Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
“O ouro acumulado durante séculos foi saqueado nas duas décadas, 1520-1540, que
assistiram à conquista militar espanhola da América Central e da América do Sul.
Depois disso, embora o ouro fosse minerado em quantidades variáveis e
frequentemente substanciais, a prata predominou tanto em volume quanto em valor
produzido” (p. 100).
1. O ouro das Antilhas, apesar de ter se esgotado rápido, atraiu a atenção dos
colonizadores para o continente, e lá foram logo sendo descobertas as minas de prata,
que já funcionavam na década de 1530. A descoberta do ouro fez com que centros
urbanos e estradas se desenvolvessem rapidamente. (p. 102)
2. Os veios de prata estavam localizados em grandes altitudes, enquanto que o ouro era
explorado em terras mais baixas, nos aluviões. Enquanto que o ouro era encontrado
em seu estado natural, a prata, na maioria das vezes aparecia como o resultado da
reação com outros minérios.
AS TÉCNICAS DE EXTRAÇÃO
1. Para explorar um veio de prata, os mineiros abriam um poço e iam escavando cada
vez mais a fundo, o que levava a abertura de túneis estreitos e sinuosos conhecidos
como “sistema del rato”, atitude que foi responsável por muitos problemas na
mineração. Ao invés de cavar um poço reto e trazer o minério para cima com um
guindaste, era mais barato empregar operários indígenas para trazê-lo pelos
caminhos tortuosos. A partir de fins do século XVI, com a diminuição da mão de
obra indígena, a exploração tornou-se mais racionalizada.
2. Um dos primeiros sinais dessa racionalização foi a escavação de galerias de acesso,
os socavones: “túneis levemente ascendentes cavados desde a superfície para
intersectar galerias inferiores de uma mina”. Outro deles é o uso de bombas para
drenar a água para fora da mina, ao invés do uso de grandes bolsões de couro que
eram arrastados para fora. Os cabrestantes e a dinamitação são citados como outros
avanços.
3. Se extraído de veios, a descrição dessas técnicas é válida para a extração de ouro
também, contudo a maior parte do ouro era extraída em aluvião, no sistema de
lavagem.
O PROCESSAMENTO
1. Depois de triturar o minério e retirar o material inútil, o concentrado resultante era
mandado a uma casa de fundição (hacienda de minas nos Andes e ingenio na Nova
Espanha), um complexo que abrigava o proprietário da mina, os trabalhadores, os
depósitos de minério, estábulos, uma capela, tanques para amalgamação, tinas para
lavagem e o maquinário. Em 1600, havia cerca de 65 delas em Potosí e 370 na Nova
Espanha.
2. O processo de amalgamação era simples:
- o minério concentrado era triturado até adquirir uma consistência fina como a
areia (no “triturador”, movido à água (Potosí e N.E.) ou mulas (Nova Espanha)
vg. Figura 1) a fim de “assegurar o máximo de contato entre os minérios de
prata e o mercúrio durante a amalgamação, e por conseguinte o máximo de
produção de prata”(p.106).
- Depois de triturado, era enviado para a amalgamação. Colocava-se o minério
triturado (harina) num pátio (superfície plana, grande e pavimentada) em pilhas
de 900 a 1.600 kg, adicionava-se sal ou outro reagente (como as piritas de cobre
ustuladas), em seguida comprimia-se o mercúrio através da trama de um saco de
algodão, e por fim acrescentava-se água e espalhava-se a pilha para formar uma
torta de até 27 m de largura: “processava-se então a combinação da prata e do
mercúrio por afinidade química, ajudada por muita agitação. Durante a época
colonial esse trabalho era realizado pelos índios que amassavam com as pernas
nuas aquela mistura barrenta; somente na década de 1780 é que foram
substituídos por cavalos ou mulas” (p. 110)
- depois de seis a oito semanas, o Azoguero ou beneficiador, supervisor da casa
de fundição, fazia uma análise do material para ver se ocorrera a máxima fusão
da prata e do mercúrio. A mistura era empurrada para as tinas para ser lavada, e
nelas, se concentrava o amálgama no fundo, que depois era colocado num saco e
torcido para expelir o mercúrio e em seguida colocado debaixo de uma chaminé
para que o restante do mercúrio fosse evaporado, restando só a prata.
3. O processo com o pátio foi utilizado na Nova Espanha para amalgamar ouro a partir
de meados do XVII, e nos centros andinos raramente. Lá, utilizavam-se tanques de
pedra (cajones) para amalgamação. Em todo o caso, o processo foi fruto de
experimentações dos próprios fundidores, sendo aprimorado ao longo do tempo.
4. No final do século XVIII, a coroa espanhola enviou técnicos alemães à América
para ensinar o procedimento do Barão Von Bron, tido como mais eficiente, e
constataram que para as condições da América o método do pátio, atribuído ao
refinador de Charcas, Alvaro Alonso Barba, era mais eficiente para o caso
americano.
5. Outra técnica, secundária a partir de fins do XVI, era a fundição, utilizada por
mineiros indígenas. Era bem mais simples: triturava-se o metal em um maray
(“seixo grande com uma base curva que era preparado para balançar de um lado
para o outro), que em seguida era fundido num forno de um metro de altura. Essa
técnica foi utilizada em Potosí até 1571.
6. Contudo, as principais técnicas de fundição chegaram à América (primeiro nas
Antilhas [1528] depois ao continente) por meio de técnicos alemães enviados pela
companhia dos famosos banqueiros Fugger. Triturava-se o metal à mão ou numa
engenhoca para ser fundido em um “forno castelhano” “que consistia de uma coluna
vertical oca com cerca de 3m² de largura e entre 1,8 e 1,7 metros de altura,
construída de pedra ou tijolo”, com furos nas laterais, ligados a foles. A prata
fundida ainda apresentava um teor de chumbo elevado, realizando-se um refino
adicional por “Copelação”.
7. “A fundição persistiu mais intensamente no período colonial do que se imaginou.
Era a técnica preferida do mineiro pobre ou do operário índio que recebia parte de
seu salário em minério. Um pequeno forno com fole manuais (parada de fuelles) era
de fabricação barata; havia centenas deles espalhados pelas vilas mineiras.
8. O processamento do ouro era bem simples: separar o metal puro de qualquer
material encontrado junto a ele. Se esse material fosse somente areia, bastava lavar
ou batear o ouro em calha. Se houvesse algum tipo de rocha nos veios, triturava-se o
ouro e se procedia à amalgamação com ácido nítrico.
AS MATÉRIAS-PRIMAS
OS SISTEMAS DE TRABALHO
1
Que significa “rodízio” em quíchua.
8. Naborías e yanaconas (pessoas diretamente dependentes dos favores de uma pessoa
nobre ou rica) também trabalharam nas minas em meio aos mitayos. Seu emprego
cresceu com o tempo, pois adquiram especialidades em certos estágios do processo
de refinamento dos minérios. Sua importância era tamanha que, em alguns lugares
como numa mina do norte da Nova Espanha chegaram a representar 68,5% da força
de trabalho, enquanto que os índios recrutados correspondiam a 17,7% e os escravos
negros a 13,8%, em 1597. Já em Potosí, enquanto a força de trabalho correspondia a
quase 11 ou 12 mil pessoas e 4500 eram mitayos, grande parte dos trabalhadores
eram “mingas”, ou pessoas assalariadas (mesmo que a grande maioria deles fosse de
mitayos estabelecidos ou de folga no rodízio)
9. “A partir de finais do século XVI, a forma predominante de emprego nos grandes
distritos mineiros era claramente o trabalho assalariado” (p. 126). No XVII, o
recrutamento especializado cresceu bastante e no final do XVIII já representava ¾
do total de gastos das empresas de mineração. Ainda assim, o recrutamento forçado
e mesmo a escravidão persistiram em algumas áreas.
10. Os escravos negros correspondiam a parte expressiva da mão de obra empregada na
mineração de ouro da Nova Espanha, contudo, não eram empregados nas minas
localizadas em grandes altitudes por uma provável inaptidão ao ar frio e rarefeito.
Nas minas, poderiam ser empregados, mas como auxiliares, criados, carpinteiros
etc, não chegando a trabalhar diretamente nas minas.
11. Enquanto que os negros não resistiriam ao trabalho das minas nos altiplanos, a
mortalidade indígena era muito elevada na mineração de ouro das planícies.
AS CONDIÇÕES DE TRABALHO
1. Eram péssimas. A tarefa menos desagradável era a dos barreteros que cavavam o
minério nos veios.
2. A pior era a dos tenateros, carregadores, que utilizavam qualquer coisa para carregar
os pesados minérios à superfície por caminhos apertados, sinuosos e cheios de
perigo.
3. “As quedas e a doença [normalmente respiratória] eram um risco maior que os
desmoronamentos das galerias, os quais aconteciam, mas, segundo parece, não
eram comuns”. (p. 127).
4. Já a mineração do ouro expunha os homens aos descômodos de trabalhar muito
tempo dentro da água e, consequentemente, às doenças tropicais.
5. O trabalho em Huancavelica e na amalgamação expunham os trabalhadores ao
contato direto com o mercúrio, seja líquido ou gasoso.
6. A trituração produzia muito pó,o que poderia causar silicose.
AS REPERCUSSÕES SOCIAIS
O CAPITAL