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PORTUGUÊS

FRENTE: PORTUGUÊS II
EAD – ITA/IME
PROFESSOR(A): SOUSA NUNES

AULA 22

ASSUNTO: LITERATURA

Contexto político-social “Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os crespos


do homem – ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos.
O governo de Juscelino trouxe o desenvolvimento industrial Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum.
(cinquenta anos em cinco) e intenso crescimento urbano. Se, de um (...) Tive medo. Sabe? Tudo foi isso: tive medo! Enxerguei os
lado, o Brasil ingressou numa era desenvolvimentista, por outro, a confins do rio, do outro lado. Longe, longe, com que prazo se ir até lá?
urbanização trouxe consigo a subvida das favelas e a intensa imigração Medo e vergonha.”
de nordestinos para o “sul maravilha”, em busca de melhores ROSA, Guimarães. Op. cit.
oportunidades de vida. O problema social é evidente, sobretudo em
São Paulo e no Rio de Janeiro. A arte literária da ficção experimental
Em 1960, Jânio Quadros é eleito presidente com 6 milhões
de votos. As experimentações que acrescentaram

Reprodução
direções novas ao curso literário no Brasil
ganharam corpo com a publicação do romance
Características da ficção do terceiro Perto do coração selvagem, de Clarice Lispector,
tempo modernista em 1943. A escritora esmiúça nessa obra o interior
do ser humano, dando à luz a grandeza da vida e
Uma das marcas mais flagrantes da ficção experimental do significado das experiências.
é a interiorização do relato – o chamado fluxo da consciência. Três anos mais tarde, em 1946, Guimarães
Geralmente, as narrativas são centradas em momentos de vivência Rosa publicou o livro de contos Sagarana, onde
interior das personagens. Acontecimentos exteriores provocam a as regiões brasileiras dos sertões indefinidos
interiorização. É assim em Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, transcendiam o âmbito da realidade histórica e transformavam-se em
quando Riobaldo – a personagem central – se vê impelido a “lembrar” espaços de seres míticos.
dos acontecimentos que viveu, em um longo monólogo, a partir de Clarice Lispector praticou a narrativa com grande criatividade.
um evento cotidiano, que é o ato de praticar tiro ao alvo no terreiro. Seus escritos revelaram uma ficcionista de aguda sensibilidade,
o que levaria a crítica literária ao espanto diante de sua obra.
“— Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga
Perplexos também ficaram os críticos diante de Guimarães Rosa,
de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal,
cujas experimentações estabeleceram uma completa transformação
no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde
linguística na literatura ao recriar o mundo sertanejo.
mal em minha mocidade.”
ROSA, Guimarães. Grande Sertão: veredas. 14.ed. João Guimarães Rosa
Rio de Janeiro, José Olympio, 1980.
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A consciência de uma ou mais personagens é flagrada e relatada


numa época qualquer, em um lugar qualquer. Assim se dá também
nos romances e contos de Clarice Lispector: um acontecimento pode
* Cordisburgo (MG) – 27.06.1908
liberar ideias que vão até o inconsciente da personagem.
 Rio de Janeiro (RJ) – 19.11.1967
.

“...estou procurando, estou procurando. Estou tentando


entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas
não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho Guimarães Rosa

medo dessa desorganização profunda. Aconteceu-me alguma coisa Vida


que eu, pelo fato de não a saber como viver, vivi uma outra?”
• Infância e adolescência vividas em terras que haveriam de marcar-
LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G. H. 18.ed.
Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1995. lhe a visão regionalista.
• Formado em Medicina, clinicou no interior mineiro, foi capitão-
O fato de os narradores do terceiro tempo modernista médico e entra depois para a carreira diplomática, em 1934.
preferirem a narração em primeira pessoa não é mero acaso. Esse tipo • Ainda na década de 30, escreve os contos de Sagarana, que seriam
de narração proporciona ao relato um intimismo inigualável, assim publicados no ano de 1946. Em seguida, na condição de cônsul,
como lhe outorga verossimilhança. O narrador funciona como uma foi morar na Europa, em época de plena guerra. Voltando ao Brasil,
pessoa que confessa e o leitor ou ouvinte, como confidente: retoma os originais de Sagarana e refaz inteiramente o livro a fim de
que definitivamente seja editado, garantindo-lhe grande sucesso.

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MÓDULO DE ESTUDO

• Após sucessivas viagens pelo exterior, fixa-se no Brasil e, em 1956, Do demo? Não gloso. Senhor pergunte aos moradores. Em
publica Corpo de Baile e Grande Sertão: veredas, obras que lhe falso receio, desfalam no nome dele – dizem só: o Que-Diga. [...]
renderiam mérito internacional. Doideira. A fantasiação. E, o respeito de dar a ele assim esses nomes
de rebuço, é que é mesmo um querer invocar que ele forme forma,
Produção literária e caracterização com as presenças!
Não seja. Eu, pessoalmente, quase que já perdi nele a crença,
Após a publicação dos contos de Sagarana, em 1946, mercês a Deus; é o que ao senhor lhe digo, à puridade. [...]
Guimarães Rosa estabeleceu na Literatura Brasileira uma completa
ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: veredas. 19. ed.
transformação linguística, intensificada à medida que seus outros
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 23-26. (Fragmento).
livros de ficção apareciam.
Caracterizam sua obra:
Torar: ir, viajar. Gloso: comento, falo.
A) Manejo da palavra e deslocamento da sintaxe: O ciclo de novelas
Arredado: afastado, distante. Rebuço: disfarce.
de Corpo de baile – desdobrado em Manuelzão e Miguilim, No
Arrocho: aperto.
Urubuquaquá, no Pinhém e Noites do sertão – e o romance Grande
Sertão: veredas apresentam uma alteração profunda no manejo da
Análise
palavra, que consiste, sobretudo, num incomum deslocamento da
Recontada em forma de um longo monólogo, a narrativa
sintaxe; no emprego de um vocabulário ora arcaico, ora neológico;
está situada no interior de Minas Gerais, onde geograficamente se
na ousadia mórfica, que recria a linguagem.
localiza o sertão real associado ao romance de Guimarães Rosa.
B) Transcendência do regionalismo: Os elementos folclóricos pitorescos
O texto, porém, povoa esse espaço com as sagas dos seus habitantes,
e meramente documentais, lugares-comuns da maioria das obras
o que o torna mítico. Assim, o sertão se expande, perde suas fronteiras
regionalistas, ganhariam novos significados com Guimarães Rosa: o
geográficas e reais e passa a simbolizar a busca pelas respostas para
escritor lida com eles de uma forma inusitada, situando-se entre a
as grandes questões humanas: o que é o bem?, o que é o mal?
realidade e a fantasia, localizando-se num plano mítico.
Riobaldo, guia dos leitores na travessia, aprende a ver a beleza
C) Reinvenção do sertão: Questionando a linguagem da ficção e
do sertão, enfrenta o medo, torna-se admirado pelos companheiros,
reunindo elementos linguísticos da própria realidade sertaneja,
descobre o amor.
ele reinventa o sertão, chamando a atenção – em todas as obras,
Na sua trajetória, o jagunço descobre que a vida é sempre uma
mas principalmente em Grande Sertão: veredas – para o fato de
situação de risco — “Viver é muito perigoso”, repete várias vezes ao
que “o sertão é o mundo”. Transforma, assim, esse território num
longo de sua narrativa – e, no sertão, isso significa que as pessoas
espaço-metáfora, em que tudo pode acontecer.
precisam aprender a se adaptar às condições em que se encontram:
D) Inserção de momentos de “epifania”: São histórias, historietas,
“aprender a viver é que é o viver mesmo”.
eventos que “revelam” à personagem aspectos antes não percebidos.
Nesse sentido, o sertão faz o homem, e a narrativa de
E) Temática universalizante: Ao transformar o sertão no mundo,
Guimarães Rosa mostra esse homem em toda a sua amplitude,
Guimarães Rosa torna-o universal, fazendo caber dentro dele todos
revelando os seus avessos, as suas angústias, os seus momentos
os temas. Ao mesmo tempo,”o sertão é dentro da gente”, ou seja,
heroicos e covardes. Vencida a travessia da linguagem e o desafio de
é a interpretação que cada um de nós tem do mundo.
acompanhar a “especulação de ideias” de Riobaldo, o leitor aprende
“Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se a lição maior, aquela que vai lhe permitir superar os seus próprios
forma mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso.” avessos: “A gente tem de sair do sertão! Mas só se sai do sertão, é
ROSA, Guimarães. Grande Sertão: veredas. tomando conta dele a dentro...”.
• Conto: Sagarana; Primeiras estórias; Tutameia (Terceiras estórias); “A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA”
Estas estórias.
• Novela: Corpo de baile (a partir da terceira edição, esta obra foi Augusto Estêves, filho do Coronel Afonsão Estêves, das
dividida em três volumes: Manuelzão e Miguilim; No Urubuquaquá, Pindaíbas e do Saco-de-Embira – chamado Nhô Augusto – é um
no Pinhém; Noites do sertão). bandoleiro das maiores perversidades. Maltrata a todos e faz sofrer
• Romance: Com o vaqueiro Mariano (esta obra integra, hoje, o a esposa Dona Dionora. Ignora a filha Mimita. Anda em descrédito
livro póstumo Estas estórias sob o título Entremeio: com o vaqueiro político e declínio econômico. Dona Dionora foge com Ovídio
Mariano); Grande Sertão: veredas. Moura, levando a filhinha. Ao preparar a perseguição, Nhô Augusto
• Diversos: Ave, palavra. sabe de Quim Recadeiro que todos os seus bate-paus passaram
para o comando do Major Consilva. Matraga resolve ir ter com eles
Grande Sertão: veredas e os avessos do homem antes de matar Dionora e Ovídio. Mas é espancado e marcado com
ferro de gado. No exato momento do homicídio completo, recobra
Riobaldo, protagonista e narrador de Grande Sertão: veredas, as forças e atira-se no despenhadeiro do rancho do Barranco.
cresceu na fazenda de seu “padrinho” (na verdade, o pai que não Tomam-no por morto. No outro lado do mundo, é socorrido por um
havia reconhecido a paternidade). Essa condição lhe garantiu alguma casal de negros velhos: a mãe Quitéria e o pai Serapião. Sarado, porém
educação formal. Sua educação real, porém, acontece quando se com sequelas deformantes, leva os protetores para o povoado do
junta a um bando de jagunços e começa a longa viagem pelo sertão Tombador. Muda de vida e alma: trabalha o dia todo, reza com grande
das Gerais. devoção, ajuda a quantos pode, na espera de obter o céu. Mais de
seis anos se passaram, quando surge o Tio da Thereza, que o informa
Trecho para análise da sorte da ex-família: a esposa vive feliz com Ovídio e preparam o
casamento, a filha foi enganada por um cometa e caiu na perdição.
[...] Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de
Matraga resigna-se e sofre saudades. Por esta época, aparece Joãozinho
fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de
Bem-Bem, jagunço de larga fama. Matraga admira-lhe as armas e o
morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho
bando (Flosino Capeta, Tim-Tatu-tá-te-vendo, Zeferino, Juruminho,
de autoridade. [...] Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o
Epifânio), mas recusa acompanhá-los ou deles se valer. Pouco depois,
que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães...
parte sem destino num jumento. No arraial do Rala-Coco, encontra
O sertão está em toda a parte.
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Joãozinho Bem-Bem prestes a dizimar uma família, em cumprimento São situações narrativas complexas, em que as personagens
de vingança. Matraga intervém em nome da justiça. Liquida diversos passam por transformações capazes de abalar a estrutura prosaica
capangas e morre em duelo singular com o famoso jagunço, que de suas vidas.
tomba um pouco antes.
Trechos para análise
Clarice Lispector Fernando Frazão/Agência Brasil CC
BY 3.0 br/Wikimedia Foundation AMOR

Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e


sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados,
instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa,
o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento
que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas
* Tchetchelnik, Ucrânia,1925. que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e
 Rio de Janeiro (RJ), 1977.
.
enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador.
Clarice Lispector
Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas
Nascida numa pequena aldeia da Ucrânia, Clarice Lispector apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa com o
mudou-se com a família para o Brasil em 1926. Morou em Alagoas cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus
e em Pernambuco e, aos 12 anos, passou a viver no Rio de Janeiro. filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os
Cursou a Faculdade Nacional de Direito. Em 1941, empregou-se como jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do
redatora na Agência Nacional e, posteriormente, no jornal A Noite. edifício. Ana dava a tudo, tranquilamente, sua mão pequena e forte,
Por força da profissão do marido, Maury Gurgel, um diplomata sua corrente de vida.
de carreira, Clarice viveu 15 anos no exterior. Voltou definitivamente Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa hora da tarde as
ao Brasil em 1960, residindo no Rio de Janeiro. árvores que plantara riam dela. Quando nada mais precisava de sua
Vítima de um incêndio em seu apartamento, Clarice sofreu força, inquietava-se. [...]
queimaduras de primeiro grau; passou por várias cirurgias e optou No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a raiz
por uma vida isolada, sempre escrevendo. firme das coisas. E isso um lar perplexamente lhe dera. Por caminhos
tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele
Produção literária e caracterização caber como se o tivesse inventado. O homem com quem casara era
um homem verdadeiro, os filhos que tivera eram filhos verdadeiros.
Clarice revelou em alguns depoimentos que seus livros, mais Sua juventude anterior parecia-lhe estranha como uma doença de
do que histórias, continham “impressões”, pois “não se preocupam vida. Dela havia aos poucos emergido para descobrir que também sem
com os fatos em si, porque o importante é a repercussão do fato no a felicidade se vivia: abolindo-a, encontrara uma legião de pessoas,
indivíduo”. Sua obra caracteriza-se por: antes invisíveis, que viviam como quem trabalha – com persistência,
A) Personagens tensas e inadaptadas ao mundo: Suas continuidade, alegria. [...]
personagens, representativas da situação alienada dos indivíduos
das grandes cidades, geralmente são tensas e inadaptadas a um LISPECTOR, Clarice. Amor. In: Laços de família.
mundo repetitivo e inautêntico, que as despersonaliza. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 19-20. (Fragmento).
B) Quebra da fronteira entre a voz do narrador e a das personagens:
Clarice afasta-se das técnicas tradicionais do romance, caracterizado Análise
como um espelho de época. Sua literatura é um ambíguo espelho Ana é uma mulher de classe média com uma vida completamente
da mente, registrado por meio do fluxo da consciência, que indefine organizada em torno da família. Sua vida é linear: nada sai dos trilhos,
as fronteiras entre a voz do narrador e a das personagens. tudo ocorre segundo uma rotina prevista e esperada. O perigo está
C) Narrativa interiorizada: Rompe-se a narrativa referencial, nas horas em que as tarefas domésticas já foram concluídas e Ana se
ligada a acontecimentos. Em lugar dela, emerge uma narrativa vê com tempo em suas mãos. É em um desses momentos que se dá
interiorizada, centrada num momento de vivência interior da sua descoberta.
personagem (ou do narrador). É possível, até mesmo, que
[...] Alguma coisa intranquila estava sucedendo. Então ela viu:
um acontecimento exterior desencadeie o fluxo da consciência:
o cego mascava chicles... Um homem cego mascava chicles.
um fato pode liberar ideias que vão até o inconsciente da personagem.
Ana ainda teve tempo de pensar por um segundo que os
D) Epifania ou momentos de revelação: A abertura da consciência
irmãos viriam jantar — o coração batia-lhe violento, espaçado.
para momentos “luminosos”,”de revelação”, é o que mais marca
Inclinada, olhava o cego profundamente, como se olha o que não
as personagens de Clarice.
nos vê. Ele mastigava goma na escuridão. Sem sofrimento, com os
olhos abertos. O movimento da mastigação fazia-o parecer sorrir e
A literatura produzida por Clarice Lispector não se preocupa
de repente deixar de sorrir, sorrir e deixar de sorrir — como se ele
com a construção de um enredo tradicionalmente estruturado,
a tivesse insultado, Ana olhava-o. E quem a visse teria a impressão
com começo, meio e fim. Ela busca a compreensão da consciência
de uma mulher com ódio. Mas continuava a olhá-lo, cada vez
individual, marcada sempre pela grande introspecção das personagens.
mais inclinada — o bonde deu uma arrancada súbita jogando-a
Suas narrativas tratam do momento preciso em que uma
desprevenida para trás, o pesado saco de tricô despencou-se do
personagem toma consciência da própria individualidade. Esse
colo, ruiu no chão — Ana deu um grito, o condutor deu ordem
momento pode ser desencadeado por situações corriqueiras, como
de parada antes de saber do que se tratava — o bonde estacou,
a contemplação de rosas ou a visão de um cego mascando chiclete.
os passageiros olharam assustados.
Como a autora declarou: “os meus livros não se preocupam com os
fatos em si, porque para mim o importante é a repercussão dos fatos LISPECTOR, Clarice. Amor. In: Laços de família.
no indivíduo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 21-22. (Fragmento).

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Análise As narrativas apresentam uma estrutura semelhante, que o


Avistar um cego que mascava chiclete faz com que a vida tão crítico Affonso Romano de Sant’Anna definiu em quatro passos:
controlada por Ana seja abalada em suas raízes. Essa visão a liberta 1. A personagem é disposta numa determinada situação cotidiana;
da rotina de acontecimentos previsíveis e devolve-lhe a possibilidade 2. Prepara-se um evento que é pressentido discretamente pela
de uma existência individual. O tormento de Ana prolonga-se por personagem (algo como uma inquietação);
todo o dia até que, de volta ao convívio com o marido e com os 3. Ocorre o evento que ilumina sua vida (epifania);
filhos, o mundo familiar vai aos poucos recolocando-a em seu papel 4. Apresenta-se o desfecho, no qual a situação da vida da personagem,
convencional. após a epifania, é reexaminada.
Esse processo de descoberta individual por que passam as
O trabalho com a linguagem é fundamental para que esse
personagens de Clarice Lispector é chamado de epifania. O termo
processo de autodescoberta adquira a dimensão intimista que
faz referência a apreensão intuitiva da realidade por algo geralmente
permite, ao leitor, acompanhar os efeitos, na personagem, do
simples e inesperado. Nesse sentido, é a percepção do significado
momento de iluminação. A autora promove, na forma do texto,
essencial de alguma coisa.
uma desconstrução equivalente àquela vivida pelas personagens,
fazendo com que a própria linguagem assuma uma função
Observação: libertária.
Na obra de Clarice Lispector, epifania significa a descoberta Outra característica recorrente, na ficção de Clarice, é a
da própria identidade a partir de um estímulo externo (como presença constante de animais (cavalo, galinha, barata, aranha,
a visão do cego mascando chicletes, no conto “Amor”). búfalo, gato etc.) que representam o “coração selvagem” da vida,
As personagens, nesse momento, descobrem a própria essência, que pulsa descontrolada, sem se submeter às regras e expectativas
aquilo que as distingue das demais e as transforma em indivíduos sociais. Essa é uma forma também revolucionária de simbolizar a
singulares. busca incessante das personagens pela libertação das amarras sociais
e o mergulho no irreversível processo de individualização.

Em A hora da estrela, o narrador Rodrigo S. M. apresenta-se ao


leitor e define seu objetivo literário: narrar a história de uma nordestina,
A poesia da Geração de 45
chamada Macabéa, que morava no Rio de Janeiro, vinda de Alagoas. Por volta de 1945, a linguagem literária brasileira tornou a
A moça, descrita como completamente inexpressiva, dividia um quarto ser problematizada com bastante ênfase. A experimentação poética
de pensão com mais quatro colegas e trabalhava como datilógrafa. caracterizou a poesia do terceiro tempo modernista.
Apaixona-se por Olímpico, também nordestino, é abandonada por
ele e morre atropelada, depois de uma visita a uma cartomante para Contexto político-social
saber o que o futuro lhe reservava.
Ao relato da vida de Macabéa e suas misérias interliga-se um Após a Segunda Guerra Mundial (1945), Getúlio Vargas foi
segundo plano, constitutivo da narrativa: os questionamentos desse deposto e o país voltou a respirar democracia. Uma Constituição
narrador masculino (o primeiro na obra da escritora) sobre a sua (1946) estabeleceu novo pacto social. Houve liberdade de organização
maneira de narrar, os motivos que o levam a contar a história da jovem partidária, eleições diretas e secretas. A euforia democrática durou
e sua dificuldade em compreender a própria personagem, pertencente pouco: os ventos da Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética
a uma camada social muito diferente da sua. atingiram o país. Voltaram as perseguições e a censura à maneira
do Estado Novo. Foi o macartismo, isto é, uma política semelhante
Englutido: engolido. a desenvolvida pelo senador norte-americano Joseph MacCarthy,
que promoveu uma verdadeira “caça às bruxas” aos intelectuais e
artistas de seu país. Nesse pós-guerra apareceu a “Geração de 45”,
Clarice Lispector: Uma leitora voraz que procurou recuperar procedimentos poéticos tradicionais. Voltou,
Nas muitas entrevistas e depoimentos que deu, Clarice com ênfase, a experimentação literária: procurava-se o “rigor” da
sempre tocou na questão da leitura. Mesmo se confessando uma expressão.
leitora esporádica na vida adulta, falava com paixão da descoberta Nesse sentido, a obra de João Cabral de Melo Neto é exemplar
de alguns autores na sua adolescência. por seguir uma linha construtivista que se marca pela simetria de versos
“Eu misturei tudo, eu lia livro, romance para mocinha, livro e do poema. Em outros poetas, o rigor formal foi tamanho que se
cor-de-rosa, misturado com Dostoiévski, eu escolhia os livros pelos chegou a falar em neoparnasianismo.
títulos e não por autores, porque eu não tinha conhecimento... Após 1950, os poetas do primeiro momento do pós-guerra dividiram-
fui ler aos 13 anos Herman Hesse, tomei um choque: O lobo da se, partindo para experimentações poéticas diferentes. Alguns
estepe. [...] permaneceram no esteticismo formalista, outros encaminharam-
[...] aos 15 anos, entrei numa livraria, que me pareceu o se para uma poesia participante, como Thiago de Melo e Ferreira
mundo [em] que gostaria de morar. De repente, um dos livros Gullar – este, um dos poetas mais importantes do terceiro tempo
que abri continha frases tão diferentes que fiquei lendo, presa, modernista. Outros poetas voltaram-se para as tensões sociais do
ali mesmo. Emocionada, eu pensava: mas esse livro sou eu! Só mundo contemporâneo: José Paulo Paes, Afonso Ávila, Affonso
depois vim a saber que a autora era considerada um dos melhores Romano de Sant’Anna, Adélia Prado, Ilka Laurito.
escritores de sua época: Katherine Mansfield.”
Características da poesia de 1945
Uma estrutura recorrente Renovação estética
Nos seus muitos romances e contos, Clarice Lispector trata Valorização da técnica de composição
da condição feminina, da dificuldade de relacionamento humano, Ampliação do poder de significação da palavra e do texto
da hipocrisia dos papéis socialmente definidos, da busca pelo “eu”. Busca de temas relacionados ao social, moral e político

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MÓDULO DE ESTUDO

Em artigo na Revista Brasileira de Poesia, publicado em 1947, B) Busca de simetria: O ideal de simetria só pode ser atingido
Péricles Eugênio da Silva Ramos resume o espírito do projeto literário por meio de um trabalho rigoroso da linguagem poética.
da poesia de 1945: “Não há obra de arte sem forma, e a beleza é um Em O engenheiro, de 1945, o ideal de um projeto geométrico de
problema de técnica e de forma”. O mesmo texto define a intenção construção emerge.
de transformar o fazer poético, adotando como princípio a renovação C) Objetividade da palavra escrita: Com Psicologia da composição,
estética. Fábula de Anfion e Antiode, trilogia de 1947, rompe de vez com
O crítico e professor Alfredo Bosi destaca duas preocupações a fantasia e constrói poemas por meio da objetividade da palavra
que orientam a produção poética da Geração de 1945: escrita e não pelos “estados de alma” da tradição romântica.
• a busca de mensagens (temas, motivos poéticos) que dessem ao D) Poesia de ênfase sociológica: A partir de 1950, com O cão
texto a dimensão de um testemunho crítico da realidade no plano sem plumas, inicia-se um ciclo de poemas de ênfase sociológica.
social, moral e político; Prossegue com O rio e Morte e vida severina, em que a denúncia
• o desejo de encontrar códigos formais que trouxessem para o verso da miséria nordestina segue os dois movimentos que aparecem no
estruturas semelhantes às utilizadas para a comunicação de massa título: morte / vida.
(cores, símbolos, exploração do formato das letras, organização
gráfica, etc.), elemento essencial da sociedade contemporânea. Poesia: Pedra do sono; O engenheiro; Psicologia da composição;
Fábula de Anfion; Antiode; O cão sem plumas; O rio;
Duas águas (contém as obras anteriores mais Morte e vida
Características da poesia de 45 severina, Paisagens com figuras e Uma faca só lâmina);
Os poetas de 45 entenderam que as conquistas dos Quaderna; Dois parlamentos; Terceira feira; A educação
modernistas de 22 deveriam ser abandonadas. Partiram, portanto, pela pedra; Poesias completas; Museu de tudo; Sevilha
para a reabilitação de regras mais rígidas para a composição do verso. andando.
Uma das primeiras conquistas dos modernistas de 22, o verso
livre, foi abolida do ideário de 45. Empreendeu-se uma volta ao MORTE E VIDA SEVERINA (1956)
rigor do verso. Os poetas revigoraram a metrificação com o emprego
do verso decassílabo e de outras medidas poéticas, consideradas Este poema dramático – auto de natal pernambucano – é a
obsoletas. Assim, renasceu o soneto como forma fixa predileta. última etapa do exercício de participação em torno do Capibaribe.
O desleixo do ritmo foi repudiado e, em seu lugar, observou-se o Desta vez, o retirante é Severino. O rio, seu guia.
equilíbrio rímico. Título: Severino é um nome próprio que passa a comum: todos
Assim como os parnasianos dos últimos anos do século XIX, aqueles que morrem “de velhice antes dos trinta/de fome um pouco
a Geração de 45 fez questão de cultivar uma linguagem lírica, com por dia”. Resulta daí o adjetivo severino, que se refere à condição de
o emprego de imagens intencionalmente estéticas, às vezes severino.
retomando o conceito de “arte pela arte”, ou seja, o cultivo do lirismo O retirante Severino deixa o sertão em busca do litoral.
em torno de temas pouco poéticos. Pelo caminho, “só morte tem encontrado/quem pensava encontrar
Alguns poetas da Geração de 45 voltaram-se para uma poesia vida”. Da mesma forma, quando atinge o Recife. Depois de ouvir a
de participação social, chamando a atenção para o homem diminuído conversa de dois coveiros, compreende-se enganado com o sonho
na sua condição oprimida. É o caso, por exemplo, de João Cabral de da viagem.
Melo Neto e Ferreira Gullar. Resolve, então, adiantar a morte, nas águas barrentas do
Capibaribe. Enquanto a prepara em conversa com Seu José, uma
João Cabral de Melo Neto mulher anuncia: o filho deste “saltou para dentro da vida”. Severino
assiste, de fora, ao auto de natal (= encenação celebrativa do
João Cabral de Melo Neto
Folhapress

nascimento). Seu José, mestre carpina, tenta dissuadi-lo da resolução


(1920-1999) nasceu em Recife, em uma
que tem tomado.
família com importantes ligações literárias:
Seria limitar o significado do poema deduzir deste final a
era primo do poeta Manuel Bandeira e do
ideia de uma mensagem otimista do autor. A ideia da peça sobre o
sociólogo Gilberto Freyre. Passou a infância no
que fazer uma vida diante da severinidade nordestina é ambígua.
interior, em engenhos de açúcar, mas voltou
Pois um pouco antes desta fala otimista do Mestre José Carpina,
ao Recife quando iniciou os estudos primários.
as duas ciganas expuseram o duro futuro do recém-nascido.
Em 1942, publicou seu primeiro livro, Pedra
Diz a primeira cigana: “e vejo-o, ainda maior,/ pelo imenso
do sono. Atuou como diplomata em diversas
lamarão/fazendo dos dedos iscas/para pescar camarão”.
cidades da Europa, mas tinha predileção por
E a segunda: “vejo-o dentro de uma fábrica:/se está negro não é
Sevilha. Foi eleito para a Academia Brasileira
lama, /é graxa de sua máquina”. O Severino, portanto, será um
João Cabral de Melo Neto de Letras em 1968. Destacam-se, em sua
massacrado, tanto em natureza quanto em sociedade.
obra, Psicologia da composição (1947),
O cão sem plumas (1950), O rio (1954), Quaderna (1960), Morte e Análise
vida severina (1956), A educação pela pedra (1966), Museu de tudo
(1975), A escola das facas (1979), Auto do frade (1982), Crime na Eis o enredo da obra: Severino, um lavrador do sertão
Calle Relator (1987) e Sevilha andando (1991). pernambucano, foge da seca e da miséria e parte em busca de
trabalho na capital, Recife. Trilha o leito seco do rio Capibaribe e, no
Produção literária e caracterização caminho, só encontra fome, miséria e mortes, mortes de severinos
João Cabral de Melo Neto sempre teve muita consciência de como ele.
seus poemas, os quais se caracterizam por: Ao se aproximar do mar, vê campos verdejantes de cana,
A) Ruptura com a poesia de inspiração: Seu trabalho poético rompe mas a miséria dos trabalhadores é a mesma. Já na capital, ouve
com esse mito, pois prega que a poesia não está no sentimento a conversa de dois coveiros, por meio da qual fica sabendo que
do poeta ou mesmo na beleza dos fatos, mas na organização do ali também, na capital, a miséria e a morte são irmãs. O que vê
texto, no rigor de sua construção. nos manguezais são homens misturados ao barro, vivendo em

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condições precárias. Desolado, o retirante aproxima-se de um dos C) representa a mulher de classe média que cuida de suas tarefas,
cais do Capibaribe e pensa em suicídio. Mas aproxima-se de Severino mas não sente prazer nisso, pois é incomodada por sua família.
um morador daquele mangue, “Seu José, mestre carpina”, que, com D) é produto de uma sociedade feminista, o que se pode
sua sabedoria de muitos anos de vida severina, desperta-lhe alguma confirmar pela autonomia que tem para realizar suas
esperança. tarefas.
Logo depois, Seu José é chamado por uma vizinha, que lhe E) constitui a referência do lar de classe média, no qual tem como
dá a notícia do nascimento do filho que ele aguardava. Severino os missão a tarefa de organizá-lo e de cuidar dos familiares.
acompanha e presencia a homenagem que os vizinhos fazem à criança.
02. “Certa hora da tarde era mais perigosa.”
De acordo com o texto, essa informação deve ser entendida como
Exercícios A) um cansaço que envolvia Ana, depois de ter-se dedicado
intensamente às tarefas do lar.
B) um desconforto de Ana, pois sua importância se perdia nesse
• Instrução: Para responder às questões de números 01 e 02, período, quando não era requisitada nas tarefas do lar.
leia o texto de Clarice Lispector. C) uma irritação de Ana em relação à família, por não ter o
reconhecimento devido pelas tarefas que exercia.
AMOR D) uma forma de Ana reafirmar seu papel e sua importância no
seio familiar, pois todos dependiam dela.
Um pouco cansada, com as compras deformando o novo E) um incômodo que Ana sentia, devido tanto ao excesso de
saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o tarefas que desempenhava quanto ao modo rotineiro de
bonde começou a andar. Recostou-se então no banco procurando realizá-las.
conforto, num suspiro de meia satisfação.
Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira 03. (UFPE/2011) Joaquim Cardozo e João Cabral de Melo Neto
e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, são, ambos, poetas pernambucanos. A partir da leitura dos
malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era poemas e das semelhanças que marcam suas poéticas, assinale
enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era a alternativa incorreta sobre as colocações que se seguem.
forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas
o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava- O SALTO TRIPARTIDO
lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o
Havia um arco projetado no solo
calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes
Para ser recomposto em três curvas aéreas,
que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam
Havia um voo abandonado no chão
árvores. Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz,
À espera das asas de um pássaro;
crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia
Havia três pontos incertos na pista
a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e
Que seriam contatos de pés instantâneos.
sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício.
Três jatos de fonte, contudo, ainda secos,
Ana dava a tudo, tranquilamente, sua mão pequena e forte, sua
Três impulsos plantados querendo nascer.
corrente de vida.
Era tudo assim expectativo e plano
Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa hora da
Tudo além somente perspectivo e inerte;
tarde as árvores que plantara riam dela. Quando nada mais
Quando Ademar Ferreira, com perfeição olímpica,
precisava de sua força, inquietava-se. No entanto sentia-se mais
Executou, em relevo, o mais alto,
sólida do que nunca, seu corpo engrossara um pouco e era de
– Em notas de arpejo
se ver o modo como cortava blusas para os meninos, a grande
– Em ritmo iâmbico
tesoura dando estalidos na fazenda. Todo o seu desejo vagamente
O tripartido salto.
artístico encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias
realizados e belos; com o tempo, seu gosto pelo decorativo CARDOZO, Joaquim. “Poemas Selecionados”.
se desenvolvera e suplantara a íntima desordem. Parecia ter
descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento, a cada O ENGENHEIRO
coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia A luz, o sol, o ar livre
ser feita pela mão do homem. envolvem o sonho do engenheiro.
No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a O engenheiro sonha coisas claras:
raiz firme das coisas. E isso um lar perplexamente lhe dera. superfícies, tênis, um copo de água.
Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a O lápis, o esquadro, o papel;
surpresa de nele caber como se o tivesse inventado. O homem o desenho, o projeto, o número:
com quem casara era um homem verdadeiro, os filhos que tivera o engenheiro pensa o mundo justo,
eram filhos verdadeiros. Sua juventude anterior parecia-lhe mundo que nenhum véu encobre.
estranha como uma doença de vida. […] (Em certas tardes nós subíamos
01. (Unifesp) De acordo com o texto, pode-se afirmar que a ao edifício. A cidade diária,
personagem Ana como um jornal que todos liam,
A) sintetiza as qualidades da mulher burguesa e rica, que se ganhava um pulmão de cimento e vidro).
responsabiliza pelo lar e em momento algum questiona suas A água, o vento, a claridade,
atribuições. de um lado o rio, no alto as nuvens,
B) é símbolo da mãe e da esposa de classe baixa, que vê nas situavam na natureza o edifício
tarefas do lar a verdadeira forma de ser feliz, mas almeja ser crescendo de suas forças simples.
independente. João Cabral de Melo Neto. Obra completa.

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A) Percebe-se, nos dois poemas, um intelectualismo, próprio 05. (UFPE/2011) Ao contrário das pastorais europeias e da pastoral
dos “poetas engenheiros”, que estabelece um jogo entre as árcade mineira, a literatura brasileira registrou e consolidou
palavras, entre as imagens do mundo e entre as imagens do como repertório identitário da região Nordeste do Brasil as
próprio eu lírico. imagens de um cenário devastado e desértico – o sertão –,
B) Os versos lidos exprimem a fusão entre ciência e mito, o que e de um povo ora violento, ora acomodado – o cangaceiro
confere à lírica de Cabral e de Cardozo uma base imaginária, e o retirante –, quase sempre tão estéril quanto a paisagem.
para além do mero registro naturalista da realidade. Leia os textos e assinale a opção que traz análise inaceitável.
C) Disse Cabral: “Para mim, poesia é uma construção,
como uma casa (…) planejada de fora para dentro.” “O sertanejo é, antes de tudo, um forte. A sua aparência,
Essa concepção construtivista do fazer poético é uma marca de entretanto, no primeiro lance de vista, revela o contrário.
sua poesia e da de Cardozo, como fazem ver os poemas lidos. É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, é o
D) Apesar de trabalharem uma forma poética rigorosamente homem permanentemente fatigado.”
pensada, o sentimentalismo, traço da poesia romântica, se Euclides da Cunha. Os Sertões.
infiltra em seus versos, como é possível perceber em O Salto
Tripartido e em O Engenheiro. “Vivia longe dos homens, só se dava bem com os animais.
E) Lendo a primeira estrofe de O Salto Tripartido e a terceira de Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a
O Engenheiro, constata-se que ambos os poetas deixaram, quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo.
com suas metáforas insólitas, um legado de imagens ímpares A pé, não se aguentava bem. Pendia para um lado, para o outro
na tradição poética brasileira. lado, cambaio, torto e feio.”
Graciliano Ramos. Vidas Secas.
04. (FGV)
“Somos muitos Severinos/iguais em tudo na vida:/na mesma
Chegando ao Recife, o retirante senta-se para descansar ao pé cabeça grande/que a custo é que se equilibra,/no mesmo ventre
de um muro alto e caiado e ouve, sem ser notado, a conversa crescido/sobre as mesmas pernas finas,/ e iguais também porque
de dois coveiros o sangue/que usamos tem pouca tinta.”
–– O dia hoje está difícil; João Cabral de Melo Neto. Morte e Vida Severina.
não sei onde vamos parar.
Deviam dar um aumento, “É estranho como está se fixando no romance nacional a figura do
ao menos aos deste setor de cá. fracassado. Bem, entenda-se: para que haja drama e romance, há
As avenidas do centro são melhores, sempre que estudar qualquer fracasso, um amor, uma terra, uma
mas são para os protegidos: luta social, um ser que faliu. Mas o que está se sistematizando
há sempre menos trabalho em nossa literatura, como talvez péssimo sintoma psicológico
e gorjetas pelo serviço; nacional, absolutamente não é isso. Em nossa novelística o que
e é mais numeroso o pessoal está se fixando não é o fracasso proveniente de forças em luta,
(toma mais tempo enterrar os ricos). mas a descrição do ser incapacitado para viver, o ser desfibrado,
–– pois eu me daria por contente incompetente, que não opõe força pessoal nenhuma, nenhum
se me mandassem para cá, elemento de caráter, contra as forças da vida, mas antes se entrega
Se trabalhasses no de Casa Amarela sem quê nem porquê à sua própria insolução.”
não estarias a reclamar. Mário de Andrade. Vida Literária.
De trabalhar no de Santo Amaro
deve alegrar-se o colega A) O interesse pelo “fracassado” na literatura regionalista
porque parece que a gente nordestina foi responsável por uma das maiores conquistas
que se enterra no de Casa Amarela do romance de 30 para a ficção brasileira que viria a seguir: a
está decidida a mudar-se incorporação das figuras marginais, antes sem muita relevância
toda para debaixo da terra. política e literária.
João Cabral de Melo Neto, Morte e vida severina.
B) Apesar de contribuir para incorporar à literatura as figuras
marginais da sociedade, o romance regionalista de 30 esgotou-
Atente para as seguintes afirmações referentes ao excerto, se na reprodução exaustiva de um aspecto injusto da realidade
considerado no contexto da obra à qual pertence: brasileira e na construção de um estereótipo devastador e
I. No diálogo dos coveiros, no cemitério, o ponto de vista humilhante do habitante desta região, que se estendeu até a
orientado pela morte revela-se o mais adequado para se contemporaneidade.
apreender o conjunto da organização social a que remete o C) Segundo Mário de Andrade, o herói do romance de 30, ao
texto; contrário dos heróis do gênero romanesco em geral, ao invés
II. Embora seja macabro o assunto, usa-se o recurso do chiste e de promover ações de transformação e superação, serve apenas
do humor negro para se expor os avessos da sociedade; para incorporar e reforçar algum aspecto do atraso de sua
III. Na descrição dos cemitérios, a morte mostra-se antes como realidade.
fenômeno social que natural. D) Mesmo não tendo sido um escritor da Geração de 30, Euclides
da Cunha contribuiu com o estereótipo do nordestino fraco,
A) I, II e III raquítico e, sobretudo, passivo diante da natureza e das
B) I, apenas decisões das autoridades, em face das quais não tinha poder
C) II e III, apenas. de decisão.
D) I e III, apenas. E) Como revelam suas obras, os modernistas de 22 e os romancistas
E) I e II, apenas. de 30 divergiam em projetos políticos e estéticos.

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• Instrução: Para responder às questões de números 06 e 07, 08. (UFSM-RS) Guimarães Rosa costumava dizer que “decifrar mistérios
leia o texto de Clarice Lispector. é ótimo. Diverte e exercita o cérebro”. É assim que ele desafia o
leitor, ao propor para um conto de Primeiras estórias a seguinte
AMOR ilustração:
Um pouco cansada, com as compras deformando o novo

Reprodução/UFSM-RS
saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o
bonde começou a andar. Recostou-se então no banco procurando
conforto, num suspiro de meia satisfação.

Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira
e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, Os cinco elementos trazem sugestões simbólicas que se
malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era associam por adição. Considerando que ∞ = o infinito, em
enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era linguagem matemática, afirma-se que o mistério proposto pelo
forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas escritor mineiro pode ser decifrado por:
o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava- A) ”Partida do audaz navegante”, pois tem como tema um
lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o homem que, numa canoa, chega a determinada cidade e
calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes sequestra duas crianças.
que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam B) “A terceira margem do rio”, pois ∞, o infinito, simboliza a
árvores. Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz, terceira margem, o rio adentro, a busca do ponto mais elevado
crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia do desenvolvimento mental.
a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e C) “Famigerado”, pois Damásio, dos Siqueiras, ao morrer no fim
sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício. do conto, atinge o ponto mais elevado do desenvolvimento
mental.
Ana dava a tudo, tranquilamente, sua mão pequena e forte, sua
D) “O espelho”, pois o elemento ∞ remete à batalha dos índios
corrente de vida.
protagonistas do conto, em sua infinita busca de perfeição.
Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa hora da tarde
E) “Sequência”, pois o conto retrata a eterna busca de um
as árvores que plantara riam dela. Quando nada mais precisava homem, a fim de resgatar uma vaquinha fujona, que remete
de sua força, inquietava-se. No entanto sentia-se mais sólida do a ∞, símbolo do infinito, já que a procura não termina nunca.
que nunca, seu corpo engrossara um pouco e era de se ver o
modo como cortava blusas para os meninos, a grande tesoura • (UFT/Copese) Leia o texto para responder à questão 09.
dando estalidos na fazenda. Todo o seu desejo vagamente
artístico encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias AS MARGENS DA ALEGRIA
realizados e belos; com o tempo, seu gosto pelo decorativo (...)
se desenvolvera e suplantara a íntima desordem. Parecia ter Cerrava-se, grave, num cansaço e numa renúncia a
descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento, a cada curiosidade, para não passear com o pensamento. Ia. Teria
coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia vergonha de falar do peru. Talvez não devesse, não fosse
ser feita pela mão do homem. direito ter por causa dele aquele doer, que põe e punge, de
No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a dó, desgosto e desengano. Mas, matarem-no, também, parecia-lhe
raiz firme das coisas. E isso um lar perplexamente lhe dera. obscuramente algum erro. Sentia-se sempre mais cansado.
Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a Mal podia com o que agora lhe mostravam, na circuntristeza:
surpresa de nele caber como se o tivesse inventado. O homem o horizonte, homens no trabalho de terraplenagem, os
com quem casara era um homem verdadeiro, os filhos que caminhões de cascalho, as vagas árvores, um ribeirão de águas
tivera eram filhos verdadeiros. Sua juventude anterior parecia- cinzentas, o velame-do-campo apenas uma planta desbotada,
o encantamento morto e sem pássaros, o ar cheio de poeira.
lhe estranha como uma doença de vida. […]
Sua fadiga, de impedida emoção, formava um medo secreto:
descobria o possível de outras adversidades, no mundo maquinal,
06. (Unifesp) No texto, afirma-se que Ana “plantara as sementes”
no hostil espaço; e que entre o contentamento e a desilusão,
e “E cresciam árvores”. Mais adiante: “Certa hora da tarde as na balança infidelíssima, quase nada medeia. Abaixava a
árvores que plantara riam dela”. Essa última frase, tomada em cabecinha.
conjunto com as anteriores, traz ao texto um tom de (...)
A) comicidade. João Guimarães Rosa, in Primeiras estórias.
B) profecia.
C) perplexidade. 09. (UFT/Copese) Sobre o texto “As margens da alegria”, de Guimarães
D) ironia. Rosa, é incorreto afirmar:
E) indignação. A) É um dos vinte e um contos que compõem a obra
Primeiras estórias. Livro em que Guimarães Rosa apresenta
07. (Unifesp) “No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a um português inventivo que abarca o falar contemporâneo,
raiz firme das coisas.” A forma encontrada por ela para atingir regional e urbano.
esse objetivo foi B) A narrativa “As margens da alegria” é marcada pela presença
de um narrador em primeira pessoa, por isso mesmo capaz de
A) assumir plenamente a organização de um lar.
mergulhar na consciência dos personagens.
B) dar espaço real à sua íntima desordem.
C) Na redescoberta da linguagem, como elemento de
C) esquecer sua juventude anterior, sua doença de vida.
comunicação, Guimarães Rosa utiliza-se da criação de
D) plantar sementes, mesmo que árvores não crescessem. neologismos, reinventando aspectos do código linguístico.
E) ficar sozinha à tarde para recuperar suas forças. É exemplo disso, no conto anterior, a expressão “circuntristeza”.

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D) O texto aponta para um embate da natureza com o mundo • Texto para a questão 12.
civilizado, sinalizando para uma transformação acelerada
“Sapateei, então me assustando de que nem gota de
de uma estrutura agrícola para a urbanização industrial.
nada sucedia, e a hora em vão passava. Então, ele não queria
Isso provoca, no personagem, descontentamento e desilusão,
existir? Existisse. Viesse! Chegasse, para o desenlace desse passo.
bem como sentimento reflexivo.
Digo direi, de verdade: eu estava bêbado de meu. Ah, esta vida,
E) Em As margens da alegria, Guimarães Rosa confunde,
às não vezes, é terrível bonita, horrorosamente, esta vida é grande.
intencionalmente, os limites existentes entre a lírica e a
Remordi o ar:
narrativa, provocando uma fusão de gêneros.
Lúcifer! Lúcifer!... — aí eu bramei, desengulindo.”
ROSA, Guimarães. Grande Sertão: Veredas.
• Leia estes trechos para responder à questão 10.
Trecho I 12. O texto anterior descreve o momento do pacto que Riobaldo —
Dizem-se, estórias. Assim mesmo, no tredo estado em personagem do romance Grande Sertão: veredas, de Guimarães
que tacteia, privo, mal-existente, o que é, cabidamente, é o filho Rosa — se propõe a fazer com o Diabo.
tal-pai-tal; o “cão”, também, na prática verdade. Assinale a alternativa que aponta uma característica da obra do
autor presente nesse texto.
ROSA, João Guimarães. “A benfazeja.” Primeiras estórias, 45. ed., p. 116.
A) Os acontecimentos narrados não seguem uma rígida ordem
Trecho II cronológica.
B) A linguagem altamente estilizada de Guimarães Rosa elimina
O pecurrucho tinha cabeça chata e Macunaíma inda a
as barreiras entre prosa e poesia.
achatava mais batendo nela todos os dias e falando pro guri:
C) O texto explora o linguajar regionalista pleno de arcadismos.
— Meu filho, cresce depressa pra você ir pra São Paulo
D) As múltiplas conotações presentes no texto aproximam-no do
ganhar muito dinheiro.
romance naturalista.
ANDRADE, Mário de. Macunaíma, 31. ed., p. 28.
E) O texto deixa entrever uma visão crítica da sociedade.
10. É incorreto afirmar que os dois trechos
A) assinalam a semelhança indiscutível entre pai e filho. • (PUC-RS) Texto para a questão 13.
B) reescrevem, à sua maneira, ditados e expressões populares. Entre a paisagem
C) referem-se a situações que envolvem pai e filho. o rio fluía
D) utilizam a linguagem coloquial do povo brasileiro. como uma espada de líquido espesso:
E) pertencem a autores modernistas. como um cão
humilde e espesso.
• (Fatec/2013) Texto para a questão 11.
Entre a paisagem
A EDUCAÇÃO PELA PEDRA (fluía)
Uma educação pela pedra: por lições; de homens plantados na lama;
para aprender da pedra, frequentá-la; de casas de lama
captar sua voz inenfática, impessoal plantadas em ilhas
coaguladas na lama;
(pela de dicção ela começa as aulas). paisagem de anfíbios
A lição de moral, sua resistência fria de lama e lama.
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de poética, sua carnadura concreta; 13. (PUC-RS) Como demonstram as estrofes, é no livro O cão sem
a de economia, seu adensar-se compacta: plumas que João Cabral de Melo Neto inicia a temática centrada
lições da pedra (de fora para dentro, no
cartilha muda), para quem soletrá-la. A) social. B) eu.
C) poético. D) objeto.
Outra educação pela pedra: no Sertão E) despojamento.
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar, 14. Sobre o romance A hora da estrela, de Clarice Lispector,
e se lecionasse, não ensinaria nada; está equivocada a seguinte afirmação:
lá não se aprende a pedra: lá a pedra, A) Embora o título principal do romance seja A hora da estrela, a
uma pedra de nascença, entranha a alma. autora propõe uma série de títulos alternativos.
João Cabral de Melo Neto. B) Clarice evidencia preocupações comuns em sua obra, como a
reflexão sobre a linguagem e a busca do sentido secreto que
11. (Fatec/2013) De acordo com o texto anterior, é correto afirmar que se esconde por trás do aparentemente visível.
A) a linguagem da poesia deve ser maleável e aderir com emoção C) Antes de iniciar o relato da história de Macabéa, o narrador faz
à realidade de que trata. comentários sobre as dificuldades inerentes ao ato de escrever
B) na primeira parte do poema, a pedra ensina ao poeta uma e sobre os seus receios quanto ao destino da personagem que
lição de impessoalidade e de concisão. está criando.
C) a poesia é diferente da realidade, pois a pedra no sertão nada D) A narração do romance é feita por três vozes distintas: a de
ensina aos homens. Rodrigo A. M., a de Macabéa e a de Olímpico.
D) a poesia considera que o sertanejo é ignorante, pois não há E) Uma das distrações de Macabéa, durante a madrugada,
quem lhe dê lições. é ligar o radinho emprestado por uma colega de quarto e
E) a pedra e as palavras são semelhantes, porque se deixam moldar sintonizar a Rádio Relógio, que assinala com um tic-tac cada
com facilidade. minuto.
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15. Cada vez mais a mulher está ganhando espaços na sociedade


brasileira, como foi a eleição pioneira da presidente Dilma.
Rachel de Queiroz também foi pioneira ao ser a primeira mulher
eleita para a Academia Brasileira de Letras, até então um reduto
masculino. Sobre a autora e sua produção literária, analise as
colocações a seguir e marque a opção insustentável.
A) Seu romance de estreia foi O Quinze, publicado em 1930, com
um forte conteúdo de denúncia social. Nele e nas duas obras
seguintes, João Miguel (1932) e Caminho de Pedras (1937),
está expressa sua posição político-ideológica claramente de
esquerda.
B) Em suas narrativas, a linguagem, simples e direta,
expressou o modo de falar do sertanejo, adotando a fala
popular e afastando-se dos padrões da norma culta e
literária, o que fará João Guimarães Rosa com a prosa da
geração seguinte.
C) Com As Três Marias (1939), Rachel de Queiroz abandona a
abordagem politicamente engajada dos temas, preferindo
enveredar pela linha mais psicológica, o mesmo acontecendo,
tempos depois, com Dôra, Doralina (1975).
D) A partir de uma ideia já desenvolvida em Caminho de Pedras
(1937), de valorizar a participação feminina nas lutas sociais,
a autora escreveu, em 1994, o Memorial de Maria Moura,
encarnando na personagem-título do romance uma líder
dos fora da lei no sertão nordestino.
E) A presença corrente de diálogos em sua obra romanesca
permitiu que a autora enveredasse pelo caminho do teatro
de raízes regionais e folclóricas, como atestam suas peças
Lampião e A Beata Maria do Egito.

GABARITO
01 02 03 04 05
E B D A D
06 07 08 09 10
D A B B B
11 12 13 14 15
B B A D B

Anotações

SUPERVISOR/DIRETOR: MARCELO PENA – AUTOR: SOUSA NUNES


DIGITAÇÃO: ESTEFANIA – REV.: JARINA

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