Você está na página 1de 43

Patrick Lustosa Brandão Literatura

Linguagens

GERAÇÃO DE 30:
FASE DE (RE)CONSTRUÇÃO
Prosa III: Graciliano Ramos
Patrick Lustosa Brandão Literatura
Linguagens
Patrick Lustosa Brandão Literatura

GRACILIANO RAMOS
Linguagens

Graciliano Ramos nasceu em Quebrangulo,


município de Alagoas, em 1892. Proveniente de
família humilde, sendo o mais velho de 16 irmãos,
tornou-se um dos nomes mais celebrados da prosa
brasileira do século XX. Foi prefeito de Palmeira
dos Índios entre os anos 1928 e 1930. Sua primeira
publicação, o romance Caetés, data de 1933. No
ano seguinte, publicou S. Bernardo. Após a
Intentona Comunista, em 1936, Graciliano foi
preso por dois anos.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

AS ALMAS SECAS E RUDES DE GRACILIANO RAMOS


Linguagens

Graciliano Ramos é considerado um dos mais importantes autores da


Geração de 30. Sua prosa apresenta uma linguagem concisa, composta
por frases curtas, bem como uma sintaxe simples, marcada pela
economia no uso de advérbios e adjetivos. Na literatura regionalista,
notabilizou-se pela sondagem psicológica de suas personagens,
geralmente homens brutos do sertão, cujo comportamento compunha um
retrato da vida desumanizada desses indivíduos. Por isso, para muitos
estudiosos, o escritor é responsável por resgatar e renovar a estética
realista do século XIX.
Patrick Lustosa Brandão Literatura
Linguagens

Na escrita de Graciliano Ramos, são equilibradas análises psicológicas


e sociais. Por um lado, ocorre a observação apurada dos sentimentos e
pensamentos das personagens; por outro, a denúncia das injustiças
sociais. Em consequência disso, suas figuras humanas experimentam uma
sensação de incompatibilidade com o meio em que estão inseridas.
Sua obra mostra, de modo rigoroso e direto, os dramas humanos
vividos tanto no campo quanto na cidade, sendo que, muitas vezes, a
interseção conflituosa entre os dois ambientes é explorada em suas
narrativas.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

PRINCIPAIS OBRAS DE GRACILIANO RAMOS


Linguagens
Patrick Lustosa Brandão Literatura

Bichos. As criaturas que me serviram durante anos eram bichos. Havia bichos domésticos, como
Linguagens

o Padilha, bichos do mato, como Casimiro Lopes, e muitos bichos pra o serviço do campo, bois
mansos. Os currais que se escoram uns aos outros, lá embaixo, tinham lâmpadas elétricas. E os
bezerrinhos mais taludos soletravam a cartilha e aprendiam de cor os mandamentos da lei de Deus.
Bichos. Alguns mudaram de espécie e estão no exército, volvendo à esquerda, volvendo à
direita, fazendo sentinela. Outros buscaram pastos diferentes.
RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 92. ed. Rio de Janeiro: Record, 2012.

No trecho anterior, a descrição dos trabalhadores é realizada com base na palavra bichos. Por conseguinte, o
adjetivo “domésticos” e a locução adjetiva “do mato” distinguem o grau de civilidade de alguns deles. Padilha, herdeiro
falido da fazenda São Bernardo, é um “bicho doméstico”, pois é um homem educado. Em contrapartida, Casimiro Lopes,
jagunço de Paulo Honório, é um indivíduo sem educação nem refinamento. Em vista disso, é considerado, pelo narrador,
um “bicho do mato”. Os demais funcionários, os quais não são sequer nomeados, recebem a alcunha de “bois mansos”
devido à servidão a que se prestam na lavoura. Por extensão, suas casas são “currais”; e seus filhos, “bezerrinhos”.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

S. BERNARDO: O RETRATO DE UM HOMEM ARRASADO


Linguagens

A narrativa do romance S. Bernardo (ou São Bernardo), publicado em 1934,


se passa no interior nordestino. O narrador do livro, Paulo Honório, homem de
poucas letras e embrutecido pelas interações do cotidiano, casa-se com
Madalena, professora com aspirações idealistas de sua juventude. A relação
entre os dois entra em declínio por causa do ciúme do narrador e por sua
aspereza de modos, que não se suaviza nem mesmo com o nascimento do filho.
Por fim, exaurida e desinteressada de tudo, Madalena suicida-se, e Paulo
Honório, marcado por esse acontecimento, busca rememorar a sua história, a
fim de compreender melhor o que se passou em sua vida.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

S. BERNARDO: O RETRATO DE UM HOMEM ARRASADO


Linguagens

S. Bernardo é escrito em primeira pessoa e utiliza linguagem direta,


formada, principalmente, por frases curtas, uma alusão à dificuldade de
comunicação do homem rude, que, para alcançar a ascensão social,
destrói seu caráter afetivo humano. Trata-se de um romance de confissão,
semelhante a Dom Casmurro, de Machado de Assis. Nesse contexto, o
processo de rememoração, de escrita de suas lembranças, pretende
restabelecer o elo perdido consigo mesmo. A perda de sua humanidade
pode ser entendida como resultado do meio em que vivia: massacrado
pela realidade, torna-se problemático.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

S. BERNARDO: O RETRATO DE UM HOMEM ARRASADO


Linguagens

A narrativa de São Bernardo é tão elaborada que se poderia mesmo


duvidar que pudesse ter sido construída por um espírito rude como o de
Paulo Honório. A linguagem seca, formada por frases curtas e
adjetivação expressiva constituíam o estilo de Graciliano Ramos,
adequado, aqui, à expressão do homem rude que conta sua história,
incapaz de expansões sentimentais.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

VIDAS SECAS A DESUMANIZAÇÃO CAUSADA PELA SECA


Linguagens

O romance Vidas secas (1938) narra a desventura e a migração de uma


família de retirantes em busca de um lugar onde possam sobreviver à seca
nordestina. A família é composta por Fabiano, um homem rude, brutalizado
pelas circunstâncias; Sinha Vitória, sua esposa prudente, resignada e fiel; e os
dois filhos do casal, que, por não apresentarem nome na obra, representam a
anulação social, de modo a reforçar sua condição subumana e invisível. Ao lado,
buscando algo melhor para a família com seu faro, segue a cachorra Baleia, que,
para muitos críticos, é a personagem mais humana da narrativa.
Paradoxalmente, enquanto os seres humaniza-se a ponto de sensibilizar-se com
a dura realidade.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

VIDAS SECAS A DESUMANIZAÇÃO CAUSADA PELA SECA


Linguagens

Vidas secas é um livro singular dentro do conjunto da obra de Graciliano Ramos.


Trata-se de seu único romance narrado em 3ªpessoa. Além disso, não foi, a princípio,
planejado à maneira clássica dos romances. Em vez disso, a obra foi criada de modo
fragmentário. O escritor pretendia, inicialmente, publicar uma série de contos,
decidindo posteriormente reuni-los em forma de romance.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

VIDAS SECAS A DESUMANIZAÇÃO CAUSADA PELA SECA


Linguagens

Na obra, a terra é seca, mas o ser humano é ainda mais, e por isso tem-se o título
Vidas secas. O discurso do narrador é igualmente construído com frases incisivas,
enxutas e estruturadas por meio de períodos simples. Escritor extremamente contido,
Graciliano Ramos prefere a expressividade das situações apresentadas à eloquência
verbal. A singularidade está na sua estrutura e não no discurso das personagens.
Patrick Lustosa Brandão Literatura
Linguagens

[...] Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num


mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de
Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se
espojariam com ela, rolariam com ela num pátio
enorme num chiqueiro enorme. O mundo ficaria
todo cheio de preás, gordos, enormes.
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 118. ed. Rio de Janeiro: Record, 2012
Patrick Lustosa Brandão Literatura

GRACILIANO RAMOS
Linguagens

“Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os


infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos.
Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do
rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma
sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da
catinga rala. Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória com o filho mais novo
escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a
tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda da pederneira
no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.”
RAMOS, G. Vidas Secas. Rio de Janeiro: Record, 2009.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

Comentário:
Linguagens

O romance Vidas Secas é a síntese da literatura crítica de tensão social e de um


período conturbado da nossa vida política (a era getulista). O Romance Regionalista de
30 ou Neorrealista é o olhar profundo sobre o espaço, o humano e a linguagem.
Graciliano Ramos é o autor mais bem sucedido do grupo dos chamados romancistas do
Nordeste. O estilo seco, enxuto, objetivo conciso e antiretórico; a linguagem direta,
econômica, contido e tenso, manifesta a vida severa da condição (des)humana dos
personagens. Escritor de Regionalismo psicológico e universal que contempla o mundo
rural do Nordeste, cujas desigualdades denuncia. Autor de vocação para a brevidade e o
essencial na busca do efeito máximo por meio dos recursos mínimos. Graciliano Ramos
submete a língua oral aos rigores da norma gramatical a uma requintada reelaboração
estética de dicção clássica e simultaneamente experimental. Neste ponto distancia-se
também de seus contemporâneos regionalistas.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

RESUMO
Linguagens

 Graciliano Ramos adotou uma linguagem clara e concisa para abordar o


doloroso tema da miséria humana no Nordeste brasileiro.

 O romance S. Bernardo busca evidenciar, com base nas memórias de um


fazendeiro, o processo de embrutecimento do ser humano.

 Vidas secas, romance mais celebrado de Graciliano, representa a busca de uma


família por sobrevivência e melhores condições de vida no sertão.
Patrick Lustosa Brandão Literatura
Linguagens

QUESTÕES
Patrick Lustosa Brandão Literatura

1. A cachorra baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pelo caíra-


lhe em vários pontos, as costelas avultavam num fundo róseo, onde
Linguagens

manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas


da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida. Por
isso Fabiano imaginara que ela estivesse com um princípio de hidrofobia e
amarrara-lhe no pescoço um rosário de sabugos de milho queimados. Mas
Baleia, sempre de mal a pior, roçava-se nas estacas do curral ou metia-se
no mato, impaciente, enxotava os mosquitos sacudindo as orelhas
murchas, agitando a cauda pelada e curta, grossa na base, cheia de roscas,
semelhante a uma cauda de cascavel.
Então Fabiano resolveu matá-la. Foi buscar a espingarda de pederneira,
lixou-a, limpou-a com o saca-trapo e fez tenção de carregá-la bem para a
cachorra não sofrer muito [...].
Patrick Lustosa Brandão Literatura
Linguagens

Ouvindo o tiro e os latidos, Sinhá Vitória pegou-se à Virgem Maria e os


meninos rolaram na cama, chorando alto. Fabiano recolheu-se. E Baleia
fugiu precipitada, rodeou o barreiro, entrou no quintalzinho da esquerda,
passou rente aos craveiros e às panelas de losna, meteu-se por um buraco
da cerca e ganhou o pátio, correndo em três pés. Dirigiu-se ao copiar, mas
temeu encontrar Fabiano e afastou-se para o chiqueiro das cabras.
Demorou-se aí um instante, meio desorientada, saiu depois sem destino,
aos pulos. [...].
RAMOS, G. Vidas secas. José Olympio, 1938.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

O romance Vidas secas, escrito por Graciliano Ramos nos anos de 1930,
coloca em cena a luta de uma família para contornar a seca, a fome e a pobreza,
ilustrando situações que espelham as condições do Sertão brasileiro daquela
Linguagens

década. No fragmento, o narrador representa esse contexto centrando-se na


a) rendição diante da morte, expressa pelo cão ao desistir de lutar pela própria
vida.
b)relação de conflito entre a família e o pai, sendo este incapaz de prover
sustento.
X
c) luta da cachorra Baleia, mesmo encontrando-se doente, para escapar do
sacrifício.
d) perda da dignidade humana representada pelas ações de Fabiano ante o
sofrimento.
e) incapacidade de Fabiano em executar uma tarefa simples por lhe faltarem
forças físicas.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

2. Em escala descendente, a começar no Catete, onde pontifica o chefe


açu, e a terminar no último lugarejo do sertão, com um caudilho, mirim,
Linguagens

isto é um país a regurgitar de mandões de todos os matizes e feitios. […]


Graúdos, risonhos, polidos, escovados, envernizados, lá estão inchando,
inchando. São os grossos batráquios da lagoa republicana. Muitos, menos
volumosos, coaxam pelos cantos chefitos incolores, numerosos, em
chusma, minúsculas pererecas de poças d'água. São os donos de todos os
municípios destes remotos rincões que o estrangeiro ignora, que as
cidades do litoral conhecem vagamente, através dos despachos da Agência
Americana. Mandatários do Governo, mais ou menos coronéis, caciques
em miniatura, têm frequentemente para infundir respeito, uma espada da
Guarda Nacional, um boné sebento, um lenço de tabaco e um par de
socos.
Patrick Lustosa Brandão Literatura
Linguagens

No texto exposto, que discorre sobre as estruturas do poder


republicano da época, a autoridade do mandatário local é apresentada
pelo autor de forma
a) pitoresca ao uniformizar traços físicos e comportamentais.
b) idealista ao empregar adjetivos e substantivos pomposos.
X
c) caricata ao descrever perfis e comportamentos em tom jocoso.
d) realista ao informar de maneira isenta de posicionamentos pessoais.
e) condescendente ao mencionar a imposição pelo medo como forma de
cooptação.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

3. Quando se conhecem as obras escritas na época que ficou conhecida


didaticamente como Geração de 30, percebe-se que alguns autores têm
Linguagens

temática e/ou gênero literário convergente, entre os quais, é possível citar


a) Jorge Amado e Rachel de Queiroz, por escrever em romances urbanos.
X
b) Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos, por escreverem prosa
regionalista.
c) José Lins do Rego e Rachel de Queiroz, por escreverem poesia
regionalista.
d) Jorge Amado e José Lins do Rego, por escreverem prosa com fluxo da
consciência.
e) Graciliano Ramos e José Lins do Rego, por escreverem poemas em verso
livre.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

4. É no seu quarto romance, Vidas secas – publicado em 1938 e, portanto,


produto do aprendizado vivido pelo escritor enquanto esteve preso –, que
Linguagens

emerge pela primeira vez uma visão social completa do processo histórico
da modernização, aparecendo com clareza no romance aqueles que
ficaram somente com a face do atraso nesse processo.
Em Vidas secas, Graciliano dedica um capítulo do livro para cada
membro da família, e demonstra cada ângulo de visão, mas fica claro que
o ponto de vista do narrador, é de observar o coletivo, a família, e as
saídas possíveis, ainda que, nesse caso, a única disponível seja a da fuga.
Mesmo que fique clara uma separação entre o narrador e os
personagens, Graciliano é, de uma maneira ou de outra, parte da
realidade social que ele está retratando, e não há, portanto, uma relação
de distância propriamente dita.
Patrick Lustosa Brandão Literatura
Linguagens

O que se observa, em Vidas secas, é que não há uma tentativa de dar


voz aos camponeses. Graciliano não tem a coragem de entrar na pele de
Fabiano, porque ele não sabe as palavras que estão na boca dele, e não
quer colocá-las na boca dele. Ele não vai, por uma enorme simpatia que
tenha pelo operário, pelo camponês, de repente começar a emprestar
conteúdos esperançosos a ele, porque inclusive esse indivíduo não tem a
mesma noção de esperança que ele. Não vai impor aos retirantes uma
determinada forma de pensamento que fosse compatível com a maneira
que ele pensava a marcha da história.
Marisa S. de Mello. Graciliano Ramos: modernista engajado. Disponível em: www.unicamp.br/cemarx/anais.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

Considerando a relação entre narrador e personagem construída no


Linguagens

romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, a autora defende que o


narrador do romance
a) deixa clara a sua separação social em relação às personagens.
b) deixa as personagens falarem por si próprias sem mediação do narrador.
X
c) coíbe a expressão do pensamento e dos sentimentos dos retirantes.
d) constrói conteúdos esperançosos em relação aos que sofreram com a
modernização.
e) restringe o lugar de fala das personagens.
Patrick Lustosa Brandão Literatura
Linguagens

ATIVIDADES PARA SALA


LIVRO: 04
PÁGINA: 10
Patrick Lustosa Brandão Literatura

1. (UNICAMP) Ocupavam-se em descobrir uma enorme quantidade de


objetos. Comunicaram baixinho um ao outro as surpresas que os enchiam.
Linguagens

Impossível imaginar tantas maravilhas juntas. O menino mais novo teve


uma dúvida e apresentou-a timidamente ao irmão. Seria que aquilo tinha
sido feito por gente? O menino mais velho hesitou, espiou as lojas, as
toldas iluminadas, as moças bem-vestidas. Encolheu os ombros. Talvez
aquilo tivesse sido feito por gente. Nova dificuldade chegou-lhe ao
espírito, soprou-a no ouvido do irmão. Provavelmente aquelas coisas
tinham nomes. O menino mais novo interrogou-o com os olhos. Sim, com
certeza as preciosidades que se exibiam nos altares da igreja e nas
prateleiras das lojas tinham nomes. Puseram-se a discutir a questão
intricada. Como podiam os homens guardar tantas palavras? Era
impossível, ninguém conservaria tão grande soma de conhecimentos.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

Livres dos nomes, as coisas ficavam distantes, misteriosas. Não tinham


sido feitas por gente. E os indivíduos que mexiam nelas cometiam
Linguagens

imprudência. Vistas de longe, eram bonitas. Admirados e medrosos,


falavam baixo para não desencadear as forças estranhas que elas
porventura encerrassem.
(Graciliano Ramos, Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2012, p.82.)
Sinhá Vitória precisava falar. Se ficasse calada, seria como um pé de
mandacaru, secando, morrendo. Queria enganar-se, gritar, dizer que era
forte, e a quentura medonha, as árvores transformadas em garranchos, a
imobilidade e o silêncio não valiam nada. Chegou-se a Fabiano, amparou-o
e amparou-se, esqueceu os objetos próximos, os espinhos, as arribações,
os urubus que farejavam carniça. Falou no passado, confundiu-se com o
futuro. Não poderiam voltar a ser o que já tinham sido?
Patrick Lustosa Brandão Literatura

a) O contraste entre as preciosidades dos altares da igreja e das prateleiras


Linguagens

das lojas, no primeiro excerto, e as árvores transformadas em garranchos,


no segundo, caracteriza o conflito que perpassa toda a narrativa de Vidas
secas. Em que consiste este conflito?

R = O conflito entre as preciosidades dos altares da igreja e das prateleiras das lojas
consiste em contrapor o valor religioso e imaterial que corresponde a um sistema de
crença (abstrato) ao valor material e tangível dos objetos nas prateleiras das lojas
(concreto). Sob essa perspectiva, o conflito que dá sustentação à estrutura narrativa
gira em torno da imaterialidade da esperança que a família de Fabiano alimenta ao
longo de sua permanência na fazenda e enquadramento caracterizado pela desolação e
pela miséria que os constrange.
Patrick Lustosa Brandão Literatura
Linguagens

b) No segundo excerto, encontra-se posta uma questão recorrente em


Vidas secas: a relação entre linguagem e mundo. Explique em que consiste
esta relação na passagem acima.

R = A relação referida envolve a condição de marginalização linguística de Fabiano e


sua família. Uma vez marginalizados e sem dominar a língua como qualquer usuário,
as personagens não se encontram aptos a nominar e, consequentemente,
compreender o mundo que as cerca. Na passagem acima, os meninos sentem-se
perplexos diante de “tantas maravilhas juntas”, porque são incapazes de dominar por
meio das palavras as informações que estão diante de seus olhos.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

2. (UESPI-Adaptada) Graciliano Ramos foi um dos principais escritores da


Linguagens

Geração de 30. Geração esta que, dentro dos princípios do regionalismo,


pensou o Brasil (seus problemas sociais, políticos, religiosos, econômicos e
culturais) com base em cada uma das suas regiões. S. Bernardo, romance
publicado em 1934, tem como cenário a zona pastoril de Alagoas. Sobre
essa obra de Graciliano, marque a alternativa correta.
a) S. Bernardo é narrado em terceira pessoa, o que permite um
distanciamento entre o narrador e o objeto da narrativa.
b)Paulo Honório, a personagem principal do romance, é filho de um rico
proprietário rural, de quem ele herda a fortuna.
Patrick Lustosa Brandão Literatura
Linguagens

X
c) A narrativa do romance é concisa, clara, dinâmica, sem se perder em
episódios que sejam desnecessários para a compreensão da obra.
d) Paulo Honório amarga “três anos , nove meses e quinze dias” na cadeia
por matar a sua primeira namorada, Germana.
e) As relações de Paulo Honório com os empregados da fazenda são
harmoniosas e sem nenhum conflito.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

3. (UESPI) São Bernardo é um romance que pode ser lido por vários ângulos.
Um deles é o do ciúme de Paulo Honório em relação à Madalena. Sobre esta
Linguagens

relação tumultuada entre os dois principais protagonistas da obra de


Graciliano Ramos, identifique a afirmação correta
a) O casamento entre Paulo Honório e Madalena foi arranjado pelo pai da
protagonista.
b) Dono de um ciúme incontrolável, Paulo Honório terminou por assassinar
Madalena com três tiros.
c) Sendo um homem culto, Paulo Honório tinha dificuldades de aceitar a
condição de quase analfabeta de Madalena.
X
d) O episódio que narra a morte de Madalena é precedido por um longo diálogo
entre esta e Paulo Honório.
e) A tristeza de Paulo Honório depois da morte de Madalena se dá porque ela
nunca lhe deu filhos.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

4. (UFF)
Linguagens

TEXTO VIII
Sinhá Vitória
Sinhá Vitória tinha amanhecido nos seus azeites. Fora de propósito,
dissera ao marido umas inconveniências a respeito da cama de varas.
Fabiano, que não esperava semelhante desatino, apenas grunhira: - “Hum!
hum!” E amunhecara, porque realmente mulher é bicho difícil de
entender, deitara-se na rede e pegara no sono. Sinha Vitória andara para
cima e para baixo, procurando em que desabafar. Como achasse tudo em 5
ordem, queixara-se da vida. E agora vingava-se em Baleia, dando-lhe um
pontapé.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

Avizinhou-se da janela baixa da cozinha, viu os meninos entretidos no


barreiro, sujos de lama, fabricando bois de barro, que secavam ao sol, sob
Linguagens

o pé-de-turco, e não encontrou motivo para repreendê-los. Pensou de


novo na cama de varas e mentalmente xingou Fabiano. Dormiam naquilo,
tinha-se acostumado, mas seria mais agradável dormirem numa cama de
lastro de couro, como outras pessoas.
Fazia mais de um ano que falava nisso ao marido. Fabiano a princípio
concordara com ela, mastigara cálculos, tudo errado. Tanto para o couro,
tanto para a armação. Bem. Poderiam adquirir o móvel necessário
economizando na roupa e no querosene. Sinhá Vitória respondera que isso
era impossível, porque eles vestiam mal, as crianças andavam nuas, e
recolhiam-se todos ao anoitecer. Para bem dizer, não se acendiam
candeeiros na casa.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

Com base no texto lido, identifique a alternativa que contém a


Linguagens

característica correta em relação à análise da obra de Graciliano Ramos e à


sua inclusão na ficção regionalista dos anos 1930.
a) Valorização do espaço urbano e das relações de poder.
b) Ênfase em aspectos pitorescos da paisagem nordestina.
c) Utilização de linguagem predominantemente metafórica.

X
d) Atitude crítica e comprometida frente à realidade social.
e) Opção preferencial por personagens pertencentes à classe dominante.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

5. (UEG) A princípio tudo correu bem, não houve entre nós nenhuma
Linguagens

divergência. A conversa era longa, mas cada um prestava atenção às


próprias palavras, sem ligar importância ao que o outro dizia. Eu por mim,
entusiasmado com o assunto, esquecia constantemente a natureza de
Gondim e chegava a considerá-lo uma espécie de folha de papel destinada
a receber as ideias confusas que me fervilhavam na cabeça.
O resultado foi um desastre. Quinze dias depois do nosso primeiro
encontro, o redator do "Cruzeiro" apresentou-me dois capítulos
datilografados, tão cheios de besteiras que zanguei.
- Foi assim que sempre se fez. A literatura é a literatura, seu Paulo.
RAMOS, Graciliano. "São Bernardo". Rio de Janeiro, São Paulo: Record, 1985, p. 8-9.
Patrick Lustosa Brandão Literatura

O trecho acima remete a uma das tentativas de escritura de "São


Bernardo". Na ocasião, o debate travado entre Paulo Honório e Azevedo
Linguagens

Gondim espelha, acerca da literatura brasileira, as seguintes visões críticas:

X
a) Paulo Honório (não esclarecido, popular e moderno); Azevedo Gondim
(clássico, tautológico e elitista).
b) Paulo Honório (clássico, popular e elitista); Azevedo Gondim (não
esclarecido, moderno e tautológico).
c) Paulo Honório (popular, moderno e tautológico); Azevedo Gondim
(clássico, não esclarecido e elitista).
d) Paulo Honório (clássico, não esclarecido e elitista); Azevedo Gondim
(popular, moderno e tautológico).
Patrick Lustosa Brandão Literatura

OBRIGADO, TURMA!
Linguagens

Você também pode gostar