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1o bimestre – Aula 2
Ensino Médio
● Gilberto Freyre e os legados de ● Analisar o “elemento mestiço”
Casa-grande & Senzala; na construção da identidade
● Mito da democracia racial e o brasileira, problematizando a
programa Unesco: contribuições visão de democracia racial e a
de Florestan Fernandes. desafricanização em espaços
“oficiais” a partir de 1930;
● Analisar as contribuições de
Florestan Fernandes para a
desconstrução da ideia de
democracia racial.
TODOS FALAM!
● Você consegue definir qual a “cara” do Brasil? Critérios raciais, ainda hoje, fazem parte
dessa identidade?
● O movimento modernista, do qual Mário de Andrade era expoente, difundiu a ideia de
uma nação mestiça positiva, dentro de uma perspectiva nacionalista, que culmina,
posteriormente, na “democracia racial”. Como o fragmento da obra Macunaíma: o herói
sem nenhum caráter apresenta a raça como essência do Brasil? Discuta!
“Uma feita a Sol cobrira os três manos duma escaminha de suor e Macunaíma se lembrou
de tomar banho. [...] Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova
cheia d’água. [...] Mas a água era encantada [...]. Quando o herói saiu do banho estava
branco louro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz
mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas.”
Continua...
A novidade estava na interpretação que descobria no cruzamento de raças
um fato a singularizar a nação, nesse processo que fazia com que a
miscigenação parecesse, por si só, sinônimo de tolerância. É nesse
ambiente, também, que, para além do debate intelectual, nos espaços mais
oficiais, ‘o mestiço vira nacional’, paralelamente a um processo de
desafricanização de vários elementos culturais, simbolicamente clareados.
A feijoada, por exemplo, até então conhecida como ‘comida de escravos’, a
partir dos anos 1930 se converte em ‘prato nacional’, carregando a
representação simbólica da mestiçagem.
Continua...
O feijão e o arroz remeteriam metaforicamente aos dois grandes segmentos
formadores da população [...]. A capoeira – reprimida pela polícia do final do
século 19 e incluída como crime no Código Penal de 1890 – é oficializada
como modalidade esportiva nacional em 1937. Também o samba sai da
marginalidade e ganha as ruas, enquanto as escolas de samba e seus desfiles
passam, a partir de 1935, a ser oficialmente subvencionados. [...] Da mesma
maneira, a partir de 1938 os atabaques do candomblé passam a ser batidos
sem interferência policial. Até mesmo o futebol, originariamente um esporte
inglês, foi sendo associado a negros, sobretudo a partir de 1933, quando a
profissionalização dos jogadores tendeu a mudar a coloração dos clubes
futebolísticos.” (SCHWARCZ, 2001, pp. 27-28).
Correção
Apesar das críticas de Freyre em relação à violência do sistema escravocrata, sua
abordagem culturalista privilegiou as relações patriarcais do espaço doméstico, ou
seja, o privado, acabando por relativizar a violência aos escravizados da “casa-
grande”, que supostamente eram “parte” da família; a escravidão doméstica seria
“uma boa escravidão”. Além desse aspecto, a valorização do mestiço relegou ao
negro um papel secundário, principalmente, ao não desconstruir a ideia de
hierarquias raciais em sua obra. Segundo a autora, “o branco é sempre o exemplo
civilizatório, acompanhado do indígena, que trouxe seus hábitos higiênicos e
alimentares, e, por fim, o negro, com sua religiosidade “lúbrica”. De certa forma,
Freyre cria uma imagem de que, em nossa sociedade, houve um hibridismo que
“amoleceu” as tensões e constituiu as condições histórico-geográficas de uma
sociedade tolerante e sincrética.
Correção
Por fim, a valorização da mistura de raças desdobrou-se para além do discurso
intelectual, nas políticas públicas, na cultura e em espaços oficiais no contexto
da ascensão de Getúlio Vargas em 1930 e, posteriormente, durante o Estado
Novo, que forjou uma identidade nacional.
Esses “símbolos nacionais”, agora institucionalizados, retiram do negro suas
ancestralidades e contribuições à cultura brasileira, tornando-a uma
especificidade do “nacional”, do mestiço, “clareando” os traços e os elementos
culturais, o que levou a uma desafricanização: na capoeira, no futebol, no
samba e nas religiões de matriz africana.
As falácias da democracia racial – a desconstrução do mito
● Na década de 1950, após duas guerras mundiais, a Unesco (Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) propôs um estudo – já que,
no imaginário internacional, o Brasil vivia uma democracia racial, um verdadeiro
“paraíso racial”, ainda que com um passado marcado pela escravidão.
● Nesse contexto, ao atuar na proposta da Unesco, o sociólogo Florestan
Fernandes (1920-1995), em suas pesquisas e análises desdobradas em obras,
como A integração do negro na sociedade de classes (1965) e O negro no mundo dos
brancos (1972), desconstruiu a teoria da democracia racial, transformando-a em
um mito, demonstrando que o Brasil não vivia uma experiência harmônica e sem
conflitos, mas era um país racista e profundamente desigual.
● Havia uma interpretação enraizada, na teoria de alguns autores anteriores ao
sociólogo, que se pautava na ideia de que, após a abolição, os negros não tinham se
inserido no mercado de trabalho, porque eram “indolentes, incapazes, não se
adequavam”, e Florestan Fernandes revela que a falta de inserção da população negra
deveu-se pela omissão das elites, que não promoveram uma transição e alternativas
para o trabalho livre e vida digna. Na disputa com brancos por trabalho, tornam-se
explícitos os conflitos raciais.
● Fernandes pontua, com base nas pesquisas encomendadas pela Unesco, que a cor da
pele marcava a posição social no Brasil. Em um sistema de hierarquização social, em
que o prestígio se dava por critérios de classe, no capitalismo (em uma sociedade de
mercado, supostamente democrática), haveria uma “acomodação racial vigente”, do
branco, camuflando o conflito de classes. O racismo dissimulado levou à exclusão
social pela cor da pele, “do negro”, “do preto”, apagando o sentido de classe
subalterna explicitada na estrutura social brasileira.
Virem e conversem!