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RESUMOS DAS

OBRAS DO
VESTIBULAR DA
UVA 2023.1
E.E.M.T.I Maria Alice Ramos Gomes

Produção: Nara Sena


RECORDAÇÕES DO
ESCRIVÃO ISAÍAS
Lima Barreto
QUEM FOI LIMA BARRETO?
Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu
no Rio de Janeiro, 13 de maio de 1881 e faleceu
também no Rio de Janeiro, em 1 de novembro
de 1922. Foi um jornalista e escritor que
publicou romances, sátiras, contos, crônicas e
uma vasta obra em periódicos, principalmente
em revistas populares ilustradas e periódicos
anarquistas do início do século XX. A maior
parte de sua obra foi redescoberta e publicada
em livro após sua morte por meio do esforço de
Francisco de Assis Barbosa e outros
pesquisadores, levando-o a ser considerado um
dos mais importantes escritores brasileiros.

QUAIS SUAS PRINCIPAIS OBRAS?


1909 - Recordações do Escrivão 1923 - Bagatelas
Isaías Caminha 1948 - Clara dos Anjos (póstumo)
1911 - Triste Fim de Policarpo 1953 - Diário Íntimo
Quaresma 1953 - Feiras e Mafuás
1912 - As Aventuras do Dr. 1953 - Marginália
Bogoloff 1953 - Vida Urbana
1915 - Numa e a Ninfa 1956 - Cemitério dos Vivos
1919 - Vida e Morte de M. J. (póstumo e inacabado)
Gonzaga de Sá 1956 - Coisas do Reino de Jambon
1920 - Histórias e Sonhos 1956 - Impressões de Leitura
1923 - Os Bruzundangas 2016 - Sátiras e outras subversões:
1956 - Correspondência (2 textos inéditos. Organização de
volumes) 1997 - O Subterrâneo do Felipe Botelho Corrêa.
Morro do Castelo
MOMENTO LITERÁRIO
Lima Barreto pertence a uma geração de escritores preocupados
com as questões sociais, que viam na literatura uma forma de
denunciar toda a hipocrisia reinante. Acreditava, pois, na literatura
militante, uma vez que dava a ela o poder de “comunicar umas almas
com as outras”, não podendo ainda esquecer que sua produção
literária se encontrava no contexto das relações sociais vivas.

O autor foi um dos representantes do Pré-modernismo, período de


transição entre o simbolismo e o modernismo. Algumas das
características desse período literário: ruptura com o academicismo,
linguagem coloquial, exposição dos problemas sociais, personagens
comuns (mulato, sertanejo, caipira). O escritor faz crítica ao
nacionalismo ufanista e o positivismo.
RESUMO DA OBRA

De família pobre, do interior, Isaías, na sua juventude vê-se na


necessidade de ir para a capital em busca de melhores condições e
galgar um alto cargo no futuro. Vai com uma recomendação dada pelo
coronel advindo de seu tio Valentim a quem lhe acompanha. Durante
sua viagem, Isaías passa a perceber as dificuldades que ora enfrentaria
mesmo no translado até à capital. Vive os insucessos de conviver com a
classe burguesa e percebe a realidade e hipocrisia da sociedade.

No decorrer de suas dificuldades, Isaías busca um emprego para se


sustentar na capital. Com muita de dificuldade de encontrar trabalho,
recebe auxílio da mãe junto com o trabalho de produzir textos
acadêmicos para um amigo. Com todo o sofrimento vivido, Isaías
percebe-se numa situação de solidão e apatia moral de si mesmo por
não ter um sentido na vida, então é nesse momento que conhece o
respeitado jornalista Gregoróvitch Rostóloff que é quem lhe mostra a
vida na carreira jornalística do dia a dia do jornal O Globo.
A partir daí, Isaías consegue um emprego de contínuo no jornal e
lá conhece Ricardo Loberant, diretor do jornal (um sensacionalista
nato), e Frederico Lourenço, o Floc, um crítico literário frustrado por
conseguir produzir apenas as notas de jornal. Isaías passa a contar,
no seu “relatório”, as características físicas daquele jornal como um
jornal imundo e de péssimas condições humanas de trabalho além
das características de cada trabalho exercido. Além das dificuldades
no jornal, Isaías relata os momentos vividos no cortiço, relata suas
relações com as pessoas e sua indiferença no trato com as pessoas e
tratando bem somente aquelas as quais o interessa (característica
influenciada de Floc). Apresenta a desunião entre os pares de
funcionários do jornal a exemplificar Lobo (o gramático) que
menospreza o trabalho dos repórteres do jornal. No meio da trama há
uma discussão entre o deputado Castro e Ricardo. Floc tinha aversão
aos novos poetas valorizando aqueles que tivessem influência política
junto ao governo.

Com isso, a credibilidade do jornal O Globo passou a ser


questionável. Por outro lado, o respeito diante da profissão dos
repórteres do jornal ainda era algo presente. Floc estava responsável
em escrever sua crônica diária (crônica a respeito de um espetáculo
musical, o primeiro que Floc gostou de verdade e pretendia fazer uma
boa crítica), mas, devido o costume de fazer uma crítica sem bajular
um nome político importante, não conseguiu fazer. Com isso, veio-lhe
uma onda de sofrimento à mente e causou o suicídio do repórter
comum tiro na cabeça. Isaías é encarregado de dar o recado a
Ricardo Loberant que esse se encontra na casa de sua amante.
Devido a descoberta de Isaías, Loberant passa a trata-lo com
cuidado e consideração. Comisso, em dois meses Isaías passa de
contínuo à repórter da Marinha posto esse valorizado na sociedade.
Com o passar do tempo, a relação de Isaías e Loberant se estreitam
também na vida boêmia. No relato, Isaías se vê conquistado todos os
sonhos (mais tarde, inclusive esposa e filho, que morreu), mas se vê
decepcionado, ainda na juventude como repórter, um vazio
existencial. Devido a isso, Isaías decide abandonar o jornal e se torna
político, mesmo contra a vontade de seu “amigo” Loberant.

PERSONAGENS
Isaías Caminha: jovem estudante que se vê na necessidade de um
futuro melhor para fazer-se doutor.

Tio Valentim: tio que aconselha Isaías a ir para o Rio de Janeiro.

Coronel Belmiro: Líder político local que ajuda Isaías.

Laje da Silva: Amigo que dá abrigo à Isaías Caminha.

Ivã Gregoróvitch Rostóloff: Jornalista do O Globo que auxilia Isaías a


procurar um emprego no jornal.

Doutor Castro: deputado que Isaías insiste em ver para que este o
auxilie para poder cursar medicina.

Ricardo Loberant: diretor do jornal que Isaías trabalha.


Posteriormente, torna-se amigo e companheiro de Isaías e torna esse
membro importante do jornal.

Frederico Lourenço do Couto (Floc): crítico literário que comete


suicídio em virtude do desespero em não conseguir redigir um texto
positivo para a crônica de um espetáculo visto.

Aires d’Ávila: anterior braço-direito de Loberant. Jornalista de escrita


questionável criticado por Floc.
ANÁLISE DA OBRA
Filho de uma escrava liberta e um tipógrafo, Lima Barreto nunca
teve em vida o reconhecimento que a sua obra merecia. Isso talvez se
justifique, ao menos em parte, pela repercussão de Recordações do
escrivão Isaías Caminha na sociedade carioca. Ao ambientar o
personagem numa redação de jornal, Lima Barreto trata de maneira
impiedosa a classe jornalística, que respondeu aos insultos banindo o
autor da imprensa carioca. E, embora tenha sido publicada em 1909,
em meio ao otimismo pós-Lei Áurea, a história de Isaías mostra um
cotidiano bastante cruel para os negros. O jovem é culto e inteligente,
mas isso não basta para que ele seja inserido na sociedade, pois será
esmagado pelo preconceito racial.

De caráter autobiográfico, o livro defende que o meio massacra as


condições de um indivíduo se desenvolver através de méritos
próprios. Assim como Lima Barreto, que por toda sua vida lutou
contra o preconceito, Isaías narra suas memórias com a convicção de
ter vencido em parte os problemas e as humilhações que o meio social
preconceituoso lhe delegava, porém mais consciente de estar vivendo
uma situação falsa ou de exceção.

No decorrer de seu texto, o eu-poético, presente na obra pelo


relator/narrador-personagem Isaías Caminha, faz um relato acerca da
sociedade carioca. A trama se desenrola na capital do Rio de Janeiro.

O desenrolar da história mostra um jovem pobre que precisa de


um futuro melhor. Sabedor que no local onde vive não vai conquistar
o que sonha, decide ir para a capital do Rio de Janeiro em busca
daquilo que almeja: um futuro melhor, porém, no decorrer de sua
viagem, Isaías se vê em um ambiente totalmente diferente do que era
esperado. Sofre todos os tipos de preconceito de todas as pessoas
com as quais convive.
Outro fator preponderante na obra e mérito de crítica do autor é
a subordinação. Na relação entre Isaías e o chefe Loberant, vê-
se como esse processo se dá até ele alçar uma grande posição
dentro do jornal e da sociedade.

Vale ressaltar que, segundo Monteiro Lobato, o jornal O Globo,


mencionado por Lima Barreto, é na realidade o jornal Correio da
Manhã, local onde Barreto colaborava e fazia duras críticas ao
seu chefe, Edmundo Bittencourt.

FICHA DE LEITURA
ESCOLA LITERÁRIA: Pré-modernismo (não se configura como
escola literária, mas sim um período de transição).

TIPO DE ROMANCE: romance urbano.

ASSUNTO: denúncia do preconceito racial e os bastidores do


jornalismo da época.

TEMÁTICA: Racismo, crítica aos bastidores do jornalismo da


época, a empreguismo, à burocracia emperrada e à política
ineficiente.

ESPAÇO: Rio de Janeiro.

TEMPO: cronológico, se passa no século XX. Porém, há que se


considerar que não há linearidade já que há flashbacks e
considerações acerca de um futuro paralelo que fora vivido
antes do relato de Isaías Caminha.

NARRADOR: 1ª pessoa, autobiográfico e também narrador-


protagonista.
EXERCÍCIOS
1. (UEL) Leia o trecho abaixo.

Para um artista militante, sua função não é exclusivamente produzir


uma obra de arte esteticamente válida, mas, e sobretudo, realizar uma
obra que contenha um sentido revolucionário do ponto de vista social.
Sua posição consiste em afirmar não unicamente o caráter ideológico
da obra literária, mas, e principalmente, em afirmar a necessidade de
que ela atue como veículo de conscientização e de esclarecimento do
público.
(FANTINATI, Carlos Erivany. O profeta e o escrivão: estudo sobre Lima
Barreto. São Paulo: Hucitec, 1978. p. 3.)

Com base no comentário transcrito acima, quanto ao romance


Recordações do Escrivão Isaías Caminha, de Lima Barreto, é correto
afirmar:

a) Enquanto escritor militante, que via na literatura um meio de levar


à mudança social, Lima Barreto narra sua história pessoal no romance
Recordações do escrivão Isaías Caminha, no sentido de mostrar que
toda literatura engajada deve partir de fatos reais, que podem ser
comprovados historicamente, e não de fatos fictícios.

b) Visando o engajamento social, Lima Barreto, na obra Recordações


do escrivão Isaías Caminha, utiliza-se de referências históricas
retiradas de livros de História do Brasil e de crônicas jornalísticas da
segunda metade do século XX, sendo seu livro considerado uma obra
essencialmente sociológica.

c) Em Recordações do escrivão Isaías Caminha, a conscientização e o


esclarecimento do público quanto à arte e sua finalidade, quanto à
posição do artista e ao dever do crítico, são resultados da postura
militante de Lima Barreto e encontram -se nas reflexões e nas críticas
feitas por ele à ditadura exercida pela imprensa da época, começo
do século XX. Nesse contexto, o modelo de jornalismo pautava-se
pela crítica elogiosa aos escritores apadrinhados, mantendo no
anonimato ou mesmo descompondo aqueles que não o eram, como
ocorre no jornal em que trabalha o protagonista Isaías.

d) O aspecto revolucionário do romance Recordações do escrivão


Isaías Caminha encontra-se, sobretudo, no trabalho dispensado à
linguagem, devido às influências de princípios estéticos das
vanguardas europeias do início do século XX, como o Futurismo e o
Cubismo. Nesse romance Lima Barreto rompe com as normas da
sintaxe tradicional, quebra a linearidade do enredo, passando a
utilizar-se de um vocabulário pouco erudito, próximo ao falar
cotidiano do homem comum, conforme se observa nos artigos de
jornal escritos pela personagem Isaías Caminha.

e) O romance Recordações do escrivão Isaías Caminha, ao discutir a


posição do negro, Isaías Caminha, dentro da sociedade carioca do
começo do século XX, resgata o tema da escravidão, bastante
discutido pelos escritores românticos, sobretudo por José de
Alencar, o que revela o caráter social da literatura de Lima Barreto e
a postura engajada do escritor.

2. (UFLA) No romance Recordações do Escrivão Isaías Caminha, de


Lima Barreto, Isaías Caminha procura estudar na capital porque:

a) pretende casar-se com uma moça que tenha instrução.


b) quer ter as regalias e prestígios que só um diploma pode
fornecer.
c) seu tio Valentim não suporta mais sua presença.
d) quer fugir da extrema miséria vivenciada por todos os seus
parentes.
e) acredita que só será completo com um diploma nas mãos.
3. (UFLA) Em um determinado momento da narrativa, Isaías
Caminha, o protagonista do romance de Lima Barreto, diz que “fosse
qual fosse o fim da minha vida os esforços haviam de ser titânicos.”
O personagem quis dizer que:

a) sem violência não é possível controlar o preconceito da sociedade.


b) somente com muita força de vontade é possível conviver com a
hipocrisia da sociedade capitalista.
c) sem diploma é quase impossível sobreviver no Rio de Janeiro.
d) por ser pobre e negro teria que fazer grandes esforços na vida
para provar sua identidade.
e) a miséria é um grande empecilho para o sucesso.

4. A obra de Lima Barreto:

a) Reflete a sociedade rural do século XIX, podendo ser considerada


precursora do romance regionalista moderno.
b) Tem cunho social, embora esteja presa aos cânones estéticos e
ideológicos românticos, e influenciou fortemente os romancistas da
primeira geração modernista.
c) É considerada pré-modernista, uma vez que reflete a vida urbana
paulista antes da década de 1920.
d) Gira em torno da influência do imigrante estrangeiro na formação
da nacionalidade brasileira, refletindo uma grande consciência crítica
dessa problemática.
e) É pré-modernista, refletindo forte sentimento nacional e grande
consciência crítica de problemas brasileiros.

5. (UFRGS-RS) Uma atitude comum caracteriza a postura literária de


autores pré-modernistas, a exemplo de Lima Barreto, Graça Aranha,
Monteiro Lobato e Euclides da Cunha. Pode ela ser definida como

a) a necessidade de superar, em termos de um programa definido, as


estéticas românticas e realistas.
b) pretensão de dar um caráter definitivamente brasileiro à nossa
literatura, que julgavam por demais europeizada.
c) a necessidade de fazer crítica social, já que o realismo havia sido
ineficaz nessa matéria.
d) uma preocupação com o estudo e com a observação da realidade
brasileira.
e) aproveitamento estético do que havia de melhor na herança
literária brasileira desde suas primeiras manifestações.

6. Estão, entre as principais obras literárias de Lima Barreto, os


seguintes títulos:

a) Triste fim de Policarpo Quaresma, A mão e a luva e Memorial de


Aires.
b) Triste fim de Policarpo Quaresma, Recordações do escrivão Isaías
Caminha e Clara dos Anjos.
c) Clara dos Anjos, Memórias de um Sargento de Milícias e Lucíola.
d) Memórias Póstumas de Brás Cubas, Recordações do escrivão
Isaías Caminha e Urupês.
e) Os sertões, Canaã e Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá.

7. Estão, entre as características da obra de Lima Barreto, exceto:

a) Preocupação com o preconceito racial e a discriminação social do


negro e do mulato, elementos presentes nos livros Clara dos Anjos e
Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá.
b) A vida economicamente difícil de pequeno funcionário público
somada aos desgostos domésticos, à revolta contra o preconceito
racial e às crises de depressão e alcoolismo forjou o crítico social
severo que foi Lima Barreto.
c) Em sua obra, registrou quase todos os acontecimentos da
República, entre eles o episódio da insurreição antiflorianista,
retratado no livro Triste fim de Policarpo Quaresma.
d) Sua obra costuma ser dividida em duas fases: na primeira fase,
observam-se traços do romantismo em decadência; na segunda,
mais interessante e profícua, predominam características do realismo
brasileiro.

8. O livro aborda um tema constante na obra de Lima Barreto: o do


preconceito racial. Assinale a alternativa que não contenha um
trecho que permita antever isso:

a) “Ah! Seria doutor! Resgataria o pecado original do meu


nascimento humilde, amaciaria o suplício premente, cruciante e
onímodo de minha cor...”
b)” Doutor, como passou? Como está, doutor? Era sobre-humano!...”
c) “ Não tenho pejo em confessar hoje que quando me ouvi tratado
assim, as lágrimas me vieram aos olhos.”
d) “ Entretanto, isso tudo é uma questão de semântica: amanhã,
dentro de um século, não terá mais significação injuriosa.”
e) “ se me esforço em fazê-lo literário é para que possa ser lido, pois
quero falar das minhas dores e dos meus sofrimentos ao espírito
geral e no seu interesse, com a linguagem acessível a ele.

9. Assinale a alternativa que não contenha um trecho em que haja a


presença da metalinguagem:

a) “Penso — não sei por quê — que é este meu livro que me está
fazendo mal... E quem sabe se excitar recordações de sofrimentos,
avivar as imagens de que nasceram não é fazer com que, obscura e
confusamente, me venham as sensações dolorosas já semimortas?”
b) “Talvez mesmo seja angústia de escritor, porque vivo cheio de
dúvidas, e hesito de dia para dia em continuar a escrevê-lo. Não é o
seu valor literário que me preocupa; é a sua utilidade para o fim que
almejo”
c)“ Se me esforço por fazê-lo literário é para que ele possa ser lido,
pois quero falar das minhas dores e dos meus sofrimentos ao espírito
geral e no seu interesse, com a linguagem acessível a ele.”
d) É este o meu propósito, o meu único propósito (...)Confesso que
os leio, que os estudo, que procuro descobrir nos grandes
romancistas o segredo de fazer. Mas, não é a ambição literária que
me move o procurar esse dom misterioso para animar e fazer viver
estas pálidas Recordações.
e) Com elas, queria modificar a opinião dos meus concidadãos,
obrigá-los a pensar de outro modo; a não se encherem de
hostilidade e má vontade quando encontrarem na vida um rapaz
como eu e com os desejos que tinha há dez anos passados. Tento
mostrar que são legítimos e, se não merecedores de apoio, pelo
menos dignos de indiferença”.

10. (UESC) “Chegou e eu esperei ainda. Afinal, fui levado à sua


presença. Ao lado, em uma mesa mais baixa, lá estava o Capitão
Viveiros, o tal escrivão, muito solene, com a pena atrás da orelha, o
seu olhar cúpido e a sua papada farta. O delegado pareceu-me um
medíocre bacharel, uma vulgaridade com desejos de chegar a altas
posições; no entanto, havia na sua fisionomia uma assustadora
irradiação de poder e de força. Talvez se sentisse tão ungido da
graça especial de mandar, que na rua, ao ver tanta gente mover-se
livremente, havia de considerar que o fazia porque ele deixava.
Interrogou-me de mau humor, impaciente, distraído, às
sacudidelas. Repisava uma mesma pergunta; repetia as minhas
respostas.”
BARRETO, Lima. Recordações do escrivão Isaías Caminha. São
Paulo: Ática, 1994. p. 63. (Série Bom Livro).

Com base no fragmento inserido na obra, está correto o que se


afirma na alternativa

a) A mudança de condição de vida de Isaías, quando passa de


contínuo a repórter no jornal “O Globo”, provoca uma alteração
radical em seus conceitos sobre os outros e sobre si mesmo.
b) O escrivão Isaías Caminha considera os literatos com os quais
conviveu, quando trabalhou na redação de um jornal, como modelos a
imitar no seu fazer literário.
c) O narrador escreve as suas “Recordações” com o intuito de
alcançar a glória literária e, com ela, a ascensão social.
d) O delegado representa a autoridade que, movida pelo preconceito,
exerce, de forma arbitrária, o poder.
e) O narrador-personagem, ao descrever o delegado, revela-se
imparcial.

GABARITO

1. C 6. B
2. B 7. D
3. D 8. E
4. E 9. E
5. C 10. D
SÃO BERNARDO

Graciliano Ramos
QUEM FOI GRACILIANO RAMOS?

Graciliano Ramos de Oliveira nasceu


em Quebrangulo, Alagoas, em 27 de
outubro de 1892. Terminando o segundo-
grau em Maceió, mudou-se para o Rio de
Janeiro, onde trabalhou como jornalista
durante alguns anos. Em 1915 volta para
o Alagoas e casa-se com Maria Augusta de
Barros, que faleceu em 1920 e o deixa
com quatro filhos.

Trabalhando como prefeito de uma pequena cidade interiorana, foi


convencido por Augusto Schmidt a publicar seu primeiro livro,
“Caetés” (1933), com o qual ganhou o prêmio Brasil de Literatura.
Entre 1930 e 1936 morou em Maceió e seguiu publicando diversos
livros enquanto trabalhava como editor, professor e diretor da
Instrução Pública do Estado. Foi preso político do governo Getúlio
Vargas enquanto se preparava para lançar “Angústia”, que conseguiu
publicar com a ajuda de seu amigo José Lins do Rego em 1936. Em
1945 filia-se ao Partido Comunista do Brasil e realiza durante os anos
seguintes uma viagem à URSS e países europeus junto de sua
segunda esposa, o que lhe rende seu livro “Viagem” (1954).

Artista do segundo movimento modernista, Graciliano Ramos


denunciou fortemente as mazelas do povo brasileiro, principalmente a
situação de miséria do sertão nordestino. Adoece gravemente em
1952 e vem a falecer de câncer do pulmão em 20 de março de 1953
aos 60 anos.
QUAIS SUAS PRINCIPAIS OBRAS?
Caetés (1933)
São Bernardo (1934)
Angústia (1936)
Vidas Secas (1938)
Infância (1945)
Insônia (1947)
Memórias do Cárcere (1953)
Viagem (1954)

MOMENTO LITERÁRIO
O escritor Graciliano Ramos foi inserido na segunda fase do
Modernismo brasileiro – geração de 1930. Portanto, São Bernardo é
um romance pós-moderno. Nessa geração destacou-se o
regionalismo nordestino, situação em que se encaixa a obra em
análise. Esses romances tinham a intenção de denunciar os problemas
enfrentados pelo homem do Nordeste, dentre eles os de causa social,
a miséria e a exploração do sertanejo devido a seca, o coronelismo
e/ou o declínio dos canaviais.

Pode-se observar que há no romance uma tensão crítica, visto


que o herói é resistente quanto às pressões do meio social em que se
insere e da natureza, assim, formulando ou não ideologias explícitas.
O regionalismo do autor atinge caráter universal, uma vez que ele
explora o interior das personagens, a partir de perspectivas
psicológicas. Os enredos de Graciliano nascem da junção entre
personagem, paisagem e realidade socioeconômica, tudo embasado
na criticidade. Seu herói (anti-herói) sempre será um problema. Há
também em São Bernardo o zoomorfismo, haja vista que se atribui
características de animais aos seres humanos, a saber: rasteja, laça,
tem faro de cão etc.
Graciliano Ramos produziu a mais importante parcela de sua
ficção nos anos 1930. Não foi um período fácil. A Europa vivia um
clima de guerra com a expansão nazista. No Brasil, a ascensão de
Vargas ao poder, e sua indisposição de abandoná-lo, conduziram o
país à ditadura. Em sua obra, Graciliano conseguiu traduzir o clima de
tensão social e seus desdobramentos psicológicos.

Em Vidas Secas, Graciliano focalizou na opressão a perspectiva


do oprimido. Em São Bernardo, apresentou-a do ponto de vista do
opressor, mas não se restringiu a isso. Fugindo de qualquer
estereótipo simplificador, dotou seu narrador, o inescrupuloso
fazendeiro Paulo Honório, de medos, tensões, contradições, enfim, de
vida.

O romance se passa em plena Era Vargas. O narrador, Paulo


Honório, usufrui de algumas benesses do poder, sustentando-o com
seu dinheiro e seus favores. Desse modo, o poder é visto por dentro.
RESUMO DA OBRA

O fazendeiro Paulo Honório resolve escrever a história de sua


vida. Da infância, pouco se recorda, desconhece as próprias origens,
tendo sido criado pela doceira Margarida. Na juventude, esfaqueou um
sujeito e ficou preso por quase quatro anos. Na cadeia, aprendeu a ler
e escrever. Tendo trabalhado na fazenda de São Bernardo, alimentava
o sonho de um dia comprá-la.

Em busca da concretização desse desejo, submeteu-se a todo tipo


de trabalho e remuneração. Passou a emprestar dinheiro a juros, que
recuperava por vezes de forma violenta. O capanga Casimiro Lopes
era o seu ajudante na função e acabou se tornando um companheiro
da vida inteira. Fingindo amizade, deu péssimos conselhos a Luís
Padilha, jovem herdeiro de São Bernardo e, depois de envolvê-lo em
dívidas insolúveis, conseguiu adquirir a propriedade.
Resolveu com violência alguns problemas de divisas com
vizinhos e se fortaleceu como agricultor e homem influente,
corrompendo aqueles de cujo apoio necessitava. Para agradar ao
governo, instalou uma escola em São Bernardo, contratando para o
cargo de professor o próprio Luís Padilha, agora falido.

Resolvido a se casar e produzir um herdeiro para suas posses,


aproximou-se da jovem professora Madalena. Inicialmente, propôs
que a moça substituísse Luís Padilha, mas, diante de sua recusa,
declarou as verdadeiras intenções. Depois de alguma hesitação,
Madalena aceitou, mudando-se para São Bernardo com a tia, D.
Glória.

A independência de pensamento de Madalena e tendência a


interferir nos negócios da fazenda, sempre em favor dos
empregados, irritavam Paulo Honório. Com isso, as brigas entre o
casal passaram a ser constantes. Madalena engravidou e deu a Paulo
Honório o filho homem que ele desejava. Mas o nascimento da
criança não acabou com as discussões. Paulo Honório passou a
imaginar que a mulher que lhe fugia ao controle deveria se submeter
aos caprichos de alguém. Tomado de ciúmes, passou a atormentar a
esposa com desconfianças e ofensas. Quando a situação chegou a
um ponto insuportável, Madalena se suicidou.

Aos poucos, os empregados se retiraram de São Bernardo e


os amigos se afastaram de Paulo Honório. Os negócios do fazendeiro
caminhavam mal e ele não conseguia reunir forças para se reerguer.
Passados dois anos da morte de Madalena, ninguém mais aparecia
ali. Restava a Paulo Honório a obediência de alguns empregados, do
filho e do fiel Casimiro Lopes.
PERSONAGENS
Paulo Honório: personagem central e narrador do livro. Homem rude e
violento, que dá sua vida ao trabalho. Para conseguir o que quer, não
mede esforços e nem meios, vindo a praticar diversos atos antiéticos.

Negra Margarida: doceira que cuidou de Paulo Honório durante a


infância.

Salustiano Padilha: ex-dono da fazenda São Bernardo e pai de Luís.

Luís Padilha: após a morte do pai, herdou a fazenda, mas se entregou


à bebida, jogos e às mulheres. Vítima dos planos de Paulo Honório,
vê-se endividado e é obrigado a vender a fazenda.

Madalena: professora primária que foi criada pela tia. Casa-se com
Paulo Honório. Instruída e educada, tem opinião própria e forte, o que
desagrada a seu marido.

Dona Glória: tia de Madalena.

Seu Ribeiro: senhor que trabalha na fazenda. Fica próximo de


Madalena.

Joaquim Sapateiro: ensina Paulo Honório a ler na prisão.

Azevedo Gondim: jornalista amigo de Paulo Honório. Havia sido


encarregado de escrever as histórias do narrador, mas por utilizar
uma linguagem mais erudita, desentende-se com Paulo Honório.

Casimiro Lopes: amigo antigo de Paulo Honório, executa as ordens


dele sem pestanejar.

Mendonça: dono da fazenda Bom-Sucesso, é assassinado para que


Paulo Honório possa aumentar as áreas de sua fazenda.

Dr. Magalhães: juiz amigo de Paulo Honório.


ANÁLISE DA OBRA
Nos anos 1930, a Europa vivia a expansão nazista e, No Brasil,
havia a ascensão de Vargas. Neste contexto, Graciliano conseguiu
expressar o clima de tensão social e sua influência psicológica nas
personagens.

Na sua outra famosa obra ”Vidas Secas”, Graciliano aborda a


visão do oprimido, já em São Bernardo, do ponto de vista do
opressor. Portanto , é notório uma análise social complementar em
suas obras. A escolha de Graciliano por linguagem seca, formada por
frases curtas e detalhamento expressivo; encaixa perfeitamente com o
protagonista rude que escreve sua própria história.

A escolha de Graciliano por linguagem seca, formada por frases


curtas e detalhamento expressivo; encaixa perfeitamente com o
protagonista rude que escreve sua própria história.

Analisando a mentalidade de Paulo Honório, podemos perceber


que ele compreende tudo a partir da utilidade que as coisas podem
ter para ele. Portanto, até as pessoas sofrem uma coisificação.

Incluindo a posse e o poder, tudo se confunde com Paulo. Exemplo


disso é que ele decai junto a sua fazenda, como se fossem um. Por
esse motivo, o livro leva o nome da propriedade embora conte a
história do Honório.
FICHA DE LEITURA
ESCOLA LITERÁRIA: Modernismo (2ª etapa).
TEMÁTICA: Denuncia a condição socioeconômica
exploratória sob o capitalismo e o latifúndio.
ESPAÇO: Viçosa, Alagoas.
TEMPO: Inicialmente pode-se dizer que o tempo transcorre
de forma linear, mas a partir do capítulo 19 as reflexões da
personagem quebram a linearidade do tempo e começam os
conflitos de Paulo Honório em relação ao tempo passado e
presente/realidade e memória. A história é narrada em torno
da década de 20. A narrativa São Bernardo também é muito
marcada por um tempo psicológico que podemos perceber
nitidamente pela alteração da ordem natural dos fatos.
NARRADOR: O romance é narrado em 1ª pessoa. Narrador
protagonista ou autodiegético.
EXERCÍCIOS
01) (FUVEST) Costuma-se reconhecer que a obtenção
verossimilhança (capacidade de tornar ficção semelhante à verdade)
é a principal dificuldade artística inerente à composição de São
Bernardo. Essa dificuldade decorre principalmente:

a) da mistura de narrativa psicológica, individual, com intenções


doutrinárias, políticas e sociais.
b) da junção do estilo seco, econômico, com o caráter épico,
eloquente, dos fatos narrados.
c) do caráter inverossímil da acumulação de capital na zona árida do
Nordeste.
d) da incompatibilidade de base entre o narrador personagem e
Madalena, que torna difícil crer em seu casamento.
e) da distância que há entre a brutalidade do narrador-personagem e
a sofisticação da narrativa.

02) (UNIMEP) Com relação à obra São Bernardo, de Graciliano


Ramos, afirma-se que a crise de Paulo Honório “não é fruto da posse
dos bens e do exercício de poder, mas das condições de sua
trajetória rumo à conquista dos mesmos. Condições estas
responsáveis pela lucidez alcançada em relação ao seu papel social
em particular e à condição humana em geral.” Assinale o fragmento
que comprova a afirmação quanto à lucidez relacionada à condição
humana:

a) “A princípio o capital se desviava de mim, e persegui-o sem


descanso, viajando pelo sertão, negociando com redes, gado,
imagens, rosários, miudezas, ganhando aqui, perdendo ali, marchando
no fiado, assinando letras, realizando operações embaralhadíssimas.”
b) “... Levei Padilha para a cidade, vigiei-o durante a noite. No outro
dia cedo, ele meteu o rabo na ratoeira e assinou a escritura.
Deduzi a dívida, os juros, o preço da casa e entreguei-lhe sete contos
e quinhentos e cinqüenta mil-réis. Não tive remorsos.”
c) “E como sempre tive a intenção de possuir as terras de São
Bernardo, considerei legítimas as ações que me levaram a obtê-las.”
d) “Cinqüenta anos, cinqüenta anos gastos sem objetivo, a maltratar-
me e a maltratar os outros. O resultado é que endureci, calejei, e não
é um arranhão que penetra esta casca espessa e vem ferir cá dentro
a sensibilidade embotada.”
e) “Fastio, inquietação constante e raiva. Madalena, Padilha, D.
Glória, que trempe! O meu desejo era pegar Madalena e dar-lhe
pancada até no céu da boca.”

03) (UFC) As passagens abaixo fazem referência a personagens do


romance São Bernardo, do escritor Graciliano Ramos. Assinale a
alternativa onde é apresentado o personagem que tem , ao longo do
romance, o papel de resgatar em Paulo Honório a dignidade
humana.

a) ... “O Senhor andou mal adquirindo a propriedade sem me


consultar, gritou Mendonça do outro lado da cerca.”...
b) ... “Padilha baixou a cabeça e resmungou amuado que sabia
contar. Saiu, voltou outras vezes, insistindo.”...
c) ... “Conheci que Madalena era boa em demasia, mas não conheci
tudo de uma vez. Ela se revelou pouco a pouco, e nunca se revelou
inteiramente. A culpa foi minha, ou antes a culpa foi desta vida
agreste, que me deu uma alma agreste.”...
d) ... “Onde andaria a velha Margarida? Seria bom encontrar a velha
Margarida e trazê-la para São Bernardo. Devia estar pegando um
século, pobre da negra.”...
e) ... “Padre Silvestre recebeu-me friamente. Depois da Revolução de
Outubro, tornou-se uma fera, exige devassas rigorosas e castigos
para os que não usarem lenços vermelhos.”...
04) (UFC) Os trechos que você vai ler foram extraídos
respectivamente dos romances Dom Casmurro e São Bernardo.

“ ... Ezequiel abriu a boca. Cheguei-lhe a xícara tão trêmulo que quase
a entornei, mas disposto a fazê-la cair pela goela abaixo, caso o sabor
lhe repugnasse, ou a temperatura, porque o café estava frio... mas
não sei o que senti que me fez recuar. Pus a xícara em cima da mesa e
dei por mim a beijar doidamente a cabeça do menino.” “... Se eu
tivesse uma prova de que Madalena era inocente, dar-lhe-ia uma vida
como ela nem imaginava... E se eu soubesse que ela me traía? Ah! Se
eu soubesse que ela me traía, matava-a, abria-lhe a veia do pescoço,
devagar, para o sangue escorrer o dia inteiro...”

Mostre qual das alternativas melhor descreve o clima que envolve os


protagonistas e representa, em síntese, a própria tônica dos
romances:

a) instinto assassino;
b) sentimento de ambiguidade;
c) desejo de vingança;
d) sentimento de autopunição;
e) sentimento de revolta.

05) (UFRGS) Quais das afirmativas abaixo estão corretas em relação


ao romance São Bernardo?

I - O romance, narrado em primeira pessoa, conta a decadência do


engenho São Bernardo, substituído pela usina, e a conseqüente
decadência física e psíquica do personagem-narrador.
II – A obra narra a ascensão de Paulo Honório, proprietário da
fazenda São Bernardo, cujo único objetivo é lucrar com tudo e com
todos, vendo-os como objetos.
III- Abandonado por Madalena, Paulo Honório vive momentos de
angústia e solidão, mas, no desfecho da narrativa, despe-se de seu
orgulho e busca uma reconciliação com a esposa.
IV – Nesta obra, Graciliano Ramos aborda a problemática da
coisificação dos indivíduos, fazendo o balanço trágico da vida de um
homem que se desumaniza para poder viver.
V - Madalena contrapõe-se a Paulo Honório porque encarna o
humano, a solidariedade e o desejo de transformação social.

a) Apenas I e II.
b) Apenas I, II e III.
c) Apenas II, III e IV.
d) Apenas II, IV e V.
e) Apenas IV e V.

06) (UFG) Considere o texto abaixo:

“Encaminhei-me ao hotel, mas nem tive tempo de almoçar, porque


fui chamado à polícia. Apertaramme com interrogatórios
redundantes, perdi o trem das três e não consegui demonstrar ao
delegado que ele era ranzinza e estúpido. Aporrinhado, recorri a um
bacharel (trezentos mil-réis, fora despesas miúdas com automóveis,
gorgetas, etc) e embarquei vinte e quatro horas depois, levando nos
ouvidos um sermão do secretário do Interior.”

O referido trecho, extraído de São Bernardo, de Graciliano Ramos,


mostra o desagrado de Paulo Honório diante dos problemas
desencadeados por causa de seu comportamento coronelístico,
comportamento que estava se tornando arcaico face à modernização
do país. O fato que gerou a convocação do personagem à polícia e
de ter de ouvir a crítica do secretário foi:

a) a surra que aplicou no jornalista Costa Brito, que o atacava pela


imprensa.
b) a cobrança de juros extorsivos pelo empréstimo cedido a Luís
Padilha, levando-o à inadimplência.
c) as palavras duras aplicadas contra as idéias esquerdistas de
Madalena.
d) a tomada pela força das terras que pertenciam ao antigo juiz, o
Dr. Magalhães.
e) a recusa em construir uma escola e uma igreja nas terras de São
Bernardo, deixando as crianças entregues ao analfabetismo e ao
pecado.

07) (UFRGS) Em relação a São Bernardo, é correto afirmar que:

a) Esse romance é uma narrativa em que se evidencia a visão


introspectiva, com ênfase no monólogo interior, sendo raras as
descrições do processo histórico.
b) Paulo Honório, para chegar à posse da fazenda, arquiteta um
plano cruel, que acaba levando à falência o seu antigo proprietário.
c) esse romance se insere na corrente estética neo-romântica do
início do século, que procura valorizar o elemento local e o exotismo.
d) Madalena resolve abandonar Paulo Honório e retornar à sua terra
natal por não suportar a crueldade do marido.
e) Paulo Honório, na luta pela posse da terra, se deixa conduzir
pelos ideais de bravura e de idealismo herdados de seus
antepassados.

08) (UFRGS) Considere as seguintes afirmações:


I - Paulo Honório é o narrador-protagonista que, após a morte da
mulher, Madalena, e a decadência material de sua propriedade rural,
conta a sua história.
II – Madalena e Paulo Honório não se entendiam porque ela era
dotada de sensibilidade para com os despossuídos, enquanto ele via,
nas pessoas, simples objetos que poderia manipular para obter
benefícios.
III- O processo de recontar a própria vida tentando entendê-la
permite aproximar Paulo Honório do personagem Bentinho, em Dom
Casmurro, de Machado de Assis.

Quais as corretas?
a) Apenas I
b) Apenas II
c) Apenas I e II
d) Apenas II e III
e) I, II e III

09) (UFB) “Agitam-se em mim sentimentos inconciliáveis: escolerizo-


me e enterneço-me; bato na mesa e tenho vontade de chorar.”
Um dos momentos centrais de São Bernardo, o texto acima ajuda a
compreender a personalidade de Paulo Honório, personagem-
narrador do romance, na medida em que revela:

a) Uma personalidade frágil, abatida pelas circunstâncias.


b) Uma personalidade autoritária e inflexível, que se revolta contra
tudo e contra todos.
c) Uma personalidade complexa, perturbada diante dos
acontecimentos. d) Uma personalidade rica em humanidade, que se
destrói diante dos eventos adversos.
e) Uma personalidade sentimental e lírica, incapaz de conciliar os
próprios sentimentos.

10) Apenas uma das afirmativas seguintes é incorreta a respeito de


São Bernardo.

a) Ao rejeitar o estilo que Azevedo Gondim, João Nogueira e o padre


Silvestre propõem para o seu relato, e optar por uma linguagem
coloquial, Paulo Honório, sem o saber, aproxima-se da visão
modernista da expressão literária.
b) A presença contínua, na fazenda, do padre Silvestre, do advogado
e do jornalista, indicam que Paulo Honório conhecia e valorizava o
poder da Igreja, das chicanas jurídicas e da imprensa na sustentação
do esquema sócio-político da República Velha.
c) Apesar da Revolução de 30 significar um processo de inovações no
país, Paulo Honório – que modernizara espetacularmente a sua
fazenda – não adere ao movimento rebelde, tanto pelo seu fracasso
pessoal quanto por sua alma primitiva estar ligada ao mundo que
morria em 1930.
d) A consciência da derrota social e humana leva Paulo Honório, no
final do romance, à terrível dificuldade para dormir, isto é, à
dificuldade para apagar as lembranças tormentosas.
e) A percepção dos erros cometidos no passado é o trampolim para
uma transformação radical na vida de Paulo Honório, que agora
pretende ser um novo homem.

GABARITO

1. E 6. A
2. D 7. B
3. C 8. E
4. B 9. C
5. D 10. E
AS TRÊS MARIAS
Raquel de Queiroz
QUEM FOI RAQUEL DE QUEIROZ?
Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza
em 17 de novembro de 1910 e veio a
falecer em 4 de novembro de 2003 no Rio
de Janeiro. Foi a primeira mulher a
assumir uma cadeira na Academia
Brasileira de Letras (ABL).

Familiar de José de Alencar por parte


materna, Rachel, sob o pseudônimo de
Rita de Queluz, escreveu crônicas e
poemas que fizeram sucesso no jornal O
Ceará. Expôs, de forma precisa, a luta do
povo nordestino contra a miséria e a seca,
refletindo sobre questões sociais,
violência etc.
Foi militante política do Partido Comunista Brasileiro (PCB), foi
presa por ser considerada comunista, mas, todavia, apoiou a
ditadura militar integrando-se ao partido de sustentação ao regime
militar, o ARENA.

QUAIS AS PRINCIPAIS OBRAS?


O quinze, romance (1930) O galo de ouro, romance
João Miguel, romance (1932) (folhetins na revista O Cruzeiro,
Caminho de pedras, romance 1950)
(1937) Lampião - peça de teatro
As Três Marias, romance (1953)
(1939) A beata Maria do Egito- peça
A donzela e a moura torta, de teatro (1958)
crônicas (1948) Lampião; A Beata Maria do
Egito (livro-2005)
Cem crônicas escolhidas (1958) O homem e o tempo - 74 crônicas
O brasileiro perplexo, crônicas escolhidas
(1964) O menino mágico, infanto- juvenil
O caçador de tatu, crônicas (1969)
(1967) Dôra, Doralina, romance (1975)
Um Alpendre, uma rede, um As menininhas e outras crônicas
açude - 100 crônicas escolhidas (1976)

MOMENTO LITERÁRIO
A autora faz parte da segunda geração do modernismo. Essa
geração, também conhecida como Geração de 1930, é que vem
consolidar os ideais modernistas propostos pela Semana de Arte
Moderna de 1922.

O tema social é algo presente na literatura de Rachel de Queiroz


o que vem a consolidar esse processo de maturação literária da arte
brasileira como um todo. Um romance urbano com temática cotidiana.

O movimento literário teve a contribuição de outros grandes


escritores, como Graciliano Ramos, Jorge Amado e José Lins do Rego.
No período, a prosa é um gênero muito popular.
RESUMO DA OBRA

Maria Augusta, ou simplesmente Guta, é uma jovem moça que


completara seus 12 anos de idade e agora vai com destino à Fortaleza
para um internato. Diferentemente do que normalmente acontece, a
jovem moça vai feliz saindo do Crato com direção ao futuro
que lhe aguarda.

Com a mãe morta aos 7 anos de idade, Guta encontra-se em um


momento de negação familiar considerando que o pai, de certa forma,
a menospreza, em compensação, a madrasta (no livro, a personagem
a chama de madrinha), lhe paparica das melhores formas possíveis
chegando a deixar Guta sufocada de tantos mimos e relacionando
com a morte da mãe dela.

Já no internato, Guta conhece Maria José e Maria da Glória e


juntas vivem a maiores peripécias possíveis dentro de um internato
feminino comandado por irmãs. Lá as três convivem com a realidade
em que vivem as internas: o menosprezo para com o resto do mundo,
o menosprezo quanto ao querer das internas, as brincadeiras, os
preconceitos, a vida amorosa ante ao perigo e reprimenda por parte
das irmãs etc.
As três Marias (no livro relacionado à constelação de Órion),
sempre juntas passam essa amizade infindável até a vida adulta,
mesmo que cada uma tome destinos diferentes em sua vida. Maria da
Glória casa-se e tem um filho. Maria José torna-se professora e
permanece com a virtuosidade e centralidade religiosa,
menosprezando os prazeres da vida e vive na casa de sua mãe. Maria
Augusta volta para o Crato, porém se sente contrariada por ser
tratada como uma empregada doméstica ou dona de casa e, então,
decide voltar à Fortaleza, encontra um emprego de datilógrafa e
decide morar com a amiga Maria José.

Em Fortaleza, Guta apaixona-se por Raul (um pintor) que a


seduz e tenta tratá-la como amante assediando-a sexualmente. Ele
insiste em consumir o ato, mas ela consegue impedi-lo. Ele, então, a
abandona. Um amigo em comum de Raul e Guta, Aloísio, se apaixona
pela jovem moça que não sabe das pretensões do rapaz. Só descobre
depois que o jovem se suicida deixando uma suposta carta de amor
entregue a um tio do rapaz.

Devido os comentários, Maria Augusta sai de Fortaleza e parte


para o Rio de Janeiro onde conhece Isaac, seu grande amor. Ela se
entrega para ele e na volta para Fortaleza descobre que está grávida,
mas perde o bebê. Adoece. Volta para o seio da família. Tem sintomas
de depressão e morre tornando-se mais uma estrela iluminada.
PERSONAGENS
Maria Augusta: Jovem moça que, na sua juventude, perde a mãe
muito cedo e vai para um internato. Na vida adulta, sofre de
depressão pela ausência da família e isso prejudica suas relações
sociais;

Maria José: Moça espirituosa e extremamente religiosa. Vive até a vida


adulta com a mãe;

Maria da Glória: Jovem de temperamento forte a mais decidida das


três, porém, na vida adulta, vive um casamento patriarcalista;

Raul: Homem mais velho que seduz Maria Augusta com os dotes
artísticos e a tenta assediá-la sexualmente. Depois culpa Guta por
seduzi-lo;

Aloísio: Amigo em comum de Maria Augusta e Raul. É apaixonado por


Guta;

Isaac: Homem por quem Maria Augusta se apaixona no RJ. É amigo da


família de Maria José;

Luciano: Irmão de Maria José;

Dona Júlia: Mãe de Maria José;


ANÁLISE DA OBRA
O romance As três Marias (1939), de Rachel de Queiroz é recheado de
pontos críticos a se citar. O primeiro ponto é o próprio título da obra.
Não é por acaso que o nome da obra se alinha tão bem com a
característica da constelação de Órion que tem o mesmo pseudônimo:
“As três Marias” – uma é mais reluzente, outra é mais fugidia e a
terceira mais hesitante. Assim é a característica de cada uma das três
Marias expostas por Rachel de Queiroz: Maria da Glória é a mais
fugidia, uma moça mais afastada do mundo, mas que se esforça para
ser percebida e amada; Maria José é a mais hesitante: uma moça que
se prende à religião e à família que foge dos prazeres do mundo; Maria
Augusta, a moça que mais brilha, se joga no mundo sem se perder e
se esforça para a viver a vida, trazendo, às vezes, um individualismo
confundido com egoísmo.

As características naturais de cada uma confundem-se com a


realidade das pessoas. Não há nelas nenhuma romantização da
construção familiar. Cada uma apresenta uma particularidade:
Augusta é órfã de mãe (a perdeu aos 7 anos); Maria José viu a
separação da mãe e o pai fugir com outra mulher e Glória perdeu os
pais.

Os temas vistos na obra vão desde o bullying vivido por Guta quando
da sua chegada no internato, preconceito racial e social vivido na pele
de Violeta que se torna prostituta assim como a mãe era. Outro tema
abordado é feminismo a contar a personalidade forte vivida por Maria
Augusta na busca por independência e, até mesmo na atitude do tio
de Maria José ao parabenizar Maria Augusta por pensar da forma que
pensa. A temática do aborto também é presente na obra. Maria
Augusta adoece em virtude do aborto espontâneo que sofreu. A
religiosidade também é questionada na obra quando das dúvidas
religiosas de Guta e o extremismo religioso de Maria José.
FICHA DE LEITURA
ESCOLA LITERÁRIA: Modernismo (2ª Geração).

TEMÁTICA: A emancipação feminina.

ESPAÇO: principalmente m Fortaleza (CE), Crato (CE) e Rio


de Janeiro (RJ).

TEMPO: cronológico, todavia há presença de flashback


quando Maria Augusta relata a morte da mãe e, também,
episódios vividos pelas amigas do internato.

NARRADOR: Narrador-personagem, visto que o texto é em


forma de diário e a própria protagonista é que narra a
história.
EXERCÍCIOS
01. Sobre a obra As três Marias, de Rachel de Queiroz é correto
afirmar:

a. Maria José era uma devota fervorosa do catolicismo.


b. Maria Augusta tornou-se dona de casa em Fortaleza.
c. Maria Augusta era brigada com o pai.
d. Raul sempre foi respeitoso com Maria Augusta.

02. Na obra As três Marias, de Rachel de Queiroz, Maria Augusta vai


estudar na capital porque:

a. pretende se casar com um rapaz rico.


b. sempre muito ativa, quer ser independente.
c. com a morte da mãe, Guta não vê sentido em estar se considerando
uma “intrusa” na família do pai, o qual não reconhece como pai em
virtude da mudança brusca que ele sofreu após a morte da mãe da
menina.
d. quer fugir da miséria que a família sofre no Crato.

03. São obras de Rachel de Queiroz:

a. Triste fim de Policarpo Quaresma, As três Marias e O quinze.


b. A mão e a luva, As três Marias e Memorial de Aires.
c. Recordações do escrivão Isaías Caminha, O quinze e Clara dos
Anjos.
d. Caminho das pedras, O quinze e João Miguel.

04. Estão entre as características de Rachel de Queiroz, exceto:

a. Preocupação com o preconceito racial e a discriminação social.


b. A religiosidade.
c. Os acontecimentos da República.
d. O feminino e o feminismo.
05. Maria Augusta, na vida adulta, tornou-se:

a. dona de casa.
b. Datilógrafa.
c. Professora.
d. Prostituta.

06. O principal tema abordado na obra “As três Marias”, de


Rachel de Queiroz é:

a. A seca.
b. O racismo.
c. A religiosidade.
d. O feminino e o feminismo.

07. Na visão da autora, como são vistas as questões do feminino?

a. A mulher é vista em Rachel de Queiroz, como uma pessoa


independente; de fibra, que busca descobrir o mundo; que, apesar
do medo constante, busca não demonstrar e luta por aquilo que
almeja conquistar.
b. é visto como algo errado.
c. É visto com preconceito.
d. É visto como algo em que sofre as maldades do mundo.

08. A irmã Germana era vista como uma pessoa:

a. severa que buscava intimidar as internas.


b. bondosa, mas submissa aos mandos da madre-superiora.
c. Que pregava o falso moralismo da Igreja.
d. Todas as alternativas.

09. Quanto à tipologia textual, podemos dizer que o texto


acima é:

A. narrativo
B. descritivo
C. argumentativo
D. injuntivo
10. A que pode ser associado o título do livro?

a. às irmãs de Rachel de Queiroz.


b. às filhas de Rachel da Queiroz.
c. ao nome das amigas inseparáveis na obra e, ao mesmo tempo, à
constelação de Órion (ora nomeado de “As três Marias”).
d. N.D.A.

GABARITO

1. A 6. D
2. C 7. A
3. D 8. B
4. C 9. A
5. B 10. C
O MISSIONÁRIO

Inglês de Sousa
QUEM FOI INGLÊS DE SOUSA?
Inglês de Sousa, ou Herculano Marcos
Inglês de Sousa, advogado, professor,
jornalista, contista e romancista, nasceu em
Óbidos, Pará, em 28 de dezembro de 1853.
Fez os primeiros estudos no Pará e no
Maranhão. Diplomou-se em Direito pela
Faculdade de São Paulo em 1876. Nesse ano
publicou dois romances: ‘O Cacaulista’ e
‘História de um Pescador’. Seguiram-se mais
dois, todos publicados sob o pseudônimo
Luís Dolzani.

Com Antônio Carlos Ribeiro de Andrade e Silva publicou, em


1877, a Revista Nacional, de ciências, artes e letras. Foi membro
fundador da Academia Brasileira de Letras, e seu primeiro tesoureiro.
Foi presidente das províncias de Sergipe e Espírito Santo. Fixou-se no
Rio de Janeiro, como advogado, banqueiro, jornalista e professor de
Direito Comercial e Marítimo na Faculdade Livre de Ciências Jurídicas
e Sociais. Foi presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros.
Faleceu no Rio de Janeiro em 6 de setembro de 1918.

Introduziu o Naturalismo no Brasil, no entanto seus primeiros


romances não tiveram boa acolhida. Ficou conhecido com ‘O
Missionário’ (1891), que, como toda sua obra, revela influência de
Émile Zola. Nesse romance, descreve com fidelidade a vida numa
pequena cidade do Pará, revelando grande espírito de observação,
amor à natureza e fidelidade a cenas regionais.
QUAIS AS PRINCIPAIS OBRAS?
Romances

O Cacaulista (1876)
História de um Pescador (1876)
O Coronel Sangrado (1877)
O Missionário (1891)

Contos

Contos amazônicos (1893)

MOMENTO LITERÁRIO
Representante do Naturalismo, influenciado pelo francês Émile
Zola. No Brasil, a prosa naturalista foi influenciada por Eça de
Queirós.
Uma das principais características: Cientificismo - a ciência é
capaz de justificar todos fenômenos da natureza.
Sua obra tem grandes qualidades estilísticas, descritivas e
narrativas, sendo considerado um dos regionalistas de maior
destaque do século XIX.
Um dos principais temas retratados por Inglês de Sousa, em seus
romances, foi a vida do homem da Amazônia.
Presença de muitas cenas cotidianas, ligadas a vida simples.
A descrição de ambientes e cenas, muitas vezes com detalhes, é
também comum em suas obras.
Desenvolveu a ideia de que o homem é um fruto do meio em que
vive e da hereditariedade. Os instintos humanos e valores sociais
entram em conflito em seus romances.
Abordou, em algumas de suas obras, algumas lendas do folclore
amazônico. Entre elas, podemos citar: lendas da cobra-grande, do
pássaro acauã e do boto.
RESUMO DA OBRA

Romance que analisa o quadro social de uma cidade do norte do


Brasil durante a questão dos bispos, no século XIX. Padre Antônio de
Morais quer fugir à “civilização” para criar um monumento de fé entre
os índios. À medida que se embrenha nos sertões, vai perdendo o
entusiasmo, deixa-se tomar pela febre dos trópicos. Desta forma,
termina os seus dias amancebado de uma jovem mameluca.

O autor inicia a obra descrevendo a cidade de Silves no Pará, local


em que o Padre Antônio de Morais é enviado. O município é parado e
desinteressante e logo o Padre se enfastia da rotina da vizinhança e
decide procurar novas tarefas.

Padre Antônio de Morais não tinha aptidão alguma para o


sacerdócio, apesar de possuir grande prestígio como um sacerdote
correto e devoto, e ressentia com a severa disciplina do seminário e
toda repressão da sexualidade sofrida na adolescência.

Decidido a catequizar os temíveis mundurucus, Padre Antônio de


Morais decide se embrenhar na mata com o sacristão que no meio do
caminho volta para Silves.
O padre acaba adoecendo, mas consegue chegar ao sítio de João
Pimenta onde conhece Clarinha, a neta do fazendeiro, que cuida dele
com cuidados extremos. Diante da sensualidade da mameluca, o Padre
não resiste e cede ao desejo sexual.

PERSONAGENS
Padre Antônio Morais;
O professor;
O coletor;
O farmacêutico;
O pensador ;
O sacristão.

ANÁLISE DA OBRA
Em O Missionário, o propósito de demonstrar os condicionamentos
biológicos, sociais e circunstanciais, sob a ótica Naturalista e
Determinista, sugere o esquema e as etapas do processo narrativo.

Inicialmente, o autor descreve minuciosamente a localidade de


Silves, no Pará, de maneira a dar-lhe corpo e vida, com sua atmosfera
parada e sensual e seus tipos característicos: o farmacêutico, o livre-
pensador, o sacristão, o coletor, o professor alguns maledicentes e
intrigantes.

Introduz, a seguir, o idealismo místico e as controvérsias


teológicas do Padre Antônio Morais, que se sente inútil, confinado à
mediocridade da vida provinciana. A decisão de aventurar-se entre os
índios selvagens fundamenta-se mais no desejo de glória, que no zelo
missionário.
A decisão de aventurar-se entre os índios selvagens fundamenta-
se mais no desejo de glória, que no zelo missionário. Aventurando-
se pelos rios e florestas da Amazônia, o convívio íntimo com a família
de mamelucos, o sensualismo da paisagem põem à prova os votos
de castidade, que cede.

Para explicar a queda final, o autor faz um longo retrospecto da


vida do Padre Antônio Morais, repassando a infância, o seminário, a
severa disciplina, a repressão da sexualidade na adolescência.
Quando a personagem retorna a Silves, o autor, ainda à maneira dos
naturalistas, extrai a moralidade dos fatos, acomodando-o à nova
situação.

FICHA DE LEITURA
ESCOLA LITERÁRIA: Naturalismo;

TEMÁTICA: Análise social da cidade;

ESPAÇO: Silves, no Pará;

TEMPO: Cronológico;

NARRADOR: Narrador onisciente.


MEMÓRIAS DE UM
SARGENTO DE MILÍCIAS
Manuel Antônio de Almeida
QUEM FOI MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA?

Manuel Antônio de Almeida nasceu em


1830, na cidade do Rio de Janeiro. Ficou
órfão de pai aos 11 anos. Era filho de
portugueses, Antônio de Almeida e Josefina
Maria de Almeida. Seu pai era um tenente.
Ele teve uma infância muito carente, o que lhe
inspirou a escrever sobre a vida e os
costumes da classe média baixa. Formou-se
em Medicina em 1855.

Durante os anos de 1852 a 1853, ele publicou folhetins que se


tornaram, mais tarde, a obra Memórias de um sargento de milícias, em
1854.

Manuel Antônio de Almeida foi jornalista, cronista, romancista e


crítico literário. Hoje, ele é tutor da cadeira de número 28 na
Academia Brasileira de Letras. O autor morreu em 1861, aos 30 anos,
no naufrágio do navio Hermes, no Rio de Janeiro.

QUAIS AS PRINCIPAIS OBRAS?


Memórias de um sargento de milícias, 2 vols., 1854-1855.

Dois amores, 1861.


MOMENTO LITERÁRIO
Diferente dos romances publicados na época, Manuel Antônio de
Almeida teve pouca popularidade na publicação de seus folhetins que,
mais tarde, formariam a obra Memórias de um sargento de milícias.
Isso se deve ao fato de que esse romance possuía uma estrutura
diferente para a primeira geração do Romantismo no Brasil. Enquanto
os demais autores se encaixavam em uma perspectiva nacionalista,
que retratava a bela sociedade de classe média alta, com heróis belos
e perfeitos, Antônio de Almeida trazia em sua narrativa o povo sofrido
e cheio de necessidades tão conhecido de sua infância, bem como o
anti-herói, um sujeito pobre, sem ideal, vivendo da sorte e de
oportunidades que surgiam.

Por não seguir o padrão de escrita da narrativa da primeira


geração romântica, é possível perceber em sua obra a comicidade,
uso da linguagem coloquial, a distância das cenas idealizadas, a
presença de um anti-herói, personagens de baixa renda, uso de um
estilo direto e sem sentimentalismo, ausência de moralismo, estilo de
linguagem oral e descontraída.

O romance de Manuel Antônio de Almeida destoa do romantismo


convencional. Isso dá um sabor especial ao livro, menos pelo fato em
si, e mais por mostrar a precariedade de certas classificações
excessivamente redutoras. A narrativa tem o poder de ampliar a
concepção de literatura romântica, mostrando que os escritores da
estética sabiam explorar tanto o sentimentalismo quanto o humor em
suas obras.
RESUMO DA OBRA

A narrativa, que se apresenta como uma sucessão de aventuras


do jovem Leonardo, tem início antes mesmo de seu nascimento,
relatando o primeiro contato entre seus pais, Maria da Hortaliça e
Leonardo Pataca, no navio que os traz de Portugal para o Brasil.
Ambos trocam “uma pisadela” e um “beliscão” como sinais de
interesse mútuo e passam a namorar. Maria da Hortaliça abandona o
marido e retorna para a terra natal. Pataca, por sua vez, recusa-se a
criar o filho, deixando-o com o padrinho, o Barbeiro, que passa a
dedicar ao menino cuidados de pai.

Pataca se envolve com uma cigana, que também o abandona.


Para tentar recuperá-la, recorre à feitiçaria, prática proibida na época.
Flagrado pelo Major Vidigal, conhecido e temido representante da lei,
vai para a prisão, sendo solto em seguida.

Enquanto isso, seu filho Leonardo, pouco afeito aos estudos,


convence o padrinho a permitir que ele frequente a Igreja na condição
de coroinha. O barbeiro vê ali uma oportunidade para dar um futuro
ao afilhado.
Enquanto isso, seu filho Leonardo, pouco afeito aos estudos,
convence o padrinho a permitir que ele frequente a Igreja na
condição de coroinha. O barbeiro vê ali uma oportunidade para dar
um futuro ao afilhado. No entanto, Leonardo continua aprontando
das suas e acaba expulso. Conhece o amor na figura de Luisinha,
uma rica herdeira, mas sua aproximação é interrompida pela ação
do interesseiro José Manuel, que conquista e casa com a moça.

O Barbeiro morre e deixa uma herança para o afilhado. Leonardo


volta a viver com o pai, mas foge após um desentendimento.
Envolve-se com a mulata Vidinha e passa a sofrer as perseguições
do Major Vidigal, caçador dos ociosos do Rio de Janeiro. Para não
ser preso, é forçado a se alistar.

A experiência militar não é menos problemática: continua a


participar de arruaças e desobedece seguidamente o Major. Por
isso, acaba preso. Consegue a liberdade graças à ação de uma ex-
namorada de Vidigal, Maria Regalada, que lhe promete, em troca, a
retomada do antigo afeto. Leonardo não só é solto, como é
promovido a sargento da tropa regular. Reencontra-se com
Luisinha, então recém-viúva, e os dois reatam o namoro. Ainda com
a ajuda do Major Vidigal, Leonardo se torna sargento de milícias e
obtém permissão para se casar.
PERSONAGENS
Leonardo: protagonista que garante unidade à narrativa. O sargento
de milícias a que se refere o título da obra é Leonardo, embora o
personagem obtenha esse cargo somente nas últimas páginas do
livro.

Leonardo Pataca: pai de Leonardo, um meirinho (oficial de Justiça)


que fora vendedor de roupas em Lisboa e, durante sua viagem ao
Brasil, conhece Maria das Hortaliças, o que resultará no nascimento
de Leonardo.

Maria das Hortaliças: mãe de Leonardo, uma saloia (camponesa)


muito namoradeira, que abandona o filho para ficar com outro
homem.

O Compadre ou O Padrinho: é dono de uma barbearia e toma a guarda


de Leonardo após os pais abandonarem a criança. Torna-se um
segundo pai para ele.

A Comadre ou A Madrinha: mulher gorda e bonachona, apresentada


como ingênua, frequentadora assídua de missas e festas religiosas.

Major Vidigal: homem alto, não muito gordo, com ares de moleirão.
Apesar do aspecto pachorrento, era quem impunha a lei de modo
enérgico e centralizado.

Dona Maria: mulher idosa e muito gorda, não era bonita, mas tinha
aspecto bem-cuidado. Era rica e devotada aos pobres. Tinha, contudo,
o vício das demandas (disputas judiciais).

Luisinha: sobrinha de dona Maria. Seu aspecto, inicialmente sem


graça, se transforma gradualmente, até se tornar uma rapariga
encantadora.

Vidinha: mulata de 18 a 20 anos, muito bonita, que atrai as atenções


de Leonardo.
ANÁLISE DA OBRA
Memórias de um Sargento de Milícias promove uma inversão do
romantismo convencional. O humor, presente em narrativas
românticas de forma tímida, ocupa o centro, funcionando como eixo
condutor da sucessão de aventuras em que se mete o protagonista.
Da mesma forma, as personagens de classes sociais mais baixas, que,
tradicionalmente, ocupavam posições secundárias, constituem o
núcleo central da ação. Esse procedimento é chamado de
carnavalização.

O próprio protagonista se apresenta como uma versão


carnavalizada do herói romântico. Sua origem é cômica, já que é
descrito como “filho de uma pisadela e de um beliscão”. Crescido,
torna-se um malandro, tentando sobreviver à margem das instituições
sociais nas quais não consegue se enquadrar – família, trabalho,
igreja etc.

Algumas trajetórias são bastante sugestivas. O Major Vidigal, por


exemplo, age em defesa da lei de acordo com critérios muito
particulares – manda prender e manda soltar mais ou menos a seu
bel-prazer. Acaba por se corromper no final, ao permitir a soltura de
Leonardo em troca dos afetos de uma antiga namorada. Assim, a lei
vira transgressão e ordem se mistura com desordem, o que funciona
como retrato da sociedade brasileira daquele e de outros tempos.
Também é significativo o que acontece com o Barbeiro. Homem bom e
afetuoso, tem em seu passado uma mancha da qual não manifesta
nenhum remorso sério: ficara de posse de uma pequena fortuna que
lhe havia sido confiada para ser entregue a outra pessoa. Desse modo,
também as categorias de bom e mau são relativizadas.
A despeito de tudo isso, o livro pode ser entendido como
romântico graças a elementos como o registro de costumes, o final
feliz, as personagens que agem por impulso, a sucessão de aventuras
nas perseguições do Vidigal e, por fim, a história de amor envolvendo
Leonardo e Luisinha. Contudo, independente de qualquer questão
referente à classificação da obra, pode-se ver o livro simplesmente
como uma sucessão de aventuras vividas por um protagonista
humanizado pelos seus defeitos.

FICHA DE LEITURA
ESCOLA LITERÁRIA: Mescla elementos do Romantismo a
características realistas.

TIPO DE ROMANCE: Romance urbano.

TEMÁTICA: Reproduz e tece críticas aos hábitos praticados


no âmbito da sociedade.

ESPAÇO: Rio de Janeiro.

TEMPO: Tempo Cronológico- Toda a história se desenvolve


de maneira cronológica; somente aqui e ali o narrador
suspende essa sequência para se referir brevemente ao
pretérito, com a intenção de explicar alguns pontos não
compreensíveis da narrativa.

NARRADOR: Terceira Pessoa - A trama aqui é conduzida na


terceira pessoa, por um narrador-testemunha. Ele observa
os eventos, mas não toma parte deles. A narrativa é fluida
e dinâmica.
EXERCÍCIOS
01 - Das alternativas abaixo, indique a que CONTRARIA as
características mais significativas do romance Memórias de um
Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida.

a) Romance de costumes que descreve a vida da coletividade urbana


do Rio de Janeiro, na época de D. João VI.
b) Narrativa de malandragem, já que Leonardo, personagem principal,
encarna o tipo do malandro amoral que vive o presente, sem qualquer
preocupação com o futuro.
c) Livro que se liga aos romances de aventura, marcado por intenção
crítica contra a hipocrisia, a venalidade, a injustiça e a corrupção
social.
d) Obra considerada de transição para um novo estilo de época, ou
seja, o Realismo/Naturalismo.
e) Romance histórico que pretende narrar fatos de tonalidade heróica
da vida brasileira, como os vividos pelo Major Vidigal, ambientados no
tempo do rei.

02 - (U.F.GOIÁS) Em relação à obra Memórias de um Sargento de


Milícias pode-se afirmar que:

a) contraste entre o bem e o mal próprio dos romances românticos


desaparece na figura do ator herói;
b) personagem Leonardo nasce malandro feito, como em Macunaíma;
c) Leonardo adquire as características da malandragem por força das
circunstâncias;
d) panorama traçado pelo autor é limitado espaço em que as ações se
desenvolvem;
e) panorama traçado pelo autor é ampliado espaço em que as ações
se desenvolvem.
03 - (UFMG-1997) A personagem Leonardo Filho, do romance
Memórias de um Sargento de Milícias:

a) apresenta um forte moralismo que o faz traçar um quadro crítico


dos costumes e das classes sociais do início do século XIX.
b) classifica-se como um típico herói romântico, por seus infortúnios
amorosos.
c) mostra-se como um vadio, que vive ao sabor do acaso, nada
aprendendo com a experiência.
d) participa da condição servil, apresentando visões variadas da
sociedade em que vive, a partir das diversas posições que nela ocupa.

04 - (URFN-2002) Em relação a Memórias de um Sargento de


Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, pode-se afirmar que:

a) o personagem central narra suas aventuras no Rio de Janeiro à


época de Dom João VI.
b) o romance se distancia do caráter idealizante que marcou a prosa
romântica brasileira.
c) o romance focaliza a trajetória de um militar empenhado em
manter os ideais monárquicos.
d) a obra pode ser vista como um romance ligado à vida das elites
brasileiras da época.

05 - (UFMG-1997) Todas as alternativas apresentam afirmações


corretas sobre Memórias de um sargento de milícias, de Manuel
Antônio de Almeida, EXCETO:

a) O romance denuncia a influência do meio sobre o homem.


b) O romance descreve tipos característicos do século XIX.
c) O romance refere-se a festas e folguedos da cultura brasileira.
d) O romance valoriza as classes populares urbanas brasileiras.
06. (PUC-SP-2005) Memórias de um Sargento de Milícias é um
romance escrito por Manuel Antônio de Almeida. Considerando-o
como um todo, indique a alternativa que NÃO confirma suas
características romanescas.

a) É um romance folhetim, já que saiu em fascículos no suplemento “A


Pacotilha”, do jornal Correio Mercantil, que o publicava semanalmente
entre 1852 e 1853.
b) Utiliza a língua falada sem reservas e com toda a dignidade e
naturalidade, o que confere à obra um caráter espontâneo e
despretensioso.
c) Enquadra-se fundamente na estética realista, opondo-se ao ideário
romântico, particularmente no que concerne à construção da
personagem feminina e ao destaque dado às camadas mais populares
da sociedade.
d) Reveste-se de comicidade, na linha do pitoresco, e desenvolve
sátira saborosa aos costumes da época que atinge todas as camadas
sociais.
e) Põe em prática a afirmação de que através do riso pode-se falar
das coisas sérias da vida e instaurar a correção dos costumes.

07 - (FGV-2005)

TEXTO 1 - “Ser valentão foi em algum tempo ofício no Rio de Janeiro;


havia homens que viviam disso: davam pancada por dinheiro, e iam a
qualquer parte armar de propósito uma desordem, contanto que se
lhes pagasse, fosse qual fosse o resultado.”

TEXTO 2 - “Mas a mantilha era o traje mais conveniente aos costumes


da época; sendo as ações dos outros o principal cuidado de quase
todos, era muito necessário ver sem ser visto. A mantilha para as
mulheres estava na razão das rótulas para as casas; eram o
observatório da vida alheia.”
Assinale a alternativa que diz respeito a aspectos dos fragmentos
acima, das Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio
de Almeida.

a) Predominância do sentimentalismo romântico.


b) Elementos que têm valor documental para o estudo da vida da
corte no tempo do Império.
c) Contraste entre o comportamento do protagonista e as
personagens populares.
d) Referência aos trajes como expressão da piedade e do recato das
mulheres.
e) Presença de tipos populares articulados à descrição de costumes
da cidade.

8. (ESAM – RN) No romance “Memórias de um sargento de


milícias”, de Manuel Antônio de Almeida, o que chama a atenção é
um aspecto pouco comum nos romances românticos, ou seja, a
visão social transmitida a partir da perspectiva:

c) das classes dominantes e aristocráticas.


b) dos segmentos militares da sociedade.
c) do submundo do crime e da violência.
d) da população estudantil acadêmica.
e) das classes pobres e desfavorecidas.

GABARITO

1. A 6. C
2. B 7. E
3. C 8. E
4. B
5. C

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