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Relatório do Software Anti-plágio CopySpider


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Instruções
Este relatório apresenta na próxima página uma tabela na qual cada linha associa o conteúdo do arquivo
de entrada com um documento encontrado na internet (para "Busca em arquivos da internet") ou do
arquivo de entrada com outro arquivo em seu computador (para "Pesquisa em arquivos locais"). A
quantidade de termos comuns representa um fator utilizado no cálculo de Similaridade dos arquivos sendo
comparados. Quanto maior a quantidade de termos comuns, maior a similaridade entre os arquivos. É
importante destacar que o limite de 3% representa uma estatística de semelhança e não um "índice de
plágio". Por exemplo, documentos que citam de forma direta (transcrição) outros documentos, podem ter
uma similaridade maior do que 3% e ainda assim não podem ser caracterizados como plágio. Há sempre a
necessidade do avaliador fazer uma análise para decidir se as semelhanças encontradas caracterizam ou
não o problema de plágio ou mesmo de erro de formatação ou adequação às normas de referências
bibliográficas. Para cada par de arquivos, apresenta-se uma comparação dos termos semelhantes, os
quais aparecem em vermelho.
Veja também:
Analisando o resultado do CopySpider
Qual o percentual aceitável para ser considerado plágio?

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Versão do CopySpider: 2.2.1


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Modo: web / normal

Arquivos Termos comuns Similaridade


TCC Barbara - Família acolhedora.docx X 461 3,25
http://repositorio.unis.edu.br/bitstream/prefix/2330/1/TCC
corrigido Ana J%C3%BAlia.pdf
TCC Barbara - Família acolhedora.docx X 859 1,64
https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2022/04/eixo4-
primeira-infancia-relatorio-final.pdf
TCC Barbara - Família acolhedora.docx X 886 1,36
https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2023/04/eixo3-
primeira-infancia-relatorio-qualitativo.pdf
TCC Barbara - Família acolhedora.docx X 115 0,66
https://www.escavador.com/sobre/8663884/daniela-heitzmann-
amaral-valentim-de-sousa
TCC Barbara - Família acolhedora.docx X 42 0,43
https://www.scielo.br/j/csp/a/rc89QFfCGJ8PNQ9QJg3kfBD
TCC Barbara - Família acolhedora.docx X 42 0,34
https://www.passeidireto.com/arquivo/109652468/ppap-iii/3
TCC Barbara - Família acolhedora.docx X 13 0,15
https://books.google.com/books/about/Ado%C3%A7%C3%A3o.
html?id=MiO7DwAAQBAJ
TCC Barbara - Família acolhedora.docx X 9 0,10
https://www.passeidireto.com/arquivo/99052354/modelo-ppap-
iv
TCC Barbara - Família acolhedora.docx X 2 0,02
https://www.sumarios.org/revista/interscientia
Arquivos com problema de download
https://www.studocu.com/pt-br/document/universidade- Não foi possível baixar o arquivo. É
paulista/gestao-estrategica-de-servicos-de-ti/modelo- recomendável baixar o arquivo
monografia-tcc-unip-2023/57810695 manualmente e realizar a análise em
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que o documento não existe ou não pode
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br/document/universidade-
paulista/gestao-estrategica-de-servicos-
de-ti/modelo-monografia-tcc-unip-
2023/57810695
https://www.studocu.com/pt-br/document/universidade- Não foi possível baixar o arquivo. É
paulista/tecnologias-da-informacao/pim-pronto-1-trabalho-de- recomendável baixar o arquivo
conclusao-de-semestrerequisito-parcial-para-obtencao- manualmente e realizar a análise em
detitulo/34425786 conluio (Um contra todos). - Erro: Parece
que o documento não existe ou não pode
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br/document/universidade-
paulista/tecnologias-da-informacao/pim-
pronto-1-trabalho-de-conclusao-de-
semestrerequisito-parcial-para-obtencao-
detitulo/34425786

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http://revista.cofen.gov.br/index.php/enfermagem/article/view/32 Não foi possível baixar o arquivo. É


39 recomendável baixar o arquivo
manualmente e realizar a análise em
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bounds for length 30

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=================================================================================
Arquivo 1: TCC Barbara - Família acolhedora.docx (8247 termos)
Arquivo 2: http://repositorio.unis.edu.br/bitstream/prefix/2330/1/TCC corrigido Ana J%C3%BAlia.pdf (6397
termos)
Termos comuns: 461
Similaridade: 3,25%
O texto abaixo é o conteúdo do documento TCC Barbara - Família acolhedora.docx (8247 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
http://repositorio.unis.edu.br/bitstream/prefix/2330/1/TCC corrigido Ana J%C3%BAlia.pdf (6397 termos)

=================================================================================
UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP
CURSO DE BACHARELADO
DIREITO

BARBARA EUNICE DE QUEIROZ ALMEIDA ? R.A. D984144

A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

SÃO PAULO

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2023

A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Paulista


? UNIP como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Me. Gianfranco Faggin Mastro Andreá

SÃO PAULO
2023

FICHA CATALOGRÁFICA

BARBARA EUNICE DE QUEIROZ ALMEIDA

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A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Paulista


? UNIP como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

São Paulo, _______ de ______________________________ de 2023.

Prof.
UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP
DEDICATÓRIA

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus, que foi minha força durante todo esse processo. A minha
família que foi fundamental, e esteve ao meu lado em todos os momentos.
Ao meu orientador Gianfranco, por todo apoio e suporte. Aos meus professores que foram essenciais, e a
todos que contribuíram para a finalização desse ciclo.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, sem ele nada disso seria possível. Ao meu professor orientador
Gianfranco, que foi fundamental em todos os momentos desse período, em estar sempre solicito, pelas
orientações, pelas aulas incríveis e por reascender meu amor pelo direito civil.
Agradeço a minha família por estar sempre ao meu lado, me apoiando, dando forças e me incentivando a
me manter firme. Vocês foram fundamentais, vocês são a minha força e meu combustível para continuar.
Aos meus amigos, que estiveram sempre me incentivando, e fazendo com que esse processo se tornasse
mais leve. Aos meus colegas, que estiveram junto comigo, e entendem o significado da finalização desse
ciclo, que levo com muito carinho.
Aos meus professores, que além de contribuir para nos formar, estão nos transformando. A educação
muda nossas vidas. E, espero poder passar um pouco do que aprendi com cada um deles.
E por fim, agradeço a mim mesma. Não foi nada fácil, pensei por muitas vezes em desistir. Sofri e tive que
me reinventar inúmeras vezes para acompanhar todo esse processo. E proporcionalmente a toda
dificuldade, foi o meu processo de crescimento. De aprendizado, e evolução. Me sinto muito feliz em
chegar até aqui. A Barbara de 2019 com certeza está muito orgulhosa, é a realização de um sonho que
começou a 5 anos atrás.

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?Se você pode sonhar, você pode fazer.? ? Walt Disney

RESUMO

Tem-se como objetivo principal demonstrar que existem formas de abordagem mais benéficas para as
crianças e os adolescentes em acolhimento institucional do que os abrigos, mais conhecidos como
orfanatos. A razão é simples e cristalina: além da alta rotatividade de crianças e adolescentes nesses
locais, há também a rotatividade de funcionários, dificultando, assim, a criação de laços emocionais entre
as pessoas, e isso prejudica muito os jovens ao longo da vida. Além do benefício psicológico, é importante
demonstrar que através da Lei 12.010/09 inseriu o acolhimento familiar no Estatuto da Criança e do
Adolescente, permitindo legalmente que essa seja uma forma de acolhimento, e acima de tudo, que é
preferencial, em relação ao acolhimento institucional. Logo, se uma criança chega até o abrigo e tem
alguma família acolhedora que aceitaria acolher essa criança até ser adotada ou retornar para a família de
origem, esta irá para a casa da família ao invés de ficar no abrigo aguardando que a situação se resolva.
Será utilizado o método exploratório por pesquisa bibliográfica desenvolvida a partir do conteúdo
desenvolvido composto por livros, sites, artigos, teses, depoimentos pessoais, resumos e artigos
científicos.

Palavras-chave: Família acolhedora. Direito civil. Crianças. Estatuto da Criança e do Adolescente. Adoção.

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ABSTRACT

The main objective is to demonstrate that there are more beneficial approaches to children and
adolescents in institutional care than shelters, better known as orphanages. The reason is simple and
crystal clear: in addition to the high turnover of children and adolescents in these places, there is also a
turnover of employees, thus making it difficult to create emotional bonds between people, and this greatly
harms young people throughout their lives. In addition to the psychological benefit, it is important to
demonstrate that through Law 12.010/09, family foster care was included in the Child and Adolescent
Statute, legally allowing this to be a form of foster care, and above all, that it is preferential, in relation to
foster care. institutional. Therefore, if a child arrives at the shelter and there is a welcoming family that
would accept to welcome that child until they are adopted or return to their family of origin, they will go to
the family home instead of staying at the shelter waiting for the situation to be resolved. The exploratory
method will be used through bibliographical research developed from the content developed consisting of
books, websites, articles, theses, personal statements, summaries and scientific articles.

Keywords: Welcoming family. Civil right. Children. Child and Adolescent Statute. Adoption.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
A carência de conexões emocionais duradouras e a falta de estímulos apropriados resultam em prejuízos,
por vezes irreparáveis, para o progresso das crianças, afetando diversas áreas como o aspecto
psicológico, psicomotor, cognitivo e linguístico.
Particularmente durante a primeira infância, se uma criança não mantiver um vínculo sólido com um
cuidador principal ou se estiver envolvida em relações carentes de qualidade e estímulo, o
desenvolvimento do cérebro será grandemente prejudicado.
[1: RAYANE, Daniele Barbosa; SOUSA, Daniela Heitzmann Amaral Valentim de. PRIVAÇÃO AFETIVA E
SUAS CONSEQUÊNCIAS NA PRIMEIRA INFÂNCIA: UM ESTUDO DE CASO. Inter Scientia, vol. 6, Nº 2,
Ano 2018. Disponível em: https://periodicos.unipe.br/index.php/interscientia/article/download/721/601/.
Acesso em 03 de agosto de 2023.]
No Brasil, de acordo com informações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cerca de 5% das crianças e
adolescentes sob cuidado institucional estão sob os cuidados de Famílias Acolhedoras.
[2: BRASÍLIA. UNIDADES DE ACOLHIMENTO E FAMÍLIAS ACOLHEDORAS. Conselho Nacional de
Justiça, 2022. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2022/04/eixo4-primeira-infancia-
relatorio-final.pdf. Acesso em 03 de agosto de 2023.]
Os métodos predominantes na atualidade, como o acolhimento institucional (abrangendo abrigos e lares

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de acolhimento), apesar da presença de profissionais habilidosos e infraestrutura para suprir necessidades


básicas, frequentemente não conseguem estabelecer laços emocionais estáveis e duradouros que seriam
capazes de proporcionar ao acolhido os referenciais necessários para garantir um desenvolvimento pleno
em termos físicos, sociais e emocionais. Isso é em parte devido às características intrínsecas a esse
modelo, como a alta rotatividade de pessoas e a insuficiência de funcionários em relação ao número de
crianças, por exemplo.
Outra face a ser considerada no contexto do acolhimento institucional é a dificuldade em assegurar
plenamente o respeito pelas características individuais e necessidades específicas de cada acolhido, bem
como sua trajetória de vida. Isso resulta em questões relacionadas à construção de uma autoimagem
positiva, à preservação de sua saúde emocional e ao desenvolvimento abrangente. Além disso, o modelo
institucional de certa forma priva crianças e adolescentes da interação social e comunitária, prejudicando
sua futura adaptação à sociedade.
O Acolhimento Familiar, por sua vez, busca primordialmente o bem-estar da criança e do adolescente,
bem como o cumprimento das disposições legais vigentes.
Mas afinal, qual é o papel da família na vida de uma criança ou adolescente?
Conforme o artigo 227 da Constituição Federal:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.

O problema principal do presente trabalho gira em torno de demonstrar que o acolhimento institucional,
embora tenha raízes profundas, por ser utilizado há muitos anos, foi necessário olhar com outros olhos
para os jovens inseridos nesse modo de acolhimento para nova avaliação com o intuito de verificar se, de
fato, essa era a forma mais saudável de acolher crianças e jovens que já tiveram de sair de suas famílias
originárias.
Após tal estudo, foi possível verificar que a forma mais adequada, a fim de evitar danos psicológicos
maiores do que já não ter a sua família biológica presente, era o acolhimento familiar, para que pudessem
desenvolver de forma mais saudável.
Assim, inicialmente será abordado sobre a história da assistência familiar no Brasil, o que significa, como
se deu a formação familiar, como é a atual conjuntura e por qual motivo é tão importante que os jovens
tenham o apoio de suas famílias. Ainda no primeiro capítulo será falado sobre a Criação do Sistema Único
de Assistência Social (SUAS), e qual o papel dele perante a sociedade e, sobretudo, sobre os jovens.
Logo depois, no capítulo seguinte, será versado sobre quais são os direitos das pessoas menores de
idade, como são resguardados os seus direitos, se são, de fato, respeitados, e qual o papel do Estatuto da
Criança e do Adolescente diante dessa situação, principalmente face à problemática principal, que é o
acolhimento familiar, seja da família biológica ou da família que o acolhe apenas por um período, como
dito acima, além de falar sobre o direito à assistência social também.
Posteriormente, no terceiro capítulo, será exposto sobre os serviços de acolhimento existentes com o
objetivo de acolher os jovens: crianças e adolescentes. Aqui será falado também sobre o instituto da
família acolhedora, e quais são os incentivos criados para tornar-se uma delas.
No quarto capítulo e último capítulo, finalmente é dito sobre como a família acolhedora é benéfica para

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aqueles que são acolhidos, sobre como o vínculo afetivo pode mudar a vida desses jovens, sobre as
formas de adoção de crianças acolhidas nesses lares se dão e por fim, depoimentos de famílias
acolhedoras. Aqui, pode ser citado um exemplo: é um requisito não estar inscrito na fila de adoção para
ser uma família acolhedora, pois se assim fosse este processo, seria basicamente como ?furar fila? para
adotar uma criança mais rapidamente sem passar por todos os esquemas burocráticos.
Após, será apresentada a conclusão de todo o tema exposto ao longo do trabalho, e por fim, as
referências bibliográficas.

HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA FAMILIAR NO BRASIL


No Brasil, a prática de institucionalizar crianças e adolescentes remonta aos tempos da colonização. Sob a
influência do modelo europeu, a Igreja Católica assumiu a responsabilidade de cuidar de bebês e crianças
órfãos ou abandonados. No século XVIII, recém-nascidos eram frequentemente deixados de maneira
anônima nas chamadas rodas dos expostos ? mecanismos giratórios instalados nas paredes das Santas
Casas de Misericórdia. Essas crianças tinham pouca ou nenhuma interação com a comunidade, eram
completamente afastadas de suas famílias de origem e raramente retornavam ao convívio familiar.
No final do século XIX, surgiram educandários, reformatórios, internatos e orfanatos que atendiam a um
grande número de crianças e adolescentes, separados por sexo e faixa etária. Todas as atividades
ocorriam nas instalações dessas instituições, e os acolhidos tinham limitada interação com a comunidade
em termos de educação, saúde, lazer e profissionalização. A principal missão dessas instituições era
corrigir e controlar filhos de adultos pobres considerados incapazes de prover sua educação.
No século XX, enquanto ocorriam mudanças significativas no cenário internacional, como a Declaração de
Genebra sobre os Direitos da Criança adotada pela Liga das Nações Unidas em 1924 e a Declaração
Universal dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas em 1959, o Brasil aprovava o seu
primeiro Código de Menores em 1927, que permaneceu em vigor até a sanção de um segundo Código em
1979, com a Lei nº 6.697.
Pela primeira vez, o termo ?menor em situação irregular? foi introduzido na legislação para abordar
menores de 18 anos que estavam abandonados materialmente, sendo vítimas de maus-tratos, em risco
moral, desassistidos juridicamente, com desvios de conduta ou autores de infrações penais. No entanto, o
principal problema do código era a falta de distinção entre menores infratores e aqueles que eram vítimas
da pobreza, abandono e maus-tratos.
O grande marco ocorreu em 1988 com a aprovação da Constituição da República Federativa do Brasil,
que reconheceu as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, sem qualquer forma de distinção. A
Doutrina da Proteção Integral foi incorporada ao artigo 227 da Constituição, que estabelece:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com


absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Nos anos 1990, houve a introdução de novas legislações que priorizaram a infância no Brasil, incluindo a
Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O ECA

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trouxe inovações ao estabelecer a prioridade absoluta no orçamento público para a implementação de


políticas voltadas para crianças e adolescentes. Embora a porcentagem do orçamento destinada a essa
finalidade tenha sido ampliada ao longo dos anos, as disposições do ECA, que apresentaram um novo
formato para a política de atendimento à infância e juventude, ainda não estão plenamente implementadas
até os dias atuais.
A partir de 1999, começou a ser desenvolvido um abrangente Sistema de Garantia de Direitos da Criança
e do Adolescente, visando efetivar a proteção em todas as dimensões. Nesse contexto, iniciativas de
acolhimento em famílias acolhedoras começaram a surgir, ganhando força principalmente a partir da
metade dos anos 2000.
Em 2001, uma caravana da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados realizou visitas a
serviços de acolhimento institucional em oito estados e no Distrito Federal. Essas visitas tinham o
propósito de avaliar a difícil realidade enfrentada nos espaços de acolhimento, evidenciando o flagrante
desrespeito ao direito à convivência familiar e comunitária, bem como aos princípios estabelecidos no ECA
.
No ano subsequente, o Colóquio Técnico sobre a Rede Nacional de Abrigos, que reuniu representantes do
poder público, da sociedade civil e do UNICEF, estimulou a realização de uma pesquisa nacional sobre
crianças e adolescentes em serviços de acolhimento. Com recursos do Conselho Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente (Conanda), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) conduziu uma
análise abrangendo 589 abrigos, nos quais mais de 19 mil crianças e adolescentes eram atendidos.
[3: IPEA. MISÉRIA E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA COMPROMETEM A CONVIVÊNCIA FAMILIAR. Ipea.
Disponível em: https://www.ipea.gov.br/acaosocial/article283f.html?id_article=88. Acesso em 02 de
outubro de 2023.]
Essa pesquisa marcou um ponto de inflexão. Os resultados evidenciaram que a maioria das crianças e
adolescentes, mesmo tendo família (portanto, não sendo órfãos ou abandonados), permanecia em
acolhimento institucional por longos períodos. Além disso, os principais motivos para o acolhimento
estavam relacionados à pobreza, o que representava uma séria violação de direitos. Conforme a
Constituição Federal de 1988 (artigos 226 e 227) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
nenhuma criança deveria ser afastada de sua família devido à pobreza.
Em 2005, durante o II Colóquio Internacional de Acolhimento Familiar realizado em Campinas (SP), surgiu
o Grupo de Trabalho Nacional Pró-Convivência Familiar e Comunitária, uma iniciativa conjunta da
Associação Brasileira Terra dos Homens (ABTH) e do UNICEF, em parceria com o então Ministério de
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e a então Secretaria Especial dos Direitos Humanos
(SEDH). O GT foi estabelecido com o propósito de aprofundar as discussões relacionadas ao direito à
convivência familiar e comunitária, bem como de disseminar experiências inovadoras e diferentes
modalidades de acolhimento, como o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (SFA).
A partir de reuniões promovidas pelo GT em diversas regiões do país, emergiu um movimento nacional
que viabilizou um amplo intercâmbio entre especialistas brasileiros, visando promover e engajar atores
locais. Esse movimento culminou no lançamento do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do
Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária em 2006.
Em 2009, uma conquista significativa ocorreu: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi alterado
para incluir, pela primeira vez, o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora como uma instituição
jurídica. Posteriormente, o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) e a Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) conduziram o Levantamento Nacional de Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento.
Esse estudo identificou a existência de 144 Serviços em Família Acolhedora, com 932 crianças e

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adolescentes acolhidos, representando somente 2,5% do total de 36.929 crianças e adolescentes


acolhidos em 2.624 unidades de acolhimento institucional.
A partir de 2012, essas informações passaram a ser monitoradas anualmente, utilizando o Censo SUAS (
Sistema Único de Assistência Social). O dado mais recente disponível, referente a 2019, indicou a
existência de 381 SFAs, abrigando 1.535 crianças e adolescentes (correspondendo a 4,9% do total de
crianças e adolescentes acolhidos, sendo que 29.998 deles estavam em 2.801 serviços de acolhimento
institucional).

CRIAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SUAS)


A Constituição Federal de 1988, conforme destacado anteriormente, ofereceu oportunidades para o
avanço das políticas sociais no Brasil, incorporando algumas demandas da classe trabalhadora e
estabelecendo a assistência social como uma política pública de responsabilidade do Estado.
Ao longo dos anos, a assistência social no Brasil tem buscado superar um modelo arcaico de assistência
social que perpetua a subordinação e a dependência dos usuários dos serviços sociais em relação às
ações do Estado e de entidades filantrópicas. Em vez disso, ela visa estabelecer uma nova prática
baseada na consolidação de direitos. Nesse contexto, a criação do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS) representa um passo significativo nessa direção.
O SUAS foi aprovado em julho de 2005 pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) por meio da
Norma Operacional Básica nº 130 (NOB nº 130). Essa conquista decorreu dos esforços e da luta da
sociedade civil organizada, bem como de profissionais e estudiosos da política de assistência social. A IV
Conferência de Assistência Social, realizada em Brasília/DF, desempenhou um papel fundamental na
formulação do SUAS, marcando um importante marco em sua construção e legitimação no contexto da
assistência social.
A fim de progredir nesse sentido, a sociedade brasileira requer um sistema que vá além de interesses
específicos, capacitando a assistência social a se consolidar como uma política pública. Esse sistema
deve traduzir os princípios da Lei Orgânica em ações concretas e coesas, rompendo com as práticas
tradicionais fragmentadas e descontínuas que têm caracterizado a assistência social no país.
O SUAS, alinhado com as diretrizes e princípios da PNAS, apresenta-se com a missão central de romper
significativamente com a história de serviços sócioassistenciais precários e focalizados, particularmente no
que diz respeito aos recursos humanos e materiais. Este sistema propõe uma nova abordagem para o
campo da assistência social no Brasil, reformulando fundamentalmente as suas práticas e
responsabilidades.
[4: PAIVA, B. A. O SUAS E OS DIREITOS SOCIOASSISTENCIAIS; A UNIVERSALIDADE DA
SEGURIDADE SOCIAL EM DEBATE. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, ano XXVI, Especial, nº 87,
2009.]
Seu objetivo primordial é coordenar a política de assistência social por meio da colaboração entre os três
níveis de governo: municípios, estados e União. Este modelo de gestão é descentralizado e participativo,
atribuindo a cada nível de governo a responsabilidade pela implementação da Política de Assistência
Social em suas áreas de atuação.
O SUAS promove uma reformulação institucional na assistência social, com a descentralização dos
serviços para o âmbito municipal, priorizando a realidade local, a territorialidade e as especificidades de
cada região.
A descentralização política e administrativa, bem como a participação, são princípios de organização da

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assistência social definidos pela LOAS e pela Constituição Federal de 1988. Esses princípios foram
incorporados pela PNAS e transmitidos ao SUAS como elementos estruturais. Eles valorizam o poder local
e a participação popular como fundamentos da prática democrática, recuperando um modelo democrático
após décadas de autoritarismo.
A descentralização se reflete em avanços a nível municipal, como a criação de secretarias dedicadas à
assistência social na maioria dos municípios do país, totalizando mais de 4.500 em todos os estados
brasileiros e no Distrito Federal. Esse número demonstra a significativa capacidade de estabelecimento e
assimilação progressiva de conceitos, procedimentos técnicos e operacionais uniformes e coordenados
para a prestação de serviços sociais, financiamento e gestão da política de assistência social. Antes
subordinadas a outras secretarias ou mesmo aos gabinetes dos governantes, a presença de uma
secretaria autônoma confere um novo status à política de assistência social, permitindo-lhe maior
autonomia em relação a outras áreas do governo.
[5: BRASIL. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO E COMBATE À FOME. DESAFIOS DA GESTÃO DO
SUAS NOS MUNICÍPIOS E ESTADOS. Instituto de Estudos Especiais da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. Capacita Suas v.2. Brasília: MDS, 2008.]
A descentralização traz consigo a ênfase na participação. A criação de canais de participação e controle
social é um processo em desenvolvimento na PNAS e, consequentemente, no SUAS. Esse processo visa
a estabelecer uma ?intermediação dos interesses organizados e da luta pela efetivação dos direitos
sociais?, com o objetivo de fomentar a participação efetiva da sociedade na formulação e no
acompanhamento das políticas sociais. Atualmente, as Conferências de Assistência Social e os Conselhos
de Assistência têm sido os espaços que mais oportunizam à sociedade civil organizada uma voz ativa.
[6: COUTO, B. R; et. al. (Coord.). O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL: UMA
REALIDADE EM MOVIMENTO. São Paulo: Cortez, 2010. p. 119.]
A participação social é considerada um dos elementos mais relevantes da estrutura do SUAS. A criação
de mecanismos de controle social reflete uma nova perspectiva e amadurecimento na relação entre o
Estado e a sociedade, na qual o Estado reconhece a importância do controle exercido pela sociedade
sobre suas ações, algo impensável nos anos de ditadura no país. No entanto, é essencial que essa
participação seja qualificada e adquira novo significado, especialmente nas unidades responsáveis pela
operacionalização dos serviços sociais, com a presença efetiva dos usuários da política.
Além dessas duas diretrizes, o SUAS é fundamentado na centralidade da família, assim como a PNAS, no
que diz respeito à concepção e implementação dos benefícios, programas e serviços de assistência social
. A abordagem centrada na família desloca o foco do indivíduo isolado para o núcleo familiar, ou seja,
passa a priorizar o atendimento à família em suas diversas configurações, a fim de fortalecer a capacidade
de enfrentamento das necessidades sociais.
[7: SANTOS, A. C. A; et al. E A FAMÍLIA, COMO VAI? UM OLHAR SOBRE OS PROGRAMAS DE
TRANSFERÊNCIA DE RENDA NO BRASIL SOB A ÓTICA DA FAMÍLIA. In: Estudos de Política e Teoria
Social. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Praia Vermelha, nº 18, 2008. p. 30-45.]

OS DIREITOS DE INDIVÍDUOS MENORES DE IDADE: A CRIAÇÃO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE
A Lei Federal nº 8.069/1990, amplamente reconhecida como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA

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), representa o marco legal e regulatório dos direitos humanos de crianças e adolescentes no Brasil.
Promulgada em 13 de julho de 1990, essa lei resultou de um extenso processo de debate democrático
liderado por movimentos sociais, organizações, coalizões e diversos membros da sociedade civil, bem
como instituições que buscavam conscientizar e garantir o respeito aos direitos de crianças e adolescentes
como sujeitos detentores de direitos.
O ECA trouxe uma mudança de paradigma significativa, pois foi a primeira legislação na América Latina a
adotar a doutrina da proteção integral. Ela se inspirou na Declaração Universal dos Direitos da Criança de
1979 e na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, que foram aprovadas pela Organização
das Nações Unidas (ONU) em 1989.
Como João Batista Costa Saraiva destacou, o Estatuto desfez a ideia de ?menor como objeto do processo
? e introduziu uma transformação paradigmática, reconhecendo a criança e o adolescente como sujeitos
de direitos, participantes ativos, e cidadãos em pleno direito.
[8: SARAIVA, João Batista Costa. ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI: DA INDIFERENÇA À
PROTEÇÃO INTEGRAL: UMA ABORDAGEM SOBRE A RESPONSABILIDADE PENAL JUVENIL. Porto
Alegre, Livro do Advogado, 2013. p. 37.]
A Lei 8.069/1990 estabelece a doutrina da proteção integral como princípio fundamental e determina que é
responsabilidade da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público garantir, com
prioridade absoluta, a efetivação dos direitos desses jovens em áreas como vida, saúde, alimentação,
educação, esporte, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e
comunitária.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabeleceu a proteção integral por meio dos seus 267
artigos, apresentando uma carta abrangente de direitos fundamentais para a infância e a juventude.
Segundo o documento, uma criança é considerada como aquela que tem até 12 anos de idade
incompletos, enquanto um adolescente é definido como alguém com idade entre 12 e 18 anos.
Entre as contribuições significativas do ECA, além de reconhecer crianças e adolescentes como
detentores de direitos, destacam-se a criação do Conselho Tutelar, responsável por defender e proteger
os direitos desses jovens, bem como os Conselhos de Direitos da Criança em níveis nacional, estadual e
municipal. Estes conselhos têm o papel de formular políticas para crianças e adolescentes em suas
respectivas esferas de atuação.
Ao longo das últimas três décadas, diversas melhorias foram incorporadas ao ECA, incluindo a Lei do
Sistema Nacional Socioeducativo (Sinase), que regula a execução de medidas socioeducativas, a Lei da
Primeira Infância, que exige a implementação de políticas específicas para os primeiros anos de vida, e a
Lei da Adoção, que detalha os procedimentos relacionados à adoção. É importante ressaltar que a partir
dos 12 anos, os adolescentes que cometem atos infracionais são responsabilizados, mas com garantias
de devido processo legal, contraditório e ampla defesa.
Apesar desses avanços, desafios persistem. É fundamental continuar trabalhando na implementação
integral do ECA e leis relacionadas, com a criação de políticas públicas que assegurem efetivamente
direitos fundamentais, como educação de qualidade, assistência médica, moradia, alimentação,
convivência familiar e comunitária, cultura, esporte, lazer, entre outros.
O Estatuto da Criança e do Adolescente continua sendo reconhecido como um dos mais avançados do
mundo, destacando-se por sua abordagem centrada na proteção integral. Essa importância reside no
reconhecimento de que crianças e adolescentes são sujeitos de direito, atravessando um período crucial
de desenvolvimento físico, psicológico, moral e social, merecendo, com prioridade absoluta, uma proteção
completa.

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A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E À ASSISTÊNCIA


SOCIAL
A prática da adoção de crianças e adolescentes, conforme estabelecida no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), é considerada uma medida de proteção que tem como principal objetivo garantir o
direito das crianças e adolescentes à convivência em um ambiente familiar e comunitário que proporcione
um crescimento saudável, fornecendo condições adequadas para o desenvolvimento físico, cognitivo e
social. A família é, portanto, o primeiro contexto no qual a criança se desenvolve como membro da
sociedade, desempenhando um papel fundamental na mediação entre os indivíduos e as normas, regras e
valores da sociedade. Ela é responsável pela garantia e efetivação dos direitos das crianças e
adolescentes a vida, proteção e desenvolvimento de habilidades humanas, proporcionando as condições
materiais e humanas necessárias para o seu crescimento.
No entanto, Bruschini destaca a importância de questionar a noção de família como algo natural, uma vez
que essa categoria é uma construção humana mutável, cultural e historicamente influenciada. De acordo
com Simões, a família não deve mais ser restrita a modelos preestabelecidos, mas sim definida como
qualquer ambiente onde o indivíduo se sinta acolhido, desenvolvendo laços de afeto e confiança. Portanto
, a definição de família deve basear-se na existência de vínculos afetivos, não limitando-se apenas aos
laços de consanguinidade.
[9: BRUSCHINI, Cristina. TEORIA CRÍTICA DA FAMÍLIA. In: AZEVEDO, Maria Amélia; GUERRA, Viviane
Nogueira de Azevedo (Org.). Infância e violência doméstica: fronteiras do conhecimento. 3. ed. São Paulo
: Cortez: 2000.][10: SIMÕES, Carlos. CURSO DE DIREITO DE SERVIÇO SOCIAL. São Paulo: Cortez,
2008.]
Nessa perspectiva, de acordo com a legislação brasileira, é importante enfatizar que as relações
estabelecidas no âmbito familiar são mais importantes do que as configurações familiares em si. Isso
ocorre porque as funções de proteção e socialização podem ser desempenhadas em uma variedade de
arranjos familiares e contextos socioculturais. Dessa forma, a propensão é rejeitar qualquer noção
preconcebida de um modelo familiar ?normal?.
[11: BRASIL. PLANO NACIONAL DE PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E DEFESA DO DIREITO DE
CRIANÇAS E ADOLESCENTES À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA. 2006. p. 29.]
Conforme a visão de Paiva:
[12: PAIVA, Leila Dutra. ADOÇÃO: SIGNIFICADOS E POSSIBILIDADES. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2004. pp. 65-66.]

[...] a dificuldade, ainda hoje, parece ser o reconhecimento de que a família, em si mesma, é uma criação
cultural que pode ou não estar fundada em laços biológicos. A adoção tem representado, há muito tempo,
a possibilidade de formar uma família assentada não na biologia, mas na cultura.

É importante ressaltar que a família, como um grupo social, é um espaço onde as contradições sociais se
manifestam e, portanto, também é suscetível a expressões da questão social. No Brasil, um grande
número de famílias encontra-se em situação de pobreza e miséria. Essas condições dificultam ou
impedem que elas desempenhem suas funções de proteção e cuidado em relação aos seus filhos,

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resultando na negação de seu espaço de humanização.


Essa desumanização do espaço familiar é afetada por várias questões, principalmente o desemprego e a
falta de acesso à riqueza materialmente produzida. Conforme destacado por Kaloustian, essa situação de
desumanização do espaço familiar está diretamente ligada à situação de pobreza e ao perfil de
distribuição de renda no país.
[13: KALOUSTIAN, Sílvio Manoug (Org.). FAMÍLIA BRASILEIRA: A BASE DE TUDO. 7. ed. São Paulo:
Cortez; Brasília: Unicef, 2005. p. 12.]
Consequentemente, na sociedade atual, observa-se que milhares de famílias não têm as condições
necessárias para cumprir suas funções legalmente e socialmente atribuídas. Esse contexto sociofamiliar
frequentemente resulta em situações de negligência, abandono e institucionalização de crianças e
adolescentes. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, em um levantamento nacional
dos abrigos da Rede de Serviços de Ação Continuada (Rede SAC), cerca de 20 mil crianças vivem nos
589 abrigos pesquisados em todo o Brasil, privadas de seus direitos fundamentais à convivência familiar.
[14: IPEA ? Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E
COMUNITÁRIA: OS ABRIGOS PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL. Brasília, 2004.]
Diante desse cenário, a discussão sobre a família tem se intensificado, uma vez que ela é reconhecida
como uma instituição central na sociedade. A família desempenha funções cruciais no cuidado e proteção
de seus membros, mas enfrenta dificuldades em cumprir plenamente essas funções, o que tem levado a
um reconhecimento especial por parte do Estado e da sociedade.
Nesse contexto, a família é considerada a célula base da sociedade brasileira, conforme estipula a
Constituição Federal de 1988, eu seu artigo 226: ?A família, base da sociedade, tem especial proteção do
Estado?.
A família é entendida como um local de convivência de indivíduos, unidos por laços consanguíneos,
afetivos ou de confiança. Segundo Simões, nesse espaço, desenvolve-se e mantém-se o sentimento de
pertencimento e identidade social, bem como a transmissão de valores e comportamentos pessoais.
[15: SIMÕES, Carlos. CURSO DE DIREITO DE SERVIÇO SOCIAL. São Paulo: Cortez, 2008. p. 190.]
No Brasil, esse reconhecimento é fundamentado na Constituição Federal de 1988, no Estatuto da Criança
e do Adolescente, na Política Nacional de Assistência Social, e no Plano Nacional de Promoção, Proteção
e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. No entanto, é
fundamental que essas garantias saiam do papel e sejam efetivamente implementadas na prática.
Para alcançar esse objetivo, é fundamental que o Estado e a sociedade protejam os grupos familiares em
diversas configurações que enfrentam condições de empobrecimento. Nesse contexto, o Estado deve
garantir o acesso aos direitos universais para as famílias, o que, por sua vez, resulta na proteção dos
direitos das crianças e dos adolescentes. Famílias que possuem acesso a esses direitos, juntamente com
outros, têm melhores condições para cumprir suas funções de cuidado, afeto e socialização, além de
superar possíveis situações de vulnerabilidade.
[16: JUNQUEIRA, Maíz Ramos; SERRES Jamille de Freitas. ADOÇÃO PELOS CAMINHOS LEGAIS:
RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA. Textos & Contextos (Porto Alegre), Porto Alegre, v. 9, n. 1, p. 182-192,
jan./jun. 2010.]
A contradição central na questão do abandono de crianças e adolescentes reside nesse ponto, sendo uma
dinâmica da questão social. As famílias que, devido às condições da realidade social, não conseguem
cumprir suas funções acabam negligenciando e abandonando seus filhos, tornando-se destinatárias das
políticas sociais compensatórias. Entretanto, essas políticas frequentemente se mostram insuficientes para
atender à grande demanda social e para atender eficazmente aqueles a quem se destinam. Diante

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dessas condições objetivas, é importante examinar como o trabalho social tem evoluído no campo dos
direitos das crianças e dos adolescentes à convivência familiar e comunitária, considerando seus limites e
possibilidades.
[17: SILVA, Simone Regina Medeiros. ABANDONO: UMA AGRESSÃO AOS DIREITOS DA CRIANÇA. In
: FREIRE, Fernando. Abandono e adoção: contribuições para uma cultura de adoção. São Paulo: Terre de
Hommes, 2001.]

OS SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO DESTINADOS À CRIANÇAS E ADOLESCENTES


Para abordar inteiramente este tema, é crucial abordar a história do acolhimento desde suas origens e
discutir as principais transformações influenciadas por fatores sociais, culturais e econômicos.
A prática de institucionalização de crianças e adolescentes de famílias de classes populares tem raízes
que remontam ao período inicial da colonização brasileira.
O programa de acolhimento familiar formalmente surgiu no Brasil na década de 1990. Ele trouxe consigo
reflexões alternativas em relação à institucionalização infantil, buscando meios para reintegrar a criança à
sua família e, sobretudo, promover a inclusão dessa família na sociedade.
Foi somente com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069 de 13 de julho de
1990, que crianças e adolescentes passaram a ser reconhecidos como sujeitos de direito, em uma
condição peculiar de desenvolvimento. Esses direitos fundamentais, conforme estabelecido pelo artigo 227
da Constituição Federal, englobam o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
protegendo-os contra todas as formas de negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão.
A partir do Estatuto da Criança e do Adolescente, o encaminhamento para os serviços de acolhimento
passou a ser concebido como uma medida protetiva, de caráter excepcional e temporário, que visa
primordialmente ao superior interesse da criança e do adolescente.
Antes da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, muitos internatos e orfanatos
desempenhavam o papel de cuidar das crianças, frequentemente tratando-as como se fossem
abandonadas. A perspectiva predominante não considerava os direitos das crianças e dos adolescentes.
No contexto brasileiro, a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990
são exemplos de marcos legais que estabelecem de forma explícita a importância da convivência familiar
e comunitária para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. O ECA é amplamente reconhecido
internacionalmente como um instrumento jurídico orientador para o atendimento digno de crianças e
adolescentes.
A convivência familiar sempre ocupou uma posição de destaque no Estatuto da Criança e do Adolescente
. O papel da família é considerado um elemento indispensável nos processos de proteção e
desenvolvimento, e o ECA estabeleceu que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos em uma
condição peculiar de desenvolvimento.
O artigo 15 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe:

A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em
processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na
Constituição e nas leis.

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Quando a separação do ambiente familiar de uma criança ou adolescente se torna necessária, é


apropriado que ela seja acolhida em outro ambiente familiar de forma temporária, ao mesmo tempo em
que se desenvolve um trabalho com sua família de origem. Nesse contexto, é fundamental realizar ações
que facilitem a reintegração da criança ao seu núcleo familiar.

AS FORMAS E MEDIDAS DE ACOLHIMENTO EXISTENTES


Os serviços de acolhimento têm a finalidade de receber crianças e adolescentes que estejam sujeitos a
medidas protetivas determinadas pelo poder judiciário, em decorrência de violações de seus direitos, como
abandono, negligência ou violência, ou quando a família não é capaz de fornecer o cuidado e proteção
necessários.
É importante destacar que o afastamento da criança ou adolescente de sua família deve ser uma medida
excepcional e só deve ser aplicada em situações de grave risco para sua integridade física e/ou
psicológica. O principal objetivo é garantir que esses jovens possam retornar com segurança ao convívio
familiar, priorizando a família de origem sempre que possível, e recorrendo à família substituta somente
em casos excepcionais, por meio de procedimentos legais, como adoção, guarda ou tutela.
O serviço de acolhimento deve focar na preservação e no fortalecimento das relações familiares e
comunitárias das crianças e adolescentes. O atendimento deve ser individualizado e oferecido a grupos
reduzidos, garantindo espaços privados para guardar objetos pessoais e registros relacionados à história
de vida e ao desenvolvimento de cada criança e adolescente.
Em 2004, uma pesquisa realizada pelo Ipea e pelo Conanda sobre a situação dos abrigos para crianças e
adolescentes revelou a persistência de violações de direitos, que se mantinham muito aquém do que era
preconizado pelo ECA, mesmo mais de uma década após sua promulgação. Essas constatações
enfatizaram a importância de redirecionar a discussão para a observância dos princípios que ressaltam a
natureza temporária e excepcional das medidas de acolhimento. Segundo esses princípios, a separação
de uma criança ou adolescente de sua família deve ser breve e apenas adotada quando estritamente
necessária para garantir o superior interesse da criança. Portanto, é fundamental preservar e fortalecer os
laços familiares e, quando não houver alternativas viáveis, promover a colocação do acolhido em um
processo de adoção.
[18: SILVA, E. R. A. (Org). O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA: OS ABRIGOS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL. Brasília: Ipea/Conanda, 2004.]
Esse contexto levou à elaboração do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de
Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC) em 2006, que contou com a
participação de representantes do governo e da sociedade civil. Aprovado por meio da Resolução
Conanda/CNAS nº 1/2006, o PNCFC é uma iniciativa de natureza transversal e intersetorial que envolve
não apenas os órgãos do Poder Executivo, mas também outros atores que fazem parte do Sistema de
Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente (SGD). Isso inclui instituições como o Judiciário e o
Ministério Público. As diretrizes estabelecidas pelo PNCFC demandaram uma revisão das práticas das
instituições que administravam os serviços de acolhimento, impulsionando uma reorganização desses
serviços sob a responsabilidade da política de assistência social, seja na forma institucional ou por meio
do acolhimento familiar.
No entanto, é importante ressaltar que a ampla cobertura populacional não garante que o serviço de
acolhimento seja amplamente disponível, especialmente nos municípios de menor porte. Na verdade, a

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maioria dos 3.560 municípios que não ofereciam esse serviço em 2018 era composta em sua maioria por
municípios de pequeno porte I (86,0%) e pequeno porte II (12,8%).
[19: LICIO, E. C; et. al. REORDENAMENTO DOS SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES E IMPLEMENTAÇÃO DE NOVAS MODALIDADES ? FAMÍLIA ACOLHEDORA E
REPÚBLICAS. Brasília: Ipea, 2021. No prelo.]
Em que pese às formas de acolhimento, há diferentes formas, quais sejam:
O acolhimento institucional para Crianças e Adolescentes pode ser disponibilizado em dois tipos de
unidades:
Abrigo: Este é um serviço de acolhimento provisório que pode abrigar até 20 crianças e adolescentes em
cada unidade. Deve ser projetado para se assemelhar a uma residência com uma localização na
comunidade, preferencialmente em áreas residenciais. O ambiente deve ser acolhedor e oferecer
condições institucionais que atendam a padrões de dignidade.

Casa-Lar: Este é um serviço de acolhimento provisório que é oferecido em unidades residenciais e tem
capacidade para acomodar no máximo 10 crianças e adolescentes por unidade. Nestas casas, pelo menos
uma pessoa ou um casal trabalha como educador/cuidador residente, prestando cuidados a um grupo de
crianças e adolescentes que foram afastados de seus ambientes familiares. Importante notar que a casa-
lar não é a residência do educador/cuidador, mas um local separado para abrigar as crianças e
adolescentes.
O acesso ao acolhimento institucional para Crianças e Adolescentes é estabelecido por decisão do Poder
Judiciário e por solicitação do Conselho Tutelar. A autoridade competente deve ser notificada, conforme
previsto no Artigo 93 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Art. 93. As entidades que mantenham programa de acolhimento institucional poderão, em caráter
excepcional e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação da autoridade
competente, fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da Infância e da
Juventude, sob pena de responsabilidade.
Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público e se
necessário com o apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas necessárias para promover a
imediata reintegração familiar da criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for isso possível
ou recomendável, para seu encaminhamento a programa de acolhimento familiar, institucional ou a família
substituta, observado o disposto no § 2 o do art. 101 desta Lei.

No que tange à acolhimento em república para jovens egressos de outros serviços de acolhimento, trata-
se de um serviço destinado principalmente a jovens que passaram anteriormente por serviços de
acolhimento para crianças e adolescentes. Ele oferece apoio e moradia a jovens com idades entre 18 e 21
anos. Cada unidade de acolhimento pode abrigar até 6 pessoas. O objetivo deste serviço é promover a
autonomia gradual dos residentes, incentivando a independência deles ao operar em um sistema que
permite que os moradores tomem decisões conjuntas sobre o funcionamento da unidade.
O acesso a esse serviço pode ser realizado por meio de encaminhamento do Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (CREAS), do Serviço de Abordagem Social e de outros serviços ou
políticas públicas relacionadas. Além disso, é possível acessá-lo por demanda espontânea, ou seja, os
próprios jovens ou suas famílias podem buscar esse serviço diretamente. Para obter mais informações e
orientações sobre como acessar o acolhimento em república, entre em contato com o CREAS ou o órgão

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competente em sua região.


No que cabe ao acolhimento em Família Acolhedora, este é um serviço que organiza o acolhimento de
crianças ou adolescentes em residências de famílias acolhedoras cadastradas. Para integrar esse serviço
, as famílias interessadas devem passar por um processo de seleção, capacitação e acompanhamento.
Esse serviço oferece atendimento em um ambiente familiar, garantindo uma abordagem individualizada e
oportunidades de convivência comunitária. Cada Família Acolhedora acolhe uma criança ou adolescente
por vez, a menos que se trate de um grupo de irmãos que possa ser acolhido conjuntamente.
Para obter informações detalhadas, recomenda-se entrar em contato com a Secretaria de Assistência
Social do município do interessado. Eles poderão orientar sobre os procedimentos e requisitos
necessários para o acesso a esses serviços.

O VÍNCULO AFETIVO CRIADO E A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA ACOLHEDORA COMO INSTRUMENTO


DE PROTEÇÃO
Muitas pessoas, ao se depararem com a ideia do acolhimento familiar, levantam a questão de se
estabelecer vínculos em uma situação transitória pode ser prejudicial para as crianças e/ou adolescentes
em acolhimento. O senso comum sugere que criar laços com alguém que não estará sempre presente
pode causar sofrimento, sendo potencialmente desvantajoso tanto para o adulto que cuida quanto para a
criança ou adolescente em acolhimento. No entanto, pesquisas em diversas áreas do desenvolvimento
humano vêm apresentando resultados que apontam exatamente o contrário.
O afeto desempenha um papel tão essencial no desenvolvimento humano quanto fatores como uma boa
alimentação, sono adequado e hidratação. A ausência de afeto, de contato físico e de interações com
figuras de referência é altamente prejudicial para o crescimento de crianças e adolescentes, e até mesmo
para o bem-estar dos adultos. Mesmo que o acolhimento seja uma medida temporária, é fundamental que
a criança ou adolescente seja inserido em um ambiente que lhes permita cultivar um senso de
pertencimento, segurança e confiança nos adultos ao seu redor.
A falta de atenção e carinho por parte dos cuidadores, a vivência em um ambiente institucional com alta
rotatividade de educadores ou a negligência de suas necessidades podem resultar em fenômenos como o
?desamparo aprendido? (quando a pessoa tolera estímulos e situações aversivas por não conseguir evitá-
los) e ?estresse tóxico?. Essas condições podem impactar o funcionamento cerebral e a forma como a
criança ou adolescente desenvolve suas habilidades interpessoais, inclusive na vida adulta.
Numerosos estudos científicos corroboram os benefícios de um desenvolvimento social, emocional e
cognitivo mais saudável para crianças e adolescentes que passam pelo acolhimento em famílias
acolhedoras, em comparação com o acolhimento institucional. Essas pesquisas reforçam a conclusão de
que laços afetivos, um ambiente seguro e estímulos são fundamentais na vida de crianças e adolescentes
, assim como a oportunidade de conviver em uma comunidade, que essa forma de atendimento oferece.
A pesquisa ?Órfãos da Romênia?, conduzida pelo Hospital de Crianças de Boston, vinculado à
Universidade de Harvard, evidencia que a ausência de vínculos afetivos duradouros e a falta de atenção
às necessidades individuais em instituições de acolhimento podem acarretar prejuízos significativos no
desenvolvimento integral de bebês. O estudo revela que, para cada ano que um bebê passa em uma
instituição, sem estabelecer vínculos afetivos estáveis e sem receber atenção adequada às suas
necessidades individuais, pode haver um atraso de até quatro meses em seu desenvolvimento global.
[20: VIDA, O começo da. O CASO DOS ÓRFÃOS DA ROMÊNIA. O começo da vida. Disponível em: https
://ocomecodavida.com.br/o-caso-dos-orfaos-da-romenia/. Acesso em 18 de outubro de 2023.]

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Essa pesquisa concentrou-se em crianças abrigadas em instituições na Romênia após a Segunda Guerra
Mundial, particularmente durante os primeiros anos de suas vidas, e identificou déficits cognitivos
consideráveis. Essa investigação, de caráter longitudinal, teve início em 2000 e incluiu acompanhamento
regular com a realização de eletroencefalogramas (EEGs) para mapear a atividade cerebral de crianças
que passaram por diferentes configurações de cuidado (institucionalização, acolhimento familiar e
convivência em famílias sem intervenção do Estado).
Embora tenha sido realizada em um contexto substancialmente distinto do que observa-se no Brasil
atualmente, esse estudo oferece subsídios relevantes para reflexões acerca da importância dos cuidados
individualizados na primeira infância, especialmente no contexto das medidas de proteção relacionadas ao
acolhimento.
A Teoria do Apego, proposta pelo renomado psicólogo e psiquiatra britânico John Bowlby, se desenvolveu
a partir de suas observações e reflexões sobre a separação precoce de bebês de suas figuras de cuidado
primárias. Essa teoria enfatiza a relevância de uma figura de apego estável para prover cuidados à criança
, principalmente nos primeiros três anos de vida. A continuidade e a estabilidade dessa relação (que pode
envolver pais, mães, familiares ou qualquer adulto capaz de fornecer apoio afetivo) exercem um impacto
significativo no desenvolvimento social e psicológico da criança, uma vez que esse período influencia de
maneira profunda suas futuras interações sociais.
Diante dessa perspectiva, o acolhimento em famílias acolhedoras se configura como um espaço
fundamental de cuidado, pois prioriza a qualidade e a consistência das relações estabelecidas com a
criança, alinhando-se com os princípios da Teoria do Apego e valorizando o impacto positivo de relações
afetivas duradouras em seu desenvolvimento.
A primeira infância, compreendida como o período que se estende desde a gestação até os seis anos de
idade, assume uma importância crucial para o desenvolvimento humano. Isso se deve ao fato de que é
nessa fase que se estabelece a base de conexões neuronais que irão sustentar as aquisições posteriores
nos âmbitos psicomotor, cognitivo e social. Em termos mais simples, é durante esse intervalo que se
delineia a arquitetura cerebral que influenciará o desenvolvimento da criança ao longo de sua vida.
Consequentemente, é fundamental proporcionar às crianças pequenas, além dos cuidados básicos, como
higiene e alimentação, interações físicas, afeto e atenção individualizada. Esses elementos contribuem
para a formação da individualidade da criança, a aquisição da linguagem e o estabelecimento das bases
de sua interação com a sociedade.
Contudo, é relevante ressaltar que o acolhimento em famílias acolhedoras não beneficia somente as
crianças na primeira infância. Pessoas de todas as faixas etárias colhem benefícios significativos de
relacionamentos estáveis, afetivos e orientados para o indivíduo, proporcionados por ambientes familiares
. Na adolescência, por exemplo, um ambiente seguro e estável favorece a navegação pelas
transformações e pelo processo de amadurecimento. Durante esse período, ocorre a consolidação da
identidade e o desenvolvimento da autonomia dos jovens, e um ambiente de acolhimento familiar pode
desempenhar um papel valioso nesse processo. Isso se torna particularmente relevante quando esses
jovens deixam o sistema de acolhimento ao atingir a maioridade, aos dezoito anos, e enfrentam novos
desafios na busca de sua independência.
Fornecer experiências de apego, mesmo que temporárias, não é apenas desejável, mas essencial para
um acolhimento eficaz. As crianças e adolescentes que necessitam de medidas protetivas encontram-se
em um estágio particularmente delicado de suas vidas. Nesse momento de turbulência, é fundamental que
o acolhimento proporcione um ambiente seguro, protetor, afetuoso e estável.
Através dessa relação afetiva, a criança ou adolescente poderá fortalecer-se. Ao ser introduzido em um

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novo modelo de configuração familiar, que o recebe com carinho, respeito e cuidados personalizados, ele
ou ela terá melhores condições para enfrentar e superar os traumas causados pelas violências sofridas
anteriormente.
Todo o trabalho desenvolvido pela equipe do serviço, incluindo a capacitação das famílias acolhedoras e o
acompanhamento das crianças e adolescentes, considera o acolhimento como uma medida de caráter
temporário. Portanto, crianças e adultos passarão por uma transição assistida pela equipe técnica. A saída
do acolhimento não deve ser vista como uma ruptura adicional, mas sim como um processo gradual,
respeitoso e que visa ao melhor interesse da criança e do adolescente.
É relevante observar que, no contexto do acolhimento institucional, as crianças e adolescentes também
estabelecem vínculos significativos com profissionais, educadores e outros acolhidos. Portanto, ao se
desligarem do serviço, eles também precisam enfrentar a despedida e passar por uma transição,
semelhante ao acolhimento em família acolhedora. A qualidade e segurança dos vínculos estabelecidos
influenciam diretamente a possibilidade de uma despedida tranquila e a transição para a próxima fase de
suas vidas.

FORMAS DE ADOÇÃO DE CRIANÇAS INCLUÍDAS EM FAMÍLIAS ACOLHEDORAS


Como discutido no capítulo anterior, referente à função da família acolhedora, essas famílias se oferecem
voluntariamente para receber, em seus lares, crianças e/ou adolescentes em situação de risco social,
quando se torna necessário, por decisão judicial, afastá-los de suas famílias de origem. Após o
afastamento do convívio familiar, esses jovens podem ser direcionados tanto para o acolhimento
institucional quanto para o acolhimento familiar, sendo preferível, de acordo com o artigo 34, §1 do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que sejam encaminhados ao acolhimento familiar, uma vez
que as famílias acolhedoras conseguem fornecer cuidados personalizados. Nas palavras do juiz da Vara
da Infância e Juventude de Campinas, Eduardo Bigolin, sobre a prioridade do acolhimento familiar:

As crianças que passam pela família acolhedora são bem avaliadas em exames psicológicos e sociais.
Têm maior interação, integração com a comunidade e gozam de maior liberdade, muito porque a família
cuidou do lado afetivo, moral e material que talvez não estivesse sendo provido pela família de origem. 43
[21: POMBO, Bárbara. AFASTADAS DA FAMÍLIA DE ORIGEM, CRIANÇAS SÃO ACOLHIDAS POR
MÃES E PAIS PROVISÓRIOS. Conselho Nacional de Justiça, 2014. Disponível em: https://www.cnj.jus.br
/afastadas-da-familia-de-origem-criancas-sao-acolhidas-por-maes-e-pais-provisorios/. Acesso em 23 de
outubro de 2023.]

Um dos critérios para que uma família seja elegível para participar do programa de família acolhedora é
que ela não esteja registrada no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) e não manifeste qualquer interesse
em adotar o acolhido. É necessário que a família assine uma declaração oficial confirmando seu
desinteresse pela adoção. Essa distinção é amplamente enfatizada, como evidenciado por trechos
retirados de materiais informativos de diversas instituições, com o objetivo de deixar claro que a família
acolhedora e a adoção são processos totalmente distintos.
O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que o acolhimento institucional não deve ser
prolongado por mais de 18 (dezoito) meses, a menos que haja uma comprovação da necessidade que
atenda ao superior interesse da criança ou adolescente (conforme o artigo 19, §2 do ECA). Essa medida é
considerada provisória e excepcional, destinada a servir como uma transição para reintegrar a criança ou

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adolescente em sua família biológica ou, se isso não for possível, colocá-los em uma família substituta
(conforme o artigo 101, §1 do ECA). Essa abordagem visa sempre ao melhor interesse da criança e do
adolescente.
No entanto, como mencionado anteriormente e também abordado no livro ?Adoção, Desafios da
Contemporaneidade?, as crianças e adolescentes muitas vezes permanecem nos serviços de acolhimento
por períodos muito mais longos do que o previsto. Isso ocorre devido a várias razões, como a falta de
possibilidade de retorno às famílias de origem ou de inserção em famílias substitutas. Como resultado, em
alguns casos, os vínculos afetivos se tornam muito fortes, a ponto de a criança ou adolescente considerar
a família acolhedora como seus pais, assim como a família acolhedora considera a criança ou adolescente
como seu filho. Esse forte vínculo pode despertar o desejo de adoção, mas a prática é impedida devido
ao termo de não adoção e, principalmente, devido à lei que não autoriza tal ato.
[22: LEVINZON, Gina Khafif; LISONDO, Alicia Dorado. ADOÇÃO: DESAFIOS DA
CONTEMPORANEIDADE. São Paulo: Blucher, 2015. pp. 203-204.]

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas análises apresentadas ao longo deste trabalho, conclui-se que o Programa de Acolhimento
Familiar desempenha um papel crucial no desenvolvimento de crianças em situação de vulnerabilidade,
proporcionando atendimento individualizado por parte das famílias acolhedoras. A legislação busca
priorizar o acolhimento familiar em detrimento do institucional, mas essa preferência nem sempre é
observada na prática.
Para aliviar a sobrecarga dos abrigos institucionais, é necessário que o Poder Público promova e incentive
os estados e municípios a implementarem políticas públicas de acolhimento familiar. Isso deve ser uma
medida de fácil instalação e acesso. Em relação à conscientização da população, é fundamental realizar
campanhas que abordem a realidade dos acolhimentos institucionais e da adoção, destacando os
benefícios do acolhimento familiar e suas diversas vantagens.
Quanto à possibilidade de a família acolhedora adotar, deve-se realizar uma análise de cada caso
concreto, garantindo a aplicação do melhor interesse da criança e do adolescente e o cumprimento da
prioridade absoluta estabelecida na Constituição Federal. No entanto, não é adequado justificar o
desvirtuamento do propósito do programa, uma vez que, na maioria dos casos, as famílias acolhedoras
não se inscrevem com a intenção de adotar, mas desenvolvem esse desejo devido aos laços afetivos que
se formam.
Além disso, é importante notar que o tempo de acolhimento costuma se prolongar, o que fortalece os laços
afetivos entre as crianças e os pais acolhedores. Esta pesquisa evidenciou que muitas vezes as próprias
crianças e adolescentes buscam nas famílias acolhedoras a figura materna e paterna que talvez não
tenham tido anteriormente. Portanto, diante da destituição da família de origem, seria justo permitir que a
família acolhedora convertesse sua guarda em adoção. Afinal, se a guarda foi concedida pelo tribunal, já
houve uma análise quanto à compatibilidade e à boa-fé dos pais acolhedores, preenchendo, portanto, os
requisitos da adoção.
Negar a possibilidade de adoção pela família acolhedora com base na falta de habilitação no Cadastro
Nacional de Adoção (CNA) é uma medida cruel, considerando que o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) viabiliza a adoção com base em vínculos afetivos, conforme previsto no artigo 50, §13, incisos II e

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III. A jurisprudência já consolidou o entendimento de que a afetividade supera os vínculos consanguíneos


e quaisquer outros laços, e esse mesmo entendimento deve ser aplicado no contexto do acolhimento
familiar.
Portanto, é imperativo que o artigo 34, parágrafo 3º, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) seja
modificado para incluir a possibilidade de inscrição no Programa Famílias Acolhedoras de pessoas que
façam parte ou não dos cadastros de adoção. Uma alternativa louvável seria a implementação, por parte
dos estados e municípios, de duas modalidades de acolhimento familiar, à semelhança do que foi
realizado em Belo Horizonte (MG) e regulamentado na Lei Municipal 10.871/2015.
Uma dessas modalidades seria destinada a crianças com perspectiva de reintegração familiar, na qual os
interessados não poderiam ter a intenção de adoção. A outra modalidade seria voltada para crianças para
as quais a reintegração à família de origem fosse improvável ou cujos pais biológicos já tivessem sido
destituídos do poder familiar. Nesta modalidade, pessoas interessadas na adoção seriam permitidas e,
idealmente, poderiam suportar a duração prolongada do acolhimento familiar. Isso seria especialmente
importante no caso de crianças mais velhas ou com alguma doença ou deficiência física, mental,
intelectual ou sensorial, uma vez que, como demonstrado, elas têm menos chances de serem adotadas
por aqueles cadastrados no Cadastro Nacional de Adoção (CNA).

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em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em 07 de agosto de
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://ocomecodavida.com.br/o-caso-dos-orfaos-da-romenia/. Acesso em 18 de outubro de 2023.

Prof. Me. Gianfranco Faggin Mastro AndreáUNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP

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Prof.UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP

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=================================================================================
Arquivo 1: TCC Barbara - Família acolhedora.docx (8247 termos)
Arquivo 2: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2022/04/eixo4-primeira-infancia-relatorio-final.pdf
(44751 termos)
Termos comuns: 859
Similaridade: 1,64%
O texto abaixo é o conteúdo do documento TCC Barbara - Família acolhedora.docx (8247 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2022/04/eixo4-primeira-infancia-relatorio-final.pdf (44751 termos)

=================================================================================
UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP
CURSO DE BACHARELADO
DIREITO

BARBARA EUNICE DE QUEIROZ ALMEIDA ? R.A. D984144

A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

SÃO PAULO

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2023

A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Paulista


? UNIP como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Me. Gianfranco Faggin Mastro Andreá

SÃO PAULO
2023

FICHA CATALOGRÁFICA

BARBARA EUNICE DE QUEIROZ ALMEIDA

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A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Paulista


? UNIP como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

São Paulo, _______ de ______________________________ de 2023.

Prof.
UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP
DEDICATÓRIA

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus, que foi minha força durante todo esse processo. A minha
família que foi fundamental, e esteve ao meu lado em todos os momentos.
Ao meu orientador Gianfranco, por todo apoio e suporte. Aos meus professores que foram essenciais, e a
todos que contribuíram para a finalização desse ciclo.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, sem ele nada disso seria possível. Ao meu professor orientador
Gianfranco, que foi fundamental em todos os momentos desse período, em estar sempre solicito, pelas
orientações, pelas aulas incríveis e por reascender meu amor pelo direito civil.
Agradeço a minha família por estar sempre ao meu lado, me apoiando, dando forças e me incentivando a
me manter firme. Vocês foram fundamentais, vocês são a minha força e meu combustível para continuar.
Aos meus amigos, que estiveram sempre me incentivando, e fazendo com que esse processo se tornasse
mais leve. Aos meus colegas, que estiveram junto comigo, e entendem o significado da finalização desse
ciclo, que levo com muito carinho.
Aos meus professores, que além de contribuir para nos formar, estão nos transformando. A educação
muda nossas vidas. E, espero poder passar um pouco do que aprendi com cada um deles.
E por fim, agradeço a mim mesma. Não foi nada fácil, pensei por muitas vezes em desistir. Sofri e tive que
me reinventar inúmeras vezes para acompanhar todo esse processo. E proporcionalmente a toda
dificuldade, foi o meu processo de crescimento. De aprendizado, e evolução. Me sinto muito feliz em
chegar até aqui. A Barbara de 2019 com certeza está muito orgulhosa, é a realização de um sonho que
começou a 5 anos atrás.

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?Se você pode sonhar, você pode fazer.? ? Walt Disney

RESUMO

Tem-se como objetivo principal demonstrar que existem formas de abordagem mais benéficas para as
crianças e os adolescentes em acolhimento institucional do que os abrigos, mais conhecidos como
orfanatos. A razão é simples e cristalina: além da alta rotatividade de crianças e adolescentes nesses
locais, há também a rotatividade de funcionários, dificultando, assim, a criação de laços emocionais entre
as pessoas, e isso prejudica muito os jovens ao longo da vida. Além do benefício psicológico, é importante
demonstrar que através da Lei 12.010/09 inseriu o acolhimento familiar no Estatuto da Criança e do
Adolescente, permitindo legalmente que essa seja uma forma de acolhimento, e acima de tudo, que é
preferencial, em relação ao acolhimento institucional. Logo, se uma criança chega até o abrigo e tem
alguma família acolhedora que aceitaria acolher essa criança até ser adotada ou retornar para a família de
origem, esta irá para a casa da família ao invés de ficar no abrigo aguardando que a situação se resolva.
Será utilizado o método exploratório por pesquisa bibliográfica desenvolvida a partir do conteúdo
desenvolvido composto por livros, sites, artigos, teses, depoimentos pessoais, resumos e artigos
científicos.

Palavras-chave: Família acolhedora. Direito civil. Crianças. Estatuto da Criança e do Adolescente. Adoção.

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ABSTRACT

The main objective is to demonstrate that there are more beneficial approaches to children and
adolescents in institutional care than shelters, better known as orphanages. The reason is simple and
crystal clear: in addition to the high turnover of children and adolescents in these places, there is also a
turnover of employees, thus making it difficult to create emotional bonds between people, and this greatly
harms young people throughout their lives. In addition to the psychological benefit, it is important to
demonstrate that through Law 12.010/09, family foster care was included in the Child and Adolescent
Statute, legally allowing this to be a form of foster care, and above all, that it is preferential, in relation to
foster care. institutional. Therefore, if a child arrives at the shelter and there is a welcoming family that
would accept to welcome that child until they are adopted or return to their family of origin, they will go to
the family home instead of staying at the shelter waiting for the situation to be resolved. The exploratory
method will be used through bibliographical research developed from the content developed consisting of
books, websites, articles, theses, personal statements, summaries and scientific articles.

Keywords: Welcoming family. Civil right. Children. Child and Adolescent Statute. Adoption.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
A carência de conexões emocionais duradouras e a falta de estímulos apropriados resultam em prejuízos,
por vezes irreparáveis, para o progresso das crianças, afetando diversas áreas como o aspecto
psicológico, psicomotor, cognitivo e linguístico.
Particularmente durante a primeira infância, se uma criança não mantiver um vínculo sólido com um
cuidador principal ou se estiver envolvida em relações carentes de qualidade e estímulo, o
desenvolvimento do cérebro será grandemente prejudicado.
[1: RAYANE, Daniele Barbosa; SOUSA, Daniela Heitzmann Amaral Valentim de. PRIVAÇÃO AFETIVA E
SUAS CONSEQUÊNCIAS NA PRIMEIRA INFÂNCIA: UM ESTUDO DE CASO. Inter Scientia, vol. 6, Nº 2,
Ano 2018. Disponível em: https://periodicos.unipe.br/index.php/interscientia/article/download/721/601/.
Acesso em 03 de agosto de 2023.]
No Brasil, de acordo com informações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cerca de 5% das crianças e
adolescentes sob cuidado institucional estão sob os cuidados de Famílias Acolhedoras.
[2: BRASÍLIA. UNIDADES DE ACOLHIMENTO E FAMÍLIAS ACOLHEDORAS. Conselho Nacional de
Justiça, 2022. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2022/04/eixo4-primeira-infancia-
relatorio-final.pdf. Acesso em 03 de agosto de 2023.]
Os métodos predominantes na atualidade, como o acolhimento institucional (abrangendo abrigos e lares

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de acolhimento), apesar da presença de profissionais habilidosos e infraestrutura para suprir necessidades


básicas, frequentemente não conseguem estabelecer laços emocionais estáveis e duradouros que seriam
capazes de proporcionar ao acolhido os referenciais necessários para garantir um desenvolvimento pleno
em termos físicos, sociais e emocionais. Isso é em parte devido às características intrínsecas a esse
modelo, como a alta rotatividade de pessoas e a insuficiência de funcionários em relação ao número de
crianças, por exemplo.
Outra face a ser considerada no contexto do acolhimento institucional é a dificuldade em assegurar
plenamente o respeito pelas características individuais e necessidades específicas de cada acolhido, bem
como sua trajetória de vida. Isso resulta em questões relacionadas à construção de uma autoimagem
positiva, à preservação de sua saúde emocional e ao desenvolvimento abrangente. Além disso, o modelo
institucional de certa forma priva crianças e adolescentes da interação social e comunitária, prejudicando
sua futura adaptação à sociedade.
O Acolhimento Familiar, por sua vez, busca primordialmente o bem-estar da criança e do adolescente,
bem como o cumprimento das disposições legais vigentes.
Mas afinal, qual é o papel da família na vida de uma criança ou adolescente?
Conforme o artigo 227 da Constituição Federal:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.

O problema principal do presente trabalho gira em torno de demonstrar que o acolhimento institucional,
embora tenha raízes profundas, por ser utilizado há muitos anos, foi necessário olhar com outros olhos
para os jovens inseridos nesse modo de acolhimento para nova avaliação com o intuito de verificar se, de
fato, essa era a forma mais saudável de acolher crianças e jovens que já tiveram de sair de suas famílias
originárias.
Após tal estudo, foi possível verificar que a forma mais adequada, a fim de evitar danos psicológicos
maiores do que já não ter a sua família biológica presente, era o acolhimento familiar, para que pudessem
desenvolver de forma mais saudável.
Assim, inicialmente será abordado sobre a história da assistência familiar no Brasil, o que significa, como
se deu a formação familiar, como é a atual conjuntura e por qual motivo é tão importante que os jovens
tenham o apoio de suas famílias. Ainda no primeiro capítulo será falado sobre a Criação do Sistema Único
de Assistência Social (SUAS), e qual o papel dele perante a sociedade e, sobretudo, sobre os jovens.
Logo depois, no capítulo seguinte, será versado sobre quais são os direitos das pessoas menores de
idade, como são resguardados os seus direitos, se são, de fato, respeitados, e qual o papel do Estatuto da
Criança e do Adolescente diante dessa situação, principalmente face à problemática principal, que é o
acolhimento familiar, seja da família biológica ou da família que o acolhe apenas por um período, como
dito acima, além de falar sobre o direito à assistência social também.
Posteriormente, no terceiro capítulo, será exposto sobre os serviços de acolhimento existentes com o
objetivo de acolher os jovens: crianças e adolescentes. Aqui será falado também sobre o instituto da
família acolhedora, e quais são os incentivos criados para tornar-se uma delas.
No quarto capítulo e último capítulo, finalmente é dito sobre como a família acolhedora é benéfica para

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aqueles que são acolhidos, sobre como o vínculo afetivo pode mudar a vida desses jovens, sobre as
formas de adoção de crianças acolhidas nesses lares se dão e por fim, depoimentos de famílias
acolhedoras. Aqui, pode ser citado um exemplo: é um requisito não estar inscrito na fila de adoção para
ser uma família acolhedora, pois se assim fosse este processo, seria basicamente como ?furar fila? para
adotar uma criança mais rapidamente sem passar por todos os esquemas burocráticos.
Após, será apresentada a conclusão de todo o tema exposto ao longo do trabalho, e por fim, as
referências bibliográficas.

HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA FAMILIAR NO BRASIL


No Brasil, a prática de institucionalizar crianças e adolescentes remonta aos tempos da colonização. Sob a
influência do modelo europeu, a Igreja Católica assumiu a responsabilidade de cuidar de bebês e crianças
órfãos ou abandonados. No século XVIII, recém-nascidos eram frequentemente deixados de maneira
anônima nas chamadas rodas dos expostos ? mecanismos giratórios instalados nas paredes das Santas
Casas de Misericórdia. Essas crianças tinham pouca ou nenhuma interação com a comunidade, eram
completamente afastadas de suas famílias de origem e raramente retornavam ao convívio familiar.
No final do século XIX, surgiram educandários, reformatórios, internatos e orfanatos que atendiam a um
grande número de crianças e adolescentes, separados por sexo e faixa etária. Todas as atividades
ocorriam nas instalações dessas instituições, e os acolhidos tinham limitada interação com a comunidade
em termos de educação, saúde, lazer e profissionalização. A principal missão dessas instituições era
corrigir e controlar filhos de adultos pobres considerados incapazes de prover sua educação.
No século XX, enquanto ocorriam mudanças significativas no cenário internacional, como a Declaração de
Genebra sobre os Direitos da Criança adotada pela Liga das Nações Unidas em 1924 e a Declaração
Universal dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas em 1959, o Brasil aprovava o seu
primeiro Código de Menores em 1927, que permaneceu em vigor até a sanção de um segundo Código em
1979, com a Lei nº 6.697.
Pela primeira vez, o termo ?menor em situação irregular? foi introduzido na legislação para abordar
menores de 18 anos que estavam abandonados materialmente, sendo vítimas de maus-tratos, em risco
moral, desassistidos juridicamente, com desvios de conduta ou autores de infrações penais. No entanto, o
principal problema do código era a falta de distinção entre menores infratores e aqueles que eram vítimas
da pobreza, abandono e maus-tratos.
O grande marco ocorreu em 1988 com a aprovação da Constituição da República Federativa do Brasil,
que reconheceu as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, sem qualquer forma de distinção. A
Doutrina da Proteção Integral foi incorporada ao artigo 227 da Constituição, que estabelece:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com


absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Nos anos 1990, houve a introdução de novas legislações que priorizaram a infância no Brasil, incluindo a
Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O ECA

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trouxe inovações ao estabelecer a prioridade absoluta no orçamento público para a implementação de


políticas voltadas para crianças e adolescentes. Embora a porcentagem do orçamento destinada a essa
finalidade tenha sido ampliada ao longo dos anos, as disposições do ECA, que apresentaram um novo
formato para a política de atendimento à infância e juventude, ainda não estão plenamente implementadas
até os dias atuais.
A partir de 1999, começou a ser desenvolvido um abrangente Sistema de Garantia de Direitos da Criança
e do Adolescente, visando efetivar a proteção em todas as dimensões. Nesse contexto, iniciativas de
acolhimento em famílias acolhedoras começaram a surgir, ganhando força principalmente a partir da
metade dos anos 2000.
Em 2001, uma caravana da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados realizou visitas a
serviços de acolhimento institucional em oito estados e no Distrito Federal. Essas visitas tinham o
propósito de avaliar a difícil realidade enfrentada nos espaços de acolhimento, evidenciando o flagrante
desrespeito ao direito à convivência familiar e comunitária, bem como aos princípios estabelecidos no ECA
.
No ano subsequente, o Colóquio Técnico sobre a Rede Nacional de Abrigos, que reuniu representantes do
poder público, da sociedade civil e do UNICEF, estimulou a realização de uma pesquisa nacional sobre
crianças e adolescentes em serviços de acolhimento. Com recursos do Conselho Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente (Conanda), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) conduziu uma
análise abrangendo 589 abrigos, nos quais mais de 19 mil crianças e adolescentes eram atendidos.
[3: IPEA. MISÉRIA E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA COMPROMETEM A CONVIVÊNCIA FAMILIAR. Ipea.
Disponível em: https://www.ipea.gov.br/acaosocial/article283f.html?id_article=88. Acesso em 02 de
outubro de 2023.]
Essa pesquisa marcou um ponto de inflexão. Os resultados evidenciaram que a maioria das crianças e
adolescentes, mesmo tendo família (portanto, não sendo órfãos ou abandonados), permanecia em
acolhimento institucional por longos períodos. Além disso, os principais motivos para o acolhimento
estavam relacionados à pobreza, o que representava uma séria violação de direitos. Conforme a
Constituição Federal de 1988 (artigos 226 e 227) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
nenhuma criança deveria ser afastada de sua família devido à pobreza.
Em 2005, durante o II Colóquio Internacional de Acolhimento Familiar realizado em Campinas (SP), surgiu
o Grupo de Trabalho Nacional Pró-Convivência Familiar e Comunitária, uma iniciativa conjunta da
Associação Brasileira Terra dos Homens (ABTH) e do UNICEF, em parceria com o então Ministério de
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e a então Secretaria Especial dos Direitos Humanos
(SEDH). O GT foi estabelecido com o propósito de aprofundar as discussões relacionadas ao direito à
convivência familiar e comunitária, bem como de disseminar experiências inovadoras e diferentes
modalidades de acolhimento, como o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (SFA).
A partir de reuniões promovidas pelo GT em diversas regiões do país, emergiu um movimento nacional
que viabilizou um amplo intercâmbio entre especialistas brasileiros, visando promover e engajar atores
locais. Esse movimento culminou no lançamento do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do
Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária em 2006.
Em 2009, uma conquista significativa ocorreu: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi alterado
para incluir, pela primeira vez, o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora como uma instituição
jurídica. Posteriormente, o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) e a Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) conduziram o Levantamento Nacional de Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento.
Esse estudo identificou a existência de 144 Serviços em Família Acolhedora, com 932 crianças e

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adolescentes acolhidos, representando somente 2,5% do total de 36.929 crianças e adolescentes


acolhidos em 2.624 unidades de acolhimento institucional.
A partir de 2012, essas informações passaram a ser monitoradas anualmente, utilizando o Censo SUAS (
Sistema Único de Assistência Social). O dado mais recente disponível, referente a 2019, indicou a
existência de 381 SFAs, abrigando 1.535 crianças e adolescentes (correspondendo a 4,9% do total de
crianças e adolescentes acolhidos, sendo que 29.998 deles estavam em 2.801 serviços de acolhimento
institucional).

CRIAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SUAS)


A Constituição Federal de 1988, conforme destacado anteriormente, ofereceu oportunidades para o
avanço das políticas sociais no Brasil, incorporando algumas demandas da classe trabalhadora e
estabelecendo a assistência social como uma política pública de responsabilidade do Estado.
Ao longo dos anos, a assistência social no Brasil tem buscado superar um modelo arcaico de assistência
social que perpetua a subordinação e a dependência dos usuários dos serviços sociais em relação às
ações do Estado e de entidades filantrópicas. Em vez disso, ela visa estabelecer uma nova prática
baseada na consolidação de direitos. Nesse contexto, a criação do Sistema Único de Assistência Social (
SUAS) representa um passo significativo nessa direção.
O SUAS foi aprovado em julho de 2005 pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) por meio da
Norma Operacional Básica nº 130 (NOB nº 130). Essa conquista decorreu dos esforços e da luta da
sociedade civil organizada, bem como de profissionais e estudiosos da política de assistência social. A IV
Conferência de Assistência Social, realizada em Brasília/DF, desempenhou um papel fundamental na
formulação do SUAS, marcando um importante marco em sua construção e legitimação no contexto da
assistência social.
A fim de progredir nesse sentido, a sociedade brasileira requer um sistema que vá além de interesses
específicos, capacitando a assistência social a se consolidar como uma política pública. Esse sistema
deve traduzir os princípios da Lei Orgânica em ações concretas e coesas, rompendo com as práticas
tradicionais fragmentadas e descontínuas que têm caracterizado a assistência social no país.
O SUAS, alinhado com as diretrizes e princípios da PNAS, apresenta-se com a missão central de romper
significativamente com a história de serviços sócioassistenciais precários e focalizados, particularmente no
que diz respeito aos recursos humanos e materiais. Este sistema propõe uma nova abordagem para o
campo da assistência social no Brasil, reformulando fundamentalmente as suas práticas e
responsabilidades.
[4: PAIVA, B. A. O SUAS E OS DIREITOS SOCIOASSISTENCIAIS; A UNIVERSALIDADE DA
SEGURIDADE SOCIAL EM DEBATE. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, ano XXVI, Especial, nº 87,
2009.]
Seu objetivo primordial é coordenar a política de assistência social por meio da colaboração entre os três
níveis de governo: municípios, estados e União. Este modelo de gestão é descentralizado e participativo,
atribuindo a cada nível de governo a responsabilidade pela implementação da Política de Assistência
Social em suas áreas de atuação.
O SUAS promove uma reformulação institucional na assistência social, com a descentralização dos
serviços para o âmbito municipal, priorizando a realidade local, a territorialidade e as especificidades de
cada região.
A descentralização política e administrativa, bem como a participação, são princípios de organização da

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assistência social definidos pela LOAS e pela Constituição Federal de 1988. Esses princípios foram
incorporados pela PNAS e transmitidos ao SUAS como elementos estruturais. Eles valorizam o poder local
e a participação popular como fundamentos da prática democrática, recuperando um modelo democrático
após décadas de autoritarismo.
A descentralização se reflete em avanços a nível municipal, como a criação de secretarias dedicadas à
assistência social na maioria dos municípios do país, totalizando mais de 4.500 em todos os estados
brasileiros e no Distrito Federal. Esse número demonstra a significativa capacidade de estabelecimento e
assimilação progressiva de conceitos, procedimentos técnicos e operacionais uniformes e coordenados
para a prestação de serviços sociais, financiamento e gestão da política de assistência social. Antes
subordinadas a outras secretarias ou mesmo aos gabinetes dos governantes, a presença de uma
secretaria autônoma confere um novo status à política de assistência social, permitindo-lhe maior
autonomia em relação a outras áreas do governo.
[5: BRASIL. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO E COMBATE À FOME. DESAFIOS DA GESTÃO DO
SUAS NOS MUNICÍPIOS E ESTADOS. Instituto de Estudos Especiais da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. Capacita Suas v.2. Brasília: MDS, 2008.]
A descentralização traz consigo a ênfase na participação. A criação de canais de participação e controle
social é um processo em desenvolvimento na PNAS e, consequentemente, no SUAS. Esse processo visa
a estabelecer uma ?intermediação dos interesses organizados e da luta pela efetivação dos direitos
sociais?, com o objetivo de fomentar a participação efetiva da sociedade na formulação e no
acompanhamento das políticas sociais. Atualmente, as Conferências de Assistência Social e os Conselhos
de Assistência têm sido os espaços que mais oportunizam à sociedade civil organizada uma voz ativa.
[6: COUTO, B. R; et. al. (Coord.). O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL: UMA
REALIDADE EM MOVIMENTO. São Paulo: Cortez, 2010. p. 119.]
A participação social é considerada um dos elementos mais relevantes da estrutura do SUAS. A criação
de mecanismos de controle social reflete uma nova perspectiva e amadurecimento na relação entre o
Estado e a sociedade, na qual o Estado reconhece a importância do controle exercido pela sociedade
sobre suas ações, algo impensável nos anos de ditadura no país. No entanto, é essencial que essa
participação seja qualificada e adquira novo significado, especialmente nas unidades responsáveis pela
operacionalização dos serviços sociais, com a presença efetiva dos usuários da política.
Além dessas duas diretrizes, o SUAS é fundamentado na centralidade da família, assim como a PNAS, no
que diz respeito à concepção e implementação dos benefícios, programas e serviços de assistência social
. A abordagem centrada na família desloca o foco do indivíduo isolado para o núcleo familiar, ou seja,
passa a priorizar o atendimento à família em suas diversas configurações, a fim de fortalecer a capacidade
de enfrentamento das necessidades sociais.
[7: SANTOS, A. C. A; et al. E A FAMÍLIA, COMO VAI? UM OLHAR SOBRE OS PROGRAMAS DE
TRANSFERÊNCIA DE RENDA NO BRASIL SOB A ÓTICA DA FAMÍLIA. In: Estudos de Política e Teoria
Social. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Praia Vermelha, nº 18, 2008. p. 30-45.]

OS DIREITOS DE INDIVÍDUOS MENORES DE IDADE: A CRIAÇÃO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE
A Lei Federal nº 8.069/1990, amplamente reconhecida como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA

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), representa o marco legal e regulatório dos direitos humanos de crianças e adolescentes no Brasil.
Promulgada em 13 de julho de 1990, essa lei resultou de um extenso processo de debate democrático
liderado por movimentos sociais, organizações, coalizões e diversos membros da sociedade civil, bem
como instituições que buscavam conscientizar e garantir o respeito aos direitos de crianças e adolescentes
como sujeitos detentores de direitos.
O ECA trouxe uma mudança de paradigma significativa, pois foi a primeira legislação na América Latina a
adotar a doutrina da proteção integral. Ela se inspirou na Declaração Universal dos Direitos da Criança de
1979 e na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, que foram aprovadas pela Organização
das Nações Unidas (ONU) em 1989.
Como João Batista Costa Saraiva destacou, o Estatuto desfez a ideia de ?menor como objeto do processo
? e introduziu uma transformação paradigmática, reconhecendo a criança e o adolescente como sujeitos
de direitos, participantes ativos, e cidadãos em pleno direito.
[8: SARAIVA, João Batista Costa. ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI: DA INDIFERENÇA À
PROTEÇÃO INTEGRAL: UMA ABORDAGEM SOBRE A RESPONSABILIDADE PENAL JUVENIL. Porto
Alegre, Livro do Advogado, 2013. p. 37.]
A Lei 8.069/1990 estabelece a doutrina da proteção integral como princípio fundamental e determina que é
responsabilidade da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público garantir, com
prioridade absoluta, a efetivação dos direitos desses jovens em áreas como vida, saúde, alimentação,
educação, esporte, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e
comunitária.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabeleceu a proteção integral por meio dos seus 267
artigos, apresentando uma carta abrangente de direitos fundamentais para a infância e a juventude.
Segundo o documento, uma criança é considerada como aquela que tem até 12 anos de idade
incompletos, enquanto um adolescente é definido como alguém com idade entre 12 e 18 anos.
Entre as contribuições significativas do ECA, além de reconhecer crianças e adolescentes como
detentores de direitos, destacam-se a criação do Conselho Tutelar, responsável por defender e proteger
os direitos desses jovens, bem como os Conselhos de Direitos da Criança em níveis nacional, estadual e
municipal. Estes conselhos têm o papel de formular políticas para crianças e adolescentes em suas
respectivas esferas de atuação.
Ao longo das últimas três décadas, diversas melhorias foram incorporadas ao ECA, incluindo a Lei do
Sistema Nacional Socioeducativo (Sinase), que regula a execução de medidas socioeducativas, a Lei da
Primeira Infância, que exige a implementação de políticas específicas para os primeiros anos de vida, e a
Lei da Adoção, que detalha os procedimentos relacionados à adoção. É importante ressaltar que a partir
dos 12 anos, os adolescentes que cometem atos infracionais são responsabilizados, mas com garantias
de devido processo legal, contraditório e ampla defesa.
Apesar desses avanços, desafios persistem. É fundamental continuar trabalhando na implementação
integral do ECA e leis relacionadas, com a criação de políticas públicas que assegurem efetivamente
direitos fundamentais, como educação de qualidade, assistência médica, moradia, alimentação,
convivência familiar e comunitária, cultura, esporte, lazer, entre outros.
O Estatuto da Criança e do Adolescente continua sendo reconhecido como um dos mais avançados do
mundo, destacando-se por sua abordagem centrada na proteção integral. Essa importância reside no
reconhecimento de que crianças e adolescentes são sujeitos de direito, atravessando um período crucial
de desenvolvimento físico, psicológico, moral e social, merecendo, com prioridade absoluta, uma proteção
completa.

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A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E À ASSISTÊNCIA


SOCIAL
A prática da adoção de crianças e adolescentes, conforme estabelecida no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), é considerada uma medida de proteção que tem como principal objetivo garantir o
direito das crianças e adolescentes à convivência em um ambiente familiar e comunitário que proporcione
um crescimento saudável, fornecendo condições adequadas para o desenvolvimento físico, cognitivo e
social. A família é, portanto, o primeiro contexto no qual a criança se desenvolve como membro da
sociedade, desempenhando um papel fundamental na mediação entre os indivíduos e as normas, regras e
valores da sociedade. Ela é responsável pela garantia e efetivação dos direitos das crianças e
adolescentes a vida, proteção e desenvolvimento de habilidades humanas, proporcionando as condições
materiais e humanas necessárias para o seu crescimento.
No entanto, Bruschini destaca a importância de questionar a noção de família como algo natural, uma vez
que essa categoria é uma construção humana mutável, cultural e historicamente influenciada. De acordo
com Simões, a família não deve mais ser restrita a modelos preestabelecidos, mas sim definida como
qualquer ambiente onde o indivíduo se sinta acolhido, desenvolvendo laços de afeto e confiança. Portanto
, a definição de família deve basear-se na existência de vínculos afetivos, não limitando-se apenas aos
laços de consanguinidade.
[9: BRUSCHINI, Cristina. TEORIA CRÍTICA DA FAMÍLIA. In: AZEVEDO, Maria Amélia; GUERRA, Viviane
Nogueira de Azevedo (Org.). Infância e violência doméstica: fronteiras do conhecimento. 3. ed. São Paulo
: Cortez: 2000.][10: SIMÕES, Carlos. CURSO DE DIREITO DE SERVIÇO SOCIAL. São Paulo: Cortez,
2008.]
Nessa perspectiva, de acordo com a legislação brasileira, é importante enfatizar que as relações
estabelecidas no âmbito familiar são mais importantes do que as configurações familiares em si. Isso
ocorre porque as funções de proteção e socialização podem ser desempenhadas em uma variedade de
arranjos familiares e contextos socioculturais. Dessa forma, a propensão é rejeitar qualquer noção
preconcebida de um modelo familiar ?normal?.
[11: BRASIL. PLANO NACIONAL DE PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E DEFESA DO DIREITO DE
CRIANÇAS E ADOLESCENTES À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA. 2006. p. 29.]
Conforme a visão de Paiva:
[12: PAIVA, Leila Dutra. ADOÇÃO: SIGNIFICADOS E POSSIBILIDADES. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2004. pp. 65-66.]

[...] a dificuldade, ainda hoje, parece ser o reconhecimento de que a família, em si mesma, é uma criação
cultural que pode ou não estar fundada em laços biológicos. A adoção tem representado, há muito tempo,
a possibilidade de formar uma família assentada não na biologia, mas na cultura.

É importante ressaltar que a família, como um grupo social, é um espaço onde as contradições sociais se
manifestam e, portanto, também é suscetível a expressões da questão social. No Brasil, um grande
número de famílias encontra-se em situação de pobreza e miséria. Essas condições dificultam ou
impedem que elas desempenhem suas funções de proteção e cuidado em relação aos seus filhos,

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resultando na negação de seu espaço de humanização.


Essa desumanização do espaço familiar é afetada por várias questões, principalmente o desemprego e a
falta de acesso à riqueza materialmente produzida. Conforme destacado por Kaloustian, essa situação de
desumanização do espaço familiar está diretamente ligada à situação de pobreza e ao perfil de
distribuição de renda no país.
[13: KALOUSTIAN, Sílvio Manoug (Org.). FAMÍLIA BRASILEIRA: A BASE DE TUDO. 7. ed. São Paulo:
Cortez; Brasília: Unicef, 2005. p. 12.]
Consequentemente, na sociedade atual, observa-se que milhares de famílias não têm as condições
necessárias para cumprir suas funções legalmente e socialmente atribuídas. Esse contexto sociofamiliar
frequentemente resulta em situações de negligência, abandono e institucionalização de crianças e
adolescentes. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, em um levantamento nacional
dos abrigos da Rede de Serviços de Ação Continuada (Rede SAC), cerca de 20 mil crianças vivem nos
589 abrigos pesquisados em todo o Brasil, privadas de seus direitos fundamentais à convivência familiar.
[14: IPEA ? Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E
COMUNITÁRIA: OS ABRIGOS PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL. Brasília, 2004.]
Diante desse cenário, a discussão sobre a família tem se intensificado, uma vez que ela é reconhecida
como uma instituição central na sociedade. A família desempenha funções cruciais no cuidado e proteção
de seus membros, mas enfrenta dificuldades em cumprir plenamente essas funções, o que tem levado a
um reconhecimento especial por parte do Estado e da sociedade.
Nesse contexto, a família é considerada a célula base da sociedade brasileira, conforme estipula a
Constituição Federal de 1988, eu seu artigo 226: ?A família, base da sociedade, tem especial proteção do
Estado?.
A família é entendida como um local de convivência de indivíduos, unidos por laços consanguíneos,
afetivos ou de confiança. Segundo Simões, nesse espaço, desenvolve-se e mantém-se o sentimento de
pertencimento e identidade social, bem como a transmissão de valores e comportamentos pessoais.
[15: SIMÕES, Carlos. CURSO DE DIREITO DE SERVIÇO SOCIAL. São Paulo: Cortez, 2008. p. 190.]
No Brasil, esse reconhecimento é fundamentado na Constituição Federal de 1988, no Estatuto da Criança
e do Adolescente, na Política Nacional de Assistência Social, e no Plano Nacional de Promoção, Proteção
e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. No entanto, é
fundamental que essas garantias saiam do papel e sejam efetivamente implementadas na prática.
Para alcançar esse objetivo, é fundamental que o Estado e a sociedade protejam os grupos familiares em
diversas configurações que enfrentam condições de empobrecimento. Nesse contexto, o Estado deve
garantir o acesso aos direitos universais para as famílias, o que, por sua vez, resulta na proteção dos
direitos das crianças e dos adolescentes. Famílias que possuem acesso a esses direitos, juntamente com
outros, têm melhores condições para cumprir suas funções de cuidado, afeto e socialização, além de
superar possíveis situações de vulnerabilidade.
[16: JUNQUEIRA, Maíz Ramos; SERRES Jamille de Freitas. ADOÇÃO PELOS CAMINHOS LEGAIS:
RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA. Textos & Contextos (Porto Alegre), Porto Alegre, v. 9, n. 1, p. 182-192,
jan./jun. 2010.]
A contradição central na questão do abandono de crianças e adolescentes reside nesse ponto, sendo uma
dinâmica da questão social. As famílias que, devido às condições da realidade social, não conseguem
cumprir suas funções acabam negligenciando e abandonando seus filhos, tornando-se destinatárias das
políticas sociais compensatórias. Entretanto, essas políticas frequentemente se mostram insuficientes para
atender à grande demanda social e para atender eficazmente aqueles a quem se destinam. Diante

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dessas condições objetivas, é importante examinar como o trabalho social tem evoluído no campo dos
direitos das crianças e dos adolescentes à convivência familiar e comunitária, considerando seus limites e
possibilidades.
[17: SILVA, Simone Regina Medeiros. ABANDONO: UMA AGRESSÃO AOS DIREITOS DA CRIANÇA. In
: FREIRE, Fernando. Abandono e adoção: contribuições para uma cultura de adoção. São Paulo: Terre de
Hommes, 2001.]

OS SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO DESTINADOS À CRIANÇAS E ADOLESCENTES


Para abordar inteiramente este tema, é crucial abordar a história do acolhimento desde suas origens e
discutir as principais transformações influenciadas por fatores sociais, culturais e econômicos.
A prática de institucionalização de crianças e adolescentes de famílias de classes populares tem raízes
que remontam ao período inicial da colonização brasileira.
O programa de acolhimento familiar formalmente surgiu no Brasil na década de 1990. Ele trouxe consigo
reflexões alternativas em relação à institucionalização infantil, buscando meios para reintegrar a criança à
sua família e, sobretudo, promover a inclusão dessa família na sociedade.
Foi somente com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069 de 13 de julho de
1990, que crianças e adolescentes passaram a ser reconhecidos como sujeitos de direito, em uma
condição peculiar de desenvolvimento. Esses direitos fundamentais, conforme estabelecido pelo artigo 227
da Constituição Federal, englobam o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
protegendo-os contra todas as formas de negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão.
A partir do Estatuto da Criança e do Adolescente, o encaminhamento para os serviços de acolhimento
passou a ser concebido como uma medida protetiva, de caráter excepcional e temporário, que visa
primordialmente ao superior interesse da criança e do adolescente.
Antes da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, muitos internatos e orfanatos
desempenhavam o papel de cuidar das crianças, frequentemente tratando-as como se fossem
abandonadas. A perspectiva predominante não considerava os direitos das crianças e dos adolescentes.
No contexto brasileiro, a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990
são exemplos de marcos legais que estabelecem de forma explícita a importância da convivência familiar
e comunitária para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. O ECA é amplamente reconhecido
internacionalmente como um instrumento jurídico orientador para o atendimento digno de crianças e
adolescentes.
A convivência familiar sempre ocupou uma posição de destaque no Estatuto da Criança e do Adolescente
. O papel da família é considerado um elemento indispensável nos processos de proteção e
desenvolvimento, e o ECA estabeleceu que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos em uma
condição peculiar de desenvolvimento.
O artigo 15 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe:

A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em
processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na
Constituição e nas leis.

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Quando a separação do ambiente familiar de uma criança ou adolescente se torna necessária, é


apropriado que ela seja acolhida em outro ambiente familiar de forma temporária, ao mesmo tempo em
que se desenvolve um trabalho com sua família de origem. Nesse contexto, é fundamental realizar ações
que facilitem a reintegração da criança ao seu núcleo familiar.

AS FORMAS E MEDIDAS DE ACOLHIMENTO EXISTENTES


Os serviços de acolhimento têm a finalidade de receber crianças e adolescentes que estejam sujeitos a
medidas protetivas determinadas pelo poder judiciário, em decorrência de violações de seus direitos, como
abandono, negligência ou violência, ou quando a família não é capaz de fornecer o cuidado e proteção
necessários.
É importante destacar que o afastamento da criança ou adolescente de sua família deve ser uma medida
excepcional e só deve ser aplicada em situações de grave risco para sua integridade física e/ou
psicológica. O principal objetivo é garantir que esses jovens possam retornar com segurança ao convívio
familiar, priorizando a família de origem sempre que possível, e recorrendo à família substituta somente
em casos excepcionais, por meio de procedimentos legais, como adoção, guarda ou tutela.
O serviço de acolhimento deve focar na preservação e no fortalecimento das relações familiares e
comunitárias das crianças e adolescentes. O atendimento deve ser individualizado e oferecido a grupos
reduzidos, garantindo espaços privados para guardar objetos pessoais e registros relacionados à história
de vida e ao desenvolvimento de cada criança e adolescente.
Em 2004, uma pesquisa realizada pelo Ipea e pelo Conanda sobre a situação dos abrigos para crianças e
adolescentes revelou a persistência de violações de direitos, que se mantinham muito aquém do que era
preconizado pelo ECA, mesmo mais de uma década após sua promulgação. Essas constatações
enfatizaram a importância de redirecionar a discussão para a observância dos princípios que ressaltam a
natureza temporária e excepcional das medidas de acolhimento. Segundo esses princípios, a separação
de uma criança ou adolescente de sua família deve ser breve e apenas adotada quando estritamente
necessária para garantir o superior interesse da criança. Portanto, é fundamental preservar e fortalecer os
laços familiares e, quando não houver alternativas viáveis, promover a colocação do acolhido em um
processo de adoção.
[18: SILVA, E. R. A. (Org). O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA: OS ABRIGOS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL. Brasília: Ipea/Conanda, 2004.]
Esse contexto levou à elaboração do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de
Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC) em 2006, que contou com a
participação de representantes do governo e da sociedade civil. Aprovado por meio da Resolução
Conanda/CNAS nº 1/2006, o PNCFC é uma iniciativa de natureza transversal e intersetorial que envolve
não apenas os órgãos do Poder Executivo, mas também outros atores que fazem parte do Sistema de
Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente (SGD). Isso inclui instituições como o Judiciário e o
Ministério Público. As diretrizes estabelecidas pelo PNCFC demandaram uma revisão das práticas das
instituições que administravam os serviços de acolhimento, impulsionando uma reorganização desses
serviços sob a responsabilidade da política de assistência social, seja na forma institucional ou por meio
do acolhimento familiar.
No entanto, é importante ressaltar que a ampla cobertura populacional não garante que o serviço de
acolhimento seja amplamente disponível, especialmente nos municípios de menor porte. Na verdade, a

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maioria dos 3.560 municípios que não ofereciam esse serviço em 2018 era composta em sua maioria por
municípios de pequeno porte I (86,0%) e pequeno porte II (12,8%).
[19: LICIO, E. C; et. al. REORDENAMENTO DOS SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES E IMPLEMENTAÇÃO DE NOVAS MODALIDADES ? FAMÍLIA ACOLHEDORA E
REPÚBLICAS. Brasília: Ipea, 2021. No prelo.]
Em que pese às formas de acolhimento, há diferentes formas, quais sejam:
O acolhimento institucional para Crianças e Adolescentes pode ser disponibilizado em dois tipos de
unidades:
Abrigo: Este é um serviço de acolhimento provisório que pode abrigar até 20 crianças e adolescentes em
cada unidade. Deve ser projetado para se assemelhar a uma residência com uma localização na
comunidade, preferencialmente em áreas residenciais. O ambiente deve ser acolhedor e oferecer
condições institucionais que atendam a padrões de dignidade.

Casa-Lar: Este é um serviço de acolhimento provisório que é oferecido em unidades residenciais e tem
capacidade para acomodar no máximo 10 crianças e adolescentes por unidade. Nestas casas, pelo menos
uma pessoa ou um casal trabalha como educador/cuidador residente, prestando cuidados a um grupo de
crianças e adolescentes que foram afastados de seus ambientes familiares. Importante notar que a casa-
lar não é a residência do educador/cuidador, mas um local separado para abrigar as crianças e
adolescentes.
O acesso ao acolhimento institucional para Crianças e Adolescentes é estabelecido por decisão do Poder
Judiciário e por solicitação do Conselho Tutelar. A autoridade competente deve ser notificada, conforme
previsto no Artigo 93 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Art. 93. As entidades que mantenham programa de acolhimento institucional poderão, em caráter
excepcional e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação da autoridade
competente, fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da Infância e da
Juventude, sob pena de responsabilidade.
Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público e se
necessário com o apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas necessárias para promover a
imediata reintegração familiar da criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for isso possível
ou recomendável, para seu encaminhamento a programa de acolhimento familiar, institucional ou a família
substituta, observado o disposto no § 2 o do art. 101 desta Lei.

No que tange à acolhimento em república para jovens egressos de outros serviços de acolhimento, trata-
se de um serviço destinado principalmente a jovens que passaram anteriormente por serviços de
acolhimento para crianças e adolescentes. Ele oferece apoio e moradia a jovens com idades entre 18 e 21
anos. Cada unidade de acolhimento pode abrigar até 6 pessoas. O objetivo deste serviço é promover a
autonomia gradual dos residentes, incentivando a independência deles ao operar em um sistema que
permite que os moradores tomem decisões conjuntas sobre o funcionamento da unidade.
O acesso a esse serviço pode ser realizado por meio de encaminhamento do Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (CREAS), do Serviço de Abordagem Social e de outros serviços ou
políticas públicas relacionadas. Além disso, é possível acessá-lo por demanda espontânea, ou seja, os
próprios jovens ou suas famílias podem buscar esse serviço diretamente. Para obter mais informações e
orientações sobre como acessar o acolhimento em república, entre em contato com o CREAS ou o órgão

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competente em sua região.


No que cabe ao acolhimento em Família Acolhedora, este é um serviço que organiza o acolhimento de
crianças ou adolescentes em residências de famílias acolhedoras cadastradas. Para integrar esse serviço
, as famílias interessadas devem passar por um processo de seleção, capacitação e acompanhamento.
Esse serviço oferece atendimento em um ambiente familiar, garantindo uma abordagem individualizada e
oportunidades de convivência comunitária. Cada Família Acolhedora acolhe uma criança ou adolescente
por vez, a menos que se trate de um grupo de irmãos que possa ser acolhido conjuntamente.
Para obter informações detalhadas, recomenda-se entrar em contato com a Secretaria de Assistência
Social do município do interessado. Eles poderão orientar sobre os procedimentos e requisitos
necessários para o acesso a esses serviços.

O VÍNCULO AFETIVO CRIADO E A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA ACOLHEDORA COMO INSTRUMENTO


DE PROTEÇÃO
Muitas pessoas, ao se depararem com a ideia do acolhimento familiar, levantam a questão de se
estabelecer vínculos em uma situação transitória pode ser prejudicial para as crianças e/ou adolescentes
em acolhimento. O senso comum sugere que criar laços com alguém que não estará sempre presente
pode causar sofrimento, sendo potencialmente desvantajoso tanto para o adulto que cuida quanto para a
criança ou adolescente em acolhimento. No entanto, pesquisas em diversas áreas do desenvolvimento
humano vêm apresentando resultados que apontam exatamente o contrário.
O afeto desempenha um papel tão essencial no desenvolvimento humano quanto fatores como uma boa
alimentação, sono adequado e hidratação. A ausência de afeto, de contato físico e de interações com
figuras de referência é altamente prejudicial para o crescimento de crianças e adolescentes, e até mesmo
para o bem-estar dos adultos. Mesmo que o acolhimento seja uma medida temporária, é fundamental que
a criança ou adolescente seja inserido em um ambiente que lhes permita cultivar um senso de
pertencimento, segurança e confiança nos adultos ao seu redor.
A falta de atenção e carinho por parte dos cuidadores, a vivência em um ambiente institucional com alta
rotatividade de educadores ou a negligência de suas necessidades podem resultar em fenômenos como o
?desamparo aprendido? (quando a pessoa tolera estímulos e situações aversivas por não conseguir evitá-
los) e ?estresse tóxico?. Essas condições podem impactar o funcionamento cerebral e a forma como a
criança ou adolescente desenvolve suas habilidades interpessoais, inclusive na vida adulta.
Numerosos estudos científicos corroboram os benefícios de um desenvolvimento social, emocional e
cognitivo mais saudável para crianças e adolescentes que passam pelo acolhimento em famílias
acolhedoras, em comparação com o acolhimento institucional. Essas pesquisas reforçam a conclusão de
que laços afetivos, um ambiente seguro e estímulos são fundamentais na vida de crianças e adolescentes
, assim como a oportunidade de conviver em uma comunidade, que essa forma de atendimento oferece.
A pesquisa ?Órfãos da Romênia?, conduzida pelo Hospital de Crianças de Boston, vinculado à
Universidade de Harvard, evidencia que a ausência de vínculos afetivos duradouros e a falta de atenção
às necessidades individuais em instituições de acolhimento podem acarretar prejuízos significativos no
desenvolvimento integral de bebês. O estudo revela que, para cada ano que um bebê passa em uma
instituição, sem estabelecer vínculos afetivos estáveis e sem receber atenção adequada às suas
necessidades individuais, pode haver um atraso de até quatro meses em seu desenvolvimento global.
[20: VIDA, O começo da. O CASO DOS ÓRFÃOS DA ROMÊNIA. O começo da vida. Disponível em: https
://ocomecodavida.com.br/o-caso-dos-orfaos-da-romenia/. Acesso em 18 de outubro de 2023.]

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Essa pesquisa concentrou-se em crianças abrigadas em instituições na Romênia após a Segunda Guerra
Mundial, particularmente durante os primeiros anos de suas vidas, e identificou déficits cognitivos
consideráveis. Essa investigação, de caráter longitudinal, teve início em 2000 e incluiu acompanhamento
regular com a realização de eletroencefalogramas (EEGs) para mapear a atividade cerebral de crianças
que passaram por diferentes configurações de cuidado (institucionalização, acolhimento familiar e
convivência em famílias sem intervenção do Estado).
Embora tenha sido realizada em um contexto substancialmente distinto do que observa-se no Brasil
atualmente, esse estudo oferece subsídios relevantes para reflexões acerca da importância dos cuidados
individualizados na primeira infância, especialmente no contexto das medidas de proteção relacionadas ao
acolhimento.
A Teoria do Apego, proposta pelo renomado psicólogo e psiquiatra britânico John Bowlby, se desenvolveu
a partir de suas observações e reflexões sobre a separação precoce de bebês de suas figuras de cuidado
primárias. Essa teoria enfatiza a relevância de uma figura de apego estável para prover cuidados à criança
, principalmente nos primeiros três anos de vida. A continuidade e a estabilidade dessa relação (que pode
envolver pais, mães, familiares ou qualquer adulto capaz de fornecer apoio afetivo) exercem um impacto
significativo no desenvolvimento social e psicológico da criança, uma vez que esse período influencia de
maneira profunda suas futuras interações sociais.
Diante dessa perspectiva, o acolhimento em famílias acolhedoras se configura como um espaço
fundamental de cuidado, pois prioriza a qualidade e a consistência das relações estabelecidas com a
criança, alinhando-se com os princípios da Teoria do Apego e valorizando o impacto positivo de relações
afetivas duradouras em seu desenvolvimento.
A primeira infância, compreendida como o período que se estende desde a gestação até os seis anos de
idade, assume uma importância crucial para o desenvolvimento humano. Isso se deve ao fato de que é
nessa fase que se estabelece a base de conexões neuronais que irão sustentar as aquisições posteriores
nos âmbitos psicomotor, cognitivo e social. Em termos mais simples, é durante esse intervalo que se
delineia a arquitetura cerebral que influenciará o desenvolvimento da criança ao longo de sua vida.
Consequentemente, é fundamental proporcionar às crianças pequenas, além dos cuidados básicos, como
higiene e alimentação, interações físicas, afeto e atenção individualizada. Esses elementos contribuem
para a formação da individualidade da criança, a aquisição da linguagem e o estabelecimento das bases
de sua interação com a sociedade.
Contudo, é relevante ressaltar que o acolhimento em famílias acolhedoras não beneficia somente as
crianças na primeira infância. Pessoas de todas as faixas etárias colhem benefícios significativos de
relacionamentos estáveis, afetivos e orientados para o indivíduo, proporcionados por ambientes familiares
. Na adolescência, por exemplo, um ambiente seguro e estável favorece a navegação pelas
transformações e pelo processo de amadurecimento. Durante esse período, ocorre a consolidação da
identidade e o desenvolvimento da autonomia dos jovens, e um ambiente de acolhimento familiar pode
desempenhar um papel valioso nesse processo. Isso se torna particularmente relevante quando esses
jovens deixam o sistema de acolhimento ao atingir a maioridade, aos dezoito anos, e enfrentam novos
desafios na busca de sua independência.
Fornecer experiências de apego, mesmo que temporárias, não é apenas desejável, mas essencial para
um acolhimento eficaz. As crianças e adolescentes que necessitam de medidas protetivas encontram-se
em um estágio particularmente delicado de suas vidas. Nesse momento de turbulência, é fundamental que
o acolhimento proporcione um ambiente seguro, protetor, afetuoso e estável.
Através dessa relação afetiva, a criança ou adolescente poderá fortalecer-se. Ao ser introduzido em um

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novo modelo de configuração familiar, que o recebe com carinho, respeito e cuidados personalizados, ele
ou ela terá melhores condições para enfrentar e superar os traumas causados pelas violências sofridas
anteriormente.
Todo o trabalho desenvolvido pela equipe do serviço, incluindo a capacitação das famílias acolhedoras e o
acompanhamento das crianças e adolescentes, considera o acolhimento como uma medida de caráter
temporário. Portanto, crianças e adultos passarão por uma transição assistida pela equipe técnica. A saída
do acolhimento não deve ser vista como uma ruptura adicional, mas sim como um processo gradual,
respeitoso e que visa ao melhor interesse da criança e do adolescente.
É relevante observar que, no contexto do acolhimento institucional, as crianças e adolescentes também
estabelecem vínculos significativos com profissionais, educadores e outros acolhidos. Portanto, ao se
desligarem do serviço, eles também precisam enfrentar a despedida e passar por uma transição,
semelhante ao acolhimento em família acolhedora. A qualidade e segurança dos vínculos estabelecidos
influenciam diretamente a possibilidade de uma despedida tranquila e a transição para a próxima fase de
suas vidas.

FORMAS DE ADOÇÃO DE CRIANÇAS INCLUÍDAS EM FAMÍLIAS ACOLHEDORAS


Como discutido no capítulo anterior, referente à função da família acolhedora, essas famílias se oferecem
voluntariamente para receber, em seus lares, crianças e/ou adolescentes em situação de risco social,
quando se torna necessário, por decisão judicial, afastá-los de suas famílias de origem. Após o
afastamento do convívio familiar, esses jovens podem ser direcionados tanto para o acolhimento
institucional quanto para o acolhimento familiar, sendo preferível, de acordo com o artigo 34, §1 do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que sejam encaminhados ao acolhimento familiar, uma vez
que as famílias acolhedoras conseguem fornecer cuidados personalizados. Nas palavras do juiz da Vara
da Infância e Juventude de Campinas, Eduardo Bigolin, sobre a prioridade do acolhimento familiar:

As crianças que passam pela família acolhedora são bem avaliadas em exames psicológicos e sociais.
Têm maior interação, integração com a comunidade e gozam de maior liberdade, muito porque a família
cuidou do lado afetivo, moral e material que talvez não estivesse sendo provido pela família de origem. 43
[21: POMBO, Bárbara. AFASTADAS DA FAMÍLIA DE ORIGEM, CRIANÇAS SÃO ACOLHIDAS POR
MÃES E PAIS PROVISÓRIOS. Conselho Nacional de Justiça, 2014. Disponível em: https://www.cnj.jus.br
/afastadas-da-familia-de-origem-criancas-sao-acolhidas-por-maes-e-pais-provisorios/. Acesso em 23 de
outubro de 2023.]

Um dos critérios para que uma família seja elegível para participar do programa de família acolhedora é
que ela não esteja registrada no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) e não manifeste qualquer interesse
em adotar o acolhido. É necessário que a família assine uma declaração oficial confirmando seu
desinteresse pela adoção. Essa distinção é amplamente enfatizada, como evidenciado por trechos
retirados de materiais informativos de diversas instituições, com o objetivo de deixar claro que a família
acolhedora e a adoção são processos totalmente distintos.
O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que o acolhimento institucional não deve ser
prolongado por mais de 18 (dezoito) meses, a menos que haja uma comprovação da necessidade que
atenda ao superior interesse da criança ou adolescente (conforme o artigo 19, §2 do ECA). Essa medida é
considerada provisória e excepcional, destinada a servir como uma transição para reintegrar a criança ou

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adolescente em sua família biológica ou, se isso não for possível, colocá-los em uma família substituta
(conforme o artigo 101, §1 do ECA). Essa abordagem visa sempre ao melhor interesse da criança e do
adolescente.
No entanto, como mencionado anteriormente e também abordado no livro ?Adoção, Desafios da
Contemporaneidade?, as crianças e adolescentes muitas vezes permanecem nos serviços de acolhimento
por períodos muito mais longos do que o previsto. Isso ocorre devido a várias razões, como a falta de
possibilidade de retorno às famílias de origem ou de inserção em famílias substitutas. Como resultado, em
alguns casos, os vínculos afetivos se tornam muito fortes, a ponto de a criança ou adolescente considerar
a família acolhedora como seus pais, assim como a família acolhedora considera a criança ou adolescente
como seu filho. Esse forte vínculo pode despertar o desejo de adoção, mas a prática é impedida devido
ao termo de não adoção e, principalmente, devido à lei que não autoriza tal ato.
[22: LEVINZON, Gina Khafif; LISONDO, Alicia Dorado. ADOÇÃO: DESAFIOS DA
CONTEMPORANEIDADE. São Paulo: Blucher, 2015. pp. 203-204.]

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas análises apresentadas ao longo deste trabalho, conclui-se que o Programa de Acolhimento
Familiar desempenha um papel crucial no desenvolvimento de crianças em situação de vulnerabilidade,
proporcionando atendimento individualizado por parte das famílias acolhedoras. A legislação busca
priorizar o acolhimento familiar em detrimento do institucional, mas essa preferência nem sempre é
observada na prática.
Para aliviar a sobrecarga dos abrigos institucionais, é necessário que o Poder Público promova e incentive
os estados e municípios a implementarem políticas públicas de acolhimento familiar. Isso deve ser uma
medida de fácil instalação e acesso. Em relação à conscientização da população, é fundamental realizar
campanhas que abordem a realidade dos acolhimentos institucionais e da adoção, destacando os
benefícios do acolhimento familiar e suas diversas vantagens.
Quanto à possibilidade de a família acolhedora adotar, deve-se realizar uma análise de cada caso
concreto, garantindo a aplicação do melhor interesse da criança e do adolescente e o cumprimento da
prioridade absoluta estabelecida na Constituição Federal. No entanto, não é adequado justificar o
desvirtuamento do propósito do programa, uma vez que, na maioria dos casos, as famílias acolhedoras
não se inscrevem com a intenção de adotar, mas desenvolvem esse desejo devido aos laços afetivos que
se formam.
Além disso, é importante notar que o tempo de acolhimento costuma se prolongar, o que fortalece os laços
afetivos entre as crianças e os pais acolhedores. Esta pesquisa evidenciou que muitas vezes as próprias
crianças e adolescentes buscam nas famílias acolhedoras a figura materna e paterna que talvez não
tenham tido anteriormente. Portanto, diante da destituição da família de origem, seria justo permitir que a
família acolhedora convertesse sua guarda em adoção. Afinal, se a guarda foi concedida pelo tribunal, já
houve uma análise quanto à compatibilidade e à boa-fé dos pais acolhedores, preenchendo, portanto, os
requisitos da adoção.
Negar a possibilidade de adoção pela família acolhedora com base na falta de habilitação no Cadastro
Nacional de Adoção (CNA) é uma medida cruel, considerando que o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) viabiliza a adoção com base em vínculos afetivos, conforme previsto no artigo 50, §13, incisos II e

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III. A jurisprudência já consolidou o entendimento de que a afetividade supera os vínculos consanguíneos


e quaisquer outros laços, e esse mesmo entendimento deve ser aplicado no contexto do acolhimento
familiar.
Portanto, é imperativo que o artigo 34, parágrafo 3º, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) seja
modificado para incluir a possibilidade de inscrição no Programa Famílias Acolhedoras de pessoas que
façam parte ou não dos cadastros de adoção. Uma alternativa louvável seria a implementação, por parte
dos estados e municípios, de duas modalidades de acolhimento familiar, à semelhança do que foi
realizado em Belo Horizonte (MG) e regulamentado na Lei Municipal 10.871/2015.
Uma dessas modalidades seria destinada a crianças com perspectiva de reintegração familiar, na qual os
interessados não poderiam ter a intenção de adoção. A outra modalidade seria voltada para crianças para
as quais a reintegração à família de origem fosse improvável ou cujos pais biológicos já tivessem sido
destituídos do poder familiar. Nesta modalidade, pessoas interessadas na adoção seriam permitidas e,
idealmente, poderiam suportar a duração prolongada do acolhimento familiar. Isso seria especialmente
importante no caso de crianças mais velhas ou com alguma doença ou deficiência física, mental,
intelectual ou sensorial, uma vez que, como demonstrado, elas têm menos chances de serem adotadas
por aqueles cadastrados no Cadastro Nacional de Adoção (CNA).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 08 de agosto
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://ocomecodavida.com.br/o-caso-dos-orfaos-da-romenia/. Acesso em 18 de outubro de 2023.

Prof. Me. Gianfranco Faggin Mastro AndreáUNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP

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Prof.UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP

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=================================================================================
Arquivo 1: TCC Barbara - Família acolhedora.docx (8247 termos)
Arquivo 2: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2023/04/eixo3-primeira-infancia-relatorio-
qualitativo.pdf (57504 termos)
Termos comuns: 886
Similaridade: 1,36%
O texto abaixo é o conteúdo do documento TCC Barbara - Família acolhedora.docx (8247 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2023/04/eixo3-primeira-infancia-relatorio-qualitativo.pdf (57504 termos)

=================================================================================
UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP
CURSO DE BACHARELADO
DIREITO

BARBARA EUNICE DE QUEIROZ ALMEIDA ? R.A. D984144

A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

SÃO PAULO

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2023

A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Paulista


? UNIP como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Me. Gianfranco Faggin Mastro Andreá

SÃO PAULO
2023

FICHA CATALOGRÁFICA

BARBARA EUNICE DE QUEIROZ ALMEIDA

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A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Paulista


? UNIP como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

São Paulo, _______ de ______________________________ de 2023.

Prof.
UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP
DEDICATÓRIA

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus, que foi minha força durante todo esse processo. A minha
família que foi fundamental, e esteve ao meu lado em todos os momentos.
Ao meu orientador Gianfranco, por todo apoio e suporte. Aos meus professores que foram essenciais, e a
todos que contribuíram para a finalização desse ciclo.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, sem ele nada disso seria possível. Ao meu professor orientador
Gianfranco, que foi fundamental em todos os momentos desse período, em estar sempre solicito, pelas
orientações, pelas aulas incríveis e por reascender meu amor pelo direito civil.
Agradeço a minha família por estar sempre ao meu lado, me apoiando, dando forças e me incentivando a
me manter firme. Vocês foram fundamentais, vocês são a minha força e meu combustível para continuar.
Aos meus amigos, que estiveram sempre me incentivando, e fazendo com que esse processo se tornasse
mais leve. Aos meus colegas, que estiveram junto comigo, e entendem o significado da finalização desse
ciclo, que levo com muito carinho.
Aos meus professores, que além de contribuir para nos formar, estão nos transformando. A educação
muda nossas vidas. E, espero poder passar um pouco do que aprendi com cada um deles.
E por fim, agradeço a mim mesma. Não foi nada fácil, pensei por muitas vezes em desistir. Sofri e tive que
me reinventar inúmeras vezes para acompanhar todo esse processo. E proporcionalmente a toda
dificuldade, foi o meu processo de crescimento. De aprendizado, e evolução. Me sinto muito feliz em
chegar até aqui. A Barbara de 2019 com certeza está muito orgulhosa, é a realização de um sonho que
começou a 5 anos atrás.

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?Se você pode sonhar, você pode fazer.? ? Walt Disney

RESUMO

Tem-se como objetivo principal demonstrar que existem formas de abordagem mais benéficas para as
crianças e os adolescentes em acolhimento institucional do que os abrigos, mais conhecidos como
orfanatos. A razão é simples e cristalina: além da alta rotatividade de crianças e adolescentes nesses
locais, há também a rotatividade de funcionários, dificultando, assim, a criação de laços emocionais entre
as pessoas, e isso prejudica muito os jovens ao longo da vida. Além do benefício psicológico, é importante
demonstrar que através da Lei 12.010/09 inseriu o acolhimento familiar no Estatuto da Criança e do
Adolescente, permitindo legalmente que essa seja uma forma de acolhimento, e acima de tudo, que é
preferencial, em relação ao acolhimento institucional. Logo, se uma criança chega até o abrigo e tem
alguma família acolhedora que aceitaria acolher essa criança até ser adotada ou retornar para a família de
origem, esta irá para a casa da família ao invés de ficar no abrigo aguardando que a situação se resolva.
Será utilizado o método exploratório por pesquisa bibliográfica desenvolvida a partir do conteúdo
desenvolvido composto por livros, sites, artigos, teses, depoimentos pessoais, resumos e artigos
científicos.

Palavras-chave: Família acolhedora. Direito civil. Crianças. Estatuto da Criança e do Adolescente. Adoção.

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ABSTRACT

The main objective is to demonstrate that there are more beneficial approaches to children and
adolescents in institutional care than shelters, better known as orphanages. The reason is simple and
crystal clear: in addition to the high turnover of children and adolescents in these places, there is also a
turnover of employees, thus making it difficult to create emotional bonds between people, and this greatly
harms young people throughout their lives. In addition to the psychological benefit, it is important to
demonstrate that through Law 12.010/09, family foster care was included in the Child and Adolescent
Statute, legally allowing this to be a form of foster care, and above all, that it is preferential, in relation to
foster care. institutional. Therefore, if a child arrives at the shelter and there is a welcoming family that
would accept to welcome that child until they are adopted or return to their family of origin, they will go to
the family home instead of staying at the shelter waiting for the situation to be resolved. The exploratory
method will be used through bibliographical research developed from the content developed consisting of
books, websites, articles, theses, personal statements, summaries and scientific articles.

Keywords: Welcoming family. Civil right. Children. Child and Adolescent Statute. Adoption.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
A carência de conexões emocionais duradouras e a falta de estímulos apropriados resultam em prejuízos,
por vezes irreparáveis, para o progresso das crianças, afetando diversas áreas como o aspecto
psicológico, psicomotor, cognitivo e linguístico.
Particularmente durante a primeira infância, se uma criança não mantiver um vínculo sólido com um
cuidador principal ou se estiver envolvida em relações carentes de qualidade e estímulo, o
desenvolvimento do cérebro será grandemente prejudicado.
[1: RAYANE, Daniele Barbosa; SOUSA, Daniela Heitzmann Amaral Valentim de. PRIVAÇÃO AFETIVA E
SUAS CONSEQUÊNCIAS NA PRIMEIRA INFÂNCIA: UM ESTUDO DE CASO. Inter Scientia, vol. 6, Nº 2,
Ano 2018. Disponível em: https://periodicos.unipe.br/index.php/interscientia/article/download/721/601/.
Acesso em 03 de agosto de 2023.]
No Brasil, de acordo com informações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cerca de 5% das crianças e
adolescentes sob cuidado institucional estão sob os cuidados de Famílias Acolhedoras.
[2: BRASÍLIA. UNIDADES DE ACOLHIMENTO E FAMÍLIAS ACOLHEDORAS. Conselho Nacional de
Justiça, 2022. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2022/04/eixo4-primeira-infancia-
relatorio-final.pdf. Acesso em 03 de agosto de 2023.]
Os métodos predominantes na atualidade, como o acolhimento institucional (abrangendo abrigos e lares

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de acolhimento), apesar da presença de profissionais habilidosos e infraestrutura para suprir necessidades


básicas, frequentemente não conseguem estabelecer laços emocionais estáveis e duradouros que seriam
capazes de proporcionar ao acolhido os referenciais necessários para garantir um desenvolvimento pleno
em termos físicos, sociais e emocionais. Isso é em parte devido às características intrínsecas a esse
modelo, como a alta rotatividade de pessoas e a insuficiência de funcionários em relação ao número de
crianças, por exemplo.
Outra face a ser considerada no contexto do acolhimento institucional é a dificuldade em assegurar
plenamente o respeito pelas características individuais e necessidades específicas de cada acolhido, bem
como sua trajetória de vida. Isso resulta em questões relacionadas à construção de uma autoimagem
positiva, à preservação de sua saúde emocional e ao desenvolvimento abrangente. Além disso, o modelo
institucional de certa forma priva crianças e adolescentes da interação social e comunitária, prejudicando
sua futura adaptação à sociedade.
O Acolhimento Familiar, por sua vez, busca primordialmente o bem-estar da criança e do adolescente,
bem como o cumprimento das disposições legais vigentes.
Mas afinal, qual é o papel da família na vida de uma criança ou adolescente?
Conforme o artigo 227 da Constituição Federal:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.

O problema principal do presente trabalho gira em torno de demonstrar que o acolhimento institucional,
embora tenha raízes profundas, por ser utilizado há muitos anos, foi necessário olhar com outros olhos
para os jovens inseridos nesse modo de acolhimento para nova avaliação com o intuito de verificar se, de
fato, essa era a forma mais saudável de acolher crianças e jovens que já tiveram de sair de suas famílias
originárias.
Após tal estudo, foi possível verificar que a forma mais adequada, a fim de evitar danos psicológicos
maiores do que já não ter a sua família biológica presente, era o acolhimento familiar, para que pudessem
desenvolver de forma mais saudável.
Assim, inicialmente será abordado sobre a história da assistência familiar no Brasil, o que significa, como
se deu a formação familiar, como é a atual conjuntura e por qual motivo é tão importante que os jovens
tenham o apoio de suas famílias. Ainda no primeiro capítulo será falado sobre a Criação do Sistema Único
de Assistência Social (SUAS), e qual o papel dele perante a sociedade e, sobretudo, sobre os jovens.
Logo depois, no capítulo seguinte, será versado sobre quais são os direitos das pessoas menores de
idade, como são resguardados os seus direitos, se são, de fato, respeitados, e qual o papel do Estatuto da
Criança e do Adolescente diante dessa situação, principalmente face à problemática principal, que é o
acolhimento familiar, seja da família biológica ou da família que o acolhe apenas por um período, como
dito acima, além de falar sobre o direito à assistência social também.
Posteriormente, no terceiro capítulo, será exposto sobre os serviços de acolhimento existentes com o
objetivo de acolher os jovens: crianças e adolescentes. Aqui será falado também sobre o instituto da
família acolhedora, e quais são os incentivos criados para tornar-se uma delas.
No quarto capítulo e último capítulo, finalmente é dito sobre como a família acolhedora é benéfica para

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aqueles que são acolhidos, sobre como o vínculo afetivo pode mudar a vida desses jovens, sobre as
formas de adoção de crianças acolhidas nesses lares se dão e por fim, depoimentos de famílias
acolhedoras. Aqui, pode ser citado um exemplo: é um requisito não estar inscrito na fila de adoção para
ser uma família acolhedora, pois se assim fosse este processo, seria basicamente como ?furar fila? para
adotar uma criança mais rapidamente sem passar por todos os esquemas burocráticos.
Após, será apresentada a conclusão de todo o tema exposto ao longo do trabalho, e por fim, as
referências bibliográficas.

HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA FAMILIAR NO BRASIL


No Brasil, a prática de institucionalizar crianças e adolescentes remonta aos tempos da colonização. Sob a
influência do modelo europeu, a Igreja Católica assumiu a responsabilidade de cuidar de bebês e crianças
órfãos ou abandonados. No século XVIII, recém-nascidos eram frequentemente deixados de maneira
anônima nas chamadas rodas dos expostos ? mecanismos giratórios instalados nas paredes das Santas
Casas de Misericórdia. Essas crianças tinham pouca ou nenhuma interação com a comunidade, eram
completamente afastadas de suas famílias de origem e raramente retornavam ao convívio familiar.
No final do século XIX, surgiram educandários, reformatórios, internatos e orfanatos que atendiam a um
grande número de crianças e adolescentes, separados por sexo e faixa etária. Todas as atividades
ocorriam nas instalações dessas instituições, e os acolhidos tinham limitada interação com a comunidade
em termos de educação, saúde, lazer e profissionalização. A principal missão dessas instituições era
corrigir e controlar filhos de adultos pobres considerados incapazes de prover sua educação.
No século XX, enquanto ocorriam mudanças significativas no cenário internacional, como a Declaração de
Genebra sobre os Direitos da Criança adotada pela Liga das Nações Unidas em 1924 e a Declaração
Universal dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas em 1959, o Brasil aprovava o seu
primeiro Código de Menores em 1927, que permaneceu em vigor até a sanção de um segundo Código em
1979, com a Lei nº 6.697.
Pela primeira vez, o termo ?menor em situação irregular? foi introduzido na legislação para abordar
menores de 18 anos que estavam abandonados materialmente, sendo vítimas de maus-tratos, em risco
moral, desassistidos juridicamente, com desvios de conduta ou autores de infrações penais. No entanto, o
principal problema do código era a falta de distinção entre menores infratores e aqueles que eram vítimas
da pobreza, abandono e maus-tratos.
O grande marco ocorreu em 1988 com a aprovação da Constituição da República Federativa do Brasil,
que reconheceu as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, sem qualquer forma de distinção. A
Doutrina da Proteção Integral foi incorporada ao artigo 227 da Constituição, que estabelece:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com


absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Nos anos 1990, houve a introdução de novas legislações que priorizaram a infância no Brasil, incluindo a
Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O ECA

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trouxe inovações ao estabelecer a prioridade absoluta no orçamento público para a implementação de


políticas voltadas para crianças e adolescentes. Embora a porcentagem do orçamento destinada a essa
finalidade tenha sido ampliada ao longo dos anos, as disposições do ECA, que apresentaram um novo
formato para a política de atendimento à infância e juventude, ainda não estão plenamente implementadas
até os dias atuais.
A partir de 1999, começou a ser desenvolvido um abrangente Sistema de Garantia de Direitos da Criança
e do Adolescente, visando efetivar a proteção em todas as dimensões. Nesse contexto, iniciativas de
acolhimento em famílias acolhedoras começaram a surgir, ganhando força principalmente a partir da
metade dos anos 2000.
Em 2001, uma caravana da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados realizou visitas a
serviços de acolhimento institucional em oito estados e no Distrito Federal. Essas visitas tinham o
propósito de avaliar a difícil realidade enfrentada nos espaços de acolhimento, evidenciando o flagrante
desrespeito ao direito à convivência familiar e comunitária, bem como aos princípios estabelecidos no ECA
.
No ano subsequente, o Colóquio Técnico sobre a Rede Nacional de Abrigos, que reuniu representantes do
poder público, da sociedade civil e do UNICEF, estimulou a realização de uma pesquisa nacional sobre
crianças e adolescentes em serviços de acolhimento. Com recursos do Conselho Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente (Conanda), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) conduziu uma
análise abrangendo 589 abrigos, nos quais mais de 19 mil crianças e adolescentes eram atendidos.
[3: IPEA. MISÉRIA E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA COMPROMETEM A CONVIVÊNCIA FAMILIAR. Ipea.
Disponível em: https://www.ipea.gov.br/acaosocial/article283f.html?id_article=88. Acesso em 02 de
outubro de 2023.]
Essa pesquisa marcou um ponto de inflexão. Os resultados evidenciaram que a maioria das crianças e
adolescentes, mesmo tendo família (portanto, não sendo órfãos ou abandonados), permanecia em
acolhimento institucional por longos períodos. Além disso, os principais motivos para o acolhimento
estavam relacionados à pobreza, o que representava uma séria violação de direitos. Conforme a
Constituição Federal de 1988 (artigos 226 e 227) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
nenhuma criança deveria ser afastada de sua família devido à pobreza.
Em 2005, durante o II Colóquio Internacional de Acolhimento Familiar realizado em Campinas (SP), surgiu
o Grupo de Trabalho Nacional Pró-Convivência Familiar e Comunitária, uma iniciativa conjunta da
Associação Brasileira Terra dos Homens (ABTH) e do UNICEF, em parceria com o então Ministério de
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e a então Secretaria Especial dos Direitos Humanos
(SEDH). O GT foi estabelecido com o propósito de aprofundar as discussões relacionadas ao direito à
convivência familiar e comunitária, bem como de disseminar experiências inovadoras e diferentes
modalidades de acolhimento, como o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (SFA).
A partir de reuniões promovidas pelo GT em diversas regiões do país, emergiu um movimento nacional
que viabilizou um amplo intercâmbio entre especialistas brasileiros, visando promover e engajar atores
locais. Esse movimento culminou no lançamento do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do
Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária em 2006.
Em 2009, uma conquista significativa ocorreu: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi alterado
para incluir, pela primeira vez, o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora como uma instituição
jurídica. Posteriormente, o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) e a Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) conduziram o Levantamento Nacional de Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento.
Esse estudo identificou a existência de 144 Serviços em Família Acolhedora, com 932 crianças e

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adolescentes acolhidos, representando somente 2,5% do total de 36.929 crianças e adolescentes


acolhidos em 2.624 unidades de acolhimento institucional.
A partir de 2012, essas informações passaram a ser monitoradas anualmente, utilizando o Censo SUAS (
Sistema Único de Assistência Social). O dado mais recente disponível, referente a 2019, indicou a
existência de 381 SFAs, abrigando 1.535 crianças e adolescentes (correspondendo a 4,9% do total de
crianças e adolescentes acolhidos, sendo que 29.998 deles estavam em 2.801 serviços de acolhimento
institucional).

CRIAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SUAS)


A Constituição Federal de 1988, conforme destacado anteriormente, ofereceu oportunidades para o
avanço das políticas sociais no Brasil, incorporando algumas demandas da classe trabalhadora e
estabelecendo a assistência social como uma política pública de responsabilidade do Estado.
Ao longo dos anos, a assistência social no Brasil tem buscado superar um modelo arcaico de assistência
social que perpetua a subordinação e a dependência dos usuários dos serviços sociais em relação às
ações do Estado e de entidades filantrópicas. Em vez disso, ela visa estabelecer uma nova prática
baseada na consolidação de direitos. Nesse contexto, a criação do Sistema Único de Assistência Social (
SUAS) representa um passo significativo nessa direção.
O SUAS foi aprovado em julho de 2005 pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) por meio da
Norma Operacional Básica nº 130 (NOB nº 130). Essa conquista decorreu dos esforços e da luta da
sociedade civil organizada, bem como de profissionais e estudiosos da política de assistência social. A IV
Conferência de Assistência Social, realizada em Brasília/DF, desempenhou um papel fundamental na
formulação do SUAS, marcando um importante marco em sua construção e legitimação no contexto da
assistência social.
A fim de progredir nesse sentido, a sociedade brasileira requer um sistema que vá além de interesses
específicos, capacitando a assistência social a se consolidar como uma política pública. Esse sistema
deve traduzir os princípios da Lei Orgânica em ações concretas e coesas, rompendo com as práticas
tradicionais fragmentadas e descontínuas que têm caracterizado a assistência social no país.
O SUAS, alinhado com as diretrizes e princípios da PNAS, apresenta-se com a missão central de romper
significativamente com a história de serviços sócioassistenciais precários e focalizados, particularmente no
que diz respeito aos recursos humanos e materiais. Este sistema propõe uma nova abordagem para o
campo da assistência social no Brasil, reformulando fundamentalmente as suas práticas e
responsabilidades.
[4: PAIVA, B. A. O SUAS E OS DIREITOS SOCIOASSISTENCIAIS; A UNIVERSALIDADE DA
SEGURIDADE SOCIAL EM DEBATE. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, ano XXVI, Especial, nº 87,
2009.]
Seu objetivo primordial é coordenar a política de assistência social por meio da colaboração entre os três
níveis de governo: municípios, estados e União. Este modelo de gestão é descentralizado e participativo,
atribuindo a cada nível de governo a responsabilidade pela implementação da Política de Assistência
Social em suas áreas de atuação.
O SUAS promove uma reformulação institucional na assistência social, com a descentralização dos
serviços para o âmbito municipal, priorizando a realidade local, a territorialidade e as especificidades de
cada região.
A descentralização política e administrativa, bem como a participação, são princípios de organização da

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assistência social definidos pela LOAS e pela Constituição Federal de 1988. Esses princípios foram
incorporados pela PNAS e transmitidos ao SUAS como elementos estruturais. Eles valorizam o poder local
e a participação popular como fundamentos da prática democrática, recuperando um modelo democrático
após décadas de autoritarismo.
A descentralização se reflete em avanços a nível municipal, como a criação de secretarias dedicadas à
assistência social na maioria dos municípios do país, totalizando mais de 4.500 em todos os estados
brasileiros e no Distrito Federal. Esse número demonstra a significativa capacidade de estabelecimento e
assimilação progressiva de conceitos, procedimentos técnicos e operacionais uniformes e coordenados
para a prestação de serviços sociais, financiamento e gestão da política de assistência social. Antes
subordinadas a outras secretarias ou mesmo aos gabinetes dos governantes, a presença de uma
secretaria autônoma confere um novo status à política de assistência social, permitindo-lhe maior
autonomia em relação a outras áreas do governo.
[5: BRASIL. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO E COMBATE À FOME. DESAFIOS DA GESTÃO DO
SUAS NOS MUNICÍPIOS E ESTADOS. Instituto de Estudos Especiais da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. Capacita Suas v.2. Brasília: MDS, 2008.]
A descentralização traz consigo a ênfase na participação. A criação de canais de participação e controle
social é um processo em desenvolvimento na PNAS e, consequentemente, no SUAS. Esse processo visa
a estabelecer uma ?intermediação dos interesses organizados e da luta pela efetivação dos direitos
sociais?, com o objetivo de fomentar a participação efetiva da sociedade na formulação e no
acompanhamento das políticas sociais. Atualmente, as Conferências de Assistência Social e os Conselhos
de Assistência têm sido os espaços que mais oportunizam à sociedade civil organizada uma voz ativa.
[6: COUTO, B. R; et. al. (Coord.). O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL: UMA
REALIDADE EM MOVIMENTO. São Paulo: Cortez, 2010. p. 119.]
A participação social é considerada um dos elementos mais relevantes da estrutura do SUAS. A criação
de mecanismos de controle social reflete uma nova perspectiva e amadurecimento na relação entre o
Estado e a sociedade, na qual o Estado reconhece a importância do controle exercido pela sociedade
sobre suas ações, algo impensável nos anos de ditadura no país. No entanto, é essencial que essa
participação seja qualificada e adquira novo significado, especialmente nas unidades responsáveis pela
operacionalização dos serviços sociais, com a presença efetiva dos usuários da política.
Além dessas duas diretrizes, o SUAS é fundamentado na centralidade da família, assim como a PNAS, no
que diz respeito à concepção e implementação dos benefícios, programas e serviços de assistência social
. A abordagem centrada na família desloca o foco do indivíduo isolado para o núcleo familiar, ou seja,
passa a priorizar o atendimento à família em suas diversas configurações, a fim de fortalecer a capacidade
de enfrentamento das necessidades sociais.
[7: SANTOS, A. C. A; et al. E A FAMÍLIA, COMO VAI? UM OLHAR SOBRE OS PROGRAMAS DE
TRANSFERÊNCIA DE RENDA NO BRASIL SOB A ÓTICA DA FAMÍLIA. In: Estudos de Política e Teoria
Social. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Praia Vermelha, nº 18, 2008. p. 30-45.]

OS DIREITOS DE INDIVÍDUOS MENORES DE IDADE: A CRIAÇÃO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE
A Lei Federal nº 8.069/1990, amplamente reconhecida como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA

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), representa o marco legal e regulatório dos direitos humanos de crianças e adolescentes no Brasil.
Promulgada em 13 de julho de 1990, essa lei resultou de um extenso processo de debate democrático
liderado por movimentos sociais, organizações, coalizões e diversos membros da sociedade civil, bem
como instituições que buscavam conscientizar e garantir o respeito aos direitos de crianças e adolescentes
como sujeitos detentores de direitos.
O ECA trouxe uma mudança de paradigma significativa, pois foi a primeira legislação na América Latina a
adotar a doutrina da proteção integral. Ela se inspirou na Declaração Universal dos Direitos da Criança de
1979 e na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, que foram aprovadas pela Organização
das Nações Unidas (ONU) em 1989.
Como João Batista Costa Saraiva destacou, o Estatuto desfez a ideia de ?menor como objeto do processo
? e introduziu uma transformação paradigmática, reconhecendo a criança e o adolescente como sujeitos
de direitos, participantes ativos, e cidadãos em pleno direito.
[8: SARAIVA, João Batista Costa. ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI: DA INDIFERENÇA À
PROTEÇÃO INTEGRAL: UMA ABORDAGEM SOBRE A RESPONSABILIDADE PENAL JUVENIL. Porto
Alegre, Livro do Advogado, 2013. p. 37.]
A Lei 8.069/1990 estabelece a doutrina da proteção integral como princípio fundamental e determina que é
responsabilidade da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público garantir, com
prioridade absoluta, a efetivação dos direitos desses jovens em áreas como vida, saúde, alimentação,
educação, esporte, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e
comunitária.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabeleceu a proteção integral por meio dos seus 267
artigos, apresentando uma carta abrangente de direitos fundamentais para a infância e a juventude.
Segundo o documento, uma criança é considerada como aquela que tem até 12 anos de idade
incompletos, enquanto um adolescente é definido como alguém com idade entre 12 e 18 anos.
Entre as contribuições significativas do ECA, além de reconhecer crianças e adolescentes como
detentores de direitos, destacam-se a criação do Conselho Tutelar, responsável por defender e proteger
os direitos desses jovens, bem como os Conselhos de Direitos da Criança em níveis nacional, estadual e
municipal. Estes conselhos têm o papel de formular políticas para crianças e adolescentes em suas
respectivas esferas de atuação.
Ao longo das últimas três décadas, diversas melhorias foram incorporadas ao ECA, incluindo a Lei do
Sistema Nacional Socioeducativo (Sinase), que regula a execução de medidas socioeducativas, a Lei da
Primeira Infância, que exige a implementação de políticas específicas para os primeiros anos de vida, e a
Lei da Adoção, que detalha os procedimentos relacionados à adoção. É importante ressaltar que a partir
dos 12 anos, os adolescentes que cometem atos infracionais são responsabilizados, mas com garantias
de devido processo legal, contraditório e ampla defesa.
Apesar desses avanços, desafios persistem. É fundamental continuar trabalhando na implementação
integral do ECA e leis relacionadas, com a criação de políticas públicas que assegurem efetivamente
direitos fundamentais, como educação de qualidade, assistência médica, moradia, alimentação,
convivência familiar e comunitária, cultura, esporte, lazer, entre outros.
O Estatuto da Criança e do Adolescente continua sendo reconhecido como um dos mais avançados do
mundo, destacando-se por sua abordagem centrada na proteção integral. Essa importância reside no
reconhecimento de que crianças e adolescentes são sujeitos de direito, atravessando um período crucial
de desenvolvimento físico, psicológico, moral e social, merecendo, com prioridade absoluta, uma proteção
completa.

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A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E À ASSISTÊNCIA


SOCIAL
A prática da adoção de crianças e adolescentes, conforme estabelecida no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), é considerada uma medida de proteção que tem como principal objetivo garantir o
direito das crianças e adolescentes à convivência em um ambiente familiar e comunitário que proporcione
um crescimento saudável, fornecendo condições adequadas para o desenvolvimento físico, cognitivo e
social. A família é, portanto, o primeiro contexto no qual a criança se desenvolve como membro da
sociedade, desempenhando um papel fundamental na mediação entre os indivíduos e as normas, regras e
valores da sociedade. Ela é responsável pela garantia e efetivação dos direitos das crianças e
adolescentes a vida, proteção e desenvolvimento de habilidades humanas, proporcionando as condições
materiais e humanas necessárias para o seu crescimento.
No entanto, Bruschini destaca a importância de questionar a noção de família como algo natural, uma vez
que essa categoria é uma construção humana mutável, cultural e historicamente influenciada. De acordo
com Simões, a família não deve mais ser restrita a modelos preestabelecidos, mas sim definida como
qualquer ambiente onde o indivíduo se sinta acolhido, desenvolvendo laços de afeto e confiança. Portanto
, a definição de família deve basear-se na existência de vínculos afetivos, não limitando-se apenas aos
laços de consanguinidade.
[9: BRUSCHINI, Cristina. TEORIA CRÍTICA DA FAMÍLIA. In: AZEVEDO, Maria Amélia; GUERRA, Viviane
Nogueira de Azevedo (Org.). Infância e violência doméstica: fronteiras do conhecimento. 3. ed. São Paulo
: Cortez: 2000.][10: SIMÕES, Carlos. CURSO DE DIREITO DE SERVIÇO SOCIAL. São Paulo: Cortez,
2008.]
Nessa perspectiva, de acordo com a legislação brasileira, é importante enfatizar que as relações
estabelecidas no âmbito familiar são mais importantes do que as configurações familiares em si. Isso
ocorre porque as funções de proteção e socialização podem ser desempenhadas em uma variedade de
arranjos familiares e contextos socioculturais. Dessa forma, a propensão é rejeitar qualquer noção
preconcebida de um modelo familiar ?normal?.
[11: BRASIL. PLANO NACIONAL DE PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E DEFESA DO DIREITO DE
CRIANÇAS E ADOLESCENTES À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA. 2006. p. 29.]
Conforme a visão de Paiva:
[12: PAIVA, Leila Dutra. ADOÇÃO: SIGNIFICADOS E POSSIBILIDADES. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2004. pp. 65-66.]

[...] a dificuldade, ainda hoje, parece ser o reconhecimento de que a família, em si mesma, é uma criação
cultural que pode ou não estar fundada em laços biológicos. A adoção tem representado, há muito tempo,
a possibilidade de formar uma família assentada não na biologia, mas na cultura.

É importante ressaltar que a família, como um grupo social, é um espaço onde as contradições sociais se
manifestam e, portanto, também é suscetível a expressões da questão social. No Brasil, um grande
número de famílias encontra-se em situação de pobreza e miséria. Essas condições dificultam ou
impedem que elas desempenhem suas funções de proteção e cuidado em relação aos seus filhos,

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resultando na negação de seu espaço de humanização.


Essa desumanização do espaço familiar é afetada por várias questões, principalmente o desemprego e a
falta de acesso à riqueza materialmente produzida. Conforme destacado por Kaloustian, essa situação de
desumanização do espaço familiar está diretamente ligada à situação de pobreza e ao perfil de
distribuição de renda no país.
[13: KALOUSTIAN, Sílvio Manoug (Org.). FAMÍLIA BRASILEIRA: A BASE DE TUDO. 7. ed. São Paulo:
Cortez; Brasília: Unicef, 2005. p. 12.]
Consequentemente, na sociedade atual, observa-se que milhares de famílias não têm as condições
necessárias para cumprir suas funções legalmente e socialmente atribuídas. Esse contexto sociofamiliar
frequentemente resulta em situações de negligência, abandono e institucionalização de crianças e
adolescentes. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, em um levantamento nacional
dos abrigos da Rede de Serviços de Ação Continuada (Rede SAC), cerca de 20 mil crianças vivem nos
589 abrigos pesquisados em todo o Brasil, privadas de seus direitos fundamentais à convivência familiar.
[14: IPEA ? Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E
COMUNITÁRIA: OS ABRIGOS PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL. Brasília, 2004.]
Diante desse cenário, a discussão sobre a família tem se intensificado, uma vez que ela é reconhecida
como uma instituição central na sociedade. A família desempenha funções cruciais no cuidado e proteção
de seus membros, mas enfrenta dificuldades em cumprir plenamente essas funções, o que tem levado a
um reconhecimento especial por parte do Estado e da sociedade.
Nesse contexto, a família é considerada a célula base da sociedade brasileira, conforme estipula a
Constituição Federal de 1988, eu seu artigo 226: ?A família, base da sociedade, tem especial proteção do
Estado?.
A família é entendida como um local de convivência de indivíduos, unidos por laços consanguíneos,
afetivos ou de confiança. Segundo Simões, nesse espaço, desenvolve-se e mantém-se o sentimento de
pertencimento e identidade social, bem como a transmissão de valores e comportamentos pessoais.
[15: SIMÕES, Carlos. CURSO DE DIREITO DE SERVIÇO SOCIAL. São Paulo: Cortez, 2008. p. 190.]
No Brasil, esse reconhecimento é fundamentado na Constituição Federal de 1988, no Estatuto da Criança
e do Adolescente, na Política Nacional de Assistência Social, e no Plano Nacional de Promoção, Proteção
e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. No entanto, é
fundamental que essas garantias saiam do papel e sejam efetivamente implementadas na prática.
Para alcançar esse objetivo, é fundamental que o Estado e a sociedade protejam os grupos familiares em
diversas configurações que enfrentam condições de empobrecimento. Nesse contexto, o Estado deve
garantir o acesso aos direitos universais para as famílias, o que, por sua vez, resulta na proteção dos
direitos das crianças e dos adolescentes. Famílias que possuem acesso a esses direitos, juntamente com
outros, têm melhores condições para cumprir suas funções de cuidado, afeto e socialização, além de
superar possíveis situações de vulnerabilidade.
[16: JUNQUEIRA, Maíz Ramos; SERRES Jamille de Freitas. ADOÇÃO PELOS CAMINHOS LEGAIS:
RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA. Textos & Contextos (Porto Alegre), Porto Alegre, v. 9, n. 1, p. 182-192,
jan./jun. 2010.]
A contradição central na questão do abandono de crianças e adolescentes reside nesse ponto, sendo uma
dinâmica da questão social. As famílias que, devido às condições da realidade social, não conseguem
cumprir suas funções acabam negligenciando e abandonando seus filhos, tornando-se destinatárias das
políticas sociais compensatórias. Entretanto, essas políticas frequentemente se mostram insuficientes para
atender à grande demanda social e para atender eficazmente aqueles a quem se destinam. Diante

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dessas condições objetivas, é importante examinar como o trabalho social tem evoluído no campo dos
direitos das crianças e dos adolescentes à convivência familiar e comunitária, considerando seus limites e
possibilidades.
[17: SILVA, Simone Regina Medeiros. ABANDONO: UMA AGRESSÃO AOS DIREITOS DA CRIANÇA. In
: FREIRE, Fernando. Abandono e adoção: contribuições para uma cultura de adoção. São Paulo: Terre de
Hommes, 2001.]

OS SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO DESTINADOS À CRIANÇAS E ADOLESCENTES


Para abordar inteiramente este tema, é crucial abordar a história do acolhimento desde suas origens e
discutir as principais transformações influenciadas por fatores sociais, culturais e econômicos.
A prática de institucionalização de crianças e adolescentes de famílias de classes populares tem raízes
que remontam ao período inicial da colonização brasileira.
O programa de acolhimento familiar formalmente surgiu no Brasil na década de 1990. Ele trouxe consigo
reflexões alternativas em relação à institucionalização infantil, buscando meios para reintegrar a criança à
sua família e, sobretudo, promover a inclusão dessa família na sociedade.
Foi somente com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069 de 13 de julho de
1990, que crianças e adolescentes passaram a ser reconhecidos como sujeitos de direito, em uma
condição peculiar de desenvolvimento. Esses direitos fundamentais, conforme estabelecido pelo artigo 227
da Constituição Federal, englobam o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
protegendo-os contra todas as formas de negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão.
A partir do Estatuto da Criança e do Adolescente, o encaminhamento para os serviços de acolhimento
passou a ser concebido como uma medida protetiva, de caráter excepcional e temporário, que visa
primordialmente ao superior interesse da criança e do adolescente.
Antes da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, muitos internatos e orfanatos
desempenhavam o papel de cuidar das crianças, frequentemente tratando-as como se fossem
abandonadas. A perspectiva predominante não considerava os direitos das crianças e dos adolescentes.
No contexto brasileiro, a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990
são exemplos de marcos legais que estabelecem de forma explícita a importância da convivência familiar
e comunitária para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. O ECA é amplamente reconhecido
internacionalmente como um instrumento jurídico orientador para o atendimento digno de crianças e
adolescentes.
A convivência familiar sempre ocupou uma posição de destaque no Estatuto da Criança e do Adolescente
. O papel da família é considerado um elemento indispensável nos processos de proteção e
desenvolvimento, e o ECA estabeleceu que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos em uma
condição peculiar de desenvolvimento.
O artigo 15 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe:

A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em
processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na
Constituição e nas leis.

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Quando a separação do ambiente familiar de uma criança ou adolescente se torna necessária, é


apropriado que ela seja acolhida em outro ambiente familiar de forma temporária, ao mesmo tempo em
que se desenvolve um trabalho com sua família de origem. Nesse contexto, é fundamental realizar ações
que facilitem a reintegração da criança ao seu núcleo familiar.

AS FORMAS E MEDIDAS DE ACOLHIMENTO EXISTENTES


Os serviços de acolhimento têm a finalidade de receber crianças e adolescentes que estejam sujeitos a
medidas protetivas determinadas pelo poder judiciário, em decorrência de violações de seus direitos, como
abandono, negligência ou violência, ou quando a família não é capaz de fornecer o cuidado e proteção
necessários.
É importante destacar que o afastamento da criança ou adolescente de sua família deve ser uma medida
excepcional e só deve ser aplicada em situações de grave risco para sua integridade física e/ou
psicológica. O principal objetivo é garantir que esses jovens possam retornar com segurança ao convívio
familiar, priorizando a família de origem sempre que possível, e recorrendo à família substituta somente
em casos excepcionais, por meio de procedimentos legais, como adoção, guarda ou tutela.
O serviço de acolhimento deve focar na preservação e no fortalecimento das relações familiares e
comunitárias das crianças e adolescentes. O atendimento deve ser individualizado e oferecido a grupos
reduzidos, garantindo espaços privados para guardar objetos pessoais e registros relacionados à história
de vida e ao desenvolvimento de cada criança e adolescente.
Em 2004, uma pesquisa realizada pelo Ipea e pelo Conanda sobre a situação dos abrigos para crianças e
adolescentes revelou a persistência de violações de direitos, que se mantinham muito aquém do que era
preconizado pelo ECA, mesmo mais de uma década após sua promulgação. Essas constatações
enfatizaram a importância de redirecionar a discussão para a observância dos princípios que ressaltam a
natureza temporária e excepcional das medidas de acolhimento. Segundo esses princípios, a separação
de uma criança ou adolescente de sua família deve ser breve e apenas adotada quando estritamente
necessária para garantir o superior interesse da criança. Portanto, é fundamental preservar e fortalecer os
laços familiares e, quando não houver alternativas viáveis, promover a colocação do acolhido em um
processo de adoção.
[18: SILVA, E. R. A. (Org). O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA: OS ABRIGOS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL. Brasília: Ipea/Conanda, 2004.]
Esse contexto levou à elaboração do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de
Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC) em 2006, que contou com a
participação de representantes do governo e da sociedade civil. Aprovado por meio da Resolução
Conanda/CNAS nº 1/2006, o PNCFC é uma iniciativa de natureza transversal e intersetorial que envolve
não apenas os órgãos do Poder Executivo, mas também outros atores que fazem parte do Sistema de
Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente (SGD). Isso inclui instituições como o Judiciário e o
Ministério Público. As diretrizes estabelecidas pelo PNCFC demandaram uma revisão das práticas das
instituições que administravam os serviços de acolhimento, impulsionando uma reorganização desses
serviços sob a responsabilidade da política de assistência social, seja na forma institucional ou por meio
do acolhimento familiar.
No entanto, é importante ressaltar que a ampla cobertura populacional não garante que o serviço de
acolhimento seja amplamente disponível, especialmente nos municípios de menor porte. Na verdade, a

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maioria dos 3.560 municípios que não ofereciam esse serviço em 2018 era composta em sua maioria por
municípios de pequeno porte I (86,0%) e pequeno porte II (12,8%).
[19: LICIO, E. C; et. al. REORDENAMENTO DOS SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES E IMPLEMENTAÇÃO DE NOVAS MODALIDADES ? FAMÍLIA ACOLHEDORA E
REPÚBLICAS. Brasília: Ipea, 2021. No prelo.]
Em que pese às formas de acolhimento, há diferentes formas, quais sejam:
O acolhimento institucional para Crianças e Adolescentes pode ser disponibilizado em dois tipos de
unidades:
Abrigo: Este é um serviço de acolhimento provisório que pode abrigar até 20 crianças e adolescentes em
cada unidade. Deve ser projetado para se assemelhar a uma residência com uma localização na
comunidade, preferencialmente em áreas residenciais. O ambiente deve ser acolhedor e oferecer
condições institucionais que atendam a padrões de dignidade.

Casa-Lar: Este é um serviço de acolhimento provisório que é oferecido em unidades residenciais e tem
capacidade para acomodar no máximo 10 crianças e adolescentes por unidade. Nestas casas, pelo menos
uma pessoa ou um casal trabalha como educador/cuidador residente, prestando cuidados a um grupo de
crianças e adolescentes que foram afastados de seus ambientes familiares. Importante notar que a casa-
lar não é a residência do educador/cuidador, mas um local separado para abrigar as crianças e
adolescentes.
O acesso ao acolhimento institucional para Crianças e Adolescentes é estabelecido por decisão do Poder
Judiciário e por solicitação do Conselho Tutelar. A autoridade competente deve ser notificada, conforme
previsto no Artigo 93 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Art. 93. As entidades que mantenham programa de acolhimento institucional poderão, em caráter
excepcional e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação da autoridade
competente, fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da Infância e da
Juventude, sob pena de responsabilidade.
Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público e se
necessário com o apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas necessárias para promover a
imediata reintegração familiar da criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for isso possível
ou recomendável, para seu encaminhamento a programa de acolhimento familiar, institucional ou a família
substituta, observado o disposto no § 2 o do art. 101 desta Lei.

No que tange à acolhimento em república para jovens egressos de outros serviços de acolhimento, trata-
se de um serviço destinado principalmente a jovens que passaram anteriormente por serviços de
acolhimento para crianças e adolescentes. Ele oferece apoio e moradia a jovens com idades entre 18 e 21
anos. Cada unidade de acolhimento pode abrigar até 6 pessoas. O objetivo deste serviço é promover a
autonomia gradual dos residentes, incentivando a independência deles ao operar em um sistema que
permite que os moradores tomem decisões conjuntas sobre o funcionamento da unidade.
O acesso a esse serviço pode ser realizado por meio de encaminhamento do Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (CREAS), do Serviço de Abordagem Social e de outros serviços ou
políticas públicas relacionadas. Além disso, é possível acessá-lo por demanda espontânea, ou seja, os
próprios jovens ou suas famílias podem buscar esse serviço diretamente. Para obter mais informações e
orientações sobre como acessar o acolhimento em república, entre em contato com o CREAS ou o órgão

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competente em sua região.


No que cabe ao acolhimento em Família Acolhedora, este é um serviço que organiza o acolhimento de
crianças ou adolescentes em residências de famílias acolhedoras cadastradas. Para integrar esse serviço
, as famílias interessadas devem passar por um processo de seleção, capacitação e acompanhamento.
Esse serviço oferece atendimento em um ambiente familiar, garantindo uma abordagem individualizada e
oportunidades de convivência comunitária. Cada Família Acolhedora acolhe uma criança ou adolescente
por vez, a menos que se trate de um grupo de irmãos que possa ser acolhido conjuntamente.
Para obter informações detalhadas, recomenda-se entrar em contato com a Secretaria de Assistência
Social do município do interessado. Eles poderão orientar sobre os procedimentos e requisitos
necessários para o acesso a esses serviços.

O VÍNCULO AFETIVO CRIADO E A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA ACOLHEDORA COMO INSTRUMENTO


DE PROTEÇÃO
Muitas pessoas, ao se depararem com a ideia do acolhimento familiar, levantam a questão de se
estabelecer vínculos em uma situação transitória pode ser prejudicial para as crianças e/ou adolescentes
em acolhimento. O senso comum sugere que criar laços com alguém que não estará sempre presente
pode causar sofrimento, sendo potencialmente desvantajoso tanto para o adulto que cuida quanto para a
criança ou adolescente em acolhimento. No entanto, pesquisas em diversas áreas do desenvolvimento
humano vêm apresentando resultados que apontam exatamente o contrário.
O afeto desempenha um papel tão essencial no desenvolvimento humano quanto fatores como uma boa
alimentação, sono adequado e hidratação. A ausência de afeto, de contato físico e de interações com
figuras de referência é altamente prejudicial para o crescimento de crianças e adolescentes, e até mesmo
para o bem-estar dos adultos. Mesmo que o acolhimento seja uma medida temporária, é fundamental que
a criança ou adolescente seja inserido em um ambiente que lhes permita cultivar um senso de
pertencimento, segurança e confiança nos adultos ao seu redor.
A falta de atenção e carinho por parte dos cuidadores, a vivência em um ambiente institucional com alta
rotatividade de educadores ou a negligência de suas necessidades podem resultar em fenômenos como o
?desamparo aprendido? (quando a pessoa tolera estímulos e situações aversivas por não conseguir evitá-
los) e ?estresse tóxico?. Essas condições podem impactar o funcionamento cerebral e a forma como a
criança ou adolescente desenvolve suas habilidades interpessoais, inclusive na vida adulta.
Numerosos estudos científicos corroboram os benefícios de um desenvolvimento social, emocional e
cognitivo mais saudável para crianças e adolescentes que passam pelo acolhimento em famílias
acolhedoras, em comparação com o acolhimento institucional. Essas pesquisas reforçam a conclusão de
que laços afetivos, um ambiente seguro e estímulos são fundamentais na vida de crianças e adolescentes
, assim como a oportunidade de conviver em uma comunidade, que essa forma de atendimento oferece.
A pesquisa ?Órfãos da Romênia?, conduzida pelo Hospital de Crianças de Boston, vinculado à
Universidade de Harvard, evidencia que a ausência de vínculos afetivos duradouros e a falta de atenção
às necessidades individuais em instituições de acolhimento podem acarretar prejuízos significativos no
desenvolvimento integral de bebês. O estudo revela que, para cada ano que um bebê passa em uma
instituição, sem estabelecer vínculos afetivos estáveis e sem receber atenção adequada às suas
necessidades individuais, pode haver um atraso de até quatro meses em seu desenvolvimento global.
[20: VIDA, O começo da. O CASO DOS ÓRFÃOS DA ROMÊNIA. O começo da vida. Disponível em: https
://ocomecodavida.com.br/o-caso-dos-orfaos-da-romenia/. Acesso em 18 de outubro de 2023.]

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Essa pesquisa concentrou-se em crianças abrigadas em instituições na Romênia após a Segunda Guerra
Mundial, particularmente durante os primeiros anos de suas vidas, e identificou déficits cognitivos
consideráveis. Essa investigação, de caráter longitudinal, teve início em 2000 e incluiu acompanhamento
regular com a realização de eletroencefalogramas (EEGs) para mapear a atividade cerebral de crianças
que passaram por diferentes configurações de cuidado (institucionalização, acolhimento familiar e
convivência em famílias sem intervenção do Estado).
Embora tenha sido realizada em um contexto substancialmente distinto do que observa-se no Brasil
atualmente, esse estudo oferece subsídios relevantes para reflexões acerca da importância dos cuidados
individualizados na primeira infância, especialmente no contexto das medidas de proteção relacionadas ao
acolhimento.
A Teoria do Apego, proposta pelo renomado psicólogo e psiquiatra britânico John Bowlby, se desenvolveu
a partir de suas observações e reflexões sobre a separação precoce de bebês de suas figuras de cuidado
primárias. Essa teoria enfatiza a relevância de uma figura de apego estável para prover cuidados à criança
, principalmente nos primeiros três anos de vida. A continuidade e a estabilidade dessa relação (que pode
envolver pais, mães, familiares ou qualquer adulto capaz de fornecer apoio afetivo) exercem um impacto
significativo no desenvolvimento social e psicológico da criança, uma vez que esse período influencia de
maneira profunda suas futuras interações sociais.
Diante dessa perspectiva, o acolhimento em famílias acolhedoras se configura como um espaço
fundamental de cuidado, pois prioriza a qualidade e a consistência das relações estabelecidas com a
criança, alinhando-se com os princípios da Teoria do Apego e valorizando o impacto positivo de relações
afetivas duradouras em seu desenvolvimento.
A primeira infância, compreendida como o período que se estende desde a gestação até os seis anos de
idade, assume uma importância crucial para o desenvolvimento humano. Isso se deve ao fato de que é
nessa fase que se estabelece a base de conexões neuronais que irão sustentar as aquisições posteriores
nos âmbitos psicomotor, cognitivo e social. Em termos mais simples, é durante esse intervalo que se
delineia a arquitetura cerebral que influenciará o desenvolvimento da criança ao longo de sua vida.
Consequentemente, é fundamental proporcionar às crianças pequenas, além dos cuidados básicos, como
higiene e alimentação, interações físicas, afeto e atenção individualizada. Esses elementos contribuem
para a formação da individualidade da criança, a aquisição da linguagem e o estabelecimento das bases
de sua interação com a sociedade.
Contudo, é relevante ressaltar que o acolhimento em famílias acolhedoras não beneficia somente as
crianças na primeira infância. Pessoas de todas as faixas etárias colhem benefícios significativos de
relacionamentos estáveis, afetivos e orientados para o indivíduo, proporcionados por ambientes familiares
. Na adolescência, por exemplo, um ambiente seguro e estável favorece a navegação pelas
transformações e pelo processo de amadurecimento. Durante esse período, ocorre a consolidação da
identidade e o desenvolvimento da autonomia dos jovens, e um ambiente de acolhimento familiar pode
desempenhar um papel valioso nesse processo. Isso se torna particularmente relevante quando esses
jovens deixam o sistema de acolhimento ao atingir a maioridade, aos dezoito anos, e enfrentam novos
desafios na busca de sua independência.
Fornecer experiências de apego, mesmo que temporárias, não é apenas desejável, mas essencial para
um acolhimento eficaz. As crianças e adolescentes que necessitam de medidas protetivas encontram-se
em um estágio particularmente delicado de suas vidas. Nesse momento de turbulência, é fundamental que
o acolhimento proporcione um ambiente seguro, protetor, afetuoso e estável.
Através dessa relação afetiva, a criança ou adolescente poderá fortalecer-se. Ao ser introduzido em um

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novo modelo de configuração familiar, que o recebe com carinho, respeito e cuidados personalizados, ele
ou ela terá melhores condições para enfrentar e superar os traumas causados pelas violências sofridas
anteriormente.
Todo o trabalho desenvolvido pela equipe do serviço, incluindo a capacitação das famílias acolhedoras e o
acompanhamento das crianças e adolescentes, considera o acolhimento como uma medida de caráter
temporário. Portanto, crianças e adultos passarão por uma transição assistida pela equipe técnica. A saída
do acolhimento não deve ser vista como uma ruptura adicional, mas sim como um processo gradual,
respeitoso e que visa ao melhor interesse da criança e do adolescente.
É relevante observar que, no contexto do acolhimento institucional, as crianças e adolescentes também
estabelecem vínculos significativos com profissionais, educadores e outros acolhidos. Portanto, ao se
desligarem do serviço, eles também precisam enfrentar a despedida e passar por uma transição,
semelhante ao acolhimento em família acolhedora. A qualidade e segurança dos vínculos estabelecidos
influenciam diretamente a possibilidade de uma despedida tranquila e a transição para a próxima fase de
suas vidas.

FORMAS DE ADOÇÃO DE CRIANÇAS INCLUÍDAS EM FAMÍLIAS ACOLHEDORAS


Como discutido no capítulo anterior, referente à função da família acolhedora, essas famílias se oferecem
voluntariamente para receber, em seus lares, crianças e/ou adolescentes em situação de risco social,
quando se torna necessário, por decisão judicial, afastá-los de suas famílias de origem. Após o
afastamento do convívio familiar, esses jovens podem ser direcionados tanto para o acolhimento
institucional quanto para o acolhimento familiar, sendo preferível, de acordo com o artigo 34, §1 do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que sejam encaminhados ao acolhimento familiar, uma vez
que as famílias acolhedoras conseguem fornecer cuidados personalizados. Nas palavras do juiz da Vara
da Infância e Juventude de Campinas, Eduardo Bigolin, sobre a prioridade do acolhimento familiar:

As crianças que passam pela família acolhedora são bem avaliadas em exames psicológicos e sociais.
Têm maior interação, integração com a comunidade e gozam de maior liberdade, muito porque a família
cuidou do lado afetivo, moral e material que talvez não estivesse sendo provido pela família de origem. 43
[21: POMBO, Bárbara. AFASTADAS DA FAMÍLIA DE ORIGEM, CRIANÇAS SÃO ACOLHIDAS POR
MÃES E PAIS PROVISÓRIOS. Conselho Nacional de Justiça, 2014. Disponível em: https://www.cnj.jus.br
/afastadas-da-familia-de-origem-criancas-sao-acolhidas-por-maes-e-pais-provisorios/. Acesso em 23 de
outubro de 2023.]

Um dos critérios para que uma família seja elegível para participar do programa de família acolhedora é
que ela não esteja registrada no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) e não manifeste qualquer interesse
em adotar o acolhido. É necessário que a família assine uma declaração oficial confirmando seu
desinteresse pela adoção. Essa distinção é amplamente enfatizada, como evidenciado por trechos
retirados de materiais informativos de diversas instituições, com o objetivo de deixar claro que a família
acolhedora e a adoção são processos totalmente distintos.
O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que o acolhimento institucional não deve ser
prolongado por mais de 18 (dezoito) meses, a menos que haja uma comprovação da necessidade que
atenda ao superior interesse da criança ou adolescente (conforme o artigo 19, §2 do ECA). Essa medida é
considerada provisória e excepcional, destinada a servir como uma transição para reintegrar a criança ou

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adolescente em sua família biológica ou, se isso não for possível, colocá-los em uma família substituta
(conforme o artigo 101, §1 do ECA). Essa abordagem visa sempre ao melhor interesse da criança e do
adolescente.
No entanto, como mencionado anteriormente e também abordado no livro ?Adoção, Desafios da
Contemporaneidade?, as crianças e adolescentes muitas vezes permanecem nos serviços de acolhimento
por períodos muito mais longos do que o previsto. Isso ocorre devido a várias razões, como a falta de
possibilidade de retorno às famílias de origem ou de inserção em famílias substitutas. Como resultado, em
alguns casos, os vínculos afetivos se tornam muito fortes, a ponto de a criança ou adolescente considerar
a família acolhedora como seus pais, assim como a família acolhedora considera a criança ou adolescente
como seu filho. Esse forte vínculo pode despertar o desejo de adoção, mas a prática é impedida devido
ao termo de não adoção e, principalmente, devido à lei que não autoriza tal ato.
[22: LEVINZON, Gina Khafif; LISONDO, Alicia Dorado. ADOÇÃO: DESAFIOS DA
CONTEMPORANEIDADE. São Paulo: Blucher, 2015. pp. 203-204.]

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas análises apresentadas ao longo deste trabalho, conclui-se que o Programa de Acolhimento
Familiar desempenha um papel crucial no desenvolvimento de crianças em situação de vulnerabilidade,
proporcionando atendimento individualizado por parte das famílias acolhedoras. A legislação busca
priorizar o acolhimento familiar em detrimento do institucional, mas essa preferência nem sempre é
observada na prática.
Para aliviar a sobrecarga dos abrigos institucionais, é necessário que o Poder Público promova e incentive
os estados e municípios a implementarem políticas públicas de acolhimento familiar. Isso deve ser uma
medida de fácil instalação e acesso. Em relação à conscientização da população, é fundamental realizar
campanhas que abordem a realidade dos acolhimentos institucionais e da adoção, destacando os
benefícios do acolhimento familiar e suas diversas vantagens.
Quanto à possibilidade de a família acolhedora adotar, deve-se realizar uma análise de cada caso
concreto, garantindo a aplicação do melhor interesse da criança e do adolescente e o cumprimento da
prioridade absoluta estabelecida na Constituição Federal. No entanto, não é adequado justificar o
desvirtuamento do propósito do programa, uma vez que, na maioria dos casos, as famílias acolhedoras
não se inscrevem com a intenção de adotar, mas desenvolvem esse desejo devido aos laços afetivos que
se formam.
Além disso, é importante notar que o tempo de acolhimento costuma se prolongar, o que fortalece os laços
afetivos entre as crianças e os pais acolhedores. Esta pesquisa evidenciou que muitas vezes as próprias
crianças e adolescentes buscam nas famílias acolhedoras a figura materna e paterna que talvez não
tenham tido anteriormente. Portanto, diante da destituição da família de origem, seria justo permitir que a
família acolhedora convertesse sua guarda em adoção. Afinal, se a guarda foi concedida pelo tribunal, já
houve uma análise quanto à compatibilidade e à boa-fé dos pais acolhedores, preenchendo, portanto, os
requisitos da adoção.
Negar a possibilidade de adoção pela família acolhedora com base na falta de habilitação no Cadastro
Nacional de Adoção (CNA) é uma medida cruel, considerando que o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) viabiliza a adoção com base em vínculos afetivos, conforme previsto no artigo 50, §13, incisos II e

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III. A jurisprudência já consolidou o entendimento de que a afetividade supera os vínculos consanguíneos


e quaisquer outros laços, e esse mesmo entendimento deve ser aplicado no contexto do acolhimento
familiar.
Portanto, é imperativo que o artigo 34, parágrafo 3º, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) seja
modificado para incluir a possibilidade de inscrição no Programa Famílias Acolhedoras de pessoas que
façam parte ou não dos cadastros de adoção. Uma alternativa louvável seria a implementação, por parte
dos estados e municípios, de duas modalidades de acolhimento familiar, à semelhança do que foi
realizado em Belo Horizonte (MG) e regulamentado na Lei Municipal 10.871/2015.
Uma dessas modalidades seria destinada a crianças com perspectiva de reintegração familiar, na qual os
interessados não poderiam ter a intenção de adoção. A outra modalidade seria voltada para crianças para
as quais a reintegração à família de origem fosse improvável ou cujos pais biológicos já tivessem sido
destituídos do poder familiar. Nesta modalidade, pessoas interessadas na adoção seriam permitidas e,
idealmente, poderiam suportar a duração prolongada do acolhimento familiar. Isso seria especialmente
importante no caso de crianças mais velhas ou com alguma doença ou deficiência física, mental,
intelectual ou sensorial, uma vez que, como demonstrado, elas têm menos chances de serem adotadas
por aqueles cadastrados no Cadastro Nacional de Adoção (CNA).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Planalto, 1988.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 08 de agosto
de 2023.
BRASIL. LEI Nº 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Institui o Código Civil. Planalto, 2002. Disponível
em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em 07 de agosto de
2023.
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Prof. Me. Gianfranco Faggin Mastro AndreáUNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP

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Prof.UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP

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=================================================================================
Arquivo 1: TCC Barbara - Família acolhedora.docx (8247 termos)
Arquivo 2: https://www.escavador.com/sobre/8663884/daniela-heitzmann-amaral-valentim-de-sousa
(9171 termos)
Termos comuns: 115
Similaridade: 0,66%
O texto abaixo é o conteúdo do documento TCC Barbara - Família acolhedora.docx (8247 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://www.escavador.com/sobre/8663884/daniela-heitzmann-amaral-valentim-de-sousa (9171 termos)

=================================================================================
UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP
CURSO DE BACHARELADO
DIREITO

BARBARA EUNICE DE QUEIROZ ALMEIDA ? R.A. D984144

A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

SÃO PAULO

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2023

A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Paulista


? UNIP como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Me. Gianfranco Faggin Mastro Andreá

SÃO PAULO
2023

FICHA CATALOGRÁFICA

BARBARA EUNICE DE QUEIROZ ALMEIDA

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A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Paulista


? UNIP como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

São Paulo, _______ de ______________________________ de 2023.

Prof.
UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP
DEDICATÓRIA

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus, que foi minha força durante todo esse processo. A minha
família que foi fundamental, e esteve ao meu lado em todos os momentos.
Ao meu orientador Gianfranco, por todo apoio e suporte. Aos meus professores que foram essenciais, e a
todos que contribuíram para a finalização desse ciclo.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, sem ele nada disso seria possível. Ao meu professor orientador
Gianfranco, que foi fundamental em todos os momentos desse período, em estar sempre solicito, pelas
orientações, pelas aulas incríveis e por reascender meu amor pelo direito civil.
Agradeço a minha família por estar sempre ao meu lado, me apoiando, dando forças e me incentivando a
me manter firme. Vocês foram fundamentais, vocês são a minha força e meu combustível para continuar.
Aos meus amigos, que estiveram sempre me incentivando, e fazendo com que esse processo se tornasse
mais leve. Aos meus colegas, que estiveram junto comigo, e entendem o significado da finalização desse
ciclo, que levo com muito carinho.
Aos meus professores, que além de contribuir para nos formar, estão nos transformando. A educação
muda nossas vidas. E, espero poder passar um pouco do que aprendi com cada um deles.
E por fim, agradeço a mim mesma. Não foi nada fácil, pensei por muitas vezes em desistir. Sofri e tive que
me reinventar inúmeras vezes para acompanhar todo esse processo. E proporcionalmente a toda
dificuldade, foi o meu processo de crescimento. De aprendizado, e evolução. Me sinto muito feliz em
chegar até aqui. A Barbara de 2019 com certeza está muito orgulhosa, é a realização de um sonho que
começou a 5 anos atrás.

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?Se você pode sonhar, você pode fazer.? ? Walt Disney

RESUMO

Tem-se como objetivo principal demonstrar que existem formas de abordagem mais benéficas para as
crianças e os adolescentes em acolhimento institucional do que os abrigos, mais conhecidos como
orfanatos. A razão é simples e cristalina: além da alta rotatividade de crianças e adolescentes nesses
locais, há também a rotatividade de funcionários, dificultando, assim, a criação de laços emocionais entre
as pessoas, e isso prejudica muito os jovens ao longo da vida. Além do benefício psicológico, é importante
demonstrar que através da Lei 12.010/09 inseriu o acolhimento familiar no Estatuto da Criança e do
Adolescente, permitindo legalmente que essa seja uma forma de acolhimento, e acima de tudo, que é
preferencial, em relação ao acolhimento institucional. Logo, se uma criança chega até o abrigo e tem
alguma família acolhedora que aceitaria acolher essa criança até ser adotada ou retornar para a família de
origem, esta irá para a casa da família ao invés de ficar no abrigo aguardando que a situação se resolva.
Será utilizado o método exploratório por pesquisa bibliográfica desenvolvida a partir do conteúdo
desenvolvido composto por livros, sites, artigos, teses, depoimentos pessoais, resumos e artigos
científicos.

Palavras-chave: Família acolhedora. Direito civil. Crianças. Estatuto da Criança e do Adolescente. Adoção.

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ABSTRACT

The main objective is to demonstrate that there are more beneficial approaches to children and
adolescents in institutional care than shelters, better known as orphanages. The reason is simple and
crystal clear: in addition to the high turnover of children and adolescents in these places, there is also a
turnover of employees, thus making it difficult to create emotional bonds between people, and this greatly
harms young people throughout their lives. In addition to the psychological benefit, it is important to
demonstrate that through Law 12.010/09, family foster care was included in the Child and Adolescent
Statute, legally allowing this to be a form of foster care, and above all, that it is preferential, in relation to
foster care. institutional. Therefore, if a child arrives at the shelter and there is a welcoming family that
would accept to welcome that child until they are adopted or return to their family of origin, they will go to
the family home instead of staying at the shelter waiting for the situation to be resolved. The exploratory
method will be used through bibliographical research developed from the content developed consisting of
books, websites, articles, theses, personal statements, summaries and scientific articles.

Keywords: Welcoming family. Civil right. Children. Child and Adolescent Statute. Adoption.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
A carência de conexões emocionais duradouras e a falta de estímulos apropriados resultam em prejuízos,
por vezes irreparáveis, para o progresso das crianças, afetando diversas áreas como o aspecto
psicológico, psicomotor, cognitivo e linguístico.
Particularmente durante a primeira infância, se uma criança não mantiver um vínculo sólido com um
cuidador principal ou se estiver envolvida em relações carentes de qualidade e estímulo, o
desenvolvimento do cérebro será grandemente prejudicado.
[1: RAYANE, Daniele Barbosa; SOUSA, Daniela Heitzmann Amaral Valentim de. PRIVAÇÃO AFETIVA E
SUAS CONSEQUÊNCIAS NA PRIMEIRA INFÂNCIA: UM ESTUDO DE CASO. Inter Scientia, vol. 6, Nº 2,
Ano 2018. Disponível em: https://periodicos.unipe.br/index.php/interscientia/article/download/721/601/.
Acesso em 03 de agosto de 2023.]
No Brasil, de acordo com informações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cerca de 5% das crianças e
adolescentes sob cuidado institucional estão sob os cuidados de Famílias Acolhedoras.
[2: BRASÍLIA. UNIDADES DE ACOLHIMENTO E FAMÍLIAS ACOLHEDORAS. Conselho Nacional de
Justiça, 2022. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2022/04/eixo4-primeira-infancia-
relatorio-final.pdf. Acesso em 03 de agosto de 2023.]
Os métodos predominantes na atualidade, como o acolhimento institucional (abrangendo abrigos e lares

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de acolhimento), apesar da presença de profissionais habilidosos e infraestrutura para suprir necessidades


básicas, frequentemente não conseguem estabelecer laços emocionais estáveis e duradouros que seriam
capazes de proporcionar ao acolhido os referenciais necessários para garantir um desenvolvimento pleno
em termos físicos, sociais e emocionais. Isso é em parte devido às características intrínsecas a esse
modelo, como a alta rotatividade de pessoas e a insuficiência de funcionários em relação ao número de
crianças, por exemplo.
Outra face a ser considerada no contexto do acolhimento institucional é a dificuldade em assegurar
plenamente o respeito pelas características individuais e necessidades específicas de cada acolhido, bem
como sua trajetória de vida. Isso resulta em questões relacionadas à construção de uma autoimagem
positiva, à preservação de sua saúde emocional e ao desenvolvimento abrangente. Além disso, o modelo
institucional de certa forma priva crianças e adolescentes da interação social e comunitária, prejudicando
sua futura adaptação à sociedade.
O Acolhimento Familiar, por sua vez, busca primordialmente o bem-estar da criança e do adolescente,
bem como o cumprimento das disposições legais vigentes.
Mas afinal, qual é o papel da família na vida de uma criança ou adolescente?
Conforme o artigo 227 da Constituição Federal:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.

O problema principal do presente trabalho gira em torno de demonstrar que o acolhimento institucional,
embora tenha raízes profundas, por ser utilizado há muitos anos, foi necessário olhar com outros olhos
para os jovens inseridos nesse modo de acolhimento para nova avaliação com o intuito de verificar se, de
fato, essa era a forma mais saudável de acolher crianças e jovens que já tiveram de sair de suas famílias
originárias.
Após tal estudo, foi possível verificar que a forma mais adequada, a fim de evitar danos psicológicos
maiores do que já não ter a sua família biológica presente, era o acolhimento familiar, para que pudessem
desenvolver de forma mais saudável.
Assim, inicialmente será abordado sobre a história da assistência familiar no Brasil, o que significa, como
se deu a formação familiar, como é a atual conjuntura e por qual motivo é tão importante que os jovens
tenham o apoio de suas famílias. Ainda no primeiro capítulo será falado sobre a Criação do Sistema Único
de Assistência Social (SUAS), e qual o papel dele perante a sociedade e, sobretudo, sobre os jovens.
Logo depois, no capítulo seguinte, será versado sobre quais são os direitos das pessoas menores de
idade, como são resguardados os seus direitos, se são, de fato, respeitados, e qual o papel do Estatuto da
Criança e do Adolescente diante dessa situação, principalmente face à problemática principal, que é o
acolhimento familiar, seja da família biológica ou da família que o acolhe apenas por um período, como
dito acima, além de falar sobre o direito à assistência social também.
Posteriormente, no terceiro capítulo, será exposto sobre os serviços de acolhimento existentes com o
objetivo de acolher os jovens: crianças e adolescentes. Aqui será falado também sobre o instituto da
família acolhedora, e quais são os incentivos criados para tornar-se uma delas.
No quarto capítulo e último capítulo, finalmente é dito sobre como a família acolhedora é benéfica para

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aqueles que são acolhidos, sobre como o vínculo afetivo pode mudar a vida desses jovens, sobre as
formas de adoção de crianças acolhidas nesses lares se dão e por fim, depoimentos de famílias
acolhedoras. Aqui, pode ser citado um exemplo: é um requisito não estar inscrito na fila de adoção para
ser uma família acolhedora, pois se assim fosse este processo, seria basicamente como ?furar fila? para
adotar uma criança mais rapidamente sem passar por todos os esquemas burocráticos.
Após, será apresentada a conclusão de todo o tema exposto ao longo do trabalho, e por fim, as
referências bibliográficas.

HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA FAMILIAR NO BRASIL


No Brasil, a prática de institucionalizar crianças e adolescentes remonta aos tempos da colonização. Sob a
influência do modelo europeu, a Igreja Católica assumiu a responsabilidade de cuidar de bebês e crianças
órfãos ou abandonados. No século XVIII, recém-nascidos eram frequentemente deixados de maneira
anônima nas chamadas rodas dos expostos ? mecanismos giratórios instalados nas paredes das Santas
Casas de Misericórdia. Essas crianças tinham pouca ou nenhuma interação com a comunidade, eram
completamente afastadas de suas famílias de origem e raramente retornavam ao convívio familiar.
No final do século XIX, surgiram educandários, reformatórios, internatos e orfanatos que atendiam a um
grande número de crianças e adolescentes, separados por sexo e faixa etária. Todas as atividades
ocorriam nas instalações dessas instituições, e os acolhidos tinham limitada interação com a comunidade
em termos de educação, saúde, lazer e profissionalização. A principal missão dessas instituições era
corrigir e controlar filhos de adultos pobres considerados incapazes de prover sua educação.
No século XX, enquanto ocorriam mudanças significativas no cenário internacional, como a Declaração de
Genebra sobre os Direitos da Criança adotada pela Liga das Nações Unidas em 1924 e a Declaração
Universal dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas em 1959, o Brasil aprovava o seu
primeiro Código de Menores em 1927, que permaneceu em vigor até a sanção de um segundo Código em
1979, com a Lei nº 6.697.
Pela primeira vez, o termo ?menor em situação irregular? foi introduzido na legislação para abordar
menores de 18 anos que estavam abandonados materialmente, sendo vítimas de maus-tratos, em risco
moral, desassistidos juridicamente, com desvios de conduta ou autores de infrações penais. No entanto, o
principal problema do código era a falta de distinção entre menores infratores e aqueles que eram vítimas
da pobreza, abandono e maus-tratos.
O grande marco ocorreu em 1988 com a aprovação da Constituição da República Federativa do Brasil,
que reconheceu as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, sem qualquer forma de distinção. A
Doutrina da Proteção Integral foi incorporada ao artigo 227 da Constituição, que estabelece:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com


absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Nos anos 1990, houve a introdução de novas legislações que priorizaram a infância no Brasil, incluindo a
Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O ECA

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trouxe inovações ao estabelecer a prioridade absoluta no orçamento público para a implementação de


políticas voltadas para crianças e adolescentes. Embora a porcentagem do orçamento destinada a essa
finalidade tenha sido ampliada ao longo dos anos, as disposições do ECA, que apresentaram um novo
formato para a política de atendimento à infância e juventude, ainda não estão plenamente implementadas
até os dias atuais.
A partir de 1999, começou a ser desenvolvido um abrangente Sistema de Garantia de Direitos da Criança
e do Adolescente, visando efetivar a proteção em todas as dimensões. Nesse contexto, iniciativas de
acolhimento em famílias acolhedoras começaram a surgir, ganhando força principalmente a partir da
metade dos anos 2000.
Em 2001, uma caravana da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados realizou visitas a
serviços de acolhimento institucional em oito estados e no Distrito Federal. Essas visitas tinham o
propósito de avaliar a difícil realidade enfrentada nos espaços de acolhimento, evidenciando o flagrante
desrespeito ao direito à convivência familiar e comunitária, bem como aos princípios estabelecidos no ECA
.
No ano subsequente, o Colóquio Técnico sobre a Rede Nacional de Abrigos, que reuniu representantes do
poder público, da sociedade civil e do UNICEF, estimulou a realização de uma pesquisa nacional sobre
crianças e adolescentes em serviços de acolhimento. Com recursos do Conselho Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente (Conanda), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) conduziu uma
análise abrangendo 589 abrigos, nos quais mais de 19 mil crianças e adolescentes eram atendidos.
[3: IPEA. MISÉRIA E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA COMPROMETEM A CONVIVÊNCIA FAMILIAR. Ipea.
Disponível em: https://www.ipea.gov.br/acaosocial/article283f.html?id_article=88. Acesso em 02 de
outubro de 2023.]
Essa pesquisa marcou um ponto de inflexão. Os resultados evidenciaram que a maioria das crianças e
adolescentes, mesmo tendo família (portanto, não sendo órfãos ou abandonados), permanecia em
acolhimento institucional por longos períodos. Além disso, os principais motivos para o acolhimento
estavam relacionados à pobreza, o que representava uma séria violação de direitos. Conforme a
Constituição Federal de 1988 (artigos 226 e 227) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
nenhuma criança deveria ser afastada de sua família devido à pobreza.
Em 2005, durante o II Colóquio Internacional de Acolhimento Familiar realizado em Campinas (SP), surgiu
o Grupo de Trabalho Nacional Pró-Convivência Familiar e Comunitária, uma iniciativa conjunta da
Associação Brasileira Terra dos Homens (ABTH) e do UNICEF, em parceria com o então Ministério de
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e a então Secretaria Especial dos Direitos Humanos
(SEDH). O GT foi estabelecido com o propósito de aprofundar as discussões relacionadas ao direito à
convivência familiar e comunitária, bem como de disseminar experiências inovadoras e diferentes
modalidades de acolhimento, como o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (SFA).
A partir de reuniões promovidas pelo GT em diversas regiões do país, emergiu um movimento nacional
que viabilizou um amplo intercâmbio entre especialistas brasileiros, visando promover e engajar atores
locais. Esse movimento culminou no lançamento do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do
Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária em 2006.
Em 2009, uma conquista significativa ocorreu: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi alterado
para incluir, pela primeira vez, o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora como uma instituição
jurídica. Posteriormente, o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) e a Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) conduziram o Levantamento Nacional de Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento.
Esse estudo identificou a existência de 144 Serviços em Família Acolhedora, com 932 crianças e

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adolescentes acolhidos, representando somente 2,5% do total de 36.929 crianças e adolescentes


acolhidos em 2.624 unidades de acolhimento institucional.
A partir de 2012, essas informações passaram a ser monitoradas anualmente, utilizando o Censo SUAS
(Sistema Único de Assistência Social). O dado mais recente disponível, referente a 2019, indicou a
existência de 381 SFAs, abrigando 1.535 crianças e adolescentes (correspondendo a 4,9% do total de
crianças e adolescentes acolhidos, sendo que 29.998 deles estavam em 2.801 serviços de acolhimento
institucional).

CRIAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SUAS)


A Constituição Federal de 1988, conforme destacado anteriormente, ofereceu oportunidades para o
avanço das políticas sociais no Brasil, incorporando algumas demandas da classe trabalhadora e
estabelecendo a assistência social como uma política pública de responsabilidade do Estado.
Ao longo dos anos, a assistência social no Brasil tem buscado superar um modelo arcaico de assistência
social que perpetua a subordinação e a dependência dos usuários dos serviços sociais em relação às
ações do Estado e de entidades filantrópicas. Em vez disso, ela visa estabelecer uma nova prática
baseada na consolidação de direitos. Nesse contexto, a criação do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS) representa um passo significativo nessa direção.
O SUAS foi aprovado em julho de 2005 pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) por meio da
Norma Operacional Básica nº 130 (NOB nº 130). Essa conquista decorreu dos esforços e da luta da
sociedade civil organizada, bem como de profissionais e estudiosos da política de assistência social. A IV
Conferência de Assistência Social, realizada em Brasília/DF, desempenhou um papel fundamental na
formulação do SUAS, marcando um importante marco em sua construção e legitimação no contexto da
assistência social.
A fim de progredir nesse sentido, a sociedade brasileira requer um sistema que vá além de interesses
específicos, capacitando a assistência social a se consolidar como uma política pública. Esse sistema
deve traduzir os princípios da Lei Orgânica em ações concretas e coesas, rompendo com as práticas
tradicionais fragmentadas e descontínuas que têm caracterizado a assistência social no país.
O SUAS, alinhado com as diretrizes e princípios da PNAS, apresenta-se com a missão central de romper
significativamente com a história de serviços sócioassistenciais precários e focalizados, particularmente no
que diz respeito aos recursos humanos e materiais. Este sistema propõe uma nova abordagem para o
campo da assistência social no Brasil, reformulando fundamentalmente as suas práticas e
responsabilidades.
[4: PAIVA, B. A. O SUAS E OS DIREITOS SOCIOASSISTENCIAIS; A UNIVERSALIDADE DA
SEGURIDADE SOCIAL EM DEBATE. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, ano XXVI, Especial, nº 87,
2009.]
Seu objetivo primordial é coordenar a política de assistência social por meio da colaboração entre os três
níveis de governo: municípios, estados e União. Este modelo de gestão é descentralizado e participativo,
atribuindo a cada nível de governo a responsabilidade pela implementação da Política de Assistência
Social em suas áreas de atuação.
O SUAS promove uma reformulação institucional na assistência social, com a descentralização dos
serviços para o âmbito municipal, priorizando a realidade local, a territorialidade e as especificidades de
cada região.
A descentralização política e administrativa, bem como a participação, são princípios de organização da

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assistência social definidos pela LOAS e pela Constituição Federal de 1988. Esses princípios foram
incorporados pela PNAS e transmitidos ao SUAS como elementos estruturais. Eles valorizam o poder local
e a participação popular como fundamentos da prática democrática, recuperando um modelo democrático
após décadas de autoritarismo.
A descentralização se reflete em avanços a nível municipal, como a criação de secretarias dedicadas à
assistência social na maioria dos municípios do país, totalizando mais de 4.500 em todos os estados
brasileiros e no Distrito Federal. Esse número demonstra a significativa capacidade de estabelecimento e
assimilação progressiva de conceitos, procedimentos técnicos e operacionais uniformes e coordenados
para a prestação de serviços sociais, financiamento e gestão da política de assistência social. Antes
subordinadas a outras secretarias ou mesmo aos gabinetes dos governantes, a presença de uma
secretaria autônoma confere um novo status à política de assistência social, permitindo-lhe maior
autonomia em relação a outras áreas do governo.
[5: BRASIL. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO E COMBATE À FOME. DESAFIOS DA GESTÃO DO
SUAS NOS MUNICÍPIOS E ESTADOS. Instituto de Estudos Especiais da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. Capacita Suas v.2. Brasília: MDS, 2008.]
A descentralização traz consigo a ênfase na participação. A criação de canais de participação e controle
social é um processo em desenvolvimento na PNAS e, consequentemente, no SUAS. Esse processo visa
a estabelecer uma ?intermediação dos interesses organizados e da luta pela efetivação dos direitos
sociais?, com o objetivo de fomentar a participação efetiva da sociedade na formulação e no
acompanhamento das políticas sociais. Atualmente, as Conferências de Assistência Social e os Conselhos
de Assistência têm sido os espaços que mais oportunizam à sociedade civil organizada uma voz ativa.
[6: COUTO, B. R; et. al. (Coord.). O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL: UMA
REALIDADE EM MOVIMENTO. São Paulo: Cortez, 2010. p. 119.]
A participação social é considerada um dos elementos mais relevantes da estrutura do SUAS. A criação
de mecanismos de controle social reflete uma nova perspectiva e amadurecimento na relação entre o
Estado e a sociedade, na qual o Estado reconhece a importância do controle exercido pela sociedade
sobre suas ações, algo impensável nos anos de ditadura no país. No entanto, é essencial que essa
participação seja qualificada e adquira novo significado, especialmente nas unidades responsáveis pela
operacionalização dos serviços sociais, com a presença efetiva dos usuários da política.
Além dessas duas diretrizes, o SUAS é fundamentado na centralidade da família, assim como a PNAS, no
que diz respeito à concepção e implementação dos benefícios, programas e serviços de assistência social
. A abordagem centrada na família desloca o foco do indivíduo isolado para o núcleo familiar, ou seja,
passa a priorizar o atendimento à família em suas diversas configurações, a fim de fortalecer a capacidade
de enfrentamento das necessidades sociais.
[7: SANTOS, A. C. A; et al. E A FAMÍLIA, COMO VAI? UM OLHAR SOBRE OS PROGRAMAS DE
TRANSFERÊNCIA DE RENDA NO BRASIL SOB A ÓTICA DA FAMÍLIA. In: Estudos de Política e Teoria
Social. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Praia Vermelha, nº 18, 2008. p. 30-45.]

OS DIREITOS DE INDIVÍDUOS MENORES DE IDADE: A CRIAÇÃO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE
A Lei Federal nº 8.069/1990, amplamente reconhecida como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA

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), representa o marco legal e regulatório dos direitos humanos de crianças e adolescentes no Brasil.
Promulgada em 13 de julho de 1990, essa lei resultou de um extenso processo de debate democrático
liderado por movimentos sociais, organizações, coalizões e diversos membros da sociedade civil, bem
como instituições que buscavam conscientizar e garantir o respeito aos direitos de crianças e adolescentes
como sujeitos detentores de direitos.
O ECA trouxe uma mudança de paradigma significativa, pois foi a primeira legislação na América Latina a
adotar a doutrina da proteção integral. Ela se inspirou na Declaração Universal dos Direitos da Criança de
1979 e na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, que foram aprovadas pela Organização
das Nações Unidas (ONU) em 1989.
Como João Batista Costa Saraiva destacou, o Estatuto desfez a ideia de ?menor como objeto do processo
? e introduziu uma transformação paradigmática, reconhecendo a criança e o adolescente como sujeitos
de direitos, participantes ativos, e cidadãos em pleno direito.
[8: SARAIVA, João Batista Costa. ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI: DA INDIFERENÇA À
PROTEÇÃO INTEGRAL: UMA ABORDAGEM SOBRE A RESPONSABILIDADE PENAL JUVENIL. Porto
Alegre, Livro do Advogado, 2013. p. 37.]
A Lei 8.069/1990 estabelece a doutrina da proteção integral como princípio fundamental e determina que é
responsabilidade da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público garantir, com
prioridade absoluta, a efetivação dos direitos desses jovens em áreas como vida, saúde, alimentação,
educação, esporte, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e
comunitária.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabeleceu a proteção integral por meio dos seus 267
artigos, apresentando uma carta abrangente de direitos fundamentais para a infância e a juventude.
Segundo o documento, uma criança é considerada como aquela que tem até 12 anos de idade
incompletos, enquanto um adolescente é definido como alguém com idade entre 12 e 18 anos.
Entre as contribuições significativas do ECA, além de reconhecer crianças e adolescentes como
detentores de direitos, destacam-se a criação do Conselho Tutelar, responsável por defender e proteger
os direitos desses jovens, bem como os Conselhos de Direitos da Criança em níveis nacional, estadual e
municipal. Estes conselhos têm o papel de formular políticas para crianças e adolescentes em suas
respectivas esferas de atuação.
Ao longo das últimas três décadas, diversas melhorias foram incorporadas ao ECA, incluindo a Lei do
Sistema Nacional Socioeducativo (Sinase), que regula a execução de medidas socioeducativas, a Lei da
Primeira Infância, que exige a implementação de políticas específicas para os primeiros anos de vida, e a
Lei da Adoção, que detalha os procedimentos relacionados à adoção. É importante ressaltar que a partir
dos 12 anos, os adolescentes que cometem atos infracionais são responsabilizados, mas com garantias
de devido processo legal, contraditório e ampla defesa.
Apesar desses avanços, desafios persistem. É fundamental continuar trabalhando na implementação
integral do ECA e leis relacionadas, com a criação de políticas públicas que assegurem efetivamente
direitos fundamentais, como educação de qualidade, assistência médica, moradia, alimentação,
convivência familiar e comunitária, cultura, esporte, lazer, entre outros.
O Estatuto da Criança e do Adolescente continua sendo reconhecido como um dos mais avançados do
mundo, destacando-se por sua abordagem centrada na proteção integral. Essa importância reside no
reconhecimento de que crianças e adolescentes são sujeitos de direito, atravessando um período crucial
de desenvolvimento físico, psicológico, moral e social, merecendo, com prioridade absoluta, uma proteção
completa.

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A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E À ASSISTÊNCIA


SOCIAL
A prática da adoção de crianças e adolescentes, conforme estabelecida no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), é considerada uma medida de proteção que tem como principal objetivo garantir o
direito das crianças e adolescentes à convivência em um ambiente familiar e comunitário que proporcione
um crescimento saudável, fornecendo condições adequadas para o desenvolvimento físico, cognitivo e
social. A família é, portanto, o primeiro contexto no qual a criança se desenvolve como membro da
sociedade, desempenhando um papel fundamental na mediação entre os indivíduos e as normas, regras e
valores da sociedade. Ela é responsável pela garantia e efetivação dos direitos das crianças e
adolescentes a vida, proteção e desenvolvimento de habilidades humanas, proporcionando as condições
materiais e humanas necessárias para o seu crescimento.
No entanto, Bruschini destaca a importância de questionar a noção de família como algo natural, uma vez
que essa categoria é uma construção humana mutável, cultural e historicamente influenciada. De acordo
com Simões, a família não deve mais ser restrita a modelos preestabelecidos, mas sim definida como
qualquer ambiente onde o indivíduo se sinta acolhido, desenvolvendo laços de afeto e confiança. Portanto
, a definição de família deve basear-se na existência de vínculos afetivos, não limitando-se apenas aos
laços de consanguinidade.
[9: BRUSCHINI, Cristina. TEORIA CRÍTICA DA FAMÍLIA. In: AZEVEDO, Maria Amélia; GUERRA, Viviane
Nogueira de Azevedo (Org.). Infância e violência doméstica: fronteiras do conhecimento. 3. ed. São Paulo
: Cortez: 2000.][10: SIMÕES, Carlos. CURSO DE DIREITO DE SERVIÇO SOCIAL. São Paulo: Cortez,
2008.]
Nessa perspectiva, de acordo com a legislação brasileira, é importante enfatizar que as relações
estabelecidas no âmbito familiar são mais importantes do que as configurações familiares em si. Isso
ocorre porque as funções de proteção e socialização podem ser desempenhadas em uma variedade de
arranjos familiares e contextos socioculturais. Dessa forma, a propensão é rejeitar qualquer noção
preconcebida de um modelo familiar ?normal?.
[11: BRASIL. PLANO NACIONAL DE PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E DEFESA DO DIREITO DE
CRIANÇAS E ADOLESCENTES À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA. 2006. p. 29.]
Conforme a visão de Paiva:
[12: PAIVA, Leila Dutra. ADOÇÃO: SIGNIFICADOS E POSSIBILIDADES. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2004. pp. 65-66.]

[...] a dificuldade, ainda hoje, parece ser o reconhecimento de que a família, em si mesma, é uma criação
cultural que pode ou não estar fundada em laços biológicos. A adoção tem representado, há muito tempo,
a possibilidade de formar uma família assentada não na biologia, mas na cultura.

É importante ressaltar que a família, como um grupo social, é um espaço onde as contradições sociais se
manifestam e, portanto, também é suscetível a expressões da questão social. No Brasil, um grande
número de famílias encontra-se em situação de pobreza e miséria. Essas condições dificultam ou
impedem que elas desempenhem suas funções de proteção e cuidado em relação aos seus filhos,

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resultando na negação de seu espaço de humanização.


Essa desumanização do espaço familiar é afetada por várias questões, principalmente o desemprego e a
falta de acesso à riqueza materialmente produzida. Conforme destacado por Kaloustian, essa situação de
desumanização do espaço familiar está diretamente ligada à situação de pobreza e ao perfil de
distribuição de renda no país.
[13: KALOUSTIAN, Sílvio Manoug (Org.). FAMÍLIA BRASILEIRA: A BASE DE TUDO. 7. ed. São Paulo:
Cortez; Brasília: Unicef, 2005. p. 12.]
Consequentemente, na sociedade atual, observa-se que milhares de famílias não têm as condições
necessárias para cumprir suas funções legalmente e socialmente atribuídas. Esse contexto sociofamiliar
frequentemente resulta em situações de negligência, abandono e institucionalização de crianças e
adolescentes. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, em um levantamento nacional
dos abrigos da Rede de Serviços de Ação Continuada (Rede SAC), cerca de 20 mil crianças vivem nos
589 abrigos pesquisados em todo o Brasil, privadas de seus direitos fundamentais à convivência familiar.
[14: IPEA ? Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E
COMUNITÁRIA: OS ABRIGOS PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL. Brasília, 2004.]
Diante desse cenário, a discussão sobre a família tem se intensificado, uma vez que ela é reconhecida
como uma instituição central na sociedade. A família desempenha funções cruciais no cuidado e proteção
de seus membros, mas enfrenta dificuldades em cumprir plenamente essas funções, o que tem levado a
um reconhecimento especial por parte do Estado e da sociedade.
Nesse contexto, a família é considerada a célula base da sociedade brasileira, conforme estipula a
Constituição Federal de 1988, eu seu artigo 226: ?A família, base da sociedade, tem especial proteção do
Estado?.
A família é entendida como um local de convivência de indivíduos, unidos por laços consanguíneos,
afetivos ou de confiança. Segundo Simões, nesse espaço, desenvolve-se e mantém-se o sentimento de
pertencimento e identidade social, bem como a transmissão de valores e comportamentos pessoais.
[15: SIMÕES, Carlos. CURSO DE DIREITO DE SERVIÇO SOCIAL. São Paulo: Cortez, 2008. p. 190.]
No Brasil, esse reconhecimento é fundamentado na Constituição Federal de 1988, no Estatuto da Criança
e do Adolescente, na Política Nacional de Assistência Social, e no Plano Nacional de Promoção, Proteção
e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. No entanto, é
fundamental que essas garantias saiam do papel e sejam efetivamente implementadas na prática.
Para alcançar esse objetivo, é fundamental que o Estado e a sociedade protejam os grupos familiares em
diversas configurações que enfrentam condições de empobrecimento. Nesse contexto, o Estado deve
garantir o acesso aos direitos universais para as famílias, o que, por sua vez, resulta na proteção dos
direitos das crianças e dos adolescentes. Famílias que possuem acesso a esses direitos, juntamente com
outros, têm melhores condições para cumprir suas funções de cuidado, afeto e socialização, além de
superar possíveis situações de vulnerabilidade.
[16: JUNQUEIRA, Maíz Ramos; SERRES Jamille de Freitas. ADOÇÃO PELOS CAMINHOS LEGAIS:
RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA. Textos & Contextos (Porto Alegre), Porto Alegre, v. 9, n. 1, p. 182-192,
jan./jun. 2010.]
A contradição central na questão do abandono de crianças e adolescentes reside nesse ponto, sendo uma
dinâmica da questão social. As famílias que, devido às condições da realidade social, não conseguem
cumprir suas funções acabam negligenciando e abandonando seus filhos, tornando-se destinatárias das
políticas sociais compensatórias. Entretanto, essas políticas frequentemente se mostram insuficientes para
atender à grande demanda social e para atender eficazmente aqueles a quem se destinam. Diante

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dessas condições objetivas, é importante examinar como o trabalho social tem evoluído no campo dos
direitos das crianças e dos adolescentes à convivência familiar e comunitária, considerando seus limites e
possibilidades.
[17: SILVA, Simone Regina Medeiros. ABANDONO: UMA AGRESSÃO AOS DIREITOS DA CRIANÇA. In
: FREIRE, Fernando. Abandono e adoção: contribuições para uma cultura de adoção. São Paulo: Terre de
Hommes, 2001.]

OS SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO DESTINADOS À CRIANÇAS E ADOLESCENTES


Para abordar inteiramente este tema, é crucial abordar a história do acolhimento desde suas origens e
discutir as principais transformações influenciadas por fatores sociais, culturais e econômicos.
A prática de institucionalização de crianças e adolescentes de famílias de classes populares tem raízes
que remontam ao período inicial da colonização brasileira.
O programa de acolhimento familiar formalmente surgiu no Brasil na década de 1990. Ele trouxe consigo
reflexões alternativas em relação à institucionalização infantil, buscando meios para reintegrar a criança à
sua família e, sobretudo, promover a inclusão dessa família na sociedade.
Foi somente com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069 de 13 de julho de
1990, que crianças e adolescentes passaram a ser reconhecidos como sujeitos de direito, em uma
condição peculiar de desenvolvimento. Esses direitos fundamentais, conforme estabelecido pelo artigo 227
da Constituição Federal, englobam o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
protegendo-os contra todas as formas de negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão.
A partir do Estatuto da Criança e do Adolescente, o encaminhamento para os serviços de acolhimento
passou a ser concebido como uma medida protetiva, de caráter excepcional e temporário, que visa
primordialmente ao superior interesse da criança e do adolescente.
Antes da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, muitos internatos e orfanatos
desempenhavam o papel de cuidar das crianças, frequentemente tratando-as como se fossem
abandonadas. A perspectiva predominante não considerava os direitos das crianças e dos adolescentes.
No contexto brasileiro, a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990
são exemplos de marcos legais que estabelecem de forma explícita a importância da convivência familiar
e comunitária para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. O ECA é amplamente reconhecido
internacionalmente como um instrumento jurídico orientador para o atendimento digno de crianças e
adolescentes.
A convivência familiar sempre ocupou uma posição de destaque no Estatuto da Criança e do Adolescente
. O papel da família é considerado um elemento indispensável nos processos de proteção e
desenvolvimento, e o ECA estabeleceu que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos em uma
condição peculiar de desenvolvimento.
O artigo 15 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe:

A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em
processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na
Constituição e nas leis.

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Quando a separação do ambiente familiar de uma criança ou adolescente se torna necessária, é


apropriado que ela seja acolhida em outro ambiente familiar de forma temporária, ao mesmo tempo em
que se desenvolve um trabalho com sua família de origem. Nesse contexto, é fundamental realizar ações
que facilitem a reintegração da criança ao seu núcleo familiar.

AS FORMAS E MEDIDAS DE ACOLHIMENTO EXISTENTES


Os serviços de acolhimento têm a finalidade de receber crianças e adolescentes que estejam sujeitos a
medidas protetivas determinadas pelo poder judiciário, em decorrência de violações de seus direitos, como
abandono, negligência ou violência, ou quando a família não é capaz de fornecer o cuidado e proteção
necessários.
É importante destacar que o afastamento da criança ou adolescente de sua família deve ser uma medida
excepcional e só deve ser aplicada em situações de grave risco para sua integridade física e/ou
psicológica. O principal objetivo é garantir que esses jovens possam retornar com segurança ao convívio
familiar, priorizando a família de origem sempre que possível, e recorrendo à família substituta somente
em casos excepcionais, por meio de procedimentos legais, como adoção, guarda ou tutela.
O serviço de acolhimento deve focar na preservação e no fortalecimento das relações familiares e
comunitárias das crianças e adolescentes. O atendimento deve ser individualizado e oferecido a grupos
reduzidos, garantindo espaços privados para guardar objetos pessoais e registros relacionados à história
de vida e ao desenvolvimento de cada criança e adolescente.
Em 2004, uma pesquisa realizada pelo Ipea e pelo Conanda sobre a situação dos abrigos para crianças e
adolescentes revelou a persistência de violações de direitos, que se mantinham muito aquém do que era
preconizado pelo ECA, mesmo mais de uma década após sua promulgação. Essas constatações
enfatizaram a importância de redirecionar a discussão para a observância dos princípios que ressaltam a
natureza temporária e excepcional das medidas de acolhimento. Segundo esses princípios, a separação
de uma criança ou adolescente de sua família deve ser breve e apenas adotada quando estritamente
necessária para garantir o superior interesse da criança. Portanto, é fundamental preservar e fortalecer os
laços familiares e, quando não houver alternativas viáveis, promover a colocação do acolhido em um
processo de adoção.
[18: SILVA, E. R. A. (Org). O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA: OS ABRIGOS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL. Brasília: Ipea/Conanda, 2004.]
Esse contexto levou à elaboração do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de
Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC) em 2006, que contou com a
participação de representantes do governo e da sociedade civil. Aprovado por meio da Resolução
Conanda/CNAS nº 1/2006, o PNCFC é uma iniciativa de natureza transversal e intersetorial que envolve
não apenas os órgãos do Poder Executivo, mas também outros atores que fazem parte do Sistema de
Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente (SGD). Isso inclui instituições como o Judiciário e o
Ministério Público. As diretrizes estabelecidas pelo PNCFC demandaram uma revisão das práticas das
instituições que administravam os serviços de acolhimento, impulsionando uma reorganização desses
serviços sob a responsabilidade da política de assistência social, seja na forma institucional ou por meio
do acolhimento familiar.
No entanto, é importante ressaltar que a ampla cobertura populacional não garante que o serviço de
acolhimento seja amplamente disponível, especialmente nos municípios de menor porte. Na verdade, a

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maioria dos 3.560 municípios que não ofereciam esse serviço em 2018 era composta em sua maioria por
municípios de pequeno porte I (86,0%) e pequeno porte II (12,8%).
[19: LICIO, E. C; et. al. REORDENAMENTO DOS SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES E IMPLEMENTAÇÃO DE NOVAS MODALIDADES ? FAMÍLIA ACOLHEDORA E
REPÚBLICAS. Brasília: Ipea, 2021. No prelo.]
Em que pese às formas de acolhimento, há diferentes formas, quais sejam:
O acolhimento institucional para Crianças e Adolescentes pode ser disponibilizado em dois tipos de
unidades:
Abrigo: Este é um serviço de acolhimento provisório que pode abrigar até 20 crianças e adolescentes em
cada unidade. Deve ser projetado para se assemelhar a uma residência com uma localização na
comunidade, preferencialmente em áreas residenciais. O ambiente deve ser acolhedor e oferecer
condições institucionais que atendam a padrões de dignidade.

Casa-Lar: Este é um serviço de acolhimento provisório que é oferecido em unidades residenciais e tem
capacidade para acomodar no máximo 10 crianças e adolescentes por unidade. Nestas casas, pelo menos
uma pessoa ou um casal trabalha como educador/cuidador residente, prestando cuidados a um grupo de
crianças e adolescentes que foram afastados de seus ambientes familiares. Importante notar que a casa-
lar não é a residência do educador/cuidador, mas um local separado para abrigar as crianças e
adolescentes.
O acesso ao acolhimento institucional para Crianças e Adolescentes é estabelecido por decisão do Poder
Judiciário e por solicitação do Conselho Tutelar. A autoridade competente deve ser notificada, conforme
previsto no Artigo 93 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Art. 93. As entidades que mantenham programa de acolhimento institucional poderão, em caráter
excepcional e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação da autoridade
competente, fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da Infância e da
Juventude, sob pena de responsabilidade.
Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público e se
necessário com o apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas necessárias para promover a
imediata reintegração familiar da criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for isso possível
ou recomendável, para seu encaminhamento a programa de acolhimento familiar, institucional ou a família
substituta, observado o disposto no § 2 o do art. 101 desta Lei.

No que tange à acolhimento em república para jovens egressos de outros serviços de acolhimento, trata-
se de um serviço destinado principalmente a jovens que passaram anteriormente por serviços de
acolhimento para crianças e adolescentes. Ele oferece apoio e moradia a jovens com idades entre 18 e 21
anos. Cada unidade de acolhimento pode abrigar até 6 pessoas. O objetivo deste serviço é promover a
autonomia gradual dos residentes, incentivando a independência deles ao operar em um sistema que
permite que os moradores tomem decisões conjuntas sobre o funcionamento da unidade.
O acesso a esse serviço pode ser realizado por meio de encaminhamento do Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (CREAS), do Serviço de Abordagem Social e de outros serviços ou
políticas públicas relacionadas. Além disso, é possível acessá-lo por demanda espontânea, ou seja, os
próprios jovens ou suas famílias podem buscar esse serviço diretamente. Para obter mais informações e
orientações sobre como acessar o acolhimento em república, entre em contato com o CREAS ou o órgão

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competente em sua região.


No que cabe ao acolhimento em Família Acolhedora, este é um serviço que organiza o acolhimento de
crianças ou adolescentes em residências de famílias acolhedoras cadastradas. Para integrar esse serviço
, as famílias interessadas devem passar por um processo de seleção, capacitação e acompanhamento.
Esse serviço oferece atendimento em um ambiente familiar, garantindo uma abordagem individualizada e
oportunidades de convivência comunitária. Cada Família Acolhedora acolhe uma criança ou adolescente
por vez, a menos que se trate de um grupo de irmãos que possa ser acolhido conjuntamente.
Para obter informações detalhadas, recomenda-se entrar em contato com a Secretaria de Assistência
Social do município do interessado. Eles poderão orientar sobre os procedimentos e requisitos
necessários para o acesso a esses serviços.

O VÍNCULO AFETIVO CRIADO E A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA ACOLHEDORA COMO INSTRUMENTO


DE PROTEÇÃO
Muitas pessoas, ao se depararem com a ideia do acolhimento familiar, levantam a questão de se
estabelecer vínculos em uma situação transitória pode ser prejudicial para as crianças e/ou adolescentes
em acolhimento. O senso comum sugere que criar laços com alguém que não estará sempre presente
pode causar sofrimento, sendo potencialmente desvantajoso tanto para o adulto que cuida quanto para a
criança ou adolescente em acolhimento. No entanto, pesquisas em diversas áreas do desenvolvimento
humano vêm apresentando resultados que apontam exatamente o contrário.
O afeto desempenha um papel tão essencial no desenvolvimento humano quanto fatores como uma boa
alimentação, sono adequado e hidratação. A ausência de afeto, de contato físico e de interações com
figuras de referência é altamente prejudicial para o crescimento de crianças e adolescentes, e até mesmo
para o bem-estar dos adultos. Mesmo que o acolhimento seja uma medida temporária, é fundamental que
a criança ou adolescente seja inserido em um ambiente que lhes permita cultivar um senso de
pertencimento, segurança e confiança nos adultos ao seu redor.
A falta de atenção e carinho por parte dos cuidadores, a vivência em um ambiente institucional com alta
rotatividade de educadores ou a negligência de suas necessidades podem resultar em fenômenos como o
?desamparo aprendido? (quando a pessoa tolera estímulos e situações aversivas por não conseguir evitá-
los) e ?estresse tóxico?. Essas condições podem impactar o funcionamento cerebral e a forma como a
criança ou adolescente desenvolve suas habilidades interpessoais, inclusive na vida adulta.
Numerosos estudos científicos corroboram os benefícios de um desenvolvimento social, emocional e
cognitivo mais saudável para crianças e adolescentes que passam pelo acolhimento em famílias
acolhedoras, em comparação com o acolhimento institucional. Essas pesquisas reforçam a conclusão de
que laços afetivos, um ambiente seguro e estímulos são fundamentais na vida de crianças e adolescentes
, assim como a oportunidade de conviver em uma comunidade, que essa forma de atendimento oferece.
A pesquisa ?Órfãos da Romênia?, conduzida pelo Hospital de Crianças de Boston, vinculado à
Universidade de Harvard, evidencia que a ausência de vínculos afetivos duradouros e a falta de atenção
às necessidades individuais em instituições de acolhimento podem acarretar prejuízos significativos no
desenvolvimento integral de bebês. O estudo revela que, para cada ano que um bebê passa em uma
instituição, sem estabelecer vínculos afetivos estáveis e sem receber atenção adequada às suas
necessidades individuais, pode haver um atraso de até quatro meses em seu desenvolvimento global.
[20: VIDA, O começo da. O CASO DOS ÓRFÃOS DA ROMÊNIA. O começo da vida. Disponível em: https
://ocomecodavida.com.br/o-caso-dos-orfaos-da-romenia/. Acesso em 18 de outubro de 2023.]

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Essa pesquisa concentrou-se em crianças abrigadas em instituições na Romênia após a Segunda Guerra
Mundial, particularmente durante os primeiros anos de suas vidas, e identificou déficits cognitivos
consideráveis. Essa investigação, de caráter longitudinal, teve início em 2000 e incluiu acompanhamento
regular com a realização de eletroencefalogramas (EEGs) para mapear a atividade cerebral de crianças
que passaram por diferentes configurações de cuidado (institucionalização, acolhimento familiar e
convivência em famílias sem intervenção do Estado).
Embora tenha sido realizada em um contexto substancialmente distinto do que observa-se no Brasil
atualmente, esse estudo oferece subsídios relevantes para reflexões acerca da importância dos cuidados
individualizados na primeira infância, especialmente no contexto das medidas de proteção relacionadas ao
acolhimento.
A Teoria do Apego, proposta pelo renomado psicólogo e psiquiatra britânico John Bowlby, se desenvolveu
a partir de suas observações e reflexões sobre a separação precoce de bebês de suas figuras de cuidado
primárias. Essa teoria enfatiza a relevância de uma figura de apego estável para prover cuidados à criança
, principalmente nos primeiros três anos de vida. A continuidade e a estabilidade dessa relação (que pode
envolver pais, mães, familiares ou qualquer adulto capaz de fornecer apoio afetivo) exercem um impacto
significativo no desenvolvimento social e psicológico da criança, uma vez que esse período influencia de
maneira profunda suas futuras interações sociais.
Diante dessa perspectiva, o acolhimento em famílias acolhedoras se configura como um espaço
fundamental de cuidado, pois prioriza a qualidade e a consistência das relações estabelecidas com a
criança, alinhando-se com os princípios da Teoria do Apego e valorizando o impacto positivo de relações
afetivas duradouras em seu desenvolvimento.
A primeira infância, compreendida como o período que se estende desde a gestação até os seis anos de
idade, assume uma importância crucial para o desenvolvimento humano. Isso se deve ao fato de que é
nessa fase que se estabelece a base de conexões neuronais que irão sustentar as aquisições posteriores
nos âmbitos psicomotor, cognitivo e social. Em termos mais simples, é durante esse intervalo que se
delineia a arquitetura cerebral que influenciará o desenvolvimento da criança ao longo de sua vida.
Consequentemente, é fundamental proporcionar às crianças pequenas, além dos cuidados básicos, como
higiene e alimentação, interações físicas, afeto e atenção individualizada. Esses elementos contribuem
para a formação da individualidade da criança, a aquisição da linguagem e o estabelecimento das bases
de sua interação com a sociedade.
Contudo, é relevante ressaltar que o acolhimento em famílias acolhedoras não beneficia somente as
crianças na primeira infância. Pessoas de todas as faixas etárias colhem benefícios significativos de
relacionamentos estáveis, afetivos e orientados para o indivíduo, proporcionados por ambientes familiares
. Na adolescência, por exemplo, um ambiente seguro e estável favorece a navegação pelas
transformações e pelo processo de amadurecimento. Durante esse período, ocorre a consolidação da
identidade e o desenvolvimento da autonomia dos jovens, e um ambiente de acolhimento familiar pode
desempenhar um papel valioso nesse processo. Isso se torna particularmente relevante quando esses
jovens deixam o sistema de acolhimento ao atingir a maioridade, aos dezoito anos, e enfrentam novos
desafios na busca de sua independência.
Fornecer experiências de apego, mesmo que temporárias, não é apenas desejável, mas essencial para
um acolhimento eficaz. As crianças e adolescentes que necessitam de medidas protetivas encontram-se
em um estágio particularmente delicado de suas vidas. Nesse momento de turbulência, é fundamental que
o acolhimento proporcione um ambiente seguro, protetor, afetuoso e estável.
Através dessa relação afetiva, a criança ou adolescente poderá fortalecer-se. Ao ser introduzido em um

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novo modelo de configuração familiar, que o recebe com carinho, respeito e cuidados personalizados, ele
ou ela terá melhores condições para enfrentar e superar os traumas causados pelas violências sofridas
anteriormente.
Todo o trabalho desenvolvido pela equipe do serviço, incluindo a capacitação das famílias acolhedoras e o
acompanhamento das crianças e adolescentes, considera o acolhimento como uma medida de caráter
temporário. Portanto, crianças e adultos passarão por uma transição assistida pela equipe técnica. A saída
do acolhimento não deve ser vista como uma ruptura adicional, mas sim como um processo gradual,
respeitoso e que visa ao melhor interesse da criança e do adolescente.
É relevante observar que, no contexto do acolhimento institucional, as crianças e adolescentes também
estabelecem vínculos significativos com profissionais, educadores e outros acolhidos. Portanto, ao se
desligarem do serviço, eles também precisam enfrentar a despedida e passar por uma transição,
semelhante ao acolhimento em família acolhedora. A qualidade e segurança dos vínculos estabelecidos
influenciam diretamente a possibilidade de uma despedida tranquila e a transição para a próxima fase de
suas vidas.

FORMAS DE ADOÇÃO DE CRIANÇAS INCLUÍDAS EM FAMÍLIAS ACOLHEDORAS


Como discutido no capítulo anterior, referente à função da família acolhedora, essas famílias se oferecem
voluntariamente para receber, em seus lares, crianças e/ou adolescentes em situação de risco social,
quando se torna necessário, por decisão judicial, afastá-los de suas famílias de origem. Após o
afastamento do convívio familiar, esses jovens podem ser direcionados tanto para o acolhimento
institucional quanto para o acolhimento familiar, sendo preferível, de acordo com o artigo 34, §1 do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que sejam encaminhados ao acolhimento familiar, uma vez
que as famílias acolhedoras conseguem fornecer cuidados personalizados. Nas palavras do juiz da Vara
da Infância e Juventude de Campinas, Eduardo Bigolin, sobre a prioridade do acolhimento familiar:

As crianças que passam pela família acolhedora são bem avaliadas em exames psicológicos e sociais.
Têm maior interação, integração com a comunidade e gozam de maior liberdade, muito porque a família
cuidou do lado afetivo, moral e material que talvez não estivesse sendo provido pela família de origem. 43
[21: POMBO, Bárbara. AFASTADAS DA FAMÍLIA DE ORIGEM, CRIANÇAS SÃO ACOLHIDAS POR
MÃES E PAIS PROVISÓRIOS. Conselho Nacional de Justiça, 2014. Disponível em: https://www.cnj.jus.br
/afastadas-da-familia-de-origem-criancas-sao-acolhidas-por-maes-e-pais-provisorios/. Acesso em 23 de
outubro de 2023.]

Um dos critérios para que uma família seja elegível para participar do programa de família acolhedora é
que ela não esteja registrada no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) e não manifeste qualquer interesse
em adotar o acolhido. É necessário que a família assine uma declaração oficial confirmando seu
desinteresse pela adoção. Essa distinção é amplamente enfatizada, como evidenciado por trechos
retirados de materiais informativos de diversas instituições, com o objetivo de deixar claro que a família
acolhedora e a adoção são processos totalmente distintos.
O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que o acolhimento institucional não deve ser
prolongado por mais de 18 (dezoito) meses, a menos que haja uma comprovação da necessidade que
atenda ao superior interesse da criança ou adolescente (conforme o artigo 19, §2 do ECA). Essa medida é
considerada provisória e excepcional, destinada a servir como uma transição para reintegrar a criança ou

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adolescente em sua família biológica ou, se isso não for possível, colocá-los em uma família substituta
(conforme o artigo 101, §1 do ECA). Essa abordagem visa sempre ao melhor interesse da criança e do
adolescente.
No entanto, como mencionado anteriormente e também abordado no livro ?Adoção, Desafios da
Contemporaneidade?, as crianças e adolescentes muitas vezes permanecem nos serviços de acolhimento
por períodos muito mais longos do que o previsto. Isso ocorre devido a várias razões, como a falta de
possibilidade de retorno às famílias de origem ou de inserção em famílias substitutas. Como resultado, em
alguns casos, os vínculos afetivos se tornam muito fortes, a ponto de a criança ou adolescente considerar
a família acolhedora como seus pais, assim como a família acolhedora considera a criança ou adolescente
como seu filho. Esse forte vínculo pode despertar o desejo de adoção, mas a prática é impedida devido
ao termo de não adoção e, principalmente, devido à lei que não autoriza tal ato.
[22: LEVINZON, Gina Khafif; LISONDO, Alicia Dorado. ADOÇÃO: DESAFIOS DA
CONTEMPORANEIDADE. São Paulo: Blucher, 2015. pp. 203-204.]

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas análises apresentadas ao longo deste trabalho, conclui-se que o Programa de Acolhimento
Familiar desempenha um papel crucial no desenvolvimento de crianças em situação de vulnerabilidade,
proporcionando atendimento individualizado por parte das famílias acolhedoras. A legislação busca
priorizar o acolhimento familiar em detrimento do institucional, mas essa preferência nem sempre é
observada na prática.
Para aliviar a sobrecarga dos abrigos institucionais, é necessário que o Poder Público promova e incentive
os estados e municípios a implementarem políticas públicas de acolhimento familiar. Isso deve ser uma
medida de fácil instalação e acesso. Em relação à conscientização da população, é fundamental realizar
campanhas que abordem a realidade dos acolhimentos institucionais e da adoção, destacando os
benefícios do acolhimento familiar e suas diversas vantagens.
Quanto à possibilidade de a família acolhedora adotar, deve-se realizar uma análise de cada caso
concreto, garantindo a aplicação do melhor interesse da criança e do adolescente e o cumprimento da
prioridade absoluta estabelecida na Constituição Federal. No entanto, não é adequado justificar o
desvirtuamento do propósito do programa, uma vez que, na maioria dos casos, as famílias acolhedoras
não se inscrevem com a intenção de adotar, mas desenvolvem esse desejo devido aos laços afetivos que
se formam.
Além disso, é importante notar que o tempo de acolhimento costuma se prolongar, o que fortalece os laços
afetivos entre as crianças e os pais acolhedores. Esta pesquisa evidenciou que muitas vezes as próprias
crianças e adolescentes buscam nas famílias acolhedoras a figura materna e paterna que talvez não
tenham tido anteriormente. Portanto, diante da destituição da família de origem, seria justo permitir que a
família acolhedora convertesse sua guarda em adoção. Afinal, se a guarda foi concedida pelo tribunal, já
houve uma análise quanto à compatibilidade e à boa-fé dos pais acolhedores, preenchendo, portanto, os
requisitos da adoção.
Negar a possibilidade de adoção pela família acolhedora com base na falta de habilitação no Cadastro
Nacional de Adoção (CNA) é uma medida cruel, considerando que o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) viabiliza a adoção com base em vínculos afetivos, conforme previsto no artigo 50, §13, incisos II e

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III. A jurisprudência já consolidou o entendimento de que a afetividade supera os vínculos consanguíneos


e quaisquer outros laços, e esse mesmo entendimento deve ser aplicado no contexto do acolhimento
familiar.
Portanto, é imperativo que o artigo 34, parágrafo 3º, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) seja
modificado para incluir a possibilidade de inscrição no Programa Famílias Acolhedoras de pessoas que
façam parte ou não dos cadastros de adoção. Uma alternativa louvável seria a implementação, por parte
dos estados e municípios, de duas modalidades de acolhimento familiar, à semelhança do que foi
realizado em Belo Horizonte (MG) e regulamentado na Lei Municipal 10.871/2015.
Uma dessas modalidades seria destinada a crianças com perspectiva de reintegração familiar, na qual os
interessados não poderiam ter a intenção de adoção. A outra modalidade seria voltada para crianças para
as quais a reintegração à família de origem fosse improvável ou cujos pais biológicos já tivessem sido
destituídos do poder familiar. Nesta modalidade, pessoas interessadas na adoção seriam permitidas e,
idealmente, poderiam suportar a duração prolongada do acolhimento familiar. Isso seria especialmente
importante no caso de crianças mais velhas ou com alguma doença ou deficiência física, mental,
intelectual ou sensorial, uma vez que, como demonstrado, elas têm menos chances de serem adotadas
por aqueles cadastrados no Cadastro Nacional de Adoção (CNA).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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://ocomecodavida.com.br/o-caso-dos-orfaos-da-romenia/. Acesso em 18 de outubro de 2023.

Prof. Me. Gianfranco Faggin Mastro AndreáUNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP

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Prof.UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP

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=================================================================================
Arquivo 1: TCC Barbara - Família acolhedora.docx (8247 termos)
Arquivo 2: https://www.scielo.br/j/csp/a/rc89QFfCGJ8PNQ9QJg3kfBD (1433 termos)
Termos comuns: 42
Similaridade: 0,43%
O texto abaixo é o conteúdo do documento TCC Barbara - Família acolhedora.docx (8247 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://www.scielo.br/j/csp/a/rc89QFfCGJ8PNQ9QJg3kfBD (1433 termos)

=================================================================================
UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP
CURSO DE BACHARELADO
DIREITO

BARBARA EUNICE DE QUEIROZ ALMEIDA ? R.A. D984144

A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

SÃO PAULO
2023

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A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Paulista


? UNIP como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Me. Gianfranco Faggin Mastro Andreá

SÃO PAULO
2023

FICHA CATALOGRÁFICA

BARBARA EUNICE DE QUEIROZ ALMEIDA

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A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Paulista


? UNIP como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

São Paulo, _______ de ______________________________ de 2023.

Prof.
UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP
DEDICATÓRIA

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus, que foi minha força durante todo esse processo. A minha
família que foi fundamental, e esteve ao meu lado em todos os momentos.
Ao meu orientador Gianfranco, por todo apoio e suporte. Aos meus professores que foram essenciais, e a
todos que contribuíram para a finalização desse ciclo.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, sem ele nada disso seria possível. Ao meu professor orientador
Gianfranco, que foi fundamental em todos os momentos desse período, em estar sempre solicito, pelas
orientações, pelas aulas incríveis e por reascender meu amor pelo direito civil.
Agradeço a minha família por estar sempre ao meu lado, me apoiando, dando forças e me incentivando a
me manter firme. Vocês foram fundamentais, vocês são a minha força e meu combustível para continuar.
Aos meus amigos, que estiveram sempre me incentivando, e fazendo com que esse processo se tornasse
mais leve. Aos meus colegas, que estiveram junto comigo, e entendem o significado da finalização desse
ciclo, que levo com muito carinho.
Aos meus professores, que além de contribuir para nos formar, estão nos transformando. A educação
muda nossas vidas. E, espero poder passar um pouco do que aprendi com cada um deles.
E por fim, agradeço a mim mesma. Não foi nada fácil, pensei por muitas vezes em desistir. Sofri e tive que
me reinventar inúmeras vezes para acompanhar todo esse processo. E proporcionalmente a toda
dificuldade, foi o meu processo de crescimento. De aprendizado, e evolução. Me sinto muito feliz em
chegar até aqui. A Barbara de 2019 com certeza está muito orgulhosa, é a realização de um sonho que
começou a 5 anos atrás.

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?Se você pode sonhar, você pode fazer.? ? Walt Disney

RESUMO

Tem-se como objetivo principal demonstrar que existem formas de abordagem mais benéficas para as
crianças e os adolescentes em acolhimento institucional do que os abrigos, mais conhecidos como
orfanatos. A razão é simples e cristalina: além da alta rotatividade de crianças e adolescentes nesses
locais, há também a rotatividade de funcionários, dificultando, assim, a criação de laços emocionais entre
as pessoas, e isso prejudica muito os jovens ao longo da vida. Além do benefício psicológico, é importante
demonstrar que através da Lei 12.010/09 inseriu o acolhimento familiar no Estatuto da Criança e do
Adolescente, permitindo legalmente que essa seja uma forma de acolhimento, e acima de tudo, que é
preferencial, em relação ao acolhimento institucional. Logo, se uma criança chega até o abrigo e tem
alguma família acolhedora que aceitaria acolher essa criança até ser adotada ou retornar para a família de
origem, esta irá para a casa da família ao invés de ficar no abrigo aguardando que a situação se resolva.
Será utilizado o método exploratório por pesquisa bibliográfica desenvolvida a partir do conteúdo
desenvolvido composto por livros, sites, artigos, teses, depoimentos pessoais, resumos e artigos
científicos.

Palavras-chave: Família acolhedora. Direito civil. Crianças. Estatuto da Criança e do Adolescente. Adoção.

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ABSTRACT

The main objective is to demonstrate that there are more beneficial approaches to children and
adolescents in institutional care than shelters, better known as orphanages. The reason is simple and
crystal clear: in addition to the high turnover of children and adolescents in these places, there is also a
turnover of employees, thus making it difficult to create emotional bonds between people, and this greatly
harms young people throughout their lives. In addition to the psychological benefit, it is important to
demonstrate that through Law 12.010/09, family foster care was included in the Child and Adolescent
Statute, legally allowing this to be a form of foster care, and above all, that it is preferential, in relation to
foster care. institutional. Therefore, if a child arrives at the shelter and there is a welcoming family that
would accept to welcome that child until they are adopted or return to their family of origin, they will go to
the family home instead of staying at the shelter waiting for the situation to be resolved. The exploratory
method will be used through bibliographical research developed from the content developed consisting of
books, websites, articles, theses, personal statements, summaries and scientific articles.

Keywords: Welcoming family. Civil right. Children. Child and Adolescent Statute. Adoption.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
A carência de conexões emocionais duradouras e a falta de estímulos apropriados resultam em prejuízos,
por vezes irreparáveis, para o progresso das crianças, afetando diversas áreas como o aspecto
psicológico, psicomotor, cognitivo e linguístico.
Particularmente durante a primeira infância, se uma criança não mantiver um vínculo sólido com um
cuidador principal ou se estiver envolvida em relações carentes de qualidade e estímulo, o
desenvolvimento do cérebro será grandemente prejudicado.
[1: RAYANE, Daniele Barbosa; SOUSA, Daniela Heitzmann Amaral Valentim de. PRIVAÇÃO AFETIVA E
SUAS CONSEQUÊNCIAS NA PRIMEIRA INFÂNCIA: UM ESTUDO DE CASO. Inter Scientia, vol. 6, Nº 2,
Ano 2018. Disponível em: https://periodicos.unipe.br/index.php/interscientia/article/download/721/601/.
Acesso em 03 de agosto de 2023.]
No Brasil, de acordo com informações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cerca de 5% das crianças e
adolescentes sob cuidado institucional estão sob os cuidados de Famílias Acolhedoras.
[2: BRASÍLIA. UNIDADES DE ACOLHIMENTO E FAMÍLIAS ACOLHEDORAS. Conselho Nacional de
Justiça, 2022. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2022/04/eixo4-primeira-infancia-
relatorio-final.pdf. Acesso em 03 de agosto de 2023.]
Os métodos predominantes na atualidade, como o acolhimento institucional (abrangendo abrigos e lares
de acolhimento), apesar da presença de profissionais habilidosos e infraestrutura para suprir necessidades

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básicas, frequentemente não conseguem estabelecer laços emocionais estáveis e duradouros que seriam
capazes de proporcionar ao acolhido os referenciais necessários para garantir um desenvolvimento pleno
em termos físicos, sociais e emocionais. Isso é em parte devido às características intrínsecas a esse
modelo, como a alta rotatividade de pessoas e a insuficiência de funcionários em relação ao número de
crianças, por exemplo.
Outra face a ser considerada no contexto do acolhimento institucional é a dificuldade em assegurar
plenamente o respeito pelas características individuais e necessidades específicas de cada acolhido, bem
como sua trajetória de vida. Isso resulta em questões relacionadas à construção de uma autoimagem
positiva, à preservação de sua saúde emocional e ao desenvolvimento abrangente. Além disso, o modelo
institucional de certa forma priva crianças e adolescentes da interação social e comunitária, prejudicando
sua futura adaptação à sociedade.
O Acolhimento Familiar, por sua vez, busca primordialmente o bem-estar da criança e do adolescente,
bem como o cumprimento das disposições legais vigentes.
Mas afinal, qual é o papel da família na vida de uma criança ou adolescente?
Conforme o artigo 227 da Constituição Federal:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.

O problema principal do presente trabalho gira em torno de demonstrar que o acolhimento institucional,
embora tenha raízes profundas, por ser utilizado há muitos anos, foi necessário olhar com outros olhos
para os jovens inseridos nesse modo de acolhimento para nova avaliação com o intuito de verificar se, de
fato, essa era a forma mais saudável de acolher crianças e jovens que já tiveram de sair de suas famílias
originárias.
Após tal estudo, foi possível verificar que a forma mais adequada, a fim de evitar danos psicológicos
maiores do que já não ter a sua família biológica presente, era o acolhimento familiar, para que pudessem
desenvolver de forma mais saudável.
Assim, inicialmente será abordado sobre a história da assistência familiar no Brasil, o que significa, como
se deu a formação familiar, como é a atual conjuntura e por qual motivo é tão importante que os jovens
tenham o apoio de suas famílias. Ainda no primeiro capítulo será falado sobre a Criação do Sistema Único
de Assistência Social (SUAS), e qual o papel dele perante a sociedade e, sobretudo, sobre os jovens.
Logo depois, no capítulo seguinte, será versado sobre quais são os direitos das pessoas menores de
idade, como são resguardados os seus direitos, se são, de fato, respeitados, e qual o papel do Estatuto da
Criança e do Adolescente diante dessa situação, principalmente face à problemática principal, que é o
acolhimento familiar, seja da família biológica ou da família que o acolhe apenas por um período, como
dito acima, além de falar sobre o direito à assistência social também.
Posteriormente, no terceiro capítulo, será exposto sobre os serviços de acolhimento existentes com o
objetivo de acolher os jovens: crianças e adolescentes. Aqui será falado também sobre o instituto da
família acolhedora, e quais são os incentivos criados para tornar-se uma delas.
No quarto capítulo e último capítulo, finalmente é dito sobre como a família acolhedora é benéfica para
aqueles que são acolhidos, sobre como o vínculo afetivo pode mudar a vida desses jovens, sobre as

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formas de adoção de crianças acolhidas nesses lares se dão e por fim, depoimentos de famílias
acolhedoras. Aqui, pode ser citado um exemplo: é um requisito não estar inscrito na fila de adoção para
ser uma família acolhedora, pois se assim fosse este processo, seria basicamente como ?furar fila? para
adotar uma criança mais rapidamente sem passar por todos os esquemas burocráticos.
Após, será apresentada a conclusão de todo o tema exposto ao longo do trabalho, e por fim, as
referências bibliográficas.

HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA FAMILIAR NO BRASIL


No Brasil, a prática de institucionalizar crianças e adolescentes remonta aos tempos da colonização. Sob a
influência do modelo europeu, a Igreja Católica assumiu a responsabilidade de cuidar de bebês e crianças
órfãos ou abandonados. No século XVIII, recém-nascidos eram frequentemente deixados de maneira
anônima nas chamadas rodas dos expostos ? mecanismos giratórios instalados nas paredes das Santas
Casas de Misericórdia. Essas crianças tinham pouca ou nenhuma interação com a comunidade, eram
completamente afastadas de suas famílias de origem e raramente retornavam ao convívio familiar.
No final do século XIX, surgiram educandários, reformatórios, internatos e orfanatos que atendiam a um
grande número de crianças e adolescentes, separados por sexo e faixa etária. Todas as atividades
ocorriam nas instalações dessas instituições, e os acolhidos tinham limitada interação com a comunidade
em termos de educação, saúde, lazer e profissionalização. A principal missão dessas instituições era
corrigir e controlar filhos de adultos pobres considerados incapazes de prover sua educação.
No século XX, enquanto ocorriam mudanças significativas no cenário internacional, como a Declaração de
Genebra sobre os Direitos da Criança adotada pela Liga das Nações Unidas em 1924 e a Declaração
Universal dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas em 1959, o Brasil aprovava o seu
primeiro Código de Menores em 1927, que permaneceu em vigor até a sanção de um segundo Código em
1979, com a Lei nº 6.697.
Pela primeira vez, o termo ?menor em situação irregular? foi introduzido na legislação para abordar
menores de 18 anos que estavam abandonados materialmente, sendo vítimas de maus-tratos, em risco
moral, desassistidos juridicamente, com desvios de conduta ou autores de infrações penais. No entanto, o
principal problema do código era a falta de distinção entre menores infratores e aqueles que eram vítimas
da pobreza, abandono e maus-tratos.
O grande marco ocorreu em 1988 com a aprovação da Constituição da República Federativa do Brasil,
que reconheceu as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, sem qualquer forma de distinção. A
Doutrina da Proteção Integral foi incorporada ao artigo 227 da Constituição, que estabelece:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com


absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Nos anos 1990, houve a introdução de novas legislações que priorizaram a infância no Brasil, incluindo a
Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O ECA
trouxe inovações ao estabelecer a prioridade absoluta no orçamento público para a implementação de

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políticas voltadas para crianças e adolescentes. Embora a porcentagem do orçamento destinada a essa
finalidade tenha sido ampliada ao longo dos anos, as disposições do ECA, que apresentaram um novo
formato para a política de atendimento à infância e juventude, ainda não estão plenamente implementadas
até os dias atuais.
A partir de 1999, começou a ser desenvolvido um abrangente Sistema de Garantia de Direitos da Criança
e do Adolescente, visando efetivar a proteção em todas as dimensões. Nesse contexto, iniciativas de
acolhimento em famílias acolhedoras começaram a surgir, ganhando força principalmente a partir da
metade dos anos 2000.
Em 2001, uma caravana da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados realizou visitas a
serviços de acolhimento institucional em oito estados e no Distrito Federal. Essas visitas tinham o
propósito de avaliar a difícil realidade enfrentada nos espaços de acolhimento, evidenciando o flagrante
desrespeito ao direito à convivência familiar e comunitária, bem como aos princípios estabelecidos no ECA
.
No ano subsequente, o Colóquio Técnico sobre a Rede Nacional de Abrigos, que reuniu representantes do
poder público, da sociedade civil e do UNICEF, estimulou a realização de uma pesquisa nacional sobre
crianças e adolescentes em serviços de acolhimento. Com recursos do Conselho Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente (Conanda), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) conduziu uma
análise abrangendo 589 abrigos, nos quais mais de 19 mil crianças e adolescentes eram atendidos.
[3: IPEA. MISÉRIA E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA COMPROMETEM A CONVIVÊNCIA FAMILIAR. Ipea.
Disponível em: https://www.ipea.gov.br/acaosocial/article283f.html?id_article=88. Acesso em 02 de
outubro de 2023.]
Essa pesquisa marcou um ponto de inflexão. Os resultados evidenciaram que a maioria das crianças e
adolescentes, mesmo tendo família (portanto, não sendo órfãos ou abandonados), permanecia em
acolhimento institucional por longos períodos. Além disso, os principais motivos para o acolhimento
estavam relacionados à pobreza, o que representava uma séria violação de direitos. Conforme a
Constituição Federal de 1988 (artigos 226 e 227) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
nenhuma criança deveria ser afastada de sua família devido à pobreza.
Em 2005, durante o II Colóquio Internacional de Acolhimento Familiar realizado em Campinas (SP), surgiu
o Grupo de Trabalho Nacional Pró-Convivência Familiar e Comunitária, uma iniciativa conjunta da
Associação Brasileira Terra dos Homens (ABTH) e do UNICEF, em parceria com o então Ministério de
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e a então Secretaria Especial dos Direitos Humanos
(SEDH). O GT foi estabelecido com o propósito de aprofundar as discussões relacionadas ao direito à
convivência familiar e comunitária, bem como de disseminar experiências inovadoras e diferentes
modalidades de acolhimento, como o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (SFA).
A partir de reuniões promovidas pelo GT em diversas regiões do país, emergiu um movimento nacional
que viabilizou um amplo intercâmbio entre especialistas brasileiros, visando promover e engajar atores
locais. Esse movimento culminou no lançamento do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do
Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária em 2006.
Em 2009, uma conquista significativa ocorreu: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi alterado
para incluir, pela primeira vez, o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora como uma instituição
jurídica. Posteriormente, o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) e a Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) conduziram o Levantamento Nacional de Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento.
Esse estudo identificou a existência de 144 Serviços em Família Acolhedora, com 932 crianças e
adolescentes acolhidos, representando somente 2,5% do total de 36.929 crianças e adolescentes

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acolhidos em 2.624 unidades de acolhimento institucional.


A partir de 2012, essas informações passaram a ser monitoradas anualmente, utilizando o Censo SUAS
(Sistema Único de Assistência Social). O dado mais recente disponível, referente a 2019, indicou a
existência de 381 SFAs, abrigando 1.535 crianças e adolescentes (correspondendo a 4,9% do total de
crianças e adolescentes acolhidos, sendo que 29.998 deles estavam em 2.801 serviços de acolhimento
institucional).

CRIAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SUAS)


A Constituição Federal de 1988, conforme destacado anteriormente, ofereceu oportunidades para o
avanço das políticas sociais no Brasil, incorporando algumas demandas da classe trabalhadora e
estabelecendo a assistência social como uma política pública de responsabilidade do Estado.
Ao longo dos anos, a assistência social no Brasil tem buscado superar um modelo arcaico de assistência
social que perpetua a subordinação e a dependência dos usuários dos serviços sociais em relação às
ações do Estado e de entidades filantrópicas. Em vez disso, ela visa estabelecer uma nova prática
baseada na consolidação de direitos. Nesse contexto, a criação do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS) representa um passo significativo nessa direção.
O SUAS foi aprovado em julho de 2005 pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) por meio da
Norma Operacional Básica nº 130 (NOB nº 130). Essa conquista decorreu dos esforços e da luta da
sociedade civil organizada, bem como de profissionais e estudiosos da política de assistência social. A IV
Conferência de Assistência Social, realizada em Brasília/DF, desempenhou um papel fundamental na
formulação do SUAS, marcando um importante marco em sua construção e legitimação no contexto da
assistência social.
A fim de progredir nesse sentido, a sociedade brasileira requer um sistema que vá além de interesses
específicos, capacitando a assistência social a se consolidar como uma política pública. Esse sistema
deve traduzir os princípios da Lei Orgânica em ações concretas e coesas, rompendo com as práticas
tradicionais fragmentadas e descontínuas que têm caracterizado a assistência social no país.
O SUAS, alinhado com as diretrizes e princípios da PNAS, apresenta-se com a missão central de romper
significativamente com a história de serviços sócioassistenciais precários e focalizados, particularmente no
que diz respeito aos recursos humanos e materiais. Este sistema propõe uma nova abordagem para o
campo da assistência social no Brasil, reformulando fundamentalmente as suas práticas e
responsabilidades.
[4: PAIVA, B. A. O SUAS E OS DIREITOS SOCIOASSISTENCIAIS; A UNIVERSALIDADE DA
SEGURIDADE SOCIAL EM DEBATE. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, ano XXVI, Especial, nº 87,
2009.]
Seu objetivo primordial é coordenar a política de assistência social por meio da colaboração entre os três
níveis de governo: municípios, estados e União. Este modelo de gestão é descentralizado e participativo,
atribuindo a cada nível de governo a responsabilidade pela implementação da Política de Assistência
Social em suas áreas de atuação.
O SUAS promove uma reformulação institucional na assistência social, com a descentralização dos
serviços para o âmbito municipal, priorizando a realidade local, a territorialidade e as especificidades de
cada região.
A descentralização política e administrativa, bem como a participação, são princípios de organização da
assistência social definidos pela LOAS e pela Constituição Federal de 1988. Esses princípios foram

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incorporados pela PNAS e transmitidos ao SUAS como elementos estruturais. Eles valorizam o poder local
e a participação popular como fundamentos da prática democrática, recuperando um modelo democrático
após décadas de autoritarismo.
A descentralização se reflete em avanços a nível municipal, como a criação de secretarias dedicadas à
assistência social na maioria dos municípios do país, totalizando mais de 4.500 em todos os estados
brasileiros e no Distrito Federal. Esse número demonstra a significativa capacidade de estabelecimento e
assimilação progressiva de conceitos, procedimentos técnicos e operacionais uniformes e coordenados
para a prestação de serviços sociais, financiamento e gestão da política de assistência social. Antes
subordinadas a outras secretarias ou mesmo aos gabinetes dos governantes, a presença de uma
secretaria autônoma confere um novo status à política de assistência social, permitindo-lhe maior
autonomia em relação a outras áreas do governo.
[5: BRASIL. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO E COMBATE À FOME. DESAFIOS DA GESTÃO DO
SUAS NOS MUNICÍPIOS E ESTADOS. Instituto de Estudos Especiais da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. Capacita Suas v.2. Brasília: MDS, 2008.]
A descentralização traz consigo a ênfase na participação. A criação de canais de participação e controle
social é um processo em desenvolvimento na PNAS e, consequentemente, no SUAS. Esse processo visa
a estabelecer uma ?intermediação dos interesses organizados e da luta pela efetivação dos direitos
sociais?, com o objetivo de fomentar a participação efetiva da sociedade na formulação e no
acompanhamento das políticas sociais. Atualmente, as Conferências de Assistência Social e os Conselhos
de Assistência têm sido os espaços que mais oportunizam à sociedade civil organizada uma voz ativa.
[6: COUTO, B. R; et. al. (Coord.). O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL: UMA
REALIDADE EM MOVIMENTO. São Paulo: Cortez, 2010. p. 119.]
A participação social é considerada um dos elementos mais relevantes da estrutura do SUAS. A criação
de mecanismos de controle social reflete uma nova perspectiva e amadurecimento na relação entre o
Estado e a sociedade, na qual o Estado reconhece a importância do controle exercido pela sociedade
sobre suas ações, algo impensável nos anos de ditadura no país. No entanto, é essencial que essa
participação seja qualificada e adquira novo significado, especialmente nas unidades responsáveis pela
operacionalização dos serviços sociais, com a presença efetiva dos usuários da política.
Além dessas duas diretrizes, o SUAS é fundamentado na centralidade da família, assim como a PNAS, no
que diz respeito à concepção e implementação dos benefícios, programas e serviços de assistência social
. A abordagem centrada na família desloca o foco do indivíduo isolado para o núcleo familiar, ou seja,
passa a priorizar o atendimento à família em suas diversas configurações, a fim de fortalecer a capacidade
de enfrentamento das necessidades sociais.
[7: SANTOS, A. C. A; et al. E A FAMÍLIA, COMO VAI? UM OLHAR SOBRE OS PROGRAMAS DE
TRANSFERÊNCIA DE RENDA NO BRASIL SOB A ÓTICA DA FAMÍLIA. In: Estudos de Política e Teoria
Social. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Praia Vermelha, nº 18, 2008. p. 30-45.]

OS DIREITOS DE INDIVÍDUOS MENORES DE IDADE: A CRIAÇÃO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE
A Lei Federal nº 8.069/1990, amplamente reconhecida como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA
), representa o marco legal e regulatório dos direitos humanos de crianças e adolescentes no Brasil.

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Promulgada em 13 de julho de 1990, essa lei resultou de um extenso processo de debate democrático
liderado por movimentos sociais, organizações, coalizões e diversos membros da sociedade civil, bem
como instituições que buscavam conscientizar e garantir o respeito aos direitos de crianças e adolescentes
como sujeitos detentores de direitos.
O ECA trouxe uma mudança de paradigma significativa, pois foi a primeira legislação na América Latina a
adotar a doutrina da proteção integral. Ela se inspirou na Declaração Universal dos Direitos da Criança de
1979 e na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, que foram aprovadas pela Organização
das Nações Unidas (ONU) em 1989.
Como João Batista Costa Saraiva destacou, o Estatuto desfez a ideia de ?menor como objeto do processo
? e introduziu uma transformação paradigmática, reconhecendo a criança e o adolescente como sujeitos
de direitos, participantes ativos, e cidadãos em pleno direito.
[8: SARAIVA, João Batista Costa. ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI: DA INDIFERENÇA À
PROTEÇÃO INTEGRAL: UMA ABORDAGEM SOBRE A RESPONSABILIDADE PENAL JUVENIL. Porto
Alegre, Livro do Advogado, 2013. p. 37.]
A Lei 8.069/1990 estabelece a doutrina da proteção integral como princípio fundamental e determina que é
responsabilidade da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público garantir, com
prioridade absoluta, a efetivação dos direitos desses jovens em áreas como vida, saúde, alimentação,
educação, esporte, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e
comunitária.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabeleceu a proteção integral por meio dos seus 267
artigos, apresentando uma carta abrangente de direitos fundamentais para a infância e a juventude.
Segundo o documento, uma criança é considerada como aquela que tem até 12 anos de idade
incompletos, enquanto um adolescente é definido como alguém com idade entre 12 e 18 anos.
Entre as contribuições significativas do ECA, além de reconhecer crianças e adolescentes como
detentores de direitos, destacam-se a criação do Conselho Tutelar, responsável por defender e proteger
os direitos desses jovens, bem como os Conselhos de Direitos da Criança em níveis nacional, estadual e
municipal. Estes conselhos têm o papel de formular políticas para crianças e adolescentes em suas
respectivas esferas de atuação.
Ao longo das últimas três décadas, diversas melhorias foram incorporadas ao ECA, incluindo a Lei do
Sistema Nacional Socioeducativo (Sinase), que regula a execução de medidas socioeducativas, a Lei da
Primeira Infância, que exige a implementação de políticas específicas para os primeiros anos de vida, e a
Lei da Adoção, que detalha os procedimentos relacionados à adoção. É importante ressaltar que a partir
dos 12 anos, os adolescentes que cometem atos infracionais são responsabilizados, mas com garantias
de devido processo legal, contraditório e ampla defesa.
Apesar desses avanços, desafios persistem. É fundamental continuar trabalhando na implementação
integral do ECA e leis relacionadas, com a criação de políticas públicas que assegurem efetivamente
direitos fundamentais, como educação de qualidade, assistência médica, moradia, alimentação,
convivência familiar e comunitária, cultura, esporte, lazer, entre outros.
O Estatuto da Criança e do Adolescente continua sendo reconhecido como um dos mais avançados do
mundo, destacando-se por sua abordagem centrada na proteção integral. Essa importância reside no
reconhecimento de que crianças e adolescentes são sujeitos de direito, atravessando um período crucial
de desenvolvimento físico, psicológico, moral e social, merecendo, com prioridade absoluta, uma proteção
completa.

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A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E À ASSISTÊNCIA


SOCIAL
A prática da adoção de crianças e adolescentes, conforme estabelecida no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), é considerada uma medida de proteção que tem como principal objetivo garantir o
direito das crianças e adolescentes à convivência em um ambiente familiar e comunitário que proporcione
um crescimento saudável, fornecendo condições adequadas para o desenvolvimento físico, cognitivo e
social. A família é, portanto, o primeiro contexto no qual a criança se desenvolve como membro da
sociedade, desempenhando um papel fundamental na mediação entre os indivíduos e as normas, regras e
valores da sociedade. Ela é responsável pela garantia e efetivação dos direitos das crianças e
adolescentes a vida, proteção e desenvolvimento de habilidades humanas, proporcionando as condições
materiais e humanas necessárias para o seu crescimento.
No entanto, Bruschini destaca a importância de questionar a noção de família como algo natural, uma vez
que essa categoria é uma construção humana mutável, cultural e historicamente influenciada. De acordo
com Simões, a família não deve mais ser restrita a modelos preestabelecidos, mas sim definida como
qualquer ambiente onde o indivíduo se sinta acolhido, desenvolvendo laços de afeto e confiança. Portanto
, a definição de família deve basear-se na existência de vínculos afetivos, não limitando-se apenas aos
laços de consanguinidade.
[9: BRUSCHINI, Cristina. TEORIA CRÍTICA DA FAMÍLIA. In: AZEVEDO, Maria Amélia; GUERRA, Viviane
Nogueira de Azevedo (Org.). Infância e violência doméstica: fronteiras do conhecimento. 3. ed. São Paulo
: Cortez: 2000.][10: SIMÕES, Carlos. CURSO DE DIREITO DE SERVIÇO SOCIAL. São Paulo: Cortez,
2008.]
Nessa perspectiva, de acordo com a legislação brasileira, é importante enfatizar que as relações
estabelecidas no âmbito familiar são mais importantes do que as configurações familiares em si. Isso
ocorre porque as funções de proteção e socialização podem ser desempenhadas em uma variedade de
arranjos familiares e contextos socioculturais. Dessa forma, a propensão é rejeitar qualquer noção
preconcebida de um modelo familiar ?normal?.
[11: BRASIL. PLANO NACIONAL DE PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E DEFESA DO DIREITO DE
CRIANÇAS E ADOLESCENTES À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA. 2006. p. 29.]
Conforme a visão de Paiva:
[12: PAIVA, Leila Dutra. ADOÇÃO: SIGNIFICADOS E POSSIBILIDADES. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2004. pp. 65-66.]

[...] a dificuldade, ainda hoje, parece ser o reconhecimento de que a família, em si mesma, é uma criação
cultural que pode ou não estar fundada em laços biológicos. A adoção tem representado, há muito tempo,
a possibilidade de formar uma família assentada não na biologia, mas na cultura.

É importante ressaltar que a família, como um grupo social, é um espaço onde as contradições sociais se
manifestam e, portanto, também é suscetível a expressões da questão social. No Brasil, um grande
número de famílias encontra-se em situação de pobreza e miséria. Essas condições dificultam ou
impedem que elas desempenhem suas funções de proteção e cuidado em relação aos seus filhos,
resultando na negação de seu espaço de humanização.

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Essa desumanização do espaço familiar é afetada por várias questões, principalmente o desemprego e a
falta de acesso à riqueza materialmente produzida. Conforme destacado por Kaloustian, essa situação de
desumanização do espaço familiar está diretamente ligada à situação de pobreza e ao perfil de
distribuição de renda no país.
[13: KALOUSTIAN, Sílvio Manoug (Org.). FAMÍLIA BRASILEIRA: A BASE DE TUDO. 7. ed. São Paulo:
Cortez; Brasília: Unicef, 2005. p. 12.]
Consequentemente, na sociedade atual, observa-se que milhares de famílias não têm as condições
necessárias para cumprir suas funções legalmente e socialmente atribuídas. Esse contexto sociofamiliar
frequentemente resulta em situações de negligência, abandono e institucionalização de crianças e
adolescentes. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, em um levantamento nacional
dos abrigos da Rede de Serviços de Ação Continuada (Rede SAC), cerca de 20 mil crianças vivem nos
589 abrigos pesquisados em todo o Brasil, privadas de seus direitos fundamentais à convivência familiar.
[14: IPEA ? Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E
COMUNITÁRIA: OS ABRIGOS PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL. Brasília, 2004.]
Diante desse cenário, a discussão sobre a família tem se intensificado, uma vez que ela é reconhecida
como uma instituição central na sociedade. A família desempenha funções cruciais no cuidado e proteção
de seus membros, mas enfrenta dificuldades em cumprir plenamente essas funções, o que tem levado a
um reconhecimento especial por parte do Estado e da sociedade.
Nesse contexto, a família é considerada a célula base da sociedade brasileira, conforme estipula a
Constituição Federal de 1988, eu seu artigo 226: ?A família, base da sociedade, tem especial proteção do
Estado?.
A família é entendida como um local de convivência de indivíduos, unidos por laços consanguíneos,
afetivos ou de confiança. Segundo Simões, nesse espaço, desenvolve-se e mantém-se o sentimento de
pertencimento e identidade social, bem como a transmissão de valores e comportamentos pessoais.
[15: SIMÕES, Carlos. CURSO DE DIREITO DE SERVIÇO SOCIAL. São Paulo: Cortez, 2008. p. 190.]
No Brasil, esse reconhecimento é fundamentado na Constituição Federal de 1988, no Estatuto da Criança
e do Adolescente, na Política Nacional de Assistência Social, e no Plano Nacional de Promoção, Proteção
e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. No entanto, é
fundamental que essas garantias saiam do papel e sejam efetivamente implementadas na prática.
Para alcançar esse objetivo, é fundamental que o Estado e a sociedade protejam os grupos familiares em
diversas configurações que enfrentam condições de empobrecimento. Nesse contexto, o Estado deve
garantir o acesso aos direitos universais para as famílias, o que, por sua vez, resulta na proteção dos
direitos das crianças e dos adolescentes. Famílias que possuem acesso a esses direitos, juntamente com
outros, têm melhores condições para cumprir suas funções de cuidado, afeto e socialização, além de
superar possíveis situações de vulnerabilidade.
[16: JUNQUEIRA, Maíz Ramos; SERRES Jamille de Freitas. ADOÇÃO PELOS CAMINHOS LEGAIS:
RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA. Textos & Contextos (Porto Alegre), Porto Alegre, v. 9, n. 1, p. 182-192,
jan./jun. 2010.]
A contradição central na questão do abandono de crianças e adolescentes reside nesse ponto, sendo uma
dinâmica da questão social. As famílias que, devido às condições da realidade social, não conseguem
cumprir suas funções acabam negligenciando e abandonando seus filhos, tornando-se destinatárias das
políticas sociais compensatórias. Entretanto, essas políticas frequentemente se mostram insuficientes para
atender à grande demanda social e para atender eficazmente aqueles a quem se destinam. Diante
dessas condições objetivas, é importante examinar como o trabalho social tem evoluído no campo dos

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direitos das crianças e dos adolescentes à convivência familiar e comunitária, considerando seus limites e
possibilidades.
[17: SILVA, Simone Regina Medeiros. ABANDONO: UMA AGRESSÃO AOS DIREITOS DA CRIANÇA. In
: FREIRE, Fernando. Abandono e adoção: contribuições para uma cultura de adoção. São Paulo: Terre de
Hommes, 2001.]

OS SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO DESTINADOS À CRIANÇAS E ADOLESCENTES


Para abordar inteiramente este tema, é crucial abordar a história do acolhimento desde suas origens e
discutir as principais transformações influenciadas por fatores sociais, culturais e econômicos.
A prática de institucionalização de crianças e adolescentes de famílias de classes populares tem raízes
que remontam ao período inicial da colonização brasileira.
O programa de acolhimento familiar formalmente surgiu no Brasil na década de 1990. Ele trouxe consigo
reflexões alternativas em relação à institucionalização infantil, buscando meios para reintegrar a criança à
sua família e, sobretudo, promover a inclusão dessa família na sociedade.
Foi somente com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069 de 13 de julho de
1990, que crianças e adolescentes passaram a ser reconhecidos como sujeitos de direito, em uma
condição peculiar de desenvolvimento. Esses direitos fundamentais, conforme estabelecido pelo artigo 227
da Constituição Federal, englobam o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
protegendo-os contra todas as formas de negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão.
A partir do Estatuto da Criança e do Adolescente, o encaminhamento para os serviços de acolhimento
passou a ser concebido como uma medida protetiva, de caráter excepcional e temporário, que visa
primordialmente ao superior interesse da criança e do adolescente.
Antes da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, muitos internatos e orfanatos
desempenhavam o papel de cuidar das crianças, frequentemente tratando-as como se fossem
abandonadas. A perspectiva predominante não considerava os direitos das crianças e dos adolescentes.
No contexto brasileiro, a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990
são exemplos de marcos legais que estabelecem de forma explícita a importância da convivência familiar
e comunitária para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. O ECA é amplamente reconhecido
internacionalmente como um instrumento jurídico orientador para o atendimento digno de crianças e
adolescentes.
A convivência familiar sempre ocupou uma posição de destaque no Estatuto da Criança e do Adolescente
. O papel da família é considerado um elemento indispensável nos processos de proteção e
desenvolvimento, e o ECA estabeleceu que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos em uma
condição peculiar de desenvolvimento.
O artigo 15 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe:

A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em
processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na
Constituição e nas leis.

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Quando a separação do ambiente familiar de uma criança ou adolescente se torna necessária, é


apropriado que ela seja acolhida em outro ambiente familiar de forma temporária, ao mesmo tempo em
que se desenvolve um trabalho com sua família de origem. Nesse contexto, é fundamental realizar ações
que facilitem a reintegração da criança ao seu núcleo familiar.

AS FORMAS E MEDIDAS DE ACOLHIMENTO EXISTENTES


Os serviços de acolhimento têm a finalidade de receber crianças e adolescentes que estejam sujeitos a
medidas protetivas determinadas pelo poder judiciário, em decorrência de violações de seus direitos, como
abandono, negligência ou violência, ou quando a família não é capaz de fornecer o cuidado e proteção
necessários.
É importante destacar que o afastamento da criança ou adolescente de sua família deve ser uma medida
excepcional e só deve ser aplicada em situações de grave risco para sua integridade física e/ou
psicológica. O principal objetivo é garantir que esses jovens possam retornar com segurança ao convívio
familiar, priorizando a família de origem sempre que possível, e recorrendo à família substituta somente
em casos excepcionais, por meio de procedimentos legais, como adoção, guarda ou tutela.
O serviço de acolhimento deve focar na preservação e no fortalecimento das relações familiares e
comunitárias das crianças e adolescentes. O atendimento deve ser individualizado e oferecido a grupos
reduzidos, garantindo espaços privados para guardar objetos pessoais e registros relacionados à história
de vida e ao desenvolvimento de cada criança e adolescente.
Em 2004, uma pesquisa realizada pelo Ipea e pelo Conanda sobre a situação dos abrigos para crianças e
adolescentes revelou a persistência de violações de direitos, que se mantinham muito aquém do que era
preconizado pelo ECA, mesmo mais de uma década após sua promulgação. Essas constatações
enfatizaram a importância de redirecionar a discussão para a observância dos princípios que ressaltam a
natureza temporária e excepcional das medidas de acolhimento. Segundo esses princípios, a separação
de uma criança ou adolescente de sua família deve ser breve e apenas adotada quando estritamente
necessária para garantir o superior interesse da criança. Portanto, é fundamental preservar e fortalecer os
laços familiares e, quando não houver alternativas viáveis, promover a colocação do acolhido em um
processo de adoção.
[18: SILVA, E. R. A. (Org). O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA: OS ABRIGOS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL. Brasília: Ipea/Conanda, 2004.]
Esse contexto levou à elaboração do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de
Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC) em 2006, que contou com a
participação de representantes do governo e da sociedade civil. Aprovado por meio da Resolução
Conanda/CNAS nº 1/2006, o PNCFC é uma iniciativa de natureza transversal e intersetorial que envolve
não apenas os órgãos do Poder Executivo, mas também outros atores que fazem parte do Sistema de
Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente (SGD). Isso inclui instituições como o Judiciário e o
Ministério Público. As diretrizes estabelecidas pelo PNCFC demandaram uma revisão das práticas das
instituições que administravam os serviços de acolhimento, impulsionando uma reorganização desses
serviços sob a responsabilidade da política de assistência social, seja na forma institucional ou por meio
do acolhimento familiar.
No entanto, é importante ressaltar que a ampla cobertura populacional não garante que o serviço de
acolhimento seja amplamente disponível, especialmente nos municípios de menor porte. Na verdade, a
maioria dos 3.560 municípios que não ofereciam esse serviço em 2018 era composta em sua maioria por

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municípios de pequeno porte I (86,0%) e pequeno porte II (12,8%).


[19: LICIO, E. C; et. al. REORDENAMENTO DOS SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES E IMPLEMENTAÇÃO DE NOVAS MODALIDADES ? FAMÍLIA ACOLHEDORA E
REPÚBLICAS. Brasília: Ipea, 2021. No prelo.]
Em que pese às formas de acolhimento, há diferentes formas, quais sejam:
O acolhimento institucional para Crianças e Adolescentes pode ser disponibilizado em dois tipos de
unidades:
Abrigo: Este é um serviço de acolhimento provisório que pode abrigar até 20 crianças e adolescentes em
cada unidade. Deve ser projetado para se assemelhar a uma residência com uma localização na
comunidade, preferencialmente em áreas residenciais. O ambiente deve ser acolhedor e oferecer
condições institucionais que atendam a padrões de dignidade.

Casa-Lar: Este é um serviço de acolhimento provisório que é oferecido em unidades residenciais e tem
capacidade para acomodar no máximo 10 crianças e adolescentes por unidade. Nestas casas, pelo menos
uma pessoa ou um casal trabalha como educador/cuidador residente, prestando cuidados a um grupo de
crianças e adolescentes que foram afastados de seus ambientes familiares. Importante notar que a casa-
lar não é a residência do educador/cuidador, mas um local separado para abrigar as crianças e
adolescentes.
O acesso ao acolhimento institucional para Crianças e Adolescentes é estabelecido por decisão do Poder
Judiciário e por solicitação do Conselho Tutelar. A autoridade competente deve ser notificada, conforme
previsto no Artigo 93 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Art. 93. As entidades que mantenham programa de acolhimento institucional poderão, em caráter
excepcional e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação da autoridade
competente, fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da Infância e da
Juventude, sob pena de responsabilidade.
Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público e se
necessário com o apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas necessárias para promover a
imediata reintegração familiar da criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for isso possível
ou recomendável, para seu encaminhamento a programa de acolhimento familiar, institucional ou a família
substituta, observado o disposto no § 2 o do art. 101 desta Lei.

No que tange à acolhimento em república para jovens egressos de outros serviços de acolhimento, trata-
se de um serviço destinado principalmente a jovens que passaram anteriormente por serviços de
acolhimento para crianças e adolescentes. Ele oferece apoio e moradia a jovens com idades entre 18 e 21
anos. Cada unidade de acolhimento pode abrigar até 6 pessoas. O objetivo deste serviço é promover a
autonomia gradual dos residentes, incentivando a independência deles ao operar em um sistema que
permite que os moradores tomem decisões conjuntas sobre o funcionamento da unidade.
O acesso a esse serviço pode ser realizado por meio de encaminhamento do Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (CREAS), do Serviço de Abordagem Social e de outros serviços ou
políticas públicas relacionadas. Além disso, é possível acessá-lo por demanda espontânea, ou seja, os
próprios jovens ou suas famílias podem buscar esse serviço diretamente. Para obter mais informações e
orientações sobre como acessar o acolhimento em república, entre em contato com o CREAS ou o órgão
competente em sua região.

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No que cabe ao acolhimento em Família Acolhedora, este é um serviço que organiza o acolhimento de
crianças ou adolescentes em residências de famílias acolhedoras cadastradas. Para integrar esse serviço
, as famílias interessadas devem passar por um processo de seleção, capacitação e acompanhamento.
Esse serviço oferece atendimento em um ambiente familiar, garantindo uma abordagem individualizada e
oportunidades de convivência comunitária. Cada Família Acolhedora acolhe uma criança ou adolescente
por vez, a menos que se trate de um grupo de irmãos que possa ser acolhido conjuntamente.
Para obter informações detalhadas, recomenda-se entrar em contato com a Secretaria de Assistência
Social do município do interessado. Eles poderão orientar sobre os procedimentos e requisitos
necessários para o acesso a esses serviços.

O VÍNCULO AFETIVO CRIADO E A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA ACOLHEDORA COMO INSTRUMENTO


DE PROTEÇÃO
Muitas pessoas, ao se depararem com a ideia do acolhimento familiar, levantam a questão de se
estabelecer vínculos em uma situação transitória pode ser prejudicial para as crianças e/ou adolescentes
em acolhimento. O senso comum sugere que criar laços com alguém que não estará sempre presente
pode causar sofrimento, sendo potencialmente desvantajoso tanto para o adulto que cuida quanto para a
criança ou adolescente em acolhimento. No entanto, pesquisas em diversas áreas do desenvolvimento
humano vêm apresentando resultados que apontam exatamente o contrário.
O afeto desempenha um papel tão essencial no desenvolvimento humano quanto fatores como uma boa
alimentação, sono adequado e hidratação. A ausência de afeto, de contato físico e de interações com
figuras de referência é altamente prejudicial para o crescimento de crianças e adolescentes, e até mesmo
para o bem-estar dos adultos. Mesmo que o acolhimento seja uma medida temporária, é fundamental que
a criança ou adolescente seja inserido em um ambiente que lhes permita cultivar um senso de
pertencimento, segurança e confiança nos adultos ao seu redor.
A falta de atenção e carinho por parte dos cuidadores, a vivência em um ambiente institucional com alta
rotatividade de educadores ou a negligência de suas necessidades podem resultar em fenômenos como o
?desamparo aprendido? (quando a pessoa tolera estímulos e situações aversivas por não conseguir evitá-
los) e ?estresse tóxico?. Essas condições podem impactar o funcionamento cerebral e a forma como a
criança ou adolescente desenvolve suas habilidades interpessoais, inclusive na vida adulta.
Numerosos estudos científicos corroboram os benefícios de um desenvolvimento social, emocional e
cognitivo mais saudável para crianças e adolescentes que passam pelo acolhimento em famílias
acolhedoras, em comparação com o acolhimento institucional. Essas pesquisas reforçam a conclusão de
que laços afetivos, um ambiente seguro e estímulos são fundamentais na vida de crianças e adolescentes
, assim como a oportunidade de conviver em uma comunidade, que essa forma de atendimento oferece.
A pesquisa ?Órfãos da Romênia?, conduzida pelo Hospital de Crianças de Boston, vinculado à
Universidade de Harvard, evidencia que a ausência de vínculos afetivos duradouros e a falta de atenção
às necessidades individuais em instituições de acolhimento podem acarretar prejuízos significativos no
desenvolvimento integral de bebês. O estudo revela que, para cada ano que um bebê passa em uma
instituição, sem estabelecer vínculos afetivos estáveis e sem receber atenção adequada às suas
necessidades individuais, pode haver um atraso de até quatro meses em seu desenvolvimento global.
[20: VIDA, O começo da. O CASO DOS ÓRFÃOS DA ROMÊNIA. O começo da vida. Disponível em: https
://ocomecodavida.com.br/o-caso-dos-orfaos-da-romenia/. Acesso em 18 de outubro de 2023.]
Essa pesquisa concentrou-se em crianças abrigadas em instituições na Romênia após a Segunda Guerra

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Mundial, particularmente durante os primeiros anos de suas vidas, e identificou déficits cognitivos
consideráveis. Essa investigação, de caráter longitudinal, teve início em 2000 e incluiu acompanhamento
regular com a realização de eletroencefalogramas (EEGs) para mapear a atividade cerebral de crianças
que passaram por diferentes configurações de cuidado (institucionalização, acolhimento familiar e
convivência em famílias sem intervenção do Estado).
Embora tenha sido realizada em um contexto substancialmente distinto do que observa-se no Brasil
atualmente, esse estudo oferece subsídios relevantes para reflexões acerca da importância dos cuidados
individualizados na primeira infância, especialmente no contexto das medidas de proteção relacionadas ao
acolhimento.
A Teoria do Apego, proposta pelo renomado psicólogo e psiquiatra britânico John Bowlby, se desenvolveu
a partir de suas observações e reflexões sobre a separação precoce de bebês de suas figuras de cuidado
primárias. Essa teoria enfatiza a relevância de uma figura de apego estável para prover cuidados à criança
, principalmente nos primeiros três anos de vida. A continuidade e a estabilidade dessa relação (que pode
envolver pais, mães, familiares ou qualquer adulto capaz de fornecer apoio afetivo) exercem um impacto
significativo no desenvolvimento social e psicológico da criança, uma vez que esse período influencia de
maneira profunda suas futuras interações sociais.
Diante dessa perspectiva, o acolhimento em famílias acolhedoras se configura como um espaço
fundamental de cuidado, pois prioriza a qualidade e a consistência das relações estabelecidas com a
criança, alinhando-se com os princípios da Teoria do Apego e valorizando o impacto positivo de relações
afetivas duradouras em seu desenvolvimento.
A primeira infância, compreendida como o período que se estende desde a gestação até os seis anos de
idade, assume uma importância crucial para o desenvolvimento humano. Isso se deve ao fato de que é
nessa fase que se estabelece a base de conexões neuronais que irão sustentar as aquisições posteriores
nos âmbitos psicomotor, cognitivo e social. Em termos mais simples, é durante esse intervalo que se
delineia a arquitetura cerebral que influenciará o desenvolvimento da criança ao longo de sua vida.
Consequentemente, é fundamental proporcionar às crianças pequenas, além dos cuidados básicos, como
higiene e alimentação, interações físicas, afeto e atenção individualizada. Esses elementos contribuem
para a formação da individualidade da criança, a aquisição da linguagem e o estabelecimento das bases
de sua interação com a sociedade.
Contudo, é relevante ressaltar que o acolhimento em famílias acolhedoras não beneficia somente as
crianças na primeira infância. Pessoas de todas as faixas etárias colhem benefícios significativos de
relacionamentos estáveis, afetivos e orientados para o indivíduo, proporcionados por ambientes familiares
. Na adolescência, por exemplo, um ambiente seguro e estável favorece a navegação pelas
transformações e pelo processo de amadurecimento. Durante esse período, ocorre a consolidação da
identidade e o desenvolvimento da autonomia dos jovens, e um ambiente de acolhimento familiar pode
desempenhar um papel valioso nesse processo. Isso se torna particularmente relevante quando esses
jovens deixam o sistema de acolhimento ao atingir a maioridade, aos dezoito anos, e enfrentam novos
desafios na busca de sua independência.
Fornecer experiências de apego, mesmo que temporárias, não é apenas desejável, mas essencial para
um acolhimento eficaz. As crianças e adolescentes que necessitam de medidas protetivas encontram-se
em um estágio particularmente delicado de suas vidas. Nesse momento de turbulência, é fundamental que
o acolhimento proporcione um ambiente seguro, protetor, afetuoso e estável.
Através dessa relação afetiva, a criança ou adolescente poderá fortalecer-se. Ao ser introduzido em um
novo modelo de configuração familiar, que o recebe com carinho, respeito e cuidados personalizados, ele

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ou ela terá melhores condições para enfrentar e superar os traumas causados pelas violências sofridas
anteriormente.
Todo o trabalho desenvolvido pela equipe do serviço, incluindo a capacitação das famílias acolhedoras e o
acompanhamento das crianças e adolescentes, considera o acolhimento como uma medida de caráter
temporário. Portanto, crianças e adultos passarão por uma transição assistida pela equipe técnica. A saída
do acolhimento não deve ser vista como uma ruptura adicional, mas sim como um processo gradual,
respeitoso e que visa ao melhor interesse da criança e do adolescente.
É relevante observar que, no contexto do acolhimento institucional, as crianças e adolescentes também
estabelecem vínculos significativos com profissionais, educadores e outros acolhidos. Portanto, ao se
desligarem do serviço, eles também precisam enfrentar a despedida e passar por uma transição,
semelhante ao acolhimento em família acolhedora. A qualidade e segurança dos vínculos estabelecidos
influenciam diretamente a possibilidade de uma despedida tranquila e a transição para a próxima fase de
suas vidas.

FORMAS DE ADOÇÃO DE CRIANÇAS INCLUÍDAS EM FAMÍLIAS ACOLHEDORAS


Como discutido no capítulo anterior, referente à função da família acolhedora, essas famílias se oferecem
voluntariamente para receber, em seus lares, crianças e/ou adolescentes em situação de risco social,
quando se torna necessário, por decisão judicial, afastá-los de suas famílias de origem. Após o
afastamento do convívio familiar, esses jovens podem ser direcionados tanto para o acolhimento
institucional quanto para o acolhimento familiar, sendo preferível, de acordo com o artigo 34, §1 do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que sejam encaminhados ao acolhimento familiar, uma vez
que as famílias acolhedoras conseguem fornecer cuidados personalizados. Nas palavras do juiz da Vara
da Infância e Juventude de Campinas, Eduardo Bigolin, sobre a prioridade do acolhimento familiar:

As crianças que passam pela família acolhedora são bem avaliadas em exames psicológicos e sociais.
Têm maior interação, integração com a comunidade e gozam de maior liberdade, muito porque a família
cuidou do lado afetivo, moral e material que talvez não estivesse sendo provido pela família de origem. 43
[21: POMBO, Bárbara. AFASTADAS DA FAMÍLIA DE ORIGEM, CRIANÇAS SÃO ACOLHIDAS POR
MÃES E PAIS PROVISÓRIOS. Conselho Nacional de Justiça, 2014. Disponível em: https://www.cnj.jus.br
/afastadas-da-familia-de-origem-criancas-sao-acolhidas-por-maes-e-pais-provisorios/. Acesso em 23 de
outubro de 2023.]

Um dos critérios para que uma família seja elegível para participar do programa de família acolhedora é
que ela não esteja registrada no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) e não manifeste qualquer interesse
em adotar o acolhido. É necessário que a família assine uma declaração oficial confirmando seu
desinteresse pela adoção. Essa distinção é amplamente enfatizada, como evidenciado por trechos
retirados de materiais informativos de diversas instituições, com o objetivo de deixar claro que a família
acolhedora e a adoção são processos totalmente distintos.
O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que o acolhimento institucional não deve ser
prolongado por mais de 18 (dezoito) meses, a menos que haja uma comprovação da necessidade que
atenda ao superior interesse da criança ou adolescente (conforme o artigo 19, §2 do ECA). Essa medida é
considerada provisória e excepcional, destinada a servir como uma transição para reintegrar a criança ou
adolescente em sua família biológica ou, se isso não for possível, colocá-los em uma família substituta

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(conforme o artigo 101, §1 do ECA). Essa abordagem visa sempre ao melhor interesse da criança e do
adolescente.
No entanto, como mencionado anteriormente e também abordado no livro ?Adoção, Desafios da
Contemporaneidade?, as crianças e adolescentes muitas vezes permanecem nos serviços de acolhimento
por períodos muito mais longos do que o previsto. Isso ocorre devido a várias razões, como a falta de
possibilidade de retorno às famílias de origem ou de inserção em famílias substitutas. Como resultado, em
alguns casos, os vínculos afetivos se tornam muito fortes, a ponto de a criança ou adolescente considerar
a família acolhedora como seus pais, assim como a família acolhedora considera a criança ou adolescente
como seu filho. Esse forte vínculo pode despertar o desejo de adoção, mas a prática é impedida devido
ao termo de não adoção e, principalmente, devido à lei que não autoriza tal ato.
[22: LEVINZON, Gina Khafif; LISONDO, Alicia Dorado. ADOÇÃO: DESAFIOS DA
CONTEMPORANEIDADE. São Paulo: Blucher, 2015. pp. 203-204.]

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas análises apresentadas ao longo deste trabalho, conclui-se que o Programa de Acolhimento
Familiar desempenha um papel crucial no desenvolvimento de crianças em situação de vulnerabilidade,
proporcionando atendimento individualizado por parte das famílias acolhedoras. A legislação busca
priorizar o acolhimento familiar em detrimento do institucional, mas essa preferência nem sempre é
observada na prática.
Para aliviar a sobrecarga dos abrigos institucionais, é necessário que o Poder Público promova e incentive
os estados e municípios a implementarem políticas públicas de acolhimento familiar. Isso deve ser uma
medida de fácil instalação e acesso. Em relação à conscientização da população, é fundamental realizar
campanhas que abordem a realidade dos acolhimentos institucionais e da adoção, destacando os
benefícios do acolhimento familiar e suas diversas vantagens.
Quanto à possibilidade de a família acolhedora adotar, deve-se realizar uma análise de cada caso
concreto, garantindo a aplicação do melhor interesse da criança e do adolescente e o cumprimento da
prioridade absoluta estabelecida na Constituição Federal. No entanto, não é adequado justificar o
desvirtuamento do propósito do programa, uma vez que, na maioria dos casos, as famílias acolhedoras
não se inscrevem com a intenção de adotar, mas desenvolvem esse desejo devido aos laços afetivos que
se formam.
Além disso, é importante notar que o tempo de acolhimento costuma se prolongar, o que fortalece os laços
afetivos entre as crianças e os pais acolhedores. Esta pesquisa evidenciou que muitas vezes as próprias
crianças e adolescentes buscam nas famílias acolhedoras a figura materna e paterna que talvez não
tenham tido anteriormente. Portanto, diante da destituição da família de origem, seria justo permitir que a
família acolhedora convertesse sua guarda em adoção. Afinal, se a guarda foi concedida pelo tribunal, já
houve uma análise quanto à compatibilidade e à boa-fé dos pais acolhedores, preenchendo, portanto, os
requisitos da adoção.
Negar a possibilidade de adoção pela família acolhedora com base na falta de habilitação no Cadastro
Nacional de Adoção (CNA) é uma medida cruel, considerando que o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) viabiliza a adoção com base em vínculos afetivos, conforme previsto no artigo 50, §13, incisos II e
III. A jurisprudência já consolidou o entendimento de que a afetividade supera os vínculos consanguíneos

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e quaisquer outros laços, e esse mesmo entendimento deve ser aplicado no contexto do acolhimento
familiar.
Portanto, é imperativo que o artigo 34, parágrafo 3º, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) seja
modificado para incluir a possibilidade de inscrição no Programa Famílias Acolhedoras de pessoas que
façam parte ou não dos cadastros de adoção. Uma alternativa louvável seria a implementação, por parte
dos estados e municípios, de duas modalidades de acolhimento familiar, à semelhança do que foi
realizado em Belo Horizonte (MG) e regulamentado na Lei Municipal 10.871/2015.
Uma dessas modalidades seria destinada a crianças com perspectiva de reintegração familiar, na qual os
interessados não poderiam ter a intenção de adoção. A outra modalidade seria voltada para crianças para
as quais a reintegração à família de origem fosse improvável ou cujos pais biológicos já tivessem sido
destituídos do poder familiar. Nesta modalidade, pessoas interessadas na adoção seriam permitidas e,
idealmente, poderiam suportar a duração prolongada do acolhimento familiar. Isso seria especialmente
importante no caso de crianças mais velhas ou com alguma doença ou deficiência física, mental,
intelectual ou sensorial, uma vez que, como demonstrado, elas têm menos chances de serem adotadas
por aqueles cadastrados no Cadastro Nacional de Adoção (CNA).

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Prof. Me. Gianfranco Faggin Mastro AndreáUNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP


Prof.UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP

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=================================================================================
Arquivo 1: TCC Barbara - Família acolhedora.docx (8247 termos)
Arquivo 2: https://www.passeidireto.com/arquivo/109652468/ppap-iii/3 (4008 termos)
Termos comuns: 42
Similaridade: 0,34%
O texto abaixo é o conteúdo do documento TCC Barbara - Família acolhedora.docx (8247 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://www.passeidireto.com/arquivo/109652468/ppap-iii/3 (4008 termos)

=================================================================================
UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP
CURSO DE BACHARELADO
DIREITO

BARBARA EUNICE DE QUEIROZ ALMEIDA ? R.A. D984144

A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

SÃO PAULO
2023

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A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Paulista


? UNIP como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Me. Gianfranco Faggin Mastro Andreá

SÃO PAULO
2023

FICHA CATALOGRÁFICA

BARBARA EUNICE DE QUEIROZ ALMEIDA

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A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Paulista


? UNIP como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

São Paulo, _______ de ______________________________ de 2023.

Prof.
UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP
DEDICATÓRIA

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus, que foi minha força durante todo esse processo. A minha
família que foi fundamental, e esteve ao meu lado em todos os momentos.
Ao meu orientador Gianfranco, por todo apoio e suporte. Aos meus professores que foram essenciais, e a
todos que contribuíram para a finalização desse ciclo.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, sem ele nada disso seria possível. Ao meu professor orientador
Gianfranco, que foi fundamental em todos os momentos desse período, em estar sempre solicito, pelas
orientações, pelas aulas incríveis e por reascender meu amor pelo direito civil.
Agradeço a minha família por estar sempre ao meu lado, me apoiando, dando forças e me incentivando a
me manter firme. Vocês foram fundamentais, vocês são a minha força e meu combustível para continuar.
Aos meus amigos, que estiveram sempre me incentivando, e fazendo com que esse processo se tornasse
mais leve. Aos meus colegas, que estiveram junto comigo, e entendem o significado da finalização desse
ciclo, que levo com muito carinho.
Aos meus professores, que além de contribuir para nos formar, estão nos transformando. A educação
muda nossas vidas. E, espero poder passar um pouco do que aprendi com cada um deles.
E por fim, agradeço a mim mesma. Não foi nada fácil, pensei por muitas vezes em desistir. Sofri e tive que
me reinventar inúmeras vezes para acompanhar todo esse processo. E proporcionalmente a toda
dificuldade, foi o meu processo de crescimento. De aprendizado, e evolução. Me sinto muito feliz em
chegar até aqui. A Barbara de 2019 com certeza está muito orgulhosa, é a realização de um sonho que
começou a 5 anos atrás.

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?Se você pode sonhar, você pode fazer.? ? Walt Disney

RESUMO

Tem-se como objetivo principal demonstrar que existem formas de abordagem mais benéficas para as
crianças e os adolescentes em acolhimento institucional do que os abrigos, mais conhecidos como
orfanatos. A razão é simples e cristalina: além da alta rotatividade de crianças e adolescentes nesses
locais, há também a rotatividade de funcionários, dificultando, assim, a criação de laços emocionais entre
as pessoas, e isso prejudica muito os jovens ao longo da vida. Além do benefício psicológico, é importante
demonstrar que através da Lei 12.010/09 inseriu o acolhimento familiar no Estatuto da Criança e do
Adolescente, permitindo legalmente que essa seja uma forma de acolhimento, e acima de tudo, que é
preferencial, em relação ao acolhimento institucional. Logo, se uma criança chega até o abrigo e tem
alguma família acolhedora que aceitaria acolher essa criança até ser adotada ou retornar para a família de
origem, esta irá para a casa da família ao invés de ficar no abrigo aguardando que a situação se resolva.
Será utilizado o método exploratório por pesquisa bibliográfica desenvolvida a partir do conteúdo
desenvolvido composto por livros, sites, artigos, teses, depoimentos pessoais, resumos e artigos
científicos.

Palavras-chave: Família acolhedora. Direito civil. Crianças. Estatuto da Criança e do Adolescente. Adoção.

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ABSTRACT

The main objective is to demonstrate that there are more beneficial approaches to children and
adolescents in institutional care than shelters, better known as orphanages. The reason is simple and
crystal clear: in addition to the high turnover of children and adolescents in these places, there is also a
turnover of employees, thus making it difficult to create emotional bonds between people, and this greatly
harms young people throughout their lives. In addition to the psychological benefit, it is important to
demonstrate that through Law 12.010/09, family foster care was included in the Child and Adolescent
Statute, legally allowing this to be a form of foster care, and above all, that it is preferential, in relation to
foster care. institutional. Therefore, if a child arrives at the shelter and there is a welcoming family that
would accept to welcome that child until they are adopted or return to their family of origin, they will go to
the family home instead of staying at the shelter waiting for the situation to be resolved. The exploratory
method will be used through bibliographical research developed from the content developed consisting of
books, websites, articles, theses, personal statements, summaries and scientific articles.

Keywords: Welcoming family. Civil right. Children. Child and Adolescent Statute. Adoption.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
A carência de conexões emocionais duradouras e a falta de estímulos apropriados resultam em prejuízos,
por vezes irreparáveis, para o progresso das crianças, afetando diversas áreas como o aspecto
psicológico, psicomotor, cognitivo e linguístico.
Particularmente durante a primeira infância, se uma criança não mantiver um vínculo sólido com um
cuidador principal ou se estiver envolvida em relações carentes de qualidade e estímulo, o
desenvolvimento do cérebro será grandemente prejudicado.
[1: RAYANE, Daniele Barbosa; SOUSA, Daniela Heitzmann Amaral Valentim de. PRIVAÇÃO AFETIVA E
SUAS CONSEQUÊNCIAS NA PRIMEIRA INFÂNCIA: UM ESTUDO DE CASO. Inter Scientia, vol. 6, Nº 2,
Ano 2018. Disponível em: https://periodicos.unipe.br/index.php/interscientia/article/download/721/601/.
Acesso em 03 de agosto de 2023.]
No Brasil, de acordo com informações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cerca de 5% das crianças e
adolescentes sob cuidado institucional estão sob os cuidados de Famílias Acolhedoras.
[2: BRASÍLIA. UNIDADES DE ACOLHIMENTO E FAMÍLIAS ACOLHEDORAS. Conselho Nacional de
Justiça, 2022. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2022/04/eixo4-primeira-infancia-
relatorio-final.pdf. Acesso em 03 de agosto de 2023.]
Os métodos predominantes na atualidade, como o acolhimento institucional (abrangendo abrigos e lares
de acolhimento), apesar da presença de profissionais habilidosos e infraestrutura para suprir necessidades

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básicas, frequentemente não conseguem estabelecer laços emocionais estáveis e duradouros que seriam
capazes de proporcionar ao acolhido os referenciais necessários para garantir um desenvolvimento pleno
em termos físicos, sociais e emocionais. Isso é em parte devido às características intrínsecas a esse
modelo, como a alta rotatividade de pessoas e a insuficiência de funcionários em relação ao número de
crianças, por exemplo.
Outra face a ser considerada no contexto do acolhimento institucional é a dificuldade em assegurar
plenamente o respeito pelas características individuais e necessidades específicas de cada acolhido, bem
como sua trajetória de vida. Isso resulta em questões relacionadas à construção de uma autoimagem
positiva, à preservação de sua saúde emocional e ao desenvolvimento abrangente. Além disso, o modelo
institucional de certa forma priva crianças e adolescentes da interação social e comunitária, prejudicando
sua futura adaptação à sociedade.
O Acolhimento Familiar, por sua vez, busca primordialmente o bem-estar da criança e do adolescente,
bem como o cumprimento das disposições legais vigentes.
Mas afinal, qual é o papel da família na vida de uma criança ou adolescente?
Conforme o artigo 227 da Constituição Federal:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.

O problema principal do presente trabalho gira em torno de demonstrar que o acolhimento institucional,
embora tenha raízes profundas, por ser utilizado há muitos anos, foi necessário olhar com outros olhos
para os jovens inseridos nesse modo de acolhimento para nova avaliação com o intuito de verificar se, de
fato, essa era a forma mais saudável de acolher crianças e jovens que já tiveram de sair de suas famílias
originárias.
Após tal estudo, foi possível verificar que a forma mais adequada, a fim de evitar danos psicológicos
maiores do que já não ter a sua família biológica presente, era o acolhimento familiar, para que pudessem
desenvolver de forma mais saudável.
Assim, inicialmente será abordado sobre a história da assistência familiar no Brasil, o que significa, como
se deu a formação familiar, como é a atual conjuntura e por qual motivo é tão importante que os jovens
tenham o apoio de suas famílias. Ainda no primeiro capítulo será falado sobre a Criação do Sistema Único
de Assistência Social (SUAS), e qual o papel dele perante a sociedade e, sobretudo, sobre os jovens.
Logo depois, no capítulo seguinte, será versado sobre quais são os direitos das pessoas menores de
idade, como são resguardados os seus direitos, se são, de fato, respeitados, e qual o papel do Estatuto da
Criança e do Adolescente diante dessa situação, principalmente face à problemática principal, que é o
acolhimento familiar, seja da família biológica ou da família que o acolhe apenas por um período, como
dito acima, além de falar sobre o direito à assistência social também.
Posteriormente, no terceiro capítulo, será exposto sobre os serviços de acolhimento existentes com o
objetivo de acolher os jovens: crianças e adolescentes. Aqui será falado também sobre o instituto da
família acolhedora, e quais são os incentivos criados para tornar-se uma delas.
No quarto capítulo e último capítulo, finalmente é dito sobre como a família acolhedora é benéfica para
aqueles que são acolhidos, sobre como o vínculo afetivo pode mudar a vida desses jovens, sobre as

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formas de adoção de crianças acolhidas nesses lares se dão e por fim, depoimentos de famílias
acolhedoras. Aqui, pode ser citado um exemplo: é um requisito não estar inscrito na fila de adoção para
ser uma família acolhedora, pois se assim fosse este processo, seria basicamente como ?furar fila? para
adotar uma criança mais rapidamente sem passar por todos os esquemas burocráticos.
Após, será apresentada a conclusão de todo o tema exposto ao longo do trabalho, e por fim, as
referências bibliográficas.

HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA FAMILIAR NO BRASIL


No Brasil, a prática de institucionalizar crianças e adolescentes remonta aos tempos da colonização. Sob a
influência do modelo europeu, a Igreja Católica assumiu a responsabilidade de cuidar de bebês e crianças
órfãos ou abandonados. No século XVIII, recém-nascidos eram frequentemente deixados de maneira
anônima nas chamadas rodas dos expostos ? mecanismos giratórios instalados nas paredes das Santas
Casas de Misericórdia. Essas crianças tinham pouca ou nenhuma interação com a comunidade, eram
completamente afastadas de suas famílias de origem e raramente retornavam ao convívio familiar.
No final do século XIX, surgiram educandários, reformatórios, internatos e orfanatos que atendiam a um
grande número de crianças e adolescentes, separados por sexo e faixa etária. Todas as atividades
ocorriam nas instalações dessas instituições, e os acolhidos tinham limitada interação com a comunidade
em termos de educação, saúde, lazer e profissionalização. A principal missão dessas instituições era
corrigir e controlar filhos de adultos pobres considerados incapazes de prover sua educação.
No século XX, enquanto ocorriam mudanças significativas no cenário internacional, como a Declaração de
Genebra sobre os Direitos da Criança adotada pela Liga das Nações Unidas em 1924 e a Declaração
Universal dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas em 1959, o Brasil aprovava o seu
primeiro Código de Menores em 1927, que permaneceu em vigor até a sanção de um segundo Código em
1979, com a Lei nº 6.697.
Pela primeira vez, o termo ?menor em situação irregular? foi introduzido na legislação para abordar
menores de 18 anos que estavam abandonados materialmente, sendo vítimas de maus-tratos, em risco
moral, desassistidos juridicamente, com desvios de conduta ou autores de infrações penais. No entanto, o
principal problema do código era a falta de distinção entre menores infratores e aqueles que eram vítimas
da pobreza, abandono e maus-tratos.
O grande marco ocorreu em 1988 com a aprovação da Constituição da República Federativa do Brasil,
que reconheceu as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, sem qualquer forma de distinção. A
Doutrina da Proteção Integral foi incorporada ao artigo 227 da Constituição, que estabelece:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com


absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Nos anos 1990, houve a introdução de novas legislações que priorizaram a infância no Brasil, incluindo a
Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O ECA
trouxe inovações ao estabelecer a prioridade absoluta no orçamento público para a implementação de

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políticas voltadas para crianças e adolescentes. Embora a porcentagem do orçamento destinada a essa
finalidade tenha sido ampliada ao longo dos anos, as disposições do ECA, que apresentaram um novo
formato para a política de atendimento à infância e juventude, ainda não estão plenamente implementadas
até os dias atuais.
A partir de 1999, começou a ser desenvolvido um abrangente Sistema de Garantia de Direitos da Criança
e do Adolescente, visando efetivar a proteção em todas as dimensões. Nesse contexto, iniciativas de
acolhimento em famílias acolhedoras começaram a surgir, ganhando força principalmente a partir da
metade dos anos 2000.
Em 2001, uma caravana da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados realizou visitas a
serviços de acolhimento institucional em oito estados e no Distrito Federal. Essas visitas tinham o
propósito de avaliar a difícil realidade enfrentada nos espaços de acolhimento, evidenciando o flagrante
desrespeito ao direito à convivência familiar e comunitária, bem como aos princípios estabelecidos no ECA
.
No ano subsequente, o Colóquio Técnico sobre a Rede Nacional de Abrigos, que reuniu representantes do
poder público, da sociedade civil e do UNICEF, estimulou a realização de uma pesquisa nacional sobre
crianças e adolescentes em serviços de acolhimento. Com recursos do Conselho Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente (Conanda), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) conduziu uma
análise abrangendo 589 abrigos, nos quais mais de 19 mil crianças e adolescentes eram atendidos.
[3: IPEA. MISÉRIA E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA COMPROMETEM A CONVIVÊNCIA FAMILIAR. Ipea.
Disponível em: https://www.ipea.gov.br/acaosocial/article283f.html?id_article=88. Acesso em 02 de
outubro de 2023.]
Essa pesquisa marcou um ponto de inflexão. Os resultados evidenciaram que a maioria das crianças e
adolescentes, mesmo tendo família (portanto, não sendo órfãos ou abandonados), permanecia em
acolhimento institucional por longos períodos. Além disso, os principais motivos para o acolhimento
estavam relacionados à pobreza, o que representava uma séria violação de direitos. Conforme a
Constituição Federal de 1988 (artigos 226 e 227) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
nenhuma criança deveria ser afastada de sua família devido à pobreza.
Em 2005, durante o II Colóquio Internacional de Acolhimento Familiar realizado em Campinas (SP), surgiu
o Grupo de Trabalho Nacional Pró-Convivência Familiar e Comunitária, uma iniciativa conjunta da
Associação Brasileira Terra dos Homens (ABTH) e do UNICEF, em parceria com o então Ministério de
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e a então Secretaria Especial dos Direitos Humanos
(SEDH). O GT foi estabelecido com o propósito de aprofundar as discussões relacionadas ao direito à
convivência familiar e comunitária, bem como de disseminar experiências inovadoras e diferentes
modalidades de acolhimento, como o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (SFA).
A partir de reuniões promovidas pelo GT em diversas regiões do país, emergiu um movimento nacional
que viabilizou um amplo intercâmbio entre especialistas brasileiros, visando promover e engajar atores
locais. Esse movimento culminou no lançamento do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do
Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária em 2006.
Em 2009, uma conquista significativa ocorreu: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi alterado
para incluir, pela primeira vez, o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora como uma instituição
jurídica. Posteriormente, o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) e a Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) conduziram o Levantamento Nacional de Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento.
Esse estudo identificou a existência de 144 Serviços em Família Acolhedora, com 932 crianças e
adolescentes acolhidos, representando somente 2,5% do total de 36.929 crianças e adolescentes

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acolhidos em 2.624 unidades de acolhimento institucional.


A partir de 2012, essas informações passaram a ser monitoradas anualmente, utilizando o Censo SUAS
(Sistema Único de Assistência Social). O dado mais recente disponível, referente a 2019, indicou a
existência de 381 SFAs, abrigando 1.535 crianças e adolescentes (correspondendo a 4,9% do total de
crianças e adolescentes acolhidos, sendo que 29.998 deles estavam em 2.801 serviços de acolhimento
institucional).

CRIAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SUAS)


A Constituição Federal de 1988, conforme destacado anteriormente, ofereceu oportunidades para o
avanço das políticas sociais no Brasil, incorporando algumas demandas da classe trabalhadora e
estabelecendo a assistência social como uma política pública de responsabilidade do Estado.
Ao longo dos anos, a assistência social no Brasil tem buscado superar um modelo arcaico de assistência
social que perpetua a subordinação e a dependência dos usuários dos serviços sociais em relação às
ações do Estado e de entidades filantrópicas. Em vez disso, ela visa estabelecer uma nova prática
baseada na consolidação de direitos. Nesse contexto, a criação do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS) representa um passo significativo nessa direção.
O SUAS foi aprovado em julho de 2005 pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) por meio da
Norma Operacional Básica nº 130 (NOB nº 130). Essa conquista decorreu dos esforços e da luta da
sociedade civil organizada, bem como de profissionais e estudiosos da política de assistência social. A IV
Conferência de Assistência Social, realizada em Brasília/DF, desempenhou um papel fundamental na
formulação do SUAS, marcando um importante marco em sua construção e legitimação no contexto da
assistência social.
A fim de progredir nesse sentido, a sociedade brasileira requer um sistema que vá além de interesses
específicos, capacitando a assistência social a se consolidar como uma política pública. Esse sistema
deve traduzir os princípios da Lei Orgânica em ações concretas e coesas, rompendo com as práticas
tradicionais fragmentadas e descontínuas que têm caracterizado a assistência social no país.
O SUAS, alinhado com as diretrizes e princípios da PNAS, apresenta-se com a missão central de romper
significativamente com a história de serviços sócioassistenciais precários e focalizados, particularmente no
que diz respeito aos recursos humanos e materiais. Este sistema propõe uma nova abordagem para o
campo da assistência social no Brasil, reformulando fundamentalmente as suas práticas e
responsabilidades.
[4: PAIVA, B. A. O SUAS E OS DIREITOS SOCIOASSISTENCIAIS; A UNIVERSALIDADE DA
SEGURIDADE SOCIAL EM DEBATE. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, ano XXVI, Especial, nº 87,
2009.]
Seu objetivo primordial é coordenar a política de assistência social por meio da colaboração entre os três
níveis de governo: municípios, estados e União. Este modelo de gestão é descentralizado e participativo,
atribuindo a cada nível de governo a responsabilidade pela implementação da Política de Assistência
Social em suas áreas de atuação.
O SUAS promove uma reformulação institucional na assistência social, com a descentralização dos
serviços para o âmbito municipal, priorizando a realidade local, a territorialidade e as especificidades de
cada região.
A descentralização política e administrativa, bem como a participação, são princípios de organização da
assistência social definidos pela LOAS e pela Constituição Federal de 1988. Esses princípios foram

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incorporados pela PNAS e transmitidos ao SUAS como elementos estruturais. Eles valorizam o poder local
e a participação popular como fundamentos da prática democrática, recuperando um modelo democrático
após décadas de autoritarismo.
A descentralização se reflete em avanços a nível municipal, como a criação de secretarias dedicadas à
assistência social na maioria dos municípios do país, totalizando mais de 4.500 em todos os estados
brasileiros e no Distrito Federal. Esse número demonstra a significativa capacidade de estabelecimento e
assimilação progressiva de conceitos, procedimentos técnicos e operacionais uniformes e coordenados
para a prestação de serviços sociais, financiamento e gestão da política de assistência social. Antes
subordinadas a outras secretarias ou mesmo aos gabinetes dos governantes, a presença de uma
secretaria autônoma confere um novo status à política de assistência social, permitindo-lhe maior
autonomia em relação a outras áreas do governo.
[5: BRASIL. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO E COMBATE À FOME. DESAFIOS DA GESTÃO DO
SUAS NOS MUNICÍPIOS E ESTADOS. Instituto de Estudos Especiais da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. Capacita Suas v.2. Brasília: MDS, 2008.]
A descentralização traz consigo a ênfase na participação. A criação de canais de participação e controle
social é um processo em desenvolvimento na PNAS e, consequentemente, no SUAS. Esse processo visa
a estabelecer uma ?intermediação dos interesses organizados e da luta pela efetivação dos direitos
sociais?, com o objetivo de fomentar a participação efetiva da sociedade na formulação e no
acompanhamento das políticas sociais. Atualmente, as Conferências de Assistência Social e os Conselhos
de Assistência têm sido os espaços que mais oportunizam à sociedade civil organizada uma voz ativa.
[6: COUTO, B. R; et. al. (Coord.). O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL: UMA
REALIDADE EM MOVIMENTO. São Paulo: Cortez, 2010. p. 119.]
A participação social é considerada um dos elementos mais relevantes da estrutura do SUAS. A criação
de mecanismos de controle social reflete uma nova perspectiva e amadurecimento na relação entre o
Estado e a sociedade, na qual o Estado reconhece a importância do controle exercido pela sociedade
sobre suas ações, algo impensável nos anos de ditadura no país. No entanto, é essencial que essa
participação seja qualificada e adquira novo significado, especialmente nas unidades responsáveis pela
operacionalização dos serviços sociais, com a presença efetiva dos usuários da política.
Além dessas duas diretrizes, o SUAS é fundamentado na centralidade da família, assim como a PNAS, no
que diz respeito à concepção e implementação dos benefícios, programas e serviços de assistência social
. A abordagem centrada na família desloca o foco do indivíduo isolado para o núcleo familiar, ou seja,
passa a priorizar o atendimento à família em suas diversas configurações, a fim de fortalecer a capacidade
de enfrentamento das necessidades sociais.
[7: SANTOS, A. C. A; et al. E A FAMÍLIA, COMO VAI? UM OLHAR SOBRE OS PROGRAMAS DE
TRANSFERÊNCIA DE RENDA NO BRASIL SOB A ÓTICA DA FAMÍLIA. In: Estudos de Política e Teoria
Social. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Praia Vermelha, nº 18, 2008. p. 30-45.]

OS DIREITOS DE INDIVÍDUOS MENORES DE IDADE: A CRIAÇÃO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE
A Lei Federal nº 8.069/1990, amplamente reconhecida como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA
), representa o marco legal e regulatório dos direitos humanos de crianças e adolescentes no Brasil.

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Promulgada em 13 de julho de 1990, essa lei resultou de um extenso processo de debate democrático
liderado por movimentos sociais, organizações, coalizões e diversos membros da sociedade civil, bem
como instituições que buscavam conscientizar e garantir o respeito aos direitos de crianças e adolescentes
como sujeitos detentores de direitos.
O ECA trouxe uma mudança de paradigma significativa, pois foi a primeira legislação na América Latina a
adotar a doutrina da proteção integral. Ela se inspirou na Declaração Universal dos Direitos da Criança de
1979 e na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, que foram aprovadas pela Organização
das Nações Unidas (ONU) em 1989.
Como João Batista Costa Saraiva destacou, o Estatuto desfez a ideia de ?menor como objeto do processo
? e introduziu uma transformação paradigmática, reconhecendo a criança e o adolescente como sujeitos
de direitos, participantes ativos, e cidadãos em pleno direito.
[8: SARAIVA, João Batista Costa. ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI: DA INDIFERENÇA À
PROTEÇÃO INTEGRAL: UMA ABORDAGEM SOBRE A RESPONSABILIDADE PENAL JUVENIL. Porto
Alegre, Livro do Advogado, 2013. p. 37.]
A Lei 8.069/1990 estabelece a doutrina da proteção integral como princípio fundamental e determina que é
responsabilidade da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público garantir, com
prioridade absoluta, a efetivação dos direitos desses jovens em áreas como vida, saúde, alimentação,
educação, esporte, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e
comunitária.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabeleceu a proteção integral por meio dos seus 267
artigos, apresentando uma carta abrangente de direitos fundamentais para a infância e a juventude.
Segundo o documento, uma criança é considerada como aquela que tem até 12 anos de idade
incompletos, enquanto um adolescente é definido como alguém com idade entre 12 e 18 anos.
Entre as contribuições significativas do ECA, além de reconhecer crianças e adolescentes como
detentores de direitos, destacam-se a criação do Conselho Tutelar, responsável por defender e proteger
os direitos desses jovens, bem como os Conselhos de Direitos da Criança em níveis nacional, estadual e
municipal. Estes conselhos têm o papel de formular políticas para crianças e adolescentes em suas
respectivas esferas de atuação.
Ao longo das últimas três décadas, diversas melhorias foram incorporadas ao ECA, incluindo a Lei do
Sistema Nacional Socioeducativo (Sinase), que regula a execução de medidas socioeducativas, a Lei da
Primeira Infância, que exige a implementação de políticas específicas para os primeiros anos de vida, e a
Lei da Adoção, que detalha os procedimentos relacionados à adoção. É importante ressaltar que a partir
dos 12 anos, os adolescentes que cometem atos infracionais são responsabilizados, mas com garantias
de devido processo legal, contraditório e ampla defesa.
Apesar desses avanços, desafios persistem. É fundamental continuar trabalhando na implementação
integral do ECA e leis relacionadas, com a criação de políticas públicas que assegurem efetivamente
direitos fundamentais, como educação de qualidade, assistência médica, moradia, alimentação,
convivência familiar e comunitária, cultura, esporte, lazer, entre outros.
O Estatuto da Criança e do Adolescente continua sendo reconhecido como um dos mais avançados do
mundo, destacando-se por sua abordagem centrada na proteção integral. Essa importância reside no
reconhecimento de que crianças e adolescentes são sujeitos de direito, atravessando um período crucial
de desenvolvimento físico, psicológico, moral e social, merecendo, com prioridade absoluta, uma proteção
completa.

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A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E À ASSISTÊNCIA


SOCIAL
A prática da adoção de crianças e adolescentes, conforme estabelecida no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), é considerada uma medida de proteção que tem como principal objetivo garantir o
direito das crianças e adolescentes à convivência em um ambiente familiar e comunitário que proporcione
um crescimento saudável, fornecendo condições adequadas para o desenvolvimento físico, cognitivo e
social. A família é, portanto, o primeiro contexto no qual a criança se desenvolve como membro da
sociedade, desempenhando um papel fundamental na mediação entre os indivíduos e as normas, regras e
valores da sociedade. Ela é responsável pela garantia e efetivação dos direitos das crianças e
adolescentes a vida, proteção e desenvolvimento de habilidades humanas, proporcionando as condições
materiais e humanas necessárias para o seu crescimento.
No entanto, Bruschini destaca a importância de questionar a noção de família como algo natural, uma vez
que essa categoria é uma construção humana mutável, cultural e historicamente influenciada. De acordo
com Simões, a família não deve mais ser restrita a modelos preestabelecidos, mas sim definida como
qualquer ambiente onde o indivíduo se sinta acolhido, desenvolvendo laços de afeto e confiança. Portanto
, a definição de família deve basear-se na existência de vínculos afetivos, não limitando-se apenas aos
laços de consanguinidade.
[9: BRUSCHINI, Cristina. TEORIA CRÍTICA DA FAMÍLIA. In: AZEVEDO, Maria Amélia; GUERRA, Viviane
Nogueira de Azevedo (Org.). Infância e violência doméstica: fronteiras do conhecimento. 3. ed. São Paulo
: Cortez: 2000.][10: SIMÕES, Carlos. CURSO DE DIREITO DE SERVIÇO SOCIAL. São Paulo: Cortez,
2008.]
Nessa perspectiva, de acordo com a legislação brasileira, é importante enfatizar que as relações
estabelecidas no âmbito familiar são mais importantes do que as configurações familiares em si. Isso
ocorre porque as funções de proteção e socialização podem ser desempenhadas em uma variedade de
arranjos familiares e contextos socioculturais. Dessa forma, a propensão é rejeitar qualquer noção
preconcebida de um modelo familiar ?normal?.
[11: BRASIL. PLANO NACIONAL DE PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E DEFESA DO DIREITO DE
CRIANÇAS E ADOLESCENTES À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA. 2006. p. 29.]
Conforme a visão de Paiva:
[12: PAIVA, Leila Dutra. ADOÇÃO: SIGNIFICADOS E POSSIBILIDADES. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2004. pp. 65-66.]

[...] a dificuldade, ainda hoje, parece ser o reconhecimento de que a família, em si mesma, é uma criação
cultural que pode ou não estar fundada em laços biológicos. A adoção tem representado, há muito tempo,
a possibilidade de formar uma família assentada não na biologia, mas na cultura.

É importante ressaltar que a família, como um grupo social, é um espaço onde as contradições sociais se
manifestam e, portanto, também é suscetível a expressões da questão social. No Brasil, um grande
número de famílias encontra-se em situação de pobreza e miséria. Essas condições dificultam ou
impedem que elas desempenhem suas funções de proteção e cuidado em relação aos seus filhos,
resultando na negação de seu espaço de humanização.

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Essa desumanização do espaço familiar é afetada por várias questões, principalmente o desemprego e a
falta de acesso à riqueza materialmente produzida. Conforme destacado por Kaloustian, essa situação de
desumanização do espaço familiar está diretamente ligada à situação de pobreza e ao perfil de
distribuição de renda no país.
[13: KALOUSTIAN, Sílvio Manoug (Org.). FAMÍLIA BRASILEIRA: A BASE DE TUDO. 7. ed. São Paulo:
Cortez; Brasília: Unicef, 2005. p. 12.]
Consequentemente, na sociedade atual, observa-se que milhares de famílias não têm as condições
necessárias para cumprir suas funções legalmente e socialmente atribuídas. Esse contexto sociofamiliar
frequentemente resulta em situações de negligência, abandono e institucionalização de crianças e
adolescentes. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, em um levantamento nacional
dos abrigos da Rede de Serviços de Ação Continuada (Rede SAC), cerca de 20 mil crianças vivem nos
589 abrigos pesquisados em todo o Brasil, privadas de seus direitos fundamentais à convivência familiar.
[14: IPEA ? Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E
COMUNITÁRIA: OS ABRIGOS PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL. Brasília, 2004.]
Diante desse cenário, a discussão sobre a família tem se intensificado, uma vez que ela é reconhecida
como uma instituição central na sociedade. A família desempenha funções cruciais no cuidado e proteção
de seus membros, mas enfrenta dificuldades em cumprir plenamente essas funções, o que tem levado a
um reconhecimento especial por parte do Estado e da sociedade.
Nesse contexto, a família é considerada a célula base da sociedade brasileira, conforme estipula a
Constituição Federal de 1988, eu seu artigo 226: ?A família, base da sociedade, tem especial proteção do
Estado?.
A família é entendida como um local de convivência de indivíduos, unidos por laços consanguíneos,
afetivos ou de confiança. Segundo Simões, nesse espaço, desenvolve-se e mantém-se o sentimento de
pertencimento e identidade social, bem como a transmissão de valores e comportamentos pessoais.
[15: SIMÕES, Carlos. CURSO DE DIREITO DE SERVIÇO SOCIAL. São Paulo: Cortez, 2008. p. 190.]
No Brasil, esse reconhecimento é fundamentado na Constituição Federal de 1988, no Estatuto da Criança
e do Adolescente, na Política Nacional de Assistência Social, e no Plano Nacional de Promoção, Proteção
e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. No entanto, é
fundamental que essas garantias saiam do papel e sejam efetivamente implementadas na prática.
Para alcançar esse objetivo, é fundamental que o Estado e a sociedade protejam os grupos familiares em
diversas configurações que enfrentam condições de empobrecimento. Nesse contexto, o Estado deve
garantir o acesso aos direitos universais para as famílias, o que, por sua vez, resulta na proteção dos
direitos das crianças e dos adolescentes. Famílias que possuem acesso a esses direitos, juntamente com
outros, têm melhores condições para cumprir suas funções de cuidado, afeto e socialização, além de
superar possíveis situações de vulnerabilidade.
[16: JUNQUEIRA, Maíz Ramos; SERRES Jamille de Freitas. ADOÇÃO PELOS CAMINHOS LEGAIS:
RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA. Textos & Contextos (Porto Alegre), Porto Alegre, v. 9, n. 1, p. 182-192,
jan./jun. 2010.]
A contradição central na questão do abandono de crianças e adolescentes reside nesse ponto, sendo uma
dinâmica da questão social. As famílias que, devido às condições da realidade social, não conseguem
cumprir suas funções acabam negligenciando e abandonando seus filhos, tornando-se destinatárias das
políticas sociais compensatórias. Entretanto, essas políticas frequentemente se mostram insuficientes para
atender à grande demanda social e para atender eficazmente aqueles a quem se destinam. Diante
dessas condições objetivas, é importante examinar como o trabalho social tem evoluído no campo dos

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direitos das crianças e dos adolescentes à convivência familiar e comunitária, considerando seus limites e
possibilidades.
[17: SILVA, Simone Regina Medeiros. ABANDONO: UMA AGRESSÃO AOS DIREITOS DA CRIANÇA. In
: FREIRE, Fernando. Abandono e adoção: contribuições para uma cultura de adoção. São Paulo: Terre de
Hommes, 2001.]

OS SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO DESTINADOS À CRIANÇAS E ADOLESCENTES


Para abordar inteiramente este tema, é crucial abordar a história do acolhimento desde suas origens e
discutir as principais transformações influenciadas por fatores sociais, culturais e econômicos.
A prática de institucionalização de crianças e adolescentes de famílias de classes populares tem raízes
que remontam ao período inicial da colonização brasileira.
O programa de acolhimento familiar formalmente surgiu no Brasil na década de 1990. Ele trouxe consigo
reflexões alternativas em relação à institucionalização infantil, buscando meios para reintegrar a criança à
sua família e, sobretudo, promover a inclusão dessa família na sociedade.
Foi somente com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069 de 13 de julho de
1990, que crianças e adolescentes passaram a ser reconhecidos como sujeitos de direito, em uma
condição peculiar de desenvolvimento. Esses direitos fundamentais, conforme estabelecido pelo artigo 227
da Constituição Federal, englobam o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
protegendo-os contra todas as formas de negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão.
A partir do Estatuto da Criança e do Adolescente, o encaminhamento para os serviços de acolhimento
passou a ser concebido como uma medida protetiva, de caráter excepcional e temporário, que visa
primordialmente ao superior interesse da criança e do adolescente.
Antes da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, muitos internatos e orfanatos
desempenhavam o papel de cuidar das crianças, frequentemente tratando-as como se fossem
abandonadas. A perspectiva predominante não considerava os direitos das crianças e dos adolescentes.
No contexto brasileiro, a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990
são exemplos de marcos legais que estabelecem de forma explícita a importância da convivência familiar
e comunitária para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. O ECA é amplamente reconhecido
internacionalmente como um instrumento jurídico orientador para o atendimento digno de crianças e
adolescentes.
A convivência familiar sempre ocupou uma posição de destaque no Estatuto da Criança e do Adolescente
. O papel da família é considerado um elemento indispensável nos processos de proteção e
desenvolvimento, e o ECA estabeleceu que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos em uma
condição peculiar de desenvolvimento.
O artigo 15 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe:

A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em
processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na
Constituição e nas leis.

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Quando a separação do ambiente familiar de uma criança ou adolescente se torna necessária, é


apropriado que ela seja acolhida em outro ambiente familiar de forma temporária, ao mesmo tempo em
que se desenvolve um trabalho com sua família de origem. Nesse contexto, é fundamental realizar ações
que facilitem a reintegração da criança ao seu núcleo familiar.

AS FORMAS E MEDIDAS DE ACOLHIMENTO EXISTENTES


Os serviços de acolhimento têm a finalidade de receber crianças e adolescentes que estejam sujeitos a
medidas protetivas determinadas pelo poder judiciário, em decorrência de violações de seus direitos, como
abandono, negligência ou violência, ou quando a família não é capaz de fornecer o cuidado e proteção
necessários.
É importante destacar que o afastamento da criança ou adolescente de sua família deve ser uma medida
excepcional e só deve ser aplicada em situações de grave risco para sua integridade física e/ou
psicológica. O principal objetivo é garantir que esses jovens possam retornar com segurança ao convívio
familiar, priorizando a família de origem sempre que possível, e recorrendo à família substituta somente
em casos excepcionais, por meio de procedimentos legais, como adoção, guarda ou tutela.
O serviço de acolhimento deve focar na preservação e no fortalecimento das relações familiares e
comunitárias das crianças e adolescentes. O atendimento deve ser individualizado e oferecido a grupos
reduzidos, garantindo espaços privados para guardar objetos pessoais e registros relacionados à história
de vida e ao desenvolvimento de cada criança e adolescente.
Em 2004, uma pesquisa realizada pelo Ipea e pelo Conanda sobre a situação dos abrigos para crianças e
adolescentes revelou a persistência de violações de direitos, que se mantinham muito aquém do que era
preconizado pelo ECA, mesmo mais de uma década após sua promulgação. Essas constatações
enfatizaram a importância de redirecionar a discussão para a observância dos princípios que ressaltam a
natureza temporária e excepcional das medidas de acolhimento. Segundo esses princípios, a separação
de uma criança ou adolescente de sua família deve ser breve e apenas adotada quando estritamente
necessária para garantir o superior interesse da criança. Portanto, é fundamental preservar e fortalecer os
laços familiares e, quando não houver alternativas viáveis, promover a colocação do acolhido em um
processo de adoção.
[18: SILVA, E. R. A. (Org). O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA: OS ABRIGOS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL. Brasília: Ipea/Conanda, 2004.]
Esse contexto levou à elaboração do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de
Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC) em 2006, que contou com a
participação de representantes do governo e da sociedade civil. Aprovado por meio da Resolução
Conanda/CNAS nº 1/2006, o PNCFC é uma iniciativa de natureza transversal e intersetorial que envolve
não apenas os órgãos do Poder Executivo, mas também outros atores que fazem parte do Sistema de
Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente (SGD). Isso inclui instituições como o Judiciário e o
Ministério Público. As diretrizes estabelecidas pelo PNCFC demandaram uma revisão das práticas das
instituições que administravam os serviços de acolhimento, impulsionando uma reorganização desses
serviços sob a responsabilidade da política de assistência social, seja na forma institucional ou por meio
do acolhimento familiar.
No entanto, é importante ressaltar que a ampla cobertura populacional não garante que o serviço de
acolhimento seja amplamente disponível, especialmente nos municípios de menor porte. Na verdade, a
maioria dos 3.560 municípios que não ofereciam esse serviço em 2018 era composta em sua maioria por

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municípios de pequeno porte I (86,0%) e pequeno porte II (12,8%).


[19: LICIO, E. C; et. al. REORDENAMENTO DOS SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES E IMPLEMENTAÇÃO DE NOVAS MODALIDADES ? FAMÍLIA ACOLHEDORA E
REPÚBLICAS. Brasília: Ipea, 2021. No prelo.]
Em que pese às formas de acolhimento, há diferentes formas, quais sejam:
O acolhimento institucional para Crianças e Adolescentes pode ser disponibilizado em dois tipos de
unidades:
Abrigo: Este é um serviço de acolhimento provisório que pode abrigar até 20 crianças e adolescentes em
cada unidade. Deve ser projetado para se assemelhar a uma residência com uma localização na
comunidade, preferencialmente em áreas residenciais. O ambiente deve ser acolhedor e oferecer
condições institucionais que atendam a padrões de dignidade.

Casa-Lar: Este é um serviço de acolhimento provisório que é oferecido em unidades residenciais e tem
capacidade para acomodar no máximo 10 crianças e adolescentes por unidade. Nestas casas, pelo menos
uma pessoa ou um casal trabalha como educador/cuidador residente, prestando cuidados a um grupo de
crianças e adolescentes que foram afastados de seus ambientes familiares. Importante notar que a casa-
lar não é a residência do educador/cuidador, mas um local separado para abrigar as crianças e
adolescentes.
O acesso ao acolhimento institucional para Crianças e Adolescentes é estabelecido por decisão do Poder
Judiciário e por solicitação do Conselho Tutelar. A autoridade competente deve ser notificada, conforme
previsto no Artigo 93 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Art. 93. As entidades que mantenham programa de acolhimento institucional poderão, em caráter
excepcional e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação da autoridade
competente, fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da Infância e da
Juventude, sob pena de responsabilidade.
Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público e se
necessário com o apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas necessárias para promover a
imediata reintegração familiar da criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for isso possível
ou recomendável, para seu encaminhamento a programa de acolhimento familiar, institucional ou a família
substituta, observado o disposto no § 2 o do art. 101 desta Lei.

No que tange à acolhimento em república para jovens egressos de outros serviços de acolhimento, trata-
se de um serviço destinado principalmente a jovens que passaram anteriormente por serviços de
acolhimento para crianças e adolescentes. Ele oferece apoio e moradia a jovens com idades entre 18 e 21
anos. Cada unidade de acolhimento pode abrigar até 6 pessoas. O objetivo deste serviço é promover a
autonomia gradual dos residentes, incentivando a independência deles ao operar em um sistema que
permite que os moradores tomem decisões conjuntas sobre o funcionamento da unidade.
O acesso a esse serviço pode ser realizado por meio de encaminhamento do Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (CREAS), do Serviço de Abordagem Social e de outros serviços ou
políticas públicas relacionadas. Além disso, é possível acessá-lo por demanda espontânea, ou seja, os
próprios jovens ou suas famílias podem buscar esse serviço diretamente. Para obter mais informações e
orientações sobre como acessar o acolhimento em república, entre em contato com o CREAS ou o órgão
competente em sua região.

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No que cabe ao acolhimento em Família Acolhedora, este é um serviço que organiza o acolhimento de
crianças ou adolescentes em residências de famílias acolhedoras cadastradas. Para integrar esse serviço
, as famílias interessadas devem passar por um processo de seleção, capacitação e acompanhamento.
Esse serviço oferece atendimento em um ambiente familiar, garantindo uma abordagem individualizada e
oportunidades de convivência comunitária. Cada Família Acolhedora acolhe uma criança ou adolescente
por vez, a menos que se trate de um grupo de irmãos que possa ser acolhido conjuntamente.
Para obter informações detalhadas, recomenda-se entrar em contato com a Secretaria de Assistência
Social do município do interessado. Eles poderão orientar sobre os procedimentos e requisitos
necessários para o acesso a esses serviços.

O VÍNCULO AFETIVO CRIADO E A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA ACOLHEDORA COMO INSTRUMENTO


DE PROTEÇÃO
Muitas pessoas, ao se depararem com a ideia do acolhimento familiar, levantam a questão de se
estabelecer vínculos em uma situação transitória pode ser prejudicial para as crianças e/ou adolescentes
em acolhimento. O senso comum sugere que criar laços com alguém que não estará sempre presente
pode causar sofrimento, sendo potencialmente desvantajoso tanto para o adulto que cuida quanto para a
criança ou adolescente em acolhimento. No entanto, pesquisas em diversas áreas do desenvolvimento
humano vêm apresentando resultados que apontam exatamente o contrário.
O afeto desempenha um papel tão essencial no desenvolvimento humano quanto fatores como uma boa
alimentação, sono adequado e hidratação. A ausência de afeto, de contato físico e de interações com
figuras de referência é altamente prejudicial para o crescimento de crianças e adolescentes, e até mesmo
para o bem-estar dos adultos. Mesmo que o acolhimento seja uma medida temporária, é fundamental que
a criança ou adolescente seja inserido em um ambiente que lhes permita cultivar um senso de
pertencimento, segurança e confiança nos adultos ao seu redor.
A falta de atenção e carinho por parte dos cuidadores, a vivência em um ambiente institucional com alta
rotatividade de educadores ou a negligência de suas necessidades podem resultar em fenômenos como o
?desamparo aprendido? (quando a pessoa tolera estímulos e situações aversivas por não conseguir evitá-
los) e ?estresse tóxico?. Essas condições podem impactar o funcionamento cerebral e a forma como a
criança ou adolescente desenvolve suas habilidades interpessoais, inclusive na vida adulta.
Numerosos estudos científicos corroboram os benefícios de um desenvolvimento social, emocional e
cognitivo mais saudável para crianças e adolescentes que passam pelo acolhimento em famílias
acolhedoras, em comparação com o acolhimento institucional. Essas pesquisas reforçam a conclusão de
que laços afetivos, um ambiente seguro e estímulos são fundamentais na vida de crianças e adolescentes
, assim como a oportunidade de conviver em uma comunidade, que essa forma de atendimento oferece.
A pesquisa ?Órfãos da Romênia?, conduzida pelo Hospital de Crianças de Boston, vinculado à
Universidade de Harvard, evidencia que a ausência de vínculos afetivos duradouros e a falta de atenção
às necessidades individuais em instituições de acolhimento podem acarretar prejuízos significativos no
desenvolvimento integral de bebês. O estudo revela que, para cada ano que um bebê passa em uma
instituição, sem estabelecer vínculos afetivos estáveis e sem receber atenção adequada às suas
necessidades individuais, pode haver um atraso de até quatro meses em seu desenvolvimento global.
[20: VIDA, O começo da. O CASO DOS ÓRFÃOS DA ROMÊNIA. O começo da vida. Disponível em: https
://ocomecodavida.com.br/o-caso-dos-orfaos-da-romenia/. Acesso em 18 de outubro de 2023.]
Essa pesquisa concentrou-se em crianças abrigadas em instituições na Romênia após a Segunda Guerra

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Mundial, particularmente durante os primeiros anos de suas vidas, e identificou déficits cognitivos
consideráveis. Essa investigação, de caráter longitudinal, teve início em 2000 e incluiu acompanhamento
regular com a realização de eletroencefalogramas (EEGs) para mapear a atividade cerebral de crianças
que passaram por diferentes configurações de cuidado (institucionalização, acolhimento familiar e
convivência em famílias sem intervenção do Estado).
Embora tenha sido realizada em um contexto substancialmente distinto do que observa-se no Brasil
atualmente, esse estudo oferece subsídios relevantes para reflexões acerca da importância dos cuidados
individualizados na primeira infância, especialmente no contexto das medidas de proteção relacionadas ao
acolhimento.
A Teoria do Apego, proposta pelo renomado psicólogo e psiquiatra britânico John Bowlby, se desenvolveu
a partir de suas observações e reflexões sobre a separação precoce de bebês de suas figuras de cuidado
primárias. Essa teoria enfatiza a relevância de uma figura de apego estável para prover cuidados à criança
, principalmente nos primeiros três anos de vida. A continuidade e a estabilidade dessa relação (que pode
envolver pais, mães, familiares ou qualquer adulto capaz de fornecer apoio afetivo) exercem um impacto
significativo no desenvolvimento social e psicológico da criança, uma vez que esse período influencia de
maneira profunda suas futuras interações sociais.
Diante dessa perspectiva, o acolhimento em famílias acolhedoras se configura como um espaço
fundamental de cuidado, pois prioriza a qualidade e a consistência das relações estabelecidas com a
criança, alinhando-se com os princípios da Teoria do Apego e valorizando o impacto positivo de relações
afetivas duradouras em seu desenvolvimento.
A primeira infância, compreendida como o período que se estende desde a gestação até os seis anos de
idade, assume uma importância crucial para o desenvolvimento humano. Isso se deve ao fato de que é
nessa fase que se estabelece a base de conexões neuronais que irão sustentar as aquisições posteriores
nos âmbitos psicomotor, cognitivo e social. Em termos mais simples, é durante esse intervalo que se
delineia a arquitetura cerebral que influenciará o desenvolvimento da criança ao longo de sua vida.
Consequentemente, é fundamental proporcionar às crianças pequenas, além dos cuidados básicos, como
higiene e alimentação, interações físicas, afeto e atenção individualizada. Esses elementos contribuem
para a formação da individualidade da criança, a aquisição da linguagem e o estabelecimento das bases
de sua interação com a sociedade.
Contudo, é relevante ressaltar que o acolhimento em famílias acolhedoras não beneficia somente as
crianças na primeira infância. Pessoas de todas as faixas etárias colhem benefícios significativos de
relacionamentos estáveis, afetivos e orientados para o indivíduo, proporcionados por ambientes familiares
. Na adolescência, por exemplo, um ambiente seguro e estável favorece a navegação pelas
transformações e pelo processo de amadurecimento. Durante esse período, ocorre a consolidação da
identidade e o desenvolvimento da autonomia dos jovens, e um ambiente de acolhimento familiar pode
desempenhar um papel valioso nesse processo. Isso se torna particularmente relevante quando esses
jovens deixam o sistema de acolhimento ao atingir a maioridade, aos dezoito anos, e enfrentam novos
desafios na busca de sua independência.
Fornecer experiências de apego, mesmo que temporárias, não é apenas desejável, mas essencial para
um acolhimento eficaz. As crianças e adolescentes que necessitam de medidas protetivas encontram-se
em um estágio particularmente delicado de suas vidas. Nesse momento de turbulência, é fundamental que
o acolhimento proporcione um ambiente seguro, protetor, afetuoso e estável.
Através dessa relação afetiva, a criança ou adolescente poderá fortalecer-se. Ao ser introduzido em um
novo modelo de configuração familiar, que o recebe com carinho, respeito e cuidados personalizados, ele

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ou ela terá melhores condições para enfrentar e superar os traumas causados pelas violências sofridas
anteriormente.
Todo o trabalho desenvolvido pela equipe do serviço, incluindo a capacitação das famílias acolhedoras e o
acompanhamento das crianças e adolescentes, considera o acolhimento como uma medida de caráter
temporário. Portanto, crianças e adultos passarão por uma transição assistida pela equipe técnica. A saída
do acolhimento não deve ser vista como uma ruptura adicional, mas sim como um processo gradual,
respeitoso e que visa ao melhor interesse da criança e do adolescente.
É relevante observar que, no contexto do acolhimento institucional, as crianças e adolescentes também
estabelecem vínculos significativos com profissionais, educadores e outros acolhidos. Portanto, ao se
desligarem do serviço, eles também precisam enfrentar a despedida e passar por uma transição,
semelhante ao acolhimento em família acolhedora. A qualidade e segurança dos vínculos estabelecidos
influenciam diretamente a possibilidade de uma despedida tranquila e a transição para a próxima fase de
suas vidas.

FORMAS DE ADOÇÃO DE CRIANÇAS INCLUÍDAS EM FAMÍLIAS ACOLHEDORAS


Como discutido no capítulo anterior, referente à função da família acolhedora, essas famílias se oferecem
voluntariamente para receber, em seus lares, crianças e/ou adolescentes em situação de risco social,
quando se torna necessário, por decisão judicial, afastá-los de suas famílias de origem. Após o
afastamento do convívio familiar, esses jovens podem ser direcionados tanto para o acolhimento
institucional quanto para o acolhimento familiar, sendo preferível, de acordo com o artigo 34, §1 do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que sejam encaminhados ao acolhimento familiar, uma vez
que as famílias acolhedoras conseguem fornecer cuidados personalizados. Nas palavras do juiz da Vara
da Infância e Juventude de Campinas, Eduardo Bigolin, sobre a prioridade do acolhimento familiar:

As crianças que passam pela família acolhedora são bem avaliadas em exames psicológicos e sociais.
Têm maior interação, integração com a comunidade e gozam de maior liberdade, muito porque a família
cuidou do lado afetivo, moral e material que talvez não estivesse sendo provido pela família de origem. 43
[21: POMBO, Bárbara. AFASTADAS DA FAMÍLIA DE ORIGEM, CRIANÇAS SÃO ACOLHIDAS POR
MÃES E PAIS PROVISÓRIOS. Conselho Nacional de Justiça, 2014. Disponível em: https://www.cnj.jus.br
/afastadas-da-familia-de-origem-criancas-sao-acolhidas-por-maes-e-pais-provisorios/. Acesso em 23 de
outubro de 2023.]

Um dos critérios para que uma família seja elegível para participar do programa de família acolhedora é
que ela não esteja registrada no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) e não manifeste qualquer interesse
em adotar o acolhido. É necessário que a família assine uma declaração oficial confirmando seu
desinteresse pela adoção. Essa distinção é amplamente enfatizada, como evidenciado por trechos
retirados de materiais informativos de diversas instituições, com o objetivo de deixar claro que a família
acolhedora e a adoção são processos totalmente distintos.
O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que o acolhimento institucional não deve ser
prolongado por mais de 18 (dezoito) meses, a menos que haja uma comprovação da necessidade que
atenda ao superior interesse da criança ou adolescente (conforme o artigo 19, §2 do ECA). Essa medida é
considerada provisória e excepcional, destinada a servir como uma transição para reintegrar a criança ou
adolescente em sua família biológica ou, se isso não for possível, colocá-los em uma família substituta

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(conforme o artigo 101, §1 do ECA). Essa abordagem visa sempre ao melhor interesse da criança e do
adolescente.
No entanto, como mencionado anteriormente e também abordado no livro ?Adoção, Desafios da
Contemporaneidade?, as crianças e adolescentes muitas vezes permanecem nos serviços de acolhimento
por períodos muito mais longos do que o previsto. Isso ocorre devido a várias razões, como a falta de
possibilidade de retorno às famílias de origem ou de inserção em famílias substitutas. Como resultado, em
alguns casos, os vínculos afetivos se tornam muito fortes, a ponto de a criança ou adolescente considerar
a família acolhedora como seus pais, assim como a família acolhedora considera a criança ou adolescente
como seu filho. Esse forte vínculo pode despertar o desejo de adoção, mas a prática é impedida devido
ao termo de não adoção e, principalmente, devido à lei que não autoriza tal ato.
[22: LEVINZON, Gina Khafif; LISONDO, Alicia Dorado. ADOÇÃO: DESAFIOS DA
CONTEMPORANEIDADE. São Paulo: Blucher, 2015. pp. 203-204.]

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas análises apresentadas ao longo deste trabalho, conclui-se que o Programa de Acolhimento
Familiar desempenha um papel crucial no desenvolvimento de crianças em situação de vulnerabilidade,
proporcionando atendimento individualizado por parte das famílias acolhedoras. A legislação busca
priorizar o acolhimento familiar em detrimento do institucional, mas essa preferência nem sempre é
observada na prática.
Para aliviar a sobrecarga dos abrigos institucionais, é necessário que o Poder Público promova e incentive
os estados e municípios a implementarem políticas públicas de acolhimento familiar. Isso deve ser uma
medida de fácil instalação e acesso. Em relação à conscientização da população, é fundamental realizar
campanhas que abordem a realidade dos acolhimentos institucionais e da adoção, destacando os
benefícios do acolhimento familiar e suas diversas vantagens.
Quanto à possibilidade de a família acolhedora adotar, deve-se realizar uma análise de cada caso
concreto, garantindo a aplicação do melhor interesse da criança e do adolescente e o cumprimento da
prioridade absoluta estabelecida na Constituição Federal. No entanto, não é adequado justificar o
desvirtuamento do propósito do programa, uma vez que, na maioria dos casos, as famílias acolhedoras
não se inscrevem com a intenção de adotar, mas desenvolvem esse desejo devido aos laços afetivos que
se formam.
Além disso, é importante notar que o tempo de acolhimento costuma se prolongar, o que fortalece os laços
afetivos entre as crianças e os pais acolhedores. Esta pesquisa evidenciou que muitas vezes as próprias
crianças e adolescentes buscam nas famílias acolhedoras a figura materna e paterna que talvez não
tenham tido anteriormente. Portanto, diante da destituição da família de origem, seria justo permitir que a
família acolhedora convertesse sua guarda em adoção. Afinal, se a guarda foi concedida pelo tribunal, já
houve uma análise quanto à compatibilidade e à boa-fé dos pais acolhedores, preenchendo, portanto, os
requisitos da adoção.
Negar a possibilidade de adoção pela família acolhedora com base na falta de habilitação no Cadastro
Nacional de Adoção (CNA) é uma medida cruel, considerando que o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) viabiliza a adoção com base em vínculos afetivos, conforme previsto no artigo 50, §13, incisos II e
III. A jurisprudência já consolidou o entendimento de que a afetividade supera os vínculos consanguíneos

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e quaisquer outros laços, e esse mesmo entendimento deve ser aplicado no contexto do acolhimento
familiar.
Portanto, é imperativo que o artigo 34, parágrafo 3º, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) seja
modificado para incluir a possibilidade de inscrição no Programa Famílias Acolhedoras de pessoas que
façam parte ou não dos cadastros de adoção. Uma alternativa louvável seria a implementação, por parte
dos estados e municípios, de duas modalidades de acolhimento familiar, à semelhança do que foi
realizado em Belo Horizonte (MG) e regulamentado na Lei Municipal 10.871/2015.
Uma dessas modalidades seria destinada a crianças com perspectiva de reintegração familiar, na qual os
interessados não poderiam ter a intenção de adoção. A outra modalidade seria voltada para crianças para
as quais a reintegração à família de origem fosse improvável ou cujos pais biológicos já tivessem sido
destituídos do poder familiar. Nesta modalidade, pessoas interessadas na adoção seriam permitidas e,
idealmente, poderiam suportar a duração prolongada do acolhimento familiar. Isso seria especialmente
importante no caso de crianças mais velhas ou com alguma doença ou deficiência física, mental,
intelectual ou sensorial, uma vez que, como demonstrado, elas têm menos chances de serem adotadas
por aqueles cadastrados no Cadastro Nacional de Adoção (CNA).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Prof. Me. Gianfranco Faggin Mastro AndreáUNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP


Prof.UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP

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=================================================================================
Arquivo 1: TCC Barbara - Família acolhedora.docx (8247 termos)
Arquivo 2: https://books.google.com/books/about/Ado%C3%A7%C3%A3o.html?id=MiO7DwAAQBAJ (381
termos)
Termos comuns: 13
Similaridade: 0,15%
O texto abaixo é o conteúdo do documento TCC Barbara - Família acolhedora.docx (8247 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://books.google.com/books/about/Ado%C3%A7%C3%A3o.html?id=MiO7DwAAQBAJ (381 termos)

=================================================================================
UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP
CURSO DE BACHARELADO
DIREITO

BARBARA EUNICE DE QUEIROZ ALMEIDA ? R.A. D984144

A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

SÃO PAULO

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2023

A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Paulista


? UNIP como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Me. Gianfranco Faggin Mastro Andreá

SÃO PAULO
2023

FICHA CATALOGRÁFICA

BARBARA EUNICE DE QUEIROZ ALMEIDA

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A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Paulista


? UNIP como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

São Paulo, _______ de ______________________________ de 2023.

Prof.
UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP
DEDICATÓRIA

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus, que foi minha força durante todo esse processo. A minha
família que foi fundamental, e esteve ao meu lado em todos os momentos.
Ao meu orientador Gianfranco, por todo apoio e suporte. Aos meus professores que foram essenciais, e a
todos que contribuíram para a finalização desse ciclo.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, sem ele nada disso seria possível. Ao meu professor orientador
Gianfranco, que foi fundamental em todos os momentos desse período, em estar sempre solicito, pelas
orientações, pelas aulas incríveis e por reascender meu amor pelo direito civil.
Agradeço a minha família por estar sempre ao meu lado, me apoiando, dando forças e me incentivando a
me manter firme. Vocês foram fundamentais, vocês são a minha força e meu combustível para continuar.
Aos meus amigos, que estiveram sempre me incentivando, e fazendo com que esse processo se tornasse
mais leve. Aos meus colegas, que estiveram junto comigo, e entendem o significado da finalização desse
ciclo, que levo com muito carinho.
Aos meus professores, que além de contribuir para nos formar, estão nos transformando. A educação
muda nossas vidas. E, espero poder passar um pouco do que aprendi com cada um deles.
E por fim, agradeço a mim mesma. Não foi nada fácil, pensei por muitas vezes em desistir. Sofri e tive que
me reinventar inúmeras vezes para acompanhar todo esse processo. E proporcionalmente a toda
dificuldade, foi o meu processo de crescimento. De aprendizado, e evolução. Me sinto muito feliz em
chegar até aqui. A Barbara de 2019 com certeza está muito orgulhosa, é a realização de um sonho que
começou a 5 anos atrás.

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?Se você pode sonhar, você pode fazer.? ? Walt Disney

RESUMO

Tem-se como objetivo principal demonstrar que existem formas de abordagem mais benéficas para as
crianças e os adolescentes em acolhimento institucional do que os abrigos, mais conhecidos como
orfanatos. A razão é simples e cristalina: além da alta rotatividade de crianças e adolescentes nesses
locais, há também a rotatividade de funcionários, dificultando, assim, a criação de laços emocionais entre
as pessoas, e isso prejudica muito os jovens ao longo da vida. Além do benefício psicológico, é importante
demonstrar que através da Lei 12.010/09 inseriu o acolhimento familiar no Estatuto da Criança e do
Adolescente, permitindo legalmente que essa seja uma forma de acolhimento, e acima de tudo, que é
preferencial, em relação ao acolhimento institucional. Logo, se uma criança chega até o abrigo e tem
alguma família acolhedora que aceitaria acolher essa criança até ser adotada ou retornar para a família de
origem, esta irá para a casa da família ao invés de ficar no abrigo aguardando que a situação se resolva.
Será utilizado o método exploratório por pesquisa bibliográfica desenvolvida a partir do conteúdo
desenvolvido composto por livros, sites, artigos, teses, depoimentos pessoais, resumos e artigos
científicos.

Palavras-chave: Família acolhedora. Direito civil. Crianças. Estatuto da Criança e do Adolescente. Adoção.

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ABSTRACT

The main objective is to demonstrate that there are more beneficial approaches to children and
adolescents in institutional care than shelters, better known as orphanages. The reason is simple and
crystal clear: in addition to the high turnover of children and adolescents in these places, there is also a
turnover of employees, thus making it difficult to create emotional bonds between people, and this greatly
harms young people throughout their lives. In addition to the psychological benefit, it is important to
demonstrate that through Law 12.010/09, family foster care was included in the Child and Adolescent
Statute, legally allowing this to be a form of foster care, and above all, that it is preferential, in relation to
foster care. institutional. Therefore, if a child arrives at the shelter and there is a welcoming family that
would accept to welcome that child until they are adopted or return to their family of origin, they will go to
the family home instead of staying at the shelter waiting for the situation to be resolved. The exploratory
method will be used through bibliographical research developed from the content developed consisting of
books, websites, articles, theses, personal statements, summaries and scientific articles.

Keywords: Welcoming family. Civil right. Children. Child and Adolescent Statute. Adoption.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
A carência de conexões emocionais duradouras e a falta de estímulos apropriados resultam em prejuízos,
por vezes irreparáveis, para o progresso das crianças, afetando diversas áreas como o aspecto
psicológico, psicomotor, cognitivo e linguístico.
Particularmente durante a primeira infância, se uma criança não mantiver um vínculo sólido com um
cuidador principal ou se estiver envolvida em relações carentes de qualidade e estímulo, o
desenvolvimento do cérebro será grandemente prejudicado.
[1: RAYANE, Daniele Barbosa; SOUSA, Daniela Heitzmann Amaral Valentim de. PRIVAÇÃO AFETIVA E
SUAS CONSEQUÊNCIAS NA PRIMEIRA INFÂNCIA: UM ESTUDO DE CASO. Inter Scientia, vol. 6, Nº 2,
Ano 2018. Disponível em: https://periodicos.unipe.br/index.php/interscientia/article/download/721/601/.
Acesso em 03 de agosto de 2023.]
No Brasil, de acordo com informações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cerca de 5% das crianças e
adolescentes sob cuidado institucional estão sob os cuidados de Famílias Acolhedoras.
[2: BRASÍLIA. UNIDADES DE ACOLHIMENTO E FAMÍLIAS ACOLHEDORAS. Conselho Nacional de
Justiça, 2022. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2022/04/eixo4-primeira-infancia-
relatorio-final.pdf. Acesso em 03 de agosto de 2023.]
Os métodos predominantes na atualidade, como o acolhimento institucional (abrangendo abrigos e lares

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de acolhimento), apesar da presença de profissionais habilidosos e infraestrutura para suprir necessidades


básicas, frequentemente não conseguem estabelecer laços emocionais estáveis e duradouros que seriam
capazes de proporcionar ao acolhido os referenciais necessários para garantir um desenvolvimento pleno
em termos físicos, sociais e emocionais. Isso é em parte devido às características intrínsecas a esse
modelo, como a alta rotatividade de pessoas e a insuficiência de funcionários em relação ao número de
crianças, por exemplo.
Outra face a ser considerada no contexto do acolhimento institucional é a dificuldade em assegurar
plenamente o respeito pelas características individuais e necessidades específicas de cada acolhido, bem
como sua trajetória de vida. Isso resulta em questões relacionadas à construção de uma autoimagem
positiva, à preservação de sua saúde emocional e ao desenvolvimento abrangente. Além disso, o modelo
institucional de certa forma priva crianças e adolescentes da interação social e comunitária, prejudicando
sua futura adaptação à sociedade.
O Acolhimento Familiar, por sua vez, busca primordialmente o bem-estar da criança e do adolescente,
bem como o cumprimento das disposições legais vigentes.
Mas afinal, qual é o papel da família na vida de uma criança ou adolescente?
Conforme o artigo 227 da Constituição Federal:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.

O problema principal do presente trabalho gira em torno de demonstrar que o acolhimento institucional,
embora tenha raízes profundas, por ser utilizado há muitos anos, foi necessário olhar com outros olhos
para os jovens inseridos nesse modo de acolhimento para nova avaliação com o intuito de verificar se, de
fato, essa era a forma mais saudável de acolher crianças e jovens que já tiveram de sair de suas famílias
originárias.
Após tal estudo, foi possível verificar que a forma mais adequada, a fim de evitar danos psicológicos
maiores do que já não ter a sua família biológica presente, era o acolhimento familiar, para que pudessem
desenvolver de forma mais saudável.
Assim, inicialmente será abordado sobre a história da assistência familiar no Brasil, o que significa, como
se deu a formação familiar, como é a atual conjuntura e por qual motivo é tão importante que os jovens
tenham o apoio de suas famílias. Ainda no primeiro capítulo será falado sobre a Criação do Sistema Único
de Assistência Social (SUAS), e qual o papel dele perante a sociedade e, sobretudo, sobre os jovens.
Logo depois, no capítulo seguinte, será versado sobre quais são os direitos das pessoas menores de
idade, como são resguardados os seus direitos, se são, de fato, respeitados, e qual o papel do Estatuto da
Criança e do Adolescente diante dessa situação, principalmente face à problemática principal, que é o
acolhimento familiar, seja da família biológica ou da família que o acolhe apenas por um período, como
dito acima, além de falar sobre o direito à assistência social também.
Posteriormente, no terceiro capítulo, será exposto sobre os serviços de acolhimento existentes com o
objetivo de acolher os jovens: crianças e adolescentes. Aqui será falado também sobre o instituto da
família acolhedora, e quais são os incentivos criados para tornar-se uma delas.
No quarto capítulo e último capítulo, finalmente é dito sobre como a família acolhedora é benéfica para

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aqueles que são acolhidos, sobre como o vínculo afetivo pode mudar a vida desses jovens, sobre as
formas de adoção de crianças acolhidas nesses lares se dão e por fim, depoimentos de famílias
acolhedoras. Aqui, pode ser citado um exemplo: é um requisito não estar inscrito na fila de adoção para
ser uma família acolhedora, pois se assim fosse este processo, seria basicamente como ?furar fila? para
adotar uma criança mais rapidamente sem passar por todos os esquemas burocráticos.
Após, será apresentada a conclusão de todo o tema exposto ao longo do trabalho, e por fim, as
referências bibliográficas.

HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA FAMILIAR NO BRASIL


No Brasil, a prática de institucionalizar crianças e adolescentes remonta aos tempos da colonização. Sob a
influência do modelo europeu, a Igreja Católica assumiu a responsabilidade de cuidar de bebês e crianças
órfãos ou abandonados. No século XVIII, recém-nascidos eram frequentemente deixados de maneira
anônima nas chamadas rodas dos expostos ? mecanismos giratórios instalados nas paredes das Santas
Casas de Misericórdia. Essas crianças tinham pouca ou nenhuma interação com a comunidade, eram
completamente afastadas de suas famílias de origem e raramente retornavam ao convívio familiar.
No final do século XIX, surgiram educandários, reformatórios, internatos e orfanatos que atendiam a um
grande número de crianças e adolescentes, separados por sexo e faixa etária. Todas as atividades
ocorriam nas instalações dessas instituições, e os acolhidos tinham limitada interação com a comunidade
em termos de educação, saúde, lazer e profissionalização. A principal missão dessas instituições era
corrigir e controlar filhos de adultos pobres considerados incapazes de prover sua educação.
No século XX, enquanto ocorriam mudanças significativas no cenário internacional, como a Declaração de
Genebra sobre os Direitos da Criança adotada pela Liga das Nações Unidas em 1924 e a Declaração
Universal dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas em 1959, o Brasil aprovava o seu
primeiro Código de Menores em 1927, que permaneceu em vigor até a sanção de um segundo Código em
1979, com a Lei nº 6.697.
Pela primeira vez, o termo ?menor em situação irregular? foi introduzido na legislação para abordar
menores de 18 anos que estavam abandonados materialmente, sendo vítimas de maus-tratos, em risco
moral, desassistidos juridicamente, com desvios de conduta ou autores de infrações penais. No entanto, o
principal problema do código era a falta de distinção entre menores infratores e aqueles que eram vítimas
da pobreza, abandono e maus-tratos.
O grande marco ocorreu em 1988 com a aprovação da Constituição da República Federativa do Brasil,
que reconheceu as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, sem qualquer forma de distinção. A
Doutrina da Proteção Integral foi incorporada ao artigo 227 da Constituição, que estabelece:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com


absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Nos anos 1990, houve a introdução de novas legislações que priorizaram a infância no Brasil, incluindo a
Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O ECA

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trouxe inovações ao estabelecer a prioridade absoluta no orçamento público para a implementação de


políticas voltadas para crianças e adolescentes. Embora a porcentagem do orçamento destinada a essa
finalidade tenha sido ampliada ao longo dos anos, as disposições do ECA, que apresentaram um novo
formato para a política de atendimento à infância e juventude, ainda não estão plenamente implementadas
até os dias atuais.
A partir de 1999, começou a ser desenvolvido um abrangente Sistema de Garantia de Direitos da Criança
e do Adolescente, visando efetivar a proteção em todas as dimensões. Nesse contexto, iniciativas de
acolhimento em famílias acolhedoras começaram a surgir, ganhando força principalmente a partir da
metade dos anos 2000.
Em 2001, uma caravana da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados realizou visitas a
serviços de acolhimento institucional em oito estados e no Distrito Federal. Essas visitas tinham o
propósito de avaliar a difícil realidade enfrentada nos espaços de acolhimento, evidenciando o flagrante
desrespeito ao direito à convivência familiar e comunitária, bem como aos princípios estabelecidos no ECA
.
No ano subsequente, o Colóquio Técnico sobre a Rede Nacional de Abrigos, que reuniu representantes do
poder público, da sociedade civil e do UNICEF, estimulou a realização de uma pesquisa nacional sobre
crianças e adolescentes em serviços de acolhimento. Com recursos do Conselho Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente (Conanda), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) conduziu uma
análise abrangendo 589 abrigos, nos quais mais de 19 mil crianças e adolescentes eram atendidos.
[3: IPEA. MISÉRIA E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA COMPROMETEM A CONVIVÊNCIA FAMILIAR. Ipea.
Disponível em: https://www.ipea.gov.br/acaosocial/article283f.html?id_article=88. Acesso em 02 de
outubro de 2023.]
Essa pesquisa marcou um ponto de inflexão. Os resultados evidenciaram que a maioria das crianças e
adolescentes, mesmo tendo família (portanto, não sendo órfãos ou abandonados), permanecia em
acolhimento institucional por longos períodos. Além disso, os principais motivos para o acolhimento
estavam relacionados à pobreza, o que representava uma séria violação de direitos. Conforme a
Constituição Federal de 1988 (artigos 226 e 227) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
nenhuma criança deveria ser afastada de sua família devido à pobreza.
Em 2005, durante o II Colóquio Internacional de Acolhimento Familiar realizado em Campinas (SP), surgiu
o Grupo de Trabalho Nacional Pró-Convivência Familiar e Comunitária, uma iniciativa conjunta da
Associação Brasileira Terra dos Homens (ABTH) e do UNICEF, em parceria com o então Ministério de
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e a então Secretaria Especial dos Direitos Humanos
(SEDH). O GT foi estabelecido com o propósito de aprofundar as discussões relacionadas ao direito à
convivência familiar e comunitária, bem como de disseminar experiências inovadoras e diferentes
modalidades de acolhimento, como o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (SFA).
A partir de reuniões promovidas pelo GT em diversas regiões do país, emergiu um movimento nacional
que viabilizou um amplo intercâmbio entre especialistas brasileiros, visando promover e engajar atores
locais. Esse movimento culminou no lançamento do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do
Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária em 2006.
Em 2009, uma conquista significativa ocorreu: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi alterado
para incluir, pela primeira vez, o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora como uma instituição
jurídica. Posteriormente, o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) e a Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) conduziram o Levantamento Nacional de Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento.
Esse estudo identificou a existência de 144 Serviços em Família Acolhedora, com 932 crianças e

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adolescentes acolhidos, representando somente 2,5% do total de 36.929 crianças e adolescentes


acolhidos em 2.624 unidades de acolhimento institucional.
A partir de 2012, essas informações passaram a ser monitoradas anualmente, utilizando o Censo SUAS
(Sistema Único de Assistência Social). O dado mais recente disponível, referente a 2019, indicou a
existência de 381 SFAs, abrigando 1.535 crianças e adolescentes (correspondendo a 4,9% do total de
crianças e adolescentes acolhidos, sendo que 29.998 deles estavam em 2.801 serviços de acolhimento
institucional).

CRIAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SUAS)


A Constituição Federal de 1988, conforme destacado anteriormente, ofereceu oportunidades para o
avanço das políticas sociais no Brasil, incorporando algumas demandas da classe trabalhadora e
estabelecendo a assistência social como uma política pública de responsabilidade do Estado.
Ao longo dos anos, a assistência social no Brasil tem buscado superar um modelo arcaico de assistência
social que perpetua a subordinação e a dependência dos usuários dos serviços sociais em relação às
ações do Estado e de entidades filantrópicas. Em vez disso, ela visa estabelecer uma nova prática
baseada na consolidação de direitos. Nesse contexto, a criação do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS) representa um passo significativo nessa direção.
O SUAS foi aprovado em julho de 2005 pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) por meio da
Norma Operacional Básica nº 130 (NOB nº 130). Essa conquista decorreu dos esforços e da luta da
sociedade civil organizada, bem como de profissionais e estudiosos da política de assistência social. A IV
Conferência de Assistência Social, realizada em Brasília/DF, desempenhou um papel fundamental na
formulação do SUAS, marcando um importante marco em sua construção e legitimação no contexto da
assistência social.
A fim de progredir nesse sentido, a sociedade brasileira requer um sistema que vá além de interesses
específicos, capacitando a assistência social a se consolidar como uma política pública. Esse sistema
deve traduzir os princípios da Lei Orgânica em ações concretas e coesas, rompendo com as práticas
tradicionais fragmentadas e descontínuas que têm caracterizado a assistência social no país.
O SUAS, alinhado com as diretrizes e princípios da PNAS, apresenta-se com a missão central de romper
significativamente com a história de serviços sócioassistenciais precários e focalizados, particularmente no
que diz respeito aos recursos humanos e materiais. Este sistema propõe uma nova abordagem para o
campo da assistência social no Brasil, reformulando fundamentalmente as suas práticas e
responsabilidades.
[4: PAIVA, B. A. O SUAS E OS DIREITOS SOCIOASSISTENCIAIS; A UNIVERSALIDADE DA
SEGURIDADE SOCIAL EM DEBATE. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, ano XXVI, Especial, nº 87,
2009.]
Seu objetivo primordial é coordenar a política de assistência social por meio da colaboração entre os três
níveis de governo: municípios, estados e União. Este modelo de gestão é descentralizado e participativo,
atribuindo a cada nível de governo a responsabilidade pela implementação da Política de Assistência
Social em suas áreas de atuação.
O SUAS promove uma reformulação institucional na assistência social, com a descentralização dos
serviços para o âmbito municipal, priorizando a realidade local, a territorialidade e as especificidades de
cada região.
A descentralização política e administrativa, bem como a participação, são princípios de organização da

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assistência social definidos pela LOAS e pela Constituição Federal de 1988. Esses princípios foram
incorporados pela PNAS e transmitidos ao SUAS como elementos estruturais. Eles valorizam o poder local
e a participação popular como fundamentos da prática democrática, recuperando um modelo democrático
após décadas de autoritarismo.
A descentralização se reflete em avanços a nível municipal, como a criação de secretarias dedicadas à
assistência social na maioria dos municípios do país, totalizando mais de 4.500 em todos os estados
brasileiros e no Distrito Federal. Esse número demonstra a significativa capacidade de estabelecimento e
assimilação progressiva de conceitos, procedimentos técnicos e operacionais uniformes e coordenados
para a prestação de serviços sociais, financiamento e gestão da política de assistência social. Antes
subordinadas a outras secretarias ou mesmo aos gabinetes dos governantes, a presença de uma
secretaria autônoma confere um novo status à política de assistência social, permitindo-lhe maior
autonomia em relação a outras áreas do governo.
[5: BRASIL. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO E COMBATE À FOME. DESAFIOS DA GESTÃO DO
SUAS NOS MUNICÍPIOS E ESTADOS. Instituto de Estudos Especiais da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. Capacita Suas v.2. Brasília: MDS, 2008.]
A descentralização traz consigo a ênfase na participação. A criação de canais de participação e controle
social é um processo em desenvolvimento na PNAS e, consequentemente, no SUAS. Esse processo visa
a estabelecer uma ?intermediação dos interesses organizados e da luta pela efetivação dos direitos
sociais?, com o objetivo de fomentar a participação efetiva da sociedade na formulação e no
acompanhamento das políticas sociais. Atualmente, as Conferências de Assistência Social e os Conselhos
de Assistência têm sido os espaços que mais oportunizam à sociedade civil organizada uma voz ativa.
[6: COUTO, B. R; et. al. (Coord.). O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL: UMA
REALIDADE EM MOVIMENTO. São Paulo: Cortez, 2010. p. 119.]
A participação social é considerada um dos elementos mais relevantes da estrutura do SUAS. A criação
de mecanismos de controle social reflete uma nova perspectiva e amadurecimento na relação entre o
Estado e a sociedade, na qual o Estado reconhece a importância do controle exercido pela sociedade
sobre suas ações, algo impensável nos anos de ditadura no país. No entanto, é essencial que essa
participação seja qualificada e adquira novo significado, especialmente nas unidades responsáveis pela
operacionalização dos serviços sociais, com a presença efetiva dos usuários da política.
Além dessas duas diretrizes, o SUAS é fundamentado na centralidade da família, assim como a PNAS, no
que diz respeito à concepção e implementação dos benefícios, programas e serviços de assistência social
. A abordagem centrada na família desloca o foco do indivíduo isolado para o núcleo familiar, ou seja,
passa a priorizar o atendimento à família em suas diversas configurações, a fim de fortalecer a capacidade
de enfrentamento das necessidades sociais.
[7: SANTOS, A. C. A; et al. E A FAMÍLIA, COMO VAI? UM OLHAR SOBRE OS PROGRAMAS DE
TRANSFERÊNCIA DE RENDA NO BRASIL SOB A ÓTICA DA FAMÍLIA. In: Estudos de Política e Teoria
Social. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Praia Vermelha, nº 18, 2008. p. 30-45.]

OS DIREITOS DE INDIVÍDUOS MENORES DE IDADE: A CRIAÇÃO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE
A Lei Federal nº 8.069/1990, amplamente reconhecida como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA

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), representa o marco legal e regulatório dos direitos humanos de crianças e adolescentes no Brasil.
Promulgada em 13 de julho de 1990, essa lei resultou de um extenso processo de debate democrático
liderado por movimentos sociais, organizações, coalizões e diversos membros da sociedade civil, bem
como instituições que buscavam conscientizar e garantir o respeito aos direitos de crianças e adolescentes
como sujeitos detentores de direitos.
O ECA trouxe uma mudança de paradigma significativa, pois foi a primeira legislação na América Latina a
adotar a doutrina da proteção integral. Ela se inspirou na Declaração Universal dos Direitos da Criança de
1979 e na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, que foram aprovadas pela Organização
das Nações Unidas (ONU) em 1989.
Como João Batista Costa Saraiva destacou, o Estatuto desfez a ideia de ?menor como objeto do processo
? e introduziu uma transformação paradigmática, reconhecendo a criança e o adolescente como sujeitos
de direitos, participantes ativos, e cidadãos em pleno direito.
[8: SARAIVA, João Batista Costa. ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI: DA INDIFERENÇA À
PROTEÇÃO INTEGRAL: UMA ABORDAGEM SOBRE A RESPONSABILIDADE PENAL JUVENIL. Porto
Alegre, Livro do Advogado, 2013. p. 37.]
A Lei 8.069/1990 estabelece a doutrina da proteção integral como princípio fundamental e determina que é
responsabilidade da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público garantir, com
prioridade absoluta, a efetivação dos direitos desses jovens em áreas como vida, saúde, alimentação,
educação, esporte, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e
comunitária.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabeleceu a proteção integral por meio dos seus 267
artigos, apresentando uma carta abrangente de direitos fundamentais para a infância e a juventude.
Segundo o documento, uma criança é considerada como aquela que tem até 12 anos de idade
incompletos, enquanto um adolescente é definido como alguém com idade entre 12 e 18 anos.
Entre as contribuições significativas do ECA, além de reconhecer crianças e adolescentes como
detentores de direitos, destacam-se a criação do Conselho Tutelar, responsável por defender e proteger
os direitos desses jovens, bem como os Conselhos de Direitos da Criança em níveis nacional, estadual e
municipal. Estes conselhos têm o papel de formular políticas para crianças e adolescentes em suas
respectivas esferas de atuação.
Ao longo das últimas três décadas, diversas melhorias foram incorporadas ao ECA, incluindo a Lei do
Sistema Nacional Socioeducativo (Sinase), que regula a execução de medidas socioeducativas, a Lei da
Primeira Infância, que exige a implementação de políticas específicas para os primeiros anos de vida, e a
Lei da Adoção, que detalha os procedimentos relacionados à adoção. É importante ressaltar que a partir
dos 12 anos, os adolescentes que cometem atos infracionais são responsabilizados, mas com garantias
de devido processo legal, contraditório e ampla defesa.
Apesar desses avanços, desafios persistem. É fundamental continuar trabalhando na implementação
integral do ECA e leis relacionadas, com a criação de políticas públicas que assegurem efetivamente
direitos fundamentais, como educação de qualidade, assistência médica, moradia, alimentação,
convivência familiar e comunitária, cultura, esporte, lazer, entre outros.
O Estatuto da Criança e do Adolescente continua sendo reconhecido como um dos mais avançados do
mundo, destacando-se por sua abordagem centrada na proteção integral. Essa importância reside no
reconhecimento de que crianças e adolescentes são sujeitos de direito, atravessando um período crucial
de desenvolvimento físico, psicológico, moral e social, merecendo, com prioridade absoluta, uma proteção
completa.

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A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E À ASSISTÊNCIA


SOCIAL
A prática da adoção de crianças e adolescentes, conforme estabelecida no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), é considerada uma medida de proteção que tem como principal objetivo garantir o
direito das crianças e adolescentes à convivência em um ambiente familiar e comunitário que proporcione
um crescimento saudável, fornecendo condições adequadas para o desenvolvimento físico, cognitivo e
social. A família é, portanto, o primeiro contexto no qual a criança se desenvolve como membro da
sociedade, desempenhando um papel fundamental na mediação entre os indivíduos e as normas, regras e
valores da sociedade. Ela é responsável pela garantia e efetivação dos direitos das crianças e
adolescentes a vida, proteção e desenvolvimento de habilidades humanas, proporcionando as condições
materiais e humanas necessárias para o seu crescimento.
No entanto, Bruschini destaca a importância de questionar a noção de família como algo natural, uma vez
que essa categoria é uma construção humana mutável, cultural e historicamente influenciada. De acordo
com Simões, a família não deve mais ser restrita a modelos preestabelecidos, mas sim definida como
qualquer ambiente onde o indivíduo se sinta acolhido, desenvolvendo laços de afeto e confiança. Portanto
, a definição de família deve basear-se na existência de vínculos afetivos, não limitando-se apenas aos
laços de consanguinidade.
[9: BRUSCHINI, Cristina. TEORIA CRÍTICA DA FAMÍLIA. In: AZEVEDO, Maria Amélia; GUERRA, Viviane
Nogueira de Azevedo (Org.). Infância e violência doméstica: fronteiras do conhecimento. 3. ed. São Paulo
: Cortez: 2000.][10: SIMÕES, Carlos. CURSO DE DIREITO DE SERVIÇO SOCIAL. São Paulo: Cortez,
2008.]
Nessa perspectiva, de acordo com a legislação brasileira, é importante enfatizar que as relações
estabelecidas no âmbito familiar são mais importantes do que as configurações familiares em si. Isso
ocorre porque as funções de proteção e socialização podem ser desempenhadas em uma variedade de
arranjos familiares e contextos socioculturais. Dessa forma, a propensão é rejeitar qualquer noção
preconcebida de um modelo familiar ?normal?.
[11: BRASIL. PLANO NACIONAL DE PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E DEFESA DO DIREITO DE
CRIANÇAS E ADOLESCENTES À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA. 2006. p. 29.]
Conforme a visão de Paiva:
[12: PAIVA, Leila Dutra. ADOÇÃO: SIGNIFICADOS E POSSIBILIDADES. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2004. pp. 65-66.]

[...] a dificuldade, ainda hoje, parece ser o reconhecimento de que a família, em si mesma, é uma criação
cultural que pode ou não estar fundada em laços biológicos. A adoção tem representado, há muito tempo,
a possibilidade de formar uma família assentada não na biologia, mas na cultura.

É importante ressaltar que a família, como um grupo social, é um espaço onde as contradições sociais se
manifestam e, portanto, também é suscetível a expressões da questão social. No Brasil, um grande
número de famílias encontra-se em situação de pobreza e miséria. Essas condições dificultam ou
impedem que elas desempenhem suas funções de proteção e cuidado em relação aos seus filhos,

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resultando na negação de seu espaço de humanização.


Essa desumanização do espaço familiar é afetada por várias questões, principalmente o desemprego e a
falta de acesso à riqueza materialmente produzida. Conforme destacado por Kaloustian, essa situação de
desumanização do espaço familiar está diretamente ligada à situação de pobreza e ao perfil de
distribuição de renda no país.
[13: KALOUSTIAN, Sílvio Manoug (Org.). FAMÍLIA BRASILEIRA: A BASE DE TUDO. 7. ed. São Paulo:
Cortez; Brasília: Unicef, 2005. p. 12.]
Consequentemente, na sociedade atual, observa-se que milhares de famílias não têm as condições
necessárias para cumprir suas funções legalmente e socialmente atribuídas. Esse contexto sociofamiliar
frequentemente resulta em situações de negligência, abandono e institucionalização de crianças e
adolescentes. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, em um levantamento nacional
dos abrigos da Rede de Serviços de Ação Continuada (Rede SAC), cerca de 20 mil crianças vivem nos
589 abrigos pesquisados em todo o Brasil, privadas de seus direitos fundamentais à convivência familiar.
[14: IPEA ? Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E
COMUNITÁRIA: OS ABRIGOS PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL. Brasília, 2004.]
Diante desse cenário, a discussão sobre a família tem se intensificado, uma vez que ela é reconhecida
como uma instituição central na sociedade. A família desempenha funções cruciais no cuidado e proteção
de seus membros, mas enfrenta dificuldades em cumprir plenamente essas funções, o que tem levado a
um reconhecimento especial por parte do Estado e da sociedade.
Nesse contexto, a família é considerada a célula base da sociedade brasileira, conforme estipula a
Constituição Federal de 1988, eu seu artigo 226: ?A família, base da sociedade, tem especial proteção do
Estado?.
A família é entendida como um local de convivência de indivíduos, unidos por laços consanguíneos,
afetivos ou de confiança. Segundo Simões, nesse espaço, desenvolve-se e mantém-se o sentimento de
pertencimento e identidade social, bem como a transmissão de valores e comportamentos pessoais.
[15: SIMÕES, Carlos. CURSO DE DIREITO DE SERVIÇO SOCIAL. São Paulo: Cortez, 2008. p. 190.]
No Brasil, esse reconhecimento é fundamentado na Constituição Federal de 1988, no Estatuto da Criança
e do Adolescente, na Política Nacional de Assistência Social, e no Plano Nacional de Promoção, Proteção
e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. No entanto, é
fundamental que essas garantias saiam do papel e sejam efetivamente implementadas na prática.
Para alcançar esse objetivo, é fundamental que o Estado e a sociedade protejam os grupos familiares em
diversas configurações que enfrentam condições de empobrecimento. Nesse contexto, o Estado deve
garantir o acesso aos direitos universais para as famílias, o que, por sua vez, resulta na proteção dos
direitos das crianças e dos adolescentes. Famílias que possuem acesso a esses direitos, juntamente com
outros, têm melhores condições para cumprir suas funções de cuidado, afeto e socialização, além de
superar possíveis situações de vulnerabilidade.
[16: JUNQUEIRA, Maíz Ramos; SERRES Jamille de Freitas. ADOÇÃO PELOS CAMINHOS LEGAIS:
RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA. Textos & Contextos (Porto Alegre), Porto Alegre, v. 9, n. 1, p. 182-192,
jan./jun. 2010.]
A contradição central na questão do abandono de crianças e adolescentes reside nesse ponto, sendo uma
dinâmica da questão social. As famílias que, devido às condições da realidade social, não conseguem
cumprir suas funções acabam negligenciando e abandonando seus filhos, tornando-se destinatárias das
políticas sociais compensatórias. Entretanto, essas políticas frequentemente se mostram insuficientes para
atender à grande demanda social e para atender eficazmente aqueles a quem se destinam. Diante

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dessas condições objetivas, é importante examinar como o trabalho social tem evoluído no campo dos
direitos das crianças e dos adolescentes à convivência familiar e comunitária, considerando seus limites e
possibilidades.
[17: SILVA, Simone Regina Medeiros. ABANDONO: UMA AGRESSÃO AOS DIREITOS DA CRIANÇA. In
: FREIRE, Fernando. Abandono e adoção: contribuições para uma cultura de adoção. São Paulo: Terre de
Hommes, 2001.]

OS SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO DESTINADOS À CRIANÇAS E ADOLESCENTES


Para abordar inteiramente este tema, é crucial abordar a história do acolhimento desde suas origens e
discutir as principais transformações influenciadas por fatores sociais, culturais e econômicos.
A prática de institucionalização de crianças e adolescentes de famílias de classes populares tem raízes
que remontam ao período inicial da colonização brasileira.
O programa de acolhimento familiar formalmente surgiu no Brasil na década de 1990. Ele trouxe consigo
reflexões alternativas em relação à institucionalização infantil, buscando meios para reintegrar a criança à
sua família e, sobretudo, promover a inclusão dessa família na sociedade.
Foi somente com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069 de 13 de julho de
1990, que crianças e adolescentes passaram a ser reconhecidos como sujeitos de direito, em uma
condição peculiar de desenvolvimento. Esses direitos fundamentais, conforme estabelecido pelo artigo 227
da Constituição Federal, englobam o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
protegendo-os contra todas as formas de negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão.
A partir do Estatuto da Criança e do Adolescente, o encaminhamento para os serviços de acolhimento
passou a ser concebido como uma medida protetiva, de caráter excepcional e temporário, que visa
primordialmente ao superior interesse da criança e do adolescente.
Antes da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, muitos internatos e orfanatos
desempenhavam o papel de cuidar das crianças, frequentemente tratando-as como se fossem
abandonadas. A perspectiva predominante não considerava os direitos das crianças e dos adolescentes.
No contexto brasileiro, a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990
são exemplos de marcos legais que estabelecem de forma explícita a importância da convivência familiar
e comunitária para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. O ECA é amplamente reconhecido
internacionalmente como um instrumento jurídico orientador para o atendimento digno de crianças e
adolescentes.
A convivência familiar sempre ocupou uma posição de destaque no Estatuto da Criança e do Adolescente
. O papel da família é considerado um elemento indispensável nos processos de proteção e
desenvolvimento, e o ECA estabeleceu que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos em uma
condição peculiar de desenvolvimento.
O artigo 15 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe:

A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em
processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na
Constituição e nas leis.

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Quando a separação do ambiente familiar de uma criança ou adolescente se torna necessária, é


apropriado que ela seja acolhida em outro ambiente familiar de forma temporária, ao mesmo tempo em
que se desenvolve um trabalho com sua família de origem. Nesse contexto, é fundamental realizar ações
que facilitem a reintegração da criança ao seu núcleo familiar.

AS FORMAS E MEDIDAS DE ACOLHIMENTO EXISTENTES


Os serviços de acolhimento têm a finalidade de receber crianças e adolescentes que estejam sujeitos a
medidas protetivas determinadas pelo poder judiciário, em decorrência de violações de seus direitos, como
abandono, negligência ou violência, ou quando a família não é capaz de fornecer o cuidado e proteção
necessários.
É importante destacar que o afastamento da criança ou adolescente de sua família deve ser uma medida
excepcional e só deve ser aplicada em situações de grave risco para sua integridade física e/ou
psicológica. O principal objetivo é garantir que esses jovens possam retornar com segurança ao convívio
familiar, priorizando a família de origem sempre que possível, e recorrendo à família substituta somente
em casos excepcionais, por meio de procedimentos legais, como adoção, guarda ou tutela.
O serviço de acolhimento deve focar na preservação e no fortalecimento das relações familiares e
comunitárias das crianças e adolescentes. O atendimento deve ser individualizado e oferecido a grupos
reduzidos, garantindo espaços privados para guardar objetos pessoais e registros relacionados à história
de vida e ao desenvolvimento de cada criança e adolescente.
Em 2004, uma pesquisa realizada pelo Ipea e pelo Conanda sobre a situação dos abrigos para crianças e
adolescentes revelou a persistência de violações de direitos, que se mantinham muito aquém do que era
preconizado pelo ECA, mesmo mais de uma década após sua promulgação. Essas constatações
enfatizaram a importância de redirecionar a discussão para a observância dos princípios que ressaltam a
natureza temporária e excepcional das medidas de acolhimento. Segundo esses princípios, a separação
de uma criança ou adolescente de sua família deve ser breve e apenas adotada quando estritamente
necessária para garantir o superior interesse da criança. Portanto, é fundamental preservar e fortalecer os
laços familiares e, quando não houver alternativas viáveis, promover a colocação do acolhido em um
processo de adoção.
[18: SILVA, E. R. A. (Org). O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA: OS ABRIGOS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL. Brasília: Ipea/Conanda, 2004.]
Esse contexto levou à elaboração do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de
Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC) em 2006, que contou com a
participação de representantes do governo e da sociedade civil. Aprovado por meio da Resolução
Conanda/CNAS nº 1/2006, o PNCFC é uma iniciativa de natureza transversal e intersetorial que envolve
não apenas os órgãos do Poder Executivo, mas também outros atores que fazem parte do Sistema de
Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente (SGD). Isso inclui instituições como o Judiciário e o
Ministério Público. As diretrizes estabelecidas pelo PNCFC demandaram uma revisão das práticas das
instituições que administravam os serviços de acolhimento, impulsionando uma reorganização desses
serviços sob a responsabilidade da política de assistência social, seja na forma institucional ou por meio
do acolhimento familiar.
No entanto, é importante ressaltar que a ampla cobertura populacional não garante que o serviço de
acolhimento seja amplamente disponível, especialmente nos municípios de menor porte. Na verdade, a

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maioria dos 3.560 municípios que não ofereciam esse serviço em 2018 era composta em sua maioria por
municípios de pequeno porte I (86,0%) e pequeno porte II (12,8%).
[19: LICIO, E. C; et. al. REORDENAMENTO DOS SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES E IMPLEMENTAÇÃO DE NOVAS MODALIDADES ? FAMÍLIA ACOLHEDORA E
REPÚBLICAS. Brasília: Ipea, 2021. No prelo.]
Em que pese às formas de acolhimento, há diferentes formas, quais sejam:
O acolhimento institucional para Crianças e Adolescentes pode ser disponibilizado em dois tipos de
unidades:
Abrigo: Este é um serviço de acolhimento provisório que pode abrigar até 20 crianças e adolescentes em
cada unidade. Deve ser projetado para se assemelhar a uma residência com uma localização na
comunidade, preferencialmente em áreas residenciais. O ambiente deve ser acolhedor e oferecer
condições institucionais que atendam a padrões de dignidade.

Casa-Lar: Este é um serviço de acolhimento provisório que é oferecido em unidades residenciais e tem
capacidade para acomodar no máximo 10 crianças e adolescentes por unidade. Nestas casas, pelo menos
uma pessoa ou um casal trabalha como educador/cuidador residente, prestando cuidados a um grupo de
crianças e adolescentes que foram afastados de seus ambientes familiares. Importante notar que a casa-
lar não é a residência do educador/cuidador, mas um local separado para abrigar as crianças e
adolescentes.
O acesso ao acolhimento institucional para Crianças e Adolescentes é estabelecido por decisão do Poder
Judiciário e por solicitação do Conselho Tutelar. A autoridade competente deve ser notificada, conforme
previsto no Artigo 93 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Art. 93. As entidades que mantenham programa de acolhimento institucional poderão, em caráter
excepcional e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação da autoridade
competente, fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da Infância e da
Juventude, sob pena de responsabilidade.
Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público e se
necessário com o apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas necessárias para promover a
imediata reintegração familiar da criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for isso possível
ou recomendável, para seu encaminhamento a programa de acolhimento familiar, institucional ou a família
substituta, observado o disposto no § 2 o do art. 101 desta Lei.

No que tange à acolhimento em república para jovens egressos de outros serviços de acolhimento, trata-
se de um serviço destinado principalmente a jovens que passaram anteriormente por serviços de
acolhimento para crianças e adolescentes. Ele oferece apoio e moradia a jovens com idades entre 18 e 21
anos. Cada unidade de acolhimento pode abrigar até 6 pessoas. O objetivo deste serviço é promover a
autonomia gradual dos residentes, incentivando a independência deles ao operar em um sistema que
permite que os moradores tomem decisões conjuntas sobre o funcionamento da unidade.
O acesso a esse serviço pode ser realizado por meio de encaminhamento do Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (CREAS), do Serviço de Abordagem Social e de outros serviços ou
políticas públicas relacionadas. Além disso, é possível acessá-lo por demanda espontânea, ou seja, os
próprios jovens ou suas famílias podem buscar esse serviço diretamente. Para obter mais informações e
orientações sobre como acessar o acolhimento em república, entre em contato com o CREAS ou o órgão

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competente em sua região.


No que cabe ao acolhimento em Família Acolhedora, este é um serviço que organiza o acolhimento de
crianças ou adolescentes em residências de famílias acolhedoras cadastradas. Para integrar esse serviço
, as famílias interessadas devem passar por um processo de seleção, capacitação e acompanhamento.
Esse serviço oferece atendimento em um ambiente familiar, garantindo uma abordagem individualizada e
oportunidades de convivência comunitária. Cada Família Acolhedora acolhe uma criança ou adolescente
por vez, a menos que se trate de um grupo de irmãos que possa ser acolhido conjuntamente.
Para obter informações detalhadas, recomenda-se entrar em contato com a Secretaria de Assistência
Social do município do interessado. Eles poderão orientar sobre os procedimentos e requisitos
necessários para o acesso a esses serviços.

O VÍNCULO AFETIVO CRIADO E A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA ACOLHEDORA COMO INSTRUMENTO


DE PROTEÇÃO
Muitas pessoas, ao se depararem com a ideia do acolhimento familiar, levantam a questão de se
estabelecer vínculos em uma situação transitória pode ser prejudicial para as crianças e/ou adolescentes
em acolhimento. O senso comum sugere que criar laços com alguém que não estará sempre presente
pode causar sofrimento, sendo potencialmente desvantajoso tanto para o adulto que cuida quanto para a
criança ou adolescente em acolhimento. No entanto, pesquisas em diversas áreas do desenvolvimento
humano vêm apresentando resultados que apontam exatamente o contrário.
O afeto desempenha um papel tão essencial no desenvolvimento humano quanto fatores como uma boa
alimentação, sono adequado e hidratação. A ausência de afeto, de contato físico e de interações com
figuras de referência é altamente prejudicial para o crescimento de crianças e adolescentes, e até mesmo
para o bem-estar dos adultos. Mesmo que o acolhimento seja uma medida temporária, é fundamental que
a criança ou adolescente seja inserido em um ambiente que lhes permita cultivar um senso de
pertencimento, segurança e confiança nos adultos ao seu redor.
A falta de atenção e carinho por parte dos cuidadores, a vivência em um ambiente institucional com alta
rotatividade de educadores ou a negligência de suas necessidades podem resultar em fenômenos como o
?desamparo aprendido? (quando a pessoa tolera estímulos e situações aversivas por não conseguir evitá-
los) e ?estresse tóxico?. Essas condições podem impactar o funcionamento cerebral e a forma como a
criança ou adolescente desenvolve suas habilidades interpessoais, inclusive na vida adulta.
Numerosos estudos científicos corroboram os benefícios de um desenvolvimento social, emocional e
cognitivo mais saudável para crianças e adolescentes que passam pelo acolhimento em famílias
acolhedoras, em comparação com o acolhimento institucional. Essas pesquisas reforçam a conclusão de
que laços afetivos, um ambiente seguro e estímulos são fundamentais na vida de crianças e adolescentes
, assim como a oportunidade de conviver em uma comunidade, que essa forma de atendimento oferece.
A pesquisa ?Órfãos da Romênia?, conduzida pelo Hospital de Crianças de Boston, vinculado à
Universidade de Harvard, evidencia que a ausência de vínculos afetivos duradouros e a falta de atenção
às necessidades individuais em instituições de acolhimento podem acarretar prejuízos significativos no
desenvolvimento integral de bebês. O estudo revela que, para cada ano que um bebê passa em uma
instituição, sem estabelecer vínculos afetivos estáveis e sem receber atenção adequada às suas
necessidades individuais, pode haver um atraso de até quatro meses em seu desenvolvimento global.
[20: VIDA, O começo da. O CASO DOS ÓRFÃOS DA ROMÊNIA. O começo da vida. Disponível em: https
://ocomecodavida.com.br/o-caso-dos-orfaos-da-romenia/. Acesso em 18 de outubro de 2023.]

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Essa pesquisa concentrou-se em crianças abrigadas em instituições na Romênia após a Segunda Guerra
Mundial, particularmente durante os primeiros anos de suas vidas, e identificou déficits cognitivos
consideráveis. Essa investigação, de caráter longitudinal, teve início em 2000 e incluiu acompanhamento
regular com a realização de eletroencefalogramas (EEGs) para mapear a atividade cerebral de crianças
que passaram por diferentes configurações de cuidado (institucionalização, acolhimento familiar e
convivência em famílias sem intervenção do Estado).
Embora tenha sido realizada em um contexto substancialmente distinto do que observa-se no Brasil
atualmente, esse estudo oferece subsídios relevantes para reflexões acerca da importância dos cuidados
individualizados na primeira infância, especialmente no contexto das medidas de proteção relacionadas ao
acolhimento.
A Teoria do Apego, proposta pelo renomado psicólogo e psiquiatra britânico John Bowlby, se desenvolveu
a partir de suas observações e reflexões sobre a separação precoce de bebês de suas figuras de cuidado
primárias. Essa teoria enfatiza a relevância de uma figura de apego estável para prover cuidados à criança
, principalmente nos primeiros três anos de vida. A continuidade e a estabilidade dessa relação (que pode
envolver pais, mães, familiares ou qualquer adulto capaz de fornecer apoio afetivo) exercem um impacto
significativo no desenvolvimento social e psicológico da criança, uma vez que esse período influencia de
maneira profunda suas futuras interações sociais.
Diante dessa perspectiva, o acolhimento em famílias acolhedoras se configura como um espaço
fundamental de cuidado, pois prioriza a qualidade e a consistência das relações estabelecidas com a
criança, alinhando-se com os princípios da Teoria do Apego e valorizando o impacto positivo de relações
afetivas duradouras em seu desenvolvimento.
A primeira infância, compreendida como o período que se estende desde a gestação até os seis anos de
idade, assume uma importância crucial para o desenvolvimento humano. Isso se deve ao fato de que é
nessa fase que se estabelece a base de conexões neuronais que irão sustentar as aquisições posteriores
nos âmbitos psicomotor, cognitivo e social. Em termos mais simples, é durante esse intervalo que se
delineia a arquitetura cerebral que influenciará o desenvolvimento da criança ao longo de sua vida.
Consequentemente, é fundamental proporcionar às crianças pequenas, além dos cuidados básicos, como
higiene e alimentação, interações físicas, afeto e atenção individualizada. Esses elementos contribuem
para a formação da individualidade da criança, a aquisição da linguagem e o estabelecimento das bases
de sua interação com a sociedade.
Contudo, é relevante ressaltar que o acolhimento em famílias acolhedoras não beneficia somente as
crianças na primeira infância. Pessoas de todas as faixas etárias colhem benefícios significativos de
relacionamentos estáveis, afetivos e orientados para o indivíduo, proporcionados por ambientes familiares
. Na adolescência, por exemplo, um ambiente seguro e estável favorece a navegação pelas
transformações e pelo processo de amadurecimento. Durante esse período, ocorre a consolidação da
identidade e o desenvolvimento da autonomia dos jovens, e um ambiente de acolhimento familiar pode
desempenhar um papel valioso nesse processo. Isso se torna particularmente relevante quando esses
jovens deixam o sistema de acolhimento ao atingir a maioridade, aos dezoito anos, e enfrentam novos
desafios na busca de sua independência.
Fornecer experiências de apego, mesmo que temporárias, não é apenas desejável, mas essencial para
um acolhimento eficaz. As crianças e adolescentes que necessitam de medidas protetivas encontram-se
em um estágio particularmente delicado de suas vidas. Nesse momento de turbulência, é fundamental que
o acolhimento proporcione um ambiente seguro, protetor, afetuoso e estável.
Através dessa relação afetiva, a criança ou adolescente poderá fortalecer-se. Ao ser introduzido em um

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novo modelo de configuração familiar, que o recebe com carinho, respeito e cuidados personalizados, ele
ou ela terá melhores condições para enfrentar e superar os traumas causados pelas violências sofridas
anteriormente.
Todo o trabalho desenvolvido pela equipe do serviço, incluindo a capacitação das famílias acolhedoras e o
acompanhamento das crianças e adolescentes, considera o acolhimento como uma medida de caráter
temporário. Portanto, crianças e adultos passarão por uma transição assistida pela equipe técnica. A saída
do acolhimento não deve ser vista como uma ruptura adicional, mas sim como um processo gradual,
respeitoso e que visa ao melhor interesse da criança e do adolescente.
É relevante observar que, no contexto do acolhimento institucional, as crianças e adolescentes também
estabelecem vínculos significativos com profissionais, educadores e outros acolhidos. Portanto, ao se
desligarem do serviço, eles também precisam enfrentar a despedida e passar por uma transição,
semelhante ao acolhimento em família acolhedora. A qualidade e segurança dos vínculos estabelecidos
influenciam diretamente a possibilidade de uma despedida tranquila e a transição para a próxima fase de
suas vidas.

FORMAS DE ADOÇÃO DE CRIANÇAS INCLUÍDAS EM FAMÍLIAS ACOLHEDORAS


Como discutido no capítulo anterior, referente à função da família acolhedora, essas famílias se oferecem
voluntariamente para receber, em seus lares, crianças e/ou adolescentes em situação de risco social,
quando se torna necessário, por decisão judicial, afastá-los de suas famílias de origem. Após o
afastamento do convívio familiar, esses jovens podem ser direcionados tanto para o acolhimento
institucional quanto para o acolhimento familiar, sendo preferível, de acordo com o artigo 34, §1 do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que sejam encaminhados ao acolhimento familiar, uma vez
que as famílias acolhedoras conseguem fornecer cuidados personalizados. Nas palavras do juiz da Vara
da Infância e Juventude de Campinas, Eduardo Bigolin, sobre a prioridade do acolhimento familiar:

As crianças que passam pela família acolhedora são bem avaliadas em exames psicológicos e sociais.
Têm maior interação, integração com a comunidade e gozam de maior liberdade, muito porque a família
cuidou do lado afetivo, moral e material que talvez não estivesse sendo provido pela família de origem. 43
[21: POMBO, Bárbara. AFASTADAS DA FAMÍLIA DE ORIGEM, CRIANÇAS SÃO ACOLHIDAS POR
MÃES E PAIS PROVISÓRIOS. Conselho Nacional de Justiça, 2014. Disponível em: https://www.cnj.jus.br
/afastadas-da-familia-de-origem-criancas-sao-acolhidas-por-maes-e-pais-provisorios/. Acesso em 23 de
outubro de 2023.]

Um dos critérios para que uma família seja elegível para participar do programa de família acolhedora é
que ela não esteja registrada no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) e não manifeste qualquer interesse
em adotar o acolhido. É necessário que a família assine uma declaração oficial confirmando seu
desinteresse pela adoção. Essa distinção é amplamente enfatizada, como evidenciado por trechos
retirados de materiais informativos de diversas instituições, com o objetivo de deixar claro que a família
acolhedora e a adoção são processos totalmente distintos.
O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que o acolhimento institucional não deve ser
prolongado por mais de 18 (dezoito) meses, a menos que haja uma comprovação da necessidade que
atenda ao superior interesse da criança ou adolescente (conforme o artigo 19, §2 do ECA). Essa medida é
considerada provisória e excepcional, destinada a servir como uma transição para reintegrar a criança ou

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adolescente em sua família biológica ou, se isso não for possível, colocá-los em uma família substituta
(conforme o artigo 101, §1 do ECA). Essa abordagem visa sempre ao melhor interesse da criança e do
adolescente.
No entanto, como mencionado anteriormente e também abordado no livro ?Adoção, Desafios da
Contemporaneidade?, as crianças e adolescentes muitas vezes permanecem nos serviços de acolhimento
por períodos muito mais longos do que o previsto. Isso ocorre devido a várias razões, como a falta de
possibilidade de retorno às famílias de origem ou de inserção em famílias substitutas. Como resultado, em
alguns casos, os vínculos afetivos se tornam muito fortes, a ponto de a criança ou adolescente considerar
a família acolhedora como seus pais, assim como a família acolhedora considera a criança ou adolescente
como seu filho. Esse forte vínculo pode despertar o desejo de adoção, mas a prática é impedida devido
ao termo de não adoção e, principalmente, devido à lei que não autoriza tal ato.
[22: LEVINZON, Gina Khafif; LISONDO, Alicia Dorado. ADOÇÃO: DESAFIOS DA
CONTEMPORANEIDADE. São Paulo: Blucher, 2015. pp. 203-204.]

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas análises apresentadas ao longo deste trabalho, conclui-se que o Programa de Acolhimento
Familiar desempenha um papel crucial no desenvolvimento de crianças em situação de vulnerabilidade,
proporcionando atendimento individualizado por parte das famílias acolhedoras. A legislação busca
priorizar o acolhimento familiar em detrimento do institucional, mas essa preferência nem sempre é
observada na prática.
Para aliviar a sobrecarga dos abrigos institucionais, é necessário que o Poder Público promova e incentive
os estados e municípios a implementarem políticas públicas de acolhimento familiar. Isso deve ser uma
medida de fácil instalação e acesso. Em relação à conscientização da população, é fundamental realizar
campanhas que abordem a realidade dos acolhimentos institucionais e da adoção, destacando os
benefícios do acolhimento familiar e suas diversas vantagens.
Quanto à possibilidade de a família acolhedora adotar, deve-se realizar uma análise de cada caso
concreto, garantindo a aplicação do melhor interesse da criança e do adolescente e o cumprimento da
prioridade absoluta estabelecida na Constituição Federal. No entanto, não é adequado justificar o
desvirtuamento do propósito do programa, uma vez que, na maioria dos casos, as famílias acolhedoras
não se inscrevem com a intenção de adotar, mas desenvolvem esse desejo devido aos laços afetivos que
se formam.
Além disso, é importante notar que o tempo de acolhimento costuma se prolongar, o que fortalece os laços
afetivos entre as crianças e os pais acolhedores. Esta pesquisa evidenciou que muitas vezes as próprias
crianças e adolescentes buscam nas famílias acolhedoras a figura materna e paterna que talvez não
tenham tido anteriormente. Portanto, diante da destituição da família de origem, seria justo permitir que a
família acolhedora convertesse sua guarda em adoção. Afinal, se a guarda foi concedida pelo tribunal, já
houve uma análise quanto à compatibilidade e à boa-fé dos pais acolhedores, preenchendo, portanto, os
requisitos da adoção.
Negar a possibilidade de adoção pela família acolhedora com base na falta de habilitação no Cadastro
Nacional de Adoção (CNA) é uma medida cruel, considerando que o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) viabiliza a adoção com base em vínculos afetivos, conforme previsto no artigo 50, §13, incisos II e

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III. A jurisprudência já consolidou o entendimento de que a afetividade supera os vínculos consanguíneos


e quaisquer outros laços, e esse mesmo entendimento deve ser aplicado no contexto do acolhimento
familiar.
Portanto, é imperativo que o artigo 34, parágrafo 3º, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) seja
modificado para incluir a possibilidade de inscrição no Programa Famílias Acolhedoras de pessoas que
façam parte ou não dos cadastros de adoção. Uma alternativa louvável seria a implementação, por parte
dos estados e municípios, de duas modalidades de acolhimento familiar, à semelhança do que foi
realizado em Belo Horizonte (MG) e regulamentado na Lei Municipal 10.871/2015.
Uma dessas modalidades seria destinada a crianças com perspectiva de reintegração familiar, na qual os
interessados não poderiam ter a intenção de adoção. A outra modalidade seria voltada para crianças para
as quais a reintegração à família de origem fosse improvável ou cujos pais biológicos já tivessem sido
destituídos do poder familiar. Nesta modalidade, pessoas interessadas na adoção seriam permitidas e,
idealmente, poderiam suportar a duração prolongada do acolhimento familiar. Isso seria especialmente
importante no caso de crianças mais velhas ou com alguma doença ou deficiência física, mental,
intelectual ou sensorial, uma vez que, como demonstrado, elas têm menos chances de serem adotadas
por aqueles cadastrados no Cadastro Nacional de Adoção (CNA).

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://ocomecodavida.com.br/o-caso-dos-orfaos-da-romenia/. Acesso em 18 de outubro de 2023.

Prof. Me. Gianfranco Faggin Mastro AndreáUNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP

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Prof.UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP

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=================================================================================
Arquivo 1: TCC Barbara - Família acolhedora.docx (8247 termos)
Arquivo 2: https://www.passeidireto.com/arquivo/99052354/modelo-ppap-iv (600 termos)
Termos comuns: 9
Similaridade: 0,10%
O texto abaixo é o conteúdo do documento TCC Barbara - Família acolhedora.docx (8247 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://www.passeidireto.com/arquivo/99052354/modelo-ppap-iv (600 termos)

=================================================================================
UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP
CURSO DE BACHARELADO
DIREITO

BARBARA EUNICE DE QUEIROZ ALMEIDA ? R.A. D984144

A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

SÃO PAULO
2023

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A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Paulista


? UNIP como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Me. Gianfranco Faggin Mastro Andreá

SÃO PAULO
2023

FICHA CATALOGRÁFICA

BARBARA EUNICE DE QUEIROZ ALMEIDA

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A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Paulista


? UNIP como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

São Paulo, _______ de ______________________________ de 2023.

Prof.
UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP
DEDICATÓRIA

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus, que foi minha força durante todo esse processo. A minha
família que foi fundamental, e esteve ao meu lado em todos os momentos.
Ao meu orientador Gianfranco, por todo apoio e suporte. Aos meus professores que foram essenciais, e a
todos que contribuíram para a finalização desse ciclo.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, sem ele nada disso seria possível. Ao meu professor orientador
Gianfranco, que foi fundamental em todos os momentos desse período, em estar sempre solicito, pelas
orientações, pelas aulas incríveis e por reascender meu amor pelo direito civil.
Agradeço a minha família por estar sempre ao meu lado, me apoiando, dando forças e me incentivando a
me manter firme. Vocês foram fundamentais, vocês são a minha força e meu combustível para continuar.
Aos meus amigos, que estiveram sempre me incentivando, e fazendo com que esse processo se tornasse
mais leve. Aos meus colegas, que estiveram junto comigo, e entendem o significado da finalização desse
ciclo, que levo com muito carinho.
Aos meus professores, que além de contribuir para nos formar, estão nos transformando. A educação
muda nossas vidas. E, espero poder passar um pouco do que aprendi com cada um deles.
E por fim, agradeço a mim mesma. Não foi nada fácil, pensei por muitas vezes em desistir. Sofri e tive que
me reinventar inúmeras vezes para acompanhar todo esse processo. E proporcionalmente a toda
dificuldade, foi o meu processo de crescimento. De aprendizado, e evolução. Me sinto muito feliz em
chegar até aqui. A Barbara de 2019 com certeza está muito orgulhosa, é a realização de um sonho que
começou a 5 anos atrás.

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?Se você pode sonhar, você pode fazer.? ? Walt Disney

RESUMO

Tem-se como objetivo principal demonstrar que existem formas de abordagem mais benéficas para as
crianças e os adolescentes em acolhimento institucional do que os abrigos, mais conhecidos como
orfanatos. A razão é simples e cristalina: além da alta rotatividade de crianças e adolescentes nesses
locais, há também a rotatividade de funcionários, dificultando, assim, a criação de laços emocionais entre
as pessoas, e isso prejudica muito os jovens ao longo da vida. Além do benefício psicológico, é importante
demonstrar que através da Lei 12.010/09 inseriu o acolhimento familiar no Estatuto da Criança e do
Adolescente, permitindo legalmente que essa seja uma forma de acolhimento, e acima de tudo, que é
preferencial, em relação ao acolhimento institucional. Logo, se uma criança chega até o abrigo e tem
alguma família acolhedora que aceitaria acolher essa criança até ser adotada ou retornar para a família de
origem, esta irá para a casa da família ao invés de ficar no abrigo aguardando que a situação se resolva.
Será utilizado o método exploratório por pesquisa bibliográfica desenvolvida a partir do conteúdo
desenvolvido composto por livros, sites, artigos, teses, depoimentos pessoais, resumos e artigos
científicos.

Palavras-chave: Família acolhedora. Direito civil. Crianças. Estatuto da Criança e do Adolescente. Adoção.

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ABSTRACT

The main objective is to demonstrate that there are more beneficial approaches to children and
adolescents in institutional care than shelters, better known as orphanages. The reason is simple and
crystal clear: in addition to the high turnover of children and adolescents in these places, there is also a
turnover of employees, thus making it difficult to create emotional bonds between people, and this greatly
harms young people throughout their lives. In addition to the psychological benefit, it is important to
demonstrate that through Law 12.010/09, family foster care was included in the Child and Adolescent
Statute, legally allowing this to be a form of foster care, and above all, that it is preferential, in relation to
foster care. institutional. Therefore, if a child arrives at the shelter and there is a welcoming family that
would accept to welcome that child until they are adopted or return to their family of origin, they will go to
the family home instead of staying at the shelter waiting for the situation to be resolved. The exploratory
method will be used through bibliographical research developed from the content developed consisting of
books, websites, articles, theses, personal statements, summaries and scientific articles.

Keywords: Welcoming family. Civil right. Children. Child and Adolescent Statute. Adoption.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
A carência de conexões emocionais duradouras e a falta de estímulos apropriados resultam em prejuízos,
por vezes irreparáveis, para o progresso das crianças, afetando diversas áreas como o aspecto
psicológico, psicomotor, cognitivo e linguístico.
Particularmente durante a primeira infância, se uma criança não mantiver um vínculo sólido com um
cuidador principal ou se estiver envolvida em relações carentes de qualidade e estímulo, o
desenvolvimento do cérebro será grandemente prejudicado.
[1: RAYANE, Daniele Barbosa; SOUSA, Daniela Heitzmann Amaral Valentim de. PRIVAÇÃO AFETIVA E
SUAS CONSEQUÊNCIAS NA PRIMEIRA INFÂNCIA: UM ESTUDO DE CASO. Inter Scientia, vol. 6, Nº 2,
Ano 2018. Disponível em: https://periodicos.unipe.br/index.php/interscientia/article/download/721/601/.
Acesso em 03 de agosto de 2023.]
No Brasil, de acordo com informações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cerca de 5% das crianças e
adolescentes sob cuidado institucional estão sob os cuidados de Famílias Acolhedoras.
[2: BRASÍLIA. UNIDADES DE ACOLHIMENTO E FAMÍLIAS ACOLHEDORAS. Conselho Nacional de
Justiça, 2022. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2022/04/eixo4-primeira-infancia-
relatorio-final.pdf. Acesso em 03 de agosto de 2023.]
Os métodos predominantes na atualidade, como o acolhimento institucional (abrangendo abrigos e lares
de acolhimento), apesar da presença de profissionais habilidosos e infraestrutura para suprir necessidades

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básicas, frequentemente não conseguem estabelecer laços emocionais estáveis e duradouros que seriam
capazes de proporcionar ao acolhido os referenciais necessários para garantir um desenvolvimento pleno
em termos físicos, sociais e emocionais. Isso é em parte devido às características intrínsecas a esse
modelo, como a alta rotatividade de pessoas e a insuficiência de funcionários em relação ao número de
crianças, por exemplo.
Outra face a ser considerada no contexto do acolhimento institucional é a dificuldade em assegurar
plenamente o respeito pelas características individuais e necessidades específicas de cada acolhido, bem
como sua trajetória de vida. Isso resulta em questões relacionadas à construção de uma autoimagem
positiva, à preservação de sua saúde emocional e ao desenvolvimento abrangente. Além disso, o modelo
institucional de certa forma priva crianças e adolescentes da interação social e comunitária, prejudicando
sua futura adaptação à sociedade.
O Acolhimento Familiar, por sua vez, busca primordialmente o bem-estar da criança e do adolescente,
bem como o cumprimento das disposições legais vigentes.
Mas afinal, qual é o papel da família na vida de uma criança ou adolescente?
Conforme o artigo 227 da Constituição Federal:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.

O problema principal do presente trabalho gira em torno de demonstrar que o acolhimento institucional,
embora tenha raízes profundas, por ser utilizado há muitos anos, foi necessário olhar com outros olhos
para os jovens inseridos nesse modo de acolhimento para nova avaliação com o intuito de verificar se, de
fato, essa era a forma mais saudável de acolher crianças e jovens que já tiveram de sair de suas famílias
originárias.
Após tal estudo, foi possível verificar que a forma mais adequada, a fim de evitar danos psicológicos
maiores do que já não ter a sua família biológica presente, era o acolhimento familiar, para que pudessem
desenvolver de forma mais saudável.
Assim, inicialmente será abordado sobre a história da assistência familiar no Brasil, o que significa, como
se deu a formação familiar, como é a atual conjuntura e por qual motivo é tão importante que os jovens
tenham o apoio de suas famílias. Ainda no primeiro capítulo será falado sobre a Criação do Sistema Único
de Assistência Social (SUAS), e qual o papel dele perante a sociedade e, sobretudo, sobre os jovens.
Logo depois, no capítulo seguinte, será versado sobre quais são os direitos das pessoas menores de
idade, como são resguardados os seus direitos, se são, de fato, respeitados, e qual o papel do Estatuto da
Criança e do Adolescente diante dessa situação, principalmente face à problemática principal, que é o
acolhimento familiar, seja da família biológica ou da família que o acolhe apenas por um período, como
dito acima, além de falar sobre o direito à assistência social também.
Posteriormente, no terceiro capítulo, será exposto sobre os serviços de acolhimento existentes com o
objetivo de acolher os jovens: crianças e adolescentes. Aqui será falado também sobre o instituto da
família acolhedora, e quais são os incentivos criados para tornar-se uma delas.
No quarto capítulo e último capítulo, finalmente é dito sobre como a família acolhedora é benéfica para
aqueles que são acolhidos, sobre como o vínculo afetivo pode mudar a vida desses jovens, sobre as

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formas de adoção de crianças acolhidas nesses lares se dão e por fim, depoimentos de famílias
acolhedoras. Aqui, pode ser citado um exemplo: é um requisito não estar inscrito na fila de adoção para
ser uma família acolhedora, pois se assim fosse este processo, seria basicamente como ?furar fila? para
adotar uma criança mais rapidamente sem passar por todos os esquemas burocráticos.
Após, será apresentada a conclusão de todo o tema exposto ao longo do trabalho, e por fim, as
referências bibliográficas.

HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA FAMILIAR NO BRASIL


No Brasil, a prática de institucionalizar crianças e adolescentes remonta aos tempos da colonização. Sob a
influência do modelo europeu, a Igreja Católica assumiu a responsabilidade de cuidar de bebês e crianças
órfãos ou abandonados. No século XVIII, recém-nascidos eram frequentemente deixados de maneira
anônima nas chamadas rodas dos expostos ? mecanismos giratórios instalados nas paredes das Santas
Casas de Misericórdia. Essas crianças tinham pouca ou nenhuma interação com a comunidade, eram
completamente afastadas de suas famílias de origem e raramente retornavam ao convívio familiar.
No final do século XIX, surgiram educandários, reformatórios, internatos e orfanatos que atendiam a um
grande número de crianças e adolescentes, separados por sexo e faixa etária. Todas as atividades
ocorriam nas instalações dessas instituições, e os acolhidos tinham limitada interação com a comunidade
em termos de educação, saúde, lazer e profissionalização. A principal missão dessas instituições era
corrigir e controlar filhos de adultos pobres considerados incapazes de prover sua educação.
No século XX, enquanto ocorriam mudanças significativas no cenário internacional, como a Declaração de
Genebra sobre os Direitos da Criança adotada pela Liga das Nações Unidas em 1924 e a Declaração
Universal dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas em 1959, o Brasil aprovava o seu
primeiro Código de Menores em 1927, que permaneceu em vigor até a sanção de um segundo Código em
1979, com a Lei nº 6.697.
Pela primeira vez, o termo ?menor em situação irregular? foi introduzido na legislação para abordar
menores de 18 anos que estavam abandonados materialmente, sendo vítimas de maus-tratos, em risco
moral, desassistidos juridicamente, com desvios de conduta ou autores de infrações penais. No entanto, o
principal problema do código era a falta de distinção entre menores infratores e aqueles que eram vítimas
da pobreza, abandono e maus-tratos.
O grande marco ocorreu em 1988 com a aprovação da Constituição da República Federativa do Brasil,
que reconheceu as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, sem qualquer forma de distinção. A
Doutrina da Proteção Integral foi incorporada ao artigo 227 da Constituição, que estabelece:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com


absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Nos anos 1990, houve a introdução de novas legislações que priorizaram a infância no Brasil, incluindo a
Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O ECA
trouxe inovações ao estabelecer a prioridade absoluta no orçamento público para a implementação de

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políticas voltadas para crianças e adolescentes. Embora a porcentagem do orçamento destinada a essa
finalidade tenha sido ampliada ao longo dos anos, as disposições do ECA, que apresentaram um novo
formato para a política de atendimento à infância e juventude, ainda não estão plenamente implementadas
até os dias atuais.
A partir de 1999, começou a ser desenvolvido um abrangente Sistema de Garantia de Direitos da Criança
e do Adolescente, visando efetivar a proteção em todas as dimensões. Nesse contexto, iniciativas de
acolhimento em famílias acolhedoras começaram a surgir, ganhando força principalmente a partir da
metade dos anos 2000.
Em 2001, uma caravana da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados realizou visitas a
serviços de acolhimento institucional em oito estados e no Distrito Federal. Essas visitas tinham o
propósito de avaliar a difícil realidade enfrentada nos espaços de acolhimento, evidenciando o flagrante
desrespeito ao direito à convivência familiar e comunitária, bem como aos princípios estabelecidos no ECA
.
No ano subsequente, o Colóquio Técnico sobre a Rede Nacional de Abrigos, que reuniu representantes do
poder público, da sociedade civil e do UNICEF, estimulou a realização de uma pesquisa nacional sobre
crianças e adolescentes em serviços de acolhimento. Com recursos do Conselho Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente (Conanda), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) conduziu uma
análise abrangendo 589 abrigos, nos quais mais de 19 mil crianças e adolescentes eram atendidos.
[3: IPEA. MISÉRIA E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA COMPROMETEM A CONVIVÊNCIA FAMILIAR. Ipea.
Disponível em: https://www.ipea.gov.br/acaosocial/article283f.html?id_article=88. Acesso em 02 de
outubro de 2023.]
Essa pesquisa marcou um ponto de inflexão. Os resultados evidenciaram que a maioria das crianças e
adolescentes, mesmo tendo família (portanto, não sendo órfãos ou abandonados), permanecia em
acolhimento institucional por longos períodos. Além disso, os principais motivos para o acolhimento
estavam relacionados à pobreza, o que representava uma séria violação de direitos. Conforme a
Constituição Federal de 1988 (artigos 226 e 227) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
nenhuma criança deveria ser afastada de sua família devido à pobreza.
Em 2005, durante o II Colóquio Internacional de Acolhimento Familiar realizado em Campinas (SP), surgiu
o Grupo de Trabalho Nacional Pró-Convivência Familiar e Comunitária, uma iniciativa conjunta da
Associação Brasileira Terra dos Homens (ABTH) e do UNICEF, em parceria com o então Ministério de
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e a então Secretaria Especial dos Direitos Humanos
(SEDH). O GT foi estabelecido com o propósito de aprofundar as discussões relacionadas ao direito à
convivência familiar e comunitária, bem como de disseminar experiências inovadoras e diferentes
modalidades de acolhimento, como o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (SFA).
A partir de reuniões promovidas pelo GT em diversas regiões do país, emergiu um movimento nacional
que viabilizou um amplo intercâmbio entre especialistas brasileiros, visando promover e engajar atores
locais. Esse movimento culminou no lançamento do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do
Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária em 2006.
Em 2009, uma conquista significativa ocorreu: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi alterado
para incluir, pela primeira vez, o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora como uma instituição
jurídica. Posteriormente, o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) e a Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) conduziram o Levantamento Nacional de Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento.
Esse estudo identificou a existência de 144 Serviços em Família Acolhedora, com 932 crianças e
adolescentes acolhidos, representando somente 2,5% do total de 36.929 crianças e adolescentes

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acolhidos em 2.624 unidades de acolhimento institucional.


A partir de 2012, essas informações passaram a ser monitoradas anualmente, utilizando o Censo SUAS
(Sistema Único de Assistência Social). O dado mais recente disponível, referente a 2019, indicou a
existência de 381 SFAs, abrigando 1.535 crianças e adolescentes (correspondendo a 4,9% do total de
crianças e adolescentes acolhidos, sendo que 29.998 deles estavam em 2.801 serviços de acolhimento
institucional).

CRIAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SUAS)


A Constituição Federal de 1988, conforme destacado anteriormente, ofereceu oportunidades para o
avanço das políticas sociais no Brasil, incorporando algumas demandas da classe trabalhadora e
estabelecendo a assistência social como uma política pública de responsabilidade do Estado.
Ao longo dos anos, a assistência social no Brasil tem buscado superar um modelo arcaico de assistência
social que perpetua a subordinação e a dependência dos usuários dos serviços sociais em relação às
ações do Estado e de entidades filantrópicas. Em vez disso, ela visa estabelecer uma nova prática
baseada na consolidação de direitos. Nesse contexto, a criação do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS) representa um passo significativo nessa direção.
O SUAS foi aprovado em julho de 2005 pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) por meio da
Norma Operacional Básica nº 130 (NOB nº 130). Essa conquista decorreu dos esforços e da luta da
sociedade civil organizada, bem como de profissionais e estudiosos da política de assistência social. A IV
Conferência de Assistência Social, realizada em Brasília/DF, desempenhou um papel fundamental na
formulação do SUAS, marcando um importante marco em sua construção e legitimação no contexto da
assistência social.
A fim de progredir nesse sentido, a sociedade brasileira requer um sistema que vá além de interesses
específicos, capacitando a assistência social a se consolidar como uma política pública. Esse sistema
deve traduzir os princípios da Lei Orgânica em ações concretas e coesas, rompendo com as práticas
tradicionais fragmentadas e descontínuas que têm caracterizado a assistência social no país.
O SUAS, alinhado com as diretrizes e princípios da PNAS, apresenta-se com a missão central de romper
significativamente com a história de serviços sócioassistenciais precários e focalizados, particularmente no
que diz respeito aos recursos humanos e materiais. Este sistema propõe uma nova abordagem para o
campo da assistência social no Brasil, reformulando fundamentalmente as suas práticas e
responsabilidades.
[4: PAIVA, B. A. O SUAS E OS DIREITOS SOCIOASSISTENCIAIS; A UNIVERSALIDADE DA
SEGURIDADE SOCIAL EM DEBATE. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, ano XXVI, Especial, nº 87,
2009.]
Seu objetivo primordial é coordenar a política de assistência social por meio da colaboração entre os três
níveis de governo: municípios, estados e União. Este modelo de gestão é descentralizado e participativo,
atribuindo a cada nível de governo a responsabilidade pela implementação da Política de Assistência
Social em suas áreas de atuação.
O SUAS promove uma reformulação institucional na assistência social, com a descentralização dos
serviços para o âmbito municipal, priorizando a realidade local, a territorialidade e as especificidades de
cada região.
A descentralização política e administrativa, bem como a participação, são princípios de organização da
assistência social definidos pela LOAS e pela Constituição Federal de 1988. Esses princípios foram

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incorporados pela PNAS e transmitidos ao SUAS como elementos estruturais. Eles valorizam o poder local
e a participação popular como fundamentos da prática democrática, recuperando um modelo democrático
após décadas de autoritarismo.
A descentralização se reflete em avanços a nível municipal, como a criação de secretarias dedicadas à
assistência social na maioria dos municípios do país, totalizando mais de 4.500 em todos os estados
brasileiros e no Distrito Federal. Esse número demonstra a significativa capacidade de estabelecimento e
assimilação progressiva de conceitos, procedimentos técnicos e operacionais uniformes e coordenados
para a prestação de serviços sociais, financiamento e gestão da política de assistência social. Antes
subordinadas a outras secretarias ou mesmo aos gabinetes dos governantes, a presença de uma
secretaria autônoma confere um novo status à política de assistência social, permitindo-lhe maior
autonomia em relação a outras áreas do governo.
[5: BRASIL. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO E COMBATE À FOME. DESAFIOS DA GESTÃO DO
SUAS NOS MUNICÍPIOS E ESTADOS. Instituto de Estudos Especiais da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. Capacita Suas v.2. Brasília: MDS, 2008.]
A descentralização traz consigo a ênfase na participação. A criação de canais de participação e controle
social é um processo em desenvolvimento na PNAS e, consequentemente, no SUAS. Esse processo visa
a estabelecer uma ?intermediação dos interesses organizados e da luta pela efetivação dos direitos
sociais?, com o objetivo de fomentar a participação efetiva da sociedade na formulação e no
acompanhamento das políticas sociais. Atualmente, as Conferências de Assistência Social e os Conselhos
de Assistência têm sido os espaços que mais oportunizam à sociedade civil organizada uma voz ativa.
[6: COUTO, B. R; et. al. (Coord.). O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL: UMA
REALIDADE EM MOVIMENTO. São Paulo: Cortez, 2010. p. 119.]
A participação social é considerada um dos elementos mais relevantes da estrutura do SUAS. A criação
de mecanismos de controle social reflete uma nova perspectiva e amadurecimento na relação entre o
Estado e a sociedade, na qual o Estado reconhece a importância do controle exercido pela sociedade
sobre suas ações, algo impensável nos anos de ditadura no país. No entanto, é essencial que essa
participação seja qualificada e adquira novo significado, especialmente nas unidades responsáveis pela
operacionalização dos serviços sociais, com a presença efetiva dos usuários da política.
Além dessas duas diretrizes, o SUAS é fundamentado na centralidade da família, assim como a PNAS, no
que diz respeito à concepção e implementação dos benefícios, programas e serviços de assistência social
. A abordagem centrada na família desloca o foco do indivíduo isolado para o núcleo familiar, ou seja,
passa a priorizar o atendimento à família em suas diversas configurações, a fim de fortalecer a capacidade
de enfrentamento das necessidades sociais.
[7: SANTOS, A. C. A; et al. E A FAMÍLIA, COMO VAI? UM OLHAR SOBRE OS PROGRAMAS DE
TRANSFERÊNCIA DE RENDA NO BRASIL SOB A ÓTICA DA FAMÍLIA. In: Estudos de Política e Teoria
Social. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Praia Vermelha, nº 18, 2008. p. 30-45.]

OS DIREITOS DE INDIVÍDUOS MENORES DE IDADE: A CRIAÇÃO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE
A Lei Federal nº 8.069/1990, amplamente reconhecida como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA
), representa o marco legal e regulatório dos direitos humanos de crianças e adolescentes no Brasil.

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Promulgada em 13 de julho de 1990, essa lei resultou de um extenso processo de debate democrático
liderado por movimentos sociais, organizações, coalizões e diversos membros da sociedade civil, bem
como instituições que buscavam conscientizar e garantir o respeito aos direitos de crianças e adolescentes
como sujeitos detentores de direitos.
O ECA trouxe uma mudança de paradigma significativa, pois foi a primeira legislação na América Latina a
adotar a doutrina da proteção integral. Ela se inspirou na Declaração Universal dos Direitos da Criança de
1979 e na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, que foram aprovadas pela Organização
das Nações Unidas (ONU) em 1989.
Como João Batista Costa Saraiva destacou, o Estatuto desfez a ideia de ?menor como objeto do processo
? e introduziu uma transformação paradigmática, reconhecendo a criança e o adolescente como sujeitos
de direitos, participantes ativos, e cidadãos em pleno direito.
[8: SARAIVA, João Batista Costa. ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI: DA INDIFERENÇA À
PROTEÇÃO INTEGRAL: UMA ABORDAGEM SOBRE A RESPONSABILIDADE PENAL JUVENIL. Porto
Alegre, Livro do Advogado, 2013. p. 37.]
A Lei 8.069/1990 estabelece a doutrina da proteção integral como princípio fundamental e determina que é
responsabilidade da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público garantir, com
prioridade absoluta, a efetivação dos direitos desses jovens em áreas como vida, saúde, alimentação,
educação, esporte, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e
comunitária.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabeleceu a proteção integral por meio dos seus 267
artigos, apresentando uma carta abrangente de direitos fundamentais para a infância e a juventude.
Segundo o documento, uma criança é considerada como aquela que tem até 12 anos de idade
incompletos, enquanto um adolescente é definido como alguém com idade entre 12 e 18 anos.
Entre as contribuições significativas do ECA, além de reconhecer crianças e adolescentes como
detentores de direitos, destacam-se a criação do Conselho Tutelar, responsável por defender e proteger
os direitos desses jovens, bem como os Conselhos de Direitos da Criança em níveis nacional, estadual e
municipal. Estes conselhos têm o papel de formular políticas para crianças e adolescentes em suas
respectivas esferas de atuação.
Ao longo das últimas três décadas, diversas melhorias foram incorporadas ao ECA, incluindo a Lei do
Sistema Nacional Socioeducativo (Sinase), que regula a execução de medidas socioeducativas, a Lei da
Primeira Infância, que exige a implementação de políticas específicas para os primeiros anos de vida, e a
Lei da Adoção, que detalha os procedimentos relacionados à adoção. É importante ressaltar que a partir
dos 12 anos, os adolescentes que cometem atos infracionais são responsabilizados, mas com garantias
de devido processo legal, contraditório e ampla defesa.
Apesar desses avanços, desafios persistem. É fundamental continuar trabalhando na implementação
integral do ECA e leis relacionadas, com a criação de políticas públicas que assegurem efetivamente
direitos fundamentais, como educação de qualidade, assistência médica, moradia, alimentação,
convivência familiar e comunitária, cultura, esporte, lazer, entre outros.
O Estatuto da Criança e do Adolescente continua sendo reconhecido como um dos mais avançados do
mundo, destacando-se por sua abordagem centrada na proteção integral. Essa importância reside no
reconhecimento de que crianças e adolescentes são sujeitos de direito, atravessando um período crucial
de desenvolvimento físico, psicológico, moral e social, merecendo, com prioridade absoluta, uma proteção
completa.

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A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E À ASSISTÊNCIA


SOCIAL
A prática da adoção de crianças e adolescentes, conforme estabelecida no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), é considerada uma medida de proteção que tem como principal objetivo garantir o
direito das crianças e adolescentes à convivência em um ambiente familiar e comunitário que proporcione
um crescimento saudável, fornecendo condições adequadas para o desenvolvimento físico, cognitivo e
social. A família é, portanto, o primeiro contexto no qual a criança se desenvolve como membro da
sociedade, desempenhando um papel fundamental na mediação entre os indivíduos e as normas, regras e
valores da sociedade. Ela é responsável pela garantia e efetivação dos direitos das crianças e
adolescentes a vida, proteção e desenvolvimento de habilidades humanas, proporcionando as condições
materiais e humanas necessárias para o seu crescimento.
No entanto, Bruschini destaca a importância de questionar a noção de família como algo natural, uma vez
que essa categoria é uma construção humana mutável, cultural e historicamente influenciada. De acordo
com Simões, a família não deve mais ser restrita a modelos preestabelecidos, mas sim definida como
qualquer ambiente onde o indivíduo se sinta acolhido, desenvolvendo laços de afeto e confiança. Portanto
, a definição de família deve basear-se na existência de vínculos afetivos, não limitando-se apenas aos
laços de consanguinidade.
[9: BRUSCHINI, Cristina. TEORIA CRÍTICA DA FAMÍLIA. In: AZEVEDO, Maria Amélia; GUERRA, Viviane
Nogueira de Azevedo (Org.). Infância e violência doméstica: fronteiras do conhecimento. 3. ed. São Paulo
: Cortez: 2000.][10: SIMÕES, Carlos. CURSO DE DIREITO DE SERVIÇO SOCIAL. São Paulo: Cortez,
2008.]
Nessa perspectiva, de acordo com a legislação brasileira, é importante enfatizar que as relações
estabelecidas no âmbito familiar são mais importantes do que as configurações familiares em si. Isso
ocorre porque as funções de proteção e socialização podem ser desempenhadas em uma variedade de
arranjos familiares e contextos socioculturais. Dessa forma, a propensão é rejeitar qualquer noção
preconcebida de um modelo familiar ?normal?.
[11: BRASIL. PLANO NACIONAL DE PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E DEFESA DO DIREITO DE
CRIANÇAS E ADOLESCENTES À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA. 2006. p. 29.]
Conforme a visão de Paiva:
[12: PAIVA, Leila Dutra. ADOÇÃO: SIGNIFICADOS E POSSIBILIDADES. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2004. pp. 65-66.]

[...] a dificuldade, ainda hoje, parece ser o reconhecimento de que a família, em si mesma, é uma criação
cultural que pode ou não estar fundada em laços biológicos. A adoção tem representado, há muito tempo,
a possibilidade de formar uma família assentada não na biologia, mas na cultura.

É importante ressaltar que a família, como um grupo social, é um espaço onde as contradições sociais se
manifestam e, portanto, também é suscetível a expressões da questão social. No Brasil, um grande
número de famílias encontra-se em situação de pobreza e miséria. Essas condições dificultam ou
impedem que elas desempenhem suas funções de proteção e cuidado em relação aos seus filhos,
resultando na negação de seu espaço de humanização.

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Essa desumanização do espaço familiar é afetada por várias questões, principalmente o desemprego e a
falta de acesso à riqueza materialmente produzida. Conforme destacado por Kaloustian, essa situação de
desumanização do espaço familiar está diretamente ligada à situação de pobreza e ao perfil de
distribuição de renda no país.
[13: KALOUSTIAN, Sílvio Manoug (Org.). FAMÍLIA BRASILEIRA: A BASE DE TUDO. 7. ed. São Paulo:
Cortez; Brasília: Unicef, 2005. p. 12.]
Consequentemente, na sociedade atual, observa-se que milhares de famílias não têm as condições
necessárias para cumprir suas funções legalmente e socialmente atribuídas. Esse contexto sociofamiliar
frequentemente resulta em situações de negligência, abandono e institucionalização de crianças e
adolescentes. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, em um levantamento nacional
dos abrigos da Rede de Serviços de Ação Continuada (Rede SAC), cerca de 20 mil crianças vivem nos
589 abrigos pesquisados em todo o Brasil, privadas de seus direitos fundamentais à convivência familiar.
[14: IPEA ? Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E
COMUNITÁRIA: OS ABRIGOS PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL. Brasília, 2004.]
Diante desse cenário, a discussão sobre a família tem se intensificado, uma vez que ela é reconhecida
como uma instituição central na sociedade. A família desempenha funções cruciais no cuidado e proteção
de seus membros, mas enfrenta dificuldades em cumprir plenamente essas funções, o que tem levado a
um reconhecimento especial por parte do Estado e da sociedade.
Nesse contexto, a família é considerada a célula base da sociedade brasileira, conforme estipula a
Constituição Federal de 1988, eu seu artigo 226: ?A família, base da sociedade, tem especial proteção do
Estado?.
A família é entendida como um local de convivência de indivíduos, unidos por laços consanguíneos,
afetivos ou de confiança. Segundo Simões, nesse espaço, desenvolve-se e mantém-se o sentimento de
pertencimento e identidade social, bem como a transmissão de valores e comportamentos pessoais.
[15: SIMÕES, Carlos. CURSO DE DIREITO DE SERVIÇO SOCIAL. São Paulo: Cortez, 2008. p. 190.]
No Brasil, esse reconhecimento é fundamentado na Constituição Federal de 1988, no Estatuto da Criança
e do Adolescente, na Política Nacional de Assistência Social, e no Plano Nacional de Promoção, Proteção
e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. No entanto, é
fundamental que essas garantias saiam do papel e sejam efetivamente implementadas na prática.
Para alcançar esse objetivo, é fundamental que o Estado e a sociedade protejam os grupos familiares em
diversas configurações que enfrentam condições de empobrecimento. Nesse contexto, o Estado deve
garantir o acesso aos direitos universais para as famílias, o que, por sua vez, resulta na proteção dos
direitos das crianças e dos adolescentes. Famílias que possuem acesso a esses direitos, juntamente com
outros, têm melhores condições para cumprir suas funções de cuidado, afeto e socialização, além de
superar possíveis situações de vulnerabilidade.
[16: JUNQUEIRA, Maíz Ramos; SERRES Jamille de Freitas. ADOÇÃO PELOS CAMINHOS LEGAIS:
RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA. Textos & Contextos (Porto Alegre), Porto Alegre, v. 9, n. 1, p. 182-192,
jan./jun. 2010.]
A contradição central na questão do abandono de crianças e adolescentes reside nesse ponto, sendo uma
dinâmica da questão social. As famílias que, devido às condições da realidade social, não conseguem
cumprir suas funções acabam negligenciando e abandonando seus filhos, tornando-se destinatárias das
políticas sociais compensatórias. Entretanto, essas políticas frequentemente se mostram insuficientes para
atender à grande demanda social e para atender eficazmente aqueles a quem se destinam. Diante
dessas condições objetivas, é importante examinar como o trabalho social tem evoluído no campo dos

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direitos das crianças e dos adolescentes à convivência familiar e comunitária, considerando seus limites e
possibilidades.
[17: SILVA, Simone Regina Medeiros. ABANDONO: UMA AGRESSÃO AOS DIREITOS DA CRIANÇA. In
: FREIRE, Fernando. Abandono e adoção: contribuições para uma cultura de adoção. São Paulo: Terre de
Hommes, 2001.]

OS SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO DESTINADOS À CRIANÇAS E ADOLESCENTES


Para abordar inteiramente este tema, é crucial abordar a história do acolhimento desde suas origens e
discutir as principais transformações influenciadas por fatores sociais, culturais e econômicos.
A prática de institucionalização de crianças e adolescentes de famílias de classes populares tem raízes
que remontam ao período inicial da colonização brasileira.
O programa de acolhimento familiar formalmente surgiu no Brasil na década de 1990. Ele trouxe consigo
reflexões alternativas em relação à institucionalização infantil, buscando meios para reintegrar a criança à
sua família e, sobretudo, promover a inclusão dessa família na sociedade.
Foi somente com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069 de 13 de julho de
1990, que crianças e adolescentes passaram a ser reconhecidos como sujeitos de direito, em uma
condição peculiar de desenvolvimento. Esses direitos fundamentais, conforme estabelecido pelo artigo 227
da Constituição Federal, englobam o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
protegendo-os contra todas as formas de negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão.
A partir do Estatuto da Criança e do Adolescente, o encaminhamento para os serviços de acolhimento
passou a ser concebido como uma medida protetiva, de caráter excepcional e temporário, que visa
primordialmente ao superior interesse da criança e do adolescente.
Antes da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, muitos internatos e orfanatos
desempenhavam o papel de cuidar das crianças, frequentemente tratando-as como se fossem
abandonadas. A perspectiva predominante não considerava os direitos das crianças e dos adolescentes.
No contexto brasileiro, a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990
são exemplos de marcos legais que estabelecem de forma explícita a importância da convivência familiar
e comunitária para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. O ECA é amplamente reconhecido
internacionalmente como um instrumento jurídico orientador para o atendimento digno de crianças e
adolescentes.
A convivência familiar sempre ocupou uma posição de destaque no Estatuto da Criança e do Adolescente
. O papel da família é considerado um elemento indispensável nos processos de proteção e
desenvolvimento, e o ECA estabeleceu que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos em uma
condição peculiar de desenvolvimento.
O artigo 15 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe:

A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em
processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na
Constituição e nas leis.

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Quando a separação do ambiente familiar de uma criança ou adolescente se torna necessária, é


apropriado que ela seja acolhida em outro ambiente familiar de forma temporária, ao mesmo tempo em
que se desenvolve um trabalho com sua família de origem. Nesse contexto, é fundamental realizar ações
que facilitem a reintegração da criança ao seu núcleo familiar.

AS FORMAS E MEDIDAS DE ACOLHIMENTO EXISTENTES


Os serviços de acolhimento têm a finalidade de receber crianças e adolescentes que estejam sujeitos a
medidas protetivas determinadas pelo poder judiciário, em decorrência de violações de seus direitos, como
abandono, negligência ou violência, ou quando a família não é capaz de fornecer o cuidado e proteção
necessários.
É importante destacar que o afastamento da criança ou adolescente de sua família deve ser uma medida
excepcional e só deve ser aplicada em situações de grave risco para sua integridade física e/ou
psicológica. O principal objetivo é garantir que esses jovens possam retornar com segurança ao convívio
familiar, priorizando a família de origem sempre que possível, e recorrendo à família substituta somente
em casos excepcionais, por meio de procedimentos legais, como adoção, guarda ou tutela.
O serviço de acolhimento deve focar na preservação e no fortalecimento das relações familiares e
comunitárias das crianças e adolescentes. O atendimento deve ser individualizado e oferecido a grupos
reduzidos, garantindo espaços privados para guardar objetos pessoais e registros relacionados à história
de vida e ao desenvolvimento de cada criança e adolescente.
Em 2004, uma pesquisa realizada pelo Ipea e pelo Conanda sobre a situação dos abrigos para crianças e
adolescentes revelou a persistência de violações de direitos, que se mantinham muito aquém do que era
preconizado pelo ECA, mesmo mais de uma década após sua promulgação. Essas constatações
enfatizaram a importância de redirecionar a discussão para a observância dos princípios que ressaltam a
natureza temporária e excepcional das medidas de acolhimento. Segundo esses princípios, a separação
de uma criança ou adolescente de sua família deve ser breve e apenas adotada quando estritamente
necessária para garantir o superior interesse da criança. Portanto, é fundamental preservar e fortalecer os
laços familiares e, quando não houver alternativas viáveis, promover a colocação do acolhido em um
processo de adoção.
[18: SILVA, E. R. A. (Org). O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA: OS ABRIGOS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL. Brasília: Ipea/Conanda, 2004.]
Esse contexto levou à elaboração do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de
Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC) em 2006, que contou com a
participação de representantes do governo e da sociedade civil. Aprovado por meio da Resolução
Conanda/CNAS nº 1/2006, o PNCFC é uma iniciativa de natureza transversal e intersetorial que envolve
não apenas os órgãos do Poder Executivo, mas também outros atores que fazem parte do Sistema de
Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente (SGD). Isso inclui instituições como o Judiciário e o
Ministério Público. As diretrizes estabelecidas pelo PNCFC demandaram uma revisão das práticas das
instituições que administravam os serviços de acolhimento, impulsionando uma reorganização desses
serviços sob a responsabilidade da política de assistência social, seja na forma institucional ou por meio
do acolhimento familiar.
No entanto, é importante ressaltar que a ampla cobertura populacional não garante que o serviço de
acolhimento seja amplamente disponível, especialmente nos municípios de menor porte. Na verdade, a
maioria dos 3.560 municípios que não ofereciam esse serviço em 2018 era composta em sua maioria por

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municípios de pequeno porte I (86,0%) e pequeno porte II (12,8%).


[19: LICIO, E. C; et. al. REORDENAMENTO DOS SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES E IMPLEMENTAÇÃO DE NOVAS MODALIDADES ? FAMÍLIA ACOLHEDORA E
REPÚBLICAS. Brasília: Ipea, 2021. No prelo.]
Em que pese às formas de acolhimento, há diferentes formas, quais sejam:
O acolhimento institucional para Crianças e Adolescentes pode ser disponibilizado em dois tipos de
unidades:
Abrigo: Este é um serviço de acolhimento provisório que pode abrigar até 20 crianças e adolescentes em
cada unidade. Deve ser projetado para se assemelhar a uma residência com uma localização na
comunidade, preferencialmente em áreas residenciais. O ambiente deve ser acolhedor e oferecer
condições institucionais que atendam a padrões de dignidade.

Casa-Lar: Este é um serviço de acolhimento provisório que é oferecido em unidades residenciais e tem
capacidade para acomodar no máximo 10 crianças e adolescentes por unidade. Nestas casas, pelo menos
uma pessoa ou um casal trabalha como educador/cuidador residente, prestando cuidados a um grupo de
crianças e adolescentes que foram afastados de seus ambientes familiares. Importante notar que a casa-
lar não é a residência do educador/cuidador, mas um local separado para abrigar as crianças e
adolescentes.
O acesso ao acolhimento institucional para Crianças e Adolescentes é estabelecido por decisão do Poder
Judiciário e por solicitação do Conselho Tutelar. A autoridade competente deve ser notificada, conforme
previsto no Artigo 93 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Art. 93. As entidades que mantenham programa de acolhimento institucional poderão, em caráter
excepcional e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação da autoridade
competente, fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da Infância e da
Juventude, sob pena de responsabilidade.
Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público e se
necessário com o apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas necessárias para promover a
imediata reintegração familiar da criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for isso possível
ou recomendável, para seu encaminhamento a programa de acolhimento familiar, institucional ou a família
substituta, observado o disposto no § 2 o do art. 101 desta Lei.

No que tange à acolhimento em república para jovens egressos de outros serviços de acolhimento, trata-
se de um serviço destinado principalmente a jovens que passaram anteriormente por serviços de
acolhimento para crianças e adolescentes. Ele oferece apoio e moradia a jovens com idades entre 18 e 21
anos. Cada unidade de acolhimento pode abrigar até 6 pessoas. O objetivo deste serviço é promover a
autonomia gradual dos residentes, incentivando a independência deles ao operar em um sistema que
permite que os moradores tomem decisões conjuntas sobre o funcionamento da unidade.
O acesso a esse serviço pode ser realizado por meio de encaminhamento do Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (CREAS), do Serviço de Abordagem Social e de outros serviços ou
políticas públicas relacionadas. Além disso, é possível acessá-lo por demanda espontânea, ou seja, os
próprios jovens ou suas famílias podem buscar esse serviço diretamente. Para obter mais informações e
orientações sobre como acessar o acolhimento em república, entre em contato com o CREAS ou o órgão
competente em sua região.

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No que cabe ao acolhimento em Família Acolhedora, este é um serviço que organiza o acolhimento de
crianças ou adolescentes em residências de famílias acolhedoras cadastradas. Para integrar esse serviço
, as famílias interessadas devem passar por um processo de seleção, capacitação e acompanhamento.
Esse serviço oferece atendimento em um ambiente familiar, garantindo uma abordagem individualizada e
oportunidades de convivência comunitária. Cada Família Acolhedora acolhe uma criança ou adolescente
por vez, a menos que se trate de um grupo de irmãos que possa ser acolhido conjuntamente.
Para obter informações detalhadas, recomenda-se entrar em contato com a Secretaria de Assistência
Social do município do interessado. Eles poderão orientar sobre os procedimentos e requisitos
necessários para o acesso a esses serviços.

O VÍNCULO AFETIVO CRIADO E A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA ACOLHEDORA COMO INSTRUMENTO


DE PROTEÇÃO
Muitas pessoas, ao se depararem com a ideia do acolhimento familiar, levantam a questão de se
estabelecer vínculos em uma situação transitória pode ser prejudicial para as crianças e/ou adolescentes
em acolhimento. O senso comum sugere que criar laços com alguém que não estará sempre presente
pode causar sofrimento, sendo potencialmente desvantajoso tanto para o adulto que cuida quanto para a
criança ou adolescente em acolhimento. No entanto, pesquisas em diversas áreas do desenvolvimento
humano vêm apresentando resultados que apontam exatamente o contrário.
O afeto desempenha um papel tão essencial no desenvolvimento humano quanto fatores como uma boa
alimentação, sono adequado e hidratação. A ausência de afeto, de contato físico e de interações com
figuras de referência é altamente prejudicial para o crescimento de crianças e adolescentes, e até mesmo
para o bem-estar dos adultos. Mesmo que o acolhimento seja uma medida temporária, é fundamental que
a criança ou adolescente seja inserido em um ambiente que lhes permita cultivar um senso de
pertencimento, segurança e confiança nos adultos ao seu redor.
A falta de atenção e carinho por parte dos cuidadores, a vivência em um ambiente institucional com alta
rotatividade de educadores ou a negligência de suas necessidades podem resultar em fenômenos como o
?desamparo aprendido? (quando a pessoa tolera estímulos e situações aversivas por não conseguir evitá-
los) e ?estresse tóxico?. Essas condições podem impactar o funcionamento cerebral e a forma como a
criança ou adolescente desenvolve suas habilidades interpessoais, inclusive na vida adulta.
Numerosos estudos científicos corroboram os benefícios de um desenvolvimento social, emocional e
cognitivo mais saudável para crianças e adolescentes que passam pelo acolhimento em famílias
acolhedoras, em comparação com o acolhimento institucional. Essas pesquisas reforçam a conclusão de
que laços afetivos, um ambiente seguro e estímulos são fundamentais na vida de crianças e adolescentes
, assim como a oportunidade de conviver em uma comunidade, que essa forma de atendimento oferece.
A pesquisa ?Órfãos da Romênia?, conduzida pelo Hospital de Crianças de Boston, vinculado à
Universidade de Harvard, evidencia que a ausência de vínculos afetivos duradouros e a falta de atenção
às necessidades individuais em instituições de acolhimento podem acarretar prejuízos significativos no
desenvolvimento integral de bebês. O estudo revela que, para cada ano que um bebê passa em uma
instituição, sem estabelecer vínculos afetivos estáveis e sem receber atenção adequada às suas
necessidades individuais, pode haver um atraso de até quatro meses em seu desenvolvimento global.
[20: VIDA, O começo da. O CASO DOS ÓRFÃOS DA ROMÊNIA. O começo da vida. Disponível em: https
://ocomecodavida.com.br/o-caso-dos-orfaos-da-romenia/. Acesso em 18 de outubro de 2023.]
Essa pesquisa concentrou-se em crianças abrigadas em instituições na Romênia após a Segunda Guerra

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Mundial, particularmente durante os primeiros anos de suas vidas, e identificou déficits cognitivos
consideráveis. Essa investigação, de caráter longitudinal, teve início em 2000 e incluiu acompanhamento
regular com a realização de eletroencefalogramas (EEGs) para mapear a atividade cerebral de crianças
que passaram por diferentes configurações de cuidado (institucionalização, acolhimento familiar e
convivência em famílias sem intervenção do Estado).
Embora tenha sido realizada em um contexto substancialmente distinto do que observa-se no Brasil
atualmente, esse estudo oferece subsídios relevantes para reflexões acerca da importância dos cuidados
individualizados na primeira infância, especialmente no contexto das medidas de proteção relacionadas ao
acolhimento.
A Teoria do Apego, proposta pelo renomado psicólogo e psiquiatra britânico John Bowlby, se desenvolveu
a partir de suas observações e reflexões sobre a separação precoce de bebês de suas figuras de cuidado
primárias. Essa teoria enfatiza a relevância de uma figura de apego estável para prover cuidados à criança
, principalmente nos primeiros três anos de vida. A continuidade e a estabilidade dessa relação (que pode
envolver pais, mães, familiares ou qualquer adulto capaz de fornecer apoio afetivo) exercem um impacto
significativo no desenvolvimento social e psicológico da criança, uma vez que esse período influencia de
maneira profunda suas futuras interações sociais.
Diante dessa perspectiva, o acolhimento em famílias acolhedoras se configura como um espaço
fundamental de cuidado, pois prioriza a qualidade e a consistência das relações estabelecidas com a
criança, alinhando-se com os princípios da Teoria do Apego e valorizando o impacto positivo de relações
afetivas duradouras em seu desenvolvimento.
A primeira infância, compreendida como o período que se estende desde a gestação até os seis anos de
idade, assume uma importância crucial para o desenvolvimento humano. Isso se deve ao fato de que é
nessa fase que se estabelece a base de conexões neuronais que irão sustentar as aquisições posteriores
nos âmbitos psicomotor, cognitivo e social. Em termos mais simples, é durante esse intervalo que se
delineia a arquitetura cerebral que influenciará o desenvolvimento da criança ao longo de sua vida.
Consequentemente, é fundamental proporcionar às crianças pequenas, além dos cuidados básicos, como
higiene e alimentação, interações físicas, afeto e atenção individualizada. Esses elementos contribuem
para a formação da individualidade da criança, a aquisição da linguagem e o estabelecimento das bases
de sua interação com a sociedade.
Contudo, é relevante ressaltar que o acolhimento em famílias acolhedoras não beneficia somente as
crianças na primeira infância. Pessoas de todas as faixas etárias colhem benefícios significativos de
relacionamentos estáveis, afetivos e orientados para o indivíduo, proporcionados por ambientes familiares
. Na adolescência, por exemplo, um ambiente seguro e estável favorece a navegação pelas
transformações e pelo processo de amadurecimento. Durante esse período, ocorre a consolidação da
identidade e o desenvolvimento da autonomia dos jovens, e um ambiente de acolhimento familiar pode
desempenhar um papel valioso nesse processo. Isso se torna particularmente relevante quando esses
jovens deixam o sistema de acolhimento ao atingir a maioridade, aos dezoito anos, e enfrentam novos
desafios na busca de sua independência.
Fornecer experiências de apego, mesmo que temporárias, não é apenas desejável, mas essencial para
um acolhimento eficaz. As crianças e adolescentes que necessitam de medidas protetivas encontram-se
em um estágio particularmente delicado de suas vidas. Nesse momento de turbulência, é fundamental que
o acolhimento proporcione um ambiente seguro, protetor, afetuoso e estável.
Através dessa relação afetiva, a criança ou adolescente poderá fortalecer-se. Ao ser introduzido em um
novo modelo de configuração familiar, que o recebe com carinho, respeito e cuidados personalizados, ele

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ou ela terá melhores condições para enfrentar e superar os traumas causados pelas violências sofridas
anteriormente.
Todo o trabalho desenvolvido pela equipe do serviço, incluindo a capacitação das famílias acolhedoras e o
acompanhamento das crianças e adolescentes, considera o acolhimento como uma medida de caráter
temporário. Portanto, crianças e adultos passarão por uma transição assistida pela equipe técnica. A saída
do acolhimento não deve ser vista como uma ruptura adicional, mas sim como um processo gradual,
respeitoso e que visa ao melhor interesse da criança e do adolescente.
É relevante observar que, no contexto do acolhimento institucional, as crianças e adolescentes também
estabelecem vínculos significativos com profissionais, educadores e outros acolhidos. Portanto, ao se
desligarem do serviço, eles também precisam enfrentar a despedida e passar por uma transição,
semelhante ao acolhimento em família acolhedora. A qualidade e segurança dos vínculos estabelecidos
influenciam diretamente a possibilidade de uma despedida tranquila e a transição para a próxima fase de
suas vidas.

FORMAS DE ADOÇÃO DE CRIANÇAS INCLUÍDAS EM FAMÍLIAS ACOLHEDORAS


Como discutido no capítulo anterior, referente à função da família acolhedora, essas famílias se oferecem
voluntariamente para receber, em seus lares, crianças e/ou adolescentes em situação de risco social,
quando se torna necessário, por decisão judicial, afastá-los de suas famílias de origem. Após o
afastamento do convívio familiar, esses jovens podem ser direcionados tanto para o acolhimento
institucional quanto para o acolhimento familiar, sendo preferível, de acordo com o artigo 34, §1 do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que sejam encaminhados ao acolhimento familiar, uma vez
que as famílias acolhedoras conseguem fornecer cuidados personalizados. Nas palavras do juiz da Vara
da Infância e Juventude de Campinas, Eduardo Bigolin, sobre a prioridade do acolhimento familiar:

As crianças que passam pela família acolhedora são bem avaliadas em exames psicológicos e sociais.
Têm maior interação, integração com a comunidade e gozam de maior liberdade, muito porque a família
cuidou do lado afetivo, moral e material que talvez não estivesse sendo provido pela família de origem. 43
[21: POMBO, Bárbara. AFASTADAS DA FAMÍLIA DE ORIGEM, CRIANÇAS SÃO ACOLHIDAS POR
MÃES E PAIS PROVISÓRIOS. Conselho Nacional de Justiça, 2014. Disponível em: https://www.cnj.jus.br
/afastadas-da-familia-de-origem-criancas-sao-acolhidas-por-maes-e-pais-provisorios/. Acesso em 23 de
outubro de 2023.]

Um dos critérios para que uma família seja elegível para participar do programa de família acolhedora é
que ela não esteja registrada no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) e não manifeste qualquer interesse
em adotar o acolhido. É necessário que a família assine uma declaração oficial confirmando seu
desinteresse pela adoção. Essa distinção é amplamente enfatizada, como evidenciado por trechos
retirados de materiais informativos de diversas instituições, com o objetivo de deixar claro que a família
acolhedora e a adoção são processos totalmente distintos.
O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que o acolhimento institucional não deve ser
prolongado por mais de 18 (dezoito) meses, a menos que haja uma comprovação da necessidade que
atenda ao superior interesse da criança ou adolescente (conforme o artigo 19, §2 do ECA). Essa medida é
considerada provisória e excepcional, destinada a servir como uma transição para reintegrar a criança ou
adolescente em sua família biológica ou, se isso não for possível, colocá-los em uma família substituta

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(conforme o artigo 101, §1 do ECA). Essa abordagem visa sempre ao melhor interesse da criança e do
adolescente.
No entanto, como mencionado anteriormente e também abordado no livro ?Adoção, Desafios da
Contemporaneidade?, as crianças e adolescentes muitas vezes permanecem nos serviços de acolhimento
por períodos muito mais longos do que o previsto. Isso ocorre devido a várias razões, como a falta de
possibilidade de retorno às famílias de origem ou de inserção em famílias substitutas. Como resultado, em
alguns casos, os vínculos afetivos se tornam muito fortes, a ponto de a criança ou adolescente considerar
a família acolhedora como seus pais, assim como a família acolhedora considera a criança ou adolescente
como seu filho. Esse forte vínculo pode despertar o desejo de adoção, mas a prática é impedida devido
ao termo de não adoção e, principalmente, devido à lei que não autoriza tal ato.
[22: LEVINZON, Gina Khafif; LISONDO, Alicia Dorado. ADOÇÃO: DESAFIOS DA
CONTEMPORANEIDADE. São Paulo: Blucher, 2015. pp. 203-204.]

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas análises apresentadas ao longo deste trabalho, conclui-se que o Programa de Acolhimento
Familiar desempenha um papel crucial no desenvolvimento de crianças em situação de vulnerabilidade,
proporcionando atendimento individualizado por parte das famílias acolhedoras. A legislação busca
priorizar o acolhimento familiar em detrimento do institucional, mas essa preferência nem sempre é
observada na prática.
Para aliviar a sobrecarga dos abrigos institucionais, é necessário que o Poder Público promova e incentive
os estados e municípios a implementarem políticas públicas de acolhimento familiar. Isso deve ser uma
medida de fácil instalação e acesso. Em relação à conscientização da população, é fundamental realizar
campanhas que abordem a realidade dos acolhimentos institucionais e da adoção, destacando os
benefícios do acolhimento familiar e suas diversas vantagens.
Quanto à possibilidade de a família acolhedora adotar, deve-se realizar uma análise de cada caso
concreto, garantindo a aplicação do melhor interesse da criança e do adolescente e o cumprimento da
prioridade absoluta estabelecida na Constituição Federal. No entanto, não é adequado justificar o
desvirtuamento do propósito do programa, uma vez que, na maioria dos casos, as famílias acolhedoras
não se inscrevem com a intenção de adotar, mas desenvolvem esse desejo devido aos laços afetivos que
se formam.
Além disso, é importante notar que o tempo de acolhimento costuma se prolongar, o que fortalece os laços
afetivos entre as crianças e os pais acolhedores. Esta pesquisa evidenciou que muitas vezes as próprias
crianças e adolescentes buscam nas famílias acolhedoras a figura materna e paterna que talvez não
tenham tido anteriormente. Portanto, diante da destituição da família de origem, seria justo permitir que a
família acolhedora convertesse sua guarda em adoção. Afinal, se a guarda foi concedida pelo tribunal, já
houve uma análise quanto à compatibilidade e à boa-fé dos pais acolhedores, preenchendo, portanto, os
requisitos da adoção.
Negar a possibilidade de adoção pela família acolhedora com base na falta de habilitação no Cadastro
Nacional de Adoção (CNA) é uma medida cruel, considerando que o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) viabiliza a adoção com base em vínculos afetivos, conforme previsto no artigo 50, §13, incisos II e
III. A jurisprudência já consolidou o entendimento de que a afetividade supera os vínculos consanguíneos

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e quaisquer outros laços, e esse mesmo entendimento deve ser aplicado no contexto do acolhimento
familiar.
Portanto, é imperativo que o artigo 34, parágrafo 3º, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) seja
modificado para incluir a possibilidade de inscrição no Programa Famílias Acolhedoras de pessoas que
façam parte ou não dos cadastros de adoção. Uma alternativa louvável seria a implementação, por parte
dos estados e municípios, de duas modalidades de acolhimento familiar, à semelhança do que foi
realizado em Belo Horizonte (MG) e regulamentado na Lei Municipal 10.871/2015.
Uma dessas modalidades seria destinada a crianças com perspectiva de reintegração familiar, na qual os
interessados não poderiam ter a intenção de adoção. A outra modalidade seria voltada para crianças para
as quais a reintegração à família de origem fosse improvável ou cujos pais biológicos já tivessem sido
destituídos do poder familiar. Nesta modalidade, pessoas interessadas na adoção seriam permitidas e,
idealmente, poderiam suportar a duração prolongada do acolhimento familiar. Isso seria especialmente
importante no caso de crianças mais velhas ou com alguma doença ou deficiência física, mental,
intelectual ou sensorial, uma vez que, como demonstrado, elas têm menos chances de serem adotadas
por aqueles cadastrados no Cadastro Nacional de Adoção (CNA).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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://ocomecodavida.com.br/o-caso-dos-orfaos-da-romenia/. Acesso em 18 de outubro de 2023.

Prof. Me. Gianfranco Faggin Mastro AndreáUNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP


Prof.UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP

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=================================================================================
Arquivo 1: TCC Barbara - Família acolhedora.docx (8247 termos)
Arquivo 2: https://www.sumarios.org/revista/interscientia (293 termos)
Termos comuns: 2
Similaridade: 0,02%
O texto abaixo é o conteúdo do documento TCC Barbara - Família acolhedora.docx (8247 termos)
Os termos em vermelho foram encontrados no documento
https://www.sumarios.org/revista/interscientia (293 termos)

=================================================================================
UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP
CURSO DE BACHARELADO
DIREITO

BARBARA EUNICE DE QUEIROZ ALMEIDA ? R.A. D984144

A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

SÃO PAULO
2023

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A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Paulista


? UNIP como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Me. Gianfranco Faggin Mastro Andreá

SÃO PAULO
2023

FICHA CATALOGRÁFICA

BARBARA EUNICE DE QUEIROZ ALMEIDA

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A IMPLEMENTAÇÃO E ATUAÇÃO DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ACOLHEDORA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Paulista


? UNIP como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

São Paulo, _______ de ______________________________ de 2023.

Prof.
UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP
DEDICATÓRIA

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus, que foi minha força durante todo esse processo. A minha
família que foi fundamental, e esteve ao meu lado em todos os momentos.
Ao meu orientador Gianfranco, por todo apoio e suporte. Aos meus professores que foram essenciais, e a
todos que contribuíram para a finalização desse ciclo.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, sem ele nada disso seria possível. Ao meu professor orientador
Gianfranco, que foi fundamental em todos os momentos desse período, em estar sempre solicito, pelas
orientações, pelas aulas incríveis e por reascender meu amor pelo direito civil.
Agradeço a minha família por estar sempre ao meu lado, me apoiando, dando forças e me incentivando a
me manter firme. Vocês foram fundamentais, vocês são a minha força e meu combustível para continuar.
Aos meus amigos, que estiveram sempre me incentivando, e fazendo com que esse processo se tornasse
mais leve. Aos meus colegas, que estiveram junto comigo, e entendem o significado da finalização desse
ciclo, que levo com muito carinho.
Aos meus professores, que além de contribuir para nos formar, estão nos transformando. A educação
muda nossas vidas. E, espero poder passar um pouco do que aprendi com cada um deles.
E por fim, agradeço a mim mesma. Não foi nada fácil, pensei por muitas vezes em desistir. Sofri e tive que
me reinventar inúmeras vezes para acompanhar todo esse processo. E proporcionalmente a toda
dificuldade, foi o meu processo de crescimento. De aprendizado, e evolução. Me sinto muito feliz em
chegar até aqui. A Barbara de 2019 com certeza está muito orgulhosa, é a realização de um sonho que
começou a 5 anos atrás.

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?Se você pode sonhar, você pode fazer.? ? Walt Disney

RESUMO

Tem-se como objetivo principal demonstrar que existem formas de abordagem mais benéficas para as
crianças e os adolescentes em acolhimento institucional do que os abrigos, mais conhecidos como
orfanatos. A razão é simples e cristalina: além da alta rotatividade de crianças e adolescentes nesses
locais, há também a rotatividade de funcionários, dificultando, assim, a criação de laços emocionais entre
as pessoas, e isso prejudica muito os jovens ao longo da vida. Além do benefício psicológico, é importante
demonstrar que através da Lei 12.010/09 inseriu o acolhimento familiar no Estatuto da Criança e do
Adolescente, permitindo legalmente que essa seja uma forma de acolhimento, e acima de tudo, que é
preferencial, em relação ao acolhimento institucional. Logo, se uma criança chega até o abrigo e tem
alguma família acolhedora que aceitaria acolher essa criança até ser adotada ou retornar para a família de
origem, esta irá para a casa da família ao invés de ficar no abrigo aguardando que a situação se resolva.
Será utilizado o método exploratório por pesquisa bibliográfica desenvolvida a partir do conteúdo
desenvolvido composto por livros, sites, artigos, teses, depoimentos pessoais, resumos e artigos
científicos.

Palavras-chave: Família acolhedora. Direito civil. Crianças. Estatuto da Criança e do Adolescente. Adoção.

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ABSTRACT

The main objective is to demonstrate that there are more beneficial approaches to children and
adolescents in institutional care than shelters, better known as orphanages. The reason is simple and
crystal clear: in addition to the high turnover of children and adolescents in these places, there is also a
turnover of employees, thus making it difficult to create emotional bonds between people, and this greatly
harms young people throughout their lives. In addition to the psychological benefit, it is important to
demonstrate that through Law 12.010/09, family foster care was included in the Child and Adolescent
Statute, legally allowing this to be a form of foster care, and above all, that it is preferential, in relation to
foster care. institutional. Therefore, if a child arrives at the shelter and there is a welcoming family that
would accept to welcome that child until they are adopted or return to their family of origin, they will go to
the family home instead of staying at the shelter waiting for the situation to be resolved. The exploratory
method will be used through bibliographical research developed from the content developed consisting of
books, websites, articles, theses, personal statements, summaries and scientific articles.

Keywords: Welcoming family. Civil right. Children. Child and Adolescent Statute. Adoption.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
A carência de conexões emocionais duradouras e a falta de estímulos apropriados resultam em prejuízos,
por vezes irreparáveis, para o progresso das crianças, afetando diversas áreas como o aspecto
psicológico, psicomotor, cognitivo e linguístico.
Particularmente durante a primeira infância, se uma criança não mantiver um vínculo sólido com um
cuidador principal ou se estiver envolvida em relações carentes de qualidade e estímulo, o
desenvolvimento do cérebro será grandemente prejudicado.
[1: RAYANE, Daniele Barbosa; SOUSA, Daniela Heitzmann Amaral Valentim de. PRIVAÇÃO AFETIVA E
SUAS CONSEQUÊNCIAS NA PRIMEIRA INFÂNCIA: UM ESTUDO DE CASO. Inter Scientia, vol. 6, Nº 2,
Ano 2018. Disponível em: https://periodicos.unipe.br/index.php/interscientia/article/download/721/601/.
Acesso em 03 de agosto de 2023.]
No Brasil, de acordo com informações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cerca de 5% das crianças e
adolescentes sob cuidado institucional estão sob os cuidados de Famílias Acolhedoras.
[2: BRASÍLIA. UNIDADES DE ACOLHIMENTO E FAMÍLIAS ACOLHEDORAS. Conselho Nacional de
Justiça, 2022. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2022/04/eixo4-primeira-infancia-
relatorio-final.pdf. Acesso em 03 de agosto de 2023.]
Os métodos predominantes na atualidade, como o acolhimento institucional (abrangendo abrigos e lares
de acolhimento), apesar da presença de profissionais habilidosos e infraestrutura para suprir necessidades

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básicas, frequentemente não conseguem estabelecer laços emocionais estáveis e duradouros que seriam
capazes de proporcionar ao acolhido os referenciais necessários para garantir um desenvolvimento pleno
em termos físicos, sociais e emocionais. Isso é em parte devido às características intrínsecas a esse
modelo, como a alta rotatividade de pessoas e a insuficiência de funcionários em relação ao número de
crianças, por exemplo.
Outra face a ser considerada no contexto do acolhimento institucional é a dificuldade em assegurar
plenamente o respeito pelas características individuais e necessidades específicas de cada acolhido, bem
como sua trajetória de vida. Isso resulta em questões relacionadas à construção de uma autoimagem
positiva, à preservação de sua saúde emocional e ao desenvolvimento abrangente. Além disso, o modelo
institucional de certa forma priva crianças e adolescentes da interação social e comunitária, prejudicando
sua futura adaptação à sociedade.
O Acolhimento Familiar, por sua vez, busca primordialmente o bem-estar da criança e do adolescente,
bem como o cumprimento das disposições legais vigentes.
Mas afinal, qual é o papel da família na vida de uma criança ou adolescente?
Conforme o artigo 227 da Constituição Federal:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.

O problema principal do presente trabalho gira em torno de demonstrar que o acolhimento institucional,
embora tenha raízes profundas, por ser utilizado há muitos anos, foi necessário olhar com outros olhos
para os jovens inseridos nesse modo de acolhimento para nova avaliação com o intuito de verificar se, de
fato, essa era a forma mais saudável de acolher crianças e jovens que já tiveram de sair de suas famílias
originárias.
Após tal estudo, foi possível verificar que a forma mais adequada, a fim de evitar danos psicológicos
maiores do que já não ter a sua família biológica presente, era o acolhimento familiar, para que pudessem
desenvolver de forma mais saudável.
Assim, inicialmente será abordado sobre a história da assistência familiar no Brasil, o que significa, como
se deu a formação familiar, como é a atual conjuntura e por qual motivo é tão importante que os jovens
tenham o apoio de suas famílias. Ainda no primeiro capítulo será falado sobre a Criação do Sistema Único
de Assistência Social (SUAS), e qual o papel dele perante a sociedade e, sobretudo, sobre os jovens.
Logo depois, no capítulo seguinte, será versado sobre quais são os direitos das pessoas menores de
idade, como são resguardados os seus direitos, se são, de fato, respeitados, e qual o papel do Estatuto da
Criança e do Adolescente diante dessa situação, principalmente face à problemática principal, que é o
acolhimento familiar, seja da família biológica ou da família que o acolhe apenas por um período, como
dito acima, além de falar sobre o direito à assistência social também.
Posteriormente, no terceiro capítulo, será exposto sobre os serviços de acolhimento existentes com o
objetivo de acolher os jovens: crianças e adolescentes. Aqui será falado também sobre o instituto da
família acolhedora, e quais são os incentivos criados para tornar-se uma delas.
No quarto capítulo e último capítulo, finalmente é dito sobre como a família acolhedora é benéfica para
aqueles que são acolhidos, sobre como o vínculo afetivo pode mudar a vida desses jovens, sobre as

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formas de adoção de crianças acolhidas nesses lares se dão e por fim, depoimentos de famílias
acolhedoras. Aqui, pode ser citado um exemplo: é um requisito não estar inscrito na fila de adoção para
ser uma família acolhedora, pois se assim fosse este processo, seria basicamente como ?furar fila? para
adotar uma criança mais rapidamente sem passar por todos os esquemas burocráticos.
Após, será apresentada a conclusão de todo o tema exposto ao longo do trabalho, e por fim, as
referências bibliográficas.

HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA FAMILIAR NO BRASIL


No Brasil, a prática de institucionalizar crianças e adolescentes remonta aos tempos da colonização. Sob a
influência do modelo europeu, a Igreja Católica assumiu a responsabilidade de cuidar de bebês e crianças
órfãos ou abandonados. No século XVIII, recém-nascidos eram frequentemente deixados de maneira
anônima nas chamadas rodas dos expostos ? mecanismos giratórios instalados nas paredes das Santas
Casas de Misericórdia. Essas crianças tinham pouca ou nenhuma interação com a comunidade, eram
completamente afastadas de suas famílias de origem e raramente retornavam ao convívio familiar.
No final do século XIX, surgiram educandários, reformatórios, internatos e orfanatos que atendiam a um
grande número de crianças e adolescentes, separados por sexo e faixa etária. Todas as atividades
ocorriam nas instalações dessas instituições, e os acolhidos tinham limitada interação com a comunidade
em termos de educação, saúde, lazer e profissionalização. A principal missão dessas instituições era
corrigir e controlar filhos de adultos pobres considerados incapazes de prover sua educação.
No século XX, enquanto ocorriam mudanças significativas no cenário internacional, como a Declaração de
Genebra sobre os Direitos da Criança adotada pela Liga das Nações Unidas em 1924 e a Declaração
Universal dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas em 1959, o Brasil aprovava o seu
primeiro Código de Menores em 1927, que permaneceu em vigor até a sanção de um segundo Código em
1979, com a Lei nº 6.697.
Pela primeira vez, o termo ?menor em situação irregular? foi introduzido na legislação para abordar
menores de 18 anos que estavam abandonados materialmente, sendo vítimas de maus-tratos, em risco
moral, desassistidos juridicamente, com desvios de conduta ou autores de infrações penais. No entanto, o
principal problema do código era a falta de distinção entre menores infratores e aqueles que eram vítimas
da pobreza, abandono e maus-tratos.
O grande marco ocorreu em 1988 com a aprovação da Constituição da República Federativa do Brasil,
que reconheceu as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, sem qualquer forma de distinção. A
Doutrina da Proteção Integral foi incorporada ao artigo 227 da Constituição, que estabelece:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com


absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Nos anos 1990, houve a introdução de novas legislações que priorizaram a infância no Brasil, incluindo a
Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O ECA
trouxe inovações ao estabelecer a prioridade absoluta no orçamento público para a implementação de

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políticas voltadas para crianças e adolescentes. Embora a porcentagem do orçamento destinada a essa
finalidade tenha sido ampliada ao longo dos anos, as disposições do ECA, que apresentaram um novo
formato para a política de atendimento à infância e juventude, ainda não estão plenamente implementadas
até os dias atuais.
A partir de 1999, começou a ser desenvolvido um abrangente Sistema de Garantia de Direitos da Criança
e do Adolescente, visando efetivar a proteção em todas as dimensões. Nesse contexto, iniciativas de
acolhimento em famílias acolhedoras começaram a surgir, ganhando força principalmente a partir da
metade dos anos 2000.
Em 2001, uma caravana da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados realizou visitas a
serviços de acolhimento institucional em oito estados e no Distrito Federal. Essas visitas tinham o
propósito de avaliar a difícil realidade enfrentada nos espaços de acolhimento, evidenciando o flagrante
desrespeito ao direito à convivência familiar e comunitária, bem como aos princípios estabelecidos no ECA
.
No ano subsequente, o Colóquio Técnico sobre a Rede Nacional de Abrigos, que reuniu representantes do
poder público, da sociedade civil e do UNICEF, estimulou a realização de uma pesquisa nacional sobre
crianças e adolescentes em serviços de acolhimento. Com recursos do Conselho Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente (Conanda), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) conduziu uma
análise abrangendo 589 abrigos, nos quais mais de 19 mil crianças e adolescentes eram atendidos.
[3: IPEA. MISÉRIA E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA COMPROMETEM A CONVIVÊNCIA FAMILIAR. Ipea.
Disponível em: https://www.ipea.gov.br/acaosocial/article283f.html?id_article=88. Acesso em 02 de
outubro de 2023.]
Essa pesquisa marcou um ponto de inflexão. Os resultados evidenciaram que a maioria das crianças e
adolescentes, mesmo tendo família (portanto, não sendo órfãos ou abandonados), permanecia em
acolhimento institucional por longos períodos. Além disso, os principais motivos para o acolhimento
estavam relacionados à pobreza, o que representava uma séria violação de direitos. Conforme a
Constituição Federal de 1988 (artigos 226 e 227) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
nenhuma criança deveria ser afastada de sua família devido à pobreza.
Em 2005, durante o II Colóquio Internacional de Acolhimento Familiar realizado em Campinas (SP), surgiu
o Grupo de Trabalho Nacional Pró-Convivência Familiar e Comunitária, uma iniciativa conjunta da
Associação Brasileira Terra dos Homens (ABTH) e do UNICEF, em parceria com o então Ministério de
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e a então Secretaria Especial dos Direitos Humanos
(SEDH). O GT foi estabelecido com o propósito de aprofundar as discussões relacionadas ao direito à
convivência familiar e comunitária, bem como de disseminar experiências inovadoras e diferentes
modalidades de acolhimento, como o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (SFA).
A partir de reuniões promovidas pelo GT em diversas regiões do país, emergiu um movimento nacional
que viabilizou um amplo intercâmbio entre especialistas brasileiros, visando promover e engajar atores
locais. Esse movimento culminou no lançamento do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do
Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária em 2006.
Em 2009, uma conquista significativa ocorreu: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi alterado
para incluir, pela primeira vez, o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora como uma instituição
jurídica. Posteriormente, o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) e a Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) conduziram o Levantamento Nacional de Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento.
Esse estudo identificou a existência de 144 Serviços em Família Acolhedora, com 932 crianças e
adolescentes acolhidos, representando somente 2,5% do total de 36.929 crianças e adolescentes

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acolhidos em 2.624 unidades de acolhimento institucional.


A partir de 2012, essas informações passaram a ser monitoradas anualmente, utilizando o Censo SUAS
(Sistema Único de Assistência Social). O dado mais recente disponível, referente a 2019, indicou a
existência de 381 SFAs, abrigando 1.535 crianças e adolescentes (correspondendo a 4,9% do total de
crianças e adolescentes acolhidos, sendo que 29.998 deles estavam em 2.801 serviços de acolhimento
institucional).

CRIAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SUAS)


A Constituição Federal de 1988, conforme destacado anteriormente, ofereceu oportunidades para o
avanço das políticas sociais no Brasil, incorporando algumas demandas da classe trabalhadora e
estabelecendo a assistência social como uma política pública de responsabilidade do Estado.
Ao longo dos anos, a assistência social no Brasil tem buscado superar um modelo arcaico de assistência
social que perpetua a subordinação e a dependência dos usuários dos serviços sociais em relação às
ações do Estado e de entidades filantrópicas. Em vez disso, ela visa estabelecer uma nova prática
baseada na consolidação de direitos. Nesse contexto, a criação do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS) representa um passo significativo nessa direção.
O SUAS foi aprovado em julho de 2005 pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) por meio da
Norma Operacional Básica nº 130 (NOB nº 130). Essa conquista decorreu dos esforços e da luta da
sociedade civil organizada, bem como de profissionais e estudiosos da política de assistência social. A IV
Conferência de Assistência Social, realizada em Brasília/DF, desempenhou um papel fundamental na
formulação do SUAS, marcando um importante marco em sua construção e legitimação no contexto da
assistência social.
A fim de progredir nesse sentido, a sociedade brasileira requer um sistema que vá além de interesses
específicos, capacitando a assistência social a se consolidar como uma política pública. Esse sistema
deve traduzir os princípios da Lei Orgânica em ações concretas e coesas, rompendo com as práticas
tradicionais fragmentadas e descontínuas que têm caracterizado a assistência social no país.
O SUAS, alinhado com as diretrizes e princípios da PNAS, apresenta-se com a missão central de romper
significativamente com a história de serviços sócioassistenciais precários e focalizados, particularmente no
que diz respeito aos recursos humanos e materiais. Este sistema propõe uma nova abordagem para o
campo da assistência social no Brasil, reformulando fundamentalmente as suas práticas e
responsabilidades.
[4: PAIVA, B. A. O SUAS E OS DIREITOS SOCIOASSISTENCIAIS; A UNIVERSALIDADE DA
SEGURIDADE SOCIAL EM DEBATE. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, ano XXVI, Especial, nº 87,
2009.]
Seu objetivo primordial é coordenar a política de assistência social por meio da colaboração entre os três
níveis de governo: municípios, estados e União. Este modelo de gestão é descentralizado e participativo,
atribuindo a cada nível de governo a responsabilidade pela implementação da Política de Assistência
Social em suas áreas de atuação.
O SUAS promove uma reformulação institucional na assistência social, com a descentralização dos
serviços para o âmbito municipal, priorizando a realidade local, a territorialidade e as especificidades de
cada região.
A descentralização política e administrativa, bem como a participação, são princípios de organização da
assistência social definidos pela LOAS e pela Constituição Federal de 1988. Esses princípios foram

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incorporados pela PNAS e transmitidos ao SUAS como elementos estruturais. Eles valorizam o poder local
e a participação popular como fundamentos da prática democrática, recuperando um modelo democrático
após décadas de autoritarismo.
A descentralização se reflete em avanços a nível municipal, como a criação de secretarias dedicadas à
assistência social na maioria dos municípios do país, totalizando mais de 4.500 em todos os estados
brasileiros e no Distrito Federal. Esse número demonstra a significativa capacidade de estabelecimento e
assimilação progressiva de conceitos, procedimentos técnicos e operacionais uniformes e coordenados
para a prestação de serviços sociais, financiamento e gestão da política de assistência social. Antes
subordinadas a outras secretarias ou mesmo aos gabinetes dos governantes, a presença de uma
secretaria autônoma confere um novo status à política de assistência social, permitindo-lhe maior
autonomia em relação a outras áreas do governo.
[5: BRASIL. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO E COMBATE À FOME. DESAFIOS DA GESTÃO DO
SUAS NOS MUNICÍPIOS E ESTADOS. Instituto de Estudos Especiais da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. Capacita Suas v.2. Brasília: MDS, 2008.]
A descentralização traz consigo a ênfase na participação. A criação de canais de participação e controle
social é um processo em desenvolvimento na PNAS e, consequentemente, no SUAS. Esse processo visa
a estabelecer uma ?intermediação dos interesses organizados e da luta pela efetivação dos direitos
sociais?, com o objetivo de fomentar a participação efetiva da sociedade na formulação e no
acompanhamento das políticas sociais. Atualmente, as Conferências de Assistência Social e os Conselhos
de Assistência têm sido os espaços que mais oportunizam à sociedade civil organizada uma voz ativa.
[6: COUTO, B. R; et. al. (Coord.). O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL: UMA
REALIDADE EM MOVIMENTO. São Paulo: Cortez, 2010. p. 119.]
A participação social é considerada um dos elementos mais relevantes da estrutura do SUAS. A criação
de mecanismos de controle social reflete uma nova perspectiva e amadurecimento na relação entre o
Estado e a sociedade, na qual o Estado reconhece a importância do controle exercido pela sociedade
sobre suas ações, algo impensável nos anos de ditadura no país. No entanto, é essencial que essa
participação seja qualificada e adquira novo significado, especialmente nas unidades responsáveis pela
operacionalização dos serviços sociais, com a presença efetiva dos usuários da política.
Além dessas duas diretrizes, o SUAS é fundamentado na centralidade da família, assim como a PNAS, no
que diz respeito à concepção e implementação dos benefícios, programas e serviços de assistência social
. A abordagem centrada na família desloca o foco do indivíduo isolado para o núcleo familiar, ou seja,
passa a priorizar o atendimento à família em suas diversas configurações, a fim de fortalecer a capacidade
de enfrentamento das necessidades sociais.
[7: SANTOS, A. C. A; et al. E A FAMÍLIA, COMO VAI? UM OLHAR SOBRE OS PROGRAMAS DE
TRANSFERÊNCIA DE RENDA NO BRASIL SOB A ÓTICA DA FAMÍLIA. In: Estudos de Política e Teoria
Social. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Praia Vermelha, nº 18, 2008. p. 30-45.]

OS DIREITOS DE INDIVÍDUOS MENORES DE IDADE: A CRIAÇÃO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE
A Lei Federal nº 8.069/1990, amplamente reconhecida como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA
), representa o marco legal e regulatório dos direitos humanos de crianças e adolescentes no Brasil.

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Promulgada em 13 de julho de 1990, essa lei resultou de um extenso processo de debate democrático
liderado por movimentos sociais, organizações, coalizões e diversos membros da sociedade civil, bem
como instituições que buscavam conscientizar e garantir o respeito aos direitos de crianças e adolescentes
como sujeitos detentores de direitos.
O ECA trouxe uma mudança de paradigma significativa, pois foi a primeira legislação na América Latina a
adotar a doutrina da proteção integral. Ela se inspirou na Declaração Universal dos Direitos da Criança de
1979 e na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, que foram aprovadas pela Organização
das Nações Unidas (ONU) em 1989.
Como João Batista Costa Saraiva destacou, o Estatuto desfez a ideia de ?menor como objeto do processo
? e introduziu uma transformação paradigmática, reconhecendo a criança e o adolescente como sujeitos
de direitos, participantes ativos, e cidadãos em pleno direito.
[8: SARAIVA, João Batista Costa. ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI: DA INDIFERENÇA À
PROTEÇÃO INTEGRAL: UMA ABORDAGEM SOBRE A RESPONSABILIDADE PENAL JUVENIL. Porto
Alegre, Livro do Advogado, 2013. p. 37.]
A Lei 8.069/1990 estabelece a doutrina da proteção integral como princípio fundamental e determina que é
responsabilidade da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público garantir, com
prioridade absoluta, a efetivação dos direitos desses jovens em áreas como vida, saúde, alimentação,
educação, esporte, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e
comunitária.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabeleceu a proteção integral por meio dos seus 267
artigos, apresentando uma carta abrangente de direitos fundamentais para a infância e a juventude.
Segundo o documento, uma criança é considerada como aquela que tem até 12 anos de idade
incompletos, enquanto um adolescente é definido como alguém com idade entre 12 e 18 anos.
Entre as contribuições significativas do ECA, além de reconhecer crianças e adolescentes como
detentores de direitos, destacam-se a criação do Conselho Tutelar, responsável por defender e proteger
os direitos desses jovens, bem como os Conselhos de Direitos da Criança em níveis nacional, estadual e
municipal. Estes conselhos têm o papel de formular políticas para crianças e adolescentes em suas
respectivas esferas de atuação.
Ao longo das últimas três décadas, diversas melhorias foram incorporadas ao ECA, incluindo a Lei do
Sistema Nacional Socioeducativo (Sinase), que regula a execução de medidas socioeducativas, a Lei da
Primeira Infância, que exige a implementação de políticas específicas para os primeiros anos de vida, e a
Lei da Adoção, que detalha os procedimentos relacionados à adoção. É importante ressaltar que a partir
dos 12 anos, os adolescentes que cometem atos infracionais são responsabilizados, mas com garantias
de devido processo legal, contraditório e ampla defesa.
Apesar desses avanços, desafios persistem. É fundamental continuar trabalhando na implementação
integral do ECA e leis relacionadas, com a criação de políticas públicas que assegurem efetivamente
direitos fundamentais, como educação de qualidade, assistência médica, moradia, alimentação,
convivência familiar e comunitária, cultura, esporte, lazer, entre outros.
O Estatuto da Criança e do Adolescente continua sendo reconhecido como um dos mais avançados do
mundo, destacando-se por sua abordagem centrada na proteção integral. Essa importância reside no
reconhecimento de que crianças e adolescentes são sujeitos de direito, atravessando um período crucial
de desenvolvimento físico, psicológico, moral e social, merecendo, com prioridade absoluta, uma proteção
completa.

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A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E À ASSISTÊNCIA


SOCIAL
A prática da adoção de crianças e adolescentes, conforme estabelecida no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), é considerada uma medida de proteção que tem como principal objetivo garantir o
direito das crianças e adolescentes à convivência em um ambiente familiar e comunitário que proporcione
um crescimento saudável, fornecendo condições adequadas para o desenvolvimento físico, cognitivo e
social. A família é, portanto, o primeiro contexto no qual a criança se desenvolve como membro da
sociedade, desempenhando um papel fundamental na mediação entre os indivíduos e as normas, regras e
valores da sociedade. Ela é responsável pela garantia e efetivação dos direitos das crianças e
adolescentes a vida, proteção e desenvolvimento de habilidades humanas, proporcionando as condições
materiais e humanas necessárias para o seu crescimento.
No entanto, Bruschini destaca a importância de questionar a noção de família como algo natural, uma vez
que essa categoria é uma construção humana mutável, cultural e historicamente influenciada. De acordo
com Simões, a família não deve mais ser restrita a modelos preestabelecidos, mas sim definida como
qualquer ambiente onde o indivíduo se sinta acolhido, desenvolvendo laços de afeto e confiança. Portanto
, a definição de família deve basear-se na existência de vínculos afetivos, não limitando-se apenas aos
laços de consanguinidade.
[9: BRUSCHINI, Cristina. TEORIA CRÍTICA DA FAMÍLIA. In: AZEVEDO, Maria Amélia; GUERRA, Viviane
Nogueira de Azevedo (Org.). Infância e violência doméstica: fronteiras do conhecimento. 3. ed. São Paulo
: Cortez: 2000.][10: SIMÕES, Carlos. CURSO DE DIREITO DE SERVIÇO SOCIAL. São Paulo: Cortez,
2008.]
Nessa perspectiva, de acordo com a legislação brasileira, é importante enfatizar que as relações
estabelecidas no âmbito familiar são mais importantes do que as configurações familiares em si. Isso
ocorre porque as funções de proteção e socialização podem ser desempenhadas em uma variedade de
arranjos familiares e contextos socioculturais. Dessa forma, a propensão é rejeitar qualquer noção
preconcebida de um modelo familiar ?normal?.
[11: BRASIL. PLANO NACIONAL DE PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E DEFESA DO DIREITO DE
CRIANÇAS E ADOLESCENTES À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA. 2006. p. 29.]
Conforme a visão de Paiva:
[12: PAIVA, Leila Dutra. ADOÇÃO: SIGNIFICADOS E POSSIBILIDADES. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2004. pp. 65-66.]

[...] a dificuldade, ainda hoje, parece ser o reconhecimento de que a família, em si mesma, é uma criação
cultural que pode ou não estar fundada em laços biológicos. A adoção tem representado, há muito tempo,
a possibilidade de formar uma família assentada não na biologia, mas na cultura.

É importante ressaltar que a família, como um grupo social, é um espaço onde as contradições sociais se
manifestam e, portanto, também é suscetível a expressões da questão social. No Brasil, um grande
número de famílias encontra-se em situação de pobreza e miséria. Essas condições dificultam ou
impedem que elas desempenhem suas funções de proteção e cuidado em relação aos seus filhos,
resultando na negação de seu espaço de humanização.

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Essa desumanização do espaço familiar é afetada por várias questões, principalmente o desemprego e a
falta de acesso à riqueza materialmente produzida. Conforme destacado por Kaloustian, essa situação de
desumanização do espaço familiar está diretamente ligada à situação de pobreza e ao perfil de
distribuição de renda no país.
[13: KALOUSTIAN, Sílvio Manoug (Org.). FAMÍLIA BRASILEIRA: A BASE DE TUDO. 7. ed. São Paulo:
Cortez; Brasília: Unicef, 2005. p. 12.]
Consequentemente, na sociedade atual, observa-se que milhares de famílias não têm as condições
necessárias para cumprir suas funções legalmente e socialmente atribuídas. Esse contexto sociofamiliar
frequentemente resulta em situações de negligência, abandono e institucionalização de crianças e
adolescentes. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, em um levantamento nacional
dos abrigos da Rede de Serviços de Ação Continuada (Rede SAC), cerca de 20 mil crianças vivem nos
589 abrigos pesquisados em todo o Brasil, privadas de seus direitos fundamentais à convivência familiar.
[14: IPEA ? Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E
COMUNITÁRIA: OS ABRIGOS PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL. Brasília, 2004.]
Diante desse cenário, a discussão sobre a família tem se intensificado, uma vez que ela é reconhecida
como uma instituição central na sociedade. A família desempenha funções cruciais no cuidado e proteção
de seus membros, mas enfrenta dificuldades em cumprir plenamente essas funções, o que tem levado a
um reconhecimento especial por parte do Estado e da sociedade.
Nesse contexto, a família é considerada a célula base da sociedade brasileira, conforme estipula a
Constituição Federal de 1988, eu seu artigo 226: ?A família, base da sociedade, tem especial proteção do
Estado?.
A família é entendida como um local de convivência de indivíduos, unidos por laços consanguíneos,
afetivos ou de confiança. Segundo Simões, nesse espaço, desenvolve-se e mantém-se o sentimento de
pertencimento e identidade social, bem como a transmissão de valores e comportamentos pessoais.
[15: SIMÕES, Carlos. CURSO DE DIREITO DE SERVIÇO SOCIAL. São Paulo: Cortez, 2008. p. 190.]
No Brasil, esse reconhecimento é fundamentado na Constituição Federal de 1988, no Estatuto da Criança
e do Adolescente, na Política Nacional de Assistência Social, e no Plano Nacional de Promoção, Proteção
e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. No entanto, é
fundamental que essas garantias saiam do papel e sejam efetivamente implementadas na prática.
Para alcançar esse objetivo, é fundamental que o Estado e a sociedade protejam os grupos familiares em
diversas configurações que enfrentam condições de empobrecimento. Nesse contexto, o Estado deve
garantir o acesso aos direitos universais para as famílias, o que, por sua vez, resulta na proteção dos
direitos das crianças e dos adolescentes. Famílias que possuem acesso a esses direitos, juntamente com
outros, têm melhores condições para cumprir suas funções de cuidado, afeto e socialização, além de
superar possíveis situações de vulnerabilidade.
[16: JUNQUEIRA, Maíz Ramos; SERRES Jamille de Freitas. ADOÇÃO PELOS CAMINHOS LEGAIS:
RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA. Textos & Contextos (Porto Alegre), Porto Alegre, v. 9, n. 1, p. 182-192,
jan./jun. 2010.]
A contradição central na questão do abandono de crianças e adolescentes reside nesse ponto, sendo uma
dinâmica da questão social. As famílias que, devido às condições da realidade social, não conseguem
cumprir suas funções acabam negligenciando e abandonando seus filhos, tornando-se destinatárias das
políticas sociais compensatórias. Entretanto, essas políticas frequentemente se mostram insuficientes para
atender à grande demanda social e para atender eficazmente aqueles a quem se destinam. Diante
dessas condições objetivas, é importante examinar como o trabalho social tem evoluído no campo dos

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direitos das crianças e dos adolescentes à convivência familiar e comunitária, considerando seus limites e
possibilidades.
[17: SILVA, Simone Regina Medeiros. ABANDONO: UMA AGRESSÃO AOS DIREITOS DA CRIANÇA. In
: FREIRE, Fernando. Abandono e adoção: contribuições para uma cultura de adoção. São Paulo: Terre de
Hommes, 2001.]

OS SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO DESTINADOS À CRIANÇAS E ADOLESCENTES


Para abordar inteiramente este tema, é crucial abordar a história do acolhimento desde suas origens e
discutir as principais transformações influenciadas por fatores sociais, culturais e econômicos.
A prática de institucionalização de crianças e adolescentes de famílias de classes populares tem raízes
que remontam ao período inicial da colonização brasileira.
O programa de acolhimento familiar formalmente surgiu no Brasil na década de 1990. Ele trouxe consigo
reflexões alternativas em relação à institucionalização infantil, buscando meios para reintegrar a criança à
sua família e, sobretudo, promover a inclusão dessa família na sociedade.
Foi somente com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069 de 13 de julho de
1990, que crianças e adolescentes passaram a ser reconhecidos como sujeitos de direito, em uma
condição peculiar de desenvolvimento. Esses direitos fundamentais, conforme estabelecido pelo artigo 227
da Constituição Federal, englobam o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
protegendo-os contra todas as formas de negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão.
A partir do Estatuto da Criança e do Adolescente, o encaminhamento para os serviços de acolhimento
passou a ser concebido como uma medida protetiva, de caráter excepcional e temporário, que visa
primordialmente ao superior interesse da criança e do adolescente.
Antes da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, muitos internatos e orfanatos
desempenhavam o papel de cuidar das crianças, frequentemente tratando-as como se fossem
abandonadas. A perspectiva predominante não considerava os direitos das crianças e dos adolescentes.
No contexto brasileiro, a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990
são exemplos de marcos legais que estabelecem de forma explícita a importância da convivência familiar
e comunitária para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. O ECA é amplamente reconhecido
internacionalmente como um instrumento jurídico orientador para o atendimento digno de crianças e
adolescentes.
A convivência familiar sempre ocupou uma posição de destaque no Estatuto da Criança e do Adolescente
. O papel da família é considerado um elemento indispensável nos processos de proteção e
desenvolvimento, e o ECA estabeleceu que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos em uma
condição peculiar de desenvolvimento.
O artigo 15 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe:

A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em
processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na
Constituição e nas leis.

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Quando a separação do ambiente familiar de uma criança ou adolescente se torna necessária, é


apropriado que ela seja acolhida em outro ambiente familiar de forma temporária, ao mesmo tempo em
que se desenvolve um trabalho com sua família de origem. Nesse contexto, é fundamental realizar ações
que facilitem a reintegração da criança ao seu núcleo familiar.

AS FORMAS E MEDIDAS DE ACOLHIMENTO EXISTENTES


Os serviços de acolhimento têm a finalidade de receber crianças e adolescentes que estejam sujeitos a
medidas protetivas determinadas pelo poder judiciário, em decorrência de violações de seus direitos, como
abandono, negligência ou violência, ou quando a família não é capaz de fornecer o cuidado e proteção
necessários.
É importante destacar que o afastamento da criança ou adolescente de sua família deve ser uma medida
excepcional e só deve ser aplicada em situações de grave risco para sua integridade física e/ou
psicológica. O principal objetivo é garantir que esses jovens possam retornar com segurança ao convívio
familiar, priorizando a família de origem sempre que possível, e recorrendo à família substituta somente
em casos excepcionais, por meio de procedimentos legais, como adoção, guarda ou tutela.
O serviço de acolhimento deve focar na preservação e no fortalecimento das relações familiares e
comunitárias das crianças e adolescentes. O atendimento deve ser individualizado e oferecido a grupos
reduzidos, garantindo espaços privados para guardar objetos pessoais e registros relacionados à história
de vida e ao desenvolvimento de cada criança e adolescente.
Em 2004, uma pesquisa realizada pelo Ipea e pelo Conanda sobre a situação dos abrigos para crianças e
adolescentes revelou a persistência de violações de direitos, que se mantinham muito aquém do que era
preconizado pelo ECA, mesmo mais de uma década após sua promulgação. Essas constatações
enfatizaram a importância de redirecionar a discussão para a observância dos princípios que ressaltam a
natureza temporária e excepcional das medidas de acolhimento. Segundo esses princípios, a separação
de uma criança ou adolescente de sua família deve ser breve e apenas adotada quando estritamente
necessária para garantir o superior interesse da criança. Portanto, é fundamental preservar e fortalecer os
laços familiares e, quando não houver alternativas viáveis, promover a colocação do acolhido em um
processo de adoção.
[18: SILVA, E. R. A. (Org). O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA: OS ABRIGOS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL. Brasília: Ipea/Conanda, 2004.]
Esse contexto levou à elaboração do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de
Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC) em 2006, que contou com a
participação de representantes do governo e da sociedade civil. Aprovado por meio da Resolução
Conanda/CNAS nº 1/2006, o PNCFC é uma iniciativa de natureza transversal e intersetorial que envolve
não apenas os órgãos do Poder Executivo, mas também outros atores que fazem parte do Sistema de
Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente (SGD). Isso inclui instituições como o Judiciário e o
Ministério Público. As diretrizes estabelecidas pelo PNCFC demandaram uma revisão das práticas das
instituições que administravam os serviços de acolhimento, impulsionando uma reorganização desses
serviços sob a responsabilidade da política de assistência social, seja na forma institucional ou por meio
do acolhimento familiar.
No entanto, é importante ressaltar que a ampla cobertura populacional não garante que o serviço de
acolhimento seja amplamente disponível, especialmente nos municípios de menor porte. Na verdade, a
maioria dos 3.560 municípios que não ofereciam esse serviço em 2018 era composta em sua maioria por

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municípios de pequeno porte I (86,0%) e pequeno porte II (12,8%).


[19: LICIO, E. C; et. al. REORDENAMENTO DOS SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES E IMPLEMENTAÇÃO DE NOVAS MODALIDADES ? FAMÍLIA ACOLHEDORA E
REPÚBLICAS. Brasília: Ipea, 2021. No prelo.]
Em que pese às formas de acolhimento, há diferentes formas, quais sejam:
O acolhimento institucional para Crianças e Adolescentes pode ser disponibilizado em dois tipos de
unidades:
Abrigo: Este é um serviço de acolhimento provisório que pode abrigar até 20 crianças e adolescentes em
cada unidade. Deve ser projetado para se assemelhar a uma residência com uma localização na
comunidade, preferencialmente em áreas residenciais. O ambiente deve ser acolhedor e oferecer
condições institucionais que atendam a padrões de dignidade.

Casa-Lar: Este é um serviço de acolhimento provisório que é oferecido em unidades residenciais e tem
capacidade para acomodar no máximo 10 crianças e adolescentes por unidade. Nestas casas, pelo menos
uma pessoa ou um casal trabalha como educador/cuidador residente, prestando cuidados a um grupo de
crianças e adolescentes que foram afastados de seus ambientes familiares. Importante notar que a casa-
lar não é a residência do educador/cuidador, mas um local separado para abrigar as crianças e
adolescentes.
O acesso ao acolhimento institucional para Crianças e Adolescentes é estabelecido por decisão do Poder
Judiciário e por solicitação do Conselho Tutelar. A autoridade competente deve ser notificada, conforme
previsto no Artigo 93 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Art. 93. As entidades que mantenham programa de acolhimento institucional poderão, em caráter
excepcional e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação da autoridade
competente, fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da Infância e da
Juventude, sob pena de responsabilidade.
Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público e se
necessário com o apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas necessárias para promover a
imediata reintegração familiar da criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for isso possível
ou recomendável, para seu encaminhamento a programa de acolhimento familiar, institucional ou a família
substituta, observado o disposto no § 2 o do art. 101 desta Lei.

No que tange à acolhimento em república para jovens egressos de outros serviços de acolhimento, trata-
se de um serviço destinado principalmente a jovens que passaram anteriormente por serviços de
acolhimento para crianças e adolescentes. Ele oferece apoio e moradia a jovens com idades entre 18 e 21
anos. Cada unidade de acolhimento pode abrigar até 6 pessoas. O objetivo deste serviço é promover a
autonomia gradual dos residentes, incentivando a independência deles ao operar em um sistema que
permite que os moradores tomem decisões conjuntas sobre o funcionamento da unidade.
O acesso a esse serviço pode ser realizado por meio de encaminhamento do Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (CREAS), do Serviço de Abordagem Social e de outros serviços ou
políticas públicas relacionadas. Além disso, é possível acessá-lo por demanda espontânea, ou seja, os
próprios jovens ou suas famílias podem buscar esse serviço diretamente. Para obter mais informações e
orientações sobre como acessar o acolhimento em república, entre em contato com o CREAS ou o órgão
competente em sua região.

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No que cabe ao acolhimento em Família Acolhedora, este é um serviço que organiza o acolhimento de
crianças ou adolescentes em residências de famílias acolhedoras cadastradas. Para integrar esse serviço
, as famílias interessadas devem passar por um processo de seleção, capacitação e acompanhamento.
Esse serviço oferece atendimento em um ambiente familiar, garantindo uma abordagem individualizada e
oportunidades de convivência comunitária. Cada Família Acolhedora acolhe uma criança ou adolescente
por vez, a menos que se trate de um grupo de irmãos que possa ser acolhido conjuntamente.
Para obter informações detalhadas, recomenda-se entrar em contato com a Secretaria de Assistência
Social do município do interessado. Eles poderão orientar sobre os procedimentos e requisitos
necessários para o acesso a esses serviços.

O VÍNCULO AFETIVO CRIADO E A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA ACOLHEDORA COMO INSTRUMENTO


DE PROTEÇÃO
Muitas pessoas, ao se depararem com a ideia do acolhimento familiar, levantam a questão de se
estabelecer vínculos em uma situação transitória pode ser prejudicial para as crianças e/ou adolescentes
em acolhimento. O senso comum sugere que criar laços com alguém que não estará sempre presente
pode causar sofrimento, sendo potencialmente desvantajoso tanto para o adulto que cuida quanto para a
criança ou adolescente em acolhimento. No entanto, pesquisas em diversas áreas do desenvolvimento
humano vêm apresentando resultados que apontam exatamente o contrário.
O afeto desempenha um papel tão essencial no desenvolvimento humano quanto fatores como uma boa
alimentação, sono adequado e hidratação. A ausência de afeto, de contato físico e de interações com
figuras de referência é altamente prejudicial para o crescimento de crianças e adolescentes, e até mesmo
para o bem-estar dos adultos. Mesmo que o acolhimento seja uma medida temporária, é fundamental que
a criança ou adolescente seja inserido em um ambiente que lhes permita cultivar um senso de
pertencimento, segurança e confiança nos adultos ao seu redor.
A falta de atenção e carinho por parte dos cuidadores, a vivência em um ambiente institucional com alta
rotatividade de educadores ou a negligência de suas necessidades podem resultar em fenômenos como o
?desamparo aprendido? (quando a pessoa tolera estímulos e situações aversivas por não conseguir evitá-
los) e ?estresse tóxico?. Essas condições podem impactar o funcionamento cerebral e a forma como a
criança ou adolescente desenvolve suas habilidades interpessoais, inclusive na vida adulta.
Numerosos estudos científicos corroboram os benefícios de um desenvolvimento social, emocional e
cognitivo mais saudável para crianças e adolescentes que passam pelo acolhimento em famílias
acolhedoras, em comparação com o acolhimento institucional. Essas pesquisas reforçam a conclusão de
que laços afetivos, um ambiente seguro e estímulos são fundamentais na vida de crianças e adolescentes
, assim como a oportunidade de conviver em uma comunidade, que essa forma de atendimento oferece.
A pesquisa ?Órfãos da Romênia?, conduzida pelo Hospital de Crianças de Boston, vinculado à
Universidade de Harvard, evidencia que a ausência de vínculos afetivos duradouros e a falta de atenção
às necessidades individuais em instituições de acolhimento podem acarretar prejuízos significativos no
desenvolvimento integral de bebês. O estudo revela que, para cada ano que um bebê passa em uma
instituição, sem estabelecer vínculos afetivos estáveis e sem receber atenção adequada às suas
necessidades individuais, pode haver um atraso de até quatro meses em seu desenvolvimento global.
[20: VIDA, O começo da. O CASO DOS ÓRFÃOS DA ROMÊNIA. O começo da vida. Disponível em: https
://ocomecodavida.com.br/o-caso-dos-orfaos-da-romenia/. Acesso em 18 de outubro de 2023.]
Essa pesquisa concentrou-se em crianças abrigadas em instituições na Romênia após a Segunda Guerra

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Mundial, particularmente durante os primeiros anos de suas vidas, e identificou déficits cognitivos
consideráveis. Essa investigação, de caráter longitudinal, teve início em 2000 e incluiu acompanhamento
regular com a realização de eletroencefalogramas (EEGs) para mapear a atividade cerebral de crianças
que passaram por diferentes configurações de cuidado (institucionalização, acolhimento familiar e
convivência em famílias sem intervenção do Estado).
Embora tenha sido realizada em um contexto substancialmente distinto do que observa-se no Brasil
atualmente, esse estudo oferece subsídios relevantes para reflexões acerca da importância dos cuidados
individualizados na primeira infância, especialmente no contexto das medidas de proteção relacionadas ao
acolhimento.
A Teoria do Apego, proposta pelo renomado psicólogo e psiquiatra britânico John Bowlby, se desenvolveu
a partir de suas observações e reflexões sobre a separação precoce de bebês de suas figuras de cuidado
primárias. Essa teoria enfatiza a relevância de uma figura de apego estável para prover cuidados à criança
, principalmente nos primeiros três anos de vida. A continuidade e a estabilidade dessa relação (que pode
envolver pais, mães, familiares ou qualquer adulto capaz de fornecer apoio afetivo) exercem um impacto
significativo no desenvolvimento social e psicológico da criança, uma vez que esse período influencia de
maneira profunda suas futuras interações sociais.
Diante dessa perspectiva, o acolhimento em famílias acolhedoras se configura como um espaço
fundamental de cuidado, pois prioriza a qualidade e a consistência das relações estabelecidas com a
criança, alinhando-se com os princípios da Teoria do Apego e valorizando o impacto positivo de relações
afetivas duradouras em seu desenvolvimento.
A primeira infância, compreendida como o período que se estende desde a gestação até os seis anos de
idade, assume uma importância crucial para o desenvolvimento humano. Isso se deve ao fato de que é
nessa fase que se estabelece a base de conexões neuronais que irão sustentar as aquisições posteriores
nos âmbitos psicomotor, cognitivo e social. Em termos mais simples, é durante esse intervalo que se
delineia a arquitetura cerebral que influenciará o desenvolvimento da criança ao longo de sua vida.
Consequentemente, é fundamental proporcionar às crianças pequenas, além dos cuidados básicos, como
higiene e alimentação, interações físicas, afeto e atenção individualizada. Esses elementos contribuem
para a formação da individualidade da criança, a aquisição da linguagem e o estabelecimento das bases
de sua interação com a sociedade.
Contudo, é relevante ressaltar que o acolhimento em famílias acolhedoras não beneficia somente as
crianças na primeira infância. Pessoas de todas as faixas etárias colhem benefícios significativos de
relacionamentos estáveis, afetivos e orientados para o indivíduo, proporcionados por ambientes familiares
. Na adolescência, por exemplo, um ambiente seguro e estável favorece a navegação pelas
transformações e pelo processo de amadurecimento. Durante esse período, ocorre a consolidação da
identidade e o desenvolvimento da autonomia dos jovens, e um ambiente de acolhimento familiar pode
desempenhar um papel valioso nesse processo. Isso se torna particularmente relevante quando esses
jovens deixam o sistema de acolhimento ao atingir a maioridade, aos dezoito anos, e enfrentam novos
desafios na busca de sua independência.
Fornecer experiências de apego, mesmo que temporárias, não é apenas desejável, mas essencial para
um acolhimento eficaz. As crianças e adolescentes que necessitam de medidas protetivas encontram-se
em um estágio particularmente delicado de suas vidas. Nesse momento de turbulência, é fundamental que
o acolhimento proporcione um ambiente seguro, protetor, afetuoso e estável.
Através dessa relação afetiva, a criança ou adolescente poderá fortalecer-se. Ao ser introduzido em um
novo modelo de configuração familiar, que o recebe com carinho, respeito e cuidados personalizados, ele

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ou ela terá melhores condições para enfrentar e superar os traumas causados pelas violências sofridas
anteriormente.
Todo o trabalho desenvolvido pela equipe do serviço, incluindo a capacitação das famílias acolhedoras e o
acompanhamento das crianças e adolescentes, considera o acolhimento como uma medida de caráter
temporário. Portanto, crianças e adultos passarão por uma transição assistida pela equipe técnica. A saída
do acolhimento não deve ser vista como uma ruptura adicional, mas sim como um processo gradual,
respeitoso e que visa ao melhor interesse da criança e do adolescente.
É relevante observar que, no contexto do acolhimento institucional, as crianças e adolescentes também
estabelecem vínculos significativos com profissionais, educadores e outros acolhidos. Portanto, ao se
desligarem do serviço, eles também precisam enfrentar a despedida e passar por uma transição,
semelhante ao acolhimento em família acolhedora. A qualidade e segurança dos vínculos estabelecidos
influenciam diretamente a possibilidade de uma despedida tranquila e a transição para a próxima fase de
suas vidas.

FORMAS DE ADOÇÃO DE CRIANÇAS INCLUÍDAS EM FAMÍLIAS ACOLHEDORAS


Como discutido no capítulo anterior, referente à função da família acolhedora, essas famílias se oferecem
voluntariamente para receber, em seus lares, crianças e/ou adolescentes em situação de risco social,
quando se torna necessário, por decisão judicial, afastá-los de suas famílias de origem. Após o
afastamento do convívio familiar, esses jovens podem ser direcionados tanto para o acolhimento
institucional quanto para o acolhimento familiar, sendo preferível, de acordo com o artigo 34, §1 do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que sejam encaminhados ao acolhimento familiar, uma vez
que as famílias acolhedoras conseguem fornecer cuidados personalizados. Nas palavras do juiz da Vara
da Infância e Juventude de Campinas, Eduardo Bigolin, sobre a prioridade do acolhimento familiar:

As crianças que passam pela família acolhedora são bem avaliadas em exames psicológicos e sociais.
Têm maior interação, integração com a comunidade e gozam de maior liberdade, muito porque a família
cuidou do lado afetivo, moral e material que talvez não estivesse sendo provido pela família de origem. 43
[21: POMBO, Bárbara. AFASTADAS DA FAMÍLIA DE ORIGEM, CRIANÇAS SÃO ACOLHIDAS POR
MÃES E PAIS PROVISÓRIOS. Conselho Nacional de Justiça, 2014. Disponível em: https://www.cnj.jus.br
/afastadas-da-familia-de-origem-criancas-sao-acolhidas-por-maes-e-pais-provisorios/. Acesso em 23 de
outubro de 2023.]

Um dos critérios para que uma família seja elegível para participar do programa de família acolhedora é
que ela não esteja registrada no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) e não manifeste qualquer interesse
em adotar o acolhido. É necessário que a família assine uma declaração oficial confirmando seu
desinteresse pela adoção. Essa distinção é amplamente enfatizada, como evidenciado por trechos
retirados de materiais informativos de diversas instituições, com o objetivo de deixar claro que a família
acolhedora e a adoção são processos totalmente distintos.
O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que o acolhimento institucional não deve ser
prolongado por mais de 18 (dezoito) meses, a menos que haja uma comprovação da necessidade que
atenda ao superior interesse da criança ou adolescente (conforme o artigo 19, §2 do ECA). Essa medida é
considerada provisória e excepcional, destinada a servir como uma transição para reintegrar a criança ou
adolescente em sua família biológica ou, se isso não for possível, colocá-los em uma família substituta

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(conforme o artigo 101, §1 do ECA). Essa abordagem visa sempre ao melhor interesse da criança e do
adolescente.
No entanto, como mencionado anteriormente e também abordado no livro ?Adoção, Desafios da
Contemporaneidade?, as crianças e adolescentes muitas vezes permanecem nos serviços de acolhimento
por períodos muito mais longos do que o previsto. Isso ocorre devido a várias razões, como a falta de
possibilidade de retorno às famílias de origem ou de inserção em famílias substitutas. Como resultado, em
alguns casos, os vínculos afetivos se tornam muito fortes, a ponto de a criança ou adolescente considerar
a família acolhedora como seus pais, assim como a família acolhedora considera a criança ou adolescente
como seu filho. Esse forte vínculo pode despertar o desejo de adoção, mas a prática é impedida devido
ao termo de não adoção e, principalmente, devido à lei que não autoriza tal ato.
[22: LEVINZON, Gina Khafif; LISONDO, Alicia Dorado. ADOÇÃO: DESAFIOS DA
CONTEMPORANEIDADE. São Paulo: Blucher, 2015. pp. 203-204.]

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas análises apresentadas ao longo deste trabalho, conclui-se que o Programa de Acolhimento
Familiar desempenha um papel crucial no desenvolvimento de crianças em situação de vulnerabilidade,
proporcionando atendimento individualizado por parte das famílias acolhedoras. A legislação busca
priorizar o acolhimento familiar em detrimento do institucional, mas essa preferência nem sempre é
observada na prática.
Para aliviar a sobrecarga dos abrigos institucionais, é necessário que o Poder Público promova e incentive
os estados e municípios a implementarem políticas públicas de acolhimento familiar. Isso deve ser uma
medida de fácil instalação e acesso. Em relação à conscientização da população, é fundamental realizar
campanhas que abordem a realidade dos acolhimentos institucionais e da adoção, destacando os
benefícios do acolhimento familiar e suas diversas vantagens.
Quanto à possibilidade de a família acolhedora adotar, deve-se realizar uma análise de cada caso
concreto, garantindo a aplicação do melhor interesse da criança e do adolescente e o cumprimento da
prioridade absoluta estabelecida na Constituição Federal. No entanto, não é adequado justificar o
desvirtuamento do propósito do programa, uma vez que, na maioria dos casos, as famílias acolhedoras
não se inscrevem com a intenção de adotar, mas desenvolvem esse desejo devido aos laços afetivos que
se formam.
Além disso, é importante notar que o tempo de acolhimento costuma se prolongar, o que fortalece os laços
afetivos entre as crianças e os pais acolhedores. Esta pesquisa evidenciou que muitas vezes as próprias
crianças e adolescentes buscam nas famílias acolhedoras a figura materna e paterna que talvez não
tenham tido anteriormente. Portanto, diante da destituição da família de origem, seria justo permitir que a
família acolhedora convertesse sua guarda em adoção. Afinal, se a guarda foi concedida pelo tribunal, já
houve uma análise quanto à compatibilidade e à boa-fé dos pais acolhedores, preenchendo, portanto, os
requisitos da adoção.
Negar a possibilidade de adoção pela família acolhedora com base na falta de habilitação no Cadastro
Nacional de Adoção (CNA) é uma medida cruel, considerando que o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) viabiliza a adoção com base em vínculos afetivos, conforme previsto no artigo 50, §13, incisos II e
III. A jurisprudência já consolidou o entendimento de que a afetividade supera os vínculos consanguíneos

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e quaisquer outros laços, e esse mesmo entendimento deve ser aplicado no contexto do acolhimento
familiar.
Portanto, é imperativo que o artigo 34, parágrafo 3º, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) seja
modificado para incluir a possibilidade de inscrição no Programa Famílias Acolhedoras de pessoas que
façam parte ou não dos cadastros de adoção. Uma alternativa louvável seria a implementação, por parte
dos estados e municípios, de duas modalidades de acolhimento familiar, à semelhança do que foi
realizado em Belo Horizonte (MG) e regulamentado na Lei Municipal 10.871/2015.
Uma dessas modalidades seria destinada a crianças com perspectiva de reintegração familiar, na qual os
interessados não poderiam ter a intenção de adoção. A outra modalidade seria voltada para crianças para
as quais a reintegração à família de origem fosse improvável ou cujos pais biológicos já tivessem sido
destituídos do poder familiar. Nesta modalidade, pessoas interessadas na adoção seriam permitidas e,
idealmente, poderiam suportar a duração prolongada do acolhimento familiar. Isso seria especialmente
importante no caso de crianças mais velhas ou com alguma doença ou deficiência física, mental,
intelectual ou sensorial, uma vez que, como demonstrado, elas têm menos chances de serem adotadas
por aqueles cadastrados no Cadastro Nacional de Adoção (CNA).

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