Você está na página 1de 14

Psicologia e Educação Inclusiva

Proposta para atuação da Escola para Todos

Beatriz Gabriela Ferreira


2015233437
Gabriela Aires da Silva
2015128685

Bebedouro 2020
1. Apresentação do estudo de caso:

Talita trabalha há 15 anos como psicóloga de uma escola particular da cidade de


Bebedouro. Tal instituição tem cerca de 600 alunos por ano letivo. Durante sua atuação
profissional ela sempre se colocou a favor da Escola Para Todos.
Há cerca de dez anos a quantidade de alunos com necessidades educacionais
especiais (NEE), dentro de tal escola, aumentou consideravelmente. Se antes o índice era
de 0,5 aluno com NEE para cada 100 alunos, atualmente o índice é 1 para cada 20 alunos.
Com isto, a prática a favor da educação inclusiva de qualidade tem sido um dos grandes
desafios da instituição e da própria psicóloga.
É com grande frequência que chegam à Talita, diretamente ou por colegas,
afirmações do tipo: “Mas Roberto, aquele que tem TEA, é muito atrasado, debilitado, ele
está aqui pela socialização, mas a verdade é que nem isto ele consegue.” ou então, “Aquela
minha aluna, sabe a que tem Síndrome de Down, então, eu tenho a trabalheira de todo mês
fazer a ‘a-d-a-p-t-a-ç-ã-o’ de currículo, sabe? Ah, eu não consigo fazer isto do nada, o que
mais faço é aproveitar algumas atividades dos livros de primeiro ano e pronto.” (Professora
do 3º ano).
Estas dentre outras pejorativas tem incomodado Talita, o que a levou a buscar a
direção com uma proposta de encontros com todos os profissionais da escola para levantar
quais as maiores dificuldades de cada um deles dentro da atuação direta com a filosofia de
Escola para Todos na instituição.
A diretora aprovou o tema e avisou que na reunião do final do primeiro semestre
convocaria os professores para três encontros na primeira semana de julho.
Em todos os anos letivos, na primeira semana de julho, as professoras fazem
reuniões pedagógicas todos os dias para debate de quais projetos tiveram bons resultados
e quais devem ser readaptados ou retirados do PPP. Além de fechamento de semestre e
programação para o semestre seguinte.
Após a afirmação da diretora de que levaria tal tema para as reuniões de professores,
em três dias da semana, Talita se posicionou para a diretora dizendo que ela não a
entendeu bem.
Talita afirmou ter um projeto pronto para TODOS os profissionais da escola, não
apenas os professores, e durante TODA a semana de julho.
A psicóloga ainda afirmou que fazia ideia de que APENAS 5 dias com todos os
profissionais não seria suficiente para TRANSFORMAR a atuação de todos, mas que ainda
assim gostaria de trazer tal projeto como uma forma de sensibilizar a maioria deles em se
“reinventar” e a partir disto estarem abertos a novas buscas e aprendizados em favor da
Escola Para Todos de maior qualidade.

2. Declaração de Salamanca:

A declaração de Salamanca consiste na busca por direito a educação de pessoas


com deficiência. Sendo proclamada por representantes governamentais, agências
especializadas e organizações inter-governamentais em uma conferência mundial, ocorrida
em Salamanca, na Espanha, entre 7 e 10 de Junho de 1994.
A declaração assegura que as crianças que possuem deficiência, devem ter acesso
à educação, mantendo o nível de aprendizagem, considerando-se as habilidades,
necessidades e características de cada uma. Enfatizando que, as crianças com
necessidades educacionais especiais, necessitam de uma pedagogia centrada na criança,
para assim satisfazer suas necessidades do ambiente escolar. E, ainda salienta que as
escolas capazes de promover tal acolhimento, apresentam uma educação mais efetiva do
que outras escolas, sendo capazes de produzir uma educação inclusiva, alcançando a
escola para todos.
Além disso, a declaração demanda que as instituições educacionais se aprimorem
cada vez mais da educação inclusiva, que busquem conhecer sobre escolas que adotam a
escola para todos, por meio de intercâmbios para países que já adotam tais medidas,
elaborando a formação de professores para que saibam lidar e acolher alunos com
necessidades especiais. Além disso, os funcionários devem estar preparados para
identificar e intervir precocemente nesses casos.
Em relação aos governos com programas de cooperação internacional e agências
financiadoras internacionais, a declaração convida-os a acolher a educação para todos,
incentivando o treinamento e aprimoramento de professores, além de pesquisas a fim de
estabelecer centros para informação e documentação da educação inclusiva,
demonstrando resultados específicos como forma de promover o avanço da mesma.
A educação especial possui uma estrutura, a qual foi adotada na conferência mundial
de Salamanca (1994), tal estrutura objetiva informar ações, guias, práticas e políticas
embasados em países os quais adotam a educação inclusiva. Esta estrutura é
fundamentada nas recomendações das Nações Unidas, e outras organizações inter-
governamentais.
A estrutura atenta para o direito de que toda pessoa com deficiência pode manifestar-
se sobre os objetivos referentes à sua educação, este direito, foi proclamado na Declaração
Universal De Diretos Humanos e Na Declaração Mundial Sobre A Educação Para Todos.
O princípio orientador da estrutura afirma que a escola deve acolher a todos os
alunos independente de sua condição atual. A escola deve ter espaço para crianças com
deficiências físicas, intelectuais, e com super-dotação, além de contextos sociais
desvantajosos como crianças que vivem nas ruas, advindas de populações remotas,
pertencentes às minorias e, crianças marginalizadas.
Considerando o contexto da estrutura, a questão “necessidades especiais”, origina-
se dando referência às crianças que passam por dificuldades e deficiência na
aprendizagem, necessitando de uma educação inclusiva.
Para isso, a escola deve atentar-se para a realidade que a cerca, deve buscar
compreender a realidade dos alunos que frequentam aquele ambiente, para assim adequar-
se a eles. Não adianta, por exemplo, o uso de computadores para a realização da lição de
casa, quando naquela escola há crianças que não possui acesso à água potável em casa,
quanto mais a um computador com acesso à internet. A escola deve adequar-se ao aluno,
e não o contrário. As escolas devem buscar formas acessíveis de promover aos alunos
uma educação de qualidade e, que condiz a realidade dos alunos, incluindo os que estão
em maior desvantagem social, ou física.
O aumento de escolas que adotam a educação inclusiva, pode colaborar para a
construção de uma sociedade com menor preconceito e mais acolhedora, minimizando o
sofrimento de pessoas com necessidades especiais. A pedagogia centrada na criança pode
colaborar para a desconstrução do conceito de normalidade, abrindo as portas para uma
educação com menor índice de abandono escolar, diminuição de alunos repetentes. E,
acima de tudo, produzir uma comunidade que acolhe e respeita as diferenças do próximo,
dando maior atenção as potencialidades existentes em cada indivíduo.

1. Lei Nº 9394/96 – Lei De Diretrizes E Bases Da Educação Nacional – 1996

O termo educação especial é referido à educação oferecida aos alunos portadores


de necessidades especiais. A Lei nº 9394/96 (1996) assegura que este tipo de educação
deve ser oferecido, quando fazer-se necessário, desde a educação básica, ou seja, de zero
a seis anos de idade, sendo importante que os alunos que necessitarem desta educação
sejam direcionados a escolas e/ou salas de aulas que atendam a demanda que o mesmo
apresente, somente se não for possível sua integração nas salas de aula oferecidas no
ensino regular.
Além disso, a lei assegura que deve haver uma adaptação para que os alunos com
necessidades especiais alcancem os níveis de ensino desejados de acordo com a faixa
etária. Para isso, faz-se necessário a atuação de professores especializados, e, de certa
forma preparados para atender, acolher e colaborar para a adaptação e integração destes
alunos em salas de aula comuns. Ou seja, a escola deve investir na formação e atualização
dos professores, observando os recursos disponíveis em sua região, e a disponibilização
de vagas específicas para professores com tais qualificações, ressalta-se assim a
importância da lei nº10.436 (2002), que reconhece a importância de libras na formação de
professores, assumindo a mesma como forma de comunicação legal.
Por ir além do ensino de matérias curriculares, a escola ensina ao aluno a viver em
sociedade, por isso, a educação especial deve preparar os alunos com necessidades
especiais para o mercado de trabalho, para a vida em sociedade em si, observando e
fortalecendo suas potencialidades.
Sobre essa socialização, na legislação, em 2001, há o decreto nº 3956 o qual
assegura que qualquer tipo de discriminação às pessoas portadoras de deficiência deve
ser eliminado, podendo abrir-se um processo, o que pode contribuir para uma queda nas
discriminações e preconceitos sofridos pelos alunos no ambiente escolar.
Sendo compreensível a dificuldade em adaptar-se as leis e decretos da legislação,
deve-se afirmar a importância de atualização constante da formação do corpo docente, pois
a legislação é real, e existe para ser cumprida, com o enfoque no bem-estar dos alunos que
frequentam a instituição. A legislação aponta dúvidas, e por vezes revela pré-conceitos
existentes que não são reconhecidos como tais muitas vezes, porém ao serem levados à
luz da educação para todos podem ser descontruídos, proporcionando uma nova forma de
educar, uma forma mais humanizada e acolhedora, que é em si, a realização da educação
inclusiva que tanto se almeja.

3. Definição de Necessidades Educacionais Especiais (NEE):

O termo necessidades educacionais especiais, foi utilizado pela primeira vez no


Relatório Warnock em 1978, e utilizado novamente na declaração de Salamanca (1994) e,
objetiva promover maior integração dos alunos com deficiências físicas e/ou intelectuais, no
ambiente escolar. A utilização do termo opta por uma substituição de termos médicos, visando
diminuir o estigma sofrido por alunos com necessidades especiais, e reconhecendo que
necessidades educacionais especiais, são necessárias, e comuns no ambiente escolar, uma vez
que cada criança possui uma necessidade específica, bem como uma forma de aprendizado.
Precisamente, o termo Necessidades Educacionais Especiais (NEE), refere-se à pessoas
com deficiência intelectual/física, além de incluir pessoas superdotadas. Em sua utilização na
declaração de Salamanca, o termo passa por uma redefinição, reconhecendo que deve-se incluir
nestas necessidades especiais, pessoas em situação de desvantagem social, como pessoas
marginalizadas e indivíduos que apresentam desvio de conduta ou emocional.
Sendo assim, é importante que os membros da insituição tenham esse olhar voltado para
a inclusão e integração destes alunos, estando atentos para as necessidades de cada um,
buscando supri-las. Para isso, a presença do psicólogo escolar, pode ajudar aos docentes na
compreensão das necessidades dos alunos, promovendo ações mais humanizadas, e sensíveis
às situações em que os alunos se encontram, com o intuito de favorecer sua inclusão neste
ambiente, minimizando o preconceito sofrido por cada um, na busca por promover uma sociedade
com um olhar mais empático para essa população.

4. Dialéticas da educação inclusiva:

É imprescindível que o conceito de inclusão e exclusão passem por processos de


desconstrução constante, afinal, o que é a inclusão que tanto se almeja? O que é a exclusão que
é tão frequente no processo de inclusão? Quem a escola está incluindo? Está excluindo alguém?
Ao pensar, e repensar tais conceitos, observa-se uma dialética existente. Não uma ideia fixa do
que é inclusão, e o que é exclusão, ambas as práticas conversam entre si, e são, de certa forma,
dependentes.

Para conversar e descontruir alguns conceitos, a dialética expor-se e resguardar-se de


Amaral (2004), é muito prática e, refere-se à deficiência. Visto que nesta instituição, também há
alunos com necessidades educacionais especiais, devido a deficiências físicas e intelectuais, as
ideias aqui expostas serão fundamentadas nesta obra, sendo que ao final, também será discutida
a questão dos alunos com necessidades educacionais especiais referentes à forma precária de
vida.
Quanto à necessidade especial dos alunos com deficiências, a dialética expor-se e
resguardar-se de Amaral, coloca a própria aceitação como fator inicial para a inclusão, essa
aceitação refere-se a “expor-se diante de si mesmo”, essa atitude pode fazer com que o aluno se
decida quanto a expor-se ou não para o outro, lembrando que a decisão é sempre do aluno.
Expor o aluno sem que o mesmo esteja preparado, sem que haja seu consentimento, é
considerado uma forma de violência, pois pode provocar ao mesmo situações humilhantes, para
a qual o meu não estava preparado, portanto, o aluno tem o direito de ter sua privacidade
respeitada.
Há hábitos existentes no ambiente escolar que devem ser repensados, como o fato de
expor aos colegas de turma a necessidade especial de um colega sem o consentimento do
mesmo. Observando que os docentes o fazem com as melhores intenções, como para conseguir
o respeito e a empatia dos colegas de turma, ressalta-se a importância de um diálogo aberto entre
docente e psicólogo, para buscar uma forma de ajudar o aluno com necessidades especiais, por
vezes, o aluno possui um histórico de suporte afetivo que faça com que o mesmo se sinta
confortável o suficiente para expor-se, mas, na grande parte das vezes, o aluno não teve tal
suporte e, uma exposição pode não ser o mais adequando à ele naquele devido momento.
Quanto a resguardar-se, esse também é um direito do aluno com deficiência, ele pode
escolher evitar situações de socialização, e tendem a fazer isso quando o contato social é visto
como algo perigoso. O aluno não deve ser obrigado a se submeter a situações que o deixe
desconfortável, essa também é uma forma de agressão.
Por isso, em ações sociais oferecidas pela escola, deve-se repensar o conceito de
obrigatoriedade da participação de todos alunos, necessitando reuniões com pais e com o próprio
aluno para saber se o mesmo se sentirá humilhado em tais situações. O aluno deve ter voz ativa.
E, com o tempo, tais situações podem se tornar menos aversivas aos alunos com deficiência,
esse é um dos papéis da escola, ajudar o aluno com necessidades especiais a se socializar.
Ainda partindo dessa dialética, Amaral (2004), propõe que deve se ter “deficiência como
figura, vida como fundo”, ou seja, a deficiência da pessoa não é o que a define. Por isso, é se
extrema importância que a pessoa com necessidades especiais, tenha em seu histórico familiar,
um suporte afetivo e social. Não é sobre negar a existência da deficiência, ela existe, e não deve
ser negada, é poder sentir-se seguro a ponto de buscar mudar o estigma da educação inclusiva.
Sendo assim, a escola tem um papel fundamental na vida dessas pessoas, e cada
membro da escola deve refletir sobre sua responsabilidade, a responsabilidades de suas atitudes
que refletem diretamente nessas vidas. Hoje ainda há a necessidade de uma prática da educação
inclusiva, de forma a minimizar o sofrimento destes alunos, e não o aumentar. Deve partir do
pressuposto de que não há diferente, há alunos, e cada aluno possui uma necessidade
específica, ou seja, necessidades especiais são comuns no ambiente escolar, não há o porquê
de utilizar-se o termo “diferente”, quando na verdade, são fatos comuns, existentes em todos os
ambientes, a subjetividade, a história de vida, os anseios e desejos futuros fazem de cada pessoa
um ser único e cada ser possui uma necessidade. Veja-se que não são 100% dos alunos mestres
em matemática, há formas diferentes de aprender e de apreender, então porque rotular pessoas
como diferentes? São pessoas comuns, com necessidades comuns específicas, e é papel do
profissional buscar adequar-se e satisfazer tais necessidades.
Portanto fica aqui uma proposta aos docentes, para que os mesmos possam refletir sobre
como tem sido a relação aluno-professor em sala de aula, pois é por meio dessa relação que
acontece o processo de aprendizagem. O profissional deve se sentir capacitado para suprir as
necessidades de tal aluno. Se seu aluno com NEE não está conseguindo acompanhar a matéria,
o ideal não é dar a ele algo do primeiro ano, uma vez que o mesmo está no quarto, é papel do
professor se adequar a necessidade dessa criança, investigando: o que ela não está entendendo?
Além de refletir: Como posso ajudá-la a aprender? É necessário atualizar-se constantemente,
desafiar-se a aprender novos meios de transmitir conteúdos, novas formas de lecionar, centrar-
se na criança, e não, apenas no material teórico o qual ela deve aprender. A construção de um
vínculo significativo com o aluno, torna possível um processo de aprendizagem que pode
transformar vidas.
Outro aspecto importante a ser investigado e, se necessário, intervir de forma precisa, são
as questões familiares do aluno. É necessário que a escola estabeleça uma boa relação com a
família do aluno, pois ambas almejam o bem-estar do aluno em todo seu processo de
aprendizagem. Esse olhar atento as necessidades do aluno deve estar presente, havendo
comunicação entre as partes envolvidas, pois o comportamento do aluno na escola pode refletir
suas vivências em casa, e vice-versa. Sendo assim, são duas vertentes que se comunicam nas
formas de influenciar o aluno.
A família deve saber do diagnóstico do aluno, bem como fazer os devidos
acompanhamentos médicos quando necessários. Ainda são existentes as famílias que negam
determinadas condições dos filhos, há uma falta de aceitação quanto as necessidades especiais
do aluno, e a escola deve sempre que possível alertá-los, com um olhar sensível sobre a condição
da criança.
Para que a escola possa ter esse tipo de comunicação com a família, é necessário a
construção de uma relação saudável entre as partes, pois se a família vê a escola como rival o
mais prejudicado na situação é o aluno. Portando, a escola deve promover ambientes e ações
que possam favorecer a construção desse vínculo, no caso de famílias menos favorecidas, tentar
compreender a realidade dessas pessoas, buscando linguagem acessível, e prover suporte social
às mesmas.
Nessa questão das famílias menos favorecidas, faz-se necessária uma intervenção na
qual os membros da escola devem atentar-se para o estigma e os pré-conceitos existentes quanto
aos alunos marginalizados. Observa-se que há uma exclusão, intitulada inclusão, na qual tais
alunos são tratados de forma diferente aos outros, por vezes a escolha das turmas são feitas
embasadas na condição econômica dos alunos. Tal atitude é extremamente preconceituosa, e
foge da declaração de Salamaca, assim como a legislação.
Deve-se ter um olhar atento e sensível para os alunos, as dificuldades enfrentadas para
frequentar a escola, são reais, portanto é dever do profissional que atua no ambiente escolar,
desde a equipe técnica até a equipe de apoio, promover um ambiente que favoreça a inserção
destas pessoas na sociedade, para que sejam acolhidos, e aprendam a viver como comunidade,
recebendo o afeto e a atenção dados aos alunos mais favorecidos. Considerando-se o conceito
de meritocracia, é o pobre, o negro, o deficiente que merece maior atenção e afeto. Tal crítica
serve para mostrar de forma clara, a necessidade existente de um tratamento igualitário para
todos os alunos, sem exceção.

5. Método clínico de Piaget:

Para melhor compreender a ajudar aos alunos com NEE, é importante compreender como
se dá o desenvolvimento e educação dos mesmos, para assim, melhor atendê-los. Portanto, será
utilizada aqui nesta proposta o método clínico de Piaget, que busca acessar o pensamento e as
operações do sujeito, sem critério avaliativo.
O método clínico de Piaget (mais tarde conhecido como método clínico-crítico), possui o
objetivo de acessar o pensamento da criança, pela forma como ela s interage com o mundo ao
seu redor. Ter acesso ao pensamento da criança, ou crenças íntimas, como o próprio Piaget
chamava, é um trabalho dificultoso e pode levar um bom tempo, mas a partir disso é possível ver
as coisas pelo ponto de vista do sujeito.
O método foi criado com o intuito de prevenir e tratar as anomalias apresentadas por
sujeitos que apresentavam dificuldades escolares. Piaget, diferente de outros pesquisadores,
despertou o interesse por compreender o porquê das crianças apresentarem erros, tirando o foco
apenas dos erros, e partindo para o motivo. Assim, sua pesquisa mantinha o foco na justificativa
das respostas, e não o certo ou errado em si, dando origem as provas Piagetianas.
A estratégia utilizada por ele era criar situações para observar como a criança organizaria
mentalmente tal realidade, mostrando assim o que ela era capaz de realizar, tornando assim
possível o acesso ao pensamento da criança, por meio desse processo de “tomada de
consciência”.
Piaget acreditava que o acesso aos pensamentos da criança, se fazia possível por meio
de uma observação, a qual inspirava perguntas, ele fazia uma crítica ao uso de testes, pois os
mesmos poderiam distorcer as respostas, porém também salientava que somente a observação
não seria suficiente, sendo assim aponta o uso da união entre estes dois aspectos. Em seu
trabalho em conjunto com os pesquisadores, eles classificam os pensamentos encontrados em
cinco reações referentes ao objeto de conhecimento, sendo elas:

1) Não-importa-o-que-ismo: não provoca interesse, a criança prefere inventar uma resposta,


do que deixar de responder, mas não há reflexão sobre o que está respondendo;

2) Fabulação: respostas sem reflexão, repetição de histórias, as crianças buscam algo para
se divertir, não é pela crença, é pelo brincar. Pode ser por evitar refletir sobre a pergunta, busca
pelo processo cômodo de pensamento, ou utiliza algo que já utilizou anteriormente, porém não
deixa de usar;

3) Crença sugerida: busca por agradar ao pesquisador, não há reflexão, pode ser pelo uso
de palavras, ou pela insistência pela resposta, e não gera interesse no psicólogo ou educador;

4) Crença desencadeada: resposta com reflexão, porém a pergunta é influenciada pelo


interrogatório, deve ser aprofundada na busca, buscar conhecer o que gerou aquela resposta;

5) Crença espontânea: a criança busca a reflexão em situações anteriores, pois a pergunta


realizada não é uma pergunta nova.

Tal teoria foi nesta proposta exposta, pois tal meio será responsável pela formação de
professores na instituição, onde serão realizadas atualizações frequentes embasadas no método
de Piaget, no qual buscar-se-á, compreender o porquê das respostas dos alunos frente ao
estímulo das aulas, podendo assim questionar-se a utilização de novos meios para ensiná-los,
pois os educares terão acesso ao pensamento da criança. Além de reuniões periódicas com pais
e professores com o intuito de orientá-los sobre o desenvolvimento dos filhos/alunos, deixando
de forma clara que tais orientações estarão pautadas no método clínico-crítico de Piaget, pois
nesta instituição haverá uma educação inclusiva que busca compreender e auxiliar as dificuldades
dos alunos com NEE, possuindo um olhar humano e não rotulado.
Compreende-se a dificuldade de colocar em prática todo planejamento desta proposta,
porém, se juntos, toda a equipe técnica e de apoio, é possível, aos poucos, promover nesta cidade
uma escola que será referência para a educação inclusiva, podendo assim influenciar outras
instituições na busca por essa educação, além de promover a todos os alunos um acolhimento
de pessoas com NEE, contribuindo para uma geração futura, na qual haverá mais respeito entre
as pessoas, mais acolhimento e empatia. A escola prepara o aluno para a sociedade, para o viver
em comunidade, sendo assim, que essa preparação ocorra de forma a tornar invisível o diferente,
não de forma a negar a deficiência ou a vulnerabilidade, mas de a forma a tê-las como fundo e
não como figura.

6. Conclusão:

Por meio da execução do trabalho foi possível perceber a dificuldade de propor uma
educação inclusiva nos dias atuais, mesmo sendo algo proposto em uma declaração há
anos atrás. Por mais necessário que o papel do psicólogo seja dentro do ambiente escolar,
tal profissional ainda recebe pouca atenção, visto que muitas vezes o corpo docente possui
um enfoque maior na matéria teórica a ser passada ao aluno, cremos que o psicólogo pode
fazê-los tomar consciência ao papel fundamental que a escola possui de socializar o aluno,
prepará-lo para a vida em comunidade.

No caso da educação inclusiva, o psicólogo pode proporcionar aos outros


profissionais um olhar atento e sensível as necessidades dos alunos daquela instituição,
proporcionando atualizações frequentes aos professores quanto a estudos e práticas que
possam favorecer o processo de aprendizagem e socialização das crianças.
7. REFERÊNCIAS:
AMARAL, L. A. Resgatando o passado: deficiência como figura e vida como fundo.
São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei número 9394, 20 de


dezembro de 1996.

DECLARAÇÃO DE SALAMANCA: Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das


Necessidades Educativas Especiais, 1994, Salamanca-Espanha.

DELVAL, J. Introdução ao método clínico: descobrindo o pensamento das crianças.


Porto Alegre: Artmed, 2002.
MACEDO, L. Ensaios Pedagógicos: como construir uma escola para todos? Porto
Alegre: Artmed, 2004.

PIAGET, J. A Representação do mundo na criança: com o concurso de onze


colaboradores. Aparecida, SP: Idéias & Letras, 2005

SAWAIA, B. B.; NAMURA, M R. Dialética exclusão/inclusão: reflexões metodológicas


e relatos de pesquisa na perspectiva da Psicologia Social Crítica. Taubaté, SP:
Cabral Editora Universitária, 2002.

Você também pode gostar