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Relatório do Software Anti-plágio CopySpider


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Instruções
Este relatório apresenta na próxima página uma tabela na qual cada linha associa o conteúdo do arquivo
de entrada com um documento encontrado na internet (para "Busca em arquivos da internet") ou do
arquivo de entrada com outro arquivo em seu computador (para "Pesquisa em arquivos locais"). A
quantidade de termos comuns representa um fator utilizado no cálculo de Similaridade dos arquivos sendo
comparados. Quanto maior a quantidade de termos comuns, maior a similaridade entre os arquivos. É
importante destacar que o limite de 3% representa uma estatística de semelhança e não um "índice de
plágio". Por exemplo, documentos que citam de forma direta (transcrição) outros documentos, podem ter
uma similaridade maior do que 3% e ainda assim não podem ser caracterizados como plágio. Há sempre a
necessidade do avaliador fazer uma análise para decidir se as semelhanças encontradas caracterizam ou
não o problema de plágio ou mesmo de erro de formatação ou adequação às normas de referências
bibliográficas. Para cada par de arquivos, apresenta-se uma comparação dos termos semelhantes, os
quais aparecem em vermelho.
Veja também:
Analisando o resultado do CopySpider
Qual o percentual aceitável para ser considerado plágio?

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Modo: web / normal

Arquivos Termos comuns Similaridade


BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf X 883 3,80
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/245907/
TCC_Luana Luzia da Silva.pdf?sequence=1&isAllowed=y
BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf X 141 1,34
https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-
noticias/2020/12/17/conheca-os-pros-e-contra-do-
homeschooling-a-educacao-domiciliar-no-brasil.htm
BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf X 173 0,85
https://g1.globo.com/educacao/noticia/2021/04/04/homeschooli
ng-entenda-o-modelo-de-aprendizagem-domiciliar-que-o-
governo-quer-regulamentar-ate-julho.ghtml
BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf X 535 0,77
https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/3654/1/2006_TESE_MT
SFIGUEIREDO.pdf
BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf X 57 0,62
https://blog.culturainglesa.com.br/o-que-e-homeschooling
BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf X 105 0,61
https://escolamp.org.br/revistajuridica/19_04.pdf
BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf X 60 0,48
https://www.nheri.org/home-school-researcher-homeschooling-
in-brazil-an-overview
BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf X 86 0,34
https://g1.globo.com/educacao/noticia/2022/05/19/homeschooli
ng-entenda-o-que-diz-o-projeto-de-lei-aprovado-pela-camara-
sobre-ensino-domiciliar.ghtml
BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf X 30 0,13
https://gem-report-2021.unesco.org/wp-
content/uploads/2022/05/Yin.pdf
BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf X 9 0,09
https://www.parents.com/kids/education/home-
schooling/homeschooling-101-what-is-homeschooling
Arquivos com problema de download
https://srcd.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/cdep.12441 Não foi possível baixar o arquivo. É
recomendável baixar o arquivo
manualmente e realizar a análise em
conluio (Um contra todos). - Erro: Parece
que o documento não existe ou não pode
ser acessado. HTTP response code: 403 -
Server returned HTTP response code:
403 for URL:
https://srcd.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.
1111/cdep.12441

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Arquivo 1: BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Arquivo 2: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/245907/TCC_Luana Luzia da
Silva.pdf?sequence=1&isAllowed=y (16217 termos)
Termos comuns: 883
Similaridade: 3,80%
O texto abaixo é o conteúdo do documento BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/245907/TCC_Luana Luzia da
Silva.pdf?sequence=1&isAllowed=y (16217 termos)

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Cuiabá
2023

Cidade
Ano
BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

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A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO


DOMICILIAR NO BRASIL

Cuiabá
2023

A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO


DOMICILIAR NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à UNIC ?


Universidade de Cuiabá, como requisito parcial para a

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obtenção do título de graduado em Direito.


Orientadora: Denise Alcantara

BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO DOMICILIAR


NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade de Cuiabá - UNIC, como requisito
parcial para a obtenção do título de graduado
em Direito.

BANCA EXAMINADORA

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Cuiabá, dia de mês de 2023

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ARRUDA, Brenno Eduardo. A constitucionalidade do método de ensino domiciliar


no Brasil. 2023. 22 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito)
? Universidade de Cuiabá - UNIC, Cuiabá/MT, 2023.

RESUMO

O objetivo deste trabalho é discutir o ensino domiciliar, também conhecido como


homeschooling, uma prática educacional em que os pais ou responsáveis assumem
a responsabilidade de educar seus filhos em casa, ao invés de matriculá-los em uma
escola tradicional. Esta prática permite uma abordagem de ensino personalizada,
adaptada às necessidades e interesses individuais de cada criança. No entanto, a
viabilidade jurídica do ensino domiciliar no Brasil é um tema de debate. Embora alguns
pais e responsáveis defendam o direito de educar seus filhos em casa, existem
questões legais e regulatórias que precisam ser consideradas. O estudo também
analisará países onde o ensino domiciliar é regulamentado, destacando o papel da
família e do estado na educação domiciliar. Além disso, há diversas decisões judiciais
relacionadas ao ensino domiciliar no Brasil, com alguns casos de grande impacto.
Estas decisões judiciais podem ter um impacto significativo na forma como o ensino
domiciliar é praticado e regulamentado no país. Portanto, é importante compreender
o conceito de ensino domiciliar, analisar sua viabilidade jurídica no contexto brasileiro
e estar ciente das decisões judiciais relacionadas a esta prática educacional.

Palavras-chave: Direito à Educação Domiciliar. Homeschooling. Educação no Lar.


Flexibilidade da Educação Básica.

ARRUDA, Brenno Eduardo. The constitutionality of the home teaching method in


Brazil. 2023. 22 sheets. Completion of Law Course ? University of Cuiabá, Cuiabá
2023.

ABSTRACT
The aim of this work is to discuss homeschooling, also known as home education, an
educational practice in which parents or guardians take on the responsibility of
educating their children at home instead of enrolling them in a traditional school. This
practice allows for a personalized teaching approach, tailored to the individual needs
and interests of each child. However, the legal feasibility of homeschooling in Brazil is
a subject of debate. While some parents and guardians advocate for the right to
educate their children at home, there are legal and regulatory issues that need to be
considered. The study will also examine countries where homeschooling is regulated,
highlighting the roles of both the family and the state in home education. Furthermore,
there have been various legal decisions related to homeschooling in Brazil, with some

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cases of significant impact. These legal decisions can have a significant impact on how
homeschooling is practiced and regulated in the country. Therefore, it is important to
understand the concept of homeschooling, analyze its legal feasibility in the Brazilian
context, and be aware of legal decisions related to this educational practice.

Keywords: Right to Homeschooling. Homeschooling. Home Education. Flexibility of


Basic Education.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 ? Países onde o Homeschooling é legalizado segundo ANED ................ 16

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. Artigo
ANED Associação Nacional de Educação Domiciliar
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
RE Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
USP Universidade de São Paulo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING ......................................................... 10
2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO ................................................................................. 11
2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING..................................................................... 11
2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING .................................... 13
2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING ................................................ 14
2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES............... 15
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL ..................................................................................................................... 18
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO ................................................. 18
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL ....................................................................... 21
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL .................................................................. 22
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA) ............................................................................................. 23

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3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB) ................. 25


3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA ............................................................ 26
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR ............................................................................................................. 30
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 34
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36

9
1 INTRODUÇÃO

A prática do ensino domiciliar, também conhecida como homeschooling, tem


se tornado um tema de discussão relevante no contexto brasileiro. Este fenômeno
educacional, em que os pais assumem a responsabilidade de instruir seus filhos em
casa, em vez de enviá-los a uma escola convencional, suscita questionamentos
profundos sobre seus impactos, especialmente no que diz respeito às crianças e
adolescentes.
Este estudo tem como foco central a "Constitucionalidade do Ensino Domiciliar
no Brasil". Trata-se de uma questão que tem sido amplamente debatida ao longo dos
anos, sobretudo pelos pais e responsáveis que buscam a regulamentação desse
modelo educacional para proporcionar uma educação de qualidade dentro de seus
lares.
A relevância desta pesquisa é evidente, uma vez que ela busca lançar luz sobre
a legalidade do ensino domiciliar, oferecendo clareza àqueles que optam por educar
seus filhos em casa, sem temer penalizações estatais. Além disso, busca-se, por meio
de dados e evidências, explorar experiências internacionais em que o ensino
domiciliar é regulamentado, destacando o papel fundamental desempenhado tanto
pela família quanto pelo Estado na educação dos alunos no ambiente familiar.
O estudo também tem o potencial de contribuir para a compreensão desse
tema tanto na comunidade acadêmica quanto na sociedade em geral. Através da
análise doutrinária, legal, jurisdicional e constitucional, bem como da comparação de
dados educacionais, pretende-se lançar luz sobre o papel da família e do Estado no
ensino domiciliar, promovendo um debate informado e enriquecedor.
Para alcançar esses objetivos, este projeto de pesquisa adotará uma
abordagem qualitativa e descritiva, permitindo a análise das características desse
fenômeno educacional e a compreensão dos pressupostos teóricos que o envolvem.
A pesquisa abrangerá a revisão de livros, dissertações, teses, artigos e trabalhos
científicos publicados nos últimos 10 anos, além de buscas em bancos de dados
acadêmicos como o Google Acadêmico e Scielo.

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2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING

O ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, é uma prática


que tem ganhado destaque tanto no cenário internacional quanto no contexto
brasileiro. Em todo o mundo, famílias optam por essa modalidade de ensino por uma
variedade de razões, incluindo a busca por um currículo mais personalizado, a
flexibilidade de horários e a preocupação com a segurança e o bem-estar dos filhos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o homeschooling é uma opção legal em todos os
estados, e milhares de famílias escolhem essa abordagem educacional. No entanto,
as regulamentações e atitudes em relação ao ensino domiciliar variam
consideravelmente de país para país.
Nesse contexto, Moreira (2017) esclarece que:

A educação domiciliar é uma modalidade de ensino que não obedece a uma


lógica única, massificada para todas as famílias, por basear-se no princípio
da soberania educacional da família, ou seja, seu fundamento é a liberdade
de cada família determinar como será realizada a educação de seus filhos.
(MOREIRA, 2017, p. 61).

O ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, é uma prática


que tem ganhado destaque tanto no cenário internacional quanto no contexto
brasileiro. Em todo o mundo, famílias optam por essa modalidade de ensino por uma
variedade de razões, incluindo a busca por um currículo mais personalizado, a
flexibilidade de horários e a preocupação com a segurança e o bem-estar dos filhos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o homeschooling é uma opção legal em todos os
estados, e milhares de famílias escolhem essa abordagem educacional. No entanto,
as regulamentações e atitudes em relação ao ensino domiciliar variam
consideravelmente de país para país.
Assim em revista especializada em educação foi publicado que:

Os motivos que levam os pais a optar pelo homeschooling são variados. Há


a insatisfação com as escolas, o temor em relação ao seu ambiente, interno
e externo. Os pais temem pela integridade física dos filhos. O que é
compreensível em ambientes onde existe violência. Há também as situações
em que as crianças e adolescentes são vítimas de bullying. Ir à escola é um
sofrimento diário e silencioso. A provisão legal da possibilidade de estudar
em casa eliminaria esse sofrimento que atinge milhares de crianças e
adolescentes (ALVES, 2011).

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2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO

O homeschooling é uma abordagem educacional na qual os pais ou


responsáveis assumem a responsabilidade de instruir seus filhos em casa, em vez de
enviá-los a uma escola tradicional. Essa prática oferece um ambiente de aprendizado
personalizado, no qual o currículo pode ser adaptado de acordo com as necessidades
e interesses individuais de cada criança. O homeschooling não se restringe a um
modelo específico; em vez disso, é uma prática flexível que pode variar amplamente
de família para família.
Na prática do homeschooling, os pais desempenham um papel fundamental na
construção do ambiente educacional de seus filhos. Isso implica não apenas na
seleção de materiais didáticos e na organização do currículo de acordo com as
aptidões e interesses únicos de cada criança, mas também na promoção de uma
atmosfera que estimule a curiosidade, a autodisciplina e a aprendizagem
independente. Além disso, o homeschooling permite uma flexibilidade rara no
processo de ensino, possibilitando a exploração de tópicos interdisciplinares e a
adaptação dos métodos de aprendizado de acordo com o ritmo de desenvolvimento
de cada aluno. Essa abordagem coloca a ênfase não apenas na obtenção de
conhecimentos acadêmicos, mas também no desenvolvimento holístico das crianças,
incluindo aspectos sociais, emocionais e éticos, tornando-se assim uma alternativa
atraente para famílias em busca de uma educação sob medida para suas
necessidades e valores.

2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING

O homeschooling tem uma longa história, datando de séculos atrás, quando as


famílias eram a principal fonte de educação. No entanto, o surgimento da escola
moderna no século XIX relegou o ensino em casa a um segundo plano. No século XX,
o homeschooling ressurgiu, impulsionado por diversos movimentos e mudanças
sociais, incluindo o movimento de contracultura dos anos 1960 e 1970. Desde então,
sua prática tem se expandido e diversificado globalmente.

12
No entanto, vale ressaltar que a formalização e a regulamentação do
homeschooling como uma opção legal de educação são mais recentes em muitos
países, incluindo o Brasil. O surgimento mais notável e o reconhecimento oficial do
homeschooling no Brasil ocorreram nas últimas décadas, principalmente a partir dos
anos 2000, quando começou a ganhar visibilidade e a ser debatido mais amplamente.
Nos Estados Unidos da América (EUA), o pioneiro do homeschooling foi Holt,
considerado o pai da desescolarização. Ele acreditava que a escola tradicional, de
certo modo, coagia as crianças a aprenderem, quando, na verdade, elas o fariam
naturalmente se tivessem a liberdade de seguir seus próprios interesses e acesso a

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uma ampla variedade de recursos. A partir de uma perspectiva da educação orgânica,


que valoriza o potencial humano como prioridade no desenvolvimento da criança,
essa linha de pensamento passou a ser chamada de unschooling e, posteriormente,
homeschooling.
No que tange as pesquisas pautas no princípio de revisão bibliográfica, é
relevante atentar-se ao fato de que:

O termo homeschooling, de língua inglesa, usual nos Estados Unidos da


América, é usado internacionalmente para identificar uma modalidade de
educação específica que é organizada e implementada pelos próprios pais
como alternativa de escolarização de seus filhos em casa e não na escola. É
traduzido, normalmente, para o português, por Educação Domiciliar, em uma
tradução literal da junção da palavra home (casa, ou lar), com a palavra
school (escola). O termo escola no gerúndio (schooling), já sugere a ideia do
próprio modelo de educação, que está carregado de um sentido de ensino
contínuo, no qual os pais se dispõem para o processo ensino aprendizagem
em formas e condições contínuas e cotidianas da vida da criança e da família,
organizadas intencionalmente ou não para o fim educativo, tais como
refeições, passeios, viagens, relacionamentos com a vizinhança, etc
(ANDRADE,2014,p. 19).

O homeschooling ganhou destaque no Brasil durante a pandemia de COVID-


19, que teve início em 2020. Com o fechamento temporário das escolas em muitas
regiões do país como medida de contenção da disseminação do vírus, muitos pais e
responsáveis foram forçados a considerar o ensino em casa como uma alternativa
viável para garantir a continuidade da educação de seus filhos.
Esse período de restrições sanitárias resultou em um aumento significativo no
interesse e na prática do homeschooling no Brasil. Muitas famílias passaram a buscar
soluções educacionais flexíveis e adaptadas às circunstâncias da pandemia,

13
recorrendo ao ensino em casa para manter o aprendizado das crianças durante os
lockdowns e as incertezas associadas à pandemia.
A pandemia também destacou a importância da adaptação e flexibilidade no
homeschooling. Pais e tutores tiveram que se ajustar rapidamente a novos métodos
de ensino online e colaborar mais estreitamente com escolas para acessar materiais
e recursos educacionais. Além disso, o ensino em casa permitiu que algumas famílias
aproveitassem o tempo em casa para explorar tópicos adicionais, incentivando a
aprendizagem autodirigida e a criatividade.
No entanto, é importante observar que o homeschooling durante a pandemia
também trouxe desafios, incluindo a necessidade de equilibrar o trabalho remoto dos
pais com a supervisão do aprendizado das crianças. O debate sobre a
regulamentação e a legalização do homeschooling no Brasil também se intensificou

Relatório gerado por CopySpider Software 2023-11-06 10:12:11


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devido às mudanças trazidas pela pandemia. Portanto, o ensino domiciliar teve um


impacto notável no contexto da educação brasileira durante a crise da COVID-19,
levantando questões importantes sobre como essa prática deve ser abordada e
regulamentada no país.

2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING

O homeschooling, ou ensino domiciliar, é uma abordagem educacional que se


baseia em princípios e abordagens específicas. Embora haja variações na prática do
homeschooling, alguns princípios e abordagens comuns incluem a individualização da
educação, onde os pais ou tutores adaptam o currículo de acordo com as
necessidades e interesses de cada criança, promovendo um aprendizado
personalizado. Além disso, o homeschooling incentiva a aprendizagem autodirigida,
capacitando as crianças a tomar decisões sobre o que e como aprendem, promovendo
a responsabilidade pela própria educação e o desenvolvimento de habilidades de
aprendizado independentes.
Assim para MOREIRA (2017, p.10), ?pesquisas demonstram que essas
crianças estão bem preparadas em sentido acadêmico e social para participar de uma
democracia liberal?.
Uma das vantagens do homeschooling é a flexibilidade, permitindo que as
famílias adaptem o horário de aprendizado para atender às necessidades individuais,

14
aproveitando oportunidades de aprendizado fora do ambiente escolar tradicional. Isso
é complementado pelo uso de uma ampla variedade de recursos educacionais,
incluindo livros, materiais didáticos, recursos online, visitas a museus e aulas
particulares, que enriquecem a abordagem educacional.
No homeschooling, valoriza-se a educação informal, reconhecendo que as
experiências cotidianas, viagens, atividades ao ar livre e interações com a
comunidade são oportunidades valiosas de aprendizado. Os pais desempenham um
papel fundamental no ensino domiciliar, projetando o currículo, fornecendo instrução
e apoio, e acompanhando o progresso acadêmico e social de seus filhos.
Além disso, o homeschooling coloca ênfase não apenas na educação
acadêmica, mas também no desenvolvimento integral da criança, incluindo aspectos
sociais, emocionais e éticos. Essa abordagem é especialmente atraente para famílias
com crianças com necessidades educacionais especiais, uma vez que permite uma
adaptação mais precisa a essas necessidades.

2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING

Apesar de seus princípios e benefícios percebidos, o homeschooling é objeto


de debates e controvérsias em todo o mundo. Um dos principais pontos de debate diz
respeito à socialização das crianças educadas em casa, uma vez que podem ter

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menos oportunidades de interagir com seus pares. Além disso, questões relacionadas
à qualidade da supervisão educacional e à capacidade dos pais de fornecer um ensino
adequado em todas as disciplinas são frequentemente levantadas. Críticos
argumentam que, sem uma supervisão rigorosa, algumas crianças podem não
receber a educação de qualidade necessária.
De acordo com a pedagoga (Barbosa, 2013), autora do estudo, a prática do
homeschooling:

Segundo os dirigentes das associações canadenses de ensino domiciliar


entrevistados por Luciane, a ausência da escola não leva a uma falta de
socialização. ?Ao contrário, eles argumentam que a instituição escolar leva a
uma socialização restrita, por segregarem as crianças por idade?, diz. ?No
Canadá, as bibliotecas e ginásios esportivos possuem programas voltados
para ?homeschoolers?, e normalmente os pais que ensinam os filhos em casa
são filiados a duas ou mais associações do setor. Também há uma
preocupação em desenvolver a participação social dos filhos nas
comunidades em que vivem, pois consideram que a escola oferece um

15
conceito de cidadania ligado apenas ao conhecimento de fatos históricos e
ao exercício do voto? (BARBOSA, 2013).

Nesse viés, (Boto, 2022), pesquisadora da USP, diz que:

Os estudos sobre o ensino domiciliar têm mostrado que há um vetor religioso


acerca das famílias que escolhem esse tipo de educação para os filhos, pois
não querem que eles tenham contato com teorias educacionais consideradas
ímpias. A professora considera isso grave e diz que é importante que as
crianças aprendam conteúdos que possam contrariar os interesses dos pais,
já que isso faz parte do aprendizado. Ela ainda afirma que é perigoso a família
se colocar como a única instituição na vida de uma criança (BOTO, 2022).

2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES

A prática do homeschooling, ou ensino em casa, é regulamentada de maneira


diversa ao redor do mundo. Cada país estabelece suas próprias diretrizes para pais
que optam por educar seus filhos em casa, variando desde o reconhecimento legal e
regulamentação específica até proibições rigorosas. Para entender melhor essas
abordagens, examinaremos como alguns países de referência, como os Estados
Unidos, Canadá, Alemanha e Austrália, lidam com a regulamentação do
homeschooling e os resultados que obtiveram.
Nos Estados Unidos, o homeschooling é legal e praticado em todo o país, mas
os requisitos e regulamentos variam de estado para estado. Alguns estados exigem

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notificação prévia às autoridades educacionais locais, enquanto outros impõem testes


padronizados ou avaliações regulares do progresso educacional. Por outro lado, na
Alemanha, o homeschooling é proibido pela lei, com poucas exceções, devido às
preocupações do governo sobre a integração social das crianças. No Canadá, as
províncias têm abordagens distintas, algumas exigindo exames oficiais de avaliação,
enquanto outras pedem apenas notificação às autoridades de ensino local. A
diversidade de regulamentação também é vista na Austrália, com inspeções
regulares, avaliações de progresso e diretrizes curriculares específicas.
No que tange ao homeschooling no Canadá, a pedagoga (Barbosa, 2013)
observou como é posto em prática o ensino domiciliar:

A pedagoga realizou parte do estudo no Canadá, país onde a prática do


?homeschooling? é permitida. ?A regulamentação varia conforme as
províncias, algumas exigem a prestação dos exames de avaliação oficiais,

16
outras pedem apenas que a diretoria de ensino local seja comunicada?, relata.
?Ao entrevistar as famílias canadenses, percebe-se que embora a motivação
religiosa esteja muito presente, os pais também optam pelo ensino em casa
pela questão de custos (famílias mais numerosas) ou por terem filhos com
deficiência, entre outras razões? (BARBOSA, 2013).

A diversidade de abordagens à regulamentação do homeschooling ao redor do


mundo reflete a complexidade das questões envolvidas. Nos Estados Unidos, a
abordagem descentralizada permite flexibilidade para os pais, mas também pode
resultar em disparidades significativas na qualidade da educação em casa,
dependendo do estado em que se encontram. Por outro lado, na Alemanha, a
proibição do homeschooling é uma tentativa de garantir a socialização e a educação
uniforme das crianças, mas levanta questões sobre os direitos dos pais de decidirem
como educar seus filhos. No Canadá e na Austrália, a variedade de regulamentações
indica uma tentativa de equilibrar a autonomia dos pais com a necessidade de garantir
que as crianças recebam uma educação adequada.
Nesse ensejo, a Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED), que é
uma associação dos pais que defendem os estudos em casa, divulgou dados dos
países onde a prática do hommescooling é legal, conforme imagem abaixo:

Figura 1 - Legalidade do ensino doméstico por país.

PAÌSES: África África do Sul, Oceania Austrália, Nova Zelândia. Ásia Filipinas, Japão, América Norte
EUA, Canadá, Sul Colômbia, Chile, Equador, Paraguai. Europa Portugal, França, Itália, Reino Unido,
Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria, Finlândia, Noruega, Rússia.

Relatório gerado por CopySpider Software 2023-11-06 10:12:11


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Fonte: Mapa e quadro divulgados pela ANED (2021).

17

Em vários países europeus, como França e Bélgica, o homeschooling é


estritamente regulamentado e desencorajado, com ênfase na importância da
socialização e da educação em escolas reconhecidas. No entanto, na Suécia, o
homeschooling é permitido sob condições específicas, desde que os pais sigam um
currículo nacional. A regulamentação do homeschooling ao redor do mundo reflete
uma variedade de abordagens culturais, educacionais e políticas, com o objetivo de
equilibrar o direito dos pais de educar seus filhos em casa com o interesse público em
garantir uma educação de qualidade e a socialização adequada das crianças.
De acordo com a pesquisadora (Boto,2018):

Nos Estados Unidos, país que possui hoje mais de 2 milhões de crianças em
idade escolar fora da escola, um dos principais motivos para a prática
do homeschooling é religioso. São as minorias religiosas, bem como minorias
étnicas que, de acordo com os estudos sobre o assunto, aderem a essa nova
modalidade de educação. Entre 1999 e 2010 ocorreu um crescimento
superior a 100% e, para o conjunto dos Estados norte-americanos, há um
contingente de quase 4% de crianças que hoje não frequentam mais a escola.
Na Rússia, entre 2008 e 2012, teria ocorrido ampliação de 900% nas práticas
de homeschooling. Na Alemanha, país que proibiu a prática em seu território,
há inúmeros casos de casais que foram multados e até presos por não
enviarem os filhos à escola (BOTO, 2018).

É evidente que a regulamentação do homeschooling é uma questão complexa


que envolve o equilíbrio entre os direitos individuais dos pais e o interesse público na
educação e socialização das crianças. O debate sobre como melhor abordar essa
questão continua a evoluir à medida que os países buscam encontrar um equilíbrio
entre a liberdade de escolha educacional dos pais e a responsabilidade do Estado de
garantir que todas as crianças recebam uma educação de qualidade e sejam
integradas na sociedade de maneira adequada.

18
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL

No cenário brasileiro, a análise da viabilidade jurídica do estudo domiciliar


requer um entendimento abrangente do contexto legal e regulatório que rege o
sistema educacional. A Constituição Federal de 1988 estabelece princípios essenciais

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que fundamentam a educação no Brasil, enfatizando a responsabilidade


compartilhada entre a família, a sociedade e o Estado na proteção dos direitos das
crianças e adolescentes. O Código Civil reforça o papel dos pais na criação e
educação de seus filhos, e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece
diretrizes específicas para a educação e proteção de menores. Paralelamente, a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) define os princípios gerais da educação
brasileira. Além disso, existem projetos de lei que podem definir o estudo em casa no
Brasil nas mãos dos deputados.
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO
A Constituição Federal de 1988, um marco fundamental na legislação brasileira,
estabelece princípios que guiam a educação no país e atribui responsabilidades tanto
ao Estado quanto à sociedade e às famílias. O Artigo 227 da Constituição Federal de
1988 é um dos pontos centrais nesse contexto:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,


ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL,1988).

Este artigo estabelece que é um compromisso da família, sociedade e Estado


garantir, de forma prioritária, o direito à vida, saúde, alimentação, educação, lazer,
profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e
comunitária das crianças, adolescentes e jovens, além de protegê-los contra qualquer
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
O Artigo 227 da Constituição Federal coloca as crianças, adolescentes e jovens
no centro das preocupações da sociedade e do Estado, enfatizando a necessidade
de criar um ambiente seguro e saudável para o seu desenvolvimento. Ele destaca a

19
educação como um dos pilares fundamentais para o crescimento pleno desses
indivíduos, enfatizando a necessidade de protegê-los contra ameaças e violações de
seus direitos, conforme previsto na Constituição.
Na conjuntura atual, o Artigo 227 mantém sua relevância como diretriz
essencial para a formulação de políticas educacionais e sociais no Brasil. No entanto,
desafios persistentes, como a desigualdade no acesso à educação e a violação dos
direitos das crianças, exigem esforços contínuos para garantir a implementação eficaz
das disposições desse artigo.
O compromisso da família, sociedade e Estado em proporcionar um ambiente
favorável ao crescimento e desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens é
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Portanto, é
crucial que todos os esforços sejam direcionados para garantir o respeito a esses

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direitos e para assegurar que todos os jovens tenham igualdade de oportunidades


para receber uma educação de qualidade, conforme preconizado pelo Artigo 227 da
Constituição Federal de 1988. Em resumo, o Artigo 227 continua a servir como
alicerce para a proteção e promoção dos direitos da juventude, sendo essencial para
garantir um futuro mais promissor às gerações vindouras.
A Constituição Federal de 1988 também estabelece, no Artigo 208, os deveres
do Estado em relação à educação no Brasil. Esses deveres incluem:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a


garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)
anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a
ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos
de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por
meio de programas suplementares de material didáticoescolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009)
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua
oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

20
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela freqüência à escola (BRASIL,1988).

Essas responsabilidades do Estado refletem um compromisso com a promoção


de uma educação acessível, inclusiva e de qualidade para todos os cidadãos
brasileiros. No entanto, o cumprimento desses deveres enfrenta desafios constantes,
principalmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, com
significativas desigualdades regionais.
O pensamento subjacente a esse contexto destaca a importância da educação
como um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico da nação.

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Garantir igualdade de oportunidades educacionais para todos é essencial para


promover a justiça social e formar cidadãos capacitados e engajados. Portanto, a
implementação eficaz desses deveres estabelecidos no Artigo 208 é fundamental para
alcançar esses objetivos e construir uma sociedade mais equitativa e próspera.
Além disso, vale ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição Federal:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho (BRASIL,1988).

O Artigo 205 da Constituição Federal estabelece a educação como um direito


universal e um dever compartilhado entre o Estado e a família, sendo promovido e
incentivado com a colaboração da sociedade. A educação, de acordo com este
dispositivo, tem um propósito que vai além da mera transmissão de conhecimento. Ela
busca o completo desenvolvimento da pessoa, preparando-a para o exercício pleno
da cidadania e qualificando-a para o mercado de trabalho.
Entretanto, a interpretação do Artigo 205 não é unânime. Alguns argumentam
que a redação atual desse artigo é vaga e que a finalidade educacional parece
priorizar a formação de indivíduos funcionalmente integrados na estrutura social em
detrimento do desenvolvimento integral do ser humano. Nesse contexto, questiona-se
se a educação no Brasil, conforme delineada na Constituição, atende efetivamente às
necessidades de desenvolvimento individual ou se foca excessivamente na
preparação para o mercado de trabalho em detrimento do crescimento pessoal e da
promoção da busca pelo conhecimento.

21
Essa discussão levanta questões fundamentais sobre a finalidade da educação
e destaca a necessidade de repensar o sistema educacional para garantir que ele não
só atenda às demandas econômicas, mas também promova o crescimento pessoal,
o aprendizado contínuo e a realização individual. A revisão dos currículos, métodos
de ensino e políticas educacionais pode ser necessária para promover uma educação
mais abrangente e significativa, em consonância com o Artigo 205 da Constituição
Federal.
Ademais, é importante ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição
Federal como um alicerce legal para direcionar a educação no Brasil e garantir que
ela cumpra seu papel essencial no desenvolvimento das pessoas, na formação de
cidadãos ativos e na preparação para o mercado de trabalho.
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL
O Código Civil brasileiro, em seu Artigo 1.634, regulamenta o poder de família,
estabelecendo os seguintes termos:

Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação

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conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação; (BRASIL,2002).

Esse dispositivo legal é o cerne do múnus familiar em relação à obrigação


jurídica de fornecer educação e criação para os seus infantes.
O Código Civil também serve como referência relevante para compreender a
educação domiciliar, um tema que tem gerado debates significativos nos últimos anos.
Embora o Código Civil não faça menção direta à educação em casa, ele estabelece
os deveres e poderes dos pais em relação à criação e educação dos filhos,
destacando a importância da família nesse processo.
No entanto, a educação domiciliar levanta questões específicas em relação à
sua legalidade e regulamentação, que podem variar de acordo com a legislação
educacional vigente. Isso torna essencial que os pais compreendam as leis de
educação em seu país e busquem aconselhamento adequado caso desejem optar
pela educação em casa.

22
O debate sobre a educação domiciliar aborda questões relativas à qualidade
da educação, à socialização das crianças e à capacidade dos pais de proporcionarem
um ambiente educacional adequado em casa. Portanto, a interação entre os direitos
dos pais e o interesse público na formação educacional das crianças é complexa e
deve ser tratada em conformidade com as normas legais aplicáveis.
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL
O Artigo 246 do Código Penal Brasileiro destaca-se como uma peça legislativa
de grande importância no âmbito educacional e jurídico, abordando o dever dos pais
ou responsáveis de providenciar a instrução primária para seus filhos em idade
escolar. Simultaneamente, esse dispositivo legal está relacionado ao estudo
domiciliar, conforme estipula o referido artigo: "Deixar, sem justa causa, de prover à
instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um
mês, ou multa" (BRASIL, 1940).
Este artigo normativo estabelece que a omissão injustificada em fornecer a
instrução primária a um filho em idade escolar configura uma infração sujeita a
penalidades específicas. Tais penalidades incluem detenção com duração de quinze
dias a um mês, bem como a imposição de multa.
A relevância do Artigo 246 reside na ênfase dada à obrigação da educação
primária, um direito fundamental da criança garantido pela legislação brasileira. A
garantia do acesso à educação é crucial para o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos essenciais ao longo da vida. Além disso, a educação desempenha um
papel vital na formação do cidadão e na promoção do bem-estar social.
Nesse contexto, o Artigo 246 do Código Penal visa assegurar que os pais ou
responsáveis cumpram o dever legal de proporcionar a instrução primária a seus filhos
em idade escolar, contribuindo para a formação educacional e cidadã das futuras

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gerações. Ao mesmo tempo, este artigo também suscita questões relacionadas ao


estudo domiciliar. Quando realizado em conformidade com as normas e
regulamentações estabelecidas, o estudo domiciliar permite que os pais assumam um
papel ativo na educação de seus filhos, desde que cumpram os requisitos legais e
assegurem a qualidade da educação em ambiente domiciliar. Isso demonstra o
compromisso do sistema legal brasileiro em conciliar o direito dos pais de escolherem

23
a modalidade educacional de seus filhos com a necessidade de garantir a adequada
formação e proteção das futuras gerações.
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece diretrizes
específicas em relação à educação das crianças e adolescentes. Ele alinha-se ao
entendimento conforme expresso no ?Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação
de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino? (BRASIL, 1990).
Além disso, o Artigo 4º do ECA menciona o dever da família em relação ao
menor, conforme previsto no artigo, que estabelece:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder


público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1990).

Essa obrigação legal encontra respaldo nos princípios estabelecidos no Artigo


53 do ECA, que determina que crianças e adolescentes têm o direito à educação,
visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho. Além disso, o referido artigo prevê seus
direitos, como evidenciado no próprio texto:

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno


desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias
escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; (BRASIL,
1990).

O Artigo 54, por sua vez, estabelece o dever do Estado de garantir o direito à
educação das crianças e adolescentes, como expresso no texto a seguir:

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Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:


I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não
tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

24
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
(Revogado)
IV ? atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos
de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua
oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável,
pela freqüência à escola. (BRASIL, 1990).

Portanto, de acordo com seu §1º, é de responsabilidade do Estado efetivar os


direitos relacionados à educação, assegurando a igualdade de condições para o
acesso e a permanência na escola.
O pensamento subjacente a essas disposições do ECA enfatiza a importância
da educação para o desenvolvimento integral da criança e do adolescente,
preparando-os para uma participação ativa na sociedade e qualificando-os para
futuras oportunidades de trabalho. O ECA coloca a responsabilidade sobre os pais e
o Estado para garantir que a educação seja acessível e eficaz para as crianças e
adolescentes, de acordo com o Artigo 1º do ECA, que preconiza a proteção integral
como princípio norteador.
Entretanto, é importante ressaltar que, assim como no caso da Constituição
Federal, o ECA não faz menção direta à educação domiciliar (homeschooling).
Portanto, a prática da educação em casa levanta questões sobre a conformidade com
essas leis e regulamentos e deve ser considerada cuidadosamente à luz do contexto
legal em vigor. O debate sobre a educação domiciliar gira em torno das necessidades

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das crianças, da qualidade da educação e da capacidade dos pais de fornecer um


ambiente educacional apropriado em casa, ao mesmo tempo em que respeitam as
leis e regulamentações existentes.

25
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabelece princípios
essenciais relacionados à educação no Brasil segundo o Artigo 2º destaca que:

Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de


liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1996).

Assim, verifica-se que a responsabilidade pela educação é compartilhada entre


a família e o Estado, e deve ser baseada nos princípios da liberdade e solidariedade
humana. Além disso, a educação deve ter como finalidade o pleno desenvolvimento
do educando, preparando-o para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.
Adicionalmente, o Artigo 6º da mesma lei impõem que ?É dever dos pais ou
responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4
(quatro) anos de idade? (BRASIL, 1990). Essa disposição, estabelecida no Artigo 6º,
reforça a necessidade de que os pais ou responsáveis efetuem a matrícula das
crianças na educação básica a partir dos 4 anos de idade.
Esse conjunto de responsabilidades do Estado reflete o compromisso com a
promoção de uma educação acessível, inclusiva e de qualidade para todos os
cidadãos brasileiros. No entanto, o cumprimento desses deveres é um desafio
constante, especialmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, com
desigualdades regionais significativas.
O pensamento subjacente a esse contexto destaca a importância da educação
como um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico de uma nação.
Garantir que todos tenham igualdade de oportunidades educacionais é essencial para
promover a justiça social e a formação de cidadãos capacitados e engajados.
Portanto, a implementação eficaz desses deveres está também estabelecida no Artigo
208 da Constituição Federal, que diz que é fundamental para alcançar esses objetivos
é construir uma sociedade mais equitativa e próspera

26
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA
O tema da educação domiciliar tem sido objeto de intensos debates no âmbito
legislativo brasileiro, com vários projetos de lei apresentados ao longo dos anos.
Essas propostas visam redefinir a dinâmica educacional, distribuindo

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responsabilidades entre o Estado e as famílias, a fim de permitir o ensino em casa.


Para que isso ocorra, é necessária uma ativa movimentação do Poder
Legislativo, pois este é o órgão responsável pela fiscalização e criação de leis.
Atualmente, não existe nenhuma lei que valide a educação domiciliar no Brasil,
embora tenham sido apresentados diversos projetos de lei sobre o tema ao longo do
tempo.
Em um breve passeio pela história legislativa, um desses projetos que merece
destaque é o Projeto de Lei nº 6001/2001, de autoria de Ricardo Izar. Este projeto
visava atribuir aos pais a responsabilidade pela educação de seus filhos, dispensando
os alunos que comprovassem educação em casa da obrigatoriedade de frequentar
uma escola e cumprir uma carga horária mínima anual. Nas justificativas
apresentadas, Izar argumentou que deixar o Estado como único provedor de
educação era um abuso de poder e que forçar as crianças a frequentar a escola as
expunha diariamente a drogas e violência, além de uma orientação pedagógica que
poderia ser contrária às convicções filosóficas e religiosas de algumas famílias.
No entanto, após anos de tramitação, esse projeto foi rejeitado e arquivado em
2007. A justificativa para a rejeição foi que a proposta era elitista, já que apenas
famílias com formação educacional adequada e tempo disponível poderiam desfrutar
desse direito, excluindo grande parte da população com menor poder aquisitivo.
Outros projetos de lei seguiram o Projeto de Lei nº 6001/2001, como o Projeto
de Lei 4122/2008 e o Projeto de Lei 3518/2008, que propunham alterações na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
No entanto, essas propostas também foram rejeitadas, argumentando que elas
contrariavam a legislação existente e que a eficácia do ensino domiciliar não havia
sido devidamente demonstrada. A Comissão afirmou que a experiência e a vivência
cotidiana nas escolas eram fundamentais para a aprendizagem e o desenvolvimento
das crianças.

27
Em 2012, o deputado Lincoln Portela elaborou o Projeto de Lei 3179, buscando
acrescentar o ensino domiciliar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As modificações propostas e outros projetos relacionados a ele serão abordados a
seguir.
O Projeto de Lei 3261 de 2015, de autoria do Deputado Eduardo Bolsonaro,
busca autorizar a educação domiciliar, introduzindo várias alterações na Lei nº 9.394
de 1996 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em junho de 2018, o deputado Alan Rick apresentou o Projeto de Lei
10185/2018, propondo alterações no artigo 5º da Lei nº 9.394 de 1996 para especificar
que o dever do Poder Público de garantir a frequência à escola pode ser substituído
pelo zelo no desenvolvimento adequado no caso da educação domiciliar.
O Projeto de Lei 3159, de 2019, de autoria da Deputada Natália Bonavides,
busca acrescentar ao artigo 5º da Lei nº 9394 de 1996 um parágrafo afirmando que a
educação domiciliar não pode substituir a frequência à escola.

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No mesmo ano, foi apresentado o Projeto de Lei 2401/2019, de autoria do


Poder Executivo, que propõe a regulamentação da educação básica domiciliar em
uma lei isolada. Suas disposições são mais detalhadas do que as propostas dos
projetos de lei mencionados anteriormente. O projeto torna explícito que a educação
domiciliar é um direito de escolha dos pais e responsáveis, assegura a igualdade dos
estudantes dessa modalidade com os da educação presencial e estabelece requisitos,
como o registro da educação domiciliar em uma plataforma virtual do Ministério da
Educação e a avaliação anual dos alunos de acordo com a Base Nacional Comum
Curricular.
Além disso, o projeto proíbe a educação domiciliar para pais ou responsáveis
que cumpram penas por crimes previstos em várias normas legais e prevê a perda do
direito de optar pela educação domiciliar no caso de reprovação em duas ou três
oportunidades ou de falta injustificada na avaliação anual.
Há também ajustes propostos para a Lei 9.394 de 1996 e o Estatuto da Criança
e do Adolescente para torná-los compatíveis com a educação domiciliar.
Os projetos de Lei 5852/2019 e 6188/2019, propostos pelos deputados Pastor
Eurico e Geninho Zuliani, pretendem inserir na Lei 9.394 de 1996 a possibilidade de a
Educação Básica ser ministrada por tutores autônomos em locais diferentes das
instituições oficiais de ensino. O segundo projeto busca autorizar a educação

28
domiciliar apenas quando for constatada a inadequação ou impossibilidade de
inclusão do estudante na rede regular de ensino, permitindo ainda o acesso a espaços
e equipamentos públicos.
Esses projetos apensados ao Projeto de Lei 3179/2012 demonstram a
abundância de discussões em torno da educação domiciliar e sua importância no
ordenamento jurídico.
Considerando as contribuições desses projetos de lei, a deputada Luísa
Canziani apresentou um Substitutivo ao Projeto de Lei 3179 de 2012 e suas emendas.
Ela sugeriu apenas a rejeição do Projeto de Lei 3159 de 2019.
Ao Substitutivo foram apresentadas 15 emendas de Plenário, sendo aprovada
apenas a emenda de plenário nº 8, que busca acrescentar um parágrafo único ao
artigo 246 do Código Penal, estabelecendo que os pais ou responsáveis que optam
pela educação domiciliar não incorrem no crime de abandono intelectual de seus
filhos. Quanto às demais emendas, foi sugerida a rejeição.
A redação final do Projeto de Lei 3179/2012 inclui no escopo da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional a possibilidade de oferta domiciliar da
educação básica. O projeto prevê obrigações para os pais, como a matrícula anual do
estudante em uma instituição de ensino credenciada, o cumprimento dos conteúdos
curriculares de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, a realização de
atividades pedagógicas, o registro periódico dessas atividades com envio de relatórios
trimestrais, o acompanhamento do desenvolvimento do estudante por um docente
tutor da instituição de ensino, avaliações anuais de aprendizagem e a participação em

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exames nacionais, estaduais ou municipais, se selecionados.


O projeto também prevê a perda do direito à opção pela educação domiciliar
nas hipóteses de insuficiência de progresso do educando, reprovações ou faltas
injustificadas nas avaliações. Além disso, estabelece a proibição da educação
domiciliar para pais ou responsáveis que cumpram penas por crimes específicos.
Também é importante mencionar o Projeto de Lei 3262/2019, que propõe
alterações no Código Penal para que a educação domiciliar não seja considerada um
crime de abandono intelectual. Esta proposta se originou devido a casos de famílias
que enfrentaram perseguições legais devido à educação domiciliar.
Assim, a educação domiciliar no Brasil é um tema de debate contínuo no
cenário legislativo, com diversos projetos de lei apresentados ao longo dos anos,

29
refletindo as complexidades em torno do homeschooling e suas implicações no
sistema educacional brasileiro. O Projeto de Lei 3179/2012 foi aprovado pela Câmara
dos Deputados em 19 de maio de 2022 e atualmente encontra-se em análise no
Senado Federal como Projeto de Lei Nº 1.388/2022, aguardando a próxima fase do
processo legislativo na Comissão de Educação do Senado, tendo o senador Flávio
Arns como relator.

30
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR

O assunto do ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, tem


sido objeto de análise pelo Poder Judiciário no contexto dos Direitos Fundamentais e
Individuais. Dois casos de grande repercussão social se destacam, ocorridos nas
cidades de Anápolis, estado de Goiás, e Canela, no Rio Grande do Sul.
O primeiro ocorreu em 2002, o caso emblemático da família Vilhena Coelho,
residente em Anápolis, Goiás, ocorrido em 2002. Nesse episódio, os pais desta
família, representando seus três filhos menores, impetraram o Mandado de Segurança
n° 7.407, datado de 24 de abril de 2002, junto ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
O propósito deste recurso constitucional era a reversão do ato do Ministério da
Educação (MEC), que havia homologado o Parecer Consultivo n° 34 de 04 de
dezembro de 2000 da Câmara de Ensino Básico (CEB) do Conselho Nacional de
Educação (CNE). Este parecer negou a possibilidade da educação domiciliar, apesar
da demonstração de que tal modalidade vinha ocorrendo de forma eficiente, com
avaliações sendo realizadas.
No cerne das decisões administrativas que desencadearam esse episódio está
a ideia de que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996 e
a Constituição Federal de 1988 são explícitas quanto à obrigatoriedade do ensino

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escolar, bem como da frequência dos alunos devidamente matriculados, de acordo


com o mencionado parecer.
O relator do processo no STJ, o Ministro Francisco Peçanha Martins, votou em
desfavor da pretensão da família, argumentando que não existia direito líquido e certo
na solicitação e que o MEC não havia agido com abuso ao aprovar o parecer do
CEB/CNE. Para ele, os dispositivos constitucionais determinavam que o ensino
escolar era obrigatório, assim como a frequência dos alunos matriculados em escolas
regulares.
Outros ministros que compartilharam desse entendimento no STJ foram
Humberto Gomes de Barros, Eliana Calmon, Francisco Falcão, Laurita Vaz e Garcia
Vieira. Os votos vencidos foram dos Ministros Franciulli Netto e Paulo Medina.
Para o Ministro Franciulli Netto, a educação deveria ser analisada à luz do
pluralismo do Estado Democrático de Direito, permitindo o direito à liberdade de
escolher outra modalidade de ensino. Ele observou que as crianças demonstraram

31
um notável desempenho, estando um ano à frente de suas idades, o que, em sua
visão, habilitava os pais a assumir a função de garantir diretamente a educação formal.
Para ele, a frequência escolar era um fator secundário, e a educação transcenderia a
mera transmissão de informações, sendo a família a principal responsável pela
formação, não apenas intelectual, mas também cidadã e social das crianças e
adolescentes.
O Ministro Paulo Medina também enfatizou as liberdades constitucionais
relacionadas à educação e o pluralismo de ideias, bem como a responsabilidade do
Estado em fiscalizar as atividades da família para garantir a efetivação dos fins
constitucionais relacionados à educação.
No final, os pais tiveram que acatar a decisão do STJ e realizar a matrícula de
seus filhos em uma escola regular.
O segundo caso ocorreu em meados de 2015, quando chegou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança impetrado pelos pais de uma
criança de onze anos, que tiveram sua solicitação de educação domiciliar negada pelo
órgão municipal e, posteriormente, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A
parte recorrente alegou violação de diversos artigos da Constituição, argumentando
que a educação não se restringe à instrução formal em uma instituição convencional
de ensino, especialmente diante da diversidade de ideias e concepções pedagógicas,
bem como dos avanços tecnológicos.
No seu pronunciamento, o Ministro Luís Roberto Barroso destacou o ensino
domiciliar como um fenômeno emergente em diversos países, incluindo o Brasil, com
um crescente número de adeptos, e a possibilidade de redução dos gastos públicos
com sua adoção. O reconhecimento da natureza constitucional do debate sobre a
capacidade das famílias de prover educação levou o Ministro a enfatizar a importância
de definir a relação entre o Estado e a família na educação de crianças e
adolescentes, bem como os limites da autonomia privada em relação às imposições

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estatais.
Barroso concluiu que a improcedência do pedido baseou-se na falta de uma
norma regulamentar, não na inconstitucionalidade do homeschooling. Além disso,
salientou que, como se tratava de uma questão de repercussão geral, a decisão tinha
efeito erga omnes, aplicável a todas as partes envolvidas na lide, sendo uma decisão
histórica e de extrema importância por reconhecer a colaboração entre o Estado e a

32
família na prestação do ensino fundamental e pela legalização do homeschooling no
Brasil.
Posteriormente, em 2018, o processo foi colocado em pauta e, após o
julgamento, a Corte determinou que o ensino domiciliar não é um meio lícito para
cumprir o dever de prover educação a crianças e adolescentes, embora não tenha
sido considerado inconstitucional. A maioria dos ministros votou pelo desprovimento
do recurso extraordinário, uma vez que não havia uma lei que regulamentasse a
prática.
O Ministro Luís Roberto Barroso, ao fundamentar seu voto, destacou que a
Constituição Federal não proíbe o homeschooling e que o ensino domiciliar é
compatível com o ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a maioria dos ministros
argumentou que é necessária uma regulamentação prévia pelo Congresso Nacional,
estabelecendo requisitos e mecanismos de avaliação e fiscalização, para atender ao
disposto no Art. 208, §3º da Constituição, que atribui ao poder público o dever de zelar
pela frequência à escola. Esta decisão do Supremo Tribunal Federal, portanto,
representa um marco importante na jurisprudência brasileira em relação a este
assunto controverso.
No seu voto, o Ministro Alexandre de Moraes apresentou uma perspectiva
fundamental no julgamento do ensino domiciliar, sustentando que a prática não é
inconstitucional, desde que haja uma regulamentação prévia. Ele destacou que o
homeschooling de natureza utilitarista, que segue o conteúdo do ensino escolar e
permite fiscalização e avaliações periódicas, é compatível com a Constituição,
contudo, ressaltou que essa modalidade requer uma colaboração entre as famílias e
o Estado. O Ministro enfatizou a importância de o Congresso Nacional regulamentar
essa prática, a fim de estabelecer requisitos e mecanismos de avaliação e
fiscalização, como previsto no Art. 208, §3º da Constituição, o qual atribui ao poder
público a responsabilidade de garantir a frequência escolar. Além disso, Moraes
argumentou que o ensino domiciliar pode ser uma escolha legítima das famílias,
especialmente quando fundamentada em motivos religiosos, promovendo assim o
direito fundamental à liberdade religiosa e respeitando os princípios de autonomia e
emancipação.
Portanto, o STF reconheceu a legalidade do homeschooling, desde que haja
regulamentação específica por parte do Congresso Nacional para garantir a qualidade

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e a fiscalização do ensino domiciliar no Brasil. Essa decisão representa um marco
significativo na jurisprudência do país em relação a esse tema controverso,
estabelecendo a necessidade de um equilíbrio entre o direito das famílias de
escolherem essa modalidade de ensino e a responsabilidade do Estado em assegurar
que a educação seja ministrada de acordo com padrões adequados e com a devida
supervisão. Além disso, o voto do Ministro Alexandre de Moraes destaca a importância
de reconhecer a autonomia e emancipação das famílias, especialmente quando
fundamentadas em motivos religiosos, promovendo assim o direito fundamental à
liberdade religiosa, dentro dos limites estabelecidos por uma regulamentação
apropriada.

34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente trabalho, o conceito e a prática do ensino domiciliar, conhecido


como homeschooling, foram explorados, com destaque para sua crescente
popularidade global e as diversas motivações subjacentes a essa abordagem
educacional. O homeschooling permite que os pais personalizem o currículo de seus
filhos, flexibilizem horários e atendam a preocupações com segurança e bem-estar.
Contudo, essa prática tem gerado debates sobre a socialização das crianças e a
qualidade do ensino, com regulamentações variando amplamente entre países.
No contexto legal brasileiro, a viabilidade do ensino domiciliar foi analisada,
considerando as bases legais, como a Constituição Federal de 1988, o Código Civil,
o Código Penal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação. Embora esses documentos não façam menção direta ao
homeschooling, estabelecem princípios fundamentais para a educação no Brasil.
Também foram explorados projetos de lei relacionados ao ensino domiciliar em
discussão no país.
Dois casos emblemáticos ocorridos em Anápolis, Goiás, em 2002, e em
Canela, Rio Grande do Sul, em 2015, foram analisados. No primeiro caso, o Supremo
Tribunal de Justiça decidiu contra a família Vilhena Coelho, argumentando que a
Constituição exige a frequência escolar. No segundo caso, o Supremo Tribunal
Federal considerou que o ensino domiciliar não é inconstitucional, mas requer
regulamentação específica pelo Congresso Nacional.
Diante da análise realizada, conclui-se que o objetivo central deste estudo, que
consistia em explorar a viabilidade e a legalidade do ensino domiciliar, também
conhecido como homeschooling, foi alcançado em parte. Ficou evidente que o ensino
domiciliar não é inconstitucional no Brasil, conforme confirmado pelo Supremo

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Tribunal Federal (STF) em seu julgamento de 2018. Entretanto, a ausência de uma


legislação específica para regulamentar o homeschooling deixa questões
fundamentais em aberto.
A Constituição Federal de 1988 e outros dispositivos legais estabelecem
princípios e diretrizes essenciais para a educação no país, mas não abordam
diretamente o homeschooling. Isso resulta em uma lacuna legal que demanda atenção
do poder legislativo para criar uma estrutura regulatória clara e adequada, a fim de

35
garantir que o ensino domiciliar seja praticado com qualidade, responsabilidade e em
conformidade com os princípios educacionais do Brasil.
Portanto, embora o tema do homeschooling tenha sido examinado à luz de sua
constitucionalidade, a ausência de uma lei específica que regule o assunto cria uma
lacuna significativa no sistema educacional brasileiro. Assim, para atingir plenamente
os objetivos propostos para este tema, é necessária a ação legislativa futura que
aborde essa questão complexa e promova a segurança jurídica e a qualidade da
educação no contexto do ensino domiciliar no Brasil. A reflexão sobre esse tópico
destaca a importância de que, embora a legalidade do homeschooling tenha sido
estabelecida, ainda é necessária uma regulamentação específica para atender aos
princípios e responsabilidades constitucionais relacionados à educação no país.

36
REFERÊNCIAS

ALVES, Rubens. Revista da Educação. Edição 134. 2010. Disponível em:


https://revistaensinosuperior.com.br/2011/09/10/homeschooling/. Acesso em: 03 mai.
2023.

ANDRADE, Édison Prado. A educação familiar desescolarizada como um direito


da criança e do adolescente: relevância, limites e possibilidades na ampliação
ao direito à educação. Tese de Doutorado. FEUSP. São Paulo, 2014. Disponível
em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-10112014-111617/pt-
br.php. Acesso em: 02 set. 2023.

ANED - Associação Nacional de Educação Domiciliar. Educação Domiciliar.


Disponível em: https://www.aned.org.br/index.php/conheca-educacao-domiciliar/ed-
no-mundo. Acesso em: 01 set. 2023.

BARBOSA, Luciane. Pesquisa identifica razoes que levam pais a optar por
educação domiciliar, 30 agosto. 2013. Disponível
em: https://www5.usp.br/noticias/sociedade/pesquisa-identifica-razoes-que-levam-

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pais-a-optar-por-educacao-domiciliar/. Acesso em: 25 jul. 2023.

BOTO, Carlota. ?Homeschooling?: a prática de educar em casa. Jornal da USP,


16 março. 2018. Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/homeschooling-a-pratica-
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BOTO, Carlota. Projeto de homeschooling no Brasil coloca um muro entre a


família e o mundo social. Jornal da USP, 25 maio. 2022. Disponível
em: https://jornal.usp.br/atualidades/projeto-de-homeschooling-no-brasil-coloca-um-
muro-entre-a-familia-e-o-mundo-social/. Acesso em: 26 jul. 2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 888.815/RS. DIREITO


CONSTITUCIONAL. EDUCAÇÃO. ENSINO DOMICILIAR. LIBERDADES E
DEVERES DO ESTADO E DA FAMÍLIA. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. Constitui questão constitucional saber se o ensino domiciliar (homeschooling)
pode ser proibido pelo Estado ou viabilizado como meio lícito de cumprimento, pela
família, do dever de prover educação, tal como previsto no art. 205 da CRFB/1988.
2. Repercussão geral reconhecida. Relator: Min. Roberto Barroso, 4 de junho de
2015. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?
incidente=4774632. Acesso em: 10 abr.2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n° 888.815.


Constitucional. Educação. Direito Fundamental relacionado à dignidade da pessoa
humana e à efetividade da cidadania. Dever solidário do Estado e da família na
prestação do Ensino Fundamental. Necessidade de lei formal, editada pelo
Congresso Nacional, para regulamentar o Ensino Domiciliar. Recurso Desprovido.
Relator: Ministro Roberto Barroso. Redator para acórdão: Ministro Alexandre de
Moraes. DJ, 12 de set. de 2018. Disponível em:
https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE888815mAM.PDF.
Acesso em: 05 out.2023.

37

BRASIL. Constituição de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil:


promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em:
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BRASIL. Decreto-Lei n° 2.848 de 1940. Código Penal: decretado em 07 de


dezembro de 1940. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 05 out.2023.

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BRASIL. Lei n° 8.069 de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente: promulgada


em 13 de julho de 1990. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 05 out.2023.

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promulgada em 20 de dezembro de 1996. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm#:~:text=L9394&text=Estabelece
%20as%20diretrizes%20e%20bases%20da%20educa%C3%A7%C3%A3o%20nacio
nal.&text=Art.%201%C2%BA%20A%20educa%C3%A7%C3%A3o%20abrange,civil
%20e%20nas%20manifesta%C3%A7%C3%B5es%20culturais. Acesso em: 05
out.2023.

BRASIL. Lei n° 10.406 de 2002. Código Civil: promulgada em 10 de janeiro de


2002. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em:
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BRASIL. Projeto de Lei 3179/2012. Altera as Leis nºs 9.394, de 20 de dezembro de


1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), e 8.069, de 13 de julho de
1990, (Estatuto da Criança e do Adolescente), para dispor sobre a possibilidade de
oferta domiciliar da educação básica. Brasília: Câmara dos Deputados, 08 dez.
2012. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=534328
. Acesso em: 06.out.2023.

MOREIRA, Alexandre Magno Fernandes. O direito à educação domiciliar. Brasília:


Monergismo, 2017.

VASCONCELOS, Maria Celi Chaves. Educação na casa: perspectivas de


desescolarização ou liberdade de escolha?. Pro-Posições, [S.L.], v. 28, n. 2, p.
122- 140, ago. 2017. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1980-6248-
2015- 0172. Disponível em:
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Acesso em: 24 jul 2023.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Mandado de Segurança 7407/DF - Acórdão


COAD 132172 - Rel. Min. Francisco Peçanha Martins - Publ. em 21-3-2005.

38
Disponível em: https://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/42/docs/ms-
ensino_fundamental-7407_stj.pdf. Acesso em: 06 out.2023.

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SENADO, Agência. Senado aprofunda debate sobre educação domiciliar.


8/12/2022. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/12/senado-aprofundadebate-
sobre-educacao-domiciliar. Acesso em: 07 out.2023.

SENADO, Agência. Senado aprofunda debate sobre educação domiciliar.


8/12/2022. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/12/senado-aprofundadebate-
sobre-educacao-domiciliar. Acesso em: 07 out.2023.

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=================================================================================
Arquivo 1: BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Arquivo 2: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2020/12/17/conheca-os-pros-e-contra-do-
homeschooling-a-educacao-domiciliar-no-brasil.htm (2702 termos)
Termos comuns: 141
Similaridade: 1,34%
O texto abaixo é o conteúdo do documento BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-
noticias/2020/12/17/conheca-os-pros-e-contra-do-homeschooling-a-educacao-domiciliar-no-brasil.htm
(2702 termos)

=================================================================================

Cuiabá
2023

Cidade
Ano
BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

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A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO


DOMICILIAR NO BRASIL

Cuiabá
2023

A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO


DOMICILIAR NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à UNIC ?


Universidade de Cuiabá, como requisito parcial para a

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obtenção do título de graduado em Direito.


Orientadora: Denise Alcantara

BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO DOMICILIAR


NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade de Cuiabá - UNIC, como requisito
parcial para a obtenção do título de graduado
em Direito.

BANCA EXAMINADORA

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Cuiabá, dia de mês de 2023

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ARRUDA, Brenno Eduardo. A constitucionalidade do método de ensino domiciliar


no Brasil. 2023. 22 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito)
? Universidade de Cuiabá - UNIC, Cuiabá/MT, 2023.

RESUMO

O objetivo deste trabalho é discutir o ensino domiciliar, também conhecido como


homeschooling, uma prática educacional em que os pais ou responsáveis assumem
a responsabilidade de educar seus filhos em casa, ao invés de matriculá-los em uma
escola tradicional. Esta prática permite uma abordagem de ensino personalizada,
adaptada às necessidades e interesses individuais de cada criança. No entanto, a
viabilidade jurídica do ensino domiciliar no Brasil é um tema de debate. Embora alguns
pais e responsáveis defendam o direito de educar seus filhos em casa, existem
questões legais e regulatórias que precisam ser consideradas. O estudo também
analisará países onde o ensino domiciliar é regulamentado, destacando o papel da
família e do estado na educação domiciliar. Além disso, há diversas decisões judiciais
relacionadas ao ensino domiciliar no Brasil, com alguns casos de grande impacto.
Estas decisões judiciais podem ter um impacto significativo na forma como o ensino
domiciliar é praticado e regulamentado no país. Portanto, é importante compreender
o conceito de ensino domiciliar, analisar sua viabilidade jurídica no contexto brasileiro
e estar ciente das decisões judiciais relacionadas a esta prática educacional.

Palavras-chave: Direito à Educação Domiciliar. Homeschooling. Educação no Lar.


Flexibilidade da Educação Básica.

ARRUDA, Brenno Eduardo. The constitutionality of the home teaching method in


Brazil. 2023. 22 sheets. Completion of Law Course ? University of Cuiabá, Cuiabá
2023.

ABSTRACT
The aim of this work is to discuss homeschooling, also known as home education, an
educational practice in which parents or guardians take on the responsibility of
educating their children at home instead of enrolling them in a traditional school. This
practice allows for a personalized teaching approach, tailored to the individual needs
and interests of each child. However, the legal feasibility of homeschooling in Brazil is
a subject of debate. While some parents and guardians advocate for the right to
educate their children at home, there are legal and regulatory issues that need to be
considered. The study will also examine countries where homeschooling is regulated,
highlighting the roles of both the family and the state in home education. Furthermore,
there have been various legal decisions related to homeschooling in Brazil, with some

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cases of significant impact. These legal decisions can have a significant impact on how
homeschooling is practiced and regulated in the country. Therefore, it is important to
understand the concept of homeschooling, analyze its legal feasibility in the Brazilian
context, and be aware of legal decisions related to this educational practice.

Keywords: Right to Homeschooling. Homeschooling. Home Education. Flexibility of


Basic Education.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 ? Países onde o Homeschooling é legalizado segundo ANED ................ 16

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. Artigo
ANED Associação Nacional de Educação Domiciliar
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
RE Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
USP Universidade de São Paulo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING ......................................................... 10
2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO ................................................................................. 11
2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING..................................................................... 11
2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING .................................... 13
2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING ................................................ 14
2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES............... 15
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL ..................................................................................................................... 18
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO ................................................. 18
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL ....................................................................... 21
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL .................................................................. 22
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA) ............................................................................................. 23

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3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB) ................. 25


3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA ............................................................ 26
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR ............................................................................................................. 30
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 34
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36

9
1 INTRODUÇÃO

A prática do ensino domiciliar, também conhecida como homeschooling, tem


se tornado um tema de discussão relevante no contexto brasileiro. Este fenômeno
educacional, em que os pais assumem a responsabilidade de instruir seus filhos em
casa, em vez de enviá-los a uma escola convencional, suscita questionamentos
profundos sobre seus impactos, especialmente no que diz respeito às crianças e
adolescentes.
Este estudo tem como foco central a "Constitucionalidade do Ensino Domiciliar
no Brasil". Trata-se de uma questão que tem sido amplamente debatida ao longo dos
anos, sobretudo pelos pais e responsáveis que buscam a regulamentação desse
modelo educacional para proporcionar uma educação de qualidade dentro de seus
lares.
A relevância desta pesquisa é evidente, uma vez que ela busca lançar luz sobre
a legalidade do ensino domiciliar, oferecendo clareza àqueles que optam por educar
seus filhos em casa, sem temer penalizações estatais. Além disso, busca-se, por meio
de dados e evidências, explorar experiências internacionais em que o ensino
domiciliar é regulamentado, destacando o papel fundamental desempenhado tanto
pela família quanto pelo Estado na educação dos alunos no ambiente familiar.
O estudo também tem o potencial de contribuir para a compreensão desse
tema tanto na comunidade acadêmica quanto na sociedade em geral. Através da
análise doutrinária, legal, jurisdicional e constitucional, bem como da comparação de
dados educacionais, pretende-se lançar luz sobre o papel da família e do Estado no
ensino domiciliar, promovendo um debate informado e enriquecedor.
Para alcançar esses objetivos, este projeto de pesquisa adotará uma
abordagem qualitativa e descritiva, permitindo a análise das características desse
fenômeno educacional e a compreensão dos pressupostos teóricos que o envolvem.
A pesquisa abrangerá a revisão de livros, dissertações, teses, artigos e trabalhos
científicos publicados nos últimos 10 anos, além de buscas em bancos de dados
acadêmicos como o Google Acadêmico e Scielo.

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2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING

O ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, é uma prática


que tem ganhado destaque tanto no cenário internacional quanto no contexto
brasileiro. Em todo o mundo, famílias optam por essa modalidade de ensino por uma
variedade de razões, incluindo a busca por um currículo mais personalizado, a
flexibilidade de horários e a preocupação com a segurança e o bem-estar dos filhos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o homeschooling é uma opção legal em todos os
estados, e milhares de famílias escolhem essa abordagem educacional. No entanto,
as regulamentações e atitudes em relação ao ensino domiciliar variam
consideravelmente de país para país.
Nesse contexto, Moreira (2017) esclarece que:

A educação domiciliar é uma modalidade de ensino que não obedece a uma


lógica única, massificada para todas as famílias, por basear-se no princípio
da soberania educacional da família, ou seja, seu fundamento é a liberdade
de cada família determinar como será realizada a educação de seus filhos.
(MOREIRA, 2017, p. 61).

O ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, é uma prática


que tem ganhado destaque tanto no cenário internacional quanto no contexto
brasileiro. Em todo o mundo, famílias optam por essa modalidade de ensino por uma
variedade de razões, incluindo a busca por um currículo mais personalizado, a
flexibilidade de horários e a preocupação com a segurança e o bem-estar dos filhos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o homeschooling é uma opção legal em todos os
estados, e milhares de famílias escolhem essa abordagem educacional. No entanto,
as regulamentações e atitudes em relação ao ensino domiciliar variam
consideravelmente de país para país.
Assim em revista especializada em educação foi publicado que:

Os motivos que levam os pais a optar pelo homeschooling são variados. Há


a insatisfação com as escolas, o temor em relação ao seu ambiente, interno
e externo. Os pais temem pela integridade física dos filhos. O que é
compreensível em ambientes onde existe violência. Há também as situações
em que as crianças e adolescentes são vítimas de bullying. Ir à escola é um
sofrimento diário e silencioso. A provisão legal da possibilidade de estudar
em casa eliminaria esse sofrimento que atinge milhares de crianças e
adolescentes (ALVES, 2011).

11

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2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO

O homeschooling é uma abordagem educacional na qual os pais ou


responsáveis assumem a responsabilidade de instruir seus filhos em casa, em vez de
enviá-los a uma escola tradicional. Essa prática oferece um ambiente de aprendizado
personalizado, no qual o currículo pode ser adaptado de acordo com as necessidades
e interesses individuais de cada criança. O homeschooling não se restringe a um
modelo específico; em vez disso, é uma prática flexível que pode variar amplamente
de família para família.
Na prática do homeschooling, os pais desempenham um papel fundamental na
construção do ambiente educacional de seus filhos. Isso implica não apenas na
seleção de materiais didáticos e na organização do currículo de acordo com as
aptidões e interesses únicos de cada criança, mas também na promoção de uma
atmosfera que estimule a curiosidade, a autodisciplina e a aprendizagem
independente. Além disso, o homeschooling permite uma flexibilidade rara no
processo de ensino, possibilitando a exploração de tópicos interdisciplinares e a
adaptação dos métodos de aprendizado de acordo com o ritmo de desenvolvimento
de cada aluno. Essa abordagem coloca a ênfase não apenas na obtenção de
conhecimentos acadêmicos, mas também no desenvolvimento holístico das crianças,
incluindo aspectos sociais, emocionais e éticos, tornando-se assim uma alternativa
atraente para famílias em busca de uma educação sob medida para suas
necessidades e valores.

2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING

O homeschooling tem uma longa história, datando de séculos atrás, quando as


famílias eram a principal fonte de educação. No entanto, o surgimento da escola
moderna no século XIX relegou o ensino em casa a um segundo plano. No século XX,
o homeschooling ressurgiu, impulsionado por diversos movimentos e mudanças
sociais, incluindo o movimento de contracultura dos anos 1960 e 1970. Desde então,
sua prática tem se expandido e diversificado globalmente.

12
No entanto, vale ressaltar que a formalização e a regulamentação do
homeschooling como uma opção legal de educação são mais recentes em muitos
países, incluindo o Brasil. O surgimento mais notável e o reconhecimento oficial do
homeschooling no Brasil ocorreram nas últimas décadas, principalmente a partir dos
anos 2000, quando começou a ganhar visibilidade e a ser debatido mais amplamente.
Nos Estados Unidos da América (EUA), o pioneiro do homeschooling foi Holt,
considerado o pai da desescolarização. Ele acreditava que a escola tradicional, de
certo modo, coagia as crianças a aprenderem, quando, na verdade, elas o fariam
naturalmente se tivessem a liberdade de seguir seus próprios interesses e acesso a

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uma ampla variedade de recursos. A partir de uma perspectiva da educação orgânica,


que valoriza o potencial humano como prioridade no desenvolvimento da criança,
essa linha de pensamento passou a ser chamada de unschooling e, posteriormente,
homeschooling.
No que tange as pesquisas pautas no princípio de revisão bibliográfica, é
relevante atentar-se ao fato de que:

O termo homeschooling, de língua inglesa, usual nos Estados Unidos da


América, é usado internacionalmente para identificar uma modalidade de
educação específica que é organizada e implementada pelos próprios pais
como alternativa de escolarização de seus filhos em casa e não na escola. É
traduzido, normalmente, para o português, por Educação Domiciliar, em uma
tradução literal da junção da palavra home (casa, ou lar), com a palavra
school (escola). O termo escola no gerúndio (schooling), já sugere a ideia do
próprio modelo de educação, que está carregado de um sentido de ensino
contínuo, no qual os pais se dispõem para o processo ensino aprendizagem
em formas e condições contínuas e cotidianas da vida da criança e da família,
organizadas intencionalmente ou não para o fim educativo, tais como
refeições, passeios, viagens, relacionamentos com a vizinhança, etc
(ANDRADE,2014,p. 19).

O homeschooling ganhou destaque no Brasil durante a pandemia de COVID-


19, que teve início em 2020. Com o fechamento temporário das escolas em muitas
regiões do país como medida de contenção da disseminação do vírus, muitos pais e
responsáveis foram forçados a considerar o ensino em casa como uma alternativa
viável para garantir a continuidade da educação de seus filhos.
Esse período de restrições sanitárias resultou em um aumento significativo no
interesse e na prática do homeschooling no Brasil. Muitas famílias passaram a buscar
soluções educacionais flexíveis e adaptadas às circunstâncias da pandemia,

13
recorrendo ao ensino em casa para manter o aprendizado das crianças durante os
lockdowns e as incertezas associadas à pandemia.
A pandemia também destacou a importância da adaptação e flexibilidade no
homeschooling. Pais e tutores tiveram que se ajustar rapidamente a novos métodos
de ensino online e colaborar mais estreitamente com escolas para acessar materiais
e recursos educacionais. Além disso, o ensino em casa permitiu que algumas famílias
aproveitassem o tempo em casa para explorar tópicos adicionais, incentivando a
aprendizagem autodirigida e a criatividade.
No entanto, é importante observar que o homeschooling durante a pandemia
também trouxe desafios, incluindo a necessidade de equilibrar o trabalho remoto dos
pais com a supervisão do aprendizado das crianças. O debate sobre a
regulamentação e a legalização do homeschooling no Brasil também se intensificou

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devido às mudanças trazidas pela pandemia. Portanto, o ensino domiciliar teve um


impacto notável no contexto da educação brasileira durante a crise da COVID-19,
levantando questões importantes sobre como essa prática deve ser abordada e
regulamentada no país.

2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING

O homeschooling, ou ensino domiciliar, é uma abordagem educacional que se


baseia em princípios e abordagens específicas. Embora haja variações na prática do
homeschooling, alguns princípios e abordagens comuns incluem a individualização da
educação, onde os pais ou tutores adaptam o currículo de acordo com as
necessidades e interesses de cada criança, promovendo um aprendizado
personalizado. Além disso, o homeschooling incentiva a aprendizagem autodirigida,
capacitando as crianças a tomar decisões sobre o que e como aprendem, promovendo
a responsabilidade pela própria educação e o desenvolvimento de habilidades de
aprendizado independentes.
Assim para MOREIRA (2017, p.10), ?pesquisas demonstram que essas
crianças estão bem preparadas em sentido acadêmico e social para participar de uma
democracia liberal?.
Uma das vantagens do homeschooling é a flexibilidade, permitindo que as
famílias adaptem o horário de aprendizado para atender às necessidades individuais,

14
aproveitando oportunidades de aprendizado fora do ambiente escolar tradicional. Isso
é complementado pelo uso de uma ampla variedade de recursos educacionais,
incluindo livros, materiais didáticos, recursos online, visitas a museus e aulas
particulares, que enriquecem a abordagem educacional.
No homeschooling, valoriza-se a educação informal, reconhecendo que as
experiências cotidianas, viagens, atividades ao ar livre e interações com a
comunidade são oportunidades valiosas de aprendizado. Os pais desempenham um
papel fundamental no ensino domiciliar, projetando o currículo, fornecendo instrução
e apoio, e acompanhando o progresso acadêmico e social de seus filhos.
Além disso, o homeschooling coloca ênfase não apenas na educação
acadêmica, mas também no desenvolvimento integral da criança, incluindo aspectos
sociais, emocionais e éticos. Essa abordagem é especialmente atraente para famílias
com crianças com necessidades educacionais especiais, uma vez que permite uma
adaptação mais precisa a essas necessidades.

2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING

Apesar de seus princípios e benefícios percebidos, o homeschooling é objeto


de debates e controvérsias em todo o mundo. Um dos principais pontos de debate diz
respeito à socialização das crianças educadas em casa, uma vez que podem ter

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menos oportunidades de interagir com seus pares. Além disso, questões relacionadas
à qualidade da supervisão educacional e à capacidade dos pais de fornecer um ensino
adequado em todas as disciplinas são frequentemente levantadas. Críticos
argumentam que, sem uma supervisão rigorosa, algumas crianças podem não
receber a educação de qualidade necessária.
De acordo com a pedagoga (Barbosa, 2013), autora do estudo, a prática do
homeschooling:

Segundo os dirigentes das associações canadenses de ensino domiciliar


entrevistados por Luciane, a ausência da escola não leva a uma falta de
socialização. ?Ao contrário, eles argumentam que a instituição escolar leva a
uma socialização restrita, por segregarem as crianças por idade?, diz. ?No
Canadá, as bibliotecas e ginásios esportivos possuem programas voltados
para ?homeschoolers?, e normalmente os pais que ensinam os filhos em casa
são filiados a duas ou mais associações do setor. Também há uma
preocupação em desenvolver a participação social dos filhos nas
comunidades em que vivem, pois consideram que a escola oferece um

15
conceito de cidadania ligado apenas ao conhecimento de fatos históricos e
ao exercício do voto? (BARBOSA, 2013).

Nesse viés, (Boto, 2022), pesquisadora da USP, diz que:

Os estudos sobre o ensino domiciliar têm mostrado que há um vetor religioso


acerca das famílias que escolhem esse tipo de educação para os filhos, pois
não querem que eles tenham contato com teorias educacionais consideradas
ímpias. A professora considera isso grave e diz que é importante que as
crianças aprendam conteúdos que possam contrariar os interesses dos pais,
já que isso faz parte do aprendizado. Ela ainda afirma que é perigoso a família
se colocar como a única instituição na vida de uma criança (BOTO, 2022).

2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES

A prática do homeschooling, ou ensino em casa, é regulamentada de maneira


diversa ao redor do mundo. Cada país estabelece suas próprias diretrizes para pais
que optam por educar seus filhos em casa, variando desde o reconhecimento legal e
regulamentação específica até proibições rigorosas. Para entender melhor essas
abordagens, examinaremos como alguns países de referência, como os Estados
Unidos, Canadá, Alemanha e Austrália, lidam com a regulamentação do
homeschooling e os resultados que obtiveram.
Nos Estados Unidos, o homeschooling é legal e praticado em todo o país, mas
os requisitos e regulamentos variam de estado para estado. Alguns estados exigem

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notificação prévia às autoridades educacionais locais, enquanto outros impõem testes


padronizados ou avaliações regulares do progresso educacional. Por outro lado, na
Alemanha, o homeschooling é proibido pela lei, com poucas exceções, devido às
preocupações do governo sobre a integração social das crianças. No Canadá, as
províncias têm abordagens distintas, algumas exigindo exames oficiais de avaliação,
enquanto outras pedem apenas notificação às autoridades de ensino local. A
diversidade de regulamentação também é vista na Austrália, com inspeções
regulares, avaliações de progresso e diretrizes curriculares específicas.
No que tange ao homeschooling no Canadá, a pedagoga (Barbosa, 2013)
observou como é posto em prática o ensino domiciliar:

A pedagoga realizou parte do estudo no Canadá, país onde a prática do


?homeschooling? é permitida. ?A regulamentação varia conforme as
províncias, algumas exigem a prestação dos exames de avaliação oficiais,

16
outras pedem apenas que a diretoria de ensino local seja comunicada?, relata.
?Ao entrevistar as famílias canadenses, percebe-se que embora a motivação
religiosa esteja muito presente, os pais também optam pelo ensino em casa
pela questão de custos (famílias mais numerosas) ou por terem filhos com
deficiência, entre outras razões? (BARBOSA, 2013).

A diversidade de abordagens à regulamentação do homeschooling ao redor do


mundo reflete a complexidade das questões envolvidas. Nos Estados Unidos, a
abordagem descentralizada permite flexibilidade para os pais, mas também pode
resultar em disparidades significativas na qualidade da educação em casa,
dependendo do estado em que se encontram. Por outro lado, na Alemanha, a
proibição do homeschooling é uma tentativa de garantir a socialização e a educação
uniforme das crianças, mas levanta questões sobre os direitos dos pais de decidirem
como educar seus filhos. No Canadá e na Austrália, a variedade de regulamentações
indica uma tentativa de equilibrar a autonomia dos pais com a necessidade de garantir
que as crianças recebam uma educação adequada.
Nesse ensejo, a Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED), que é
uma associação dos pais que defendem os estudos em casa, divulgou dados dos
países onde a prática do hommescooling é legal, conforme imagem abaixo:

Figura 1 - Legalidade do ensino doméstico por país.

PAÌSES: África África do Sul, Oceania Austrália, Nova Zelândia. Ásia Filipinas, Japão, América Norte
EUA, Canadá, Sul Colômbia, Chile, Equador, Paraguai. Europa Portugal, França, Itália, Reino Unido,
Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria, Finlândia, Noruega, Rússia.

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Fonte: Mapa e quadro divulgados pela ANED (2021).

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Em vários países europeus, como França e Bélgica, o homeschooling é


estritamente regulamentado e desencorajado, com ênfase na importância da
socialização e da educação em escolas reconhecidas. No entanto, na Suécia, o
homeschooling é permitido sob condições específicas, desde que os pais sigam um
currículo nacional. A regulamentação do homeschooling ao redor do mundo reflete
uma variedade de abordagens culturais, educacionais e políticas, com o objetivo de
equilibrar o direito dos pais de educar seus filhos em casa com o interesse público em
garantir uma educação de qualidade e a socialização adequada das crianças.
De acordo com a pesquisadora (Boto,2018):

Nos Estados Unidos, país que possui hoje mais de 2 milhões de crianças em
idade escolar fora da escola, um dos principais motivos para a prática
do homeschooling é religioso. São as minorias religiosas, bem como minorias
étnicas que, de acordo com os estudos sobre o assunto, aderem a essa nova
modalidade de educação. Entre 1999 e 2010 ocorreu um crescimento
superior a 100% e, para o conjunto dos Estados norte-americanos, há um
contingente de quase 4% de crianças que hoje não frequentam mais a escola.
Na Rússia, entre 2008 e 2012, teria ocorrido ampliação de 900% nas práticas
de homeschooling. Na Alemanha, país que proibiu a prática em seu território,
há inúmeros casos de casais que foram multados e até presos por não
enviarem os filhos à escola (BOTO, 2018).

É evidente que a regulamentação do homeschooling é uma questão complexa


que envolve o equilíbrio entre os direitos individuais dos pais e o interesse público na
educação e socialização das crianças. O debate sobre como melhor abordar essa
questão continua a evoluir à medida que os países buscam encontrar um equilíbrio
entre a liberdade de escolha educacional dos pais e a responsabilidade do Estado de
garantir que todas as crianças recebam uma educação de qualidade e sejam
integradas na sociedade de maneira adequada.

18
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL

No cenário brasileiro, a análise da viabilidade jurídica do estudo domiciliar


requer um entendimento abrangente do contexto legal e regulatório que rege o
sistema educacional. A Constituição Federal de 1988 estabelece princípios essenciais

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que fundamentam a educação no Brasil, enfatizando a responsabilidade


compartilhada entre a família, a sociedade e o Estado na proteção dos direitos das
crianças e adolescentes. O Código Civil reforça o papel dos pais na criação e
educação de seus filhos, e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece
diretrizes específicas para a educação e proteção de menores. Paralelamente, a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) define os princípios gerais da educação
brasileira. Além disso, existem projetos de lei que podem definir o estudo em casa no
Brasil nas mãos dos deputados.
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO
A Constituição Federal de 1988, um marco fundamental na legislação brasileira,
estabelece princípios que guiam a educação no país e atribui responsabilidades tanto
ao Estado quanto à sociedade e às famílias. O Artigo 227 da Constituição Federal de
1988 é um dos pontos centrais nesse contexto:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,


ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL,1988).

Este artigo estabelece que é um compromisso da família, sociedade e Estado


garantir, de forma prioritária, o direito à vida, saúde, alimentação, educação, lazer,
profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e
comunitária das crianças, adolescentes e jovens, além de protegê-los contra qualquer
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
O Artigo 227 da Constituição Federal coloca as crianças, adolescentes e jovens
no centro das preocupações da sociedade e do Estado, enfatizando a necessidade
de criar um ambiente seguro e saudável para o seu desenvolvimento. Ele destaca a

19
educação como um dos pilares fundamentais para o crescimento pleno desses
indivíduos, enfatizando a necessidade de protegê-los contra ameaças e violações de
seus direitos, conforme previsto na Constituição.
Na conjuntura atual, o Artigo 227 mantém sua relevância como diretriz
essencial para a formulação de políticas educacionais e sociais no Brasil. No entanto,
desafios persistentes, como a desigualdade no acesso à educação e a violação dos
direitos das crianças, exigem esforços contínuos para garantir a implementação eficaz
das disposições desse artigo.
O compromisso da família, sociedade e Estado em proporcionar um ambiente
favorável ao crescimento e desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens é
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Portanto, é
crucial que todos os esforços sejam direcionados para garantir o respeito a esses

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direitos e para assegurar que todos os jovens tenham igualdade de oportunidades


para receber uma educação de qualidade, conforme preconizado pelo Artigo 227 da
Constituição Federal de 1988. Em resumo, o Artigo 227 continua a servir como
alicerce para a proteção e promoção dos direitos da juventude, sendo essencial para
garantir um futuro mais promissor às gerações vindouras.
A Constituição Federal de 1988 também estabelece, no Artigo 208, os deveres
do Estado em relação à educação no Brasil. Esses deveres incluem:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a


garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)
anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a
ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos
de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por
meio de programas suplementares de material didáticoescolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009)
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua
oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

20
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela freqüência à escola (BRASIL,1988).

Essas responsabilidades do Estado refletem um compromisso com a promoção


de uma educação acessível, inclusiva e de qualidade para todos os cidadãos
brasileiros. No entanto, o cumprimento desses deveres enfrenta desafios constantes,
principalmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, com
significativas desigualdades regionais.
O pensamento subjacente a esse contexto destaca a importância da educação
como um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico da nação.

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Garantir igualdade de oportunidades educacionais para todos é essencial para


promover a justiça social e formar cidadãos capacitados e engajados. Portanto, a
implementação eficaz desses deveres estabelecidos no Artigo 208 é fundamental para
alcançar esses objetivos e construir uma sociedade mais equitativa e próspera.
Além disso, vale ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição Federal:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho (BRASIL,1988).

O Artigo 205 da Constituição Federal estabelece a educação como um direito


universal e um dever compartilhado entre o Estado e a família, sendo promovido e
incentivado com a colaboração da sociedade. A educação, de acordo com este
dispositivo, tem um propósito que vai além da mera transmissão de conhecimento. Ela
busca o completo desenvolvimento da pessoa, preparando-a para o exercício pleno
da cidadania e qualificando-a para o mercado de trabalho.
Entretanto, a interpretação do Artigo 205 não é unânime. Alguns argumentam
que a redação atual desse artigo é vaga e que a finalidade educacional parece
priorizar a formação de indivíduos funcionalmente integrados na estrutura social em
detrimento do desenvolvimento integral do ser humano. Nesse contexto, questiona-se
se a educação no Brasil, conforme delineada na Constituição, atende efetivamente às
necessidades de desenvolvimento individual ou se foca excessivamente na
preparação para o mercado de trabalho em detrimento do crescimento pessoal e da
promoção da busca pelo conhecimento.

21
Essa discussão levanta questões fundamentais sobre a finalidade da educação
e destaca a necessidade de repensar o sistema educacional para garantir que ele não
só atenda às demandas econômicas, mas também promova o crescimento pessoal,
o aprendizado contínuo e a realização individual. A revisão dos currículos, métodos
de ensino e políticas educacionais pode ser necessária para promover uma educação
mais abrangente e significativa, em consonância com o Artigo 205 da Constituição
Federal.
Ademais, é importante ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição
Federal como um alicerce legal para direcionar a educação no Brasil e garantir que
ela cumpra seu papel essencial no desenvolvimento das pessoas, na formação de
cidadãos ativos e na preparação para o mercado de trabalho.
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL
O Código Civil brasileiro, em seu Artigo 1.634, regulamenta o poder de família,
estabelecendo os seguintes termos:

Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação

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conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação; (BRASIL,2002).

Esse dispositivo legal é o cerne do múnus familiar em relação à obrigação


jurídica de fornecer educação e criação para os seus infantes.
O Código Civil também serve como referência relevante para compreender a
educação domiciliar, um tema que tem gerado debates significativos nos últimos anos.
Embora o Código Civil não faça menção direta à educação em casa, ele estabelece
os deveres e poderes dos pais em relação à criação e educação dos filhos,
destacando a importância da família nesse processo.
No entanto, a educação domiciliar levanta questões específicas em relação à
sua legalidade e regulamentação, que podem variar de acordo com a legislação
educacional vigente. Isso torna essencial que os pais compreendam as leis de
educação em seu país e busquem aconselhamento adequado caso desejem optar
pela educação em casa.

22
O debate sobre a educação domiciliar aborda questões relativas à qualidade
da educação, à socialização das crianças e à capacidade dos pais de proporcionarem
um ambiente educacional adequado em casa. Portanto, a interação entre os direitos
dos pais e o interesse público na formação educacional das crianças é complexa e
deve ser tratada em conformidade com as normas legais aplicáveis.
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL
O Artigo 246 do Código Penal Brasileiro destaca-se como uma peça legislativa
de grande importância no âmbito educacional e jurídico, abordando o dever dos pais
ou responsáveis de providenciar a instrução primária para seus filhos em idade
escolar. Simultaneamente, esse dispositivo legal está relacionado ao estudo
domiciliar, conforme estipula o referido artigo: "Deixar, sem justa causa, de prover à
instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um
mês, ou multa" (BRASIL, 1940).
Este artigo normativo estabelece que a omissão injustificada em fornecer a
instrução primária a um filho em idade escolar configura uma infração sujeita a
penalidades específicas. Tais penalidades incluem detenção com duração de quinze
dias a um mês, bem como a imposição de multa.
A relevância do Artigo 246 reside na ênfase dada à obrigação da educação
primária, um direito fundamental da criança garantido pela legislação brasileira. A
garantia do acesso à educação é crucial para o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos essenciais ao longo da vida. Além disso, a educação desempenha um
papel vital na formação do cidadão e na promoção do bem-estar social.
Nesse contexto, o Artigo 246 do Código Penal visa assegurar que os pais ou
responsáveis cumpram o dever legal de proporcionar a instrução primária a seus filhos
em idade escolar, contribuindo para a formação educacional e cidadã das futuras

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gerações. Ao mesmo tempo, este artigo também suscita questões relacionadas ao


estudo domiciliar. Quando realizado em conformidade com as normas e
regulamentações estabelecidas, o estudo domiciliar permite que os pais assumam um
papel ativo na educação de seus filhos, desde que cumpram os requisitos legais e
assegurem a qualidade da educação em ambiente domiciliar. Isso demonstra o
compromisso do sistema legal brasileiro em conciliar o direito dos pais de escolherem

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a modalidade educacional de seus filhos com a necessidade de garantir a adequada
formação e proteção das futuras gerações.
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece diretrizes
específicas em relação à educação das crianças e adolescentes. Ele alinha-se ao
entendimento conforme expresso no ?Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação
de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino? (BRASIL, 1990).
Além disso, o Artigo 4º do ECA menciona o dever da família em relação ao
menor, conforme previsto no artigo, que estabelece:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder


público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1990).

Essa obrigação legal encontra respaldo nos princípios estabelecidos no Artigo


53 do ECA, que determina que crianças e adolescentes têm o direito à educação,
visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho. Além disso, o referido artigo prevê seus
direitos, como evidenciado no próprio texto:

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno


desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias
escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; (BRASIL,
1990).

O Artigo 54, por sua vez, estabelece o dever do Estado de garantir o direito à
educação das crianças e adolescentes, como expresso no texto a seguir:

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Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:


I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não
tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

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III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
(Revogado)
IV ? atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos
de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua
oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável,
pela freqüência à escola. (BRASIL, 1990).

Portanto, de acordo com seu §1º, é de responsabilidade do Estado efetivar os


direitos relacionados à educação, assegurando a igualdade de condições para o
acesso e a permanência na escola.
O pensamento subjacente a essas disposições do ECA enfatiza a importância
da educação para o desenvolvimento integral da criança e do adolescente,
preparando-os para uma participação ativa na sociedade e qualificando-os para
futuras oportunidades de trabalho. O ECA coloca a responsabilidade sobre os pais e
o Estado para garantir que a educação seja acessível e eficaz para as crianças e
adolescentes, de acordo com o Artigo 1º do ECA, que preconiza a proteção integral
como princípio norteador.
Entretanto, é importante ressaltar que, assim como no caso da Constituição
Federal, o ECA não faz menção direta à educação domiciliar (homeschooling).
Portanto, a prática da educação em casa levanta questões sobre a conformidade com
essas leis e regulamentos e deve ser considerada cuidadosamente à luz do contexto
legal em vigor. O debate sobre a educação domiciliar gira em torno das necessidades

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das crianças, da qualidade da educação e da capacidade dos pais de fornecer um


ambiente educacional apropriado em casa, ao mesmo tempo em que respeitam as
leis e regulamentações existentes.

25
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabelece princípios
essenciais relacionados à educação no Brasil segundo o Artigo 2º destaca que:

Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de


liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1996).

Assim, verifica-se que a responsabilidade pela educação é compartilhada entre


a família e o Estado, e deve ser baseada nos princípios da liberdade e solidariedade
humana. Além disso, a educação deve ter como finalidade o pleno desenvolvimento
do educando, preparando-o para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.
Adicionalmente, o Artigo 6º da mesma lei impõem que ?É dever dos pais ou
responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4
(quatro) anos de idade? (BRASIL, 1990). Essa disposição, estabelecida no Artigo 6º,
reforça a necessidade de que os pais ou responsáveis efetuem a matrícula das
crianças na educação básica a partir dos 4 anos de idade.
Esse conjunto de responsabilidades do Estado reflete o compromisso com a
promoção de uma educação acessível, inclusiva e de qualidade para todos os
cidadãos brasileiros. No entanto, o cumprimento desses deveres é um desafio
constante, especialmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, com
desigualdades regionais significativas.
O pensamento subjacente a esse contexto destaca a importância da educação
como um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico de uma nação.
Garantir que todos tenham igualdade de oportunidades educacionais é essencial para
promover a justiça social e a formação de cidadãos capacitados e engajados.
Portanto, a implementação eficaz desses deveres está também estabelecida no Artigo
208 da Constituição Federal, que diz que é fundamental para alcançar esses objetivos
é construir uma sociedade mais equitativa e próspera

26
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA
O tema da educação domiciliar tem sido objeto de intensos debates no âmbito
legislativo brasileiro, com vários projetos de lei apresentados ao longo dos anos.
Essas propostas visam redefinir a dinâmica educacional, distribuindo

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responsabilidades entre o Estado e as famílias, a fim de permitir o ensino em casa.


Para que isso ocorra, é necessária uma ativa movimentação do Poder
Legislativo, pois este é o órgão responsável pela fiscalização e criação de leis.
Atualmente, não existe nenhuma lei que valide a educação domiciliar no Brasil,
embora tenham sido apresentados diversos projetos de lei sobre o tema ao longo do
tempo.
Em um breve passeio pela história legislativa, um desses projetos que merece
destaque é o Projeto de Lei nº 6001/2001, de autoria de Ricardo Izar. Este projeto
visava atribuir aos pais a responsabilidade pela educação de seus filhos, dispensando
os alunos que comprovassem educação em casa da obrigatoriedade de frequentar
uma escola e cumprir uma carga horária mínima anual. Nas justificativas
apresentadas, Izar argumentou que deixar o Estado como único provedor de
educação era um abuso de poder e que forçar as crianças a frequentar a escola as
expunha diariamente a drogas e violência, além de uma orientação pedagógica que
poderia ser contrária às convicções filosóficas e religiosas de algumas famílias.
No entanto, após anos de tramitação, esse projeto foi rejeitado e arquivado em
2007. A justificativa para a rejeição foi que a proposta era elitista, já que apenas
famílias com formação educacional adequada e tempo disponível poderiam desfrutar
desse direito, excluindo grande parte da população com menor poder aquisitivo.
Outros projetos de lei seguiram o Projeto de Lei nº 6001/2001, como o Projeto
de Lei 4122/2008 e o Projeto de Lei 3518/2008, que propunham alterações na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
No entanto, essas propostas também foram rejeitadas, argumentando que elas
contrariavam a legislação existente e que a eficácia do ensino domiciliar não havia
sido devidamente demonstrada. A Comissão afirmou que a experiência e a vivência
cotidiana nas escolas eram fundamentais para a aprendizagem e o desenvolvimento
das crianças.

27
Em 2012, o deputado Lincoln Portela elaborou o Projeto de Lei 3179, buscando
acrescentar o ensino domiciliar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As modificações propostas e outros projetos relacionados a ele serão abordados a
seguir.
O Projeto de Lei 3261 de 2015, de autoria do Deputado Eduardo Bolsonaro,
busca autorizar a educação domiciliar, introduzindo várias alterações na Lei nº 9.394
de 1996 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em junho de 2018, o deputado Alan Rick apresentou o Projeto de Lei
10185/2018, propondo alterações no artigo 5º da Lei nº 9.394 de 1996 para especificar
que o dever do Poder Público de garantir a frequência à escola pode ser substituído
pelo zelo no desenvolvimento adequado no caso da educação domiciliar.
O Projeto de Lei 3159, de 2019, de autoria da Deputada Natália Bonavides,
busca acrescentar ao artigo 5º da Lei nº 9394 de 1996 um parágrafo afirmando que a
educação domiciliar não pode substituir a frequência à escola.

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No mesmo ano, foi apresentado o Projeto de Lei 2401/2019, de autoria do


Poder Executivo, que propõe a regulamentação da educação básica domiciliar em
uma lei isolada. Suas disposições são mais detalhadas do que as propostas dos
projetos de lei mencionados anteriormente. O projeto torna explícito que a educação
domiciliar é um direito de escolha dos pais e responsáveis, assegura a igualdade dos
estudantes dessa modalidade com os da educação presencial e estabelece requisitos,
como o registro da educação domiciliar em uma plataforma virtual do Ministério da
Educação e a avaliação anual dos alunos de acordo com a Base Nacional Comum
Curricular.
Além disso, o projeto proíbe a educação domiciliar para pais ou responsáveis
que cumpram penas por crimes previstos em várias normas legais e prevê a perda do
direito de optar pela educação domiciliar no caso de reprovação em duas ou três
oportunidades ou de falta injustificada na avaliação anual.
Há também ajustes propostos para a Lei 9.394 de 1996 e o Estatuto da Criança
e do Adolescente para torná-los compatíveis com a educação domiciliar.
Os projetos de Lei 5852/2019 e 6188/2019, propostos pelos deputados Pastor
Eurico e Geninho Zuliani, pretendem inserir na Lei 9.394 de 1996 a possibilidade de a
Educação Básica ser ministrada por tutores autônomos em locais diferentes das
instituições oficiais de ensino. O segundo projeto busca autorizar a educação

28
domiciliar apenas quando for constatada a inadequação ou impossibilidade de
inclusão do estudante na rede regular de ensino, permitindo ainda o acesso a espaços
e equipamentos públicos.
Esses projetos apensados ao Projeto de Lei 3179/2012 demonstram a
abundância de discussões em torno da educação domiciliar e sua importância no
ordenamento jurídico.
Considerando as contribuições desses projetos de lei, a deputada Luísa
Canziani apresentou um Substitutivo ao Projeto de Lei 3179 de 2012 e suas emendas.
Ela sugeriu apenas a rejeição do Projeto de Lei 3159 de 2019.
Ao Substitutivo foram apresentadas 15 emendas de Plenário, sendo aprovada
apenas a emenda de plenário nº 8, que busca acrescentar um parágrafo único ao
artigo 246 do Código Penal, estabelecendo que os pais ou responsáveis que optam
pela educação domiciliar não incorrem no crime de abandono intelectual de seus
filhos. Quanto às demais emendas, foi sugerida a rejeição.
A redação final do Projeto de Lei 3179/2012 inclui no escopo da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional a possibilidade de oferta domiciliar da
educação básica. O projeto prevê obrigações para os pais, como a matrícula anual do
estudante em uma instituição de ensino credenciada, o cumprimento dos conteúdos
curriculares de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, a realização de
atividades pedagógicas, o registro periódico dessas atividades com envio de relatórios
trimestrais, o acompanhamento do desenvolvimento do estudante por um docente
tutor da instituição de ensino, avaliações anuais de aprendizagem e a participação em

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exames nacionais, estaduais ou municipais, se selecionados.


O projeto também prevê a perda do direito à opção pela educação domiciliar
nas hipóteses de insuficiência de progresso do educando, reprovações ou faltas
injustificadas nas avaliações. Além disso, estabelece a proibição da educação
domiciliar para pais ou responsáveis que cumpram penas por crimes específicos.
Também é importante mencionar o Projeto de Lei 3262/2019, que propõe
alterações no Código Penal para que a educação domiciliar não seja considerada um
crime de abandono intelectual. Esta proposta se originou devido a casos de famílias
que enfrentaram perseguições legais devido à educação domiciliar.
Assim, a educação domiciliar no Brasil é um tema de debate contínuo no
cenário legislativo, com diversos projetos de lei apresentados ao longo dos anos,

29
refletindo as complexidades em torno do homeschooling e suas implicações no
sistema educacional brasileiro. O Projeto de Lei 3179/2012 foi aprovado pela Câmara
dos Deputados em 19 de maio de 2022 e atualmente encontra-se em análise no
Senado Federal como Projeto de Lei Nº 1.388/2022, aguardando a próxima fase do
processo legislativo na Comissão de Educação do Senado, tendo o senador Flávio
Arns como relator.

30
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR

O assunto do ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, tem


sido objeto de análise pelo Poder Judiciário no contexto dos Direitos Fundamentais e
Individuais. Dois casos de grande repercussão social se destacam, ocorridos nas
cidades de Anápolis, estado de Goiás, e Canela, no Rio Grande do Sul.
O primeiro ocorreu em 2002, o caso emblemático da família Vilhena Coelho,
residente em Anápolis, Goiás, ocorrido em 2002. Nesse episódio, os pais desta
família, representando seus três filhos menores, impetraram o Mandado de Segurança
n° 7.407, datado de 24 de abril de 2002, junto ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
O propósito deste recurso constitucional era a reversão do ato do Ministério da
Educação (MEC), que havia homologado o Parecer Consultivo n° 34 de 04 de
dezembro de 2000 da Câmara de Ensino Básico (CEB) do Conselho Nacional de
Educação (CNE). Este parecer negou a possibilidade da educação domiciliar, apesar
da demonstração de que tal modalidade vinha ocorrendo de forma eficiente, com
avaliações sendo realizadas.
No cerne das decisões administrativas que desencadearam esse episódio está
a ideia de que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996 e
a Constituição Federal de 1988 são explícitas quanto à obrigatoriedade do ensino

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escolar, bem como da frequência dos alunos devidamente matriculados, de acordo


com o mencionado parecer.
O relator do processo no STJ, o Ministro Francisco Peçanha Martins, votou em
desfavor da pretensão da família, argumentando que não existia direito líquido e certo
na solicitação e que o MEC não havia agido com abuso ao aprovar o parecer do
CEB/CNE. Para ele, os dispositivos constitucionais determinavam que o ensino
escolar era obrigatório, assim como a frequência dos alunos matriculados em escolas
regulares.
Outros ministros que compartilharam desse entendimento no STJ foram
Humberto Gomes de Barros, Eliana Calmon, Francisco Falcão, Laurita Vaz e Garcia
Vieira. Os votos vencidos foram dos Ministros Franciulli Netto e Paulo Medina.
Para o Ministro Franciulli Netto, a educação deveria ser analisada à luz do
pluralismo do Estado Democrático de Direito, permitindo o direito à liberdade de
escolher outra modalidade de ensino. Ele observou que as crianças demonstraram

31
um notável desempenho, estando um ano à frente de suas idades, o que, em sua
visão, habilitava os pais a assumir a função de garantir diretamente a educação formal.
Para ele, a frequência escolar era um fator secundário, e a educação transcenderia a
mera transmissão de informações, sendo a família a principal responsável pela
formação, não apenas intelectual, mas também cidadã e social das crianças e
adolescentes.
O Ministro Paulo Medina também enfatizou as liberdades constitucionais
relacionadas à educação e o pluralismo de ideias, bem como a responsabilidade do
Estado em fiscalizar as atividades da família para garantir a efetivação dos fins
constitucionais relacionados à educação.
No final, os pais tiveram que acatar a decisão do STJ e realizar a matrícula de
seus filhos em uma escola regular.
O segundo caso ocorreu em meados de 2015, quando chegou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança impetrado pelos pais de uma
criança de onze anos, que tiveram sua solicitação de educação domiciliar negada pelo
órgão municipal e, posteriormente, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A
parte recorrente alegou violação de diversos artigos da Constituição, argumentando
que a educação não se restringe à instrução formal em uma instituição convencional
de ensino, especialmente diante da diversidade de ideias e concepções pedagógicas,
bem como dos avanços tecnológicos.
No seu pronunciamento, o Ministro Luís Roberto Barroso destacou o ensino
domiciliar como um fenômeno emergente em diversos países, incluindo o Brasil, com
um crescente número de adeptos, e a possibilidade de redução dos gastos públicos
com sua adoção. O reconhecimento da natureza constitucional do debate sobre a
capacidade das famílias de prover educação levou o Ministro a enfatizar a importância
de definir a relação entre o Estado e a família na educação de crianças e
adolescentes, bem como os limites da autonomia privada em relação às imposições

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estatais.
Barroso concluiu que a improcedência do pedido baseou-se na falta de uma
norma regulamentar, não na inconstitucionalidade do homeschooling. Além disso,
salientou que, como se tratava de uma questão de repercussão geral, a decisão tinha
efeito erga omnes, aplicável a todas as partes envolvidas na lide, sendo uma decisão
histórica e de extrema importância por reconhecer a colaboração entre o Estado e a

32
família na prestação do ensino fundamental e pela legalização do homeschooling no
Brasil.
Posteriormente, em 2018, o processo foi colocado em pauta e, após o
julgamento, a Corte determinou que o ensino domiciliar não é um meio lícito para
cumprir o dever de prover educação a crianças e adolescentes, embora não tenha
sido considerado inconstitucional. A maioria dos ministros votou pelo desprovimento
do recurso extraordinário, uma vez que não havia uma lei que regulamentasse a
prática.
O Ministro Luís Roberto Barroso, ao fundamentar seu voto, destacou que a
Constituição Federal não proíbe o homeschooling e que o ensino domiciliar é
compatível com o ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a maioria dos ministros
argumentou que é necessária uma regulamentação prévia pelo Congresso Nacional,
estabelecendo requisitos e mecanismos de avaliação e fiscalização, para atender ao
disposto no Art. 208, §3º da Constituição, que atribui ao poder público o dever de zelar
pela frequência à escola. Esta decisão do Supremo Tribunal Federal, portanto,
representa um marco importante na jurisprudência brasileira em relação a este
assunto controverso.
No seu voto, o Ministro Alexandre de Moraes apresentou uma perspectiva
fundamental no julgamento do ensino domiciliar, sustentando que a prática não é
inconstitucional, desde que haja uma regulamentação prévia. Ele destacou que o
homeschooling de natureza utilitarista, que segue o conteúdo do ensino escolar e
permite fiscalização e avaliações periódicas, é compatível com a Constituição,
contudo, ressaltou que essa modalidade requer uma colaboração entre as famílias e
o Estado. O Ministro enfatizou a importância de o Congresso Nacional regulamentar
essa prática, a fim de estabelecer requisitos e mecanismos de avaliação e
fiscalização, como previsto no Art. 208, §3º da Constituição, o qual atribui ao poder
público a responsabilidade de garantir a frequência escolar. Além disso, Moraes
argumentou que o ensino domiciliar pode ser uma escolha legítima das famílias,
especialmente quando fundamentada em motivos religiosos, promovendo assim o
direito fundamental à liberdade religiosa e respeitando os princípios de autonomia e
emancipação.
Portanto, o STF reconheceu a legalidade do homeschooling, desde que haja
regulamentação específica por parte do Congresso Nacional para garantir a qualidade

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e a fiscalização do ensino domiciliar no Brasil. Essa decisão representa um marco
significativo na jurisprudência do país em relação a esse tema controverso,
estabelecendo a necessidade de um equilíbrio entre o direito das famílias de
escolherem essa modalidade de ensino e a responsabilidade do Estado em assegurar
que a educação seja ministrada de acordo com padrões adequados e com a devida
supervisão. Além disso, o voto do Ministro Alexandre de Moraes destaca a importância
de reconhecer a autonomia e emancipação das famílias, especialmente quando
fundamentadas em motivos religiosos, promovendo assim o direito fundamental à
liberdade religiosa, dentro dos limites estabelecidos por uma regulamentação
apropriada.

34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente trabalho, o conceito e a prática do ensino domiciliar, conhecido


como homeschooling, foram explorados, com destaque para sua crescente
popularidade global e as diversas motivações subjacentes a essa abordagem
educacional. O homeschooling permite que os pais personalizem o currículo de seus
filhos, flexibilizem horários e atendam a preocupações com segurança e bem-estar.
Contudo, essa prática tem gerado debates sobre a socialização das crianças e a
qualidade do ensino, com regulamentações variando amplamente entre países.
No contexto legal brasileiro, a viabilidade do ensino domiciliar foi analisada,
considerando as bases legais, como a Constituição Federal de 1988, o Código Civil,
o Código Penal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação. Embora esses documentos não façam menção direta ao
homeschooling, estabelecem princípios fundamentais para a educação no Brasil.
Também foram explorados projetos de lei relacionados ao ensino domiciliar em
discussão no país.
Dois casos emblemáticos ocorridos em Anápolis, Goiás, em 2002, e em
Canela, Rio Grande do Sul, em 2015, foram analisados. No primeiro caso, o Supremo
Tribunal de Justiça decidiu contra a família Vilhena Coelho, argumentando que a
Constituição exige a frequência escolar. No segundo caso, o Supremo Tribunal
Federal considerou que o ensino domiciliar não é inconstitucional, mas requer
regulamentação específica pelo Congresso Nacional.
Diante da análise realizada, conclui-se que o objetivo central deste estudo, que
consistia em explorar a viabilidade e a legalidade do ensino domiciliar, também
conhecido como homeschooling, foi alcançado em parte. Ficou evidente que o ensino
domiciliar não é inconstitucional no Brasil, conforme confirmado pelo Supremo

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Tribunal Federal (STF) em seu julgamento de 2018. Entretanto, a ausência de uma


legislação específica para regulamentar o homeschooling deixa questões
fundamentais em aberto.
A Constituição Federal de 1988 e outros dispositivos legais estabelecem
princípios e diretrizes essenciais para a educação no país, mas não abordam
diretamente o homeschooling. Isso resulta em uma lacuna legal que demanda atenção
do poder legislativo para criar uma estrutura regulatória clara e adequada, a fim de

35
garantir que o ensino domiciliar seja praticado com qualidade, responsabilidade e em
conformidade com os princípios educacionais do Brasil.
Portanto, embora o tema do homeschooling tenha sido examinado à luz de sua
constitucionalidade, a ausência de uma lei específica que regule o assunto cria uma
lacuna significativa no sistema educacional brasileiro. Assim, para atingir plenamente
os objetivos propostos para este tema, é necessária a ação legislativa futura que
aborde essa questão complexa e promova a segurança jurídica e a qualidade da
educação no contexto do ensino domiciliar no Brasil. A reflexão sobre esse tópico
destaca a importância de que, embora a legalidade do homeschooling tenha sido
estabelecida, ainda é necessária uma regulamentação específica para atender aos
princípios e responsabilidades constitucionais relacionados à educação no país.

36
REFERÊNCIAS

ALVES, Rubens. Revista da Educação. Edição 134. 2010. Disponível em:


https://revistaensinosuperior.com.br/2011/09/10/homeschooling/. Acesso em: 03 mai.
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da criança e do adolescente: relevância, limites e possibilidades na ampliação
ao direito à educação. Tese de Doutorado. FEUSP. São Paulo, 2014. Disponível
em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-10112014-111617/pt-
br.php. Acesso em: 02 set. 2023.

ANED - Associação Nacional de Educação Domiciliar. Educação Domiciliar.


Disponível em: https://www.aned.org.br/index.php/conheca-educacao-domiciliar/ed-
no-mundo. Acesso em: 01 set. 2023.

BARBOSA, Luciane. Pesquisa identifica razoes que levam pais a optar por
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pais-a-optar-por-educacao-domiciliar/. Acesso em: 25 jul. 2023.

BOTO, Carlota. ?Homeschooling?: a prática de educar em casa. Jornal da USP,


16 março. 2018. Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/homeschooling-a-pratica-
de-educar-em-casa/. Acesso em: 25 jul. 2023.

BOTO, Carlota. Projeto de homeschooling no Brasil coloca um muro entre a


família e o mundo social. Jornal da USP, 25 maio. 2022. Disponível
em: https://jornal.usp.br/atualidades/projeto-de-homeschooling-no-brasil-coloca-um-
muro-entre-a-familia-e-o-mundo-social/. Acesso em: 26 jul. 2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 888.815/RS. DIREITO


CONSTITUCIONAL. EDUCAÇÃO. ENSINO DOMICILIAR. LIBERDADES E
DEVERES DO ESTADO E DA FAMÍLIA. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. Constitui questão constitucional saber se o ensino domiciliar (homeschooling)
pode ser proibido pelo Estado ou viabilizado como meio lícito de cumprimento, pela
família, do dever de prover educação, tal como previsto no art. 205 da CRFB/1988.
2. Repercussão geral reconhecida. Relator: Min. Roberto Barroso, 4 de junho de
2015. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?
incidente=4774632. Acesso em: 10 abr.2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n° 888.815.


Constitucional. Educação. Direito Fundamental relacionado à dignidade da pessoa
humana e à efetividade da cidadania. Dever solidário do Estado e da família na
prestação do Ensino Fundamental. Necessidade de lei formal, editada pelo
Congresso Nacional, para regulamentar o Ensino Domiciliar. Recurso Desprovido.
Relator: Ministro Roberto Barroso. Redator para acórdão: Ministro Alexandre de
Moraes. DJ, 12 de set. de 2018. Disponível em:
https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE888815mAM.PDF.
Acesso em: 05 out.2023.

37

BRASIL. Constituição de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil:


promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em:
05.out.2023.

BRASIL. Decreto-Lei n° 2.848 de 1940. Código Penal: decretado em 07 de


dezembro de 1940. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
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em 13 de julho de 1990. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 05 out.2023.

BRASIL. Lei n° 9.394 de 1996. Lei de diretrizes e bases da educação nacional:


promulgada em 20 de dezembro de 1996. Disponível em:
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BRASIL. Lei n° 10.406 de 2002. Código Civil: promulgada em 10 de janeiro de


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https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em:
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1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), e 8.069, de 13 de julho de
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oferta domiciliar da educação básica. Brasília: Câmara dos Deputados, 08 dez.
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Acesso em: 24 jul 2023.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Mandado de Segurança 7407/DF - Acórdão


COAD 132172 - Rel. Min. Francisco Peçanha Martins - Publ. em 21-3-2005.

38
Disponível em: https://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/42/docs/ms-
ensino_fundamental-7407_stj.pdf. Acesso em: 06 out.2023.

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https://copyspider.com.br/ Página 62 de 302

SENADO, Agência. Senado aprofunda debate sobre educação domiciliar.


8/12/2022. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/12/senado-aprofundadebate-
sobre-educacao-domiciliar. Acesso em: 07 out.2023.

SENADO, Agência. Senado aprofunda debate sobre educação domiciliar.


8/12/2022. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/12/senado-aprofundadebate-
sobre-educacao-domiciliar. Acesso em: 07 out.2023.

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=================================================================================
Arquivo 1: BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Arquivo 2: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2021/04/04/homeschooling-entenda-o-modelo-de-
aprendizagem-domiciliar-que-o-governo-quer-regulamentar-ate-julho.ghtml (12563 termos)
Termos comuns: 173
Similaridade: 0,85%
O texto abaixo é o conteúdo do documento BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://g1.globo.com/educacao/noticia/2021/04/04/homeschooling-entenda-o-modelo-de-aprendizagem-
domiciliar-que-o-governo-quer-regulamentar-ate-julho.ghtml (12563 termos)

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Cuiabá
2023

Cidade
Ano
BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

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A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO


DOMICILIAR NO BRASIL

Cuiabá
2023

A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO


DOMICILIAR NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à UNIC ?


Universidade de Cuiabá, como requisito parcial para a

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obtenção do título de graduado em Direito.


Orientadora: Denise Alcantara

BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO DOMICILIAR


NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade de Cuiabá - UNIC, como requisito
parcial para a obtenção do título de graduado
em Direito.

BANCA EXAMINADORA

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Cuiabá, dia de mês de 2023

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ARRUDA, Brenno Eduardo. A constitucionalidade do método de ensino domiciliar


no Brasil. 2023. 22 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito)
? Universidade de Cuiabá - UNIC, Cuiabá/MT, 2023.

RESUMO

O objetivo deste trabalho é discutir o ensino domiciliar, também conhecido como


homeschooling, uma prática educacional em que os pais ou responsáveis assumem
a responsabilidade de educar seus filhos em casa, ao invés de matriculá-los em uma
escola tradicional. Esta prática permite uma abordagem de ensino personalizada,
adaptada às necessidades e interesses individuais de cada criança. No entanto, a
viabilidade jurídica do ensino domiciliar no Brasil é um tema de debate. Embora alguns
pais e responsáveis defendam o direito de educar seus filhos em casa, existem
questões legais e regulatórias que precisam ser consideradas. O estudo também
analisará países onde o ensino domiciliar é regulamentado, destacando o papel da
família e do estado na educação domiciliar. Além disso, há diversas decisões judiciais
relacionadas ao ensino domiciliar no Brasil, com alguns casos de grande impacto.
Estas decisões judiciais podem ter um impacto significativo na forma como o ensino
domiciliar é praticado e regulamentado no país. Portanto, é importante compreender
o conceito de ensino domiciliar, analisar sua viabilidade jurídica no contexto brasileiro
e estar ciente das decisões judiciais relacionadas a esta prática educacional.

Palavras-chave: Direito à Educação Domiciliar. Homeschooling. Educação no Lar.


Flexibilidade da Educação Básica.

ARRUDA, Brenno Eduardo. The constitutionality of the home teaching method in


Brazil. 2023. 22 sheets. Completion of Law Course ? University of Cuiabá, Cuiabá
2023.

ABSTRACT
The aim of this work is to discuss homeschooling, also known as home education, an
educational practice in which parents or guardians take on the responsibility of
educating their children at home instead of enrolling them in a traditional school. This
practice allows for a personalized teaching approach, tailored to the individual needs
and interests of each child. However, the legal feasibility of homeschooling in Brazil is
a subject of debate. While some parents and guardians advocate for the right to
educate their children at home, there are legal and regulatory issues that need to be
considered. The study will also examine countries where homeschooling is regulated,
highlighting the roles of both the family and the state in home education. Furthermore,
there have been various legal decisions related to homeschooling in Brazil, with some

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cases of significant impact. These legal decisions can have a significant impact on how
homeschooling is practiced and regulated in the country. Therefore, it is important to
understand the concept of homeschooling, analyze its legal feasibility in the Brazilian
context, and be aware of legal decisions related to this educational practice.

Keywords: Right to Homeschooling. Homeschooling. Home Education. Flexibility of


Basic Education.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 ? Países onde o Homeschooling é legalizado segundo ANED ................ 16

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. Artigo
ANED Associação Nacional de Educação Domiciliar
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
RE Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
USP Universidade de São Paulo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING ......................................................... 10
2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO ................................................................................. 11
2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING..................................................................... 11
2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING .................................... 13
2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING ................................................ 14
2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES............... 15
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL ..................................................................................................................... 18
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO ................................................. 18
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL ....................................................................... 21
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL .................................................................. 22
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA) ............................................................................................. 23

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3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB) ................. 25


3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA ............................................................ 26
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR ............................................................................................................. 30
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 34
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36

9
1 INTRODUÇÃO

A prática do ensino domiciliar, também conhecida como homeschooling, tem


se tornado um tema de discussão relevante no contexto brasileiro. Este fenômeno
educacional, em que os pais assumem a responsabilidade de instruir seus filhos em
casa, em vez de enviá-los a uma escola convencional, suscita questionamentos
profundos sobre seus impactos, especialmente no que diz respeito às crianças e
adolescentes.
Este estudo tem como foco central a "Constitucionalidade do Ensino Domiciliar
no Brasil". Trata-se de uma questão que tem sido amplamente debatida ao longo dos
anos, sobretudo pelos pais e responsáveis que buscam a regulamentação desse
modelo educacional para proporcionar uma educação de qualidade dentro de seus
lares.
A relevância desta pesquisa é evidente, uma vez que ela busca lançar luz sobre
a legalidade do ensino domiciliar, oferecendo clareza àqueles que optam por educar
seus filhos em casa, sem temer penalizações estatais. Além disso, busca-se, por meio
de dados e evidências, explorar experiências internacionais em que o ensino
domiciliar é regulamentado, destacando o papel fundamental desempenhado tanto
pela família quanto pelo Estado na educação dos alunos no ambiente familiar.
O estudo também tem o potencial de contribuir para a compreensão desse
tema tanto na comunidade acadêmica quanto na sociedade em geral. Através da
análise doutrinária, legal, jurisdicional e constitucional, bem como da comparação de
dados educacionais, pretende-se lançar luz sobre o papel da família e do Estado no
ensino domiciliar, promovendo um debate informado e enriquecedor.
Para alcançar esses objetivos, este projeto de pesquisa adotará uma
abordagem qualitativa e descritiva, permitindo a análise das características desse
fenômeno educacional e a compreensão dos pressupostos teóricos que o envolvem.
A pesquisa abrangerá a revisão de livros, dissertações, teses, artigos e trabalhos
científicos publicados nos últimos 10 anos, além de buscas em bancos de dados
acadêmicos como o Google Acadêmico e Scielo.

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10
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING

O ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, é uma prática


que tem ganhado destaque tanto no cenário internacional quanto no contexto
brasileiro. Em todo o mundo, famílias optam por essa modalidade de ensino por uma
variedade de razões, incluindo a busca por um currículo mais personalizado, a
flexibilidade de horários e a preocupação com a segurança e o bem-estar dos filhos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o homeschooling é uma opção legal em todos os
estados, e milhares de famílias escolhem essa abordagem educacional. No entanto,
as regulamentações e atitudes em relação ao ensino domiciliar variam
consideravelmente de país para país.
Nesse contexto, Moreira (2017) esclarece que:

A educação domiciliar é uma modalidade de ensino que não obedece a uma


lógica única, massificada para todas as famílias, por basear-se no princípio
da soberania educacional da família, ou seja, seu fundamento é a liberdade
de cada família determinar como será realizada a educação de seus filhos.
(MOREIRA, 2017, p. 61).

O ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, é uma prática


que tem ganhado destaque tanto no cenário internacional quanto no contexto
brasileiro. Em todo o mundo, famílias optam por essa modalidade de ensino por uma
variedade de razões, incluindo a busca por um currículo mais personalizado, a
flexibilidade de horários e a preocupação com a segurança e o bem-estar dos filhos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o homeschooling é uma opção legal em todos os
estados, e milhares de famílias escolhem essa abordagem educacional. No entanto,
as regulamentações e atitudes em relação ao ensino domiciliar variam
consideravelmente de país para país.
Assim em revista especializada em educação foi publicado que:

Os motivos que levam os pais a optar pelo homeschooling são variados. Há


a insatisfação com as escolas, o temor em relação ao seu ambiente, interno
e externo. Os pais temem pela integridade física dos filhos. O que é
compreensível em ambientes onde existe violência. Há também as situações
em que as crianças e adolescentes são vítimas de bullying. Ir à escola é um
sofrimento diário e silencioso. A provisão legal da possibilidade de estudar
em casa eliminaria esse sofrimento que atinge milhares de crianças e
adolescentes (ALVES, 2011).

11

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2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO

O homeschooling é uma abordagem educacional na qual os pais ou


responsáveis assumem a responsabilidade de instruir seus filhos em casa, em vez de
enviá-los a uma escola tradicional. Essa prática oferece um ambiente de aprendizado
personalizado, no qual o currículo pode ser adaptado de acordo com as necessidades
e interesses individuais de cada criança. O homeschooling não se restringe a um
modelo específico; em vez disso, é uma prática flexível que pode variar amplamente
de família para família.
Na prática do homeschooling, os pais desempenham um papel fundamental na
construção do ambiente educacional de seus filhos. Isso implica não apenas na
seleção de materiais didáticos e na organização do currículo de acordo com as
aptidões e interesses únicos de cada criança, mas também na promoção de uma
atmosfera que estimule a curiosidade, a autodisciplina e a aprendizagem
independente. Além disso, o homeschooling permite uma flexibilidade rara no
processo de ensino, possibilitando a exploração de tópicos interdisciplinares e a
adaptação dos métodos de aprendizado de acordo com o ritmo de desenvolvimento
de cada aluno. Essa abordagem coloca a ênfase não apenas na obtenção de
conhecimentos acadêmicos, mas também no desenvolvimento holístico das crianças,
incluindo aspectos sociais, emocionais e éticos, tornando-se assim uma alternativa
atraente para famílias em busca de uma educação sob medida para suas
necessidades e valores.

2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING

O homeschooling tem uma longa história, datando de séculos atrás, quando as


famílias eram a principal fonte de educação. No entanto, o surgimento da escola
moderna no século XIX relegou o ensino em casa a um segundo plano. No século XX,
o homeschooling ressurgiu, impulsionado por diversos movimentos e mudanças
sociais, incluindo o movimento de contracultura dos anos 1960 e 1970. Desde então,
sua prática tem se expandido e diversificado globalmente.

12
No entanto, vale ressaltar que a formalização e a regulamentação do
homeschooling como uma opção legal de educação são mais recentes em muitos
países, incluindo o Brasil. O surgimento mais notável e o reconhecimento oficial do
homeschooling no Brasil ocorreram nas últimas décadas, principalmente a partir dos
anos 2000, quando começou a ganhar visibilidade e a ser debatido mais amplamente.
Nos Estados Unidos da América (EUA), o pioneiro do homeschooling foi Holt,
considerado o pai da desescolarização. Ele acreditava que a escola tradicional, de
certo modo, coagia as crianças a aprenderem, quando, na verdade, elas o fariam
naturalmente se tivessem a liberdade de seguir seus próprios interesses e acesso a

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uma ampla variedade de recursos. A partir de uma perspectiva da educação orgânica,


que valoriza o potencial humano como prioridade no desenvolvimento da criança,
essa linha de pensamento passou a ser chamada de unschooling e, posteriormente,
homeschooling.
No que tange as pesquisas pautas no princípio de revisão bibliográfica, é
relevante atentar-se ao fato de que:

O termo homeschooling, de língua inglesa, usual nos Estados Unidos da


América, é usado internacionalmente para identificar uma modalidade de
educação específica que é organizada e implementada pelos próprios pais
como alternativa de escolarização de seus filhos em casa e não na escola. É
traduzido, normalmente, para o português, por Educação Domiciliar, em uma
tradução literal da junção da palavra home (casa, ou lar), com a palavra
school (escola). O termo escola no gerúndio (schooling), já sugere a ideia do
próprio modelo de educação, que está carregado de um sentido de ensino
contínuo, no qual os pais se dispõem para o processo ensino aprendizagem
em formas e condições contínuas e cotidianas da vida da criança e da família,
organizadas intencionalmente ou não para o fim educativo, tais como
refeições, passeios, viagens, relacionamentos com a vizinhança, etc
(ANDRADE,2014,p. 19).

O homeschooling ganhou destaque no Brasil durante a pandemia de COVID-


19, que teve início em 2020. Com o fechamento temporário das escolas em muitas
regiões do país como medida de contenção da disseminação do vírus, muitos pais e
responsáveis foram forçados a considerar o ensino em casa como uma alternativa
viável para garantir a continuidade da educação de seus filhos.
Esse período de restrições sanitárias resultou em um aumento significativo no
interesse e na prática do homeschooling no Brasil. Muitas famílias passaram a buscar
soluções educacionais flexíveis e adaptadas às circunstâncias da pandemia,

13
recorrendo ao ensino em casa para manter o aprendizado das crianças durante os
lockdowns e as incertezas associadas à pandemia.
A pandemia também destacou a importância da adaptação e flexibilidade no
homeschooling. Pais e tutores tiveram que se ajustar rapidamente a novos métodos
de ensino online e colaborar mais estreitamente com escolas para acessar materiais
e recursos educacionais. Além disso, o ensino em casa permitiu que algumas famílias
aproveitassem o tempo em casa para explorar tópicos adicionais, incentivando a
aprendizagem autodirigida e a criatividade.
No entanto, é importante observar que o homeschooling durante a pandemia
também trouxe desafios, incluindo a necessidade de equilibrar o trabalho remoto dos
pais com a supervisão do aprendizado das crianças. O debate sobre a
regulamentação e a legalização do homeschooling no Brasil também se intensificou

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devido às mudanças trazidas pela pandemia. Portanto, o ensino domiciliar teve um


impacto notável no contexto da educação brasileira durante a crise da COVID-19,
levantando questões importantes sobre como essa prática deve ser abordada e
regulamentada no país.

2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING

O homeschooling, ou ensino domiciliar, é uma abordagem educacional que se


baseia em princípios e abordagens específicas. Embora haja variações na prática do
homeschooling, alguns princípios e abordagens comuns incluem a individualização da
educação, onde os pais ou tutores adaptam o currículo de acordo com as
necessidades e interesses de cada criança, promovendo um aprendizado
personalizado. Além disso, o homeschooling incentiva a aprendizagem autodirigida,
capacitando as crianças a tomar decisões sobre o que e como aprendem, promovendo
a responsabilidade pela própria educação e o desenvolvimento de habilidades de
aprendizado independentes.
Assim para MOREIRA (2017, p.10), ?pesquisas demonstram que essas
crianças estão bem preparadas em sentido acadêmico e social para participar de uma
democracia liberal?.
Uma das vantagens do homeschooling é a flexibilidade, permitindo que as
famílias adaptem o horário de aprendizado para atender às necessidades individuais,

14
aproveitando oportunidades de aprendizado fora do ambiente escolar tradicional. Isso
é complementado pelo uso de uma ampla variedade de recursos educacionais,
incluindo livros, materiais didáticos, recursos online, visitas a museus e aulas
particulares, que enriquecem a abordagem educacional.
No homeschooling, valoriza-se a educação informal, reconhecendo que as
experiências cotidianas, viagens, atividades ao ar livre e interações com a
comunidade são oportunidades valiosas de aprendizado. Os pais desempenham um
papel fundamental no ensino domiciliar, projetando o currículo, fornecendo instrução
e apoio, e acompanhando o progresso acadêmico e social de seus filhos.
Além disso, o homeschooling coloca ênfase não apenas na educação
acadêmica, mas também no desenvolvimento integral da criança, incluindo aspectos
sociais, emocionais e éticos. Essa abordagem é especialmente atraente para famílias
com crianças com necessidades educacionais especiais, uma vez que permite uma
adaptação mais precisa a essas necessidades.

2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING

Apesar de seus princípios e benefícios percebidos, o homeschooling é objeto


de debates e controvérsias em todo o mundo. Um dos principais pontos de debate diz
respeito à socialização das crianças educadas em casa, uma vez que podem ter

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menos oportunidades de interagir com seus pares. Além disso, questões relacionadas
à qualidade da supervisão educacional e à capacidade dos pais de fornecer um ensino
adequado em todas as disciplinas são frequentemente levantadas. Críticos
argumentam que, sem uma supervisão rigorosa, algumas crianças podem não
receber a educação de qualidade necessária.
De acordo com a pedagoga (Barbosa, 2013), autora do estudo, a prática do
homeschooling:

Segundo os dirigentes das associações canadenses de ensino domiciliar


entrevistados por Luciane, a ausência da escola não leva a uma falta de
socialização. ?Ao contrário, eles argumentam que a instituição escolar leva a
uma socialização restrita, por segregarem as crianças por idade?, diz. ?No
Canadá, as bibliotecas e ginásios esportivos possuem programas voltados
para ?homeschoolers?, e normalmente os pais que ensinam os filhos em casa
são filiados a duas ou mais associações do setor. Também há uma
preocupação em desenvolver a participação social dos filhos nas
comunidades em que vivem, pois consideram que a escola oferece um

15
conceito de cidadania ligado apenas ao conhecimento de fatos históricos e
ao exercício do voto? (BARBOSA, 2013).

Nesse viés, (Boto, 2022), pesquisadora da USP, diz que:

Os estudos sobre o ensino domiciliar têm mostrado que há um vetor religioso


acerca das famílias que escolhem esse tipo de educação para os filhos, pois
não querem que eles tenham contato com teorias educacionais consideradas
ímpias. A professora considera isso grave e diz que é importante que as
crianças aprendam conteúdos que possam contrariar os interesses dos pais,
já que isso faz parte do aprendizado. Ela ainda afirma que é perigoso a família
se colocar como a única instituição na vida de uma criança (BOTO, 2022).

2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES

A prática do homeschooling, ou ensino em casa, é regulamentada de maneira


diversa ao redor do mundo. Cada país estabelece suas próprias diretrizes para pais
que optam por educar seus filhos em casa, variando desde o reconhecimento legal e
regulamentação específica até proibições rigorosas. Para entender melhor essas
abordagens, examinaremos como alguns países de referência, como os Estados
Unidos, Canadá, Alemanha e Austrália, lidam com a regulamentação do
homeschooling e os resultados que obtiveram.
Nos Estados Unidos, o homeschooling é legal e praticado em todo o país, mas
os requisitos e regulamentos variam de estado para estado. Alguns estados exigem

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notificação prévia às autoridades educacionais locais, enquanto outros impõem testes


padronizados ou avaliações regulares do progresso educacional. Por outro lado, na
Alemanha, o homeschooling é proibido pela lei, com poucas exceções, devido às
preocupações do governo sobre a integração social das crianças. No Canadá, as
províncias têm abordagens distintas, algumas exigindo exames oficiais de avaliação,
enquanto outras pedem apenas notificação às autoridades de ensino local. A
diversidade de regulamentação também é vista na Austrália, com inspeções
regulares, avaliações de progresso e diretrizes curriculares específicas.
No que tange ao homeschooling no Canadá, a pedagoga (Barbosa, 2013)
observou como é posto em prática o ensino domiciliar:

A pedagoga realizou parte do estudo no Canadá, país onde a prática do


?homeschooling? é permitida. ?A regulamentação varia conforme as
províncias, algumas exigem a prestação dos exames de avaliação oficiais,

16
outras pedem apenas que a diretoria de ensino local seja comunicada?, relata.
?Ao entrevistar as famílias canadenses, percebe-se que embora a motivação
religiosa esteja muito presente, os pais também optam pelo ensino em casa
pela questão de custos (famílias mais numerosas) ou por terem filhos com
deficiência, entre outras razões? (BARBOSA, 2013).

A diversidade de abordagens à regulamentação do homeschooling ao redor do


mundo reflete a complexidade das questões envolvidas. Nos Estados Unidos, a
abordagem descentralizada permite flexibilidade para os pais, mas também pode
resultar em disparidades significativas na qualidade da educação em casa,
dependendo do estado em que se encontram. Por outro lado, na Alemanha, a
proibição do homeschooling é uma tentativa de garantir a socialização e a educação
uniforme das crianças, mas levanta questões sobre os direitos dos pais de decidirem
como educar seus filhos. No Canadá e na Austrália, a variedade de regulamentações
indica uma tentativa de equilibrar a autonomia dos pais com a necessidade de garantir
que as crianças recebam uma educação adequada.
Nesse ensejo, a Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED), que é
uma associação dos pais que defendem os estudos em casa, divulgou dados dos
países onde a prática do hommescooling é legal, conforme imagem abaixo:

Figura 1 - Legalidade do ensino doméstico por país.

PAÌSES: África África do Sul, Oceania Austrália, Nova Zelândia. Ásia Filipinas, Japão, América Norte
EUA, Canadá, Sul Colômbia, Chile, Equador, Paraguai. Europa Portugal, França, Itália, Reino Unido,
Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria, Finlândia, Noruega, Rússia.

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Fonte: Mapa e quadro divulgados pela ANED (2021).

17

Em vários países europeus, como França e Bélgica, o homeschooling é


estritamente regulamentado e desencorajado, com ênfase na importância da
socialização e da educação em escolas reconhecidas. No entanto, na Suécia, o
homeschooling é permitido sob condições específicas, desde que os pais sigam um
currículo nacional. A regulamentação do homeschooling ao redor do mundo reflete
uma variedade de abordagens culturais, educacionais e políticas, com o objetivo de
equilibrar o direito dos pais de educar seus filhos em casa com o interesse público em
garantir uma educação de qualidade e a socialização adequada das crianças.
De acordo com a pesquisadora (Boto,2018):

Nos Estados Unidos, país que possui hoje mais de 2 milhões de crianças em
idade escolar fora da escola, um dos principais motivos para a prática
do homeschooling é religioso. São as minorias religiosas, bem como minorias
étnicas que, de acordo com os estudos sobre o assunto, aderem a essa nova
modalidade de educação. Entre 1999 e 2010 ocorreu um crescimento
superior a 100% e, para o conjunto dos Estados norte-americanos, há um
contingente de quase 4% de crianças que hoje não frequentam mais a escola.
Na Rússia, entre 2008 e 2012, teria ocorrido ampliação de 900% nas práticas
de homeschooling. Na Alemanha, país que proibiu a prática em seu território,
há inúmeros casos de casais que foram multados e até presos por não
enviarem os filhos à escola (BOTO, 2018).

É evidente que a regulamentação do homeschooling é uma questão complexa


que envolve o equilíbrio entre os direitos individuais dos pais e o interesse público na
educação e socialização das crianças. O debate sobre como melhor abordar essa
questão continua a evoluir à medida que os países buscam encontrar um equilíbrio
entre a liberdade de escolha educacional dos pais e a responsabilidade do Estado de
garantir que todas as crianças recebam uma educação de qualidade e sejam
integradas na sociedade de maneira adequada.

18
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL

No cenário brasileiro, a análise da viabilidade jurídica do estudo domiciliar


requer um entendimento abrangente do contexto legal e regulatório que rege o
sistema educacional. A Constituição Federal de 1988 estabelece princípios essenciais

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que fundamentam a educação no Brasil, enfatizando a responsabilidade


compartilhada entre a família, a sociedade e o Estado na proteção dos direitos das
crianças e adolescentes. O Código Civil reforça o papel dos pais na criação e
educação de seus filhos, e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece
diretrizes específicas para a educação e proteção de menores. Paralelamente, a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) define os princípios gerais da educação
brasileira. Além disso, existem projetos de lei que podem definir o estudo em casa no
Brasil nas mãos dos deputados.
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO
A Constituição Federal de 1988, um marco fundamental na legislação brasileira,
estabelece princípios que guiam a educação no país e atribui responsabilidades tanto
ao Estado quanto à sociedade e às famílias. O Artigo 227 da Constituição Federal de
1988 é um dos pontos centrais nesse contexto:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,


ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL,1988).

Este artigo estabelece que é um compromisso da família, sociedade e Estado


garantir, de forma prioritária, o direito à vida, saúde, alimentação, educação, lazer,
profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e
comunitária das crianças, adolescentes e jovens, além de protegê-los contra qualquer
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
O Artigo 227 da Constituição Federal coloca as crianças, adolescentes e jovens
no centro das preocupações da sociedade e do Estado, enfatizando a necessidade
de criar um ambiente seguro e saudável para o seu desenvolvimento. Ele destaca a

19
educação como um dos pilares fundamentais para o crescimento pleno desses
indivíduos, enfatizando a necessidade de protegê-los contra ameaças e violações de
seus direitos, conforme previsto na Constituição.
Na conjuntura atual, o Artigo 227 mantém sua relevância como diretriz
essencial para a formulação de políticas educacionais e sociais no Brasil. No entanto,
desafios persistentes, como a desigualdade no acesso à educação e a violação dos
direitos das crianças, exigem esforços contínuos para garantir a implementação eficaz
das disposições desse artigo.
O compromisso da família, sociedade e Estado em proporcionar um ambiente
favorável ao crescimento e desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens é
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Portanto, é
crucial que todos os esforços sejam direcionados para garantir o respeito a esses

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direitos e para assegurar que todos os jovens tenham igualdade de oportunidades


para receber uma educação de qualidade, conforme preconizado pelo Artigo 227 da
Constituição Federal de 1988. Em resumo, o Artigo 227 continua a servir como
alicerce para a proteção e promoção dos direitos da juventude, sendo essencial para
garantir um futuro mais promissor às gerações vindouras.
A Constituição Federal de 1988 também estabelece, no Artigo 208, os deveres
do Estado em relação à educação no Brasil. Esses deveres incluem:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a


garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)
anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a
ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos
de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por
meio de programas suplementares de material didáticoescolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009)
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua
oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

20
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela freqüência à escola (BRASIL,1988).

Essas responsabilidades do Estado refletem um compromisso com a promoção


de uma educação acessível, inclusiva e de qualidade para todos os cidadãos
brasileiros. No entanto, o cumprimento desses deveres enfrenta desafios constantes,
principalmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, com
significativas desigualdades regionais.
O pensamento subjacente a esse contexto destaca a importância da educação
como um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico da nação.

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Garantir igualdade de oportunidades educacionais para todos é essencial para


promover a justiça social e formar cidadãos capacitados e engajados. Portanto, a
implementação eficaz desses deveres estabelecidos no Artigo 208 é fundamental para
alcançar esses objetivos e construir uma sociedade mais equitativa e próspera.
Além disso, vale ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição Federal:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho (BRASIL,1988).

O Artigo 205 da Constituição Federal estabelece a educação como um direito


universal e um dever compartilhado entre o Estado e a família, sendo promovido e
incentivado com a colaboração da sociedade. A educação, de acordo com este
dispositivo, tem um propósito que vai além da mera transmissão de conhecimento. Ela
busca o completo desenvolvimento da pessoa, preparando-a para o exercício pleno
da cidadania e qualificando-a para o mercado de trabalho.
Entretanto, a interpretação do Artigo 205 não é unânime. Alguns argumentam
que a redação atual desse artigo é vaga e que a finalidade educacional parece
priorizar a formação de indivíduos funcionalmente integrados na estrutura social em
detrimento do desenvolvimento integral do ser humano. Nesse contexto, questiona-se
se a educação no Brasil, conforme delineada na Constituição, atende efetivamente às
necessidades de desenvolvimento individual ou se foca excessivamente na
preparação para o mercado de trabalho em detrimento do crescimento pessoal e da
promoção da busca pelo conhecimento.

21
Essa discussão levanta questões fundamentais sobre a finalidade da educação
e destaca a necessidade de repensar o sistema educacional para garantir que ele não
só atenda às demandas econômicas, mas também promova o crescimento pessoal,
o aprendizado contínuo e a realização individual. A revisão dos currículos, métodos
de ensino e políticas educacionais pode ser necessária para promover uma educação
mais abrangente e significativa, em consonância com o Artigo 205 da Constituição
Federal.
Ademais, é importante ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição
Federal como um alicerce legal para direcionar a educação no Brasil e garantir que
ela cumpra seu papel essencial no desenvolvimento das pessoas, na formação de
cidadãos ativos e na preparação para o mercado de trabalho.
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL
O Código Civil brasileiro, em seu Artigo 1.634, regulamenta o poder de família,
estabelecendo os seguintes termos:

Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação

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conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação; (BRASIL,2002).

Esse dispositivo legal é o cerne do múnus familiar em relação à obrigação


jurídica de fornecer educação e criação para os seus infantes.
O Código Civil também serve como referência relevante para compreender a
educação domiciliar, um tema que tem gerado debates significativos nos últimos anos.
Embora o Código Civil não faça menção direta à educação em casa, ele estabelece
os deveres e poderes dos pais em relação à criação e educação dos filhos,
destacando a importância da família nesse processo.
No entanto, a educação domiciliar levanta questões específicas em relação à
sua legalidade e regulamentação, que podem variar de acordo com a legislação
educacional vigente. Isso torna essencial que os pais compreendam as leis de
educação em seu país e busquem aconselhamento adequado caso desejem optar
pela educação em casa.

22
O debate sobre a educação domiciliar aborda questões relativas à qualidade
da educação, à socialização das crianças e à capacidade dos pais de proporcionarem
um ambiente educacional adequado em casa. Portanto, a interação entre os direitos
dos pais e o interesse público na formação educacional das crianças é complexa e
deve ser tratada em conformidade com as normas legais aplicáveis.
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL
O Artigo 246 do Código Penal Brasileiro destaca-se como uma peça legislativa
de grande importância no âmbito educacional e jurídico, abordando o dever dos pais
ou responsáveis de providenciar a instrução primária para seus filhos em idade
escolar. Simultaneamente, esse dispositivo legal está relacionado ao estudo
domiciliar, conforme estipula o referido artigo: "Deixar, sem justa causa, de prover à
instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um
mês, ou multa" (BRASIL, 1940).
Este artigo normativo estabelece que a omissão injustificada em fornecer a
instrução primária a um filho em idade escolar configura uma infração sujeita a
penalidades específicas. Tais penalidades incluem detenção com duração de quinze
dias a um mês, bem como a imposição de multa.
A relevância do Artigo 246 reside na ênfase dada à obrigação da educação
primária, um direito fundamental da criança garantido pela legislação brasileira. A
garantia do acesso à educação é crucial para o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos essenciais ao longo da vida. Além disso, a educação desempenha um
papel vital na formação do cidadão e na promoção do bem-estar social.
Nesse contexto, o Artigo 246 do Código Penal visa assegurar que os pais ou
responsáveis cumpram o dever legal de proporcionar a instrução primária a seus filhos
em idade escolar, contribuindo para a formação educacional e cidadã das futuras

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gerações. Ao mesmo tempo, este artigo também suscita questões relacionadas ao


estudo domiciliar. Quando realizado em conformidade com as normas e
regulamentações estabelecidas, o estudo domiciliar permite que os pais assumam um
papel ativo na educação de seus filhos, desde que cumpram os requisitos legais e
assegurem a qualidade da educação em ambiente domiciliar. Isso demonstra o
compromisso do sistema legal brasileiro em conciliar o direito dos pais de escolherem

23
a modalidade educacional de seus filhos com a necessidade de garantir a adequada
formação e proteção das futuras gerações.
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece diretrizes
específicas em relação à educação das crianças e adolescentes. Ele alinha-se ao
entendimento conforme expresso no ?Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação
de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino? (BRASIL, 1990).
Além disso, o Artigo 4º do ECA menciona o dever da família em relação ao
menor, conforme previsto no artigo, que estabelece:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder


público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1990).

Essa obrigação legal encontra respaldo nos princípios estabelecidos no Artigo


53 do ECA, que determina que crianças e adolescentes têm o direito à educação,
visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho. Além disso, o referido artigo prevê seus
direitos, como evidenciado no próprio texto:

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno


desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias
escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; (BRASIL,
1990).

O Artigo 54, por sua vez, estabelece o dever do Estado de garantir o direito à
educação das crianças e adolescentes, como expresso no texto a seguir:

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Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:


I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não
tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

24
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
(Revogado)
IV ? atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos
de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua
oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável,
pela freqüência à escola. (BRASIL, 1990).

Portanto, de acordo com seu §1º, é de responsabilidade do Estado efetivar os


direitos relacionados à educação, assegurando a igualdade de condições para o
acesso e a permanência na escola.
O pensamento subjacente a essas disposições do ECA enfatiza a importância
da educação para o desenvolvimento integral da criança e do adolescente,
preparando-os para uma participação ativa na sociedade e qualificando-os para
futuras oportunidades de trabalho. O ECA coloca a responsabilidade sobre os pais e
o Estado para garantir que a educação seja acessível e eficaz para as crianças e
adolescentes, de acordo com o Artigo 1º do ECA, que preconiza a proteção integral
como princípio norteador.
Entretanto, é importante ressaltar que, assim como no caso da Constituição
Federal, o ECA não faz menção direta à educação domiciliar (homeschooling).
Portanto, a prática da educação em casa levanta questões sobre a conformidade com
essas leis e regulamentos e deve ser considerada cuidadosamente à luz do contexto
legal em vigor. O debate sobre a educação domiciliar gira em torno das necessidades

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das crianças, da qualidade da educação e da capacidade dos pais de fornecer um


ambiente educacional apropriado em casa, ao mesmo tempo em que respeitam as
leis e regulamentações existentes.

25
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabelece princípios
essenciais relacionados à educação no Brasil segundo o Artigo 2º destaca que:

Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de


liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1996).

Assim, verifica-se que a responsabilidade pela educação é compartilhada entre


a família e o Estado, e deve ser baseada nos princípios da liberdade e solidariedade
humana. Além disso, a educação deve ter como finalidade o pleno desenvolvimento
do educando, preparando-o para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.
Adicionalmente, o Artigo 6º da mesma lei impõem que ?É dever dos pais ou
responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4
(quatro) anos de idade? (BRASIL, 1990). Essa disposição, estabelecida no Artigo 6º,
reforça a necessidade de que os pais ou responsáveis efetuem a matrícula das
crianças na educação básica a partir dos 4 anos de idade.
Esse conjunto de responsabilidades do Estado reflete o compromisso com a
promoção de uma educação acessível, inclusiva e de qualidade para todos os
cidadãos brasileiros. No entanto, o cumprimento desses deveres é um desafio
constante, especialmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, com
desigualdades regionais significativas.
O pensamento subjacente a esse contexto destaca a importância da educação
como um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico de uma nação.
Garantir que todos tenham igualdade de oportunidades educacionais é essencial para
promover a justiça social e a formação de cidadãos capacitados e engajados.
Portanto, a implementação eficaz desses deveres está também estabelecida no Artigo
208 da Constituição Federal, que diz que é fundamental para alcançar esses objetivos
é construir uma sociedade mais equitativa e próspera

26
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA
O tema da educação domiciliar tem sido objeto de intensos debates no âmbito
legislativo brasileiro, com vários projetos de lei apresentados ao longo dos anos.
Essas propostas visam redefinir a dinâmica educacional, distribuindo

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responsabilidades entre o Estado e as famílias, a fim de permitir o ensino em casa.


Para que isso ocorra, é necessária uma ativa movimentação do Poder
Legislativo, pois este é o órgão responsável pela fiscalização e criação de leis.
Atualmente, não existe nenhuma lei que valide a educação domiciliar no Brasil,
embora tenham sido apresentados diversos projetos de lei sobre o tema ao longo do
tempo.
Em um breve passeio pela história legislativa, um desses projetos que merece
destaque é o Projeto de Lei nº 6001/2001, de autoria de Ricardo Izar. Este projeto
visava atribuir aos pais a responsabilidade pela educação de seus filhos, dispensando
os alunos que comprovassem educação em casa da obrigatoriedade de frequentar
uma escola e cumprir uma carga horária mínima anual. Nas justificativas
apresentadas, Izar argumentou que deixar o Estado como único provedor de
educação era um abuso de poder e que forçar as crianças a frequentar a escola as
expunha diariamente a drogas e violência, além de uma orientação pedagógica que
poderia ser contrária às convicções filosóficas e religiosas de algumas famílias.
No entanto, após anos de tramitação, esse projeto foi rejeitado e arquivado em
2007. A justificativa para a rejeição foi que a proposta era elitista, já que apenas
famílias com formação educacional adequada e tempo disponível poderiam desfrutar
desse direito, excluindo grande parte da população com menor poder aquisitivo.
Outros projetos de lei seguiram o Projeto de Lei nº 6001/2001, como o Projeto
de Lei 4122/2008 e o Projeto de Lei 3518/2008, que propunham alterações na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
No entanto, essas propostas também foram rejeitadas, argumentando que elas
contrariavam a legislação existente e que a eficácia do ensino domiciliar não havia
sido devidamente demonstrada. A Comissão afirmou que a experiência e a vivência
cotidiana nas escolas eram fundamentais para a aprendizagem e o desenvolvimento
das crianças.

27
Em 2012, o deputado Lincoln Portela elaborou o Projeto de Lei 3179, buscando
acrescentar o ensino domiciliar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As modificações propostas e outros projetos relacionados a ele serão abordados a
seguir.
O Projeto de Lei 3261 de 2015, de autoria do Deputado Eduardo Bolsonaro,
busca autorizar a educação domiciliar, introduzindo várias alterações na Lei nº 9.394
de 1996 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em junho de 2018, o deputado Alan Rick apresentou o Projeto de Lei
10185/2018, propondo alterações no artigo 5º da Lei nº 9.394 de 1996 para especificar
que o dever do Poder Público de garantir a frequência à escola pode ser substituído
pelo zelo no desenvolvimento adequado no caso da educação domiciliar.
O Projeto de Lei 3159, de 2019, de autoria da Deputada Natália Bonavides,
busca acrescentar ao artigo 5º da Lei nº 9394 de 1996 um parágrafo afirmando que a
educação domiciliar não pode substituir a frequência à escola.

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No mesmo ano, foi apresentado o Projeto de Lei 2401/2019, de autoria do


Poder Executivo, que propõe a regulamentação da educação básica domiciliar em
uma lei isolada. Suas disposições são mais detalhadas do que as propostas dos
projetos de lei mencionados anteriormente. O projeto torna explícito que a educação
domiciliar é um direito de escolha dos pais e responsáveis, assegura a igualdade dos
estudantes dessa modalidade com os da educação presencial e estabelece requisitos,
como o registro da educação domiciliar em uma plataforma virtual do Ministério da
Educação e a avaliação anual dos alunos de acordo com a Base Nacional Comum
Curricular.
Além disso, o projeto proíbe a educação domiciliar para pais ou responsáveis
que cumpram penas por crimes previstos em várias normas legais e prevê a perda do
direito de optar pela educação domiciliar no caso de reprovação em duas ou três
oportunidades ou de falta injustificada na avaliação anual.
Há também ajustes propostos para a Lei 9.394 de 1996 e o Estatuto da Criança
e do Adolescente para torná-los compatíveis com a educação domiciliar.
Os projetos de Lei 5852/2019 e 6188/2019, propostos pelos deputados Pastor
Eurico e Geninho Zuliani, pretendem inserir na Lei 9.394 de 1996 a possibilidade de a
Educação Básica ser ministrada por tutores autônomos em locais diferentes das
instituições oficiais de ensino. O segundo projeto busca autorizar a educação

28
domiciliar apenas quando for constatada a inadequação ou impossibilidade de
inclusão do estudante na rede regular de ensino, permitindo ainda o acesso a espaços
e equipamentos públicos.
Esses projetos apensados ao Projeto de Lei 3179/2012 demonstram a
abundância de discussões em torno da educação domiciliar e sua importância no
ordenamento jurídico.
Considerando as contribuições desses projetos de lei, a deputada Luísa
Canziani apresentou um Substitutivo ao Projeto de Lei 3179 de 2012 e suas emendas.
Ela sugeriu apenas a rejeição do Projeto de Lei 3159 de 2019.
Ao Substitutivo foram apresentadas 15 emendas de Plenário, sendo aprovada
apenas a emenda de plenário nº 8, que busca acrescentar um parágrafo único ao
artigo 246 do Código Penal, estabelecendo que os pais ou responsáveis que optam
pela educação domiciliar não incorrem no crime de abandono intelectual de seus
filhos. Quanto às demais emendas, foi sugerida a rejeição.
A redação final do Projeto de Lei 3179/2012 inclui no escopo da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional a possibilidade de oferta domiciliar da
educação básica. O projeto prevê obrigações para os pais, como a matrícula anual do
estudante em uma instituição de ensino credenciada, o cumprimento dos conteúdos
curriculares de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, a realização de
atividades pedagógicas, o registro periódico dessas atividades com envio de relatórios
trimestrais, o acompanhamento do desenvolvimento do estudante por um docente
tutor da instituição de ensino, avaliações anuais de aprendizagem e a participação em

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exames nacionais, estaduais ou municipais, se selecionados.


O projeto também prevê a perda do direito à opção pela educação domiciliar
nas hipóteses de insuficiência de progresso do educando, reprovações ou faltas
injustificadas nas avaliações. Além disso, estabelece a proibição da educação
domiciliar para pais ou responsáveis que cumpram penas por crimes específicos.
Também é importante mencionar o Projeto de Lei 3262/2019, que propõe
alterações no Código Penal para que a educação domiciliar não seja considerada um
crime de abandono intelectual. Esta proposta se originou devido a casos de famílias
que enfrentaram perseguições legais devido à educação domiciliar.
Assim, a educação domiciliar no Brasil é um tema de debate contínuo no
cenário legislativo, com diversos projetos de lei apresentados ao longo dos anos,

29
refletindo as complexidades em torno do homeschooling e suas implicações no
sistema educacional brasileiro. O Projeto de Lei 3179/2012 foi aprovado pela Câmara
dos Deputados em 19 de maio de 2022 e atualmente encontra-se em análise no
Senado Federal como Projeto de Lei Nº 1.388/2022, aguardando a próxima fase do
processo legislativo na Comissão de Educação do Senado, tendo o senador Flávio
Arns como relator.

30
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR

O assunto do ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, tem


sido objeto de análise pelo Poder Judiciário no contexto dos Direitos Fundamentais e
Individuais. Dois casos de grande repercussão social se destacam, ocorridos nas
cidades de Anápolis, estado de Goiás, e Canela, no Rio Grande do Sul.
O primeiro ocorreu em 2002, o caso emblemático da família Vilhena Coelho,
residente em Anápolis, Goiás, ocorrido em 2002. Nesse episódio, os pais desta
família, representando seus três filhos menores, impetraram o Mandado de Segurança
n° 7.407, datado de 24 de abril de 2002, junto ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
O propósito deste recurso constitucional era a reversão do ato do Ministério da
Educação (MEC), que havia homologado o Parecer Consultivo n° 34 de 04 de
dezembro de 2000 da Câmara de Ensino Básico (CEB) do Conselho Nacional de
Educação (CNE). Este parecer negou a possibilidade da educação domiciliar, apesar
da demonstração de que tal modalidade vinha ocorrendo de forma eficiente, com
avaliações sendo realizadas.
No cerne das decisões administrativas que desencadearam esse episódio está
a ideia de que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996 e
a Constituição Federal de 1988 são explícitas quanto à obrigatoriedade do ensino

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escolar, bem como da frequência dos alunos devidamente matriculados, de acordo


com o mencionado parecer.
O relator do processo no STJ, o Ministro Francisco Peçanha Martins, votou em
desfavor da pretensão da família, argumentando que não existia direito líquido e certo
na solicitação e que o MEC não havia agido com abuso ao aprovar o parecer do
CEB/CNE. Para ele, os dispositivos constitucionais determinavam que o ensino
escolar era obrigatório, assim como a frequência dos alunos matriculados em escolas
regulares.
Outros ministros que compartilharam desse entendimento no STJ foram
Humberto Gomes de Barros, Eliana Calmon, Francisco Falcão, Laurita Vaz e Garcia
Vieira. Os votos vencidos foram dos Ministros Franciulli Netto e Paulo Medina.
Para o Ministro Franciulli Netto, a educação deveria ser analisada à luz do
pluralismo do Estado Democrático de Direito, permitindo o direito à liberdade de
escolher outra modalidade de ensino. Ele observou que as crianças demonstraram

31
um notável desempenho, estando um ano à frente de suas idades, o que, em sua
visão, habilitava os pais a assumir a função de garantir diretamente a educação formal.
Para ele, a frequência escolar era um fator secundário, e a educação transcenderia a
mera transmissão de informações, sendo a família a principal responsável pela
formação, não apenas intelectual, mas também cidadã e social das crianças e
adolescentes.
O Ministro Paulo Medina também enfatizou as liberdades constitucionais
relacionadas à educação e o pluralismo de ideias, bem como a responsabilidade do
Estado em fiscalizar as atividades da família para garantir a efetivação dos fins
constitucionais relacionados à educação.
No final, os pais tiveram que acatar a decisão do STJ e realizar a matrícula de
seus filhos em uma escola regular.
O segundo caso ocorreu em meados de 2015, quando chegou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança impetrado pelos pais de uma
criança de onze anos, que tiveram sua solicitação de educação domiciliar negada pelo
órgão municipal e, posteriormente, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A
parte recorrente alegou violação de diversos artigos da Constituição, argumentando
que a educação não se restringe à instrução formal em uma instituição convencional
de ensino, especialmente diante da diversidade de ideias e concepções pedagógicas,
bem como dos avanços tecnológicos.
No seu pronunciamento, o Ministro Luís Roberto Barroso destacou o ensino
domiciliar como um fenômeno emergente em diversos países, incluindo o Brasil, com
um crescente número de adeptos, e a possibilidade de redução dos gastos públicos
com sua adoção. O reconhecimento da natureza constitucional do debate sobre a
capacidade das famílias de prover educação levou o Ministro a enfatizar a importância
de definir a relação entre o Estado e a família na educação de crianças e
adolescentes, bem como os limites da autonomia privada em relação às imposições

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estatais.
Barroso concluiu que a improcedência do pedido baseou-se na falta de uma
norma regulamentar, não na inconstitucionalidade do homeschooling. Além disso,
salientou que, como se tratava de uma questão de repercussão geral, a decisão tinha
efeito erga omnes, aplicável a todas as partes envolvidas na lide, sendo uma decisão
histórica e de extrema importância por reconhecer a colaboração entre o Estado e a

32
família na prestação do ensino fundamental e pela legalização do homeschooling no
Brasil.
Posteriormente, em 2018, o processo foi colocado em pauta e, após o
julgamento, a Corte determinou que o ensino domiciliar não é um meio lícito para
cumprir o dever de prover educação a crianças e adolescentes, embora não tenha
sido considerado inconstitucional. A maioria dos ministros votou pelo desprovimento
do recurso extraordinário, uma vez que não havia uma lei que regulamentasse a
prática.
O Ministro Luís Roberto Barroso, ao fundamentar seu voto, destacou que a
Constituição Federal não proíbe o homeschooling e que o ensino domiciliar é
compatível com o ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a maioria dos ministros
argumentou que é necessária uma regulamentação prévia pelo Congresso Nacional,
estabelecendo requisitos e mecanismos de avaliação e fiscalização, para atender ao
disposto no Art. 208, §3º da Constituição, que atribui ao poder público o dever de zelar
pela frequência à escola. Esta decisão do Supremo Tribunal Federal, portanto,
representa um marco importante na jurisprudência brasileira em relação a este
assunto controverso.
No seu voto, o Ministro Alexandre de Moraes apresentou uma perspectiva
fundamental no julgamento do ensino domiciliar, sustentando que a prática não é
inconstitucional, desde que haja uma regulamentação prévia. Ele destacou que o
homeschooling de natureza utilitarista, que segue o conteúdo do ensino escolar e
permite fiscalização e avaliações periódicas, é compatível com a Constituição,
contudo, ressaltou que essa modalidade requer uma colaboração entre as famílias e
o Estado. O Ministro enfatizou a importância de o Congresso Nacional regulamentar
essa prática, a fim de estabelecer requisitos e mecanismos de avaliação e
fiscalização, como previsto no Art. 208, §3º da Constituição, o qual atribui ao poder
público a responsabilidade de garantir a frequência escolar. Além disso, Moraes
argumentou que o ensino domiciliar pode ser uma escolha legítima das famílias,
especialmente quando fundamentada em motivos religiosos, promovendo assim o
direito fundamental à liberdade religiosa e respeitando os princípios de autonomia e
emancipação.
Portanto, o STF reconheceu a legalidade do homeschooling, desde que haja
regulamentação específica por parte do Congresso Nacional para garantir a qualidade

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33
e a fiscalização do ensino domiciliar no Brasil. Essa decisão representa um marco
significativo na jurisprudência do país em relação a esse tema controverso,
estabelecendo a necessidade de um equilíbrio entre o direito das famílias de
escolherem essa modalidade de ensino e a responsabilidade do Estado em assegurar
que a educação seja ministrada de acordo com padrões adequados e com a devida
supervisão. Além disso, o voto do Ministro Alexandre de Moraes destaca a importância
de reconhecer a autonomia e emancipação das famílias, especialmente quando
fundamentadas em motivos religiosos, promovendo assim o direito fundamental à
liberdade religiosa, dentro dos limites estabelecidos por uma regulamentação
apropriada.

34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente trabalho, o conceito e a prática do ensino domiciliar, conhecido


como homeschooling, foram explorados, com destaque para sua crescente
popularidade global e as diversas motivações subjacentes a essa abordagem
educacional. O homeschooling permite que os pais personalizem o currículo de seus
filhos, flexibilizem horários e atendam a preocupações com segurança e bem-estar.
Contudo, essa prática tem gerado debates sobre a socialização das crianças e a
qualidade do ensino, com regulamentações variando amplamente entre países.
No contexto legal brasileiro, a viabilidade do ensino domiciliar foi analisada,
considerando as bases legais, como a Constituição Federal de 1988, o Código Civil,
o Código Penal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação. Embora esses documentos não façam menção direta ao
homeschooling, estabelecem princípios fundamentais para a educação no Brasil.
Também foram explorados projetos de lei relacionados ao ensino domiciliar em
discussão no país.
Dois casos emblemáticos ocorridos em Anápolis, Goiás, em 2002, e em
Canela, Rio Grande do Sul, em 2015, foram analisados. No primeiro caso, o Supremo
Tribunal de Justiça decidiu contra a família Vilhena Coelho, argumentando que a
Constituição exige a frequência escolar. No segundo caso, o Supremo Tribunal
Federal considerou que o ensino domiciliar não é inconstitucional, mas requer
regulamentação específica pelo Congresso Nacional.
Diante da análise realizada, conclui-se que o objetivo central deste estudo, que
consistia em explorar a viabilidade e a legalidade do ensino domiciliar, também
conhecido como homeschooling, foi alcançado em parte. Ficou evidente que o ensino
domiciliar não é inconstitucional no Brasil, conforme confirmado pelo Supremo

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Tribunal Federal (STF) em seu julgamento de 2018. Entretanto, a ausência de uma


legislação específica para regulamentar o homeschooling deixa questões
fundamentais em aberto.
A Constituição Federal de 1988 e outros dispositivos legais estabelecem
princípios e diretrizes essenciais para a educação no país, mas não abordam
diretamente o homeschooling. Isso resulta em uma lacuna legal que demanda atenção
do poder legislativo para criar uma estrutura regulatória clara e adequada, a fim de

35
garantir que o ensino domiciliar seja praticado com qualidade, responsabilidade e em
conformidade com os princípios educacionais do Brasil.
Portanto, embora o tema do homeschooling tenha sido examinado à luz de sua
constitucionalidade, a ausência de uma lei específica que regule o assunto cria uma
lacuna significativa no sistema educacional brasileiro. Assim, para atingir plenamente
os objetivos propostos para este tema, é necessária a ação legislativa futura que
aborde essa questão complexa e promova a segurança jurídica e a qualidade da
educação no contexto do ensino domiciliar no Brasil. A reflexão sobre esse tópico
destaca a importância de que, embora a legalidade do homeschooling tenha sido
estabelecida, ainda é necessária uma regulamentação específica para atender aos
princípios e responsabilidades constitucionais relacionados à educação no país.

36
REFERÊNCIAS

ALVES, Rubens. Revista da Educação. Edição 134. 2010. Disponível em:


https://revistaensinosuperior.com.br/2011/09/10/homeschooling/. Acesso em: 03 mai.
2023.

ANDRADE, Édison Prado. A educação familiar desescolarizada como um direito


da criança e do adolescente: relevância, limites e possibilidades na ampliação
ao direito à educação. Tese de Doutorado. FEUSP. São Paulo, 2014. Disponível
em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-10112014-111617/pt-
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ANED - Associação Nacional de Educação Domiciliar. Educação Domiciliar.


Disponível em: https://www.aned.org.br/index.php/conheca-educacao-domiciliar/ed-
no-mundo. Acesso em: 01 set. 2023.

BARBOSA, Luciane. Pesquisa identifica razoes que levam pais a optar por
educação domiciliar, 30 agosto. 2013. Disponível
em: https://www5.usp.br/noticias/sociedade/pesquisa-identifica-razoes-que-levam-

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pais-a-optar-por-educacao-domiciliar/. Acesso em: 25 jul. 2023.

BOTO, Carlota. ?Homeschooling?: a prática de educar em casa. Jornal da USP,


16 março. 2018. Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/homeschooling-a-pratica-
de-educar-em-casa/. Acesso em: 25 jul. 2023.

BOTO, Carlota. Projeto de homeschooling no Brasil coloca um muro entre a


família e o mundo social. Jornal da USP, 25 maio. 2022. Disponível
em: https://jornal.usp.br/atualidades/projeto-de-homeschooling-no-brasil-coloca-um-
muro-entre-a-familia-e-o-mundo-social/. Acesso em: 26 jul. 2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 888.815/RS. DIREITO


CONSTITUCIONAL. EDUCAÇÃO. ENSINO DOMICILIAR. LIBERDADES E
DEVERES DO ESTADO E DA FAMÍLIA. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. Constitui questão constitucional saber se o ensino domiciliar (homeschooling)
pode ser proibido pelo Estado ou viabilizado como meio lícito de cumprimento, pela
família, do dever de prover educação, tal como previsto no art. 205 da CRFB/1988.
2. Repercussão geral reconhecida. Relator: Min. Roberto Barroso, 4 de junho de
2015. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?
incidente=4774632. Acesso em: 10 abr.2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n° 888.815.


Constitucional. Educação. Direito Fundamental relacionado à dignidade da pessoa
humana e à efetividade da cidadania. Dever solidário do Estado e da família na
prestação do Ensino Fundamental. Necessidade de lei formal, editada pelo
Congresso Nacional, para regulamentar o Ensino Domiciliar. Recurso Desprovido.
Relator: Ministro Roberto Barroso. Redator para acórdão: Ministro Alexandre de
Moraes. DJ, 12 de set. de 2018. Disponível em:
https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE888815mAM.PDF.
Acesso em: 05 out.2023.

37

BRASIL. Constituição de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil:


promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em:
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05.out.2023.

BRASIL. Decreto-Lei n° 2.848 de 1940. Código Penal: decretado em 07 de


dezembro de 1940. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 05 out.2023.

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BRASIL. Lei n° 8.069 de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente: promulgada


em 13 de julho de 1990. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 05 out.2023.

BRASIL. Lei n° 9.394 de 1996. Lei de diretrizes e bases da educação nacional:


promulgada em 20 de dezembro de 1996. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm#:~:text=L9394&text=Estabelece
%20as%20diretrizes%20e%20bases%20da%20educa%C3%A7%C3%A3o%20nacio
nal.&text=Art.%201%C2%BA%20A%20educa%C3%A7%C3%A3o%20abrange,civil
%20e%20nas%20manifesta%C3%A7%C3%B5es%20culturais. Acesso em: 05
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BRASIL. Lei n° 10.406 de 2002. Código Civil: promulgada em 10 de janeiro de


2002. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em:
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BRASIL. Projeto de Lei 3179/2012. Altera as Leis nºs 9.394, de 20 de dezembro de


1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), e 8.069, de 13 de julho de
1990, (Estatuto da Criança e do Adolescente), para dispor sobre a possibilidade de
oferta domiciliar da educação básica. Brasília: Câmara dos Deputados, 08 dez.
2012. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=534328
. Acesso em: 06.out.2023.

MOREIRA, Alexandre Magno Fernandes. O direito à educação domiciliar. Brasília:


Monergismo, 2017.

VASCONCELOS, Maria Celi Chaves. Educação na casa: perspectivas de


desescolarização ou liberdade de escolha?. Pro-Posições, [S.L.], v. 28, n. 2, p.
122- 140, ago. 2017. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1980-6248-
2015- 0172. Disponível em:
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Acesso em: 24 jul 2023.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Mandado de Segurança 7407/DF - Acórdão


COAD 132172 - Rel. Min. Francisco Peçanha Martins - Publ. em 21-3-2005.

38
Disponível em: https://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/42/docs/ms-
ensino_fundamental-7407_stj.pdf. Acesso em: 06 out.2023.

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SENADO, Agência. Senado aprofunda debate sobre educação domiciliar.


8/12/2022. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/12/senado-aprofundadebate-
sobre-educacao-domiciliar. Acesso em: 07 out.2023.

SENADO, Agência. Senado aprofunda debate sobre educação domiciliar.


8/12/2022. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/12/senado-aprofundadebate-
sobre-educacao-domiciliar. Acesso em: 07 out.2023.

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=================================================================================
Arquivo 1: BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Arquivo 2: https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/3654/1/2006_TESE_MTSFIGUEIREDO.pdf (61993
termos)
Termos comuns: 535
Similaridade: 0,77%
O texto abaixo é o conteúdo do documento BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/3654/1/2006_TESE_MTSFIGUEIREDO.pdf (61993 termos)

=================================================================================

Cuiabá
2023

Cidade
Ano
BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

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A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO


DOMICILIAR NO BRASIL

Cuiabá
2023

A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO


DOMICILIAR NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à UNIC ?


Universidade de Cuiabá, como requisito parcial para a
obtenção do título de graduado em Direito.

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Orientadora: Denise Alcantara

BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO DOMICILIAR


NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade de Cuiabá - UNIC, como requisito
parcial para a obtenção do título de graduado
em Direito.

BANCA EXAMINADORA

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Cuiabá, dia de mês de 2023

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ARRUDA, Brenno Eduardo. A constitucionalidade do método de ensino domiciliar


no Brasil. 2023. 22 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito)
? Universidade de Cuiabá - UNIC, Cuiabá/MT, 2023.

RESUMO

O objetivo deste trabalho é discutir o ensino domiciliar, também conhecido como


homeschooling, uma prática educacional em que os pais ou responsáveis assumem
a responsabilidade de educar seus filhos em casa, ao invés de matriculá-los em uma
escola tradicional. Esta prática permite uma abordagem de ensino personalizada,
adaptada às necessidades e interesses individuais de cada criança. No entanto, a
viabilidade jurídica do ensino domiciliar no Brasil é um tema de debate. Embora alguns
pais e responsáveis defendam o direito de educar seus filhos em casa, existem
questões legais e regulatórias que precisam ser consideradas. O estudo também
analisará países onde o ensino domiciliar é regulamentado, destacando o papel da
família e do estado na educação domiciliar. Além disso, há diversas decisões judiciais
relacionadas ao ensino domiciliar no Brasil, com alguns casos de grande impacto.
Estas decisões judiciais podem ter um impacto significativo na forma como o ensino
domiciliar é praticado e regulamentado no país. Portanto, é importante compreender
o conceito de ensino domiciliar, analisar sua viabilidade jurídica no contexto brasileiro
e estar ciente das decisões judiciais relacionadas a esta prática educacional.

Palavras-chave: Direito à Educação Domiciliar. Homeschooling. Educação no Lar.


Flexibilidade da Educação Básica.

ARRUDA, Brenno Eduardo. The constitutionality of the home teaching method in


Brazil. 2023. 22 sheets. Completion of Law Course ? University of Cuiabá, Cuiabá
2023.

ABSTRACT
The aim of this work is to discuss homeschooling, also known as home education, an
educational practice in which parents or guardians take on the responsibility of
educating their children at home instead of enrolling them in a traditional school. This
practice allows for a personalized teaching approach, tailored to the individual needs
and interests of each child. However, the legal feasibility of homeschooling in Brazil is
a subject of debate. While some parents and guardians advocate for the right to
educate their children at home, there are legal and regulatory issues that need to be
considered. The study will also examine countries where homeschooling is regulated,
highlighting the roles of both the family and the state in home education. Furthermore,
there have been various legal decisions related to homeschooling in Brazil, with some
cases of significant impact. These legal decisions can have a significant impact on how

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homeschooling is practiced and regulated in the country. Therefore, it is important to


understand the concept of homeschooling, analyze its legal feasibility in the Brazilian
context, and be aware of legal decisions related to this educational practice.

Keywords: Right to Homeschooling. Homeschooling. Home Education. Flexibility of


Basic Education.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 ? Países onde o Homeschooling é legalizado segundo ANED ................ 16

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. Artigo
ANED Associação Nacional de Educação Domiciliar
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
RE Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
USP Universidade de São Paulo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING ......................................................... 10
2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO ................................................................................. 11
2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING..................................................................... 11
2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING .................................... 13
2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING ................................................ 14
2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES............... 15
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL ..................................................................................................................... 18
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO ................................................. 18
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL ....................................................................... 21
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL .................................................................. 22
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA) ............................................................................................. 23
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB) ................. 25

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3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA ............................................................ 26


4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR ............................................................................................................. 30
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 34
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36

9
1 INTRODUÇÃO

A prática do ensino domiciliar, também conhecida como homeschooling, tem


se tornado um tema de discussão relevante no contexto brasileiro. Este fenômeno
educacional, em que os pais assumem a responsabilidade de instruir seus filhos em
casa, em vez de enviá-los a uma escola convencional, suscita questionamentos
profundos sobre seus impactos, especialmente no que diz respeito às crianças e
adolescentes.
Este estudo tem como foco central a "Constitucionalidade do Ensino Domiciliar
no Brasil". Trata-se de uma questão que tem sido amplamente debatida ao longo dos
anos, sobretudo pelos pais e responsáveis que buscam a regulamentação desse
modelo educacional para proporcionar uma educação de qualidade dentro de seus
lares.
A relevância desta pesquisa é evidente, uma vez que ela busca lançar luz sobre
a legalidade do ensino domiciliar, oferecendo clareza àqueles que optam por educar
seus filhos em casa, sem temer penalizações estatais. Além disso, busca-se, por meio
de dados e evidências, explorar experiências internacionais em que o ensino
domiciliar é regulamentado, destacando o papel fundamental desempenhado tanto
pela família quanto pelo Estado na educação dos alunos no ambiente familiar.
O estudo também tem o potencial de contribuir para a compreensão desse
tema tanto na comunidade acadêmica quanto na sociedade em geral. Através da
análise doutrinária, legal, jurisdicional e constitucional, bem como da comparação de
dados educacionais, pretende-se lançar luz sobre o papel da família e do Estado no
ensino domiciliar, promovendo um debate informado e enriquecedor.
Para alcançar esses objetivos, este projeto de pesquisa adotará uma
abordagem qualitativa e descritiva, permitindo a análise das características desse
fenômeno educacional e a compreensão dos pressupostos teóricos que o envolvem.
A pesquisa abrangerá a revisão de livros, dissertações, teses, artigos e trabalhos
científicos publicados nos últimos 10 anos, além de buscas em bancos de dados
acadêmicos como o Google Acadêmico e Scielo.

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10
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING

O ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, é uma prática


que tem ganhado destaque tanto no cenário internacional quanto no contexto
brasileiro. Em todo o mundo, famílias optam por essa modalidade de ensino por uma
variedade de razões, incluindo a busca por um currículo mais personalizado, a
flexibilidade de horários e a preocupação com a segurança e o bem-estar dos filhos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o homeschooling é uma opção legal em todos os
estados, e milhares de famílias escolhem essa abordagem educacional. No entanto,
as regulamentações e atitudes em relação ao ensino domiciliar variam
consideravelmente de país para país.
Nesse contexto, Moreira (2017) esclarece que:

A educação domiciliar é uma modalidade de ensino que não obedece a uma


lógica única, massificada para todas as famílias, por basear-se no princípio
da soberania educacional da família, ou seja, seu fundamento é a liberdade
de cada família determinar como será realizada a educação de seus filhos.
(MOREIRA, 2017, p. 61).

O ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, é uma prática


que tem ganhado destaque tanto no cenário internacional quanto no contexto
brasileiro. Em todo o mundo, famílias optam por essa modalidade de ensino por uma
variedade de razões, incluindo a busca por um currículo mais personalizado, a
flexibilidade de horários e a preocupação com a segurança e o bem-estar dos filhos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o homeschooling é uma opção legal em todos os
estados, e milhares de famílias escolhem essa abordagem educacional. No entanto,
as regulamentações e atitudes em relação ao ensino domiciliar variam
consideravelmente de país para país.
Assim em revista especializada em educação foi publicado que:

Os motivos que levam os pais a optar pelo homeschooling são variados. Há


a insatisfação com as escolas, o temor em relação ao seu ambiente, interno
e externo. Os pais temem pela integridade física dos filhos. O que é
compreensível em ambientes onde existe violência. Há também as situações
em que as crianças e adolescentes são vítimas de bullying. Ir à escola é um
sofrimento diário e silencioso. A provisão legal da possibilidade de estudar
em casa eliminaria esse sofrimento que atinge milhares de crianças e
adolescentes (ALVES, 2011).

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2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO

O homeschooling é uma abordagem educacional na qual os pais ou


responsáveis assumem a responsabilidade de instruir seus filhos em casa, em vez de
enviá-los a uma escola tradicional. Essa prática oferece um ambiente de aprendizado
personalizado, no qual o currículo pode ser adaptado de acordo com as necessidades
e interesses individuais de cada criança. O homeschooling não se restringe a um
modelo específico; em vez disso, é uma prática flexível que pode variar amplamente
de família para família.
Na prática do homeschooling, os pais desempenham um papel fundamental na
construção do ambiente educacional de seus filhos. Isso implica não apenas na
seleção de materiais didáticos e na organização do currículo de acordo com as
aptidões e interesses únicos de cada criança, mas também na promoção de uma
atmosfera que estimule a curiosidade, a autodisciplina e a aprendizagem
independente. Além disso, o homeschooling permite uma flexibilidade rara no
processo de ensino, possibilitando a exploração de tópicos interdisciplinares e a
adaptação dos métodos de aprendizado de acordo com o ritmo de desenvolvimento
de cada aluno. Essa abordagem coloca a ênfase não apenas na obtenção de
conhecimentos acadêmicos, mas também no desenvolvimento holístico das crianças,
incluindo aspectos sociais, emocionais e éticos, tornando-se assim uma alternativa
atraente para famílias em busca de uma educação sob medida para suas
necessidades e valores.

2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING

O homeschooling tem uma longa história, datando de séculos atrás, quando as


famílias eram a principal fonte de educação. No entanto, o surgimento da escola
moderna no século XIX relegou o ensino em casa a um segundo plano. No século XX,
o homeschooling ressurgiu, impulsionado por diversos movimentos e mudanças
sociais, incluindo o movimento de contracultura dos anos 1960 e 1970. Desde então,
sua prática tem se expandido e diversificado globalmente.

12
No entanto, vale ressaltar que a formalização e a regulamentação do
homeschooling como uma opção legal de educação são mais recentes em muitos
países, incluindo o Brasil. O surgimento mais notável e o reconhecimento oficial do
homeschooling no Brasil ocorreram nas últimas décadas, principalmente a partir dos
anos 2000, quando começou a ganhar visibilidade e a ser debatido mais amplamente.
Nos Estados Unidos da América (EUA), o pioneiro do homeschooling foi Holt,
considerado o pai da desescolarização. Ele acreditava que a escola tradicional, de
certo modo, coagia as crianças a aprenderem, quando, na verdade, elas o fariam
naturalmente se tivessem a liberdade de seguir seus próprios interesses e acesso a
uma ampla variedade de recursos. A partir de uma perspectiva da educação orgânica,

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que valoriza o potencial humano como prioridade no desenvolvimento da criança,


essa linha de pensamento passou a ser chamada de unschooling e, posteriormente,
homeschooling.
No que tange as pesquisas pautas no princípio de revisão bibliográfica, é
relevante atentar-se ao fato de que:

O termo homeschooling, de língua inglesa, usual nos Estados Unidos da


América, é usado internacionalmente para identificar uma modalidade de
educação específica que é organizada e implementada pelos próprios pais
como alternativa de escolarização de seus filhos em casa e não na escola. É
traduzido, normalmente, para o português, por Educação Domiciliar, em uma
tradução literal da junção da palavra home (casa, ou lar), com a palavra
school (escola). O termo escola no gerúndio (schooling), já sugere a ideia do
próprio modelo de educação, que está carregado de um sentido de ensino
contínuo, no qual os pais se dispõem para o processo ensino aprendizagem
em formas e condições contínuas e cotidianas da vida da criança e da família,
organizadas intencionalmente ou não para o fim educativo, tais como
refeições, passeios, viagens, relacionamentos com a vizinhança, etc
(ANDRADE,2014,p. 19).

O homeschooling ganhou destaque no Brasil durante a pandemia de COVID-


19, que teve início em 2020. Com o fechamento temporário das escolas em muitas
regiões do país como medida de contenção da disseminação do vírus, muitos pais e
responsáveis foram forçados a considerar o ensino em casa como uma alternativa
viável para garantir a continuidade da educação de seus filhos.
Esse período de restrições sanitárias resultou em um aumento significativo no
interesse e na prática do homeschooling no Brasil. Muitas famílias passaram a buscar
soluções educacionais flexíveis e adaptadas às circunstâncias da pandemia,

13
recorrendo ao ensino em casa para manter o aprendizado das crianças durante os
lockdowns e as incertezas associadas à pandemia.
A pandemia também destacou a importância da adaptação e flexibilidade no
homeschooling. Pais e tutores tiveram que se ajustar rapidamente a novos métodos
de ensino online e colaborar mais estreitamente com escolas para acessar materiais
e recursos educacionais. Além disso, o ensino em casa permitiu que algumas famílias
aproveitassem o tempo em casa para explorar tópicos adicionais, incentivando a
aprendizagem autodirigida e a criatividade.
No entanto, é importante observar que o homeschooling durante a pandemia
também trouxe desafios, incluindo a necessidade de equilibrar o trabalho remoto dos
pais com a supervisão do aprendizado das crianças. O debate sobre a
regulamentação e a legalização do homeschooling no Brasil também se intensificou
devido às mudanças trazidas pela pandemia. Portanto, o ensino domiciliar teve um

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impacto notável no contexto da educação brasileira durante a crise da COVID-19,


levantando questões importantes sobre como essa prática deve ser abordada e
regulamentada no país.

2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING

O homeschooling, ou ensino domiciliar, é uma abordagem educacional que se


baseia em princípios e abordagens específicas. Embora haja variações na prática do
homeschooling, alguns princípios e abordagens comuns incluem a individualização da
educação, onde os pais ou tutores adaptam o currículo de acordo com as
necessidades e interesses de cada criança, promovendo um aprendizado
personalizado. Além disso, o homeschooling incentiva a aprendizagem autodirigida,
capacitando as crianças a tomar decisões sobre o que e como aprendem, promovendo
a responsabilidade pela própria educação e o desenvolvimento de habilidades de
aprendizado independentes.
Assim para MOREIRA (2017, p.10), ?pesquisas demonstram que essas
crianças estão bem preparadas em sentido acadêmico e social para participar de uma
democracia liberal?.
Uma das vantagens do homeschooling é a flexibilidade, permitindo que as
famílias adaptem o horário de aprendizado para atender às necessidades individuais,

14
aproveitando oportunidades de aprendizado fora do ambiente escolar tradicional. Isso
é complementado pelo uso de uma ampla variedade de recursos educacionais,
incluindo livros, materiais didáticos, recursos online, visitas a museus e aulas
particulares, que enriquecem a abordagem educacional.
No homeschooling, valoriza-se a educação informal, reconhecendo que as
experiências cotidianas, viagens, atividades ao ar livre e interações com a
comunidade são oportunidades valiosas de aprendizado. Os pais desempenham um
papel fundamental no ensino domiciliar, projetando o currículo, fornecendo instrução
e apoio, e acompanhando o progresso acadêmico e social de seus filhos.
Além disso, o homeschooling coloca ênfase não apenas na educação
acadêmica, mas também no desenvolvimento integral da criança, incluindo aspectos
sociais, emocionais e éticos. Essa abordagem é especialmente atraente para famílias
com crianças com necessidades educacionais especiais, uma vez que permite uma
adaptação mais precisa a essas necessidades.

2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING

Apesar de seus princípios e benefícios percebidos, o homeschooling é objeto


de debates e controvérsias em todo o mundo. Um dos principais pontos de debate diz
respeito à socialização das crianças educadas em casa, uma vez que podem ter
menos oportunidades de interagir com seus pares. Além disso, questões relacionadas

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à qualidade da supervisão educacional e à capacidade dos pais de fornecer um ensino


adequado em todas as disciplinas são frequentemente levantadas. Críticos
argumentam que, sem uma supervisão rigorosa, algumas crianças podem não
receber a educação de qualidade necessária.
De acordo com a pedagoga (Barbosa, 2013), autora do estudo, a prática do
homeschooling:

Segundo os dirigentes das associações canadenses de ensino domiciliar


entrevistados por Luciane, a ausência da escola não leva a uma falta de
socialização. ?Ao contrário, eles argumentam que a instituição escolar leva a
uma socialização restrita, por segregarem as crianças por idade?, diz. ?No
Canadá, as bibliotecas e ginásios esportivos possuem programas voltados
para ?homeschoolers?, e normalmente os pais que ensinam os filhos em casa
são filiados a duas ou mais associações do setor. Também há uma
preocupação em desenvolver a participação social dos filhos nas
comunidades em que vivem, pois consideram que a escola oferece um

15
conceito de cidadania ligado apenas ao conhecimento de fatos históricos e
ao exercício do voto? (BARBOSA, 2013).

Nesse viés, (Boto, 2022), pesquisadora da USP, diz que:

Os estudos sobre o ensino domiciliar têm mostrado que há um vetor religioso


acerca das famílias que escolhem esse tipo de educação para os filhos, pois
não querem que eles tenham contato com teorias educacionais consideradas
ímpias. A professora considera isso grave e diz que é importante que as
crianças aprendam conteúdos que possam contrariar os interesses dos pais,
já que isso faz parte do aprendizado. Ela ainda afirma que é perigoso a família
se colocar como a única instituição na vida de uma criança (BOTO, 2022).

2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES

A prática do homeschooling, ou ensino em casa, é regulamentada de maneira


diversa ao redor do mundo. Cada país estabelece suas próprias diretrizes para pais
que optam por educar seus filhos em casa, variando desde o reconhecimento legal e
regulamentação específica até proibições rigorosas. Para entender melhor essas
abordagens, examinaremos como alguns países de referência, como os Estados
Unidos, Canadá, Alemanha e Austrália, lidam com a regulamentação do
homeschooling e os resultados que obtiveram.
Nos Estados Unidos, o homeschooling é legal e praticado em todo o país, mas
os requisitos e regulamentos variam de estado para estado. Alguns estados exigem
notificação prévia às autoridades educacionais locais, enquanto outros impõem testes

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padronizados ou avaliações regulares do progresso educacional. Por outro lado, na


Alemanha, o homeschooling é proibido pela lei, com poucas exceções, devido às
preocupações do governo sobre a integração social das crianças. No Canadá, as
províncias têm abordagens distintas, algumas exigindo exames oficiais de avaliação,
enquanto outras pedem apenas notificação às autoridades de ensino local. A
diversidade de regulamentação também é vista na Austrália, com inspeções
regulares, avaliações de progresso e diretrizes curriculares específicas.
No que tange ao homeschooling no Canadá, a pedagoga (Barbosa, 2013)
observou como é posto em prática o ensino domiciliar:

A pedagoga realizou parte do estudo no Canadá, país onde a prática do


?homeschooling? é permitida. ?A regulamentação varia conforme as
províncias, algumas exigem a prestação dos exames de avaliação oficiais,

16
outras pedem apenas que a diretoria de ensino local seja comunicada?, relata.
?Ao entrevistar as famílias canadenses, percebe-se que embora a motivação
religiosa esteja muito presente, os pais também optam pelo ensino em casa
pela questão de custos (famílias mais numerosas) ou por terem filhos com
deficiência, entre outras razões? (BARBOSA, 2013).

A diversidade de abordagens à regulamentação do homeschooling ao redor do


mundo reflete a complexidade das questões envolvidas. Nos Estados Unidos, a
abordagem descentralizada permite flexibilidade para os pais, mas também pode
resultar em disparidades significativas na qualidade da educação em casa,
dependendo do estado em que se encontram. Por outro lado, na Alemanha, a
proibição do homeschooling é uma tentativa de garantir a socialização e a educação
uniforme das crianças, mas levanta questões sobre os direitos dos pais de decidirem
como educar seus filhos. No Canadá e na Austrália, a variedade de regulamentações
indica uma tentativa de equilibrar a autonomia dos pais com a necessidade de garantir
que as crianças recebam uma educação adequada.
Nesse ensejo, a Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED), que é
uma associação dos pais que defendem os estudos em casa, divulgou dados dos
países onde a prática do hommescooling é legal, conforme imagem abaixo:

Figura 1 - Legalidade do ensino doméstico por país.

PAÌSES: África África do Sul, Oceania Austrália, Nova Zelândia. Ásia Filipinas, Japão, América Norte
EUA, Canadá, Sul Colômbia, Chile, Equador, Paraguai. Europa Portugal, França, Itália, Reino Unido,
Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria, Finlândia, Noruega, Rússia.

Fonte: Mapa e quadro divulgados pela ANED (2021).

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Em vários países europeus, como França e Bélgica, o homeschooling é


estritamente regulamentado e desencorajado, com ênfase na importância da
socialização e da educação em escolas reconhecidas. No entanto, na Suécia, o
homeschooling é permitido sob condições específicas, desde que os pais sigam um
currículo nacional. A regulamentação do homeschooling ao redor do mundo reflete
uma variedade de abordagens culturais, educacionais e políticas, com o objetivo de
equilibrar o direito dos pais de educar seus filhos em casa com o interesse público em
garantir uma educação de qualidade e a socialização adequada das crianças.
De acordo com a pesquisadora (Boto,2018):

Nos Estados Unidos, país que possui hoje mais de 2 milhões de crianças em
idade escolar fora da escola, um dos principais motivos para a prática
do homeschooling é religioso. São as minorias religiosas, bem como minorias
étnicas que, de acordo com os estudos sobre o assunto, aderem a essa nova
modalidade de educação. Entre 1999 e 2010 ocorreu um crescimento
superior a 100% e, para o conjunto dos Estados norte-americanos, há um
contingente de quase 4% de crianças que hoje não frequentam mais a escola.
Na Rússia, entre 2008 e 2012, teria ocorrido ampliação de 900% nas práticas
de homeschooling. Na Alemanha, país que proibiu a prática em seu território,
há inúmeros casos de casais que foram multados e até presos por não
enviarem os filhos à escola (BOTO, 2018).

É evidente que a regulamentação do homeschooling é uma questão complexa


que envolve o equilíbrio entre os direitos individuais dos pais e o interesse público na
educação e socialização das crianças. O debate sobre como melhor abordar essa
questão continua a evoluir à medida que os países buscam encontrar um equilíbrio
entre a liberdade de escolha educacional dos pais e a responsabilidade do Estado de
garantir que todas as crianças recebam uma educação de qualidade e sejam
integradas na sociedade de maneira adequada.

18
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL

No cenário brasileiro, a análise da viabilidade jurídica do estudo domiciliar


requer um entendimento abrangente do contexto legal e regulatório que rege o
sistema educacional. A Constituição Federal de 1988 estabelece princípios essenciais
que fundamentam a educação no Brasil, enfatizando a responsabilidade

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compartilhada entre a família, a sociedade e o Estado na proteção dos direitos das


crianças e adolescentes. O Código Civil reforça o papel dos pais na criação e
educação de seus filhos, e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece
diretrizes específicas para a educação e proteção de menores. Paralelamente, a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) define os princípios gerais da educação
brasileira. Além disso, existem projetos de lei que podem definir o estudo em casa no
Brasil nas mãos dos deputados.
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO
A Constituição Federal de 1988, um marco fundamental na legislação brasileira,
estabelece princípios que guiam a educação no país e atribui responsabilidades tanto
ao Estado quanto à sociedade e às famílias. O Artigo 227 da Constituição Federal de
1988 é um dos pontos centrais nesse contexto:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,


ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL,1988).

Este artigo estabelece que é um compromisso da família, sociedade e Estado


garantir, de forma prioritária, o direito à vida, saúde, alimentação, educação, lazer,
profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e
comunitária das crianças, adolescentes e jovens, além de protegê-los contra qualquer
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
O Artigo 227 da Constituição Federal coloca as crianças, adolescentes e jovens
no centro das preocupações da sociedade e do Estado, enfatizando a necessidade
de criar um ambiente seguro e saudável para o seu desenvolvimento. Ele destaca a

19
educação como um dos pilares fundamentais para o crescimento pleno desses
indivíduos, enfatizando a necessidade de protegê-los contra ameaças e violações de
seus direitos, conforme previsto na Constituição.
Na conjuntura atual, o Artigo 227 mantém sua relevância como diretriz
essencial para a formulação de políticas educacionais e sociais no Brasil. No entanto,
desafios persistentes, como a desigualdade no acesso à educação e a violação dos
direitos das crianças, exigem esforços contínuos para garantir a implementação eficaz
das disposições desse artigo.
O compromisso da família, sociedade e Estado em proporcionar um ambiente
favorável ao crescimento e desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens é
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Portanto, é
crucial que todos os esforços sejam direcionados para garantir o respeito a esses
direitos e para assegurar que todos os jovens tenham igualdade de oportunidades

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para receber uma educação de qualidade, conforme preconizado pelo Artigo 227 da
Constituição Federal de 1988. Em resumo, o Artigo 227 continua a servir como
alicerce para a proteção e promoção dos direitos da juventude, sendo essencial para
garantir um futuro mais promissor às gerações vindouras.
A Constituição Federal de 1988 também estabelece, no Artigo 208, os deveres
do Estado em relação à educação no Brasil. Esses deveres incluem:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a


garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)
anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a
ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos
de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por
meio de programas suplementares de material didáticoescolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009)
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua
oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

20
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela freqüência à escola (BRASIL,1988).

Essas responsabilidades do Estado refletem um compromisso com a promoção


de uma educação acessível, inclusiva e de qualidade para todos os cidadãos
brasileiros. No entanto, o cumprimento desses deveres enfrenta desafios constantes,
principalmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, com
significativas desigualdades regionais.
O pensamento subjacente a esse contexto destaca a importância da educação
como um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico da nação.
Garantir igualdade de oportunidades educacionais para todos é essencial para

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promover a justiça social e formar cidadãos capacitados e engajados. Portanto, a


implementação eficaz desses deveres estabelecidos no Artigo 208 é fundamental para
alcançar esses objetivos e construir uma sociedade mais equitativa e próspera.
Além disso, vale ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição Federal:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho (BRASIL,1988).

O Artigo 205 da Constituição Federal estabelece a educação como um direito


universal e um dever compartilhado entre o Estado e a família, sendo promovido e
incentivado com a colaboração da sociedade. A educação, de acordo com este
dispositivo, tem um propósito que vai além da mera transmissão de conhecimento. Ela
busca o completo desenvolvimento da pessoa, preparando-a para o exercício pleno
da cidadania e qualificando-a para o mercado de trabalho.
Entretanto, a interpretação do Artigo 205 não é unânime. Alguns argumentam
que a redação atual desse artigo é vaga e que a finalidade educacional parece
priorizar a formação de indivíduos funcionalmente integrados na estrutura social em
detrimento do desenvolvimento integral do ser humano. Nesse contexto, questiona-se
se a educação no Brasil, conforme delineada na Constituição, atende efetivamente às
necessidades de desenvolvimento individual ou se foca excessivamente na
preparação para o mercado de trabalho em detrimento do crescimento pessoal e da
promoção da busca pelo conhecimento.

21
Essa discussão levanta questões fundamentais sobre a finalidade da educação
e destaca a necessidade de repensar o sistema educacional para garantir que ele não
só atenda às demandas econômicas, mas também promova o crescimento pessoal,
o aprendizado contínuo e a realização individual. A revisão dos currículos, métodos
de ensino e políticas educacionais pode ser necessária para promover uma educação
mais abrangente e significativa, em consonância com o Artigo 205 da Constituição
Federal.
Ademais, é importante ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição
Federal como um alicerce legal para direcionar a educação no Brasil e garantir que
ela cumpra seu papel essencial no desenvolvimento das pessoas, na formação de
cidadãos ativos e na preparação para o mercado de trabalho.
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL
O Código Civil brasileiro, em seu Artigo 1.634, regulamenta o poder de família,
estabelecendo os seguintes termos:

Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos

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filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação; (BRASIL,2002).

Esse dispositivo legal é o cerne do múnus familiar em relação à obrigação


jurídica de fornecer educação e criação para os seus infantes.
O Código Civil também serve como referência relevante para compreender a
educação domiciliar, um tema que tem gerado debates significativos nos últimos anos.
Embora o Código Civil não faça menção direta à educação em casa, ele estabelece
os deveres e poderes dos pais em relação à criação e educação dos filhos,
destacando a importância da família nesse processo.
No entanto, a educação domiciliar levanta questões específicas em relação à
sua legalidade e regulamentação, que podem variar de acordo com a legislação
educacional vigente. Isso torna essencial que os pais compreendam as leis de
educação em seu país e busquem aconselhamento adequado caso desejem optar
pela educação em casa.

22
O debate sobre a educação domiciliar aborda questões relativas à qualidade
da educação, à socialização das crianças e à capacidade dos pais de proporcionarem
um ambiente educacional adequado em casa. Portanto, a interação entre os direitos
dos pais e o interesse público na formação educacional das crianças é complexa e
deve ser tratada em conformidade com as normas legais aplicáveis.
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL
O Artigo 246 do Código Penal Brasileiro destaca-se como uma peça legislativa
de grande importância no âmbito educacional e jurídico, abordando o dever dos pais
ou responsáveis de providenciar a instrução primária para seus filhos em idade
escolar. Simultaneamente, esse dispositivo legal está relacionado ao estudo
domiciliar, conforme estipula o referido artigo: "Deixar, sem justa causa, de prover à
instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um
mês, ou multa" (BRASIL, 1940).
Este artigo normativo estabelece que a omissão injustificada em fornecer a
instrução primária a um filho em idade escolar configura uma infração sujeita a
penalidades específicas. Tais penalidades incluem detenção com duração de quinze
dias a um mês, bem como a imposição de multa.
A relevância do Artigo 246 reside na ênfase dada à obrigação da educação
primária, um direito fundamental da criança garantido pela legislação brasileira. A
garantia do acesso à educação é crucial para o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos essenciais ao longo da vida. Além disso, a educação desempenha um
papel vital na formação do cidadão e na promoção do bem-estar social.
Nesse contexto, o Artigo 246 do Código Penal visa assegurar que os pais ou
responsáveis cumpram o dever legal de proporcionar a instrução primária a seus filhos
em idade escolar, contribuindo para a formação educacional e cidadã das futuras
gerações. Ao mesmo tempo, este artigo também suscita questões relacionadas ao

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estudo domiciliar. Quando realizado em conformidade com as normas e


regulamentações estabelecidas, o estudo domiciliar permite que os pais assumam um
papel ativo na educação de seus filhos, desde que cumpram os requisitos legais e
assegurem a qualidade da educação em ambiente domiciliar. Isso demonstra o
compromisso do sistema legal brasileiro em conciliar o direito dos pais de escolherem

23
a modalidade educacional de seus filhos com a necessidade de garantir a adequada
formação e proteção das futuras gerações.
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece diretrizes
específicas em relação à educação das crianças e adolescentes. Ele alinha-se ao
entendimento conforme expresso no ?Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação
de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino? (BRASIL, 1990).
Além disso, o Artigo 4º do ECA menciona o dever da família em relação ao
menor, conforme previsto no artigo, que estabelece:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder


público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1990).

Essa obrigação legal encontra respaldo nos princípios estabelecidos no Artigo


53 do ECA, que determina que crianças e adolescentes têm o direito à educação,
visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho. Além disso, o referido artigo prevê seus
direitos, como evidenciado no próprio texto:

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno


desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias
escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; (BRASIL,
1990).

O Artigo 54, por sua vez, estabelece o dever do Estado de garantir o direito à
educação das crianças e adolescentes, como expresso no texto a seguir:

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Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:


I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não
tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

24
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
(Revogado)
IV ? atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos
de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua
oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável,
pela freqüência à escola. (BRASIL, 1990).

Portanto, de acordo com seu §1º, é de responsabilidade do Estado efetivar os


direitos relacionados à educação, assegurando a igualdade de condições para o
acesso e a permanência na escola.
O pensamento subjacente a essas disposições do ECA enfatiza a importância
da educação para o desenvolvimento integral da criança e do adolescente,
preparando-os para uma participação ativa na sociedade e qualificando-os para
futuras oportunidades de trabalho. O ECA coloca a responsabilidade sobre os pais e
o Estado para garantir que a educação seja acessível e eficaz para as crianças e
adolescentes, de acordo com o Artigo 1º do ECA, que preconiza a proteção integral
como princípio norteador.
Entretanto, é importante ressaltar que, assim como no caso da Constituição
Federal, o ECA não faz menção direta à educação domiciliar (homeschooling).
Portanto, a prática da educação em casa levanta questões sobre a conformidade com
essas leis e regulamentos e deve ser considerada cuidadosamente à luz do contexto
legal em vigor. O debate sobre a educação domiciliar gira em torno das necessidades
das crianças, da qualidade da educação e da capacidade dos pais de fornecer um

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ambiente educacional apropriado em casa, ao mesmo tempo em que respeitam as


leis e regulamentações existentes.

25
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabelece princípios
essenciais relacionados à educação no Brasil segundo o Artigo 2º destaca que:

Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de


liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1996).

Assim, verifica-se que a responsabilidade pela educação é compartilhada entre


a família e o Estado, e deve ser baseada nos princípios da liberdade e solidariedade
humana. Além disso, a educação deve ter como finalidade o pleno desenvolvimento
do educando, preparando-o para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.
Adicionalmente, o Artigo 6º da mesma lei impõem que ?É dever dos pais ou
responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4
(quatro) anos de idade? (BRASIL, 1990). Essa disposição, estabelecida no Artigo 6º,
reforça a necessidade de que os pais ou responsáveis efetuem a matrícula das
crianças na educação básica a partir dos 4 anos de idade.
Esse conjunto de responsabilidades do Estado reflete o compromisso com a
promoção de uma educação acessível, inclusiva e de qualidade para todos os
cidadãos brasileiros. No entanto, o cumprimento desses deveres é um desafio
constante, especialmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, com
desigualdades regionais significativas.
O pensamento subjacente a esse contexto destaca a importância da educação
como um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico de uma nação.
Garantir que todos tenham igualdade de oportunidades educacionais é essencial para
promover a justiça social e a formação de cidadãos capacitados e engajados.
Portanto, a implementação eficaz desses deveres está também estabelecida no Artigo
208 da Constituição Federal, que diz que é fundamental para alcançar esses objetivos
é construir uma sociedade mais equitativa e próspera

26
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA
O tema da educação domiciliar tem sido objeto de intensos debates no âmbito
legislativo brasileiro, com vários projetos de lei apresentados ao longo dos anos.
Essas propostas visam redefinir a dinâmica educacional, distribuindo
responsabilidades entre o Estado e as famílias, a fim de permitir o ensino em casa.

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Para que isso ocorra, é necessária uma ativa movimentação do Poder


Legislativo, pois este é o órgão responsável pela fiscalização e criação de leis.
Atualmente, não existe nenhuma lei que valide a educação domiciliar no Brasil,
embora tenham sido apresentados diversos projetos de lei sobre o tema ao longo do
tempo.
Em um breve passeio pela história legislativa, um desses projetos que merece
destaque é o Projeto de Lei nº 6001/2001, de autoria de Ricardo Izar. Este projeto
visava atribuir aos pais a responsabilidade pela educação de seus filhos, dispensando
os alunos que comprovassem educação em casa da obrigatoriedade de frequentar
uma escola e cumprir uma carga horária mínima anual. Nas justificativas
apresentadas, Izar argumentou que deixar o Estado como único provedor de
educação era um abuso de poder e que forçar as crianças a frequentar a escola as
expunha diariamente a drogas e violência, além de uma orientação pedagógica que
poderia ser contrária às convicções filosóficas e religiosas de algumas famílias.
No entanto, após anos de tramitação, esse projeto foi rejeitado e arquivado em
2007. A justificativa para a rejeição foi que a proposta era elitista, já que apenas
famílias com formação educacional adequada e tempo disponível poderiam desfrutar
desse direito, excluindo grande parte da população com menor poder aquisitivo.
Outros projetos de lei seguiram o Projeto de Lei nº 6001/2001, como o Projeto
de Lei 4122/2008 e o Projeto de Lei 3518/2008, que propunham alterações na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
No entanto, essas propostas também foram rejeitadas, argumentando que elas
contrariavam a legislação existente e que a eficácia do ensino domiciliar não havia
sido devidamente demonstrada. A Comissão afirmou que a experiência e a vivência
cotidiana nas escolas eram fundamentais para a aprendizagem e o desenvolvimento
das crianças.

27
Em 2012, o deputado Lincoln Portela elaborou o Projeto de Lei 3179, buscando
acrescentar o ensino domiciliar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As modificações propostas e outros projetos relacionados a ele serão abordados a
seguir.
O Projeto de Lei 3261 de 2015, de autoria do Deputado Eduardo Bolsonaro,
busca autorizar a educação domiciliar, introduzindo várias alterações na Lei nº 9.394
de 1996 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em junho de 2018, o deputado Alan Rick apresentou o Projeto de Lei
10185/2018, propondo alterações no artigo 5º da Lei nº 9.394 de 1996 para especificar
que o dever do Poder Público de garantir a frequência à escola pode ser substituído
pelo zelo no desenvolvimento adequado no caso da educação domiciliar.
O Projeto de Lei 3159, de 2019, de autoria da Deputada Natália Bonavides,
busca acrescentar ao artigo 5º da Lei nº 9394 de 1996 um parágrafo afirmando que a
educação domiciliar não pode substituir a frequência à escola.
No mesmo ano, foi apresentado o Projeto de Lei 2401/2019, de autoria do

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Poder Executivo, que propõe a regulamentação da educação básica domiciliar em


uma lei isolada. Suas disposições são mais detalhadas do que as propostas dos
projetos de lei mencionados anteriormente. O projeto torna explícito que a educação
domiciliar é um direito de escolha dos pais e responsáveis, assegura a igualdade dos
estudantes dessa modalidade com os da educação presencial e estabelece requisitos,
como o registro da educação domiciliar em uma plataforma virtual do Ministério da
Educação e a avaliação anual dos alunos de acordo com a Base Nacional Comum
Curricular.
Além disso, o projeto proíbe a educação domiciliar para pais ou responsáveis
que cumpram penas por crimes previstos em várias normas legais e prevê a perda do
direito de optar pela educação domiciliar no caso de reprovação em duas ou três
oportunidades ou de falta injustificada na avaliação anual.
Há também ajustes propostos para a Lei 9.394 de 1996 e o Estatuto da Criança
e do Adolescente para torná-los compatíveis com a educação domiciliar.
Os projetos de Lei 5852/2019 e 6188/2019, propostos pelos deputados Pastor
Eurico e Geninho Zuliani, pretendem inserir na Lei 9.394 de 1996 a possibilidade de a
Educação Básica ser ministrada por tutores autônomos em locais diferentes das
instituições oficiais de ensino. O segundo projeto busca autorizar a educação

28
domiciliar apenas quando for constatada a inadequação ou impossibilidade de
inclusão do estudante na rede regular de ensino, permitindo ainda o acesso a espaços
e equipamentos públicos.
Esses projetos apensados ao Projeto de Lei 3179/2012 demonstram a
abundância de discussões em torno da educação domiciliar e sua importância no
ordenamento jurídico.
Considerando as contribuições desses projetos de lei, a deputada Luísa
Canziani apresentou um Substitutivo ao Projeto de Lei 3179 de 2012 e suas emendas.
Ela sugeriu apenas a rejeição do Projeto de Lei 3159 de 2019.
Ao Substitutivo foram apresentadas 15 emendas de Plenário, sendo aprovada
apenas a emenda de plenário nº 8, que busca acrescentar um parágrafo único ao
artigo 246 do Código Penal, estabelecendo que os pais ou responsáveis que optam
pela educação domiciliar não incorrem no crime de abandono intelectual de seus
filhos. Quanto às demais emendas, foi sugerida a rejeição.
A redação final do Projeto de Lei 3179/2012 inclui no escopo da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional a possibilidade de oferta domiciliar da
educação básica. O projeto prevê obrigações para os pais, como a matrícula anual do
estudante em uma instituição de ensino credenciada, o cumprimento dos conteúdos
curriculares de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, a realização de
atividades pedagógicas, o registro periódico dessas atividades com envio de relatórios
trimestrais, o acompanhamento do desenvolvimento do estudante por um docente
tutor da instituição de ensino, avaliações anuais de aprendizagem e a participação em
exames nacionais, estaduais ou municipais, se selecionados.

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O projeto também prevê a perda do direito à opção pela educação domiciliar


nas hipóteses de insuficiência de progresso do educando, reprovações ou faltas
injustificadas nas avaliações. Além disso, estabelece a proibição da educação
domiciliar para pais ou responsáveis que cumpram penas por crimes específicos.
Também é importante mencionar o Projeto de Lei 3262/2019, que propõe
alterações no Código Penal para que a educação domiciliar não seja considerada um
crime de abandono intelectual. Esta proposta se originou devido a casos de famílias
que enfrentaram perseguições legais devido à educação domiciliar.
Assim, a educação domiciliar no Brasil é um tema de debate contínuo no
cenário legislativo, com diversos projetos de lei apresentados ao longo dos anos,

29
refletindo as complexidades em torno do homeschooling e suas implicações no
sistema educacional brasileiro. O Projeto de Lei 3179/2012 foi aprovado pela Câmara
dos Deputados em 19 de maio de 2022 e atualmente encontra-se em análise no
Senado Federal como Projeto de Lei Nº 1.388/2022, aguardando a próxima fase do
processo legislativo na Comissão de Educação do Senado, tendo o senador Flávio
Arns como relator.

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4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR

O assunto do ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, tem


sido objeto de análise pelo Poder Judiciário no contexto dos Direitos Fundamentais e
Individuais. Dois casos de grande repercussão social se destacam, ocorridos nas
cidades de Anápolis, estado de Goiás, e Canela, no Rio Grande do Sul.
O primeiro ocorreu em 2002, o caso emblemático da família Vilhena Coelho,
residente em Anápolis, Goiás, ocorrido em 2002. Nesse episódio, os pais desta
família, representando seus três filhos menores, impetraram o Mandado de Segurança
n° 7.407, datado de 24 de abril de 2002, junto ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
O propósito deste recurso constitucional era a reversão do ato do Ministério da
Educação (MEC), que havia homologado o Parecer Consultivo n° 34 de 04 de
dezembro de 2000 da Câmara de Ensino Básico (CEB) do Conselho Nacional de
Educação (CNE). Este parecer negou a possibilidade da educação domiciliar, apesar
da demonstração de que tal modalidade vinha ocorrendo de forma eficiente, com
avaliações sendo realizadas.
No cerne das decisões administrativas que desencadearam esse episódio está
a ideia de que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996 e
a Constituição Federal de 1988 são explícitas quanto à obrigatoriedade do ensino
escolar, bem como da frequência dos alunos devidamente matriculados, de acordo

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com o mencionado parecer.


O relator do processo no STJ, o Ministro Francisco Peçanha Martins, votou em
desfavor da pretensão da família, argumentando que não existia direito líquido e certo
na solicitação e que o MEC não havia agido com abuso ao aprovar o parecer do
CEB/CNE. Para ele, os dispositivos constitucionais determinavam que o ensino
escolar era obrigatório, assim como a frequência dos alunos matriculados em escolas
regulares.
Outros ministros que compartilharam desse entendimento no STJ foram
Humberto Gomes de Barros, Eliana Calmon, Francisco Falcão, Laurita Vaz e Garcia
Vieira. Os votos vencidos foram dos Ministros Franciulli Netto e Paulo Medina.
Para o Ministro Franciulli Netto, a educação deveria ser analisada à luz do
pluralismo do Estado Democrático de Direito, permitindo o direito à liberdade de
escolher outra modalidade de ensino. Ele observou que as crianças demonstraram

31
um notável desempenho, estando um ano à frente de suas idades, o que, em sua
visão, habilitava os pais a assumir a função de garantir diretamente a educação formal.
Para ele, a frequência escolar era um fator secundário, e a educação transcenderia a
mera transmissão de informações, sendo a família a principal responsável pela
formação, não apenas intelectual, mas também cidadã e social das crianças e
adolescentes.
O Ministro Paulo Medina também enfatizou as liberdades constitucionais
relacionadas à educação e o pluralismo de ideias, bem como a responsabilidade do
Estado em fiscalizar as atividades da família para garantir a efetivação dos fins
constitucionais relacionados à educação.
No final, os pais tiveram que acatar a decisão do STJ e realizar a matrícula de
seus filhos em uma escola regular.
O segundo caso ocorreu em meados de 2015, quando chegou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança impetrado pelos pais de uma
criança de onze anos, que tiveram sua solicitação de educação domiciliar negada pelo
órgão municipal e, posteriormente, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A
parte recorrente alegou violação de diversos artigos da Constituição, argumentando
que a educação não se restringe à instrução formal em uma instituição convencional
de ensino, especialmente diante da diversidade de ideias e concepções pedagógicas,
bem como dos avanços tecnológicos.
No seu pronunciamento, o Ministro Luís Roberto Barroso destacou o ensino
domiciliar como um fenômeno emergente em diversos países, incluindo o Brasil, com
um crescente número de adeptos, e a possibilidade de redução dos gastos públicos
com sua adoção. O reconhecimento da natureza constitucional do debate sobre a
capacidade das famílias de prover educação levou o Ministro a enfatizar a importância
de definir a relação entre o Estado e a família na educação de crianças e
adolescentes, bem como os limites da autonomia privada em relação às imposições
estatais.

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Barroso concluiu que a improcedência do pedido baseou-se na falta de uma


norma regulamentar, não na inconstitucionalidade do homeschooling. Além disso,
salientou que, como se tratava de uma questão de repercussão geral, a decisão tinha
efeito erga omnes, aplicável a todas as partes envolvidas na lide, sendo uma decisão
histórica e de extrema importância por reconhecer a colaboração entre o Estado e a

32
família na prestação do ensino fundamental e pela legalização do homeschooling no
Brasil.
Posteriormente, em 2018, o processo foi colocado em pauta e, após o
julgamento, a Corte determinou que o ensino domiciliar não é um meio lícito para
cumprir o dever de prover educação a crianças e adolescentes, embora não tenha
sido considerado inconstitucional. A maioria dos ministros votou pelo desprovimento
do recurso extraordinário, uma vez que não havia uma lei que regulamentasse a
prática.
O Ministro Luís Roberto Barroso, ao fundamentar seu voto, destacou que a
Constituição Federal não proíbe o homeschooling e que o ensino domiciliar é
compatível com o ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a maioria dos ministros
argumentou que é necessária uma regulamentação prévia pelo Congresso Nacional,
estabelecendo requisitos e mecanismos de avaliação e fiscalização, para atender ao
disposto no Art. 208, §3º da Constituição, que atribui ao poder público o dever de zelar
pela frequência à escola. Esta decisão do Supremo Tribunal Federal, portanto,
representa um marco importante na jurisprudência brasileira em relação a este
assunto controverso.
No seu voto, o Ministro Alexandre de Moraes apresentou uma perspectiva
fundamental no julgamento do ensino domiciliar, sustentando que a prática não é
inconstitucional, desde que haja uma regulamentação prévia. Ele destacou que o
homeschooling de natureza utilitarista, que segue o conteúdo do ensino escolar e
permite fiscalização e avaliações periódicas, é compatível com a Constituição,
contudo, ressaltou que essa modalidade requer uma colaboração entre as famílias e
o Estado. O Ministro enfatizou a importância de o Congresso Nacional regulamentar
essa prática, a fim de estabelecer requisitos e mecanismos de avaliação e
fiscalização, como previsto no Art. 208, §3º da Constituição, o qual atribui ao poder
público a responsabilidade de garantir a frequência escolar. Além disso, Moraes
argumentou que o ensino domiciliar pode ser uma escolha legítima das famílias,
especialmente quando fundamentada em motivos religiosos, promovendo assim o
direito fundamental à liberdade religiosa e respeitando os princípios de autonomia e
emancipação.
Portanto, o STF reconheceu a legalidade do homeschooling, desde que haja
regulamentação específica por parte do Congresso Nacional para garantir a qualidade

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e a fiscalização do ensino domiciliar no Brasil. Essa decisão representa um marco


significativo na jurisprudência do país em relação a esse tema controverso,
estabelecendo a necessidade de um equilíbrio entre o direito das famílias de
escolherem essa modalidade de ensino e a responsabilidade do Estado em assegurar
que a educação seja ministrada de acordo com padrões adequados e com a devida
supervisão. Além disso, o voto do Ministro Alexandre de Moraes destaca a importância
de reconhecer a autonomia e emancipação das famílias, especialmente quando
fundamentadas em motivos religiosos, promovendo assim o direito fundamental à
liberdade religiosa, dentro dos limites estabelecidos por uma regulamentação
apropriada.

34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente trabalho, o conceito e a prática do ensino domiciliar, conhecido


como homeschooling, foram explorados, com destaque para sua crescente
popularidade global e as diversas motivações subjacentes a essa abordagem
educacional. O homeschooling permite que os pais personalizem o currículo de seus
filhos, flexibilizem horários e atendam a preocupações com segurança e bem-estar.
Contudo, essa prática tem gerado debates sobre a socialização das crianças e a
qualidade do ensino, com regulamentações variando amplamente entre países.
No contexto legal brasileiro, a viabilidade do ensino domiciliar foi analisada,
considerando as bases legais, como a Constituição Federal de 1988, o Código Civil,
o Código Penal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação. Embora esses documentos não façam menção direta ao
homeschooling, estabelecem princípios fundamentais para a educação no Brasil.
Também foram explorados projetos de lei relacionados ao ensino domiciliar em
discussão no país.
Dois casos emblemáticos ocorridos em Anápolis, Goiás, em 2002, e em
Canela, Rio Grande do Sul, em 2015, foram analisados. No primeiro caso, o Supremo
Tribunal de Justiça decidiu contra a família Vilhena Coelho, argumentando que a
Constituição exige a frequência escolar. No segundo caso, o Supremo Tribunal
Federal considerou que o ensino domiciliar não é inconstitucional, mas requer
regulamentação específica pelo Congresso Nacional.
Diante da análise realizada, conclui-se que o objetivo central deste estudo, que
consistia em explorar a viabilidade e a legalidade do ensino domiciliar, também
conhecido como homeschooling, foi alcançado em parte. Ficou evidente que o ensino
domiciliar não é inconstitucional no Brasil, conforme confirmado pelo Supremo
Tribunal Federal (STF) em seu julgamento de 2018. Entretanto, a ausência de uma

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legislação específica para regulamentar o homeschooling deixa questões


fundamentais em aberto.
A Constituição Federal de 1988 e outros dispositivos legais estabelecem
princípios e diretrizes essenciais para a educação no país, mas não abordam
diretamente o homeschooling. Isso resulta em uma lacuna legal que demanda atenção
do poder legislativo para criar uma estrutura regulatória clara e adequada, a fim de

35
garantir que o ensino domiciliar seja praticado com qualidade, responsabilidade e em
conformidade com os princípios educacionais do Brasil.
Portanto, embora o tema do homeschooling tenha sido examinado à luz de sua
constitucionalidade, a ausência de uma lei específica que regule o assunto cria uma
lacuna significativa no sistema educacional brasileiro. Assim, para atingir plenamente
os objetivos propostos para este tema, é necessária a ação legislativa futura que
aborde essa questão complexa e promova a segurança jurídica e a qualidade da
educação no contexto do ensino domiciliar no Brasil. A reflexão sobre esse tópico
destaca a importância de que, embora a legalidade do homeschooling tenha sido
estabelecida, ainda é necessária uma regulamentação específica para atender aos
princípios e responsabilidades constitucionais relacionados à educação no país.

36
REFERÊNCIAS

ALVES, Rubens. Revista da Educação. Edição 134. 2010. Disponível em:


https://revistaensinosuperior.com.br/2011/09/10/homeschooling/. Acesso em: 03 mai.
2023.

ANDRADE, Édison Prado. A educação familiar desescolarizada como um direito


da criança e do adolescente: relevância, limites e possibilidades na ampliação
ao direito à educação. Tese de Doutorado. FEUSP. São Paulo, 2014. Disponível
em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-10112014-111617/pt-
br.php. Acesso em: 02 set. 2023.

ANED - Associação Nacional de Educação Domiciliar. Educação Domiciliar.


Disponível em: https://www.aned.org.br/index.php/conheca-educacao-domiciliar/ed-
no-mundo. Acesso em: 01 set. 2023.

BARBOSA, Luciane. Pesquisa identifica razoes que levam pais a optar por
educação domiciliar, 30 agosto. 2013. Disponível
em: https://www5.usp.br/noticias/sociedade/pesquisa-identifica-razoes-que-levam-
pais-a-optar-por-educacao-domiciliar/. Acesso em: 25 jul. 2023.

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https://copyspider.com.br/ Página 120 de 302

BOTO, Carlota. ?Homeschooling?: a prática de educar em casa. Jornal da USP,


16 março. 2018. Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/homeschooling-a-pratica-
de-educar-em-casa/. Acesso em: 25 jul. 2023.

BOTO, Carlota. Projeto de homeschooling no Brasil coloca um muro entre a


família e o mundo social. Jornal da USP, 25 maio. 2022. Disponível
em: https://jornal.usp.br/atualidades/projeto-de-homeschooling-no-brasil-coloca-um-
muro-entre-a-familia-e-o-mundo-social/. Acesso em: 26 jul. 2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 888.815/RS. DIREITO


CONSTITUCIONAL. EDUCAÇÃO. ENSINO DOMICILIAR. LIBERDADES E
DEVERES DO ESTADO E DA FAMÍLIA. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. Constitui questão constitucional saber se o ensino domiciliar (homeschooling)
pode ser proibido pelo Estado ou viabilizado como meio lícito de cumprimento, pela
família, do dever de prover educação, tal como previsto no art. 205 da CRFB/1988.
2. Repercussão geral reconhecida. Relator: Min. Roberto Barroso, 4 de junho de
2015. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?
incidente=4774632. Acesso em: 10 abr.2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n° 888.815.


Constitucional. Educação. Direito Fundamental relacionado à dignidade da pessoa
humana e à efetividade da cidadania. Dever solidário do Estado e da família na
prestação do Ensino Fundamental. Necessidade de lei formal, editada pelo
Congresso Nacional, para regulamentar o Ensino Domiciliar. Recurso Desprovido.
Relator: Ministro Roberto Barroso. Redator para acórdão: Ministro Alexandre de
Moraes. DJ, 12 de set. de 2018. Disponível em:
https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE888815mAM.PDF.
Acesso em: 05 out.2023.

37

BRASIL. Constituição de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil:


promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em:
05.out.2023.

BRASIL. Decreto-Lei n° 2.848 de 1940. Código Penal: decretado em 07 de


dezembro de 1940. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 05 out.2023.

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em 13 de julho de 1990. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 05 out.2023.

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promulgada em 20 de dezembro de 1996. Disponível em:
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BRASIL. Lei n° 10.406 de 2002. Código Civil: promulgada em 10 de janeiro de


2002. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em:
05.out.2023.

BRASIL. Projeto de Lei 3179/2012. Altera as Leis nºs 9.394, de 20 de dezembro de


1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), e 8.069, de 13 de julho de
1990, (Estatuto da Criança e do Adolescente), para dispor sobre a possibilidade de
oferta domiciliar da educação básica. Brasília: Câmara dos Deputados, 08 dez.
2012. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=534328
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COAD 132172 - Rel. Min. Francisco Peçanha Martins - Publ. em 21-3-2005.

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Disponível em: https://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/42/docs/ms-
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SENADO, Agência. Senado aprofunda debate sobre educação domiciliar.

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8/12/2022. Disponível em:


https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/12/senado-aprofundadebate-
sobre-educacao-domiciliar. Acesso em: 07 out.2023.

SENADO, Agência. Senado aprofunda debate sobre educação domiciliar.


8/12/2022. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/12/senado-aprofundadebate-
sobre-educacao-domiciliar. Acesso em: 07 out.2023.

Relatório gerado por CopySpider Software 2023-11-06 10:12:13


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=================================================================================
Arquivo 1: BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Arquivo 2: https://blog.culturainglesa.com.br/o-que-e-homeschooling (1350 termos)
Termos comuns: 57
Similaridade: 0,62%
O texto abaixo é o conteúdo do documento BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento https://blog.culturainglesa.com.br/o-que-e-
homeschooling (1350 termos)

=================================================================================

Cuiabá
2023

Cidade
Ano
BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

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A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO


DOMICILIAR NO BRASIL

Cuiabá
2023

A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO


DOMICILIAR NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à UNIC ?


Universidade de Cuiabá, como requisito parcial para a
obtenção do título de graduado em Direito.
Orientadora: Denise Alcantara

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BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO DOMICILIAR


NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade de Cuiabá - UNIC, como requisito
parcial para a obtenção do título de graduado
em Direito.

BANCA EXAMINADORA

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Cuiabá, dia de mês de 2023

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ARRUDA, Brenno Eduardo. A constitucionalidade do método de ensino domiciliar


no Brasil. 2023. 22 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito)
? Universidade de Cuiabá - UNIC, Cuiabá/MT, 2023.

RESUMO

O objetivo deste trabalho é discutir o ensino domiciliar, também conhecido como


homeschooling, uma prática educacional em que os pais ou responsáveis assumem
a responsabilidade de educar seus filhos em casa, ao invés de matriculá-los em uma
escola tradicional. Esta prática permite uma abordagem de ensino personalizada,
adaptada às necessidades e interesses individuais de cada criança. No entanto, a
viabilidade jurídica do ensino domiciliar no Brasil é um tema de debate. Embora alguns
pais e responsáveis defendam o direito de educar seus filhos em casa, existem
questões legais e regulatórias que precisam ser consideradas. O estudo também
analisará países onde o ensino domiciliar é regulamentado, destacando o papel da
família e do estado na educação domiciliar. Além disso, há diversas decisões judiciais
relacionadas ao ensino domiciliar no Brasil, com alguns casos de grande impacto.
Estas decisões judiciais podem ter um impacto significativo na forma como o ensino
domiciliar é praticado e regulamentado no país. Portanto, é importante compreender
o conceito de ensino domiciliar, analisar sua viabilidade jurídica no contexto brasileiro
e estar ciente das decisões judiciais relacionadas a esta prática educacional.

Palavras-chave: Direito à Educação Domiciliar. Homeschooling. Educação no Lar.


Flexibilidade da Educação Básica.

ARRUDA, Brenno Eduardo. The constitutionality of the home teaching method in


Brazil. 2023. 22 sheets. Completion of Law Course ? University of Cuiabá, Cuiabá
2023.

ABSTRACT
The aim of this work is to discuss homeschooling, also known as home education, an
educational practice in which parents or guardians take on the responsibility of
educating their children at home instead of enrolling them in a traditional school. This
practice allows for a personalized teaching approach, tailored to the individual needs
and interests of each child. However, the legal feasibility of homeschooling in Brazil is
a subject of debate. While some parents and guardians advocate for the right to
educate their children at home, there are legal and regulatory issues that need to be
considered. The study will also examine countries where homeschooling is regulated,
highlighting the roles of both the family and the state in home education. Furthermore,
there have been various legal decisions related to homeschooling in Brazil, with some
cases of significant impact. These legal decisions can have a significant impact on how
homeschooling is practiced and regulated in the country. Therefore, it is important to

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understand the concept of homeschooling, analyze its legal feasibility in the Brazilian
context, and be aware of legal decisions related to this educational practice.

Keywords: Right to Homeschooling. Homeschooling. Home Education. Flexibility of


Basic Education.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 ? Países onde o Homeschooling é legalizado segundo ANED ................ 16

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. Artigo
ANED Associação Nacional de Educação Domiciliar
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
RE Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
USP Universidade de São Paulo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING ......................................................... 10
2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO ................................................................................. 11
2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING..................................................................... 11
2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING .................................... 13
2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING ................................................ 14
2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES............... 15
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL ..................................................................................................................... 18
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO ................................................. 18
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL ....................................................................... 21
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL .................................................................. 22
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA) ............................................................................................. 23
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB) ................. 25
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA ............................................................ 26

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4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO


DOMICILIAR ............................................................................................................. 30
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 34
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36

9
1 INTRODUÇÃO

A prática do ensino domiciliar, também conhecida como homeschooling, tem


se tornado um tema de discussão relevante no contexto brasileiro. Este fenômeno
educacional, em que os pais assumem a responsabilidade de instruir seus filhos em
casa, em vez de enviá-los a uma escola convencional, suscita questionamentos
profundos sobre seus impactos, especialmente no que diz respeito às crianças e
adolescentes.
Este estudo tem como foco central a "Constitucionalidade do Ensino Domiciliar
no Brasil". Trata-se de uma questão que tem sido amplamente debatida ao longo dos
anos, sobretudo pelos pais e responsáveis que buscam a regulamentação desse
modelo educacional para proporcionar uma educação de qualidade dentro de seus
lares.
A relevância desta pesquisa é evidente, uma vez que ela busca lançar luz sobre
a legalidade do ensino domiciliar, oferecendo clareza àqueles que optam por educar
seus filhos em casa, sem temer penalizações estatais. Além disso, busca-se, por meio
de dados e evidências, explorar experiências internacionais em que o ensino
domiciliar é regulamentado, destacando o papel fundamental desempenhado tanto
pela família quanto pelo Estado na educação dos alunos no ambiente familiar.
O estudo também tem o potencial de contribuir para a compreensão desse
tema tanto na comunidade acadêmica quanto na sociedade em geral. Através da
análise doutrinária, legal, jurisdicional e constitucional, bem como da comparação de
dados educacionais, pretende-se lançar luz sobre o papel da família e do Estado no
ensino domiciliar, promovendo um debate informado e enriquecedor.
Para alcançar esses objetivos, este projeto de pesquisa adotará uma
abordagem qualitativa e descritiva, permitindo a análise das características desse
fenômeno educacional e a compreensão dos pressupostos teóricos que o envolvem.
A pesquisa abrangerá a revisão de livros, dissertações, teses, artigos e trabalhos
científicos publicados nos últimos 10 anos, além de buscas em bancos de dados
acadêmicos como o Google Acadêmico e Scielo.

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2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING

O ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, é uma prática


que tem ganhado destaque tanto no cenário internacional quanto no contexto
brasileiro. Em todo o mundo, famílias optam por essa modalidade de ensino por uma
variedade de razões, incluindo a busca por um currículo mais personalizado, a
flexibilidade de horários e a preocupação com a segurança e o bem-estar dos filhos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o homeschooling é uma opção legal em todos os
estados, e milhares de famílias escolhem essa abordagem educacional. No entanto,
as regulamentações e atitudes em relação ao ensino domiciliar variam
consideravelmente de país para país.
Nesse contexto, Moreira (2017) esclarece que:

A educação domiciliar é uma modalidade de ensino que não obedece a uma


lógica única, massificada para todas as famílias, por basear-se no princípio
da soberania educacional da família, ou seja, seu fundamento é a liberdade
de cada família determinar como será realizada a educação de seus filhos.
(MOREIRA, 2017, p. 61).

O ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, é uma prática


que tem ganhado destaque tanto no cenário internacional quanto no contexto
brasileiro. Em todo o mundo, famílias optam por essa modalidade de ensino por uma
variedade de razões, incluindo a busca por um currículo mais personalizado, a
flexibilidade de horários e a preocupação com a segurança e o bem-estar dos filhos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o homeschooling é uma opção legal em todos os
estados, e milhares de famílias escolhem essa abordagem educacional. No entanto,
as regulamentações e atitudes em relação ao ensino domiciliar variam
consideravelmente de país para país.
Assim em revista especializada em educação foi publicado que:

Os motivos que levam os pais a optar pelo homeschooling são variados. Há


a insatisfação com as escolas, o temor em relação ao seu ambiente, interno
e externo. Os pais temem pela integridade física dos filhos. O que é
compreensível em ambientes onde existe violência. Há também as situações
em que as crianças e adolescentes são vítimas de bullying. Ir à escola é um
sofrimento diário e silencioso. A provisão legal da possibilidade de estudar
em casa eliminaria esse sofrimento que atinge milhares de crianças e
adolescentes (ALVES, 2011).

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2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO

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O homeschooling é uma abordagem educacional na qual os pais ou


responsáveis assumem a responsabilidade de instruir seus filhos em casa, em vez de
enviá-los a uma escola tradicional. Essa prática oferece um ambiente de aprendizado
personalizado, no qual o currículo pode ser adaptado de acordo com as necessidades
e interesses individuais de cada criança. O homeschooling não se restringe a um
modelo específico; em vez disso, é uma prática flexível que pode variar amplamente
de família para família.
Na prática do homeschooling, os pais desempenham um papel fundamental na
construção do ambiente educacional de seus filhos. Isso implica não apenas na
seleção de materiais didáticos e na organização do currículo de acordo com as
aptidões e interesses únicos de cada criança, mas também na promoção de uma
atmosfera que estimule a curiosidade, a autodisciplina e a aprendizagem
independente. Além disso, o homeschooling permite uma flexibilidade rara no
processo de ensino, possibilitando a exploração de tópicos interdisciplinares e a
adaptação dos métodos de aprendizado de acordo com o ritmo de desenvolvimento
de cada aluno. Essa abordagem coloca a ênfase não apenas na obtenção de
conhecimentos acadêmicos, mas também no desenvolvimento holístico das crianças,
incluindo aspectos sociais, emocionais e éticos, tornando-se assim uma alternativa
atraente para famílias em busca de uma educação sob medida para suas
necessidades e valores.

2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING

O homeschooling tem uma longa história, datando de séculos atrás, quando as


famílias eram a principal fonte de educação. No entanto, o surgimento da escola
moderna no século XIX relegou o ensino em casa a um segundo plano. No século XX,
o homeschooling ressurgiu, impulsionado por diversos movimentos e mudanças
sociais, incluindo o movimento de contracultura dos anos 1960 e 1970. Desde então,
sua prática tem se expandido e diversificado globalmente.

12
No entanto, vale ressaltar que a formalização e a regulamentação do
homeschooling como uma opção legal de educação são mais recentes em muitos
países, incluindo o Brasil. O surgimento mais notável e o reconhecimento oficial do
homeschooling no Brasil ocorreram nas últimas décadas, principalmente a partir dos
anos 2000, quando começou a ganhar visibilidade e a ser debatido mais amplamente.
Nos Estados Unidos da América (EUA), o pioneiro do homeschooling foi Holt,
considerado o pai da desescolarização. Ele acreditava que a escola tradicional, de
certo modo, coagia as crianças a aprenderem, quando, na verdade, elas o fariam
naturalmente se tivessem a liberdade de seguir seus próprios interesses e acesso a
uma ampla variedade de recursos. A partir de uma perspectiva da educação orgânica,
que valoriza o potencial humano como prioridade no desenvolvimento da criança,

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essa linha de pensamento passou a ser chamada de unschooling e, posteriormente,


homeschooling.
No que tange as pesquisas pautas no princípio de revisão bibliográfica, é
relevante atentar-se ao fato de que:

O termo homeschooling, de língua inglesa, usual nos Estados Unidos da


América, é usado internacionalmente para identificar uma modalidade de
educação específica que é organizada e implementada pelos próprios pais
como alternativa de escolarização de seus filhos em casa e não na escola. É
traduzido, normalmente, para o português, por Educação Domiciliar, em uma
tradução literal da junção da palavra home (casa, ou lar), com a palavra
school (escola). O termo escola no gerúndio (schooling), já sugere a ideia do
próprio modelo de educação, que está carregado de um sentido de ensino
contínuo, no qual os pais se dispõem para o processo ensino aprendizagem
em formas e condições contínuas e cotidianas da vida da criança e da família,
organizadas intencionalmente ou não para o fim educativo, tais como
refeições, passeios, viagens, relacionamentos com a vizinhança, etc
(ANDRADE,2014,p. 19).

O homeschooling ganhou destaque no Brasil durante a pandemia de COVID-


19, que teve início em 2020. Com o fechamento temporário das escolas em muitas
regiões do país como medida de contenção da disseminação do vírus, muitos pais e
responsáveis foram forçados a considerar o ensino em casa como uma alternativa
viável para garantir a continuidade da educação de seus filhos.
Esse período de restrições sanitárias resultou em um aumento significativo no
interesse e na prática do homeschooling no Brasil. Muitas famílias passaram a buscar
soluções educacionais flexíveis e adaptadas às circunstâncias da pandemia,

13
recorrendo ao ensino em casa para manter o aprendizado das crianças durante os
lockdowns e as incertezas associadas à pandemia.
A pandemia também destacou a importância da adaptação e flexibilidade no
homeschooling. Pais e tutores tiveram que se ajustar rapidamente a novos métodos
de ensino online e colaborar mais estreitamente com escolas para acessar materiais
e recursos educacionais. Além disso, o ensino em casa permitiu que algumas famílias
aproveitassem o tempo em casa para explorar tópicos adicionais, incentivando a
aprendizagem autodirigida e a criatividade.
No entanto, é importante observar que o homeschooling durante a pandemia
também trouxe desafios, incluindo a necessidade de equilibrar o trabalho remoto dos
pais com a supervisão do aprendizado das crianças. O debate sobre a
regulamentação e a legalização do homeschooling no Brasil também se intensificou
devido às mudanças trazidas pela pandemia. Portanto, o ensino domiciliar teve um
impacto notável no contexto da educação brasileira durante a crise da COVID-19,

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levantando questões importantes sobre como essa prática deve ser abordada e
regulamentada no país.

2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING

O homeschooling, ou ensino domiciliar, é uma abordagem educacional que se


baseia em princípios e abordagens específicas. Embora haja variações na prática do
homeschooling, alguns princípios e abordagens comuns incluem a individualização da
educação, onde os pais ou tutores adaptam o currículo de acordo com as
necessidades e interesses de cada criança, promovendo um aprendizado
personalizado. Além disso, o homeschooling incentiva a aprendizagem autodirigida,
capacitando as crianças a tomar decisões sobre o que e como aprendem, promovendo
a responsabilidade pela própria educação e o desenvolvimento de habilidades de
aprendizado independentes.
Assim para MOREIRA (2017, p.10), ?pesquisas demonstram que essas
crianças estão bem preparadas em sentido acadêmico e social para participar de uma
democracia liberal?.
Uma das vantagens do homeschooling é a flexibilidade, permitindo que as
famílias adaptem o horário de aprendizado para atender às necessidades individuais,

14
aproveitando oportunidades de aprendizado fora do ambiente escolar tradicional. Isso
é complementado pelo uso de uma ampla variedade de recursos educacionais,
incluindo livros, materiais didáticos, recursos online, visitas a museus e aulas
particulares, que enriquecem a abordagem educacional.
No homeschooling, valoriza-se a educação informal, reconhecendo que as
experiências cotidianas, viagens, atividades ao ar livre e interações com a
comunidade são oportunidades valiosas de aprendizado. Os pais desempenham um
papel fundamental no ensino domiciliar, projetando o currículo, fornecendo instrução
e apoio, e acompanhando o progresso acadêmico e social de seus filhos.
Além disso, o homeschooling coloca ênfase não apenas na educação
acadêmica, mas também no desenvolvimento integral da criança, incluindo aspectos
sociais, emocionais e éticos. Essa abordagem é especialmente atraente para famílias
com crianças com necessidades educacionais especiais, uma vez que permite uma
adaptação mais precisa a essas necessidades.

2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING

Apesar de seus princípios e benefícios percebidos, o homeschooling é objeto


de debates e controvérsias em todo o mundo. Um dos principais pontos de debate diz
respeito à socialização das crianças educadas em casa, uma vez que podem ter
menos oportunidades de interagir com seus pares. Além disso, questões relacionadas
à qualidade da supervisão educacional e à capacidade dos pais de fornecer um ensino

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adequado em todas as disciplinas são frequentemente levantadas. Críticos


argumentam que, sem uma supervisão rigorosa, algumas crianças podem não
receber a educação de qualidade necessária.
De acordo com a pedagoga (Barbosa, 2013), autora do estudo, a prática do
homeschooling:

Segundo os dirigentes das associações canadenses de ensino domiciliar


entrevistados por Luciane, a ausência da escola não leva a uma falta de
socialização. ?Ao contrário, eles argumentam que a instituição escolar leva a
uma socialização restrita, por segregarem as crianças por idade?, diz. ?No
Canadá, as bibliotecas e ginásios esportivos possuem programas voltados
para ?homeschoolers?, e normalmente os pais que ensinam os filhos em casa
são filiados a duas ou mais associações do setor. Também há uma
preocupação em desenvolver a participação social dos filhos nas
comunidades em que vivem, pois consideram que a escola oferece um

15
conceito de cidadania ligado apenas ao conhecimento de fatos históricos e
ao exercício do voto? (BARBOSA, 2013).

Nesse viés, (Boto, 2022), pesquisadora da USP, diz que:

Os estudos sobre o ensino domiciliar têm mostrado que há um vetor religioso


acerca das famílias que escolhem esse tipo de educação para os filhos, pois
não querem que eles tenham contato com teorias educacionais consideradas
ímpias. A professora considera isso grave e diz que é importante que as
crianças aprendam conteúdos que possam contrariar os interesses dos pais,
já que isso faz parte do aprendizado. Ela ainda afirma que é perigoso a família
se colocar como a única instituição na vida de uma criança (BOTO, 2022).

2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES

A prática do homeschooling, ou ensino em casa, é regulamentada de maneira


diversa ao redor do mundo. Cada país estabelece suas próprias diretrizes para pais
que optam por educar seus filhos em casa, variando desde o reconhecimento legal e
regulamentação específica até proibições rigorosas. Para entender melhor essas
abordagens, examinaremos como alguns países de referência, como os Estados
Unidos, Canadá, Alemanha e Austrália, lidam com a regulamentação do
homeschooling e os resultados que obtiveram.
Nos Estados Unidos, o homeschooling é legal e praticado em todo o país, mas
os requisitos e regulamentos variam de estado para estado. Alguns estados exigem
notificação prévia às autoridades educacionais locais, enquanto outros impõem testes
padronizados ou avaliações regulares do progresso educacional. Por outro lado, na

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Alemanha, o homeschooling é proibido pela lei, com poucas exceções, devido às


preocupações do governo sobre a integração social das crianças. No Canadá, as
províncias têm abordagens distintas, algumas exigindo exames oficiais de avaliação,
enquanto outras pedem apenas notificação às autoridades de ensino local. A
diversidade de regulamentação também é vista na Austrália, com inspeções
regulares, avaliações de progresso e diretrizes curriculares específicas.
No que tange ao homeschooling no Canadá, a pedagoga (Barbosa, 2013)
observou como é posto em prática o ensino domiciliar:

A pedagoga realizou parte do estudo no Canadá, país onde a prática do


?homeschooling? é permitida. ?A regulamentação varia conforme as
províncias, algumas exigem a prestação dos exames de avaliação oficiais,

16
outras pedem apenas que a diretoria de ensino local seja comunicada?, relata.
?Ao entrevistar as famílias canadenses, percebe-se que embora a motivação
religiosa esteja muito presente, os pais também optam pelo ensino em casa
pela questão de custos (famílias mais numerosas) ou por terem filhos com
deficiência, entre outras razões? (BARBOSA, 2013).

A diversidade de abordagens à regulamentação do homeschooling ao redor do


mundo reflete a complexidade das questões envolvidas. Nos Estados Unidos, a
abordagem descentralizada permite flexibilidade para os pais, mas também pode
resultar em disparidades significativas na qualidade da educação em casa,
dependendo do estado em que se encontram. Por outro lado, na Alemanha, a
proibição do homeschooling é uma tentativa de garantir a socialização e a educação
uniforme das crianças, mas levanta questões sobre os direitos dos pais de decidirem
como educar seus filhos. No Canadá e na Austrália, a variedade de regulamentações
indica uma tentativa de equilibrar a autonomia dos pais com a necessidade de garantir
que as crianças recebam uma educação adequada.
Nesse ensejo, a Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED), que é
uma associação dos pais que defendem os estudos em casa, divulgou dados dos
países onde a prática do hommescooling é legal, conforme imagem abaixo:

Figura 1 - Legalidade do ensino doméstico por país.

PAÌSES: África África do Sul, Oceania Austrália, Nova Zelândia. Ásia Filipinas, Japão, América Norte
EUA, Canadá, Sul Colômbia, Chile, Equador, Paraguai. Europa Portugal, França, Itália, Reino Unido,
Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria, Finlândia, Noruega, Rússia.

Fonte: Mapa e quadro divulgados pela ANED (2021).

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Em vários países europeus, como França e Bélgica, o homeschooling é


estritamente regulamentado e desencorajado, com ênfase na importância da
socialização e da educação em escolas reconhecidas. No entanto, na Suécia, o
homeschooling é permitido sob condições específicas, desde que os pais sigam um
currículo nacional. A regulamentação do homeschooling ao redor do mundo reflete
uma variedade de abordagens culturais, educacionais e políticas, com o objetivo de
equilibrar o direito dos pais de educar seus filhos em casa com o interesse público em
garantir uma educação de qualidade e a socialização adequada das crianças.
De acordo com a pesquisadora (Boto,2018):

Nos Estados Unidos, país que possui hoje mais de 2 milhões de crianças em
idade escolar fora da escola, um dos principais motivos para a prática
do homeschooling é religioso. São as minorias religiosas, bem como minorias
étnicas que, de acordo com os estudos sobre o assunto, aderem a essa nova
modalidade de educação. Entre 1999 e 2010 ocorreu um crescimento
superior a 100% e, para o conjunto dos Estados norte-americanos, há um
contingente de quase 4% de crianças que hoje não frequentam mais a escola.
Na Rússia, entre 2008 e 2012, teria ocorrido ampliação de 900% nas práticas
de homeschooling. Na Alemanha, país que proibiu a prática em seu território,
há inúmeros casos de casais que foram multados e até presos por não
enviarem os filhos à escola (BOTO, 2018).

É evidente que a regulamentação do homeschooling é uma questão complexa


que envolve o equilíbrio entre os direitos individuais dos pais e o interesse público na
educação e socialização das crianças. O debate sobre como melhor abordar essa
questão continua a evoluir à medida que os países buscam encontrar um equilíbrio
entre a liberdade de escolha educacional dos pais e a responsabilidade do Estado de
garantir que todas as crianças recebam uma educação de qualidade e sejam
integradas na sociedade de maneira adequada.

18
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL

No cenário brasileiro, a análise da viabilidade jurídica do estudo domiciliar


requer um entendimento abrangente do contexto legal e regulatório que rege o
sistema educacional. A Constituição Federal de 1988 estabelece princípios essenciais
que fundamentam a educação no Brasil, enfatizando a responsabilidade
compartilhada entre a família, a sociedade e o Estado na proteção dos direitos das

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crianças e adolescentes. O Código Civil reforça o papel dos pais na criação e


educação de seus filhos, e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece
diretrizes específicas para a educação e proteção de menores. Paralelamente, a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) define os princípios gerais da educação
brasileira. Além disso, existem projetos de lei que podem definir o estudo em casa no
Brasil nas mãos dos deputados.
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO
A Constituição Federal de 1988, um marco fundamental na legislação brasileira,
estabelece princípios que guiam a educação no país e atribui responsabilidades tanto
ao Estado quanto à sociedade e às famílias. O Artigo 227 da Constituição Federal de
1988 é um dos pontos centrais nesse contexto:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,


ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL,1988).

Este artigo estabelece que é um compromisso da família, sociedade e Estado


garantir, de forma prioritária, o direito à vida, saúde, alimentação, educação, lazer,
profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e
comunitária das crianças, adolescentes e jovens, além de protegê-los contra qualquer
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
O Artigo 227 da Constituição Federal coloca as crianças, adolescentes e jovens
no centro das preocupações da sociedade e do Estado, enfatizando a necessidade
de criar um ambiente seguro e saudável para o seu desenvolvimento. Ele destaca a

19
educação como um dos pilares fundamentais para o crescimento pleno desses
indivíduos, enfatizando a necessidade de protegê-los contra ameaças e violações de
seus direitos, conforme previsto na Constituição.
Na conjuntura atual, o Artigo 227 mantém sua relevância como diretriz
essencial para a formulação de políticas educacionais e sociais no Brasil. No entanto,
desafios persistentes, como a desigualdade no acesso à educação e a violação dos
direitos das crianças, exigem esforços contínuos para garantir a implementação eficaz
das disposições desse artigo.
O compromisso da família, sociedade e Estado em proporcionar um ambiente
favorável ao crescimento e desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens é
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Portanto, é
crucial que todos os esforços sejam direcionados para garantir o respeito a esses
direitos e para assegurar que todos os jovens tenham igualdade de oportunidades
para receber uma educação de qualidade, conforme preconizado pelo Artigo 227 da

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Constituição Federal de 1988. Em resumo, o Artigo 227 continua a servir como


alicerce para a proteção e promoção dos direitos da juventude, sendo essencial para
garantir um futuro mais promissor às gerações vindouras.
A Constituição Federal de 1988 também estabelece, no Artigo 208, os deveres
do Estado em relação à educação no Brasil. Esses deveres incluem:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a


garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)
anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a
ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos
de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por
meio de programas suplementares de material didáticoescolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009)
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua
oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

20
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela freqüência à escola (BRASIL,1988).

Essas responsabilidades do Estado refletem um compromisso com a promoção


de uma educação acessível, inclusiva e de qualidade para todos os cidadãos
brasileiros. No entanto, o cumprimento desses deveres enfrenta desafios constantes,
principalmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, com
significativas desigualdades regionais.
O pensamento subjacente a esse contexto destaca a importância da educação
como um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico da nação.
Garantir igualdade de oportunidades educacionais para todos é essencial para
promover a justiça social e formar cidadãos capacitados e engajados. Portanto, a

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implementação eficaz desses deveres estabelecidos no Artigo 208 é fundamental para


alcançar esses objetivos e construir uma sociedade mais equitativa e próspera.
Além disso, vale ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição Federal:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho (BRASIL,1988).

O Artigo 205 da Constituição Federal estabelece a educação como um direito


universal e um dever compartilhado entre o Estado e a família, sendo promovido e
incentivado com a colaboração da sociedade. A educação, de acordo com este
dispositivo, tem um propósito que vai além da mera transmissão de conhecimento. Ela
busca o completo desenvolvimento da pessoa, preparando-a para o exercício pleno
da cidadania e qualificando-a para o mercado de trabalho.
Entretanto, a interpretação do Artigo 205 não é unânime. Alguns argumentam
que a redação atual desse artigo é vaga e que a finalidade educacional parece
priorizar a formação de indivíduos funcionalmente integrados na estrutura social em
detrimento do desenvolvimento integral do ser humano. Nesse contexto, questiona-se
se a educação no Brasil, conforme delineada na Constituição, atende efetivamente às
necessidades de desenvolvimento individual ou se foca excessivamente na
preparação para o mercado de trabalho em detrimento do crescimento pessoal e da
promoção da busca pelo conhecimento.

21
Essa discussão levanta questões fundamentais sobre a finalidade da educação
e destaca a necessidade de repensar o sistema educacional para garantir que ele não
só atenda às demandas econômicas, mas também promova o crescimento pessoal,
o aprendizado contínuo e a realização individual. A revisão dos currículos, métodos
de ensino e políticas educacionais pode ser necessária para promover uma educação
mais abrangente e significativa, em consonância com o Artigo 205 da Constituição
Federal.
Ademais, é importante ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição
Federal como um alicerce legal para direcionar a educação no Brasil e garantir que
ela cumpra seu papel essencial no desenvolvimento das pessoas, na formação de
cidadãos ativos e na preparação para o mercado de trabalho.
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL
O Código Civil brasileiro, em seu Artigo 1.634, regulamenta o poder de família,
estabelecendo os seguintes termos:

Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos:

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I - dirigir-lhes a criação e a educação; (BRASIL,2002).

Esse dispositivo legal é o cerne do múnus familiar em relação à obrigação


jurídica de fornecer educação e criação para os seus infantes.
O Código Civil também serve como referência relevante para compreender a
educação domiciliar, um tema que tem gerado debates significativos nos últimos anos.
Embora o Código Civil não faça menção direta à educação em casa, ele estabelece
os deveres e poderes dos pais em relação à criação e educação dos filhos,
destacando a importância da família nesse processo.
No entanto, a educação domiciliar levanta questões específicas em relação à
sua legalidade e regulamentação, que podem variar de acordo com a legislação
educacional vigente. Isso torna essencial que os pais compreendam as leis de
educação em seu país e busquem aconselhamento adequado caso desejem optar
pela educação em casa.

22
O debate sobre a educação domiciliar aborda questões relativas à qualidade
da educação, à socialização das crianças e à capacidade dos pais de proporcionarem
um ambiente educacional adequado em casa. Portanto, a interação entre os direitos
dos pais e o interesse público na formação educacional das crianças é complexa e
deve ser tratada em conformidade com as normas legais aplicáveis.
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL
O Artigo 246 do Código Penal Brasileiro destaca-se como uma peça legislativa
de grande importância no âmbito educacional e jurídico, abordando o dever dos pais
ou responsáveis de providenciar a instrução primária para seus filhos em idade
escolar. Simultaneamente, esse dispositivo legal está relacionado ao estudo
domiciliar, conforme estipula o referido artigo: "Deixar, sem justa causa, de prover à
instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um
mês, ou multa" (BRASIL, 1940).
Este artigo normativo estabelece que a omissão injustificada em fornecer a
instrução primária a um filho em idade escolar configura uma infração sujeita a
penalidades específicas. Tais penalidades incluem detenção com duração de quinze
dias a um mês, bem como a imposição de multa.
A relevância do Artigo 246 reside na ênfase dada à obrigação da educação
primária, um direito fundamental da criança garantido pela legislação brasileira. A
garantia do acesso à educação é crucial para o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos essenciais ao longo da vida. Além disso, a educação desempenha um
papel vital na formação do cidadão e na promoção do bem-estar social.
Nesse contexto, o Artigo 246 do Código Penal visa assegurar que os pais ou
responsáveis cumpram o dever legal de proporcionar a instrução primária a seus filhos
em idade escolar, contribuindo para a formação educacional e cidadã das futuras
gerações. Ao mesmo tempo, este artigo também suscita questões relacionadas ao
estudo domiciliar. Quando realizado em conformidade com as normas e

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regulamentações estabelecidas, o estudo domiciliar permite que os pais assumam um


papel ativo na educação de seus filhos, desde que cumpram os requisitos legais e
assegurem a qualidade da educação em ambiente domiciliar. Isso demonstra o
compromisso do sistema legal brasileiro em conciliar o direito dos pais de escolherem

23
a modalidade educacional de seus filhos com a necessidade de garantir a adequada
formação e proteção das futuras gerações.
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece diretrizes
específicas em relação à educação das crianças e adolescentes. Ele alinha-se ao
entendimento conforme expresso no ?Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação
de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino? (BRASIL, 1990).
Além disso, o Artigo 4º do ECA menciona o dever da família em relação ao
menor, conforme previsto no artigo, que estabelece:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder


público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1990).

Essa obrigação legal encontra respaldo nos princípios estabelecidos no Artigo


53 do ECA, que determina que crianças e adolescentes têm o direito à educação,
visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho. Além disso, o referido artigo prevê seus
direitos, como evidenciado no próprio texto:

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno


desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias
escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; (BRASIL,
1990).

O Artigo 54, por sua vez, estabelece o dever do Estado de garantir o direito à
educação das crianças e adolescentes, como expresso no texto a seguir:

Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:

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I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não


tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

24
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
(Revogado)
IV ? atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos
de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua
oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável,
pela freqüência à escola. (BRASIL, 1990).

Portanto, de acordo com seu §1º, é de responsabilidade do Estado efetivar os


direitos relacionados à educação, assegurando a igualdade de condições para o
acesso e a permanência na escola.
O pensamento subjacente a essas disposições do ECA enfatiza a importância
da educação para o desenvolvimento integral da criança e do adolescente,
preparando-os para uma participação ativa na sociedade e qualificando-os para
futuras oportunidades de trabalho. O ECA coloca a responsabilidade sobre os pais e
o Estado para garantir que a educação seja acessível e eficaz para as crianças e
adolescentes, de acordo com o Artigo 1º do ECA, que preconiza a proteção integral
como princípio norteador.
Entretanto, é importante ressaltar que, assim como no caso da Constituição
Federal, o ECA não faz menção direta à educação domiciliar (homeschooling).
Portanto, a prática da educação em casa levanta questões sobre a conformidade com
essas leis e regulamentos e deve ser considerada cuidadosamente à luz do contexto
legal em vigor. O debate sobre a educação domiciliar gira em torno das necessidades
das crianças, da qualidade da educação e da capacidade dos pais de fornecer um
ambiente educacional apropriado em casa, ao mesmo tempo em que respeitam as

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leis e regulamentações existentes.

25
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabelece princípios
essenciais relacionados à educação no Brasil segundo o Artigo 2º destaca que:

Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de


liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1996).

Assim, verifica-se que a responsabilidade pela educação é compartilhada entre


a família e o Estado, e deve ser baseada nos princípios da liberdade e solidariedade
humana. Além disso, a educação deve ter como finalidade o pleno desenvolvimento
do educando, preparando-o para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.
Adicionalmente, o Artigo 6º da mesma lei impõem que ?É dever dos pais ou
responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4
(quatro) anos de idade? (BRASIL, 1990). Essa disposição, estabelecida no Artigo 6º,
reforça a necessidade de que os pais ou responsáveis efetuem a matrícula das
crianças na educação básica a partir dos 4 anos de idade.
Esse conjunto de responsabilidades do Estado reflete o compromisso com a
promoção de uma educação acessível, inclusiva e de qualidade para todos os
cidadãos brasileiros. No entanto, o cumprimento desses deveres é um desafio
constante, especialmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, com
desigualdades regionais significativas.
O pensamento subjacente a esse contexto destaca a importância da educação
como um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico de uma nação.
Garantir que todos tenham igualdade de oportunidades educacionais é essencial para
promover a justiça social e a formação de cidadãos capacitados e engajados.
Portanto, a implementação eficaz desses deveres está também estabelecida no Artigo
208 da Constituição Federal, que diz que é fundamental para alcançar esses objetivos
é construir uma sociedade mais equitativa e próspera

26
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA
O tema da educação domiciliar tem sido objeto de intensos debates no âmbito
legislativo brasileiro, com vários projetos de lei apresentados ao longo dos anos.
Essas propostas visam redefinir a dinâmica educacional, distribuindo
responsabilidades entre o Estado e as famílias, a fim de permitir o ensino em casa.
Para que isso ocorra, é necessária uma ativa movimentação do Poder

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Legislativo, pois este é o órgão responsável pela fiscalização e criação de leis.


Atualmente, não existe nenhuma lei que valide a educação domiciliar no Brasil,
embora tenham sido apresentados diversos projetos de lei sobre o tema ao longo do
tempo.
Em um breve passeio pela história legislativa, um desses projetos que merece
destaque é o Projeto de Lei nº 6001/2001, de autoria de Ricardo Izar. Este projeto
visava atribuir aos pais a responsabilidade pela educação de seus filhos, dispensando
os alunos que comprovassem educação em casa da obrigatoriedade de frequentar
uma escola e cumprir uma carga horária mínima anual. Nas justificativas
apresentadas, Izar argumentou que deixar o Estado como único provedor de
educação era um abuso de poder e que forçar as crianças a frequentar a escola as
expunha diariamente a drogas e violência, além de uma orientação pedagógica que
poderia ser contrária às convicções filosóficas e religiosas de algumas famílias.
No entanto, após anos de tramitação, esse projeto foi rejeitado e arquivado em
2007. A justificativa para a rejeição foi que a proposta era elitista, já que apenas
famílias com formação educacional adequada e tempo disponível poderiam desfrutar
desse direito, excluindo grande parte da população com menor poder aquisitivo.
Outros projetos de lei seguiram o Projeto de Lei nº 6001/2001, como o Projeto
de Lei 4122/2008 e o Projeto de Lei 3518/2008, que propunham alterações na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
No entanto, essas propostas também foram rejeitadas, argumentando que elas
contrariavam a legislação existente e que a eficácia do ensino domiciliar não havia
sido devidamente demonstrada. A Comissão afirmou que a experiência e a vivência
cotidiana nas escolas eram fundamentais para a aprendizagem e o desenvolvimento
das crianças.

27
Em 2012, o deputado Lincoln Portela elaborou o Projeto de Lei 3179, buscando
acrescentar o ensino domiciliar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As modificações propostas e outros projetos relacionados a ele serão abordados a
seguir.
O Projeto de Lei 3261 de 2015, de autoria do Deputado Eduardo Bolsonaro,
busca autorizar a educação domiciliar, introduzindo várias alterações na Lei nº 9.394
de 1996 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em junho de 2018, o deputado Alan Rick apresentou o Projeto de Lei
10185/2018, propondo alterações no artigo 5º da Lei nº 9.394 de 1996 para especificar
que o dever do Poder Público de garantir a frequência à escola pode ser substituído
pelo zelo no desenvolvimento adequado no caso da educação domiciliar.
O Projeto de Lei 3159, de 2019, de autoria da Deputada Natália Bonavides,
busca acrescentar ao artigo 5º da Lei nº 9394 de 1996 um parágrafo afirmando que a
educação domiciliar não pode substituir a frequência à escola.
No mesmo ano, foi apresentado o Projeto de Lei 2401/2019, de autoria do
Poder Executivo, que propõe a regulamentação da educação básica domiciliar em

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uma lei isolada. Suas disposições são mais detalhadas do que as propostas dos
projetos de lei mencionados anteriormente. O projeto torna explícito que a educação
domiciliar é um direito de escolha dos pais e responsáveis, assegura a igualdade dos
estudantes dessa modalidade com os da educação presencial e estabelece requisitos,
como o registro da educação domiciliar em uma plataforma virtual do Ministério da
Educação e a avaliação anual dos alunos de acordo com a Base Nacional Comum
Curricular.
Além disso, o projeto proíbe a educação domiciliar para pais ou responsáveis
que cumpram penas por crimes previstos em várias normas legais e prevê a perda do
direito de optar pela educação domiciliar no caso de reprovação em duas ou três
oportunidades ou de falta injustificada na avaliação anual.
Há também ajustes propostos para a Lei 9.394 de 1996 e o Estatuto da Criança
e do Adolescente para torná-los compatíveis com a educação domiciliar.
Os projetos de Lei 5852/2019 e 6188/2019, propostos pelos deputados Pastor
Eurico e Geninho Zuliani, pretendem inserir na Lei 9.394 de 1996 a possibilidade de a
Educação Básica ser ministrada por tutores autônomos em locais diferentes das
instituições oficiais de ensino. O segundo projeto busca autorizar a educação

28
domiciliar apenas quando for constatada a inadequação ou impossibilidade de
inclusão do estudante na rede regular de ensino, permitindo ainda o acesso a espaços
e equipamentos públicos.
Esses projetos apensados ao Projeto de Lei 3179/2012 demonstram a
abundância de discussões em torno da educação domiciliar e sua importância no
ordenamento jurídico.
Considerando as contribuições desses projetos de lei, a deputada Luísa
Canziani apresentou um Substitutivo ao Projeto de Lei 3179 de 2012 e suas emendas.
Ela sugeriu apenas a rejeição do Projeto de Lei 3159 de 2019.
Ao Substitutivo foram apresentadas 15 emendas de Plenário, sendo aprovada
apenas a emenda de plenário nº 8, que busca acrescentar um parágrafo único ao
artigo 246 do Código Penal, estabelecendo que os pais ou responsáveis que optam
pela educação domiciliar não incorrem no crime de abandono intelectual de seus
filhos. Quanto às demais emendas, foi sugerida a rejeição.
A redação final do Projeto de Lei 3179/2012 inclui no escopo da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional a possibilidade de oferta domiciliar da
educação básica. O projeto prevê obrigações para os pais, como a matrícula anual do
estudante em uma instituição de ensino credenciada, o cumprimento dos conteúdos
curriculares de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, a realização de
atividades pedagógicas, o registro periódico dessas atividades com envio de relatórios
trimestrais, o acompanhamento do desenvolvimento do estudante por um docente
tutor da instituição de ensino, avaliações anuais de aprendizagem e a participação em
exames nacionais, estaduais ou municipais, se selecionados.
O projeto também prevê a perda do direito à opção pela educação domiciliar

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nas hipóteses de insuficiência de progresso do educando, reprovações ou faltas


injustificadas nas avaliações. Além disso, estabelece a proibição da educação
domiciliar para pais ou responsáveis que cumpram penas por crimes específicos.
Também é importante mencionar o Projeto de Lei 3262/2019, que propõe
alterações no Código Penal para que a educação domiciliar não seja considerada um
crime de abandono intelectual. Esta proposta se originou devido a casos de famílias
que enfrentaram perseguições legais devido à educação domiciliar.
Assim, a educação domiciliar no Brasil é um tema de debate contínuo no
cenário legislativo, com diversos projetos de lei apresentados ao longo dos anos,

29
refletindo as complexidades em torno do homeschooling e suas implicações no
sistema educacional brasileiro. O Projeto de Lei 3179/2012 foi aprovado pela Câmara
dos Deputados em 19 de maio de 2022 e atualmente encontra-se em análise no
Senado Federal como Projeto de Lei Nº 1.388/2022, aguardando a próxima fase do
processo legislativo na Comissão de Educação do Senado, tendo o senador Flávio
Arns como relator.

30
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR

O assunto do ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, tem


sido objeto de análise pelo Poder Judiciário no contexto dos Direitos Fundamentais e
Individuais. Dois casos de grande repercussão social se destacam, ocorridos nas
cidades de Anápolis, estado de Goiás, e Canela, no Rio Grande do Sul.
O primeiro ocorreu em 2002, o caso emblemático da família Vilhena Coelho,
residente em Anápolis, Goiás, ocorrido em 2002. Nesse episódio, os pais desta
família, representando seus três filhos menores, impetraram o Mandado de Segurança
n° 7.407, datado de 24 de abril de 2002, junto ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
O propósito deste recurso constitucional era a reversão do ato do Ministério da
Educação (MEC), que havia homologado o Parecer Consultivo n° 34 de 04 de
dezembro de 2000 da Câmara de Ensino Básico (CEB) do Conselho Nacional de
Educação (CNE). Este parecer negou a possibilidade da educação domiciliar, apesar
da demonstração de que tal modalidade vinha ocorrendo de forma eficiente, com
avaliações sendo realizadas.
No cerne das decisões administrativas que desencadearam esse episódio está
a ideia de que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996 e
a Constituição Federal de 1988 são explícitas quanto à obrigatoriedade do ensino
escolar, bem como da frequência dos alunos devidamente matriculados, de acordo
com o mencionado parecer.

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O relator do processo no STJ, o Ministro Francisco Peçanha Martins, votou em


desfavor da pretensão da família, argumentando que não existia direito líquido e certo
na solicitação e que o MEC não havia agido com abuso ao aprovar o parecer do
CEB/CNE. Para ele, os dispositivos constitucionais determinavam que o ensino
escolar era obrigatório, assim como a frequência dos alunos matriculados em escolas
regulares.
Outros ministros que compartilharam desse entendimento no STJ foram
Humberto Gomes de Barros, Eliana Calmon, Francisco Falcão, Laurita Vaz e Garcia
Vieira. Os votos vencidos foram dos Ministros Franciulli Netto e Paulo Medina.
Para o Ministro Franciulli Netto, a educação deveria ser analisada à luz do
pluralismo do Estado Democrático de Direito, permitindo o direito à liberdade de
escolher outra modalidade de ensino. Ele observou que as crianças demonstraram

31
um notável desempenho, estando um ano à frente de suas idades, o que, em sua
visão, habilitava os pais a assumir a função de garantir diretamente a educação formal.
Para ele, a frequência escolar era um fator secundário, e a educação transcenderia a
mera transmissão de informações, sendo a família a principal responsável pela
formação, não apenas intelectual, mas também cidadã e social das crianças e
adolescentes.
O Ministro Paulo Medina também enfatizou as liberdades constitucionais
relacionadas à educação e o pluralismo de ideias, bem como a responsabilidade do
Estado em fiscalizar as atividades da família para garantir a efetivação dos fins
constitucionais relacionados à educação.
No final, os pais tiveram que acatar a decisão do STJ e realizar a matrícula de
seus filhos em uma escola regular.
O segundo caso ocorreu em meados de 2015, quando chegou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança impetrado pelos pais de uma
criança de onze anos, que tiveram sua solicitação de educação domiciliar negada pelo
órgão municipal e, posteriormente, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A
parte recorrente alegou violação de diversos artigos da Constituição, argumentando
que a educação não se restringe à instrução formal em uma instituição convencional
de ensino, especialmente diante da diversidade de ideias e concepções pedagógicas,
bem como dos avanços tecnológicos.
No seu pronunciamento, o Ministro Luís Roberto Barroso destacou o ensino
domiciliar como um fenômeno emergente em diversos países, incluindo o Brasil, com
um crescente número de adeptos, e a possibilidade de redução dos gastos públicos
com sua adoção. O reconhecimento da natureza constitucional do debate sobre a
capacidade das famílias de prover educação levou o Ministro a enfatizar a importância
de definir a relação entre o Estado e a família na educação de crianças e
adolescentes, bem como os limites da autonomia privada em relação às imposições
estatais.
Barroso concluiu que a improcedência do pedido baseou-se na falta de uma

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norma regulamentar, não na inconstitucionalidade do homeschooling. Além disso,


salientou que, como se tratava de uma questão de repercussão geral, a decisão tinha
efeito erga omnes, aplicável a todas as partes envolvidas na lide, sendo uma decisão
histórica e de extrema importância por reconhecer a colaboração entre o Estado e a

32
família na prestação do ensino fundamental e pela legalização do homeschooling no
Brasil.
Posteriormente, em 2018, o processo foi colocado em pauta e, após o
julgamento, a Corte determinou que o ensino domiciliar não é um meio lícito para
cumprir o dever de prover educação a crianças e adolescentes, embora não tenha
sido considerado inconstitucional. A maioria dos ministros votou pelo desprovimento
do recurso extraordinário, uma vez que não havia uma lei que regulamentasse a
prática.
O Ministro Luís Roberto Barroso, ao fundamentar seu voto, destacou que a
Constituição Federal não proíbe o homeschooling e que o ensino domiciliar é
compatível com o ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a maioria dos ministros
argumentou que é necessária uma regulamentação prévia pelo Congresso Nacional,
estabelecendo requisitos e mecanismos de avaliação e fiscalização, para atender ao
disposto no Art. 208, §3º da Constituição, que atribui ao poder público o dever de zelar
pela frequência à escola. Esta decisão do Supremo Tribunal Federal, portanto,
representa um marco importante na jurisprudência brasileira em relação a este
assunto controverso.
No seu voto, o Ministro Alexandre de Moraes apresentou uma perspectiva
fundamental no julgamento do ensino domiciliar, sustentando que a prática não é
inconstitucional, desde que haja uma regulamentação prévia. Ele destacou que o
homeschooling de natureza utilitarista, que segue o conteúdo do ensino escolar e
permite fiscalização e avaliações periódicas, é compatível com a Constituição,
contudo, ressaltou que essa modalidade requer uma colaboração entre as famílias e
o Estado. O Ministro enfatizou a importância de o Congresso Nacional regulamentar
essa prática, a fim de estabelecer requisitos e mecanismos de avaliação e
fiscalização, como previsto no Art. 208, §3º da Constituição, o qual atribui ao poder
público a responsabilidade de garantir a frequência escolar. Além disso, Moraes
argumentou que o ensino domiciliar pode ser uma escolha legítima das famílias,
especialmente quando fundamentada em motivos religiosos, promovendo assim o
direito fundamental à liberdade religiosa e respeitando os princípios de autonomia e
emancipação.
Portanto, o STF reconheceu a legalidade do homeschooling, desde que haja
regulamentação específica por parte do Congresso Nacional para garantir a qualidade

33
e a fiscalização do ensino domiciliar no Brasil. Essa decisão representa um marco

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significativo na jurisprudência do país em relação a esse tema controverso,


estabelecendo a necessidade de um equilíbrio entre o direito das famílias de
escolherem essa modalidade de ensino e a responsabilidade do Estado em assegurar
que a educação seja ministrada de acordo com padrões adequados e com a devida
supervisão. Além disso, o voto do Ministro Alexandre de Moraes destaca a importância
de reconhecer a autonomia e emancipação das famílias, especialmente quando
fundamentadas em motivos religiosos, promovendo assim o direito fundamental à
liberdade religiosa, dentro dos limites estabelecidos por uma regulamentação
apropriada.

34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente trabalho, o conceito e a prática do ensino domiciliar, conhecido


como homeschooling, foram explorados, com destaque para sua crescente
popularidade global e as diversas motivações subjacentes a essa abordagem
educacional. O homeschooling permite que os pais personalizem o currículo de seus
filhos, flexibilizem horários e atendam a preocupações com segurança e bem-estar.
Contudo, essa prática tem gerado debates sobre a socialização das crianças e a
qualidade do ensino, com regulamentações variando amplamente entre países.
No contexto legal brasileiro, a viabilidade do ensino domiciliar foi analisada,
considerando as bases legais, como a Constituição Federal de 1988, o Código Civil,
o Código Penal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação. Embora esses documentos não façam menção direta ao
homeschooling, estabelecem princípios fundamentais para a educação no Brasil.
Também foram explorados projetos de lei relacionados ao ensino domiciliar em
discussão no país.
Dois casos emblemáticos ocorridos em Anápolis, Goiás, em 2002, e em
Canela, Rio Grande do Sul, em 2015, foram analisados. No primeiro caso, o Supremo
Tribunal de Justiça decidiu contra a família Vilhena Coelho, argumentando que a
Constituição exige a frequência escolar. No segundo caso, o Supremo Tribunal
Federal considerou que o ensino domiciliar não é inconstitucional, mas requer
regulamentação específica pelo Congresso Nacional.
Diante da análise realizada, conclui-se que o objetivo central deste estudo, que
consistia em explorar a viabilidade e a legalidade do ensino domiciliar, também
conhecido como homeschooling, foi alcançado em parte. Ficou evidente que o ensino
domiciliar não é inconstitucional no Brasil, conforme confirmado pelo Supremo
Tribunal Federal (STF) em seu julgamento de 2018. Entretanto, a ausência de uma
legislação específica para regulamentar o homeschooling deixa questões

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fundamentais em aberto.
A Constituição Federal de 1988 e outros dispositivos legais estabelecem
princípios e diretrizes essenciais para a educação no país, mas não abordam
diretamente o homeschooling. Isso resulta em uma lacuna legal que demanda atenção
do poder legislativo para criar uma estrutura regulatória clara e adequada, a fim de

35
garantir que o ensino domiciliar seja praticado com qualidade, responsabilidade e em
conformidade com os princípios educacionais do Brasil.
Portanto, embora o tema do homeschooling tenha sido examinado à luz de sua
constitucionalidade, a ausência de uma lei específica que regule o assunto cria uma
lacuna significativa no sistema educacional brasileiro. Assim, para atingir plenamente
os objetivos propostos para este tema, é necessária a ação legislativa futura que
aborde essa questão complexa e promova a segurança jurídica e a qualidade da
educação no contexto do ensino domiciliar no Brasil. A reflexão sobre esse tópico
destaca a importância de que, embora a legalidade do homeschooling tenha sido
estabelecida, ainda é necessária uma regulamentação específica para atender aos
princípios e responsabilidades constitucionais relacionados à educação no país.

36
REFERÊNCIAS

ALVES, Rubens. Revista da Educação. Edição 134. 2010. Disponível em:


https://revistaensinosuperior.com.br/2011/09/10/homeschooling/. Acesso em: 03 mai.
2023.

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da criança e do adolescente: relevância, limites e possibilidades na ampliação
ao direito à educação. Tese de Doutorado. FEUSP. São Paulo, 2014. Disponível
em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-10112014-111617/pt-
br.php. Acesso em: 02 set. 2023.

ANED - Associação Nacional de Educação Domiciliar. Educação Domiciliar.


Disponível em: https://www.aned.org.br/index.php/conheca-educacao-domiciliar/ed-
no-mundo. Acesso em: 01 set. 2023.

BARBOSA, Luciane. Pesquisa identifica razoes que levam pais a optar por
educação domiciliar, 30 agosto. 2013. Disponível
em: https://www5.usp.br/noticias/sociedade/pesquisa-identifica-razoes-que-levam-
pais-a-optar-por-educacao-domiciliar/. Acesso em: 25 jul. 2023.

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BOTO, Carlota. ?Homeschooling?: a prática de educar em casa. Jornal da USP,


16 março. 2018. Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/homeschooling-a-pratica-
de-educar-em-casa/. Acesso em: 25 jul. 2023.

BOTO, Carlota. Projeto de homeschooling no Brasil coloca um muro entre a


família e o mundo social. Jornal da USP, 25 maio. 2022. Disponível
em: https://jornal.usp.br/atualidades/projeto-de-homeschooling-no-brasil-coloca-um-
muro-entre-a-familia-e-o-mundo-social/. Acesso em: 26 jul. 2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 888.815/RS. DIREITO


CONSTITUCIONAL. EDUCAÇÃO. ENSINO DOMICILIAR. LIBERDADES E
DEVERES DO ESTADO E DA FAMÍLIA. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. Constitui questão constitucional saber se o ensino domiciliar (homeschooling)
pode ser proibido pelo Estado ou viabilizado como meio lícito de cumprimento, pela
família, do dever de prover educação, tal como previsto no art. 205 da CRFB/1988.
2. Repercussão geral reconhecida. Relator: Min. Roberto Barroso, 4 de junho de
2015. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?
incidente=4774632. Acesso em: 10 abr.2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n° 888.815.


Constitucional. Educação. Direito Fundamental relacionado à dignidade da pessoa
humana e à efetividade da cidadania. Dever solidário do Estado e da família na
prestação do Ensino Fundamental. Necessidade de lei formal, editada pelo
Congresso Nacional, para regulamentar o Ensino Domiciliar. Recurso Desprovido.
Relator: Ministro Roberto Barroso. Redator para acórdão: Ministro Alexandre de
Moraes. DJ, 12 de set. de 2018. Disponível em:
https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE888815mAM.PDF.
Acesso em: 05 out.2023.

37

BRASIL. Constituição de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil:


promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em:
05.out.2023.

BRASIL. Decreto-Lei n° 2.848 de 1940. Código Penal: decretado em 07 de


dezembro de 1940. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 05 out.2023.

BRASIL. Lei n° 8.069 de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente: promulgada

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em 13 de julho de 1990. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 05 out.2023.

BRASIL. Lei n° 9.394 de 1996. Lei de diretrizes e bases da educação nacional:


promulgada em 20 de dezembro de 1996. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm#:~:text=L9394&text=Estabelece
%20as%20diretrizes%20e%20bases%20da%20educa%C3%A7%C3%A3o%20nacio
nal.&text=Art.%201%C2%BA%20A%20educa%C3%A7%C3%A3o%20abrange,civil
%20e%20nas%20manifesta%C3%A7%C3%B5es%20culturais. Acesso em: 05
out.2023.

BRASIL. Lei n° 10.406 de 2002. Código Civil: promulgada em 10 de janeiro de


2002. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em:
05.out.2023.

BRASIL. Projeto de Lei 3179/2012. Altera as Leis nºs 9.394, de 20 de dezembro de


1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), e 8.069, de 13 de julho de
1990, (Estatuto da Criança e do Adolescente), para dispor sobre a possibilidade de
oferta domiciliar da educação básica. Brasília: Câmara dos Deputados, 08 dez.
2012. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=534328
. Acesso em: 06.out.2023.

MOREIRA, Alexandre Magno Fernandes. O direito à educação domiciliar. Brasília:


Monergismo, 2017.

VASCONCELOS, Maria Celi Chaves. Educação na casa: perspectivas de


desescolarização ou liberdade de escolha?. Pro-Posições, [S.L.], v. 28, n. 2, p.
122- 140, ago. 2017. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1980-6248-
2015- 0172. Disponível em:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8650331/16630.
Acesso em: 24 jul 2023.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Mandado de Segurança 7407/DF - Acórdão


COAD 132172 - Rel. Min. Francisco Peçanha Martins - Publ. em 21-3-2005.

38
Disponível em: https://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/42/docs/ms-
ensino_fundamental-7407_stj.pdf. Acesso em: 06 out.2023.

SENADO, Agência. Senado aprofunda debate sobre educação domiciliar.


8/12/2022. Disponível em:

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https://copyspider.com.br/ Página 152 de 302

https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/12/senado-aprofundadebate-
sobre-educacao-domiciliar. Acesso em: 07 out.2023.

SENADO, Agência. Senado aprofunda debate sobre educação domiciliar.


8/12/2022. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/12/senado-aprofundadebate-
sobre-educacao-domiciliar. Acesso em: 07 out.2023.

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=================================================================================
Arquivo 1: BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Arquivo 2: https://escolamp.org.br/revistajuridica/19_04.pdf (9327 termos)
Termos comuns: 105
Similaridade: 0,61%
O texto abaixo é o conteúdo do documento BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://escolamp.org.br/revistajuridica/19_04.pdf (9327 termos)

=================================================================================

Cuiabá
2023

Cidade
Ano
BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

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A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO


DOMICILIAR NO BRASIL

Cuiabá
2023

A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO


DOMICILIAR NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à UNIC ?


Universidade de Cuiabá, como requisito parcial para a
obtenção do título de graduado em Direito.
Orientadora: Denise Alcantara

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BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO DOMICILIAR


NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade de Cuiabá - UNIC, como requisito
parcial para a obtenção do título de graduado
em Direito.

BANCA EXAMINADORA

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Cuiabá, dia de mês de 2023

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ARRUDA, Brenno Eduardo. A constitucionalidade do método de ensino domiciliar


no Brasil. 2023. 22 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito)
? Universidade de Cuiabá - UNIC, Cuiabá/MT, 2023.

RESUMO

O objetivo deste trabalho é discutir o ensino domiciliar, também conhecido como


homeschooling, uma prática educacional em que os pais ou responsáveis assumem
a responsabilidade de educar seus filhos em casa, ao invés de matriculá-los em uma
escola tradicional. Esta prática permite uma abordagem de ensino personalizada,
adaptada às necessidades e interesses individuais de cada criança. No entanto, a
viabilidade jurídica do ensino domiciliar no Brasil é um tema de debate. Embora alguns
pais e responsáveis defendam o direito de educar seus filhos em casa, existem
questões legais e regulatórias que precisam ser consideradas. O estudo também
analisará países onde o ensino domiciliar é regulamentado, destacando o papel da
família e do estado na educação domiciliar. Além disso, há diversas decisões judiciais
relacionadas ao ensino domiciliar no Brasil, com alguns casos de grande impacto.
Estas decisões judiciais podem ter um impacto significativo na forma como o ensino
domiciliar é praticado e regulamentado no país. Portanto, é importante compreender
o conceito de ensino domiciliar, analisar sua viabilidade jurídica no contexto brasileiro
e estar ciente das decisões judiciais relacionadas a esta prática educacional.

Palavras-chave: Direito à Educação Domiciliar. Homeschooling. Educação no Lar.


Flexibilidade da Educação Básica.

ARRUDA, Brenno Eduardo. The constitutionality of the home teaching method in


Brazil. 2023. 22 sheets. Completion of Law Course ? University of Cuiabá, Cuiabá
2023.

ABSTRACT
The aim of this work is to discuss homeschooling, also known as home education, an
educational practice in which parents or guardians take on the responsibility of
educating their children at home instead of enrolling them in a traditional school. This
practice allows for a personalized teaching approach, tailored to the individual needs
and interests of each child. However, the legal feasibility of homeschooling in Brazil is
a subject of debate. While some parents and guardians advocate for the right to
educate their children at home, there are legal and regulatory issues that need to be
considered. The study will also examine countries where homeschooling is regulated,
highlighting the roles of both the family and the state in home education. Furthermore,
there have been various legal decisions related to homeschooling in Brazil, with some
cases of significant impact. These legal decisions can have a significant impact on how
homeschooling is practiced and regulated in the country. Therefore, it is important to

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understand the concept of homeschooling, analyze its legal feasibility in the Brazilian
context, and be aware of legal decisions related to this educational practice.

Keywords: Right to Homeschooling. Homeschooling. Home Education. Flexibility of


Basic Education.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 ? Países onde o Homeschooling é legalizado segundo ANED ................ 16

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. Artigo
ANED Associação Nacional de Educação Domiciliar
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
RE Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
USP Universidade de São Paulo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING ......................................................... 10
2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO ................................................................................. 11
2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING..................................................................... 11
2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING .................................... 13
2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING ................................................ 14
2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES............... 15
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL ..................................................................................................................... 18
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO ................................................. 18
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL ....................................................................... 21
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL .................................................................. 22
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA) ............................................................................................. 23
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB) ................. 25
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA ............................................................ 26

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4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO


DOMICILIAR ............................................................................................................. 30
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 34
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36

9
1 INTRODUÇÃO

A prática do ensino domiciliar, também conhecida como homeschooling, tem


se tornado um tema de discussão relevante no contexto brasileiro. Este fenômeno
educacional, em que os pais assumem a responsabilidade de instruir seus filhos em
casa, em vez de enviá-los a uma escola convencional, suscita questionamentos
profundos sobre seus impactos, especialmente no que diz respeito às crianças e
adolescentes.
Este estudo tem como foco central a "Constitucionalidade do Ensino Domiciliar
no Brasil". Trata-se de uma questão que tem sido amplamente debatida ao longo dos
anos, sobretudo pelos pais e responsáveis que buscam a regulamentação desse
modelo educacional para proporcionar uma educação de qualidade dentro de seus
lares.
A relevância desta pesquisa é evidente, uma vez que ela busca lançar luz sobre
a legalidade do ensino domiciliar, oferecendo clareza àqueles que optam por educar
seus filhos em casa, sem temer penalizações estatais. Além disso, busca-se, por meio
de dados e evidências, explorar experiências internacionais em que o ensino
domiciliar é regulamentado, destacando o papel fundamental desempenhado tanto
pela família quanto pelo Estado na educação dos alunos no ambiente familiar.
O estudo também tem o potencial de contribuir para a compreensão desse
tema tanto na comunidade acadêmica quanto na sociedade em geral. Através da
análise doutrinária, legal, jurisdicional e constitucional, bem como da comparação de
dados educacionais, pretende-se lançar luz sobre o papel da família e do Estado no
ensino domiciliar, promovendo um debate informado e enriquecedor.
Para alcançar esses objetivos, este projeto de pesquisa adotará uma
abordagem qualitativa e descritiva, permitindo a análise das características desse
fenômeno educacional e a compreensão dos pressupostos teóricos que o envolvem.
A pesquisa abrangerá a revisão de livros, dissertações, teses, artigos e trabalhos
científicos publicados nos últimos 10 anos, além de buscas em bancos de dados
acadêmicos como o Google Acadêmico e Scielo.

10

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2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING

O ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, é uma prática


que tem ganhado destaque tanto no cenário internacional quanto no contexto
brasileiro. Em todo o mundo, famílias optam por essa modalidade de ensino por uma
variedade de razões, incluindo a busca por um currículo mais personalizado, a
flexibilidade de horários e a preocupação com a segurança e o bem-estar dos filhos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o homeschooling é uma opção legal em todos os
estados, e milhares de famílias escolhem essa abordagem educacional. No entanto,
as regulamentações e atitudes em relação ao ensino domiciliar variam
consideravelmente de país para país.
Nesse contexto, Moreira (2017) esclarece que:

A educação domiciliar é uma modalidade de ensino que não obedece a uma


lógica única, massificada para todas as famílias, por basear-se no princípio
da soberania educacional da família, ou seja, seu fundamento é a liberdade
de cada família determinar como será realizada a educação de seus filhos.
(MOREIRA, 2017, p. 61).

O ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, é uma prática


que tem ganhado destaque tanto no cenário internacional quanto no contexto
brasileiro. Em todo o mundo, famílias optam por essa modalidade de ensino por uma
variedade de razões, incluindo a busca por um currículo mais personalizado, a
flexibilidade de horários e a preocupação com a segurança e o bem-estar dos filhos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o homeschooling é uma opção legal em todos os
estados, e milhares de famílias escolhem essa abordagem educacional. No entanto,
as regulamentações e atitudes em relação ao ensino domiciliar variam
consideravelmente de país para país.
Assim em revista especializada em educação foi publicado que:

Os motivos que levam os pais a optar pelo homeschooling são variados. Há


a insatisfação com as escolas, o temor em relação ao seu ambiente, interno
e externo. Os pais temem pela integridade física dos filhos. O que é
compreensível em ambientes onde existe violência. Há também as situações
em que as crianças e adolescentes são vítimas de bullying. Ir à escola é um
sofrimento diário e silencioso. A provisão legal da possibilidade de estudar
em casa eliminaria esse sofrimento que atinge milhares de crianças e
adolescentes (ALVES, 2011).

11

2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO

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O homeschooling é uma abordagem educacional na qual os pais ou


responsáveis assumem a responsabilidade de instruir seus filhos em casa, em vez de
enviá-los a uma escola tradicional. Essa prática oferece um ambiente de aprendizado
personalizado, no qual o currículo pode ser adaptado de acordo com as necessidades
e interesses individuais de cada criança. O homeschooling não se restringe a um
modelo específico; em vez disso, é uma prática flexível que pode variar amplamente
de família para família.
Na prática do homeschooling, os pais desempenham um papel fundamental na
construção do ambiente educacional de seus filhos. Isso implica não apenas na
seleção de materiais didáticos e na organização do currículo de acordo com as
aptidões e interesses únicos de cada criança, mas também na promoção de uma
atmosfera que estimule a curiosidade, a autodisciplina e a aprendizagem
independente. Além disso, o homeschooling permite uma flexibilidade rara no
processo de ensino, possibilitando a exploração de tópicos interdisciplinares e a
adaptação dos métodos de aprendizado de acordo com o ritmo de desenvolvimento
de cada aluno. Essa abordagem coloca a ênfase não apenas na obtenção de
conhecimentos acadêmicos, mas também no desenvolvimento holístico das crianças,
incluindo aspectos sociais, emocionais e éticos, tornando-se assim uma alternativa
atraente para famílias em busca de uma educação sob medida para suas
necessidades e valores.

2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING

O homeschooling tem uma longa história, datando de séculos atrás, quando as


famílias eram a principal fonte de educação. No entanto, o surgimento da escola
moderna no século XIX relegou o ensino em casa a um segundo plano. No século XX,
o homeschooling ressurgiu, impulsionado por diversos movimentos e mudanças
sociais, incluindo o movimento de contracultura dos anos 1960 e 1970. Desde então,
sua prática tem se expandido e diversificado globalmente.

12
No entanto, vale ressaltar que a formalização e a regulamentação do
homeschooling como uma opção legal de educação são mais recentes em muitos
países, incluindo o Brasil. O surgimento mais notável e o reconhecimento oficial do
homeschooling no Brasil ocorreram nas últimas décadas, principalmente a partir dos
anos 2000, quando começou a ganhar visibilidade e a ser debatido mais amplamente.
Nos Estados Unidos da América (EUA), o pioneiro do homeschooling foi Holt,
considerado o pai da desescolarização. Ele acreditava que a escola tradicional, de
certo modo, coagia as crianças a aprenderem, quando, na verdade, elas o fariam
naturalmente se tivessem a liberdade de seguir seus próprios interesses e acesso a
uma ampla variedade de recursos. A partir de uma perspectiva da educação orgânica,
que valoriza o potencial humano como prioridade no desenvolvimento da criança,

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essa linha de pensamento passou a ser chamada de unschooling e, posteriormente,


homeschooling.
No que tange as pesquisas pautas no princípio de revisão bibliográfica, é
relevante atentar-se ao fato de que:

O termo homeschooling, de língua inglesa, usual nos Estados Unidos da


América, é usado internacionalmente para identificar uma modalidade de
educação específica que é organizada e implementada pelos próprios pais
como alternativa de escolarização de seus filhos em casa e não na escola. É
traduzido, normalmente, para o português, por Educação Domiciliar, em uma
tradução literal da junção da palavra home (casa, ou lar), com a palavra
school (escola). O termo escola no gerúndio (schooling), já sugere a ideia do
próprio modelo de educação, que está carregado de um sentido de ensino
contínuo, no qual os pais se dispõem para o processo ensino aprendizagem
em formas e condições contínuas e cotidianas da vida da criança e da família,
organizadas intencionalmente ou não para o fim educativo, tais como
refeições, passeios, viagens, relacionamentos com a vizinhança, etc
(ANDRADE,2014,p. 19).

O homeschooling ganhou destaque no Brasil durante a pandemia de COVID-


19, que teve início em 2020. Com o fechamento temporário das escolas em muitas
regiões do país como medida de contenção da disseminação do vírus, muitos pais e
responsáveis foram forçados a considerar o ensino em casa como uma alternativa
viável para garantir a continuidade da educação de seus filhos.
Esse período de restrições sanitárias resultou em um aumento significativo no
interesse e na prática do homeschooling no Brasil. Muitas famílias passaram a buscar
soluções educacionais flexíveis e adaptadas às circunstâncias da pandemia,

13
recorrendo ao ensino em casa para manter o aprendizado das crianças durante os
lockdowns e as incertezas associadas à pandemia.
A pandemia também destacou a importância da adaptação e flexibilidade no
homeschooling. Pais e tutores tiveram que se ajustar rapidamente a novos métodos
de ensino online e colaborar mais estreitamente com escolas para acessar materiais
e recursos educacionais. Além disso, o ensino em casa permitiu que algumas famílias
aproveitassem o tempo em casa para explorar tópicos adicionais, incentivando a
aprendizagem autodirigida e a criatividade.
No entanto, é importante observar que o homeschooling durante a pandemia
também trouxe desafios, incluindo a necessidade de equilibrar o trabalho remoto dos
pais com a supervisão do aprendizado das crianças. O debate sobre a
regulamentação e a legalização do homeschooling no Brasil também se intensificou
devido às mudanças trazidas pela pandemia. Portanto, o ensino domiciliar teve um
impacto notável no contexto da educação brasileira durante a crise da COVID-19,

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levantando questões importantes sobre como essa prática deve ser abordada e
regulamentada no país.

2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING

O homeschooling, ou ensino domiciliar, é uma abordagem educacional que se


baseia em princípios e abordagens específicas. Embora haja variações na prática do
homeschooling, alguns princípios e abordagens comuns incluem a individualização da
educação, onde os pais ou tutores adaptam o currículo de acordo com as
necessidades e interesses de cada criança, promovendo um aprendizado
personalizado. Além disso, o homeschooling incentiva a aprendizagem autodirigida,
capacitando as crianças a tomar decisões sobre o que e como aprendem, promovendo
a responsabilidade pela própria educação e o desenvolvimento de habilidades de
aprendizado independentes.
Assim para MOREIRA (2017, p.10), ?pesquisas demonstram que essas
crianças estão bem preparadas em sentido acadêmico e social para participar de uma
democracia liberal?.
Uma das vantagens do homeschooling é a flexibilidade, permitindo que as
famílias adaptem o horário de aprendizado para atender às necessidades individuais,

14
aproveitando oportunidades de aprendizado fora do ambiente escolar tradicional. Isso
é complementado pelo uso de uma ampla variedade de recursos educacionais,
incluindo livros, materiais didáticos, recursos online, visitas a museus e aulas
particulares, que enriquecem a abordagem educacional.
No homeschooling, valoriza-se a educação informal, reconhecendo que as
experiências cotidianas, viagens, atividades ao ar livre e interações com a
comunidade são oportunidades valiosas de aprendizado. Os pais desempenham um
papel fundamental no ensino domiciliar, projetando o currículo, fornecendo instrução
e apoio, e acompanhando o progresso acadêmico e social de seus filhos.
Além disso, o homeschooling coloca ênfase não apenas na educação
acadêmica, mas também no desenvolvimento integral da criança, incluindo aspectos
sociais, emocionais e éticos. Essa abordagem é especialmente atraente para famílias
com crianças com necessidades educacionais especiais, uma vez que permite uma
adaptação mais precisa a essas necessidades.

2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING

Apesar de seus princípios e benefícios percebidos, o homeschooling é objeto


de debates e controvérsias em todo o mundo. Um dos principais pontos de debate diz
respeito à socialização das crianças educadas em casa, uma vez que podem ter
menos oportunidades de interagir com seus pares. Além disso, questões relacionadas
à qualidade da supervisão educacional e à capacidade dos pais de fornecer um ensino

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adequado em todas as disciplinas são frequentemente levantadas. Críticos


argumentam que, sem uma supervisão rigorosa, algumas crianças podem não
receber a educação de qualidade necessária.
De acordo com a pedagoga (Barbosa, 2013), autora do estudo, a prática do
homeschooling:

Segundo os dirigentes das associações canadenses de ensino domiciliar


entrevistados por Luciane, a ausência da escola não leva a uma falta de
socialização. ?Ao contrário, eles argumentam que a instituição escolar leva a
uma socialização restrita, por segregarem as crianças por idade?, diz. ?No
Canadá, as bibliotecas e ginásios esportivos possuem programas voltados
para ?homeschoolers?, e normalmente os pais que ensinam os filhos em casa
são filiados a duas ou mais associações do setor. Também há uma
preocupação em desenvolver a participação social dos filhos nas
comunidades em que vivem, pois consideram que a escola oferece um

15
conceito de cidadania ligado apenas ao conhecimento de fatos históricos e
ao exercício do voto? (BARBOSA, 2013).

Nesse viés, (Boto, 2022), pesquisadora da USP, diz que:

Os estudos sobre o ensino domiciliar têm mostrado que há um vetor religioso


acerca das famílias que escolhem esse tipo de educação para os filhos, pois
não querem que eles tenham contato com teorias educacionais consideradas
ímpias. A professora considera isso grave e diz que é importante que as
crianças aprendam conteúdos que possam contrariar os interesses dos pais,
já que isso faz parte do aprendizado. Ela ainda afirma que é perigoso a família
se colocar como a única instituição na vida de uma criança (BOTO, 2022).

2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES

A prática do homeschooling, ou ensino em casa, é regulamentada de maneira


diversa ao redor do mundo. Cada país estabelece suas próprias diretrizes para pais
que optam por educar seus filhos em casa, variando desde o reconhecimento legal e
regulamentação específica até proibições rigorosas. Para entender melhor essas
abordagens, examinaremos como alguns países de referência, como os Estados
Unidos, Canadá, Alemanha e Austrália, lidam com a regulamentação do
homeschooling e os resultados que obtiveram.
Nos Estados Unidos, o homeschooling é legal e praticado em todo o país, mas
os requisitos e regulamentos variam de estado para estado. Alguns estados exigem
notificação prévia às autoridades educacionais locais, enquanto outros impõem testes
padronizados ou avaliações regulares do progresso educacional. Por outro lado, na

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Alemanha, o homeschooling é proibido pela lei, com poucas exceções, devido às


preocupações do governo sobre a integração social das crianças. No Canadá, as
províncias têm abordagens distintas, algumas exigindo exames oficiais de avaliação,
enquanto outras pedem apenas notificação às autoridades de ensino local. A
diversidade de regulamentação também é vista na Austrália, com inspeções
regulares, avaliações de progresso e diretrizes curriculares específicas.
No que tange ao homeschooling no Canadá, a pedagoga (Barbosa, 2013)
observou como é posto em prática o ensino domiciliar:

A pedagoga realizou parte do estudo no Canadá, país onde a prática do


?homeschooling? é permitida. ?A regulamentação varia conforme as
províncias, algumas exigem a prestação dos exames de avaliação oficiais,

16
outras pedem apenas que a diretoria de ensino local seja comunicada?, relata.
?Ao entrevistar as famílias canadenses, percebe-se que embora a motivação
religiosa esteja muito presente, os pais também optam pelo ensino em casa
pela questão de custos (famílias mais numerosas) ou por terem filhos com
deficiência, entre outras razões? (BARBOSA, 2013).

A diversidade de abordagens à regulamentação do homeschooling ao redor do


mundo reflete a complexidade das questões envolvidas. Nos Estados Unidos, a
abordagem descentralizada permite flexibilidade para os pais, mas também pode
resultar em disparidades significativas na qualidade da educação em casa,
dependendo do estado em que se encontram. Por outro lado, na Alemanha, a
proibição do homeschooling é uma tentativa de garantir a socialização e a educação
uniforme das crianças, mas levanta questões sobre os direitos dos pais de decidirem
como educar seus filhos. No Canadá e na Austrália, a variedade de regulamentações
indica uma tentativa de equilibrar a autonomia dos pais com a necessidade de garantir
que as crianças recebam uma educação adequada.
Nesse ensejo, a Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED), que é
uma associação dos pais que defendem os estudos em casa, divulgou dados dos
países onde a prática do hommescooling é legal, conforme imagem abaixo:

Figura 1 - Legalidade do ensino doméstico por país.

PAÌSES: África África do Sul, Oceania Austrália, Nova Zelândia. Ásia Filipinas, Japão, América Norte
EUA, Canadá, Sul Colômbia, Chile, Equador, Paraguai. Europa Portugal, França, Itália, Reino Unido,
Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria, Finlândia, Noruega, Rússia.

Fonte: Mapa e quadro divulgados pela ANED (2021).

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Em vários países europeus, como França e Bélgica, o homeschooling é


estritamente regulamentado e desencorajado, com ênfase na importância da
socialização e da educação em escolas reconhecidas. No entanto, na Suécia, o
homeschooling é permitido sob condições específicas, desde que os pais sigam um
currículo nacional. A regulamentação do homeschooling ao redor do mundo reflete
uma variedade de abordagens culturais, educacionais e políticas, com o objetivo de
equilibrar o direito dos pais de educar seus filhos em casa com o interesse público em
garantir uma educação de qualidade e a socialização adequada das crianças.
De acordo com a pesquisadora (Boto,2018):

Nos Estados Unidos, país que possui hoje mais de 2 milhões de crianças em
idade escolar fora da escola, um dos principais motivos para a prática
do homeschooling é religioso. São as minorias religiosas, bem como minorias
étnicas que, de acordo com os estudos sobre o assunto, aderem a essa nova
modalidade de educação. Entre 1999 e 2010 ocorreu um crescimento
superior a 100% e, para o conjunto dos Estados norte-americanos, há um
contingente de quase 4% de crianças que hoje não frequentam mais a escola.
Na Rússia, entre 2008 e 2012, teria ocorrido ampliação de 900% nas práticas
de homeschooling. Na Alemanha, país que proibiu a prática em seu território,
há inúmeros casos de casais que foram multados e até presos por não
enviarem os filhos à escola (BOTO, 2018).

É evidente que a regulamentação do homeschooling é uma questão complexa


que envolve o equilíbrio entre os direitos individuais dos pais e o interesse público na
educação e socialização das crianças. O debate sobre como melhor abordar essa
questão continua a evoluir à medida que os países buscam encontrar um equilíbrio
entre a liberdade de escolha educacional dos pais e a responsabilidade do Estado de
garantir que todas as crianças recebam uma educação de qualidade e sejam
integradas na sociedade de maneira adequada.

18
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL

No cenário brasileiro, a análise da viabilidade jurídica do estudo domiciliar


requer um entendimento abrangente do contexto legal e regulatório que rege o
sistema educacional. A Constituição Federal de 1988 estabelece princípios essenciais
que fundamentam a educação no Brasil, enfatizando a responsabilidade
compartilhada entre a família, a sociedade e o Estado na proteção dos direitos das

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crianças e adolescentes. O Código Civil reforça o papel dos pais na criação e


educação de seus filhos, e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece
diretrizes específicas para a educação e proteção de menores. Paralelamente, a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) define os princípios gerais da educação
brasileira. Além disso, existem projetos de lei que podem definir o estudo em casa no
Brasil nas mãos dos deputados.
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO
A Constituição Federal de 1988, um marco fundamental na legislação brasileira,
estabelece princípios que guiam a educação no país e atribui responsabilidades tanto
ao Estado quanto à sociedade e às famílias. O Artigo 227 da Constituição Federal de
1988 é um dos pontos centrais nesse contexto:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,


ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL,1988).

Este artigo estabelece que é um compromisso da família, sociedade e Estado


garantir, de forma prioritária, o direito à vida, saúde, alimentação, educação, lazer,
profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e
comunitária das crianças, adolescentes e jovens, além de protegê-los contra qualquer
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
O Artigo 227 da Constituição Federal coloca as crianças, adolescentes e jovens
no centro das preocupações da sociedade e do Estado, enfatizando a necessidade
de criar um ambiente seguro e saudável para o seu desenvolvimento. Ele destaca a

19
educação como um dos pilares fundamentais para o crescimento pleno desses
indivíduos, enfatizando a necessidade de protegê-los contra ameaças e violações de
seus direitos, conforme previsto na Constituição.
Na conjuntura atual, o Artigo 227 mantém sua relevância como diretriz
essencial para a formulação de políticas educacionais e sociais no Brasil. No entanto,
desafios persistentes, como a desigualdade no acesso à educação e a violação dos
direitos das crianças, exigem esforços contínuos para garantir a implementação eficaz
das disposições desse artigo.
O compromisso da família, sociedade e Estado em proporcionar um ambiente
favorável ao crescimento e desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens é
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Portanto, é
crucial que todos os esforços sejam direcionados para garantir o respeito a esses
direitos e para assegurar que todos os jovens tenham igualdade de oportunidades
para receber uma educação de qualidade, conforme preconizado pelo Artigo 227 da

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Constituição Federal de 1988. Em resumo, o Artigo 227 continua a servir como


alicerce para a proteção e promoção dos direitos da juventude, sendo essencial para
garantir um futuro mais promissor às gerações vindouras.
A Constituição Federal de 1988 também estabelece, no Artigo 208, os deveres
do Estado em relação à educação no Brasil. Esses deveres incluem:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a


garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)
anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a
ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos
de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por
meio de programas suplementares de material didáticoescolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009)
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua
oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

20
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela freqüência à escola (BRASIL,1988).

Essas responsabilidades do Estado refletem um compromisso com a promoção


de uma educação acessível, inclusiva e de qualidade para todos os cidadãos
brasileiros. No entanto, o cumprimento desses deveres enfrenta desafios constantes,
principalmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, com
significativas desigualdades regionais.
O pensamento subjacente a esse contexto destaca a importância da educação
como um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico da nação.
Garantir igualdade de oportunidades educacionais para todos é essencial para
promover a justiça social e formar cidadãos capacitados e engajados. Portanto, a

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implementação eficaz desses deveres estabelecidos no Artigo 208 é fundamental para


alcançar esses objetivos e construir uma sociedade mais equitativa e próspera.
Além disso, vale ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição Federal:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho (BRASIL,1988).

O Artigo 205 da Constituição Federal estabelece a educação como um direito


universal e um dever compartilhado entre o Estado e a família, sendo promovido e
incentivado com a colaboração da sociedade. A educação, de acordo com este
dispositivo, tem um propósito que vai além da mera transmissão de conhecimento. Ela
busca o completo desenvolvimento da pessoa, preparando-a para o exercício pleno
da cidadania e qualificando-a para o mercado de trabalho.
Entretanto, a interpretação do Artigo 205 não é unânime. Alguns argumentam
que a redação atual desse artigo é vaga e que a finalidade educacional parece
priorizar a formação de indivíduos funcionalmente integrados na estrutura social em
detrimento do desenvolvimento integral do ser humano. Nesse contexto, questiona-se
se a educação no Brasil, conforme delineada na Constituição, atende efetivamente às
necessidades de desenvolvimento individual ou se foca excessivamente na
preparação para o mercado de trabalho em detrimento do crescimento pessoal e da
promoção da busca pelo conhecimento.

21
Essa discussão levanta questões fundamentais sobre a finalidade da educação
e destaca a necessidade de repensar o sistema educacional para garantir que ele não
só atenda às demandas econômicas, mas também promova o crescimento pessoal,
o aprendizado contínuo e a realização individual. A revisão dos currículos, métodos
de ensino e políticas educacionais pode ser necessária para promover uma educação
mais abrangente e significativa, em consonância com o Artigo 205 da Constituição
Federal.
Ademais, é importante ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição
Federal como um alicerce legal para direcionar a educação no Brasil e garantir que
ela cumpra seu papel essencial no desenvolvimento das pessoas, na formação de
cidadãos ativos e na preparação para o mercado de trabalho.
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL
O Código Civil brasileiro, em seu Artigo 1.634, regulamenta o poder de família,
estabelecendo os seguintes termos:

Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos:

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I - dirigir-lhes a criação e a educação; (BRASIL,2002).

Esse dispositivo legal é o cerne do múnus familiar em relação à obrigação


jurídica de fornecer educação e criação para os seus infantes.
O Código Civil também serve como referência relevante para compreender a
educação domiciliar, um tema que tem gerado debates significativos nos últimos anos.
Embora o Código Civil não faça menção direta à educação em casa, ele estabelece
os deveres e poderes dos pais em relação à criação e educação dos filhos,
destacando a importância da família nesse processo.
No entanto, a educação domiciliar levanta questões específicas em relação à
sua legalidade e regulamentação, que podem variar de acordo com a legislação
educacional vigente. Isso torna essencial que os pais compreendam as leis de
educação em seu país e busquem aconselhamento adequado caso desejem optar
pela educação em casa.

22
O debate sobre a educação domiciliar aborda questões relativas à qualidade
da educação, à socialização das crianças e à capacidade dos pais de proporcionarem
um ambiente educacional adequado em casa. Portanto, a interação entre os direitos
dos pais e o interesse público na formação educacional das crianças é complexa e
deve ser tratada em conformidade com as normas legais aplicáveis.
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL
O Artigo 246 do Código Penal Brasileiro destaca-se como uma peça legislativa
de grande importância no âmbito educacional e jurídico, abordando o dever dos pais
ou responsáveis de providenciar a instrução primária para seus filhos em idade
escolar. Simultaneamente, esse dispositivo legal está relacionado ao estudo
domiciliar, conforme estipula o referido artigo: "Deixar, sem justa causa, de prover à
instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um
mês, ou multa" (BRASIL, 1940).
Este artigo normativo estabelece que a omissão injustificada em fornecer a
instrução primária a um filho em idade escolar configura uma infração sujeita a
penalidades específicas. Tais penalidades incluem detenção com duração de quinze
dias a um mês, bem como a imposição de multa.
A relevância do Artigo 246 reside na ênfase dada à obrigação da educação
primária, um direito fundamental da criança garantido pela legislação brasileira. A
garantia do acesso à educação é crucial para o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos essenciais ao longo da vida. Além disso, a educação desempenha um
papel vital na formação do cidadão e na promoção do bem-estar social.
Nesse contexto, o Artigo 246 do Código Penal visa assegurar que os pais ou
responsáveis cumpram o dever legal de proporcionar a instrução primária a seus filhos
em idade escolar, contribuindo para a formação educacional e cidadã das futuras
gerações. Ao mesmo tempo, este artigo também suscita questões relacionadas ao
estudo domiciliar. Quando realizado em conformidade com as normas e

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regulamentações estabelecidas, o estudo domiciliar permite que os pais assumam um


papel ativo na educação de seus filhos, desde que cumpram os requisitos legais e
assegurem a qualidade da educação em ambiente domiciliar. Isso demonstra o
compromisso do sistema legal brasileiro em conciliar o direito dos pais de escolherem

23
a modalidade educacional de seus filhos com a necessidade de garantir a adequada
formação e proteção das futuras gerações.
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece diretrizes
específicas em relação à educação das crianças e adolescentes. Ele alinha-se ao
entendimento conforme expresso no ?Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação
de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino? (BRASIL, 1990).
Além disso, o Artigo 4º do ECA menciona o dever da família em relação ao
menor, conforme previsto no artigo, que estabelece:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder


público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1990).

Essa obrigação legal encontra respaldo nos princípios estabelecidos no Artigo


53 do ECA, que determina que crianças e adolescentes têm o direito à educação,
visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho. Além disso, o referido artigo prevê seus
direitos, como evidenciado no próprio texto:

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno


desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias
escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; (BRASIL,
1990).

O Artigo 54, por sua vez, estabelece o dever do Estado de garantir o direito à
educação das crianças e adolescentes, como expresso no texto a seguir:

Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:

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I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não


tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

24
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
(Revogado)
IV ? atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos
de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua
oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável,
pela freqüência à escola. (BRASIL, 1990).

Portanto, de acordo com seu §1º, é de responsabilidade do Estado efetivar os


direitos relacionados à educação, assegurando a igualdade de condições para o
acesso e a permanência na escola.
O pensamento subjacente a essas disposições do ECA enfatiza a importância
da educação para o desenvolvimento integral da criança e do adolescente,
preparando-os para uma participação ativa na sociedade e qualificando-os para
futuras oportunidades de trabalho. O ECA coloca a responsabilidade sobre os pais e
o Estado para garantir que a educação seja acessível e eficaz para as crianças e
adolescentes, de acordo com o Artigo 1º do ECA, que preconiza a proteção integral
como princípio norteador.
Entretanto, é importante ressaltar que, assim como no caso da Constituição
Federal, o ECA não faz menção direta à educação domiciliar (homeschooling).
Portanto, a prática da educação em casa levanta questões sobre a conformidade com
essas leis e regulamentos e deve ser considerada cuidadosamente à luz do contexto
legal em vigor. O debate sobre a educação domiciliar gira em torno das necessidades
das crianças, da qualidade da educação e da capacidade dos pais de fornecer um
ambiente educacional apropriado em casa, ao mesmo tempo em que respeitam as

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leis e regulamentações existentes.

25
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabelece princípios
essenciais relacionados à educação no Brasil segundo o Artigo 2º destaca que:

Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de


liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1996).

Assim, verifica-se que a responsabilidade pela educação é compartilhada entre


a família e o Estado, e deve ser baseada nos princípios da liberdade e solidariedade
humana. Além disso, a educação deve ter como finalidade o pleno desenvolvimento
do educando, preparando-o para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.
Adicionalmente, o Artigo 6º da mesma lei impõem que ?É dever dos pais ou
responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4
(quatro) anos de idade? (BRASIL, 1990). Essa disposição, estabelecida no Artigo 6º,
reforça a necessidade de que os pais ou responsáveis efetuem a matrícula das
crianças na educação básica a partir dos 4 anos de idade.
Esse conjunto de responsabilidades do Estado reflete o compromisso com a
promoção de uma educação acessível, inclusiva e de qualidade para todos os
cidadãos brasileiros. No entanto, o cumprimento desses deveres é um desafio
constante, especialmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, com
desigualdades regionais significativas.
O pensamento subjacente a esse contexto destaca a importância da educação
como um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico de uma nação.
Garantir que todos tenham igualdade de oportunidades educacionais é essencial para
promover a justiça social e a formação de cidadãos capacitados e engajados.
Portanto, a implementação eficaz desses deveres está também estabelecida no Artigo
208 da Constituição Federal, que diz que é fundamental para alcançar esses objetivos
é construir uma sociedade mais equitativa e próspera

26
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA
O tema da educação domiciliar tem sido objeto de intensos debates no âmbito
legislativo brasileiro, com vários projetos de lei apresentados ao longo dos anos.
Essas propostas visam redefinir a dinâmica educacional, distribuindo
responsabilidades entre o Estado e as famílias, a fim de permitir o ensino em casa.
Para que isso ocorra, é necessária uma ativa movimentação do Poder

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Legislativo, pois este é o órgão responsável pela fiscalização e criação de leis.


Atualmente, não existe nenhuma lei que valide a educação domiciliar no Brasil,
embora tenham sido apresentados diversos projetos de lei sobre o tema ao longo do
tempo.
Em um breve passeio pela história legislativa, um desses projetos que merece
destaque é o Projeto de Lei nº 6001/2001, de autoria de Ricardo Izar. Este projeto
visava atribuir aos pais a responsabilidade pela educação de seus filhos, dispensando
os alunos que comprovassem educação em casa da obrigatoriedade de frequentar
uma escola e cumprir uma carga horária mínima anual. Nas justificativas
apresentadas, Izar argumentou que deixar o Estado como único provedor de
educação era um abuso de poder e que forçar as crianças a frequentar a escola as
expunha diariamente a drogas e violência, além de uma orientação pedagógica que
poderia ser contrária às convicções filosóficas e religiosas de algumas famílias.
No entanto, após anos de tramitação, esse projeto foi rejeitado e arquivado em
2007. A justificativa para a rejeição foi que a proposta era elitista, já que apenas
famílias com formação educacional adequada e tempo disponível poderiam desfrutar
desse direito, excluindo grande parte da população com menor poder aquisitivo.
Outros projetos de lei seguiram o Projeto de Lei nº 6001/2001, como o Projeto
de Lei 4122/2008 e o Projeto de Lei 3518/2008, que propunham alterações na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
No entanto, essas propostas também foram rejeitadas, argumentando que elas
contrariavam a legislação existente e que a eficácia do ensino domiciliar não havia
sido devidamente demonstrada. A Comissão afirmou que a experiência e a vivência
cotidiana nas escolas eram fundamentais para a aprendizagem e o desenvolvimento
das crianças.

27
Em 2012, o deputado Lincoln Portela elaborou o Projeto de Lei 3179, buscando
acrescentar o ensino domiciliar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As modificações propostas e outros projetos relacionados a ele serão abordados a
seguir.
O Projeto de Lei 3261 de 2015, de autoria do Deputado Eduardo Bolsonaro,
busca autorizar a educação domiciliar, introduzindo várias alterações na Lei nº 9.394
de 1996 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em junho de 2018, o deputado Alan Rick apresentou o Projeto de Lei
10185/2018, propondo alterações no artigo 5º da Lei nº 9.394 de 1996 para especificar
que o dever do Poder Público de garantir a frequência à escola pode ser substituído
pelo zelo no desenvolvimento adequado no caso da educação domiciliar.
O Projeto de Lei 3159, de 2019, de autoria da Deputada Natália Bonavides,
busca acrescentar ao artigo 5º da Lei nº 9394 de 1996 um parágrafo afirmando que a
educação domiciliar não pode substituir a frequência à escola.
No mesmo ano, foi apresentado o Projeto de Lei 2401/2019, de autoria do
Poder Executivo, que propõe a regulamentação da educação básica domiciliar em

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uma lei isolada. Suas disposições são mais detalhadas do que as propostas dos
projetos de lei mencionados anteriormente. O projeto torna explícito que a educação
domiciliar é um direito de escolha dos pais e responsáveis, assegura a igualdade dos
estudantes dessa modalidade com os da educação presencial e estabelece requisitos,
como o registro da educação domiciliar em uma plataforma virtual do Ministério da
Educação e a avaliação anual dos alunos de acordo com a Base Nacional Comum
Curricular.
Além disso, o projeto proíbe a educação domiciliar para pais ou responsáveis
que cumpram penas por crimes previstos em várias normas legais e prevê a perda do
direito de optar pela educação domiciliar no caso de reprovação em duas ou três
oportunidades ou de falta injustificada na avaliação anual.
Há também ajustes propostos para a Lei 9.394 de 1996 e o Estatuto da Criança
e do Adolescente para torná-los compatíveis com a educação domiciliar.
Os projetos de Lei 5852/2019 e 6188/2019, propostos pelos deputados Pastor
Eurico e Geninho Zuliani, pretendem inserir na Lei 9.394 de 1996 a possibilidade de a
Educação Básica ser ministrada por tutores autônomos em locais diferentes das
instituições oficiais de ensino. O segundo projeto busca autorizar a educação

28
domiciliar apenas quando for constatada a inadequação ou impossibilidade de
inclusão do estudante na rede regular de ensino, permitindo ainda o acesso a espaços
e equipamentos públicos.
Esses projetos apensados ao Projeto de Lei 3179/2012 demonstram a
abundância de discussões em torno da educação domiciliar e sua importância no
ordenamento jurídico.
Considerando as contribuições desses projetos de lei, a deputada Luísa
Canziani apresentou um Substitutivo ao Projeto de Lei 3179 de 2012 e suas emendas.
Ela sugeriu apenas a rejeição do Projeto de Lei 3159 de 2019.
Ao Substitutivo foram apresentadas 15 emendas de Plenário, sendo aprovada
apenas a emenda de plenário nº 8, que busca acrescentar um parágrafo único ao
artigo 246 do Código Penal, estabelecendo que os pais ou responsáveis que optam
pela educação domiciliar não incorrem no crime de abandono intelectual de seus
filhos. Quanto às demais emendas, foi sugerida a rejeição.
A redação final do Projeto de Lei 3179/2012 inclui no escopo da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional a possibilidade de oferta domiciliar da
educação básica. O projeto prevê obrigações para os pais, como a matrícula anual do
estudante em uma instituição de ensino credenciada, o cumprimento dos conteúdos
curriculares de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, a realização de
atividades pedagógicas, o registro periódico dessas atividades com envio de relatórios
trimestrais, o acompanhamento do desenvolvimento do estudante por um docente
tutor da instituição de ensino, avaliações anuais de aprendizagem e a participação em
exames nacionais, estaduais ou municipais, se selecionados.
O projeto também prevê a perda do direito à opção pela educação domiciliar

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nas hipóteses de insuficiência de progresso do educando, reprovações ou faltas


injustificadas nas avaliações. Além disso, estabelece a proibição da educação
domiciliar para pais ou responsáveis que cumpram penas por crimes específicos.
Também é importante mencionar o Projeto de Lei 3262/2019, que propõe
alterações no Código Penal para que a educação domiciliar não seja considerada um
crime de abandono intelectual. Esta proposta se originou devido a casos de famílias
que enfrentaram perseguições legais devido à educação domiciliar.
Assim, a educação domiciliar no Brasil é um tema de debate contínuo no
cenário legislativo, com diversos projetos de lei apresentados ao longo dos anos,

29
refletindo as complexidades em torno do homeschooling e suas implicações no
sistema educacional brasileiro. O Projeto de Lei 3179/2012 foi aprovado pela Câmara
dos Deputados em 19 de maio de 2022 e atualmente encontra-se em análise no
Senado Federal como Projeto de Lei Nº 1.388/2022, aguardando a próxima fase do
processo legislativo na Comissão de Educação do Senado, tendo o senador Flávio
Arns como relator.

30
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR

O assunto do ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, tem


sido objeto de análise pelo Poder Judiciário no contexto dos Direitos Fundamentais e
Individuais. Dois casos de grande repercussão social se destacam, ocorridos nas
cidades de Anápolis, estado de Goiás, e Canela, no Rio Grande do Sul.
O primeiro ocorreu em 2002, o caso emblemático da família Vilhena Coelho,
residente em Anápolis, Goiás, ocorrido em 2002. Nesse episódio, os pais desta
família, representando seus três filhos menores, impetraram o Mandado de Segurança
n° 7.407, datado de 24 de abril de 2002, junto ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
O propósito deste recurso constitucional era a reversão do ato do Ministério da
Educação (MEC), que havia homologado o Parecer Consultivo n° 34 de 04 de
dezembro de 2000 da Câmara de Ensino Básico (CEB) do Conselho Nacional de
Educação (CNE). Este parecer negou a possibilidade da educação domiciliar, apesar
da demonstração de que tal modalidade vinha ocorrendo de forma eficiente, com
avaliações sendo realizadas.
No cerne das decisões administrativas que desencadearam esse episódio está
a ideia de que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996 e
a Constituição Federal de 1988 são explícitas quanto à obrigatoriedade do ensino
escolar, bem como da frequência dos alunos devidamente matriculados, de acordo
com o mencionado parecer.

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O relator do processo no STJ, o Ministro Francisco Peçanha Martins, votou em


desfavor da pretensão da família, argumentando que não existia direito líquido e certo
na solicitação e que o MEC não havia agido com abuso ao aprovar o parecer do
CEB/CNE. Para ele, os dispositivos constitucionais determinavam que o ensino
escolar era obrigatório, assim como a frequência dos alunos matriculados em escolas
regulares.
Outros ministros que compartilharam desse entendimento no STJ foram
Humberto Gomes de Barros, Eliana Calmon, Francisco Falcão, Laurita Vaz e Garcia
Vieira. Os votos vencidos foram dos Ministros Franciulli Netto e Paulo Medina.
Para o Ministro Franciulli Netto, a educação deveria ser analisada à luz do
pluralismo do Estado Democrático de Direito, permitindo o direito à liberdade de
escolher outra modalidade de ensino. Ele observou que as crianças demonstraram

31
um notável desempenho, estando um ano à frente de suas idades, o que, em sua
visão, habilitava os pais a assumir a função de garantir diretamente a educação formal.
Para ele, a frequência escolar era um fator secundário, e a educação transcenderia a
mera transmissão de informações, sendo a família a principal responsável pela
formação, não apenas intelectual, mas também cidadã e social das crianças e
adolescentes.
O Ministro Paulo Medina também enfatizou as liberdades constitucionais
relacionadas à educação e o pluralismo de ideias, bem como a responsabilidade do
Estado em fiscalizar as atividades da família para garantir a efetivação dos fins
constitucionais relacionados à educação.
No final, os pais tiveram que acatar a decisão do STJ e realizar a matrícula de
seus filhos em uma escola regular.
O segundo caso ocorreu em meados de 2015, quando chegou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança impetrado pelos pais de uma
criança de onze anos, que tiveram sua solicitação de educação domiciliar negada pelo
órgão municipal e, posteriormente, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A
parte recorrente alegou violação de diversos artigos da Constituição, argumentando
que a educação não se restringe à instrução formal em uma instituição convencional
de ensino, especialmente diante da diversidade de ideias e concepções pedagógicas,
bem como dos avanços tecnológicos.
No seu pronunciamento, o Ministro Luís Roberto Barroso destacou o ensino
domiciliar como um fenômeno emergente em diversos países, incluindo o Brasil, com
um crescente número de adeptos, e a possibilidade de redução dos gastos públicos
com sua adoção. O reconhecimento da natureza constitucional do debate sobre a
capacidade das famílias de prover educação levou o Ministro a enfatizar a importância
de definir a relação entre o Estado e a família na educação de crianças e
adolescentes, bem como os limites da autonomia privada em relação às imposições
estatais.
Barroso concluiu que a improcedência do pedido baseou-se na falta de uma

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norma regulamentar, não na inconstitucionalidade do homeschooling. Além disso,


salientou que, como se tratava de uma questão de repercussão geral, a decisão tinha
efeito erga omnes, aplicável a todas as partes envolvidas na lide, sendo uma decisão
histórica e de extrema importância por reconhecer a colaboração entre o Estado e a

32
família na prestação do ensino fundamental e pela legalização do homeschooling no
Brasil.
Posteriormente, em 2018, o processo foi colocado em pauta e, após o
julgamento, a Corte determinou que o ensino domiciliar não é um meio lícito para
cumprir o dever de prover educação a crianças e adolescentes, embora não tenha
sido considerado inconstitucional. A maioria dos ministros votou pelo desprovimento
do recurso extraordinário, uma vez que não havia uma lei que regulamentasse a
prática.
O Ministro Luís Roberto Barroso, ao fundamentar seu voto, destacou que a
Constituição Federal não proíbe o homeschooling e que o ensino domiciliar é
compatível com o ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a maioria dos ministros
argumentou que é necessária uma regulamentação prévia pelo Congresso Nacional,
estabelecendo requisitos e mecanismos de avaliação e fiscalização, para atender ao
disposto no Art. 208, §3º da Constituição, que atribui ao poder público o dever de zelar
pela frequência à escola. Esta decisão do Supremo Tribunal Federal, portanto,
representa um marco importante na jurisprudência brasileira em relação a este
assunto controverso.
No seu voto, o Ministro Alexandre de Moraes apresentou uma perspectiva
fundamental no julgamento do ensino domiciliar, sustentando que a prática não é
inconstitucional, desde que haja uma regulamentação prévia. Ele destacou que o
homeschooling de natureza utilitarista, que segue o conteúdo do ensino escolar e
permite fiscalização e avaliações periódicas, é compatível com a Constituição,
contudo, ressaltou que essa modalidade requer uma colaboração entre as famílias e
o Estado. O Ministro enfatizou a importância de o Congresso Nacional regulamentar
essa prática, a fim de estabelecer requisitos e mecanismos de avaliação e
fiscalização, como previsto no Art. 208, §3º da Constituição, o qual atribui ao poder
público a responsabilidade de garantir a frequência escolar. Além disso, Moraes
argumentou que o ensino domiciliar pode ser uma escolha legítima das famílias,
especialmente quando fundamentada em motivos religiosos, promovendo assim o
direito fundamental à liberdade religiosa e respeitando os princípios de autonomia e
emancipação.
Portanto, o STF reconheceu a legalidade do homeschooling, desde que haja
regulamentação específica por parte do Congresso Nacional para garantir a qualidade

33
e a fiscalização do ensino domiciliar no Brasil. Essa decisão representa um marco

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significativo na jurisprudência do país em relação a esse tema controverso,


estabelecendo a necessidade de um equilíbrio entre o direito das famílias de
escolherem essa modalidade de ensino e a responsabilidade do Estado em assegurar
que a educação seja ministrada de acordo com padrões adequados e com a devida
supervisão. Além disso, o voto do Ministro Alexandre de Moraes destaca a importância
de reconhecer a autonomia e emancipação das famílias, especialmente quando
fundamentadas em motivos religiosos, promovendo assim o direito fundamental à
liberdade religiosa, dentro dos limites estabelecidos por uma regulamentação
apropriada.

34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente trabalho, o conceito e a prática do ensino domiciliar, conhecido


como homeschooling, foram explorados, com destaque para sua crescente
popularidade global e as diversas motivações subjacentes a essa abordagem
educacional. O homeschooling permite que os pais personalizem o currículo de seus
filhos, flexibilizem horários e atendam a preocupações com segurança e bem-estar.
Contudo, essa prática tem gerado debates sobre a socialização das crianças e a
qualidade do ensino, com regulamentações variando amplamente entre países.
No contexto legal brasileiro, a viabilidade do ensino domiciliar foi analisada,
considerando as bases legais, como a Constituição Federal de 1988, o Código Civil,
o Código Penal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação. Embora esses documentos não façam menção direta ao
homeschooling, estabelecem princípios fundamentais para a educação no Brasil.
Também foram explorados projetos de lei relacionados ao ensino domiciliar em
discussão no país.
Dois casos emblemáticos ocorridos em Anápolis, Goiás, em 2002, e em
Canela, Rio Grande do Sul, em 2015, foram analisados. No primeiro caso, o Supremo
Tribunal de Justiça decidiu contra a família Vilhena Coelho, argumentando que a
Constituição exige a frequência escolar. No segundo caso, o Supremo Tribunal
Federal considerou que o ensino domiciliar não é inconstitucional, mas requer
regulamentação específica pelo Congresso Nacional.
Diante da análise realizada, conclui-se que o objetivo central deste estudo, que
consistia em explorar a viabilidade e a legalidade do ensino domiciliar, também
conhecido como homeschooling, foi alcançado em parte. Ficou evidente que o ensino
domiciliar não é inconstitucional no Brasil, conforme confirmado pelo Supremo
Tribunal Federal (STF) em seu julgamento de 2018. Entretanto, a ausência de uma
legislação específica para regulamentar o homeschooling deixa questões

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fundamentais em aberto.
A Constituição Federal de 1988 e outros dispositivos legais estabelecem
princípios e diretrizes essenciais para a educação no país, mas não abordam
diretamente o homeschooling. Isso resulta em uma lacuna legal que demanda atenção
do poder legislativo para criar uma estrutura regulatória clara e adequada, a fim de

35
garantir que o ensino domiciliar seja praticado com qualidade, responsabilidade e em
conformidade com os princípios educacionais do Brasil.
Portanto, embora o tema do homeschooling tenha sido examinado à luz de sua
constitucionalidade, a ausência de uma lei específica que regule o assunto cria uma
lacuna significativa no sistema educacional brasileiro. Assim, para atingir plenamente
os objetivos propostos para este tema, é necessária a ação legislativa futura que
aborde essa questão complexa e promova a segurança jurídica e a qualidade da
educação no contexto do ensino domiciliar no Brasil. A reflexão sobre esse tópico
destaca a importância de que, embora a legalidade do homeschooling tenha sido
estabelecida, ainda é necessária uma regulamentação específica para atender aos
princípios e responsabilidades constitucionais relacionados à educação no país.

36
REFERÊNCIAS

ALVES, Rubens. Revista da Educação. Edição 134. 2010. Disponível em:


https://revistaensinosuperior.com.br/2011/09/10/homeschooling/. Acesso em: 03 mai.
2023.

ANDRADE, Édison Prado. A educação familiar desescolarizada como um direito


da criança e do adolescente: relevância, limites e possibilidades na ampliação
ao direito à educação. Tese de Doutorado. FEUSP. São Paulo, 2014. Disponível
em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-10112014-111617/pt-
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ANED - Associação Nacional de Educação Domiciliar. Educação Domiciliar.


Disponível em: https://www.aned.org.br/index.php/conheca-educacao-domiciliar/ed-
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BARBOSA, Luciane. Pesquisa identifica razoes que levam pais a optar por
educação domiciliar, 30 agosto. 2013. Disponível
em: https://www5.usp.br/noticias/sociedade/pesquisa-identifica-razoes-que-levam-
pais-a-optar-por-educacao-domiciliar/. Acesso em: 25 jul. 2023.

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BOTO, Carlota. ?Homeschooling?: a prática de educar em casa. Jornal da USP,


16 março. 2018. Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/homeschooling-a-pratica-
de-educar-em-casa/. Acesso em: 25 jul. 2023.

BOTO, Carlota. Projeto de homeschooling no Brasil coloca um muro entre a


família e o mundo social. Jornal da USP, 25 maio. 2022. Disponível
em: https://jornal.usp.br/atualidades/projeto-de-homeschooling-no-brasil-coloca-um-
muro-entre-a-familia-e-o-mundo-social/. Acesso em: 26 jul. 2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 888.815/RS. DIREITO


CONSTITUCIONAL. EDUCAÇÃO. ENSINO DOMICILIAR. LIBERDADES E
DEVERES DO ESTADO E DA FAMÍLIA. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. Constitui questão constitucional saber se o ensino domiciliar (homeschooling)
pode ser proibido pelo Estado ou viabilizado como meio lícito de cumprimento, pela
família, do dever de prover educação, tal como previsto no art. 205 da CRFB/1988.
2. Repercussão geral reconhecida. Relator: Min. Roberto Barroso, 4 de junho de
2015. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?
incidente=4774632. Acesso em: 10 abr.2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n° 888.815.


Constitucional. Educação. Direito Fundamental relacionado à dignidade da pessoa
humana e à efetividade da cidadania. Dever solidário do Estado e da família na
prestação do Ensino Fundamental. Necessidade de lei formal, editada pelo
Congresso Nacional, para regulamentar o Ensino Domiciliar. Recurso Desprovido.
Relator: Ministro Roberto Barroso. Redator para acórdão: Ministro Alexandre de
Moraes. DJ, 12 de set. de 2018. Disponível em:
https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE888815mAM.PDF.
Acesso em: 05 out.2023.

37

BRASIL. Constituição de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil:


promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em:
05.out.2023.

BRASIL. Decreto-Lei n° 2.848 de 1940. Código Penal: decretado em 07 de


dezembro de 1940. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 05 out.2023.

BRASIL. Lei n° 8.069 de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente: promulgada

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https://copyspider.com.br/ Página 181 de 302

em 13 de julho de 1990. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 05 out.2023.

BRASIL. Lei n° 9.394 de 1996. Lei de diretrizes e bases da educação nacional:


promulgada em 20 de dezembro de 1996. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm#:~:text=L9394&text=Estabelece
%20as%20diretrizes%20e%20bases%20da%20educa%C3%A7%C3%A3o%20nacio
nal.&text=Art.%201%C2%BA%20A%20educa%C3%A7%C3%A3o%20abrange,civil
%20e%20nas%20manifesta%C3%A7%C3%B5es%20culturais. Acesso em: 05
out.2023.

BRASIL. Lei n° 10.406 de 2002. Código Civil: promulgada em 10 de janeiro de


2002. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em:
05.out.2023.

BRASIL. Projeto de Lei 3179/2012. Altera as Leis nºs 9.394, de 20 de dezembro de


1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), e 8.069, de 13 de julho de
1990, (Estatuto da Criança e do Adolescente), para dispor sobre a possibilidade de
oferta domiciliar da educação básica. Brasília: Câmara dos Deputados, 08 dez.
2012. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=534328
. Acesso em: 06.out.2023.

MOREIRA, Alexandre Magno Fernandes. O direito à educação domiciliar. Brasília:


Monergismo, 2017.

VASCONCELOS, Maria Celi Chaves. Educação na casa: perspectivas de


desescolarização ou liberdade de escolha?. Pro-Posições, [S.L.], v. 28, n. 2, p.
122- 140, ago. 2017. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1980-6248-
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Acesso em: 24 jul 2023.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Mandado de Segurança 7407/DF - Acórdão


COAD 132172 - Rel. Min. Francisco Peçanha Martins - Publ. em 21-3-2005.

38
Disponível em: https://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/42/docs/ms-
ensino_fundamental-7407_stj.pdf. Acesso em: 06 out.2023.

SENADO, Agência. Senado aprofunda debate sobre educação domiciliar.


8/12/2022. Disponível em:

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https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/12/senado-aprofundadebate-
sobre-educacao-domiciliar. Acesso em: 07 out.2023.

SENADO, Agência. Senado aprofunda debate sobre educação domiciliar.


8/12/2022. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/12/senado-aprofundadebate-
sobre-educacao-domiciliar. Acesso em: 07 out.2023.

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=================================================================================
Arquivo 1: BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Arquivo 2: https://www.nheri.org/home-school-researcher-homeschooling-in-brazil-an-overview (4508
termos)
Termos comuns: 60
Similaridade: 0,48%
O texto abaixo é o conteúdo do documento BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento https://www.nheri.org/home-school-
researcher-homeschooling-in-brazil-an-overview (4508 termos)

=================================================================================

Cuiabá
2023

Cidade
Ano
BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

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A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO


DOMICILIAR NO BRASIL

Cuiabá
2023

A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO


DOMICILIAR NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à UNIC ?


Universidade de Cuiabá, como requisito parcial para a
obtenção do título de graduado em Direito.

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Orientadora: Denise Alcantara

BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO DOMICILIAR


NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade de Cuiabá - UNIC, como requisito
parcial para a obtenção do título de graduado
em Direito.

BANCA EXAMINADORA

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Cuiabá, dia de mês de 2023

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ARRUDA, Brenno Eduardo. A constitucionalidade do método de ensino domiciliar


no Brasil. 2023. 22 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito)
? Universidade de Cuiabá - UNIC, Cuiabá/MT, 2023.

RESUMO

O objetivo deste trabalho é discutir o ensino domiciliar, também conhecido como


homeschooling, uma prática educacional em que os pais ou responsáveis assumem
a responsabilidade de educar seus filhos em casa, ao invés de matriculá-los em uma
escola tradicional. Esta prática permite uma abordagem de ensino personalizada,
adaptada às necessidades e interesses individuais de cada criança. No entanto, a
viabilidade jurídica do ensino domiciliar no Brasil é um tema de debate. Embora alguns
pais e responsáveis defendam o direito de educar seus filhos em casa, existem
questões legais e regulatórias que precisam ser consideradas. O estudo também
analisará países onde o ensino domiciliar é regulamentado, destacando o papel da
família e do estado na educação domiciliar. Além disso, há diversas decisões judiciais
relacionadas ao ensino domiciliar no Brasil, com alguns casos de grande impacto.
Estas decisões judiciais podem ter um impacto significativo na forma como o ensino
domiciliar é praticado e regulamentado no país. Portanto, é importante compreender
o conceito de ensino domiciliar, analisar sua viabilidade jurídica no contexto brasileiro
e estar ciente das decisões judiciais relacionadas a esta prática educacional.

Palavras-chave: Direito à Educação Domiciliar. Homeschooling. Educação no Lar.


Flexibilidade da Educação Básica.

ARRUDA, Brenno Eduardo. The constitutionality of the home teaching method in


Brazil. 2023. 22 sheets. Completion of Law Course ? University of Cuiabá, Cuiabá
2023.

ABSTRACT
The aim of this work is to discuss homeschooling, also known as home education, an
educational practice in which parents or guardians take on the responsibility of
educating their children at home instead of enrolling them in a traditional school. This
practice allows for a personalized teaching approach, tailored to the individual needs
and interests of each child. However, the legal feasibility of homeschooling in Brazil is
a subject of debate. While some parents and guardians advocate for the right to
educate their children at home, there are legal and regulatory issues that need to be
considered. The study will also examine countries where homeschooling is regulated,
highlighting the roles of both the family and the state in home education. Furthermore,
there have been various legal decisions related to homeschooling in Brazil, with some
cases of significant impact. These legal decisions can have a significant impact on how

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homeschooling is practiced and regulated in the country. Therefore, it is important to


understand the concept of homeschooling, analyze its legal feasibility in the Brazilian
context, and be aware of legal decisions related to this educational practice.

Keywords: Right to Homeschooling. Homeschooling. Home Education. Flexibility of


Basic Education.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 ? Países onde o Homeschooling é legalizado segundo ANED ................ 16

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. Artigo
ANED Associação Nacional de Educação Domiciliar
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
RE Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
USP Universidade de São Paulo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING ......................................................... 10
2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO ................................................................................. 11
2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING..................................................................... 11
2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING .................................... 13
2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING ................................................ 14
2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES............... 15
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL ..................................................................................................................... 18
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO ................................................. 18
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL ....................................................................... 21
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL .................................................................. 22
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA) ............................................................................................. 23
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB) ................. 25

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3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA ............................................................ 26


4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR ............................................................................................................. 30
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 34
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36

9
1 INTRODUÇÃO

A prática do ensino domiciliar, também conhecida como homeschooling, tem


se tornado um tema de discussão relevante no contexto brasileiro. Este fenômeno
educacional, em que os pais assumem a responsabilidade de instruir seus filhos em
casa, em vez de enviá-los a uma escola convencional, suscita questionamentos
profundos sobre seus impactos, especialmente no que diz respeito às crianças e
adolescentes.
Este estudo tem como foco central a "Constitucionalidade do Ensino Domiciliar
no Brasil". Trata-se de uma questão que tem sido amplamente debatida ao longo dos
anos, sobretudo pelos pais e responsáveis que buscam a regulamentação desse
modelo educacional para proporcionar uma educação de qualidade dentro de seus
lares.
A relevância desta pesquisa é evidente, uma vez que ela busca lançar luz sobre
a legalidade do ensino domiciliar, oferecendo clareza àqueles que optam por educar
seus filhos em casa, sem temer penalizações estatais. Além disso, busca-se, por meio
de dados e evidências, explorar experiências internacionais em que o ensino
domiciliar é regulamentado, destacando o papel fundamental desempenhado tanto
pela família quanto pelo Estado na educação dos alunos no ambiente familiar.
O estudo também tem o potencial de contribuir para a compreensão desse
tema tanto na comunidade acadêmica quanto na sociedade em geral. Através da
análise doutrinária, legal, jurisdicional e constitucional, bem como da comparação de
dados educacionais, pretende-se lançar luz sobre o papel da família e do Estado no
ensino domiciliar, promovendo um debate informado e enriquecedor.
Para alcançar esses objetivos, este projeto de pesquisa adotará uma
abordagem qualitativa e descritiva, permitindo a análise das características desse
fenômeno educacional e a compreensão dos pressupostos teóricos que o envolvem.
A pesquisa abrangerá a revisão de livros, dissertações, teses, artigos e trabalhos
científicos publicados nos últimos 10 anos, além de buscas em bancos de dados
acadêmicos como o Google Acadêmico e Scielo.

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2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING

O ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, é uma prática


que tem ganhado destaque tanto no cenário internacional quanto no contexto
brasileiro. Em todo o mundo, famílias optam por essa modalidade de ensino por uma
variedade de razões, incluindo a busca por um currículo mais personalizado, a
flexibilidade de horários e a preocupação com a segurança e o bem-estar dos filhos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o homeschooling é uma opção legal em todos os
estados, e milhares de famílias escolhem essa abordagem educacional. No entanto,
as regulamentações e atitudes em relação ao ensino domiciliar variam
consideravelmente de país para país.
Nesse contexto, Moreira (2017) esclarece que:

A educação domiciliar é uma modalidade de ensino que não obedece a uma


lógica única, massificada para todas as famílias, por basear-se no princípio
da soberania educacional da família, ou seja, seu fundamento é a liberdade
de cada família determinar como será realizada a educação de seus filhos.
(MOREIRA, 2017, p. 61).

O ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, é uma prática


que tem ganhado destaque tanto no cenário internacional quanto no contexto
brasileiro. Em todo o mundo, famílias optam por essa modalidade de ensino por uma
variedade de razões, incluindo a busca por um currículo mais personalizado, a
flexibilidade de horários e a preocupação com a segurança e o bem-estar dos filhos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o homeschooling é uma opção legal em todos os
estados, e milhares de famílias escolhem essa abordagem educacional. No entanto,
as regulamentações e atitudes em relação ao ensino domiciliar variam
consideravelmente de país para país.
Assim em revista especializada em educação foi publicado que:

Os motivos que levam os pais a optar pelo homeschooling são variados. Há


a insatisfação com as escolas, o temor em relação ao seu ambiente, interno
e externo. Os pais temem pela integridade física dos filhos. O que é
compreensível em ambientes onde existe violência. Há também as situações
em que as crianças e adolescentes são vítimas de bullying. Ir à escola é um
sofrimento diário e silencioso. A provisão legal da possibilidade de estudar
em casa eliminaria esse sofrimento que atinge milhares de crianças e
adolescentes (ALVES, 2011).

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2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO

O homeschooling é uma abordagem educacional na qual os pais ou


responsáveis assumem a responsabilidade de instruir seus filhos em casa, em vez de
enviá-los a uma escola tradicional. Essa prática oferece um ambiente de aprendizado
personalizado, no qual o currículo pode ser adaptado de acordo com as necessidades
e interesses individuais de cada criança. O homeschooling não se restringe a um
modelo específico; em vez disso, é uma prática flexível que pode variar amplamente
de família para família.
Na prática do homeschooling, os pais desempenham um papel fundamental na
construção do ambiente educacional de seus filhos. Isso implica não apenas na
seleção de materiais didáticos e na organização do currículo de acordo com as
aptidões e interesses únicos de cada criança, mas também na promoção de uma
atmosfera que estimule a curiosidade, a autodisciplina e a aprendizagem
independente. Além disso, o homeschooling permite uma flexibilidade rara no
processo de ensino, possibilitando a exploração de tópicos interdisciplinares e a
adaptação dos métodos de aprendizado de acordo com o ritmo de desenvolvimento
de cada aluno. Essa abordagem coloca a ênfase não apenas na obtenção de
conhecimentos acadêmicos, mas também no desenvolvimento holístico das crianças,
incluindo aspectos sociais, emocionais e éticos, tornando-se assim uma alternativa
atraente para famílias em busca de uma educação sob medida para suas
necessidades e valores.

2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING

O homeschooling tem uma longa história, datando de séculos atrás, quando as


famílias eram a principal fonte de educação. No entanto, o surgimento da escola
moderna no século XIX relegou o ensino em casa a um segundo plano. No século XX,
o homeschooling ressurgiu, impulsionado por diversos movimentos e mudanças
sociais, incluindo o movimento de contracultura dos anos 1960 e 1970. Desde então,
sua prática tem se expandido e diversificado globalmente.

12
No entanto, vale ressaltar que a formalização e a regulamentação do
homeschooling como uma opção legal de educação são mais recentes em muitos
países, incluindo o Brasil. O surgimento mais notável e o reconhecimento oficial do
homeschooling no Brasil ocorreram nas últimas décadas, principalmente a partir dos
anos 2000, quando começou a ganhar visibilidade e a ser debatido mais amplamente.
Nos Estados Unidos da América (EUA), o pioneiro do homeschooling foi Holt,
considerado o pai da desescolarização. Ele acreditava que a escola tradicional, de
certo modo, coagia as crianças a aprenderem, quando, na verdade, elas o fariam
naturalmente se tivessem a liberdade de seguir seus próprios interesses e acesso a
uma ampla variedade de recursos. A partir de uma perspectiva da educação orgânica,

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que valoriza o potencial humano como prioridade no desenvolvimento da criança,


essa linha de pensamento passou a ser chamada de unschooling e, posteriormente,
homeschooling.
No que tange as pesquisas pautas no princípio de revisão bibliográfica, é
relevante atentar-se ao fato de que:

O termo homeschooling, de língua inglesa, usual nos Estados Unidos da


América, é usado internacionalmente para identificar uma modalidade de
educação específica que é organizada e implementada pelos próprios pais
como alternativa de escolarização de seus filhos em casa e não na escola. É
traduzido, normalmente, para o português, por Educação Domiciliar, em uma
tradução literal da junção da palavra home (casa, ou lar), com a palavra
school (escola). O termo escola no gerúndio (schooling), já sugere a ideia do
próprio modelo de educação, que está carregado de um sentido de ensino
contínuo, no qual os pais se dispõem para o processo ensino aprendizagem
em formas e condições contínuas e cotidianas da vida da criança e da família,
organizadas intencionalmente ou não para o fim educativo, tais como
refeições, passeios, viagens, relacionamentos com a vizinhança, etc
(ANDRADE,2014,p. 19).

O homeschooling ganhou destaque no Brasil durante a pandemia de COVID-


19, que teve início em 2020. Com o fechamento temporário das escolas em muitas
regiões do país como medida de contenção da disseminação do vírus, muitos pais e
responsáveis foram forçados a considerar o ensino em casa como uma alternativa
viável para garantir a continuidade da educação de seus filhos.
Esse período de restrições sanitárias resultou em um aumento significativo no
interesse e na prática do homeschooling no Brasil. Muitas famílias passaram a buscar
soluções educacionais flexíveis e adaptadas às circunstâncias da pandemia,

13
recorrendo ao ensino em casa para manter o aprendizado das crianças durante os
lockdowns e as incertezas associadas à pandemia.
A pandemia também destacou a importância da adaptação e flexibilidade no
homeschooling. Pais e tutores tiveram que se ajustar rapidamente a novos métodos
de ensino online e colaborar mais estreitamente com escolas para acessar materiais
e recursos educacionais. Além disso, o ensino em casa permitiu que algumas famílias
aproveitassem o tempo em casa para explorar tópicos adicionais, incentivando a
aprendizagem autodirigida e a criatividade.
No entanto, é importante observar que o homeschooling durante a pandemia
também trouxe desafios, incluindo a necessidade de equilibrar o trabalho remoto dos
pais com a supervisão do aprendizado das crianças. O debate sobre a
regulamentação e a legalização do homeschooling no Brasil também se intensificou
devido às mudanças trazidas pela pandemia. Portanto, o ensino domiciliar teve um

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impacto notável no contexto da educação brasileira durante a crise da COVID-19,


levantando questões importantes sobre como essa prática deve ser abordada e
regulamentada no país.

2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING

O homeschooling, ou ensino domiciliar, é uma abordagem educacional que se


baseia em princípios e abordagens específicas. Embora haja variações na prática do
homeschooling, alguns princípios e abordagens comuns incluem a individualização da
educação, onde os pais ou tutores adaptam o currículo de acordo com as
necessidades e interesses de cada criança, promovendo um aprendizado
personalizado. Além disso, o homeschooling incentiva a aprendizagem autodirigida,
capacitando as crianças a tomar decisões sobre o que e como aprendem, promovendo
a responsabilidade pela própria educação e o desenvolvimento de habilidades de
aprendizado independentes.
Assim para MOREIRA (2017, p.10), ?pesquisas demonstram que essas
crianças estão bem preparadas em sentido acadêmico e social para participar de uma
democracia liberal?.
Uma das vantagens do homeschooling é a flexibilidade, permitindo que as
famílias adaptem o horário de aprendizado para atender às necessidades individuais,

14
aproveitando oportunidades de aprendizado fora do ambiente escolar tradicional. Isso
é complementado pelo uso de uma ampla variedade de recursos educacionais,
incluindo livros, materiais didáticos, recursos online, visitas a museus e aulas
particulares, que enriquecem a abordagem educacional.
No homeschooling, valoriza-se a educação informal, reconhecendo que as
experiências cotidianas, viagens, atividades ao ar livre e interações com a
comunidade são oportunidades valiosas de aprendizado. Os pais desempenham um
papel fundamental no ensino domiciliar, projetando o currículo, fornecendo instrução
e apoio, e acompanhando o progresso acadêmico e social de seus filhos.
Além disso, o homeschooling coloca ênfase não apenas na educação
acadêmica, mas também no desenvolvimento integral da criança, incluindo aspectos
sociais, emocionais e éticos. Essa abordagem é especialmente atraente para famílias
com crianças com necessidades educacionais especiais, uma vez que permite uma
adaptação mais precisa a essas necessidades.

2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING

Apesar de seus princípios e benefícios percebidos, o homeschooling é objeto


de debates e controvérsias em todo o mundo. Um dos principais pontos de debate diz
respeito à socialização das crianças educadas em casa, uma vez que podem ter
menos oportunidades de interagir com seus pares. Além disso, questões relacionadas

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à qualidade da supervisão educacional e à capacidade dos pais de fornecer um ensino


adequado em todas as disciplinas são frequentemente levantadas. Críticos
argumentam que, sem uma supervisão rigorosa, algumas crianças podem não
receber a educação de qualidade necessária.
De acordo com a pedagoga (Barbosa, 2013), autora do estudo, a prática do
homeschooling:

Segundo os dirigentes das associações canadenses de ensino domiciliar


entrevistados por Luciane, a ausência da escola não leva a uma falta de
socialização. ?Ao contrário, eles argumentam que a instituição escolar leva a
uma socialização restrita, por segregarem as crianças por idade?, diz. ?No
Canadá, as bibliotecas e ginásios esportivos possuem programas voltados
para ?homeschoolers?, e normalmente os pais que ensinam os filhos em casa
são filiados a duas ou mais associações do setor. Também há uma
preocupação em desenvolver a participação social dos filhos nas
comunidades em que vivem, pois consideram que a escola oferece um

15
conceito de cidadania ligado apenas ao conhecimento de fatos históricos e
ao exercício do voto? (BARBOSA, 2013).

Nesse viés, (Boto, 2022), pesquisadora da USP, diz que:

Os estudos sobre o ensino domiciliar têm mostrado que há um vetor religioso


acerca das famílias que escolhem esse tipo de educação para os filhos, pois
não querem que eles tenham contato com teorias educacionais consideradas
ímpias. A professora considera isso grave e diz que é importante que as
crianças aprendam conteúdos que possam contrariar os interesses dos pais,
já que isso faz parte do aprendizado. Ela ainda afirma que é perigoso a família
se colocar como a única instituição na vida de uma criança (BOTO, 2022).

2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES

A prática do homeschooling, ou ensino em casa, é regulamentada de maneira


diversa ao redor do mundo. Cada país estabelece suas próprias diretrizes para pais
que optam por educar seus filhos em casa, variando desde o reconhecimento legal e
regulamentação específica até proibições rigorosas. Para entender melhor essas
abordagens, examinaremos como alguns países de referência, como os Estados
Unidos, Canadá, Alemanha e Austrália, lidam com a regulamentação do
homeschooling e os resultados que obtiveram.
Nos Estados Unidos, o homeschooling é legal e praticado em todo o país, mas
os requisitos e regulamentos variam de estado para estado. Alguns estados exigem
notificação prévia às autoridades educacionais locais, enquanto outros impõem testes

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padronizados ou avaliações regulares do progresso educacional. Por outro lado, na


Alemanha, o homeschooling é proibido pela lei, com poucas exceções, devido às
preocupações do governo sobre a integração social das crianças. No Canadá, as
províncias têm abordagens distintas, algumas exigindo exames oficiais de avaliação,
enquanto outras pedem apenas notificação às autoridades de ensino local. A
diversidade de regulamentação também é vista na Austrália, com inspeções
regulares, avaliações de progresso e diretrizes curriculares específicas.
No que tange ao homeschooling no Canadá, a pedagoga (Barbosa, 2013)
observou como é posto em prática o ensino domiciliar:

A pedagoga realizou parte do estudo no Canadá, país onde a prática do


?homeschooling? é permitida. ?A regulamentação varia conforme as
províncias, algumas exigem a prestação dos exames de avaliação oficiais,

16
outras pedem apenas que a diretoria de ensino local seja comunicada?, relata.
?Ao entrevistar as famílias canadenses, percebe-se que embora a motivação
religiosa esteja muito presente, os pais também optam pelo ensino em casa
pela questão de custos (famílias mais numerosas) ou por terem filhos com
deficiência, entre outras razões? (BARBOSA, 2013).

A diversidade de abordagens à regulamentação do homeschooling ao redor do


mundo reflete a complexidade das questões envolvidas. Nos Estados Unidos, a
abordagem descentralizada permite flexibilidade para os pais, mas também pode
resultar em disparidades significativas na qualidade da educação em casa,
dependendo do estado em que se encontram. Por outro lado, na Alemanha, a
proibição do homeschooling é uma tentativa de garantir a socialização e a educação
uniforme das crianças, mas levanta questões sobre os direitos dos pais de decidirem
como educar seus filhos. No Canadá e na Austrália, a variedade de regulamentações
indica uma tentativa de equilibrar a autonomia dos pais com a necessidade de garantir
que as crianças recebam uma educação adequada.
Nesse ensejo, a Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED), que é
uma associação dos pais que defendem os estudos em casa, divulgou dados dos
países onde a prática do hommescooling é legal, conforme imagem abaixo:

Figura 1 - Legalidade do ensino doméstico por país.

PAÌSES: África África do Sul, Oceania Austrália, Nova Zelândia. Ásia Filipinas, Japão, América Norte
EUA, Canadá, Sul Colômbia, Chile, Equador, Paraguai. Europa Portugal, França, Itália, Reino Unido,
Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria, Finlândia, Noruega, Rússia.

Fonte: Mapa e quadro divulgados pela ANED (2021).

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Em vários países europeus, como França e Bélgica, o homeschooling é


estritamente regulamentado e desencorajado, com ênfase na importância da
socialização e da educação em escolas reconhecidas. No entanto, na Suécia, o
homeschooling é permitido sob condições específicas, desde que os pais sigam um
currículo nacional. A regulamentação do homeschooling ao redor do mundo reflete
uma variedade de abordagens culturais, educacionais e políticas, com o objetivo de
equilibrar o direito dos pais de educar seus filhos em casa com o interesse público em
garantir uma educação de qualidade e a socialização adequada das crianças.
De acordo com a pesquisadora (Boto,2018):

Nos Estados Unidos, país que possui hoje mais de 2 milhões de crianças em
idade escolar fora da escola, um dos principais motivos para a prática
do homeschooling é religioso. São as minorias religiosas, bem como minorias
étnicas que, de acordo com os estudos sobre o assunto, aderem a essa nova
modalidade de educação. Entre 1999 e 2010 ocorreu um crescimento
superior a 100% e, para o conjunto dos Estados norte-americanos, há um
contingente de quase 4% de crianças que hoje não frequentam mais a escola.
Na Rússia, entre 2008 e 2012, teria ocorrido ampliação de 900% nas práticas
de homeschooling. Na Alemanha, país que proibiu a prática em seu território,
há inúmeros casos de casais que foram multados e até presos por não
enviarem os filhos à escola (BOTO, 2018).

É evidente que a regulamentação do homeschooling é uma questão complexa


que envolve o equilíbrio entre os direitos individuais dos pais e o interesse público na
educação e socialização das crianças. O debate sobre como melhor abordar essa
questão continua a evoluir à medida que os países buscam encontrar um equilíbrio
entre a liberdade de escolha educacional dos pais e a responsabilidade do Estado de
garantir que todas as crianças recebam uma educação de qualidade e sejam
integradas na sociedade de maneira adequada.

18
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL

No cenário brasileiro, a análise da viabilidade jurídica do estudo domiciliar


requer um entendimento abrangente do contexto legal e regulatório que rege o
sistema educacional. A Constituição Federal de 1988 estabelece princípios essenciais
que fundamentam a educação no Brasil, enfatizando a responsabilidade

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compartilhada entre a família, a sociedade e o Estado na proteção dos direitos das


crianças e adolescentes. O Código Civil reforça o papel dos pais na criação e
educação de seus filhos, e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece
diretrizes específicas para a educação e proteção de menores. Paralelamente, a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) define os princípios gerais da educação
brasileira. Além disso, existem projetos de lei que podem definir o estudo em casa no
Brasil nas mãos dos deputados.
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO
A Constituição Federal de 1988, um marco fundamental na legislação brasileira,
estabelece princípios que guiam a educação no país e atribui responsabilidades tanto
ao Estado quanto à sociedade e às famílias. O Artigo 227 da Constituição Federal de
1988 é um dos pontos centrais nesse contexto:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,


ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL,1988).

Este artigo estabelece que é um compromisso da família, sociedade e Estado


garantir, de forma prioritária, o direito à vida, saúde, alimentação, educação, lazer,
profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e
comunitária das crianças, adolescentes e jovens, além de protegê-los contra qualquer
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
O Artigo 227 da Constituição Federal coloca as crianças, adolescentes e jovens
no centro das preocupações da sociedade e do Estado, enfatizando a necessidade
de criar um ambiente seguro e saudável para o seu desenvolvimento. Ele destaca a

19
educação como um dos pilares fundamentais para o crescimento pleno desses
indivíduos, enfatizando a necessidade de protegê-los contra ameaças e violações de
seus direitos, conforme previsto na Constituição.
Na conjuntura atual, o Artigo 227 mantém sua relevância como diretriz
essencial para a formulação de políticas educacionais e sociais no Brasil. No entanto,
desafios persistentes, como a desigualdade no acesso à educação e a violação dos
direitos das crianças, exigem esforços contínuos para garantir a implementação eficaz
das disposições desse artigo.
O compromisso da família, sociedade e Estado em proporcionar um ambiente
favorável ao crescimento e desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens é
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Portanto, é
crucial que todos os esforços sejam direcionados para garantir o respeito a esses
direitos e para assegurar que todos os jovens tenham igualdade de oportunidades

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para receber uma educação de qualidade, conforme preconizado pelo Artigo 227 da
Constituição Federal de 1988. Em resumo, o Artigo 227 continua a servir como
alicerce para a proteção e promoção dos direitos da juventude, sendo essencial para
garantir um futuro mais promissor às gerações vindouras.
A Constituição Federal de 1988 também estabelece, no Artigo 208, os deveres
do Estado em relação à educação no Brasil. Esses deveres incluem:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a


garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)
anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a
ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos
de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por
meio de programas suplementares de material didáticoescolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009)
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua
oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

20
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela freqüência à escola (BRASIL,1988).

Essas responsabilidades do Estado refletem um compromisso com a promoção


de uma educação acessível, inclusiva e de qualidade para todos os cidadãos
brasileiros. No entanto, o cumprimento desses deveres enfrenta desafios constantes,
principalmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, com
significativas desigualdades regionais.
O pensamento subjacente a esse contexto destaca a importância da educação
como um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico da nação.
Garantir igualdade de oportunidades educacionais para todos é essencial para

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promover a justiça social e formar cidadãos capacitados e engajados. Portanto, a


implementação eficaz desses deveres estabelecidos no Artigo 208 é fundamental para
alcançar esses objetivos e construir uma sociedade mais equitativa e próspera.
Além disso, vale ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição Federal:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho (BRASIL,1988).

O Artigo 205 da Constituição Federal estabelece a educação como um direito


universal e um dever compartilhado entre o Estado e a família, sendo promovido e
incentivado com a colaboração da sociedade. A educação, de acordo com este
dispositivo, tem um propósito que vai além da mera transmissão de conhecimento. Ela
busca o completo desenvolvimento da pessoa, preparando-a para o exercício pleno
da cidadania e qualificando-a para o mercado de trabalho.
Entretanto, a interpretação do Artigo 205 não é unânime. Alguns argumentam
que a redação atual desse artigo é vaga e que a finalidade educacional parece
priorizar a formação de indivíduos funcionalmente integrados na estrutura social em
detrimento do desenvolvimento integral do ser humano. Nesse contexto, questiona-se
se a educação no Brasil, conforme delineada na Constituição, atende efetivamente às
necessidades de desenvolvimento individual ou se foca excessivamente na
preparação para o mercado de trabalho em detrimento do crescimento pessoal e da
promoção da busca pelo conhecimento.

21
Essa discussão levanta questões fundamentais sobre a finalidade da educação
e destaca a necessidade de repensar o sistema educacional para garantir que ele não
só atenda às demandas econômicas, mas também promova o crescimento pessoal,
o aprendizado contínuo e a realização individual. A revisão dos currículos, métodos
de ensino e políticas educacionais pode ser necessária para promover uma educação
mais abrangente e significativa, em consonância com o Artigo 205 da Constituição
Federal.
Ademais, é importante ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição
Federal como um alicerce legal para direcionar a educação no Brasil e garantir que
ela cumpra seu papel essencial no desenvolvimento das pessoas, na formação de
cidadãos ativos e na preparação para o mercado de trabalho.
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL
O Código Civil brasileiro, em seu Artigo 1.634, regulamenta o poder de família,
estabelecendo os seguintes termos:

Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos

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filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação; (BRASIL,2002).

Esse dispositivo legal é o cerne do múnus familiar em relação à obrigação


jurídica de fornecer educação e criação para os seus infantes.
O Código Civil também serve como referência relevante para compreender a
educação domiciliar, um tema que tem gerado debates significativos nos últimos anos.
Embora o Código Civil não faça menção direta à educação em casa, ele estabelece
os deveres e poderes dos pais em relação à criação e educação dos filhos,
destacando a importância da família nesse processo.
No entanto, a educação domiciliar levanta questões específicas em relação à
sua legalidade e regulamentação, que podem variar de acordo com a legislação
educacional vigente. Isso torna essencial que os pais compreendam as leis de
educação em seu país e busquem aconselhamento adequado caso desejem optar
pela educação em casa.

22
O debate sobre a educação domiciliar aborda questões relativas à qualidade
da educação, à socialização das crianças e à capacidade dos pais de proporcionarem
um ambiente educacional adequado em casa. Portanto, a interação entre os direitos
dos pais e o interesse público na formação educacional das crianças é complexa e
deve ser tratada em conformidade com as normas legais aplicáveis.
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL
O Artigo 246 do Código Penal Brasileiro destaca-se como uma peça legislativa
de grande importância no âmbito educacional e jurídico, abordando o dever dos pais
ou responsáveis de providenciar a instrução primária para seus filhos em idade
escolar. Simultaneamente, esse dispositivo legal está relacionado ao estudo
domiciliar, conforme estipula o referido artigo: "Deixar, sem justa causa, de prover à
instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um
mês, ou multa" (BRASIL, 1940).
Este artigo normativo estabelece que a omissão injustificada em fornecer a
instrução primária a um filho em idade escolar configura uma infração sujeita a
penalidades específicas. Tais penalidades incluem detenção com duração de quinze
dias a um mês, bem como a imposição de multa.
A relevância do Artigo 246 reside na ênfase dada à obrigação da educação
primária, um direito fundamental da criança garantido pela legislação brasileira. A
garantia do acesso à educação é crucial para o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos essenciais ao longo da vida. Além disso, a educação desempenha um
papel vital na formação do cidadão e na promoção do bem-estar social.
Nesse contexto, o Artigo 246 do Código Penal visa assegurar que os pais ou
responsáveis cumpram o dever legal de proporcionar a instrução primária a seus filhos
em idade escolar, contribuindo para a formação educacional e cidadã das futuras
gerações. Ao mesmo tempo, este artigo também suscita questões relacionadas ao

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estudo domiciliar. Quando realizado em conformidade com as normas e


regulamentações estabelecidas, o estudo domiciliar permite que os pais assumam um
papel ativo na educação de seus filhos, desde que cumpram os requisitos legais e
assegurem a qualidade da educação em ambiente domiciliar. Isso demonstra o
compromisso do sistema legal brasileiro em conciliar o direito dos pais de escolherem

23
a modalidade educacional de seus filhos com a necessidade de garantir a adequada
formação e proteção das futuras gerações.
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece diretrizes
específicas em relação à educação das crianças e adolescentes. Ele alinha-se ao
entendimento conforme expresso no ?Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação
de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino? (BRASIL, 1990).
Além disso, o Artigo 4º do ECA menciona o dever da família em relação ao
menor, conforme previsto no artigo, que estabelece:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder


público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1990).

Essa obrigação legal encontra respaldo nos princípios estabelecidos no Artigo


53 do ECA, que determina que crianças e adolescentes têm o direito à educação,
visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho. Além disso, o referido artigo prevê seus
direitos, como evidenciado no próprio texto:

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno


desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias
escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; (BRASIL,
1990).

O Artigo 54, por sua vez, estabelece o dever do Estado de garantir o direito à
educação das crianças e adolescentes, como expresso no texto a seguir:

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Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:


I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não
tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

24
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
(Revogado)
IV ? atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos
de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua
oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável,
pela freqüência à escola. (BRASIL, 1990).

Portanto, de acordo com seu §1º, é de responsabilidade do Estado efetivar os


direitos relacionados à educação, assegurando a igualdade de condições para o
acesso e a permanência na escola.
O pensamento subjacente a essas disposições do ECA enfatiza a importância
da educação para o desenvolvimento integral da criança e do adolescente,
preparando-os para uma participação ativa na sociedade e qualificando-os para
futuras oportunidades de trabalho. O ECA coloca a responsabilidade sobre os pais e
o Estado para garantir que a educação seja acessível e eficaz para as crianças e
adolescentes, de acordo com o Artigo 1º do ECA, que preconiza a proteção integral
como princípio norteador.
Entretanto, é importante ressaltar que, assim como no caso da Constituição
Federal, o ECA não faz menção direta à educação domiciliar (homeschooling).
Portanto, a prática da educação em casa levanta questões sobre a conformidade com
essas leis e regulamentos e deve ser considerada cuidadosamente à luz do contexto
legal em vigor. O debate sobre a educação domiciliar gira em torno das necessidades
das crianças, da qualidade da educação e da capacidade dos pais de fornecer um

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ambiente educacional apropriado em casa, ao mesmo tempo em que respeitam as


leis e regulamentações existentes.

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3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabelece princípios
essenciais relacionados à educação no Brasil segundo o Artigo 2º destaca que:

Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de


liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1996).

Assim, verifica-se que a responsabilidade pela educação é compartilhada entre


a família e o Estado, e deve ser baseada nos princípios da liberdade e solidariedade
humana. Além disso, a educação deve ter como finalidade o pleno desenvolvimento
do educando, preparando-o para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.
Adicionalmente, o Artigo 6º da mesma lei impõem que ?É dever dos pais ou
responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4
(quatro) anos de idade? (BRASIL, 1990). Essa disposição, estabelecida no Artigo 6º,
reforça a necessidade de que os pais ou responsáveis efetuem a matrícula das
crianças na educação básica a partir dos 4 anos de idade.
Esse conjunto de responsabilidades do Estado reflete o compromisso com a
promoção de uma educação acessível, inclusiva e de qualidade para todos os
cidadãos brasileiros. No entanto, o cumprimento desses deveres é um desafio
constante, especialmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, com
desigualdades regionais significativas.
O pensamento subjacente a esse contexto destaca a importância da educação
como um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico de uma nação.
Garantir que todos tenham igualdade de oportunidades educacionais é essencial para
promover a justiça social e a formação de cidadãos capacitados e engajados.
Portanto, a implementação eficaz desses deveres está também estabelecida no Artigo
208 da Constituição Federal, que diz que é fundamental para alcançar esses objetivos
é construir uma sociedade mais equitativa e próspera

26
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA
O tema da educação domiciliar tem sido objeto de intensos debates no âmbito
legislativo brasileiro, com vários projetos de lei apresentados ao longo dos anos.
Essas propostas visam redefinir a dinâmica educacional, distribuindo
responsabilidades entre o Estado e as famílias, a fim de permitir o ensino em casa.

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Para que isso ocorra, é necessária uma ativa movimentação do Poder


Legislativo, pois este é o órgão responsável pela fiscalização e criação de leis.
Atualmente, não existe nenhuma lei que valide a educação domiciliar no Brasil,
embora tenham sido apresentados diversos projetos de lei sobre o tema ao longo do
tempo.
Em um breve passeio pela história legislativa, um desses projetos que merece
destaque é o Projeto de Lei nº 6001/2001, de autoria de Ricardo Izar. Este projeto
visava atribuir aos pais a responsabilidade pela educação de seus filhos, dispensando
os alunos que comprovassem educação em casa da obrigatoriedade de frequentar
uma escola e cumprir uma carga horária mínima anual. Nas justificativas
apresentadas, Izar argumentou que deixar o Estado como único provedor de
educação era um abuso de poder e que forçar as crianças a frequentar a escola as
expunha diariamente a drogas e violência, além de uma orientação pedagógica que
poderia ser contrária às convicções filosóficas e religiosas de algumas famílias.
No entanto, após anos de tramitação, esse projeto foi rejeitado e arquivado em
2007. A justificativa para a rejeição foi que a proposta era elitista, já que apenas
famílias com formação educacional adequada e tempo disponível poderiam desfrutar
desse direito, excluindo grande parte da população com menor poder aquisitivo.
Outros projetos de lei seguiram o Projeto de Lei nº 6001/2001, como o Projeto
de Lei 4122/2008 e o Projeto de Lei 3518/2008, que propunham alterações na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
No entanto, essas propostas também foram rejeitadas, argumentando que elas
contrariavam a legislação existente e que a eficácia do ensino domiciliar não havia
sido devidamente demonstrada. A Comissão afirmou que a experiência e a vivência
cotidiana nas escolas eram fundamentais para a aprendizagem e o desenvolvimento
das crianças.

27
Em 2012, o deputado Lincoln Portela elaborou o Projeto de Lei 3179, buscando
acrescentar o ensino domiciliar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As modificações propostas e outros projetos relacionados a ele serão abordados a
seguir.
O Projeto de Lei 3261 de 2015, de autoria do Deputado Eduardo Bolsonaro,
busca autorizar a educação domiciliar, introduzindo várias alterações na Lei nº 9.394
de 1996 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em junho de 2018, o deputado Alan Rick apresentou o Projeto de Lei
10185/2018, propondo alterações no artigo 5º da Lei nº 9.394 de 1996 para especificar
que o dever do Poder Público de garantir a frequência à escola pode ser substituído
pelo zelo no desenvolvimento adequado no caso da educação domiciliar.
O Projeto de Lei 3159, de 2019, de autoria da Deputada Natália Bonavides,
busca acrescentar ao artigo 5º da Lei nº 9394 de 1996 um parágrafo afirmando que a
educação domiciliar não pode substituir a frequência à escola.
No mesmo ano, foi apresentado o Projeto de Lei 2401/2019, de autoria do

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Poder Executivo, que propõe a regulamentação da educação básica domiciliar em


uma lei isolada. Suas disposições são mais detalhadas do que as propostas dos
projetos de lei mencionados anteriormente. O projeto torna explícito que a educação
domiciliar é um direito de escolha dos pais e responsáveis, assegura a igualdade dos
estudantes dessa modalidade com os da educação presencial e estabelece requisitos,
como o registro da educação domiciliar em uma plataforma virtual do Ministério da
Educação e a avaliação anual dos alunos de acordo com a Base Nacional Comum
Curricular.
Além disso, o projeto proíbe a educação domiciliar para pais ou responsáveis
que cumpram penas por crimes previstos em várias normas legais e prevê a perda do
direito de optar pela educação domiciliar no caso de reprovação em duas ou três
oportunidades ou de falta injustificada na avaliação anual.
Há também ajustes propostos para a Lei 9.394 de 1996 e o Estatuto da Criança
e do Adolescente para torná-los compatíveis com a educação domiciliar.
Os projetos de Lei 5852/2019 e 6188/2019, propostos pelos deputados Pastor
Eurico e Geninho Zuliani, pretendem inserir na Lei 9.394 de 1996 a possibilidade de a
Educação Básica ser ministrada por tutores autônomos em locais diferentes das
instituições oficiais de ensino. O segundo projeto busca autorizar a educação

28
domiciliar apenas quando for constatada a inadequação ou impossibilidade de
inclusão do estudante na rede regular de ensino, permitindo ainda o acesso a espaços
e equipamentos públicos.
Esses projetos apensados ao Projeto de Lei 3179/2012 demonstram a
abundância de discussões em torno da educação domiciliar e sua importância no
ordenamento jurídico.
Considerando as contribuições desses projetos de lei, a deputada Luísa
Canziani apresentou um Substitutivo ao Projeto de Lei 3179 de 2012 e suas emendas.
Ela sugeriu apenas a rejeição do Projeto de Lei 3159 de 2019.
Ao Substitutivo foram apresentadas 15 emendas de Plenário, sendo aprovada
apenas a emenda de plenário nº 8, que busca acrescentar um parágrafo único ao
artigo 246 do Código Penal, estabelecendo que os pais ou responsáveis que optam
pela educação domiciliar não incorrem no crime de abandono intelectual de seus
filhos. Quanto às demais emendas, foi sugerida a rejeição.
A redação final do Projeto de Lei 3179/2012 inclui no escopo da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional a possibilidade de oferta domiciliar da
educação básica. O projeto prevê obrigações para os pais, como a matrícula anual do
estudante em uma instituição de ensino credenciada, o cumprimento dos conteúdos
curriculares de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, a realização de
atividades pedagógicas, o registro periódico dessas atividades com envio de relatórios
trimestrais, o acompanhamento do desenvolvimento do estudante por um docente
tutor da instituição de ensino, avaliações anuais de aprendizagem e a participação em
exames nacionais, estaduais ou municipais, se selecionados.

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O projeto também prevê a perda do direito à opção pela educação domiciliar


nas hipóteses de insuficiência de progresso do educando, reprovações ou faltas
injustificadas nas avaliações. Além disso, estabelece a proibição da educação
domiciliar para pais ou responsáveis que cumpram penas por crimes específicos.
Também é importante mencionar o Projeto de Lei 3262/2019, que propõe
alterações no Código Penal para que a educação domiciliar não seja considerada um
crime de abandono intelectual. Esta proposta se originou devido a casos de famílias
que enfrentaram perseguições legais devido à educação domiciliar.
Assim, a educação domiciliar no Brasil é um tema de debate contínuo no
cenário legislativo, com diversos projetos de lei apresentados ao longo dos anos,

29
refletindo as complexidades em torno do homeschooling e suas implicações no
sistema educacional brasileiro. O Projeto de Lei 3179/2012 foi aprovado pela Câmara
dos Deputados em 19 de maio de 2022 e atualmente encontra-se em análise no
Senado Federal como Projeto de Lei Nº 1.388/2022, aguardando a próxima fase do
processo legislativo na Comissão de Educação do Senado, tendo o senador Flávio
Arns como relator.

30
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR

O assunto do ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, tem


sido objeto de análise pelo Poder Judiciário no contexto dos Direitos Fundamentais e
Individuais. Dois casos de grande repercussão social se destacam, ocorridos nas
cidades de Anápolis, estado de Goiás, e Canela, no Rio Grande do Sul.
O primeiro ocorreu em 2002, o caso emblemático da família Vilhena Coelho,
residente em Anápolis, Goiás, ocorrido em 2002. Nesse episódio, os pais desta
família, representando seus três filhos menores, impetraram o Mandado de Segurança
n° 7.407, datado de 24 de abril de 2002, junto ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
O propósito deste recurso constitucional era a reversão do ato do Ministério da
Educação (MEC), que havia homologado o Parecer Consultivo n° 34 de 04 de
dezembro de 2000 da Câmara de Ensino Básico (CEB) do Conselho Nacional de
Educação (CNE). Este parecer negou a possibilidade da educação domiciliar, apesar
da demonstração de que tal modalidade vinha ocorrendo de forma eficiente, com
avaliações sendo realizadas.
No cerne das decisões administrativas que desencadearam esse episódio está
a ideia de que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996 e
a Constituição Federal de 1988 são explícitas quanto à obrigatoriedade do ensino
escolar, bem como da frequência dos alunos devidamente matriculados, de acordo

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com o mencionado parecer.


O relator do processo no STJ, o Ministro Francisco Peçanha Martins, votou em
desfavor da pretensão da família, argumentando que não existia direito líquido e certo
na solicitação e que o MEC não havia agido com abuso ao aprovar o parecer do
CEB/CNE. Para ele, os dispositivos constitucionais determinavam que o ensino
escolar era obrigatório, assim como a frequência dos alunos matriculados em escolas
regulares.
Outros ministros que compartilharam desse entendimento no STJ foram
Humberto Gomes de Barros, Eliana Calmon, Francisco Falcão, Laurita Vaz e Garcia
Vieira. Os votos vencidos foram dos Ministros Franciulli Netto e Paulo Medina.
Para o Ministro Franciulli Netto, a educação deveria ser analisada à luz do
pluralismo do Estado Democrático de Direito, permitindo o direito à liberdade de
escolher outra modalidade de ensino. Ele observou que as crianças demonstraram

31
um notável desempenho, estando um ano à frente de suas idades, o que, em sua
visão, habilitava os pais a assumir a função de garantir diretamente a educação formal.
Para ele, a frequência escolar era um fator secundário, e a educação transcenderia a
mera transmissão de informações, sendo a família a principal responsável pela
formação, não apenas intelectual, mas também cidadã e social das crianças e
adolescentes.
O Ministro Paulo Medina também enfatizou as liberdades constitucionais
relacionadas à educação e o pluralismo de ideias, bem como a responsabilidade do
Estado em fiscalizar as atividades da família para garantir a efetivação dos fins
constitucionais relacionados à educação.
No final, os pais tiveram que acatar a decisão do STJ e realizar a matrícula de
seus filhos em uma escola regular.
O segundo caso ocorreu em meados de 2015, quando chegou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança impetrado pelos pais de uma
criança de onze anos, que tiveram sua solicitação de educação domiciliar negada pelo
órgão municipal e, posteriormente, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A
parte recorrente alegou violação de diversos artigos da Constituição, argumentando
que a educação não se restringe à instrução formal em uma instituição convencional
de ensino, especialmente diante da diversidade de ideias e concepções pedagógicas,
bem como dos avanços tecnológicos.
No seu pronunciamento, o Ministro Luís Roberto Barroso destacou o ensino
domiciliar como um fenômeno emergente em diversos países, incluindo o Brasil, com
um crescente número de adeptos, e a possibilidade de redução dos gastos públicos
com sua adoção. O reconhecimento da natureza constitucional do debate sobre a
capacidade das famílias de prover educação levou o Ministro a enfatizar a importância
de definir a relação entre o Estado e a família na educação de crianças e
adolescentes, bem como os limites da autonomia privada em relação às imposições
estatais.

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Barroso concluiu que a improcedência do pedido baseou-se na falta de uma


norma regulamentar, não na inconstitucionalidade do homeschooling. Além disso,
salientou que, como se tratava de uma questão de repercussão geral, a decisão tinha
efeito erga omnes, aplicável a todas as partes envolvidas na lide, sendo uma decisão
histórica e de extrema importância por reconhecer a colaboração entre o Estado e a

32
família na prestação do ensino fundamental e pela legalização do homeschooling no
Brasil.
Posteriormente, em 2018, o processo foi colocado em pauta e, após o
julgamento, a Corte determinou que o ensino domiciliar não é um meio lícito para
cumprir o dever de prover educação a crianças e adolescentes, embora não tenha
sido considerado inconstitucional. A maioria dos ministros votou pelo desprovimento
do recurso extraordinário, uma vez que não havia uma lei que regulamentasse a
prática.
O Ministro Luís Roberto Barroso, ao fundamentar seu voto, destacou que a
Constituição Federal não proíbe o homeschooling e que o ensino domiciliar é
compatível com o ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a maioria dos ministros
argumentou que é necessária uma regulamentação prévia pelo Congresso Nacional,
estabelecendo requisitos e mecanismos de avaliação e fiscalização, para atender ao
disposto no Art. 208, §3º da Constituição, que atribui ao poder público o dever de zelar
pela frequência à escola. Esta decisão do Supremo Tribunal Federal, portanto,
representa um marco importante na jurisprudência brasileira em relação a este
assunto controverso.
No seu voto, o Ministro Alexandre de Moraes apresentou uma perspectiva
fundamental no julgamento do ensino domiciliar, sustentando que a prática não é
inconstitucional, desde que haja uma regulamentação prévia. Ele destacou que o
homeschooling de natureza utilitarista, que segue o conteúdo do ensino escolar e
permite fiscalização e avaliações periódicas, é compatível com a Constituição,
contudo, ressaltou que essa modalidade requer uma colaboração entre as famílias e
o Estado. O Ministro enfatizou a importância de o Congresso Nacional regulamentar
essa prática, a fim de estabelecer requisitos e mecanismos de avaliação e
fiscalização, como previsto no Art. 208, §3º da Constituição, o qual atribui ao poder
público a responsabilidade de garantir a frequência escolar. Além disso, Moraes
argumentou que o ensino domiciliar pode ser uma escolha legítima das famílias,
especialmente quando fundamentada em motivos religiosos, promovendo assim o
direito fundamental à liberdade religiosa e respeitando os princípios de autonomia e
emancipação.
Portanto, o STF reconheceu a legalidade do homeschooling, desde que haja
regulamentação específica por parte do Congresso Nacional para garantir a qualidade

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e a fiscalização do ensino domiciliar no Brasil. Essa decisão representa um marco


significativo na jurisprudência do país em relação a esse tema controverso,
estabelecendo a necessidade de um equilíbrio entre o direito das famílias de
escolherem essa modalidade de ensino e a responsabilidade do Estado em assegurar
que a educação seja ministrada de acordo com padrões adequados e com a devida
supervisão. Além disso, o voto do Ministro Alexandre de Moraes destaca a importância
de reconhecer a autonomia e emancipação das famílias, especialmente quando
fundamentadas em motivos religiosos, promovendo assim o direito fundamental à
liberdade religiosa, dentro dos limites estabelecidos por uma regulamentação
apropriada.

34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente trabalho, o conceito e a prática do ensino domiciliar, conhecido


como homeschooling, foram explorados, com destaque para sua crescente
popularidade global e as diversas motivações subjacentes a essa abordagem
educacional. O homeschooling permite que os pais personalizem o currículo de seus
filhos, flexibilizem horários e atendam a preocupações com segurança e bem-estar.
Contudo, essa prática tem gerado debates sobre a socialização das crianças e a
qualidade do ensino, com regulamentações variando amplamente entre países.
No contexto legal brasileiro, a viabilidade do ensino domiciliar foi analisada,
considerando as bases legais, como a Constituição Federal de 1988, o Código Civil,
o Código Penal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação. Embora esses documentos não façam menção direta ao
homeschooling, estabelecem princípios fundamentais para a educação no Brasil.
Também foram explorados projetos de lei relacionados ao ensino domiciliar em
discussão no país.
Dois casos emblemáticos ocorridos em Anápolis, Goiás, em 2002, e em
Canela, Rio Grande do Sul, em 2015, foram analisados. No primeiro caso, o Supremo
Tribunal de Justiça decidiu contra a família Vilhena Coelho, argumentando que a
Constituição exige a frequência escolar. No segundo caso, o Supremo Tribunal
Federal considerou que o ensino domiciliar não é inconstitucional, mas requer
regulamentação específica pelo Congresso Nacional.
Diante da análise realizada, conclui-se que o objetivo central deste estudo, que
consistia em explorar a viabilidade e a legalidade do ensino domiciliar, também
conhecido como homeschooling, foi alcançado em parte. Ficou evidente que o ensino
domiciliar não é inconstitucional no Brasil, conforme confirmado pelo Supremo
Tribunal Federal (STF) em seu julgamento de 2018. Entretanto, a ausência de uma

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legislação específica para regulamentar o homeschooling deixa questões


fundamentais em aberto.
A Constituição Federal de 1988 e outros dispositivos legais estabelecem
princípios e diretrizes essenciais para a educação no país, mas não abordam
diretamente o homeschooling. Isso resulta em uma lacuna legal que demanda atenção
do poder legislativo para criar uma estrutura regulatória clara e adequada, a fim de

35
garantir que o ensino domiciliar seja praticado com qualidade, responsabilidade e em
conformidade com os princípios educacionais do Brasil.
Portanto, embora o tema do homeschooling tenha sido examinado à luz de sua
constitucionalidade, a ausência de uma lei específica que regule o assunto cria uma
lacuna significativa no sistema educacional brasileiro. Assim, para atingir plenamente
os objetivos propostos para este tema, é necessária a ação legislativa futura que
aborde essa questão complexa e promova a segurança jurídica e a qualidade da
educação no contexto do ensino domiciliar no Brasil. A reflexão sobre esse tópico
destaca a importância de que, embora a legalidade do homeschooling tenha sido
estabelecida, ainda é necessária uma regulamentação específica para atender aos
princípios e responsabilidades constitucionais relacionados à educação no país.

36
REFERÊNCIAS

ALVES, Rubens. Revista da Educação. Edição 134. 2010. Disponível em:


https://revistaensinosuperior.com.br/2011/09/10/homeschooling/. Acesso em: 03 mai.
2023.

ANDRADE, Édison Prado. A educação familiar desescolarizada como um direito


da criança e do adolescente: relevância, limites e possibilidades na ampliação
ao direito à educação. Tese de Doutorado. FEUSP. São Paulo, 2014. Disponível
em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-10112014-111617/pt-
br.php. Acesso em: 02 set. 2023.

ANED - Associação Nacional de Educação Domiciliar. Educação Domiciliar.


Disponível em: https://www.aned.org.br/index.php/conheca-educacao-domiciliar/ed-
no-mundo. Acesso em: 01 set. 2023.

BARBOSA, Luciane. Pesquisa identifica razoes que levam pais a optar por
educação domiciliar, 30 agosto. 2013. Disponível
em: https://www5.usp.br/noticias/sociedade/pesquisa-identifica-razoes-que-levam-
pais-a-optar-por-educacao-domiciliar/. Acesso em: 25 jul. 2023.

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BOTO, Carlota. ?Homeschooling?: a prática de educar em casa. Jornal da USP,


16 março. 2018. Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/homeschooling-a-pratica-
de-educar-em-casa/. Acesso em: 25 jul. 2023.

BOTO, Carlota. Projeto de homeschooling no Brasil coloca um muro entre a


família e o mundo social. Jornal da USP, 25 maio. 2022. Disponível
em: https://jornal.usp.br/atualidades/projeto-de-homeschooling-no-brasil-coloca-um-
muro-entre-a-familia-e-o-mundo-social/. Acesso em: 26 jul. 2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 888.815/RS. DIREITO


CONSTITUCIONAL. EDUCAÇÃO. ENSINO DOMICILIAR. LIBERDADES E
DEVERES DO ESTADO E DA FAMÍLIA. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. Constitui questão constitucional saber se o ensino domiciliar (homeschooling)
pode ser proibido pelo Estado ou viabilizado como meio lícito de cumprimento, pela
família, do dever de prover educação, tal como previsto no art. 205 da CRFB/1988.
2. Repercussão geral reconhecida. Relator: Min. Roberto Barroso, 4 de junho de
2015. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?
incidente=4774632. Acesso em: 10 abr.2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n° 888.815.


Constitucional. Educação. Direito Fundamental relacionado à dignidade da pessoa
humana e à efetividade da cidadania. Dever solidário do Estado e da família na
prestação do Ensino Fundamental. Necessidade de lei formal, editada pelo
Congresso Nacional, para regulamentar o Ensino Domiciliar. Recurso Desprovido.
Relator: Ministro Roberto Barroso. Redator para acórdão: Ministro Alexandre de
Moraes. DJ, 12 de set. de 2018. Disponível em:
https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE888815mAM.PDF.
Acesso em: 05 out.2023.

37

BRASIL. Constituição de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil:


promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em:
05.out.2023.

BRASIL. Decreto-Lei n° 2.848 de 1940. Código Penal: decretado em 07 de


dezembro de 1940. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 05 out.2023.

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https://copyspider.com.br/ Página 211 de 302

BRASIL. Lei n° 8.069 de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente: promulgada


em 13 de julho de 1990. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 05 out.2023.

BRASIL. Lei n° 9.394 de 1996. Lei de diretrizes e bases da educação nacional:


promulgada em 20 de dezembro de 1996. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm#:~:text=L9394&text=Estabelece
%20as%20diretrizes%20e%20bases%20da%20educa%C3%A7%C3%A3o%20nacio
nal.&text=Art.%201%C2%BA%20A%20educa%C3%A7%C3%A3o%20abrange,civil
%20e%20nas%20manifesta%C3%A7%C3%B5es%20culturais. Acesso em: 05
out.2023.

BRASIL. Lei n° 10.406 de 2002. Código Civil: promulgada em 10 de janeiro de


2002. Disponível em:
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05.out.2023.

BRASIL. Projeto de Lei 3179/2012. Altera as Leis nºs 9.394, de 20 de dezembro de


1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), e 8.069, de 13 de julho de
1990, (Estatuto da Criança e do Adolescente), para dispor sobre a possibilidade de
oferta domiciliar da educação básica. Brasília: Câmara dos Deputados, 08 dez.
2012. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=534328
. Acesso em: 06.out.2023.

MOREIRA, Alexandre Magno Fernandes. O direito à educação domiciliar. Brasília:


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Acesso em: 24 jul 2023.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Mandado de Segurança 7407/DF - Acórdão


COAD 132172 - Rel. Min. Francisco Peçanha Martins - Publ. em 21-3-2005.

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Disponível em: https://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/42/docs/ms-
ensino_fundamental-7407_stj.pdf. Acesso em: 06 out.2023.

SENADO, Agência. Senado aprofunda debate sobre educação domiciliar.

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8/12/2022. Disponível em:


https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/12/senado-aprofundadebate-
sobre-educacao-domiciliar. Acesso em: 07 out.2023.

SENADO, Agência. Senado aprofunda debate sobre educação domiciliar.


8/12/2022. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/12/senado-aprofundadebate-
sobre-educacao-domiciliar. Acesso em: 07 out.2023.

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=================================================================================
Arquivo 1: BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Arquivo 2: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2022/05/19/homeschooling-entenda-o-que-diz-o-projeto-
de-lei-aprovado-pela-camara-sobre-ensino-domiciliar.ghtml (17193 termos)
Termos comuns: 86
Similaridade: 0,34%
O texto abaixo é o conteúdo do documento BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://g1.globo.com/educacao/noticia/2022/05/19/homeschooling-entenda-o-que-diz-o-projeto-de-lei-
aprovado-pela-camara-sobre-ensino-domiciliar.ghtml (17193 termos)

=================================================================================

Cuiabá
2023

Cidade
Ano
BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

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A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO


DOMICILIAR NO BRASIL

Cuiabá
2023

A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO


DOMICILIAR NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à UNIC ?


Universidade de Cuiabá, como requisito parcial para a

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obtenção do título de graduado em Direito.


Orientadora: Denise Alcantara

BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO DOMICILIAR


NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade de Cuiabá - UNIC, como requisito
parcial para a obtenção do título de graduado
em Direito.

BANCA EXAMINADORA

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Cuiabá, dia de mês de 2023

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ARRUDA, Brenno Eduardo. A constitucionalidade do método de ensino domiciliar


no Brasil. 2023. 22 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito)
? Universidade de Cuiabá - UNIC, Cuiabá/MT, 2023.

RESUMO

O objetivo deste trabalho é discutir o ensino domiciliar, também conhecido como


homeschooling, uma prática educacional em que os pais ou responsáveis assumem
a responsabilidade de educar seus filhos em casa, ao invés de matriculá-los em uma
escola tradicional. Esta prática permite uma abordagem de ensino personalizada,
adaptada às necessidades e interesses individuais de cada criança. No entanto, a
viabilidade jurídica do ensino domiciliar no Brasil é um tema de debate. Embora alguns
pais e responsáveis defendam o direito de educar seus filhos em casa, existem
questões legais e regulatórias que precisam ser consideradas. O estudo também
analisará países onde o ensino domiciliar é regulamentado, destacando o papel da
família e do estado na educação domiciliar. Além disso, há diversas decisões judiciais
relacionadas ao ensino domiciliar no Brasil, com alguns casos de grande impacto.
Estas decisões judiciais podem ter um impacto significativo na forma como o ensino
domiciliar é praticado e regulamentado no país. Portanto, é importante compreender
o conceito de ensino domiciliar, analisar sua viabilidade jurídica no contexto brasileiro
e estar ciente das decisões judiciais relacionadas a esta prática educacional.

Palavras-chave: Direito à Educação Domiciliar. Homeschooling. Educação no Lar.


Flexibilidade da Educação Básica.

ARRUDA, Brenno Eduardo. The constitutionality of the home teaching method in


Brazil. 2023. 22 sheets. Completion of Law Course ? University of Cuiabá, Cuiabá
2023.

ABSTRACT
The aim of this work is to discuss homeschooling, also known as home education, an
educational practice in which parents or guardians take on the responsibility of
educating their children at home instead of enrolling them in a traditional school. This
practice allows for a personalized teaching approach, tailored to the individual needs
and interests of each child. However, the legal feasibility of homeschooling in Brazil is
a subject of debate. While some parents and guardians advocate for the right to
educate their children at home, there are legal and regulatory issues that need to be
considered. The study will also examine countries where homeschooling is regulated,
highlighting the roles of both the family and the state in home education. Furthermore,
there have been various legal decisions related to homeschooling in Brazil, with some

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cases of significant impact. These legal decisions can have a significant impact on how
homeschooling is practiced and regulated in the country. Therefore, it is important to
understand the concept of homeschooling, analyze its legal feasibility in the Brazilian
context, and be aware of legal decisions related to this educational practice.

Keywords: Right to Homeschooling. Homeschooling. Home Education. Flexibility of


Basic Education.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 ? Países onde o Homeschooling é legalizado segundo ANED ................ 16

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. Artigo
ANED Associação Nacional de Educação Domiciliar
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
RE Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
USP Universidade de São Paulo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING ......................................................... 10
2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO ................................................................................. 11
2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING..................................................................... 11
2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING .................................... 13
2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING ................................................ 14
2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES............... 15
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL ..................................................................................................................... 18
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO ................................................. 18
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL ....................................................................... 21
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL .................................................................. 22
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA) ............................................................................................. 23

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3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB) ................. 25


3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA ............................................................ 26
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR ............................................................................................................. 30
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 34
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36

9
1 INTRODUÇÃO

A prática do ensino domiciliar, também conhecida como homeschooling, tem


se tornado um tema de discussão relevante no contexto brasileiro. Este fenômeno
educacional, em que os pais assumem a responsabilidade de instruir seus filhos em
casa, em vez de enviá-los a uma escola convencional, suscita questionamentos
profundos sobre seus impactos, especialmente no que diz respeito às crianças e
adolescentes.
Este estudo tem como foco central a "Constitucionalidade do Ensino Domiciliar
no Brasil". Trata-se de uma questão que tem sido amplamente debatida ao longo dos
anos, sobretudo pelos pais e responsáveis que buscam a regulamentação desse
modelo educacional para proporcionar uma educação de qualidade dentro de seus
lares.
A relevância desta pesquisa é evidente, uma vez que ela busca lançar luz sobre
a legalidade do ensino domiciliar, oferecendo clareza àqueles que optam por educar
seus filhos em casa, sem temer penalizações estatais. Além disso, busca-se, por meio
de dados e evidências, explorar experiências internacionais em que o ensino
domiciliar é regulamentado, destacando o papel fundamental desempenhado tanto
pela família quanto pelo Estado na educação dos alunos no ambiente familiar.
O estudo também tem o potencial de contribuir para a compreensão desse
tema tanto na comunidade acadêmica quanto na sociedade em geral. Através da
análise doutrinária, legal, jurisdicional e constitucional, bem como da comparação de
dados educacionais, pretende-se lançar luz sobre o papel da família e do Estado no
ensino domiciliar, promovendo um debate informado e enriquecedor.
Para alcançar esses objetivos, este projeto de pesquisa adotará uma
abordagem qualitativa e descritiva, permitindo a análise das características desse
fenômeno educacional e a compreensão dos pressupostos teóricos que o envolvem.
A pesquisa abrangerá a revisão de livros, dissertações, teses, artigos e trabalhos
científicos publicados nos últimos 10 anos, além de buscas em bancos de dados
acadêmicos como o Google Acadêmico e Scielo.

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10
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING

O ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, é uma prática


que tem ganhado destaque tanto no cenário internacional quanto no contexto
brasileiro. Em todo o mundo, famílias optam por essa modalidade de ensino por uma
variedade de razões, incluindo a busca por um currículo mais personalizado, a
flexibilidade de horários e a preocupação com a segurança e o bem-estar dos filhos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o homeschooling é uma opção legal em todos os
estados, e milhares de famílias escolhem essa abordagem educacional. No entanto,
as regulamentações e atitudes em relação ao ensino domiciliar variam
consideravelmente de país para país.
Nesse contexto, Moreira (2017) esclarece que:

A educação domiciliar é uma modalidade de ensino que não obedece a uma


lógica única, massificada para todas as famílias, por basear-se no princípio
da soberania educacional da família, ou seja, seu fundamento é a liberdade
de cada família determinar como será realizada a educação de seus filhos.
(MOREIRA, 2017, p. 61).

O ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, é uma prática


que tem ganhado destaque tanto no cenário internacional quanto no contexto
brasileiro. Em todo o mundo, famílias optam por essa modalidade de ensino por uma
variedade de razões, incluindo a busca por um currículo mais personalizado, a
flexibilidade de horários e a preocupação com a segurança e o bem-estar dos filhos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o homeschooling é uma opção legal em todos os
estados, e milhares de famílias escolhem essa abordagem educacional. No entanto,
as regulamentações e atitudes em relação ao ensino domiciliar variam
consideravelmente de país para país.
Assim em revista especializada em educação foi publicado que:

Os motivos que levam os pais a optar pelo homeschooling são variados. Há


a insatisfação com as escolas, o temor em relação ao seu ambiente, interno
e externo. Os pais temem pela integridade física dos filhos. O que é
compreensível em ambientes onde existe violência. Há também as situações
em que as crianças e adolescentes são vítimas de bullying. Ir à escola é um
sofrimento diário e silencioso. A provisão legal da possibilidade de estudar
em casa eliminaria esse sofrimento que atinge milhares de crianças e
adolescentes (ALVES, 2011).

11

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2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO

O homeschooling é uma abordagem educacional na qual os pais ou


responsáveis assumem a responsabilidade de instruir seus filhos em casa, em vez de
enviá-los a uma escola tradicional. Essa prática oferece um ambiente de aprendizado
personalizado, no qual o currículo pode ser adaptado de acordo com as necessidades
e interesses individuais de cada criança. O homeschooling não se restringe a um
modelo específico; em vez disso, é uma prática flexível que pode variar amplamente
de família para família.
Na prática do homeschooling, os pais desempenham um papel fundamental na
construção do ambiente educacional de seus filhos. Isso implica não apenas na
seleção de materiais didáticos e na organização do currículo de acordo com as
aptidões e interesses únicos de cada criança, mas também na promoção de uma
atmosfera que estimule a curiosidade, a autodisciplina e a aprendizagem
independente. Além disso, o homeschooling permite uma flexibilidade rara no
processo de ensino, possibilitando a exploração de tópicos interdisciplinares e a
adaptação dos métodos de aprendizado de acordo com o ritmo de desenvolvimento
de cada aluno. Essa abordagem coloca a ênfase não apenas na obtenção de
conhecimentos acadêmicos, mas também no desenvolvimento holístico das crianças,
incluindo aspectos sociais, emocionais e éticos, tornando-se assim uma alternativa
atraente para famílias em busca de uma educação sob medida para suas
necessidades e valores.

2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING

O homeschooling tem uma longa história, datando de séculos atrás, quando as


famílias eram a principal fonte de educação. No entanto, o surgimento da escola
moderna no século XIX relegou o ensino em casa a um segundo plano. No século XX,
o homeschooling ressurgiu, impulsionado por diversos movimentos e mudanças
sociais, incluindo o movimento de contracultura dos anos 1960 e 1970. Desde então,
sua prática tem se expandido e diversificado globalmente.

12
No entanto, vale ressaltar que a formalização e a regulamentação do
homeschooling como uma opção legal de educação são mais recentes em muitos
países, incluindo o Brasil. O surgimento mais notável e o reconhecimento oficial do
homeschooling no Brasil ocorreram nas últimas décadas, principalmente a partir dos
anos 2000, quando começou a ganhar visibilidade e a ser debatido mais amplamente.
Nos Estados Unidos da América (EUA), o pioneiro do homeschooling foi Holt,
considerado o pai da desescolarização. Ele acreditava que a escola tradicional, de
certo modo, coagia as crianças a aprenderem, quando, na verdade, elas o fariam
naturalmente se tivessem a liberdade de seguir seus próprios interesses e acesso a

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uma ampla variedade de recursos. A partir de uma perspectiva da educação orgânica,


que valoriza o potencial humano como prioridade no desenvolvimento da criança,
essa linha de pensamento passou a ser chamada de unschooling e, posteriormente,
homeschooling.
No que tange as pesquisas pautas no princípio de revisão bibliográfica, é
relevante atentar-se ao fato de que:

O termo homeschooling, de língua inglesa, usual nos Estados Unidos da


América, é usado internacionalmente para identificar uma modalidade de
educação específica que é organizada e implementada pelos próprios pais
como alternativa de escolarização de seus filhos em casa e não na escola. É
traduzido, normalmente, para o português, por Educação Domiciliar, em uma
tradução literal da junção da palavra home (casa, ou lar), com a palavra
school (escola). O termo escola no gerúndio (schooling), já sugere a ideia do
próprio modelo de educação, que está carregado de um sentido de ensino
contínuo, no qual os pais se dispõem para o processo ensino aprendizagem
em formas e condições contínuas e cotidianas da vida da criança e da família,
organizadas intencionalmente ou não para o fim educativo, tais como
refeições, passeios, viagens, relacionamentos com a vizinhança, etc
(ANDRADE,2014,p. 19).

O homeschooling ganhou destaque no Brasil durante a pandemia de COVID-


19, que teve início em 2020. Com o fechamento temporário das escolas em muitas
regiões do país como medida de contenção da disseminação do vírus, muitos pais e
responsáveis foram forçados a considerar o ensino em casa como uma alternativa
viável para garantir a continuidade da educação de seus filhos.
Esse período de restrições sanitárias resultou em um aumento significativo no
interesse e na prática do homeschooling no Brasil. Muitas famílias passaram a buscar
soluções educacionais flexíveis e adaptadas às circunstâncias da pandemia,

13
recorrendo ao ensino em casa para manter o aprendizado das crianças durante os
lockdowns e as incertezas associadas à pandemia.
A pandemia também destacou a importância da adaptação e flexibilidade no
homeschooling. Pais e tutores tiveram que se ajustar rapidamente a novos métodos
de ensino online e colaborar mais estreitamente com escolas para acessar materiais
e recursos educacionais. Além disso, o ensino em casa permitiu que algumas famílias
aproveitassem o tempo em casa para explorar tópicos adicionais, incentivando a
aprendizagem autodirigida e a criatividade.
No entanto, é importante observar que o homeschooling durante a pandemia
também trouxe desafios, incluindo a necessidade de equilibrar o trabalho remoto dos
pais com a supervisão do aprendizado das crianças. O debate sobre a
regulamentação e a legalização do homeschooling no Brasil também se intensificou

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devido às mudanças trazidas pela pandemia. Portanto, o ensino domiciliar teve um


impacto notável no contexto da educação brasileira durante a crise da COVID-19,
levantando questões importantes sobre como essa prática deve ser abordada e
regulamentada no país.

2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING

O homeschooling, ou ensino domiciliar, é uma abordagem educacional que se


baseia em princípios e abordagens específicas. Embora haja variações na prática do
homeschooling, alguns princípios e abordagens comuns incluem a individualização da
educação, onde os pais ou tutores adaptam o currículo de acordo com as
necessidades e interesses de cada criança, promovendo um aprendizado
personalizado. Além disso, o homeschooling incentiva a aprendizagem autodirigida,
capacitando as crianças a tomar decisões sobre o que e como aprendem, promovendo
a responsabilidade pela própria educação e o desenvolvimento de habilidades de
aprendizado independentes.
Assim para MOREIRA (2017, p.10), ?pesquisas demonstram que essas
crianças estão bem preparadas em sentido acadêmico e social para participar de uma
democracia liberal?.
Uma das vantagens do homeschooling é a flexibilidade, permitindo que as
famílias adaptem o horário de aprendizado para atender às necessidades individuais,

14
aproveitando oportunidades de aprendizado fora do ambiente escolar tradicional. Isso
é complementado pelo uso de uma ampla variedade de recursos educacionais,
incluindo livros, materiais didáticos, recursos online, visitas a museus e aulas
particulares, que enriquecem a abordagem educacional.
No homeschooling, valoriza-se a educação informal, reconhecendo que as
experiências cotidianas, viagens, atividades ao ar livre e interações com a
comunidade são oportunidades valiosas de aprendizado. Os pais desempenham um
papel fundamental no ensino domiciliar, projetando o currículo, fornecendo instrução
e apoio, e acompanhando o progresso acadêmico e social de seus filhos.
Além disso, o homeschooling coloca ênfase não apenas na educação
acadêmica, mas também no desenvolvimento integral da criança, incluindo aspectos
sociais, emocionais e éticos. Essa abordagem é especialmente atraente para famílias
com crianças com necessidades educacionais especiais, uma vez que permite uma
adaptação mais precisa a essas necessidades.

2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING

Apesar de seus princípios e benefícios percebidos, o homeschooling é objeto


de debates e controvérsias em todo o mundo. Um dos principais pontos de debate diz
respeito à socialização das crianças educadas em casa, uma vez que podem ter

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menos oportunidades de interagir com seus pares. Além disso, questões relacionadas
à qualidade da supervisão educacional e à capacidade dos pais de fornecer um ensino
adequado em todas as disciplinas são frequentemente levantadas. Críticos
argumentam que, sem uma supervisão rigorosa, algumas crianças podem não
receber a educação de qualidade necessária.
De acordo com a pedagoga (Barbosa, 2013), autora do estudo, a prática do
homeschooling:

Segundo os dirigentes das associações canadenses de ensino domiciliar


entrevistados por Luciane, a ausência da escola não leva a uma falta de
socialização. ?Ao contrário, eles argumentam que a instituição escolar leva a
uma socialização restrita, por segregarem as crianças por idade?, diz. ?No
Canadá, as bibliotecas e ginásios esportivos possuem programas voltados
para ?homeschoolers?, e normalmente os pais que ensinam os filhos em casa
são filiados a duas ou mais associações do setor. Também há uma
preocupação em desenvolver a participação social dos filhos nas
comunidades em que vivem, pois consideram que a escola oferece um

15
conceito de cidadania ligado apenas ao conhecimento de fatos históricos e
ao exercício do voto? (BARBOSA, 2013).

Nesse viés, (Boto, 2022), pesquisadora da USP, diz que:

Os estudos sobre o ensino domiciliar têm mostrado que há um vetor religioso


acerca das famílias que escolhem esse tipo de educação para os filhos, pois
não querem que eles tenham contato com teorias educacionais consideradas
ímpias. A professora considera isso grave e diz que é importante que as
crianças aprendam conteúdos que possam contrariar os interesses dos pais,
já que isso faz parte do aprendizado. Ela ainda afirma que é perigoso a família
se colocar como a única instituição na vida de uma criança (BOTO, 2022).

2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES

A prática do homeschooling, ou ensino em casa, é regulamentada de maneira


diversa ao redor do mundo. Cada país estabelece suas próprias diretrizes para pais
que optam por educar seus filhos em casa, variando desde o reconhecimento legal e
regulamentação específica até proibições rigorosas. Para entender melhor essas
abordagens, examinaremos como alguns países de referência, como os Estados
Unidos, Canadá, Alemanha e Austrália, lidam com a regulamentação do
homeschooling e os resultados que obtiveram.
Nos Estados Unidos, o homeschooling é legal e praticado em todo o país, mas
os requisitos e regulamentos variam de estado para estado. Alguns estados exigem

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notificação prévia às autoridades educacionais locais, enquanto outros impõem testes


padronizados ou avaliações regulares do progresso educacional. Por outro lado, na
Alemanha, o homeschooling é proibido pela lei, com poucas exceções, devido às
preocupações do governo sobre a integração social das crianças. No Canadá, as
províncias têm abordagens distintas, algumas exigindo exames oficiais de avaliação,
enquanto outras pedem apenas notificação às autoridades de ensino local. A
diversidade de regulamentação também é vista na Austrália, com inspeções
regulares, avaliações de progresso e diretrizes curriculares específicas.
No que tange ao homeschooling no Canadá, a pedagoga (Barbosa, 2013)
observou como é posto em prática o ensino domiciliar:

A pedagoga realizou parte do estudo no Canadá, país onde a prática do


?homeschooling? é permitida. ?A regulamentação varia conforme as
províncias, algumas exigem a prestação dos exames de avaliação oficiais,

16
outras pedem apenas que a diretoria de ensino local seja comunicada?, relata.
?Ao entrevistar as famílias canadenses, percebe-se que embora a motivação
religiosa esteja muito presente, os pais também optam pelo ensino em casa
pela questão de custos (famílias mais numerosas) ou por terem filhos com
deficiência, entre outras razões? (BARBOSA, 2013).

A diversidade de abordagens à regulamentação do homeschooling ao redor do


mundo reflete a complexidade das questões envolvidas. Nos Estados Unidos, a
abordagem descentralizada permite flexibilidade para os pais, mas também pode
resultar em disparidades significativas na qualidade da educação em casa,
dependendo do estado em que se encontram. Por outro lado, na Alemanha, a
proibição do homeschooling é uma tentativa de garantir a socialização e a educação
uniforme das crianças, mas levanta questões sobre os direitos dos pais de decidirem
como educar seus filhos. No Canadá e na Austrália, a variedade de regulamentações
indica uma tentativa de equilibrar a autonomia dos pais com a necessidade de garantir
que as crianças recebam uma educação adequada.
Nesse ensejo, a Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED), que é
uma associação dos pais que defendem os estudos em casa, divulgou dados dos
países onde a prática do hommescooling é legal, conforme imagem abaixo:

Figura 1 - Legalidade do ensino doméstico por país.

PAÌSES: África África do Sul, Oceania Austrália, Nova Zelândia. Ásia Filipinas, Japão, América Norte
EUA, Canadá, Sul Colômbia, Chile, Equador, Paraguai. Europa Portugal, França, Itália, Reino Unido,
Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria, Finlândia, Noruega, Rússia.

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Fonte: Mapa e quadro divulgados pela ANED (2021).

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Em vários países europeus, como França e Bélgica, o homeschooling é


estritamente regulamentado e desencorajado, com ênfase na importância da
socialização e da educação em escolas reconhecidas. No entanto, na Suécia, o
homeschooling é permitido sob condições específicas, desde que os pais sigam um
currículo nacional. A regulamentação do homeschooling ao redor do mundo reflete
uma variedade de abordagens culturais, educacionais e políticas, com o objetivo de
equilibrar o direito dos pais de educar seus filhos em casa com o interesse público em
garantir uma educação de qualidade e a socialização adequada das crianças.
De acordo com a pesquisadora (Boto,2018):

Nos Estados Unidos, país que possui hoje mais de 2 milhões de crianças em
idade escolar fora da escola, um dos principais motivos para a prática
do homeschooling é religioso. São as minorias religiosas, bem como minorias
étnicas que, de acordo com os estudos sobre o assunto, aderem a essa nova
modalidade de educação. Entre 1999 e 2010 ocorreu um crescimento
superior a 100% e, para o conjunto dos Estados norte-americanos, há um
contingente de quase 4% de crianças que hoje não frequentam mais a escola.
Na Rússia, entre 2008 e 2012, teria ocorrido ampliação de 900% nas práticas
de homeschooling. Na Alemanha, país que proibiu a prática em seu território,
há inúmeros casos de casais que foram multados e até presos por não
enviarem os filhos à escola (BOTO, 2018).

É evidente que a regulamentação do homeschooling é uma questão complexa


que envolve o equilíbrio entre os direitos individuais dos pais e o interesse público na
educação e socialização das crianças. O debate sobre como melhor abordar essa
questão continua a evoluir à medida que os países buscam encontrar um equilíbrio
entre a liberdade de escolha educacional dos pais e a responsabilidade do Estado de
garantir que todas as crianças recebam uma educação de qualidade e sejam
integradas na sociedade de maneira adequada.

18
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL

No cenário brasileiro, a análise da viabilidade jurídica do estudo domiciliar


requer um entendimento abrangente do contexto legal e regulatório que rege o
sistema educacional. A Constituição Federal de 1988 estabelece princípios essenciais

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que fundamentam a educação no Brasil, enfatizando a responsabilidade


compartilhada entre a família, a sociedade e o Estado na proteção dos direitos das
crianças e adolescentes. O Código Civil reforça o papel dos pais na criação e
educação de seus filhos, e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece
diretrizes específicas para a educação e proteção de menores. Paralelamente, a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) define os princípios gerais da educação
brasileira. Além disso, existem projetos de lei que podem definir o estudo em casa no
Brasil nas mãos dos deputados.
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO
A Constituição Federal de 1988, um marco fundamental na legislação brasileira,
estabelece princípios que guiam a educação no país e atribui responsabilidades tanto
ao Estado quanto à sociedade e às famílias. O Artigo 227 da Constituição Federal de
1988 é um dos pontos centrais nesse contexto:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,


ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL,1988).

Este artigo estabelece que é um compromisso da família, sociedade e Estado


garantir, de forma prioritária, o direito à vida, saúde, alimentação, educação, lazer,
profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e
comunitária das crianças, adolescentes e jovens, além de protegê-los contra qualquer
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
O Artigo 227 da Constituição Federal coloca as crianças, adolescentes e jovens
no centro das preocupações da sociedade e do Estado, enfatizando a necessidade
de criar um ambiente seguro e saudável para o seu desenvolvimento. Ele destaca a

19
educação como um dos pilares fundamentais para o crescimento pleno desses
indivíduos, enfatizando a necessidade de protegê-los contra ameaças e violações de
seus direitos, conforme previsto na Constituição.
Na conjuntura atual, o Artigo 227 mantém sua relevância como diretriz
essencial para a formulação de políticas educacionais e sociais no Brasil. No entanto,
desafios persistentes, como a desigualdade no acesso à educação e a violação dos
direitos das crianças, exigem esforços contínuos para garantir a implementação eficaz
das disposições desse artigo.
O compromisso da família, sociedade e Estado em proporcionar um ambiente
favorável ao crescimento e desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens é
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Portanto, é
crucial que todos os esforços sejam direcionados para garantir o respeito a esses

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direitos e para assegurar que todos os jovens tenham igualdade de oportunidades


para receber uma educação de qualidade, conforme preconizado pelo Artigo 227 da
Constituição Federal de 1988. Em resumo, o Artigo 227 continua a servir como
alicerce para a proteção e promoção dos direitos da juventude, sendo essencial para
garantir um futuro mais promissor às gerações vindouras.
A Constituição Federal de 1988 também estabelece, no Artigo 208, os deveres
do Estado em relação à educação no Brasil. Esses deveres incluem:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a


garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)
anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a
ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos
de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por
meio de programas suplementares de material didáticoescolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009)
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua
oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

20
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela freqüência à escola (BRASIL,1988).

Essas responsabilidades do Estado refletem um compromisso com a promoção


de uma educação acessível, inclusiva e de qualidade para todos os cidadãos
brasileiros. No entanto, o cumprimento desses deveres enfrenta desafios constantes,
principalmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, com
significativas desigualdades regionais.
O pensamento subjacente a esse contexto destaca a importância da educação
como um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico da nação.

Relatório gerado por CopySpider Software 2023-11-06 10:12:15


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Garantir igualdade de oportunidades educacionais para todos é essencial para


promover a justiça social e formar cidadãos capacitados e engajados. Portanto, a
implementação eficaz desses deveres estabelecidos no Artigo 208 é fundamental para
alcançar esses objetivos e construir uma sociedade mais equitativa e próspera.
Além disso, vale ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição Federal:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho (BRASIL,1988).

O Artigo 205 da Constituição Federal estabelece a educação como um direito


universal e um dever compartilhado entre o Estado e a família, sendo promovido e
incentivado com a colaboração da sociedade. A educação, de acordo com este
dispositivo, tem um propósito que vai além da mera transmissão de conhecimento. Ela
busca o completo desenvolvimento da pessoa, preparando-a para o exercício pleno
da cidadania e qualificando-a para o mercado de trabalho.
Entretanto, a interpretação do Artigo 205 não é unânime. Alguns argumentam
que a redação atual desse artigo é vaga e que a finalidade educacional parece
priorizar a formação de indivíduos funcionalmente integrados na estrutura social em
detrimento do desenvolvimento integral do ser humano. Nesse contexto, questiona-se
se a educação no Brasil, conforme delineada na Constituição, atende efetivamente às
necessidades de desenvolvimento individual ou se foca excessivamente na
preparação para o mercado de trabalho em detrimento do crescimento pessoal e da
promoção da busca pelo conhecimento.

21
Essa discussão levanta questões fundamentais sobre a finalidade da educação
e destaca a necessidade de repensar o sistema educacional para garantir que ele não
só atenda às demandas econômicas, mas também promova o crescimento pessoal,
o aprendizado contínuo e a realização individual. A revisão dos currículos, métodos
de ensino e políticas educacionais pode ser necessária para promover uma educação
mais abrangente e significativa, em consonância com o Artigo 205 da Constituição
Federal.
Ademais, é importante ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição
Federal como um alicerce legal para direcionar a educação no Brasil e garantir que
ela cumpra seu papel essencial no desenvolvimento das pessoas, na formação de
cidadãos ativos e na preparação para o mercado de trabalho.
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL
O Código Civil brasileiro, em seu Artigo 1.634, regulamenta o poder de família,
estabelecendo os seguintes termos:

Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação

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conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação; (BRASIL,2002).

Esse dispositivo legal é o cerne do múnus familiar em relação à obrigação


jurídica de fornecer educação e criação para os seus infantes.
O Código Civil também serve como referência relevante para compreender a
educação domiciliar, um tema que tem gerado debates significativos nos últimos anos.
Embora o Código Civil não faça menção direta à educação em casa, ele estabelece
os deveres e poderes dos pais em relação à criação e educação dos filhos,
destacando a importância da família nesse processo.
No entanto, a educação domiciliar levanta questões específicas em relação à
sua legalidade e regulamentação, que podem variar de acordo com a legislação
educacional vigente. Isso torna essencial que os pais compreendam as leis de
educação em seu país e busquem aconselhamento adequado caso desejem optar
pela educação em casa.

22
O debate sobre a educação domiciliar aborda questões relativas à qualidade
da educação, à socialização das crianças e à capacidade dos pais de proporcionarem
um ambiente educacional adequado em casa. Portanto, a interação entre os direitos
dos pais e o interesse público na formação educacional das crianças é complexa e
deve ser tratada em conformidade com as normas legais aplicáveis.
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL
O Artigo 246 do Código Penal Brasileiro destaca-se como uma peça legislativa
de grande importância no âmbito educacional e jurídico, abordando o dever dos pais
ou responsáveis de providenciar a instrução primária para seus filhos em idade
escolar. Simultaneamente, esse dispositivo legal está relacionado ao estudo
domiciliar, conforme estipula o referido artigo: "Deixar, sem justa causa, de prover à
instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um
mês, ou multa" (BRASIL, 1940).
Este artigo normativo estabelece que a omissão injustificada em fornecer a
instrução primária a um filho em idade escolar configura uma infração sujeita a
penalidades específicas. Tais penalidades incluem detenção com duração de quinze
dias a um mês, bem como a imposição de multa.
A relevância do Artigo 246 reside na ênfase dada à obrigação da educação
primária, um direito fundamental da criança garantido pela legislação brasileira. A
garantia do acesso à educação é crucial para o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos essenciais ao longo da vida. Além disso, a educação desempenha um
papel vital na formação do cidadão e na promoção do bem-estar social.
Nesse contexto, o Artigo 246 do Código Penal visa assegurar que os pais ou
responsáveis cumpram o dever legal de proporcionar a instrução primária a seus filhos
em idade escolar, contribuindo para a formação educacional e cidadã das futuras

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gerações. Ao mesmo tempo, este artigo também suscita questões relacionadas ao


estudo domiciliar. Quando realizado em conformidade com as normas e
regulamentações estabelecidas, o estudo domiciliar permite que os pais assumam um
papel ativo na educação de seus filhos, desde que cumpram os requisitos legais e
assegurem a qualidade da educação em ambiente domiciliar. Isso demonstra o
compromisso do sistema legal brasileiro em conciliar o direito dos pais de escolherem

23
a modalidade educacional de seus filhos com a necessidade de garantir a adequada
formação e proteção das futuras gerações.
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece diretrizes
específicas em relação à educação das crianças e adolescentes. Ele alinha-se ao
entendimento conforme expresso no ?Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação
de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino? (BRASIL, 1990).
Além disso, o Artigo 4º do ECA menciona o dever da família em relação ao
menor, conforme previsto no artigo, que estabelece:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder


público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1990).

Essa obrigação legal encontra respaldo nos princípios estabelecidos no Artigo


53 do ECA, que determina que crianças e adolescentes têm o direito à educação,
visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho. Além disso, o referido artigo prevê seus
direitos, como evidenciado no próprio texto:

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno


desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias
escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; (BRASIL,
1990).

O Artigo 54, por sua vez, estabelece o dever do Estado de garantir o direito à
educação das crianças e adolescentes, como expresso no texto a seguir:

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Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:


I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não
tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

24
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
(Revogado)
IV ? atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos
de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua
oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável,
pela freqüência à escola. (BRASIL, 1990).

Portanto, de acordo com seu §1º, é de responsabilidade do Estado efetivar os


direitos relacionados à educação, assegurando a igualdade de condições para o
acesso e a permanência na escola.
O pensamento subjacente a essas disposições do ECA enfatiza a importância
da educação para o desenvolvimento integral da criança e do adolescente,
preparando-os para uma participação ativa na sociedade e qualificando-os para
futuras oportunidades de trabalho. O ECA coloca a responsabilidade sobre os pais e
o Estado para garantir que a educação seja acessível e eficaz para as crianças e
adolescentes, de acordo com o Artigo 1º do ECA, que preconiza a proteção integral
como princípio norteador.
Entretanto, é importante ressaltar que, assim como no caso da Constituição
Federal, o ECA não faz menção direta à educação domiciliar (homeschooling).
Portanto, a prática da educação em casa levanta questões sobre a conformidade com
essas leis e regulamentos e deve ser considerada cuidadosamente à luz do contexto
legal em vigor. O debate sobre a educação domiciliar gira em torno das necessidades

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das crianças, da qualidade da educação e da capacidade dos pais de fornecer um


ambiente educacional apropriado em casa, ao mesmo tempo em que respeitam as
leis e regulamentações existentes.

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3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabelece princípios
essenciais relacionados à educação no Brasil segundo o Artigo 2º destaca que:

Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de


liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1996).

Assim, verifica-se que a responsabilidade pela educação é compartilhada entre


a família e o Estado, e deve ser baseada nos princípios da liberdade e solidariedade
humana. Além disso, a educação deve ter como finalidade o pleno desenvolvimento
do educando, preparando-o para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.
Adicionalmente, o Artigo 6º da mesma lei impõem que ?É dever dos pais ou
responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4
(quatro) anos de idade? (BRASIL, 1990). Essa disposição, estabelecida no Artigo 6º,
reforça a necessidade de que os pais ou responsáveis efetuem a matrícula das
crianças na educação básica a partir dos 4 anos de idade.
Esse conjunto de responsabilidades do Estado reflete o compromisso com a
promoção de uma educação acessível, inclusiva e de qualidade para todos os
cidadãos brasileiros. No entanto, o cumprimento desses deveres é um desafio
constante, especialmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, com
desigualdades regionais significativas.
O pensamento subjacente a esse contexto destaca a importância da educação
como um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico de uma nação.
Garantir que todos tenham igualdade de oportunidades educacionais é essencial para
promover a justiça social e a formação de cidadãos capacitados e engajados.
Portanto, a implementação eficaz desses deveres está também estabelecida no Artigo
208 da Constituição Federal, que diz que é fundamental para alcançar esses objetivos
é construir uma sociedade mais equitativa e próspera

26
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA
O tema da educação domiciliar tem sido objeto de intensos debates no âmbito
legislativo brasileiro, com vários projetos de lei apresentados ao longo dos anos.
Essas propostas visam redefinir a dinâmica educacional, distribuindo

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responsabilidades entre o Estado e as famílias, a fim de permitir o ensino em casa.


Para que isso ocorra, é necessária uma ativa movimentação do Poder
Legislativo, pois este é o órgão responsável pela fiscalização e criação de leis.
Atualmente, não existe nenhuma lei que valide a educação domiciliar no Brasil,
embora tenham sido apresentados diversos projetos de lei sobre o tema ao longo do
tempo.
Em um breve passeio pela história legislativa, um desses projetos que merece
destaque é o Projeto de Lei nº 6001/2001, de autoria de Ricardo Izar. Este projeto
visava atribuir aos pais a responsabilidade pela educação de seus filhos, dispensando
os alunos que comprovassem educação em casa da obrigatoriedade de frequentar
uma escola e cumprir uma carga horária mínima anual. Nas justificativas
apresentadas, Izar argumentou que deixar o Estado como único provedor de
educação era um abuso de poder e que forçar as crianças a frequentar a escola as
expunha diariamente a drogas e violência, além de uma orientação pedagógica que
poderia ser contrária às convicções filosóficas e religiosas de algumas famílias.
No entanto, após anos de tramitação, esse projeto foi rejeitado e arquivado em
2007. A justificativa para a rejeição foi que a proposta era elitista, já que apenas
famílias com formação educacional adequada e tempo disponível poderiam desfrutar
desse direito, excluindo grande parte da população com menor poder aquisitivo.
Outros projetos de lei seguiram o Projeto de Lei nº 6001/2001, como o Projeto
de Lei 4122/2008 e o Projeto de Lei 3518/2008, que propunham alterações na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
No entanto, essas propostas também foram rejeitadas, argumentando que elas
contrariavam a legislação existente e que a eficácia do ensino domiciliar não havia
sido devidamente demonstrada. A Comissão afirmou que a experiência e a vivência
cotidiana nas escolas eram fundamentais para a aprendizagem e o desenvolvimento
das crianças.

27
Em 2012, o deputado Lincoln Portela elaborou o Projeto de Lei 3179, buscando
acrescentar o ensino domiciliar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As modificações propostas e outros projetos relacionados a ele serão abordados a
seguir.
O Projeto de Lei 3261 de 2015, de autoria do Deputado Eduardo Bolsonaro,
busca autorizar a educação domiciliar, introduzindo várias alterações na Lei nº 9.394
de 1996 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em junho de 2018, o deputado Alan Rick apresentou o Projeto de Lei
10185/2018, propondo alterações no artigo 5º da Lei nº 9.394 de 1996 para especificar
que o dever do Poder Público de garantir a frequência à escola pode ser substituído
pelo zelo no desenvolvimento adequado no caso da educação domiciliar.
O Projeto de Lei 3159, de 2019, de autoria da Deputada Natália Bonavides,
busca acrescentar ao artigo 5º da Lei nº 9394 de 1996 um parágrafo afirmando que a
educação domiciliar não pode substituir a frequência à escola.

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No mesmo ano, foi apresentado o Projeto de Lei 2401/2019, de autoria do


Poder Executivo, que propõe a regulamentação da educação básica domiciliar em
uma lei isolada. Suas disposições são mais detalhadas do que as propostas dos
projetos de lei mencionados anteriormente. O projeto torna explícito que a educação
domiciliar é um direito de escolha dos pais e responsáveis, assegura a igualdade dos
estudantes dessa modalidade com os da educação presencial e estabelece requisitos,
como o registro da educação domiciliar em uma plataforma virtual do Ministério da
Educação e a avaliação anual dos alunos de acordo com a Base Nacional Comum
Curricular.
Além disso, o projeto proíbe a educação domiciliar para pais ou responsáveis
que cumpram penas por crimes previstos em várias normas legais e prevê a perda do
direito de optar pela educação domiciliar no caso de reprovação em duas ou três
oportunidades ou de falta injustificada na avaliação anual.
Há também ajustes propostos para a Lei 9.394 de 1996 e o Estatuto da Criança
e do Adolescente para torná-los compatíveis com a educação domiciliar.
Os projetos de Lei 5852/2019 e 6188/2019, propostos pelos deputados Pastor
Eurico e Geninho Zuliani, pretendem inserir na Lei 9.394 de 1996 a possibilidade de a
Educação Básica ser ministrada por tutores autônomos em locais diferentes das
instituições oficiais de ensino. O segundo projeto busca autorizar a educação

28
domiciliar apenas quando for constatada a inadequação ou impossibilidade de
inclusão do estudante na rede regular de ensino, permitindo ainda o acesso a espaços
e equipamentos públicos.
Esses projetos apensados ao Projeto de Lei 3179/2012 demonstram a
abundância de discussões em torno da educação domiciliar e sua importância no
ordenamento jurídico.
Considerando as contribuições desses projetos de lei, a deputada Luísa
Canziani apresentou um Substitutivo ao Projeto de Lei 3179 de 2012 e suas emendas.
Ela sugeriu apenas a rejeição do Projeto de Lei 3159 de 2019.
Ao Substitutivo foram apresentadas 15 emendas de Plenário, sendo aprovada
apenas a emenda de plenário nº 8, que busca acrescentar um parágrafo único ao
artigo 246 do Código Penal, estabelecendo que os pais ou responsáveis que optam
pela educação domiciliar não incorrem no crime de abandono intelectual de seus
filhos. Quanto às demais emendas, foi sugerida a rejeição.
A redação final do Projeto de Lei 3179/2012 inclui no escopo da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional a possibilidade de oferta domiciliar da
educação básica. O projeto prevê obrigações para os pais, como a matrícula anual do
estudante em uma instituição de ensino credenciada, o cumprimento dos conteúdos
curriculares de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, a realização de
atividades pedagógicas, o registro periódico dessas atividades com envio de relatórios
trimestrais, o acompanhamento do desenvolvimento do estudante por um docente
tutor da instituição de ensino, avaliações anuais de aprendizagem e a participação em

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exames nacionais, estaduais ou municipais, se selecionados.


O projeto também prevê a perda do direito à opção pela educação domiciliar
nas hipóteses de insuficiência de progresso do educando, reprovações ou faltas
injustificadas nas avaliações. Além disso, estabelece a proibição da educação
domiciliar para pais ou responsáveis que cumpram penas por crimes específicos.
Também é importante mencionar o Projeto de Lei 3262/2019, que propõe
alterações no Código Penal para que a educação domiciliar não seja considerada um
crime de abandono intelectual. Esta proposta se originou devido a casos de famílias
que enfrentaram perseguições legais devido à educação domiciliar.
Assim, a educação domiciliar no Brasil é um tema de debate contínuo no
cenário legislativo, com diversos projetos de lei apresentados ao longo dos anos,

29
refletindo as complexidades em torno do homeschooling e suas implicações no
sistema educacional brasileiro. O Projeto de Lei 3179/2012 foi aprovado pela Câmara
dos Deputados em 19 de maio de 2022 e atualmente encontra-se em análise no
Senado Federal como Projeto de Lei Nº 1.388/2022, aguardando a próxima fase do
processo legislativo na Comissão de Educação do Senado, tendo o senador Flávio
Arns como relator.

30
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR

O assunto do ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, tem


sido objeto de análise pelo Poder Judiciário no contexto dos Direitos Fundamentais e
Individuais. Dois casos de grande repercussão social se destacam, ocorridos nas
cidades de Anápolis, estado de Goiás, e Canela, no Rio Grande do Sul.
O primeiro ocorreu em 2002, o caso emblemático da família Vilhena Coelho,
residente em Anápolis, Goiás, ocorrido em 2002. Nesse episódio, os pais desta
família, representando seus três filhos menores, impetraram o Mandado de Segurança
n° 7.407, datado de 24 de abril de 2002, junto ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
O propósito deste recurso constitucional era a reversão do ato do Ministério da
Educação (MEC), que havia homologado o Parecer Consultivo n° 34 de 04 de
dezembro de 2000 da Câmara de Ensino Básico (CEB) do Conselho Nacional de
Educação (CNE). Este parecer negou a possibilidade da educação domiciliar, apesar
da demonstração de que tal modalidade vinha ocorrendo de forma eficiente, com
avaliações sendo realizadas.
No cerne das decisões administrativas que desencadearam esse episódio está
a ideia de que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996 e
a Constituição Federal de 1988 são explícitas quanto à obrigatoriedade do ensino

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escolar, bem como da frequência dos alunos devidamente matriculados, de acordo


com o mencionado parecer.
O relator do processo no STJ, o Ministro Francisco Peçanha Martins, votou em
desfavor da pretensão da família, argumentando que não existia direito líquido e certo
na solicitação e que o MEC não havia agido com abuso ao aprovar o parecer do
CEB/CNE. Para ele, os dispositivos constitucionais determinavam que o ensino
escolar era obrigatório, assim como a frequência dos alunos matriculados em escolas
regulares.
Outros ministros que compartilharam desse entendimento no STJ foram
Humberto Gomes de Barros, Eliana Calmon, Francisco Falcão, Laurita Vaz e Garcia
Vieira. Os votos vencidos foram dos Ministros Franciulli Netto e Paulo Medina.
Para o Ministro Franciulli Netto, a educação deveria ser analisada à luz do
pluralismo do Estado Democrático de Direito, permitindo o direito à liberdade de
escolher outra modalidade de ensino. Ele observou que as crianças demonstraram

31
um notável desempenho, estando um ano à frente de suas idades, o que, em sua
visão, habilitava os pais a assumir a função de garantir diretamente a educação formal.
Para ele, a frequência escolar era um fator secundário, e a educação transcenderia a
mera transmissão de informações, sendo a família a principal responsável pela
formação, não apenas intelectual, mas também cidadã e social das crianças e
adolescentes.
O Ministro Paulo Medina também enfatizou as liberdades constitucionais
relacionadas à educação e o pluralismo de ideias, bem como a responsabilidade do
Estado em fiscalizar as atividades da família para garantir a efetivação dos fins
constitucionais relacionados à educação.
No final, os pais tiveram que acatar a decisão do STJ e realizar a matrícula de
seus filhos em uma escola regular.
O segundo caso ocorreu em meados de 2015, quando chegou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança impetrado pelos pais de uma
criança de onze anos, que tiveram sua solicitação de educação domiciliar negada pelo
órgão municipal e, posteriormente, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A
parte recorrente alegou violação de diversos artigos da Constituição, argumentando
que a educação não se restringe à instrução formal em uma instituição convencional
de ensino, especialmente diante da diversidade de ideias e concepções pedagógicas,
bem como dos avanços tecnológicos.
No seu pronunciamento, o Ministro Luís Roberto Barroso destacou o ensino
domiciliar como um fenômeno emergente em diversos países, incluindo o Brasil, com
um crescente número de adeptos, e a possibilidade de redução dos gastos públicos
com sua adoção. O reconhecimento da natureza constitucional do debate sobre a
capacidade das famílias de prover educação levou o Ministro a enfatizar a importância
de definir a relação entre o Estado e a família na educação de crianças e
adolescentes, bem como os limites da autonomia privada em relação às imposições

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estatais.
Barroso concluiu que a improcedência do pedido baseou-se na falta de uma
norma regulamentar, não na inconstitucionalidade do homeschooling. Além disso,
salientou que, como se tratava de uma questão de repercussão geral, a decisão tinha
efeito erga omnes, aplicável a todas as partes envolvidas na lide, sendo uma decisão
histórica e de extrema importância por reconhecer a colaboração entre o Estado e a

32
família na prestação do ensino fundamental e pela legalização do homeschooling no
Brasil.
Posteriormente, em 2018, o processo foi colocado em pauta e, após o
julgamento, a Corte determinou que o ensino domiciliar não é um meio lícito para
cumprir o dever de prover educação a crianças e adolescentes, embora não tenha
sido considerado inconstitucional. A maioria dos ministros votou pelo desprovimento
do recurso extraordinário, uma vez que não havia uma lei que regulamentasse a
prática.
O Ministro Luís Roberto Barroso, ao fundamentar seu voto, destacou que a
Constituição Federal não proíbe o homeschooling e que o ensino domiciliar é
compatível com o ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a maioria dos ministros
argumentou que é necessária uma regulamentação prévia pelo Congresso Nacional,
estabelecendo requisitos e mecanismos de avaliação e fiscalização, para atender ao
disposto no Art. 208, §3º da Constituição, que atribui ao poder público o dever de zelar
pela frequência à escola. Esta decisão do Supremo Tribunal Federal, portanto,
representa um marco importante na jurisprudência brasileira em relação a este
assunto controverso.
No seu voto, o Ministro Alexandre de Moraes apresentou uma perspectiva
fundamental no julgamento do ensino domiciliar, sustentando que a prática não é
inconstitucional, desde que haja uma regulamentação prévia. Ele destacou que o
homeschooling de natureza utilitarista, que segue o conteúdo do ensino escolar e
permite fiscalização e avaliações periódicas, é compatível com a Constituição,
contudo, ressaltou que essa modalidade requer uma colaboração entre as famílias e
o Estado. O Ministro enfatizou a importância de o Congresso Nacional regulamentar
essa prática, a fim de estabelecer requisitos e mecanismos de avaliação e
fiscalização, como previsto no Art. 208, §3º da Constituição, o qual atribui ao poder
público a responsabilidade de garantir a frequência escolar. Além disso, Moraes
argumentou que o ensino domiciliar pode ser uma escolha legítima das famílias,
especialmente quando fundamentada em motivos religiosos, promovendo assim o
direito fundamental à liberdade religiosa e respeitando os princípios de autonomia e
emancipação.
Portanto, o STF reconheceu a legalidade do homeschooling, desde que haja
regulamentação específica por parte do Congresso Nacional para garantir a qualidade

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e a fiscalização do ensino domiciliar no Brasil. Essa decisão representa um marco
significativo na jurisprudência do país em relação a esse tema controverso,
estabelecendo a necessidade de um equilíbrio entre o direito das famílias de
escolherem essa modalidade de ensino e a responsabilidade do Estado em assegurar
que a educação seja ministrada de acordo com padrões adequados e com a devida
supervisão. Além disso, o voto do Ministro Alexandre de Moraes destaca a importância
de reconhecer a autonomia e emancipação das famílias, especialmente quando
fundamentadas em motivos religiosos, promovendo assim o direito fundamental à
liberdade religiosa, dentro dos limites estabelecidos por uma regulamentação
apropriada.

34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente trabalho, o conceito e a prática do ensino domiciliar, conhecido


como homeschooling, foram explorados, com destaque para sua crescente
popularidade global e as diversas motivações subjacentes a essa abordagem
educacional. O homeschooling permite que os pais personalizem o currículo de seus
filhos, flexibilizem horários e atendam a preocupações com segurança e bem-estar.
Contudo, essa prática tem gerado debates sobre a socialização das crianças e a
qualidade do ensino, com regulamentações variando amplamente entre países.
No contexto legal brasileiro, a viabilidade do ensino domiciliar foi analisada,
considerando as bases legais, como a Constituição Federal de 1988, o Código Civil,
o Código Penal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação. Embora esses documentos não façam menção direta ao
homeschooling, estabelecem princípios fundamentais para a educação no Brasil.
Também foram explorados projetos de lei relacionados ao ensino domiciliar em
discussão no país.
Dois casos emblemáticos ocorridos em Anápolis, Goiás, em 2002, e em
Canela, Rio Grande do Sul, em 2015, foram analisados. No primeiro caso, o Supremo
Tribunal de Justiça decidiu contra a família Vilhena Coelho, argumentando que a
Constituição exige a frequência escolar. No segundo caso, o Supremo Tribunal
Federal considerou que o ensino domiciliar não é inconstitucional, mas requer
regulamentação específica pelo Congresso Nacional.
Diante da análise realizada, conclui-se que o objetivo central deste estudo, que
consistia em explorar a viabilidade e a legalidade do ensino domiciliar, também
conhecido como homeschooling, foi alcançado em parte. Ficou evidente que o ensino
domiciliar não é inconstitucional no Brasil, conforme confirmado pelo Supremo

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Tribunal Federal (STF) em seu julgamento de 2018. Entretanto, a ausência de uma


legislação específica para regulamentar o homeschooling deixa questões
fundamentais em aberto.
A Constituição Federal de 1988 e outros dispositivos legais estabelecem
princípios e diretrizes essenciais para a educação no país, mas não abordam
diretamente o homeschooling. Isso resulta em uma lacuna legal que demanda atenção
do poder legislativo para criar uma estrutura regulatória clara e adequada, a fim de

35
garantir que o ensino domiciliar seja praticado com qualidade, responsabilidade e em
conformidade com os princípios educacionais do Brasil.
Portanto, embora o tema do homeschooling tenha sido examinado à luz de sua
constitucionalidade, a ausência de uma lei específica que regule o assunto cria uma
lacuna significativa no sistema educacional brasileiro. Assim, para atingir plenamente
os objetivos propostos para este tema, é necessária a ação legislativa futura que
aborde essa questão complexa e promova a segurança jurídica e a qualidade da
educação no contexto do ensino domiciliar no Brasil. A reflexão sobre esse tópico
destaca a importância de que, embora a legalidade do homeschooling tenha sido
estabelecida, ainda é necessária uma regulamentação específica para atender aos
princípios e responsabilidades constitucionais relacionados à educação no país.

36
REFERÊNCIAS

ALVES, Rubens. Revista da Educação. Edição 134. 2010. Disponível em:


https://revistaensinosuperior.com.br/2011/09/10/homeschooling/. Acesso em: 03 mai.
2023.

ANDRADE, Édison Prado. A educação familiar desescolarizada como um direito


da criança e do adolescente: relevância, limites e possibilidades na ampliação
ao direito à educação. Tese de Doutorado. FEUSP. São Paulo, 2014. Disponível
em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-10112014-111617/pt-
br.php. Acesso em: 02 set. 2023.

ANED - Associação Nacional de Educação Domiciliar. Educação Domiciliar.


Disponível em: https://www.aned.org.br/index.php/conheca-educacao-domiciliar/ed-
no-mundo. Acesso em: 01 set. 2023.

BARBOSA, Luciane. Pesquisa identifica razoes que levam pais a optar por
educação domiciliar, 30 agosto. 2013. Disponível
em: https://www5.usp.br/noticias/sociedade/pesquisa-identifica-razoes-que-levam-

Relatório gerado por CopySpider Software 2023-11-06 10:12:15


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https://copyspider.com.br/ Página 240 de 302

pais-a-optar-por-educacao-domiciliar/. Acesso em: 25 jul. 2023.

BOTO, Carlota. ?Homeschooling?: a prática de educar em casa. Jornal da USP,


16 março. 2018. Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/homeschooling-a-pratica-
de-educar-em-casa/. Acesso em: 25 jul. 2023.

BOTO, Carlota. Projeto de homeschooling no Brasil coloca um muro entre a


família e o mundo social. Jornal da USP, 25 maio. 2022. Disponível
em: https://jornal.usp.br/atualidades/projeto-de-homeschooling-no-brasil-coloca-um-
muro-entre-a-familia-e-o-mundo-social/. Acesso em: 26 jul. 2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 888.815/RS. DIREITO


CONSTITUCIONAL. EDUCAÇÃO. ENSINO DOMICILIAR. LIBERDADES E
DEVERES DO ESTADO E DA FAMÍLIA. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. Constitui questão constitucional saber se o ensino domiciliar (homeschooling)
pode ser proibido pelo Estado ou viabilizado como meio lícito de cumprimento, pela
família, do dever de prover educação, tal como previsto no art. 205 da CRFB/1988.
2. Repercussão geral reconhecida. Relator: Min. Roberto Barroso, 4 de junho de
2015. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?
incidente=4774632. Acesso em: 10 abr.2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n° 888.815.


Constitucional. Educação. Direito Fundamental relacionado à dignidade da pessoa
humana e à efetividade da cidadania. Dever solidário do Estado e da família na
prestação do Ensino Fundamental. Necessidade de lei formal, editada pelo
Congresso Nacional, para regulamentar o Ensino Domiciliar. Recurso Desprovido.
Relator: Ministro Roberto Barroso. Redator para acórdão: Ministro Alexandre de
Moraes. DJ, 12 de set. de 2018. Disponível em:
https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE888815mAM.PDF.
Acesso em: 05 out.2023.

37

BRASIL. Constituição de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil:


promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em:
05.out.2023.

BRASIL. Decreto-Lei n° 2.848 de 1940. Código Penal: decretado em 07 de


dezembro de 1940. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 05 out.2023.

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BRASIL. Lei n° 8.069 de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente: promulgada


em 13 de julho de 1990. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 05 out.2023.

BRASIL. Lei n° 9.394 de 1996. Lei de diretrizes e bases da educação nacional:


promulgada em 20 de dezembro de 1996. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm#:~:text=L9394&text=Estabelece
%20as%20diretrizes%20e%20bases%20da%20educa%C3%A7%C3%A3o%20nacio
nal.&text=Art.%201%C2%BA%20A%20educa%C3%A7%C3%A3o%20abrange,civil
%20e%20nas%20manifesta%C3%A7%C3%B5es%20culturais. Acesso em: 05
out.2023.

BRASIL. Lei n° 10.406 de 2002. Código Civil: promulgada em 10 de janeiro de


2002. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em:
05.out.2023.

BRASIL. Projeto de Lei 3179/2012. Altera as Leis nºs 9.394, de 20 de dezembro de


1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), e 8.069, de 13 de julho de
1990, (Estatuto da Criança e do Adolescente), para dispor sobre a possibilidade de
oferta domiciliar da educação básica. Brasília: Câmara dos Deputados, 08 dez.
2012. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=534328
. Acesso em: 06.out.2023.

MOREIRA, Alexandre Magno Fernandes. O direito à educação domiciliar. Brasília:


Monergismo, 2017.

VASCONCELOS, Maria Celi Chaves. Educação na casa: perspectivas de


desescolarização ou liberdade de escolha?. Pro-Posições, [S.L.], v. 28, n. 2, p.
122- 140, ago. 2017. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1980-6248-
2015- 0172. Disponível em:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8650331/16630.
Acesso em: 24 jul 2023.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Mandado de Segurança 7407/DF - Acórdão


COAD 132172 - Rel. Min. Francisco Peçanha Martins - Publ. em 21-3-2005.

38
Disponível em: https://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/42/docs/ms-
ensino_fundamental-7407_stj.pdf. Acesso em: 06 out.2023.

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SENADO, Agência. Senado aprofunda debate sobre educação domiciliar.


8/12/2022. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/12/senado-aprofundadebate-
sobre-educacao-domiciliar. Acesso em: 07 out.2023.

SENADO, Agência. Senado aprofunda debate sobre educação domiciliar.


8/12/2022. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/12/senado-aprofundadebate-
sobre-educacao-domiciliar. Acesso em: 07 out.2023.

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=================================================================================
Arquivo 1: BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Arquivo 2: https://gem-report-2021.unesco.org/wp-content/uploads/2022/05/Yin.pdf (14656 termos)
Termos comuns: 30
Similaridade: 0,13%
O texto abaixo é o conteúdo do documento BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento https://gem-report-2021.unesco.org/wp-
content/uploads/2022/05/Yin.pdf (14656 termos)

=================================================================================

Cuiabá
2023

Cidade
Ano
BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

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A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO


DOMICILIAR NO BRASIL

Cuiabá
2023

A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO


DOMICILIAR NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à UNIC ?


Universidade de Cuiabá, como requisito parcial para a
obtenção do título de graduado em Direito.
Orientadora: Denise Alcantara

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BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO DOMICILIAR


NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade de Cuiabá - UNIC, como requisito
parcial para a obtenção do título de graduado
em Direito.

BANCA EXAMINADORA

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Cuiabá, dia de mês de 2023

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ARRUDA, Brenno Eduardo. A constitucionalidade do método de ensino domiciliar


no Brasil. 2023. 22 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito)
? Universidade de Cuiabá - UNIC, Cuiabá/MT, 2023.

RESUMO

O objetivo deste trabalho é discutir o ensino domiciliar, também conhecido como


homeschooling, uma prática educacional em que os pais ou responsáveis assumem
a responsabilidade de educar seus filhos em casa, ao invés de matriculá-los em uma
escola tradicional. Esta prática permite uma abordagem de ensino personalizada,
adaptada às necessidades e interesses individuais de cada criança. No entanto, a
viabilidade jurídica do ensino domiciliar no Brasil é um tema de debate. Embora alguns
pais e responsáveis defendam o direito de educar seus filhos em casa, existem
questões legais e regulatórias que precisam ser consideradas. O estudo também
analisará países onde o ensino domiciliar é regulamentado, destacando o papel da
família e do estado na educação domiciliar. Além disso, há diversas decisões judiciais
relacionadas ao ensino domiciliar no Brasil, com alguns casos de grande impacto.
Estas decisões judiciais podem ter um impacto significativo na forma como o ensino
domiciliar é praticado e regulamentado no país. Portanto, é importante compreender
o conceito de ensino domiciliar, analisar sua viabilidade jurídica no contexto brasileiro
e estar ciente das decisões judiciais relacionadas a esta prática educacional.

Palavras-chave: Direito à Educação Domiciliar. Homeschooling. Educação no Lar.


Flexibilidade da Educação Básica.

ARRUDA, Brenno Eduardo. The constitutionality of the home teaching method in


Brazil. 2023. 22 sheets. Completion of Law Course ? University of Cuiabá, Cuiabá
2023.

ABSTRACT
The aim of this work is to discuss homeschooling, also known as home education, an
educational practice in which parents or guardians take on the responsibility of
educating their children at home instead of enrolling them in a traditional school. This
practice allows for a personalized teaching approach, tailored to the individual needs
and interests of each child. However, the legal feasibility of homeschooling in Brazil is
a subject of debate. While some parents and guardians advocate for the right to
educate their children at home, there are legal and regulatory issues that need to be
considered. The study will also examine countries where homeschooling is regulated,
highlighting the roles of both the family and the state in home education. Furthermore,
there have been various legal decisions related to homeschooling in Brazil, with some
cases of significant impact. These legal decisions can have a significant impact on how
homeschooling is practiced and regulated in the country. Therefore, it is important to

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understand the concept of homeschooling, analyze its legal feasibility in the Brazilian
context, and be aware of legal decisions related to this educational practice.

Keywords: Right to Homeschooling. Homeschooling. Home Education. Flexibility of


Basic Education.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 ? Países onde o Homeschooling é legalizado segundo ANED ................ 16

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. Artigo
ANED Associação Nacional de Educação Domiciliar
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
RE Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
USP Universidade de São Paulo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING ......................................................... 10
2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO ................................................................................. 11
2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING..................................................................... 11
2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING .................................... 13
2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING ................................................ 14
2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES............... 15
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL ..................................................................................................................... 18
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO ................................................. 18
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL ....................................................................... 21
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL .................................................................. 22
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA) ............................................................................................. 23
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB) ................. 25
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA ............................................................ 26

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4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO


DOMICILIAR ............................................................................................................. 30
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 34
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36

9
1 INTRODUÇÃO

A prática do ensino domiciliar, também conhecida como homeschooling, tem


se tornado um tema de discussão relevante no contexto brasileiro. Este fenômeno
educacional, em que os pais assumem a responsabilidade de instruir seus filhos em
casa, em vez de enviá-los a uma escola convencional, suscita questionamentos
profundos sobre seus impactos, especialmente no que diz respeito às crianças e
adolescentes.
Este estudo tem como foco central a "Constitucionalidade do Ensino Domiciliar
no Brasil". Trata-se de uma questão que tem sido amplamente debatida ao longo dos
anos, sobretudo pelos pais e responsáveis que buscam a regulamentação desse
modelo educacional para proporcionar uma educação de qualidade dentro de seus
lares.
A relevância desta pesquisa é evidente, uma vez que ela busca lançar luz sobre
a legalidade do ensino domiciliar, oferecendo clareza àqueles que optam por educar
seus filhos em casa, sem temer penalizações estatais. Além disso, busca-se, por meio
de dados e evidências, explorar experiências internacionais em que o ensino
domiciliar é regulamentado, destacando o papel fundamental desempenhado tanto
pela família quanto pelo Estado na educação dos alunos no ambiente familiar.
O estudo também tem o potencial de contribuir para a compreensão desse
tema tanto na comunidade acadêmica quanto na sociedade em geral. Através da
análise doutrinária, legal, jurisdicional e constitucional, bem como da comparação de
dados educacionais, pretende-se lançar luz sobre o papel da família e do Estado no
ensino domiciliar, promovendo um debate informado e enriquecedor.
Para alcançar esses objetivos, este projeto de pesquisa adotará uma
abordagem qualitativa e descritiva, permitindo a análise das características desse
fenômeno educacional e a compreensão dos pressupostos teóricos que o envolvem.
A pesquisa abrangerá a revisão de livros, dissertações, teses, artigos e trabalhos
científicos publicados nos últimos 10 anos, além de buscas em bancos de dados
acadêmicos como o Google Acadêmico e Scielo.

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2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING

O ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, é uma prática


que tem ganhado destaque tanto no cenário internacional quanto no contexto
brasileiro. Em todo o mundo, famílias optam por essa modalidade de ensino por uma
variedade de razões, incluindo a busca por um currículo mais personalizado, a
flexibilidade de horários e a preocupação com a segurança e o bem-estar dos filhos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o homeschooling é uma opção legal em todos os
estados, e milhares de famílias escolhem essa abordagem educacional. No entanto,
as regulamentações e atitudes em relação ao ensino domiciliar variam
consideravelmente de país para país.
Nesse contexto, Moreira (2017) esclarece que:

A educação domiciliar é uma modalidade de ensino que não obedece a uma


lógica única, massificada para todas as famílias, por basear-se no princípio
da soberania educacional da família, ou seja, seu fundamento é a liberdade
de cada família determinar como será realizada a educação de seus filhos.
(MOREIRA, 2017, p. 61).

O ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, é uma prática


que tem ganhado destaque tanto no cenário internacional quanto no contexto
brasileiro. Em todo o mundo, famílias optam por essa modalidade de ensino por uma
variedade de razões, incluindo a busca por um currículo mais personalizado, a
flexibilidade de horários e a preocupação com a segurança e o bem-estar dos filhos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o homeschooling é uma opção legal em todos os
estados, e milhares de famílias escolhem essa abordagem educacional. No entanto,
as regulamentações e atitudes em relação ao ensino domiciliar variam
consideravelmente de país para país.
Assim em revista especializada em educação foi publicado que:

Os motivos que levam os pais a optar pelo homeschooling são variados. Há


a insatisfação com as escolas, o temor em relação ao seu ambiente, interno
e externo. Os pais temem pela integridade física dos filhos. O que é
compreensível em ambientes onde existe violência. Há também as situações
em que as crianças e adolescentes são vítimas de bullying. Ir à escola é um
sofrimento diário e silencioso. A provisão legal da possibilidade de estudar
em casa eliminaria esse sofrimento que atinge milhares de crianças e
adolescentes (ALVES, 2011).

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2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO

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O homeschooling é uma abordagem educacional na qual os pais ou


responsáveis assumem a responsabilidade de instruir seus filhos em casa, em vez de
enviá-los a uma escola tradicional. Essa prática oferece um ambiente de aprendizado
personalizado, no qual o currículo pode ser adaptado de acordo com as necessidades
e interesses individuais de cada criança. O homeschooling não se restringe a um
modelo específico; em vez disso, é uma prática flexível que pode variar amplamente
de família para família.
Na prática do homeschooling, os pais desempenham um papel fundamental na
construção do ambiente educacional de seus filhos. Isso implica não apenas na
seleção de materiais didáticos e na organização do currículo de acordo com as
aptidões e interesses únicos de cada criança, mas também na promoção de uma
atmosfera que estimule a curiosidade, a autodisciplina e a aprendizagem
independente. Além disso, o homeschooling permite uma flexibilidade rara no
processo de ensino, possibilitando a exploração de tópicos interdisciplinares e a
adaptação dos métodos de aprendizado de acordo com o ritmo de desenvolvimento
de cada aluno. Essa abordagem coloca a ênfase não apenas na obtenção de
conhecimentos acadêmicos, mas também no desenvolvimento holístico das crianças,
incluindo aspectos sociais, emocionais e éticos, tornando-se assim uma alternativa
atraente para famílias em busca de uma educação sob medida para suas
necessidades e valores.

2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING

O homeschooling tem uma longa história, datando de séculos atrás, quando as


famílias eram a principal fonte de educação. No entanto, o surgimento da escola
moderna no século XIX relegou o ensino em casa a um segundo plano. No século XX,
o homeschooling ressurgiu, impulsionado por diversos movimentos e mudanças
sociais, incluindo o movimento de contracultura dos anos 1960 e 1970. Desde então,
sua prática tem se expandido e diversificado globalmente.

12
No entanto, vale ressaltar que a formalização e a regulamentação do
homeschooling como uma opção legal de educação são mais recentes em muitos
países, incluindo o Brasil. O surgimento mais notável e o reconhecimento oficial do
homeschooling no Brasil ocorreram nas últimas décadas, principalmente a partir dos
anos 2000, quando começou a ganhar visibilidade e a ser debatido mais amplamente.
Nos Estados Unidos da América (EUA), o pioneiro do homeschooling foi Holt,
considerado o pai da desescolarização. Ele acreditava que a escola tradicional, de
certo modo, coagia as crianças a aprenderem, quando, na verdade, elas o fariam
naturalmente se tivessem a liberdade de seguir seus próprios interesses e acesso a
uma ampla variedade de recursos. A partir de uma perspectiva da educação orgânica,
que valoriza o potencial humano como prioridade no desenvolvimento da criança,

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essa linha de pensamento passou a ser chamada de unschooling e, posteriormente,


homeschooling.
No que tange as pesquisas pautas no princípio de revisão bibliográfica, é
relevante atentar-se ao fato de que:

O termo homeschooling, de língua inglesa, usual nos Estados Unidos da


América, é usado internacionalmente para identificar uma modalidade de
educação específica que é organizada e implementada pelos próprios pais
como alternativa de escolarização de seus filhos em casa e não na escola. É
traduzido, normalmente, para o português, por Educação Domiciliar, em uma
tradução literal da junção da palavra home (casa, ou lar), com a palavra
school (escola). O termo escola no gerúndio (schooling), já sugere a ideia do
próprio modelo de educação, que está carregado de um sentido de ensino
contínuo, no qual os pais se dispõem para o processo ensino aprendizagem
em formas e condições contínuas e cotidianas da vida da criança e da família,
organizadas intencionalmente ou não para o fim educativo, tais como
refeições, passeios, viagens, relacionamentos com a vizinhança, etc
(ANDRADE,2014,p. 19).

O homeschooling ganhou destaque no Brasil durante a pandemia de COVID-


19, que teve início em 2020. Com o fechamento temporário das escolas em muitas
regiões do país como medida de contenção da disseminação do vírus, muitos pais e
responsáveis foram forçados a considerar o ensino em casa como uma alternativa
viável para garantir a continuidade da educação de seus filhos.
Esse período de restrições sanitárias resultou em um aumento significativo no
interesse e na prática do homeschooling no Brasil. Muitas famílias passaram a buscar
soluções educacionais flexíveis e adaptadas às circunstâncias da pandemia,

13
recorrendo ao ensino em casa para manter o aprendizado das crianças durante os
lockdowns e as incertezas associadas à pandemia.
A pandemia também destacou a importância da adaptação e flexibilidade no
homeschooling. Pais e tutores tiveram que se ajustar rapidamente a novos métodos
de ensino online e colaborar mais estreitamente com escolas para acessar materiais
e recursos educacionais. Além disso, o ensino em casa permitiu que algumas famílias
aproveitassem o tempo em casa para explorar tópicos adicionais, incentivando a
aprendizagem autodirigida e a criatividade.
No entanto, é importante observar que o homeschooling durante a pandemia
também trouxe desafios, incluindo a necessidade de equilibrar o trabalho remoto dos
pais com a supervisão do aprendizado das crianças. O debate sobre a
regulamentação e a legalização do homeschooling no Brasil também se intensificou
devido às mudanças trazidas pela pandemia. Portanto, o ensino domiciliar teve um
impacto notável no contexto da educação brasileira durante a crise da COVID-19,

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levantando questões importantes sobre como essa prática deve ser abordada e
regulamentada no país.

2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING

O homeschooling, ou ensino domiciliar, é uma abordagem educacional que se


baseia em princípios e abordagens específicas. Embora haja variações na prática do
homeschooling, alguns princípios e abordagens comuns incluem a individualização da
educação, onde os pais ou tutores adaptam o currículo de acordo com as
necessidades e interesses de cada criança, promovendo um aprendizado
personalizado. Além disso, o homeschooling incentiva a aprendizagem autodirigida,
capacitando as crianças a tomar decisões sobre o que e como aprendem, promovendo
a responsabilidade pela própria educação e o desenvolvimento de habilidades de
aprendizado independentes.
Assim para MOREIRA (2017, p.10), ?pesquisas demonstram que essas
crianças estão bem preparadas em sentido acadêmico e social para participar de uma
democracia liberal?.
Uma das vantagens do homeschooling é a flexibilidade, permitindo que as
famílias adaptem o horário de aprendizado para atender às necessidades individuais,

14
aproveitando oportunidades de aprendizado fora do ambiente escolar tradicional. Isso
é complementado pelo uso de uma ampla variedade de recursos educacionais,
incluindo livros, materiais didáticos, recursos online, visitas a museus e aulas
particulares, que enriquecem a abordagem educacional.
No homeschooling, valoriza-se a educação informal, reconhecendo que as
experiências cotidianas, viagens, atividades ao ar livre e interações com a
comunidade são oportunidades valiosas de aprendizado. Os pais desempenham um
papel fundamental no ensino domiciliar, projetando o currículo, fornecendo instrução
e apoio, e acompanhando o progresso acadêmico e social de seus filhos.
Além disso, o homeschooling coloca ênfase não apenas na educação
acadêmica, mas também no desenvolvimento integral da criança, incluindo aspectos
sociais, emocionais e éticos. Essa abordagem é especialmente atraente para famílias
com crianças com necessidades educacionais especiais, uma vez que permite uma
adaptação mais precisa a essas necessidades.

2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING

Apesar de seus princípios e benefícios percebidos, o homeschooling é objeto


de debates e controvérsias em todo o mundo. Um dos principais pontos de debate diz
respeito à socialização das crianças educadas em casa, uma vez que podem ter
menos oportunidades de interagir com seus pares. Além disso, questões relacionadas
à qualidade da supervisão educacional e à capacidade dos pais de fornecer um ensino

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adequado em todas as disciplinas são frequentemente levantadas. Críticos


argumentam que, sem uma supervisão rigorosa, algumas crianças podem não
receber a educação de qualidade necessária.
De acordo com a pedagoga (Barbosa, 2013), autora do estudo, a prática do
homeschooling:

Segundo os dirigentes das associações canadenses de ensino domiciliar


entrevistados por Luciane, a ausência da escola não leva a uma falta de
socialização. ?Ao contrário, eles argumentam que a instituição escolar leva a
uma socialização restrita, por segregarem as crianças por idade?, diz. ?No
Canadá, as bibliotecas e ginásios esportivos possuem programas voltados
para ?homeschoolers?, e normalmente os pais que ensinam os filhos em casa
são filiados a duas ou mais associações do setor. Também há uma
preocupação em desenvolver a participação social dos filhos nas
comunidades em que vivem, pois consideram que a escola oferece um

15
conceito de cidadania ligado apenas ao conhecimento de fatos históricos e
ao exercício do voto? (BARBOSA, 2013).

Nesse viés, (Boto, 2022), pesquisadora da USP, diz que:

Os estudos sobre o ensino domiciliar têm mostrado que há um vetor religioso


acerca das famílias que escolhem esse tipo de educação para os filhos, pois
não querem que eles tenham contato com teorias educacionais consideradas
ímpias. A professora considera isso grave e diz que é importante que as
crianças aprendam conteúdos que possam contrariar os interesses dos pais,
já que isso faz parte do aprendizado. Ela ainda afirma que é perigoso a família
se colocar como a única instituição na vida de uma criança (BOTO, 2022).

2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES

A prática do homeschooling, ou ensino em casa, é regulamentada de maneira


diversa ao redor do mundo. Cada país estabelece suas próprias diretrizes para pais
que optam por educar seus filhos em casa, variando desde o reconhecimento legal e
regulamentação específica até proibições rigorosas. Para entender melhor essas
abordagens, examinaremos como alguns países de referência, como os Estados
Unidos, Canadá, Alemanha e Austrália, lidam com a regulamentação do
homeschooling e os resultados que obtiveram.
Nos Estados Unidos, o homeschooling é legal e praticado em todo o país, mas
os requisitos e regulamentos variam de estado para estado. Alguns estados exigem
notificação prévia às autoridades educacionais locais, enquanto outros impõem testes
padronizados ou avaliações regulares do progresso educacional. Por outro lado, na

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Alemanha, o homeschooling é proibido pela lei, com poucas exceções, devido às


preocupações do governo sobre a integração social das crianças. No Canadá, as
províncias têm abordagens distintas, algumas exigindo exames oficiais de avaliação,
enquanto outras pedem apenas notificação às autoridades de ensino local. A
diversidade de regulamentação também é vista na Austrália, com inspeções
regulares, avaliações de progresso e diretrizes curriculares específicas.
No que tange ao homeschooling no Canadá, a pedagoga (Barbosa, 2013)
observou como é posto em prática o ensino domiciliar:

A pedagoga realizou parte do estudo no Canadá, país onde a prática do


?homeschooling? é permitida. ?A regulamentação varia conforme as
províncias, algumas exigem a prestação dos exames de avaliação oficiais,

16
outras pedem apenas que a diretoria de ensino local seja comunicada?, relata.
?Ao entrevistar as famílias canadenses, percebe-se que embora a motivação
religiosa esteja muito presente, os pais também optam pelo ensino em casa
pela questão de custos (famílias mais numerosas) ou por terem filhos com
deficiência, entre outras razões? (BARBOSA, 2013).

A diversidade de abordagens à regulamentação do homeschooling ao redor do


mundo reflete a complexidade das questões envolvidas. Nos Estados Unidos, a
abordagem descentralizada permite flexibilidade para os pais, mas também pode
resultar em disparidades significativas na qualidade da educação em casa,
dependendo do estado em que se encontram. Por outro lado, na Alemanha, a
proibição do homeschooling é uma tentativa de garantir a socialização e a educação
uniforme das crianças, mas levanta questões sobre os direitos dos pais de decidirem
como educar seus filhos. No Canadá e na Austrália, a variedade de regulamentações
indica uma tentativa de equilibrar a autonomia dos pais com a necessidade de garantir
que as crianças recebam uma educação adequada.
Nesse ensejo, a Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED), que é
uma associação dos pais que defendem os estudos em casa, divulgou dados dos
países onde a prática do hommescooling é legal, conforme imagem abaixo:

Figura 1 - Legalidade do ensino doméstico por país.

PAÌSES: África África do Sul, Oceania Austrália, Nova Zelândia. Ásia Filipinas, Japão, América Norte
EUA, Canadá, Sul Colômbia, Chile, Equador, Paraguai. Europa Portugal, França, Itália, Reino Unido,
Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria, Finlândia, Noruega, Rússia.

Fonte: Mapa e quadro divulgados pela ANED (2021).

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Em vários países europeus, como França e Bélgica, o homeschooling é


estritamente regulamentado e desencorajado, com ênfase na importância da
socialização e da educação em escolas reconhecidas. No entanto, na Suécia, o
homeschooling é permitido sob condições específicas, desde que os pais sigam um
currículo nacional. A regulamentação do homeschooling ao redor do mundo reflete
uma variedade de abordagens culturais, educacionais e políticas, com o objetivo de
equilibrar o direito dos pais de educar seus filhos em casa com o interesse público em
garantir uma educação de qualidade e a socialização adequada das crianças.
De acordo com a pesquisadora (Boto,2018):

Nos Estados Unidos, país que possui hoje mais de 2 milhões de crianças em
idade escolar fora da escola, um dos principais motivos para a prática
do homeschooling é religioso. São as minorias religiosas, bem como minorias
étnicas que, de acordo com os estudos sobre o assunto, aderem a essa nova
modalidade de educação. Entre 1999 e 2010 ocorreu um crescimento
superior a 100% e, para o conjunto dos Estados norte-americanos, há um
contingente de quase 4% de crianças que hoje não frequentam mais a escola.
Na Rússia, entre 2008 e 2012, teria ocorrido ampliação de 900% nas práticas
de homeschooling. Na Alemanha, país que proibiu a prática em seu território,
há inúmeros casos de casais que foram multados e até presos por não
enviarem os filhos à escola (BOTO, 2018).

É evidente que a regulamentação do homeschooling é uma questão complexa


que envolve o equilíbrio entre os direitos individuais dos pais e o interesse público na
educação e socialização das crianças. O debate sobre como melhor abordar essa
questão continua a evoluir à medida que os países buscam encontrar um equilíbrio
entre a liberdade de escolha educacional dos pais e a responsabilidade do Estado de
garantir que todas as crianças recebam uma educação de qualidade e sejam
integradas na sociedade de maneira adequada.

18
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL

No cenário brasileiro, a análise da viabilidade jurídica do estudo domiciliar


requer um entendimento abrangente do contexto legal e regulatório que rege o
sistema educacional. A Constituição Federal de 1988 estabelece princípios essenciais
que fundamentam a educação no Brasil, enfatizando a responsabilidade
compartilhada entre a família, a sociedade e o Estado na proteção dos direitos das

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crianças e adolescentes. O Código Civil reforça o papel dos pais na criação e


educação de seus filhos, e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece
diretrizes específicas para a educação e proteção de menores. Paralelamente, a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) define os princípios gerais da educação
brasileira. Além disso, existem projetos de lei que podem definir o estudo em casa no
Brasil nas mãos dos deputados.
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO
A Constituição Federal de 1988, um marco fundamental na legislação brasileira,
estabelece princípios que guiam a educação no país e atribui responsabilidades tanto
ao Estado quanto à sociedade e às famílias. O Artigo 227 da Constituição Federal de
1988 é um dos pontos centrais nesse contexto:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,


ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL,1988).

Este artigo estabelece que é um compromisso da família, sociedade e Estado


garantir, de forma prioritária, o direito à vida, saúde, alimentação, educação, lazer,
profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e
comunitária das crianças, adolescentes e jovens, além de protegê-los contra qualquer
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
O Artigo 227 da Constituição Federal coloca as crianças, adolescentes e jovens
no centro das preocupações da sociedade e do Estado, enfatizando a necessidade
de criar um ambiente seguro e saudável para o seu desenvolvimento. Ele destaca a

19
educação como um dos pilares fundamentais para o crescimento pleno desses
indivíduos, enfatizando a necessidade de protegê-los contra ameaças e violações de
seus direitos, conforme previsto na Constituição.
Na conjuntura atual, o Artigo 227 mantém sua relevância como diretriz
essencial para a formulação de políticas educacionais e sociais no Brasil. No entanto,
desafios persistentes, como a desigualdade no acesso à educação e a violação dos
direitos das crianças, exigem esforços contínuos para garantir a implementação eficaz
das disposições desse artigo.
O compromisso da família, sociedade e Estado em proporcionar um ambiente
favorável ao crescimento e desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens é
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Portanto, é
crucial que todos os esforços sejam direcionados para garantir o respeito a esses
direitos e para assegurar que todos os jovens tenham igualdade de oportunidades
para receber uma educação de qualidade, conforme preconizado pelo Artigo 227 da

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Constituição Federal de 1988. Em resumo, o Artigo 227 continua a servir como


alicerce para a proteção e promoção dos direitos da juventude, sendo essencial para
garantir um futuro mais promissor às gerações vindouras.
A Constituição Federal de 1988 também estabelece, no Artigo 208, os deveres
do Estado em relação à educação no Brasil. Esses deveres incluem:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a


garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)
anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a
ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos
de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por
meio de programas suplementares de material didáticoescolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009)
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua
oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

20
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela freqüência à escola (BRASIL,1988).

Essas responsabilidades do Estado refletem um compromisso com a promoção


de uma educação acessível, inclusiva e de qualidade para todos os cidadãos
brasileiros. No entanto, o cumprimento desses deveres enfrenta desafios constantes,
principalmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, com
significativas desigualdades regionais.
O pensamento subjacente a esse contexto destaca a importância da educação
como um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico da nação.
Garantir igualdade de oportunidades educacionais para todos é essencial para
promover a justiça social e formar cidadãos capacitados e engajados. Portanto, a

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implementação eficaz desses deveres estabelecidos no Artigo 208 é fundamental para


alcançar esses objetivos e construir uma sociedade mais equitativa e próspera.
Além disso, vale ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição Federal:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho (BRASIL,1988).

O Artigo 205 da Constituição Federal estabelece a educação como um direito


universal e um dever compartilhado entre o Estado e a família, sendo promovido e
incentivado com a colaboração da sociedade. A educação, de acordo com este
dispositivo, tem um propósito que vai além da mera transmissão de conhecimento. Ela
busca o completo desenvolvimento da pessoa, preparando-a para o exercício pleno
da cidadania e qualificando-a para o mercado de trabalho.
Entretanto, a interpretação do Artigo 205 não é unânime. Alguns argumentam
que a redação atual desse artigo é vaga e que a finalidade educacional parece
priorizar a formação de indivíduos funcionalmente integrados na estrutura social em
detrimento do desenvolvimento integral do ser humano. Nesse contexto, questiona-se
se a educação no Brasil, conforme delineada na Constituição, atende efetivamente às
necessidades de desenvolvimento individual ou se foca excessivamente na
preparação para o mercado de trabalho em detrimento do crescimento pessoal e da
promoção da busca pelo conhecimento.

21
Essa discussão levanta questões fundamentais sobre a finalidade da educação
e destaca a necessidade de repensar o sistema educacional para garantir que ele não
só atenda às demandas econômicas, mas também promova o crescimento pessoal,
o aprendizado contínuo e a realização individual. A revisão dos currículos, métodos
de ensino e políticas educacionais pode ser necessária para promover uma educação
mais abrangente e significativa, em consonância com o Artigo 205 da Constituição
Federal.
Ademais, é importante ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição
Federal como um alicerce legal para direcionar a educação no Brasil e garantir que
ela cumpra seu papel essencial no desenvolvimento das pessoas, na formação de
cidadãos ativos e na preparação para o mercado de trabalho.
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL
O Código Civil brasileiro, em seu Artigo 1.634, regulamenta o poder de família,
estabelecendo os seguintes termos:

Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos:

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I - dirigir-lhes a criação e a educação; (BRASIL,2002).

Esse dispositivo legal é o cerne do múnus familiar em relação à obrigação


jurídica de fornecer educação e criação para os seus infantes.
O Código Civil também serve como referência relevante para compreender a
educação domiciliar, um tema que tem gerado debates significativos nos últimos anos.
Embora o Código Civil não faça menção direta à educação em casa, ele estabelece
os deveres e poderes dos pais em relação à criação e educação dos filhos,
destacando a importância da família nesse processo.
No entanto, a educação domiciliar levanta questões específicas em relação à
sua legalidade e regulamentação, que podem variar de acordo com a legislação
educacional vigente. Isso torna essencial que os pais compreendam as leis de
educação em seu país e busquem aconselhamento adequado caso desejem optar
pela educação em casa.

22
O debate sobre a educação domiciliar aborda questões relativas à qualidade
da educação, à socialização das crianças e à capacidade dos pais de proporcionarem
um ambiente educacional adequado em casa. Portanto, a interação entre os direitos
dos pais e o interesse público na formação educacional das crianças é complexa e
deve ser tratada em conformidade com as normas legais aplicáveis.
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL
O Artigo 246 do Código Penal Brasileiro destaca-se como uma peça legislativa
de grande importância no âmbito educacional e jurídico, abordando o dever dos pais
ou responsáveis de providenciar a instrução primária para seus filhos em idade
escolar. Simultaneamente, esse dispositivo legal está relacionado ao estudo
domiciliar, conforme estipula o referido artigo: "Deixar, sem justa causa, de prover à
instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um
mês, ou multa" (BRASIL, 1940).
Este artigo normativo estabelece que a omissão injustificada em fornecer a
instrução primária a um filho em idade escolar configura uma infração sujeita a
penalidades específicas. Tais penalidades incluem detenção com duração de quinze
dias a um mês, bem como a imposição de multa.
A relevância do Artigo 246 reside na ênfase dada à obrigação da educação
primária, um direito fundamental da criança garantido pela legislação brasileira. A
garantia do acesso à educação é crucial para o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos essenciais ao longo da vida. Além disso, a educação desempenha um
papel vital na formação do cidadão e na promoção do bem-estar social.
Nesse contexto, o Artigo 246 do Código Penal visa assegurar que os pais ou
responsáveis cumpram o dever legal de proporcionar a instrução primária a seus filhos
em idade escolar, contribuindo para a formação educacional e cidadã das futuras
gerações. Ao mesmo tempo, este artigo também suscita questões relacionadas ao
estudo domiciliar. Quando realizado em conformidade com as normas e

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regulamentações estabelecidas, o estudo domiciliar permite que os pais assumam um


papel ativo na educação de seus filhos, desde que cumpram os requisitos legais e
assegurem a qualidade da educação em ambiente domiciliar. Isso demonstra o
compromisso do sistema legal brasileiro em conciliar o direito dos pais de escolherem

23
a modalidade educacional de seus filhos com a necessidade de garantir a adequada
formação e proteção das futuras gerações.
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece diretrizes
específicas em relação à educação das crianças e adolescentes. Ele alinha-se ao
entendimento conforme expresso no ?Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação
de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino? (BRASIL, 1990).
Além disso, o Artigo 4º do ECA menciona o dever da família em relação ao
menor, conforme previsto no artigo, que estabelece:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder


público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1990).

Essa obrigação legal encontra respaldo nos princípios estabelecidos no Artigo


53 do ECA, que determina que crianças e adolescentes têm o direito à educação,
visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho. Além disso, o referido artigo prevê seus
direitos, como evidenciado no próprio texto:

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno


desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias
escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; (BRASIL,
1990).

O Artigo 54, por sua vez, estabelece o dever do Estado de garantir o direito à
educação das crianças e adolescentes, como expresso no texto a seguir:

Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:

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I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não


tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

24
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
(Revogado)
IV ? atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos
de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua
oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável,
pela freqüência à escola. (BRASIL, 1990).

Portanto, de acordo com seu §1º, é de responsabilidade do Estado efetivar os


direitos relacionados à educação, assegurando a igualdade de condições para o
acesso e a permanência na escola.
O pensamento subjacente a essas disposições do ECA enfatiza a importância
da educação para o desenvolvimento integral da criança e do adolescente,
preparando-os para uma participação ativa na sociedade e qualificando-os para
futuras oportunidades de trabalho. O ECA coloca a responsabilidade sobre os pais e
o Estado para garantir que a educação seja acessível e eficaz para as crianças e
adolescentes, de acordo com o Artigo 1º do ECA, que preconiza a proteção integral
como princípio norteador.
Entretanto, é importante ressaltar que, assim como no caso da Constituição
Federal, o ECA não faz menção direta à educação domiciliar (homeschooling).
Portanto, a prática da educação em casa levanta questões sobre a conformidade com
essas leis e regulamentos e deve ser considerada cuidadosamente à luz do contexto
legal em vigor. O debate sobre a educação domiciliar gira em torno das necessidades
das crianças, da qualidade da educação e da capacidade dos pais de fornecer um
ambiente educacional apropriado em casa, ao mesmo tempo em que respeitam as

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leis e regulamentações existentes.

25
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabelece princípios
essenciais relacionados à educação no Brasil segundo o Artigo 2º destaca que:

Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de


liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1996).

Assim, verifica-se que a responsabilidade pela educação é compartilhada entre


a família e o Estado, e deve ser baseada nos princípios da liberdade e solidariedade
humana. Além disso, a educação deve ter como finalidade o pleno desenvolvimento
do educando, preparando-o para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.
Adicionalmente, o Artigo 6º da mesma lei impõem que ?É dever dos pais ou
responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4
(quatro) anos de idade? (BRASIL, 1990). Essa disposição, estabelecida no Artigo 6º,
reforça a necessidade de que os pais ou responsáveis efetuem a matrícula das
crianças na educação básica a partir dos 4 anos de idade.
Esse conjunto de responsabilidades do Estado reflete o compromisso com a
promoção de uma educação acessível, inclusiva e de qualidade para todos os
cidadãos brasileiros. No entanto, o cumprimento desses deveres é um desafio
constante, especialmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, com
desigualdades regionais significativas.
O pensamento subjacente a esse contexto destaca a importância da educação
como um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico de uma nação.
Garantir que todos tenham igualdade de oportunidades educacionais é essencial para
promover a justiça social e a formação de cidadãos capacitados e engajados.
Portanto, a implementação eficaz desses deveres está também estabelecida no Artigo
208 da Constituição Federal, que diz que é fundamental para alcançar esses objetivos
é construir uma sociedade mais equitativa e próspera

26
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA
O tema da educação domiciliar tem sido objeto de intensos debates no âmbito
legislativo brasileiro, com vários projetos de lei apresentados ao longo dos anos.
Essas propostas visam redefinir a dinâmica educacional, distribuindo
responsabilidades entre o Estado e as famílias, a fim de permitir o ensino em casa.
Para que isso ocorra, é necessária uma ativa movimentação do Poder

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Legislativo, pois este é o órgão responsável pela fiscalização e criação de leis.


Atualmente, não existe nenhuma lei que valide a educação domiciliar no Brasil,
embora tenham sido apresentados diversos projetos de lei sobre o tema ao longo do
tempo.
Em um breve passeio pela história legislativa, um desses projetos que merece
destaque é o Projeto de Lei nº 6001/2001, de autoria de Ricardo Izar. Este projeto
visava atribuir aos pais a responsabilidade pela educação de seus filhos, dispensando
os alunos que comprovassem educação em casa da obrigatoriedade de frequentar
uma escola e cumprir uma carga horária mínima anual. Nas justificativas
apresentadas, Izar argumentou que deixar o Estado como único provedor de
educação era um abuso de poder e que forçar as crianças a frequentar a escola as
expunha diariamente a drogas e violência, além de uma orientação pedagógica que
poderia ser contrária às convicções filosóficas e religiosas de algumas famílias.
No entanto, após anos de tramitação, esse projeto foi rejeitado e arquivado em
2007. A justificativa para a rejeição foi que a proposta era elitista, já que apenas
famílias com formação educacional adequada e tempo disponível poderiam desfrutar
desse direito, excluindo grande parte da população com menor poder aquisitivo.
Outros projetos de lei seguiram o Projeto de Lei nº 6001/2001, como o Projeto
de Lei 4122/2008 e o Projeto de Lei 3518/2008, que propunham alterações na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
No entanto, essas propostas também foram rejeitadas, argumentando que elas
contrariavam a legislação existente e que a eficácia do ensino domiciliar não havia
sido devidamente demonstrada. A Comissão afirmou que a experiência e a vivência
cotidiana nas escolas eram fundamentais para a aprendizagem e o desenvolvimento
das crianças.

27
Em 2012, o deputado Lincoln Portela elaborou o Projeto de Lei 3179, buscando
acrescentar o ensino domiciliar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As modificações propostas e outros projetos relacionados a ele serão abordados a
seguir.
O Projeto de Lei 3261 de 2015, de autoria do Deputado Eduardo Bolsonaro,
busca autorizar a educação domiciliar, introduzindo várias alterações na Lei nº 9.394
de 1996 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em junho de 2018, o deputado Alan Rick apresentou o Projeto de Lei
10185/2018, propondo alterações no artigo 5º da Lei nº 9.394 de 1996 para especificar
que o dever do Poder Público de garantir a frequência à escola pode ser substituído
pelo zelo no desenvolvimento adequado no caso da educação domiciliar.
O Projeto de Lei 3159, de 2019, de autoria da Deputada Natália Bonavides,
busca acrescentar ao artigo 5º da Lei nº 9394 de 1996 um parágrafo afirmando que a
educação domiciliar não pode substituir a frequência à escola.
No mesmo ano, foi apresentado o Projeto de Lei 2401/2019, de autoria do
Poder Executivo, que propõe a regulamentação da educação básica domiciliar em

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uma lei isolada. Suas disposições são mais detalhadas do que as propostas dos
projetos de lei mencionados anteriormente. O projeto torna explícito que a educação
domiciliar é um direito de escolha dos pais e responsáveis, assegura a igualdade dos
estudantes dessa modalidade com os da educação presencial e estabelece requisitos,
como o registro da educação domiciliar em uma plataforma virtual do Ministério da
Educação e a avaliação anual dos alunos de acordo com a Base Nacional Comum
Curricular.
Além disso, o projeto proíbe a educação domiciliar para pais ou responsáveis
que cumpram penas por crimes previstos em várias normas legais e prevê a perda do
direito de optar pela educação domiciliar no caso de reprovação em duas ou três
oportunidades ou de falta injustificada na avaliação anual.
Há também ajustes propostos para a Lei 9.394 de 1996 e o Estatuto da Criança
e do Adolescente para torná-los compatíveis com a educação domiciliar.
Os projetos de Lei 5852/2019 e 6188/2019, propostos pelos deputados Pastor
Eurico e Geninho Zuliani, pretendem inserir na Lei 9.394 de 1996 a possibilidade de a
Educação Básica ser ministrada por tutores autônomos em locais diferentes das
instituições oficiais de ensino. O segundo projeto busca autorizar a educação

28
domiciliar apenas quando for constatada a inadequação ou impossibilidade de
inclusão do estudante na rede regular de ensino, permitindo ainda o acesso a espaços
e equipamentos públicos.
Esses projetos apensados ao Projeto de Lei 3179/2012 demonstram a
abundância de discussões em torno da educação domiciliar e sua importância no
ordenamento jurídico.
Considerando as contribuições desses projetos de lei, a deputada Luísa
Canziani apresentou um Substitutivo ao Projeto de Lei 3179 de 2012 e suas emendas.
Ela sugeriu apenas a rejeição do Projeto de Lei 3159 de 2019.
Ao Substitutivo foram apresentadas 15 emendas de Plenário, sendo aprovada
apenas a emenda de plenário nº 8, que busca acrescentar um parágrafo único ao
artigo 246 do Código Penal, estabelecendo que os pais ou responsáveis que optam
pela educação domiciliar não incorrem no crime de abandono intelectual de seus
filhos. Quanto às demais emendas, foi sugerida a rejeição.
A redação final do Projeto de Lei 3179/2012 inclui no escopo da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional a possibilidade de oferta domiciliar da
educação básica. O projeto prevê obrigações para os pais, como a matrícula anual do
estudante em uma instituição de ensino credenciada, o cumprimento dos conteúdos
curriculares de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, a realização de
atividades pedagógicas, o registro periódico dessas atividades com envio de relatórios
trimestrais, o acompanhamento do desenvolvimento do estudante por um docente
tutor da instituição de ensino, avaliações anuais de aprendizagem e a participação em
exames nacionais, estaduais ou municipais, se selecionados.
O projeto também prevê a perda do direito à opção pela educação domiciliar

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nas hipóteses de insuficiência de progresso do educando, reprovações ou faltas


injustificadas nas avaliações. Além disso, estabelece a proibição da educação
domiciliar para pais ou responsáveis que cumpram penas por crimes específicos.
Também é importante mencionar o Projeto de Lei 3262/2019, que propõe
alterações no Código Penal para que a educação domiciliar não seja considerada um
crime de abandono intelectual. Esta proposta se originou devido a casos de famílias
que enfrentaram perseguições legais devido à educação domiciliar.
Assim, a educação domiciliar no Brasil é um tema de debate contínuo no
cenário legislativo, com diversos projetos de lei apresentados ao longo dos anos,

29
refletindo as complexidades em torno do homeschooling e suas implicações no
sistema educacional brasileiro. O Projeto de Lei 3179/2012 foi aprovado pela Câmara
dos Deputados em 19 de maio de 2022 e atualmente encontra-se em análise no
Senado Federal como Projeto de Lei Nº 1.388/2022, aguardando a próxima fase do
processo legislativo na Comissão de Educação do Senado, tendo o senador Flávio
Arns como relator.

30
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR

O assunto do ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, tem


sido objeto de análise pelo Poder Judiciário no contexto dos Direitos Fundamentais e
Individuais. Dois casos de grande repercussão social se destacam, ocorridos nas
cidades de Anápolis, estado de Goiás, e Canela, no Rio Grande do Sul.
O primeiro ocorreu em 2002, o caso emblemático da família Vilhena Coelho,
residente em Anápolis, Goiás, ocorrido em 2002. Nesse episódio, os pais desta
família, representando seus três filhos menores, impetraram o Mandado de Segurança
n° 7.407, datado de 24 de abril de 2002, junto ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
O propósito deste recurso constitucional era a reversão do ato do Ministério da
Educação (MEC), que havia homologado o Parecer Consultivo n° 34 de 04 de
dezembro de 2000 da Câmara de Ensino Básico (CEB) do Conselho Nacional de
Educação (CNE). Este parecer negou a possibilidade da educação domiciliar, apesar
da demonstração de que tal modalidade vinha ocorrendo de forma eficiente, com
avaliações sendo realizadas.
No cerne das decisões administrativas que desencadearam esse episódio está
a ideia de que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996 e
a Constituição Federal de 1988 são explícitas quanto à obrigatoriedade do ensino
escolar, bem como da frequência dos alunos devidamente matriculados, de acordo
com o mencionado parecer.

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O relator do processo no STJ, o Ministro Francisco Peçanha Martins, votou em


desfavor da pretensão da família, argumentando que não existia direito líquido e certo
na solicitação e que o MEC não havia agido com abuso ao aprovar o parecer do
CEB/CNE. Para ele, os dispositivos constitucionais determinavam que o ensino
escolar era obrigatório, assim como a frequência dos alunos matriculados em escolas
regulares.
Outros ministros que compartilharam desse entendimento no STJ foram
Humberto Gomes de Barros, Eliana Calmon, Francisco Falcão, Laurita Vaz e Garcia
Vieira. Os votos vencidos foram dos Ministros Franciulli Netto e Paulo Medina.
Para o Ministro Franciulli Netto, a educação deveria ser analisada à luz do
pluralismo do Estado Democrático de Direito, permitindo o direito à liberdade de
escolher outra modalidade de ensino. Ele observou que as crianças demonstraram

31
um notável desempenho, estando um ano à frente de suas idades, o que, em sua
visão, habilitava os pais a assumir a função de garantir diretamente a educação formal.
Para ele, a frequência escolar era um fator secundário, e a educação transcenderia a
mera transmissão de informações, sendo a família a principal responsável pela
formação, não apenas intelectual, mas também cidadã e social das crianças e
adolescentes.
O Ministro Paulo Medina também enfatizou as liberdades constitucionais
relacionadas à educação e o pluralismo de ideias, bem como a responsabilidade do
Estado em fiscalizar as atividades da família para garantir a efetivação dos fins
constitucionais relacionados à educação.
No final, os pais tiveram que acatar a decisão do STJ e realizar a matrícula de
seus filhos em uma escola regular.
O segundo caso ocorreu em meados de 2015, quando chegou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança impetrado pelos pais de uma
criança de onze anos, que tiveram sua solicitação de educação domiciliar negada pelo
órgão municipal e, posteriormente, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A
parte recorrente alegou violação de diversos artigos da Constituição, argumentando
que a educação não se restringe à instrução formal em uma instituição convencional
de ensino, especialmente diante da diversidade de ideias e concepções pedagógicas,
bem como dos avanços tecnológicos.
No seu pronunciamento, o Ministro Luís Roberto Barroso destacou o ensino
domiciliar como um fenômeno emergente em diversos países, incluindo o Brasil, com
um crescente número de adeptos, e a possibilidade de redução dos gastos públicos
com sua adoção. O reconhecimento da natureza constitucional do debate sobre a
capacidade das famílias de prover educação levou o Ministro a enfatizar a importância
de definir a relação entre o Estado e a família na educação de crianças e
adolescentes, bem como os limites da autonomia privada em relação às imposições
estatais.
Barroso concluiu que a improcedência do pedido baseou-se na falta de uma

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norma regulamentar, não na inconstitucionalidade do homeschooling. Além disso,


salientou que, como se tratava de uma questão de repercussão geral, a decisão tinha
efeito erga omnes, aplicável a todas as partes envolvidas na lide, sendo uma decisão
histórica e de extrema importância por reconhecer a colaboração entre o Estado e a

32
família na prestação do ensino fundamental e pela legalização do homeschooling no
Brasil.
Posteriormente, em 2018, o processo foi colocado em pauta e, após o
julgamento, a Corte determinou que o ensino domiciliar não é um meio lícito para
cumprir o dever de prover educação a crianças e adolescentes, embora não tenha
sido considerado inconstitucional. A maioria dos ministros votou pelo desprovimento
do recurso extraordinário, uma vez que não havia uma lei que regulamentasse a
prática.
O Ministro Luís Roberto Barroso, ao fundamentar seu voto, destacou que a
Constituição Federal não proíbe o homeschooling e que o ensino domiciliar é
compatível com o ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a maioria dos ministros
argumentou que é necessária uma regulamentação prévia pelo Congresso Nacional,
estabelecendo requisitos e mecanismos de avaliação e fiscalização, para atender ao
disposto no Art. 208, §3º da Constituição, que atribui ao poder público o dever de zelar
pela frequência à escola. Esta decisão do Supremo Tribunal Federal, portanto,
representa um marco importante na jurisprudência brasileira em relação a este
assunto controverso.
No seu voto, o Ministro Alexandre de Moraes apresentou uma perspectiva
fundamental no julgamento do ensino domiciliar, sustentando que a prática não é
inconstitucional, desde que haja uma regulamentação prévia. Ele destacou que o
homeschooling de natureza utilitarista, que segue o conteúdo do ensino escolar e
permite fiscalização e avaliações periódicas, é compatível com a Constituição,
contudo, ressaltou que essa modalidade requer uma colaboração entre as famílias e
o Estado. O Ministro enfatizou a importância de o Congresso Nacional regulamentar
essa prática, a fim de estabelecer requisitos e mecanismos de avaliação e
fiscalização, como previsto no Art. 208, §3º da Constituição, o qual atribui ao poder
público a responsabilidade de garantir a frequência escolar. Além disso, Moraes
argumentou que o ensino domiciliar pode ser uma escolha legítima das famílias,
especialmente quando fundamentada em motivos religiosos, promovendo assim o
direito fundamental à liberdade religiosa e respeitando os princípios de autonomia e
emancipação.
Portanto, o STF reconheceu a legalidade do homeschooling, desde que haja
regulamentação específica por parte do Congresso Nacional para garantir a qualidade

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e a fiscalização do ensino domiciliar no Brasil. Essa decisão representa um marco

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significativo na jurisprudência do país em relação a esse tema controverso,


estabelecendo a necessidade de um equilíbrio entre o direito das famílias de
escolherem essa modalidade de ensino e a responsabilidade do Estado em assegurar
que a educação seja ministrada de acordo com padrões adequados e com a devida
supervisão. Além disso, o voto do Ministro Alexandre de Moraes destaca a importância
de reconhecer a autonomia e emancipação das famílias, especialmente quando
fundamentadas em motivos religiosos, promovendo assim o direito fundamental à
liberdade religiosa, dentro dos limites estabelecidos por uma regulamentação
apropriada.

34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente trabalho, o conceito e a prática do ensino domiciliar, conhecido


como homeschooling, foram explorados, com destaque para sua crescente
popularidade global e as diversas motivações subjacentes a essa abordagem
educacional. O homeschooling permite que os pais personalizem o currículo de seus
filhos, flexibilizem horários e atendam a preocupações com segurança e bem-estar.
Contudo, essa prática tem gerado debates sobre a socialização das crianças e a
qualidade do ensino, com regulamentações variando amplamente entre países.
No contexto legal brasileiro, a viabilidade do ensino domiciliar foi analisada,
considerando as bases legais, como a Constituição Federal de 1988, o Código Civil,
o Código Penal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação. Embora esses documentos não façam menção direta ao
homeschooling, estabelecem princípios fundamentais para a educação no Brasil.
Também foram explorados projetos de lei relacionados ao ensino domiciliar em
discussão no país.
Dois casos emblemáticos ocorridos em Anápolis, Goiás, em 2002, e em
Canela, Rio Grande do Sul, em 2015, foram analisados. No primeiro caso, o Supremo
Tribunal de Justiça decidiu contra a família Vilhena Coelho, argumentando que a
Constituição exige a frequência escolar. No segundo caso, o Supremo Tribunal
Federal considerou que o ensino domiciliar não é inconstitucional, mas requer
regulamentação específica pelo Congresso Nacional.
Diante da análise realizada, conclui-se que o objetivo central deste estudo, que
consistia em explorar a viabilidade e a legalidade do ensino domiciliar, também
conhecido como homeschooling, foi alcançado em parte. Ficou evidente que o ensino
domiciliar não é inconstitucional no Brasil, conforme confirmado pelo Supremo
Tribunal Federal (STF) em seu julgamento de 2018. Entretanto, a ausência de uma
legislação específica para regulamentar o homeschooling deixa questões

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fundamentais em aberto.
A Constituição Federal de 1988 e outros dispositivos legais estabelecem
princípios e diretrizes essenciais para a educação no país, mas não abordam
diretamente o homeschooling. Isso resulta em uma lacuna legal que demanda atenção
do poder legislativo para criar uma estrutura regulatória clara e adequada, a fim de

35
garantir que o ensino domiciliar seja praticado com qualidade, responsabilidade e em
conformidade com os princípios educacionais do Brasil.
Portanto, embora o tema do homeschooling tenha sido examinado à luz de sua
constitucionalidade, a ausência de uma lei específica que regule o assunto cria uma
lacuna significativa no sistema educacional brasileiro. Assim, para atingir plenamente
os objetivos propostos para este tema, é necessária a ação legislativa futura que
aborde essa questão complexa e promova a segurança jurídica e a qualidade da
educação no contexto do ensino domiciliar no Brasil. A reflexão sobre esse tópico
destaca a importância de que, embora a legalidade do homeschooling tenha sido
estabelecida, ainda é necessária uma regulamentação específica para atender aos
princípios e responsabilidades constitucionais relacionados à educação no país.

36
REFERÊNCIAS

ALVES, Rubens. Revista da Educação. Edição 134. 2010. Disponível em:


https://revistaensinosuperior.com.br/2011/09/10/homeschooling/. Acesso em: 03 mai.
2023.

ANDRADE, Édison Prado. A educação familiar desescolarizada como um direito


da criança e do adolescente: relevância, limites e possibilidades na ampliação
ao direito à educação. Tese de Doutorado. FEUSP. São Paulo, 2014. Disponível
em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-10112014-111617/pt-
br.php. Acesso em: 02 set. 2023.

ANED - Associação Nacional de Educação Domiciliar. Educação Domiciliar.


Disponível em: https://www.aned.org.br/index.php/conheca-educacao-domiciliar/ed-
no-mundo. Acesso em: 01 set. 2023.

BARBOSA, Luciane. Pesquisa identifica razoes que levam pais a optar por
educação domiciliar, 30 agosto. 2013. Disponível
em: https://www5.usp.br/noticias/sociedade/pesquisa-identifica-razoes-que-levam-
pais-a-optar-por-educacao-domiciliar/. Acesso em: 25 jul. 2023.

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BOTO, Carlota. ?Homeschooling?: a prática de educar em casa. Jornal da USP,


16 março. 2018. Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/homeschooling-a-pratica-
de-educar-em-casa/. Acesso em: 25 jul. 2023.

BOTO, Carlota. Projeto de homeschooling no Brasil coloca um muro entre a


família e o mundo social. Jornal da USP, 25 maio. 2022. Disponível
em: https://jornal.usp.br/atualidades/projeto-de-homeschooling-no-brasil-coloca-um-
muro-entre-a-familia-e-o-mundo-social/. Acesso em: 26 jul. 2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 888.815/RS. DIREITO


CONSTITUCIONAL. EDUCAÇÃO. ENSINO DOMICILIAR. LIBERDADES E
DEVERES DO ESTADO E DA FAMÍLIA. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. Constitui questão constitucional saber se o ensino domiciliar (homeschooling)
pode ser proibido pelo Estado ou viabilizado como meio lícito de cumprimento, pela
família, do dever de prover educação, tal como previsto no art. 205 da CRFB/1988.
2. Repercussão geral reconhecida. Relator: Min. Roberto Barroso, 4 de junho de
2015. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?
incidente=4774632. Acesso em: 10 abr.2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n° 888.815.


Constitucional. Educação. Direito Fundamental relacionado à dignidade da pessoa
humana e à efetividade da cidadania. Dever solidário do Estado e da família na
prestação do Ensino Fundamental. Necessidade de lei formal, editada pelo
Congresso Nacional, para regulamentar o Ensino Domiciliar. Recurso Desprovido.
Relator: Ministro Roberto Barroso. Redator para acórdão: Ministro Alexandre de
Moraes. DJ, 12 de set. de 2018. Disponível em:
https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE888815mAM.PDF.
Acesso em: 05 out.2023.

37

BRASIL. Constituição de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil:


promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em:
05.out.2023.

BRASIL. Decreto-Lei n° 2.848 de 1940. Código Penal: decretado em 07 de


dezembro de 1940. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 05 out.2023.

BRASIL. Lei n° 8.069 de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente: promulgada

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em 13 de julho de 1990. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 05 out.2023.

BRASIL. Lei n° 9.394 de 1996. Lei de diretrizes e bases da educação nacional:


promulgada em 20 de dezembro de 1996. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm#:~:text=L9394&text=Estabelece
%20as%20diretrizes%20e%20bases%20da%20educa%C3%A7%C3%A3o%20nacio
nal.&text=Art.%201%C2%BA%20A%20educa%C3%A7%C3%A3o%20abrange,civil
%20e%20nas%20manifesta%C3%A7%C3%B5es%20culturais. Acesso em: 05
out.2023.

BRASIL. Lei n° 10.406 de 2002. Código Civil: promulgada em 10 de janeiro de


2002. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em:
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BRASIL. Projeto de Lei 3179/2012. Altera as Leis nºs 9.394, de 20 de dezembro de


1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), e 8.069, de 13 de julho de
1990, (Estatuto da Criança e do Adolescente), para dispor sobre a possibilidade de
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2012. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=534328
. Acesso em: 06.out.2023.

MOREIRA, Alexandre Magno Fernandes. O direito à educação domiciliar. Brasília:


Monergismo, 2017.

VASCONCELOS, Maria Celi Chaves. Educação na casa: perspectivas de


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COAD 132172 - Rel. Min. Francisco Peçanha Martins - Publ. em 21-3-2005.

38
Disponível em: https://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/42/docs/ms-
ensino_fundamental-7407_stj.pdf. Acesso em: 06 out.2023.

SENADO, Agência. Senado aprofunda debate sobre educação domiciliar.


8/12/2022. Disponível em:

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https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/12/senado-aprofundadebate-
sobre-educacao-domiciliar. Acesso em: 07 out.2023.

SENADO, Agência. Senado aprofunda debate sobre educação domiciliar.


8/12/2022. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/12/senado-aprofundadebate-
sobre-educacao-domiciliar. Acesso em: 07 out.2023.

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=================================================================================
Arquivo 1: BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Arquivo 2: https://www.parents.com/kids/education/home-schooling/homeschooling-101-what-is-
homeschooling (1858 termos)
Termos comuns: 9
Similaridade: 0,09%
O texto abaixo é o conteúdo do documento BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://www.parents.com/kids/education/home-schooling/homeschooling-101-what-is-homeschooling (1858
termos)

=================================================================================

Cuiabá
2023

Cidade
Ano
BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

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A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO


DOMICILIAR NO BRASIL

Cuiabá
2023

A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO


DOMICILIAR NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à UNIC ?


Universidade de Cuiabá, como requisito parcial para a

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obtenção do título de graduado em Direito.


Orientadora: Denise Alcantara

BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA

A CONSTITUCIONALIDADE DO MÉTODO DE ENSINO DOMICILIAR


NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade de Cuiabá - UNIC, como requisito
parcial para a obtenção do título de graduado
em Direito.

BANCA EXAMINADORA

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Cuiabá, dia de mês de 2023

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ARRUDA, Brenno Eduardo. A constitucionalidade do método de ensino domiciliar


no Brasil. 2023. 22 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito)
? Universidade de Cuiabá - UNIC, Cuiabá/MT, 2023.

RESUMO

O objetivo deste trabalho é discutir o ensino domiciliar, também conhecido como


homeschooling, uma prática educacional em que os pais ou responsáveis assumem
a responsabilidade de educar seus filhos em casa, ao invés de matriculá-los em uma
escola tradicional. Esta prática permite uma abordagem de ensino personalizada,
adaptada às necessidades e interesses individuais de cada criança. No entanto, a
viabilidade jurídica do ensino domiciliar no Brasil é um tema de debate. Embora alguns
pais e responsáveis defendam o direito de educar seus filhos em casa, existem
questões legais e regulatórias que precisam ser consideradas. O estudo também
analisará países onde o ensino domiciliar é regulamentado, destacando o papel da
família e do estado na educação domiciliar. Além disso, há diversas decisões judiciais
relacionadas ao ensino domiciliar no Brasil, com alguns casos de grande impacto.
Estas decisões judiciais podem ter um impacto significativo na forma como o ensino
domiciliar é praticado e regulamentado no país. Portanto, é importante compreender
o conceito de ensino domiciliar, analisar sua viabilidade jurídica no contexto brasileiro
e estar ciente das decisões judiciais relacionadas a esta prática educacional.

Palavras-chave: Direito à Educação Domiciliar. Homeschooling. Educação no Lar.


Flexibilidade da Educação Básica.

ARRUDA, Brenno Eduardo. The constitutionality of the home teaching method in


Brazil. 2023. 22 sheets. Completion of Law Course ? University of Cuiabá, Cuiabá
2023.

ABSTRACT
The aim of this work is to discuss homeschooling, also known as home education, an
educational practice in which parents or guardians take on the responsibility of
educating their children at home instead of enrolling them in a traditional school. This
practice allows for a personalized teaching approach, tailored to the individual needs
and interests of each child. However, the legal feasibility of homeschooling in Brazil is
a subject of debate. While some parents and guardians advocate for the right to
educate their children at home, there are legal and regulatory issues that need to be
considered. The study will also examine countries where homeschooling is regulated,
highlighting the roles of both the family and the state in home education. Furthermore,
there have been various legal decisions related to homeschooling in Brazil, with some

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cases of significant impact. These legal decisions can have a significant impact on how
homeschooling is practiced and regulated in the country. Therefore, it is important to
understand the concept of homeschooling, analyze its legal feasibility in the Brazilian
context, and be aware of legal decisions related to this educational practice.

Keywords: Right to Homeschooling. Homeschooling. Home Education. Flexibility of


Basic Education.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 ? Países onde o Homeschooling é legalizado segundo ANED ................ 16

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. Artigo
ANED Associação Nacional de Educação Domiciliar
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
RE Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
USP Universidade de São Paulo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING ......................................................... 10
2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO ................................................................................. 11
2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING..................................................................... 11
2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING .................................... 13
2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING ................................................ 14
2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES............... 15
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL ..................................................................................................................... 18
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO ................................................. 18
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL ....................................................................... 21
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL .................................................................. 22
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA) ............................................................................................. 23

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3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB) ................. 25


3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA ............................................................ 26
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR ............................................................................................................. 30
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 34
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36

9
1 INTRODUÇÃO

A prática do ensino domiciliar, também conhecida como homeschooling, tem


se tornado um tema de discussão relevante no contexto brasileiro. Este fenômeno
educacional, em que os pais assumem a responsabilidade de instruir seus filhos em
casa, em vez de enviá-los a uma escola convencional, suscita questionamentos
profundos sobre seus impactos, especialmente no que diz respeito às crianças e
adolescentes.
Este estudo tem como foco central a "Constitucionalidade do Ensino Domiciliar
no Brasil". Trata-se de uma questão que tem sido amplamente debatida ao longo dos
anos, sobretudo pelos pais e responsáveis que buscam a regulamentação desse
modelo educacional para proporcionar uma educação de qualidade dentro de seus
lares.
A relevância desta pesquisa é evidente, uma vez que ela busca lançar luz sobre
a legalidade do ensino domiciliar, oferecendo clareza àqueles que optam por educar
seus filhos em casa, sem temer penalizações estatais. Além disso, busca-se, por meio
de dados e evidências, explorar experiências internacionais em que o ensino
domiciliar é regulamentado, destacando o papel fundamental desempenhado tanto
pela família quanto pelo Estado na educação dos alunos no ambiente familiar.
O estudo também tem o potencial de contribuir para a compreensão desse
tema tanto na comunidade acadêmica quanto na sociedade em geral. Através da
análise doutrinária, legal, jurisdicional e constitucional, bem como da comparação de
dados educacionais, pretende-se lançar luz sobre o papel da família e do Estado no
ensino domiciliar, promovendo um debate informado e enriquecedor.
Para alcançar esses objetivos, este projeto de pesquisa adotará uma
abordagem qualitativa e descritiva, permitindo a análise das características desse
fenômeno educacional e a compreensão dos pressupostos teóricos que o envolvem.
A pesquisa abrangerá a revisão de livros, dissertações, teses, artigos e trabalhos
científicos publicados nos últimos 10 anos, além de buscas em bancos de dados
acadêmicos como o Google Acadêmico e Scielo.

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10
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING

O ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, é uma prática


que tem ganhado destaque tanto no cenário internacional quanto no contexto
brasileiro. Em todo o mundo, famílias optam por essa modalidade de ensino por uma
variedade de razões, incluindo a busca por um currículo mais personalizado, a
flexibilidade de horários e a preocupação com a segurança e o bem-estar dos filhos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o homeschooling é uma opção legal em todos os
estados, e milhares de famílias escolhem essa abordagem educacional. No entanto,
as regulamentações e atitudes em relação ao ensino domiciliar variam
consideravelmente de país para país.
Nesse contexto, Moreira (2017) esclarece que:

A educação domiciliar é uma modalidade de ensino que não obedece a uma


lógica única, massificada para todas as famílias, por basear-se no princípio
da soberania educacional da família, ou seja, seu fundamento é a liberdade
de cada família determinar como será realizada a educação de seus filhos.
(MOREIRA, 2017, p. 61).

O ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, é uma prática


que tem ganhado destaque tanto no cenário internacional quanto no contexto
brasileiro. Em todo o mundo, famílias optam por essa modalidade de ensino por uma
variedade de razões, incluindo a busca por um currículo mais personalizado, a
flexibilidade de horários e a preocupação com a segurança e o bem-estar dos filhos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o homeschooling é uma opção legal em todos os
estados, e milhares de famílias escolhem essa abordagem educacional. No entanto,
as regulamentações e atitudes em relação ao ensino domiciliar variam
consideravelmente de país para país.
Assim em revista especializada em educação foi publicado que:

Os motivos que levam os pais a optar pelo homeschooling são variados. Há


a insatisfação com as escolas, o temor em relação ao seu ambiente, interno
e externo. Os pais temem pela integridade física dos filhos. O que é
compreensível em ambientes onde existe violência. Há também as situações
em que as crianças e adolescentes são vítimas de bullying. Ir à escola é um
sofrimento diário e silencioso. A provisão legal da possibilidade de estudar
em casa eliminaria esse sofrimento que atinge milhares de crianças e
adolescentes (ALVES, 2011).

11

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2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO

O homeschooling é uma abordagem educacional na qual os pais ou


responsáveis assumem a responsabilidade de instruir seus filhos em casa, em vez de
enviá-los a uma escola tradicional. Essa prática oferece um ambiente de aprendizado
personalizado, no qual o currículo pode ser adaptado de acordo com as necessidades
e interesses individuais de cada criança. O homeschooling não se restringe a um
modelo específico; em vez disso, é uma prática flexível que pode variar amplamente
de família para família.
Na prática do homeschooling, os pais desempenham um papel fundamental na
construção do ambiente educacional de seus filhos. Isso implica não apenas na
seleção de materiais didáticos e na organização do currículo de acordo com as
aptidões e interesses únicos de cada criança, mas também na promoção de uma
atmosfera que estimule a curiosidade, a autodisciplina e a aprendizagem
independente. Além disso, o homeschooling permite uma flexibilidade rara no
processo de ensino, possibilitando a exploração de tópicos interdisciplinares e a
adaptação dos métodos de aprendizado de acordo com o ritmo de desenvolvimento
de cada aluno. Essa abordagem coloca a ênfase não apenas na obtenção de
conhecimentos acadêmicos, mas também no desenvolvimento holístico das crianças,
incluindo aspectos sociais, emocionais e éticos, tornando-se assim uma alternativa
atraente para famílias em busca de uma educação sob medida para suas
necessidades e valores.

2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING

O homeschooling tem uma longa história, datando de séculos atrás, quando as


famílias eram a principal fonte de educação. No entanto, o surgimento da escola
moderna no século XIX relegou o ensino em casa a um segundo plano. No século XX,
o homeschooling ressurgiu, impulsionado por diversos movimentos e mudanças
sociais, incluindo o movimento de contracultura dos anos 1960 e 1970. Desde então,
sua prática tem se expandido e diversificado globalmente.

12
No entanto, vale ressaltar que a formalização e a regulamentação do
homeschooling como uma opção legal de educação são mais recentes em muitos
países, incluindo o Brasil. O surgimento mais notável e o reconhecimento oficial do
homeschooling no Brasil ocorreram nas últimas décadas, principalmente a partir dos
anos 2000, quando começou a ganhar visibilidade e a ser debatido mais amplamente.
Nos Estados Unidos da América (EUA), o pioneiro do homeschooling foi Holt,
considerado o pai da desescolarização. Ele acreditava que a escola tradicional, de
certo modo, coagia as crianças a aprenderem, quando, na verdade, elas o fariam
naturalmente se tivessem a liberdade de seguir seus próprios interesses e acesso a

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uma ampla variedade de recursos. A partir de uma perspectiva da educação orgânica,


que valoriza o potencial humano como prioridade no desenvolvimento da criança,
essa linha de pensamento passou a ser chamada de unschooling e, posteriormente,
homeschooling.
No que tange as pesquisas pautas no princípio de revisão bibliográfica, é
relevante atentar-se ao fato de que:

O termo homeschooling, de língua inglesa, usual nos Estados Unidos da


América, é usado internacionalmente para identificar uma modalidade de
educação específica que é organizada e implementada pelos próprios pais
como alternativa de escolarização de seus filhos em casa e não na escola. É
traduzido, normalmente, para o português, por Educação Domiciliar, em uma
tradução literal da junção da palavra home (casa, ou lar), com a palavra
school (escola). O termo escola no gerúndio (schooling), já sugere a ideia do
próprio modelo de educação, que está carregado de um sentido de ensino
contínuo, no qual os pais se dispõem para o processo ensino aprendizagem
em formas e condições contínuas e cotidianas da vida da criança e da família,
organizadas intencionalmente ou não para o fim educativo, tais como
refeições, passeios, viagens, relacionamentos com a vizinhança, etc
(ANDRADE,2014,p. 19).

O homeschooling ganhou destaque no Brasil durante a pandemia de COVID-


19, que teve início em 2020. Com o fechamento temporário das escolas em muitas
regiões do país como medida de contenção da disseminação do vírus, muitos pais e
responsáveis foram forçados a considerar o ensino em casa como uma alternativa
viável para garantir a continuidade da educação de seus filhos.
Esse período de restrições sanitárias resultou em um aumento significativo no
interesse e na prática do homeschooling no Brasil. Muitas famílias passaram a buscar
soluções educacionais flexíveis e adaptadas às circunstâncias da pandemia,

13
recorrendo ao ensino em casa para manter o aprendizado das crianças durante os
lockdowns e as incertezas associadas à pandemia.
A pandemia também destacou a importância da adaptação e flexibilidade no
homeschooling. Pais e tutores tiveram que se ajustar rapidamente a novos métodos
de ensino online e colaborar mais estreitamente com escolas para acessar materiais
e recursos educacionais. Além disso, o ensino em casa permitiu que algumas famílias
aproveitassem o tempo em casa para explorar tópicos adicionais, incentivando a
aprendizagem autodirigida e a criatividade.
No entanto, é importante observar que o homeschooling durante a pandemia
também trouxe desafios, incluindo a necessidade de equilibrar o trabalho remoto dos
pais com a supervisão do aprendizado das crianças. O debate sobre a
regulamentação e a legalização do homeschooling no Brasil também se intensificou

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devido às mudanças trazidas pela pandemia. Portanto, o ensino domiciliar teve um


impacto notável no contexto da educação brasileira durante a crise da COVID-19,
levantando questões importantes sobre como essa prática deve ser abordada e
regulamentada no país.

2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING

O homeschooling, ou ensino domiciliar, é uma abordagem educacional que se


baseia em princípios e abordagens específicas. Embora haja variações na prática do
homeschooling, alguns princípios e abordagens comuns incluem a individualização da
educação, onde os pais ou tutores adaptam o currículo de acordo com as
necessidades e interesses de cada criança, promovendo um aprendizado
personalizado. Além disso, o homeschooling incentiva a aprendizagem autodirigida,
capacitando as crianças a tomar decisões sobre o que e como aprendem, promovendo
a responsabilidade pela própria educação e o desenvolvimento de habilidades de
aprendizado independentes.
Assim para MOREIRA (2017, p.10), ?pesquisas demonstram que essas
crianças estão bem preparadas em sentido acadêmico e social para participar de uma
democracia liberal?.
Uma das vantagens do homeschooling é a flexibilidade, permitindo que as
famílias adaptem o horário de aprendizado para atender às necessidades individuais,

14
aproveitando oportunidades de aprendizado fora do ambiente escolar tradicional. Isso
é complementado pelo uso de uma ampla variedade de recursos educacionais,
incluindo livros, materiais didáticos, recursos online, visitas a museus e aulas
particulares, que enriquecem a abordagem educacional.
No homeschooling, valoriza-se a educação informal, reconhecendo que as
experiências cotidianas, viagens, atividades ao ar livre e interações com a
comunidade são oportunidades valiosas de aprendizado. Os pais desempenham um
papel fundamental no ensino domiciliar, projetando o currículo, fornecendo instrução
e apoio, e acompanhando o progresso acadêmico e social de seus filhos.
Além disso, o homeschooling coloca ênfase não apenas na educação
acadêmica, mas também no desenvolvimento integral da criança, incluindo aspectos
sociais, emocionais e éticos. Essa abordagem é especialmente atraente para famílias
com crianças com necessidades educacionais especiais, uma vez que permite uma
adaptação mais precisa a essas necessidades.

2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING

Apesar de seus princípios e benefícios percebidos, o homeschooling é objeto


de debates e controvérsias em todo o mundo. Um dos principais pontos de debate diz
respeito à socialização das crianças educadas em casa, uma vez que podem ter

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menos oportunidades de interagir com seus pares. Além disso, questões relacionadas
à qualidade da supervisão educacional e à capacidade dos pais de fornecer um ensino
adequado em todas as disciplinas são frequentemente levantadas. Críticos
argumentam que, sem uma supervisão rigorosa, algumas crianças podem não
receber a educação de qualidade necessária.
De acordo com a pedagoga (Barbosa, 2013), autora do estudo, a prática do
homeschooling:

Segundo os dirigentes das associações canadenses de ensino domiciliar


entrevistados por Luciane, a ausência da escola não leva a uma falta de
socialização. ?Ao contrário, eles argumentam que a instituição escolar leva a
uma socialização restrita, por segregarem as crianças por idade?, diz. ?No
Canadá, as bibliotecas e ginásios esportivos possuem programas voltados
para ?homeschoolers?, e normalmente os pais que ensinam os filhos em casa
são filiados a duas ou mais associações do setor. Também há uma
preocupação em desenvolver a participação social dos filhos nas
comunidades em que vivem, pois consideram que a escola oferece um

15
conceito de cidadania ligado apenas ao conhecimento de fatos históricos e
ao exercício do voto? (BARBOSA, 2013).

Nesse viés, (Boto, 2022), pesquisadora da USP, diz que:

Os estudos sobre o ensino domiciliar têm mostrado que há um vetor religioso


acerca das famílias que escolhem esse tipo de educação para os filhos, pois
não querem que eles tenham contato com teorias educacionais consideradas
ímpias. A professora considera isso grave e diz que é importante que as
crianças aprendam conteúdos que possam contrariar os interesses dos pais,
já que isso faz parte do aprendizado. Ela ainda afirma que é perigoso a família
se colocar como a única instituição na vida de uma criança (BOTO, 2022).

2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES

A prática do homeschooling, ou ensino em casa, é regulamentada de maneira


diversa ao redor do mundo. Cada país estabelece suas próprias diretrizes para pais
que optam por educar seus filhos em casa, variando desde o reconhecimento legal e
regulamentação específica até proibições rigorosas. Para entender melhor essas
abordagens, examinaremos como alguns países de referência, como os Estados
Unidos, Canadá, Alemanha e Austrália, lidam com a regulamentação do
homeschooling e os resultados que obtiveram.
Nos Estados Unidos, o homeschooling é legal e praticado em todo o país, mas
os requisitos e regulamentos variam de estado para estado. Alguns estados exigem

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notificação prévia às autoridades educacionais locais, enquanto outros impõem testes


padronizados ou avaliações regulares do progresso educacional. Por outro lado, na
Alemanha, o homeschooling é proibido pela lei, com poucas exceções, devido às
preocupações do governo sobre a integração social das crianças. No Canadá, as
províncias têm abordagens distintas, algumas exigindo exames oficiais de avaliação,
enquanto outras pedem apenas notificação às autoridades de ensino local. A
diversidade de regulamentação também é vista na Austrália, com inspeções
regulares, avaliações de progresso e diretrizes curriculares específicas.
No que tange ao homeschooling no Canadá, a pedagoga (Barbosa, 2013)
observou como é posto em prática o ensino domiciliar:

A pedagoga realizou parte do estudo no Canadá, país onde a prática do


?homeschooling? é permitida. ?A regulamentação varia conforme as
províncias, algumas exigem a prestação dos exames de avaliação oficiais,

16
outras pedem apenas que a diretoria de ensino local seja comunicada?, relata.
?Ao entrevistar as famílias canadenses, percebe-se que embora a motivação
religiosa esteja muito presente, os pais também optam pelo ensino em casa
pela questão de custos (famílias mais numerosas) ou por terem filhos com
deficiência, entre outras razões? (BARBOSA, 2013).

A diversidade de abordagens à regulamentação do homeschooling ao redor do


mundo reflete a complexidade das questões envolvidas. Nos Estados Unidos, a
abordagem descentralizada permite flexibilidade para os pais, mas também pode
resultar em disparidades significativas na qualidade da educação em casa,
dependendo do estado em que se encontram. Por outro lado, na Alemanha, a
proibição do homeschooling é uma tentativa de garantir a socialização e a educação
uniforme das crianças, mas levanta questões sobre os direitos dos pais de decidirem
como educar seus filhos. No Canadá e na Austrália, a variedade de regulamentações
indica uma tentativa de equilibrar a autonomia dos pais com a necessidade de garantir
que as crianças recebam uma educação adequada.
Nesse ensejo, a Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED), que é
uma associação dos pais que defendem os estudos em casa, divulgou dados dos
países onde a prática do hommescooling é legal, conforme imagem abaixo:

Figura 1 - Legalidade do ensino doméstico por país.

PAÌSES: África África do Sul, Oceania Austrália, Nova Zelândia. Ásia Filipinas, Japão, América Norte
EUA, Canadá, Sul Colômbia, Chile, Equador, Paraguai. Europa Portugal, França, Itália, Reino Unido,
Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria, Finlândia, Noruega, Rússia.

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Fonte: Mapa e quadro divulgados pela ANED (2021).

17

Em vários países europeus, como França e Bélgica, o homeschooling é


estritamente regulamentado e desencorajado, com ênfase na importância da
socialização e da educação em escolas reconhecidas. No entanto, na Suécia, o
homeschooling é permitido sob condições específicas, desde que os pais sigam um
currículo nacional. A regulamentação do homeschooling ao redor do mundo reflete
uma variedade de abordagens culturais, educacionais e políticas, com o objetivo de
equilibrar o direito dos pais de educar seus filhos em casa com o interesse público em
garantir uma educação de qualidade e a socialização adequada das crianças.
De acordo com a pesquisadora (Boto,2018):

Nos Estados Unidos, país que possui hoje mais de 2 milhões de crianças em
idade escolar fora da escola, um dos principais motivos para a prática
do homeschooling é religioso. São as minorias religiosas, bem como minorias
étnicas que, de acordo com os estudos sobre o assunto, aderem a essa nova
modalidade de educação. Entre 1999 e 2010 ocorreu um crescimento
superior a 100% e, para o conjunto dos Estados norte-americanos, há um
contingente de quase 4% de crianças que hoje não frequentam mais a escola.
Na Rússia, entre 2008 e 2012, teria ocorrido ampliação de 900% nas práticas
de homeschooling. Na Alemanha, país que proibiu a prática em seu território,
há inúmeros casos de casais que foram multados e até presos por não
enviarem os filhos à escola (BOTO, 2018).

É evidente que a regulamentação do homeschooling é uma questão complexa


que envolve o equilíbrio entre os direitos individuais dos pais e o interesse público na
educação e socialização das crianças. O debate sobre como melhor abordar essa
questão continua a evoluir à medida que os países buscam encontrar um equilíbrio
entre a liberdade de escolha educacional dos pais e a responsabilidade do Estado de
garantir que todas as crianças recebam uma educação de qualidade e sejam
integradas na sociedade de maneira adequada.

18
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL

No cenário brasileiro, a análise da viabilidade jurídica do estudo domiciliar


requer um entendimento abrangente do contexto legal e regulatório que rege o
sistema educacional. A Constituição Federal de 1988 estabelece princípios essenciais

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que fundamentam a educação no Brasil, enfatizando a responsabilidade


compartilhada entre a família, a sociedade e o Estado na proteção dos direitos das
crianças e adolescentes. O Código Civil reforça o papel dos pais na criação e
educação de seus filhos, e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece
diretrizes específicas para a educação e proteção de menores. Paralelamente, a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) define os princípios gerais da educação
brasileira. Além disso, existem projetos de lei que podem definir o estudo em casa no
Brasil nas mãos dos deputados.
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO
A Constituição Federal de 1988, um marco fundamental na legislação brasileira,
estabelece princípios que guiam a educação no país e atribui responsabilidades tanto
ao Estado quanto à sociedade e às famílias. O Artigo 227 da Constituição Federal de
1988 é um dos pontos centrais nesse contexto:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,


ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL,1988).

Este artigo estabelece que é um compromisso da família, sociedade e Estado


garantir, de forma prioritária, o direito à vida, saúde, alimentação, educação, lazer,
profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e
comunitária das crianças, adolescentes e jovens, além de protegê-los contra qualquer
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
O Artigo 227 da Constituição Federal coloca as crianças, adolescentes e jovens
no centro das preocupações da sociedade e do Estado, enfatizando a necessidade
de criar um ambiente seguro e saudável para o seu desenvolvimento. Ele destaca a

19
educação como um dos pilares fundamentais para o crescimento pleno desses
indivíduos, enfatizando a necessidade de protegê-los contra ameaças e violações de
seus direitos, conforme previsto na Constituição.
Na conjuntura atual, o Artigo 227 mantém sua relevância como diretriz
essencial para a formulação de políticas educacionais e sociais no Brasil. No entanto,
desafios persistentes, como a desigualdade no acesso à educação e a violação dos
direitos das crianças, exigem esforços contínuos para garantir a implementação eficaz
das disposições desse artigo.
O compromisso da família, sociedade e Estado em proporcionar um ambiente
favorável ao crescimento e desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens é
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Portanto, é
crucial que todos os esforços sejam direcionados para garantir o respeito a esses

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direitos e para assegurar que todos os jovens tenham igualdade de oportunidades


para receber uma educação de qualidade, conforme preconizado pelo Artigo 227 da
Constituição Federal de 1988. Em resumo, o Artigo 227 continua a servir como
alicerce para a proteção e promoção dos direitos da juventude, sendo essencial para
garantir um futuro mais promissor às gerações vindouras.
A Constituição Federal de 1988 também estabelece, no Artigo 208, os deveres
do Estado em relação à educação no Brasil. Esses deveres incluem:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a


garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)
anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a
ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos
de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por
meio de programas suplementares de material didáticoescolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009)
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua
oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

20
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela freqüência à escola (BRASIL,1988).

Essas responsabilidades do Estado refletem um compromisso com a promoção


de uma educação acessível, inclusiva e de qualidade para todos os cidadãos
brasileiros. No entanto, o cumprimento desses deveres enfrenta desafios constantes,
principalmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, com
significativas desigualdades regionais.
O pensamento subjacente a esse contexto destaca a importância da educação
como um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico da nação.

Relatório gerado por CopySpider Software 2023-11-06 10:12:15


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Garantir igualdade de oportunidades educacionais para todos é essencial para


promover a justiça social e formar cidadãos capacitados e engajados. Portanto, a
implementação eficaz desses deveres estabelecidos no Artigo 208 é fundamental para
alcançar esses objetivos e construir uma sociedade mais equitativa e próspera.
Além disso, vale ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição Federal:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho (BRASIL,1988).

O Artigo 205 da Constituição Federal estabelece a educação como um direito


universal e um dever compartilhado entre o Estado e a família, sendo promovido e
incentivado com a colaboração da sociedade. A educação, de acordo com este
dispositivo, tem um propósito que vai além da mera transmissão de conhecimento. Ela
busca o completo desenvolvimento da pessoa, preparando-a para o exercício pleno
da cidadania e qualificando-a para o mercado de trabalho.
Entretanto, a interpretação do Artigo 205 não é unânime. Alguns argumentam
que a redação atual desse artigo é vaga e que a finalidade educacional parece
priorizar a formação de indivíduos funcionalmente integrados na estrutura social em
detrimento do desenvolvimento integral do ser humano. Nesse contexto, questiona-se
se a educação no Brasil, conforme delineada na Constituição, atende efetivamente às
necessidades de desenvolvimento individual ou se foca excessivamente na
preparação para o mercado de trabalho em detrimento do crescimento pessoal e da
promoção da busca pelo conhecimento.

21
Essa discussão levanta questões fundamentais sobre a finalidade da educação
e destaca a necessidade de repensar o sistema educacional para garantir que ele não
só atenda às demandas econômicas, mas também promova o crescimento pessoal,
o aprendizado contínuo e a realização individual. A revisão dos currículos, métodos
de ensino e políticas educacionais pode ser necessária para promover uma educação
mais abrangente e significativa, em consonância com o Artigo 205 da Constituição
Federal.
Ademais, é importante ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição
Federal como um alicerce legal para direcionar a educação no Brasil e garantir que
ela cumpra seu papel essencial no desenvolvimento das pessoas, na formação de
cidadãos ativos e na preparação para o mercado de trabalho.
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL
O Código Civil brasileiro, em seu Artigo 1.634, regulamenta o poder de família,
estabelecendo os seguintes termos:

Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação

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conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação; (BRASIL,2002).

Esse dispositivo legal é o cerne do múnus familiar em relação à obrigação


jurídica de fornecer educação e criação para os seus infantes.
O Código Civil também serve como referência relevante para compreender a
educação domiciliar, um tema que tem gerado debates significativos nos últimos anos.
Embora o Código Civil não faça menção direta à educação em casa, ele estabelece
os deveres e poderes dos pais em relação à criação e educação dos filhos,
destacando a importância da família nesse processo.
No entanto, a educação domiciliar levanta questões específicas em relação à
sua legalidade e regulamentação, que podem variar de acordo com a legislação
educacional vigente. Isso torna essencial que os pais compreendam as leis de
educação em seu país e busquem aconselhamento adequado caso desejem optar
pela educação em casa.

22
O debate sobre a educação domiciliar aborda questões relativas à qualidade
da educação, à socialização das crianças e à capacidade dos pais de proporcionarem
um ambiente educacional adequado em casa. Portanto, a interação entre os direitos
dos pais e o interesse público na formação educacional das crianças é complexa e
deve ser tratada em conformidade com as normas legais aplicáveis.
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL
O Artigo 246 do Código Penal Brasileiro destaca-se como uma peça legislativa
de grande importância no âmbito educacional e jurídico, abordando o dever dos pais
ou responsáveis de providenciar a instrução primária para seus filhos em idade
escolar. Simultaneamente, esse dispositivo legal está relacionado ao estudo
domiciliar, conforme estipula o referido artigo: "Deixar, sem justa causa, de prover à
instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um
mês, ou multa" (BRASIL, 1940).
Este artigo normativo estabelece que a omissão injustificada em fornecer a
instrução primária a um filho em idade escolar configura uma infração sujeita a
penalidades específicas. Tais penalidades incluem detenção com duração de quinze
dias a um mês, bem como a imposição de multa.
A relevância do Artigo 246 reside na ênfase dada à obrigação da educação
primária, um direito fundamental da criança garantido pela legislação brasileira. A
garantia do acesso à educação é crucial para o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos essenciais ao longo da vida. Além disso, a educação desempenha um
papel vital na formação do cidadão e na promoção do bem-estar social.
Nesse contexto, o Artigo 246 do Código Penal visa assegurar que os pais ou
responsáveis cumpram o dever legal de proporcionar a instrução primária a seus filhos
em idade escolar, contribuindo para a formação educacional e cidadã das futuras

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gerações. Ao mesmo tempo, este artigo também suscita questões relacionadas ao


estudo domiciliar. Quando realizado em conformidade com as normas e
regulamentações estabelecidas, o estudo domiciliar permite que os pais assumam um
papel ativo na educação de seus filhos, desde que cumpram os requisitos legais e
assegurem a qualidade da educação em ambiente domiciliar. Isso demonstra o
compromisso do sistema legal brasileiro em conciliar o direito dos pais de escolherem

23
a modalidade educacional de seus filhos com a necessidade de garantir a adequada
formação e proteção das futuras gerações.
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece diretrizes
específicas em relação à educação das crianças e adolescentes. Ele alinha-se ao
entendimento conforme expresso no ?Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação
de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino? (BRASIL, 1990).
Além disso, o Artigo 4º do ECA menciona o dever da família em relação ao
menor, conforme previsto no artigo, que estabelece:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder


público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1990).

Essa obrigação legal encontra respaldo nos princípios estabelecidos no Artigo


53 do ECA, que determina que crianças e adolescentes têm o direito à educação,
visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho. Além disso, o referido artigo prevê seus
direitos, como evidenciado no próprio texto:

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno


desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias
escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; (BRASIL,
1990).

O Artigo 54, por sua vez, estabelece o dever do Estado de garantir o direito à
educação das crianças e adolescentes, como expresso no texto a seguir:

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Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:


I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não
tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

24
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
(Revogado)
IV ? atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos
de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua
oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável,
pela freqüência à escola. (BRASIL, 1990).

Portanto, de acordo com seu §1º, é de responsabilidade do Estado efetivar os


direitos relacionados à educação, assegurando a igualdade de condições para o
acesso e a permanência na escola.
O pensamento subjacente a essas disposições do ECA enfatiza a importância
da educação para o desenvolvimento integral da criança e do adolescente,
preparando-os para uma participação ativa na sociedade e qualificando-os para
futuras oportunidades de trabalho. O ECA coloca a responsabilidade sobre os pais e
o Estado para garantir que a educação seja acessível e eficaz para as crianças e
adolescentes, de acordo com o Artigo 1º do ECA, que preconiza a proteção integral
como princípio norteador.
Entretanto, é importante ressaltar que, assim como no caso da Constituição
Federal, o ECA não faz menção direta à educação domiciliar (homeschooling).
Portanto, a prática da educação em casa levanta questões sobre a conformidade com
essas leis e regulamentos e deve ser considerada cuidadosamente à luz do contexto
legal em vigor. O debate sobre a educação domiciliar gira em torno das necessidades

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das crianças, da qualidade da educação e da capacidade dos pais de fornecer um


ambiente educacional apropriado em casa, ao mesmo tempo em que respeitam as
leis e regulamentações existentes.

25
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabelece princípios
essenciais relacionados à educação no Brasil segundo o Artigo 2º destaca que:

Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de


liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1996).

Assim, verifica-se que a responsabilidade pela educação é compartilhada entre


a família e o Estado, e deve ser baseada nos princípios da liberdade e solidariedade
humana. Além disso, a educação deve ter como finalidade o pleno desenvolvimento
do educando, preparando-o para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.
Adicionalmente, o Artigo 6º da mesma lei impõem que ?É dever dos pais ou
responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4
(quatro) anos de idade? (BRASIL, 1990). Essa disposição, estabelecida no Artigo 6º,
reforça a necessidade de que os pais ou responsáveis efetuem a matrícula das
crianças na educação básica a partir dos 4 anos de idade.
Esse conjunto de responsabilidades do Estado reflete o compromisso com a
promoção de uma educação acessível, inclusiva e de qualidade para todos os
cidadãos brasileiros. No entanto, o cumprimento desses deveres é um desafio
constante, especialmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, com
desigualdades regionais significativas.
O pensamento subjacente a esse contexto destaca a importância da educação
como um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico de uma nação.
Garantir que todos tenham igualdade de oportunidades educacionais é essencial para
promover a justiça social e a formação de cidadãos capacitados e engajados.
Portanto, a implementação eficaz desses deveres está também estabelecida no Artigo
208 da Constituição Federal, que diz que é fundamental para alcançar esses objetivos
é construir uma sociedade mais equitativa e próspera

26
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA
O tema da educação domiciliar tem sido objeto de intensos debates no âmbito
legislativo brasileiro, com vários projetos de lei apresentados ao longo dos anos.
Essas propostas visam redefinir a dinâmica educacional, distribuindo

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responsabilidades entre o Estado e as famílias, a fim de permitir o ensino em casa.


Para que isso ocorra, é necessária uma ativa movimentação do Poder
Legislativo, pois este é o órgão responsável pela fiscalização e criação de leis.
Atualmente, não existe nenhuma lei que valide a educação domiciliar no Brasil,
embora tenham sido apresentados diversos projetos de lei sobre o tema ao longo do
tempo.
Em um breve passeio pela história legislativa, um desses projetos que merece
destaque é o Projeto de Lei nº 6001/2001, de autoria de Ricardo Izar. Este projeto
visava atribuir aos pais a responsabilidade pela educação de seus filhos, dispensando
os alunos que comprovassem educação em casa da obrigatoriedade de frequentar
uma escola e cumprir uma carga horária mínima anual. Nas justificativas
apresentadas, Izar argumentou que deixar o Estado como único provedor de
educação era um abuso de poder e que forçar as crianças a frequentar a escola as
expunha diariamente a drogas e violência, além de uma orientação pedagógica que
poderia ser contrária às convicções filosóficas e religiosas de algumas famílias.
No entanto, após anos de tramitação, esse projeto foi rejeitado e arquivado em
2007. A justificativa para a rejeição foi que a proposta era elitista, já que apenas
famílias com formação educacional adequada e tempo disponível poderiam desfrutar
desse direito, excluindo grande parte da população com menor poder aquisitivo.
Outros projetos de lei seguiram o Projeto de Lei nº 6001/2001, como o Projeto
de Lei 4122/2008 e o Projeto de Lei 3518/2008, que propunham alterações na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
No entanto, essas propostas também foram rejeitadas, argumentando que elas
contrariavam a legislação existente e que a eficácia do ensino domiciliar não havia
sido devidamente demonstrada. A Comissão afirmou que a experiência e a vivência
cotidiana nas escolas eram fundamentais para a aprendizagem e o desenvolvimento
das crianças.

27
Em 2012, o deputado Lincoln Portela elaborou o Projeto de Lei 3179, buscando
acrescentar o ensino domiciliar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As modificações propostas e outros projetos relacionados a ele serão abordados a
seguir.
O Projeto de Lei 3261 de 2015, de autoria do Deputado Eduardo Bolsonaro,
busca autorizar a educação domiciliar, introduzindo várias alterações na Lei nº 9.394
de 1996 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em junho de 2018, o deputado Alan Rick apresentou o Projeto de Lei
10185/2018, propondo alterações no artigo 5º da Lei nº 9.394 de 1996 para especificar
que o dever do Poder Público de garantir a frequência à escola pode ser substituído
pelo zelo no desenvolvimento adequado no caso da educação domiciliar.
O Projeto de Lei 3159, de 2019, de autoria da Deputada Natália Bonavides,
busca acrescentar ao artigo 5º da Lei nº 9394 de 1996 um parágrafo afirmando que a
educação domiciliar não pode substituir a frequência à escola.

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No mesmo ano, foi apresentado o Projeto de Lei 2401/2019, de autoria do


Poder Executivo, que propõe a regulamentação da educação básica domiciliar em
uma lei isolada. Suas disposições são mais detalhadas do que as propostas dos
projetos de lei mencionados anteriormente. O projeto torna explícito que a educação
domiciliar é um direito de escolha dos pais e responsáveis, assegura a igualdade dos
estudantes dessa modalidade com os da educação presencial e estabelece requisitos,
como o registro da educação domiciliar em uma plataforma virtual do Ministério da
Educação e a avaliação anual dos alunos de acordo com a Base Nacional Comum
Curricular.
Além disso, o projeto proíbe a educação domiciliar para pais ou responsáveis
que cumpram penas por crimes previstos em várias normas legais e prevê a perda do
direito de optar pela educação domiciliar no caso de reprovação em duas ou três
oportunidades ou de falta injustificada na avaliação anual.
Há também ajustes propostos para a Lei 9.394 de 1996 e o Estatuto da Criança
e do Adolescente para torná-los compatíveis com a educação domiciliar.
Os projetos de Lei 5852/2019 e 6188/2019, propostos pelos deputados Pastor
Eurico e Geninho Zuliani, pretendem inserir na Lei 9.394 de 1996 a possibilidade de a
Educação Básica ser ministrada por tutores autônomos em locais diferentes das
instituições oficiais de ensino. O segundo projeto busca autorizar a educação

28
domiciliar apenas quando for constatada a inadequação ou impossibilidade de
inclusão do estudante na rede regular de ensino, permitindo ainda o acesso a espaços
e equipamentos públicos.
Esses projetos apensados ao Projeto de Lei 3179/2012 demonstram a
abundância de discussões em torno da educação domiciliar e sua importância no
ordenamento jurídico.
Considerando as contribuições desses projetos de lei, a deputada Luísa
Canziani apresentou um Substitutivo ao Projeto de Lei 3179 de 2012 e suas emendas.
Ela sugeriu apenas a rejeição do Projeto de Lei 3159 de 2019.
Ao Substitutivo foram apresentadas 15 emendas de Plenário, sendo aprovada
apenas a emenda de plenário nº 8, que busca acrescentar um parágrafo único ao
artigo 246 do Código Penal, estabelecendo que os pais ou responsáveis que optam
pela educação domiciliar não incorrem no crime de abandono intelectual de seus
filhos. Quanto às demais emendas, foi sugerida a rejeição.
A redação final do Projeto de Lei 3179/2012 inclui no escopo da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional a possibilidade de oferta domiciliar da
educação básica. O projeto prevê obrigações para os pais, como a matrícula anual do
estudante em uma instituição de ensino credenciada, o cumprimento dos conteúdos
curriculares de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, a realização de
atividades pedagógicas, o registro periódico dessas atividades com envio de relatórios
trimestrais, o acompanhamento do desenvolvimento do estudante por um docente
tutor da instituição de ensino, avaliações anuais de aprendizagem e a participação em

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exames nacionais, estaduais ou municipais, se selecionados.


O projeto também prevê a perda do direito à opção pela educação domiciliar
nas hipóteses de insuficiência de progresso do educando, reprovações ou faltas
injustificadas nas avaliações. Além disso, estabelece a proibição da educação
domiciliar para pais ou responsáveis que cumpram penas por crimes específicos.
Também é importante mencionar o Projeto de Lei 3262/2019, que propõe
alterações no Código Penal para que a educação domiciliar não seja considerada um
crime de abandono intelectual. Esta proposta se originou devido a casos de famílias
que enfrentaram perseguições legais devido à educação domiciliar.
Assim, a educação domiciliar no Brasil é um tema de debate contínuo no
cenário legislativo, com diversos projetos de lei apresentados ao longo dos anos,

29
refletindo as complexidades em torno do homeschooling e suas implicações no
sistema educacional brasileiro. O Projeto de Lei 3179/2012 foi aprovado pela Câmara
dos Deputados em 19 de maio de 2022 e atualmente encontra-se em análise no
Senado Federal como Projeto de Lei Nº 1.388/2022, aguardando a próxima fase do
processo legislativo na Comissão de Educação do Senado, tendo o senador Flávio
Arns como relator.

30
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR

O assunto do ensino domiciliar, também conhecido como homeschooling, tem


sido objeto de análise pelo Poder Judiciário no contexto dos Direitos Fundamentais e
Individuais. Dois casos de grande repercussão social se destacam, ocorridos nas
cidades de Anápolis, estado de Goiás, e Canela, no Rio Grande do Sul.
O primeiro ocorreu em 2002, o caso emblemático da família Vilhena Coelho,
residente em Anápolis, Goiás, ocorrido em 2002. Nesse episódio, os pais desta
família, representando seus três filhos menores, impetraram o Mandado de Segurança
n° 7.407, datado de 24 de abril de 2002, junto ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
O propósito deste recurso constitucional era a reversão do ato do Ministério da
Educação (MEC), que havia homologado o Parecer Consultivo n° 34 de 04 de
dezembro de 2000 da Câmara de Ensino Básico (CEB) do Conselho Nacional de
Educação (CNE). Este parecer negou a possibilidade da educação domiciliar, apesar
da demonstração de que tal modalidade vinha ocorrendo de forma eficiente, com
avaliações sendo realizadas.
No cerne das decisões administrativas que desencadearam esse episódio está
a ideia de que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996 e
a Constituição Federal de 1988 são explícitas quanto à obrigatoriedade do ensino

Relatório gerado por CopySpider Software 2023-11-06 10:12:15


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escolar, bem como da frequência dos alunos devidamente matriculados, de acordo


com o mencionado parecer.
O relator do processo no STJ, o Ministro Francisco Peçanha Martins, votou em
desfavor da pretensão da família, argumentando que não existia direito líquido e certo
na solicitação e que o MEC não havia agido com abuso ao aprovar o parecer do
CEB/CNE. Para ele, os dispositivos constitucionais determinavam que o ensino
escolar era obrigatório, assim como a frequência dos alunos matriculados em escolas
regulares.
Outros ministros que compartilharam desse entendimento no STJ foram
Humberto Gomes de Barros, Eliana Calmon, Francisco Falcão, Laurita Vaz e Garcia
Vieira. Os votos vencidos foram dos Ministros Franciulli Netto e Paulo Medina.
Para o Ministro Franciulli Netto, a educação deveria ser analisada à luz do
pluralismo do Estado Democrático de Direito, permitindo o direito à liberdade de
escolher outra modalidade de ensino. Ele observou que as crianças demonstraram

31
um notável desempenho, estando um ano à frente de suas idades, o que, em sua
visão, habilitava os pais a assumir a função de garantir diretamente a educação formal.
Para ele, a frequência escolar era um fator secundário, e a educação transcenderia a
mera transmissão de informações, sendo a família a principal responsável pela
formação, não apenas intelectual, mas também cidadã e social das crianças e
adolescentes.
O Ministro Paulo Medina também enfatizou as liberdades constitucionais
relacionadas à educação e o pluralismo de ideias, bem como a responsabilidade do
Estado em fiscalizar as atividades da família para garantir a efetivação dos fins
constitucionais relacionados à educação.
No final, os pais tiveram que acatar a decisão do STJ e realizar a matrícula de
seus filhos em uma escola regular.
O segundo caso ocorreu em meados de 2015, quando chegou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança impetrado pelos pais de uma
criança de onze anos, que tiveram sua solicitação de educação domiciliar negada pelo
órgão municipal e, posteriormente, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A
parte recorrente alegou violação de diversos artigos da Constituição, argumentando
que a educação não se restringe à instrução formal em uma instituição convencional
de ensino, especialmente diante da diversidade de ideias e concepções pedagógicas,
bem como dos avanços tecnológicos.
No seu pronunciamento, o Ministro Luís Roberto Barroso destacou o ensino
domiciliar como um fenômeno emergente em diversos países, incluindo o Brasil, com
um crescente número de adeptos, e a possibilidade de redução dos gastos públicos
com sua adoção. O reconhecimento da natureza constitucional do debate sobre a
capacidade das famílias de prover educação levou o Ministro a enfatizar a importância
de definir a relação entre o Estado e a família na educação de crianças e
adolescentes, bem como os limites da autonomia privada em relação às imposições

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estatais.
Barroso concluiu que a improcedência do pedido baseou-se na falta de uma
norma regulamentar, não na inconstitucionalidade do homeschooling. Além disso,
salientou que, como se tratava de uma questão de repercussão geral, a decisão tinha
efeito erga omnes, aplicável a todas as partes envolvidas na lide, sendo uma decisão
histórica e de extrema importância por reconhecer a colaboração entre o Estado e a

32
família na prestação do ensino fundamental e pela legalização do homeschooling no
Brasil.
Posteriormente, em 2018, o processo foi colocado em pauta e, após o
julgamento, a Corte determinou que o ensino domiciliar não é um meio lícito para
cumprir o dever de prover educação a crianças e adolescentes, embora não tenha
sido considerado inconstitucional. A maioria dos ministros votou pelo desprovimento
do recurso extraordinário, uma vez que não havia uma lei que regulamentasse a
prática.
O Ministro Luís Roberto Barroso, ao fundamentar seu voto, destacou que a
Constituição Federal não proíbe o homeschooling e que o ensino domiciliar é
compatível com o ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a maioria dos ministros
argumentou que é necessária uma regulamentação prévia pelo Congresso Nacional,
estabelecendo requisitos e mecanismos de avaliação e fiscalização, para atender ao
disposto no Art. 208, §3º da Constituição, que atribui ao poder público o dever de zelar
pela frequência à escola. Esta decisão do Supremo Tribunal Federal, portanto,
representa um marco importante na jurisprudência brasileira em relação a este
assunto controverso.
No seu voto, o Ministro Alexandre de Moraes apresentou uma perspectiva
fundamental no julgamento do ensino domiciliar, sustentando que a prática não é
inconstitucional, desde que haja uma regulamentação prévia. Ele destacou que o
homeschooling de natureza utilitarista, que segue o conteúdo do ensino escolar e
permite fiscalização e avaliações periódicas, é compatível com a Constituição,
contudo, ressaltou que essa modalidade requer uma colaboração entre as famílias e
o Estado. O Ministro enfatizou a importância de o Congresso Nacional regulamentar
essa prática, a fim de estabelecer requisitos e mecanismos de avaliação e
fiscalização, como previsto no Art. 208, §3º da Constituição, o qual atribui ao poder
público a responsabilidade de garantir a frequência escolar. Além disso, Moraes
argumentou que o ensino domiciliar pode ser uma escolha legítima das famílias,
especialmente quando fundamentada em motivos religiosos, promovendo assim o
direito fundamental à liberdade religiosa e respeitando os princípios de autonomia e
emancipação.
Portanto, o STF reconheceu a legalidade do homeschooling, desde que haja
regulamentação específica por parte do Congresso Nacional para garantir a qualidade

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e a fiscalização do ensino domiciliar no Brasil. Essa decisão representa um marco
significativo na jurisprudência do país em relação a esse tema controverso,
estabelecendo a necessidade de um equilíbrio entre o direito das famílias de
escolherem essa modalidade de ensino e a responsabilidade do Estado em assegurar
que a educação seja ministrada de acordo com padrões adequados e com a devida
supervisão. Além disso, o voto do Ministro Alexandre de Moraes destaca a importância
de reconhecer a autonomia e emancipação das famílias, especialmente quando
fundamentadas em motivos religiosos, promovendo assim o direito fundamental à
liberdade religiosa, dentro dos limites estabelecidos por uma regulamentação
apropriada.

34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente trabalho, o conceito e a prática do ensino domiciliar, conhecido


como homeschooling, foram explorados, com destaque para sua crescente
popularidade global e as diversas motivações subjacentes a essa abordagem
educacional. O homeschooling permite que os pais personalizem o currículo de seus
filhos, flexibilizem horários e atendam a preocupações com segurança e bem-estar.
Contudo, essa prática tem gerado debates sobre a socialização das crianças e a
qualidade do ensino, com regulamentações variando amplamente entre países.
No contexto legal brasileiro, a viabilidade do ensino domiciliar foi analisada,
considerando as bases legais, como a Constituição Federal de 1988, o Código Civil,
o Código Penal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação. Embora esses documentos não façam menção direta ao
homeschooling, estabelecem princípios fundamentais para a educação no Brasil.
Também foram explorados projetos de lei relacionados ao ensino domiciliar em
discussão no país.
Dois casos emblemáticos ocorridos em Anápolis, Goiás, em 2002, e em
Canela, Rio Grande do Sul, em 2015, foram analisados. No primeiro caso, o Supremo
Tribunal de Justiça decidiu contra a família Vilhena Coelho, argumentando que a
Constituição exige a frequência escolar. No segundo caso, o Supremo Tribunal
Federal considerou que o ensino domiciliar não é inconstitucional, mas requer
regulamentação específica pelo Congresso Nacional.
Diante da análise realizada, conclui-se que o objetivo central deste estudo, que
consistia em explorar a viabilidade e a legalidade do ensino domiciliar, também
conhecido como homeschooling, foi alcançado em parte. Ficou evidente que o ensino
domiciliar não é inconstitucional no Brasil, conforme confirmado pelo Supremo

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Tribunal Federal (STF) em seu julgamento de 2018. Entretanto, a ausência de uma


legislação específica para regulamentar o homeschooling deixa questões
fundamentais em aberto.
A Constituição Federal de 1988 e outros dispositivos legais estabelecem
princípios e diretrizes essenciais para a educação no país, mas não abordam
diretamente o homeschooling. Isso resulta em uma lacuna legal que demanda atenção
do poder legislativo para criar uma estrutura regulatória clara e adequada, a fim de

35
garantir que o ensino domiciliar seja praticado com qualidade, responsabilidade e em
conformidade com os princípios educacionais do Brasil.
Portanto, embora o tema do homeschooling tenha sido examinado à luz de sua
constitucionalidade, a ausência de uma lei específica que regule o assunto cria uma
lacuna significativa no sistema educacional brasileiro. Assim, para atingir plenamente
os objetivos propostos para este tema, é necessária a ação legislativa futura que
aborde essa questão complexa e promova a segurança jurídica e a qualidade da
educação no contexto do ensino domiciliar no Brasil. A reflexão sobre esse tópico
destaca a importância de que, embora a legalidade do homeschooling tenha sido
estabelecida, ainda é necessária uma regulamentação específica para atender aos
princípios e responsabilidades constitucionais relacionados à educação no país.

36
REFERÊNCIAS

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https://revistaensinosuperior.com.br/2011/09/10/homeschooling/. Acesso em: 03 mai.
2023.

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em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-10112014-111617/pt-
br.php. Acesso em: 02 set. 2023.

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Disponível em: https://www.aned.org.br/index.php/conheca-educacao-domiciliar/ed-
no-mundo. Acesso em: 01 set. 2023.

BARBOSA, Luciane. Pesquisa identifica razoes que levam pais a optar por
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pais-a-optar-por-educacao-domiciliar/. Acesso em: 25 jul. 2023.

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16 março. 2018. Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/homeschooling-a-pratica-
de-educar-em-casa/. Acesso em: 25 jul. 2023.

BOTO, Carlota. Projeto de homeschooling no Brasil coloca um muro entre a


família e o mundo social. Jornal da USP, 25 maio. 2022. Disponível
em: https://jornal.usp.br/atualidades/projeto-de-homeschooling-no-brasil-coloca-um-
muro-entre-a-familia-e-o-mundo-social/. Acesso em: 26 jul. 2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 888.815/RS. DIREITO


CONSTITUCIONAL. EDUCAÇÃO. ENSINO DOMICILIAR. LIBERDADES E
DEVERES DO ESTADO E DA FAMÍLIA. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. Constitui questão constitucional saber se o ensino domiciliar (homeschooling)
pode ser proibido pelo Estado ou viabilizado como meio lícito de cumprimento, pela
família, do dever de prover educação, tal como previsto no art. 205 da CRFB/1988.
2. Repercussão geral reconhecida. Relator: Min. Roberto Barroso, 4 de junho de
2015. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?
incidente=4774632. Acesso em: 10 abr.2023.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n° 888.815.


Constitucional. Educação. Direito Fundamental relacionado à dignidade da pessoa
humana e à efetividade da cidadania. Dever solidário do Estado e da família na
prestação do Ensino Fundamental. Necessidade de lei formal, editada pelo
Congresso Nacional, para regulamentar o Ensino Domiciliar. Recurso Desprovido.
Relator: Ministro Roberto Barroso. Redator para acórdão: Ministro Alexandre de
Moraes. DJ, 12 de set. de 2018. Disponível em:
https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE888815mAM.PDF.
Acesso em: 05 out.2023.

37

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