Você está na página 1de 4

Literatura Brasileira II

FLC 0201 – 2º semestre 2022


Profa Marise Hansen
Modernidade e tradição: Guimarães Rosa, Clarice Lispector e João Cabral de
Melo Neto em torno de 1960.
Brasília é uma construção como as de Guimarães Rosa. O que Rosa fez com as palavras
Juscelino fez com as formas, no meio do deserto.
Afonso Arinos de Melo Franco
O que estará morrendo [em Brasília], meu Deus?
Clarice Lispector
Para a língua mais diplomática
A paisagem foi traduzida.
João Cabral de Melo Neto

Programa
Objetivos: o curso visa ao estudo do Modernismo no Brasil em sua fase de
amadurecimento e consolidação. Os autores considerados têm suas publicações de
estreia na década de 1940, e atingem a maturidade e o reconhecimento pleno nas duas
décadas seguintes. As obras abordadas serão, principalmente, as publicadas em torno
de 1960: Primeiras estórias – 1962 (João Guimarães Rosa); Laços de família – 1960 e
A legião estrangeira – 1964 (Clarice Lispector); Quaderna – 1960 e Serial – 1961 (João
Cabral de Melo Neto).
A análise do conjunto pretende levar à compreensão de um período
caracterizado pela apologia à modernização, cujo símbolo é a construção da nova
capital nacional, Brasília. Os autores, ao mesmo tempo em que se inscrevem nesse
discurso da modernidade, universalizante e cosmopolita, não abandonam, no entanto,
os vínculos com a tradição regional e popular, levando adiante, de modos pessoais, o
projeto do primeiro Modernismo.
A descoberta de um novo olhar, dialeticamente “primitivo” e problematizador,
verifica-se nos três autores, guardadas as diferenças de gênero literário e estilo.
Participantes de uma nova configuração cultural e tecnológica, de que Brasília, as
facilidades urbanas, o avião, a publicidade, podem ser tomados como símbolo, Rosa,
Clarice e Cabral fazem emergir novas perspectivas, em parte propiciadas por conquistas
da modernidade. Simultaneamente, promovem um resgate do arcaico, do animal, do
infantil, a partir de uma ótica tanto metafísica quanto social. Desse modo, os autores
são vozes a expressar poeticamente a tentativa de inclusão do Brasil num cenário
moderno, ao mesmo tempo em que suas obras se constituem como formas de
resistência, seja atuando como defensores da cultura popular e de populações
marginalizadas, seja relembrando a existência do “delicado essencial”.
Avaliação
A avaliação consiste em um trabalho de aproveitamento ao final do semestre.
Percurso
João Guimarães Rosa - o sertão invadido; Brasília, modernidade, avião: a nova
paisagem brasileira e o Brasil arcaico

 Apresentação do programa.
 Retrospecto do Modernismo heroico e literatura brasileira nos anos 1940, 50 e
60.
 Os anos 1960 – panorama.
 Modernidade e tradição; a questão do “engajamento”; “A menina de lá” (Alfredo
Bosi: “Céu, inferno”).
 João Guimarães Rosa – Sagarana e o “novo regionalismo”: “A hora e vez de
Augusto Matraga”.
 Primeiras estórias (1962): depois de Grande sertão: veredas e Corpo de baile,
os contos curtos publicados em O Globo.
 Jaguncismo, violência, costume x lei: “Famigerado”, “Os irmãos Dagobé”.
 Metafísica do sertão: “A terceira margem do rio”.
 Poética rosiana: “Partida do audaz navegante”.
 Brasil visto do alto, Brasília, construção e destruição: “As margens da alegria”,
“Os cimos”.
Clarice Lispector: um novo olhar - mulher, amor, rosa, ovo, búfalo.

 O “risco da aposta” se sobrepõe à “comodidade do ramerrão” (A. Candido): Perto


do coração selvagem (1944).
 Cotidiano e civilidade X paixão e espanto: Laços de família (1960).
 Clarice Lispector e Carolina Maria de Jesus: formas de fome e palavra.
 “Amor”, “A imitação da rosa”, “A menor mulher do mundo”, “O búfalo”.
 Olhar que indaga e olhar que inveja: “O ovo e a galinha” e “A legião estrangeira”;
metalinguagem e assassinato: “A quinta história”: A Legião estrangeira (1964).
 1964: A paixão segundo G.H.
 Clarice Lispector e a pintura.
 Vídeo: entrevista pela TV Cultura.
João Cabral de Melo Neto - “Paisagens com figuras” e Quaderna: por uma
antropologia poética

 Uma nova poética – inspiração em Bandeira, Drummond e Jorge de Lima.


 Do surreal ao real-concreto: de Pedra do sono (1942) a Psicologia da
composição (Poética: “Antiode”).
 Das coisas às pessoas: o “geômetra engajado” (1954/1955): O rio, Paisagens
com figuras (série dos “Cemitério pernambucanos”) e Morte e vida Severina.
 Tradição e reinvenção: Quaderna (1960) - lirismo amoroso, paisagem
reconfigurada: novo olhar, novas perspectivas.
 “Paisagem pelo telefone”, “De um avião”; outros cemitérios nordestinos; “O
motorneiro de Caxangá”.
 1961: Serial - Física e metafísica: “O ovo de galinha”; Poética do “menos”:
“Graciliano Ramos”.

Bibliografia – dos autores


João Guimarães Rosa
Sagarana. Rio de Janeiro, José Olympio, 1977.
Primeiras Estórias. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2001
Ave, palavra. Rio de Janeiro, José Olympio, 1970.
Clarice Lispector
Laços de família. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1991.
A legião estrangeira. Rio de Janeiro, Editora Rocco, 1999.
Felicidade clandestina. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1994.
João Cabral de Melo Neto
Obra completa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1994.
Serial e antes. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1997.

Sobre os autores
BOSI, Alfredo. “Céu, Inferno”. Em Céu, Inferno. Ensaios de Crítica Literária e Ideológica.
São Paulo, Ática, 1988; Editora 34, 2003.
CANDIDO, Antonio. “O Homem dos Avessos”. Em Tese e Antítese. São Paulo,
Companhia Editora Nacional, 1971.
__________________. “Jagunços e Mineiros de Claudio a Guimarães Rosa”. Em Vários
Escritos. São Paulo, Duas Cidades, 1970.
GALVÃO, Walnice. Mínima Mímica. Ensaios sobre Guimarães Rosa. São Paulo:
Companhia das Letras, 2008.
HANSEN, Marise. “Fogo onça”: “Meu tio o Iauaretê” e as queimadas no Pantanal.
Revista Quatro Cinco Um, outubro/2020. Disponível em:
https://www.quatrocincoum.com.br/br/artigos/literatura/fogo-onca
NUNES, Benedito. O Dorso do tigre. São Paulo, Perspectiva, 1969 (Debates, n. 17);
Editora 34, 2009.
PACHECO, Ana Paula. Lugar do mito: narrativa e processo social nas Primeiras
Estórias de Guimarães Rosa. São Paulo, Nankin, 2006.
.........................................................................................
ARÊAS, Vilma. Clarice Lispector. Com a ponta dos dedos. São Paulo: Cia das Letras,
2005.
BORELLI, Olga. Clarice Lispector. Esboço para um possível retrato. Rio de Janeiro,
Nova Fronteira, 1981.
GOTLIB, Nádia Battella. Clarice. Uma vida que se conta. São Paulo, Edusp, 2009.

HANSEN, Marise. “Pão, fama e outras fomes: uma leitura de Carolina Maria de Jesus e
Clarice Lispector” – Revista do Instituto de Estudos Brasileiros da USP – no.77.
Disponível em:
https://doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v1i77p19-36
MOSER, Benjamin. Clarice, Trad. José Geraldo Couto. São Paulo. Cosac Naify, 2009.
NUNES, Benedito. O Drama da Linguagem: Uma leitura de Clarice Lispector. São Paulo,
Ática, 1989.
PONTIERI, Regina. Clarice Lispector. Uma Poética do Olhar. São Paulo, Ateliê Editorial,
1999.
ROSENBAUM, Yudith. As Metamorfoses do Mal. São Paulo: Edusp/Fapesp, 1999.
________________. Clarice Lispector. São Paulo: Publifolha (Série Folha Explica),
2002.
________________. “A ética na literatura: uma leitura de ‘Mineirinho’, de Clarice
Lispector. Em Revista de Estudos Avançados. 2010, 24(69), 169-182.
SANT’ANA, Affonso Romano. “Laços de Família” e “Legião Estrangeira”. Em Análise
Estrutural de Romances Brasileiros. Petrópolis, Vozes, 1973.

.................................................................

CAMPOS, Haroldo. “O geômetra engajado”, em Metalinguagem e outras metas. São


Paulo, Perspectiva, 1992.
HANSEN, Marise. “É o cemitério”: os cemitérios cabralinos à luz da pandemia de Covid.
Revista Quatro Cinco Um, número 43. Disponível em:
https://www.quatrocincoum.com.br/br/artigos/literatura-brasileira/e-o-cemiterio
LIMA, Luís costa. Lira e antilira. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1968.
MERQUIOR, José Guilherme. A astúcia da mimese. Rio de Janeiro, Topbooks, 1997.
NUNES, Benedito. João Cabral de melo Neto. Petrópolis, Editora Vozes, 1971.
SECCHIN, Antônio Carlos. João Cabral: a poesia do menos. São Paulo, Livraria Duas
Cidades, 1985.

Você também pode gostar