em confeccionar o vestuário de membros da elite paraibana o levaria a costurar certa rede de
sociabilidade.
A ambiência em que residia a família Santa Rosa era de extrema importância comercial, pois recebia de
cidades do interior como Itabaiana e Campina Grande carregamentos de uma mercadoria que nutriu a
opulência de parte dos produtores paraibanos: o algodão ? um gênero de grande relevância para a
economia paraibana e principal produto da década de 1920. De certo modo, o acúmulo de capital de
alguns comerciantes advindos do interior para morar na zona urbana da capital, e que logo iriam construir
suas residências na parte da ?cidade alta?, mantendo seus comércios na parte baixa da foi o apogeu do
algodão no final do século XIX, devido ao cenário do mercado internacional. Com efeito, trata-se de um
elemento preponderante para a modernização da cidade, uma vez que, como aponta Galliza (1993, p. 45),

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durante o período compreendido entre 1900 e 1929 o algodão e a pecuária foram não apenas
fundamentais, mas principais produtos da economia paraibana. Tal evidência reverberava nas mudanças
administrativas da cidade.
A iniciativa do poder público em modernizar a cidade gerou mudanças não apenas em seus edifícios, mas
também no campo administrativo, uma vez que o aparato burocrático paraibano teve que ser ampliado.
Vale lembrar que, apenas em 1916, é que a Paraíba inaugurava seu primeiro banco (uma filial do Banco
do Brasil no estado), ? então, o capital mercantil do estado era majoritariamente manipulado por
empresários estrangeiros. Assim, atividades aduaneiras de exportação algodoeira essenciais à economia
local ficavam sob a égide de firmas estrangeiras, a exemplo da francesa Cahan Fréres & Cia (fundada em
1864), que, contando com filiais em Guarabira e Mamanguape, monopolizava o comércio externo da
Paraíba (GALLIZA, 1993).
Entretanto, as modificações advindas do profícuo momento econômico em que passava o espaço natalício
de Santa Rosa não impediu o avanço das mazelas advindas da falta de saneamento básico. A
precariedade do saneamento básico, certamente, colaborou com o triste capítulo na história da família da
Santa Rosa, que passaremos a comunicar.
Além de superar a morte de três filhos homens, a família Santa Rosa passou por outras dificuldades,
sobretudo Maria Alexina (mãe), uma vez que ela teve que prosseguir com a criação do único filho homem
sobrevivente (Santa Rosa) e suas duas irmãs, sozinha, já que seu pai, Tomaz Mauricio ?(...) abandonara a
família para tentar a sorte ao centro-norte do país, só retornando para revê-los nos últimos anos de sua
vida (...)?, falecendo em 1953, três anos antes do filho (BARSANTE, 1982, p. 7). Possivelmente, a
?aventura? iniciada pelo senhor Tomaz, teve um aspecto potencializador ? à época, o sonho de muitos era
saborear um promissor enriquecimento através da extração da borracha. Desse modo, muitos nordestinos
partiram para as trilhas das florestas, se inserindo na produção da borracha.
[6: A esse respeito, Caio Prado Jr. (2004, p. 199) observa: ?(...) a borracha, que graças aos automóveis e
seus pneumáticos estará destinada a um futuro magnífico, e que na nativa do vale amazônico daria
momentaneamente ao Brasil o monopólio de uma mercadoria de grande consumo internacional?.
Entretanto, o surto do ciclo da borracha acabaria se encerrando, à medida que produtores dos países da
Ásia menor passaram a cultivar seringueiras, agradando com preços baixos os principais compradores (os
estadunidenses). O final do primeiro surto da borracha foi em meados de 1920, chegando ao seu declínio
, de fato, já na década de 1950, por conta dos derivados do petróleo.]
O triste capítulo na história da família de Santa Rosa foi agravado pela precariedade do saneamento
básico, o que atuou nos consecutivos falecimentos de seus três irmãos. A partir da imprensa local,
inclusive, é possível perceber na atmosfera epidêmica, a tônica conjuntural de preocupações com
enfermidades, ? no tempo do nascimento dos irmãos de Santa Rosa (1907-1908) manifestavam-se, tanto
pelo ?bater dos sinos? das igrejas (que anunciam mais momentos fúnebres), quanto pelos informes da
imprensa local, que a descreve da seguinte maneira: ?(...) já temos diante de nós a triste perspectiva de
um quadro semelhante às 56 dos anos de 1905 a 1907, quando a Parahyba foi dolorosamente flagelada
por essas pestes (...)? (COLUNA..., 1913, p. 1). O fato é que, sem um serviço de distribuição de água
encanada, a cidade pouco se apresentava enquanto um espaço moderno. Conforma Araújo (2001) e
Chagas (2004) havia um volumoso debate político acerca da qualidade da água, médicos e engenheiros
travavam um embate cientifico para sanar a proliferação de doenças. Porém, a mobilização discursiva não
efetivava as condições insalubres. Vale salientar que apenas em 1914 a cidade natalícia de Santa Rosa
será contemplada com serviço de água encanada e que o abastecimento era realizado pelos aguadeiros.
Em 16 de outubro de 1908, um ano após casal Santa Rosa formaliza matrimônio, é evidenciada a morte

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do que seria primeiro irmão de Santa Rosa ?(...) Anjo ? finou-se antehontem, o pequeno Moacyr Santa
Rosa, filho do senhor Thomaz Mauricio Santa Rosa. Seu enterro effectuou-se hontem pelas 4 horas.
Pêsames aos seus desolados genitores (...)? (ANJO, 1908, p. 2). Ou seja, ao que se indica, um dos
primogênitos faleceu de forma prematura, sem chegar a completar dois anos de idade em vida. É na
ambiência dos problemas sanitários que nasce outro irmão de Santa Rosa, Pelópidas, registrado no dia 28
de junho de 1908 também falecendo de forma prematura. Conformidade com Barsante (1982, p. 7),
nenhum de seus falecidos irmãos alcançou (em vida) a infância.
[7: CERTIDÃO de óbito. Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-X38SJHH?i
=64&cc=2015754. Acesso em: 30 set. 2022.]
A questão da distribuição de água na cidade é um capítulo digno de novela livresca. As polêmicas acerca
da qualidade da água causaram estardalhaço no nicho político paraibano: farpas entre correligionários
locais, com os aliados protagonizando o conflito, cuja saída foi convidar especialistas externos para pôr fim
nas querelas. Por esse nasceu em 29 de setembro de 1909, Santa Rosa, o único filho homem de Maria
Alexina e Thomaz Mauricio a sobreviver ao nefasto ambiente. Consta na documentação da Arquidiocese
da Paraíba o seguinte registro:
Aos vinte e sete de março de mil novecentos e dez na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Neves de
minha licença, Reverendo Padre Mathias Freire batizou solenemente a Thomaz, nascido aos vinte de
setembro do ano próximo passado [1909], Tomaz Santa Rosa; filho de Thomaz Mauricio de Santa Roza e
Dona Maria Alexina de Santa Roza (sic!). Foram seus padrinhos Thomaz Ferreira Soares e sua mulher
Dona Amélia Ferreira Soares. E para constar mandei lavrar o presente termo que assino.
[8: Fonte: Arquivo Eclesiástico ? Arquidiocese da Paraíba ? Livro 13, nº 1876-1878.]
Os primeiros passos de sua vida escolar foram dados na Quinta Cadeira Mista da Paraíba; posteriormente
, buscou admissão no Grupo Escolar Tomás Mindelo, por meio do qual ingressou no conceituado Lyceu
Paraibano onde estudou até 1927. Este ficava próximo à Escola Normal, instituição responsável pela
formação das moças paraibanas. Santa Rosa fez aulas de piano com a professora Alice Pereira quando
ainda era garoto. Todavia, é sabido que a sua dedicação autodidata o levou a aprender outro idioma, o
mais exigido em seu tempo, o francês. Sua formação cultural e a aproximação de sua mãe da Paróquia
local foram decisivas para que ele participasse de aulas de canto, atividades realizadas na Igreja Matriz de
Nossa Senhora das Neves, da qual, decerto, sua mãe fazia parte.
Na igreja constatou-se uma potencial habilidade vocal, e ele passou a participar do Te Deum dos alunos
do Sacro-colégio do Arcebispado. O garoto, Santa Rosa, ainda arranjava tempo para apreciar as aulas do
seu professor de música Grazzi Galvão de Sá (natural da Cidade da Parahyba). Vale salientar que Santa
almejou se torna um músico profissional. Apostando em sua qualidade musical de barítono, naquele
período seguiu buscando participar de concursos de novos talentos, até que, certa feita, um conhecido,
Murilo de Carvalho (que era profissional de canto), o orienta a deixar a ideia de lado (BARSANTE, 1982).
Anos depois, sua carreira profissional se inicia no funcionalismo público imerso no setor de contabilidade
da administração local.
Sua trajetória na carreira do funcionalismo público se deu em meio a consolidação do regime republicano.
Era o tempo do segundo mandato do governado Solon Barbosa de Lucena (1920-1924) quando Santa
Rosa recebeu o convite que iria influenciar os rumos da vida do garoto de apenas 14 anos de idade. Na
ocasião, o convite foi feito pelo então engenheiro-chefe da Secção de Saneamento do Estado da Paraíba,
Lourenço Baeta Neves, em conjunto com o secretário-geral de Estado Álvaro de Carvalho (BARSANTE,
1982, p. 9). Logo, a partir de 1923 Santa Rosa passaria a trabalhar no setor da contabilidade oficial do
governo ? naquele ano o prédio do Palácio do Governo funcionava nas proximidades de sua casa. Desse

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modo, a citada contratação para o setor de contabilidade do Tesouro Estadual da Parahyba do Norte foi
realizada por indicação de homens da política local.
Figura 02 ? Tomás Santa Rosa aos 18 anos de idade

Fonte: BARSANTE, 1982.

Cabe ressaltar que o início de sua vida no funcionalismo público é de suma importância, pois por meio
desse vetor de compreensão de sua trajetória de vida é possível, também, descortinar sua rede de amigos
. É esse um assunto que requer atenção, afinal Santa Rosa não teve em sua origem uma opulência de
berço, como outros de seu convívio, mas logrou êxito quanto a apropriação de capital cultural e social.
A mencionada rede (e as relações de proximidade dela decorrentes) pode ter granjeado certo capital
social ao Sr. Tomaz, afinal homens da elite e da classe média paraibana recorriam ao comércio de
vestimentas para adquirir trajes apropriados para os oportunos momentos de socialização (casamentos,
bailes) pautados pela agenda de celebrações. Desta feita, agraciado por uma oferta de emprego, no setor
de contabilidade do Tesouro Estadual. Essa oferta pode ser especulada a partir da influência de seu
padrinho, Thomaz Ferreira Soares. Membro de uma tradicional família da cidade (os ?Ferreira Soares?),
casado com a Sra. Amélia Soares (carinhosamente chamada por parentes e pessoas próximas como Mãe
Lindoca), com quem teve um filho chamado Acácio (Sula), era funcionário/tesoureiro de carreira em um
banco, na Cidade da Parahyba.
Há ainda outra possibilidade que advém de sua rede (direta e indireta) de amigos ter proporcionado um
caminho confortável para a inserção em seu primeiro emprego, e por conseguinte mobilidade social.
Nesse sentido, há uma memória do tempo em que Santa Rosa trabalhou no Tesouro Estadual, produzida
pelo jornalista Luiz Pinto, com quem Santa Rosa não tinha amizade, mas mantinha relações de
proximidade pelo fato de trabalharem na mesma repartição pública, que ajudaria a endossar essa
suposição. De fato, o jovem Santa Rosa contou com uma importante rede de amigos no âmbito social que
correspondia à sua função no setor de contabilidade. Sendo assim, ao relembrar em tom nostálgico de sua
experiência no tempo em que Santa Rosa era morador e funcionário público, Pinto o descreve como
alguém de distinção, sobretudo por sua relação de amizade com membros da elite paraibana nos anos
1920 (a exemplo de Aloísio França e Luís França, os ?meninos do Tesouro?).
Conheci-o, já se vai muitos anos! Éramos tão jovens... O mundo uma incógnita, um poço de ilusões, um
marco de esperança. Seu apelido na época era Bonzinho. Íntimo de Aloísio França, de Luís França, os
meninos do Tesouro do Estado. Na vida da Paraíba trabalhamos todos no tesouro do Estado na minha
velha província, entre os paredões lendários do velho Convento de S. Bento, onde funcionava aquela
repartição estadual. (PINTO, 1956, p. 3).
Para uma melhor compreensão do Santa Rosa funcionário público do Tesouro Estadual, contudo, faz-se
necessário acionar um outro personagem. Em se tratando de sua rede de sociabilidade, outro possível

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apoiador de sua trajetória profissional, Ademar Victor de Menezes Vidal, oriundo de família da elite
paraibana. Vidal ocupou diversos cargos na esfera jurídica da República, chegando a atuar como
procurador durante o governo de Solón Barbosa de Lucena (1920-1924) e como secretário de Interior e
Justiça e Segurança no governo de João Pessoa (1928-1930). Ao que as fontes indicam, ele mantinha
uma relação de apadrinhamento com o jovem Santa Rosa (VIDAL, 1956).
Morador da Cidade da Parahyba, e, oriundo de uma família da elite (atuante no ramo jornalístico), Vidal
detinha capital (político e social) suficiente para influenciar na política burocrática que determinava o
preenchimento de vagas de emprego. Com efeito, ao assumir a pasta de Secretário do Interior e
Segurança (1928), no breve governo de João Pessoa Cavalcanti (1928-1930), Vidal pôde amparar o
noviço funcionário público com imediata promoção na função dos serviços no Tesouro Estadual.
Cabe mencionar que, ao esquadrinhar a documentação pertencente ao Arquivo Estadual do Governo do
Estado da Paraíba, identificamos, no setor de contabilidade da Companhia de Água, uma lista de
pagamento dos vencimentos dos empregados nas Obras Públicas (Saneamento e Indústria Pastoril).
Tomás Santa Rosa Jr. foi lotado no departamento de Saneamento Básico do Estado, e se encontrava na
função de contador e arrematava mensalmente 300$000 (trezentos mil réis). Em uma nota-homenagem
intitulada ?O autodidata?,publicada no jornal O Norte, Vidal menciona ter agido politicamente em benefício
de Santa Rosa, o que teria resultado em sua mobilidade social:
[O] Paraibano da rua Direita [em verdade rua do Barão de Passagem], atual Rua da Areia], era lá onde me
habituei a vê-lo com os desenhos que mostrava, trabalhando no serviço público do Estado e, anos depois
, ocasionalmente me encontrando com o poder nas mãos sua situação fora melhorada como funcionário
do Abastecimento de Água. (VIDAL, 1956, p. 2).
É importante salientar que, anos depois, livros escritos por Ademar Vidal que versam sobre cultura popular
e nordeste foram ilustrados pelo artista Santa Rosa, a exemplo do livro Lendas e Superstições: contos
populares, (1950. Já o funcionário público e contador do Tesouro almejava ir, no início da década de 1930
à capital do país, Rio de Janeiro. Sua vida parecia estar dividida entre a carreira do funcionalismo público
e as oportunidades do mundo das artes.
Santa Rosa esteve inserido numa conjuntura econômica marcada pelo surto da industrialização, por
medidas de modernização e pela expansão das instituições artísticas, que ele acompanhava através de
revistas e jornais que comprava ou pegava de empréstimo de seu ?amigo de sempre? José Simeão Leal.
Era com Simão que Santa Rosa trocava missivas frequentemente. A comunicação feita a partir das cartas
permite a ampliação das possibilidades de pesquisa para um campo de maior interpretação sobre a
trajetória de Santa Rosa, a linha entre suas subjetividades e seus anseios mais íntimos geram uma
profícua gleba de análise. Para Gontijo, do ponto de vista metodológico, há no ?pensar carta? uma
chancela de compreensão do pensamento individual ou de um determinado grupo. De tal modo, que o
[...] estudo da correspondência de escritores e intelectuais ajuda a compreender os meandros da
construção de uma obra e/ou da elaboração de projetos, revelando ações e intenções e deixando entrever
a especificidade dos procedimentos cognitivos e argumentativos. Também permite observar as relações
entre os indivíduos, fornecendo indícios de suas experiências como atores sociais. (GONTIJO, 2008, p.
55).
Desta feita, passemos a entender a quanto notória foi a influência de Simeão Leal no que diz respeito ao
empreendimento que objetivou contribuir a mobilidade social de Santa Rosa. Um assunto presento foi o
concurso para o Banco do Brasil. É explícita a intenção de Santa Rosa: ?um pedido?. Ele solicitou ao
amigo que intervenha em sua nomeação, para que fosse enviado à matriz do Banco do Brasil, localizada
na capital do país, o itinerário perseguido por Santa Rosa.

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Foi aí que passou a vislumbrar uma gama social que pudesse ser proveitosa quanto a sua aprovação, já
que, para ele, o modus operandi da cultura política existente em seu tempo obedecia aos critérios políticos
da nomeação, e não do mérito. Assim, Santa Rosa se inclinou na busca de intermediários/ ?pistolões?, e
aciona sua rede de sociabilidade para promover empreendimento tático à sua aprovação:
(...) [Bem] sei que este concurso, como todas as cousas actuaes, não se processa, naturalmente, na razão
directa dos valores demonstrados, mas sob os auspícios dos pistolões e de todas as recomendações
assignados pelos fazedores da política e já que é preciso ser assim; já que somos forçados a fazer assim:
? sejamos e façamos com a situação nos obriga (...) E é sobre isto que venho pedir de sua amizade, um
grandíssimo favor (...) É possível que ahi entre toda essa novidade do seu convívio haja alguém que no
momento actual te possa servir como um intermediário para o meu interesse de ser nomeado... Alguém
cuja família representa no momento, algo de realmente prestigiado que seja um factor, no cenário
ambiente, de relevo e de força irradiante (...). (SANTA ROSA, 1931, p. 2).
Sua ambição em sair da cidade da Parahyba tornou-se ainda mais notória quando ele, deixando de lado
qualquer formalidade, passou a clamar de maneira mais direta:
(...) Acrescento, meu amigo, que o local pouco me dá! ei-me fora do interesse ir a tal ou qual lugar.
Entretanto como é natural, prefiro as agências do sul. É caso interessante, o que menos desejo é ficar aqui
. Não há por acaso parahybanos do seu conhecimento na Matriz do Banco do Brasil? (SANTA ROSA,
1931, p. 3).
Para alcançar o objetivo, Santa Rosa, elaborou estratégia que, dando certo, seria o seu passaporte para
alcançar seu obstinado destino, assim como o impulsionar para outros ares, para além da pacata Cidade
da Parahyba, que passou a chamar pela alcunha de ?exílio?. Santa Rosa pretendia sair de sua atmosfera
natal e partir em busca de uma ambiência profícua de profundas mudanças.
[9: É o que aponta Miceli (2001, p. 77), para quem: [as] décadas de 1920, 1930, 1940 assinalam as
transformações decisivas no planos econômicos (crise do setor agrícola voltado para exportação,
aceleração dos processos de industrialização voltados para a urbanização, crescente intervenção do
Estado em setores-chaves da economia etc.), social (consolidação da classe operária e da fração de
empresários industriais, expansão das profissões de nível superior, de técnicos especializados e de
pessoal administrativo nos setores público e privados etc.), político (revoltas militares, declínio político das
oligarquias agrária, abertura de novas organizações partidárias, expansão dos aparelhos do Estado etc.) e
cultural (criação de novos cursos superiores, expansão da rede de instituições culturais públicas, surto
editorial etc.).]
Ele visava ser inserido na carreira pública no Banco do Brasil e alcançar estabilidade, a possibilidade de
vivenciar um contexto propício para desenvolver o seu projeto de uma vida artística. Parecia que tudo
daria certo: assegurar seu lugar no serviço público e vivenciar os principais corredores do mundo artístico.
Ledo engano. O que parecia motivo para comemoração se tornou um imbróglio trágico, uma vez que sua
tática não alcançou o sucesso necessário e, ao invés de ir ao Rio de Janeiro, foi enviado para uma
agência em Recife.
A fim de alcançar seu objetivo, Santa Rosa acionou, ao mesmo tempo, Simeão Leal e outro influente
amigo ? o gaúcho Moziul Moreira Lima, tenente do Exército. Nos anos 1950 é possível identificá-lo como
membro conselheiro da Associação de Ex-combatentes do Distrito Federal (Rio de Janeiro), já com a
insígnia de major. Com isso, a estratégia de Santa Rosa foi gerar duas forças de influência para efetivar
sua meta de ser nomeado como funcionário do Banco do Brasil no Rio de Janeiro. Mas, novamente não
obteve êxito, e foi transferido apenas para Maceió, Alagoas. Todavia, por lá não abandonou a sua
obstinada dedicação em ?fazer-se artista.

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Na atmosfera cultural de Maceió, Santa Rosa compartilhou trabalhos, se aproximou de outros jovens
artistas, e vivenciou espaços de sociabilidade: participando de salões, exposições, e contribuindo com
seus feitos artísticos (gravuras e poesias) em jornais e revistas locais. Naquele ambiente de difusão da
cultura unia-se a uma plêiade de intelectuais. Entre eles, José Auto da Cruz Oliveira, o poeta ? Zé auto?,
com escritores modernistas, a exemplo de Raquel de Queiroz e Graciliano Ramos ? este já tinha sido
prefeito de Palmeira dos Índios. Em 1932 Ramos já havia sido nomeado diretor da Secretária da Imprensa
Oficial, e utilizava de sua influência para realizar encontros em seu gabinete. Outro importante espaço de
sociabilidade de Maceió em que ocorriam os encontros, era no boêmio Bar Central. Em setembro de 1956,
o Correio da Manhã publica, na coluna Escritores informações sobre o grupo, diz:

?Reunidos em torno do escritor, no seu gabinete na Imprensa, ou no ?Ponto Central? os rapazes ficavam
em conversas e discussões literárias que se prolongavam horas a fio?. Além de médicos e professores
pertenciam aquele ciclo ?alguns escritores e artistas de outros estados, como José Lins do Rego, Raquel
de Queiroz e Santa Rosa? (ESCRITORES..., 1956, p. 10).

O pintor Santa Rosa realizou uma exposição de sua arte modernista na capital alagoana. É o jornalista
Manoel Diógenes Junior, que recorda quando no Instituto Histórico de Alagoas, em 1932, o crítico e
jornalista, Valdemar Cavalcanti

(...) apresentou Santa Rosa numa palestra em que estudava sua arte dentro do modernismo brasileiro. E
assinala-se eu esta noite de modernismo, em que se tocou Debussy e se cantou Blue, onde se
apresentavam os trabalhos modernos de Santa Rosa, se realizou nos austeros salões do venerando
Instituto Histórico de Alagoas (JUNIOR DIOGENES, 1956, p.03).

O que as fontes mostram é que ele Santa Rosa, abandonou o emprego no Banco quando se mudou para
o Rio de Janeiro. Sua trajetória é marcada por uma decisão que modificou sua vivência e assustou amigos
/as, quando decidiu abandonar o emprego no Banco do Brasil para consolidar seu sonho. Segundo, a
escritora Rachel de Queiroz:
[Santa Rosa] pediu transferência para o Rio, mas recusaram a transferência. Ele então abandonou o
emprego e se tocou para cá, entregando-se deliberadamente às dificuldades, quase à miséria, do artista
que tenta abrir caminho na cidade grande. Passou o diabo, passou fome, todo mundo o considerava louco
por abandonar um emprego excelente por amor de um sonho, ou como lhe dizia um amigo, ?uma vocação
abstrata?. Santa explicava pacientemente: ?Mas eu sou pintor". (QUEIROZ, 1961, p. 8).

Na cidade carioca, se inseriu no mundo editorial ? uma decisão tomada que, sem saber, o tornaria um
artista que logrou êxito como pintor, crítico de arte, cenógrafo, professor e profissional do âmbito gráfico
entre seus pares, como discutiremos no próximo tópico.

O multifacetado artista
Santa Rosa foi um artista multifacetado, característica comum de sua geração, atuando em diversos
âmbitos da arte de maneira concomitante. Acompanhar sua vivência no mundo da pintura, cenografia e

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artes gráficas é um convite para o mundo artístico cultural do início do século XX. O esquadrinhamento de
parte de sua trajetória é perpassado por ideias do movimento modernista à brasileira, que prevaleceu
hegemônico, sobretudo, entre as décadas de 1930 e 1950.
A partir de 1933, após abandonar o emprego na agência alagoana do Banco do Brasil em Maceió e viajar
à então capital do país, Santa Rosa adentrou in loco no microclima intelectual carioca. Sua carreira
artística teve início enquanto responsável por projetos visuais em editoras, jornais e revistas ilustradas.
Aproveitando o boom de vendas ocasionadas pelos gêneros literários (ficção, romantismo), se viu em meio
à demanda por mão de obra especializada. O trabalho inicial nas editoras Ariel, Schmidt e José Olympio
foi profícuo. O cenário de ofertas de emprego era, de maneira geral, atraente.
[10: Conforme explica Miceli (2001, p. 148), ?[o] surto editorial da década de 1930 é marcado pelo
estabelecimento de inúmeras editoras, por fusões e outros processos de incorporação que ocorrem no
mercado editorial e, ainda, por um conjunto significativo de transformações que acabaram afetando a
própria definição do trabalho intelectual: aquisição de rotativas para impressão, diversificação dos
investimentos e programas editoriais, recrutamento de especialistas para os diferentes encargos de
produção e acabamento, inovações mercadológicas nas estratégias de vendas ? implantação do serviço
de reembolso postal, contratação de representantes e viajantes etc. ?, mudanças na feição gráfica dos
livros, com o intento de ajustar o acabamento das edições às diferentes camadas do público, e, sobretudo
, empenho das principais editoras em verticalizar o processo produtivo e diversificar suas atividades?.]
Ao chegar à capital do país, Santa Rosa já era pintor e desenhista. Com essas habilidades buscou nas
editoras um meio de vida. No seu tempo, editoras investiram na visualidade dos livros para atrair cada vez
mais o público leitor ávido em consumir o bem cultural da modernidade: o livro ilustrado. Neste momento,
trabalhou inicialmente nas editoras Ariel e Schmidt, mas foram as duas décadas dedicadas as feituras
gráficas pela editora José Olímpio que o consagrou. Seus feitos artísticos expressavam outra estética aos
livros que circulavam pelas principais livrarias da cidade, ou nas exposições das capas de livros que,
acomodadas nas vitrines, exibiam imagens assinadas por Santa Rosa. Estas tinham por objetivo o
aumento das vendas, e funcionavam enquanto rede de entrelaçamento de sua sociabilidade. Assim,
discorre Bueno:
Tendo [Santa Rosa] participado, desde os tempos de Maceió, da vida intelectual brasileira, seu trabalho de
criador de capas era também uma forma de participação direta na vida cultural e literária de seu tempo,
além de representar uma modalidade de cooperação criativa com os confrades escritores. Vida
profissional e camaradagem. No caso da literatura brasileira, mas não só ler os livros para desenhar-lhes
uma capa era mais que uma tarefa feita por obrigação. (BUENO, 2015, p. 63).
Santa Rosa conquistou, ao longo de duas décadas de trabalho no mundo das artes gráficas, lugar de
destaque como artista gráfico modernista, ?(...) sendo responsável quase sozinho pela transformação
estética do livro brasileiro nos anos de 1930-1940 (...)? (HALLEWELL, 2017, p. 512). Quase todas as
editoras neste período têm sua assinatura, o que reforça o nível de importância do artista afro-brasileiro.
Conforme aponta Bueno (2015), a produção de Santa Rosa se de especialmente na editora José Olímpio,
onde construiu um prodigioso acervo de imagens para as capas de livros. É enorme sua relevância e seu
protagonismo na história das artes visuais do país, afinal:
(...) quem quiser contar a história da evolução das artes visuais no Brasil do século XX não pode escapar
ao nome de Santa Rosa (...) é preciso reconhecer que Santa Rosa fez esse trabalho como mais ninguém.
Se nem todas as ações oficiais que propôs se concretizaram, seu trabalho contínuo por mais de vinte anos
deixou exposta em parte uma visualidade que não pode ser colocada noutro lugar que não o da arte
moderna. (BUENO, 2015, p. 22).

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Santa Rosa é reconhecido pela inovação no metiê das artes gráficas, e talvez por isso seja mencionado
como ?pai do livro moderno? (HALLEWELL, 2017). O afro-brasileiro entrou para a história das artes
visuais tanto por conta de seu desempenho singular no desenvolvimento do ofício, quanto pela assídua
defesa intelectual sobre a profissionalização do metiê. De acordo com Laurence Hallewell, praticamente,
todas as obras que formam a geração romancista de 1930 com suas imagens-síntese, ainda menciona
que
?Os livros com o sinete editorial da José Olympio logo começaram a destacarse da insípida mediocridade
dos concorrentes, pois o editor, desde o início, dedicou cuidadosa atenção ao projeto gráfico. Seu
colaborador nessa área, mais uma vez, foi um nordestino, Tomás Santa Rosa, que trabalhara
anteriormente em diagramação e em desenhos de capa para a Schmidt (...) [deste modo] ele tem sido
considerado o maior produtor gráfico de livros do Brasil, responsável, quase sozinho, pela transformação
estética do livro brasileiro nos anos de 1930-1940 produtor gráfico de livros do Brasil, responsável quase
que sozinho pelas transformações estéticas do livro brasileiro nos anos de 1930-1940?. (HALLEWELL,
2017, p. 512).
O reconhecimento maior de Santa Rosa no âmbito das artes gráficas veio quando ele foi convidado a criar
e coordenar um pioneiro projeto escolar que contribuísse diretamente com a formação de artistas no
âmbito das artes gráficas. Em março de 1946 sua ambição de difundir a profissionalização do ofício
através de um conhecimento sistematizado sobre o âmbito foi consolidada. Certamente, sua atuação o
consagrava como principal peça de montagem e coordenação do Curso de Artes Gráficas, realizado pela
Fundação Getúlio Vargas, na cidade do Rio de Janeiro:
Em 1946, a Fundação Getúlio Vargas doava ao nosso meio artístico um atelier de gravura, o qual tive a
honra de dirigir. Com a colaboração do Carlos Osvald e Leskoscheck, efetuou-se um trabalho de
desbravamento cujos resultados em oito meses teremos a oportunidade de expor ao público ainda este
mês. É admirável a ágil e curiosa inteligência dos jovens alunos, aprendendo e experimentando com
eficiência rapidez, técnicas como as da gravura, complexas e variadas (SANTA ROSA, 1947, p. 10).
Nesse sentido, acompanhando a leitura quanto à repercussão do Curso feita pela crítica de arte, podemos
avaliar até que ponto a iniciativa coordenada por Santa Rosa foi benéfica ao fazer-se do metiê. A cargo da
coordenação do primeiro curso de artes gráficas do país, Santa Rosa difundiu suas proposituras e
diretrizes quanto à formação de novos profissionais. Tendo ele ainda desempenhado a função de
professor. Assim, foi possível avaliar como o artista/professor articulou seu conhecimento no âmbito.
Sobre a repercussão do curso, Santa Rosa , pondera que a consequência maior é a de estabelecer uma
positiva relação de novos artistas/profissionais, assim, ?(...) com paginadores de nova visão, as editoras
com ilustrações possuidoras de todas as técnicas, e as agências de publicidade em ?layoutmans? e
cartazistas?. Investir nos campos de artes gráficas que se voltam para comunicação em massa (FALA...,
1946, p. 8). Vale salientar que sua preocupação em fortalecer o mercado interno, ?(...) fazer ressurgir
essas técnicas da obscuridade em questão, e trazer ao meio brasileiro uma contribuição objetiva, digna de
consideração? (FALA..., 1946, p. 8).
No período aqui abordado, especialmente entre a década de 1930 e a de 1950, embates que revelam
divergências sobre a arte e a cultura, trazendo à tona caminhos para compreensão da cultura artística de
um tempo. É possível evidenciar questões fulcrais à atmosfera artística, entre elas a qualificação técnica, a
influência ideológica e a função social do artista no metiê.
No plano individual, Santa Rosa não detinha prerrogativas institucionais oficialmente registradas por
instituições de renome, sua formação na pintura se deu a partir da mentoria de Cândido Portinari, somada
ao seu autodidatismo; assim como nas artes gráficas teve que lidar com o desconforto de não possuir

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comprovação institucional.
Já o perfil estético do pintor Santa Rosa pode ser evidenciado em suas inúmeras obras. São diversos
cenários como: festas, vida cotidiana, reminiscências de sua infância, celebrações religiosas, pescadores,
trabalhadores, samba. Em relação à representação de mulheres, é interessante perceber que,
diferentemente do projeto visual da década de 1930, Santa Rosa investiu em adereços africanistas, como
turbantes e vestidos longos de cores fortes. A escolha em representar a estética negra através de lenços,
vestidos e indumentárias foi a maneira de criar suas imagens-síntese. Assim é também possível
evidenciar suas memórias da Cidade da Parahyba.

Imagem 03 ? Festa, (óleo sobre tela) 80 x 63 cm, Santa Rosa, 1950

Fonte: BARSANTE, 1993

Os embates quanto às modificações no âmbito da arte atravessam a conjuntura cultural do primeiro


quinquênio do século XX. Tanto é que a tessitura pictórica de Santa Rosa, assim como a de outros/as
artistas modernistas, foi alvo de protestos em algumas exposições pelo país. Um bom exemplo ocorreu na
Semana de Arte Moderna de Belo Horizonte de 1944, quando as realizações modernistas não agradaram
parte do público geral. A pintura moderna ficou marcada por uma investida em tom de manifesto, contra a
realização da Semana de Arte Moderna Belorizontina. Trata-se de um atentado às telas e esculturas
registrado pela imprensa local e revistas de arte.
No ensaio ?Fígaro barbeia o modernismo?, do crítico de arte Henrique Pongetti, é possível compreender
cenas surpreendentes. Pongetti conta sobre um homem desconhecido que saiu distribuindo coléricas
navalhadas em formato de cruzes nas telas dos quadros que compunham a exposição. O advento revela,
entre outras questões, querelas de pulso ideológico circunscritas à atmosfera artística do tempo de Santa
Rosa.
Figura 04 ? As Três Idades da Vida (óleo sobre tela) 90 x 76 cm, Santa Rosa (obra danificada)

Fonte: BARSANTE, 1993.

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O pintor modernista premiado com medalha de prata na mais importante exposição do país, o Salão
Nacional de Arte (1941) defendia ferrenhamente a concepção do modernismo nacional, ou seja, a ideia
que embora o modernismo brasileiro sofresse influência do arte europeia já havia idiossincrasias artísticas
locais que caracterizavam o modernismo nacional. Santa Rosa foi júri de expoentes exposições nacionais,
a exemplo da Bienal de São Paulo em 1951 e 1953; e no Salão Nacional na seção de Arte Moderna. Vale
salientar que o Salão Nacional era um importante espaço na história da pintura e da intelectualidade
artística no país, que protagonizou exposições marcantes, que deteve por função institucional a anuência
de reconhecer um quadro enquanto obra de arte, é o Salão Nacional. Conforme explica Luz, o Salão:
[11: O debate historiográfico acerca do modernismo e nacionalismo é de longa data, aqui, daremos
atenção especial à temporalidade que marca o fazer-se do multiartista Santa Rosa, ou seja, a atmosfera
artística cultural (entre 1930 e 1950) na qual o intelectual-multiartista Santa Rosa experimentou no mundo
da arte, de seu tempo, sentidos do modernismo. Como outros intelectuais, encarou a vida artística
enquanto aquilo que Gomes (2004, p. 82) determinou por ?[...] doublé de teórico da cultura e de produtor
de arte, inaugurando novas formas de expressão e refletindo sobre as funções e desdobramentos sociais
que tais formas guardariam?. Em relação ao nacional, ou seja, a criação do referido constructo ideológico
de unidade nacional desempenhada pelo Estado Novo buscou, segundo Gomes (2007), agir em benefício
da recuperação de um passado colonial, harmônico e glorioso. Por seu turno, Oliveira (2013) enveredou a
compreender o nacionalismo identificando o aparecimento, no início do século XX, de movimentos
artísticos nacionais que corroboram com a evocação do nacional, a exemplo do Manifesto Pau-Brasil
(1924) e do Manifesto antropofágico (1924), em cujo contexto a modernização de dispositivos de
comunicação (tais como rádio, indústria editorial e cinema) foi imprescindível para a difusão de símbolos e
sentidos de nacionalismos.]
(...) propiciava a oportunidade para todo e qualquer artista, independente da situação econômica que
tivesse, poder se aperfeiçoar nos principais centros de produção artística na Europa. A cada ano, a
emulação entre os concorrentes 173 ajudava o despertar de novos valores para a arte brasileira. Como as
obras premiadas ficavam para a coleção da Academia, depois Escola Nacional de Belas Artes, e que, em
1937, no governo de Getúlio Vargas, deu origem ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes, temos,
ainda, a grande contribuição dos Salões para a formação e ampliação desse acervo notável de nosso
museu. (LUZ, 2006, p. 60).
Ou seja, ao participar do Salão, o artista pavimentava sua trajetória rumo à consagração. A expectativa do
reconhecimento dos pares significava não apenas uma condecoração, mas também a possibilidade de
ascensão social, uma vez que se almejava abocanhar a premiação concedida pela Escola Nacional de
Belas Artes. As bolsas de estudos eram concedidas com intuito de ampliar o conhecimento em viagens
pelo Brasil (prêmio nacional) ou à Europa (prêmio internacional). Santa Rosa não se beneficiou de viagens
internacionais através do prêmio do Salão, foi através de sua conquista em outro âmbito da arte, o teatro.
A trajetória de Santa Rosa no teatro foi propiciada por inúmeras participações enquanto cenógrafo em
diversas companhias, entre elas ?Os comediantes? e a ?Companhia Dramática Nacional''. Além disso, ele
ocupou os seguintes cargos: diretor do Museu de Arte Moderna (1948), coordenador do ateliê de
decoração do Teatro da Escola Nacional (1950) e diretor do Conservatório Nacional de Teatro. Em 1952,
fez sua primeira viagem à Europa representando o Brasil na Reunião dos Artistas em Veneza, conferência
organizada pela Unesco. Nesse período, ele circulou pela Itália, Espanha, Inglaterra e França por quase
dois meses. Em 1955, passou a dirigir o Conservatório Nacional de Teatro. Em 1956, ano que marca sua
morte, foi nomeado professor de cenografia na Escola Nacional de Belas Artes da Universidade do Brasil.

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Entre seus maiores anseios estava a criação de uma escola de Teatro, Teatro para Crianças e o Teatro
de Negros. A sua relação com o Teatro Experimental do Negro foi efetiva, tanto na produção de cenários
como em incisivas defesas em jornais da época. Para o TEN, Santa Rosa realizou a cenografia para o
Recital Castro Alves, dirigido por Abdias Nascimento, no Teatro Fênix, no Rio de Janeiro. Ele foi
responsável, também, pelo cenário da peça Terras do sem-fim, espetáculo adaptado da obra do baiano
Jorge Amado, por Graça Mello. Já em 1948, assinou a produção visual dos figurinos e cenários da peça A
Família e a Festa na Roça, dirigida por Dulcina de Moraes. Já em 1949, o intelectual negro das artes
visuais realizou a feitoria de Filhos de Santo, obra escrita por José Morais de Pinheiro, com direção de
Abdias Nascimento. E Calígula, texto escrito pelo filósofo argelino Albert Camus, que por falta de recursos
não conseguiu ser exibida mais de uma vez, contou com a cenografia e arte figurinista de Santa Rosa,
sendo a direção de Abdias Nascimento.
Santa Rosa promoveu assertivas defesas a favor da consolidação do teatro para negros. No dia 25 de
agosto de 1946 no jornal Diário Trabalhista, é possível evidenciar em ?PROBLEMAS e aspirações do
negro brasileiro: o Teatro Experimental do Negro e a cultura do povo?, a denúncia sobre interrupções nos
ensaios do grupo, que ocorriam no teatro Fênix, do referido grupo.
Niuxa Dias Drago (2014), em A cenografia de Santa Rosa ? espaço e modernidade, apresenta sua
notoriedade em sua trajetória no Teatro que passa a influenciar o âmbito do teatro nacional, considerando
que ele foi um dos precursores da perspectiva modernista e da arte-social na atmosfera do teatro. O ofício
da arte cenográfica coincide com mudanças significativas ocorridas nesta área, considerando sua
condição de inovador da perspectiva moderna ? pode-se dizer que a grande modificação trazida por Santa
Rosa é propiciada por meio de novas funções para elementos como luz, arquitetura de palco e adereços.
Com isso, Santa Rosa ? ao empreender uma transformação da perspectiva (que passaria de dual para
tridimensional) ? acabaria se tornando responsável por transformar a arte cenográfica no teatro nacional
na primeira metade do século XX, fazendo com que esta deixasse de ser um simples elemento decorativo
e passasse a se impor como um conteúdo específico da arte teatral. Note-se que a primeira versão da
peça Vestido de Noiva (1943), de autoria de seu amigo e escritor Nelson Rodrigues e direção do imigrante
polonês (evadido dos conflitos da Segunda Guerra Mundial) Zbigniew Marian Ziembinski, é o marco que
divide a cenografia brasileira.
Figura 04 ? Cenário da peça Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues, 1943

Fonte: BARSANTE, 1982.

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A melodia da vida e o ritmo de pinceladas entrelaçadas em suas formas, linhas e cores, condensadas em
quadros, murais e capas de livros ilustram feitorias de um artista, mas também, o olhar de um homem em
seu tempo para a cenografia são vestígios de uma trajetória de vida, vivida pelo sujeito histórico Santa
Rosa.

Considerações Finais
Como visto, o espaço geracional de Santa Rosa foi analisado como possibilidade para compreender a sua
experiência em meio a repercussão do ideal moderno e as transformações/modernização dos dispositivos
essenciais para a vida na urbe (luz, água, transporte). A vida na Cidade da Parahyba, vivida por pouco
mais de duas décadas, levou Santa Rosa a elaborar suas impressões sobre o meio social, cultural, político
e arquitetônico que o rodeava.
A sua a vida familiar do pequeno ?Bosinho? não foi fácil. Afinal, a conjuntura epidêmica na infância
resultou na perda de três irmãos. Santa Rosa tornou-se o único filho homem de Alexina e Thomaz Santa
Rosa. As postulações ensejadas buscaram explicar a maneira pela qual o jovem Santa Rosa foi
beneficiário de uma boa formação educacional, e de como chegou a cargos no funcionalismo público da
cidade. Uma vez funcionário público do Tesouro Estadual, se beneficiou de uma rede de sociabilidade que
fora iniciada bem antes, com a escolha de seu padrinho, medida salutar a sua trajetória no âmbito do
trabalho.
Também buscamos compreender a trajetória de vida de Santa Rosa a partir de sua experiência vivida em
espaços de sociabilidade que circulou. Assim, procuramos apresentar os primeiros passos do artista
gráfico, professor, pintor e crítico, revelando expedientes de seu protagonismo enquanto um artista afro-
brasileiro multifacetado. No Teatro, o cenógrafo Santa Rosa difundiu referências ideológicas e
contribuições técnicas para a cenografia, a maneira com a qual utilizou elementos que projetam aspectos
em formas e conteúdo da cultura afro-brasileira e africana na feitura cênica do teatro nacional junto ao
Teatro Experimental do Negro.
Nosso intuito foi colaborar com os estudos afro-pedagógicos concernentes às trajetórias de vidas de
homens letrados no pós-abolição. A investigação histórica se alimenta de perguntas que são ensejadas a
cada novo olhar sobre o mesmo documento/testemunho, e estas vêm à luz a partir do tempo presente.
Alguns apontamentos chegam enquanto bússola que norteia novas navegações da pesquisa. O mar das
emancipações, do pós-abolição está propicio para longas e profundas navegações em que o fato histórico
da abolição da escravidão em 1888 é a égide para novas conexões do passado-presente.

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SANTA ROSA, Tomás. [Correspondência]. Destinatário: José Simeão Leal. João Pessoa, 25 fev. 1931. 2
carta.
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carta.
SANTA ROSA, [Tomás]. Sobre a arte da Ilustração - Suplemento Letras e Artes. A Manhã, Rio de Janeiro,
12 jan 1947, p. 12. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=114774&pasta
=ano%20194&pesq=sant a%20rosa&pagfis=364. Acesso em: 14 jan. 2021.

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SANTOS, Milton. Por uma geografia nova: da crítica da geografia a uma geografia crítica. São Paulo:
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Tradução de Dora Rocha. 2. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003.
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VIDAL, Wylnna Carlos Lima. Transformações urbanas: a modernização da capital paraibana e o desenho
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VIDAL, Ademar. O Autodidata. O Norte, João Pessoa, p. 2, 13 dez

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Arquivo 2: https://www.lifehack.org/articles/communication/daily-quote-when-begin-understand-
ourselves.html (688 termos)
Termos comuns: 0
Similaridade: 0,00%
O texto abaixo é o conteúdo do documento 368.docx (11651 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://www.lifehack.org/articles/communication/daily-quote-when-begin-understand-ourselves.html (688
termos)

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ESCRITA ? DA ? HISTÓRIA
Uma experiência afro-brasileira no mundo das Artes: vida, pensamento e sociabilidade de Tomás Santa
Rosa (1909-1956)
Tomás Santa Rosa (1909-1956) uma experiência afro-brasileira no mundo das Artes...
Thiago Brandão da Silva
[1: Este artigo é originado da dissertação de mestrado ?Fragmentos de uma história de vida, o afro-
paraibano Tomás Santa Rosa Jr. (1909-1956): entre vivências, intelectualidades, ditos e feitos artísticos,
defendida em 2021, no Programa de Pós-Graduação em História.* Mestre em História pela Universidade
Federal da Paraíba. Professor da Educação básica. Membro/colaborador do Núcleo de Estudos Afro-
brasileiros e Indígenas (NEABI/UFPB).]
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com

Resumo
Trata-se de refletir sobre a vida do multifacetado artista negro modernista que atuou na construção cultural
e artística do país em diferentes âmbitos, Tomás Santa Rosa. A pesquisa se insere na gleba da escrita
sobre intelectualidades negras no pós-abolição. Metodologicamente, leva-se em consideração a dinâmica
social vista sob a égide da microanálise, o que amplia a compreensão dos caminhos, escolhas, decisões,
que formam o campo (ou uma sucessão) de sentidos que tangencia(m) uma trajetória de vida. Considera-
se o descortinar do cenário geracional de sua trajetória de vida enquanto possibilidade para compreender
suas dimensões sociais: a família, o emprego, amigos e estratégias de mobilidade social, além da feição
discursiva do ideal de moderno e das transformações metamórficas do espaço vivido e do debate
intelectual a partir da História Social da Cultura. Busca-se comtemplar a participação de um sujeito
histórico negro no mundo das artes enquanto referência e possibilidade de estudo para estudos afro-
pedagógicos e a agenda de historiadores/as sobre trajetórias e sociabilidades de homens e mulheres
negros no pós-abolição.

Palavras-chaves: Tomás Santa Rosa; Cidade da Parahyba; Sociabilidade; Pós-Abolição; Modernismo.

Abstract

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It is about reflecting on the life of the multifaceted modernist black artist who acted in the cultural and
artistic construction of the country in different areas, Tomás Santa Rosa. The research is part of the field of
writing about black intellectuals in the post-abolition period. Methodologically, the social dynamics seen
under the aegis of microanalysis are taken into account, which broadens the understanding of the paths,
choices, decisions, which form the field (or a succession) of meanings that touch (m) a life trajectory. It is
considered the unveiling of the generational scenario of his life trajectory as a possibility to understand its
social dimensions: family, employment, friends and social mobility strategies, in addition to the discursive
feature of the modern ideal and the metamorphic transformations of the lived space and of the intellectual
debate from the Social History of Culture. It seeks to contemplate the participation of a black historical
subject in the world of the arts as a reference and possibility of study for Afro-pedagogical studies and the
agenda of historians on trajectories and sociability of black men and women in the post-abolition period.

Keywords: Thomas Santa Rosa; City of Parahyba; Sociability; Post-Abolition; Modernism.

Numa tarde de domingo típica do verão carioca, em 16 de dezembro de 1956, algo acontecia nas
proximidades do Teatro Municipal do Rio de Janeiro - localizado na Avenida Rio Branco, antiga Avenida
Central. Quem naquela tarde trafegasse por aquela avenida veria um amontoado de pessoas nas
escadarias do monumental edifício e, tão logo, perceberia um cenário fúnebre. Ao se aproximar,
provavelmente, escutaria no diapasão de conversas íntimas frases cortadas do tipo: ?ele não gostava dos
papéis do banco?, ?era um pintor modernista?, ?ele foi pra Europa duas vezes?, ?estive com ele no Norte
?, ?detestava andar de bonde; sempre preferiu o táxi?; ou, ainda, algumas especulações acerca de sua
origem étnica ? ?um mulato?, ?nossa raça? etc... Enfim, peças do quebra-cabeça de uma investigação
histórica. É que os mortos geralmente deixam vestígios e os vivos lançam-se às memórias, ambos
elementos essenciais ao trabalho do historiador. Mas, como é realizada uma pesquisa sobre a vida de
alguém? Responderemos, de acordo com Vavy Pacheco Borges (2011), para quem o ?intermédio das
?vozes? [chega] do passado a partir de fragmentos de uma existência e dos registros das fontes
documentais? (BORGES, 2012, p. 2011. É desta feita que iremos esquadrinhar uma trajetória vivida, uma
existência vivida na alvorada republicana, no cenário pós-abolição da escravidão.
O objetivo da presente pesquisa é investigar fragmentos de uma trajetória de vida, vivida pelo
multifacetado artista paraibano Tomás Santa Rosa Jr, o ?Santa? ou simplesmente Santa Rosa. Nascido
em 20 de setembro de 1909, na Cidade da Parahyba, (atualmente nomeada João Pessoa), capital do
estado da Paraíba. Santa Rosa faleceu em; 26 de novembro de 1956. Na ocasião, estava ele ao leste da
Índia numa viagem oficial do governo brasileiro para a Conferência Geral da Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura ? evento promovido pela UNESCO, em Bombaim (Índia), no
qual, ele, Santa Rosa ocupava cadeira como representante do Diretório Nacional de Teatro. Quando
estava no Hotel no momento de descanso em Nova Délhi, cidade vizinha, e se preparava para seguir
viagem pela Europa, o destino pregou-lhe uma ?peça?.
Após sentir fortes dores abdominais (aos 47 anos de idade) foi encaminhado de ambulância ao Hospital
Wellington, percorreu alguns poucos quilômetros e ficou em observação. Já no outro dia recebeu visitas e,
quando tudo parecia ter sido apenas um susto, acabou surpreendendo os amigos/as durante a madrugada
, momento em que seu quadro clínico piorou e o levou a óbito ? provavelmente por um comprometimento
do sistema cardiovascular decorrente de complicações renais.
Até a chegada de seu corpo de lá (Índia) para cá (Brasil) são contabilizados dezoito melancólicos dias que
, em síntese, podem ser explicados por conta dos trâmites burocráticos e pelo fator cultural, uma vez que

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no país de maioria hinduísta permeia a cremação dos restos mortais, e não dispunha de reserva e
logística do transporte de seus restos mortais para outros país. No aeroporto do Rio de Janeiro,
aguardavam por ele suas irmãs Heliomar Santa Rosa e Crisantina Santa Rosa Iwata. Santa Rosa foi
casado no civil com Maria da Gloria Monteiro (1935), numa celebração simples no apartamento de seu
amigo e mentor (renomado das artes plásticas) Cândido Portinari. Em 1942 se casaria novamente, agora
no religioso, com Nely Guimarães. Porém, foi com Oscarina Amorim que teve seu único filho, Luiz Carlos,
que também o esperava junto às tias. Além disso, no aeroporto também aguardavam por ele o ex-senador
Ivo d?Aquino, o escritor Marques Rebelo e o teatrólogo Joracy Camargo (CHEGARAM... 1956, p. 01).
É importante apontar que no ano de seu falecimento foi possível averiguar dezenas de homenagens
escritas à guisa de lembranças em jornais da época. Estas são, para a presente pesquisa, caminhos para
uma melhor compreensão de sua rede sociabilidade, do microclima intelectual, político e cultural de seu
tempo, de seu vínculo afetivo, profissional com dezenas de outros criadores e mediadores da cultura que
formam ?[...] as elites culturais, mesmo quando entidades autônomas, em posição de extraterritorialidade
ligadas à sociedade que os rodeia e são precisamente esses laços, especialmente políticos, que lhes
conferem uma identidade? (SIRINELLI, 1998, p. 259).
Figura 01 ? Saída do cortejo fúnebre de Santa Rosa

Dito isto, a partir de uma série delas (re) conheceremos o homem do seu tempo, o intelectual das artes, o
artista, o funcionário público, o ?Santa?, o ?Santa Rosa?. Afinal, ainda a esse respeito, Ricoeur (2007)
ressalta que a lembrança inaugura um novo ângulo da representação histórica, ?(...) uma imagem
presente de uma coisa ausente? (...) (RICOEUR, 2007, p. 199) ? constituindo-se, dessa forma, como uma
maneira de entender o passado por meio das mensagens póstumas de sua rede de amigos.
Em reclames por conta de um encontro que não aconteceu, o escritor e jornalista brasileiro João Condé
rememora o momento de sua partida para a Índia ?(...) no dia de seu embarque, estive com ele [Santa
Rosa], Alcântara Silveira e Simeão Leal, no City Bank (...) todo eufórico, trocava cruzeiros por dólares. E
no abraço de despedida perguntou-me o que desejava que trouxesse? (CONDÉ, 1956, p. 12). As
lembranças, de maneira verossímil, ajudam a compor uma série de apontamentos, caminhos e
postulações acerca da trajetória de vida de Santa Rosa.
Desta feita, passaremos a refletir acerca da trajetória de vida do multifacetado artista modernista, Santa
Rosa. Assim, pretende-se compreender fragmentos de sua trajetória vivida no espaço-tempo de sua
ambiência geracional; identificar como formou e se beneficiou de uma rede de sociabilidade composta por
uma renomada plêiade de intelectuais e reconhecer seu protagonismo no cenário artístico-cultural de seu
tempo. Metodologicamente, considera-se a dinâmica social vista sob a égide da microanálise, ou seja, o
grau de singularidade quando aproximamos a lente que analisa os processos históricos.

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Assim, a pesquisa adota a perspectiva teórica da história social cultura e arrola sob a égide teórica-
metodológica da política das elites culturais, da comunicação social das redes sociabilidade, da realização
cultural de feitos artísticos (SIRINELLE, 1998; 2003). A trajetória de vida do multifacetado artista, Santa
Rosa, é por aqui compreendido levando em consideração as premissas, do geografo Milton Santos, em
que o espaço é o elo de junção, na medida em que liga-se os ?(...) fatores à genes, ao funcionamento e à
evolução do espaço (...)?, ou seja, ?o espaço pode ser definido de maneira tripartida: primeiro, como um
fator social (determina as condições sociais); segundo, como um fato social (produto e produtor); terceiro,
como uma instância social, pois é um ?(...) revelador que permite ser decifrado por aqueles mesmos a
quem revela (...)? (SANTOS, 2004, p. 163). Desta forma, a pesquisa se fundamenta a partir da tríade
objeto-tempo-espaço (REVEL 1998; BOURDIEU, 2006; SANTOS, 2004).
O corpus documental analisado é formado por uma série de escritos de amigos e de sua autoria
publicados em jornais, revistas e suplementos literários, especialmente, acessados a partir da Hemeroteca
Digital da Biblioteca Nacional (BNDigital). Conforme defende Luca (2011), a partir da utilização do jornal é
possível captar a nova vida citadina do século XX. Afinal, são os periódicos que registram as modificações
da urbanização, modernização dos espaços, e se encaixam no mesmo fluxo de outros dispositivos que
surgem na modernidade.
Nesse sentido, comunicaremos a pesquisa seguindo o seguinte enredo. No primeiro momento trataremos
interpretar Santa Rosa a partir de recordações de seus amigos (as) que compuseram sua rede de
sociabilidade. Em um segundo momento, iremos compreender sua trajetória em seu cenário geracional,
assim, leva-se em consideração: família, espaço e sociabilidades de Santa Rosa. No terceiro e último
momento vamos apresentar parte da experiência do artista multifacetado.
Aos vivos: (re) apresentação de Santa Rosa

Para Paul Ricouer (2007, p. 199) as lembranças encontradas em mensagens-póstumas (ou seja,
homenagens escritas após o falecimento do indivíduo encontrada no formato de crônicas) evocam um
presente ou uma presença, ?[...] buscam na operação de recordar que se conclui com a experiência do
reconhecimento, [pois] a lembrança é representação, re(a)presentação?. Em vista disso, iremos
apresentar a maneira com a qual Santa Rosa é (re) apresentado por alguns amigos que compõem sua
rede de sociabilidade. Não sem antes advertir a (a) leitor (a) sobre as idiossincrasias da atmosfera política
da década de 1930 em que havia um embate político ferrenho entre movimentos comunistas, fascistas e,
também que falavam da temática do negro. E isso de uma maneira que aumentava substancialmente as
disputas ideológicas que o governo varguista conduziu com destreza política.
[2: Santa Rosa fez parte de uma plêiade de intelectuais que estava a serviço do governo varguista, sob a
liderança do ministro Capanema. A esse respeito, Miceli (2001, p. 195) evidencia a maneira pela qual o
período correspondente ao mandato de Capanema (1934-1945) foi marcado pela cooptação dos
intelectuais, seja ?(...) como funcionários em tempo parcial, seja para desempenho de cargos de confiança
junto ao estado-maior do estamento, seja para preencherem os lugares que se abriam por forças das
novas carreiras que a extensão da ingerência passou a exigir, seja enfim acoplando inúmeras dessas
posições e auferindo rendimentos dobrados.?. Por outro lado, Fábio S. Cardoso (2019), biógrafo do
ministro Gustavo Capanema, endossado pela atuação de Graciliano Ramos e Carlos Drummond de
Andrade (dois declarados comunistas) no ministério, sugere (numa recente publicação) que havia, sim,
flexibilidade ideológica na ?constelação Capanema".]
No tempo de Santa Rosa, contendas ideológicas se fizeram presente. Houve pelo menos um fato em que
Santa Rosa se envolveu diretamente. Trata-se de sua prisão na época em que trabalhava numa editora.

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Quem narra o ocorrido é o escritor José Lins do Rego que diz:


Vi-o um dia sair preso da Livraria José Olímpio, num sábado de carnaval, que era a sua festa preferida. Vi-
o no meio dos esbirros num carro de Polícia. Lembro-me de seu olhar triste, a única vez que aquela
fisionomia prazenteira se fechava em angústia. Eram as saudades do carnaval perdido. Santa não
demorou entre as grades. José Olímpio bateu em todas as portas para libertá-lo. (REGO, 1956, p. 4).
É bem verdade que não sabemos os reais argumentos que levaram à prisão de Santa Rosa, embora
postule-se sua ligação, assim como a de outros intelectuais, com clubes, agremiações artísticas ligadas à
Aliança Nacional - célula maior da arquitetura do projeto comunista. Santa Rosa foi cofundador do Clube
de Cultura Moderna, fundado no dia 28 de novembro de 1934. Sua presença e a de outros artistas
modernos, como o amigo Aníbal Machado, evidenciava, portanto, a postura política dos artistas.
Na ambiência intelectual de seu tempo participava da rede de sociabilidade pessoal de Santa Rosa
artistas e escritores que já detinham prestígio, a exemplo, do escritor baiano Jorge Amado. Em seu livro
autobiográfico, Amado comenta sobre uma viagem a São Paulo ao encontro do artista modernista, pintor e
cenógrafo Flávio Carvalho (1899-1973) na companhia de Santa Rosa em 1933 em que é possível
evidenciar o microclima intelectual do momento, diz Amado (1992):
Eu o conheci quando fui a São Paulo pela primeira vez, em 1933, em companhia de Santa Rosa.
Hospedando-nos em casa de Tarsila do Amaral* e Osório César, na ocasião marido e mulher ? haviam
recém-chegado de Moscou, ir à URSS naquele então era aventura cercada de dificuldades, viagem de
espantos ? realizavam uma exposição de cartazes soviéticos, insólitos e românticos, no Clube de Artistas
Modernos, organismo criado e dirigido por Flávio de Carvalho, na época o centro de cultura mais sério do
Brasil, o que colocava a proposta mais avançada. Ali pronunciei conferência sobre as crianças nas
plantações de cacau, autografei o livro ilustrado por Santa Rosa, assisti ao Bailado do Deus morto, de
Flávio, que espetáculo!, logo proibido pela polícia política. A censura não dava tréguas ao CAM (...).
(AMADO, 1992, p. 202).
Santa Rosa participou junto com outros intelectuais de seu tempo, como Aníbal Machado, Jorge Amado,
José Lins do Rego entre outros, do CAM - Clube de Arte Moderna. Entre outras atribuições, destaca-se
sua coordenação da comissão da exposição para escolha do melhor tema sobre Palmares a partir do
ponto de vista do modernismo, em 1935 . Também fez parte da direção da Revista Movimento, que
ancorava reportagens e editoriais feitos pelos integrantes do CAM.
O Clube passou a aderir oficialmente, em setembro de 1935, a Aliança Nacional Libertadora (ANL) uma
organização de âmbito nacional que promovia ideias comunistas para combater a difusão do pensamento
fascista disseminado pela Ação Integralista Brasileira (AIB). Naquela década, de modo geral, havia um
estreito corredor de escolhas para partidários e intelectuais, prevalecendo ambos os movimentos. Neste
cenário, em que ?(...) fundiram-se a libertação do academismo, dos recalques históricos, do oficialismo
literário; as tendências de educação política e reforma social; o ardor de conhecer o país" (MELO E
SOUSA, 2000, p. 114) as capilaridades ideológicas do âmbito artístico sofreram efetivas mudanças.
Na adesão à ANL falou-se sobre a importância da Cultura para o povo, para as massas, para os
trabalhadores do país. Um momento de pulsante denúncia contra os integralistas e os regimes de
opressão (Nazismo e Facismo) e aclamação para união em prol de um programa de Cultural modernista
(uma contraposição a erudição exclusiva do academicismo) para o povo. Subiram ao palanque para
discutir acerca do tema ?Cultura e Liberdade?: Edgard Sussekind de Mendonça, Febus Gikovate Miguel
Costa Filho, Luiz Werneck de Castro, Carneiro Ayrosa, José Lins do Rego. Demetrio Hamam, Jorge
Amado, Annibal Machado, Cordeiro de Melo.
(...) todos pronunciando-se contra os regimes de força, contra o Facismo, contra o integralismo, em prol da

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mais completa liberdade (...) O Sr. Febus aludiu ao programa da Aliança Nacional Libertadora, mostrando
que em face do pronunciamento da assembleia que aplaudiram os oradores e sendo aquele movimento de
frente única o único que no momento pode libertar o Brasil, submetia a debate e votação dos presentes e
decisão do Clube de Arte Moder de aderir à Aliança Nacional Libertadora. Uma salva de palmas saudou as
últimas palavras, ficando assim aprovada unanimemente aquela decisão do Club. Em seguida, a
comissão do Club de Cultura, acompanhado de grande número de sócios, dirigiu-se à sede da ANL. Esta,
reunida em sessão, sob a presidência do comandante Cascardo ouviu a decisão, e em nome do diretório
da ANL falou sr. Amoretty Osório que agradeceu a atitude do Club de Cultura Moderna. (O QUE...1935, p.
5).
Já nas lembranças do amigo Sérgio Porto, jornalista do Diário Carioca ficou registrado o cenário de
criação do personagem cabotino Stanislaw Ponte Preta. Sobre isso, Porto conta que Santa Rosa junto
com ele idealizou o personagem. A esse detalhe vale salientar que interessou a Santa Rosa o espaço de
charges em jornais. Diariamente, representações artísticas da atmosfera política se projetam por meio de
formas extravagantes nos jornais. Conforme diz Santa Rosa, a ?[...] [política], com os seus artifícios e as
suas peras perversões, tem-lhe fornecido um material copioso, em que se tem exercitado a irônica e
sarcástica verve dos artistas [...]? (SANTA ROSA, 1947, p. 12). Porto também foi quem buscou explicar a
desapropriada pontualidade que o amigo costumeiramente exercitava. Ficou conhecido no meio
profissional por entregar encomendas fora do prazo. Para ele, a culpa de procrastinar as encomendas
advinha de sua impulsividade em querer conferir as novidades do mundo da arte, pois costumeiramente
deixava
(...) de fazer um quadro para ir comprar o último disco de Armstrong, ou para ver o desfile de uma escola
de samba. Deixava pelo meio da tela para ir assistir uma peça mambembe, onde um intérprete
coadjuvante surgia como esperança de bom ator. Perdia horas numa livraria folheando livros de arte (...).
(PONTE PRETA, 1956, p. 11).
A trajetória de vida do sujeito histórico negro, letrado, migrante, que participou ativamente da produção
cultural do país, especialmente, entre as décadas de 1930-1950, evidencia um cenário político, cultural e
artístico, um capítulo da história republicana no período do pós-abolição. Desta feita, essa pesquisa
acompanha uma série de estudos historiográficos do pós-abolição em que homens e mulheres negros-(as
) letrados-(as) são evidenciados atuando como protagonistas em instituições, espaços de sociabilidade e
poder; desempenhando variados ofícios, sobretudo no primeiro quinquênio do século XX.
A produção de estudos da população negra relacionados ao período posterior à abolição da escravidão se
diversifica e; o que outrora eram lacunas se tornam caminhos a serem percorridos, a exemplo da utilização
de fontes primárias tais como: registros de batismo; certidões de casamento, de óbito; uso da genealogia;
jornais; literatura; entrevistas orais com remanescentes quilombolas; acervos pessoais e privados
(MATTOS; RIOS, 2004). Ou seja, a pesquisa histórica que se ocupa em compreender a dinâmica das
trajetórias de vida de homens e mulheres negros (as) no pós-abolição ampliou a dimensão espaço-tempo
e, com isso, acabou, através de novas perguntas descortinando as ?(...) conexões transnacionais da
história intelectual e da história das ideias que sempre estiveram relacionadas com as perspectivas ligadas
ao pós-emancipação e os debates sobre racismo, direitos humanos e cidadania? (DOMINGUES; GOMES
, 2011, p. 10).
Em Experiências da emancipação: biografias, instituições e movimentos sociais no pós-abolição (1890-
1980), Domingues e Gomes (2011) evidenciam uma gama de trabalhos que discorrem sobre o período do
pós-abolição, a partir de pesquisas sobre associações, convenções, congressos e instituições políticas,
militares negros, além do debate historiográfico sobre as trajetórias negras. Vale salientar, experiências no

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âmbito da arte, a exemplo, do ator pernambucano, pintor e poeta Solano Trindade (1908-1974) e sobre o
escritor e abolicionista baiano Manuel Quirino (1851-1923). No que concerne às mulheres negras também
foram representadas, destaca-se a trajetória da professora e deputada catarinense Antonieta de Barros
(1901-1952). Já em Quase Cidadão: histórias e antropologias da pós-abolição no Brasil (2007), de modo
geral, objetivo foi compreender ?[como], onde, em que condições homens e mulheres de cor dela
[múltiplas liberdades] usufruíram, transformaram-na em objeto de interpretação, contendas, ou mesmo
rejeitaram os significados a ela atribuídos pelo discurso jurídico? (CUNHA; GOMES, 2007, p. 14). Uma
leitura possível no debate historiográfico é sobre a cidadania da população negra no pós-abolição.
Ao analisarmos trajetórias negras no espaço-tempo em que esteve inserido Santa Rosa, ou seja, início do
século XX, na Cidade da Parahyba, podemos acompanhar pesquisas recentes que colaboram com o
entendimento do pós-abolição. Assim, a historicidade quanto aos afro-paraibanos no pós-abolição tem
sido tema de publicações que norteiam a presença de homens negros letrados na região setentrional do
país, especialmente. As recentes pesquisas que ampliam o olhar sobre experiências negras no pós-
abolição na Paraíba têm sido realizadas pelos pesquisadores Elio Flores (2015), Solange Rocha (2015),
Petrônio Domingues (2017) e Surya Barros (2020).
Nesse sentido, seguindo sob a esteira de pesquisas acerca de pessoas negras inscrevemos a presente
pesquisa na historiografia recente que tem evidenciado, figuras desse segmento populacional, com
atuação ativa na Primeira República ? período de reordenamento social, de reconfigurações das
hierarquias raciais e de disputas dos projetos de nação ?, também se destacaram na cena política e
cultural. Como exemplo, os baianos Manuel Querino e Alfredo Casemiro da Rocha; o maranhense,
Hemetério dos Santos; o pernambucano Monteiro Lopes; o gaúcho Aurélio Veríssimo de Bittencourt; o
mineiro Benjamim de Oliveira; os cariocas Evaristo de Moraes, Eduardo das Neves e Lima Barreto; entre
outros que debateram e disputaram os diferentes projetos de política, cultura e identidade nacional, e
foram reconhecidos em vida, mas aos poucos caíram na galeria do preterimento, do ostracismo, da
subestimação ou simplesmente jazem nos desvãos da memória após a morte (DOMINGUES; ROCHA;
FLORES, 2019, p. 145-146).
A cada passo dado novas questões chegam à lume e o olhar para a interpretação da ?nova abolição?
inverte o sentido do problema; ou seja, o fato histórico do fim da instituição escravista é, por conseguinte, o
fomento para o início de uma gama de problematizações que colaboram com a nitidez do que há de ser
visto por Clio. Em Vicente Gomes Jardim: um ?artista e autor ?de cor no final do século XIX e início do XX
, Surya Barros (2020) reflete, a partir da égide da história social da escravidão, a trajetória de um homem
negro livre, no período da transição do Império e a República. Em que se buscou a experiência de vida de
Vicente Jardim enquanto liderança da Sociedade de Artistas Mechanicos e Liberaes da Parahyba e
membro da Irmandade dos pardos.
Assim, o propósito, evidentemente, é acentuar o avanço face às limitações constituídas pelo silenciamento
de Clio sobre a participação protagonista da ?gente negra? na história do Brasil após a abolição de 1888.
Tal enfoque tem contribuído para ampliar a compreensão da historicidade do pós-abolição.
Portanto, compreender a trajetória de vida do sujeito histórico negro, Santa Rosa é também perceber as
tessituras sociocultural e políticas de seu tempo. Assim, comunico ao leitor (a) que passaremos a percebê-
lo em seu espaço geracional cujo objetivo é ter a possibilidade de entender suas ambições, decisões,
frustrações e objetivos. Além de, por outro lado, explicar a influência de sua rede de sociabilidade para
compreender fragmentos de uma história de vida em suas dimensões sociais: a família, o emprego,
amigos e estratégias de mobilidade social. Desta feita, caro leitor, passaremos a compreender o tempo de
Santa Rosa em sua cidade natalícia.As transformações que metamorfoseiam o cenário geracional de

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Santa Rosa são elementos imprescindíveis para compreendermos fragmentos de sua história de vida,
vivida em meio a conjuntura de modernização do espaço da Cidade da Parahyba no pós-abolição. O olhar
em seu presente-passado corrobora enquanto ?testemunha ocular? Burke (2004), das ?rugosidades?
Santos (1998) do espaço da cidade da Parahyba (1920-1930) acarretadas pela modernização de
dispositivos estruturais do serviço público.
[3: Assim também, é partindo do pressuposto de que, conforme aponta Milton Santos (2004, p. 146),
entendemos o espaço seja como ?um produto histórico?, consideram-se os fragmentos de uma trajetória
vivida em terras paraibanas. como elo de junção, na medida em que liga-se os ?(...) fatores à genes, ao
funcionamento e à evolução do espaço (...)?. ]

A Cidade da Parahyba no tempo de Tomás Santa Rosa Jr. (1909-1932): família, espaço e sociabilidade
A casa em que Maria Alexina Santa Rosa (mãe de Santa Rosa) residiria com seu filho Santa Rosa até
1932, era nas proximidades à comunidade católica da qual era assídua frequentadora ? a Igreja Matriz de
Nossa Senhora das Neves, a catedral da cidade. Seu pai, Tomás Mauricio Santa Rosa, artista, alfaiate de
profissão, por sua vez, manipulava a arte de ?vestir? pessoas ? em parte, assemelhando-se ao filho, que
?vestia? livros, sobretudo aquelas que detinham cabedal suficiente para adquirir um traje ?da moda?,
comumente utilizado para situações da vida social na cidade, como missas, bailes, casamentos, batizados
e cerimônias. Conforme Waldeci Chagas:
Os rapazolas se contentavam com as peças de brim em várias tonalidades. Do contrário, a casimira era
bem encomendada pelos alfaiates. As alfaiatarias e camisarias sempre estavam abarrotadas de
encomendas, principalmente se estavam próximas as festas da padroeira, Nossa Senhora das Neves, do
Natal e do Ano bom. Nessas épocas, era comum o rapaz encomendar o corte e costura de um novo
conjunto composto de paletó colete e calça (CHAGAS, 2004, p. 121).

No tempo de Santa Rosa, a moda é matéria prima para que personagens importantes do microclima
intelectual da década de 1920, na Cidade da Parahyba escrevessem a seu respeito, a exemplo do
historiador Horácio de Almeida quem, por seu turno, contesta, em tom de denúncia, a chegada da nova
(do moderno) maneira de ?vestir-se? ? para ele, a moda da/na década de 1920, quando posta na balança
da moralidade, seria um ônus negativo. Acusada, a moda passou a ser evocada como má influência para
toda uma geração (tanto para homens quanto para mulheres). Julgada por Almeida, a moda passou a
ocupar as linhas da Revista Era Nova, ao escrever o artigo O poder da moda, em 1921, por onde destila:
[4: [...] uma revista quinzenal ilustrada na década de 1920, produzida na Paraíba. A princípio foi fundada
na cidade de Bananeira/PB e logo depois seu núcleo foi transferido para capital da Parahyba do Norte. Se
manteve circulando de 1921 a 1926, quando, dela, se tem notícia pela última vez. Seu primeiro nº, do ano
I, data de 27 de março de 1921, sendo oficialmente apresentada por seu diretor Severino de Lucena e seu
redator-chefe Guimarães Sobrinho, com a proposta de inaugurar uma nova era nos círculos literários e
intelectuais paraibanos. (RODRIGUES, 2013, p. 3).]

[moçoilas] catilas e espevitadas desaforam-se de corpinhos e sobem vestidos e descem os decotes para
os pitaratas galanteadores analysem em seus contornos a perfeição artística de suas joias. Insatisfeitas
com a liberdade que gozam, disputam o direito de voto e com este o direito de representação (...)
Galopeamos nesta marcha para o aniquilamento moral de nossa raça, para a efeminação do caráter
másculo de nossa juventude, para o ignominioso e abdiminavel hermafroditismo social. E chama isso de
evolução! (ERA NOVA, 1921, p. 15)

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O registro presente na documentação da Arquidiocese da Paraíba evidencia que o casamento do casal


Santa Rosa foi em julho de 1906. Ao analisar o referido documento, é possível verificar/comprovar
algumas informações pertinentes à origem de Santa Rosa. Com 19 anos de idade, Thomaz Mauricio Santa
Rosa oficializa (no civil) seu casamento com Maria Alexina das Neves Pereira, que, aos 22 anos, era um
pouco mais velha e já contava com a maioridade jurídica. Também é possível averiguar nesse registro a
ramificação de parentesco de suas avós, sendo elas, respectivamente: Maria Marcionilla Martinho e
Felismina Batista Freire. Assim,
(...) aos trinta dias do mês de Julho de mil novecentos e seis, décimo sétimo ano festivo da proclamação
da República dos Estados Unidos do Brasil, nesta cidade da Parahyba do Norte, capital do Estado do
mesmo nome (...) Thomaz Mauricio Santa Rosa e Dona Maria Alexina das Neves Pereira que neste ato
queiram casar-se. Thomaz Mauricio Santa Rosa, solteiro, com dezenove anos de idade, natural e
residente nesta capital, filho natural de Maria Marcionilla Martinho, residente nesta cidade. Dona Maria
Alexina das Neves Pereira, solteira, com vinte e dois anos de idade, também natural e residente nesta
capital, filha ilegítima de D. Felismina Batista Freire (...).
[5: TESTAMENTO de casamento dos pais de Santa Rosa. Disponível em: https://www.familysearch.org
/ark:/61903/3:1:S3HY-61X9-. Acesso em: 25 fev. 2023.]
Tomas Santa Rosa morador da Rua do Barão de Passagem (atual Rua da Areia), nº 320, testemunhou a
implementação de dispositivos estruturais, tais como iluminação, água encanada e esgotamento.
Enquanto morador da cidade baixa, Santa Rosa foi testemunha ocular das edificações que ganhavam,
naquele momento, construções de sobrados de dois andares, feituras quase exclusivamente da área
comercial da cidade no centro da cidade. Assim, essa nova elaboração de estrutura da cidade criava um
aglomerado que com o tempo foi se transformando na urbe paraibana, dividido entre as regiões ?alta? e
?baixa? ?[...] onde o comerciante podia juntar o armazém, a família, e os caixeiros, respectivamente, no
andar térreo primeiro e segundo andares (...)? (BATISTA, 1951, p. 17). Em suma, como assinala Wylnna
Vidal
(...) da primeira metade dos anos 1910, quando foram implantados os primeiros serviços urbanos
modernos (abastecimento d'água, energia elétrica e bondes), até 1940, podemos observar o trinômio
[embelezar, sanear e circular] presente no discurso do poder público justiçando as ações; presente nas
reivindicações de melhoria e embelezamento urbano da elite local; presente no discurso favorável às
transformações e presente também no discurso que se mostraram às mudanças (VIDAL, 2004, p. 45)
As ruas do centro da cidade funcionavam como artérias de chegada do moderno. Eram consideradas
como uma espécie de ?termômetro? social e econômico do início do século XX. Em especial a Maciel
Pinheiro que, nesse contexto, se tornava uma das principais esteiras do comércio da Paraíba, na qual as
transformações culturais ?pintavam? as vitrines com suas cores e tessituras, e por onde certamente
Tomaz Maurício Santa Rosa trabalhava e construía apreço social gerado por sua vida profissional, cuja
função em confeccionar o vestuário de membros da elite paraibana o levaria a costurar certa rede de
sociabilidade.
A ambiência em que residia a família Santa Rosa era de extrema importância comercial, pois recebia de
cidades do interior como Itabaiana e Campina Grande carregamentos de uma mercadoria que nutriu a
opulência de parte dos produtores paraibanos: o algodão ? um gênero de grande relevância para a
economia paraibana e principal produto da década de 1920. De certo modo, o acúmulo de capital de
alguns comerciantes advindos do interior para morar na zona urbana da capital, e que logo iriam construir
suas residências na parte da ?cidade alta?, mantendo seus comércios na parte baixa da foi o apogeu do

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algodão no final do século XIX, devido ao cenário do mercado internacional. Com efeito, trata-se de um
elemento preponderante para a modernização da cidade, uma vez que, como aponta Galliza (1993, p. 45),
durante o período compreendido entre 1900 e 1929 o algodão e a pecuária foram não apenas
fundamentais, mas principais produtos da economia paraibana. Tal evidência reverberava nas mudanças
administrativas da cidade.
A iniciativa do poder público em modernizar a cidade gerou mudanças não apenas em seus edifícios, mas
também no campo administrativo, uma vez que o aparato burocrático paraibano teve que ser ampliado.
Vale lembrar que, apenas em 1916, é que a Paraíba inaugurava seu primeiro banco (uma filial do Banco
do Brasil no estado), ? então, o capital mercantil do estado era majoritariamente manipulado por
empresários estrangeiros. Assim, atividades aduaneiras de exportação algodoeira essenciais à economia
local ficavam sob a égide de firmas estrangeiras, a exemplo da francesa Cahan Fréres & Cia (fundada em
1864), que, contando com filiais em Guarabira e Mamanguape, monopolizava o comércio externo da
Paraíba (GALLIZA, 1993).
Entretanto, as modificações advindas do profícuo momento econômico em que passava o espaço natalício
de Santa Rosa não impediu o avanço das mazelas advindas da falta de saneamento básico. A
precariedade do saneamento básico, certamente, colaborou com o triste capítulo na história da família da
Santa Rosa, que passaremos a comunicar.
Além de superar a morte de três filhos homens, a família Santa Rosa passou por outras dificuldades,
sobretudo Maria Alexina (mãe), uma vez que ela teve que prosseguir com a criação do único filho homem
sobrevivente (Santa Rosa) e suas duas irmãs, sozinha, já que seu pai, Tomaz Mauricio ?(...) abandonara a
família para tentar a sorte ao centro-norte do país, só retornando para revê-los nos últimos anos de sua
vida (...)?, falecendo em 1953, três anos antes do filho (BARSANTE, 1982, p. 7). Possivelmente, a
?aventura? iniciada pelo senhor Tomaz, teve um aspecto potencializador ? à época, o sonho de muitos era
saborear um promissor enriquecimento através da extração da borracha. Desse modo, muitos nordestinos
partiram para as trilhas das florestas, se inserindo na produção da borracha.
[6: A esse respeito, Caio Prado Jr. (2004, p. 199) observa: ?(...) a borracha, que graças aos automóveis e
seus pneumáticos estará destinada a um futuro magnífico, e que na nativa do vale amazônico daria
momentaneamente ao Brasil o monopólio de uma mercadoria de grande consumo internacional?.
Entretanto, o surto do ciclo da borracha acabaria se encerrando, à medida que produtores dos países da
Ásia menor passaram a cultivar seringueiras, agradando com preços baixos os principais compradores (os
estadunidenses). O final do primeiro surto da borracha foi em meados de 1920, chegando ao seu declínio
, de fato, já na década de 1950, por conta dos derivados do petróleo.]
O triste capítulo na história da família de Santa Rosa foi agravado pela precariedade do saneamento
básico, o que atuou nos consecutivos falecimentos de seus três irmãos. A partir da imprensa local,
inclusive, é possível perceber na atmosfera epidêmica, a tônica conjuntural de preocupações com
enfermidades, ? no tempo do nascimento dos irmãos de Santa Rosa (1907-1908) manifestavam-se, tanto
pelo ?bater dos sinos? das igrejas (que anunciam mais momentos fúnebres), quanto pelos informes da
imprensa local, que a descreve da seguinte maneira: ?(...) já temos diante de nós a triste perspectiva de
um quadro semelhante às 56 dos anos de 1905 a 1907, quando a Parahyba foi dolorosamente flagelada
por essas pestes (...)? (COLUNA..., 1913, p. 1). O fato é que, sem um serviço de distribuição de água
encanada, a cidade pouco se apresentava enquanto um espaço moderno. Conforma Araújo (2001) e
Chagas (2004) havia um volumoso debate político acerca da qualidade da água, médicos e engenheiros
travavam um embate cientifico para sanar a proliferação de doenças. Porém, a mobilização discursiva não
efetivava as condições insalubres. Vale salientar que apenas em 1914 a cidade natalícia de Santa Rosa

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será contemplada com serviço de água encanada e que o abastecimento era realizado pelos aguadeiros.
Em 16 de outubro de 1908, um ano após casal Santa Rosa formaliza matrimônio, é evidenciada a morte
do que seria primeiro irmão de Santa Rosa ?(...) Anjo ? finou-se antehontem, o pequeno Moacyr Santa
Rosa, filho do senhor Thomaz Mauricio Santa Rosa. Seu enterro effectuou-se hontem pelas 4 horas.
Pêsames aos seus desolados genitores (...)? (ANJO, 1908, p. 2). Ou seja, ao que se indica, um dos
primogênitos faleceu de forma prematura, sem chegar a completar dois anos de idade em vida. É na
ambiência dos problemas sanitários que nasce outro irmão de Santa Rosa, Pelópidas, registrado no dia 28
de junho de 1908 também falecendo de forma prematura. Conformidade com Barsante (1982, p. 7),
nenhum de seus falecidos irmãos alcançou (em vida) a infância.
[7: CERTIDÃO de óbito. Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-X38SJHH?i
=64&cc=2015754. Acesso em: 30 set. 2022.]
A questão da distribuição de água na cidade é um capítulo digno de novela livresca. As polêmicas acerca
da qualidade da água causaram estardalhaço no nicho político paraibano: farpas entre correligionários
locais, com os aliados protagonizando o conflito, cuja saída foi convidar especialistas externos para pôr fim
nas querelas. Por esse nasceu em 29 de setembro de 1909, Santa Rosa, o único filho homem de Maria
Alexina e Thomaz Mauricio a sobreviver ao nefasto ambiente. Consta na documentação da Arquidiocese
da Paraíba o seguinte registro:
Aos vinte e sete de março de mil novecentos e dez na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Neves de
minha licença, Reverendo Padre Mathias Freire batizou solenemente a Thomaz, nascido aos vinte de
setembro do ano próximo passado [1909], Tomaz Santa Rosa; filho de Thomaz Mauricio de Santa Roza e
Dona Maria Alexina de Santa Roza (sic!). Foram seus padrinhos Thomaz Ferreira Soares e sua mulher
Dona Amélia Ferreira Soares. E para constar mandei lavrar o presente termo que assino.
[8: Fonte: Arquivo Eclesiástico ? Arquidiocese da Paraíba ? Livro 13, nº 1876-1878.]
Os primeiros passos de sua vida escolar foram dados na Quinta Cadeira Mista da Paraíba; posteriormente
, buscou admissão no Grupo Escolar Tomás Mindelo, por meio do qual ingressou no conceituado Lyceu
Paraibano onde estudou até 1927. Este ficava próximo à Escola Normal, instituição responsável pela
formação das moças paraibanas. Santa Rosa fez aulas de piano com a professora Alice Pereira quando
ainda era garoto. Todavia, é sabido que a sua dedicação autodidata o levou a aprender outro idioma, o
mais exigido em seu tempo, o francês. Sua formação cultural e a aproximação de sua mãe da Paróquia
local foram decisivas para que ele participasse de aulas de canto, atividades realizadas na Igreja Matriz de
Nossa Senhora das Neves, da qual, decerto, sua mãe fazia parte.
Na igreja constatou-se uma potencial habilidade vocal, e ele passou a participar do Te Deum dos alunos
do Sacro-colégio do Arcebispado. O garoto, Santa Rosa, ainda arranjava tempo para apreciar as aulas do
seu professor de música Grazzi Galvão de Sá (natural da Cidade da Parahyba). Vale salientar que Santa
almejou se torna um músico profissional. Apostando em sua qualidade musical de barítono, naquele
período seguiu buscando participar de concursos de novos talentos, até que, certa feita, um conhecido,
Murilo de Carvalho (que era profissional de canto), o orienta a deixar a ideia de lado (BARSANTE, 1982).
Anos depois, sua carreira profissional se inicia no funcionalismo público imerso no setor de contabilidade
da administração local.
Sua trajetória na carreira do funcionalismo público se deu em meio a consolidação do regime republicano.
Era o tempo do segundo mandato do governado Solon Barbosa de Lucena (1920-1924) quando Santa
Rosa recebeu o convite que iria influenciar os rumos da vida do garoto de apenas 14 anos de idade. Na
ocasião, o convite foi feito pelo então engenheiro-chefe da Secção de Saneamento do Estado da Paraíba,
Lourenço Baeta Neves, em conjunto com o secretário-geral de Estado Álvaro de Carvalho (BARSANTE,

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1982, p. 9). Logo, a partir de 1923 Santa Rosa passaria a trabalhar no setor da contabilidade oficial do
governo ? naquele ano o prédio do Palácio do Governo funcionava nas proximidades de sua casa. Desse
modo, a citada contratação para o setor de contabilidade do Tesouro Estadual da Parahyba do Norte foi
realizada por indicação de homens da política local.
Figura 02 ? Tomás Santa Rosa aos 18 anos de idade

Fonte: BARSANTE, 1982.

Cabe ressaltar que o início de sua vida no funcionalismo público é de suma importância, pois por meio
desse vetor de compreensão de sua trajetória de vida é possível, também, descortinar sua rede de amigos
. É esse um assunto que requer atenção, afinal Santa Rosa não teve em sua origem uma opulência de
berço, como outros de seu convívio, mas logrou êxito quanto a apropriação de capital cultural e social.
A mencionada rede (e as relações de proximidade dela decorrentes) pode ter granjeado certo capital
social ao Sr. Tomaz, afinal homens da elite e da classe média paraibana recorriam ao comércio de
vestimentas para adquirir trajes apropriados para os oportunos momentos de socialização (casamentos,
bailes) pautados pela agenda de celebrações. Desta feita, agraciado por uma oferta de emprego, no setor
de contabilidade do Tesouro Estadual. Essa oferta pode ser especulada a partir da influência de seu
padrinho, Thomaz Ferreira Soares. Membro de uma tradicional família da cidade (os ?Ferreira Soares?),
casado com a Sra. Amélia Soares (carinhosamente chamada por parentes e pessoas próximas como Mãe
Lindoca), com quem teve um filho chamado Acácio (Sula), era funcionário/tesoureiro de carreira em um
banco, na Cidade da Parahyba.
Há ainda outra possibilidade que advém de sua rede (direta e indireta) de amigos ter proporcionado um
caminho confortável para a inserção em seu primeiro emprego, e por conseguinte mobilidade social.
Nesse sentido, há uma memória do tempo em que Santa Rosa trabalhou no Tesouro Estadual, produzida
pelo jornalista Luiz Pinto, com quem Santa Rosa não tinha amizade, mas mantinha relações de
proximidade pelo fato de trabalharem na mesma repartição pública, que ajudaria a endossar essa
suposição. De fato, o jovem Santa Rosa contou com uma importante rede de amigos no âmbito social que
correspondia à sua função no setor de contabilidade. Sendo assim, ao relembrar em tom nostálgico de sua
experiência no tempo em que Santa Rosa era morador e funcionário público, Pinto o descreve como
alguém de distinção, sobretudo por sua relação de amizade com membros da elite paraibana nos anos
1920 (a exemplo de Aloísio França e Luís França, os ?meninos do Tesouro?).
Conheci-o, já se vai muitos anos! Éramos tão jovens... O mundo uma incógnita, um poço de ilusões, um
marco de esperança. Seu apelido na época era Bonzinho. Íntimo de Aloísio França, de Luís França, os
meninos do Tesouro do Estado. Na vida da Paraíba trabalhamos todos no tesouro do Estado na minha
velha província, entre os paredões lendários do velho Convento de S. Bento, onde funcionava aquela
repartição estadual. (PINTO, 1956, p. 3).

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Para uma melhor compreensão do Santa Rosa funcionário público do Tesouro Estadual, contudo, faz-se
necessário acionar um outro personagem. Em se tratando de sua rede de sociabilidade, outro possível
apoiador de sua trajetória profissional, Ademar Victor de Menezes Vidal, oriundo de família da elite
paraibana. Vidal ocupou diversos cargos na esfera jurídica da República, chegando a atuar como
procurador durante o governo de Solón Barbosa de Lucena (1920-1924) e como secretário de Interior e
Justiça e Segurança no governo de João Pessoa (1928-1930). Ao que as fontes indicam, ele mantinha
uma relação de apadrinhamento com o jovem Santa Rosa (VIDAL, 1956).
Morador da Cidade da Parahyba, e, oriundo de uma família da elite (atuante no ramo jornalístico), Vidal
detinha capital (político e social) suficiente para influenciar na política burocrática que determinava o
preenchimento de vagas de emprego. Com efeito, ao assumir a pasta de Secretário do Interior e
Segurança (1928), no breve governo de João Pessoa Cavalcanti (1928-1930), Vidal pôde amparar o
noviço funcionário público com imediata promoção na função dos serviços no Tesouro Estadual.
Cabe mencionar que, ao esquadrinhar a documentação pertencente ao Arquivo Estadual do Governo do
Estado da Paraíba, identificamos, no setor de contabilidade da Companhia de Água, uma lista de
pagamento dos vencimentos dos empregados nas Obras Públicas (Saneamento e Indústria Pastoril).
Tomás Santa Rosa Jr. foi lotado no departamento de Saneamento Básico do Estado, e se encontrava na
função de contador e arrematava mensalmente 300$000 (trezentos mil réis). Em uma nota-homenagem
intitulada ?O autodidata?,publicada no jornal O Norte, Vidal menciona ter agido politicamente em benefício
de Santa Rosa, o que teria resultado em sua mobilidade social:
[O] Paraibano da rua Direita [em verdade rua do Barão de Passagem], atual Rua da Areia], era lá onde me
habituei a vê-lo com os desenhos que mostrava, trabalhando no serviço público do Estado e, anos depois
, ocasionalmente me encontrando com o poder nas mãos sua situação fora melhorada como funcionário
do Abastecimento de Água. (VIDAL, 1956, p. 2).
É importante salientar que, anos depois, livros escritos por Ademar Vidal que versam sobre cultura popular
e nordeste foram ilustrados pelo artista Santa Rosa, a exemplo do livro Lendas e Superstições: contos
populares, (1950. Já o funcionário público e contador do Tesouro almejava ir, no início da década de 1930
à capital do país, Rio de Janeiro. Sua vida parecia estar dividida entre a carreira do funcionalismo público
e as oportunidades do mundo das artes.
Santa Rosa esteve inserido numa conjuntura econômica marcada pelo surto da industrialização, por
medidas de modernização e pela expansão das instituições artísticas, que ele acompanhava através de
revistas e jornais que comprava ou pegava de empréstimo de seu ?amigo de sempre? José Simeão Leal.
Era com Simão que Santa Rosa trocava missivas frequentemente. A comunicação feita a partir das cartas
permite a ampliação das possibilidades de pesquisa para um campo de maior interpretação sobre a
trajetória de Santa Rosa, a linha entre suas subjetividades e seus anseios mais íntimos geram uma
profícua gleba de análise. Para Gontijo, do ponto de vista metodológico, há no ?pensar carta? uma
chancela de compreensão do pensamento individual ou de um determinado grupo. De tal modo, que o
[...] estudo da correspondência de escritores e intelectuais ajuda a compreender os meandros da
construção de uma obra e/ou da elaboração de projetos, revelando ações e intenções e deixando entrever
a especificidade dos procedimentos cognitivos e argumentativos. Também permite observar as relações
entre os indivíduos, fornecendo indícios de suas experiências como atores sociais. (GONTIJO, 2008, p.
55).
Desta feita, passemos a entender a quanto notória foi a influência de Simeão Leal no que diz respeito ao
empreendimento que objetivou contribuir a mobilidade social de Santa Rosa. Um assunto presento foi o
concurso para o Banco do Brasil. É explícita a intenção de Santa Rosa: ?um pedido?. Ele solicitou ao

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amigo que intervenha em sua nomeação, para que fosse enviado à matriz do Banco do Brasil, localizada
na capital do país, o itinerário perseguido por Santa Rosa.
Foi aí que passou a vislumbrar uma gama social que pudesse ser proveitosa quanto a sua aprovação, já
que, para ele, o modus operandi da cultura política existente em seu tempo obedecia aos critérios políticos
da nomeação, e não do mérito. Assim, Santa Rosa se inclinou na busca de intermediários/ ?pistolões?, e
aciona sua rede de sociabilidade para promover empreendimento tático à sua aprovação:
(...) [Bem] sei que este concurso, como todas as cousas actuaes, não se processa, naturalmente, na razão
directa dos valores demonstrados, mas sob os auspícios dos pistolões e de todas as recomendações
assignados pelos fazedores da política e já que é preciso ser assim; já que somos forçados a fazer assim:
? sejamos e façamos com a situação nos obriga (...) E é sobre isto que venho pedir de sua amizade, um
grandíssimo favor (...) É possível que ahi entre toda essa novidade do seu convívio haja alguém que no
momento actual te possa servir como um intermediário para o meu interesse de ser nomeado... Alguém
cuja família representa no momento, algo de realmente prestigiado que seja um factor, no cenário
ambiente, de relevo e de força irradiante (...). (SANTA ROSA, 1931, p. 2).
Sua ambição em sair da cidade da Parahyba tornou-se ainda mais notória quando ele, deixando de lado
qualquer formalidade, passou a clamar de maneira mais direta:
(...) Acrescento, meu amigo, que o local pouco me dá! ei-me fora do interesse ir a tal ou qual lugar.
Entretanto como é natural, prefiro as agências do sul. É caso interessante, o que menos desejo é ficar aqui
. Não há por acaso parahybanos do seu conhecimento na Matriz do Banco do Brasil? (SANTA ROSA,
1931, p. 3).
Para alcançar o objetivo, Santa Rosa, elaborou estratégia que, dando certo, seria o seu passaporte para
alcançar seu obstinado destino, assim como o impulsionar para outros ares, para além da pacata Cidade
da Parahyba, que passou a chamar pela alcunha de ?exílio?. Santa Rosa pretendia sair de sua atmosfera
natal e partir em busca de uma ambiência profícua de profundas mudanças.
[9: É o que aponta Miceli (2001, p. 77), para quem: [as] décadas de 1920, 1930, 1940 assinalam as
transformações decisivas no planos econômicos (crise do setor agrícola voltado para exportação,
aceleração dos processos de industrialização voltados para a urbanização, crescente intervenção do
Estado em setores-chaves da economia etc.), social (consolidação da classe operária e da fração de
empresários industriais, expansão das profissões de nível superior, de técnicos especializados e de
pessoal administrativo nos setores público e privados etc.), político (revoltas militares, declínio político das
oligarquias agrária, abertura de novas organizações partidárias, expansão dos aparelhos do Estado etc.) e
cultural (criação de novos cursos superiores, expansão da rede de instituições culturais públicas, surto
editorial etc.).]
Ele visava ser inserido na carreira pública no Banco do Brasil e alcançar estabilidade, a possibilidade de
vivenciar um contexto propício para desenvolver o seu projeto de uma vida artística. Parecia que tudo
daria certo: assegurar seu lugar no serviço público e vivenciar os principais corredores do mundo artístico.
Ledo engano. O que parecia motivo para comemoração se tornou um imbróglio trágico, uma vez que sua
tática não alcançou o sucesso necessário e, ao invés de ir ao Rio de Janeiro, foi enviado para uma
agência em Recife.
A fim de alcançar seu objetivo, Santa Rosa acionou, ao mesmo tempo, Simeão Leal e outro influente
amigo ? o gaúcho Moziul Moreira Lima, tenente do Exército. Nos anos 1950 é possível identificá-lo como
membro conselheiro da Associação de Ex-combatentes do Distrito Federal (Rio de Janeiro), já com a
insígnia de major. Com isso, a estratégia de Santa Rosa foi gerar duas forças de influência para efetivar
sua meta de ser nomeado como funcionário do Banco do Brasil no Rio de Janeiro. Mas, novamente não

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obteve êxito, e foi transferido apenas para Maceió, Alagoas. Todavia, por lá não abandonou a sua
obstinada dedicação em ?fazer-se artista.
Na atmosfera cultural de Maceió, Santa Rosa compartilhou trabalhos, se aproximou de outros jovens
artistas, e vivenciou espaços de sociabilidade: participando de salões, exposições, e contribuindo com
seus feitos artísticos (gravuras e poesias) em jornais e revistas locais. Naquele ambiente de difusão da
cultura unia-se a uma plêiade de intelectuais. Entre eles, José Auto da Cruz Oliveira, o poeta ? Zé auto?,
com escritores modernistas, a exemplo de Raquel de Queiroz e Graciliano Ramos ? este já tinha sido
prefeito de Palmeira dos Índios. Em 1932 Ramos já havia sido nomeado diretor da Secretária da Imprensa
Oficial, e utilizava de sua influência para realizar encontros em seu gabinete. Outro importante espaço de
sociabilidade de Maceió em que ocorriam os encontros, era no boêmio Bar Central. Em setembro de 1956,
o Correio da Manhã publica, na coluna Escritores informações sobre o grupo, diz:

?Reunidos em torno do escritor, no seu gabinete na Imprensa, ou no ?Ponto Central? os rapazes ficavam
em conversas e discussões literárias que se prolongavam horas a fio?. Além de médicos e professores
pertenciam aquele ciclo ?alguns escritores e artistas de outros estados, como José Lins do Rego, Raquel
de Queiroz e Santa Rosa? (ESCRITORES..., 1956, p. 10).

O pintor Santa Rosa realizou uma exposição de sua arte modernista na capital alagoana. É o jornalista
Manoel Diógenes Junior, que recorda quando no Instituto Histórico de Alagoas, em 1932, o crítico e
jornalista, Valdemar Cavalcanti

(...) apresentou Santa Rosa numa palestra em que estudava sua arte dentro do modernismo brasileiro. E
assinala-se eu esta noite de modernismo, em que se tocou Debussy e se cantou Blue, onde se
apresentavam os trabalhos modernos de Santa Rosa, se realizou nos austeros salões do venerando
Instituto Histórico de Alagoas (JUNIOR DIOGENES, 1956, p.03).

O que as fontes mostram é que ele Santa Rosa, abandonou o emprego no Banco quando se mudou para
o Rio de Janeiro. Sua trajetória é marcada por uma decisão que modificou sua vivência e assustou amigos
/as, quando decidiu abandonar o emprego no Banco do Brasil para consolidar seu sonho. Segundo, a
escritora Rachel de Queiroz:
[Santa Rosa] pediu transferência para o Rio, mas recusaram a transferência. Ele então abandonou o
emprego e se tocou para cá, entregando-se deliberadamente às dificuldades, quase à miséria, do artista
que tenta abrir caminho na cidade grande. Passou o diabo, passou fome, todo mundo o considerava louco
por abandonar um emprego excelente por amor de um sonho, ou como lhe dizia um amigo, ?uma vocação
abstrata?. Santa explicava pacientemente: ?Mas eu sou pintor". (QUEIROZ, 1961, p. 8).

Na cidade carioca, se inseriu no mundo editorial ? uma decisão tomada que, sem saber, o tornaria um
artista que logrou êxito como pintor, crítico de arte, cenógrafo, professor e profissional do âmbito gráfico
entre seus pares, como discutiremos no próximo tópico.

O multifacetado artista

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Santa Rosa foi um artista multifacetado, característica comum de sua geração, atuando em diversos
âmbitos da arte de maneira concomitante. Acompanhar sua vivência no mundo da pintura, cenografia e
artes gráficas é um convite para o mundo artístico cultural do início do século XX. O esquadrinhamento de
parte de sua trajetória é perpassado por ideias do movimento modernista à brasileira, que prevaleceu
hegemônico, sobretudo, entre as décadas de 1930 e 1950.
A partir de 1933, após abandonar o emprego na agência alagoana do Banco do Brasil em Maceió e viajar
à então capital do país, Santa Rosa adentrou in loco no microclima intelectual carioca. Sua carreira
artística teve início enquanto responsável por projetos visuais em editoras, jornais e revistas ilustradas.
Aproveitando o boom de vendas ocasionadas pelos gêneros literários (ficção, romantismo), se viu em meio
à demanda por mão de obra especializada. O trabalho inicial nas editoras Ariel, Schmidt e José Olympio
foi profícuo. O cenário de ofertas de emprego era, de maneira geral, atraente.
[10: Conforme explica Miceli (2001, p. 148), ?[o] surto editorial da década de 1930 é marcado pelo
estabelecimento de inúmeras editoras, por fusões e outros processos de incorporação que ocorrem no
mercado editorial e, ainda, por um conjunto significativo de transformações que acabaram afetando a
própria definição do trabalho intelectual: aquisição de rotativas para impressão, diversificação dos
investimentos e programas editoriais, recrutamento de especialistas para os diferentes encargos de
produção e acabamento, inovações mercadológicas nas estratégias de vendas ? implantação do serviço
de reembolso postal, contratação de representantes e viajantes etc. ?, mudanças na feição gráfica dos
livros, com o intento de ajustar o acabamento das edições às diferentes camadas do público, e, sobretudo
, empenho das principais editoras em verticalizar o processo produtivo e diversificar suas atividades?.]
Ao chegar à capital do país, Santa Rosa já era pintor e desenhista. Com essas habilidades buscou nas
editoras um meio de vida. No seu tempo, editoras investiram na visualidade dos livros para atrair cada vez
mais o público leitor ávido em consumir o bem cultural da modernidade: o livro ilustrado. Neste momento,
trabalhou inicialmente nas editoras Ariel e Schmidt, mas foram as duas décadas dedicadas as feituras
gráficas pela editora José Olímpio que o consagrou. Seus feitos artísticos expressavam outra estética aos
livros que circulavam pelas principais livrarias da cidade, ou nas exposições das capas de livros que,
acomodadas nas vitrines, exibiam imagens assinadas por Santa Rosa. Estas tinham por objetivo o
aumento das vendas, e funcionavam enquanto rede de entrelaçamento de sua sociabilidade. Assim,
discorre Bueno:
Tendo [Santa Rosa] participado, desde os tempos de Maceió, da vida intelectual brasileira, seu trabalho de
criador de capas era também uma forma de participação direta na vida cultural e literária de seu tempo,
além de representar uma modalidade de cooperação criativa com os confrades escritores. Vida
profissional e camaradagem. No caso da literatura brasileira, mas não só ler os livros para desenhar-lhes
uma capa era mais que uma tarefa feita por obrigação. (BUENO, 2015, p. 63).
Santa Rosa conquistou, ao longo de duas décadas de trabalho no mundo das artes gráficas, lugar de
destaque como artista gráfico modernista, ?(...) sendo responsável quase sozinho pela transformação
estética do livro brasileiro nos anos de 1930-1940 (...)? (HALLEWELL, 2017, p. 512). Quase todas as
editoras neste período têm sua assinatura, o que reforça o nível de importância do artista afro-brasileiro.
Conforme aponta Bueno (2015), a produção de Santa Rosa se de especialmente na editora José Olímpio,
onde construiu um prodigioso acervo de imagens para as capas de livros. É enorme sua relevância e seu
protagonismo na história das artes visuais do país, afinal:
(...) quem quiser contar a história da evolução das artes visuais no Brasil do século XX não pode escapar
ao nome de Santa Rosa (...) é preciso reconhecer que Santa Rosa fez esse trabalho como mais ninguém.
Se nem todas as ações oficiais que propôs se concretizaram, seu trabalho contínuo por mais de vinte anos

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deixou exposta em parte uma visualidade que não pode ser colocada noutro lugar que não o da arte
moderna. (BUENO, 2015, p. 22).
Santa Rosa é reconhecido pela inovação no metiê das artes gráficas, e talvez por isso seja mencionado
como ?pai do livro moderno? (HALLEWELL, 2017). O afro-brasileiro entrou para a história das artes
visuais tanto por conta de seu desempenho singular no desenvolvimento do ofício, quanto pela assídua
defesa intelectual sobre a profissionalização do metiê. De acordo com Laurence Hallewell, praticamente,
todas as obras que formam a geração romancista de 1930 com suas imagens-síntese, ainda menciona
que
?Os livros com o sinete editorial da José Olympio logo começaram a destacarse da insípida mediocridade
dos concorrentes, pois o editor, desde o início, dedicou cuidadosa atenção ao projeto gráfico. Seu
colaborador nessa área, mais uma vez, foi um nordestino, Tomás Santa Rosa, que trabalhara
anteriormente em diagramação e em desenhos de capa para a Schmidt (...) [deste modo] ele tem sido
considerado o maior produtor gráfico de livros do Brasil, responsável, quase sozinho, pela transformação
estética do livro brasileiro nos anos de 1930-1940 produtor gráfico de livros do Brasil, responsável quase
que sozinho pelas transformações estéticas do livro brasileiro nos anos de 1930-1940?. (HALLEWELL,
2017, p. 512).
O reconhecimento maior de Santa Rosa no âmbito das artes gráficas veio quando ele foi convidado a criar
e coordenar um pioneiro projeto escolar que contribuísse diretamente com a formação de artistas no
âmbito das artes gráficas. Em março de 1946 sua ambição de difundir a profissionalização do ofício
através de um conhecimento sistematizado sobre o âmbito foi consolidada. Certamente, sua atuação o
consagrava como principal peça de montagem e coordenação do Curso de Artes Gráficas, realizado pela
Fundação Getúlio Vargas, na cidade do Rio de Janeiro:
Em 1946, a Fundação Getúlio Vargas doava ao nosso meio artístico um atelier de gravura, o qual tive a
honra de dirigir. Com a colaboração do Carlos Osvald e Leskoscheck, efetuou-se um trabalho de
desbravamento cujos resultados em oito meses teremos a oportunidade de expor ao público ainda este
mês. É admirável a ágil e curiosa inteligência dos jovens alunos, aprendendo e experimentando com
eficiência rapidez, técnicas como as da gravura, complexas e variadas (SANTA ROSA, 1947, p. 10).
Nesse sentido, acompanhando a leitura quanto à repercussão do Curso feita pela crítica de arte, podemos
avaliar até que ponto a iniciativa coordenada por Santa Rosa foi benéfica ao fazer-se do metiê. A cargo da
coordenação do primeiro curso de artes gráficas do país, Santa Rosa difundiu suas proposituras e
diretrizes quanto à formação de novos profissionais. Tendo ele ainda desempenhado a função de
professor. Assim, foi possível avaliar como o artista/professor articulou seu conhecimento no âmbito.
Sobre a repercussão do curso, Santa Rosa , pondera que a consequência maior é a de estabelecer uma
positiva relação de novos artistas/profissionais, assim, ?(...) com paginadores de nova visão, as editoras
com ilustrações possuidoras de todas as técnicas, e as agências de publicidade em ?layoutmans? e
cartazistas?. Investir nos campos de artes gráficas que se voltam para comunicação em massa (FALA...,
1946, p. 8). Vale salientar que sua preocupação em fortalecer o mercado interno, ?(...) fazer ressurgir
essas técnicas da obscuridade em questão, e trazer ao meio brasileiro uma contribuição objetiva, digna de
consideração? (FALA..., 1946, p. 8).
No período aqui abordado, especialmente entre a década de 1930 e a de 1950, embates que revelam
divergências sobre a arte e a cultura, trazendo à tona caminhos para compreensão da cultura artística de
um tempo. É possível evidenciar questões fulcrais à atmosfera artística, entre elas a qualificação técnica, a
influência ideológica e a função social do artista no metiê.
No plano individual, Santa Rosa não detinha prerrogativas institucionais oficialmente registradas por

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instituições de renome, sua formação na pintura se deu a partir da mentoria de Cândido Portinari, somada
ao seu autodidatismo; assim como nas artes gráficas teve que lidar com o desconforto de não possuir
comprovação institucional.
Já o perfil estético do pintor Santa Rosa pode ser evidenciado em suas inúmeras obras. São diversos
cenários como: festas, vida cotidiana, reminiscências de sua infância, celebrações religiosas, pescadores,
trabalhadores, samba. Em relação à representação de mulheres, é interessante perceber que,
diferentemente do projeto visual da década de 1930, Santa Rosa investiu em adereços africanistas, como
turbantes e vestidos longos de cores fortes. A escolha em representar a estética negra através de lenços,
vestidos e indumentárias foi a maneira de criar suas imagens-síntese. Assim é também possível
evidenciar suas memórias da Cidade da Parahyba.

Imagem 03 ? Festa, (óleo sobre tela) 80 x 63 cm, Santa Rosa, 1950

Fonte: BARSANTE, 1993

Os embates quanto às modificações no âmbito da arte atravessam a conjuntura cultural do primeiro


quinquênio do século XX. Tanto é que a tessitura pictórica de Santa Rosa, assim como a de outros/as
artistas modernistas, foi alvo de protestos em algumas exposições pelo país. Um bom exemplo ocorreu na
Semana de Arte Moderna de Belo Horizonte de 1944, quando as realizações modernistas não agradaram
parte do público geral. A pintura moderna ficou marcada por uma investida em tom de manifesto, contra a
realização da Semana de Arte Moderna Belorizontina. Trata-se de um atentado às telas e esculturas
registrado pela imprensa local e revistas de arte.
No ensaio ?Fígaro barbeia o modernismo?, do crítico de arte Henrique Pongetti, é possível compreender
cenas surpreendentes. Pongetti conta sobre um homem desconhecido que saiu distribuindo coléricas
navalhadas em formato de cruzes nas telas dos quadros que compunham a exposição. O advento revela,
entre outras questões, querelas de pulso ideológico circunscritas à atmosfera artística do tempo de Santa
Rosa.
Figura 04 ? As Três Idades da Vida (óleo sobre tela) 90 x 76 cm, Santa Rosa (obra danificada)

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Fonte: BARSANTE, 1993.

O pintor modernista premiado com medalha de prata na mais importante exposição do país, o Salão
Nacional de Arte (1941) defendia ferrenhamente a concepção do modernismo nacional, ou seja, a ideia
que embora o modernismo brasileiro sofresse influência do arte europeia já havia idiossincrasias artísticas
locais que caracterizavam o modernismo nacional. Santa Rosa foi júri de expoentes exposições nacionais,
a exemplo da Bienal de São Paulo em 1951 e 1953; e no Salão Nacional na seção de Arte Moderna. Vale
salientar que o Salão Nacional era um importante espaço na história da pintura e da intelectualidade
artística no país, que protagonizou exposições marcantes, que deteve por função institucional a anuência
de reconhecer um quadro enquanto obra de arte, é o Salão Nacional. Conforme explica Luz, o Salão:
[11: O debate historiográfico acerca do modernismo e nacionalismo é de longa data, aqui, daremos
atenção especial à temporalidade que marca o fazer-se do multiartista Santa Rosa, ou seja, a atmosfera
artística cultural (entre 1930 e 1950) na qual o intelectual-multiartista Santa Rosa experimentou no mundo
da arte, de seu tempo, sentidos do modernismo. Como outros intelectuais, encarou a vida artística
enquanto aquilo que Gomes (2004, p. 82) determinou por ?[...] doublé de teórico da cultura e de produtor
de arte, inaugurando novas formas de expressão e refletindo sobre as funções e desdobramentos sociais
que tais formas guardariam?. Em relação ao nacional, ou seja, a criação do referido constructo ideológico
de unidade nacional desempenhada pelo Estado Novo buscou, segundo Gomes (2007), agir em benefício
da recuperação de um passado colonial, harmônico e glorioso. Por seu turno, Oliveira (2013) enveredou a
compreender o nacionalismo identificando o aparecimento, no início do século XX, de movimentos
artísticos nacionais que corroboram com a evocação do nacional, a exemplo do Manifesto Pau-Brasil
(1924) e do Manifesto antropofágico (1924), em cujo contexto a modernização de dispositivos de
comunicação (tais como rádio, indústria editorial e cinema) foi imprescindível para a difusão de símbolos e
sentidos de nacionalismos.]
(...) propiciava a oportunidade para todo e qualquer artista, independente da situação econômica que
tivesse, poder se aperfeiçoar nos principais centros de produção artística na Europa. A cada ano, a
emulação entre os concorrentes 173 ajudava o despertar de novos valores para a arte brasileira. Como as
obras premiadas ficavam para a coleção da Academia, depois Escola Nacional de Belas Artes, e que, em
1937, no governo de Getúlio Vargas, deu origem ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes, temos,
ainda, a grande contribuição dos Salões para a formação e ampliação desse acervo notável de nosso
museu. (LUZ, 2006, p. 60).
Ou seja, ao participar do Salão, o artista pavimentava sua trajetória rumo à consagração. A expectativa do
reconhecimento dos pares significava não apenas uma condecoração, mas também a possibilidade de
ascensão social, uma vez que se almejava abocanhar a premiação concedida pela Escola Nacional de
Belas Artes. As bolsas de estudos eram concedidas com intuito de ampliar o conhecimento em viagens
pelo Brasil (prêmio nacional) ou à Europa (prêmio internacional). Santa Rosa não se beneficiou de viagens
internacionais através do prêmio do Salão, foi através de sua conquista em outro âmbito da arte, o teatro.
A trajetória de Santa Rosa no teatro foi propiciada por inúmeras participações enquanto cenógrafo em
diversas companhias, entre elas ?Os comediantes? e a ?Companhia Dramática Nacional''. Além disso, ele
ocupou os seguintes cargos: diretor do Museu de Arte Moderna (1948), coordenador do ateliê de
decoração do Teatro da Escola Nacional (1950) e diretor do Conservatório Nacional de Teatro. Em 1952,
fez sua primeira viagem à Europa representando o Brasil na Reunião dos Artistas em Veneza, conferência
organizada pela Unesco. Nesse período, ele circulou pela Itália, Espanha, Inglaterra e França por quase

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dois meses. Em 1955, passou a dirigir o Conservatório Nacional de Teatro. Em 1956, ano que marca sua
morte, foi nomeado professor de cenografia na Escola Nacional de Belas Artes da Universidade do Brasil.
Entre seus maiores anseios estava a criação de uma escola de Teatro, Teatro para Crianças e o Teatro
de Negros. A sua relação com o Teatro Experimental do Negro foi efetiva, tanto na produção de cenários
como em incisivas defesas em jornais da época. Para o TEN, Santa Rosa realizou a cenografia para o
Recital Castro Alves, dirigido por Abdias Nascimento, no Teatro Fênix, no Rio de Janeiro. Ele foi
responsável, também, pelo cenário da peça Terras do sem-fim, espetáculo adaptado da obra do baiano
Jorge Amado, por Graça Mello. Já em 1948, assinou a produção visual dos figurinos e cenários da peça A
Família e a Festa na Roça, dirigida por Dulcina de Moraes. Já em 1949, o intelectual negro das artes
visuais realizou a feitoria de Filhos de Santo, obra escrita por José Morais de Pinheiro, com direção de
Abdias Nascimento. E Calígula, texto escrito pelo filósofo argelino Albert Camus, que por falta de recursos
não conseguiu ser exibida mais de uma vez, contou com a cenografia e arte figurinista de Santa Rosa,
sendo a direção de Abdias Nascimento.
Santa Rosa promoveu assertivas defesas a favor da consolidação do teatro para negros. No dia 25 de
agosto de 1946 no jornal Diário Trabalhista, é possível evidenciar em ?PROBLEMAS e aspirações do
negro brasileiro: o Teatro Experimental do Negro e a cultura do povo?, a denúncia sobre interrupções nos
ensaios do grupo, que ocorriam no teatro Fênix, do referido grupo.
Niuxa Dias Drago (2014), em A cenografia de Santa Rosa ? espaço e modernidade, apresenta sua
notoriedade em sua trajetória no Teatro que passa a influenciar o âmbito do teatro nacional, considerando
que ele foi um dos precursores da perspectiva modernista e da arte-social na atmosfera do teatro. O ofício
da arte cenográfica coincide com mudanças significativas ocorridas nesta área, considerando sua
condição de inovador da perspectiva moderna ? pode-se dizer que a grande modificação trazida por Santa
Rosa é propiciada por meio de novas funções para elementos como luz, arquitetura de palco e adereços.
Com isso, Santa Rosa ? ao empreender uma transformação da perspectiva (que passaria de dual para
tridimensional) ? acabaria se tornando responsável por transformar a arte cenográfica no teatro nacional
na primeira metade do século XX, fazendo com que esta deixasse de ser um simples elemento decorativo
e passasse a se impor como um conteúdo específico da arte teatral. Note-se que a primeira versão da
peça Vestido de Noiva (1943), de autoria de seu amigo e escritor Nelson Rodrigues e direção do imigrante
polonês (evadido dos conflitos da Segunda Guerra Mundial) Zbigniew Marian Ziembinski, é o marco que
divide a cenografia brasileira.
Figura 04 ? Cenário da peça Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues, 1943

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Fonte: BARSANTE, 1982.


A melodia da vida e o ritmo de pinceladas entrelaçadas em suas formas, linhas e cores, condensadas em
quadros, murais e capas de livros ilustram feitorias de um artista, mas também, o olhar de um homem em
seu tempo para a cenografia são vestígios de uma trajetória de vida, vivida pelo sujeito histórico Santa
Rosa.

Considerações Finais
Como visto, o espaço geracional de Santa Rosa foi analisado como possibilidade para compreender a sua
experiência em meio a repercussão do ideal moderno e as transformações/modernização dos dispositivos
essenciais para a vida na urbe (luz, água, transporte). A vida na Cidade da Parahyba, vivida por pouco
mais de duas décadas, levou Santa Rosa a elaborar suas impressões sobre o meio social, cultural, político
e arquitetônico que o rodeava.
A sua a vida familiar do pequeno ?Bosinho? não foi fácil. Afinal, a conjuntura epidêmica na infância
resultou na perda de três irmãos. Santa Rosa tornou-se o único filho homem de Alexina e Thomaz Santa
Rosa. As postulações ensejadas buscaram explicar a maneira pela qual o jovem Santa Rosa foi
beneficiário de uma boa formação educacional, e de como chegou a cargos no funcionalismo público da
cidade. Uma vez funcionário público do Tesouro Estadual, se beneficiou de uma rede de sociabilidade que
fora iniciada bem antes, com a escolha de seu padrinho, medida salutar a sua trajetória no âmbito do
trabalho.
Também buscamos compreender a trajetória de vida de Santa Rosa a partir de sua experiência vivida em
espaços de sociabilidade que circulou. Assim, procuramos apresentar os primeiros passos do artista
gráfico, professor, pintor e crítico, revelando expedientes de seu protagonismo enquanto um artista afro-
brasileiro multifacetado. No Teatro, o cenógrafo Santa Rosa difundiu referências ideológicas e
contribuições técnicas para a cenografia, a maneira com a qual utilizou elementos que projetam aspectos
em formas e conteúdo da cultura afro-brasileira e africana na feitura cênica do teatro nacional junto ao
Teatro Experimental do Negro.
Nosso intuito foi colaborar com os estudos afro-pedagógicos concernentes às trajetórias de vidas de
homens letrados no pós-abolição. A investigação histórica se alimenta de perguntas que são ensejadas a
cada novo olhar sobre o mesmo documento/testemunho, e estas vêm à luz a partir do tempo presente.
Alguns apontamentos chegam enquanto bússola que norteia novas navegações da pesquisa. O mar das
emancipações, do pós-abolição está propicio para longas e profundas navegações em que o fato histórico
da abolição da escravidão em 1888 é a égide para novas conexões do passado-presente.

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escreverei. São Paulo: Companhias das Letras, 1992.
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SANTA ROSA, Tomás. [Correspondência]. Destinatário: José Simeão Leal. João Pessoa, 25 fev. 1931. 2
carta.
SANTA ROSA, Tomás. [Correspondência]. Destinatário: José Simeão Leal. João Pessoa, 25 fev. 1931. 3
carta.
SANTA ROSA, [Tomás]. Sobre a arte da Ilustração - Suplemento Letras e Artes. A Manhã, Rio de Janeiro,

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12 jan 1947, p. 12. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=114774&pasta


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Os termos em vermelho foram encontrados no documento
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=089842_03&pasta=ano+192&pesq=igreja (81
termos)

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ESCRITA ? DA ? HISTÓRIA
Uma experiência afro-brasileira no mundo das Artes: vida, pensamento e sociabilidade de Tomás Santa
Rosa (1909-1956)
Tomás Santa Rosa (1909-1956) uma experiência afro-brasileira no mundo das Artes...
Thiago Brandão da Silva
[1: Este artigo é originado da dissertação de mestrado ?Fragmentos de uma história de vida, o afro-
paraibano Tomás Santa Rosa Jr. (1909-1956): entre vivências, intelectualidades, ditos e feitos artísticos,
defendida em 2021, no Programa de Pós-Graduação em História.* Mestre em História pela Universidade
Federal da Paraíba. Professor da Educação básica. Membro/colaborador do Núcleo de Estudos Afro-
brasileiros e Indígenas (NEABI/UFPB).]
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com
REH. Ano X, vol. 10, n. 19, jan./jun. 2023 | www.escritadahistoria.com

Resumo
Trata-se de refletir sobre a vida do multifacetado artista negro modernista que atuou na construção cultural
e artística do país em diferentes âmbitos, Tomás Santa Rosa. A pesquisa se insere na gleba da escrita
sobre intelectualidades negras no pós-abolição. Metodologicamente, leva-se em consideração a dinâmica
social vista sob a égide da microanálise, o que amplia a compreensão dos caminhos, escolhas, decisões,
que formam o campo (ou uma sucessão) de sentidos que tangencia(m) uma trajetória de vida. Considera-
se o descortinar do cenário geracional de sua trajetória de vida enquanto possibilidade para compreender
suas dimensões sociais: a família, o emprego, amigos e estratégias de mobilidade social, além da feição
discursiva do ideal de moderno e das transformações metamórficas do espaço vivido e do debate
intelectual a partir da História Social da Cultura. Busca-se comtemplar a participação de um sujeito
histórico negro no mundo das artes enquanto referência e possibilidade de estudo para estudos afro-
pedagógicos e a agenda de historiadores/as sobre trajetórias e sociabilidades de homens e mulheres
negros no pós-abolição.

Palavras-chaves: Tomás Santa Rosa; Cidade da Parahyba; Sociabilidade; Pós-Abolição; Modernismo.

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Abstract
It is about reflecting on the life of the multifaceted modernist black artist who acted in the cultural and
artistic construction of the country in different areas, Tomás Santa Rosa. The research is part of the field of
writing about black intellectuals in the post-abolition period. Methodologically, the social dynamics seen
under the aegis of microanalysis are taken into account, which broadens the understanding of the paths,
choices, decisions, which form the field (or a succession) of meanings that touch (m) a life trajectory. It is
considered the unveiling of the generational scenario of his life trajectory as a possibility to understand its
social dimensions: family, employment, friends and social mobility strategies, in addition to the discursive
feature of the modern ideal and the metamorphic transformations of the lived space and of the intellectual
debate from the Social History of Culture. It seeks to contemplate the participation of a black historical
subject in the world of the arts as a reference and possibility of study for Afro-pedagogical studies and the
agenda of historians on trajectories and sociability of black men and women in the post-abolition period.

Keywords: Thomas Santa Rosa; City of Parahyba; Sociability; Post-Abolition; Modernism.

Numa tarde de domingo típica do verão carioca, em 16 de dezembro de 1956, algo acontecia nas
proximidades do Teatro Municipal do Rio de Janeiro - localizado na Avenida Rio Branco, antiga Avenida
Central. Quem naquela tarde trafegasse por aquela avenida veria um amontoado de pessoas nas
escadarias do monumental edifício e, tão logo, perceberia um cenário fúnebre. Ao se aproximar,
provavelmente, escutaria no diapasão de conversas íntimas frases cortadas do tipo: ?ele não gostava dos
papéis do banco?, ?era um pintor modernista?, ?ele foi pra Europa duas vezes?, ?estive com ele no Norte
?, ?detestava andar de bonde; sempre preferiu o táxi?; ou, ainda, algumas especulações acerca de sua
origem étnica ? ?um mulato?, ?nossa raça? etc... Enfim, peças do quebra-cabeça de uma investigação
histórica. É que os mortos geralmente deixam vestígios e os vivos lançam-se às memórias, ambos
elementos essenciais ao trabalho do historiador. Mas, como é realizada uma pesquisa sobre a vida de
alguém? Responderemos, de acordo com Vavy Pacheco Borges (2011), para quem o ?intermédio das
?vozes? [chega] do passado a partir de fragmentos de uma existência e dos registros das fontes
documentais? (BORGES, 2012, p. 2011. É desta feita que iremos esquadrinhar uma trajetória vivida, uma
existência vivida na alvorada republicana, no cenário pós-abolição da escravidão.
O objetivo da presente pesquisa é investigar fragmentos de uma trajetória de vida, vivida pelo
multifacetado artista paraibano Tomás Santa Rosa Jr, o ?Santa? ou simplesmente Santa Rosa. Nascido
em 20 de setembro de 1909, na Cidade da Parahyba, (atualmente nomeada João Pessoa), capital do
estado da Paraíba. Santa Rosa faleceu em; 26 de novembro de 1956. Na ocasião, estava ele ao leste da
Índia numa viagem oficial do governo brasileiro para a Conferência Geral da Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura ? evento promovido pela UNESCO, em Bombaim (Índia), no
qual, ele, Santa Rosa ocupava cadeira como representante do Diretório Nacional de Teatro. Quando
estava no Hotel no momento de descanso em Nova Délhi, cidade vizinha, e se preparava para seguir
viagem pela Europa, o destino pregou-lhe uma ?peça?.
Após sentir fortes dores abdominais (aos 47 anos de idade) foi encaminhado de ambulância ao Hospital
Wellington, percorreu alguns poucos quilômetros e ficou em observação. Já no outro dia recebeu visitas e,
quando tudo parecia ter sido apenas um susto, acabou surpreendendo os amigos/as durante a madrugada
, momento em que seu quadro clínico piorou e o levou a óbito ? provavelmente por um comprometimento
do sistema cardiovascular decorrente de complicações renais.
Até a chegada de seu corpo de lá (Índia) para cá (Brasil) são contabilizados dezoito melancólicos dias que

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, em síntese, podem ser explicados por conta dos trâmites burocráticos e pelo fator cultural, uma vez que
no país de maioria hinduísta permeia a cremação dos restos mortais, e não dispunha de reserva e
logística do transporte de seus restos mortais para outros país. No aeroporto do Rio de Janeiro,
aguardavam por ele suas irmãs Heliomar Santa Rosa e Crisantina Santa Rosa Iwata. Santa Rosa foi
casado no civil com Maria da Gloria Monteiro (1935), numa celebração simples no apartamento de seu
amigo e mentor (renomado das artes plásticas) Cândido Portinari. Em 1942 se casaria novamente, agora
no religioso, com Nely Guimarães. Porém, foi com Oscarina Amorim que teve seu único filho, Luiz Carlos,
que também o esperava junto às tias. Além disso, no aeroporto também aguardavam por ele o ex-senador
Ivo d?Aquino, o escritor Marques Rebelo e o teatrólogo Joracy Camargo (CHEGARAM... 1956, p. 01).
É importante apontar que no ano de seu falecimento foi possível averiguar dezenas de homenagens
escritas à guisa de lembranças em jornais da época. Estas são, para a presente pesquisa, caminhos para
uma melhor compreensão de sua rede sociabilidade, do microclima intelectual, político e cultural de seu
tempo, de seu vínculo afetivo, profissional com dezenas de outros criadores e mediadores da cultura que
formam ?[...] as elites culturais, mesmo quando entidades autônomas, em posição de extraterritorialidade
ligadas à sociedade que os rodeia e são precisamente esses laços, especialmente políticos, que lhes
conferem uma identidade? (SIRINELLI, 1998, p. 259).
Figura 01 ? Saída do cortejo fúnebre de Santa Rosa

Dito isto, a partir de uma série delas (re) conheceremos o homem do seu tempo, o intelectual das artes, o
artista, o funcionário público, o ?Santa?, o ?Santa Rosa?. Afinal, ainda a esse respeito, Ricoeur (2007)
ressalta que a lembrança inaugura um novo ângulo da representação histórica, ?(...) uma imagem
presente de uma coisa ausente? (...) (RICOEUR, 2007, p. 199) ? constituindo-se, dessa forma, como uma
maneira de entender o passado por meio das mensagens póstumas de sua rede de amigos.
Em reclames por conta de um encontro que não aconteceu, o escritor e jornalista brasileiro João Condé
rememora o momento de sua partida para a Índia ?(...) no dia de seu embarque, estive com ele [Santa
Rosa], Alcântara Silveira e Simeão Leal, no City Bank (...) todo eufórico, trocava cruzeiros por dólares. E
no abraço de despedida perguntou-me o que desejava que trouxesse? (CONDÉ, 1956, p. 12). As
lembranças, de maneira verossímil, ajudam a compor uma série de apontamentos, caminhos e
postulações acerca da trajetória de vida de Santa Rosa.
Desta feita, passaremos a refletir acerca da trajetória de vida do multifacetado artista modernista, Santa
Rosa. Assim, pretende-se compreender fragmentos de sua trajetória vivida no espaço-tempo de sua
ambiência geracional; identificar como formou e se beneficiou de uma rede de sociabilidade composta por
uma renomada plêiade de intelectuais e reconhecer seu protagonismo no cenário artístico-cultural de seu
tempo. Metodologicamente, considera-se a dinâmica social vista sob a égide da microanálise, ou seja, o

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grau de singularidade quando aproximamos a lente que analisa os processos históricos.


Assim, a pesquisa adota a perspectiva teórica da história social cultura e arrola sob a égide teórica-
metodológica da política das elites culturais, da comunicação social das redes sociabilidade, da realização
cultural de feitos artísticos (SIRINELLE, 1998; 2003). A trajetória de vida do multifacetado artista, Santa
Rosa, é por aqui compreendido levando em consideração as premissas, do geografo Milton Santos, em
que o espaço é o elo de junção, na medida em que liga-se os ?(...) fatores à genes, ao funcionamento e à
evolução do espaço (...)?, ou seja, ?o espaço pode ser definido de maneira tripartida: primeiro, como um
fator social (determina as condições sociais); segundo, como um fato social (produto e produtor); terceiro,
como uma instância social, pois é um ?(...) revelador que permite ser decifrado por aqueles mesmos a
quem revela (...)? (SANTOS, 2004, p. 163). Desta forma, a pesquisa se fundamenta a partir da tríade
objeto-tempo-espaço (REVEL 1998; BOURDIEU, 2006; SANTOS, 2004).
O corpus documental analisado é formado por uma série de escritos de amigos e de sua autoria
publicados em jornais, revistas e suplementos literários, especialmente, acessados a partir da Hemeroteca
Digital da Biblioteca Nacional (BNDigital). Conforme defende Luca (2011), a partir da utilização do jornal é
possível captar a nova vida citadina do século XX. Afinal, são os periódicos que registram as modificações
da urbanização, modernização dos espaços, e se encaixam no mesmo fluxo de outros dispositivos que
surgem na modernidade.
Nesse sentido, comunicaremos a pesquisa seguindo o seguinte enredo. No primeiro momento trataremos
interpretar Santa Rosa a partir de recordações de seus amigos (as) que compuseram sua rede de
sociabilidade. Em um segundo momento, iremos compreender sua trajetória em seu cenário geracional,
assim, leva-se em consideração: família, espaço e sociabilidades de Santa Rosa. No terceiro e último
momento vamos apresentar parte da experiência do artista multifacetado.
Aos vivos: (re) apresentação de Santa Rosa

Para Paul Ricouer (2007, p. 199) as lembranças encontradas em mensagens-póstumas (ou seja,
homenagens escritas após o falecimento do indivíduo encontrada no formato de crônicas) evocam um
presente ou uma presença, ?[...] buscam na operação de recordar que se conclui com a experiência do
reconhecimento, [pois] a lembrança é representação, re(a)presentação?. Em vista disso, iremos
apresentar a maneira com a qual Santa Rosa é (re) apresentado por alguns amigos que compõem sua
rede de sociabilidade. Não sem antes advertir a (a) leitor (a) sobre as idiossincrasias da atmosfera política
da década de 1930 em que havia um embate político ferrenho entre movimentos comunistas, fascistas e,
também que falavam da temática do negro. E isso de uma maneira que aumentava substancialmente as
disputas ideológicas que o governo varguista conduziu com destreza política.
[2: Santa Rosa fez parte de uma plêiade de intelectuais que estava a serviço do governo varguista, sob a
liderança do ministro Capanema. A esse respeito, Miceli (2001, p. 195) evidencia a maneira pela qual o
período correspondente ao mandato de Capanema (1934-1945) foi marcado pela cooptação dos
intelectuais, seja ?(...) como funcionários em tempo parcial, seja para desempenho de cargos de confiança
junto ao estado-maior do estamento, seja para preencherem os lugares que se abriam por forças das
novas carreiras que a extensão da ingerência passou a exigir, seja enfim acoplando inúmeras dessas
posições e auferindo rendimentos dobrados.?. Por outro lado, Fábio S. Cardoso (2019), biógrafo do
ministro Gustavo Capanema, endossado pela atuação de Graciliano Ramos e Carlos Drummond de
Andrade (dois declarados comunistas) no ministério, sugere (numa recente publicação) que havia, sim,
flexibilidade ideológica na ?constelação Capanema".]
No tempo de Santa Rosa, contendas ideológicas se fizeram presente. Houve pelo menos um fato em que

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Santa Rosa se envolveu diretamente. Trata-se de sua prisão na época em que trabalhava numa editora.
Quem narra o ocorrido é o escritor José Lins do Rego que diz:
Vi-o um dia sair preso da Livraria José Olímpio, num sábado de carnaval, que era a sua festa preferida. Vi-
o no meio dos esbirros num carro de Polícia. Lembro-me de seu olhar triste, a única vez que aquela
fisionomia prazenteira se fechava em angústia. Eram as saudades do carnaval perdido. Santa não
demorou entre as grades. José Olímpio bateu em todas as portas para libertá-lo. (REGO, 1956, p. 4).
É bem verdade que não sabemos os reais argumentos que levaram à prisão de Santa Rosa, embora
postule-se sua ligação, assim como a de outros intelectuais, com clubes, agremiações artísticas ligadas à
Aliança Nacional - célula maior da arquitetura do projeto comunista. Santa Rosa foi cofundador do Clube
de Cultura Moderna, fundado no dia 28 de novembro de 1934. Sua presença e a de outros artistas
modernos, como o amigo Aníbal Machado, evidenciava, portanto, a postura política dos artistas.
Na ambiência intelectual de seu tempo participava da rede de sociabilidade pessoal de Santa Rosa
artistas e escritores que já detinham prestígio, a exemplo, do escritor baiano Jorge Amado. Em seu livro
autobiográfico, Amado comenta sobre uma viagem a São Paulo ao encontro do artista modernista, pintor e
cenógrafo Flávio Carvalho (1899-1973) na companhia de Santa Rosa em 1933 em que é possível
evidenciar o microclima intelectual do momento, diz Amado (1992):
Eu o conheci quando fui a São Paulo pela primeira vez, em 1933, em companhia de Santa Rosa.
Hospedando-nos em casa de Tarsila do Amaral* e Osório César, na ocasião marido e mulher ? haviam
recém-chegado de Moscou, ir à URSS naquele então era aventura cercada de dificuldades, viagem de
espantos ? realizavam uma exposição de cartazes soviéticos, insólitos e românticos, no Clube de Artistas
Modernos, organismo criado e dirigido por Flávio de Carvalho, na época o centro de cultura mais sério do
Brasil, o que colocava a proposta mais avançada. Ali pronunciei conferência sobre as crianças nas
plantações de cacau, autografei o livro ilustrado por Santa Rosa, assisti ao Bailado do Deus morto, de
Flávio, que espetáculo!, logo proibido pela polícia política. A censura não dava tréguas ao CAM (...).
(AMADO, 1992, p. 202).
Santa Rosa participou junto com outros intelectuais de seu tempo, como Aníbal Machado, Jorge Amado,
José Lins do Rego entre outros, do CAM - Clube de Arte Moderna. Entre outras atribuições, destaca-se
sua coordenação da comissão da exposição para escolha do melhor tema sobre Palmares a partir do
ponto de vista do modernismo, em 1935 . Também fez parte da direção da Revista Movimento, que
ancorava reportagens e editoriais feitos pelos integrantes do CAM.
O Clube passou a aderir oficialmente, em setembro de 1935, a Aliança Nacional Libertadora (ANL) uma
organização de âmbito nacional que promovia ideias comunistas para combater a difusão do pensamento
fascista disseminado pela Ação Integralista Brasileira (AIB). Naquela década, de modo geral, havia um
estreito corredor de escolhas para partidários e intelectuais, prevalecendo ambos os movimentos. Neste
cenário, em que ?(...) fundiram-se a libertação do academismo, dos recalques históricos, do oficialismo
literário; as tendências de educação política e reforma social; o ardor de conhecer o país" (MELO E
SOUSA, 2000, p. 114) as capilaridades ideológicas do âmbito artístico sofreram efetivas mudanças.
Na adesão à ANL falou-se sobre a importância da Cultura para o povo, para as massas, para os
trabalhadores do país. Um momento de pulsante denúncia contra os integralistas e os regimes de
opressão (Nazismo e Facismo) e aclamação para união em prol de um programa de Cultural modernista
(uma contraposição a erudição exclusiva do academicismo) para o povo. Subiram ao palanque para
discutir acerca do tema ?Cultura e Liberdade?: Edgard Sussekind de Mendonça, Febus Gikovate Miguel
Costa Filho, Luiz Werneck de Castro, Carneiro Ayrosa, José Lins do Rego. Demetrio Hamam, Jorge
Amado, Annibal Machado, Cordeiro de Melo.

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(...) todos pronunciando-se contra os regimes de força, contra o Facismo, contra o integralismo, em prol da
mais completa liberdade (...) O Sr. Febus aludiu ao programa da Aliança Nacional Libertadora, mostrando
que em face do pronunciamento da assembleia que aplaudiram os oradores e sendo aquele movimento de
frente única o único que no momento pode libertar o Brasil, submetia a debate e votação dos presentes e
decisão do Clube de Arte Moder de aderir à Aliança Nacional Libertadora. Uma salva de palmas saudou as
últimas palavras, ficando assim aprovada unanimemente aquela decisão do Club. Em seguida, a
comissão do Club de Cultura, acompanhado de grande número de sócios, dirigiu-se à sede da ANL. Esta,
reunida em sessão, sob a presidência do comandante Cascardo ouviu a decisão, e em nome do diretório
da ANL falou sr. Amoretty Osório que agradeceu a atitude do Club de Cultura Moderna. (O QUE...1935, p.
5).
Já nas lembranças do amigo Sérgio Porto, jornalista do Diário Carioca ficou registrado o cenário de
criação do personagem cabotino Stanislaw Ponte Preta. Sobre isso, Porto conta que Santa Rosa junto
com ele idealizou o personagem. A esse detalhe vale salientar que interessou a Santa Rosa o espaço de
charges em jornais. Diariamente, representações artísticas da atmosfera política se projetam por meio de
formas extravagantes nos jornais. Conforme diz Santa Rosa, a ?[...] [política], com os seus artifícios e as
suas peras perversões, tem-lhe fornecido um material copioso, em que se tem exercitado a irônica e
sarcástica verve dos artistas [...]? (SANTA ROSA, 1947, p. 12). Porto também foi quem buscou explicar a
desapropriada pontualidade que o amigo costumeiramente exercitava. Ficou conhecido no meio
profissional por entregar encomendas fora do prazo. Para ele, a culpa de procrastinar as encomendas
advinha de sua impulsividade em querer conferir as novidades do mundo da arte, pois costumeiramente
deixava
(...) de fazer um quadro para ir comprar o último disco de Armstrong, ou para ver o desfile de uma escola
de samba. Deixava pelo meio da tela para ir assistir uma peça mambembe, onde um intérprete
coadjuvante surgia como esperança de bom ator. Perdia horas numa livraria folheando livros de arte (...).
(PONTE PRETA, 1956, p. 11).
A trajetória de vida do sujeito histórico negro, letrado, migrante, que participou ativamente da produção
cultural do país, especialmente, entre as décadas de 1930-1950, evidencia um cenário político, cultural e
artístico, um capítulo da história republicana no período do pós-abolição. Desta feita, essa pesquisa
acompanha uma série de estudos historiográficos do pós-abolição em que homens e mulheres negros-(as
) letrados-(as) são evidenciados atuando como protagonistas em instituições, espaços de sociabilidade e
poder; desempenhando variados ofícios, sobretudo no primeiro quinquênio do século XX.
A produção de estudos da população negra relacionados ao período posterior à abolição da escravidão se
diversifica e; o que outrora eram lacunas se tornam caminhos a serem percorridos, a exemplo da utilização
de fontes primárias tais como: registros de batismo; certidões de casamento, de óbito; uso da genealogia;
jornais; literatura; entrevistas orais com remanescentes quilombolas; acervos pessoais e privados
(MATTOS; RIOS, 2004). Ou seja, a pesquisa histórica que se ocupa em compreender a dinâmica das
trajetórias de vida de homens e mulheres negros (as) no pós-abolição ampliou a dimensão espaço-tempo
e, com isso, acabou, através de novas perguntas descortinando as ?(...) conexões transnacionais da
história intelectual e da história das ideias que sempre estiveram relacionadas com as perspectivas ligadas
ao pós-emancipação e os debates sobre racismo, direitos humanos e cidadania? (DOMINGUES; GOMES
, 2011, p. 10).
Em Experiências da emancipação: biografias, instituições e movimentos sociais no pós-abolição (1890-
1980), Domingues e Gomes (2011) evidenciam uma gama de trabalhos que discorrem sobre o período do
pós-abolição, a partir de pesquisas sobre associações, convenções, congressos e instituições políticas,

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militares negros, além do debate historiográfico sobre as trajetórias negras. Vale salientar, experiências no
âmbito da arte, a exemplo, do ator pernambucano, pintor e poeta Solano Trindade (1908-1974) e sobre o
escritor e abolicionista baiano Manuel Quirino (1851-1923). No que concerne às mulheres negras também
foram representadas, destaca-se a trajetória da professora e deputada catarinense Antonieta de Barros
(1901-1952). Já em Quase Cidadão: histórias e antropologias da pós-abolição no Brasil (2007), de modo
geral, objetivo foi compreender ?[como], onde, em que condições homens e mulheres de cor dela
[múltiplas liberdades] usufruíram, transformaram-na em objeto de interpretação, contendas, ou mesmo
rejeitaram os significados a ela atribuídos pelo discurso jurídico? (CUNHA; GOMES, 2007, p. 14). Uma
leitura possível no debate historiográfico é sobre a cidadania da população negra no pós-abolição.
Ao analisarmos trajetórias negras no espaço-tempo em que esteve inserido Santa Rosa, ou seja, início do
século XX, na Cidade da Parahyba, podemos acompanhar pesquisas recentes que colaboram com o
entendimento do pós-abolição. Assim, a historicidade quanto aos afro-paraibanos no pós-abolição tem
sido tema de publicações que norteiam a presença de homens negros letrados na região setentrional do
país, especialmente. As recentes pesquisas que ampliam o olhar sobre experiências negras no pós-
abolição na Paraíba têm sido realizadas pelos pesquisadores Elio Flores (2015), Solange Rocha (2015),
Petrônio Domingues (2017) e Surya Barros (2020).
Nesse sentido, seguindo sob a esteira de pesquisas acerca de pessoas negras inscrevemos a presente
pesquisa na historiografia recente que tem evidenciado, figuras desse segmento populacional, com
atuação ativa na Primeira República ? período de reordenamento social, de reconfigurações das
hierarquias raciais e de disputas dos projetos de nação ?, também se destacaram na cena política e
cultural. Como exemplo, os baianos Manuel Querino e Alfredo Casemiro da Rocha; o maranhense,
Hemetério dos Santos; o pernambucano Monteiro Lopes; o gaúcho Aurélio Veríssimo de Bittencourt; o
mineiro Benjamim de Oliveira; os cariocas Evaristo de Moraes, Eduardo das Neves e Lima Barreto; entre
outros que debateram e disputaram os diferentes projetos de política, cultura e identidade nacional, e
foram reconhecidos em vida, mas aos poucos caíram na galeria do preterimento, do ostracismo, da
subestimação ou simplesmente jazem nos desvãos da memória após a morte (DOMINGUES; ROCHA;
FLORES, 2019, p. 145-146).
A cada passo dado novas questões chegam à lume e o olhar para a interpretação da ?nova abolição?
inverte o sentido do problema; ou seja, o fato histórico do fim da instituição escravista é, por conseguinte, o
fomento para o início de uma gama de problematizações que colaboram com a nitidez do que há de ser
visto por Clio. Em Vicente Gomes Jardim: um ?artista e autor ?de cor no final do século XIX e início do XX
, Surya Barros (2020) reflete, a partir da égide da história social da escravidão, a trajetória de um homem
negro livre, no período da transição do Império e a República. Em que se buscou a experiência de vida de
Vicente Jardim enquanto liderança da Sociedade de Artistas Mechanicos e Liberaes da Parahyba e
membro da Irmandade dos pardos.
Assim, o propósito, evidentemente, é acentuar o avanço face às limitações constituídas pelo silenciamento
de Clio sobre a participação protagonista da ?gente negra? na história do Brasil após a abolição de 1888.
Tal enfoque tem contribuído para ampliar a compreensão da historicidade do pós-abolição.
Portanto, compreender a trajetória de vida do sujeito histórico negro, Santa Rosa é também perceber as
tessituras sociocultural e políticas de seu tempo. Assim, comunico ao leitor (a) que passaremos a percebê-
lo em seu espaço geracional cujo objetivo é ter a possibilidade de entender suas ambições, decisões,
frustrações e objetivos. Além de, por outro lado, explicar a influência de sua rede de sociabilidade para
compreender fragmentos de uma história de vida em suas dimensões sociais: a família, o emprego,
amigos e estratégias de mobilidade social. Desta feita, caro leitor, passaremos a compreender o tempo de

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Santa Rosa em sua cidade natalícia.As transformações que metamorfoseiam o cenário geracional de
Santa Rosa são elementos imprescindíveis para compreendermos fragmentos de sua história de vida,
vivida em meio a conjuntura de modernização do espaço da Cidade da Parahyba no pós-abolição. O olhar
em seu presente-passado corrobora enquanto ?testemunha ocular? Burke (2004), das ?rugosidades?
Santos (1998) do espaço da cidade da Parahyba (1920-1930) acarretadas pela modernização de
dispositivos estruturais do serviço público.
[3: Assim também, é partindo do pressuposto de que, conforme aponta Milton Santos (2004, p. 146),
entendemos o espaço seja como ?um produto histórico?, consideram-se os fragmentos de uma trajetória
vivida em terras paraibanas. como elo de junção, na medida em que liga-se os ?(...) fatores à genes, ao
funcionamento e à evolução do espaço (...)?. ]

A Cidade da Parahyba no tempo de Tomás Santa Rosa Jr. (1909-1932): família, espaço e sociabilidade
A casa em que Maria Alexina Santa Rosa (mãe de Santa Rosa) residiria com seu filho Santa Rosa até
1932, era nas proximidades à comunidade católica da qual era assídua frequentadora ? a Igreja Matriz de
Nossa Senhora das Neves, a catedral da cidade. Seu pai, Tomás Mauricio Santa Rosa, artista, alfaiate de
profissão, por sua vez, manipulava a arte de ?vestir? pessoas ? em parte, assemelhando-se ao filho, que
?vestia? livros, sobretudo aquelas que detinham cabedal suficiente para adquirir um traje ?da moda?,
comumente utilizado para situações da vida social na cidade, como missas, bailes, casamentos, batizados
e cerimônias. Conforme Waldeci Chagas:
Os rapazolas se contentavam com as peças de brim em várias tonalidades. Do contrário, a casimira era
bem encomendada pelos alfaiates. As alfaiatarias e camisarias sempre estavam abarrotadas de
encomendas, principalmente se estavam próximas as festas da padroeira, Nossa Senhora das Neves, do
Natal e do Ano bom. Nessas épocas, era comum o rapaz encomendar o corte e costura de um novo
conjunto composto de paletó colete e calça (CHAGAS, 2004, p. 121).

No tempo de Santa Rosa, a moda é matéria prima para que personagens importantes do microclima
intelectual da década de 1920, na Cidade da Parahyba escrevessem a seu respeito, a exemplo do
historiador Horácio de Almeida quem, por seu turno, contesta, em tom de denúncia, a chegada da nova
(do moderno) maneira de ?vestir-se? ? para ele, a moda da/na década de 1920, quando posta na balança
da moralidade, seria um ônus negativo. Acusada, a moda passou a ser evocada como má influência para
toda uma geração (tanto para homens quanto para mulheres). Julgada por Almeida, a moda passou a
ocupar as linhas da Revista Era Nova, ao escrever o artigo O poder da moda, em 1921, por onde destila:
[4: [...] uma revista quinzenal ilustrada na década de 1920, produzida na Paraíba. A princípio foi fundada
na cidade de Bananeira/PB e logo depois seu núcleo foi transferido para capital da Parahyba do Norte. Se
manteve circulando de 1921 a 1926, quando, dela, se tem notícia pela última vez. Seu primeiro nº, do ano
I, data de 27 de março de 1921, sendo oficialmente apresentada por seu diretor Severino de Lucena e seu
redator-chefe Guimarães Sobrinho, com a proposta de inaugurar uma nova era nos círculos literários e
intelectuais paraibanos. (RODRIGUES, 2013, p. 3).]

[moçoilas] catilas e espevitadas desaforam-se de corpinhos e sobem vestidos e descem os decotes para
os pitaratas galanteadores analysem em seus contornos a perfeição artística de suas joias. Insatisfeitas
com a liberdade que gozam, disputam o direito de voto e com este o direito de representação (...)
Galopeamos nesta marcha para o aniquilamento moral de nossa raça, para a efeminação do caráter
másculo de nossa juventude, para o ignominioso e abdiminavel hermafroditismo social. E chama isso de

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evolução! (ERA NOVA, 1921, p. 15)

O registro presente na documentação da Arquidiocese da Paraíba evidencia que o casamento do casal


Santa Rosa foi em julho de 1906. Ao analisar o referido documento, é possível verificar/comprovar
algumas informações pertinentes à origem de Santa Rosa. Com 19 anos de idade, Thomaz Mauricio Santa
Rosa oficializa (no civil) seu casamento com Maria Alexina das Neves Pereira, que, aos 22 anos, era um
pouco mais velha e já contava com a maioridade jurídica. Também é possível averiguar nesse registro a
ramificação de parentesco de suas avós, sendo elas, respectivamente: Maria Marcionilla Martinho e
Felismina Batista Freire. Assim,
(...) aos trinta dias do mês de Julho de mil novecentos e seis, décimo sétimo ano festivo da proclamação
da República dos Estados Unidos do Brasil, nesta cidade da Parahyba do Norte, capital do Estado do
mesmo nome (...) Thomaz Mauricio Santa Rosa e Dona Maria Alexina das Neves Pereira que neste ato
queiram casar-se. Thomaz Mauricio Santa Rosa, solteiro, com dezenove anos de idade, natural e
residente nesta capital, filho natural de Maria Marcionilla Martinho, residente nesta cidade. Dona Maria
Alexina das Neves Pereira, solteira, com vinte e dois anos de idade, também natural e residente nesta
capital, filha ilegítima de D. Felismina Batista Freire (...).
[5: TESTAMENTO de casamento dos pais de Santa Rosa. Disponível em: https://www.familysearch.org
/ark:/61903/3:1:S3HY-61X9-. Acesso em: 25 fev. 2023.]
Tomas Santa Rosa morador da Rua do Barão de Passagem (atual Rua da Areia), nº 320, testemunhou a
implementação de dispositivos estruturais, tais como iluminação, água encanada e esgotamento.
Enquanto morador da cidade baixa, Santa Rosa foi testemunha ocular das edificações que ganhavam,
naquele momento, construções de sobrados de dois andares, feituras quase exclusivamente da área
comercial da cidade no centro da cidade. Assim, essa nova elaboração de estrutura da cidade criava um
aglomerado que com o tempo foi se transformando na urbe paraibana, dividido entre as regiões ?alta? e
?baixa? ?[...] onde o comerciante podia juntar o armazém, a família, e os caixeiros, respectivamente, no
andar térreo primeiro e segundo andares (...)? (BATISTA, 1951, p. 17). Em suma, como assinala Wylnna
Vidal
(...) da primeira metade dos anos 1910, quando foram implantados os primeiros serviços urbanos
modernos (abastecimento d'água, energia elétrica e bondes), até 1940, podemos observar o trinômio
[embelezar, sanear e circular] presente no discurso do poder público justiçando as ações; presente nas
reivindicações de melhoria e embelezamento urbano da elite local; presente no discurso favorável às
transformações e presente também no discurso que se mostraram às mudanças (VIDAL, 2004, p. 45)
As ruas do centro da cidade funcionavam como artérias de chegada do moderno. Eram consideradas
como uma espécie de ?termômetro? social e econômico do início do século XX. Em especial a Maciel
Pinheiro que, nesse contexto, se tornava uma das principais esteiras do comércio da Paraíba, na qual as
transformações culturais ?pintavam? as vitrines com suas cores e tessituras, e por onde certamente
Tomaz Maurício Santa Rosa trabalhava e construía apreço social gerado por sua vida profissional, cuja
função em confeccionar o vestuário de membros da elite paraibana o levaria a costurar certa rede de
sociabilidade.
A ambiência em que residia a família Santa Rosa era de extrema importância comercial, pois recebia de
cidades do interior como Itabaiana e Campina Grande carregamentos de uma mercadoria que nutriu a
opulência de parte dos produtores paraibanos: o algodão ? um gênero de grande relevância para a
economia paraibana e principal produto da década de 1920. De certo modo, o acúmulo de capital de
alguns comerciantes advindos do interior para morar na zona urbana da capital, e que logo iriam construir

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suas residências na parte da ?cidade alta?, mantendo seus comércios na parte baixa da foi o apogeu do
algodão no final do século XIX, devido ao cenário do mercado internacional. Com efeito, trata-se de um
elemento preponderante para a modernização da cidade, uma vez que, como aponta Galliza (1993, p. 45),
durante o período compreendido entre 1900 e 1929 o algodão e a pecuária foram não apenas
fundamentais, mas principais produtos da economia paraibana. Tal evidência reverberava nas mudanças
administrativas da cidade.
A iniciativa do poder público em modernizar a cidade gerou mudanças não apenas em seus edifícios, mas
também no campo administrativo, uma vez que o aparato burocrático paraibano teve que ser ampliado.
Vale lembrar que, apenas em 1916, é que a Paraíba inaugurava seu primeiro banco (uma filial do Banco
do Brasil no estado), ? então, o capital mercantil do estado era majoritariamente manipulado por
empresários estrangeiros. Assim, atividades aduaneiras de exportação algodoeira essenciais à economia
local ficavam sob a égide de firmas estrangeiras, a exemplo da francesa Cahan Fréres & Cia (fundada em
1864), que, contando com filiais em Guarabira e Mamanguape, monopolizava o comércio externo da
Paraíba (GALLIZA, 1993).
Entretanto, as modificações advindas do profícuo momento econômico em que passava o espaço natalício
de Santa Rosa não impediu o avanço das mazelas advindas da falta de saneamento básico. A
precariedade do saneamento básico, certamente, colaborou com o triste capítulo na história da família da
Santa Rosa, que passaremos a comunicar.
Além de superar a morte de três filhos homens, a família Santa Rosa passou por outras dificuldades,
sobretudo Maria Alexina (mãe), uma vez que ela teve que prosseguir com a criação do único filho homem
sobrevivente (Santa Rosa) e suas duas irmãs, sozinha, já que seu pai, Tomaz Mauricio ?(...) abandonara a
família para tentar a sorte ao centro-norte do país, só retornando para revê-los nos últimos anos de sua
vida (...)?, falecendo em 1953, três anos antes do filho (BARSANTE, 1982, p. 7). Possivelmente, a
?aventura? iniciada pelo senhor Tomaz, teve um aspecto potencializador ? à época, o sonho de muitos era
saborear um promissor enriquecimento através da extração da borracha. Desse modo, muitos nordestinos
partiram para as trilhas das florestas, se inserindo na produção da borracha.
[6: A esse respeito, Caio Prado Jr. (2004, p. 199) observa: ?(...) a borracha, que graças aos automóveis e
seus pneumáticos estará destinada a um futuro magnífico, e que na nativa do vale amazônico daria
momentaneamente ao Brasil o monopólio de uma mercadoria de grande consumo internacional?.
Entretanto, o surto do ciclo da borracha acabaria se encerrando, à medida que produtores dos países da
Ásia menor passaram a cultivar seringueiras, agradando com preços baixos os principais compradores (os
estadunidenses). O final do primeiro surto da borracha foi em meados de 1920, chegando ao seu declínio
, de fato, já na década de 1950, por conta dos derivados do petróleo.]
O triste capítulo na história da família de Santa Rosa foi agravado pela precariedade do saneamento
básico, o que atuou nos consecutivos falecimentos de seus três irmãos. A partir da imprensa local,
inclusive, é possível perceber na atmosfera epidêmica, a tônica conjuntural de preocupações com
enfermidades, ? no tempo do nascimento dos irmãos de Santa Rosa (1907-1908) manifestavam-se, tanto
pelo ?bater dos sinos? das igrejas (que anunciam mais momentos fúnebres), quanto pelos informes da
imprensa local, que a descreve da seguinte maneira: ?(...) já temos diante de nós a triste perspectiva de
um quadro semelhante às 56 dos anos de 1905 a 1907, quando a Parahyba foi dolorosamente flagelada
por essas pestes (...)? (COLUNA..., 1913, p. 1). O fato é que, sem um serviço de distribuição de água
encanada, a cidade pouco se apresentava enquanto um espaço moderno. Conforma Araújo (2001) e
Chagas (2004) havia um volumoso debate político acerca da qualidade da água, médicos e engenheiros
travavam um embate cientifico para sanar a proliferação de doenças. Porém, a mobilização discursiva não

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efetivava as condições insalubres. Vale salientar que apenas em 1914 a cidade natalícia de Santa Rosa
será contemplada com serviço de água encanada e que o abastecimento era realizado pelos aguadeiros.
Em 16 de outubro de 1908, um ano após casal Santa Rosa formaliza matrimônio, é evidenciada a morte
do que seria primeiro irmão de Santa Rosa ?(...) Anjo ? finou-se antehontem, o pequeno Moacyr Santa
Rosa, filho do senhor Thomaz Mauricio Santa Rosa. Seu enterro effectuou-se hontem pelas 4 horas.
Pêsames aos seus desolados genitores (...)? (ANJO, 1908, p. 2). Ou seja, ao que se indica, um dos
primogênitos faleceu de forma prematura, sem chegar a completar dois anos de idade em vida. É na
ambiência dos problemas sanitários que nasce outro irmão de Santa Rosa, Pelópidas, registrado no dia 28
de junho de 1908 também falecendo de forma prematura. Conformidade com Barsante (1982, p. 7),
nenhum de seus falecidos irmãos alcançou (em vida) a infância.
[7: CERTIDÃO de óbito. Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-X38SJHH?i
=64&cc=2015754. Acesso em: 30 set. 2022.]
A questão da distribuição de água na cidade é um capítulo digno de novela livresca. As polêmicas acerca
da qualidade da água causaram estardalhaço no nicho político paraibano: farpas entre correligionários
locais, com os aliados protagonizando o conflito, cuja saída foi convidar especialistas externos para pôr fim
nas querelas. Por esse nasceu em 29 de setembro de 1909, Santa Rosa, o único filho homem de Maria
Alexina e Thomaz Mauricio a sobreviver ao nefasto ambiente. Consta na documentação da Arquidiocese
da Paraíba o seguinte registro:
Aos vinte e sete de março de mil novecentos e dez na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Neves de
minha licença, Reverendo Padre Mathias Freire batizou solenemente a Thomaz, nascido aos vinte de
setembro do ano próximo passado [1909], Tomaz Santa Rosa; filho de Thomaz Mauricio de Santa Roza e
Dona Maria Alexina de Santa Roza (sic!). Foram seus padrinhos Thomaz Ferreira Soares e sua mulher
Dona Amélia Ferreira Soares. E para constar mandei lavrar o presente termo que assino.
[8: Fonte: Arquivo Eclesiástico ? Arquidiocese da Paraíba ? Livro 13, nº 1876-1878.]
Os primeiros passos de sua vida escolar foram dados na Quinta Cadeira Mista da Paraíba; posteriormente
, buscou admissão no Grupo Escolar Tomás Mindelo, por meio do qual ingressou no conceituado Lyceu
Paraibano onde estudou até 1927. Este ficava próximo à Escola Normal, instituição responsável pela
formação das moças paraibanas. Santa Rosa fez aulas de piano com a professora Alice Pereira quando
ainda era garoto. Todavia, é sabido que a sua dedicação autodidata o levou a aprender outro idioma, o
mais exigido em seu tempo, o francês. Sua formação cultural e a aproximação de sua mãe da Paróquia
local foram decisivas para que ele participasse de aulas de canto, atividades realizadas na Igreja Matriz de
Nossa Senhora das Neves, da qual, decerto, sua mãe fazia parte.
Na igreja constatou-se uma potencial habilidade vocal, e ele passou a participar do Te Deum dos alunos
do Sacro-colégio do Arcebispado. O garoto, Santa Rosa, ainda arranjava tempo para apreciar as aulas do
seu professor de música Grazzi Galvão de Sá (natural da Cidade da Parahyba). Vale salientar que Santa
almejou se torna um músico profissional. Apostando em sua qualidade musical de barítono, naquele
período seguiu buscando participar de concursos de novos talentos, até que, certa feita, um conhecido,
Murilo de Carvalho (que era profissional de canto), o orienta a deixar a ideia de lado (BARSANTE, 1982).
Anos depois, sua carreira profissional se inicia no funcionalismo público imerso no setor de contabilidade
da administração local.
Sua trajetória na carreira do funcionalismo público se deu em meio a consolidação do regime republicano.
Era o tempo do segundo mandato do governado Solon Barbosa de Lucena (1920-1924) quando Santa
Rosa recebeu o convite que iria influenciar os rumos da vida do garoto de apenas 14 anos de idade. Na
ocasião, o convite foi feito pelo então engenheiro-chefe da Secção de Saneamento do Estado da Paraíba,

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Lourenço Baeta Neves, em conjunto com o secretário-geral de Estado Álvaro de Carvalho (BARSANTE,
1982, p. 9). Logo, a partir de 1923 Santa Rosa passaria a trabalhar no setor da contabilidade oficial do
governo ? naquele ano o prédio do Palácio do Governo funcionava nas proximidades de sua casa. Desse
modo, a citada contratação para o setor de contabilidade do Tesouro Estadual da Parahyba do Norte foi
realizada por indicação de homens da política local.
Figura 02 ? Tomás Santa Rosa aos 18 anos de idade

Fonte: BARSANTE, 1982.

Cabe ressaltar que o início de sua vida no funcionalismo público é de suma importância, pois por meio
desse vetor de compreensão de sua trajetória de vida é possível, também, descortinar sua rede de amigos
. É esse um assunto que requer atenção, afinal Santa Rosa não teve em sua origem uma opulência de
berço, como outros de seu convívio, mas logrou êxito quanto a apropriação de capital cultural e social.
A mencionada rede (e as relações de proximidade dela decorrentes) pode ter granjeado certo capital
social ao Sr. Tomaz, afinal homens da elite e da classe média paraibana recorriam ao comércio de
vestimentas para adquirir trajes apropriados para os oportunos momentos de socialização (casamentos,
bailes) pautados pela agenda de celebrações. Desta feita, agraciado por uma oferta de emprego, no setor
de contabilidade do Tesouro Estadual. Essa oferta pode ser especulada a partir da influência de seu
padrinho, Thomaz Ferreira Soares. Membro de uma tradicional família da cidade (os ?Ferreira Soares?),
casado com a Sra. Amélia Soares (carinhosamente chamada por parentes e pessoas próximas como Mãe
Lindoca), com quem teve um filho chamado Acácio (Sula), era funcionário/tesoureiro de carreira em um
banco, na Cidade da Parahyba.
Há ainda outra possibilidade que advém de sua rede (direta e indireta) de amigos ter proporcionado um
caminho confortável para a inserção em seu primeiro emprego, e por conseguinte mobilidade social.
Nesse sentido, há uma memória do tempo em que Santa Rosa trabalhou no Tesouro Estadual, produzida
pelo jornalista Luiz Pinto, com quem Santa Rosa não tinha amizade, mas mantinha relações de
proximidade pelo fato de trabalharem na mesma repartição pública, que ajudaria a endossar essa
suposição. De fato, o jovem Santa Rosa contou com uma importante rede de amigos no âmbito social que
correspondia à sua função no setor de contabilidade. Sendo assim, ao relembrar em tom nostálgico de sua
experiência no tempo em que Santa Rosa era morador e funcionário público, Pinto o descreve como
alguém de distinção, sobretudo por sua relação de amizade com membros da elite paraibana nos anos
1920 (a exemplo de Aloísio França e Luís França, os ?meninos do Tesouro?).
Conheci-o, já se vai muitos anos! Éramos tão jovens... O mundo uma incógnita, um poço de ilusões, um
marco de esperança. Seu apelido na época era Bonzinho. Íntimo de Aloísio França, de Luís França, os
meninos do Tesouro do Estado. Na vida da Paraíba trabalhamos todos no tesouro do Estado na minha
velha província, entre os paredões lendários do velho Convento de S. Bento, onde funcionava aquela

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repartição estadual. (PINTO, 1956, p. 3).


Para uma melhor compreensão do Santa Rosa funcionário público do Tesouro Estadual, contudo, faz-se
necessário acionar um outro personagem. Em se tratando de sua rede de sociabilidade, outro possível
apoiador de sua trajetória profissional, Ademar Victor de Menezes Vidal, oriundo de família da elite
paraibana. Vidal ocupou diversos cargos na esfera jurídica da República, chegando a atuar como
procurador durante o governo de Solón Barbosa de Lucena (1920-1924) e como secretário de Interior e
Justiça e Segurança no governo de João Pessoa (1928-1930). Ao que as fontes indicam, ele mantinha
uma relação de apadrinhamento com o jovem Santa Rosa (VIDAL, 1956).
Morador da Cidade da Parahyba, e, oriundo de uma família da elite (atuante no ramo jornalístico), Vidal
detinha capital (político e social) suficiente para influenciar na política burocrática que determinava o
preenchimento de vagas de emprego. Com efeito, ao assumir a pasta de Secretário do Interior e
Segurança (1928), no breve governo de João Pessoa Cavalcanti (1928-1930), Vidal pôde amparar o
noviço funcionário público com imediata promoção na função dos serviços no Tesouro Estadual.
Cabe mencionar que, ao esquadrinhar a documentação pertencente ao Arquivo Estadual do Governo do
Estado da Paraíba, identificamos, no setor de contabilidade da Companhia de Água, uma lista de
pagamento dos vencimentos dos empregados nas Obras Públicas (Saneamento e Indústria Pastoril).
Tomás Santa Rosa Jr. foi lotado no departamento de Saneamento Básico do Estado, e se encontrava na
função de contador e arrematava mensalmente 300$000 (trezentos mil réis). Em uma nota-homenagem
intitulada ?O autodidata?,publicada no jornal O Norte, Vidal menciona ter agido politicamente em benefício
de Santa Rosa, o que teria resultado em sua mobilidade social:
[O] Paraibano da rua Direita [em verdade rua do Barão de Passagem], atual Rua da Areia], era lá onde me
habituei a vê-lo com os desenhos que mostrava, trabalhando no serviço público do Estado e, anos depois
, ocasionalmente me encontrando com o poder nas mãos sua situação fora melhorada como funcionário
do Abastecimento de Água. (VIDAL, 1956, p. 2).
É importante salientar que, anos depois, livros escritos por Ademar Vidal que versam sobre cultura popular
e nordeste foram ilustrados pelo artista Santa Rosa, a exemplo do livro Lendas e Superstições: contos
populares, (1950. Já o funcionário público e contador do Tesouro almejava ir, no início da década de 1930
à capital do país, Rio de Janeiro. Sua vida parecia estar dividida entre a carreira do funcionalismo público
e as oportunidades do mundo das artes.
Santa Rosa esteve inserido numa conjuntura econômica marcada pelo surto da industrialização, por
medidas de modernização e pela expansão das instituições artísticas, que ele acompanhava através de
revistas e jornais que comprava ou pegava de empréstimo de seu ?amigo de sempre? José Simeão Leal.
Era com Simão que Santa Rosa trocava missivas frequentemente. A comunicação feita a partir das cartas
permite a ampliação das possibilidades de pesquisa para um campo de maior interpretação sobre a
trajetória de Santa Rosa, a linha entre suas subjetividades e seus anseios mais íntimos geram uma
profícua gleba de análise. Para Gontijo, do ponto de vista metodológico, há no ?pensar carta? uma
chancela de compreensão do pensamento individual ou de um determinado grupo. De tal modo, que o
[...] estudo da correspondência de escritores e intelectuais ajuda a compreender os meandros da
construção de uma obra e/ou da elaboração de projetos, revelando ações e intenções e deixando entrever
a especificidade dos procedimentos cognitivos e argumentativos. Também permite observar as relações
entre os indivíduos, fornecendo indícios de suas experiências como atores sociais. (GONTIJO, 2008, p.
55).
Desta feita, passemos a entender a quanto notória foi a influência de Simeão Leal no que diz respeito ao
empreendimento que objetivou contribuir a mobilidade social de Santa Rosa. Um assunto presento foi o

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concurso para o Banco do Brasil. É explícita a intenção de Santa Rosa: ?um pedido?. Ele solicitou ao
amigo que intervenha em sua nomeação, para que fosse enviado à matriz do Banco do Brasil, localizada
na capital do país, o itinerário perseguido por Santa Rosa.
Foi aí que passou a vislumbrar uma gama social que pudesse ser proveitosa quanto a sua aprovação, já
que, para ele, o modus operandi da cultura política existente em seu tempo obedecia aos critérios políticos
da nomeação, e não do mérito. Assim, Santa Rosa se inclinou na busca de intermediários/ ?pistolões?, e
aciona sua rede de sociabilidade para promover empreendimento tático à sua aprovação:
(...) [Bem] sei que este concurso, como todas as cousas actuaes, não se processa, naturalmente, na razão
directa dos valores demonstrados, mas sob os auspícios dos pistolões e de todas as recomendações
assignados pelos fazedores da política e já que é preciso ser assim; já que somos forçados a fazer assim:
? sejamos e façamos com a situação nos obriga (...) E é sobre isto que venho pedir de sua amizade, um
grandíssimo favor (...) É possível que ahi entre toda essa novidade do seu convívio haja alguém que no
momento actual te possa servir como um intermediário para o meu interesse de ser nomeado... Alguém
cuja família representa no momento, algo de realmente prestigiado que seja um factor, no cenário
ambiente, de relevo e de força irradiante (...). (SANTA ROSA, 1931, p. 2).
Sua ambição em sair da cidade da Parahyba tornou-se ainda mais notória quando ele, deixando de lado
qualquer formalidade, passou a clamar de maneira mais direta:
(...) Acrescento, meu amigo, que o local pouco me dá! ei-me fora do interesse ir a tal ou qual lugar.
Entretanto como é natural, prefiro as agências do sul. É caso interessante, o que menos desejo é ficar aqui
. Não há por acaso parahybanos do seu conhecimento na Matriz do Banco do Brasil? (SANTA ROSA,
1931, p. 3).
Para alcançar o objetivo, Santa Rosa, elaborou estratégia que, dando certo, seria o seu passaporte para
alcançar seu obstinado destino, assim como o impulsionar para outros ares, para além da pacata Cidade
da Parahyba, que passou a chamar pela alcunha de ?exílio?. Santa Rosa pretendia sair de sua atmosfera
natal e partir em busca de uma ambiência profícua de profundas mudanças.
[9: É o que aponta Miceli (2001, p. 77), para quem: [as] décadas de 1920, 1930, 1940 assinalam as
transformações decisivas no planos econômicos (crise do setor agrícola voltado para exportação,
aceleração dos processos de industrialização voltados para a urbanização, crescente intervenção do
Estado em setores-chaves da economia etc.), social (consolidação da classe operária e da fração de
empresários industriais, expansão das profissões de nível superior, de técnicos especializados e de
pessoal administrativo nos setores público e privados etc.), político (revoltas militares, declínio político das
oligarquias agrária, abertura de novas organizações partidárias, expansão dos aparelhos do Estado etc.) e
cultural (criação de novos cursos superiores, expansão da rede de instituições culturais públicas, surto
editorial etc.).]
Ele visava ser inserido na carreira pública no Banco do Brasil e alcançar estabilidade, a possibilidade de
vivenciar um contexto propício para desenvolver o seu projeto de uma vida artística. Parecia que tudo
daria certo: assegurar seu lugar no serviço público e vivenciar os principais corredores do mundo artístico.
Ledo engano. O que parecia motivo para comemoração se tornou um imbróglio trágico, uma vez que sua
tática não alcançou o sucesso necessário e, ao invés de ir ao Rio de Janeiro, foi enviado para uma
agência em Recife.
A fim de alcançar seu objetivo, Santa Rosa acionou, ao mesmo tempo, Simeão Leal e outro influente
amigo ? o gaúcho Moziul Moreira Lima, tenente do Exército. Nos anos 1950 é possível identificá-lo como
membro conselheiro da Associação de Ex-combatentes do Distrito Federal (Rio de Janeiro), já com a
insígnia de major. Com isso, a estratégia de Santa Rosa foi gerar duas forças de influência para efetivar

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sua meta de ser nomeado como funcionário do Banco do Brasil no Rio de Janeiro. Mas, novamente não
obteve êxito, e foi transferido apenas para Maceió, Alagoas. Todavia, por lá não abandonou a sua
obstinada dedicação em ?fazer-se artista.
Na atmosfera cultural de Maceió, Santa Rosa compartilhou trabalhos, se aproximou de outros jovens
artistas, e vivenciou espaços de sociabilidade: participando de salões, exposições, e contribuindo com
seus feitos artísticos (gravuras e poesias) em jornais e revistas locais. Naquele ambiente de difusão da
cultura unia-se a uma plêiade de intelectuais. Entre eles, José Auto da Cruz Oliveira, o poeta ? Zé auto?,
com escritores modernistas, a exemplo de Raquel de Queiroz e Graciliano Ramos ? este já tinha sido
prefeito de Palmeira dos Índios. Em 1932 Ramos já havia sido nomeado diretor da Secretária da Imprensa
Oficial, e utilizava de sua influência para realizar encontros em seu gabinete. Outro importante espaço de
sociabilidade de Maceió em que ocorriam os encontros, era no boêmio Bar Central. Em setembro de 1956,
o Correio da Manhã publica, na coluna Escritores informações sobre o grupo, diz:

?Reunidos em torno do escritor, no seu gabinete na Imprensa, ou no ?Ponto Central? os rapazes ficavam
em conversas e discussões literárias que se prolongavam horas a fio?. Além de médicos e professores
pertenciam aquele ciclo ?alguns escritores e artistas de outros estados, como José Lins do Rego, Raquel
de Queiroz e Santa Rosa? (ESCRITORES..., 1956, p. 10).

O pintor Santa Rosa realizou uma exposição de sua arte modernista na capital alagoana. É o jornalista
Manoel Diógenes Junior, que recorda quando no Instituto Histórico de Alagoas, em 1932, o crítico e
jornalista, Valdemar Cavalcanti

(...) apresentou Santa Rosa numa palestra em que estudava sua arte dentro do modernismo brasileiro. E
assinala-se eu esta noite de modernismo, em que se tocou Debussy e se cantou Blue, onde se
apresentavam os trabalhos modernos de Santa Rosa, se realizou nos austeros salões do venerando
Instituto Histórico de Alagoas (JUNIOR DIOGENES, 1956, p.03).

O que as fontes mostram é que ele Santa Rosa, abandonou o emprego no Banco quando se mudou para
o Rio de Janeiro. Sua trajetória é marcada por uma decisão que modificou sua vivência e assustou amigos
/as, quando decidiu abandonar o emprego no Banco do Brasil para consolidar seu sonho. Segundo, a
escritora Rachel de Queiroz:
[Santa Rosa] pediu transferência para o Rio, mas recusaram a transferência. Ele então abandonou o
emprego e se tocou para cá, entregando-se deliberadamente às dificuldades, quase à miséria, do artista
que tenta abrir caminho na cidade grande. Passou o diabo, passou fome, todo mundo o considerava louco
por abandonar um emprego excelente por amor de um sonho, ou como lhe dizia um amigo, ?uma vocação
abstrata?. Santa explicava pacientemente: ?Mas eu sou pintor". (QUEIROZ, 1961, p. 8).

Na cidade carioca, se inseriu no mundo editorial ? uma decisão tomada que, sem saber, o tornaria um
artista que logrou êxito como pintor, crítico de arte, cenógrafo, professor e profissional do âmbito gráfico
entre seus pares, como discutiremos no próximo tópico.

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O multifacetado artista
Santa Rosa foi um artista multifacetado, característica comum de sua geração, atuando em diversos
âmbitos da arte de maneira concomitante. Acompanhar sua vivência no mundo da pintura, cenografia e
artes gráficas é um convite para o mundo artístico cultural do início do século XX. O esquadrinhamento de
parte de sua trajetória é perpassado por ideias do movimento modernista à brasileira, que prevaleceu
hegemônico, sobretudo, entre as décadas de 1930 e 1950.
A partir de 1933, após abandonar o emprego na agência alagoana do Banco do Brasil em Maceió e viajar
à então capital do país, Santa Rosa adentrou in loco no microclima intelectual carioca. Sua carreira
artística teve início enquanto responsável por projetos visuais em editoras, jornais e revistas ilustradas.
Aproveitando o boom de vendas ocasionadas pelos gêneros literários (ficção, romantismo), se viu em meio
à demanda por mão de obra especializada. O trabalho inicial nas editoras Ariel, Schmidt e José Olympio
foi profícuo. O cenário de ofertas de emprego era, de maneira geral, atraente.
[10: Conforme explica Miceli (2001, p. 148), ?[o] surto editorial da década de 1930 é marcado pelo
estabelecimento de inúmeras editoras, por fusões e outros processos de incorporação que ocorrem no
mercado editorial e, ainda, por um conjunto significativo de transformações que acabaram afetando a
própria definição do trabalho intelectual: aquisição de rotativas para impressão, diversificação dos
investimentos e programas editoriais, recrutamento de especialistas para os diferentes encargos de
produção e acabamento, inovações mercadológicas nas estratégias de vendas ? implantação do serviço
de reembolso postal, contratação de representantes e viajantes etc. ?, mudanças na feição gráfica dos
livros, com o intento de ajustar o acabamento das edições às diferentes camadas do público, e, sobretudo
, empenho das principais editoras em verticalizar o processo produtivo e diversificar suas atividades?.]
Ao chegar à capital do país, Santa Rosa já era pintor e desenhista. Com essas habilidades buscou nas
editoras um meio de vida. No seu tempo, editoras investiram na visualidade dos livros para atrair cada vez
mais o público leitor ávido em consumir o bem cultural da modernidade: o livro ilustrado. Neste momento,
trabalhou inicialmente nas editoras Ariel e Schmidt, mas foram as duas décadas dedicadas as feituras
gráficas pela editora José Olímpio que o consagrou. Seus feitos artísticos expressavam outra estética aos
livros que circulavam pelas principais livrarias da cidade, ou nas exposições das capas de livros que,
acomodadas nas vitrines, exibiam imagens assinadas por Santa Rosa. Estas tinham por objetivo o
aumento das vendas, e funcionavam enquanto rede de entrelaçamento de sua sociabilidade. Assim,
discorre Bueno:
Tendo [Santa Rosa] participado, desde os tempos de Maceió, da vida intelectual brasileira, seu trabalho de
criador de capas era também uma forma de participação direta na vida cultural e literária de seu tempo,
além de representar uma modalidade de cooperação criativa com os confrades escritores. Vida
profissional e camaradagem. No caso da literatura brasileira, mas não só ler os livros para desenhar-lhes
uma capa era mais que uma tarefa feita por obrigação. (BUENO, 2015, p. 63).
Santa Rosa conquistou, ao longo de duas décadas de trabalho no mundo das artes gráficas, lugar de
destaque como artista gráfico modernista, ?(...) sendo responsável quase sozinho pela transformação
estética do livro brasileiro nos anos de 1930-1940 (...)? (HALLEWELL, 2017, p. 512). Quase todas as
editoras neste período têm sua assinatura, o que reforça o nível de importância do artista afro-brasileiro.
Conforme aponta Bueno (2015), a produção de Santa Rosa se de especialmente na editora José Olímpio,
onde construiu um prodigioso acervo de imagens para as capas de livros. É enorme sua relevância e seu
protagonismo na história das artes visuais do país, afinal:
(...) quem quiser contar a história da evolução das artes visuais no Brasil do século XX não pode escapar
ao nome de Santa Rosa (...) é preciso reconhecer que Santa Rosa fez esse trabalho como mais ninguém.

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Se nem todas as ações oficiais que propôs se concretizaram, seu trabalho contínuo por mais de vinte anos
deixou exposta em parte uma visualidade que não pode ser colocada noutro lugar que não o da arte
moderna. (BUENO, 2015, p. 22).
Santa Rosa é reconhecido pela inovação no metiê das artes gráficas, e talvez por isso seja mencionado
como ?pai do livro moderno? (HALLEWELL, 2017). O afro-brasileiro entrou para a história das artes
visuais tanto por conta de seu desempenho singular no desenvolvimento do ofício, quanto pela assídua
defesa intelectual sobre a profissionalização do metiê. De acordo com Laurence Hallewell, praticamente,
todas as obras que formam a geração romancista de 1930 com suas imagens-síntese, ainda menciona
que
?Os livros com o sinete editorial da José Olympio logo começaram a destacarse da insípida mediocridade
dos concorrentes, pois o editor, desde o início, dedicou cuidadosa atenção ao projeto gráfico. Seu
colaborador nessa área, mais uma vez, foi um nordestino, Tomás Santa Rosa, que trabalhara
anteriormente em diagramação e em desenhos de capa para a Schmidt (...) [deste modo] ele tem sido
considerado o maior produtor gráfico de livros do Brasil, responsável, quase sozinho, pela transformação
estética do livro brasileiro nos anos de 1930-1940 produtor gráfico de livros do Brasil, responsável quase
que sozinho pelas transformações estéticas do livro brasileiro nos anos de 1930-1940?. (HALLEWELL,
2017, p. 512).
O reconhecimento maior de Santa Rosa no âmbito das artes gráficas veio quando ele foi convidado a criar
e coordenar um pioneiro projeto escolar que contribuísse diretamente com a formação de artistas no
âmbito das artes gráficas. Em março de 1946 sua ambição de difundir a profissionalização do ofício
através de um conhecimento sistematizado sobre o âmbito foi consolidada. Certamente, sua atuação o
consagrava como principal peça de montagem e coordenação do Curso de Artes Gráficas, realizado pela
Fundação Getúlio Vargas, na cidade do Rio de Janeiro:
Em 1946, a Fundação Getúlio Vargas doava ao nosso meio artístico um atelier de gravura, o qual tive a
honra de dirigir. Com a colaboração do Carlos Osvald e Leskoscheck, efetuou-se um trabalho de
desbravamento cujos resultados em oito meses teremos a oportunidade de expor ao público ainda este
mês. É admirável a ágil e curiosa inteligência dos jovens alunos, aprendendo e experimentando com
eficiência rapidez, técnicas como as da gravura, complexas e variadas (SANTA ROSA, 1947, p. 10).
Nesse sentido, acompanhando a leitura quanto à repercussão do Curso feita pela crítica de arte, podemos
avaliar até que ponto a iniciativa coordenada por Santa Rosa foi benéfica ao fazer-se do metiê. A cargo da
coordenação do primeiro curso de artes gráficas do país, Santa Rosa difundiu suas proposituras e
diretrizes quanto à formação de novos profissionais. Tendo ele ainda desempenhado a função de
professor. Assim, foi possível avaliar como o artista/professor articulou seu conhecimento no âmbito.
Sobre a repercussão do curso, Santa Rosa , pondera que a consequência maior é a de estabelecer uma
positiva relação de novos artistas/profissionais, assim, ?(...) com paginadores de nova visão, as editoras
com ilustrações possuidoras de todas as técnicas, e as agências de publicidade em ?layoutmans? e
cartazistas?. Investir nos campos de artes gráficas que se voltam para comunicação em massa (FALA...,
1946, p. 8). Vale salientar que sua preocupação em fortalecer o mercado interno, ?(...) fazer ressurgir
essas técnicas da obscuridade em questão, e trazer ao meio brasileiro uma contribuição objetiva, digna de
consideração? (FALA..., 1946, p. 8).
No período aqui abordado, especialmente entre a década de 1930 e a de 1950, embates que revelam
divergências sobre a arte e a cultura, trazendo à tona caminhos para compreensão da cultura artística de
um tempo. É possível evidenciar questões fulcrais à atmosfera artística, entre elas a qualificação técnica, a
influência ideológica e a função social do artista no metiê.

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No plano individual, Santa Rosa não detinha prerrogativas institucionais oficialmente registradas por
instituições de renome, sua formação na pintura se deu a partir da mentoria de Cândido Portinari, somada
ao seu autodidatismo; assim como nas artes gráficas teve que lidar com o desconforto de não possuir
comprovação institucional.
Já o perfil estético do pintor Santa Rosa pode ser evidenciado em suas inúmeras obras. São diversos
cenários como: festas, vida cotidiana, reminiscências de sua infância, celebrações religiosas, pescadores,
trabalhadores, samba. Em relação à representação de mulheres, é interessante perceber que,
diferentemente do projeto visual da década de 1930, Santa Rosa investiu em adereços africanistas, como
turbantes e vestidos longos de cores fortes. A escolha em representar a estética negra através de lenços,
vestidos e indumentárias foi a maneira de criar suas imagens-síntese. Assim é também possível
evidenciar suas memórias da Cidade da Parahyba.

Imagem 03 ? Festa, (óleo sobre tela) 80 x 63 cm, Santa Rosa, 1950

Fonte: BARSANTE, 1993

Os embates quanto às modificações no âmbito da arte atravessam a conjuntura cultural do primeiro


quinquênio do século XX. Tanto é que a tessitura pictórica de Santa Rosa, assim como a de outros/as
artistas modernistas, foi alvo de protestos em algumas exposições pelo país. Um bom exemplo ocorreu na
Semana de Arte Moderna de Belo Horizonte de 1944, quando as realizações modernistas não agradaram
parte do público geral. A pintura moderna ficou marcada por uma investida em tom de manifesto, contra a
realização da Semana de Arte Moderna Belorizontina. Trata-se de um atentado às telas e esculturas
registrado pela imprensa local e revistas de arte.
No ensaio ?Fígaro barbeia o modernismo?, do crítico de arte Henrique Pongetti, é possível compreender
cenas surpreendentes. Pongetti conta sobre um homem desconhecido que saiu distribuindo coléricas
navalhadas em formato de cruzes nas telas dos quadros que compunham a exposição. O advento revela,
entre outras questões, querelas de pulso ideológico circunscritas à atmosfera artística do tempo de Santa
Rosa.
Figura 04 ? As Três Idades da Vida (óleo sobre tela) 90 x 76 cm, Santa Rosa (obra danificada)

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Fonte: BARSANTE, 1993.

O pintor modernista premiado com medalha de prata na mais importante exposição do país, o Salão
Nacional de Arte (1941) defendia ferrenhamente a concepção do modernismo nacional, ou seja, a ideia
que embora o modernismo brasileiro sofresse influência do arte europeia já havia idiossincrasias artísticas
locais que caracterizavam o modernismo nacional. Santa Rosa foi júri de expoentes exposições nacionais,
a exemplo da Bienal de São Paulo em 1951 e 1953; e no Salão Nacional na seção de Arte Moderna. Vale
salientar que o Salão Nacional era um importante espaço na história da pintura e da intelectualidade
artística no país, que protagonizou exposições marcantes, que deteve por função institucional a anuência
de reconhecer um quadro enquanto obra de arte, é o Salão Nacional. Conforme explica Luz, o Salão:
[11: O debate historiográfico acerca do modernismo e nacionalismo é de longa data, aqui, daremos
atenção especial à temporalidade que marca o fazer-se do multiartista Santa Rosa, ou seja, a atmosfera
artística cultural (entre 1930 e 1950) na qual o intelectual-multiartista Santa Rosa experimentou no mundo
da arte, de seu tempo, sentidos do modernismo. Como outros intelectuais, encarou a vida artística
enquanto aquilo que Gomes (2004, p. 82) determinou por ?[...] doublé de teórico da cultura e de produtor
de arte, inaugurando novas formas de expressão e refletindo sobre as funções e desdobramentos sociais
que tais formas guardariam?. Em relação ao nacional, ou seja, a criação do referido constructo ideológico
de unidade nacional desempenhada pelo Estado Novo buscou, segundo Gomes (2007), agir em benefício
da recuperação de um passado colonial, harmônico e glorioso. Por seu turno, Oliveira (2013) enveredou a
compreender o nacionalismo identificando o aparecimento, no início do século XX, de movimentos
artísticos nacionais que corroboram com a evocação do nacional, a exemplo do Manifesto Pau-Brasil
(1924) e do Manifesto antropofágico (1924), em cujo contexto a modernização de dispositivos de
comunicação (tais como rádio, indústria editorial e cinema) foi imprescindível para a difusão de símbolos e
sentidos de nacionalismos.]
(...) propiciava a oportunidade para todo e qualquer artista, independente da situação econômica que
tivesse, poder se aperfeiçoar nos principais centros de produção artística na Europa. A cada ano, a
emulação entre os concorrentes 173 ajudava o despertar de novos valores para a arte brasileira. Como as
obras premiadas ficavam para a coleção da Academia, depois Escola Nacional de Belas Artes, e que, em
1937, no governo de Getúlio Vargas, deu origem ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes, temos,
ainda, a grande contribuição dos Salões para a formação e ampliação desse acervo notável de nosso
museu. (LUZ, 2006, p. 60).
Ou seja, ao participar do Salão, o artista pavimentava sua trajetória rumo à consagração. A expectativa do
reconhecimento dos pares significava não apenas uma condecoração, mas também a possibilidade de
ascensão social, uma vez que se almejava abocanhar a premiação concedida pela Escola Nacional de
Belas Artes. As bolsas de estudos eram concedidas com intuito de ampliar o conhecimento em viagens
pelo Brasil (prêmio nacional) ou à Europa (prêmio internacional). Santa Rosa não se beneficiou de viagens
internacionais através do prêmio do Salão, foi através de sua conquista em outro âmbito da arte, o teatro.
A trajetória de Santa Rosa no teatro foi propiciada por inúmeras participações enquanto cenógrafo em
diversas companhias, entre elas ?Os comediantes? e a ?Companhia Dramática Nacional''. Além disso, ele
ocupou os seguintes cargos: diretor do Museu de Arte Moderna (1948), coordenador do ateliê de
decoração do Teatro da Escola Nacional (1950) e diretor do Conservatório Nacional de Teatro. Em 1952,
fez sua primeira viagem à Europa representando o Brasil na Reunião dos Artistas em Veneza, conferência

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organizada pela Unesco. Nesse período, ele circulou pela Itália, Espanha, Inglaterra e França por quase
dois meses. Em 1955, passou a dirigir o Conservatório Nacional de Teatro. Em 1956, ano que marca sua
morte, foi nomeado professor de cenografia na Escola Nacional de Belas Artes da Universidade do Brasil.
Entre seus maiores anseios estava a criação de uma escola de Teatro, Teatro para Crianças e o Teatro
de Negros. A sua relação com o Teatro Experimental do Negro foi efetiva, tanto na produção de cenários
como em incisivas defesas em jornais da época. Para o TEN, Santa Rosa realizou a cenografia para o
Recital Castro Alves, dirigido por Abdias Nascimento, no Teatro Fênix, no Rio de Janeiro. Ele foi
responsável, também, pelo cenário da peça Terras do sem-fim, espetáculo adaptado da obra do baiano
Jorge Amado, por Graça Mello. Já em 1948, assinou a produção visual dos figurinos e cenários da peça A
Família e a Festa na Roça, dirigida por Dulcina de Moraes. Já em 1949, o intelectual negro das artes
visuais realizou a feitoria de Filhos de Santo, obra escrita por José Morais de Pinheiro, com direção de
Abdias Nascimento. E Calígula, texto escrito pelo filósofo argelino Albert Camus, que por falta de recursos
não conseguiu ser exibida mais de uma vez, contou com a cenografia e arte figurinista de Santa Rosa,
sendo a direção de Abdias Nascimento.
Santa Rosa promoveu assertivas defesas a favor da consolidação do teatro para negros. No dia 25 de
agosto de 1946 no jornal Diário Trabalhista, é possível evidenciar em ?PROBLEMAS e aspirações do
negro brasileiro: o Teatro Experimental do Negro e a cultura do povo?, a denúncia sobre interrupções nos
ensaios do grupo, que ocorriam no teatro Fênix, do referido grupo.
Niuxa Dias Drago (2014), em A cenografia de Santa Rosa ? espaço e modernidade, apresenta sua
notoriedade em sua trajetória no Teatro que passa a influenciar o âmbito do teatro nacional, considerando
que ele foi um dos precursores da perspectiva modernista e da arte-social na atmosfera do teatro. O ofício
da arte cenográfica coincide com mudanças significativas ocorridas nesta área, considerando sua
condição de inovador da perspectiva moderna ? pode-se dizer que a grande modificação trazida por Santa
Rosa é propiciada por meio de novas funções para elementos como luz, arquitetura de palco e adereços.
Com isso, Santa Rosa ? ao empreender uma transformação da perspectiva (que passaria de dual para
tridimensional) ? acabaria se tornando responsável por transformar a arte cenográfica no teatro nacional
na primeira metade do século XX, fazendo com que esta deixasse de ser um simples elemento decorativo
e passasse a se impor como um conteúdo específico da arte teatral. Note-se que a primeira versão da
peça Vestido de Noiva (1943), de autoria de seu amigo e escritor Nelson Rodrigues e direção do imigrante
polonês (evadido dos conflitos da Segunda Guerra Mundial) Zbigniew Marian Ziembinski, é o marco que
divide a cenografia brasileira.
Figura 04 ? Cenário da peça Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues, 1943

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Fonte: BARSANTE, 1982.


A melodia da vida e o ritmo de pinceladas entrelaçadas em suas formas, linhas e cores, condensadas em
quadros, murais e capas de livros ilustram feitorias de um artista, mas também, o olhar de um homem em
seu tempo para a cenografia são vestígios de uma trajetória de vida, vivida pelo sujeito histórico Santa
Rosa.

Considerações Finais
Como visto, o espaço geracional de Santa Rosa foi analisado como possibilidade para compreender a sua
experiência em meio a repercussão do ideal moderno e as transformações/modernização dos dispositivos
essenciais para a vida na urbe (luz, água, transporte). A vida na Cidade da Parahyba, vivida por pouco
mais de duas décadas, levou Santa Rosa a elaborar suas impressões sobre o meio social, cultural, político
e arquitetônico que o rodeava.
A sua a vida familiar do pequeno ?Bosinho? não foi fácil. Afinal, a conjuntura epidêmica na infância
resultou na perda de três irmãos. Santa Rosa tornou-se o único filho homem de Alexina e Thomaz Santa
Rosa. As postulações ensejadas buscaram explicar a maneira pela qual o jovem Santa Rosa foi
beneficiário de uma boa formação educacional, e de como chegou a cargos no funcionalismo público da
cidade. Uma vez funcionário público do Tesouro Estadual, se beneficiou de uma rede de sociabilidade que
fora iniciada bem antes, com a escolha de seu padrinho, medida salutar a sua trajetória no âmbito do
trabalho.
Também buscamos compreender a trajetória de vida de Santa Rosa a partir de sua experiência vivida em
espaços de sociabilidade que circulou. Assim, procuramos apresentar os primeiros passos do artista
gráfico, professor, pintor e crítico, revelando expedientes de seu protagonismo enquanto um artista afro-
brasileiro multifacetado. No Teatro, o cenógrafo Santa Rosa difundiu referências ideológicas e
contribuições técnicas para a cenografia, a maneira com a qual utilizou elementos que projetam aspectos
em formas e conteúdo da cultura afro-brasileira e africana na feitura cênica do teatro nacional junto ao
Teatro Experimental do Negro.
Nosso intuito foi colaborar com os estudos afro-pedagógicos concernentes às trajetórias de vidas de
homens letrados no pós-abolição. A investigação histórica se alimenta de perguntas que são ensejadas a
cada novo olhar sobre o mesmo documento/testemunho, e estas vêm à luz a partir do tempo presente.
Alguns apontamentos chegam enquanto bússola que norteia novas navegações da pesquisa. O mar das
emancipações, do pós-abolição está propicio para longas e profundas navegações em que o fato histórico
da abolição da escravidão em 1888 é a égide para novas conexões do passado-presente.

Referências bibliográficas
AMADO, Jorge. Navegação de cabotagem: apontamentos para um livro de memórias que jamais
escreverei. São Paulo: Companhias das Letras, 1992.
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.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=120774&pasta=ano%20190&pesq=anjo&pagfis=1064. Acesso em:
1º nov. 2022.
ARAÚJO, Edna Maria Nóbrega. Uma cidade, muitas tramas: a cidade da Parahyba e seus encontros com
a modernidade (1880-1920). 2001. Dissertação (Mestrado em História) ? Centro de Filosofia e Ciências
Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2001.

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BARROS, Surya Aaronovich Pombo de. Vicente Gomes Jardim: um ?artista? e autor ?de cor? no final do
século XIX e início do XX. Resgate: Revista Interdisciplinar de Cultura, Campinas, SP, v. 28, e020024, p.
1-34, 2020. DOI: 10.20396/resgate.v28i0.8658603. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs
/index.php/resgate/article/view/8658603. Acesso em: 26 mar. 2023.
BARSANTE, Cássio Emanuel. A vida ilustrada de Tomás Santa Rosa. Rio de Janeiro: Bookmares, 1993.
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BATISTA, Juarez. Caminhos, sombras e ladeiras. João Pessoa: A União, 1951.
BORGES, Vavy Pacheco. Grandezas e misérias da biografia. In: PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Fontes
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