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Resumo: O presente ensaio tem como objetivo analisar como Graciliano Ramos apresenta em seus
romances as personagens Fabiano e Paulo Honório. O século XX foi marcado por diversas
transformações sociais, políticas, econômicas, culturais, assim como, o ponto crucial na nova
estética literária que renascia no Brasil. O movimento modernista brasileiro vem com intuito
de repensar a idéia de brasilidade. Desse modo, a literatura rompe com o modelo idealizado
pelo Parnasianismo e instaura uma nova estética da linguagem. Essa estética será foco dos
escritores da primeira fase, no entanto, com a geração de 30 houve uma ênfase na estética
ideológica na qual os escritores desejavam buscavam expressar o artístico nacional. É, nesse
período que Graciliano Ramos surge com seus romances regionalistas mostrando,
principalmente, o sertão nordestino puro e vivo.
-Isto é. Vamos e não vamos. Quer dizer enfim, contanto, etc. É conforme
E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar
coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos
ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se,
encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra.
Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer
dificuldades. (RAMOS, 2020, p. 08)
São Bernardo é outro romance escrito por Graciliano Ramos, no entanto, se diverge
da história narrada em Vidas Secas, apesar de ter como temática o sertão a imagem do
sertanejo que nele vivi é diferente, escrita em meio a um período de desenvolvimento do país
Graciliano traz a narrativa a figura do coronel que será mais tarde fazendeiro/capitalista
motivado, principalmente, pelas políticas adotadas no governo Vargas. Representado na
figura de Paulo Honório, homem rude, violento e ambicioso e na fazenda São Bernardo,
espaço fictício. Paulo Honório é um homem totalmente oposto a Fabiano, em sua infância foi
um menino pobre que trabalhou na roça, mas decidiu ser um homem com a vida bem sucedida
e para isso ele passa por cima dos valores morais. O romance é narrado pelo próprio Paulo
usando ora o tempo presente, ora o passado, traz também uma carga psicológica, pois a
personagem faz reflexões sobre sua vida.
Nas palavras do próprio Paulo Honório sua origem e seu nascimento é incerto, pois
foi abandonado pelos pais quando criança. “julgo que rolei por aí à toa. Lembro-me de um
cego que me puxava às orelhas e da velha Margarida, que vendia doces” (RAMOS, 2009, p.
11). De olho na fazenda na qual trabalhou, Paulo usa de seu plano ambicioso para conseguir a
propriedade “para evitar arrependimento, levei Padilha para a cidade, vigiei-o durante a noite.
No outro dia, cedo, ele meteu o rabo na ratoeira e assinou a escritura. Deduzir a dívida, os
juros, o preço da casa, e entreguei-lhe sete contos quinhentos e cinqüenta mil-réis. Não tive
remorso.” (RAMOS, 2009, p. 20)
Já com sua estabilidade financeira alcançada, ele pensa em um herdeiro para a
continuação de seu trabalho na fazenda. Casa-se com Madalena, moça que também possui
origem humilde e é professora. Madalena não concordava com a forma como Paulo tratava
seus funcionários. Paulo Honório é o típico homem capitalista dividindo-se entre sujeito e
objeto. Segundo Cândido “Em Paulo Honório, o sentimento de propriedade, mais que simples
instinto de posse, é uma disposição total de espírito, uma atitude complexa diante das coisas.
Por isso engloba todo o seu modo de ser” (CÂNDIDO, 1972, p. 22).
Conclusões
A partir das transformações ocorridas na década de 20 no Brasil a literatura se recria.
Os artistas buscavam por meio da literatura, da música, da arte mostrar a cultura e o povo
brasileiro de uma maneira nova. A estética literária ligada a um viés ideológico de crítica a
sociedade brasileira se instalava.
Referências
CÂNDIDO, Antônio. Ficção e Confissão. In: RAMOS, Graciliano. São Bernardo. São Paulo:
Martins, 1972.
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 1º Ed. Rio de Janeiro; Editora Record, 2020.
_______. São Bernardo. 88º ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2009.