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Cultura e Linguagem

A Memória como Aspecto Fundamental na Relação


entre Cultura e Linguagem: Dois Estudos de Caso

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª M.ª Natalia Mendonça Conti
Prof. Me. Bruno Pinheiro Ribeiro

Revisão Textual:
Aline Gonçalves
A Memória como Aspecto Fundamental
na Relação entre Cultura e Linguagem:
Dois Estudos de Caso

• Introdução;
• Experiência, Linguagem e Memória;
• Memória Social, a Memória como Museu;
• Diáspora Africana: Memória, Pertencimento, Apagamento e Resistência.


OBJETIVO

DE APRENDIZADO
• Trabalhar a articulação entre cultura e linguagem para pensar memória e questões episte-
mológicas ligadas a dois casos históricos concretos: os campos de extermínio nazistas e a
questão diaspórica negra no período do colonialismo.
UNIDADE A Memória como Aspecto Fundamental na Relação
entre Cultura e Linguagem: Dois Estudos de Caso

Introdução
A memória constitui-se como um problema para a humanidade ao longo de sua
história de diferentes modos. Tradições são construídas a partir de valores, tecnolo-
gias e memórias, e podem ser destruídas a depender do modo como são tratadas
e abordadas. Isso diz respeito a registros, documentação, modos de tornar vivos os
acontecimentos e aprendizados do passado e do presente. A ativação ou a supressão
de determinada memória social pode produzir grandes efeitos nas culturas e nas
linguagens (na língua, nas artes).

Mas o que é chamado aqui de memória não tem a ver exatamente com o que en-
tendemos por lembrança, no sentido individual, mas com memória social, produzida
a partir de experiências em comum de uma sociedade nacional, regional ou plane-
tária. Certamente, essa memória é também feita das memórias individuais, mas não
se produz como a soma de cada memória individual, vai sendo produzida a partir
dos acontecimentos que acometem a vida social e os desdobramentos desses aconte-
cimentos na vida do conjunto da população e suas instituições. Tudo o que delimita,
determina e produz a vida em sociedade é material para a produção de memória.
Há, contudo, eventos que marcam profundamente a experiência humana, situações
e passagens a partir das quais a nossa existência enquanto espécie, no marco da
cultura e da linguagem, fica atravessada de maneira incontornável.

Você Sabia?
Em 1895, na França, os irmãos Lumière exibiram aquele que ficou conhecido como o pri-
meiro filme de todos os tempos, “Arrivée d’un train em gare à La Ciotat” (Chegada de um
trem à estação da Ciotat). O filme tinha menos de um minuto de duração, apresentava
um trem chegando à estação, onde p assageiros o aguardavam para embarcar. Quando
o trem se aproximou da câmera, a plateia que acompanhava a sessão imaginou que ele
fosse sair da tela e atropelá-los, e então fugiu em direção à saída do cinema assustada.
Imagina o quanto essa experiência transformou o imaginário e a vida das pessoas e da
sociedade na época? Link para o filme: https://youtu.be/CUgvS7i4TDg

Figura 1 – Imagem de “L'Arrivée d'un train en gare de La Ciotat”


Fonte: Wikimedia Commons

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Experiência, Linguagem e Memória
Em 1936, o pensador alemão Walter Benjamin escreveu um importante texto que
nos ajuda muito a pensar a respeito dessas experiências de profunda transformação
na cultura, na linguagem e, por conseguinte, na memória. Intitula-se “O narrador:
Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov” (2008, p. 197), e trabalha sobre a
tese de que o narrador, ou a experiência de narrar, encontra-se fora de uso, não é
mais presente na vida social. A isso o autor atribui a baixa das “ações da experiência”,
que, para ele, seguiria tendencialmente decaindo até seu desaparecimento completo.

Então Benjamin apresenta a experiência comunicacional a partir de um aconteci-


mento na vida social, um processo histórico, que marcou profundamente a forma de
viver em comum e a forma de tratar da memória, a Primeira Guerra Mundial.
No final da guerra, observou-se que os combatentes voltavam mudos do
campo de batalha não mais ricos, e sim mais pobres em experiência co-
municável. E o que se difundiu dez anos depois, na enxurrada de livros
sobre a guerra, nada tinha em comum com uma experiência transmitida
de boca em boca. Não havia nada de anormal nisso. Porque nunca houve
experiências mais radicalmente desmoralizadas que a experiência estra-
tégica pela guerra de trincheiras, a experiência econômica pela inflação,
a experiência do corpo pela guerra de material e a experiência ética
pelos governantes. Uma geração que ainda fora à escola num bonde pu-
xado por cavalos se encontrou ao ar livre numa paisagem em que nada
permanecera inalterado, exceto as nuvens, e debaixo delas, num campo
de forças e torrentes e explosões, o frágil e minúsculo corpo humano.
(BENJAMIN, 2008, p. 198)

A experiência de choque provocada pela guerra teria causado impacto profundo


nos modos de produzir memória, na atividade de narrar, causando um silenciamento
profundo e traumático, tendo sido, talvez, a primeira grande experiência social de
um século que foi marcado por outras experiências sociais dessa grandeza, como a
Segunda Guerra Mundial, os campos de concentração nazistas e a bomba atômica.

Algumas experiências sociais profundas estão sendo pensadas, debatidas e refor-


muladas por diferentes campos do conhecimento, hoje, de modo muito interessante,
levantando questões sobre como se dá a produção da memória e suas consequên-
cias, bem como exercendo uma operação que Walter Benjamin considerava essen-
cial, a de “escovar a história à contrapelo”, revirando as experiências e seus registros
no sentido de compreendê-las na contracorrente do modo como hegemonicamente
foram lapidadas e são contadas. Esse entendimento tem como pressuposto o fato
de que não existe um só interesse comum pela forma da memória produzida. Há
interesses diversos, em disputa, muitas vezes antagônicos e ligados a grupos econô-
micos, políticos e sociais, que, para perpetuar-se no poder, controlam a produção da
memória. Na sexta tese de Benjamin, do conjunto de teses conhecido por “Sobre o
conceito de História”, o autor expõe:

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Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo como de


fato ele foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela
relampeja no momento de um perigo. Cabe ao materialismo histórico
fixar uma imagem do passado, como ela se apresenta, no momento do
perigo, ao sujeito histórico, sem que ele tenha consciência disso. O peri-
go ameaça tanto a existência da tradição como os que a recebem. Para
ambos, o perigo é o mesmo: entregar-se às classes dominantes, como
seu instrumento. Em cada época, é preciso arrancar a tradição ao con-
formismo, que quer apoderar-se dela. Pois o Messias não vem apenas
como salvador; ele vem também como o vencedor do Anticristo. O dom
de despertar no passado as centelhas da esperança é privilégio exclusivo
do historiador convencido de que também os mortos não estarão em se-
gurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer.
(BENJAMIN, 2008, p. 224-225)

Gostaríamos de propor que nos debruçássemos sobre duas dessas empreitadas


de escovar a história à contrapelo empreendidas por pensadores contemporâneos:
a memória dos campos de extermínio nazistas, e a relação do Brasil – e de outros
países do mundo – com a diáspora africana, fruto do colonialismo e sua política de
escravização e mercantilização de povos daquele continente.

Memória Social, a Memória como Museu


O que você disser, não diga duas vezes.
Encontrando seu pensamento em outra pessoa: negue-o.
Quem não escreveu sua assinatura, quem não deixou retrato

Quem não estava presente, quem nada falou


Como poderão apanhá-lo?
Apague os rastros!
Cuide, quando pensar em morrer
Para que não haja sepultura revelando onde jaz

E o ano de sua morte a lhe entregar


Mais uma vez:
Apague os rastros!

(“Assim me foi ensinado”, de Bertolt Brecht, 2000, p. 57-58)

A filósofa Jeanne Marie Gagnebin é conhecida por sua pesquisa a respeito da


obra de Walter Benjamin e por fazer parte de uma larga tradição de pensadores que
vêm trabalhando com a temática da memória social e os modos de operar sobre
a história, suas verdades e evidências. Em seu livro “Lembrar escrever esquecer”
(2018) está reunido um conjunto de textos que tratam exatamente do problema da

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elaboração do passado e a nossa relação com as memórias sociais. Seu pensamento
apresenta algumas perguntas sobre as razões pelas quais lidamos com os dados do
passado e de que modo exercemos essa atividade. Um dos artigos do livro começa
com a seguinte indagação: “por que hoje falamos tanto em memória, em conser-
vação, em resgate? E por que dizemos que a tarefa dos historiadores consiste em
estabelecer a verdade do passado?”. Mais adiante, elabora ainda mais a questão.
“Por que fazemos questão de estabelecer a história verdadeira de uma nação, de
um grupo de uma personalidade?”. Pode nos parecer um movimento natural, o de
olhar para trás e daí depreender as experiências que nos trouxeram até aqui. Sa-
bemos, contudo, que sobre os mesmos eventos circulam diferentes leituras, muitas
vezes antagônicas, a depender da posição de onde o evento é lido e analisado. Em
relação à realidade brasileira, por exemplo, há uma disputa importante em torno do
período em que o País viveu sob uma ditadura civil-militar. Há figuras importantes
do poder, por exemplo, que, mesmo diante das evidências documentais e científi-
cas, negam a existência de tortura e desaparecimentos nesse período – fenômeno
conhecido como revisionismo ou negacionismo. O passado não é terreno fácil de
ser trabalhado, justamente pelo que Gagnebin nos aponta como uma “ética da ação
presente”, razão e direção fundamental que motiva a busca pela verdade do passado
(GAGNEBIN, 2018, p. 39).

Um dos aspectos que mobilizam debates e buscas a respeito de eventos sombrios


da história da humanidade, como ditaduras sanguinárias, guerras ou precisamente
sobre o qual nos propusemos a pensar, os campos de extermínio nazista, diz respeito
a uma dificuldade de encontrar evidências e rastros, justamente pelo fato de que
aqueles que exerceram e atuaram por dentro de regimes dessa natureza buscaram
não deixar pistas ou provas de sua desumanidade, e então a ideia de “testemunho”
ganha bastante importância.

Os campos de extermínio – ou campos de concentração, como ficaram mais co-


nhecidos – foram construídos durante o período da Segunda Guerra Mundial (1939-
1945), sob o governo da Alemanha nazista, com a finalidade de confinar e matar
sistematicamente judeus, eslavos, comunistas, ciganos, homossexuais e povos consi-
derados inferiores pelos nazistas. Milhões de pessoas passaram por esses campos e
foram assassinadas de diferentes modos, por fome, frio, péssimas condições de vida
ou mesmo, e sobretudo, por execução em massa em câmaras de gás, com posterior
incineração dos corpos ou ocultamento em valas comuns e coletivas. Trata-se de um
dos mais espinhosos e doloridos processos históricos da modernidade, que conhece-
mos pelo nome de Holocausto.

Como uma experiência traumática, foi sendo elaborada de diversos modos, a par-
tir de instituições e de iniciativas de grupos políticos, pesquisas científicas e procedi-
mentos literários, a partir dos quais foi sendo possível pensar a respeito com algum
distanciamento e em chave crítica. Boa parte do pensamento produzido a respeito
apresenta o Holocausto e, sobretudo, a existência e funcionamento dos campos de
extermínio nazistas como um marco na história da humanidade, a partir do qual seria
impossível pensar a humanidade sem considerá-lo como referência, por se tratar de uma

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experiência de extrema desumanização e barbárie social. Um marco para pensar que


tipo de sociedade construímos, capaz de produzir uma máquina de morte tão poderosa.

Figura 2 – Portão principal do campo Auschwitz I, onde


se lê a frase "Arbeit macht frei" ("O trabalho liberta")
Fonte: Wikimedia Commons

“É isto um homem?”, escrito pelo químico italiano judeu Primo Levi, em 1947, e publi-
cado só em 1958. O livro trata das experiências vividas pelo próprio autor no campo de
extermínio de Auschwitz, onde ficou confinado até o fim da guerra, tendo escapado com
vida. É uma das obras mais importantes da literatura de testemunho e aborda o limite da
dor, fome, do sofrimento, frio e da desumanização, quando o ser humano é destituído de
qualquer sentido de existência e dignidade e degradado em absoluto, razão da pergun-
ta proposta pelo título do livro. Poderíamos pensar que a pergunta é feita em relação aos
prisioneiros, submetidos àquelas condições terríveis, mas também aos seus algozes, que,
acompanhando e proporcionando o esvaziamento da dignidade e humanidade de outras
pessoas, também estariam destituindo-se de qualquer humanidade.

Passados já mais de setenta anos do fechamento dos campos e da libertação dos


prisioneiros que não foram exterminados, o debate sobre a memória daquele passa-
do já assumiu diferentes formas. Do ponto de vista do Estado, houve a preocupação
em promover políticas de reparação, de modo que as crianças conhecessem desde
a escola o processo terrível pelo qual passou seu país sob o governo nazista e a ex-
periência do isolamento, da perseguição e execução de povos e grupos sociais. Me-
moriais e museus também foram erguidos em nome de que essa história nunca fosse
esquecida, de modo que nunca mais pudesse se repetir. Uma premissa que leva em
consideração a necessidade de conhecer a própria história para que os passos dados
pelas gerações viventes e atuantes tenham consciência do que é importante de ser
evitado, não perder a humanidade de vista e, portanto, a desumanidade.

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Há algumas décadas, contudo, há pensadores elaborando criticamente e questio-
nando os modos como essa memória é tratada do ponto de vista institucional, so-
bretudo a memória dos campos e um processo reconhecido hoje como museificação
da memória do Holocausto. Jeanne Marie Gagnebin fala de “abusos de memória”
cometidos por “empresas de memória” na medida em que vão morrendo de morte
natural os sobreviventes de Auschwitz, buscando pensar uma alternativa a uma for-
ma de memória que se assemelhe à comemoração.
A exigência de memória, que vários textos de Benjamin ressaltam com
força, deve levar em conta as grandes dificuldades que pesam sobre a
possibilidade da experiência comum, enfim, sobre a possibilidade da
transmissão e do lembrar (...). Se passarmos em silêncio sobre elas em
proveito de uma boa vontade piegas, então o discurso sobre o dever de
memória corre o risco de recair na ineficácia dos bons sentimentos ou,
pior ainda, numa espécie de celebração vazia, rapidamente confiscada
pela memória oficial. Proporia, então, uma distinção entre a atividade
de comemoração, que desliza perigosamente para o religioso ou, então,
para as celebrações de Estado, com paradas e bandeiras, e um outro
conceito, o de rememoração (...). Tal rememoração implica uma certa
ascese da atividade historiadora que, em vez de repetir aquilo de que se
lembra, abre-se aos brancos, aos buracos, ao esquecido e ao recalcado,
para dizer, com hesitações, solavancos, incompletude, aquilo que ain-
da não teve direito nem à lembrança nem às palavras. A rememoração
também significa uma atenção precisa ao presente, (...) pois não se trata
somente de não esquecer do passado, mas também de agir sobre o pre-
sente. (GAGNEBIN, 2018, p. 54-55)

Auschwitz é o mais conhecido dos campos de extermínio nazistas. Foi um com-


plexo de campos localizado no sul da Polônia e administrado pelo Terceiro Reich, o
governo nazista, tendo se tornado o maior símbolo do Holocausto, embora houvesse
outros campos de mesma proporção e importância no sistema de campos de extermí-
nio. Os prisioneiros chegavam de trem e raramente saíam com vida de lá. A maioria
dos que passaram pelo campo de Auschwitz morreu asfixiada nas câmaras de gás. Em
1945, os campos foram libertados pelas tropas soviéticas e, em 1947, a Polônia criou
um museu onde funcionavam Auschwitz I e II, tendo já recebido mais de 30 milhões
de visitas desde o início de seu funcionamento. Em 2002, a Unesco (sigla em inglês de
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) declarou as
ruínas de Auschwitz-Birkenau como Patrimônio da Humanidade.

Você pode obter mais informações sobre o Memorial e Museu de Auschwitz-Birkenau


por meio do site, onde encontra fotos e textos, com opção de tradução para o português,
disponível: https://bit.ly/3mi6iK1

Em seu livro “Cascas”, o filósofo francês Didi-Huberman propõe uma caminhada


através e ao longo do complexo Auschwitz-Birkenau por meio de suas fotografias e
reflexões. O autor, em uma visita ao museu/antigo campo, fotografou sítios que lhe

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pareceram emblemáticos do ponto de vista do que foi aquele lugar e do que ele é
hoje, e, a partir das fotos, propôs caminhos de pensamento que buscassem atar ou
criar atritos entre a experiência pregressa e a atual daquela localidade. Ao longo de
todo o livro, na medida em que percorremos as fotos e as elaborações relacionadas,
percebemos um fio que conduz, como uma pergunta central da obra, e diz respeito a
Auschwitz como lugar de barbárie que se tornou “um espaço público exemplar”, um
museu de Estado, transformado de “lugar de barbárie” para “lugar de cultura”. Seria
Auschwitz possível como lugar de cultura?
Parece não haver ponto em comum entre uma luta pela vida, pela so-
brevivência, no contexto de um “lugar de barbárie” que foi Auschwitz
como campo, e um debate sobre as formas culturais da sobrevivência, no
contexto de um “lugar de cultura que é hoje Auschwitz como museu de
Estado. Mas há. É que o lugar de barbárie foi possibilitado – uma vez que
foi pensado, organizado, sustentado pela energia física e espiritual de to-
dos aqueles que nele trabalharam negando a vida de milhões de pessoas
– por determinada cultura: uma cultura antropológica e filosófica (a raça,
por exemplo), até mesmo uma cultura estética (...). A cultura, portanto,
não é a cereja do bolo da história; desde sempre é um lugar de conflitos
em que a própria história ganha forma e visibilidade no cerne mesmo das
decisões e atoa, por mais “bárbaros” ou “primitivos” que estes sejam.
(DIDI-HUBERMAN, 2019, p. 19-20)

O lugar de cultura, para Didi-Huberman, é construído material e simbolicamente


a partir do rearranjo e da restauração daquele espaço de mortificação, de modo que
cumprisse o papel de rememoração, ao passo que também fosse um lugar visitável,
o que torna a experiência deslocada do ponto de vista do que o lugar era e passou
a ser. Em uma das localidades do campo, o autor registra uma mostra com algumas
fotografias tiradas no período em que o campo ainda estava em funcionamento, por
um membro do Sonderkommandos, que eram grupos de prisioneiros selecionados
para cumprir tarefas como transportar os corpos dos mortos nas câmaras de gás.
Tratam-se dos únicos testemunhos visuais encontrados até hoje da operação de as-
fixia nas câmaras. Em frente às ruínas, há três lápides com as fotografias instaladas
pelo museu de Estado, junto a um resumo de como foram realizadas. Considerando
que os oficiais nazistas buscaram queimar, literalmente, todos os rastros de sua ativi-
dade criminosa, documentos raros, como as fotografias, possuem uma importância
testemunhal fundamental. O autor questiona o modo como são apresentadas.
Se bem me lembro, no subsolo do memorial dos judeus assassinados da
Europa, em Berlim, os documentos são expostos num espírito de exati-
dão escrupulosa: as cartas de deportados foram fotografadas, transcritas
e traduzidas para o visitante, que delas recebe, simultaneamente, toda
a verdade material com toda a força emocional (pois essas cartas são
perturbadoras (...). Aqui não: como em tantos outros livros de história ou
“museus da memória”, as fotografias do Sonderkommando foram sim-
plificadas, uma maneira de trair suas próprias condições de existência.
(DIDI-HUBERMAN, 2019, p. 48)

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Em seu “Paisagens da memória: autobiografia de uma sobrevivente do Holo-
causto”, importante obra da literatura de testemunho dos campos de extermínio,
Ruth Klüger alerta para outros aspectos ainda dessa institucionalização e fetichiza-
ção da memória dos campos. A autora desenvolve ao longo do livro a ideia de que
a memória dos campos foi pasteurizada, sendo reconhecida como uma experiência
homogênea, sendo que diferentes grupos atravessaram vivências distintas e mesmo
as experiências entre diferentes campos não guardavam as mesmas características.
Parte importante de sua contribuição no pensamento sobre a memória diz respeito
também a como enxergamos o problema do testemunho, na medida em que aqueles
que saíram com vida dos campos carregavam uma experiência profunda de morte, e
falar sobre ela não seria tarefa fácil. No seu caso, particularmente difícil, na medida
em que era criança, e relata repetidas situações de deslegitimação de sua experiên-
cia, como se uma criança não estivesse apta a dar testemunho legítimo.

AREIA

No parquinho abandonado, a areia rodopia.


Gangorras oscilam.
Sol calcinante nos balanços
Ofusca; cega
Cidade, que a uma criança
com areia nos olhos desterrou,
cidade deserta:

que quer comigo este vento?


De um outro mar?

(KLÜGER, 2005, p. 62)

Figura 3 – Karl Bodek e Kurt Conrad Löw, “Uma Primavera” (1941)


Fonte: yadvashem.org

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entre Cultura e Linguagem: Dois Estudos de Caso

A autora relata o modo como ter estado em um campo de extermínio produziu


uma marca profunda em todos aqueles que lá estiveram, duplamente; uma vez pela
experiência, e uma segunda, na medida em que cada um dos sobreviventes deveria
ser reduzido àquela experiência, sem que pudesse ter uma vida pregressa ou poste-
rior. No início de sua narrativa, uma passagem chama atenção para pensar aquilo
que viemos apresentando.
Os jovens conversavam animadamente entre si, ouvi a palavra Auschwitz,
mas não como é frequente na Alemanha e em outros lugares, como sinô-
nimo de genocídio ou como tópico político, e sim objetivamente, como a
designação de um lugar que pareciam conhecer. Agucei os ouvidos, per-
guntei, mas por comodismo não revelei meu relacionamento pessoal com
o campo. Contaram-me que tinham acabado de concluir seu serviço civil.
Sua tarefa: pintar de branco as cercas de Auschwitz. Sim, é isso mesmo.
Serviço civil como reparação do passado. Qual era o sentido disso?, per-
guntei com ceticismo. Mas o local precisa ser preservado, retrucaram
por sua vez, surpresos com a pergunta. Embora não falassem bem dos
turistas (todos aqueles americanos!) e não poupassem críticas aos bandos
de colegiais: preservação do local. Para quê?. (KLÜGER, 2005, p. 65-66)

Analisando o pensamento do filósofo alemão Theodor Adorno, Jeanne Marie


propõe uma elaboração atravessada pela fricção entre rememoração e esquecimen-
to. “Não considero nuance irrisória de vocabulário o fato de que Adorno, em outros
artigos já citados, fale muito mais de uma luta contra o esquecimento que de ativi-
dades comemorativas, solenes, restauradoras, de ‘resgate’, como se tanto fala hoje”.
Por meio de Adorno, seria fundamental fazer tudo o que nos esteja ao alcance para
que Auschwitz e experiências desse tipo nunca se repitam, o que não significa “nos
lembrar sempre de Auschwitz”, ou celebrá-lo de algum modo.

Figura 4 – Felix Nussbaum, “O Refugiado” (1939)


Fonte: yadvashem.org

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Diáspora Africana: Memória, Pertencimento,
Apagamento e Resistência
Se na primeira parte de nossa unidade tratamos de temas caros aos estudos das
ciências humanas, com um recorte distante temporal e geograficamente de nós, nesse
segundo momento trataremos da questão da memória e de sua disputa em relação
a um debate fundamental à sociedade brasileira, constituinte de sua formação social:
a diáspora africana. Se, no caso alemão, a disputa e o debate sobre a memória do
holocausto são tão presentes no âmbito do Estado desde o fim da guerra, no Brasil
a temática da diáspora, da escravidão e da constituição de nossa formação social
por povos de diferentes países e culturas de África sempre foi uma dura disputa
por reconhecimento, reparação e adoção de políticas públicas consequentes com a
história de opressão aos povos negros e indígenas durante o período do colonialismo
e, posteriormente, na formação do Brasil moderno.

Trata-se de um amplo debate, feito há décadas por inúmeros pensadores de di-


ferentes áreas do conhecimento, tendo ganhado maior espaço e notoriedade nas
últimas décadas, com o fortalecimento das reivindicações dos movimentos negros,
instituições e pesquisadores que vêm trabalhando no sentido da construção dessa
memória e na luta por reparação – considerando que durante tanto tempo não foi
um tema tratado com a gravidade necessária, de peso tão grande quanto o Holo-
causto ou acontecimentos dessa magnitude. Como nosso interesse aqui é o aprofun-
damento nas questões relativas à memória, deixamos algumas referências comple-
mentares, para o caso de haver interesse em se aprofundar em outros temas relativos
à questão racial brasileira.

Há, na história da humanidade, diversos processos diaspóricos, processos migra-


tórios, que significaram o deslocamento de grande número de pessoas, de popula-
ções inteiras, em direção a outras regiões, movidos por motivos também múltiplos,
como guerras, dificuldades em plantar e cultivar na terra onde se encontram, razões
religiosas e proféticas. O que entendemos hoje por diáspora africana diz respeito a
um processo de deslocamento forçado, empreendido durante o período colonial que
vai do século XVI até a era moderna, com os processos de libertação dos territórios
africanos colonizados por países europeus. Ao longo de todo esse período, milhões
de pessoas de diferentes países africanos foram escravizadas e levadas a outros con-
tinentes do mundo – cerca de 12 milhões chegaram à América, estima-se que 40%
chegaram aos portos do Brasil.

Êxodo, de Jaime Lauriano. Disponível em: https://bit.ly/37pNAf2

Em entrevista, o pesquisador Valter Silvério chama a atenção para como a figura


do negro foi formada posteriormente à diáspora. Os socialmente construídos como
negros teriam sido segregados no processo de formação de vários estados nacionais,
sem direito à cidadania ou submetidos a análises e corpus históricos que os suprimia

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entre Cultura e Linguagem: Dois Estudos de Caso

enquanto sujeitos. O que significa tratar por “negro” todo aquele que tenha vindo ou
descenda de escravizados trazidos de África, sem considerar sua etnia, cultura, origem?
Para o pesquisador, o tratamento de negro, como denominação homogênea, cumpriu
o papel de apagamento dessas etnias e grupos, na medida em que essa denominação
é fruto também de um processo de dissolução desses grupos no território de todo o
continente americano, como se cada uma das pessoas não tivesse vínculos e pudesse
ir a qualquer parte sozinha, sem os seus, bem como se não importasse sua origem.

Walter Benjamin trata da experiência e sua tendência a desaparecer com o avan-


ço da modernidade e se vale dos soldados da guerra, que voltam emudecidos, e de
certo modo esse procedimento segregatório e fundacional da sociedade brasileira, a
assimilação de etnias e grupos sociais de modo criminosamente estraçalhado, se eri-
ge no sentido do apagamento de experiências em comum, de vínculos sociais. Trata-
-se de uma experiência de empobrecimento, na medida em que forçosamente os
laços são desfeitos, os sentidos de coletividade, origem e experiência, e ao destituir o
sujeito de tudo aquilo que lhe forma enquanto ser social, é dado no lugar o nome de
“negro”. O “negro” não tem país, não é de algum lugar, não tem cultura de origem.
O colonialismo inaugura na sociedade brasileira essa marca profunda que ainda hoje
vigora. Dentro de África, os grupos e sujeitos são definidos por seus grupos étnicos,
e fora dela, são negros. E é na racialização homogeneizadora desses grupos distin-
tos entre si, como somos também distintos social e culturalmente entre cada região
da América do Sul, por exemplo, que entrava o processo de construção de algum
futuro autônomo para os povos advindos de África e seus descendentes brasileiros.
Valter Silvério classifica o conceito de diáspora, portanto, como devir, construção
para o futuro. Mas um futuro em que origem e experiência foram apagados. Se para
imigrantes europeus a origem seguiu marcada culturalmente, denominando uma
experiência – às colônias japonesa, italiana, alemã, holandesa etc., no Brasil, damos
o nome de sua origem regional e nacional – aos povos africanos escravizados essa
delimitação foi negada.

Abdias Nascimento trata de alguns modos como as culturas africanas foram per-
seguidas e persistiram no Brasil:
Sempre que vemos estudado o tema das culturas africanas no Brasil, a
impressão emanada de tais estudos é que essas culturas existem porque
receberam franquias e consideração num país livre de preconceito étnico
e cultural. A verdade histórica, porém, é bem oposta. Não é exagero afir-
mar-se que desde o início da colonização, as culturas africanas, chegadas
nos navios negreiros, foram mantidas num verdadeiro estado de sítio. Há
um indiscutível caráter mais ou menos violento nas formas, às vezes sutis,
da agressão espiritual a que era submetida a população africana, a co-
meçar pelo batismo ao qual o escravo estava sujeito nos portos africanos
de embarque ou nos portos brasileiros de desembarque. As pressões cul-
turais da sociedade dominante, a despeito de seus propósitos e esforços,
não conseguiram, entretanto, suprimir a herança espiritual do escravo na
medida em que ocorreu nos Estados Unidos, onde apenas sobreviveram

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alguns elementos culturais. Mas essa incapacidade de aniquilar definitiva-
mente a vitalidade cultural africana, que se expandiu por vários setores
da vida nacional, não pode ser interpretada como concessões, respeito
ou reconhecimento por parte da sociedade dominante. (NASCIMENTO,
2016, p. 123)

O autor nos atenta ao fato de que a Igreja Católica atuou no sentido de coibir e
proibir práticas religiosas que não fossem cristãs, e à despeito dessa perseguição, al-
gumas das religiões de matriz africana puderam persistir no tempo. Parte importante
dessas manifestações não se restringiam ao seu aspecto religioso, mas se combina-
vam com formas de celebração e festejos populares, como o bumba meu boi, dos
quilombos, os autos populares, dos congos. Nascimento se vale da classificação pro-
posta por Arthur Ramos para as culturas que permaneceram em território brasileiro,
sendo que não necessariamente os condutores e descendentes tiveram condições de
manter vivas essas culturas, na medida em que viviam sob terríveis condições, víti-
mas de violência e choque contra suas culturas:
A. Culturas sudanesas: representadas primariamente pelos povos iorubá
da Nigéria, os gêges do Daomé (Benin), os fanti e axânti da Costa do Ouro
(Gana) e alguns outros grupos menos relevantes ao contexto brasileiro;

B. Culturas guineo-sudanesas, islamizadas, principalmente originadas


dos peuhl [fulas], mandingas, e hauçás da Nigéria nortista;

C. Culturas bantas, representadas pelo grupo étnico Angola-Congo e por


aqueles vindos da chamada Contracosta (África oriental). (NASCIMENTO,
2016, p. 124)

O que poderia ser estabelecido como um paralelo da museificação de nossa ques-


tão em relação à memória do Holocausto seja talvez o que ficou conhecido como
mito de fundação da sociedade brasileira, o “mito das três raças”, que institucional-
mente parece a celebração da diversidade étnica e a expressão pública de uma demo-
cracia racial, quando, na verdade, negros e indígenas no País vivem em condições de
grande vulnerabilidade social, ocupando os piores postos de trabalho, com os piores
salários e vítimas da violência policial que criminaliza, desde os tempos de colônia, a
sua existência, sua cultura e qualquer forma de organização. Não seria uma museifi-
cação propriamente, visto que a própria institucionalidade negou aos povos negros
qualquer política de incorporação à vida social no período que seguiu ao fim da
escravatura. A “liberdade” não significou oferta de trabalho, condições dignas de mo-
radia, acesso à educação e reparação em relação aos anos de escravização. Quando
o Estado brasileiro libera os povos negros da condição de escravidão, atesta seu
descompromisso com um devir, um futuro pós-diaspórico, no sentido da construção
de uma real democracia social e racial. Aos negros é relegada a base da pirâmide, a
sustentação econômica de nossa swociedade, onde se encontram até os dias de hoje.

Heitor dos Prazeres, sem título, óleo sobre tela: https://bit.ly/35k5u0j

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UNIDADE A Memória como Aspecto Fundamental na Relação
entre Cultura e Linguagem: Dois Estudos de Caso

Há, contudo, um esforço de gerações para produzir essa história à contrapelo,


resgatar as vozes e os testemunhos que ficaram soterrados sobre a pálida democracia
racial brasileira. Desde figuras como Abdias Nascimento, que abriu picada quando
o terreno era ainda não fechado, chegamos a um momento em que a história dos
povos vindos de África e seus descendentes nascidos no Brasil passa a ser contada
como a história brasileira, parte fundamental dessa cultura que se ergueu de modo
violento e negando qualquer horizonte aos que aqui chegaram escravizados, mas
também aos que aqui estavam já antes da chegada dos europeus. Como em qualquer
circunstância, produzir memória e disputá-la é conflituoso, é feito em um tempo
lento e envolve o trabalho de muitas pessoas. Contudo, possibilita a complexificação
de nosso entendimento sobre nossa formação social, nossa cultura, que de modo
algum é singular, mas dotada de uma pluralidade continental, como o território que
ocupamos e em que vivemos.

Raízes
para Aristides Barbosa

Estou de volta pra casa


Estou de volta a meu lar
A vida aqui tem sentido
Aqui é que é meu lugar

Oxum passeia na praça


Xangô conversa no bar
Hoje de volta pra casa
Convivo com os orixás

Estou de volta pra casa


Aqui tudo é natural
Té felicidade é fruto
Que se consegue alcançar

Enfim reencontro a fonte


Donde axé jorrando está
Estou de volta pra casa
Estou de volta a meu lar
A vida aqui tem sentido
Aqui é que é meu lugar
Aqui tem congada samba
Batuque pra se dançar
Tem mulheres lindas lindas
Lindas feito Iemanjá
Mulheres de largas ancas

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E doce encanto no olhar

Estou de volta pra casa


Estou de volta a meu lar
A vida aqui tem sentido
Aqui é que é meu lugar
Agora livre de abismo
Livre pássaro a voar
Aqui tenho vida plena
Com a bênção dos orixás

Estou de volta pra casa


Estou de volta a meu lar
Hoje vivo como vive
Caracol no meu quintal.

(Carlos de Assumpção, 2020, p. 78-79)

Carlos de Assumpção é um homem negro, poeta brasileiro, nascido em 1927, em Tietê, in-
terior de São Paulo, e vive hoje em Franca, também no interior do estado. Teve seu primeiro
livro publicado em 1982 (Protesto), e recentemente sua poesia completa foi publicada no
volume “Não pararei de gritar”, pela editora Companhia das Letras.

Figura 5 – Carlos de Assumpção


Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE A Memória como Aspecto Fundamental na Relação
entre Cultura e Linguagem: Dois Estudos de Caso

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
Não pararei de gritar
ASSUMPÇÃO, C. de. Não pararei de gritar. Poemas reunidos. São Paulo:
Companhia das Letras, 2020.
Introdução aos estudos africanos e da diáspora
MORTARI, C. Introdução aos estudos africanos e da diáspora. Florianópolis:
DIOESC; UDESC, 2015.

 Vídeo
Conversas Metodológicas – Transnacionalismo Negro e Diáspora Africana
Palestra de Valter Silvério.
https://youtu.be/PRVgdW4Vb8g

 Leitura
Diáspora Africana
Ana Luíza Mello Santiago de Andrade – Portal Geledés.
https://bit.ly/2HbTcyJ

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Referências
BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história
da cultura. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 2008.

BRECHT, B. Poemas 1913-1956. Trad. Paulo Cesar Souza. São Paulo: Editora 34, 2000.

CARNEIRO, S. Racismo, Sexismo e desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo


Negro, 2011.

DIDI-HUBERMAN, G. Cascas. São Paulo: Editora 34, 2019.

FANON, F. Pele negra, máscaras brancas. Trad. Renato da Silveira. Salvador:


EDUFBA, 2008.

GAGNEBIN, J. M. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Editora 34, 2018.

GILROY, P. O. Atlântico Negro: modernidade e dupla consciência. Rio de Janeiro:


Universidade Candido Mendes, Centro de Estudos Afro-Asiáticos; São Paulo: Edito-
ra 34, 2019.

KLÜGER, R. Paisagens da memória: autobiografia de uma sobrevivente do Holo-


causto. São Paulo: Editora 34, 2005.

NASCIMENTO, A. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo


mascarado. São Paulo: Perspectiva, 2016.

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