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texto 3

Música nas escolas


Luciana Marta Del-Ben1

Resumo

Neste texto serão discutidas e apresentadas propostas de experiências musicais que já acon-
tecem em escolas brasileiras. Tais experiências podem estar no currículo ou como atividade
extraclasse, dependendo do contexto. Em ambos os casos, as propostas educacionais com
música oferecem o acesso a experiências que contribuem para a formação dos estudantes, e
tais contribuições serão também aqui tratadas.

Este texto tem como objetivo apresentar aula. Cada licenciando desenvolve seu proje-
exemplos de práticas de ensino de música to individualmente, em uma escola ou outro
realizadas em escolas de educação básica. espaço educativo. As práticas apresentadas
Trata-se de práticas desenvolvidas por al- neste texto aconteceram em diferentes se-
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guns dos alunos do Curso de Licenciatura mestres, entre os anos de 2005 e 2009. No
em Música da Universidade Federal do Rio entanto, foram orientadas pelos mesmos
Grande do Sul, durante seu estágio super- princípios, dentre os quais destaco as con-
visionado, e por mim orientadas. O estágio cepções de ensino e de ensino de música e a
supervisionado, em que tiveram origem as forma de organizar o ensino com que vimos
práticas de ensino a serem apresentadas, trabalhando.
compreende um conjunto de atividades para
a atuação do professor, envolvendo desde a Para Basabe e Colls (2010), educadoras ar-
aproximação e interação com o contexto gentinas, “ensinar é uma ação orientada a
educativo até o planejamento, a execução e outros e realizada com o outro” (p. 144), o
a avaliação das atividades docentes em mú- que envolve um processo de comunicação
sica em contextos específicos. São realiza- e, também, dedicação, zelo, cuidado em
dos encontros semanais, em grupo, quando relação ao aluno, “uma preocupação pela
são discutidos coletivamente os projetos de pessoa do aluno e pelo que ele pode chegar
ensino, bem como os planos e relatórios de a ser” (p. 146). “O ensino envolve, pois, um

1 Doutora em Música pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente é professora associada da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Música da UFRGS.
encontro humano. Porque ensinar é, em de- nadas finalidades, sejam aquelas definidas
finitivo, participar no processo de formação pelo próprio professor, sejam aquelas defi-
de outra pessoa, tarefa que só pode ser feita nidas pela escola, pelos governos ou demais
em um sentido pleno com esse outro” (p. âmbitos da sociedade.
146).
Há várias formas de organizar o ensino de
Nesse encontro, cabe ao professor “desem- música nas escolas. Uma delas é aquela que
penhar um papel de mediador entre os es- parte de uma listagem prévia de conteúdos.
tudantes e determinados saberes” (Basabe; São definidos os elementos que constituem
Colls, 2010, p. 147). A tarefa do professor a música (como timbre, melodia, inten-
“consiste em ajudar [os alunos] a introduzir- sidade, por exemplo) e, a partir deles, são
se numa comunidade de conhecimento e de propostas atividades diversas, com seus res-
capacidades, em proporcionar-lhes algo que pectivos objetivos. Outro caminho é definir
outros já possuem” objetivos de apren-
(Stenhouse, 1987, dizagem e, a partir
Ensinar música é mediar as
apud Basabe; Colls, deles, os conteúdos
2010, p. 147). Nos
relações das pessoas com a serem ensinados.
processos de ensino, a música, visando facilitar O professor pode 25
portanto, o aspecto e promover aprendizagens estabelecer, por
central é a pessoa, e musicais. exemplo, que os
não o objeto em si; a alunos deverão ser
relação com o saber, capazes de execu-
e não o saber; e a relação sempre depende tar padrões rítmicos e melódicos simples
do sujeito (ver D’Amore, 2005). e cantar em grupo canções diversas. Com
base nesses objetivos, planeja e desenvolve
Ensinar música é mediar as relações das um conjunto de atividades, que ajudarão os
pessoas com a música, visando facilitar e alunos a atingir esses padrões.
promover aprendizagens musicais. Essa
mediação é “marcada tanto pelas caracte- Outra forma de organizar o ensino de músi-
rísticas do conhecimento a transmitir como ca é definir atividades ou eixos que deverão
pelas características de seus destinatários” nortear as ações do professor e dos alunos.
(Basabe; Colls, 2010, p. 126). Em contextos Essa forma pode ser identificada nos Parâ-
formais, como a escola, ela deve ser feita de metros Curriculares Nacionais para o Ensi-
modo organizado, a partir de certas inten- no Fundamental, elaborados pelo Ministério
ções, com o propósito de alcançar determi- da Educação, em 1997, que estabelecem três
eixos norteadores das práticas de ensino e sentativos das culturas infantil e juve-
aprendizagem: a produção, a fruição e a re- nil, tão negligenciadas pela escola. Para
flexão. São esses eixos que norteiam a de- Miguel Arroyo (1994), a proposta é que
finição dos conteúdos do ensino das artes. este currículo seja construído a partir
da definição coletiva de temas – chama-
Não há nada de errado com os conteúdos, dos pelo autor de ‘temas transversais’
objetivos ou eixos propostos. O que parece – que representem as questões e os pro-
problemático é que, nos casos acima, o ensi- blemas colocados pela atualidade para
no é pensado e organizado somente a partir os homens, mulheres e crianças de nosso
da música como área ou disciplina. O foco tempo (Xavier, 2000, p. 5).
está no objeto, e não na pessoa ou nas pes-
soas a quem se destina o ensino. Nesses ca-
Essa citação deixa claro que a proposta não
sos, a mediação entre aluno e música (que
é abandonar as disciplinas curriculares –
caracteriza o papel do professor) é organi-
isto é, os saberes sistematizados, acumula-
zada tomando como eixo apenas um desses
dos pela humanidade, que são exemplifica-
elementos – a música. A relação entre aluno
dos nos conteúdos e atividades que vimos
e música – objeto central do ensino – não é
nos exemplos anteriores, específicos da área
explicitada.
de música. Também não se defende que os 26

objetivos sejam banidos da escolarização.


De modo geral, a crítica a essas formas de
Trata-se, isto sim, de buscar abordagens que
organizar o ensino não são recentes, embora,
permitam aproximar a escola e a vida, em
nos últimos anos, possam ser mais frequen-
tes e contundentes. Num texto publicado em que se ensine e se aprenda “pelas experiên-

2000, a educadora Maria Luisa Xavier obser- cias proporcionadas, pelos problemas cria-

vava: dos, pela ação desencadeada” (Xavier, 2000,


p. 11-12).

As discussões atuais acerca da organi-


zação do ensino vêm propondo que o Uma das estratégias que vem sendo discu-

planejamento seja desenvolvido atra- tida por diversos educadores para concreti-

vés de temáticas significativas que se- zar esses ideais é a chamada pedagogia de

jam objeto de desejo de conhecimento projetos (que também pode ser nomeada

de professoras, estagiárias e ou alunos como aprendizagem baseada em projetos,

e alunas. Temáticas capazes de abarcar projetos de ensino, projetos pedagógicos ou

as disciplinas curriculares – ressignifi- projetos de aprendizagem), perspectiva de-

cando-as – e capazes de dar conta dos senvolvida por diversos autores, entre eles,

chamados ‘saberes não escolares’ repre- Ovide Decroly, John Dewey, Willian Kilpa-
trick, Lawrence Stenhouse, Jerome Bruner, Esse acompanhamento é fundamental
Fernando Hernández, Jurjo Torres Santomé, porque um dos alertas que alguns que já
Josette Jolibert e Miguel Arroyo. Como expli- implementaram a Pedagogia de Projetos
ca Burnier (2001), fazem é para o risco de aligeiramento do
ensino, com redução ou superficialidade
A ideia central da Pedagogia de Projetos das informações acessadas pelos alunos
é articular os saberes escolares com os ou com foco principal no desenvolvimen-
saberes sociais de maneira que, ao estu- to de competências (saber fazer) sem a
dar, o aluno não sinta que aprende algo necessária fundamentação científica
abstrato ou fragmentado. O aluno que (…). (Burnier, 2001).
compreende o valor do que está apren-
dendo desenvolve uma postura indispen- Jolibert (1994, apud Xavier, 2000, p. 22) iden-
sável: a necessidade de aprendizagem. tifica três tipos de projetos:
Assim, o professor planeja as atividades
• projetos referentes à vida cotidiana – or-
educativas a partir de propostas de de-
ganização da sala de aula, divisão do tem-
senvolvimento de projetos com caráter
po, organização do espaço, elaboração
de ações ou realizações com objetivos
das normas de convivência, seleção de 27
concretos e reais (…).
atividades, divisão de responsabilidades...

Os conteúdos (…) seriam trabalhados


• projetos de empreendimento – organiza-
não mais a partir de uma organização
ção do pátio da escola, da biblioteca da
prévia, sequenciada e controlada pelo
sala de aula e/ou da escola, criação de
professor, mas iriam sendo pesquisados
animais, organização de uma exposição
e incorporados à medida que fossem
de pintura...
demandados pela realização dos proje-
tos. Isso exige do professor um acom- • projetos de aprendizagem – oficinas de li-
panhamento cuidadoso dos projetos teratura, de ortografia, de teatro, de desa-
dos alunos, de forma a prover os co- fios matemáticos....
nhecimentos necessários relativos tan-
to aos conteúdos disciplinares (saber), A autora sugere três etapas para sua imple-
aos saberes e competências relativos à mentação: a) problematização: que corres-
vida social e à subjetividade (saber ser) ponde à escolha do tema ou do problema a
quanto ao domínio de métodos e técni- ser investigado, que deve ser assumido por
cas diversos, relativos (…) às competên- todos os participantes (professor e alunos);
cias de aprendizagem autônoma (…). b) desenvolvimento: “é o momento onde se
criam as estratégias para buscar as respos- A rádio-novela passou a ser uma das atrações
tas às questões e hipóteses levantadas na do Programa de Rádio, que também incluiu
problematização” (Xavier, 2000, p. 23); é “o um diálogo entre professora e uma aluna,
planejamento do caminho a ser percorrido, simulando uma ouvinte pedindo músicas,
definindo-se as fontes a serem investiga- as quais foram escolhidas e executadas por
das, os recursos necessários, o cronograma todo o grupo; um “show de calouros”, em
do trabalho e, se for o caso, a atividade de que duas alunas executaram canções tam-
culminância do projeto” (Burnier, 2001); e bém escolhidas por elas; e um “Concurso Jo-
c) síntese: é o momento de organização dos vens Solistas”, com gravações de alunos ex-
dados, avaliação (por parte do professor e plorando individualmente o teclado levado
dos alunos), divulgação dos resultados (para pela professora. Receosa de que, pela pouca
pais, colegas, escola etc.) sob diferentes for- experiência formal com música, os alunos
mas: relato oral, mural, mostra, jornal, pai- não conseguissem compor em pouco tempo
nel, apresentação etc. uma vinheta para a rádio, a professora pe-
diu que os alunos escolhessem uma canção
Apresento, a seguir, três projetos planejados conhecida que identificasse a Rádio, a ser
e executados de acordo com os princípios cantada por todo o grupo. Também sugeriu
acima mencionados. A apresentação, pela outra canção a ser executada na abertura 28
dimensão deste texto, é resumida, procu- da rádio-novela. As crianças escolheram o
rando destacar as atividades realizadas bem nome da novela e a professora regente da
como a articulação entre as mesmas. turma sugeriu o nome da emissora de rádio
que transmitiria a rádio-novela.
O primeiro projeto de ensino foi desenvolvido
por Carolina Wiethölter com uma turma de A professora elaborou uma espécie de texto-
cerca de 25 alunos, de 5 a 6 anos de idade, roteiro, como se ela fosse a radialista, que
em uma escola de Educação Infantil. O proje- foi lido durante toda a programação, nesta
to foi construído a partir da ideia de elaborar sequência: vinheta da Rádio; conversa com
um “Programa de rádio”, caracterizando-se, o ouvinte; execução das canções pedidas
portanto, como um projeto de empreendi- pelo ouvinte pelo grupo; “show de calouros”
mento. Foi desenvolvido ao longo de quatro com duas cantoras; rádio-novela, definida
aulas. Essa ideia surgiu a partir de uma ati- pela professora como “o momento mais es-
vidade em que os alunos eram solicitados a perado de nossos ouvintes”, e introduzida
explorar e produzir diferentes sons corporais por uma canção de abertura; “a finalíssima
para a sonorização de uma rádio-novela, cuja do Concurso Jovens Solistas”, com cinco
história foi criada pela professora. alunos-candidatos tocando teclado; e, para
encerrar a programação, a vinheta da Rádio. vas solicitavam que as crianças imitassem
Ao final de quatro aulas, a programação foi sons de instrumentos, animais ou objetos;
ensaiada, gravada em áudio e apreciada pe- forca musical, utilizando nomes de instru-
los alunos. O tema possibilitou que as crian- mentos; e bingo de timbres, em que as car-
ças cantassem, explorassem e executassem telas deveriam ser preenchidas a partir da
sons corporais e apreciassem a própria pro- identificação de gravações de instrumentos.
dução. Além disso, foram elas que escolhe-
ram o repertório a ser trabalhado nas aulas. Dentre as atividades desenvolvidas pela pro-
fessora, estavam aquelas de exploração da
O segundo projeto, intitulado “Que som é voz, em que as crianças foram convidadas
esse?”, foi desenvolvido por Elaine Martha a identificar o timbre de voz de cada pes-
Daenecke com uma turma dos anos iniciais soa e a buscar diferentes maneiras de usar a
do Ensino Fundamental, numa classe com própria voz, por exemplo, imitando sons de
cerca de 25 alunos, a maioria com 7 anos animais, de objetos e ações diversas ou mu-
de idade, e teve a duração de 13 aulas. Mais dando a altura e a intensidade da sua voz.
uma vez, o tema escolhido pela professora
surgiu da observação do grande interesse As atividades de apreciação, visando a iden-
das crianças pelos instrumentos presentes tificar o timbre dos instrumentos, utilizaram 29

nas músicas ouvidas. repertório com formações instrumentais


variadas e de diferentes tradições, incluindo
O projeto caracterizou-se como um proje- as chamadas música folclórica, popular e de
to de aprendizagem e teve como atividades concerto (ou erudita). Audições compara-
centrais a apreciação musical e atividades das de diferentes arranjos para uma mesma
de percepção e exploração de timbres, tanto música auxiliaram os alunos a ampliar seu
de instrumentos musicais quanto de sons repertório de timbres, além de discutir algu-
vocais, corporais e de objetos diversos. Es- mas estratégias de composição. Os alunos
sas atividades foram integradas a outras de também puderam apreciar música ao vivo,
execução, principalmente de canções, para assistindo à professora tocar diferentes flau-
que as crianças exercitassem a voz (seu tas doces e, também, o grupo instrumental
próprio instrumento), e de composição em da escola. Desenhar os instrumentos que as
grande grupo e pequenos grupos. Também crianças viam e ouviam e criar partituras
foram planejados alguns jogos e brincadei- com grafia não convencional para suas pro-
ras: trilha musical, um jogo de tabuleiro duções foram outras estratégias adotadas
com fichas com provas musicais, um dado e pela professora.
peças para caracterizar cada criança; as pro-
Os alunos também puderam conhecer as atividade de composição em pequenos gru-
diferentes famílias de instrumentos de or- pos, em que os alunos foram solicitados a
questra, com o auxílio do livro A orquestra compor uma música, utilizando instrumen-
tintim por tintim (Hentschke et al., 2005) e tos de percussão, com duas partes distintas
assistiram ao vídeo de “Pedro e o Lobo”, peça caracterizadas por diferentes intensidades,
composta por Sergei Prokofiev. A partir da fa- que deveriam ser escolhidas pelos grupos.
miliarização dos alunos com uma orquestra
sinfônica, a professora também realizou uma Ao final do projeto, a professora entregou a
atividade de composição em grande grupo. cada aluno, e também à direção da escola,
Organizando os instrumentos de percussão
um CD com gravações de músicas apreciadas
por naipes, convidou os alunos a formarem
ou executadas durante as aulas, incluindo
uma orquestra de percussão. Nas orienta-
produções dos alunos. Também lhes foi en-
ções para o desenvolvimento da composição,
tregue uma pasta com diferentes materiais
a professora solicitou que cada naipe tivesse
das aulas, como letras de canções, partitu-
um destaque em alguma parte da música, in-
ras, além de desenhos, registros e partituras
tercalando solos com tutti, isto é, o grande
feitos pelos alunos. As capas do CD foram
grupo. A organização das ideias musicais dos
confeccionadas pelos próprios alunos.
alunos (ou a sequência de apresentação des-
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sas ideias) foi definida por um regente: pri-
Por fim, o projeto “Músicas de propaganda
meiramente, a professora, que apresentou os
de televisão” caracterizou-se como um pro-
sinais a serem utilizados para entrada, corte,
solo e tutti, e, depois, os próprios alunos. jeto referente à vida cotidiana. Foi desen-
volvido por Juliana Rigon Pedrini, em uma

Para explorar a intensidade da voz durante a escola privada de Ensino Fundamental, com

execução de algumas canções, a professora uma turma de 5ª série (atual 6º ano), com 19
confeccionou cartões coloridos com indi- alunos, ao longo de 11 aulas. O tema foi es-
cações de dinâmica, utilizando os símbolos colhido pela professora a partir do interesse
convencionais (pp = pianíssimo ou muito su- dos alunos por uma música de um comer-
ave; p = piano ou suave; mf = meio forte; e f = cial de televisão.
forte). A empolgação dos alunos em cantar
forte levou a professora a trabalhar os cuida- O projeto foi iniciado com a execução da
dos com a voz e a maneira mais adequada de canção em grande grupo, com acompa-
procurar emitir os sons. nhamento ao violão feito pela professora.
Logo em seguida, a professora pediu que
Os cartões de intensidade também foram os alunos, em pequenos grupos, tentassem
utilizados como ponto de partida para uma tirar uma parte da música de ouvido, utili-
zando a flauta doce. Para auxiliar os alunos, músicas ouvidas, oportunidade para gerar
a professora indicou as notas das melodias uma discussão sobre as funções da música
de algumas sílabas das palavras da canção. na vida das pessoas.
A partitura da melodia foi posteriormente
trabalhada com os alunos, destacando figu- A apreciação musical serviu de base para a
ras e padrões rítmicos. A professora também atividade seguinte, em que a professora le-
criou um arranjo para a canção. A canção foi vou músicas instrumentais pouco conheci-
executada pelos alunos em várias aulas no das pelos alunos para que, em grupos, eles
decorrer da realização do projeto, intercala- criassem um comercial para um produto,
da a outras atividades. Em uma dessas aulas, que “combinasse” com a música ouvida.
alunos e professora discutiram e experimen- Cada grupo apresentou seu comercial para
taram como pode- os demais colegas,
riam mudar o caráter e o grande grupo
O tema do projeto auxilia
expressivo da canção, discutiu a adequa-
a definir um fio condutor
modificando inten- ção de cada música
sidade, andamento
para nossas aulas, pois em relação aos co-
e instrumentos, por permite estabelecer merciais criados.
exemplo. ligações entre as várias 31

atividades a serem O encerramento e/


Os alunos também ou culminância do
desenvolvidas.
foram solicitados a projeto, em que os
fazer um levanta- alunos puderam
mento de suas propa- mobilizar aquilo
gandas preferidas, veiculadas na TV, em que que aprenderam nas atividades anteriores,
a música estivesse presente. Foi a oportuni- consistiu em escolher um produto e criar
dade para discutir as diferenças entre jingle um comercial com trilha sonora, atividade
e trilha sonora. Outra tarefa solicitada aos que foi realizada em pequenos grupos. As
alunos foi escolher músicas que lhes fossem produções foram apresentadas e discutidas
pouco familiares ou consideradas estranhas coletivamente. Por fim, os alunos avaliaram
a eles. As gravações dessas músicas foram o projeto individualmente.
apreciadas em aula, quando os alunos dis-
cutiram características como instrumenta- Acredito que esses projetos, realizados com
ção, andamento e caráter expressivo. Eles grupos distintos e em contextos também dis-
também foram convidados a imaginar co- tintos, exemplificam possibilidades de fazer
merciais relacionados às características das música com os alunos na escola e de propi-
ciar-lhes aprendizagens musicais significati- as fundamentam e que ajudam a organizá-
vas, porque construídas a partir de suas pró- las, para que, a partir delas, seja possível re-
prias experiências, procurando acolher suas fletir sobre outras formas de ensinar música
vivências cotidianas e seus saberes prévios. nas escolas.

O tema possibilita que as várias atividades a


serem realizadas em sala de aula tenham re-
Referências
lação entre si. Assim, evitamos que as aulas
BASABE, Laura; COLS, Estela. La enseñanza.
de música se transformem em uma sequên-
In: CAMILlONI, Alicia. (Comp.). El saber di-
cia de atividades desconectadas e sem um
dáctico. Buenos Aires: Paidós, 2010. p. 125-
sentido de direção em termos de aprendiza-
161.
gens. Isso ocorre, geralmente, quando faze-
mos o planejamento para cada aula individu-
BURNIER, Suzana. Pedagogia das competên-
almente. Ao contrário, quando partimos de
cias: conteúdos e métodos. Boletim Técni-
um tema, garantimos a continuidade entre
co do SENAC, Rio de Janeiro, v. 27, n.3, set./
as várias atividades. O tema do projeto auxi-
dez., 2001. Disponível em: <http://www.se-
lia a definir um fio condutor para nossas au-
nac.br/BTS/273/boltec273e.htm> Acesso em:
las, pois permite estabelecer ligações entre 32
20 set. 2010
as várias atividades a serem desenvolvidas.
Uma mesma música pode ser trabalhada de D’AMORE, Bruno. Epistemologia e didática
diversas formas (apreciando e depois execu- da matemática. São Paulo: Editora Escritu-
tando-a, por exemplo) e uma atividade pode ras, 2005.
dar origem a novas atividades. O fio condu-
tor auxilia o aluno a perceber o porquê das HENTSCHKE, Liane et al. A orquestra tin-

diversas atividades que acontecem na sala tim por tintim. São Paulo: Editora Moderna,

de aula e para onde ele está caminhando. 2005. (Acompanha CD-Áudio.)

Além disso, um mesmo conteúdo, conceito


XAVIER, Maria Luisa M. Introduzindo a ques-
ou habilidade pode ser trabalhado por meio
tão do planejamento: globalização, inter-
de diferentes atividades.
disciplinaridade e integração curricular. In:
XAVIER, Maria Luisa M.; DALLA ZEN, Maria
Concluindo, o propósito deste texto não foi
Isabel (org.). Planejamento em destaque:
apresentar um modelo a ser seguido por ou-
análises menos convencionais. Porto Alegre:
tros professores, mas partilhar experiências
Mediação: 2000. p. 5-26.
reais de ensino, incluindo os princípios que
Bibliografia complementar PONSO, Caroline Cao. Música em diálogo:
ações interdisciplinares na educação infan-
MÚSICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA. Revista pu- til. Porto Alegre: Sulina, 2008.
blicada pela Associação Brasileira de Educa-
ção Musical (Abem) com o objetivo de discu- SOUZA, Jusamara; FIALHO, Vânia Malagutti;
tir e divulgar diferentes propostas de ensino ARALDI, Juciane. Hip hop: da rua para a es-
de música para todos os níveis da educação cola. Porto Alegre: Sulina, 2005.
básica. As revistas podem ser adquiridas no
site da Abem (www.abemeducacaomusical. - HENTSCHKE, Liane et al. Em sintonia com a
org.br ). música. São Paulo: Moderna, 2006. (Acompa-
nha CD-Áudio.)
COLEÇÃO MÚSICAS. Com o propósito de con-
tribuir para a formação de professores e para O livro apresenta um repertório bastante
a melhoria do ensino de música, os livros da variado, convidando o leitor a explorar so-
Coleção apresentam ideias e propostas prá- noridades e sentidos diversos, por meio de
ticas que podem ser desenvolvidas em di- descrições e análises das músicas gravadas
versos espaços educativos, como escolas de no CD que acompanha o livro. A publicação
educação básica, escolas de música e proje- pode ser adquirida no site da Editora Moder-
33
tos sociais. As publicações podem ser adqui- na (http://www.moderna.com.br).
ridas no site da Editora Sulina (http://www.
editorasulina.com.br).

KRIEGER, Elisabeth. Descobrindo a música:


idéias para a sala de aula. Porto Alegre: Su-
lina, 2005.

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