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Este relatório apresenta na próxima página uma tabela na qual cada linha associa o conteúdo do arquivo
de entrada com um documento encontrado na internet (para "Busca em arquivos da internet") ou do
arquivo de entrada com outro arquivo em seu computador (para "Pesquisa em arquivos locais"). A
quantidade de termos comuns representa um fator utilizado no cálculo de Similaridade dos arquivos sendo
comparados. Quanto maior a quantidade de termos comuns, maior a similaridade entre os arquivos. É
importante destacar que o limite de 3% representa uma estatística de semelhança e não um "índice de
plágio". Por exemplo, documentos que citam de forma direta (transcrição) outros documentos, podem ter
uma similaridade maior do que 3% e ainda assim não podem ser caracterizados como plágio. Há sempre a
necessidade do avaliador fazer uma análise para decidir se as semelhanças encontradas caracterizam ou
não o problema de plágio ou mesmo de erro de formatação ou adequação às normas de referências
bibliográficas. Para cada par de arquivos, apresenta-se uma comparação dos termos semelhantes, os
quais aparecem em vermelho.
Veja também:
Analisando o resultado do CopySpider
Qual o percentual aceitável para ser considerado plágio?
=================================================================================
Arquivo 1: BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Arquivo 2: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/245907/TCC_Luana Luzia da
Silva.pdf?sequence=1&isAllowed=y (16217 termos)
Termos comuns: 883
Similaridade: 3,80%
O texto abaixo é o conteúdo do documento BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/245907/TCC_Luana Luzia da
Silva.pdf?sequence=1&isAllowed=y (16217 termos)
=================================================================================
Cuiabá
2023
Cidade
Ano
BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA
Cuiabá
2023
BANCA EXAMINADORA
RESUMO
ABSTRACT
The aim of this work is to discuss homeschooling, also known as home education, an
educational practice in which parents or guardians take on the responsibility of
educating their children at home instead of enrolling them in a traditional school. This
practice allows for a personalized teaching approach, tailored to the individual needs
and interests of each child. However, the legal feasibility of homeschooling in Brazil is
a subject of debate. While some parents and guardians advocate for the right to
educate their children at home, there are legal and regulatory issues that need to be
considered. The study will also examine countries where homeschooling is regulated,
highlighting the roles of both the family and the state in home education. Furthermore,
there have been various legal decisions related to homeschooling in Brazil, with some
cases of significant impact. These legal decisions can have a significant impact on how
homeschooling is practiced and regulated in the country. Therefore, it is important to
understand the concept of homeschooling, analyze its legal feasibility in the Brazilian
context, and be aware of legal decisions related to this educational practice.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Art. Artigo
ANED Associação Nacional de Educação Domiciliar
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
RE Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
USP Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING ......................................................... 10
2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO ................................................................................. 11
2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING..................................................................... 11
2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING .................................... 13
2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING ................................................ 14
2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES............... 15
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL ..................................................................................................................... 18
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO ................................................. 18
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL ....................................................................... 21
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL .................................................................. 22
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA) ............................................................................................. 23
9
1 INTRODUÇÃO
10
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING
11
12
No entanto, vale ressaltar que a formalização e a regulamentação do
homeschooling como uma opção legal de educação são mais recentes em muitos
países, incluindo o Brasil. O surgimento mais notável e o reconhecimento oficial do
homeschooling no Brasil ocorreram nas últimas décadas, principalmente a partir dos
anos 2000, quando começou a ganhar visibilidade e a ser debatido mais amplamente.
Nos Estados Unidos da América (EUA), o pioneiro do homeschooling foi Holt,
considerado o pai da desescolarização. Ele acreditava que a escola tradicional, de
certo modo, coagia as crianças a aprenderem, quando, na verdade, elas o fariam
naturalmente se tivessem a liberdade de seguir seus próprios interesses e acesso a
13
recorrendo ao ensino em casa para manter o aprendizado das crianças durante os
lockdowns e as incertezas associadas à pandemia.
A pandemia também destacou a importância da adaptação e flexibilidade no
homeschooling. Pais e tutores tiveram que se ajustar rapidamente a novos métodos
de ensino online e colaborar mais estreitamente com escolas para acessar materiais
e recursos educacionais. Além disso, o ensino em casa permitiu que algumas famílias
aproveitassem o tempo em casa para explorar tópicos adicionais, incentivando a
aprendizagem autodirigida e a criatividade.
No entanto, é importante observar que o homeschooling durante a pandemia
também trouxe desafios, incluindo a necessidade de equilibrar o trabalho remoto dos
pais com a supervisão do aprendizado das crianças. O debate sobre a
regulamentação e a legalização do homeschooling no Brasil também se intensificou
14
aproveitando oportunidades de aprendizado fora do ambiente escolar tradicional. Isso
é complementado pelo uso de uma ampla variedade de recursos educacionais,
incluindo livros, materiais didáticos, recursos online, visitas a museus e aulas
particulares, que enriquecem a abordagem educacional.
No homeschooling, valoriza-se a educação informal, reconhecendo que as
experiências cotidianas, viagens, atividades ao ar livre e interações com a
comunidade são oportunidades valiosas de aprendizado. Os pais desempenham um
papel fundamental no ensino domiciliar, projetando o currículo, fornecendo instrução
e apoio, e acompanhando o progresso acadêmico e social de seus filhos.
Além disso, o homeschooling coloca ênfase não apenas na educação
acadêmica, mas também no desenvolvimento integral da criança, incluindo aspectos
sociais, emocionais e éticos. Essa abordagem é especialmente atraente para famílias
com crianças com necessidades educacionais especiais, uma vez que permite uma
adaptação mais precisa a essas necessidades.
menos oportunidades de interagir com seus pares. Além disso, questões relacionadas
à qualidade da supervisão educacional e à capacidade dos pais de fornecer um ensino
adequado em todas as disciplinas são frequentemente levantadas. Críticos
argumentam que, sem uma supervisão rigorosa, algumas crianças podem não
receber a educação de qualidade necessária.
De acordo com a pedagoga (Barbosa, 2013), autora do estudo, a prática do
homeschooling:
15
conceito de cidadania ligado apenas ao conhecimento de fatos históricos e
ao exercício do voto? (BARBOSA, 2013).
16
outras pedem apenas que a diretoria de ensino local seja comunicada?, relata.
?Ao entrevistar as famílias canadenses, percebe-se que embora a motivação
religiosa esteja muito presente, os pais também optam pelo ensino em casa
pela questão de custos (famílias mais numerosas) ou por terem filhos com
deficiência, entre outras razões? (BARBOSA, 2013).
PAÌSES: África África do Sul, Oceania Austrália, Nova Zelândia. Ásia Filipinas, Japão, América Norte
EUA, Canadá, Sul Colômbia, Chile, Equador, Paraguai. Europa Portugal, França, Itália, Reino Unido,
Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria, Finlândia, Noruega, Rússia.
17
Nos Estados Unidos, país que possui hoje mais de 2 milhões de crianças em
idade escolar fora da escola, um dos principais motivos para a prática
do homeschooling é religioso. São as minorias religiosas, bem como minorias
étnicas que, de acordo com os estudos sobre o assunto, aderem a essa nova
modalidade de educação. Entre 1999 e 2010 ocorreu um crescimento
superior a 100% e, para o conjunto dos Estados norte-americanos, há um
contingente de quase 4% de crianças que hoje não frequentam mais a escola.
Na Rússia, entre 2008 e 2012, teria ocorrido ampliação de 900% nas práticas
de homeschooling. Na Alemanha, país que proibiu a prática em seu território,
há inúmeros casos de casais que foram multados e até presos por não
enviarem os filhos à escola (BOTO, 2018).
18
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL
19
educação como um dos pilares fundamentais para o crescimento pleno desses
indivíduos, enfatizando a necessidade de protegê-los contra ameaças e violações de
seus direitos, conforme previsto na Constituição.
Na conjuntura atual, o Artigo 227 mantém sua relevância como diretriz
essencial para a formulação de políticas educacionais e sociais no Brasil. No entanto,
desafios persistentes, como a desigualdade no acesso à educação e a violação dos
direitos das crianças, exigem esforços contínuos para garantir a implementação eficaz
das disposições desse artigo.
O compromisso da família, sociedade e Estado em proporcionar um ambiente
favorável ao crescimento e desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens é
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Portanto, é
crucial que todos os esforços sejam direcionados para garantir o respeito a esses
20
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela freqüência à escola (BRASIL,1988).
21
Essa discussão levanta questões fundamentais sobre a finalidade da educação
e destaca a necessidade de repensar o sistema educacional para garantir que ele não
só atenda às demandas econômicas, mas também promova o crescimento pessoal,
o aprendizado contínuo e a realização individual. A revisão dos currículos, métodos
de ensino e políticas educacionais pode ser necessária para promover uma educação
mais abrangente e significativa, em consonância com o Artigo 205 da Constituição
Federal.
Ademais, é importante ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição
Federal como um alicerce legal para direcionar a educação no Brasil e garantir que
ela cumpra seu papel essencial no desenvolvimento das pessoas, na formação de
cidadãos ativos e na preparação para o mercado de trabalho.
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL
O Código Civil brasileiro, em seu Artigo 1.634, regulamenta o poder de família,
estabelecendo os seguintes termos:
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação; (BRASIL,2002).
22
O debate sobre a educação domiciliar aborda questões relativas à qualidade
da educação, à socialização das crianças e à capacidade dos pais de proporcionarem
um ambiente educacional adequado em casa. Portanto, a interação entre os direitos
dos pais e o interesse público na formação educacional das crianças é complexa e
deve ser tratada em conformidade com as normas legais aplicáveis.
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL
O Artigo 246 do Código Penal Brasileiro destaca-se como uma peça legislativa
de grande importância no âmbito educacional e jurídico, abordando o dever dos pais
ou responsáveis de providenciar a instrução primária para seus filhos em idade
escolar. Simultaneamente, esse dispositivo legal está relacionado ao estudo
domiciliar, conforme estipula o referido artigo: "Deixar, sem justa causa, de prover à
instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um
mês, ou multa" (BRASIL, 1940).
Este artigo normativo estabelece que a omissão injustificada em fornecer a
instrução primária a um filho em idade escolar configura uma infração sujeita a
penalidades específicas. Tais penalidades incluem detenção com duração de quinze
dias a um mês, bem como a imposição de multa.
A relevância do Artigo 246 reside na ênfase dada à obrigação da educação
primária, um direito fundamental da criança garantido pela legislação brasileira. A
garantia do acesso à educação é crucial para o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos essenciais ao longo da vida. Além disso, a educação desempenha um
papel vital na formação do cidadão e na promoção do bem-estar social.
Nesse contexto, o Artigo 246 do Código Penal visa assegurar que os pais ou
responsáveis cumpram o dever legal de proporcionar a instrução primária a seus filhos
em idade escolar, contribuindo para a formação educacional e cidadã das futuras
23
a modalidade educacional de seus filhos com a necessidade de garantir a adequada
formação e proteção das futuras gerações.
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece diretrizes
específicas em relação à educação das crianças e adolescentes. Ele alinha-se ao
entendimento conforme expresso no ?Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação
de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino? (BRASIL, 1990).
Além disso, o Artigo 4º do ECA menciona o dever da família em relação ao
menor, conforme previsto no artigo, que estabelece:
O Artigo 54, por sua vez, estabelece o dever do Estado de garantir o direito à
educação das crianças e adolescentes, como expresso no texto a seguir:
24
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
(Revogado)
IV ? atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos
de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua
oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável,
pela freqüência à escola. (BRASIL, 1990).
25
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabelece princípios
essenciais relacionados à educação no Brasil segundo o Artigo 2º destaca que:
26
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA
O tema da educação domiciliar tem sido objeto de intensos debates no âmbito
legislativo brasileiro, com vários projetos de lei apresentados ao longo dos anos.
Essas propostas visam redefinir a dinâmica educacional, distribuindo
27
Em 2012, o deputado Lincoln Portela elaborou o Projeto de Lei 3179, buscando
acrescentar o ensino domiciliar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As modificações propostas e outros projetos relacionados a ele serão abordados a
seguir.
O Projeto de Lei 3261 de 2015, de autoria do Deputado Eduardo Bolsonaro,
busca autorizar a educação domiciliar, introduzindo várias alterações na Lei nº 9.394
de 1996 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em junho de 2018, o deputado Alan Rick apresentou o Projeto de Lei
10185/2018, propondo alterações no artigo 5º da Lei nº 9.394 de 1996 para especificar
que o dever do Poder Público de garantir a frequência à escola pode ser substituído
pelo zelo no desenvolvimento adequado no caso da educação domiciliar.
O Projeto de Lei 3159, de 2019, de autoria da Deputada Natália Bonavides,
busca acrescentar ao artigo 5º da Lei nº 9394 de 1996 um parágrafo afirmando que a
educação domiciliar não pode substituir a frequência à escola.
28
domiciliar apenas quando for constatada a inadequação ou impossibilidade de
inclusão do estudante na rede regular de ensino, permitindo ainda o acesso a espaços
e equipamentos públicos.
Esses projetos apensados ao Projeto de Lei 3179/2012 demonstram a
abundância de discussões em torno da educação domiciliar e sua importância no
ordenamento jurídico.
Considerando as contribuições desses projetos de lei, a deputada Luísa
Canziani apresentou um Substitutivo ao Projeto de Lei 3179 de 2012 e suas emendas.
Ela sugeriu apenas a rejeição do Projeto de Lei 3159 de 2019.
Ao Substitutivo foram apresentadas 15 emendas de Plenário, sendo aprovada
apenas a emenda de plenário nº 8, que busca acrescentar um parágrafo único ao
artigo 246 do Código Penal, estabelecendo que os pais ou responsáveis que optam
pela educação domiciliar não incorrem no crime de abandono intelectual de seus
filhos. Quanto às demais emendas, foi sugerida a rejeição.
A redação final do Projeto de Lei 3179/2012 inclui no escopo da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional a possibilidade de oferta domiciliar da
educação básica. O projeto prevê obrigações para os pais, como a matrícula anual do
estudante em uma instituição de ensino credenciada, o cumprimento dos conteúdos
curriculares de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, a realização de
atividades pedagógicas, o registro periódico dessas atividades com envio de relatórios
trimestrais, o acompanhamento do desenvolvimento do estudante por um docente
tutor da instituição de ensino, avaliações anuais de aprendizagem e a participação em
29
refletindo as complexidades em torno do homeschooling e suas implicações no
sistema educacional brasileiro. O Projeto de Lei 3179/2012 foi aprovado pela Câmara
dos Deputados em 19 de maio de 2022 e atualmente encontra-se em análise no
Senado Federal como Projeto de Lei Nº 1.388/2022, aguardando a próxima fase do
processo legislativo na Comissão de Educação do Senado, tendo o senador Flávio
Arns como relator.
30
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR
31
um notável desempenho, estando um ano à frente de suas idades, o que, em sua
visão, habilitava os pais a assumir a função de garantir diretamente a educação formal.
Para ele, a frequência escolar era um fator secundário, e a educação transcenderia a
mera transmissão de informações, sendo a família a principal responsável pela
formação, não apenas intelectual, mas também cidadã e social das crianças e
adolescentes.
O Ministro Paulo Medina também enfatizou as liberdades constitucionais
relacionadas à educação e o pluralismo de ideias, bem como a responsabilidade do
Estado em fiscalizar as atividades da família para garantir a efetivação dos fins
constitucionais relacionados à educação.
No final, os pais tiveram que acatar a decisão do STJ e realizar a matrícula de
seus filhos em uma escola regular.
O segundo caso ocorreu em meados de 2015, quando chegou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança impetrado pelos pais de uma
criança de onze anos, que tiveram sua solicitação de educação domiciliar negada pelo
órgão municipal e, posteriormente, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A
parte recorrente alegou violação de diversos artigos da Constituição, argumentando
que a educação não se restringe à instrução formal em uma instituição convencional
de ensino, especialmente diante da diversidade de ideias e concepções pedagógicas,
bem como dos avanços tecnológicos.
No seu pronunciamento, o Ministro Luís Roberto Barroso destacou o ensino
domiciliar como um fenômeno emergente em diversos países, incluindo o Brasil, com
um crescente número de adeptos, e a possibilidade de redução dos gastos públicos
com sua adoção. O reconhecimento da natureza constitucional do debate sobre a
capacidade das famílias de prover educação levou o Ministro a enfatizar a importância
de definir a relação entre o Estado e a família na educação de crianças e
adolescentes, bem como os limites da autonomia privada em relação às imposições
estatais.
Barroso concluiu que a improcedência do pedido baseou-se na falta de uma
norma regulamentar, não na inconstitucionalidade do homeschooling. Além disso,
salientou que, como se tratava de uma questão de repercussão geral, a decisão tinha
efeito erga omnes, aplicável a todas as partes envolvidas na lide, sendo uma decisão
histórica e de extrema importância por reconhecer a colaboração entre o Estado e a
32
família na prestação do ensino fundamental e pela legalização do homeschooling no
Brasil.
Posteriormente, em 2018, o processo foi colocado em pauta e, após o
julgamento, a Corte determinou que o ensino domiciliar não é um meio lícito para
cumprir o dever de prover educação a crianças e adolescentes, embora não tenha
sido considerado inconstitucional. A maioria dos ministros votou pelo desprovimento
do recurso extraordinário, uma vez que não havia uma lei que regulamentasse a
prática.
O Ministro Luís Roberto Barroso, ao fundamentar seu voto, destacou que a
Constituição Federal não proíbe o homeschooling e que o ensino domiciliar é
compatível com o ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a maioria dos ministros
argumentou que é necessária uma regulamentação prévia pelo Congresso Nacional,
estabelecendo requisitos e mecanismos de avaliação e fiscalização, para atender ao
disposto no Art. 208, §3º da Constituição, que atribui ao poder público o dever de zelar
pela frequência à escola. Esta decisão do Supremo Tribunal Federal, portanto,
representa um marco importante na jurisprudência brasileira em relação a este
assunto controverso.
No seu voto, o Ministro Alexandre de Moraes apresentou uma perspectiva
fundamental no julgamento do ensino domiciliar, sustentando que a prática não é
inconstitucional, desde que haja uma regulamentação prévia. Ele destacou que o
homeschooling de natureza utilitarista, que segue o conteúdo do ensino escolar e
permite fiscalização e avaliações periódicas, é compatível com a Constituição,
contudo, ressaltou que essa modalidade requer uma colaboração entre as famílias e
o Estado. O Ministro enfatizou a importância de o Congresso Nacional regulamentar
essa prática, a fim de estabelecer requisitos e mecanismos de avaliação e
fiscalização, como previsto no Art. 208, §3º da Constituição, o qual atribui ao poder
público a responsabilidade de garantir a frequência escolar. Além disso, Moraes
argumentou que o ensino domiciliar pode ser uma escolha legítima das famílias,
especialmente quando fundamentada em motivos religiosos, promovendo assim o
direito fundamental à liberdade religiosa e respeitando os princípios de autonomia e
emancipação.
Portanto, o STF reconheceu a legalidade do homeschooling, desde que haja
regulamentação específica por parte do Congresso Nacional para garantir a qualidade
33
e a fiscalização do ensino domiciliar no Brasil. Essa decisão representa um marco
significativo na jurisprudência do país em relação a esse tema controverso,
estabelecendo a necessidade de um equilíbrio entre o direito das famílias de
escolherem essa modalidade de ensino e a responsabilidade do Estado em assegurar
que a educação seja ministrada de acordo com padrões adequados e com a devida
supervisão. Além disso, o voto do Ministro Alexandre de Moraes destaca a importância
de reconhecer a autonomia e emancipação das famílias, especialmente quando
fundamentadas em motivos religiosos, promovendo assim o direito fundamental à
liberdade religiosa, dentro dos limites estabelecidos por uma regulamentação
apropriada.
34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
35
garantir que o ensino domiciliar seja praticado com qualidade, responsabilidade e em
conformidade com os princípios educacionais do Brasil.
Portanto, embora o tema do homeschooling tenha sido examinado à luz de sua
constitucionalidade, a ausência de uma lei específica que regule o assunto cria uma
lacuna significativa no sistema educacional brasileiro. Assim, para atingir plenamente
os objetivos propostos para este tema, é necessária a ação legislativa futura que
aborde essa questão complexa e promova a segurança jurídica e a qualidade da
educação no contexto do ensino domiciliar no Brasil. A reflexão sobre esse tópico
destaca a importância de que, embora a legalidade do homeschooling tenha sido
estabelecida, ainda é necessária uma regulamentação específica para atender aos
princípios e responsabilidades constitucionais relacionados à educação no país.
36
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Luciane. Pesquisa identifica razoes que levam pais a optar por
educação domiciliar, 30 agosto. 2013. Disponível
em: https://www5.usp.br/noticias/sociedade/pesquisa-identifica-razoes-que-levam-
37
38
Disponível em: https://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/42/docs/ms-
ensino_fundamental-7407_stj.pdf. Acesso em: 06 out.2023.
=================================================================================
Arquivo 1: BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Arquivo 2: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2020/12/17/conheca-os-pros-e-contra-do-
homeschooling-a-educacao-domiciliar-no-brasil.htm (2702 termos)
Termos comuns: 141
Similaridade: 1,34%
O texto abaixo é o conteúdo do documento BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-
noticias/2020/12/17/conheca-os-pros-e-contra-do-homeschooling-a-educacao-domiciliar-no-brasil.htm
(2702 termos)
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Cuiabá
2023
Cidade
Ano
BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA
Cuiabá
2023
BANCA EXAMINADORA
RESUMO
ABSTRACT
The aim of this work is to discuss homeschooling, also known as home education, an
educational practice in which parents or guardians take on the responsibility of
educating their children at home instead of enrolling them in a traditional school. This
practice allows for a personalized teaching approach, tailored to the individual needs
and interests of each child. However, the legal feasibility of homeschooling in Brazil is
a subject of debate. While some parents and guardians advocate for the right to
educate their children at home, there are legal and regulatory issues that need to be
considered. The study will also examine countries where homeschooling is regulated,
highlighting the roles of both the family and the state in home education. Furthermore,
there have been various legal decisions related to homeschooling in Brazil, with some
cases of significant impact. These legal decisions can have a significant impact on how
homeschooling is practiced and regulated in the country. Therefore, it is important to
understand the concept of homeschooling, analyze its legal feasibility in the Brazilian
context, and be aware of legal decisions related to this educational practice.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Art. Artigo
ANED Associação Nacional de Educação Domiciliar
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
RE Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
USP Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING ......................................................... 10
2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO ................................................................................. 11
2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING..................................................................... 11
2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING .................................... 13
2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING ................................................ 14
2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES............... 15
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL ..................................................................................................................... 18
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO ................................................. 18
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL ....................................................................... 21
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL .................................................................. 22
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA) ............................................................................................. 23
9
1 INTRODUÇÃO
10
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING
11
12
No entanto, vale ressaltar que a formalização e a regulamentação do
homeschooling como uma opção legal de educação são mais recentes em muitos
países, incluindo o Brasil. O surgimento mais notável e o reconhecimento oficial do
homeschooling no Brasil ocorreram nas últimas décadas, principalmente a partir dos
anos 2000, quando começou a ganhar visibilidade e a ser debatido mais amplamente.
Nos Estados Unidos da América (EUA), o pioneiro do homeschooling foi Holt,
considerado o pai da desescolarização. Ele acreditava que a escola tradicional, de
certo modo, coagia as crianças a aprenderem, quando, na verdade, elas o fariam
naturalmente se tivessem a liberdade de seguir seus próprios interesses e acesso a
13
recorrendo ao ensino em casa para manter o aprendizado das crianças durante os
lockdowns e as incertezas associadas à pandemia.
A pandemia também destacou a importância da adaptação e flexibilidade no
homeschooling. Pais e tutores tiveram que se ajustar rapidamente a novos métodos
de ensino online e colaborar mais estreitamente com escolas para acessar materiais
e recursos educacionais. Além disso, o ensino em casa permitiu que algumas famílias
aproveitassem o tempo em casa para explorar tópicos adicionais, incentivando a
aprendizagem autodirigida e a criatividade.
No entanto, é importante observar que o homeschooling durante a pandemia
também trouxe desafios, incluindo a necessidade de equilibrar o trabalho remoto dos
pais com a supervisão do aprendizado das crianças. O debate sobre a
regulamentação e a legalização do homeschooling no Brasil também se intensificou
14
aproveitando oportunidades de aprendizado fora do ambiente escolar tradicional. Isso
é complementado pelo uso de uma ampla variedade de recursos educacionais,
incluindo livros, materiais didáticos, recursos online, visitas a museus e aulas
particulares, que enriquecem a abordagem educacional.
No homeschooling, valoriza-se a educação informal, reconhecendo que as
experiências cotidianas, viagens, atividades ao ar livre e interações com a
comunidade são oportunidades valiosas de aprendizado. Os pais desempenham um
papel fundamental no ensino domiciliar, projetando o currículo, fornecendo instrução
e apoio, e acompanhando o progresso acadêmico e social de seus filhos.
Além disso, o homeschooling coloca ênfase não apenas na educação
acadêmica, mas também no desenvolvimento integral da criança, incluindo aspectos
sociais, emocionais e éticos. Essa abordagem é especialmente atraente para famílias
com crianças com necessidades educacionais especiais, uma vez que permite uma
adaptação mais precisa a essas necessidades.
menos oportunidades de interagir com seus pares. Além disso, questões relacionadas
à qualidade da supervisão educacional e à capacidade dos pais de fornecer um ensino
adequado em todas as disciplinas são frequentemente levantadas. Críticos
argumentam que, sem uma supervisão rigorosa, algumas crianças podem não
receber a educação de qualidade necessária.
De acordo com a pedagoga (Barbosa, 2013), autora do estudo, a prática do
homeschooling:
15
conceito de cidadania ligado apenas ao conhecimento de fatos históricos e
ao exercício do voto? (BARBOSA, 2013).
16
outras pedem apenas que a diretoria de ensino local seja comunicada?, relata.
?Ao entrevistar as famílias canadenses, percebe-se que embora a motivação
religiosa esteja muito presente, os pais também optam pelo ensino em casa
pela questão de custos (famílias mais numerosas) ou por terem filhos com
deficiência, entre outras razões? (BARBOSA, 2013).
PAÌSES: África África do Sul, Oceania Austrália, Nova Zelândia. Ásia Filipinas, Japão, América Norte
EUA, Canadá, Sul Colômbia, Chile, Equador, Paraguai. Europa Portugal, França, Itália, Reino Unido,
Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria, Finlândia, Noruega, Rússia.
17
Nos Estados Unidos, país que possui hoje mais de 2 milhões de crianças em
idade escolar fora da escola, um dos principais motivos para a prática
do homeschooling é religioso. São as minorias religiosas, bem como minorias
étnicas que, de acordo com os estudos sobre o assunto, aderem a essa nova
modalidade de educação. Entre 1999 e 2010 ocorreu um crescimento
superior a 100% e, para o conjunto dos Estados norte-americanos, há um
contingente de quase 4% de crianças que hoje não frequentam mais a escola.
Na Rússia, entre 2008 e 2012, teria ocorrido ampliação de 900% nas práticas
de homeschooling. Na Alemanha, país que proibiu a prática em seu território,
há inúmeros casos de casais que foram multados e até presos por não
enviarem os filhos à escola (BOTO, 2018).
18
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL
19
educação como um dos pilares fundamentais para o crescimento pleno desses
indivíduos, enfatizando a necessidade de protegê-los contra ameaças e violações de
seus direitos, conforme previsto na Constituição.
Na conjuntura atual, o Artigo 227 mantém sua relevância como diretriz
essencial para a formulação de políticas educacionais e sociais no Brasil. No entanto,
desafios persistentes, como a desigualdade no acesso à educação e a violação dos
direitos das crianças, exigem esforços contínuos para garantir a implementação eficaz
das disposições desse artigo.
O compromisso da família, sociedade e Estado em proporcionar um ambiente
favorável ao crescimento e desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens é
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Portanto, é
crucial que todos os esforços sejam direcionados para garantir o respeito a esses
20
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela freqüência à escola (BRASIL,1988).
21
Essa discussão levanta questões fundamentais sobre a finalidade da educação
e destaca a necessidade de repensar o sistema educacional para garantir que ele não
só atenda às demandas econômicas, mas também promova o crescimento pessoal,
o aprendizado contínuo e a realização individual. A revisão dos currículos, métodos
de ensino e políticas educacionais pode ser necessária para promover uma educação
mais abrangente e significativa, em consonância com o Artigo 205 da Constituição
Federal.
Ademais, é importante ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição
Federal como um alicerce legal para direcionar a educação no Brasil e garantir que
ela cumpra seu papel essencial no desenvolvimento das pessoas, na formação de
cidadãos ativos e na preparação para o mercado de trabalho.
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL
O Código Civil brasileiro, em seu Artigo 1.634, regulamenta o poder de família,
estabelecendo os seguintes termos:
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação; (BRASIL,2002).
22
O debate sobre a educação domiciliar aborda questões relativas à qualidade
da educação, à socialização das crianças e à capacidade dos pais de proporcionarem
um ambiente educacional adequado em casa. Portanto, a interação entre os direitos
dos pais e o interesse público na formação educacional das crianças é complexa e
deve ser tratada em conformidade com as normas legais aplicáveis.
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL
O Artigo 246 do Código Penal Brasileiro destaca-se como uma peça legislativa
de grande importância no âmbito educacional e jurídico, abordando o dever dos pais
ou responsáveis de providenciar a instrução primária para seus filhos em idade
escolar. Simultaneamente, esse dispositivo legal está relacionado ao estudo
domiciliar, conforme estipula o referido artigo: "Deixar, sem justa causa, de prover à
instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um
mês, ou multa" (BRASIL, 1940).
Este artigo normativo estabelece que a omissão injustificada em fornecer a
instrução primária a um filho em idade escolar configura uma infração sujeita a
penalidades específicas. Tais penalidades incluem detenção com duração de quinze
dias a um mês, bem como a imposição de multa.
A relevância do Artigo 246 reside na ênfase dada à obrigação da educação
primária, um direito fundamental da criança garantido pela legislação brasileira. A
garantia do acesso à educação é crucial para o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos essenciais ao longo da vida. Além disso, a educação desempenha um
papel vital na formação do cidadão e na promoção do bem-estar social.
Nesse contexto, o Artigo 246 do Código Penal visa assegurar que os pais ou
responsáveis cumpram o dever legal de proporcionar a instrução primária a seus filhos
em idade escolar, contribuindo para a formação educacional e cidadã das futuras
23
a modalidade educacional de seus filhos com a necessidade de garantir a adequada
formação e proteção das futuras gerações.
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece diretrizes
específicas em relação à educação das crianças e adolescentes. Ele alinha-se ao
entendimento conforme expresso no ?Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação
de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino? (BRASIL, 1990).
Além disso, o Artigo 4º do ECA menciona o dever da família em relação ao
menor, conforme previsto no artigo, que estabelece:
O Artigo 54, por sua vez, estabelece o dever do Estado de garantir o direito à
educação das crianças e adolescentes, como expresso no texto a seguir:
24
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
(Revogado)
IV ? atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos
de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua
oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável,
pela freqüência à escola. (BRASIL, 1990).
25
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabelece princípios
essenciais relacionados à educação no Brasil segundo o Artigo 2º destaca que:
26
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA
O tema da educação domiciliar tem sido objeto de intensos debates no âmbito
legislativo brasileiro, com vários projetos de lei apresentados ao longo dos anos.
Essas propostas visam redefinir a dinâmica educacional, distribuindo
27
Em 2012, o deputado Lincoln Portela elaborou o Projeto de Lei 3179, buscando
acrescentar o ensino domiciliar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As modificações propostas e outros projetos relacionados a ele serão abordados a
seguir.
O Projeto de Lei 3261 de 2015, de autoria do Deputado Eduardo Bolsonaro,
busca autorizar a educação domiciliar, introduzindo várias alterações na Lei nº 9.394
de 1996 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em junho de 2018, o deputado Alan Rick apresentou o Projeto de Lei
10185/2018, propondo alterações no artigo 5º da Lei nº 9.394 de 1996 para especificar
que o dever do Poder Público de garantir a frequência à escola pode ser substituído
pelo zelo no desenvolvimento adequado no caso da educação domiciliar.
O Projeto de Lei 3159, de 2019, de autoria da Deputada Natália Bonavides,
busca acrescentar ao artigo 5º da Lei nº 9394 de 1996 um parágrafo afirmando que a
educação domiciliar não pode substituir a frequência à escola.
28
domiciliar apenas quando for constatada a inadequação ou impossibilidade de
inclusão do estudante na rede regular de ensino, permitindo ainda o acesso a espaços
e equipamentos públicos.
Esses projetos apensados ao Projeto de Lei 3179/2012 demonstram a
abundância de discussões em torno da educação domiciliar e sua importância no
ordenamento jurídico.
Considerando as contribuições desses projetos de lei, a deputada Luísa
Canziani apresentou um Substitutivo ao Projeto de Lei 3179 de 2012 e suas emendas.
Ela sugeriu apenas a rejeição do Projeto de Lei 3159 de 2019.
Ao Substitutivo foram apresentadas 15 emendas de Plenário, sendo aprovada
apenas a emenda de plenário nº 8, que busca acrescentar um parágrafo único ao
artigo 246 do Código Penal, estabelecendo que os pais ou responsáveis que optam
pela educação domiciliar não incorrem no crime de abandono intelectual de seus
filhos. Quanto às demais emendas, foi sugerida a rejeição.
A redação final do Projeto de Lei 3179/2012 inclui no escopo da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional a possibilidade de oferta domiciliar da
educação básica. O projeto prevê obrigações para os pais, como a matrícula anual do
estudante em uma instituição de ensino credenciada, o cumprimento dos conteúdos
curriculares de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, a realização de
atividades pedagógicas, o registro periódico dessas atividades com envio de relatórios
trimestrais, o acompanhamento do desenvolvimento do estudante por um docente
tutor da instituição de ensino, avaliações anuais de aprendizagem e a participação em
29
refletindo as complexidades em torno do homeschooling e suas implicações no
sistema educacional brasileiro. O Projeto de Lei 3179/2012 foi aprovado pela Câmara
dos Deputados em 19 de maio de 2022 e atualmente encontra-se em análise no
Senado Federal como Projeto de Lei Nº 1.388/2022, aguardando a próxima fase do
processo legislativo na Comissão de Educação do Senado, tendo o senador Flávio
Arns como relator.
30
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR
31
um notável desempenho, estando um ano à frente de suas idades, o que, em sua
visão, habilitava os pais a assumir a função de garantir diretamente a educação formal.
Para ele, a frequência escolar era um fator secundário, e a educação transcenderia a
mera transmissão de informações, sendo a família a principal responsável pela
formação, não apenas intelectual, mas também cidadã e social das crianças e
adolescentes.
O Ministro Paulo Medina também enfatizou as liberdades constitucionais
relacionadas à educação e o pluralismo de ideias, bem como a responsabilidade do
Estado em fiscalizar as atividades da família para garantir a efetivação dos fins
constitucionais relacionados à educação.
No final, os pais tiveram que acatar a decisão do STJ e realizar a matrícula de
seus filhos em uma escola regular.
O segundo caso ocorreu em meados de 2015, quando chegou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança impetrado pelos pais de uma
criança de onze anos, que tiveram sua solicitação de educação domiciliar negada pelo
órgão municipal e, posteriormente, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A
parte recorrente alegou violação de diversos artigos da Constituição, argumentando
que a educação não se restringe à instrução formal em uma instituição convencional
de ensino, especialmente diante da diversidade de ideias e concepções pedagógicas,
bem como dos avanços tecnológicos.
No seu pronunciamento, o Ministro Luís Roberto Barroso destacou o ensino
domiciliar como um fenômeno emergente em diversos países, incluindo o Brasil, com
um crescente número de adeptos, e a possibilidade de redução dos gastos públicos
com sua adoção. O reconhecimento da natureza constitucional do debate sobre a
capacidade das famílias de prover educação levou o Ministro a enfatizar a importância
de definir a relação entre o Estado e a família na educação de crianças e
adolescentes, bem como os limites da autonomia privada em relação às imposições
estatais.
Barroso concluiu que a improcedência do pedido baseou-se na falta de uma
norma regulamentar, não na inconstitucionalidade do homeschooling. Além disso,
salientou que, como se tratava de uma questão de repercussão geral, a decisão tinha
efeito erga omnes, aplicável a todas as partes envolvidas na lide, sendo uma decisão
histórica e de extrema importância por reconhecer a colaboração entre o Estado e a
32
família na prestação do ensino fundamental e pela legalização do homeschooling no
Brasil.
Posteriormente, em 2018, o processo foi colocado em pauta e, após o
julgamento, a Corte determinou que o ensino domiciliar não é um meio lícito para
cumprir o dever de prover educação a crianças e adolescentes, embora não tenha
sido considerado inconstitucional. A maioria dos ministros votou pelo desprovimento
do recurso extraordinário, uma vez que não havia uma lei que regulamentasse a
prática.
O Ministro Luís Roberto Barroso, ao fundamentar seu voto, destacou que a
Constituição Federal não proíbe o homeschooling e que o ensino domiciliar é
compatível com o ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a maioria dos ministros
argumentou que é necessária uma regulamentação prévia pelo Congresso Nacional,
estabelecendo requisitos e mecanismos de avaliação e fiscalização, para atender ao
disposto no Art. 208, §3º da Constituição, que atribui ao poder público o dever de zelar
pela frequência à escola. Esta decisão do Supremo Tribunal Federal, portanto,
representa um marco importante na jurisprudência brasileira em relação a este
assunto controverso.
No seu voto, o Ministro Alexandre de Moraes apresentou uma perspectiva
fundamental no julgamento do ensino domiciliar, sustentando que a prática não é
inconstitucional, desde que haja uma regulamentação prévia. Ele destacou que o
homeschooling de natureza utilitarista, que segue o conteúdo do ensino escolar e
permite fiscalização e avaliações periódicas, é compatível com a Constituição,
contudo, ressaltou que essa modalidade requer uma colaboração entre as famílias e
o Estado. O Ministro enfatizou a importância de o Congresso Nacional regulamentar
essa prática, a fim de estabelecer requisitos e mecanismos de avaliação e
fiscalização, como previsto no Art. 208, §3º da Constituição, o qual atribui ao poder
público a responsabilidade de garantir a frequência escolar. Além disso, Moraes
argumentou que o ensino domiciliar pode ser uma escolha legítima das famílias,
especialmente quando fundamentada em motivos religiosos, promovendo assim o
direito fundamental à liberdade religiosa e respeitando os princípios de autonomia e
emancipação.
Portanto, o STF reconheceu a legalidade do homeschooling, desde que haja
regulamentação específica por parte do Congresso Nacional para garantir a qualidade
33
e a fiscalização do ensino domiciliar no Brasil. Essa decisão representa um marco
significativo na jurisprudência do país em relação a esse tema controverso,
estabelecendo a necessidade de um equilíbrio entre o direito das famílias de
escolherem essa modalidade de ensino e a responsabilidade do Estado em assegurar
que a educação seja ministrada de acordo com padrões adequados e com a devida
supervisão. Além disso, o voto do Ministro Alexandre de Moraes destaca a importância
de reconhecer a autonomia e emancipação das famílias, especialmente quando
fundamentadas em motivos religiosos, promovendo assim o direito fundamental à
liberdade religiosa, dentro dos limites estabelecidos por uma regulamentação
apropriada.
34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
35
garantir que o ensino domiciliar seja praticado com qualidade, responsabilidade e em
conformidade com os princípios educacionais do Brasil.
Portanto, embora o tema do homeschooling tenha sido examinado à luz de sua
constitucionalidade, a ausência de uma lei específica que regule o assunto cria uma
lacuna significativa no sistema educacional brasileiro. Assim, para atingir plenamente
os objetivos propostos para este tema, é necessária a ação legislativa futura que
aborde essa questão complexa e promova a segurança jurídica e a qualidade da
educação no contexto do ensino domiciliar no Brasil. A reflexão sobre esse tópico
destaca a importância de que, embora a legalidade do homeschooling tenha sido
estabelecida, ainda é necessária uma regulamentação específica para atender aos
princípios e responsabilidades constitucionais relacionados à educação no país.
36
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Luciane. Pesquisa identifica razoes que levam pais a optar por
educação domiciliar, 30 agosto. 2013. Disponível
em: https://www5.usp.br/noticias/sociedade/pesquisa-identifica-razoes-que-levam-
37
38
Disponível em: https://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/42/docs/ms-
ensino_fundamental-7407_stj.pdf. Acesso em: 06 out.2023.
=================================================================================
Arquivo 1: BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Arquivo 2: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2021/04/04/homeschooling-entenda-o-modelo-de-
aprendizagem-domiciliar-que-o-governo-quer-regulamentar-ate-julho.ghtml (12563 termos)
Termos comuns: 173
Similaridade: 0,85%
O texto abaixo é o conteúdo do documento BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://g1.globo.com/educacao/noticia/2021/04/04/homeschooling-entenda-o-modelo-de-aprendizagem-
domiciliar-que-o-governo-quer-regulamentar-ate-julho.ghtml (12563 termos)
=================================================================================
Cuiabá
2023
Cidade
Ano
BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA
Cuiabá
2023
BANCA EXAMINADORA
RESUMO
ABSTRACT
The aim of this work is to discuss homeschooling, also known as home education, an
educational practice in which parents or guardians take on the responsibility of
educating their children at home instead of enrolling them in a traditional school. This
practice allows for a personalized teaching approach, tailored to the individual needs
and interests of each child. However, the legal feasibility of homeschooling in Brazil is
a subject of debate. While some parents and guardians advocate for the right to
educate their children at home, there are legal and regulatory issues that need to be
considered. The study will also examine countries where homeschooling is regulated,
highlighting the roles of both the family and the state in home education. Furthermore,
there have been various legal decisions related to homeschooling in Brazil, with some
cases of significant impact. These legal decisions can have a significant impact on how
homeschooling is practiced and regulated in the country. Therefore, it is important to
understand the concept of homeschooling, analyze its legal feasibility in the Brazilian
context, and be aware of legal decisions related to this educational practice.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Art. Artigo
ANED Associação Nacional de Educação Domiciliar
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
RE Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
USP Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING ......................................................... 10
2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO ................................................................................. 11
2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING..................................................................... 11
2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING .................................... 13
2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING ................................................ 14
2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES............... 15
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL ..................................................................................................................... 18
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO ................................................. 18
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL ....................................................................... 21
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL .................................................................. 22
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA) ............................................................................................. 23
9
1 INTRODUÇÃO
10
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING
11
12
No entanto, vale ressaltar que a formalização e a regulamentação do
homeschooling como uma opção legal de educação são mais recentes em muitos
países, incluindo o Brasil. O surgimento mais notável e o reconhecimento oficial do
homeschooling no Brasil ocorreram nas últimas décadas, principalmente a partir dos
anos 2000, quando começou a ganhar visibilidade e a ser debatido mais amplamente.
Nos Estados Unidos da América (EUA), o pioneiro do homeschooling foi Holt,
considerado o pai da desescolarização. Ele acreditava que a escola tradicional, de
certo modo, coagia as crianças a aprenderem, quando, na verdade, elas o fariam
naturalmente se tivessem a liberdade de seguir seus próprios interesses e acesso a
13
recorrendo ao ensino em casa para manter o aprendizado das crianças durante os
lockdowns e as incertezas associadas à pandemia.
A pandemia também destacou a importância da adaptação e flexibilidade no
homeschooling. Pais e tutores tiveram que se ajustar rapidamente a novos métodos
de ensino online e colaborar mais estreitamente com escolas para acessar materiais
e recursos educacionais. Além disso, o ensino em casa permitiu que algumas famílias
aproveitassem o tempo em casa para explorar tópicos adicionais, incentivando a
aprendizagem autodirigida e a criatividade.
No entanto, é importante observar que o homeschooling durante a pandemia
também trouxe desafios, incluindo a necessidade de equilibrar o trabalho remoto dos
pais com a supervisão do aprendizado das crianças. O debate sobre a
regulamentação e a legalização do homeschooling no Brasil também se intensificou
14
aproveitando oportunidades de aprendizado fora do ambiente escolar tradicional. Isso
é complementado pelo uso de uma ampla variedade de recursos educacionais,
incluindo livros, materiais didáticos, recursos online, visitas a museus e aulas
particulares, que enriquecem a abordagem educacional.
No homeschooling, valoriza-se a educação informal, reconhecendo que as
experiências cotidianas, viagens, atividades ao ar livre e interações com a
comunidade são oportunidades valiosas de aprendizado. Os pais desempenham um
papel fundamental no ensino domiciliar, projetando o currículo, fornecendo instrução
e apoio, e acompanhando o progresso acadêmico e social de seus filhos.
Além disso, o homeschooling coloca ênfase não apenas na educação
acadêmica, mas também no desenvolvimento integral da criança, incluindo aspectos
sociais, emocionais e éticos. Essa abordagem é especialmente atraente para famílias
com crianças com necessidades educacionais especiais, uma vez que permite uma
adaptação mais precisa a essas necessidades.
menos oportunidades de interagir com seus pares. Além disso, questões relacionadas
à qualidade da supervisão educacional e à capacidade dos pais de fornecer um ensino
adequado em todas as disciplinas são frequentemente levantadas. Críticos
argumentam que, sem uma supervisão rigorosa, algumas crianças podem não
receber a educação de qualidade necessária.
De acordo com a pedagoga (Barbosa, 2013), autora do estudo, a prática do
homeschooling:
15
conceito de cidadania ligado apenas ao conhecimento de fatos históricos e
ao exercício do voto? (BARBOSA, 2013).
16
outras pedem apenas que a diretoria de ensino local seja comunicada?, relata.
?Ao entrevistar as famílias canadenses, percebe-se que embora a motivação
religiosa esteja muito presente, os pais também optam pelo ensino em casa
pela questão de custos (famílias mais numerosas) ou por terem filhos com
deficiência, entre outras razões? (BARBOSA, 2013).
PAÌSES: África África do Sul, Oceania Austrália, Nova Zelândia. Ásia Filipinas, Japão, América Norte
EUA, Canadá, Sul Colômbia, Chile, Equador, Paraguai. Europa Portugal, França, Itália, Reino Unido,
Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria, Finlândia, Noruega, Rússia.
17
Nos Estados Unidos, país que possui hoje mais de 2 milhões de crianças em
idade escolar fora da escola, um dos principais motivos para a prática
do homeschooling é religioso. São as minorias religiosas, bem como minorias
étnicas que, de acordo com os estudos sobre o assunto, aderem a essa nova
modalidade de educação. Entre 1999 e 2010 ocorreu um crescimento
superior a 100% e, para o conjunto dos Estados norte-americanos, há um
contingente de quase 4% de crianças que hoje não frequentam mais a escola.
Na Rússia, entre 2008 e 2012, teria ocorrido ampliação de 900% nas práticas
de homeschooling. Na Alemanha, país que proibiu a prática em seu território,
há inúmeros casos de casais que foram multados e até presos por não
enviarem os filhos à escola (BOTO, 2018).
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3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL
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educação como um dos pilares fundamentais para o crescimento pleno desses
indivíduos, enfatizando a necessidade de protegê-los contra ameaças e violações de
seus direitos, conforme previsto na Constituição.
Na conjuntura atual, o Artigo 227 mantém sua relevância como diretriz
essencial para a formulação de políticas educacionais e sociais no Brasil. No entanto,
desafios persistentes, como a desigualdade no acesso à educação e a violação dos
direitos das crianças, exigem esforços contínuos para garantir a implementação eficaz
das disposições desse artigo.
O compromisso da família, sociedade e Estado em proporcionar um ambiente
favorável ao crescimento e desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens é
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Portanto, é
crucial que todos os esforços sejam direcionados para garantir o respeito a esses
20
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela freqüência à escola (BRASIL,1988).
21
Essa discussão levanta questões fundamentais sobre a finalidade da educação
e destaca a necessidade de repensar o sistema educacional para garantir que ele não
só atenda às demandas econômicas, mas também promova o crescimento pessoal,
o aprendizado contínuo e a realização individual. A revisão dos currículos, métodos
de ensino e políticas educacionais pode ser necessária para promover uma educação
mais abrangente e significativa, em consonância com o Artigo 205 da Constituição
Federal.
Ademais, é importante ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição
Federal como um alicerce legal para direcionar a educação no Brasil e garantir que
ela cumpra seu papel essencial no desenvolvimento das pessoas, na formação de
cidadãos ativos e na preparação para o mercado de trabalho.
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL
O Código Civil brasileiro, em seu Artigo 1.634, regulamenta o poder de família,
estabelecendo os seguintes termos:
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação; (BRASIL,2002).
22
O debate sobre a educação domiciliar aborda questões relativas à qualidade
da educação, à socialização das crianças e à capacidade dos pais de proporcionarem
um ambiente educacional adequado em casa. Portanto, a interação entre os direitos
dos pais e o interesse público na formação educacional das crianças é complexa e
deve ser tratada em conformidade com as normas legais aplicáveis.
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL
O Artigo 246 do Código Penal Brasileiro destaca-se como uma peça legislativa
de grande importância no âmbito educacional e jurídico, abordando o dever dos pais
ou responsáveis de providenciar a instrução primária para seus filhos em idade
escolar. Simultaneamente, esse dispositivo legal está relacionado ao estudo
domiciliar, conforme estipula o referido artigo: "Deixar, sem justa causa, de prover à
instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um
mês, ou multa" (BRASIL, 1940).
Este artigo normativo estabelece que a omissão injustificada em fornecer a
instrução primária a um filho em idade escolar configura uma infração sujeita a
penalidades específicas. Tais penalidades incluem detenção com duração de quinze
dias a um mês, bem como a imposição de multa.
A relevância do Artigo 246 reside na ênfase dada à obrigação da educação
primária, um direito fundamental da criança garantido pela legislação brasileira. A
garantia do acesso à educação é crucial para o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos essenciais ao longo da vida. Além disso, a educação desempenha um
papel vital na formação do cidadão e na promoção do bem-estar social.
Nesse contexto, o Artigo 246 do Código Penal visa assegurar que os pais ou
responsáveis cumpram o dever legal de proporcionar a instrução primária a seus filhos
em idade escolar, contribuindo para a formação educacional e cidadã das futuras
23
a modalidade educacional de seus filhos com a necessidade de garantir a adequada
formação e proteção das futuras gerações.
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece diretrizes
específicas em relação à educação das crianças e adolescentes. Ele alinha-se ao
entendimento conforme expresso no ?Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação
de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino? (BRASIL, 1990).
Além disso, o Artigo 4º do ECA menciona o dever da família em relação ao
menor, conforme previsto no artigo, que estabelece:
O Artigo 54, por sua vez, estabelece o dever do Estado de garantir o direito à
educação das crianças e adolescentes, como expresso no texto a seguir:
24
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
(Revogado)
IV ? atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos
de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua
oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável,
pela freqüência à escola. (BRASIL, 1990).
25
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabelece princípios
essenciais relacionados à educação no Brasil segundo o Artigo 2º destaca que:
26
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA
O tema da educação domiciliar tem sido objeto de intensos debates no âmbito
legislativo brasileiro, com vários projetos de lei apresentados ao longo dos anos.
Essas propostas visam redefinir a dinâmica educacional, distribuindo
27
Em 2012, o deputado Lincoln Portela elaborou o Projeto de Lei 3179, buscando
acrescentar o ensino domiciliar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As modificações propostas e outros projetos relacionados a ele serão abordados a
seguir.
O Projeto de Lei 3261 de 2015, de autoria do Deputado Eduardo Bolsonaro,
busca autorizar a educação domiciliar, introduzindo várias alterações na Lei nº 9.394
de 1996 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em junho de 2018, o deputado Alan Rick apresentou o Projeto de Lei
10185/2018, propondo alterações no artigo 5º da Lei nº 9.394 de 1996 para especificar
que o dever do Poder Público de garantir a frequência à escola pode ser substituído
pelo zelo no desenvolvimento adequado no caso da educação domiciliar.
O Projeto de Lei 3159, de 2019, de autoria da Deputada Natália Bonavides,
busca acrescentar ao artigo 5º da Lei nº 9394 de 1996 um parágrafo afirmando que a
educação domiciliar não pode substituir a frequência à escola.
28
domiciliar apenas quando for constatada a inadequação ou impossibilidade de
inclusão do estudante na rede regular de ensino, permitindo ainda o acesso a espaços
e equipamentos públicos.
Esses projetos apensados ao Projeto de Lei 3179/2012 demonstram a
abundância de discussões em torno da educação domiciliar e sua importância no
ordenamento jurídico.
Considerando as contribuições desses projetos de lei, a deputada Luísa
Canziani apresentou um Substitutivo ao Projeto de Lei 3179 de 2012 e suas emendas.
Ela sugeriu apenas a rejeição do Projeto de Lei 3159 de 2019.
Ao Substitutivo foram apresentadas 15 emendas de Plenário, sendo aprovada
apenas a emenda de plenário nº 8, que busca acrescentar um parágrafo único ao
artigo 246 do Código Penal, estabelecendo que os pais ou responsáveis que optam
pela educação domiciliar não incorrem no crime de abandono intelectual de seus
filhos. Quanto às demais emendas, foi sugerida a rejeição.
A redação final do Projeto de Lei 3179/2012 inclui no escopo da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional a possibilidade de oferta domiciliar da
educação básica. O projeto prevê obrigações para os pais, como a matrícula anual do
estudante em uma instituição de ensino credenciada, o cumprimento dos conteúdos
curriculares de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, a realização de
atividades pedagógicas, o registro periódico dessas atividades com envio de relatórios
trimestrais, o acompanhamento do desenvolvimento do estudante por um docente
tutor da instituição de ensino, avaliações anuais de aprendizagem e a participação em
29
refletindo as complexidades em torno do homeschooling e suas implicações no
sistema educacional brasileiro. O Projeto de Lei 3179/2012 foi aprovado pela Câmara
dos Deputados em 19 de maio de 2022 e atualmente encontra-se em análise no
Senado Federal como Projeto de Lei Nº 1.388/2022, aguardando a próxima fase do
processo legislativo na Comissão de Educação do Senado, tendo o senador Flávio
Arns como relator.
30
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR
31
um notável desempenho, estando um ano à frente de suas idades, o que, em sua
visão, habilitava os pais a assumir a função de garantir diretamente a educação formal.
Para ele, a frequência escolar era um fator secundário, e a educação transcenderia a
mera transmissão de informações, sendo a família a principal responsável pela
formação, não apenas intelectual, mas também cidadã e social das crianças e
adolescentes.
O Ministro Paulo Medina também enfatizou as liberdades constitucionais
relacionadas à educação e o pluralismo de ideias, bem como a responsabilidade do
Estado em fiscalizar as atividades da família para garantir a efetivação dos fins
constitucionais relacionados à educação.
No final, os pais tiveram que acatar a decisão do STJ e realizar a matrícula de
seus filhos em uma escola regular.
O segundo caso ocorreu em meados de 2015, quando chegou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança impetrado pelos pais de uma
criança de onze anos, que tiveram sua solicitação de educação domiciliar negada pelo
órgão municipal e, posteriormente, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A
parte recorrente alegou violação de diversos artigos da Constituição, argumentando
que a educação não se restringe à instrução formal em uma instituição convencional
de ensino, especialmente diante da diversidade de ideias e concepções pedagógicas,
bem como dos avanços tecnológicos.
No seu pronunciamento, o Ministro Luís Roberto Barroso destacou o ensino
domiciliar como um fenômeno emergente em diversos países, incluindo o Brasil, com
um crescente número de adeptos, e a possibilidade de redução dos gastos públicos
com sua adoção. O reconhecimento da natureza constitucional do debate sobre a
capacidade das famílias de prover educação levou o Ministro a enfatizar a importância
de definir a relação entre o Estado e a família na educação de crianças e
adolescentes, bem como os limites da autonomia privada em relação às imposições
estatais.
Barroso concluiu que a improcedência do pedido baseou-se na falta de uma
norma regulamentar, não na inconstitucionalidade do homeschooling. Além disso,
salientou que, como se tratava de uma questão de repercussão geral, a decisão tinha
efeito erga omnes, aplicável a todas as partes envolvidas na lide, sendo uma decisão
histórica e de extrema importância por reconhecer a colaboração entre o Estado e a
32
família na prestação do ensino fundamental e pela legalização do homeschooling no
Brasil.
Posteriormente, em 2018, o processo foi colocado em pauta e, após o
julgamento, a Corte determinou que o ensino domiciliar não é um meio lícito para
cumprir o dever de prover educação a crianças e adolescentes, embora não tenha
sido considerado inconstitucional. A maioria dos ministros votou pelo desprovimento
do recurso extraordinário, uma vez que não havia uma lei que regulamentasse a
prática.
O Ministro Luís Roberto Barroso, ao fundamentar seu voto, destacou que a
Constituição Federal não proíbe o homeschooling e que o ensino domiciliar é
compatível com o ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a maioria dos ministros
argumentou que é necessária uma regulamentação prévia pelo Congresso Nacional,
estabelecendo requisitos e mecanismos de avaliação e fiscalização, para atender ao
disposto no Art. 208, §3º da Constituição, que atribui ao poder público o dever de zelar
pela frequência à escola. Esta decisão do Supremo Tribunal Federal, portanto,
representa um marco importante na jurisprudência brasileira em relação a este
assunto controverso.
No seu voto, o Ministro Alexandre de Moraes apresentou uma perspectiva
fundamental no julgamento do ensino domiciliar, sustentando que a prática não é
inconstitucional, desde que haja uma regulamentação prévia. Ele destacou que o
homeschooling de natureza utilitarista, que segue o conteúdo do ensino escolar e
permite fiscalização e avaliações periódicas, é compatível com a Constituição,
contudo, ressaltou que essa modalidade requer uma colaboração entre as famílias e
o Estado. O Ministro enfatizou a importância de o Congresso Nacional regulamentar
essa prática, a fim de estabelecer requisitos e mecanismos de avaliação e
fiscalização, como previsto no Art. 208, §3º da Constituição, o qual atribui ao poder
público a responsabilidade de garantir a frequência escolar. Além disso, Moraes
argumentou que o ensino domiciliar pode ser uma escolha legítima das famílias,
especialmente quando fundamentada em motivos religiosos, promovendo assim o
direito fundamental à liberdade religiosa e respeitando os princípios de autonomia e
emancipação.
Portanto, o STF reconheceu a legalidade do homeschooling, desde que haja
regulamentação específica por parte do Congresso Nacional para garantir a qualidade
33
e a fiscalização do ensino domiciliar no Brasil. Essa decisão representa um marco
significativo na jurisprudência do país em relação a esse tema controverso,
estabelecendo a necessidade de um equilíbrio entre o direito das famílias de
escolherem essa modalidade de ensino e a responsabilidade do Estado em assegurar
que a educação seja ministrada de acordo com padrões adequados e com a devida
supervisão. Além disso, o voto do Ministro Alexandre de Moraes destaca a importância
de reconhecer a autonomia e emancipação das famílias, especialmente quando
fundamentadas em motivos religiosos, promovendo assim o direito fundamental à
liberdade religiosa, dentro dos limites estabelecidos por uma regulamentação
apropriada.
34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
35
garantir que o ensino domiciliar seja praticado com qualidade, responsabilidade e em
conformidade com os princípios educacionais do Brasil.
Portanto, embora o tema do homeschooling tenha sido examinado à luz de sua
constitucionalidade, a ausência de uma lei específica que regule o assunto cria uma
lacuna significativa no sistema educacional brasileiro. Assim, para atingir plenamente
os objetivos propostos para este tema, é necessária a ação legislativa futura que
aborde essa questão complexa e promova a segurança jurídica e a qualidade da
educação no contexto do ensino domiciliar no Brasil. A reflexão sobre esse tópico
destaca a importância de que, embora a legalidade do homeschooling tenha sido
estabelecida, ainda é necessária uma regulamentação específica para atender aos
princípios e responsabilidades constitucionais relacionados à educação no país.
36
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Luciane. Pesquisa identifica razoes que levam pais a optar por
educação domiciliar, 30 agosto. 2013. Disponível
em: https://www5.usp.br/noticias/sociedade/pesquisa-identifica-razoes-que-levam-
37
38
Disponível em: https://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/42/docs/ms-
ensino_fundamental-7407_stj.pdf. Acesso em: 06 out.2023.
=================================================================================
Arquivo 1: BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Arquivo 2: https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/3654/1/2006_TESE_MTSFIGUEIREDO.pdf (61993
termos)
Termos comuns: 535
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Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/3654/1/2006_TESE_MTSFIGUEIREDO.pdf (61993 termos)
=================================================================================
Cuiabá
2023
Cidade
Ano
BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA
Cuiabá
2023
BANCA EXAMINADORA
RESUMO
ABSTRACT
The aim of this work is to discuss homeschooling, also known as home education, an
educational practice in which parents or guardians take on the responsibility of
educating their children at home instead of enrolling them in a traditional school. This
practice allows for a personalized teaching approach, tailored to the individual needs
and interests of each child. However, the legal feasibility of homeschooling in Brazil is
a subject of debate. While some parents and guardians advocate for the right to
educate their children at home, there are legal and regulatory issues that need to be
considered. The study will also examine countries where homeschooling is regulated,
highlighting the roles of both the family and the state in home education. Furthermore,
there have been various legal decisions related to homeschooling in Brazil, with some
cases of significant impact. These legal decisions can have a significant impact on how
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Art. Artigo
ANED Associação Nacional de Educação Domiciliar
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
RE Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
USP Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING ......................................................... 10
2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO ................................................................................. 11
2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING..................................................................... 11
2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING .................................... 13
2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING ................................................ 14
2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES............... 15
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL ..................................................................................................................... 18
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO ................................................. 18
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL ....................................................................... 21
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL .................................................................. 22
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA) ............................................................................................. 23
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB) ................. 25
9
1 INTRODUÇÃO
10
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING
11
12
No entanto, vale ressaltar que a formalização e a regulamentação do
homeschooling como uma opção legal de educação são mais recentes em muitos
países, incluindo o Brasil. O surgimento mais notável e o reconhecimento oficial do
homeschooling no Brasil ocorreram nas últimas décadas, principalmente a partir dos
anos 2000, quando começou a ganhar visibilidade e a ser debatido mais amplamente.
Nos Estados Unidos da América (EUA), o pioneiro do homeschooling foi Holt,
considerado o pai da desescolarização. Ele acreditava que a escola tradicional, de
certo modo, coagia as crianças a aprenderem, quando, na verdade, elas o fariam
naturalmente se tivessem a liberdade de seguir seus próprios interesses e acesso a
uma ampla variedade de recursos. A partir de uma perspectiva da educação orgânica,
13
recorrendo ao ensino em casa para manter o aprendizado das crianças durante os
lockdowns e as incertezas associadas à pandemia.
A pandemia também destacou a importância da adaptação e flexibilidade no
homeschooling. Pais e tutores tiveram que se ajustar rapidamente a novos métodos
de ensino online e colaborar mais estreitamente com escolas para acessar materiais
e recursos educacionais. Além disso, o ensino em casa permitiu que algumas famílias
aproveitassem o tempo em casa para explorar tópicos adicionais, incentivando a
aprendizagem autodirigida e a criatividade.
No entanto, é importante observar que o homeschooling durante a pandemia
também trouxe desafios, incluindo a necessidade de equilibrar o trabalho remoto dos
pais com a supervisão do aprendizado das crianças. O debate sobre a
regulamentação e a legalização do homeschooling no Brasil também se intensificou
devido às mudanças trazidas pela pandemia. Portanto, o ensino domiciliar teve um
14
aproveitando oportunidades de aprendizado fora do ambiente escolar tradicional. Isso
é complementado pelo uso de uma ampla variedade de recursos educacionais,
incluindo livros, materiais didáticos, recursos online, visitas a museus e aulas
particulares, que enriquecem a abordagem educacional.
No homeschooling, valoriza-se a educação informal, reconhecendo que as
experiências cotidianas, viagens, atividades ao ar livre e interações com a
comunidade são oportunidades valiosas de aprendizado. Os pais desempenham um
papel fundamental no ensino domiciliar, projetando o currículo, fornecendo instrução
e apoio, e acompanhando o progresso acadêmico e social de seus filhos.
Além disso, o homeschooling coloca ênfase não apenas na educação
acadêmica, mas também no desenvolvimento integral da criança, incluindo aspectos
sociais, emocionais e éticos. Essa abordagem é especialmente atraente para famílias
com crianças com necessidades educacionais especiais, uma vez que permite uma
adaptação mais precisa a essas necessidades.
15
conceito de cidadania ligado apenas ao conhecimento de fatos históricos e
ao exercício do voto? (BARBOSA, 2013).
16
outras pedem apenas que a diretoria de ensino local seja comunicada?, relata.
?Ao entrevistar as famílias canadenses, percebe-se que embora a motivação
religiosa esteja muito presente, os pais também optam pelo ensino em casa
pela questão de custos (famílias mais numerosas) ou por terem filhos com
deficiência, entre outras razões? (BARBOSA, 2013).
PAÌSES: África África do Sul, Oceania Austrália, Nova Zelândia. Ásia Filipinas, Japão, América Norte
EUA, Canadá, Sul Colômbia, Chile, Equador, Paraguai. Europa Portugal, França, Itália, Reino Unido,
Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria, Finlândia, Noruega, Rússia.
17
Nos Estados Unidos, país que possui hoje mais de 2 milhões de crianças em
idade escolar fora da escola, um dos principais motivos para a prática
do homeschooling é religioso. São as minorias religiosas, bem como minorias
étnicas que, de acordo com os estudos sobre o assunto, aderem a essa nova
modalidade de educação. Entre 1999 e 2010 ocorreu um crescimento
superior a 100% e, para o conjunto dos Estados norte-americanos, há um
contingente de quase 4% de crianças que hoje não frequentam mais a escola.
Na Rússia, entre 2008 e 2012, teria ocorrido ampliação de 900% nas práticas
de homeschooling. Na Alemanha, país que proibiu a prática em seu território,
há inúmeros casos de casais que foram multados e até presos por não
enviarem os filhos à escola (BOTO, 2018).
18
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL
19
educação como um dos pilares fundamentais para o crescimento pleno desses
indivíduos, enfatizando a necessidade de protegê-los contra ameaças e violações de
seus direitos, conforme previsto na Constituição.
Na conjuntura atual, o Artigo 227 mantém sua relevância como diretriz
essencial para a formulação de políticas educacionais e sociais no Brasil. No entanto,
desafios persistentes, como a desigualdade no acesso à educação e a violação dos
direitos das crianças, exigem esforços contínuos para garantir a implementação eficaz
das disposições desse artigo.
O compromisso da família, sociedade e Estado em proporcionar um ambiente
favorável ao crescimento e desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens é
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Portanto, é
crucial que todos os esforços sejam direcionados para garantir o respeito a esses
direitos e para assegurar que todos os jovens tenham igualdade de oportunidades
para receber uma educação de qualidade, conforme preconizado pelo Artigo 227 da
Constituição Federal de 1988. Em resumo, o Artigo 227 continua a servir como
alicerce para a proteção e promoção dos direitos da juventude, sendo essencial para
garantir um futuro mais promissor às gerações vindouras.
A Constituição Federal de 1988 também estabelece, no Artigo 208, os deveres
do Estado em relação à educação no Brasil. Esses deveres incluem:
20
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela freqüência à escola (BRASIL,1988).
21
Essa discussão levanta questões fundamentais sobre a finalidade da educação
e destaca a necessidade de repensar o sistema educacional para garantir que ele não
só atenda às demandas econômicas, mas também promova o crescimento pessoal,
o aprendizado contínuo e a realização individual. A revisão dos currículos, métodos
de ensino e políticas educacionais pode ser necessária para promover uma educação
mais abrangente e significativa, em consonância com o Artigo 205 da Constituição
Federal.
Ademais, é importante ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição
Federal como um alicerce legal para direcionar a educação no Brasil e garantir que
ela cumpra seu papel essencial no desenvolvimento das pessoas, na formação de
cidadãos ativos e na preparação para o mercado de trabalho.
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL
O Código Civil brasileiro, em seu Artigo 1.634, regulamenta o poder de família,
estabelecendo os seguintes termos:
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação; (BRASIL,2002).
22
O debate sobre a educação domiciliar aborda questões relativas à qualidade
da educação, à socialização das crianças e à capacidade dos pais de proporcionarem
um ambiente educacional adequado em casa. Portanto, a interação entre os direitos
dos pais e o interesse público na formação educacional das crianças é complexa e
deve ser tratada em conformidade com as normas legais aplicáveis.
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL
O Artigo 246 do Código Penal Brasileiro destaca-se como uma peça legislativa
de grande importância no âmbito educacional e jurídico, abordando o dever dos pais
ou responsáveis de providenciar a instrução primária para seus filhos em idade
escolar. Simultaneamente, esse dispositivo legal está relacionado ao estudo
domiciliar, conforme estipula o referido artigo: "Deixar, sem justa causa, de prover à
instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um
mês, ou multa" (BRASIL, 1940).
Este artigo normativo estabelece que a omissão injustificada em fornecer a
instrução primária a um filho em idade escolar configura uma infração sujeita a
penalidades específicas. Tais penalidades incluem detenção com duração de quinze
dias a um mês, bem como a imposição de multa.
A relevância do Artigo 246 reside na ênfase dada à obrigação da educação
primária, um direito fundamental da criança garantido pela legislação brasileira. A
garantia do acesso à educação é crucial para o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos essenciais ao longo da vida. Além disso, a educação desempenha um
papel vital na formação do cidadão e na promoção do bem-estar social.
Nesse contexto, o Artigo 246 do Código Penal visa assegurar que os pais ou
responsáveis cumpram o dever legal de proporcionar a instrução primária a seus filhos
em idade escolar, contribuindo para a formação educacional e cidadã das futuras
gerações. Ao mesmo tempo, este artigo também suscita questões relacionadas ao
23
a modalidade educacional de seus filhos com a necessidade de garantir a adequada
formação e proteção das futuras gerações.
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece diretrizes
específicas em relação à educação das crianças e adolescentes. Ele alinha-se ao
entendimento conforme expresso no ?Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação
de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino? (BRASIL, 1990).
Além disso, o Artigo 4º do ECA menciona o dever da família em relação ao
menor, conforme previsto no artigo, que estabelece:
O Artigo 54, por sua vez, estabelece o dever do Estado de garantir o direito à
educação das crianças e adolescentes, como expresso no texto a seguir:
24
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
(Revogado)
IV ? atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos
de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua
oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável,
pela freqüência à escola. (BRASIL, 1990).
25
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabelece princípios
essenciais relacionados à educação no Brasil segundo o Artigo 2º destaca que:
26
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA
O tema da educação domiciliar tem sido objeto de intensos debates no âmbito
legislativo brasileiro, com vários projetos de lei apresentados ao longo dos anos.
Essas propostas visam redefinir a dinâmica educacional, distribuindo
responsabilidades entre o Estado e as famílias, a fim de permitir o ensino em casa.
27
Em 2012, o deputado Lincoln Portela elaborou o Projeto de Lei 3179, buscando
acrescentar o ensino domiciliar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As modificações propostas e outros projetos relacionados a ele serão abordados a
seguir.
O Projeto de Lei 3261 de 2015, de autoria do Deputado Eduardo Bolsonaro,
busca autorizar a educação domiciliar, introduzindo várias alterações na Lei nº 9.394
de 1996 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em junho de 2018, o deputado Alan Rick apresentou o Projeto de Lei
10185/2018, propondo alterações no artigo 5º da Lei nº 9.394 de 1996 para especificar
que o dever do Poder Público de garantir a frequência à escola pode ser substituído
pelo zelo no desenvolvimento adequado no caso da educação domiciliar.
O Projeto de Lei 3159, de 2019, de autoria da Deputada Natália Bonavides,
busca acrescentar ao artigo 5º da Lei nº 9394 de 1996 um parágrafo afirmando que a
educação domiciliar não pode substituir a frequência à escola.
No mesmo ano, foi apresentado o Projeto de Lei 2401/2019, de autoria do
28
domiciliar apenas quando for constatada a inadequação ou impossibilidade de
inclusão do estudante na rede regular de ensino, permitindo ainda o acesso a espaços
e equipamentos públicos.
Esses projetos apensados ao Projeto de Lei 3179/2012 demonstram a
abundância de discussões em torno da educação domiciliar e sua importância no
ordenamento jurídico.
Considerando as contribuições desses projetos de lei, a deputada Luísa
Canziani apresentou um Substitutivo ao Projeto de Lei 3179 de 2012 e suas emendas.
Ela sugeriu apenas a rejeição do Projeto de Lei 3159 de 2019.
Ao Substitutivo foram apresentadas 15 emendas de Plenário, sendo aprovada
apenas a emenda de plenário nº 8, que busca acrescentar um parágrafo único ao
artigo 246 do Código Penal, estabelecendo que os pais ou responsáveis que optam
pela educação domiciliar não incorrem no crime de abandono intelectual de seus
filhos. Quanto às demais emendas, foi sugerida a rejeição.
A redação final do Projeto de Lei 3179/2012 inclui no escopo da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional a possibilidade de oferta domiciliar da
educação básica. O projeto prevê obrigações para os pais, como a matrícula anual do
estudante em uma instituição de ensino credenciada, o cumprimento dos conteúdos
curriculares de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, a realização de
atividades pedagógicas, o registro periódico dessas atividades com envio de relatórios
trimestrais, o acompanhamento do desenvolvimento do estudante por um docente
tutor da instituição de ensino, avaliações anuais de aprendizagem e a participação em
exames nacionais, estaduais ou municipais, se selecionados.
29
refletindo as complexidades em torno do homeschooling e suas implicações no
sistema educacional brasileiro. O Projeto de Lei 3179/2012 foi aprovado pela Câmara
dos Deputados em 19 de maio de 2022 e atualmente encontra-se em análise no
Senado Federal como Projeto de Lei Nº 1.388/2022, aguardando a próxima fase do
processo legislativo na Comissão de Educação do Senado, tendo o senador Flávio
Arns como relator.
30
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR
31
um notável desempenho, estando um ano à frente de suas idades, o que, em sua
visão, habilitava os pais a assumir a função de garantir diretamente a educação formal.
Para ele, a frequência escolar era um fator secundário, e a educação transcenderia a
mera transmissão de informações, sendo a família a principal responsável pela
formação, não apenas intelectual, mas também cidadã e social das crianças e
adolescentes.
O Ministro Paulo Medina também enfatizou as liberdades constitucionais
relacionadas à educação e o pluralismo de ideias, bem como a responsabilidade do
Estado em fiscalizar as atividades da família para garantir a efetivação dos fins
constitucionais relacionados à educação.
No final, os pais tiveram que acatar a decisão do STJ e realizar a matrícula de
seus filhos em uma escola regular.
O segundo caso ocorreu em meados de 2015, quando chegou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança impetrado pelos pais de uma
criança de onze anos, que tiveram sua solicitação de educação domiciliar negada pelo
órgão municipal e, posteriormente, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A
parte recorrente alegou violação de diversos artigos da Constituição, argumentando
que a educação não se restringe à instrução formal em uma instituição convencional
de ensino, especialmente diante da diversidade de ideias e concepções pedagógicas,
bem como dos avanços tecnológicos.
No seu pronunciamento, o Ministro Luís Roberto Barroso destacou o ensino
domiciliar como um fenômeno emergente em diversos países, incluindo o Brasil, com
um crescente número de adeptos, e a possibilidade de redução dos gastos públicos
com sua adoção. O reconhecimento da natureza constitucional do debate sobre a
capacidade das famílias de prover educação levou o Ministro a enfatizar a importância
de definir a relação entre o Estado e a família na educação de crianças e
adolescentes, bem como os limites da autonomia privada em relação às imposições
estatais.
32
família na prestação do ensino fundamental e pela legalização do homeschooling no
Brasil.
Posteriormente, em 2018, o processo foi colocado em pauta e, após o
julgamento, a Corte determinou que o ensino domiciliar não é um meio lícito para
cumprir o dever de prover educação a crianças e adolescentes, embora não tenha
sido considerado inconstitucional. A maioria dos ministros votou pelo desprovimento
do recurso extraordinário, uma vez que não havia uma lei que regulamentasse a
prática.
O Ministro Luís Roberto Barroso, ao fundamentar seu voto, destacou que a
Constituição Federal não proíbe o homeschooling e que o ensino domiciliar é
compatível com o ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a maioria dos ministros
argumentou que é necessária uma regulamentação prévia pelo Congresso Nacional,
estabelecendo requisitos e mecanismos de avaliação e fiscalização, para atender ao
disposto no Art. 208, §3º da Constituição, que atribui ao poder público o dever de zelar
pela frequência à escola. Esta decisão do Supremo Tribunal Federal, portanto,
representa um marco importante na jurisprudência brasileira em relação a este
assunto controverso.
No seu voto, o Ministro Alexandre de Moraes apresentou uma perspectiva
fundamental no julgamento do ensino domiciliar, sustentando que a prática não é
inconstitucional, desde que haja uma regulamentação prévia. Ele destacou que o
homeschooling de natureza utilitarista, que segue o conteúdo do ensino escolar e
permite fiscalização e avaliações periódicas, é compatível com a Constituição,
contudo, ressaltou que essa modalidade requer uma colaboração entre as famílias e
o Estado. O Ministro enfatizou a importância de o Congresso Nacional regulamentar
essa prática, a fim de estabelecer requisitos e mecanismos de avaliação e
fiscalização, como previsto no Art. 208, §3º da Constituição, o qual atribui ao poder
público a responsabilidade de garantir a frequência escolar. Além disso, Moraes
argumentou que o ensino domiciliar pode ser uma escolha legítima das famílias,
especialmente quando fundamentada em motivos religiosos, promovendo assim o
direito fundamental à liberdade religiosa e respeitando os princípios de autonomia e
emancipação.
Portanto, o STF reconheceu a legalidade do homeschooling, desde que haja
regulamentação específica por parte do Congresso Nacional para garantir a qualidade
33
34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
35
garantir que o ensino domiciliar seja praticado com qualidade, responsabilidade e em
conformidade com os princípios educacionais do Brasil.
Portanto, embora o tema do homeschooling tenha sido examinado à luz de sua
constitucionalidade, a ausência de uma lei específica que regule o assunto cria uma
lacuna significativa no sistema educacional brasileiro. Assim, para atingir plenamente
os objetivos propostos para este tema, é necessária a ação legislativa futura que
aborde essa questão complexa e promova a segurança jurídica e a qualidade da
educação no contexto do ensino domiciliar no Brasil. A reflexão sobre esse tópico
destaca a importância de que, embora a legalidade do homeschooling tenha sido
estabelecida, ainda é necessária uma regulamentação específica para atender aos
princípios e responsabilidades constitucionais relacionados à educação no país.
36
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Luciane. Pesquisa identifica razoes que levam pais a optar por
educação domiciliar, 30 agosto. 2013. Disponível
em: https://www5.usp.br/noticias/sociedade/pesquisa-identifica-razoes-que-levam-
pais-a-optar-por-educacao-domiciliar/. Acesso em: 25 jul. 2023.
37
38
Disponível em: https://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/42/docs/ms-
ensino_fundamental-7407_stj.pdf. Acesso em: 06 out.2023.
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Arquivo 1: BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Arquivo 2: https://blog.culturainglesa.com.br/o-que-e-homeschooling (1350 termos)
Termos comuns: 57
Similaridade: 0,62%
O texto abaixo é o conteúdo do documento BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento https://blog.culturainglesa.com.br/o-que-e-
homeschooling (1350 termos)
=================================================================================
Cuiabá
2023
Cidade
Ano
BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA
Cuiabá
2023
BANCA EXAMINADORA
RESUMO
ABSTRACT
The aim of this work is to discuss homeschooling, also known as home education, an
educational practice in which parents or guardians take on the responsibility of
educating their children at home instead of enrolling them in a traditional school. This
practice allows for a personalized teaching approach, tailored to the individual needs
and interests of each child. However, the legal feasibility of homeschooling in Brazil is
a subject of debate. While some parents and guardians advocate for the right to
educate their children at home, there are legal and regulatory issues that need to be
considered. The study will also examine countries where homeschooling is regulated,
highlighting the roles of both the family and the state in home education. Furthermore,
there have been various legal decisions related to homeschooling in Brazil, with some
cases of significant impact. These legal decisions can have a significant impact on how
homeschooling is practiced and regulated in the country. Therefore, it is important to
understand the concept of homeschooling, analyze its legal feasibility in the Brazilian
context, and be aware of legal decisions related to this educational practice.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Art. Artigo
ANED Associação Nacional de Educação Domiciliar
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
RE Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
USP Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING ......................................................... 10
2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO ................................................................................. 11
2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING..................................................................... 11
2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING .................................... 13
2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING ................................................ 14
2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES............... 15
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL ..................................................................................................................... 18
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO ................................................. 18
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL ....................................................................... 21
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL .................................................................. 22
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA) ............................................................................................. 23
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB) ................. 25
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA ............................................................ 26
9
1 INTRODUÇÃO
10
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING
11
12
No entanto, vale ressaltar que a formalização e a regulamentação do
homeschooling como uma opção legal de educação são mais recentes em muitos
países, incluindo o Brasil. O surgimento mais notável e o reconhecimento oficial do
homeschooling no Brasil ocorreram nas últimas décadas, principalmente a partir dos
anos 2000, quando começou a ganhar visibilidade e a ser debatido mais amplamente.
Nos Estados Unidos da América (EUA), o pioneiro do homeschooling foi Holt,
considerado o pai da desescolarização. Ele acreditava que a escola tradicional, de
certo modo, coagia as crianças a aprenderem, quando, na verdade, elas o fariam
naturalmente se tivessem a liberdade de seguir seus próprios interesses e acesso a
uma ampla variedade de recursos. A partir de uma perspectiva da educação orgânica,
que valoriza o potencial humano como prioridade no desenvolvimento da criança,
13
recorrendo ao ensino em casa para manter o aprendizado das crianças durante os
lockdowns e as incertezas associadas à pandemia.
A pandemia também destacou a importância da adaptação e flexibilidade no
homeschooling. Pais e tutores tiveram que se ajustar rapidamente a novos métodos
de ensino online e colaborar mais estreitamente com escolas para acessar materiais
e recursos educacionais. Além disso, o ensino em casa permitiu que algumas famílias
aproveitassem o tempo em casa para explorar tópicos adicionais, incentivando a
aprendizagem autodirigida e a criatividade.
No entanto, é importante observar que o homeschooling durante a pandemia
também trouxe desafios, incluindo a necessidade de equilibrar o trabalho remoto dos
pais com a supervisão do aprendizado das crianças. O debate sobre a
regulamentação e a legalização do homeschooling no Brasil também se intensificou
devido às mudanças trazidas pela pandemia. Portanto, o ensino domiciliar teve um
impacto notável no contexto da educação brasileira durante a crise da COVID-19,
levantando questões importantes sobre como essa prática deve ser abordada e
regulamentada no país.
14
aproveitando oportunidades de aprendizado fora do ambiente escolar tradicional. Isso
é complementado pelo uso de uma ampla variedade de recursos educacionais,
incluindo livros, materiais didáticos, recursos online, visitas a museus e aulas
particulares, que enriquecem a abordagem educacional.
No homeschooling, valoriza-se a educação informal, reconhecendo que as
experiências cotidianas, viagens, atividades ao ar livre e interações com a
comunidade são oportunidades valiosas de aprendizado. Os pais desempenham um
papel fundamental no ensino domiciliar, projetando o currículo, fornecendo instrução
e apoio, e acompanhando o progresso acadêmico e social de seus filhos.
Além disso, o homeschooling coloca ênfase não apenas na educação
acadêmica, mas também no desenvolvimento integral da criança, incluindo aspectos
sociais, emocionais e éticos. Essa abordagem é especialmente atraente para famílias
com crianças com necessidades educacionais especiais, uma vez que permite uma
adaptação mais precisa a essas necessidades.
15
conceito de cidadania ligado apenas ao conhecimento de fatos históricos e
ao exercício do voto? (BARBOSA, 2013).
16
outras pedem apenas que a diretoria de ensino local seja comunicada?, relata.
?Ao entrevistar as famílias canadenses, percebe-se que embora a motivação
religiosa esteja muito presente, os pais também optam pelo ensino em casa
pela questão de custos (famílias mais numerosas) ou por terem filhos com
deficiência, entre outras razões? (BARBOSA, 2013).
PAÌSES: África África do Sul, Oceania Austrália, Nova Zelândia. Ásia Filipinas, Japão, América Norte
EUA, Canadá, Sul Colômbia, Chile, Equador, Paraguai. Europa Portugal, França, Itália, Reino Unido,
Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria, Finlândia, Noruega, Rússia.
17
Nos Estados Unidos, país que possui hoje mais de 2 milhões de crianças em
idade escolar fora da escola, um dos principais motivos para a prática
do homeschooling é religioso. São as minorias religiosas, bem como minorias
étnicas que, de acordo com os estudos sobre o assunto, aderem a essa nova
modalidade de educação. Entre 1999 e 2010 ocorreu um crescimento
superior a 100% e, para o conjunto dos Estados norte-americanos, há um
contingente de quase 4% de crianças que hoje não frequentam mais a escola.
Na Rússia, entre 2008 e 2012, teria ocorrido ampliação de 900% nas práticas
de homeschooling. Na Alemanha, país que proibiu a prática em seu território,
há inúmeros casos de casais que foram multados e até presos por não
enviarem os filhos à escola (BOTO, 2018).
18
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL
19
educação como um dos pilares fundamentais para o crescimento pleno desses
indivíduos, enfatizando a necessidade de protegê-los contra ameaças e violações de
seus direitos, conforme previsto na Constituição.
Na conjuntura atual, o Artigo 227 mantém sua relevância como diretriz
essencial para a formulação de políticas educacionais e sociais no Brasil. No entanto,
desafios persistentes, como a desigualdade no acesso à educação e a violação dos
direitos das crianças, exigem esforços contínuos para garantir a implementação eficaz
das disposições desse artigo.
O compromisso da família, sociedade e Estado em proporcionar um ambiente
favorável ao crescimento e desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens é
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Portanto, é
crucial que todos os esforços sejam direcionados para garantir o respeito a esses
direitos e para assegurar que todos os jovens tenham igualdade de oportunidades
para receber uma educação de qualidade, conforme preconizado pelo Artigo 227 da
20
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela freqüência à escola (BRASIL,1988).
21
Essa discussão levanta questões fundamentais sobre a finalidade da educação
e destaca a necessidade de repensar o sistema educacional para garantir que ele não
só atenda às demandas econômicas, mas também promova o crescimento pessoal,
o aprendizado contínuo e a realização individual. A revisão dos currículos, métodos
de ensino e políticas educacionais pode ser necessária para promover uma educação
mais abrangente e significativa, em consonância com o Artigo 205 da Constituição
Federal.
Ademais, é importante ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição
Federal como um alicerce legal para direcionar a educação no Brasil e garantir que
ela cumpra seu papel essencial no desenvolvimento das pessoas, na formação de
cidadãos ativos e na preparação para o mercado de trabalho.
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL
O Código Civil brasileiro, em seu Artigo 1.634, regulamenta o poder de família,
estabelecendo os seguintes termos:
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos:
22
O debate sobre a educação domiciliar aborda questões relativas à qualidade
da educação, à socialização das crianças e à capacidade dos pais de proporcionarem
um ambiente educacional adequado em casa. Portanto, a interação entre os direitos
dos pais e o interesse público na formação educacional das crianças é complexa e
deve ser tratada em conformidade com as normas legais aplicáveis.
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL
O Artigo 246 do Código Penal Brasileiro destaca-se como uma peça legislativa
de grande importância no âmbito educacional e jurídico, abordando o dever dos pais
ou responsáveis de providenciar a instrução primária para seus filhos em idade
escolar. Simultaneamente, esse dispositivo legal está relacionado ao estudo
domiciliar, conforme estipula o referido artigo: "Deixar, sem justa causa, de prover à
instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um
mês, ou multa" (BRASIL, 1940).
Este artigo normativo estabelece que a omissão injustificada em fornecer a
instrução primária a um filho em idade escolar configura uma infração sujeita a
penalidades específicas. Tais penalidades incluem detenção com duração de quinze
dias a um mês, bem como a imposição de multa.
A relevância do Artigo 246 reside na ênfase dada à obrigação da educação
primária, um direito fundamental da criança garantido pela legislação brasileira. A
garantia do acesso à educação é crucial para o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos essenciais ao longo da vida. Além disso, a educação desempenha um
papel vital na formação do cidadão e na promoção do bem-estar social.
Nesse contexto, o Artigo 246 do Código Penal visa assegurar que os pais ou
responsáveis cumpram o dever legal de proporcionar a instrução primária a seus filhos
em idade escolar, contribuindo para a formação educacional e cidadã das futuras
gerações. Ao mesmo tempo, este artigo também suscita questões relacionadas ao
estudo domiciliar. Quando realizado em conformidade com as normas e
23
a modalidade educacional de seus filhos com a necessidade de garantir a adequada
formação e proteção das futuras gerações.
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece diretrizes
específicas em relação à educação das crianças e adolescentes. Ele alinha-se ao
entendimento conforme expresso no ?Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação
de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino? (BRASIL, 1990).
Além disso, o Artigo 4º do ECA menciona o dever da família em relação ao
menor, conforme previsto no artigo, que estabelece:
O Artigo 54, por sua vez, estabelece o dever do Estado de garantir o direito à
educação das crianças e adolescentes, como expresso no texto a seguir:
24
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
(Revogado)
IV ? atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos
de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua
oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável,
pela freqüência à escola. (BRASIL, 1990).
25
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabelece princípios
essenciais relacionados à educação no Brasil segundo o Artigo 2º destaca que:
26
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA
O tema da educação domiciliar tem sido objeto de intensos debates no âmbito
legislativo brasileiro, com vários projetos de lei apresentados ao longo dos anos.
Essas propostas visam redefinir a dinâmica educacional, distribuindo
responsabilidades entre o Estado e as famílias, a fim de permitir o ensino em casa.
Para que isso ocorra, é necessária uma ativa movimentação do Poder
27
Em 2012, o deputado Lincoln Portela elaborou o Projeto de Lei 3179, buscando
acrescentar o ensino domiciliar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As modificações propostas e outros projetos relacionados a ele serão abordados a
seguir.
O Projeto de Lei 3261 de 2015, de autoria do Deputado Eduardo Bolsonaro,
busca autorizar a educação domiciliar, introduzindo várias alterações na Lei nº 9.394
de 1996 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em junho de 2018, o deputado Alan Rick apresentou o Projeto de Lei
10185/2018, propondo alterações no artigo 5º da Lei nº 9.394 de 1996 para especificar
que o dever do Poder Público de garantir a frequência à escola pode ser substituído
pelo zelo no desenvolvimento adequado no caso da educação domiciliar.
O Projeto de Lei 3159, de 2019, de autoria da Deputada Natália Bonavides,
busca acrescentar ao artigo 5º da Lei nº 9394 de 1996 um parágrafo afirmando que a
educação domiciliar não pode substituir a frequência à escola.
No mesmo ano, foi apresentado o Projeto de Lei 2401/2019, de autoria do
Poder Executivo, que propõe a regulamentação da educação básica domiciliar em
uma lei isolada. Suas disposições são mais detalhadas do que as propostas dos
projetos de lei mencionados anteriormente. O projeto torna explícito que a educação
domiciliar é um direito de escolha dos pais e responsáveis, assegura a igualdade dos
estudantes dessa modalidade com os da educação presencial e estabelece requisitos,
como o registro da educação domiciliar em uma plataforma virtual do Ministério da
Educação e a avaliação anual dos alunos de acordo com a Base Nacional Comum
Curricular.
Além disso, o projeto proíbe a educação domiciliar para pais ou responsáveis
que cumpram penas por crimes previstos em várias normas legais e prevê a perda do
direito de optar pela educação domiciliar no caso de reprovação em duas ou três
oportunidades ou de falta injustificada na avaliação anual.
Há também ajustes propostos para a Lei 9.394 de 1996 e o Estatuto da Criança
e do Adolescente para torná-los compatíveis com a educação domiciliar.
Os projetos de Lei 5852/2019 e 6188/2019, propostos pelos deputados Pastor
Eurico e Geninho Zuliani, pretendem inserir na Lei 9.394 de 1996 a possibilidade de a
Educação Básica ser ministrada por tutores autônomos em locais diferentes das
instituições oficiais de ensino. O segundo projeto busca autorizar a educação
28
domiciliar apenas quando for constatada a inadequação ou impossibilidade de
inclusão do estudante na rede regular de ensino, permitindo ainda o acesso a espaços
e equipamentos públicos.
Esses projetos apensados ao Projeto de Lei 3179/2012 demonstram a
abundância de discussões em torno da educação domiciliar e sua importância no
ordenamento jurídico.
Considerando as contribuições desses projetos de lei, a deputada Luísa
Canziani apresentou um Substitutivo ao Projeto de Lei 3179 de 2012 e suas emendas.
Ela sugeriu apenas a rejeição do Projeto de Lei 3159 de 2019.
Ao Substitutivo foram apresentadas 15 emendas de Plenário, sendo aprovada
apenas a emenda de plenário nº 8, que busca acrescentar um parágrafo único ao
artigo 246 do Código Penal, estabelecendo que os pais ou responsáveis que optam
pela educação domiciliar não incorrem no crime de abandono intelectual de seus
filhos. Quanto às demais emendas, foi sugerida a rejeição.
A redação final do Projeto de Lei 3179/2012 inclui no escopo da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional a possibilidade de oferta domiciliar da
educação básica. O projeto prevê obrigações para os pais, como a matrícula anual do
estudante em uma instituição de ensino credenciada, o cumprimento dos conteúdos
curriculares de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, a realização de
atividades pedagógicas, o registro periódico dessas atividades com envio de relatórios
trimestrais, o acompanhamento do desenvolvimento do estudante por um docente
tutor da instituição de ensino, avaliações anuais de aprendizagem e a participação em
exames nacionais, estaduais ou municipais, se selecionados.
O projeto também prevê a perda do direito à opção pela educação domiciliar
29
refletindo as complexidades em torno do homeschooling e suas implicações no
sistema educacional brasileiro. O Projeto de Lei 3179/2012 foi aprovado pela Câmara
dos Deputados em 19 de maio de 2022 e atualmente encontra-se em análise no
Senado Federal como Projeto de Lei Nº 1.388/2022, aguardando a próxima fase do
processo legislativo na Comissão de Educação do Senado, tendo o senador Flávio
Arns como relator.
30
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR
31
um notável desempenho, estando um ano à frente de suas idades, o que, em sua
visão, habilitava os pais a assumir a função de garantir diretamente a educação formal.
Para ele, a frequência escolar era um fator secundário, e a educação transcenderia a
mera transmissão de informações, sendo a família a principal responsável pela
formação, não apenas intelectual, mas também cidadã e social das crianças e
adolescentes.
O Ministro Paulo Medina também enfatizou as liberdades constitucionais
relacionadas à educação e o pluralismo de ideias, bem como a responsabilidade do
Estado em fiscalizar as atividades da família para garantir a efetivação dos fins
constitucionais relacionados à educação.
No final, os pais tiveram que acatar a decisão do STJ e realizar a matrícula de
seus filhos em uma escola regular.
O segundo caso ocorreu em meados de 2015, quando chegou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança impetrado pelos pais de uma
criança de onze anos, que tiveram sua solicitação de educação domiciliar negada pelo
órgão municipal e, posteriormente, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A
parte recorrente alegou violação de diversos artigos da Constituição, argumentando
que a educação não se restringe à instrução formal em uma instituição convencional
de ensino, especialmente diante da diversidade de ideias e concepções pedagógicas,
bem como dos avanços tecnológicos.
No seu pronunciamento, o Ministro Luís Roberto Barroso destacou o ensino
domiciliar como um fenômeno emergente em diversos países, incluindo o Brasil, com
um crescente número de adeptos, e a possibilidade de redução dos gastos públicos
com sua adoção. O reconhecimento da natureza constitucional do debate sobre a
capacidade das famílias de prover educação levou o Ministro a enfatizar a importância
de definir a relação entre o Estado e a família na educação de crianças e
adolescentes, bem como os limites da autonomia privada em relação às imposições
estatais.
Barroso concluiu que a improcedência do pedido baseou-se na falta de uma
32
família na prestação do ensino fundamental e pela legalização do homeschooling no
Brasil.
Posteriormente, em 2018, o processo foi colocado em pauta e, após o
julgamento, a Corte determinou que o ensino domiciliar não é um meio lícito para
cumprir o dever de prover educação a crianças e adolescentes, embora não tenha
sido considerado inconstitucional. A maioria dos ministros votou pelo desprovimento
do recurso extraordinário, uma vez que não havia uma lei que regulamentasse a
prática.
O Ministro Luís Roberto Barroso, ao fundamentar seu voto, destacou que a
Constituição Federal não proíbe o homeschooling e que o ensino domiciliar é
compatível com o ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a maioria dos ministros
argumentou que é necessária uma regulamentação prévia pelo Congresso Nacional,
estabelecendo requisitos e mecanismos de avaliação e fiscalização, para atender ao
disposto no Art. 208, §3º da Constituição, que atribui ao poder público o dever de zelar
pela frequência à escola. Esta decisão do Supremo Tribunal Federal, portanto,
representa um marco importante na jurisprudência brasileira em relação a este
assunto controverso.
No seu voto, o Ministro Alexandre de Moraes apresentou uma perspectiva
fundamental no julgamento do ensino domiciliar, sustentando que a prática não é
inconstitucional, desde que haja uma regulamentação prévia. Ele destacou que o
homeschooling de natureza utilitarista, que segue o conteúdo do ensino escolar e
permite fiscalização e avaliações periódicas, é compatível com a Constituição,
contudo, ressaltou que essa modalidade requer uma colaboração entre as famílias e
o Estado. O Ministro enfatizou a importância de o Congresso Nacional regulamentar
essa prática, a fim de estabelecer requisitos e mecanismos de avaliação e
fiscalização, como previsto no Art. 208, §3º da Constituição, o qual atribui ao poder
público a responsabilidade de garantir a frequência escolar. Além disso, Moraes
argumentou que o ensino domiciliar pode ser uma escolha legítima das famílias,
especialmente quando fundamentada em motivos religiosos, promovendo assim o
direito fundamental à liberdade religiosa e respeitando os princípios de autonomia e
emancipação.
Portanto, o STF reconheceu a legalidade do homeschooling, desde que haja
regulamentação específica por parte do Congresso Nacional para garantir a qualidade
33
e a fiscalização do ensino domiciliar no Brasil. Essa decisão representa um marco
34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
fundamentais em aberto.
A Constituição Federal de 1988 e outros dispositivos legais estabelecem
princípios e diretrizes essenciais para a educação no país, mas não abordam
diretamente o homeschooling. Isso resulta em uma lacuna legal que demanda atenção
do poder legislativo para criar uma estrutura regulatória clara e adequada, a fim de
35
garantir que o ensino domiciliar seja praticado com qualidade, responsabilidade e em
conformidade com os princípios educacionais do Brasil.
Portanto, embora o tema do homeschooling tenha sido examinado à luz de sua
constitucionalidade, a ausência de uma lei específica que regule o assunto cria uma
lacuna significativa no sistema educacional brasileiro. Assim, para atingir plenamente
os objetivos propostos para este tema, é necessária a ação legislativa futura que
aborde essa questão complexa e promova a segurança jurídica e a qualidade da
educação no contexto do ensino domiciliar no Brasil. A reflexão sobre esse tópico
destaca a importância de que, embora a legalidade do homeschooling tenha sido
estabelecida, ainda é necessária uma regulamentação específica para atender aos
princípios e responsabilidades constitucionais relacionados à educação no país.
36
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Luciane. Pesquisa identifica razoes que levam pais a optar por
educação domiciliar, 30 agosto. 2013. Disponível
em: https://www5.usp.br/noticias/sociedade/pesquisa-identifica-razoes-que-levam-
pais-a-optar-por-educacao-domiciliar/. Acesso em: 25 jul. 2023.
37
38
Disponível em: https://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/42/docs/ms-
ensino_fundamental-7407_stj.pdf. Acesso em: 06 out.2023.
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/12/senado-aprofundadebate-
sobre-educacao-domiciliar. Acesso em: 07 out.2023.
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Arquivo 1: BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Arquivo 2: https://escolamp.org.br/revistajuridica/19_04.pdf (9327 termos)
Termos comuns: 105
Similaridade: 0,61%
O texto abaixo é o conteúdo do documento BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://escolamp.org.br/revistajuridica/19_04.pdf (9327 termos)
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Cuiabá
2023
Cidade
Ano
BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA
Cuiabá
2023
BANCA EXAMINADORA
RESUMO
ABSTRACT
The aim of this work is to discuss homeschooling, also known as home education, an
educational practice in which parents or guardians take on the responsibility of
educating their children at home instead of enrolling them in a traditional school. This
practice allows for a personalized teaching approach, tailored to the individual needs
and interests of each child. However, the legal feasibility of homeschooling in Brazil is
a subject of debate. While some parents and guardians advocate for the right to
educate their children at home, there are legal and regulatory issues that need to be
considered. The study will also examine countries where homeschooling is regulated,
highlighting the roles of both the family and the state in home education. Furthermore,
there have been various legal decisions related to homeschooling in Brazil, with some
cases of significant impact. These legal decisions can have a significant impact on how
homeschooling is practiced and regulated in the country. Therefore, it is important to
understand the concept of homeschooling, analyze its legal feasibility in the Brazilian
context, and be aware of legal decisions related to this educational practice.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Art. Artigo
ANED Associação Nacional de Educação Domiciliar
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
RE Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
USP Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING ......................................................... 10
2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO ................................................................................. 11
2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING..................................................................... 11
2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING .................................... 13
2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING ................................................ 14
2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES............... 15
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL ..................................................................................................................... 18
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO ................................................. 18
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL ....................................................................... 21
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL .................................................................. 22
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA) ............................................................................................. 23
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB) ................. 25
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA ............................................................ 26
9
1 INTRODUÇÃO
10
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING
11
12
No entanto, vale ressaltar que a formalização e a regulamentação do
homeschooling como uma opção legal de educação são mais recentes em muitos
países, incluindo o Brasil. O surgimento mais notável e o reconhecimento oficial do
homeschooling no Brasil ocorreram nas últimas décadas, principalmente a partir dos
anos 2000, quando começou a ganhar visibilidade e a ser debatido mais amplamente.
Nos Estados Unidos da América (EUA), o pioneiro do homeschooling foi Holt,
considerado o pai da desescolarização. Ele acreditava que a escola tradicional, de
certo modo, coagia as crianças a aprenderem, quando, na verdade, elas o fariam
naturalmente se tivessem a liberdade de seguir seus próprios interesses e acesso a
uma ampla variedade de recursos. A partir de uma perspectiva da educação orgânica,
que valoriza o potencial humano como prioridade no desenvolvimento da criança,
13
recorrendo ao ensino em casa para manter o aprendizado das crianças durante os
lockdowns e as incertezas associadas à pandemia.
A pandemia também destacou a importância da adaptação e flexibilidade no
homeschooling. Pais e tutores tiveram que se ajustar rapidamente a novos métodos
de ensino online e colaborar mais estreitamente com escolas para acessar materiais
e recursos educacionais. Além disso, o ensino em casa permitiu que algumas famílias
aproveitassem o tempo em casa para explorar tópicos adicionais, incentivando a
aprendizagem autodirigida e a criatividade.
No entanto, é importante observar que o homeschooling durante a pandemia
também trouxe desafios, incluindo a necessidade de equilibrar o trabalho remoto dos
pais com a supervisão do aprendizado das crianças. O debate sobre a
regulamentação e a legalização do homeschooling no Brasil também se intensificou
devido às mudanças trazidas pela pandemia. Portanto, o ensino domiciliar teve um
impacto notável no contexto da educação brasileira durante a crise da COVID-19,
levantando questões importantes sobre como essa prática deve ser abordada e
regulamentada no país.
14
aproveitando oportunidades de aprendizado fora do ambiente escolar tradicional. Isso
é complementado pelo uso de uma ampla variedade de recursos educacionais,
incluindo livros, materiais didáticos, recursos online, visitas a museus e aulas
particulares, que enriquecem a abordagem educacional.
No homeschooling, valoriza-se a educação informal, reconhecendo que as
experiências cotidianas, viagens, atividades ao ar livre e interações com a
comunidade são oportunidades valiosas de aprendizado. Os pais desempenham um
papel fundamental no ensino domiciliar, projetando o currículo, fornecendo instrução
e apoio, e acompanhando o progresso acadêmico e social de seus filhos.
Além disso, o homeschooling coloca ênfase não apenas na educação
acadêmica, mas também no desenvolvimento integral da criança, incluindo aspectos
sociais, emocionais e éticos. Essa abordagem é especialmente atraente para famílias
com crianças com necessidades educacionais especiais, uma vez que permite uma
adaptação mais precisa a essas necessidades.
15
conceito de cidadania ligado apenas ao conhecimento de fatos históricos e
ao exercício do voto? (BARBOSA, 2013).
16
outras pedem apenas que a diretoria de ensino local seja comunicada?, relata.
?Ao entrevistar as famílias canadenses, percebe-se que embora a motivação
religiosa esteja muito presente, os pais também optam pelo ensino em casa
pela questão de custos (famílias mais numerosas) ou por terem filhos com
deficiência, entre outras razões? (BARBOSA, 2013).
PAÌSES: África África do Sul, Oceania Austrália, Nova Zelândia. Ásia Filipinas, Japão, América Norte
EUA, Canadá, Sul Colômbia, Chile, Equador, Paraguai. Europa Portugal, França, Itália, Reino Unido,
Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria, Finlândia, Noruega, Rússia.
17
Nos Estados Unidos, país que possui hoje mais de 2 milhões de crianças em
idade escolar fora da escola, um dos principais motivos para a prática
do homeschooling é religioso. São as minorias religiosas, bem como minorias
étnicas que, de acordo com os estudos sobre o assunto, aderem a essa nova
modalidade de educação. Entre 1999 e 2010 ocorreu um crescimento
superior a 100% e, para o conjunto dos Estados norte-americanos, há um
contingente de quase 4% de crianças que hoje não frequentam mais a escola.
Na Rússia, entre 2008 e 2012, teria ocorrido ampliação de 900% nas práticas
de homeschooling. Na Alemanha, país que proibiu a prática em seu território,
há inúmeros casos de casais que foram multados e até presos por não
enviarem os filhos à escola (BOTO, 2018).
18
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL
19
educação como um dos pilares fundamentais para o crescimento pleno desses
indivíduos, enfatizando a necessidade de protegê-los contra ameaças e violações de
seus direitos, conforme previsto na Constituição.
Na conjuntura atual, o Artigo 227 mantém sua relevância como diretriz
essencial para a formulação de políticas educacionais e sociais no Brasil. No entanto,
desafios persistentes, como a desigualdade no acesso à educação e a violação dos
direitos das crianças, exigem esforços contínuos para garantir a implementação eficaz
das disposições desse artigo.
O compromisso da família, sociedade e Estado em proporcionar um ambiente
favorável ao crescimento e desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens é
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Portanto, é
crucial que todos os esforços sejam direcionados para garantir o respeito a esses
direitos e para assegurar que todos os jovens tenham igualdade de oportunidades
para receber uma educação de qualidade, conforme preconizado pelo Artigo 227 da
20
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela freqüência à escola (BRASIL,1988).
21
Essa discussão levanta questões fundamentais sobre a finalidade da educação
e destaca a necessidade de repensar o sistema educacional para garantir que ele não
só atenda às demandas econômicas, mas também promova o crescimento pessoal,
o aprendizado contínuo e a realização individual. A revisão dos currículos, métodos
de ensino e políticas educacionais pode ser necessária para promover uma educação
mais abrangente e significativa, em consonância com o Artigo 205 da Constituição
Federal.
Ademais, é importante ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição
Federal como um alicerce legal para direcionar a educação no Brasil e garantir que
ela cumpra seu papel essencial no desenvolvimento das pessoas, na formação de
cidadãos ativos e na preparação para o mercado de trabalho.
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL
O Código Civil brasileiro, em seu Artigo 1.634, regulamenta o poder de família,
estabelecendo os seguintes termos:
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos:
22
O debate sobre a educação domiciliar aborda questões relativas à qualidade
da educação, à socialização das crianças e à capacidade dos pais de proporcionarem
um ambiente educacional adequado em casa. Portanto, a interação entre os direitos
dos pais e o interesse público na formação educacional das crianças é complexa e
deve ser tratada em conformidade com as normas legais aplicáveis.
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL
O Artigo 246 do Código Penal Brasileiro destaca-se como uma peça legislativa
de grande importância no âmbito educacional e jurídico, abordando o dever dos pais
ou responsáveis de providenciar a instrução primária para seus filhos em idade
escolar. Simultaneamente, esse dispositivo legal está relacionado ao estudo
domiciliar, conforme estipula o referido artigo: "Deixar, sem justa causa, de prover à
instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um
mês, ou multa" (BRASIL, 1940).
Este artigo normativo estabelece que a omissão injustificada em fornecer a
instrução primária a um filho em idade escolar configura uma infração sujeita a
penalidades específicas. Tais penalidades incluem detenção com duração de quinze
dias a um mês, bem como a imposição de multa.
A relevância do Artigo 246 reside na ênfase dada à obrigação da educação
primária, um direito fundamental da criança garantido pela legislação brasileira. A
garantia do acesso à educação é crucial para o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos essenciais ao longo da vida. Além disso, a educação desempenha um
papel vital na formação do cidadão e na promoção do bem-estar social.
Nesse contexto, o Artigo 246 do Código Penal visa assegurar que os pais ou
responsáveis cumpram o dever legal de proporcionar a instrução primária a seus filhos
em idade escolar, contribuindo para a formação educacional e cidadã das futuras
gerações. Ao mesmo tempo, este artigo também suscita questões relacionadas ao
estudo domiciliar. Quando realizado em conformidade com as normas e
23
a modalidade educacional de seus filhos com a necessidade de garantir a adequada
formação e proteção das futuras gerações.
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece diretrizes
específicas em relação à educação das crianças e adolescentes. Ele alinha-se ao
entendimento conforme expresso no ?Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação
de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino? (BRASIL, 1990).
Além disso, o Artigo 4º do ECA menciona o dever da família em relação ao
menor, conforme previsto no artigo, que estabelece:
O Artigo 54, por sua vez, estabelece o dever do Estado de garantir o direito à
educação das crianças e adolescentes, como expresso no texto a seguir:
24
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
(Revogado)
IV ? atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos
de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua
oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável,
pela freqüência à escola. (BRASIL, 1990).
25
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabelece princípios
essenciais relacionados à educação no Brasil segundo o Artigo 2º destaca que:
26
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA
O tema da educação domiciliar tem sido objeto de intensos debates no âmbito
legislativo brasileiro, com vários projetos de lei apresentados ao longo dos anos.
Essas propostas visam redefinir a dinâmica educacional, distribuindo
responsabilidades entre o Estado e as famílias, a fim de permitir o ensino em casa.
Para que isso ocorra, é necessária uma ativa movimentação do Poder
27
Em 2012, o deputado Lincoln Portela elaborou o Projeto de Lei 3179, buscando
acrescentar o ensino domiciliar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As modificações propostas e outros projetos relacionados a ele serão abordados a
seguir.
O Projeto de Lei 3261 de 2015, de autoria do Deputado Eduardo Bolsonaro,
busca autorizar a educação domiciliar, introduzindo várias alterações na Lei nº 9.394
de 1996 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em junho de 2018, o deputado Alan Rick apresentou o Projeto de Lei
10185/2018, propondo alterações no artigo 5º da Lei nº 9.394 de 1996 para especificar
que o dever do Poder Público de garantir a frequência à escola pode ser substituído
pelo zelo no desenvolvimento adequado no caso da educação domiciliar.
O Projeto de Lei 3159, de 2019, de autoria da Deputada Natália Bonavides,
busca acrescentar ao artigo 5º da Lei nº 9394 de 1996 um parágrafo afirmando que a
educação domiciliar não pode substituir a frequência à escola.
No mesmo ano, foi apresentado o Projeto de Lei 2401/2019, de autoria do
Poder Executivo, que propõe a regulamentação da educação básica domiciliar em
uma lei isolada. Suas disposições são mais detalhadas do que as propostas dos
projetos de lei mencionados anteriormente. O projeto torna explícito que a educação
domiciliar é um direito de escolha dos pais e responsáveis, assegura a igualdade dos
estudantes dessa modalidade com os da educação presencial e estabelece requisitos,
como o registro da educação domiciliar em uma plataforma virtual do Ministério da
Educação e a avaliação anual dos alunos de acordo com a Base Nacional Comum
Curricular.
Além disso, o projeto proíbe a educação domiciliar para pais ou responsáveis
que cumpram penas por crimes previstos em várias normas legais e prevê a perda do
direito de optar pela educação domiciliar no caso de reprovação em duas ou três
oportunidades ou de falta injustificada na avaliação anual.
Há também ajustes propostos para a Lei 9.394 de 1996 e o Estatuto da Criança
e do Adolescente para torná-los compatíveis com a educação domiciliar.
Os projetos de Lei 5852/2019 e 6188/2019, propostos pelos deputados Pastor
Eurico e Geninho Zuliani, pretendem inserir na Lei 9.394 de 1996 a possibilidade de a
Educação Básica ser ministrada por tutores autônomos em locais diferentes das
instituições oficiais de ensino. O segundo projeto busca autorizar a educação
28
domiciliar apenas quando for constatada a inadequação ou impossibilidade de
inclusão do estudante na rede regular de ensino, permitindo ainda o acesso a espaços
e equipamentos públicos.
Esses projetos apensados ao Projeto de Lei 3179/2012 demonstram a
abundância de discussões em torno da educação domiciliar e sua importância no
ordenamento jurídico.
Considerando as contribuições desses projetos de lei, a deputada Luísa
Canziani apresentou um Substitutivo ao Projeto de Lei 3179 de 2012 e suas emendas.
Ela sugeriu apenas a rejeição do Projeto de Lei 3159 de 2019.
Ao Substitutivo foram apresentadas 15 emendas de Plenário, sendo aprovada
apenas a emenda de plenário nº 8, que busca acrescentar um parágrafo único ao
artigo 246 do Código Penal, estabelecendo que os pais ou responsáveis que optam
pela educação domiciliar não incorrem no crime de abandono intelectual de seus
filhos. Quanto às demais emendas, foi sugerida a rejeição.
A redação final do Projeto de Lei 3179/2012 inclui no escopo da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional a possibilidade de oferta domiciliar da
educação básica. O projeto prevê obrigações para os pais, como a matrícula anual do
estudante em uma instituição de ensino credenciada, o cumprimento dos conteúdos
curriculares de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, a realização de
atividades pedagógicas, o registro periódico dessas atividades com envio de relatórios
trimestrais, o acompanhamento do desenvolvimento do estudante por um docente
tutor da instituição de ensino, avaliações anuais de aprendizagem e a participação em
exames nacionais, estaduais ou municipais, se selecionados.
O projeto também prevê a perda do direito à opção pela educação domiciliar
29
refletindo as complexidades em torno do homeschooling e suas implicações no
sistema educacional brasileiro. O Projeto de Lei 3179/2012 foi aprovado pela Câmara
dos Deputados em 19 de maio de 2022 e atualmente encontra-se em análise no
Senado Federal como Projeto de Lei Nº 1.388/2022, aguardando a próxima fase do
processo legislativo na Comissão de Educação do Senado, tendo o senador Flávio
Arns como relator.
30
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR
31
um notável desempenho, estando um ano à frente de suas idades, o que, em sua
visão, habilitava os pais a assumir a função de garantir diretamente a educação formal.
Para ele, a frequência escolar era um fator secundário, e a educação transcenderia a
mera transmissão de informações, sendo a família a principal responsável pela
formação, não apenas intelectual, mas também cidadã e social das crianças e
adolescentes.
O Ministro Paulo Medina também enfatizou as liberdades constitucionais
relacionadas à educação e o pluralismo de ideias, bem como a responsabilidade do
Estado em fiscalizar as atividades da família para garantir a efetivação dos fins
constitucionais relacionados à educação.
No final, os pais tiveram que acatar a decisão do STJ e realizar a matrícula de
seus filhos em uma escola regular.
O segundo caso ocorreu em meados de 2015, quando chegou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança impetrado pelos pais de uma
criança de onze anos, que tiveram sua solicitação de educação domiciliar negada pelo
órgão municipal e, posteriormente, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A
parte recorrente alegou violação de diversos artigos da Constituição, argumentando
que a educação não se restringe à instrução formal em uma instituição convencional
de ensino, especialmente diante da diversidade de ideias e concepções pedagógicas,
bem como dos avanços tecnológicos.
No seu pronunciamento, o Ministro Luís Roberto Barroso destacou o ensino
domiciliar como um fenômeno emergente em diversos países, incluindo o Brasil, com
um crescente número de adeptos, e a possibilidade de redução dos gastos públicos
com sua adoção. O reconhecimento da natureza constitucional do debate sobre a
capacidade das famílias de prover educação levou o Ministro a enfatizar a importância
de definir a relação entre o Estado e a família na educação de crianças e
adolescentes, bem como os limites da autonomia privada em relação às imposições
estatais.
Barroso concluiu que a improcedência do pedido baseou-se na falta de uma
32
família na prestação do ensino fundamental e pela legalização do homeschooling no
Brasil.
Posteriormente, em 2018, o processo foi colocado em pauta e, após o
julgamento, a Corte determinou que o ensino domiciliar não é um meio lícito para
cumprir o dever de prover educação a crianças e adolescentes, embora não tenha
sido considerado inconstitucional. A maioria dos ministros votou pelo desprovimento
do recurso extraordinário, uma vez que não havia uma lei que regulamentasse a
prática.
O Ministro Luís Roberto Barroso, ao fundamentar seu voto, destacou que a
Constituição Federal não proíbe o homeschooling e que o ensino domiciliar é
compatível com o ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a maioria dos ministros
argumentou que é necessária uma regulamentação prévia pelo Congresso Nacional,
estabelecendo requisitos e mecanismos de avaliação e fiscalização, para atender ao
disposto no Art. 208, §3º da Constituição, que atribui ao poder público o dever de zelar
pela frequência à escola. Esta decisão do Supremo Tribunal Federal, portanto,
representa um marco importante na jurisprudência brasileira em relação a este
assunto controverso.
No seu voto, o Ministro Alexandre de Moraes apresentou uma perspectiva
fundamental no julgamento do ensino domiciliar, sustentando que a prática não é
inconstitucional, desde que haja uma regulamentação prévia. Ele destacou que o
homeschooling de natureza utilitarista, que segue o conteúdo do ensino escolar e
permite fiscalização e avaliações periódicas, é compatível com a Constituição,
contudo, ressaltou que essa modalidade requer uma colaboração entre as famílias e
o Estado. O Ministro enfatizou a importância de o Congresso Nacional regulamentar
essa prática, a fim de estabelecer requisitos e mecanismos de avaliação e
fiscalização, como previsto no Art. 208, §3º da Constituição, o qual atribui ao poder
público a responsabilidade de garantir a frequência escolar. Além disso, Moraes
argumentou que o ensino domiciliar pode ser uma escolha legítima das famílias,
especialmente quando fundamentada em motivos religiosos, promovendo assim o
direito fundamental à liberdade religiosa e respeitando os princípios de autonomia e
emancipação.
Portanto, o STF reconheceu a legalidade do homeschooling, desde que haja
regulamentação específica por parte do Congresso Nacional para garantir a qualidade
33
e a fiscalização do ensino domiciliar no Brasil. Essa decisão representa um marco
34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
fundamentais em aberto.
A Constituição Federal de 1988 e outros dispositivos legais estabelecem
princípios e diretrizes essenciais para a educação no país, mas não abordam
diretamente o homeschooling. Isso resulta em uma lacuna legal que demanda atenção
do poder legislativo para criar uma estrutura regulatória clara e adequada, a fim de
35
garantir que o ensino domiciliar seja praticado com qualidade, responsabilidade e em
conformidade com os princípios educacionais do Brasil.
Portanto, embora o tema do homeschooling tenha sido examinado à luz de sua
constitucionalidade, a ausência de uma lei específica que regule o assunto cria uma
lacuna significativa no sistema educacional brasileiro. Assim, para atingir plenamente
os objetivos propostos para este tema, é necessária a ação legislativa futura que
aborde essa questão complexa e promova a segurança jurídica e a qualidade da
educação no contexto do ensino domiciliar no Brasil. A reflexão sobre esse tópico
destaca a importância de que, embora a legalidade do homeschooling tenha sido
estabelecida, ainda é necessária uma regulamentação específica para atender aos
princípios e responsabilidades constitucionais relacionados à educação no país.
36
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Luciane. Pesquisa identifica razoes que levam pais a optar por
educação domiciliar, 30 agosto. 2013. Disponível
em: https://www5.usp.br/noticias/sociedade/pesquisa-identifica-razoes-que-levam-
pais-a-optar-por-educacao-domiciliar/. Acesso em: 25 jul. 2023.
37
38
Disponível em: https://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/42/docs/ms-
ensino_fundamental-7407_stj.pdf. Acesso em: 06 out.2023.
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/12/senado-aprofundadebate-
sobre-educacao-domiciliar. Acesso em: 07 out.2023.
=================================================================================
Arquivo 1: BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Arquivo 2: https://www.nheri.org/home-school-researcher-homeschooling-in-brazil-an-overview (4508
termos)
Termos comuns: 60
Similaridade: 0,48%
O texto abaixo é o conteúdo do documento BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento https://www.nheri.org/home-school-
researcher-homeschooling-in-brazil-an-overview (4508 termos)
=================================================================================
Cuiabá
2023
Cidade
Ano
BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA
Cuiabá
2023
BANCA EXAMINADORA
RESUMO
ABSTRACT
The aim of this work is to discuss homeschooling, also known as home education, an
educational practice in which parents or guardians take on the responsibility of
educating their children at home instead of enrolling them in a traditional school. This
practice allows for a personalized teaching approach, tailored to the individual needs
and interests of each child. However, the legal feasibility of homeschooling in Brazil is
a subject of debate. While some parents and guardians advocate for the right to
educate their children at home, there are legal and regulatory issues that need to be
considered. The study will also examine countries where homeschooling is regulated,
highlighting the roles of both the family and the state in home education. Furthermore,
there have been various legal decisions related to homeschooling in Brazil, with some
cases of significant impact. These legal decisions can have a significant impact on how
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Art. Artigo
ANED Associação Nacional de Educação Domiciliar
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
RE Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
USP Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING ......................................................... 10
2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO ................................................................................. 11
2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING..................................................................... 11
2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING .................................... 13
2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING ................................................ 14
2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES............... 15
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL ..................................................................................................................... 18
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO ................................................. 18
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL ....................................................................... 21
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL .................................................................. 22
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA) ............................................................................................. 23
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB) ................. 25
9
1 INTRODUÇÃO
10
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING
11
12
No entanto, vale ressaltar que a formalização e a regulamentação do
homeschooling como uma opção legal de educação são mais recentes em muitos
países, incluindo o Brasil. O surgimento mais notável e o reconhecimento oficial do
homeschooling no Brasil ocorreram nas últimas décadas, principalmente a partir dos
anos 2000, quando começou a ganhar visibilidade e a ser debatido mais amplamente.
Nos Estados Unidos da América (EUA), o pioneiro do homeschooling foi Holt,
considerado o pai da desescolarização. Ele acreditava que a escola tradicional, de
certo modo, coagia as crianças a aprenderem, quando, na verdade, elas o fariam
naturalmente se tivessem a liberdade de seguir seus próprios interesses e acesso a
uma ampla variedade de recursos. A partir de uma perspectiva da educação orgânica,
13
recorrendo ao ensino em casa para manter o aprendizado das crianças durante os
lockdowns e as incertezas associadas à pandemia.
A pandemia também destacou a importância da adaptação e flexibilidade no
homeschooling. Pais e tutores tiveram que se ajustar rapidamente a novos métodos
de ensino online e colaborar mais estreitamente com escolas para acessar materiais
e recursos educacionais. Além disso, o ensino em casa permitiu que algumas famílias
aproveitassem o tempo em casa para explorar tópicos adicionais, incentivando a
aprendizagem autodirigida e a criatividade.
No entanto, é importante observar que o homeschooling durante a pandemia
também trouxe desafios, incluindo a necessidade de equilibrar o trabalho remoto dos
pais com a supervisão do aprendizado das crianças. O debate sobre a
regulamentação e a legalização do homeschooling no Brasil também se intensificou
devido às mudanças trazidas pela pandemia. Portanto, o ensino domiciliar teve um
14
aproveitando oportunidades de aprendizado fora do ambiente escolar tradicional. Isso
é complementado pelo uso de uma ampla variedade de recursos educacionais,
incluindo livros, materiais didáticos, recursos online, visitas a museus e aulas
particulares, que enriquecem a abordagem educacional.
No homeschooling, valoriza-se a educação informal, reconhecendo que as
experiências cotidianas, viagens, atividades ao ar livre e interações com a
comunidade são oportunidades valiosas de aprendizado. Os pais desempenham um
papel fundamental no ensino domiciliar, projetando o currículo, fornecendo instrução
e apoio, e acompanhando o progresso acadêmico e social de seus filhos.
Além disso, o homeschooling coloca ênfase não apenas na educação
acadêmica, mas também no desenvolvimento integral da criança, incluindo aspectos
sociais, emocionais e éticos. Essa abordagem é especialmente atraente para famílias
com crianças com necessidades educacionais especiais, uma vez que permite uma
adaptação mais precisa a essas necessidades.
15
conceito de cidadania ligado apenas ao conhecimento de fatos históricos e
ao exercício do voto? (BARBOSA, 2013).
16
outras pedem apenas que a diretoria de ensino local seja comunicada?, relata.
?Ao entrevistar as famílias canadenses, percebe-se que embora a motivação
religiosa esteja muito presente, os pais também optam pelo ensino em casa
pela questão de custos (famílias mais numerosas) ou por terem filhos com
deficiência, entre outras razões? (BARBOSA, 2013).
PAÌSES: África África do Sul, Oceania Austrália, Nova Zelândia. Ásia Filipinas, Japão, América Norte
EUA, Canadá, Sul Colômbia, Chile, Equador, Paraguai. Europa Portugal, França, Itália, Reino Unido,
Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria, Finlândia, Noruega, Rússia.
17
Nos Estados Unidos, país que possui hoje mais de 2 milhões de crianças em
idade escolar fora da escola, um dos principais motivos para a prática
do homeschooling é religioso. São as minorias religiosas, bem como minorias
étnicas que, de acordo com os estudos sobre o assunto, aderem a essa nova
modalidade de educação. Entre 1999 e 2010 ocorreu um crescimento
superior a 100% e, para o conjunto dos Estados norte-americanos, há um
contingente de quase 4% de crianças que hoje não frequentam mais a escola.
Na Rússia, entre 2008 e 2012, teria ocorrido ampliação de 900% nas práticas
de homeschooling. Na Alemanha, país que proibiu a prática em seu território,
há inúmeros casos de casais que foram multados e até presos por não
enviarem os filhos à escola (BOTO, 2018).
18
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL
19
educação como um dos pilares fundamentais para o crescimento pleno desses
indivíduos, enfatizando a necessidade de protegê-los contra ameaças e violações de
seus direitos, conforme previsto na Constituição.
Na conjuntura atual, o Artigo 227 mantém sua relevância como diretriz
essencial para a formulação de políticas educacionais e sociais no Brasil. No entanto,
desafios persistentes, como a desigualdade no acesso à educação e a violação dos
direitos das crianças, exigem esforços contínuos para garantir a implementação eficaz
das disposições desse artigo.
O compromisso da família, sociedade e Estado em proporcionar um ambiente
favorável ao crescimento e desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens é
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Portanto, é
crucial que todos os esforços sejam direcionados para garantir o respeito a esses
direitos e para assegurar que todos os jovens tenham igualdade de oportunidades
para receber uma educação de qualidade, conforme preconizado pelo Artigo 227 da
Constituição Federal de 1988. Em resumo, o Artigo 227 continua a servir como
alicerce para a proteção e promoção dos direitos da juventude, sendo essencial para
garantir um futuro mais promissor às gerações vindouras.
A Constituição Federal de 1988 também estabelece, no Artigo 208, os deveres
do Estado em relação à educação no Brasil. Esses deveres incluem:
20
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela freqüência à escola (BRASIL,1988).
21
Essa discussão levanta questões fundamentais sobre a finalidade da educação
e destaca a necessidade de repensar o sistema educacional para garantir que ele não
só atenda às demandas econômicas, mas também promova o crescimento pessoal,
o aprendizado contínuo e a realização individual. A revisão dos currículos, métodos
de ensino e políticas educacionais pode ser necessária para promover uma educação
mais abrangente e significativa, em consonância com o Artigo 205 da Constituição
Federal.
Ademais, é importante ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição
Federal como um alicerce legal para direcionar a educação no Brasil e garantir que
ela cumpra seu papel essencial no desenvolvimento das pessoas, na formação de
cidadãos ativos e na preparação para o mercado de trabalho.
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL
O Código Civil brasileiro, em seu Artigo 1.634, regulamenta o poder de família,
estabelecendo os seguintes termos:
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação; (BRASIL,2002).
22
O debate sobre a educação domiciliar aborda questões relativas à qualidade
da educação, à socialização das crianças e à capacidade dos pais de proporcionarem
um ambiente educacional adequado em casa. Portanto, a interação entre os direitos
dos pais e o interesse público na formação educacional das crianças é complexa e
deve ser tratada em conformidade com as normas legais aplicáveis.
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL
O Artigo 246 do Código Penal Brasileiro destaca-se como uma peça legislativa
de grande importância no âmbito educacional e jurídico, abordando o dever dos pais
ou responsáveis de providenciar a instrução primária para seus filhos em idade
escolar. Simultaneamente, esse dispositivo legal está relacionado ao estudo
domiciliar, conforme estipula o referido artigo: "Deixar, sem justa causa, de prover à
instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um
mês, ou multa" (BRASIL, 1940).
Este artigo normativo estabelece que a omissão injustificada em fornecer a
instrução primária a um filho em idade escolar configura uma infração sujeita a
penalidades específicas. Tais penalidades incluem detenção com duração de quinze
dias a um mês, bem como a imposição de multa.
A relevância do Artigo 246 reside na ênfase dada à obrigação da educação
primária, um direito fundamental da criança garantido pela legislação brasileira. A
garantia do acesso à educação é crucial para o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos essenciais ao longo da vida. Além disso, a educação desempenha um
papel vital na formação do cidadão e na promoção do bem-estar social.
Nesse contexto, o Artigo 246 do Código Penal visa assegurar que os pais ou
responsáveis cumpram o dever legal de proporcionar a instrução primária a seus filhos
em idade escolar, contribuindo para a formação educacional e cidadã das futuras
gerações. Ao mesmo tempo, este artigo também suscita questões relacionadas ao
23
a modalidade educacional de seus filhos com a necessidade de garantir a adequada
formação e proteção das futuras gerações.
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece diretrizes
específicas em relação à educação das crianças e adolescentes. Ele alinha-se ao
entendimento conforme expresso no ?Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação
de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino? (BRASIL, 1990).
Além disso, o Artigo 4º do ECA menciona o dever da família em relação ao
menor, conforme previsto no artigo, que estabelece:
O Artigo 54, por sua vez, estabelece o dever do Estado de garantir o direito à
educação das crianças e adolescentes, como expresso no texto a seguir:
24
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
(Revogado)
IV ? atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos
de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua
oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável,
pela freqüência à escola. (BRASIL, 1990).
25
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabelece princípios
essenciais relacionados à educação no Brasil segundo o Artigo 2º destaca que:
26
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA
O tema da educação domiciliar tem sido objeto de intensos debates no âmbito
legislativo brasileiro, com vários projetos de lei apresentados ao longo dos anos.
Essas propostas visam redefinir a dinâmica educacional, distribuindo
responsabilidades entre o Estado e as famílias, a fim de permitir o ensino em casa.
27
Em 2012, o deputado Lincoln Portela elaborou o Projeto de Lei 3179, buscando
acrescentar o ensino domiciliar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As modificações propostas e outros projetos relacionados a ele serão abordados a
seguir.
O Projeto de Lei 3261 de 2015, de autoria do Deputado Eduardo Bolsonaro,
busca autorizar a educação domiciliar, introduzindo várias alterações na Lei nº 9.394
de 1996 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em junho de 2018, o deputado Alan Rick apresentou o Projeto de Lei
10185/2018, propondo alterações no artigo 5º da Lei nº 9.394 de 1996 para especificar
que o dever do Poder Público de garantir a frequência à escola pode ser substituído
pelo zelo no desenvolvimento adequado no caso da educação domiciliar.
O Projeto de Lei 3159, de 2019, de autoria da Deputada Natália Bonavides,
busca acrescentar ao artigo 5º da Lei nº 9394 de 1996 um parágrafo afirmando que a
educação domiciliar não pode substituir a frequência à escola.
No mesmo ano, foi apresentado o Projeto de Lei 2401/2019, de autoria do
28
domiciliar apenas quando for constatada a inadequação ou impossibilidade de
inclusão do estudante na rede regular de ensino, permitindo ainda o acesso a espaços
e equipamentos públicos.
Esses projetos apensados ao Projeto de Lei 3179/2012 demonstram a
abundância de discussões em torno da educação domiciliar e sua importância no
ordenamento jurídico.
Considerando as contribuições desses projetos de lei, a deputada Luísa
Canziani apresentou um Substitutivo ao Projeto de Lei 3179 de 2012 e suas emendas.
Ela sugeriu apenas a rejeição do Projeto de Lei 3159 de 2019.
Ao Substitutivo foram apresentadas 15 emendas de Plenário, sendo aprovada
apenas a emenda de plenário nº 8, que busca acrescentar um parágrafo único ao
artigo 246 do Código Penal, estabelecendo que os pais ou responsáveis que optam
pela educação domiciliar não incorrem no crime de abandono intelectual de seus
filhos. Quanto às demais emendas, foi sugerida a rejeição.
A redação final do Projeto de Lei 3179/2012 inclui no escopo da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional a possibilidade de oferta domiciliar da
educação básica. O projeto prevê obrigações para os pais, como a matrícula anual do
estudante em uma instituição de ensino credenciada, o cumprimento dos conteúdos
curriculares de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, a realização de
atividades pedagógicas, o registro periódico dessas atividades com envio de relatórios
trimestrais, o acompanhamento do desenvolvimento do estudante por um docente
tutor da instituição de ensino, avaliações anuais de aprendizagem e a participação em
exames nacionais, estaduais ou municipais, se selecionados.
29
refletindo as complexidades em torno do homeschooling e suas implicações no
sistema educacional brasileiro. O Projeto de Lei 3179/2012 foi aprovado pela Câmara
dos Deputados em 19 de maio de 2022 e atualmente encontra-se em análise no
Senado Federal como Projeto de Lei Nº 1.388/2022, aguardando a próxima fase do
processo legislativo na Comissão de Educação do Senado, tendo o senador Flávio
Arns como relator.
30
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR
31
um notável desempenho, estando um ano à frente de suas idades, o que, em sua
visão, habilitava os pais a assumir a função de garantir diretamente a educação formal.
Para ele, a frequência escolar era um fator secundário, e a educação transcenderia a
mera transmissão de informações, sendo a família a principal responsável pela
formação, não apenas intelectual, mas também cidadã e social das crianças e
adolescentes.
O Ministro Paulo Medina também enfatizou as liberdades constitucionais
relacionadas à educação e o pluralismo de ideias, bem como a responsabilidade do
Estado em fiscalizar as atividades da família para garantir a efetivação dos fins
constitucionais relacionados à educação.
No final, os pais tiveram que acatar a decisão do STJ e realizar a matrícula de
seus filhos em uma escola regular.
O segundo caso ocorreu em meados de 2015, quando chegou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança impetrado pelos pais de uma
criança de onze anos, que tiveram sua solicitação de educação domiciliar negada pelo
órgão municipal e, posteriormente, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A
parte recorrente alegou violação de diversos artigos da Constituição, argumentando
que a educação não se restringe à instrução formal em uma instituição convencional
de ensino, especialmente diante da diversidade de ideias e concepções pedagógicas,
bem como dos avanços tecnológicos.
No seu pronunciamento, o Ministro Luís Roberto Barroso destacou o ensino
domiciliar como um fenômeno emergente em diversos países, incluindo o Brasil, com
um crescente número de adeptos, e a possibilidade de redução dos gastos públicos
com sua adoção. O reconhecimento da natureza constitucional do debate sobre a
capacidade das famílias de prover educação levou o Ministro a enfatizar a importância
de definir a relação entre o Estado e a família na educação de crianças e
adolescentes, bem como os limites da autonomia privada em relação às imposições
estatais.
32
família na prestação do ensino fundamental e pela legalização do homeschooling no
Brasil.
Posteriormente, em 2018, o processo foi colocado em pauta e, após o
julgamento, a Corte determinou que o ensino domiciliar não é um meio lícito para
cumprir o dever de prover educação a crianças e adolescentes, embora não tenha
sido considerado inconstitucional. A maioria dos ministros votou pelo desprovimento
do recurso extraordinário, uma vez que não havia uma lei que regulamentasse a
prática.
O Ministro Luís Roberto Barroso, ao fundamentar seu voto, destacou que a
Constituição Federal não proíbe o homeschooling e que o ensino domiciliar é
compatível com o ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a maioria dos ministros
argumentou que é necessária uma regulamentação prévia pelo Congresso Nacional,
estabelecendo requisitos e mecanismos de avaliação e fiscalização, para atender ao
disposto no Art. 208, §3º da Constituição, que atribui ao poder público o dever de zelar
pela frequência à escola. Esta decisão do Supremo Tribunal Federal, portanto,
representa um marco importante na jurisprudência brasileira em relação a este
assunto controverso.
No seu voto, o Ministro Alexandre de Moraes apresentou uma perspectiva
fundamental no julgamento do ensino domiciliar, sustentando que a prática não é
inconstitucional, desde que haja uma regulamentação prévia. Ele destacou que o
homeschooling de natureza utilitarista, que segue o conteúdo do ensino escolar e
permite fiscalização e avaliações periódicas, é compatível com a Constituição,
contudo, ressaltou que essa modalidade requer uma colaboração entre as famílias e
o Estado. O Ministro enfatizou a importância de o Congresso Nacional regulamentar
essa prática, a fim de estabelecer requisitos e mecanismos de avaliação e
fiscalização, como previsto no Art. 208, §3º da Constituição, o qual atribui ao poder
público a responsabilidade de garantir a frequência escolar. Além disso, Moraes
argumentou que o ensino domiciliar pode ser uma escolha legítima das famílias,
especialmente quando fundamentada em motivos religiosos, promovendo assim o
direito fundamental à liberdade religiosa e respeitando os princípios de autonomia e
emancipação.
Portanto, o STF reconheceu a legalidade do homeschooling, desde que haja
regulamentação específica por parte do Congresso Nacional para garantir a qualidade
33
34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
35
garantir que o ensino domiciliar seja praticado com qualidade, responsabilidade e em
conformidade com os princípios educacionais do Brasil.
Portanto, embora o tema do homeschooling tenha sido examinado à luz de sua
constitucionalidade, a ausência de uma lei específica que regule o assunto cria uma
lacuna significativa no sistema educacional brasileiro. Assim, para atingir plenamente
os objetivos propostos para este tema, é necessária a ação legislativa futura que
aborde essa questão complexa e promova a segurança jurídica e a qualidade da
educação no contexto do ensino domiciliar no Brasil. A reflexão sobre esse tópico
destaca a importância de que, embora a legalidade do homeschooling tenha sido
estabelecida, ainda é necessária uma regulamentação específica para atender aos
princípios e responsabilidades constitucionais relacionados à educação no país.
36
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Luciane. Pesquisa identifica razoes que levam pais a optar por
educação domiciliar, 30 agosto. 2013. Disponível
em: https://www5.usp.br/noticias/sociedade/pesquisa-identifica-razoes-que-levam-
pais-a-optar-por-educacao-domiciliar/. Acesso em: 25 jul. 2023.
37
38
Disponível em: https://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/42/docs/ms-
ensino_fundamental-7407_stj.pdf. Acesso em: 06 out.2023.
=================================================================================
Arquivo 1: BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Arquivo 2: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2022/05/19/homeschooling-entenda-o-que-diz-o-projeto-
de-lei-aprovado-pela-camara-sobre-ensino-domiciliar.ghtml (17193 termos)
Termos comuns: 86
Similaridade: 0,34%
O texto abaixo é o conteúdo do documento BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://g1.globo.com/educacao/noticia/2022/05/19/homeschooling-entenda-o-que-diz-o-projeto-de-lei-
aprovado-pela-camara-sobre-ensino-domiciliar.ghtml (17193 termos)
=================================================================================
Cuiabá
2023
Cidade
Ano
BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA
Cuiabá
2023
BANCA EXAMINADORA
RESUMO
ABSTRACT
The aim of this work is to discuss homeschooling, also known as home education, an
educational practice in which parents or guardians take on the responsibility of
educating their children at home instead of enrolling them in a traditional school. This
practice allows for a personalized teaching approach, tailored to the individual needs
and interests of each child. However, the legal feasibility of homeschooling in Brazil is
a subject of debate. While some parents and guardians advocate for the right to
educate their children at home, there are legal and regulatory issues that need to be
considered. The study will also examine countries where homeschooling is regulated,
highlighting the roles of both the family and the state in home education. Furthermore,
there have been various legal decisions related to homeschooling in Brazil, with some
cases of significant impact. These legal decisions can have a significant impact on how
homeschooling is practiced and regulated in the country. Therefore, it is important to
understand the concept of homeschooling, analyze its legal feasibility in the Brazilian
context, and be aware of legal decisions related to this educational practice.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Art. Artigo
ANED Associação Nacional de Educação Domiciliar
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
RE Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
USP Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING ......................................................... 10
2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO ................................................................................. 11
2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING..................................................................... 11
2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING .................................... 13
2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING ................................................ 14
2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES............... 15
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL ..................................................................................................................... 18
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO ................................................. 18
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL ....................................................................... 21
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL .................................................................. 22
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA) ............................................................................................. 23
9
1 INTRODUÇÃO
10
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING
11
12
No entanto, vale ressaltar que a formalização e a regulamentação do
homeschooling como uma opção legal de educação são mais recentes em muitos
países, incluindo o Brasil. O surgimento mais notável e o reconhecimento oficial do
homeschooling no Brasil ocorreram nas últimas décadas, principalmente a partir dos
anos 2000, quando começou a ganhar visibilidade e a ser debatido mais amplamente.
Nos Estados Unidos da América (EUA), o pioneiro do homeschooling foi Holt,
considerado o pai da desescolarização. Ele acreditava que a escola tradicional, de
certo modo, coagia as crianças a aprenderem, quando, na verdade, elas o fariam
naturalmente se tivessem a liberdade de seguir seus próprios interesses e acesso a
13
recorrendo ao ensino em casa para manter o aprendizado das crianças durante os
lockdowns e as incertezas associadas à pandemia.
A pandemia também destacou a importância da adaptação e flexibilidade no
homeschooling. Pais e tutores tiveram que se ajustar rapidamente a novos métodos
de ensino online e colaborar mais estreitamente com escolas para acessar materiais
e recursos educacionais. Além disso, o ensino em casa permitiu que algumas famílias
aproveitassem o tempo em casa para explorar tópicos adicionais, incentivando a
aprendizagem autodirigida e a criatividade.
No entanto, é importante observar que o homeschooling durante a pandemia
também trouxe desafios, incluindo a necessidade de equilibrar o trabalho remoto dos
pais com a supervisão do aprendizado das crianças. O debate sobre a
regulamentação e a legalização do homeschooling no Brasil também se intensificou
14
aproveitando oportunidades de aprendizado fora do ambiente escolar tradicional. Isso
é complementado pelo uso de uma ampla variedade de recursos educacionais,
incluindo livros, materiais didáticos, recursos online, visitas a museus e aulas
particulares, que enriquecem a abordagem educacional.
No homeschooling, valoriza-se a educação informal, reconhecendo que as
experiências cotidianas, viagens, atividades ao ar livre e interações com a
comunidade são oportunidades valiosas de aprendizado. Os pais desempenham um
papel fundamental no ensino domiciliar, projetando o currículo, fornecendo instrução
e apoio, e acompanhando o progresso acadêmico e social de seus filhos.
Além disso, o homeschooling coloca ênfase não apenas na educação
acadêmica, mas também no desenvolvimento integral da criança, incluindo aspectos
sociais, emocionais e éticos. Essa abordagem é especialmente atraente para famílias
com crianças com necessidades educacionais especiais, uma vez que permite uma
adaptação mais precisa a essas necessidades.
menos oportunidades de interagir com seus pares. Além disso, questões relacionadas
à qualidade da supervisão educacional e à capacidade dos pais de fornecer um ensino
adequado em todas as disciplinas são frequentemente levantadas. Críticos
argumentam que, sem uma supervisão rigorosa, algumas crianças podem não
receber a educação de qualidade necessária.
De acordo com a pedagoga (Barbosa, 2013), autora do estudo, a prática do
homeschooling:
15
conceito de cidadania ligado apenas ao conhecimento de fatos históricos e
ao exercício do voto? (BARBOSA, 2013).
16
outras pedem apenas que a diretoria de ensino local seja comunicada?, relata.
?Ao entrevistar as famílias canadenses, percebe-se que embora a motivação
religiosa esteja muito presente, os pais também optam pelo ensino em casa
pela questão de custos (famílias mais numerosas) ou por terem filhos com
deficiência, entre outras razões? (BARBOSA, 2013).
PAÌSES: África África do Sul, Oceania Austrália, Nova Zelândia. Ásia Filipinas, Japão, América Norte
EUA, Canadá, Sul Colômbia, Chile, Equador, Paraguai. Europa Portugal, França, Itália, Reino Unido,
Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria, Finlândia, Noruega, Rússia.
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Nos Estados Unidos, país que possui hoje mais de 2 milhões de crianças em
idade escolar fora da escola, um dos principais motivos para a prática
do homeschooling é religioso. São as minorias religiosas, bem como minorias
étnicas que, de acordo com os estudos sobre o assunto, aderem a essa nova
modalidade de educação. Entre 1999 e 2010 ocorreu um crescimento
superior a 100% e, para o conjunto dos Estados norte-americanos, há um
contingente de quase 4% de crianças que hoje não frequentam mais a escola.
Na Rússia, entre 2008 e 2012, teria ocorrido ampliação de 900% nas práticas
de homeschooling. Na Alemanha, país que proibiu a prática em seu território,
há inúmeros casos de casais que foram multados e até presos por não
enviarem os filhos à escola (BOTO, 2018).
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3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL
19
educação como um dos pilares fundamentais para o crescimento pleno desses
indivíduos, enfatizando a necessidade de protegê-los contra ameaças e violações de
seus direitos, conforme previsto na Constituição.
Na conjuntura atual, o Artigo 227 mantém sua relevância como diretriz
essencial para a formulação de políticas educacionais e sociais no Brasil. No entanto,
desafios persistentes, como a desigualdade no acesso à educação e a violação dos
direitos das crianças, exigem esforços contínuos para garantir a implementação eficaz
das disposições desse artigo.
O compromisso da família, sociedade e Estado em proporcionar um ambiente
favorável ao crescimento e desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens é
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Portanto, é
crucial que todos os esforços sejam direcionados para garantir o respeito a esses
20
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela freqüência à escola (BRASIL,1988).
21
Essa discussão levanta questões fundamentais sobre a finalidade da educação
e destaca a necessidade de repensar o sistema educacional para garantir que ele não
só atenda às demandas econômicas, mas também promova o crescimento pessoal,
o aprendizado contínuo e a realização individual. A revisão dos currículos, métodos
de ensino e políticas educacionais pode ser necessária para promover uma educação
mais abrangente e significativa, em consonância com o Artigo 205 da Constituição
Federal.
Ademais, é importante ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição
Federal como um alicerce legal para direcionar a educação no Brasil e garantir que
ela cumpra seu papel essencial no desenvolvimento das pessoas, na formação de
cidadãos ativos e na preparação para o mercado de trabalho.
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL
O Código Civil brasileiro, em seu Artigo 1.634, regulamenta o poder de família,
estabelecendo os seguintes termos:
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação; (BRASIL,2002).
22
O debate sobre a educação domiciliar aborda questões relativas à qualidade
da educação, à socialização das crianças e à capacidade dos pais de proporcionarem
um ambiente educacional adequado em casa. Portanto, a interação entre os direitos
dos pais e o interesse público na formação educacional das crianças é complexa e
deve ser tratada em conformidade com as normas legais aplicáveis.
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL
O Artigo 246 do Código Penal Brasileiro destaca-se como uma peça legislativa
de grande importância no âmbito educacional e jurídico, abordando o dever dos pais
ou responsáveis de providenciar a instrução primária para seus filhos em idade
escolar. Simultaneamente, esse dispositivo legal está relacionado ao estudo
domiciliar, conforme estipula o referido artigo: "Deixar, sem justa causa, de prover à
instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um
mês, ou multa" (BRASIL, 1940).
Este artigo normativo estabelece que a omissão injustificada em fornecer a
instrução primária a um filho em idade escolar configura uma infração sujeita a
penalidades específicas. Tais penalidades incluem detenção com duração de quinze
dias a um mês, bem como a imposição de multa.
A relevância do Artigo 246 reside na ênfase dada à obrigação da educação
primária, um direito fundamental da criança garantido pela legislação brasileira. A
garantia do acesso à educação é crucial para o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos essenciais ao longo da vida. Além disso, a educação desempenha um
papel vital na formação do cidadão e na promoção do bem-estar social.
Nesse contexto, o Artigo 246 do Código Penal visa assegurar que os pais ou
responsáveis cumpram o dever legal de proporcionar a instrução primária a seus filhos
em idade escolar, contribuindo para a formação educacional e cidadã das futuras
23
a modalidade educacional de seus filhos com a necessidade de garantir a adequada
formação e proteção das futuras gerações.
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece diretrizes
específicas em relação à educação das crianças e adolescentes. Ele alinha-se ao
entendimento conforme expresso no ?Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação
de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino? (BRASIL, 1990).
Além disso, o Artigo 4º do ECA menciona o dever da família em relação ao
menor, conforme previsto no artigo, que estabelece:
O Artigo 54, por sua vez, estabelece o dever do Estado de garantir o direito à
educação das crianças e adolescentes, como expresso no texto a seguir:
24
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
(Revogado)
IV ? atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos
de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua
oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável,
pela freqüência à escola. (BRASIL, 1990).
25
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabelece princípios
essenciais relacionados à educação no Brasil segundo o Artigo 2º destaca que:
26
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA
O tema da educação domiciliar tem sido objeto de intensos debates no âmbito
legislativo brasileiro, com vários projetos de lei apresentados ao longo dos anos.
Essas propostas visam redefinir a dinâmica educacional, distribuindo
27
Em 2012, o deputado Lincoln Portela elaborou o Projeto de Lei 3179, buscando
acrescentar o ensino domiciliar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As modificações propostas e outros projetos relacionados a ele serão abordados a
seguir.
O Projeto de Lei 3261 de 2015, de autoria do Deputado Eduardo Bolsonaro,
busca autorizar a educação domiciliar, introduzindo várias alterações na Lei nº 9.394
de 1996 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em junho de 2018, o deputado Alan Rick apresentou o Projeto de Lei
10185/2018, propondo alterações no artigo 5º da Lei nº 9.394 de 1996 para especificar
que o dever do Poder Público de garantir a frequência à escola pode ser substituído
pelo zelo no desenvolvimento adequado no caso da educação domiciliar.
O Projeto de Lei 3159, de 2019, de autoria da Deputada Natália Bonavides,
busca acrescentar ao artigo 5º da Lei nº 9394 de 1996 um parágrafo afirmando que a
educação domiciliar não pode substituir a frequência à escola.
28
domiciliar apenas quando for constatada a inadequação ou impossibilidade de
inclusão do estudante na rede regular de ensino, permitindo ainda o acesso a espaços
e equipamentos públicos.
Esses projetos apensados ao Projeto de Lei 3179/2012 demonstram a
abundância de discussões em torno da educação domiciliar e sua importância no
ordenamento jurídico.
Considerando as contribuições desses projetos de lei, a deputada Luísa
Canziani apresentou um Substitutivo ao Projeto de Lei 3179 de 2012 e suas emendas.
Ela sugeriu apenas a rejeição do Projeto de Lei 3159 de 2019.
Ao Substitutivo foram apresentadas 15 emendas de Plenário, sendo aprovada
apenas a emenda de plenário nº 8, que busca acrescentar um parágrafo único ao
artigo 246 do Código Penal, estabelecendo que os pais ou responsáveis que optam
pela educação domiciliar não incorrem no crime de abandono intelectual de seus
filhos. Quanto às demais emendas, foi sugerida a rejeição.
A redação final do Projeto de Lei 3179/2012 inclui no escopo da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional a possibilidade de oferta domiciliar da
educação básica. O projeto prevê obrigações para os pais, como a matrícula anual do
estudante em uma instituição de ensino credenciada, o cumprimento dos conteúdos
curriculares de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, a realização de
atividades pedagógicas, o registro periódico dessas atividades com envio de relatórios
trimestrais, o acompanhamento do desenvolvimento do estudante por um docente
tutor da instituição de ensino, avaliações anuais de aprendizagem e a participação em
29
refletindo as complexidades em torno do homeschooling e suas implicações no
sistema educacional brasileiro. O Projeto de Lei 3179/2012 foi aprovado pela Câmara
dos Deputados em 19 de maio de 2022 e atualmente encontra-se em análise no
Senado Federal como Projeto de Lei Nº 1.388/2022, aguardando a próxima fase do
processo legislativo na Comissão de Educação do Senado, tendo o senador Flávio
Arns como relator.
30
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR
31
um notável desempenho, estando um ano à frente de suas idades, o que, em sua
visão, habilitava os pais a assumir a função de garantir diretamente a educação formal.
Para ele, a frequência escolar era um fator secundário, e a educação transcenderia a
mera transmissão de informações, sendo a família a principal responsável pela
formação, não apenas intelectual, mas também cidadã e social das crianças e
adolescentes.
O Ministro Paulo Medina também enfatizou as liberdades constitucionais
relacionadas à educação e o pluralismo de ideias, bem como a responsabilidade do
Estado em fiscalizar as atividades da família para garantir a efetivação dos fins
constitucionais relacionados à educação.
No final, os pais tiveram que acatar a decisão do STJ e realizar a matrícula de
seus filhos em uma escola regular.
O segundo caso ocorreu em meados de 2015, quando chegou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança impetrado pelos pais de uma
criança de onze anos, que tiveram sua solicitação de educação domiciliar negada pelo
órgão municipal e, posteriormente, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A
parte recorrente alegou violação de diversos artigos da Constituição, argumentando
que a educação não se restringe à instrução formal em uma instituição convencional
de ensino, especialmente diante da diversidade de ideias e concepções pedagógicas,
bem como dos avanços tecnológicos.
No seu pronunciamento, o Ministro Luís Roberto Barroso destacou o ensino
domiciliar como um fenômeno emergente em diversos países, incluindo o Brasil, com
um crescente número de adeptos, e a possibilidade de redução dos gastos públicos
com sua adoção. O reconhecimento da natureza constitucional do debate sobre a
capacidade das famílias de prover educação levou o Ministro a enfatizar a importância
de definir a relação entre o Estado e a família na educação de crianças e
adolescentes, bem como os limites da autonomia privada em relação às imposições
estatais.
Barroso concluiu que a improcedência do pedido baseou-se na falta de uma
norma regulamentar, não na inconstitucionalidade do homeschooling. Além disso,
salientou que, como se tratava de uma questão de repercussão geral, a decisão tinha
efeito erga omnes, aplicável a todas as partes envolvidas na lide, sendo uma decisão
histórica e de extrema importância por reconhecer a colaboração entre o Estado e a
32
família na prestação do ensino fundamental e pela legalização do homeschooling no
Brasil.
Posteriormente, em 2018, o processo foi colocado em pauta e, após o
julgamento, a Corte determinou que o ensino domiciliar não é um meio lícito para
cumprir o dever de prover educação a crianças e adolescentes, embora não tenha
sido considerado inconstitucional. A maioria dos ministros votou pelo desprovimento
do recurso extraordinário, uma vez que não havia uma lei que regulamentasse a
prática.
O Ministro Luís Roberto Barroso, ao fundamentar seu voto, destacou que a
Constituição Federal não proíbe o homeschooling e que o ensino domiciliar é
compatível com o ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a maioria dos ministros
argumentou que é necessária uma regulamentação prévia pelo Congresso Nacional,
estabelecendo requisitos e mecanismos de avaliação e fiscalização, para atender ao
disposto no Art. 208, §3º da Constituição, que atribui ao poder público o dever de zelar
pela frequência à escola. Esta decisão do Supremo Tribunal Federal, portanto,
representa um marco importante na jurisprudência brasileira em relação a este
assunto controverso.
No seu voto, o Ministro Alexandre de Moraes apresentou uma perspectiva
fundamental no julgamento do ensino domiciliar, sustentando que a prática não é
inconstitucional, desde que haja uma regulamentação prévia. Ele destacou que o
homeschooling de natureza utilitarista, que segue o conteúdo do ensino escolar e
permite fiscalização e avaliações periódicas, é compatível com a Constituição,
contudo, ressaltou que essa modalidade requer uma colaboração entre as famílias e
o Estado. O Ministro enfatizou a importância de o Congresso Nacional regulamentar
essa prática, a fim de estabelecer requisitos e mecanismos de avaliação e
fiscalização, como previsto no Art. 208, §3º da Constituição, o qual atribui ao poder
público a responsabilidade de garantir a frequência escolar. Além disso, Moraes
argumentou que o ensino domiciliar pode ser uma escolha legítima das famílias,
especialmente quando fundamentada em motivos religiosos, promovendo assim o
direito fundamental à liberdade religiosa e respeitando os princípios de autonomia e
emancipação.
Portanto, o STF reconheceu a legalidade do homeschooling, desde que haja
regulamentação específica por parte do Congresso Nacional para garantir a qualidade
33
e a fiscalização do ensino domiciliar no Brasil. Essa decisão representa um marco
significativo na jurisprudência do país em relação a esse tema controverso,
estabelecendo a necessidade de um equilíbrio entre o direito das famílias de
escolherem essa modalidade de ensino e a responsabilidade do Estado em assegurar
que a educação seja ministrada de acordo com padrões adequados e com a devida
supervisão. Além disso, o voto do Ministro Alexandre de Moraes destaca a importância
de reconhecer a autonomia e emancipação das famílias, especialmente quando
fundamentadas em motivos religiosos, promovendo assim o direito fundamental à
liberdade religiosa, dentro dos limites estabelecidos por uma regulamentação
apropriada.
34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
35
garantir que o ensino domiciliar seja praticado com qualidade, responsabilidade e em
conformidade com os princípios educacionais do Brasil.
Portanto, embora o tema do homeschooling tenha sido examinado à luz de sua
constitucionalidade, a ausência de uma lei específica que regule o assunto cria uma
lacuna significativa no sistema educacional brasileiro. Assim, para atingir plenamente
os objetivos propostos para este tema, é necessária a ação legislativa futura que
aborde essa questão complexa e promova a segurança jurídica e a qualidade da
educação no contexto do ensino domiciliar no Brasil. A reflexão sobre esse tópico
destaca a importância de que, embora a legalidade do homeschooling tenha sido
estabelecida, ainda é necessária uma regulamentação específica para atender aos
princípios e responsabilidades constitucionais relacionados à educação no país.
36
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Luciane. Pesquisa identifica razoes que levam pais a optar por
educação domiciliar, 30 agosto. 2013. Disponível
em: https://www5.usp.br/noticias/sociedade/pesquisa-identifica-razoes-que-levam-
37
38
Disponível em: https://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/42/docs/ms-
ensino_fundamental-7407_stj.pdf. Acesso em: 06 out.2023.
=================================================================================
Arquivo 1: BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Arquivo 2: https://gem-report-2021.unesco.org/wp-content/uploads/2022/05/Yin.pdf (14656 termos)
Termos comuns: 30
Similaridade: 0,13%
O texto abaixo é o conteúdo do documento BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento https://gem-report-2021.unesco.org/wp-
content/uploads/2022/05/Yin.pdf (14656 termos)
=================================================================================
Cuiabá
2023
Cidade
Ano
BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA
Cuiabá
2023
BANCA EXAMINADORA
RESUMO
ABSTRACT
The aim of this work is to discuss homeschooling, also known as home education, an
educational practice in which parents or guardians take on the responsibility of
educating their children at home instead of enrolling them in a traditional school. This
practice allows for a personalized teaching approach, tailored to the individual needs
and interests of each child. However, the legal feasibility of homeschooling in Brazil is
a subject of debate. While some parents and guardians advocate for the right to
educate their children at home, there are legal and regulatory issues that need to be
considered. The study will also examine countries where homeschooling is regulated,
highlighting the roles of both the family and the state in home education. Furthermore,
there have been various legal decisions related to homeschooling in Brazil, with some
cases of significant impact. These legal decisions can have a significant impact on how
homeschooling is practiced and regulated in the country. Therefore, it is important to
understand the concept of homeschooling, analyze its legal feasibility in the Brazilian
context, and be aware of legal decisions related to this educational practice.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Art. Artigo
ANED Associação Nacional de Educação Domiciliar
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
RE Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
USP Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING ......................................................... 10
2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO ................................................................................. 11
2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING..................................................................... 11
2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING .................................... 13
2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING ................................................ 14
2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES............... 15
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL ..................................................................................................................... 18
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO ................................................. 18
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL ....................................................................... 21
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL .................................................................. 22
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA) ............................................................................................. 23
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB) ................. 25
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA ............................................................ 26
9
1 INTRODUÇÃO
10
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING
11
12
No entanto, vale ressaltar que a formalização e a regulamentação do
homeschooling como uma opção legal de educação são mais recentes em muitos
países, incluindo o Brasil. O surgimento mais notável e o reconhecimento oficial do
homeschooling no Brasil ocorreram nas últimas décadas, principalmente a partir dos
anos 2000, quando começou a ganhar visibilidade e a ser debatido mais amplamente.
Nos Estados Unidos da América (EUA), o pioneiro do homeschooling foi Holt,
considerado o pai da desescolarização. Ele acreditava que a escola tradicional, de
certo modo, coagia as crianças a aprenderem, quando, na verdade, elas o fariam
naturalmente se tivessem a liberdade de seguir seus próprios interesses e acesso a
uma ampla variedade de recursos. A partir de uma perspectiva da educação orgânica,
que valoriza o potencial humano como prioridade no desenvolvimento da criança,
13
recorrendo ao ensino em casa para manter o aprendizado das crianças durante os
lockdowns e as incertezas associadas à pandemia.
A pandemia também destacou a importância da adaptação e flexibilidade no
homeschooling. Pais e tutores tiveram que se ajustar rapidamente a novos métodos
de ensino online e colaborar mais estreitamente com escolas para acessar materiais
e recursos educacionais. Além disso, o ensino em casa permitiu que algumas famílias
aproveitassem o tempo em casa para explorar tópicos adicionais, incentivando a
aprendizagem autodirigida e a criatividade.
No entanto, é importante observar que o homeschooling durante a pandemia
também trouxe desafios, incluindo a necessidade de equilibrar o trabalho remoto dos
pais com a supervisão do aprendizado das crianças. O debate sobre a
regulamentação e a legalização do homeschooling no Brasil também se intensificou
devido às mudanças trazidas pela pandemia. Portanto, o ensino domiciliar teve um
impacto notável no contexto da educação brasileira durante a crise da COVID-19,
levantando questões importantes sobre como essa prática deve ser abordada e
regulamentada no país.
14
aproveitando oportunidades de aprendizado fora do ambiente escolar tradicional. Isso
é complementado pelo uso de uma ampla variedade de recursos educacionais,
incluindo livros, materiais didáticos, recursos online, visitas a museus e aulas
particulares, que enriquecem a abordagem educacional.
No homeschooling, valoriza-se a educação informal, reconhecendo que as
experiências cotidianas, viagens, atividades ao ar livre e interações com a
comunidade são oportunidades valiosas de aprendizado. Os pais desempenham um
papel fundamental no ensino domiciliar, projetando o currículo, fornecendo instrução
e apoio, e acompanhando o progresso acadêmico e social de seus filhos.
Além disso, o homeschooling coloca ênfase não apenas na educação
acadêmica, mas também no desenvolvimento integral da criança, incluindo aspectos
sociais, emocionais e éticos. Essa abordagem é especialmente atraente para famílias
com crianças com necessidades educacionais especiais, uma vez que permite uma
adaptação mais precisa a essas necessidades.
15
conceito de cidadania ligado apenas ao conhecimento de fatos históricos e
ao exercício do voto? (BARBOSA, 2013).
16
outras pedem apenas que a diretoria de ensino local seja comunicada?, relata.
?Ao entrevistar as famílias canadenses, percebe-se que embora a motivação
religiosa esteja muito presente, os pais também optam pelo ensino em casa
pela questão de custos (famílias mais numerosas) ou por terem filhos com
deficiência, entre outras razões? (BARBOSA, 2013).
PAÌSES: África África do Sul, Oceania Austrália, Nova Zelândia. Ásia Filipinas, Japão, América Norte
EUA, Canadá, Sul Colômbia, Chile, Equador, Paraguai. Europa Portugal, França, Itália, Reino Unido,
Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria, Finlândia, Noruega, Rússia.
17
Nos Estados Unidos, país que possui hoje mais de 2 milhões de crianças em
idade escolar fora da escola, um dos principais motivos para a prática
do homeschooling é religioso. São as minorias religiosas, bem como minorias
étnicas que, de acordo com os estudos sobre o assunto, aderem a essa nova
modalidade de educação. Entre 1999 e 2010 ocorreu um crescimento
superior a 100% e, para o conjunto dos Estados norte-americanos, há um
contingente de quase 4% de crianças que hoje não frequentam mais a escola.
Na Rússia, entre 2008 e 2012, teria ocorrido ampliação de 900% nas práticas
de homeschooling. Na Alemanha, país que proibiu a prática em seu território,
há inúmeros casos de casais que foram multados e até presos por não
enviarem os filhos à escola (BOTO, 2018).
18
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL
19
educação como um dos pilares fundamentais para o crescimento pleno desses
indivíduos, enfatizando a necessidade de protegê-los contra ameaças e violações de
seus direitos, conforme previsto na Constituição.
Na conjuntura atual, o Artigo 227 mantém sua relevância como diretriz
essencial para a formulação de políticas educacionais e sociais no Brasil. No entanto,
desafios persistentes, como a desigualdade no acesso à educação e a violação dos
direitos das crianças, exigem esforços contínuos para garantir a implementação eficaz
das disposições desse artigo.
O compromisso da família, sociedade e Estado em proporcionar um ambiente
favorável ao crescimento e desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens é
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Portanto, é
crucial que todos os esforços sejam direcionados para garantir o respeito a esses
direitos e para assegurar que todos os jovens tenham igualdade de oportunidades
para receber uma educação de qualidade, conforme preconizado pelo Artigo 227 da
20
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela freqüência à escola (BRASIL,1988).
21
Essa discussão levanta questões fundamentais sobre a finalidade da educação
e destaca a necessidade de repensar o sistema educacional para garantir que ele não
só atenda às demandas econômicas, mas também promova o crescimento pessoal,
o aprendizado contínuo e a realização individual. A revisão dos currículos, métodos
de ensino e políticas educacionais pode ser necessária para promover uma educação
mais abrangente e significativa, em consonância com o Artigo 205 da Constituição
Federal.
Ademais, é importante ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição
Federal como um alicerce legal para direcionar a educação no Brasil e garantir que
ela cumpra seu papel essencial no desenvolvimento das pessoas, na formação de
cidadãos ativos e na preparação para o mercado de trabalho.
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL
O Código Civil brasileiro, em seu Artigo 1.634, regulamenta o poder de família,
estabelecendo os seguintes termos:
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos:
22
O debate sobre a educação domiciliar aborda questões relativas à qualidade
da educação, à socialização das crianças e à capacidade dos pais de proporcionarem
um ambiente educacional adequado em casa. Portanto, a interação entre os direitos
dos pais e o interesse público na formação educacional das crianças é complexa e
deve ser tratada em conformidade com as normas legais aplicáveis.
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL
O Artigo 246 do Código Penal Brasileiro destaca-se como uma peça legislativa
de grande importância no âmbito educacional e jurídico, abordando o dever dos pais
ou responsáveis de providenciar a instrução primária para seus filhos em idade
escolar. Simultaneamente, esse dispositivo legal está relacionado ao estudo
domiciliar, conforme estipula o referido artigo: "Deixar, sem justa causa, de prover à
instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um
mês, ou multa" (BRASIL, 1940).
Este artigo normativo estabelece que a omissão injustificada em fornecer a
instrução primária a um filho em idade escolar configura uma infração sujeita a
penalidades específicas. Tais penalidades incluem detenção com duração de quinze
dias a um mês, bem como a imposição de multa.
A relevância do Artigo 246 reside na ênfase dada à obrigação da educação
primária, um direito fundamental da criança garantido pela legislação brasileira. A
garantia do acesso à educação é crucial para o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos essenciais ao longo da vida. Além disso, a educação desempenha um
papel vital na formação do cidadão e na promoção do bem-estar social.
Nesse contexto, o Artigo 246 do Código Penal visa assegurar que os pais ou
responsáveis cumpram o dever legal de proporcionar a instrução primária a seus filhos
em idade escolar, contribuindo para a formação educacional e cidadã das futuras
gerações. Ao mesmo tempo, este artigo também suscita questões relacionadas ao
estudo domiciliar. Quando realizado em conformidade com as normas e
23
a modalidade educacional de seus filhos com a necessidade de garantir a adequada
formação e proteção das futuras gerações.
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece diretrizes
específicas em relação à educação das crianças e adolescentes. Ele alinha-se ao
entendimento conforme expresso no ?Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação
de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino? (BRASIL, 1990).
Além disso, o Artigo 4º do ECA menciona o dever da família em relação ao
menor, conforme previsto no artigo, que estabelece:
O Artigo 54, por sua vez, estabelece o dever do Estado de garantir o direito à
educação das crianças e adolescentes, como expresso no texto a seguir:
24
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
(Revogado)
IV ? atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos
de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua
oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável,
pela freqüência à escola. (BRASIL, 1990).
25
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabelece princípios
essenciais relacionados à educação no Brasil segundo o Artigo 2º destaca que:
26
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA
O tema da educação domiciliar tem sido objeto de intensos debates no âmbito
legislativo brasileiro, com vários projetos de lei apresentados ao longo dos anos.
Essas propostas visam redefinir a dinâmica educacional, distribuindo
responsabilidades entre o Estado e as famílias, a fim de permitir o ensino em casa.
Para que isso ocorra, é necessária uma ativa movimentação do Poder
27
Em 2012, o deputado Lincoln Portela elaborou o Projeto de Lei 3179, buscando
acrescentar o ensino domiciliar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As modificações propostas e outros projetos relacionados a ele serão abordados a
seguir.
O Projeto de Lei 3261 de 2015, de autoria do Deputado Eduardo Bolsonaro,
busca autorizar a educação domiciliar, introduzindo várias alterações na Lei nº 9.394
de 1996 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em junho de 2018, o deputado Alan Rick apresentou o Projeto de Lei
10185/2018, propondo alterações no artigo 5º da Lei nº 9.394 de 1996 para especificar
que o dever do Poder Público de garantir a frequência à escola pode ser substituído
pelo zelo no desenvolvimento adequado no caso da educação domiciliar.
O Projeto de Lei 3159, de 2019, de autoria da Deputada Natália Bonavides,
busca acrescentar ao artigo 5º da Lei nº 9394 de 1996 um parágrafo afirmando que a
educação domiciliar não pode substituir a frequência à escola.
No mesmo ano, foi apresentado o Projeto de Lei 2401/2019, de autoria do
Poder Executivo, que propõe a regulamentação da educação básica domiciliar em
uma lei isolada. Suas disposições são mais detalhadas do que as propostas dos
projetos de lei mencionados anteriormente. O projeto torna explícito que a educação
domiciliar é um direito de escolha dos pais e responsáveis, assegura a igualdade dos
estudantes dessa modalidade com os da educação presencial e estabelece requisitos,
como o registro da educação domiciliar em uma plataforma virtual do Ministério da
Educação e a avaliação anual dos alunos de acordo com a Base Nacional Comum
Curricular.
Além disso, o projeto proíbe a educação domiciliar para pais ou responsáveis
que cumpram penas por crimes previstos em várias normas legais e prevê a perda do
direito de optar pela educação domiciliar no caso de reprovação em duas ou três
oportunidades ou de falta injustificada na avaliação anual.
Há também ajustes propostos para a Lei 9.394 de 1996 e o Estatuto da Criança
e do Adolescente para torná-los compatíveis com a educação domiciliar.
Os projetos de Lei 5852/2019 e 6188/2019, propostos pelos deputados Pastor
Eurico e Geninho Zuliani, pretendem inserir na Lei 9.394 de 1996 a possibilidade de a
Educação Básica ser ministrada por tutores autônomos em locais diferentes das
instituições oficiais de ensino. O segundo projeto busca autorizar a educação
28
domiciliar apenas quando for constatada a inadequação ou impossibilidade de
inclusão do estudante na rede regular de ensino, permitindo ainda o acesso a espaços
e equipamentos públicos.
Esses projetos apensados ao Projeto de Lei 3179/2012 demonstram a
abundância de discussões em torno da educação domiciliar e sua importância no
ordenamento jurídico.
Considerando as contribuições desses projetos de lei, a deputada Luísa
Canziani apresentou um Substitutivo ao Projeto de Lei 3179 de 2012 e suas emendas.
Ela sugeriu apenas a rejeição do Projeto de Lei 3159 de 2019.
Ao Substitutivo foram apresentadas 15 emendas de Plenário, sendo aprovada
apenas a emenda de plenário nº 8, que busca acrescentar um parágrafo único ao
artigo 246 do Código Penal, estabelecendo que os pais ou responsáveis que optam
pela educação domiciliar não incorrem no crime de abandono intelectual de seus
filhos. Quanto às demais emendas, foi sugerida a rejeição.
A redação final do Projeto de Lei 3179/2012 inclui no escopo da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional a possibilidade de oferta domiciliar da
educação básica. O projeto prevê obrigações para os pais, como a matrícula anual do
estudante em uma instituição de ensino credenciada, o cumprimento dos conteúdos
curriculares de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, a realização de
atividades pedagógicas, o registro periódico dessas atividades com envio de relatórios
trimestrais, o acompanhamento do desenvolvimento do estudante por um docente
tutor da instituição de ensino, avaliações anuais de aprendizagem e a participação em
exames nacionais, estaduais ou municipais, se selecionados.
O projeto também prevê a perda do direito à opção pela educação domiciliar
29
refletindo as complexidades em torno do homeschooling e suas implicações no
sistema educacional brasileiro. O Projeto de Lei 3179/2012 foi aprovado pela Câmara
dos Deputados em 19 de maio de 2022 e atualmente encontra-se em análise no
Senado Federal como Projeto de Lei Nº 1.388/2022, aguardando a próxima fase do
processo legislativo na Comissão de Educação do Senado, tendo o senador Flávio
Arns como relator.
30
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR
31
um notável desempenho, estando um ano à frente de suas idades, o que, em sua
visão, habilitava os pais a assumir a função de garantir diretamente a educação formal.
Para ele, a frequência escolar era um fator secundário, e a educação transcenderia a
mera transmissão de informações, sendo a família a principal responsável pela
formação, não apenas intelectual, mas também cidadã e social das crianças e
adolescentes.
O Ministro Paulo Medina também enfatizou as liberdades constitucionais
relacionadas à educação e o pluralismo de ideias, bem como a responsabilidade do
Estado em fiscalizar as atividades da família para garantir a efetivação dos fins
constitucionais relacionados à educação.
No final, os pais tiveram que acatar a decisão do STJ e realizar a matrícula de
seus filhos em uma escola regular.
O segundo caso ocorreu em meados de 2015, quando chegou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança impetrado pelos pais de uma
criança de onze anos, que tiveram sua solicitação de educação domiciliar negada pelo
órgão municipal e, posteriormente, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A
parte recorrente alegou violação de diversos artigos da Constituição, argumentando
que a educação não se restringe à instrução formal em uma instituição convencional
de ensino, especialmente diante da diversidade de ideias e concepções pedagógicas,
bem como dos avanços tecnológicos.
No seu pronunciamento, o Ministro Luís Roberto Barroso destacou o ensino
domiciliar como um fenômeno emergente em diversos países, incluindo o Brasil, com
um crescente número de adeptos, e a possibilidade de redução dos gastos públicos
com sua adoção. O reconhecimento da natureza constitucional do debate sobre a
capacidade das famílias de prover educação levou o Ministro a enfatizar a importância
de definir a relação entre o Estado e a família na educação de crianças e
adolescentes, bem como os limites da autonomia privada em relação às imposições
estatais.
Barroso concluiu que a improcedência do pedido baseou-se na falta de uma
32
família na prestação do ensino fundamental e pela legalização do homeschooling no
Brasil.
Posteriormente, em 2018, o processo foi colocado em pauta e, após o
julgamento, a Corte determinou que o ensino domiciliar não é um meio lícito para
cumprir o dever de prover educação a crianças e adolescentes, embora não tenha
sido considerado inconstitucional. A maioria dos ministros votou pelo desprovimento
do recurso extraordinário, uma vez que não havia uma lei que regulamentasse a
prática.
O Ministro Luís Roberto Barroso, ao fundamentar seu voto, destacou que a
Constituição Federal não proíbe o homeschooling e que o ensino domiciliar é
compatível com o ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a maioria dos ministros
argumentou que é necessária uma regulamentação prévia pelo Congresso Nacional,
estabelecendo requisitos e mecanismos de avaliação e fiscalização, para atender ao
disposto no Art. 208, §3º da Constituição, que atribui ao poder público o dever de zelar
pela frequência à escola. Esta decisão do Supremo Tribunal Federal, portanto,
representa um marco importante na jurisprudência brasileira em relação a este
assunto controverso.
No seu voto, o Ministro Alexandre de Moraes apresentou uma perspectiva
fundamental no julgamento do ensino domiciliar, sustentando que a prática não é
inconstitucional, desde que haja uma regulamentação prévia. Ele destacou que o
homeschooling de natureza utilitarista, que segue o conteúdo do ensino escolar e
permite fiscalização e avaliações periódicas, é compatível com a Constituição,
contudo, ressaltou que essa modalidade requer uma colaboração entre as famílias e
o Estado. O Ministro enfatizou a importância de o Congresso Nacional regulamentar
essa prática, a fim de estabelecer requisitos e mecanismos de avaliação e
fiscalização, como previsto no Art. 208, §3º da Constituição, o qual atribui ao poder
público a responsabilidade de garantir a frequência escolar. Além disso, Moraes
argumentou que o ensino domiciliar pode ser uma escolha legítima das famílias,
especialmente quando fundamentada em motivos religiosos, promovendo assim o
direito fundamental à liberdade religiosa e respeitando os princípios de autonomia e
emancipação.
Portanto, o STF reconheceu a legalidade do homeschooling, desde que haja
regulamentação específica por parte do Congresso Nacional para garantir a qualidade
33
e a fiscalização do ensino domiciliar no Brasil. Essa decisão representa um marco
34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
fundamentais em aberto.
A Constituição Federal de 1988 e outros dispositivos legais estabelecem
princípios e diretrizes essenciais para a educação no país, mas não abordam
diretamente o homeschooling. Isso resulta em uma lacuna legal que demanda atenção
do poder legislativo para criar uma estrutura regulatória clara e adequada, a fim de
35
garantir que o ensino domiciliar seja praticado com qualidade, responsabilidade e em
conformidade com os princípios educacionais do Brasil.
Portanto, embora o tema do homeschooling tenha sido examinado à luz de sua
constitucionalidade, a ausência de uma lei específica que regule o assunto cria uma
lacuna significativa no sistema educacional brasileiro. Assim, para atingir plenamente
os objetivos propostos para este tema, é necessária a ação legislativa futura que
aborde essa questão complexa e promova a segurança jurídica e a qualidade da
educação no contexto do ensino domiciliar no Brasil. A reflexão sobre esse tópico
destaca a importância de que, embora a legalidade do homeschooling tenha sido
estabelecida, ainda é necessária uma regulamentação específica para atender aos
princípios e responsabilidades constitucionais relacionados à educação no país.
36
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Luciane. Pesquisa identifica razoes que levam pais a optar por
educação domiciliar, 30 agosto. 2013. Disponível
em: https://www5.usp.br/noticias/sociedade/pesquisa-identifica-razoes-que-levam-
pais-a-optar-por-educacao-domiciliar/. Acesso em: 25 jul. 2023.
37
38
Disponível em: https://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/42/docs/ms-
ensino_fundamental-7407_stj.pdf. Acesso em: 06 out.2023.
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/12/senado-aprofundadebate-
sobre-educacao-domiciliar. Acesso em: 07 out.2023.
=================================================================================
Arquivo 1: BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Arquivo 2: https://www.parents.com/kids/education/home-schooling/homeschooling-101-what-is-
homeschooling (1858 termos)
Termos comuns: 9
Similaridade: 0,09%
O texto abaixo é o conteúdo do documento BRENNO_EDUARDO_ATIVIDADE2.pdf (7886 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://www.parents.com/kids/education/home-schooling/homeschooling-101-what-is-homeschooling (1858
termos)
=================================================================================
Cuiabá
2023
Cidade
Ano
BRENNO EDUARDO DE ARRUDA SOUZA
Cuiabá
2023
BANCA EXAMINADORA
RESUMO
ABSTRACT
The aim of this work is to discuss homeschooling, also known as home education, an
educational practice in which parents or guardians take on the responsibility of
educating their children at home instead of enrolling them in a traditional school. This
practice allows for a personalized teaching approach, tailored to the individual needs
and interests of each child. However, the legal feasibility of homeschooling in Brazil is
a subject of debate. While some parents and guardians advocate for the right to
educate their children at home, there are legal and regulatory issues that need to be
considered. The study will also examine countries where homeschooling is regulated,
highlighting the roles of both the family and the state in home education. Furthermore,
there have been various legal decisions related to homeschooling in Brazil, with some
cases of significant impact. These legal decisions can have a significant impact on how
homeschooling is practiced and regulated in the country. Therefore, it is important to
understand the concept of homeschooling, analyze its legal feasibility in the Brazilian
context, and be aware of legal decisions related to this educational practice.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Art. Artigo
ANED Associação Nacional de Educação Domiciliar
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
RE Recurso Extraordinário
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
USP Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING ......................................................... 10
2.1 DEFINIÇÃO E CONTEXTO ................................................................................. 11
2.2 HISTÓRIA DO HOMESCHOOLING..................................................................... 11
2.3 PRINCÍPIOS E ABORDAGENS DO HOMESCHOOLING .................................... 13
2.4 O DEBATE EM TORNO DO HOMESCHOOLING ................................................ 14
2.5 REGULAMENTAÇÃO DO HOMESCHOOLING EM OUTROS PAÍSES............... 15
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL ..................................................................................................................... 18
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SEU IMPACTO ................................................. 18
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL ....................................................................... 21
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL .................................................................. 22
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA) ............................................................................................. 23
9
1 INTRODUÇÃO
10
2 COMPREENDENDO O HOMESCHOOLING
11
12
No entanto, vale ressaltar que a formalização e a regulamentação do
homeschooling como uma opção legal de educação são mais recentes em muitos
países, incluindo o Brasil. O surgimento mais notável e o reconhecimento oficial do
homeschooling no Brasil ocorreram nas últimas décadas, principalmente a partir dos
anos 2000, quando começou a ganhar visibilidade e a ser debatido mais amplamente.
Nos Estados Unidos da América (EUA), o pioneiro do homeschooling foi Holt,
considerado o pai da desescolarização. Ele acreditava que a escola tradicional, de
certo modo, coagia as crianças a aprenderem, quando, na verdade, elas o fariam
naturalmente se tivessem a liberdade de seguir seus próprios interesses e acesso a
13
recorrendo ao ensino em casa para manter o aprendizado das crianças durante os
lockdowns e as incertezas associadas à pandemia.
A pandemia também destacou a importância da adaptação e flexibilidade no
homeschooling. Pais e tutores tiveram que se ajustar rapidamente a novos métodos
de ensino online e colaborar mais estreitamente com escolas para acessar materiais
e recursos educacionais. Além disso, o ensino em casa permitiu que algumas famílias
aproveitassem o tempo em casa para explorar tópicos adicionais, incentivando a
aprendizagem autodirigida e a criatividade.
No entanto, é importante observar que o homeschooling durante a pandemia
também trouxe desafios, incluindo a necessidade de equilibrar o trabalho remoto dos
pais com a supervisão do aprendizado das crianças. O debate sobre a
regulamentação e a legalização do homeschooling no Brasil também se intensificou
14
aproveitando oportunidades de aprendizado fora do ambiente escolar tradicional. Isso
é complementado pelo uso de uma ampla variedade de recursos educacionais,
incluindo livros, materiais didáticos, recursos online, visitas a museus e aulas
particulares, que enriquecem a abordagem educacional.
No homeschooling, valoriza-se a educação informal, reconhecendo que as
experiências cotidianas, viagens, atividades ao ar livre e interações com a
comunidade são oportunidades valiosas de aprendizado. Os pais desempenham um
papel fundamental no ensino domiciliar, projetando o currículo, fornecendo instrução
e apoio, e acompanhando o progresso acadêmico e social de seus filhos.
Além disso, o homeschooling coloca ênfase não apenas na educação
acadêmica, mas também no desenvolvimento integral da criança, incluindo aspectos
sociais, emocionais e éticos. Essa abordagem é especialmente atraente para famílias
com crianças com necessidades educacionais especiais, uma vez que permite uma
adaptação mais precisa a essas necessidades.
menos oportunidades de interagir com seus pares. Além disso, questões relacionadas
à qualidade da supervisão educacional e à capacidade dos pais de fornecer um ensino
adequado em todas as disciplinas são frequentemente levantadas. Críticos
argumentam que, sem uma supervisão rigorosa, algumas crianças podem não
receber a educação de qualidade necessária.
De acordo com a pedagoga (Barbosa, 2013), autora do estudo, a prática do
homeschooling:
15
conceito de cidadania ligado apenas ao conhecimento de fatos históricos e
ao exercício do voto? (BARBOSA, 2013).
16
outras pedem apenas que a diretoria de ensino local seja comunicada?, relata.
?Ao entrevistar as famílias canadenses, percebe-se que embora a motivação
religiosa esteja muito presente, os pais também optam pelo ensino em casa
pela questão de custos (famílias mais numerosas) ou por terem filhos com
deficiência, entre outras razões? (BARBOSA, 2013).
PAÌSES: África África do Sul, Oceania Austrália, Nova Zelândia. Ásia Filipinas, Japão, América Norte
EUA, Canadá, Sul Colômbia, Chile, Equador, Paraguai. Europa Portugal, França, Itália, Reino Unido,
Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria, Finlândia, Noruega, Rússia.
17
Nos Estados Unidos, país que possui hoje mais de 2 milhões de crianças em
idade escolar fora da escola, um dos principais motivos para a prática
do homeschooling é religioso. São as minorias religiosas, bem como minorias
étnicas que, de acordo com os estudos sobre o assunto, aderem a essa nova
modalidade de educação. Entre 1999 e 2010 ocorreu um crescimento
superior a 100% e, para o conjunto dos Estados norte-americanos, há um
contingente de quase 4% de crianças que hoje não frequentam mais a escola.
Na Rússia, entre 2008 e 2012, teria ocorrido ampliação de 900% nas práticas
de homeschooling. Na Alemanha, país que proibiu a prática em seu território,
há inúmeros casos de casais que foram multados e até presos por não
enviarem os filhos à escola (BOTO, 2018).
18
3 ANALISANDO A VIABILIDADE JURÍDICA DO ESTUDO DOMICILIAR NO
BRASIL
19
educação como um dos pilares fundamentais para o crescimento pleno desses
indivíduos, enfatizando a necessidade de protegê-los contra ameaças e violações de
seus direitos, conforme previsto na Constituição.
Na conjuntura atual, o Artigo 227 mantém sua relevância como diretriz
essencial para a formulação de políticas educacionais e sociais no Brasil. No entanto,
desafios persistentes, como a desigualdade no acesso à educação e a violação dos
direitos das crianças, exigem esforços contínuos para garantir a implementação eficaz
das disposições desse artigo.
O compromisso da família, sociedade e Estado em proporcionar um ambiente
favorável ao crescimento e desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens é
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Portanto, é
crucial que todos os esforços sejam direcionados para garantir o respeito a esses
20
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela freqüência à escola (BRASIL,1988).
21
Essa discussão levanta questões fundamentais sobre a finalidade da educação
e destaca a necessidade de repensar o sistema educacional para garantir que ele não
só atenda às demandas econômicas, mas também promova o crescimento pessoal,
o aprendizado contínuo e a realização individual. A revisão dos currículos, métodos
de ensino e políticas educacionais pode ser necessária para promover uma educação
mais abrangente e significativa, em consonância com o Artigo 205 da Constituição
Federal.
Ademais, é importante ressaltar a importância do Artigo 205 da Constituição
Federal como um alicerce legal para direcionar a educação no Brasil e garantir que
ela cumpra seu papel essencial no desenvolvimento das pessoas, na formação de
cidadãos ativos e na preparação para o mercado de trabalho.
3.2 RELEVÂNCIA DO CÓDIGO CIVIL
O Código Civil brasileiro, em seu Artigo 1.634, regulamenta o poder de família,
estabelecendo os seguintes termos:
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação; (BRASIL,2002).
22
O debate sobre a educação domiciliar aborda questões relativas à qualidade
da educação, à socialização das crianças e à capacidade dos pais de proporcionarem
um ambiente educacional adequado em casa. Portanto, a interação entre os direitos
dos pais e o interesse público na formação educacional das crianças é complexa e
deve ser tratada em conformidade com as normas legais aplicáveis.
3.3 IMPLICAÇÕES DO CÓDIGO PENAL
O Artigo 246 do Código Penal Brasileiro destaca-se como uma peça legislativa
de grande importância no âmbito educacional e jurídico, abordando o dever dos pais
ou responsáveis de providenciar a instrução primária para seus filhos em idade
escolar. Simultaneamente, esse dispositivo legal está relacionado ao estudo
domiciliar, conforme estipula o referido artigo: "Deixar, sem justa causa, de prover à
instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um
mês, ou multa" (BRASIL, 1940).
Este artigo normativo estabelece que a omissão injustificada em fornecer a
instrução primária a um filho em idade escolar configura uma infração sujeita a
penalidades específicas. Tais penalidades incluem detenção com duração de quinze
dias a um mês, bem como a imposição de multa.
A relevância do Artigo 246 reside na ênfase dada à obrigação da educação
primária, um direito fundamental da criança garantido pela legislação brasileira. A
garantia do acesso à educação é crucial para o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos essenciais ao longo da vida. Além disso, a educação desempenha um
papel vital na formação do cidadão e na promoção do bem-estar social.
Nesse contexto, o Artigo 246 do Código Penal visa assegurar que os pais ou
responsáveis cumpram o dever legal de proporcionar a instrução primária a seus filhos
em idade escolar, contribuindo para a formação educacional e cidadã das futuras
23
a modalidade educacional de seus filhos com a necessidade de garantir a adequada
formação e proteção das futuras gerações.
3.4 ESTUDO DOMICILIAR À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece diretrizes
específicas em relação à educação das crianças e adolescentes. Ele alinha-se ao
entendimento conforme expresso no ?Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação
de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino? (BRASIL, 1990).
Além disso, o Artigo 4º do ECA menciona o dever da família em relação ao
menor, conforme previsto no artigo, que estabelece:
O Artigo 54, por sua vez, estabelece o dever do Estado de garantir o direito à
educação das crianças e adolescentes, como expresso no texto a seguir:
24
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
(Revogado)
IV ? atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos
de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua
oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável,
pela freqüência à escola. (BRASIL, 1990).
25
3.5 O PAPEL DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabelece princípios
essenciais relacionados à educação no Brasil segundo o Artigo 2º destaca que:
26
3.6 PROJETOS DE LEI E SUA INFLUÊNCIA
O tema da educação domiciliar tem sido objeto de intensos debates no âmbito
legislativo brasileiro, com vários projetos de lei apresentados ao longo dos anos.
Essas propostas visam redefinir a dinâmica educacional, distribuindo
27
Em 2012, o deputado Lincoln Portela elaborou o Projeto de Lei 3179, buscando
acrescentar o ensino domiciliar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As modificações propostas e outros projetos relacionados a ele serão abordados a
seguir.
O Projeto de Lei 3261 de 2015, de autoria do Deputado Eduardo Bolsonaro,
busca autorizar a educação domiciliar, introduzindo várias alterações na Lei nº 9.394
de 1996 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em junho de 2018, o deputado Alan Rick apresentou o Projeto de Lei
10185/2018, propondo alterações no artigo 5º da Lei nº 9.394 de 1996 para especificar
que o dever do Poder Público de garantir a frequência à escola pode ser substituído
pelo zelo no desenvolvimento adequado no caso da educação domiciliar.
O Projeto de Lei 3159, de 2019, de autoria da Deputada Natália Bonavides,
busca acrescentar ao artigo 5º da Lei nº 9394 de 1996 um parágrafo afirmando que a
educação domiciliar não pode substituir a frequência à escola.
28
domiciliar apenas quando for constatada a inadequação ou impossibilidade de
inclusão do estudante na rede regular de ensino, permitindo ainda o acesso a espaços
e equipamentos públicos.
Esses projetos apensados ao Projeto de Lei 3179/2012 demonstram a
abundância de discussões em torno da educação domiciliar e sua importância no
ordenamento jurídico.
Considerando as contribuições desses projetos de lei, a deputada Luísa
Canziani apresentou um Substitutivo ao Projeto de Lei 3179 de 2012 e suas emendas.
Ela sugeriu apenas a rejeição do Projeto de Lei 3159 de 2019.
Ao Substitutivo foram apresentadas 15 emendas de Plenário, sendo aprovada
apenas a emenda de plenário nº 8, que busca acrescentar um parágrafo único ao
artigo 246 do Código Penal, estabelecendo que os pais ou responsáveis que optam
pela educação domiciliar não incorrem no crime de abandono intelectual de seus
filhos. Quanto às demais emendas, foi sugerida a rejeição.
A redação final do Projeto de Lei 3179/2012 inclui no escopo da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional a possibilidade de oferta domiciliar da
educação básica. O projeto prevê obrigações para os pais, como a matrícula anual do
estudante em uma instituição de ensino credenciada, o cumprimento dos conteúdos
curriculares de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, a realização de
atividades pedagógicas, o registro periódico dessas atividades com envio de relatórios
trimestrais, o acompanhamento do desenvolvimento do estudante por um docente
tutor da instituição de ensino, avaliações anuais de aprendizagem e a participação em
29
refletindo as complexidades em torno do homeschooling e suas implicações no
sistema educacional brasileiro. O Projeto de Lei 3179/2012 foi aprovado pela Câmara
dos Deputados em 19 de maio de 2022 e atualmente encontra-se em análise no
Senado Federal como Projeto de Lei Nº 1.388/2022, aguardando a próxima fase do
processo legislativo na Comissão de Educação do Senado, tendo o senador Flávio
Arns como relator.
30
4 CONHECENDO AS DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS AO ENSINO
DOMICILIAR
31
um notável desempenho, estando um ano à frente de suas idades, o que, em sua
visão, habilitava os pais a assumir a função de garantir diretamente a educação formal.
Para ele, a frequência escolar era um fator secundário, e a educação transcenderia a
mera transmissão de informações, sendo a família a principal responsável pela
formação, não apenas intelectual, mas também cidadã e social das crianças e
adolescentes.
O Ministro Paulo Medina também enfatizou as liberdades constitucionais
relacionadas à educação e o pluralismo de ideias, bem como a responsabilidade do
Estado em fiscalizar as atividades da família para garantir a efetivação dos fins
constitucionais relacionados à educação.
No final, os pais tiveram que acatar a decisão do STJ e realizar a matrícula de
seus filhos em uma escola regular.
O segundo caso ocorreu em meados de 2015, quando chegou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança impetrado pelos pais de uma
criança de onze anos, que tiveram sua solicitação de educação domiciliar negada pelo
órgão municipal e, posteriormente, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A
parte recorrente alegou violação de diversos artigos da Constituição, argumentando
que a educação não se restringe à instrução formal em uma instituição convencional
de ensino, especialmente diante da diversidade de ideias e concepções pedagógicas,
bem como dos avanços tecnológicos.
No seu pronunciamento, o Ministro Luís Roberto Barroso destacou o ensino
domiciliar como um fenômeno emergente em diversos países, incluindo o Brasil, com
um crescente número de adeptos, e a possibilidade de redução dos gastos públicos
com sua adoção. O reconhecimento da natureza constitucional do debate sobre a
capacidade das famílias de prover educação levou o Ministro a enfatizar a importância
de definir a relação entre o Estado e a família na educação de crianças e
adolescentes, bem como os limites da autonomia privada em relação às imposições
estatais.
Barroso concluiu que a improcedência do pedido baseou-se na falta de uma
norma regulamentar, não na inconstitucionalidade do homeschooling. Além disso,
salientou que, como se tratava de uma questão de repercussão geral, a decisão tinha
efeito erga omnes, aplicável a todas as partes envolvidas na lide, sendo uma decisão
histórica e de extrema importância por reconhecer a colaboração entre o Estado e a
32
família na prestação do ensino fundamental e pela legalização do homeschooling no
Brasil.
Posteriormente, em 2018, o processo foi colocado em pauta e, após o
julgamento, a Corte determinou que o ensino domiciliar não é um meio lícito para
cumprir o dever de prover educação a crianças e adolescentes, embora não tenha
sido considerado inconstitucional. A maioria dos ministros votou pelo desprovimento
do recurso extraordinário, uma vez que não havia uma lei que regulamentasse a
prática.
O Ministro Luís Roberto Barroso, ao fundamentar seu voto, destacou que a
Constituição Federal não proíbe o homeschooling e que o ensino domiciliar é
compatível com o ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a maioria dos ministros
argumentou que é necessária uma regulamentação prévia pelo Congresso Nacional,
estabelecendo requisitos e mecanismos de avaliação e fiscalização, para atender ao
disposto no Art. 208, §3º da Constituição, que atribui ao poder público o dever de zelar
pela frequência à escola. Esta decisão do Supremo Tribunal Federal, portanto,
representa um marco importante na jurisprudência brasileira em relação a este
assunto controverso.
No seu voto, o Ministro Alexandre de Moraes apresentou uma perspectiva
fundamental no julgamento do ensino domiciliar, sustentando que a prática não é
inconstitucional, desde que haja uma regulamentação prévia. Ele destacou que o
homeschooling de natureza utilitarista, que segue o conteúdo do ensino escolar e
permite fiscalização e avaliações periódicas, é compatível com a Constituição,
contudo, ressaltou que essa modalidade requer uma colaboração entre as famílias e
o Estado. O Ministro enfatizou a importância de o Congresso Nacional regulamentar
essa prática, a fim de estabelecer requisitos e mecanismos de avaliação e
fiscalização, como previsto no Art. 208, §3º da Constituição, o qual atribui ao poder
público a responsabilidade de garantir a frequência escolar. Além disso, Moraes
argumentou que o ensino domiciliar pode ser uma escolha legítima das famílias,
especialmente quando fundamentada em motivos religiosos, promovendo assim o
direito fundamental à liberdade religiosa e respeitando os princípios de autonomia e
emancipação.
Portanto, o STF reconheceu a legalidade do homeschooling, desde que haja
regulamentação específica por parte do Congresso Nacional para garantir a qualidade
33
e a fiscalização do ensino domiciliar no Brasil. Essa decisão representa um marco
significativo na jurisprudência do país em relação a esse tema controverso,
estabelecendo a necessidade de um equilíbrio entre o direito das famílias de
escolherem essa modalidade de ensino e a responsabilidade do Estado em assegurar
que a educação seja ministrada de acordo com padrões adequados e com a devida
supervisão. Além disso, o voto do Ministro Alexandre de Moraes destaca a importância
de reconhecer a autonomia e emancipação das famílias, especialmente quando
fundamentadas em motivos religiosos, promovendo assim o direito fundamental à
liberdade religiosa, dentro dos limites estabelecidos por uma regulamentação
apropriada.
34
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
35
garantir que o ensino domiciliar seja praticado com qualidade, responsabilidade e em
conformidade com os princípios educacionais do Brasil.
Portanto, embora o tema do homeschooling tenha sido examinado à luz de sua
constitucionalidade, a ausência de uma lei específica que regule o assunto cria uma
lacuna significativa no sistema educacional brasileiro. Assim, para atingir plenamente
os objetivos propostos para este tema, é necessária a ação legislativa futura que
aborde essa questão complexa e promova a segurança jurídica e a qualidade da
educação no contexto do ensino domiciliar no Brasil. A reflexão sobre esse tópico
destaca a importância de que, embora a legalidade do homeschooling tenha sido
estabelecida, ainda é necessária uma regulamentação específica para atender aos
princípios e responsabilidades constitucionais relacionados à educação no país.
36
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Luciane. Pesquisa identifica razoes que levam pais a optar por
educação domiciliar, 30 agosto. 2013. Disponível
em: https://www5.usp.br/noticias/sociedade/pesquisa-identifica-razoes-que-levam-
37
38
Disponível em: https://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/42/docs/ms-
ensino_fundamental-7407_stj.pdf. Acesso em: 06 out.2023.