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Ficha Técnica:
Formato: 600x800px
Páginas: 183
Lançamento: 18/07/2020
Contato: memoriadosfanzines@gmail.com
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Sumário
O Projeto................................................................03
O que é Fanzine?....................................................04
Depoimentos O Zine? O hoje?...............................19
Entrevista Márcio Sno............................................42
Memória dos Fanzines “Start”...............................54
Memória dos Fanzines #1 a #15............................55
Entrevista Beralto..................................................70
Memória dos Fanzines #16 a #30..........................79
Entrevista Denilson Reis........................................94
Memória dos Fanzines #31 a #41..........................96
Entrevista Zinerman............................................107
Memória dos Fanzines #42 a #50........................110
Entrevista Gazy Andraus.....................................119
Colaboração Extra Zineiros #1 a #50..................127
Depoimento O Zine? O hoje? #2.........................177
Chamada “Memória dos Fanzines #2..................181
Alguns contatos aqui presentes............................182
Fim.......................................................................183
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O Projeto
“Memória dos Fanzines #1” é parte do conteúdo
postado no Blog Metal Reunion Zine, desenvolvida
em parceria com o Fanzine Juvenatrix, desde Janeiro
de 2018. Tem como objetivo resgatar algumas
publicações independentes que foram parte da cultura
do Fanzine impresso no Brasil durante os anos 80 e
90. Sabemos que o consumo cultural através de meios
virtuais atualmente, é muito relevante para uma
parcela significativa da sociedade. Sendo assim,
pensamos em sintetizar todas as postagens e também
agregar outros conteúdos inéditos, cedidos por
companheiros envolvidos com os valores dessa arte
voltada a comunicação e que se mantem viva até os
dias atuais. Temos conhecimento que muitas
iniciativas similares a nossa já aconteceram, mas
acreditamos que existe bastante conteúdo para esse
tema e essa é a primeira parte de nossa contribuição.
Que o e-book em suas mãos seja importante de
alguma forma na busca por conhecimento e que sirva
como ferramenta de pesquisa para gerações futuras
que talvez não consigam ver relevância entre os
objetos: máquina de datilografar, cola branca, papel
sulfite e tesoura. Desejamos boa leitura e
agradecemos por baixar este livro.
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O que é Fanzine?
“Zine é um veículo de comunicação alternativo e
independente, reproduzido em pequenas tiragens e
distribuído para um público segmentado de maneira
fora dos padrões convencionais. Surgiu na década de
1930, à partir da necessidade de expressão de grupos
específicos e tornaram-se campos férteis para
experimentações gráficas e textuais, graças à sua total
e irrestrita liberdade. Ganhou mais força com o
surgimento do punk , em 1976, simultaneamente nos
Estados Unidos e Inglaterra. Nesse período, o "do it
yourself" (faça você mesmo) passou a incentivar mais
pessoas a produzirem seus próprios zines. Até a
metade da década de 1990, foi o principal porta-voz
de artistas independentes (músicos, quadrinistas,
poetas, ativistas, produtores etc.). Com a chegada da
internet, deixou de ter exclusivamente esse papel e
hoje é visto como uma plataforma para divulgar
trabalhos artísticos. Por abrir mão da maneira formal
de se produzir informação dá, para quem o produz, a
liberdade para expor suas ideias, externar seus
sentimentos e, ainda, se sentir pertencente e capaz de
ajudar a transformar a sociedade.”
Márcio Sno - Livro "O Universo Paralelo dos Zines", São Paulo: TimoZine, 2015
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“Com a criação de um fanzine, cada pessoa se torna
autora (ou co–autora) e pode quebrar limites
desenvolvendo temas pessoais com formatos os mais
variados (também no meio virtual da web),
expressando seus ideários e gostos particulares. O ser
humano tem, assim, em suas mãos, um poder de
deflagrar imagens e/ou textos, de pesquisar livremente
e dispor como quiser suas informações obtidas,
elaborando sua própria edição, fora do circuito
“oficial” da editoração social. No fanzinato, ele ainda
melhora e amplia seu relacionar com o próximo, visto
que o fanzine não visa lucro, mas sim a troca e
disseminação de ideias pessoais, autorais, sendo um
objeto paratópico prenhe de informações e/ou
imagens, de diversos formatos e temas”.
“A resposta reside nos “vãos”, nas “sarjetas” da
realidade, principalmente como opção daqueles que
gostariam de publicar suas ideias e não precisam e
nem querem encarar a “oficialidade” comercial das
bancas e livrarias, por meio dos fanzines, cuja criação
e evolução não é algo muito antigo, embora tenha suas
raízes no fato de o ser humano querer se expressar
criativamente. Mas, de certa forma, a gênese dos
“zines” vem desde as actas diurnas romanas,
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passando pelos menestréis e bardos medievais (que
cantavam suas odes e críticas humoradas aos reis), e
trabalhos do artista do século XVIII William Blake,
bem como as cartas lidas e copiadas no Renascimento,
graças ao aumento das viagens intercontinentais,
encontrando os primórdios dos jornais e, por fim,
chegando aos próprios fanzines a partir da década de
1930 e 40 nos EUA, o que culminou nos libelos punks
da década de 1960 e 70 dos ingleses. Daí por diante
houve uma expansão desses veículos já chamados de
pluri-paratópicos por Zavam (2004), em seu artigo
“Fanzine: a plurivalência paratópica”.”
“Mas os zines (como também são chamados) se
iniciaram nos boletins de ficção científica norte-
americanos em 1930, tendo sido chamados de fanmag
(fanatic + magazine) como criação de Ray Palmer que
o fez para o Science Correspondence Club (Monet,
s/d). Porém, o termo fanzine só foi criado depois, em
1941, por Russ Chavenet, tornando-se uma maneira
informal e não oficial de imprimir e passar
informações (inicialmente feito por meio de
mimeógrafo e atualmente em fotocopiadoras, off-set
ou impressoras de computador, incluindo-se o fanzine
virtual na Internet).
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Seu alcance aumentou na década de 1960 e 70,
principalmente graças à insurgência do movimento
punk inglês, que divulgava seus libelos anarquistas e
shows punks, disseminando os zines cada vez mais
pelo mundo, ganhando notoriedade e volume.
Enquanto isso ocorria, Robert Crumb, considerado um
dos primeiros a auto-publicar suas histórias em
quadrinhos e a vendê-las de mão em mão nos EUA,
em fins da década de 1960, torna-se um dos pioneiros
do chamado “fanzine” de quadrinhos.”
“No Brasil tem sido muito importante, pois trouxe a
possibilidade de publicação principalmente dos
autores de quadrinhos, que até há poucos anos não
tinham chance de serem editados. Por sua vez, o
progresso tecnológico barateou as impressões, e o que
era feito em supremacia nas fotocopiadoras deu lugar
às impressões de alta qualidade, como as revistas
alternativas do grupo Quarto Mundo, uma espécie de
cooperativa de autores e fanzineiros emergentes no
Brasil, e que têm produzido muito material
interessante. Porém, os fanzines vão muito além do
pouco que se divulga deles. De certa maneira, na
contemporaneidade, a maioria dos autores (amadores
e/ou profissionais)
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que auto-editam suas revistas, quer contenham arte
(quadrinhos, poesias etc), quer textos (sobre ficção
científica, música, quadrinhos etc), acaba por ser
denominado invariavelmente de fanzineiros, e suas
revistas de fanzines (ou zines), principalmente porque
muitas destas edições mesclam artigos com expressões
artísticas. Outro ponto a se destacar num fanzine é a
informalidade de sua atuação, a independência de suas
informações, a novidade e pesquisa de seus textos,
bem como a variedade infinita de formatos e
apresentações gráficas, quer sejam impressas ou
fotocopiadas. E isto se estende, na atualidade, aos “e-
zines” (electronic zines), que seriam zines eletrônicos
atinentes à virtualidade do ciber-espaço da rede virtual
do computador (internet), bem como os blogs, uma
variante do que seria um diário, ou jornal pessoal, ou
ainda um zine também, em que cada blogueiro divulga
aquilo que ama e gosta. Há muitos exemplos de e-
zines, como o Dissonância
(http://www.dissonancia.com/) ou o Ninaflores
(http://www.ninaflores.net/ ). O (re-)conhecimento dos
zines não é percebido largamente, embora haja
eventos e exposições nacionais e internacionais, bem
como fanzinotecas mundo afora:
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a primeira foi a Fanzinothèque du Poitires, localizada
na França, e a segunda, inaugurada em 2004, na
cidade de São Vicente, litoral do estado de São Paulo,
mas que infelizmente está abandonada devido à falta
de atenção por parte da prefeitura. Além disso, tem
havido diversos eventos com catalogação de fanzines,
como o anual realizado em Ourense, na Galícia
(Espanha), e outro na cidade de Almada, em Portugal.
No meio acadêmico tem havido cursos de graduação e
pós-graduação, como os ministrados por Elydio dos
Santos Neto, professor doutor de educação da
UNIMETODISTA, que aplica os quadrinhos e os
fanzines para profissionais da educação e pedagogia,
de forma a ampliar o alcance e a criatividade dos
pesquisadores. Ele criou os biograficzines, como parte
de sua didática e de auxílio a que cada aluno (que
também é educador) possa melhor se conhecer e
conhecer seu potencial criativo, muitas vezes
bloqueado pelos sistemas que nos engessam (como
engessam e limitam as revistas “oficiais” em bancas).
Eu mesmo fui convidado a auxiliar nos biograficzines,
dando oficinas, em que cada um dos alunos criava seu
próprio fanzine autobiográfico! Assim, fanzines não
são só revistas: são revistas que estão em paralelo ao
nosso sistema (paratopicamente),
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alhures e algures, como uma extensão necessária do
espírito libertário e criativo do ser humano, que jamais
poderá ser calado ou cerceado, ainda que a sistemática
social tente impingir (inadvertidamente?) o contrário.”
“Fazer um fanzine e ler um zine é uma experiência
única: há miríades de formatos, dos minúsculos aos
homéricos; bem como há constelações de temas, indo
da ficção científica, à música, cinema, à anarquia, à
política transgressora, à conscientização, ao
biográfico, até às artes como poesia, quadrinhos,
cinema e literatura. E há os que misturam tudo isso. E
são fáceis de se fazer: basta uma folha de sulfite
tamanho A-4, para que vire um zine de duas páginas,
ou de 4 páginas de tamanho A-5, fotocopiando-se o
que se montar nela, e distribuindo-se via correio ou de
mão em mão[6]. Aliás, o lema principal do universo
zineiro é a fraternidade, a amizade e a troca de ideias e
criatividade, sem visar lucro: coisas que ficam à
margem do sistema educacional cartesiano e do
sistema capitalista gerencial mundial. Fazer, ler e
enviar (ou receber) um fanzine pelo correio é uma
experiência interessante: até mesmo os envelopes
podem se tornar um tanto “zinados”.
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e o ato de elaborar um zine compreende duas
possibilidades: individualmente ou acompanhado de
mais pessoas. Quando há mais que duas pessoas,
geralmente forma-se uma cooperativa em que cada um
dos integrantes arca com uma parte cotizada das
despesas que serão gastas principalmente com sua
elaboração (fotocopiado ou impresso). Eu tenho
experiência em ambos os casos: participei inicialmente
do fanzine “Barata” (de 1987 a 2006), e cada um dos
que publicavam, seja quadrinho ou ilustração, bem
como texto (conto ou poesia), pagava o equivalente ao
número de páginas que estivesse contribuindo com a
revista. Em dupla, editei em 1994, junto a Edgar
Franco, o zine “Irmãos Siameses”, e também
dividimos as despesas da fotocopiagem e dos envios
pelo correio. Igualmente, quando publiquei meu
primeiro trabalho solo, “Homo Eternus” (entre 1993 e
1994), em 4 volumes, coeditei-o com outro fanzineiro,
Edgard Guimarães, que o divulgou em seu fanzine
“IQI – Informativo de Quadrinhos Independentes”,
que existe até hoje com o título de “QI”. Atualmente
venho publicando um fanzine por ano, sendo que os
dois últimos “Gazine” e “Alma Inacabante” se deram
após os dois minicursos que ministrei para turmas de
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pós-graduação em Pedagogia pela UNIMETODISTA,
a pedido do Prof. Dr. Elydio dos Santos Neto, que
aplicou os biograficzines aos mestrandos. Embora a
maioria dos fanzines tenham formato de papel meio-
ofício (tamanho A-5) e hoje em dia boa parte dos zines
sejam feitos no formato de revista em gráficas com
capas coloridas (como as revistas independentes do 4º.
Mundo”), há uma possibilidade enorme de criar
formatos outros. A “Maturi”, por exemplo, foi um dos
menores fanzines, tendo apenas 8,5cm x 11,5 de
altura. Há zines em tamanho tablóide (meio-jornal)
como o Graphiq e o NFLzine. Mas há também
formatos incomuns, como o zine “O atendente” (de
Bophet e Thiago Cruz) que vem dentro de uma caixa
de VHS (fita de vídeo-cassete), e “Arrevista – A
revista arrivista” (do fanzineiro alcunhado de “Dedo”),
que simula um pequeno rolo de papel higiênico. O
zine “No fiofó todo dia” (André e Rodrigo) é
basicamente uma folha A-4 com dobradura sanfonada
em 4 tiras, frente e verso, perfazendo um total de 8
páginas. O mais comum, porém, é o fanzineiro criar
uma revista com apenas uma folha A-5, frente e verso
(preto e branco, mas podendo usar papéis coloridos), e
de sua matriz (que é chamada “boneco”), fazer uma
tiragem de 50 a 100 exemplares em média.
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Com esta única folha, a montagem pode gerar muitas
formas possíveis, como a já mencionada sanfonada.
Eu costumo elaborar os zines em tamanho A-5,
juntando o equivalente múltiplo de 4 para perfazer
uma média de 12 a 36 páginas[7]. Outro de meus
zines, o “AlmaHQ” teve em cada sua capa fotocopiada
(em papel um pouco mais grosso) um recorte feito
com estilete, para que uma parte do desenho da página
interna apareça como item da capa. Ao abrir o zine, o
leitor se depara com a página inteira e compreende o
desenho, tendo uma nova leitura da imagem. Em
meados da década de 1990, Érico SanJuan, um
fanzineiro de Piracicaba/SP, criou o zine intitulado “Só
uma?”, dispondo em cada número vários autores duma
vez, em que podiam enviar para publicação uma
história em quadrinhos de apenas uma página. Dessa
maneira criativa, o faneditor conseguiu elencar em
mais de uma dezena de números vários autores da
HQB (história em quadrinhos brasileira), sendo que
muitos, atualmente, são profissionais da área
quadrinhística e/ou pesquisadores. O próprio San Juan
tem seus trabalhos artísticos publicados na tradicional
revista “Mad”, na versão nacional. Outro zine que
impressiona pela criatividade da montagem, este bem
mais recente, é o
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“Santo do pau oco”, de Gil Tókio, tendo elaborado um
paspartou (moldura) dentro da capa laranja feita em
serigrafia, que abarca uma mini-revista poética em
quadrinhos. O próprio autor surgia nos eventos
paramentado a fim de tornar público a venda[8] desse
seu zine. Embora esta revista interna tenha sido feita
em gráfica, o trabalho da capa e moldura foi quase que
totalmente manufaturado. As edições da editora
alternativa Marca de Fantasia, de Henrique
Magalhães, costumam igualmente serem semi-
manufaturadas, motivo pelo qual as edições são de
tiragem reduzidas. Com relação aos temas e liberdade
criativa, há jargões e neologismos muito interessantes
que são criados nos fanzines. Alguns deles, por
exemplo, como o termo já mencionado “fanzinagem”,
de Silvio Ayala, e títulos como ”Graforréia
Xilarmônica” ou “Freezine”. Palavras inexistentes
surgem, como “Funkstein”, “Caosmótico” ou
“Oquemaisblível” etc. E há até zines de grupos
distintos, como “Dishrag: a journal os dish washer´s
art”, criado por lavadores de pratos dos EUA”! Como
se vê, a variedade de formatos é quase tão grande e
criativa quanto seus temas, e o ato de lê-los (tanto
quanto fazê-los) desperta o gigante criativo
adormecido no hemisfério direito cerebral,
14
que é tocado e reluz numa experiência dadivosa e
nova! Essa é a necessidade primordial e primeva de se
poder criar e ler zines.”
“Como dito, o fanzine é uma forma de editoração
alternativa, não vinculada aos aspectos oficiais da
sociedade, em que se pese um sistema de ordem
geralmente afeito a trocas e permutas mediante valores
monetários, como o é no sistema capitalista
excludente. Na verdade, independente do sistema
vigente, as questões entre o poder e a manifestação
ideária costumam estar antagonizadas, pois o ser
humano possuindo um cérebro triádico, segundo De
Gregori (1999), acaba estigmatizando uma
organização baseada em uma mentalidade capitaneada
pelo cérebro central (cérebro reptiliano), que
predispõe, em primeira instância, um sistema baseado
quase que exclusivamente na práxis e na
sobrevivência. Auxiliado por um desenvolvimento do
lado esquerdo cerebral, racional, este sistema tornou a
vida pensada e atuada por base em particularizações e
lógicas cartesianas, em que diminuiu-se ou se manteve
em última instância o funcionamento intuitivo e
criativo do hemisfério direito (que foi mais
impulsionado na antiguidade criando as mitologias
com base em inconscientes coletivos),
15
impedindo uma comunhão triádica cerebral melhor
proporcionada, privilegiando-se algumas instâncias
em detrimento a outras. O zine, assim, representa uma
manifestação materializada a partir de uma premência
mental que parte do hemisfério direito, o qual busca
uma interação triádica necessária a um melhor
funcionamento cerebral e mental, por consequência.
Conforme De Gregori (1999) explicou, o hemisfério
esquerdo é racional, lógico e linear, respondendo por
uma organização diferente do hemisfério direito, que
atua de maneira não linear, é visual (imagético),
intuitivo e criativo, enquanto que a porção central,
anterior e remanescente no cérebro, responde pela
ação pragmática e de sobrevivência. Para o autor, a
utilização proporcional das três vias traria um melhor
equilíbrio à vida humana, já que ocorre um mau uso
desproporcionado dos hemisférios. Estas assertivas
são corroboradas pelos estudos atuais graças à
tomografia computadorizada que verifica as áreas e
alocações que se ativam dependendo do tipo de ações
e pensamentos que o ser humano possui (Andraus,
2006).”
16
“Os zines são abundantes no mundo inteiro: uma
forma criativa de propalar os ideários das pessoas, sem
que precisem responder a qualquer órgão, já que basta
a imaginação e o uso da tecnologia (impressão,
fotocópia, internet etc) para criar uma revista
independente. E que pode ser preto e branca ou
colorida, nos formatos os mais variados, de textos,
imagens (desenhos, ilustrações, HQ) criativos, numa
miríade de possibilidades. A profusão zineira é
aparentemente caótica, mas segue uma “organização”
libertária, sem vínculos, e auxilia na ampliação das
comunicações aumentando a quantidade de amizades
sem fronteiras ou preconceitos, e expandindo as
ideias. Os zineiros muitas vezes apenas se conhecem
por seus trabalhos, sem nunca terem se encontrado. E
quando o fazem, seja em eventos acadêmicos ou
outros, trocam mais zines e informações, expandindo
nacional e internacionalmente suas fronteiras. A
“feitura” e leitura de zines amplia a inteligência
sistêmica, abrindo novidades nunca antes vistas, o que
auxilia na atividade hemisferial direita (criatividade),
que trabalha em conjunto com o hemisfério esquerdo
(racional), sendo que o trabalho prático de elaboração,
manufatura e distribuição dos zines ajuda na atividade
da porção central do cérebro (pragmático),
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conformando-se à teoria do cérebro triuno equilibrado
proposto pro Waldemar De Gregori (e abalizado por
recentes estudos neuronais devido à tecnologia da
tomografia computadorizada do funcionamento
cerebral). A leitura/feitura plurivariada dos paratópicos
zines cria, assim, uma amplitude na visualização e
abordagem criativa, e corrobora na fraternidade, tendo
portanto inestimáveis atributos à vida social, sendo
bem-vinda, portanto, à educação em todos os níveis.”
Referência:
18
Depoimentos
“Fanzine é algo maior que consigo imaginar e explicar
hoje em dia. Antes diria rapidamente: uma revista feita
e produzida artesanalmente, com papel, cola e tesoura,
liberdade de expressão. Hoje sei que é algo muito
maior potencializado em folhas de papéis e fotocopias.
Criatividade, conhecimento, informação, afeto,
cidadania, arte, cultura, educação, diversidade,
publicação impressa que contém retalhos de sonhos,
medos, utopias, é ainda o primo pobre das
publicações, o patinho feio das artes gráficas.
Para mim, um diamante bruto, original e único.
O fanzine sempre foi atemporal e visionário. Sua
mídia tática e direta sempre me fascinou.
Se você pegar pra ler fanzines das décadas de 70, 80,
90, vai ver que fala muito sobre coisas que estamos
vivendo hoje e feitas com pouco acesso e formas de
informação (internet, redes virtuais e tecnologia), tudo
era produzido artesanalmente e, quando muito,
utilizado telefone para troca de informações, o resto
era jornais, revistas, outros fanzines, cartas, diálogos
entre artistas etc.
19
Para mim, sempre foi uma ferramenta artística,
pedagógica e de resistência e auto gestão.
Não importa a estética ou tema, os fanzines são
objetos livres e acessíveis, pluralidade.
Mesmo que o editor crie de forma individual, ele será
inserido no coletivo, ou em determinados grupos que
partilham das mesmas ideias ou ideais.
Leio tudo que posso relacionado a Fanzines,
alfabetizei meus filhos com Fanzines, minha vida hoje
está associada a Fanzines, amizades, arte, educação,
trabalho, praticamente tudo, é meu estilo e opção de
vida.
Em tempos atuais, posso dizer que o Fanzine é a rede
social raiz, existe realmente para conectar as pessoas.”
20
“Para mim, fanzines são uma expressividade
resultante de um esforço proativo de pessoas,
envolvendo: dedicação de tempo, criatividade,
articulação zineira para firmar parcerias, investimento
de recursos financeiros, compromisso cultural,
autoralidade, sentimento de pertencimento a algum
segmento “Cauda Longa” ou tema de interesse e
motivações variadas.
Os fanzines são importantes em qualquer lugar e
tempo, pois é oportunidade de expressão multifacetada
para a divulgação do pensamento dessas pessoas, com
seus possíveis posicionamentos socioeconômicos,
culturais, ambientais, entre outros.”
21
“O fanzine é uma expressão necessária, não cabendo
aqui conceituá-lo, mas apresentar algumas de suas
características que motivam sua permanência como
linguagem: ele é marcado pela simplicidade; pela
capacidade de qualquer pessoa realizar; tem abertura
imensa de temas, linguagens, designs; possibilidades
de existir (fisicamente, virtualmente ou
intelectualmente); diferentes formas de se concretizar
(xerocado, impresso, digital...) e se distribuir; obra de
autoria individual ou compartilhada; aberto a presença
de outras linguagens como poesia, música, filosofia,
biografia....); com liberdade total e de possibilidades
inventivas; objeto cultural e de contracultura; entre
muitas outras.
Acho necessário pensar sobre a necessidade de se
expressar quando se produz ou divulga um fanzine, ou
mesmo tomar contato e se especializar nessa
linguagem gráfica, completamente fora do sistema
comercial, indo, na minha opinião, muito além de
mero passatempo, que torna-se não apenas uma
produção do autor, mas fator de identificação e de
possibilidade de expressão, de comunicação, de
protesto, de agenciar novos sujeitos que, como o autor,
22
necessitam apresentar seus temas de interesse, seus
modos de se apresentar visualmente e
intelectualmente, de fazer chegar as pessoas uma
forma diferente de pensar e de se divertir. Assim o
fanzine é mais que um produto, é algo relevante e
revelador!”
23
Em toda história da humanidade e da tecnologia,
nunca vimos o FANZINE tão envolvido no dia-a-dia
das pessoas como nos dias de hoje. Este é o tempo em
que o fanzine entrará a contemporaneidade como Obra
de Arte Moderna, Comunicação Urbana e linguagem
do século 21.”
24
"Fanzines são publicações amadoras de temas diversos
(assuntos gerais, literatura, poesia, quadrinhos,
música, cinema, etc.), feita por fãs para fãs. Um tipo
de imprensa alternativa ainda extremamente
importante nos dias atuais por publicar os materiais
enviados por colaboradores, dando maior visibilidade
aos trabalhos e eventualmente também do próprio
editor, permitindo que mais pessoas com interesses
comuns possam ter acesso a esses trabalhos."
25
e a dita mídia "social" da internete, que não tem nada
de social e geralmente abriga notícias falsas,
reacionarismos e afirmações feitas de maneira
completamente leviana ou mentirosa. Os fanzines, de
certa forma, são uma forma de escapar da limitada
mídia convencional e também da idiotizante 'midía' de
WhatsApp, Facebook e outros lixos."
26
O fanzine parte de um princípio que é o DIY (Do it
yourself - faça você mesmo, em português). Esse
princípio demanda responsabilidade com o que se quer
passar adiante (ideias, opiniões, falas, expressões...) e
esse conhecimento vem com a pesquisa dedicada ao
assunto.
Isso gera uma rede de informações e expressões que se
alastram e fomentam a busca além do escrito no
fanzine por parte de quem acaba tendo contato com o
fanzine.
A comunicação contemporânea requer rapidez e
informações dispostas de modo ultra rápido e super
atraentes. O fanzine supre essa necessidade moderna
de consumo informacional, embora, geralmente, não
seja produzido com essa finalidade. Essa
maleabilidade é mais uma das vantagens do fanzine,
entra e circula por qualquer meio, se adaptando e se
reformulando novamente a gosto do seu editor.”
27
"Fazer fanzines é poder criar de maneira livre e sem
amarras mercadológicas, é ter a opção de consumir
cultura sem rótulos e nem código de barras, é ter
amigos por todo o mundo e inimigos por toda parte.
Fanzine é um mundo imaginário, de possibilidades
infinitas dentro de folhinhas dobradas de papel. Fazer
um fanzine é sua única chance de escapar da
insanidade inevitável, para que possa embriagar-se em
páginas loucas e incontroláveis de delírio criativo.
Fanzine é nitroglicerina em minhas veias, TNT para
meu cérebro, é erva daninha na vida dos medíocres.
Fanzine é papel, grampo e atitude.
Em tempos sombrios como estes em que
vivemos, forças fascistas, velhas como o próprio
tempo, tentam desvirtuar valores e conquistas sociais
conquistadas a base de carne e sangue, tudo para
sustentar padrões paternalistas, econômicos e
raciais. Período em que vemos a mídia oficial usar
todo seu aparato "bélico", mais uma vez, a serviço de
seus próprios interesses, nesta época que a tecnologia
é usada para confundir e dissuadir a população.
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Fazer fanzine é ir contra tudo isso, fanzine é
ferramenta contra cultura, contra sistema, contra
convenções, antifascista, é a criptonita do sistema
capitalista opressor que domina nossos dias.
Por no mundo um Fanzine é dar voz a população da
periferia, voz que nunca terá pelos veículos oficiais.
Criar, editar, publicar um Fanzine é dar vazão a
verdade nossa de cada dia, é adentrar à porta de um
novo mundo, em que tudo é possível, basta a
imaginação voar.
Hoje e sempre, fazer Fanzine é ser resistente.“
29
Os fanzines sempre foram sinônimos de resistência,
um grupo se junta para publicar sobre determinado
assunto e desenvolver o material com publicações,
geralmente amadoras, mas que hoje em dia tem uma
importância maior, pois atingem um público maior e
podem ajudar a desenvolver não somente as artes, mas
também as narrativas.“
30
onde todo o material era colocado dentro de um
disquete e juntamente acompanhava um índice
impresso em papel. Depois voltei ao impresso com o
que chamei de "coleção distúrbio" (2002 - 2004).
Eram zines onde eu publicava todo o tipo de manual,
desde eletrônica, passando pelos softwares livres e
chegando ao como agir em manifestações. Daí passei
10 anos afastado da realização de zines. Foi então que
resolvi voltar à ativa. Assim, em 2014, criei o "
rUÍdOs_em_rUÍnAs:|:rUÍnAs_em_rUÍd Os ", um zine
sobre vídeo e áudio experimentais da cena local aqui
de brasília. A particularidade dele é que não há versão
digital alguma para se ter acesso. A pessoa deve contar
ou com a sorte ou com uma caixa postal para ter
acesso a ele. No momento ando preparando mais uma
edição dele, junto com outra edição do
H[A]CKistenZ[ine], este iniciado em 2018, cujo tema
é o hacktivismo que pode ser realizado por qualquer
pessoa sem conhecimentos técnicos. Chamo zine de
hackeramadorismo. Toda essa minha história fez eu
ver o zine como um processo que nasce da
necessidade de se expressar e comunicar, chegando a
ser uma linguagem estruturada, ou seja, não basta
realizar um zine, tem que se "falar" um zinês. hahaha
31
Desse modo, o zine seria algo estruturado em duas
dimensões: a do conteúdo e a da forma. Esta última já
amadurecida como uma linguagem autônoma. Foi por
causa da estrutura de linguagem dos zines punks que
me levou a ser o artista multimídia que me tornei, pois
foi no trato da relação entre texto e imagem neles que
comecei a pensar no diálogo expansivo que cada um
deles tem em relação ao outro. Uma imagem não
ilustra o texto, assim como o texto não explica a
imagem. Cada qual funciona como ampliador das
forças do outro.“
32
“Fanzine é uma forma de comunicação livre, um
mecanismo de popularização de ideias e concepções.
Não há limite para o alcance de um fanzine, o que faz
com que ele seja a mídia ideal para se fazer divulgação
- ainda mais no caso das edições em PDF.”
33
"Zine, para mim, é o espírito originário dos livros, da
palavra escrita. É tudo de bom que já se perdeu na
pasteurização publicitária da literatura, da cultura de
massas que domestica e extermina o afeto do
artesanato e o afeto do olho no olho. Além do que,
como diria Bukowski, eu prefiro saber mil vezes sobre
a vida de um vagabundo americano qualquer do que
sobre um deus grego. A zine possibilita as palavras
vagabundas serem lidas sem a necessidade de
intermediario$ punheteiros de deuses gregos que não
se interessam pelo resto. Publicação artesanal de arte
autônoma com distribuição direta, quem cria=quem lê.
Magia negra, no sentido de Sérgio Vaz. Resistência
estética e também ética na maioria das vezes. Cordel
punk.
Comecei a consumir zines em 2012 (eu acho) com a
Pençá e depois a Reboco Caído que acompanho até
hoje. A partir daí, tudo o que me aparece na frente eu
pego, em qualquer lugar. Em especial as publicações
de poesia de Joseph Mike Lorry Loudney, de
Leonardo Guaragni e de Cátia Cernov. Em 2017
conheci a arte de cordel em fortaleza, no ceará, lendo
um dos maiores poetas do Brasil, Patativa do Assaré.
34
Nesse momento entendi que era possível fazer zines
como se fossem livros de poesia e vender na rua. E foi
o que fiz e faço até hoje. Chamo o que eu faço de zinel
(zine + cordel), pois na minha cabeça estão junto nas
publicações a revolta suja e cinza da fanzine urbana
com o colorido e arte popular antiga já dos cordeis,
que continuam vivos e fortes. Não me entusiasmo
muito por nada on line, mas existem coisas boas.”
35
Desde a infância montava uns gibis nos cadernos da
escola e trocava pra leituras com a molecada. Descobri
o circuito de zines propriamente dito no início dos
anos 2000, quando comecei a consumi-los, colaborar e
editar."
Conheça os
Lançamentos!
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36
Eu encaro a arte como laboratório criativo. Por isso
transito em várias linguagens. A poesia seria o núcleo
reflexivo e embriagante dessas várias linguagens e o
zine o campo vasto de experimentação. É através
desse mecanismo que experimento várias técnicas,
estilos, símbolos e códigos. O zine sempre será
resistência e sua comunicação não carece de egos
inflados e nem esquemas egoístas e muito menos
segregação de espécie nenhuma. O zine permite o
mergulho na emancipação do indivíduo e a liberdade
de autonomia de pensamento. É coletividade e
interação. Sem isso, o underground não sobrevive. É a
marca cravada na carne sangrenta da criação. Ainda
lembro nitidamente quando comprei uma revista aos
13 anos de idade e trazia uma matéria sobre fanzines.
O que ficou de forma nítida na minha memória era um
trecho de um fanzine que citaram nessa matéria. Era
um quadrinho que não lembro o nome, mas a narrativa
me chamou a atenção, além do alcance que essa mídia
tinha e tem, mesmo com poucos recursos.
Os personagens centrais eram uma figura feminina (de
moicano e fora dos padrões sexualizados dos gibis de
heróis e um canguru com quem ela mantinha
regularmente relação sexual).
37
O podre, subversivo, transgressivo e escatológico
sempre estiveram nas minhas "viagens artísticas".
Desde então passei a produzir meus zines (solo e em
parcerias), além de inúmeros outros mergulhos. Sou
um excluído da galáxia de parnaso e muito satisfeito!
Valeu.”
38
“Zine, pra mim, é a maneira que consegui de divulgar
minhas histórias em quadrinhos, contos e poemas em
papel.
Zine é autonomia da produção. Comecei vendendo em
2009 e sobrevivi exclusivamente da venda deles em
2012 e 2013, e continuo vendendo até hoje.
Sair pelas cidades vendendo meus zines me
possibilitou conhecer o movimento de okupas anarko-
punks, onde aprendi a jogar malabares, que virou
minha profissão principal desde 2015.
Enfim, os zines abriram um mundo pra mim.
Cada zine meu tem um nome. Fiz mais de 30 zines.
Fiz poucas sequências com nome repetido, só os cinco
números da Miséria e os cinco da
NetoDestroVóCanhota.
Acho que o zine tem essa parada de potencializar a
imprensa que existe em todo mundo, de descentralizar
a comunicação e arte, de sair dos grandes monopólios,
de tirar poder desses grandes monopólios."
39
“A minha definição de fanzine é exatamente o que o
nome diz: mídia feita por fãs. Por isso mesmo, muitas
vezes, passional. Para manter isso, é preciso ser o
máximo possível independente. Não depender de
anunciantes, para não ter o rabo preso. No caso do
Acclamatur, se gosto da banda, ela vai para as minhas
páginas, se não gosto ou odeio, não perco tempo com
essas. Já tem muita banda boa precisando de
exposição para eu ocupar o pouco tempo e espaço que
tenho, para detonar bandas. E esse é o objetivo maior
dos zines, falar e divulgar o que gosta.
Na comunicação contemporânea, os zines estão
retomando espaços, porque existe um movimento
natural de busca de uma vida mais alternativa, longe
desse mundo ilusório que foi criado pelo poder
econômico mundial. É aí que entram os fanzines como
“mídias” mais confiáveis, já que normalmente não
estão contaminados por esse poder. Por isso, cada vez
mais, tem se aberto zinetecas, muitas escolas e até
universidades abordam essas mídias artesanais,
inclusive dentro de mestrados e doutorados.”
40
“A definição mais coesa e sincera, seria “o pilar
underground mor da divulgação de bandas”. O
Fanzine é uma publicação que antes era xerocada
muitas e muitas vezes, replicada ao extremo, afim de
disseminar a tese de que as bandas do underground
precisavam mostrar suas opiniões em entrevistas, ou
somente os contatos afim de trocar ideias e marcar
eventos no subterrâneo”
41
Entrevista Márcio Sno
Márcio Sno está envolvido com com zines há 27 anos
e já lançou inúmeros títulos, sempre inovando nos
formatos. Atualmente sua produção foca em formato
de microzines. Criou o personagem Encostinho em
2016. Diretor do documentário “Fanzineiros do Século
Passado”, autor dos livros “O Universo Paralelo dos
Zines” (Timo, 2015) e “Haicobra” (Bambolê, 2017) e
organizador do livro “A Primeira Vez” (Marca de
Fantasia, 2020). Coordena oficinas de zines, HQs e
brinquedos de papel desde 2005.
Como era o panorama mundial, sua relação com o
mundo e com os zines, na época da descoberta?
Descobri os zines em torno de 1992. Nessa época, era
muito complexo: moeda instável (pré-plano real),
inflação absurda, poder aquisitivo negativo e tudo
muito incerto. E isso impactava em tudo que se podia
fazer de alternativo. Eu trabalhava em uma corretora
de seguros, como auxiliar de escritório, no centro de
São Paulo, e estudava à noite.
42
Era um período pre-internet, ou seja, para a
informação ir e chegar, era tudo na base do analógico:
cartas, revistas, recorta e cola, se virar com o que
tínhamos. Quem nasceu a partir dos anos 2000 não
tem noção de como era isso...
Estava de saco cheio com a repetição das rádio rock e
passei a me corresponder com bandas independentes
que descobri por meio da seção HeadbangerVoice, da
revista Rock Brigade. Nessa seção tinha troca de
cartas entre leitores, divulgação de trabalhos de bandas
independentes e uma “misteriosa coluna” chamada
“Fanzines”. Era um mistério pra mim, pois não tinha
esse verbete no dicionário, não havia internet pra
pesquisar ou pessoas que me explicassem.
Então, o que eu fiz? Escrevi para alguns fanzines
perguntando o preço para receber o meu (dando pinta
de que entendia do que se tratava). Naquela época, a
moeda que circulava nas cartas eram os selos e foi o
que mandei para receber. O primeiro que caiu nas
minhas mãos foi o Secret Face (que ainda tenho e,
recentemente, retomei contato com a sua editora) e,
quando vi, exclamei: “ah, então isso é zine?” Antes de
pensar em lançar o meu, cheguei a colaborar pro
próprio Secret Face e para o SolidSolution, da banda
AnarchySolidSound.
43
Um dia, em abril de 1993, indo pro trabalho,
cochilando no ônibus, me veio uns pensamentos:
“Poxa, eu estou me envolvendo com o pessoal
independente, mas não contribuo muito... Já tenho
contato com um pessoal de banda e tal... Meu! Vou
fazer meu próprio zine!” A partir daí, minha vida
tomou outro caminho.
Os primeiros testes e o gosto pela experimentação,
novos formatos:
Desde que comecei a produzir, utilizo os recursos que
estão próximos a mim, o que é possível e o que eu
posso fazer com isso. Então, não ter computador ou
não ter um software adequado para editar um zine,
nunca foi uma desculpa para eu não publicar. Então,
nunca me deixei cair nessa onda de “ah, não tenho
recursos e não faço”. O único motivo que me impediu
de fazer zines foi a falta de tempo, principalmente na
primeira infância de meu filho, quando tive que me
dedicar quase que exclusivamente a ele.
Pra ter uma ideia, hoje em dia, meus instrumentos de
trabalho são: canetas, lápis, papel, grampeador,
scanner, computador e PowerPoint. Sim, uso esse
programa pra editar meus zines! Poderia fazer isso
num software apropriado? Claro, mas não tenho. Mas
não deixo de fazer.
44
Houve um hiato na minha produção de zines que foi
entre 2000-2005 e 2006-2015. Nesse meio tempo,
minha atividade principal com zines foi na pesquisa e
oficinas. Quando voltei a produzir, não poderia me
basear no contexto que vivia quando comecei, pois
muita coisa havia mudado, principalmente com a
internet: Eu precisava dar um sentido para a
publicação impressa, uma vez que os conteúdos
virtuais são de fácil acesso, porém, não permitem
sensações táteis. Então, apegado nessa ideia, passei a
produzir zines com formatos que saíssem do padrão de
um A4 ou A5.
O primeiro formato que eu achava que quebrava esses
padrões era o microzine (3x3cm). E passei a produzir
assim. Depois, fui aprendendo outros formatos
diferenciados e investi nisso. Isso, além de sair do
comum, acabou dando toda uma personalidade ao meu
trabalho e as pessoas passaram a reconhecer meu
trampo também por essa particularidade.
Hoje em dia, só lanço zine A5 quando for de
conteúdos maiores, como o Encosto e o A Primeira
Vez (que virou livro digital recentemente), que contam
com colaboradores e muitas páginas.
45
Porém, quando tenho ideia de fazer um zine, na minha
imaginação, ele já vem no formato de microzine: o
que mais gosto de fazer.
As oficinas e as palestras:
Comecei a dar oficinas em 2015, meio que sem querer.
Desde então, passei a tomar gosto por passar meu
conhecimento adiante e também pela pesquisa sobre
zines.
Meu formato de oficina foi se moldando com o tempo
e hoje desenvolvo um que é bem a minha cara, meu
estilo. Comecei da forma mais básica, experimentando
diversas fórmulas, didáticas, formatos, temas, cheguei
a um estilo de oficina que, além de ensinar algum
formato de zine, foco muito no trabalho com o
conteúdo, sempre voltado para a autorreflexão dos
participantes.
Cheguei a um ponto que se você me chamar pra dar
uma oficina ou falar sobre o assunto agora, eu faço
sem nenhum esforço, pois já está bem desenvolvido
isso em mim.
A coisa que mais amo fazer é dar oficinas ou falar
sobre zines. Me dá um prazer muito grande ensinar e
também aprendo muito nessas oportunidades.
46
Então, quando tenho que ir em lugar muito longe ou
complexo pra chegar, não me importo, pois o que vale
mesmo é essa troca com o público.
Hoje minha principal renda vem das oficinas que dou.
Porém, também estou aberto para trabalhos
voluntários, dependendo do caso, claro. Já recebi
propostas absurdas como, por exemplo, dar oficina em
uma livraria de playboy e não receber um centavo por
isso. Não, isso não faço. Aí já é falta de respeito.
O documentário:
A ideia de fazer a série de documentários Fanzineiros
do Século Passado surgiu durante as pesquisas que eu
fazia para o meu primeiro livro. Nessa época passei a
buscar documentários que falassem sobre o assunto
para agregar à minha pesquisa. Vi documentários de
vários lugares do mundo, mas não achei nada feito no
Brasil (só mais adiante que descobri). Fiquei meio
indignado com isso, pois vivi intensamente a produção
de zines nos anos 1990 e não tinha nada registrado.
Então, como tinha feito há pouco tempo um
documentário na faculdade (INGs – Indivíduos Não
Governamentais), eu já tinha alguma manha em
produzir algo do tipo.
47
O meu parceiro nesse doc, havia comprado um
equipamento legal para projetos futuros (que nunca
aconteceram) e eu pedi emprestado “só um
pouquinho” para fazer esse projeto. Acabou que até
hoje uso o equipamento e ele nunca usou. Então ele
me ensinou os passos básicos para gravação, aos
poucos adquiri um computador bacana, fiz curso,
adquiri software de edição e tudo aconteceu.
Contei com ajuda de alguns amigos que captaram
entrevistas de pessoas de todo o Brasil e alguns que
moravam fora. No total foram 82 entrevistados nos
três capítulos que formam o projeto. Todos os
capítulos foram lançados nas três primeiras edições do
UgraFest, o que é um grande orgulho pra mim.
Muitos me cobram uma continuação, mas eu reluto
sempre, pois dá um trabalho enorme produzir um
documentário desse tipo. Nunca tive algum retorno
financeiro com ele. E nem quero. A minha
contribuição já foi feita e que outras pessoas produzam
conteúdos para manter nossa história viva.
48
O livro:
Pesquisar e escrever sobre zines veio quando eu
comecei a dar oficinas, em 2005. Quando fui
convidado pra dar oficina, eu quis fazer uma cartilha
para falar sobre zines, que virou o metazine Fanzines
de Papel, para situar as pessoas que participariam. Até
também para que eu me apropriasse melhor da teoria,
uma vez que meu conhecimento era mais empírico.
Houve uma edição revista e ampliada em 2007.
E também tínhamos um problema na época: poucas
publicações no Brasil falavam sobre o assunto, creio
que só haviam os títulos lançados por Henrique
Magalhães e Edgar Guimarães, que eram mais
voltados para publicações de quadrinhos. Eu sentia
que precisava falar mais sobre o assunto.
Eu queria lançar uma publicação sobre o assunto, mas
não sabia como e de que forma, porém isso não foi a
preocupação de imediato. Passei a adquirir materiais
para agregar meu conhecimento no assunto. Assim,
assumi uma pesquisa independente sobre zines. Nessa
época passei a adquirir muitos livros importados,
gastei muito, mas isso agregou muito conteúdo para
minha pesquisa.
49
Também fiz três anos de inglês para poder entender
melhor o conteúdo dos livros, sites e artigos que virou
meu tipo de leitura exclusiva por muito tempo.
No final de 2014, consegui ser demitido de um
emprego e investi parte da indenização na impressão
do que seria o Universo Paralelo dos Zines, o meu
primeiro livro. Foi uma parceria muito importante que
fiz com a Ana Basaglia, que lançou por sua recém-
criada Editora Timo. Eu só gastei com impressão, o
projeto gráfico, trâmites burocráticos e técnicos
ficaram por conta da Ana.
Fizemos mil cópias e eu não tenho mais nada comigo.
Tudo que passou por mim, foi vendido, doado ou
trocado.
O livro pede uma edição revista e ampliada, que estou
trabalhando timidamente, pois o texto final se deu em
dezembro de 2013 e muita, mas muita coisa mesmo,
mudou ou se transformou depois disso, ainda mais
com o surgimento das feiras de publicações que
tiveram impacto forte no fazer zinístico.
Infelizmente, ainda temos pouquíssimas publicações
em formato de livros no Brasil sobre o assunto. O que
vejo com grande tristeza, pois precisamos de mais
pessoas falando sobre zines.
50
Existem vários contextos, pontos de vistas
diferenciados e que precisam ser apresentados a um
público maior. Estou fazendo a minha parte, dando
continuidade à essa pesquisa com outros enfoques.
Mas queria que mais gente tivesse o mesmo tipo de
iniciativa.
E agora?
Eu assumi que minha vida gira em torno dos zines e
ponto final. Passei um bom tempo levando isso como
segundo plano e até mesmo como um hobbie. Hoje
zine, pra mim, também é sinônimo de trabalho, o que
me mantém.
Além das oficinas que dou, as vendas de materiais em
feiras (além dos zines, também tem o meu personagem
Encostinho, que também é uma das minhas linhas de
ação) eu tento fazer algumas coisas a mais pra
produzir conteúdo em relação à pesquisa sobre zines.
Com essa quarentena perdi um monte de trabalhos,
mas isso foi uma oportunidade para retomar alguns
projetos que estavam engavetados, esperando o
momento certo para retomarem (não gosto de fazer
trabalhos sob pressão – faço quando me dá vontade ou
bate inspiração). Então, pelo menos três desses foram
desenterrados.
51
Um é um livro sobre minhas oficinas de zines. Em
2018 eu havia começado a escrever esse projeto, mas
parei. Recentemente, conversando com Henrique
Magalhães, ele comentou sobre meu estilo de dar
oficinas (ele foi meu aluno em uma oficina que dei em
Fortaleza, em janeiro de 2018), com a proposta de eu
escrever algo para ele lançar por sua editora Marca de
Fantasia. Como eu já tinha um roteiro e algumas ideias
rascunhadas, foi fácil retomar a esse projeto. Não
estou pegando nenhuma publicação como referência:
todo conteúdo é empírico, ou seja, escrevo baseado
em situações que passei em 15 anos lecionando. Nessa
publicação, que será um livro virtual, falarei sobre
minha experiência e sugiro algumas atividades,
dinâmicas e também alguns formatos de zines.
Outro projeto que retomei é um que envolve outras
pessoas, sobre a experiência de oficinas de zines com
pessoas privadas de liberdade. O projeto é baseado no
relato de três educadores que contam, cada um da sua
forma, o dia a dia nessa rotina complexa. É um projeto
que tenho um baita orgulho de coordenar.
Possivelmente a viabilização se dará por meio de
financiamento coletivo.
52
Mas ainda não chegamos a esse ponto, pois tem muito
a ser feito ainda, embora o grosso dos textos já esteja
pronto.
Mais um projeto que coloquei em prática
recentemente foi um canal de vídeos pra falar sobre
zines. No projeto original era um programa maior,
com entrevistas, oficinas etc., mas que eu estava
relutando para viabilizar, principalmente pelas
demandas que toda produção de vídeo tem. Mas
cheguei num formato mais simples, com a proposta de
falar sobre os zines que já fiz, falando sobre como
surgiu a ideia, como cheguei ao formato, os
desdobramentos e tudo mais. Assim surgiu o Meu Zine
Minha Vida (www.youtube.com/marciosno), que eu
falo sobre um zine em apenas cinco minutos e também
abro espaço para falar sobre alguma publicação ou site
que fale sobre zines. Não é muito popular, mas nunca
fui de caçar audiência. A ideia é gerar conteúdo. E tô
fazendo minha parte: sem compromisso, no meu
tempo, do meu jeito.
De uma coisa é certa: não vou ficar perdendo meu
tempo reclamando que não tem isso, não tem aquilo,
prefiro produzir. E assim será.
53
54
Memória dos Fanzines #1
https://metalreunionzine.blogspot.com/2018/01/memoria-dos-fanzines-1.html
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Memória dos Fanzines #2
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Memória dos Fanzines #3
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Memória dos Fanzines #4
https://metalreunionzine.blogspot.com/2018/02/memoria-dos-fanzines-4.htmll
58
Memória dos Fanzines #5
https://metalreunionzine.blogspot.com/2018/02/memoria-dos-fanzines-5.htmll
59
Memória dos Fanzines #6
60
Memória dos Fanzines #7
https://metalreunionzine.blogspot.com/2018/02/memoria-dos-fanzines-7.htmll
61
Memória dos Fanzines #8
62
Memória dos Fanzines #9
GUERREIROS ZINEIROS #02 ANAITES ZINE #05 [TGS – V] THE GOAT SHADOW ZINE III
Maio 2005. 2001. Editor: Hioderman Zartan N. Freitas
Editor: Hioderman Zartan N. Freitas Editor: Hioderman Zartan N. Freitas (Fortaleza / CE - Brasil)
(Fortaleza / CE - Brasil) (Fortaleza / CE - Brasil) 37 pág. Digitado, Xerox.
26 pags / Tamanho A4, Xerox. 48 pags. Digitado, Tamanho A4. Julho / 1997.
Assunto principal: Entrevistas com Assunto principal: Metal Extremo Assunto principal: Heavy Metal
Zineiros / Metal Extremo
63
Memória dos Fanzines #10
https://metalreunionzine.blogspot.com/2018/02/memoria-dos-fanzines-10.htmll
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Memória dos Fanzines #11
65
Memória dos Fanzines #12
https://metalreunionzine.blogspot.com/2018/02/memoria-dos-fanzines-12.htmll
66
Memória dos Fanzines #13
67
Memória dos Fanzines #14
68
Memória dos Fanzines #15
https://metalreunionzine.blogspot.com/2018/02/memoria-dos-fanzines-15.htmll
69
Entrevista Beralto
Alberto Carlos Paula de Souza, 53 anos, é ilustrador e
cartunista sob o pseudônimo Beralto. Graduado em
Design Gráfico com especialização em Artes, é
programador visual do Instituto Federal Fluminense,
campus Macaé. Já publicou cartuns e charges em
jornais, entre eles, o jornal O Diário, em sua cidade
natal, Campos dos Goytacazes-RJ. Colaborou com
inúmeros fanzines do Brasil, com quadrinhos de
humor e ficção científica, desde 1984. Coordena o
projeto de extensão IFanzine que promove a cultura
do fanzine, promovendo sua aplicabilidade no ensino-
aprendizagem. Edita o fanzine PEIBÊ, contemplado
em 2016 com o Troféu Ângelo Agostini na categoria
fanzine de quadrinhos e em 2019 foi selecionado,
entre 33 publicações de 23 países, para compor a
exposição internacional de quadrinhos alternativos do
Festival de Banda Desenhada(HQ) de Angouléme,
França. A publicação, que está em sua 7ª edição, traz
quadrinhos autoriais produzido por estudantes do
IFFluminense e artistas independentes do país. O
projeto IFanzine, após 7 anos de trajetória no IFF
Campus Macaé
70
,inaugurou em 2017 a Fanzinoteca IFF Macaé, que
vem subsidiando ações de ensino-pesquisa-extensão,
com destaque para a utilização do fanzine como
instrumento avaliativo e ferramenta de produção
textual e o estímulo à autoralidade junto aos
estudantes da instituição e comunidade abrangida pelo
projeto.
Do dia que você descobriu o fanzine até hoje, você
imaginou que iria se envolver tanto no universo das
produções fanzineiras?
Comecei a publicar em zines e fazer zines próprios em
84, e sem dúvida os fanzines foram muito importantes
em minha formação como pessoa e profissional,
através deles descobri minhas aptidões e tive certeza
do que eu queria fazer e quem queria ser. Em algum
momento deixei de colaborar com os zines e perdi
contato com amigos com quem trocava zines e cartas
por conta da correria do trabalho e as prioridades da
vida de casado, etc. Trabalhei como cartunista e
designer em várias empresas e foi há 10 anos que
passei num concurso para o Instituto Federal
Fluminense no cargo de programador visual. Graças à
abrangência das ações nessa instituição de educação
pública é que pude trazer os fanzines para minha
prática profissional
71
como servidor da educação por meio da ação
de extensão acadêmica, que se constitui num processo
de construção de conhecimento, realizado a partir da
troca e do diálogo entre servidores e alunos das
Instituições de Ensino Superior e a comunidade em
geral, e identificamos a importância e validade do zine
como um belo suporte para a ação educacional e
investimos nessa proposta e, gradativamente, apesar
de uma dificuldade ou outra, fomos nos revestindo
cada vez de mais convicção na validade dessa
proposta e trouxemos o entusiasmo do fanzinato para
o projeto de extensão. Para quem não sabe, o Instituto
Federal, assim como outras instituições de ensino,
abrem editais de seleção de projetos e o servidor pode
submeter o projeto e, se aprovado, ele tem duração de
um ano. Assim, já são mais de sete anos, edital a
edital. Um trabalho de resistência e que tem dado
ótimos frutos.
Em sua produção, você conseguiria destacar seus
zines preferidos? E os que se arrependeu de fazer?
Dos fanzines nos quais publiquei histórias em
quadrinhos nos anos 80, o que mais me agradou
participar foi o zine Mutação,
72
editado por Marco Muller, na cidade de Rio Grande –
RS. Me identifiquei com a proposta editorial do zine,
voltado para as HQs de ficção e fantasia, e foi um zine
muito emblemático, inclusive a Fanzinoteca Mutação,
coordenada por Law Tisot, tem esse nome em
homenagem a esse zine histórico. Também publiquei
em zines como Marca de Fantasia (PB), Hiperespaço
(SP), Politiqua (RS). Esses foram alguns dos zines
oitentistas dos quais participei e que foram muito
importantes pra mim. Já na fase do projeto do Instituto
Federal Fluminense que coordeno, tenho como meu
zine predileto o zine PEIBÊ, que foi o primeiro
editado por nós na escola e que foi crescendo junto
com o projeto e que alcançou excelentes resultados a
nível de visibilidade, trouxe excelentes parcerias para
o projeto e um acolhimento positivo e reconhecimento
da comunidade interna e externa. Ele é um zine de
HQ, mas com a abertura para as propostas autorais e
experimentais, onde figuram HQs com padrão
compatível com trabalhos profissionais e quadrinhos
de homem-palito, algo somente possível numa
publicação alternativa.
Já o arrependimento de ter feito algum zine não tenho,
só me arrependeria pelos zines que não fiz.
73
Como foi a união zine - pedagogia?
Começamos nosso projeto como uma proposta
apresentada aos estudantes como um projeto cultural,
uma forma de reunir os estudantes afeitos ao desenho
e escrita e tínhamos a modesta proposta de fazer pelo
menos um zine por ano, o PEIBÊ. Começamos a fazer
oficinas de zine para apresentar a proposta do zine à
comunidade estudantil. Aos poucos, os docentes
começaram a se interessar em levar as oficinas para
sala de aula como subsídio para atividades avaliativas
que acolheram o zine como ferramenta. Dessa forma,
aos poucos, os docentes começaram a frequentemente
utilizar o zine em atividades de sala de aula,
reconhecendo o processo criativo-autoral dos zines
como um eficaz suporte para atividades de ensino e
aprendizagem, especialmente nas aulas de línguas,
sociologia, filosofia e história. O impacto do zine em
nossa comunidade estudantil também já incentivou
docentes a pesquisarem zines em teses e dissertações
de pós graduação.
E a criação da fanzinoteca?
A criação da Fanzinoteca foi o resultado da
longevidade do projeto de zines na escola e o seu
74
impacto junto à comunidade abrangida pelo projeto.
Produzimos zines como atividades extra-curriculares e
também como atividades avaliativas demandadas por
professores. Gradativamente, fomos promovendo
trocas com a comunidade fanzineira e fomos
montando um bom acervo de zines, que eram levados
para exposições em nossas oficinas e eventos
promovidos em nossa escola e nas atividades externas
das quais sempre participamos. Chegou o momento
em que nossa demanda por um espaço físico foi
atendida e demos inicio às atividades da Fanzinoteca
em 11 de outubro de 2017, inaugurada com a
realização da primeira Mostra PEIBÊ de Zines e
Publicações Independentes, mantendo a tradição de
nosso projeto de referenciar o Dia Nacional dos
Fanzines com eventos e lançamento de zines.
Ali dentro é um verdadeiro laboratório onde ocorrem
maravilhosas experiências:
Com certeza, se antes levávamos os zines pra sala de
aula, agora temos chance de trazer a sala de aula para
"a casa dos zines". Os professores requisitam o espaço
para a realização de atividades de sala de aula nesse
ambiente vivo e pulsante, repleto de arte por todos os
cantos. Temos stencil nas paredes, um painel
75
colaborativo com desenhos que os alunos fazem e
afixam em varal e que sempre se renova, além, é
óbvio, os zines dos mais diversos temas - zines de
quadrinhos, de politica, literários, poezines, de artes
visuais, zines Punk, zines de ficção e terror, zines
feministas e questões de gênero, etc. Tudo isso
compondo uma atmosfera única e contagiante, com
toda a riqueza de propostas criativas, temáticas e
estéticas que inspiram os estudantes a criarem e
revitalizarem com o entusiasmo juvenil o fanzinato. Já
temos autores zineiros que produzem HQ e seus
próprios zines com trabalhos de grande potencial,
além de já termos estudantes que se formaram nos
cursos técnicos da nossa escola e estão produzindo
zines em universidades, em projetos de pesquisa e
extensão. Na fanzinoteca promovemos oficinas para
educadores, tanto da casa quanto externos. Já
recebemos muita gente, mais de 3000 pessoas já
passaram pela fanzinoteca em pouco mais de dois
anos. Um exemplo da importância da fanzinoteca que
posso citar num fato ocorrido há agum tempo atrás:
Uma jovem visitante veio com o namorado na
fanzinoteca e identificou um zine feito por ela como
trabalho de sala de aula e mostrou ao namorado.
76
Curioso, perguntei o que era, pra ela, ver seu zine
exposto. A resposta foi que o professor jogaria no lixo
seu trabalho depois de atribuída a nota. Daí questionei:
E se o professor te devolvesse e você não tivesse
doado à Fanzinoteca, o que faria? Ela respondeu que
jogaria no lixo também. Ou seja, seu trabalho além do
valor utilitário de receber nota, tornou-se patrimônio e
memória. A Fanzinoteca tornou-se um dos espaços
mais identitários da escola e imaginamos que sua
importância e visibilidade só aumentará, assim como o
acervo crescente que temos montado com a
colaboração da comunidade zineira e de nossa
produção da casa. Não perdemos de vista a missão de
preservação da memória das publicações marginais e
de sermos uma das raras fanzinotecas no mundo e com
a singularidade de estar alocada numa escola pública
de ensino profissionalizante, característica que
fortalece a proposta de apresentar e disseminar os
zines num contexto intergeracional.
O que está por vir?
Temos muitas ideias e expectativas, mas destacamos,
dentre os próximos passos da Fanzinoteca, a proposta
de consolidação da ANZINE - Associação Nacional de
Pesquisa e Criação em Fanzines.
77
A Associação Nacional de Pesquisa em Fanzines
(ANZINE) com sede na Fanzinoteca, tendo como
sócio-fundadores a IV Sacerdotisa Danielle Barros, o
Ciberpajé Edgar Franco e GAzy Andraus, além de
minha pessoa. Se propõe a ser uma associação de
pesquisadores/as envolvidos/as com a pesquisa,
criação e o desenvolvimento científico e pedagógico
acerca dos Fanzines, com desmembramentos nos
zines, biograficzines e zineletrônicos, e todas as
demais manifestações do amplo espectro dos fanzines.
Essa proposta de estreitar a relação entre academia e
autoras e autores de zine será um diferencial dessa
associação e cremos que será uma excelente iniciativa
para fortalecer a cena zineira e suas possibilidades de
revitlização e reinvenção.
Breve traremos novidades sobre um Encontro
Nacional que a associação promoverá.
78
Memória dos Fanzines #16
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Memória dos Fanzines #17
https://metalreunionzine.blogspot.com/2018/02/memoria-dos-fanzines-17.htmll
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Memória dos Fanzines #18
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Memória dos Fanzines #19
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Memória dos Fanzines #20
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Memória dos Fanzines #21
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Memória dos Fanzines #22
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Memória dos Fanzines #23
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Memória dos Fanzines #24
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Memória dos Fanzines #25
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Memória dos Fanzines #26
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Memória dos Fanzines #27
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Memória dos Fanzines #28
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Memória dos Fanzines #29
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Memória dos Fanzines #30
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Entrevista Denilson Reis
Denilson Reis, além de fanzineiro e professor, é editor
de quadrinhos independentes, já tendo lançado as
revistas Peryc, O Mercenário e Quadrante Sul.
Também editou dois álbuns independentes, fazendo
uma trajetória do fanzine Tchê e da revista Quadrante
Sul. Como fanzineiro já ganhou 4 prêmios, sendo dois
Angelo Agostini (2012 e 2018), um dos mais
significativos do país.
Início:
Primeira edição lançada em dezembro de 1987.
Atualmente, um número por ano, isso devido ao fato
de eu me dedicar a fanzines de outras temáticas como:
cinema, rock, blues, poesia e protestos. No total já
foram publicados mais de uma centena de fanzines.
Fanzines na Educação:
Como professor da Rede Pública de Ensino no Rio
Grande do Sul, levo os fanzines para a sala de aula,
servindo de plataforma de construção do
conhecimento.
94
Filme Tchê - 30 Anos de Resistência:
Formato documentário, ele conta a história do fanzine
Tchê e do fanzinato em geral através de entrevistas
com cinco colaboradores do fanzine que estão na ativa
até os dias atuais produzindo quadrinhos e fanzines.
Exposição Tchê 30 Anos:
Comemorando os 30 anos, ocorreu no Quisoque da
Cultura, em Gravataí, RS, em 2020. Uma expo com
mais de 600 páginas do fanzine.
Eventos:
Hoje, através do CAQ – Coletivo Alvoradense de
Quadrinhos, sou responsável por organizar o Gibifest
Alvorada, evento de quadrinhos, fanzines e cultura
pop. Também sou o coordenador do Mutação, um
evento de quadrinhos, fanzines e cultura pop dentro da
Feira do Livro de Porto Alegre.
Novidades:
Tenho vários projetos preparados para 2020/2021 que
serão colocados em prática conforme o decorrer dos
acontecimentos. Serão eventos, lançamento de álbuns
de quadrinhos e muitos fanzines.
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Memória dos Fanzines #31
https://metalreunionzine.blogspot.com/2018/02/memoria-dos-fanzines-31.htmll
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Memória dos Fanzines #32
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Memória dos Fanzines #33
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Memória dos Fanzines #34
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Memória dos Fanzines #35
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Memória dos Fanzines #36
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Memória dos Fanzines #37
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Memória dos Fanzines #38
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Memória dos Fanzines #39
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Memória dos Fanzines #40
https://metalreunionzine.blogspot.com/2018/02/memoria-dos-fanzines-40.htmll
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Memória dos Fanzines #41
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Entrevista Zinerman
José "Zinerman” Nogueira, ou melhor: "O Fóssil Vivo
do Underground", que vive zine e respira zines por
todos os seus poros", participante ativo do
underground, colaborador e parceiro de centenas de
publicações, incentivador e responsável por algumas
publicações e documentários como colaborador, entre
eles :"Fanzineiros do Século passado"de Márcio Sno e
do "Juvenatrix", em formato Pdf fanzine, já tradicional
da cena, do editor Renato Rosatti. Ainda criador dos
formatos :Vídeozines e Audiozines. Sua trajetória no
underground é a sua marca registrada.
Além de Fanzineiro, atua como roteirista de Hq's da
personagem "Tianinha", nos traços do desenhista
Laudo Ferreira Jr., onde assinava como Mister
Zinerman.
A arte postal também foi uma outra grande paixão,
onde atua até hoje com a publicação Mídia Press Mail
Art Magazine (Pdf).
No Youtube, tem um canal sobre "Documento
Fanzine", onde procura a cada semana retratar sobre
alguma publicação marcante no underground e seu
editor.
107
No Facebok tem o "Momento Zine Flash", uma
espécie de flyer eletrônico comentando de uma
maneira geral sobre as publicações recentes que
recebe através do endereço postal.
No verão de 2004, ganhou do poeta e amigo Glauco
Mattoso o soneto:
672 gato pingado, publicado no livro Cavalo Dado:
Sonetos Cariados da Coleção 100 (Sem) Leitores.
Como foi o início do início?
Comecei a fazer zines sem saber mesmo o nome,
ainda na escola, com os diretórios acadêmicos que
faziam uns "jornalzinhos" para divulgarem aqueles
lances de chapas, grêmios e coisas desse tipo. Aí,
vendo, fiz o meu próprio. Era mais voltado para a
parte musical. Isso em 1976.
As etapas:
Segui a velha fórmula da "Old School": Tesoura, cola
e papel.
As criações:
O Fanzine é a maior forma de livre expressão que já
existiu em todos os tempos, e isso já tinha percebido
há muito tempo atrás, quando comecei a fazer as
minhas primeiras publicações independentes.
108
Inovar sempre:
Sim, concordo plenamente. Temos que inovar sempre
e estou sempre em total "ebulição", deixando minha
impressão digital, minhas contribuições e inovações
dentro do underground.
As preferidas e porque:
Dentro do seguimento de fanzines físicos, sou criador
de outros dois formatos, os chamados Videozines -
"Arquivo Geral Videozine", o primeiro do
underground a sair na frente - e os "Audiozines" - a
saber: "Delírio Áudio Zine","Lixeira Humana Áudio
Zine" e agora num novo formato no Whatsapp o
"Khaos Urbano Áudio Zine", Madrugada Blues" e
“Qual (é ) o Grilo?”. Sem falar no primeiro "Flyer"
eletrônico do underground no Facebook, o "Momento
Zine Flash" - o seu flyer eletrônico trazendo notícias
da cena alternativa na divulgação de zines e bandas.
O que ainda falta vir:
O que falta vir é novas tecnologias para que possamos
divulgar ainda mais as nossas publicações...
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Memória dos Fanzines #42
110
Memória dos Fanzines #43
111
Memória dos Fanzines #44
113
Memória dos Fanzines #46
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Memória dos Fanzines #47
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Memória dos Fanzines #48
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Memória dos Fanzines #49
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Memória dos Fanzines #50
https://metalreunionzine.blogspot.com/2018/02/memoria-dos-fanzines-50.htmll
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Entrevista Gazy Andraus
Gazy Andraus é pós-doutorando pelo PPGACV da
UFG, Doutor pela ECA-USP, Mestre em Artes Visuais
pela UNESP, Pesquisador e membro do Observatório
de HQ da USP, Criação e Ciberarte (UFG) e Poéticas
Artísticas e Processos de Criação. Também publica
artigos e textos no meio acadêmico e em livros acerca
das Histórias em Quadrinhos (HQs) e Fanzines, bem
como também é autor de HQs e Fanzines na temática
fantástico-filosófica.
Comecemos com sua produção de zines, de
quadrinhos, desenhando... Viajando no papel. Como
era esse Gazy e a relação dele com estas descobertas?
Isto remonta à minha infância (nasci em 1967).
Conforme fui crescendo, o desenho foi se tornando
cada vez mais importante, até mesmo como uma
terapia inadvertida. Vou explicar: como toda criança,
comecei desenhando desde antes de ser alfabetizado.
Desenhava animais, casas, natureza... a partir da
leitura de gibis, o que aconteceu foi que fui me
tornando, como diz o teórico Thierry Groensteen, um
alfabetizado icônico, pois sorvia toda sorte de gibis de
119
humor que havia nas décadas de 1979 e 80: Turma da
Mônica, Walt Disney, Mortadelo e Salaminho,
Brasinha, Gasparzinho, Luluzinha e Bolinha,
Satanésio e Anjoca, Mad etc etc. Lembrando que a
cada fim de semana eu tinha direito a comprar um
gibi, e por isso dormia todo feliz na véspera,
imaginando o que encontraria de diferente e bom na
banca no dia seguinte. Depois, a partir dos 12 a 13
anos, comecei a ler os de super-heróis pra valer. Mas
preciso salientar que entre meus 8 aos 15 anos convivi
com meus pais num bar-restaurante comercial que ele
tinha como sustento familiar e eu trabalhava nele
como um garçon-mirim. Assim, como eu não gostava
deste tipo de vivência, passava meus dias desenhando
sem parar enquanto atendia aos fregueses (e o fato de
eu não gostar do trabalho, era suplantado pelo ato de
desenhar, como uma terapia criativa). Inicialmente
desenhava dinossauros, muitos dinossauros, monstros
etc... depois, com a leitura de super-heróis, tentava
emular os estilos dos que mais gostava, como Jim
Starlin, Jim Aparo, John Byrne e Neal Adams, mais ou
menos nesta ordem, mas sem copiar nenhum. Eu
gostava era de compor cenas a partir de recriações de
minha mente após a leitura/visualização dos gibis que
me alimentava e me comprazia em tentar desenhar.
120
A analogia que faço é com a música: quando
escutamos uma música e dela gostamos, somos
tentados a ouvi-la novamente várias vezes e perceber
cada vez mais as nuances e os instrumentais e
passagens rítmicas etc... com os gibis, dava-se o
mesmo: eu os lia, mas depois ia vendo os desenhos
nas páginas. Porém, como não aprendi a tocar nenhum
instrumento, minha vontade era mesmo a de desenhar.
Por fim, na fase inicial adulta, ingressei em faculdade
de artes e fui explorando os meus potenciais, sempre
usando a linguagem quadrinhística, agora com
influências de HQs outras que passei a conhecer nos
fanzines e quadrinhos europeus (muitos, na época,
encontráveis no Brasil apenas nos zines, o que era
extraordinário!).
Como o fanzine o acompanhou até o momento?
Foi a partir da minha incursão inicial na faculdade de
artes. Comecei fazendo o curso de Artes Visuais na
UFG, em 1986. Devido a incessantes greves, saí
depois de um ano e meio e ingressei na FAAP, em São
Paulo. Foi neste ínterim, ao final de 1986 para 87,
quando conheci o fanzine Barata, pelo intermédio do
Flávio Calazans e seus amigos. A partir de então,
motivado pelos zines, passei a enviar a outros zines
HQs que comecei a fazer com um viés
121
“filosófico-poético-fantástico”(influenciado pelas HQs
que passei a ver nos zines e HQs, como dos franceses
Caza, Druillett etc). Assim, criei meu projeto mais
ambicioso até então, incentivado por Calazans ao me
mostrar que era possível ser co-editado pelo Edgard
Guimarães que tinha seu IQI (hoje, QI), que foi minha
quadrilogia “Homo Eternus”, com HQs curtas
fantástico-filosóficas em 4 volumes (atualmente esta
“série” vem sido publicada anualmente, seguindo a
seqüência, pela Ed. Criativo). Depois, durante vários
anos até agora, fui participando de fanzines no Brasil,
e em alguns em Portugal e França, também criando
outros como “Convergência” e “3D‟ Imagens”,
deliberando a partir de 2012 o Dia Nacional do
Fanzine. Agora faço até um pós-doutoramento
pesquisando os artezines – zines de arte, sob a
supervisão de meu amigo-irmão das artes, Edgar
Franco (o atual Ciberpajé)!
Fanzine como objeto de estudo:
Pois é... já comecei a responder na anterior: embora
em meu mestrado e doutorado eu tenha incluído os
fanzines, as pesquisas eram focadas na valorização das
HQs. No mestrado, os quadrinhos poéticos e no
doutorado os de divulgação científica que tinham
potencial de serem usados na universidade.
122
Mas agora, com o pós-doc, elenco os zines como
pivôs, pois que ainda existem e se mantêm, já que
como revistas paratópicas, ou seja, em paralelo ao que
existe de publicações oficialmente no mundo.
Os fanzines resistem, não pelo saudosismo e
resistência por serem de “papel” principalmente
(embora haja os e-zines), mas principalmente pelo seu
papel subversivo de um sistema que abarca tudo pelo
foco do lucro e do sistema financeiro. O zine subverte
isto, dando espaço para a mente que não busca o lucro,
amas a disseminação e troca de idéias e informações
per si! Caso raro (e talvez único) num mundo que
trocou a liberdade da troca e fraternidade pela
competitividade. Eis a importância dos zines no
planeta. E agora neste meu pós-doc, eu trago a
vertente artística que aparece em muitos zines, como
experimentais e possibilitadoras de o artista
esparramar em suas páginas suas artes, sejam
desenhadas, escritas, mixadas, recopiadas, recortadas
etc...e isto é uma inclinação, uma tendência mundial,
ao que estou constatando. No exterior chamam de art-
zines e aqui passo a chamá-los de artezines (ou
simplesmente zines, como alguns zineiros brasileiros
gostam de referenciar, sem o prefixo de “fã” que a
estes artistas seria até pejorativo,
123
no quesito artístico ao qual deliberam suas criações).
O fanzine, hoje, em suas mãos:
Hoje são estas revistas que não só trazem a arte e troca
de idéias, mas que fazem a resistência, justamente da
utilização de “mãos” para que eles existam e não
apenas o virtual. As mãos são metáforas e
instrumentos humanos que construíram este planeta
tecnológico, e parafraseando McLuhan, são extensões
do corpo que deflagram outras, como a roda etc. Mas
num mundo virtual tecnológico como o nosso atual, a
utilização das mãos tem sido restringida,
principalmente em tarefas e estudos. Os fanzines
também nos obrigam a desestruturar isso, voltando a
um “passado” manufatureiro que se resgata na
confecção e elaboração zineira. E temos os zines na
área da educação, mas acima de tudo, nas artes, e isso
é importante, pois o artezine não se restringe, não se
limita, não se deixa censurar...libera a mente para seus
devaneios, mas também para seu senso crítico,
revelando o criativo aprisionado em cada um que
descobre o universo dos fanzines!
O fanzine, hoje, em relação ao mundo:
Rapaz, estou sempre antecipando a sua pergunta,
respondendo na anterior! Reitero então: o fanzine no
mundo, não é simplesmente um “vintage”
124
...é também um ato de vanguarda, pois enquanto o
mundo vai cada vez mais se “formatando” nos
sistemas, a mente humana que não se compraz em se
limitar, encontra nos fanzines o veículo ideal para se
fazer viver: ele (ou ela), o/a zine não visa lucro, não
visa competição, não se deixa ser censurado (não tem
preconceito) e possibilita com que cada um esparrame
nas suas páginas zineiras, suas ideias, suas expressões
artísticas, e estas podem ser vistas/lidas mundialmente
na base de trocas, principalmente!
E o futuro?
De novo, quase que respondi na anterior, mas vamos
lá: a despeito de o papel ser um material feito de
árvores e talvez subsistir futuramente como livros (ou
não), o fanzine se manterá, ao que penso, não
especificamente porque escolhe formatos e dobraduras
distintos do padrão, mas essencialmente porque
envolve a manufatura, a utilização das mãos, que
foram as mesmas que auxiliaram na ampliação da
inteligência humana no percurso histórico desde a pré-
história até hoje! Os zines, ao que parece,
redespertaram mais ainda esta premente necessidade
manufatureira nos tempos atuais (e para o futuro),
desde que a imposição inadvertida do virtual tem sido
125
regra, e desde que os sistemas mundiais, cada vez
mais engolidos pelo sistema financeiro, passaram a
coibir a liberdade criativa dos humanos: os fanzines de
papel, principalmente, recrudesceram mais ainda
nestes últimos tempos, como que para confrontar tudo
isto, de maneira até inconscientemente psicológica, e
creio que não parará: quanto mais restrito o(s)
sistema(s) for(em), mais o humano se rebelará
(inconscientemnete, que seja)...; e os zines são essa
resultante que permite a afronta, a rebeldia, trazendo o
novo, o inesperado, a que confronte o stablishment,
pois que sem isso, a vida criativa morre! Com os
fanzines, pode-se reavivar a chama da vida de novo!
DISPONÍVEL!
Novo Livro de Fabio da Silva Barbosa.
Poesia de guerrilha. Puro coquetel Molotov.
Pedidos: fsb1975@yahoo.com.br
126
Colaboração Extra Zineiros #1
127
Colaboração Extra Zineiros #2
128
Colaboração Extra Zineiros #3
Justiça Eterna Zine (JEZ) Justiça Eterna Zine (JEZ) Justiça Eterna Zine (JEZ)
Número 01 / Janeiro 1999 Número 02 / Abril 1999 Número 04 / Outubro 1999
Editor: Sergio Chaves Editor: Sergio Chaves Editor: Sergio Chaves
(Vera Cruz/SP - Brasil) (Vera Cruz/SP - Brasil) (Vera Cruz/SP - Brasil)
Formato 148 x 210 mm / 12 páginas Formato 148 x 210 mm / 16 páginas Formato 148 x 210 mm / 16 páginas
Assunto principal: Quadrinhos Assunto principal: Quadrinhos Assunto principal: Quadrinhos
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Colaboração Extra Zineiros #4
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Colaboração Extra Zineiros #5
Justiça Eterna Zine (JEZ) Justiça Eterna Zine (JEZ) Justiça Eterna Zine (JEZ)
Número 09 / Janeiro 2001 Número 12 / Janeiro 2002 Número 15 / Janeiro 2003
Editor: Sergio Chaves Editor: Sergio Chaves Editor: Sergio Chaves
(Vera Cruz/SP - Brasil) (Vera Cruz/SP - Brasil) (Vera Cruz/SP - Brasil)
Formato 148 x 210 mm / 20 páginas Formato 148 x 210 mm / 24 páginas Formato 148 x 210 mm / 24 páginas
Assunto principal: Quadrinhos Assunto principal: Quadrinhos Assunto principal: Quadrinhos
Justiça Eterna Zine (JEZ) GUERREIROS ZINEIROS #04 ANAITES ZINE [TGS – IV] #7
Número 25 / Outubro 2007 Agosto 2013. Ano 2004
Editor: Sergio Chaves Editor: Hioderman Zartan N. Freitas Editor: Hioderman Zartan N. Freitas
(Vera Cruz/SP - Brasil) (São José do Ribamar / MA - Brasil) (São José do Ribamar / MA - Brasil)
Formato 148 x 210 mm / 16 páginas 20 Pags, Xerox, A4. Formato A4, 69 Págs., Xerox.
Assunto principal: Quadrinhos Assunto principal: Entrevistas com Assunto principal: Divulgação de
Zineiros / Publicações Undergrounds Bandas, Zines, Distros.
131
Colaboração Extra Zineiros #6
THE GOAT SHADOW ZINE #1 ANAITES ZINE [TGS – IV] #8 ANAITES ZINE #9
Ano: 1995 Janeiro 2005 Julho 2006.
Editor: Hioderman Zartan N. Freitas Editor: Hioderman Zartan N. Freitas Editor: Hioderman Zartan N. Freitas
(Fortaleza / CE - Brasil) (Fortaleza / CE - Brasil) (Fortaleza / CE - Brasil)
27 pág. (xerox), A4. Formato A4, 41. Pags, Xerox. 39 Pags. Formato A4, xerox.
Assunto principal: Divulgação de Assunto principal: Divulgação de Assunto principal: Divulgação de
Bandas, Zines, Distros. Bandas, Zines, Distros. Bandas, Zines, Distros
Eu fiz sinal para o metrô #1 Eu fiz sinal para o metrô #2 Eu fiz sinal para o metrô #3
2019/2020 2019/2020 2019/2020
Editor: Edson Baptista da Silva Gama Editor: Edson Baptista da Silva Gama Editor: Edson Baptista da Silva Gama
(Rio de janeiro /RJ- Brasil) (Rio de janeiro /RJ- Brasil) (Rio de janeiro/RJ - Brasil)
Formato: 10,5x7,5 e 14,5x10,5 Formato: 10,5x7,5 e 14,5x10,5 Formato: 10,5x7,5 e 14,5x10,5
Número de páginas: 8 páginas Número de páginas: 8 páginas Número de páginas: 8 páginas
Assunto principal: HQ e Poemas Assunto principal: HQ e Poemas Assunto principal: HQ e Poemas
133
Colaboração Extra Zineiros #8
Eu fiz sinal para o metrô #4 Nascido em Oitenta e Sete #1 Nascido em Oitenta e Sete #2
2019/2020 2019/2020 2019/2020
Editor: Edson Baptista da Silva Gama Editor: Edson Baptista da Silva Gama Editor: Edson Baptista da Silva Gama
(Rio de Janeiro/RJ - Brasil) e Alberto e Alberto
Formato: 10,5x7,5 e 14,5x10,5 (Macaé / RJ - Brasil) (Macaé / RJ - Brasil)
Número de páginas: 8 páginas Formato: A5 / Páginas 18 Formato: A5 / Páginas 20
Assunto principal: HQ e Poemas Assunto principal: HQs e poemas Assunto principal: HQs e poemas
134
Colaboração Extra Zineiros #9
135
Colaboração Extra Zineiros #10
Delírio Cotidiano Zine #45 Ilmar em Prosa e Verso Zine das Perguntas #1
Ano: 2015 Número: Único Ano: 2020
Editor: José Zinerman Nogueira Ano: 2019 Editor: Emol
(São Paulo / SP - Brasil) Editor: Elidiomar Ribeiro da Silva (São Paulo / SP - Brasil)
Formato: A5 / Páginas: 12 (Rio de Janeiro / RJ - Brasil) Formato: 100 x 105 mm / Páginas: 12
Assunto principal: zines, Formato: 75 mm x 105 mm / Páginas: 8 Assunto principal: Poesia
HQ's.Ppoesias e resenhas de discos Assunto principal: Poesia
136
Colaboração Extra Zineiros #11
137
Colaboração Extra Zineiros #12
138
Colaboração Extra Zineiros #13
139
Colaboração Extra Zineiros #14 - Especial
140
Colaboração Extra Zineiros #15
141
Colaboração Extra Zineiros #16
Fanzine Ilustrado # 10
Adriana, a Agente Laranja #1 Peibê #7
Dezembro / 2018
Ano: 2017 Ano:2020
Editor: André Carim de Oliveira
Editor: André Carim de Oliveira Editores: Beralto e Ubirajara
(Carangola/MG - Brasil)
(Carangola/MG - Brasil) Santiago
Formato: A5 / Páginas: Variável
Formato: A5 / Páginas: Variável Fanzinoteca IFF Macaé / RJ - Brasil)
Assunto principal: Quadrinhos
Assunto principal: hqs com encontros e Formato: 150 x 210 mm / 45 págs.
Nacionais, Quadrinhos Autorais,
aventuras solo de Adriana, a agente Assunto principal: Quadrinhos
Ilustrações.
laranja
142
Colaboração Extra Zineiros #17
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Colaboração Extra Zineiros #18
Errare Humanum Est Zine: Fractal #1 Quase tudo (bem pouco na verdade)
Edição única Ano: 2019 que você precisa saber pra "virar"
Ano:2020 Editor: Yuri Amaral uma pessoa vegana #1
Editor: Mestre dos Magros (Foz do Iguaçu/PR - Brasil) Ano: 2019
(Cabo Frio/RJ - Brasil) Formato: 15x21cm/Páginas: 30 Editor: Yuri Amaral
Formato:150 x 210mm/ Páginas: 12 Assunto: Quadrinho autoral (Foz do Iguaçu/PR - Brasil)
Assunto principal: Quadrinhos inspirados Formato: 10x15cm/ Páginas: 8
em musica homônima de Jorge Ben Jor Assunto: Veganismo
144
Colaboração Extra Zineiros #19
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Colaboração Extra Zineiros #20
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Colaboração Extra Zineiros #21
Depressão, e Eu com Isso? BASTA - Assédio é Crime! Vamos vencer o Corona Vírus
Ano:2017 Ano:2019 Ano:2020
Editores:Marcelo Quirino e Beralto Editor: Beralto Editor: Beralto e Hayda Alves
(Macaé/RJ - Brasil) (Macaé/RJ - Brasil) (Macaé/RJ - Brasil)
Formato: 100x150mm/ Páginas: 22 Formato: 100x150mm/Páginas: 8 Formato: 150x210mm/Páginas: 8
Assunto principal: Colagens e cartuns Assunto principal: Assédio Moral e Assunto principal: Passatempos e
com o tema Depressão Sexual educação para saúde
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Colaboração Extra Zineiros #22
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Colaboração Extra Zineiros #24
Raise the Dead Zine #1 Sepulchral Voice Fanzine #1 Sepulchral Voice Fanzine #7
Ano 2001 Ano: 2007 Ano: 2019
Editor: André Chaves e Eder Editor: André Chaves Editor: André Chaves
Apolinario (Aparecida/SP - Brasil) (Piraju/SP - Brasil)
(Vera Cruz/SP e Marília/SP - Brasil) Formato 148 x 210 mm / 20 páginas Formato 148 x 210 mm / 80 páginas
Formato 148 x 210 mm / 20 páginas Assunto principal: Heavy Metal Assunto principal: Heavy Metal
Assunto principal: Heavy Metal
150
Colaboração Extra Zineiros #25
151
Colaboração Extra Zineiros #26
152
Colaboração Extra Zineiros #27
153
Colaboração Extra Zineiros #28
154
Colaboração Extra Zineiros #29
155
Colaboração Extra Zineiros #30
156
Colaboração Extra Zineiros #31
157
Colaboração Extra Zineiros #32
158
Colaboração Extra Zineiros #33
159
Colaboração Extra Zineiros #34
Fly Kintal Zine #1 Fly Kintal Zine #19 Fly Kintal Zine #32
Outubro/1995 Janeiro/Fevereiro/Março - 2004 Fevereiro/2018
Editor: Sérgio Figueiredo Editor: Sérgio Figueiredo Editor: Sérgio Figueiredo
(Manaus/AM – Brasil) (Manaus/AM – Brasil) (Manaus/AM – Brasil)
Formato: A4/Páginas: 4 Formato: A4/Páginas: 16 Formato: A4/Páginas: 16
Assunto principal: Heavy Metal Edição Especial: Cenário Assunto principal: Heavy Metal
Underground Underground de Manaus Underground
Fly Kintal Zine #33 Fly Kintal Zine #07 Fly Kintal Zine #8
Julho/2019 Ano:1997 Ano:1998
Editor: Sérgio Figueiredo Editor: Sérgio Figueiredo Editor: Sérgio Figueiredo
(Manaus/AM – Brasil) (Manaus/AM – Brasil) (Manaus/AM – Brasil)
Formato: A4/Páginas: 32 Formato: A4/Páginas: 12 Formato: A4/Páginas: 12
Assunto principal: Heavy Metal Assunto principal: Heavy Metal Assunto: Especial Cenário
Underground Underground underground de Vitória?ES
160
Colaboração Extra Zineiros #35
161
Colaboração Extra Zineiros #36
162
Colaboração Extra Zineiros #37
O Berro #5 Crush the Cross Zine #10 Crush the Cross Zine #11
Ano:2009 Junho / 2014 Agosto / 2016
Editor: Winter Bastos, Alexandre Editor: Samir Souza Editor: Samir Souza
Mendes e Fabio da Silva Barbosa (Belém/PA- Brasil) (Belém/PA- Brasil)
(Niterói-RJ-Brasil) Formato A4 / 34 páginas Formato A4 / 32 páginas
Formato: 15x21cm/Páginas: 12 Assunto principal: Heavy ao Assunto principal: Heavy ao
Assuntos: charge, poesia, crítica Black Metal Black Metal
social, entrevistas
Crush the Cross Zine #12 Crush the Cross Zine #9 Crush the Cross Zine #8
Abril / 2019 Abril / 2012 Maio / 2010
Editor: Samir Souza Editor: Samir Souza Editor: Samir Souza
(Belém/PA- Brasil) (Belém/PA- Brasil) (Belém/PA- Brasil)
Formato A4 / 32 páginas Formato A4 / 18 páginas Formato A4 / 20 páginas
Assunto principal: Heavy ao Black Assunto principal: Heavy ao Black Assunto principal: Heavy ao Black
Metal Metal Metal
164
Colaboração Extra Zineiros #39
165
Colaboração Extra Zineiros #40
166
Colaboração Extra Zineiros #41
Zine Death Metal #29 Zine Death Metal #30 Zine Death Metal #26
Maio/2017 Agosto/2017 Ano:2016
Editor: Andrêy Ferraz Editor: Andrêy Ferraz Editor: Andrêy Ferraz
(São Gabriel da Palha/ES - Brasil) (São Gabriel da Palha/ES - Brasil) (São Gabriel da Palha/ES - Brasil)
Formato : A4 / 32 páginas Formato A4/32 páginas Formato A4/32 páginas
Assunto principal: Metal Extremo Assunto principal: Metal Extremo Assunto principal: Metal Extremo
Zine Death Metal #27 Zine Death Metal #28 Dissolve Coagula #1
Ano:2016 Ano:2016 Fevereiro/2018
Editor: Andrêy Ferraz Editor: Andrêy Ferraz Editor: Leandro Marcio Ramos
(São Gabriel da Palha/ES - Brasil) (São Gabriel da Palha/ES - Brasil) (São Paulo/SP - Brasil)
Formato A4/32 páginas Formato A4/32 páginas Formato A4/ 80 páginas
Assunto principal: Metal Extremo Assunto principal: Metal Extremo Assunto principal: Artigos e
entrevistas, satanismo e ocultismo
167
Colaboração Extra Zineiros #42
168
Colaboração Extra Zineiros #43
169
Colaboração Extra Zineiros #44
170
Colaboração Extra Zineiros #45
171
Colaboração Extra Zineiros #46
172
Colaboração Extra Zineiros #47
Arghhh #32 Visão Underground Zine #16 Visão Underground Zine #14
Dezembro/2002 Junho/2015 Janeiro/2013
Editor: Petter Baiestorf Editor: Elton Lima Editor: Elton Lima
Capa de Hélcio Rogério (Teresina/PI - Brasil) (Teresina/PI - Brasil)
(Palmitos/SC - Brasil) Formato A4 / 30 páginas Formato A4 / 30 páginas
Formato A4/Páginas: 32 Assunto principal: Metal Extremo Assunto principal: Metal Extremo
Assuntos principais: Música,cinema e
HQs
173
Colaboração Extra Zineiros #48
174
Colaboração Extra Zineiros #49
175
Colaboração Extra Zineiros #50
UIVOS
Facção Underground #1 Satã Apareça Zine #2
Edição especial Cartoneira
Junho/2003 Jullho /2016
Maio/2017
Editor: Renato Andrade Editor: Alexandre Chakal
Editor: Danielle Barros
(São Paulo/ SP – Brasil) (Rio de Janeiro/RJ – Brasil)
(Teixeira de Freitas/BA)
Formato A5/ 26 páginas Formato: A4/ 8 páginas
Formato A5 / 32 páginas
Assunto Principal: Punk / Hard Core Assunto principal: Releases de
Assunto principal: compilação dos 4
artistas presentes no manifesto
primeiros números do fanzine "Uivo“
contracultural Satã Apareça #2
176
Depoimentos O Zine? O hoje? #2
O fanzine é uma forma de expressão pessoal que busca o
diálogo com pessoas que partilham o mesmo interesse, seja
um hobby, seja uma expressão artística. Os fanzines
surgiram para dar visibilidade à produção autoral que não
encontrava espaço nas publicações do mercado. Desde o
início, eram veículos de fãs que procuravam interagir com
seus ídolos, com outros fãs e fazer a fortuna crítica do
objeto de culto.
Ainda que tenham surgido nos Estados Unidos da América,
no final da década de 1920, como publicações amadoras de
ficção científica e quadrinhos, esse caráter crítico,
semelhante ao jornalismo opinativo e investigativo, é a
marca dos melhores fanzines que se popularizaram no
mundo a partir da década de 1960. A partir daí, os fanzines
tiveram a força de influir no mercado editorial, de promover
pesquisas que elevaram certos produtos de comunicação de
massa, como os quadrinhos, ao status de arte. Na França,
alguns fanzines se transformaram em revistas acadêmicas,
com a participação de renomados intelectuais.
Mas os fanzines também foram as pequenas revistas
amadoras e autorais a veicular a produção dos jovens
criadores, assumindo o papel de banco de ensaio e difusor
de experimentações gráficas e textuais.
177
A essas publicações prefiro denominar “revistas
independentes”, reservando aos fanzines o perfil de
publicações reflexivas, em nível argumentativo e textual,
sobre as artes.
Outro aspecto a considerar na definição de fanzine é que
eles são sempre mutantes. Com o advento da internet,
passaram a circular nas mídias digitais como blogs,
fanpages, perfis em redes sociais ou até por meio de CD-
rom e fita cassete. Os fanzines impressos foram perdendo
seu aspecto rudimentar de simples cópias em mimeógrafo
para evoluírem à fotocópia, em seguida à impressão offset e
mesmo à laser, ganharam cores e sofisticação comparáveis
às melhores publicações do mercado.
Seriam ainda fanzines? O espírito insubmisso de muitas
publicações continua o mesmo, independente do aspecto
gráfico, das tiragens substanciosas, do status de livros de
autor. O que importa é o caráter amador, a forma
independente de produção e circulação, o apartar-se do
mercado.
Aquelas publicações aparentemente rústicas e simplórias,
cheias de entusiasmo e rebeldia de antanho, quase não mais
há, ao menos em seu meio original, o dos fãs das artes.
178
Mas os fanzines, em nova guinada a confirmar sua
importância e essencialidade, abraça o meio acadêmico,
como ferramenta para reflexão em sala de aula, em
oficinas e laboratórios, como elemento paradidático.
Promovem nesse campo os fervores da inquietação
juvenil, dão voz e personificação aos anseios
comunitários. Eis uma extraordinária função que
incorporam os fanzines.
ÚLTIMAS CÓPIAS
DISPONÍVEIS COM O AUTOR
PEÇA O SEU!
EMCARNEVIVAECRUA@GMAIL.COM
179
Trechos extraídos de textos e entrevistas de Edgard Guimarães
180
´
181
Alguns contatos aqui presentes:
ZINES:
Aviso Final: avisofinal@gmail.com
I Wanna Be Yr Grrrl: iwannabeyrgrrrlzine@hotmail.com
Caixa Postal -672, CEP: 01031-970. SP/SP
Delírio Cotidiano:
COMBO: coletivearts@gmail.com
Fanzine Tchê: tchedenilson@gmail.com
O Berro Zine: oberrofanzine@gmail.com
Múltiplo, Fanzine Ilustrado e Adriana, a Agente Laranja: andrecarim@outlook.com
Fractal:yu.amaral@gmail.com
Sordid Noisecore Militia: info@murder-records.com
Fanzine Reboco Caído: fsb1975@yahoo.com.br
Fanzine Juvenatrix: renatorosatti@yahoo.com.br
ZINEIROS:
Emol: emol.12@hotmail.com
Mestre dos Magros: mestredmagros@gmail.com
Cervo: yurimbelmont@gmail.com
Carlos de Brito Lacerda: carlosbritolacerda@yahoo.com.br
Sara Gaspar: saragaspar673@gmail.com
Tiago Barradas: tiagobmores@gmail.com
Gazy Andraus: yzagandraus@gmail.com
PROJETOS:
Comer Pra que: comerpraque.juventude@gmail.com
Projeto Em Cada Canto um Conto: andrea.barbosa@iff.edu.br
FANZINOTECA:
Fanzinoteca de Macaé: projetoifanzine@gmail.com
182
FIM
Agradecemos a todos que de alguma forma contribuíram
com este projeto e agradecemos em dobro a você, que
baixou e leu o E-book “Memória dos Fanzines #1” até
aqui.
Já estamos desenvolvendo o projeto “Memória dos
Fanzines #2” que trará muito mais conteúdo. Acreditamos
que a cultura do Fanzine, desde sua criação, é uma das
manifestações mais relevantes e honestas para a
manutenção da liberdade de expressão e de valores
importantes para quem vive dentro de sistemas políticos
democráticos ou não. Parte de sua trajetória e iniciativas
passadas, merecem ser relembradas em documentos como
este que está em sua tela, independente a qual geração
você pertence.
Os editores
Editado ao som de: Uhrit, Zumbis do Espaço, Camisa de Vênus, Defy, Armagedom, Thrashera, Nuclear Frost, The Cure, The
Smits, Man at Work, Ventania, Bathory, Germ Bomb, Napalm Raid, Praga, Flageladör, Maddog, Atomic Roar, Velho, Comando
Nuclear, Selvageria, Farscape e outros.
Metal Reunion Zine Fanzine Juvenatrix Reboco Caido Zine Cadaveric Bibliotech
https://metalreunionzine.blogspot.com/ http://juvenatrix.blogspot.com/ fsb1975@yahoo.com.br editoramerdanamao@gmail.com murder-records.com/445547471
183
Gostou do livro?
Se desejar e puder contribuir de forma
voluntária com qualquer valor para nossos
próximos projetos, ficaremos muito gratos.