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PORTUGUÊS

FRENTE: PORTUGUÊS II
EAD – ITA/IME
PROFESSOR(A): SOUSA NUNES

AULA 23
ASSUNTO: LITERATURA

Contexto político-social Os recursos da poesia concretista são os mais variados; vão de


experiências sonoras, com aliterações e paronomásias, até o emprego de
Em 1955, Juscelino Kubitschek assumiu a presidência da caracteres tipográficos de diferentes formas e tamanhos; da diagramação
República e implantou uma política desenvolvimentista sem do texto na página até a criação de neologismos. O poema assume a
precedentes no Brasil. Veio a indústria automobilística e foram forma de cartaz, de cartão, de anúncio, de dobradura, de fotografia, de
impulsionadas as indústrias de base. E, marco-síntese da esperança e colagem, enfim, a forma de um objeto qualquer da produção industrial.
da modernização, instalou-se a capital do país em Brasília (1960), E o poeta se transforma num artista gráfico, num artesão sintonizado
cidade projetada por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Com Brasília, com o seu tempo.
tivemos uma das maiores realizações do Modernismo na arquitetura
e no urbanismo.
Em 1956, lançou-se Características do Concretismo
Simon Laprida/123RF/Easypix

oficialmente o movimento da Poesia Em relação ao verso, os concretistas desintegraram-no


Concreta, que ganhou adesões e totalmente. A unidade do poema deixou de ser o verso e passou a ser
apoios, comentários espantados e a palavra, manifestada em três dimensões, simultaneamente: verbal
repúdios em face da desintegração (aspecto sintático e semântico), oral (aspecto sonoro) e visual (aspecto
total do verso tradicional e da gráfico); a palavra libertou-se da distribuição linear da linguagem verbal
nova adaptação da palavra ao e aproximou-se do imediatismo da comunicação visual; o espaço do
espaço visual. Competia com as artes papel passou a integrar o significado do poema.
plásticas e com a arquitetura quanto ao despojamento, como se vê Leia o estudo do professor Alfredo Bosi sobre as inovações
nas formas de Brasília, cidade em construção, nesse tempo. propostas pela poesia concreta.
Em fevereiro de 1957, no saguão do Ministério da Educação “Na medida em que o material significante assume o primeiro
e Cultura do Rio de Janeiro, realizou-se a Exposição Nacional de Arte plano, verbal e visual, o poeta, concreto inova em vários campos, que
Concreta. Grande parte da imprensa enxergava o fenômeno como se podem assim enumerar”:
um produto desorientado, sem rumos, a exemplo do que acontecia A) no campo semântico: ideogramas (“apelo à comunicação não
na música com o rock’n roll e no Cinema Novo com Glauber Rocha. verbal” segundo o Plano: piloto cit.); polissemia, trocadilho,
Outros, entretanto, viram no Concretismo a mesma disciplina da nonsense...;
então iniciante bossa nova, liderada pelo músico e compositor B) no campo sintático: ilhamento ou atomização das partes do
João Gilberto. discurso; justaposição; redistribuição de elementos; ruptura com
a sintaxe da proposição;
O Concretismo C) no campo léxico: substantivos concretos, neologismos, tecnicismos
Devido à influência que exerceu e ainda exerce sobre estrangeirismos, siglas, termos plurilíngues;
sucessivos grupos de poetas, artistas plásticos e músicos, D) no campo morfológico: desintegração do sintagma nos seus
o concretismo provavelmente foi, da década de 1950 até os nossos morfemas, separação dos prefixos, dos radicais, dos sufixos; uso
dias, a principal corrente de vanguarda em nossa literatura. intensivo de certos morfemas;
O movimento, iniciado em 1956, teve a liderança de três poetas E) no campo fonético: figuras de repetição sonora (aliterações,
paulistas: Décio Pignatari e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos. assonâncias, rimas internas [...]); preferência dada às consoantes e
Como porta-voz de suas ideias, o grupo criou a revista Noigandres. aos encontros consonantais; jogos sonoros;
Os poetas concretos, a exemplo de João Cabral de Melo F) no campo topográfico: abolição do verso, não Iinearidade;
Neto, pregam o fim da poesia intimista e o desaparecimento do eu uso construtivo dos espaços brancos; ausência de sinais de
lírico, além de uma concepção poética baseada na geometrização e pontuação [...]; sintaxe gráfica.
visualização da linguagem.
Para isso, retomam certos procedimentos adotados pelas A Tríade do Concretismo
correntes de vanguarda do começo do século XX, como o futurismo
e o cubismo, e dão continuidade a certas experiências formais já feitas Em 1952, três jovens paulistas, Décio Pignatari e os irmãos
por Murilo Mendes, Drummond e João Cabral de Melo Neto. Augusto e Haroldo de Campos, amigos desde o fim da década de
Rompendo com a estrutura discursiva do verso tradicional, os 1940, que se encontravam todos os sábados para discutir música
concretistas procuram valer-se de materiais gráficos e visuais e criar uma erudita contemporânea, falar sobre as inovações do cinema e das
poesia urbana, capaz de captar e transmitir a realidade das grandes artes plásticas e ler poesia moderna, fundaram o grupo Noigandres e
cidades, com seus anúncios propagandísticos, outdoors e néon. lançaram uma revista com o mesmo nome. Na revista já começaram

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a praticar a poesia concreta. Lançaram oficialmente o concretismo os neoconcretos chegassem a afirmar que o poema era um “não
durante a Exposição Nacional de Arte Concreta, realizada no Museu objeto”, algo que tinha somente um projeto de existência, mas só se
de Arte Moderna de São Paulo, em 1956. realizava quando fosse lido. Ou seja, era o leitor quem dava “realidade”
Os caminhos literários dos três jovens concretistas ao poema.
mantiveram-se próximos, mas a obra de cada um deles tem características Para tornar mais evidentes essas relações, a poesia neoconcreta
um pouco distintas. Haroldo de Campos (1929-2003) cria textos em que criou textos que obrigam a interação do leitor com o texto, usando
a intenção de evidenciar as relações entre as palavras (ecos, semelhanças dobras e recortes na página e chegando, por fim, à produção de
sonoras, etc.) fica em primeiro plano. Isso faz com que sua obra adquira poemas-objetos (poemas com formato de cubos para encaixe).
algumas características barrocas, pelo alto grau de elaboração alcançado.
Destaca-se, entre os livros que publicou, Galáxias (1984), prosa poética O poema-processo
iniciada em 1963 que revela estranhos nexos entre as palavras. São
também importantes os livros de poesia Xadrez de estrelas (1976) e Opondo-se radicalmente à discursividade da poesia, surge
Signância quase céu (1979). no Rio de Janeiro, em 1967, o poema-processo. À frente do novo
Augusto de Campos (1931-) é o autor da série de poemas movimento estava Wlademir Dias-Pino, que propunha a criação de
em cores, Poetamenos (1955), considerada o primeiro exemplo da uma poesia que podia nem mesmo ter palavras, atribuindo ao signo
poesia concreta brasileira. A maior parte de seus poemas está reunida verbal um lugar secundário.
nos livros VIVAVAIA (1979) e Despoesia (1994). Traduziu, muitas vezes O sentido da palavra “poema” é tão ampliado pelo grupo que
em parceria com o irmão Haroldo e Décio Pignatari, importantes pode denominar uma passeata ou outra performance coletiva, bem
poetas estrangeiros modernos, como E. E. Cummings, James Joyce, como um objeto gráfico desprovido de letras ou palavras.
Maiakovski, Ezra Pound. Também resgatou a obra de autores brasileiros Livres da “prisão da palavra”, os membros do grupo do poema-
esquecidos, como Pedro Kilkerry e Sousândrade. processo utilizam signos gráficos (figuras geométricas, perfurações no
Décio Pignatari (1927-) associou a poesia concreta à paixão papel) e abandonam o livro como suporte tradicional. Um bom exemplo
pelo estudo da semiótica, incorporando signos visuais às palavras e das criações de Wlademir Dias-Pino são seus dois livros-objetos:
criando o poema-código. Publicou, entre outros, os livros de poesia A ave e Sólida. A ave apresenta um conjunto de páginas encadernadas
Exercício findo (1958), Poesia pois é poesia, 1950/1975 e Poetc, juntas; algumas páginas aparecem perfuradas, outras recortadas; há
1976/1986. ainda algumas folhas de papel vegetal sobrepostas às folhas normais.

Marcelo Ribeiro Álvares Corrêa


O fim do tédio:
O termo “noigandres” aparece, pela primeira vez, em um
poema provençal da Idade Média, de autoria de Arnault Daniel. Lá,
o sentido do termo seria algo equivalente a “antídoto do tédio”.
Tradutor apaixonado pela obra de Arnault Daniel, Augusto de
Campos traduziu o canto do trovador provençal, e o termo acabou
nomeando a revista que fundou com Haroldo e Décio.

Análise
O título do poema é luxo. Ele é composto de uma só palavra
– “lixo” –, formada pela repetição da palavra ‘‘luxo”, disposta para Lygia Clark, escultura da série Os bichos.
formar as letras L, I, X e O. O poema tem um forte sentido social
que nasce da oposição entre os termos lixo e luxo: a “nobreza” Ao expor essa obra, a artista esperava que o público
decorativa das letras douradas sugere um imenso “lixo” formado interagisse com ela. Exemplar do neoconcretismo brasileiro, a peça
por pequenos luxos. Pode-se perceber, ainda, o teor crítico em tem dobradiças que permitem que as dobras se movam, alterando
relação a uma sociedade que, dominada pelo consumo, favorece a forma final.
o luxo e abandona o essencial.
Wladimir Dias Pino configura-se como um dos líderes do
poema-processo (ou poema-código), um gênero que levou ao extremo
Desdobramentos do Concretismo as propostas concretistas. Utilizando, especialmente, signos visuais,
os autores propõem substituir a palavra por “novas disposições
Decorrentes do concretismo, surgem alguns outros
tipográficas”, resultando um poema predominantemente visual,
movimentos poéticos como o neoconcretismo (1959) e o
“semiótico”, dotado de vários recursos.
poema-processo (1967).
A poesia-práxis
Neoconcretismo A poesia-práxis é uma tendência que surgiu com uma
O neoconcretismo distinguiu-se do concretismo por atribuir dissidência do grupo concretista. Mário Chamie, líder desse gênero,
ao leitor outro papel na construção do poema. Para o poeta Ferreira em 1967, afirmou: “as palavras não são corpos inertes, imobilizados
Gullar, o sentido do texto nascia no momento de composição do a partir de quem as profere e as usa... As palavras são corpos vivos.
poema, mas só se realizava de fato quando era decodificado pelo Não vítimas passivas do contexto”.
leitor. Defendia, assim, uma concepção de arte mais participativa, Dessa forma, o autor práxis considera cada palavra como um
interativa, que também foi adotada por artistas plásticos como Lygia ser atuante, uma fonte, um organismo que gera outras palavras.
Clark e Hélio Oiticica. A poesia-práxis preocupou-se com a palavra-energia, que gera
Ferreira Gullar explica que o poema neoconcreto convoca o outras palavras – uma valorização do ato de compor.
leitor para também estabelecer as relações do texto, contribuindo Os poetas da práxis foram: Mário Chamie, Armando Freitas
para “explicitar, intensificar, concretizar” a vocação da palavra de Filho, Mauro Gama, Ailton Medeiros, Camargo Meyer, Lousada Filho,
expressar múltiplos sentidos. Essa concepção de poesia fez com que Carlos Cabral, José Guilherme Merquior, entre outros.

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Com base no poema e nos conhecimentos sobre globalização


dos mercados, é correto afirmar:
Exercícios A) O poema enaltece a centralidade dos meios de comunicação
de massa na redução da poesia no mundo.
01. (Unifesp) Leia os textos e analise as afirmações. B) A conexão entre problemas sociais e globalização do mercado
está presente no poema.
Texto I C) O poema indica que a mortalidade infantil ocorre com maior
Eu odeio intensidade no Hemisfério Norte, na faixa onde há o predomínio

Reprodução/Unifesp
Eu odeio Poesia
poesia! moderna! poesia
Poesia
com concreta da mundialização do capital.
rima Poesia também!
– antiga! D) O poema afirma que a injustiça do sistema globalizado
Poesia
métrica Eu
odeio
está localizada nos países do Cone Sul da América e a má

poesia! distribuição de renda restringe-se aos países situados na faixa
Poesia
livre

equatorial.
E) A disposição das palavras, no sentido das latitudes, corresponde
Disponível em:<www.custodio.net.> (Adaptado) à importância dos respectivos fenômenos em cada uma das
Texto II zonas da Terra.
ra terra ter
Reprodução/Unifesp

rat erra ter 03. (ESPM) Sobre a poesia concreta, Alfredo Bosi afirma:
rate rra ter “Se procurarmos um princípio linguístico geral subjacente a esses
rater ra ter processos compositivos, ressaltará, sem dúvida o da substituição
raterr a ter da estrutura frásica, peculiar ao verso, por estruturas nominais;
raterra terr estas, por sua vez, relacionam-se espacialmente, tanto na
araterra ter direção horizontal como na vertical. Outra forma comum à
raraterra te maioria dos poemas concretos já compostos é a exploração das
rraraterra t semelhanças sonoras (paronomásia), no pressuposto de que há
erraraterra relações-não arbitrárias entre o significante e o significado.”
terraraterra Assinale a opção cujo poema se enquadra na definição anterior:
Décio Pignatari. A) “De sol a sol
soldado
I. A graça do texto I decorre da ambiguidade que assume o termo de sal a sal
concreta na situação apresentada; salgado
II. O texto II é exemplo de poesia concreta, relacionada ao de sova a sova
experimentalismo poético, no qual o poema rompe com o sovado
verso tradicional e transforma-se em objeto visual; de suco a suco
III. Para a interpretação do texto II, pode-se prescindir dos signos sugado
verbais. de sono a sono
Está correto o que se afirma em sonado
A) I, apenas. sangrado
B) III, apenas. de sangue a sangue”
C) I e II, apenas. Haroldo de Campos
D) I e III, apenas. B) “E não há melhor resposta
E) I, II e III. que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
02. (UEL) É na conjunção entre imagem e palavra que se situa a que também se chama vida”
poesia concreta. Leia, a seguir, o poema Mercado, de Augusto João Cabral de Melo Neto
de Campos. C) “A mulher do fim do mundo
Dá de comer às roseiras,
Reprodução/UEL

Dá de beber às estátuas,
Dá de sonhar aos poetas”
Murilo Mendes
D) “E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão”
Vinicius de Moraes
E) “Ditadura!...Há muita gente
Que a considera ventura!
Concordo: é dita,
Mas dita dura
De roer...”
In: Não Poemas. São Paulo. Perspectiva, 2003. p. 177 Artur Azevedo

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• (Fuvest/2010) Nesse contexto, é correto afirmar que:


A) o poeta utiliza uma série de metáforas zoológicas com
Poema ZEN, Pedro Xisto, 1966.
significado impreciso.
B) “morcegos”, “cabras” e “hienas” metaforizam as vítimas do
regime militar vigente.
C) o “porco”, animal difícil de domesticar, representa os
movimentos de resistência.
D) o poeta caracteriza o momento de opressão através de
alegorias de forte poder de impacto.
E) “centuriões” e “sentinelas” simbolizam os agentes que
Diagrama referente ao poema ZEN. garantem a paz social experimentada.

E F G H Texto
DE BINÓCULO
Abaixando o copázio
I J empunhando o espadim
levantando o corpanzil
indiferente ao poviléu
A B C D o homenzarrão abriu a bocarra
fitando admirado
04. (Fuvest) Observe as imagens anteriores e assinale a alternativa correta. a naviarra do capitorra
A) O equilíbrio e a harmonia do poema ZEN são elementos Carlos Saldanha, In: 26 poetas hoje,
típicos da produção poética brasileira da década de 1960. O RJ: Aeroplano, 2001.
perímetro do triângulo ABF, por exemplo, é igual ao perímetro
do retângulo BCJI. 06. (Insper) A partir da associação de texto e contexto, a alternativa
B) O equilíbrio e a harmonia do poema ZEN podem ser observados que melhor explica o título do poema é:
tanto no conteúdo semântico da palavra por ele formada quanto A) Todos os verbos presentes nos versos estão no gerúndio para
na simetria de suas formas geométricas. Por exemplo, as áreas do criar a sensação de prolongamento e dilatação, características
triângulo ABF e do retângulo BCJI são iguais. do instrumento mencionado no título.
C) O poema ZEN pode ser considerado concreto por apresentar B) A presença de aumentativos é um recurso que procura
proporções geométricas em sua composição. O perímetro do simular o efeito das imagens veiculadas por meio das lentes
triângulo ABF, por exemplo, é igual ao perímetro do retângulo de um binóculo.
BCGF. C) A legitimação poética traz um efeito paradoxal, já que o
D) O concretismo poético pode utilizar proporções geométricas binóculo se opõe à constante presença de substantivos no
em suas composições. No poema ZEN, por exemplo, a razão diminutivo.
entre os perímetros do trapézio ADGF e do retângulo ADHE é D) Os versos desse poema valorizam um padrão linguístico erudito
menor que 7/10. que amplifica a arte poética, metaforicamente representada
E) Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira são representantes do pelo instrumento óptico.
concretismo poético, que utiliza proporções geométricas em E) A flexão dos substantivos sugere um procedimento antitético
suas composições. No poema ZEN, por exemplo, a razão entre promovido pelo jogo equilibrado de oposições entre o
as áreas do triângulo DHG e do retângulo ADHE é 1/6. aumentativo e o diminutivo, como se o poeta buscasse o
foco em um binóculo.
05. (Enem/2012)
07. (UEPB/2006) Considere as afirmações de três críticos literários
LOGIA E MITOLOGIA
brasileiros a respeito da poesia de Carlos Drummond de Andrade,
Meu coração de João Cabral de Melo Neto e do Concretismo:
de mil e novecentos e setenta e dois I. Partindo-se do dado histórico de que foi “No meio do
já não palpita fagueiro caminho” da renovação da poesia brasileira que a obra
sabe que há morcegos de pesadas olheiras de Drummond começou a aparecer como portadora de
que há cabras malignas que há uma lição poética mais sólida, embora, inicialmente, na
cardumes de hienas infiltradas direção nacionalista de seus contemporâneos, é possível
no vão da unha na alma ver o conjunto de sua obra através de duas atitudes
um porco belicoso de radar estilísticas. Na verdade, são atitudes complementares,
e que sangra e ri dois estágios que se prolongam: da objetividade e da
e que sangra e ri preocupação social. O poeta é realmente objetivo, mas
a vida anoitece provisória no sentido de que se encontra mais próximo das coisas.
centuriões sentinelas A exibição de termos e construções do português brasileiro
do Oiapoque ao Chuí. vai-se diluindo à medida que se aproxima de 1945, quando
Cacaso. Lero-lero. Rio de Janeiro: 7 Letras; começam a predominar a contenção expressiva e a experiência
São Paulo: Cosac & Naify, 2002. técnica, quase desconhecida dos primeiros livros. Realmente,
é com Sentimento do mundo e principalmente com A rosa do
O título do poema explora a expressividade de termos que povo que os grandes temas sociais e populares atingem os mais
representam o conflito do momento histórico vivido pelo poeta altos arremessos da poesia social no Brasil, desde Castro Alves;
na década de 1970. Gilberto Mendonça Teles

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II. É com O engenheiro (1945) e Psicologia da composição (1947) 09. (Mackenzie/2009) Quanto à linguagem utilizada, o texto I
que o poeta atinge a maturidade criativa. João Cabral passará evidencia
a se distinguir pelo combate sistemático ao sentimentalismo A) o uso de sinônimos (coca-cola / cola) e antônimos
e ao irracionalismo em poesia, através de um processo de (cola / caco) cujo sentido produz efeito cômico.
desmistificação dos mitos que a cercam. Ao mesmo tempo B) a inversão de sílabas (babe / beba) como recurso expressivo
que desaliena a poesia, exibindo-lhe as entranhas, João Cabral diretamente relacionado ao emprego de palavras que
procede a uma autoanálise da composição poética, chegando designam ações opostas.
a dissociar a imagem física da palavra, do seu conceito. C) o uso de slogan publicitário (beba coca cola) na sua função
Além disso, o poeta-engenheiro fraciona os versos com uma técnica original, ou seja, função apelativa da linguagem.
precisa de cortes que lhes confere uma estrutura, por assim dizer, D) a repetição de palavras (beba / beba; coca / coca) para criar tom
arquitetônica, funcional. Não há, entretanto, em João Cabral, uma grandiloquente e dissimular o efeito conotativo das palavras
recusa ao “humano”; há, isto sim, uma recusa do poeta a se deixar do texto.
transformar em joguete de sentimentalismos epidérmicos e a busca E) o uso de anagrama — isto é, jogo verbal baseado na
do verdadeiramente humano na linguagem, tomada em si mesma, transposição de letras (coca cola / cloaca) —, a fim de valorizar
como fonte de apreensão sensível da realidade; o produto a que se refere.
Augusto de Campos.

III. A poesia concreta, ou Concretismo, impôs-se, a partir 10. (Mackenzie/2009) Considere as seguinte afirmações:
de 1956, como a expressão mais viva e atuante de nossa I. nos dois textos o aspecto visual é elemento que contribui para
vanguarda estética. No contexto da poesia brasileira, o produzir efeitos de sentido conotativos;
Concretismo afirmou-se como antítese à vertente intimista II. tanto no primeiro como no segundo texto nota-se tratamento
e estetizante dos anos 40 e repropôs temas, formas e, não parodístico a emblemas publicitários;
raro, atitudes peculiares ao Modernismo de 22 em sua fase III. nos dois textos explicita-se um juízo de valor negativo acerca
mais polêmica e mais aderente às vanguardas europeias. de posições ideológicas socialistas.
Os poetas concretos entenderam levar às últimas consequências
certos processos estruturais que marcaram o futurismo (italiano Assinale:
e russo), o dadaísmo e, em parte, o surrealismo. São processos A) se apenas I estiver correta.
que visam explorar as camadas materiais do significante. A B) se apenas II estiver correta.
poesia concreta quer-se abertamente antiexpressionista. Em C) se apenas III estiver correta.
termos mais genéricos: o Concretismo toma a sério, e de D) se apenas I e II estiverem corretas.
modo radical, a definição de arte como techné, isto é, como E) se apenas II e III estiverem corretas.
atividade produtora.
Alfredo Bosi 11. (Mackenzie/2009) Considerando as suas características estéticas,
Assinale a alternativa correta é correto dizer que o texto I filia-se a um
A) Apenas II e III estão corretas. A) movimento poético experimentalista, que propôs, entre
B) Apenas I e II estão corretas. outras coisas, a abolição do versos tradicional e a valorização
C) Todas as afirmações são corretas. de aspectos sonoros e visuais da palavra.
D) Apenas III está correta. B) movimento revolucionário que surgiu no início do
E) Nenhuma afirmação está correta. século XX, pregando uma expressão ousada, com a eliminação,
por exemplo, de verbos e adjetivos.
08. Quando Caetano Veloso diz em Sampa: “da feia fumaça que C) estilo de época que defendeu o uso de linguagem prosaica e
sobe apagando as estrelas, eu vejo surgir seus poetas de campos coloquialismos na expressão espontânea de impulsos emotivos.
e espaços...”, refere-se a um grupo no qual se incluem Décio D) estilo de época que valorizou sobretudo a musicalidade poética
advinda da métrica regular e das recorrências sonoras.
beba
Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de coca
Campos. cola
E) movimento artístico do século XX que preconizou a
Sua proposta é, basicamente, usar todos os recursos de que a
babe cola
palavra dispõe, com os termos, adquirindo validade não só pelo expressão poética do mundo onírico, com o uso de imagens
beba coca
significado, como também pelos aspectos visuais. insólitas ditadas pelo inconsciente.
babe cola caco
Tal tendência é conhecida como caco 12. (ESPM/2012.2) Mario Chamie (*1933 †2011) foi poeta (movimento
A) poesia futurista. B) poesia-práxis. práxis), crítico literário e locutor (Rede Record). Formado em Direito
C) poema processo.
cola
D) metapoema. pela USP. Foi secretário municipal de Cultura de São Paulo e criou
E) poesia concreta. c loaca a Pinacoteca Municipal, o Museu da Cidade e o Centro Cultural
São Paulo. Lecionou por mais de 30 anos na ESPM-SP.
Poema de Décio Pignatani.
• (Mackenzie/2009) Texto para as questões 09, 10 e 11.
FANTASMA
Texto I Texto II
beba coca cola Um fantasma ausente
babe cola põe tijolo sobre
beba coca tijolo ao seu redor.
babe cola caco Primeiro mede o terreno
caco Divide o espaço.
cola Criação estampada em camisetas.
Calca com o pé
Criação estampada em camisetas
cloaca a planta
Poema de Décio Pignatari que não floresce.
Poema de Décio Pignatani.
Mas que cresce

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Criação estampada em camisetas.


MÓDULO DE ESTUDO

sob estacas Eu estou na rua


de cimento. Eu não sou maldito
Depois, a ausência E quem bebe
se preenche. Bebe a dor
O fantasma move E quem joga
a cal, a pedra, a pá. Joga a dor
O fantasma move Quem se agita
o corpo já presente Agita a dor
do lugar em que está. Quem trabalha
Presente e ausente, Engana a dor
um fantasma se acasala Carlinhos Vergueiro.
Move seu corpo
de carne e osso. 14. (IBMEC) Fazendo combinações com verbos e o substantivo dor,
Come a própria argamassa Carlinhos Vergueiro cria um jogo fonético que nos remete,
e se desfaz subjetivamente, a uma outra interpretação do que se ouve
no próprio fosso. atribuindo duplo sentido a alguns versos da segunda estrofe,
Tijolo sobre tijolo Deste jogo, infere-se que:
um fantasma fez seu poço. A) O trabalho é uma forma de mascarar a dor que se sente.
Mario Chamie. Espaço Inaugural, 1955.
B) Para passar a dor é necessário que o doente se movimente
bastante.
Sobre o poema anterior, assinale a afirmação incorreta. C) A dor está sendo representada pelas lágrimas e pelo remédio
A) A figura do fantasma-operário remete à ideia de um indivíduo que a alivia.
despersonalizado, construindo algo que acaba sendo o próprio D) Todos conclamem a dor porque, tendo plena consciência de
emparedamento. sua existência, a cura é inevitável.
B) Sugere-se a humanização do fantasma na expressão E) Todo jogador tem a dor como instrumento de sua atividade
“se acasala”, único momento em que ocorre um resgate existencial. e para ela deve estar preparado.
C) Há referência à rudeza da vida ou às condições mínimas de
vida decente, sobretudo quando o fantasma “come a própria • (ESPM/2012.2) Texto para a questão 15.
argamassa”.
OS SAPOS
D) O paradoxo “Presente e ausente” traduz a ideia de “fantasma”,
fantasma este que edifica um poço, alegoria do próprio buraco Enfunando os papos,
existencial. Saem da penumbra,
E) A última estrofe sugere a ideia do trabalho como fonte Aos pulos, os sapos.
consumidora e destruidora das energias humanas. A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
• (TRT/2013) A questão de número 13 refere-se ao poema a seguir. — “Meu pai foi à guerra!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”
esta vida é uma viagem O sapo-tanoeiro,
pena eu estar Parnasiano, aguado,
só de passagem Diz: — “Meu cancioneiro
Paulo Leminski, La vie em close. 5ª ed. S. Paulo: Brasiliense, 2000, p.134.
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer hiatos!
13. (TRT/2013) No poema de apenas três versos, o poeta Que arte! E nunca rimo
A) lamenta-se da fugacidade da vida. Os termos cognatos.
B) demonstra preferir a vida espiritual à terrena. (...)
C) revolta-se contra o seu destino. Manuel Bandeira. In: Carnaval, 1919.
D) sugere que a vida não tem sentido.
E) abomina a agitação da vida. 15. (ESPM/2012.2) O poema acima foi declamado por Ronald de
Carvalho em 15/02/1922, no Teatro Municipal de São Paulo.
• (IBMEC) Texto para a questão 14. Tornou-se o hino precursor do Modernismo. Assinale a afirmação
falsa sobre o trecho. O poema
VALSA A) critica a presunção dos poetas parnasianos que saem atrás dos
“holofotes” da vida.
Eu não vim de longe B) debocha quando associa a reclamação dos parnasianos ao
Eu não sou um monge coaxar dos sapos e quando usa termos depreciativos como
Eu não faço ioga “ronco”, “berra” e “aguado”.
Eu não sei de tudo C) ironiza aquilo de que os parnasianos se vangloriam: buscar
Não estou em voga rimas ricas, ritmar bem.
Eu não fico mudo D) zomba da contradição existente entre a obsessiva seleção
Não sufoco o riso vocabular e o desconhecimento em rimar “termos cognatos”,
Eu não apregoo característica da poesia concreta.
Não a perfeição E) satiriza ostensivamente o perfeccionismo formal e, por
Eu nunca medito extensão, o academicismo literário.

F B O NLINE.COM.BR 6 005.676 - 131694/18

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MÓDULO DE ESTUDO

Gabarito

01 02 03 04 05
C B A B D
06 07 08 09 10
B C E A D
11 12 13 14 15
B A B A D

Anotações

SUPERVISOR/DIRETOR: MARCELO PENA – AUTOR: SOUSA NUNES


DIG.: ESTEFANIA – REV.: JARINA

005.676 - 131694/18
7 F B O N L I NE .C O M . B R
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