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2016
Campo Grande – MS
1. INTRODUÇÃO E REVISÃO DA LITERATURA
1.1 – Introdução
O Projeto de pesquisa “O regional como questão – traços de regionalidade na
literatura brasileira contemporânea”, coordenado pelo Professor Daniel Abrão, tem como
marca a expansão do conceito de produção regional ou regionalista para o de
regionalidade, o que nos permite entender que os autores estudados no projeto são
advindos das mais variadas regiões, urbanizadas ou não, já que por regionalidade entende-
se a produção vinculada a um espaço e a uma materialidade e não exatamente a uma
condição cultural. No projeto, portanto, são investigados de que forma cada autor expande
o conceito de regional, região ou regionalismo para a criação de representação de
“espaços”, ou territórios (Deleuze), ainda que sejam territórios imaginários, plásticos ou no
interior do diálogo entre literaturas e de mais produções artísticas. Propomos, neste
sentido, um estudo sobre a obra e as representações inscritas nas traduções de Paulo
Leminski para o poeta Bashô.
A atividade tradutória embora muitas vezes posta em segundo plano nos estudos
literários apresenta grande influência na obra autoral do sujeito tradutor, desta maneira este
trabalho busca de forma analítica-descritiva observar a que ponto o conhecimento da
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Opta-se por utilizar a grafia ‘haicai’ por esta já ser dicionarizada no Brasil embora também sejam
encontradas frequentemente as grafias ‘haikai’ e ‘haiku’.
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Sendas de Ôku
língua asiática e dos ideogramas tão interessantes à poesia concreta e o minimalismo da
poesia japonesa se fez presente nos haicais publicados na obra La vie en close,
compreendendo primeiramente a teoria sobre haicai a partir de Paulo Franchetti e Olga
Savary, e da poesia concreta brasileira a partir das publicações de Décio Pignatari, Haroldo
e Augusto de Campos, e a singularidade do ato tradutório como uma negociata cultural
entre as obras a partir da compreensão da teoria e Homi K. Bhabha.
O primeiro contato do Brasil com o Japão se deu em 1908 com a imigração, mas ao
contrário do que se imagina no senso comum a literatura não acompanhou os imigrantes
japoneses, o haicai só foi conhecido em terras tupiniquins por meio das traduções francesas
na década de 20, principalmente através de Paul-Louis Couchoud (1879-1959) que definia
haicai como:
Desta forma nossos escritores passaram a conhecer o oriente além dos guias de
viagem que transformava os orientais em seres exotizados, mas pela visão atravessada da
cultura europeia, neste período, Guilherme de Almeida foi um nome importante no cenário
de produção e divulgação da poesia curta japonesa no país, segundo Leminski,
“(...)fez os primeiros "hai-kais", adotando as três linhas (versos com cinco,
sete e cinco silabas), mas introduzindo um artificioso e maneirista sistema de
rimas, que não existem em japonês (o super-ego parnasiano do soneto era
muito forte.)”. (LEMINSKI, 1986, p. 37/38)
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Usa-se a expressão ‘caracteres chineses’ para se referir aos kanjis existentes no idioma japonês, amplamente
usados na literatura.
O enlace da tradução com a antropofagia se dá especificamente no nível da
linguagem, quando o texto traduzido tanto contamina a escrita do outro
quanto serve de substrato para a metalinguagem do tradutor. (...) [assim, a
tradução] não só absorve, aglutina e devora o original, como retira daí as
metáforas de seu trabalho com a tradução. (SOUZA, apud, FERREIRA, R.
M. C., 2008, p.11)
Com os estudos de tradução sendo realizados, cada vez mais se pensa além da
relação linguística existente, mas as apropriações entre as obras e suas relações culturais, já
que, segundo Bhabha (2014, p. 359) “A tradução é a natureza performativa da
comunicação cultural. É antes a linguagem in actu (enunciação, posicionalidade) do que a
linguagem in situ (énoncé, ou proposicionalidade), ou seja, pensar na experiência de
sujeito tradutor como vantagem na produção de um novo texto atravessado pelo âmbito em
que este está inserido e da interpretação que dá ao texto tido como original em seu contexto
de partida.
Nossa tradução de qualquer texto, poético ou não, será “fiel” não ao texto
original, mas àquilo que consideramos ser o texto original, àquilo que
consideramos constituí-lo, ou seja, a nossa interpretação do texto de partida,
que será, como sugerimos, sempre produto daquilo que somos, sentimos e
pensamos. (ARROJO, 2003, p.44)
1. OBJETIVOS
O objetivo geral deste estudo consiste em realizar uma análise com base na teoria de
tradução cultural para obter resultados quanto a influência da tradução na produção autoral
do poeta curitibano Paulo Leminski.
3. METODOLOGIA
3.1 Método
Mediante as análises, com base na teoria de tradução cultura, será possível traçar até
que ponto o orientalismo dos haicais se fez presente no concretismo brasileiro que influiu
Leminski e de forma mais específica como as traduções realizadas pelo autor influenciou
suas próprias obras.
Ano: 2016
A S O N D
Plano de atividades – AÇÕES - 1º semestre
Estudo da fundamentação teórica x x x x x
Ano: 2017
J F M A M J J
Plano de atividades – AÇÕES 2º semestre
Estudo da fundamentação teórica
Estudo da obra de Paulo Leminski x x
Estudo da obra de Bashô x x x
Pesquisa da Teoria poética e do haikai no Brasil x x
Redação de artigo x
Apresentação das pesquisas parciais
5. RESULTADOS ESPERADOS
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARROJO, Rosemary. Oficina de tradução: a teoria na prática. 4ª ed. São Paulo: Ática,
2003.
BHABHA, Homi K. O local da cultura. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014.
CAMPOS, Augusto de; CAMPOS, Haroldo de; PIGNATARI, Décio. Teoria da poesia
concreta. 2ª ed. São Paulo: Duas cidades, 1975.
LEMINSKI, Paulo. Ensaios e anseios crípticos. Curitiba: Pólo editoral do Paraná, 1997.