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MEMÓRIAS DO CÁRCERE DE GRACILIANO RAMOS SOB A PERSPECTIVA DA

MEMÓRIA

Cristiane Peixe *

Sabe-se que Graciliano Ramos foi feito prisioneiro político entre

03 de março de 1936 a 13 de janeiro de 1937, num momento em que o

Brasil estava às vésperas da decretação do Estado Novo, regime ditatorial

de Getúlio Vargas. Dez anos após a prisão, o escritor inicia a narrativa

sobre essa experiência. No trabalho apresentado, analiso a obra Memórias

do cárcere sob a perspectiva da memória. Valho-me das teorias de Walter

Benjamin, Maurice Halbwachs, Paul Thompson, Ecléa Bosi e Michel

Pollak. Discuto a formulação benjaminiana sobre a importância da

experiência para o narrador, realizo uma introdução teórica sobre memória

e parto para a análise da obra. Considero Memórias do cárcere um

testemunho que destoa das versões oficiais sobre o mesmo período.

(* Mestranda em Sociologia na Faculdade de Ciências e Letras – Campus

de Araraquara/UNESP)

Endereço:

Rua Expedicionários do Brasil,1868   

Araraquara - S.P.

C.E.P. - 14.801-360

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MEMÓRIAS DO CÁRCERE DE GRACILIANO RAMOS SOB A
PERSPECTIVA DA MEMÓRIA

Apresentação
                                                
                                                                                  “Resolvo-me a contar, depois de muita
                                                                                          hesitação, casos passados há dez
anos...”1.

Dessa maneira, Graciliano Ramos inicia a obra Memórias do Cárcere escrita


entre 1946 e 1953. Obra incompleta e póstuma, narra a prisão do escritor que foi feito
prisioneiro político no período compreendido entre 03 de março de 1936 a 13 de janeiro de
1937, num momento em que o Brasil estava às vésperas da decretação do Estado Novo,
regime ditatorial de Getúlio Vargas. Podemos perceber logo no primeiro capítulo da obra,
que a memória apresenta-se como fomentadora da narrativa, visto que o autor manifesta-se
como memorialista, sendo que os episódios narrados são resultantes do esforço de
representar o vivido. Graciliano caracteriza-se como escritor-depoente, colocando-se como
personagem, assim como não esconde a identidade de seus companheiros de prisão,
negando a idéia de inventar pseudônimos. Considerando que Graciliano iniciou a escrita da
versão definitiva (publicada), dez anos após ter passado pela amarga experiência da prisão e
de não ter podido contar com as anotações tomadas na cadeia, notamos que o escritor
pautou-se em suas lembranças para a redação da obra. Por esse motivo, deve-se verificar
como a memória contribui para a escrita e compreensão da obra.

Narrativa ou a retomada do sujeito


                                                “Na verdade estávamos mortos, vamos ressuscitando.”2
Walter Benjamin mostrou a impossibilidade de toda experiência coletiva na nossa
modernidade, portanto de toda tradição e de toda palavra comuns. Mostrou também, no
excelente ensaio de 1936: O narrador3, que a narrativa perde seu valor na medida que as
experiências pessoais não interessam mais como fonte de conhecimento do mundo. A
velocidade acelerada e o ritmo de trabalho dos “tempos modernos” leva ao
desaparecimento do “dom de ouvir”, as experiências deixam de ser compartilhadas.
Benjamin associa o sucesso da narrativa aos trabalhos manuais, ligada ao artesanato
e ao mundo dos artífices.
Ela (a arte de contar) se perde porque ninguém mais fia ou
tece enquanto ouve a    história. Quanto mais o ouvinte se esquece
de si mesmo, mais profundamente se grava nele o que é ouvido. 4
Recordo um exemplo interessante sobre a existência no século XIX da profissão de
“lector”, que exercia a função de ler para os operários durante a produção dos charutos nas
fábricas cubanas. Esse fato demonstra a importância dada à cultura pelos cubanos, e é uma
mostra de sua capacidade de socializar, inclusive o saber.

1
RAMOS, Graciliano. Memórias do Cárcere 2.ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1954. (V.I,
p.5) ou (I,5).
2
Op. cit., (I,7).
3
BENJAMIN, Walter. “O narrador”. Magia e técnica, arte e política. 7. ed. (obras escolhidas) v.l, São Paulo:
Brasiliense, 1994.
4
Ibid., p.205.
Zenir Campos Reis nota a bela analogia que Graciliano estabelece em Linhas Tortas
(livro de crônicas) entre a atividade artesanal de trançar urupemas realizada pelo avô
paterno e de trançar palavras do neto escritor. “Texto e tecido, aliás, são a mesma palavra”5.
Aqui em referência ao trecho de Linhas Tortas, há mais
que    uma prática: julgo ver aí o embrião de uma ética da produção
artística e artesanal fundada no trabalho6.
Conforme nos disse Benjamin, quem escuta está em companhia do narrador, mas o
leitor de romance é solitário, visto que na concepção de Benjamin a transmissão de
experiências está atrelada à tradição oral. Para esse mesmo pensador, o declínio da narrativa
se acentua com o surgimento do romance no início do período moderno, que bem ao estilo
burguês da época, vai privilegiar os feitos do indivíduo isolado.
Podemos atribuir à narrativa a função de assegurar que as experiências não se
percam:
Defini a questão que nos ocupa como a da importância da
narração para a constituição do sujeito. Essa importância sempre
foi reconhecida como a da rememoração, da retomada salvadora
pela palavra de um passado que, sem isso, desapareceria no
silêncio e no esquecimento7.
Benjamin era amigo de Brecht e admirador de seu teatro; cita o primeiro poema do
Manual para Habitantes das Cidades, uma crítica ao desejo do burguês de deixar um rastro
no mundo. É um poema profundamente político sobre a perseguição nazista: profetiza a
desumanização que os campos de concentração iam instaurar. Seus versos indicam que a
única experiência que pode ser ensinada é a de sua própria impossibilidade, da proibição da
memória e da partilha.
APAGUE AS PEGADAS
Separe-se de seus amigos na estação
De manhã vá à cidade com o casaco abotoado
Procure alojamento, e quando seu camarada bater:
Não, oh, não abra a porta
Mas sim
Apague as pegadas!

Se encontrar seus pais na cidade de Hamburgo ou em outro lugar


Passe por eles como um estranho, vire na esquina, não os reconheça
Abaixe sobre o rosto o chapéu que eles lhe deram
Não, oh, não mostre seu rosto
Mas sim
Apague as pegadas!

Coma a carne que aí está. Não poupe.


Entre em qualquer casa quando chover, sente em qualquer cadeira
Mas não permaneça sentado. E não esqueça seu chapéu.
5
REIS, Zenir Campos. O trabalho da escrita. Revista Estudos Avançados/ USP, v.5, n. 11, pp. 35-44,
jan/abril, 199l. p.37.
6
Ibid., p. 39.
7
GAGNEBIN, Jeanne Marie. História e narração em Walter Benjamin. São Paulo:
Perspectiva:FAPESP:Campinas, São Paulo:Editora da Un. Est. de Campinas, 1994. (Coleção estudos: 142).
p.3.
Estou lhe dizendo:
Apague as pegadas!

O que você disser, não diga duas vezes


Encontrando o seu pensamento em outra pessoa: negue-o.
Quem não escreveu sua assinatura, que não deixou retrato
Quem não estava presente, quem nada falou
Como poderão apanhá-lo?
Apague as pegadas!

Cuide, quando pensar em morrer


Para que não haja sepultura revelando onde jaz
Com uma clara inscrição a lhe denunciar
E o ano de sua morte a lhe entregar
Mais uma vez:
Apague as pegadas!

(Assim me foi ensinado).8


Essa necessidade de não estabelecer vínculos, leva à completa anulação do
indivíduo, que não tem passado nem futuro, passa pela vida sem viver, e afinal tem a sua
própria existência negada.
Num movimento contrário, o testemunho de Graciliano sobre as prisões no período
anterior à decretação do Estado Novo (“o nosso pequenino fascismo tupinambá”9), nos
remete à idéia da reconstituição das pegadas que o tempo teima em apagar. O romancista
desprovido das notas tomadas na prisão, se impõe a obrigação de registrar literariamente os
acontecimentos passados.
No prólogo, o autor, após lamentar a perda das notas,
convence-se ( e ao leitor) de que sem elas escreveria melhor por
ficar desobrigado de consultá-las ou seguir os seus rastros. Ele se
propõe a voltar ao passado sem ajuda das pegadas, o que tornaria a
tarefa mais difícil, mas ao mesmo tempo mais livre 10.
O texto que lemos (a versão publicada) se apresenta como substituto de outro texto -
as notas que foram escritas na cadeia, ou narrativa primitiva no dizer de Hermenegildo
Bastos.
“Não resguardei os apontamentos obtidos em largos dias e meses de observação:
num momento de apêrto fui obrigado a atirá-los na água. Certamente me irão fazer falta,
mas terá sido uma perda irrecuperável?” 11.
Sem o objetivo de igualar situações tão díspares: a perseguição nazista na Alemanha
e    o Estado Novo brasileiro, percebemos em Memórias do Cárcere que Graciliano não

8
BRECHT, Bertold. “Aus einem Lesebuck fur stadtebewohner”, Ges. werke, Suhrkamp, vol 8. pp. 267-268
(“Verwisch die spuren); trad. bras. “Paulo Cesar Souza em Brecht, poemas, São Paulo: Brasiliense, 1986,
p.70. Apud GAGNEBIN, p.70.
9
Ramos, G. Memórias do Cárcere, (I.6).
10
BASTOS, Hermenegildo. Memórias do Cárcere, literatura e testemunho. (tese de doutoramento
apresentada à F.F.L.C.H. da Universidade de São Paulo, sob a orientação do Prof. Dr. João Luís Lafetá), 1996.
p.148.
11
RAMOS, G. Memórias do Cárcere, (I,9).
aceitava a arbitrariedade do governo (ou da “ditadura mal disfarçada” 12) em deslocar
indivíduos de prisão em prisão sem formar processos:
“O interrogatório, as testemunhas, as formalidades comuns em processos, não
apareciam. Nem uma palavra de acusação”13.
O escritor se indigna com a supressão da individualidade causada pela prisão e com
o fato de manterem pessoas à deriva, sob o comando de outrem.
“_ Viajar.” Para onde? Essa idéia de nos poderem levar
para um lado ou para outro, sem explicação, é extremamente
dolorosa, não conseguimos familiarizar-nos com ela. Deve haver
uma razão para que assim procedam, mas, ignorando-as, achamo-
nos cercados de incongruências. Temos a impressão de que apenas
desejam esmagar-nos, pulverizar-nos, suprimir o direito de nos
sentarmos ou dormir se estamos cansados. Será necessário essa
despersonalização? Depois de submeter-se a semelhante regime,
um indivíduo é absolvido e mandam-nos embora. Pouco lhe serve a
absolvição: habituado a mover-se como se o puxassem por cordéis,
dificilmente se libertará. Condenaram-no antes do julgamento, e
nada compensa o horrível dano14.
Graciliano chegou a supor que seria enxergado como um indivíduo, com certo
número de direitos, mas logo percebeu que era despersonalizado e que a perseguição
generalizada transformava-os em insignificâncias suprimidas pelo organismo social,
podendo ser arrastados para cima ou para baixo. Admite que foram raras as obras de arte
censuradas, mas acredita que as condições da época causou o rebaixamento da produção
literária.
“Se as nossas cabeças funcionavam, é bom que deixem de funcionar e nos
transformemos em autômatos”15.
Diante da despersonalização e uniformização dos seres humanos ocorridos
na prisão, Graciliano através da narrativa de Memórias do Cárcere repensa a trajetória do
eu envolvendo instâncias que atingem toda uma coletividade.

Introdução à Memória
Ao falarmos de memória nos remontamos aos trabalhos significativos de Maurice
Halbwachs, Paul Thompson e Ecléa Bosi.
O primeiro estabelece a existência da memória coletiva e da individual,

introduzindo o conceito de que as lembranças são coletivas. Maurice Halbwachs, herdeiro

da sociologia francesa de Durkheim irá tratar a memória como fenômeno social, portanto

passível de sofrer o poder coercitivo da sociedade, desta forma, a memória do indivíduo

depende do seu relacionamento com uma variedade de grupos. Para Halbwachs o

esquecimento decorre do desapego de um grupo, quando nos afastamos do grupo com o


12
Ibid., (I,74).
13
Op. cit, (I,79).
14
Op. cit, (I,46).
15
Op. cit, (I, 116).
qual nos relacionamos. A memória comum se mantém enquanto houver a adesão afetiva ao

grupo ou à “comunidade afetiva”.

A memória individual pode apoiar-se sobre a memória coletiva, deslocar-se nela,


confundir-se momentaneamente com ela. A memória coletiva, por outro lado, envolve as
memórias individuais, mas não se confunde com elas.
Através da seguinte citação, percebe-se qual a função que Halbwachs atribui
ao testemunho:
Fazemos apelo aos testemunhos para fortalecer ou debilitar,
mas também para completar, o que sabemos de um evento do qual
já estamos informados de alguma forma, embora muitas
circunstâncias nos permaneçam obscuras16.
Distingue duas memórias: uma interna e outra exterior, ou então a memória pessoal
e outra memória social. Diríamos mais exatamente ainda: memória autobiográfica e
memória histórica.
“Carrego comigo uma lembrança histórica que posso ampliar pela conversação ou
pela leitura. Mas é uma memória emprestada e que não é minha”17.
A memória histórica representa um passado, sob uma forma resumida, com
acontecimentos gerais que não diz respeito diretamente às pessoas, enquanto a    memória
de nossa vida nos apresenta um quadro mais contínuo e mais denso.
Ecléa Bosi valendo-se das formulações de Halbwachs alcança a memória social
através de memórias pessoais. Toda categoria de velhos, moradores da cidade de São Paulo
no início do século, se vê representada a partir dos depoimentos. Ecléa Bosi antes de
efetuar a análise das “lembranças de velhos” realiza uma discussão entre concepções de
Henri Bergson e de Maurice Halbwachs.
O princípio central da concepção de memória em Bergson é o de conservação do
passado. Bergson busca a etimologia do verbo “lembrar-se”, em francês se souvenir,
significaria um movimento de “vir de baixo”. Sousvénir, vir à tona o que estava submerso.
Em Halbwachs temos a memória como reconstrução do passado, onde a lembrança é a
sobrevivência do passado.
“Na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar,
com imagens e idéias de hoje, as experiências do passado.”18
Segundo a autora, Frederico Charles Bartlett em Remembering faz a distinção entre
a matéria da recordação (o que se lembra) e o modo da recordação (como se lembra),
porque sua hipótese é que existe uma relação entre o ato de lembrar e o relevo (existencial e
pessoal) do fato recordado. “Fica o que significa”19.
William Stern em Picologia general concilia a suposição de que existe uma
memória “pura”, mantida no inconsciente, com a suposição de que as lembranças são
refeitas pelos valores do presente, no que se aproxima de Halbwachs e de Bartlett. Em
termos experimentais, essa dualidade de pressupostos torna complexa a resposta à pergunta
de qual a forma predominante de memória de um dado indivíduo. Nos fica a pergunta:

16
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva, São Paulo, Editora Vértice, 1990. p.25.
17
Op. cit., p.54.
18
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 3a. ed. São Paulo: Companhia das letras, 1994.
p.55.
19
Op. cit., p. 66.
“Será    a memória individual mais fiel que a social?” 20. Bosi nos oferece uma resposta
bastante plausível:
“O único modo correto de sabê-lo é levar o sujeito a fazer sua autobiografia. A
narração da própria vida é o testemunho mais eloquente dos modos que a pessoa tem de
lembrar. É a sua memória.”21
A faculdade de relembrar exige a capacidade de não confundir a vida atual com o
que passou, de reconhecer as lembranças e opô-las às imagens de agora.
Para Ecléa Bosi, o dom do narrador é que seu talento lhe vem da experiência; sua
lição é extraída da própria dor. Somos testemunhas de nossas próprias recordações, e
fazemos apelo aos outros para que confirmem nossa visão. O exemplo lembrado pela autora
é justamente uma passagem de Infância, livro autobiográfico de Graciliano Ramos, onde o
romancista escreve que as suas primeiras lembranças, de quando tinha dois ou três anos de
idade, estão    ligadas a um vaso de louça cheio de pitombas. Essa passagem se encontra no
início do primeiro capítulo, sugestivamente intitulado de “Nuvens”, visto que se tratam das
suas “mais antigas recordações”, e se não tivessem sido confirmadas por outras pessoas
ficaria a dúvida quanto a sua existência real.
O historiador Paul Thompson também contribui com o estudo da memória. Nos
fornece inúmeros exemplos de aplicação da história oral, assim como discorre sobre a
técnica da entrevista, armazenamento e catalogação. Defende a história oral da crítica dos
historiadores    tradicionais que questionam a credibilidade dos depoimentos, tidos como
fontes subjetivas por nutrirem-se da memória individual.
... a subjetividade é um dado real em todas as fontes
históricas, sejam elas orais, escritas ou visuais. O que interessa em
história oral é saber porque o entrevistado foi seletivo ou omisso,
pois essa seletividade com certeza tem o seu significado 22.
A história oral propicia que sejam ouvidas uma diversidade de vozes sobre o mesmo
objeto, valoriza a multiplicidade dos pontos de vista.
A abordagem oral é muito mais abrangente no sentido de captar sujeitos depoentes,
porque baseia-se na fala, e não na habilidade da escrita, necessária à autobiografia muito
mais exigente e restritiva.
Conforme Thompson, reconhecidos escritores utilizaram-se das fontes orais: Jules
Michelet em sua História da Revolução Francesa (1847-53) contrabalançou documentos
oficiais com o julgamento político da tradição oral popular.
Voltaire, na elaboração de suas obras recolhia tanto evidências orais quanto
documentais, embora raramente citasse suas fontes. Em sua História de Carlos XII de 1731,
vangloriava-se de não haver “ousado apresentar um único fato sem consultar testemunhas
oculares de indubitável veracidade.”
O romance histórico de Walter Scott, considerado uma forma de texto histórico é
baseado em evidências orais. Scott considerava os velhos como verdadeiros documentos
históricos que contribuem para dar veracidade a escrita de seus romances. Homenageava
suas fontes usando em seus romances a seguinte epígrafe:
“Um jovem está entre vocês tomando notas
e creiam que ele vai publicar tudo”.

20
Op. cit., p.420.
21
Op. cit., p. 68.
22
THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. p.18.
Scott foi grande tomador de notas e influenciou algumas das obras de imaginação
mais importantes do século XX: Dickens. Quando não lhe era possível rememorar o tempo
da infância, partia para o trabalho de campo.
“Na França, Émile Zola buscou material para Germinal em suas conversas com os
mineiros de Mons.”23
A biografia foi um tipo de obra histórica que se expandiu nos fins do XVII. Mais
surpreendente foi o florescimento, no século XIX, de grande variedade de autobiografias
individuais da classe operária: intelectuais, políticas ou pessoais.
O grande medievalista Marc Bloch mescla suas pesquisas nos arquivos com outras
fontes, inclusive o estudo do folclore do campo, viajando por toda a zona rural francesa e
conversando com os camponeses.
O filósofo alemão Wilhelm Dilthey nos fornece uma nova compreensão do valor
histórico das histórias de vida individuais.
Quem busca os fios de ligações na história de sua vida
(através da autobiografia) já terá criado, de diferentes pontos de
vista, uma coerência naquela vida que agora está pondo em
palavras(...). Em sua memória, já terá separado e salientado os
momentos que experimentou como significativos, outros, terá
deixado perderem-se no esquecimento.24
Fica evidente a importância atribuída à autobiografia e a percepção que Dilthey tem
da seletividade da memória.
No século XIX, quando o historiador assumiu uma posição profissional e social
mais definida, temos uma mudança em sua prática. Leopold von Ranke, por exemplo, evita
a invencionice e a ficção e apega-se rigorosamente aos fatos. Desde então, a história é
outra, com novos métodos. Aumentam-se a suspeita entre a ligação literatura e história.

Memória em Memórias do Cárcere


O cânone realista do século XIX estava impregnado pela crença no progresso, na
ciência e no discurso da objetividade, atribuindo à prática historiográfica o dever da
objetividade científica e o apego ao documento. Inclusive a literatura, para ser levada a
sério, precisava ser dissecada como um fato. Segundo o crítico literário Luiz Costa Lima
em Sociedade e discurso ficcional, a expressão literária surge e se desenvolve na América
Latina marcada pelo veto ao ficcional, ressaltando o caráter documental dessa literatura.
Antonio Candido já havia notado que os latino-americanos possuem tendência ao realismo
social.
A respeito de Graciliano Ramos, Luiz Costa Lima nota que a impossibilidade de
lidar com o imaginário se prolongam em sua obra. Na opinião de Antonio Candido:
... a medida que os livros passam, vai se acentuando a necessidade

de abastecer a imaginação no arsenal da memória, a ponto do autor, a certa

altura, largar de todo a ficção em prol das recordações que a vinham

invadindo de maneira imperiosa.25

23
Op. cit., p.58.
24
RICKMAN, H.P. (org.). Meaning in History, 1961, p. 85-6. Apud THOMPSON., p.78.
25
CANDIDO, Antonio. Ficção e confissão. Ensaios sobre Graciliano Ramos. Editora 34, 1992. P.72.
Com toda certeza o processo criativo de Graciliano Ramos sofreu uma passagem da

ficção à confissão, embora os seus romances também apresentem ligações com a realidade

vivida pelo escritor. As fronteiras que separam o gênero ficcional do autobiográfico não são

absolutas. A autobiografia não pode se confundir com a ficção nem com a história, não

devendo ter tratamento de puro documento histórico. A autobiografia apresenta ao mesmo

tempo um caráter autônomo e instável com relação à história e ficção, tendendo ora mais

para uma, ora para a outra.

Toda narrativa autobiográfica elabora a reconstituição da experiência vivida

numa construção para a leitura. Nesse processo ocorre a atualização das posições do autor,

visto que há um recuo temporal entre o período da escrita com relação ao vivenciado.

Enquanto o escritor da narrativa ficcional imagina-se um “outro de si mesmo”, o

“eu” do escritor na criação autobiográfica parece reafirmar sua unidade, principalmente

porque uma autobiografia implica na identidade entre autor, narrador e personagem 26,

embora a construção dessa identidade não se faz sem ambigüidades na medida que há um

eu para si e um eu para os outros. Ocorre também um descompasso entre o narrador (sujeito

da enunciação) e o personagem (sujeito do enunciado, sobre o qual se fala), tendo em vista

que embora ambos sejam a mesma pessoa o momento histórico se alterou e o presente dá o

tom à narrativa.

Dando início à análise de Memórias do Cárcere, devo esclarecer que além de ser
autobiografia devemos considerar a obra como um testemunho, visto que vai além do
indivíduo, abrangendo uma coletividade: os presos políticos que conviveram com o
escritor.
Memórias do Cárcere foi de difícil feitura, sendo que o longo período de escrita
evidencia os motivos de tanta hesitação. Graciliano alega não conservar as notas tomadas
na cadeia; abomina a idéia de fazer um romance, ao mesmo tempo não se vê no direito de
escrever história; redime o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) afirmando que
não houve censura prévia, sendo queimados apenas alguns livros.

26
Conforme definição de LEJEUNE, Philipe. Le pacte autobiographique. Paris, Seuil (Poétique). 1975.
... nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a
lei, ainda nos podemos mexer (...). Não caluniemos o nosso
pequenino fascismo tupinambá: se    o fizermos, perderemos
qualquer vestígio de autoridade e, quando formos verazes, ninguém
nos dará crédito. De fato êle não nos impediu escrever. Apenas nos
suprimiu o desejo de entregar-nos a êsse exercício. 27
O autor concebe a sua obra como uma narrativa verídica sobre um momento
marcante em sua vida, daí se abster da liberdade imaginativa necessária ao romance. A
criação literária aparece principalmente na construção dos personagens e no seu modo de
narrar, mas os fatos não sofrem deturpações ou graves variações se comparados com a
história até então aceita e vigente.
Buscando compreender a escrita de Graciliano, dou destaque a sua afirmação de não
se agarrar a métodos. Não se vê entre os eruditos, “inteligências confinadas à escrupulosa
análise do pormenor”, nem entre os narradores de reportagem, “dessas em que é preciso
dizer tudo com rapidez”. Graciliano diz levar vantagem com relação ao segundo grupo.
Sem se deter a investigações em profundidade e tampouco estabelecer julgamentos
precipitados, o escritor procura um ponto de equilíbrio, onde a liberdade de escrita seja
possível:
Posso andar para a direita e para a esquerda, como um vagabundo,
(...). Omitirei acontecimentos essenciais ou mencioná-los-ei de relance,
como se    os enxergasse pelos vidros pequenos de um binóculo; ampliarei
insignificâncias, repetí-las-ei até cansar, se isto me parecer conveniente. 28
O romancista se convence de que embora as notas façam falta, a perda não é
irreparável, visto que se elas ainda existissem ficaria preso às minúcias, talvez
desnecessárias.
Embora as notas tomadas na prisão não tenham sido guardadas com o escritor, a
possibilidade de lembrar a imensa quantidade de “personagens” verídicos se deu porque
Graciliano recolheu autógrafos nas páginas do livro Usina de José Lins do Rego, dedicado
ao amigo preso.
Perdidas as notas, essa letras me avivariam recordações
mais tarde. Sem dúvida muitos caracteres se diluiriam no tempo,
casos miúdos se esfumariam sem deixar vestígio, mas talvez
resistissem as personagens fortes, acções firmes, um diálogo, um
gesto inesperado. E iniciei a colheita por Walter Pompeu. (...) As
assinaturas vão até a folha 257.29
A partir do “jamegão” (assinatura) de cada preso será feita a reconstituição
da pessoa na memória do escritor, sendo que esses autógrafos puderam servir como uma
espécie de vestígio material do passado ou um suporte para a construção da memória.
Graciliano mantém o propósito de ser fiel às suas recordações, mas desconfia que
elas possam ser regulares e totalmente compatíveis com o ocorrido.
O acto que nos ocorre, nítido, irrecusável, terá sido
realmente praticado? (...) mas estaremos seguros de não nos havermos
enganado? Nessas oscilações dolorosas, às vezes necessitamos
confirmação, apelamos para reminiscências alheias, convencemo-nos de
que a minúcia discrepante não é ilusão.30
27
Op. cit., (I,6).
28
Op. cit., (I,9).
29
Op. cit, (IV,39)
30
Op. cit, (I,10-11).
O autor não absolutiza a sua reconstituição, admitindo que “ outros devem possuir
lembranças diversas”31. Além disso considera que formavam um grupo muito complexo,
que se desagregou após a saída da cadeia, sendo necessário recompô-lo.A engrenagem do
governo de Alagoas, com “vinte e oito mil quilômetros quadrados e um milhão de
habitantes”, era “tudo uma porcaria”, onde as incapacidades abundantes deveriam ser
perpetuadas juntamente com os “políticos safados e generais analfabetos”.
Na sua opinião, o integralismo era o diabo. Mas aos tenentes o julgamento não foi
muito diferente.:
Parecera-me então que a demagogia tenentista, aquêle palavrório

chocho, nos meteria no atoleiro. Ali estava o resultado: ladroagens, uma

onda de burrice a inundar tudo, confusão, mal-entendidos, charlatanismo,

energúmenos microcéfalos vestidos de verde a esgoelar-se em discursos

imbecis, a semear delações. O levante do 3 º Regimento e a revolução de

Natal haviam desencadeado uma perseguição feroz. (...) tínhamos a

impressão de viver numa bárbara colônia alemã. Pior: numa colônia

italiana.32

Tornou-se verdade histórica dizer que a “Intentona Comunista” de 1935

desencadeou a repressão que culminaria na decretação do Estado Novo. Cientistas políticos

fazem uma aproximação da ditadura de Getúlio Vargas com os regimes totalitários. Desta

forma, podemos perceber que os julgamentos do escritor não são aleatórios.

Memórias do Cárcere é uma obra que não se caracteriza como advinda da

imaginação, de um mundo criado, porque é resultante de um verdadeiro esforço de

observação efetuado pelo autor, protagonista do momento histórico retratado na obra. “ Só

me abalanço a expor a coisa observada e sentida” 33 Essa constante preocupação em ser fiel

aos fatos observados está presente inúmeras vezes em Memórias do Cárcere:

“Além de tudo era-me indispensável observar as pessoas, exibi-las com relativa


fidelidade”34 .
31
Op.cit, (I, 10).
32
Op. cit, (I,29).
33
Op. cit, (I,44).
34
Op. cit., (I, 139).
E logo em seguida:
“E não sossegava, tinha remorso por achar-me inútil. Erguia-me, chegava-me aos
novos camaradas. Necessário conhecê-los bem”.
Percebemos claramente que Graciliano possui aguda preocupação em não deturpar
os fatos que realmente aconteceram, da mesma forma mostra-se ciente quanto à
impossibilidade de abarcar a totalidade. Retornando à obra:
(As coisas) “que esmorecem, deixá-las no esquecimento: valiam pouco. Outras,
porém conservaram-se, cresceram, associaram-se, e é inevitável mencioná-las”35.
Através desse fragmento da obra, observamos também que o escritor tinha
formulado uma noção de memória seletiva. Nesse sentido, Graciliano realiza uma
reconstrução do passado, baseado no movimento seletivo da memória, produzindo uma
interpretação da História que embora particular não deixa de ser verídica.
Ao escrever uma autobiografia ou um testemunho, a pessoa tenta estabelecer um
sentido para a sua vida e dela operar uma síntese. Essa síntese pode conter
descontinuidades devido às omissões, desequilíbrio entre os relatos e seleção de episódios
mais significativos.
De acordo com Bosi:
“Nas Memórias o recorte do pormenor supõe a confissão honesta de que a
totalização seria um ideal muito difícil de alcançar e talvez incompatível com os limites da
testemunha”.36
Conforme já foi dito Memórias do Cárcere, teve seu início de redação dez anos após
o autor ter vivido a experiência da prisão, justamente depois do primeiro governo de
Getúlio Vargas. Uma das possíveis indagações é o porquê de tantos anos de silêncio.
Seguindo a contribuição de Michael Pollak, principalmente em seu artigo Memória,
Esquecimento, Silêncio, poderíamos considerar a função do “não-dito”, lembrando que em
sua formulação o silêncio não é sinônimo de esquecimento. O próprio silêncio é
significativo e se possível, deve-se buscar as suas causas.
A fronteira entre o dizível e o indizível, o confessável e o
inconfessável, separa, em nossos exemplos, uma memória coletiva
subterrânea da sociedade civil dominada ou de grupos específicos,
de uma memória coletiva organizada que resume a imagem que
uma sociedade majoritária ou o Estado desejam passar e impor. 37
Ou ainda:
“O longo silêncio sobre o passado, longe de conduzir ao esquecimento, é a
resistência que uma sociedade civil impotente opõe ao excesso de discursos oficiais”.38
Pollak acredita que a história oral ao privilegiar a análise dos marginalizados e
minorias, dá importância às memórias subterrâneas que fazem parte das culturas
dominadas, opondo-se à memória oficial.
A literatura de testemunho39, considerada como discurso não-dominante, tem
como característica geral, focalizar um caso que ilustra sobre uma situação social que não
35
Op. cit., (I, ).
36
BOSI, Alfredo. A escrita do testemunho em Memórias do Cárcere. Revista de Estudos Avançados/USP,
n.23, vol.9, jan/abr, 1995. P. 316.
37
POLLAK, Michel. 1989,p.8
38
Ibid., p. 5.
39
A literatura de testemunho é considerada um gênero literário pela Casa de las Américas de Havana. Ver a
esse respeito: BOSI, Alfredo. A escrita do testemunho em Memórias do Cárcere. Estudos Avançados/USP,
n.23, vol.9, jan/abr, 1995. p. 309-322.
se conhece oficialmente e que a literatura ajuda a denunciar. As letras latino-americanas
utilizando-se do recurso da literatura de testemunho rompem com o “não-dito”, expondo
uma problemática social específica.
São vozes que oscilam entre a individualidade e a coletividade.
O debate entre subjetividade e objetividade, na opinião de Michel Pollak
transformou-se na oposição entre a escrita literária e a escrita cientificista. O discurso
científico seria seco, enfadonho, fechado e reducionista visto que restringe a realidade,
enquanto a linguagem literária traz a polifonia e restitui a verdade social em todas as suas
alternativas, elaborando um discurso sensível à pluralidade das realidades. A história oral
abriria possibilidades de reintroduzir nas ciências humanas uma escrita não apenas
subjetiva, mas literária.
Entre a objetividade e subjetividade Memórias do Cárcere deve ser analisada
valendo-se do pressuposto segundo o qual é impossível separar radicalmente o que é da
ordem do processo social histórico. Para tal afirmação baseio-me na clássica formulação de
Antonio Candido da não dissociação entre os fatores externos (social) dos internos
(aspectos intrínsecos à obra), dando-lhes um tratamento dialético e de entrecruzamento.
Devemos ressaltar a oposição entre objetividade e subjetividade, presente na obra.
Verificamos que o testemunho quer-se verídico, casando memória individual com História.
Mas o testemunho também se sabe obra de uma
testemunha, que é sempre um foco singular de visão e elocução.
Logo, o testemunho é subjetivo e, por esse lado se aparenta com a
narrativa literária em primeira pessoa. O testemunho vive e
elabora-se em uma zona de fronteira.40
Esta “zona de fronteira” que se estabelece entre a subjetividade e objetividade em
um testemunho pode ser entendida também na relação entre a literatura e história, visto que
esta persegue a verdade objetiva, mas se pauta na interpretação do historiador que produzirá
uma versão do fato. A literatura por sua vez é livre para criar situações inexistentes, porém
toda construção imaginária possui algum vínculo como o mundo real vivido pelo escritor.
No dizer poético de Clarice Lispector:
“Criar...é correr o risco de se ter a realidade”.
Ou segundo as palavras do próprio Graciliano Ramos:
“O romance é um forma superior de vida”.

Conclusão

O meu intuito foi o de mostrar a importância da memória no pensamento de um


literato tão consagrado como é Graciliano Ramos. A análise ou uma leitura atenta da obra
nos leva a perceber como estão presentes as reflexões do escritor acerca da natureza da
memória e de seu vínculo com a sua atividade de criação literária.
Se Walter Scott, conforme já foi dito anteriormente, invocando as suas memórias

homenageava suas fontes, Graciliano Ramos na colônia correcional de Ilha Grande (RJ),

ironicamente agradece:
40
BOSI, Alfredo. A escrita do testemunho em Memórias do Cárcere. Revista de estudos avançados/USP,
n.23, vol.9, jan/abr, 1995. p.310.
_ Levo recordações excelentes, doutor. E hei-de pagar um dia a hospitalidade que os
senhores me deram.
_ Pagar como? exclamou o personagem.
_ Contando lá fora o que existe na Ilha Grande.
_ Contando?
_ Sim, doutor, escrevendo. Ponho tudo isso no papel.
O diretor suplente recuou, esbugalhou os olhos e inquiriu carrancudo:
_ O senhor é jornalista?
_ Não senhor. Faço livros. Vou fazer um sôbre a colônia correcional. Duzentas páginas, ou
mais. Os senhores me deram assunto magnífico. Uma história curiosa, sem dúvida.
O médico enterrou-me os olhos duros, o rosto cortante cheio de sombras. Deu-me as costas
e saiu resmungando:
_A culpa é desses cavalos que mandam para aqui gente que sabe escrever 41.
Graciliano tinha razão, escreveu o volume 3 intitulado Colônia correcional com 234
páginas. Memórias do Cárcere é testemunho imortal de uma época considerada transição,
mas que traz os componentes que vão predominar durante o período posterior, de ditadura.
O volume terceiro em específico conta sobre um lugar onde se vai para morrer, conforme
um dos guardas:
“_Aqui não vêm corrigir-se. Vêm morrer.”42
Só quem de lá conseguiu sair, pode nos contar.

Bibliografia

BASTOS, Hermenegildo. Memórias do Cárcere, literatura e testemunho. São


            Paulo, 1996. Tese (Doutorado em Teoria da Literatura, sob orientação do
          prof Dr. João Luis Lafetá) - F.F.L.C.H. da Universidade de São Paulo.193 p.
BENJAMIN, Walter. “O narrador”, in: Magia e técnica, arte e política. (obras                 
            escolhidas. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. v.1. 253 p.
BOSI, Alfredo. A escrita do testemunho em Memórias do cárcere. Revista de
                Estudos Avançados/USP, n .23, vol.9, jan/abr, 1995. pp. 309-322.
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 3.ed. São Paulo:         
              Companhia da letras, 1994. 484 p.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. História e narração em Walter Benjamin. São
Paulo; Perspectiva: FAPESP: Campinas, São Paulo: Editora da Universidade
          Estadual de Campinas, 1994. (Coleção estudos: 142). 131 p.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Editora vértice,
            1990.
41
Op. cit., (III,194).
42
Op.cit., (I,33).
POLLAK, Michel. Memória, esquecimento, silêncio, Estudos Históricos, Rio
                de Janeiro, vol.2, n.3, 1989. p.3-15.
RAMOS, Graciliano. Memórias do Cárcere. 2.ed. Rio de Janeiro: Livraria José
              Olympio Editora, 1954. 4 v.
REIS, Zenir Campos. O trabalho da escrita. Revista de Estudos Avançados/
            USP, v.5, n.11, pp.35-44, 1991.
THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Rio de Janeiro: Paz e
              Terra, 1992. 385 p.

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