Você está na página 1de 36

LASAR SEGALL (1891 – 1957)

SOBREVIVENTES, 1946. PINTURA A ÓLEO SOBRE TELA


COLEÇÃO PARTICULAR – SP
ESTUDO PARA CAMPO DE
CONCENTRAÇÃO, 1945.

PINTURA A ÓLEO COM AREIA


SOBRE TELA, 81 x 60 cm.

ACERVO DO MUSEU LASAR SEGALL.


BEATRIZ SARLO

Escritora argentina (1942 - ),


fundadora da revista Punto de Vista
(1978 – 2008), a qual, durante 30
anos, foi uma das expressões do
pensamento crítico na Argentina.

 
 
Obras publicadas:

 El imperio de los sentimientos (1985).

 Modernidade periférica (1988).

 Jorge Luis Borges, um escritor na periferia (Iluminuras, 2008).

 Ensayos argentinos – De Sarmiento a la vanguardia (1997), escrito com Carlos


Altamirano.

 Paisagens imaginárias – Intelectuais, arte e meios de comunicação (Edusp,


1997).

 A paixão e a exceção – Borges, Eva Perón, Montoneros (Companhia das Letras,


2005).

 Tempo presente – notas sobre a mudança de uma cultura (José Olympio, 2005).

 Tempo passado – cultura da memória e guinada subjetiva (Companhia das


Letras, 2007).
Abbas Kiarostami
1940 - Teerã
TEMPO PASSADO – CULTURA DA MEMÓRIA E
GUINADA SUBJETIVA

Publicado no Brasil em 2007, divide-se em seis


capítulos:
 
 Tempo passado

 Crítica do testemunho: sujeito e experiência

 A retórica testemunhal

 Experiência e argumentação

 Pós memória, reconstituições

 Além da experiência
 
Qual o papel do testemunho e da memória no contexto
pós-ditadura?

 “O testemunho possibilitou a condenação do terrorismo de


Estado” (p.20).

 Os atos de memória foram peças chaves, tanto do ponto de


vista jurídico como de reconstrução do passado, uma vez que
outras fontes foram destruídas pelo regime.

 A condenação dos ditadores só foi possível por causa da


memória, materializada nos relatos das testemunhas e vítimas
do regime.
O testemunho é uma forma de materialização da memória,
esta por sua vez é um campo de conflitos. Que forças estão
em luta?

 Existem aqueles que defendem a lembrança dos crimes de


Estado.

 Existem aqueles que desejam esquecer as monstruosidades


vivenciadas, encerrar o assunto e seguir adiante.

 Há os que defendem que o que aconteceu durante a ditadura


deve permanecer juridicamente aberto, além de ser amplamente
discutido , ensinado e divulgado, inclusive nas escolas.

 Há os partidários do “nunca mais” que defendem o não


esquecimento como forma evitar que o passado se repita.
O que favorece o uso do testemunho e da memória?

 Estamos “vivemos uma época de forte subjetividade”.

 Esse subjetivo deixou a esfera do “íntimo e pessoal” e ganhou


espaço e notoriedade públicos. O “pessoal” ganhou visibilidade e é
isso que dá apoio ao “testemunho”.

 O papel dos meios audiovisuais nesse processo.


Aspectos discutidos no texto:
 o estatuto de verdade inquestionável atribuído ao
 
testemunho;

 a transformação do testemunho em fonte de


reconstituição do passado;

 o privilégio concedido às narrativas em primeira pessoa,


no sentido de serem discursos não submetidos a críticas,
concessão esta que não é dada a outros discursos;

 a confiança irrestrita e total no relato testemunhal


decorrente da marca presencial, ancorada na relação direta da
voz e do corpo daquele que viveu a experiência.
Aspectos discutidos no texto:
 a importância da reflexão sobre os relatos testemunhais;
 
 é possível relatar experiências-limites, renunciando a voz
em primeira pessoa, e assumindo um distanciamento que
permita a análise crítica da experiência vivida;

 a qualidade lacunar, fragmentada da reconstituição


memorialística, tanto no relato direto quando no relato da
segunda geração (pós-memória);

 a capacidade da literatura representar e comunicar de


forma controlada o “horror do passado recente”;
1. TEMPO PASSADO

 História acadêmica ou história social e cultural.

 História de grande circulação ou história para o mercado.


Narrações históricas de grande circulação História Acadêmica
(Não acadêmica)
-As modalidades não acadêmicas de texto - As regras do método crítico historiográfico
encaram a investida do passado de modo cuidam para que os modos de reconstituição do
menos regulado pelo ofício e pelo método, passado sejam observados.
em função de necessidades presentes,
intelectuais, afetivas, morais e políticas.

- Escuta os sentidos comuns do presente, - Cumprir as regras metodológicas não garante


atende às crenças de seu público e orienta- que produto se converta em uma história de
se em função delas. interesse público.
Narrações históricas de grande circulação História Acadêmica
(Não acadêmica)
- Entende que os acontecimentos possuem - Entende que os acontecimentos são
um princípio organizador simples. influenciados por princípios múltiplos.

- As reconstituições baseadas em fatos - Abandona, intencionalmente e com


testemunhais pertencem a esse estilo. São freqüência, os relatos.
versões que se sustentam na esfera pública
porque parecem responder plenamente às
perguntas sobre o passado, elas oferecem
um sentido.

- Oferece certezas. É uma história que - Oferece um sistema de hipóteses.


possui uma fórmula explicativa
(causa/efeito) aplicável a todos os
fragmentos de passado.
Narrações históricas de grande circulação História Acadêmica
(Não acadêmica)
- Reduz o campo das hipóteses, - Trabalha com métodos científicos, possui
mantém o interesse do público e várias restrições formais e institucionais,
produz nitidez argumentativa e
preocupa-se mais com as regras internas do
narrativa que falta à história acadêmica
que com a busca de legitimações externas
1. Tempo passado

 História acadêmica ou história social e cultural.

 História de grande circulação ou história para o mercado.

 Mudança dos objetos da história.

 Visões de passado

 Guinada subjetiva

 Lembrar e entender
2. Crítica do testemunho: sujeito e experiência

 Narração da Experiência

 Morte e ressurreição do sujeito

 “Quis dar ao leitor a matéria-prima da indignação”

 Diante de um problema, o recurso ao otimismo teórico

 A imaginação faz uma visita


3. A retórica testemunhal
Rigoberta Menchú, Domitila Barrios de Chungara,
Primo Levi
Binjamin Wilkomirski, Herman Rosemblat

 Uma utopia: não esquecer nada

 O modo realista-romântico

 O que foi o presente?

 As ideias e os fatos

 Contra um mito da memória


4. Experiência e argumentação
Emílio de Ípola, Pilar Calveiro

 Teoria do rumor carcerário

 A experiência de outros
5. Pós-memória, reconstituições
James Young , Marianne Hirsch

 Exemplos e contraexemplos

 Sem lembranças
6. Além da experiência

 A literatura pode trazer uma “figuração do horror


artisticamente controlada” (p.118).

 “A ficção pode representar aquilo sobre o que não


existe nenhum testemunho em primeira pessoa”
(p.118).

 “A literatura, é claro, não dissolve todos os problemas


colocados, nem pode explicá-los, mas nela um
narrador sempre pensa de fora da experiência, como
se os humanos pudesses se apoderar do pesadelo, e
não apenas sofrê-lo” (p.119).
Rigoberta Menchú – 1959 –
Guatemala
1937 - Bolívia
Primo Levi – Turim, 1919 -1987
Argentina - 1939
Binjamin Wilkomirski
Fragmentos: memórias de uma
infância 1939-1948
Autor: WILKOMIRSKI, BINJAMIN
Idioma: PORTUGUES
Editora:  COMPANHIA DAS LETRAS
Assunto: 
Edição: 1ª
Ano: 1998
Esgotado no Fornecedor
 
Sinopse

Aos cinquenta anos de idade, um homem sai em busca de seu


passado. Não sabe ao certo de quem é ou de onde veio. O
passaporte suíço informa-lhe um local e uma data de nascimento,
empresta-lhe uma identidade, convida-o a se esquecer. As marcas,
porém, que traz na alma - e no corpo - compelem-no à longa
viagem.'Fragmentos' é o relato da viagem de Binjamin Wilkomirski
rumo ao passado, as memórias de uma infância em campos de
concentração.
O motivo da recepção ampla e positiva que o livro mereceu é simples: a
obra testemunhal de Wilkomirski é, de fato, uma das mais
impressionantes realizações no gênero. Ninguém sai incólume da
leitura desse livro. O seu leitor fica impregnado por um paradoxal e
aterrorizador "excesso de realidade". Ao lê-lo, não podemos deixar de
refletir sobre a humanidade e sobre os seus limites; sobre a ética e a
maldade humana. Sobre a morte e sobre a dor como realidades
onipresentes e incontornáveis. Nunca um testemunho das atrocidades
nazistas tinha atingido o detalhamento que essa obra contém.

Seligmann-Silva, Márcio.– “Os Fragmentos de uma Farsa : Binjamin


Wilkomirski”, in : Cult, número 23. – junho 1999, 60-63.

http://revistacult.uol.com.br/website/dossie/Default.asp?sqlPage=178

Herman Rosemblat
“O anjo na cerca: a verdadeira história de um
amor que sobreviveu”.
Relato da amizade entre o adolescente Herman
Rosenblat, o autor do livro, e uma menina, no
campo de concentração de Buchenwald. Separados
por uma cerca de arame farpado, ela lhe dava
maçãs e pão, correndo o risco de ser apanhada
pelos guardas. Anos depois da guerra, eles se
encontraram por acaso em Nova York e se casam.

Fonte: http://blogs.estadao.com.br/marcos-guterman/a-
memoria-do-holocausto-e-seus-esteliona/
"je ne suis pas sûr que ce que j'ai écrit est vrai,
je suis certain qu'il soit véridique.

Charlotte Delbo (1913-1985)


epígrafe do volume I da trilogia Auschwitz et après
FIM A Memória, Magritte,
1948

« J'ai plus de souvenirs que si j'avais mille ans » (Spleen – Baudelaire) 


Judeus húngaros a caminho das câmaras de gás. Auschwitz-
Birkenau, Polônia, maio de 1944.

Fonte: Museu do Holocausto


http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/media_ph.php?ModuleId=10005189&MediaId=716
médico soviético examinando um dos sobreviventes do campo de Auschwitz, logo aós sua
libertação pelos Aliados. Auschwitz. Polônia, 18 de fevereiro de 1945
Oficiais soviéticos observam pilhas de corpos no campo de Klooga. Devido ao
rápido avanço das forças soviéticas, os alemães não tiveram tempo para queimá-
los com o intuito de esconder seus horrendos crimes. Klooga, Estônia, 1944
Corpos empilhados atrás do crematório em Buchenwald. Alemanha,
maio de 1945
O texto base desta apresentação é o livro:

SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva.


São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007

Por Maria de Nazaré Fonseca Corrêa


 
 

Você também pode gostar