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Criando poemas visuais

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Tamara Castro 26.04.2019

O que é?

Sequência de atividades que apresentam o gênero poesia visual e proposta de


produção textual com os estudantes.

Material

• Computadores com acesso à internet.


• Livros de poesia.
• Revistas.
• Canetas, tintas, lápis, tesoura, papéis coloridos.

Finalidade

• Relacionar poema visual ao seu contexto de produção (interlocutores,


finalidade, lugar e momento em que se dá a interação) e suporte de circulação
original (objetos elaborados especialmente para a escrita, como livros, revistas,
suportes digitais).
• Estabelecer conexões entre texto e conhecimentos prévios, vivências, crenças e valores.
• Estabelecer a relação entre o título e o corpo do texto.
• Reconhecer os efeitos de sentido da diagramação, de recursos gráfico-visuais (tipo,
tamanho ou estilo da fonte), identificando possíveis elementos constitutivos da organização
interna do poema visual: arranjo gráfico e espacial do poema.
• Examinar em textos o uso de recursos gráficos no poema: grafia das palavras e sua
exploração visual; associação das palavras a objetos visuais (fotos, desenhos, pinturas,
colagens).
• Reconhecer o emprego de linguagem figurada e compreender os sentidos pretendidos,
inferindo, com base em elementos presentes no próprio texto, o uso de palavras ou
expressões de sentido figurado.
• Planejar um poema visual: pesquisar e selecionar componentes verbais e visuais, observar
a grafia das palavras e suas possibilidades de exploração visual e sonora, observar
possibilidades de associação das palavras selecionadas a objetos visuais (fotos, desenhos,
pinturas, colagens), explorar tecnicamente imagens de modo que produzam efeitos visuais
adequados aos propósitos do texto.
• Produzir poema visual, levando em conta o gênero e seu contexto de produção.

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Expectativa

Compreender e apreciar poemas visuais. Produzir seus próprios poemas


visuais e compartilhar/apreciar as criações dos colegas.

Público

Estudantes do Ensino Fundamental II e Médio

Local

Sala de aula, biblioteca, ateliê de artes ou outro espaço

Duração

3 a 5 encontros de 1h a 1h30

Início de conversa
A poesia visual é uma forma de expressão artística que se caracteriza quase sempre pela
combinação de palavra e imagem. É um gênero artístico de pequeno formato que,
empregando alguns poucos elementos – como a disposição gráfica de palavras e/ou letras,
bem como de imagens –, tem a capacidade de produzir grande impacto. A mensagem do
poema é captada pela visualização da forma, que muitas vezes explora aspectos lúdicos,
sonoros e visuais.

O poema visual utiliza, com rara felicidade, a combinação dos signos verbais com a expressividade
de linguagem icônica. Assim os dois códigos, o digital e o icônico, se combinam à perfeição para
traduzir imagens poéticas e juízos críticos.”
Fábio Lucas, escritor e crítico literário

Nossa proposta é desafiar os alunos a compreender e apreciar visualmente muitos poemas


visuais interessantes. Depois, eles poderão criar suas próprias produções e observar como
outros reagem diante de sua criatividade.

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A poesia visual é um tipo de poesia em
que – abolindo-se certas distinções
entre os gêneros textuais e outras
formas de arte – o texto, as imagens e
os símbolos são dispostos de tal forma
que o elemento visual assume papel
preponderante na obra, não
dependendo de elementos verbais
para ser caracterizado como poesia. O
ovo, do grego Símias de Rodes (300
a.C.), ao lado, é o poema visual mais
antigo de que se tem notícia.

A poesia visual
Representar pensamentos, Símias de Rodes, O ovo
sentimentos, histórias, experiências
pessoais e coletivas, conferindo a eles
uma dimensão estética, é o que o homem
vem fazendo há milhares de anos por
meio da linguagem artística ou pelos
diversos caminhos e motivações da arte.
Outras experiências envolvendo escrita e
imagem datam do início do século XVI até
meados do século XVIII, momento que
corresponde esteticamente ao
Maneirismo e ao Barroco. Um exemplo é
o poema Labirinto cúbico, datado do
século XVIII.
Anastácio Ayres de Penhafiel, barroco baiano
No início do século XX, com as vanguardas
artísticas, experimentações envolvendo escrita e imagem ganham novo destaque. É o caso
dos célebres caligramas do poeta francês Guillaume Apollinaire. No Brasil, o movimento
concretista se destaca no cenário artístico da década de 1950. Saiba mais sobre poesia
concreta.

A seguir, assista à adaptação audiovisual dos poemas concretos “Cinco” (José Lino
Grunewald, 1964), “Velocidade” (Ronald Azeredo, 1957), “Cidade” (Augusto de Campos,
1963), “Pêndulo” (E. M. de Melo e Castro, 1961/62) e “O organismo” (Décio Pignatari, 1960).
Direção: Christian Caselli.

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https://youtu.be/yC3e7rmSYM4

Na prática

Sugestão de encaminhamento
Primeiros contatos com a poesia visual
Antes de falar sobre poesia visual com seus alunos, leia para eles o poema “Oco”, de Jorge
Miguel Marinho, abaixo. (Clique aqui para acessar o texto do poema.) Estimule comentários,
para perceberem que o poema trata da tentativa de compreensão do eu por um
adolescente. Depois mostre a eles uma cópia ampliada do poema e faça nova leitura,
acompanhando o texto com o dedo, e pergunte qual das duas formas de apresentação do
poema é mais significativa.

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MARINHO, Jorge M. Oco. In: Blue e outras cores do meu voo. Ilustrações de Raquel
Matshushita. São Paulo: Sesi, 2014. p. 14-15.

CAPPARELLI, Sérgio. “Falta de sorte”. In: Tigres no quintal.


Porto Alegre: Kuarup, 1989. p. 58.

A seguir, organize a turma em duplas e apresente alguns poemas de outro autor, Sérgio
Capparelli, representativos desse gênero. Mostre o poema “Falta de sorte”, ao
lado. Sugerimos outros poemas do autor: “A primavera endoideceu”, “Urgente!” e “Jacaré
letrado”. (Baixe-os aqui.)

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Proponha que leiam os poemas com atenção, procurando observar, além das palavras, o
jeito como elas vêm escritas no papel e de que forma esse jeito interfere na compreensão
dos poemas. Depois de um tempo, converse com eles sobre o que observaram. Pergunte se
gostaram dos poemas e procure explorar cada um deles.

Sugestões de perguntas:
• Em “Falta de sorte”, que figura o poema forma? O que acontece com a palavra “cai”? Com
que intenção o autor teria desenhado esse círculo vermelho?
• Em “A primavera endoideceu”, como a disposição das palavras colabora para a
compreensão do poema? Por que o autor escolheu as expressões “bem me quer/ mal me
quer” para formar as pétalas e repetiu a palavra “zum” para formar o miolo? Por que o caule
é formado pelos versos “Nos meus olhos zumbiam mil abelhas/ e me fitavam detrás da
cerca dos cílios”?
• No poema “Urgente!”, que figura lembra a disposição das palavras? Observando só o título
e as palavras, o texto lembra que gênero textual? O que confere caráter poético a esse
texto?
• Em “Jacaré letrado”, por que o autor deu esse título ao poema?
Finalmente, proponha a seguinte reflexão: os quatro poemas provocariam o mesmo
impacto se, por exemplo, em vez de serem publicados em livros, fossem apenas ouvidos no
rádio? Por quê?

Essas questões são propostas mais com o objetivo de levar os estudantes a refletir sobre os
poemas visuais e a perceber suas características, do que de encontrar uma resposta única.
Por isso, lembre a eles que em literatura e, sobretudo, em poesia são possíveis múltiplas
interpretações, desde que fundamentadas no texto.

Diga que os poemas mostram, principalmente, a maneira como os poetas veem as coisas.
Assim, as palavras ganham um sentido mais rico, como se quisessem dizer mais de uma
coisa ao mesmo tempo. No caso desses poemas, o poeta resolve recorrer à disposição
gráfica das palavras para enriquecer o sentido do que queria dizer.

Muitas vezes, os alunos vão precisar de sua ajuda para estabelecer relação entre os poemas
e outros conhecimentos: por exemplo, a função do caule na sustentação e na alimentação
da planta e a função dos dois versos (que graficamente remetem ao caule) na sustentação
do poema, isto é, são eles que explicitam a ligação da primavera com o zumbido das
abelhas e com o aspecto romântico de despetalar uma flor para saber se seu amor é
correspondido. Ou para perceber que o poema “Urgente!” lembra uma notícia
sensacionalista de jornal, ou ainda que a bandeira do Japão é branca com um círculo
vermelho no centro. Sugira aos alunos que procurem livros de Sérgio Capparelli na sala de
leitura.

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Conte aos estudantes que Sérgio Capparelli nasceu em Uberlândia
(MG), mas viveu em Porto Alegre durante muitos anos. Foi professor
de Comunicação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). É autor de prosa e poesia, com muitos livros premiados.
Entre suas obras estão Tigres no quintal (1989) e Poesia visual
(2006), este último em parceria com Ana Claudia Gruszynski,
designer e professora de Comunicação Visual da UFGRS.

Brincando com ciberpoemas


No laboratório de informática, proponha que eles acessem o
site Ciber & Poemas, que traz poemas de Ana Cláudia Gruszynski e
Sérgio Capparelli. Além de apreciar outros poemas visuais dos Sérgio Capparelli
autores – e dar opinião sobre eles no “Mural de recados” da sala –,
eles vão poder criar seus próprios poemas, na seção “Ciberpoemas”. Aperte a tecla “Ctrl” e,
ao mesmo tempo, clique na imagem do poema para ver as imagens e letras em movimento
e participar de sua organização. É só continuar clicando quando o poema estiver animado e
novas surpresas podem aparecer.

Poemas mais visuais ainda


Agora, apresente aos estudantes outros poemas que apostam mais na visualidade que os
anteriores. Organize um círculo com as carteiras para que todos possam se olhar.
Proponha a leitura de um poema de cada vez, e explore a leitura do maior número possível
de estudantes, evitando, porém, que as falas se tornem muito repetitivas.

É claro que, dada a pouca experiência de vida, eles terão dificuldades para compreender
muitas das referências implícitas nos poemas. Mas você pode ajudá-los, contextualizando
os textos no tempo e no espaço e fornecendo a eles as informações necessárias para
ampliar sua compreensão. Para facilitar, apresentamos algumas referências sobre os
autores e suas obras.

Paulo Leminski é um dos mais respeitados e


conhecidos poetas brasileiros. Nasceu em 1944, em
Curitiba (PR). Em 1964, morando em São Paulo,
publicou poemas na revista Invenção, dedicada à
poesia concreta. Trabalhou como redator de

Paulo Leminski

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publicidade, foi tradutor de várias obras de língua inglesa e estudou língua e cultura
japonesa. Como compositor, teve canções gravadas por Caetano Veloso, Itamar Assumpção,
Guilherme Arantes, entre muitos outros. Ganhou o prêmio Jabuti de Poesia em 1995, com o
livro Metamorfose. Foi casado com a poesia Alice Ruiz. Faleceu em 1989, na cidade natal,
Curitiba.

Apresente à turma o poema “Brasa” (In: Almanak 88. São Paulo: Kraft, 1988), de Paulo
Leminski. A composição forma uma figura geométrica – um octógono – e duas palavras:
brasa e brisa. Você pode perguntar aos alunos por que o autor escolheu essa forma para se
expressar. Embora a resposta seja pessoal, eles podem, por exemplo, comparar a figura à
imagem de um ventilador, que produz brisa para aplacar o calor abrasador. Ou podem
observar que, como o “i” é muito pequeno (dentro do “a” central), a “brisa” não é suficiente
para abrandar o calor, daí a sensação de “brasa”.

Agora, mostre o poema “Vazio agudo” (In: Leminski, Paulo; Suplicy, João. Winterverno. São
Paulo: Iluminuras, 2001). Nele, o texto apresenta muitos contrastes: vazio/cheio;
agudo/cheio; vazio/tudo; meio/cheio… Talvez os alunos consigam estabelecer uma relação
entre as palavras do texto e a forma em que elas estão inseridas: o círculo incompleto e o
texto ocupando só metade da circunferência lembram uma lua minguante, o que remete à
ideia de esvaziamento; a pincelada mais larga na parte de baixo do círculo em contraste
com o fino traço da parte cima podem remeter, respectivamente, a cheio e agudo. Talvez
possa se referir ao fato de o eu lírico andar “meio cheio de tudo”, isto é, sentir um grande
(agudo) vazio, não ver sentido nas coisas…

Além da visualidade, o poema tem uma sonoridade bem marcada. O que contribui para
isso são as rimas: meio/cheio; tudo/agudo.
Observe se eles percebem que as letras “p.l.” no texto significam a assinatura do autor,
Paulo Leminski.

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Arnaldo Antunes (São Paulo, 1960) é músico,
ensaísta, compositor e artista visual. Iniciou o
curso de Letras na Universidade de São Paulo
(USP), mas não o concluiu em virtude do sucesso
da banda Titãs, da qual fazia parte. Deixou a
banda em 1992, mas continuou compondo com
os demais integrantes. Em 2002, formou o trio
Tribalistas, em parceria com Marisa Monte e
Carlinhos Brown. É um dos principais
compositores da música pop brasileira,
respirando influências concretistas e pós-
modernas. Lançou, em 1983, seu primeiro livro de
poemas, Ou/e. De lá para cá, publicou dezenas de
livros, entre eles Cultura (2012), voltado ao
Arnaldo Antunes
público infantil.

Em relação ao poema “Vejo miro” (In: Palavra desordem. São Paulo: Iluminuras, 2002), de
Arnaldo Antunes, os estudantes podem, por exemplo, pensar na determinação com que o
eu lírico vai atrás daquilo com que sonha; contrapondo o desejo (“vejo como um beijo”),
com todos os sentidos do corpo, à luta para conseguir o que quer (“miro como um tiro”),
oposição marcada pela inversão espacial das frases. Muitas outras interpretações são
possíveis e desejáveis. Assista abaixo à radioarte criada por Diego Lima dos Santos com
base nesse poema visual.

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https://youtu.be/PGAGWgayDq8

Jacira Fagundes é professora e escritora. Nascida em Porto Alegre


(RS), sua trajetória literária, encarada como ofício, começou em
2002, com o conto “Noite fria de vigília”, contemplado com o
prêmio literário Nova Prova – 20 anos. Sua primeira obra é Um
desafio para Manoel, voltada ao público infantojuvenil . Tem
diversos outros livros, tanto dirigidos a crianças e adolescentes
como para adultos, como a novela Dois no Espelho (2007) e o livro
de contos No limite dos sentidos (2009).

Apresente o poema “Corte”, de Jacira Fagundes. É interessante


Jacira Fagundes perguntar aos alunos se o significado desse poema estaria claro
sem o título.

Acesse aqui outras sugestões de poemas para trabalhar com a turma.

Produção de provérbios visuais


Proponha aos alunos que pesquisem com seus familiares e amigos alguns ditos populares e
que os tragam para a sala de aula. Distribua tiras de papel pardo para que escrevam esses
ditos. Exponha-os nas paredes da sala e estimule-os a brincar com eles, procurando
possíveis sentidos na seleção de algumas letras. Por fim, peça que ilustrem os poemas, de
acordo com o que querem destacar.

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Criação de outros poemas visuais
Combine com o professor orientador da sala de leitura uma visita da turma voltada à
consulta de livros de poesia. Oriente os estudantes a escolherem um poema que gostariam
de configurar como poema visual, sem alterar o texto verbal. Caso tenham dificuldades,
você poderá organizar com eles um dos poemas que a turma conheça e de que goste.
Depois, poderão fazer suas tentativas individualmente ou em duplas, se preferirem. Ajude-
os dando dicas para que aprimorem seus trabalhos. Depois, junto com a turma, bolem um
jeito bem criativo de expor os trabalhos!

Avaliação
O momento da avaliação de um trabalho é muito importante. Comece com uma conversa
informal, dando oportunidade para que todos se manifestem.
Depois, com a ajuda deles, reveja todo o trabalho desenvolvido e vá elencando as
aprendizagens feitas durante o processo. Valorize bastante as conquistas e minimize as
dificuldades, dizendo que eles ainda têm muito tempo para vencê-las.

Por fim, avalie os poemas visuais produzidos e a apresentação deles, levantando os pontos
positivos e os aspectos a serem aperfeiçoados para as próximas vezes.

Assista também ao bate-papo sobre poesia visual com Sérgio Capparelli e Ana Cláudia
Gruszynski, que realizado pela Plataforma do Letramento em março de 2014.

https://youtu.be/W-8JPhsCElU

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