Você está na página 1de 5

A Inclusão escolar e a sua história no Brasil

Atualizado: 25 de jul. de 2020

Inclusão escolar significa acolher todas as pessoas, sem exceção, no


sistema de ensino. Independente da sua cor, classe social, condição física,
ou mental, todas as pessoas têm o direito de frequentar a escola regular, e
todas as instituições devem oferecer atendimento especializado ao aluno
portador de deficiência. E nós, temos o dever de entender, reconhecer, e
respeitar o outro em suas diferenças e assim tornar possível o convívio
com pessoas diferentes de nós.

No Brasil, a Educação Especial passou por três momentos importantes, os


quais foram denominados pelos estudiosos de paradigmas, por
apresentarem um conjunto de ideias, valores e ações bem como medidas
legais e uma visão da deficiência que marcou a história dos atendimentos
oferecidos aos deficientes em determinada época.

No primeiro momento, chamado Paradigma da Institucionalização,


surgido no Período Imperial, as pessoas com deficiência que até então
eram excluídas de qualquer direito social e educacional passaram a ter a
possibilidade de atendimento oferecido em locais exclusivos para essa
demanda. Esse período ficou marcado com a criação de duas instituições:
o Imperial Instituto de Meninos Cegos (1854, atualmente chamado de
Instituto Benjamin Constant) e o Instituto dos Surdos Mudos (hoje
conhecido como Instituto Nacional de Educação de Surdos INES). Essas
instituições eram mantidas pelo poder central e foram criadas para
satisfazer as necessidades das classes mais abastadas da sociedade.
Quanto ao atendimento à classe trabalhadora, ficava a cargo das
instituições filantrópicas.
De acordo com Aranha (2005), o Paradigma da Institucionalização
caracterizou-se, pela retirada das pessoas com deficiência do convívio
social e comunitário, inserindo-as em instituições residenciais segregadas
ou escolas especiais situadas em localidades distantes do lugar em que
moravam. Ou seja, os deficientes ficavam internados em asilos,
instituições ou hospitais psiquiátricos longe do convívio com seus
familiares. Com isso, esse paradigma passou a ser muito criticado e um
novo paradigma começa a surgir, o Paradigma de Serviços.

Esse novo paradigma surge com a intenção de retirar os deficientes das


instituições, pois nelas não era possível o convívio em sociedade. Assim
passou a ser defendido o princípio da integração no qual as pessoas com
deficiência que não tivessem condições de ingressar na sala de aula
regular, deveriam receber uma educação especial em instituições ou salas
especiais para serem preparadas para conviverem em sociedade e um dia
frequentar a classe comum. Ou seja, a pessoa deficiente precisaria
adaptar-se à sociedade. No entanto, somente as crianças pertencentes às
classes sociais mais favorecidas, passavam a frequentar as classes
regulares depois de receberem a educação especial.

As crianças pertencentes às classes trabalhadoras quase nunca


conseguiam sair da educação especial, devido à falta de iniciativas
educacionais voltadas a essa classe e também devido ao fato de que a
maioria das deficiências eram incuráveis. A partir de então surge uma das
mais relevantes críticas ao Paradigma de Serviços: a impossibilidade de
se tratar ou curar as deficiências, sendo possível apenas preparar essas
pessoas para se tornarem um pouco mais independentes, através de uma
educação voltada para as suas necessidades. Dessa maneira as crianças
que apresentavam algum tipo de problema eram encaminhadas para uma
classe especial e caso não alcançassem uma melhora significativa da sua
deficiência, elas não estariam aptas a frequentar a sala comum e, portanto,
continuavam segregadas.
Outro problema surgido no Paradigma de Serviços foi que as crianças que
tinham dificuldades para acompanhar o currículo ministrado nas escolas
regulares também eram encaminhadas para as classes especiais até
mesmo para as classes para deficientes mentais.
Diante de tantas críticas, começou a surgir um novo movimento na área
da Educação Especial: o Paradigma de Suportes, no qual passou a ser
defendido o princípio da Inclusão.
Nessa visão, as escolas é que deveriam se preparar para receber todos os
alunos, inclusive aqueles com deficiência, para que todos tivessem acesso
à educação sem exceção. Porém, o fato de somente inserir pessoas com
deficiência em uma escola regular, são significa que esta seja inclusiva.
Isso só acontecerá se a escola tiver condições de proporcionar a todos os
seus educandos uma educação de qualidade que atenda a todas as suas
necessidades.
Para que uma escola se torne inclusiva, algumas ações deverão ser
priorizadas: capacitação de toda a equipe para lidar com as diferenças;
aquisição de recursos e materiais pedagógicos apropriados; adequação do
prédio escolar para que os alunos deficientes possam ter acesso a todas as
suas dependências; elaboração de projetos políticos pedagógicos que
atendam a todos sem exceção.

Vários movimentos internacionais ocorreram a favor da inclusão, porém


o que teve maior repercussão na política, gestão educacional e sobretudo,
da educação especial em nosso país foi a Declaração de Salamanca
(Espanha).
A Declaração de Salamanca, que foi um documento elaborado na
Conferência Mundial sobre Educação Especial, em Salamanca, na
Espanha, em 1994, com o objetivo de fornecer diretrizes básicas para a
formulação e reforma de políticas e sistemas educacionais de acordo com
o movimento de inclusão social. Essa declaração trouxe mudanças
significativas na educação brasileira na medida em que os seus princípios
e as orientações foram incorporados na LDB nº 9.394/96, no Plano
Nacional de Educação (Lei nº 10.172/01) e nas Diretrizes Nacionais para
a Educação Especial na Educação Básica (Resolução CNE/SEB nº
02/01).

Diante desses princípios e orientações, hoje, as escolas brasileiras têm o


desafio de ressignificar a sua prática constituindo-se numa escola
diferente daquela que vimos até então, ou seja, um espaço mais acolhedor
e não segregativo, que consiga se adaptar as necessidades dos educandos
e dessa maneira possa oferecer a eles possibilidades de desenvolvimento
e aprendizagem reconhecendo e valorizando as diferenças de cada um.

A inclusão é uma inovação que implica um esforço de modernização das


condições atuais da maioria de nossas escolas e incentive a instituição a
buscar uma melhora na qualidade do ensino oferecido. Em primeiro lugar
é importante buscar uma reformulação do seu modelo pedagógico
focando na vivência da inclusão por parte de alguns alunos. Mudar a
escola é enfrentar alguns desafios e o dos principais e recriar o modelo
educativo escolar. Escolas que se preparam reformulando a sua
abordagem pedagógica pensando na inclusão não excluem nenhum aluno
de suas classes, de seus programas, de suas aulas, das atividades e do
convívio escolar mais amplo. São contextos educacionais em que todos
alunos têm possibilidade de aprender, frequentando uma mesma e única
turma.

O professor deve ser um professor inclusivo no seu trabalho, deve levar


em conta os limites do aluno e explorar convenientemente as
possibilidades de cada um. Não se trata de uma aceitação passiva do
desempenho escolar, e sim de agirmos com coerência e admitirmos que
as escolas existem para formar as novas gerações considerando o seu
tempo de aprendizado, suas limitações e capacidades. Para ensinar desta
forma, parte-se do fato de que os alunos sempre sabem alguma coisa, de
que todo educando pode aprender, mas no tempo e do jeito que lhe é
próprio. Além do mais, é fundamental que o professor nutra uma elevada
expectativa em relação à capacidade de progredir dos alunos e que não
desista nunca de buscar meios para ajudá-los a vencer os obstáculos
escolares para que essa pratica tenha um bom funcionamento é
indispensável suprimir o caráter classificatório de notas e de provas e
substituí-lo por uma visão diagnóstica da avaliação escolar.

Baseando-se em um sistema inclusivo que tem sido eficaz, a Finlândia é o


país com educação inclusiva de alto nível nas salas de aula. A inclusão
conta com a cooperação da escola, com especialistas em saúde,
psicólogos e as famílias. Na Finlândia cerca de 99,9% dos alunos
receberam o certificado de educação básica, então a taxa de abandono é
quase zero. Eles acreditam que todos os alunos precisam ser assistidos de
maneira especial, mesmo não parecendo que ele tenha alguma
dificuldade. Se o aluno tem algum problema emocional, transtorno de
comportamento ou alguma situação na família eles são vistos dentro da
educação especial. Eles não têm dificuldades de aprendizagem, isso é
verdade. Qualquer criança que não está aprendendo com sucesso é
considerada "necessidades especiais".

A Finlândia tem um sistema de três níveis para a educação. O nível 1 é a


sala de aula regular em que os objetivos-alvo gerais são definidos para os
alunos e os professores ajudam os estudantes a atingir seus alvos. O Nível
2 é para alunos que não são bem-sucedidos nesta sala de aula e recebem
trabalhos modificados e as instruções em um programa relativamente
novo que chamaram de "Aprendizagem Flexível". O Nível 3 é para
estudantes que têm problemas para alcançar o Nível 1 ou Nível 2. O
investimento na formação do professor também é voltado a esse
programa inclusivo, formando cada pedagogo na graduação como
também um especialista em educação especial.

O Brasil, para fazer acontecer a inclusão, deve estudar sim os modelos de


sucesso, mas podemos juntos usar a nossa criatividade e paixão para
fazermos uma inclusão com qualidade. Agora é com a gente. Vamos
escrever uma história mais inclusiva!

Você também pode gostar