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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

ESTÁGIO DE DOCÊNCIA EM HISTÓRIA III – EDUCAÇÃO PATRIMONIAL (EDU02X12)

Professora: Caroline Tacievitch

Aluno: Tiago: Tiago Flores Vargas

Fichamento de texto:

HUYSSEN, Andreas. Passados presentes: mídia, política e amnésia. Rio de


Janeiro: Aeroplano, 2000.
2015
HUYSSEN, Andreas. Passados presentes: mídia política e amnésia

1. Emergência da memória como uma das preocupações culturais e políticas centrais das
sociedades ocidentais
Contraste com as primeiras décadas do século XX
FUTUROS PRESENTES → PASSADOS PRESENTES (pg.9)

Questões de temporalidades diferentes – modernidades em estágios distintos


Peças chave para um novo entendimento rigoroso dos processos de
globalização a longo prazo que procurem ser algo mais do que apenas uma atualização
dos paradigmas ocidentais de modernização. (pg. 10)

Os discursos de memória aceleraram na Europa e nos EUA no começo da década de 80


Holocausto, história do Terceiro Reich
Receberam intensa cobertura da mídia internacional,
remexendo as codificações da história nacional posteriores à Segunda Guerra Mundial
da história nacional na França, na Áustria, na Itália, no Japão e até nos Estados Unidos
e, mais recentemente, na Suíça.
Americanização do holocausto = 1980/93 (pg. 11)
Globalização do holocausto = fim dos anos 90 (pg. 11-12)
Diferença de tratamento aos genocídios de Ruanda e Bósnia
em relação ao de Kosovo.

A globalização da memória
O holocausto se transforma em uma cifra para o século XX como um todo e
para a falência do projeto iluminista.
O holocausto perde a sua qualidade de índice de evento histórico específico e
começa a funcionar como uma metáfora para outras histórias e memórias.
A comparação com o holocausto também pode servir como uma falsa
memória ou simplesmente bloquear a percepção de histórias específicas. (pg. 12-13)
Tramas secundárias: restauração historicizante de velhos centros urbanos; as
modas retro; a automusealização; romances autobiográficos e históricos pós-
modernos;
A vasta literatura psicanalítica sobre o trauma;
A obsessão mundial com o naufrágio de um navio a vapor, que marcou o fim
de uma outra época dourada; (pg. 14-15)
Cultura de memória
Comercialização pela indústria cultural do ocidente.
Inflexão política em outras partes do mundo : mobilização de passados míticos
e criação de esferas públicas de memória “real”. (pg. 15-16)
Discursos de memória
Fenômeno global
Ligados às histórias de nações e estados específicos, o lugar político das
práticas de memória é ainda nacional e não pós-nacional ou global.
As nações se defrontam com a tarefa de assegurar a legitimidade e o futuro de
políticas emergentes, buscando maneiras de comemorar e avaliar os erros do passado.
(pg. 16-17)
O Holocausto, como lugar comum universal na história traumática, reforça ou
limita as práticas de memória e as lutas locais, ou como ele pode executar ambas as
funções ao mesmo tempo?
A globalização e a forte reavaliação do respectivo passado nacional, regional,
ou local, devem ser pensados juntos.
As culturas de memória contemporâneas em geral podem ser lidas como
formações reativas à globalização da economia? (pg. 17)

2. Relação entre memória e esquecimento

Críticos acusam a própria cultura da memória contemporânea de amnésia, apatia


ou embotamento.

Acompanha uma crítica à mídia, que faz a memória ficar cada vez mais disponível.

Muitas memórias comercializadas em massa são “memórias imaginadas”,


facilmente mais esquecidas do que as memórias vividas. (pg. 18)

O excesso de memória nessa cultura saturada de mídia pode estar criando uma
sobrecarga, de tal forma que o próprio sistema de memórias fique em perigo constante de
implosão, provocando o medo e o esquecimento?

Memórias políticas de grupos sociais e étnicos específicos

Contrastantes e fragmentadas

É possível a existência de formas de formas de memória consensual coletiva?


Se não, de que forma a coesão social e cultural pode ser garantida sem ela? (pg. 19)

No rastro da explosão e da comercialização da memória


Quanto mais nos pedem para lembrar, mais nos sentimos no perigo de
esquecimento e mais forte é a necessidade de esquecer.

Hipótese: tentamos combater o medo e o perigo do esquecimento com


estratégias de sobrevivência e de rememoração pública e privada.

Sabemos que tais estratégias de rememoração podem ser transitórias e


incompletas: por quê? E por que agora? (pg. 20)

3. A influência das novas tecnologias de mídia como veículos para todas as formas de
memória

Mercadorização não significa, inevitavelmente, uma banalização do evento


histórico. Não há espaço puro, fora da cultura de mercadoria. Depende muito,
portanto, das estratégias específicas de representação e mercadorização e do
contexto no qual elas são representadas.

A oposição entre memória séria e memória trivial penas reproduz a velha


dicotomia alta/baixa da cultura modernista sob nova aparência. (pg. 21)

A distância constitutiva entre a realidade e a sua representação em linguagem e


imagem.

Abertura de possibilidades de representação do real e de suas memórias

Memória traumática e memória visual ocupantes do mesmo espaço público

A mídia não transporta a memória pública inocentemente. Ela a condiciona na


sua própria estrutura e forma. (pg. 22-23)

A modernização cria a sua própria aura.

O passado vende mais do que o futuro. (pg. 24)

O crescimento explosivo da memória como um fenômeno histórico

Se o passado pode acabar, não estamos apenas criando nossas próprias ilusões
de passado, na medida em que somos marcados por um presente que se encolhe cada vez
mais?

Dado que o crescimento explosivo da memória é história, terá alguém


realmente lembrado de algo? (pg. 24-25)

4. Mercadorização da memória e esquecimento


Algo mais deve estar em causa, algo que produz o desejo de privilegiar o
passado e que nos faz responder tão favoravelmente aos mercados da memória.

É uma lenta mas palpável transformação da temporalidade nas nossas vidas,


provocada pela complexa intersecção de mudança tecnológica, mídia de massa e
novos padrões de consumo, trabalho e mobilidade global.

Muito disso é o deslocamento de um medo futuro nas nossas preocupações


com a memória (pg. 25).

A cultura da memória preenche uma função importante nas transformações


atuais da experiência temporal, no rastro do impacto da nova mídia na percepção e na
sensibilidades humanas.

Caminhos para pensar a relação entre o privilégio dado à memória e ao passado e


impacto da nova mídia sobre a percepção da temporalidade

A crítica de Adorno é correta, no que se refere à comercialização em massa dos


produtos culturais, mas não ajuda a explicar o crescimento da síndrome da memória dentro da
indústria da cultura. Acaba por não dar a devida atenção às especificidades da mídia e da sua
relação com as estruturas da percepção da vida cotidiana nas sociedades de consumo.

Benjamim está correto ao atribuir ao retro uma dimensão que dá cognitividade


à memória. Ao teorizar “ Sobre o conceito da História” , ele a chama de um salto de tigre em
direção ao passado, mas quer alcançá-la através do próprio meio de reprodutibilidade que,
para ele, representa a promessa futurista e permite a mobilização política socialista. (pg. 26)

Hermann Lübbe descreveu aquilo que chamou de “musealização” como


central para o deslocamento da sensibilidade temporal do nosso tempo. A modernização viria
inevitavelmente acompanhada pela atrofia das tradições válidas, por uma perda de
racionalidade e pela entropia das experiências de vida estáveis e duradouras. (pg. 27)

Crescimento da fenomenal do discurso da memória dentro da própria historiografia

Hipótese: também nessa proeminência da mnemo-história, precisa-se da


memória e da musealização, juntas, para construir uma proteção contra a obsolescência e o
desaparecimento, para combater a nossa profunda ansiedade com a velocidade de mudança e
o contínuo encolhimento dos horizontes de tempo e espaço.

Conforme Lübbe, quanto mais o capitalismo de consumo avançado prevalece


sobre o passado e o futuro, sugando-os em um espaço sincrônico em expansão. Quanto mais
fraca a sua auto-coesão, menor a estabilidade ou a identidade que proporciona aos assuntos
contemporâneos. (pg. 28) O museu compensa essa perda de estabilidade.

A crença conservadora de uma compensação das destruições da modernização


pela musealização cultural não consegue reconhecer que qualquer senso seguro do próprio
passado está sendo desestabilizado pela nossa indústria cultural musealizante e pela mídia,
atores centrais no drama moral da memória. (pg. 29-30)

5. A sujeição das categorias de espaço e tempo às mudanças históricas (mal estar da pós-
modernidade?)

A cultura da memória pode ser, em parte, a sua encarnação contemporânea.


Trata-se da tentativa de garantir alguma continuidade dentro do tempo, para propiciar
alguma extensão do espaço vivido dentro do qual possamos respirar e nos mover. (pg.
30)

As memórias do séc. XX nos confrontam, não com uma vida melhor, mas com uma
história única de genocídio e destruição em massa, a qual, a priori, barra qualquer
tentativa de glorificar o passado. (pg. 31)

Nosso mal-estar parece fluir de uma sobrecarga informacional e percepcional


combinada com uma aceleração cultural, com as quais nem a nossa psique nem nossos
sentidos estão bem equipados para lidar.

Quanto mais rápido somos lançados para o futuro que não inspira confiança,
maior é a nossa vontade ir mais de vagar e nos aproximar da memória em busca de
conforto.

Como satisfazer a necessidade fundamental das sociedades modernas de viver em


formas estendidas de temporalidade e para garantir um espaço, conquanto permeável,
a partir do possamos falar e agir?

A memória individual, geracional, pública, cultural e nacional fazem parte dessa


resposta. Caso surja uma memória global ela será sempre mais prismática e
heterogênea do que holística ou universal.

A garantia, a estruturação e a representação das memórias locais, regionais e


nacionais.

Do ponto de vista do Arquivo o esquecimento é a última das transgressões,


mas quão confiáveis ou à prova de falhas são os nossos arquivos digitalizados?

A ameaça do esquecimento emerge da própria tecnologia à qual confiamos o


vasto corpo de registros eletrônicos e dados, esta parte mais significativa da memória
cultural do nosso tempo. (pg. 33)

Diante da crise da estrutura de temporalidade, que marcou a alta


modernidade, politicamente, muitas práticas atuais de memória atuam contra o
triunfalismo da teoria da modernização, nesta sul última versão chamada
“globalização”.

A historiografia perde a antiga confiança em narrativas teleológicas magistrais


se torna cética no que se refere aos marcos de referências regionais.
As novas teorias críticas de memória enfatizam os direitos humanos, as
questões de minorias e gêneros e a reavaliação dos vários passados nacionais.
percorrem um longo caminho no sentido de ajudar a escrever a história de um modo
novo e garantir o futuro da memória. (pg. 34)

O passado não pode nos dar aquilo que o futuro não conseguiu. Precisamos mais de
rememoração produtiva do que de esquecimento produtivo

A febre histórica da época Nietzsche funcionou para inventar tradições e


legitimar os estados-nações imperiais, dando coerência cultural a sociedades
conflitantes em meio a revolução industrial e a expansão colonial.

As convulsões mnemônicas da cultura do norte do Atlântico de hoje parecem


em grande parte caóticas e fragmentárias, à deriva através das nossas telas. (pg. 35)

O ciberespaço sozinho não é o modelo apropriado para imaginar o futuro


global. Essa noção de memória é uma falsa promessa. A memória vivida é ativa, viva,
incorporada no social (indivíduos, famílias, grupos, nações e regiões). (pg. 36)

A memória pública está sujeita a mudanças, não pode ser armazenada para
sempre protegidas em monumentos. Não podemos nos fiar em sistemas de
rastreamento digital para garantir coerência e continuidade.

É necessário a discriminação e rememoração produtiva. A cultura de massa e a


mídia virtual não são necessariamente incompatíveis com esse objetivo.

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