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Proposta para atuação da Escola para Todos

Psicologia e Educação Inclusiva

Beatriz Gabriela Ferreira

Gabriela Aires da Silva

2015128685

Bebedouro 2020

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1. Sumário:
Apresentação do estudo de caso............................................................. 3
Declaração de
Salamanca.........................................................................5
Legislação de educação para
todos..........................................................7
Definição de necessidades educacionais especiais
(NEE) .......................9
Dialéticas.................................................................................................10
Método clínico de
Piaget..........................................................................14
Conclusão...................................................................................................
Referências................................................................................................

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2. Apresentação do estudo de caso:

Talita trabalha há 15 anos como psicóloga de uma escola particular da


cidade de Bebedouro. Tal instituição tem cerca de 600 alunos por ano
letivo. Durante sua atuação profissional ela sempre se colocou a favor da
Escola Para Todos.

Há cerca de dez anos a quantidade de alunos com necessidades


educacionais especiais (NEE), dentro de tal escola, aumentou
consideravelmente. Se antes o índice era de 0,5 aluno com NEE para cada
100 alunos, atualmente o índice é 1 para cada 20 alunos. Com isto, a
prática a favor da educação inclusiva de qualidade tem sido um dos
grandes desafios da instituição e da própria psicóloga.

É com grande frequência que chegam à Talita, diretamente ou por


colegas, afirmações do tipo: “Mas Roberto, aquele que tem TEA, é muito
atrasado, debilitado, ele está aqui pela socialização, mas a verdade é que
nem isto ele consegue.” ou então, “Aquela minha aluna, sabe a que tem
Síndrome de Down, então, eu tenho a trabalheira de todo mês fazer a ‘a-d-
a-p-t-a-ç-ã-o’ de currículo, sabe? Ah, eu não consigo fazer isto do nada, o
que mais faço é aproveitar algumas atividades dos livros de primeiro ano e
pronto.” (professora do 3º ano).

Estas dentre outras pejorativas tem incomodado Talita, o que a levou a


buscar a direção com uma proposta de encontros com todos os
profissionais da escola para levantar quais as maiores dificuldades de cada
um deles dentro da atuação direta com a filosofia de Escola para Todos na
instituição.

A diretora aprovou o tema e avisou que na reunião do final do primeiro


semestre convocaria os professores para três encontros na primeira
semana de julho.

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Em todos os anos letivos, na primeira semana de julho, as professoras
fazem reuniões pedagógicas todos os dias para debate de quais projetos
tiveram bons resultados e quais devem ser readaptados ou retirados do
PPP. Além de fechamento de semestre e programação para o semestre
seguinte.

Após a afirmação da diretora de que levaria tal tema para as reuniões de


professores, em três dias da semana, Talita se posicionou para a diretora
dizendo que ela não a entendeu bem.

Talita afirmou ter um projeto pronto para TODOS os profissionais da


escola, não apenas os professores, e durante TODA a semana de julho.
A psicóloga ainda afirmou que fazia ideia de que APENAS 5 dias com
todos os profissionais não seria suficiente para TRANSFORMAR a atuação
de todos, mas que ainda assim gostaria de trazer tal projeto como uma
forma de sensibilizar a maioria deles em se “reinventar” e a partir disto
estarem abertos a novas buscas e aprendizados em favor da Escola Para
Todos de maior qualidade.

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3. Declaração de Salamanca:
A declaração de Salamanca consiste na busca por direito a
educação de pessoas com deficiência. Sendo proclamada por
representantes governamentais, agências especializadas e
organizações inter-governamentais em uma conferência mundial,
ocorrida em Salamanca, na Espanha, entre 7 e 10 de Junho de 1994.
A declaração assegura que as crianças que possuem deficiência,
devem ter acesso à educação, mantendo o nível de aprendizagem,
considerando-se as habilidades, necessidades e características de cada
uma. Enfatizando que, as crianças com necessidades educacionais
especiais, necessitam de uma pedagogia centrada na criança, para
assim satisfazer suas necessidades do ambiente escolar. E, ainda
salienta que as escolas capazes de promover tal acolhimento,
apresentam uma educação mais efetiva do que outras escolas, sendo
capazes de produzir uma educação inclusiva, alcançando a escola para
todos.
Além disso, a declaração demanda que as instituições
educacionais se aprimorem cada vez mais da educação inclusiva, que
busquem conhecer sobre escolas que adotam a escola para todos, por
meio de intercâmbios para países que já adotam tais medidas,
elaborando a formação de professores para que saibam lidar e acolher
alunos com necessidades especiais. Além disso, os funcionários devem
estar preparados para identificar e intervir precocemente nesses casos.
Em relação aos governos com programas de cooperação
internacional e agências financiadoras internacionais, a declaração
convida-os a acolher a educação para todos, incentivando o treinamento
e aprimoramento de professores, além de pesquisas a fim de
estabelecer centros para informação e documentação da educação

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inclusiva, demonstrando resultados específicos como forma de promover
o avanço da mesma.
A educação especial possui uma estrutura, a qual foi adotada na
conferência mundial de Salamanca (1994), tal estrutura objetiva informar
ações, guias, práticas e políticas embasados em países os quais adotam
a educação inclusiva. Esta estrutura é fundamentada nas
recomendações das Nações Unidas, e outras organizações inter-
governamentais.
A estrutura atenta para o direito de que toda pessoa com
deficiência pode manifestar-se sobre os objetivos referentes à sua
educação, este direito, foi proclamado na Declaração Universal De
Diretos Humanos e Na Declaração Mundial Sobre A Educação Para
Todos.
O princípio orientador da estrutura afirma que a escola deve
acolher a todos os alunos independente de sua condição atual. A escola
deve ter espaço para crianças com deficiências físicas, intelectuais, e
com super-dotação, além de contextos sociais desvantajosos como
crianças que vivem nas ruas, advindas de populações remotas,
pertencentes às minorias e, crianças marginalizadas.
Considerando o contexto da estrutura, a questão “necessidades
especiais”, origina-se dando referência às crianças que passam por
dificuldades e deficiência na aprendizagem, necessitando de uma
educação inclusiva.
Para isso, a escola deve atentar-se para a realidade que a cerca,
deve buscar compreender a realidade dos alunos que frequentam
aquele ambiente, para assim adequar-se a eles. Não adianta, por
exemplo, o uso de computadores para a realização da lição de casa,
quando naquela escola há crianças que não possui acesso à água
potável em casa, quanto mais a um computador com acesso à internet.
A escola deve adequar-se ao aluno, e não o contrário. As escolas
devem buscar formas acessíveis de promover aos alunos uma educação
de qualidade e, que condiz a realidade dos alunos, incluindo os que
estão em maior desvantagem social, ou física.

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O aumento de escolas que adotam a educação inclusiva, pode
colaborar para a construção de uma sociedade com menor preconceito
e mais acolhedora, minimizando o sofrimento de pessoas com
necessidades especiais. A pedagogia centrada na criança pode
colaborar para a desconstrução do conceito de normalidade, abrindo as
portas para uma educação com menor índice de abandono escolar,
diminuição de alunos repetentes. E, acima de tudo, produzir uma
comunidade que acolhe e respeita as diferenças do próximo, dando
maior atenção as potencialidades existentes em cada indivíduo.

4. Lei Nº 9394/96 – Lei De Diretrizes E Bases Da Educação Nacional –


1996

O termo educação especial é referido à educação oferecida aos


alunos portadores de necessidades especiais. A Lei nº 9394/96 (1996)
assegura que este tipo de educação deve ser oferecido, quando fazer-se
necessário, desde a educação básica, ou seja, de zero a seis anos de
idade, sendo importante que os alunos que necessitarem desta
educação sejam direcionados a escolas e/ou salas de aulas que
atendam a demanda que o mesmo apresente, somente se não for
possível sua integração nas salas de aula oferecidas no ensino regular.
Além disso, a lei assegura que deve haver uma adaptação para
que os alunos com necessidades especiais alcancem os níveis de
ensino desejados de acordo com a faixa etária. Para isso, faz-se
necessário a atuação de professores especializados, e, de certa forma
preparados para atender, acolher e colaborar para a adaptação e
integração destes alunos em salas de aula comuns. Ou seja, a escola
deve investir na formação e atualização dos professores, observando os
recursos disponíveis em sua região, e a disponibilização de vagas
específicas para professores com tais qualificações, ressalta-se assim a
importância da lei nº10.436 (2002), que reconhece a importância de
libras na formação de professores, assumindo a mesma como forma de
comunicação legal.

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Por ir além do ensino de matérias curriculares, a escola ensina ao
aluno a viver em sociedade, por isso, a educação especial deve preparar
os alunos com necessidades especiais para o mercado de trabalho, para
a vida em sociedade em si, observando e fortalecendo suas
potencialidades.
Sobre essa socialização, na legislação, em 2001, há o decreto nº
3956 o qual assegura que qualquer tipo de discriminação às pessoas
portadoras de deficiência deve ser eliminado, podendo abrir-se um
processo, o que pode contribuir para uma queda nas discriminações e
preconceitos sofridos pelos alunos no ambiente escolar.
Sendo compreensível a dificuldade em adaptar-se as leis e
decretos da legislação, deve-se afirmar a importância de atualização
constante da formação do corpo docente, pois a legislação é real, e
existe para ser cumprida, com o enfoque no bem-estar dos alunos que
frequentam a instituição. A legislação aponta dúvidas, e por vezes revela
pré-conceitos existentes que não são reconhecidos como tais muitas
vezes, porém ao serem levados à luz da educação para todos podem
ser descontruídos, proporcionando uma nova forma de educar, uma
forma mais humanizada e acolhedora, que é em si, a realização da
educação inclusiva que tanto se almeja.

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5. Definição de Necessidades Educacionais Especiais (NEE):

O termo necessidades educacionais especiais, foi utilizado pela primeira


vez no Relatório Warnock em 1978, e utilizado novamente na declaração de
Salamanca (1994) e, objetiva promover maior integração dos alunos com
deficiências físicas e/ou intelectuais, no ambiente escolar. A utilização do termo
opta por uma substituição de termos médicos, visando diminuir o estigma
sofrido por alunos com necessidades especiais, e reconhecendo que
necessidades educacionais especiais, são necessárias, e comuns no ambiente
escolar, uma vez que cada criança possui uma necessidade específica, bem
como uma forma de aprendizado.

Precisamente, o termo Necessidades Educacionais Especiais (NEE),


refere-se à pessoas com deficiência intelectual/física, além de incluir pessoas
superdotadas. Em sua utilização na declaração de Salamanca, o termo passa
por uma redefinição, reconhecendo que deve-se incluir nestas necessidades
especiais, pessoas em situação de desvantagem social, como pessoas
marginalizadas e indivíduos que apresentam desvio de conduta ou emocional.

Sendo assim, é importante que os membros da insituição tenham esse


olhar voltado para a inclusão e integração destes alunos, estando atentos para
as necessidades de cada um, buscando supri-las. Para isso, a presença do
psicólogo escolar, pode ajudar aos docentes na compreensão das

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necessidades dos alunos, promovendo ações mais humanizadas, e sensíveis
às situações em que os alunos se encontram, com o intuito de favorecer sua
inclusão neste ambiente, minimizando o preconceito sofrido por cada um, na
busca por promover uma sociedade com um olhar mais empático para essa
população.

6. Dialéticas da educação inclusiva:

É imprescindível que o conceito de inclusão e exclusão passem


por processos de desconstrução constante, afinal, o que é a inclusão
que tanto se almeja? O que é a exclusão que é tão frequente no
processo de inclusão? Quem a escola está incluindo? Está excluindo
alguém? Ao pensar, e repensar tais conceitos, observa-se uma
dialética existente. Não uma ideia fixa do que é inclusão, e o que é
exclusão, ambas as práticas conversam entre si, e são, de certa
forma, dependentes.

Para conversar e descontruir alguns conceitos, a dialética expor-


se e resguardar-se de Amaral (2004), é muito prática e, refere-se à
deficiência. Visto que nesta instituição, também há alunos com
necessidades educacionais especiais, devido a deficiências físicas e
intelectuais, as ideias aqui expostas serão fundamentadas nesta obra,
sendo que ao final, também será discutida a questão dos alunos com
necessidades educacionais especiais referentes à forma precária de
vida.

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Quanto à necessidade especial dos alunos com deficiências, a
dialética expor-se e resguardar-se de Amaral, coloca a própria
aceitação como fator inicial para a inclusão, essa aceitação refere-se a
“expor-se diante de si mesmo”, essa atitude pode fazer com que o
aluno se decida quanto a expor-se ou não para o outro, lembrando
que a decisão é sempre do aluno. Expor o aluno sem que o mesmo
esteja preparado, sem que haja seu consentimento, é considerado
uma forma de violência, pois pode provocar ao mesmo situações
humilhantes, para a qual o meu não estava preparado, portanto, o
aluno tem o direito de ter sua privacidade respeitada.

Há hábitos existentes no ambiente escolar que devem ser


repensados, como o fato de expor aos colegas de turma a
necessidade especial de um colega sem o consentimento do mesmo.
Observando que os docentes o fazem com as melhores intenções,
como para conseguir o respeito e a empatia dos colegas de turma,
ressalta-se a importância de um diálogo aberto entre docente e
psicólogo, para buscar uma forma de ajudar o aluno com
necessidades especiais, por vezes, o aluno possui um histórico de
suporte afetivo que faça com que o mesmo se sinta confortável o
suficiente para expor-se, mas, na grande parte das vezes, o aluno não
teve tal suporte e, uma exposição pode não ser o mais adequando à
ele naquele devido momento.

Quanto a resguardar-se, esse também é um direito do aluno com


deficiência, ele pode escolher evitar situações de socialização, e
tendem a fazer isso quando o contato social é visto como algo
perigoso. O aluno não deve ser obrigado a se submeter a situações
que o deixe desconfortável, essa também é uma forma de agressão.

Por isso, em ações sociais oferecidas pela escola, deve-se


repensar o conceito de obrigatoriedade da participação de todos
alunos, necessitando reuniões com pais e com o próprio aluno para
saber se o mesmo se sentirá humilhado em tais situações. O aluno
deve ter voz ativa. E, com o tempo, tais situações podem se tornar

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menos aversivas aos alunos com deficiência, esse é um dos papéis da
escola, ajudar o aluno com necessidades especiais a se socializar.

Ainda partindo dessa dialética, Amaral (2004), propõe que deve


se ter “deficiência como figura, vida como fundo”, ou seja, a deficiência
da pessoa não é o que a define. Por isso, é se extrema importância
que a pessoa com necessidades especiais, tenha em seu histórico
familiar, um suporte afetivo e social. Não é sobre negar a existência da
deficiência, ela existe, e não deve ser negada, é poder sentir-se
seguro a ponto de buscar mudar o estigma da educação inclusiva.

Sendo assim, a escola tem um papel fundamental na vida dessas


pessoas, e cada membro da escola deve refletir sobre sua
responsabilidade, a responsabilidades de suas atitudes que refletem
diretamente nessas vidas. Hoje ainda há a necessidade de uma
prática da educação inclusiva, de forma a minimizar o sofrimento
destes alunos, e não o aumentar. Deve partir do pressuposto de que
não há diferente, há alunos, e cada aluno possui uma necessidade
específica, ou seja, necessidades especiais são comuns no ambiente
escolar, não há o porquê de utilizar-se o termo “diferente”, quando na
verdade, são fatos comuns, existentes em todos os ambientes, a
subjetividade, a história de vida, os anseios e desejos futuros fazem
de cada pessoa um ser único e cada ser possui uma necessidade.
Veja-se que não são 100% dos alunos mestres em matemática, há
formas diferentes de aprender e de apreender, então porque rotular
pessoas como diferentes? São pessoas comuns, com necessidades
comuns específicas, e é papel do profissional buscar adequar-se e
satisfazer tais necessidades.

Portanto fica aqui uma proposta aos docentes, para que os


mesmos possam refletir sobre como tem sido a relação aluno-
professor em sala de aula, pois é por meio dessa relação que
acontece o processo de aprendizagem. O profissional deve se sentir
capacitado para suprir as necessidades de tal aluno. Se seu aluno
com NEE não está conseguindo acompanhar a matéria, o ideal não é

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dar a ele algo do primeiro ano, uma vez que o mesmo está no quarto,
é papel do professor se adequar a necessidade dessa criança,
investigando: o que ela não está entendendo? Além de refletir: Como
posso ajudá-la a aprender? É necessário atualizar-se constantemente,
desafiar-se a aprender novos meios de transmitir conteúdos, novas
formas de lecionar, centrar-se na criança, e não, apenas no material
teórico o qual ela deve aprender. A construção de um vínculo
significativo com o aluno, torna possível um processo de
aprendizagem que pode transformar vidas.

Outro aspecto importante a ser investigado e, se necessário,


intervir de forma precisa, são as questões familiares do aluno. É
necessário que a escola estabeleça uma boa relação com a família do
aluno, pois ambas almejam o bem-estar do aluno em todo seu
processo de aprendizagem. Esse olhar atento as necessidades do
aluno deve estar presente, havendo comunicação entre as partes
envolvidas, pois o comportamento do aluno na escola pode refletir
suas vivências em casa, e vice-versa. Sendo assim, são duas
vertentes que se comunicam nas formas de influenciar o aluno.

A família deve saber do diagnóstico do aluno, bem como fazer os


devidos acompanhamentos médicos quando necessários. Ainda são
existentes as famílias que negam determinadas condições dos filhos,
há uma falta de aceitação quanto as necessidades especiais do aluno,
e a escola deve sempre que possível alertá-los, com um olhar sensível
sobre a condição da criança.

Para que a escola possa ter esse tipo de comunicação com a


família, é necessário a construção de uma relação saudável entre as
partes, pois se a família vê a escola como rival o mais prejudicado na
situação é o aluno. Portando, a escola deve promover ambientes e
ações que possam favorecer a construção desse vínculo, no caso de
famílias menos favorecidas, tentar compreender a realidade dessas
pessoas, buscando linguagem acessível, e prover suporte social às
mesmas.

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Nessa questão das famílias menos favorecidas, faz-se necessária
uma intervenção na qual os membros da escola devem atentar-se
para o estigma e os pré-conceitos existentes quanto aos alunos
marginalizados. Observa-se que há uma exclusão, intitulada inclusão,
na qual tais alunos são tratados de forma diferente aos outros, por
vezes a escolha das turmas são feitas embasadas na condição
econômica dos alunos. Tal atitude é extremamente preconceituosa, e
foge da declaração de Salamaca, assim como a legislação.

Deve-se ter um olhar atento e sensível para os alunos, as


dificuldades enfrentadas para frequentar a escola, são reais, portanto
é dever do profissional que atua no ambiente escolar, desde a equipe
técnica até a equipe de apoio, promover um ambiente que favoreça a
inserção destas pessoas na sociedade, para que sejam acolhidos, e
aprendam a viver como comunidade, recebendo o afeto e a atenção
dados aos alunos mais favorecidos. Considerando-se o conceito de
meritocracia, é o pobre, o negro, o deficiente que merece maior
atenção e afeto. Tal crítica serve para mostrar de forma clara, a
necessidade existente de um tratamento igualitário para todos os
alunos, sem exceção.

7. Método clínico de Piaget:

Para melhor compreender a ajudar aos alunos com NEE, é


importante compreender como se dá o desenvolvimento e educação
dos mesmos, para assim, melhor atendê-los. Portanto, será utilizada
aqui nesta proposta o método clínico de Piaget, que busca acessar o
pensamento e as operações do sujeito, sem critério avaliativo.

O método clínico de Piaget (mais tarde conhecido como método


clínico-crítico), possui o objetivo de acessar o pensamento da criança,
pela forma como ela s interage com o mundo ao seu redor. Ter acesso
ao pensamento da criança, ou crenças íntimas, como o próprio Piaget
chamava, é um trabalho dificultoso e pode levar um bom tempo, mas a
partir disso é possível ver as coisas pelo ponto de vista do sujeito.

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O método foi criado com o intuito de prevenir e tratar as
anomalias apresentadas por sujeitos que apresentavam dificuldades
escolares. Piaget, diferente de outros pesquisadores, despertou o
interesse por compreender o porquê das crianças apresentarem erros,
tirando o foco apenas dos erros, e partindo para o motivo. Assim, sua
pesquisa mantinha o foco na justificativa das respostas, e não o certo
ou errado em si, dando origem as provas Piagetianas.

A estratégia utilizada por ele era criar situações para observar


como a criança organizaria mentalmente tal realidade, mostrando
assim o que ela era capaz de realizar, tornando assim possível o
acesso ao pensamento da criança, por meio desse processo de
“tomada de consciência”.

Piaget acreditava que o acesso aos pensamentos da criança, se


fazia possível por meio de uma observação, a qual inspirava
perguntas, ele fazia uma crítica ao uso de testes, pois os mesmos
poderiam distorcer as respostas, porém também salientava que
somente a observação não seria suficiente, sendo assim aponta o uso
da união entre estes dois aspectos. Em seu trabalho em conjunto com
os pesquisadores, eles classificam os pensamentos encontrados em
cinco reações referentes ao objeto de conhecimento, sendo elas:

1) Não-importa-o-que-ismo: não provoca interesse, a criança prefere


inventar uma resposta, do que deixar de responder, mas não há
reflexão sobre o que está respondendo;
2) Fabulação: respostas sem reflexão, repetição de histórias, as
crianças buscam algo para se divertir, não é pela crença, é pelo
brincar. Pode ser por evitar refletir sobre a pergunta, busca pelo
processo cômodo de pensamento, ou utiliza algo que já utilizou
anteriormente, porém não deixa de usar;
3) Crença sugerida: busca por agradar ao pesquisador, não há
reflexão, pode ser pelo uso de palavras, ou pela insistência pela
resposta, e não gera interesse no psicólogo ou educador;

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4) Crença desencadeada: resposta com reflexão, porém a pergunta é
influenciada pelo interrogatório, deve ser aprofundada na busca,
buscar conhecer o que gerou aquela resposta;
5) Crença espontânea: a criança busca a reflexão em situações
anteriores, pois a pergunta realizada não é uma pergunta nova.

Tal teoria foi nesta proposta exposta, pois tal meio será
responsável pela formação de professores na instituição, onde serão
realizadas atualizações frequentes embasadas no método de Piaget,
no qual buscar-se-á, compreender o porquê das respostas dos alunos
frente ao estímulo das aulas, podendo assim questionar-se a
utilização de novos meios para ensiná-los, pois os educares terão
acesso ao pensamento da criança. Além de reuniões periódicas com
pais e professores com o intuito de orientá-los sobre o desenvolvimento
dos filhos/alunos, deixando de forma clara que tais orientações estarão
pautadas no método clínico-crítico de Piaget, pois nesta instituição
haverá uma educação inclusiva que busca compreender e auxiliar as
dificuldades dos alunos com NEE, possuindo um olhar humano e não
rotulado.

Compreende-se a dificuldade de colocar em prática todo


planejamento desta proposta, porém, se juntos, toda a equipe técnica e
de apoio, é possível, aos poucos, promover nesta cidade uma escola
que será referência para a educação inclusiva, podendo assim
influenciar outras instituições na busca por essa educação, além de
promover a todos os alunos um acolhimento de pessoas com NEE,
contribuindo para uma geração futura, na qual haverá mais respeito
entre as pessoas, mais acolhimento e empatia. A escola prepara o
aluno para a sociedade, para o viver em comunidade, sendo assim,
que essa preparação ocorra de forma a tornar invisível o diferente, não
de forma a negar a deficiência ou a vulnerabilidade, mas de a forma a
tê-las como fundo e não como figura.

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8. Conclusão:
Por meio da execução do trabalho foi possível perceber a
dificuldade de propor uma educação inclusiva nos dias atuais, mesmo
sendo algo proposto em uma declaração há anos atrás. Por mais
necessário que o papel do psicólogo seja dentro do ambiente escolar,
tal profissional ainda recebe pouca atenção, visto que muitas vezes o
corpo docente possui um enfoque maior na matéria teórica a ser
passada ao aluno, cremos que o psicólogo pode fazê-los tomar
consciência ao papel fundamental que a escola possui de socializar o
aluno, prepará-lo para a vida em comunidade.

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No caso da educação inclusiva, o psicólogo pode proporcionar
aos outros profissionais um olhar atento e sensível as necessidades
dos alunos daquela instituição, proporcionando atualizações
frequentes aos professores quanto a estudos e práticas que possam
favorecer o processo de aprendizagem e socialização das crianças.

9. Referencias:
AMARAL, L. A. Resgatando o passado: deficiência como figura e
vida como fundo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei
número 9394, 20 de dezembro de 1996.  
DECLARAÇÃO DE SALAMANCA: Sobre Princípios, Políticas e
Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais, 1994,
Salamanca-Espanha.
DELVAL, J. Introdução ao método clínico: descobrindo o
pensamento das crianças. Porto Alegre: Artmed, 2002.

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MACEDO, L. Ensaios Pedagógicos: como construir uma escola
para todos? Porto Alegre: Artmed, 2004.
PIAGET, J. A Representação do mundo na criança: com o
concurso de onze colaboradores. Aparecida, SP: Idéias & Letras,
2005
SAWAIA, B. B.; NAMURA, M R. Dialética exclusão/inclusão:
reflexões metodológicas e relatos de pesquisa na perspectiva da
Psicologia Social Crítica. Taubaté, SP: Cabral Editora Universitária,
2002.

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