Você está na página 1de 10

AfroPoemas

nov
2021

10 anos
AfroEscola
Laboratório Urbano
Texto da primeira publicação AfroPoemas, em novembro de 2011
Avenida Atlântica, 904 (ainda atual):
Valparaíso, Santo André, SP “É crescente a necessidade de falar sobre temáticas sociais que
CEP 09060 001 ainda hoje são nós pessoais e coletivos na constituição psicológica
de nossa nação. E se conseguimos fazê-lo por caminhos artísticos /
poéticos, acreditamos que tais debates e reflexões podem
artedepia@gmail.com experimentar processos e resultados impressionantes. Essa foi

www.oficinativa.org justamente a proposta do concurso solidário AfroPoemas e agora


apresentamos a publicação que nos dá muito orgulho. E
certamente vontade de fazer outras...”

O que dizer / escrever num momento como esse? Uma década refletindo na prática
sobre nossas ancestralidades e nossas contemporaneidades, a partir das tantas MAGIAS
NEGRAS possíveis: as ARTES e as CULTURAS. Estamos realizados. E seguiremos!!!

Odé

Celebração no
CEU 3 Pontes,
São Paulo,
23 nov 2021
Diásporas
O dia em que fomos separados
Quando eles aqui chegaram, sequer perguntaram se queríamos ir
Fomos levados a força, amarrados, acorrentados
Presos nos porões dos seus navios
Nas terras desconhecidas nos marcaram com ferro quente
Separados, fomos levados para lugares distantes
Tentaram tirar do nós o que tínhamos de conexão com nossa terra
Mas fomos fortes e resistimos
E mesmo com toda a perseguição
Foi preciso usar de disfarces para que assim pudéssemos nos
manifestar
Continuar a cultuar nossos ancestrais e manter a nossa essência
Nossos tambores ecoam fortes em cada batida
Seja no candomblé, no maracatu, no jongo, na capoeira
Seguimos fortes, resistentes
Atotô
Pois o inimigo se encontra presente
Ergam-se as lanças e os escudos
Toquem os tambores da guerra
Juntem-se as nações

Zé Brown Mandingueiro
Memórias de África

Meu Brasil Africano


Tem na ponta da língua
Os povos iorubas e bantos

Tem palavra que dá nome


à comida: acarajé, angu, canjica,
farofa, gororoba, inhame

E criança adora:
cafuné, bagunça, cochilar, minhoca, quindim

E vou te contar um fuxico:

Fabiana Não falamos português

Menassi E sim, o “brasileiro”


Que precisa ser ouvido
Para aprender essa bagunça de palavras
Mar que é universo de peixe
Mar que é mistério de sal
Mar que é sustento de gente
Mar que é morada de Iemanjá

Odé

Eu,
tipo ganzá,
pleno de chacoalho e de dengo
feito birita,
baba escorrida de lambão
sou o caçula nutrido a delícia mocotó
e sua inhaca
pronta pra me xingar

E me xinga Odé
me xinga...

AfroPoemas enlaces afrocolombianos - 5


Debaixo da marquise o povo se comprimia
Chovia cada vez mais forte
Aí ele apareceu
Seminu, molhado até a alma
O corpo em bronze
E dançava
Aí ele parou de dançar
Levantou a mão em punho
Olhou para cima e gritou
DEEEEUS!
Por queee?
Debaixo da marquise o povo
E o temporal
Deus
Por
Que
?

Marcello Bechelli
Ogum e um espírito da Congadas
Maculelê: e um pesionajem guerreiro
Mucamas: so eu mesma: quimbanda
Tanga: e um calcinha que mostras a bunda
Macumba e feitisaria

Damiana Maria dos Reis Andrade

*** **** *** *** ***

Nego Preto que pula Congada


Nego Preto é bucha de canhão
Nego Preto erê de encruzilhada
Nego Preto caxangá e pirão…

inspirado na live com Mestre Ditinho


Em busca de mim
Eu queria algo que fizesse
meus olhos brilhar...
Quem sabe uma noite escura
com o céu a estrelar
Talvez buscasse um cheiro;
natural, forte, particular
singular
Uma pele lisa, preta que demore
de enrugar
Eu queria...
Mas não estava lá!
Não estava nas cores que me ensinaram usar
Estava nas palavras que não sei falar
AXÉ! ÌYABÀSÈ, BORORO IKUIAPÁ BANGUELÊ!
Estava nos antepassados sacrificados
proibidos de amar
nas religiões que não pude acreditar
ORIXÁ! EXU! OXÓSSI! YALORIXÁ!
nas músicas que não pude cantar...
Uma vida de enganos para
quem apenas queria
e quer Aline Sales
se encontrar
Ogum não existe, Congadas para que?
Dorme Maculelê que é de jagunço
Eu – mucamas, eu – quimbanda
Eu – tanga, eu – MACUMBA
ACUMBA
CUMBA
UMBA
MBA
BA
A

*** **** *** *** ***


Ogum, Ogum abençoe minhas Congadas
do Maculelê saiu menino jagunço
mucamas baianas, mucamas quimbanda
e de tanga solta e peito cheio de macumba

Experiências de ‘afroescritas’ na EMEB Bosko Preradovic


São Bernardo do Campo, nov 2021
Lançamentos anteriores (2020)...

Você também pode gostar